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Copyright© 2015Leon Ferraz
Título Original : 40 Anos em mar aberto
Edição: Leon Ferraz
Revisão: Leon Ferraz
Diagramação: Leon Ferraz
Editoração Eletrônica: Leon Ferraz
Capa: Katherine Carvalho
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa.
Ferraz, Leon
Título: 40 Anos em mar aberto
São Paulo – S.P. - 2016
89 páginas - 14x21 cm.
ISBN:
1. Literatura Brasileira. 2.Conto 3. Ficção
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Agradecimentos
Meus sinceros agradecimentos ao amigo e Comendador Dr.
H.C. em Literatura José Araújo pela sua preciosa ajuda.
A minha querida esposa Silvana que me ajudou muito,
ouvindo e opinando a cada capítulo escrito.
Dedicatória
A minha querida família e em especial a minha esposa
Silvana, que participou ativamente me ajudando na
elaboração do conto.
A meu irmão Luiz e meus primos Sérgio, Paulo, Tê, Bito,
Silvia e Tinha, com carinho para vocês.
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Prólogo
Este mundo da imaginação não tem limites. Quanto
mais dou asas às respostas são altamente interessantes,
trazendo mundos inexplorados e repletos de curiosidades.
Liberto meus pensamentos sempre na tentativa que algo novo
possa ser criado.
Nessa pequena e agradável história, vamos à busca
para desvendar os mistérios que nos cercam, sem medo e com
fé. A luz que irradia de nós ilumina nossos passos na mais
total escuridão. É a busca de um tesouro, mas é a constatação
da Fé que dá o vetor a caminhada.
Tentei mesclar a ficção com a realidade, brincando
nesse ritmo lúdico. Escrever é isso, brincar com os sonhos e
tentar torná-los o mais real possível. Não sei se consegui, mas
tentei, encarei esse desafio e isso me deixou feliz.
Uma cabeça cheia de medos não tem espaço para
sonhos.
Boa leitura!
Leon Ferraz
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APRESENTAÇÃO
“Há quem diga que todas as noites são de sonho. Mas
há também quem diga nem todas, só as de verão. Mas no
fundo isso não tem muita importância. O que interessa mesmo
não são as noites em si, são os sonhos. Sonhos que o homem
sonha sempre. Em todos os lugares, em todas as épocas do
ano, dormindo ou acordado.”
Sonhos de uma noite de verão
Willian Shakespeare
Na segunda quinzena de junho de 2013, após
conversar com a prima Samara Amaral Baruff no Facebook,
fechei o site e fui ao meu endereço eletrônico e lá fiz um e-
mail à prima. Facebook é a maior rede social do mundo
virtual.
Neste e-mail solicitava as medidas do quadro o
“veleiro” que o Tio Amaral havia pintado há décadas atrás.
Tio Amaral é cunhado da minha mãe Juliana, casado com a
Tia Miriam. Pedi também se o Tio Amaral lembrava-se da
data que havia pintado o quadro citado. Esse quadro
primeiramente ficou exposto no apartamento de Santos e
depois na casa da Samara. Apartamento em Santos, imóvel de
meu avô Vinicius Ricci, no segundo andar do Edifício
Paulistânia na antiga Rua Pindorama na Praia do Gonzaga.
Passada uma semana a prima Samara me respondeu
passando os dados solicitados.
Não sei por que me veio esse quadro à minha mente.
Não sei se foi um sonho ou algum pensamento, se eu estava
dormindo ou acordado, mas me levou a pedir as informações
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a Samara. Uma ligação entre eu e o Tio Amaral se estabelecia
nesse caso. Eu também fiquei em dúvida, misturando a
realidade com a ficção.
Deste passo iniciei a caminhada para a sinopse da
história.
Não foi fácil criar essa história, mas me trouxe boas
emoções e isso, é que é importante para quem escreve. A
satisfação a cada linha e a cada parágrafo me deixava feliz. Eu
passava pela Vanessa e dizia: Estou feliz, fiz mais uma parte
do meu livro.
Entendo que é uma história que pode ser lida por
todas as idades, em cada uma delas irá despertar algo
precioso. Quem sabe as crianças e jovens gostem da aventura,
do mágico inserido nela. Quem sabe os mais crescidos, como
nós, apreciemos a busca do impensável, a determinação da
conquista, a fé em participar, o amor à causa.
Qual o elo existente entre um quadro de um veleiro
para comigo?
Vamos prosseguir!
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Capítulo 1
Certamente irás encontrar situações tempestuosas em
algum momento da vida, mas haverá de ver sempre o lado
bom da chuva que cai e não a faceta do raio que destrói.
Já vai bem longe esse tempo.
O dia amanheceu gelado, vejo o suor no vidro
produzido pelo frio. Acredito que a temperatura deveria estar
em torno de 12° graus bem típica do outono paulistano. Eu
gosto desse tempo, pois nos presenteia com um azul do céu
lindo e poético. Sinto-me cansado, tive uma noite das mais
arrebatadoras.
Meus sonhos, meus queridos sonhos sempre me
acompanhando. Hoje é meu aniversário, sábado, 02 de junho
de 1973. Deus me deu as cores, vou mesclá-las e tentar fazer a
mais bela tela.
Quero ficar deitado, está uma delicia na cama,
quentinha e meus pensamentos estão correndo soltos. Aos
poucos me vem à lembrança da noite passada. Eu me virava
de um lado, me virava de outro, um vaivém dos mais
desagradáveis. Sentia-me mareado.
Há sombras no chão que me dizem que estás por
perto.
Lembro-me de um grito forte e de minha mãe correr
ao meu quarto para me resgatar. Ela acendeu a luz e me
encontrou de roupa deitado na cama. Estava tudo
desarrumado, nada estava no lugar. Uma Saigon transtornada.
Disse a ela que eu havia sonhado que estava em alto
mar, num lindo veleiro. E sem que ela falasse alguma coisa
comecei a declamar uma poesia que não sei de onde brotou.
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Veleiro dos meus sonhos
Navega sem rumo
Trazendo consigo
Nossas histórias
Você não é solitário
O vento é teu companheiro
Uma harmonia quase perfeita
Que se traduz em sonhos
O barulho do mar
Encanta os aventureiros
O silêncio da solidão
Fere como a escravidão
Vamos lá veleiro
Abre tuas velas
Há silêncio em teus porões
Todos em busca de fortes emoções
Não quero nada nesse momento
Somente fechar meus olhos
Buscar imagens e sonhar
Com Deus a me acompanhar
– Filho de onde vem isso? Com quem você tem
andado, quero saber das suas amizades. Você não está virando
comunista, está? O que se passa com você? Porque tanta
agitação? E o que um veleiro tem a ver com você? Você quer
ser militar da Marinha do Brasil?
– Acho que preciso te levar num psicólogo, você vive
num mundo sempre distante. Amanhã vamos conversar, quero
saber tudo sobre esse sonho e esse veleiro, que conversa mais
maluca. Vê se dorme, pois já é tarde.
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Fui atropelado por uma artilharia de perguntas e
questionamentos e nem tive tempo de respondê-las. Somente
vi minha mãe Juliana retirar-se e com um olhar bravio e
desconfiado de algo.
Ao lembrar-me dessa entrada da minha mãe no meu
quarto, acabei rindo da situação, das colocações dela, enfim
do quadro patético que eu me encontrava. Porque tanta
preocupação dela, eu estou bem e feliz. Enquanto as flores
caem nesse outono, vão regando a minha vida.
Os sonhos me fazem muito bem.
Num sonho tirado do outono, você chegou envolto
com a passagem do vento. A algo poético nesse sonho, há
mistério. Tem que haver alguma explicação e vou atrás das
suas respostas.
Nesse outono paulistano, os ventos sussurravam
na minha janela, chamando-me para a mais bela das
aventuras.
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Capítulo 2
Nesse instante, sou folha de outono que cai.
A chuva cai me deixando totalmente encharcado, não
há um só lugar no meu corpo que esteja seco. Vejo nas
pessoas que a chuva se mistura às lágrimas. As dores da
despedida eternizam-se em palavras, gestos e manifestações.
De frente ao túmulo de meu avô Vinicius Ricci, vejo
a última cena, o esquife descer à morada final. Sou uma arca
de múltiplas lembranças, lembro que hoje é meu aniversário,
02 de junho de 2013.
Vou retornando para encontrar minha família e
algumas imagens aparecem como flashes na minha mente.
Nua, é assim que a minha alma se encontra. A tua me
procurando e a minha se escondendo.
São tão rápidas que mal consigo vê-las. Estou
estático, sinto-me só e estou. Ao olhar para frente vejo um
túmulo simples que dizia:
Aqui jaz o Capitão Bolonhesa aquele que singrou
todos os mares.
Minha cabeça sentiu uma estranha sensação, algo ali
tinha muita energia e me sinalizava, mas não conseguia
entender os sinais. Eu sinto os sinais até nos seus espinhos e o
vento se aproxima, como que falando comigo.
Não entendi, mas algo me deteve naquele momento
até que consegui voltar a caminhar, com a Vanessa me
chamando. Eu estava completamente molhado, alguém me
cumprimentou pelo meu aniversário, daí acordei de sonho
estranho. Ninguém percebeu o horizonte do meu olhar.
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Meu genro Beto trouxe o carro e retornamos para
casa. Ninguém nada falou, acho que todos estavam com frio e
tristes. Em casa tomei um banho e um saboroso “scotch”, pois
a chuva gelara meus ossos. Na minha mente apareciam
gaivotas em voos mirabolantes, eram anjos a brincar em cima
do mar azul.
Enquanto saboreava o destilado, fiquei a lembrar
daquele túmulo e porque aquilo havia me chamado tanta
atenção. Recostei e com os olhos cerrados, me veio à
lembrança de 40 anos atrás.
O sonho no meu aniversário há quarenta anos, que
coisa impressionante como as linhas do tempo se cruzam
quando menos esperamos. Lembrei-me do veleiro, da poesia,
dos palpites furados da minha mãe, enfim de toda aquela
gostosa cena. É muito bom sonhar, mas um sonho que valha a
pena. Meus sonhos me fazem descobrir as cores que possuo
dentro de mim.
Abrindo os olhos deparei-me com minha família toda
ali, olhando para mim e ruborizei. Levantei-me e anotei o
sonho antigo, a poesia saía da minha boca como se fosse feita
hoje, os palpites, enfim tudo.
Também coloquei a passagem pelo túmulo do
Capitão Bolonhesa, algo estranho em tudo isso. Tudo anotado.
Comentei com a Vanessa, com as meninas e com o Beto e
também com minha mãe sobre o sonho.
Ela não se lembrava desse sonho, mas riu com os
comentários. Foram momentos antes doalmoço muito
interessante e que trouxeram muita coisa à nossa lembrança.
Todos sorriram ao ouvir o meu relato e a Vanessa
disse:
– Vinicius, você tem uma imaginação incrível, isso
tenho certeza que vai dar num dos seus livros.
Sorri e respondi a minha querida Vanessa:
– Há um mar nos meus olhos, onde se aventura um
veleiro carregado de sonhos...
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Fizemos um gostoso almoço feito com todo capricho
e carinho pela Vanessa e pelas meninas. Brindamos a saúde
de todos e não sei por que, brindei ao Capitão Bolonhesa e daí
foi aquela gozação de todos para comigo. Senti dentro de mim
um rasgo de magia.
À tarde ficamos conversando eu e a Vanessa e contei
com detalhes esse meu sonho de 40 anos atrás, o paralelo das
datas do meu aniversário quarenta anos depois, a paralisação
no túmulo do Capitão Bolonhesa.
– Vinicius, como sempre estas coisas te levam a
outros mundos, faça como sempre você fez. Investigue,
busque as causas, encontre o âmago desse problema, algo tem
a ver com você, pois são inúmeros sinais, só cego não os
veem.
– Vanessa, você tem toda razão, vou a fundo a partir
de agora e tentarei entender o porquê de tudo isso. Tenho
poucos elementos, mas são esses casos que nos apaixonam
muito e nos levam a grandes descobertas. De uma coisa eu
tenho certeza: esse sonho foi livre, nascido da liberdade.
– Aceita um cafezinho com bolo?
– Claro muito obrigado.
Os ventos de junho são mais frios, mas muito
dóceis nas suas passagens. Passaram assobiando por mim,
como que me cumprimentado pelo meu aniversário.
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Capítulo 3
Vou temperar meu dia com sol, chocolate e muito
afeto.
O domingo para mim foi muito gostoso no carinho
da minha família, tanto o almoço como o jantar foi estupendo,
adorei tudo que fizeram por mim. Fiquei à noite conversando
com a Vanessa na sala, lembranças de outros aniversários e do
meu Tio Bruno que havia partido.
Conversamos muito sobre diversos assuntos, até que
minha ansiedade me traiu e entrei no assunto do sonho. Como
sempre a Vanessa me deu toda força para que eu fosse atrás
deste sonho de 40 anos, já um senhor.
Combinei com ela, que o assunto ficaria entre nós
dois e que pela manhã eu iria ao cemitério, visitar o túmulo do
Capitão Bolonhesa. Mais tarde comemos um gostoso pedaço
de bolo e um cálice de vinho do porto e encerramos assim as
comemorações do meu aniversário.
Fui dormir feliz. Sobre minha cabeça há um céu que
se veste de tons, que se mesclam delicadamente na distância
dos ventos que serpenteiam minha alma.
À noite acordei sendo jogado de um lado para outro.
Muito enjoo de estomago, a mesma sensação de quarenta anos
atrás. Eu tenho pavor de enjoo e sempre me dá arrepios
quando ele aparece querendo me deixar insano.
A Vanessa escutando o barulho veio me ver e
indagou o que estava acontecendo, e eu disse a ela:
- Uma música não me saía da cabeça e que a cama
jogava muito, acho que estou num barco.
- Você está acordado?
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“Qual cisne branco
que em noite de lua
vai navegando
no mar imenso”
- Vanessa você está aí?
- Claro, Vinicius estou ouvindo você cantar no seu
sonho marejado.
- Desculpa amor, sabe como eu sou, pode descer e
me arranjo aqui nas minhas fantasias noturnas.
- Dorme bem, beijos.
Porém não mais consegui dormir, minha cabeça
latejava, o enjoo me deixava amarelado. Depois de algum
tempo fui me acalmando e tudo voltou ao normal e consegui
vencido pelo cansaço, adormecer.
Acordei muito cedo e me levantei. O dia estava
bonito com céu azul e um vento bem frio, quase que gelado,
da maneira que eu gosto. Fez lembrar-me Salzburg, paralelo
dos meus sonhos.
Os raios de sol se alastram como estrelas no céu.
Após meu gostoso café da manhã, dei pãozinho ao
Otelo. Nosso Otelo é um labrador negro, o mais animado e
simpático cachorro. Lá fui eu em direção ao Cemitério das
Goiabeiras na Lapa. Este cemitério fica situado na Avenida
Queiroz Filho no bairro do Alto Lapa/Vila Leopoldina.
Comprei flores e fui depositá-las no túmulo de meu
pai, João Fortes Neto. Fiquei um pouco por ali e fui para o
túmulo do vovô Vinicius Ricci. Muitos passarinhos faziam
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seus voos rasantes e se empoleiravam nas goiabeiras e
abacateiros.
De lá percebi que o túmulo do Capitão Bolonhesa
deveria estar exatamente no meio do caminho entre o túmulo
de meu pai e o do meu avô. Pelos meus cálculos, duas ruas
abaixo do vovô. Desci e peguei a esquerda e o segundo
túmulo a direita, era o do Capitão Bolonhesa.
Fotografei o túmulo e vi a placa, esta já gasta e muito
mal conservada. Mas dava para ler: Affonso Bolonhesa
nascido no dia 02 de junho de 1898, falecido no dia 02 de
junho de 1958.
Anotei tudo e me intrigou a data, mas entendi. Fui à
secretaria do cemitério e pedi para ver os registros do túmulo
dois, quadra 32, rua L. O funcionário me perguntou se eu era
parente e eu disse que sim. Horrível mentir, mas não havia
outra saída para poder obter as informações.
Quem sabe fosse parente e não sabia, depois de
tantas coincidências, quem sabe o Capitão Bolonhesa fosse
algum parente distante perdido por esses longínquos mares do
mundo afora. Por um instante senti o cheiro da maresia.
O funcionário da Prefeitura achou o atestado de óbito
e me mostrou. Pedi uma cópia. Não gostou muito, mas
prometi um cafezinho. Não havia mais nenhuma folha, nada.
Agradeci ao simpático funcionário e dei dez reais para ele
apreciar um cafezinho com algum amigo. Detesto essas
atitudes. São incríveis, as pessoas esperam por elas, parece até
um vício.
Retornei para casa, intrigado, uma sensação diferente
tinha se apossado de mim. Senti que algo mais forte me
dominava com relação a este estranho sonho. Em casa fui
direto conversar com a Vanessa.
Anotei tudo na minha agenda e expliquei a ela, que
somente está enterrado ali o Capitão Bolonhesa, ele nasceu e
morreu no mesmo dia, 02 de junho. Coincidência ou não,
somente o tempo irá me sinalizar.