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Schmidt, Mario Furley. Nova história crítica: ensino médio: volume único / Mario Furley Schmidt.- 1. ed. - São Paulo: Nova Geração, 2005. Suplementado por manual do professor. Bibliografia. ISBN 85-7678 - 029 - 1 (Livro do aluno) ISBN 85-7678 - 028 - 3 (Livro do professor) 1. História (Ensino médio) I. Título Operários e camponeses abalam o mundo em 1917. Quase um século depois, o mundo ainda poderia ser abalado? o ano de 1917 abalou o mundo: acontecia a Revolução Socialista na Rússia.Em pou- co tempo, uma revolta de operários, soldados e camponeses fazia o planeta inteiro re- pensar seus sonhos e seus caminhos. Para muitos, estava inaugurada a temporada do in- ferno aqui na Terra. Para alguns, era a aurora de uma nova era. Quem estaria com a ra- zão?Você sabe que não podemos estudar a história como se fosse o resultado da briga entre os "certos" e os "errados", é claro. Mas é possível escovar a história a contrapelo, CD como dizia o ftlósofo alemão W Benjamin, e perguntar: poderia ter sido diferente? Quais foram as oportunidades diferentes? O Estado que nasceu da Revo- lução, a União Soviética (URSS),es- . II f ,, , , . •• 11 II t. ., , , ,. • .11 I' . , I'. I' 'I.' , •• ,

42 - Revolução Russa

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  • Schmidt, Mario Furley.Nova histria crtica: ensino mdio:

    volume nico / Mario Furley Schmidt.-1. ed. - So Paulo: Nova Gerao, 2005.

    Suplementado por manual do professor.Bibliografia.ISBN 85-7678 - 029 - 1 (Livro do aluno)ISBN 85-7678 - 028 - 3 (Livro do professor)

    1. Histria (Ensino mdio) I.Ttulo

    Operriose camponeses

    abalam o mundo em1917. Quase um sculo

    depois, o mundoainda poderia ser

    abalado?

    o ano de 1917 abalou o mundo: acontecia a Revoluo Socialistana Rssia.Empou-co tempo, uma revolta de operrios, soldados e camponeses fazia o planeta inteiro re-pensar seus sonhos e seus caminhos. Paramuitos, estava inaugurada a temporada do in-ferno aqui na Terra. Para alguns, era a aurora de uma nova era. Quem estaria com a ra-zo?Voc sabe que no podemos estudar a histria como se fosse o resultado da brigaentre os "certos" e os "errados", claro. Mas possvel escovar a histria a contrapelo,

    CD como dizia o ftlsofo alemo WBenjamin, e perguntar: poderia tersido diferente? Quais foram asoportunidades diferentes?

    O Estado que nasceu da Revo-luo, a Unio Sovitica (URSS),es-

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    ., , , ,. .11 I' . ,I'. I' 'I.' , ,

  • facelou-se em 1991. Seria a demonstrao prtica do fracassoda tentativa de construir uma nova sociedade? Ou seria umalerta para que jamais se tente impedir o despontar do novo?

    Estudar a Revoluo Russa nos leva a tomar uma conscin-cia crtica mais profunda sobre os grandes problemas que nosafligem neste incio do novo milnio.

    A Rssia do incio do sculo :xx - celeiro da Europa, compovo faminto - era recheada de contradies: agrria e indus-trial, arcaica e moderna, analfabeta e ilustrada, europia e asi-tica, mstica e materialista, a Rssia era tudo ao mesmo tempo.A economia basicamente rural, com 80% da populao moran-do no campo, exportava cereais, era o celeiro da Europa. Masisso s acontecia porque o povo trabalhador passava fome.Amaior parte das terras estava concentrada nas mos da nobre-za latifundiria, que explorava impiedosamente os mujiques(camponeses). O pas era to pobre e atrasado que em muitasregies os povos no conheciam o arado. D pra perceber umdos motivos para a Revoluo: a fome camponesa por terra.Aomesmo tempo, a Rssia conhecia um notvel crescimento in-dustrial, principalmente em torno de duas cidades, Moscou ea capital, So Petersburgo. O operrio russo era talvez o maisexplorado do mundo. Enquanto nos outros pases europeus jsurgiam leis sociais, na Rssia a polcia perseguia os sindica-tos, as greves podiam ser dissolvidas bala.A maioria dos ope-rrios trabalhava em fbricas enormes, algumas com milharesde trabalhadores. Tamanha concentrao de mo-de-obra am-

    pliava as possibilidades de luta. Grande parte da indstria rus-sa estava nas mos de investidores estrangeiros, principalmen-te ingleses, franceses e alemes. Burguesia nacional frgil, in-capaz de moldar a nao com seus projetos.

    Pense num pas onde as temperaturas no inverno chegam fa-cilmente a vinte graus Celsius abaixo de zero. Brrr, muito frio,no?Agora, imagine os camponeses russos na neve, com roupasfeitas com trapos, botas remendadas ou de casca de rvore e pa-peLTrabalhavam como animais de carga e nada possuam. Os no-bres e a burguesia viviam na riqueza, no luxo, no esbanjamento,pouco se importando com o destino do povo. O imperador daRssia, o tzar, andava a cavalo com celas banhadas a ouro e es-poras cravejadas de diamantes e esmeraldas. Os criados do pal-cio real tinham uniformes com enfeites de rubi! Mas as ruas, ascaladas das ruas, eram tomadas por mendigos desdentados.

    A Rssia arcaica e setnifeudal era submetida a uma forma degoverno quase absolutista, a autocracia. No existia a menor li-berdade poltica. Estavam proibidos os partidos polticos (os quej existiam eram clandestinos), sindicatos, jornais de oposio, co-mcios, as greves e passeatas. Quem contestasse a ordem poltica

    CONTRADiES CULTURAIS

    Desde o sculo XIX, os intelectuaisrussos debatiam: a cultura nacionaldeveria ser prolongamento da EuropaOcidental, latina e germnica, ou de-veria ter suas prprias caractersti-cas eslavas? So Petersburgo, racio-nalmente planejada por urbanistasfranceses, com prdios neoclssicos,era o smbolo do Ocidente. Moscou,com prdios tpicos da Rssia ortodo-xa, era o smbolo da cultura eslava,oriental (veja o quadro na pg. 506).No pas onde apenas um quinto da

    populao sabia ler e escrever, ha-via homens de cincia extraordi-nrios como o matemtico Lo-batchevsky, o qumico Men-deleev e o neurologistaPavlov. No sculo XIX, aEuropa aprendeu a admi-rar os extraordinrios es-critores russos, homenscomo Pushkin, Ggol,Tchekov, Turguniev, Tolsti

    e Dostoievski, hoje lidos no mundointeiro pela capacidade de expres-sar os conflitos psicolgicos que di-videm o ser humano, a mediocridadecotidiana, o amor, as paixes irre-freadas, os ideais nobres e a lutacontra a injustia.Se o romancista dos bolcheviques

    foi Mximo Gorki, o poeta foi VladmirMaiakvski(1893-1930),um dos maio-res artistas do

    sculo passado. Seu estilo futurista,cheio de imaginao, agressivo, lri-co, engenhoso, foi posto a servio dacausa bolchevique. Para ele, um poe-ta era to til ao socialismo quantoum engenheiro: "Ns polimos as al-mas com a lixa do verso". Apaixonadopor lili Brik, escreveu: "Visto-te ape-nas com a fumaa do meu cigarro".

  • e social recebia como prmio uma estadia gratuita na distante egelada Sibria, para praticar o pouco saudvel esporte dos traba-lhos forados. O pas era considerado apriso dospovos por cau-sa das dezenas de nacionalidades oprimidas pelos russos. Essespovos estavam proibidos at de falar seu prprio idioma.Tinhamque adotar toda cultura russa na marra.A perseguio aos judeus

    contava com a ajuda das autoridades, que deveriam combat-Ia:grupos terroristas de extrema direita, que reuniam de nobres a po-liciais,realizavam ospogroms, linchamentos de judeus.

    Apesar de todo atraso e opresso, a guia imperial tzaristaparecia ter sido feita para reinar eternamente. Quem contesta-ria seu poder absoluto?

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    Os POPULISTAS- - "'- ~

    Nas ltimas dcadas dos sculo XIX apareceu um fortemovimento de oposio ao tzarismo, o populismo (que nadatem a ver com o populismo latino-americano, como o deGetlio Vargas, por exemplo). Os populistas se agrupavam emorganizaes secretas, como a Nardnaia Vlia (VontadePopular). Defendiam que a salvao da Rssia estaria no socia-lismo, mas um socialismo sem indstria (tido como perversoocidental), baseado na comunidade rural camponesa, o Mir.

    Os populistas tiveram grande penetrao entre os estudan-tes. Imagine s a coragem dessas pessoas. Na Rssia, s entravapara faculdade quem viesse de uma classe social superior. Poismuitos rapazes e meninas da burguesia e da nobreza, que tinhamo futuro garantido se aceitassem o que a sociedade havia prepa-rado para eles, optaram por arriscar tudo para lutar ao lado dopovo. Largaram a vida confortvel para viver escondidos, na po-breza, perseguidos pela polcia. Muitos encontraram a morte.

    O problema era que os camponeses no davam muita aten-o aos agitadores populistas. Pareciam satisfeitos ou submissosde mais. Os populistas se perguntaram: que fazer para que sas-

    sem da "letargia poltica"? Erapreciso sacudir opovo para des-

    Vladmir lIich lnin era filho deum professor secundarista.Estudante contestador, foi expul-so da universidade. Mais tarde,formou-se brilhantemente emDireito. Desde jovem, meteu-seem atividades revolucionrias.Alm do russo, Lnin compreen-dia alemo, francs, ingls, latime grego antigo. Escreveu livrosimportantes em economia, so-ciologia e filosofia, mas desta-cou-se como um pensador polti-co original.Famoso pelos profundos co-

    nhecimentos das obras de KarlMarx e Friedrich Engels, organizadortalentoso, polemista im-placvel, tinha uma viso poltica aguda e perspicaz, princi-palmente quando se tratava de identificar erros nas mano-bras dos adversrios.

    pert-lo. Como? Os populistas acreditaram que ataques terroris-tas contra importantes autoridades tzaristas fariam o povo se con-vencer de que havia gente disposta luta e que valia a pena sejuntar a elesA prtica se incumbiu de mostrar que a avaliao eraequivocada. Em 1881, eles conseguiram a faanha de executar oprprio tzar de todas as Rssias,Alexandre lI. E o que resultou?Bem,o povo no se revoltou (a no ser contra os terroristas),masa polcia poltica, a terrvel Okhrana, baixou uma violenta repres-so que quase liquidou as organizaes populistas. O terrorismono tinha sido capaz de mudar coisa alguma na sociedade russa.(A esmagadora maioria dos historiadores atuais concorda que oterrorismo como estratgia de luta nunca foi capaz de produzirtransformaes fundamentais em sociedade alguma do planeta).

    Em 1887, a polcia prendeu um estudante universitrio quecarregava planos para assassinar o tzar.Depois de surrado e tran-cafiado numa cela cheia de ratos, foi julgado e condenado mor-te. No enterro do terrorista, um garoto de 17 anos, entre lgrimasde sofrimento e dio tirania, dizia com os dentes cerrados:"No, no esse o caminho". Era o irmo do rapaz executadopela autocracia. Chamava-se Vladmir Ilitch Ulinov.Anos maistarde, a histria iria conhec-lo pelo imortal apelido: Lnin.

    Lnin se baseou emMarx para atacar os populistas: o socia-lismo no pode brotar do arcaico e pobre, mas do moderno erico, o socialismo s se tornou historicamente possvel depoisque o capitalismo atingiu um alto grau de desenvolvimentomundial. Por isso, o socialismo no poderia nascer da atrasa-da comunidade rural mas do capitalismo industrial, que j sefirmava na Rssia. Lnin atacou o terrorismo com o argumen-to de que as mudanas nas sociedades so o resultado das lu-tas de classes, e que por isso a tarefa dos social-democratas(marxistas) deveria ser conscientizar e organizar o proletaria-do, em aliana com os camponeses. Eles que seriam a forarevolucionria. Emvez do terrorismo anti-modernista, a cren-a nos valores da modernidade e da luta poltica de massas.A maior contribuio intelectual de Lnintalvez esteja na sua

    obra Que fazer? (1902),onde Lnin afirma que o proletariadonunca conseguiria formar uma conscincia socialista por con-ta prpria. Omximo que o proletariado seria capaz de fazer, seabandonado ao universo do senso-comum (aquilo que todosacreditam que seja "a verdade natural da vida"), seria organi-zar sindicatos que lutariam por melhores salrios e condies

  • o socialismo cientfico (veja o captulo 34, na pg. 386)penetrou rapidamente na Rssia, graas ao trabalho intelec-tual de divulgadores como Plekhanov. Estudantes, operriose intelectuais aderiram, entusiasmados. Em 1898, os marxistasfundaram o Partido Operrio Social-Democrata da Rssia(pOSDR). claro que o partido era clandestino e nos anos se-guintes muitos de seus membros seriam presos, mandadospra Sibria e at mortos pelas autoridades tzaristas. Em 1903 oPOSDR se dividiu em dois grupos que, com o passar dos anos,acabariam se tornando dois partidos totalmente diferentes: osbolcheviques e os mencheviques.

    Os mencheviques, liderados por Mrtov, queriam que oPOSDR fosse um partido aberto a todos os simpatizantes, nose exigindo deles grandes compromissos a no ser o apoioconsciente.

    Os bolcheviques, liderados por Lnin (veja o quadro napg. 504), mais tarde seriam chamados de comunistas. Para

    Lnin, o partido revolucionrio deveria ser uma organizaoslida, ultradisciplinada. Mquina de guerra poltica comanda-da por um Comit Central (CC) que, uma vez eleito pelosmembros do partido, deveria ser obedecido cegamente. Ossoldados dessa mquina de luta de classes seriam revolucion-rios profissionais, ou seja, homens e mulheres totalmente de-votados luta contra o tzarismo e pelo socialismo.

    O fato que at 1917, tanto bolcheviques quanto menche-viques concordavam que a luta do momento no era ainda pe-lo socialismo. Avaliavam que qualquer tentativa de implantaro socialismo s seria bem sucedida depois que capitalismorusso tivesse se tornado bastante desenvolvido, com o proleta-riado numeroso e forte. Por isso, a tarefa inicial seria derrubaro tzarismo e instalar um regime democrtico na Rssia, pareci-do som o que havia na Inglaterra. Naquela etapa da histria de-veriam apoiar a revoluo democrtico-burguesa que mo-dernizaria o pas na economia e na poltica.

    Aprimeira crise poltica sria do tzarismo ocorreu em 1905.No ano anterior a Rssia tinha declarado guerra ao Japo, paracontrolar alguns territrios banhados pelo oceano Pacfico.Paraa surpresa de todos os europeus, pela primeira vez uma potn-cia imperialista ocidental perdeu para um pas asitico.

    de vida, mas jamais pensariam em se organizar para tomaro poder e destruir o capitalismo. Da a necessidade de umpartido que combatesse o espontanesmo, isto , a crenade que os trabalhadores sempre sabem o que correto.Propunha um partido que vinculasse todas as reivindica-es, at as mais comuns do cotidiano, luta de classe po-ltica para a tomada revolucionria do poder. Um partido queeducasse as massas, que difundisse as "descobertas cien-tficas de Marx e Engels", que as organizasse e dirigissesuas aes. No partido estariam os melhores elementos, osmais conscientes, a vanguarda do proletariado.

    O idealleninista marcou os partidos revolucionrios du-rante dcadas. Mas foi muito criticado, inclusive pela es-querda. J na poca, a pensadora marxista Rosa Lu-xemburgo dizia que era preciso acreditar mais na criativi-dade das massas. Hoje em dia, muitos acusam Lnin deter criado um partido fechado, dogmtico, que se conside-rava o dono de todas as verdades, embrio de uma futuraditadura stalinista. A polmica est aberta, ou teria perdi-do o sentido nos dias atuais?

    Derrotas na guerra provocaram carestia e fome, sofrimen-to e revolta. Em janeiro de 1905 houve uma passeata pelas ruasda capital, So Petersburgo. Marcha pacfica de gente humildeliderada por um padre da Igreja ortodoxa russa. Pessoas sim-ples que acreditavam que o tzar ignorava o sofrimento do po-vo. Por isso, levavam-lhe uma carta.Assim que lesse, ele se livra-ria dos maus assessores e tomaria providncias. Pelos menos o que o povo achava. Caminhavam sobre a neve, carregando fi-lhos ao colo e entoando cnticos religiosos, pedindo proteode Deus para opaizinho tzar.

    Quando o tzar Nicolau 11ignorou a chegada da multido.Afinal, Ele que tinha o direito de se dirigir ao povo, e no ocontrrio. A insolncia da ral merecia punio! Os cossacos,a tropa imperial de elite, postaram-se diante do palcio. Duasfileiras de soldados apontaram os fuzis: homens de p e outrosajoelhados. O povo continuou caminhando e cantando.Quando se atingiu a distncia adequada, o oficial deu a ordemde disparo. Abriram fogo sobre a multido. O sangue verme-lho coloriu a neve branca. Veio ento a carga da cavalaria.Sabres rasgando o ventre de mulheres grvidas ou perfurandoos olhinhos das crianas. Patadas sobre o povo. Em poucos mi-nutos, o Domingo Sangrento deixava um saldo de milharesde mortos e feridos. Assim os ricos mantinham seus privil-gios na Rssia!

    A Rssia, indignada, levantou-se. Greve geral e operriosnas barricadas. No porto de Odessa, os marinheiros se amo-tinaram. Essa revoluo no era socialista, mas democrtico-

  • Em 1054, a Igreja ortodoxa se separoudefinitivamente da Igreja catlica. Ela noaceitava o domnio de Roma sobre todosos bispos. Os cristos orto-doxos foram influenciadospela cultura bizantina. AIgreja ortodoxa na Rssiaera bastante conservadora.Rica, proprietria de terras,

    ligava-se aos nobres e pregava o apoiodos fiis ao regime tzarista. Por isso, osrevolucionrios a combatiam tanto.

    burguesa. Lutava-se por liberdades democrticas e por umparlamento (Duma) que faria uma Constituio.

    O tzar recuou. Prometeu eleies para a Duma.Apesar deeleita com voto censitrio, aAssemblia se comprometia comreformas polticas. Entretanto, o tzar queria apenas ganhartempo. Pegou um emprstimo com banqueiros franceses e sal-

    vou as finanas do Estado. Aos poucos foi assumindo o contro-le do regime. As tropas que estavam na sia,ainda no conta-minadas pela rebeldia, vieram em apoio ao governo. Parte doproletariado se revoltou, ganhou as ruas e foi massacrado peloexrcito. Em 1907 j estava claro que a revoluo fracassara. Otzarismo continuava absoluto, enquanto as organizaes de es-

    querda eram despedaadas.Como tantas vezes acontece,

    muita gente se desiludiu e largoua poltica. Achavam que o mundojamais mudaria. Aderiam a seitasmsticas e esotricas, e a astrolo-gia e o ocultismo substituram OCapital de Karl Marx. No exlio,Lnin tratou de repensar o quehavia acontecido. Para ele, umacoisa fundamental tinha mudado:a conscincia do povo. Agora, otzar no era mais chamado depaizinho. O povo tinha um novonome carinhoso para ele: eraNicolau, o Sanguinrio. O povoidentificara seu inimigo. A tarefaagora seria organiz-Io e esperaro momento certo para a luta. Essemomento surgiria na PrimeiraGuerra Mundial.

    o MELHOR FILME DE TODOS OS TEMPOSEm1925foi realizado o filme OEncouraado Potemkim, pelo cineasta sovitico Sergei

    Eisenstein. Ainda hoje considerado por muitos estudiosos de cinema o maior filme dearte j feito. A montagem e os enquadramentos inovaram a linguagem cinematogrfica.O filme trata da revolta dos marinheiros no porto de Odessa durante a Revoluo de1905.Outro filme clebre de Eisenstein, Outubro, narra a Revoluo de 1917.(Os doispodem ser encontrados em OVO).Apesar da reconhecida genialidade, no final da car-reira S. Eisenstein foi censurado pelas autoridades stalinistas.

  • Talveznenhum pas tenha sofrido tanto quanto a Rssia,na Primeira Guerra. Despreparada, num conflito que intro-duziu armas novas como a aviao, as armas qumicas e ostanques, em 1916, a Rssiaj tinha milhes de mortos e mu-tilados. claro que a guerra no provocou a revoluo. Mascertamente agravou as contradies sociais.Se o operrioj tinha pouca comida, com o racionamento da guerra seuestmago ficou mais vazio ainda. O mesmo campons es-farrapado era agora o soldado que odiava a guerra.Nenhum exrcito tinha tantos desertares. Centenas demilhares de soldados desobedeciam todas as ordense tentavam retomar aldeia natal.

    Em 8 de maro de 1917 as mulheres dacapital, agora chamada Petrogrado (ex-So Petersburgo), fizeram uma passeata.Era o dia internacional da mulher, co-memorado pelos partidos de esquerda.Na medida em que ia passando pelosbairros industriais, a passeata engrossava.Em pouco tempo ela se transformou numaenorme manifestao operria contra o governo.Gritava-se por paz, po e terra! Po para os operrios (fim doracionamento), terra para os camponeses, paz para o povo rus-so que no queria prosseguir na guerra.

    O tzar Nicolau II convocou as tropas. Soldados ... homenscansados da guerra provocada pelos ricos e pelo tzar... os sol-dados vacilaram ... olharam nos olhos de homens e mulheresiguais a eles ... os soldados confraternizaram com o povo ...

    Poucos dias depois o tzar renunciava. Estava procla-mada a repblica.Ateno: em 1917 houve duas revolues na Rssia.

    Aprimeira foi em maro (fevereiro, pelo antigo calendriojuliano); a segunda, essa sim socialista, foi em novembro.

    A revoluo de maro foi democrtico-burguesa. O tzaris-mo foi derrubado e instalou-se um governo provisrio contro-lado pelos partidos da burguesia liberal.Essegoverno provisriodeveria ser mantido at o fim da Assemblia Constituinte, queditaria as regras para escolher o novo governo.

    A revoluo de novembro (outubro) foi socialista e colo-cou os bolcheviques no poder.

    O tzar foi derrubado por um movimento popular. A revo-luo era democrtica porque acabou com a autocracia e im-plantou um regime de liberdades nunca vistas na Rssia. Ospartidos de oposio e a imprensa puderam funcionar livre-mente. Mas quem tomou o poder foi a burguesia, que estavamuito mais organizada politicamente. Entretanto, para a de-cepo popular, o Governo Provisrio manteve o pas na guer-ra e no tocou na propriedade dos aristocratas. Ou seja, nadade paz, nem de po nem de terra.

    Os partidos de esquerda apoiavam o governo provisriochefiado pelo primeiro-ministro Krensky. Para eles, a alter-nativa era apoiar Krensky ou deixar voltar o tzarismo. Elesno acreditavam na possibilidade de lutar imediatamente pe-lo socialismo. Seria uma violao das leis da Histria.

    Lnin no acreditava nisso. Pensador extremamente flex-vel, capaz de se adaptar s novas circunstncias, ele imagina-

    va a Rssia como o elo mais fraco da corrente capitalista.Sim, era possvel tomar o poder imediatamente porque aRssia despertaria a revoluo socialista imediatamenteem todo o continente europeu. O capitalismo cairia comoum castelo de cartas.

    O dirigente bolchevique estava no exlio na Sua quan-do recebeu a notcia da queda do tzar. Eufrico, dizendo pratodo mundo algo como "eu no disse?" arrumou as malas evoltou Rssia. Chegou numa noite fria e nevoenta de abrilde 1917.A estao ferroviria Finlndia de Petrogrado esta-va lotada de operrios, soldados, bolcheviques, quando Lninsurgiu, debaixo de uma tempestade de aplausos. Ento esca-lou um carro blindado e fez um discurso histrico. Denun-ciou o governo provisrio como um instrumento de domina-o da burguesia e terminou com as clebres palavras: "Todoopoder aos souietesl"

  • Alm dos bolcheviques e dos men-cheviques, existiam muitos outrospartidos na Rssia. O principal parti-do burgus era o Kadete (democrti-co-constitucionalista), favorvel implantao de um parlamentarismodo tipo da Europa Ocidental. Homensde negcio, polticos engravatados eespeculadores davam-se as mos,sonhando com uma Rssia prsperapara seus negcios. Os socialistas-revolucionrios eram herdeiros dosantigos populistas. Dividiam-se emduas alas bastante diferentes. Osso-cialistas-revolucionrios de esquer-da aproximaram-se dos bolchevi-ques e apoiariam durante um tempoa revoluo socialista de 1917. Ossocialistas-revolucionrios de direi-ta eram aliados da burguesia liberal.Um de seus membros era o chefe dogoverno provisrio, Krensky.Os mencheviques agrupavam mar-

    xistas que, mesmo depois da revolu-o de novembro de 1917, continua-

    vam acreditando que o socialismono teria condies de triunfar naRssia naquelas circunstncias. Tam-bm havia muitos mencheviques se-guidores das idias do socialismo re-formista de E.Bernstein na Alemanha.

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    ,'_-"":". OS SOVIETES o. o"r." ' . ' ' . "~,:ro'~~~f ','00 , .",:

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    o que um soviete? Essapalavra russa quer dizer mais oumenos conselho, assemblia popular. Repare bem que os so-vietes no so sindicatos, e sim rgos de poder direto dostrabalhadores, Por exemplo, imagine uma fbrica capitalista.Quem manda nela, quem decide tudo? O proprietrio, o pa-tro. Repare que as ordens dele so cumpridas porque existeuma organizao hierrquica que lhe d sustentao: direto-res, administradores, engenheiros, capatazes, at o mais humil-de peo.Agora vamos supor que existisse um soviete nessa f-brica. O patro dava uma ordem: "Trabalhem mais duas horaspor dia para ajudar a ptria em perigo!". O soviete se reunia,ou seja, havia uma assemblia de trabalhadores da empresa.Cada um deles manifestava suas idias, debatiam e depois ha-via uma votao. Podia ser que o soviete se recusasse a aten-der a ordem do patro.

    Havia sovietes nas fbricas, nos bairros, nos quartis e ba-ses navais, nas aldeias camponesas. O soviete era a negao dopoder do patro, do diretor, do governo, do general. Era a pos-sibilidade de os homens se autogovernarem sem se submetera nenhuma autoridade superior. Pela primeira vez na histria,os mais humildes podiam dizer francamente: "Eu sou o cons-trutor de meu prprio destino".

    Havia uma contradio insustentvel. Afinal de contas,quem mandava na sociedade, o patro, o general e o gover-

    no ou os sovietes? Um dos dois lados deveria prevalecer.Lnn, arguto, chamava essa situao de dualidade de po-deres. Havia o poder do governo provisrio, dos arstocra-tas, dos capitalistas e dos partidos burgueses e havia o po-der paralelo dos sovietes. S um poderia sobreviver. O ou-tro, seria esmagado. Lnin gostava de dizer que os inimigosdo socialismo tinham razo ao falar que os trabalhadoresno conseguiriam governar o Estado burgus. Simples-mente porque, por mais democrtico que fosse o Estado,sua estrutura estava montada para defender os privilgiosda burguesia. Um Estado organizado de maneira hierrqui-ca, fechada, elitista, como a fbrica, o quartel ou o presdio.Por isso, aquele Estado precisava ser destrudo. Um novoEstado, baseado na democracia direta dos sovietes, deveriaser instaurado. Um Estado cujo fundamento fosse a dissolu-o do prprio Estado, um Estado que servisse de instru-mento para que aos poucos a sociedade organizada demo-craticamente assumisse as funes do Estado. Este seria oEstado socialista.

    Os sovietes no foram inveno de Marx,Engels ou Lnn.Elesnasceram como legtima criao do povo. O papel dos bol-cheviques era o de convencer os sovietes a aceitar as propos-tas de tomada imediata do poder. Os bolcheviques precisavamvencer as votaes nas assemblias soviticas. E conseguiram.

  • aos bolcheviques, que na bravura e na determinao conquis-taram um enorme prestgio popular. A partir da os bolchevi-ques ampliaram rapidamente esse prestgio popular. LeonTrtsky, intelectual marxista com grande liderana entre cer-tos grupos de esquerda, ingressou no partido bolchevique efoi eleito presidente do soviete de Petrogrado. Bukhrin, ou-tro destacado intelectual bolchevique,foi eleito presidente dosoviete de Moscou. Foram os prprios trabalhadores que, pormeio dos sovietes, manifestaram sua adeso aos bolcheviques.

    Era chegada a hora da insurreio. Nos muros da capital fo-ram colados cartazes com uma mensagem abusada:"Todasas uni-dades militares devem se submeter s ordens do comit revolu-

    cionrio do soviete de Petrogrado". Em outras palavras:soldados,o governo provisrio e os generais no man-dam mais nada.As instrues seriam ditadas pelosoviete da capital! Nas assemblias de soldados emarinheiros, os homens se levantavam para darseu apoio entusiasmado aos bolcheviques.

    Na noite de 6 para 7 de novembro de 1917(24 para 25 de outubro, no antigo calendrio ju-liano) as foras revolucionrias comearam ase movimentar. Soldados e operrios armados(a Guarda Vermelha) seguiam os planos traa-dos por Lnn no palcio Smolni, sede dos bol-cheviques. Quase no houve resistncia. Osprincipais pontos estratgicos foram tomadossem luta: a estao ferroviria, a central telef-nica, os telgrafos, o palcio de governo. Foi as-sim que as botas enlameadas dos camponesesassaltaram os luxuosos palcios dos condes,dos banqueiros, dos industriais e dos prncipes.Os ex-ministros capitalistas foram presos porpessoas comuns do povo. Trtsky, orgulhoso,dec1arava:"Apartir de agora, senhores, vosso lu-gar na lata de lixo da histria". (Seria mesmo?)

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    :::~.> ' . NOVEMBRO DE 1917, , . -~ .

    Em junho de 1917, uma manifestao de 500 mil pessoasquase se transformou numa insurreio. Os bolcheviques fo-ram contra porque o movimento ainda precisava acumularforas. Tentaram levar a passeata para o lado pacfico. Mas noconseguiram evitar que as foras da represso metralhassem amultido. O governo provisrio comeava a utilizar os mes-mos mtodos do tzarismo! O que se seguiu foi a destruiodos jornais bolcheviques e a ordem de priso contra Lnn,que teve que se esconder. Liberdade para todos, menos paraos bolcheviques ...

    Em agosto, o general direitista Karnlov tentou dar um gol-pe de Estado para restaurar o tzarismo. Desesperado, o gover-no provisrio teve que aceitar a colaborao bolchevi-que na luta para impedir o retorno da autocracia.Os bolcheviques lutaram contra Kornlov porquesabiam que uma ditadura de extrema direita se-ria muito pior do que o governo provisrio.Assim, as armas foram passadas aos operrios,

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    O INCIO ~O.::~OI)ER SOVITICO

    Enquanto os bolcheviques dirigiam a tomada do palcio deinverno e a derrubada do governo de Krensky, realizava-se oSegundo Congresso de Sovietes de toda a Rssia.L,represen-tantes de operrios, camponeses, soldados e marinheiros ele-geram o novo governo, que tinha Lnin no posto mais alto.

    Ser que os bolcheviques cumpririam as promessas depaz, po e terra? Um decreto bolchevique eliminou os lati-fndios. Imediatamente todas as terras foram distribudas pa-ra os camponeses. Assim, de imediato, Lnin obtinha o apoiode dezenas de milhes de russos. Em seguida, foi decretado ocontrole operrio sobre as fbricas e anunciado que o gover-

    no sovitico iria assinar a paz com aAlemanha e a ustria.Sair da guerra naquelas circunstncias no era fcil. A

    Rssia teve que selar um acordo de paz muito desvantajoso.Foi o Tratado de Brest-Litvski. Condies duras mas impe-riosas. Entregam-se os anis para conservar os dedos, no mesmo? E assim os bolcheviques cumpriram a promessa desair do conflito. Mas a Rssia saa da guerra, a guerra no saada Rssia. Porque naquele momento estava acontecendo aguerra civil entre russos brancos e vermelhos. Para piorar,exrcitos enviados por governos estrangeiros apoiavam as for-as anti-bolcheviques.

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    o jornalista norte-americano Iohn Reed estava na Rssianaqueles dias. Registrou tudo e escreveu um livro clebre,Dez Dias que Abalaram o Mundo. O ttulo resumia o senti-mento generalizado. E bvio que as autoridades do mundointeiro no iriam cruzar os braos diante do alastramentomundial das chamas da revoluo socialista.

    Assim,de 1918 a 1921, o pas foi arrasado por uma terrvelGuerra Civil.Os exrcitos brancos, contra-revolucionrios, lu-tavam pela volta ao tzarismo. O Exrcito Vermelho defendia arevoluo socialista. Para piorar, quatorze naes estrangeirasinvadiram a Rssia Sovitica para derrubar os bolcheviques.Pases como EUA,Inglaterra, Frana e Japo enviaram armas e

    tropas em apoio ao exrcito branco.Foi uma guerra suja. Nas cidades ocupadas pelos bran-

    cos, os bolcheviques eram sumariamente executados, en-quanto as propriedades eram devolvidas aos antigos donos.Apesar de tudo, o povo russo no se entregou. A contra-re-voluo seria derrotada. Como foi possvel a vitria? Pra co-mear, o campons russo sabia que a derrota dos bolchevi-ques significaria devolver as terras para os nobres. Por issoele lutava to valorosamente. Os soldados brancos e dos pa-ses invasores nem sabiam direito o motivo da guerra.Estavam cansados, desmotivados.A solidariedade internacio-nal funcionou. Por exemplo, os estivadores norte-america-nos entraram em greve e se recusaram a carregar navios quemandavam equipamentos para combater a Rssia Sovitica.Amarinha francesa se amotinou.

    O pior para a burguesia aconteceu: em vrios pases daEuropa os trabalhadores tentaram imitar seus irmos russos.NaAlemanha e na Hungria, durante algumas semanas, chega-ram a se formar governos baseados em sovietes. Na Itlia hou-ve ocupao de fbricas por operrios e criao de conselhosoperrios. A revoluo ameaava se espalhar! Resultado: ospases capitalistas resolveram abandonar a Rssia. Ela foi cer-cada por um cordo sanitrio, isto , ficou praticamente im-pedida de ter contato com o resto do mundo. Queriam sufo-c-Iaeconomicamente. "Umpas governado por filhos de lava-deiras no ir durar muito tempo", era expresso comum naimprensa conservadora da poca.

    Mas o pior que a Rssia foi arrasada. O pas j era atrasa-do e pobre. Depois da guerra civil, virou o caos. Plantaesdestrudas, economia paralisada, tudo isso produziu uma fomeque vitimou milhes de pessoas. Chegou a haver casos de ca-nibalismo: os cadveres eram devorados por pessoas famintase desesperadas. Foi da que surgiu a adorvel lenda de que oscomunistas comem criancinhas.

    Como recuperar a economia? Essa era a tarefa urgente.

    Durante a guerra civil a Rssia viveu a fase do comunismode guerra, quando o Estado assumiu o controle quase total daeconomia do pas. Os problemas foram agravados pelos errosdo governo sovitico. Por exemplo, com as requisies fora-das de gros dos camponeses para alimentar os soldados naguerra civil, o que desestimulou a produo agrcola.

    Apartir de 1921, por sugesto de Lnn, iniciou-se uma no-va fase da construo do socialismo, a NEP - Nova PolticaEconmica. O objetivo era reconstruir a economia da Rssia.O governo permitiu a existncia de pequenas empresas priva-das, como fazendas de tamanho mdio, padarias, lojas e ofici-nas com meia dzia de empregados. O grosso da indstria que continuaria nas mos do Estado. A idia de combinar em-

    presas estatais com pequenas empresas particulares foi razoa-velmente bem sucedida e a economia voltou a crescer. ParaLnn, esse estmulo ao desenvolvimento dos pequenos neg-cios privados representava um verdadeiro capitalismo deEstado encravado na economia socialista da URSS.Mas eleacreditava que tudo funcionaria bem se os trabalhadores man-tivessem o controle do Estado.

    Lnin no pde viver o bastante para ver o sucesso/insu-cesso da Unio das Repblicas Socialistas Soviticas (URSS),o novo nome do pas. Em 1922, quando saa do cinema, levouum tiro de uma terrorista. A partir da sua sade foi pioran-do. Teve um derrame cerebral e ficou quase paralisado.Faleceu em 1924.

  • Os temores leninistas comearam a se justificar logo depoisde sua morte, quando a liderana do Partido Comunista passoua ser disputada palmo a palmo, intriga a intriga, por Stlin eTrotsky (veja o quadro abaixo).Trtsky achava que o socialis-mo nunca seria vitorioso se ficasse confinado na atrasada URSS.Defendia o avano do Exrcito Vermelho sobre a Europa, paraapoiar os movimentos revolucionrios. Era a teoria da revolu-o permanente. Stlin acreditava que a vaga revolucionriaeuropia vivia um refluxo. Fazer com que o Exrcito Vermelhoavanasse seria suicdio. O ideal no momento seria conservar aURSSintacta e, mais tarde, se possvel, ajudar a difundir o socia-lismo. Stlin acreditava na teoria do socialismo num s pas.

    A disputa entre os dois foi crescendo. Stlin, mais ardilo-so, era o secretrio-geral do Partido Comunista. Por causa dis-so, acumulou muitos poderes e prestgio junto aos burocra-tas (funcionrios) do partido. Manobrando nos bastidores,com cinismo e traio, conseguiu o controle do partido.Trtsky foi perseguido e acabou se exilando no estrangeiro.Como Lnin previra, a democracia estava morrendo naURSS.Stlin assumiu o controle total do pas e em nome docomunismo iria chefiar uma das maiores ditaduras que omundo j conheceu.

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    STLIN' VERSUS 'TROTSK'Y . ti;. . - ,

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    Lnin acreditou que em pouco tempo a Revoluo acontece-ria naAlemanha e depois se espalharia pela Europa. Por isso, que-ria defender o governo bolchevique de qualquer maneira, pois oExrcito Vermelho poderia ser decisivo no apoio aos movimen-tos europeus. Assim,no hesitou em calar a boca de todos aque-les que punham em dvida os caminhos tomados. Os outros par-tidos polticos foram proibidos de funcionar. A imprensa ficoucontrolada pelos bolcheviques. Uma rebelio de marinheiros, in-fluenciados pelos anarquistas, na base de Kronstadt, foi esmaga-da com energia. A oposio operria, liderada por AlexandraKollonti, que desejava o domnio dos sindicatos na planificaoeconmica, foi obrigada a desistir de suas idias. Para Lnin, essegoverno forte, de ditadura do proletariado, seria temporrio,permanecendo enquanto a revoluo estivesse em perigo. Mascomo control-Io? No estaria a o germe do stalinsmo?Talvez oprprio Lnin tivesse pressentido isso quando, pouco antes demorrer,ditou seu testamento poltico que s seria publicado trin-ta anos depois. O dirigente bolchevique estava muito preocupa-do com o futuro da democracia na URSS.Dizia que o socialismos poderia triunfar se fosse democrtico.Tinha medo da vaidadedeTrotsky e da brutalidade de Stlin.Propunha dissolver a autori-dade pessoal no partido em favor da autoridade coletiva.

    DOIS HOMENS, DOIS CAMINHOS?

    Josef Stlin("homem deao") nasceu naGergia, naosubordinada aoimprio russo.De famlia po-bre, operriona juventude,estudante noseminrio queformava pa-dres, no teve

    @ uma grande formaointelectual. Mas era um militante mui-to disciplinado, esforado e excelen-te organizador. Ao contrrio de Lnine Trotsky, Stlin pouco se destacou nomomento da Revoluo de 1917. De-pois, agindo com astcia, foi conquis-tando cargos na burocracia do parti-do at se tornar o chefe incontest-vel, aps a morte de Lnin (1924).Dog-mtico, com horizontes intelectuaisestreitos, era tido como fingido, des-confiado e implacvel com os inimi-gos. Quem discordasse dele era con-

    siderado inimigo do proletariado.Ordenou a priso e morte de milharesde pessoas, inclusive a maior parte davelha guarda bolchevique que tinhasido companheira de Lnin. Morreuem 1953,como o homem mais podero-so da URSS. Hoje, rejeitado pelosmarxistas do mundo inteiro.De famlia burguesa, lev Trotsky,

    estudante talentoso, era brilhanteorador e intelectual sofisticado. Pole-mizou bastante com Lnin em vriosaspectos e manteve-se indeciso dian-te do conflito entre os men-cheviques e os bolcheviques.Mas em 1917 entrou para opartido bolchevique e contri-buiu para a revoluo de no-vembro e para a luta contra oexrcito branco durante aguerra civil. Depois da mortede Lnin entrou em confrontoe foi derrotado por Stlin, queo expulsou da URSS.No exlio,L. Trotsky continuava socialis-ta, embora criticasse a URSS,que teria se tornado um Esta-

    do operrio burocraticamente defor-mado, ou seja, a estrutura da URSSseria superior dos pases capitalis-tas porque j no existia mais bur-guesia, mas necessitava de uma re-voluo democrtica do proletariadopara derrubar a burocracia que para-sitava o Estado. Caso contrrio, o ca-pitalismo poderia retornar URSSpelas mos da prpria burocracia.Trotsky morreu no Mxico em 1940,assassinado por um agente secreto amando de Stlin.

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    res de cabelo, sapatos sero fabricados e pronto. Em resumo,no capitalismo o patro pergunta: o que d mais lucro? No so-cialismo o povo pergunta: o que melhor para ns?

    Na URSSno era exatamente o povo que decidia o que iriaser produzido. As ordens vinham de Stlin e da cpula do par-tido. ANEPfoi cancelada e teve incio uma nova etapa econ-mica. Praticamente todas as empresas foram estatizadas e aagricultura foi coletivizada (veja apg. 510).De cinco em cin-co anos o Estado estabelecia um Plano Qinqenal. Tudo eraminuciosamente planejado: os investimentos, o aumento daproduo esperado, o desenvolvimento da economia. Da qua-lidade do cimento quantidade de sabonetes, tudo era plani-ficado e produzido pelo Estado.

    Stlin decidiu que a prioridade da economia nacional de-veria ser dada indstria pesada. Seria o caminho mais rpi-

    do para tornar a URSSuma potncia econmica. Assim,em vez de o pas fabricar perfumes, roupas luxuosas,brinquedos sofisticados, jias e automveis, passou a pro-duzir ao, gasolina, cimento, navios, tratores, locomoti-vas, fertilizantes, cido sulfrico, mquinas, guindastes.Os bens de consumo tinham pouca ateno do Estado.

    Tempos dificeis, em que cada pessoa s dispunha deum par de sapatos e era comum duas famlias dividirem omesmo apartamento. Em troca, a economia da URSScres-cia como nenhum outro pas cresceria neste sculo. Noprazo de uma dcada a URSSdeixou de ser um pas atrasa-do para se tornar uma das maiores potncias econmicasdo globo. Asfavelas e as crianas nuas pedindo esmolas emMoscou comearam a fazer parte do passado. Os maciosinvestimentos do Estado proporcionavam sade e educa-o para toda a populao.A URSSfoi o primeiro pas doplaneta a estender a sade gratuita e a educao fundamen-tal pblica a toda a sociedade. Seriamesmo a aurora de umnovo mundo? Os filhos de lavadeiras estariam triunfando?

    Uma das principais diferenas entre o capitalismo e o so-cialismo que no capitalismo a economia subordinada aomercado e no socialismo a economia planificada. Por exem-plo, o que mais importante para o bem-estar social, que o pasfabrique sapatos ou secadores de cabelos? Num pas capitalis-ta, quem decide o que vai ser produzido o dono da empresa,baseado nas necessidades do mercado. Se fabricar secadoresde cabelo der mais lucros, ele ir investir em secadores de ca-belo. Isso no resultado da insensibilidade do burgus, masda prpria realidade do mercado. Na selva, temos que ser sel-vagens. Se ele investir num setor pouco lucrativo acabar indo falncia. No socialismo no existem interesses privados.A so-ciedade que deve decidir o que vai ser produzido. Se a popu-lao decidir que sapatos so mais importantes do que secado-

    O regime stalinista foi uma ditadura que pouco tinha a vercom os sonhos de Marx e Engels. Toda a populao da URSStinha que obedecer ao Estado e ao Partido Comunista chefia-do por Stlin. Quem discordasse do governo era preso. ASibria ficou lotada de campos de concentrao. As eleiesse tornaram um jogo de cartas marcadas, sempre vencidas pe-los candidatos oficiais. Os sovietes perderam toda a autono-mia. Os diversos povos da URSSforam obrigados a se subme-ter aos valores culturais russos.

    Um exemplo da brutalidade stalnsta foi a coletivizao: forada da agricultura. Quando os bolcheviques assumiram adireo do Estado, eleitos por representantes dos sovietes, qua-

    se todas as terras dos latifundirios foram distribudas para asfamlias camponesas. Apenas algumas grandes fazendas eramestatais, os sovkhoses.A partir de 1929 teve incio a coletiviza-o da agricultura. Em vez de pequenas propriedades indivi-duais, os camponeses deveriam se unir em cooperativas, oskolkhozes. A idia era formar unidades produtivas maiores,que deveriam - o que se esperava - apresentar maior rendi-mento econmico. Mas os camponeses eram muito apegados sua terrinha. No queriam se juntar cooperativa. Emvez deum trabalho paciente de conscientizao e estmulo econmi-co, Stlin resolveu coletvizar na marra. Enviou soldados parao campo e obrigou os camponeses a formar kolkhozes. Foi

  • uma tragdia. Os camponeses preferiam queimar a plantao ematar o gado a obedecer a ordem dos burocratas de Moscou.Ento, muitos deles foram presos e fuzilados. Os camponesesabastados, os klacs, fazendeiros prsperos com meia dziade empregados, foram severamente reprimidos. Consideradosinimigos do socialismo,milhares acabaram fuzilados.O resulta-do foi a queda vertiginosa da produo agrcola. Toda a hist-ria da URSSfoi de dificuldades na agricultura. A coletivizaodo campo foi uma amostra terrvel dos mtodos stalinistas: odogmatismo, a imposio brutal de uma viso de mundo, odio a todos os que discordavam. Karl Marx jamais poderiaimaginar que aquilo seria chamado de socialismo!

    Por que isso tudo aconteceu? Por que uma revoluo popu-lar levou ditadura?Teria sido mesmo uma revoluo popular?Teria sido uma revoluo?Teria sido socialista?Existemmuitaspolmicas sobre o assunto. At hoje h muito pouco consensoentre os historiadores, principalmente porque ainda existemmarxistas e anti-marxistas.Por exemplo, h os que dizem que osocialismo oposto democracia: s existe liberdade onde pre-valece a propriedade privada e a desigualdade social.Mas dita-duras capitalistas daAmrica Latina talvez tivessem mostrado ocontrrio ...Uns botam a culpa no leninismo, cujo partido disci-plinado e centralizado seria o germe do autoritarismo. Talvez,mas por que ento os trabalhadores russos, to rebeldes, segui-ram o partido bolchevique de Lnin?Alguns autores dizem queos bolcheviques nada mais fizeram do que dar um golpe deEstado.Talvez,mas bom lembrar que Lnin agarrou o destinopela garganta porque contava com a Revoluo alcanando aAlemanha. Esperava que fosse apenas o despertar para uma re-voluo europia e por causa dessa aposta valia a pena arriscartodas as fichas,recorrendo inclusive ao fechamento de todos osoutros partidos polticos. A revoluo internacional no veiomas ficou a estrutura do partido nico, da proibio de criar fra-es de opositores, a represso aos considerados "contra-revo-lucionrios" ... H quem lembre que o povo russo no tinha ex-perincia democrtica, pois vivera sculos sob o chicote tzaris-ta. Por isso, no teria sabido se defender quando o Estado vol-tou a se tornar incontrolvel. Outros lembram as dificuldadesda URSS,cercada pelo cordo sanitrio dos pases capitalistas,o que a levou a militarizar a sociedade. Formou-se uma mentali-dade coletiva que atribua as crticas e problemas aos "inimigosdo socialismo". Alm disso, dezenas de milhares de operriosconscientes, a vanguarda da Revoluo,tinham perecido nas ba-talhas da guerra civil.Praticamente s restara o partido comu-nista como fora consciente. E h ainda os que recordam quepara o marxismo original, seria inconcebvel o triunfo do socia-lismo num pas atrasado como a Rssiaaps a guerra civil.O so-cialismo s teria triunfado na avanada Alemanha, ou nosEstados Unidos...Talvez,mas o fato que naqueles pases o so-cialismo no triunfou ...

    O prprio Lnin acreditava que o Estado iria enfraquecen-do, enquanto a sociedade ampliaria sua capacidade de se au-togovernar. Foi exatamente o contrrio ao que aconteceu. Opartido e o Estado passaram a se confundir e a assumir todasas funes de controle social. A burocracia foi se tornando

    o escritor ingls George Orwell era socialista anti-sta-linista. No livro A Revoluo dos Bichos, ironizou os des-caminhos stalinistas do regime sovitico, no qual "unsbichos so mais iguais do que os outros". Emoutra obra,1984,descreve uma sociedade futura na qual o Estadousa a tecnologia para controlar totalmente o cidado.Que sociedade seria essa? A URSSde Stlin ou o capi-talismo avanado do sculo XXI?

    uma camada destacada da sociedade, acumulando privilgios.O governo stalinista construiu o gigantesco sistema de

    campos de trabalho, os Glags, A proposta inicial pareciaprogressista: reeducar os burgueses pela pedagogia do traba-lho coletivo numa espcie de colgio interno para adultos.Entretanto, a maioria dos Gulags se tornaram campos de con-centrao com trabalho forado at os limites da resistnciahumana. Milhes de presos polticos foram obrigados a traba-lhar em obras pblicas em regime semi-escravo. O nmero devtimas fatais incalculvel e atingiu especialmente os indiv-duos com mais alto grau de instruo. Embora o terror doGlag tenha sido tpico de apenas uma fase da histria sovi-tica - o tempo de St1in- marcaria definitivamente a mem-ria do socialismo no mundo. Stlin mostrou-se implacvelcom seus adversrios polticos, at mesmo os marxistas. Amaior parte da velha guarda bolchevique, homens comoBukhrin, Kmenev e Zinviev, foram presos e fuzilados soba acusao quase surrealista de "traio ao socialismo". O co-munista mais sincero que criticasse Stlin era considerado"inimigo do povo". Essa foi uma das maiores contradies daURSS:nenhum pas perseguiu tantos comunistas como aURSSde Stlin!

    Avida cultural sovitica tornou-se dogmtica. O marxismodeixou de ser uma corrente filosfica alimentada pela autocr-tica e pela polmica para se tornar um montono catecismo.Pensadores comunistas criativos como G. Lukcs, W Ben-jamin, Rosal Luxemburg, A.Gramsci foram ignorados, descar-tados ou atacados. Materialismo dialtico era o nome para asreceitas de bolo ideolgicas da confeitaria comunista. O mar-xismo passou a ser divulgado em manuais ridiculamente sim-plificados e dogmticos. A arte moderna que tanto floresceuno incio da Revoluo foi proibida por St1inpor ser conside-rada "incompreensvel para as massas". Svalia o estilo realis-mo socialista, ou seja, livros e pinturas acadmicos, falando deoperrios sujos de graxa e felizes por seguir as orientaes dopartido. Qualquer crtica social era vista como "derrotsmoburgus". Pensadores, cientistas e artistas que no seguiam aorientao oficial do partido podiam ser afastados de seu tra-balho e at presos ou fuzilados.

    Quando esto em dificuldades, as pessoas tendem a seapegar a uma autoridade superior. Sentem-se protegidas porum poder forte acima delas. O povo russo adorava Stlin co-

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    mo um grande lder. O prprio governo estimulava esse culto personali-dade. Nas escolas, nos jornais, nos espetculos esportivos, no cinema, em to-dos os cantos Stlin era tratado como o guia genial dos povos, como omaior pensador epoltico do sculo XX.

    O stalinismo marcou o movimento socialista. Durante quase todo o scu-lo XX,muitos comunistas acreditaram que os defeitos da URSSno passavamde "calnias da burguesia". Mas para milhes de pessoas, inclusive para ospovos da URSS,o socialismo passou a ser sinnimo de stalinismo. E isso tor-nou o socialismo inaceitvel.

    O socialismo ser sempre stalinista? Para muitos estudiosos atuais, sim. Epor isso o socialismo estaria condenado ao fracasso. No obstante, seria bomlevar em conta que muitos marxistas, como os alemes Rosa Luxemburg eKautsky, por exemplo, criticaram a experincia da URSSdesde os primeirostempos. Mais tarde, Trotsky tambm atacou a "deformao burocrtica" daURSSstalinista. Stlin acusava esses marxistas de serem "agentes da burgue-sia". Seriam mesmo? E ser que essa acusao no poderia ser vista como ummaravilhoso elogio involuntrio aos "valores da democracia burguesa"?

    Os partidos comunistas ligados ao Komintern passaram aseguir a mesma linha intolerante do stalinismo, expulsando to-dos os membros que discordassem do Comit Central dirigente.Como se v, o stalinismo foi uma doena que se disseminou porquase todos os grupos socialistas.No PC do Brasil,desenvolver-se-iaum culto personalidade de LusCarlos Prestes, tido comoinfalvel dirigente, que se assemelhava ao culto pblico a Stlin.

    Em 1943,no meio da Segunda Guerra, a URSSdeterminouo fim do Komintern. Ela queria mostrar boa vontade para comseus aliados (EUAe Inglaterra), contra aAlemanha nazista. Emnome de sua prpria segurana, a URSSaceitava conter os mo-vimentos revolucionrios pelo mundo.

    Em 1919 foi fundado em Moscou, a nova capital da URSS,oKomintern, isto , a Terceira Associao Internacional dosTrabalhadores. Ela reunia todos os partidos comunistas que se-guiam o modelo boIchevique e tinha como objetivo orientar aslutas revolucionrias no mundo. O Komintern acabou impondoa poltica externa da URSSsobre os demais pases. Por exemplo,aAmrica Latina era considerada despreparada para uma revo-luo socialista. Foi por causa disso que o PC do Brasil(mais tar-de mudou o nome para PC Brasileiro), fundado em Niteri em1922, acreditava que seria preciso apoiar uma tal "burguesia na-cionalista" na luta pela revoluo democrtica e antifeudal. Oproblema que nunca houve feudalismo no Brasil...

    o NASCIMENTO DA URSSEm dezembro de 1922 a Rssia passava a se chamar

    Unio das Repblicas Socialistas Soviticas (URSS). Abandeira vermelha possua o smbolo da foice e domartelo, que significa a unio dos operrios com oscamponeses. A estrela expressa o internacionalismoproletrio: trabalhadores do mundo inteiro, uni-vos!O partido bolchevique passou a se chamar Partido

    Comunista da URSS.

    ... mas talvez este smbolo seja maisrespeitado.