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Revista do Instituto do Ceará (HISTÓRICO, GEOGRÁFICO E ANTROPOLÓGICO) Cඈආංඌඌඞඈ ൽൺ Rൾඏංඌඍൺ Presidente Ednilo Gomes de Soárez Eleitos Francisco Fernando Saraiva Câmara Lúcio Gonçalo de Alcântara Geová Lemos Cavalcante Tomo CXXX – Ano CXXX (Publicada anualmente, sem interrupção, desde 1887, ano da fundação do Instituto do Ceará). 2016 Dedimus profecto grande patientiae documentum Fortaleza – Ceará – Brasil Revista do Instituto do Ceará Fortaleza Vol. 130 392 p. 2016 6

43182 instituto do ceara MIOLO revista...Ribeiro Júnior e de dona Maria Feijó da Costa Ribeiro (Figura 2). O pai foi jurista e pertenceu à Padaria Espiritual (Fortaleza – CE),

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Revista do Instituto do Ceará(HISTÓRICO, GEOGRÁFICO E ANTROPOLÓGICO)

C R

PresidenteEdnilo Gomes de Soárez

EleitosFrancisco Fernando Saraiva Câmara

Lúcio Gonçalo de AlcântaraGeová Lemos Cavalcante

Tomo CXXX – Ano CXXX(Publicada anualmente, sem interrupção, desde 1887,

ano da fundação do Instituto do Ceará).

2016

Dedimus profecto grandepatientiae documentum

Fortaleza – Ceará – Brasil

Revista do Instituto do Ceará Fortaleza Vol. 130 392 p. 2016

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Além dos 130 Tomos correspondentes aos cento e vinte e nove anos de existência do Instituto do Ceará, foram editados os Tomos Especiais seguintes:1924 – TE – 1 (Centenário da Confederação do Equador)1929 – TE – 2 (Falecimento do Dr. Tomás Pompeu de Sousa Brasil)1938 – TE – 3 (Falecimento do Barão de Studart)1956 – TE – 4 (Centenário do Barão de Studart)1972 – TE – 5 (Sesquicentenário da Independência do Brasil)1977 – TE – 6 (90º. aniversário do Instituto do Ceará)1984 – TE – 7 (Centenário da Abolição da Escravatura no Ceará)1987 – TE – 8 (Centenário do Instituto do Ceará)

Endereço: Rua Barão do Rio Branco, 1594 - Centro60025-061 – Fortaleza – Ceará – BrasilTelefone: (85) 3021.7559http: www.institutodoceara.org.bre-mail: [email protected]

P - P

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M S

N A matéria assinada é de responsabilidade do respectivo autor

Revista do Instituto do Ceará

Revista do Instituto do CearáFortaleza:V. anualTrimestral até 19281. Geografi a, História, Antropologia – periódicoInstituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico)

CDU: 91 + 93.572 (05 ISSN 0100-3585

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Verifi cação de MerecimentoPedro Sisnando LeiteJosé Augusto Bezerra

Francisco Ésio de Souza

Defesa do PatrimônioJosé Liberal de Castro

Carlos Mauro Cabral BenevidesFrancisco Adegildo Férrer

RevistaFrancisco Fernando Saraiva Câmara

Lúcio Gonçalo de AlcântaraGeová Lemos Cavalcante

Conselho FiscalPaulo Ayrton Araújo – Marcelo Gurgel Carlos da Silva – José Filomeno Moraes Filho

HistóriaPedro Alberto de Oliveira SilvaGisafran Nazareno Mota Jucá

Eduardo de Castro Bezerra Neto

Geografi aMaria Clélia Lustosa Costa

Raimundo Elmo de Paula VasconcelosEustógio Wanderley Correia Dantas

AntropologiaRejane Maria Vasconcelos Accioly de Carvalho

Eduardo Diatahy Bezerra de MenezesOsmar Maia Diógenes

Instituto do Ceará(Histórico, Geográfi co e Antropológico)

Diretoria (4 mar. 2015 - 4 mar. 2017)

Presidente de Honra Paulo Ayrton Araújo Presidente E G S 1º Vice-Presidente P S L 2ª Vice-Presidente A M R M G Diretor da Biblioteca e Arquivo P A O S Diretor de Comunicação M Â A (N ) Secretário-Geral O M D 1º. Secretário G L C 2º. Secretário A T P lº. Tesoureiro I B P S 2º. Tesoureiro L P K F

Conselho Superior Consultivo

Presidente Carlos Mauro Cabral BenevidesJosé Augusto Bezerra

Lúcio Gonçalo de Alcântara - Cid Sabóia de CarvalhoJuarez Fernandes Leitão

Comissões

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Instituto do Ceará(Histórico, Geográfi co e Antropológico)

Fundado a 4 de março de 1887, na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, onde tem sede e domicílio.

Sociedade civil, de caráter científi co e cultural, sem fi ns lucrati-vos, duração por tempo indeterminado. Reconhecida de utilidade pública pelo Decreto Federal n. 94.364, de 22 de maio de 1987, Lei Estadual n. 100, de 15 de maio de 1936, e Lei Municipal n. 5.784, de 13 de dezembro de 1983.

Tem por fi nalidade específi ca o estudo da História, da Geo-grafi a, da Antropologia e das Ciências correlatas, especialmente do Ceará.

Para alcançar seus objetivos precípuos, realiza sessões ordinárias, especiais e solenes, e mantém: – intercâmbio cultural com instituições científi cas e literá rias na-

cionais e estrangeiras; – a Revista do Instituto do Ceará, em que se publicam colabora-

ções de Sócios, documentos históricos e outros trabalhos que a comissão de redação achar conveniente;

– um Museu Histórico e Antropológico de caráter regional; – Biblioteca, Hemeroteca, Mapoteca e Arquivo; – Auditório Pompeu Sobrinho, para solenidades.

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Ao Leitor

rosseguindo a tradição, fazemos a entrega da Revista do Ins-tituto do Ceará no dia 04 de março, data comemorativa da fundação de nossa entidade, estando portanto o periódico em circulação na data apra-zada. Este feito é de ser creditado aos colaboradores que entregaram suas matérias no prazo determinado, à Comissão encarregada dessa missão e à Expressão Gráfi ca, aos quais rendemos nossos agradecimentos.

A Revista retrata as atividades desenvolvidas pelo Instituto do Ceará e por isso são publicadas as Atas de suas reuniões em sua inteireiza, sem qualquer omissão ou subterfúgio.

Infelizmente é impossível, por inexistência de espaço, inserir os textos de todas as Conferências proferidas e os Discursos pronunciados. De doze Conferências, foram selecionadas duas para publicação; uma do Sócio efetivo Lúcio Gonçalo de Alcântara, por sua relevância histórica inédita, e a outra, versando sobre a cidade de Fortaleza, do reconhecido professor e político Artur Bruno, Secretário do Meio Ambiente do Estado do Ceará, não integrante dos quadros do Instituto.

Não é demais realçar que o Instituto é sempre aberto à comunidade; não é uma entidade hermética como aparenta ou supõe-se ser, sendo sufi -ciente revelar que dos doze Conferencistas, sete foram escolhidos dentre acadêmicos e profi ssionais das mais diversas áreas de interesse científi co, merecendo destacar que essas preleções são franqueadas ao público sem qualquer restrição.

Dentre as colaborações traduzidas em Artigos, chamamos a atenção para o trabalho do Pe. Ernando Luiz Teixeira de Carvalho, Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfi co Paraibano (IHGP), que vem elucidar passagens da vida do Pe. José Antônio Maria Ibiapina, cearense candidato à honra dos altares.

Ednilo SoárezPresidente

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ARTIGOS

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Um Modelo de Cidadão:Carlos da Costa Ribeiro (1885 – 1958)

M P P *

ão é tarefa fácil a de escrever sobre Carlos da Costa Ribeiro (1885 – 1958) – (Figura 1), tal a diversidade de suas atividades nas vidas pública e privada, sempre exercidas com elevada competência e exem-plar desprendimento. Foi um paradigma de cidadão e ilustre brasileiro.

Teve boa origem, pois era fi lho do doutor José Carlos da Costa Ribeiro Júnior e de dona Maria Feijó da Costa Ribeiro (Figura 2). O pai foi jurista e pertenceu à Padaria Espiritual (Fortaleza – CE), onde foi conhecido por Bruno Jaci – era paraibano e a mãe cearense.

Nasceu em Fortaleza aos 5 de abril de 1885 e faleceu na mesma cidade em 10 de outubro de 1958. Estes foram os limites extremos de uma vida afanosa.

Começou seus estudos com o próprio pai, indo depois para os Ginásios Monsenhor Salazar e Padre Barbosa. O curso secundário foi feito no Liceu do Ceará (atual Colégio Estadual do Ceará), nos anos de 1897 a 1901, onde participou do jornal Iracema Literária.

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará.

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Figura 1 – Carlos da Costa Ribeiro (Fortaleza – CE, 05/04/1885 – 10/10/1958), em diferen-tes fases da vida. Cortesia de Roberto de Azevedo Moreira Filho (Bob).

Figura 2 – Carteira de Identidade de Carlos da Costa Ribeiro, com menção aos nomes dos seus genitores. Cortesia de Roberto de Azevedo Moreira Filho (Bob).

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No ano seguinte (1901), matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, graduando-se médico em 4 de janeiro de 1908, depois de defender, no dia 2 anterior, a tese “Pequena contribuição ao estudo da simulação de molestias na infancia”, apresentada em 26 de novembro de 1907, vinculada à cadeira de Clínica Pediátrica e aprovada com distinção.

Interno do Hospital da Força Policial do Distrito Federal (1904 – 1905) e da

Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (primeira classe) – (1906 – 1908).

Ainda no Rio de Janeiro, deu início às suas atividades docentes, ensinando Física, Química e Biologia no Colégio São Bento (OSB), onde foi médico.

Retornando ao Ceará em 1909, foi para Quixadá, como médico e professor do Ginásio São José (OSB), na Serra do Estevão, ensinando Física, Química, História Natural e Corografi a do Brasil (Girão, 1958), onde também foi médico.

Casou-se em Fortaleza aos 22 de fevereiro de 1911, com Maria de Lourdes Barbosa Lima (Mariinha) – (nome de casada: Maria de Lourdes Barbosa da Costa Ribeiro) – (Figura 3), de cujo consórcio nasceram seis fi lhos: Elsa (06/06/1912), Ilca (24/02/1914), José Carlos (04/11/1915), Caio Carlos (10/06/1918), Vanda (30/12/1919) e Maria de Lourdes (29/06/1925).

Atividades no Acre

A convite do doutor Elisiário Távora (magistrado), foi para o então Território Federal do Acre, demorando-se por lá de 1911 a 1914, compre-endendo dois períodos, intercalados por vinda ao Ceará.

Nomeado diretor interino de Higiene e Assistência Pública do Departamento Federal do Alto Purus, em Sena Madureira (AC), depois efetivado (20/01/1912). Naquela cidade, organizou e dirigiu o Hospital de Caridade 22 de Maio (Figura 4).

Médico contratado da Companhia Regional do Exército no Alto Purus (cujos vencimentos nunca recebeu). Chefe de uma Comissão desig-nada pelo Governo Federal para a escolha e estudo in-loco de um lugar no Alto Purus, para a instalação do 3º Termo Judiciário e construção de uma povoação, base do seu desenvolvimento.

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Fundou o Centro Seniátrico de Sena Madureira (primeiro presi-dente), sociedade de fi ns culturais e deontológicos.

Exerceu o cargo de subprefeito de Sena Madureira, sem remune-ração, nomeado por ato do presidente Hermes da Fonseca.

Deixou o Acre (Sena Madureira) em 12 de março de 1914, indo direto para Paris, onde chegou no seguinte 27 de abril.

Atividades na França

Uma vez em Paris, entrou para a Université de Paris – Hospital de Enfants Malades e Clinique Ternier. Foi assistente no hospital da Union des Femmes de France, da Cruz Vermelha Francesa.

Figura 3 – Casal Carlos da Costa Ribeiro e Maria de Lourdes da Costa Ribeiro. Cortesia de Roberto de Azevedo Moreira Filho (Bob).

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Figura 4 – Hospital de Caridade 22 de Maio, em Sena Madureira (AC), 1911. Cortesia de Roberto de Azevedo Moreira Filho (Bob); restaurada pelo pintor Vlamir de Sousa e Silva.

Quando rebentou a Primeira Grande Guerra, tratou de voltar para o Brasil, via Londres, chegando a Fortaleza em 26 de outubro de 1914.

Atividades em Fortaleza

A maioria de suas atividades foram realizadas em Fortaleza, impondo que sejam tratadas por grupos temáticos. Na capital cearense, além da clínica médica particular, ocupou cargos públicos, foi pioneiro na instalação de serviços médicos, professor de cursos secundários e superiores, participou de associações profi ssionais e sociais, foi editor de revistas científi cas e/ou culturais e escritor. Também, se mostrou empreendedor.

Médico e Pioneiro

Esta é a principal vertente de suas atividades em Fortaleza: nome-ado em 6 de novembro de 1914 inspetor de Higiene Pública do Ceará,

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passando a diretor em 1918; médico do Asilo de Mendicidade (depois Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza), sem remuneração (1915); co-fundador da Maternidade Doutor João Moreira (1915); Ajudante Histo-Patologista de Veterinária do Serviço Industrial (1915), depois chefe de laboratório do Serviço de Saneamento Rural (Departamento-Nacional de Saúde Pública; deu atendimento médico a retirantes da seca (1915), no campo do Alagadiço; inspetor e diretor geral de Higiene do Ceará, atual Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (1915 – 1920); instalou o pioneiro laboratório da Diretoria de Higiene (1915), onde foi bacteriologista e chefe; fundou e dirigiu o Instituto Pasteur – (Figuras 5 e 6), instituição pioneira para tratar da hidrofobia, produzindo vacinas e as distribuindo pelo Nordeste e Norte do Brasil – foi inaugurado em 12 de outubro de 1919; montou e dirigiu o pioneiro Gabinete de Raios X da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza (1925), gratuito para pessoas carentes; chefe do Laboratório Central da Comissão de Saneamento Rural (23 de abril de 1928).

Criou ainda os pioneiros Serviço de Fisioterapia e o Laboratório de Análises Clínicas do Ceará. Neste último, instalou um Serviço de Diatermia e Raios Ultravioleta, para combater as sequelas da poliomielite.

Professor e Diretor

Esta foi a segunda vertente das suas atividades em Fortaleza. No Ceará, iniciou-se no magistério no já referido Ginásio São José (Quixadá – CE) – (1909). Tinha genuína vocação para ensinar.

Em 1918 começou a lecionar em diversos colégios de For-taleza as mais diversas matérias, com destaques para a Física, Química e História Natural.Vale aqui mencionar o Instituto Santa Dorotéia, onde ensinou Higiene durante vinte anos (1923 – 1943); o Liceu do Ceará (atu-al Colégio Estadual do Ceará), com aulas de Física, Química e História Natural (1927 – 1929).

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Figura 5 – Instituto Pasteur, inaugurado em 12 de outubro de 1919. Prédio depois demolido. Situava-se à avenida Bezerra de Menezes (Fortaleza – CE). Cortesia de Miguel Ângelo

de Azevedo – (Nirez).

Figura 6 – Laboratório do Instituto Pasteur.Fonte: <http://www.fortalezanobre.com.br/2011/10/instituto-pasteur.html>.

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Em cursos superiores, também deixou a sua marca de diversifi cado conhecimento: professor da cadeira de Anatomia dos Animais Domésticos, na Escola de Agronomia do Ceará (1918 – 1922) – co-fundador (Andrade, 1979); professor da cadeira de Histologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará (1922), a partir de 1925, também, professor de Microbiologia – foi diretor da Faculdade (1924 – 1925) – em 1950 já não era professor da instituição, quando ela foi encampada pelo Governo Federal; professor de Ciências Naturais no curso anexo de Engenharia Civil e primeiro ano de Agrimensura do Instituto Polytechino do Ceará (1924) – (Paiva, 2000).

Outras ocupações

Foi um homem gregário, procurando conviver com os seus seme-lhantes, com alto espírito de servir.

A criação do Centro Médico Cearense ocorreu em 25 de março de 1913, com o Barão de Studart à frente; a partir do ano seguinte, teve-o como um dos mais ardorosos colaboradores; o presidiu em 1938 – 1939. Tal instituição agora se denomina Associação Médica Cearense. Foi um dos organizadores do I Congresso Brasileiro de Médicos Católicos (Fortaleza – 1946) (Figura 7) .

Integrou as duas diretorias do Instituto Polytechino do Ceará (1924 – 1925), como um dos seus diretores.

Um dos fundadores do Rotary Club de Fortaleza (1934) e seu presidente em dois períodos (1935 – 1936 e 1944 – 1945). Governador do Distrito 72 de Rotary International (1936 – 1937), que abrangia todo o Brasil, eleito na Conferência de Curitiba (PR) em 1935, com 12 clubes.

Sócio efetivo nº 55 do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico), eleito em 20 de janeiro de 1948, com posse em 17 de fevereiro do mesmo ano. Ocupou a cadeira que foi do Barão de Studart e de João Nogueira.

“Do Barão de Studart, que muito me honrou com sua amizade pessoal e tanto me encorajou em muitos passos da vida, desde minha ida, aos 25 anos, para o Acre, e depois na direção do “Ceará Médico”, até na fundação e manutenção do Instituto Pasteur e do gabinete de Raios X da Santa Casa (o que tudo proclamo agradecido)”. (Ribeiro, 1948 : 358).

Desde a adolescência mostrou pendores literários e científi cos, escrevendo artigos os mais diversos, publicados no pequeno jornal “A

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Quinzena”, de Fortaleza, do qual foi diretor. Pertenceu à Comissão Editorial da revista “Ceará Médico”, a partir de 1929 até 1932.

Escreveu relatórios de suas atividades como gestor público, di-vulgou técnicas de procedimentos radiológicos e laboratoriais e tratou de endemias e/ou epidemias do povo cearense – gripe, lepra, infecções intes-tinais, febre amarela e peste bubônica –, em artigos de natureza científi ca.

Na sua ânsia de servir e ser útil à comunidade fortalezense, foi sócio fundador e diretor da Ceará Rádio Clube S/A (1932); ainda foi presidente do Instituto Brasil – Estados Unidos (1948 – 1949), do qual foi co-fundador (1943) – (Campos et al. 1995).

Fundou a Casa do Cego, abrigo de pessoas defi cientes da visão, administrada por sua esposa.

Figura 7 – Alguns dos participantes do I Congresso Brasileiro de Médicos Católicos (For-taleza – 1946). Carlos da Costa Ribeiro é o quinto da segunda fi la (em pé), a partir da

esquerda para a direita. Cortesia de Roberto de Azevedo Moreira Filho (Bob).

Conclusão

Carlos da Costa Ribeiro foi homem culto e operoso, eclético no saber e múltiplo no servir. Modelo de cidadão para o povo brasileiro. Este trabalho é um tributo à sua memória!

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Barreira, D. – 1948 – Discurso de recepção ao sócio Carlos Ribeiro. Rev. Inst. Ceará, Fortaleza, 62 : 351 – 355.

Barroso, P. – 1985 – Carlos Feijó da Costa Ribeiro. Sacerdote da Medicina. Rev. Inst. Ceará, Fortaleza, 99 : 114 – 120.

Campos, L. O. et al. – 1995 – IBEU – CE 50 anos. História e tradição. Ins-tituto Brasil – Estado Unidos, 376 pp., 186 fi gs., Fortaleza.

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Silva, M. G. C. – 2010 – Carlos Ribeiro: Sacerdote da Medicina. I Congresso Brasileiro de Médicos Católicos: textos e contextos, pp. 444 – 446. Expressão Gráfi ca e Editora, 460 pp., Fortaleza.

Studart, G. (barão) – 1910 – Diccionario Bio-Bibliographico Cearense. Primeiro volume. Typo-Lithographia a Vapor, 518 + VI pp., Fortaleza. Verbete Carlos da Costa Ribeiro : 189 – 190.

Pesquisa em Wikipédia, a Universidade Livre.

Agradecimentos: Devo agradecimentos a Cristina Almeida Couto, Carlos Augusto Alencar Júnior, Geová Lemos Cavalcante, Marcelo Gurgel Carlos da Silva, Maria Arair Pinto Paiva, Marize Procópio, Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), Roberto de Azevedo Moreira Filho (Bob), Suzana Dias Ribeiro e Vlamir de Souza e Silva, pelas ajudas recebidas para a elaboração deste trabalho.

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Resumo

Este trabalho procura destacar a vida e a obra do médico Carlos da Costa Ribeiro (1885 – 1958), natural de Fortaleza (Ceará – Brasil). Além de dados sobre sua origem e formação profi ssional, foram abordados os seguintes aspectos: médico e pioneiro, professor e diretor, associati-vismo em geral, editor e escritor, cidadão empreendedor.

Abstract

This paper deals with the life and work of physician Carlos da Costa Ribeiro (1885 – 1958), born in Fortaleza (Ceará – Brazil). Beyond the data on his origin and professional formation, were discoursed the following aspects of his activities: physician and pioneer, professor and director, general associativism, publishing and writer, entrepreneur citizen.

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Cristãos Velhos e Cristãos Novos nas Capitanias de Pernambuco e Ceará: séculos XVI a XVIII.

E B N *

Esclarecimento necessário

s normas observadas nos trabalhos acadêmicos têm razão de existirem. Os textos são mais claramente sistematizados, os créditos a outros autores são explicitados, as fontes consultadas são relacionadas e muitos procedimentos positivos são devidamente seguidos.

Todavia, este não é um trabalho acadêmico. Representa um exer-cício livre de escrever algo a respeito da História do Nordeste. Segue a espontaneidade presente nas obras dos pioneiros da Historiografi a, tanto no Brasil como em Portugal. A mesma liberdade é reconhecida em relação aos Leitores, no julgamento do que aqui está escrito.

Procurando conciliar as duas formas de fazer História, o Autor ob-servará os parâmetros acadêmicos sempre que forem úteis. Não os seguirá quando a liberdade de expressão se revelar mais adequada para expor a sequência dos temas particulares que formam o tema global sob análise.

Partindo de Portugal para colonizar Pernambuco

Duarte Coelho, Capitão Donatário de Pernambuco, na primeira viagem ao Brasil tinha por objetivos tomar posse das terras que lhe haviam sido doadas por D. João III e instalar nelas empreendimentos economi-camente sustentáveis. Desembarcou em Igarassu a 9 de março de 1535. Trouxe consigo signifi cativo número de europeus motivados pelas mesmas

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará.

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ideias. Entre seus companheiros havia cristãos velhos e cristãos novos. Antonio José Victoriano Borges da Fonseca, Nobiliarchia Pernambucana [1], registra em sua obra diversas dessas famílias, cuja memória perma-necia viva no século XVIII.

O Capitão Donatário os havia selecionado no norte de Portugal, particularmente nos espaços circunvizinhos a Viana Foz do Lima, atual Viana do Castelo. Adotou três critérios: deveriam ser casados, alfabetizados e dispor de capital para iniciar um negócio novo.

Os colonos que o acompanharam, assim como os que vieram para Pernambuco por conta própria, não trouxeram consigo apenas os seus per-tences. Trouxeram também uma herança sócio-religiosa que infl uenciava fortemente as suas vidas.

Nos anos iniciais, cristãos e judeus não tiveram problemas sérios de convivência. Mesmo assim, tinham consciência de uma distinção reli-giosa que prevalecia na metrópole. Conviver sem problemas representou um aprendizado para as pessoas que optaram por viver no Brasil. Após a Inquisição de Lisboa enviar um Visitador a Pernambuco tudo mudou. A radicalização existente em território português se transferiu para a colônia.

Convém examinar a herança histórica que se formou em Portugal, e que depois foi trazida para o Brasil. As raízes dessa herança recuam cinco séculos.

Evoluindo da tolerância para a discriminação racial e religiosa na Idade Média

Em meados do século XII, mais precisamente em 1140, o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, concedeu carta de liberdade para mouros e judeus. Garantiu-lhes o direito de viverem em segurança em locais que receberam os nomes de mourarias e judiarias. Nelas pode-riam ter leis próprias, obviamente sem se colocarem em confronto com as normas gerais do reino. Assim, mouros e judeus viveram em paz por longo tempo.

O ambiente de convivência pacífi ca foi rompido no século XV.A intranquilidade começou em 1449. Teve origem com o surgimen-

to do primeiro Estatuto de Pureza de Sangue, em Toledo, Castela, atual Espanha. O Estatuto determinava que os cristãos deveriam ser de “sangue limpo”. Era entendido em termos de o sangue cristão não ter sido inoculado

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com o sangue de nações infectas. Estas incluiam mouros, judeus e negros. Adiante foram incluídos os ciganos. Após os descobrimentos, os indígenas.

Negros e mouros não despertaram maiores preocupações, visto não terem relevo social. Quando incluídos, os ciganos também não. Em relação aos indígenas surgiu uma reação incomum, a ser vista em detalhe adiante.

Contudo, os judeus despertaram inquietações. Constituiam um grupo fechado e expressivo em termos relativos na população. Mais in-quietante ainda: controlavam as bases da economia na Península Ibérica. Não surpreende que em 1492 em Castela e em 1497 em Portugal, tenham sido forçados a adotar o cristianismo, sendo batizados à força. Nesse ano o termo “cristão novo” se incorporou como expressão corrente à lingua portuguesa. Em relação aos católicos tradicionais a linguagem usual in-corporou o termo “cristão velho”.

No decorrer dos anos seguintes a 1449 deixou de haver um só estatuto. Diversas instituições católicas criaram suas próprias regras. Em todos os documentos permaneceu o princípio básico do sangue limpo, ou seja, a concepção do primeiro estatuto. Além da base comum, outras normas foram adicionadas conforme convinha à entidade instituidora.

Quanto à lógica do termo, “sangue limpo” ou a expressão “pureza de sangue”, o entendimento se liga à etnia. Têm sangue puro pessoas cujos pais e antepassados pertencem a um único povo, que por sua vez converge para um antepassado comum a todos. É um entendimento preciso para judeus. Têm origem única na pessoa do patriarca Abraão.

Mas é inaplicável aos cristãos. Ao longo dos séculos a Igreja Ca-tólica foi agregando povos diversos. Nunca tiveram um só antepassado. Entretanto a hierarquia eclesiástica passou por cima das diferentes etnias dos seus seguidores e atribuiu a todos um sangue único e puro. Ficou confi gurado duplo erro: de validade lógica e de aplicação às pessoas.

O erro duplo não foi conscientizado pela sociedade do século XV e séculos imediatos. A ignorância criou entre os cristãos a preocupação de serem reconhecidos como de “sangue limpo”. Provas de “pureza de sangue” foram criadas. Deram surgimento a uma obsessão pública no século XVI.

Mais cruel foi a instituição do Tribunal do Santo Ofício da Inquisi-ção, iniciativa dos reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela, em 1487. Objetivava combater as heresias, a bruxaria e outros riscos à fé católica. O Tribunal foi igualmente instituído em Portugal.

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Neste reino a instituição ocorreu pela primeira vez em 1531, com o papa Clemente VII. Em razão de confl itos internos, o mesmo papa o extingiui em 1533. Mas quando D. João III subiu ao trono, novas gestões foram conduzidas em Roma. Visavam fazer ressurgir o Tribunal. Foi reconhecido pelo Papa Paulo III em 1536.

Os Estatutos de Pureza de Sangue e o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição deram origem a diversos desdobramentos, afetando as popu-lações da metrópole e das colônias.

Os acontecimentos europeus do século XVI coincidem com o povoamento de Pernambuco por colonos. Implantaram atividades econô-micas, com primazia para a cultura da cana de açúcar. Surgiram também vários empreendimentos urbanos e rurais, voltados para o suprimento de produtos demandados pelo mercado europeu e o atendimento às de-mandas do mercado interno. Simultaneamente, formaram uma sociedade diversifi cada.

Este tema e outros correlatos se encontram em: Anita Novinsky et allii, Os Judeus que Construíram o Brasil – fontes inéditas para uma nova visão da história. [7]; Fernanda Olival, Rigor e interesses: os estatutos de limpeza de sangue em Portugal [8]; Elias Lipiner, Terror e Linguagem. Um Dicionário da Santa Inquisição [9].

Os Estatutos de Pureza de Sangue e seus refl exos na sociedade colonial

Sendo institucionalizado em Portugal o princípio da pureza de sangue, em seguida foi estendido ao Brasil. Na colônia havia numeroso grupo de católicos. Como na metrópole, foram qualifi cados como “cristãos velhos”. Grupo menor, mas signifi cativo, era formado por descendentes de judeus convertidos à força. Foram denominados “cristãos novos”. Parte continuou observando o judaísmo em segredo. Quando descobertos foram chamados “judaizantes”. Eram poucos os protestantes e negros. Não havia mouros nem ciganos.

Como do lado dos cristãos novos não havia tradição de permanên-cia no ambiente católico, em relação a eles surgiu uma desconfi ança sem contornos defi nidos. Era questionada a veracidade das conversões. No entanto, uma análise isenta revela que houve conversões efetivas. Porém não generalizadas.

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Em relação aos Estatutos de Pureza de Sangue, em si, o segmento social constituído pelos indígenas apresentou confi guração diferente. Em relação a estes o princípio não prevaleceu em acordo com o que foi observado na Europa. Não houve atenção a que constituiam nações infectas. Houve atenção, sim, ao gênero das pessoas. Em uma terra onde os homens se encontravam em grande maioria, sendo poucas as mulheres brancas, as índias representavam a solução prática para o companheirismo natural ou até para casamento na Igreja. Por consequência, o princípio simplesmente foi ignorado.

O relacionamento de cristãos europeus com índias não mudou o comportamento da população. Os mamelucos, decorrentes dessas uniões, se incorporaram ao meio social sem qualquer problema. A vida prosseguiu como se os Estatutos de Pureza de Sangue não tivessem validade. Foi ignorada a concepção de “nação infecta” apenas em relação às índias. Em relação aos índios, não houve qualquer preocupação.

Cristãos velhos e cristãos novos, expressões de discriminação sócio-religiosa

É conhecido que no século XVI se formou uma corrente de mi-grantes europeus com destino às colônias portuguesas e espanholas. Parte vinha com a intenção de permanecer. Outra parte se transferiu em caráter temporário. Pernambuco, após a criação da Capitania, experimentou as consequências dos fatos ocorridos no continente europeu.

O conceito defi ciente de limpeza de sangue, exclusivo dos católicos, criou erros ao se realizar a sua aplicação. Dependente do poder da Igreja, a monarquia portuguesa seguiu os mesmos princípios nos documentos normativos e na burocracia dos processos. Ao analisá-los, as autoridades apenas admitiam cristãos velhos como de sangue limpo. Pelo vínculo de origem no judaísmo, não se reconhecia a limpeza de sangue dos cristãos novos. O batismo não limpava o sangue. Ignorância e erro tidos como verdade pelos detentores do poder.

Esse comportamento se refl ete no Alvará Régio de 15 de julho de 1574, cujo núcleo essencial está transcrito em Evaldo Cabral de Mello, O Nome e o Sangue. Uma parábola familiar no Pernambuco colonial [15], pág. 159. Nele consta que os cristãos novos não servissem:

“nas partes do Brasil ofício algum da justiça nem de minha fazenda nem da governança nem regimento das terras nem da ordenança.”

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Tendo consciência clara da realidade de cada dia, a população de Pernambuco se viu compelida a conviver com a estratifi cação social decorrente das concepções sócio-religiosas implantadas. Porém manteve um comportamento de salvaguarda da sua liberdade. Externou obediência, mas nem sempre seguiu essas concepções.

Ao chegar o Visitador do Santo Ofício, qualifi car uma pessoa como cristão velho, cristão novo, judaizante, veio a representar formas de diferenciação social e religiosa. Gerou refl exos no equílibrio do tecido social como um todo. Sem disfarces, a Igreja favoreceu os cristãos velhos. Inversamente, rejeitou e inúmeras vezes perseguiu os judaizantes e em menor frequência os cristãos novos. Em outros termos, a instituição do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição em Portugal e o envio do Visita-dor a Pernambuco constituíram marcos do agravamento do processo de discriminação.

A intolerância religiosa e seus refl exos na Capitania de Pernambuco

A Igreja Católica exercia uma liderança não contestada. Cumpria rígido sistema de vigilância e controle comportamental da população. No entanto, alcançou apenas parte da sociedade emergente. Como visto, nunca foi contestada de modo ostensivo; porém as suas regras não foram integralmente obedecidas. Em maioria, os povoadores se esforçaram em viver em um clima de liberdade relativa, mediante mecanismos de com-pensação. Deixavam os acontecimentos fl uir, sem confronto direto com as autoridades eclesiásticas.

O ambiente desfavorável despertou entre os cristãos novos estraté-gias de sobrevivência bastante inteligentes. Particularmente desafi adora foi a sobrevivência dos judaizantes. Ultrapassando a dissimulação, criou-se em concreto uma associação de interesses. Cristãos velhos de ambos os sexos, sem condições econômicas satisfatórias, buscavam casar com cris-tãos novos. Visavam o patrimônio que os descendentes de judeus sabiam acumular. No contrafl uxo, cristãos novos tinham interesse em casar fi lhas e fi lhos em famílias de cristãos velhos. Livravam-se da discriminação e de eventuais perseguições.

O dinheiro exerceu função diferenciadora importante. Realizou milagres... Cristãos novos e meio cristãos novos conseguiram passar por provas de limpeza de sangue.

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Borges da Fonseca [1] teve conhecimento desse fenômeno na socie-dade colonial. Revelou-se discreto em sua obra. Mas o que representou uma atitude de compreensão, resultou em difi culdades para os pesquisadores atuais de cristãos novos na sociedade colonial do Nordeste. Não estão identifi cados nas numerosas famílias abrangidas pela Nobiliarchia [1]. Importa registrar que trabalhou no século XVIII, mas resgatou documentos dos séculos XVI e XVII.

Com dois séculos de antecedência sobre Borges da Fonseca, os as-sentamentos das denunciações e confi ssões ouvidas pelo Visitador Heitor Furtado de Mendonça, enviado pela Inquisição de Lisboa a Pernambuco, encontram-se publicados sob o título: Primeira Visitação do Santo Ofício às Partes do Brasil Denunciações e Confi ssões de Pernambuco 1593-1595 [2]. Retrata a sociedade da época, com clara distinção entre cristãos velhos e cristãos novos.

O Visitador encontrou uma sociedade diversifi cada quanto a raças, crenças e formas de convivência. Europeus conviviam com índias e ma-melucos sem problemas. A prática do catolicismo era dominante. Mas a Inquisição sabia que existiam praticantes do judaísmo, por ela qualifi ca-dos como judaizantes. No entanto, eram aceitos socialmente sob a capa semi-protetora de cristãos novos. Havia ainda os protestantes, estando neles incluídos luteranos e calvinistas. Os negros ocupavam a posição subalterna própria dos escravos.

Sob a ótica institucional havia um olhar que sustentava serem os cristãos velhos dotados de honra, dignidade, honestidade e outros atributos elevados, em razão do sangue limpo. Para estes estava facultado o acesso à nobreza, às ordens militares, aos cargos públicos. Vale recordar o Al-vará Régio de 1574, transcrito em seu núcleo essencial. Também estava reservado aos cristãos velhos o acesso às ordens religiosas e dignidades da Igreja. Essa distinção qualitativa alcançou até meados do século XVIII.

Do lado dos cristãos novos, estes tinham um horizonte temporal curto no meio da religião imposta. A adesão exterior aos atos da Igreja e a conversão efetiva foram vistas como coisas distintas. A presença de um cristão novo em uma igreja não signifi cava ter aderido ao catolicismo. Esta foi uma desconfi ança apoiada em uma meia verdade. De fato, houve judeus que aceitaram a fé cristã e judeus que mantiveram em segredo as suas crenças. Jamais foi criado um procedimento para identifi car quem pertenceu a qualquer dos grupos.

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Nesse ambiente se insere a sucessão em Pernambuco das cinco pri-meiras gerações da família Bezerra, cristã velha. Revelou ampla abertura em relação aos cristãos novos.

A família Bezerra: convivência de cristãos velhos com cristãos novos

Na viagem de Duarte Coelho em 1535 havia Bezerras que o acom-panharam. Participaram dos esforços para dar confi guração civilizada à Capitania. Contribuíram para implantar e fazer crescer a economia do espaço que se revelava promissor. Permaneceram na terra que para eles era nova. Prosseguiram nos anos à frente, ultrapassando séculos.

A família Bezerra é tomada como referência no estudo de caso deste artigo. De pronto deve fi car claro que foram inúmeros os casamentos entre cristãos velhos e cristãos novos no início da colonização. O foco nos Bezerras decorre de uma seleção intencional do Autor, que se integra às gerações por vínculo direto, desde aquela época até ao presente.

O estudo coloca a mentalidade excludente do Santo Ofício em confronto com a mentalidade de tolerância e convivência revelada pelos Bezerras. Esta mentalidade evoluiu para integrações efetivas, por casa-mento, em diversos elos sucessórios.

A família permaneceu reconhecida como cristã velha de origem. No entanto, apesar da tradição fi rmada, foi uma das que souberam caminhar com um pé posto nas normas da Igreja e outro pé posto no terreno da liberdade de relacionamento com cristãos novos.

Em Portugal era evidente o reconhecimento como cristãos velhos. Alicerçava-se em Livros de Tombo de ordens religiosas, onde estavam registradas as doações feitas no passado. Por igual, ao tempo das pessoas que vieram para o Brasil. Havia a participação na iniciativa para construir um novo mosteiro em Viana.

Interagir na sociedade organizada de Portugal fazia parte do apren-dizado que evoluia durante a vida de qualquer pessoa. Em diferente cená-rio, interagir em uma sociedade ainda em formação e ajustamento veio a constituir fato novo. Confi gurou mais um aprendizado para os primeiros Bezerras que chegaram à Capitania de Pernambuco.

Os Bezerras que embarcaram no porto da Vila de Viana Foz do Lima, com destino à Nova Lusitânia, chegaram com ideias claras a respeito

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das pessoas européias admitidas como confi áveis e as não confi áveis. Na ótica do catolicismo institucional, confi áveis eram os cristãos velhos. Não confi áveis eram os demais. As ideias eram imprecisas quanto ao grande número de pessoas diferentes dos europeus. Tratava-se dos indígenas. Somente se tornaram conhecidos no decorrer do tempo.

A tolerância e a convivência revelaram-se características dos Bezerras. Foram reconhecidos como cristãos velhos, mas souberam acolher cristãos novos. Não praticavam discriminação quanto à pureza de sangue, nem quanto à religião a que se ligava.

Pode-se indagar se houve um aprendizado novo na Capitania de Per-nambuco. Uma resposta lógica será apresentada ao fi nal, após a análise de acontecimentos que alcançaram as gerações entre os séculos XVI e XVIII.

As primeiras gerações de Bezerras em Pernambuco

O Bezerra pioneiro, que cruzou o Atlântico partindo de Viana Foz do Lima, aportando em Igarassu, foi Antonio Martins da Boda. Trouxe consigo a mulher, Maria Martins Bezerra. O patriarca está documentado em Portugal, mas não no Brasil.

Consta em assentamentos do século XVI guardados no Arquivo Distrital de Braga, relativos ao Mosteiro de São Bento, na Vila de Viana Foz do Lima. Antonio assinou documentos representando a Abadessa e as monjas, por serem analfabetas. Também participou do grupo de cidadãos que asseguravam a manutenção do mosteiro.

Na documentação citada o nome é claro: Antonio Martins da Boda. Todavia Borges da Fonseca, Nobiliarchia Pernambucana [1], Volume I, pág. 35, faz referência a ele com o expressivo nome Antonio Bezerra Felpa de Barbuda. A esposa tem o nome abreviado para Maria de Araújo. Com o casal veio o fi lho Domingos. Sendo mais nobilitante que o da Boda, o patronímico que se projetou nas gerações seguintes foi o Bezerra.

Consequentemente, o fi lho consta sob o nome Domingos Bezerra Felpa de Barbuda. Está documentado em: Borges da Fonseca, Nobiliar-chia Pernambucana [1], Volume I, pág. 35; em João Alvares, Abade de Esmeriz (1628-1700), Apparato Genealógico Universal, ou Collecção de Memorias para a Genealogia Geral das Familias deste Reino [3], folio 133; Manoel Lobo de Mesquita Gavião Barreto (1780 – 1859), Nobiliario ou Collecção de Titulos de Diversas Familias dispostos alfabeticamente

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e copiados [6], folio 219; Evaldo Cabral de Melo, O bagaço da Cana. Os engenhos de açúcar no Brasil Holandês [16], pág. 66-67.

No texto editado da Primeira Visitação do Santo Ofício às Partes do Brasil [2], pág.271, encontra-se o registro de que Domingos Bezerra se apresentou ao Licenciado Heitor Furtado de Mendonça, a fi m de denunciar um caso de blasfêmia. No seu depoimento, prestado na vila de Olinda, em 16 de maio de 1594, qualifi cou-se declarando:

Domingos Bezerra... disse ser christão velho natural de Viana foz de Lima fi lho de Antonio Martins da Boda e de sua molher Maria Martins Bezerra gente nobre defunctos de ydade de sessenta e oyto annos, casado com Brazia Monteiro dos da governança desta terra e que disse seer fi dalgo de geração morador na sua fazenda da Varzea freguesia de Nossa Senhora do Rosario.

Brasia Monteiro, esposa de Domingos, também prestou depoimento ao Licenciado, na vila de Olinda, em 1º de junho de 1594. O depoimento se encontra na citada Primeira Visitação do Santo Ofício [2], pág. 281. Apresentou-se como testemunha de uma denúncia anterior. Fez a sua qualifi cação confessando:

Brasia Monteiro... disse ser christãa velha, natural desta Capitania casada com Domingos Bezerra dos da governança della, de ydade de quarenta annos pouco mais ou menos moradora na sua fazenda da Varzea.

Desperta atenção o fato de que a primeira qualifi cação dos dois depoentes foi exatamente a de explicitar serem “christão velho” e “chris-tãa velha”.

Tolerância e convivência na segunda geração de Bezerras em Pernambuco

Em relação a Brasia Monteiro, ao depor perante o Visitador do San-to Ofício, ela declarou ser cristã velha. Foi fi lha de Pantaleão Monteiro. Ocorre que a qualifi cação deste como cristão velho ou cristão novo não é precisa. Não obstante, o pai de Brasia foi objeto de registro em obras historiográfi cas posteriores.

Há referências a ele em Charles Ralph Boxer, Os Holandeses no Brasil [11]. O autor declara que Pantaleão Monteiro permanecia lembrado

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no período holandês e que era um “judeu marrano”. Entretanto não indica a fonte a que recorreu a fi m de qualifi cá-lo. Ainda assim, merece crédito a seriedade do historiador. A mesma posição é exposta em Marcos An-tônio Filgueira, Os Judeus Foram Nossos Avós [17], pág. 55. A expressão que usa é “cristão novo Pantaleão Monteiro, fundador do engenho de São Pantaleão”. Também não indica a fonte a que recorreu. Ainda que os dois autores sejam omissos quanto às fontes, não obstante o comportamento de Pantaleão Monteiro aponta para ter sido, de fato, cristão novo.

Quando Boxer [11] referiu a “judeu marrano”, a palavra “judeu” tem signifi cado claro. Indica os praticantes do judaísmo, observando uma tradição milenar. “Marrano” tem signifi cado complexo. O termo comporta conotações não coincidentes.

Pesquisadores do judaísmo revelam diferentes formas de pensar. Existem os que admitem que “marrano” tem relação com “porco”. Por-tanto, um animal impuro na religião judaica. Sendo assim, um “judeu marrano” era qualifi cado depreciativamente. Em outra posição se colo-cam os que associam a expressão “marrano” a “mar anuss”, que signifi ca “homem forçado”. Aplica-se aos judeus que na Espanha e Portugal foram forçados a adotar o catolicismo como religião. Contudo, em suas casas, permaneceram seguindo os preceitos da religião judaica. Este entendi-mento revela-se mais lógico e nada tem de depreciativo.

A vida de Pantaleão Monteiro é interessante. Está incluído entre os primeiros povoadores de Pernambuco. Não se sabe se chegou à Capitania solteiro ou casado. No entanto, ao casar com Brasia Monteiro escolheu por esposa uma cristã velha. Fez mais: adotou o sobrenome da esposa para si próprio. A adoção do sobrenome da mulher pelo marido é fato raríssimo no período colonial. A esta altura uma pergunta fi ca no ar: teria sido para ocultar a origem judaica?

Obteve terras do Capitão Donatário Duarte Coelho e nelas instalou o engenho São Pantaleão. Possuindo engenho, produzia açúcar. Acumulou fortuna. No espaço do engenho e da casa construiu uma ermida, sob a invocação do mesmo santo padroeiro. A ermida ou capela de São Pantaleão resistiu até à guerra holandesa, tendo sido destruída nesse período. Uma síntese da história do engenho, da casa e da capela, bem assim os proprie-tários desde o século XVI, até à metade do século XVIII, encontra-se em Evaldo Cabral de Melo, O bagaço da Cana. Os engenhos de açúcar no Brasil Holandês [16], pág. 66-67.

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Mantendo convivência harmônica com a sociedade quase totalmen-te católica, ao casar a fi lha Brasia escolheu para ela um cristão velho de tradição reconhecida. Domingos Bezerra foi o escolhido. Era plantador de cana. Provavelmente fornecia para o engenho São Pantaleão. Com o casamento da fi lha obteve maior segurança, ao agregar mais um cristão velho ao seu meio familiar. Ao mesmo tempo, maior garantia para o seu negócio, através do genro fornecedor de matéria prima para a produção de açúcar.

Pantaleão Monteiro: sábio ou esperto? Seguramente possuidor das duas qualidades. Desperta atenção o fato de ainda ser lembrado cerca de cem anos após ter vivido. Considerando que no período holandês muitos cristãos novos retomaram a identidade como judeus, torna-se admissível a hipótese de que teve a sua memória preservada em razão do vínculo com a origem judaica. Mais uma suposição provável a se somar à anterior citada.

Por consequência, Brasia Monteiro foi meia cristã nova por parte de pai, sendo a mãe cristã velha. Mas vale referir que a declaração de cristã velha feita ao Visitador não foi contestada por ninguém ao tempo em que viveu.

Por acréscimo, surpreende a declaração de idade da mesma Brasia. Se de fato tinha 40 anos, teria nascido em 1554. Então, a diferença entre ela e o marido Domingos seria de 28 anos. O tempo é muito longo. Idade correta, ou incorreta? Impossível deduzir algo.

Quando Borges da Fonseca estava a escrever a Nobiliarchia Per-nambucana [1], ainda existia o Livro Velho da Sé de Olinda. Nele constava que Brasia faleceu a 12 de outubro de 1606. Havendo nascido em 1554, viveu 52 anos. No mesmo livro estava o registro do óbito de Domingos, em 18 de outubro de 1607. Curiosamente, um ano após a morte da es-posa. Tendo nascido em 1526, viveu 81 anos. Vida longa. Ambos foram sepultados na Sé.

O casamento de Domingos Bezerra, cristão velho, com Brasia Monteiro, meia cristã nova, fi lha de Pantaleão Monteiro, cristão novo, esse casamento assinala a primeira união de um Bezerra cristão velho, com noiva meio cristã nova e sogro cristão novo.

Vínculos semelhantes viriam a acontecer nas gerações seguintes.

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O relacionamento na terceira geração

Domingos Bezerra Felpa de Barbuda e Brasia Monteiro foram pais do segundo Domingos Bezerra Felpa de Barbuda. Este casou com Antonia Rodrigues Delgado. O casal fi gura no termo de ingresso do fi lho Cosme Bezerra Monteiro na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Olinda, em 1675. Comentários sobre ele serão apresentados adiante. Por sua vez, Antonia Rodrigues Delgado foi fi lha de Cosme Rodrigues e Simoa da Rosa.

Nesta terceira geração também não há documentação clara quanto a que tenham sido cristãos novos os pais de Antonia Rodrigues Delgado, Cosme Rodrigues e Simoa da Rosa. Identifi car as origens demanda uma pesquisa ampla, com intenso uso da lógica.

De modo a ser aceito na Irmandade da Misericórdia de Olinda, Cosme Bezerra Monteiro foi submetido a exame prévio de limpeza de sangue. A fi m de se conhecer a prática do judaísmo durante o período holandês, a pesquisa remete para a obra de José Antônio Gonsalves de Mello, Gente da Nação: cristãos novos e judeus em Pernambuco 1542 – 1654 [12]. Contém uma criteriosa lista de nomes. Cosme e Simoa não aparecem. Outra referência tem a autoria de Egon e Frieda Wolff, Quan-tos Judeus estiveram no Brasil Holandês e outros ensaios [13]. Entre os nomes listados Cosme e Simoa não constam.

Indícios não são provas. É necessário aprofundar a investigação, de modo a alcançar elementos consistentes. Nesse sentido, importa res-saltar que as informações apresentadas confi guram apenas uma face do ambiente histórico sob análise. Existe a outra face. A junção de infor-mações adicionais possibilita descortinar fatos novos. Há evidências de que Simoa da Rosa foi meia cristã nova. O ponto de partida é um cristão novo documentado em Pernambuco na segunda metade do século XVI: Belchior da Rosa.

Sua identidade é vista no depoimento que prestou em 30 de outubro de 1593 ao Visitador Heitor Furtado de Mendonça, Primeira Visitação do Santo Ofício [2], pág. 28:

“disse ser cristão novo fi lho do Doutor Alvaro Nunes medico ao qual elle já ouvio dizer que tinha alguns parentes cristãos velhos, e de sua molher Suzana Nunes da qual elle tambem ouvio dizer a seu pai que tinha parte de cristaã velha já defuntos natural da cidade do Porto

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de ydade de cinquoenta annos pouco mais ou menos, que há mais de trinta annos que reside nesta capitania óra morador nesta villa na freguesia da Matriz.”

Signifi ca que nasceu cerca de 1543. Chegou a Pernambuco antes de 1563.

Informações dispersas em várias fontes compõem uma imagem de quem ele foi. Está referido em: Borges da Fonseca, Nobiliarchia Pernam-bucana [1]; José Antônio Gonsalves de Mello, Gente da Nação: cristãos novos e judeus em Pernambuco 1542 – 1654 [12]; Janaina Guimarães da Fonseca e Silva, Cristãos-Novos nos Negócios da Capitania de Pernambuco. 1580 – 1630[14]; Elias Lipiner, Os Judaizantes nas Capitanias de Cima [10]; Marcos Antônio Filgueira, Os Judeus Foram Nossos Avós [17]; Vinicius de Barros Leal, Os Bezerras de Menezes - As Origens [18]. Resulta claro que Belchior acumulou grande patrimônio e foi pessoa de elevada cultura.

Permaneceu reconhecido como cristão novo ao tempo em que viveu. Apesar da origem cristã nova, nenhuma pessoa levantou suspeita contra ele. Nenhuma denúncia foi feita. Portanto, nenhum processo foi aberto. Esses fatos evidenciam a natureza do relacionamento com quem o conheceu. Revelou sabedoria, cordialidade e sagacidade.

Foi Procurador dos Padres Jesuítas, conforme Borges da Fonseca [1], Volume II, pág. 226-227. A escolha para procurador requer refl exão. Quando os Padres da Companhia de Jesus se viram diante da necessidade de terem um procurador para defender os seus interesses, não seguiram os princípios da Igreja, limitando a escolha entre os cristãos velhos. Procuraram um procurador competente. Belchior da Rosa, cristão novo, foi escolhido.

Em 1584 seu nome consta como tendo escrito e assinado o testamen-to de Jerônimo de Albuquerque. O testamento foi guardado no Arquivo do Mosteiro de São Bento de Olinda. Borges da Fonseca conheceu o original e o transcreveu na Nobiliarchia [1], Volume II, pág. 365. A conclusão é bastante esclarecedora:

“E porque aqui hei o meu testamento por acabado, e mando que se cumpra inteiramente como se nelle contem e porque esta é a minha derradeira vontade, roguei a Belchior da Rosa, morador nesta Villa, que este fi zesse e comigo assignasse e elle o fez a meu rogo em Olinda aos trese dias do mez de Novembro do anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil quinhentos e oitenta e quatro annos, Je-ronymo de Albuquerque – Belchior da Rosa.”

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35Cristãos Velhos e Cristãos Novos nas Capitanias de Pernambuco e Ceará

Belchior e a esposa Antonia foram pais, entre outros, de João da Rosa e de Antonio da Rosa. A expressão “entre outros” se encontra em José Antônio Gonsalves deMello, Gente da Nação: cristãos novos e judeus em Pernambuco 1542 – 1654 [12], pág.12. Indica a possível existência de outros fi lhos e fi lhas. Quanto aos fi lhos, é admissível que tenham sido os dois documentados conforme indicação adiante. Quanto às fi lhas, serão apresentadas considerações adicionais.

João da Rosa exerceu o cargo de Tabelião da Vila de Olinda. An-tonio da Rosa foi senhor de engenho e assumiu a manutenção da capela dos Santos Reis, na Igreja Matriz de Olinda. Os dois estão documentados em: Heitor Furtado de Mendonça, Primeira Visitação do Santo Ofício às Partes do Brasil [2], pág. 41 e 291; Borges da Fonseca, Nobiliarchia Pernambucana [1], Volume II, pág. 404; Janaina Guimarães da Fonseca e Silva, Cristãos Novos nos Negócios da Capitania de Pernambuco. 1580 – 1630 [14], pág. 191-192.

Em relação à fi lha documentada, Borges da Fonseca, Nobiliarchia Pernambucana [1],Volume II, pág. 404, a menciona com o sobrenome, mas não indica o prenome:

“3 – Jorge Teixeira de Albuquerque casou com D........ da Rosa, fi lha de Belchior da Rosa e que viveo em Olinda no anno de 1570.”

Com pai cristão novo e mãe cristã velha, fi lhos e fi lha foram meio cristãos novos.

A expressão “entre outros”, em José Antonio Gonsalves de Mello [12], pág. 12, induz a se pesquisar sobre qual poderia ser a situação de Simoa da Rosa. Marcos Antônio Filgueira, Os Judeus Foram Nossos Avós [17], pág. 55, declara que Simoa foi irmã de Belchior. O mesmo é afi rmado por Vinicius de Barros Leal, Os Bezerras de Menezes - As Origens [18], pág. 14.

Sobrenome idêntico revela o vínculo familiar. Entretanto, os anos em que viveram apontam para a probabilidade de que Simoa tenha sido a segunda fi lha de Belchior, além daquela primeira citada apenas com o sobrenome por Borges da Fonseca [1].

O calendário é revelador. Belchior da Rosa declarou ao Santo Ofício ter nascido cerca de 1543, tendo chegado a Pernambuco antes de 1563. Em relação a Simoa da Rosa, não existe evidência que fosse viva em 1675, quando o neto Cosme Bezerra Monteiro ingressou na Misericórdia de Olinda. Não obstante, admitindo-se que tivesse 90 anos naquela data,

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teria nascido em 1585. Antes, inclusive. Mas, convém repetir, trata-se de uma referência temporal. Mesmo assim, por raciocínio de datas, Simoa teria nascido muito tempo depois de Belchior haver chegado a Pernam-buco. Por conseguinte, não há possibilidade de ter sido irmã. Aceitável é o vínculo como fi lha de Belchior da Rosa.

Apesar de ser indireta a evidência, o Autor deste artigo admite que Simoa da Rosa foi filha de Belchior da Rosa. Portanto, meia cristã nova.

Quanto ao marido, Cosme Rodrigues, não há informações adicionais.Em razão dos vínculos analisados é admissível a integração de

Belchior da Rosa, cristão novo, no relacionamento familiar da terceira geração dos Bezerras pernambucanos, através da sua fi lha Simoa da Rosa, meia cristã nova.

Retornando ao segundo Domingos Bezerra e sua esposa Antonia, dentre os fi lhos que tiveram dois merecem atenção: Cosme Bezerra Mon-teiro e Simoa Bezerra.

Cosme Bezerra Monteiro assinou termo de ingresso como Irmão na Santa Casa de Misericórdia de Olinda. O termo está preservado. Foi transcrito na Revista do Instituto Archeologico e Geographico Pernam-bucano, 1864 [19]. Consta:

Aos 27 de Janeiro de 1675 se assignou por irmão com termo Cosme Bezerra Monteiro natural de Pernambuco, fi lho legitimo de Domingos Bezerra de Barbuda e de Antonia Rodrigues Delgado; neto por parte paterna de Domingos Bezerra de Barbuda e de Brazia Monteiro, e por parte materna de Cosme Rodrigues e de Simoa da Rosa; e casado com D. Leonarda Cavalcanti fi lha de Antonio Cavalcanti de Albuquerque e de D. Margarida de Souza, todos desta terra.

Seriam, de fato, cristãs velhas todas as pessoas cujos nomes se en-contram no termo? O Autor deste artigo admite que não. Simoa da Rosa foi meio cristã nova e avó do Cosme. Também avó de Simoa Bezerra. Bisavô de ambos foi Belchior da Rosa, cristão novo.

Sintetizando, o segundo Domingos Bezerra foi casado com mulher de qualifi cação não determinada, mas cuja mãe era meia cristã nova e o avô cristão novo. As relações de parentesco eram do seu conhecimento, mas aceitou naturalmente. Fica constatada a presença de cristãos novos na terceira geração de Bezerras em Pernambuco.

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Cristãos novos na quarta geração, em Portugal e Pernambuco

Foi visto que Simoa Bezerra recebeu o prenome da avó materna, Simoa da Rosa, meia cristã nova. Não é de admirar ter casado com o cris-tão novo Bento Rodrigues da Costa, fi lho de Manoel Rodrigues e Maria Simões, cristãos novos processados pela Inquisição de Lisboa. Maria foi identifi cada como fi lha de José Lopes.

Em relação a Bento Rodrigues, com o prenome e o sobrenome único ele é referido em: Belchior de Andrade Leitão (1640 – 1717), Famílias de Portugal [4], Suplemento à Letra B, Tomo 2º., folio 443; Jacinto Leitão Manso de Lima (1690 – 1730), Familias de Portugal – Tiradas dos melhores Nobiliários do Reyno e apuradas de muitos erros, provadas com instrumentos jurídicos e authenticos [5],Volume V, pág. 16. Está referido com o nome completo, Bento Rodrigues da Costa, em Borges da Fonseca, Nobiliarchia Pernambucana [1], Volume I, pág.42. Contudo, a Nobiliarchia [1] não menciona serem cristãos novos ele, o pai e a mãe.

As fontes citadas indicam que teve o posto de Capitão. Signifi ca que ingressou no Exército. Em Pernambuco participou da guerra holandesa, comandando tropas de infantaria.

Para a Inquisição de Lisboa eram claras as origens judaicas de Ma-noel Rodrigues e Maria Simões. Chega-se a essa conclusão pelo que está contido no livro já citado de Flávio Mendes de Carvalho [20], pág. 380. Nele consta o registro da condenação ao cárcere de Maria Simões, de 33 anos, viúva de Manuel Rodrigues, em 1º de dezembro de 1652. Tendo 33 anos naquela data, Maria Simões terá nascido em 1629.

A coincidência dos dois nomes, em Flávio Mendes de Carvalho [20] e em Borges da Fonseca [1], torna evidente que Manuel Rodrigues e Maria Simões foram o pai e a mãe de Bento Rodrigues da Costa.

Não há indicação sobre o ano em que Bento veio para Pernambuco. Mais provável é que tenha sido após o processo contra a mãe. O fi lho a trouxe consigo. São desconhecidos os meios a que recorreu para obter sua liberação do cárcere da Inquisição. Não obstante, conhecendo-se os milagres operados pelo dinheiro, nada se revela impossível.

Foram fi lhos de Simoa e Bento: Aleixo Bezerra Monteiro, Bartolo-meu Bezerra Monteiro e Bento Rodrigues Bezerra. Todos meio cristãos novos.

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Bento Rodrigues Bezerra tem precedência em razão das gerações alcançadas neste artigo. Associa o sobrenome cristão novo Rodrigues e o sobrenome cristão velho Bezerra.É documentado por Borges da Fonseca, Nobiliarchia Pernambucana, Volume I, pág. 42 e 376.

Uma refl exão revela-se oportuna: Até Bento Rodrigues Bezerra todos os Bezerras das gerações anteriores permaneceram qualifi cados como cristãos velhos. Ocorreu com o primeiro Domingos Bezerra, com o segundo Domingos Bezerra e com a própria Simoa Bezerra. Os rela-cionamentos com cristãos novos foram colaterais nos respectivos níveis da cadeia sucessória. Entretanto, ao casar com Bento Rodrigues da Costa, Simoa Bezerra trouxe para a descendência a qualifi cação meia cristã nova no âmbito de um ramo da família, que vinha se sucedendo como cristã velha.

Percebe-se uma aproximação por estágios, entre cristãos velhos e cristãos novos.

Confi guração da sequência genealógica.

Antonio Martins da Boda cristão velho|Domingos Bezerra Felpa de Barbuda cristão velho| Maria Martins Bezerra cristã velha

|Domingos Bezerra Felpa de Barbuda cristão velho| | Pantaleão Monteiro cristão novo| |Brasia Monteiro meia cristã nova| Brasia Monteiro cristã velha

|Simoa Bezerra cristã velha| | |Cosme Rodrigues qualificação desconhecida| |Antonia Rodrigues Delgado qualificação desconhecida| | Belchior da Rosa cristão novo| |Simoa da Rosa meia cristã nova| Antonia Soares cristã velha

Bento Rodrigues Bezerra meio cristão novo| Manoel Rodrigues cristão novo|Bento Rodrigues da Costa cristão novo

Maria Simões cristã nova

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39Cristãos Velhos e Cristãos Novos nas Capitanias de Pernambuco e Ceará

As gerações de Bezerras e famílias com as quais entraram em rela-ção formam o esquema genealógico retro. A primeira geração é do século XVI e a última do século XVIII. Na estrutura constam apenas os nomes das pessoas, as relações entre pais e fi lhos, e as respectivas qualifi cações como cristãos velhos, cristãos novos, meio cristãos novos, ou qualifi cação desconhecida.

Bento Rodrigues Bezerra, meio cristão novo, optou por morar em Goiana. Embora residindo em meio urbano, exerceu atividade pecuária. Casou com Petronila Velho de Menezes, cristã velha, natural da Bahia, de cujos pais não há notícia.

De grande repercussão nas gerações seguintes é que o Bezerra, patronímico de Bento, foi unido ao Menezes, patronímico de Petronila, surgindo dessa combinação o Bezerra de Menezes que se tornou um des-taque familiar no amplo espaço do Nordeste.

Situando no tempo, os eventos que envolvem Bento e Petronila ocorreram no fi nal do século XVII, a partir de 1670, entrando no século XVIII até cerca de 1710.

Dez foram os fi lhos. Dentre eles, cinco vieram a ocupar terras na então denominada Capitania do Ceará Grande. Trouxeram seus rebanhos, maior componente de capital na época. Seguindo a ordem de nomes apresentada por Borges da Fonseca [1], Volume I, pág. 376 e Volume II, pág. 89-90. Foram eles:

1. João Bezerra Monteiro, que morou em Goiana. Veio depois para a região do Cariri, ao sul da Capitania do Ceará Grande.

2. Francisco Bezerra de Menezes, que morou em Goiana. Também veio para o Cariri, ao sul da referida Capitania.

3. Jerônimo Bezerra de Menezes, que morou na freguesia da Vár-zea. Veio ocupar os vales dos rios Aracati-mirim, Aracatiaçu e Acaraú, ao norte da mesma Capitania.

4. João Bezerra de Menezes, que morou em Goiana. Não há certeza se veio para o Ceará. Mas a fi lha Petronila Bezerra de Menezes casou com o paraibano João Carneiro de Moraes e se localizou igualmente no Cariri, ao sul da Capitania.

5. Joana Bezerra de Menezes, que casou com João de Souza Perei-ra. Construiram currais para seus rebanhos no rio Jaguaribe, a leste da Capitania do Ceará Grande. Os descendentes ocuparam terras no Riacho do Sangue, afl uente do dito rio.

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Apesar da transferência, não se desligaram totalmente do lugar de origem. De tempos em tempos retornavam a Pernambuco, a fi m de se abastecerem de mantimentos, instrumentos de trabalho, armas, munição e artigos diversos não disponíveis localmente.

Os irmãos certamente conheciam as identidades dos pais e avós. Todavia não há documentos que possibilitem deduzir se tiveram conhe-cimento dos vínculos entre cristãos velhos e cristãos novos nas gerações anteriores. No entanto, duas gerações após essa que se transferiu para o Ceará estão documentados novos casamentos com cristãos novos. Será tema a ser desenvolvido em um estudo posterior.

Dissimulando as origens cristãs novas para obter foros de nobreza

O que foi visto como comportamento aberto de sucessões diretas da família Bezerra, contrasta com o comportamento diferente em um ramo derivado do tronco familiar.

Após a retirada dos holandeses, a economia canavieira perdeu a posição preponderante. O açúcar atravessou uma conjuntura de crise na Europa. O preço caiu. Nesse período, muitas famílias de cristãos novos se transferiram para as ilhas do Caribe. Passaram a plantar cana e produzir açúcar. Eram favorecidas por maior proximidade em relação aos portos europeus. Fretes menores possibilitavam ao açúcar caribenho competir com preços menores. Em situação desfavorável, o açúcar pernambucano estava a uma distância maior, os fretes eram mais elevados e se refl etiam no preço fi nal do produto. Concorrência difícil, sem dúvida.

A autointitulada nobreza da terra permaneceu sustentando o orgulho, porém não mais acumulando riqueza. Essa mesma nobreza da terra passou a demandar ao rei de Portugal títulos, comendas e mercês. Invocavam a participação na guerra contra os holandeses e argumentavam quanto ao sacrifício do patrimônio, arrasado pelo confl ito.

A partir da segunda metade do século XVII e no século XVIII, multiplicaram-se os processos de nobilitação. Entre os Bezerras que obtiveram status de nobreza o primeiro foi Manoel Bezerra Monteiro. O Alvará de Foro de Fidalgo Cavaleiro tem a data de 2 de Janeiro de 1672. Está registrado no Livro de Matrículas dos Moradores da Casa Real, Livro III, Fls. 97. O segundo foi seu irmão João Pessoa Bezerra. O Al-

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vará de Foro de Fidalgo Cavaleiro tem a data de 2 de Fevereiro de 1672. Encontra-se registrado no mesmo Livro III, Fls. 97v. Os dois foram fi lhos de Francisco Bezerra Monteiro, que lutou na guerra holandesa, mas não requereu alvará de nobreza para si.

Francisco Bezerra Monteiro foi irmão do segundo Domingos Be-zerra. Portanto, ambos fi lhos do primeiro Domingos Bezerra, casado com Brasia Monteiro, meia cristã nova, fi lha de Pantaleão Monteiro, cristão novo. Ao serem outorgados os Alvarás, deduz-se que nenhum impedi-mento de sangue impuro foi anotado nos processos. Ou seja, não houve referências a que tiveram por avó uma meia cristã nova e por bisavô um cristão novo. Os vínculos, se constatados, não fotam levados em conta. Ofi cialmente nada fi cou registrado.

Curiosamente, os dois Bezerras nobilitados tiveram a posse do en-genho São Pantaleão por sucessão hereditária. Está em Bagaço de Cana [16], pág. 67. Deduz-se que conheciam o cristão novo Pantaleão Monteiro e a meio cristã nova Brasia Monteiro.

Surge o questionamento: por qual forma o exame de limpeza de sangue não levantou dúvidas? A resposta lógica é: aquilo que o dinheiro pode pagar, o papel pode comportar ...

Uma pesquisa bem conduzida sobre o tema do sangue limpo em processos de nobilitação foi transformada em livro por Evaldo Cabral de Mello, O Nome e o Sangue. Uma parábola familiar no Pernambuco colo-nial [15]. Na abertura declara que se trata da história de uma manipulação genealógica com a fi nalidade de esconder o costado sefardita (cristão novo) de uma importante família de Pernambuco nos séculos XVII e XVIII. Trata-se dos Paes Barreto. Obtiveram sucesso em ultrapassar as restrições da limpeza de sangue e alcançaram a nobreza. Os Bezerras citados foram benefi ciados por tratamento semelhante.

Outro estudo bem conduzido encontra-se na Dissertação de Mestra-do de Thiago Nascimento Krause, Em Busca da Honra: a remuneração dos serviços da guerra holandesa e os hábitos das Ordens Militares [21]. Está disponível na Internet, com endereço ao fi nal deste artigo.

É oportuno ressaltar que na segunda metade do século XVII, en-quanto a nobreza da terra testemunhava o esvaziamento do seu poder econômico, os mercadores mantiveram-se construindo riqueza. Em grande maioria, eram cristãos novos.

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Distinções postas em segundo plano e tradição que continua

No reordenamento da economiaa pecuária formou-se uma corrente migratória que foi penetrando no interior, seguindo os cursos dos rios. Os pernambucanos, bahianos e portugueses que participaram dessa corrente não demonstraram interesse em títulos nobiliárquicos. No meio destes a distinção entre cristãos velhos e cristãos novos tornou-se irrelevante. Não houve rejeição por parte dos cristãos velhos em relação aos cristãos novos.

Entretanto, a fi delidade ao judaísmo permaneceu. Muitos cristãos novos povoadores do interior pecuário do Nordeste persistiram praticando seus princípios judaicos. Pesquisas recentes revelam ocorrências surpreen-dentes. Preceitos, orações, festas e práticas usuais no ambiente familiar passaram de geração em geração, atravessando os séculos. A transmissão dessa herança representou um trabalho consistente assumido pelas mães. Estas tiveram o respaldo das avós. A tradição alcança o tempo atual.

Sobre o conteúdo e abrangência da tradição judaica, sustentada marcadamente pelas mães, existe um artigo de Ângelo Adriano Faria de Assis, Inquisição, religiosidade e transformações culturais: a sinagoga das mulheres e a sobrevivência do judaísmo feminino no Brasil colonial - Nordeste, séculos XVI-XVII [22]. Foi publicado na Revista Brasileira de História, 2002. Está igualmente disponível na Internet, conforme indicações ao fi nal. Todo o seu conteúdo é esclarecedor. É notável observar as referências feitas às avós.

Uma avaliação que acompanha o tempo

Enquanto permaneceram em Galicia e Portugal os Bezerras man-tiveram sólida adesão à Igreja Católica. Aqueles que deixaram Viana Foz do Lima e se fi xaram em Pernambuco logo perceberam uma sociedade diversifi cada quanto às religiões de origem, raças e costumes.

Seriam os Bezerras europeus já abertos, ao ponto de admitirem não somente a tolerância mas também a convivência com pessoas de outras religiões? A probabilidade é admissível. Havia muitos cristãos novos no norte de Portugal. Porém, registrar tolerância e convivência possivelmente sim. Relação por casamento, provavelmente não.

Na sequência do tempo, os Bezerra de Menezes que se transferiram para o Ceará não demonstram interesse em eventuais diferenças de origem

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religiosa ou racial. Incorporaram-se sem preconceitos à sociedade dos novos locais ocupados e casaram conforme os costumes de cada época.

Uma visão abrangente da sociedade do século XXI revela que ela é pluralista. Admite diferentes modalidades de pensamento e de interação social. É bem verdade que a intolerância não se extinguiu de todo. Convive minoritariamente com a tolerância.

O que desperta atenção é que a maioria dos Bezerras, em mais de cinco séculos de presença em solo brasileiro, não apenas admitiu, mas praticou a tolerância, a convivência e o relacionamento aberto. Embora sem prever o que viria a se manifestar naquilo que para eles seria o futuro, viveram em concreto o pluralismo do tempo presente.

Trata-se de um bom exemplo, a preservar nos cenários adiante no tempo.

Bibliografi a consultada

[1] FONSECA, Antonio José Victoriano Borges da .Nobiliarchia Pernambucana, Volumes I e II.Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1935.

[2] MENDONÇA, Heitor Furtado de. Primeira Visitação do Santo Ofício às Partes do Brasil – Denunciações e Confi ssões de Pernambuco 1593-1595. Coleção Pernambucana, 2ª. Fase, Volume XIV, Governo de Pernambuco, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco–FUNDARPE, Recife, 1984.

[3] ALVARES, João, Abade de Esmeriz (1628 – 1700). Apparato Genealógico Universal, ou Collecção de Memorias para a Genealogia Geral das Familias deste Reino. 5 vls. Cópia manuscrita datada de 1782, guardada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa, Portugal.

[4] LEITÃO, Belchior de Andrade (1640 - 1717). Familias de Portugal, Suple-mento à Letra B, 2º. Tomo. Cópia manuscrita sem data, Biblioteca da Ajuda, Lisboa, Portugal.

[5] LIMA, Jacinto Leitão Manso de (1690 – 1730). Familias de Portugal – Tiradas dos melhores Nobiliários do Reyno e apuradas de muitos erros, provadas com instrumentos jurídicos e authenticos.45 Volumes. Volume V Bezerras–Buzios. Cópia datilografada, sem data, Biblioteca Nacional, Lisboa, Portugal.

[6] BARRETO, Manoel Lobo de Mesquita Gavião (1780 – 1859). Nobiliario ou Collecção de Titulos de Diversas Familias dispostos alfabeticamente e copiados. Cópia manuscrita, sem data, está guardada na Biblioteca Pública Nacional do Porto, Portugal.

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[7] NOVINSKY, Anita; LEVY, Daniela; RIBEIRO, Eneida; GORENSTEIN, Lina. Os Judeus que Construíram o Brasil – fontes inéditas para uma nova visão da história. São Paulo: Editora Planeta do Brasil Ltda., 2015.

[8] OLIVAL, Fernanda. “Rigor e interesses: os estatutos de limpeza de sangue em Portugal”. In Cadernos de Estudos Sefarditas, n.º 4. Ciclo de Conferên-cias 2003. Lisboa: Cátedra de Estudos Sefarditas <<Alberto Benveniste>>/Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2004, pp. 151-182.

[9] LIPINER, Elias. Terror e Linguagem. Um Dicionário da Santa Inquisição. Lisboa: Contexto EditoraLda., 1999.

[10] LIPINER, Elias. Os Judaizantes nas Capitanias de Cima. Estudo sobre os Cristãos Novos do Brasil nos séculos XVI e XVII. São Paulo: Editora Brasiliense, 1969.

[11] BOXER, Charles Ralph. Os Holandeses no Brasil 1624 – 1654. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.

[12] MELLO, José Antonio Gonsalves de. Gente da Nação: cristãos novos e judeus em Pernambuco 1542 – 1654. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 1989.

[13] WOLF, Egon et Frieda. Quantos Judeus Estiveram no Brasil Holandês e outros ensaios. Rio de Janeiro: edição dos autores, 1991.

[14] SILVA, Janaina Guimarães da Fonseca e. Cristãos-Novos nos Negócios da Capitania de Pernambuco. 1580 – 1630. Tese apresentada como requisito à obtenção do grau de Doutor em História. Universidade Federal de Pernam-buco, Centro de Filosofi a e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História. Recife, 2012.

[15] MELLO, Evaldo Cabral de. O Nome e o Sangue. Uma parábola familiar no Pernambuco colonial. 2ª. edição revista. Rio de Janeiro: Topbooks Editora e Distribuidora de Livros Ltda., 2000.

[16] MELLO, Evaldo Cabral de. O bagaço da Cana. Os engenhos de açúcar no Brasil Holandês. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012.

[17] FILGUEIRA, Marcos Antônio. Os Judeus Foram Nossos Avós. Coleção Mossoroense, Série C – No. 840. Mossoró: Editor Vingt-Un Rosado, 1994.

[18] LEAL, Vinicius de Barros. “Os Bezerras de Menezes - As Origens”. In Revista do Instituto do Ceará, Histórico, Geográfi co e Antropológico – RIC. Tomo XCIII, Ano XCIII, Fortaleza, 1979.

[19] RIAGP - Revista do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano. Número 5, Volume I, Recife, 1864.

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[20] CARVALHO, Flavio Mendes. Raízes Judaicas no Brasil – o Arquivo Secreto da Inquisição. São Paulo: Nova Arcádia Editora Ltda., 1992.

Sites:

[21] KRAUSE, Thiago Nascimento. Em Busca da Honra: a remuneração dos serviços da guerra holandesa e os hábitos das Ordens Militares. Disserta-ção de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense. Niterói: 2010. www.historia.uff.br/stricto/td/137.pdf

[22] ASSIS, Angelo Adriano Faria de. “Inquisição, religiosidade e transformações culturais: a sinagoga das mulheres e a sobrevivência do judaísmo feminino no Brasil colonial — Nordeste, séculos XVI-XVII”. Revista Brasileira de História, vol. 22, no. 43, São Paulo, 2002. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-01882002000100004

Nota aos Leitores:

O Autor agradece com igual aceitação os comentários que vierem a ser feitos, favorável ou desfavoravelmente. Agradece em particular as correções dos erros contidos no texto. Nenhum é intencional.E. mail para contato: [email protected]

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Cartografi a Cearense Antiga na Biblioteca Nacional

J L C *

presente artigo tenciona divulgar referências cartográfi cas pertinentes ao Ceará, integrantes do acervo documental da Biblioteca Nacional, entidade cultural com sede na cidade do Rio de Janeiro. De certo modo, o artigo constitui um prosseguimento de trabalho elaborado com igual objetivo, sob o título Cartografi a Cearense no Arquivo Histórico do Exército, publicado pelo autor na Revista do Instituto do Ceará – tomo 111, de 1997 (p. 9-79).

A expressão prosseguimento, ora empregada, pede algumas con-siderações. No período colonial e ainda em boa parte do século XIX, todas as atividades cartográfi cas governamentais eram desempenhadas por militares, ainda que atendessem a interesses civis. Havia exceções, contudo, tais como algumas ações desempenhadas por ofi ciais de Mari-nha ou por estrangeiros, eventualmente contratados para a execução de tarefas de registros de domínio territorial. Tal distribuição de atividades explica por que razão, desde a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, desenhos de obras de defesa, mapas, relatórios e documentos afi ns permaneceram de posse do Real Archivo Militar, criado por D. João VI em 1808, com sede no Rio de Janeiro, então capital do Reino, embora inúmeros documentos fossem encaminhados a outras entidades ofi ciais criadas na ocasião.

O antigo Arquivo Militar tornou-se o atual Arquivo Histórico do Exército (AHEx), estabelecimento onde se acha reunida boa parte da

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará.

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Revista do Instituto do Ceará - 201648

documentação original e ofi cial atinente à matéria.1 Os documentos mais antigos, dos tempos coloniais, por decorrência das próprias circunstâncias históricas, acham-se preservados em instituições lusitanas, preferencial-mente no Arquivo Histórico Ultramarino, mas também no Arquivo da Torre do Tombo, em Lisboa. Cabe, porém, lembrar que mapas do litoral brasileiro, pertinentes àquele período, podem ser encontrados em outras instituições lusitanas, mas também em arquivos espanhóis, franceses, ingleses e holandeses, sempre envolvidas direta ou indiretamente com viagens de observação ou atividades de contrabando ou pirataria.

As competências atribuídas aos engenheiros militares no exercício da produção cartográfi ca explicam por que a quase totalidade do acervo documental brasileiro, elaborado na quadra imperial, não se encontra guardada em instituições civis, como a Biblioteca Nacional, o Arquivo Nacional ou o Arquivo do Itamarati.2 Por tais razões, o presente artigo, como se alertou, na verdade, dir-se-ia uma complementação, em vez de prosseguimento da matéria publicada pelo autor em tomo anterior da Revista do Instituto do Ceará.

1. Coleções cartográfi cas nacionais

Conquanto este trabalho seja dedicado ao exame do arquivo car-tográfi co da Biblioteca Nacional, o autor permitiu-se externar rápidos comentários sobre outras coleções, particularmente ante o fato de que cópias de muitas das peças integram diferentes acervos.

Tal propósito impõe, todavia, alguns esclarecimentos. Antes de tudo, portanto, cumpre reiterar que a mor parte do material cartográfi co colonial brasileiro se encontra em Lisboa, embora as cartas oitocentistas já se achem quase todas guardadas no Brasil ou, mais precisamente, em instituições federais com sede na cidade do Rio de Janeiro. Referem-se

1 O Arquivo Histórico do Exército / AHEx (Casa da Memória do Exército) foi fundado em 1986, em substituição do antigo Arquivo Militar. Localiza-se no Palácio Duque de Caxias - 6º andar, na sede do Quartel-General do Comando Militar do Leste, na cidade do Rio de Janeiro

2 Durante boa parte do século XIX, a Imperial Academia Militar (anteriormente, Real Acade-mia Militar e, depois de 1858, Escola Central do Exército) constituía o centro de formação nacional de engenheiros militares e civis, organizado conforme modelo transcrito da École Polytechnique, francesa. O ensino da Engenharia Civil, ministrado isoladamente em insti-tuições civis de nível superior, entretanto, somente teve início quando da criação da Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1874, posteriormente denominada Escola de Engenharia da Universidade do Brasil, a atual Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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na quase totalidade ao período imperial, preservadas nos acervos do já mencionado Arquivo Histórico do Exército e mais, da Biblioteca Na-cional, do Arquivo Nacional, da Mapoteca do Itamarati e do Serviço de Documentação da Marinha. No Rio de Janeiro, pedem também referências outras entidades culturais, como o Instituto Histórico e Geográfi co Bra-sileiro, à parte as valiosas coleções espalhadas pelo País em repartições estaduais e municipais, em bibliotecas universitárias, bem como em acervos particulares.

1.1. A Biblioteca Nacional

A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Fundação Biblioteca Nacional) foi criada por D. João VI em 1808, com obras trazidas de Por-tugal e enriquecidas com posteriores aquisições e doações. Organizada em setores administrativos e técnicos consoante várias partições, uma delas se denomina Divisão de Iconografi a, de larga abrangência, uma vez que voltada para a guarda de diferentes expressões imagísticas. Desse setor genérico, em 1998, foi desmembrada a Divisão de Cartografi a, constituída para lidar com matéria específi ca, de interesse deste trabalho.3 Em buscas no acervo da Biblioteca Nacional (e de outras instituições congêneres), deve-se ter em conta que muitas peças oferecidas à consulta pública são cópias, ora extraídas de desenhos antigos (feitos à mão), ora obtidas por meios mecânicos de impressão ou digitalizadas. Deste modo, em arqui-vos de várias entidades culturais brasileiras e portuguesas, em vez mapas originais, podem ser também encontradas reproduções autênticas. Ainda no quanto abrange cartas originais, conviria advertir que muitas delas, por medidas de preservação, têm a consulta interditada, admitida somente em casos excepcionais.

1.2. O Arquivo Nacional

O Arquivo Nacional é uma autarquia vinculada ao Ministério da Jus-tiça. Fundado em 1838 e então denominado Archivo Publico do Imperio, acolhe documentação histórica nacional atinente a assuntos administrati-vos, legislativos e judiciários. Conta com um Serviço de Documentação 3 Sobre origens, organização, circunstâncias e particularidades da Divisão de Cartografi a da

Biblioteca Nacional, ver a nota nº 17, pertinente à Entrevista com Maria Dulce de Faria.

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Cartográfi ca e Fonofotográfi ca, o qual, constituído em data relativamente próxima (1958), explica tanto a razão de mostrar acervo de menor porte, quando comparado com as outras mencionadas instituições, bem como também esclarece por que guarda peças elaboradas em dias mais recentes.

Nas coleções do Arquivo Nacional há cartas de interesse cearense, entre as quais, um grupo de plantas de cidades interioranas do século XIX, levantadas pela Repartição dos Telégrafos. Inclua-se ainda um plano de desenvolvimento físico fortalezense oferecido por Antônio Simoens Ferreira de Farias em 1850, plano não materializado, proposição a que o autor deste artigo dedicou trabalho publicado na Revista do Instituto do Ceará (t. 119, 2005: 93-123). O Arquivo Nacional também guarda cartas atinentes às seguidas tentativas de organizar o porto de Fortaleza.

1.3. A Mapoteca do Itamaraty

A Mapoteca do Itamaraty participa do riquíssimo acervo do Ar-quivo Histórico do Itamaraty (mais de 30 mil documentos) formado pelo Ministério das Relações Exteriores ao longo do tempo. Tal como verifi cado com a Biblioteca Nacional, o início da organização do acervo do Itamaraty procede de material componente de arquivos portugueses, trazido quando da transmigração da Família Real em 1808. As origens lusitanas da coleção cartográfi ca remontam às tentativas de determinação das fronteiras do Brasil, conforme estipulado nas cláusulas do Tratado de Madrid, assinado em 1750. Entre outros intentos, o tratado objetivava por termo às divergências entre Portugal e Espanha, surgidas em decorrência da ampliação do território lusitano em terras americanas nos tempos da chamada união das coroas ibéricas (1580-1640), efetivada por ocupação das terras a oeste do chamado meridiano de Tordesilhas. A defi nição dos li-mites nacionais brasileiros, matéria diretamente amparada pela cartografi a, conheceu debates prolongados ainda até os primeiros anos da República, quando se consagraram as valiosas contribuições de nomes empenhados nos trabalhos, como o Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco e tantos outros. A Mapoteca do Itamaraty, por tais razões, possui uma notável coleção de cartas geográfi cas, as mais antigas do Brasil.4

4 Uma das versões do mapa da Capitania do Ceará, elaborada em 1813 por Antônio José da Silva Paulet, integrava a Mapoteca do Itamaraty. Desapareceu, conjuntamente com outras peças.

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1.4. As coleções da Marinha

A Marinha, por força de suas funções, conquanto interessada no presente, conta com serviços relativos à cartografi a antiga brasileira. Cabe mencionar a ação da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM) ou, mais precisamente, a Mapoteca da Biblioteca da Marinha, com origens também ligadas a material cartográfi co portu-guês vindo com a Família Real, e enriquecida com doações e aquisições de cartas e atlas antigos.5 Entre outras fi nalidades, as cartas náuticas atuais despertam especial interesse, pois se mostram precisas quando do estabelecimento de comparações com os velhos mapas, em particular no capítulo das batimetrias, uma vez que o relevo dos mares (de maior inte-resse nos estudos de profundidade do litoral nas bacias portuárias) conhece permanentes mutações, naturais ou provocadas pela intervenção humana.

1.5. A Coleção Studart

Com respeito à documentação cartográfi ca cearense, não se pode omitir a notável coleção organizada pelo Barão de Studart, formada por 162 mapas, todos devidamente relacionados e comentados em artigos publicados pelo historiador na Revista do Instituto do Ceará. A coleção Studart contemplava um amplo arco temporal, desde a cartografi a vetusta a mapas já do primeiro quartel do século XX, compreendendo pratica-mente toda a documentação cearense integrante das coleções públicas ora mencionadas e, mais ainda, contando com peças não registradas naqueles acervos. A coleção magnífi ca, embora constituída de cópias, desapareceu após o falecimento de Studart.6

5 Os estudos de cartografi a marítima luso-brasileira antiga e preservação do acervo náutico nacional antigo (Museu Naval) muito devem à saudosa fi gura do almirante Max Justo Guedes (1927-2011).

6 Quanto à Coleção Studart, matéria, aliás, divulgada em vários artigos do historiador publica-dos em outras oportunidades, acha-se reunida em uma lista defi nitiva do acervo, incluída em Geographia do Ceará, na secção Cartographia, Mappas Cartas etc / Referentes ao Ceará, texto apresentado na Revista do Instituto do Ceará t. 37, de 1923, obra transcrita porStudart em 1924 em livro homônimo e republicada pelo Instituto do Ceará, sob patrocínio do Banco do Nordeste, em 2010. (STUDART, 2010: 172-217). Quanto ao lastimável desaparecimento da coleção, abandonada e exposta à intempérie após o falecimento de Studart, ver comentá-rios incluídos pelo autor deste artigo em texto dedicado ao acervo cartográfi co do AHEx, na Revista do Instituto do Ceará, já referido. (t. 111, 1997: 11-12). Os mapas, em sua maioria executados com aquarela, não resistiram à ação da água. Sobre Studart, insistentemente cita-do neste artigo, considerar os comentários de José Honório Rodrigues: “O Barão de Studart

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2. Peças artesanais antigas e mutações técnicas

Nos acervos cartográfi cos mencionados neste trabalho ou em outras referências, quaisquer que sejam, as peças muito antigas constituem um corpo documental considerado à parte, uma vez que várias delas, por sua fragilidade material, somente podem ser consultadas por intermédio de solicitação expressa, além de manuseadas com cuidados especiais. Sobre o mais, por haverem sido executadas artesanalmente e reproduzidas por via manual, mostram exatidão nem sempre confi ável, dependente da qualifi cação e da honestidade de desígnios dos copistas.

2.1. Novos meios de reprodução da imagem: a litografi a

Os cuidados especiais exigidos na preservação de peças artesanais foram gradativamente removidos no transcorrer do século XIX, quando começaram a ser empregados processos mecânicos de reprodução de imagens, benefi ciados, de início, com recursos das técnicas de litografi a.

Litografi a (gr. lithos = pedra; grapho = gravar, escrever) é um processo que utiliza a aplicação de desenhos executados em uma pedra calcária plana, com tintas pastosas específi cas ou com lápis gordurosos. Submetida a preparo especial, a pedra retém os desenhos, que serão pos-teriormente reproduzidos em papel. Assim, pela produção de cópias de superior qualidade, aliada às vantagens das tiragens amplas, desde logo impressas comercialmente, a litografi a também se impôs pelos padrões de qualidade do papel e pela perfeita nitidez das legendas e dos dese-nhos, estes, pouco tempo depois, já executados com registros coloridos. O entusiasmo despertado pela novidade atraiu o interesse de diferentes admiradores, entre os quais, pintores e gravadores, com intuitos artísticos. O desenvolvimento dos processos litográfi cos criou posteriormente novas técnicas de reprodução, sustentadas por substratos de impressão metálicos - cobre, zinco, alumínio, uma delas, hoje corrente, conhecida por offset.

As origens da litografi a ligam-se ao nome de Alois Senefelder (Praga, 1771 - Munique, 1834), o qual, após insistentes pesquisas, usan-do placas de pedra e tomando como partida observações de certo modo

foi o maior historiador local do Brasil (...) era a enciclopédia viva do Ceará. (...) Studart representa na historiografi a local o mesmo papel de Varnhagen na história brasileira geral.” (RODRIGUES, 1959: 33-34).

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verifi cadas por acaso, formulou em 1796 um processo de impressão mais completo e mais barato do que aqueles então em voga.7

A difusão da litografi a na Europa foi imediata, principalmente nos meios artísticos. Chegou ao Brasil bem cedo, por intermédio de Johann Jakob Steinmann (1804-1844), jovem suíço ainda pouco destro no ofi -cio, mas com fortes aspirações comerciais, contratado como litógrafo do governo imperial em 1825.8

2.2. Novos meios de medições

O avanço nas técnicas de impressão verifi cado no transcorrer do século XIX, há pouco referido, na verdade, já vinha sendo antecipado por visíveis progressos nos métodos de medição de regiões amplas, com repercussão nos trabalhos cartográfi cos. Surgiam assim vantagens na precisão dos dados exibidos, quer pelo aprimoramento da aparelhagem de observação, quer pelo emprego de recursos matemáticos, ou melhor, pelo uso dos sistemas geodésicos, amparados na trigonometria. Países como a França logo providenciariam o levantamento de todo o território nacional, utilizando os novos processos ditos de “triangulação”, que se tornaram correntes nos anos oitocentos (ver nota 23). As medições artesanais, até então efetuadas pelos “cordeadores” das câmaras municipais, condenadas ao rápido desaparecimento, cedo perderiam o prestígio.

2.3. Novos meios de divulgação: a Exposição de Historia do Brazil

Mapas e documentação correlata, que formam o inventário carto-gráfi co da Biblioteca Nacional e outras instituições, foram apresentados ao público na célebre Exposição de Historia do Brazil, realizada no Rio de Janeiro em 1881. Após o evento, muitas coleções permaneceram na Biblioteca Nacional, ou porque a ela já pertenciam ou por terem a ela sido

7 Então já difundidos e consagrados, os procedimentos de Senefelder foram expostos em um livro intitulado Curso completo de litografi a, publicado em 1818. (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 1965, v.14: 111-116).

8 Com referência às atividades de Steinmann e trabalhos de litografi a desde logo por ele desenvolvidos no Brasil e por terceiros, ver Imagem e letra, de Orlando da Costa Ferreira (EDUSP, 1994).

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então doadas, enquanto outras retornaram às suas origens. Estas alusões, pertinentes à mostra, cumpre esclarecer, têm o propósito de demonstrar a riqueza do acervo nacional exposto há mais de um século, conforme o atesta o Catálogo da Exposição, com ênfase nas peças cartográfi cas então relacionadas.

A Exposição materializava questão levantada pelo Barão Homem de Mello, titular do Ministério do Império9, e foi organizada com patrocínio imperial sob a direção de Ramiz Galvão10, diretor da Biblioteca Nacional, à frente de um pequeno grupo de auxiliares, entre os quais se encontrava o jovem João Capistrano de Abreu11, que ingressara, havia pouco, nos quadros administrativos da instituição. O evento ocupou os amplos espa-ços do Cassino Fluminense, na rua do Passeio, edifi cação posteriormente cedida ao Automóvel Club.12

9 Francisco Ignácio Marcondes Homem de Mello (Pindamonhangaba / SP,1837- Campo Belo / SP, 1918), gestor público, político, advogado, professor, historiador, geógrafo. Participava do seleto grupo de membros da administração imperial, tendo ocupado a presidência de várias províncias, entre as quais, a do Ceará, entre 1865 e 1866. Conforme informa o catálogo da Exposição em Secção Artística, classe XV – Vistas, Paisagens, Marinhas, Homem de Mello apresentou nove “estampas”, que mostravam aspectos do Palácio do Governo, em Forta-leza, e de locais vizinhos, em fotografi as de sua coleção particular, as quais, se realmente efetuadas em 1865, constariam entre as mais antigas tomadas na Província. (CATÁLOGO, [1881] 1981: 1408). Nascido no vale do Paraíba do Sul, zona cafeicultora de escravocratas poderosos, Homem de Mello era abolicionista convicto. Em textos rememorativos de suas andanças, lembrava o Ceará, externando a admiração causada pelo comportamento espontâneo e comunicativo dos trabalhadores não escravos, que conhecera nas plantações de café da serra de Baturité: “mostrando em seus movimentos a dignidade de um ente livre, appareciam-me por toda a parte, executando com desembaraço alegria os differentes trabalhos da lavoura.” (MELLO, F. I. M. Homem de, 1872: 84).

10 Benjamin Franklin Ramiz Galvão (Rio Pardo / RS, 1846 – Rio de Janeiro / RJ, 1938), médico, professor, helenista, fi lólogo, expressiva fi gura na vida cultural brasileira imperial e republicana.

11 João Capistrano Honório de Abreu (Maranguape / CE, 1853 – Rio de Janeiro / RJ, 1927), futuro grande nome da historiografi a brasileira. De início, estudou em escolas particulares e no Seminário da Prainha, em Fortaleza, tendo vivido dois anos no Recife. De retorno a Fortaleza, desenvolveu intensa atividade intelectual (Escola Popular, Academia Francesa). Por instigação de José de Alencar, que o conheceu quando visitou o Ceará, em 1873, Capistrano transferiu--se para o Rio de Janeiro dois anos depois, vindo a integrar os quadros administrativos da Biblioteca Nacional por concurso público, em 1878, no cargo de ofi cial. Em 1883, defendeu a tese A Descoberta do Brasil e seu desenvolvimento no século XVI, tornando-se professor catedrático do Colégio Pedro II. No preparo da Exposição, conquistou papel destacado como responsável pela apresentação e divulgação da História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador.

12 Referência da arquitetura neoclássica nacional, o edifício que abrigou o evento, projetado por Manuel Araújo Porto-Alegre (1806-1879), ainda permanece de pé, embora mantido com algumas compreensíveis alterações. Tem a frente voltada para o Passeio Público e fi ca vizinho

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A Exposição fi cou distribuída em salões, designados por nomes ilustres, como Pedro II, Ayres de Casal, Varnhagen, Silva Lisboa (Visconde de Cayrú) e mais outras fi guras correlacionadas com os respectivos temas. O Salão Velloso, por exemplo, homenageava as ciências naturais na pessoa do botânico José Mariano da Conceição Velloso. Exibia retratos de fi guras expressivas nas ciências, entre as quais o também botânico Francisco Freire Alemão de Cysneiros (1797-1874), chefe da Commissão Scientifi ca de Exploração, que percorreu o Ceará entre 1859 e 1861.

Segundo o Catálogo, a documentação exposta dividia-se em nove Classes, estas, por sua vez, agrupadas em “parágrafos”. Quanto à temática, interessa ao presente artigo a Classe I - Geographia do Brazil, particular-mente o parágrafo 7º, dito das Chartas geographicas, hydrographicas e topographicas, em especial o item f, das chartas das províncias.13 O Ceará ocupava as páginas 216 a 218, com 30 documentos.14 Vale, entretanto, assinalar algumas impropriedades na identifi cação e na localização das peças expostas, pois às vezes entremeavam mapas com desenhos de obras de arquitetura, como ocorrido com a Fortaleza da Assunção, na capital do Ceará, e com o forte dos Reis Magos, este construído em Natal!...

Na relação cearense, apenas cinco cartas procediam da própria Biblioteca Nacional, acrescidas de mais outras quatro, pertencentes a particulares, uma delas à coleção da Imperatriz Thereza Christina. Os mapas restantes integravam o acervo do Arquivo Militar, entre os quais havia 12 levantamentos de “enseadas e barras de rios”, situadas entre a foz do rio Parnaíba e a cidade da Fortaleza, trabalho executado pelo capitão João Bloem, do Imperial Corpo de Engenheiros, em março e em agosto e setembro de 1825.15 Nos mapas de Bloem, apareciam duas localidades

à Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. (GUIA, 2000: 42). Por bom tempo, abrigou o Cassino Fluminense, um dos espaços de referência social na Corte, men-cionado em obras literárias - na trama de romances e contos e nas crônicas da vida elegante da cidade do Rio de Janeiro.

13 A expressão charta reproduz em grafi a original o vocábulo latino, assim traduzido: “charta ou carta, -ae - subs. f. Folha de papel, e depois, folha escrita, livro, registros públicos, docu-mentos escritos.” (FARIA, 1943: 55).

14 Ver o Catálogo da Exposição de História do Brasil, publicado pela Editora Universidade de Brasília, em 1981, em edição fac-similar comemorativa do centenário da Exposição, valorizada com a erudita apresentação de José Honório Rodrigues. O Catálogo, com cerca de 1.760 páginas e 20.337 referências a documentos exibidos, tanto comprova a cooperação oferecida por diversas instituições públicas e colecionadores particulares, como demonstra a amplíssima abrangência temática da notável mostra e do próprio acervo da Biblioteca Nacional.

15 João Bloem( ? – 1851) era militar e engenheiro alemão, naturalizado brasileiro. Em 1825,

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ditas cearenses – “Igarassu” e “Carramupim” (Camurupim), as quais, um ano antes da abertura da Exposição, haviam sido transferidas para o Piauí. Ambas situavam-se em pequena faixa de terra praieira, conhecida por Amarração, pertencente ao Ceará e que fora permutada por extensa área central da província do Piauí, correspondente às nascenças do rio Poti, onde hoje se encontram o Crateús e municípios vizinhos.

2.4. A cartografi a no século XX

Durante o século XX, em sua primeira metade, surgiriam os le-vantamentos aerofotogramétricos. Constituíam um valioso avanço nos trabalhos cartográfi cos, apoiado no desenvolvimento da navegação aérea e da acuidade fotográfi ca. O processo recorria a sistemas de restituição gráfi ca de fotogramas, isto é, fotografi as aéreas perpendiculares ao solo, as quais, sucessivamente ajustadas por superposição parcial, formavam o todo em exame. Resultava assim uma montagem em “mosaicos”, quer dizer, faixas de imagens seqüenciais das áreas levantadas, oportunamente impressas com restituições bidimensionais ou analisadas em vistas este-reográfi cas, obtidas por meio de equipamentos especiais.

Na segunda metade do século, surgiriam novos meios de elabora-ção cartográfi ca apoiados no emprego de satélites artifi ciais, alcançando destaque a possibilidade de se obterem fotografi as tomadas em pontos longínquos, praticamente infi nitos e, portanto, sem deformações óticas, a par do uso dos meios eletrônicos de captação, reprodução e impressão das imagens.

O emprego recente da informática tem permitido a extração de cópias digitalizadas de alta defi nição, divulgadas, adquiridas e remetidas instantaneamente a locais distantes por meio da Internet.16

entre outras atividades, realizou no Ceará tarefas cartográfi cas. Posteriormente, desenvolveu em outras regiões do País reconhecida carreira profi ssional, havendo dirigido a [Real] Fábrica de Ferro, em São João de Ipanema / Sorocaba, São Paulo, montada pelo alemão Friedrich Ludwig Varnhagen, pai do historiador. Em seu desfavor, entretanto, fi cou tristemente ligado à história cearense como o comandante do pelotão de fuzilamentos que executou, no mesmo ano de 1825 (ano de seca), os revoltosos da Revolução do Equador. (STUDART, 1924: 192-193).

16 As vantagens dos processos de digitalização com alta resolução, infelizmente, deparam res-trições impostas pelo projeto gráfi co da Revista do Instituto do Ceará (dimensões e soluções monocromáticos), que não permitem a cabal reprodução de cartas coloridas mencionadas neste artigo. As compreensíveis limitações da Revista explicam a redução de tamanho e do número de ilustrações apresentadas no artigo. Acresça-se também o fato de muitos mapas não possuírem cópias digitalizadas, o que lhes difi culta ou lhes inibe a apresentação neste trabalho.

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3. Biblioteca Nacional - o acervo cartográfi co

O acervo cartográfi co da Biblioteca Nacional, por sua diversida-de, pede algumas informações antecipadas. Nos arquivos da Divisão de Cartografi a da Biblioteca Nacional, há uma total separação entre os mapas artesanais (manuscritos) e os mapas já impressos em sua origem ou aqueles transcritos mecanicamente de originais ainda executados por meio de processos artesanais. Esse fato explica a possível separação com que são apresentados.

No manuseio das fi chas, nota-se que numerosas cartas antigas do acervo da Biblioteca Nacional compõem “coleções” designadas com nomes de pessoas. Entre as várias referências, muitos mapas de interesse cearense trazem a indicação Col. B. Ottoni, coleção que constitui prova-velmente a mais rica de quantas se organizaram no Brasil e até no exterior, formada por livros, mapas, desenhos, documentos históricos. Reunida durante longo período pelo bibliófi lo José Carlos Rodrigues (1844-1923), a coleção fi cou exposta à venda em 1911. Adquirida na ocasião pelo industrial Júlio Benedicto Ottoni (1856 - ?), foi generosamente doada pelo novo proprietário à Biblioteca Nacional no ano seguinte, todavia sob a condição de sempre aparecer designada pelo nome ilustre do pai do outorgante, o engenheiro Christiano Benedicto Ottoni (1811 - 1896), um dos introdutores do transporte ferroviário no País. Técnico renomado, administrador público e político de prestígio, tem seu nome consagrado na praça fronteira à vasta estação inicial das linhas da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, no Rio de Janeiro.

Com respeito à organização do acervo da Divisão de Cartografi a da Biblioteca Nacional e suas particularidades, pede atenção a referência formada pelas letras ARC, seguida de números que indicam a localização dos mapas.17

17 Particularidades do sistema de controle empregado pela Divisão de Cartografi a da Biblioteca Nacional podem ser decodifi cadas com a leitura da entrevista concedida pela bibliotecária Maria Dulce de Faria à revista Acervo (v. 29 - jan. jun. 2016: 9-30), editada pelo Arquivo Nacional. Especialista no tema e diretora da Divisão de Cartografi a da Biblioteca Nacional, a entrevistada oferece esclarecimentos pormenorizados sobre a organização daquele setor da instituição. As letras ARC, citadas um pouco adiante, antepostas à numeração identifi cadora das peças nas devidas fi chas, constituem uma redução da palavra Arcaz, que é um aumentativo de arca, no caso, termo empregado para designar o móvel utilizado na guarda dos mapas. Nas fi chas, a redução ARC vem seguida de três números, que indicam sucessivamente o arcaz, a gaveta e a carta procurada. (FARIA, M. D., 2016: 21 - 22).

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Revista do Instituto do Ceará - 201658

3.1. Cartografi a cearense na Biblioteca Nacional

As cartas cearenses, à frente relacionadas, receberam a respectiva numeração identifi cadora na Divisão de Cartografi a da Biblioteca Nacio-nal, constante de fi chas pertinentes. Para melhor entendimento do exame do material consultado, entretanto, neste artigo, as cartas fi caram reunidas em blocos, estes defi nidos segundo interesses estritamente locais (cearenses), embora interligadas àquela ou outras circunstâncias.

Em decorrência das próprias origens do acervo cartográfi co da Bi-blioteca Nacional, os mapas cearenses do século XVIII ou a ele anteriores são pouco numerosos. O contrário, entretanto, ocorre com as cartas já do século XIX, adiante arroladas no item 3.3., as quais constituem o con-junto que desperta maior atenção. Sem dúvida, essas cartas tanto formam as coleções cearenses mais antigas e mais numerosas, como permitem, ao mesmo tempo, acompanhar as tentativas de executar representações gráfi cas do território da Capitania com precisão, amparadas pela acolhida de novos processos técnicos de medição e representação. Neste trabalho, porém, os mapas mencionados nos itens pertinentes ao século XX, bem mais recentes, receberam comentários sucintos, às vezes seguidos de ocasionais referências. Constituem coleções publicadas em dias relativa-mente próximos, resultantes de programas desenvolvidos por repartições federais, em cujas sedes, nacionais e locais, as cartas respectivas podem ser facilmente consultadas.

Cumpre lembrar, mais uma vez, que muitos mapas integrantes do acervo da Biblioteca Nacional também podem ser encontrados, em originais ou cópias, em outras instituições ofi ciais e em coleções parti-culares, embora, este artigo não proponha assinalar as coincidências de localização.

3.2. Mapas cearenses anteriores ao século XIX.

Como já mencionado, salvo raras exceções, durante o período colonial ou, melhor dito, anteriores ao século XIX, os mapas alusivos ao Brasil sempre foram remetidos ao Reino. Por tal razão, permanecem guardados em Portugal, ainda que boa parte dessa documentação hoje integre os arquivos brasileiros em cópias.

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59Cartografi a Cearense Antiga na Biblioteca Nacional

Considerada a soma de todas essas referidas circunstâncias, com-preende-se por que a Divisão de Cartografi a da Biblioteca Nacional não conta com material cearense vultoso, elaborado naquele período. Na verdade, o acervo constaria de dois mapas que assinalam o ano de 1800, além de um terceiro, que não envolveria propriamente o território cearense.

As cartas mais antigas do Ceará (anteriores ao século XIX) registram apenas o litoral, aliás, muitas vezes inserido em um contexto territorial da “costa leste-oeste”. Algumas iniciativas tomadas por mineradores a serviço dos governadores de Pernambuco, porém sem resultados objeti-vos, resultaram entretanto nas cartas setecentistas de trechos do vale do rio Jaguaribe. (ver mapas ns. 19 e 20, em STUDART, 1924: 189; 2010: 183). Somente nos anos iniciais do século XIX ocorreram as primeiras tentativas de mapear todo o território da Capitania, isto é, o litoral e o interior, este então já devassado.18 Assim, no início dos anos oitocentos, surgem as primeiras cartas gerais da Capitania, devidas ao sargento-mor naturalista João da Silva Feijó e também a Mariano Gregório do Amaral (este com dados de elaboração discutíveis), mapas em que o contorno do território cearense aparece “achatado”.19

Como também se pode observar, as cartas mais antigas nem sempre aparecem orientadas para o norte, convenção que se tornou usual, e até obrigatória, depois da segunda metade do século XIX.

• ARC 9-11-42 - 9-11-42Capitaniae de Cirii et Pernambuco.Século XVIII / escala em milhas germânicas = 7,3 cm / grav. 44 x 54 cms. Col. B. Ottoni.

Carta do litoral entre Pernambuco e o Recôncavo baiano, sem data precisa, com autoria desconhecida. Apesar de arquivada nas pastas cearenses, não cobre o Ceará. Talvez se refi ra a Sergipe, para cujo acervo cartográfi co pode ter sido remanejada.18 O mapeamento parcial do interior da Capitania já fora tentado em meados do século XVIII

por José Coutinho dos Santos (1753) e por Jeronymo Mendes da Paz (1754), nomes ligados a projetos de mineração de interesse do Governo de Pernambuco. Em período anterior, os trabalhos de medição tornavam-se praticamente inviáveis porque os sertões, ainda não de-vassados de todo, estavam ocupados por tapuias belicosos. Ver do autor, considerações sobre a matéria em Cartografi a cearense no Arquivo Histórico do Exército. (RIC, 1997: 9-79).

19 Os mapas levantados e desenhados por Feijó ou por ele delineados e desenhados por terceiros mostram o território cearense “achatado”, isto é, diminuídas as dimensões de “profundidade” tomadas ao longo dos meridianos, embora a representação gráfi ca defi nida pela faixa marítima reproduza as relações físicas com aproximada correção.

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• ARC - 4.6.13 - CEARÁ, (Figura 1)1800.João da Silva Feijó. Carta Topografi ca / do Seará á mina do Salpetra, / descoberta / no Sitio da Tatajuba, na distª/ de 55 legoas da Villa da For-taleza / por J. S. Feijó / 1800.

Esta carta se inscreve no ciclo das tentativas de mineração na Ca-pitania, iniciado com Pero Coelho de Sousa (mapa 1, da coleção Studart), no limiar do século XVII, e continuado ao longo do século XVIII. Mostra o caminho de acesso à mina de salitre do Salpetra, tendo como ponto de partida a vila da Fortaleza. O salitre tinha emprego na fabricação da pól-vora e a mina estava situada no atual município de Santa Quitéria, além da serra do Machado.

João da Silva Feijó (Rio de Janeiro, 1760 - Rio de Janeiro, 1824) era sargento-mor de milícias, diplomado pela Universidade de Coimbra. Veio para o Ceará em 1799 com o Governador Bernardo Manoel de Vasconcellos, tendo permanecido na Capitania até 1817. Dedicou-se à cartografi a e a pesquisas mineralógicas e botânicas. Feijó elaborou ma-pas do Ceará (preservados no AHEx) e escreveu memórias pertinentes à exploração mineral - minas de ferro e ouro - e à criação de gado lanígero (republicadas recentemente). Doou faixa de terreno de sua propriedade para tomada de água necessária à instalação do primeiro chafariz da Vila e, provavelmente, construiu o primeiro sobrado fortalezense.

Sobre o mapa do acesso à mina do Salpetra, elaborado por Feijó, há comentários do Barão de Studart e também referências de respeitadas fi guras da historiografi a cearense, entre as quais se nomeiam Álvaro de Alencar20 e Paulino Nogueira21.

Ver carta sob nº 25 na coleção Studart (1924:192; 2010:185).

20 “Tatajuba: - Lugar no Termo de Santa-Quiteria, onde existem minas abundantes de salitre. / Em 1800 o naturalista Dr. Silva Feijó por ordem regia fundou ahi uma offi cina para refi nar o salitre, e funccionou três annos, diz Pompeu, apurando 400 arrobas.” (ALENCAR, A. G., 1903: 347-348).

21 “TATAJUBA (maclusa tinctoria): madeira preciosa de tinturaria. (...) Tatajuba logar em Santa Quitéria, onde o naturalista João da Silva Feijó, de [por] ordem regia, estabeleceu uma offi cina para refi nar salitre, aproximadamente 400 arrobas, que colheu de uma mina em 3 annos. Pompêo, Dic Top. Da mina há uma planta topographica. – Ety .: - corruptela de itá pedra e também páu duro e juba amarello; Martius, de que se extrae tinta amarella, com do pau Brasil – a encarnada.” (NOGUEIRA, 1887: 413).

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Figura 1. João da Silva Feijó. Carta topographica do Seara [Fortaleza] à mina do Salpetra.

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Figura 2. Mariano Gregorio do Amaral. Mapa geographico da Capitania do Siará.

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63Cartografi a Cearense Antiga na Biblioteca Nacional

• ARC - 025.02 009 - CEARÁ (Figura 2)Amaral, Marianno Gregorio do Mapa Geographico da Capitania / do Siará.

O mapa de Mariano Amaral, ora integrante do acervo da Bibliote-ca Nacional, não foi encontrado pelo autor deste artigo em nenhum dos arquivos cartográfi cos do Rio de Janeiro, quando de pesquisas realizadas anteriormente. Desconhece-se a que autoridade foi remetido, além de que não aparece relacionado entre as cartas expostas da Exposição de História do Brasil de 1881, embora estivesse incluído pelo Barão de Studart na lista de sua desaparecida coleção como mapa nº 22. (1924: 191; 2010: 185).

A fi m de se fazer melhor ideia do desencontro de informações, transcreve-se o longo texto incluído por Amaral na cartela do mapa:

Delinhado no anno de 1800 por Marianno Gregorio do Amaral, natural da Sidade do Rio de Janeiro. Via / jando por aquela Capitania como Vizitador que então foi della, / não vai correito com as observações e pelos erros aque estão sujeitas / a determinarem-se por Calculos; Os graos são de 18. Legoas cada / grao. E cada Legoa de 3000 toezas: os pontinhos são as / divizões das Freguezias; os rios se cortam em tempo deverão, excepto o Rio / Salgado, que corre até abaixo do Icó tresLegoas; o maior Comercio desta Capitania hé de gado vacum, ecavalar, algodão, bons coiros cortidos e com cabello e He onde se curtem as melhores / solas; ha tambem algumas minas de Salitre ede pedras / Preciozas. / Petipe de Vinte Legoas.

As palavras de Amaral levantam contradições ou talvez até suspeita de declarações falsas, como se busca argumentar:

a. Amaral apresenta-se na cartela do mapa como “vizitador” da Capitania do Ceará (“que então foi della”), atividade de clérigo, a qual, no caso, seria exercida para atendimento a solicitações do bispado de Olinda (o bispado do Ceará seria criado meio século depois, em 1854, e instalado, de fato, em 1861). A relação das paróquias da Capitania e seus limites, mostrada no mapa, constitui um conjunto de informações de interesse unicamente eclesiástico, com eventual utilidade administrativa ou civil, e que somente poderiam ser obtidas com o cruzamento de indicações prévias, fornecidas por fonte episcopal. Como dado contraditório às suas

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declarações, Amaral não consta da relação dos clérigos que estiveram no Ceará como visitadores da Diocese de Olinda, em atividade no longo período transcorrido entre 1726 e 1861. Em dias próximos a 1800 (ano mencionado na carta), entre 1793 e 1800, foi visitador o padre José Sal-danha Marinho. Entre 1800 e 1802, o padre José de Almeida Machado.

b. Amaral não poderia percorrer o território cearense em missão ofi cial de interesse da administração real, uma vez que não integrava a equipe de auxiliares trazidos na ocasião por Bernardo Manuel de Vasconcellos, 1º governador da Capitania entre 1799 e 1803, ano este quando faleceu, no exercício do cargo. Muitos dos profi ssionais vindos de Portugal com Vasconcellos ou por seu convite, quase todos permaneceram de-moradamente no Ceará ou se radicaram na terra de adoção. Compõem grupo respeitado por suas atividades, alguns dos quais reverenciados na toponímia urbana fortalezense, como o já mencionado naturalista João da Silva Feijó. Ainda que viajasse por interesse dos governadores de Pernambuco, Amaral teria de se apresentar obrigatoriamente ao titular da Capitania do Ceará, o que não ocorreu.

c. Amaral não está citado pelo Barão de Studart em Figuras do Ceará Colonial, numeroso rol de pessoas que visitaram ou permaneceram na Capitania em missões defi nidas. Como se disse, a única menção a Amaral, feita por Studart, aliás, lacônica, correlaciona-se com o mapa arrolado em seus arquivos sob nº 22, entretanto, sem quaisquer comen-tários além da citação do nome do autor.

d. Amaral não consta do Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania do Ceará (1618-1832), organizado sob patrocínio do Ministério da Cultura, publicação que arrola documentos de interesses cearenses guardados no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. Também não comparece em relação semelhante, editada pelo governo do Estado de Pernambuco.

e. Nos tópicos fi nais de sua declaração, Amaral faz referência a riquezas naturais do território cearense, matéria absolutamente alheia às ativi-dades de um visitador eclesiástico, aliás, tema desenvolvido pelo já mencionado Feijó, seja como alvo de suas pesquisas de campo, exposto em suas memórias.

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Algum tempo depois da “visita” ao Ceará, talvez realizada por conta própria, talvez em busca de formar currículo, Amaral estava em Lisboa (cidade na qual talvez já tivesse vivido), onde freqüentou, com brilho, os cursos da Academia Real de Fortifi cação, Arquitetura e Desenho de Lisboa, nos quais obteve prêmio como aluno da “2ª. classe” (2º ano), conforme Resolução de 17 de setembro de 1805, publicada na Gazeta de Lisboa, de 27 de setembro do mesmo ano. O prêmio foi-lhe conferido por comissão julgadora de nomeada, entre cujos componentes se encontrava a conhe-cida fi gura de José da Costa e Silva (1747-1819), arquiteto de formação neoclássica, italiana, que se transferiria em 1812 para o Rio de Janeiro, por convite de Dom João VI, a fi m de superintender as obras reais, cargo que exercia em Portugal.

Em 1805, Mariano Gregório do Amaral tentou obter de D. João VI, sem êxito, a indicação de seu nome para exercício do cargo de professor de desenho no Seminário de Olinda, pedido em que tenta desqualifi car o titular da cadeira, conforme refere o arquiteto professor Clovis Jucá Neto, da Universidade Federal do Ceará, pesquisador interessado na fi gura do “vizitador”22. De acordo com a mesma fonte, voltou a se dirigir ao regente, todavia, solicitando agora nomeação para o cargo de mestre de obras em Pernambuco. Na ocasião, dizia-se casado, com duas fi lhas. Esta informação faz presumir que Amaral não seria jovem, já que naqueles tempos os homens comumente constituíam família até com mais de 35 anos de idade.

Nada se sabe de posteriores atividades de Amaral após a conclusão do curso na ARFAD. Teria tentado viagem para o Rio de Janeiro, pro-vavelmente sem êxito, pois sua presença não consta dos registros perti-nentes. Talvez tenha permanecido em Portugal, hipótese que somente se pode confi rmar por via de investigações in loco. Não se afasta, todavia, a hipótese de que o mapa teria sido desenhado em dias bem mais à frente, 22 O professor do Seminário de Olinda, desqualifi cado por Amaral, seria o padre João Ribeiro

Pessoa de Mello Montenegro (1766-1817), o qual, envolvido na Revolução Pernambucana de 1817, teve fi m trágico, pois, tomado de desespero, suicidou-se na prisão. Segundo a opinião de Sacramento Blake, Montenegro “dedicou-se á arte do desenho, na qual tornou-se habilissimo”, ilustrando os livros de botânica de Arruda Câmara. (BLAKE, 1898, v.4: 35). Foi autor de uma carta hydrographica do Rio Grande do Norte, em 1809, e participou, como desenhista, da “Planta Demonstrativa da Capitania do Ceará para servir de plano á sua carta topographica, delineada pelo sargento-mor naturalista [João da Silva Feijó]” (BLAKE, 1898, v.4, 50). Essa carta, elaborada em 1809, integra o acervo do AHEx sob nº. 003 / 783 (CASTRO, 1997: 27) e dela havia cópia na coleção Studart, sob nº 31 (STUDART, 1924: 193; 2010: 186).

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tal a semelhança que mostra com uma carta de Feijó, elaborada em 1808, além de alusões a assuntos considerados nas memórias do sargento-mor, tocantes ao comércio e à produção agropecuária da Capitania, nomeada-mente às pesquisas de salitre.

3.3.1. A contribuição do Tenente-coronel de Engenheiros Antônio José da Silva Paulet.

Antônio José da Silva Paulet (Vila Nogueira de Azeitão, 1778 - Por-to, 1837) veio para o Brasil como ofi cial de Marinha em 1808, integrando a comitiva de D. João VI. Amparado em legislação vigente, transferiu-se para o Exército, com a patente de Tenente-coronel de Engenheiros. Nesse posto, chegou para a capitania do Ceará em 1812, como ajudante de ordens do governador, o Coronel de Engenheiros Manuel Ignácio de Sampaio (1779 - 1856), permanecendo até 1820, quando foi designado para servir no Rio Grande do Sul.

Em 1823, logo após a Independência do Brasil, retornou a Portu-gal, passando a desempenhar missões militares, com destaque durante a Guerra Civil, como comandante do Trem do Ouro (Trem de Artilharia de Lordelo do Ouro), durante o cerco da cidade do Porto (1832-1833). Posteriormente, exerceu atividades civis, sempre no Norte (de Portugal), com maiores solicitações na cidade do Porto e no Minho. Às vésperas de seu falecimento, ocorrido no próprio Quartel do Ouro, recebeu a patente de Brigadeiro do Real Corpo de Engenheiros, com honras de Marechal de Campo, outorgada pela rainha D. Maria II, fi lha do rei D. Pedro IV, o nosso Imperador Pedro I.

Nos oito anos de permanência no Ceará, Paulet trabalhou inten-samente, encarregado de várias obras, com destaque para o Mercado Público, a Alfândega, um chafariz, o mais antigo da Vila, além do proje-to e construção da última e atual versão da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Em termos de espaço urbano, propôs o primeiro plano de expansão da Vila, em malha ortogonal, e distinguiu-se na execução de mapas gerais da Capitania, desde sua chegada em 1812 até 1818, à parte a elaboração de cartas locais (Studart refere a elaboração de cinco mapas). Cumpre ressaltar que Paulet organizou as primeiras cartas nas quais a forma territorial do Ceará aparece com representada com aceitá-vel aproximação, fruto da vantagem que levava sobre seus antecessores

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por dominar técnicas cartográfi cas atualizadas. Recorria à geodésia e aos processos de “triangulação”, o que lhe permitia realizar registros mais precisos e com maior rapidez.23

3.3.2. Cartas elaboradas por Silva Paulet e reproduzidas ao longo do século XIX por meios mecânicos.

Conforme referido, muitos mapas de diferentes procedências, com originais confeccionados por via de processos artesanais, seriam impressos posteriormente por meios mecânicos de reprodução (litografi a). Explica-se, deste modo, a ampla divulgação das cartas de Paulet, fato comprovado com as inúmeras cópias preservadas em vários arquivos brasileiros, en-tre as quais aquelas integrantes do acervo da Divisão de Cartografi a da Biblioteca Nacional. No tocante a posteriores transcrições dos mapas de Paulet por terceiros, a primeira das cópias litografadas talvez tenha sido aquela publicada por Schwarzmann e Martius em 1831 (ARC 9-2-16), adiante referida.

• ARC - 4.10.22 - CEARÁ, 1818.Paulet, Antonio José da Silva.Carta da Capitania do Ceará levantada por ordem do gover-nador Manoel Ignacio de Sampaio por (...). / Rio de Janeiro / Lithographia do Archivo Militar, 1818.Sem escala. 67 x 65 cm (W 41o 15’- W 37o 10’/ S 2o 50’- S 7o55’).Inserto: Planta da Villa de Fortaleza e seu porto; escala gráfi ca em braças.

23 As novas técnicas haviam sido introduzidas em Portugal pelo cartógrafo e matemático ita-liano Antônio Ciera, nas aulas ministradas no Real Colégio dos Nobres. Antônio Ciera havia sido contratado na Itália a fi m de participar das “comissões de demarcação”, organizadas para determinar os limites do território brasileiro com as terras espanholas, ocupadas além das fronteiras defi nidas pelo meridiano de Tordesilhas (48º 30’ W Greenwich). A invasão, por luso-brasileiros, de área amplíssima pertencente à Espanha ocorreu durante o período de união das coroas ibéricas (1580-1640), operação contrabalançada com a ocupação espanhola de territórios adjudicados a Portugal no Oriente (Filipinas, Molucas), pelo mesmo tratado de Tordesilhas. Ciera iniciou suas atividades nas “comissões de demarcação” do Mato Grosso, entre 1752 e 1756, transferindo-se depois para Portugal, onde se dedicou ao ensino no Real Colégio dos Nobres e na Universidade de Coimbra. Os métodos de Ciera, acatados no Reino, foram depois adotados na Academia de Marinha, instituição frequentada por Paulet, que veio a aplicá-los no Ceará.

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A indicação Lithografi a do Archivo Militar, 1818 é discutível, uma vez que as cópias litográfi cas foram introduzidas no Brasil em 1825. O ano deve referir-se à execução manual da carta original pelo próprio Paulet, então servindo no Ceará.

A carta ARC 4.10.22 consta da coleção Studart sob nº 38 (1924: 196; 2010: 189), aliás, a única que oferece condições de análise comparativa. As demais fi chas das cartas de Paulet, pertencentes ao acervo da Biblio-teca Nacional, nem sempre transcrevem as legendas na íntegra, algumas delas sob a referência Mucuripe. Não há, portanto, como cotejá-las com os dizeres da coleção Studart, que contava com cinco mapas gerais do Ceará, como já assinalado, além de um levantamento de termos de vilas, trabalhos todos executados por Paulet.

• ARC - 7.7.5 - CEARÁ, 1818Paulet, Antonio José da Silva.Carta da Capitania do Ceará levantada por ordem do Gover-nador Manuel Ignácio de Sampaio por(....). Rio de Janeiro / Lith. do Archivo Militar, 1818.Sem escala. 67 x 65 cm (W 41o 15’- W 37o 10’/ S 2o 50’- S 7o55’).Inserto: Planta da villa de Fortaleza e seu porto, escala gra-phicaem braças.

Carta semelhante à anterior. São duas cópias da mesma origem, todavia, com fi chas diferentes.

• ARC - 9-2-16 - CEARÁ, 1831.Paulet, Antonio José da Silva.Carte géographique de Ceará, province de l’Empire du Brésil, redigié d’après une carte manuscrite levée em 1817, par ordre du governeur Manoel Joaquim [sic] de Sampaio par (...) et d’après lês observations et les cartes maritimes du Bon [Baron de] Roussin par Mr. J. Schwarzmann e Mr. Le chev. De Martius. 1831. Rio de Janeiro, Arch. Militar, 1886.[cópia fotográfi ca da litografi a].

Na cartela: Plano do porto e da cidade da Fortaleza ou Ceará. Cópia do original pelo major d’engenheiros Alfredo Carlos Muller de Campos. Arch. Militar, 1886.

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Esta carta de Paulet não é apenas a mais divulgada, mas talvez a primeira entre aquelas reproduzidas por processos mecânicos. Cita a data do mapa original (1817), o ano da primeira transcrição (1831) e o da nova transcrição (1886). Mostra em cartela um plano da cidade da Fortaleza, no qual se evidencia o traçado urbano radial primitivo, caracterizado por suas ligações com o interior da Capitania. Conviria mencionar que a malha em xadrez, uma das futuras características da forma urbana fortalezense, vastamente ampliada desde a segunda metade do século XIX, começou a ser sobreposta ao risco original da Cidade pelo próprio Paulet, em 1812. 24

• ARC - 4-10-23 - CEARÁ.Paulet, Antônio José da Silva.Carta litografada pelo Archivo Militar em 1886 / 18 x 23 cm /Escala 100 braças portuguesas.

Mais uma cópia do desenho original de Paulet, entretanto, em tamanho reduzido.

• ARC - 4-2-5 – CEARÁAntônio José da Silva Paulet.CEARÁ – mapa do Ceará feito por Paulet a mando de Sampaio. Lith. Arch. Militar – 0,67m 0,65m.[sem data].

A Biblioteca Nacional possui uma cópia em papel transparente datada de 1818, a qual seria provável cópia manual de uma carta original de Paulet (0,65m x 0,62m.). Apresenta indicações sucintas. A carta está [ou esteve] fora de consulta.

• ARC - 9-2-4 - CEARÁ. [s.d.][Antônio José da Silva Paulet]Carta da Provincia do / Ceará – mappa ms. Aquarellado com uma “Planta da Villa da Fortaleza ou Ceará” em encarte.0,27m x 0,27m . Coll. Benedicto Ottoni.

24 O Arquivo Histórico do Exército possui cópia dessa carta na versão de 1831, sobre a qual o autor deste artigo já fez comentários específi cos. (CASTRO, 1997: 33-35). Karl Friedrich von Martius (1794-1868) era o famoso cientista alemão, conhecido estudioso da Botânica brasileira. O barão Albine Roussin (1781-1854), autor de “célebres trabalhos hydrographicos das costas da África e do Brasil (1816-1820)” (STUDART, (1924: 201 ; 2010: 194), tornou-se fi gura expressiva do almirantado francês.

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Revista do Instituto do Ceará - 201670

Realização em sépia, sem data. Carta colorida, apresentando estra-das, serras e rios. A cor vermelha mostra-se desbotada e o mar aparece em azul. No encarte, consta a planta da vila da Fortaleza (desenho original de Paulet). Faz referência ao meridiano de Paris, segundo o qual a Vila se en-contra situada aproximadamente a 44oW. As dimensões da prancha fazem supor tratar-se de uma redução. Apesar de não revelar a data, a indicação “Província do Ceará”, denominação ofi cializada em 1821 e posterior à presença de Paulet no Ceará, induz à suposição de que a miniatura foi compilada no período regencial ou já no Segundo Reinado.

3.3.3. Cartas cearenses do século XIX de variadas procedências.

Este grupo compreende cartas do território cearense levantadas no transcorrer do século XIX, em bom número, concernentes a instalações portuárias. A implantação de portos norteava um programa desenvolvido pelas autoridades imperiais, em busca de criar condições de fomentar o comércio interno e as transações internacionais do País. A conjuntura apre-sentava-se favorecida com a aplicação diversifi cada de capitais em vários empreendimentos, capitais até meados do século empregados no tráfi co de escravos. Essa modalidade de negócios, como se sabe, foi suspensa pela Lei Eusébio de Queiroz, aprovada em 1850 e rápida e radicalmente cumprida por ações interventivas da Armada Britânica. Conquanto o Ceará não estivesse propriamente envolvido naquele tipo de aplicações de capitais, ainda assim ganhava benefícios em decorrência da amplitude nacional do programa de redirecionamento econômico.

• ARC - 20-3-25 - CEARÁ, 1832. Joaquim Lúcio Araújo.Plano do porto do Ceará. 1832 / (34 x 480 cm).

Esclarece Studart, em notas referentes à carta nº 58, de sua coleção (1924: 201; 2010: 194), intitulada - “Plano do porto do Ciará levantado pelo primrº. Tenente da Marinha do Brazil, Joaquim Lucio de Araujo para mostrar a posição das boias mandadas alli colocar pelo Sr. Joaquim José Roiz Torres Ministro da Marinha. Anno 1832. Lith. do Archivo Militar, Rio de Janeiro 1833. Antº. Roiz de Araujo. 0m,345 x 0m,0440.”

Studart informa que, além da cópia de sua coleção, havia exemplares da carta na Biblioteca Nacional e no Arquivo Militar, às quais se deve acres-

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centar a cópia preservada no Arquivo Nacional, sob a referência 4Y- 226. Quanto à matéria, caberia considerar também as observações do autor deste artigo alusivas ao Plano de Araújo (apresentado com longo título), incluídas em comentários dedicados à carta de nº 038, guardada no Arquivo Histórico do Exército. (CASTRO, 1997: 44-46). O termo plano do porto, na verdade, refere-se à aparência do porto no levantamento. Não signifi ca projeto.

Joaquim Lúcio Araújo ocupava o posto de 1º tenente da Marinha, portanto, bastante moço quando esteve no Ceará. Reformou-se em 1860 e faleceu em 1884, “com idade provecta”. (BLAKE, v. 4, 1898: 182). Portava condecorações brasileiras e títulos honorífi cos portugueses. (ver também STUDART, 1924: 201, 2010: 194).

• ARC -018-04-035– Mappa topographico da Comarca do Crato.CEARÁ, 1848. (Figura 3)Marcos Antônio de Macedo.Mappa topographico da Comarca do Crato. Provincia do Cea-rá - indicando a possibilidade de hum canal tirado do rio S. Francisco no lu- / gar da Villa da Boa Vista para communicação com o rio Jaguaribe / pelo riaxo dos Porcos e o rio Salgado, e fi gurando a planta de huma estrada para o Icó e a / tapagem do rio Salgado por M. A. Macedo.

O título deste mapa esclarece os seus objetivos. Litografado pelo Arquivo Militar em 1848, consta do acervo do Arquivo Histórico do Exér-cito sob nº 65 e também da coleção Studart, sob nº 61 (1924: 202-203 / 2010: 195-196), carta sobre a qual o historiador apresentou comentários, extensivos à pessoa de Marcos Antônio de Macedo (Jaicós / Piauí, 1812 [?] - Würtemberg / Alemanha, 1872). O autor do presente artigo também externou considerações em matéria que escreveu (1997: 69-71), concer-nente à carta nº 65, do AHEx, na qual acrescenta que Macedo, diplomado por Olinda, ocupou elevados cargos políticos e administrativos, bem como publicou memórias sobre a carnaúba, as secas, as águas e o solo do Crato, cidade à qual se ligava por origens familiares (nascera circunstancialmente no Piauí). Segundo Macedo, as primeiras propostas de unir, por canal, o rio São Francisco ao rio Jaguaribe, deviam-se a um frade carmelita, que andara pela região entre 1818 e 1820. Como se vê, o projeto, ainda hoje não realizado, anda à véspera de completar dois séculos!...

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Revista do Instituto do Ceará - 201672

• ARC -9-2-37 - CEARÁ, 1849.Villiers de l’Ille Adam, J. Carta topographica e administrativa da provincia do Ceará eri-gida sobre os documentos mais modernos pelo Vcde. [Visconde] de J. de Villiers de l’Ille Adam, gravado na Lithographia de Vt. Larée (...). Rio de Janeiro: Garnier Irmãos, 1849. / Escala grafi ca de petipé de 20 legoas ao grao.25 / 46 x 57 cm (W 41o 15’- W37o10’/ S 2o 50’- S 7o45’ – S 8o10’).

J. [Joseph] Villiers de l’Ille Adam demorou-se no Brasil em meados do século XIX, organizando e publicando atlas formados por cartas regio-nais litografadas, embora, ao quanto se saiba, não preparadas por meio de levantamentos executados pelo próprio visconde. A omissão do nome de l’Ille Adam por Studart, entre os estrangeiros ilustres que visitaram o Ceará, fortalece a suposição de que o visconde não conheceu a Província. Viajante rico e cartógrafo dilettante, esbanjando fortuna pessoal, faria compilação de documentos gráfi cos elaborados por terceiros. O mapa do Ceará, que mostra muito deformado o trecho limítrofe com o Piauí, correspondente à serra da Ibiapaba, participa de um conjunto de mapas coloridos, então já editados com intenções comerciais. Na coleção Studart, aparece como carta sob nº 63 (1924: 203; 2010: 196).

• ARC - 7-1-1 – CEARÁ, 1849.Villiers de l’Ille Adam, J. Carta topographica e administrativa da provincia do Ceara erigida sobre os documentos mais modernos pelo Vcde. J. de Villiers de l’Ille Adam, gravada na lithografi a Imperial de Vt. Larée.... Rio de Janeiro: Firmin Didot Irmãos, Belin Le Prieur e Morizot, 1849.Escala graphica de petipé de 20 legoas ao grao / 46 x 57 cm. /(W 41O 15’- W 37o 10’/ S 2o 50’- S 7o55’.

25 Zake Tacla explica: “Petipé s.m. [ETIM. T. tecn. emp. até fi ns do sec. XIX, depois substituído p. escala, do fr. petit-pied, “escala do desenho”. // 1680. Ct. BLUTEAU s. v. petipê]”. (TACLA. 1984: 340). Quanto a léguas, conviria dividi-las em léguas de sesmaria (terrestres), com 6.600 metros (no Brasil), e em léguas marítimas, cujo comprimento variava conforme a relação angular adotada. Adam recorreu aos padrões franceses ditos de 20 léguas ao grau, que consideram a légua marítima como correspondente a 5.555 metros. Assim, o grau da circunferência terrestre medido no equador equivaleria a 111,10 kms, praticamente igual à medida verdadeira, de 111,32 kms.

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A legenda repete literalmente a carta anterior nas dimensões, nos desenhos, nos títulos e nas legendas. Embora assinale ter sido “gravada na lithografi a Imperial de Vt. Larée (...) Rio de Janeiro”, foitodaviaedi-tada, em local desconhecido, por “Firmin Didot Irmãos, Belin Le Prieur e Morizot, 1849.” A escala gráfi ca, “de petipé de 20 léguas ao grao”, é a mesma em ambas as cartas. Constavam sob ns. 62 e 63 na coleção Studart. (1924: 203; 210: 196)

• ARC 4-5-8 - CEARÁ, 1861. (Figura 4)Pedro ThébergeCarta Chorographica da Provincia do Ceará com divisão Ec-clesiastica, e Indicação civil e Judiciaria até hoje organizada pelo Dr. P. Théberge. 1861. / 0,759 x 0,597. / Original a aquarella / Exp. S. M. o Imperador.

Organizada por Pedro Théberge26, apresenta letras manuscritas. As freguesias aparecem separadas em vermelho. A legenda consta de Cidades / Comarcas, Villas-comarca / Villas-termo, Districto, Povoado, Matriz, Fazenda, Arraial / Ancoradouro. A forma da Província é relativamente semelhante às representações atuais. Cita a serra dos Orós, íntima do or-ganizador, que morava no Icó. No Catálogo da Exposição de História do Brasil, de 1881, esta carta, exibida com anuência do Imperador, a quem. teria sido oferecida, sem dúvida, pertencente à Coleção [da Imperatriz] D. Thereza Christina Maria. Na coleção Studart, a carta de Théberge recebeu o n º71 (1924: 206; 2010: 198-199).

• ARC - 28-11-30 - CEARÁ (MUCURIPE) – 1864.Guillobel, J. C.Rio de Janeiro, Lithographia Imperial do Instituto Artistico. Plano do ancoradouro do Mucuripe na província do Ceará, levantada e desenhado pelo guarda-marinha J. C. Guillobel.

26 Pedro Théberge (Marcé / França, 1811 – Icó / CE, 1864), francês, naturalizado brasileiro. Doutor em Medicina e Bacharel em Literatura (títulos franceses), transferiu-se para o Brasil. Após curta permanência no Recife, mudou-se para o Ceará em 1845, radicando-se no Icó, acompanhado da esposa, Élise, e do fi lho, Henrique, brasileiro. (STUDART, 1918: 203-204). À parte atividades médicas, Théberge desenvolveu intensa vida cultural e social naquela cidade. Escreveu uma História do Ceará (publicação póstuma, 1895) e dedicou-se ocasionalmente à Arquitetura, com relevo no projeto do teatro da cidade do Icó (1860), obra de desenho neoclás-sico sob infl uência paladiana, bem como teria intervindo nas obras de expansão do prédio da Casa de Câmara e Cadeia local, tratada com motivos neogóticos. O mapa de Théberge (0,76m X 0,60m) participava em cópia da coleção Studart sob nº 71 (1924: 206; 2010: 198-199).

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Revista do Instituto do Ceará - 201674

Pouco se sabe das origens do “plano do ancoradouro do Mu-curipe”, além de que rareiam notícias devidamente comprovadas sobre o guarda-marinha J. C. Guillobel. Informações coincidentes fazem crer que sechamaria Joaquim Cândido Guillobel (Lisboa, 1787 - Rio de Ja-neiro, 1859), adolescente português, chegado ao Brasil com sua família, em 1808, integrantes da comitiva de D. João VI. Radicado no Brasil, tornou-se militar,ocupando em 1811 o posto de 1º tenente do Imperial Corpo de Engenheirose desenhista do Arquivo Militar. Entre 1819 e 1821, permaneceu no Maranhão, executando levantamentos e desenhos de sua especialidade, ocasião quando teria visitado o Ceará e elaborado o “plano do ancoradouro do Mucuripe”.

A condição declarada de guarda-marinha leva à suposição de que Guillobel era então muito jovem, no começo de sua vida militar, quando andou pelo Maranhão e pelo Ceará. De volta ao Rio de Janeiro, já com 30 anos, Guillobel, pintor e cartógrafo, matriculou-se em 1827 na re-centemente criada Academia Imperial de Belas Artes. Diplomou-se em Arquitetura, profi ssão civil exercida com renome, uma vez que participou dos projetos de várias obras neoclássicas de elevado prestígio nacional, entre as quais a Santa Casa e o Hospício de Alienados D. Pedro II (hoje pertencente à UFRJ), no Rio de Janeiro, e o Paço (atual Museu) Imperial em Petrópolis. (BARATA, M., 1983, v.1: 394).

O falecimento do arquiteto Guillobel (às vezes escrito Guilhobel) em 1859 eliminaria a condição de ser autor de um trabalho executado em 1864. Esta última referência temporal, na verdade, corresponderia ao ano de impressão da litografi a, bem posterior à execução do levantamento do “plano do ancoradouro do Mucuripe”, verifi cada entre 1819 e 1821. Com efeito, o desenho constitui um levantamento do litoral da enseada, com indicação Meireles (topônimo muito antigo, de procedência desconhecida, aliás, já citado em mapas anteriores). Mostra também ocupação humana ao longo da praia, sem dúvida, moradas de pescadores.27

27 Nenhum dos ilustres descendentes de Guillobel acompanhou-o em suas atividades profi ssio-nais de cartógrafo e arquiteto.

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75Cartografi a Cearense Antiga na Biblioteca Nacional

Figura 3. Marcos Antônio de Macedo. Mappa Topographico da Comarca do Crato indicando a possibilidade de hum canal tirado do rio S. Francisco (...).

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Figura 4. Pedro Théberge. Carta Chorographica da Província do Ceará com divisão Eccle-siastica, e Indicação Civil e Judiciária (...).

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77Cartografi a Cearense Antiga na Biblioteca Nacional

A propósito de “plano do ancoradouro do Mucuripe”, de que havia na coleção Studart uma cópia sob nº 77 (1924: 208-209; 2010: 200), e de planos semelhantes, litografados em meados do século XIX, diga-se que traduziriam esforços do governo imperial em busca de solucionar problemas portuários nacionais, conforme ações mencionadas na aber-tura deste item. A litografi a do “plano do ancoradouro no Mucuripe”, de Guillobel, por certo manteria correlação com uma proposta pouco depois oferecida pelos engenheiros Zózimo Barroso e James Foster, por meio da qual obtiveram em 1866 o privilégio de melhorar e explorar o porto do Mucuripe por 50 anos, cuja distância à Cidade fi caria vencida por uma ferrovia. (TELLES, 1984: 278). Quando das pesquisas efetuadas no acer-vo da Biblioteca Nacional, o autor não encontrou informações alusivas à concessão do empreendimento, mas deparou, no Arquivo Nacional, cópia de planta pertinente ao projeto de Barroso e Foster (FZ MAP 144 FL 12), o último dos quais “viveu por longos anos em Fortaleza.” (STU-DART, 1920: 354). As obras, ora referidas, programadas para o porto do Mucuripe, todavia, nem sequer se iniciaram, pois Studart assegura que “essa comissão não vingou” (t.34, 1920: 354). Barroso, em 1870, agora associado a outro engenheiro inglês, Charles Neate, apresentaria novo projeto portuário, entretanto, localizado na frente da Cidade (ver adiante a carta ARC 26-7-12).

• ARC - 2-8-9 / 2-3-4-5-6-7-12 CEARÁ. Fortaleza, 1866.Francisco Antônio Pimenta Bueno.Esboço de planta geral do porto do Ceará acompanhado de outras plantas sobre curvas de marés, secções transversais e sondagens do porto (...) do quebra mar e viaductoetc por Francisco Antonio Pimenta Bueno. Doze fl s.Mss. sd. (Coll. Pimenta Bueno) – [incompleto].

Francisco Antônio Pimenta Bueno (Cuiabá, 1836 – Rio de Janeiro, 1888), militar e engenheiro, tem nome ligado ao desbravamento das terras do noroeste do Mato Grosso e Rondônia, região em que é homenageado com o nome de um rio. Sócio do Instituto Histórico e Geográfi co Brasi-leiro, administrador público, foi condecorado por sua ação na Guerra do Paraguai. Envolvido com ferrovias e navegação, participou do grupo de

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engenheiros, na ocasião, interessados no “porto do Ceará”, isto é, com solução proposta para local fronteiro à cidade. Mapas da coleção Pimenta Bueno integram o acerco cartográfi co da Biblioteca Nacional.28

Quanto aos desenhos, o Barão de Studart assim alude aos exempla-res de sua coleção, sob nº 81 e 82, respectivamente intitulados: Esboço da Planta do Porto da Fortaleza e Futuro Porto da Fortaleza (visto do mar para a terra). Ao que acrescenta: “Esses dous Mappas, a côres e a bico de penna, appensos a um trabalho do citado Engenheiro [Pimenta Bueno] sob o título Memoria sobre o Porto do Ceará ou Estudo para a construcção de uma doca de embarque e desembarque na Província do Ceará, (de 30 de março de 1869), pertenciam à Bibliotheca de S. M. o Imperador”. (STUDART, 1924: 209; 2010: 201).

• ARC 28-11-7 - CEARÁ (Barra?), 1867.Ernest Barthélémy Mouchez. France -.Dépôt des Cartes et Plans de la Marine. Plan de la rade de Ceará (Brésil) lévé par M. F. Mouchez... / Paris / Le-mercier et Cie, 1867. / Escala gráfi ca de 2 milhas. Col. Benedicto Ottoni.

Amadée Ernest Barthélémy Mouchez (Madrid 1821 – Paris 1892). Filho de pais franceses, estudou na École Navale de Brest. Astrônomo, Mouchez fez levantamentos da costa brasileira, transcritos em cartas confi áveis e prestigiosas, aliás, adotadas pelo Almirantado Britânico. O Arquivo Nacional possui cópia do mapa ora comentado. (FL MAP 247). Studart cita várias outras cartas de Mouchez, aliás, reeditadas em 1888, embora não se refi ra diretamente à ARC 28-11-7. Informações sobre Mouchez (“ilustre marinheiro e astronomo francês”), em STUDART, 1918: 209-210, bem como em CASTRO, 1997: 38.

28 Conjunto de mapas em péssimo estado de conservação, que estão ou estiveram fora de consulta. Deverá ser [ou foi] restaurado. Originalmente, os mapas estavam apensos a um documento intitulado “Memoria sobre o porto do Ceará, ou estudo para construcção de uma doca de embarque e desembarque na Provincia do Ceará. Ao ex-Imperador pertencia o autographo, acompanhado de um esboço do porto de Fortaleza (...)”.(BLAKE, v. 2 [1893]; 1970: 397-399). À parte os exemplares da coleção Studart, provavelmente foram extraídas duas cópias do jogo de cartas: uma delas, oferecida ao Imperador, e outra, ora mencionada, pertencente ao próprio Pimenta Bueno, doada à Biblioteca Nacional, conjuntamente com mais cartas.

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• ARC 26-7-12 - CEARÁ, 1870. (Figura 5)Charles NeateCharles Neate / impressa por Metchim & Son, London / 1870 / 46 x 69 cm (foi remetida conjuntamente com um relatório).

Charles Neate era um engenheiro inglês contratado pelo governo imperial com a missão de efetuar estudos portuários no Brasil. O projeto ora citado deve ter sido elaborado no Rio de Janeiro, em parceria com Zózimo Barroso, engenheiro cearense, que disporia de elementos locais básicos para exame do problema. A suposição apóia-se no fato de Neate não fi gurar entre os estrangeiros ilustres que visitaram o Ceará, citados por Studart. (STUDART, 1918, passim). Neate e Barroso29 propunham a construção de um quebra-mar sobre o recife, à guisa de molhe, com comprimento de 400 metros, ligado a um cais de 150 metros, utilizável por vapores. Entre esse cais e o litoral, paralelamente, haveria outro cais de 300 metros para navios a vela e um viaduto de ligação do quebra--mar aos dois cais. Essa indicação de “um outro cais paralelo”, todavia não parece clara, pois o desenho mostra um pier, relativamente curto, perpendicular ao cais principal. As obras estavam orçadas em 176.000 libras. (TELLES, 1984: 278).30 Na ocasião, cabe lembrar que soluções para “o porto do Ceará” despertaram interesse de vários projetistas. A proposta de Neate & Barroso constava da coleção Studart sob nº. 90. (1924: 211; 2010: 203).

29 Charles Neate aparece mencionado várias vezes na História da Engenharia no Brasil, de Pedro Carlos da Silva Telles (TELLES, 1984: passim). Ativo no Brasil desde meados do século XIX, participou inicialmente de projetos ferroviários, mas logo depois se envolveu em assuntos portuários, com obras no Rio de Janeiro, contratadas com o governo imperial. Zózimo Bráulio Barroso (Aracati, 1839 – Lausanne / Suíça, 1920), já referido anteriormente, era um engenheiro cearense ligado a projetos portuários. Figura de prestígio profi ssional no Rio de Janeiro, Barroso portava o título de Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial. (STUDART, 1915: 224-226).

30 Pedro Carlos da Silva Telles cita vários engenheiros interessados no “porto do Ceará”, na ocasião. (id. ib.: 278). Todos consideravam o aproveitamento do recife como cais acostável, apresentando ligeiras variantes nas soluções. Assim: Francisco Antônio Pereira Bueno sugere elevar o quebra-mar e manda fazer um cais na praia, para uso de passageiros. Paulo José de Oliveira e Francisco Ferreira Borges lembram altear o recife, optando por um cais ao longo do litoral e a abertura de um canal entre o recife e a praia. Coimbra e Kleinhoefer mantêm as mesmas propostas dos anteriores e pedem acrescentar mais 300 metros de cais na praia e construir molhes para serviços de carga e passageiros, serviços orçados em 225.000 libras. Na indicação do nome Francisco Antônio Pereira Bueno, deve ter ocorrido engano de Silva Telles. Seria Francisco Antônio Pimenta Bueno (citado anteriormente em ARC 2-8-9 / 2-3-4-5-6-7-12).

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• ARC - 18-7-37 - CEARÁ – COSTA, 1873.Estados Unidos. Hydrographic Offi ce / South America East Coast. Coast of Brazil from Barra Velha d’Iguaruçu to Barra Aracati Açu from survey of capt. E. Mouches (....). Washington, 1893. 0,605 x 0,895 cm. Col. Preiss.

Esta carta (entelada) reproduz os levantamentos efetuados pelo almirante Mouchez, já mencionado. Igaraçu é uma das bocas do delta do rio Parnaíba, no Piauí. Aracatiaçu fi ca no litoral norte do Ceará. A Coleção Preiss é uma daquelas doadas ou adquiridas pela Biblioteca Nacional.

• ARC 3-8-18 - CEARÁ, 1875.John Hawkshaw. Sir John Hawkshaw / litografada por Thomas Kell, London / 1875 / (0,62 x 0,95 m.).

Em Estrangeiros e Ceará (1918: 219-220), Studart menciona a fi gura do “illustre scientista inglês”, o engenheiro Sir John Hawkshaw (1811-1891), destacando-o entre os que visitaram a Cidade em 1874 e 1875, com encomiásticas referências biográfi cas. Acrescente-se que o plano elaborado por Hawkshaw constava da coleção de Studart sob nº 93. (1924: 212; 2010: 204).

Contratado pelo governo imperial, Hawkshaw apresentou em 1875 um relatório intitulado Melhoramentos dos portos do Brasil, de que constam proposições sobre o porto de Fortaleza, transcritas na Revista do Instituto do Ceará (t. 23, 1909: 183-188). No relatório, Hawkshaw elogia o Mucuripe, embora teça algumas considerações em contrário, que o fazem não se interessar pela enseada, sob o argumento de que a “Asso-ciação Commercial do Ceará tem toda a razão de opor-se á mudança para o Mucuripe” em face da “distancia”. Assim, opina: “Não recommendo a construcção da obra no Mucuripe.” (op. cit., 1909: 187).

A proposta de Hawkshaw aproveitava o projeto de Neate & Bar-roso, fronteiro à cidade, adaptando-o às mudanças físicas ocorridas. Re-comendava construir um cais interno no “quebra-mar” (no recife) e um “viaducto aberto fundado em estacas de parafuso, e será construido de blocos de concreto feitos de cimento Portland e de pedra do Mucuripe.” “Se o caminho de ferro transportar granito até o litoral por preço razoa-

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vel, este material poderá ser utilizado em algumas secções da obra.” (p. 187). Hawkshaw afi rmava ter feito sondagens que indicavam pontos não encontrados por Neate e Barroso e também alegava modifi cações no solo: “Convem estabelecer uma linha de trilhos, que ligue o porto ao caminho de ferro de Baturité”. O “viaducto” proposto permitiria a passagem das areias tangidas pela maré, conquanto advertisse: “porém, se apesar disso, formem-se depósitos no ancoradouro; nesse caso, dragagens regulares e periódicas darão ao porto a necessária profundidade.” O orçamento das obras indicadas no plano importava em 220.000 libras.31

• ARC - 4-11-2 - CEARÁ, 1881.Antônio Gonçalves da Justa Araújo.Carta Corographica [sic] da Provincia do Ceará organizada segundo os documentos existentes sob os auspicios do illustre cearense João Cordeiro pelo Bacharel Antonio Gonçalves da Justa Araujo, 1881. Copiada por J. Coelho Fonseca Jr.

Esta carta, atualizada, já apresentava o vale do alto Poti integrado ao Ceará, operação ocorrida havia pouco, em 1880. Fortaleza consta aproximadamente a 4o30’ “oriental” do meridiano do Rio de Janeiro e o Ceará ainda aparece com forma “achatada”.

Antônio Gonçalves da Justa Araújo era engenheiro civil, mas se apresentava como “Bacharel”. O título completo - Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas, de que Justa Araújo se honrava, era conferido

31 Sir John Hawkshaw era nome respeitado na engenharia britânica, em particular nos trabalhos de portos e canais. Fez parte da comissão julgadora dos anteprojetos apresentados para construção dos pavilhões da Great Exhibition de Londres, em 1851, a famosa exposição internacional, edifício executado segundo projeto de Joseph Paxton, em estrutura metálica pré-fabricada e vidro, conhecido como Crystal Palace, obra de grande repercussão na Arquitetura do século XIX. Na solução oferecida para o porto de Fortaleza, Hawkshaw recomendava o emprego de materiais atualizados, como o concreto [simples] e o cimento Portland. Aceitava “a pedra do Mucuripe” (arenito avermelhado), enquanto não se contasse como granito, posteriormente explorado na Munguba, cujas pedreiras haviam fi cado ao alcance dos trilhos da E. F. Batu-rité, inaugurada dois anos antes. O viaduto de acesso ferroviário ao cais foi posteriormente substituído por uma muralha que desviou as correntes marinhas e assoreou a bacia de atra-cação,formando o Poço da Draga, hoje aterrado e apropriado para uso particular lucrativo, desaconselhado para o local, além de socialmente deteriorado. O quebra-mar Hawkshaw, cais inútil, abandonado por longo tempo, era conhecido pelos banhistas frequentadores da desaparecida praia Formosa como “Paredão”.

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aos alunos diplomados com destaque nos cursos de engenharia da Escola Central da Corte. Profi ssional ativo na segunda metade do século XIX, no Ceará e na Paraíba, onde faleceu, dedicou-se a tarefas diversifi cadas. Entre outras, assinalam-se a demarcação de terras de índios (nas duas províncias), projeto de um elevador na serra de Baturité (a fi m de descer sacaria de café), concessão de um serviço de navegação fl uvial no rio Jaguaribe, entre o Aracati e a Passagem das Pedras (Itaiçaba), projeto de um teatro na Capital, além de inúmeras atividades desenvolvidas a serviço da administração provincial e municipal. Nenhum daqueles projetos foi concretizado, mas Justa Araújo construiu a sede do depósito dos Artigos Bellicos, entre 1873 e 1874, e urbanizou a lagoa do Garrote, transforman-do-a no Parque da Liberdade.32 O mapa de Justa Araújo estava relacionado sob nº 95 na coleção Studart. (1924: 213 ; 2010: 204 - 205).

• ARC - 13-1-16 - CEARÁ, 1883.Claudio Lomellino de Carvalho.Provincia do Ceará organisada e gravada por Claudio Lomellino de Carvalho (...) Rio de Janeiro, Lith. Almeida Marques, 1883.Escala 1:1750.000 – 44 x 32 com (W 41o 30’- W 37o / S 2o 45’- S 8o10’).

O engenheiro Claudio Lomellino de Carvalho foi autor do pri-meiro atlas brasileiro organizado no período imperial (1873), trabalho republicado em 1882 sob o título Atlas do Império do Brazil segundo dados offi ciaes existentes e outros documentos fornecidos pelo Exmo. Sr. Conselheiro barão Homem de Mello, pelo engenheiro Francisco Antonio Pimenta Bueno e pelos mesmos revistos.

32 Há desencontros em informações referentes a Justa Araújo. Parte de seu sobrenome (Gonçal-ves da Justa) liga-o ao Ceará, com origem pacatubana. O Barão de Studart, entretanto, não o incluiu no Diccionario Bio-Bibliographico Cearense, certamente por considerá-lo nascido em outra província, ainda que com ancestralidade cearense. Studart conhecia Justa Araújo, pois uma cópia da referida Carta Corographica estava arrolada sob nº 95 na coleção de mapas do historiador, que assim se expressa sobre o engenheiro: “O Dr. Justa Araujo foi insigne paisa-gista”, sem dúvida, fazendo alusão aos trabalhos do Parque da Liberdade. (op. cit. [1924: 213] 2010: 204). Outra opinião, contudo, expressam Martins Filho e Raimundo Girão em O Ceará (1966: 29), quando citam Justa Araújo como cearense nascido no Acaraú, apresentando-o como “Engenheiro Civil. Notável auxiliar do presidente José Júlio de Albuquerque Barros (Barão de Sobral)”, entre 1878 e 1880, durante a terrível seca. Não pairam dúvidas, porém, quanto ao falecimento de Justa Araújo, ocorrido na Paraíba no início de 1893.

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Figura 5. Charles Neate. [Porto do Ceará]. Metchim & Sons. London. 1870.

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Revista do Instituto do Ceará - 201684

Figura 6. Tristão Franklin de Alencar Araripe. Mappa hydrographico de um canal de Navega-ção e irrigação derivado do rio São Francisco ao Oceano (...).

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85Cartografi a Cearense Antiga na Biblioteca Nacional

Além da carta do Ceará, Lomellino de Carvalho também preparou, pelo menos, uma Carta da Provincia de Goyaz, em 1874 e uma Carta da Provincia de São Paulo, em 1887, na qual inseriu uma planta da cidade de São Paulo, à época. A carta da Provincia do Ceará deve ter sido executada à base de dados oferecidos pelo Barão Homem de Mello, fi gura ilustre com quem o engenheiro privava. (Ver nota 9).

• ARC - 28-12-1

Há outro exemplar do mesmo mapa em 535.018 – 1979-AA

• ARC - 15-10-10 [CE/RN, PB], 1886. (Figura 6)Tristão Franklin de Alencar Araripe.Mappa hydrographico de um canal de navegação e irrigação derivado do rio São Francisco ao Oceano, pelo valle do Jagua-ribe, na provincia do Ceará, e pelos valles dos rios Piranha e Assu, na Parahyba e Rio Grande do Norte (...) pelo engenheiro Tristão Franklin.1886.Esc. 1:1.000.000. / 0,280 x 0,810.

Tristão Franklin de Alencar Araripe (Fortaleza, 1845 - Rio de Ja-neiro, 1905) foi engenheiro da E. F. Baturité e da E.F. Central do Brasil. (STUDART, 1915: 171-172). Autor do projeto de transposição das águas do rio São Francisco para o Ceará e estados vizinhos, ora referido (sob nº. 101, na coleção Studart/ 1924: 2014; 2010: 206), elaborou o mapa do Ceará, mencionado a seguir (ver ARC 1-8-2).33

33 A propósito de transposição das águas do São Francisco, conviria lembrar que durante o século XIX foram apresentados vários projetos não consumados. No século XX, novas propostas foram oferecidas, formuladas com apelos messiânicos, envolvidas com interesses políticos e não materializadas.

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• ARC - 1-8-2 – CEARÁ, 1889.Tristão Franklin de Alencar Araripe.[Antônio Caio da]Silva Prado. Presidente da Provincia e collec-cionada até hoje com todos os dados offi ciaes pelo engenheiro Tristão Franklin. Copiada no Collegio da Imda. Conceição do Ceará offerecida a DD Irmã Superiora julho de 1889. Mss. Aquarellada 1,623 x 1,260 m.A S. A. I. Conde d’Eu offerece a Superiora / do Collegio da Immaculada Conceição. Agosto de 1889.34

Mapa manuscrito, com dimensões amplas e legendas valiosas, que atestam o desenvolvimento material da Província nos dias fi nais do Segundo Reinado.

As legendas do mapa, escritas com letras góticas e cursivas, apre-sentam as indicações que se seguem :

- Capital / cidade / Villa / Freguesia / Povoação / Colonia.- Estradas de Ferro em trafego (linhas cheias em vermelho).- Em construcção (linhas tracejadas em vermelho).- Linha telegraphica (linhas cheias em verde).

No conjunto de informações pertinentes à Estrada de Ferro de Batu-rité, o mapa oferece um Quadro das declividades e das curvas [da E.F.B.] com indicação das extensões correspondentes, taxas de declives e raios. / Perfi l e planta geral - esc. 1:400.000. Ainda no atinente à ferrovia, o mapa mostra os dizeres: Visto - Piqt [Piquet (Carneiro)?] / Organisado por - A Virissimo de Mattos, Chefe da Linha J. Moreira desenhou.

A ferrovia, em construção, já atingia a cidade de Senador Pompeu (antiga Humaitá, indicada com o novo nome) e estava aberta ao tráfego até Prudente de Morais [......]. Entre estações já mais distantes da Capital, 34 S. A. I. signifi ca Sua Alteza Imperial. Por temor de agravamento dos problemas de saúde do

Imperador e ante a possibilidade de ascensão da princesa Isabel ao trono, seu esposo, o Conde d’Eu – Luis Filipe Gastão de Orléans (1842-1921), francês, realizou longa viagem marítima às “Províncias do Norte”, em busca de angariar simpatia popular para sua pessoa. Na ocasião, de passagem pelo Ceará, permaneceu pouco tempo na Capital como hóspede do governo da Província, havendo visitado Sobral e Baturité, quando utilizou os serviços ferroviários da E. F. Sobral e da E. F. Baturité. Estes fatos explicam o oferecimento do mapa ao Conde.

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o mapa cita Quixadá, Floriano Peixoto (atual Juatama), Uruquê, Quixera-mobim, Prudente de Morais, Antonio Olyntho (atual Lacerda [?]), Senador Pompeu. Um desenho complementar mostra, em planta, as distâncias entre todas as estações, enquanto outro desenho apresenta um perfi l da ferrovia (em corte), com todas as altitudes das estações (inicia-se com a Central - 15,50m / (...) Acarape 76m / Itapahy 187m / Canafi stula 171m / (...).

O mapa também presta informações pertinentes à navegação ma-rítima costeira e navegação internacional:

- Navegação costeira - empresas Maranhense e Pernambucana: conforme as legendas, as rotas aparecem indicadas com linhas contínuas.35

- Navegação internacional - empresas Americana [e] Inglesa: as rotas são apontadas por meio de linhas em várias cores.36

Na coleção Studart, mapa nº 101 (1924: 214-215; 2010: 2060.

• ARC - 9-2-33 - CEARÁ, 1892.João Gonçalves Dias Sobreira.Apontamentos para a carta topographica do Ceará pelo pro-fessor Jo. G. Dias Sobreira / João Pessoa / Lith. a vapor M. Henriques, 1892. / Escala 1:200.000. 63-47 cm (W 41o 30’- W 37o 15’/ S 2o – S 8o15’). Inserto: Planta de Fortaleza. Acima do título: Republica Brasileira. Coleção Benedicto Ottoni. / 530.863 – 1979 AA

35 No mapa, há indicação de linhas de navegação que partem de Fortaleza para o Camocim e para o Norte (Amazônia), servidas pelas Companhias Pernambucana e Maranhense. Essas empresas, que recebiam subsídios do governo cearense, possuíam frotas compostas por pe-quenos navios costeiros, cujo conforto e locais de escala, à época, receberam comentários de viajantes conhecidos, como Antônio Bezerra, João Brígido e outros.

36 As linhas de navegação, que seguiam para o exterior (em direção aos Estados Unidos), eram servidas pelas companhias Red Cross Line of Sails Steamers e Booth Steam Ships Co. Ltd. A primeira, americana, fazia navegação a vapor, mas também ainda mantinha navios a vela; a segunda, inglesa, somente com “vapores”. O mapa mostra uma linha marítima no rumo leste, porém não informa o destino. Talvez prosseguisse viagem à Europa. As linhas de navegação internacional não mantinham escala no Camocim, porque o porto fl uvial não atendia ao calado exigido por navios maiores. Na capital da Província, na segunda metade do século XIX, após a opção generalizada pela navegação efetivada com energia a vapor, os navios, já construídos com arcabouços de ferro, passaram a ancorar em mar aberto, na frente da cidade, buscando ponto onde a profundidade do mar o permitisse. Somente após a construção do cais no Mu-curipe em meados do século XX, o embarque e o desembarque de passageiros e mercadorias passaram a ocorrer sem difi culdades.

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João Gonçalves Dias Sobreira, cujo retrato aparece no mapa (!), era fi gura de múltiplas atividades intelectuais, por tal motivo mencionado com discreta galhofa no Programa de Instalação da Padaria Espiritual em 1892: “Artigo 31 – Encarregar-se-á um dos padeiros [um dos sócios] de escrever uma monographia a respeito do incansavel educador professor Sobreira e suas obras.”37

Quatro anos antes, em 1888, Sobreira já havia elaborado uma primeira versão da carta, conforme refere Studart (mapa sob nº 104, na coleção do historiador). A segunda versão recebeu o nº 110, na mesma coleção. (1924: 215 e 2017 ; 2010: 206 e 208)

3.4. Mapas elaborados no século XX

Discussões sobre conceitos de antiguidade, em termos de cartogra-fi a, devem levar em conta o tempo transcorrido, mas também as técnicas de levantamento das medições e os processos de reprodução gráfi ca. Deste modo, as cartas do século XX, ora arroladas, não podem propria-mente receber a denominação de “antigas”, uma vez que não cumprem cabalmente o subentendido no título deste artigo. Em consequência dos fatos, preferiu-se, portanto, dividir o período, já recente, em duas fases. A primeira, correspondente aos anos da chamada República Velha, do início do século XX, época da instalação da Inspectoria Federal de Obras Contra as Seccas, encerrando-a com a Revolução de 1930. A segunda fase, referente aos anos posteriores, assiste à criação do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística.

3.4.1. Mapas elaborados até 1930

Boa parte dos mapas cearenses preservados na Biblioteca Nacional, elaborados no século XX, até 1930, mantém relacionamento direto ou 37 Por sua produção diversifi cada e por suas variadas atividades profi ssionais e intelectuais, João

Gonçalves Dias Sobreira (Crato, 1847- 1926, Rio de Janeiro) aparece citado nos três volumes do DiccionarioBio-bibliographico Cearense do Barão de Studart! (v. I: 486-488; v. II: 422; v. III: 263). Em dias mais adiante, já não jovem, provavelmente por necessidade de sobrevivência, tornou-se telegrafi sta, tendo servido no Ceará, em São Paulo e no Rio de Janeiro. A Cartade Sobreira tanto integra o acervo do AHEx (ver comentários in CASTRO, 1997: 37-38), como participava da coleção Studart, com uma cópia sob nº 110. (STUDART, op. cit. 2010: 208). Sobre a curiosa e famosa Padaria Espiritual, ver TINHORÃO, José Ramos - A província e o naturalismo, 1966 e AZEVEDO, Sânzio – A Padaria Espiritual e o simbolismo no Ceará, 1996.

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indireto com a Inspectoria Federal de Obras Contra as Seccas (IFOCS), o atual Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Instituição nascida em 1909, a IFOCS, conforme defi nia sua própria de-nominação, tinha como objetivo o combate às secas por meio de obras. Em outras palavras, atuava por via de intervenções físicas pertinentes à construção de açudes, de estradas (rodovias) e de portos, ações estas alargadas à instalação de campos de experimentação, voltados para pesquisas de melhoria da produção agrícola. Na época, foram formados quadros nacionais responsáveis pela execução de trabalhos de enge-nharia (e, posteriormente, de agronomia e piscicultura), bem como, no desenvolvimento dos programas, se tornou valiosa a ajuda de cientistas e técnicos estrangeiros, quase sempre norte-americanos. Os trabalhos de maior expressão material fi caram a cargo de três empresas internacionais, cujos contratos, assinados no governo Epitácio Pessoa, foram rescindidos na administração Bernardes.38

Os títulos dos mapas ora arrolados são auto-explicativos, pelo que prescindem de se acompanham de comentários específi cos. As cartas desse período, cabe lembrar, compreendiam uma quarta parte da desaparecida coleção do Barão de Studart, a qual dispunha de 44 peças concernentes, direta ou indiretamente, ao tema das secas, cartas elaboradas entre 1900 e 1922, em bom número, relativas ao porto de Fortaleza. (STUDART, 1924: 177-226; 2010: 210-217).

Quanto aos técnicos estrangeiros e nacionais participantes das atividades da IFOCS, cumpre prestar algumas informações. Integravam o numeroso grupo de cientistas, que prestaram valiosos serviços, quase sempre norte-americanos, muitos dos quais se radicaram no País, e cuja memória é reverenciada em vários estados brasileiros, particularmente em São Paulo.

Roderic Crandall (1885 - 1971) era um jovem engenheiro americano dedicado à geologia, em atividade no Ceará e em outras 38 O trio era formado pelas empresas Norton Griffi ths & Co., inglesa, e Dwight P. Robinson &

Co. Inc. e C. H. Walker & Co., americanas. As duas primeiras atuaram no Ceará, enquanto a última, no Rio Grande do Norte e na Paraíba. (ALMANACH DO CEARÁ, 1922: 151-156). Rescindidos os contratos, os canteiros de obras fi caram abandonados por longo tempo, com obras retomadas anos mais à frente. Na Paraíba, o açude São Gonçalo (em Sousa) foi inaugurado por Getúlio Vargas em 1938, enquanto o açude Gargalheiras (em Acari), no Rio Grande do Norte, somente em 1959, por Eurico Dutra. O açude do Orós, no Ceará, o maior de todos, fi nalmente foi inaugurado por Juscelino Kubitschek em janeiro de 1961, quatro décadas após o início das obras!

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partes do País, enquanto Horace Elbert William (1866 - ? ), também engenheiro, tinha especial interesse em geodésia, o que explica sua participação como cartógrafo em diferentes ocasiões. (STUDART, 1918: 254-258). Albert Loefgren (1854-1918), botânico sueco, veio para o Brasil acompanhado de um fi lho. Faleceu no Rio de Janeiro. (STUDART, 1918: 53-254).

Entre os profi ssionais brasileiros, citem-se Francisco Sá e Pompeu Sobrinho. Francisco Sá (1862 - 1936) era mineiro, contratado pela Estrada de Ferro de Baturité como engenheiro. Casou-se com uma das fi lhas do Comendador Accioly, presidente do Estado, integrando-se à vida cearen-se. Casou-se com uma das fi lhas do comendador Accioly, presidente do Estado, integrando-se à vida cearense. Como técnico,Sáparticipou com destaque do grupo que fundou a Inspectoria Federal de Obras Contra as Seccas. Como político, foi eleito deputado federal e senador em seguidas legislaturas, alcançando a alta posição de ministro em duas administrações da República. Thomaz Pompeu de Sousa Brasil Sobrinho (1880-1967), engenheiro, cartógrafo, antropólogo, historiador das técnicas, fi gura como um dos nomes de superior presença nos meios intelectuais cearenses do século XX.

• ARC - 21-6-6 - CEARÁ, ca. 1900.Ceará. Roteiro do autor [?]. Rio de Janeiro, Lith. Imp. de E. Rensburg. / ca.1900 /Sem escala. 25 x 16 cm (W 41o 15’- W 37o – 10’ / S 2o50’ - S 7o55’).

Sem referências.

• ARC - 2-14-4 - CEARÁ, 1910.Brasil. Inspectoria de Obras contra as Seccas.Mapa do estado do Ceará mandado confeccionar por (...) ampliação parcial do mappa levantado sob a direcção dos engenheiros Horace E. Williams e Roderic Crandall do Serviço Geologico. Rio de Janeiro, São Paulo, Lith. Hartmann-Reichen-bad, 1910. / Esc. 1:650.000 / 0,720 x 0,915 cm.

Ver outras referências em ARC - 2-12-15 e ARC. 17-7-30.

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• ARC - 6-6-7 - CEARÁ, 1910.Brasil. Inspectoria de Obras contra as Seccas.Mapa dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Parayba com parte dos Estados limitrophes pelo Serviço Geologico e Mineralogico do Brasil. São Paulo, Comp. Lith. Hartmann-Reichenbach, 1910 / Escala 1:1.000.000 /64 x 84 cm (Publicação n. 3 série I, G) (W 42o – W 34o 30’/ S 2o30’ S 8o).

Há outro exemplar, dito ARC 17-1-13 / 527.114-1979 AA

• ARC - 6-9-15 - CEARÁ, 1910.Mappa botanico do estado do Ceará / Alberto Loefgren. Escala 1:3.000.000 (W42o – W 34o30’ / S 2o 30’- S 8o). Rio de Janeiro: Francisco Bastos, 1910.Extraido de um mapa reduzido dos estados do Ceará, Parayba e R.Gr.Norte / da Inspectoria de obras contra as seccas, Minis-terio da Viação e Obras Publicas. 585.209-1982 – AA (ex. 1) 164.984 – 19531 – AA (ex.2) 1 mappa / col.;24 x 31 cm. [Sob nº 138, na coleção Studart].

• ARC - 32-6-31 - CEARÁ, / 192… - [?] .Estado do Ceará, Rio Grande do Norte e Parahyba.Escala 1:1.500.000 (W 42o – W 35o / S 2o – S 8o) / s.l. : s. n., 1920 – [?] /. 1 mapa; 47 x 55 cm. Com um quadro de distan-cias kilometricas de algumas ferrovias dos estados. / 622.648 – 1984 – AA

• ARC - 17-7-31 - CEARÁ, 1926.Brasil. Inspectoria de obras contra as sêcas.Mapa do estado do Ceará mandado confeccionar pelo S. Exa. Dr. Francisco Sá, ministro da viação, (...) ampliação parcial do mapa levantado sob a direção dos engenheiros Horace E. Williams e Roderic Crandall do Serviço Geologico. 2ª ed. Rio de Janeiro e S. Paulo. Comp. Lith. Hartmann-Reitchenbah [sic], 1926. / Escala 1:650.000. 0,720 x 0,915 m.

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• ARC - 19-4-9. Brasil. Inspectoria Federal de Estradas.Mappa de viação dos estados do Piauhy e Ceará, publicado no periodo presidencial do Dr. Washington Luiz Pereira de Souza (....). São Paulo, Rio de Janeiro. Companhia Lithographica Ypiranga, 1929. Esc. 1: 1.500,000 / (59 x 75 cm) / (W46o - W 37o10’ / S 2o 50’- S 10o40’).

Washington Luís tinha como lema administrativo a frase: “governar é abrirestradas”. No seu governo, em 1928, foram inauguradas as primeiras rodovias com pavimentação moderna no País, postas a serviço da frota mo-torizada – a estrada Rio – Petrópolis, bem como um trecho curto da antiga estrada Rio – São Paulo, esta, entretanto, já totalmente aberta. No Ceará, o projeto ambicioso de implantação de uma rodovia federal entre a Capital e o alto da serra de Baturité (Guaramiranga), limitou-se à inauguração de reduzida parte inicial, com menos de 5 quilômetros, até a Parangaba, festivamente ocorrida em 6 de julho de 1930, já às vésperas da Revolução. Valorizada com pavimentação em concreto, novidade para a época, denominou-se ofi cialmente avenida Washington Luís. Deposto o Presidente em 5 de outubro, o empreendimento rodoviário que o homenageou, pouco depois, em 21 de outubro, teve o nome mudado pelo novo prefeito para avenida João Pessoa... (MOTA, L., t. 69, 1955: 143 e 152).

3. 4. 2. Cartografi a posterior a 1930.

Constitui um conjunto de mapas impressos, cujos exemplares po-dem ser encontrados em várias instituições, ora relacionados apenas como complementação expositiva.

• ARC - 2-12-26 - CEARÁ, 1931.Pompeu Sobrinho, ThomazMappa do estado do Ceará organizado por ... / Fortaleza / Quinderé & Cia, 1931. Esc. 1:1.500.000 / 98 x 125 cm. (W 41o 15’- W 37o 10’/ S 2o50’ – S 7o 55).

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93Cartografi a Cearense Antiga na Biblioteca Nacional

• ARC - 17-3-25 - CEARÁ, 1935.Brasil. Inspetoria de Obras Contras as Secas.Mappa do Estado do Ceará, 1935. Nova ed. Organizada pelo inspector Technico addido, Thomaz Pompeu Sobrinho (....). Rio de Janeiro e São Paulo. Cia. Lithographica Ypiranga, 1935. Mapa colorido. 1,210 x 0,90 m.Cartela: Municipio de Fortaleza, esc. 1:150.000 [ 2ex.].

• ARC - 22-4-17 - CEARÁ – CENSO, 1950.Ceará. Secretaria de Educação e Saúde do Ceará.Atualizado por Solon Onofre Xavier, de acordo com a lei n. 1153, de 22. XI. 51 e devidamente aprovado pela Diretoria Técnica de Educação do Estado, 3ª ed. Fortaleza, 1955. Esc. 1:1.000.000 / 85 cm x 65 cm.(W 41o 15’- W 37o 10’/ S 2o 50’- S 2o 50’- S 7o55’).Inserto: Município de Fortaleza.

Contém o recenseamento geral do Estado do Ceará em 1950.

• ARC - 15-1-12 - CEARÁ, 1952Xavier, Solon OnofreMapa do estado do Ceará, 1952. Atualizado por (...), de acor-do com a lei 1153, de 22.XI.1951. Aprovado pelo Conselho Estadual de Educação. / Fortaleza, s.ed. / Esc. 1:1.000.000 / 76 x 57 cm.(W 41o l5’- W 37o 10’/ S 2o 50’- S 7o 55’).

Solon Onofre Xavier (Pombal / PB, 25.2.1922 - Fortaleza, 30.8.1961), vale esclarecer, era cartógrafo atuante na cidade da Fortaleza, falecido prematuramente.

***

Na Biblioteca Nacional, há mais mapas gerais e parciais do Ceará, concernentes a rodovias, portos, geologia e fi togeografi a, recentes e antigos. Entre estes, incluem-se cartas da coleção Pimenta Bueno (ARC 8-2-51 / ARC 3-11-12).

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3.5. Mapas viários - ferrovias e rodovias

Foi efetuada separação modal a fi m de facilitar a exposição.

3.5.1. Mapas ferroviários

• ARC 4-10-51 - SOBRAL - 1890. R. Callender.39

CEARÁ - Planta Geral da Estrada de Ferro do Sobral / 1890.Mss. em tela - 0,590m x 430m - escala 1:200.000. / Copiado por José Luiz Martins Penha.

A Estrada de Ferro do Sobral visava à ligação do porto do Camo-cim com a cidade do Sobral, com linhas expandidas nas zonas Norte e Oeste do Estado. A interligação da ferrovia com Teresina e com Fortaleza ocorreu posteriormente.

• ARC - 25-2-17 - SOBRAL. CEARÁ. Estrada de Ferro do Sobral. Planta da Cidade do Sobral.

Mostra as plantas de várias localidades servidas pela ferrovia:

Granja – esc. 1:4.000Sobral – esc. 1:4.000Sta. Ana - esc. 1:4.000 Povoação dos Remedios – esc. 1: 2.000 [Granja]Camocim – esc. 1:8.000 (1878) [h = 13 cm]Camocim – esc. 1:8.000 (1880) [h = 19 cm]Villa de S. José [ ? ] – esc. 1:2.000

• ARC - 12-8-15 - CEARÁ, 1944.Brasil / Departamento Nacional de Estradas de Ferro.Mapa da viação dos estados do Piauí e Ceará. Ceará / Estrada de Ferro, 1944.São Paulo, Companhia Lithographica Ypiranga, 1944.Esc. 1:1.500.000 / (717 x 780 cm).

39 São imprecisas as informações sobre Callender. Educado na Inglaterra, era fi lho do cônsul britânico no Rio Grande do Sul, mas provavelmente brasileirode nascimento, o que justifi caria a exclusão de seu nome na lista dos Estrangeiros e Ceará, publicada pelo Barão de Studart. (Revista do Instituto do Ceará, t. 32, 1918; t. 33, 1919; t. 34, 1920). Callender assistiu ao lan-çamento dos primeiros trilhos da ferrovia, solenidade realizada em 1879. Casou-se no Ceará.

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3.5.2. Mapas rodoviários

• ARC - 5-12-20.Brasil – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.Mapa rodoviário / do / Ceará / Brasília / Ministério dos Trans-portes, 1980.Esc. 1:750.000 / Projeção policônica.

• ARC 34-5-23, 1984.• ARC 34-5-22, 1985.• ARC 34-3-23, 1987.

As referências acima são feitas a um conjunto de cartas rodoviá-rias do Ceará, já recentes, compiladas pelo então DNER [atual DNIT] / 1:700.000 / [policônicas].

3.6. Outros mapas

Levantamentos aerofotogramétricos

• ARC - 19-2-36.Fortaleza Exército, 1945. Carta da cidade de Fortaleza e arredores, levantada, desenhada e impressa pelo Serviço Geográfi co do Exército.

Conjunto de oito cartas executadas pelo Serviço Geográfi co do Exército por meio de levantamento aerofotogramétrico, na modalidade, o primeiro com que o Ceará foi contemplado. Trabalho da mais alta qualidade profi ssional, quer pela precisão dos dados, quer pela resolução gráfi ca, foi executado em escala de 1:10.000. Abrangia praticamente todo o município de Fortaleza, com curvas de nível a cada 5 metros, mostrando vastas áreas ainda não ocupadas pela expansão urbana. O novo gênero de registros estava provavelmente ligado ao rápido mapeamento aerofotogramétrico da costa do Nordeste brasileiro, transformada em corredor aéreo de acesso ao norte da África e à Itália durante a última Grande Guerra.

As tomadas de aerofotogramas, postas a cargo de grupo especiali-zado do Exército, tiveram início em janeiro de 1944, realizadas, portanto, por aeronaves já integrantes da Força Aérea Brasileira. A FAB havia sido

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formada recentemente, em consequência da criação do Ministério da Ae-ronáutica, decisão que implicou a união da Aviação Militar e da Aviação Naval, anteriormente isoladas, mas, deste então, reunidas em uma só corpo de defesa. (CASTRO, 2011: 107-108).40

***Como conclusão deste artigo, insista-se em lembrar que o acervo

da Divisão de Cartografi a da Biblioteca Nacional está sempre em amplia-ção, além de que algumas referências indicadas como ARC podem ter sido renomeadas. Por tais razões, muitos registros ora divulgados talvez solicitem ajustes, bem como, outras cartas, eventualmente omitidas no texto, devam ser incluídas no arrolamento.

O presente trabalho, vale insistir, objetiva divulgar listas de docu-mentos cartográfi cos cearenses que possam servir de guia a pesquisadores interessados. Deve-se, porém, ressalvar que o acervo da Biblioteca Na-cional vem sendo ampliado com a digitalização de cópias de documen-tação antiga - escrita e impressa, além de que cabe também se levarem em conta os vários programas de permutas de documentos com os quais estão envolvidas muitas instituições nacionais e estrangeiras. Como os serviços de atualização técnica do acervo da Biblioteca Nacional (e de outras entidades) são executados de modo sistemático, mas gradativo, é provável que algumas peças relacionadas neste artigo ainda não tenham recebido aquele tratamento. Por outro lado, não se elimina a hipótese de haver mapas, já digitalizados, todavia não incluídos neste artigo.

***Dos mapas relacionados no texto, todos integrantes do acervo da

Biblioteca Nacional, poucos mostram condições de reprodução impressa, seja por impossibilidade de redução gráfi ca das pranchas, comumente amplas e coloridas, seja pelas dimensões do formato da Revista do Ins-tituto do Ceará.

40 A carta do Serviço Geográfi co do Exército foi posta à aquisição dos interessados, constituindo documentação adquirida por várias instituições e por colecionadores particulares. O levanta-mento de 1945 serviu de apoio às diretrizes do plano urbanístico proposto pelo urbanista José Otacílio Saboya Ribeiro em 1947, aprovado ofi cialmente, porém não efetivado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. (Ver CASTRO, 2011: 109-119).

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Bibliografi a

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99Cartografi a Cearense Antiga na Biblioteca Nacional

Sumário

O presente artigo tenciona divulgar referências cartográfi cas perti-nentes ao Ceará, integrantes do acervo documental da Biblioteca Nacional, prestigiosa entidade cultural com sede na cidade do Rio de Janeiro. Revela o intuito de prosseguir trabalho do autor, elaborado com igual objetivo, sob o título Cartografi a Cearense no Arquivo Histórico do Exército. (Revista do Instituto do Ceará – tomo 111, 1997: 9-79).Assim, este artigo, após arrolar uns poucos mapas anteriores ao século XIX, preocupa-se com cartas oitocentistas, mais numerosas, conferindo ênfase a cópias litografadas de vários mapas devidos a Antônio José da Silva Paulet. Em busca de uma visão geral do acervo examinado, inclui uma relação de cartas recentes, do século XX.

Abstract

This work intends to make public maps related to the State of Ceará (Brazil) preserved in this country’s National Library (Biblioteca Nacional), in Rio de Janeiro. It reveals, at the same time, the purpose of carrying on the author’s article intitled Cartography of the State of Ceará in Brazilian Army Historical Archives (AHEx), published in Revista do Instituto do Ceará, n. 111, 1997: 9-79. Therefore, this work enrolls a few maps dated before 19th century, as long as it is really interested in the cartographical production of that century, emphasizing lithographed maps prepared by Antônio José da Silva Paulet. Finally, in search of a general vision of those documents considered here, it includes recent maps, prepared in 20th century, as well.

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Agenda para a Redução da Pobreza Rural com Desenvolvimento

P S L *

INTRODUÇÃO

omo é possível mudar o padrão de desenvolvimento rural do Ceará, tornando-o mais produtivo, estável, empregador de mão de obra e rentável? O que fazer para interiorizar mais o crescimento econômico do Estado, reduzindo a pobreza e as emigrações para as grandes cidades? Onde obter recursos para um plano com essa fi nalidade?

Certamente essas são as preocupações que irão desafi ar a capacidade criativa dos governantes do Ceará nos próximos anos. De fato, é urgente fazer algo consistente para mudar a situação de subdesenvolvimento ainda prevalecente no Ceará, especialmente no quadro rural.

O presente documento é um roteiro de ação prática sobre o que seria possível fazer acerca dos referidos problemas. Os pensamentos e ideias contidos neste breve artigo estão baseados em pesquisas rea-lizadas pelo Banco do Nordeste, pela Universidade Federal do Ceará e também nos estudos conduzidos pelo signatário. As experiências e lições da história econômica de outras regiões e países foram também levadas em conta.

Para responder melhor às graves indagações iniciais, há necessi-dade de maiores discussões e aprofundamento dos referidos temas. Um segundo passo indispensável nesse sentido é detalhar “como” executar tais políticas e diretrizes e eleger “quem” seriam os responsáveis pela implementação, além de defi nir os verdadeiros benefi ciados pelo desen-volvimento econômico resultante.

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A realização do desenvolvimento rural equilibrado do Ceará é um desafi o complexo, mas plausível como se procura explicar e delinear neste artigo..

PERFIL DA AGRICULTURA

Estão radicadas na zona rural do Ceará cerca de 2,3 milhões de pessoas, correspondente a 26% da população total do Estado. Não estão incluídos aqui os residentes nos povoados, cidades pequenas e outros aglo-merados tipicamente rurais, mas não classifi cados como tais pelo IBGE. Caso fosse adotado o conceito internacional de zona rural incluindo as pequenas cidades, a proporção dos residentes nesse setor subiria para 45% .

A população de dez anos e mais ocupada na agricultura, segundo o Censo Agropecuário, é de mais ou menos 1.100 mil pessoas, pouco menos de um quarto de todos que trabalham no Estado. A taxa de ocupação é de 50%, compatível com a estrutura etária e o nível de desenvolvimento do Ceará.

O valor bruto da produção agropecuária tem sido, num ano nor-mal, de aproximadamente 900 milhões de dólares. Em torno de 6-8% do Produto Interno do Estado. Em anos de seca, essa proporção cai para 3% a 4%.

Com base nesses dados, é possível estimar uma produção média anual da agropecuária de 800 dólares por pessoa ocupada. Em contrapar-tida, essa relação é de 6.400 dólares nas atividades urbanas (indústria e serviços). Portanto, oito vezes mais elevada do que nas atividades agro-pecuárias. É oportuno observar, ainda, que os países que desejam desen-volvimento equilibrado entre os setores geralmente assumem como meta a igualdade de rendimentos entre os dois setores. Há nações, entretanto, em que a renda média do quadro rural é superior a dos centros urbanos. Nesses casos, têm-se verifi cado um movimento migratório de retorno às áreas do interior.

É oportuno mencionar que as lavouras temporárias e permanentes contribuem, em média, com cerca da metade da produção do setor. A produção da carne, leite e derivados, e ovos responde por 33%, cabendo o restante à produção extrativa vegetal. Quanto aos produtos agrícolas, os mais importantes são: milho, feijão, arroz, mandioca, banana, caju e cana-de-açúcar.

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PROBLEMAS E METAS PRINCIPAIS

O processo produtivo da agricultura, como é conhecido, envolve fatores físicos, econômicos, sociais, motivacionais e de organização. As-sim, numa área subdesenvolvida, cada um desses aspectos pode ser um obstáculo à modernização do setor. Pretende-se destacar aqui, no entanto, apenas aqueles problemas de natureza agroeconômica que motivam as maiores preocupações tanto dos governantes como dos planejadores do desenvolvimento rural do Ceará. A seguir serão comentadas algumas dessas medidas estratégicas para o alcance do desenvolvimento agrícola do Ceará.

Salto de produtividade da terra e do trabalho agrícola

Os estudos e dados existentes sobre a agricultura do Ceará revelam que a produção, por área cultivada, das principais lavouras temporárias e permanentes, encontra-se muito aquém dos níveis obtidos em outros Estados, e até mesmo da média nacional. As situações do feijão, man-dioca, abacaxi, algodão e castanha são exemplares. Esse quadro se agrava ainda mais nos anos de estiagem, quando a produtividade chega a limites insignifi cantes.

Um aspecto muito preocupante é que não há sinal de melhoria nessa situação, a não ser no caso do milho híbrido que vem obtendo resulta-dos excelentes desde sua introdução em 1999. Porém, analisando-se o comportamento da produtividade das lavouras num período mais longo verifi ca-se que, no conjunto do setor, ocorreu uma diminuição real dos rendimentos monetários.

A produtividade da mão de obra é também deplorável, mesmo sabendo-se que a força de trabalho no campo conta com a contribuição signifi cativa de pessoas de 10 a 15 anos e de mais de 65 anos de idade, em vista do conceito do IBGE sobre o assunto. Grosso modo, pode-se dizer que a produtividade de um trabalhador na agricultura é apenas 20% do ocupado nos centros urbanos em atividade industrial e/ou serviços. Em outras palavras, quando o trabalhador sai do campo e vai trabalhar na cidade sua produção média passa a ser cinco vezes maior do que era antes.

Como consequência disso, são baixas as remunerações dos assa-lariados e dos pequenos produtores agrícolas. Nesse caso, será muito difícil melhorar as condições de vida das pessoas dependentes das lides

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agrícolas do Estado sem o aumento da produtividade ou da obtenção de renda adicional de outras atividades econômicas complementares.

A tábua de salvação dessa quadra pouco otimista, é visualizada nas atividades de produção animal e derivados, que correspondente à cerca de 40-50% do valor da produção agropecuária. De modo geral, a produção desse ramo de atividade tem se mantido, nos últimos anos, es-tável e ascendente, especialmente em relação à avicultura e à produção de leite. Diferentemente das lavouras, essa categoria vem melhorando a produtividade ao longo dos anos com perspectivas promissoras para o futuro. Não obstante, é necessário lembrar que a pecuária extensiva é pouca empregadora de mão de obra, mesmo que a avicultura contrabalance essa característica.

Redução drástica da instabilidade anual da produção agrícola

Nenhuma atividade econômica pode suportar fl utuações anuais nos níveis de produção como ocorre na agricultura cearense. A existência de excedente de produção em um ano, segue-se periodicamente uma situ-ação de escassez que não atende sequer à sobrevivência dos produtores, numa saga de euforia e sofrimento.

A agricultura de sequeiro geralmente é pouco estável em decorrên-cia de vários fatores que o agricultor tradicional não tem como controlar. No caso do Ceará, que temporariamente é afetado por irregularidades climáticas, esse fenômeno assume características dramáticas do ponto de vista econômico e humanitário.

A despeito de sua complexidade, esse problema não é inevitável. Em praticamente todos os países hoje desenvolvidos, ele foi superado ou reduzido a limites administráveis. A solução veio da decisão política de que tal situação era incompatível com o desenvolvimento geral da sociedade e do uso dos meios técnicos disponíveis ou idealizados para superar esse obstáculo ao progresso socioeconômico da população afetada.

Dentre os instrumentos para obter uma estabilização da produção das lavouras, podem ser citados, como exemplifi cação, o uso da irriga-ção, das culturas mais resistentes à escassez de água e de ciclo curto, ao manejo dos cultivos, ao zoneamento agrícola e tantas outras soluções já praticadas por alguns produtores inovadores.

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Os estudos e alternativas que foram realizados pelo Projeto Áridas1 certamente oferecem uma base para a formulação de uma política consis-tente sobre esse grande desafi o para o governo do Ceará: mais estabilidade da produção agrícola para reduzir a pobreza rural e mais estímulos ao investimento do setor privado.

Desenvolvimento em larga escala dos recursos de água.

A problemática dos recursos hídricos do Ceará já é bem conhecida em vista dos estudos realizados pelo DNOCS, pela Secretaria de Recur-sos Hídricos, além de inumeráveis registros feitos por pesquisadores regionais. Na opinião de muitos, o Ceará poderá ser um celeiro do Brasil e fonte signifi cativa de divisas para o país se o problema de suprimento de água para a agricultura for plenamente solucionado.

Em contrapartida, a fome, estagnação do desenvolvimento indus-trial e dramática escassez de água para o consumo humano e animal seria inevitável se não tivessem sido realizadas grandes obras de construção de represas, estruturas de desvio de corrente e sistemas de canais. Falta, no entanto, o desenvolvimento de novas tecnologias para a extração de água subterrânea do cristalino. A recuperação de solos salinos ou pre-judicados pelo sódio no processo de irrigação e de práticas corretas de irrigação são tantas outras preocupações que precisam de ação conjunta de todos os órgãos do Estado e do Governo Federal. Este é um problema de interesse nacional que precisa ser conduzido com muita competência e infl uência política.

O desenvolvimento em grande escala dos recursos de água é, por sua natureza, de prazo mais longo. O Projeto de Transferência de Água do Rio São Francisco ou Tocantins, por exemplo, carece de recursos do Governo Federal, tanto fi nanceiro como técnicos, de modo que o Estado não pode desviar de outros projetos menos onerosos e de maior impacto econômico e social de curto prazo. Os agricultores necessitam, além disso, de outras ações imediatas para tirá-los do tradicionalismo, da pobreza e do desemprego. 1 O Projeto Áridas teve como fi nalidade elaborar uma estratégia para o desenvolvimento susten-

tável do Nordeste com participação do Governo Federal, Estadual e Universidades (1995-2000).

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O ponto a considerar nesse caso é como conciliar o dilema longo e curto prazo. Que elementos merecem maior destaque? De que modo deve ser planejado e administrado?

As respostas a essas questões não podem ser dadas nesse breve documento de ideias gerais de um economista. Outros profi ssionais, bem como e a determinação política do governo, é que indicarão as estratégias e soluções mais efi cazes, sejam econômicas e ou sociais.

PRESSUPOSTOS BÁSICOS

As considerações formuladas neste artigo estão de acordo com as condições, valores e objetivos discutidos ao longo de muitos anos nas instituições acadêmicas e profi ssionais, e com as representações dos agricultores. É necessário, portanto, entender que estratégias não são panaceias. Elas são inúteis na ausência de compromissos dos produtores e dos órgãos públicos pertinentes aos problemas rurais.

A estratégia de desenvolvimento rural proposta neste artigo destina-se a buscar resolver o problema do subdesenvolvimento rural de maneira abrangente. A chave desse enfoque é aumentar a produti-vidade agrícola ao tempo em que se fomenta a criação de empregos produtivos na própria zona rural. Nesse contexto, as pequenas cidades do interior exercem um importante papel como centros de serviço e apoio à produção.

Os elementos essenciais dessa metodologia de desenvolvimento harmônico do interior são os seguintes: 1) Mobilização do fator huma-no e melhor aproveitamento dos recursos naturais e da infraestrutura existentes nas áreas geográfi cas prioritárias; 2) Integração da agricul-tura, indústria e serviços, no próprio quadro rural, contemplando os aspectos físicos, econômicos, sociais e organizacionais das localidades abrangidas pelo programa; 3) Acesso dos produtores, especialmente dos pequenos e menos privilegiados, aos recursos produtivos e aos serviços de suporte indispensáveis à produção.

São também determinantes a melhoria das condições de educação e saúde e outras necessidades básicas, requisitos estes fundamentais para o aumento da produtividade e qualidade de vida da população pobre re-sidente na zona rural. Enfi m, é fundamental a motivação e mobilização

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das populações em programas de autoajuda e de participação efetiva na determinação das prioridades e no processo de execução dos programas de desenvolvimento local.

A INTEGRAÇÃO SETORIAL

O desenvolvimento econômico é um processo extremamente complexo do qual compartilham diversas variáveis econômicas, sociais, políticas e institucionais.

Em relação à agricultura, por exemplo, esta participa com os demais setores no uso de investimentos e dos demais fatores. Desse modo, os recursos colocados à disposição de programas de desenvolvimento não po-dem ser alocados sem levar em consideração a interdependência existente entre eles. Logo, negligenciar a indústria pode resultar em limitações de mercado para os produtos agrícolas. Por outro lado, promover programas de desenvolvimento industrial sem a devida consideração para com o setor agrícola pode motivar uma consequente escassez de matéria-prima e de alimentos, acelerando, assim, o processo infl acionário e comprometendo o próprio desenvolvimento.

Portanto, o desenvolvimento conjunto dos setores é fundamental: o desenvolvimento deve dar-se harmonicamente, embora se saiba que os setores, normalmente, crescem a taxas distintas, notadamente nos estágios iniciais de desenvolvimento.

Para a realização do desenvolvimento equilibrado do Ceará, é necessário fazer a regionalização do planejamento e execução, bem como defi nir o grau de interdependência do processo produtivo agrário. Destacam-se, nesse sentido, a urbanização do interior e a industrialização rural. É fundamental também estabelecer, claramente, o papel da educa-ção no aumento da produtividade e na melhoria dos padrões de vida das populações pobres.

Por fi m, não pode ser negligenciada a questão da estrutura agrária e sua importância no desenvolvimento, assim como o papel da ação co-ordenada dos órgãos públicos e do setor privado.

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REGIONALIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO

O desenvolvimento rural equilibrado não pode ser realizado simul-taneamente em todas as partes, pois seria difícil obter recursos sufi cientes para tal. Por sua vez, as atividades agropecuárias geralmente são vocacio-nadas diferentemente de acordo com as condições dos solos, clima e outros fatores. Desse modo, é essencial que os programas de desenvolvimento rural sejam planejados e executados segundo um zoneamento adequado aos objetivos delineados para cada sub-região.

O macroplanejamento certamente deve ser de responsabilidade da Secretaria de Planejamento, mas o micro planejamento deveria contar com forte participação da Secretaria de Agricultura e compartilhamento da Secretaria da Indústria e Comércio, Secretaria de Recursos Hídricos e da Secretaria das Cidades.

A modalidade de organização mais apropriada para defi nir as po-líticas e articulações intersetoriais seria através de um Comitê de Secre-tários envolvidos no referido programa, sob a presidência da Secretaria de Planejamento.

Em nível local, poderiam ser organizados Conselhos de Desenvol-vimento Regional, semelhantes aos que existem em outros países e até mesmo no próprio Brasil. E, de acordo com as condições prevalecentes em cada “região de desenvolvimento”, esse Conselho teria a abrangência e responsabilidade do planejamento, bem como a supervisão e da execução correspondente. Nesse caso, deve ser cultivado o espírito comunitário multipartidário, quando possível. Caso essa ideia tenha acolhida, poderia ser mais bem detalhada.

De qualquer modo, é necessário um exame melhor das experiên-cias de organização local do Planejamento e execução dos programas de desenvolvimento do Estado à luz dos novos objetivos de desenvol-vimento equilibrado e de convivência com a seca.

Outra alternativa de organização que deveria ser examinada é a estruturação de “Corporações de Fomento” com maior autonomia admi-nistrativa, técnica e fi nanceira. Essa modalidade de entidade segue, natu-ralmente, um nível mínimo de competência e maturidade institucional. É o caso, por exemplo, de regiões em que os níveis de tecnologia agrícola sejam mais elevados e haja um grau de industrialização e serviços de apoio

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mais desenvolvidos. De qualquer modo, a adoção de referida sistemática de organização deve ser gradativa e planejada.

ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES

A organização cooperativa é geralmente mencionada como instru-mento apropriado para transformar a população pobre e analfabeta em colaboradora ativa da política de desenvolvimento rural. Os planejadores e o governo esperam, portanto, que esse sistema seja o veículo capaz de preencher a ausência da iniciativa privada. A organização tem como papel fundamental fornecer os serviços necessários à produção, administração e repasse de crédito, assim como realizar a comercialização e distribuir mais equitativamente a renda. A cooperativa é tida como possuidora de vantagens de sua dimensão de escala econômica e tecnológica, consti-tuindo instrumento efi caz para as mudanças da realidade do meio rural.

Mesmo diante dessa confi ança no papel do cooperativismo como fórmula para o atendimento adequado dos pequenos agricultores, a ex-periência do Nordeste, neste particular, não tem sido positiva como se poderia esperar. Na verdade, o cooperativismo tem encontrado muitos entraves na Região e poucos são os exemplos de pleno sucesso dessas sociedades em relação ao apoio técnico e, principalmente, fi nanceiro que vem sendo proporcionado pelos órgãos governamentais e bancos ofi ciais. Aparentemente, o êxito, ainda que limitado, decorre das atitudes tanto dos responsáveis pela implantação dessas associações como dos próprios agricultores benefi ciados.

Não obstante, a experiência internacional de desenvolvimento rural bem-sucedido tem demonstrado que a organização dos agriculto-res, especialmente dos pequenos produtores, é uma pré-condição para a transformação do setor. De fato, o pequeno produtor não consegue obter os serviços de que necessita para exploração de sua unidade, porque lhe faltam habilidades, meios e poder de enfrentar os prestadores de serviços. A fi m de enfrentar essa situação, os agricultores necessitam unir suas forças e criar sua própria organização de autodefesa e competição. Tais associa-ções auxiliam também o pequeno agricultor a se adaptar às mudanças no estabelecimento agrícola e na comunidade rural.

Para defi nir um sistema cooperativo que realmente funcione, em bases democráticas, é preciso, como diz Naphtali Gal (Israel), encontrar

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uma forma apropriada de organização associativa que contemple as aspi-rações, os ideais e as características culturais próprias dos indivíduos que participem desse processo.

Em síntese, a organização cooperativa é fundamental para o desen-volvimento rural do Ceará e deveria fundar-se em princípios fl exíveis, como de equidade, democracia e propriedades conjuntas, que fossem condizentes com a premissa de crescimento econômico equitativo da sociedade rural.

A AÇÃO COORDENADA DAS INSTITUIÇÕES

Um programa de desenvolvimento rural equilibrado envolve ati-vidades de pesquisas, extensão, crédito, comercialização, armazenagem, educação, dentre outras. Logo, devem participar das atividades socio-econômicas as instituições Federais, Estaduais, Municipais, empresas privadas e organizações não governamentais.

Em conjunto, essas instituições reúnem um grande estoque de pes-soal técnico e recursos fi nanceiros. Basta mencionar, como fator favorável à viabilidade dessa ideia, a presença no Ceará das sedes do Banco do Nordeste e do Departamento Nacional de Obras contra as Secas. Seguem--se, ainda, a Universidade Federal do Ceará, a Universidade Federal do Cariri, a Universidade Estadual e a URCA e UVA, e tantos outros órgãos importantes para a agricultura. A coordenação dessas entidades com os mesmos objetivos é muito importante para o desenvolvimento do Estado.

Cumpre fortalecer, no entanto, a parceria dos organismos locais e associações de agricultores no sentido de modernizar a agricultura e buscar o desenvolvimento econômico sustentável global do Estado com menos pobreza. A fi nalidade principal dessa estratégia é reunir recursos de fontes diferentes, mas com o mesmo propósito, para maximizar os resultados econômicos e sociais e tornar as políticas macroeconômicas mais efi cazes.

Oportuno registrar que o Ceará conta, atualmente, com alguns programas federais de grande importância para viabilizar as medidas que foram propostas neste documento. São exemplos disso, o Progra-ma Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o Programa Fundo Seguro-Safra (Garantia Safra) e o Programa de Reforma Agrária Solidária (Crédito Fundiário). Na verdade, estes três

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Programas foram idealizados pela Secretaria de Desenvolvimento Rural do Ceará, quando me encontrava ocupando a função de Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural, entre os 1995-2002, no Governo Tasso Jereissati. Depois de servirem como Projetos Pilotos, no Ceará, foram federalizados e estendidos para os demais estados do Nordeste e, quando aplicável, para outros estados do país. Todos esses Programas, no entanto, precisam ser ajustados e adaptados às novas realidades da economia e dos propósitos de um desenvolvimento econômico susten-tável e com menos pobreza e desigualdades.

CONCLUSÃO

A zona rural do Ceará pode crescer mais e melhor. Há experiência acumulada, recursos naturais potenciais e esperança de que isso ocorra. O novo foco não deve ser, contudo, um mero crescimento da produção como atualmente se pensa, mas um desenvolvimento econômico sustentável e com maiores níveis de melhoria social, menos pobreza e redução das graves desigualdades entre os ricos e os pobres.

A experiência mundial mostra que é necessária, para isso, políticas macroeconômicas com ênfase nas taxas de investimento, na inovação tecnológica, melhoria da educação geral e profi ssional e geração de em-pregos em melhores condições de trabalho. É preciso também de contar com políticas que defi nam os caminhos a seguir de modo claro no sentido de promover a produtividade, fomentar a maior articulação institucional e territorial.

As medidas recomendadas nesta Agenda requerem um árduo tra-balho político, técnico, de construção de um novo modelo de desenvolvi-mento integrado nos moldes do Enfoque de Rehovot (Israel). Trata-se de rearticular o Estado com intervenção na orientação do desenvolvimento com real capacidade de alocar recursos e regras, regulamentando o setor privado atuante na zona rural.

Esta Agenda não signifi ca que nada está sendo feito. O objetivo é melhorar o que está em curso, ajustar o inadequado e de inovar e realizar o que é preciso para superar o subdesenvolvimento crônico do Ceará, que está numa das piores condições do País.

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113Agenda para a Redução da Pobreza Rural com Desenvolvimento

Resumo

A agricultura é a atividade econômica que mais emprega a mão de obra da população ativa do Ceará, principalmente do interior. É no quadro rural também onde se encontra a maior proporção de pobres do Estado. Este artigo objetiva mostrar essa situação, de modo compreensível, aos não especialistas nas questões da ciência econômica, sugerindo estratégias e medidas factíveis para superar a baixa efi ciência dos produtores agrícola.

Palavras-chave

Desenvolvimento agrícola; Produtividade; Pobreza; Diretrizes de ação.

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Comentários à Margem da Carta de Caminha

F A F *

chegada das Naus Portuguesas1 ao Ilhéu da Coroa Vermelha ocorreu no período das grandes navegações, quando Portugal e Espanha exploravam o oceano em busca de novas terras. Este fato ampliou as ex-pectativas dos exploradores. Anteriormente Portugal e Espanha haviam assinado o Tratado de Tordesilhas, em 1494, estabelecendo que Portugal fi caria com as terras recém descobertas que estavam a leste da linha ima-ginária (370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde), enquanto à Espanha caberia o domínio das situadas a oeste dessa linha.

Na carta, endereçada a D. Manuel, o rei de Portugal, na época do descobrimento do Brasil, PeroVaz de Caminha2, escrivão da frota, relata com detalhes a chegada dos portugueses às novas terras, os primeiros con-tatos com os indígenas. Através da leitura desse documento, percebem-se as intenções da tripulação quanto à nova terra e perspectivas com relação ao território recém-descoberto.

1 A partida da frota portuguesa da praia de Belém,Lisboa, ocorreu no dia 9 de março. A chegada às ilhas canárias, no dia 14 do mesmo mês e no dia 22 chegaram, à ilha de São Nicolau. No dia 21 de abril toparam com os primeiros sinais de terra, o que eles chamam de botelho, espécie de ervas compridas. No dia seguinte houve o avistamento de terra, que foi chamada de Ilha De Vera Cruz, a qual tinha um monte alto que recebeu o nome de Monte Pascoal.

2 Pero Vaz de Caminha foi o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral. Nascido na cidade do Porto, em Portugal, faleceu poucos meses depois de ter escrito a Carta, ainda em 1500, em Calecute, na Índia, onde seria escrivão da feitoria que viria a ser fundada.

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Na referida carta, Caminha chama a atenção para os acontecimentos, ocorridos a partir de 26 de abril, Domingo de Pascoela3, domingo ime-diato ao da Páscoa. Era este o quinto dia dos portugueses na Ilha de Vera Cruz, dia em que se celebrou a primeira missa4; a primeira vez em que Pedro Álvares Cabral realmente pisaria em terras brasileiras, ocasião em que os nativos seriam observados de perto. Há uma minuciosa descrição dos nativos, tanto em termos de aparência quanto de comportamento. Do mesmo modo, são citados direta e indiretamente cerca de dezoito membros da tripulação e sua interação com os nativos. O primeiro escambo (troca) ocorre em clima amistoso, embora Caminha relate a ansiedade dos nave-gantes em relação à possível presença de metais preciosos na nova terra. Cita as reações dos índios diante do que era oferecido pelos europeus, desde alimentos até objetos. O escritor também se detém na descrição física dos nativos, destacando suas pinturas e enfeites corporais, a limpeza e a saúde de seus corpos, que muito lhe impressionam, bem como a “inocência” dos nativos e nativas com relação à nudez.

Por ser domingo, o Capitão-Mor escolheu como cenário para a celebração da primeira missa na Terra de Vera Cruz o ilhéu onde haviam folgado na véspera.

O local mostrara-se seguro o sufi ciente para receber a tripulação das naus, permitindo que os nativos mantivessem uma distância prudente.

Pelas ordens emitidas logo cedo: os capitães deviam descer a seus batéis e dirigir-se ao ilhéu. Um altar simples, porém “muito bem arranja-do”, é montado dentro de um pavilhão, um dossel improvisado debaixo do sol tropical, que em quase nada deveria lembrar a santidade da igreja de Nossa Senhora de Belém, em Lisboa, onde havia sido celebrada a missa da despedida.

De comum aos dois cenários apenas o permanente sentimento de fé e a presença da bandeira de Cristo, o mesmo estandarte que havia sido

3 Como resquício ainda das festividades pagãs que louvava a fecundidade dos campos, a Páscoa é celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que se segue ao equinócio da primavera, variando sempre entre os dias 21 de março a 26 de abril. A frota de Cabral havia comemorado a Páscoa a bordo, uma semana antes, sem saber que, três dias depois, um novo mundo seria avistado.

4 Os portugueses realizaram uma missa, construíram uma enorme cruz. Tudo para mostrar aos nativos o acatamento que tinham pela cruz, ou melhor, pela religião. Desde já, possuíam a vontade de convertê-los à Igreja, tendo em vista, sua inocência, já que faziam tudo o que os portugueses faziam ou mandavam… A intenção de dominá-los é facilmente observada na seguinte passagem : “Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente.”

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entregue a Cabral pelas mãos de El-Rei, e que foi erguido bem alto para ser avistado pelos que se encontravam no Ilhéu, e pelos incréus na praia, à segura distância.

O Evangelho foi lido “em voz entoada” pelo celebrante, Frei Hen-rique de Coimbra. “Sob a desconfi ança dos nativos5”. De acordo com Robert Southey (1810), Frei Henrique dirigia-se à sua primeira missa nas Índias. Os outros padres e sacerdotes que acompanham a frota entoam o mesmo ofício, ouvido por todos “com muito prazer e devoção6”. De acordo com Caminha:

• Seria o número de gente que ia nesta frota, entre mareantes e homens de armas, até mil e duzentas pessoas”, diz João de Barros em sua “Décadas” sobre a frota de Cabral, complementando: “E além das armas materiais, que cada um levava para seu uso, mandava el-rei outras espirituais que eram oito frades da ordem de São Francisco, de que era guardião Frei Henrique, que depois foi bispo de Ceuta e confessor de el-rei, varão de vida muito religiosa e de grã prudência, com mais oito capelães e um vigário para administrar em terra os sacramentos da fortaleza, que el-rei mandava fazer, todos varões escolhidos para aquela obra evangélica”.

Na prosa tortuosa de Barros, somam-se 16 ou 18 representantes da Igreja, dispostos a morrer por sua fé nas mãos dos mouros ou idólatras. Ou preferencialmente, antes disso, convertê-los ao Evangelho através da palavra, “pedindo-lhes que deixassem suas idolatrias, diabólicos ritos e costumes, e se convertessem à fé de Cristo”.

Caso não alcançassem o intento de modo pacífi co, que recorressem a “ferro e fogo”, fazendo-lhes “crua guerra”.

5 Outro aspecto importante diz respeito à religião. Caminha narra as cerimônias cristãs cele-bradas pelos sacerdotes presentes na esquadra, bem como a aparente curiosidade dos nativos com relação a essas celebrações. Destaca-se aí a descrição da Primeira Missa, celebrada no domingo, dia 26 de abril.

6 No fi nal Frei Henrique utiliza uma cadeira alta carregada até o ilhéu com o propósito de servir de púlpito para seu sermão. Da tribuna improvisada emite “solene e proveitosa pregação da história”, enveredando depois para tema mais próximo ao coração de cada um: a vida dos embarcados, dos marinheiros, dos homens do mar, o achamento da terra na qual se encontram, e os deveres que têm, como cristãos, de difundir a cruz e a cristandade aos que nela residem.

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Em pouco mais de uma semana na Terra de Vera Cruz, não houve oportunidade para que os religiosos conseguissem converter nenhum dos idólatras, muito embora reconhecessem naqueles dóceis nativos o potencial para a fé cristã, a partir da atenção dedicada à celebração das duas missas, e da satisfação com que receberam os crucifi xos distribuídos.

Sob o signo da cruz foram organizadas esta e outras expedições por-tuguesas, numa intensa simbiose com a conquista comercial e a expansão dos domínios do Reino, ao ponto de não se saber onde terminavam um interesse e iniciavam os outros.

Ao observar o comportamento dos aborígines, por ocasião da cele-bração da missa, Caminha nos chama a atenção para um fato curioso que, segundo ele os nativos que haviam se aproximado da praia, acompanharem de longe a movimentação do Ilhéu. Seriam cerca de duzentos, como na véspera, trazendo novamente arcos e fl echas.

Sem o querer deveriam divertir os portugueses, com o ingênuo acompanhamento dos gestos deles na missa. Sentavam quando os por-tugueses sentavam; ajoelhavam-se juntos; erguiam-se logo em seguida, imitando o ritual que se desenrolava à distância.

O sermão é pregado ao fi nal da celebração da missa. Os portugueses sentam na areia para ouvi-lo, mas os nativos estão inquietos. O sermão, na dupla distância da língua incompreensível e do afastamento da praia, alon-ga-se por mais tempo que a paciência deles suporta, e eles não se acanham de deixar claro que é hora de terminar. Muitos homens começam a tocar instrumentos de sopro – chifres, búzios, ou “uma espécie de trombeta”, na descrição do Piloto Anônimo – e a saltar e dançar.

Alguns embarcam em almadias ainda mais primitivas que aquelas avistadas anteriormente, formadas por “duas ou três traves, atadas jun-tas”, embarcações tão precárias que sequer ousam afastar-se muito da terra.

Após a bênção fi nal os portugueses encaminham-se em procissão marítima, estandarte erguido bem alto, de volta a seus barcos, seguindo ao longo da costa num lento desfi le diante dos olhos atentos dos nativos.

Mais uma vez Bartolomeu Dias é indicado pelo Capitão-Mor para aproximar-se dos homens na praia. O pretexto é devolver um remo, um pedaço de madeira procedente de almadia nativa, arrastado pelo mar para perto do ilhéu.

O cortejo segue o barco de Bartolomeu a “um tiro de pedra”, como avalia Caminha: cerca de 450 metros de distância.

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A proximidade permite ao escrivão avistar mais curiosidades da-quele povo. É traído pela visão de um homem, que não depusera seu arco e sua fl echa. “tinto de tintura tão vermelha pelos peitos e costas, e pelos quadris, coxas e pernas até baixo”, de uma tintura tão vermelha que a água “não comia nem desfazia”, mas ao contrário, quando saía da água vinha ainda mais vivo o vermelho.

Pelo que Caminha descreve, este homem alertava aos outros para que se afastassem dos europeus, porém sem muito sucesso: “a mim não parecia que dele tivessem respeito ou medo”, deprecia.

A visão em escarlate também não assusta os homens no batel de Bartolomeu Dias. Um deles desce do bote, aproxima-se do grupo de na-tivos e integra-se a ele sem nenhum temor. Os homens da terra voltam a oferecer sua moeda corrente, as cabaças com água doce, tão bem recebida na véspera, enquanto acenam aos portugueses que estão nos batéis para que desçam também à terra.

O Capitão-Mor tem outros planos. Bartolomeu Dias volta à sua nau, e na sua companhia retornam todos os barcos. A alegria se manifesta no tanger de trombetas e gaitas, parte dos instrumentos musicais trazidos na viagem e que tão bem respondem aos búzios e chifres tocados pelos nativos.

“Viemos (às naus) a comer”, relata Caminha. No cardápio, regado a vinho e água fresca, mais uma conferência entre os capitães para de-cisões estratégicas.

Com relação a alimentos da terra, Caminha faz referências ocasio-nais a alimentos portugueses e nativos. No primeiro dia em que desceram ao ilhéu os marinheiros “mataram peixe miúdo”, mas não muito, talvez o sufi ciente para provarem o sabor dos frutos de um mar tropical.

No domingo da Pascoela, após a celebração da Santa Missa no ilhéu, alguns marinheiros foram buscar mariscos “e não os acharam”. Em compensação, “acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um muito grande e muito grosso, que em nenhum tempo o vi tamanho”, admira-se o escrivão.

Frei Vicente do Salvador, no clássico “História do Brasil”, no século XVII, se refere também aos peixes pequenos, presentes em toda a costa, “menores de um palmo”, aos mariscos, ostras, briguigões amêijoas, mexi-lhões, búzios e muitas astas de caranguejos”, além dos muitos camarões, “não só no mar, como os de Portugal, mas nos rios e lagoas de água doce, e alguns tão grandes como lagostins”.

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O Piloto Anônimo refere-se a um tubarão morto a pauladas, mas não há indicação gastronômica de seu uso, mais difundido no Oriente.

Em terras brasileiras, deparam-se os portugueses com “muito bons palmitos”, colhidos e devidamente comidos; com inhame, produto também das terras de África; e com “outras sementes que na terra dá, que eles comem”, e que o escrivão não faz questão de experimentar.

A ausência de qualquer referência a coqueiros na paisagem da praia baiana, com sua água preciosa, justifi ca-se: de acordo com a pesquisadora pernambucana Claudia Lima, no livro “Tachos e Panelas, historiografi a da alimentação brasileira”, somente muitos anos mais tarde o coco foi trazido da Oceania pelos colonizadores portugueses, adaptando-se per-feitamente ao clima nordestino.

Costume da época chamava de jantar e refeição principal, entre o almoço e a ceia. Jantava-se ainda à luz do dia, guardando o apetite para uma derradeira refeição, antes do sono.

Depois de comerem, os capitães de dirigiam à nau de Pedro Álvares Cabral. Novamente Caminha é convocado para testemunhar o encontro e fazer dele melhor relato.

O Capitão-Mor traz dois pontos a comunicar a El-Rei sobre a descoberta da nova terra. Democrático, Cabral “perguntou a todos se nos parecia bem mandar a nova do achamento desta terra a Vossa Alteza pelo navio dos mantimentos”. A ideia era que El-Rei equipasse e enviasse uma nova frota para descobrir mais, “e saber dela mais do que nós podíamos saber, por irmos na nossa viagem”

No interior da Nau Capitânia, onze capitães apresentam razões favoráveis ou contrárias, discutem alternativas, e é da concordância de todos, ou pelo menos da maior parte deles, que tal passo “seria muito bem”.

Resolução tomada, passam ao segundo ponto da discussão. O Ca-pitão quer a avaliação de seus homens sobre a captura de dois nativos, a serem enviados a Lisboa junto com a nau de mantimentos. Em troca fi cariam na terra dois dos degredados.

Os capitães conferenciam, e alguns deles, mais experimentados em prévias viagens de conquista, ponderam sobre o pouco proveito de tal ação. Os que eram capturados e levados à força não se prestam para dar informações já que, atemorizados, costumavam dizer sim a tudo que lhes perguntassem.

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No caso daqueles nativos, em especial, ignorantes da língua por-tuguesa, mais improvável ainda seria o ganho devido à pura e simples impossibilidade de entendimento.

Mais vantajoso seria deixar os degradados. Estes, sim, saberiam dar mais informações de terra às próximas frotas que chegassem. A decisão agrada a todos, incluindo recomendações para que não se represente nenhu-ma ameaça aos nativos, mantendo-os “mansos e apaziguados” como estão.

Já vencida a primeira barreira de resistência, portugueses e nativos “andavam misturados na praia”, a tentar entendimentos, a aproximarem--se e esquivarem-se, a trocar entre si o que dispunham: arcos e fl echas, tesouros de uns, por sombreiros e carapuças de linho, moedas de outros.

Pela leitura deste documento, percebe-se a preocupação do autor em descrever detalhadamente locais e acontecimentos e informar ao rei sobre tudo que acontecia. Seu olhar é atento, centrado naquele que seria o grande objetivo da viagem: descobrir de que forma aquelas terras po-deriam trazer lucro a Portugal. Porém, ao longo do texto, o encantamento do escritor com o lugar é evidente, Caminha revela seu deslumbramento diante das paisagens e das pessoas que são encontradas.

Caminha tem um estilo bastante peculiar de escrita, ao mesmo tempo em que é cerimonioso, por dirigir-se ao rei, também se permite momentos de humor e, ao fi nal, faz um pedido de ordem pessoal a D. Ma-nuel I. Portanto, estamos diante de um documento histórico, o qual, pelas suas condições de produção, não deixa de ser também um relato pessoal e subjetivo. Mesmo assim, tornou-se uma das obras literárias defi nidoras de nossa nacionalidade.

O escrivão Pero Vaz de Caminha discorre, em sua carta, acerca do ¨descobrimento¨ do território na época denominado pelos portugueses de Terra de Vera Cruz – hoje compreendido como Porto Seguro. Datada de primeiro de março de 1500, relata minuciosamente ao Rei e amigo (ROSA, 1999), Dom Manuel I, a situação encontrada nas novas terras, bem como a presença de selvagens no novo território e seus respectivos costumes.

Durante toda a extensão do relato, Caminha narra os cinquenta e quatro dias de viagem ao Rei de Portugal, frisando a fi dedignidade dos fatos ali contados. O cronista informa a Dom Manuel acerca do avistamento de novas terras no dia 22 de abril, da presença de habitantes locais, dos primeiros contatos com essa ̈ jente bestial e de pouco saber¨ (CAMINHA, 1500, p. 135), das práticas de escambo, da possível existência de metais

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preciosos e do falecimento de toda aquela gente em ¨seer toda christa㨠(CAMINHA, 1500, p. 140).

Os primeiros contatos com essa gente foram realizados por Nicolau Coelho. Os ̈ selvagens¨ eram ̈ pardos, todos nuus, sem nenhuũa cousa que lhes cobrise suas vergonhas¨ (CAMINHA, 1500, p. 128). Num primeiro momento os índios, que estavam portando arcos e fl echas, os mantiveram em posição de ataque. Contudo ao primeiro sinal de amizade por parte dos visitantes, os nativos baixaram as armas e começaram uma amigável troca de pertences.

A prática de escambo teve início paralelamente ao primeiro contato entre essas culturas tão incongruentes. Os caraíbas ofereceram sombreiros, carapuças e barretes e como retribuição receberam arcos, cocares, ramais – todos esses encaminhados a Dom Manuel, posteriormente.

Durante esses primeiros contatos, Caminha suspeitou da existência de metais preciosos nas terras recém descobertas. Os índios, quando viam objetos de ouro ou prata, logo começavam a apontar para o interior das terras. Segundo Caminha, isso poderia ser um sinal de que ali haveria tais riquezas. ¨E começou d açenar coma maão pera a terra, e despois pera o colar, com o que nos dezia que avia em terra ouro¨ (CAMINHA, 1500, p.129).

Referências Bibliográfi cas

CAMINHA, PERO VAZ DE. ¨Carta de Pero Vaz de Caminha¨ (1500) in: Jaime Cortesão. A expedição de Pedro Álvares Cabral e o Descobrimento do Bra-sil. Lisboa: IN/CM, 1994.

CASTRO, Silvio: A Carta de Pero Vaz de Caminha. O Descobrimento do Brasil. Porto Alegre : L&PM, 2009.

TUFANO, Douglas. A Carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo: Ed. Moderna, 1999.

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Governantes do CearáColônia, Império e República

O D *

ste texto apresenta-se como complemento ao trabalho de nossa lavra publicado na Revista do Instituto do Ceará, ano 2015, n.º 129, sob o título “Presidentes, Governadores e Interventores do Estado do Ceará”, e trata-se de sucinto registro de nomes e datas das administrações dos governantes do Ceará, do Período Colonial aos dias atuais.

Capitães-mores e Governadores da Capitania

A efetiva colonização do Ceará pelos portugueses só ocorreu a partir da segunda metade do século XVII, apesar das incursões lusas nas terras ditas do “Siará Grande”, no começo desse mesmo século.

Entre os séculos XVII e XVIII, o Ceará não ocupou um lugar de destaque no processo de colonização das terras do Brasil. Isso pode ser ex-plicado pelo fato de a Capitania do Ceará somente ter se tornado autônoma em 1799: entre 1621 e 1656, o Ceará esteve vinculado ao chamado Estado do Maranhão e do Grão-Pará, separado do Estado do Brasil; e, de 1656 a 1799, encontrou-se vinculado a Pernambuco, como Capitania subalterna.

Enquanto Capitania secundária, o Ceará foi governado por um administrador subordinado a Pernambuco, designado, por Carta Régia, para um período de três anos: o Capitão-mor governador.

Após a autonomia, em 1799, a Capitania do Ceará passou a ser administrada por Governadores, em substituição aos capitães-mores do período anterior.

A chegada da Corte portuguesa ao Brasil, em 1808, alterou as es-truturas administrativas da antiga Colônia, inclusive no que concerne ao âmbito das Capitanias. Nesse contexto de mudanças,

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“os capitães e governadores foram extintos em decorrência dos aconte-cimentos iniciados com a Revolução do Porto em 1820, quando, após a instituição das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, uma série de medidas foi tomada no sentido de limitar a autonomia adquirida pela Colônia a partir de 1808. Além do regresso do rei e a determinação de extinção de vários tribunais instalados no Brasil, as Cortes ordenaram que se constituíssem Juntas Provisórias de Governo e Governadores das Armas, subordinados diretamente a Portugal com o fi m de controlar o governo das Capitanias, que, naquele momento passaram a ser chamadas de Províncias. A primeira junta instituída no lugar do capitão e governador foi a de Pernambuco, em 1º de setembro de 1821. Um mês depois, o decreto de 1º de outubro determinou a constituição de juntas em todas as outras províncias.”1

Presidentes da Província

Em 28 de fevereiro de 1821, as Capitanias tornaram-se províncias, e assim permaneceram durante todo o Período Imperial brasileiro. Seus administradores – denominados “Presidentes de província”, cuja Lei de criação do cargo data de 20 de outubro de 1823 – eram nomeados direta-mente pelo Imperador do Brasil, de acordo com a Constituição do Império do Brasil de 1824, artigo 165.

O Presidente da província não tinha um mandato, podendo ser exonerado ou pedir afastamento, à revelia. Principalmente devido a essa possibilidade concreta de falta do dirigente diretamente subordinado ao Imperador e seu ministério, eram escolhidos, pela Assembleia Provincial, vice-presidentes de província, teoricamente aptos a exercer interinamente o cargo vago até que um novo presidente fosse nomeado por Carta Imperial e assumisse o cargo.

Presidentes, Interventores e Governadores do Estado

Às seis horas da noite, o jornal Diário da Tarde, editado no Rio de Janeiro, publicava a seguinte matéria: “A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, pois pode se considerar fi nda a Monarquia”.2 Estava, assim, proclamada a República e o fi m da Monar-quia no Brasil.1 CAMARGO, Angélica Ricci. Capitão e Governador de Capitania. Disponível em: < http://

linux.an.gov.br/mapa/?p=4861>. Acesso em: 30 ago. 2016.2 COSTA, Cruz. Pequena História da República. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

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125Governantes do Ceará: Colônia, Império e República

A primeira comunicação no Ceará sobre o fato foi trazida pelo fi o (telégrafo) para importante casa comercial, cujo chefe, em pessoa, a levara ao Presidente da Província, coronel Moraes Jardim, o qual, como medida acauteladora, convocou uma reunião em palácio para comunicar às autoridades o teor da notícia recebida.

No dia seguinte, 16 de novembro, às duas horas da tarde, teve lugar no Passeio Público um grande encontro reunindo defensores e simpati-zantes da causa republicana. No ato, foi designado o Sr. Manuel Bezerra de Albuquerque para levar ao presidente da Província, coronel Jerônimo Rodrigues de Morais Jardim a aclamação do novo governador do Estado do Ceará, o tenente coronel Luiz Antonio Ferraz, então comandante do 11º Batalhão de Infantaria.

Logo em seguida, o coronel Ferraz, em passeata, foi conduzido à sede do governo ao som festivo da banda de música do batalhão sob seu comando. Assim, instalou-se, sem qualquer reação, a República no Ceará.

Após a Proclamação da República, em 1889, seguindo as normativas das primeiras leis republicanas, os administradores dos Estados (antes Províncias) passaram a ser denominados Presidentes de Estado, até a Re-volução de 1930. O termo “governador” aparece na primeira Constituição Estadual do Ceará, de 16 de junho de 1891, substituído no ano seguinte na nova Constituição do Ceará, de 12 de julho de 1892, por “presidente”. As Constituições Estaduais posteriores, de 1921 e 1925, mantiveram a deno-minação “Presidente de Estado”. Somente com a Constituição Estadual de 1935, o termo Governador de Estado foi estabelecido defi nitivamente, vigorando até hoje.

Apesar da perspectiva constitucional e da designação das leis, as práticas políticas adiaram por um tempo a administração dos Estados pelos Governadores. Durante o primeiro Governo Vargas, da Revolução de 1930 ao fi m do Estado Novo, em 1945, o Governo central designou Interventores federais de sua confi ança, para administrar os Estados. Não houve, portanto, Governadores nesse período. Somente após 1945, com o processo de redemocratização, os Estados foram de fato administrados por Governadores eleitos pela população.

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CRONOLOGIA3

COLÔNIA

Capitães-mores do Ceará colonial

• Pero Coelho de Sousa (1603-1605)• Martim Soares Moreno (1611-1613)• Estevão de Campos Moreno (1613-1614)• Manuel Brito de Freire (1614-1617)• Domingos Lopes Lobo (1617-1619)• Domingos da Veiga Cabral (1631)

Capitães-mores do Ceará colonial – Ceará subordinado ao Maranhão e Grão-Pará

• Martins Soares Moreno (1619-1631)• Domingos da Veiga Cabral (1631)• Bartolomeu de Brito Freire (1637)• Estevão de Campos Moreno (1644)• Diogo Coelho de Albuquerque (1645-1654)• Álvaro de Azevedo Barreto (1654-1655)• Domingos de Sá Barbosa (1655-1659)

Capitães-mores do Ceará colonial – Ceará subordinado a Pernambuco

• Antônio Fernandes Mouxica (1659-1660)• Diogo Coelho de Albuquerque (1660-1663)• João de Mello de Gusmão (1663-1666)• Jorge Correia da Silva (1666-1673)• João Tavares de Almeida (1673-1677)

3 Alguns nomes e datas de governantes do Ceará apresentam variações em diferentes referên-cias. Optamos, nesta publicação, por adotar uma junção, com algumas alterações, das listas de governantes apresentadas no Anuário do Ceará (2016-2017),

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127Governantes do Ceará: Colônia, Império e República

• Manuel Pereira da Silva (1677-1678)• Sebastião de Sá (1678-1682)• Luiz da Fonseca (1678)• Bento Correia de Figueiredo (1678-1681)• Bento de Macedo de Farias (1681-1684)• Sebastião de Sá (1684-1687)• Tomás Cabral de Olival (1688-1693)• Fernão Carrilho (1693-1694)• Pedro Lelou (1694-1695)• Fernão Carrilho (1695-1696)• João de Freitas da Cunha (1696-1699)• Fernão Carrilho (1699)• Francisco Gil Ribeiro (1699-1702)• Jorge de Barros Leite (1702-1704)• João da Mota (1704-1705)• Gabriel da Silva Lago (1705-1708)• Governo interino da Câmara de Fortaleza (1708-1710)• Francisco Duarte de Vasconcelos (1710-1713)• Plácido de Azevedo Falcão (1713-1715)• Manuel da Fonseca Jaime (1715-1718)• Salvador Álvares da Silva (1718-1721)• Manuel Francês (1721-1727)• João Baptista Furtado (1727-1731)• Leonel de Abreu e Lima (1731-1735)• Domingos Simões Jordão (1735-1739)• Francisco Ximenes de Aragão (1739-1743)• João de Teive Barreto e Menezes (1743-1746)• Francisco de Miranda da Costa (1746-1748)• Pedro de Morais Magalhães (1748-1751)• Luís Quaresma Dourado (1751-1755)• Francisco Xavier de Miranda Henriques (1755-1759)• João Baltasar de Quevedo Homem de Magalhães (1759-1765)• Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca (1765-1781)• João Baptista de Azevedo Coutinho de Montaury (1782-1789)• Luiz da Motta Féo e Torres (1789-1799)

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Governadores do Ceará autônomo

• Bernardo Manuel de Vasconcelos (1799-1802)• João Carlos Augusto d’Oeynhausen e Gravenburg (1803-1807)• Luiz Barba Alardo de Menezes (1808-1812)• Manuel Inácio de Sampaio (1812-1820)• Francisco Alberto Rubim (1820-1821)• Governo provisório: Francisco Xavier Torres, Adriano José

Leal e Henrique José Leal (1821-1822)

IMPÉRIO

• Junta provisional: Ouvidor José Raimundo Passos de Porbém Barbosa, José de Castro e Silva e outros (1822-1823)

• Governo provisório: José Pereira Filgueiras (1823)• Junta governativa: Francisco Pinheiro Landim (1823-1824)

Presidentes da Província

• Pedro José da Costa Barros (1824)• Tristão Gonçalves de Alencar Araripe (1824)• José Felix de Azevedo e Sá (1824)• Pedro José da Costa Barros (1824-1825) • José Felix de Azevedo e Sá (1825-1826) • Antônio Salles Nunes Belfort (1826-1829) • Manuel Joaquim Pereira da Silva (1829-1830)• José de Castro e Silva (1830-1831)• José Mariano de Albuquerque Cavalcante (1831-1833) • Ignácio Correia de Vasconcelos (1833-1834) • José Martiniano de Alencar (1834-1837) • Manuel Felizardo de Sousa e Mello (1837-1839) • João Antônio de Miranda (1839-1840) • Francisco de Sousa Martins (1840) • José Martiniano de Alencar (1840- 1841) • José Joaquim Coelho (1841-1843) • José Maria da Silva Bitencourt (1843- 1844)• Ignácio Corrêa Vasconcelos (1844- 1847)• Casimiro José de Moraes Sarmento (1847-1848)• Fausto de Augusto de Aguiar (1848-1850)

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129Governantes do Ceará: Colônia, Império e República

• Ignácio Francisco Silveira da Motta (1850-1851)• Joaquim Marcos de Almeida Rego (1851-1853)• Joaquim Vilela de Castro Tavares (1853-1854)• Padre Vicente Pires da Mota (1854-1855)• Francisco Xavier Paes Barreto (1855-1857)• João Silveira de Sousa (1857-1859)• Antônio Marcelino Nunes Gonçalves (1859-1861)• Manuel Antônio Duarte de Azevedo (1861-1862)• José Bento da Cunha Figueiredo Júnior (1862-1864)• Lafayette Rodrigues Pereira (1864-1865)• Francisco Ignácio Marcondes Homem de Mello (1865-1866)• João de Sousa Melo e Alvim (1866-1867)• Pedro Leão Velloso (1867-1868)• Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque (1868-1869)• João Antônio de Araújo Freitas Henriques (1869-1870)• José Fernandes da Costa Pereira Júnior (1871)• Conselheiro José Antônio Calazans Rodrigues (1871-1872)• Comendador João Wilkens de Mattos (1872)• Francisco de Assis Oliveira Maciel (1872-1873)• Francisco Teixeira de Sá (1873-1874)• Heráclito de Alencastro Pereira da Graça (1874-1876)• Francisco de Farias Lemos (1876-1877)• Caetano Estelita Cavalcante Pessoa (1877)• João José Ferreira Aguiar (1877-1878)• José Júlio de Albuquerque Barros (1878-1880)• André Augusto de Pádua Fleury (1880-1881)• Pedro Leão Velloso (1881-1882)• Sancho de Barros Pimentel (1882)• Domingos Antônio Raiol (1882-1883)• Sátiro de Oliveira Dias (1883-1884)• Carlos Honório Benedito Ottoni (1884-1885)• Conselheiro Sinval Odorico de Moura (1885)• Miguel Calmon du Pin e Almeida (1885-1886)• Joaquim da Costa Barradas (1886)• Enéas de Araújo Torreão (1886-1888)• Antônio Caio da Silva Prado (1888-1889)• Henrique Francisco d’ Ávila (1889)• Jerônimo Rodrigues de Morais Jardim (1889)

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REPÚBLICA

• Luiz Antônio Ferraz. Coronel do Exército. 16 de novembro de 1889 a 09 de janeiro de 1891

• João Cordeiro. Comerciante. 1º Vice-Governador. Assumiu 18 de fevereiro a 10 de março, e 09 de janeiro de 1891.

• Benjamin Liberato Barroso. Capitão de Engenharia. 2º Vice--Governador. 22 de janeiro a 06 de abril de 1891

• Feliciano Antônio Benjamin. 1º Vice-Governador. Ten. Cel. Engenheiro. 06 de abril a 07 de maio de 1891.

• José Clarindo de Queiroz. General de Divisão. 29 de maio de 1891 a 17 de janeiro de 1892.

• José Freire Bizerril Fontenele. Tenente Coronel de Engenharia. Comandante da Guarnição Federal e da Escola Militar. Assumiu “manu-militari” pela deposição de Clarindo de Queiroz.

• Benjamin Liberato Barroso. Major de Engenharia. 1º Vice-Go-vernador. 18 de fevereiro a 12 de julho de 1892.

Presidentes do Estado

• Antonio Pinto Nogueira Acióli. Magistrado. 1º Vice-Presiden-te, eleito pelo 2º Congresso Constituinte. 12 de julho a 27 de agosto de 1892.

• José Freire Bizerril Fontenele. Coronel do Exército. 27 de agosto de 1892 a 12 de julho de 1896.

• Senador Antonio Pinto Nogueira Acióli. 12 de julho de 1896 a 12 de julho de 1900.

• Pedro Augusto Borges. Médico Militar. 12 de julho de 1900 a 12 de julho de 1904.

• Antonio Pinto Nogueira Acióli. 12 de julho de 1904 a 10 de março de 1908.

• José Pompeu Acióli. 1º Vice-Presidente. 07 de novembro de 1907 a 28 de fevereiro de 1908

• Tibúrcio Gonçalves de Paula. Agricultor e Criador. Vice-Pre-sidente. 10 de março a 12 de julho de 1908.

• Antonio Pinto Nogueira Acióli. 12 de julho de 1908 a 24 de janeiro de 1912, quando foi deposto.

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131Governantes do Ceará: Colônia, Império e República

• Belisário Cícero Alexandrino. Presidente da Assembleia. Fun-cionário Público. 18 de março a 17 de julho de 1910.

• Antonio Frederico de Carvalho Mota. Comerciante. 24 de janeiro a 12 de julho de 1912.

• Marcos Franco Rabelo. Tenente Coronel de Engenharia. 14 de julho de 1912 a 14 de março de 1914, quando deposto.

• Fernando Setembrino de Carvalho (Interventor). Coronel de Engenharia. 15 de março a 24 de julho de 1914.

• Benjamin Liberato Barroso. Coronel. 24 de junho de 1914 a 12 de julho de 1916.

• João Tomé de Sabóia e Silva. Engenheiro. 12 de julho de 1916 a 12 de julho de 1920

• Justiniano de Serpa. Bacharel em Direito. 12 de junho de1920 a 12 de julho de 1923.

• Ildefonso Albano. Comerciante. 12 de junho de 1923 a 12 de julho de 1924.

• José Moreira da Rocha. Desembargador. 12 de julho de 1924 a 19 de maio de 1928.

• Eduardo Henrique Girão. Bacharel em Direito. Presidente da Assembleia. 19 de maio a 12 de julho de 1928.

• José Carlos de Matos Peixoto. Bacharel em Direito. 12 de julho 1928 a 08 de outubro 1930, deposto pela Revolução de 1930.

Interventores federais

• Manuel do Nascimento Fernandes Távora. Médico. 02 de ou-tubro de 1930 a 13 de junho de 1931.

• João da Silva Leal. Major Engenheiro Militar. 13 de junho a 21 de setembro 1931.

• Roberto Carneiro de Mendonça. Militar. Capitão. 22 de setem-bro de 1931 a 15 de julho de 1934.

• Olívio Dorneles Câmara. Desembargador. Substituto eventual. 15 de novembro de 1932 a 23 de fevereiro de 1933 e 26 de junho a 28 de agosto e 12 a 17 de dezembro de 1933.

• George Cavalcante Siqueira. Substituição eventual. 16 de julho a 05 de setembro de 1934.

• Felipe Moreira Lima. Militar. Coronel. 05 de setembro de 1934 a 10 de maio de 1935.

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• Franklin Monteiro Gondim. Industrial. Substituição eventual. 10 a 26 de maio de 1935.

• Francisco de Menezes Pimentel. Bacharel em Direito. 26.11.1937 a 03.11.1945. Demitido por Getúlio Vargas em 27.10.1945.

• José Martins Rodrigues. Bacharel em Direito. Substituição eventual. 16.04 a 18.07.1938.

• Manuel Antônio de Andrade Furtado. Bacharel em Direito. Substituição eventual. 31 de outubro a 15 de dezembro de 1939, 31 de outubro a 07 de dezembro de 1942, 17 de janeiro a 17 de março de 1944, 08 de janeiro a 16 de fevereiro de 1945 e 14 de junho a 25 de julho de 1945.

• Benedito Augusto Carvalho dos Santos. Doutor em Direito. 03 de novembro de 1945 a 10 de janeiro de 1946. Candidato a Deputado Federal, afastou-se do governo de 24 de novembro a 06 de dezembro de 1945.

• Daniel Augusto Lopes. Desembargador. Presidente do Tribunal de Apelação. Substituição eventual. 24 de novembro a 06 de dezembro de 1945.

• Tomaz Pompeu de Souza Brasil Filho. Médico. 10 a 21 de janeiro de 1946.

• Acrísio Moreira da Rocha. Odontólogo. 21 de janeiro a 16 de fevereiro de 1946.

• Pedro Firmeza. Bacharel em Direito. 16 de fevereiro a 02 de outubro de 1946.

• Luiz Cavalcante Sampaio. Substituição eventual. 07 a 28 de abril de 1946.

• Carlos Livino de Carvalho. Desembargador. 22 de março a 04 de abril e 22 de junho a 01 de julho de 1946.

• José Machado Lopes. Militar. Coronel. 28 de outubro de 1946 a 28 de janeiro de 1947.

• Luiz Cavalcante Sucupira. Professor. Substituição eventual. 29 de janeiro a 02 de fevereiro de 1947.

• Feliciano Augusto de Ataíde. Desembargador. Tomou posse a 03 de fevereiro de 1947.

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133Governantes do Ceará: Colônia, Império e República

Governadores

• Faustino de Albuquerque e Sousa. Desembargador. 1947 a 1951.• Raul Barbosa. Bacharel em Direito. 1951 a 1954.• Stênio Gomes da Silva. Bacharel em Direito. 1954 a 1955.• Paulo Sarasate Ferreira Lopes. Jornalista. 1955 a 1958.• Flávio Portela Marcílio. Bacharel em Direito. 1958 a 1959.• José Parsifal Barroso. Bacharel em Direito. 1959 a 1963.• Virgílio de Moraes Fernandes Távora. Militar. 1963 a 1966.• Franklin Gondim Chaves. Proprietário Rural. 1966.• Plácido Aderaldo Castelo. Bacharel em Direito e Professor.

1966 a 1971.• César Cals de Oliveira Filho. Militar. Coronel de Engenharia.

1971 a 1975.• José Adauto Bezerra. Militar. 1975 a 1978.• José Waldemar de Alcântara e Silva. Médico. 1978 a 1979.• Virgílio de Moraes Fernandes Távora. 1979 a 1982.• Manuel de Castro Filho. Bacharel em Direito. 1982 a 1983.• Luiz de Gonzaga Fonseca Mota. Economista e Professor. 1983

a 1987.• Tasso Ribeiro Jereissati. Empresário. 1987 a 1991, 1995 a 1998

e 1999 a 2002.• Ciro Ferreira Gomes. Bacharel em Direito. 1991 a 1994.• Lúcio Gonçalo de Alcântara. Médico. 2003 a 2006.• Cid Ferreira Gomes. Engenheiro Civil. 2007 a 2010 e 2011 a

2014.• Camilo Sobreira Santana. Agrônomo. 2015 a 2018.• Isolda Cela, na ausência temporária do Governador Camilo

Santana. Primeira mulher a assumir o governo do Ceará, de 14 a 20 de agosto de 2015.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ANUÁRIO do Ceará. 2016-2017. Fortaleza: Grupo de Comunicação O Povo, 2016. p. 297-299.

CAMARGO, Angélica Ricci. Capitão e Governador de Capitania. Disponível em: < http://linux.an.gov.br/mapa/?p=4861>. Acesso em: 30 ago. 2016.

COSTA, Cruz. Pequena História da República. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

FARIAS, Airton de. História do Ceará. 7. ed. rev. e ampl. Fortaleza: Armazém da Cultura, 2015.

FILHO, Cruz. História do Ceará (resumo didático). 1931.GOMES, José Eudes Arrais Barroso. As milícias d’El Rey: tropas militares e

poder no Ceará setecentista. Dissertação de mestrado. Niterói: Universidade Federal Fluminense. 2009.

OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro (Orgs.). Leis Provinciais: Estado e cidadania (1835-1861). Compilação das Leis Provin-

ciais do Ceará – compreendendo os anos de 1835 a 1861 pelo Dr.José Liberato Barroso. Tomo III. Fortaleza: INESP, 2009. p. 747.

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Os 70 Anos do I Congresso Brasileiro de Médicos Católicos

M G C S *

m julho de 1946 e, portanto, há 70 anos, ocorreu, em Fortale-za-CE, o I Congresso Brasileiro de Médicos Católicos.

A realização do evento foi planejada, com todo o cuidado, pela Sociedade Médica São Lucas (SMSL), imbuída do propósito de trazer à cena, para discussão, temas de relevância para a Religião Católica e para a Medicina, no Brasil, e no Ceará, particularmente.

O Plano concebido detinha-se em dois momentos: um relativo à vida espiritual, vida científi ca e vida profi ssional; o outro, de natureza mais prática, reservava quatro dias do evento, para tratar de questões de interesse coletivo, defi nindo-se, assim, o tempo e o tema da abordagem: Dia da Razão e da Fé; Dia da Ação Católica; Dia da Família; e Dia das Associações Religiosas.

A programação traçada contemplava, na parte da manhã, visitas a Igrejas, a instituições de ação social e de benemerência, e a outros locais, integrados à vida cultural e religiosa da capital cearense; o expediente vespertino era reservado às discussões de grupos para tratar de temas específi cos e fechamento de relatórios, com a exclusiva participação dos médicos congressistas, em local previamente escolhido, no caso a Asso-ciação Comercial. À noite, aconteciam as conferências no Teatro José de Alencar, que se engalanava para acolher congressistas e o povo, em geral, já que as atividades eram abertas ao público.

A Fortaleza dos anos 1940, com o que tinha de mais representativo, era assim oferecida aos seus quase quinhentos médicos, muitos dos quais visitantes advindos de vários estados brasileiros, participantes do Primeiro Congresso Brasileiro de Médicos Católicos, que se entusiasmavam diante de tudo aquilo que viam, como se fossem cartões-postais.

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Àquela época, como ainda hoje acontece, a Sociedade Médica São Lucas congregava grande parte dos profi ssionais da medicina, com exercício no Ceará. Ocorre, porém, que nem só de médicos era formado o seu Concelho (grafado com C). D. Jaime de Barros Câmara, Cardeal--Arcebispo do Rio de Janeiro, era, por exemplo, o Presidente de Honra da Sociedade.

O evento atrás referenciado, patrocinado pela Sociedade Médica São Lucas e que ganhou também a adesão do episcopado do Brasil in-teiro, registrando o expressivo número de 489 profi ssionais da medicina que aderiram ao notável acontecimento. Vale salientar que do congresso em tela resultou a proposição de se criar o Instituto de Ensino Médico do Ceará, que impulsionou a instalação da Faculdade de Medicina do Ceará, posteriormente integrada à Universidade Federal do Ceará (UFC).

Na opinião do Ac. Janedson Baima Bezerra, ex-presidente da Socie-dade Médica São Lucas, foi marcante o sucesso desse congresso, crendo que ele foi o marco maior para a inscrição defi nitiva da Sociedade Médica São Lucas no calendário médico cearense. Várias autoridades políticas e eclesiásticas e numerosos médicos, de todas as partes do país, acorreram à Fortaleza. Pelas asas da NAB (Navegação Aérea Brasileira) e da Panair, foram recebidos colegas de todas as regiões do Brasil. Depois do Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco foram os estados que entraram com maior representação.

Ao fi nal do evento, segundo o Ac. Janedson Baima Bezerra, o Padre Monteiro da Cruz apelou para que o mesmo servisse como estímulo para outros congressos semelhantes. Lamentavelmente, isso não sucedeu na frequência desejada, porquanto aconteceram, apenas, o Segundo Congres-so, em São Paulo, em 1964, cuja conferência de abertura foi pronunciada pelo médico cearense Dr. Ocelo Pinheiro, e o Terceiro Congresso, no Rio de Janeiro, em 2002, com amplitude latino-americana.

Em 2009, um exemplar dos Anais desse Primeiro Congresso Bra-sileiro de Médicos Católicos (1946) foi encontrado em um “sebo” da capital, representando esse achado a descoberta de verdadeira relíquia para a Sociedade Médica São Lucas, e isso por conta do seu conteúdo, das fotografi as que ilustram suas páginas e dos documentos que reproduz. Daí, portanto, a grande importância de resgatar um momento histórico da vida dessa Sociedade, atualmente com 79 anos de existência.

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137Os 70 Anos do I Congresso Brasileiro de Médicos Católicos

A título de ilustração, vale a pena ser dito que constam desses Anais textos laudatórios do Monsenhor Otávio de Castro e do Prelado Monteiro da Cruz, além de farta colaboração de personalidades católicas, como: D. Jaime, cardeal Câmara e D. Antônio de Almeida Lustosa, e conceituados médicos, a exemplo de: Dr. Jurandir Picanço, Dr. Waldemar Alcântara, Prof. Dr. Celestino Bourroul e Dr. Hélio Silva.

Sobejas razões - médicas, históricas e religiosas, levaram à republi-cação dos Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Médicos Católicos (I CBMC), realizado em Fortaleza, no ano de 1946, evento seminal para a criação da Faculdade de Medicina da UFC, consoante atesta o jornal O Povo:

“Julho, 5 – Realiza-se em Fortaleza, o 1º Congresso de Médicos Ca-tólicos. Sabe-se que o espírito predominante é favorável à fundação de uma faculdade de medicina em Fortaleza. A idéia é boa, pois o Ceará já reclama que os seus jovens que desejam seguir a carreira daqui não mais precisem sair para Salvador ou Rio de Janeiro”. In: Costa, José Raimundo. Memória de um jornal. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1988. p.268.

Como já assinalado, em 28/02/2009, em busca de obras tratando da II Guerra Mundial, estivemos em uma reputada livraria da capital, que primava pela diversifi cação de seu acervo, o que incluía uma galeria de “sebo”, para a oferta de livros usados.

Na seção indicada pela vendedora, entre livros e coleções sobre a II Grande Guerra, deparamo-nos com um verdadeiro “estranho no ninho” ou, quiçá, um “bendito sois”, no caso um livro em capa dura, com o título “Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Médicos Católicos”.

Em que pese não ser, naquele instante, o nosso foco de interesse, por pura curiosidade, resolvemos sacar o mesmo da estante e, ao folheá-lo, veio-nos à tona a recordação do já distante ano de 1977, quando desig-nados pelo Prof. Geraldo Wilson da Silveira Gonçalves, então Diretor do Centro de Ciências da Saúde da UFC, coube-nos falar, em nome do corpo discente, nas comemorações alusivas ao XXIX Aniversário da fundação da Faculdade de Medicina do Ceará.

Para a feitura de nossa peça oratória, havíamos empreendido uma exaustiva pesquisa em jornais e em outros documentos da época, nela identifi cando o I Congresso Brasileiro de Médicos Católicos, como um

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notável acontecimento de Fortaleza, em julho de 1946, considerado o ponto de partida da criação de nossa primeira escola médica do Ceará.

O evento, aliás, era de tal modo signifi cativo, que, em 1988, o livro “Memória de um Jornal”, de José Raimundo Costa, na página 268, colocou-o como o destaque de julho de 1946, dentre as notícias veicula-das no Jornal O Povo, daquele mês, com a nota anteriormente transcrita, bem como a alusão que o jornalista e escritor J.C. de Alencar Araripe, que foi ilustre membro do Instituto do Ceará, faz em seu livro sobre a ação inovadora da Faculdade de Medicina do Ceará, atribuindo ao I CBMC a responsabilidade de ser a semente germinadora da instalação da novel escola médica cearense.

De pronto, estampou-se em nossa face o sequioso desejo de adquirir aquela raridade que tínhamos em mãos, condição essa que pode até ter minado qualquer pretensão nossa de regatear o preço cobrado, um tanto alto, é verdade, porquanto a proprietária da livraria já deveria ter ciência do valor histórico da edição.

De posse da obra, começamos a maturar a ideia de sua republica-ção, para que saísse do olvido público, uma vez que sua existência, bem assim o fato por ela reportado, constituíam vagas lembranças nas mentes de poucos médicos, com idade mais avançada, incorrendo em risco de serem, em breve, apagadas da memória pessoal e institucional cearenses, à medida em que esses longevos esculápios volvessem à glória do Pai e as novas coortes de iátricos persistissem ignorando tais registros da História médica do Ceará.

Fomos a campo para concretizar a republicação e, como modus ope-randi, tratamos logo de expor a proposta em diferentes entidades médicas locais, costurando possíveis formas de apoio, e anunciando a necessidade de elaborar projeto de captação de recursos, para fazer frente aos custos da empreitada, encontrando boas guarida e receptividade, conforme se aponta adiante.

Na reunião da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Re-gional Ceará (Sobrames-CE), de 13/04/09, o livro foi exibido e aberta a discussão quanto à sua reprodução, suscitando a inovação, partida de um amigo “comuna”, de que a publicação não deveria se cingir à mera replicação “fac-similar”, mas conter ensaios que revelassem o contexto social, político e religioso da época, recuando ao período do Estado Novo, focando às ações católicas no âmbito político, a exemplo da Liga

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Eleitoral Católica (LEC). Essa sugestão foi bem recebida pelos presentes e introjectada na proposição ainda em construção.

Uma vez que a obra ganhara um aditivo, na condição de editor, passamos a cogitar a sua expansão, para abrigar outros elementos com-plementares, como perfi l biográfi co dos expositores e dos membros da comissão organizadora do certame e até depoimentos colhidos entre seus participantes.

Estimando que com tais complementos o produto fi nal alcançaria as quatrocentas páginas, solicitamos orçamentos a uma editora local, considerando diferentes tiragens, para o serviço de composição digital e de impressão, de sorte a facilitar a apresentação da proposta junto às associações médicas, e, sobretudo, instrumentalizar o projeto de captação fi nanceira perante prováveis fi nanciadores.

Em 24/04/09, cientes de que a Fundação Waldemar Alcântara (FWA) mantém uma importante linha editorial, que republica obras de notável valor histórico, já de domínio público, esgotadas, e de acesso restrito aos poucos exemplares conservados no setor de obras raras de bibliotecas públicas e de institutos culturais, sondamos os mecanismos mais apropriados para se efetuar a captação. A FWA, na verdade, atua na edição e na distribuição das obras, que têm sido subvencionadas pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB), por meio de um projeto destinado a reimprimir duas dezenas de livros, previamente estabelecidos em contrato, não havendo possibilidade de inclusão de qualquer outro título.

Em 25/04/09, participamos da reunião da diretoria da Sociedade Médica São Lucas (SMSL), ocasião em que exibimos aos lucanos presentes o exemplar dos Anais e detalhamos os elementos-chave da propositura. Como promotora do aludido congresso, a reação daqueles que então con-duziam a SMSL foi de inolvidável regozijo, consubstanciado no fato de poder resgatar um momento memorável, da entidade evangelizadora de médicos, após decorridas mais de seis décadas, recuperando o nobre feito dos seus antigos dirigentes, sob o incentivo catalisador do Pe. Monteiro da Cruz.

Na semana seguinte, dia 29/04/09, foi a vez de expormos obra e proposta na Academia Cearense de Medicina (ACM), em cujo recinto encontravam-se pessoas que detinham maiores informações sobre o congresso e sabiam da importância que o mesmo tivera para criação da Faculdade de Medicina do Ceará. De fato, a ACM é um reduto natural de

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médicos, que exerceram a docência durante muitos anos na UFC, com destaque para o Prof. Geraldo Gonçalves, que, na qualidade de congressis-ta, prontifi cou-se a prestar um depoimento recontando a sua participação. Ressalte-se, outrossim, que diversos patronos e membros-fundadores desse sodalício tiveram participação ativa no I CBMC.

Dentre as opções disponíveis, a que tinha maior probabilidade de aprovação, para fi ns de fi nanciamento, era a do BNB, caso fosse apresen-tada por instituição idônea, preferencialmente, ao invés de um proponente do tipo pessoa física. Daí, obteve-se a franca anuência da ACM, cujo Presidente, Dr. Paulo Picanço, acordou em comandar o processo junto ao banco citado, pondo-nos então a redigir a exposição de motivos, com os devidos arrazoados, para formalizar a solicitação, tendo concluído o documento em 13/05/09.

No dia seguinte (14/05/09), ao ensejo da XIII Bienal da Academia Cearense de Medicina, em conversa com o diretor da Faculdade de Me-dicina da UFC, Prof. Luciano Moreira, dele recebemos o incentivo para pôr em marcha o projeto, que seria de grande interesse da própria univer-sidade e até aventou a possibilidade de cobertura de parte das despesas, no caso de insufi ciência de fundos captados de outras fontes, o que não viria a se materializar.

Em 8/06/2009, conforme o agendado, fomos recebidos pelo Sr. Paulo Mota, diretor da Assessoria de Comunicação do BNB, para, conjun-tamente, discutirmos as bases de um possível apoio institucional, sendo, nessa ocasião, apresentada a exposição de motivos com tal propósito. Dele recebemos instruções para que a submetêssemos, sob a forma de proposta de patrocínio em formulário disponível na home page do banco, podendo a mesma ser feita como pedido individual ou de uma entidade.

Considerando as exigências do patrocinador e as especifi cidades da proposta, fi cou claro que a via institucional seria a mais conveniente, recaindo na ACM a responsabilidade de ser a proponente, cuja solicitação somente poderia ser ofi cializada, após a prestação de contas da dotação anterior do BNB, ainda em vigência, o que veio a acontecer em agosto, com a juntada de documentos necessários.

A resposta do BNB deu-se em outubro, com posicionamento fa-vorável à proposição, mas restringindo o patrocínio a um terço do mon-tante pleiteado, em função dos seus compromissos fi nanceiros de 2009, advindos de outras parcerias sociais e culturais. À conta disso, foi-nos

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então sugerido buscar o apoio de outras entidades médicas, para fechar o custo da obra, e, desse modo, completar o que ainda faltava, em termos de cobertura total das despesas.

A concessão aludida, aquém do esperado, mas perfeitamente compreensível, não produziu esmorecimento, sendo interpretada como um reconhecimento tácito do valor social, cultural e histórico do projeto, levando-nos a pôr em andamento uma sequência de contatos pessoais com dirigentes de diferentes instituições, expondo a proposta e solicitando apoio formal à editoração do livro e tendo como contrapartida a promessa de entrega de cotas em exemplares aos doadores.

Esse trabalho de captação, mercê da relevância do produto em apre-ço, encontrou boa receptividade, resultando na aprovação de apoio fi nan-ceiro das seguintes instituições, listadas em ordem alfabética: Academia Cearense de Medicina, Associação Médica Cearense, Fundação Waldemar Alcântara, Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará, Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores (Nacional e Regional Ceará), Sociedade Médica São Lucas, Unicred e Unimed de Fortaleza.

Paralelamente ao exercício da captação de recursos, esforços adi-cionais convergiram para contatar e chegar até às pessoas que pudessem escrever as contribuições, traçando o perfi l dos conferencistas, dos mem-bros da comissão organizadora e, inclusive, de alguns dos participantes do I CBMC, que viriam se juntar aos ensaios contextuais previstos para fi gurar no apêndice da obra.

Como a maior parte dos expositores convidados era de fora do Ceará, contatos telefônicos e por e-mail foram feitos com colegas de vários estados da federação: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul etc. Os sites de busca da internet foram ferramentas bastante utilizadas para completar as informações requisitadas em diversas panegíricos reunidos neste livro.

A obra, em si, não se conteve na reprodução “fac-símile” dos Anais organizados pelo padre Monteiro da Cruz, SJ, tendo sido enriquecida por contribuições produzidas por diferentes autores, sob a forma de ensaios sobre o contexto social, político e religioso da época, e de biografi as, que resgatam a memória de parte dos organizadores, expositores e até de alguns dos participantes desse congresso.

O prefácio, escrito pelo Prof. Dr. Mons. Manfredo Ramos, Diretor da Faculdade Católica de Fortaleza e membro da Academia Cearense de

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Letras, conferiu densidade teológica e científi ca, bem como reconheceu o valor dessa publicação que mescla ciência e religião, de uma forma objetiva, coerente e humanizada.

As razões que levaram à republicação dos Anais do Primeiro Con-gresso Brasileiro de Médicos Católicos, realizado em Fortaleza, no ano de 1946, foram aqui explicitadas, devidamente, o mesmo ocorrendo com relação ao apoio recebido, para viabilização da iniciativa, donde se tornar claro a obrigatoriedade que se tem de resgatar a memória dos fatos, não deixando que eles se percam no tempo, à falta de quem reconheça o seu valor.

O lançamento do livro “I Congresso Brasileiro de Médicos Católi-cos: textos e contextos” aconteceu no Centro Cultural Oboé, em Fortaleza, em 8/04/2010, com renda integral destinada à edifi cação da Igreja de São Francisco de Assis, no bairro Jacarecanga, em Fortaleza. Na oportunidade, registraram-se as presenças de autoridades e de alguns convidados que, há quase 64 anos, tomaram parte do I CBMC, como: Dom Edmilson Cruz, um padre recém-ordenado atuando como observador eclesial, Dr. Geraldo Wilson da Silveira Gonçalves, participante efetivo do congresso, e Dr. Roberto Caminha Juaçaba, um oftalmologista que tocava piano na sua juventude, e Sras. Heloísa Ferreira Juaçaba, Margarida Maria Odori-co de Moraes e Ruth Maranhão, que fi zeram, à época, apresentações ao piano, em sessões solenes, de abertura e de encerramento, do congresso no Theatro José de Alencar.

Ao ensejo do XIII Conclave da FBAM, patrocinado pela Federa-ção Brasileira das Academias de Medicina e realizado no Memorial JK, em Brasília-DF, no período de 20 a 22 de maio de 2010, essa obra teve relançamento ofi cial em 21/05/2010, acompanhada de duas projeções em multimídia: uma com as fotografi as e outra com os desenhos a bico de pena que ilustravam o corpo do livro original.

Ainda ecoando tardiamente os efeitos do I CBMC, a SMSL e a ACM efetivaram o I Encontro Cearense de Médicos Católicos, em Forta-leza, no período de 9 a 11 de novembro de 2012, tendo por tema central: “Caminhos para o Diálogo entre a Ciência e a Fé”. A abertura do evento ocorreu no Auditório da Reitoria da UFC e suas atividades tiveram curso no Seminário da Prainha, sendo encerrado com missa presidida pelo arce-bispo metropolita Dom José Antônio Aparecido Tosi Marques. O Encontro, comemorativo dos 75 anos de fundação da SMSL, contou com a presença

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de quase duzentos participantes, cuja inscrição garantia o recebimento de um exemplar do livro “I Congresso Brasileiro de Médicos Católicos: textos e contextos”, ofertado pelo editor da obra.

O ano de 2016 assinala a passagem dos 70 anos da feitura do I CBMC, e, por meio deste ensaio, fi ca perpetuado o seu registro na Re-vista do Instituto do Ceará, da mesma maneira que comporta lembrar aos dirigentes da SMSL que, no ano vindouro, a entidade católica que o rea-lizou em 1946 completará 80 anos de criação, devendo, por conseguinte, sacramentar essa efeméride, de forma tão jubilar quanto possível.

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Uma Sobral e Vários Orianos: A Vida Empresarial de Oriano Mendes

C N V *

ste artigo tem por objetivo fazer uma reconstituição da vida empresarial de Oriano Mendes, que através do exercício de múltiplas atividades como homem de empresas, prestou inestimáveis serviços para o progresso não somente do Município de Sobral, mas de toda a Zona Centro-Norte do Ceará.

Com ele, pretendemos contribuir para que se estabeleça o justo reconhecimento de que Oriano Mendes, juntamente com Ernesto Deocle-ciano de Albuquerque, foram, da perspectiva econômica, os dois maiores beneméritos daquele município em toda a sua história.

* Mestre em Economia. Professor da Universidade Federal do Ceará.

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1. ORIANO MENDES

Antônio Oriano Mendes, fi lho do capitão Francisco Mendes Carnei-ro e Ana Maria de Araújo, nasceu a 27/07/1881, na “Fazenda São Bento”, de propriedade de seu pai e que se distanciava, à época, em três léguas da sede do Município de Sobral (MARTINS, 1989; ÁLBUM TERRA CEARENSE DE 1925).

Após concluir os estudos primários no colégio do Professor Vicente Arruda, instalou uma pequena escola, onde exerceu, por pouco tempo, o magistério. (ÁLBUM TERRA CEARENSE DE 1925).

Em 1899, inicia atividades como empregado do comércio em Sobral, mas achando ali o campo estreito para suas ambições, resolve se transferir, em 1900, para Recife, onde buscará concluir seus estudos e encontrar ofertas mais atraentes de emprego. (IBIDEM)

Na capital pernambucana, Oriano Mendes permanecerá por nove anos. Ali desempenhará as atividades de: caixeiro, guarda-livros (contador) e, por fi m, de comerciante. (IBIDEM)

Em 1909, depois de ter percorrido vários estados brasileiros, na qualidade de caixeiro-viajante, resolve fi xar residência em Sobral, onde instala um escritório comercial de comissões e representações. (IBIDEM)

Em Sobral, a 09/06/1911, casa-se com Emiliana Viriato Figueira de Saboya, fi lha de José Viriato Figueira de Saboya e Antônia Adélia Figueira de Saboya (ARAÚJO, 2015). Desse consórcio, não nasceriam descendentes.

Com a inauguração, em 12/02/1918, da “Fábrica Santa Emiliana”, onde, de início, benefi ciará arroz e algodão, torna-se industrial e também comerciante do setor de exportações. (IDEM).

Na “Santa Emiliana”, Oriano Mendes não somente benefi ciará arroz e algodão: também benefi ciará milho (1918) e mamona (1919), bem como fabricará óleo de mamona (1918), mosaicos e redes de dormir (1927), sabões (1929) e, por fi m, óleo de oiticica (1939). (CORREIO DA SEMANA, de 24/12/1943).

Ainda em 1918, presidiu a comissão organizadora da “1ª Exposição Regional Agro-Pecuária e Industrial de Sobral”, que teve, como ideali-zador, o agrônomo Leocádio Araújo e foi realizada no período de 28/09 a 03/10/1918, na Praça do Menino Deus (ARAÚJO, 2015). Entusiasta de exposições e feiras, Oriano Mendes, que viajava frequentemente a

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outros estados brasileiros para visitá-las - esteve, inclusive, na exposição comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, realizada, no Rio de Janeiro, em 1922 - emprestou todo o seu empenho, na concreti-zação desse tipo de evento em Sobral, até 1924, quando foi realizada a “2ª Exposição Regional Agro-Pecuária e Industrial” (ÁLBUM TERRA CEARENSE DE 1925).

Em 02/09/1920, foi instalada a “Associação Comercial de Sobral”, da qual Oriano Mendes foi um dos idealizadores e primeiro presidente. Essa entidade classista seria por ele presidida, de sua instalação até o início de 1930. (CORREIO DA SEMANA, de 18/09/1920; A ORDEM, de 08/02/1930.

Em 24/09/1924, foi constituída a “Companhia Industrial Luz e Força de Sobral”, sociedade anônima, com capital social de 300 contos de réis e sede na Rua do Oriente (Atual R. Oriano Mendes), que tinha como objetivo gerar e fornecer energia elétrica para iluminação pública e usos domés-ticos, bem como força motriz para pequenas fábricas (ARAÚJO, 2015).

Oriano Mendes, que foi um dos idealizadores dessa fi rma e um de seus maiores acionistas, tornou-se o presidente, de sua inauguração, em 14/02/1926 até o seu encerramento de atividades em abril de 1952. (A ORDEM, de 02/10/1924); GIRÃO & SOARES, 1997).

Em 1925, Oriano Mendes viveria a sua segunda experiência, de ser um dos fundadores de uma cooperativa. Nesse ano, em 19 de abril, era constituída a “Cooperativa Agrícola de Camocim”, com o objetivo de estimular a modernização da cultura da mandioca naquele município. (CORREIO DA SEMANA, de 09/05/1925).

Para a consecução desse objetivo, a cooperativa, que tinha Oriano Mendes como diretor-presidente, pretendia construir instalações, dotadas de mecanismos modernos, onde seriam produzidos, além da farinha para a exportação, outros produtos derivados da mandioca. (IBIDEM).

Ainda em 1925, Oriano Mendes se torna sócio do “Instituto Técnico e Industrial do Rio de Janeiro”. (ÁLBUM TERRA CEARENSE DE 1925).

Em 1929, juntamente com o engenheiro João Thomé de Saboya e Silva, Oriano Mendes estudou e discutiu o orçamento para instalação de fornecimento de água encanada na cidade de Sobral, projeto que não se concretizou. (MENDES, 1944).

Segundo o próprio Oriano Mendes, seu patrimônio atingira, em 30 de junho de 1932, o valor estimado de 1.200:000$000 (MENDES, 1944).

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Até a sua morte, em 28 de dezembro de 1955, em Sobral, Oriano Mendes, no desempenho de suas atividades como comerciante, produtor agrícola, pecuarista, industrial e líder classista, ainda prestaria relevantes serviços não somente ao Município de Sobral, mas à toda Região Cen-tro-Norte do Ceará.

2. O COMERCIANTE

Oriano Mendes daria início às suas atividades como comerciante em Recife. Ali, após exercer as funções de guarda-livros na fi rma “Amorim Fernandes & Cia.”, tornar-se-á sócio comanditário da fi rma que a sucedera. (ÁLBUM TERRA CEARENSE DE 1925).

Com seu retorno a Sobral, em 1909, instala um escritório comercial de comissões e representações. Em 1911, torna-se o representante da “Cia. Cervejaria Brahma” para todo o Norte do Ceará. (IBIDEM).

A partir de 1918, Oriano Mendes intensifi ca a sua atuação comercial ao fundar a “Fábrica Santa Emiliana”. Aos produtos já comercializados, juntar-se-ão os benefi ciados e fabricados nesse estabelecimento indus-trial, como: o arroz, o algodão e os derivados do milho e da mamona. O benefi ciamento de algodão para a exportação o transformará em comer-ciante-exportador. (IBIDEM).

Em propaganda no jornal “A LUCTA”, a 21/08/1918, Oriano Men-des anuncia ser o representante da “Bromberg & Cia.”, sediada na Bahia, e avisa que aqueles que desejarem obter informações sobre os produtos vendidos, por essa fi rma, devem se dirigir ao escritório dele em Camocim.

A “Bromberg & Cia.” possuía, segundo o anúncio, “Grandes depósi-tos de toda espécie de maquinismos para a lavoura e quaisquer indústrias: moendas de engenho para cana; máquinas para farinha; máquinas para descaroçar algodão; prensas para algodão e fi bras; arados e cultivadores; instrumentos agrários; locomóveis de grandes e pequenas forças; dínamos; moinhos para café; motores a óleo; máquinas a vapor; motores e material elétrico; material para tipografi a; prelos; tipos; adornos e vinhetas; má-quinas de cortar papel, etc.”

Na edição do “Correio da Semana”, de 03/05/1919, ele anuncia a venda de milho para mugunzá; do “Fubá Mimoso”, para pão, sopas e alimentação de crianças; e de massa de milho para cuscuz. (todos benefi -ciados ou fabricados na “Santa Emiliana”), bem como a de sementes de algodão herbáceo.

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Em anúncio no jornal “A Lucta”, de 14/05/1919, Oriano Mendes comunica que devido à falta de milho, está fabricando fubá de farinha de mandioca, que vende óleo de mamona (em barris ou em latas) e que compra mamona.

Dez dias depois (24/05/1919), anuncia, no “Correio da Semana”, que fabrica pães de massa de mandioca e que dessa massa também se produz pães, misturados com trigo, papas e bolos.

No periódico “A Lucta”, de 13/08/1919, consta propaganda na qual Oriano Mendes comunica que vende fi tas para máquinas de escrever, blocos comerciais, papel, envelopes e artigos de papelaria.

No “Correio da Semana”, de 25/10/1919, ele anuncia que vende pa-péis de diversas qualidades, blocos, envelopes, cartões e tinta para escrever.

Em 08/11/1919, no “Correio da Semana”, Oriano Mendes anuncia que “para melhor atender sua freguesia, abriu depósito, vizinho ao seu escritório (na T. do Campello), para vender, a retalho, todos os produtos de sua fábrica” e também que vende arroz benefi ciado, em sacas de 60kg; farelo para vacas leiteiras; e massa de milho.

“A Lucta”, de 07/01/1920, traz anúncio da “Cia. Cervejaria Brah-ma” (do Rio de Janeiro), no qual ela avisa ao público que suas cervejas “Bock-Ale” e “Fidalga” podem ser compradas no seu agente, em Sobral, Oriano Mendes.

Na edição de “A Lucta”, de 10/01/1920, ele avisa ao público que dispõe de amplo estoque de toucinho do Rio Grande do Sul.

Em propaganda da “Manteiga Cruzeiro” (de Minas Gerais), publi-cada, em 10/04/1920, no “Correio da Semana”, a fi rma “Herm Stoltz & Cia.” (do Rio de Janeiro) comunica que seu agente vendedor, em Sobral, é Oriano Mendes.

A “Cia. Cervejaria Brahma” anuncia, no “Correio da Semana”, de 11/10/1922, que os produtos de sua fabricação - cervejas (“Bock-Ale”, “Fidalga” e “Cristal”); refrigerantes, tonifi cantes, limonada (“Ginger-A-le”); “Berquins” (suco de maça); água tônica de quina; e “Grenadine” (suco de pêssego) – podem ser encontrados em seu agente Oriano Mendes.

Em 04/12/1920, em propaganda no “Correio da Semana”, A “Upton & Cia. Ltda.” (Importadores e Exportadores), com estabelecimentos em São Paulo e no Rio de Janeiro, torna público que Oriano Mendes é o seu agente na Zona Norte do Ceará.

Ali, essa fi rma anuncia que comercializa máquinas para benefi -ciar: algodão, café, milho, etc.; motores (a querosene, a vapor, elétricos);

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alambiques; engenhos; moinhos; imunizadores de sementes; turbinas para açúcar; tachos; máquinas para matar formigas; eixos para transmissão; bombas; obras de fundição e mecânica e máquinas agrícolas em geral, e que também é o agente dos engenhos “Chattanooga”.

Oriano Mendes anuncia que recebeu lápis para desenho em propa-ganda publicada, em 23 de dezembro de 1920, no “Correio da Semana”.

Em 01/03/1921, Oriano Mendes constituía a fi rma “Mendes, Sa-boya & Cia.”, com um capital social de 100 contos de réis e sede na Rua do Marinho (Atual Rua Cel. José Saboya), em Sobral. O objetivo será o de comercializar tecidos em grosso e terá Oriano Mendes, como sócio comanditário (com participação de 50 contos), e José Piragibe Mendes e Flávio Viriato de Saboya, como sócios solidários (com participações, cada um, de 25 contos). Essa fi rma teria sua falência decretada em 1928, sendo responsabilizados por ela, os sócios solidários, à época, José Piragibe Mendes e José Barbosa de Paula Pessoa. (A ORDEM, de 22/09/1928).

O “Correio da Semana”, de 03/09/1921, traz anúncio, no qual Oria-no Mendes comunica que vende alimentação para vacas leiteiras; milho moído (por 100 R$ Kg); feijão (por 100 R$/Kg); e “Phospho-Sal” – sal medicamentoso para o gado que aumenta o leite, engorda, evita diarréia nos bezerros e a febre aftosa nos animais.

Em 26/04/1924, “A Lucta” anuncia que os pneus e câmaras de ar da “United States Rubber” e da “Royal Ford Nobby & Usco” podem ser encontradas nos depósitos da “Garage Elite”, em Fortaleza, e em Oriano Mendes, em Sobral.

“Herm Stolz & Cia.” (do Rio de Janeiro) anuncia, no periódico “A Ordem”, em junho de 1924, que as manteigas “Genuína” e “Cruzeiro” são vendidas por Oriano Mendes (edição do dia 18), bem como os desca-roçadores de algodão, fabricados de madeira, marca “COROA” (edição do dia 25).

Segundo o “Cadastro das Firmas Comerciais da Junta Comercial do Estado do Ceará”, (de 1926), Oriano Mendes constitui, em 01/07/1924, juntamente com Francisco da Frota Neves, a fi rma “Francisco Neves & Cia.” Essa empresa terá como objetivo a comercialização de tecidos e a atuação no ramo de representações e comissões, dispondo, nessa data, de um capital social de 50 contos de réis, assim dividido: Oriano Mendes (sócio comanditário) – com 30 contos; e Francisco da Frota Neves (sócio solidário) – com 20 contos.

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151Uma Sobral e Vários Orianos

Em edição especial, comemorativa do aniversário da Independência do Brasil, em 07/09/1924, consta, no supracitado jornal, ampla propaganda da fi rma “Oriano Mendes”. Nela está registrado que essa empresa atua com comissões, representações, exportações e importações, bem como todos os nomes das fi rmas dos quais ela é representante: “Amorim Fernandes & Cia.”; “Álvares de Carvalho & Cia.”; “S. A. Pernambuco Power Factory”; “Andrade, Lopes & Cia.”; “Tigre & Cia.”, “Cia. Fábrica de Estopa”; “Ne-ves Campos & Cia.”; “José E. dos Reis &Cia.”; “Bensoussan, Canetti & Cia.”; “Leite Bastos & Cia.”; “Herm Stoltz & Cia.” (do Recife); “Hasen-clever & Cia.”; “Cia. Cervejaria Brahma”; “ Cia. Federal de Fundição”; “Silva, Mascarenhas & Cia”; “Herm Stoltz & Cia”. (do Rio de Janeiro); “Cia. Lithographica Ipiranga”; “Jacob Zlapolsky”; “Herm Stoltz & Cia.” (de São Paulo); “Rosa Borges”; “Jaraguá (de Alagoas); e “Miguel Leite Barbosa” (do Aracati).

Na referida propaganda, consta que a fi rma de Oriano Mendes, si-tuada na Rua Cel. José Saboya, é agente das máquinas de escrever “Ideal” (de fabricação Alemã) e cofres “Tigre”; que possui depósito permanente de estopa e sacos de estopa e que compra gêneros de exportação (algodão, farinha de mandioca, milho, cera de carnaúba, etc.)

Em 24/09/1924, Oriano Mendes vende “Sabonete Thermal” (de Poços de Caldas, Minas Gerais), segundo anúncio publicado no jornal “A Ordem” dessa data.

Em propaganda no periódico “A Ordem”, de 07/ 09/1926, ele avisa ao público que é representante da “Silva, Mascarenhas & Cia.”, únicos agentes vendedores do “Moinho Inglez”, que é o fabricante das massas alimentícias “Aimoré”.

Ainda em Setembro de 1926, no dia 10, ele comunica, no supracita-do jornal, que abriu um novo escritório, em Fortaleza, sob a fi rma “Oriano Mendes & Cia.”. Os seus sócios, nessa nova fi rma, serão José Carlos de Saboya e Manoel Ferreira da Ponte.

Em propaganda no “Álbum de Fortaleza” (de 1931), essa fi rma, localizada na Rua Barão do Rio Branco, anuncia que coloca, sem cobrar comissões, pelos melhores preços do mercado: algodão, cera, couros, peles, mamona, caroço de algodão e milho. Além disso, que também dispõe do mais completo serviço de informações sobre câmbio e mercados nacionais e estrangeiros para seus fregueses.

Essa fi rma será extinta, em 08/04/1932, por distrato entre os sócios (MENDES, 1944).

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Em 30/09/1926, “A Ordem” traz notícias da inauguração da fábrica de mosaicos de Oriano Mendes, que passa, a partir dessa data, a dispor de novos produtos, de sua própria fabricação, para comercializar.

Ainda em 1926, o supracitado periódico traz dois anúncios da fi r-ma de Oriano Mendes, com sede em Sobral: no primeiro, editado em 21 de outubro, é comunicado que ela vende “Mobiloils”, de fabricação da “Vacum Oil Company”, e, no segundo, que ela comercializa “Zoonosina” (medicamento para febre aftosa, mal triste e quarto inchado).

No “Correio da Semana”, de 09/02/1927, Oriano Mendes anuncia que vende correias francesas para motores e máquinas, bem como as farinhas de trigo “Globo”, “Olinda” e “Recife”, fabricadas pelo “Moinho Recife”, que pertence à fi rma “Grandes Moinhos do Brasil S. A.”.

Em propaganda no jornal “A Ordem”, de 03/03/1927, ele anuncia a venda de arroz pilado especial, benefi ciado na “Fábrica Santa Emiliana”, e de lança-perfumes.

Ainda em 1927, Oriano Mendes inaugura uma fábrica de redes e passa também a comercializar esse novo produto. (MENDES, 1944).

No “Correio da Semana”, de 22/06/1927, podem ser encontradas duas propagandas que registram o início da atuação de Oriano Mendes como revendedor de automóveis.

Na primeira, o próprio comerciante anuncia que é o agente auto-rizado da “Ford” em Sobral. Nela, comunica que, como concessionário, em Sobral, da “Silva, Mascarenhas & Cia.” (do Rio de Janeiro), podem ser encontradas, na sua fi rma “Cruzwaldina” (desinfetante) e “Zoonosina” (para combater as epizootias e as verminozes do gado vacum e de cavalos).

Já, na segunda, a “Agência Ford” anuncia a venda de carros “Lin-coln Fordson”, de tratores “Fractor”, de máquinas de lavoura e de pneus “Michelin”; que possui grande estoque de peças e acessórios “Ford” legíti-mos, bem como que Oriano Mendes é o seu agente autorizado em Sobral.

Em 28/09/1927, a “Pesqueira”, fabricante da goiabada marca “Rosa”, localizada em Pernambuco, avisa ao público que seus produtos podem ser encontrados, em Sobral, na seção de representações de seu agente vendedor, Oriano Mendes, na Travessa Cel. Viriato de Medeiros. (CORREIO DA SEMANA).

No supracitado jornal, em 29/02/1928, a “Agência Ford” anuncia os novos modelos de automóveis “Ford” e seus respectivos preços: “Double Poeton” – 6:900$000; “Coupé Standart” – 8:500$000; “Sedan”, de 2 portas – 8:500$000; e “Sedan”, de chassis pequenos – 5:900$000.

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“Sabão Sablock” (de óleo de coco), fabricados, em Parnaíba (Piauí), por “Narciso Machado & Cia.” e pianos “Dorner”, importados da Alema-nha pela “Herm Stoltz & Cia.” (do Recife), são vendidos, em Sobral, por Oriano Mendes, conforme anúncio no “Correio da Semana”, de 28/04/1928.

O “Correio da Semana” traz, ainda, no ano de 1928, duas propa-gandas da fi rma de Oriano Mendes: uma, na edição de 16/06, na qual é exposto que na “Agência Ford”, em Sobral, situada na Rua do Marinho, pode o público encontrar os pneus “Michelin”. Outra, publicada em 05 de julho, que comunica que os extintores “Werneck” (máquinas de folear usadas contra formigas), fabricados pela “Z. Werneck & Cia.”, são ven-didos por Oriano Mendes.

Em 1929, ele instala uma fábrica de sabão, em Sobral, em sociedade com Randal Pompeu. Mais uma vez, esse comerciante disporá de novos pro-dutos, de sua própria fabricação, para a comercialização. (MENDES, 1944).

É apresentado, no “Correio da Semana”, de 22/08/1931, anúncio na qual a “Agência Ford”, de Sobral, pertencente a Oriano Mendes, comuni-ca que “Vende caminhões tipo 1931”. Nessa mesma propaganda, aquele comerciante anuncia que bicicletas estrangeiras, vitrolas e suas agulhas e lâmpadas elétricas são comercializadas por ele.

No “Álbum de Fortaleza de 1931”, editado por Paulo Bezerra, a fi rma Oriano Mendes (escritório de Sobral) anuncia que atua como repre-sentante e comissionista, que é proprietária de armazém de tecidos em grosso, de fábrica de benefi ciar arroz e algodão, de fábrica de mosaicos e redes, que é agente direto da “Ford Motor Company”, que possui depósitos de peças e pneus e lubrifi cantes, bem como que é exportadora de chapéus de palha de carnaúba.

Em 30/04/1932, Oriano Mendes anuncia, no “Correio da Semana”, que compra coco babaçu e coco catolé.

A partir de 1932, ao se observar os jornais publicados em Sobral, constata-se que as propagandas da fi rma de Oriano Mendes vão se tor-nando, cada vez, mais escassas, até a sua morte, em 1955.

Certamente esse fato foi uma conseqüência de uma campanha de descrédito e perseguições movidas contra ele, após a sua saída da presi-dência do “Banco de Crédito Agrícola de Sobral” (em 1931), que levou a perda, por parte dele, de muitas das suas representações.

A afi rmação acima pode ser corroborada por um depoimento de Oriano Mendes, publicado no “Correio da Semana”, em 21/01/1944, relativo ao litígio que travou com os outros sócios daquele banco. Nele,

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desabafa: “De minhas diversas representações, muitas me foram arreba-tadas, como pude verifi car na última viagem que fi z, em 1935, a Pernam-buco, Rio de Janeiro e São Paulo. A Cervejaria Brahma, de quem sou representante há 33 anos (quase desde sua fundação) foi um problema. No entanto, permaneceu ela comigo.” Em 02/10/1935, Oriano Mendes anuncia, no “Correio da Semana”, que vende máquinas agrícolas.

Consta, no “Correio da Semana”, de 13/03/1936, propaganda na qual Oriano Mendes comunica que os “Biscoitos Aimorés”, fabricados pelo “Moinho Inglez” (do Rio de Janeiro), do qual é representante, podem ser encontrados, em Sobral, em H. Soares, Samuel Ponte, Alberto Chaves, no “Bar Cascatinha” e no “Bar Brahma”.

Em 23/08/1946, no “Correio da Semana”, Oriano Mendes anuncia que é representante da “Cia. Cervejaria Brahma” e que vende “engenhos, alambiques, tachos de cobre e de ferro, bombas para poços, extintores de formigas, máquinas para picar ferragem, moinhos para café e milho, sinos de bronze para igrejas, latas para leite e outros”. Essa seria a última propaganda feita por sua fi rma em jornais de Sobral.

3. O INDUSTRIAL 3.1 A FÁBRICA SANTA EMILIANA

Santa Emiliana em construçãoArquivo:José Alberto Dias Lopes

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Em 1917, Oriano Mendes, que mantinha, até então, apenas um es-critório de representações e comissões, “achando estreito o limite dessas atividades, resolveu estender seus negócios ao campo das indústrias e da exportação”. (ÁLBUM TERRA CEARENSE DE 1925).

Para concretizar aqueles objetivos, começou a construir, naquele ano, na Praça da Sé, uma fábrica de benefi ciamento de arroz e algodão, à qual denominou de “Santa Emiliana”, em homenagem à sua esposa e que foi inaugurada em 12 de fevereiro de 1918. (IBIDEM).

Segundo notícia publicada no “Correio da Semana”, de 26/10/1918, a “Fábrica Santa Emiliana” recebeu diploma na “1ª Exposição Regional Agro-Pecuária e Industrial de Sobral”, realizada no período de 28/09 a 03/10/1918.

Em 16/10/1918, o jornal “A Lucta” noticia que Oriano Mendes acaba de instalar, na “Santa Emiliana”, “modernos aparelhos para extração de óleos vegetais, os quais foram exitosos nas experiências realizadas na fabricação de óleo de mamona, para cuja produção, esse estabelecimento industrial dispõe de uma capacidade diária de 200 kg.”

Ainda em 1918, Oriano Mendes dirige um requerimento à “Co-missão de Privilégios” da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, solicitando que ela autorize o Presidente do Estado, João Thomé de Saboya e Silva, “a conceder-lhe, ou a empresa que organizar, isenção de todos os impostos estadoaes, pelo prazo de 10 anos, para explorar as indústrias de óleos vegetais, aproveitando as sementes oleaginosas do Estado, fábrica de sabão, redes de fi o de algodão, benefi ciamento de arroz e cereais em geral, para que já tem feito aquisição de alguns maquinismos mais modernos”. (A LUCTA, de 13/11/1918).

Em decreto, datado de 25 de outubro de 1918, a assembleia le-gislativa estadual autoriza o Presidente do Estado a conceder a Oriano Mendes, ou empresa que organizar, pelo prazo de 10 anos, a contar da data da instalação, os privilégios por ele solicitados. (IBIDEM).

Em propaganda, no periódico “A Lucta”, de 11/12/1918, Oriano Mendes anuncia que acabou de instalar, na “Santa Emiliana”, os aparelhos necessários ao benefi ciamento de milho e que estes aparelhos servem para preparar milho pilado e quebrado, para mugunzá; “Fubá Mimoso”, para mingaus; e massa de milho comum, para cuscuz e para a fabricação de pão, misturado com trigo.

No “A Lucta”, de 14/05/1919, consta anúncio no qual aquele in-dustrial comunica que, devido à falta de milho, está fabricando fubá de

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farinha de mandioca, a partir do qual se pode produzir pães, misturados com trigo, papas e bolos.

Em anúncios publicados no jornal “A Lucta”, respectivamente nas edições de 28/05/1919 e de 18/06/1919, a “Fábrica Santa Emiliana” comunica que benefi cia algodão e que vende massa de arroz.

Usina de Algodão Oriano MendesArquivo:José Alberto Dias Lopes

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Em 05/11/1919, “A Lucta” traz propaganda, na qual Oriano Mendes que instalou, na “Santa Emiliana”, uma moderna peneira a vapor para preparar massas de milho diversas (desde o xerém à massa mais fi na para sopas, mingaus, bolos, etc.), bem como que resolveu abrir, ao lado do seu escritório um depósito para a venda, a retalho, dos produtos fabricados naquele estabelecimento industrial.

Além de notícia referente à instalação de peneira a vapor na “Santa Emiliana”, o “Correio da Semana”, de 08/11/1919, torna público que aquela fábrica benefi cia arroz, que vende em sacas de 60 kg, e que ali também é fabricado farelo para vacas leiteiras.

Em 1925, Oriano Mendes dá início à instalação de uma fábrica de mosaicos, que somente será inaugurada em 1927 (MENDES, 1944). Essa fábrica, que se localizava no mesmo prédio da “Santa Emiliana”, passaria a sofrer a concorrência, a partir de 1928, da fábrica de mosaicos “Estrella”, instalada por Falb Rangel e vendida, ainda em 1928, a Paulo Aragão (CORREIO DA SEMANA, de 31/07/1928 e de 07/09/1929).

Ainda em 1925, Oriano Mendes se torna sócio do “Instituto Técnico e Industrial do Rio de Janeiro”. (ÁLBUM TERRA CEARENSE DE 1925).

Apesar de ter recebido privilégios do governo estadual, para fabricar redes de dormir, conforme o já referido decreto de 25/10/1918, Oriano Mendes somente passará a produzi-las em 1927. Nesse ano, instala uma seção na “Fábrica Santa Emiliana”, na qual passará a produzir redes de dormir. (MENDES, 1944).

Não foi possível apurar se as instalações dessas seções de produção de mosaicos e redes de dormir, em 1927, na “Santa Emiliana”, tiveram, como motivação, o início do fornecimento de energia elétrica, com a inauguração, em 14/02/1926, da “Cia. Industrial Luz e Força de Sobral”, que tinha como maior acionista Oriano Mendes (AMARAL, 1949).

A partir de dezembro de 1927, com a instalação, em Sobral, da “Fá-brica Regional”, pertencente a José Custódio de Azevedo, que se destinará a benefi ciar arroz, Oriano Mendes se defrontará com esse concorrente no benefi ciamento desse produto. No entanto, ele continuará a benefi ciar arroz até, pelo menos, 1931. ( A ORDEM, de 31/07/1928; ALBUM DE FORTALEZA DE 1931).

Já, no caso do benefi ciamento de milho, tudo indica, por sua vez, que, quando José Custódio de Azevedo, ao adquirir um moinho automá-tico, em 1929, e passar a benefi ciar esse produto, Oriano Mendes já não o benefi ciava. (ÁLBUM DE FORTALEZA DE 1931).

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Arquivo: Herbert Rocha

Em matéria escrita pelo próprio Oriano Mendes e publicada, em 24/12/1943, no “Correio da Semana”, ele afi rma que, em 1929, em socie-dade com Randal Pompeu, instalou uma fábrica de sabão nas instalações da “Santa Emiliana”. No entanto, não foi possível apurar até quando durou a participação dele nesse empreendimento, já que, em uma propaganda, publicada no “Correio da Semana”, de 17/01/1931, consta que a fábrica de sabão “Gaivota”, situada na Praça da Sé, é de propriedade exclusiva de Randal Pompeu, o que é confi rmado, em outro anúncio, no jornal “O Debate”, de 19 de fevereiro de 1932.

Em propaganda inserida no “Álbum de Fortaleza de 1931”, Oriano Mendes comunica que benefi cia algodão e arroz e que fabrica mosaicos e redes de dormir na “Fábrica Santa Emiliana”.

Na já citada matéria publicada no “Correio da Semana”, de 24/12/1943, Oriano Mendes afi rma também que instalou, em 1939, na “Santa Emiliana”, uma seção de produção de óleo de oiticica.

È oportuno lembrar que esse empreendimento, que foi o último realizado por Oriano Mendes no setor industrial, concretizou-se no pe-

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ríodo áureo de exportação de óleo de oiticica pelo Estado do Ceará, que se inicia com a invasão da Manchúria, pelos japoneses, em 1933, e fi nda com o encerramento da “Segunda Guerra Mundial”.

3.2 Cia. Industrial Luz e Força de Sobral

Em 24/11/1924, foi constituída a “Cia. Industrial Luz e Força de Sobral”, sociedade anônima, com um capital social de 300 contos de réis (150 contos realizados naquela data), sede na Rua do Oriente (Atual Rua Oriano Mendes) e o objetivo de gerar e fornecer energia elétrica para ilu-minação pública, usos domésticos, bem como força motriz para pequenas indústrias. (A ORDEM, de 02/10/1924).

Os seus incorporadores foram Oriano Mendes, Júlio Guimarães, Ernesto Marinho de Andrade, José Leôncio de Andrade, Irapuan Mendes, Alexandre Soares e Francisco Godofredo Rangel. (IBIDEM).

A parte mecânica e elétrica da usina geradora foi adquirida da “Gaz Motoren Fabrik Deutz”, empresa alemã, com sede em Colônia, tendo seu gerador principal, que era movido a gás, força de 150 H.P. (IBIDEM).

Em 05/07/1925, chega, a Sobral, o engenheiro mecânico Rodolfo de Müller, para instalar e pôr em funcionamento a usina geradora da “Cia. Industrial Luz e Força de Sobral”. (ARAÚJO, 2015).

A “Cia. Industrial Luz e Força de Sobral” fez, em 07/02/1926, a pri-meira experiência de iluminação e, em 14/02/1926, o serviço de iluminação elétrica é inaugurado pelo prefeito Antônio Mendes Carneiro. (IBIDEM).

Essa companhia forneceu energia elétrica a Sobral até Abril de 1952. A partir daí, a concessão do fornecimento foi transferida para a “Cia. de Fiação e Tecidos Ernesto Deocleciano”, que através da “Usina Dr. José Saboya”, que adquirira, em 1952, duas caldeiras “Babcock & Wilcox”, na Inglaterra, com capacidade de 10 toneladas de vapor/hora, cada uma, e duas turbinas, na Suécia, com capacidade de gerar, respectivamente, 960 Kwa e 1.500 Kwa, passou a prestar aquele tipo de serviço. (ANDRADE, 1992).

4. O PRODUTOR AGRÍCOLA E O PECUARISTA

Oriano Mendes prestou inestimáveis serviços para o progresso da agricultura e da pecuária não somente do Município de Sobral, mas de toda a Zona Centro-Norte do Ceará.

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Em 1918 e 1922, organizou a “Exposição Regional Agro-Pecuária e Industrial de Sobral”. Idealizador e presidente do “Banco de Crédito Agrí-cola de Sobral”, instalado em 1921. Sob os auspícios desse banco, criou, em 10/11/1923, a “Escola de Ensino Prático de Agricultura” e convidou o agrônomo Raymundo Pimentel Gomes para dirigi-la. (A ORDEM, de 31/12/1923).

Em 1923, foi ao Rio de Janeiro visitar “os melhores estabelecimen-tos da indústria agro-pecuária, com vistas a incentivar o progresso desse setor em Sobral”. (CORREIO DA SEMANA, de 20/01/1923).

É oportuno lembrar que Oriano Mendes foi o introdutor, em Sobral, do gado holandês. (MENDES, 1944).

Foi idealizador e presidente da “Cooperativa Agrícola de Camo-cim”, sociedade cooperativa de responsabilidade limitada, constituída, em 19/04/1925, com o objetivo de intensifi car a cultura da mandioca, na Zona Centro-Norte do Estado, por processos modernos de produção, bem como para montar, com mecanismos modernos, uma instalação para não somente fabricar farinha para exportação, mas também outros produtos, derivados da mandioca, de utilidade econômica (A ORDEM, de 09/05/1925).

Sua diretoria tinha, naquela data, a seguinte formação: Oriano Mendes (diretor-presidente); Fernando Cela (diretor-tesoureiro); e Antô-nio Lima Filho (diretor-comercial). O conselho fi scal era composto por: “Banco Auxiliar Agrícola de Camocim”, Oséas Pinto e Tobias Navarro (efetivos), bem como José Torquato Praxedes Pessoa, Ideltrudes Rocha e Antônio Carlos Viriato de Saboya (suplentes) (IBIDEM).

Não foi possível apurar se a supracitada cooperativa chegou a entrar em atividade.

Ainda em 1925, Oriano Mendes compareceu ao “2º Congresso de Crédito Popular e Agrícola”, realizado, no Rio de Janeiro, no período de 29/08 a 01/09/1925, com o objetivo de trazer informações mais atualizadas sobre essa modalidade de crédito para Sobral (CORREIO DA SEMANA, de 14/04/1926).

No “Correio da Semana”, de 23/01/1929, Oriano Mendes anuncia que o “Banco de Crédito Agrícola de Sobral” reservou 100 contos de réis para empréstimos aos agricultores, mediante hipotecas, e talvez “warrants”.

Através da sua fi rma, Oriano Mendes contribuiu para difusão de modernos maquinismos e implementos agrícolas, bem como de medica-mentos para animais, não somente no Município de Sobral, mas também em toda a Região Centro-Norte do Ceará.

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Em 1932, segundo opúsculo da própria autoria de Oriano Mendes, publicado em 1944 e no qual comenta o litígio que travara com os demais acionistas do “Banco de Crédito Agrícola de Sobral”, estão listadas as suas propriedades agrícolas:

Fazendas

1. “Santa Emiliana” (de criar gado) – localizada em Caracará (à época Aracatiaçu), com 1.500 braças de frente e 1.200 braças de fundo, onde cria 250 rezes (raças zebu, comuns e holandesas);

2. “Tobiba” (de criar e plantar) – localizada em Sobral, com 143 braças de frente e 1.200 de fundo (toda cercada de arame far-pado), onde possui 120 pés de oiticica e pequeno carnaubal e cria 50 rezes holandesas e zebu;

3. “Quatral-Soares e Olho D´Água dos Bois” (de criar e plan-tar) – localizada em Santana do Acaraú, com 5.354 braças de frente e 2.400 de fundo, onde possui carnaubal e cria 200 rezes comuns e zebu.

4. “Jaibara” – localizada em Sobral, com 200 braças de terra e 1.200 de fundo.

Sítios

1. “Sítios Genipapo” (Genipapo Velho, Várzea e Monte Alegre) – localizados na Serra da Meruoca (à época Município de Sobral), com 1.600 m de frente, onde possui instalações para produzir aguardente, rapadura e farinha de mandioca e que é dotado de pequeno açude, fruteiras e cafezal;

2. “São Francisco” – localizado na Serra da Meruoca, com 88 braças de frente, onde possui pequeno cafezal e fruteiras;

3. “Capim-Floresta” – localizado em Sobral, com 53 braças e meia de frente, dotado de casa e fruteiras;

4. “Lages” – localizado em Tianguá, com 92 braças, onde possui um cafezal pequeno;

5. Sítio em Viçosa, dotado de casa e pequeno cafezal.

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O Banqueiro

Durante o processo de preparação da “1ª Exposição Regional Agro-Pecuária e Industrial de Sobral”, em 1918, Oriano Mendes tomou consciência de que já era o momento de se criar uma instituição de crédito em Sobral. (ÁLBUM TERRA CEARENSE DE 1925).

O seu intuito inicial era o de que o “Banco do Brasil” abrisse uma agência em Sobral. Na consecução desse objetivo, ainda em 1918, viaja-ria ao Rio de Janeiro, onde tentaria convencer, autoridades do governo federal, dos benefícios que a presença daquela instituição bancária traria para toda a ampla área do território cearense, que vivia sob a infl uência econômica de Sobral (IBIDEM).

Oriano Mendes acabou vitorioso em seu intento, porém, apenas de forma parcial: o governo federal determinou, em 1918, a abertura de uma agência do “Banco do Brasil” no que seria chamada mais tarde, de “Zona Centro-Norte do Ceará”, todavia não em Sobral, mas em Camocim. A razão dessa escolha da localização se fundamentou em disposições estatutárias daquela instituição bancária federal (IBIDEM).

Somente em 24/11/1920, o projeto de Oriano Mendes começaria a se concretizar plenamente, já que, nessa data, ocorreu a primeira reunião de acionistas e foi aclamada a diretoria do “Banco de Crédito Agrícola de Sobral” (BCAS) (IBIDEM).

O “BCAS”, com sede na Travessa do Cel. Campello, nº 5 (atual Rua Cel. Ernesto Deocleciano), em Sobral, teria a forma jurídica de uma sociedade cooperativa de responsabilidade limitada, tipo Luzzati, e um capital social inicial de 150 contos de réis, dividido em 150 ações nominativas de 100$000, cada uma (CORREIO DA SEMANA, de 18/12/1920).

Teria como objetivos: Auxiliar o comércio, agricultura, pecuária e indústria, fazendo empréstimos mediante garantias idôneas; recebendo pequenos depósitos populares, a começar de 10$000; pagando juros, a exemplo das caixas econômicas; bem como recebendo dinheiro em depó-sitos: em conta corrente de movimento e a prazo fi xo (IBIDEM).

Também faria empréstimos a funcionários públicos, mediante ga-rantia e consignação de seus vencimentos, e empréstimos para a construção de casas, mediante juízo da diretoria (IBIDEM).

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A diretoria tinha a seguinte formação: José Piragibe Mendes (pre-sidente); Ernesto Marinho de Albuquerque Andrade (vice-presidente); Raymundo Monteiro da Frota (secretário) e Oriano Mendes (gerente) (IBIDEM).

O conselho fi scal era composto por: José Alarico da Frota, Antônio Mont’Alverne Filho, José Leôncio Gomes Andrade e Flávio Viriato de Saboya (membros efetivos). Os suplentes eram: Oswaldo Rangel, Antônio Mendes de Vasconcelos, Thomé da Frota, Edmundo Monte, Plínio de Castro Nunes, Fábio Saboya e Olavo Frota. (IBIDEM).

A assinatura da acta de constituição do “BCAS” se deu em ceri-mônia realizada em 08/01/1921 e presidida por José Piragibe Mendes, Oriano Mendes e Raymundo Monteiro da Frota, seus incorporadores. (A LUCTA, de 19/01/1920).

No “Relatório do ‘BCAS’ Apresentado à Assembléia Geral dos Acionistas em 12/03/1922”, é registrado “que em virtude de incom-patibilidade de que trata o artigo 38, capítulo 4, José Piragibe Mendes licenciou-se, passando o exercício [da presidência] ao vice-presidente Ernesto Marinho de Andrade, continuando na gerência Oriano Mendes, que se prontifi cou a gerir o Banco sem remuneração”. (CORREIO DA SEMANA, de 11/03/1922).

Os fatos expostos são confirmados, por nota publicada, em 22/04/1922, no “Correio da Semana”: “Geriu os negócios do ‘BCAS’, no ano social de 1921, o vice-presidente Ernesto Marinho de Andrade, por haver se licenciado José Piragibe Mendes, continuando na gerência Oriano Mendes, que já vinha exercendo esse cargo desde o ano anterior.”

Em 26/03/1922, em assembléia geral dos acionistas do “BCAS”, foi eleita a diretoria para o triênio 1922-1925, que teve a seguinte composição: Oriano Mendes (presidente); José Alarico da Frota (vice-presidente); e Raymundo Monteiro da Frota (gerente) (CORREIO DA SEMANA, de 13/05/1922).

Para o conselho fi scal foram indicados: Ernesto Marinho de An-drade, Antônio Mont´Alverne Filho, Antônio Irapuan Mendes (membros efetivos), F. Godofredo Rangel, Oswaldo Rangel Parente e Antônio Men-des de Vasconcelos (suplentes) (IBIDEM).

Em 13/05/1922, o “BCAS” tinha um capital subscrito de 300 contos de réis e fazia pagamento por telegrama e cartas, em qualquer parte do país, mediante as seguintes condições:

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- De 8:000$000 para cima, juros de ½ %;- Menos de 8:000$000, comissão mínima de 4$000. Naquela data, recebia dinheiro, pagando as taxas de:- 3% em prazo fi xo de 2 anos;-9% com prazo fi xo de 3 anos.

Tinha correspondentes em Pernambuco (“Banco do Povo”), For-taleza (“London And Brazilian Bank” e “Borges & Monte”) e Camocim (“Banco do Brasil”), bem como nas seguintes localidades: Granja, Viço-sa, Ubajara, Crateús, Ipu, Ipueiras, Piripiri (Piauí), Acaraú, Santana do Acaraú, Cariré, Massapê, São Benedito, Tamboril, Campo Grande (atual Guaraciaba do Norte), Nova Russas, Pinheiro, Santa Cruz (atual Reriu-taba), Riachão (atual Uruoca), Poty, Santa Quitéria, Pitombeiras (atual Senador Sá), Ibiapina, Corta Angica (atual Martinópole), Ibiapaba, etc.

Oferecia, na supracitada data, as seguintes condições de cobrança:

- Comissões de cobrança de títulos sobre a Praça de Sobral, ¼%;- Comissões de cobrança de títulos sobre qualquer outra praça, ½%;- Comissões para qualquer reforma de títulos à cobrança a ser pago

pelo sacado, ¼%.

Sua diretoria, naquela ocasião, era composta por: Oriano Mendes (presidente); José Alarico da Frota (sócio da “Frotas & Cia.”); e Raymundo Medeiros da Frota (sócio da “R. Frotas & Cia.”). Os membros do conse-lho fi scal eram: Ernesto Marinho de Andrade (sócio da “Ernesto, Leite & Cia.”); Antônio Mont’Alverne Filho (sócio da “Eurypedes, Alverne & Cia.”); e Antônio Irapuan Mendes (sócio da “A. Mendes Rangel & Cia.”) (membros efetivos). Os suplentes eram: F. Godofredo Rangel (sócio da “Godofredo Rangel & Cia.”); Oswaldo Rangel Parente (sócio da “Oswaldo Rangel & Irmão), e Antônio Mendes de Vasconcelos (Todas as informa-ções foram encontradas no “Correio da Semana”, edição de 13/05/1922.

É registrado no “Relatório do ‘BCAS’ Apresentado “a Assembléia Geral dos Acionistas em 31/12/1923”, que sob os auspícios daquele banco foi criada, em 10/11/1923, a “Escola de Ensino Prático de Agricultura”, cuja direção foi confi ada ao agrônomo Raymundo Pimentel Gomes. (CORREIO DA SEMANA, de 29/02/1924).

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O desempenho de atividades bancárias, por parte de Oriano Mendes, não se restringiu às que desenvolveu junto ao “BCAS”. Através de sua fi rma comercial, que atuava com comissões, representações, importações e exportações, ele realizava cobranças de saques, sendo, em 1924, agente dos seguintes bancos: “Banco Nacional Ultramarino”, “Banco Auxiliar do Comércio” e “Banco do Recife”, todos com sede na capital Pernambucana. (CORREIO DA SEMANA, de 07/09/1924).

Em 28/03/1925, o “Correio da Semana” divulga o resultado da eleição para a diretoria do ‘BCAS’. Oriano foi reeleito presidente, Antônio Irapuan Mendes foi eleito vice-presidente e Joaquim Aragão, gerente. O conselho fi scal passou a ser composto por: Francisco Mendonça, Adol-pho Silva Soares, F. Godofredo Rangel (efetivos), Francisco Porphirio da Ponte, Júlio Gonçalves Guimarães e José Leôncio Gomes Andrade (suplentes).

No quadro abaixo são apresentados os resultados, obtidos pelo “BCAS”, relativos aos lucros e dividendos, no período de 1921 a 1925:

LUCROS E DIVIDENDOS DO “BCAS” (1921-25)

LUCROS DIVIDENDOS

1921 30:847$760 6:861$060

1922 48:474$036 14:877$730

1923 62:489$363 22:895$400

1924 107:439$170 31:609$000

1925 109:076$126 35:365$040

TOTAL 358:226$455 112:608$840

FONTE: “A ORDEM”, de 31/12/1925

Em propaganda no jornal “A Ordem”, de 07/09/1926, o “BCAS” anuncia que dispõe de um capital subscrito de 378:000$000, de um capi-tal realizado de 343:310$000 e de um fundo de reserva de 50:080$000, bem como que realiza cobranças, saques e outras operações bancárias, empréstimos sob garantia, de preferência a agricultores. Também torna público que aceita dinheiro em depósito, com retiradas livres e a prazo fi xo, abonando elevadas taxas de juros.

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Em 21/04/1927, em anúncio no aludido jornal, a instituição bancá-ria comunica que dispõe de capital subscrito de 381:000$000, de capital realizado de 353:460$000 e de fundo de reserva de 59:894$230.

Ali torna ela público que abona, por tipo de depósito, as seguintes taxas: com retirada livre (até 5 contos), 6% a.a.; com movimento, 4% a.a.; a prazo fi xo de 1 ano, 7% a.a.; idem de 2 anos; 8% a.a.; e idem de 3 anos, 9% a.a.

Comunica que realiza as seguintes modalidades de empréstimos: pe-quenos empréstimos a agricultores, mediante letras endossadas e avalizadas por fi rmas idôneas; em conta-corrente, garantidos por títulos à cobrança.

E, por fi m, anuncia ali que desconta títulos sobre as principais praças do país, bem como que realiza transferências de fundos para Fortaleza e todas as praças do Norte brasileiro, e por intermédio do “Banco do Brasil”, para as demais praças do país, e faz cobranças em toda a Zona Norte e Zona Sul do Ceará.

Em 12/01/1931, o “BCAS” dispõe de um capital subscrito de 490:500$000 e um capital atualizado de 451:840$000, bem como faz todas as operações bancárias (exceto as de câmbio e as para o exterior) e depósitos (em retiradas livres e a prazo fi xo) e cobranças (CORREIO DA SEMANA, da supracitada data).

Oriano Mendes presidiu o “BCAS” até 18/03/1931, quando, por desavenças com outros acionistas, relativas a uma cobrança de um débito dele para com o banco, que ele afi rmava ser menor que o cobrado, resolve não somente deixar a presidência mas também se afastar daquela instituição de crédito (MENDES, 1944).

A presidência do “BCAS” passará a ser exercida por José Alarico da Frota, que já ocupava o cargo de vice-presidente (IBIDEM).

Em 31/12/1931, o “BCAS” dispunha de um capital subscrito de 490:500$000, de um capital realizado de 456:660$000, de um fundo de reserva de 111:830$000. Nessa data, os seus ativos e passivos atingiram 2.838:334$141 e sua demonstração de “Lucros e Perdas” a débitos e créditos de 115:848$934 (CORREIO DA SEMANA, de 13/02/1932).

Quando o “BCAS” encerrou atividades, em 10/09/1932, a sua diretoria era formada por: José Alarico da Frota (presidente); Eurypedes Ferreira Gomes (vice-presidente); e Ildefonso de Holanda Cavalcante (gerente). Os componentes do conselho fi scal eram: Antônio Irapuan Men-des, Ernesto Marinho de Andrade e Adolpho Soares (MENDES, 1944).

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167Uma Sobral e Vários Orianos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ÁLBUM DE FORTALEZA DE 1931.ÁLBUM TERRA CEARENSE DE 1925.A LUCTA, COLEÇÃO DE 1914 A 1924.AMARAL, A. Para a História de Sobral. Rio de Janeiro, 1949 (DATILOGRA-

FADO).ANDRADE, P.M. de. Sobral: Humor e Prosa. Fortaleza: S.E., 1992.A ORDEM, COLEÇÃO DE 1916 A 1931.ARAÚJO, Pe. F.S. Cronologia Sobralense. Sobral: Edições Ecoa, 2015.CADASTRO DAS FIRMAS COMERCIAIS DA JUNTA COMERCIAL DO

ESTADO DO CEARÁ (1926).CORREIO DA SEMANA, COLEÇÃO DE 1918 A 1948.GIRÃO, G.G.S.M. E SOARES, N;M; Sobral-História e Vida. Sobral: ED. UVA,

1997.MARTINS. Mons. V. Homens e Vultos de Sobral. Fortaleza: UFC/STYLUS, 1989.MENDES, O. Explicações Necessárias - Banco Agrícola – CIA. de Luz. Fortaleza:

Gráfi ca Pouchain, 1944.O DEBATE, DE 19/02/1932.O JORNAL, DE 23/06/1933.

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As Moradas Eternas do Brigadeiro Sampaio

J L V C O *

urante os estudos e pesquisas levadas a cabo a partir do ano de 2008, sobre a vida e os feitos do cearense Antônio de Sampaio, con-sagrado na Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, constatou-se que o Brigadeiro Sampaio após sua morte, teve os seus restos mortais submetidos a vários traslados.

O intuito deste artigo é de apresentar, de forma sucinta, os sucessivos traslados dos restos mortais do Brigadeiro Antônio de Sampaio, desde o seu falecimento a bordo do vapor-hospital “Eponina”, em 6 de julho de 1866, nas cercanias de Buenos Aires, até o seu repouso defi nitivo no seu Panteão, na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, sede do Comando da 10ª Região Militar, em Fortaleza, Ceará em 24 de maio de 1996.

* Gen.Div. Ex-Comandante da 10ª RM

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Figura 1 - Cemitério da Recoleta

Sobre a sua morte, o jornal La Nación assim noticiou o infausto acontecimento:

“Diremos de passagem que esse chefe é um dos homens mais valentes que se podem encontrar, foi seu desmedido valor que de soldado o levou a general, sendo hoje ainda moço.

Na batalha de 24 de maio, o Brigadeiro Sampaio com sua brilhante divisão, chamada Encouraçada, por compor-se das melhores tropas brasileiras, foi a que aguentou o inimigo, e no meio de um fogo infernal viu-se o Brigadeiro Sampaio a cavalo dirigindo ousadamente suas manobras.

Foi ferido, e momentos depois morto o seu cavalo. Então a pé, continuou, com sua espada em punho, a dirigir as suas forças. Vendo cair ferido o comandante do heróico 4o Batalhão de Voluntários, vários ofi ciais e a metade dos soldados dessa unidade, compreendendo que esse batalhão era a chave desse círculo de baionetas, colocou-se à frente do mesmo com o que, por tal forma o animou, fazendo que o 4o Corpo se fi zesse dizimar pelo inimigo, mas sempre mantendo a sua posição.

Foi nessa ocasião que o General Sampaio, sendo nova-mente ferido, caiu nos braços de seus soldados e foi conduzido exangue ao seu quartel-general”.

(DUARTE, Paulo Queiroz.Sampaio, Bibliex, 2010, Pag 280)

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171As Moradas Eternas do Brigadeiro Sampaio

Cemitério Municipal de Buenos Aires (atual Cemitério da Recoleta)

O Brigadeiro Antônio de Sampaio, ferido por três vezes na cruenta batalha de Tuiuti, em 24 de maio de 1866, faleceu nas cercanias da capital portenha, recebendo todas as atenções por parte das autoridades argentinas e do corpo médico brasileiro que o acompanhou nos últimos momentos em vida, a bordo do vapor-hospital “Eponina”.

Após as preparações do corpo, o enterro foi realizado no Cemitério Municipal de Buenos Aires, atual Cemitério da Recoleta (Figura 1), tendo o cortejo saído do local onde se encontrava, às 14 horas, com a presença de ilustres personalidades e do povo argentino. Ao baixar o túmulo, em 8 de julho de 1866, o bravo Brigadeiro foi exaltado pelo Ministro e Se-cretário de Estado dos Negócios Estrangeiros da Argentina, Dom Rufi no de Elizaide. O referido sepultamento foi registrado na Recoleta, no livro de 1866, folha 355, onde consta ter sido enterrado “quem era em vida o Brigadeiro Antônio de Sampaio, de 55 anos de idade, na Seção Sete”. (Figuras 2, 3 e 4)

Figura 2 - Livro registro do mês de julho de 1866 Figura 3- Seção 7 - Recoleta

Figura 4 - Registro de sepultamento do Brigadeiro Sampaio (última linha)

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Igreja do Bom Jesus da Coluna do Asilo dos Inválidos da Pátria

Os restos mortais de Sampaio permaneceram em solo argentino por mais de três anos, quando foi decidida pelo Governo Brasileiro, a sua repatriação para a cidade do Rio de Janeiro, sendo fi xada a data de 20 de dezembro de 1869, para a trasladação dos seus despojos para o Asilo dos Inválidos da Pátria (Figura 5), onde foi sepultado na cripta da Igreja de Bom Jesus da Coluna (Figura 6), situada na Ilha do Bom Jesus, sede do citado Asilo. No féretro, seus restos mortais foram recebidos pelo próprio Imperador Dom Pedro II.

Figura 5- Asilo dos Inválidos da Pátria

Figura 6 - Igreja do Bom Jesus da Coluna

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173As Moradas Eternas do Brigadeiro Sampaio

Decidido o sepultamento dos restos mortais do Briga-deiro Antônio de Sampaio no Asilo dos Inválidos da Pátria, na Ilha do Bom Jesus, no interior da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, o Ministro da Guerra, em Nota de 16 de dezembro de 1869, fi xou as solenidades que deviam ser tributadas ao Herói de Tuiuiti.

Dizia o documento:“Programa do saimento e depósito do cadáver do Bri-

gadeiro Antônio de Sampaio na Capela do Asilo dos Inválidos na Ilha do Bom Jesus.

O saimento terá lugar, conduzindo-se o cadáver por mar, desde a Capela do Arsenal de Guerra, onde se acha recolhido até à do Asilo dos Inválidos, onde tem de ser depositado.

No dia e hora que o Ministro da Guerra marcará para esta solenidade fúnebre, uma Brigada da Guarda Nacional, composta de dois batalhões de infantaria e um de artilharia, achar-se-à formada nas imediações do Arsenal de Guerra, estendendo-se os dois batalhões de infantaria pelo Largo do Moura e rua D. Manoel, e o de artilharia pela praia de Santa Luzia, a fi m de darem as descargas e salvas correspondentes ao posto de Marechal; em cujo exercício se achava o falecido Brigadeiro na ocasião em que recebeu os ferimentos, de que lhe resultaram a morte...”

(DUARTE, Paulo Queiroz.Sampaio, Bibliex, 2010, Pag 283)

Igreja Sé de São José (atual Catedral de Fortaleza)

Entretanto, seus restos mortais não permaneceriam muito tempo nas terras cariocas. O povo cearense passou a reclamar dos dirigentes da província, pelos sagrados despojos, os quais em 1871, um ano após o término da Guerra da Tríplice Aliança, adotaram medidas ofi ciais no sentido de construir um mausoléu para receber os restos mortais de seu herói, admirado pelo povo cearense.

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Em entendimentos mantidos com o Governo Imperial, em 16 de novembro de 1871, foi efetuada a retirada dos seus restos mortais da cripta da Igreja do Bom Jesus da Coluna no Asilo dos Inválidos da Pátria, no Rio de Janeiro, e em um ataúde, foram transportados no paquete Cruzeiro do Sul para Fortaleza, onde estava sendo concluído o mausoléu no cemitério público da capital cearense, mais tarde denominado de Cemitério São João Batista.

No dia marcado para a viagem, o ataúde do Brigadeiro foi retirado do Asilo dos Inválidos às seis horas da manhã, de 16 de novembro daquele ano de 1871, assistindo ao ato, a convite do Ministro da Guerra de então, o Visconde de Jagua-ribe, presentes ao ato o Visconde do Rio Branco, presidente do Conselho e o Ministro da Marinha, Conselheiro Duarte de Azevedo, o General Bartolomeu Mitre, Conselheiro Alencar Araripe, Barão Homem de Melo e outras autoridades.

O corpo seguiu a bordo do paquete Cruzeiro do Sul, em câmara ardente, aos cuidados do Tenente Felipe de Araújo Sampaio, do 14o Batalhão de Infantaria.

Esse vapor chegou a Fortaleza na manhã de 25 do dito mês de novembro, mas o ataúde, por causa da maré, só pôde ser desem¬barcado à tarde, procedendo-se as honras fúnebres durante o trajeto, desde o porto até a catedral onde foi deposi-tado; na ocasião formaram o 14o de Infantaria e a Companhia de Aprendizes de Marinheiro, salvando a Fortaleza.

Pegaram nas alças do caixão o Presidente da Província, Con¬selheiro Barão de Taquari, o Presidente da Assembléia provincial Barão de Aquiraz, o Comandante da Guarda Nacio-nal Comendador João Antônio Machado, o Vice-presidente da Província, Comendador Joaquim da Cunha Freire, o Barão de Ibiapaba, o Comendador Dr. José Lourenço de Castro e Silva, Pre-sidente da Comissão de Recepção e o Reverendo Padre Antônio Pereira de Alencar, membro da mesma comissão.

(DUARTE, Paulo Queiroz.Sampaio, Bibliex, 2010, Pag 287)

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O vapor chegou à Fortaleza no dia 25 de novembro de 1871, tendo sido o ataúde depositado na cripta da Igreja Matriz de São José (antiga Sé) (Figura 7), atual Catedral de Fortaleza (Figura 8).

O mausoléu no Cemitério São João Batista foi inaugurado em 25 de outubro de 1873.

Figura 7 - Matriz de São José Figura 8 - Catedral de Fortaleza

Mausoléu no Cemitério São João Batista

Neste local sagrado, no Ce-mitério São João Batista (Figura 9), os despojos do valoroso guerreiro permaneceram por quase 93 anos, até que no ano de 1966, dentro das Co-memorações do Centenário da Batalha de Tuiuti, foi efetuada a retirada e o traslado dos seus restos mortais, do Ce-mitério para um Mausoléu construído pela Prefeitura de Fortaleza em uma das mais modernas avenidas recém--inauguradas – a Avenida Bezerra de Menezes, onde o túmulo de Sampaio seria mais visto pelo povo cearense.

Figura 9 - Mausoléu noCemitério São João Batista

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Cerca das seis horas da manhã, de acordo com o pro-grama estabelecido, efetuou-se o ato fúnebre com grande im-ponência, saindo o ataúde com o corpo do Brigadeiro Antônio de Sampaio para o mausoléu construído no cemitério público da cidade.

A cerimônia revestiu-se de grande aparato, com assis-tência do mundo ofi cial. Seguraram nas fi tas do féretro o Con-selheiro José Martiniano de Alencar, Senador Tomaz Pompeu de Souza Brasil e o Comendador Joaquim da Cunha Freire, Presidente da Assembléia e da Câmara.

No decurso do desfi le do préstito fúnebre ouviram-se as salvas executadas pela fortaleza e por uma corveta que se encontrava no porto. Uma brigada, comandada pelo Coronel João Nepomuceno da Silva, formada do 15o Batalhão de Caçadores e do 1o de Fuzileiros, de um Batalhão da Guarda Nacional e da Companhia de Aprendizes de Marinheiro, prestou as honras militares.

No cemitério, de uma tribuna para isso armada, discur-saram o Dr. Augusto Gurgel, o Comendador José Lourenço de Castro e Silva, Presidente da Comissão incumbida da cons-trução do monumento e várias outras pessoas, que se fi zeram ouvir com poesias apropriadas ao momento.

(DUARTE, Paulo Queiroz.Sampaio, Bibliex, 2010, Pag 290)

Mausoléu na Avenida Bezerra de Menezes

O local escolhido na Avenida Bezerra de Menezes, fi cava defronte ao aquartelamento do então Centro de Preparação de Ofi ciais da Reserva de Fortaleza (CPOR) passando seus jovens alunos, futuros Ofi ciais da Reserva, a guarnecerem o referido monumento.

A concretização do ato deu-se em 5 de maio de 1966, com a exu-mação dos restos mortais, e a respectiva lavratura do termo de exumação, coordenada pelo Comando da 10ª Região Militar, com apoio do Governo do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza.

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177As Moradas Eternas do Brigadeiro Sampaio

No dia 24 de maio de 1966, às 7h45, partiu do Cemitério São João Batista o cortejo fúnebre conduzindo os despojos do Brigadeiro Sampaio que passaram a repousar no novo Mausoléu construído no canteiro central da Avenida Bezerra de Menezes. (Figura 10, 11 e 12). Mais um local era ocupado pelos restos mortais do valoroso cabo de guerra cearense.

Figura 10 - Exumação Figura 11 - Cortejo fúnebre

Figura 12 - Mausoléu de Sampaio na Avenida Bezerra de Menezes (1966)

O cortejo fúnebre foi formado por uma linha de doze alunos do Colégio Militar, montados, empunhando as Bandeiras Históricas, seguida de uma linha de tambores, também daquele educandário; após o que marchavam seis ofi ciais de Infantaria conduzindo, sobre almofadas as condecorações do homenageado, logo após deslocava-se a carreta fúnebre, tracionada por seis cavalos, conduzida por dois soldados, acompanhada de altas autoridades.

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Às sete e quarenta e cinco, ao partir o cortejo, uma bateria de canhões de 37mm do 23o BC executou as salvas; ao chegar ao Panteon, foi o cortejo recebido por outra salva, executada por uma bateria de 75mm, do 10o Grupo de Obuses (10o GO).

Após a chegada do Marechal João Batista de Matos, represen¬tante do Presidente da República, foi hasteada a Bandeira Nacional com o Hino, seguindo-se novas salvas, agora com canhões 105mm, do 10o GO.

Em seguida, a jovem cearense, que conduzia o Fogo Sagrado, em uniforme da época de Sampaio, montada em um corcel, escol¬tada por vaqueiros de Tamboril, acendeu a pira disposta diante do panteon, ocasião em que o madrigal da Universidade Federal do Ceará cantou a Canção da Infantaria.

Em prosseguimento, o Prefeito de Fortaleza, General Murilo Borges, fez entrega do Panteon ao Exército, representa-do na pessoa do General Itiberê Gouvêa do Amaral. Terminado o ato, o ofi cial de Relações Públicas da 10a RM procedeu à leitura da Ordem do Dia do Ministro da Guerra.

(DUARTE, Paulo Queiroz.Sampaio, Bibliex, 2010, Pag 303)

Panteão junto à Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção

Com o passar do tempo a cidade de Fortaleza se expandiu com rapidez. O Centro de Preparação de Ofi ciais da Reserva de Fortaleza (CPOR) foi extinto e o aumento desenfreado na quantidade de veículos, tornam a Avenida Bezerra de Menezes, uma via de grande movimento e a permanência do Mausoléu na referida avenida, fi ca inviabilizada. Mais uma vez é estudado um novo local para abrigar os restos mortais do bravo Patrono da Infantaria - Brigadeiro Sampaio.

Fruto dos estudos para escolha de um local defi nitivo, das suges-tões do General-de-Exército Tácito Theophilo Gaspar de Oliveira e do empenho do General-de-Exército Domingos Miguel Antônio Gazzineo, antigos Comandantes da 10ª Região Militar, junto ao Ministro do Exército,

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179As Moradas Eternas do Brigadeiro Sampaio

General Zenildo de Lucena, e com o apoio da Prefeitura de Fortaleza, foi erguido na parte frontal da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, um panteão destinado a ser a morada defi nitiva do bravo soldado cearense. (Figura 13 e 14)

Figura 13 e 14 - Panteão Brigadeiro Sampaio (1996)

A instalação do Panteão Brigadeiro Sampaio neste sítio histórico agregou um forte simbolismo por estar situado, no mesmo local onde o jovem sertanejo Antônio de Sampaio, que vindo de Tamboril, se alistou na longínqua data de 18 de julho de 1830. Naquela ocasião, estava sediado na histórica Fortaleza o quartel do então 22º Batalhão de Caçadores, primeira unidade militar que abrigou Antônio de Sampaio.

Finalmente, no dia 24 de maio de 1996, é realizado o último trans-lado dos restos mortais do Patrono da Infantaria, para o seu Panteão que passou a abrigar, defi nitivamente, os despojos desse bravo guerreiro e Herói Nacional.

O caminho foi longo desde o Cemitério da Recoleta em Buenos Aires, passando sucessivamente pela Ilha do Bom Jesus no Rio de Janeiro; pela cripta da Igreja Matriz de São José; pelo Mausoléu no Cemitério São João Batista; pelo Mausoléu na Avenida Bezerra de Menezes e fi nalmente o Panteão Brigadeiro Sampaio em Fortaleza, Ceará. Todos estes locais sagrados, foram, cada qual, ao seu tempo, as eternas moradas do Brigadeiro Sampaio, o Patrono da Infantaria do Exército Brasileiro.

Que o espírito imortal de Sampaio, permaneça para sempre no seu Panteão, guarnecendo as seculares muralhas da nossa Fortaleza e inspirando as sucessivas gerações de cearenses com os seus exemplos de coragem e determinação.

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Revista do Instituto do Ceará - 2016180

Bibliografi a

CERQUEIRA, Dionísio. Reminiscências da campanha do Paraguai, 1865-1870. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército Editora, 1980.

DUARTE, Paulo de Queiroz. Sampaio, Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército Editora, 2010.

FÉ de Ofi cio de Antônio de Sampaio. Arquivo Histórico do Exército.LIMA, Mauro Lopes. O infante imortal. São Paulo, Caravelas, 1966.SOUSA, Eusébio de. Sampaio, patrono da infantaria, escorço bio gráfi co,

1810-1866. Fortaleza, Edésio, 1938.

Brigadeiro Antônio de SampaioAcervo de José Artur Montenegro – Biblioteca Rio-grandense – Rio Grande do Sul

Trabalho apresentado no V Seminário de História da Guerra da Tríplice Aliança, em 20 Mai 2016, como parte das Comemorações do Sesquicen-tenário da Batalha de Tuiuti na Guerra da Tríplice Aliança. (1866 – 2016)

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Boatos na vida do Padre Ibiapina

P E L T C *

oato é uma história ou notícia que se divulga sobre alguém ou algo sem que se confi rme sua procedência ou veracidade. Trata-se de uma notícia sem fundamento, mas com características que sugerem verdade, com aspecto de fato verídico. Boatos criam expectativas e ilusões, alteram o sobe e desce das bolsas de valores, destituem clérigos de suas ordens e funções, elegem ou derrotam políticos, mandam inocentes para a cadeia e podem absolver assassinos, promovem intrigas de família e mesmo guer-ras entre nações, aproximam, distanciam e até matam as pessoas. Quanto mais o boato se parecer com o fato, mais tem chance de permanecer no tempo como se fato fosse.

O Padre Ibiapina foi alvo de vários boatos. Sobre sua morte, por exemplo, ao menos em três ocasiões, o boato foi divulgado e pranteado como acontecimento de fato. Um desses apareceu no jornal “A Constituição”, de Fortaleza, em março de 1864, com lamentos e elogios “póstumos” ao missio-nário1. No mesmo mês e ano, a notícia chegou ao jornal “A Cruz”, do Rio de Janeiro (06.03.1864), que retifi cou sua publicação logo no início de maio, a partir de cartas de Limoeiro afi rmando que o Padre estava vivo e em missão2.

1 Jornal “A Constituição”, Ceará, 10 de março de 1864, n.24. p. 3. O “Gravatá” citado deve ser a povoação de Gravatá, no interior de Pernambuco e não da Paraíba. A notícia/boato encontra-se também em outros jornais como em “A Liberdade”, de 05.03.1864, e no “Pedro II”, todos do Ceará.

2 Jornal “A Cruz” (RJ), 01 de maio de 1864, p. 04. “A Cruz” circulava também em MT, PE e PI.

* Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfi co Paraibano - IHGP

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Anos depois, pelo mês de outubro de 1870, circulou na região do Cariri cearense outro boato de morte, desta vez por assassinato, quando Ibiapina pregava missões no interior de Pernambuco. A descrição em detalhes, in-clusive desfazendo a má notícia, encontra-se no jornal “A Voz da Religião no Cariri”, do Crato3.

Outro anúncio de sua morte apareceu em “A Província”, do Recife, em 15 de fevereiro de 1876, pouco mais de um mês que Ibiapina tinha deixado Triunfo-PE, gravemente enfermo, com destino a Casa de Caridade de Santa Fé, na Paraíba. “A Provincia” reproduzia a nota que tinha saído no jornal “O Cearense”, na edição de 02.02.1876, afi rmando ter recebido a notícia através de cartas enviadas da cidade do Crato4. Um mês depois dessa edição, o mesmo “A Província” publicou uma nota, vinda de um leitor de Triunfo, afi rmando que Ibiapina estava gravemente doente, mas ainda vivo5. Comentando o noticiário de 1876, diz Paulino Nogueira que “Ibiapina teve a rara ventura de ser contemporâneo da posteridade. Em vida pôde saber que juízo mereceria dos vindouros...”6 Na época, ele mes-mo escreveu artigo, publicado no jornal “A Constituição”, lamentando a suposta morte do missionário em Pernambuco, na Baixa Verde7.

Depois desse último boato, Padre Ibiapina ainda viveu sete anos na Casa de Caridade de Santa Fé, em Arara-PB, paralítico, sem mais poder pegar a estrada e missionar com o povo em mutirão. Em viagem defi nitiva, partiu para a eternidade no dia 19 de fevereiro de 1883.

Todo esse preâmbulo, relatando boatos de morte, tem a fi nalidade de nos levar a outro sobre a vida do Padre Mestre: um boato especial, descrito e “sacramentado” pelo Dr. Paulino Nogueira na biografi a “O Padre Ibiapina”, publicada em 1888, na Revista do Instituto do Ceará --- RIC. Um boato que tem sido repetido por diversos autores, sem qualquer questionamento, interrogação ou desconfi ança crítica. Um boato de vida longa que permanece, solto e fagueiro, até os dias atuais.

3 “A Voz da Religião no Cariri”, 16 de Outubro de 1870, p.2.4 “A Província”, Recife, 15 de fevereiro de 1876, p.1. Semelhante transcrição do jornal “O

Cearense”, encontra-se em “O Diário de Pernambuco”, de 14 de fevereiro do mesmo ano. 5 “A Província”, Recife, 16 de março de 1876, pp. 1-2. Também “O Cearense” de 25 de março,

desdizendo a primeira notícia, afi rma que o padre Ibiapina, “graças aos cuidados empregados, conseguiu restabelecer-se”.

6 Nogueira, Paulino. “Padre Ibiapina”, RIC, 1888, p.217.7 Idem, p.217, nota 70. Publicação no jornal “A Constituição”, Ceará, n.14, de 4 de fevereiro

de 1876.

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183Boatos na vida do Padre Ibiapina

Dois textos e seus autores

Trazemos ao leitor dois textos publicados em 1888 sobre o Padre Ibiapina, o de Paulino Nogueira e o de José Marrocos. O primeiro, quase todos conhecem. Já o segundo, é de grande novidade.

1. Um ajuste de casamento

Vejamos o trecho da biografi a do Padre Mestre, de Paulino No-gueira8, onde é afi rmado que houve na vida de Ibiapina, no tempo de sua juventude, um ajuste de casamento que resultou desfeito pelo rapto da noiva por outro pretendente. Segue o relato:

“Encerradas as camaras, Ibiapina dirigio-se à Província, onde trazia-n’o prin-cipalmente o cumprimento de dous deveres: casar-se e assumir o exercicio da sua comarca: mas em ambos foi bem mal succedido.

Havia ajustado casamento com D. Carolina Clarense de Alencar Araripe, fi lha mais velha do desventurado Presidente da malfadada Republica do Equador, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, irmão do senador Alencar, Presidente da Província; mas ao chegar à esta Capital soube que a noiva, preferindo um parente, eleito do seu coração, fora por elle raptada e com elle casara-se9.

Essa contrariedade teria causado forte abalo ao seu espírito? Nunca o de-monstrou senão pela resolução calma e silenciosa de jamais fallar em casamento.

Assim acontece com as almas nobremente ressentidas por uma decepção amorosa. A mulher que se deseja poetisa-se angelicamente; a que se possue adora-se humanamente; a que porem se amou e que se perdeu volta em espírito à poesia da saudade até que a imagem chorada se esbate e evola nas profun-dezas do nada.

Ibiapina não foi um Eurico10, porque não teve a desventura de merecer o desamor de uma Ermengarda; mas quem sabe si a resolução que mais tarde tomou de ser presbytero não foi buscar sua origem nessa contrariedade reprimida?

Tendo sido infeliz no cumprimento do primeiro dever, tratou de cumprir o outro11”.8 Nogueira, Paulino. RIC, art. cit., pp.173-174. Texto completo da biografi a: pp. 157-220.9 O casamento de Carolina com seu primo Antonio Sucupira realizou-se no dia 30 de novembro

de 1833, em Fortaleza, segundo registro da paróquia onde aconteceu a cerimônia. Cf. Araújo, F. Sadoc. Padre Ibiapina, peregrino da Caridade. São Paulo: Paulinas, 1996, p.148.

10 Eurico, o Presbítero é um romance histórico de Alexandre Herculano, escritor português, datado de 1844. Nenhuma aproximação ou semelhança existe entre Eurico e Ibiapina, mas Paulino Nogueira tem prazer em citar clássicos da literatura!

11 O outro dever: a posse como Juiz na comarca de Quixeramobim que aconteceu aos 10 de dezembro de 1834. O casamento de Carolina Clarence, como já foi dito, realizou-se mais de um

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Nogueira não teve contato direto com Ibiapina, mas deixou regis-trado tê-lo visto, ao menos uma vez, em fi ns de 1863, quando viajaram do Ceará para Recife, no mesmo navio da Companhia Pernambucana. Diz ele: “... voltando nessa ocasião, depois das férias, a prosseguir nos meus estudos, senti grande prazer quando eu soube que tínhamos por compa-nheiro de viagem um patrício tão distinto, um varão respeitável, que eu ambicionava conhecer pessoalmente. Vi-o uma só vez e de relance ao entrar no seu beliche, donde só saiu para desembarcar no Recife, depois de mim. Foi agradável a impressão...”12. O autor não conheceu Ibiapina pessoalmente.

Paulino Nogueira Borges da Fonseca nasceu em Fortaleza, aos 27 de fevereiro de 1842. Terminou Direito pela Faculdade do Recife, em 1865. Ao longo da vida atuou na área da educação, na política, no exercício da advocacia e, por duas vezes, assumiu o cargo de Provedor da Santa Casa de Misericórdia (1888 e 1906). Foi um dos fundadores e primeiro presidente do Instituto do Ceará, criado em 4 de março de 1887. Já na era republicana, em 1892, aceitou a nomeação para o cargo de Desembargador do Tribunal do Estado. Em 1903, com a instalação do curso de Direito do Ceará, exerceu a função de professor de direito criminal. Publicou importantes trabalhos de pesquisa histórica, quase todos na Revista do Instituto que ele mesmo ajudou a criar e presidiu. Faleceu, em Fortaleza, aos 15 de junho de 190813.

2. A revelação de Ibiapina

O texto que segue, da autoria de José Joaquim Teles Marrocos14, é uma correção ao que escreveu Paulino Nogueira. Pela íntima revelação do próprio Ibiapina, o tal ajuste de casamento nunca existiu, tudo não passando de invenção ou boato do povo. Eis o artigo, na íntegra:

ano antes dessa posse. Pelas datas, os dois fatos não podem ser considerados ao mesmo tempo!12 Nogueira, Paulino. RIC, art. cit., p.216.13 Fonte: Dicionário Bio-bibliográfi co Cearense – Barão de Studart.14 Trata-se do artigo Padre Ibiapina publicado no jornal “VANGUARDA”, Crato, ano II, n.39,

18/11/1888, Ed. 30, p. 02.

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185Boatos na vida do Padre Ibiapina

“PADRE IBIAPINA“Sobre o nome venerando do imortal Sacerdote e Apostolo acaba de

publicar o nosso ilustrado patrício Dr. Paulino Nogueira Borges da Fonseca um trabalho notável e digno de apreço, como tudo o que sai de sua pena erudita, incansável e sempre fecunda. PADRE IBIAPINA

Só temos palmas e louros a tributar ao historiador, que veio enriquecer a nossa história e a nossa literatura pátria com as primeiras notas sobre a vida do maior homem do seu tempo.

Um ponto, único talvez, precisa porém ser corrigido e retifi cado por amor da verdade histórica, que deve destilar e separar do precioso escrito o acidente hetero-gêneo, como a mosca impertinente que caiu na taça do primoroso vinho de Faraó.

O Dr. Ibiapina nunca justou casamento com D. Carolina Clarence de Alen-car Araripe, fi lha mais velha do desventurado presidente da malfadada “República do Equador” Tristão Gonçalves de Alencar Araripe.

Nunca, nos disse Ele mesmo em março de 1868, quando estava edifi can-do a Casa da Caridade do Crato e conversávamos à sombra das mangueiras, sentados no aqueduto que fi cava atrás do edifício, nunca me assoberbou tão estranho pensamento. É verdade porém que correu então o boato rumoroso e vago dessas núpcias, que me fazia o povo.

Amparavam o título colorado de seu fundamento no fato real da simpatia e da veneração que sempre consagrei a todos os infelizes que, como eu, foram fi lhos dos mártires de 1824 e 1825.

O combate de Santa Rosa, a defecção de José Felix e de outros, a traição de José Roberto, o assassinato de Tristão em outubro de 1824 e seis meses depois a execução de meu Pai pela Comissão de Sangue de Conrado de Nie-meyer, o nefando homicídio de meu desventurado irmão Raymundo Alexandre, as vicissitudes e o infortúnio de minha vida me fi zeram talvez dizer e proceder como a infeliz Rainha de Carthago15: “non ignara mali, miseris succurrere disco”, mas creia-me, nunca houve nem ajuste, nem projeto desse casamento.

Ainda hoje o nosso povo não vive a fazer e a desfazer casamentos todos os dias? E assim foi também o que fi zeram para mim: eis a verdade e, para que, concluiu ele, estou a dar-lhe esta explicação?

A explicação vem hoje, vinte anos depois16, expungir da história a im-propriedade do boato. É ao próprio Biógrafo que confi amos a honrosa tarefa da reparação e do restabelecimento da verdade.15 Dido, Elissa ou Alyssa foi, segundo a lenda, a primeira rainha de Cartago, com a vida marcada

por tragédias e desventuras. A locução latina que lhe é atribuída signifi ca “conhecendo por experiência própria a desventura, sei socorrer os infelizes” (Virgílio, Eneida, I, 630). São palavras de compaixão com que a rainha acolhe Eneias e os seus companheiros de exílio, depois de um naufrágio. Com esse verso o poeta Virgílio quer destacar que ninguém é mais sensível aos sofrimentos dos outros do que aquele que passou pelos mesmos ou semelhantes sofrimentos. Com esse verso, Ibiapina, de certa forma, procura explicar sua ação missionária e social junto aos desvalidos.

16 São 20 anos, considerando o ano da revelação do Padre Ibiapina, 1868, e a data de publicação, tanto da obra de Paulino Nogueira como desse depoimento no jornal “Vanguarda”, 1888.

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Si der, como esperamos e bem o merece, segunda edição de seu pre-cioso trabalho, estamos certo, não lhe escapará a depuração do pretenso ajuste de casamento, com que o povo, sempre fértil inventor de grandes novidades, acidentou e romantizou a vida do grande Apostolo.

Sua conversão foi obra do céu: sua vocação ao Sacerdócio foi vontade de Deus, como se vê das páginas 203 à 207 de sua biografi a.

Nunca, portanto, a resolução que dezenove anos depois do casamento de D. Carolina C. de Alencar Araripe tomou Ibiapina de consagrar-se à Religião, podia ter sua origem na contrariedade imaginaria de que nos fala o ilustrado escritor17.

É este talvez o único defeito de sua obra, mas, já o dissemos, não passa de um verdadeiro acidente heterogêneo, como a mosca impertinente na taça do primoroso vinho de Faraó”.

Diferentemente do texto de Paulino Nogueira, esse escrito do “Van-guarda” deve ter sido visto por menos gente, talvez não indo além da sua cidade de origem. Nos tempos atuais, porém, com a facilidade de acesso a documentos digitalizados, certas descobertas se tornaram possível, dando oportunidade a muitos de ler matérias inusitadas. Ter encontrado esse texto é comparável à parábola do homem que descobriu um tesouro no campo ou a da mulher que encontrou a dracma ou moeda que estava perdida.

No artigo, não aparece o nome do autor, mas logo descobrimos que o “Vanguarda” foi fundado por José Joaquim Teles Marrocos, em 1887. Para quem não o conhece, em 1868, ano dessas revelações, Marrocos atuava no Crato e logo seria o vice-diretor do Internado do Coração de Maria, fundado pelo Padre Ibiapina, além de se tornar o redator do jornal “A Voz da Religião no Cariri”, também fundado pelo Mestre no mesmo ano. Sem dúvida, Marrocos, grande amigo do missionário, é o autor do artigo “Padre Ibiapina”.

O artigo do “Vanguarda” é de novembro de 1888. Logo no ano seguinte, 1889, acontecia o suposto milagre do Juazeiro, o das hóstias ensangüentadas, e José Joaquim Marrocos18 se envolverá de corpo e alma nessa questão, na defesa do padre Cícero e da beata Maria de Araújo. O “assunto Ibiapina” deve ter se perdido em meio a outras preocupações e exigências mais graves e urgentes. Não conseguimos descobrir se Marrocos voltou a insistir nesse “velho assunto” em algum outro artigo de jornal. 17 Ibiapina foi ordenado padre no dia 03 de julho de 1853, no Recife. Cf. Sadoc, p. 270: 19 anos

e meio depois do casamento de Carolina Clarence com Antonio Sucupira. 18 No Museu vivo da Serra do Horto, em Juazeiro, José Joaquim Teles Marrocos está de pé,

em frente ao Padre Cícero, como para relembrar momentos em que os dois discutiam religião e política.

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187Boatos na vida do Padre Ibiapina

Tendo nascido no Crato, a 26 de novembro de 1842, José Marrocos estudou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, mas não foi ordenado padre. Ao longo dos anos atuou como professor e jornalista, tendo lutado intensamente no movimento abolicionista. Faleceu no Juazeiro, a 14 de agosto de 1910.

* * *

Sobre o estudo biográfi co “Padre Ibiapina”, publicado na RIC, não houve segunda edição e, portanto, não veio a lume a correção sugerida e desejada por Marrocos. Além do mais, sendo o “Vanguarda” um pequeno jornal com vida efêmera de uns 2 anos ou menos, talvez Paulino Nogueira nem tenha tomado conhecimento dessas revelações de Ibiapina. Mais tar-de, outros autores também não. Ao menos, não temos conhecimento que alguém tenha feito referência a elas. Tanto pela reconhecida autoridade do Dr. Paulino Nogueira, como pelo pioneirismo de sua obra, à exceção de José Marrocos, pela força de sua amizade com Ibiapina e prática literária ou jornalística, difi cilmente algum outro contestaria suas afi rmações.

Por essas e outras razões que se possam imaginar, o fato é que prevaleceu para a história o “romance não correspondido” entre José An-tonio Pereira Ibiapina e Carolina Clarence de Alencar Araripe. Segundo aquelas revelações de Ibiapina, publicadas por Marrocos 20 anos depois (1868/1888), tudo não passou de velho boato com mais de 50 anos: de 1833, ano do tal “noivado desfeito”, para 1888, ano da publicação da RIC. Um boato com força de fato verídico pela autoridade de Paulino Nogueira, sacramentado em sua obra, copiado ipsis litteris, modifi cado ou ampliado ao gosto de muitos e diversos autores que lhe sucederam no tempo. Todos os que abordaram aquele “fato/boato” transpiram Paulino Nogueira como fonte primária e única.

No entanto, como o mundo dá voltas e só Deus é absoluto, quase 130 anos depois daquelas publicações, de 1888 para 2016, urge ser considera-da a afi rmação do Padre Ibiapina: “creia-me, nunca houve nem ajuste, nem projeto desse casamento”. Mesmo com tanto atraso, a correção é questão histórica de verdade e justiça para com Ibiapina, seus estudiosos, admiradores, devotos e até com a própria Carolina Clarence.

E agora? Não tendo existido o fato, aquela desventura, o que mais especular ou elucubrar a partir do que nunca existiu?!

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Por tudo que Ibiapina conseguiu realizar em sua vida, nem fato, nem boato, com as interpretações das mais subjetivas, conseguiram em-palidecer o brilho de sua ação civilizadora pelo interior de nossa região, de suas realizações pelo Nordeste brasileiro, em favor dos humildes, fa-mintos, sedentos, doentes, órfãs, pobres e desvalidos. Sua solidariedade com os sofredores só aumentou ao longo do tempo. O boato, ou mesmo se tivesse sido fato, não passa de ínfi mo detalhe que nada subtrai à grandeza extraordinária do nosso Padre Mestre.

Nunca será de mais lembrar o que escreveu o cronista do tempo, Irmão Aurélio, muito provavelmente, que o acompanhava colaborando na Missão: “Quem poderá descrever todas as particularidades dos dons do coração do nosso Santo Apóstolo Ibiapina? Um coração angélico, puro, simples, casto, humilde, desinteressado, benfazejo e tão dedicado ao amor de Deus e do próximo, que era abrigo seguro da orfandade, remediador dos infelizes, consolador dos afl itos, enternecido das misérias humanas...”19.

Referências“A Constituição”, Fortaleza, 10.03.1864. “A Liberdade”, Fortaleza, 05.03.1864.“A Cruz”, Rio de Janeiro, 06.03.1864 e 01.05.1864.“A Voz da Religião no Cariri”, Crato, 16.10.1870.“A Província”, Recife, 15.02.1876 e 16.03.1876. “O Diário de Pernambuco”, Recife, 14.02.1876. “O Cearense”, Fortaleza, 25.03.1876.“Vanguarda”, Crato, 18.11.1888.ARAÚJO, Francisco Sadoc de. Padre Ibiapina, peregrino da Caridade, São

Paulo: Paulinas, 1996. CARVALHO, Ernando Luiz Teixeira de. A Missão Ibiapina, Passo Fundo: Ber-

thier, 2008.MARROCOS, José Joaquim Teles. Padre Ibiapina, jornal “VANGUARDA”,

Crato, ano II, n.39, 18/11/1888. NOGUEIRA, Paulino. “Padre Ibiapina”, RIC, 1888, pp. 157-220.STUDART, Guilherme. Barão de. Diccionario Bio-bibliographico Cearense,

1910.

19 Carvalho, Ernando Luiz Teixeira de. A Missão Ibiapina. Passo Fundo: Berthier, 2008, p.42.

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CONFERÊNCIAS

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Fortaleza: 290 anos

A B *

1. Origens

o dia 13 de abril celebramos o aniversário da capital de todos os cearenses. Em 2016, comemoramos 290 anos de uma cidade complexa, construída com o trabalho, esforço e amor de gerações de fortalezenses. Este texto tenta mostrar uma sintese da História de Fortaleza.

Na verdade, a data de 13 de abril marca a elevação do povoado à condição de vila, no ano de 1726. O núcleo original de Fortaleza é ante-rior, do século XVII.

A capitania do Siará Grande fi cou renegada a um segundo plano por Portugal no século XVI – faltavam maiores atrativos econômicos e as condições humanas (resistência indígena) e geográfi cas (secas, correntes marítimas etc) difi cultavam a chegada dos europeus.

No começo do século XVII, aconteceram as primeiras tentativas de conquista do litoral cearense. A ideia de Portugal era estabelecer no ponto médio do litoral um forte que servisse para defender a região contra estrangeiros e facilitasse contato com o norte do Brasil. Em decorrência, sucederam-se as tentativas colonizadoras feitas por Pero Coelho (1603), Pe. Francisco Pinto e Luis Figueira (1607) e Martim Soares Moreno (1611-31), todas sem maiores êxitos. Pero e Moreno chegaram a erguer fortes (de São Tiago e São Sebastião, respectivamente) no local correspondente hoje à Barra do (rio) Ceará.

O domínio português no Ceará foi interrompido em dois breves momentos pelos holandeses. Em 1637, os holandeses conquistaram o forte de São Sebastião, fi cando até 1644, quando ocorreu uma revolta dos * Secretário do Meio Ambiente do Estado do Ceará.

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índios – o forte foi destruído e todos os batavos foram assassinados. Em 1649, os holandeses voltariam ao Ceará, sob o comando do capitão Matias Beck, que manda erguer o forte de Schoonemborch, perto do riacho Pajeú. Em 1654, os portugueses retomariam a colonização do Ceará. Com isso, o forte holandês teve seu nome mudado para Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção. Seria em torno deste forte, onde hoje se encontra a 10ª Região Militar, que surgiria espontaneamente a capital cearense.

Há uma polêmica sobre o local e quem teria “fundado” Fortaleza – visões historiográfi cas mais antigas debatiam acirradamente se isso caberia a Martim Soares Moreno ou a Matias Beck. Atualmente, os historiadores questionam a ideia de “fundação”. Preocupar-se com um dia exato para ser o “ponto zero” de uma cidade (ou de um país, estado, município etc) não passa de uma ação burocrática e um mito de origem. Como criação histórica de longa duração, as cidades não são construídas propriamente num ato fundador e heroico, mas na sucessão do tempo e com esforço anônimo de várias gerações.

2. Modesta

Fortaleza apresentou neste início pouca projeção econômica e po-lítica – era um pequeno povoado “perdido” no litoral brasileiro. A base econômica local estava na pecuária, atividade que levou os colonizadores a conquistarem os sertões cearenses no fi nal do século XVII e começo do seguinte. Com base na pecuária/charque (carne seca salgada ao sol) se estruturariam várias vilas cearenses, a exemplo de Aracati, Sobral, Camo-cim, Granja, Acaraú, Icó e Quixeramobim. O processo de conquista dos sertões foi violentíssimo, com o assassinato e escravidão de milhares de indígenas. Apesar de tentarem resistir pelas armas, acabaram derrotados e colocados, em boa parte, em aldeamentos, a exemplo de Soure/Caucaia, Arronches/Parangaba, Messejana/Paupina, e Monte-mor-novo/Baturité.

Com a produção e comercialização do charque no século XVIII, Aracati, situada na foz do rio Jaguaribe, tornou-se o principal núcleo urbano cearense, o que duraria até o século XIX.

Ante o avanço da conquista do Siará Grande, Portugal autoriza em 1699 a criação de uma vila no Ceará. Isso deu margem a disputas entre autoridades e latifundiários pela localização do pelourinho da vila. Os

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193Fortaleza: 290 Anos

primeiros queriam a vila nas proximidades do Forte, enquanto os segundos desejavam instalá-la em Aquiraz. As disputas pela vila não passavam de uma maneira dos envolvidos, sobretudo os fazendeiros, tentarem aumentar seus poderes e infl uência. Após várias mudanças, o pelourinho foi instalado defi nitivamente em Aquiraz, em 1713. Fortaleza seria elevada à condição de vila, como vimos, em 1726.

Mesmo assim, a vila de Fortaleza, longe dos sertões da pecuária, continuaria sendo, por mais de um século, um mero aglomerado sem sustentação econômica ou expressividade política. Persistia o descaso português para com o Siará Grande.

3. Lenta expansão

No fi nal do século XVIII, a economia cearense passou a girar em torno da produção e comércio de algodão, exportado para atender às fábricas da revolução industrial inglesa. Com isso, Portugal passou a dar maior atenção ao Ceará, tanto que o separa de Pernambuco em 1799, encerrando uma vinculação que vinha desde 1656.

Com isso, houve toda uma mobilização dos vereadores e “pessoas graúdas” de Fortaleza para que a vila fosse confi rmada ofi cialmente como capital da capitania independente (embora na prática já fosse há décadas), em detrimento das “rivais” Aquiraz, Aracati e Icó.

Historiadores afi rmam que com a separação de Pernambuco em 1799 e o desenvolvimento do comércio exportador algodoeiro criaram-se condições econômicas e administrativas para iniciar-se o longo processo que tornaria Fortaleza na segunda metade do século XIX o principal núcleo urbano do Ceará, rompendo a hegemonia até então de Aracati.

Enfatize-se que foi um crescimento fortalezense lento. Os relatos que temos sobre o povoado, fossem de autoridades ou de viajantes es-trangeiros, apontavam ainda nas décadas iniciais do século XIX uma vila pequena, sem despertar tanto a atenção.

O apoio cearense à Independência do Brasil levou o imperador D. Pedro I, em 1823, a decretar Ato Régio, elevando Fortaleza à categoria de cidade. A elevação do status da capital não pode deixar de ser visto como um reconhecimento ao crescimento da Cidade e à importância política que apresentava.

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4. Hegemonia

Apenas na metade do século XIX Fortaleza tornou-se o principal núcleo urbano, político, econômico e social do Ceará. Para tanto con-tribuíram: a) o capital proveniente do comércio algodoeiro e de outros produtos; b) a centralização política da monarquia brasileira, que con-corria para concentrar nas capitais das províncias todo o poder decisório, benefi ciando-as com obras – assim, a condição de capital de Fortaleza transformou-a em ponto destacado na recepção de obras e recursos; c) a construção e melhorias de estradas e ferrovias, como a Estrada de Ferro Fortaleza-Baturité (EFB), inaugurada em 1873; d) e a intensa migração rural-urbana, principalmente na época das secas, a exemplo da de 1877-79.

O crescimento de Fortaleza se evidencia em seu “aformoseamen-to”, ofertas de serviços urbanos e adoção de uma infraestrutura razoável. Passa a ter transporte coletivo por bondes de tração animal, calçamento nas ruas centrais, linhas de telégrafo e de vapor para a Europa e Rio de Janeiro, iluminação a gás carbônico, telefonia, biblioteca pública, bons educandários (como o Liceu e o Colégio da Imaculada Conceição), se-minário (da Prainha), jornais etc.

É a chamada Belle Époque. As elites inspiravam-se nos valores “civilizados” da Europa – luvas, chapéus, casacos, nomes franceses, ideias do velho mundo. O Passeio Público era local de encontros, lazer e de mostrar a “civilidade”. Os intelectuais reuniam-se nos famosos “cafés” (quiosques) da Praça do Ferreira. Num desses cafés, o Java, em 1892, formar-se-ia a mais irônica e crítica associação de letrados cearenses, a Padaria Espiritual.

Em 1875, o engenheiro pernambucano Adolfo Herbster elabora um plano urbanístico, objetivando disciplinar a expansão da cidade através do alinhamento de suas ruas e da abertura de novas avenidas.

Com o crescimento de Fortaleza, verifi cou-se uma preocupação do poder público e das elites em controlar e disciplinar as camadas populares da cidade. A capital cearense crescera e a economia dinamizava-se, porém com as contradições do capitalismo: havia uma inquietante tensão social provocada pela diferença abissal entre os setores dominantes e os mais pobres, cada vez mais concentrados na crescente periferia.

Obviamente afi rmar que havia normas de condutas e disciplina-mento não signifi ca dizer que existia a obediência das mesmas pelas

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pessoas – ao contrário, a massa reagia a essas normatizações, por vezes abertamente, outras vezes usando táticas para burlar ou desprezar o que autoritariamente era imposto “de cima para baixo” e limitava seu modo de ser. Uma forma de resistência pode ser encontrada na compulsão dos popula res ao deboche, ironia e sátira.

No fi nal do século XIX e primeiras décadas do século XX fi caram famosos em Fortaleza “tipos populares” que riam e faziam rir de qualquer coisa jocosa que acontecesse nas ruas. Um caso exemplar disso foi o Bode Ioiô. O comportamento cômico popular, profundamente censurado pelas elites e classes médias, ganhou a alcunha de “Ceará Moleque”.

5. Cidade agitada

Nas décadas iniciais do século XX, Fortaleza continuou a passar por transformações sócio-urbanas que ampliaram ainda mais sua condição de principal centro político e econômico do Ceará. Com a Proclamação da República (1889), o grupo político de Nogueira Accioly passou a domi-nar o Estado cearense, sendo representado em Fortaleza pelo intendente (prefeito) Guilherme Rocha. Persistiam as práticas de controle da massa e embelezamento das cidades, tidas como sinal de “progresso e moderni-dade”. Em 1912, estoura a maior revolta popular da História de Fortaleza, quando setores oposicionistas e populares forçam a renúncia de Accioly.

Paralelo à agitação política e reformas promovidas pelos poderes públicos, outras modifi cações iam ocorrendo na estrutura urbana de Fortaleza. As camadas mais abastadas/emergentes erguiam novas lojas, bancos, hotéis, clubes, mansões etc. Aparecem fábricas – pequenas/médias, é verdade, e de peso quase insignifi cante no contexto da eco-nomia cearense, que ainda se baseava no agrocomércio. Aos poucos vai se formando uma pequena classe operária, vista como potencialmente perigosa pelas autoridades e segmentos dominantes, pela presença de ideias socialistas.

Com a vinda da empresa inglesa Ceará Tramway Light and Power, em 1913, iniciou-se o uso da luz e bondes elétricos. Em 1909 chegou o primeiro automóvel a Fortaleza, um Rambler adquirido em segunda mão nos Estados Unidos. Com a presença dos bondes e carros alterou-se o cotidiano da cidade, no que toque ao comportamento dos pedestres e a organização do trânsito e pavimentação das ruas.

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Fortaleza crescia em direção aos arrabaldes, destacadamente para as zonas oeste e sul e em oposição ao litoral (no começo do século a população ainda não valorizava o mar). No lado leste, o riacho Pajeú era um obstáculo natural à expansão da cidade. Nos anos 20/30, passaram a surgir os bairros de Fortaleza, a exemplo dos refi nados Jacarecanga (na estrada homônima) e Benfi ca (Estrada de Arronches/Parangaba), e de Farias Brito/atual Otávio Bonfi m (Estrada de Soure/Caucaia) e Joaquim Távora (Estrada de Aquiraz).

Com a Era Vargas (1930-45), os estados e municípios perderam muito sua autonomia. Em 1936, a capital cearense pode escolher pela primeira vez prefeito através do voto direto da população, inclusive, com voto feminino – o eleito foi Raimundo de Alencar Araripe.

Com mais de 100 mil habitantes no inicio da década de 1930, os problemas de Fortaleza e suas contradições agravavam-se. Foi exatamente a partir dos anos 1930 que a cidade “explodiu”, crescendo desordenada-mente, sem plano urbanístico que fornecessem soluções convenientes, com o surgimento de várias favelas, arranha-céus, destruição do perfi l arquite- tônico harmonioso anterior, aparecimento de fachadas e monumentos de gosto duvidoso, entre outras mazelas, frutos muitas vezes dos interesses das elites locais, da fraqueza e inoperância das gestões municipais, da especulação imobiliária e do impressionante abismo social que separa os ricos e pobres de Fortaleza.

Desde a Planta Urbanística de Adolfo Herbster, de 1875, a cidade não teve outro projeto global para controlar sua expansão. O prefeito Raimundo Girão (1933-34) se propôs a fazer um plano de remodelação da cidade. Em 1933, foi contratado (Decreto nº 108, de 30 de agosto de 1933), então, o engenheiro Nestor Egídio de Figueiredo (Recife, 1893 – Rio de Janeiro, 1973), urbanista com grande experiência. Setores das autoridades locais e grupos privados colocaram-se contra o plano de Figueiredo. Foi talvez uma das decisões mais prejudiciais da História de Fortaleza, pois teria se começado a resolver, há mais de 70 anos, alguns dos sérios problemas que afl igem a cidade ainda hoje. Novas tentativas igualmente frustradas de fazer mudança na estrutura urbana de Fortaleza se deram em 1952, com o Plano Diretor para Remodelação e Extensão de Fortaleza, de José Otacílio de Sabóia Ribeiro, e em 1962, com o Plano Diretor de autoria do urbanista carioca Hélio Modesto.

Nos anos 30 intensifi cou-se o abandono no Centro da capital pelos setores mais abastados, processo que havia se iniciado na década anterior

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– a porção central foi assumindo cada vez mais a característica de zona comercial. Surgem os primeiros “bairros nobres”. Ainda nos anos 20, o Jacarecanga, ganhou essa condição. As elites fortalezenses foram ocu-pando, em menor escala, também a região do Benfi ca, ao sul do Centro, e, vencendo a “barreira” representada pelo riacho Pajeú, áreas da Praia de Iracema e Aldeota, ao leste.

Ficava cada vez mais explícita a segregação espacial e de classes dentro da cidade. No lado leste de Fortaleza, os setores abastados, e no lado oeste, o reverso, onde moravam os mais pobres.

Com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, em 1942, os Es-tados Unidos fi zeram acordos com o governo Vargas para instalar bases militares em Belém, Natal, Recife, Fernando de Noronha e Fortaleza. No início de 1943, os estadunidenses iniciaram a construção de sua base na capital cearense. Na então distante área onde hoje se encontra o Bairro do Pici, estabeleceram o seu Posto de Comando, erguendo um aeroporto no Alto da Balança, conhecido como Cocorote. Desde os anos 20, a Belle Époque (infl uência cultural européia) estava em decadência, perdendo espaço para o american way of life, processo que se intensifi caria a partir dos anos 40.

6. Metrópole

O processo de expansão de Fortaleza e do aumento de sua população intensifi cou-se de forma impressionante a partir da segunda metade do século XX. A cidade cada vez mais se consolidava não só como o grande centro urbano cearense, mas também como uma das principais metrópoles do Brasil (em 1973, foi criada ofi cialmente a Região Metropolitana de Fortaleza). Para se ter ideia dos números, em 1950, Fortaleza apresentava 270 mil habitantes; em 1960, passou a ter 518 mil (um aumento de 90%); em 1970, 857 mil (aumento de 63%).

As sucessivas gestões de Fortaleza, efetivamente, não conseguiram controlar a explosão que a cidade viveu a partir dos an os 50, com o desor-denamento urbano, crescimento das favelas, verticalização, especulação imobiliária, e muito menos atender satisfatoriamente às crescentes deman-das da população por serviços públicos e infraestrutura. A municipalidade sofria com a apertura fi nanceira, sendo comuns os atrasos do pagamento dos salários dos funcionários públicos.

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Na Ditadura Civil-Militar (1964-85), o governo federal passou a concentrar mais recursos fi nanceiros e a controlar política e administra-tivamente o Estado, reduzindo sensivelmente a autonomia de prefeitos e governadores. Os prefeitos das capitais e das “cidades de segurança nacio-nal” deixaram de ser eleitos pelo voto popular, passando a ser indicados pelos chefes do executivo estadual.

Em meados dos anos 80, a prefeitura da capital cearense vivia grave crise política, ante as constantes trocas de prefeitos, e uma estrondosa crise fi nanceira, com difi culdades para pagar a folha do funcionalismo, o material de consumo da administração, as dívidas passadas e fazer investimentos. Tinha-se um inchaço do serviço público. Acusações davam conta que a Prefeitura virava cabide de emprego para correligionários políticos, com ser-vidores contratados por razoes clientelistas, muitos dos quais “fantasmas”, ou seja, recebendo sem trabalhar. Era surpreendente a quantidade de greves.

Existia ainda naquele momento toda uma pressão popular na defesa de melhores condições de vida, expressa num forte movimento de bairros e favelas. Não surpreende, portanto, que quando da volta das eleições livres e diretas para prefeito em 1985, a eleita, Maria Luiza Fontenele (1986-88), tenha sido alguém que se opunha à lógica das gestões municipais até então exercidas.

7. Cidade múltipla

Abandonado pelas camadas de alta renda e esvaziado no que se refere às atividades de lazer, cultura e administração, o Centro histórico de Fortaleza foi apropriado pelas camadas populares. Nos anos 80/90 tornou-se uma área tipicamente comercial e de serviços, direcionada para a população pobre e de classe média da periferia. Aos olhos dos setores abastados, a presença de populares simbolizou a “decadência” do Centro e a necessidade de “revitalizá-lo”, expressões preconceituosas e equivoca-das, pois ainda hoje é grande o afl uxo da população ao perímetro central. O que tem de ser feito é a valorização do Centro, atentando-se e resolvendo seus problemas, (re)atribuindo-lhe funções administrativas, artísticas, de lazer, cultural, habitacional etc. Vale ressaltar que a reabilitação do Cen-tro de Fortaleza não pode ser feita apenas com base na ação isolada dos poderes públicos. É necessário o apoio da sociedade civil, especialmente dos proprietários privados.

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Outra mudança de Fortaleza ao longo do século XX foi a valorização de sua faixa marítima, durante décadas renegada, pois se associava mar à morte, pobreza e lixo nas praias. Assim, teve-se a construção em 1963 da Avenida Beira Mar, sua urbanização entre 1979-82, a constituição do bairro do Meireles (contíguo à Aldeota e situado junto à orla), a instala-ção de vários clubes sociais no litoral leste de Fortaleza nos anos 50 e 60 (antes, tais clubes localizavam-se no centro fortalezense) e a construção dos calçadões da Praia de Iracema, do Futuro e da Leste-Oeste nos anos 80 como fatos que impulsionavam a faixa de praia como zona de lazer.

Conforme dados do censo 2010 do IBGE, Fortaleza tem uma po-pulação de cerca de 2 milhões e 447 mil habitantes, numa área de 313,14 km². Atualmente, as zonas leste e sudeste são claramente as mais ricas e melhor dotadas de infraestrutura na cidade. Bairros como Aldeota, Meireles e Dionísio Torres crescem, se verticalizam e apresentam uma vida quase autônoma no que se refere a oferta de serviços e comércio.

A Praia de Iracema, com a construção do calçadão, recuperação da Ponte dos Ingleses e implantação do Centro Cultural Dragão do Mar (pelo governo do Estado) nos anos 90, ganhou ainda mais importância como uma área de lazer noturno e eixo turístico da cidade, processo vindo já das décadas anteriores.

No entorno do Porto do Mucuripe ainda encontram-se muitas indús-trias (de pesca, moinhos de trigo, fábrica de asfalto, depósitos de combus-tíveis, dentre outras) e vários bairros populares e favelas (Serviluz, Farol, Castelo Encantado, Vicente Pinzón). A Praia do Futuro ainda apresenta “vazios” urbanos, em virtude da alta maresia, que prejudica as construções. Nos anos 90, com um projeto de urbanização da gestão do ex-prefeito Juraci Magalhães, a área passou a ser um bem destacado pólo de lazer – ali podem ser encontrados barracas e hotéis de luxo bem frequentados.

Já a Aldeota encontra-se totalmente loteada e construída, com pré-dios com alto valor e sem terrenos disponíveis. Apresenta uma enorme quantidade de centros e edifícios comerciais, de serviços, escritórios téc-nicos, etc.A Água Fria, bairro para onde as elites se transferiam nos anos 80 em busca de privacidade, é uma das áreas mais dinâmicas e autônomas da cidade, concentrando shoppings, famosos colégios, sedes de órgãos administrativos, equipamentos públicos e muitos edifícios e apartamentos de luxo. O Parque do Cocó, importante área verde da cidade, tornou-se um espaço para lazer e contemplação, além de local privilegiado para caminhantes e corredores.

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Fortaleza expande-se ainda no rumo dos bairros Edson Queiroz, Luciano Cavalcante, Seis Bocas, Praias da Cofeco, Porto das Dunas e Prainha, bem como na direção da Cidade dos Funcionários, Cambeba e Messejana.

A cidade igualmente se expande em direção ao sul e oeste, mas com uma ocupação feita por setores médios e/ou populares. Nas proximidades do Centro histórico, há bairros mais antigos, com razoável infraestrutura e oferta de serviços, a exemplo do Joaquim Távora, Fátima, Benfi ca, Otávio Bonfi m, Montese e Parquelândia, onde predominam os setores médios. A expansão continua acompanhando as grandes vias. Um caso exemplar é a Avenida Bezerra de Menezes, praticamente tomada em quase toda sua extensão por escritórios, lojas, bares e restaurantes.

Na saída da cidade, ligação da Avenida Mister Hull e BR-222, igual-mente concentram-se muitos negócios e indústrias, afora equipamentos públicos como o Campus do Pici (Universidade Federal do Ceará), Termi-nal Rodoviário de Antônio Bezerra e a chamada “Rodoviária dos Pobres”.

Na zona oeste, na porção mais próxima do mar, temos como grandes vias a Avenida Leste Oeste (cuja expansão levou a retirada de milhares de famílias nos anos 90 do complexo do Pirambu) e Avenida Francisco Sá. O projeto Vila do Mar, em fase de conclusão, revitalizará esta região da cidade, com a construção de moradias populares, equipamentos de lazer e ações de urbanismo.

Da foz do Rio Ceará (onde foi construída uma ponte, ligando Fortaleza a Caucaia), no rumo do sul, temos a Avenida Perimetral, que é cortada pela Avenida Mister Hull e que permite acesso ao Conjunto Ceará, Henrique Jorge, João XXIII, entre outros bairros.

Apesar de muitas fábricas terem abandonado a Francisco Sá, a avenida continua dinâmica, com muitos estabelecimentos comerciais, residenciais, trânsito intenso. Na região da Barra do Ceará (fi nal da Fran-cisco Sá), também se percebe uma concentração de comércios, pequenas ofi cinas, lojas de autopeças ao longo da Avenida Coronel Carvalho (ligação com a Avenida Perimetral). Ali próximo, nos anos 70, foram erguidos vários conjuntos habitacionais para segmentos médios (Conjunto Polar, Conjunto dos Bancários, Nova Assunção são exemplos). Há também muitas favelas e bairros populares.

Ligando os eixos norte e sul de Fortaleza tem-se a Avenida José Bastos, com lojas, ofertas de serviço e equipamentos públicos (Campus

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de Porongabussu/saúde da UFC, Instituto Nacional de Reforma Agrária, Terminal de Ônibus da Lagoa e Parangaba).

O deslocamento do terminal do Aeroporto Pinto Martins para o Dias Macedo dinamizou o bairro. A nova via de acesso ao aeroporto, Avenida Raul Barbosa, permitiu maior fl uxo de trânsito entre vários bairros da zona leste/sul e a BR116.

Nas áreas suburbanas mais distantes, destacadamente nas zonas oes-te e sul, predominam a população de baixa renda, denotando o diferencial espacial/de classe da cidade. Em geral, têm-se ruas estreitas, tortas, sem saída, não raras vezes sem calçamento, saneamento, etc. Escasseiam as praças e equipamentos de lazer. São muitas as favelas e residências hu-mildes. Em tais regiões, as taxas de violências são elevadas, numa clara vinculação com a grave questão social e pobreza que atingem os cearenses e a falta de assistência do Estado.

Também ocorre de setores médios e abastados morarem em outros municípios para escapar dos problemas de Fortaleza, como trânsito com-plicado, violência e poluição, transformando em habitação principal suas casas de praia (em Iparana, Icaraí, Tabuba, Prainha, Iguape e outras) ou sítios (Messejana, Eusébio, Caucaia, Pacajus, Mara nguape e Maracanaú). Em municípios vizinhos, igualmente passaram a ser construídos conjuntos residenciais desde a década de 80.

Fortaleza apresenta-se hoje como um dos mais importantes polos têxteis e de confecção do Brasil, bem como um destacado polo turístico nacional. Vale salientar, porém, que a capital cearense não se fi rmou como uma cidade tipicamente industrial, imperando a inclinação de “cidade terciarizada”, ou seja, do setor terciário da economia (comércio, serviços, transportes), o que é uma tendência apresentada mundialmente pelas economias metropolitanas, onde o crescimento mais notável acon-tece nos serviços de comércio ambulante, hospedagem e alimentação, de incorporação de imóveis.

As indústrias de maior porte que antes se concentravam em Forta-leza instalam-se/transferem-se para municípios da Região Metropolitana, a exemplo do Distrito Industrial de Maracanaú e, mais recentemente para outros centros como Horizonte, Caucaia, Pacatuba, Pacajus.

Em 2009, Fortaleza foi escolhida como uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol que se realizou no Brasil em 2014, o que ensejou novas obras e intervenções urbanas na cidade. A cidade continua expandindo-se

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neste começo de século, seja pela ação pública, por interesses privados (muitos deles, especuladores imobiliários) ou por iniciativa da própria população. Continua atraindo multidões de pessoas do interior cearense e até de outros estados. Sua economia cada vez mais se dinamiza, apesar da alarmante concentração de renda. A favelização, as condições de extrema pobreza da população e a violência convivem ao lado da expansão dos serviços, comércio, turismo e do alto padrão de consumo dos segmentos sociais abastados. Fortaleza continua sendo uma cidade múltipla neste século, sendo atualmente a quinta cidade mais populosa do País.

Em 2012, Roberto Cláudio é eleito prefeito de Fortaleza. Sua primeira gestão está sendo marcada pelos grandes investimentos em mo-bilidade e infraestrutura. Atualmente, graças ao programa “Bicicletar”, a cidade lidera o ranking nacional de compartilhamento de bicicletas, fazendo de Fortaleza uma das cidades que mais tem investido em pautas de sustentabilidade no Brasil.

Como as grandes metrópoles do mundo, a cidade de Fortaleza precisa olhar para seu passado e planejar o futuro. Para isso, é preciso a participação efetiva dos poderes públicos municipal, estadual e federal e, principalmente, do povo da cidade. Faz-se necessário o engajamento de todos para que a Fortaleza ordenada e pacata de outrora sirva de inspiração para a construção de uma cidade moderna, organizada e desenvolvida, que possa verdadeiramente acolher, integrar e proteger seu povo.

CRONOLOGIA DE FORTALEZA

• 1500 – O espanhol Vicente Yáñez Pinzón navega pelo litoral brasileiro e atinge o que seria o atual Mucuripe;

• 1603 – Pero Coelho de Souza desembarca no litoral cearense seguindo em direção à Ibiapaba. No retorno, funda o Forte de São Tiago na foz do Rio Ceará;

• 1611 – Martins Soares Moreno desembarca no Ceará e ergue no ano seguinte o Forte de São Sebastião, na Barra do (rio) Ceará;

• 1631 – Martins Soares Moreno retira-se do Ceará, deixando uma pequena guarnição no Forte de São Sebastião;

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• 1637 – Os holandeses conquistam o Forte de São Sebastião;

• 1644 - Os holandeses são massacrados pelos í ndios e o Forte de São Sebastião é destruído;

• 1649 – Os holandeses, comandados por Matias Beck, retornam ao Ceará e fundam nas proximidades do riacho Pajeú o Forte Schoonenborch;

• 1654 – Com a derrota em Pernambuco, os holandeses retiram-se do Ceará. Os portugueses retomam a colonização do Siará e o Forte Schoonenborch tem o nome mudado para Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção;

• 1656 – O Ceará é separado do Estado do Maranhão, ao qual esta-va vinculado desde 1621 e passa a se subordinar a Pernambuco;

• 1699 – Portugal autoriza a criação de uma vila no Ceará. Após várias mudanças, o pelourinho é instalado defi nitivamente em Aquiraz (1713);

• 1726 – Instalação da Vila da Fortaleza de Nossa Senhora d’Assunção;

• 1799 –Separação do Ceará de Pernambuco;

• 1823 – Fortaleza é elevada à categoria de Cidade;

• 1825 – São executados no Campo da Pólvora (Passeio Público) os líderes da Confederação do Equador;

• 1818 – Antonio José da Silva Paulet desenha o primeiro traçado de Fortaleza, as ruas passavam a ser organizadas em forma de xadrez;

• 1875 – Planta Urbanística de Adolfo Herbster, sinal do cres-cimento de Fortaleza, que passa a ter a hegemonia urbana do Ceará na segunda metade do século XIX;

• 1880 – Inauguração do Passeio Público, um dos principais locais de sociabilidade e sinal da Belle Époque na cidade;

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• 1889 – Início, com a Proclamação da República (1889), do período político dominado pela oligarquia de Antonio Pinto Nogueira Accioly;

• 1892 – Fundação, no Café Java, localizado na Praça do Ferreira, da Padaria Espiritual, movimento literário de letrados cearenses, marcado pela ironia e crítica social;

• 1910 – Inauguração do Theatro José de Alencar;

• 1912 – Revolta popular de Fortaleza que força a renúncia de Nogueira Accioly do governo do Ceará;

• 1913 - Vinda da empresa inglesa The Ceará Tramway Light and Power Ltd., iniciando-se o uso da luz e bondes elétricos;

• 1914 – Tropas vindas de Juazeiro cercam Fortaleza e obrigam a renúncia do governador Franco Rabelo;

• 1925 – Revolta popular contra o sistema de transporte público;

• 1936 – Vitória de Raimundo de Alencar Araripe, primeiro prefeito eleito pelo voto popular na cidade;

• 1943 – Instalação de uma base americana em Fortaleza, no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-45);

• 1947 – Após o fi m da Ditadura do Estado Novo (1937-45), é eleito prefeito Acrísio Moreira da Rocha. Também são eleitos vários vereadores comunistas, porém fi liados ofi cialmente ao Partido Republicano (PR);

• 1960 - Censo revela que Fortaleza tem 518 mil habitantes. A cidade vive uma explosão populacional. Setores mais abastados cada vez mais se concentram no lado leste da cidade, enquanto os mais pobres fi cam na zona oeste;

• 1963 – Construção da avenida Beira-Mar;

• 1964 – Com o Golpe Militar, Fortaleza perde a autonomia política e administrativa;

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• 1973 – É criada ofi cialmente a Região Metropolitana de For-taleza;

• 1985 – Na primeira eleição pós-fi m da Ditadura, Maria Luiza Fontenele é a primeira mulher eleita prefeita de Fortaleza;

• 1 990 – Juraci Magalhães assume a prefeitura. O Centro cada vez mais vira uma área comercial voltada para a periferia;

• 2004 – Luiziane Lins é eleita prefeita;

• 2009 – Fortaleza é escolhida como uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol de 2014;

• 2011 – Fortaleza completa 285 anos, com uma população de 2 milhões e 447 mil habitantes.

• 2012 – Roberto Cláudio é eleito prefeito.

• 2016 – Fortaleza completa 290 anos.

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Gestores de Fortaleza

Império Capitão Joaquim Lopes de Abreu 1822 – 1823Sargento-mor Joaquim José Barbosa 1823Francisco Félix Bezerra de Albuquerque 1823João da Rocha Moreira 1824Coronel Manuel José Martins Ribeiro Júnior 1824Joaquim Antunes de Oliveira 1824 – 1826Sargento-mor João Facundo de Castro Menezes 1826 – 1827Capitão Jacinto Fernandes de Araújo 1827 – 1828Joaquim Vieira da Silva e Sousa 1828Luís Mariano Gomes da Silva 1828Francisco José Pacheco de Medeiros 1828 – 1829Capitão Joaquim Lopes de Abreu 1829 – 1831José Joaquim da Silva Braga 1831Coronel Joaquim Mendes da Cruz Guimarães 1831 – 1832José Joaquim da Silva Braga 1832 – 1833José Ferreira Lima Sucupira 1833 – 1836Capitão Joaquim da Fonseca Soares e Silva 1836 – 1841José Lourenço de Castro e Silva 1841 – 1843Tenente-coronel Antônio Rodrigues Ferreira 1843 – 1849Manuel Teófi lo Gaspar de Oliveira 1849 – 1850Tenente-coronel Antônio Rodrigues Ferreira 1850 – 1859Manuel Caetano de Gouveia 1859 – 1861Manuel Soares da Silva Bezerra 1861 – 1865Tenente-coronel Antônio Teodorico da Costa 1865 – 1869Tenente-coronel Joaquim da Cunha Freire 1869 Antônio Gonçalves da Justa 1869 – 1873Joaquim da Cunha Freire (Barão da Ibiapaba) 1873 – 1881Tenente-coronel Antônio Pereira de Brito Paiva 1881 – 1884Capitão João Crisostomo da Silva Jataí 1884 – 1886Capitão Telésfero Caetano de Abreu 1886 – 1887Capitão Teófi lo Gaspar de Oliveira 1887 – 1890

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207Fortaleza: 290 Anos

RepúblicaCapitão José Freire Bezerril Fontenelle 1890Capitão Manuel Nogueira Borges 1890 – 1891Joaquim de Oliveira Catunda 1891 – 1892Coronel Guilherme César da Rocha 1892 – 1912João Marinho de Albuquerque Andrade 1912Ildefonso Albano 1912 – 1914Coronel Casimiro Ribeiro Brasil Montenegro 1914 – 1918Rubens Monte 1918 – 1920Godofredo Maciel 1920Ildefonso Albano 1921 – 1923Adolfo Gonçalves de Siqueira 1923 – 1924Godofredo Maciel 1924 – 1928Álvaro Weyne 1928 – 1930César Cals de Oliveira 1930 – 1931Antônio Urbano de Almeida 1931Major Tibúrcio Cavalcante 1931 – 1933Raimundo Girão 1933 – 1934Tenente José Barreira 1934Plínio Pompeu de Sabóia Magalhães 1934 – 1935Gentil Barreira 1935 Álvaro Weyne 1935 -1936Raimundo de Alencar Araripe 1936 – 1945Plácido Aderaldo Castelo 1945Vicente Linhares 1945Oscar Barbosa 1946Romeu Martins 1946Clóvis Matos 1946 – 1947José Leite Maranhão 1947 – 1948Acrísio Moreira da Rocha 1948 – 1951Paulo Cabral de Araújo 1951 – 1955Acrísio Moreira da Rocha 1955 – 1959General Manuel Cordeiro Neto 1959 – 1963General Murilo Borges Moreira 1963 – 1967José Walter Barbosa Cavalcante 1967 – 1971Vicente Cavalcante Fialho 1971 – 1975Evandro Ayres de Moura 1975 – 1978Luiz Gonzaga Nogueira Marques 1978 – 1979

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Lúcio Gonçalo de Alcântara 1979 – 1982José Aragão e Albuquerque Júnior 1982 – 1983César Cals de Oliveira Neto 1983 – 1985José Maria de Barros Pinho 1985 – 1986Maria Luiza Fontenele 1986 – 1989Ciro Ferreira Gomes 1989 – 1990Juraci Vieira de Magalhães 1990 – 1992Antonio Elbano Cambraia 1993 – 1996Juraci Vieira de Magalhães 1997 – 2004Luizianne Lins 2005 – 2012Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra 2012

(Conferência pronunciada no Instituto do Ceará no dia 20 de abril de 2016)

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Atlântico Uma Revista e Dois Regimes

L A *

s relações entre Brasil e Portugal transcorreram, ao longo dos anos, de forma tranquila, inspiradas, sobretudo, pelo sentimento de amizade entre os dois povos, o maior fundamento desse intercâmbio, cujo aprofundamento se ressentia de instrumentos de cooperação que removessem obstáculos de natureza administrativa e favorecessem maior aproximação entre os dois países. Cabe a Consiglieri Pedroso, político, professor e presidente da Sociedade de Geografi a de Lisboa, esboçar, em 1909, um amplo projeto de acordo a ser fi rmado entre os dois governos. Sua morte, no ano seguinte, sepultou o sonho da ambiciosa proposta. Antes disso, na vigência do império brasileiro e da monarquia portuguesa, não se fi rmaram mais que dois documentos do gênero. Somente quando da vinda do presidente António José de Almeida ao Rio de Janeiro para as comemorações da independência em 1922, seriam pactuados outros três acordos. Nem sempre estiveram serenos os céus que abençoaram essa histórica ligação. Em 1894 Floriano Peixoto chegou a determinar o corte das relações com Portugal pelo fato do comandante português ter acolhido, no vapor “Mindelo”, fundeado na baía de Guanabara, revol-tosos da armada, empenhados na sua deposição. De forma mais amena, divergências literárias e ressentimentos históricos contribuíam para minar de um e outro lado do Atlântico a disposição de congraçamento entre as duas pátrias. Exemplo disso são os estereótipos do português estúpido das anedotas e o “brasileiro”, na verdade, o português retornado, cuja insolência e extravagância ilustraram páginas memoráveis da literatura lusitana. Desentendimentos mais graves viriam muito mais tarde quanto ao defi cit democrático no Portugal metropolitano e a teimosia colonial na

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará

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África. Bem antes disso, essa convivência alcançou o auge na vigência do Estado Novo, período sobre o qual iremos lançar o nosso olhar.

Durante certo tempo Portugal e o Brasil viveram sob a égide de regimes políticos assemelhados, os quais carregavam de batismo o mesmo nome: Estado Novo. O luso, longevo, vai de 1926, ano da ascensão de Oliveira Salazar ao poder, até a “Revolução dos Cravos” em 1974, após breve intervalo da chamada “primavera marcelista”; o brasileiro durou de 1937 à deposição de Getúlio Vargas em 1945. Em ambos os casos, num e noutro lado do Atlântico, ditaduras instaladas com soluções impres-cindíveis para o regresso à ordem comprometida, segundo Vargas, pelo “extremismo ideológico” e a agitação política; e por Salazar, para fazer face à instabilidade da república que alimentava o caos e arruinava o país. Os dois sistemas, espelhados no fascismo italiano de cunho autoritário, nacionalista, valorizavam a ordem e a disciplina, o fortalecimento do estado, dirigido por um chefe situado acima das instituições, protegido pelo controle do pensamento, e a interdição do debate político por via da censura como premissas para a paz social e o progresso, servidos em porções paternalistas. Abolidos os partidos, no Brasil, reduzidos a um só; em Portugal, o parlamento era encarado como estorvo à efi ciência do go-verno, mal tolerado, de preferência fechado, como aconteceu aqui. Sobre o desapreço votado pelos ditadores ao parlamento, não deixa dúvidas o pensamento dos dois ditadores. Salazar dizia-se mesmo “profundamente antiparlamentar porque detesto os discursos ocos, palavrosos, as inter-pelações vistosas e vazias, a exploração das paixões, não à volta de uma grande ideia, mas de futilidades, de vaidades de nadas sob o ponto de vista do interesse nacional”16. Quanto a Vargas, é induvidoso seu desdém pelo legislativo quando se refere aos seus membros como “leguleios em férias” enquanto o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), ironicamente instalado na sede do parlamento, o Palácio Tiradentes, em publicação sob sua responsabilidade, alude ao edifício como “viveiro de papagaios”18. A afi nidade ideológica entre os dois governos contribuiria para aprofundar as relações bilaterais, clima que ensejou a adoção de iniciativas dignas de registro. Nesse contexto vale a pena assinalar a fundação, em 1935, do Instituto Luso-Brasileiro de Alta Cultura; a assinatura de acordos comerciais de pouco efeito prático e visitas recíprocas de delegações de autoridades. A estratégia de Salazar de vincular o Brasil à sua precária posição diplomática durante a guerra culminou com o convite para que

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o nosso país participasse, na condição de coanfi trião, da exposição dos dois centenários (fundação e restauração da nacionalidade), acontecida em 1940 na capital portuguesa. A distinção tinha o objetivo de apresentar o Brasil como exemplo bem sucedido do colonialismo luso. Em que pese o privilégio concedido, o desconfi ado Salazar alimentava a expectativa de que o país, tanto quanto Portugal, se mantivesse neutro diante da 2ª Guerra Mundial ao tempo que, temia, viesse o Brasil a falar em nome do mundo lusófono. No início dos anos cinquenta o ditador deixou escapar essa frustração conosco ao manifestar o desapontamento nas negociações em que se empenhava: “Tenho negociado e tratado com todo o mundo, desde os ingleses aos japoneses, e sempre no fi m se apura alguma coisa, quinze por cento, dez por cento dos esforços feitos, mas com o Brasil não sei o que é, não se apura nada”16. Tinha difi culdade em aceitar que nem sempre coincidiam os interesses das duas nações.

Em 1941 segue para o Rio embaixada especial, chefi ada pelo respeitado intelectual Júlio Dantas, com o fi to de agradecer ao governo brasileiro o prestígio dedicado à mostra do mundo português em come-moração dos dois centenários. Em seguida celebra-se, a 4 de setembro de 1941, o “Acordo Cultural Luso-Brasileiro” sobre cujas repercussões iremos a seguir nos debruçar.

A edição de uma revista luso-brasileira que contribuísse para um maior conhecimento recíproco dos dois povos, das duas culturas e ambas literaturas constituía um anseio dos homens de letras dos dois países. O brasilófi lo João de Barros, grande artífi ce dessa aproximação, escreveu, na apresentação do primeiro número da revista Atlântida, ter percebido, no Brasil, “uma mágoa justa, justíssima aliás, por não encontrar em Portugal aquele conhecimento e apreço que merece seu admirável surto de progresso, o seu prodigioso desenvolvimento material e intelectual”. Iniciativas isoladas buscavam ultrapassar esse fosso cultural que nos se-parava a exemplo da inauguração, em Lisboa, do Instituto Luso-Brasileiro de Alta Cultura no ano de 1935. O projeto de Consiglieri Pedroso, antes mencionado, de 1909, já previa a edição de uma revista. A Águia, fundada no Porto, da qual se tiraram mais de duzentos números entre 1910 e 1932, teve Almáquio Dinis como correspondente no Brasil e muito infl uiu para estreitar os laços entre portugueses e brasileiros. Embora aberta a outras culturas estrangeiras, predomina, no periódico, a participação brasileira, sendo notável que, numa época de precárias comunicações, tenha alcan-

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çado ampla circulação no país. Em 1909 João do Rio encontra João de Barros em Lisboa e sugere fundar uma revista com o desejado cunho binacional. Só em 1915 a ideia se realiza. Atlântida apresenta-se como um “mensário artístico literário e social para Portugal e o Brasil sob o alto patrocínio de suas Exas. os Ministros das Relações Exteriores do Brasil e dos Estrangeiros e Fomento de Portugal”. Sem ter cumprido inteiramente seu propósito, a publicação encerra antes de atingir cinquenta números. No mesmo ano nasce Orpheu, revista de vanguarda, abrigo de novos talentos, ícone do modernismo português, em que pontifi cam os mais tarde famosos poetas Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro. Abaixo do título, na folha de rosto, vem escrito “PORTUGAL-BRAZIL” a denotar o caráter binacional. Na verdade começou a ser gestada no Brasil, fruto do convívio do escritor Luís de Montalvor, então vivendo no Rio de Janeiro, e Ronald de Carvalho, aparentemente o autor do título. Do lado brasileiro a iniciativa não vingou, limitando-se à escassa colaboração de Ronald de Carvalho e Eduardo Guimaraens, sendo aquele, juntamente com o editor nominal, António Ferro, os dois personagens a participarem em simultâ-neo do movimento modernista português e brasileiro. Fosse pelo fato da editoria e impressão dessas publicações estarem sediadas em Portugal, fosse pela difi culdade de comunicação, acontecia que a presença da parte brasileira era modesta, o que acabava por comprometer a ideia original.

A partir do Brasil também se fi zeram tentativas semelhantes que, se não medraram, merecem citação pelo ineditismo da iniciativa. Refi ro-me à Rajada e à Terra do Sol. A primeira, fruto da iniciativa do pintor Correia Dias, que viria a ser marido de Cecília Meireles, reunia colaboradores de tendência modernista a qual, sem assumir expressamente o compromisso, emprestava atenção às duas culturas. Quanto à Terra do Sol, surgida em 1924, sob a dupla direção luso-brasileira de Tasso da Silveira e Álvaro Pinto, acolhia escassa colaboração de portugueses, embora nota anônima mencionasse o propósito de contribuir para maior ligação entre “Portugal e Brasil por intermédio de seus escritores que são seus mais nobres e exa-tos representantes”22. Profecia que fi cou bem longe de ser cumprida. Na verdade esse conhecimento mútuo, reiteradamente perseguido, ganharia impulso com o livro Literatura Brasileira de José Osório de Oliveira, autodeclarado luso-brasileiro. O desconhecimento dos modernistas por-tugueses ausentes de nossas páginas literárias levou a equívocos como o de Carlos Drummond de Andrade, que afi rmou certa feita, em 1924,

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ser Portugal “um povo que gerara os Lusíadas e morrera”22. Na vigência do Estado Novo, durante o consulado de António Ferro no Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), a ideia ressurge, integrada ao texto do “Acordo Cultural Luso-Brasileiro”, berço de Atlântico, um hífen cultural entre os dois regimes.

O “Acordo Cultural Luso-Brasileiro” celebrado no Rio de Janeiro, no Palácio do Catete, sob as vistas de Getúlio Vargas, tem como signatá-rios Lourival Fontes pelo DIP e António Ferro pelo SPN, dispõe em três artigos e doze parágrafos sobre a forma de sua execução com o objetivo de incentivar e divulgar ações culturais nos dois lados do Atlântico. Em seu artigo primeiro estabelece a criação de seções especiais portuguesa e brasileira junto ao DIP e SPN, chefi adas por José Augusto Cesário Alvim e António de Sousa Pedroso, Visconde de Carnaxide, respectivamente; enquanto no item d (Artigo 2º) está prevista “a colaboração recíproca em favor de uma orientação comum quanto ao noticiário a ser veiculado àcêrca do Brasil e de Portugal”. Trata-se de cláusula com a nítida intenção de controlar a informação segundo os interesses dos estados subscritores. Estranho que um pacto efetuado com a intenção de promover a cultura atribua a missão a órgãos comprometidos com a propaganda e a promoção por todos os meios disponíveis dos dois regimes e seus chefes, tanto mais que a eles se subordinam diretamente. Diploma semelhante acordado entre as partes em 1948 trazia as assinaturas dos Ministros de Relações Exteriores. Os tempos eram outros, Getúlio fora deposto e o DIP, extinto e em Portugal o SPN passara a Secretariado Nacional da Informação (SNI) com orientação distinta adaptada à realidade do pós-guerra.

A revolução de 1930 chegou embarcada na ideia de modernização do país e suas instituições carcomidas pelo anacronismo oligárquico da “república velha”. Para realizar essa aspiração, entenderam, de logo, os líderes do movimento, o valor da propaganda como instrumento de co-municação de massa e manipulação da opinião pública, empregada com êxito pelos regimes autoritários que se instalavam na Europa. Criado em seguida à vitória, o Departamento Ofi cial de Propaganda (DOP) foi substituído em 1934 pelo Departamento de Produção e Difusão Cultural (DPDC), confi ado a Lourival Fontes e, em 1938, em pleno Estado Novo, pelo DIP sob a mesma direção. Ao novo órgão cabia a tarefa de controlar e censurar manifestações de pensamentos hostis, censurar livros, jornais, rádios e espetáculos públicos; promover a doutrina do regime através de

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publicações próprias ou encomendadas a intelectuais simpáticos ao gover-no. Para fabricar o mito, fazia-se a apologia do ditador e de suas realizações com o emprego de argumentos que ilustravam as obras para demonstrar a efi cácia do estado, comprovavam a validade da ideologia veiculada pelo discurso e exaltavam o modelo através da biografi a do chefe18. Por tudo isso o órgão foi, no dizer de Heloisa Paulo, mais que um “agente de polícia”, “garoto-propaganda do regime”, foi um “carcereiro da vida pensante”, a serviço de uma ideologia instalada no espírito dos brasileiros, agindo ao mesmo tempo em duas frentes, intelectual e popular. Coube a Lourival Fontes, intelectual sergipano radicado no Rio de Janeiro, dirigir essa máquina que teria realizado seus objetivos pelo manuseio de uma velha arma em permanente renovação: a propaganda. Palavra inventada pelo Vaticano na contrarreforma com a divulgação do documento “Pro-paganda Fidei”14. Fascista declarado, tido por Mussolini como um dos três homens fora da Itália que melhor conhecia o fascismo italiano por ele defi nido como “um regime que caminha para o povo e que se antecipa e realiza, no campo das conquistas e da cooperação social, os imperativos mais avançados da dignifi cação, valorização e igualdade do trabalhador”5. Considerava que o Estado Novo dera origem a “o socialismo moderado e o nacionalismo intransigente”. Exonerado em 1942, quando o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo e apoiou os aliados, foi Embaixador no México, Chefe da Casa Civil no segundo governo Vargas e depois senador pelo seu estado natal.

Em Portugal a repartição homóloga do DIP era o SPN, instituído em 1933, dirigido por António Ferro com a fi nalidade, segundo o decreto de criação, de “integrar os portugueses no pensamento moral que deve dirigir a nação”18. Do ponto de vista das competências, tinha forte e ino-vadora atuação no turismo, só vindo a incorporar entre suas atribuições a censura quando foi transformado em SNI. Jornalista e escritor adepto do modernismo, realizou entrevistas com ditadores e intelectuais europeus de pensamento antiliberal, reunidas no livro Viagem à Volta das Ditaduras. Aproxima-se de Salazar através de uma série de entrevistas que lhe faz para o jornal onde trabalha, abrindo caminho para assumir a propaganda do governo à frente do poderoso órgão criado com esse propósito. Há os que enxergam nele o “inventor do salazarismo”20 enquanto, para outros, não passa de um simples coadjuvante do ator principal, Salazar. Instalado no novo posto, põe em marcha sua estratégia de comunicação para consolidar

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o regime e a imagem do ditador que consistia em “martelar constantemente suas ideias dando-lhes vida e calor. Que ditador e povo se confundam de tal forma, que o povo se sinta ditador e que o ditador se sinta povo”12. O fato é que assume o cargo com uma plataforma a que deu o título de “política do espírito”, pregação inspirada na decisão do “Comité des Lettres et des Arts” da Sociedade das Nações, que recomendava “examinar e estudar a possibilidade de desenvolver a infl uência do espírito na vida econômica, social e política”12. Atentar para a “beleza, desde a beleza moral à beleza plástica como a aspiração suprema dos homens e das raças”12 para em seguida deplorar “ um povo que não vê, que não lê, que não ouve, que não vibra, que não sai da sua vida material, do Deve e Haver, e torna-se um povo inútil e mal humorado”12. Todo empenho estava dirigido no sentido de criar uma identidade nacional e forjar o “homem novo”, investido das virtudes estandartes do regime.

Em 1922 veio ao Brasil, inaugurando uma relação continuada, feita de afetos, vínculos artísticos e visão estratégica que resultou em empreendimentos comuns de expressão política e cultural. Conviveu com os modernistas brasileiros; andou por São Paulo, Rio, Santos, Belo Horizonte, Salvador e Recife; fez conferências; foi aplaudido e saudado como um talento novo da literatura portuguesa. Durante sua permanência aqui, publicou dois livros de feição modernista: A Idade do Jazz – Band e a Arte de Bem Morrer, versões impressas de palestras que proferiu. José Lins do Rego saudou-o, em artigo no Jornal do Recife, como “o embaixa-dor do paradoxo, rebento novo de um povo velho”, a descontração numa sociedade sisuda, a aposta no futuro com o olhar de Jano para o passado, o estilo literário feito de frases curtas impressionistas, imagens antagônicas convivendo na dialética das palavras. Polêmico, seus paradoxos refl etiram também na fi gura pública equilibrada entre o revolucionário na estética e o conservador na ordem política, levado a combinar modernidade e tradição, cosmopolitismo e ruralidade, forçado a ajustar o gênio inquieto e protagonista ao recato austero do chefe.

Na sequência imediata da assinatura de acordo cultural, inaugura-se a exposição do livro português, apresentada por Ferro como a “primeira fruta desse novo pomar da nossa amizade”. A segunda brotaria no ano se-guinte, no requinte gráfi co e no esplendor do conteúdo da revista Atlântico.

Atlântico surge em cumprimento ao acordo cultural, o qual men-ciona expressamente a intenção de publicá-la desde logo intitulada com o

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nome do “oceano que, ao mesmo tempo, nos une e separa; o lago lusitano”, na expressão de Oswaldo Aranha, “a ser mantida pelos dois organismos com a colaboração de jornalistas portugueses e brasileiros” 1. Inauguram o primeiro número mensagens de António Ferro e Lourival Fontes, cujos nomes aparecem no expediente como diretores, fi cando a secretaria a cargo de José Osório de Oliveira, mantido na função até se encerrar a publicação em 1950. Antes disso Fontes é substituído na direção por seu sucessor no DIP e com a extinção deste em 1945 a representação brasileira cabe à Agência Nacional. Enquanto durou, edição e impressão da revista permaneceram em Lisboa. De todas as publicações conjuntas elaboradas ao abrigo da cooperação entre os dois órgãos, Atlântico foi a que mais repercutiu no Brasil pela densidade do seu conteúdo e o elevado padrão gráfi co alcançado. A escolha do nome, segundo António Ferro, buscava nessa “palavra sufi cientemente elástica, ondulante, sintetizar o vago e o concreto das nossas aspirações, o sonho e a realidade do nosso ideal”1. Para o mesmo autor o búzio escolhido como marca estampada em sua capa “sonoro, repercute a voz da raça, o mare nostrum, o Atlântico, pátria maior, pátria infi nita...”. Lourival Fontes, em seu comunicado inaugural, sob o título “Unidade Espiritual”, ressalta, na novel empreitada, o momento em que os interesses espirituais luso-brasileiros entram num período de iniciativas imediatas, práticas e claras. “A hora de sair do domínio das palavras” 1 na convocação de sua contraparte portuguesa.

Por ocasião da visita que faz à sede do SPN, com o fi m de conde-corar António Ferro com a Ordem do Cruzeiro do Sul, o embaixador João Neves da Fontoura atribui a ele o maior mérito na concretização do acordo cultural de que Atlântico é fi lha dileta. São dele as palavras que se seguem:

Outro dos frutos do acordo cultural de 1941 foi a fundação e a pu-blicação da mais luxuosa, da mais bela revista até agora editada em língua portuguesa, e que, sob a invocação do oceano que nos separa, mas que também nos une, congrega uma plêiade dos mais autênticos valores literários do Brasil e de Portugal. A revista <<Atlântico>>, a que V.Exa., Sr. António Ferro, deu o vigor e o carácter construtivo da sua própria inspiração de poeta, encontrou na personalidade, muito cara para nós, do escritor José Osório de Oliveira, brasileiros, não sabemos que mais admirar; se o seu idealismo atlântico, se o seu es-pecífi co e minucioso conhecimento da literatura do Brasil. Idealismo atlântico é uma expressão de profundo sentido para nós, portugueses e brasileiros. O sonho de Paulo Barreto e de João de Barros, que há

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trinta anos parecia quimera de literatos, veio conseguir uma das suas formas concretas sob os auspícios do Secretariado da Propaganda Nacional. Pois é graças ao trabalho de V.Exa., Sr. António Ferro, como colaborador directo do govêrno português, que possuímos hoje na revista <<Atlântico>> um instrumento de acção constante, no plano da arte e do pensamento, para a conservação e o desenvolvimento da solidariedade oceânica, para essa ponte triangular cujos pilares assentam nas margens do Tejo, no litoral africano e nas praias sul-a-mericanas – ponte do Império, império da língua portuguesa, império da cultura luso-brasileira, império do gênio civilizador lusitano. O concurso de V.Exa., Sr. António Ferro, vem, assim, assumindo um relevo cada vez maior na obra de aproximação intelectual entre as nossas duas pátrias – pátrias essenciais para a defesa da civilização cristã e da verdadeira fl ama da latinidade 1.

Opinião que coincide, quanto ao aspecto gráfi co, com a de Salazar, exposta a António Ferro, conquanto não lhe agradem os versos livres da poesia moderna de que a revista está cheia. “A poesia é o ritmo. Onde está o ritmo nessa poesia? A arte tem seus cânones, as suas leis”, argumenta o ditador apóstolo do conservadorismo.

São muitos e diversifi cados os colaboradores brasileiros e portugue-ses, ainda que alguns se repitam com maior frequência. São de formação e de escolas variadas, havendo até os que, como Graciliano Ramos, não bebiam na fonte programática estadonovista. Do lado brasileiro estão, entre outros, Tristão de Athayde, Jorge de Lima, Cícero Dias, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Érico Veríssimo, Ribeiro Couto, José Lins do Rego, Clarice Lispector, Lúcio Cardoso. Num elenco tão sortido não poderiam faltar cearenses, aí estão José Albano e Raquel de Queiroz. Do poeta, estão publicados no nº 6 da nova série – “Cançam a Camoens” e “Ode à língua portuguesa”. Raquel comparece no nº 4 com um conto “Não jures pela lua inconstante”, ilustrado por Roberto Arcanjo. Da parte portuguesa alinham, em meio a muitos, constantes ou eventuais, José Régio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Luís Forjaz Trigueiros, Almada Negreiros, José Osório de Oliveira, Jorge de Sena, Antônio Quadros, Natércia Freire e Gastão de Bettencourt.

Quanto ao conteúdo, chama a atenção a variedade de temas abor-dados e a natureza das ilustrações, gravuras e reproduções modernas e clássicas de artistas portugueses e brasileiros. Os textos se dividem em literatura, poesia, fi cção e crítica, teatro, música, artes plásticas, ensaios

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sobre fi losofi a e vida contemporânea. Aparecem capítulos de romances por publicar, inclusive um curioso capítulo 11 da novela “Episódio”, da lavra de Vinícius de Moraes, datado de 1934, que vem no nº 4 da revista e que, julgo, continue inédita. Diga-se de passagem que o poeta foi censor do DIP. Surpreendeu-me que Atlântico não divulgasse os dois governos, ostensiva ou sutilmente, apesar de tutelada pelos ativos organismos encarregados da propaganda ofi cial. A menos que se entenda por propaganda subliminar a revista em si mesma. De ofi cial nada além da publicação na íntegra do texto do acordo cultural, comunicado do governo luso sobre a posição de Portugal e do Brasil em relação à guerra, discurso do embaixador João Neves da Fontoura sobre a realidade do acordo cultural e a fala com que Getúlio Vargas ingressou na Academia Brasileira de Letras.

Coincidência ou não, a extinção do DIP, com a redemocratização do Brasil, marcou em duas oportunidades alterações no aspecto gráfi co da revista, que fi cou menor e mais simples. Até se encerrar em 1950, quando da partida de António Ferro para Berna, foram seis números iniciais, sete da nova série a partir de 1946 e três da terceira desde 1949. Nascida para ser a voz de “uma raça, duas nações”, como anunciado na sua página de estreia, colaborou de modo signifi cativo para a aproximação intelectual entre as duas pátrias, que ainda muito se ignoravam no campo das letras e das artes em geral.

Ventos democráticos que sopraram no Brasil e em Portugal e aluíram as duas ditaduras desmantelaram os órgãos de propaganda e de censura, dispersando e sumindo em ambos os casos os acervos que permitissem reconstituir com base em documentos a memória institucional e atuação de seus colaboradores. Equívoco ou “conveniência democrática” para apagar rastros e preservar reputações.

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Revista Atlântida - Capa do Número 1

Revista Atlântico - Segunda FaseCapa do Número 1

Revista Atlântida - Primeira FaseCapa do Número 1

Revista Atlântico - Terceira FaseCapa do Número 1

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221Atlântico: Uma Revista e Dois Regimes

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ANEXO

ACÔRDO CULTURAL LUSO-BRASILEIRO

ASSINADO EM 4 DE SETEMBRO DE 1941, NO PALÁCIO DO CATE-TE, NO RIO DE JANEIRO, POR ANTÓNIO FERRO, DIRECTOR DO SECRETARIADO DA PROPAGANDA NACIONAL, DE PORTUGAL, E DR. LOURIVAL FONTES, DIRECTOR DO DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E PROPAGANDA, DO BRASIL.

A-fi m-de promover uma íntima colaboração cultural entre o Brasil e Portugal por intermédio dos organismos ofi ciais a quem incumbe nos dois países a orientação dos serviços de propaganda, o Director do Secretariado da Propaganda Nacional, de Portugal (SPN), e o Director do Departamento de Imprensa e Propaganda, do Brasil (DIP), para tanto devidamente auto-rizados pelos seus Governos, estabelecem o acôrdo seguinte:

Artigo 1º

É criada na sede do SPN uma secção especial brasileira, da qual fará parte a título permanente um delegado do DIP, uma secção especial portuguesa, da qual fará parte um delegado do SPN.

A estas secções incumbe, de maneira geral, assegurar e promover, pelos meios ao seu alcance, tudo o que possa concorrer para tornar conhe-cida, respectivamente, no Brasil e em Portugal, a cultura dos dois países.

Artigo 2º

Para os efeitos do artigo anterior, as duas secções criadas por este acordo promoverão especialmente;

a. O intercâmbio e publicação de artigos inéditos de escritores e jornalistas brasileiros e portugueses na imprensa dos dois países;

b. O intercâmbio de fotografi as e o estabelecimento de um serviço regular mútuo de informação telegráfi ca relativa ao Brasil e a Portugal;

c. O envio ao Brasil e a Portugal, de conferencistas, escritores e jornalistas que mantenham vivo o contacto cultural entre as duas nações;

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223Atlântico: Uma Revista e Dois Regimes

d. A colaboração recíproca em favor de uma orientação comum quanto a noticiário a ser divulgado àcêrca do Brasil e de Por-tugal;

e. A criança duma revista denominada Atlântico, mantida pelos dois organismos, com a colaboração de escritores e jornalistas portugueses e brasileiros;

f. A troca de publicações de turismo e propaganda, cabendo ao SPN a divulgação, em Portugal, das publicações brasileiras e ao DIP a divulgação, no Brasil, das publicações portuguesas;

g. A divulgação do livro português no Brasil e do livro brasileiro em Portugal;

h. A realização de emissões directas de rádio concernente aos fi ns dêste acôrdo, bem como a permuta de programas radiofónicos;

i. A criação dum prémio pecuniário anual atribuído conjuntamen-te, pelos dois organismos, ao melhor trabalho literário, artístico, histórico, ou científi co, publicado em Portugal ou no Brasil, de interesse comum;

j. A realização e permuta de exposições de arte nacional e o in-tercâmbio de artistas brasileiros e portugueses, isoladamente ou em grupo;

k. A troca de actualidades cinematográfi cas, a exibição destas nos cinemas do Brasil e Portugal, e o estudo da eventual realização de fi lmes de grande metragem, de interêsse histórico ou cultural para os dois países, mediante a colaboração de artistas técnicos brasileiros e portugueses;

l. A fi xação de facilidades ao turismo luso-brasileiro, por inter-médio das companhias de navegação brasileiras e portuguesas, pela redução nos preços das passagens, abatimentos especiais nos hotéis, diminuição nos preços de transportes ferroviários e outras facilidades semelhantes;

m. O estudo do folclore luso-brasileiro através de publicações edi-tadas pelos dois organismos e da realização de festas populares e tradicionais comuns aos dois países;

n. Comemoração das grandes datas que interessam à História dos dois povos.

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Artigo 3º

Este acôrdo entrará em vigor na data da sua assinatura, devendo, em 31 de Dezembro de 1941, encontrar-se completamente organizados e em normal funcionamento os serviços e actividades nêle previstos.

Fonte: Atlântico – Revista Luso-Brasileira, Número UM, Primavera 1942.(Conferência pronunciada na sede do Instituto do Ceará em 20 de maio de 2016)

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REGISTRO BIBLIOGRÁFICO

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Lançamento do Romance - Vozes sem Eco – A Angústia dos Miseráveis e a Revolta da Natureza

J L *

m riacho chamado Tucunduba, as lagoas dos Patos, da Vaca Seca e das Pedras e uma pequena estação de trem.

Uma aldeia singela na paisagem de terra chã, pontilhada de carnau-beiras no Baixo Médio Acaraú...

De lá, desse lugar modesto, a antiga Pitombeiras de Nossa Senhora do Amparo, depois Senador Sá, partiu o adolescente ÉSIO DE SOUZA, nos fi nais dos anos 40, pleno de ânsia e forrado de sonhos para conquistar a capital do Estado.

Atendia aos murmúrios de seu coração que o chamavam para o mundo, para os ventos da sorte, e essas vozes interiores lhe diziam, pre-monitórias, que, uma vez munido dos conhecimentos formais e embasado dos currículos universitários, haveria de se distinguir entre os homens de seu tempo por sua capacidade e pelo franco exercício de sua inteligência.

Formado em Ciências Agrárias e técnico em desenvolvimento, foi escalando funções de importância nas autarquias federais, em secretarias de Estado nos governos de Virgílio Távora, Manoel de Castro e Gonzaga Mota e brilhou em posição maior na SUDENE, no tempo em que esse órgão era de fato um instrumento da ação governamental para o desen-volvimento planejado da Região Nordeste.

Depois de bem servir ao seu país em funções de alta responsabili-dade técnica e de caráter social e econômico, poderia ter-se apaziguado no vale remansoso dos aposentados a recitar a epístola de São Paulo que fala do justo repouso dos que combateram o bom combate e guardaram a fé.

Mas, não. A estrada lhe cobrava outros passos.

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará

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Por ser um leitor compulsivo, por ter o dom de olhar a vida de forma transcendente, por ter em casa na parceria do amor e no apreço aos livros, uma escritora, sua mulher Heloísa Caracas...Tudo o conduzia para os campos luminosos da literatura, onde haveria de continuar sua militância em favor de uma política de valorização do homem numa escritura de denúncia social e de combate aberto às diversas formas de exploração do povo, de alerta consciente aos perigos das promessas vãs, aos engodos da demagogia, à impunidade dos corruptos, às cavilações do populismo.

Armado de sua lucidez e desta intenção altaneira de denunciar a vilania dos perversos e a insensatez dos pobres de espírito, mas também a audácia pioneira e a bravura de alguns heróis desta Terra da Luz, escolheu a biografi a e a fi cção como ferramentas de trabalho.

E, assim, depois de contar a história do Capitão-mor José Xerez Uchoa, introdutor do café no Ceará, de publicar artigos e ensaios sobre a Questão Nordestina e de conceber os romances “A Fagulha da Abolição”, “No Rastro do Boi” e “O Poder das Amarras”, conclui agora o livro sonha-do, o primeiro que planejara nos idos de 1991, mas que haveria de esperar 22 anos para, fi nalmente, vir à luz, em parto sadio de robusto rebento.

Robusto, sem dúvida, porque o romance que hoje batizamos – VO-ZES SEM ECO - tem quase 600 páginas.

Não se assustem, porém, os leitores. Quem empreender a viagem fi ccional engendrada por ÉSIO DE SOU-

ZA, situada e decorrida nos territórios da realidade e da verdade histórica, há de ser arrebatado pelo encantamento e, no epílogo, lamentar que não fosse mais longo o percurso desta dramática narrativa sobre seres tão reais e tão verdadeiros que parecem saltar, vivos em carne e osso, do leito das ruas e dos afl itos caminhos do Ceará para a nossa contemplação estarrecida.

O romance histórico, afi rma a crítica carioca Bella Jozef, é um documento de testemunho e participação que, extraído de fatos reais, indica um caminho e uma intenção, demonstrando, em geral, a ideologia e expondo as crenças morais e políticas de seu elaborador.

Grandes nomes da literatura tomaram o caminho do romance his-tórico, a partir de Walter Scott, autor de “Ivanhoé”, passando por Victor Hugo e Honoré de Balzac. No Brasil o escolheram, dentre outros, José de Alencar, Érico Veríssimo, Dinah Silveira de Queiroz e a nossa contem-porânea Ana Miranda, que mora ali em Messajana depois de fazer nome nacional e ser traduzida pelo mundo afora.

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229Lançamento do Romance - Vozes Sem Eco

Neste livro, onde o subtítulo já é a síntese de seu conteúdo, pois anuncia a ANGÚSTIA DOS MISERÁVEIS E A REVOLTA DA NATURE-ZA, ÉSIO DE SOUZA usa o recurso da “minesis”, criado por Aristóteles em sua obra “Poética”, onde a imitação do real tem a intensa aparência da realidade.

De fato, é da realidade histórica que se nutre o autor de VOZES SEM ECO, que consegue, graças ao vigor dos detalhes e à bagagem de informações manter a coerência interna do enredo, a lógica das motivações, enfi m, a causalidade dos eventos, compondo a armação de sua criação na moldura do mundo real, apostando na conivência de suas intenções com os seus leitores, de quem espera parceria em sua empresa lúdica.

Manuseia, com mão de mestre carpinteiro, a madeira de sua ofi ci-na e trabalha com as propensões eternas da natureza humana e os temas clássicos do destino: a ambição, a audácia, a inveja, o medo, a mentira, a traição, o sonho, a dor, o amor e a morte.

Ao mesmo tempo, administra corretamente o texto, evitando a ima-gística opaca e a retórica infecunda. Ao invés disso, faz das coisas reais a transfi guração narrativa e o galope metafísico, pondo no seu projeto o sopro de sua alma, aquele toque de sublimidade que do barro comum obtém o ouro mais fi no e a mais bela canção.

Neste livro a imaginação está a serviço da peripécia dramática de seus personagens:

Do juiz, do vigário, do agitador político, atuando no bailado das circunstâncias, assentando nas pedras toscas do cotidiano e construindo na sombra do tempo os atos, os laços, os percalços, as esperanças e as decepções.

Avança com paciência e obstinação parecendo, que, a certa altura, não consegue mais controlar as criaturas de seu romance, que tomam a história para si e agem por conta própria com desenvolta e soberana auto-nomia. Dessa forma a criação se realiza em sua plenitude e se estabelece como obra de arte.

Escolhe um espaço cronológico que vem dos anos risonhos do Go-verno Juscelino aos dias atuais, mostrando com amargo desencanto como, mesmo as promessas mais coruscantes e as perspectivas mais alvissareiras, podem resvalar tristemente para o pântano enganoso da mentira.

Este grito dos que se acham enganados, tão agudo e visceral nos romances de ÉSIO DE SOUZA, é o mesmo grito que agora vem das ruas

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deste país, exclamado pela pujança juvenil e tão numeroso e tão vibrante e tão enérgico que põe em estado de espanto e medo as autoridades na-cionais, que já estavam se acostumando com o sono plácido e o sossego omisso de seus governados.

A nação ressurge de sua letargia e marcha contra a tibieza das ações políticas, ergue os braços e a voz em ira sagrada contra a corrupção descarada e impune, contra o desprezo pela educação, pela saúde e pela segurança, contra o engodo das promessas, contra as manobras canhestras de amesquinhamento das conquistas constitucionais.

A nação está viva.Meus amigos e futuros leitores de ÉSIO DE SOUZA:Eis o livro e o perfi l ligeiro de seu criador.Um romance que induz à refl exão.Porque em VOZES SEM ECO, os agentes ativos da trama roma-

nesca foram postos nos degraus da vida para interagir com a realidade e os seus desempenhos são as ferramentas que o autor maneja para mostrar a sua intenção ética no caminho político das lições, na tábula do compro-misso social, na formação da responsabilidade cívica.

FOTO 1 – Acadêmico Juarez Leitão ao pronunciar discurso de saudação quando do lança-mento do romance – Vozes sem Eco – a angústia dos miseráveis e a revolta da natureza -

perante um auditório e mesa composta pelos: José Augusto Bezerra (presidente da Academia Cearense de Letras), Ednilo Gomez de Soarez (presidente do Instituto do Ceará), o autor

do livro, o prof. Gonzaga Mota (ex-governador do Estado do Ceará e a deputada Fernanda Pessoa, que a presidiu. Local: Assembleia Legislativa do Ceará em 25.06.2013.

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VOZES SEM ECO

É S *

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

nicialmente, quero agradecer, nesta tarde, a fi dalguia e honra de quantos aqui presentes para ouvirem o imortal - da Academia Cearense de Letras e Sócio Efetivo do Instituto Histórico do Ceará – Juarez Leitão – e a mim, em uma breve apresentação, desta obra, qual seja o livro Vozes sem Eco – a angústia dos miseráveis e a revolta da natureza. Presença essa que simboliza nada mais do que a grandeza de um gesto de solidariedade humana, atributo tão raro nos dias de hoje.

Sei de mim, que aqui se encontram não só os meus amigos, mas de toda minha família, sobretudo de minha mulher Heloisa Helena e de nossos fi lhos.

Quero agradecer também a forma gentil com que sua excelência, a deputada Fernanda Pessoa atuou junto à presidência desta augusta Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, para que, sua excelência o Deputado José Albuquerque – cedesse, nesta tarde histórica, sobretudo, para mim e para os amantes das letras, esse aconchegante espaço para festa do lançamento do livro – Vozes sem Eco.

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará

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O QUE É O LIVRO VOZES SEM ECO – a angústia dos miseráveis e a revolta da natureza.

VOZES SEM ECO, como induz o seu título, é um livro político, social contemporâneo de denúncias. As senhoras e os senhores aqui pre-sentes, devem ter percebido, nas entrelinhas da apresentação, feita por um dos ilustres membros da Academia Cearense de Letras e Sócio Efetivo do Instituto Histórico do Ceará – Mestre Juarez Leitão, sem nenhum demérito aos demais participantes dessas duas centenárias agremiações culturais do Ceará, recaiu em Juarez Leitão. A escolha não foi por acaso, mas deliberadamente dirigida a ele.

Para um livro que ostenta um pesado título e conteúdo, como Vozes sem Ec o – a angústia dos miseráveis e a revolta da natureza, somente alguém de voz muito vibrante e persuasiva, como a de Juarez Leitão, poderia dar-lhe Eco.

E por certo a deu, mas ainda é pouco! Pois, para que esse Eco tenha mais ressonância é preciso que todas as pessoas, aqui presentes, e outros e outros, ao adquirir o livro, leiam. Do contrário, postos nas estantes e bibliotecas, sem consultados seus personagens tornar-se-ão, não só Sem Eco, mas mudos.

O PORQUÊ DA FEITURA DESTE LIVRO

Feita uma breve retrospectiva temporal de minha carreira profi s-sional de Agronomia e Técnico de Desenvolvimento Econômico e Social, junto à Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), (1963-1991), vê-se que por todo esse tempo fui umbilicalmente ligado às causas do desenvolvimento econômico e social do Nordeste.

Ali na SUDENE, é, portanto, o nicho onde se fi ncam as raízes que nutrem o pensamento e o interesse pelas causas econômicas que repercutem favoravelmente na melhoria das questões sociais da sociedade brasileira, mormente de sua porção nordestina. Contudo, com o advento de minha aposentadoria na SUDENE (1991), houve um rompimento abrupto com esse passado de ações realmente tangíveis na direção do desenvolvimento econômico/social, mas também uma frustração, por concluir que muita coisa fi cou nos sonhos, nas utopias de um ideário regional.

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233Vozes Sem Eco

A MUDANÇA DE ROTA

Este livro era, portanto, para ter sido escrito em 1991, mas na rea-lidade somente comecei a me embrenhar na literatura em 1997, quando escrevi o livro O Poder das Amarras.

Veja-se que o título acima tem algo a ver com os bloqueios do desenvolvimento econômico e social do Nordeste. Confesso, que quando adentrei a porta da literatura, deparei-me com uma grande difi culdade que foi me libertar dos termos técnicos. Eu tinha certa parcimônia em usar a fi cção. Contudo, pouco a pouco, depois de escrever mais três livros e ler os livros de minha mulher Heloisa, fui me desprendendo desse precon-ceito. Rompido parte dessa barreira, tomei a decisão basilar de escrever Vozes sem Eco.

Assim, a ideia de escrever este livro, nasceu por ocasião do Se-minário dos 40 anos da SUDENE e 80 do seu fundador, o economista e pensador Celso Furtado, ocorrido na cidade do Recife, no início do ano 2000, do qual tive o privilégio de participar.

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O SEMINÁRIO, CELSO FURTADO E UM RÁPIDO DIÁLOGO

Veja o apego que as pessoas têm às suas criações. Furtado foi o criador da SUDENE, sob as bênçãos de Juscelino Kubistchek, foi ainda ministro do Planejamento; ministro da Cultura, no Brasil, e dirigente da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), órgão ligado à ONU; professor da Sorbone e tantas outras agremiações, mas a SUDENE era a menina de seus olhos. Mas o porquê disso?

Celso Furtado recebendo das mãos do Superintende da SUDENE, à época Wagner Biten-court, por ocasião do Seminário. Foto extraída do livro – CELSO FURTADO – SUDENE e o

Futuro do Nordeste. Recife, junho de 2000.

Ao me aproximar dele, no dito Seminário do Recife, no meio de tan-ta gente, disse-lhe: “Dr. Celso, eu fui da SUDENE.” E ele, imediatamente: - “Do meu tempo?” - Respondi -lhe: “Sim! Do seu tempo”. Rapidamente, percebi em seus olhos o interesse em conversar comigo. Infelizmente, o diálogo não prosperou. Porquanto, alguém o chamou.

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235Vozes Sem Eco

VOLTANDO AO SEMINÁRIO

O Seminário do Recife contou a participação de diversos conferen-cistas: ministros de Estado e grandes nomes da intelectualidade brasileira, como o próprio Celso Furtado, Rubens Ricupero, Cristovam Buarque, Nilton Santos, Francisco Oliveira, dentre tantas outras expressões do mundo acadêmico nacional e internacional. No campo internacional, destaco as fi guras de Deepak Nayyar - Nehru University – Nova Délhi (Índia); Ignacy Sachs – Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Pa-ris – França); Samir Amin – Fórum dos Três Mundos (Dakar – Senegal); Ricardo Bielschowsky – Cepal - dentre outros.

Contudo, o que mais me chamou a atenção foi o pronunciamento do Professor Francisco Oliveira (USP), outrora, quando da criação da SUDENE (1959), o seu superintendente substituto, à época de Celso Fur-tado, que, durante sua exposição, questionou quanto ao futuro próximo da SUDENE. E reportando-se, desencantado, com o status quo da população pobre do Nordeste, equiparou: “Talvez o grande romancista do Nordeste seja – Juan Rulfo – celebrado novelista mexicano” e autor de o clássico Pedro Páramo, que aborda em sua obra a miséria que crassa o México.

Ao ouvi-lo. Tomei-me de impulso em fazer algo que abordasse a temática.

Mas a ideia fi cou como hibernada, até que um dia lendo um artigo de Jean Paul Sartre, que recomendava aos escritores neófi tos, como eu: “Escrevam, abracem sua época, não deixem escapar a oportunidade.”

Então comecei a escrever o livro Vozes sem Eco, mas com o cui-dado de não me envolver em aspectos ideológicos. Fato tão comum de afl orar em uma temática como esta. E para tanto, usei muito o recurso da intertextualidade, onde os textos, sejam de personagens reais ou fi ctícios, dialogam e às vezes se digladiam.

O RETORNO

Imagino quão satisfação devem ter experimentado - Juan Rulfo, (México); Victor Hugo, (França); Paulo Lins e José Louzeiro (Brasil), com seus livros - Pedro Páramo, Os Miseráveis, Cidade de Deus e o Pixote, respectivamente, quando viram seus livros adaptados para o Cinema.

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Em - Cidade de Deus - o livro migra da literatura para adotar a linguagem do cinema, com o longa-metragem do mesmo nome, dirigido por Fernando Meireles. Igual destino teve o Pixote.

Estes livros foram alguns, dos mais recentes, que denunciaram as desigualdades sociais e impactaram, não só junto à sociedade brasileira, como a do resto do mundo. A ponto de despertar interesse de chefes de Estado, como o presidente Barack Obama, em visita ao Brasil, conhecer áreas de favela, porquanto seu antecessor, o presidente Bush- a 08 de março de 2007, - incluiu também, em sua programação, entre outros compromissos, a visita ao grupo “ Meninos do Morumbi”, em São Paulo.

Ainda corroborando com essa tese, transcrevo pequeno trecho publicado pelo Jornal – O Povo – transcrito do Jornal New York Time - sobre a Conferência Mundial de Escritores, ocorrida em Edimburgo, na Escócia, onde 50 escritores, de diferentes países, perguntavam:

“Quando as pessoas estão morrendo nas ruas, os regimes estão se de-sintegrando, ou a possibilidade de um colapso econômico ou político parece perturbadora, como os romancistas e poetas podem continuar ancorados no mundo imaginário?”

E completam, dizendo: “Escrever é um trabalho solitário, mas às vezes os sons das ruas interferem.”

Para concluir, é evidente que, longe de mim, pretender comparar o modesto livro – Vozes Sem Eco – a angústia dos miseráveis e a revolta da natureza - com os clássicos acima citados. Minha intenção não foi outra, senão, tão-somente, de explicitar, talvez, o que Jean Paul Sartre quis dizer: “abrace sua época.”

xxxxx

Discurso de Francisco Ésio de Souza, pronunciado no - Auditório da Assembleia Le-gislativa do Estado do Ceará, em 25 de junho de 2013, por ocasião do lançamento do Romance – Vozes sem Eco – a angústia dos miseráveis e revolta da natureza - em Sessão Solene, presidida pela Deputada Fernanda Eneida Pessoa Caracas de Souza e saudação do Acadêmico Juarez Leitão.

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DISCURSOS

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Aniversário do Instituto do Ceará

L A *

a segunda metade do século XIX e primeiros anos do século XX o Ceará viveu um tempo de grande excitação intelectual. Efervescência provocada por jovens talentos buliçosos e intelectuais mais maduros que redundou na fundação de grêmios e publicação de livros e no aparecimento de jornais e revistas voltadas para a literatura. Tanta mobilização num meio acanhado de uma província pobre e isolada dos centros mais dinâmicos do país acabou por repercutir em âmbito nacional e chamar atenção de expressivas fi guras da cultura brasileira. Dentre outros o crítico literário José Veríssimo assim se pronunciou sobre o clima criativo que então animava nosso Estado: “Fortaleza é a cidade, depois do Rio de Janeiro, onde menos apagada é a vida literária”. Um reconhecimento autorizado do quanto aqui então se cultivavam as coisas do espírito.

Desse bulício cultural feito em parte de entidades efêmeras e pu-blicações passageiras que cedo pereceram, emergiram duas instituições que o vento do tempo não carregou. Refi ro-me ao “Instituto do Ceará, Histórico, Geográfi co e Antropológico” e à “Academia Cearense de Le-tras”. O primeiro data de 1887, instituição cultural mais antiga do Ceará, cujos 129 anos de vida hoje comemoramos; a segunda viu a luz em 1894 sendo assim, no gênero, a mais antiga do Brasil antecedendo à “Acade-mia Brasileira de Letras”. Não é pois de estranhar que as duas entidades tivessem alguns fundadores comuns empenhados na elevação cultural da sociedade cearense dada a limitação do meio e o universo restrito de personagens dispostos a cometer tão nobilitante missão.

As instituições culturais nascidas no século XIX e começo do sé-culo XX surgiram numa época em que o Estado tinha modesta dimensão sem intervenção orgânica em certos domínios da vida social. É o caso

* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará

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da cultura, e até da instrução, carências supridas por essas agremiações prestigiadas pelo poder político e econômico. A expansão do Estado com a incorporação de novas atribuições aliada ao crescimento de sua estrutura operacional, a criação de universidades públicas e mais tarde de órgãos estatais de cultura, para nos atermos à área que nos interessa no momento, causou signifi cativo impacto na existência dessas entidades de interesse público colhidas pelo fascínio e o suporte fi nanceiro dos novos atores entrados em cena. Todas sofreram com o novo ambiente administrativo e político que se constituiu e muitas não resistiram à nova realidade. As que sobreviveram experimentaram período de ostracismo e desprestígio vencido pela tenacidade de seus integrantes e a adoção de estratégias de sobrevivência. A admissão nos seus quadros de expoentes da sociedade e da vida pública logrou mobilizar recursos para assegurar funcionamento e representação modestas distantes do apogeu do passado. De modo es-pecífi co em relação ao Instituto do Ceará como a contribuição dos sócios fosse insufi ciente para o funcionamento da Casa fazia-se necessário an-gariar recursos indispensáveis ao cumprimento de seus objetivos. Havia o desafi o de preservar o patrimônio, a sede imponente e o mobiliário histó-rico corrompidos pelo tempo e conservar o rico acervo de livros, jornais, manuscritos e documentos raros antes que os térmitas devorassem nossa memória. Urgia ainda editar a revista, publicada sob a égide do Instituto sem interrupção desde sua fundação, cujo número anual é lançado nesta noite de gala. Além dessas medidas estruturais, indispensáveis mas insu-fi cientes para sua revitalização impunha-se modernizar a gestão e ajustar as atividades às exigências atuais introduzindo novas tecnologias de acumulação e transmissão da informação, abrindo as portas e oferecendo serviços a pesquisadores, professores e estudantes, comunidade mais afeita à nossa vocação. Eventuais verbas públicas e generosas doações privadas geridas com abnegação por recentes diretorias lograram alcançar esse desiderato, projetando uma imagem contemporânea da instituição retirada do limbo das coisas obsoletas.

Deliberou acertadamente a direção do Instituto conceder na data de nossa maior efeméride a “Medalha Barão de Studart”, destinada a homenagear aqueles que tenham prestado relevantes serviços à cultura cearense, a quatro personagens que muito fi zeram para a merecer. Valoriza a distinção o patrono da honraria, cidadão laborioso que deixou marcas indeléveis nos movimentos de que participou e nas entidades que ajudou

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a fundar e desenvolver. O que me leva a dizer que, sendo um, o Barão foi muitos. Médico humanitário, pesquisador e historiador aplicado e destacado líder católico, deixou um legado de publicações que dizem bem de quem foi e do muito que produziu. Das sociedades que ajudou a criar três vararam um século, o “Instituto do Ceará”, a Academia Cearense de Letras” e o “Centro Médico Cearense”. A todas presidiu sendo o Instituto a última, na qual morreu no exercício da presidência, em 25 de setembro de 1938. Palmilhando muitos caminhos, aqui e no exterior, foi um pes-quisador peregrino que adquiriu e coligiu documentos às suas expensas para fundamentar suas opiniões de respeitado historiador. O renomado Capistrano de Abreu ao se reportar a ele foi categórico: “Podes te gabar que ninguém ainda fez tanto como tu para esclarecer períodos ignorados de 1600 a 1630”.

Os quatro agraciados nesta sessão solene são: Abel Alves Rochinha, Beto Studart, Luis Gastão Bittencourt da Silva e Marcos Costa Holanda, homenagem que naturalmente se estende às empresas e instituições que dirigem. A eles devemos expressiva contribuição para renovação do sis-tema de ar condicionado do auditório, a continuidade dos trabalhos de digitalização e informatização da biblioteca e do arquivo, a publicação da revista, a manutenção da sede e o programa regular de visitas guiadas às nossas instalações oferecidas aos jovens da rede escolar e à comunidade em geral.

A seguir, para conhecimento de todos, faço um breve registro do histórico curricular dos homenageados para que aquilatem o valor de cada um e a importância que representam no contexto econômico e social do Estado.

Abel Alves Rochinha - é engenheiro mecânico formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio de Janeiro, mestre em engenharia industrial pela mesma universidade, especialista em admi-nistração fi nanceira pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. Ingressou no grupo Enel de empresas do setor elétrico no ano de 2004 onde galgou vários postos até assumir a responsabilidade pelas atividades relativas à infraestrutura e redes envolvendo a CIEN, AMPLA e COELCE. O conglomerado se destaca pelo apreciável aporte de recursos em ações culturais mediante as leis de incentivo fi scal.

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Beto Studart – de nome próprio Jorge Alberto Vieira Studart Go-mes, destaca-se como empresário desde jovem quando assumiu aos 22 anos de idade a presidência da AGRIPEC – indústria de defensivos agrícolas – cuja competência levou-a a se tornar a maior empresa brasileira no setor. Ao aliená-la a um grupo australiano, voltou-se para a construção civil e a área fi nanceira onde continua a colecionar êxitos. Sua vocação de líder e capacidade de articulação conduziram-no a sucessivos cargos em enti-dades classistas, culminando com a ascensão à presidência da Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC, que administra com o mesmo estilo empresarial operoso e arrojado que o caracteriza. Espírito sensível e inovador, investe no desenvolvimento do primeiro coração artifi cial de fabricação nacional e na Fundação Beto Studart, de Incentivo ao Talento, que apóia projetos sociais, culturais, esportivos e educacionais em bene-fício de um número superior a vinte mil pessoas.

Luiz Gastão Bittencourt da Silva – Empresário do setor de serviços, hábil articulador, demonstrou desde cedo pendor para assumir responsabilidades no âmbito corporativo até ser guindado à presidência da FECOMÉRCIO – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, em decorrência do que preside também os conselhos do Serviço Social do Comércio (SESC) e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Espírito moderno, renovou processos, ampliou consideravel-mente a área de atuação dos órgãos subordinados mediante maior oferta de serviços à sua clientela alerta às necessidades sociais e de mão de obra em consonância com a demanda gerada pelo desenvolvimento local. Ini-ciativas próprias, ou em parceria, colocam o SESC como um qualifi cado promotor cultural.

Marcos Costa Holanda – Economista pela Universidade de For-taleza – Unifor e engenharia civil pela Universidade Federal do Ceará, onde atualmente é professor titular do curso de economia, implantou e dirigiu no período de 2003/2008 o Iplance, órgão do Estado do Ceará criado como instrumento de planejamento e avaliação das ações de go-verno. Nesta função destacou-se por ter desenvolvido nova metodologia das exigências para contratação de empréstimos governamentais junto a agências de desenvolvimento internacionais, substituindo metas físicas por compromissos que consagram o princípio da gestão por resultado.

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Foi consultor do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desen-volvimento (BID) e atualmente preside o Banco do Nordeste do Brasil, tradicional apoiador das artes e cultura na região.

Em terra escassa de mecenas, auguro que as homenagens de hoje repercutam a fi m de sensibilizar novos apoiadores que nos permitam perseverar na tarefa de fazer cada vez mais do Instituto do Ceará uma instituição útil a quantos aqui chegam movidos pela fome do saber. Não somos um armazém de livros bolorentos e arquivos empoeirados, como podem supor os mal informados, mas uma fonte de preciosas informações acessíveis a todos que por elas se interessem.

O Instituto é velho, e orgulha-se dessa longevidade, mas não é anacrônico porque nasceu e vive inspirado no passado de olhos postos no futuro.

(Discurso pronunciado em 04 de março de 2016, como representante do Instituto do Ceará).

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Discurso de recepção à Sócia Efetiva Glória Maria dos Santos Diógenes

E B N *

reconhecidamente célebre pintor Cândido Portinari dizia que as cores falam. Meu cunhado, nascido no Estado do Rio, ouviu isto dele próprio. Era ainda adolescente quando o visitou em companhia da mãe, também pintora. Portinari tinha seu apartamento e ateliê no Bairro do Leme, cidade do Rio de Janeiro. Ao chegarem, o artista estava pintando mais uma tela da sua fase azul.

Dando seguimento à sua motivação na época, o cenário inteiro reve-lava diferentes tonalidades daquela cor, sem dela sair. No centro estava um jovem do interior, levando a sua noiva na garupa da mula, que transportava os dois. Apesar de ser uma coloração diferente do cenário natural, o azul era a cor dominante. Acontece que no sapato da noiva Portinari pintou com delicadeza um laço amarelo, de tonalidade bem viva. Era algo que criava contraste, despertando atenção.

Meu cunhado adolescente ousou perguntar: “ - Por que o amarelo, em uma tela azul como cor predominante?” Com naturalidade Portinari respondeu que havia colocado o amarelo ali para que as cores falassem. E disse com segurança: “ – As cores falam. Quando esta tela for vista por outras pessoas elas também notarão o amarelo falando com o azul. Não importa o tempo; a qualquer momento que a tela for vista, quem a observar verá que a fala das cores continua.”

Não são apenas as cores que falam. Falam também as letras e igualmente os números.

O leitor atento da Revista do Instituto do Ceará que se detiver ao exame das páginas fi nais da edição mais recente, encontrará a lista de todos os Sócios Efetivos, desde os fundadores, até aos do ano de 2015. Lá

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se encontram 149 nomes. Destes, 8 são de mulheres; 141 são de homens. Postos em proporção, a fala dos números revela que na longa existência do Instituto, que atravessa os séculos XIX, XX e XXI, apenas 5,0 % confi guram a representação feminina. Contrapõe-se ao grande conjunto de 95,0 % da representação masculina.

A fala dos números muda se a análise se voltar para a composição atual do quadro de Sócios. Das 8 mulheres que constam na listagem do Instituto, no momento presente são 5 as que estão no exercício pleno dos seus direitos. A proporção de 5 sobre o conjunto de 37 Sócios Efetivos em exercício eleva o percentual feminino para 14,0 %. Falam, então, os números: trata-se de uma evolução acima do dobro do indicador anterior.

Nesta solenidade recebemos no Quadro de Sócios Efetivos mais uma mulher: Glória Maria dos Santos Diógenes. Novamente o indicativo muda. Quando o quadro de Sócios Efetivos estiver completo, com seus 40 integrantes, 6 mulheres tornarão a participação feminina no Instituto do Ceará equivalente a 15,0 %.

Falam ainda os números que pouco importam os valores absolutos. Está evidente uma tendência ascensional, que parte de 5,0 %, passa para 14,0 % e se eleva agora para 15,0 %.

A evolução ora vista desperta considerações adicionais. A primeira diz respeito à capacidade de atualização do nosso mais

que centenário Instituto Histórico, Geográfi co e Antropológico. Apesar da dimensão temporal, que recua aos tempos da prevalência do homem sobre a mulher, o Instituto tem demonstrado entender a revolução feminina, bastante visível no passado recente e no momento atual.

Não se manifestou através do surgimento de um processo rápido. Quando a primeira mulher tomou posse no Quadro de Sócios Efetivos, o Instituto já contava 43 anos desde o seu início de atividades. Antecipou-se a meio século de existência. O ritmo da transformação progrediu por etapas.

A pioneira foi Júlia Carneiro Leão de Vasconcelos. Tomou posse em 5 de junho de 1930. Ao ser recebida no Instituto ainda viviam quatro fundadores: o Barão de Studart, João Augusto da Frota (Padre), Júlio César da Fonseca Filho e Juvenal Galeno da Costa e Silva. A segunda foi Alba Valdez, pseudônimo de Maria Rodrigues Peixe, empossada em 10 de maio de 1936. No seu ingresso o Instituto já contava com 49 anos de fundação, mas não havia atingido o meio centenário. Permaneciam vivos apenas dois fundadores: o Barão de Studart e o Padre João Augusto da Frota.

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Essa antecedência aos 50 anos do Instituto e o voto de sócios funda-dores para o ingresso de mulheres denota que a nossa “revolução feminina irreversível” foi gradual, no entanto, contou com o patrocínio de sócios fundadores. É importante para nós, hoje, fazer o registro da abertura do Instituto à participação feminina. Ainda que gradual, revelou-se, de fato, irreversível.

Ao acolher valores femininos, o Instituto do Ceará oferece si-nalização no sentido de reconhecer as qualidades de uma classe que empreende contínua luta para ocupar espaços múltiplos nas instituições que se destacam no meio social. Estas podem ser de caráter cultural, aca-dêmico, empresarial, assim como muitos outros espaços na multivariada constituição da sociedade.

É bem verdade que ao se direcionar a atenção para os diferentes estratos da Ciência é fácil observar a ocorrência de superposições. Os citados meios cultural e acadêmico revelam esse fenômeno. Nas suas expressões concretas, ações culturais e acadêmicas podem ser vistas com clara distinção. No entanto, conceitualmente estão unidas por um deno-minador comum que é, exatamente, o social.

Outra dedução associada à tendência crescente da participação femi-nina no Instituto diz respeito não aos números em si, mas às qualifi cações das que aqui ingressaram. Elas não se concentram em um único campo, ou seja, apenas História, apenas Geografi a, ou apenas Antropologia. Elas ocupam todos os espaços da abrangência do Instituto: a História, a Geo-grafi a e a Antropologia.

Na solenidade desta noite Glória Maria dos Santos Diógenes in-gressa no Quadro de Sócios Efetivos para ocupar o seu espaço próprio: a Antropologia Urbana.

A denominação do seu campo de trabalho a situa na linha de van-guarda da Antropologia. Estão distantes os tempos da antropometria e do estudo de sociedades primitivas. A humanidade tende a se tornar habitante das cidades ou de aglomerados urbanos menores, todavia não mais dispersa no meio rural. Glória Diógenes dirige a sua criatividade científi ca para este momento novo, do qual todos nós aqui presentes somo partícipes.

Manda a tradição que na solenidade de ingresso de um novo Sócio Efetivo seja divulgado o seu “curriculum vitae”.

É uma terminologia incompleta e em vários aspetos imprópria. A expressão latina “curriculum vitæ” signifi ca trajetória de vida. Corporifi ca-

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-se em documentos que se referem ao progresso na formação educacional e se estende às experiências da pessoa que fi gura no título. Demonstra as competências da pessoa sempre em associação a documentos. Dito de outra forma, o “curriculum vitæ” fornece o perfi l da pessoa para um relacionamento com instituições acadêmicas, culturais, ou para fi ns de trabalho. Por conseguinte, a denominação mais apropriada é “curriculum documenta”. Não se trata, propriamente, de “curriculum vitae”.

Por amplo que seja, o “curriculum documenta” não revela quali-dades pessoais. As qualidades transparecem no “curriculum vitae”, sem documentação alguma.

Diplomas, certifi cados, trabalhos científi cos publicados e demais itens visíveis das atividades desenvolvidas, todo esse conjunto confi gura documentos. É certo que foram obtidos no decorrer da vida cronológica. Contudo, os fatos mais relevantes, que assinalam qualifi cações da pessoa em si, como regra não comportam documentação alguma. São valores intangíveis que ultrapassam as fi guras bidimensionais de pergaminhos ou de papéis especiais. São exatamente esses valores não documentados que formam o “curriculum vitae”.

Proponho-me a apresentar o “curriculum documenta” e o “cur-riculum vitae” de Glória Maria dos Santos Diógenes. Serei breve na apresentação do “curriculum documenta” da Antropóloga Urbana. Serei consistente na apresentação do “curriculum vitae” da pessoa que se junta a nós no Instituto do Ceará. Entendamos que neste último serei abrangente apenas na dimensão do meu conhecimento efetivo.

No “curriculum documenta” destaca-se um determinado avanço em busca de crescente conhecimento. Refi ro-me a:

Graduação com Licenciatura em Ciências Sociais, pela Universidade Federal do Ceará –UFC, 1980.

Especialização em Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano e Regional, Universidade Federal do Ceará – UFC, 1982.

Mestrado em Sociologia, ainda pela Universidade Federal do Ceará – UFC, 1989.

Doutorado em Sociologia, novamente pela Universidade Federal do Ceará – UFC, 1998.

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Pós-Doutorado no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Portugal, como bolsista da CAPES

Em sua vivência profi ssional na Prefeitura Municipal de Fortaleza, é visto o foco na defesa da criança, do cidadão adolescente ou adulto, e da família. Exerceu os cargos de:

Presidente da Fundação da Criança e da Família Cidadã, 2005-2009.

Secretária de Direitos Humanos, 2009-2010.

Ultrapassando as fronteiras do Brasil, revela-se um novo cenário de vivência universitária, desta vez no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal, onde foi admitida como:

Professor Visitante, com enquadramento funcional de Pesquisador, 1999-2001; 2005-2007.

Em sua vivência na Universidade Federal do Ceará – UFC, desta-ca-se a sintonia com o meio Acadêmico:

Vínculo com o Departamento de Ciências Sociais da UFC, por cessão da Prefeitura Municipal de Fortaleza, 2005-2010.

Exercício do Magistério ao nível de Graduação, 1988 – Atual.

Exercício do Magistério ao nível de Pós-Graduação, 2008 – Atual.

Atividades de Pesquisa, 2008 – Atual.

Funções de Direção e Coordenação, 2005 – Atual.

As áreas abrangidas pelas pesquisas realizadas revelam a natureza do seu foco como Antropóloga:

Movimentos Sociais Urbanos: Confl ito e Participação.

Arte Urbana, Grafi ti e Pichação: Cidade e Ciberespaço.

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Violência, Cultura e Juventude.

Juventude, Cultura e Redes Sociais

Torcidas Organizadas de Futebol: Violência e Juventude.

Artigos científi cos, livros, trabalhos publicados em Anais de Con-gressos e capítulos de livros publicados formam outro amplo campo de trabalho, onde se incluem 73 títulos.

Artigos em jornais e revistas agregam mais 38 títulos. Faço pausa no “curriculum documenta” e entro no “curriculum

vitae”, que pessoalmente valorizo muito mais. Faço a pausa por conta da síntese prometida. Ela não foi integralmente obedecida em razão da diversidade e número dos trabalhos empreendidos pela nossa nova Sócia Efetiva desta noite.

Inicio por um registro da minha memória, quando a Universitária Glória Diógenes cumpriu estágio na Superintendência do Desenvolvimento do Estado do Ceará – SUDEC, ao tempo em que fui Superintendente. Ainda cumprindo sua formação ao nível de graduação, a Universitária revelou em seus trabalhos já ser dotada de competência ao nível dos profi ssionais graduados na mesma área científi ca sua.

As qualidades da Universitária adquiriram dimensão crescentemente maior enquanto progrediu sua ascensão profi ssional.

Se admitirmos que os olhos são espelhos da alma, através dos olhos da pessoa que se junta a nós nesta solenidade brilha o refl exo de uma perso-nalidade forte, de uma notável capacidade de trabalho, de fi delidade a todas as ações que empreende, também de capacidade de interagir em equipe.

As palavras desta avaliação são efetivamente poucas. Contudo, revestem-se de um signifi cado grandioso. Não apenas grande no exame da sua abrangência. De igual modo, diversifi cado.

As considerações aqui externadas revelam um parâmetro de sen-sibilidade. Refi ro-me ao calor do acolhimento à nova Sócia Efetiva do Instituto do Ceará, Glória Maria dos Santos Diógenes.

Você, Glória, está ingressando no Instituto do Ceará não como um ícone da cultura, todavia desprovido de alma. Você está ingressando como pessoa humana de inquestionável cultura, todavia dotada de alma, porquanto responsável por suas ações, nelas se incluindo a construção do seu presente e do seu futuro. A listagem das suas realizações é posta em

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plano imediato à posição da sua personalidade. Esta, a sua personalidade, é visualizada em primeiro plano. Sinto-me feliz por ter recebido delegação para exprimir a relevância deste acolhimento, na solenidade que ora nos congrega.

Concluo evocando a inspiração do poeta Manuel Bandeira. No seu livro Estrela da Manhã, de 1936, encontra-se um poema que exprime intensa ternura. Seu título é Irene no Céu. Muitas pessoas que aqui se encontram o conhecem. A alma do poeta se revela nas seguintes palavras:

Irene pretaIrene boaIrene sempre de bom humor.Imagino Irene entrando no céu:- Licença, meu branco!E São Pedro bonachão:- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

Licença peço eu ao iluminado poeta, para trazer seus versos até ao espaço no qual nos encontramos e reinterpretá-los à luz do ambiente presente. Teremos então:

Glória morenaGlória boaGlória sempre de bom humor.Imagino Glória entrando no Instituto do Ceará:- Licença, Senhor Presidente!E Ednilo Soárez acolhedor:- Entra, Glória. Você não precisa pedir licença.

Caríssima Glória, assim é para o nosso Presidente. Assim é para nós, seus novos Consócios do Instituto. Assim é particularmente para mim. Você é muito bem vinda.

Digníssimas Autoridades que compõem a Mesa Diretora desta solenidade, Senhoras, Senhores, caros Consócios do Instituto do Ceará, muito obrigado.

(Discurso proferido na noite de 10 de março de 2016)

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Agradecendo a Medalha Confederação do Equador

P C *

ifícil expressar a dimensão do sentimento de honra com a homenagem que a cidade de Quixeramobim me faz no dia de hoje.

Apesar de nascido no Recife, minha história também começa aqui. Minhas raízes estão aqui:

• Raízes da genética;• Raízes de formação e educação do meu pai e toda a Família

Saraiva Câmara;• Raízes nos exemplos de vida dos parentes, incluindo avós, tios

e primos. Nascidos e criados em Quixeramobim, respirando a cultura e o caráter do povo desta cidade.

Desta forma, não há como deixar de aqui historiar brevemente as infl uências recebidas, a começar citando os dois grandes troncos genea-lógicos da família Saraiva Câmara.

• De um lado o tenente coronel de milícias Antônio Saraiva Leão, o Papai Saraiva, meu 5º avô, nascido em 1748 e estabelecido aqui em Quixeramobim, ancestral de todos os Saraiva Leão.

• Do outro lado, o patriarca da família Câmara, outro 5º avô, o coronel Miguel Alves de Melo Câmara, nascido no Rio Grande do Norte, que veio residir e se estabelecer em Quixeramobim.

Minha avó, de querida e saudosa lembrança, Tereza Heloísa Sarai-va Câmara, nascida em 1898, e que nos deixou há 35 anos. Exemplo de caridade e de mulher cristã, responsável por criar 14 fi lhos, o que fez de

*Governador do Estado de Pernambuco

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maneira exemplar, deixando um legado de atenção e humanidade, ela que tinha para cada um batesse à sua porta palavras de conforto e estímulo.

Meu avô, Miguel Fenelon Câmara, aquele a quem tio Fernando, seu fi lho, considerava o mais autêntico Câmara: Verdadeiro herói, que enfrentando uma vida dura e difícil (órfão de pai aos 2 anos de idade), ele junto com vovó Heloísa, criaram e educaram 14 fi lhos, sem maiores recursos fi nanceiros. Vovô, já aos 23 anos, assumiu o cargo de 1º tabelião público da Comarca, à frente do Cartório Câmara.

Aqui cabe um parêntese para lembrar e assinalar o fato curioso de que, se de um lado estava meu avô, responsável pelo Cartório Câmara, no outro cartório do município – o 2º Cartório do Registro Civil, estava o bisavô do colega e atual governador do Ceará, Camilo Santana, o Notário Lafaiete Albuquerque. É signifi cativo que hoje tenhamos na fi gura de dois governadores do Nordeste, descendentes da cidade de Quixeramobim.

Voltando a falar do meu avô Miguel, destaco que, apesar da pouca idade, tinha a responsabilidade, competência e honestidade necessárias para a função pública – características de caráter, tomadas como exemplo para todos nós. Ao todo, 46 anos de dedicação total à causa pública.

Como bem frisa tio Fernando, um dos historiadores da família, meu avô Miguel, apesar de militar na política, nunca exorbitou da função de servidor público. Recebia a todos indiscriminadamente, sem distinção social, de credo ou raça. Sua casa, quase todas as noites, era ponto de reunião dos políticos e aí se decidiam os destinos de Quixeramobim à época.

Foram 14 fi lhos, nascidos e criados em Quixeramobim – meus tios – cuja convivência, apesar de distante, contribuiu para minha formação:

1. Tio José Aurélio, o primogênito, militar, intelectual e escritor.

2. Tio José Homero, eleito jovem prefeito de Quixeramobim aos 29 anos, no ano de 1950.

3. Dom Miguel Câmara, o tio padre, ilustre fi lho da terra, arcebispo emérito de Teresina. Exemplo de vida dedicada ao próximo.

4. Tio Antônio de Pádua – intelectual e funcionário público de carreira.

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255Agradecendo a Medalha Confederação do Equador

5. Tio Fernando Câmara – mais um intelectual da família, escritor e historiador, o responsável pelo resgate da história de toda a família Saraiva Leão e Câmara, e organizador das nossas famosas convenções familiares.

6. Manuel Fenelon, tio Neném – militar de carreira destacada, que nos deixou tragicamente, mas de quem guardo boas lembranças.

7. Irmã Maria Alzira, nossa tia freira – exemplo de dedicação cristã e vida devotada aos mais necessitados.

8. Tia Heloísa Helena, tia Nena – exerceu papel fundamental na criação de todos os tios e tias, ajudando vovó – considerada sinônimo de vida, de desprendimento e caridade.

9. Maria Olindina, tia Didi – também nos deixou muito cedo, minhas lembranças de pessoa determinada, caridosa e humana.

10. Vicente de Castro, nosso tio Marcos – também funcionário público, com rol de serviços prestados na Sudene – dele temos todo o repertório de causos da vida em Quixeramobim, com seus personagens e histórias, celebradas com seu bom humor característico.

11. Tereza de Jesus, tia Tetê – exemplo de beleza, simpatia, bondade e disponibilidade – presente nos momentos bons e também nos difíceis da família.

12. Maria de Lourdes – tia Branca, que mora em Recife, com quem convivi e ainda convivo mais proximamente, exemplo também de disponibilidade, solidariedade, energia e simpatia, de quem guardo o carinho e as boas lembranças da infância.

13. Tio João Bosco, o caçula dos tios, também da tradição dos servidores públicos da família, pessoa humana e disponível, aquele que se pode contar sempre que precisar.

Falta falar de um fi lho do casal Miguel e Heloísa – para mim o mais importante, e de infl uência determinante na minha formação como pessoa: meu pai, José Waldo Saraiva Câmara.

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Seria signifi cativo para mim, para ele e para todos os aqui presentes, que ele estivesse aqui, mas infelizmente a idade avançada e problemas na saúde o impediram.

Meu pai nasceu aqui em Quixeramobim, em casa, na rua da praça da Matriz. Cursou o primário no Grupo Escolar dr. Assis Bezerra (que vinha a ser um parente de vovó Heloísa). Aos 14 anos foi estudar em Ba-turité, no Colégio Salesiano Domingos Sávio. De lá, aos 16 anos, foi para Fortaleza concluir o segundo grau para, em seguida, ir cursar e concluir o curso de Medicina em Recife, onde fi xou residência.

Casou-se em 1962, com Lilian Saraiva Câmara, minha mãe – a descrição de suas qualidades demandaria mais algumas laudas de discurso, hoje com 54 anos de casados. Papai tinha (e tem) um temperamento muito parecido com o de seu pai (vovô Miguel) e nossa criação – junto aos meus quatro irmãos: José Waldo Filho, Fernando Antônio, Luís Eduardo e Ana Cecília – seguiu semelhante àquela que também recebera.

A esta formação eu reverencio sempre: uma mistura perfeita de amor e carinho, honestidade e seriedade de propósitos, integridade e retidão, disponibilidade, espírito cristão, calor humano e atenção ao outro. A eles toda a minha gratidão.

A MEDALHA CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR possui um simbolismo muito forte para mim, que sou pernambucano.

Sabemos que a Confederação do Equador foi um dos aconteci-mentos mais importantes para a formação histórica e política do Estado de Pernambuco.

O que nem todos sabem é que esse movimento histórico irradiou para outros Estados, repercutindo, inclusive, em várias vilas cearenses, a exemplo da nossa Quixeramobim.

Foi exatamente na Câmara Municipal de Quixeramobim, em 9 de janeiro de 1824, sob a liderança de Gonçalo Inácio de Loyola Albuquerque e Mello, conhecido como Padre Mororó, que se proclamou a deposição da Dinastia dos Bragança, confi rmando-se a ADESÃO DO CEARÁ ao movimento revolucionário pernambucano.

Receber esta comenda é motivo de muito orgulho e responsabilida-de, especialmente na qualidade de representante do povo de Pernambuco.

Governar um Estado da importância de Pernambuco não é um desafi o pequeno, ainda mais no momento que o país atravessa (de crise política, ética, com refl exos negativos no setor econômico e acima de tudo na vida das pessoas).

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257Agradecendo a Medalha Confederação do Equador

No entanto, as crises não me colocam receio. Como dizia o ex--governador e amigo, Eduardo Campos: “não podemos dar intimidade a problemas”.

Além disto, SOU FILHO DE QUIXERAMOBIM, terra de Antônio Conselheiro, e herdei a FORÇA e a CORAGEM DO SERTANEJO.

NÃO SOU A FAVOR do discurso do quanto pior melhor.Entendo que devemos ter participação ativa, no sentido de apresen-

tar alternativas para contribuir com a solução da crise, porém de forma PACÍFICA e DEMOCRÁTICA, com muita SERENIDADE e RESPON-SABILIDADE.

Eu continuo acreditando no amanhã. Jamais perderei a esperança. Lembrando novamente Eduardo Campos, “não vamos desistir do Brasil”.

E quero também dizer a todos vocês que apesar de todas as difi cul-dades, tenho avançado em muitas experiências bem-sucedidas no comando do Governo do Estado de Pernambuco.

Possuímos um modelo de Governança, de Gestão, que é referência nacional, que parte de pressupostos tão em falta no Brasil, ouvir a popu-lação, planejar, executar, avaliar, corrigir, e fazer as entregas.

O Nordeste brasileiro ainda tem muitas desigualdades, mas há muito tempo deixamos de ser um problema, para sermos parte da solução do Brasil.

Não posso deixar de citar experiências bem-sucedidas, que estamos dando continuidade em Pernambuco, e eu gosto de sempre destacar alguns AVANÇOS recentemente obtidos na área da EDUCAÇÃO PÚBLICA, pois considero uma área prioritária da minha gestão e não podemos falar no amanhã sem pensar em educação de qualidade que chegue a todos.

- Pernambuco, nos últimos 8 anos, SUBIU 17 POSIÇÕES e está em QUARTO LUGAR no Ranking nacional do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), no ensino médio.

- Pernambuco tem a MENOR TAXA DE EVASÃO ESCOLAR e, portanto, tem a ESCOLA PÚBLICA MAIS ATRATIVA DO PAÍS, no ensino médio.

- Pernambuco tem a maior rede de Escolas de Tempo Integral do País, com mais alunos matriculados do que Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais juntos.

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- Pernambuco implantou o PROGRAMA GANHE O MUNDO: foi iniciado em 2011 e é uma ação do Governo do Estado que já enviou MAIS DE QUATRO MIL ALUNOS do ensino médio da rede pública estadual, por mérito, para fazer intercâmbio, por 6 meses, em países de língua inglesa e espanhola. Importante res-saltar que foram enviados estudantes para países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Espanha, Argentina e Chile, com todas as despesas custeadas pelo Poder Público.

Ações desse tipo nos dão a certeza de que, com vontade política e seriedade, podemos superar barreiras e realizar muitas ações em benefício da população que mais precisa. Todo Gestor Público deve incansavelmente fazer mais com menos.

Estes RESULTADOS POSITIVOS aqui apresentados são uma pequena (porém valiosa) demonstração de que este FILHO DA TERRA está trabalhando para honrar a missão que lhe foi confi ada por milhões de pernambucanos.

Eu gostaria de fi nalizar, agradecendo mais uma vez ao Excelen-tíssimo Vereador RÔMULO COELHO, aos ilustres pares que compõem esta Câmara Municipal e ao povo de Quixeramobim.

E peço-lhes permissão para encerrar minha fala, dizendo que HOJE, com esta gentil homenagem, os senhores me deram a oportunidade de voltar, com muito gosto, às origens, e de manifestar publicamente minha imensurável gratidão, de modo que agradeço veementemente e me sinto, agora (mais do que nunca), autorizado a concluir, pedindo emprestados os versos do saudoso poeta popular Patativa do Assaré, para expressar, com muitíssimo orgulho, ao povo daqui que

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259Agradecendo a Medalha Confederação do Equador

“Eu sou de uma terra que o povo padeceMas não esmorece e procura vencerDa terra queridaQue a linda caboclaDe riso na bocaZomba no sofrerNão nego meu nomeOlho pra fomePergunto o que háEu sou brasileiroFilho do NordesteSou cabra da pesteSou do Ceará.”

Muito obrigado !!!

(Discurso de agradecimento do Governador Paulo Câmara, de Pernambuco, ao receber, em 11 de março de 2016, na Câmara Municipal de Quixeramobim, a mais alta comenda daquele município - a Medalha Confederação do Equador)

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A Sereia de Ouro e o bom combate pela construção do mundo com que sonhamos

A G *

umprimento a anfi triã desta solenidade, a Família Queiroz, aqui representada por fi lhos, genros, netos e bisnetos dos empresários Edson e Yolanda Queiroz, reportando-me, especialmente, aos fi lhos do casal: Chan-celer Airton Queiroz, Senhoras Renata Queiroz Jereissati, Lenise Queiroz Rocha e Paula Queiroz Frota; Saúdo os amigos que integram o Sistema Verdes Mares, salientando o jornalista Antônio Pádua Lopes; Cumprimento as autoridades presentes, o Presidente da Academia Cearense de Letras, José Augusto Bezerra, os agraciados com o Troféu Sereia de Ouro em 2016 e em anos anteriores, nossas famílias, convidadas e convidados,

Rememoramos, no ano de 2016, quatro séculos de encantamento, como diria Guimarães Rosa, do imenso poeta e dramaturgo William Shakespeare. Ao longo de sua vida e com a força de seu talento genial, o bardo inglês antecipa-se ao futuro das artes de representação, ao criar uma dramaturgia que se revelaria como um dos mais fortes paradigmas da história desse gênero e ao construir, em 1599, o Globe Theatre, prédio com formato aproximado do Coliseu de Roma, realizado em madeira, que prefi gura o teatro como espaço específi co para a representação cênica. Edifi ca, assim, uma ponte entre o teatro que o antecede - das tragédias gregas encenadas em arenas ao ar livre, algumas até hoje existentes, aos espetáculos de saltimbancos e menestréis apresentados em praças das vilas medievais, mas também em castelos, aos autos, nos átrios de igrejas, às diferentes exibições tradicionais de rua... -, e o que vem depois, especialmente as representações que assumem características próprias de ambiente interno, a partir da adoção do teatro à italiana, edifício planejado

* Sócia Efetiva do Instituto do Ceará.

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precisamente para a dramatização artística e o deleite do público, de que o Theatro José de Alencar, que nos abriga nesta noite, é herdeiro.

Assim como as praças eram, e ainda o são, palco para a arte tea-tral, os edifícios construídos para o espetáculo dramático constituem-se também como espaços para outras manifestações de vida social. Desse modo, importantes acontecimentos históricos aconteceram e acontecem no palco do TJA, e entre eles, ressalto a instalação da Universidade Fe-deral do Ceará, em 1955, em sessão presidida pelo reitor-fundador, Prof. Antônio Martins Filho, que, para maior honra de todos os agraciados por essa comenda, recebe o Troféu Sereia de Ouro, em 1974.

O teatro ofi cial do Ceará, idealizado desde meados do século XIX, e erguido somente no início do século XX, é considerado como uma das mais belas obras da arquitetura de ferro no país. Recebeu o nome do cearense que dignifi cou e consolidou as letras brasileiras, ao pintar, na fi cção narrativa e na dramaturgia, um amplo afresco de nossa história, dos costumes das várias regiões do vasto país e do Rio de Janeiro de seu tempo, o Segundo Reinado.

Inaugurado em 1910, o Theatro José de Alencar registra, em sua memória centenária, espetáculos de variadas artes, da encenação dramática à música erudita, com orquestras sinfônicas; aos shows de Bossa-Nova, com um banquinho e um violão; às manifestações tradicionais - bumba--meu-boi, maracatu -, à dança e ao balé clássico, ao canto, às comédias, às operetas... Após a grande reforma e recuperação deste teatro, sua rei-nauguração, em 1991, foi comemorada com belo espetáculo, Narração da Viagem à Província do Ceará, que conta nossa história a partir de poetas e prosadores da terra, com roteiro e direção de Aderbal Freire-Filho, ilustre dramaturgo cearense, posteriormente laureado com a Sereia de Ouro.

Aqui estamos, neste espaço de arte e memória, para escrever mais uma página da vida cearense. Dando continuidade à tradição iniciada em 1971, o Sistema Verdes Mares promove hoje a quadragésima sexta edição da cerimônia em que entrega o Troféu Sereia de Ouro a quatro cearenses. Relata Dona Yolanda Vidal Queiroz, em seu livro de memórias, Momen-tos, publicado em 2015, que a criação do troféu surgiu da intenção de seu marido e fundador do grupo empresarial que leva seu nome, Edson Quei-roz, de agraciar quatro personalidades de relevo à época. Conta-nos Dona Yolanda que, no ano anterior, Edson Queiroz, em conversa com Mino, artista a quem encomendara o desenho de um ícone para representar a TV Verdes Mares, explicitara que essa emissora deveria ser reconhecida por

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um símbolo marítimo. Nas palavras da memorialista: “Mino argumentou que a sereia estava nos mares e encantava, o que tinha relação com a atração que a TV iria exercer sobre as pessoas” (p.153). Aceita a sereia e a partir de sua imagem, foi, também, posteriormente, elaborado o troféu, em prata de lei, recoberta de ouro.

Dona Yolanda era a alma mater das cerimônias da Sereia de Ouro, que preparava e presidia. A solenidade de hoje é a primeira sem a presença de quem aportou signifi cação social, histórica e cultural a esse acontecimento. Ao lamentar sua ausência, nesta noite, sei que minha voz representa não só a dos agraciados de 2016 e dos anos anteriores, como a da Família Queiroz e dos convidados. Durante quase cinco décadas, Dona Yolanda dignifi cou a entrega do Troféu Sereia de Ouro com a fortaleza dos cearenses que enfrentam a vida de cabeça erguida e a gentileza dos fi lhos de nossa terra acolhedora.

Não é novidade a constatação de que a galeria dos premiados em 46 edições do Troféu Sereia de Ouro apresenta amplo painel dos cearenses que se distinguem em diferentes áreas de conhecimento, ação e cultura, desde dignatários religiosos, cito o notável Cardeal Aloísio Lorscheider, a industriais, menciono o inesquecível amigo e respeitado empresário Ivens Dias Branco (representado nesta solenidade por Dona Consuelo Dias Branco e família), a artistas, lembro Aldemir Martins, Estrigas, e Heloísa Juaçaba, a médicos, recordo Fernando Pompeu e Dr. Haroldo Juaçaba, a poetas e romancistas, cito, com prazer, Artur Eduardo Benevides, Patativa do Assaré e Rachel de Queiroz, primeira escritora a ser laureada com a Sereia. Saliento que aqui destaquei apenas alguns agraciados que já não se encontram na vida terrena, mas povoam nossa memória.

Nas grandes áreas a que os quatro premiados deste ano pertence-mos: Medicina, Direito, Cinema e Literatura, há, na galeria de sereiados (eis um neologismo já perfeitamente integrado à fala e escrita cearense!) nomes admiráveis que nos antecederam e enobrecem a comenda que nos é outorgada. Considerando que os currículos dos agraciados de hoje já foram lidos no protocolo desta cerimônia, ressaltarei apenas as linhas mestras que orientam as realizações das personalidades cearenses que, por terem honrado o Ceará em suas áreas de atuação e avançado o amanhã, recebem o Troféu Sereia de Ouro, tão respeitado em nosso estado e no país.

Nascido em Coreaú, cidade que fl oresceu em sesmarias férteis à margem do rio de mesmo nome indígena que signifi ca “bebedouro, água ou viveiro de curiás”, o médico Anastácio Queiroz Sousa, desde o início de sua

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carreira, demonstra interesse pela saúde em nossa região, quando se especia-liza em Medicina Tropical e em Doenças Infecciosas, nos Estados Unidos, e passa a dedicar-se a essas áreas. Na brilhante carreira acadêmica que vem construindo na Faculdade de Medicina da UFC, como professor na graduação e em dois programas de pós-graduação stricto sensu, como pesquisador e coordenador do Núcleo de Medicina Tropical, Dr. Anastácio contribui para o adiantamento da ciência, no país e no mundo, no âmbito de suas especia-lidades médicas. No percurso de sua atuação em saúde pública, destaca-se nos cuidados com as populações mais vulneráveis a doenças infecciosas e tropicais que atende no Hospital São José e na excelência de sua gestão como Secretário de Saúde do Estado do Ceará, quando instaura projetos para me-lhoria do sistema de saúde, em que sobressai o grande sucesso do programa de redução da mortalidade infantil. Dr. Anastácio credita-se, assim, ao justo reconhecimento de seus pares e da sociedade, manifestado por prêmios e títulos e por sua participação em respeitáveis entidades como a Sociedade Americana de Medicina Tropical e a Academia Cearense de Medicina.

Na cidade que se distingue por sua aura mística em torno da fi -gura do Padre Cícero Romão, nasceu o Desembargador Teodoro Silva Santos, que se declara fervoroso devoto do religioso que, há mais de um século, atrai a Juazeiro do Norte romeiros da região nordestina. Criança do sertão, com dezessete irmãos, o menino Teodoro cedo compreende a recomendação de sua mãe, Sra. Alaíde Silva Santos, para dedicar-se aos estudos. Desloca-se para a capital e aqui cursa Ciências Jurídicas e Sociais. Ao encaminhar-se para Pós-Graduação em Processo Penal e Mestrado em Direito Constitucional, desenha sua área de atuação no magistério que vem a exercer na Unifor, na Escola Superior do Ministério Público do Ceará e na Escola Superior da Magistratura. Seus conhecimentos aca-dêmicos, registrados em artigos que publica em periódicos nacionais e estrangeiros e em livros, com destaque para sua tese de mestrado e para a obra intitulada Princípio do direito ao silêncio e de não produzir provas contra si, que proximamente apresentará ao público, aliam-se à experiência como Promotor e Procurador de Justiça do Estado do Ceará e no atual desempenho como Desembargador do Tribunal de Justiça do Ceará, para a consolidação de sua vitoriosa carreira jurídica, que o fez merecedor de honrosas comendas, entre elas, o título de Cidadão Fortalezense e o Mérito Judiciário do Trabalho Comenda da Ordem Alencarina.

“Minha casa é sempre Fortaleza”, declara em reportagem publicada ontem pelo Diário do Nordeste, Karim Ainouz, conterrâneo que honra nossa cidade e leva o nome do Brasil além, muito além de nossas fron-

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teiras. Logo após sua graduação universitária em Arquitetura e mestrado em Cinema, Karim Ainouz defi ne-se como roteirista e diretor, na área de vídeo e cinema, em 16 e 35 mm, curtas e longas, documentário e fi cção e como artista visual, participando de instalações e exposições em impor-tantes museus de arte. Ao participar, mundo afora, de cursos, workshops, residências e tutorias (e aqui ressalto sua atuação em Fortaleza, na Escola Porto Iracema das Artes), em que expande sua experiência e gera novos conhecimentos para os integrantes desses programas, Karim exerce a função de mestre, considerando-se a sábia defi nição de Rosa pela voz de Riobaldo, que aprecio como um lema: “Mestre é quem, de repente, aprende”. Seu longa de estreia, Madame Satã, de 2002, já marca o tom de destemor e originalidade da fi lmografi a de Karim Ainouz, hoje respeitado nacional e internacionalmente por haver merecido importantes prêmios, mas, sobretudo, pela entusiástica recepção crítica e de público, que o consagra como um dos mais relevantes cineastas da contemporaneidade.

Como dizem os franceses: - Chapeau, Senhores! É com honor que recebo em tão digna companhia a comenda que o Sistema Verdes Mares nos atribuiu!

Nasci em Fortaleza, bem perto deste teatro, na casa de meu bisavô, Thomaz Pompeu. Com minha mãe, aqui presente, na beleza e sabedoria de seus quase 100 anos, Angela Laís Pompeu Rossas Mota, exímia con-tadora de histórias e guardiã da memória da família e da cidade, aprendi a arte de entrançar histórias, e com meu pai, Luciano Cavalcante Mota, habitante de minha saudade, meu mestre e guia, a de amar a literatura e o dom da vida. De leitora apaixonada tornei-me estudante e professora de Literatura na UFC, dedicando-me sempre a temas literários que me apaixonam. Na gestão universitária, agindo em conjunto com colegas, alunos e funcionários, plantamos as sementes do Mestrado em Letras, do Instituto de Cultura e Arte- ICA- e recuperamos a dignidade da Casa de José de Alencar. No Doutorado e no Pós-Doutorado, na UFMG, busquei as faces de Antônio Conselheiro na Literatura e na História. No conví-vio permanente com a literatura, descobri-me escritora. Se meu livro de estreia, O mundo de Flora, comemora 25 anos, e a ele vários outros se seguiram, acaba de nascer o caçula, O silêncio da penteadeira... escritos todos enquanto me dedicava à UFC, cuidava de Oswaldo Filho, Daniel e Angela Laís, atuava na Academia Cearense de Letras e no Instituto do Ceará, acolhia Priscila, Sunny e Davi, dividindo sempre a vida e o amor com meu marido Oswaldo, com quem aconchego nossos oito netos que nos trazem a alegria da renovação.

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Assim somos nós, os agraciados de hoje, seres humanos com suas lutas e esperanças. Nos tempos sombrios que vivemos, em que, todos os dias, assistimos ao desespero de irmãos que tentam atravessar o mare nostrum e outras paragens, fugindo a guerras e perseguições políticas, religiosas, étnicas e de gênero, em busca da liberdade e do direito de vi-ver; em que sabemos do desamparo daqueles que, em pleno século XXI, morrem de fome, sede e por falta de acesso a tratamentos de saúde... A luta pelo direito desses irmãos e irmãs e a esperança de um mundo mais justo nos movem. Reconhecendo os avanços sociais e o desenvolvimento de Fortaleza, do Ceará e do Brasil, nos últimos anos, cultivamos, no entanto, a esperança de muito mais para nossa capital, nosso estado e nosso país. Aspiramos a uma Fortaleza mais atenta às necessidades e anseios de seus cidadãos, que se esforce para reverter o futuro inscrito na testa de tantas crianças que perambulam pela vida. Queremos um Ceará que resolva seus seculares problemas de convivência com o semiárido, sobretudo em episódios de seca, que, aliás, encobrem enfermidades sociais gravíssimas. Lutamos por um Brasil que respeite e aperfeiçoe seu regime democrático, em que os três poderes republicanos representem dignamente os interesses da nação e os direitos de nossa gente, mantendo o estado de direito, pra-ticando a honestidade transparente e combatendo, com o devido respeito a nossa Carta Magna, a corrupção que degrada o país desde o Brasil-Co-lônia. Sonhamos com um mundo em que todos tenham direito a comida, moradia, trabalho, educação, saúde, cultura, respeito e paz. O mesmo mundo que Francesco, na pequena cidade medieval de Assis, sonhou! O mesmo mundo a que se referia Martin Luther King, ao bradar: “I have a dream!” Um mundo que mantenha, como o mestre carpina de João Cabral, a esperança no “espetáculo da vida... mesmo quando é a explosão de uma vida Severina”. No fi o dessa esperança, lembramos a canção Imagine, de John Lennon, por ser uma utopia do presente, ao propor que o mundo contemporâneo constitua uma grande irmandade.

Enfi m, agradecemos ao Sistema Verdes Mares e à Família de Edson e Yolanda Queiroz, a concessão do Troféu Sereia de Ouro, que tanto nos honra e que nos impulsiona a continuarmos o bom combate pela construção do mundo com que sonhamos.

(Discurso como Oradora Ofi cial da Solenidade de Entrega do Troféu Sereia de Ouro pelo Sistema Verdes Mares de Comunicação, Theatro José de Alencar, 30 de setembro de 2016)

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Discurso de Recepção ao Sócio Efetivo José Eurípedes Maia Chaves Jr.

M G C S *

Minhas senhoras, meus senhores,Estimados consócios.

A primeira grande difi culdade consiste em conquistar o prestígio; a segunda, em conservá-lo por toda a vida; e a terceira, preservá-lo depois de morto.Benjamin Robert Haydon: pintor e escritor inglês (1786-1846). In: DUAILIBE, Roberto. Duailibe das Citações. p.383.

1 PREÂMBULO

o iniciar esta peroração, pedimos a devida vênia para assinalar a nossa incontida gratidão ao presidente e à diretoria desta vetusta Casa da Cultura cearense, por nos confi arem a responsabilidade de recepcionar, em nome dos seus sócios, o sesquicentésimo membro desta secular confraria que muito tem honrado a tradição cultural da Terra da Luz.

Como preâmbulo, ainda que estejamos muito à vontade por anfi trio-nar um co-irmão, um discípulo de Hipócrates, o Dr. José Eurípedes Maia Chaves Jr., com quem preservamos várias similitudes de interesses, tanto profi ssionais como culturais, temos a dizer que colegas outros, cultores da boa retórica e primorosos escritores, estariam melhores aquinhoados a proferir uma saudação à altura do ilustre companheiro que ora se acolhe no Instituto do Ceará, propiciando a todos um maior deleite a tão pomposo momento.

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O INSTITUTO DO CEARÁ (Histórico, Geográfi co e Antropo-lógico) completará, no próximo ano, em 4 de março de 2017, 130 anos de existência. Sua instalação remonta ao ano 1887, sob a inspiração no Instituto Histórico e Geográfi co Brasileiro, este fundado em 21 de outubro de 1838. Nesse interstício, da sua fundação no século XIX aos dias atuais, foram muitos os membros da rotulada Casa do Barão que contribuíram robustamente para o conhecimento dos fatos conectados à vida social e cultural do Ceará, território assolado por inclementes fenômenos da natureza e por desmandos políticos, que solapam o seu desenvolvimento econômico, realçando as marcantes iniquidades comprometedoras do bem-estar social de nossa gente.

Os estudos conduzidos por sócios do Instituto do Ceará, desde os seus tempos primordiais, em sua larga maioria, não se quedaram à poeira do passar dos anos, permanecendo olvidados nas prateleiras, decaindo no esquecimento. Bem ao contrário, eles foram e vêm sendo disseminados entre órgãos e estudiosos interessados, conformando o prestígio dessa instituição, em consonância com o cuidado que devota à sua fi nalidade estatutária, em prol do estudo da História, da Geografi a e da Antropologia do Ceará.

2 DO PROCESSO ELEITORAL

Em sua obstinada procura a fi m de ratifi car o Instituto do Ceará como um reduto de mentes férteis e produtivas, seus sócios, amparados nos dispositivos do Estatuto atualizado em 2012, quando da existência de vacância, efetuam propostas de admissão na entidade, de nomes capazes de honrá-la, por sua decência e pelo capital de saberes agregados, bem assim convalidados pela colaboração ofertada à perenização da memória do Ceará e de sua gente.

Desse modo, conservando a atenção às prerrogativas legais que o Estatuto da Instituição dispõe, três dos seus associados efetivos: Eduardo de Castro Bezerra Neto, Gisafran Nazareno Mota Jucá e Marcelo Gurgel Carlos da Silva propuseram o nome de José Eurípedes Maia Chaves Jú-nior, para ingresso no quadro de Associado Efetivo do Instituto do Ceará, tendo por lastro as suas qualidade e consistente produção bibliográfi ca, mercê dos seus méritos de pesquisador, de memorialista, de observador pertinaz dos fatos históricos e de escritor intensamente antenado com as

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raízes do Ceará, na qual se inserem o homem e o seu ambiente natural em que vive.

A síntese de uma existência permeada por caros princípios éticos, tal como aqui se reporta, validava aquela intenção, importando dizer, ademais, que as referências pessoais, culturais e profi ssionais do então postulante prenunciavam o potencial engrandecimento do Instituto do Ceará (His-tórico, Geográfi co e Antropológico), por inteiro, institucionalmente, e de uma forma singular, para o crescimento pessoal do candidato, ancorado na sua perspectiva cultural que enfatiza “o estudo e a difusão da História, da Geografi a, da Antropologia e das ciências correlatas, especialmente no que se refere ao Ceará”.

No dia 29/08/2016, foi chegada a magna data, quando se realizou a eleição do novo sócio do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico), para repor a vaga aberta com o falecimento do sócio José Reginaldo Lima Verde Leal. Do processo eleitoral, dirigido com muito zelo pelos confrades Pedro Sisnando Leite, Affonso Taboza e Geová Lemos Cavalcante, participaram 30 (trinta) consócios, considerando um colegiado de 37 membros aptos a votar. Desse escrutínio, foi eleito então, por unanimidade dos votantes, o Dr. José Eurípedes Maia Chaves Júnior.

3 DO ACOLHIMENTO

Ao conferir o Nº 150, como resultado da presente posse, em 14/10/2016, o neófi to Eurípedes Chaves Júnior torna-se o décimo sétimo médico a ingressar no Instituto do Ceará, instituição que contou com dois médicos entre os seus doze sócios fundadores. É homérica a responsabi-lidade que se põe sobre suas espáduas, pois aqui pontifi caram os médicos Guilherme Studart, José Sombra, Álvaro Otacílio Nogueira Fernandes, José Lino da Justa, Carlos Studart Filho, Manuel do Nascimento Fernandes Távora, Carlos Feijó da Costa Ribeiro, Josa Magalhães, Florival Alves Seraine, João Batista Saraiva Leão, Oswaldo de Oliveira Riedel, Vinicius Antonius de Holanda Barros Leal, José Borges de Sales e José Murilo de Carvalho Martins, sendo que o último dos citados permanece ativo, entre nós, como sócio remido, para gáudio de todos que o conhecem.

Foram eles fi guras solares da Medicina cearense, que, durante suas vidas laborais, aportaram inestimáveis contribuições à cultura e à ciência no Ceará. O ingresso do Dr. Eurípedes Chaves Jr. completará uma troi-

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ca iátrica, juntando-se aos sócios atuais, os médicos Lúcio Gonçalo de Alcântara (Nº 136) e Marcelo Gurgel Carlos da Silva (Nº 145), que aqui entrou em 23/01/2014.

Ressalte-se que, com a entrada do Dr. Eurípedes, amalgama-se mais a relação do Instituto do Ceará com a Academia Cearense de Medicina (ACM), visto que dos dezessete médicos aludidos, seis deles são patronos de cadeiras da ACM e outros sete foram, ou são ainda, confrades dessa arcádia médica.

Como parte do ritual de posse, comporta-nos, neste elóquio, apre-sentar a seguir o novo sócio, o que se faz de maneira resumida e objetiva-mente, mas sem comprometer a revelação dos elementos principais que balizam o seu precioso currículo.

4 DADOS BIOGRÁFICOS

José Eurípedes Maia Chaves Júnior nasceu em Fortaleza, em 13 de junho de 1956, sendo segundogênito dos cinco fi lhos de José Eurípe-des Maia Chaves, médico-veterinário e pecuarista, e Celita Brasil Girão Chaves, de prendas do lar.

Na capital cearense, estudou o Primário no Instituto São Pedro, o Ginasial, até o primeiro ano do Colegial, no Colégio Castelo Branco, de onde se transferiu para o Colégio São João, dirigido pelo afamado educa-dor prof. Odilon Braveza, para completar o ensino médio, logo galgando vaga no disputado curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), ao ser aprovado e classifi cado em vestibular de janeiro de 1976.

Médico, inscrito no Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará, sob o número 3.527, formou-se pela UFC, em dezembro de 1981, integrando a Turma Rodolfo Teófi lo, da qual foi o orador ofi cial. Cumpriu Residência Médica em Pediatria no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) da UFC, de 1982 a 1983.

Possui o Título de Especialista em Pediatria conferido pelo Conselho Federal de Medicina, em 2010. Exerce, admitido por concurso, atividades médicas na Secretaria Estadual da Justiça e Cidadania do Ceará, desde 1982, e no Ambulatório de Pediatria do HUWC, da UFC, a partir de 1984.

Com o desiderato de obter uma formação cruzada, ingressou como graduado no curso de Direito, da Universidade de Fortaleza (UNI-FOR), em 1995. Ao cabo de tão somente quatro anos, bacharelou-se

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em Ciências Jurídicas, pela UNIFOR, em dezembro de 1998, turma da qual foi, novamente, o orador ofi cial. Ainda recém-formado, foi exitoso em sua submissão ao Exame de Ordem, e tornou-se advogado, recebendo da Seção Ceará da Ordem dos Advogados do Brasil, a sua carteira OAB 12.797.

É sócio-colaborador da Comissão Cearense de Folclore, integrante desde 1996, e, igualmente, da Sociedade Cearense de Geografi a e Histó-ria, admitido em 1993. Possui o diploma de Amigo do Instituto do Ceará, concedido em 2002, à conta do seu reconhecido valor intelectual.

É sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional Ceará (Sobrames/CE), empossado em 10/12/2012, e, desde então, tem participado da autoria das antologias anuais da Sobrames/CE, sendo ainda membro suplente do Conselho Fiscal da atual Diretoria da mesma.

Em 8/04/2015, na Academia Cearense de Medicina, proferiu palestra intitulada Variações em torno da Fundação de Fortaleza. O brilho dessa palestra catapultou a sua eleição como Acadêmico Titular Efetivo da Academia Cearense de Medicina, na qual tomou posse em 29/03/2016, na Cadeira nº 3, cujo Patrono é o Barão de Studart, sendo na ocasião recepcionado pelo renomado neurocirurgião Ac. Djacir Gurgel Figueiredo.

Afora prefácios e apresentações, colaborou com estudos e crônicas em livros de terceiros, e na Imprensa local em diversas oportunidades. É autor dos seguintes livros: Nomes e Expressões Vulgares da Medicina no Ceará (dicionário editado em 1985), cujo prefácio foi escrito pelo reputado ex-sócio deste Instituto, o Dr. Oswaldo de Oliveira Riedel; Raimundo Girão – Polígrafo e Homem Público (roteiro biobibliográfi co), de 1986, que tem prefácio da Profa. Maria da Conceição Sousa, uma ex-sócia desta casa; Cidade de Mathias Beck – Aspectos da Fortaleza de Sempre, de 1991; O Aniversário de Fortaleza (Controvérsias & Equívocos), de 2008; Raimundo Girão, o Homem (1900-2000), juntamente com a Profa. Valdelice Carneiro Girão, de 2000, obra prefaciada pelo empresário Francisco Clodomir Rocha Girão.

São frutos de sua lavra os ensaios Forte São Sebastião versus Forte Schoonenborch: diferentes origens e destinos e Sugestões de leitura para o estudo das ocupações holandesas no Ceará (1637-1644 e 1649-1654) inclusos na coletânea O Siara na Rota dos Neerlandeses, sob a organi-zação do pesquisador Josafá Terto de Amorim, publicada em 2014.

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5 IMPRESSÕES COMPLEMENTARES

Finda essa apresentação alicerçada nos seus dados curriculares, é de bom alvitre tecer considerações complementares sobre a extraordinária fi gura humana do recipiendário, via impressões pessoais, construídas no decorrer das décadas de convivência médica, que melhor amparam a sua admissão no Instituto do Ceará.

Rebento de fi na estirpe, Eurípedes Chaves Jr. tem, entre os seus avoengos, a tradição política do seu avô paterno, o Deputado Franklin Chaves, que exerceu seis mandatos legislativos estaduais e foi governador interino do Ceará, e, do lado materno, herdou o cadinho de cultura, do seu avô Raimundo Girão, um extraordinário polígrafo. Dessa combinação de DNA de perlustradas famílias jaguaribanas, que mesclou os Chaves, de Limoeiro do Norte, com os Girão, de Morada Nova, tinha que brotar, indubitavelmente, coisas boas e belas, como bem representa o perfi lado nesta peça oratória.

Eurípedes realizou vários cursos e treinamentos para um melhor atendimento jurisdicional e à saúde dos apenados do Sistema Penitenciário do Ceará. Essa motivação para o estudo das Ciências Jurídicas o diferencia vocacionalmente, com respeito aos diversos motivos que têm conduzido colegas médicos a ambicionarem a graduação em Direito, pois o que pre-domina neles é expandir e diversifi car a oferta de serviços advocatícios a médicos que são objeto de ações reparatórias da clientela ou mesmo da proteção a si próprios das investidas do seguro médico.

Integrou a Comissão Organizadora das Comemorações do 1º Cente-nário de Nascimento do Historiador Raimundo Girão, em 2000. Possuidor de alentada biblioteca particular de assuntos gerais, já efetuou signifi cativas doações para a Biblioteca Central da UNIFOR e da UECE. Tem especial inclinação para o estudo da História e da Antropologia.

Neto do historiador Raimundo Girão, foi-lhe auxiliar direto e ope-roso em inúmeras pesquisas historiográfi cas, conforme atestam as várias dedicatórias e notas de agradecimento em obras daquele destacado cultor da História do Ceará, tido por muitos como o Heródoto cearense. Durante boa parte da adolescência, Eurípedes morou com o seu avô materno, cuja residência fi cava mais próxima dos colégios em que ele estudava, o que muito concorreu para estreitar a afi nidade parental e aproximar os laços geracionais, numa relação quase de pai e fi lho, e não, de avô e neto.

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Eurípedes tornou-se o guardião zeloso do espólio intelectual (livros, documentos, condecorações, originais de obras dele, objetos pessoais) de Raimundo Girão, assim como o detentor, por determinação dos herdeiros diretos, no caso os fi lhos, dos direitos autorais do mesmo. De Raimundo Girão são essas palavras: “Ele [o seu neto Eurípedes] é o meu braço di-reito... e o esquerdo!”.

Eurípedes Chaves Jr. fez a correção e revisão fi nal de vários traba-lhos (inclusive o último) da Profa. Valdelice Carneiro Girão, que era sua parenta, mas que o considerava um sobrinho espiritual, pela convivência e afi nidade.

Como prova cabal de sua erudição, o médico, advogado e escritor Dr. Eurípedes Chaves Maia Jr. proferiu, recentemente, em 12/09/2016, a palestra sobre o tema: “BARÃO DE STUDART: médico, historiador e escritor”, no “IX SEMEANDO CULTURA”, evento bimestral promovido pela Sobrames/CE, fato que conecta o novo sócio à fi gura estelar de um dos fundadores e ex-presidente do Instituto do Ceará, o Dr. Guilherme Studart.

6 DAS EXPECTATIVAS

O Dr. Eurípedes Chaves Jr. adentra, ofi cialmente hoje, no solar que serviu de residência ao Sr. Jeremias Arruda, o conhecido Palacete Jeremias Arruda, como um amigo, de fato e de direito, do Instituto do Ceará. As suas amiudadas visitas às dependências desta casa, com o fi to de pesquisar e de estudar, deram-lhe uma intimidade com cada canto deste recinto, e, mormente, a oportunidade de acessar o rico acervo contido entre paredes que delimitam os cômodos palacianos.

Aqui, caríssimo Eurípedes, distintas gerações de intelectuais do Ceará, irmanam-se para acolhê-lo, pelos seus exibíveis predicados, e não meramente por ser neto de Raimundo Girão, embora essa descendência possa ser, de pronto, um atributo referencial. O nobre colega há tempos tem participado de nossas atividades culturais, razão pela qual, esperamos a sua importante contribuição para que a Instituição possa, cada vez mais, colimar seus objetivos sociais.

O ano de 2016, que, no dia dedicado a Santo Antônio, assinalou os seus sessenta anos de profícua vida, foi-lhe extremamente pródigo. Em março, ao ser empossado na Academia Cearense de Medicina, conseguiu a láurea máxima da Medicina cearense, um sonho acalantado por incon-

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táveis médicos; e hoje, ao tomar posse no Instituto do Ceará, recebe o reconhecimento do melhor da cultura da terra alencarina.

Com essas vitórias, e tendo em mente as palavras da epígrafe de abertura desta oratória de saudação, Eurípedes Chaves Jr. superou a pri-meira grande difi culdade em conquistar o prestígio; a segunda, pelo visto, já está sendo vencida, por sua determinação em prosseguir o que faz, e, aliás, sempre muito bem feito, conservando o prestígio conquistado; e que a terceira grande difi culdade, que desejamos ter início bem tardiamente, sobrevenha após uma longevidade ativa e saudável para a ventura de tantos que o admiram.

Temos dito!Muito obrigado.

(Discurso pronunciado, como representante do Instituto do Ceará, na Sessão Solene de posse do Sócio Efetivo José Eurípedes Maia Chaves Junior, no Instituto do Ceará no Auditório Tomaz Pompeu Sobrinho, em Fortaleza, em 14 de outubro de 2016).

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Discurso de Posse no Instituto do Ceará de José Eurípedes Maia Chaves Junior

Saudações iniciais!

niciemos a nossa alocução lembrando a sensata orientação do civilista, político e pensador cearense Professor Eduardo Henrique Girão (1882-1961) em sua coletânea Novas Frases, Outros Pensamentos (For-taleza, Editora Instituto do Ceará Ltda., 1955, p. 145): “Mais fechada vive a boca do que falando.//Está, assim, a sabedoria a advertir-te: não fales, senão no momento preciso, e somente quanto baste ao assunto ou exija o dever”. Sigamos o exordial conselho.

Há muito acalentamos o sonho de pertencer aos quadros do ve-nerando Instituto do Ceará, com justiça onomasticamente denominado de a Casa do Barão de Studart (Dr. Guilherme Studart, 1856-1938).Tal desiderato, contudo, nos trazia frequentemente à lembrança o personagem Segismundo, príncipe renegado do rei Basílio da Polônia, em pungente drama barroco, o A Vida é Sonho, escrito pelo último dos grandes espa-nhóis do Siglo de Oro – Calderón de la Barca (1600-1681), a vociferar de sua masmorra encastelada, no monólogo fi nal: “Que é a vida? Um frenesi./ Que é a vida? Uma ilusão, /uma sombra, uma fi cção; /o maior bem é tristonho, /porque toda a vida é sonho, /e os sonhos, sonhos são.” Opúnhamos ao conceito fatalista, todavia, que há sonhos que sonhamos dormindo e sonhos que sonhamos despertos, em plena vigília. Ser membro desta Casa do Barão de Studart foi um sonho que reiteradamente sonhamos em inteira lucidez, e que toma concretude nesta noite de 14 de outubro de 2016, de especial signifi cado para as nossas mais recônditas aspirações.

Aqui estivemos muitas vezes a partir da segunda metade da dé-cada de 1960, já nestas dependências físicas do tradicional e imponente Palacete Jeremias Arruda, construído em 1920 (onde outrora funcionou a Chefatura de Polícia do Estado, a sede da Prefeitura de Fortaleza e o

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Ginásio Municipal), transferido que fora ele, o Instituto do Ceará, de suas instalações do Benfi ca. Na primeira visita, meninote curioso, nos guiou a destra do avô atencioso Raimundo Girão (1900-1988), trazendo igualmente em nossa companhia um senhor de sua confi ança, às suas expensas, para encerar com uma potente Electrolux de três escovas o belo assoalho de tábuas corridas e lustrar com óleo vegetal o mobiliário antigo e venerável pelas suas origens, daquele que Girão considerava a sua segunda casa, das dezenas de agremiações culturais a que pertenceu.

Daí em diante, reiteramos, em inúmeras oportunidades frequenta-mos a Casa do Barão, seja em sessões ordinárias ou solenes; palestras; confraternizações natalinas; por ocasião da visita da atriz Florinda Bolkan (Bulcão) à Instituição deveras estimada pelo seu genitor, quiçá o maior dos nossos genealogistas e inspirado versejador José Pedro Soares Bulcão (1873-1942); na concessão do título de Presidente de Honra concedido a Raimundo Girão, em 1979; em pesquisas para trabalho nosso em sua seleta Biblioteca e Hemeroteca; na posse da Professora Valdelice Carneiro Girão, em 1988, passando a acompanhar algumas de suas posteriores funções no Sodalício a quem exemplarmente serviu nos últimos vinte e cinco anos da sua existência octogenária (1926-2014); no encerramento das festividades comemorativas do 1º Centenário de Nascimento do referido autor de um dos clássicos de nossa Historiografi a, a Geografi a Estética de Fortale-za (1ª edição, 1959); quando lançamos neste mesmo Auditório Pompeu Sobrinho, em 2000, uma substanciosa miscelânea alusiva à efeméride.

Dois anos depois, precisamente em 15 de abril de 2002, recebíamos das mãos do então Presidente Professor Geraldo da Silva Nobre (1924-2005) o diploma de Amigo de Instituto do Ceará, o que muito nos desva-neceu e mais nos aproximou do decano Instituto do Ceará, guardião maior da História, Geografi a e Antropologia da Terra de Capistrano de Abreu e Gustavo Barroso, o terceiro do País na ordem cronológica de surgimento, fundado que foi a 04 de março 1887, hígido na vetustez e dinamismo de seus 129 anos de inestimáveis e ininterruptas atividades.

Ao longo dos últimos decênios tivemos a ventura de conhecer mui-tos dos ilustres e ilustrados membros desta mansão da cultura e do saber. De seus sucessivos presidentes – desde o austero e erudito General-Mé-dico Carlos Studart Filho (1896-1982) até o ocupante maior da presente Diretoria, o reconhecido educador, escritor, Professor Ednilo Gomes de Soárez, corifeu de simplicidade e competência incontestáveis – tivemos

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a satisfação e oportunidade de conhecer a todos, em eventuais e amis-tosos contatos pessoais. Aos atuais componentes do Instituto do Ceará, plêiade de destacados representantes da intelligentsia alencarina, a nossa admiração por suas trajetórias individuais, suas produções intelectuais que acompanhamos com vivo e constante interesse; assim como o nosso penhorado agradecimento pelo inestimável apoio para a consecução de nossa investidura como um dos seus pares, quando passamos a integrar, na condição de sócio efetivo, a esse egrégio Colegiado, que é também, ousamos denominar, a Casa do Dr. Paulino Nogueira Borges da Fonseca (1841-1908).

Estamos cônscios da honraria e responsabilidade assumidas e tudo faremos para corresponder às expectativas em nós depositadas. Fraterno e especial agradecimento aos três generosos patronos signatários da pro-posta da nossa admissibilidade nas hostes do Instituto do Ceará: Doutores Eduardo de Castro Bezerra Neto, Gisafran Nazareno Mota Jucá e Marcelo Gurgel Carlos da Silva.

Prezados Senhoras e Senhores

Chegamos para ocupar, bem expressa o infi nitivo verbal, a vaga aberta com a precoce ausência do insubstituível e saudoso Dr. José Regi-naldo Lima Verde Leal, ocorrida em 03 de novembro de 2015, aos 71 anos. Nascido em Fortaleza a 20 de julho de 1944, muito jovem transferiu-se para as Minas Gerais com a fi nalidade de cursar Engenharia Geológica na Universidade Federal de Ouro Preto (1964-1969), antiga e pioneira Escola de Minas de Ouro Preto. Retornando ao Ceará, passou a laborar na estatal NUCLEBRAS (Empresa Nuclear Brasileira S.A.), depois de extinta, transformada em INB (Indústrias Nucleares Brasileiras S.A.), órgão vinculado à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e subordinado ao então Ministério de Minas e Energia. Ocupou ali os mais altos cargos e funções administrativas e técnicas, tendo, inclusive, esta-giado em Nancy (França) e no Iraque.

Aposentando-se, não se entregou ao merecido remanso junto aos seus, passando a realizar consultoria em Geologia Ambiental e Prospec-ção Mineral. Não se acomodou ainda assim. A sua inquietude e fome de mais aperfeiçoar-se fê-lo cursar o Mestrado em Geologia, na Uni-versidade Federal do Ceará (2001-2003) e Doutorado em Geociências

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na Universidade Federal de Pernambuco (2006-2009), tendo cursado o último semestre desse aprimoramento na Cidade Luz, Universidade de Paris – Sorbonne IV.

Cidadão íntegro, probo e de proverbial mestria profi ssional, ela-borou e defendeu teses, publicou sozinho e em parceria mais de trinta trabalhos na sua área de predileção, participou de encontros e congressos, orientou pesquisas científi cas de terceiros, participou de mesas redondas, bancas examinadoras acadêmicas; sendo agraciado, em reconhecimento por tais ações, com diplomas de Honra ao Mérito. Tomou posse no Insti-tuto do Ceará em 23 de janeiro de 2014, juntamente com o Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva, ocasião em que proferiu comovido e bem elabo-rado discurso como recipiendário. Foram ambos saudados pelo consócio recipiendo Dr. Osmar Maia Diógenes.

O Dr. Reginaldo Lima Verde casou-se com a distinta ouro-pretana Sra. Wanda Marzon Lima Verde Leal, e sua harmoniosa união conjugal perdurou por quarenta e quatro anos. Trouxeram ao mundo os herdeiros (Cláudio – engenheiro civil e administrador, Renato – cirurgião oncologista e Alice – administradora), que deram ao estimado casal os netos Arthur, Léa, Tiago, Rafael e Murilo. Católico e maçom, integrou e foi presidente da Academia Maçônica de Letras do Estado do Ceará (AMLEC). Generoso e afável, praticava a caridade sem alarde e com contumácia, características que defi nem a verdadeira fi lantropia. Gourmet refi nado, acumulou vasta bibliografi a sobre o assunto, apreciando sobremaneira cozinhar para a família e os amigos nas horas vagas. Lembramos ao clã dos Marzon Lima Verde Leal, por oportuno o instante, a confortadora assertiva do escritor hindu bengalês Rabindranath Tagore (1861-1941): “Se choramos porque o sol se põe, as lágrimas não nos deixarão ver as estrelas.”

Concordamos, igualmente, com a seguinte refl exão, primorosa na forma e profunda no conteúdo: “Há vidas que são exemplo e outras, que são exemplo e lição.//O exemplo termina com a morte; a lição sobrevive e perdura, renovada do saber difundido, a iluminar os coevos e as gerações de amanhã.//Vezes reiteradas, unida ao exemplo, a lição será virtude e glória.” – do já citado Eduardo Girão, primeiro docente a receber o título de Professor Emérito da UFC, no seu maximário Frases e Conceitos (Fortaleza, Imprensa Universitária do Ceará, s/d, p. 116). Neste momento de homenagem e recordações, exornemos com um ramalhete de fl ores a coluna onde se engasta a memória excelsa e magnânima do Dr. José Reginaldo Lima Verde Leal.

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Informações mais detalhadas sobre a trajetória de vida e a obra le-gada pelo Dr. Reginaldo Lima Verde podem ser colhidas com a proveitosa leitura do panegírico escrito pelo Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva, estampado na sessão Homenagens Póstumas da Revista do Instituto do Ceará, tomo CXXIX, de 2015, pp. 459-464.

Minhas Senhoras e meus Senhores

Sobre nós mesmos pouco mais diremos. O brilhante discurso com que nos brindou há pouco o confrade e colega Dr. Marcelo Gurgel foi uma peça de irretocável completude, numa linguagem tersa e apostólica benevolência para com a nossa pessoa. Devemos muito à sua fraternidade e apoio. Amigos de longa data, raros intelectuais temos conhecido, nos últimos tempos, com a sua capacidade de pesquisa e produção como es-critor, em diversos gêneros; multiplicidade e efi ciência laboral; além de uma das mais acatadas lideranças da classe a que pertencemos. É ele um insone produtivo, um moto-contínuo. Nosso profundo reconhecimento pela calorosa acolhida, estimado Professor Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva.

Meus caros, se “não há no mundo exagero mais belo que a gratidão”, na percuciente defi nição do moralista francês Jean de La Bruyère (1645-1696), declaramos que nesta noite o nosso coração está em festa, pletórico de contentamento e gratidão. Gratidão aos nossos pais (Eurípedes – in memoriam e Celita) que nos plasmaram em corpo físico, personalidade e nos moldaram o caráter. Aos nossos avós – Consuelo e Franklin Gondim Chaves, Marizot e Raimundo Girão – nossos modelos mais completos de retidão e solidariedade humana. Gratidão aos estimados primos Dr. José Eduilton Girão, fi gura de escol, um dos esteios de seus consanguíneos; à Historiadora Valdelice Carneiro Girão, a inolvidável Val, in memoriam, à sua irmã Dra. Eva Carneiro Girão; ao Roberto Feijó Ribeiro e sua es-posa Fanny – pelo antigo estímulo e continuado apoio. Reconhecimento afetuoso aos nossos familiares, parentes e atenciosos colegas do ofício hipocrático. Igualmente aos confrades e confreiras da Academia Cearense de Medicina (ACM) e companheiros da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional Ceará (SOBRAMES-CE), que muito nos honram e alegram com suas presenças. Gratidão imensurável aos imprescindíveis amigos, os antigos e os mais recentes, irmãos pela benquerença e afi nidade; explicitados aqui os nomes de Maria Célia Cavalcanti Camarão e Márcio

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Guedes Nogueira como seus lídimos representantes. Sintam-se envoltos num largo e demorado amplexo!

Destacados Componentes da Mesa, distintos e doutos Consócios, estimados Convidados, minhas Senhoras e meus Senhores

Atravessamos tempos difíceis, num século marcado, já nos seus albores, pelo nítido recrudescimento da intolerância geopolítica, religiosa e ideológica. A comunidade mundial se depara, amiúde, com percalços abissais. Intuímos um esgarçamento progressivo na cordialidade que deveria permear os relacionamentos interpessoais. A violência bate-nos à porta. Constatamos amplamente tais evidências; entretanto, ponderemos num átimo, qual período da História da Humanidade foi realmente pa-cífi co e próspero para a totalidade dos seus contemporâneos? Prezados, não desanimemos no esforço de alcançarmos dias mais harmoniosos e justos. Sonhemos em pleno estado de consciência e cultivemos, sempre e cada vez mais, a fraternidade. Exortemos com o pedagogo, ensaísta e poeta lisboeta António Gedeão (pseudônimo de Rômulo Vasco da Gama Carvalho, 1906-1997); nós que sabemos e sonhamos: “Eles não sabem, nem sonham,/ que o sonho comanda a vida,/ que sempre que um homem sonha/ o mundo pula e avança/ como bola colorida/ entre as mãos de uma criança.” – última estrofe do poema Pedra Filosofal, publicado original-mente em 1956 (Poemas Escolhidos – Antologia Organizada pelo Autor, Lisboa, Edições João Sá da Costa Ltda., 7ª edição, 2007, pp. 14-16).

Ab imo pectore: muito obrigado!

(Discurso proferido em sessão solene do Instituto do Ceará, na noite de 14 de outubro de 2016).

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EFEMÉRIDES

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Datas e Fatos para a História do Ceará

M. A. A (N )*

Janeiro / 2006

03 - No Hotel Gran Marquise by Sol Meliá, na Avenida Beira-Mar, o Banco Brasileiro de Descontos – Bradesco - assina o contrato de compra e venda do Banco do Estado do Ceará - BEC, assumindo o controle acionário que antes pertencia ao Estado. Na ocasião, o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, destaca que a mudança da marca BEC para Bradesco é “uma questão de economia de es-cala’’ e atende também questões de padronização de equipamentos, agências e serviços. Cypriano afi rma que a empresa não possui “ne-nhum plano de demissão de funcionários’’ e pretende preservar a atual rede de atendimento do BEC no Interior e na capital do Ceará.

11 - Eleita a nova diretoria da Associação Cearense de Emissoras de Rádio e Televisão - Acert - para o período de 2006/2007 composta por José Edilmar Norões Coelho (presidente); Sérgio Cals de Oli-veira, Marcelo Henrik dos Santos e Miguel Dias de Souza Filho (vice-presidentes); José Rêgo Filho e Lindenor de Oliveira (dire-tores fi nanceiros); Francisco Luzenor de Oliveira, Antônio Adilson (diretores secretários); Luís Aguiar Vale (diretor de patrimônio); Anastácio Marinho (diretor de relações exteriores); e João Dummar Neto (diretor de marketing). No Conselho Fiscal, estão Carlos Cas-telo, Etevaldo Nogueira Lima e Gaudêncio Gonçalves de Lucena; suplentes do Conselho Fiscal - José Júlio Cavalcante, Maria Vieira Lins e Glauber Santos Paiva Filho (Glauber Paiva Filho). Adequan-do-se ao novo Código Civil, houve o aumento do número de mem-

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Revista do Instituto do Ceará - 2016284

bros do Conselho Superior, antes com apenas cinco. São eles: Jaime Machado da Ponte Filho, Demócrito Rocha Dummar (Demócrito Dummar), Manoel Eduardo Campos (Eduardo Campos), Miguel Dias de Souza, Moésio Loiola de Melo e Ricardo Nibon Nottin-gham. Além da criação do Conselho Consultivo, formado pelos ex-presidentes da Acert - Eduardo Campos, Francisco Afrânio de Lima Peixoto (Afrânio Peixoto), Fernando Eugênio Marinho, Gélio Coelho, Anastácio Marinho e Demócrito Dummar.

11 - Morre, em Fortaleza, o engenheiro agrônomo Paulo de Brito Guerra (Paulo Guerra), que por muitos anos trabalhou no Departamento Nacional de Obra Contra as Secas - DNOCS. Nascera em Mossoró, Rio Grande do Norte, em 02/02/1914.

19 - O médico Sílvio Ideburque Carneiro Leal falece, de madrugada, em Fortaleza, aos 91 anos de idade, vítima de uma parada cardíaca. Fundador da Sociedade de Assistência aos Cegos (antigo Instituto dos Cegos), ex-presidente do Centro Médico, diretor médico da Es-cola Técnica e fundador do Centro de Oftalmologia da Santa Casa de Misericórdia. O velório acontece no mesmo dia, na Funerária Ternura, Rua Padre Valdivino nº 2255, onde se realiza missa de corpo presente às 15 horas, sendo sepultado às 16h30min, no Cemi-tério São João Batista, no Centro.

21 - Falece, pela manhã, em Fortaleza, no Instituto do Câncer do Ceará - ICC, o padre Raimundo Nonato de Abreu (Padre Camundé), de Reriutaba, aos 35 anos de idade. O corpo do Padre Camundé passa pela capela de Senhora Santana, em Varjota, para uma despedida, seguindo para Reriutaba, onde é velado durante toda a noite. O se-pultamento ocorre pela manhã do dia seguinte, na Capela de São José, distrito de Amanaiara, após missa de corpo presente, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, sede de Reriutaba, ocasião em que os paroquianos de despedem do sacerdote. Padre Camundé completaria cinco anos de sacerdócio no dia 04/03 pró-ximo. Filho natural de Amanaiara, nascera em 1971 e era desejo do sacerdote ser enterrado na Capela de São José.

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285Datas e Fatos para a História do Ceará

26 - O 23º Batalhão de Caçadores - 23BC - tem novo comandante a partir das 17 horas, assumindo o tenente-coronel de Infantaria Eustáquio Bomfi m Soares que substituirá o também coronel de infantaria João Batista Stevaux, que passou três anos à frente daquela corporação. O batalhão localiza-se no quadrilátero entre a Avenida 13 de Maio, Avenida dos Expedicionários, Avenida Eduardo Girão (do Canal) e Avenida Luciano Carneiro.

27 - Morre, em Fortaleza, o empresário Raimundo Tavares de Sousa, proprietário da lanchonete Azteca, que funciona há 24 anos nos bai-xos do Edifício Perboyre e Silva, a Casa do Jornalista, sede da Associação Cearense de Imprensa - ACI. Era nascido no Crato, CE. Era maçom do Grão Mestrado do Ceará.

30 - Maria Proença de Macedo (Maria Macedo), esposa do empresário José Dias de Macêdo, fundador e presidente do Conselho de Ad-ministração da J. Macêdo, falece na madrugada, aos 83 anos de idade. Após missa de corpo presente, celebrada pelo padre jesuíta Ferdinando Torres da Costa e Silva (Fred Sólon), na Capela Chris-tus, familiares e amigos vão para o Cemitério São João Batista, no Centro, onde o corpo é sepultado no fi m da tarde. No meio artístico, Maria Macêdo era conhecida pelo amor à música e à relação com os artistas cearenses. Era nascida em Fortaleza a 04/08/1922.

31 - Morre, em Fortaleza, o médico psicanalista Rômulo da Justa Teófi lo Gaspar de Oliveira (Rômulo Teófi lo), vítima de falência múltipla dos órgãos. Foi professor da Universidade Federal do Ceará - UFC. Nascera em Fortaleza no dia 13/07/1925.

Fevereiro / 2006

01 - A Base Aérea de Fortaleza tem novo comando, quando assume o coronel aviador Rogério Gammerdinger Veras, substituindo Carlos de Almeida Batista Júnior, do mesmo posto.

04 - Falecimento, na cidade do Rio de Janeiro, do escritor, romancista, cronista e novelista cearense João Clímaco Bezerra, aos 93 anos de

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idade. Seu corpo é sepultado no dia seguinte, naquela cidade, onde residia há muitos anos. Suas principais obras publicadas são “Não há Estrelas no Céu” (1948), “Sol Posto” (1952), “Duas Novelas” (1952) e “A Vinha dos Esquecidos” (1980). Era membro da Acade-mia Cearense de Letras-ACL - e um dos fundadores do Grupo Clã. No jornalismo, trabalhou por mais de 20 anos no Unitário, perió-dico dos Diários Associados. Além de editoriais, escreveu crônicas diárias e foi responsável pela crítica literária no suplemento domi-nical. Exerceu também a função de diretor-técnico de educação da Secretaria de Educação do Ceará. Durante dez anos foi chefe do serviço de relações públicas do Banco do Nordeste do Brasil. Transferido para o Rio de Janeiro, foi assessor técnico da presidên-cia da Confederação Nacional da Indústria até se aposentar. Nasce-ra a 30/03/1913 na cidade de Lavras da Mangabeira.

05 - Morre, em São Paulo, SP, o artista plástico Aldemir Martins, vítima de infarto do miocárdio, sendo enterrado no dia seguinte. Nascera no distrito de Ingazeira, município de Aurora, no Cariri cearense no dia 08/11/1922.

15 - Falece, às 8h45min, vítima de embolia pulmonar, o desembargador Edmilson da Cruz Neves (Edmilson Cruz), que integrava a 3ª Câ-mara Cível do Tribunal de Justiça do Ceará - TJCE. Adoecera no dia 13 e estava internado no Hospital São Mateus. O corpo é velado na capela Nossa Senhora de Fátima, no Palácio da Justiça, onde às 8 horas do dia seguinte é realizada missa de corpo presente sendo em seguida sepultado, às 9h, no Cemitério Jardim Metropolitano. In-gressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará – UFC - em 1957, bacharelando-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1961. Ainda durante a graduação, concluiu o curso de Aspirante a Ofi cial, alcançando o posto de 1º Tenente da Arma de Infantaria. Ingressou na Magistratura mediante concurso público de provas e títulos, com nomeação para a comarca de Ipueiras em 1966. Em 22/09/1994 foi nomeado desembargador do TJCE. A presidência do TJ decreta ponto facultativo na tarde de seu falecimento, em toda Justiça estadual, e luto ofi cial por três dias. Era natural da cidade de Jardim, onde nascera no dia 28/06/1938.

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287Datas e Fatos para a História do Ceará

17 - O capitão da reserva Sérgio Cordeiro Oliveira, 52 anos, da Base Aérea de Santa Maria, RS, morre em acidente de trânsito na rodovia estadual RS-509, naquela cidade, quando a motocicleta conduzida pelo militar bate na traseira de um caminhão. O sepultamento acon-tece na noite do dia 19, no Cemitério Anjo da Guarda em Juazeiro do Norte, de onde era natural.

22 - Morre, às 22h, em Fortaleza, o produtor radiofônico, dramaturgo e ator Artur Guedes da Silva, fundador do Grupo Raça de Teatro. Por muitos anos produziu e apresentou o programa Música Erudita, na Rádio Universitária FM. Seu corpo é velado na Funerária Ternu-ra, Rua Padre Valdivino nº 2255, na esquina com a Rua Tiburcio Cavalcante, onde é rezada missa de corpo presente às 15 horas do dia seguinte seguindo-se o sepultamento às 16h30min no cemitério Parque da Paz.

26 - Falecimento em Fortaleza do advogado, jornalista e radialista Stênio Azevedo, vítima de falência múltipla dos órgãos. Estava em coma há mais de 20 dias. Stênio cobriu todas as reportagens de misses em sua época áurea. Escreveu, com o jornalista e historiador Geraldo da Silva Nobre (Geraldo Nobre) livro a respeito. Militou por muitos anos nos Diários e Rádios Associados. Dirigiu o Departamento de Turismo da Prefeitura Municipal de Fortaleza - PMF; era bibliote-cário do Tribunal de Justiça do Estado e delegado de Caça e Pes-ca no Ceará. Foi presidente da Associação Cearense de Imprensa - ACI. Fez parte da crônica carnavalesca e da corte do Rei Momo. Era cearense de Sobral nascido em 07/04/1920.

Março / 2006

08 - A prefeita Luisianne de Oliveira Lins (Luisianne Lins) (PT) inau-gura, à tarde, no bairro do Benfi ca, o Centro de Referência e Aten-dimento à Mulher em Situação de Violência Doméstica e Sexual Francisca Clotilde na Rua Gervásio de Castro nº 53. O equipamen-to, resultado de uma parceria da Prefeitura com a Secretaria Na-

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cional de Mulheres, vinculada ao Governo Federal, está voltado a prestar apoio nas áreas psicossocial, jurídica, de saúde, proteção e segurança, funcionará de segunda a sexta-feira das 10 às 21 ho-ras, e aos fi nais de semana das 8 às 20 horas, contando com uma equipe de psicólogas, assistentes sociais, enfermeiras, educadoras, sociólogas e pessoal de apoio para atender os casos violentos que cheguem. O espaço sediará também o Observatório da Violência, um serviço que fará o monitoramento da evolução do problema nas suas diversas modalidades.

09 - Toma posse à noite, no auditório Waldir Diogo, da Casa da Indús-tria, em Fortaleza, o novo presidente do Centro Industrial do Cea-rá - CIC, empresário Francisco Baltazar Neto, diretor-presidente da Fotossensores Tecnologia Eletrônica Ltda. e controlador da EIM Instalações Industriais, e estará à frente da entidade no biênio 2006-2007. Ele assume o lugar de Alexandre Pereira Silva, empre-sário do ramo de panifi cação e presidente do CIC durante os anos de 2004 e 2005.

13 - Surge em Fortaleza o Jornal Goleada “JG”, semanário que circula às segundas feiras, com redação na Avenida Antônio Sales nº 2772, sala 17, no Dionísio Torres tendo o Conselho Diretor formado por Wagner Lopes, Márcia Gonçalves e J. Felipe. A responsável pela editoria é a jornalista Brígia Amaro.

13 - É sequestrado, no centro de Fortaleza, o industrial Jaime Tomás de Aquino (Jaime Aquino), que é liberado após quatro dias em cati-veiro, em Pacatuba, após pagamento de resgate. Jaime Aquino é o fundador da Companhia Industrial de Óleos do Nordeste - Cione.

23 - A Câmara Municipal de Fortaleza - CMF realiza, à noite, soleni-dade de entrega da Medalha Boticário Ferreira ao desembargador Fernando Luís Ximenes Rocha. A homenagem é concedida pelos relevantes serviços prestados pelo desembargador na área jurídica no Estado do Ceará. Autoridades do Poder Legislativo, Executivo e Judiciário, além de representantes de órgãos e entidades da socieda-de civil estiveram presentes à solenidade. Também esteve presente

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289Datas e Fatos para a História do Ceará

o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador Fran-cisco da Rocha Vítor. Os vereadores José Carlos Beserra Carvalho (Cacá) e Lula Moraes são os autores do requerimento.

25 - A representante do município de Juazeiro do Norte, Carla Rocha, é eleita, no Ideal Clube, a Miss Ceará e vai concorrer ao concurso nacional Miss Brasil, no próximo dia oito de abril. O concurso, que contou com a participação de 21 candidatas de municípios do Cea-rá, classifi ca em segundo lugar a representante de Fortaleza, Luíza Freire e, em terceiro, a de Mombaça, Rafaela Benevides, que é elei-ta também a Miss Turismo do Ceará, pelo critério de beleza e parti-cipação do município no concurso. Um dos destaques do evento foi a participação da modelo cearense de Juazeiro do Norte, Suyanne Moreira, que hoje tem uma carreira internacional, na apresentação do traje típico que a Miss Ceará vai usar no concurso Miss Brasil, intitulado Iracema Artesanal.

25 - O jornal Correio do Ceará, fechado há 23 anos e dois meses volta a circular em peridiocidade e sob a direção de José Ribamar Aguiar Júnior; o editor é o jornalista Rogério Moraes. Tem sua sede na Rua Oswaldo Cruz nº 1, sala 403, no Edifício Beira Mar Trade Center, no Meireles.

31 - Morre, no Hospital Geral de Fortaleza, o gráfi co e seresteiro Fran-cisco Reis dos Santos, ex-pracinha da Força Expedicionária Brasi-leira – FEB; manteve por muitos anos, em Fortaleza, a Tipografi a Reis. Nascera em Natal, RN, em 06/01/1922.

Abril / 2006

06 - Morre, às 2h15min, aos 83 anos de idade, Joaquim Pessoa de Araú-jo, o Mestre Juca, ou Juca do Balaio, que vinha lutando contra um câncer de próstata fazia três anos. É velado na sede do Maracatu Az de Ouro, na Rua Edith Braga nº 395, no Jardim América, onde mo-rava com a família. O enterro acontece no início da noite no Cemi-tério São João Batista. Mestre Juca foi por muitos anos balaieiro do

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Maracatu Ás de Ouro. O Carnaval deste ano foi o primeiro no qual Mestre Juca não desfi lou em 60 anos. Debilitado, apenas assistiu as agremiações e escolas de samba desfi larem em sua homenagem. Ele era cearense de Cedro, onde nascera a 30/01/1923.

14 - Inauguração da TV Assembleia, canal 30. Na solenidade de inaugu-ração, o presidente da Assembleia, Marcos Cals - PSDB - destaca a característica da televisão, enquanto veículo de comunicação, de poder apresentar, com imagem e som, o relato do real. Para ele, a TV Assembleia será um instrumento de acompanhamento do traba-lho dos representantes do povo cearense no Legislativo Estadual, dando transparência aos atos emanados da Casa, servindo de educa-ção para a cidadania e prestando serviços comunitários.

14 - Morre, vítima de complicações relacionadas à hipertensão e o dia-betes, o advogado, contador, professor e jornalista Abelardo Gurgel Costa Lima Filho (Abelardo Costa Lima), ex-presidente da Assem-bleia Legislativa no Estado do Ceará e ex-deputado estadual, aos 89 anos de idade. Seu sepultamento acontece no dia seguinte, às 9h, no Cemitério Parque da Paz. Foi prefeito de Aracati em três períodos administrativos. Foi também repórter dos jornais “Gazeta de Notícias” e “Correio do Ceará”; diretor comercial do jornal “A Razão”; fundador e diretor do jornal “Gazeta do Jaguaribe”, sema-nário político que circulou em Aracati durante vários anos, fazendo parte da Associação Cearense de Imprensa - ACI e da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Ceará - OAB-CE. Foi também pro-fessor primário e da escola de Administração da UECE, conselhei-ro do Tribunal de Contas dos Municípios - TCM e Secretário do Trabalho e Ação Social no primeiro Governo Virgílio Távora. Era natural de Aracati, nascido em 12/05/1917. Publicou o livro Terra Aracatiense.

20 - Incêndio, na madrugada, destrói quase totalmente dois pavimentos da unidade do Serviço Social da Indústria - Sesi, localizado na Ave-nida João Pessoa, na Parangaba. Setenta homens e 15 viaturas do Corpo de Bombeiros são mobilizados para debelar as chamas.

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291Datas e Fatos para a História do Ceará

25 - Às 19 horas, quarenta e seis artistas plásticos dividem o espaço da Galeria Antonio Bandeira, no Centro de Referência do Professor, na Rua Conde D’eu, s/n, no Centro, abrindo o 57º Salão de Abril. Com o objetivo de pensar a criação artística nos dias de hoje, o evento investe em atividades que vão além dos muros da galeria, com vi-sitas guiadas a ateliês de artistas locais e uma série de ofi cinas que abordarão técnicas e temáticas tradicionais e pós-modernas.

28 - Lançado, dentro das comemorações dos 280 anos de Fortaleza, o livro Ah, Fortaleza! - 1880-1950 e abre-se a exposição Memórias da Cidade, às 20h, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, com visitação de 29/07 a 02/07/2006 de terça a domingo das 14h 22h. O livro traz textos de Maria Adísia Barros de Sá (Adísia Sá), José Blanchard Girão Ribeiro, Manuel Eduardo Pinheiro Campos (Eduardo Campos), Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, Fran-cisco Gylmar de Lima Chaves (Gilmar Chaves), Irlys Alencar Bar-reira, José Borzacchiello da Silva, José Capelo Filho, José Liberal de Castro, Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), Peregrina Capelo e Sebastião Rogério Ponte (Sebastião Ponte). A coordenação edito-rial é de Patrícia Veloso. A curadoria da exposição fi ca a cargo de Valéria Laena Bezerra Rolim e Patrícia Veloso.

29 - O árbitro de futebol José Paula Santos, pertencente ao quadro da Federação Cearense de Futebol-FCF, também bancário, morre, por volta das duas horas da manhã, vítima de problemas cardíacos, em sua residência, aos 43 anos de idade. Seu corpo é sepultado à tarde, no Cemitério de Messejana.

Maio / 2006

12 - Morre, em Fortaleza, o médico sanitarista e escritor José Borges de Sales, membro do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico). Nascera em 10/02/1911 na Paraíba

24 - Morre, em Patos, PB, o monsenhor Gerardo de Andrade Ponte (Ge-rardo Ponte), que era bispo de Patos, e por muitos anos foi pároco

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de Nossa Senhora de Fátima. Seu corpo é velado na Igreja de Nossa Senhora de Fátima de onde sai para o sepultamento.

Junho / 2006

05 - Morre, aos 83 anos de idade, o radialista José Braz de Oliveira (Aderson Braz), que marcou história com o programa “Matutino Prenove”, criação de José Limaverde Sobrinho, que foi ao ar du-rante 29 anos, a partir dos anos 50. Começou como locutor de um serviço de auto-falantes em Juazeiro do Norte e foi convidado a tra-balhar na Ceará Rádio Clube, que fazia parte dos Diários Associa-dos, em Fortaleza, em 1943. Foi também radioescuta, noticiarista e publicitário. Foi casado com a radioatriz Maria José Braz. Criador do famoso bordão: “Gerardo Bastos: onde um pneu é um pneu”, o radialista estava com a saúde fragilizada desde que sofreu um Aci-dente Vascular Cerebral (AVC), há 12 anos, e teve uma parada cár-dio-respiratória durante a noite, falecendo no Hospital São Mateus. É sepultado, à tarde, no cemitério Jardim Metropolitano. Nascera em Juazeiro do Norte em 30/01/1923.

08 - O desembargador do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, es-critor e professor de Processo Civil da Faculdade de Direito de Pernambuco-UFPE, Napoleão Nunes Maia Filho, é agraciado, à noite, pela Câmara Municipal de Fortaleza, com o título de Cida-dão de Fortaleza e com a entrega da Medalha Boticário Ferreira. Natural de Limoeiro do Norte, o homenageado é mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará, autor de livros jurídicos como “Exercícios Funcionais na Procuradoria Fiscal”, bem como de li-vros de poesias. As comendas foram concedidas através da proposi-tura da vereadora Nelba Fortaleza.

10 - Morre, à noite, o advogado José Hilário de Moura, aos 69 anos de idade, vítima de complicações respiratórias após cirurgia cardíaca. O enterro acontece no dia seguinte no cemitério Parque da Paz, às 18 horas. Estava aposentado desde 1992. Iniciou a vida profi ssional em 1958, como “menino de recados”, chegando a ser gerente de

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293Datas e Fatos para a História do Ceará

publicidade do jornal O Povo. Era sócio da Associação Cearense de Imprensa - ACI, onde chegou a fazer parte da diretoria.

17 - Irrompe, à noite, grande incêndio destruindo o depósito da loja Frei-tas Varejo, localizada na Rua General Sampaio, no Centro de For-taleza. 60 integrantes do Corpo de Bombeiros - CB, dos quartéis do Centro e do Mucuripe, trabalham no combate às chamas de mais de dez metros de altura por quase duas horas. São utilizados 150 mil li-tros de água para debelar o fogo. Dois homens se revezaram na pla-taforma hidráulica, que chega até a 52 metros de altura. Os outros trabalham dentro do prédio e nas proximidades, com sete carros do CB, para evitar que o fogo se alastre. O quarteirão é interditado por quatro viaturas da Polícia Militar. As possíveis causas são fogos de artifício ou curto-circuito. Na noite de 08/06/1999 a Casa Freitas, da Rua General Bezerril, também sofreu um incêndio.

Julho / 2006

03 - A Rádio Assunção Cearense, sob direção do radialista Edinho Araú-jo, passa a ser afi liada da Rádio Globo do Rio de Janeiro, mantendo apenas dois programas locais.

11 - Após dez horas de cirurgia, o primeiro transplante duplo (rim e fíga-do) de sucesso no Ceará é realizado, no Hospital Universitário Wal-ter Cantídio - HUWC, da Universidade Federal do Ceará - UFC. A cirurgia, considerada inovadora no setor, só foi possível porque uma família concordou com a doação dos dois órgãos da mesma doadora, uma moça de 27 anos que teve morte cerebral ocasionada por traumatismo craniano. Antes de fazer as cirurgias, Francisco de Assis Freire, 42 anos, tinha falência nos dois órgãos e estava fazen-do hemodiálise há três anos. Uma outra tentativa havia sido feita em 2002, mas o paciente morreu no pós-operatório.

18 - O escritor cearense, radicado em São Paulo, José Aderaldo Castelo recebe, às 19 horas, no Auditório Castello Branco, da Reitoria da Universidade Federal do Ceará - UFC, o título de Doutor Honoris Causa. José Aderaldo Castelo, é autor de “A Literatura Brasileira -

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Origens e Unidades” (Edusp). Natural do município de Mombaça, após terminar o Liceu em Fortaleza, em 1939, seguiu para São Pau-lo para prestar vestibular para Direito, logo mudando para Letras. Formando-se, fi cou como professor da Universidade de São Paulo - USP, onde lecionou 63 anos até aposentar-se.

Lançamento do jornal Diálogo, informativo do Ministério Público do Estado do Ceará, editado pela Procuradoria Geral da Justiça do Estado do Ceará, na Rua Assunção nº 1100, bairro José Bonifácio. O Ano I, Nº 1, do Diálogo traz a data: janeiro/junho-2006.

Agosto / 2006

05 - Posse da nova diretoria da Associação Cearense de Jornalistas do Interior - ACEJI: Presidente - Horácio Matoso; vice-presidente - Expedito Araújo.

07 - O presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, sanciona a lei da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. A lei leva o nome da cearense biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernan-des - vítima de tentativa de homicídio praticado pelo então marido Marco Antônio Herredia Viveiros - que virou símbolo nacional e internacional na luta contra a violência doméstica.

10 - Durante os festejos comemorativos dos 40 anos de criação da Se-cretaria de Cultura é entregue, à noite, nos jardins do Palácio da Abolição, na Avenida Barão de Studart nº 505, sede da Secult, uma homenagem a todos os ex-Secretários da Cultura do Estado e ain-da a Medalha José de Alencar para o ministro Gilberto Passos Gil Moreira (Gilberto Gil), José Denizard Macedo de Alcântara (in me-moriam), Joaquim Lobo Macedo (Jorivar Macedo) (in memoriam), José Maria Barros Pinho, Francisco Augusto Pontes, Paulo Sérgio Bessa Linhares (Paulo Linhares) e Nilton Melo Almeida (Nilton Almeida).

11 - Falece, em Fortaleza, aos 71 anos de idade, a poetisa, trovadora e

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295Datas e Fatos para a História do Ceará

cronista Clandyra Dias da Rocha, associada efetiva da Casa de Ju-venal Galeno. Nascera em Fortaleza a 19/06/1935.

17 - Três chapas lutam pelo comando da Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC, vencendo a chapa que tem por presiden-te o empresário Roberto Proença de Macedo do Grupo J. Mace-do, eleito, no início da tarde, para dirigir a Fiec, para um mandato de quatro anos. A posse acontece no próximo dia 18 de setembro. Concorreram ao cargo os empresários Hermano Franck e Orlando Carneiro de Siqueira. O novo dirigente da FIEC, que é o nono du-rante os 56 anos da instituição, assume no lugar de Jorge Parente Frota Júnior, que deixa a presidência da entidade após dois man-datos consecutivos de quatro anos cada. A nova diretoria da FIEC é composta ainda por Ivan Rodrigues Bezerra, como primeiro vice--presidente, tendo também Carlos Roberto Carvalho Fujita, Pedro Alcântara Rego de Lima e Wânia Cysne Medeiros Dummar (Wânia Dummar), como demais vice-presidentes; Afonso Taboza Pereira, como diretor Administrativo; Álvaro de Castro Correia Neto, como diretor Financeiro; José Moreira Sobrinho, como diretor Adminis-trativo Adjunto; e José Carlos Braide Nogueira da Gama, como diretor Financeiro Adjunto.

17 - Concedida a Medalha Dom Pedro II ao escritor Amarílio Cavalcan-te que ingressa assim na Ordem Dom Pedro II no grau de grande ofi cial por ter contribuído para o fortalecimento, progresso, de-senvolvimento e credibilidade do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará perante a sociedade cearense, tendo defendido e apoiado a causa bombeirística de forma honrosa e digna. Nesta data foram agraciados com a Medalha do Mérito Bombeiro Militar as personalidades Humberto Cavalcante, Sérgio Cavalcante e Ama-rílio Cavalcante Jr. e ainda com a Machadinha simbólica Ricardo Cavalcante. A medalha do Mérito Bombeiro Militar é um pré-re-quesito para a personalidade que se empenha na signifi cativa contri-buição na defesa e proteção da vida e pela cultura preservacionista seja avaliada para ingresso na Ordem Dom Pedro II.

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18 - Inaugurada em Fortaleza a Loja Mega Insinuante, na Avenida Washington Soares nº 255.

18 - O promotor de Justiça Antônio Carlos Azevedo Costa é o novo se-cretário-executivo do Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor - Decon, no Ceará. A nomeação é realizada pelo Pro-curador Geral de Justiça do Estado, Manuel Lima Soares Filho, na tarde de ontem, depois que o atual titular do órgão desde novembro de 2004, Ricardo Memória, pediu exoneração do cargo.

19 - Morre, pela manhã, em seu sítio, na Lagoa Redonda, aos 77 anos de idade, o fotógrafo e empresário Antônio Esdras Guimarães, anti-go funcionário do Instituto Aposentadoria e Pensão dos Comerciá-rios - IAPC que abandonou o emprego para dedicar-se à fotografi a, abrindo no início da década de 1950 o Estúdio Fotográfi co Esdras. Seu corpo é velado na Funerária Ternura, Rua Padre Valdivino nº 2255, sendo sepultado no Cemitério Parque da Paz. Era cearense de Fortaleza, nascido no dia 13/06/1929.

30 - Morre, em Fortaleza, aos 88 anos de idade, o empresário João Luiz Ramalho de Oliveira, que ocupou importantes cargos relacionados com o comércio, entre eles o de presidente da Junta Comercial; di-rigiu a Federação do Comércio Atacadista do Estado do Ceará, o Serviço Social do Comércio (SESC) e a Facic. Nascera em Russas, CE, no dia 02/08/1918.

Setembro / 2006

01 - A 10ª Região Militar - 10ªRM - Região Martim Soares Moreno - tem novo comandante. Assume o general de divisão Sérgio Domingos Bonato, em substituição ao general de brigada Paulo Studart Filho.

04 - Falece, pela manhã, em Fortaleza, aos 85 anos de idade, Eunice Bar-roso Damasceno, fundadora e presidente da Associação Pestalozzi do Ceará, que estava internada há 40 dias na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Carlos, com problemas de insufi ciência respiratória, vindo a falecer em conseqüência de uma parada cardía-

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ca. Seu corpo é velado na capela do cemitério Parque da Paz onde é sepultado às 9 horas.

19 - Falece, em Fortaleza, aos 92 anos de idade, a pianista cearense Dina Piccinini. Nascera no dia 08/06/1914.

26 - A direção do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza – Sindilojas - outorga a Comenda Edson Queiroz 2006 ao secretá-rio estadual de Turismo, Allan Aguiar, e ao empresário Aroldo Girão, proprietário das Casas Girão. A solenidade marca o 73º aniversário do Sindicato e acontece no Theatro José de Alencar, contando com a pre-sença da presidente do Grupo Edson Queiroz, dona Yolanda Queiroz.

29 - Às 21h, no Ideal Clube, realiza-se mais uma entrega do Troféu Se-reia de Ouro, do Sistema Verdes Mares de Comunicação, sendo contemplados este ano o jornalista José Arimatéia Gomes Cunha (Ari Cunha), o bailarino e coreógrafo Hugo Alves Mesquita (Hugo Bianchi), o médico Pedro Henrique Saraiva Leão e o engenheiro civil e professor Ronaldo Couto Parente, sendo esta a 36ª edição do evento.

Outubro / 2006

01 - Dia de eleição. Comparecem às urnas eletrônicas os eleitores de todo o País para eleger Presidente, Senador, Governador, Depu-tado Federal e Deputado Estadual. No plano nacional, para presi-dente da República os candidadtos são: Luís Inácio Lula da Silva (PT) - candidadto à reeleição - Geraldo Alkmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL), Cristóvam Buarque (PDT). No Ceará os candi-datos são: para governador - Lúcio Gonçalo de Alcântara (Lúcio Alcântara) PSDB; Cid Ferreira Gomes (Cid Gomes) PSB; Renato Roseno (PSOL); Tenente Coronel Gondim (PSDC); José Maria de Melo (PL) e Salete Maria (PCO). Para senador - Moroni Bing Tor-gan (Moroni Torgan) PSDB; Inácio Arruda (PCdoB); Raimundão (PSTU); Tarcísio Leitão (PCB); Fernandes Filho (PSDC); e Nair Fernandes (PDT).

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11 - O Tribunal Regional Eleitoral proclama, em sessão realizada à tarde, o resultado das eleições 2006 no Ceará. Cid Gomes é eleito gover-nador ainda no primeiro turno, com 62,3% dos votos válidos. Inácio Arruda eleito senador com 52,25% dos votos válidos.

14 - O ex-sargento da Polícia Militar Antônio Rogério Franco Barros morre à noite em acidente de trânsito. Rogério fi cou conhecido nas décadas de 1980 e 1990 como acusado de liderar uma quadrilha de justiceiros que agia, principalmente, no bairro do Pirambu.

17 - Andréa Havat Bindá, 38 anos, coordenadora de política do livro da Secretaria de Cultura do Estado - Secult, morre, na madrugada, após receber um tiro durante uma tentativa de assalto no cruzamen-to da Avenida Padre Antônio Tomás com Via Expressa, no Papicu.

20 - O sanfoneiro Dedim Gouveia é baleado num assalto na Avenida Perimetral com Cônego de Castro, no parque São José. Duas motos cercaram o carro do músico e logo dispararam contra ele. Dedim e sua esposa conseguiram fugir e os ladrões levaram o seu carro. Ele é atendido no Instituto José Frota passando por uma cirurgia na mão esquerda, que sofreu uma fratura.

21 - Morre o repórter policial Jorge Ribeiro, “Jorginho”, faltando menos de uma semana para completar 50 anos de idade. Estava fazendo um pagamento no Centro da Cidade, à tarde, quando começou a passar mal. Pediu ajuda a populares que o socorreram levando para o Hospital César Cals. Na emergência, pedia socorro e arrancava sua camisa. Teve convulsões durante 40 minutos, os médicos tenta-ram reanimá-lo, sem êxito. O corpo foi levado ao Sistema de Veri-fi cação de Óbito - SVO, onde foi constatada a morte por um ataque fulminante de coração. Sofria de diabetes e pressão alta, e tomava medicamentos diariamente.

24 - Toma posse, às 19h na Academia Fortalezense de Letras, o novo presidente eleito, professor Ednilo Gomes de Soárez (Ednilo Soá-rez), em solenidade realizada na Academia Cearense de Letras - ACL, na Rua do Rosário nº1, em substituição à atual presidente Cybele Valente Pontes.

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299Datas e Fatos para a História do Ceará

26 - Circula o primeiro número do jornal Folha do Ceará, da Gráfi ca e Editora Folha do Ceará Ltda., sita na Rua Nunes Valente nº 2138, Dionísio Torres, tendo como editor-chefe Ramon Paixão. No corpo editorial, além de Paixão, estão Elieudo Sérgio, Juracy Mendonça, Arilo Araújo Luís Guedes e Fernando Farias, repórter fotográfi co.

29 - Acontece o Segundo Turno das eleições. Eleitores vão às urnas para a escolha do presidente da República entre os candidatos Luís Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). No mesmo dia sai o resultado das eleições: Luís Inácio Lula da Silva obtém 60,83% dos votos válidos, reelegendo-se.

Novembro / 2006

09 - Morre, após meses de internamento, o maestro, pianista, cantor e arranjador Mozart Ageu de Sousa Brandão (Mozart Brandão), que após sucesso na Rádio Tupi do Rio de Janeiro e gravadora RCA Victor, retornou a Fortaleza. Após sofrer um infarto, internou-se no Hospital de Mecejana sofrendo complicações até o falecimento. Nascera em Recife, Pernambuco, em 13/05/1921, fi lho do maestro João Batista Brandão.

15 - Anunciado ofi cialmente no Palácio de Iracema, pelo governador Lúcio Gonçalo de Alcântara (Lúcio Alcântara) o serviço do Dis-que-Denúncia. São oferecidas recompensas pelas informações fornecidas. É garantido o anonimato da população no repasse de informações. Podem ser denunciados o tráfi co de drogas, furtos, seqüestros, violência intrafamiliar, homicídios e grupos de extermí-nio. Vai funcionar diariamente, das 7h às 23 horas. No Ceará, está sendo constituída uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) - a Ceará Alerta - para manter e gerenciar a Central, em parceria com o Governo do Estado. A Central será ligada ao ga-binete do secretário de Segurança Pública e Defesa Social. Na fase atual, está utilizando equipamento de terceiros, cedidos provisoria-mente, até a constituição da Oscip e das defi nições jurídico-admi-nistrativas fi nais. O Disque-Denúncia atende no Ceará pelo número

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(85) 3488-7877 (custa de uma ligação normal para telefone fi xo). Mais informações sobre o serviço podem ser obtidas no site www.disquedenuncia.org.br.

20 - Incêndio de grandes proporções destrói parcialmente a Indústria Co-central, na avenida Presidente Costa e Silva (Perimetral), uma fá-brica de óleo comestível e de laticínios no Mondubim (Zona Sul de Fortaleza), levando pânico aos moradores da vizinhança. Por volta das 4 horas, o alarme foi acionado. Momentos depois, as chamas já se alastravam em um dos depósitos, onde estavam armazenadas 40 mil caixas de óleo. Quando as guarnições de salvamento do Corpo de Bombeiros chegaram, a situação já estava incontrolável. A quei-ma do óleo, material de fácil combustão, auxiliava na propagação do fogo e no aparecimento de muita fumaça, vista à distância.

21 – Morre o engenheiro Genésio Martins de Araújo, que por anos pres-tou serviços como diretor do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS. Nascera em 06/06/1922.

22 - Toma posse, como membro do Instituto do Ceará (Histórico, Geo-gráfi co e Antropológico), o professor Ednilo Gomes de Soárez (Ednilo Soárez), eleito para a cadeira antes ocupada pelo médico José Borges de Sales, sendo saudado pelo presidente da agremia-ção, escritor Manuel Eduardo Pinheiro Campos (Eduardo Cam-pos). A solenidade tem lugar na sede do Instituto, na Rua Barão do Rio Branco nº 1554, na Praça do Carmo.

22 - Às 19h30min a entrega da Medalha Lauro Maia à Rádio Univer-sitária FM, à professora Vanda Ribeiro Costa, ao compositor Luís Gonzaga Assumpção (Luís Assunção) in memoriam, requerimento do vereador Guilherme Sampaio, no plenário da Câmara Munici-pal de Fortaleza, na Rua Thopson Bulcão nº830, no bairro Luciano Cavalcante.

24 - O humorista potiguar, radicado no Ceará, David Cunha Alves (Es-panta), morre, em conseqüência de um acidente ocorrido à tarde, no quilômetro 92,5 da BR-304, em Açu, no Rio Grande Norte, quando perdeu o controle de seu veículo, Astra, de placas HXI-3456, ins-

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301Datas e Fatos para a História do Ceará

crição de Fortaleza, CE, provocando um capotamento, no qual seu fi lho Walter Kelson Cunha Araújo sai levemente ferido. O humoris-ta seguia viagem com destino a Mossoró, onde, à noite, faria show em uma churrascaria. Residia em Fortaleza, mas viajava bastante, fazendo shows por todo o País. Atuou no extinto programa da Rede Globo, ‘A Escolinha do Professor Raimundo’, ao lado de Francisco Anísio de Paula (Chico Anísio) e recentemente no programa “Show do Tom” e em diversos programas. Inicialmente usava o pseudôni-mo de “Espanta Jesus”.

26 - Morre o empresário e político José Flávio Costa Lima, que foi pro-prietário do Fribon, deputado federal e um dos fundadores da Casa do Ceará em Brasília. Nascera em Aracati, CE, em 16/07/1921.

Dezembro / 2006

01 - É concedida a Medalha Amílcar Barca Pellon, instituída pelo art. 6º da Lei nº 10.963, de 06/12/1983, ao médico Washington Carneiro Barata Monteiro (Washington Barata).

14 - Às 17 horas, assaltantes invadem a Clínica do Instituto dos Cegos, na Avenida Bezerra de Menezes nº 267, e fazem seis pessoas reféns, entre funcionários, pacientes e duas crianças. O médico Francisco Waldo Pessoa de Almeida, que estava sozinho em seu consultório, é o último a ser rendido. Os marginais roubam dinheiro, celulares, cheques e deixam tudo revirado. Na hora da fuga, o médico decide reagir: apanha seu revólver que deixava escondido dentro de uma caixa, sobre a prateleira, acerta o primeiro tiro no assaltante, ainda dentro da clínica. Marcas de bala fi cam nas portas e vidraças. In-satisfeito, ele ainda persegue os ladrões até a calçada, mas o ban-dido baleado toma sua arma e o atinge com dois disparos à curta distância, no tórax e braço. O médico é socorrido e levado para o hospital, mas não resiste. O bandido baleado tomba morto no pátio de um posto - com um revólver na mão. Nascido em Quixadá, em 10/08/1937, o oftalmologista Waldo Pessoa mudou-se para Forta-

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leza em 1945, passando a residir ao lado do médico oftalmologista Hélio Góes Ferreira, na época, presidente do Associação dos Cegos, fundada em 1942, local onde Waldo Pessoa iniciou, desde 1967, seus trabalhos de assistência aos portadores de defi ciência visual. Foi o 10º presidente do Instituto dos Cegos. Em 1990 recebeu o Troféu Sereia de Ouro, como reconhecimento pelo trabalho fi lan-trópico desenvolvido em prol da Prevenção da Cegueira no Ceará e pela atuação na Associação dos Cegos.

18 - Às 11h o Hospital de Messejana inaugura oito novos espaços e anun-cia o novo nome da instituição, que passou a se chamar Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes. O evento é uma homenagem ao seu ex-diretor, o médico Carlos Alberto Studart Go-mes (Carlos Studart), que dedicou esforços à instituição durante toda sua vida, elevando a um dos mais importantes centros de saúde do País.

Janeiro / 2007

01 - Assume o novo governador do Ceará, Cid Ferreira Gomes (Cid Go-mes), recebendo o cargo das mãos de Lúcio Gonçalo de Alcântara (Lúcio Alcântara); e o novo Vice-Governador Francisco José Pi-nheiro nos jardins do Palácio Iracema.

26 - Morre, no início da noite, em Fortaleza, vítima de falência múltipla dos órgãos, o radialista José Wilson Machado Borges, aos 79 anos de idade. Seu sepultamento ocorre à tarde do dia seguinte no Parque da Paz. O radialista começou como locutor em uma irradiadora do Crato, vindo para Fortaleza em 1957, onde iniciou como diretor ar-tístico da Rádio Verdes Mares, passando depois para a Ceará Rádio Clube, onde lançou os programas “Os anos carregaram” e “Disque M Para Música” marcando com a crônica “Pimentinha de Cheiro”. A popularidade o transformou também em político. Foi vereador no Crato e em Fortaleza e 20 anos deputado estadual. Nascera em Caririaçu, no dia 24/12/1927.

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303Datas e Fatos para a História do Ceará

29 - O desembargador Fernando Luís Ximenes Rocha (Fernando Xi-menes) assume a presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará - 2007/2008. Tomaram posse, ainda, os desembargadores Rômulo Moreira de Deus, como Vice-presidente do TJCE e diretor do Fórum Clóvis Beviláqua; e José Cláudio Carneiro, como Corre-gedor Geral de Justiça.

29 - Morre, aos 83 anos de idade, o escritor e administrador Amarílio Cavalcante. A celebração de corpo presente foi na capela da Comu-nidade Face de Cristo e foi seguida de sepultamento no cemitério Parque da Paz, que ocorre às 11h30min. Era funcionário aposenta-do do Banco do Brasil e foi diretor da Imprensa Ofi cial por 15 anos.

Fevereiro / 2007

15 - Apresentados à imprensa cearense, na Associação Cearense de Im-prensa - ACI, o Rei Momo, Luís Augusto Vasconcelos, e a Rainha do Carnaval, Aline Araújo da Silva, e os representantes do público infantil, João Mateus Nascimento e Vitória Vivian dos Santos, am-bos com dez anos.

09 - Morre, no Rio de Janeiro, Gerardo Melo Mourão, vítima de falência múltipla de órgãos. Desde janeiro estava internado na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, com problemas respiratórios. Era safenado. Chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 1979. Em 1996 ganhou o Troféu Sereia de Ouro do Sistema Verdes Mares de Comunicação. O enterro dá-se no dia seguinte, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. O poema épico “A Invenção do Mar” (Prêmio Jabuti de 1999) é o livro mais popular de Gerardo Mello Mourão, ao lado de “O Valete de Espadas”, considerado pela crítica o primeiro romance expressionista da literatura brasileira. Gerardo foi traduzido em várias línguas. Seu último livro foi “O Bêbado de Deus”, onde o poeta fez uma biografi a romanceada de São Gerardo de Majella. Era nascido em Ipueiras, CE, a 08/01/1917.

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Revista do Instituto do Ceará - 2016304

25 - Falece, às 13h30min, o advogado, jornalista e escritor José Blan-chard Girão Ribeiro, aos 77 anos de idade. Seu corpo é velado na Funerária Ternura, na Rua Padre Valdivino nº 2255, na esquina com a Rua Tiburcio Cavalcante e o enterro realiza-se às 12h, no Cemi-tério Parque da Paz. Blanchard passava o fi m de semana em seu sítio, em Aquiraz, quando sofreu um infarto. Jornalista desde os 14 anos, Blanchard começou na revisão da extinta Gazeta de Notícias e percorreu as principais redações de jornais cearenses, onde ocu-pou as mais diversas funções: revisor, repórter, redator, passando pelo Unitário, Correio do Ceará, O Povo e Jornal do Dorian. Foi editor-chefe do jornal O Povo e, por último, articulista. Dirigiu a Rádio Dragão do Mar, a partir da sua fundação, em 1958, até ele-ger-se deputado estadual, em 1962. Menos de dois anos depois, os militares cassaram seus direitos políticos e prenderam-no. Devido às circunstâncias políticas, Blanchard, formado em Direito, passou a exercer a advocacia e continuou contribuindo para o jornalismo, escrevendo no anonimato. Formado também em Letras, exerceu, por curto período, o magistério, ensinando no Colégio Farias Brito. Escreveu mais de dez livros e, na vida pública, além de deputado estadual pelo PSD, foi diretor-superintendente da Televisão Edu-cativa - TVE e subsecretário de Cultura e Desporto. Nascera em Acaraú, CE, em 22/10/1929.

26 - Morre o ex-deputado federal e dono de cartório, Ossian Alencar Araripe (Ossian Araripe), aos 84 anos, quando se exercitava em um dos cômodos de seu apartamento, na Avenida Beira Mar, 3780, por volta das 4h30min sentiu cheiro de fumaça, desesperado, acordou a família: a esposa, um fi lho e a empregada e rapidamente, as chamas se alastraram pelo apartamento e enquanto os demais se salvam ele morre carbonizado. Nascera em 29/09/1923, na cidade do Crato. Fez o curso científi co no Liceu do Ceará e se formou em Direito pela Universidade Federal do Ceará, foi deputado federal pela Are-na e PDS e atuava politicamente na Região do Cariri. Pai do atual prefeito do Crato, Samuel Araripe (PSDB). Também foi prefeito daquele Município, de 1955 a 1959, e deputado em seis legislaturas, entre 1963 e 1987. Tinha um cartório em Fortaleza.

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305Datas e Fatos para a História do Ceará

19 - Morre, às 10h20, aos 80 anos de idade, o tenente-coronel enge-nheiro Artur de Freitas Torres de Melo (Artur Torres de Melo), por complicações causadas, inicialmente, por um câncer na próstata e, posteriormente, por um câncer no pulmão. Foi o primeiro diretor técnico do Sistema Verdes Mares e superintendente da Televisão Educativa do Ceará (hoje TV Ceará -TVC). O sepultamento ocorre às 16h no Cemitério São João Batista, em Fortaleza. Era irmão do general reformado Francisco Batista Torres de Melo.

22 - Lançado às 20h no Salão Meireles do Olympo Praia Hotel, na Ave-nida Beira-Mar nº 2380, no Meireles, o livro A História da Aviação no Ceará, de autoria dos jornalistas Augusto Oliveira e Ivonildo Lavor.

23 - Morre, à tarde, na fazenda São Luís, em Maranguape, Região Me-tropolitana, vítima de um tiro de escopeta na coxa direita, o médico Gonçalo Bolívar Pimentel, aos 66 anos de idade, após uma discus-são com o vaqueiro Antônio Luís Silva, por causa da sua demis-são. Bolívar Pimentel foi diretor do Hospital do Câncer, diretor da Unimed e candidato às prefeituras de Sobral e Quixeramobim. O médico morre em decorrência da grande perda de sangue, com o rompimento da veia femoral.

Maio / 2007

06 - Morre, aos 93 anos de idade, de morte súbita, o fundador da Faculda-de de Medicina e ex-reitor da Universidade Federal do Ceará - UFC, Walter de Moura Cantídio (Walter Cantídio), sendo velado no Salão Nobre da Reitoria. A missa de corpo presente é celebrada no local, às 10 horas e depois levado para o Cemitério Jardim Metropolitano. Walter Cantídio nascera na cidade de Apodi, RN, no dia 06/11/1913. Cursou faculdade de Medicina na Universidade Federal de Pernam-buco, entre os anos de 1931 e 1936. Após a formatura, fi xou resi-dência em Fortaleza. Em 1942, ingressou no Departamento Estadual de Saúde. De 1951 a 1954, foi secretário de Saúde do governo de

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Revista do Instituto do Ceará - 2016306

Raul Barbosa. Entre os cargos que ocupou, foi presidente do Cen-tro Médico Cearense, do Conselho Regional de Medicina, diretor do Instituto do Câncer, no Ceará. Com os médicos Nilton Gonçal-ves, Waldemar de Alcântara, José Carlos Ribeiro e Jurandi Picanço, Cantídio fundou a Faculdade de Medicina do Ceará, que depois foi anexada à UFC. Em 1971, foi reitor da UFC, o terceiro da história da instituição. Foi na sua gestão que a UFC fez a reforma univer-sitária e se expandindo para o campus do Pici. Em 1973, recebeu o título de Cidadão Cearense e, em 1977, de Cidadão de Fortaleza. Em 1983, lhe foi concedido o título de professor Emérito da UFC.

16 - O desembargador cearense de Limoeiro do Norte, Napoleão Nu-nes Maia Filho (Napoleão Maia) é nomeado Ministro do Superior Tribunal de Justiça - STJ.

21 - Falece, aos 67 anos de idade, Núbia Brasileiro. Escritora, artista, advo-gada, pedagoga, cantora, comunicadora e musicista, lutou contra um câncer de mama. Seu corpo é velado no Cemitério Jardim Metropoli-tano, no Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza. Às 12h do dia seguinte, após a celebração de uma missa, o corpo é cremado. Con-cluiu o curso de Música na Universidade Estadual do Ceará - Uece.

Junho / 2007

05 - Assume, em Brasília, o novo reitor da Universidade Federal do Cea-rá - UFC, professor Ícaro de Sousa Moreira.

10 - Morre, por volta das 16 horas, no Hospital da Unimed, onde esta-va internado desde o meio-dia do dia anterior, aos 60 anos de ida-de, o promotor de Justiça José Wilson Furtado, que representava o Ministério Público Estadual - MPE junto à Quinta Vara do Júri de Fortaleza. Juntamente com o juiz, Jucid Peixoto do Amaral. Wilson Furtado estava à frente do processo que investiga a morte da ado-lescente Ana Bruna de Queirós Braga, assassinada por um grupo de extermínio formado por policiais militares. O laudo preliminar dos médicos do próprio hospital atestou que Furtado foi vítima de

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307Datas e Fatos para a História do Ceará

acidente vascular cerebral (AVC), do tipo hemorrágico. Contudo, a família levantou a hipótese de um suposto envenenamento. Por conta disso, o corpo do promotor foi encaminhado ao Instituto Mé-dico Legal (IML) para a realização de exames toxicológicos.

16 - A capital cearense recebe o símbolo dos jogos pan-americanos, a tocha pan-americana Rio-2007 percorreu 36 bairros, sendo levada por 100 pessoas. A primeira a iniciar o revezamento foi a surfi sta Tita Tavares A tocha saiu do Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar, às 11h30min. Trazida pelo ex-jogador de vôlei e embaixador do revezamento, Bernard Rajzman, sendo entregue ao secretário de Esporte do Estado, Ferrúcio Feitosa, que acendeu a pira pan-ameri-cana. Depois, a surfi sta cearense Tita Tavares iniciou o revezamento que levou a tocha para as ruas da Capital e demorou mais de seis horas até chegar na Praça do Ferreira, onde foi encerrado. A tocha pan-americana chegou à Praça do Ferreira pelas mãos do historia-dor cearense Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), que acendeu, jun-to com o vice-governador, Francisco Pinheiro, a pira do Pan 2007. Algumas autoridades, entre elas a prefeita Luisianne de Oliveira Lins (Luisianne Lins), falaram sobre a importância dos jogos. A festa terminou ao som de forró.

22 - No Auditório Martins Filho, na Concha Acústica da UFC, a soleni-dade de transmissão do cargo do Reitor da Universidade Federal do Ceará - UFC ao professor, Ícaro de Sousa Moreira, que já to-mara posse em Brasília no dia cinco, nomeado pelo Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, recebendo o cargo das mãos do reitor professor René Teixeira Barreira. Na ocasião é também empossado o vice-reitor professor Jesualdo Pereira Farias.

Julho / 2007

04 - Morre, no Rio de Janeiro, RJ, aos 83 anos de idade, o jornalista, economista, ator, diretor, historiador e escritor Francisco da Silva Nobre (F. Silva Nobre), ex-funcionário do Banco do Brasil e do

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Banco Central. Teve mais de uma dezena de livros publicados. Era irmão do também historidor e escritor Geraldo Majela da Silva No-bre (Geraldo Nobre). F. Silva Nobre era cearense de Morada Nova nascido em 19/08/1923.

09 - Após dois meses de ajustes, a TV O Povo dá início às transmissões locais, em caráter experimental. Nas duas horas do programa, a emissora, vinculada à Fundação Demócrito Rocha e afi liada da TV Cultura, de São Paulo, mostrou como é sua linguagem televisiva, calcada na análise e no debate.

11 - Morre, vítima de uma parada cardíaca, aos 72 anos, o ex-goleiro e cronista esportivo Gilvan Dias, que foi um dos símbolos de uma época de ouro do futebol cearense, sendo contemporâneo de gran-des nomes do futebol cearense. Dois momentos em especiais mar-cam a história de Gilvan Dias. O primeiro foi em 1960, quando Ceará e Bahia disputavam uma vaga à fase seguinte da Taça Brasil. Em uma noite chuvosa no estádio da Fonte Nova, ele fez inúmeras defesas, mesmo com a derrota, foi o melhor jogador em campo. Em 1966, Gilvan foi o técnico que conduziu o América ao título invic-to de campeão cearense. Gilvan Dias foi colaborador do jornal O Povo e atualmente era colunista do jornal O Estado. O sepultamento ocorre às 16 horas, no Cemitério São João Batista.

Agosto / 2007

13 - Em frente ao Santuário de Nossa Senhora da Assunção, no Conjun-to Nova Assunção, na Barra do Ceará, cerca de cinco mil fi éis se reúnem, à noite, para a bênção e inauguração ofi cial da imagem de Nossa Senhora da Assunção, fabricada em Juazeiro do Norte, pelo escultor Franciné Macário, com oito metros de altura e pesando 12 toneladas. Além da presença dos devotos de Nossa Senhora da As-sunção, a apresentação da Orquestra Villa Lobos e do coral Octeto Porta Voz, com participação de Paulo José e Débora Moraes, sob a regência do maestro Poty Fontenelle. Presentes na solenidade, a prefeita Luisianne de Oliveira Lins (Luisianne Lins) e o titular

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309Datas e Fatos para a História do Ceará

da Secretaria Executiva Regional - SER-I, Mariano Araújo Frei-tas (Mariano Freitas), Encerrando a solenidade, o padre Francisco Sales de Sousa, ao lado dos padres Clairton Alexandrino e Manoel Ferreira, benzem a Imagem de Nossa Senhora da Assunção.

14 - Morre, após mais de cem dias de hospitalização, o ex-deputado federal, historiador e escritor Marcelo Caracas Linhares (Marcelo Linhares), membro do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico). Seu corpo é velado na Funerária Ternura, na Rua Padre Valdivino nº 2255, na esquina com a Rua Tiburcio Cavalcan-te e 24 horas após foi cremado. Nascera em 15/03/1924.

16 - Abertura do 58º Salão de Abril nas dependências do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), na Avenida da Uni-versidade nº 2854, no Benfi ca. O período é de 17 de agosto a 30 de setembro.

23 - Assume a cadeira nº02 da Academia Cearense de Retórica - Acere, patroneada por Alcides Carneiro, o escritor e bibliófi lo José Augus-to Bezerra, sendo recepcionado pelo presidente do Silogeu, Mau-rício Cabral Benevides (Maurício Benevides). A solenidade tem lugar na sede da Academia Cearense de Letras - ACL, na Rua do Rosário nº 01.

Setembro / 2007

18 - O coronel William Alves Rocha assume, à tarde, a função de co-mandante-geral da Polícia Militar do Ceará. O comandante anterior, Adail Bessa, não compareceu à solenidade de posse, sendo repre-sentado pelo antigo comandante-executivo, coronel Hélio Severia-no. O titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social - SSPDS, Roberto Monteiro, exonerara o coronel Adail Bessa na tarde do dia 14.

19 - Falece, às 16h30min, aos 84 anos de idade, o advogado, escritor, jor-nalista, radialista e dramaturgo cearense Manuel Eduardo Pinheiro Campos (Eduardo Campos), carinhosamente chamado de Manueli-

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Revista do Instituto do Ceará - 2016310

to pelos amigos e colegas de trabalho. Sofrera um AVC hemorrági-co e nos últimos dias, vinha se recuperando e chegara a receber alta. Às vésperas de deixar o hospital Monte Klinikum, sofre sucessivas paradas cardíacas. Foi um dos braços fortes dos “Diários e Emisso-ras Associados” entre nós: dirigiu simultaneamente a “Ceará Rádio Clube”, a “TV Ceará”, canal 2, e os jornais “Correio do Ceará” e “Unitário”. Foi também presidente e fundador da Associação Cea-rense de Rádio e Televisão - Acert e do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Ceará. Participou do grupo “Clã”, importante movimento literário cearense. Presidiu a Acade-mia Cearense de Letras - ACL. Foi secretário de Cultura e Desporto do Governo Virgílio Távora, era presidente do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico). Em 1990, o jornalista e escritor foi uma das personalidades agraciadas com o troféu “Sereia de Ouro” concedido pelo Sistema Verdes Mares. Seu velório tem início à noite, na Igreja Presbiteriana da Aldeota. O sepultamento ocorre no dia seguinte, às 16h, no Jardim Metropolitano. Natural de Guaiúba, nascera em 11/01/1923.

23 - Morre, em Fortaleza, o advogado José Mílton Gaspar Brígido, que pertenceu à Ação Integralista Brasileira e depois fundou a facção Águia Branca. Foi delegado de polícia e conselheiro da OAB de Fortaleza. Nascera em Fortaleza, em 06/03/1928.

28 - Com início às 21h, no La Maison Dunas, acontece a 37ª entrega do troféu Sereia de Ouro, do Sistema Verdes Mares. Os escolhidos des-te ano são o empresário Francisco Deusmar Queirós, o engenheiro Expedito José de Sá Parente (Expedito Parente), o ministro Napo-leão Nunes Maia Filho (Napoleão Maia) e a atleta Shelda Kelly Bruno Bedê Nascimento (Shelda Bedê).

Outubro / 2007

06 - Morre, no Rio de Janeiro, RJ, onde estava radicado há mais de 60 anos o pianista concertista, pesquisador e compositor Aloysio de Alencar Pinto (Aloísio Pinto), fortalezense nascido em 03/02/1911.

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311Datas e Fatos para a História do Ceará

Era membro titular da Academia Brasileira de Música e da Acade-mia Nacional de Música.

10 - O desembargador Fernando Luiz Ximenes Rocha (Fernando Xime-nes) toma posse, na condição de novel acadêmico, da cadeira de número seis da Academia Cearense de Retórica - ACR, patroneada por Antônio Furtado de Mendonça e Meneses e antes ocupada pelo jornalista José Blanchard Girão Ribeiro, sendo saudado pelo acadê-mico Roberto Ribeiro. A solenidade de posse acontece na sede da Academia Cearense de Letras - ACL, com a presença de autorida-des dos poderes Judiciário, Executivo e Legislativo do Ceará.

10 - Por meio do projeto de Decreto Legislativo 282/2007, de autoria do vereador José do Carmo (PSL), a Câmara Municipal de Fortaleza outorga o título de Cidadão de Fortaleza, a Dom Manuel Edmilson da Cruz, bispo emérito de Limoeiro do Norte, nascido no distrito de Aranaú, em Acaraú (CE), em 10/03/1924. A solenidade realiza-se na Igreja de Santo Afonso (Redonda), na Parquelândia.

Novembro / 2007

21 - Morre, em Fortaleza, em sua residência, no bairro João XXIII, vítima de parada cardio-respiratória,o ex-jogador de futebol Pedro Basílio Filho, o “Maravilha Negra” que atuou nos campos representando o Ceará Sporting Clube, o Fortaleza Esporte Clube e também jogou no Botafogo do Rio de Janeiro, no Internacional de Porto Alegre e no Sport de Recife. Ultimamente atuava como técnico. Nascera em Russas, CE, no dia 03/03/1951.

27 - Morre, vítima de câncer, o radialista Marcos Belmino (Ponhonhõ). Era diretor do programa Nas Garras da Patrulha, da TV Diário, uma das maiores audiências da emissora. Era irmão do também radialis-ta e apresentador do programa Grande Jogada, na mesma emissora, Sebastião Belmino. É sepultado às 10h30min do dia seguinte, no Cemitério Parque da Paz. Marcos Belmino, o Ponhonhô, iniciou sua carreira profi ssional em 1962, na TV Ceará. Chegou a trabalhar

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ainda na TV Tupi e TV Globo, do Rio de Janeiro e foi diretor da casa de show Canecão. Já na TV Verdes Mares, criou o progra-ma Nordeste Rural e, como dono de restaurante em Fortaleza, foi o pioneiro na inserção da caranguejada nas noites de quinta-feira. Nascera em Fortaleza, CE, no dia 28/11/1937.

Dezembro / 2007

03 - Morre, aos 76 anos de idade, na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, RJ, pela manhã, a romancista Heloneida Studart Soa-res Orban, feminista histórica nascida em Fortaleza, Ceará, no dia 09/04/1932. Aos 16 anos iniciou a publicação de crônicas no jornal “O Nordeste”; aos 18 foi para o Rio de Janeiro. A partir de 1978 foi eleita várias vezes deputada estadual. Seu corpo é velado no saguão principal do Palácio Tiradentes e cremado no Cemitério do Caju.

23 - Morre, aos 83 anos de idade, às 5h20, em decorrência de falência múltipla dos órgãos, no Hospital São Francisco - unidade de car-diologia do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, RS, o arcebispo emérito de Aparecida do Norte, ex--presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, ex-arcebispo metropolitano de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider, que estava internado, desde o último dia 10, quando sofreu uma convulsão de origem cardíaca. Seu estado de saúde piorou e foi considerado grave no último dia 11, quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral - AVC, passou a respirar por aparelhos e entrou em coma induzido por medicamentos. De acordo com a Província Franciscana São Francisco de Assis do Rio Grande do Sul, o corpo de dom Aloísio foi embalsamado. Ele sofria de insufi ciência car-díaca. Somente neste ano, havia sido internado quatro vezes. Ao longo da vida, sofreu um infarto, tinha pressão alta, passou por oito cirurgias (duas no coração), colocou quatro pontes de safena e um marca-passo. Era também diabético. Seu corpo é velado na Catedral Metropolitana da capital gaúcha e enterrado no dia 27, no cemitério

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313Datas e Fatos para a História do Ceará

do convento franciscano Daltro Filho, no município de Imigrantes, interior do Rio Grande do Sul.

23 - Na madrugada irrompe grande incêndio na loja de plásticos Plast-car, na Rua Senador Pompeu, próximo à esquina com a Rua Sena-dor Alencar, no Centro de Fortaleza. É preso um suspeito, Edvan Ferreira da Silva, 18 anos, que a princípio confessa a autoria do incêndio dizendo que estava no telhado do prédio e que ao colocar fogo num pedaço de papel, esse teria caído dentro da loja iniciando o incêndio. Depois passa a negar.

31 - Encerra suas atividades o Colégio Marista Cearense (Colégio Cea-rense), no Centro. O Cearense fora fundado em 1913 pelos padres diocesanos Misael Gomes, Climério Chaves e José Quinderé.

31 - Fecha suas portas, após 52 anos de atividades, o Colégio Nossa Senhora da Assunção, da Congregação Filhas de Santa Teresa de Jesus, localizado na esquina da Rua Padre Valdivino com Rua João Cordeiro. São 21 salas de aula, laboratórios, quadra de esporte, playground e um prédio onde funciona a educação infantil.

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Uma Posse há 20 Anos

F É S *

Antiga sede do escritório regional da SUDENE no Ceará.

o homem foi dado o poder de ser agente da história e, assim, poder mudar seu próprio destino e o destino de um povo. A história é pródiga nesses exemplos. Mas a história da humanidade também tem um elenco de fatos, que o homem não consegue mudar.

Na minha, um exemplo de fato imutável é o meu relacionamento com a SUDENE. Um fato que, mais uma vez, é consolidado neste mo-mento. Temos uma história de vida em comum: começamos juntos...

É, pois, com muita honra e emoção que volto à SUDENE, depois de cinco anos de um aparente afastamento, aparente sim! Pois na realida-de, eu que tive o privilégio de servir a esta Casa e, por que não dizer ao Nordeste? Causa que, pelo menor tempo possível que nos dediquemos, jamais será esquecida, pela nobreza, pelos propósitos de sua missão, que se confunde com o desenvolvimento da própria região.

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Voltar à SUDENE, para mim, é estabelecer um feliz reencontro com parte das minhas raízes, a do técnico; já que a outra, a do homem, encontra-se fi ncada nos sertões ásperos, porém nobres das Pitombeiras, hoje Senador Sá, a terra que me viu nascer.

Ontem no arrojo e no vigor de minha juventude, que foi de toda uma geração, eu aprendia mais que ensinava, hoje, pela experiência da vivência e por não dizer do sofrimento, aprendo menos do que ensino.

Ser SUDENE é olhar sempre para frente, sem, contudo, esquecer as lições do passado; é ter compromissos inadiáveis com a verdade; com a seriedade da coisa pública; é ser renúncia de seus interesses pessoais, frente às necessidades coletivas Regionais e Nacionais.

Este ato de posse na Coordenaria da representação da SUDENE, no Ceará, signifi ca uma reafi rmação do compromisso de fé nos objetivos da SUDENE, para continuá-lo em sua luta permanente contra o analfa-betismo, a deterioração da base ambiental, o desemprego, a estreiteza e a injustiça de distribuição de renda. É a busca do enfrentamento contra a pobreza, a miséria e o resgate de valores éticos, sociais, políticos e culturais da sociedade regional e nacional, enfi m, com a sustentabilidade do desenvolvimento.

A SUDENE, ao longo do seu curto período de existência, tem demonstrado uma capacidade extraordinária de adaptar-se, de auscultar, de ouvir e sentir os anseios e as aspirações da sociedade da qual ela se insere; e é de toda sua razão de ser. Contudo, cada vez mais, é preciso o exercitar dessa importante vertente, como forma de aprimoramento para ultrapassar os grandes desafi os e promover o bem-estar econômico e social dos diversos segmentos da sociedade como um todo.

Entendo que a expressão maior de um país, ou de uma região, não se estima e nem se avalia pelo seu PIB ou pela sua dimensão territorial, mas, sim, pelo grau de satisfação, pelo nível de vida de sua população. Enten-do, ainda, ser a SUDENE, um órgão do poder central, atuando de forma auxiliar nos espaços dos Estados e Municípios como facilitadora, como desembaçadora de óbices, de bloqueios e das amarras que estão a difi cul-tar a liberação das potencialidades regionais, que são grandes e variadas.

Considero a SUDENE como uma extensão de minha vida, pois a conheço na intimidade em que somente os fi lhos privam; nela, desempe-nhei as mais diversas funções, desde a de chefe de Divisão, indo até as elevadas funções de superintendente adjunto de Operações.

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317Uma Posse há 20 Anos

Se não bastasse somente essa experiência, foi ela, ainda, exemplar-mente enriquecida por minha passagem por longos oito anos como Secre-tário de Estado à frente das pastas de Agricultura e do Interior, servindo a quatro Governos em minha terra natal, Ceará.

Vi nascer e acalentei importantes Programas Regionais de porte e dimensão do POLONORDESTE (Programa de Desenvolvimento das áreas Integradas do Nordeste) e Projeto Sertanejo. Enquanto no âmbito estadual ajudei a criar e a implementar o Programa de Valorização do Baixo e Médio Jaguaribe – PROMOVALE e o Programa de Apoio às Pequenas Comunidades Urbano-Rurais (PRODISTRO).

E agora, em momentos mais recentes, pude dar minha colaboração no Programa de Revitalização da Cotonicultura Cearense (PRO-ALGODÃO), também no Governo do Estado. Contudo, é preciso ter humildade e reco-nhecer que nem tudo foram acertos, é preciso muito aprimorar, pois somente os imaturos pensam que são autossufi cientes e se fecham em si próprios.

Quero, com estas breves palavras, reafi rmar minha forte convic-ção nos destinos da SUDENE e na inquestionável liderança do eminente Superintendente General Newton Rodrigues, responsável pelo processo de recondução da SUDENE ao seu ideário original, de luta pelo desen-volvimento do Nordeste e no combate à lógica perversa da política das disparidades regionais, com justiça, lealdade e sentimento de nacionalida-de, na incessante busca da integração econômica regional com a nacional, contando com a indispensável parceria das classes políticas, empresarial e da Sociedade civil como um todo.

Destaco, ainda, a grande contribuição do colega Francisco Za-menrolf de Oliveira à frente deste Escritório, onde sempre soube bem representá-lo. Finalmente, quero expressar os meus agradecimentos a todos que se fazem presentes a este ato solene, com especial atenção pa-rao Excelentíssimo Senhor Superintendente da SUDENE, Gen. Newton Rodrigues, bem como ao eminente representante da Câmara Baixa do País, Excelentíssimo Senhor Deputado Federal Roberto Soares Pessoa, Presidente do Partido da Frente Liberal, no Ceará. E agradecer, por fi m, aos colegas que, assim como eu, mourejaram nesta Casa em prol das causas do Nordeste brasileiro.

(Discurso de posse como Coordenador do Escritório Regional da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), pronunciado em 20 de maio de 1996 em Fortaleza-Ceará).

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150 Anos do Criador da Familia Gentil

G L C *

certidão de batismo acima refere-se ao párvulo José, nascido em Sobral a 11 de setembro de 1816; na vida adulta, José adotou o nome de José Gentil Alves de Carvalho. A vida desse sobralense foi abordada

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em seus diversos aspectos, dada a sua importância política (Vice-Presi-dente no governo de João Thomé Sabóia e Silva), econômica (Presidente do Banco Frota Gentil) e social (Presidente da Associação Comercial) no Estado do Ceará, destacando-se o preciso pesquisador Carlos Negreiros Viana, que o estudou em artigo publicado nesta Revista alusiva ao ano de 2007; Pedro Alberto de Oliveira Silva também nesta mesma Revista do ano de 2010, no artigo A Gentilândia e o bairro Benfi ca (A Vila Gentil), lega-nos valiosas informações da capacidade inovadora daquele pioneiro da área imobiliária.

A nós nos interessa saber de onde José Alves de Carvalho, que deveria ser seu nome segundo as práticas mais comuns à época, recolheu o sobrenome Gentil; esse sobrenome, para o personagem em estudo, não tem qualquer signifi cado genealógico, pois esse patronímico não é registrado em nenhum de seus ancestrais. Todos os demais parentes pes-quisados grafam Alves de Carvalho (seu irmão Padre Antonio), Liberato de Carvalho, Carvalho Rocha, realçando seu sobrinho, o monsenhor Luis de Carvalho Rocha. De onde o Gentil?

Assim, pode-se considerar que é um sobrenome inventado. Como nasceu em Sobral, nada mais compreensível conjecturar de que seria um sobrenome surgido da mente criativa do Padre e Professor Antonio da Silva Fialho, ofi ciante do batismo de José Gentil. Diz-nos a voz autorizada de D. José Tupinambá da Frota, em História de Sobral, 1995, 3ª Ed., p. 239, que o Padre Fialho “gostava de dar nomes estrangeiros aos seus alunos, para, dizia ele, formarem novas famílias. Deste tempo datam Monte Alverne, Donizetti, Vergniaud e outros”. Nesses outros incluem-se Cialdini e Cisne.

Relevante é registrar que José, ao casar em Sobral com Maria Amélia da Silva Frota, esqueceu o sobrenome Alves de Carvalho e fez com que sua esposa adotasse o Gentil e desse modo os fi lhos foram regis-trados com o sobrenome composto Frota Gentil. Ele já inserira o Gentil no sobrenome.

Padre Francisco Sadoc de Araújo, o grande genealogista, na Cro-nologia Sobralense, silencia sobre o assunto e igualmente o Padre José da Frota Gentil, fi lho de José Gentil, em Os Frotas. O tema somente é tratado e elucidado por seu neto Jorge Augusto Gentil Barbosa, recente-mente falecido aos 95 anos de idade (Fortaleza, 09.08.1921; Fortaleza, 09.10.2016).

Conta-nos o neto na autobiografi a (Expressão Gráfi ca, Fortaleza, 2015), cuidadosamente coadjuvada pela sua sobrinha Elizabeth Fiúza Ara-

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gão, que “José Gentil Alves de Carvalho era conhecido em Sobral por suas amabilidades e delicadezas no trato com as pessoas, independentemente de credos, cores e classe social. Em razão disso, as pessoas passaram a chamá-lo Gentil, adjetivação que foi, posteriormente, incorporada ao nome de família”.

Essa a origem da família Gentil, que não é diferente de muitas outras ilustres do Ceará. Diversos chefes de famílias acrescentaram ao prenome ou mesmo ao sobrenome outro apelido sem qualquer signifi ca-do genealógico. Ou seja, aplicaram o sobrenome para satisfazer razões de amizade, por motivação política, para homenagear a terra de origem (Barcelos, Porto, Braga, Guimarães, Sobral), ou mesmo sem qualquer razão. Decorrente de motivação política, destacaram-se Araripe, Anta, Brasil, Carapinima, Mororó, Sucupira, Timbó, Ibiapina.

Por várias motivações surgiram, dentre outras, as famílias:

Albano LiberalAmoreira LimaverdeAugusto MapurungaBedê MemóriaCamarão MenescalCaracas QuinderéCaúla QuixadáCastelo Paula PessoaFacó PepinoFilomeno Pompeu BrasilLeite Barbosa Sabóia

Carleial, Vileicar, Livonio, Silton, alinhadas por Joaryvar Macedo em Temas Históricos Regionais – p. 191, são exemplos de outras famílias inventadas.

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Insti tuto do Câncer do Ceará: 70 anos de conquistas

M G C S *

Instituto do Câncer do Ceará (ICC) foi fundado em Fortaleza, em 25 de novembro de 1944, com o propósito fundamental de prestar assistência aos doentes de câncer, notadamente os desvalidos, mantidos à margem de qualquer assistência médica, e promover a Cancerologia no Ceará.

À frente dessa iniciativa estava um grupo de médicos: Antônio de Queiroz Jucá, Haroldo Gondim Juaçaba, João Batista Saraiva Leão, José Waldemar de Alcântara e Silva, Jurandir Marães Picanço, Livino Virgínio Pinheiro, Luiz Gonzaga da Silveira, Newton Teófi lo Gonçalves, Walter de Moura Cantídio, e Walter Frota de Magalhães Porto, aos quais se juntara o Padre Arquimedes Bruno.

Eles decidiram por sua criação, na qualidade de entidade bene-fi cente, cujo reconhecimento, como de utilidade pública federal, veio a acontecer em 20/12/1973, com a publicação, no D.O.U., do Decreto Federal de nº 73.343, completando as benemerências, de âmbito estadual e municipal, anteriormente conferidas.

À época de sua fundação, foi eleito para a Presidência do ICC, o Dr. Waldemar Alcântara, cargo que exerceu até sua morte, em 1990, ensejando a sua substituição pelo Dr. Haroldo Juaçaba, mantido nesse cargo até 1º de junho de 2009, quando do encerramento de sua jornada terrena.

Quando o Instituto do Câncer do Ceará foi criado, ter câncer valia como uma sentença de morte. As pessoas com mais posses, acometidas pela doença, buscavam tratamento no eixo Rio/São Paulo. Os menos afortunados, e que constituíam a maioria, fi cavam no Ceará, recorrendo à Santa Casa de Misericórdia, onde o Instituto do Câncer fazia seus atendi-

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mentos. Antes de chegar ao prédio em que se encontra, o ICC teve outros endereços. Passou pela Praça José de Alencar (Faculdade de Medicina) e ocupou espaço no Hospital das Clínicas, no bairro Rodolfo Teófi lo.

O mito de que tratamento bom para câncer, era fora do Ceará, foi sendo desfeito, à medida que novas formas terapêuticas, destinadas a combater o câncer, iam sendo agregadas à Instituição. O certo é que o ICC cresceu tanto, que chegou a hora em que já não era mais possível atender as pessoas apenas ambulatorialmente. A situação se agravava, principalmente quando havia necessidade de cirurgia, e não tinha para onde encaminhar os doentes com câncer.

Essa situação prolongou-se por muito tempo, a despeito de o ICC buscar, de todas as maneiras, assegurar ao doente um tratamento à altura das suas necessidades, obviamente que dentro dos limites da Instituição. Primeiro, foi a vez da radioterapia. Depois, veio a quimioterapia. Essa história foi se arrastando, pontuada aqui e ali pela aquisição e/ou doação de um novo aparelho, sempre a se depender da boa vontade dos benfeito-res e mesmo de alguns gestores públicos, consoante se discorre a seguir, salientando-se os grandes marcos de uma empreitada de 70 anos.

A primeira manifestação concreta do ICC foi a instalação de um ambulatório, em 1945, para atendimento aos pacientes com câncer. Em 1947, foi criado o Instituto de Ensino Médico, sob a direção de Jurandir Picanço, com a fi nalidade de instalar a Faculdade de Medicina do Cea-rá, fato que se concretizou em 12 de maio de 1948. Todos os médicos fundadores do Instituto participaram, ativamente, daquele movimento, preparando-se, com esmero, para o ensino das matérias que compunham a grade curricular daquela Escola Médica. Em 1950, o ICC conseguiu uma bolsa de estudos para o Prof. Livino Pinheiro, a fi m de que ele realizasse, em São Paulo, um Curso de Anátomo-Patologia, indispensável para o diagnóstico dos tumores.

Em 1951, era praticamente desconhecida a cirurgia oncológica, em Fortaleza, quando o Ceará apenas contava com o pioneiro dessa especiali-dade médica, Dr. Haroldo Juaçaba, que se qualifi cara nos EUA. A Diretoria do ICC planejou, então, criar um Serviço de Câncer, e conseguindo, mercê dos seus esforços, recursos para construção daquela unidade, na Santa Casa de Misericórdia. Foram construídas ali, três enfermarias, com o total de 24 leitos, uma Sala de Curativos e um Ambulatório. O ICC assegurava o Corpo Clínico, todo ele voluntário, formado por diretores da instituição e

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325Insti tuto do Câncer do Ceará: 70 anos de conquistas

cirurgiões professores da Faculdade de Medicina. O Centro Cirúrgico da Santa Casa foi franqueado ao Serviço e os primeiros internos da Faculda-de de Medicina prestavam serviços auxiliares no Serviço e nas Salas de Operação. Muitas intervenções para câncer tiveram ali a sua realização primeira e o Banco de Sangue da Casa de Saúde César Cals fornecia o produto, gratuitamente, para operações extensas.

A manutenção do Serviço era auxiliada pela Associação Cea-rense de Ajuda aos Cancerosos. Posteriormente, a Rede Feminina do Instituto do Câncer do Ceará, criada em 1954, assumiu os encargos de ajuda na manutenção do Serviço, responsabilizando-se, inclusive, pela aquisição de tubos e agulhas de Radium, para tratamento do câncer do colo uterino, então o tumor mais frequente na mulher, e o de língua, também muito comum, em homens. O Serviço de Câncer serviu, ainda, como local de aulas práticas, para as primeiras turmas da Faculdade de Medicina do Ceará, antes mesmo da instalação da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Em 1955, o ICC conseguiu do Instituto de Ensino Médico, órgão responsável pela criação da Faculdade de Medicina, um terreno vizinho ao da Maternidade Escola e do Hospital das Clínicas, dando vez à construção, com o auxílio de verbas federais, do andar térreo e do ambulatório do Hospital do Câncer. As verbas escassearam, porém, e a parte já construída, foi cedida, então, para as aulas de Cirurgia da Faculdade de Medicina, que vinham sendo ministradas na Santa Casa e em hospitais particulares.

Em 1969, a necessidade de expansão do Centro de Radioterapia levou o ICC a adquirir um terreno vizinho ao Hospital das Clínicas, oportunidade em que, por meio de convênio fi rmado com o Instituto de Previdência do Estado do Ceará (IPEC), foi possível iniciar construção do prédio e adquirir e instalar uma Bomba de Cobaltoterapia.

Em 1971, por solicitação do então Diretor da Divisão Nacional de Câncer do Ministério da Saúde, Dr. Moacir Santos Silva, foi implantado o Registro de Câncer do ICC, tendo, como suporte, convênio celebrado com o Departamento de Patologia e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFC e com a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará.

Em 1977, o Ministério da Saúde cedeu ao ICC, em regime de comodato, uma Bomba de Cobaltoterapia de maior potência, à conta do que as instalações tiveram que ser ampliadas, para acomodar o aparelho, e também para servir de sede ao Departamento de Física Médica. Em

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1975, a instituição alemã Misereor, de Colônia, resolveu doar ao ICC, um aparelho para mamografi a. A essa época, a Rede Feminina do ICC construiu e equipou, em terreno vizinho ao Instituto, a Enfermaria Carmen Prudente, destinada ao abrigo dos pacientes do interior, com indicação de tratamento irradiatório e quimioterapia, constituindo-se uma exigência, que eles fossem comprovadamente pobres e sem familiares, na capital.

No intuito de prestar melhor atendimento aos seus doentes, o ICC adquiriu, em 1980, um Acelerador Linear de 12 MeV, construindo, então, instalações novas para abrigar o aparelho, bem assim o Laboratório de Dosimetria.

Em 1984, o ambulatório existente já não tinha sufi ciência para atender à demanda dos pacientes, tendo a família Parente, capitaneada pelo benfeitor da instituição, Sr. Inácio Parente, assumido o encargo de construir, às suas expensas, um novo ambulatório, com cinco consultórios, duas salas de pequenas cirurgias, e ainda um auditório.

Em 1988, em razão das organizações privadas terem deixado de ofe-recer aplicações de quimioterapia aos previdenciários, o ICC foi solicitado, pela Secretaria de Saúde do Estado, para promover aquele tratamento; o pedido foi prontamente atendido e, em pouco tempo, instalações adequadas foram construídas, com a colaboração decidida das organizações dirigidas pelo empresário Ivan de Castro Alves.

A Diretoria do ICC era, até 1988, constituída somente de médicos. Uma reforma dos Estatutos criou um Conselho Consultivo, englobando a participação de advogados, diretores de hospitais e empresários, alguns deles também indicados para cargos diretivos.

A área vizinha ao ICC, paulatinamente, foi sendo adquirida, com vistas à construção do Hospital do Câncer. Em função dessa estratégia, foi projetado o Hospital, com capacidade para 141 leitos, em cinco pa-vimentos dentro de um sistema modular. Dessa forma, todos os serviços existentes, incluindo Ambulatório, Radioterapia e Quimioterapia, bem assim os equipamentos de cada unidade fi caram integrados ao Hospital do Câncer, cuja inauguração ocorreu em 26 de novembro de 1999.

Construído segundo os mais modernos conceitos de arquitetura, do gênero, o Hospital dispõe, hoje, de 141 leitos, distribuídos em apartamen-tos, enfermarias, UTI e sala de recuperação, todos de excelente padrão, em cumprimento às exigências do Ministério da Saúde. Os médicos que atendem no Hospital do Câncer possuem notória especialização em Onco-

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logia, com treinamento em centros avançados, no Brasil e no exterior. O Hospital do Câncer alia a alta tecnologia que utiliza, à vocação científi ca e humanitária dos seus profi ssionais, consolidando-se como uma referência no tratamento do Câncer no Estado do Ceará

O ensino e a pesquisa têm representado um grande diferencial, em termos de atividades desenvolvidas pelo Instituto do Câncer do Ceará/Hospital do Câncer. Ressalte-se que o ICC foi credenciado, pelo Minis-tério da Educação, para realizar cursos de especialização em Oncologia, conforme despacho ministerial publicado no D.O.U., de 7 de julho de 2005, por meio de sua Escola Cearense de Oncologia (ECO). Em 25 de setembro de 2007, através do Of. CAA Minter/Dinter nº 68-10-2007, a CAPES comunicou a aprovação do Programa de Doutorado e Mestrado Interinstitucional em Oncologia, resultado da parceria fi rmada entre Fun-dação Antônio Prudente/ Hospital A. C. Camargo e Instituto do Câncer do Ceará – HC/ICC.

O desenho do atual ICC é moderno e efi ciente. O seu planejamento estratégico, elaborado por uma consultoria qualifi cada, com suporte do pessoal do ICC, estabelece metas de crescimento para os próximos anos. A nova estrutura administrativa tornou a instituição mais enxuta e com melhor defi nição das suas responsabilidades. O organograma atual do ICC dá visibilidade para que se faça uma leitura da missão institucional, através das unidades estruturantes criadas, para viabilizá-la. Em primeira linha, estão o Hospital Haroldo Juaçaba, unidade operacional, com grau de excelência; a Escola Cearense de Oncologia, incumbida de formar pessoal qualifi cado para atuar na área oncológica; e a Rede Feminina, onde pulsa, com mais vigor, o coração do ICC, pelas ações solidárias que fazem parte do seu cotidiano, operacionalizadas pela Casa Vida. Como unidades de sustentação, encontram-se a Superintendência Corporativa de Negócios, a Superintendência de Suporte Corporativo e a Superintendência de Responsabilidade Social.

A data de 25/11/2014 foi um dia de grandes lembranças para nós, posto que há exatos 15 anos, quando o Instituto do Câncer do Ceará (ICC) comemorava os seus 55 anos de fundação, deu-se a inauguração do nosso Hospital do Câncer, cuja pedra fundamental fora lançada cinco anos antes, ao tempo da celebração do cinquentenário institucional.

Nos três últimos lustros, desde a instalação inaugural do hospital, que hoje porta o nome Haroldo Juaçaba, uma homenagem justa, mas com

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a qual ele não concordaria, o ICC tem experimentado um contínuo cres-cimento, em obras físicas e em produção, sempre com o aprimoramento da qualidade do que faz, incorporando os maiores avanços tecnológicos, e buscando otimizar seus recursos, com vistas a ofertar melhores serviços oncológicos aos que dele se valem.

A instalação da Escola Cearense de Oncologia, de relevo para a pesquisa e a formação de especialistas em Cancerologia, do Anexo I, que abriga consultórios e serviços especializados, e da ampla reforma da Radioterapia, com modernização e aquisição de novos equipamentos, são exemplos naturalmente edifi cantes de nossos progressos, no decorrer desses anos.

Para marcar os seus 70 anos de fundação, o ICC entregou o prédio da nova Casa Vida, um recinto de suporte para acolher pacientes e seus acompanhantes que procedem do interior cearense e até de outros estados, que terá, de pronto, a sua capacidade de abrigar aumentada de 80 para 150 hóspedes, e faz a apresentação do projeto de um outro anexo, a ser erguido no terreno do hospital, sendo esse devotado, principalmente, a majorar a prestação de serviços aos usuários do SUS, atendendo, em grande parte, a atual demanda reprimida.

À luz da história, o que mais pode ser dito do Instituto do Câncer do Ceará, nos seus 70 anos de brilhante atuação, é que para a entidade crescer, da forma como cresceu, foi fundamental o pulso forte dos seus dois primeiros presidentes – Waldemar de Alcântara (1944-1990) e Haroldo Juaçaba (1991-2009), os quais souberam aliar competência, bom senso e espírito humanitário, para tornar a Instituição aniversariante a melhor referência no tratamento do câncer, no Estado do Ceará e até nas regiões Norte-Nordeste.

Hoje, a entidade é presidida pelo Dr. Lúcio Alcântara, médico e intelectual, sócio do Instituto do Ceará: histórico, geográfi co e antropo-lógico, que, escudado na sua experiência de gestor público, prossegue o trabalho dos seus antecessores, preservando os ideais de fi lantropia que nortearam a criação do ICC, há sete décadas.

Entre marchas e contra-marchas, o sonho de seus idealizadores, de dotar o Ceará de um hospital especializado em Cancerologia, somente foi concretizado em novembro de 1999, quando o ICC inaugurou o Hospital do Câncer, atualmente denominado Hospital Haroldo Juaçaba, construído exclusivamente com recursos próprios, tornando-se, ao cabo de poucos

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anos de funcionamento, uma instituição de referência em Oncologia do Norte e do Nordeste.

Para celebrar os seus 70 anos de existência, o ICC traçou uma ampla programação, concentrada principalmente no dia 25/11/2014, tendo por acme a inauguração da nova Casa Vida, ponto de apoio para pacientes procedentes do interior cearense e de outros estados, que terá a sua capacidade de acolhimento mais que quadruplicada, e a apresen-tação do projeto do novo anexo do hospital, destinado a alargar a oferta de serviços aos usuários do SUS, suprindo, em grande parte, a demanda reprimida hodierna.

Os anos vindouros prometem outras grandes realizações, como é o caso da viabilização de um projeto de engenharia, cuja fi nalidade é erguer um prédio de 10 andares, com 28.000 m2, para atendimento ao paciente do SUS. Metas físicas traçadas deverão ser cumpridas, ampliando-se, no Estado, os números de atendimentos, balizados pelos mais modernos recursos que a cancerologia oferece.

O mais importante, em tudo isso, é a valorização do capital humano, posto à disposição do paciente com câncer, pelo ICC, tal como o respeito que a Instituição devota a essa sua clientela, na medida em que coloca, ao seu dispor, todo um aparato médico/tecnológico capaz de derrubar o mito de que “câncer não tem cura”.

Parabéns ICC. Os seus fundadores estariam hoje jubilosos, se vivos fossem.

Apêndice: LINHA DO TEMPO DO ICC (1944-2014)

1944:- Reunião de um grupo de médicos, objetivando discutir como pres-tar assistência aos doentes de câncer e promover a cancerologia no Ceará. Nascia aí o Instituto do Câncer do Ceará.

1945:- Instalação de um ambulatório na Santa Casa de Misericórdia, considerada a primeira ação concreta do ICC.

1948:- Fundação da Faculdade de Medicina, representando uma das mais importantes parcerias do Instituto do Câncer do Ceará.

1950:- Execução de obras na Santa Casa de Misericórdia, para a instalação de um Serviço de Câncer, com 24 leitos e funcionamento garantido pelos médicos do ICC.

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1954:- Lançamento em Fortaleza da Primeira Campanha educativa contra o Câncer; Ofi cialização da Rede Feminina do Instituto do Câncer do Ceará.

1955:- Defl agração de campanha pelos estudantes da Faculdade de Medicina para obter ação de recursos destinados à construção do Hospital do Câncer.

1952:- Concessão de ajuda ao Serviço de Câncer, pela Associação Cearense de Assistência aos Cancerosos.

1963:- Assinatura de convênio com a Universidade do Ceará e com o Go-verno do Estado, para mútua prestação de serviços;- Prosseguimento das obras do ambulatório do ICC, anexo ao Hospital de Cirurgia;- Regularização das relações ICC / Faculdade de Medicina;- Convo-cação do ICC, pelo Dr. Penido Burnier, para se integrar à Ofensiva da Campanha contra o Câncer, em âmbito nacional.

1964:- Inclusão de verba, no orçamento do Ministério da Saúde, para aquisição de um aparelho de radioterapia profunda, a ser instalado no ICC.

1965:- Apresentação de proposta, pelo Dr. Haroldo Juaçaba, para incor-poração da Rede Feminina ao ICC.

1967:- Autorização da compra de uma bomba de cobalto junto à Siemens, da Alemanha, para o ICC.

1968:- Modernização do serviço de radioterapia;- Concessão de aval do Banco Mercantil do Brasil, para fi nalização do processo de compra da Bomba de Cobalto do ICC;- Autorização de compra de terreno, vizinho ao Hospital-Escola, para instalação da bomba de cobalto adquirida pelo ICC.

1969:- Chegada da Bomba de Cobalto e início das obras do Centro de Radioterapia

1970:- Inauguração do Centro de Radioterapia do ICC.

1976:- Criação do Departamento de Física Médica.

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1977:- Ampliação do Centro de Radioterapia.

1978:- Consolidação do Registro do Câncer.

1979:- Implantação do Departamento de Prevenção, Diagnóstico e Con-trole de Câncer.

1982:- Inauguração da Enfermaria Carmen Prudente.

1985:- Construção do Ambulatório Corina Parente.

1988:- Início das atividades de Oncologia Clínica (quimioterapia), no ICC.

1991:- Instalação do Serviço de Endoscopia.

1994:- Criação do Registro Hospitalar de Câncer.

1995:- Início das obras do Hospital do Câncer.

1999:- Inauguração do Hospital do Câncer do Ceará.

2001:- Implantação do Serviço de Oncologia Pediátrica.

2003:- Realização do primeiro tratamento conformacional, propiciando menor risco e maiores chances de cura para o paciente.

2004:- Celebração e manutenção de acordo com instituições internacio-nais - IPATIMUP e Wayne State University, para desenvolvimento de ações ligadas à cancerologia; ─ Realização de 24 pesquisas acadêmicas, dentro do ICC/HC; ─ Encerramento de três projetos de pesquisa patrocinados sobrecâncer de mama, pulmão, gástrico e de colo uterino.

2005:- Inauguração do Prédio anexo ao Hospital do Câncer;- Credencia-mento do ICC/HC, pelo Conselho Nacional de Educação, para reali-zar cursos de especialização lato sensu, em oncologia;- Implantação de programas de Residência Médica em Cancerologia: Cirúrgica, Clínica e Pediátrica, e de Radiologia;- Instalação, no ICC, do seu Comitê de Ética em Pesquisa (CEP);- Entrada em funcionamento do Bazar / Café Casa Vida, sob responsabilidade da Rede Feminina do ICC;- Fomento à pesquisa clínica patrocinada no âmbito do ICC;- Realização de seminários internacionais, em parceria com Mayo Clinic e com o Karmanos Cancer Center.

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2006:- Implantação da Escola Cearense de Oncologia - ECO, respaldada na autorização do Ministério da Educação;- Ampliação da área do ser-viço de radioterapia, com a construção de um bunker, para acomodar novos aparelhos e adequação do espaço reservado à Braquiterapia/HDR;- Criação do Serviço de Cuidados Paliativos, agregando Clínica da Dor e Home Care;- Expansão da capacidade de leitos destinado aos pacientes do Sistema Único de Saúde;- Adaptação do laboratório de Anatomia, Patologia e Imuno-histoquímica, para receber o Banco de Tumores;- Implantação dos cursos de stricto sensu de mestrado / Doutorado em Cancerologia, sob supervisão da ECO e em parceria com o Hospital A.C. Camargo.

2007:- Elaboração do Plano de Metas 2010, contemplando, de principio, a modernização da entidade;- Melhora dos indicadores hospitalares, com aumento da taxa média de ocupação dos leitos, redução do tem-po médio de permanência, otimizando a capacidade de internamen-to;- Consolidação patrimonial, em termos de capital imobilizado, por suas edifi cações e imóveis, e pelos equipamentos de alto custo que fazem parte do seu acervo;- O Instituto Avon e o Instituto do Câncer do Ceará, tendo o apoio da APRECE (Associação de Prefeitos do Ceará), encerram a exitosa Campanha “Um beijo pela Vida” com o objetivo principal de aumentar as taxas de diagnóstico e tratamento precoce do câncer de mama.

2008:- Reorganização do ICC, com defi nição da sua estrutura, compor-tando uma Diretoria Executiva e pondo em uma mesma linha divi-sional, o hospital do Câncer, a ECO e a Casa Vida;- Expansão do setor de marketing do ICC/HCC;- Agregação de novos programas à Residência Médica do ICC;- Intensifi cação das atividades voltadas para o aperfeiçoamento profi ssional, via promoção de eventos e estímulo a produção científi ca;- Tramitação na ECO e a aprovação pelo CEP de 40 projetos de natureza e manutenção, em atividade, de 7 protocolos de pesquisa clínica patrocinada.

2009:- Início da construção do novo prédio da CASA VIDA, para abrigar, em melhores condições, um número cada vez maior de pacientes pobres;- Implantação da nova estrutura organizacional do ICC, para dar maior fl exibilidade às ações, de responsabilidade da insti-

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tuição;- Abertura do programa de iniciação científi ca, valorizando o ensino e a pesquisa, dentro da instituição; - Comemorações dos 65 anos do ICC, com lançamento do livro “Resgate da Memória Institucional” e aposição de novos nomes no Memorial Benfeitores do ICC; - Divulgação dos editais referentes à concessão dos prêmio: Fábio Landim - melhor monografi a de residentes do ICC; e Eilson Goes - melhor trabalho científi co, produzido na instituição.

2010:– O ICC torna-se pioneiro em vídeo-conferências na área de Onco-logia no Nordeste; – O ICC lança sua revista institucional, intitulada Conexão ICC.

2011:– O Hospital do Câncer passa a se chamar Hospital Haroldo Juaçaba (HHJ), em homenagem a um dos seus fundadores e ex-presidente.

2012:– A Organização Nacional de Acreditação (ONA) concede a Certifi -cação Nível I ao ICC, que se torna a primeira instituição fi lantrópica na saúde acreditada no Ceará; – Início do Programa de Residência Médica em Patologia; – Formatura dos mestres e doutores do Minter/Dinter, via cooperação H.A.A.C. Camargo e ICC; – Aprovação de novo Dinter, via cooperação H.A.A.C. Camargo e ICC; – Implan-tação da Radioterapia com Intensidade Modulada (IMRT).

2013:– Abertura do Centro Oncológico São Mateus, levando os serviços para outra área de Fortaleza, a fi m de dar maior comodidade ao paciente.

2014: - Ao ensejo das comemorações dos seus 70 anos de fundação, o ICC apresenta o projeto de construção do Anexo II e inaugura a nova sede da Casa Vida, ampliando a sua capacidade de acolher pacientes em tratamento no ICC.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

A) LIVROSINSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ.Instituto do Câncer do Ceará: ética,

ciência e vida. Fortaleza: Expressão, 2004. 112p. Edição comemorativa dos 60 anos de fundação).

OLIVEIRA, E.S.G. de; SILVA, M.G.C. da (eds.). Instituto do Câncer do Ceará: 50 anos a serviço da comunidade. Fortaleza: TIPROGRESSO, 1994. 89p.

OLIVEIRA, E.S.G.; SILVA, M.G.C. da (org.) para INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ.Resgate da Memória Institucional: Mensagens institucionais 1995-1998. V.1. Fortaleza: Expressão, 2009.92p.

OLIVEIRA, E.S.G.; SILVA, M.G.C. da (org.) para INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ.Resgate da Memória Institucional: Comunicação do ICC. V.2. Fortaleza: Expressão, 2009.110p.

OLIVEIRA, E.S.G.; SILVA, M.G.C. da (org.) para INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ.Resgate da Memória Institucional: Planos de Ação do ICC. V.3. Fortaleza: Expressão, 2009.54p.

OLIVEIRA, E.S.G.; SILVA, M.G.C. da (org.) para INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ.Resgate da Memória Institucional: A fala do ICC. V.4. Fortaleza: Expressão, 2009.110p.

OLIVEIRA, E.S.G.; SILVA, M.G.C. da (org.) para INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ.Resgate da Memória Institucional: ICC pelo avesso. V.5. For-taleza: Expressão, 2009.32p.

SILVA, M.G.C. da (ed.) para JUAÇABA, H.G. Haroldo Juaçaba e seus escritos. Fortaleza: Tiprogresso, 2011. 240p.(Doc. Nº 8.4.11).

SILVA, M.G.C. da (org.) para OLIVEIRA, E.S.G. Pedaços do cotidiano no Ins-tituto do Câncer do Ceará. Fortaleza: Expressão, 2014. 140p.

SILVA, M.G.C. da (org.) para OLIVEIRA, E.S.G. Rede Feminina do Instituto do Câncer do Ceará: o poder do rosa na ação voluntária. Fortaleza: Expressão, 2014. 104p.

SILVA, M.G.C. da. Instituto do Câncer do Ceará: 70 anos de conquistas. Fortaleza: Expressão, 2015. 124p.

B) ARTIGOS EM JORNAIS E REVISTAS DE DIVULGAÇÃOSILVA, M.G.C. da. Instituto do Câncer do Ceará: síntese histórica. Revista His-

tórias da Saúde. Dezembro de 2008 – ano XI, n.17, p.4.

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335Insti tuto do Câncer do Ceará: 70 anos de conquistas

SILVA, M.G.C. da. Os setenta anos do Instituto do Câncer do Ceará. O Povo. Fortaleza, 25 de novembro de 2014. Caderno A (Opinião). p.11.

SILVA, M.G.C. da. Os setenta anos do Instituto do Câncer do Ceará. Conexão ICC. Ano 4, Nº 13, p.44. Fortaleza, setembro-dezembro, 2014. (Revista ofi cial do Instituto do Câncer do Ceará).

SILVA, M.G.C. da. 70 anos do ICC. Diário do Nordeste. Fortaleza, 27 de novem-bro de 2014. Caderno Opinião. p.2.

(Conferência proferida por ocasião da homenagem pelos 70 anos de fundação do Instituto do Câncer do Ceará, prestada pelo Instituto do Ceará, em Sessão especial ocorrida no Auditório do Instituto do Ceará, em Fortaleza, em 22 de junho de 2015)

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RELATÓRIO DAS ATIVIDADES

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Instituto do Ceará(Histórico, Geográfi co e Antropológico)

Fundado em 1887

Sob um panorama cultural marcado pelas manifestações das agre-miações literárias do fi nal do século XIX, surge o Instituto do Ceará em 04 de março de 1887.

Funciona no Palacete Jeremias Arruda, sede própria, que constitui um dos mais valiosos exemplares da arquitetura residencial fortalezense, fi gurando no quadro de bens materiais inscritos nos livros do Tombo Ar-tístico da Secretaria Estadual de Cultura como monumento arquitetônico. Oferece ao público em geral;

• Biblioteca: com mais de 35 mil livros catalogados, a biblioteca do Instituto contém valioso acervo de obras raras e signifi ca-tivos trabalhos de autores cearenses nas áreas da História, da Geografi a, da Antropologia e ciências correlatas.

• Hemeroteca: o acervo disponibilizado traz publicações de peri-ódicos produzidos nos séculos XIX, XX e XXI. Entre eles: Re-vistas de Institutos congêneres, Boletins diversos, Almanaques e grande coleção de jornais entre eles a República, O Ceará, O Cearense, O Unitário e o Nordeste, este último contemplado com o projeto em curso, através da lei Rouannet, que prevê sua total digitalização.

• Arquivo: oferece um acervo documental variado para pesquisa-dores credenciados, destacando-se os fundos Barão de Studart, Capistrano de Abreu e Eurico Facó.

• Laboratório de Conservação e Restauro: espaço para conser-vação de livros e documentos pertencentes ao Instituto ou para oferta de serviço a terceiros.

Embora dispondo de toda essa estrutura, não recebe, regularmente, nenhuma verba para realização de atividades culturais nem para seu cus-teio, dependendo, portanto, das contribuições dos seus associados e das parcerias para efetivação de suas ações culturais.

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Revista do Instituto do Ceará - 2016340

CONFERÊNCIAS REALIZADASDIA MÊS CONFERENCISTA ASSUNTO22 02 Roberto Ribeiro Documentário sobre a vida de Raimundo Gi-

rão21 03 Juarez Leitão Rodolpho Theóphilo11 04 Gen. Gomes Freire O papel do Exército Brasileiro13 04 José Bozacchiello da

SilvaA Cidade está em Cena: Fortaleza 290 anos

20 04 Artur Bruno Breve História de Fortaleza20 05 Lúcio Alcântara Atlântico, uma Revista e dois Regimes20 06 Evandro Bezerra A situação hídrica do Ceará20 07 Francisco Augusto

Araújo LimaSiará Grande – uma província portuguesa no

nordeste oriental do Brasil

22 08 Pedro Sisnando Visão Histórica do Desenvolvimento Econô-mico

20 09 Isabelle Braz O acervo do museu Artur Ramos: divulgação de um patrimônio cearense

03 10 Luciano Klein A passagem de Lampião por Limoeiro do Norte (áudio inédito)

20 10 Ary Bezerra Leite História do Cinema no Ceará21 11 Angela Gutiérrez José de Alencar na Revista do Instituto do

Ceará

Realização da segunda edição do evento Outubro Cultural. Progra-ma de produção e difusão de conhecimento. A primeira edição ocorreu em 2015, com uma programação diversifi cada, cuja principal fi nalidade foi a de fomentar discussões e estabelecer diálogos acerca da cultura do nosso Estado.

O evento contou com palestras, curso de restauração, ofi cinas e uma grande promoção de livros. O quanto vale? Além do incentivo à leitura, possibilitou a circulação de um grande volume de livros e periódicos que chegam a nossa instituição, mas, por razões diversas, não são integrados à biblioteca.

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341Relatório das Atividades

II Outubro Cultural

PROGRAMAÇÃO 2016

Dia 03 15:00 – Abertura – Presidente Ednilo Soárez.15:30 – Passagem de Lampião por Limoeiro do Norte, narrada por Cus-tódio Saraiva: um valioso documento para a História do Cangaço – Apre-sentação do Prof. Luciano KleinNa ocasião haverá uma apresentação de fl auta rústica.

Dia 0408:00 – Início da Feira de Livro do Instituto, com a promoção “Quanto Vale?”; livros com preços sugeridos pelos visitantes.

Dias – 05 e 06 8:00 às 17:00 – Exposição de raridades bibliográfi cas do Instituto do Ceará

Dias – 11, 13 e 1414:00 às 16:00 – visita orientada ao museu

Dia 1815:00 às 16:00 – Ofi cina – Coleção Studart: um valioso acervo documental

Dia 2015:00 - Abertura de exposição - Fortaleza e a Era do Cinema15:30 - Palestra “Fortaleza e a Era do Cinema: Uma Visão Histórica”.Prof. Ary Bezerra Leite

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Revista do Instituto do Ceará - 2016342

Dia 2415:00 - Apresentação do painel “Instituto do Ceará - outros visitantes”. Curioso registro fotográfi co das diversas espécies que frequentam os jardins do Palacete. A amostra reafi rma a busca diária por uma convi-vência saudável com o meio ambiente, realizando ações de integração e sustentabilidade.Foi feita distribuição de mudas de plantas.

Dias 25 a 3113:00 às 17:00 - Curso de Restauração em Obras Raras (livros e docu-mentos em papel).

Dia 3115:30 - Solenidade de encerramento com entrega de certifi cados aos par-ticipantes do curso e das ofi cinas

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343Relatório das Atividades

Apresentação do quarteto da Orquestra Filarmônica do Ceará, sob a re-gência do maestro Gladson Carvalho.

Quadro Social:

Foram eleitos e empossados como associados efetivos• Glória Maria dos Santos Diógenes• Ubiratan Diniz de Aguiar• José Eurípedes Maia Chaves Júnior

Lançamentos de livros na sede do Instituto

16 de julho - O Povo de São José, Memória Genealógica de uma Família SertanejaBruno Pedrosa

09 de novembro - Siará Grande uma Província Portuguesa no Nordeste Oriental do BrasilFrancisco Augusto de Araújo Lima

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Revista do Instituto do Ceará - 2016344

Lançamentos de livros de associados, homenagens e honrarias

• Os Náufragos do Porto - Ednilo Soárez

• Homenagem da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará “pelo elevado compromisso com o desenvolvimento econômico do Nordeste” – Antônio Cláudio Ferreira Lima

• Semeando Cultura (33ª Antologia da SOBRAMES – Ceará) – José Eurípedes Maia Chaves Júnior

• Criação da Sala Leonardo Mota na sede do Instituto do Ceará

Projetos e Parceria

“Conheça o Instituto”

Mesmo não dispondo de verba regular para serviços básicos de ma-nutenção e com um quadro de apenas 4 funcionários, o Instituto mantém e disponibiliza para o público em geral suas instalações. Fazendo uso das redes sociais, principalmente o facebook, temos dado visibilidade ao rico patrimônio material da Instituição e com o critério de agendamento prévio recebemos ao longo de 2016 estudantes, professores e visitantes em geral que percorrem o Museu Barão de Studart, sob orientação de profi ssional habilitado. O percurso inclui as instalações internas do Palacete Jeremias Arruda onde está depositado rico acervo antropológico.

Estabelecimentos de ensino que participaram do projeto Conheça o Instituto:

1. EEM Padre Rodolfo Ferreira da Cunha2. EEM Governador Adauto Bezerra3. Colégio Justiniano de Serpa4. Colégio Renato Braga5. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-

-Brasileira - UNILAB6. Universidade Federal do Ceará (curso de Biblioteconomia)7. Universidade Estadual do Ceará (cursos de História e Geografi a)8. Instituto Superior de Teologia Aplicada

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345Relatório das Atividades

9. Assembleia Legislativa do Ceará – equipe técnica responsável pela produção de documentário sobre o Barão de Studart

10. Instituição Peter Pan11. Serviço Social do Comercio – SESC

Instituto do Ceará – Universidade Federal do Ceará (Projeto permanente mantido pela própria instituição).

“Trilhas Urbanas”

Parceria com o Departamento e Pós-graduação em Geografi a da UFC através do Laboratório de Planejamento Urbano e Regional (LAPUR) realiza aulas de campo pelo Centro de Fortaleza. O evento já ocorre desde 2008 e traz ao Instituto centenas de estudantes da rede pública de ensino que realizam roteiros educativos. O evento é coordenado pelos sócios efetivos Clélia Lustosa Costa e Eustógio Wanderley Correia Dantas, ambos professores de Geografi a da Universidade Federal do Ceará.

Trilha 1 - Geometria Territorial do PoderTrilha 2 – Fortaleza Bela e VulnerávelTrilha 3 – Turismo e Lazer na MetrópoleTrilha 4 – Fortaleza e o MarTrilha 5 – Espaço de Vida e de Morte

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Revista do Instituto do Ceará - 2016346

Projeto Instituto do Ceará - Renovação e Integração - PRONAC 14.9609

Síntese do Projeto

Este projeto propõe três ações integradas: 1. Renovação do Memo-rial Barão de Studart; 2. Renovação do laboratório de obras raras; e 3. Digitalização do acervo de jornais além de outras atividades que propiciem essa integração e um trabalho de comunicação efetivo, com a revista anual, além do site e folder.

Início da execução do projeto - novembro de 2015Ações Realizadas:

1. Digitalização da coleção do jornal O Nordeste.

1a Etapa Foram digitalizados 18 cadernos da coleção O NORDESTE – de 1928 a 1936, perfazendo um total de 22.690 imagens.

2a EtapaNeste lote, foram digitalizados 20 cadernos da coleção O NORDESTE – de 1937 a 1946, perfazendo um total de 21.442 imagens.• Aproximadamente 70 páginas deteriorada pela ação do

tempo ou outros agentes.• Páginas retiradas intencionalmente (20 páginas).• Páginas mutiladas (retirada de anúncios/reportagens)

(25 páginas).

Foram produzidas 2 cópias da mídia de cada ano, totalizando 20 DVD’s, gravadas em DVD’s confi áveis DUAL LAYER.

Falta contemplar os anos de 1947 a 1963.Obs. cada ano possui cerca de 2.300 a 2.500 imagens.

2. Hospedagem do domínio institutodoceara.org.br

3. Edição da Revista do Instituto - Ano 2015

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347Relatório das Atividades

4. Restauração de mobiliário histórico (duas escrivaninhas e uma estante) do palacete Jeremias Arruda.

5. Aquisição de 3 computadores para biblioteca

6. Recuperação de 1. 356 livros que foram reincorporados ao acervo geral

Parceria Instituto do Ceará – COELCE

A parceria viabilizou a troca de lâmpadas antieconômicas por lâmpadas de led e a aquisição de 4 aparelhos de ar condicionado. Os equipamentos foram instalados nos auditórios Tomaz Pompeu Sobrinho e Barão de Studart.

Parceria Instituto do Ceará – SESC

Relações Públicas• Plano Estadual de Cultura – Teatro José de Alencar• Décima Região Militar• Instituto Dr. José Frota – Solenidade de homenagem à COELCE

por seu programa de efi ciência energética• Secretaria de Ciência e Tecnologia a convite do Secretário

Inácio Arruda que sinalizou a possibilidade de contemplar o Instituto com ponto digital

Homenageados com título de Sócio Benemérito

• Abel Alves Rochinha – Companhia de Eletricidade do Ceará - COELCE

• Beto Studart - Federação das Indústria do Ceará• Luiz Gastão Bittencourt da Silva - Federação do Comércio-

FECOMERCIO• Marcos Costa Holanda – Presidente do Banco do Nordeste -

BNB

Fortaleza, 30 de dezembro de 2016Osmar Maia Diógenes – Secretário Geral

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ATAS DAS SESSÕES

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Sessão do dia 1° de fevereiro de 2016

No primeiro dia do mês de fevereiro de dois mil e dezesseis, em tarde de fortes chuvas, reuniu-se a diretoria do Instituto na sua sede, situ-ada à Rua Barão do Rio Branco n. 1594, auditório General Carlos Studart Filho. Presentes oito sócios efetivos a seguir relacionados: Presidente Ednilo Gomes de Soárez, vice-presidente Pedro Sisnando Leite, primeiro secretário Geová Lemos Cavalcante, segundo secretário Affonso Taboza Pereira, diretor cultural Juarez Fernandes Leitão, primeira tesoureira Isa-belle Braz Peixoto da Silva, segundo tesoureiro Luciano Pinheiro Klein Filho e sócio Marcelo Gurgel Carlos da Silva.

Iniciando a sessão às quinze horas, o presidente saudou os compa-nheiros e agradeceu por suas presenças apesar da forte chuva que acabara de cair. Falou da importância dessa sessão, a primeira do último ano do mandato da atual diretoria. Disse da sua antipatia pessoal por reeleições, lembrando que difi cilmente alguém consegue reeditar no segundo mandato a performance do primeiro. Em seguida convidou os presentes a se deslo-carem à sala onde estão guardados os equipamentos de ar condicionado doados ao Instituto pela Coelce. O associado Affonso Taboza Pereira transmitiu informação recebida da Coelce, segundo a qual os equipamentos começarão a ser instalados depois do dia vinte de fevereiro. O presidente lembrou o importante papel desempenhado neste affaire junto à Coelce pelo sócio e ex-governador Lúcio Gonçalo de Alcântara, que nos abriu as portas daquela empresa. O presidente elogiou o secretário geral Osmar Maia Diógenes por sua atuação no Instituto. Lembrou que ele foi deputado estadual por duas ou três legislaturas, e que é um fazedor de amigos, o que se constata onde quer que ele chegue. Na Fecomércio foi recebido com abraços pelo presidente Luiz Gastão Bitencourt, e conseguiu uma doação de vinte e um mil reais como apoio a projeto nosso. Na Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, em contato com o secretário Inácio Arruda, plei-teia ajuda para nosso projeto de transformar o Instituto num ponto digital. Informou da futura vinda da Secretária de Urbanismo e Meio Ambiente da Prefeitura, Águeda Muniz, em visita à nossa sede. Falou também da prestação de contas do exercício passado, enviada aos sócios através da internet; falou da beleza da nossa festa de Natal, dos planos para o Outubro Cultural, que será aberto com palestra do sócio Luciano Klein, da feira de livros usados e visitas às instalações do Instituto. Informou que o diretor

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cultural Juarez Leitão lhe entregou a programação do Ciclo de Palestras do corrente ano. O diretor cultural Juarez Leitão sugeriu ao presidente que faça, ao fi nal do seu mandato, um livro registro de suas realizações nos quatro anos. Ficou acertado, por sugestão do vice- presidente Pedro Sisnando Leite, que a tarefa de preparar esse livro-documento fi cará a cargo do sócio Marcelo Gurgel. O primeiro secretário Geová Lemos Cavalcante lembrou que a história do Instituto está nas atas, que são muito detalhadas. O presidente aduziu que todos os elementos de informação podem ser obtidos junto à diretora administrativa Marinez Alves Feitosa. Declarou aberta a vaga originada pelo falecimento prematuro do nosso estimado sócio José Reginaldo Limaverde Leal. Fez o elogio de suas qualidades como pessoa, seu fi no trato, sua presença agradável, suas atitudes de cavalheiro. Seu passamento inesperado chocou a todos nós. O primeiro secretário Geová Lemos Cavalcante leu então o edital correspondente à abertura da vaga. Em seguida o presidente falou da eleição no próximo dia quinze, na qual concorre como candidato único, na vaga deixada pelo sócio resignatário Luiz de Gonzaga Fonseca Mota, o ex-ministro do TCU Ubiratan Diniz Aguiar. O primeiro secretário Geová Lemos Cavalcante leu o parecer favorável da Comissão de Avaliação de Mérito, aprovado no ato pela Diretoria. Leu em seguida o Edital de Convocação da eleição, fi xada para o dia quinze de fevereiro, às quatorze horas em primeira convocação com a presença da maioria absoluta dos associados aptos a votar, e às quinze horas em segunda convocação com a presença de um terço dos associados, encerrando-se às dezessete horas, devendo ser presidida pelo vice presidente Pedro Sisnando Leite, tendo como escrutinadores os só-cios Affonso Taboza Pereira e Luciano Pinheiro Klein Filho. O presidente anunciou para o próximo dia dez de março a sessão solene de posse da sócia eleita Glória Diógenes, que receberá a saudação do sócio Eduardo de Castro Bezerra Neto. Lembrou que os discursos devem ter curta duração, em sintonia com os tempos atuais, pois longas peças de oratória são mal recebidas pelos auditórios. O presidente confi rmou para o dia quatro de março, data do aniversário do Instituto, a entrega da Revista de dois mil e quinze. Nessa ocasião, homenageará representantes das entidades que nos apoiaram fi nanceiramente. O Banco do Nordeste nos deu oitenta mil reais, com participação importante do sócio Lúcio Gonçalo de Alcântara; a Fiec nos deu vinte mil reais, com a ajuda do sócio Affonso Taboza Pereira; a Coelce nos doou o sistema de ar condicionado do Auditório Tomaz Pompeu

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Sobrinho; a Fecomércio nos doará vinte e um mil reais, com a ajuda do sócio Osmar Maia Diógenes. Os presidentes dessas quatro entidades serão homenageados durante a sessão solene do dia quatro, às dezenove horas. As palavras de agradecimento a essas personalidades serão proferidas pelo sócio Lúcio Alcântara. O presidente pediu ao sócio Affonso Taboza Pereira que agende uma visita ao senhor general Comandante da Décima Região Militar, com vistas a se conseguir o apoio da banda de música na solenidade de aniversário. O presidente informou da sua grande preocupa-ção com o risco de incêndio em nosso acervo, receio esse agravado com o incêndio do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. Aduziu que o sócio Affonso Taboza, em contato com o Corpo de Bombeiros, tomou conhecimento de um sistema anti-incêndio que não causa dano ao acervo, pois não usa água, mas um gás que elimina o oxigênio do ambiente, e com isso abafa o fogo. Informou que logo depois do carnaval o sócio entrará em contato com a empresa que presta esse tipo de serviço em Fortaleza. O presidente falou da sua determinação de cadastrar todos os livros da Biblioteca, pois apenas um terço deles tem registro.

E nada mais havendo a tratar, deu o presidente por encerrada a sessão da qual eu, Affonso Taboza Pereira, segundo secretário da Diretoria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo presidente, e pelos sócios presentes.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 0 4 de março de 2016

Aos quatro dias do mês de março de dois mil e dezesseis, reuniu-se o Instituto do Ceará em sua sede (Rua Barão do Rio Branco 1594), no Auditório Tomaz Pompeu Sobrinho, para, em sessão solene, comemo-rar o centésimo vigésimo nono aniversário de sua fundação. Presentes várias autoridades e convidados, além de vinte e um sócios efetivos a seguir citados:Presidente Ednilo Gomes de Soárez, Vice-Presidente Pedro Sisnando Leite, Vice-Presidente Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez, Secretário Geral Osmar Maia Diógenes, Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante, Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira, Primeira Tesoureira Isabelle Braz Peixoto da Silva, Segundo Tesoureiro

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Revista do Instituto do Ceará - 2016354

Luciano Pinheiro Klein Filho, Diretor Cultural Juarez Fernandes Leitão, sócios José Augusto Bezerra, Pedro Alberto de Oliveira Silva, Francisco Fernando Saraiva Câmara, Eduardo de Castro Bezerra Neto, José Liberal de Castro, Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos, José Filomeno Mora-es Filho, Fernando Luiz Ximenes Rocha, Lúcio Gonçalo de Alcântara, Francisco Adegildo Férrer, Eustógio Wanderley Correia Dantas, Antônio Cláudio Ferreira Lima, e o sócio efetivo eleito Ubiratan Diniz de Aguiar.

Assumindo a palavra, o cerimonialista disse das razões da solenida-de, fez ligeiro histórico do Instituto, anunciou que seriam homenageadas quatro personalidades de destaque no Estado que colaboraram com o Instituto, e convidou para compor a mesa de honra o Presidente Ednilo Gomes de Soárez, o senhor General Marco Antônio Freire Gomes, Co-mandante da Décima Região Militar, o Vice-Presidente Pedro Sisnando Leite, o sócio e ex-governador Lúcio Gonçalo de Alcântara, o sócio José Augusto Bezerra, presidente da Academia Cearense de Letras, a senhora Nicole Barbosa, secretária do desenvolvimento econômico do Ceará, e representando a juventude presente uma estudante do Colégio Dáurea Brin-gel. Seguiu-se o Hino Nacional Brasileiro, tocado pela banda de música da Décima Região Militar, e entoado pelos presentes. Assumindo a palavra, o Presidente Ednilo Gomes de Soárez agradeceu a todos pelas presenças, e saudou a mesa na pessoa do ex-presidente do Instituto e atual presidente da Academia Cearense de Letras que, segundo ele, está revolucionando aquela academia, com uma administração profícua e inovadora. Agrade-ceu especialmente ao General Freire Gomes pela presença frequente no Instituto, ao ponto de poder ser quase considerado “um dos nossos”; fez referência também à cessão da banda de música para abrilhantar nossa festa. Reconheceu o esforço dos que ali estavam para prestigiar a solenida-de, lembrando as difi culdades e riscos de se deslocarem as pessoas à noite em Fortaleza, sobretudo no centro da cidade. Lembrou a importância da data para nós, membros do Instituto, por estarmos completando cento e vinte e nove anos de existência, o que torna a nossa instituição a terceira mais antiga do gênero no Brasil, dez anos mais antiga que a Academia Brasileira de Letras. Informou sobre a homenagem a ser prestada às qua-tro personalidades convidadas, presidentes de importantes instituições do nosso Estado, como gratidão do Instituto pelo apoio delas recebido em sua gestão, citando-as em ordem alfabética: Abel Alves Rochinha, da Coelce – Companhia de Eletricidade do Ceará; Beto Studart, da Federa-

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ção das Indústrias do Ceará – Fiec, trineto do Barão de Studart, um dos fundadores do Instituto, ilustre membro que inclusive dá nome à nossa casa: Casa do Barão; Luiz Gastão Bitencourt da Silva, da Federação do Comércio – Fecomércio; e Marcos Costa Holanda, presidente do Banco do Nordeste. Anunciou a entrega da Revista de 2015 na data, retomando a tradição de ser a nossa publicação anual entregue aos sócios e ao pu-blico no dia do aniversário do Instituto. Ressaltou o esforço do abnegado primeiro secretário Geová Lemos Cavalcante, responsável pelo feito. Lembrou que muitos colaboraram com matérias para a Revista, e citou nominalmente o sócio José Liberal de Castro, que anualmente valoriza a nossa publicação com trabalhos que refl etem seu talento, sua erudição, sua cultura. Em seguida o presidente devolveu a palavra ao cerimonialista, que anunciou a saudação aos homenageados a ser proferida pelo sócio Lúcio Gonçalo de Alcântara. Em belo e bem elaborado discurso, Lúcio Alcântara discorreu sobre a criação do Instituto, lembrando a efervescência cultural que dominava nosso Estado naquela época, e enalteceu o trabalho valioso das gerações de sócios que se seguiram e puderam, com esforço inaudito, trazer até os nossos dias, viva e pujante, esta importante instituição. Dis-correu sobre a Medalha Barão de Studart, criada para homenagear pessoas que se destacam no apoio à cultura cearense. Em seguida fez um breve histórico curricular dos homenageados, mostrando sua importância nas atividades sociais e econômicas da nossa terra. Finalizando, pronunciou uma frase antológica: “Não somos um armazém de livros bolorentos e arquivos empoeirados como podem supor os mal informados, mas uma fonte de preciosas informações acessíveis a todos que por elas se interes-sem. O Instituto é velho e orgulha-se dessa longevidade, porque nasceu e vive inspirado no passado, de olhos postos no futuro”. O discurso de Lúcio Alcântara será publicado na Revista em sua inteireza. Em seguida procedeu-se à entrega das medalhas aos homenageados, sendo chamados um a um à frente da mesa de honra para aposição por suas madrinhas. O cerimonialista anunciou, então, a palavra de Luiz Gastão Bitencourt da Silva para o agradecimento em nome dos homenageados. Em discurso de improviso bem articulado, Luiz Gastão enalteceu o trabalho do Instituto na manutenção do seu acervo valioso, fonte de informação aos que se dedicam a pesquisar os fatos e fastos da nossa história. E lamentou não ter nascido no Ceará, mas se considera premiado por ter sido agraciado com os títulos de Cidadão Cearense e Cidadão de Fortaleza. E se disse

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feliz com a acolhida que teve neste Estado, do qual tanto recebeu, e ao qual tanto deve. Após seu discurso, muito aplaudido, o Presidente Ednilo Gomes de Soárez apresentou suas considerações fi nais.

E nada mais havendo a tratar, deu o presidente por encerrada a ses-são da qual eu, Affonso Taboza Pereira, segundo secretário da diretoria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo presidente, e por todos os sócios presentes ao ato.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 09 de maio de 2016

Aos nove dias do mês de maio de dois mil e dezesseis, reuniu-se a diretoria do Instituto na sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco n. 1594, auditório General Carlos Studart Filho. Presentes dez sócios efetivos a seguir relacionados: Presidente Ednilo Gomes de Soárez, Vice-Presi-dente Pedro Sisnando Leite, Vice-Presidente Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez, Secretário Geral Osmar Maia Diógenes, Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante, Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira, Segundo Tesoureiro Luciano Pinheiro Klein Filho, sócios Pedro Alberto de Oliveira Silva, José Liberal de Castro e Lúcio Gonçalo de Alcântara.

Iniciando os trabalhos às quinze horas, o Presidente Ednilo Gomes de Soárez, saudou os presentes e disse da sua satisfação por presidir mais uma sessão ordinária da diretoria. Em seguida se reportou à sua presença no IJF – Instituto José Frota, onde participou de solenidade em que se homenageou a Coelce por seu Programa de Efi ciência Energética, um projeto de dois milhões e trezentos mil reais, que benefi ciou várias enti-dades locais, com a troca de equipamentos velhos e de alto consumo de energia por equivalentes mais modernos e econômicos; na ocasião nosso Presidente Ednilo foi convidado a agradecer à Coelce em nome do Instituto e das várias entidades benefi ciadas pelo mesmo programa. Manifestou a boa impressão que lhe causou a alta qualidade do trabalho da Coelce no IJF.O sócio Affonso Taboza Pereira informou que, nos próximos cinco ou seis dias, a empresa contratada pela Coelce iniciará o trabalho em nossa sede. O Presidente deu notícia de que nosso associado Marcelo Gurgel

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357Atas das Sessões

Carlos da Silva assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES, Seção do Ceará. Registrou a doação pelo sócio Lúcio Gonçalo de Alcântara de valioso livro que conta a participação dos cearenses na epopeia da borracha, na Amazônia, na primeira metade do século passado; acrescentou que esse livro lhe despertava interesse por ter sido seu avô materno Soldado da Borracha. Registrou que o presidente do nosso Conselho Consultivo, Mauro Benevides, receberá,no dia dezenove de maio, na Assembleia Legislativa do Estado, homenagem pelos seus cinquenta anos de vida legislativa. O Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante informou sobre doação de livros feita ao Instituto pela viúva do extinto senhor Edilmar Norões, alto executivo do Grupo Verdes Mares de Comunicação. Lembrou o Presidente que a próxima palestra do Ciclo Anual de Conferências, intitulada Atlântico, uma Revista e Dois Países, no dia vinte do corrente, estará a cargo do associado Lúcio Gonçalo de Alcântara. Pediu ao Primeiro Vice-Presidente que presidisse o ato, de vez que nessa data estará em Lavras da Mangabeira, quando será homenage-ado pela Academia de Letras daquela cidade, da qual é correspondente em Fortaleza. Informou que, no dia vinte e quatro de maio às nove horas, haverá, no quartel do Comando da Décima Região Militar, homenagem ao Brigadeiro Sampaio, herói da Guerra do Paraguai, cearense nascido em Tamboril, falecido na Batalha de Tuiuti, tendo sido a nossa entidade convidada a se fazer presente. No mesmo dia às dezenove horas, teremos na sede do Instituto a posse do novo associado, ex-ministro do Tribunal de Contas da União, Ubiratan Diniz Aguiar, ocupando a vaga deixada pelo sócio resignatário Luiz de Gonzaga Fonseca Mota. Lembrou a eleição, nos próximos dias, para preenchimento da vaga deixada pelo ex-associado José Reginaldo Limaverde Leal, falecido precocemente, à qual concorre, como candidato único, o médico José Eurípedes Maia Chaves Júnior, neto do nosso falecido Presidente Raimundo Girão; aduziu que o candidato foi recentemente empossado como membro da Academia Cearense de Medi-cina. O Presidente informou que o senhor Augusto César Bastos Barbosa, mergulhador profi ssional, esteve no Instituto em busca de informações ou registros sobre um pequeno navio naufragado nos mares de Camocim, co-nhecido como Iate Palpite, referido nos relatórios da Comissão Científi ca Exploradora Dom Pedro II de 1861. Pediu aos confrades subsídios para repasse ao interessado, cujos telefones estão na Secretaria; os associados Geová Lemos Cavalcante, Lúcio Gonçalo de Alcântara, Angela Gutiérrez

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e José Liberal de Castro teceram comentários sobre esse fato histórico. Referiu-se, em seguida, à Revista de 2016, última do mandato da atual dire-toria, que pretende entregar no dia quatro de março do próximo ano; pediu aos associados que entreguem suas matérias até o dia 30 de novembro, com um mínimo de dez e o máximo de trinta páginas, conforme decisão aprovada em reunião da diretoria. O Presidente agradeceu ao Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante, a cujos esforços e dedicação se de-veu a edição da Revista de 2015 na data previamente marcada, o dia do aniversário do Instituto. O Presidente pediu ao Primeiro Secretário que preparasse a Instrução Normativa referente à próxima eleição. A propósito, referiu-se o Secretário a um confl ito existente entre artigos do Estatuto que defi nem o ritual das eleições bem como o percentual de votos a serem atingidos pelos candidatos em relação à quantidade de sócios efetivos, uma impropriedade que torna quase impossível a eleição. Apresentou em seguida uma minuta de Instrução Normativa Interpretativa, que poderia ser submetida à Diretoria ad referendum da Assembleia Geral, na qual esboça uma proposta de solução para esse grave problema. Estabeleceu--se longa discussão sobre o assunto, uns defendendo que pra isso seria necessário alterar o Estatuto, outros lembrando que a Assembleia Geral é soberana e que, se convocada com fi nalidade específi ca, poderia corrigir essa difi culdade. Alteração do Estatuto é tarefa cara e burocraticamente complicada devido a exigências legais. Decidiu-se então voltar ao assun-to noutra oportunidade. O associado Geová Lemos Cavalcante voltou a lembrar a possibilidade de pessoas físicas destinarem ao Instituto seis por cento de seus rendimentos declarados ao Imposto de Renda, e manifes-tou sua intenção de fazer isso neste ano. O Secretário Geral Osmar Maia Diógenes informou que os pagamentos estão em dia, mas queixou-se da inadimplência dos sócios, que está alta.

E nada mais havendo a tratar, deu o Presidente por encerrada a sessão da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Dire-toria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente e pelos sócios presentes.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRA PRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

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Sessão do dia 27 de junho de 2016

Aos vinte e sete dias do mês de junho de dois mil e dezesseis, reuniu-se a diretoria do Instituto na sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco n. 1594, auditório General Carlos Studart Filho. Presentes cinco sócios a seguir relacionados: Presidente Ednilo Gomes de Soárez, Secretário Geral Osmar Maia Diógenes, Primeiro Secretário Geová Le-mos Cavalcante, Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira e Diretor Cultural Juarez Fernandes Leitão. Iniciando a sessão às quinze horas, o presidente saudou os diretores e disse do prazer de tê-los a seu lado, para cuidar dos interesses da Casa. Em seguida solicitou ao Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante que faça um ofício dirigido à família do nosso sócio benemérito Ivens de Sá Dias Branco, lamentando o seu passamento e agradecendo pela grande ajuda fi nanceira que deu, ao longo de alguns anos, ao Instituto. Solicitou que fosse incluído na ata um voto de louvor ao sócio Lúcio Gonçalo de Alcântara, pelo lançamento através da Fundação Waldemar Alcântara, por ele presidida, do livro Álbum de Fortaleza, organizado por Paulo Bezerra, uma maravilha que nos leva à Fortaleza de antanho. A obra teve a apresentação do nosso sócio, o ilustre professor da UFC José Liberal de Castro. Pediu também que constasse em ata o lançamento muito prestigiado do livro do historiador Bruno Pedrosa, sobre genealogia de famílias cearenses, com mais de mil e quatrocentas páginas. Em seguida pediu ao primeiro secretário Geová que lesse o parecer da Comisão de Verifi cação de Mérito Cien-tífi co e Cultural, relacionado à candidatura a sócio efetivo do médico e bacharel em Direito José Eurípedes Maia Chaves Júnior, à vaga aberta na sessão de primeiro de fevereiro de dois mil e dezesseis. Em extenso e bem elaborado parecer, a Comissão opinou que o candidato é pessoa de notório saber e, a partir das obras publicadas, sobretudo as relacio-nadas à ocupação holandesa em nosso Estado e no Nordeste, revela-se também excelente pesquisador na área da História. O Presidente Ednilo aduziu que, após sua inscrição como candidato à vaga do Instituto, ele foi eleito membro da Academia Cearense de Medicina. Feita consulta pelo Presidente sobre a matéria, a diretoria aprovou o parecer da Comissão. O Presidente Ednilo manifestou sua apreensão em relação ao quorum no dia da eleição pois o candidato, mesmo sendo único, precisa atingir

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Revista do Instituto do Ceará - 2016360

a maioria absoluta de votos dos sócios efetivos. Questionou-se na oca-sião que tipo de trabalho estão fazendo o candidato e seus proponentes, para mobilizar os eleitores.O presidente declarou da conveniência de se fazer a eleição em agosto, por ser o mês de julho dedicado a férias e viagens, no que foi seguido pelos sócios presentes. Ficou decidido que, na sessão ordinária de agosto, será marcada a data da eleição. O Presidente lembrou a proposta do Diretor Cultural Juarez Fernandes Leitão de, incorporados, os membros do Instituto fazerem uma visita à exposição das obras de Portinari na Universidade de Fortaleza - Unifor. Ficou decidido que a visita seria feita, e considerada uma atividade cul-tural da nossa instituição. Declarou o Presidente que, devido ao sucesso verifi cado no ano passado, o Instituto promoverá este ano o segundo Outubro Cultural. O Primeiro Secretário propôs, com a aprovação ime-diata dos presentes, que constasse da ata um voto de agradecimento à Coelce, pela importante colaboração prestada ao Instituto, com doação de quatro aparelhos modernos de ar condicionado já instalados no Auditório Pompeu Sobrinho, a substituição de aparelhos de janela já fora de uso, e a troca de lâmpadas antieconômicas por modernas lâmpadas de led. O Secretário Geral Osmar Maia Diógenes manifestou sua apreensão com relação à segurança dos bens patrimoniais do Instituto, informando que houve um assalto no dia anterior, por marginais que habitam a Praça do Carmo. Segundo ele, com a reforma da Academia Cearense de Letras e da Praça General Tibúrcio, também conhecida como Praça dos Leões, foi instalada ali uma segurança pela Prefeitura e, em consequência, os marginais que lá faziam ponto, cerca de quarenta, se deslocaram para a área fronteira à nossa sede. Estabeleceu-se um debate em torno do assunto, fi cando decidido que se contratará uma segurança noturna até que se encontre uma solução defi nitiva.

E nada mais havendo a tratar, deu o Presidente por encerrada a sessão, da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Dire-toria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente, e pelos sócios presentes.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

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361Atas das Sessões

Sessão do dia 12 de agosto de 2016

Aos doze dias do mês de agosto de dois mil e dezesseis reuniu--se a diretoriado Instituto do Ceará na sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco n° 1594, no auditórioGeneral Carlos Studart Filho, sob a presidência do sócio EdniloGomes de Soárez, e com a presença da 1ª Vice-Presidente Angela Gutiérrez, do Secretário Geral Osmar Maia Diógenes, do 1º Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante, Segundo Secretário AffonsoTaboza Pereira, Segundo Tesoureiro Luciano Pinheiro Klein Filho, e dos sócios José Liberal de Castro e Marcelo Gurgel Carlos da Silva. Aberta a sessão, o Secretário Geral Osmar Diógenes comunicou que apesar das férias, o Instituto não quebrou a programação das palestras, realizando-se no último dia 20 de julho a palestra proferida pelo gene-alogista Francisco Augusto de Araujo Lima. O ato foi presidido pelo 1º Vice-Presidente Pedro Sisnando Leite, fi cando a cargo do 1º Secretário Geová Lemos Cavalcante a apresentação do palestrista, que abordou o tema Siará Gande – Uma Província Portuguesa no Nordeste Oriental do Brasil. O tema despertou grande interesse entre os presentes, salientando-se o sócio Eduardo Bezerra Neto que teceu elogiosas considerações sobre o assunto enfocado, dando testemunho da competência do palestrista em ma-téria de genealogia.O sócio Osmar Diógenes acrescentou que o palestrista demonstrou o desejo de lançar no fi nal de outubro ou inicio de novembro do corrente um livro que está preparando – que é o desenvolvimento do tema da palestra – no auditório do Instituto. O Presidente deu pronto aten-dimento e autorizou que o autor Francisco Augusto poderia imprimir os convites com a chancela do Instituto, para isso entrando em contato com a Diretora Administrativa, Sra. Marinez Alves Feitosa, para as providên-cias pertinentes. Ao ser nominada, a Diretora Administrativa comunicou que recentemente recebera da Sra. Maria Clara Fernandes Hissa, neta de Leonardo Mota, o grande folclorista e sócio do Instituto, duas mesas de trabalho daquele sócio acompanhadas de um retrato dele. O sócio Geová Lemos Cavalcante aproveitou o ensejo para discorrer sobre a obra de Le-onardo Mota, talvez o maior folclorista do Brasil, realçando o Adagiário Brasileiro, de sua autoria; é a única obra de autor brasileiro citado muitas vezes no Dicionário de Citações Latinas e Gregas, do professor italiano Enzo Tosi. Geová Lemos Cavalcante sugeriu que se perpetuasse a memó-ria de Leonardo Mota, colocando os objetos na sala desocupada contígua

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Revista do Instituto do Ceará - 2016362

à sala do Audiovisual, apondo-se a placa SALA LEONARDO MOTA. A Diretoria aprovou a sugestão e autorizou a Diretora Administrativa a mandar confeccionar a placa. Nada mais havendo a tratar, o Presidente agradeceu a colaboração de todos para o êxito de sua gestão e encerrou a reunião, lavrando-se a presente Ata, assinada por mim, Affonso Taboza Pereira, 2º Secretário, e pelo Presidente, Ednilo Gomes de Soárez.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRA PRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 29 de agosto de 2016

Aos vinte e nove dias do mês de agosto de dois mil e dezesseis, na sede do Instituto (auditório General Carlos Studart Filho), situada à Rua Barão do Rio Branco número 1594, reuniu-se em Assembléia Geral, em segunda convocação, o corpo de associados do Instituto para eleição de novo sócio. Presentes para efeito de quorum vinte e seis sócios efetivos, número superior ao mínimo estatutário, que seria treze. O Presidente Ednilo Gomes de Soárez abriu a Assembleia às quinze horas, convocando para presidir os trabalhos o Vice-Presidente Pedro Sisnando Leite, e para escrutinadores os sócios Geová Lemos Cavalcante e Affonso Taboza Perei-ra. Pedro Sisnando Leite, assumindo a presidência, declarou que concorria à eleição, para a vaga aberta com o falecimento do nosso pranteado sócio efetivo José Reginaldo Limaverde Leal, apenas um candidato, o médi-co e bacharel em direito José Eurípedes Maia Chaves Júnior. Informou que o candidato teve seu nome aprovado pela Diretoria, com base no relatório da Comissão de Verifi cação de Mérito, e que atendia a todas as exigências do Estatuto e do Edital de Convocação das eleições. Informou ainda o Presidente da Mesa que, de acordo com o edital de convocação, os trabalhos de votação se encerrariam às dezessete horas. Em seguida convocou os sócios a assinarem as listas de presença e de votação e, ato contínuo, depositarem seus votos nas urnas. Votaram na ocasião trinta sócios a seguir relacionados: Pedro Alberto de Oliveira Silva, Eduardo de Castro Bezerra Neto, Pedro Sisnando Leite, José Augusto Bezerra, Ednilo Gomes de Soárez, Maria Clélia Lustosa Costa, Juarez Fernandes Leitão, Affonso Taboza Pereira, Lúcio Gonçalo de Alcântara,Geová Lemos Ca-

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valcante, Osmar Maia Diógenes, Marcelo Gurgel Carlos da Silva, Luciano Pinheiro Klein Filho, Isabelle Braz Peixoto da Silva, Antônio Cláudio Ferreira Lima, Zélia Sá Viana Camurça, Rejane Vasconcelos Accioly de Carvalho, Gisafran Nazareno Mota Jucá, Miguel Ângelo de Azevedo (Ni-rez), Fernando Luis Ximenes Rocha, Cid Saboia de Carvalho, Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos, Paulo Ayrton Araújo, Francisco Fernando Saraiva Câmara, Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez, Francisco Ésio de Sousa, José Filomeno Moraes Filho, Ubiratan Diniz Aguiar e Glória Maria Diógenes. O voto do sócio efetivo Carlos Mauro Cabral Benevides, enviado de Brasília através do correio, chegou a destempo, razão por que não foi computado. Apurados os votos, o presidente da mesa declarou o resultado: Trinta votos válidos sufragando o nome do candidato, número superior ao mínimo estatutário, que seria vinte e um. Nenhum voto em branco. O presidente Ednilo Gomes de Soárez, reassumindo a presidência da Assembleia, declarou eleito o novo sócio José Eurípedes Maia Chaves Júnior pela unanimidade dos votantes. Em seguida telefonou para o can-didato, parabenizando-o pela eleição.

E nada mais havendo a tratar, deu o presidente por encerrada a Assembleia Geral da qual eu, Affonso Taboza Pereira, segundo secretário da diretoria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo presidente, e pelos sócios presentes.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRA PRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 5 de setembro de 2016

Aos cinco dias do mês de setembro de dois mil e dezesseis, reuniu-se a diretoria do Instituto na sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco n. 1594, auditório General Carlos Studart Filho. Presentes sete sócios efetivos a seguir relacionados: Presidente Ednilo Gomes de Soárez, Vice-Presi-dente Pedro Sisnando Leite, Vice-Presidente Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez, Secretário Geral Osmar Maia Diógenes, Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante, Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira e sócio Lúcio Gonçalo de Alcântara. Saudando os presentes, o presidente Ednilo cumprimentou o sócio recém-eleito José Eurípedes Maia Chaves

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Júnior, por ele convidado para aquela sessão. Parabenizou-o pela grande votação recebida, e manifestou sua esperança de que tenha o Instituto feito uma grande aquisição, por ser o novo sócio pessoa de excelente imagem e de grande aceitação por onde tem passado. O sócio Geová Le-mos Cavalcante declarou na ocasião que, há trinta anos, tem um livro por ele autografado na casa do Dr. Raimundo Girão, seu avô. O sócio Lúcio Gonçalo de Alcântara fez uma exortação no sentido de que Eurípedes, a exemplo de seus parentes e fi nados sócios Raimundo Girão e Valdelice Girão, seja um membro atuante do Instituto, pois tem ocorrido que algumas pessoas jovens, de grande conteúdo cultural, se fi liam ao Instituto, mas não ajudam com suas presenças e seu trabalho; que nutre a esperança de que ele seja um dos que vestem a camisa da nossa instituição. Passando aos assuntos administrativos, tratou o Presidente da segurança das nossas instalações que, segundo ele, é o nosso grande problema atual. Morado-res de rua, juntamente com desocupados, se instalaram recentemente na Praça do Carmo, em frente ao Instituto, e à noite e nos fi ns de semana pulam a grade de ferro e invadem o imóvel, praticando furtos e até le-vando risco de incêndio. Além de vários objetos, furtaram recentemente os fi os de cobre que ligam os novos aparelhos de ar condicionado doados e instalados pela Coelce, bloqueando seu funcionamento. O Instituto já dispendeu recursos com pagamento de vigilância, solução cara e fora do nosso alcance. Instalou grades de ferro em algumas janelas e, tendo em vista que o palacete é tombado e detém um acervo riquíssimo onde está grande parte da memória do Ceará, procurou a Secretaria de Cultura do Estado, visando encontrar solução para o caso. Como consequência dos entendimentos havidos, uma equipe de dois técnicos da Secretaria esteve no local, juntamente com nossos sócios Affonso Taboza Pereira e José Liberal de Castro, discutindo soluções. Duas linhas de ação surgiram na ocasião. Por sugestão dos técnicos, o Instituto faria um ofício à Secretaria solicitando seja o Instituto incluído na relação dos bens patrimoniais do Estado que precisam de vigilância permanente. Este ofício já foi feito e encaminhado à Secretaria de Cultura. Como plano B, fi cou a equipe de estudar proposta do Instituto de colocar uma proteção física por trás da grade de ferro, de modo a difi cultar a entrada de pessoas. Tal proteção consistiria numa espiral de fi ta de aço dentada, muito usada na cidade, que seria colocada sem contato com a grade existente e de forma discre-ta. Os técnicos fi caram de estudar e detalhar essa solução. Ficou a cargo

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do Secretário Geral Osmar Maia Diógenes e da Diretora Administrativa Marinez Alves Feitosa contratar uma empresa para recuperar a fi ação dos aparelhos de ar condicionado.O Presidente comentou o excelente nível da palestra pronunciada no dia vinte e dois de agosto pela acadêmica Fernanda Quinderé, presidente da Academia Fortalezense de Letras, sobre o poeta Vinicius de Morais, dentro do Ciclo de Palestras de 2016, e anunciou para dia vinte de setembro a palestra do Doutor Germano Almeida sobre o tema A Imprensa no Brasil.Em seguida anunciou para quatorze de outubro próximo a possedo novo sócio José Eurípedes Maia Chaves Júnior, data escolhida de comum acordo entre as partes, fi cando a saudação a cargo do confrade Marcelo Gurgel Carlos da Silva. Sobre a Revista de dois mil e dezesseis, defi niu como data improrrogável para entrega das matérias o dia trinta de novembro. Passou em seguida a falar sobre a realização do II Outubro Cultural, que fi cou decidida tendo em vista o sucesso obtido no ano passado, devendo ser seguida a seguinte programação:

Dia 3 – Abertura e documentário (áudio) inédito sobre a história do cangaço no Ceará, a cargo do sócio efetivo Luciano Pinheiro Klein Filho. Encerramento com o Coral Vozes de Outono.

– Início da anual Feira de Livros do Instituto, com a promoção “Quanto Vale”, livros com preços sugeridos pelos compradores.

Dias 5 e 6 – Exposição de raridades bibliográfi cas da biblioteca do Instituto.

Dias 11, 13 e 14 –Visitas orientadas ao Museu Barão de Studart.Dias 18 - Ofi cina: Coleção Studart. Um valioso acervo documental.Dia 20 – Palestra sobre a História do Cinema no Ceará e abertura

de exposição sobre o tema, pelo professor Ary Bezerra leite.Dia 24 – Apresentação do painel “Instituto do Ceará - outros

visitantes”. Curioso registro fotográfi co das diversas espécies que fre-quentam os jardins do Palacete. A amostra reafi rma a busca diária por uma convivência saudável com o meio ambiente, realizando ações de integração e sustentabilidade.

Dias 25 a 28; 31 – Curso de Restauração em Obras Raras (livros e documentos em papel) com a química restauradora Edwirges Ximenes.

Dia 31 – Solenidade de encerramento com entrega de certifi cados aos participantes do curso.

- Apresentação do quarteto da Orquestra Filarmônica do Ceará, sob a regência do maestro Gladson Carvalho.

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Informou em seguida o Presidente que está pronta a prestação de contas referente aos recursos repassados ao IC pelo Banco do Nordeste dentro dos ditames da Lei Rouanet, e que referida prestação de contas está sendo encaminhada àquela empresa. A Vice-Presidente Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez sugeriu que começássemos a pensar nas come-morações do bicentenário do Senador Pompeu, que ocorrerá no próximo ano. Sugeriu incluir também nos planos do Instituto as comemorações do bicentenário da Revolução Pernambucana de 1817. O Presidente comuni-cou aos presentes o lançamento do interessante livro O Padre Cícero e a Invenção do Juazeiro, do escritor Alberto Farias, na Academia Cearense de Letras, no dia primeiro do corrente, cuja apresentação fi cou a seu cargo.

E nada mais havendo a tratar, deu o Presidente por encerrada a sessão da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Dire-toria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente, e pelos sócios presentes.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRA PRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão solene de posse do novo associado José Eurípedes Maia Chaves Júnior

Aos quatorze dias do mês de outubro do ano de dois mil e de-zesseis, reuniu-se o corpo de associados efetivos do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfi co e Antropológico) em sua sede, sita à Rua Barão do Rio Branco nº 1594, no Auditório Tomaz Pompeu Sobrinho para, em sessão solene, dar posse ao novo sócio efetivo eleito em vinte e nove de agosto de dois mil e dezesseis, na vaga do pranteado sócio José Reginaldo Limaverde Leal. Iniciando a solenidade e invocando as bênçãos de Deus, o Presidente Ednilo Gomes de Soárez convocou para compor a mesa o Vice Presidente do Instituto Pedro Sisnando Leite, o Presidente da Aca-demia Cearense de Letras José Augusto Bezerra, o Doutor Flávio Leitão de Carvalho, representando a Academia Cearense de Medicina, o senhor Roberto Feijó Ribeiro, representando a Academia Cearense de Retórica, o senhor Vicente Alencar, representando a Academia Fortalezense de Letras e o Secretário Geral do Instituto, Osmar Maia Diógenes. Após saudar to-

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dos os componentes da mesa na pessoa do senhor José Augusto Bezerra, Presidente da ACL, o Presidente Ednilo Gomes de Soárez agradeceu a presença de todos, ressaltando as autoridades, os membros da família do homenageado, os confrades, e os membros do Coral da Universidade sem Fronteiras. Passou em seguida a discorrer sobre o momento que estamos vivendo no Instituto. Como principal problema citou a falta de segurança das instalações, sujeitas a furtos por parte de desocupados que se reúnem em frente à Igreja do Carmo e que, nos fi ns de semana e à noite, pulam a grade de ferro que limita o terreno do imóvel e põem em risco o rico patrimônio do qual somos guardiões; sendo a nossa sede tombada pela Secretaria de Cultura do Estado, não podemos instalar uma segurança física efetiva sem autorização daquela Secretaria; nossos associados José Liberal de Castro, arquiteto, e Affonso Taboza Pereira, engenheiro, no momento desenvolvem gestões junto aos técnicos da Secult no intuito de resolver o problema. Passando à programação cultural, citou o II Outubro Cultural, exitosa iniciativa que se compõe de palestras, exposição de obras raras e recuperação de livros; e o Ciclo Anual de Conferências, coordenado pelo Diretor Cultural Juarez Fernandes Leitão, com palestras no dia vinte de cada mês. Informou sobre prestação de contas dos recursos da Lei Rou-anet ao Banco do Nordeste, referente ao exercício passado, e também sobre a prorrogação de vigência do contrato para o exercício seguinte, bem como da vinda do Presidente do Banco, Senhor Marcos Holanda, para tratar da complementação desses recursos; para tal contamos com a inestimável colaboração do nosso confrade Lúcio Gonçalo de Alcântara, ex-governador do Estado, ex-senador, ex-deputado federal e ex-prefeito de Fortaleza. Informou sobre homenagem prestada nesta data, na As-sembleia Legislativa do Estado, ao Presidente do Conselho Superior do nosso Instituto, Deputado Federal Mauro Benevides, por sua importante participação na elaboração da lei que criou o FNE – Fundo Constitucio-nal do Nordeste. Em seguida o Presidente falou sobre a importância da solenidade, lembrando que o Instituto acolhia, naquela noite, mais um membro que certamente enalteceria sua trajetória de cento e vinte e nove anos de guardião da memória do Ceará. E para introduzir no auditório o novo confrade, o médico e historiador José Eurípedes Maia Chaves Júnior, designou a comissão composta pelos sócios efetivos Eduardo de Castro Bezerra Neto, Luciano Pinheiro Klein Filho e Lúcio Gonçado de Alcântara. O auditório recebeu de pé o novo sócio sob forte salva de

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palmas. Ato contínuo, o Presidente o convidou a vir ao microfone para proferir o juramento de sócio, fi ndo o qual deslocou-se à frente da mesa para receber o Diploma de Sócio Efetivo e a Medalha Barão de Studart. O Diploma foi entregue pelo ex-Presidente da casa e atual Presidente da Academia Cearense de Letras, José Augusto Bezerra. A medalha foi entregue por sua tia Celne Brasil Girão, fi lha do ex-Prefeito e historiador Raimundo Girão, um dos mais ilustres membros e presidente desta casa. Na ocasião, o Presidente Ednilo enalteceu a pessoa do Presidente José Augusto Bezerra, enfatizando que as histórias do Instituto e da Academia seriam, no futuro, contadas em duas fases, antes e depois da presidência desse ilustre confrade. Em seguida o Presidente Ednilo convidou o novo sócio a tomar assento entre seus pares. Seguiu-se o discurso de saudação em nome do Instituto, a cargo do Sócio Efetivo Marcelo Gurgel Carlos da Silva, e o discurso de agradecimento do novo sócio efetivo. Após seu discurso, o confrade José Eurípedes Maia Chaves Júnior ofereceu fl ores à esposa do Presidente Ednilo, Senhora Fani Weinshenker, à viúva do sócio extinto que o antecedeu, Senhora José Reginaldo Limaverde Leal, e à Sócia Efetiva Maria Clélia Lustosa Costa. Ao fi nal, o Presidente Ednilo registrou a presença do Doutor ManassésFonteles, Presidente da Academia Cearense de Medicina, e convidou o novo confrade a se dirigir ao salão nobre, acompanhado da sócia Maria Clélia Lustosa Costa, onde receberia os cumprimentos e ofereceria um coquetel.

E nada mais havendo a tratar, deu o Presidente por encerrada a sessão da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Dire-toria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente e pelos sócios presentes.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 07 de novembro de 2016

Aos sete dias do mês de novembro de dois mil e dezesseis, reuniu-se a diretoria do Instituto na sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco n. 1594, auditório General Carlos Studart Filho. Presentes nove sócios efetivos a seguir relacionados: Presidente Ednilo Gomes de Soárez, Vice-

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-Presidente Pedro Sisnando Leite, Secretário Geral Osmar Maia Diógenes, Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante, Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira, Segundo Tesoureiro Luciano Pinheiro Klein Filho, sócios Pedro Alberto de Oliveira Silva, José Liberal de Castro e Juarez Fernandes Leitão. Saudando os presentes, o presidente Ednilo abriu os trabalhos, tendo o sócio José Liberal de Castro pedido a palavra para manifestar sua preocupação com relação ao imóvel cedido sob a forma de permis-são de uso ao Instituto pelo Governo do Estado. Segundo ele, de acordo com conversas ouvidas na Secretaria de Cultura, há sério risco de aquela Secretaria pedir de volta esse imóvel, e alertou sobre a necessidade de se verifi car a regularidade dessa documentação. Ao longo do debate que se seguiu, fi cou esclarecido que o terreno foi desapropriado pelo Estado para nele se construir a biblioteca do Instituto, e que a permissão de uso tem vigência indeterminada; que o terreno em questão abriga a secretaria, a biblioteca e o auditório Carlos Studart Filho, e que a parte não construída, menos da metade, está alugada para estacionamento às Farmácias Pague Menos, gerando uma receita de cerca de quatro mil reais, fundamental para a sustentação fi nanceira do Instituto. O Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante informou que a Secretaria possuia documentação completa e em ordem. Ficou também assentado que nenhuma providência teríamos que tomar com relação a essa questão, a menos que fôssemos provocados pelo Estado. Retomando a palavra, o Presidente manifestou satisfação por estar atingindo com êxito o fi nal de sua gestão, e creditou esse êxito à diretoria que, em todos os momentos, esteve a seu lado. Referiu-se em seguida à posse do novo associado José Eurípedes Maia Chaves Júnior, solenidade muito prestigiada, e à propriedade do discurso do associado Marcelo Gurgel Carlos da Silva, a quem coube a saudação em nome da entidade. Referiu-se em seguida ao Outubro Cultural, mui-to prestigiado pelos sócios, cuja programação detalhada foi citada em reunião e ata anteriores. Louvou o fato de ter sido o evento totalmente planejado e executado pelo corpo de funcionários da entidade, à frente a Diretora Administrativa Marinez Alves Feitosa, e a alta qualidade dos cursos ministrados. Agradeceu em seguida a presença de diversos sócios ao lançamento de seu sexto livro Náufragos do Porto, romance, em local adjacente à Faculdade 7 de Setembro, cuja renda no valor de nove mil duzentos e cinquenta reais reverteu em benefício da Santa Casa de Mi-sericórdia. Anunciou a palestra da Vice-Presidente Angela Maria Rossas

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Mota de Gutiérrez no dia vinte e um próximo, como encerramento do Ciclo de Conferências deste ano. A Vice-Presidente propôs dois temas, a obra de José de Alencar ou a vida de Antônio Conselheiro. O Diretor de Cultura, Juarez Fernandes Leitão, optou por Antônio Conselheiro, no entanto o Presidente preferiu deixar a decisão a cargo da conferencista.Juarez Leitão pôs em questão o horário das palestras, propondo a troca de quinze horas para dezessete, considerando as reclamações recebidas de convidados. Ficou defi nido o horário de dezessete e trinta. O Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante apresentou a documentação do terreno cedido sob a forma de cessão de uso ao Instituto, leu todo o documento que se resume no seguinte: cessão de uso – instrumento legal mais forte que o comodato, pois tem prazo indefi nido – mantendo-se o Estado como titular da propriedade, cabendo ao cessionário toda responsabilidade sobre ônus fi nanceiro decorrente dessa posse e a adequação do imóvel às suas necessidades, por tempo indeterminado, cabendo a retomada pelo Estado em caso de extinção da cessionária ou mau uso. Levantou-se discussão sobre se poderia ser considerado mau uso a locação de parte do terreno. A partir daí, concluiu-se que não se deve tratar do assunto, a menos que sejamos provocados pelo Estado. O Presidente pediu ao Segundo Secre-tário Affonso Taboza Pereira que falasse sobre as providências em curso, referentes à segurança das instalações. O Segundo Secretário informou que entrou em contato com empresa que vende o material que se pretende instalar junto à grade divisória, uma espécie de lâmina de aço inox em forma de espiral, chamada concertina. Em visita ao local, acompanhado pelos sócios José Liberal de Castro e Affonso Taboza, o representante da empresa desaconselhou o uso desse material que, segundo ele, enfeia o local, além de ser contraindicado pela altura, inferior a dois metros. Su-geriu uma tela, também de aço com lâminas, que se adequa ao local e tem visual melhor. Entregou posteriormente um desenho-montagem da tela sobre a fachada do Instituto, no qual se pode ver qual será o efeito fi nal. O desenho foi apresentado na ocasião aos sócios presentes, que aprova-ram a ideia. Por ser o prédio tombado, na ocasião o Presidente assinou ofício à Secretaria de Cultura, solicitando aprovação e autorização para executar o projeto.Em seguida o Presidente comunicou o recebimento de ofício do Ministério Público solicitando várias informações de ordem administrativa e fi nanceira. A resposta está sendo preparada pela Diretora Administrativa Marinez Alves Feitosa. O Presidente informou que, sábado

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passado, compareceu ao lançamento do Plano Estadual da Cultura, no Teatro José de Alencar, com a presença do senhor Governador do Estado. O Presidente anunciou visita de cortesia que fará na próxima quarta-feira, dia dezesseis de novembro, juntamente com o sócio Affonso Taboza, ao senhor General Comandante da Décima Região Militar que recentemente assumiu suas funções nesta cidade. O Vice-Presidente Pedro Sisnando Leite apresentou diploma de Reconhecimento(Acknowledgment) conferido à sua pessoa pelo The Bengis Center for EntrepreneurshipandInovation da Ben Gurion University of the Negev, Israel, por sua valiosa colaboração como representante da entidade no Brasil, nas atividades de erradicação da pobreza, desenvolvimento econômico regional e promoção da inova-ção, e colaboração entre as academias brasileira e israelense. O Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira solicitou ao Presidente dispensa de sua função de Suplente de representante do Instituto junto ao Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (COEPA).

E nada mais havendo a tratar, deu o Presidente por encerrada a sessão da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Dire-toria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente, e pelos sócios presentes.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

Sessão do dia 05 de dezembro de 2016

Aos cinco dias do mês de dezembro de dois mil e dezesseis, reu-niu-se a diretoria do Instituto na sua sede, situada à Rua Barão do Rio Branco n. 1594, no auditório General Carlos Studart Filho. Presentes sete sócios efetivos a seguir relacionados: Presidente Ednilo Gomes de Soárez, Vice-Presidente Pedro Sisnando Leite, Primeiro Secretário Geová Lemos Cavalcante, Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira, Segundo Tesoureiro Luciano Pinheiro Klein Filho, sócios efetivos Pedro Alberto de Oliveira Silva, Marcelo Gurgel Carlos da Silva. Iniciando a sessão o Presidente saudou os presentes e passou a palavra ao Primeiro Secretário Geová que discorreu sobre o andamento dos trabalhos de preparação da Revista de dois mil e dezesseis, citando os artigos já recebidos e revisa-

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dos e garantindo que a revista estará pronta para entrega na data prevista, quatro de março de dois mil e dezessete, sábado, quando será comemorado o aniversário do Instituto.Comentando o teor de um dos artigos, Geová discorreu sobre os primeiros anos do Instituto, lembrando que Paulino Nogueira o presidiu por vinte e um anos, seguindo-se Tomaz Pompeu também vinte e um anos, sendo o terceiro o Barão de Studart, que o pre-sidiu durante nove anos e passou a ser a grande fi gura da Instituição até os nossos dias.Em seguida o Presidente se reportou ao pedido de infor-mações do Ministério Público Estadual sobre as atividades do Instituto, recebendo do Primeiro Secretário Geová a notícia de que a resposta está pronta, formada por volumosa pasta de documentos. O Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira estranhou a interferência do Ministério Público Estadual no Instituto, entidade cultural de direito privado, sem fi ns lucra-tivos, considerada de interesse público nos três níveis da federação, que não recebe subsídios do Estado. O Presidente elogiou a atuação do Diretor Cultural Juarez Fernandes Leitão, que conduziu com muita efi ciência o Ciclo de Conferências durante o ano. Informou sobre a impossibilidade de se alterar o horário das conferências de quinze para dezessete horas, decisão tomada na reunião do mês passado, por confl ito com o horário dos funcionários, que estudam à noite e seriam por isso prejudicados. Elogiou a Vice-Presidente Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez pelo alto nível da conferência que pronunciou, a última do nosso Ciclo no corrente ano, ressaltando o esforço que tal feito dela demandou, devido à coincidência com o Ciclo de Palestras da ACL, que ela coordenou como Diretora Cultural da entidade. O Vice-Presidente Pedro Sisnando Leite enalteceu o fato de ter a nossa doutora e pós-doutora se portado perante uma pequena plateia como se portaria se tivesse duzentos ouvintes. O sócio Marcelo Gurgel Carlos da Silva deu a conhecer norma vigente, segundo a qual o autoplágio, ou seja, o uso em um documento literário de material já usado pelo autor em outra publicação, é tolerado dentro do limite de trinta por cento. Lembrou o Presidente a nossa festa de Natal no dia quatorze próximo, e encareceu os sócios a trazerem suas famílias. Informou ainda que a iluminação de Natal na fachada da nossa sede já está pronta, uma colaboração da Câmara de Dirigentes Lojistas, por especial atenção do seu Presidente Severino Ramalho Neto. Informou que a festa terá o formato da do ano passado, e anunciou a palestra alusiva ao Natal a cargo do Primeiro Secretário Geová. Informou que as contas do Instituto

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estão em dia, com o décimo terceiro salário dos funcionários já pago, e que passará o Instituto à próxima diretoria sem défi cit, com as fi nanças em ordem. Solicitou do Segundo Secretário Affonso Taboza Pereira infor-mação sobre a cerca de segurança planejada para evitar assaltos e furtos, recebendo deste a informação de que a Secretaria de Cultura autorizou a instalação em caráter provisório, não tendo ainda o ofício chegado ao Instituto. Informou ainda o Segundo Secretário que tem tido difi culdade em contatar a empresa interessada em executar o serviço, que vistoriou o local mas não mandou o orçamento prometido; que desistiu dessa empresa e está procurando outra. O Presidente externou sua preocupação com no-vos assaltos ou furtos que poderão ocorrer, por serem muito vulneráveis nossas instalações. Lembrou que o sócio Marcelo Gurgel Carlos da Silva está preparando, a seu pedido, um relatório das atividades desenvolvidas durante sua gestão, para apresentação à nova diretoria a ser empossada em março, ressaltando que tal relatório será meramente informativo e não uma prestação de contas.

E nada mais havendo a tratar,deu o Presidente por encerrada a sessão da qual eu, Affonso Taboza Pereira, Segundo Secretário da Dire-toria, lavrei esta ata que vai assinada por mim, pelo Presidente, e pelos diretores presentes.

EDNILO GOMES DE SOÁREZ AFFONSO TABOZA PEREIRAPRESIDENTE SEGUNDO SECRETÁRIO

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SÓCIOS FUNDADORES, PRESIDENTES E SÓCIOS

EFETIVOS

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Sócios Fundadores

Paulino Nogueira Borges da FonsecaJoakim de Oliveira CatundaJoão Augusto da Frota (Pe.)

Guilherme Studart (Barão de Studart)João Baptista Perdigão de OliveiraAntônio Augusto de Vasconcelos

Antônio Bezerra de MenezesJúlio César da Fonseca Filho

José SombraVirgílio Brígido

Juvenal Galeno da Costa e SilvaVirgílio Augusto de Moraes

Presidentes

1. P N B F 04.03.1887 a 15.06.19082. T P S B 15.08.1908 a 06.04.19293. G S (B S ) 06.04.1929 a 25.09.19384. T P S 25.09.1938 a 09.11.19675. R R A B 09.11.1967 a 20.03.19686. C S F 20.03.1968 a 06.04.19827. M S A 06.04.1982 a 04.03.19838. T T G O 04.03.1983 a 04.03.19859. A M F 04.03.1985 a 06.03.198910. M S A 06.03.1989 a 04.03.199111. G S N 04.03.1991 a 04.03.199512. T T ó G O 04.03.1995 a 04.03.199713. P A A 04.03.1997 a 04.03.200114. G S N 04.03.2001 a 04.03.200315. M E P C 04.03.2003 a 19.09.200716. J A B 19.09.2007 a 27.05.201317. E G S 27.05.2013 a 04.03.2017

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Revista do Instituto do Ceará - 2016378

Sócios Efetivos por ordem de antiguidade

Nome Nascimento Eleição Posse Falecimento

001 – Paulino Nogueira Borges da Fonseca 27.02.1841 04.03.1887 04.03.1887 15.06.1908

002 – Joakim de Oliveira Catunda 02.12.1834 04.03.1887 04.03.1887 28.07.1907

003 – João Augusto da Frota (Pe.) 24.01.1849 04.03.1887 04.03.1887 02.04.1942

004 – Guilherme Studart(Barão de Studart) 05.01.1856 04.03.1887 04.03.1887 25.09.1938

005 – João Baptista Perdigão de Oliveira 23.08.1854 04.03.1887 04.03.1887 28.02.1929

006 – Antônio Augusto de Vasconcelos 23.12.1852 04.03.1887 04.03.1887 10.03.1930

007 – Antônio Bezerra de Menezes 21.02.1841 04.03.1887 04.03.1887 28.08.1921

008 – Júlio César da Fonseca Filho 10.10.1850 04.03.1887 04.03.1887 21.04.1931

009 – José Sombra 04.12.1852 04.03.1887 04.03.1887 16.03.1888

010 – Virgílio Brígido 24.04.1854 04.03.1887 04.03.1887 20.10.1920

011 – Juvenal Galeno da Costa e Silva 27.10.1836 04.03.1887 04.03.1887 07.03.1931

012 – Virgílio Augusto de Moraes 21.12.1854 04.03.1887 04.03.1887 06.05.1914

013 – Thomaz Pompeu de Sousa Brasil 30.06.1852 27.02.1889 12.03.1889 06.04.1929

014 – Manoel Soriano de Albuquerque 08.01.1877 24.12.1912 24.12.1912 05.09.1914

015 – Rodolfo Marcos Teófi lo 06.05.1853 24.12.1912 24.12.1912 02.07.1932

016 – Bruno Rodrigues da Silva Figueiredo (Pe) 06.10.1852 24.12.1912 24.12.1912 29.09.1930

017 – Antônio Teodorico da Costa 12.08.1861 24.12.1912 24.12.1912 04.06.1939

018 – Álvaro Otacílio Nogueira Fernandes 14.09.1873 24.12.1912 24.12.1912 08.01.1953

019 – Álvaro Gurgel de Alencar 10.01.1861 20.09.1915 20.09.1915 02.07.1945

020 – José Lino da Justa 23.09.1863 1915 1915 22.03.1952

021 – Rodolfo Ferreira da Cunha (Pe.) 26.09.1880 1922 1922 19.04.1967

022 – Carlos Studart Filho 17.06.1896 20.09.1928 27.09.1928 06.04.1982

023 – Thomaz Pompeu de Sousa Brasil Sobrinho 16.11.1880 20.09.1928 27.09.1928 09.11.1967

024 – Eusébio Néri Alves de Sousa 14.08.1883 20.09.1928 27.09.1928 22.09.1947

025 – José da Cunha Sombra 21.03.1883 25.06.1929 05.07.1929 21.04.1932

026 – Álvaro Bomílcar da Cunha 14.04.1874 05.10.1929 05.11.1929 12.09.1957

027 – Júlia Carneiro Leão de Vasconcelos 07.09.1880 20.04.1930 05.06.1930 20.01.1951

028 – Valdemar Cromwel do Rego Falcão 25.01.1895 20.09.1930 05.11.1930 02.10.1946

029 – José Pedro Soares Bulcão 13.05.1873 05.10.1931 31.10.1931 17.07.1942

030 – Antônio Martinz de Aguiar e Silva 04.03.1893 05.10.1931 31.10.1931 30.08.1974

031 – Guilherme de Sousa Pinto 13.06.1883 05.10.1931 31.10.1931 14.09.1939

032 – José Carvalho 11.02.1872 05.10.1931 31.10.1931 15.02.1933

033 – Carlos Livino de Carvalho 17.02.1881 05.10.1931 31.10.1931 02.04.1960

034 – Leonardo Ferreira Mota 01.05.1891 05.10.1931 05.01.1932 02.01.1948

035 – Manuel Antônio de Andrade Furtado 28.01.1890 20.07.1932 05.09.1932 16.04.1968

036 – Djacir de Lima Menezes 16.11.1907 20.04.1933 20.05.1933 08.06.1996

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379Sócios Fundadores, Presidentes e Sócios Efetivos

Nome Nascimento Eleição Posse Falecimento

037 – Hugo Vítor de Guimarães e Silva 17.11.1898 05.03.1936 14.04.1936 16.11.1950

038 – José Valdo Ribeiro Ramos 04.04.1901 20.02.1936 05.04.1936 04.12.1961

039 – Abner Carneiro de Vasconcelos 09.12.1884 20.03.1936 05.04.1936 03.02.1972

040 – Clodoaldo Pinto 27.10.1896 20.03.1936 05.04.1936 12.07.1979

041 – Maria Rodrigues Peixe (Alba Valdez) 12.12.1874 05.02.1936 10.05.1936 04.02.1962

042 – Misael Gomes da Silva (Pe.) 21.09.1885 20.04.1938 05.05.1938 20.08.1984

043 – João Franklin de Alencar Nogueira 27.10.1867 04.06.1941 19.07.1941 02.12.1947

044 – Dolor Uchoa Barreira 13.04.1893 04.06.1941 19.07.1941 30.06.1967

045 – Raimundo Girão 03.10.1900 04.06.1941 19.07.1941 24.07.1988

046 – Plácido Aderaldo Castelo 11.01.1906 04.06.1941 19.07.1941 17.06.1979

047 – Joaquim Alves de Oliveira 10.02.1894 20.11.1942 06.01.1943 08.06.1952

048 – Antônio Martins Filho 22.12.1904 20.11.1942 06.01.1943 20.12.2002

049 – Demócrito Rocha 14.04.1888 20.11.1942 06.01.1943 29.11.1943

050 – Luís Cavalcante Sucupira 11.05.1901 20.11.1942 06.01.1943 11.07.1997

051 – Francisco Dias da Rocha 23.08.1869 04.12.1943 20.03.1944 25.07.1960

052 – Manuel do Nascimento Fernandes Távora 21.03.1877 04.12.1943 13.05.1944 23.09.1973

053 – Dom Antônio de Almeida Lustosa 11.02.1886 20.03.1944 29.04.1944 14.08.1974

054 – Raimundo Renato de Almeida Braga 20.12.1905 20.05.1944 31.08.1944 13.06.1968

055 – Carlos Feijó da Costa Ribeiro 05.04.1885 20.01.1948 17.02.1948 10.10.1958

056 – Josa Magalhães 08.01.1896 05.02.1948 17.03.1948 31.10.1983

057 – Francisco Martins (Fran) 13.03.1913 20.03.1948 27.06.1948 29.06.1996

058 – José Bonifácio de Sousa 01.11.1901 05.06.1950 20.09.1950 17.04.1970

059 – Florival Alves Seraine 19.04.1910 05.06.1950 21.10.1950 04.01.1999

060 – Mozart Soriano Aderaldo 22.04.1917 05.06.1950 27.10.1950 25.06.1995

061 – Boanerges Facó 30.09.1882 05.06.1950 17.01.1951 04.08.1970

062 – Francisco Alves de Andrade e Castro 21.11.1913 20.12.1950 30.03.1951 06.10.2001

063 – José Guimarães Duque 21.09.1903 20.04.1953 30.09.1953 12.05.1978

064 – Manuel Albano Amora 19.10.1915 04.06.1955 25.08.1955 02.06.1991

065 – Hugo Catunda Fontenele 10.08.1899 04.06.1955 25.08.1955 07.03.1980

066 – Luís Teixeira Barros 26.01.1920 04.06.1955 25.08.1955 07.04.2000

067 – José Sobreira de Amorim 14.05.1912 04.06.1955 25.08.1955 06.03.1974

068 – José Denizard Macedo de Alcântara 01.09.1921 04.06.1955 25.08.1955 12.11.1983

069 – Ismael de Andrade Pordeus 25.12.1912 04.06.1955 25.08.1955 06.09.1964

070 – Paulo Fernandes Bonavides 20.05.1925 04.06.1955 25.08.1955 –

071 – João Batista Saraiva Leão 25.12.1895 04.06.1955 25.08.1955 30.12.1977

072 – José Aurélio Saraiva Câmara 20.06.1921 04.06.1955 25.08.1955 09.04.1974

073 – Joaquim Braga Montenegro 28.02.1907 04.06.1955 25.08.1955 20.11.1979

074 – Manuel Eduardo Pinheiro Campos 11.01.1923 20.08.1956 16.11.1956 19.09.2007

Page 380: 43182 instituto do ceara MIOLO revista...Ribeiro Júnior e de dona Maria Feijó da Costa Ribeiro (Figura 2). O pai foi jurista e pertenceu à Padaria Espiritual (Fortaleza – CE),

Revista do Instituto do Ceará - 2016380

Nome Nascimento Eleição Posse Falecimento

075 – Waldery Magalhães Uchoa 16.08.1917 20.10.1956 20.03.1957 21.10.1964

076 – Antônio Filgueiras Lima 21.05.1909 20.12.1956 23.04.1957 28.09.1965

077 – João Hipólito Campos de Oliveira 05.05.1917 04.04.1957 20.08.1957 04.09.1994

078 – José Parsifal Barroso 05.07.1913 20.10.1966 04.12.1967 26.04.1986

079 – Zélia Sá Viana Camurça 16.12.1924 04.09.1967 09.04.1968 –

080 – Oswaldo de Oliveira Riedel 20.07.1913 20.06.1968 04.11.1969 21.01.1989

081 – Antônio Gomes de Freitas 23.03.1904 21.10.1968 04.11.1969 15.07.1976

082 – Geraldo da Silva Nobre 31.08.1924 21.10.1968 28.11.1969 26.06.2005

083 – Raimundo Teles Pinheiro 20.03.1908 21.01.1974 04.07.1974 13.11.1987

084 – Virgílio de Moraes Fernandes Távora 29.09.1919 21.01.1974 04.07.1974 03.06.1988

085 – Guarino Alves de Oliveira 02.05.1921 21.01.1974 04.07.1974 28.10.1999

086 – Raimundo Aristides Ribeiro 12.03.1912 21.01.1974 04.07.1974 11.09.2003

087 – José Oswaldo de Araújo 17.03.1894 20.09.1974 04.12.1974 02.09.1975

088 – Pedro Alberto de Oliveira Silva 24.07.1937 20.09.1974 04.12.1974 –

089 – Vinicius Antonius Holanda de Barros Leal 16.10.1922 20.09.1974 04.12.1974 13.04.2010

090 – Melquíades Pinto Paiva 06.03.1930 20.09.1974 04.12.1974 –

091 – Francisco Fernando Saraiva Câmara 24.08.1930 05.05.1975 17.10.1975 –

092 – Hélio de Sousa Melo 19.12.1921 05.05.1975 17.10.1975 28.11.2001

093 – Francisco de Assis Arruda Furtado 10.05.1923 21.07.1975 17.10.1975 09.09.2013

094 – José Teixeira de Freitas 09.05.1918 21.07.1975 17.10.1975 08.07.1994

095 – José Caminha Alencar Araripe 01.05.1921 20.12.1976 26.04.1977 12.06.2010

096 – Itamar Santiago Espíndola 14.09.1917 20.12.1976 26.04.1977 13.08.1992

097 – Eduardo de Castro Bezerra Neto 16.12.1934 04.02.1980 22.05.1980 –

098 – Manuel Lima Soares 08.11.1923 20.10.1980 20.02.1981 06.05.1990

099 – Abelardo Fernando Montenegro 30.05.1912 20.10.1980 20.03.1981 26.04.2010

100 – Tácito Theóphilo Gaspar de Oliveira 12.01.1914 20.10.1980 23.04.1981 30.08.2011

101 – Rubens de Azevedo 30.10.1921 22.06.1981 04.09.1981 17.01.2008

102 – Antônio Nilson Craveiro Holanda 22.06.1935 04.04.1978 24.02.1982 02.04.2015

103 – Maria da Conceição Sousa 21.09.1913 21.06.1982 20.08.1982 09.02.1991

104 – Caio Lóssio Botelho(*) 19.04.1933 06.02.1984 04.04.1984 –

105 – Cláudio Martins 10.05.1910 06.02.1984 23.04.1984 17.06.1995

106 – Carlos Mauro Cabral Benevides 21.03.1930 05.11.1984 23.08.1985 –

107 – Paulo Ayrton Araújo 05.01.1925 20.06.1986 20.08.1986 –

108 – Joaquim Lobo de Macêdo (Joaryvar Macedo) 20.05.1937 20.01.1988 22.02.1988 29.01.1991

109 – Vladir Pontes Menezes 12.07.1934 04.08.1988 30.08.1988 –

110 – Valdelice Carneiro Girão 21.02.1926 20.09.1988 04.11.1988 18.07. 2014

111 – José Borges de Sales 10.02.1911 21.08.1989 20.12.1989 12.05.2006

112 – Paulo Elpídio de Menezes Neto 13.01.1936 05.09.1990 20.11.1990 –

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381Sócios Fundadores, Presidentes e Sócios Efetivos

Nome Nascimento Eleição Posse Falecimento

113 – José Liberal de Castro 21.05.1926 22.04.1991 22.07.1991 –

114 – João Alfredo de Sousa Montenegro 15.12.1930 06.05.1991 20.06.1991 28.11.2013

115 – Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) 15.05.1934 05.09.1991 21.10.1991 –

116 – Francisco Sadoc Araújo (Pe.) 17.12.1931 05.04.1993 17.07.1993 –

117 – Marcelo Caracas Linhares 15.03.1924 07.11.1994 05.12.1994 14.08.2007

118 – Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes 28.04.1935 20.12.1994 20.02.1995 –

119 – José Cláudio de Oliveira 24.05.1926 20.09.1995 25.10.1995 03.06.2010

120 – Oswaldo Evandro Carneiro Martins 17.08.1922 20.09.1995 17.11.1995 16.07.2013

121 – José Murilo de Carvalho Martins (*) 31.03.1929 06.01.1997 27.06.1997 _

122 – Pedro Sisnando Leite 13.05.1933 05.06.1997 23.10.1997 _

123 – José Aroldo Cavalcante Mota(*) 27.01.1933 22.09.1997 13.11.1997 _

124 – Francisco Edson Cavalcante Pinheiro 30.01.1923 05.04.1999 21.06.1999 16.04. 2014

125 – Gisafran Nazareno Mota Jucá 20.09.1948 05.01.2000 24.04.2000 _

126 – Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos 20.06.1934 10.08.2000 25.10.2000 _

127 – Rejane Maria V. Accioly de Carvalho 23.08.1944 05.04.2002 05.06.2002 _

128 – Francisco Ésio de Souza 24.09.1935 22.04.2002 25.07.2002 _

129 – Dário Moreira de Castro Alves 14,12.1927 17.03.2004 17.08.2004 06.06.2010

130 – José Augusto Bezerra 01.06.1948 20.06.2005 05.08.2005 -

131 – José Filomeno Moraes Filho 20.11.1952 05.10.2005 25.11.2005 -

132 – Ednilo Gomes de Soárez 03.08.1939 05.10.2006 22.11.2006 -

133 – Maria Clélia Lustosa Costa 05.09.1953 05.12.2007 03.04.2008 -

134 – Luiz de Gonzaga Fonseca Mota (**) 09.12.1942 26.04.2008 20.06.2008 -

135 – Fernando Luiz Ximenes Rocha 23.11.1952 21.05.2008 10.10.2008

136 – Lúcio Gonçalo de Alcântara 16.05.1943 05.02.2013 08.03.2013

137 – Juarez Fernandes Leitão 11.03.1948 05.02.2013 08.03.2013

138 – Affonso Taboza Pereira 06.11.1935 05.02.2013 08.03.2013

139 – Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez 23.01.1945 20.03.2013 24.04.2013

140 – Francisco Adegildo Férrer 14.03.1944 20.03.2013 24.04.2013

141 – Cid Sabóia de Carvalho 25.08.1935 20.03.2013 24.04.2013

142 – Geová Lemos Cavalcante 08.08.1942 20.03.2013 24.04.2013

143 – Osmar Maia Diógenes 11.08.1932 15.07.2013 23.08.2013

144 – Eustógio Wanderley Correia Dantas 03.01.1964 23.09.2013 17.10.2013

145 – Marcelo Gurgel Carlos da Silva 13.03.1953 27.11.2013 23.01.2014 -

146 – José Reginaldo Lima Verde Leal 20.07.1944 27.11.2013 23.01.2014 03.11.2015

147 – Isabelle Braz Peixoto da Silva 21.10.1958 01.12.2014 27.02.2015

148 – Luciano Pinheiro Klein Filho 02.02.1964 01.12.2014 26.03.2015

149 – Antônio Cláudio Ferreira Lima 01.031947 20.07.2015 27.11.2015

150 – Glória Maria dos Santos Diógenes 22.05.1958 17.11.2015 18.03.2016

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Revista do Instituto do Ceará - 2016382

Nome Nascimento Eleição Posse Falecimento

151 – Ubiratan Diniz de Aguiar 07.09.1941 15.02.2016 24.05.2016

152 – José Eurípedes Maia Chaves Júnior 13.06.1956 28.08.2016 14.10.2016

(*) Sócio remido(**) Sócio resignatário

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383Sócios Fundadores, Presidentes e Sócios Efetivos

Sócios Efetivos atuais e seus endereços

01 PAULO FERNANDES BONAVIDESAv. Curió, 2810 – Casa 281 – Lagoa Redonda60831 – 370 FORTALEZA, CE

(85) 34768262

02 ZÉLIA SÁ VIANA CAMURÇARua Idelfonso Albano nº 154 – ap. 20060415 – 110 FORTALEZA, CE

(85) 32192525(85) 32192101

03 PEDRO ALBERTO DE OLIVEIRA SILVARua José Carlos Gurgel Nogueira, 16460175 – 830 FORTALEZA, CE

(85) 32341417(85) 99921.5550(85) 32657211

04 MELQUÍADES PINTO PAIVARua Baronesa de Poconé, 71 ap. 70122471 – 270 RIO DE JANEIRO, RJAv. Antônio Justa, 3300 – ap. 602 60165 – 090 FORTALEZA, CE

(85) 32241385(21) 25382498

05 FRANCISCO FERNANDO SARAIVA CÂMARARua João Cordeiro, 255460110 – 301 FORTALEZA, CE

(85) 32262532

06 EDUARDO DE CASTRO BEZERRA NETORua José Moacir Bezerra, 105560833 – 414 FORTALEZA, CE

(85) 34665420(85) 999270677

07 CARLOS MAURO CABRAL BENEVIDESSHIS – QI 05 – Conj.17 – Casa 8 – Lago Sul71165 – 170 – BRASÍLIA, DFRua Joaquim Nabuco, 1550 – 2º andar60125 – 120 FORTALEZA, CE

(61) 32155607(61) 999754542(85) 32644238(85) 999811075

08 PAULO AYRTON ARAÚJORua José Vilar, 2350 – ap. 100060125 – 001 FORTALEZA, CE

(85) 32240004

09 VLADIR PONTES MENEZESRua Barão do Rio Branco, 159460025 – 061 FORTALEZA, CE

(85) 30217559

10 PAULO ELPÍDIO DE MENEZES NETORua Silva Jatahy, 355 – ap. 50260165 – 070 FORTALEZA, CERua Bartolomeu Mitre, 335 – ap 40122431 – 000 RIO DE JANEIRO, RJ

(85) 32484666(85) 32480007(21) 22395273

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Revista do Instituto do Ceará - 2016384

11 JOSÉ LIBERAL DE CASTRORua Gervásio de Castro, 5060015 – 310 FORTALEZA, CE

(85) 32235142

12 MIGUEL ÂNGELO DE AZEVEDO (Nirez)Rua Prof. João Bosco, 56060430 – 690 FORTALEZA, CE

(85) 32816102(85) 32816949(85) 999826439

13 FRANCISCO SADOC DE ARAÚJOAv. da Ressurreição, 92662020 – 540 SOBRAL, CE

(85) 32617837(88) 36131460

14 EDUARDO DIATAHY BEZERRA DE MENEZESRua Dr. Márlio Fernandes, 14060810 – 025 FORTALEZA, CE

(85) 32617968(85) 32619027(85) 32412209

15 PEDRO SISNANDO LEITERua Dr. Zamenhof, 400 – ap. 130160176 – 060 FORTALEZA, CE

(85) 32623328(85) 999827646

16 GISAFRAN NAZARENO MOTA JUCÁRua Francisco Holanda, 992 – ap. 50160130 – 040 FORTALEZA, CE

(85) 32723469(85) 32723503(85) 999881013

17 RAIMUNDO ELMO DE PAULA VASCONCELOSRua Carlos Barbosa, 463 ap. 70160120 – 170 FORTALEZA, CE

(85) 32494365(85) 991129650

18 REJANE MARIA VASCONCELOS ACCIOLY DE CARVALHORua Fausto Cabral, 86160155 – 410 FORTALEZA, CE

(85) 32621756(85) 999960960

19 FRANCISCO ÉSIO DE SOUZARua Henriqueta Galeno, 714 - ap. 70260135 – 420 FORTALEZA, CE

(85) 32616745(85) 999972704

20 JOSÉ AUGUSTO BEZERRAAv. Rui Barbosa, 748 - ap. 80060115 – 220 FORTALEZA, CE

(85) 32681330(85) 32640933(85) 34580727

21 JOSÉ FILOMENO MORAES FILHORua Carolina Sucupira, 1377 ap. 130160175 – 000 FORTALEZA, CE

(85) 32616508(85) 999093808

22 EDNILO GOMES DE SOÁREZAv. Beira Mar, 4777 - ap.150060165 – 125 FORTALEZA, CE

(85) 40067977(85) 999289087(85) 32634959

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385Sócios Fundadores, Presidentes e Sócios Efetivos

23 MARIA CLÉLIA LUSTOSA COSTA Rua Silva Jatahy, 400 - Bloco B ap. 90160165 – 070 FORTALEZA, CE

(85) 32486470(85) 988981091

24 FERNANDO LUIZ XIMENES ROCHARua Silva Jatahy, 500 – ap. 170060165 – 070 FORTALEZA, CE

(85) 32077262 (85) 32424420

25 LUCIO GONÇALO DE ALCÂNTARAAv. Antônio Justa, 3320 - - ap. 30160165 – 090 FORTALEZA, CE

(85) 32429009(85) 32576927 (85) 32884680

26 JUAREZ FERNANDES LEITÃORua Silva Jatahy, 760 ap. 100060170 – 150 FORTALEZA, CE

(85) 32422034(85) 999873411

27 AFFONSO TABOZA PEREIRARua Pereira Valente, 486 - ap. 130160160 – 250 FORTALEZA, CE

(85) 988576650(85) 31819066

28 ANGELA MARIA ROSSAS MOTA DE GUTIÉRREZRua Deputado Moreira da Rocha, 86560160 – 060 FORTALEZA, CE

(85) 32487804(85) 996434545

29 FRANCISCO ADEGILDO FÉRRERRua Mário Mamede, 61260415 – 000 FORTALEZA, CE

(85) 996201133(85) 32813848(85) 32835051

30 CID SABÓIA DE CARVALHORua Gustavo Sampaio, 199960455 – 001 FORTALEZA, CE

(85) 32873090(85) 999843966

31 GEOVÁ LEMOS CAVALCANTERua Barbalha, 77 - ap. 20060165 – 100 FORTALEZA, CE

(85) 32614931(85) 988474931

32 OSMAR MAIA DIÓGENESRua Thomaz Pompeu, 565 ap. 80060160 – 080 FORTALEZA, CE

(85) 32481753(88) 988051108

33 EUSTÓGIO WANDERLEY CORREIA DANTASRua Mestre Aníbal, 32061600 – 000 CAUCAIA, CE

(85) 999044859

34 MARCELO GURGEL CARLOS DA SILVARua Vicente Leite, 2439 ap. 60060170 – 151 FORTALEZA, CE

(85) 999868566

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Revista do Instituto do Ceará - 2016386

35 LUCIANO PINHEIRO KLEIN FILHORua Teresa Cristina, 227 – Centro60015 – 140 FORTALEZA, CE

(85) 32122370(85) 988471115

36 ISABELLE BRAZ PEIXOTO DA SILVARua Oito de Setembro, 1130 – apto. 140360175 – 210 FORTALEZA, CE

(85) 32671992(85) 996681369

37 ANTÔNIO CLÁUDIO FERREIRA LIMA Rua Nunes Valente, 1440 – ap. 102.60125-035 FORTALEZA, CE

(85) 3224.7633(85) 99199.0909

38 GLÓRIA MARIA DOS SANTOS DIÓGENESAv Antônio Sales, 1317 - s- 100760150 – 200 fortaleza, CE

(85)3246-2280

39 UBIRATAN DINIZ DE AGUIARRua Chanceler Edson Queiroz, 200 ap. 1301 torre Felice – cond. Verdi60810 – 145 FORTALEZA, CE

(85) 999281514

40 JOSÉ EURÍPEDES MAIA CHAVES JÚNIORAvenida Rui Barbosa, 3334 – Joaquim Távora60115 – 222 FORTALEZA, CE

(85)3257-5657(85)99952-6516

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ÍNDICEAo Leitor ...............................................................................................5

ARTIGOSUm Modelo de Cidadão: Carlos da Costa Ribeiro (1885 – 1958)Melquíades Pinto Paiva ........................................................................9

Cristãos Velhos e Cristãos Novos nas Capitanias de Pernambuco e Ceará: séculos XVI a XVIII.Eduardo Bezerra Neto ........................................................................21

Cartografi a Cearense Antiga na Biblioteca NacionalJosé Liberal de Castro ........................................................................47

Agenda para a Redução da Pobreza Rural com DesenvolvimentoPedro Sisnando Leite .......................................................................101

Comentários à Margem da Carta de CaminhaFrancisco Adegildo Férrer ...............................................................115

Governantes do Ceará - Colônia, Império e RepúblicaOsmar Diógenes ...............................................................................123

Os 70 Anos do I Congresso Brasileiro de Médicos CatólicosMarcelo Gurgel Carlos da Silva ......................................................135

Uma Sobral e Vários Orianos: A Vida Empresarial de Oriano MendesCarlos Negreiros Viana ....................................................................145

As Moradas Eternas do Brigadeiro SampaioJúlio Lima Verde Campos de Oliveira .............................................169

Boatos na vida do Padre IbiapinaPadre Ernando Luiz Teixeira de Carvalho ......................................181

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CONFERÊNCIASFortaleza: 290 anosArtur Bruno ......................................................................................191

Atlântico - Uma Revista e Dois RegimesLúcio Alcântara ...............................................................................209

REGISTRO BIBLIOGRÁFICOLançamento do Romance - Vozes sem Eco – A Angústia dos Miseráveis e a Revolta da NaturezaJuarez Leitão e Ésio de Souza ...........................................................227

DISCURSOSAniversário do Instituto do CearáLúcio Alcântara ................................................................................239

Discurso de recepção à Sócia Efetiva Glória Maria dos Santos DiógenesEduardo Bezerra Neto ......................................................................245

Agradecendo a Medalha Confederação do EquadorPaulo Câmara ..................................................................................253

A Sereia de Ouro e o bom combate pela construção do mundo com que sonhamosAngela Gutiérrez ..............................................................................261

Discurso de Recepção ao Sócio Efetivo José Eurípedes Maia Chaves Jr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva .......................................................267

Discurso de Posse no Instituto do CearáJosé Eurípedes Maia Chaves Junior .................................................275

EFEMÉRIDESDatas e Fatos para a História do CearáM. A. Azevedo (Nirez) .......................................................................283

Uma Posse há 20 AnosFrancisco Ésio de Souza ..................................................................315

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150 Anos do Criador da Familia GentilGeová Lemos Cavalcante .................................................................319

Instituto do Câncer do Ceará: 70 anos de conquistas Marcelo Gurgel Carlos da Silva ......................................................323

RELATÓRIO DAS ATIVIDADES .......................................339

ATAS DAS SESSÕESAtas das sessões do Instituto do Ceará .............................................351

SÓCIOS FUNDADORES,PRESIDENTES E SÓCIOS EFETIVOSSócios Fundadores ............................................................................377Presidentes ........................................................................................377Sócios Efetivos por ordem de antiguidade ........................................378Sócios Efetivos atuais e seus endereços ............................................383

ÍNDICE ...........................................................................................387

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© Revista do Instituto do Ceará 2016

Coordenação e RevisãoGeová Lemos Cavalcante

Projeto Gráfi co Sandro Vasconcelos

DiagramaçãoLéo de Oliveira

Capa e Tratamento de Imagem da CapaGeraldo Jesuino da Costa

Foto da CapaJosé Liberal de Castro

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