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  • Outubro de 2004Instituto Histrico e Geogrfico de Mato Grosso do Sul

    Campo Grande Mato Grosso do Sul

    Pedro ngelo da Rosa

    Resenha Histricade Mato Grosso

    (Fronteira com o Paraguai)

    Edio anotada porHildebrando Campestrini

  • Reviso e diagramao:H. Campestrini

    Instituto Histrico e Geogrfico de Mato Grosso do SulRua Rui Barbosa, 2.624 Centro79002-365 Campo Grande MS

    fone: (67) 384-1654 fax: (67) 382-1395www.ihgms.com.br

    e-mail: [email protected]

    Sem fins lucrativos.

  • 3Resenha Histrica de Mato Grosso

    Nota do editor

    Dentro do propsito do Instituto Histrico e Geogrfico deMato Grosso do Sul de disponibilizar (em sua biblioteca eletrnica:www.ihgms.com.br) para o pblico em geral as obras significa-tivas da historiografia sul-mato-grossense, surge este trabalho,sem dvida indispensvel para se conhecer melhor determinadosacontecimentos, principalmente em Ponta Por e, por extenso,na fronteira.

    Escrito em linguagem simples, direta, quase depoimento,o livro traz o testemunho de quem assistiu a muitas daquelas o-corrncias ou delas participou ou, ainda, teve a oportunidade decolher as informaes junto aos que foram atores, justamente deum trato muito importante da histria da fronteira, que vai dopovoamento at o Territrio de Ponta Por.

    O texto foi atualizado na ortografia, corrigindo-se algunserros tipogrficos evidentes e algumas datas, por bvio erro dereviso ou contradio com o prprio texto.

    Duas notas so do autor. Para contextualizar melhor os fatosou desfazer possveis confuses, foram inseridas outras trinta eduas, indicadas com a expresso: nota do editor.

    Campo Grande, outubro de 2004.

    Hildebrando CampestriniPresidente IHG-MS

  • PrlogoPara a confeco deste modesto trabalho, ampliei algo do

    meu opsculo anteriormente publicado, intitulado ANAIS PONTA-PORENSES, para cujo fim, aproveitei muito das informaes queouvi, desde menino, de meu av, capito Joo Antnio da Trin-dade, veterano da guerra de 1870, e um dos heris da Retiradada Laguna, vindo do Rio de Janeiro para Mato Grosso, ainda nostempos do Imprio (ver nota 15).

    No decorrer de vrios anos, procurei pessoas idneas, ve-lhos moradores no Estado, e que tomaram parte, muitas delas,nos acontecimentos aqui relatados, as quais me prestaram seusvaliosos depoimentos.

    Consultei tambm algumas obras que versam sobre a his-tria de Mato Grosso, e particularmente desta regio fronteiria.

    A partir de 1921, poca em que me alistei nas fileiras doPartido Republicano Conservador, j cado em Mato Grosso, pas-sei a tomar parte nos acontecimentos polticos do Estado, hipo-tecando minhas simpatias a vrios movimentos que agitaram o pase tiveram repercusso em nosso ambiente.

    Porm, ao relatar os fatos, no desenrolar do agitado dramada histria poltica desta fronteira, procurei somente a verdade,observando estrita imparcialidade, fazendo justia aos seus pro-tagonistas, sem idias preconcebidas e sem as veleidades do fa-voritismo.

    A Histria como um grande palco, onde se apresentam osfatos e aparecem seus atores, que falam por si mesmos, conformeos papis que desempenharam.

    Ponta Por, 28 de julho de 1962.

    Pedro ngelo da Rosa

  • ndice

    1. Ponta Por, teatro de acontecimentos da guerra de 1870.a) Epopia de Dourados 9.b) A colnia militar do Iguatemi 10.c) Ponta Por, zona deserta. Origem do seu nome 11.d) A Retirada da Laguna 12.e) Expedio do tenente-coronel Moura

    a Iguatemi. O destino 15.f) Operaes finais da campanha.

    Lopez se dirige a Ponta Por 16.g) Demarcao dos limites da fronteira 18.

    2. Descoberta dos ervais em Mato Grosso.Toms Laranjeira e a Empresa Mate 19.

    3. Ponta Por. Fundao e distrito.a) O primeiro destacamento militar

    que chega a Ponta Por 24.b) A fundao de Ponta Por. Joo Antnio da Trindade 26.c) Criao do distrito de Ponta Por 28.

    4. Comeam a chegar a Mato Grosso as comitivasdo Rio Grande do Sul. As causas dessaimigrao e sua epopia 29.

    5. Demandas sobre a posse das terras dePonta Por e sul de Mato Grosso.a) Questo com os herdeiros de D. Elisa Lynch 33.b) Pretenso dos herdeiros do baro de Antonina 34.

    6. Criao do municpio 36.a) Instalao 37.b) Ata de instalao 37.c) Nomeao de autoridades. A visita do

    Ex.mo Sr. Presidente do Estado 39.

  • 7. Criao e instalao da comarca 40.

    8. Desenvolvimento cultural e esportivo 41.

    9. Movimentos revolucionrios no sul do Estado.a) Muzzi 43.b) Mascarenhas 45.c) Bento Xavier 46.d) A revolta do regimento em Ponta Por 50.e) Antnio Gomes 52.

    10. Movimentos nacionais que repercutiramno sul de Mato Grosso.a) 1922 54.b) 1924 54.c) 1930 60.d) 1932 62.

    11. O Territrio Federal de Ponta Por.Sua criao e extino 64.

    12. As duas correntes migratrias 67.

  • 9Resenha Histrica de Mato Grosso

    1. Ponta Por, teatro deacontecimentos da guerra de 1870.

    a) Epopia de Dourados.Ao irromper a guerra do Paraguai, em fins do ano de 1864,

    quando a provncia de Mato Grosso foi invadida pelo exrcito de So-lano Lopez, existia em toda a faixa fronteiria, que no tinha aindasido demarcada, a Colnia Militar de Dourados1, criada no minis-trio Caxias, a 10 de maio de 1861, sediada nas cabeceiras do rioDourados, a oito lguas de distncia da atual cidade de Ponta Por.

    1. A Colnia Militar do Dourados (o autor prefere de Dourados)situava-se nas proximidades da atual cidade de Antnio Joo,onde se encontra um parque que lembra o episdio narrado aseguir. Chama-se do Dourados porque est nas cabeceiras dorio Dourados. No confundir com a cidade de Dourados. (Notado editor).

    O pequeno destacamento compunha-se de dezesseis ho-mens, comandados pelo tenente Antnio Joo Ribeiro, e foi ata-cado a 29 de dezembro daquele mesmo ano, por uma fora com-posta de duzentos e vinte paraguaios, sob o comando do majorUrbieta, integrante da coluna do general Resquin, que coman-dava um exrcito e trazia o objetivo de invadir a provncia deMato Grosso.

    O tenente Antnio Joo, recebendo intimao do inimigopara render-se, apesar da inferioridade numrica de sua tropa,no quis entregar-se e ofereceu resistncia aos atacantes. Inicia-do o combate, s primeiras descargas, caiu morto junto bandei-ra nacional, em companhia de seus soldados. No quis o tenenteAntnio Joo evitar aquele sacrifcio, retirando-se para Miranda,pois sabia notcias da aproximao dos paraguaios, e preferiu ofe-recer a vida em holocausto Ptria, nos primrdios daquela longae penosa campanha.

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    Ao coronel Dias da Silva, comandante do distrito militar deMiranda, mandou ele um emissrio, comunicando a aproxima-o das foras paraguaias, o qual foi aprisionado pelo inimigo,encontrando-se em seu poder a nota que finalizava com os dize-res: Sei que morro mas o meu sangue e de meus companheirosservir de protesto solene contra a invaso do solo de minha Ptria.

    O feito de Antnio Joo causou admirao ao prprio chefedas foras paraguaias, major Urbieta, que dele fez meno na suaparte.

    A Colnia Militar de Dourados ficou abandonada ainda al-guns anos depois de terminada a guerra, at a chegada de seunovo comandante, capito Rogaciano Monteiro de Lima, que, de-pois de muitos anos de residncia ali, passou o comando ao capi-to Joo Manuel Gomes, que foi o ltimo a comandar a Colnia,at sua extino.

    b) A colnia militar do Iguatemi.A fim de assegurar os direitos de ocupao das nossas fron-

    teiras no extremo sul de Mato Grosso, que nos tempos coloniaisno estavam fixadas, existindo contestaes e controvrsias en-tre os espanhis e portugueses, e em vista do tratado de 1750,mandou o Morgado de Mateus2 fundar a colnia militar do Igua-temi, em 1767, margem do rio Iguatemi.

    2. O Morgado de Mateus (Lus Antnio de Sousa), governa-dor da capitania de So Paulo, recebera de Portugal ordens pa-ra expandir o territrio portugus e assegurar as terras de seudomnio. Para tanto, promoveu o reconhecimento dos sertes dorio Tibagi (no Paran) e a ocupao das terras do Iguatemi,fundando, ali, em 1767, a Povoao e Praa de Armas NossaSenhora dos Prazeres e So Fernando de Paula. (Nota do edi-tor).

    A colnia, depois de fundada e ocupada pelos portugueses,foi atacada e destruda por foras espanholas vindas de Assun-o, sob o comando do coronel D. Agostinho Fernandez de Pinedo,no ano de 1777.

  • 11Resenha Histrica de Mato Grosso

    Os vestgios daquela fundao acham-se nos fundos dafazenda Vigente, hoje municpio de Amambai3, onde tivemos ocasiode ver os fossos enormes que se projetam para as bordas do rio I-guatemi, fechando o reduto em cuja rea existe um grande laranjal ese encontram ainda algumas telhas, restos de habitaes antigas.

    3. Em Mato Grosso do Sul o uso corrente consagrou a pronnciaAmambai (com i final tono) para o nome do municpio. Con-serva-se com i final tnico nos demais nomes prprios: serra deAmamba, rio Amamba. (Nota do editor).

    O povo que reside nos arredores daquelas runas deu aolugar a denominao de Trincheiras e supe tenha sido ela umafundao jesutica.

    c) Ponta Por, zona deserta. Origem de seu nome.Antes da guerra do Paraguai, Ponta Por constitua uma zona

    deserta, habitada somente por ndios selvagens, sobressaindo-se as tribos caius e guaranis, que se alimentavam da pesca e dacaa. Os animais selvagens abundavam por toda a regio. Situa-da no espigo da serra de Amamba4, aqui se defrontam as ca-beceiras dos rios que correm em direes opostas, no divisordas guas entre as bacias hidrogrficas do Paran e Paraguai, oque foi tomado por base pelo tratado de limites entre os doispases, Brasil e Paraguai.

    4. A serra de Maracaju, de Paranhos cabeceira do Estrela, conhecida tambm por serra de Amamba. (Nota do editor).

    A topografia do lugar oferece ao viandante o majestoso qua-dro de intrminas campinas, onduladas de suaves coxilhas, orladasde extensas matas e capes, que se destacam a grandes distn-cias, no fundo azulado, como ilhas de um oceano verde.

    Pela altitude do lugar, 634 metros acima do nvel do mar, eausncia de acidentes geogrficos que sirvam de anteparo, asbrisas suaves do vero sopram constantemente, amenizando-lheo clima. Desse aspecto peculiar da natureza, adveio-lhe o nomeespanhol-guarani de Punta Por, dado pelos paraguaios, antes daguerra de 1870, e que literalmente significa em portugus: ponta

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    bonita. O ponto de referncia que deu origem ao batismo foi umponto de mato existente em Capivari5, na boca da picada doChirigelo, termo da estrada que, partindo de Conceio, Paraguai,d acesso ao alto da serra.

    5. Capivari fica no Paraguai, a pouco mais de duas lguas an-tes da atual Ponta Por. A picada do Chirigelo, nica ligaoentre a cidade de Conceio com a regio fronteiria, alcanavao alto da serra nas imediaes de Ponta Por hoje. (Nota doeditor).

    O nome, que inicialmente designava toda a zona, aportugue-sou-se na forma de Ponta Por, e depois de constitudas as duaspovoaes xifpagas passou a designar somente a parte brasi-leira, passando a outra a chamar-se Pedro Juan Caballero, emhomenagem a um dos prceres da independncia do Paraguai.

    Ponta Por comeou a formar-se em frente picada do Chiri-gelo, escoadouro da erva-mate que daqui era transportada parao porto de Conceio, no Paraguai, e por onde transitavam as tro-pas de carretas puxadas por bois, trazendo mercadorias. Naque-les tempos a Noroeste no tinha ainda penetrado em Mato Gros-so, e era por essa estrada, que os fazendeiros do nosso interioriam ao Paraguai buscar sal, gneros alimentcios e tudo o mais deque necessitavam.

    A serra que se estende do lado do Paraguai, em sentido lon-gitudinal, paralela fronteira, era inacessvel ao trnsito, excetonos lugares onde foram abertas picadas carreteiras que do aces-so a Ponta Por, Bela Vista, Ipeum6 e Nhuver, formando-se alincleos de povoamento.

    6. Ipeum a atual cidade de Paranhos, no sul do Estado. Nhu-ver, a atual cidade de Coronel Sapucaia. Segundo Hlio Serejo,Ipeum significa pssaro-preto; Nhuver, campo brilhante. (Notado editor).

    d) A Retirada da Laguna.A guerra contra o Paraguai j durava dois anos e as foras

    aliadas concentravam-se no ataque fortaleza de Humait, quan-do partiu do Rio de Janeiro, em abril de 1866, uma expedio

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    destinada a invadir aquela repblica pelo norte, a fim de causardisperso de suas foras.

    Os expedicionrios desembarcaram em Santos e seguirama cavalo, atravessando o Estado de So Paulo, sendo a coluna or-ganizada em Uberaba, com o efetivo de trs mil homens, sob o co-mando do coronel Manuel Pedro Drago. Depois de atravessar ossertes de Minas e Gois, a coluna entrou pelo norte de Mato Grosso,passando por Coxim e acampou em Miranda. Ali a tropa foi aco-metida de febres palustres e beribri, que lhe causaram muitasvtimas, agravando-se o seu estado geral, pela falta de recursosna regio, que tinha sido invadida e devastada pelos paraguaios.

    Tendo o comandante da coluna, Manuel Pedro Drago, se-guido para Cuiab, assumiu a chefia o coronel Galvo (ver nota10), o qual, tendo sido acometido pela epidemia, foi substitudopelo coronel Carlos de Morais Camiso.

    Prosseguindo a marcha, chegou a coluna a Nioaque, queencontrou incendiada pelos paraguaios, que dali se haviam reti-rado. De Nioaque, dispondo de parcos recursos, seguiu para BelaVista, guiada pelo sertanista Jos Francisco Lopes, estabelecidona sua fazenda Jardim, e cuja esposa, D. Senhorinha, e demaismembros da famlia, tinham sido aprisionados pelos paraguaios etransportados para Horqueta.

    Chegando a Machorra, onde existia um estabelecimentoparaguaio, foram encontradas as casas incendiadas e recm-aban-donadas pelo inimigo, e prosseguindo a marcha rumo fronteira,a coluna transps o Apa, entrando em territrio paraguaio a 21 deabril de 1867.

    Ali havia a esperana de serem aprisionadas algumas resespara abastecimento da tropa, porm os paraguaios, ao se retira-rem, incendiaram as casas, como j vinham fazendo em outros lu-gares, e arrebanharam todo o gado, nada deixando ao inimigo, queespreitavam de longe, observando todos os seus movimentos.

    De Bela Vista paraguaia, marchou a tropa, estacando no Apa-Mi, a 30 de abril, chegando Laguna a 1 de maio, a cinco lguasde distncia. Ali travaram-se alguns encontros com o inimigo e a

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    coluna comeou a sentir a escassez de vveres, falta de munioe tambm a cavalhada estava exausta, no havendo a possibili-dade de ser trocada, sendo que o inimigo dispunha de tropadescansada e recebia recursos de sua base em Conceio, deonde lhe chegavam reforos.

    Foi, por esses motivos, iniciada a retirada da coluna, a 7 demaio, e a 8, foi repelido um ataque paraguaio, travando-se o com-bate de Baend7.

    7. Baend do guarani. O que voc?Nota do editor. Este combate se travou ainda em territrioparaguaio, j perto do rio Apa.

    A 11 a tropa brasileira transps o Apa, sendo que os para-guaios j haviam tomado a dianteira, no intuito de lhe cortar opasso. Nesse dia travou-se o combate de Nhandep8, onde entra-ram em ao cerca de trs mil homens de ambos os lados, caindona ao para mais de duzentos e trinta combatentes, e sendo apequena tropa de gado, de que dispunha a coluna, arrebanhadapelos paraguaios.

    8. Nhandep jenipapo. Nome dado ao lugar pelos ndios.Nota do editor. Este combate se deu em Bela Vista, numa en-costa, perto do atual cemitrio.

    Os paraguaios, comandados pelo major Urbieta, seguiramhostilizando a coluna por todos os lados, e somente a nossa artilha-ria conseguia mant-los a certa distncia. Comearam a incendiar amacega, obrigando-a a duros sacrifcios a fim de combater o fogo,que lhe causou prejuzos e algumas vtimas. Tambm as chuvascomearam a cair com violncia e vieram alguns temporais, agra-vando a situao dos retirantes, e logo manifestou-se o clera,ceifando vidas e aumentando diariamente o nmero de enfermos,que no podiam ser mais carregados, dada a falta de transportes.

    A coluna foi conduzida por atalhos, pelo guia Lopes, e viu-se na dura contingncia de ter que abandonar os colricos, que nopodiam mais ser conduzidos, e seguiu atravessando rios e banha-dos, sempre com o inimigo vista. Assim chegou fazenda Jar-dim, onde veio a falecer o guia, vitimado pelo clera, morrendo alitambm vrios oficiais, inclusive o comandante, coronel Camiso.

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    Aps a passagem do rio Miranda, assumiu o comando omajor Jos Toms Gonalves, e os remanescentes, em nmeroreduzido a menos da metade, chegaram a Nioaque a 4 de junho,encontrando a vila totalmente destruda. Ao penetrarem na igre-ja, que foi a nica casa encontrada de p, alguns soldados foramvtimas de tremenda exploso, resultante de um estratagema pre-parado pelo inimigo.

    Somente ao passar Nioaque, e retomada a estrada de Aqui-dauana, cessaram as perseguies do inimigo, e amainaram as du-ras provas a que foi submetida aquela gente herica e abnegada.

    e) Expedio do tenente-coronel Moura a Iguatemi. O destino.Corria o ms de dezembro de 1869, e a guerra se aproxima-

    va do fim. Lopez estava acampado em Panadero, com todo o seuestado-maior e o resto do exrcito paraguaio. As tropas brasilei-ras achavam-se em Curuguati.

    Foi nessa poca, como minuciosamente narrou o viscondede Taunay, na sua obra intitulada CARTAS DA CAMPANHA, que seudeu o episdio ocorrido no arroio Espadim, de que foi protagonis-ta o arrojado tenente-coronel Antnio Jos de Moura (ver 3 dottulo 4, p. 29-30) , natural do Rio Grande do Sul.

    Tinha ele uma irm casada com um portugus, que residiah tempos em Vila Rica, no Paraguai, onde faleceu seu marido,sendo ela aprisionada, por motivo de sua nacionalidade, e fora-da a marchar para as margens longnquas e desertas do Iguatemi,na confluncia do arroio Espadim, em companhia das degreda-das que ali se encontravam.

    Moura, sabendo dessas notcias, e no intuito de salvar suairm, ofereceu-se para uma diligncia naquele local e seguiu comtrinta e um homens de cavalaria, sob seu comando. Viajando dia enoite, galgou a serra, abrindo picadas por desvios da estrada se-guida pelo inimigo, que estava atravancada de rvores derruba-das por toda parte.

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    Aps dois dias e noites de marcha ininterrupta, conseguiuchegar a altas horas da noite, num local onde encontrou trs ran-chos, iluminados por grandes fogueiras, rodeadas por algumasmulheres e crianas. Dali foram duas mulheres ao acampamentogeral onde se encontravam as destinadas, levando o aviso, e quelogo depois, foram seguidas por Moura.

    uma hora da madrugada, chegaram s margens do arroioEspadim, no lugar de sua embocadura, no Iguatemi, onde avis-taram grande quantidade de ranchos, rodeados de enormes fo-gueiras. A sua chegada causou um alarido enorme entre aquelasmulheres famintas, descalas e seminuas, que o rodearam, che-gando algumas a chorar de emoo e alegria. Os guardas, quedespertaram com o rudo e se aproximaram, foram aprisionados.

    Apareceram ento as duas sobrinhas de Moura, vindo elea saber que sua irm havia falecido dez dias antes, vitimada peloltimo grau de inanio.

    Moura, prevendo a possibilidade da chegada de reforos doinimigo, que se achava prximo dali, seguiu sem perda de tempo,levando mais de quatrocentas mulheres, e apresentou-se em Curu-guati, ao comando do Exrcito, onde aquelas mulheres foram abri-gadas e socorridas.

    No destino, achavam-se mulheres das mais destacadas fa-mlias de Assuno, cujos chefes haviam cado no desagrado deLopez, e ali se achavam condenadas morte, pela inanio, antea falta absoluta de recursos.

    f) Operaes finais da campanha. Lopez se dirige a Ponta Por.Em comeo do ano de 1870, Lopez, saindo de acampamen-

    to de Panadero, galga a cordilheira de Amamba, passando porCerro Turim, na regio das cabeceiras do rio Iguatemi, e chega aolugar denominado Curralito, onde existia um pequeno bosque,margeado por um brejo, prximo da atual vila de Amambai. Oexrcito de Lopez sara de Panadero em estado de penria e vinhaqueimando as carretas, carneando os bois e desfazendo-se das

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    cargas que no podiam ser transportadas. Nesse lugar foi aban-donado o piano de Mme. Lynch, fato que lhe valeu o nome de IslaPiano, que se conserva hoje com a verso portuguesa de ilha Pia-no. (Isla, em espanhol, tem a mesma significao portuguesa deilha, mas tanto indica uma poro de terra cercada de gua comotambm um pequeno mato isolado no meio do campo, o que cha-mamos capo). Desse lugar marchou Lopez para fazer a travessiado rio Amamba, e acampou no ponto onde foi construda a pontedo Galo, trabalhada por oficiais, sob sua direo.

    Nas margens do rio Amamba, Lopez esteve acampadodurante trinta dias e, segundo depoimento do coronel Gaona, que ou-vimos, e que fazia parte daquela tropa, esta se compunha de cin-co mil pessoas, entre as quais se encontravam dois mil soldados. Atropa acampava em formato de crculo e no centro estavam colo-cados os grandes paneles, onde se cozinhavam palmitos e outroscomestveis rebuscados nas matas. No havendo mais carne paraalimentao, Lopez ordenou ao general Caballero que fosse comum piquete at a zona de Dourados ou Miranda9, para trazer gado.

    9. Refere-se aqui s Colnias Militares do Dourados e do Mi-randa. (Nota do editor).

    Feita a travessia do rio Amamba e dos rios Verde e Corren-tes, seguiu o exrcito sua lenta marcha pela lombada da serra,rumando para Ponta Por. Viajando mais ou menos trs lguaspor dia, fez acampamento em Lagoa Bonita, Emboscada, Tagi,Rinco de Jlio e Cabeceira Vinte e Cinco, lugar que tomou essenome, segundo depoimentos de pessoas contemporneas, porterem sido fuzilados ali vinte e cinco sentenciados.

    De Cabeceira Vinte e Cinco, o exrcito de Lopez passou porPonta Por, indo acampar em Capivari, por onde penetrou na pi-cada do Chirigelo, dirigindo-se para Cerro Cor, seu ltimo acam-pamento, onde foi batido e morto, pelas foras do general Cma-ra, s margens do rio Aquidaban-Bigui, a 1 de maro de 1870. Na-quele dia, foi encerrada a ltima pgina da mais longa e penosacampanha, na qual foram sacrificadas milhares de vidas na maiscruenta campanha travada no continente sul-americano.

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    Falando acerca desse acontecimento, diz o visconde deTaunay, no final de um captulo da j citada obra CARTAS DA CAM-PANHA: A combinao gloriosa do general Cmara no podia fa-lhar. Com efeito, fizera o coronel Bento Martins dar uma grandecurva, passando pelas colnias de Miranda e Dourados, e ir tomarPonta Por, lugar em que bifurcam as estradas de Chirigelo, quedesce para o sul at Panadero, e a de Cerro Cor. O dia 2 de maroera o marcado para essa ocupao, e, se no dia 1 Lopes tivesseainda podido fugir, no seguinte esbarraria com os brasileiros, porisso que nesse tempo Bento Martins, contra toda a expectativa,ocupava a encruzilhada.

    Ponta Por foi, portanto, designada como ponto final das o-peraes da cordilheira de Amamba. Naqueles tempos, no esta-vam demarcados os limites da fronteira, mas indiscutvel quePonta Por foi o ltimo ponto do territrio nacional onde se realiza-ram as operaes da guerra de 1870.

    Bem prximo daqui, na Colnia Militar de Dourados, soa-ram os primeiros tiros dos invasores, componentes da coluna docoronel Resquin, e tambm, j no final da guerra, por aqui passouo marechal Lopez com os remanescentes do seu exrcito, paratombar em Cerro Cor, distante cinco lguas da atual cidade dePonta Por.

    No solo de Ponta Por se desenrolaram os primeiros e os l-timos acontecimentos da guerra de 1870. O seu solo foi pisado pe-los invasores no incio da campanha, e trilhado pelos remanescen-tes do exrcito de Lopez, que, em retirada, procurava escapar-sedo inimigo que vinha em sua perseguio. Aqui tiveram lugar acon-tecimentos marcantes no prlogo e no eplogo da guerra de 1870.

    g) Demarcao dos limites da fronteira.Terminada a guerra e firmado o tratado de limites entre o

    Imprio do Brasil e a Repblica do Paraguai, foi nomeada a comis-so para demarc-los, tomando por base o divisor das guas, quenesta faixa parte das cabeceiras do arroio Estrela e, pelo espigoda serra Maracaju, vai at o rio Igure, afluente do Paran.

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    A comisso, chefiada pelo coronel-de-engenharia RufinoEnias Gustavo Galvo10, depois baro e visconde de Maracaju,partiu do Rio de Janeiro a 6 de junho de 1872.

    10. O coronel Rufino Enias Gustavo da Fonseca Galvo erairmo do tenente-coronel Antnio Enias Gustavo Galvo (ba-ro do Apa), que participou da retirada da Laguna (comanda-va o 17 de Voluntrios da Ptria). Ambos eram filhos do briga-deiro Jos Antnio da Fonseca Galvo, comandante da ForaExpedicionria de Mato Grosso, falecido de beribri s mar-gens do rio Negro (MS), em 1866. (Nota do editor).

    Tendo chegado a Mato Grosso a 2 de agosto do mesmo ano,logo foram iniciados os trabalhos da demarcao, que ficaram ter-minados a 24 de outubro de 1874. A comisso fez a demarcaode limites em toda a extenso da faixa fronteiria, partindo da fozdo Apa at o Paran, nas proximidades da foz do Iguau. Nas prin-cipais cabeceiras das guas contravertentes, foram construdosgrandes marcos de pedra e cal, como ainda tivemos ocasio dever em Estrela, Rinco de Jlio e Ipeum. Em Ponta Por, SangaPuit e outros pontos intermedirios, existiam postes de madeirade lei, que demarcavam a linha divisria.

    A conduo de vveres para os trabalhadores da comisso erafeita em carretas do fornecedor, do qual eram empregados ErnestoPaiva e Toms Laranjeira. Nessa ocasio Toms Laranjeira desco-briu os ervais da zona do planalto, que depois veio a explor-los, fun-dando a Empresa Mate Laranjeira, e fazendo para si dez possesde grandes reas de terras virgens, de Ponta Por at Bela Vista.

    2. Descoberta dos ervais em Mato Grosso.Toms Laranjeira e a Empresa Mate.

    Toms Laranjeira, filho da cidade de Bag, provncia do RioGrande do Sul, trabalhava em companhia de Ernesto Paiva, comocaixeiros na loja de um portugus, em Porto Alegre, quando, aoterminar a guerra de 1870, foi nomeada a comisso demarca-dora dos limites da fronteira Brasil Paraguai. Laranjeira expsao patro a sua idia de virem, ele e seu companheiro, para Mato

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    Grosso, a fim de trabalharem como fornecedores da comisso.Acertaram as contas e partiram. Assim vieram em 1872 TomsLaranjeira e Ernesto Paiva para o sul de Mato Grosso, como em-pregados do fornecedor da comisso de limites.

    Terminados que foram os trabalhos da comisso, no ano de1874, estavam os pagamentos em atraso, o que era natural naque-les tempos, em lugares to distantes e sem ligaes com a corte.Ento o patro, chamando seus dois empregados, para liquida-o de contas, props repartir entre eles o pouco dinheiro de quedispunha na ocasio, entregando-lhes trs carretas com bois euma casa em Porto Alegre. Ernesto Paiva, que tinha deixado suanoiva naquela cidade, aceitou a oferta da casa e voltou sua ter-ra natal. Toms Laranjeira aceitou as carretas e comeou desdeento a trabalhar na elaborao da erva-mate, para o que foi aoRio Grande do Sul, de l trazendo os auxiliares de que necessita-va, para organizao dos trabalhos.

    De incio, o sr. Joo Lima passou a gerenciar e organizar aempresa; Antnio Incio da Trindade (ver nota 15) e Francisco Xa-vier Pedroso eram incumbidos da compra do gado e Gabriel Ma-chado encarregado da fazenda Santa Virgnia, que foi fundada paraabastecer de gado os ranchos ervateiros, aonde comeavam a che-gar os pees trazidos de Conceio (Paraguai) por Joo Lima.

    O depsito central e a administrao da empresa ficaramestabelecidos em Capivari, na boca da picada do Chirigelo, noParaguai, e por onde era o produto conduzido em carretas paraConceio, a fim de ser embarcado por via fluvial para a Argenti-na. Algumas remessas entravam tambm pelas picadas de Nhu-ver e Ipeum.

    A fim de legalizar os seus trabalhos, Toms Laranjeira foi corte e, pelo Decreto n. 8.799, de 9 de dezembro de 1882, obtevedo governo imperial o privilgio para explorao da erva-matenos terrenos devolutos da fronteira, entre o marco Rinco de Jlioe a cabeceira do rio Iguatemi. Depois dessa concesso, em datade 25 de julho de 1883, foi estabelecido um arranchamento mar-gem direita do rio Verde, e que oficialmente marca o incio dos tra-balhos da empresa, qual se haviam associado j os irmos Mur-

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    tinho, mato-grossenses destacados no cenrio poltico da corte.Mais tarde, alentado com a prosperidade sempre crescente do ne-gcio, o ento comendador Toms Laranjeira obteve novas conces-ses do governo. Depois, retirou-se Laranjeira da empresa, transferin-do os direitos aos seus scios, doutores Joaquim, Manuel e Francis-co Murtinho, ficando constituda a Companhia Mate Laranjeira.

    Em 1892, a S.A. Banco Rio Mato Grosso comprou ao majorBoaventura da Mota a fazenda Trs Barras, sita margem do rioParaguai, para ali ser construdo um porto destinado explora-o da erva-mate, proveniente de Ponta Por. Pela companhia, foidoada ao Estado uma rea de 3.660 hectares de terras, onde foierigido um povoado, que tomou o nome de Porto Murtinho, emhomenagem ao estadista mato-grossense dr. Joaquim Murtinho.

    Por aquele porto era feita a exportao de todos os produtosdo sul de Mato Grosso e por ali entravam tambm as mercadoriasprovenientes do Paraguai, Argentina e Europa, destinadas ao con-sumo da populao.

    A erva mato-grossense passou, desde ento, a ser exporta-da exclusivamente para a firma Francisco Mendes & Comp., deBuenos Aires, sociedade fundada em 1874, pelo comendador Fran-cisco Mendes Gonalves, e que tinha seu escritrio em Assuno.

    Algum tempo depois, passou o comendador Francisco Men-des Gonalves a fazer parte da sociedade, e foi constituda a firmaLaranjeira Mendes & Cia., sendo o arrendamento transferido aesta firma, mediante contrato com o governo do Estado, lavradoa 4 de fevereiro de 1904.

    Quando a Companhia Mate comeou a fazer exportao daerva-mate por Porto Murtinho, foi mudada a administrao paraSanto Toms, no Brasil, em frente a Capivari. Na estrada carreteirapara Porto Murtinho, por onde viajavam as tropas, foram constru-dos grandes armazns e depsitos em Limeira, Margarida, Per-dido e So Roque, que serviam como pontos de abastecimento erecursos s referidas tropas. De So Roque a Porto Murtinho, foiconstruda uma via frrea.

    A erva-mate era assim transportada de Ponta Por at asmargens do rio Paraguai, numa distncia de 360 quilmetros, mais

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    ou menos. Esse meio de transporte, no entretanto, acarretava e-normes dispndios para a Companhia, com a manuteno de cen-tenares de carretas, oficinas, pessoal e imensa tropa de bois, paraas longas viagens.

    Buscando a administrao da Companhia outra via para aexportao do produto, que fosse mais econmica, organizou aadministrao de Nhuver, sob a direo de Raul Mendes Gonal-ves, e passou a transportar a erva-mate em chatas, pelos canaisnavegveis dos rios Amamba, Iguatemi, Dourados, Brilhante e I-vinhema11, que desguam no Paran. A erva era assim levada aGuara, situada em frente ao mercado da Argentina.

    11. Em verdade, os rios Dourados e Brilhante so os formado-res do Ivinhema, que desgua no Paran. (Nota do editor).

    Nessa fase da sua administrao, a Companhia fez cons-truir rodovias, amplas carreteiras nas matas, para dar acesso aosportos; construiu pontes de madeira para travessia dos rios, re-des telefnicas e uma ferrovia no Paran, ligando Guara ao portoMendes, por onde era feito o transporte da erva.

    Em 1918, foi inaugurada a administrao de Campanrio, quepassou para a gesto do sr. Raul Mendes Gonalves, o qual dedi-cou todos os seus esforos no sentido de nacionalizar a Companhia,de acordo com o que exigiam as leis brasileiras. Mais tarde a Com-panhia passou para a direo do capito Heitor Mendes Gonal-ves. Em Campanrio foi edificada uma vila, com habitaes higini-cas para todos os empregados. Foi construdo o grupo escolar, hos-pital, hotel, armazm, farmcia, jardim, campos esportivos. A vila foidotada de telefone, luz eltrica, enfim, de todo conforto moderno.

    Os trabalhadores empregados na elaborao da erva-mateeram na totalidade paraguaios, provenientes da zona ervateiranorte do Paraguai, e ambientados com o meio selvagem e inspi-to dos caatins12.

    12. Caatins eram os lugares da mata onde se encontrava con-centrao de rvores de erva-mate. (Nota do editor).

    Durante muitos anos teve a Companhia Mate Laranjeiragrande ascendncia13 na situao poltica e econmica do muni-

  • 23Resenha Histrica de Mato Grosso

    cpio de Ponta Por e do Estado de Mato Grosso, para o qual con-tribua, nos primeiros anos da repblica, com um tero da suaarrecadao.

    13. Jos de Melo e Silva, que foi juiz de direito em Ponta Por eBela Vista, escreveu dois livros de indiscutvel importncia paraa histogriografia sul-mato-grossense: FRONTEIRAS GUARANIS(1937) e CANA DO OESTE (1947). Principalmente no primeiro,apresenta extenso estudo sobre a Mate Laranjeira. (Nota doeditor).

    incontestvel que a Empresa Mate desbravou zonas inspi-tas, abriu estradas e portos para o transporte da erva-mate, e quehoje esto entregues ao domnio pblico. Foi ela uma poderosafonte de recursos, que de muito serviu a muitos que a procuraram.Mas a sua zona de arrendamento ultrapassava de muito a reaque devia ocupar; constitua naqueles tempos um vasto monop-lio, abrangendo os limites do atual municpio de Ponta Por, atas margens do rio Paran. Sua longa ocupao muito entravou opovoamento do sul de Mato Grosso.

    Surgiram muitos conflitos e pleitos judicirios, quando co-mearam a chegar as levas de rio-grandenses, que vinham do sul,e procuravam se estabelecer nas terras devolutas do Estado. Osseus requerimentos no obtinham despacho favorvel, diante dosprotestos da Empresa, que explorava toda aquela zona, delimita-da pelos rios Dourados, Ivinhema, Amamba e Paran, fechando area com a fronteira do Paraguai.

    Somente em 1916, o ento presidente do Estado, generalManuel Caetano de Faria e Albuquerque, passou a conceder aosocupantes das terras situadas na zona ervateira o direito de justi-ficao de posse, como preliminar para a aquisio do ttulo defi-nitivo. Naquele ano, houve o conflito entre o presidente do Estadoe a Assemblia Legislativa, constituda na sua totalidade por ele-mentos do Partido Republicano Conservador, que eram favor-veis Empresa Mate, o que deu causa revoluo, que terminoucom a queda daquele partido.

    Decretada a interveno federal em Mato Grosso, realiza-ram-se novas eleies, sendo eleito presidente do Estado o bispo

  • Pedro ngelo da Rosa24

    D. Aquino Correia, apoiado pela corrente do Partido RepublicanoMato-Grossense, chefiada pelo coronel Pedro Celestino. Foram en-to despachados os primeiros ttulos de terras sitas na zona erva-teira, caindo a preliminar exigida, de acordo com os interesses daEmpresa, de que as matas no podiam ser vendidas, partindo asconfrontaes pelas sombras destas.

    O contrato de arrendamento dos ervais foi renovado, porma rea ocupada foi reduzida, e novas posses foram constitudas elegalizadas. Na defesa dos posseiros, muito trabalhou o denodadocausdico dr. Joo Batista de Azevedo, advogado formado pelaFaculdade de Direito de Pernambuco, que se radicou em PontaPor, onde veio a ser chefe municipal do Partido RepublicanoMato-Grossense.

    Contra o arrendamento dos ervais, pela Empresa Mate,muito lutou o dr. Moura Carneiro, pela imprensa, e surgiu tambma rebelio armada, chefiada por Joo Ortt, em 1932, na qual per-deram a vida algumas pessoas, inclusive ele, em conseqnciadaqueles fatos.

    Finalmente, criado o Territrio Federal de Ponta Por, pelogoverno do dr. Getlio Vargas, em 1943, foram definitivamente li-beradas aquelas terras, com a denegao de proviso ao contratode arrendamento dos ervais, e feitas concesses aos posseiros,pelo governador, coronel Ramiro Noronha, o que foi continuadopelo dr. Jos Alves de Albuquerque, ltimo governador, at a ex-tino do Territrio.

    3. Ponta Por. Fundao e distrito.

    a) O primeiro destacamento militar que chega a Ponta Por.

    Procedente de Nioaque, a 1 de julho de 1880, chegava Co-lnia Militar de Dourados, ento comandada pelo capito Ro-gaciano Monteiro de Lima, o alferes Feliciano Ramos Nazar, a-companhado de sua famlia, e que trazia sob suas ordens um des-tacamento do 1 corpo de cavalaria estacionado naquele posto

  • 25Resenha Histrica de Mato Grosso

    militar. O alferes Nazar trazia a misso de ocupar o lugar deno-minado Ponta Por, situado na fronteira com o Paraguai.

    Como a regio, a partir da Colnia do Dourados para o sul,era desabitada e desconhecidos os caminhos pelo alferes Nazare seus comandados, o capito Rogaciano mandou em sua compa-nhia um velho paraguaio, conhecedor do terreno, desde a retiradade Lopez, para gui-lo at Ponta Por.

    Encetada a viagem, a 6 de julho, chegava a expedio smargens de uma lagoa, onde acampou, ao receber a informaodo guia: Es aqui Punta Poran14. Nesse mesmo dia, o alferes Nazariniciou a construo de ranchos, cobrindo-os de colmos de pal-meiras, a fim de abrigar a tropa das intempries do inverno.

    14. Elpdio Reis (em PONTA POR POLCA, CHURRASCO E CHI-MARRO, Rio, 1981, p. 56) explica: Punta em lngua castelhanaquer dizer ponta. Por em linguagem guarani quer dizer bo-nita. Ponta a se referia ponta de mato que se iniciava mar-gem do rio So Joo e que , de fato, bonita. (Nota do editor).

    Passava ali a estrada carreteira que vinha de Amamba (cor-dilheira), e por onde viajavam as tropas de carretas da Compa-nhia Mate Laranjeira, trazendo a erva-mate que era conduzidapara Conceio, no Paraguai, e de onde vinham os recursos ne-cessrios aos seus trabalhadores.

    Por intermdio do sr. Joo Lima, gerente da Companhia,obtinha o destacamento os artigos de que necessitava, tais comoroupas, calados, sal, acar e outros gneros vindos do Paraguai.

    Devido distncia da capital e falta de comunicaes, osvencimentos das praas chegavam a atrasar para mais de um a-no, fato que obrigava o comandante do destacamento a desdobrar assuas atividades a fim de poder suprir a si e a seus comandados,dedicando-se intensamente aos trabalhos da lavoura, que execu-tava pessoalmente, em companhia das praas.

    Fazia j um ano que aqui chegava o destacamento, quando,a 14 de julho de 1881, engalanara-se o lar do alferes Nazar, com onascimento de um menino, que tomou o nome de Boaventura,sendo depois registrado em Nioaque, j que, naqueles tempos,no existia cartrio em toda a extenso desta faixa fronteiria.

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    Boaventura Nazar foi o primeiro filho de Ponta Por, o pri-mognito da terra.

    Em 1892, o destacamento retirou-se para a sua sede, emNioaque, e Boaventura Nazar ali passou sua infncia e juventu-de, somente vindo a conhecer sua terra natal depois de adulto.Seguiu ele a carreira militar, ingressando no Exrcito no ano de1902. A 27 de maio de 1909, foi promovido ao posto de tenente.Fazendo o curso superior de Intendncia de Guerra, foi promovi-do ao posto de capito em 1921, ao de major em 1923, tenente-coronel em 1931 e ao de coronel em 1937. Em 1939, passou parareserva, a pedido, sendo agraciado com a medalha de ouro, pelosservios prestados ao Exrcito.

    b) A fundao de Ponta Por. Joo Antnio da Trindade.

    No ano de 1892, chegava a Ponta Por, o capito Joo Ant-nio da Trindade15, natural da cidade do Rio de Janeiro, veteranoda guerra do Paraguai, e um dos heris da Retirada da Laguna, oqual, em companhia de sua famlia, a fixou residncia. Foi ele o pri-meiro morador que definitivamente se estabeleceu no local ondese formou a povoao que hoje constitui a prspera cidade de PontaPor. Nesse tempo existia no lugar um posto fiscal sob a direode Emlio Calhau, o qual tinha atribuies de arrecadar os impos-tos de exportao da erva-mate, e que algum tempo depois foi ex-tinto. Tambm, nesse tempo, a residiram os senhores OlmpioMonteiro de Lima16 e Maranho, que depois se mudaram, indo o pri-meiro fixar-se nas terras onde constituiu sua fazenda, dedicando-se aos trabalhos de criao de gado. Prximo de Ponta Por exis-tia tambm a fazenda S. Mximo, de D. Maria Joana Pereira (D. Ma-riquinha), viva de um veterano da guerra de 1870, de nome Nelo.

    15. Joo Antnio da Trindade , com freqncia, confundidocom Antnio Incio da Trindade. Joo Antnio, como est regis-trado nesta obra, chegou a Ponta Por em 1892, natural do Riode Janeiro, veterano da guerra do Paraguai e um dos heris daRetirada da Laguna. Estabeleceu-se no local onde se formou apovoao. Nas diversas listas de participantes da Retirada da

  • 27Resenha Histrica de Mato Grosso

    Laguna no aparece o nome de Joo Antnio da Trindade.Faleceu em 1920.

    Por sua vez, Antnio Incio da Trindade nasceu em Cruz Alta(RS), em 1838 e, por volta de 1874, foi contratado por TomsLaranjeira para ser comprador de suprimentos para a empre-sa. Em 1875, Antnio casou-se com Elisa Almeida Melo, daregio de Aquidauana. Estabeleceu-se na regio da fronteira,s margens do Estrela, na fazenda de mesmo nome. Partici-pou da contra-revoluo de Mato Grosso, sob as ordens deJango Mascarenhas, sendo seu tenente-coronel do estado-maior. Na guerra com o Paraguai fora tenente do famoso Cor-po de Voluntrios da Ptria e que havia servido na cavalariagloriosa do general Osrio (Astrio Monteiro de Lima, em MATOGROSSO DE OUTROS TEMPOS PIONEIROS E HERIS, p. 167). Era co-nhecido como Trindade Brabo. Faleceu em Campo Grande em1915. (Ver GENEALOGIA DA FAMLIA TRINDADE, Campo Grande,2000). (Nota do editor).

    16. Olmpio Monteiro de Lima pai de Astrio Monteiro deLima (nascido em 1898), autor de MATO GROSSO DE OUTROSTEMPOS PIONEIROS E HERIS (citado em notas), que retrata asprimeiras dcadas da fronteira. Olmpio, por sua vez, era filhode Rogaciano Monteiro de Lima, que reconstruiu a ColniaMilitar do Dourados em 1880. (Nota do editor).

    O povoamento de Ponta Por teve incio na periferia de umvasto brejo, atoladeiro impenetrvel, que hoje no existe mais,que ia findar na orla de espessa mata virgem, situada aos fundos.Ao norte, delimitava essa zona a cabeceira do crrego S. Joo e aosul a do crrego Estvo. Na frente, a poucos metros de distncia,estavam os marcos de madeira de lei, indicando a linha divisriacom o Paraguai.

    Em Ponta Por passou o capito Joo Antnio da Trindade oresto da sua vida, vindo a falecer a 11 de novembro de 1920. Foiele, naqueles tempos remotos, o homem mais culto do lugar, ca-bendo-lhe importante papel na formao poltica e social do n-cleo que comeava a formar-se.

    A fundao de Ponta Por, como a de tantas outras cidades,no constituiu ato premeditado de ningum, por isso no se lhepode fixar uma data precisa. O lugar foi evoluindo aos poucos, e opovo vinha fixar residncia a, de preferncia, onde mais tarde se

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    estabelecia o comrcio do lado do Paraguai e depois no Brasil,em razo da proximidade da picada do Chirigelo, por onde vinhade Conceio toda a mercadoria necessria ao seu consumo,inclusive o sal para as fazendas de criao, j que naquelestempos no existia outra zona de abastecimento mais prxima,em territrio brasileiro.

    , portanto, indiscutvel que Joo Antnio da Trindade foio pioneiro da formao de Ponta Por. Foi ele o primeiro moradora fixar-se definitivamente no lugar, e que durante muitos anos foidos que mais trabalharam pelo seu progresso e desenvolvimento.

    A partir do ano de 1895, Ponta Por comeou a receber mai-or impulso no seu povoamento com a chegada contnua da gentevinda do Rio Grande do Sul, sendo que muitos traziam suas fam-lias e aqui fixavam residncia, indo outros ocupar os camposdevolutos, onde fundavam fazendas de criao de gado.

    c) Criao do distrito de Ponta Por.A falta de garantias nesta parte da fronteira era completa,

    pela ausncia de autoridades. Desde a retirada do destacamentocomandado pelo alferes Nazar, a zona ficou entregue sua pr-pria sorte.

    Em 1897 chegava a Ponta Por o major do Exrcito Francis-co Marcos Tury Serejo17, velho maranhense, veterano da guerrado Paraguai, comandando um destacamento composto de vintepraas e um sargento do 7 regimento de cavalaria, e mais algu-mas praas da milcia do Estado, o qual passou a administrar aagncia fiscal, cobrando os impostos de exportao da erva-matepara o Paraguai e a reprimir o contrabando.

    17. Francisco Marcos Tury Serejo pai de Hlio Serejo (1912), oincomparvel escritor do mundo ervateiro. O pai foi fazendeiroe, depois, ervateiro. (Nota do editor).

    Trs anos foram passados, quando veio a Resoluo n. 255,de 10 de abril de 1900, do governo do Estado, criando a parquiade Ponta Por, sendo nomeado juiz de paz o senhor Joo Antnio

  • 29Resenha Histrica de Mato Grosso

    da Trindade, que pelo espao de doze anos exerceu o cargo, tendocomo escrives, sucessivamente, os cidados Orcrio Freire, JlioAlfredo Mangini e Policarpo de vila.

    Ponta Por, naqueles tempos, estava subordinada jurisdi-o da comarca de Nioaque e mais tarde passou a constituir dis-trito policial de Bela Vista, quando foi criado aquele municpio18.

    18. Bela Vista foi elevada a municpio em 1908 e a comarca em1910. (Nota do editor).

    Em virtude da Lei (estadual) n. 294, de 11 de abril de 1901,foi criada a primeira escola mista de Ponta Por, e nomeado pro-fessor o sr. Jlio Alfredo Mangini, velho portugus residente nolugar, e com seus direitos j adquiridos de cidado brasileiro, pelagrande naturalizao concedida pela repblica de 1889.

    Ponta Por passou assim alguns anos evoluindo lentamen-te, como sede de um simples distrito de paz e tendo uma escola,que era ento a nica em toda a extenso desta faixa fronteiria.A sua populao comeou a aumentar, mais tarde, com a chegadacontnua dos filhos do Rio Grande do Sul, que aqui vinham fixar-se, como descreveremos no tpico seguinte.

    4. Comeam a chegar a Mato Grosso ascomitivas do Rio Grande do Sul.

    As causas dessa imigrao e sua epopia.Terminada a guerra do Paraguai, em 1870, a zona sul de

    Mato Grosso se tornara conhecida pelos componentes da colunado general Cmara, que operou nas cordilheiras de Amamba eMaracaju, na sua fase final.

    Feita a desmobilizao, os que regressaram sua provncianatal do Rio Grande do Sul levaram a notcia de que aqui existiamcampos devolutos, prprios para a criao de gado, e imensasmatas virgens, onde se encontrava a erva-mate nativa.

    Proclamada a Repblica do Brasil, no ano de 1889, comea-ram as agitaes no Estado do Rio Grande do Sul, entre elemen-

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    tos do Partido Federalista e o Partido Republicano, que apoiava ogoverno. Acirravam-se os dios, com a prtica contnua de atosde vandalismo, e as vinganas recrudesciam de um e outro lado.Culminou a situao com o assassinato do coronel Antnio Josde Moura (protagonista da expedio ao Iguatemi, em Mato Gros-so, descrita pelo visconde de Taunay), e que pertencia s hostesdo Partido Federalista19.

    19. A revoluo federalista (1892-95), no Rio Grande do Sul,fruto da passagem do regime monrquico para o republicano,como em Mato Grosso, foi terrvel: durou 31 meses e fez mais dedez mil vtimas, sem contar os imensos prejuzos materiais(HISTRIA GERAL DO RIO GRANDE DO SUL, de Artur Ferreira Filho).Em Mato Grosso, em 1892, houve a revoluo que deps opresidente Manuel Jos Murtinho. A contra-revoluo, no norte,foi comandada por Generoso Ponce (que afastou do poder os re-volucionrios) e, no sul (a partir de Nioaque), por Jango Mas-carenhas. A respeito, sugere-se a leitura de NIOAQUE EVO-LUO POLTICA E REVOLUO DE MATO GROSSO, de Miguel A.Palermo. (Nota do editor).

    Irrompeu ento a revoluo de 1893, que terminou em 1895,com a vitria dos republicanos. Foi essa luta que constituiu a cau-sa da sada em massa de elementos daquele Estado, que busca-vam outras paragens, levados por motivos polticos ou condieseconmicas, que os obrigavam a buscar outras paragens ondepudessem prosperar e viver em paz e tranqilidade.

    J desde o ano de 1890, estavam radicados no sul de MatoGrosso vrios rio-grandenses, entre os quais citaremos: Davi Medei-ros, Constantino de Almeida20, Jos Leite Penteado, Antnio Falco,Pedro Gomes de Oliveira, Loureiro, Felipe de Brum, Ado de Bar-ros e outros, que constituram posses em vrios pontos desta regio.

    20. Astrio Monteiro de Lima (em MATO GROSSO DE OUTROS TEM-POS PIONEIROS E HERIS) relata a viagem desse gacho. (Notado editor).

    Durante a revoluo de 1893, teve lugar uma grande imi-grao do Rio Grande para a Repblica Argentina, integradapor pessoas que no queriam ser envolvidas na luta impiedosa ecruenta, que tanto dessangrava aquele Estado sulino.

  • 31Resenha Histrica de Mato Grosso

    Ao terminar aquela revoluo, teve incio a sada das cara-vanas que se dirigiam para o sul de Mato Grosso. A luta tinhacausado devastao de vulto nas fazendas, com a matana desor-denada do gado, incndios e saqueio, reduzindo os proprietrios situao de completa misria. E ainda muitos se achavam com-prometidos perante o partido dominante.

    Foi ento que esses brasileiros, levados pelas notcias e porcartas recebidas daqueles que j se achavam em Mato Grosso, sou-beram que aqui havia lugar para todos, e tomaram a resoluo dedeixar os seus pagos e buscar outro rinco da nossa grande ptria.

    A partir do ano de 1895, comearam a aportar s fronteirasde Mato Grosso as levas de rio-grandenses que vinham se radicarneste recanto do solo brasileiro. Desde ento, o sul comeou acrescer e a povoar-se, com a integrao desses elementos, quedefinitivamente se afixavam ao solo.

    Partiam do Rio Grande do Sul as levas que se dirigiam a Ma-to Grosso, qual novas bandeiras, que no mais voltariam aos pa-gos, mas iam ser recolhidas no seio da mesma Ptria, preenchen-do os claros que as esperavam nas fronteiras despovoadas doextremo Oeste do Brasil, em Mato Grosso. Em quase todos os mu-nicpios do Rio Grande do Sul e principalmente em So Lus Gon-zaga e So Borja, organizavam-se as comitivas, compostas de cin-qenta, cem e mais pessoas, onde vinham famlias inteiras, condu-zidas por carretas puxadas a bois, e s quais se agregavam cavalei-ros e at gente que, desprovida de outros recursos, viajava a p.

    Aqueles que possuam casa, terras e outros bens vendiam-nos, invertendo tudo na compra de animais cavalares e formandotropas de mulas, que conduziam atravs de longa e penosa jorna-da, atravessando territrios da Repblica Argentina e Paraguai,para entrar em Mato Grosso.

    Os itinerantes atravessavam o rio Uruguai, dizendo o ltimoadeus aos seus pagos, e entravam na Argentina, pela provnciade Corrientes, seguindo pelo territrio de Misiones, at a capitalPosadas. Dali, transpondo o rio Paran, entravam no Paraguai, emVila Encarnao. De Vila Encarnao, alguns subiam o rio Parane desembarcavam no porto Adela, para entrar em Mato Grosso.

  • Pedro ngelo da Rosa32

    A grande maioria, porm, seguia por terra, fazendo a tra-vessia do territrio paraguaio, passando por Vila Rica e So Pedro,para entrar no Brasil por Ipeum (hoje Paranhos). Outros seguiampor Assuno e Conceio, s margens do rio Paraguai, e dali se-guiam por terra at Horqueta, dirigindo-se pela picada do Chiri-gelo at Ponta Por, e ainda alguns seguiam para Bela Vista, quefoi o caminho de Bento Xavier e seus companheiros. Ao entrar emMato Grosso, contavam os itinerantes com os parcos recursos quelhes sobravam daquela longa e penosa viagem e, valendo-se tam-bm da ajuda dos que j estavam radicados na terra, estabele-ciam residncia nas margens do Amamba, Iguatemi, em PontaPor e Dourados; seguindo outros mais adiante, penetravam naszonas de Aquidauana, Campo Grande e Miranda.

    Muitos tiveram auxlio de seus conterrneos Felipe de Brume Ado de Barros, que j residiam aqui e tinham fazendas de cria-o de gado vacum.

    Na viagem empreendida, que durava de dois a seis meses,percorriam os itinerantes mais de 300 lguas e defrontavam-se osseus componentes com toda a sorte de dificuldades que se possaimaginar. Passavam por dois pases estrangeiros, atravessando ser-tes inspitos, para chegar a Mato Grosso exaustos de todos os re-cursos para encetar nova vida. Na passagem pela Argentina eParaguai, muitas comitivas se viam na contingncia de fazer lon-gas paradas, aproveitando a estao apropriada, para a derrubadade matas e plantio de roas, onde aguardavam as colheitas paraabastecerem-se de vveres, depois do que prosseguiam a viagem.

    No caminho para Mato Grosso tudo era perigo. Os sertesda Argentina, naqueles tempos, eram infestados pelos bandos deGato Moro, clebre bandoleiro, que andava assaltando os viajan-tes e roubando-lhes as tropas que traziam. As feras rondavam osacampamentos noite. Nas pousadas, dentro das matas deser-tas e sombrias, era necessrio fazer rondas a noite inteira, e acen-der grandes fogueiras, a fim de afugentar o ataque do tigre famin-to e traioeiro. Naquela travessia, por onde no existiam cami-nhos, era necessrio abrir picadas, que s vezes tinham que serabandonadas pela natureza do terreno que as tornava intransi-

  • 33Resenha Histrica de Mato Grosso

    tveis, procurando-se outros que pudessem dar acesso passa-gem dos animais e carretas. Continuamente se perdiam animaiscavalares e bois das carretas, o que obrigava os itinerantes afalhar muitos dias nas pousadas, a fim de procur-los.

    As enfermidades tambm acometiam as pessoas da comi-tiva, que no contavam com recursos de espcie alguma paradebelar o mal, de que muitos sucumbiam. Raras vezes, podiamser atendidos pela homeopatia, administrada por algum que jlhes merecia o tratamento de doutor.

    E assim vieram do Rio Grande do Sul para o sul de Mato Gros-so famlias inteiras, milhares de pessoas de todas as classes soci-ais e condies econmicas, muitos federalistas e tambm algunsrepublicanos e neutros, que procuravam seu bem-estar e sua tran-qilidade nestas paragens longnquas do territrio brasileiro. Quaisnovos bandeirantes do sculo XIX, traaram uma epopia nessalonga e penosa travessia, por onde vieram reentrar na nossa grandeptria, vieram povoar estes rinces abandonados e desertos, vieramimbudos pelo sonho que os alucinava, em busca dos campos azu-lneos e recortados de suaves e onduladas coxilhas, orlados pelasmatas verdejantes do planalto da cordilheira de Amamba, onde noexistem o diamante nem o ouro, mas onde constante um climasuave, amenizado pela brisa que sopra do sul. Aqui encontrarama tranqilidade e a fartura, com os duros esforos do seu trabalho.

    Fixaram-se eles ao solo, construindo suas casas, plantandoe criando gado, quando aqui predominava ainda uma populaoadventcia, gravitando em torno da rbita da Empresa Mate.

    5. Demandas sobre a posse das terras dePonta Por e sul de Mato Grosso.

    a) Questo com os herdeiros de D. Elisa Lynch.No ms de abril de 1900, Venncio Solano Lopez, filho do

    marechal Lopez, intentou no juzo federal de Mato Grosso, contraa Unio e o Estado, uma ao ordinria, pela qual pretendia rei-vindicar a posse das terras situadas entre os rios Ivinhema ao

  • Pedro ngelo da Rosa34

    norte, Paran ao leste, Iguatemi ao sul e a serra de Amamba aooeste, num total de 33.175,30 km quadrados.

    O requerente alegava que aquelas terras tinham sido obti-das por sua me, D. Elisa Lynch, a ttulo de compra do governo doParaguai, e que, pelo tratado de limites celebrado entre o Brasil ea Repblica do Paraguai, promulgado pelo Decreto n. 4.911, de27 de maro de 1872, elas haviam passado para o domnio doBrasil. Pretendia o requerente provar seu domnio privado e pediarestituio de todo o territrio ocupado pelo Estado, pagamentode sua utilizao e indenizao dos danos causados.

    Subindo os autos instncia do Supremo Tribunal Federal,este proferiu a sentena em dezembro de 1902, considerando queas referidas terras eram devolutas e, como tais, fazendo parte dopatrimnio da nao e, nos termos do art. 64 da Constituio Fe-deral, passaram a pertencer ao Estado de Mato Grosso.

    b) Pretenso dos herdeiros do baro de Antonina.Toda a regio do sul de Mato Grosso, no ano de 1849, era um

    vasto serto, dominado unicamente pelos ndios selvagens, so-bressaindo-se entre eles, pela ferocidade, os guaicurus, ndioscavaleiros e inimigos de todos. Somente pela regio do norte ha-viam penetrado alguns sertanistas de So Paulo e Paran, afixan-do-se ao solo.

    Naqueles tempos, as terras, que eram todas devolutas, per-tenceriam ao primeiro desbravador que as descobrisse e delastomasse posse, arbitrando a rea pretendida e delimitando-a pe-las guas e outros acidentes naturais.

    Foi nessa poca que o baro de Antonina, influente polticoe senador do Imprio, residente na sua fazenda da Faxina do Ita-peva, situada na comarca de Curitiba, ento pertencendo provn-cia de So Paulo, arquitetou o plano para se apossar das terras do sulde Mato Grosso. Sabia ele que o Parlamento estava elaborando aLei de Terras, que foi promulgada sob o n. 601, de 18 de setembrode 1850, e cuja finalidade era assegurar os direitos de todos quetinham posse efetiva de qualquer rea de terras no pas.

  • 35Resenha Histrica de Mato Grosso

    Planejou o baro de Antonina apossar-se das terras do sulde Mato Grosso, a fim de gozar dos benefcios da lei, assim quefosse promulgada. Para esse fim, incumbiu o sertanista JoaquimFrancisco Lopes, que j havia feito uma excurso a Mato Grosso,que viesse percorrer esta regio, arranjando escrituras feitas porparticulares em que figurassem supostas vendas e cesso de di-reitos em nome do baro de Antonina.

    Joaquim Francisco Lopes veio ao sul de Mato Grosso, acom-panhado de uma comitiva, todos bem armados, e trazendo uten-slios que distribuam com os ndios mais mansos, com os quaispuderam ter contato. Por intermdio dos ndios, obtiveram infor-mao de nomes dos rios e outros informes necessrios. Na comi-tiva vinha tambm um estrangeiro agrimensor e cartgrafo21, afim de confeccionar os mapas.

    21. Trata-se de Joo Henrique Elliott. (Nota do editor).

    De posse dos dados, assim coligidos, alis muito precrios,o preposto do baro de Antonina seguiu para Miranda, e ali man-dou fazer as escrituras, por um tal Lus Pedroso Duarte, em virtu-de das quais os supostos posseiros vendiam as terras, conformeinstrues que recebera.

    Morto o baro de Antonina em 1875, os seus herdeiros fize-ram venda da fazenda Sete Voltas, que era realmente a sua nicaposse legtima em Mato Grosso, ficando as demais glebas aban-donadas, que continuaram a constituir patrimnio do governo doEstado. No ano de 1901, porm, um dos herdeiros do baro reque-reu o registro das terras em questo, ao diretor da repartio deterras do Estado de Mato Grosso.

    Nessa altura, j era interessado no negcio o dr. Joo Tim-teo Pereira da Rosa, engenheiro residindo em Cuiab e encarre-gado da reorganizao de terras e da consolidao das leis sobreo assunto. O pretendido registro foi feito, no governo do Estado,coronel Alves de Barros. Logo a seguir, procedeu-se ao o inven-trio das posses, e vendidas englobadamente ao dr. Joo Abbott,o qual, por escritura posterior, lavrada a 23 de julho de 1906, seconfessou devedor do esplio.

  • Pedro ngelo da Rosa36

    A negociata estava sendo explorada pelos herdeiros do ba-ro de Antonina e apoiada por um poderoso sindicato de capita-listas, que pretendiam se apossar de nove extensas glebas de ter-ras do Estado e que abrangiam quase a totalidade dos municpiosde Ponta Por, inclusive Dourados, Amambai, Bela Vista e Nioaque,avaliadas na extenso de 2.500 lguas quadradas, equivalendo rea do Estado de Santa Catarina ou Paran. Chegaram os preten-dentes de to audaciosa empresa a requerer a penhora das terras,que foi executada, tendo sido a demarcao impedida pelo povo.

    Os posseiros e moradores, homens do povo e pessoas in-fluentes do sul de Mato Grosso, lutaram abertamente contra aconsumao do latifndio. Encabeados pelos senhores Felisber-to Marques, Joo Antnio da Trindade e outros, foram feitos abaixo-assinados, levando o protesto ao governo do Estado e mais tardetambm o advogado dr. Jos Rangel Torres, pelas colunas do OProgresso, muito se debateu pelos direitos do povo contra a in-teno dos herdeiros do baro de Antonina.

    O Estado de Mato Grosso defendeu ento os seus direitos,patrocinados pelo advogado Astolfo Rezende. Feita a prova teste-munhal, foram ouvidos todos os moradores mais antigos da re-gio, e derrubadas perante o Supremo Tribunal Federal, de umavez para sempre, as pretensas reivindicaes da clebre questodas terras do baro de Antonina.

    6. Criao do municpio.Por efeito da lei abaixo transcrita, do Excelentssimo Senhor

    Presidente do Estado, foi criado o municpio de Ponta Por:Resoluo n. 617, de 18 de julho de 1912.O doutor Joaquim Augusto da Costa Marques, Presidente

    do Estado de Mato Grosso:Fao saber a todos os habitantes que a Assemblia Le-

    gislativa decretou e eu sancionei a seguinte resoluo:Art. 1 Fica criado o municpio de Ponta Por, com sede

    na povoao do mesmo nome, que ser desde logo elevada categoria de vila.

  • 37Resenha Histrica de Mato Grosso

    Pargrafo nico. Os limites do novo municpio sero osmesmos do atual distrito.

    Art. 2 O Poder Executivo providenciar como for devi-do, para que se realizem, oportunamente, todos os atos ne-cessrios instalao do novo municpio.

    Art. 3 Revogam-se as disposies em contrrio.Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhe-

    cimento e execuo da referida resoluo pertencer, que acumpram e faam cumprir fielmente.

    Palcio da Presidncia do Estado em Cuiab, 18 de julhode 1912, 24 da Repblica. (L.S.) Joaquim A. da Costa Mar-ques. Manoel Paes de Oliveira.

    a) Instalao.Realizadas as primeiras eleies em Ponta Por, foi eleito

    para o cargo de intendente municipal o sr. Ponciano de Matos, econselheiros municipais os senhores Felisberto Marques, ManuelMoreira, Heliodoro Jos de Almeida, Valncio de Brum e para ocargo de suplente o senhor Joo Maria da Silva.

    A 25 de maro de 1913, com grande solenidade, e compareci-mento do povo e autoridades locais e tambm da vizinha cidade dePedro Juan Caballero, Paraguai, foi instalado o municpio de Ponta Po-r. O fato foi consignado na lavratura da ata, cujo teor o seguinte.

    b) Ata de instalao.Aos vinte e cinco dias do ms de maro de mil novecentos e

    trese, s 10 horas da manh do mesmo dia, neste povoado de PontaPor, comarca de Bela Vista, Estado de Mato Grosso, repblica dosEstados Unidos do Brasil, em casa prviamente alugada para nelafuncionar a Intendncia Municipal, presentes S.S. o Sr. cap. FerminCasco, Leonardo Gupp, Victor Alfaro, Hector Franco, sucessivamenteautoridades de Repblica visinha do Paraguay, sendo o ltimoindustrial, e Francisco Silvino de Camargo, Romario Cabral e AntonioMachado Salgueiro tambm negociante do Paraguay; S. Ex.a o Sr.

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    Coronel Balthasar Saldanha, chefe do Partido Republicano local,o Sr. Ponciano de Matos Pereira, eleito Intendente Municipal donovo Municpio; Valencio de Brum, criador no Municpio; HeliodoroJos de Almeida, tambm criador no Municpio; Manoel Moreira,criador e capitalista no Municpio. Joo Antonio da Trindade, Juizde Paz; Polycarpo de vila, escrivo do Registro de Casamentos Ci-vis, e demais senhores localisados no logar e que firmam a presentecomigo, Ramiro Machado, secretrio nomeado, ouvimos de S. Ex.a

    o Sr. Balthasar Saldanha, que se efetuava a presente instalaodo Municpio, com autonomia propria, sujeita comarca de BellaVista e obedecendo Constituio do Estado, correlata e consci-ente com a da Republica e que fora elevado a esta cathegoria porato do Govrno legislativo do Estado e votado por S. Ex.a o Sr.Presidente, datado de 18 de julho de 1912, sob o nmero 617.

    Ponta Por, 25 de maro de 1913.(Assinados) Fermin Casco, Cap. del Ej. N. del Paraguay; Leo-

    nardo Gupp, cirurjano de la Guarn. del Paraguay. V. Alfaro, Juez dePaz Sup. de la R. del P.; Hector Franco, industrial; Francisco S. Ca-margo, comerciante no Paraguay; Romario Cabral; A. M. Salgueiro;Balthasar Saldanha, chefe do partido local; Ponciano de Mattos Pe-reira, Intendente eleito; Valencio de Brum, Conselheiro Municipal;Heliodoro Jos de Almeida, Conselheiro Municipal; Manoel Moreira,Conselheiro Municipal; J. A. Trindade, Juiz de Paz; Bento de Mattos,Sub-Delegado de Policia do segundo Distrito de Dourados; LydioNunes, Alferes Comte; Joo Maria da Silva; Henrique Carlos Guati-mosin; Jos Alves da Silveira; Joo Gualberto Cabral; Pompilio Azza-lini; Joaquim Silveira Dutra; Sergio Martins; Flaubiano Barros Lei-te; Antonio Fernandes; A. J. Brando; Alfredo de Oliveira Martins;O. Mantilha; Aparicio Martins; Jos Gabriel Martins; Luiz Pinto deMagalhes; Joo da Trindade; Joo Baptista dos Santos; Joo J. daSilva; Amandio de Mattos Pereira; Joo Ferreira; Joaquim Silveirados Santos; Laucidio Paes de Barros; Franklin dos Santos; NelsonMartins; Clodoaldo Biermen; Silvano Paula; Accyndino Sampaio;Joo S. Brando; Gervasio Godoy de Oliveira; Valeriano da Silva Brum;Olavo Souza Vasques; Jos Luis Moreira; Virgilio Antonio Vieira.

    s 10 e 55 minutos da manh, do mesmo dia, fica encerradaa presente sesso, e, em respeito as disposies acima, assinadas

  • 39Resenha Histrica de Mato Grosso

    pelas pessoas presentes. Comigo assina o Sr. Coronel FelisbertoMarques, por ter comparecido depois da abertura da sesso, comseus companheiros.

    Ponta Por, 25 de maro de 1913.(As.) Felisberto Marques; Henrique Fernando dos Santos; Joo

    Escobar Vasques; Constancio A. Almiro; Novembrino Niemayer;Bento de Oliveira Moraes; Antonio H. Bello; Pedro N. Bello; BentoMarques; Carlos Vargas; Marciliano Maciel; Saturnino H. dos San-tos; Miguel Vasconcellos; Manoel Soares da Silva; Ramiro Macha-do, Secretrio.

    Terminada a cerimnia da instalao do municpio, prestoucompromisso o intendente eleito, senhor Ponciano de Matos, en-trando em exerccio do cargo. No mesmo dia teve lugar a primeirareunio do conselho municipal, sendo, por unanimidade de votosescolhido o nome do sr. Felisberto Marques para presidente, o qualprestou o compromisso de estilo, junto aos demais conselheiros.

    Nesse perodo, ocuparam a secretaria da intendncia suces-sivamente, os senhores Ramiro Machado, Joo Antnio da Trinda-de e Afonso de Miranda Kraemer, e no cargo de tesoureiro estive-ram os senhores Emlio Brando e Joo Maria da Silva.

    O oramento para o ano de 1914 consignou a verba de Cr$.......15.000,00 para a receita e Cr$ 15.000,00 para a despesa.

    As primeiras obras mandadas executar pelo intendente domunicpio foram o cemitrio, matadouro e uma ponte na cabeceira docrrego que atravessa uma rua da vila. Tambm comearam osconsertos nas ruas, que eram intransitveis, em virtude dos antigoscaminhos de carretas, e por efeito da eroso das guas pluviais.

    c) Nomeao de autoridades. A visita do Ex.mo Sr. Presidente do Estado.

    Logo aps a criao do municpio, foram nomeadas as au-toridades policiais, sendo a 19 de abril de 1913, empossados ossenhores Lus Pinto de Magalhes no cargo de delegado de polciae Joo Gualberto Cabral no cargo de suplente.

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    A 1 de novembro desse mesmo ano, Ponta Por recebeu avisita honrosa de S. Excelncia, o dr. Joaquim Augusto da CostaMarques, presidente do Estado, que fazia uma excurso22 pelosmunicpios do sul. Sua Excelncia, acompanhado da comitiva pre-sidencial, fazia viagem a cavalo, desde Porto Murtinho, e foi cari-nhosamente recebido pelas autoridades e o povo de Ponta Por,que lhe prestaram as devidas homenagens.

    22. O presidente do Estado chegou a Ponta Por em 31-10-1912.L soube que o contrabando da erva-mate (posto que reduzido)alcanava 1.400.000 quilogramas; a povoao no tinha tel-grafo nem linha de Correios; a correspondncia, na regio, erafeita pelo Correio da Repblica vizinha; constatou que as escolaspblicas de Ponta Por tambm no funcionavam, por falta deprofessores, obrigando as crianas brasileiras a freqentar aulasno lado paraguaio, em lngua castelhana. Visitou, com interesse,as oficinas da Companhia Mate Laranjeira em Santo Toms, adois quilmetros do povoado. (As citaes so do relatrio doprprio presidente). (Nota do editor).

    O dr. Costa Marques demonstrou todo carinho e interessepelo desenvolvimento do novo municpio, a que deu todo apoio nagesto do seu governo. Disse ele, no seu discurso, ao ser recebido pe-las autoridades, povo e alunos da Escola Primria do professor Fran-cisco Faustino de Mecenas: Ponta Por a flor de Mato Grosso.

    Por efeito da Lei n. 658, de 15 de junho de 1914, foram cria-dos dois distritos de paz no novo municpio, compreendendo umos distritos policiais de Amambai e Ipeum, com sede em Nhuver;e outro, abrangendo os dois distritos policiais de Dourados, comsede no patrimnio de Dourados.

    Nesse ano, a estatstica feita pela prefeitura constatava a exis-tncia, em todo o municpio, de 2.325 casas e 17.340 habitantes.

    7. Criao e instalao da comarca.Por efeito da Lei n. 716, de 20 de setembro de 1915, sanci-

    onada pelo presidente do Estado, General Caetano de Albuquerque,ficou o Poder Executivo autorizado pela Assemblia a desapropri-ar firma Laranjeira Mendes & Cia., rea de 3.600 hectares, para