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Cosméticos & Perfumes - Vol. VI - nº 38 - 2005 Introdução O termo encapsulação é derivado do latim cápsula , que significa pequena caixa . Basicamente, a encapsulação consiste em isolar do meio externo, por uma barreira material, ou uma molécula química ou biológica, ou uma partícula sólida, líquida ou gasosa, por um tempo determinado. A diferença entre encapsulação, microencapsulação e nanoencapsulação está no tamanho da cápsula, ou vulgarmente bolinha. Os primeiros registros de tentativas de aplicação da microencapsulação datam dos anos 30, mas o primeiro produto com material encapsulado só surgiu em 1954. A empresa norte-americana Nacional Cash Register foi a pioneira ao comercializar um papel de cópia sem carbono (“no carbon required”). Mas poucos são os usuários que conhecem o princípio em que se baseia o seu funcionamento. Observando a superfície desse tipo de papel nada se apresenta de anormal. Entretanto, ao pressioná- lo com uma caneta, reproduz-se cópia exata do riscado nas demais vias. O fenômeno ocorre porque o verso da primeira via do formulário é revestido por camada de microcápsulas de tinta, contendo solução de 2% a 6% de um pigmento adequado disperso em partículas com diâmetro Encapsulação A técnica de encapsulação de fragrâncias proporciona várias vantagens, sendo amplamente utilizada pela maioria dos fabricantes. Em 2003, desde 1 até 10 micrômetros (µm), invisíveis a olho nu. Ao serem pres- sionadas, tais micro- cápsulas arrebentam, liberando o pigmento que, por contacto direto com o revestimento ácido aplicado na superfície frontal da segunda via, muda de cor em função do pH e propicia a obtenção da cópia. As microcápsulas usadas devem ser suficientemente pequenas para permitir a obtenção de uma imagem bem definida, mas não tanto a ponto de não se romperem pela pressão sofrida. Para protegê-las da ruptura prematura durante a produção do formulário ou pelo manuseio normal, o revestimento inclui também partículas inertes maiores, como o amido, por exemplo. A tecnologia de encapsulação, de forma geral, oferece muitos benefícios e, por isto, as microcápsulas têm várias utilidades. Por exemplo, o tempo de vida útil de um composto volátil pode ser bastante aumentado por microencapsulação, pois a membrana impede a sua evaporação. As microcápsulas podem também proteger um material de 46 46 46 46 46 Cosméticos & Perfumes - Vol. VI - nº 38 - 2005

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Introdução

O termo encapsulação é derivado do latimcápsula , que significa pequena caixa .Basicamente, a encapsulação consiste em isolardo meio externo, por uma barreira material, ouuma molécula química ou biológica, ou umapartícula sólida, líquida ou gasosa, por umtempo determinado. A diferença entreencapsulação, microencapsulação enanoencapsulação está no tamanho da cápsula,ou vulgarmente bolinha.

Os primeiros registros de tentativas deaplicação da microencapsulação datam dos anos30, mas o primeiro produto com materialencapsulado só surgiu em 1954. A empresanorte-americana Nacional Cash Register foi apioneira ao comercializar um papel de cópia semcarbono (“no carbon required”). Mas poucossão os usuários que conhecem o princípio emque se baseia o seu funcionamento. Observandoa superfície desse tipo de papel nada seapresenta de anormal. Entretanto, ao pressioná-lo com uma caneta, reproduz-se cópia exatado riscado nas demais vias. O fenômeno ocorreporque o verso da primeira via do formulário érevestido por camada de microcápsulas de tinta,contendo solução de 2% a 6% de um pigmentoadequado disperso em partículas com diâmetro

Encapsulação

A técnica de encapsulação de fragrâncias

proporciona várias vantagens, sendo amplamente

utilizada pela maioria dos fabricantes. Em 2003,

desde 1 até 10micrômetros (µm),invisíveis a olhonu. Ao serem pres-sionadas, tais micro-cápsulas arrebentam,liberando o pigmentoque, por contacto diretocom o revestimento ácidoaplicado na superfície frontal dasegunda via, muda de cor emfunção do pH e propicia a obtenção dacópia. As microcápsulas usadas devem sersuficientemente pequenas para permitir aobtenção de uma imagem bem definida, masnão tanto a ponto de não se romperem pelapressão sofrida. Para protegê-las da rupturaprematura durante a produção do formulárioou pelo manuseio normal, o revestimento incluitambém partículas inertes maiores, como oamido, por exemplo.

A tecnologia de encapsulação, de formageral, oferece muitos benefícios e, por isto,as microcápsulas têm várias utilidades. Porexemplo, o tempo de vida útil de umcomposto volátil pode ser bastante aumentadopor microencapsulação, pois a membranaimpede a sua evaporação. As microcápsulaspodem também proteger um material de

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de fragrâncias

núcleo dos efeitosda radiação ultra-violeta, umidadeou do contato com

o oxigênio. Tambémas reações químicas

entre duas espéciesativas podem ser evi-

tadas pela separação físicaoferecida pela membrana. A

densidade de um produto pode seraumentada por encapsulação, ou diminuída,

por inclusão de ar na cápsula, ou seja, umsólido denso pode ser convertido por esseprocesso em um produto capaz de flutuar naágua. Pós muito finos podem sermicroencapsulados para reduzir tendênciasde aglomeração. A microencapsulação podeainda modificar a cor, a forma, o volume oua fotossensibil idade da substânciaencapsulada.

A microencapsulação é amplamente usadapela maioria dos fabricantes de detergentes ecosméticos, em produtos sem enxágüe(desodorantes, perfumes e cremes) e emprodutos com enxágüe (shampoos, sabões edetergentes). No caso específico dasfragrâncias, a encapsulação é utilizada para:

- proteger as fragrâncias dos ataquesexternos (ambientes agressivos, estocagem)que podem degradá-las;

- aumentar a sua estabilidade e, conseqüen-temente, sua performance;

- permitir uma liberação progressiva econtrolada.

Essa liberação pode ser imediata (sistemaprimário) ou em duas fases (sistema binário).Em um sistema primário, a fragrância épercebida imediatamente ao se borrifar oproduto ou abrir o pacote de detergente. Nosistema binário, por exemplo, em um produtosem enxágüe para cuidado dos cabelos, afragrância pode ser armazenada em cápsulasde polímero catiônico, que se quebramquando o cabelo é penteado, liberando afragrância. Em um desodorizante do tipobastão (stick), pode se perfumar a massasólida (fragrância primária) e lhe incorporarum perfume encapsulado em uma membranahidrossolúvel que irá liquidificar-se pelo suore, em um segundo tempo, liberar o perfume.Assim, pode-se usar uma variedade deelementos para prolongar (ou mudar) umefeito olfativo nos produtos. A encapsulaçãopermite levar a fragrância no lugar certo, nahora certa.

por exemplo, foram fabricadas 10.000 toneladas

de fragrâncias encapsuladas para as indústrias

de bens de consumo.

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Técnicas distintas emfunção da aplicação.

O termo micropartículas aplicado àliberação controlada é amplo e refere-se a doistipos de estruturas diferentes, microesferas emicrocápsulas. Denominam-se esferas aquelessistemas em que o ativo encontra-se homo-geneamente disperso ou solubilizado no

interior de uma matriz polimérica.Desta forma, obtém-se um

sistema monolítico, onde nãoé possível identificar um

núcleo diferenciado.Microcápsulas, ao con-trário, constituem oschamados sistemas dotipo reservatórios,onde é possível identi-ficar um núcleo dife-renciado, que pode ser

sólido ou líquido. Nestecaso, a substância

encontra-se envolvida poruma membrana, geralmente

polimérica, isolando o núcleo domeio externo.

Os métodos de obtenção são semelhantes,com diferenças no mecanismo de polime-rização.

Na literatura especializada, as micro-cápsulas são definidas como partículas dediâmetro desde 1 até 1000 µm, contendomaterial de núcleo envolvido por membranaespecial, liberando-o na hora desejada. Omaterial do núcleo pode ser constituído depequenas partículas sólidas, gotas de líquidoou quantidades de gás, que no processo deencapsulação são revestidas por um filme oumembrana. Existem vários tipos de estruturafísica de microcápsulas, como as esferasmononucleares ou multinucleares e partículasirregulares multinucleares. As condições defabricação determinam o tipo de cápsularesultante, sendo a esfera mononuclear a maiscomum.

O conteúdo da microcápsula é chamadona literatura técnica de “agente ativo”, “faseinterna” ou “núcleo”. Já ao referir-se aomaterial que forma a parte externa, os textosnormalmente usam os termos “revestimento”,“membrana”, “agente encapsulador”,“carregador”, “casca” ou “concha”. O materialdo núcleo compreende, em geral, 80% a 85%

das cápsulas. As cápsulas também podemapresentar um invólucro duplo, onde cadaparte tem características de solubilidadediferentes.

A substância encapsulada pode ser liberadapor ação mecânica, isto é, por rompimentodas cascas por meio de pressão ou porvariações físico-químicas de temperatura oupH no meio em que as cápsulas se encontram,atuando sobre a membrana.

O material que compõe o envoltório éselecionado em função das propriedadesfísicas e químicas do núcleo e da aplicaçãopretendida. Geralmente, consiste de polímerosnaturais ou sintéticos. A efetividade dofuncionamento da cápsula depende daspropriedades do material da membrana, quenão deve permitir a liberação do conteúdoantes do momento adequado.

As técnicas e processos de microen-capsulação abrangem várias áreas científicasdistintas, incluindo química dos colóides,físico-química, química dos polímeros emateriais e, ainda, tecnologias de suspensão esecagem.

Existem vários métodos para produção demicrocápsulas. A escolha do mais adequado éfeita dependendo da solubilidade do materialdo núcleo e do constituinte da casca; dotamanho de cápsula desejado; da espessura eda permeabilidade ideal da membrana, bemcomo da taxa e forma ideais de liberação.

Os processos de microencapsulaçãopodem ser classificados em químicos emecânicos, a saber:

- processos químicos: coacervação;incompatibilidade polímero-polímero;polimerização interfacial em interfaces líquido-líquido, polimerização in situ; evaporação desolvente; extrusão com bocal submergido;

- processos mecânicos: spray drying; leitofluidizado; polimerização interfacial eminterfaces sólido-gás ou líquido-gás; extrusãocom centrifugação; extrusão ou gotejamentoem um banho de dessolvatação; separação porsuspensão rotacional (spinning disk).

Várias técnicas podem ser usadas para oencapsulamento, sendo as principais:

- Atomização - é a técnica mais simples eque melhor se adapta a produção de grandestonelagens de produtos, tais como no caso dedetergentes e desodorantes; outro processopara encapsulação bastante usado é o de spraydrying. Nele, o líquido a ser encapsulado é

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atomizado em pequenas gotas em uma câmarade secagem por onde passa um fluxo de arquente. Ocorre a secagem das gotas, que setransformam em partículas sólidas minúsculas.Esse processo é usado na fabricação de leiteem pó e sabão em pó para lavar roupas.Quando usado para microencapsulação, omaterial do núcleo é misturado com umasolução aquosa do composto que constitui amembrana, formando uma emulsão. Ao seratomizada dentro do secador, há evaporaçãoda água da solução de agente encapsulante,com a formação da membrana ao redor dasgotas do material nuclear.

- Fluidificação – esse processo, um poucomais técnico, utiliza uma camada de arfluidificada, também é usado para detergentes;

- Extrusão;- Coacervação - técnica usada para

produzir bolinhas de gelatina vegetal e de gomaarábica, endurecidas depois com glutaraldeído(veja o box específico sobre coacervação);

- Polimerização em emulsão - produzcápsulas ocas preenchidas com fragrância, quepodem ser borrifadas sobre um substrato,como as fibras têxteis de meia-calças, porexemplo, (onde podem durar por cinco ouseis lavagens). Outra aplicação comum paraesta técnica são os amaciantes: as cápsulascatiônicas aderem às fibras aniônicas doalgodão (toalhas de mão, por exemplo), antesda secagem ao qual elas resistem. Quando atoalha é usada, as cápsulas são esmagadas,liberando a fragrância. Estas cápsulas depolímero requerem um know-how específico,na medida em que é necessário ter controlesobre o diâmetro e espessura das bolinhas, deforma que a camada exterior não seja nemmuito frágil, nem muito dura: deve quebrarpor simples pressão, ou seja, quebrando sobpouca pressão. A fabricante francesa deroupas intimas Dim (do grupo americano SaraLee), por exemplo, comercializa meia-calças“refrescantes”, nas quais são liberadascápsulas de Frescolat, produzido pela empresaalemã Symrise (faturamento de € 1,1 bilhão,em 2004), quando o tecido esfrega-se na pele.

O domínio dos diâmetros e espessuras naprodução da nova geração de cápsulas de duplacamada é cada vez maior, permitindo assimadaptar a liberação do perfume aos anseios eobjetivos do departamento de marketing dasempresas utilizadoras deste tipo de produto.

Cada fragrância tem sua própria aplicação.

Em linhas derivadas, a composição é ajustadaa aplicação (sabão, desodorizante, leite, etc.).Da mesma forma, deve-se adaptar o perfumeà matéria-prima da cápsula, porque podemocorrer incompatibilidades.

A fórmula da fragrância também deve seradaptada ao material da cápsula, para evitarqualquer incompatibilidade.

Encapsulamento defragrâncias em detergentes

Em detergentes, o encapsulamento permitemanter por mais tempo a qualidade dafragrância. Antes do encapsulamento, odetergente e a fragrância eram misturados emum misturador planetário, o que sempredegradava parte da fragrância. Hoje, com amicroencapsulação de perfumes, pode-seincorporar aos detergentes de qualquer tipo(pó, escamas, tabletes etc.), composiçõesperfumadas mais delicadas, mais hespe-ridadas, com notas mais voláteis, que serãomais tarde melhor restituídas. O mesmoacontece com os produtos para lavar-louças,particularmente agressivos. Nos novosamaciantes, encapsula-se o perfume embolinhas que podem resistir a níveis de pHaltamente ácidos (em torno de 2).

No campo dos detergentes, os vetores deliberação dos ativos dependem de fatores comopH, temperatura, força iônica, umidade, etc.Um exemplo é o encapsulamento defragrâncias nos detergentes em tabletes paralavadoras de louça. Um dos maiores desafiosfoi o de desenvolver cápsulasresistentes à alta pressão que éexercida no processo defabricação dos tabletes,... para não expelir afragrância para fora dotablete!

A norte ameri-cana Rohm e Haas,da Filadélfia, PA,(faturamento deUS$ 7,3 bilhões, em2004) desenvolveuuma tecnologia paraencapsular fragrânciasem microcápsulas (20µm), obtidas por coacer-vação de polímeros aniônicosespeciais e gelatina, que confere

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propriedades plásticas à cápsula. A fragrânciaé liberada, por abrasão, quando as cápsulastêm contato com os pratos, pela força do fluxoda água. Também é possível trabalhar em cimada temperatura de transição vítrea dopolímero para liberar o perfume; a temperaturada água em uma lava-louça de boa qualidade ésempre bastante elevada. Outra aplicaçãodesenvolvida pela Rohm e Haas, é a utilizaçãode desintegrantes de tabletes como vetores defragrâncias. Como proteger e liberar osperfumes em pós e tabletes para lavadoras deroupas? A solução: encher previamente ossuper-absorventes com pequenas quantidadesde perfumes pré-emulsificados, que serãoliberados novamente por diferença de pressão

osmótica no momento da utilização. O vetorde re-liberação baseia-se na diferença depressão osmótica e no enchimento da matriz,dependendo da variação da pressão osmóticae da distensão da matriz. O polímero sintéticoAcusol® 771 OU 772, por exemplo, é capazde absorver até 80 vezes o seu peso em água.Quando é imerso em uma solução aquosacontendo 10 ppm de timol, o polímero inchae encapsula o timol. Em contato com água,libera até 96% do timol na fase aquosa.Normalmente, é incorporado 0,5g defragrância por grama de polímero, quepermanece assim na forma de pó. Quando emcontato com água, incha e desintegra o tablete.Neste campo de aplicação, uma solução

O método de produção de microcápsulasmais estudado, até por ser o mais antigo, é o deseparação de fases, ou coacervação. Nesseprocesso, o material do núcleo é primeiramentesuspenso em uma solução do material queconstitui a parede da cápsula. Depois, opolímero que constituirá a cápsula é induzidoa separar-se como uma fase líquida viscosa.Vários métodos são usados para induzir essaseparação, como a adição de um não solvente,o abaixamento da temperatura ou, ainda, oacréscimo de um segundo polímero comsolubilidade maior no material do núcleo.

A coacervação pode ser de dois tipos:simples, onde a separação da fase líquidaocorre pela adição de um eletrólito à soluçãocoloidal; ou complexa, que resulta daneutralização mútua de dois colóidescarregados com cargas opostas em soluçãoaquosa. Por exemplo, gelatina, positivamentecarregada em pH < 8, forma um coacervatocomplexo com a goma arábica, carregadanegativamente.

O processo de encapsulação porcoacervação começa com espécies coloidaisagregando-se para formar núcleossubmicroscópicos. Esses núcleos coalescempara formar gotas microscópicas. Coalescênciaposterior produz gotas macroscópicas, asquais tendem a separar-se em uma fasecontínua. Se, anteriormente à coacervação, ummaterial imiscível com água, como um óleo, édisperso na forma de gotas diminutas nasolução aquosa do material encapsulador e,então, um eletrólito simples, como sulfato desódio ou outro, carregado com carga opostaao da espécie coloidal, é adicionado parainduzir a coacervação, o material coloidalencapsulador forma ao redor de cada gota deóleo um revestimento líquido. Esses

A coacervaçãorevestimentos devem, depois, ser solidificadospara produzir microcápsulas de paredes sólidas.A figura 3 ilustra esse processo.

Uma das principais desvantagens da técnicade encapsulação por coacervação é o fato deque um controle crítico das concentrações domaterial coloidal e do iniciador da coacervaçãodevem ser mantidos. Isto é, a coacervaçãoocorrerá somente dentro de uma limitada faixade pH, concentração de colóide e/ou concentraçãode eletrólito. Cápsulas em forma de cacho deuva (ou cápsulas polinucleadas) podem serproduzidas se houver limitação na concentraçãode colóide negativo.

Na coacervação simples, se pouco eletrólitoé adicionado, a formação de duas fases nãoocorre; enquanto houver excesso, o colóideprecipitará como um bloco. Com a coacervaçãocomplexa, usando um colóide tendo um pontoisoelétrico determinado, o pH é especialmenteimportante, uma vez que ele deve ser ajustado emantido em valores onde os colóides tenhamcargas opostas.

Produtos micro encapsulados porcoacervação podem ser obtidos em processo porbateladas, compreendendo três etapas,executadas sob agitação contínua. São elas:

1. formação de três fases não miscíveis: umveículo líquido, uma fase de revestimento queconstituirá a casca e um material de núcleo. Omaterial revestidor é dissolvido no veículo e omaterial do núcleo é disperso nessa solução, coma qual é imiscível;

2. indução da coacervação, o que é feito poruma mudança na temperatura e no pH, paraformar um sistema bifásico. Uma vez que orevestimento coacervato é formado, cresce eenvolve o material do núcleo;

3. solidificação do revestimento por

intermédio de uma reação química. É adicionadoum reagente que promove o encadeamento e,conseqüentemente, o endurecimento do materialque constitui a membrana. As cápsulas podementão ser secas, obtendo-se um pó, ou serusadas diretamente como uma suspensão nolíquido carregador.

A secagem das microcápsulas pode serfeita numa corrente de ar, em leito fluidizado,forno, túnel de secagem, liofilização, atomizaçãoou na presença de um agente secante, comosílica, amido ou alumina, depois separado porpeneiramento.

Durante a primeira fase do processo épreciso usar velocidades de agitação muitoaltas para a obtenção de microcápsulas de umtamanho suficientemente pequeno, o que poderepresentar alguns problemas em escalaindustrial, como formação de espuma.

A coacervação pode ser controlada demodo a produzir vários diâmetros demicrocápsulas e/ou espessuras de revestimentodiferentes. O diâmetro da cápsula é em funçãodo tamanho das partículas a seremencapsuladas. No caso de líquidos, o tamanhodas gotas determina o tamanho das cápsulas.Os demais fatores que afetam o tamanho dasmicrocápsulas são:

- velocidade de agitação;- teor de sólidos da fase orgânica;- viscosidade da fase aquosa;- viscosidade da fase orgânica;- concentração e tipo de tensoativo (se

houver);- configuração do vaso e do agitador;- quantidade de orgânicos e fase aquosa;- perfil de temperatura durante a produção.

Por Maria Silvia Martins de Souza

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diferente deve ser encontrada para cadaingrediente ativo e para cada formulação. Paratanto, é preciso dispor de vasta expertise emuma extensa gama de substâncias químicasdisponíveis e em uma variedade de tecnologiasdiferentes.

Amostras: um campo típicopara o encapsulamento

A Árcade Marketing, Inc., de New York, NY,líder mundial em sistemas interativos de amostrasolfativas, foi a pioneira em amostras de perfumebaseadas na microencapsulação; em 1979,inovou com o ScentStrip®, usado na campanhade lançamento do perfume Giorgio Beverly Hills:um imenso sucesso. Seu processo demicroencapsulamento torna possível oferecerdoses pequenas de uma fragrância com muitobom rendimento olfativo. Essa técnica demicroencapsulamento em suporte papel requerum conhecimento profundo das tecnologias deencapsulamento e da própria composição dafragrância; de fato, não é nada fácil reproduzirfielmente em um meio sem álcool, o frescor dasnotas de cabeça e o odor global de uma fragrânciaque foi desenvolvida para ser em base alcoólica!Com o sistema ScentStrip®, os ajustesnecessários para restituir fielmente a fragrânciapodem levar meses. Os perfumistas re-trabalhama fórmula, no mesmo espírito como se fossemdesenvolver uma extensão de linha (do tipodesodorante, creme, etc.), o que envolvetrabalhar com uma base diferente. Essaconsideração especial para o futuro

desenvolvimento de amostras na hora daconcepção do perfume, começa a

ser levado em conta na Europa,mas já é de praxe no

mercado norte-ameri-cano, país onde o

ScentStrip® é exten-samente usado. Asatividades da Arcadenão se limitam aoencapsulamento, masincluem, também, aimpressão do suportee a estabilização da

fragrância na amostra.Este trabalho de

desenvolvimento permitiu aArcade ampliar a sua

tecnologia para outras formas de

suportes, todos os processos da empresa sendopatenteados.

Assim, o ScentStrip® encontra-sedisponível, também, nas versões ScentStrip®Silk e ScentStrip® Plus. O ScentStrip® Silk éum pó microencapsulado que reproduz o efeitoda fragrância quando esfregado na pele, nãodifundindo nenhum odor ao ser aberto. OScentStrip® Plus é uma combinação doScentStrip® clássico e do ScentStrip® Silk,difundindo o odor quando a amostra é aberta eexalando a fragrância em contato com a pele.

Outra inovação é o DiscCover® More, umfilme claro de duas camadas, entre as quaistem um gel perfumado, com excelenterendimento olfativo em contato com a pele.Pode ser aberto e usado até 25 vezes sem perdera fragrância. O MicroDot™ é composto de duasfolhas de papel entre as quais é colocada afragrância em pó microencapsulada. A amostrapode ser aberta várias vezes; a fragrância éliberada através da fricção. O MicroFragrance®

Scratch ‘n’ Sniff é um sistema demicroencapsulamento em tinta; quando o papelé raspado levemente com a unha, asmicrocápsulas liberam a fragrância.

Atualmente, a forma mais amplamente usadana Europa é o LiquaTouch™. Um vetorembebido da fragrância com álcool é presoentre duas folhas de um material específico;ao abrir a embalagem o aplicador perfumadopode ser retirado e passado no corpo,oferecendo assim uma amostra perfeita doproduto.

A Árcade Marketing, Inc. ainda tem no seuportfólio de produtos outras alternativas deapresentação de amostras de perfumes, taiscomo ScentSeal® e AromaLacquer™, semcontar de outros dispositivos especiais deamostras para cosméticos para a pele.

No Brasil é relativamente recente o interessenos processos de microencapsulação. No casodas microcápsulas de essência, usadas naspropagandas de perfumes, o pioneirismo nodesenvolvimento, tanto no processo deobtenção das cápsulas como no da fórmula doverniz na qual elas são veiculadas, foi daCongraf Gráfica e Fotolito Ltda.

Os silicones:algumas vantagens

Já há algum tempo, a Dow Corning vemse interessando pelas propriedades de

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encapsulamento e de interação dos siliconescom os perfumes. Esses compostos foramlongamente estudados pelo valor agregado quepodiam trazer aos produtos cosméticos,particularmente pela agradável sensação tátilque eles propiciam. Os primeiros estudossobre o silicone como vetor para outrassubstâncias, foram direcionados paraingredientes ativos, como vitaminas, perfumese protetores solares.

A Dow Corning Corp., de Midland, MI(faturamento de US$ 3,37 bilhões, em 2004)não somente procurou em seu portfólio astecnologias que podiam ser aplicadas nestecampo, como também estabeleceu parceriascom grandes empresas perfumistas, comoa Takasago International Corporation, paraaprofundar estudos sobre os sil iconescapazes de influenciar o perfil de liberaçãode fragrâncias em uma var iedade deaplicações. Descobriu-se nesses estudos,que os silicones com alto peso moleculartinham efeito prolongador de fragrância.O HMW 2220, da Dow Corning – umaemulsão não iônica, de um copolímero dedivini ldimet icone/dimet icone – podeprolongar o cheiro residual de um shampoopor até seis horas após a secagem doscabelos. Este silicone tem o peso molecularmais alto do mercado. Ainda não se temexplicação para o fenômeno, só se podeemitir uma hipótese a respeito. O filmeformado pela emulsão de silicone, um poucomatricial, orientaria as moléculas de perfumede uma maneira diferente com relação aosfios de cabelo, resultando na liberaçãogradual do perfume.

Os silicones-elastômeros (matriciais)geram o mesmo efeito prolongado deperfume. Os pós tem poder de absorção dosóleos, polares e não polares , muitoimportante, permitindo a fragrância serliberada com o passar do tempo. O poderde absorção vai diminuindo com o pesomolecular e a polaridade do líquido. Essespós, que apresentam um efeito matificante(tirar o brilho), são utilizados em produtostop de linha do tipo cremes faciais e cremespara o corpo. Considerando-se que são deuso dif íc i l em sis temas aquosos,desenvolveu-se uma suspensão deste pó deelastômero, que pode ser usada naformulação de produtos, como shampoos egéis de banho. A terceira variante é um gel

IPT presta serviço emtecnologia de partículas

A formação de partículas constitui aetapa fundamental na produção de sólidosparticulados, bem como na determinaçãode características e propriedades especí-ficas de produtos sólidos. A necessidade deproduzir sólidos com propriedadescontroladas, como pureza, distribuição detamanho, forma cristalina, morfologia,área específica, porosidade, fluidez ecompressibilidade, tem incentivado odesenvolvimento de novos métodos eprocessos na preparação de partículassólidas e na inovação de processosclássicos.

Para prestar serviços às indústrias erealizar pesquisas nessa área, foi criadoem outubro de 1999 o LTP - Laboratóriode Tecnologia de Partículas, do Agru-pamento de Processos Químicos daDivisão de Química do IPT - Instituto dePesquisas Tecnológicas. O LTP atuaavaliando características de produtossólidos e propondo alterações noprocesso de produção para atenderespecificações requeridas.

O laboratório conta com uma equipetécnica capacitada e infra-estrutura paraprestar apoio tecnológico na geração departículas, na caracterização física deprodutos sólidos, no estudo da conformaçãoem escala laboratorial, envolvendooperações de moagem, classificação,empastilhamento, extrusão e granulação ena avaliação de desempenho de partículasem processos de cristalização, precipitação,microencapsulação, secagem por spraydrying, impregnação e tratamento térmico.

Testes de desempenho podem serrealizados em unidades experimentaismulti-propósito para avaliação de efeito devariáveis de processo, como temperatura,pressão, tipo de reator, reagentes,catalisadores e outros.

O laboratório presta, ainda, serviçosde análises de caracterização física deprodutos sólidos, realizando testes dedistribuição granulométrica (faixa de 0,1 a600 µm); densidade aparente; densidadereal; morfologia; fluidez; compressi-bilidade; e resistência à abrasão.

de elastômero, composto de partículas deelastômeros enchidas com um siliconevolátil. Quando este último evapora, parteda fragrância é liberada. De qualquer forma,a liberação de uma fragrância em umaformulação que contém uma destas trêsformas de silicones, dura mais tempo do quese a fragrância for usada sozinha.

Futuro próximo

Não é difícil imaginar cápsulas, cujofuncionamento dependa do pH ou datemperatura (por exemplo, um protetor solarque libera seus ingredientes ativos em doistempos), ou produtos que mudam de estado,produzindo uma sensação de frescor, emtemperaturas quentes, e vice-versa (umdetector no produto permite a microesferaabsorver o excesso de calor ou de frio). Estetipo de produto teria aplicação em produtossolares. Outro produto interessante seria umsistema de perfumo de colorantes paracabelos para camuflar o odor de amoníacoe compostos aminados. E assim comoestas, podemos ainda imaginar muitasoutras....❏