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    Ao Pastoral e trnsito religioso:

    A formao da comunidade eclesialcomo meio efetivo de evangelizao

    Gerson Ruiz Martins Barbosa*

    RESUMO

    No artigo, o autor procura relacionar os temas Ao Pastoral e

    Trnsito Religioso. Baseado no texto do livro Misso Transfor-

    madora de David Bosch, considera a importncia de a igreja co-

    nhecer o novo paradigma ecumnico emergente para os desaios

    que o Trnsito Religioso coloca para a prpria igreja. O artigoapresenta os fatos que caracterizam o fenmeno do Trnsito

    Religioso e suas principais evidncias. Destaca a importncia da

    igreja local na Ao Pastoral e no cumprimento da Missio Dei.

    Como proposta de estratgia para a igreja local o autor apre-

    senta o mtodo do DNI Desenvolvimento Natural da Igreja- de

    Christian Schwarz, para um crescimento saudvel baseado nas

    oito marcas da qualidade.

    Palavras-chave: Trnsito religioso; Misso; Evangelizao; Aopastoral; Desenvolvimento Natural da Igreja.

    * Trabalho de concluso do curso de Teologia (EAD) da Universidade Metodista deSo Paulo, sob orientao do Prof. Ms. Oswaldo de Oliveira Santos Jr.

    E-mail: [email protected] .

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    ABSTRACT

    In the article the author aims to relate the themes of Pastoral

    Action and Religious Transit. Based on the text of the book

    Transforming Mission from David Bosch, he considers the im-

    portance for the church to know the new emerging ecumenicalparadigm for facing the challenges that the Religious Transit

    places to the church itself. The article presents the facts that

    characterize the Religious Transit phenomenon and its main

    evidences. It highlights the importance of the local church in

    the Pastoral Action and in the fulillment of the Missio Dei. As a

    strategy for the local church, the author presents the method of

    the NCD - Natural Church Development from Christian Schwarz

    for getting a healthy growth based on the eight quality marks.Keywords: Religious transit; Mission, Evangelism, Pastoral Action,

    Natural Church Development.

    INTRODUO

    O Censo demogrico 2010 conirmou o movimento no camporeligioso brasileiro, que j se apresentava no Censo de 2000: a queda

    do nmero de iis das igrejas evanglicas de misso1e o crescimentovertiginoso das igrejas pentecostais e neopentecostais. Conirmou tam-bm o crescimento do grupo dos Sem-religio. Esse grupo no neces-sariamente representa os ateus, mas aqueles ou aquelas que, mesmocrendo em Deus, no aceitam a religio e/ou a igreja. Tanto as religiescomo a igreja tm perdido sua credibilidade. Nas igrejas pentecostaise neopentecostais, de um modo geral, observada a compreenso daf como f privatizada2.

    1 A nomenclatura Igrejas Evanglicas de Misso, ou Protestantismo de Misso, refere--se s igrejas procedentes do trabalho missionrio ou proselitista das misses dosculo XIX. Desenvolveram-se com o protestantismo de imigrao com a entrada dasSociedades Bblicas no Brasil e pelas igrejas pioneiras com atividades missionrias:Igreja Metodista Episcopal, Igreja Congregacional, Igreja Presbiteriana, Igreja Batista,Igreja Protestante Episcopal, etc. (MATOS, 2008 apud COELHO, 2009, pg. 5).

    2 F privatizada o fenmeno em que cada um escolhe livremente o que crer, retirandoingredientes das prateleiras disponveis no mercado religioso (KIVITZ, 2011).

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    As igrejas evanglicas de misso, ou protestantes histricas, tmdesenvolvido suas atividades missionrias na compreenso de missobaseada no paradigma iluminista de converter os no cristos. Aindaadotam a cultura ocidental como referncia para o comportamento

    cristo e ignoram expresses de f das diferentes culturas.H tambm diiculdade destas igrejas de engajamento em movi-

    mentos organizados da sociedade de reivindicao popular. Estes mo-vimentos no so vistos como possibilidades de ao missionria. Poroutro lado, a sociedade brasileira tem urgente carncia de lideranascapacitadas para o exerccio de cidadania e prticas de justia.

    No artigo procuramos reletir sobre a Ao Pastoral e o TrnsitoReligioso baseados na compreenso de Misso e Evangelizao confor-

    me anlise de David Bosch. O fenmeno do Trnsito Religioso desaiaas igrejas crists e signiica um sentir do ser humano ps-moderno.Este sentimento, caracterizado pela autonomia e pelo individualismo,pode ter um potencial destrutivo tanto da personalidade do indivduocomo das suas relaes sociais saudveis.

    A igreja local, como locusprivilegiado da Missio Dei,pode serum importante instrumento para contrapor este fenmeno de nossapoca. Para isso ela deve conhecer e agir conforme o novo paradigma

    ecumnico emergente apresentado por David Bosch.O mtodo do DNI - Desenvolvimento Natural da Igreja pode,

    neste sentido, ser o caminho estratgico para a renovao e crescimentosaudvel da igreja local.

    Misso, Evangelizao e o Trnsito Religioso: a histria da Missoe a situao do ser humano.

    A igreja por natureza missionria. No se pode compreendera igreja fora deste contexto, de ser igreja missionria. A f crist in-

    trinsecamente missionria (BOSCH, 2002, p. 26). As palavras de Jesusregistradas no Evangelho de Jo 17. 18 sempre soaram claras igreja:Assim como tu me enviaste ao mundo, tambm eu os enviei ao mun-do. Embora esta ideia, de igreja que est em misso, tenha sido aceitadesde a origem da igreja, no correr dos sculos a atividade missionriafoi empreendida com diferentes compreenses.

    At o sculo XVI, misso foi entendida com base na doutrina daTrindade. Misso era o envio do Esprito Santo pelo Pai e pelo Filho em

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    continuidade misso do Filho. Na Idade Moderna, durante a expansocolonial dos pases do Ocidente, qual estava associada, misso foientendida como o envio de pessoas para lugares distantes. A partir deento o termo misso passou a ser compreendido como difuso da

    f crist entre pessoas que no eram membros da igreja, tanto paracatlicos como para protestantes (BOSCH, 2002, p. 17).

    Durante o sculo XIX foram criadas diversas agncias missionriasnos Estados Unidos e na Europa com o propsito de difundir a f cristnos pases do Terceiro Mundo, quase sempre com a compreenso deexportar a cultura ocidental, tida como superior s culturas dos povoslocais. O modo de viver ocidental era o que proporcionaria melhorqualidade de vida e aqueles que se tornassem cristos deveriam adotar

    a cultura ocidental.No sculo XX, entretanto, icaram patentes as incongruncias tanto

    da cultura ocidental como da compreenso de misso como vinha sendoproposta. E a misso entrou em crise. As crticas provinham no somentede fora da igreja, mas principalmente de dentro da prpria igreja.

    A crise da misso desde o incio do sculo XX pode ser explicadapor diversos fatores, sociolgicos e antropolgicos, como a seculariza-o, o pluralismo do mundo contemporneo, a marca impregnada nos

    trabalhos missionrios de imposio de cultura aliengena e a suspeioda teologia ocidental em muitas partes do mundo (BOSCH, 2002, p. 20).

    Na histria da igreja, em cada poca, paradigmas de carter uni-versal fundamentaram a relexo da ao missionria. A subdiviso dahistria em Cristianismo Primitivo, Patrstica, Idade Mdia, a Reforma,o Iluminismo e a Era Ecumnica, proposta por Hans Kng, ajuda-nosna compreenso dos paradigmas dominantes em cada perodo (BOS-CH, 2002, pg. 235). As pocas de mudana de paradigma signiicaram

    momentos de grandes alteraes na igreja, em sua cosmoviso e naao missionria.

    O atual momento da igreja e da misso, considerado como oim da era moderna, revela ser um destes momentos de mudana deparadigma e nas palavras de David Bosch, necessitamos [...] de umanova viso para sair do atual impasse rumo a uma espcie diferentede envolvimento missionrio (BOSCH, 2002 p. 24). Isto no signiicaque devamos jogar fora tudo o que foi feito, antes, porm, dando con-

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    tinuidade com o melhor daquilo que a misso foi nas ltimas dcadase sculos (BOSCH, 2002, p. 25).

    David Bosch, utilizando-se das anlises de Thomas Kuhn em seulivro As estruturas das revolues cienticas, apresenta-nos diversos

    elementos do paradigma ps-moderno que est nascendo. Para umacorrelao entre o tema da Ao Pastoral e o fenmeno do TrnsitoReligioso, que pretendemos reletir, interessa-nos especialmente oltimo deles, o qual ele denomina A caminho da interdependncia.Este novo elemento revela a descrena do indivduo ps-moderno nasua extrema autonomia.

    Esta total autonomia do indivduo, que um dos elementos doparadigma iluminista, ainda permanece, uma vez que estamos em um

    perodo de transio entre dois paradigmas. A to propagada autonomiatransformou-se para o prprio indivduo em uma negao do prprioser. O ser humano atual sofre aquilo que Sartre airmou: O ser humanoest condenado liberdade.

    As propostas para a superao deste sentimento da total autono-mia do indivduo e, ao mesmo tempo de sua desastrosa consequnciaque a negao do ser, so duas: a reafirmao da convico e docompromisso e a recuperao da proximidade, a simbiose(BOS-

    CH, 2002, p. 435, negrito nosso). Com reairmao da convico e docompromisso entendemos a necessidade de o indivduo assumir umaposio clara e deinida (ou um discurso congruente, nas palavras deCarl Rogers) frente aos questionamentos que se lhe propem. Assumirposio no signiica romper com a tolerncia, porm esta no devesigniicar que vamos de acordo com a onda.

    A segunda proposta, de recuperar a proximidade ou a interde-pendncia, refere-se necessidade de o indivduo participar de um

    organismo, de ter uma convivncia para poder sobreviver. A geraodo eu deve ser substituda pela gerao do ns (BOSCH, 2002, p.435, grifo nosso).

    MISSOEEVANGELIZAO NAPERSPECTIVADEDAVIDBOSCH

    A igreja, em sua compreenso de enviada por Deus para pro-clamao de sua mensagem, para poder comunicar ao homem e

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    mulher ps-modernos neste momento de mudana de paradigma,tem que buscar os elementos de um novo paradigma missionrio. o que David Bosch chama de paradigma missionrio ecumnicoemergente. A igreja somente conseguir transmitir a mensagem do

    Deus Criador, que ama e busca o ser humano, na medida em que seudiscurso conseguir responder aos questionamentos feitos por este serhumano que precisa da reairmao da convico e do compromisso ea recuperao da proximidade.

    So diversos os elementos que delineiam este novo paradigmamissionrio ecumnico emergente. Eles no podem ser vistos comocomponentes distintos e isolados [...]; eles se encontram todos inter--relacionados (BOSCH, 2002, pg. 442). Vamos abordar um pouco alguns

    desses elementos.Primeiramente, a igreja deve ser igreja-com-os-outros. A misso

    no da igreja e sim de Deus; a igreja no envia, mas enviada. Elafaz parte da Missio Dei. Deus missionrio e ele quem sustenta amisso. A misso vista como o voltar-se de Deus para o mundo(SCHMITZ, apud BOSCH, 2002, p. 451). A questo missiolgica tornou-seto importante que hoje se entende que a Teologia depende da Missoe no o contrrio como se pensava at o sculo XX. A igreja tem que

    reencontrar a sua natureza missionria, pois a igreja misso.Do que foi dito acima, entretanto, no deve ser depreendido que

    a igreja tenha que estar continuamente envolvida em projetos missio-nrios. Conforme Bosch,

    preciso distinguir entre a dimensomissionria da igreja e a inten-

    o missionria: a igreja tanto missionria quanto missionante.

    A dimenso missionria da vida de uma igreja local manifesta-se [...]

    quando ela verdadeiramente uma comunidade de culto. [...] evoca umenvolvimento intencional, ou seja, direto na sociedade; [...] transpe os

    muros da igreja e se engaja em pontos de concentrao missionrios,

    como a evangelizao e o trabalho em prol da justia e da paz (BOSCH,

    2002, pg. 447, itlicos e aspas do autor).

    Nesta compreenso eclesiolgica a igreja local assume uma po-sio fundamental. A igreja local o lugar e o agente primordial da

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    misso (BOSCH, 2002, p. 456). Isto no deve negar a importncia dosmissionrios e das missionrias enviadas, entretanto, esses e essasdevem entender que so embaixadores/as da igreja local.

    A misso tambm mediadora da salvao e o carter soterio-

    lgico da misso fundamental em sua ao. A salvao, entretanto,deve ser compreendida de forma abrangente, na modificao de todasituao de marginalizao do ser humano. Na histria mundial,nunca houve tanta oportunidade para se fazer algo contra a pobreza,a misria, doena, criminalidade e o caos social (BOSCH, 2002, pg.478). O modelo para compreender a salvao est na encarnao deCristo, em sua vida terrena e no seu ministrio. E essa compreensoenvolve a inculturao da misso. No desenvolver missionrio, a igreja

    no pode ignorar as culturas, mas compreend-las e nelas envolver-separa assim poder falar do amor de Deus.

    Apesar disso, a igreja no pode pregar a salvao como umaconquista a ser feita neste mundo e por mos humanas. A salvaotem um carter transcendente e igreja cabe proclamar a f em Deusatravs de Cristo. Portanto, a salvao no pode se equiparar a nenhumprojeto poltico intra-histrico. A salvao no advm seno pela viado arrependimento e do compromisso pessoal de f. (WIEDERKEHR

    apud BOSCH, 2002, pg. 479).Misso , na concepo do paradigma ecumnico emergente,

    uma busca por justia. A igreja deve desenvolver seu carter proftico,saindo do mundo das ideias a que icou relegada no Iluminismo e de-nunciar as injustias do mundo tecnicista, de concentrao de renda,da corrupo, e da excluso capitalista, que tem no consumo a nicaforma de vida possvel.

    A busca por justia e o evangelismo andam juntos. A misso

    compreende o evangelismo, pois ela abarca um espectro muito maisamplo de atitudes frente realidade, na qual a igreja deve estar con-textualizada. O evangelismo, por sua vez, a dimenso essencial daatividade global da igreja (BOSCH, 202, pg. 493). O evangelismo otestemunho da igreja daquilo que Deus fez por ela, est fazendo e aindafar. A igreja evangeliza como testemunha e no como juiz. O evange-lismo acontece quando a igreja irradia a f crist e tem um modo de

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    vida notvel. O evangelismo pede a resposta de cada um a respeito dochamado de Jesus ao arrependimento e mudana de vida.

    Os outros elementos do paradigma proposto por David Bosch,igualmente importantes, devem ser considerados integrados no traba-

    lho missionrio: A misso como contextualizao, em suas concepesde libertao e inculturao; como testemunho comum, de carterecumnico com outras igrejas crists; como ministrio por parte detodo o povo de Deus e no apenas dos ordenados; como testemunhoa adeptos de outras religies vivas; como teologia e tambm, missocomo esperana. Cada uma dessas perspectivas responde s indagaesdo homem e da mulher ps-modernos, em um processo que permite areairmao da convico e do compromisso e a recuperao da pro -

    ximidade, a simbiose.

    O TRNSITORELIGIOSOCOMOUMDESAFIOMISSOEEVANGELIZAO

    Embora evangelismo no seja proselitismo, isto no quer dizerque a igreja no deva crescer. O evangelismo, entretanto, envolve umcompromisso de f de cada membro com a igreja local e um testemunhode vida comunitria.

    A anlise de dados de pesquisas sobre o campo religioso brasi-leiro comprova o que estudiosos convencionaram chamar de TrnsitoReligioso. Este fenmeno caracterizado fundamentalmente por doismovimentos: O movimento de pessoas entre as instituies religiosase o movimento das crenas e ideias que circulam entre os diferentesgrupamentos religiosos. Pode, portanto, ser descrito tanto por anlisessociolgicas como antropolgicas (COELHO, 2009, pg. 7).

    O Trnsito Religioso, como fenmeno do sculo XXI, que se ca-

    racteriza pela falta de compromisso do iel com a igreja local e pelafalta do posicionamento claro de uma convico de f, sugere ser umsintoma de que as aes das igrejas no esto baseadas nos elementosdo novo paradigma ecumnico emergente.

    Conirmada essa hiptese, no Brasil as consequncias do para-digma iluminista foram especialmente notadas nas igrejas protestan-tes histricas, ou evanglicas de misso, e podem ser observadas nofenmeno do Trnsito Religioso.

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    Estas igrejas tiveram na ltima dcada taxas de crescimentonumrico negativo (IBGE, 2010). As igrejas pentecostais e neopen-tecostais, por outro lado, apresentaram taxas invejveis, chegando aquase 50% de crescimento, ficando em segundo lugar no grupo das

    maiores religies brasileiras, atrs apenas do catolicismo. Seguindoos pentecostais, tambm com altas taxas de crescimento, veio o gru-po dos chamados Sem religio. E este grupo foi alimentado espe-cialmente por pessoas que saram das igrejas evanglicas de misso(COELHO, 2009, pg. 8).

    Embora o crescimento numrico no seja o nico fator deter-minante do sucesso missionrio, a falta de crescimento revela certofracasso de aes das igrejas protestantes histricas ou de misso.

    Razes deste fracasso podem ser encontradas nas aes missio-nrias baseadas no paradigma iluminista que herdamos de se fazermisso, e que predomina desde o sculo XVIII. Desse modo missio-nrio iluminista devemos manter aquilo que deu certo e buscar umanova viso baseada no paradigma proposto por David Bosch, isto , oparadigma missionrio ecumnico emergente. Precisamos propor sdemandas do homem ps-moderno a criao de um discurso coerentee que possa gerar um compromisso com a comunidade eclesial.

    AOPASTORALECOMUNIDADEECLESIAL

    a. O signi fi cado teolgico da Ao Pastoral

    Para compreenso do signiicado teolgico de ao pastoral po-demos buscar na Bblia as referncias sobre essa igura de linguagem. Natradio judaico-crist a igura do pastor tem um relevante signiicadoteolgico. No ambiente agropastoril foram desenvolvidas as experincias

    e testemunhos de f, e Jahweh, que para os judeus era o Deus da vida, explicado em uma linguagem concreta pela metfora do pastor.

    Dessa igura ns recebemos as caractersticas para uma aopastoral. O pastor de ovelhas tinha com o rebanho uma relao muitoalm do fato de lhe proporcionar subsistncia. Ele tinha com o rebanhouma relao de afeto.

    Jahweh assim retratado nos diferentes gneros literrios doAntigo Testamento. Na Lei, nos Salmos e nos Profetas, Jahweh o pastor

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    por excelncia, pastor verdadeiro que ama o seu rebanho. Jahweh obom pastor e o povo escolhido o seu rebanho.

    Nos eventos histricos narrados no Antigo Testamento Jahwehescolheu pastores para apascentar o seu povo. Alguns pastores no

    foram iis. Foram maus pastores e exploraram o povo. Os profetasdenunciaram as injustias e a situao de sofrimento do rebanho deJahweh. Nessa metfora com signiicado teolgico, ns encontramosquatro funes fundamentais do pastor: guiar, prover, vigiar e estabe-lecer aliana com o rebanho (SILVA, 2002, pg. 152).

    No livro do xodo Deus guia o seu povo pelo deserto; nos livrosprofticos Deus conduz e guia as ovelhas; nos Salmos Davi apresentaseu testemunho de f dizendo: Jahweh o meu pastor [....] guia-me

    mansamente s guas tranquilas. Jahweh, como pastor, ainda provvida para suas ovelhas, vigia para que no sejam destrudas pelospredadores e faz com elas uma aliana. Assim era a relao do bompastor e as ovelhas da antiga Palestina. Jahweh o pastor que guia,prov, vigia e faz aliana.

    No Novo Testamento encontramos em Jesus a igura do supremopastor. Nele as quatro funes do Deus pastor esto presentes plena-mente (SILVA, 2002, pg.159). Jesus v as multides e se compadece de-

    las. Jesus tem outras ovelhas perdidas e precisa busc-las. Achando-as,alegra-se e faz uma festa. Jesus a porta por onde as ovelhas entrame saem e a quem elas reconhecem como pastor.

    Na metfora do pastor encontramos o sentido das aes pasto-rais. Ainda no Novo Testamento encontramos orientaes do apstoloPedro aos presbteros, usando a metfora do pastor para suas aes.Lemos em I Pe 5,1- 4:

    Pastoreai o rebanho de Deus que h entre vs, no por constrangimento,mas espontaneamente, como Deus quer; nem por srdida ganncia, mas

    de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram coniados,

    antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo

    Pastor se manifestar, recebereis a imarcescvel coroa da glria.

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    b. A comunidade eclesial como meio efet i vo de evangel i zao

    A ao pastoral uma ao da comunidade eclesial que preten-de um im especico e para tanto deve ser organizada e executada demodo sistemtico. Ao pastoral pode tambm referir-se s atividades

    do pastor ou da pastora e sobre este aspecto falaremos mais adiante.Na relexo sobre a ao pastoral e a comunidade eclesial, o pano

    de fundo deve ser a Missio Deie essa constituda a servio do Reino deDeus. A igreja local ocupa posio especial na Missio Dei. Ela o locusprivilegiado do desenvolvimento da misso (BOSCH, 2002, pg. 448).

    Assim, a ao pastoral da comunidade no cumprimento da mis-so deve ser entendida como a ao do povo de Deus na realidadecotidiana, onde, na relao tempo e espao, o ser humano se encontra

    (CASTRO in BORTOLLETO FILHO, 2008, pg. 753). Por ter como objetode salvao o mundo criado, a Missio Dei ecumnica e no se limita aqualquer instituio humana, mesmo igreja (SANTOS in BORTOLLETOFILHO, 2008, pg. 668).

    A proclamao do Evangelho, como dimenso essencial da ativi-dade da igreja, o anncio da chegada do Reino de Deus na pessoade Jesus (CSAR in BORTOLLETO FILHO, 2008, pg.407). Esse evento,que proclamado para despertar a f, no pode ser somente procla-

    mao, pois exige uma manifestao em aes pastorais concretas dacomunidade dos que creem. Essas aes pastorais so especialmenteclaras nas palavras de Jesus no texto do Evangelho de Lucas 4,18:

    O Esprito do Senhor est sobre mim, pelo que me ungiu para evan-

    gelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertao aos cativos e

    restaurao da vista aos cegos, para pr em liberdade os oprimidos, e

    apregoar o ano aceitvel ao Senhor.

    A ao pastoral pode se desenvolver tanto interna como exter-namente igreja local. A ao pastoral externa deve combater o queconhecemos por pecado estrutural.

    Segundo Jung Mo Sung, o Pecado Estrutural,

    Revelando que h estruturas sociais, econmicas, polticas ou culturais

    que so pecaminosas - produzem sofrimentos, opresses, o mal - pelo

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    prprio funcionamento da sua lgica, quase que independente das in-

    tenes das pessoas envolvidas nestas estruturas (SUNG, 2008).

    As aes pastorais podem ter carter de auxlio ao desamparado.

    So: Pastoral do Menor, Pastoral Carcerria, da Mulher e outras vrias,assim conhecidas na Igreja Catlica. Nos meios protestantes essas aesso mais conhecidas como Ministrios. Ministrios com meninos derua, de ao social, com dependentes qumicos, so alguns exemplos.Em sua ao externa a igreja deve seguir o elemento do paradigmamissionrio emergente de David Bosch, que igreja-com-os-outrosao invs de igreja-para-os-outros.

    Essas aes, entretanto, aliviam os efeitos do pecado estrutural,

    mas no combatem suas causas, que esto na lei do mercado e nacorrupo. A ao da comunidade deve, ento, ter um carter profti-co, denunciando a explorao e opresso. Buscar um posicionamentopoltico claro e formas de atuao que combatam o contexto opressor,sem se deixar levar por propostas demaggicas que, uma vez adotadasmantm o mesmo regime de escravido.

    Internamente, na comunidade eclesial, as aes pastorais de-vem ser dirigidas formao dos seus membros. Manifestam-se nos

    ministrios de louvor, de liturgia, na administrao, na tica crist eainda outros ministrios com propsitos de fortalecimento da f, dacomunho, de conhecer a realidade social e os problemas que impedemo avano do reino de Deus.

    Segundo Clvis Pinto de Castro,

    Cabe s pastorais especicas considerar o carter multidimensional da

    misso da Igreja, ou seja, devem reletir as vrias dimenses pastorais

    da vida e misso de uma igreja local: litrgico-celebrativa, diaconal,querigmtica, ecumnica, sacramental, teraputica (cuidar do ser),

    educativo-pedaggica e administrativo-organizacional (CASTRO in

    BORTOLLETO FILHO, 2008, pg. 754).

    De fundamental importncia na ao pastoral que ela seja base-ada na relao dialtica entre a teoria e a prtica, ou entre a Teologia ea prtica. aprxis que, no exercer da prtica, exige uma nova relexo

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    e refaz a sua Teologia para uma prtica renovada. A ao pastoral deveser dialtica, mas tambm dialgica. Como mensageira em um mundoplural a igreja tem que estar continuamente avaliando a resposta suamensagem, considerando receber tambm um aprendizado. A ao

    pastoral implica num trabalho de inculturao (CASTRO in BORTOL-LETO FILHO, 2008, pg. 753).

    No contexto interno da comunidade eclesial o pastor ou pas-tora assume um relevante papel na conduo do rebanho que lhe foidesignado/a. A ao pastoral, embora ao da comunidade como umtodo, deve tambm ser exercida pelo pastor ou pastora conforme omodelo bblico. Guia, prov, vigia e faz alianas com o rebanho, ematitude amorosa, como quem quer salvar seu rebanho. Ele ou ela ajuda

    a comunidade no cumprimento da Missio Dei.Deve trabalhar em relaodialgica com a comunidade, ensinando e aprendendo, utilizando-sedas prticas de uma pedagogia libertadora (FREIRE, 1967). Somenteuma igreja local forte, consciente de seu papel transformador, pode teruma ao missionria eicaz na promoo do Reino de Deus.

    O pastor ou pastora deve buscar continuamente para si prprio/auma formao multidisciplinar para ajudar a comunidade a crescer demodo saudvel, comprometida com a ao missionria, no apenas

    transformada, mas transformadora. Para estas tarefas o modelo deChristian Schwarz do Desenvolvimento Natural da Igreja pode prestargrande contribuio.

    c. As fer ramentas do Desenvolvimento Natu ral da I greja

    No paradigma iluminista o objetivo da misso baseia-se naquantidade de pessoas convertidas e deine seu sucesso no nmerode almas salvas. Esse paradigma ainda exerce muita inluncia nas

    igrejas. Entende-se que as igrejas bem sucedidas so as mega- igrejas,onde a quantidade de adeptos representa as converses indicadas nolivro de Atos dos Apstolos. No entanto, o que muitas vezes se observanas megaigrejas o ativismo, em que o crescimento numrico umim em si mesmo, e/ou a privatizao da f. A privatizao da f apreocupao individualista com o sucesso na vida terrena, (proissio-nal, inanceiro, amoroso) e o Reino dos Cus como objetivo colocadopost-mortem.

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    O objetivo da quantidade tem se revelado falho na formao dascomunidades missionrias e Christian Schwarz prope que no hcrescimento saudvel se no houver o desenvolvimento das marcasde qualidade da igreja. Ele se ope ao movimento de crescimento de

    igrejas, no qual o crescimento numrico o alvo a se atingir. Nesse mo-vimento prevalece o modo tecnocrtico de pensar, em que as pessoaspretendem fazer aquilo que s Deus pode fazer (SCHWARZ, 2010, pg. 8).

    O modo tecnocrtico ignora os meios que Deus dispe igrejapara o crescimento e aqueles que dele se servem tentam faz-la crescercom seus prprios esforos. O Desenvolvimento Natural da Igreja DNI chama-se natural porque,

    Estamos redescobrindo as leis da natureza na sua aplicao ao funcio-namento da Igreja. Isso signiica liberar os mecanismos automticos

    de crescimento com que Deus equipou a Igreja, em vez de tentar fazer

    tudo por esforos prprios (SCHWARZ, 2010, pg. 9).

    Embora alguns possam argumentar que esse mtodo e os pro-cedimentos de anlise adotados estejam baseados em teologia naturalou at mesmo no esoterismo, h em toda a sua apresentao metodo-

    lgica uma slida fundamentao bblico-teolgica, pneumatolgica ecristocntrica. Um exemplo da Bblia, para se entender esse ferramentalanaltico, est nas palavras de Jesus olhai os lrios do campo; vejamcomo eles crescem (SCHWARZ, 2010 , pg. 13, traduo livre nossado texto bblico). Outro texto fundamental, importante para o DNI, quando Paulo escreve aos corntios dizendo: Eu plantei, Apolo regou;mas o crescimento vem de Deus.

    Desenvolvimento Natural da Igreja a liberao das foras de

    crescimento com as quais Deus ediica sua igreja (SCHWARZ, 2010, pg.15). Esse mtodo desenvolvido aps mais de dez anos de pesquisas emmais de 50.000 igrejas diferentes espalhadas pelo mundo (70 pases)baseia-se em pesquisas empricas, na observao da natureza e emestudos dos textos bblicos (SCHWARZ, pg. 15).

    O objetivo missionrio proclamar as Boas Novas de Deus emJesus Cristo. Como j airmado, a igreja local o locusprivilegiadoda misso. Neste entendimento desenvolvido at aqui, tm as igrejas

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    missionrias e igrejas que crescem marcas de qualidade comuns queas identiicam?

    Christian Schwarz e sua equipe do DNI baseados em suas pes-quisas empricas deiniram oito marcas de qualidade que caracterizam

    as igrejas que crescem.Ao invs de copiar modelos de igrejas que crescem, o mtodo

    do DNI baseia-se em princpios e compreende duas etapas: a deduodos princpios das igrejas que crescem e a aplicao particular dessesprincpios por cada igreja (SCHWARZ, 2010, pg. 19). O mtodo do DNIno aceita o axioma do movimento de crescimento de igrejas que dizque igreja que cresce igreja sadia. Nem toda igreja que cresce uma igreja sadia. Com essa anlise foram deinidas quatro categorias

    de igrejas: de qualidade alta, de qualidade baixa, igrejas que cresceme igrejas em declnio.

    Num quadrante cartesiano foram representados os resultados dapesquisa revelando a efetividade das oito marcas da qualidade no cres-cimento das igrejas. O resultado mostrou como cada uma das categoriasde igrejas responde quando confrontadas com as marcas da qualidade.

    A primeira das marcas da qualidade das igrejas que crescem que elas tm Lideranas capacitadoras. Seus lderes concentram seus

    esforos em capacitar outras pessoas para o ministrio. Segue-se a essa,a segunda marca da qualidade que o Ministrio orientado para osdons. Neste aspecto a igreja aproveita os seus talentos para melhordesenvolver sua vocao missionria.

    A terceira marca a Espiritualidade contagiante. Vemos aquia oportunidade de a igreja local exercer seu carter ecumnico, poisno so debatidas questes teolgicas ou de nfases, ou ainda admi-nistrativas, mas a adorao ao Deus nico.

    A igreja como organismo social necessita de organizao e paraisso precisa de Estruturas eicazes. Esta a quarta marca da quali-dade das igrejas que crescem. Vemos em nossas igrejas diversos depar-tamentos e organizaes internas, porm pouco eicazes. So criadosmuitas das vezes para manter a tradio e no so persistentes nosobjetivos da organizao.

    O Culto inspirador a quinta marca da qualidade e para nsum importante fator para ixar o iel em um compromisso com a co-

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    munidade. Como a igreja no est presa a um prdio, ou a um local,a sexta marca da qualidade das igrejas que crescem a existncia dePequenos grupos. Christian Schwarz considera essa a mais importantemarca para o crescimento da igreja.

    Na stima marca experimentamos o conceito de David Bosch deigreja-com-os-outros. a Evangelizao orientada para as necessida-des. E, a oitava e ltima marca da qualidade so os Relacionamentosmarcados pelo amor fraternal. A pergunta da pesquisa para identiicaressa marca de qualidade a conirmao da airmao: Na nossa igrejans rimos muito. Sim ou No? Nessa marca da qualidade ns vemoso elemento do paradigma de David Bosch que atende a recuperaoda proximidade, a simbiose, pleiteada pelo ser humano ps-moderno.

    Nenhuma dessas marcas da qualidade pode faltar igreja. Toda equalquer igreja que quiser crescer em qualidade e quantidade precisater essas oito marcas da qualidade das igrejas que crescem. Nesseprocesso de desenvolvimento da igreja local ns entendemos o desen-volvimento missionrio.

    O DNI no somente apresenta as marcas da qualidade, mas tambmos procedimentos para desenvolv-las. Para isso utiliza-se da espiral docrescimento. Essa ferramenta baseia-se na avaliao dos ndices de qua-

    lidade das oito marcas da igreja. Dessa forma determina-se o seu fatormnimo. O fator mnimo o menor dos ndices das marcas da qualidade.Portanto, a primeira marca da qualidade que deve ser trabalhada.

    Uma vez feita a anlise da situao de qualidade da igreja, aigreja local dever utilizar das seis foras de crescimento que Deusdisponibilizou para que ela cresa de modo automtico. Essas forasso princpios que governam qualquer tipo de vida, incluindo o or-ganismo que a igreja. So elas: Interdependncia, Multiplicao,

    Transformao de energia, Sustentabilidade, Simbiose e Frutiicao.As foras do crescimento de Deus so os princpios adotados pelo DNI.Os princpios do DNI so praticamente o contrrio do que geralmente considerado certo na maioria das igrejas (SCHWARZ, 2010, pg. 82).

    Em nossas igrejas encontramos dois polos (paradigmas) de pen-samento e em geral as pessoas se encontram em um dos polos e noconseguem compreender aqueles que pensam conforme o outro polo(paradigma). Christian Schwarz chamou estes polos de esttico e din-

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    mico. Para ele, os dois polos precisam interagir de modo equilibrado,em uma relao dupla. Um produz o outro que estimula o primeiro.Neste processo atua o Esprito Santo fazendo a igreja crescer, proclamaras Boas Novas, agir pastoralmente e executar a Missio Dei.

    O Desenvolvimento Natural da Igreja um mtodo totalmentenovo, uma forma diferente de se pensar o cristianismo. Exige um novoparadigma de pensamento, o paradigma do DNI. Um paradigma quese ajusta plenamente s propostas de David Bosch para o mundo ps--moderno, o novo paradigma ecumnico emergente.

    CONSIDERAESFINAIS

    Esse artigo procurou inter-relacionar, ainda que de modo intro-dutrio, os temas da Ao pastoral e Trnsito religioso, tendo comobase terica o texto de David Bosch, Misso Transformadora. Procuroumostrar que a compreenso de Misso sempre esteve condicionada aparadigmas universais, e que os perodos de mudanas de paradigmassempre representaram grandes revolues na compreenso de Misso.Nesses perodos a igreja teve seus momentos de crise e de grandesavanos. As crises representaram momentos de oportunidade para o

    avano da igreja.Vivemos nos dias de hoje uma mudana de paradigma entre a

    poca moderna e a ps-moderna e consideramos que muitas igrejasainda tm baseado suas aes no paradigma moderno ou iluminista queno atende s demandas do indivduo ps-moderno. Para o ps-mo-derno que est nascendo, a igreja precisa adotar um novo paradigmamissionrio, que o missionrio ecumnico emergente, proposto porDavid Bosch o qual prope que a igreja esteja envolvida nos problemas

    sociais, econmicos e polticos que aligem o ser humano ps-moderno,proclamando o Evangelho do Reino de Deus que se manifesta nas lutaspor justia, contra a excluso e na defesa do meio ambiente. E nesseprocesso a igreja local tem importncia fundamental.

    Vimos que o Trnsito Religioso representa um desaio s igrejas,na medida em que destri as bases de uma f comprometida e tam-bm a identidade discursiva do iel com o Reino de Deus. Vimos que oser humano ps-moderno est isolado em sua excessiva autonomia e

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    precisa da recuperao da proximidade e de um discurso airmativo.A relexo sobre a Misso com base no novo paradigma ecumnicoemergente ser o motor para as aes missionrias das igrejas emnossa poca.

    As aes pastorais devero ser compreendidas como aes daigreja na sociedade e como igreja com os outros. Uma nova visoecumnica tolerante, dialgica, dever dominar o pensamento doscristos para poderem cumprir a Missio Dei. Somente desse modo aigreja poder alcanar uma evangelizao efetiva.

    O mtodo desenvolvido por Christian Schwarz e sua equipe como Desenvolvimento Natural da Igreja- DNI representa uma grande fer-ramenta no crescimento qualitativo e quantitativo em nossas igrejas. A

    formao de pastores e pastoras capacitados e orientados por esse m-todo poder mudar o rumo do movimento do campo religioso brasileiro.

    REFERNCIAS

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