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TÍTULO VI Das Várias Espécies de Contrato CAPÍTULO I Da Compra e Venda Seção I Disposições Gerais Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço. Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir contrato aleatório. Art. 484. Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas correspondem. Parágrafo único. Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se houver contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a coisa no contrato. Art. 485. A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa. Art. 486. Também se poderá deixar a fixação do preço à taxa de mercado ou de bolsa, em certo e determinado dia e lugar. Art. 487. É lícito às partes fixar o preço em função de índices ou parâmetros, desde que suscetíveis de objetiva determinação. Art. 488. Convencionada a venda sem fixação de preço ou de critérios para a sua determinação, se não houver tabelamento 1

5 - Código Civil - Dos Contratos - 21p(1)

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Código Civil - dos contratos

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TTULO VIDas Vrias Espcies de Contrato

CAPTULO IDa Compra e Venda

Seo IDisposies Gerais

Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domnio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preo em dinheiro.

Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se- obrigatria e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preo.Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficar sem efeito o contrato se esta no vier a existir, salvo se a inteno das partes era de concluir contrato aleatrio.

Art. 484. Se a venda se realizar vista de amostras, prottipos ou modelos, entender-se- que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas correspondem.

Pargrafo nico. Prevalece a amostra, o prottipo ou o modelo, se houver contradio ou diferena com a maneira pela qual se descreveu a coisa no contrato.

Art. 485. A fixao do preo pode ser deixada ao arbtrio de terceiro, que os contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro no aceitar a incumbncia, ficar sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa.

Art. 486. Tambm se poder deixar a fixao do preo taxa de mercado ou de bolsa, em certo e determinado dia e lugar.

Art. 487. lcito s partes fixar o preo em funo de ndices ou parmetros, desde que suscetveis de objetiva determinao.

Art. 488. Convencionada a venda sem fixao de preo ou de critrios para a sua determinao, se no houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se sujeitaram ao preo corrente nas vendas habituais do vendedor.Pargrafo nico. Na falta de acordo, por ter havido diversidade de preo, prevalecer o termo mdio.

Art. 489. Nulo o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbtrio exclusivo de uma das partes a fixao do preo.

Art. 490. Salvo clusula em contrrio, ficaro as despesas de escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradio.Art. 491. No sendo a venda a crdito, o vendedor no obrigado a entregar a coisa antes de receber o preo.

Art. 492. At o momento da tradio, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preo por conta do comprador.

1oTodavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assinalar coisas, que comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou assinalando, e que j tiverem sido postas disposio do comprador, correro por conta deste.

2oCorrero tambm por conta do comprador os riscos das referidas coisas, se estiver em mora de as receber, quando postas sua disposio no tempo, lugar e pelo modo ajustados.

Art. 493. A tradio da coisa vendida, na falta de estipulao expressa, dar-se- no lugar onde ela se encontrava, ao tempo da venda.Art. 494. Se a coisa for expedida para lugar diverso, por ordem do comprador, por sua conta correro os riscos, uma vez entregue a quem haja de transport-la, salvo se das instrues dele se afastar o vendedor.Art. 495. No obstante o prazo ajustado para o pagamento, se antes da tradio o comprador cair em insolvncia, poder o vendedor sobrestar na entrega da coisa, at que o comprador lhe d cauo de pagar no tempo ajustado.

Art. 496. anulvel a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cnjuge do alienante expressamente houverem consentido.Pargrafo nico. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cnjuge se o regime de bens for o da separao obrigatria.

Art. 497. Sob pena de nulidade, no podem ser comprados, ainda que em hasta pblica:

I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados sua guarda ou administrao;

II - pelos servidores pblicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurdica a que servirem, ou que estejam sob sua administrao direta ou indireta;

III - pelos juzes, secretrios de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventurios ou auxiliares da justia, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juzo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade;

IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados.

Pargrafo nico. As proibies deste artigo estendem-se cesso de crdito.

Art. 498. A proibio contida no inciso III do artigo antecedente, no compreende os casos de compra e venda ou cesso entre co-herdeiros, ou em pagamento de dvida, ou para garantia de bens j pertencentes a pessoas designadas no referido inciso.

Art. 499. lcita a compra e venda entre cnjuges, com relao a bens excludos da comunho.Art. 500. Se, na venda de um imvel, se estipular o preo por medida de extenso, ou se determinar a respectiva rea, e esta no corresponder, em qualquer dos casos, s dimenses dadas, o comprador ter o direito de exigir o complemento da rea, e, no sendo isso possvel, o de reclamar a resoluo do contrato ou abatimento proporcional ao preo.

1oPresume-se que a referncia s dimenses foi simplesmente enunciativa, quando a diferena encontrada no exceder de um vigsimo da rea total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais circunstncias, no teria realizado o negcio.

2oSe em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos para ignorar a medida exata da rea vendida, caber ao comprador, sua escolha, completar o valor correspondente ao preo ou devolver o excesso.

3oNo haver complemento de rea, nem devoluo de excesso, se o imvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referncia s suas dimenses, ainda que no conste, de modo expresso, ter sido a vendaad corpus.Art. 501. Decai do direito de propor as aes previstas no artigo antecedente o vendedor ou o comprador que no o fizer no prazo de um ano, a contar do registro do ttulo.Pargrafo nico. Se houver atraso na imisso de posse no imvel, atribuvel ao alienante, a partir dela fluir o prazo de decadncia.

Art. 502. O vendedor, salvo conveno em contrrio, responde por todos os dbitos que gravem a coisa at o momento da tradio.

Art. 503. Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma no autoriza a rejeio de todas.Art. 504. No pode um condmino em coisa indivisvel vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condmino, a quem no se der conhecimento da venda, poder, depositando o preo, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadncia.Pargrafo nico. Sendo muitos os condminos, preferir o que tiver benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinho maior. Se as partes forem iguais, havero a parte vendida os comproprietrios, que a quiserem, depositando previamente o preo.

Seo IIDas Clusulas Especiais Compra e Venda

Subseo IDa Retrovenda

Art. 505. O vendedor de coisa imvel pode reservar-se o direito de recobr-la no prazo mximo de decadncia de trs anos, restituindo o preo recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o perodo de resgate, se efetuaram com a sua autorizao escrita, ou para a realizao de benfeitorias necessrias.

Art. 506. Se o comprador se recusar a receber as quantias a que faz jus, o vendedor, para exercer o direito de resgate, as depositar judicialmente.

Pargrafo nico. Verificada a insuficincia do depsito judicial, no ser o vendedor restitudo no domnio da coisa, at e enquanto no for integralmente pago o comprador.

Art. 507. O direito de retrato, que cessvel e transmissvel a herdeiros e legatrios, poder ser exercido contra o terceiro adquirente.Art. 508. Se a duas ou mais pessoas couber o direito de retrato sobre o mesmo imvel, e s uma o exercer, poder o comprador intimar as outras para nele acordarem, prevalecendo o pacto em favor de quem haja efetuado o depsito, contanto que seja integral.

Subseo IIDa Venda a Contento e da Sujeita a Prova

Art. 509. A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condio suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e no se reputar perfeita, enquanto o adquirente no manifestar seu agrado.

Art. 510. Tambm a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condio suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idnea para o fim a que se destina.

Art. 511. Em ambos os casos, as obrigaes do comprador, que recebeu, sob condio suspensiva, a coisa comprada, so as de mero comodatrio, enquanto no manifeste aceit-la.

Art. 512. No havendo prazo estipulado para a declarao do comprador, o vendedor ter direito de intim-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que o faa em prazo improrrogvel.

Subseo IIIDa Preempo ou Preferncia

Art. 513. A preempo, ou preferncia, impe ao comprador a obrigao de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelao na compra, tanto por tanto.

Pargrafo nico. O prazo para exercer o direito de preferncia no poder exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for mvel, ou a dois anos, se imvel.Art. 514. O vendedor pode tambm exercer o seu direito de prelao, intimando o comprador, quando lhe constar que este vai vender a coisa.

Art. 515. Aquele que exerce a preferncia est, sob pena de a perder, obrigado a pagar, em condies iguais, o preo encontrado, ou o ajustado.

Art. 516. Inexistindo prazo estipulado, o direito de preempo caducar, se a coisa for mvel, no se exercendo nos trs dias, e, se for imvel, no se exercendo nos sessenta dias subseqentes data em que o comprador tiver notificado o vendedor.

Art. 517. Quando o direito de preempo for estipulado a favor de dois ou mais indivduos em comum, s pode ser exercido em relao coisa no seu todo. Se alguma das pessoas, a quem ele toque, perder ou no exercer o seu direito, podero as demais utiliz-lo na forma sobredita.

Art. 518. Responder por perdas e danos o comprador, se alienar a coisa sem ter dado ao vendedor cincia do preo e das vantagens que por ela lhe oferecem. Responder solidariamente o adquirente, se tiver procedido de m-f.

Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social, no tiver o destino para que se desapropriou, ou no for utilizada em obras ou servios pblicos, caber ao expropriado direito de preferncia, pelo preo atual da coisa.

Art. 520. O direito de preferncia no se pode ceder nem passa aos herdeiros.

Subseo IVDa Venda com Reserva de Domnio

Art. 521. Na venda de coisa mvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, at que o preo esteja integralmente pago.

Art. 522. A clusula de reserva de domnio ser estipulada por escrito e depende de registro no domiclio do comprador para valer contra terceiros.Art. 523. No pode ser objeto de venda com reserva de domnio a coisa insuscetvel de caracterizao perfeita, para estrem-la de outras congneres. Na dvida, decide-se a favor do terceiro adquirente de boa-f.

Art. 524. A transferncia de propriedade ao comprador d-se no momento em que o preo esteja integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir de quando lhe foi entregue.

Art. 525. O vendedor somente poder executar a clusula de reserva de domnio aps constituir o comprador em mora, mediante protesto do ttulo ou interpelao judicial.

Art. 526. Verificada a mora do comprador, poder o vendedor mover contra ele a competente ao de cobrana das prestaes vencidas e vincendas e o mais que lhe for devido; ou poder recuperar a posse da coisa vendida.

Art. 527. Na segunda hiptese do artigo antecedente, facultado ao vendedor reter as prestaes pagas at o necessrio para cobrir a depreciao da coisa, as despesas feitas e o mais que de direito lhe for devido. O excedente ser devolvido ao comprador; e o que faltar lhe ser cobrado, tudo na forma da lei processual.

Art. 528. Se o vendedor receber o pagamento vista, ou, posteriormente, mediante financiamento de instituio do mercado de capitais, a esta caber exercer os direitos e aes decorrentes do contrato, a benefcio de qualquer outro. A operao financeira e a respectiva cincia do comprador constaro do registro do contrato.

Subseo VDa Venda Sobre Documentos

Art. 529. Na venda sobre documentos, a tradio da coisa substituda pela entrega do seu ttulo representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silncio deste, pelos usos.

Pargrafo nico. Achando-se a documentao em ordem, no pode o comprador recusar o pagamento, a pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito j houver sido comprovado.

Art. 530. No havendo estipulao em contrrio, o pagamento deve ser efetuado na data e no lugar da entrega dos documentos.

Art. 531. Se entre os documentos entregues ao comprador figurar aplice de seguro que cubra os riscos do transporte, correm estes conta do comprador, salvo se, ao ser concludo o contrato, tivesse o vendedor cincia da perda ou avaria da coisa.

Art. 532. Estipulado o pagamento por intermdio de estabelecimento bancrio, caber a este efetu-lo contra a entrega dos documentos, sem obrigao de verificar a coisa vendida, pela qual no responde.

Pargrafo nico. Nesse caso, somente aps a recusa do estabelecimento bancrio a efetuar o pagamento, poder o vendedor pretend-lo, diretamente do comprador.

CAPTULO IVDa Doao

Seo IDisposies Gerais

Art. 538. Considera-se doao o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimnio bens ou vantagens para o de outra.

Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatrio, para declarar se aceita ou no a liberalidade. Desde que o donatrio, ciente do prazo, no faa, dentro dele, a declarao, entender-se- que aceitou, se a doao no for sujeita a encargo.

Art. 540. A doao feita em contemplao do merecimento do donatrio no perde o carter de liberalidade, como no o perde a doao remuneratria, ou a gravada, no excedente ao valor dos servios remunerados ou ao encargo imposto.

Art. 541. A doao far-se- por escritura pblica ou instrumento particular.

Pargrafo nico. A doao verbal ser vlida, se, versando sobre bens mveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradio.Art. 542. A doao feita ao nascituro valer, sendo aceita pelo seu representante legal.

Art. 543. Se o donatrio for absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitao, desde que se trate de doao pura.

Art. 544. A doao de ascendentes a descendentes, ou de um cnjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herana.Art. 545. A doao em forma de subveno peridica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas no poder ultrapassar a vida do donatrio.

Art. 546. A doao feita em contemplao de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, no pode ser impugnada por falta de aceitao, e s ficar sem efeito se o casamento no se realizar.

Art. 547. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimnio, se sobreviver ao donatrio.

Pargrafo nico. No prevalece clusula de reverso em favor de terceiro.Art. 548. nula a doao de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistncia do doador.

Art. 549. Nula tambm a doao quanto parte que exceder de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.

Art. 550. A doao do cnjuge adltero ao seu cmplice pode ser anulada pelo outro cnjuge, ou por seus herdeiros necessrios, at dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.Art. 551. Salvo declarao em contrrio, a doao em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuda entre elas por igual.

Pargrafo nico. Se os donatrios, em tal caso, forem marido e mulher, subsistir na totalidade a doao para o cnjuge sobrevivo.

Art. 552. O doador no obrigado a pagar juros moratrios, nem sujeito s conseqncias da evico ou do vcio redibitrio. Nas doaes para casamento com certa e determinada pessoa, o doador ficar sujeito evico, salvo conveno em contrrio.

Art. 553. O donatrio obrigado a cumprir os encargos da doao, caso forem a benefcio do doador, de terceiro, ou do interesse geral.

Pargrafo nico. Se desta ltima espcie for o encargo, o Ministrio Pblico poder exigir sua execuo, depois da morte do doador, se este no tiver feito.

Art. 554. A doao a entidade futura caducar se, em dois anos, esta no estiver constituda regularmente.

Seo IIDa Revogao da Doao

Art. 555. A doao pode ser revogada por ingratido do donatrio, ou por inexecuo do encargo.Art. 556. No se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratido do donatrio.

Art. 557. Podem ser revogadas por ingratido as doaes:

I - se o donatrio atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicdio doloso contra ele;

II - se cometeu contra ele ofensa fsica;

III - se o injuriou gravemente ou o caluniou;

IV - se, podendo ministr-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava.

Art. 558. Pode ocorrer tambm a revogao quando o ofendido, nos casos do artigo anterior, for o cnjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmo do doador.

Art. 559. A revogao por qualquer desses motivos dever ser pleiteada dentro de um ano, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador o fato que a autorizar, e de ter sido o donatrio o seu autor.

Art. 560. O direito de revogar a doao no se transmite aos herdeiros do doador, nem prejudica os do donatrio. Mas aqueles podem prosseguir na ao iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatrio, se este falecer depois de ajuizada a lide.

Art. 561. No caso de homicdio doloso do doador, a ao caber aos seus herdeiros, exceto se aquele houver perdoado.Art. 562. A doao onerosa pode ser revogada por inexecuo do encargo, se o donatrio incorrer em mora. No havendo prazo para o cumprimento, o doador poder notificar judicialmente o donatrio, assinando-lhe prazo razovel para que cumpra a obrigao assumida.

Art. 563. A revogao por ingratido no prejudica os direitos adquiridos por terceiros, nem obriga o donatrio a restituir os frutos percebidos antes da citao vlida; mas sujeita-o a pagar os posteriores, e, quando no possa restituir em espcie as coisas doadas, a indeniz-la pelo meio termo do seu valor.

Art. 564. No se revogam por ingratido:

I - as doaes puramente remuneratrias;

II - as oneradas com encargo j cumprido;

III - as que se fizerem em cumprimento de obrigao natural;

IV - as feitas para determinado casamento.

CAPTULO VIDo Emprstimo

Seo IDo Comodato

Art. 579. O comodato o emprstimo gratuito de coisas no fungveis. Perfaz-se com a tradio do objeto.

Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens alheios no podero dar em comodato, sem autorizao especial, os bens confiados sua guarda.

Art. 581. Se o comodato no tiver prazo convencional, presumir-se-lhe- o necessrio para o uso concedido; no podendo o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz, suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o que se determine pelo uso outorgado.

Art. 582. O comodatrio obrigado a conservar, como se sua prpria fora, a coisa emprestada, no podendo us-la seno de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatrio constitudo em mora, alm de por ela responder, pagar, at restitu-la, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante.Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatrio, antepuser este a salvao dos seus abandonando o do comodante, responder pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou fora maior.Art. 584. O comodatrio no poder jamais recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada.

Art. 585. Se duas ou mais pessoas forem simultaneamente comodatrias de uma coisa, ficaro solidariamente responsveis para com o comodante.

Seo IIDo Mtuo

Art. 586. O mtuo o emprstimo de coisas fungveis. O muturio obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gnero, qualidade e quantidade.

Art. 587. Este emprstimo transfere o domnio da coisa emprestada ao muturio, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradio.

Art. 588. O mtuo feito a pessoa menor, sem prvia autorizao daquele sob cuja guarda estiver, no pode ser reavido nem do muturio, nem de seus fiadores.

Art. 589. Cessa a disposio do artigo antecedente:

I - se a pessoa, de cuja autorizao necessitava o muturio para contrair o emprstimo, o ratificar posteriormente;

II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o emprstimo para os seus alimentos habituais;

III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execuo do credor no lhes poder ultrapassar as foras;

IV - se o emprstimo reverteu em benefcio do menor;

V - se o menor obteve o emprstimo maliciosamente.

Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituio, se antes do vencimento o muturio sofrer notria mudana em sua situao econmica.

Art. 591. Destinando-se o mtuo a fins econmicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de reduo, no podero exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalizao anual.Art. 592. No se tendo convencionado expressamente, o prazo do mtuo ser:

I - at a prxima colheita, se o mtuo for de produtos agrcolas, assim para o consumo, como para semeadura;

II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro;III - do espao de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungvel.

CAPTULO VIIDa Prestao de Servio

Art. 593. A prestao de servio, que no estiver sujeita s leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se- pelas disposies deste Captulo.

Art. 594. Toda a espcie de servio ou trabalho lcito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuio.

Art. 595. No contrato de prestao de servio, quando qualquer das partes no souber ler, nem escrever, o instrumento poder ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas.Art. 596. No se tendo estipulado, nem chegado a acordo as partes, fixar-se- por arbitramento a retribuio, segundo o costume do lugar, o tempo de servio e sua qualidade.Art. 597. A retribuio pagar-se- depois de prestado o servio, se, por conveno, ou costume, no houver de ser adiantada, ou paga em prestaes.

Art. 598. A prestao de servio no se poder convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dvida de quem o presta, ou se destine execuo de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos quatro anos, dar-se- por findo o contrato, ainda que no concluda a obra.Art. 599. No havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir da natureza do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbtrio, mediante prvio aviso, pode resolver o contrato.

Pargrafo nico. Dar-se- o aviso:

I - com antecedncia de oito dias, se o salrio se houver fixado por tempo de um ms, ou mais;

II - com antecipao de quatro dias, se o salrio se tiver ajustado por semana, ou quinzena;

III - de vspera, quando se tenha contratado por menos de sete dias.Art. 600. No se conta no prazo do contrato o tempo em que o prestador de servio, por culpa sua, deixou de servir.

Art. 601. No sendo o prestador de servio contratado para certo e determinado trabalho, entender-se- que se obrigou a todo e qualquer servio compatvel com as suas foras e condies.

Art. 602. O prestador de servio contratado por tempo certo, ou por obra determinada, no se pode ausentar, ou despedir, sem justa causa, antes de preenchido o tempo, ou concluda a obra.

Pargrafo nico. Se se despedir sem justa causa, ter direito retribuio vencida, mas responder por perdas e danos. O mesmo dar-se-, se despedido por justa causa.

Art. 603. Se o prestador de servio for despedido sem justa causa, a outra parte ser obrigada a pagar-lhe por inteiro a retribuio vencida, e por metade a que lhe tocaria de ento ao termo legal do contrato.Art. 604. Findo o contrato, o prestador de servio tem direito a exigir da outra parte a declarao de que o contrato est findo. Igual direito lhe cabe, se for despedido sem justa causa, ou se tiver havido motivo justo para deixar o servio.

Art. 605. Nem aquele a quem os servios so prestados, poder transferir a outrem o direito aos servios ajustados, nem o prestador de servios, sem aprazimento da outra parte, dar substituto que os preste.Art. 606. Se o servio for prestado por quem no possua ttulo de habilitao, ou no satisfaa requisitos outros estabelecidos em lei, no poder quem os prestou cobrar a retribuio normalmente correspondente ao trabalho executado. Mas se deste resultar benefcio para a outra parte, o juiz atribuir a quem o prestou uma compensao razovel, desde que tenha agido com boa-f.

Pargrafo nico. No se aplica a segunda parte deste artigo, quando a proibio da prestao de servio resultar de lei de ordem pblica.

Art. 607. O contrato de prestao de servio acaba com a morte de qualquer das partes. Termina, ainda, pelo escoamento do prazo, pela concluso da obra, pela resciso do contrato mediante aviso prvio, por inadimplemento de qualquer das partes ou pela impossibilidade da continuao do contrato, motivada por fora maior.

Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar servio a outrem pagar a este a importncia que ao prestador de servio, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos.

Art. 609. A alienao do prdio agrcola, onde a prestao dos servios se opera, no importa a resciso do contrato, salvo ao prestador opo entre continu-lo com o adquirente da propriedade ou com o primitivo contratante.

CAPTULO VIIIDa Empreitada

Art. 610. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela s com seu trabalho ou com ele e os materiais.

1oA obrigao de fornecer os materiais no se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

2oO contrato para elaborao de um projeto no implica a obrigao de execut-lo, ou de fiscalizar-lhe a execuo.

Art. 611. Quando o empreiteiro fornece os materiais, correm por sua conta os riscos at o momento da entrega da obra, a contento de quem a encomendou, se este no estiver em mora de receber. Mas se estiver, por sua conta correro os riscos.

Art. 612. Se o empreiteiro s forneceu mo-de-obra, todos os riscos em que no tiver culpa correro por conta do dono.Art. 613. Sendo a empreitada unicamente de lavor (art. 610), se a coisa perecer antes de entregue, sem mora do dono nem culpa do empreiteiro, este perder a retribuio, se no provar que a perda resultou de defeito dos materiais e que em tempo reclamara contra a sua quantidade ou qualidade.Art. 614. Se a obra constar de partes distintas, ou for de natureza das que se determinam por medida, o empreiteiro ter direito a que tambm se verifique por medida, ou segundo as partes em que se dividir, podendo exigir o pagamento na proporo da obra executada.

1oTudo o que se pagou presume-se verificado.

2oO que se mediu presume-se verificado se, em trinta dias, a contar da medio, no forem denunciados os vcios ou defeitos pelo dono da obra ou por quem estiver incumbido da sua fiscalizao.

Art. 615. Concluda a obra de acordo com o ajuste, ou o costume do lugar, o dono obrigado a receb-la. Poder, porm, rejeit-la, se o empreiteiro se afastou das instrues recebidas e dos planos dados, ou das regras tcnicas em trabalhos de tal natureza.

Art. 616. No caso da segunda parte do artigo antecedente, pode quem encomendou a obra, em vez de enjeit-la, receb-la com abatimento no preo.

Art. 617. O empreiteiro obrigado a pagar os materiais que recebeu, se por impercia ou negligncia os inutilizar.

Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifcios ou outras construes considerveis, o empreiteiro de materiais e execuo responder, durante o prazo irredutvel de cinco anos, pela solidez e segurana do trabalho, assim em razo dos materiais, como do solo.

Pargrafo nico. Decair do direito assegurado neste artigo o dono da obra que no propuser a ao contra o empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vcio ou defeito.Art. 619. Salvo estipulao em contrrio, o empreiteiro que se incumbir de executar uma obra, segundo plano aceito por quem a encomendou, no ter direito a exigir acrscimo no preo, ainda que sejam introduzidas modificaes no projeto, a no ser que estas resultem de instrues escritas do dono da obra.

Pargrafo nico. Ainda que no tenha havido autorizao escrita, o dono da obra obrigado a pagar ao empreiteiro os aumentos e acrscimos, segundo o que for arbitrado, se, sempre presente obra, por continuadas visitas, no podia ignorar o que se estava passando, e nunca protestou.

Art. 620. Se ocorrer diminuio no preo do material ou da mo-de-obra superior a um dcimo do preo global convencionado, poder este ser revisto, a pedido do dono da obra, para que se lhe assegure a diferena apurada.

Art. 621. Sem anuncia de seu autor, no pode o proprietrio da obra introduzir modificaes no projeto por ele aprovado, ainda que a execuo seja confiada a terceiros, a no ser que, por motivos supervenientes ou razes de ordem tcnica, fique comprovada a inconvenincia ou a excessiva onerosidade de execuo do projeto em sua forma originria.

Pargrafo nico. A proibio deste artigo no abrange alteraes de pouca monta, ressalvada sempre a unidade esttica da obra projetada.

Art. 622. Se a execuo da obra for confiada a terceiros, a responsabilidade do autor do projeto respectivo, desde que no assuma a direo ou fiscalizao daquela, ficar limitada aos danos resultantes de defeitos previstos no art. 618 e seu pargrafo nico.

Art. 623. Mesmo aps iniciada a construo, pode o dono da obra suspend-la, desde que pague ao empreiteiro as despesas e lucros relativos aos servios j feitos, mais indenizao razovel, calculada em funo do que ele teria ganho, se concluda a obra.Art. 624. Suspensa a execuo da empreitada sem justa causa, responde o empreiteiro por perdas e danos.

Art. 625. Poder o empreiteiro suspender a obra:

I - por culpa do dono, ou por motivo de fora maior;

II - quando, no decorrer dos servios, se manifestarem dificuldades imprevisveis de execuo, resultantes de causas geolgicas ou hdricas, ou outras semelhantes, de modo que torne a empreitada excessivamente onerosa, e o dono da obra se opuser ao reajuste do preo inerente ao projeto por ele elaborado, observados os preos;

III - se as modificaes exigidas pelo dono da obra, por seu vulto e natureza, forem desproporcionais ao projeto aprovado, ainda que o dono se disponha a arcar com o acrscimo de preo.

Art. 626. No se extingue o contrato de empreitada pela morte de qualquer das partes, salvo se ajustado em considerao s qualidades pessoais do empreiteiro.

CAPTULO IXDo Depsito

Seo IDo Depsito Voluntrio

Art. 627. Pelo contrato de depsito recebe o depositrio um objeto mvel, para guardar, at que o depositante o reclame.

Art. 628. O contrato de depsito gratuito, exceto se houver conveno em contrrio, se resultante de atividade negocial ou se o depositrio o praticar por profisso.Pargrafo nico. Se o depsito for oneroso e a retribuio do depositrio no constar de lei, nem resultar de ajuste, ser determinada pelos usos do lugar, e, na falta destes, por arbitramento.

Art. 629. O depositrio obrigado a ter na guarda e conservao da coisa depositada o cuidado e diligncia que costuma com o que lhe pertence, bem como a restitu-la, com todos os frutos e acrescidos, quando o exija o depositante.

Art. 630. Se o depsito se entregou fechado, colado, selado, ou lacrado, nesse mesmo estado se manter.

Art. 631. Salvo disposio em contrrio, a restituio da coisa deve dar-se no lugar em que tiver de ser guardada. As despesas de restituio correm por conta do depositante.

Art. 632. Se a coisa houver sido depositada no interesse de terceiro, e o depositrio tiver sido cientificado deste fato pelo depositante, no poder ele exonerar-se restituindo a coisa a este, sem consentimento daquele.Art. 633. Ainda que o contrato fixe prazo restituio, o depositrio entregar o depsito logo que se lhe exija, salvo se tiver o direito de reteno a que se refere o art. 644, se o objeto for judicialmente embargado, se sobre ele pender execuo, notificada ao depositrio, ou se houver motivo razovel de suspeitar que a coisa foi dolosamente obtida.

Art. 634. No caso do artigo antecedente, ltima parte, o depositrio, expondo o fundamento da suspeita, requerer que se recolha o objeto ao Depsito Pblico.

Art. 635. Ao depositrio ser facultado, outrossim, requerer depsito judicial da coisa, quando, por motivo plausvel, no a possa guardar, e o depositante no queira receb-la.

Art. 636. O depositrio, que por fora maior houver perdido a coisa depositada e recebido outra em seu lugar, obrigado a entregar a segunda ao depositante, e ceder-lhe as aes que no caso tiver contra o terceiro responsvel pela restituio da primeira.Art. 637. O herdeiro do depositrio, que de boa-f vendeu a coisa depositada, obrigado a assistir o depositante na reivindicao, e a restituir ao comprador o preo recebido.

Art. 638. Salvo os casos previstos nos arts. 633 e 634, no poder o depositrio furtar-se restituio do depsito, alegando no pertencer a coisa ao depositante, ou opondo compensao, exceto se noutro depsito se fundar.Art. 639. Sendo dois ou mais depositantes, e divisvel a coisa, a cada um s entregar o depositrio a respectiva parte, salvo se houver entre eles solidariedade.

Art. 640. Sob pena de responder por perdas e danos, no poder o depositrio, sem licena expressa do depositante, servir-se da coisa depositada, nem a dar em depsito a outrem.

Pargrafo nico. Se o depositrio, devidamente autorizado, confiar a coisa em depsito a terceiro, ser responsvel se agiu com culpa na escolha deste.Art. 641. Se o depositrio se tornar incapaz, a pessoa que lhe assumir a administrao dos bens diligenciar imediatamente restituir a coisa depositada e, no querendo ou no podendo o depositante receb-la, recolh-la- ao Depsito Pblico ou promover nomeao de outro depositrio.

Art. 642. O depositrio no responde pelos casos de fora maior; mas, para que lhe valha a escusa, ter de prov-los.

Art. 643. O depositante obrigado a pagar ao depositrio as despesas feitas com a coisa, e os prejuzos que do depsito provierem.

Art. 644. O depositrio poder reter o depsito at que se lhe pague a retribuio devida, o lquido valor das despesas, ou dos prejuzos a que se refere o artigo anterior, provando imediatamente esses prejuzos ou essas despesas.Pargrafo nico. Se essas dvidas, despesas ou prejuzos no forem provados suficientemente, ou forem ilquidos, o depositrio poder exigir cauo idnea do depositante ou, na falta desta, a remoo da coisa para o Depsito Pblico, at que se liquidem.

Art. 645. O depsito de coisas fungveis, em que o depositrio se obrigue a restituir objetos do mesmo gnero, qualidade e quantidade, regular-se- pelo disposto acerca do mtuo.Art. 646. O depsito voluntrio provar-se- por escrito.Seo IIDo Depsito Necessrio

Art. 647. depsito necessrio:

I - o que se faz em desempenho de obrigao legal;

II - o que se efetua por ocasio de alguma calamidade, como o incndio, a inundao, o naufrgio ou o saque.

Art. 648. O depsito a que se refere o inciso I do artigo antecedente, reger-se- pela disposio da respectiva lei, e, no silncio ou deficincia dela, pelas concernentes ao depsito voluntrio.

Pargrafo nico. As disposies deste artigo aplicam-se aos depsitos previstos no inciso II do artigo antecedente, podendo estes certificarem-se por qualquer meio de prova.

Art. 649. Aos depsitos previstos no artigo antecedente equiparado o das bagagens dos viajantes ou hspedes nas hospedarias onde estiverem.

Pargrafo nico. Os hospedeiros respondero como depositrios, assim como pelos furtos e roubos que perpetrarem as pessoas empregadas ou admitidas nos seus estabelecimentos.

Art. 650. Cessa, nos casos do artigo antecedente, a responsabilidade dos hospedeiros, se provarem que os fatos prejudiciais aos viajantes ou hspedes no podiam ter sido evitados.

Art. 651. O depsito necessrio no se presume gratuito. Na hiptese do art. 649, a remunerao pelo depsito est includa no preo da hospedagem.

Art. 652. Seja o depsito voluntrio ou necessrio, o depositrio que no o restituir quando exigido ser compelido a faz-lo mediante priso no excedente a um ano, e ressarcir os prejuzos.

CAPTULO XDo Mandato

Seo IDisposies Gerais

Art. 653. Opera-se o mandato quando algum recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. A procurao o instrumento do mandato.

Art. 654. Todas as pessoas capazes so aptas para dar procurao mediante instrumento particular, que valer desde que tenha a assinatura do outorgante.

1oO instrumento particular deve conter a indicao do lugar onde foi passado, a qualificao do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designao e a extenso dos poderes conferidos.

2oO terceiro com quem o mandatrio tratar poder exigir que a procurao traga a firma reconhecida.Art. 655. Ainda quando se outorgue mandato por instrumento pblico, pode substabelecer-se mediante instrumento particular.Art. 656. O mandato pode ser expresso ou tcito, verbal ou escrito.

Art. 657. A outorga do mandato est sujeita forma exigida por lei para o ato a ser praticado. No se admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito.

Art. 658. O mandato presume-se gratuito quando no houver sido estipulada retribuio, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatrio trata por ofcio ou profisso lucrativa.

Pargrafo nico. Se o mandato for oneroso, caber ao mandatrio a retribuio prevista em lei ou no contrato. Sendo estes omissos, ser ela determinada pelos usos do lugar, ou, na falta destes, por arbitramento.

Art. 659. A aceitao do mandato pode ser tcita, e resulta do comeo de execuo.Art. 660. O mandato pode ser especial a um ou mais negcios determinadamente, ou geral a todos os do mandante.

Art. 661. O mandato em termos gerais s confere poderes de administrao.

1oPara alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem da administrao ordinria, depende a procurao de poderes especiais e expressos.

2oO poder de transigir no importa o de firmar compromisso.Art. 662. Os atos praticados por quem no tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, so ineficazes em relao quele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar.

Pargrafo nico. A ratificao h de ser expressa, ou resultar de ato inequvoco, e retroagir data do ato.

Art. 663. Sempre que o mandatrio estipular negcios expressamente em nome do mandante, ser este o nico responsvel; ficar, porm, o mandatrio pessoalmente obrigado, se agir no seu prprio nome, ainda que o negcio seja de conta do mandante.Art. 664. O mandatrio tem o direito de reter, do objeto da operao que lhe foi cometida, quanto baste para pagamento de tudo que lhe for devido em conseqncia do mandato.

Art. 665. O mandatrio que exceder os poderes do mandato, ou proceder contra eles, ser considerado mero gestor de negcios, enquanto o mandante lhe no ratificar os atos.

Art. 666. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos no emancipado pode ser mandatrio, mas o mandante no tem ao contra ele seno de conformidade com as regras gerais, aplicveis s obrigaes contradas por menores.

Seo IIDas Obrigaes do Mandatrio

Art. 667. O mandatrio obrigado a aplicar toda sua diligncia habitual na execuo do mandato, e a indenizar qualquer prejuzo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem autorizao, poderes que devia exercer pessoalmente. 1oSe, no obstante proibio do mandante, o mandatrio se fizer substituir na execuo do mandato, responder ao seu constituinte pelos prejuzos ocorridos sob a gerncia do substituto, embora provenientes de caso fortuito, salvo provando que o caso teria sobrevindo, ainda que no tivesse havido substabelecimento.

2oHavendo poderes de substabelecer, s sero imputveis ao mandatrio os danos causados pelo substabelecido, se tiver agido com culpa na escolha deste ou nas instrues dadas a ele. 3oSe a proibio de substabelecer constar da procurao, os atos praticados pelo substabelecido no obrigam o mandante, salvo ratificao expressa, que retroagir data do ato.

4oSendo omissa a procurao quanto ao substabelecimento, o procurador ser responsvel se o substabelecido proceder culposamente.Art. 668. O mandatrio obrigado a dar contas de sua gerncia ao mandante, transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer ttulo que seja.

Art. 669. O mandatrio no pode compensar os prejuzos a que deu causa com os proveitos que, por outro lado, tenha granjeado ao seu constituinte.Art. 670. Pelas somas que devia entregar ao mandante ou recebeu para despesa, mas empregou em proveito seu, pagar o mandatrio juros, desde o momento em que abusou.Art. 671. Se o mandatrio, tendo fundos ou crdito do mandante, comprar, em nome prprio, algo que devera comprar para o mandante, por ter sido expressamente designado no mandato, ter este ao para obrig-lo entrega da coisa comprada.

Art. 672. Sendo dois ou mais os mandatrios nomeados no mesmo instrumento, qualquer deles poder exercer os poderes outorgados, se no forem expressamente declarados conjuntos, nem especificamente designados para atos diferentes, ou subordinados a atos sucessivos. Se os mandatrios forem declarados conjuntos, no ter eficcia o ato praticado sem interferncia de todos, salvo havendo ratificao, que retroagir data do ato.

Art. 673. O terceiro que, depois de conhecer os poderes do mandatrio, com ele celebrar negcio jurdico exorbitante do mandato, no tem ao contra o mandatrio, salvo se este lhe prometeu ratificao do mandante ou se responsabilizou pessoalmente.Art. 674. Embora ciente da morte, interdio ou mudana de estado do mandante, deve o mandatrio concluir o negcio j comeado, se houver perigo na demora.

Seo IIIDas Obrigaes do Mandante

Art. 675. O mandante obrigado a satisfazer todas as obrigaes contradas pelo mandatrio, na conformidade do mandato conferido, e adiantar a importncia das despesas necessrias execuo dele, quando o mandatrio lho pedir.Art. 676. obrigado o mandante a pagar ao mandatrio a remunerao ajustada e as despesas da execuo do mandato, ainda que o negcio no surta o esperado efeito, salvo tendo o mandatrio culpa.Art. 677. As somas adiantadas pelo mandatrio, para a execuo do mandato, vencem juros desde a data do desembolso.Art. 678. igualmente obrigado o mandante a ressarcir ao mandatrio as perdas que este sofrer com a execuo do mandato, sempre que no resultem de culpa sua ou de excesso de poderes.

Art. 679. Ainda que o mandatrio contrarie as instrues do mandante, se no exceder os limites do mandato, ficar o mandante obrigado para com aqueles com quem o seu procurador contratou; mas ter contra este ao pelas perdas e danos resultantes da inobservncia das instrues.Art. 680. Se o mandato for outorgado por duas ou mais pessoas, e para negcio comum, cada uma ficar solidariamente responsvel ao mandatrio por todos os compromissos e efeitos do mandato, salvo direito regressivo, pelas quantias que pagar, contra os outros mandantes.Art. 681. O mandatrio tem sobre a coisa de que tenha a posse em virtude do mandato, direito de reteno, at se reembolsar do que no desempenho do encargo despendeu.

Seo IVDa Extino do Mandato

Art. 682. Cessa o mandato:

I - pela revogao ou pela renncia;

II - pela morte ou interdio de uma das partes;

III - pela mudana de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatrio para os exercer;

IV - pelo trmino do prazo ou pela concluso do negcio.

Art. 683. Quando o mandato contiver a clusula de irrevogabilidade e o mandante o revogar, pagar perdas e danos.Art. 684. Quando a clusula de irrevogabilidade for condio de um negcio bilateral, ou tiver sido estipulada no exclusivo interesse do mandatrio, a revogao do mandato ser ineficaz.Art. 685. Conferido o mandato com a clusula "em causa prpria", a sua revogao no ter eficcia, nem se extinguir pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatrio dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os bens mveis ou imveis objeto do mandato, obedecidas as formalidades legais.

Art. 686. A revogao do mandato, notificada somente ao mandatrio, no se pode opor aos terceiros que, ignorando-a, de boa-f com ele trataram; mas ficam salvas ao constituinte as aes que no caso lhe possam caber contra o procurador.

Pargrafo nico. irrevogvel o mandato que contenha poderes de cumprimento ou confirmao de negcios encetados, aos quais se ache vinculado.

Art. 687. Tanto que for comunicada ao mandatrio a nomeao de outro, para o mesmo negcio, considerar-se- revogado o mandato anterior.

Art. 688. A renncia do mandato ser comunicada ao mandante, que, se for prejudicado pela sua inoportunidade, ou pela falta de tempo, a fim de prover substituio do procurador, ser indenizado pelo mandatrio, salvo se este provar que no podia continuar no mandato sem prejuzo considervel, e que no lhe era dado substabelecer.

Art. 689. So vlidos, a respeito dos contratantes de boa-f, os atos com estes ajustados em nome do mandante pelo mandatrio, enquanto este ignorar a morte daquele ou a extino do mandato, por qualquer outra causa.

Art. 690. Se falecer o mandatrio, pendente o negcio a ele cometido, os herdeiros, tendo cincia do mandato, avisaro o mandante, e providenciaro a bem dele, como as circunstncias exigirem.Art. 691. Os herdeiros, no caso do artigo antecedente, devem limitar-se s medidas conservatrias, ou continuar os negcios pendentes que se no possam demorar sem perigo, regulando-se os seus servios dentro desse limite, pelas mesmas normas a que os do mandatrio esto sujeitos.

Seo VDo Mandato Judicial

Art. 692. O mandato judicial fica subordinado s normas que lhe dizem respeito, constantes da legislao processual, e, supletivamente, s estabelecidas neste Cdigo.

CAPTULO XIXDa Transao

Art. 840. lcito aos interessados prevenirem ou terminarem o litgio mediante concesses mtuas.Art. 841. S quanto a direitos patrimoniais de carter privado se permite a transao.

Art. 842. A transao far-se- por escritura pblica, nas obrigaes em que a lei o exige, ou por instrumento particular, nas em que ela o admite; se recair sobre direitos contestados em juzo, ser feita por escritura pblica, ou por termo nos autos, assinado pelos transigentes e homologado pelo juiz.Art. 843. A transao interpreta-se restritivamente, e por ela no se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.Art. 844. A transao no aproveita, nem prejudica seno aos que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisvel. 1oSe for concluda entre o credor e o devedor, desobrigar o fiador. 2oSe entre um dos credores solidrios e o devedor, extingue a obrigao deste para com os outros credores.

3oSe entre um dos devedores solidrios e seu credor, extingue a dvida em relao aos co-devedores.

Art. 845. Dada a evico da coisa renunciada por um dos transigentes, ou por ele transferida outra parte, no revive a obrigao extinta pela transao; mas ao evicto cabe o direito de reclamar perdas e danos.

Pargrafo nico. Se um dos transigentes adquirir, depois da transao, novo direito sobre a coisa renunciada ou transferida, a transao feita no o inibir de exerc-lo.

Art. 846. A transao concernente a obrigaes resultantes de delito no extingue a ao penal pblica.

Art. 847. admissvel, na transao, a pena convencional.Art. 848. Sendo nula qualquer das clusulas da transao, nula ser esta.

Pargrafo nico. Quando a transao versar sobre diversos direitos contestados, independentes entre si, o fato de no prevalecer em relao a um no prejudicar os demais.

Art. 849. A transao s se anula por dolo, coao, ou erro essencial quanto pessoa ou coisa controversa.

Pargrafo nico. A transao no se anula por erro de direito a respeito das questes que foram objeto de controvrsia entre as partes.

Art. 850. nula a transao a respeito do litgio decidido por sentena passada em julgado, se dela no tinha cincia algum dos transatores, ou quando, por ttulo ulteriormente descoberto, se verificar que nenhum deles tinha direito sobre o objeto da transao.

Presidncia da RepblicaCasa CivilSubchefia para Assuntos Jurdicos

LEI No8.245, DE 18 DE OUTUBRO DE 1991.Mensagem de vetoTexto compiladoDispe sobre as locaes dos imveis urbanos e os procedimentos a elas pertinentes.

SEO I

Da locao residencial

Art. 46. Nas locaes ajustadas por escrito e por prazo igual ou superior a trinta meses, a resoluo do contrato ocorrer findo o prazo estipulado, independentemente de notificao ou aviso. 1 Findo o prazo ajustado, se o locatrio continuar na posse do imvel alugado por mais de trinta dias sem oposio do locador, presumir-se- prorrogada a locao por prazo indeterminado, mantidas as demais clusulas e condies do contrato. 2 Ocorrendo a prorrogao, o locador poder denunciar o contrato a qualquer tempo, concedido o prazo de trinta dias para desocupao. Art. 47. Quando ajustada verbalmente ou por escrito e como prazo inferior a trinta meses, findo o prazo estabelecido, a locao prorroga-se automaticamente, por prazo indeterminado, somente podendo ser retomado o imvel: I - Nos casos do art. 9;

II - em decorrncia de extino do contrato de trabalho, se a ocupao do imvel pelo locatrio relacionada com o seu emprego;

III - se for pedido para uso prprio, de seu cnjuge ou companheiro, ou para uso residencial de ascendente ou descendente que no disponha, assim como seu cnjuge ou companheiro, de imvel residencial prprio;

IV - se for pedido para demolio e edificao licenciada ou para a realizao de obras aprovadas pelo Poder Pblico, que aumentem a rea construda, em, no mnimo, vinte por cento ou, se o imvel for destinado a explorao de hotel ou penso, em cinqenta por cento;

V - se a vigncia ininterrupta da locao ultrapassar cinco anos.

1 Na hiptese do inciso III, a necessidade dever ser judicialmente demonstrada, se:

a) O retomante, alegando necessidade de usar o imvel, estiver ocupando, com a mesma finalidade, outro de sua propriedade situado nas mesma localidade ou, residindo ou utilizando imvel alheio, j tiver retomado o imvel anteriormente;

b) o ascendente ou descendente, beneficirio da retomada, residir em imvel prprio.

2 Nas hipteses dos incisos III e IV, o retomante dever comprovar ser proprietrio, promissrio comprador ou promissrio cessionrio, em carter irrevogvel, com imisso na posse do imvel e ttulo registrado junto matrcula do mesmo.

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