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5 Projetos de Gestão de Pessoas por Competências nas Empresas Telecom Brasileiras Until one is committed, there is hesitancy, the chance to draw back, always ineffectiveness. Concerning all acts of initiative (and creation) there is one elementary truth, the ignorance of which kills countless ideas and splendid plans: that the moment one definitely commits oneself, then providence moves too. Johann Wolfgang von Goethe Neste capítulo, serão apresentados os casos estudados, descrevendo a natureza dos projetos de gestão por competências e apontando características explícitas e implícitas depreendidas pelo conjunto de dados das entrevistas e dos materiais colhidos. As organizações são sistemas complexos moldados pelas especificidades provenientes de diferentes variáveis, tais como magnitude, estrutura organizacional, contexto local e global, valores, cultura, visão de futuro, tecnologia e recursos e também os talentos que as compõem. Mesmo quando as empresas atuam em segmentos idênticos ou bem próximos e arquitetam projetos organizacionais de cunho similar, os seus projetos assumem organicidades específicas. Portanto, para analisá-los é preciso contar com um conjunto de elementos que permita traçar as semelhanças e diferenças e, ainda mais, entender os porquês destas particularidades. Os descritores explicitados na seção 5.1. servem a esta tarefa. Através de sua identificação e caracterização foi possível descrever os projetos, compará-los e perceber de que forma apontam para o êxito da mudança de paradigma na gestão de pessoas. Na seção 5.2., os projetos de cada uma das empresas que compõem o corpus desta pesquisa foram caracterizados por meio dos indicadores levantados,

5 Projetos de Gestão de Pessoas por Competências nas ... · Quando o projeto é elaborado totalmente por uma empresa de consultoria contratada, ou praticamente exclusivamente por

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  • 5 Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    Until one is committed, there is hesitancy, the chance to draw back, always ineffectiveness. Concerning all acts of initiative (and creation) there is one elementary truth, the ignorance of which kills countless ideas and splendid plans: that the moment one definitely commits oneself, then providence moves too.

    Johann Wolfgang von Goethe

    Neste captulo, sero apresentados os casos estudados, descrevendo a

    natureza dos projetos de gesto por competncias e apontando caractersticas

    explcitas e implcitas depreendidas pelo conjunto de dados das entrevistas e dos

    materiais colhidos.

    As organizaes so sistemas complexos moldados pelas especificidades

    provenientes de diferentes variveis, tais como magnitude, estrutura

    organizacional, contexto local e global, valores, cultura, viso de futuro,

    tecnologia e recursos e tambm os talentos que as compem. Mesmo quando as

    empresas atuam em segmentos idnticos ou bem prximos e arquitetam projetos

    organizacionais de cunho similar, os seus projetos assumem organicidades

    especficas. Portanto, para analis-los preciso contar com um conjunto de

    elementos que permita traar as semelhanas e diferenas e, ainda mais, entender

    os porqus destas particularidades.

    Os descritores explicitados na seo 5.1. servem a esta tarefa. Atravs de

    sua identificao e caracterizao foi possvel descrever os projetos, compar-los

    e perceber de que forma apontam para o xito da mudana de paradigma na gesto

    de pessoas.

    Na seo 5.2., os projetos de cada uma das empresas que compem o

    corpus desta pesquisa foram caracterizados por meio dos indicadores levantados,

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    salientando-se as especificidades de cada caso, os elementos que os diferenciam e

    tecendo relaes entre as particularidades do projeto e a sua forma de

    implantao. A seo 5.3. traz um quadro-resumo com as caractersticas dos casos

    investigados.

    5.1 Descritores Utilizados para Desvendar os Projetos

    Os projetos de gesto de competncias das sete empresas estudadas sero

    descritos utilizando um roteiro com cinco categorias-macro e um total de 17

    descritores. A caracterizao leva em considerao o desenvolvimento do projeto

    em uma linha de tempo associada primeira rodada de aplicao do projeto. O

    perodo antes durante depois nesta investigao abarca o planejamento, a

    construo, a implementao, as aes j realizadas e as previstas aps a primeira

    avaliao. Como a anlise dos casos enfoca a implantao dos modelos, no foi

    pretendida uma descrio do momento atual do projeto nas empresas pesquisadas.

    Foram includas informaes sobre eventos posteriores aos outputs iniciais

    quando serviram compreenso da situao passada.

    Os descritores que embasam o exame dos projetos esto arrolados no

    quadro da Figura 5.1 agrupados por cinco categorias-macro. Estas cinco

    categorias formam as vigas fundamentais que serviram caracterizao dos

    projetos. So elas:

    - tempo: Quais os marcadores temporais que delimitam o projeto?

    - direcionamento: Qual perspectiva que fundamentou a construo do

    projeto? O que est em mira na elaborao do projeto?

    - encadeamento: Como se insere o projeto nas diferentes atuaes da

    organizao?

    - estrutura: Como foi construdo o projeto e qual o seu desenho orgnico?

    - output: O que o projeto traz para a organizao e para os indivduos?

    Quais as repercusses e as propostas provenientes delas?

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    Figura 5.1. Macro-categorias e Descritores para o exame dos projetos de gesto de pessoas por competncias

    MACRO-CATEGORIA DESCRITOR PLANEJAMENTO E INICIO TEMPO

    PERIODICIDADE

    MOTIVAO

    OBJETIVOS

    ABRANGENCIA INICIAL DIRECIONAMENTO

    ESCOPO

    ALINHAMENTO COM A GESTO ENCADEAMENTO

    INTERRELAO EM RH

    SENSIBILIZAO PARA IMPLEMENTAO

    FORMA DE ELABORAO

    CONFIGURAO DAS COMPETNCIAS ESTRUTURA

    INSTRUMENTOS

    FEEDBACK

    RESULTADOS

    PERCEPES E RECEPTIVIDADE

    EFETIVIDADE

    OUTPUT

    FOLLOW-UP

    A seguir sero definidos cada um dos descritores, explicitando seu

    contexto e identificando seus atributos e sub-classificaes. Estes descritores

    surgem dos conceitos fundamentados na reviso da literatura e foram re-

    elaborados e estendidos conforme os dados que emergiram da pesquisa de campo.

    Com vistas a seguir uma lgica temporal e causal, decidiu-se ordenar os

    descritores em seqncia diferente daquela em que aparecem na Figura 5.1, onde

    predominou o agrupamento de descritores por macro-categoria. A ordem da

    explanao dos descritores, conforme seo 5.1, ser seguida na descrio dos

    projetos na seo 5.2. Os quadros-resumo que constam da seo 5.3 esto

    organizados pelo agrupamento das macro-categorias.

    PLANEJAMENTO E INCIO: Delineia o processo de planejamento e

    construo do modelo adotado, indicando as pocas em que foram iniciadas as

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    primeiras etapas para elaborao do modelo. Tambm apresenta a data da

    primeira implementao e a forma como ocorreu.

    MOTIVAO: Entende-se por motivao a inteno subjacente ao projeto. Ao

    discorrer sobre a motivao do projeto, discorre-se sobre as razes que parecem

    ter levado a empresa a implementar um projeto de gesto de pessoas por

    competncias e quais as finalidades que parecem estar embutidas no esforo de

    estruturar uma ao de mudana desta natureza.

    A motivao do projeto no aquilo que dito explicitamente pelos

    representantes da empresa, mas o que a pesquisadora captou nas entrelinhas como

    o real motivador para que a alta-gerncia investisse neste projeto. Certamente, este

    critrio de anlise tem uma perspectiva interpretativa, a partir dos indcios

    sugeridos durante a entrevista e na anlise dos documentos.

    OBJETIVO: Estaro relacionados nesta seo os objetivos explicitados pelos

    representantes da empresa. Foram arroladas as finalidades do projeto,

    considerando aquilo que a empresa afirma que deseja alcanar com sua

    implantao. Em alguns casos, as empresas explicitam seus objetivos prioritrios

    bem como os secundrios seja nos materiais distribudos ou por meio de

    cartazes, banners ou no site institucional.

    Nem sempre os objetivos divulgados coincidem, de fato, com as intenes

    (descritas em motivao), pois as empresas hesitam em revelar claramente

    atitudes ou planos que possam de alguma maneira causar insegurana ou outras

    reaes negativas em parte ou na totalidade do corpo de funcionrios.

    Adicionalmente, faz parte do endomarketing das organizaes, criar estratgias de

    estmulo e mecanismos de incentivo para seus colaboradores. H que se levantar

    tambm que os objetivos da alta-gerncia podem no coincidir com os objetivos

    internalizados por RH ou pela equipe de implementao do projeto.

    Os objetivos que so explicitados pela organizao ao divulgar o seu

    projeto de gesto de pessoas por competncias servem de esclarecimento queles

    que sero alvo das avaliaes. Em muitos casos, buscam direcionar o pensamento

    e angariar apoio ao projeto para que todos se sintam estimulados a participar.

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    ABRANGNCIA INICIAL: Neste item, ser identificado o pblico-alvo da

    primeira avaliao por competncias e, se for o caso, as justificativas para

    implantao por etapas. Define-se a abrangncia em funo dos cargos que so

    submetidos avaliao: executivos (de quais nveis), no-executivos (todos ou

    somente de certos setores); setores especficos ou vrios nveis da estrutura

    organizacional.

    ESCOPO: Considera-se que o escopo o desenho, ou planta baixa do projeto

    de gesto de pessoas por competncias: sua cobertura da empresa - localidades em

    que o projeto j est sendo implantado; e a modalidade de avaliao: 90, 180 ou

    360. Entende-se por avaliao 360 o processo pelo qual um indivduo avaliado

    por seu gestor imediato, por si prprio (auto-avaliao), por seus pares e por

    clientes ou fornecedores (normalmente internos a empresa ou a corporao, no

    caso das empresas estudadas). J na avaliao 180 no se inclui a avaliao dos

    pares ou dos clientes e fornecedores. So abrangidos somente a avaliao dos

    colaboradores pelos superiores, e vice-versa, alm da auto-avaliao. um

    processo bidirecional, de forma que h um movimento top-down de avaliao e

    outro bottom-up. A avaliao 90 restringe-se somente avaliao do superior

    imediato do funcionrio, um movimento top-down, com ou sem o espao para o

    prprio funcionrio se manifestar.

    Dentre os projetos de gesto de competncia relatados na literatura e os

    casos estudados nesta pesquisa poucos so os casos em que os projetos elaborados

    se restringem somente avaliao 90. Porm, h situaes em que o projeto

    prev um escopo mais abrangente, mas na(s) rodada(s) inicial(is) implementou-se

    somente a avaliao pelo superior, caracterizando esta aplicao como de 90.

    FORMA DE ELABORAO: Cada projeto tem um processo de construo

    diferente. Pretende-se, com este descritor, explicitar como foi elaborado o projeto

    de gesto por competncias na empresa analisada, quem foram os participantes do

    comit de elaborao ou quais segmentos da companhia estiveram representados

    nas discusses ou nas estratgias de contribuio ao projeto. Caso a empresa tenha

    contratado consultorias para colaborarem na construo do projeto, tambm ser

    explicitado o papel destas consultorias no projeto.

    A elaborao do projeto pode se caracterizar em cinco modalidades:

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    Participativa quando h participao geral e direta de todos os segmentos

    da empresa que sero avaliados para colaborarem na construo dos

    procedimentos, etapas e/ou no levantamento das competncias. Neste caso,

    aparentemente somente possvel em empresas de pequeno porte devido ao escopo

    de envolvimento, h efetivamente espao para todos opinarem quanto aos temas a

    serem abordados, itens de anlise, mecanismos de avaliao, instrumentos a serem

    implantados, definio das categorias de avaliadores, resultados esperados e

    espectro das conseqncias derivadas do projeto. Mesmo que a participao de

    todos no seja ativa e constante, devido s restries de tempo e de viabilidade de

    agrupamentos de grande escala, h nesta modalidade de elaborao momentos

    especficos para que todos participem em uma ou mais etapas da construo do

    modelo.

    Semi-participativa Esta talvez seja a modalidade mais comum e mais

    vivel. Trata-se da participao nos comits de elaborao do projeto de

    representantes de diferentes segmentos dos grupos a serem avaliados. Estes

    representantes, freqentemente, tm a liberdade de expor, aos colegas que

    representam, o andamento das discusses e ainda trazerem sugestes para o

    trabalho do comit. Assim, ao longo do processo os passos e definies do projeto

    vo sendo validados mesmo que informalmente pelos que sero envolvidos na

    avaliao por competncias. Dentre os projetos analisados nesta pesquisa, esta foi

    a modalidade mais freqente e, na grande maioria dos casos, o representante no

    comit era o supervisor ou gestor da equipe (ou, no caso de muitas equipes do

    mesmo nvel hierrquico, um gestor representante daquele nvel hierrquico).

    Contratada Quando o projeto elaborado totalmente por uma empresa de

    consultoria contratada, ou praticamente exclusivamente por ela, trata-se da

    modalidade contratada. Nestes casos, a consultoria teria acesso a valores,

    cultura, aos objetivos da empresa e poderia observar e pesquisar procedimentos,

    de modo a construir um projeto que se coadunasse com os interesses e

    necessidades da empresa. A participao de representantes da empresa contratante

    restrita s solicitaes da contratada.

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    Importada Este o caso de projetos de gesto de competncias trazidos

    da empresa me, ou da controladora do grupo que pode ser uma organizao

    nacional ou internacional. H pouca ou nenhuma transposio do modelo j

    elaborado cultura nacional ou organizacional da empresa em estudo, limitando-

    se, muitas vezes, traduo do material para a lngua portuguesa quando se trata

    de um modelo trazido de uma controladora internacional ou uma re-impresso,

    ou algo equivalente, com troca de logomarcas.

    H casos de projetos elaborados na empresa-controladora internacional, ou

    em outras empresas do grupo fora do pas, que tiveram a participao de uma

    consultoria para a elaborao inicial. No entanto, quando a empresa de consultoria

    no se envolveu com uma transposio do projeto para a empresa nacional e o

    projeto foi implantado praticamente como veio da controladora, ele se caracteriza

    como sendo importado.

    Adaptada / aculturada Muitos projetos so trazidos da companhia

    controladora, mas sofrem vrias ou algumas adaptaes de modo a se ajustarem

    cultura e estrutura da empresa em estudo. H uma preocupao, nestes casos, de

    harmonizar o modelo de gesto por competncias usado na matriz ou controladora

    com as especificidades da empresa onde ser aplicado. Pode haver, tambm, o

    levantamento de novas competncias a serem incorporadas ao corpo do projeto

    pois refletem melhor e mais especificamente a linha de atuao desta empresa, em

    relao empresa-me.

    A forma de elaborao do projeto pode ser um fator crtico para o sucesso

    de sua implantao. Dependendo do grau de participao e envolvimento dos

    gestores e pessoas abrangidas, o processo utilizado pode ou no criar a

    legitimidade e a credibilidade necessrias para o sistema (Dutra, 2004: 87). O

    comprometimento com os resultados advm, em muitos casos, da forma com que

    cada um participou do processo de estruturao e criao do projeto.

    ALINHAMENTO COM A GESTO: Neste item, sero discutidos os aspectos

    relativos ao entrelaamento do projeto de gesto de pessoas por competncias

    com outras estratgias da organizao e se o projeto de gesto por competncias

    da empresa est focado no plano estratgico, nos valores, na misso e na viso da

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    empresa para o momento da implantao. Espera-se que as empresas busquem

    convergir todas as suas aes para seus objetivos estratgicos. Algumas o fazem

    de forma mais clara e anunciam estas relaes, de modo a fazer com que todos os

    colaboradores tenham esta conscincia. Ento, neste item, sero apontados os

    comentrios dos entrevistados sobre o entrosamento entre os objetivos do projeto

    de competncias, a viso estratgica e os valores da organizao.

    CONFIGURAO DAS COMPETNCIAS: As competncias definidas em

    cada projeto agrupam-se de forma a salientar os comportamentos, atitudes e

    habilidades que so valorizados naquele ambiente organizacional. Podem se

    referir a um perfil genrico, com as competncias essenciais empresa como um

    todo, que seriam compartilhadas por todos os nveis avaliados ou, ento, podem

    dizer respeito a conhecimentos e desempenho de atividades tcnicas

    particularizadas por funo ou atividade profissional.

    Ao analisar cada projeto, importante observar quantas e quais as

    categorias de competncias idealizadas em cada empresa, que comportamentos

    particularizam cada competncia, o que caracteriza a entrega das competncias,

    como se estruturam os nveis de desempenho ou a complexidade deste, e as

    diferenciaes que existem por nvel hierrquico ou funo.

    Na pontuao ou marcao de cada competncia, os projetos iro se

    distinguir entre aqueles que adotam, na atribuio de escores, os critrios de

    intensidade (no atende, atende parcialmente, atende, supera), de freqncia

    (nunca, s vezes, frequentemente ou sempre) ou de graus numricos (aceitando ou

    no pontuaes intermedirias).

    SENSIBILIZAO E IMPLANTAO: Trata-se de apresentar quais as

    estratgias, materiais e instrumentos que foram escolhidos para sensibilizar a

    comunidade-alvo na empresa ao projeto de avaliao por competncias que seria

    implantado. Esta fase de fundamental importncia para ao sucesso do projeto,

    como apontam inclusive as teorias de mudana quando falam na prontido para os

    novos comportamentos a serem instaurados (Gramigna, 2002; Armenakis, 2002).

    Na medida em que tenham sido revelados e disponibilizados para a pesquisadora,

    estes materiais e estratgias sero descritos. Tambm informaremos quem

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

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    participou das diferentes etapas de sensibilizao e como foi escalonada a

    implantao do modelo criado para a empresa sob anlise.

    INTERRELAO EM RECURSOS HUMANOS: Este item visa expor em

    que medida o modelo de gesto de competncias da empresa analisada se alinha

    com as diferentes frentes de atuao tradicionalmente alocadas a recursos

    humanos, tais como: Recrutamento e Seleo, Treinamento e Desenvolvimento,

    Carreira e Oportunidades, Avaliao de Desempenho e Prticas Salariais e

    Remunerao. A operacionalizao do conceito de competncia e de

    procedimentos de avaliao e feedback com base nas competncias deveria

    atravessar as diferentes atuaes na gesto de pessoas, de forma que todos os

    processos de gesto do capital humano estejam envolvidos em um sistema

    integrado e estratgico (Dutra, 2004).

    Embora os diferentes modelos de gesto de competncias possam ser

    alinhados a diferentes aes abrangidas na gesto das pessoas nas organizaes,

    nem sempre os procedimentos so realmente entrosados. Cabe tambm comentar

    que, em muitos casos, no houve, por parte dos entrevistados, uma nfase na

    integrao da avaliao de competncias com alguns dos demais processos de

    gesto de pessoas. Para a pesquisadora, esta omisso, ou superficialidade nos

    comentrios deste assunto, significou que no havia interesse em demonstrar este

    entrelaamento.

    PERIODICIDADE: Neste item, aponta-se qual o intervalo previsto entre uma

    avaliao das competncias e a seguinte. A partir da literatura, consideramos que

    a periodicidade esperada de um ano de modo a haver tempo hbil para a

    realizao da avaliao propriamente dita e de aes de desenvolvimento a partir

    dos dados apontados na avaliao. No entanto, algumas empresas mostraram

    projetos que previam periodicidades diferentes devido aos objetivos a serem

    alcanados.

    INSTRUMENTOS: Aqui sero descritos quais os instrumentos, informatizados

    ou no, que fazem parte dos procedimentos de cada etapa do modelo implantado.

    Incluem-se referncias aos formulrios, s categorias de respondentes, aos

    caminhos que as informaes percorrem e aos tipos de acesso s informaes.

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    FEEDBACK: Uma das etapas cruciais de todos os modelos de gesto de

    competncias a fase de feedback ao prprio avaliado. Embora integrante de

    todos os projetos estudados nesta pesquisa, a etapa de feedback se realiza de

    formas diferentes com menor ou maior grau de participao de representantes do

    RH da empresa e com nveis diferenciados na intensidade de discusso e

    negociao. Neste item da anlise, descreve-se a forma em que realizado o

    feedback se, meramente, atravs da constatao dos resultados das avaliaes, se

    h interlocuo entre avaliador e avaliado, ou se h um processo circular em que

    as avaliaes podem ser revistas e alteradas.

    RESULTADOS: Os resultados a serem observados so os que integram o projeto

    que tipo de repercusso o projeto teve em outros processos da empresa e de que

    forma as informaes colhidas pela avaliao das competncias serve de insumo

    para outras aes na organizao.

    Entre os resultados esperados, considera-se, especialmente, o planejamento

    e organizao de programas de treinamento e desenvolvimento, atendendo a

    necessidades apontadas na avaliao, quer sejam pensados em termos de aes

    coletivas para um grupo ou em termos de capacitaes individualizadas. Outras

    empresas usam a avaliao de competncias como insumo para o estabelecimento

    de metas individuais que podero servir de instrumento para avaliao da

    performance do funcionrio. O projeto tambm poder, direta ou indiretamente,

    estar ligado a indicadores que definiro gratificaes, bnus ou salrios

    adicionais.

    Realocaes, promoes, oportunidades de job-rotation tambm so

    resultados que podem advir da aplicao do projeto de gesto de competncias da

    empresa.

    So considerados resultados as aes decorrentes do processo de avaliao

    das competncias tanto do ponto de vista de etapas de gesto da organizao,

    quanto da perspectiva do indivduo e seu processo de crescimento e

    conscientizao.

    PERCEPES E RECEPTIVIDADE: A implantao de projetos novos nas

    empresas gera sempre reaes dos envolvidos nos projetos. essencial, tratando-

    se de um projeto que atinge diretamente as pessoas da empresa, investigar quais

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

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    as repercusses nos funcionrios que foram avaliados, que efeitos estes

    funcionrios atribuem ao projeto em termos de suas carreiras e seu crescimento

    como profissional e qual o clima que se instaura na empresa a partir da

    implantao do projeto. Em um primeiro momento, esta anlise ter a tica dos

    representantes de RH entrevistados. Porm, indcios da real percepo e

    receptividade dos funcionrios podem, muitas vezes, ser extrados dos

    comentrios durante a entrevista, especialmente quando so informadas as aes

    pretendidas para momentos posteriores ou novos perodos de avaliao.

    EFETIVIDADE: A implementao de projetos de gesto de pessoas por

    competncias pode ser um processo de agregao de valor empresa (Dutra,

    2004: 98), mas preciso que esta contribuio seja percebida pelos participantes

    da empresa. Entendemos efetividade como a capacidade de coordenar os

    esforos e energias, tendo em vista o alcance dos resultados globais e a

    manuteno da empresa no ambiente (Oliveira, 1999: 36) e, assim, o projeto

    trar contribuies efetivas se atingir resultados globais ao longo do tempo e for

    adequado para transformar ou consolidar a empresa no ambiente em que ela se

    insere.

    Ao analisar a efetividade do projeto de gesto de competncias implantado

    nas empresas estudadas, buscamos verificar que tipos de contribuio e melhorias

    na empresa os representantes da empresa perceberam.

    FOLLOW-UP DO PROJETO: Neste item, sero apresentados os passos e

    etapas antevistas para perodos subseqentes. Descrevendo o que as empresas

    pretendem implementar, como planejam ampliar o escopo do projeto, ou que

    alteraes tm em vista, possvel perceber como avaliam o projeto implantado e

    que futuro antevem para ele. As aes pensadas como follow-up do que j foi

    implementado revelam, na essncia, at que ponto o modelo j se integrou ao dia-

    a-dia da empresa e em que medida h espao para ampli-lo ou h a necessidade

    de ajust-lo para torn-lo mais adequado s necessidades da empresa e aos

    interesses dos seus avaliadores e avaliados.

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    5.2 Caracterizao e Especificidades dos Projetos Investigados

    Os sete projetos investigados para esta tese apresentam vrias

    caractersticas comuns e muitas particularidades. Foram, na sua maioria,

    elaborados internamente na empresa para responder a objetivos imediatos

    diferentes, mas buscaram, em ltima anlise, realizar uma transformao

    paradigmtica na gesto de pessoas na organizao.

    Nesta seo, sero descritos os sete projetos, com base nos 17 descritores

    explicitados na seo 5.1, e resumidos na figura 5.1 (pgina 166), de modo a

    traar as semelhanas e divergncias entre os modelos adotados e desvendar as

    interrelaes com os resultados e procedimentos posteriores.

    As informaes que constam das descries que se seguem foram obtidas

    nas entrevistas e nos materiais fornecidos pelos entrevistados folhetos, banners,

    brindes, impressos de pginas da intranet ou dos sistemas utilizados para suporte

    do projeto de gesto por competncias.

    Trechos das transcries esto citadas, em corpo destacado, com aspas

    duplas, fonte Times New Roman, tamanho 11, em itlico, e trechos dos materiais

    (notadamente os folhetos e os impressos) foram reproduzidos, tambm em corpo

    destacado, com aspas simples, fonte Times New Roman, normal, tamanho 11. As

    falas aparecem como foram emitidas nas entrevistas e, ocasionalmente, foi

    necessrio inserir uma palavra ou expresso em colchete para tornar mais claro o

    depoimento do entrevistado. Foram realizadas ligeiras correes de concordncia,

    que se fizeram necessrias uma vez que o clima informal das entrevistas acarretou

    relaxamento com as normas da lngua padro.

    Adotou-se um ttulo metafrico para cada caso estudado, para atrair a

    ateno do leitor e dar-lhe um prisma de interpretao. De fato, no captulo 7

    (seo 7.2) sero explicitados a origem e o sentido da metfora, bem como a razo

    pela qual ela se torna uma representao simblica do projeto, construda pelos

    arquitetos do projeto e re-construda pelos seus participantes.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    176

    5.2.1 A Rgua da VIVO

    PLANEJAMENTO E INCIO: O projeto Sistema de Gesto de Performance

    da VIVO foi implantado pela primeira vez em final de 2003. Com a fuso da

    Portugal Telecom e Telefnica Mbiles e o nascimento da VIVO, o modelo de

    competncias que estava sendo trabalhado na Telefnica precisou ser re-alinhado

    para ter sintonia com o novo perfil da empresa.

    Implantamos na Vivo em 2003, j mais pro final de 2003, definimos as competncias muito na linha do conhecimento, habilidade, atitude, voltado pra uma entrega, quer dizer, ela se explicita atravs do comportamento demonstrado pelo nosso colaborador, alinhado nossa misso, nossa viso, s nossas estratgias, aonde a gente quer chegar. Definimos o que ns chamamos de competncias humanas-estratgicas; no temos definidas as competncias ditas essenciais ou core-competences l do Hamel ou do Prahalad, no temos essas competncias definidas, explicitadas, vamos dizer assim, acho que elas esto, circulam na organizao.

    OBJETIVO: O objetivo principal definido em seus materiais de divulgao o

    de permitir a cada profissional da VIVO conhecer e receber avaliaes concretas

    sobre sua performance. A partir deste foco no desempenho do funcionrio, a

    empresa estabelece alguns efeitos contguos, deste instrumento de avaliao do

    desempenho, quais sejam:

    permitir a elaborao de planos de desenvolvimento e capacitao entre os gestores e as suas equipes de trabalho; obter o reconhecimento pelos nveis de desenvolvimento alcanados que os profissionais, distintamente, venham a apresentar. (Manual do Sistema de Gesto de Performance, p.2)

    A VIVO tambm salienta que o sistema ter impacto sobre a definio de

    objetivos de trabalho e sobre o planejamento de carreira de seus profissionais.

    MOTIVAO: A motivao maior que parece estar subjacente implantao do

    projeto na VIVO est no aprimoramento da gesto do capital humano, no que

    tange a julgamentos sobre o desempenho profissional e a entrega de resultados.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    177

    Tal motivao tem somente um vnculo indireto com a definio de (novas)

    estratgias organizacionais ou com o reforo das estratgias j delineadas na

    VIVO. Constata-se que a avaliao realizada por meio do projeto visa aferir o

    desempenho a partir de um conjunto pr-determinado de expectativas e no

    desvendar as competncias existentes na empresa. Os instrumentos utilizados no

    do margem a revelar talentos ou competncias que poderiam auxiliar a

    redirecionar processos ou metas de atuao da empresa. Assim, v-se um elo

    muito tnue com a formulao de novas estratgias e reas de atuao da

    organizao.

    ABRANGNCIA INICIAL: A VIVO implantou seu Sistema de Gesto de

    Performance em toda a empresa (em todos nveis e em todas localidades em que

    tem escritrios), em um total de 6100 funcionrios poca da primeira

    implantao. Separou os grupos, gestores e demais colaboradores, e aplicou

    primeiramente ao grupo de gestores e dois meses depois ao outro grupo.

    Salienta-se o carter ousado desta implantao geral j na primeira rodada.

    ESCOPO: O projeto abrangeu as competncias que expressem o esprito da

    organizao (Manual do Sistema, p. 2) e envolveram as necessidades

    corporativas, o conjunto de comportamentos que a VIVO espera de seus

    colaboradores. So, portanto, competncias aplicadas a todos

    independentemente de suas atividades e denominadas pela empresa de

    competncias humano-estratgicas. Ou, seja no abarcaram nessa fase as

    competncias e habilidades mais ligadas s tarefas dirias, ou seja, s funes do

    ponto de vista tcnico das atividades realizadas. Esta perspectiva de anlise ficou

    pensada para um segundo momento.

    ...a gente pretende agora, no outro trabalho, explicitar essas competncias. Na medida em que estamos falando de educao corporativa, de gesto do conhecimento, a gente t sentindo uma necessidade de ampliar isso a -- tanto do ponto de vista das competncias organizacionais essenciais, quanto das competncias mais tcnicas, alocadas a eixo de carreira ou a eixo profissional, conforme a gente queira nomear. Ento, o que ns temos hoje um modelo de competncias que a gente chama humanas-estratgicas.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    178

    Na primeira implantao (2003-2004), o projeto previu a avaliao dos

    funcionrios com duas etapas: auto-avaliao e avaliao do gestor. A segunda

    implantao (2005), j incluiu a avaliao do gestor pela sua equipe ou seja,

    abriu para uma avaliao de 180.

    Alm de prever, para uma nova etapa, a definio de competncias por

    eixo profissional, a VIVO tambm j esboou uma avaliao horizontal entre as

    reas. Inicialmente, caberia aos diretores avaliarem suas prprias reas e tambm

    aquelas com que tm interface funcionando como fornecedores ou clientes

    internos. Esta ampliao do projeto o caracterizaria como uma avaliao 360.

    Esta avaliao est planejada para ser realizada pelos gestores somente.

    No uma avaliao das pessoas e sim da performance da rea como um todo.

    Para esta etapa, as competncias especficas da avaliao entre reas sofrem um

    ajuste em relao s competncias VIVO e so reduzidas para cinco.

    FORMA DE ELABORAO: O projeto na VIVO baseou-se nas competncias

    que j haviam sido elaboradas no grupo TELEFONICA, uma vez que a empresa

    um desmembramento do grupo, e contou o apoio de uma consultoria externa. J

    as competncias do projeto da TELEFONICA haviam sido elaboradas com

    assistncia de outra empresa de consultoria.

    No transporte do projeto da empresa-me para a VIVO, foi sentida a

    necessidade de se re-estruturarem algumas competncias e inclurem novas.

    Assim, o conjunto de competncias a serem avaliadas na VIVO abrangeria

    caracterizaes de comportamento humano e de competncias profissionais

    estratgicas para a empresa como ela se caracterizava ento e dentro das suas

    demandas. Neste sentido, pode-se caracterizar o projeto da VIVO, no tocante

    forma de elaborao, como um projeto adaptado, com alteraes realizadas por

    meio de uma participao de alguns segmentos como explicitado a seguir.

    A partir da orientao da consultoria, a empresa iniciou seu redesenho do

    projeto buscando envolvimento dos executivos de seu quadro. Assim, via intranet,

    transmitiu-lhes os conceitos bsicos de competncia e o esquema planejado para

    implantao do sistema de gesto da performance. Solicitou que dessem inputs de

    modo a identificar as competncias chaves para a empresa.

    Essas contribuies foram levantadas e organizadas por um grupo

    consultivo, composto de 12 pessoas, aproximadamente, que representavam

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    179

    diferentes diretorias e reas importantes na VIVO. Coube a este grupo analisar e

    estruturar o que havia sido levantado entre os executivos na forma de um conjunto

    de competncias que comporiam o quadro de anlise na VIVO e, em um segundo

    momento, elaborar suas definies.

    Aps elaborao e consolidao das competncias, com um papel atuante

    da diviso de Recursos Humanos, a proposta foi apresentada direo da

    empresa, os Corporate Executive Officers, para aprovao e autorizao para

    implantao do projeto. Estavam definidas competncias diferenciadas para

    gestores e para os demais colaboradores que atuam na empresa VIVO.

    Foi um modo semi-participativo de construir as competncias, j que

    contou com a participao mais direta de nveis hierrquicos superiores, sem

    consulta direta a todos os nveis da empresa.

    Ento teve uma participao; no foi assim aberto a todo mundo, embora ns colocamos pro gerente que ele podia dividir com a equipe, etc e tal, mas no foi um processo totalmente participativo.

    ALINHAMENTO COM A GESTO: Embora esteja claro o alinhamento do

    Sistema de Gesto de Performance implantado na VIVO com as funes de RH,

    a interface com a estratgia geral da empresa e com seus valores no est to

    claramente exposta no material divulgado e no foi ventilada durante a entrevista.

    H indicao de que o sistema tem relevncia para as tomadas de deciso da

    empresa; porm, o foco das decises citadas em torno dos espectros da gesto de

    recursos humanos. O manual traa a concluso de que o sistema

    tem importncia estratgica, orientando as decises gerenciais no encaminhamento de aes voltadas a programas de capacitao, movimentaes internas, carreiras, reviso salarial, etc. (Manual do Sistema de Gesto de Performance, p.3)

    No se encontra neste documento nenhuma meno a uma interface do

    projeto de anlise das competncias do capital humano da empresa com as

    decises estratgicas corporativas, no sentido de utilizar as foras da empresa

    (identificadas em seus funcionrios individualmente ou em suas equipes) para

    direcionar esforos tcnicos, operacionais ou comerciais, por exemplo. H que se

    mencionar, porm, que trs das competncias analisadas, tanto para os gestores

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    180

    quanto para os demais profissionais, relacionam-se a questes estratgicas da

    organizao, quais sejam:

    Foco no negcio e no resultado

    Comprometimento com os objetivos organizacionais

    Capacidade de adaptao s mudanas / Gesto de Mudanas (para os

    gestores).

    O vnculo dos resultados das avaliaes com aes da organizao, ou

    seja, a viso que se ter dos integrantes da empresa, que constituem a empresa no

    seu verdadeiro sentido, no est nitidamente salientada.

    Em outro ponto do Manual, l-se que

    A organizao ganha em saber quais os pontos fortes e de melhoria e as oportunidades de Treinamento e Desenvolvimento estruturados s necessidades da empresa, no canalizando investimentos de forma subjetiva. (Manual do Sistema de Gesto de Performance, p. 8)

    Ainda no se pode apontar nesta afirmao uma relao concreta com os

    objetivos estratgicos da empresa.

    CONFIGURAO DAS COMPETNCIAS: H dois conjuntos de

    competncias no projeto da VIVO: COMPETNCIAS VIVO, que so as

    habilidades e atitudes de que todos os profissionais da VIVO devem demonstrar e

    COMPETNCIAS VIVO GESTORES, que se aplicam aos profissionais da

    VIVO que tm cargos que exigem a gesto de equipe(s). Cada um dos conjuntos

    tem 7 competncias, como mostra a figura 5.2.

    Observa-se que as competncias dos dois grupos esto bem alinhadas entre

    si. H somente uma mudana de perspectiva, ocasionada pela diferenciao de

    posio na equipe ou na empresa lder ou liderado. Este entrelaamento entre as

    competncias delineadas para os dois grupos sinaliza uma sinergia entre o

    desempenho esperado para todos os funcionrios VIVO, independente da funo

    que exercem.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    181

    Figura 5.2: Quadro de Competncias da VIVO

    COMPETNCIAS VIVO: COMPETNCIAS VIVO Gestores:

    Capacidade tcnica

    Foco no negcio e nos resultados

    Comprometimento com os objetivos organizacionais

    Empreendedorismo

    Capacidade de adaptar-se s mudanas

    Disponibilidade para o trabalho em equipe

    Auto-desenvolvimento

    Liderana

    Foco no negcio e nos resultados

    Comprometimento com os objetivos organizacionais

    Empreendedorismo

    Gesto de mudanas

    Gesto de relacionamentos

    Auto-desenvolvimento Fonte: Material de divulgao da VIVO, 2004

    As competncias foram redigidas visando descrever comportamentos que

    as caracterizam. Para cada uma das sete competncias, foram definidas cinco

    caractersticas e estas so aferidas em termos de cinco graus de desempenho. O

    Manual descreve o que representa conceitualmente cada nvel, bem como a curva

    de distribuio esperada para os resultados dos funcionrios avaliados, como se v

    no quadro da figura 5.3.

    Figura 5.3: Distribuio Sugerida de Resultados das Equipes - VIVO

    NVEL DE PERFORMANCE DISTRIBUIO % ESPERADA RESULTADOS DE PERFORMANCE

    Nvel 5: Performance Excelente 5 %

    Nvel 4: Performance Muito Boa 25 %

    Nvel 3: Performance Boa 55 %

    Nvel 2: Performance Regular 10 %

    Nvel 1: Performance Insuficiente 5 % Fonte: Manual do Sistema de Gesto de Performance, p. 12

    So muito interessantes os comentrios no manual quanto postura

    esperada dos gestores ao desempenharem sua avaliao. H orientaes quanto

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    182

    aos processos de julgamento, principalmente no tocante objetividade e

    imparcialidade do avaliador e a possveis vises tendenciosas subjacentes

    percepo das aes, atitudes e fatos a serem apreciados nas equipes de trabalho.

    SENSIBILIZAO E IMPLANTAO: A primeira fase, realizada entre

    outubro de 2004 e maro de 2005, incluiu a avaliao de todos os funcionrios

    que estavam na empresa h, pelo menos, trs meses, anteriores avaliao. Foram

    trs meses de sensibilizao (outubro a dezembro de 2004) atravs da campanha

    de lanamento do Sistema, que incluiu mensagens eletrnicas, materiais na

    intranet, cartazes espalhados pela empresa, brindes (uma rgua em um envelope) e

    folhetos distribudos para os funcionrios.

    Foram desenhados dois tipos de cartazes que foram distribudos no prdio

    dos escritrios da VIVO. Estes dois cartazes se diferenciavam apenas pela

    chamada -- isto , a manchete que visava atrair a ateno do leitor. Ambos

    tinham lado a lado a lista das sete competncias, as do gestores no lado direito e

    as dos demais profissionais do lado esquerdo. No meio, o bonequinho vivo...

    Esta forma de reunir os dois conjuntos de competncias no mesmo

    material transmite a idia da integrao entre os dois nveis de atuao. Alm do

    fato de comunicar as semelhanas em termos de expectativas, uma vez que as

    competncias so muito paralelas, deixa claro que o projeto para todos.

    INTERRELAO EM RECURSOS HUMANOS: O programa de GESTO

    DE DESEMPENHO da VIVO integra todas as reas de gesto de Recursos

    Humanos. Est diretamente relacionada avaliao do desempenho dos

    funcionrios e anlise de sua relevncia ou contribuio para as diferentes reas

    de atuao da empresa.

    A inter-relao com as estratgias de seleo e recrutamento tambm so

    claras, j que estes processos abrangem a observao e avaliao das

    competncias dos candidatos, inclusive para os participantes do Programa Trainee

    na empresa. O projeto de competncias da VIVO est bem entrelaado com o

    treinamento, na medida em que uma das conseqncias de sua aplicao foi a

    elaborao de um plano de desenvolvimento da equipe de diretores

    PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO VIVO GESTORES -- em parceria

    com uma empresa externa, usando estratgias de Blended Learning. Os focos

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    183

    principais deste plano de desenvolvimento de gestores foram: empreendedorismo,

    capacitao mudana, trabalho em equipe e capacidade tcnica.

    H tambm a integrao com a definio de remunerao, mas somente na

    parte varivel de bonificaes dos gestores. Desta forma, incute-se nos gestores

    uma motivao para levar sua equipe a se superar no desempenho, pois isto

    acarretaria para este gestor um bnus financeiro. No h relao com faixa

    salarial, no entanto.

    PERIODICIDADE: O processo na VIVO est planejado para ciclos anuais com

    todos os colaboradores.

    poca da entrevista, estava planejado um novo ciclo de avaliao para o

    final de 2005, iniciado por uma fase de sensibilizao, que j tinha sido realizada

    a partir de junho daquele ano. Esta fase incluiu um treinamento dos gestores, com

    workshops nas regionais, sobre seleo e avaliao por competncias.

    Na etapa seguinte seria includa a avaliao realizada pelas reas de

    interface ou seja, os clientes e fornecedores internos, mas at o momento as

    competncias que seriam o foco desta avaliao horizontal ainda no estavam

    definidas.

    INSTRUMENTOS: O projeto efetivado por meio de um sistema eletrnico

    (denominado de Conexo RH) que exige que o profissional se conecte para ter

    acesso s telas pertinentes sua participao no programa i.e. auto-avaliao

    e/ou avaliao dos membros de sua equipe.

    O projeto de Gesto de Performance da VIVO inicia com a auto-avaliao

    de cada colaborador do quadro da VIVO. A partir da, o gestor da equipe analisa

    as respostas de cada colaborador em sua auto-avaliao e reflete sobre o seu grau

    de discordncia ou concordncia em relao ao que foi estipulado pelo

    colaborador. Prev-se uma reunio de feedback entre o gestor da equipe e cada

    colaborador individualmente para discusso dos itens e graus de desempenho

    atribudos. O objetivo desta reunio chegar a um consenso que seria, ento,

    validado e armazenado. No h como verificar se este encontro de feedback

    realmente aconteceu, se houve a reflexo conjunta sobre os itens de discrdia, ou

    se houve uma definio do gestor sobre o resultado final da avaliao de

    desempenho de cada colaborador sem nova consulta ao indivduo, mesmo nos

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    184

    casos de grande grau de discordncia de viso entre o funcionrio e seu superior.

    De fato, no h nem como rastrear se houve diferena entre a avaliao que o

    funcionrio fez de sua prpria atuao e a de seu gestor sobre a atuao deste

    funcionrio.

    H um manual do sistema disposio de todos. Nele so apresentadas as

    bases do projeto, os conceitos principais, todas as competncias e forma de

    avaliao. Tambm esto explicitados os benefcios esperados e o cronograma

    estipulado para aplicao do sistema.

    O Manual tem o foco no profissional busca convencer que o Sistema de

    Gesto de Performance VIVO bom para ele. Em poucos momentos h meno

    s vantagens que adviro para a organizao.

    FEEDBACK: Na entrevista, ficou claro que ainda preciso trabalhar a cultura da

    avaliao. H claramente expressa no manual uma preocupao com os

    parmetros de julgamento e para tanto foram listadas alguns cuidados especiais

    para no distorcer a percepo dos fatos (Manual do Sistema, p. 11). Foi,

    tambm, apresentado um quadro com a curva de distribuio percentual dos

    resultados esperados, em termos de expectativa do percentual de funcionrios que

    seriam contemplados com avaliaes de desempenho excelente, muito bom, bom,

    regular ou insuficiente. Estes fatos so indicativos de que havia uma ateno

    especial para a necessidade de imprimir parmetros que contribussem para evitar

    avaliaes desvirtuadas em termos de resultados de equipe.

    Ento eu acho que uma coisa de cultura, das pessoas realmente saberem avaliarem, avaliarem com propriedade, saberem discriminar as pessoas, saberem... muito complicado avaliar.

    Certamente, uma das preocupaes com a avaliao advm do fato de que

    nos dois primeiros anos da implantao do Sistema de Gesto de Desempenho, os

    resultados serviram de input para remunerao varivel a que os gestores teriam

    direito. Como no momento da entrevista no havia ainda a definio de que se iria

    suspender este elo com a remunerao, pairava um questionamento com relao

    real objetividade da avaliao implantada para fins de desenvolvimento

    profissional.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    185

    A bonificao que ns temos anual. Pros gestores. E obviamente, se os gestores se sentem avaliados e contam com a sua bonificao, isso acaba sendo, no mnimo, psicologicamente efeito de cascata. Porque se eu sou bem avaliada e sou bem bonificada sobre isso, a minha equipe vai na mesma linha, ou mais ou menos. E isso uma questo que a gente discute muito internamente, e a nossa tendncia, muito provavelmente, no vincular remunerao varivel. Porque ns queremos realmente que possa servir com foco realmente em desenvolvimento.

    RESULTADOS: Participaram da primeira rodada, 90% do pblico-alvo

    pretendido o que consideraram uma excelente resposta.

    Dentre os benefcios esperados, conforme comentados no Manual,

    destaca-se a oportunidade para sinalizar quais so as prioridades da empresa e da

    rea (Manual, p.8). No est explicitado que tipos de sinais so esperados nem

    que instrumento ou que procedimento no Sistema fornecer estes indicativos.

    Incluem-se entre os resultados advindos do projeto a sua interrelao com

    o desenvolvimento do funcionrio. O prprio sistema informatizado, aps o

    encerramento das etapas finais de avaliao, oportuniza o preenchimento de um

    Plano de Desenvolvimento Individual.

    Este plano deve remeter a duas competncias, dentre as avaliadas, cujos

    escores indicam que h espao para desenvolvimento. Alm de apontar as

    competncias VIVO que ficaram aqum do grau mximo de avaliao, o avaliado

    poderia incluir tambm:

    - alguma das competncias em que, mesmo j tendo obtido uma avaliao

    boa ou superior, fosse essencial maior empenho para seu crescimento na empresa;

    ou

    - uma competncia tcnica especfica em que seu investimento seria crucial

    para o desenvolvimento de sua equipe ou para consecuo de novos

    empreendimentos na empresa.

    H, tambm, no Plano de Desenvolvimento Individual, lugar para indicar

    modalidades de treinamento variadas para atingir o desenvolvimento das

    competncias citadas. Estas modalidades podero incluir tanto cursos

    sistematizados (realizados internamente, online ou em instituies externas),

    quanto outras formas de capacitao.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    186

    PERCEPES E RECEPTIVIDADE: O projeto todo, no olhar da entrevistada,

    tem sido importante para o desenvolvimento individual e melhoria da

    performance das diferentes equipes da VIVO. Os resultados trazem insumos

    importantes do ponto de vista de dois outros projetos da empresa, quais sejam o

    PA Plano de Ao de Diretoria que define o que fazer para melhorar a

    performance da rea e o PDD Plano de Direo da diretoria que envolve aes

    de desenvolvimento para a equipe.

    O trabalho maior que a empresa sente que precisa desenvolver para que o

    projeto tenha melhores resultados com os gestores, na medida em que no vem

    estas tarefas como prioritrias dentro da gama de responsabilidades que

    acumulam. Os gestores se sentem muito ocupados, e dentro de sua cadeia de

    valores, as prioridades no se voltam para o programa de desenvolvimento e

    educao. Esto muito orientados para resultados mais concretos; eles vem as

    pessoas como elemento importante, porm esto muito pressionados a

    desenvolver aes que desemboquem diretamente na produo.

    Dentro do conjunto de colaboradores, a receptividade parece ser positiva.

    H uma grande ansiedade em torno do retorno dos gestores e uma expectativa em

    termos da elaborao do plano de desenvolvimento.

    EFETIVIDADE: Das aes resultantes do projeto da VIVO, destaca-se a

    elaborao do Plano de Desenvolvimento Individual que ir desenhar as aes de

    desenvolvimento a serem empreendidas. Este spin-off do projeto tem sido

    recebido com muito entusiasmo pelos colaboradores da empresa que se sentem

    valorizados e estimulados a crescer profissionalmente.

    Outro bom resultado j apontado pela gerncia de RH da VIVO foram as

    avaliaes inter-reas. Os dados obtidos pelas anlises feitas por gestores sobre as

    reas com que sua equipe tm interface (seja como fornecedores ou clientes

    internos) tm revelado o perfil da rea em termos dos valores da empresa. Assim,

    tem sido possvel refletir sobre a interao entre as reas dentro da prpria

    empresa e de que forma pode haver maior integrao ou entrosamento. A VIVO,

    que tem buscado focar mais no cliente, entende que bons relacionamentos entre

    reas dentro da empresa se refletiro no relacionamento com os clientes externos.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    187

    FOLLOW-UP DO PROJETO: Como um dos subprodutos do projeto de gesto

    da performance por competncias, a VIVO planejou um programa de mentoring

    para gestores para desenvolverem a gesto de carreira. Acreditam que este projeto

    tambm ir reforar a importncia da avaliao.

    A VIVO manter o projeto, aprofundando seu alcance, expandindo para

    incluir a avaliao de reas de interface perfazendo o ciclo 360, buscando atingir

    tambm as competncias tcnicas e reforando a cultura da avaliao como

    instrumento de desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional.

    5.2.2 O Foco da CLARO

    PLANEJAMENTO E INCIO: A CLARO iniciou o planejamento de seu

    projeto em setembro de 2000. Na sua primeira fase, levantou as competncias que

    seriam esperadas e organizou os procedimentos que seriam utilizados na

    implantao do projeto. Em julho de 2001 comeou a implantar o Programa

    FOCO.

    MOTIVAO: O Programa visou, inicialmente, os funcionrios do call-center

    da empresa. A Claro possua um call-center prprio, parte integrante da

    organizao, e sentia que precisava aprimorar o trabalho deste setor, uma vez que

    o segmento da empresa que estabelece a ligao direta com o cliente. Um call-

    center mais eficiente traria resultados melhores em satisfao do cliente,

    adequao dos servios s necessidades dos usurios e menor ndice de abandono

    na relao de servio. Tambm entendia que o call-center reunia vrios sub-

    setores com atividades diferenciadas e funcionrios de nveis diferenciados de

    conhecimentos, mas com remunerao similar.

    OBJETIVO: O Programa FOCO cita seu objetivo como sendo o de focar o

    crescimento e disponibilizar uma importante fonte de motivao na busca de

    autodesenvolvimento profissional (cartilha de divulgao, CLARO).

    Na viso do representante de RH, o Programa visava re-estruturar

    determinados setores da empresa, no caso inicial do call-center, e aprimorar os

    servios oferecidos. Havia a conscincia de que da forma em que estava

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    188

    anteriormente organizado, o call-center era mal-estruturado, abrigando pessoas

    com diferentes formaes e potenciais em nveis de atuao similares ou, ento,

    equipes que desempenhavam funes mais complexas situadas em nveis de

    carreira semelhantes a equipes de atividades menos complexas. Ento, definindo

    melhor as competncias e habilidades necessrias a cada grupo de atividades do

    call-center poder-se-ia implementar um fluxo de atendimento melhor,

    possibilidades de gerenciamento de carreira e crescimento na empresa.

    ...o que a gente tinha no atendimento at ento? Voc tinha equipes com exigncia maior, n, uma complexidade maior de atividades, uma exigncia maior de competncias que no pagava a mesma coisa por um pblico que tinha um nvel menor. Com base nisso, a gente tinha como objetivos fazer essa integrao...

    ABRANGNCIA INICIAL: No momento da sua primeira implantao o call-

    center da CLARO era composto de 700 funcionrios (praticamente a metade da

    fora de trabalho de 1500 funcionrios na empresa), que eram organizados em

    equipes de cerca de 15 subordinados a um supervisor. A cada cinco supervisores

    havia um coordenador que respondia a um gerente geral do call-center.

    ESCOPO: poca da entrevista (setembro de 2004), o programa j atingia 70%

    da empresa, considerando o eixo Rio-Esprito Santo e a empresa j estava

    iniciando a implementao do Projeto em outras regies do pas e planejando sua

    implantao em diferentes setores de atividades, tais como: as lojas, rea de

    preveno fraude, em todo o atendimento, em vendas corporativas e no setor de

    vendas indiretas (que so agncias autorizadas a vender os produtos e servios

    CLARO). A inteno era de que fosse, gradativamente, implantado em toda a

    empresa e que seria, possivelmente, gerenciado de So Paulo, uma vez que a sede

    da empresa estava de mudana planejada para aquela cidade.

    FORMA DE ELABORAO: A elaborao do projeto, comandada pela equipe

    de Recursos Humanos da empresa, contou com a participao dos coordenadores,

    gerente e diretor da rea. Podemos caracterizar este projeto como semi-

    participativo, na medida em que foi elaborado pelo grupo de lderes (de vrios

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    189

    nveis hierrquicos) que atuam no setor que seria alvo da implantao. Coube a

    este grupo fazer o levantamento das competncias necessrias s funes diversas

    abrigadas no call-center, de forma co-ordenada com um projeto de re-estruturao

    do call-center em setores, ou ilhas como os denominaram, e levar as definies

    para validao com os diferentes grupos de pessoal e tambm com os diferentes

    nveis da direo da empresa.

    ...e a gente envolveu todo o grupo, n, todos os representantes do processo l dentro, montando o grupo de trabalho... ... a gente montou uma equipe de trabalho, n, ento a gente tinha aqui, esse grupo aqui. Tambm tem tanto pessoas aqui dos recursos humanos como pessoas da rea cliente, ento, desde o diretor da rea na poca que ele entrava em determinados momento, como o gerente dos supervisores. E por fim, validao. O cronograma, no vou entrar nos detalhes, mas a gente teve uma srie de validaes com o diretor pra gente poder chegar no que seria o modelo que ele queria.

    ALINHAMENTO COM A GESTO: Ficou evidenciado, ao longo dos estudos

    para o Projeto, que seria necessrio reorganizar o call-center para viabilizar

    melhor atendimento s solicitaes que eram dirigidas aos funcionrios. O call-

    center foi re-estruturado a partir de uma diviso em ilhas, para atender a diferentes

    tipos de usurio desde usurios corporativos a indivduos de plano carto. Desta

    forma, foram identificadas competncias diferenciadas para cada grupo de

    atendimento, alm de conhecimentos e habilidades tcnicas distintas que

    precisavam ser empregados ao servir aos diferentes tipos de chamados. Este

    planejamento tambm revelou certa hierarquizao entre reas de atendimento no

    call-center, baseada no nvel e abrangncia de conhecimentos e competncias

    necessrias para desempenhar a funo de forma adequada. Neste sentido, o

    Programa FOCO caracterizou-se como um projeto de novo modelo de gesto do

    SAC (Servio de Atendimento ao Cliente) que estava alinhado estratgia de

    negcio da empresa (Projeto de Segmentao de Clientes) (cartilha de

    divulgao, ATL). O que se percebe um interesse em reajustar um setor de

    modo a impactar os resultados organizacionais a curto prazo, tornando o setor

    mais produtivo e mais focado na fidelizao e encantamento do cliente.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    190

    De certa forma, o Projeto tambm tem caractersticas de plano de

    carreira, uma vez que tambm so divulgados os critrios de recrutamento

    interno e o percurso de insero nas equipes. A empresa apresentou uma nova

    organizao do SAC, como apresentada na Figura 5.4. Figura 5.4: Organizao do SAC - CLARO

    Fonte: cartilha do Programa FOCO, ATL /CLARO, p. 3

    CONFIGURAO DAS COMPETNCIAS: As competncias foram definidas

    pelo grupo que elaborou o projeto a partir de um levantamento das funes e

    requisitos necessrios em cada ilha e do grau de atuao de cada funcionrio por

    ilha. De fato, a identificao das ilhas e a estruturao das competncias foram

    sendo construdas simultnea e interativamente, uma vez que os dois processos

    acabaram alimentando-se mutuamente.

    So denominadas de competncias especficas e so de duas naturezas: as

    que sero analisadas em todos os colaboradores do call-center e as direcionadas

    para segmentos especficos. As comuns so quatro:

    Foco no Cliente

    Flexibilidade e Resistncia Presso

    Iniciativa

    Comunicao

    As demais competncias relacionam-se a capacidades, conhecimentos

    tcnicos e habilidades essenciais ao desempenho das funes especficas dos

    setores do call-center. Cada setor tem o seu conjunto de competncias deste grupo

    Ps Pago

    Pr - Pago

    Welcome Calls

    Internet

    RAT

    Cobrana Corporativo

    Reteno

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    191

    que, somadas s competncias essenciais comuns perfazem o rol a ser analisado

    nos colaboradores. O nmero total de competncias e descries subjacentes a

    cada categoria de competncia varivel conforme a complexidade da funo no

    desenho do SAC.

    A medida das competncias feita por critrios de proficincia em 5

    graus, descritas como a seguir nos formulrios de Perfil do Cargo, disponveis na

    intranet:

    No aplicvel - quando as atividades desempenhadas pelo associado no as

    requer

    No atende O associado no possui a competncia ou ainda no permite a

    avaliao.

    Desenvolvimento A competncia demonstrada parcialmente. Ela est em

    estgio de aprimoramento e o profissional consegue solucionar questes de

    baixa complexidade, mas para questes mais complexas precisa de recorrer

    ao supervisor.

    Aplicao O profissional atua de forma autnoma, atendendo s expectativas

    na maioria das situaes, independente de sua complexidade.

    Excelncia A superao das expectativas constante, solucionando problemas

    e orientando outros associados.

    O perfil de cada funo no call-center exigir um conjunto diferente de

    competncias, a partir de uma combinao entre certas competncias comuns e

    outras associadas funo, definidas em nveis de proficincia diferenciados. Por

    exemplo, no segmento Welcome Calls h que se demonstrar grau de iniciativa 3

    (em aplicao), mas no segmento Crdito preciso que o profissional

    demonstre grau 4 (excelncia) a um mesmo subconjunto de competncias.

    Percebe-se que o projeto de competncias da CLARO bem estruturado,

    mas de aplicao restrita a uma camada profissional. Na medida em que foi

    desenhado especificamente para atender necessidade de re-estruturao do

    servio de atendimento aos clientes, no tem uma viso mais geral da organizao

    e nem teve a preocupao de estabelecer competncias mais interligadas com

    valores ou a viso estratgica da empresa como um todo.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    192

    Uma ampliao do projeto para atender a outros setores da organizao e

    outras camadas profissionais se pretendida precisa comear de outras bases, j

    que este projeto piloto no satisfar as demais necessidades.

    SENSIBILIZAO E IMPLANTAO: Assim que toda a estrutura do

    Programa FOCO ficou pronta, a CLARO iniciou a implantao. Chamou os

    supervisores para um treinamento de dois dias, onde foram apresentados os

    conceitos principais, competncia e desempenho, bem como os pilares do

    programa e suas normas de funcionamento. Este segmento da empresa precisaria

    estar muito bem preparado e ter internalizado os objetivos e procedimentos do

    Projeto, pois seriam os multiplicadores deste contedo entre seus subordinados a

    equipe de funcionrios sob sua superviso. Tratava-se de pessoal localizado em

    diferentes regies do pas e atendendo a todo tipo de pblico dos servios da

    empresa CLARO.

    Para a divulgao macia do Projeto, a empresa contou com um suporte de

    comunicao interna, constitudo de folhetos, cartilha, banners e algum material

    na intranet, especialmente para os supervisores.

    Criaram personagens representativos dos diferentes tipos de funcionrios

    envolvidos no Programa todos com o tpico acessrio da funo os fones de

    ouvido acoplados a microfone. No entanto, os personagens eram vestidos e

    ambientados conforme o tipo de atendimento que representavam: desde o

    atendimento mais tcnico (o personagem estava representado no centro da figura,

    envolto por computadores, torres de transmisso e fones mveis), o atendimento a

    questes administrativo-financeiras (o personagem aparece segurando uma fatura

    e com ar de calculista), ao atendimento corporativo (o personagem est em frente

    a grandes prdios e a outras figuras de executivos). Estes personagens, alm de

    constarem da capa da cartilha de divulgao, foram utilizados amplamente nos

    materiais de comunicao empregados na implantao e execuo do Programa.

    INTERRELAO EM RECURSOS HUMANOS: De fato, o Programa FOCO

    descreve especificamente como ocorre a inter-relao entre as diferentes reas de

    atuao de Recursos Humanos. A cartilha se prope a esclarecer as dvidas

    relativas a Recrutamento e Seleo, Avaliao de Competncias, Treinamento e

    Remunerao . Explicita as etapas de recrutamento interno e os critrios de

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    193

    elegibilidade e seleo que subjazem ao processo seletivo de vagas nas diversas

    equipes. Tambm apresenta a tabela de remunerao com informao sobre os

    valores de salrio-referncia de cada equipe.

    ...e dentro desse grupo na verdade a gente partiu de uma premissa que era incrementar, integrar, quer dizer, todos os processos de recursos humanos, como o (XXX) falou, com base no perfil dos cargos por competncias, voc consegue integrar a avaliao, voc consegue integrar recrutamento e seleo, com todo mundo falando a mesma lngua, com a mesma base conceitual, com o mesmo objetivo, n?...

    Quanto a oportunidades de treinamento, o Programa tem o suporte de um

    conjunto de estratgias de capacitao (Grade de Treinamento) para possibilitar

    que os funcionrios desenvolvam as competncias necessrias de determinado

    perfil, para atuao nas diferentes equipes do SAC.

    ...E a voc treina com base nas avaliaes que voc tiver, quais so os gaps, bom esse era o nosso principal objetivo e de tambm gerenciar as pessoas...

    PERIODICIDADE: Esto previstas avaliaes do desempenho, ou da

    demonstrao das competncias, em diferentes perodos:

    - aps trs meses de admisso;

    - aps um ms em uma nova equipe; e

    - semestralmente (janeiro e julho) para todos.

    Esta avaliao contnua deixa antever a preocupao da empresa com a

    entrega. Os funcionrios so monitorados progressivamente para garantir seu

    desempenho a contento na equipe. Este processo to controlado deve manter um

    clima de tenso e competitividade, de modo que cada um se preocupe no s em

    no perder a sua vaga, mas em conquistar a vaga em outra equipe de maior

    exigncia e maior salrio-referncia.

    INSTRUMENTOS: Os principais instrumentos de divulgao e comunicao

    foram os meios eletrnicos, atravs da intranet corporativa (para supervisores), e

    os folhetos e materiais de divulgao, tais como jornal mural e banners na

    empresa. Para os supervisores houve um treinamento de dois dias sobre a

    conceituao de competncias e princpios de avaliao de desempenho.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    194

    Em termos de instrumentos para a implantao propriamente dita da

    avaliao, a empresa utilizou um software prprio para gerenciar as auto-

    avaliaes e as avaliaes dos supervisores.

    FEEDBACK: No h previso de feedback no projeto implantado na CLARO

    dentro dos moldes descritos na literatura ou seja, uma anlise do gestor com o

    profissional sobre sua atuao, a partir da pontuao atribuda. Evidentemente, os

    resultados da avaliao desembocam em um enquadramento novo ou em uma

    confirmao da posio do profissional, mas no h um mecanismo formalizado

    de retorno e de planejamento de aes de desenvolvimento.

    O papel do avaliado , conforme descrito na cartilha, aproveitar as

    oportunidades de desenvolvimento e atuar na busca do autodesenvolvimento.

    Esta responsabilidade atribuda ao funcionrio somente (sem o planejamento

    conjunto com seu gestor) revela ser o modelo da CLARO um modelo com nfase

    na avaliao, e com um desenho de 90 - top-down.

    RESULTADOS: Em termos da empresa, parece que os resultados foram bem

    satisfatrios, pois conseguiram re-estruturar o setor que carecia de diferenciao

    de atividades, detalhamento de funes, maior acompanhamento e definio de

    parmetros para remunerao.

    Em relao aos funcionrios, no h como deixar de mencionar a

    transparncia na disponibilizao interna de vagas e nos critrios de

    preenchimento. As competncias a serem requeridos dos candidatos a novas vagas

    esto claras o que viabiliza um processo democrtico de competio pelas novas

    posies.

    A divulgao dos patamares de remunerao de forma clara e objetiva

    tambm pode ser considerada um resultado positivo do projeto, na medida em que

    uniformiza pela eqidade de competncias.

    Na entrevista foram poucas as referncias a spin-offs deste projeto para a

    organizao em termos de agregao de valor ou de interface com as aes

    estratgicas talvez devido ao fato de ser um projeto muito circunscrito a um s

    setor de atuao.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    195

    PERCEPES E RECEPTIVIDADE: Na avaliao dos entrevistados

    (representantes de Recursos Humanos da empresa), o Projeto foi muito bem

    recebido por todos que foram envolvidos nas aes realizadas. Foi considerado

    que o maior diferencial deste projeto residiu na forma de avaliao informatizada

    construda pela empresa que possibilitou uma anlise criteriosa das competncias

    e um processo reflexivo por parte dos funcionrios e de seus supervisores.

    No entanto, este ponto positivo foi tambm acenado como um dos pontos

    de entrave do processo. O comentrio feito na entrevista era de que houve algum

    problema no sistema no que tange ao feedback. Os supervisores tinham problemas

    em acessar o software, seja por uma questo de operacionalidade do sistema (i.e.

    um problema de informtica), seja por uma questo de exigidade de tempo para

    coordenar esta atividade com todas as suas demais funes.

    Um outro ponto positivo levantado foi a possibilidade de diferenciar os

    diferenciveis no s aproveitando melhor aqueles que tinham competncias

    para atuar em servios mais complexos, como tambm hierarquizando os grupos

    em termos dos potenciais exigidos e das atividades a serem desenvolvidas. Esta

    pormenorizao de tarefas e funes, com a respectiva definio das

    competncias, criou uma escala de carreira clara e acessvel aos que

    comprovassem possuir os critrios necessrios para funes mais complexas.

    ...como existia a questo da gente passar por todos os processos, inclusive por remunerao e diferenciando num momento em que todo mundo era igual; todo mundo ganhava igual e, de repente, a gente define um milho de nveis de competncias diferentes, e tambm, como um pblico operacional , e tambm, no s essa questo que a gente tem at um pblico diferenciado, que so pessoas de nvel universitrio, no todos, mas a gente tem, como qualquer call-center, a gente acaba, pela carga horria atraindo, n? um pblico diferenciado.

    Na percepo dos gerenciadores do projeto entrevistados, o programa

    FOCO foi bem recebido por todos os envolvidos. Alis, tinham esta grande

    preocupao a da aceitabilidade do programa uma vez que havia a conscincia

    de que a insatisfao deste grande grupo de funcionrios poderia ser prejudicial

    empresa, j que eles fazem a interface direta com clientes de todos os tipos e

    nveis, e precisam se sentir satisfeitos e seguros para passarem um clima positivo

    durante o atendimento. O call-center a grande linha de frente da empresa e das

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

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    diferentes equipes que a compem; deste setor depende, em grande parte, a

    imagem e a eficcia da empresa perante seus usurios.

    ...se a comunicao sasse alguma coisa errada eram 700 pessoas infelizes e com, , atendendo meu cliente final. Ento imagine o impacto. Hoje, claro, esse conceito foi desenvolvido, eles reconhecem, eles sabem o qu que precisa pra ir de uma equipe para outra, a gente no tem problema trabalhista nenhum, com um modelo bem....

    EFETIVIDADE: Os gerenciadores do projeto tm conscincia de que o

    Programa Foco no totalmente estruturado como um modelo de gesto de

    competncias. Utiliza-se das competncias como base-estratgica para dar

    subsdios ao plano de re-estruturao dos servios do call-center.

    ... embora a gente no esteja numa avaliao completamente gerenciada por um modelo de competncia ou por uma estrutura de gesto por competncia, eu acredito que, independente do modelo, o instrumento de avaliao de desempenho, ele o que basicamente consegue te ajudar em tudo...

    Fundamenta-se o projeto da CLARO, na viso de seus organizadores, em

    dois princpios: a definio de cargos (que por sua vez ir viabilizar o

    planejamento e a definio de remunerao) e a avaliao. Assim, possibilitam

    uma anlise em base criteriosa e especfica em funo das caractersticas

    esperadas por funo. A definio e a anlise das competncias no se constitui

    em um fim em si com desdobramentos para o desenvolvimento do profissional e

    da organizao, mas servem a estes dois princpios a definio de cargos com

    sua remunerao e a avaliao do desempenho nestes cargos.

    Tambm, h a percepo da relevncia dos resultados e da forma em que

    so comunicados.

    ...porque o grande problema, eu diria que da vitria ou do sucesso, ou do fracasso de uma organizao focada em gesto de desempenho est na aplicabilidade de instrumentos. E quando eu digo aplicabilidade de instrumento, eu falo na ntegra, por que ele at muito simples, n? Ele at muito simples na sua orientao e no seu suporte, agora onde ele fica desafiante e difcil quando eu preciso somar a ele a atitude da comunicao, n? E que nem sempre a comunicao que a gente ou gosta de ouvir, ou gosta de falar...

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

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    A relevncia do projeto como forma de integrao e homogeneizao das

    diferentes equipes que atuam em todas as regies em que a CLARO opera

    tambm reconhecida.

    ...a CLARO comprou outras empresas em outras regies, n, e l no tinha esse modelo, ento j foi implementando no Centro-oeste, So Paulo ou no interior, isso foi implementado aos poucos porque quando um comea a ter salrios diferenciados sem critrios, ....a a pessoa sai e entra na justia por isonomia.

    FOLLOW-UP DO PROJETO: Dentre as aes de follow-up antevistas, pode-se

    incluir a extenso do programa a outras reas e a outras regies, como j

    mencionado.

    Esse pblico que a gente tem um projeto piloto produzido, a gente estendeu pras outras reas da empresa, est estendendo aos poucos, a ltima rea agora rea de vendas, vendas indiretas, que a gente fez um modelo, ento a gente t caminhando, n, e a inteno da empresa , eu acho que no aconteceu ainda por deciso estratgica mesmo, diante das fuses que a gente ta passando, dentro da consolidao desse grupo no Brasil, estender o modelo pra todas as reas da empresa.

    Outra ao de aprimoramento apontada na entrevista, foi a necessidade de

    reviso do sistema de informtica a fim de torn-lo mais amigvel e menos

    suscetvel a impedimentos no seu funcionamento.

    Em uma oportunidade posterior, em contato com o representante da

    CLARO que nos concedeu a entrevista, foi mencionado que o projeto tinha sido

    suspenso temporariamente. Sem ter tido a chance de aprofundar esta questo, no

    foram dadas explicaes para esta interrupo, a no ser a explicao de que a

    empresa havia optado por outro sistema de contratao deste servio.

    Como j apontamos anteriormente, o projeto da CLARO aqui descrito

    restrito e muito especfico para o segmento operacional para o qual foi

    estruturado. A ampliao do escopo de aplicao requer uma re-anlise das

    competncias de modo a ajustar o conjunto a outra facetas de atuao na empresa.

    Faz-se necessrio preciso abranger novas competncias e, possivelmente,

    encampar algumas das atuais em uma outra categoria de maior abrangncia.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    198

    5.2.3 A Pirmide da TIM

    PLANEJAMENTO E INCIO: O projeto desenhado pela TIM um processo

    espiral que inicia com a avaliao da Gesto de Desempenho, cujo pblico-alvo

    so todos os funcionrios da empresa de todos os nveis. A partir dos resultados

    desta etapa so aplicadas outras ferramentas, com vistas a analisar o conhecimento

    crtico e o potencial de certas camadas de funcionrios, ou na inteno de

    aprimorar a atuao dos que ocupam as esferas mais altas da empresa.

    O projeto nico para toda a TIM, internacionalmente. Assim, coube

    empresa no Brasil, fazer a traduo dos materiais e adequao dos instrumentos

    para implement-lo. No incio de 2004 (fevereiro e maro), deu-se partida na

    implantao do projeto com o treinamento de consultores para atuarem junto ao

    RH e os gestores na utilizao das ferramentas. So duas as consultorias

    empregadas com atuao em diferentes nveis do modelo da TIM.

    Como o projeto da TIM se caracteriza por ser internacional, a empresa

    optou por trabalhar com consultores externos, em algumas das etapas, realizando

    as avaliaes de modo a ter resultados livres de interferncia de influncias

    pessoais. Em alguns procedimentos, os consultores so advindos da empresa de

    consultoria italiana que d suporte holding no pas de origem. Estes so

    envolvidos nos processos de avaliao dos gestores sniors.

    A gente faz questo que seja consultores externos. A gente forma opinio totalmente isenta no conhecimento da pessoa no dia a dia de trabalho dela.

    MOTIVAO: A motivao descrita no folheto de divulgao da gesto de

    desempenho diferenciar o desempenho real do funcionrio face a uma

    expectativa ou um padro de comportamento estabelecido pela organizao

    (folheto Gesto de Desempenho, p. 5). Este foco no gap ou distncia entre o

    comportamento ideal e o real (p. 5) denota uma nfase na avaliao, embutido no

    processo cclico descrito pela empresa que engloba um antes, um durante e um

    depois subsidiados por aes individuais dos funcionrios.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    199

    OBJETIVO: Cada fase do modelo global de avaliao de seu corpo funcional,

    embutida no processo cclico que atinge todas as camadas da TIM apresenta

    objetivos diferentes. A Gesto de Desempenho, que aplicada a todos os

    funcionrios explicitamente uma avaliao da consonncia do funcionrio

    com o perfil esperado pela empresa e da sua realizao efetiva. Aqueles

    identificados com resultados superiores nesta avaliao podem, ento, ser

    submetidos a outros processos que visam desvendar a potencialidade futura e

    identificar o capital humano que essencial empresa pelo seu conhecimento

    tcnico ou do negcio.

    ABRANGNCIA INICIAL: A primeira aplicao ocorreu a partir de maio e

    abrangeu todos os funcionrios na aplicao da primeira ferramenta a Gesto de

    Desempenho. poca, eram cerca de 4000 funcionrios espalhados no territrio

    brasileiro.

    Outras etapas do processo tiveram pblico-alvo bem mais restrito, como a

    fase do Assessment que focava nos gestores de nvel intermedirio. Esta

    abrangeu pouco mais de 300 pessoas na primeira aplicao, na medida em que

    na poca era interessante conhecer melhor um grupo mais abrangente de modo a

    poder avaliar o potencial de muitos colaboradores, com vistas estruturao

    melhor da empresa, ainda muito nova no pas. Inicialmente, abrangeu o nvel de

    coordenao para cima, e ainda alguns do nvel de analista 3, que j tinham

    alguma experincia em gerncia.

    , inicio de dois mil e quatro, fevereiro, maro de 2004 comeou o treinamento, a gente comeou a aplicar em maio, junho, julho e a foi at o final do ano. A gente aplicou em mais de trezentas pessoas. No tinha at ento o critrio definido. Em quem vai ser aplicado, quem no. Quer dizer, tinha desenhado,.. a gente j sabia como ia acontecer, mas como era assim um primeiro momento, a gente queria mesmo abranger muita gente para as pessoas terem a oportunidade de mostrarem o seu potencial, e a gente comear a conhecer um pouco do nosso publico interno, n? A gente j aplicou pra mais de trezentos no Brasil todo.

    A previso para 2005 era de aplicao da avaliao de desempenho em

    7500 funcionrios com uma projeo de 120 na utilizao dos instrumentos do

    Assessment.

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    200

    ESCOPO: Todos os funcionrios da TIM so submetidos avaliao da gesto

    de desempenho. Os demais instrumentos so mais seletivos e s so pertinentes a

    faixas especficas de gestores ou coordenadores. Desta forma, a TIM vai refinando

    suas anlises de pessoas com a finalidade de montar um perfil dos talentos que so

    crticos para a empresa.

    O modelo aplicado do formato de avaliao 90 em todas as suas fases,

    mesmo nos grupos selecionados. No inclui avaliao do gestor pelo funcionrio,

    pois as avaliaes so sempre top-down seja incorporando a viso do gestor ou,

    no caso das etapas do Assessment, realizadas por meio de consultores externos,

    com ou sem o acompanhamento do RH local.

    FORMA DE ELABORAO: Os valores e as competncias que integram o

    projeto da TIM foram elaborados para a empresa-me italiana e foram trazidas

    para uso na TIM-Brasil, assim como foram incorporadas em todas as empresas do

    grupo mundialmente.

    E a gente assume no cenrio de grupo as competncias vindas da Itlia, como assume em todas... todas as empresas do grupo assumem essas vinte e uma competncias, na verdade.

    interesse do grupo que seja importado da Itlia, para que seja viabilizada

    uma mobilidade internacional resultante do emprego de esquemas de anlise e

    avaliao idnticos.

    E assim interesse do grupo que seja importado mesmo da Itlia, n?

    interesse do grupo a mobilidade internacional, mobilidade entre territrios, ento muito importante que a gente use as mesmas ferramentas pra ter o mesmo peso e medida em uma transferncia pra mesmo importar algum, ou exportar, enfim.

    No Brasil, os instrumentos so aplicados por duas consultorias que foram

    treinadas para aplicar os diversos instrumentos e dinmicas. H ainda, no nvel

    mais alto do processo da TIM, a colaborao de consultores vindo da Itlia para

    realizarem as atividades de desenvolvimento com os executivos seniores.

    ALINHAMENTO COM A GESTO: No caso dos nveis hierrquicos

    intermedirios e altos, isto , coordenador, gerentes, gerentes-snior, gerentes

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    201

    corporativos e diretoria, acrescenta-se uma avaliao a partir dos objetivos da

    rea. Esta parte da avaliao serve no s avaliao de desempenho, mas

    desemboca, tambm, em indicadores para concesso de bnus anuais.

    Todo o sistema de avaliao da TIM estruturado em cima do desenho do

    seu corpo de funcionrios. Este corpo representado por um tringulo recortado

    internamente pelas comunidades abstratas que so definidas pelos resultados de

    diferentes procedimentos de anlise e avaliao. Forma-se uma pirmide que tem

    trs camadas e subgrupos dentro das camadas (ver figura 5.5).

    H um forte entrelaamento do projeto com a mobilidade interna e

    deslocamento de recursos para outros territrios de atuao da TIM nacional ou

    internacionalmente. Esta mobilidade tanto representa uma oportunidade de

    carreira para os gestores, quanto uma fora para a empresa que deixa de ter que

    treinar um profissional para assumir certas funes na medida em que pode

    identificar o perfil necessrio dentre um conjunto mais amplo de seus

    funcionrios.

    Outro indcio do alinhamento com a gesto estratgica da organizao o

    vinculo de competncias com os valores da organizao um dos elementos de

    avaliao no Modelo Gerencial que parte integrante da avaliao dos gestores. A

    ligao entre a ao dos gestores e os resultados da organizao est explicitada

    na descrio do que se espera dos gestores.

    Para o nosso Grupo, os gestores devero incorporar que seus resultados no so s os individuais. As suas aes influenciam diretamente no comportamento da sua equipe e nos resultados da organizao. (Folheto do Development Center, p. 6)

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  • 5. Projetos de Gesto de Pessoas por Competncias nas Empresas Telecom Brasileiras

    202

    Figura 5.5: O pessoal da TIM

    Fonte: Folheto de divulgao da Gesto do Desempenho, p. 4

    CONFIGURAO DAS COMPETNCIAS: So vrios os nveis e

    instrumentos de avaliao na TIM, que abrangem desde anlise de desempenho

    demonstrado, identificao das competncias possudas e a serem desenvolvidas

    at a identificao de potencial. So, portanto, ferramentas distintas, aplicadas em

    pblicos diferentes, conforme a identificao da comunidade a que pertencem.

    Como o modelo da TIM um modelo complexo e sistmico, preciso

    entend-lo no todo para perceber como as competncias descritas para a empresa

    se coadunam com as etapas do processo. A figura 5.6. apresenta graficamente o

    fluxo dos mecanismos de avaliao na TIM, conforme entendimento da

    pesquisadora.

    Top Management

    Middle Management

    Key People

    Young Potentials

    Recm-formados e estagirios Profissionais

    CEO, Diretores de Territrio e Diretores de Famlia Profissional

    Diretores-Adjuntos, Gerentes Corporativos,

    Gerentes Snior, Gerentes e

    Coordenadores

    Analistas, Advogados,

    Engenheiros I, II e III, Consultores,

    Fora de Vendas e Fora de

    A