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JorNal UNIVErsITÁrIo DE coIMBra 21 DE Março DE 2012 • aNo XXI • EDIção EspEcIal • QUINZENal GraTUITo DIrETor caMIlo solDaDo • EDITorEs-EXEcUTIVos INês aMaDo Da sIlVa E João Gaspar a unidade de hoje pela união de amanhã

50 Anos de Dia do Estudante

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Edição Especial

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Page 1: 50 Anos de Dia do Estudante

JorNal UNIVErsITÁrIo DE coIMBra

21 DE Março DE 2012 • aNo XXI • EDIção EspEcIal • QUINZENal GraTUIToDIrETor caMIlo solDaDo • EDITorEs-EXEcUTIVos INês aMaDo Da sIlVa E João Gaspar

a unidade de hoje pela união de amanhã

Page 2: 50 Anos de Dia do Estudante

2 | a cabra | 21 de março de 2012 | Quarta-feira

EDITORIAL

Secção de Jornalismo,

Associação Académica de Coimbra,

Rua Padre António Vieira,

3000 - Coimbra

Tel. 239821554 Fax. 239821554

e-mail: [email protected]

Diretor Camilo Soldado Editores-Executivos Inês Amado da Silva, João Gaspar Editoras-ExecutivasMultimédia Ana Francisco, Catarina Gomes Editores Carlota Rebelo (Fotografia), Inês Balreira (Ensino Su-perior), Ana Duarte (Cultura), Fernando Sá Pessoa (Desporto), Ana Morais (Cidade), Filipe Furtado (Ciência &Tecnologia), Liliana Cunha (País), Maria Garrido (Mundo) Paginação Carlota Rebelo, Inês Amado da Silva,João Miranda Publicidade João Gaspar 239821554; 917011120 Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A.;Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção deJornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra

50 anos depois,

um associativismo sem memória

A 50 anos de distância de 1962, as comparações daquela época com o presente do movimentoassociativo e do ensino superior são tentadoras – fruto, quem sabe, de um certo saudosismo dainfluência que os estudantes já representaram e de uma curiosidade em posicionar aconteci-mentos daquela força no presente. Naqueles tempos, qualquer empurrão foi um bom motivopara lutar por um regime democrático.

Um caminho feito de pequenos passos, alguns ingénuos, com recuos, mas pautados por umavontade vigorosa de inventar um país livre. Tendo razão, há que ir em frente - seria a força mo-triz de muitos que, mesmo sob ameaças de prisão, mobilização para a Guerra Colonial ou ex-pulsão das universidades – cenários impensáveis nos dias que correm - podiam fazê-los tremer,mas não caíam.

A Academia, a partir de 1960, com a direção de Carlos Candal, toma uma posição proativa,dinâmica e que criaria as bases para uma consciencialização das massas estudantis. As ativida-des culturais enchiam, os debates e tertúlias moviam discussões acesas e a Assembleia Magnaganhava uma pujança que há muito se perdeu.

Pela força de muitos como aqueles que esta edição faz questão de lembrar, Portugal rompeucom as doutrinas políticas e culturais: pela força daquela que foi “a unidade de hoje pela uniãode amanhã”. E os que antes foram cidadãos inssurretos são hoje memórias vivas de história eparte integrante da vida cultural e política portuguesa. Também a universidade se tornou partedialogante e criativa do espaço democrático, muito pela persistência desta classe estudantil,que esteve na vanguarda e concretizou o peso da responsabilidade de mudar a sua universidadee o seu país.

A “união de amanhã”, que seria a de hoje, aparece, no entanto, desfasada. Num universo de23 mil estudantes na Universidade de Coimbra (UC), a Assembleia Magna não consegue sequeraproximar-se do número de participantes de há 50 anos, quando a UC tinha menos 78 por cento

de alunos inscritos – e, acima de tudo, quando o acesso ao ensino superior estava altamentevedado. Hoje, com um espetro muito mais alargado de oportunidades de participação, os estu-dantes quedam-se apáticos e a reivindicação por um ensino superior gratuito e de livre acesso(não sabemos até quando) mobilizam uma parte diminuta da massa estudantil. Se há 50 anosatrás se via uma sociedade amorfa, 50 anos passados e estão os estudantes mergulhados no ma-rasmo.

Estarão as liberdades de expressão e de acesso à informação a cultivar o devido terreno paraa construção da consciência crítica dos estudantes? Mesmo com notícias gratuitas à frente doecrã, os estudantes de hoje demitem-se de participar da reivindicação dos seus direitos no es-paço público e de integrar as secções da casa que, em 62, era tão queridas dos estudantes. Mar-cado por uma forte presença de juventudes partidárias, o associativismo de hoje preenche-se decumplicidades e tricas políticas; vai-se deturpando e fazendo, na maioria das vezes, “ações sim-bólicas”, esse termo tão em voga na oratória dos dirigentes atuais. Será oportuno considerar, in-clusive, se esta não é uma das ramificações da raiz do alheamento de tantos colegas.

Falta memória, conhecimento e responsabilidade para assegurar a continuidade de algo quetão arduamente foi conquistado. Deliberadas pelo Encontro Nacional de Direções Associativas(ENDA), as comemorações dos 50 anos do Dia do Estudante no Porto e em Coimbra vão bus-car esse árido simbolismo das ações estudantis atuais. No dia 24, o significado da efemérideesvai-se e perde força. A escolha de Luísa Sobral para um dos concertos de comemorações afi-gura-se desconexa, desprovida de qualquer sentido de oportunidade. De lembrar a polémicaem que ficou envolvido este último ENDA, marcado pelo abandono precoce de uma das asso-ciações participantes pelos atrasos injustificados na ordem de trabalhos, decorrentes, segundoa mesma associação, pela participação dos dirigentes em convívios e festas. Um gesto nada dig-nificante e que se apresenta no caminho do associativismo estudantil que não tem voz nem querter.

Apesar da diferença de regimes e de contextos, o que se pede hoje não está longe do que erapedido ontem: a participação dos estudantes nos órgãos de gestão e um ensino superior uni-versal e de livre acesso. Mas o amorfismo parece vencer e as efemérides passam sem que nin-guém as agarre com o significado que elas merecem. Ficam as palmas, as flores e uns obrigadoscerimoniais. E depois? Há 50 anos houve quem resistisse. Hoje, parece que não estamos paraaí virados.

A direção

Apesar da diferença de regimes e de contextos, o

que se pede hoje não está longe do que era

pedido ontem: a participação dos estudantes nos órgãos

de gestão e um ensino superior universal e de livre acesso“

Todas as imagens e fotografias utilizadas na ediçãoforam cedidas pelo Museu Académico e por ArturPinto, Jacinto Rodrigues e José Augusto Rocha. O Jornal A CABRA deixa o seu agradecimento por todaa disponibilidade.

A primeira página desta edição especial - 50 anos do Dia do Estudante,é baseada neste cartaz, alusivo às comemorações do mesmo dia há cincodécadas.

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CONTEXTO HISTÓRICO

10/14 de setembro:É criada a OPEP.

omo qualquer aconteci-mento histórico é prece-dido por um conjunto defatores que levam à sua

inevitabilidade, a Crise Académicade 1962 é antecedida por um trilhode consciencialização e conse-quente contestação estudantil quelevaram à sua realização.

O investigador do Centro de Es-tudos Sociais, Miguel Cardina,acredita que a crise académica temque ser entendida como o culminarde um “processo de politização quevem percorrendo os meios estu-dantis desde finais dos anos 50 eque no início dos anos 60 tem vá-rios marcos”.

Regressemos ao final de 1956,quando foi publicado o decreto-lei40 900 pelo governo de AntónioSalazar. O decreto, que visava res-tringir as liberdades das associa-ções académicas, impedir otrabalho interassociativo, e imporque as suas direções fossem apro-vadas pela tutela, foi encaradocomo uma ameaça à autonomia dosorganismos representativos dos es-tudantes. Na sequência, o descon-tentamento dos estudantes seria

exposto de forma pouco usual atéentão.

A luta desencadeada contra o de-creto forçou a Assembleia Nacionala fazê-lo baixar à Câmara Corpora-tiva, o que significou um recuo iné-dito nos intentos do regime. Noscinco anos seguintes, as associaçõesde estudantes viveriam um períodode vazio legislativo que lhes permi-tiu consolidar e alargar a sua ativi-dade.

Entre 1957 e 1962 “deram-se pas-sos significativos na abertura polí-tica, cultural e moral do movimentoassociativo”, explica Miguel Car-dina. Depois do aparecimento doCírculo de Iniciação Teatral da Aca-

demia de Coimbra (CITAC) em1954, o Coro Misto é criado em1956 – os dois grupos têm emcomum a sua diferenciação daquiloque era a matriz cultural do regime.

Em 1958 há um marco incontor-nável naquilo que seria a conscien-cialização política dos estudantes:a candidatura de Humberto Del-gado à presidência da república.Por oposição ao candidato do re-gime, Américo Tomás, HumbertoDelgado alcança o apoio de umaimportante parte dos estudantes.

Este é apenas o início de uma se-quência de eventos que iria abalarfortemente o regime. Entretanto, oimpério ultramarino francês co-meça a desmoronar-se. Primeiro,Marrocos e Tunísia em 1956, de-pois Guiné em 1958. Uma a uma, ascolónias vão-se tornando indepen-dentes. No que diz respeito ao ter-ritório além-mar português,começa a sentir-se uma maior in-quietação. O Partido Africano paraa Independência da Guiné e CaboVerde (PAIGC) é criado em 1956 eno ano seguinte nasce a Frente Na-cional de Libertação de Angola(FNLA).

Voltando a Portugal, em 1959, oMovimento Militar Independente étravado pela Polícia Internacionalde Defesa do Estado (PIDE). Noinício da década de 60, Álvaro Cu-nhal foge da prisão de Peniche e,para se juntar à FNLA, nasce o Mo-vimento Pela Libertação de Angola.Este seria o prólogo para o annushorribilis, 1961, para o regime.

1961, também o ano em que co-meçaria a ser construído o Muro deBerlim, em plena Guerra Fria, seriaum dos mais complicados anospara o governo de António Salazar.O ano começa com o célebre assaltoao paquete de luxo Santa Maria porparte do Diretório RevolucionárioIbérico de Libertação. Em feve-reiro, estala a guerra pela indepen-dência em Angola, enquanto queem Portugal, Botelho Moniz falhauma tentativa de golpe de estado. Oano não acabaria sem acabar tam-bém o Estado português na Índiacom a queda de Goa, Damão e Diu.

Para o investigador do CES, oseventos decorridos no ano de 1961representam “um abalo terrível naimagem do regime” e lembra que“é um grande ano de luta estudan-

til mas também de luta operária”.No contexto estudantil, a eleição

de Carlos Candal em 1960 para adireção-geral da Associação Acadé-mica de Coimbra representavatambém um avanço, uma vez quesignificava a vitória de uma lista deinspiração democrática. Como tal,também a orientação editorial da

Via Latina, o órgão de comunicaçãoda academia, sofreria alteraçõeseditoriais, como é prova a publica-ção de artigos como «Carta a umajovem portuguesa». O caldo cultu-ral que fermenta nesses anos iráculminar na Crise Académica de1962.

19 de setembro:fundação do PAIgCna guiné Bissau

• •• • ••

4 de outubro: lança-mento do Sputnik 1.Começa a corrida es-pacial entre a URSS eEstados Unidos.

É criada a fnlAem Angola

1958

Candidatura dogeneral HumbertoDelgado à presidência da república.

2 de outubro: A guinétorna-se independenteda frança. Depois deMarrocos e da Tunísia,começa a ruir o impé-rio colonial francês.

1959

1 de janeiro: fidel Castroentra com as tropas em Havana.

12 de março: O movi-mento militar indepen-dente (herdeiro doterramoto “delgadista”) étravado pela PIDE.

31 de julho:nasce a ETA..

1960

3 de janeiro: ÁlvaroCunhal evade-se doforte de Peniche

nasce o MPlAem Angola

• 1961

22 de janeiro: Assalto ao paquete de luxo“Santa Maria”

4 de fevereiro: Começa aguerra pela independênciaem Angola

•17 de abril: Começa a inva-são da Baía dos Porcos que fracassaria doisdias depois.

••

13 de agosto: Começa a serconstruído o Muro de Berlim.

••

falha uma ten-tativa de golpede estado deBotelho Moniz”

19 de dezembro: PIDEassassina o pintor JoséDias Coelho

dezembro: fimdo estado por-tuguês na Índia

1962•••

5 de julho: Argélia con-quista a independência

Crise académica de 62

25 de Junho:nasce a fRElIMOem Moçambique

11 de outubro: Teminício o ConcílioVaticano II

14 de outubro: Princípio daCrise dos mísseis de Cuba

Nacional

Internacional

O preâmbulo dos anos queabalaram o Estado NovoEm 1956, a consciência estudantil foi despertada para, dois anos depois, ser

reforçada pela candidatura de Humberto Delgado. O eclodir dos movimentos

independentistas no Ultramar, com o consequente início da Guerra Colonial,

agitou igualmente o regime. Por Camilo SoldadoInfOgRAfIA POR CARlOTA REBElO

1956

•1957•

C

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Dia 12: é publicado o decreto-lei40 900. Para conseguir a revogaçãorealizam-se, em Lisboa, reuniões in-terassociações..Em Coimbra, no dia15, os estudantes manifestam-se afavor da revogação.

dezembro1956

Estudantes manifestam-se junto àAssembleia Nacional (AN) no dia16. Enquanto protestavam, a políciacarrega sobre os estudantes. O 40900 começa a ser debatido na AN.

janeiro1957

Os estudantes aderem às campa-nhas eleitorais de Humberto Del-gado e Arlindo Valente. Mais tarde,em outubro, o cortejo da latada deCoimbra viria a contar com cartazesantissalazaristas.

maio/junho1958

Tem lugar o primeiro Encontro Na-cional de Imprensa Universitária nodia 24. Comemora-se em Lisboa odia do estudante. No dia 29, é pu-blicado na Via Latina o artigo “Cartaa uma jovem portuguesa”.

fevereiro1961

Proposta pelo Conselho de Repú-blicas (CR), a lista de inspiração de-mocrática presidida por CarlosCandal alcança a vitória nas elei-ções para a DG/AAC.

maio1960

O professor da FLUC, Manuel Silvade Almeida é nomeado ministro daeducação nacional no dia 4. A 13 éa vez de Guilherme Braga da Cruzser nomeado reitor da Universidadede Coimbra, com o apoio do CR eConselho de Veteranos.

maio

Proposto pela direção cessante,Francisco Leal Paiva toma possecomo presidente da DG/AAC nodia 31. Em novembro, GuilhermeBraga da Cruz manifesta preocupa-ção pelas orientações do jornal ViaLatina e classifica a AssembleiaMagna (AM) de “tribunal do povo”.

outubro

No dia 25 celebra-se a Tomada daBastilha em Coimbra com um coló-quio sobre temas associativos. Odecretus que aboliu a praxe é con-siderado “político” por conter dis-posições difamatórias para oPresidente da República, AméricoTomás. O Dux Veteranorum, Joa-quim Cantante Garcia e mais 15 ve-teranos são detidos para seremlibertados em fevereiro de 1962

novembro

Na AE do ISCEF nos dias 3 e 4, rea-

liza-se uma reunião nacional de diri-

gentes associativos e criam, com

caracter provisório, o Secretariado Na-

cional dos Estudantes Portugueses

(SNEP). É ainda marcado o I Encontro

Nacional de Estudantes (ENE) a reali-

zar em Coimbra, de 9 a 11 de março.

fevereiro1962 Dia 2: O Ministério da Educação

Nacional (MEN) proíbe a realizaçãodo I ENE. Dois dias depois, aDG/AAC envia uma exposição aosministros da educação nacional edo interior sobre o programa e fi-nalidades do encontro de estudan-tes.

marçoA realização do I ENE em Coimbraé aprovada em AM no dia 8. Em Lis-boa a RIA toma a mesma posição.Nos dias 9, 10 e 11, realiza-se entãoo I ENE na AAC, ao qual se articu-lam uma reunião nacional de diri-gentes e o II Encontro de ImprensaEstudantil.

marçoO ministro Lopes de Almeida inau-gura a Biblioteca Geral da UC nodia 17. No pátio da FLUC, mani-festa-se um grupo de estudantesque solicita uma entrevista com oministro. Lopes de Almeida pro-mete satisfazer as reivindicaçõesdos estudantes.

marçoNo dia 24, Comemora-se o Dia doEstudante em Lisboa. A cidade uni-versitária é ocupada com a políciaa carregar sobre os estudantes. Sãofeitas algumas detenções.

março

A CRISE EM DATAS

Do descontentamento e da reinvindicaçãoDe janeiro a dezembro de 1962, os estudantes entraram em confronto aberto

com o regime. A história é feita de manifestações, detenções e comissões

administrativas, à espera de uma vitória que só seria alcançada anos mais tarde.

Por Camilo Soldado

olega: Efectuou-se anteon-tem o maior atentado desempre contra a autonomiada Universidade e a digni-

dade de professores e alunos.Por ordem do Governo foi encerradaa Cantina Universitária, passando-sepor cima do Senhor Reitor, das As-sociações e da Comissão Adminis-trativa da dita Cantina.

Camiões da polícia, transportandocentenas de polícias de choque, ar-mados de pistolas metralhadoras, to-maram a Cidade Universitária. Tudoisto, para que lá se não realizassemos Colóquios e o jantar de confrater-nização do Dia do Estudante.”

Este é apenas o início do texto do“Comunicado Zero” emitido pelasassociações de estudantes da Uni-versidade de Lisboa no dia 26 demarço de 1962.

Para perceber o real contexto docomunicado, é necessário voltaratrás no tempo três meses, a janeirode 1962. Neste mês, comemoram-secinco anos das jornadas estudantiscontra o decreto-lei 40 900, o quesignifica também igual período detempo de vazio legislativo para as as-sociações de estudantes (AE). É no

sentido de procurar uma saída paraesta questão que, na Associação deEstudantes do Instituto Superior deCiências Económicas e Financeiras(atual Instituto Superior de Econo-mia e Gestão) se realiza, nos dias trêse quatro de fevereiro, uma reuniãonacional de dirigentes associativos.Os líderes de Lisboa, Coimbra ePorto decidem então formar, comcarater provisório, o SecretariadoNacional dos Estudantes Portugue-ses (SNEP) e na mesma reunião ficamarcado o I Encontro Nacional deEstudantes (ENE) para os dias 9 e 11de março.

A 2 de março, o comando da Polí-cia de Segurança Pública local noti-fica a Associação Académica deCoimbra que o Ministério da Educa-ção Nacional (MEN) proíbe a reali-zação do encontro para, apenas doisdias depois, a direção geral da Asso-ciação Académica de Coimbra(DG/AAC) enviar ao MEN e ao Mi-nistério do Interior, um esclareci-mento sobre o programa do IEncontro Nacional de Estudantes.

A realização do I ENE é aprovadana Assembleia Magna (AM) de 8 demarço, ignorando a interdição do

MEN. A Reunião Inter-Associaçõesem Lisboa, em consonância com aacademia de Coimbra, decide deso-bedecer à tutela.

O início de um conflito era entãoassinalado pela tensão originada,quer pela proibição ministerial, querpela posição tomada pelos estudan-tes. O encontro realizou-se nos diasdeterminados na sede do edifício daAAC e, sem surpresa, saíram delepropostas de democratização do en-sino. Pela primeira vez, partem pro-postas do movimento associativoque punham em causa a política doregime.

Este pode ser considerado o pri-meiro momento de agitação acadé-mica em Coimbra, enquanto que, emLisboa, este momento aconteceu nodia 24 de março, com a proibição dascomemorações do Dia do Estudante.Comemorações essas que, apesar demoderadas (para as quais o ministroda educação nacional Lopes de Al-meida tinha sido convidado), serãotambém proibidas no dia 23.

Já no dia 24, em Lisboa, a cidadeuniversitária acorda cercada por umforte contingente policial. A cantinaé encerrada e os estudantes que vi-

nham de comboio de Coimbra e doPorto para se juntar às comemora-ções, são intercetados na Amadora eos que seguiam de autocarro foramimpedidos de o fazer. Em Lisboa, apolícia carregou sobre os manifes-tantes e alguns estudantes forampresos.

Dois dias depois as Associações deEstudantes da Universidade de Lis-boa emitem o “Comunicado Zero”.Nesse mesmo dia, a DG/AAC encon-tra-se com o reitor da Universidadede Coimbra, Braga da Cruz, para ma-nifestar o seu desagrado com a açãogovernamental no Dia do Estudantee com a prisão de alguns estudantes.É também no dia 26 de março que,em AM, é decretado o luto acadé-mico e greve às aulas.

Entretanto, a Polícia Judiciáriainstaura um processo à DG/AAC, nasequência do I Encontro Nacional deEstudantes e pouco depois o órgãode comunicação da AAC, a Via La-tina, é suspenso.

Consequências

Apesar de, no dia 28, o MEN prome-ter a realização do Dia do Estudantee a libertação dos presos, no dia 5,

“C

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A CRISE EM DATAS

A 26, na AM, os estudantes decretam

luto académico e greve às aulas. Tam-

bém em Coimbra, alguns que distri-

buíam comunicados referentes ao dia

do estudante são detidos. Dois dias

depois, o MEN promete a realização

do Dia do Estudante e a libertação

dos presos. Na sequência, os estu-

dantes das três academias suspendem

o luto.

marçoNo final de março, a Polícia Judi-ciária instaura um processo àDG/AAC no seguimento do I ENE.O órgão de informação da acade-mia, Via Latina, é suspenso.

marçoO ministro da educação nacionaldecide, no dia 5, nova proibição dodia do estudante. O reitor da Uni-versidade de Lisboa, Marcelo Cae-tano, demite-se. No dia seguinte, osestudantes manifestam-se nas ruasde Lisboa, em direção à sede noMEN. A polícia volta a reprimir oprotesto e os estudantes declaramnovamente luto académico.

abril

Reunidos em AM, os estudantes deCoimbra pedem a demissão do rei-tor Braga da Cruz e decidem enviarum voto de louvor a Marcelo Cae-tano. Também ficou decidida umamanifestação contra o reitor da UC.A manifestação decorreu dias de-pois no pátio da UC em simultâneocom uma demonstração de apoiode estudantes de direita e ligadosao Centro Académico de Democra-cia Cristã a Braga da Cruz. Registam-se alguns confrontos físicos.

abril

Estudantes de várias universidadesparticipam nas manifestações do 1ºde Maio em Lisboa. No dia anterior,as associações de estudantes deLisboa suspendiam o luto acadé-mico para se demarcar a reivindica-ção associativa das manifestaçõesdo dia do trabalhador. No dia qua-tro, o luto é reposto.

maio

No dia 7, é suspensa a DG/AAC edissolvida a AM, por portaria doMEN. No mesmo diploma está pre-visto a formação de uma comissãoadministrativa constituída pelospresidentes da AM, do ConselhoFeminino e da Secção de Futebol.Reunidos em plenário de urgência,os estudantes decidem organizaruma marcha desde a Porta Férreaaté ao Governo Civil.

maio

A não realização da Queima dasFitas e a retirada da AAC do Cam-peonato Nacional de Futebol é de-cidida pelos estudantes no dia 8.No dia seguinte, reunidos em ple-nário aprovam a ocupação perma-nente da AAC. Na sequência, apolícia ocupa as principais artériasda alta e cerca a AAC no dia 10.Nesse dia, estudantes de Lisboaocupam as instalações da cantinauniversitária a fazem greve de fome.

maio

No dia 12 é adiado o jogo de fute-bol entre a Académica e o Beira-Mar. As equipas de rugby, volley ebasquete da AAC comunicam a de-sistência dos respetivos campeona-tos. Menos de uma semana depoisé imposta uma comissão adminis-trativa à Secção de Futebol daAAC, presidida agora por um mili-tar.

maio

A AAC e o Sporting defrontam-seem Coimbra no dia 20, em jogo acontar para o Campeonato.. Amaioria dos estudantes apresenta-se nas bancadas com os estandar-tes sportinguistas em protestocontra a comissão administrativa àimposta à Secção de Futebol. Apolícia de choque carrega sobre al-guns estudantes à saída do estádio.

maio

Decorre, em Coimbra, uma séria deprisões de estudantes contestatá-rios desencadeada pela PIDE.

agosto

É publicado, no dia 15, o decreto-lei número 44 632, que reedita mui-tos dos aspetos consignados no 40900. O secretário-geral da RIA, JoséMedeiros Ferreira, é preso.

outubro

Inocêncio Galvão Teles toma possecomo Ministro da Educação Nacio-nal no dia 4. Dois dias depois aDG/AAC vai a julgamento, acusadade desobediência às autoridadesquando realizou o I ENE.

outubro

do ra-

a e am

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o”. on- de

ma- ão

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La-

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voltou atrás com a palavra.Por considerar que a decisão do

Ministério do Interior de enviar for-ças policiais para a Cidade Universi-tária, sem avisar a reitoria, um ato dedesconsideração pela sua autono-mia, o reitor da Universidade de Lis-boa, Marcelo Caetano, envia opedido de demissão ao ministroLopes de Almeida no dia cinco deabril.

Se, em 1961, a nomeação de Gui-lherme Braga da Cruz para reitor daUC tinha sido apoiada pelos estu-dantes, passava-se exatamente ocontrário em abril de 1962, quandona Assembleia Magna, a academiade Coimbra pediu a demissão do rei-tor da UC e aprovou um voto de lou-vor a Marcelo Caetano. Asmanifestações do dia do trabalhadornão contaram com o apoio das asso-ciações de estudantes: no dia 30 deabril, as AE suspendem o luto aca-démico, para se demarcarem da co-notação ideológica do primeiro demaio mas, apesar disso, estudantesprovenientes de todo o país incorpo-ram-se nas celebrações do dia emLisboa.

No dia 7 de maio é publicada no

Diário da República uma portaria doMEN que prevê a suspensão dos cor-pos gerentes da AAC e lhe impõeuma comissão administrativa, o queé entendido como uma tentativa deimobilização da academia coimbrã.

O mês de maio é marcado porforte contestação. Depois da decisãoda não realização da Queima dasFitas e retirada das equipas de fute-bol, voleibol, basquete e râguebi dosrespetivos campeonatos, é impostauma comissão administrativa à Sec-ção de Futebol da AAC. É também nomês de maio que os estudantes ocu-pam o edifício sede da AAC duasvezes, com a polícia a ocupar as prin-cipais artérias da cidade e a carregarsobre os estudantes.

Finalmente, em meados de outu-bro, a questão do vazio legal deixa dese colocar, com o surgimento do de-creto-lei 44 632. Estando a ser ela-borado desde maio, o documentopassou pelos governos das universi-dades com alterações minúsculas àsua génese, o que se justifica pelafalta de representação dos estudan-tes nesses órgãos. O novo decretoreedita muitos dos aspetos consig-nados no número 40 600.

*Este texto foi redigido com base nos comunicados das Associações

de Estudantes da Universidade de Lisboa (emitidos no período entre

26 de março e 3 de julho de 1962) e nos livros “Movimento

Estudantil e Crise do Estado Novo” de Álvaro Garrido e “A

Universidade e o Estado Novo” de Luís Reis Torgal.

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Em 62, os estudantes disseram que não ao regime, vaiaram o reitor eainda se barricaram por duas vezes no Palácio dos Grilos. Esta é a históriade gente que se fez candeia no meio da desgraça. Por João Gaspar

Desenhar a

liberDaDe numa

cela De caxias

uatro da manhã e o am-biente na sala é tenso. Oreceio espalha-se pelosolhos dos presentes e não

há espaço para muitas falas. Os cole-gas que manifestavam apoio ao cercona rua já haviam sido dispersadosbrutalmente pela polícia.

Vão espreitando à janela. Lá fora,já conseguem ver as carrinhas daPSP. O cerco aperta-se e as movi-mentações sugerem que a barricadavá ser arrombada. Reúnem-se todosna sala e sentam-se no chão à esperade ouvir o estrondo de cadeiras emesas a cederem à entrada da políciade choque. São uns gorilas, homensde negro dos pés à cabeça, de capa-cete, armados até aos dentes, e queaparecem em tantas histórias como

carrascode rebeldias du-

rante o Estado Novo.O coração apressa-se e o estrondo

ouve-se. A barricada é abatida pelaforça e os polícias de preto apressam-se a chegar à sala onde 150 estudan-tes estavam sentados. Num impulsorepentino, imposto pelo medo do em-bate, meia dúzia de estudantes le-vanta-se e começa a cantar “APortuguesa”. Todos os outros imitamo gesto. No meio, vozes tremelicamde tantos nervos. A polícia de choquehesita e fica sem saber o que fazer.Pára diante dos estudantes, de pé, aentoarem o hino nacional. O cânticoacaba e os polícias começam a enca-minhar os estudantes para fora doPalácio dos Grilos, que não oferecemresistência. Evita-se a pancada. O co-mandante da polícia, reconhecendo,entre os estudantes, Mário Silva, di-rige-se a ele:-Estão aqui todos?-Sim, senhor comandante.

Mentia. Uns quantos tinham-se es-

capulido para osótão. Mostram-se documentos

e vai toda a gente em carrinhas parao quartel da Guarda Nacional Repu-blicana, na Avenida Dias da Silva.

Os cerca de 150 estudantes fazemfila à espera de saber o que os espera.São identificados e revistados um porum. Tiram-se fotografias e impres-sões digitais. A certa altura, apareceo implacável inspector Sachetti, co-nhecido de tantos que lá estavam.Põe uma secretária e pede para quese faça uma fila com os estudantes.Fica à frente, a separar trigo de joio.Na secretária, rodeado de papéis como carimbo da PIDE, Sachetti faz per-guntas breves e curtas, num ar de sa-tisfação. Finalizado o interrogatório,escolhe para que lado vai o estudante.Chega a vez de José Augusto Rocha,velho conhecido de Sachetti, de tan-tas vezes que foi exigir a libertação decolegas presos. Sachetti sorri em tra-ços largos, tamanho era o ódio quetinha a José Augusto Rocha. Ema-nava a perfumes, como sempre. Umcheiro imundo. Impecavelmente ves-

t i d o ,careca, cara redonda, sem pescoço,entroncado. Eis Sachetti e José Au-gusto Rocha, frente a frente.-Finalmente apanhei-o! – diz, triun-fal.

José Augusto Rocha, não se inti-mida com Sachetti, que até já tinhaprendido dois dos seus próprios so-brinhos.-Veremos no futuro…

Nessa madrugada de 19 para 20 deMaio, vai na primeira carrinha paraCaxias. Juntam-se a ele mais 38, en-quanto quatro raparigas ficam presasna sede da PIDE em Coimbra. Os res-tantes estudantes saem, em liber-dade.

Um abalo sem-medo

Não foi preciso 62 para José AugustoRocha ganhar a consciência de queaquela liberdade tinha muito poucodisso mesmo. Na sua cabeça rodo-piavam desde muito cedo os ensina-mentos de António Sérgio. Aindaestudante liceal em Viseu, devorou osoito volumes de ensaios do filósofo

português. Oneorrealismo por-tuguês, de Manuelda Fonseca a Car-los de Oliveira,era também deleitura obrigató-ria. Percorrem-selivrarias à procurade obras escondi-das, trocamn-sedepois à socapa,distribuem-se pan-fletos e ensaiosfranceses roda-vam de dono. Osolhos perdem

palas.À sua frente e

todos os dias, José Al-meida, estudante de liceu que maistarde iria parar à Guerra Colonial, viaum Portugal atrasado e sonolento,disciplinado pelos polícias, dominadopela igreja e pelos caciques do sala-zarismo. Hélder Costa, alentejano deGrândola, ganha consciência numaterra onde panfletos comunistas emovimentações clandestinas estãosempre presentes.

Também outros sentem esse Por-tugal no seio da família, marcados ànascença. Rui Namorado tinha comotio o poeta Joaquim Namorado, mi-litante comunista e colaborador darevista Vértice. Mário Silva tambémjá estava marcado. O seu pai, velhoinimigo de Salazar, entrava em 1947na lista de docentes e cientistas afas-tados das universidades portuguesas.

Mas, no cinzentismo mudo, vemem 58 um general sem-medo paraabalar Portugal. Diz que demitiria Sa-lazar se vencesse as presidenciais. Oabalo sente-se nos estudantes. JoséAugusto Rocha logo se prontifica aapoiar Humberto Delgado. David Re-

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TESTEMUNHOS

Q

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TESTEMUNHOS

belo, de Medicina, perde-se na cam-panha e acaba o ano só com uma ca-deira feita. Os estudantes rodeiam ogeneral em campanha, colam carta-zes e distribuem panfletos, eletriza-dos pelo sonho de um Portugal livre.Jacinto Rodrigues e João Rego, jo-vens do Porto, que já se atreviam emartigos de cariz social no jornal deliceu Elo, encontram um mar degente a encher a cidade no dia em queHumberto Delgado fora ao Porto. Nomeio da multidão, João Rego, em eu-foria, perde o livro no meio da mani-festação.

Academia de boca calada

Apesar do apoio da população, Hum-berto Delgado perde as eleições, for-jadas pelo regime. O país começa aganhar consciência e a aperceber-sede que é possível fazer frente ao Es-tado Novo. Mas em Coimbra, a res-saca das presidenciais ainda não sefaz ouvir. A Associação Académicamantém-se do lado do regime, as fa-mílias republicanas contam-se pelosdedos das mãos e a atividade culturalé quase inexistente. Todavia, algunsjovens, alimentados pelo romantismojuvenil, já assobiam outras ideias,contrárias àquelas que o regime in-culca.

O Palácio dos Grilos, edifício da as-sociação, é um local quase morto.Aulas, passeios pela baixa, cinema, al-gumas tertúlias, café e pouco mais.Olhos no chão e boca calada. UmaCoimbra marcada pela tradição, ondeos fados ainda pesam mais que ZecaAfonso ou Adriano Correia. A Baladade Outono já se canta, mas poucos aouvem.

A esquerda tenta ganhar as elei-ções; contudo, as listas são politica-mente muito marcadas. Eis que, em1960, interrompe-se a hegemoniaconservadora. O Conselho das Repú-blicas convida José Belo Soares parase candidatar, que recusa, convencidode que era uma lista destinada a per-der, apontando o nome de CarlosCandal. Convida-se Candal, tidocomo orador nato, de palavra cor-

tante e cerebral. Materializa-se a con-testação que, até então, se fazia decochichos e conversas informais. Flo-rescem tertúlias, debates, colóquios,alimentados por novas secções cultu-rais.

Um passo de mulher

As mulheres ganham outra liberdade.Até então, o seu papel discreto e re-servado quase que as fazia passar por

fantasmas. O controlo das freiras nãoas deixa a muito mais, assim como osolhares de uma sociedade machista econservadora. Quase que silenciadas,vão despertando pelos seus própriospés. Eliana Gersão é uma das quetoma iniciativa. No bar de Letras, dáum passo dentro. Repara logo nosmirones constrangidos: são eles ra-pazes de Medicina e de Direito, queocupam o bar para namoriscar comos olhos as meninas de Letras. Nãoera normal uma mulher entrar nobar. Continua, indiferente. Já no Con-selho Feminino, a estudante rompecom a ideia da mulher doméstica.Acompanhada por Candal, vai aoslares pedir às freiras para deixaremas raparigas participarem nas ativi-dades à noite. Lá conseguem que asraparigas saíssem em grupos de cincoou mais, mas com a condição de vol-tarem logo assim que terminasse.

Já em 61 surge o primeiro convíviodas três academias nacionais. Namanhã do rescaldo, Eliana Gersão, asair de casa, vê a cidade coberta depanfletos anónimos a perguntar ondeé que as raparigas das academias te-riam dormido. “A Voz”, jornal coladoao regime, continua com as insinua-ções grotescas, a avisar as famíliasdos comportamentos que as suas fi-lhas teriam. A difamação resulta. Ospais intervêm e o Conselho Femininofica dividido. Convoca-se AssembleiaMagna. Eliana Gersão, perante duasmil pessoas, dirige-se ao púlpito.Magra, baixinha e meio atrapalhadano meio de tanta gente, deixa o ner-vosismo de lado e discursa em defesadas estudantes.

Entretanto rebenta a Guerra Colo-nial em África. O medo nos jovens es-tudantes de Coimbra faz-se sentir edesertar é palavra de ordem para al-guns, sujeitos a um qualquer dia re-ceber a carta de mobilização para aguerra.

“Senhor presidente/ devo dizer-lheque a minha situação está tomada/ euvou desertar”. Nas ruas alguns já as-sobiam a “Desérteur” do francêsBoris Vian e os colegas africanos e in-dianos começam a desaparecer, a res-ponder à Guerra de Libertação. NaLatada de 61, enquanto uns dizem“Salazar tem cancro. Coitado do can-cro”, estudantes angolanos seguramnum cartaz: “Angola é nossa” - amesma frase que os jovens portugue-ses têm de gritar na recruta. Tambéma direção de 61/62 da academia sentena pele a Guerra do Ultramar. A listaproposta para suceder a Carlos Can-dal é encabeçada por José Almeida.Em Maio, numa terça-feira, ganhamas eleições. Na sexta-feira seguinte,José Almeida recebe o guia de mar-cha para reincorporar a tropa, comvista à mobilização para a Guerra Co-lonial. Em Angola, debate-se peranteo dilema de o empurrarem para lutarpor uma causa que condena. A dire-ção-geral fica sem presidente. Esco-lhe-se Jorge Aguiar. Acontece-lhe omesmo fado.

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TESTEMUNHOS

Vem o nome de Francisco Paiva,que está isento do serviço militar porjá ter ido às inspeções militares antesda guerra começar. Francisco Paivaassume a presidência da direção-geral, sem saber que no ano seguinteseria tempo de crise académica.

O Kremlin de Coimbra

No Mandarim, ‘habitat’ de muitosdos jovens de esquerda, as discussõessão acesas e arrastam-se até às duasda manhã. Apelidado de Kremlinpelos de direita, os dois andares docafé enchem-se de fumo e de conver-sas cruzadas. Apesar dos debatesagressivos e das anedotas à volta demais uma qualquer frase desconexado presidente de Portugal, AméricoTomás, os olhos estão sempre aten-tos aos homens vestidos de formasuspeita, figurinos pidescos, de ócu-los escuros, que rondam o Mandarimà coca de frases menos ingénuas.

Dentro do café, al-guns vão à casa

de banho, paralançarem se-

g r e d o sabafados

p e l osom

do autoclismo, com medo de escutas.No Mandarim agitado, folheia-se a

semanal Via Latina, escrita e dirigidapor estudantes e para estudantes.Avelãs Nunes era o diretor e JoséCarlos Vasconcelos o chefe de reda-ção. Numa altura em que os jornaisou aparecem mudos ou a vociferarcomo marionetas salazaristas, as oitopáginas da Via Latina insurgem-secomo alternativa e esgotam facil-mente, quer nas mãos do porteiro daassociação, quer na sacola do ardinaTeixeira, que anuncia com a sua vozrouca, na Praça da República, maisum número. Já em 62, na altura doassalto ao quartel de Beja, um grupode estudantes pega nos jornais e diz-lhe:-Ó Teixeira, pá, tu vendes isso, pá, ése tu disseres que isso traz uma en-trevista com o Humberto Delgado!

Ele acata e começa a anunciar, deVia Latina na mão:

-Olhá Via Latina! Traz entrevistacom o Delgado!Muitos poemas e ensaios não saem

da censura. Muita finta se tinha defazer ao lápis azul, apesar de, emCoimbra, a censura ter na secretáriaum velho coronel, reformado, e quevê mal. Censura cega de corte aometro. Para receber o carimbo de

aprovação da PIDE, escolhe-seum estudante de ar cal-

minho e aprumado.Numa dessas

vezes, vai oCésar Oli-

veira, que,entre os ar-

t i g o s ,t i n h au mp o e m aseu comu mg r a n d esentido dei n t e r v e n -ção. O coro-nel, quecortava em

doses in-dustriais,

faz umap r o -

postaa o

es-

tudante:-Sabe, a minha netinha faz anos ama-nhã. Se me escrevesse uns versos…deixo-lhe passar o poema.

Faz-se a transação. A neta recebeuns versos mimosos e o poema sai naVia Latina. Antes do jornal ser proi-bido, fica outro momento de finta. OEncontro Nacional de Estudantes,marcado para 9 a 11 de Março, é proi-bido. Apesar disso, e seguindo a posi-ção das academias nacionais, a ViaLatina decide escrever um artigo, devéspera, sobre a realização dessemesmo encontro. Para escapar aoolho da censura, fazem a notícia o

mais pequena possível e põem-na nasecção Porta Férrea, destinada a no-tícias mais modestas. Óscar Mon-teiro, moçambicano, ar bem posto,foi ter com o velho coronel, na tenta-tiva de o convencer de que eram tudonotícias corriqueiras. Dá-lhe as notí-cias para a mão e o coronel começa aler. Óscar Monteiro desvia-lhe a aten-ção da secção Porta Férrea:-Ó Coronel, já sabe como é, são as no-tícias habituais.

Passa. E com aquela pequena notí-cia fez-se toda a primeira página daVia Latina. O pessoal da censura ficafulo e telefona para a redação:-Vocês são uns vândalos! Isto nãopode acontecer! Vamos-vos proibir ojornal!

José Carlos Vasconcelos, ainda asaborear a rasteira, argumenta:-Mas ela foi visada pela censura.

Não vale de nada. Ainda antes de24 de Março, dia do estudante, a ViaLatina deixa de circular. A 13 deMarço, a direção-geral aproveita ainauguração da Biblioteca Geral paratentar uma entrevista com o ministroda Educação Nacional, rejeitada an-teriormente. 500 estudantes com fai-xas e cartazes começam a berrar láfora palavras de ordem: “liberdade!Liberdade associativa!”.

A gritaria continua, e na janelaveem-se cabeças do regime espanta-das. Entre elas, a do todo-poderosoSachetti. O inspetor da PIDE vai ter

com os estudantes e pede para amanifestação ser desconvocada.

José Augusto Rocha rejeita a des-mobilização e exige um encon-

tro com o ministro.Conseguem a entrevista e o

ministro compromete-se asatisfazer as reivindica-

ções dos estudantes.Contudo, no Dia do Es-

tudante, a conversa fica-se pelo fiado.Centenas de estudantes que se que-rem dirigir a Lisboa no dia 24veem a sua ação impedida pelapolícia. Autocarros, comboios e até algunscarros são impedidos de continuar otrajeto.

O atropelo e o comboio parado

José Augusto Rocha, António Ta-borda e Margarida Losa metem-se noMini beije de David Rebelo, sabendoque nos outros transportes dificil-mente chegavam a Lisboa. No Carre-gado, a polícia de trânsito mandaparar o Mini, de matrícula TO-31-14.Falharam num ponto: iam de traje. Apolícia ronda o carro à procura dequalquer coisa. David Rebelo salta docarro.-Senhor guarda, porque é que esta-mos aqui parados?-Então… estão parados porque…atropelaram um ciclista em Leiria.

Até no polícia se via que era men-tira.-Mas onde é que o carro está amol-gado?

Sem resposta, o polícia anda à voltado carro e encontra um risco com fer-rugem ao pé da roda traseira.-Vê? Está aqui!-Então mas isso já tem ferrugem. Ena traseira…

Depois de três horas de frete aca-bam por deixar os estudantes segui-rem caminho para Lisboa. Quandochegam, a manifestação já tinha sidodispersada pela polícia de choque.Também Rui Namorado, César Oli-veira, Cabral Pinto e Jacinto Rodri-gues não têm melhor sorte. Com oscomboios para Lisboa intercetados,lembram-se de apanhar a carruagemda Linha do Oeste. Mais astutos, RuiNamorado e César Oliveira deixam acapa e batina em casa, e vão apanharo comboio à futrica, juntamente commalta do Coral de Letras. Contudo,na Amadora, o comboio pára. Algunspassageiros estranham. O comboionão parava naquela estação. A esperaalonga-se até que a polícia de choqueentra na carruagem. “Todos os estu-dantes de Coimbra para fora do com-boio”. Cabral Pinto vê pela primeiravez uma metralhadora apontada aoseu peito. Jacinto Rodrigues, peranteo aparato, ainda desafia um dos bru-tamontes:-Então esse armamento é a sério ou ésó para assustar a malta?

Não obtém resposta e o silênciodeixa arrepios nos estudantes. Ficamcercados os cerca de 60 estudantespelo dobro de polícias. No meio daconfusão, duas raparigas começam adesabafar, atrapalhadas e com medo.-Tenho gente à minha espera em Lis-boa. Eu que nem ia ao Dia do Estu-dante, só ia aqui no comboio…

César Oliveira ouve-as e incita-as areclamar. Aproxima-se do políciamais próximo.

- S e -n h o rguarda, está aquigente que não vempara o Dia do Estudante. Nãoé aceitável terem arrancado essaspessoas do comboio, que até têmgente à espera…-Mas porque não disseram isso nocomboio?-Mandaram sair todos os estudantesde Coimbra! Não falaram em Dia doEstudante.

O polícia vai ter com o seu superiore arranja uma carrinha de caixaaberta, com bancos de madeira, paraos levar para Lisboa. César e Rui, àcivil, colam-se às duas raparigas eacabam por rumar a Lisboa. Às dezda noite eram deixados no Rossio. Osrestantes estudantes são postos emcarrinhas da GNR, aos empurrões.Dentro da carrinha fazem um festivalde berros ao entoarem o “Canta, ca-marada, canta”. A certa altura, con-seguem parar num descampado coma desculpa da bexiga cheia. Alguémavisa os polícias:-Senhor guarda, ou faço xixi oumorro.

Param num descampado, já com anoite caída. Rui Neves, um dos estu-dantes, avisa Cabral Pinto que não vaivoltar. Calmamente e cheio de cau-tela vai-se afastando. Cabral Pintonunca mais o viu.

Em maio, já depois da associaçãopedir a demissão do reitor Guilherme

Braga da Cruz, as instalações da as-sociação são encerradas. No dia 7,quatro mil estudantes saem do Palá-cio dos Grilos e dirigem-se ao Go-verno Civil. José Augusto Rocha vai àcabeça da manifestação, ainda estu-pefacto com tanta gente mobilizada.Na rua Alexandre Herculano, JoséAugusto Rocha vê que atrás das ár-vores da praça e para os lados do Jar-dim da Sereia encontravam-sepolícias armados. A manifestaçãopára e toda a gente se senta no chão.José teme um confronto. Vai ter como comandante e diz que a única solu-ção é uma reunião com o governadorcivil. Estudantes sugerem que seavance; outros, mais moderados,pedem uma negociação. José Au-

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21 de março de 2012 | Quarta-feira | a cabra | 9

TESTEMUNHOS

Em Caxias impõem a sua próprialiberdade. Surge o ministro do

Interior, do Exterior, dasLimpezas, da Saúde e do Yoga.

Mac Maon lidera o grupo.

gusto Rocha pesa os dois lados. Tinhavontade de avançar, mas todas aque-las metralhadoras ali à sua frente, apossibilidade de haver mortos…Acaba por fazer recuar e desmobili-zar a manifestação. Conversa com ogovernador civil, mas entretanto osdiálogos acabam.

A primeira ocupação

Decide-se, em Magna, ocupar o Palá-cio dos Grilos. Um grupo de estudan-tes arromba a porta da torre dauniversidade, e Alçada Baptista, todocheio de genica, toca o sino a rebate.Ouve-se na cidade inteira a Cabra.Uns tratam de ocupar o palácio, ou-tros mobilizam o pessoal, quer nasruas, falando com os futricas, quernas aulas, que interrompem parachamar os estudantes.

Dentro do velho edifício os estu-dantes reúnem-se, formam barrica-das, recebem mantimentos vindos domuro que dava para o pátio interior.Lá dentro, Mário Silva pinta ummural onde se vê um estudante agar-rado às grades de uma prisão, a olharpara o sol da liberdade. Alguns cum-prem o programa de sono, outros en-tregam-se a utopias cheias de luz.Entre eles, há estudantes que, arre-batados com tamanha movimentaçãoe impelidos pelo romantismo, che-gam até a pensar, no vento que lhespassa, que o reitor se vai demitir ouaté que o regime vai cair. De manhã,acordam com o sonho em ferida.

A polícia de choque rodeia o Palá-cio dos Grilos, e, por sua vez, umaonda de estudantes de todas as facul-dades rodeia a polícia. Clima tenso.Dentro e fora do edifício. Eliana Ger-são, cá fora, não pensa em abandonaros colegas. Ninguém pensa. Mantêm-se firmes, mesmo que o medo do con-fronto cirandasse nos seuspensamentos. Chega uma comissãode professores para negociar com osestudantes. As chaves do edifício sãoentregues pela direção-geral à comis-são a troco de algumas promessas. AsMagnas passam a realizar-se nocampo de Santa Cruz, mas quando énomeada uma comissão administra-tiva para a Secção de Futebol, a deci-são é tida como uma provocação doreitor Braga da Cruz.

Era preciso ocupar uma segundavez o Palácio dos Grilos. Não se podiaconvocar a ocupação em Magna, quese corria o risco de encontrar a políciano edifício quando lá chegassem.Então, Francisco Delgado, membrodo CITAC, usa da sua voz forte, trei-nada pelo teatro, e lança-se aos estu-dantes:-Vamos todos ao assalto à Bastilha!Vamos todos à Associação Acadé-mica!

Tem medo que ninguém o siga,mas quase duas centenas de estu-dantes respondem ao pedido. Numesticão estão lá, a correr que nemmiúdos, prontos para a reocupação.

Jacinto Rodrigues e o seu colegaAidos atiram-se à porta. Vale o cor-panzil de Aidos para a porta ceder.Rui Namorado, Luís Madeira e ou-tros estão encarregues de tocar o sinoa rebate. Chegam à torre e a portaestá trancada com traves de madeira.Vão a umas obras que havia ali pertoe pegam num barrote. Conseguemarrombar a porta e Luís Madeira sobeaté ao topo, mas não sabe tocar o sinoa rebate. Malograda a tentativa, des-cem e veem já a polícia a cercar afrente do Palácio dos Grilos. Encon-tram maneira de descer por uma es-cada para a sede da AAC. Mas aocupação acaba com a ida dos 39para Caxias, numa madrugada fria. Aeles junta-se, dias depois, Mac Maon,presidente da Assembleia Magna.Ficam formados os 40 de Caxias.

A democracia em prisão

Presos, aprendem o significado depalavras que lhes estão tão longe. Ládentro vivem, antecipadamente, umprojeto embrionário de democraciadireta, com rotativismo de tarefas,num espelho daquilo que desejampara o país. Impõem a sua própria li-berdade. Surge o Ministro do Inte-rior, do Exterior, das Limpezas, daSaúde, do Yoga, e Mac Maon a lide-rar os colegas, com a sua postura im-placável, digna, cheia de alma. Emlinguagem firme, defende os estu-dantes dos guardas prisionais. Can-tam gritos de revolta, ouvem históriasque saíam de outras celas. Históriasde mineiros de Aljustrel, que lhes en-sinam cantares de gente amordaçada.

Uns vão saindo e trazendo novida-des de fora. Jacinto Rodrigues mandaum postal para os que ainda estãodentro de Caxias. “Está um solquente. Mas eu tenho raiva em poderparticipar de uma coisa que vos é ne-gada”. No final do postal, diz que omundo os acabaria por escutar.

Passado um mês, com todos cáfora, reúnem-se em Coimbra, paraum jantar com os 40 cachos e as qua-tro uvas, como diz a ementa dese-nhada por Mário Silva. No meio doalvoroço e de cantigas, Jacinto Ro-drigues atira-se para cima da mesa dejantar e dança a kalinka, em jeito detroça por serem chamados de comu-nistas.

Seguem-se os processos disciplina-res na universidade. O grupo já tinhacombinado apenas reconhecer a assi-natura e a recusar-se a prestar decla-rações. Chega a vez de Rui Namoradoir a interrogatório. Quando chega aopátio da universidade encontra o seupai, médico que tinha sido proibidode exercer a profissão em qualquerestabelecimento público. Dirige-se aele e ouve as palavras que ainda hojeo fazem tremer.-Filho, não tens que ceder em nada.Se fores expulso és expulso, masnunca baixes a cabeça.

Nenhum baixou a cabeça.

Esta reportagem foi escrita com base nos depoimentos de Artur Pinto, Cabral Pinto, David Madureira Rebelo,

Eliana Gersão, Francisco Paiva, Hélder Costa, Jacinto Rodrigues, João Martins Rego, José Augusto Rocha, José

Carlos Vasconcelos, José Lopes de Almeida, Judite Cortesão, Luís Lemos, Mário Silva, Mendonça Neves e Rui

Namorado.

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As sucessivas ações no dia 24 de março, desde 1962, resultaram na instituição, pela Assembleia da República (AR), de um dia para homenagear a luta es-tudantil. A partir de 1987, o dia do estudante passou a ser oficial. “A Lei número 19/87, de 1 de junho de 1987, veio consagrar o dia 24 de março como odia nacional do estudante e atribuir ao governo a competência para regulamentar a atribuição dos apoios no âmbito das comemorações daquela data, bemcomo a instituição de um prémio anual de trabalhos escritos sobre a temática estudantil. O (…) diploma define as condições e formas de apoio (…), tendoem conta que a participação (…) dos estudantes, nas comemorações constitui uma das formas de dinamização e reforço do movimento associativo.”

1991

1988

1992

2005

1994

1998

2006

Estudantes do ISEC intensificam os seus protestos contra a integração do estabelecimento escolar no ensino po-litécnico. Contra uma política educativa que consideraram “pouco dignificante”, manifestaram-se pelas ruas de Coim-bra pacificamente. Também o ensino secundário fez greve por melhores condições na Escola Jaime Cortesão.

2009

2003

2000

Entre manifestações, ações simbólicas e

marchas de rua, o dia 24 de março ganhou

relevo ao longo dos tempos.

As reivindicações foram várias e o objetivo

permanece – um ES a que todos têm

direito.

1987

DECRETO - LEI N.º 400/88

2011

Um olhar sobre

25 anos de ações

de luta estudantil

1990

“Dormir na escola até que o governo acorde” foi a ação realizada pelos estudantes de enfermagem de Coimbrapara reclamar a publicação de notas que estavam congeladas devido à greve de docentes. Sob vigilância policial,permaneceram na escola desde as 17h30. Também estudantes da universidade e do politécnico se juntaram para umamanifestação contra o aumento das propinas. A direção-geral (DG/AAC) visitou as repúblicas “Rapo-Taxo” e “Ay-Ó-Linda” no âmbito do plano de recuperação das repúblicas. Foi ainda inaugurada a escultura “Cogito” – uma mesa emmármore com livros -, de Pedro Cabrita Reis, em memória do dia do estudante, em frente ao Jardim Botânico.

No Estádio Nacional do Jamor, onde dirigentes associativos de todo o país assistiram e participaram num jogo defutebol contra membros do governo, foi anunciado o estatuto de dirigentes associativos para estudantes. O regula-mento, aprovado em Conselho de Ministros, permite que os estudantes usufruam de um regime especial de exames.

Com realização na escola secundária José Falcão, o plenário nacional de trabalhadores estudantes teve comoprincipal objetivo analisar o estado do ensino noturno em Portugal. A participação da Federação Nacional das As-sociações de Trabalhadores Estudantes no Conselho Nacional de Educação foi outro dos temas abordados.

A AAC participou numa ação em Lisboa com várias académicas do país, entregando ao presidente da AR, Barbosade Melo, uma petição de revogação da lei das propinas. Exigiram ainda o alargamento da ação social escolar ao ESprivado. Os estudantes do secundário, em greve, pediram a extinção das provas globais.

Uma iniciativa “inédita” da AAC marca este dia: 100 estudantes marcharam de Mafra a Lisboa em jeito de “pere-grinação” contra a lei de financiamento do ES. Chegados a Lisboa e juntando-se a várias associações do país ruma-ram à AR, partindo a seguir para uma campanha de rua. Também, a DG/AAC se associou aos alunos da escolaprimária da Adémia, num cortejo de “doutores e miúdos”, em solidariedade com as crianças carenciadas.

Na véspera do dia do estudante, os alunos de sete universidades privadas pediram a demissão do ministro Gui-lherme Martins, por considerarem que o ensino privado estaria a ser discriminado. Este foi designado como “o diado outro estudante”. Cerca de 3000 estudantes do secundário manifestaram-se pelas principais artérias de Coimbra.

A DG/AAC dinamizou uma meia maratona contra o aumento das propinas. Da Rua Ferreira Borges aos Jardins daAAC, os estudantes mostraram o seu descontentamento com as propinas e as condições das instalações das váriasfaculdades. Os universitários correram pela cidade, oferecendo flores à população. No dia 26 de março, a AAC di-namizou outra prova desportiva – pedalar durante três dias até Lisboa, na continuidade de ações de protesto.

Associações de todo o país reuniram-se em Coimbra, para aprovação do “Livro Negro do ES”, onde constam asmás experiências de cada instituição do ES. Segundo o então presidente da DG/AAC, Fernando Gonçalves, nãohouve nenhuma iniciativa convocada porque se pretendia “mostrar que os estudantes não estão na rua por estar”.

Para contestar o Processo de Bolonha, os estudantes pretendiam fechar a Porta Férrea como forma de protesto.Contudo, o ex-reitor, Fernando Seabra Santos, com conhecimento prévio da ação, mandou colocar uma barra me-tálica entre as duas portas, boicotando a iniciativa dos estudantes. Na noite anterior, a AAC já havia participadonuma vigília em frente à AR com o lema “Bolonha: elitização/mercantilização do ES. Porque vale a pena lutar”.

Após a implementação do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), o Conselho Geral da UCpassa a contar apenas com cinco estudantes. Em forma de reivindicação, a DG/AAC promoveu o evento “Jogo das Ca-deiras”, para denotar a falta de paridade nos órgãos de gestão da universidade e a presença minoritária de alunos.

A DG/AAC decidiu colocar na torre da Cabra quatro panos negros em forma de protesto, iniciativa que se reper-cutiu pelos vários polos da UC, com especial incidência no átrio das Químicas. Foi ainda promovido um boicote àsaulas no mesmo dia. Por sua vez, o Conselho de Repúblicas protagonizou um acampamento no Largo da Porta Férrea,que tinha já trancado. Com a torre de luto e com salas vazias, termina o dia do estudante. No final do dia, realizou-seuma AM, em forma de balanço das atividades. Já o acampamento dos repúblicos foi só levantado no dia seguinte.

10 | a cabra | 17 de Abril de 2009 | Sexta-feira

DIA DO ESTUDANTE AO LONGO DOS 25 ANOS

Por Ana Duarte e Ana Moraiscom Liliana Cunha

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21 de março de 2012 | Quarta-feira | a cabra | 11

A IMPRENSA E A LUTA ESTUDANTIL

Quando a liberdade era por entrelinhasNos anos fortes do Estado Novo, através da censura, a imprensacamuflou habilmente a investida estudantil contra os pilares doregime. Enquanto a maioria dos jornais se dobrava perante Salazar, os estudantes encontravam nova força para multiplicaras publicações e espalhar a contestação. Por Inês Amado da Silva

ra o ano de 1961.

No cortejo da

Festa das Latas,

em Coimbra, vários estu-

dantes angolanos cons-

truíam uma dura ironia no

desfile, ao exibirem fai-

xas com a frase “Angola é

nossa”: era a revolta

contra o colonialismo

português e a Guerra do

Ultramar a aliar-se à re-

volta estudantil. Aquele

acontecimento não está

registado em páginas de

jornais da época - apenas

as memórias individuais

podem evocar imagens como

esta, que se perderam dos

registos.

Para as gerações do

presente, será estranho

imaginar uma sociedade em

que o direito à liberdade

de expressão está comple-

tamente vedado, bem como

o da liberdade de acesso

à informação – mas foi

este o contexto que, há

50 anos atrás, envolveu

todo o percurso dos estu-

dantes que lutavam por

coisas simples como a au-

tonomia universitária.

Eram os tempos de um sa-

lazarismo repressor, da

censura, da repressão e

da ditadura. “Este número

foi visado pela comissão

de censura” poderia bem

ser a frase mais verda-

deira que os jornais da

época exibiam nas suas

primeiras páginas.

Ao olhar-se para a im-

prensa portuguesa do iní-

cio da década de 60 com a

distância crítica que o

tempo permite, pode per-

ceber-se, de forma clara,

o quanto a imprensa não

estava a informar sobre a

verdade dos acontecimen-

tos que agitavam a dita-

dura.

As páginas recheadas de

acontecimentos interna-

cionais, mesmo nos jor-

nais regionais, desviavam

as atenções da realidade

política do país. Não

raras vezes, escândalos

de Hollywood e insólitos

vindos do estrangeiro

eram assunto de primeira

página.

A imprensa sobre os acon-

tecimentos em Coimbra

Quem folhear jornais da

época, como o Diário de

Coimbra (DC), poderá ter

a perceção do nível de

censura a que as publica-

ções estavam expostas:

sobre o I Encontro Nacio-

nal de Estudantes, em

Coimbra, por exemplo, não

se encontrará qualquer

vestígio. As menções que

podem descobrir-se na im-

prensa referentes aos

acontecimentos que envol-

veram o Dia do Estudante

são, em grande maioria,

constituídas pelas “notas

oficiosas” enviadas pelo

Secretariado Nacional de

Informação (SNI) às reda-

ções, por interposto do

Ministério da Educação

Nacional.

Neste âmbito, o aconte-

cimento que mais mereceu

destaque nos órgãos de

todo o país foi a suspen-

são da Queima das Fitas

de Coimbra, sempre atra-

vés das “notas oficiosas”

enviadas pelo Estado. O

postal que as tradições

coimbrãs representavam

era rasgado com o decre-

tar do Luto Académico, e

a indignação despertou

além-fronteiras, che-

gando a jornais das “pro-

víncias ultramarinas”. O

jornal “Intransigente”,

de Benguela, Angola, ape-

lida o acontecimento de

“gesto estouvado de tan-

tos que esquecem estas

superiores realidades

para, com atitudes impen-

sadas, enfraquecerem a

nossa mais que nunca in-

dispensável coesão”, no

artigo “Quo Vadis, Conim-

briga?”.

A barricada dos estu-

dantes no Palácio dos

Grilos e toda a repressão

policial que a envolveu

nem espreitou as páginas

dos jornais – apenas teve

lugar, na primeira página

do DC a 19 de maio, a pu-

blicação do decreto que

vinha estabelecer penas

“a estudantes arguidos em

processo disciplinar”.

A imprensa sobre os acon-

tecimentos em Lisboa

Nos protestos em Lisboa,

no dia 10 de maio, eram

presos 1500 estudantes

que ocupavam a cantina da

Cidade Universitária da

Universidade de Lisboa. A

12 de maio, as várias pu-

blicações lisboetas noti-

ciavam o evento, mas com

o cunho nítido do Lápis

Azul: todos os textos se

assemelhavam entre si em

vários parágrafos, numa

espécie de mimetismo pro-

movido pela censura que

assegurava a versão do

regime em todos os jor-

nais. Exemplo é a forma

como a violenta repressão

policial que marcou

aquele dia foi contada

pelo Diário de Notícias:

“o comandante Costa Veiga

[da PSP], posto o que en-

trou no edifício e se di-

rigiu aos presentes,

dizendo que, em vez de

ordenar a prisão de todos

pelos guardas, resolveu

ele próprio convidá-los a

segui-lo e a entrarem nos

carros da polícia”. A no-

tícia dá ao leitor, in-

clusive, o julgamento de

valor que deve fazer –

“esta decisão do oficial

foi acertada, começando

todos a evacuar as salas

onde se encontravam”.

A atividade panfletária e

os títulos

universitários

Contrastando com o cená-

rio restritivo da im-

prensa generalista, os

títulos universitários e

a atividade panfletária

proliferavam. Em Lisboa,

o jornal “Quadrante”,

coordenado pelos alunos

da Associação de Estudan-

tes da Faculdade de Di-

reito da Universidade de

Lisboa, desagradou o mi-

nistério. “Sonhos de

ontem são hoje realida-

des”, escrevia-se no pri-

meiro editorial. Ainda

que de número único, o

jornal “Dia do Estudante”

(imagem alusiva no cabe-

çalho da página), elabo-

rado para o mesmo dia por

alunos de Lisboa, seria

um importante registo

desta série de aconteci-

mentos.

A que hoje é a revista

“Via Latina”, da Secção

de Jornalismo da Associa-

ção Académica de Coimbra,

era, à data, o Órgão da

Associação Académica de

Coimbra, ainda em formato

de jornal. A 28 de feve-

reiro, a primeira página

da Via Latina era preen-

chida pelo programa do

Encontro Nacional de Es-

tudantes. A “ousadia” e o

apoio integral à causa

dos estudantes valeria à

publicação a suspensão

até 1966.

Naquele tempo, diri-

giam-na António José Ave-

lãs Nunes, José Carlos

Vasconcelos e Eliana Ger-

são, sendo Eduardo Ba-

tarda o diretor gráfico.

A equipa que dirigia o

jornal é um caso paradig-

mático dos maiores re-

ceios de Salazar: que os

alunos que lutavam contra

a repressão viessem, um

dia, a integrar as elites

culturais e políticas do

país, algo que se consuma

nestes nomes. O futuro

confirmaria, assim, que a

razão sempre havia estado

do lado dos estudantes.

E

Page 12: 50 Anos de Dia do Estudante

aRedacção:Secção de JornalismoAssociação Académica de CoimbraRua Padre António Vieira3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54

Fax: 239 82 15 54e-mail: [email protected]

Concepção e Produção:Secção de Jornalismo da AssociaçãoAcadémica de Coimbra

Mais informação disponível em

acabra.net@

Dia 24 de março assinalado com iniciativas de cariz culturalO movimento associativo estudantil vai comemorar o cinquentenário do Dia do Estudante, à seme-

lhança de anos anteriores, com ações distintas nos próximos dias 23 e 24 de março, em Lisboa, Porto e

Coimbra. Para além do caráter cultural das iniciativas, há espaço para reivindicar. Por Inês Balreirao próximo dia 24 demarço cumprem-se 50anos sobre a proibição doDia do Estudante, marco

que deu origem à crise académica de1962. Este ano, para assinalar o cin-quentenário, o movimento associa-tivo estudantil está a organizar umprograma de dois dias com atividadesdistintas no Porto e em Coimbra. Pa-ralelamente, a Universidade de Lis-boa vai também assinalar a data comuma série de iniciativas agendadaspara o próximo sábado.

Encarregue das comemorações noPorto e em Coimbra está uma comis-são criada especificamente para aocasião, definida em sede do Encon-tro Nacional de Direções Associativas(ENDA), composta por oito associa-ções de estudantes.

As iniciativas agendadas para oPorto, no dia 23, sexta-feira, consis-tem numa tertúlia, intitulada “Ser es-tudante ontem, hoje e amanhã”, ondevão estar presentes Eurico Figuei-redo, dirigente académico de 62, Al-berto Martins, dirigente académicode 69 e ainda dirigentes académicosem funções. No dia seguinte, sábado,as comemorações decorrem emCoimbra, com uma iniciativa de carizcultural, intitulada “Cultura de estu-dante”, onde vão atuar vários gruposdas diversas academias do país eainda a cantora Luísa Sobral. Estaatividade terá, segundo os dirigentes,cariz reivindicativo. Neste mesmo diavai ser lançado o selo comemorativodos 50 anos do Dia do Estudante.

Relativamente às iniciativas do dia23, o presidente da Federação Acadé-mica do Porto (FAP), Luís Rebelo, ex-

plica que o objetivo “é fazer uma re-trospetiva histórica do que é ser estu-dante e do que foi ser estudante em62”. “A tertúlia vai funcionar umpouco como memória histórica que,infelizmente, se tende a perder”,afirma o dirigente. Quanto à inicia-tiva cultural agendada para Coimbra,Luís Rebelo diz ser uma maneira de“mostrar a diversidade cultural dosdiversos grupos académicos de todoo país e o que se faz nas academias”.As palavras do presidente da direção-

geral da Associação Académica deCoimbra (DG/AAC), Ricardo Mor-gado, vão ao encontro das do presi-dente da FAP: “a cultura é algo queestá inerente ao estudante e, sendoeste o dia do estudante, não se pode-ria deixar de assinalar esta data semuma atividade cultural”.

Tendo este segundo dia tambémum caráter reivindicativo, para alémde cultural, Ricardo Morgado é pe-rentório ao afirmar que os estudan-tes querem “passar uma mensagemclara: o direito a um futuro”. O presi-dente da DG/AAC aclara que nestamensagem se enquadram temascomo a questão do emprego jovem, aação social, o abandono escolar, o fi-

nanciamento do ensino superior eainda o aumento das propinas. Ri-cardo Morgado explica ainda que aintenção é fazer um “paralelismoentre 62 e os dias de hoje”. “Na alturavivia-se em ditadura, hoje em demo-cracia, mas há coisas que ainda nãomudaram. Vive-se numa democraciaque deveria funcionar para que todosos intervenientes da sociedade pos-sam ter uma voz e ajudar na constru-ção de um Portugal melhor, mas averdade é que a voz dos estudantesainda não é tida em conta”.

O presidente da Associação Acadé-mica da Universidade do Minho, Hél-der Castro, explica que ascomemorações foram pensadas deforma a “perceber o que se passou em1962 e o que foram as consequentesreivindicações”. O dirigente minhotoexplica assim que a comissão tentouencontrar um programa construtivoe diferente do habitual, “que não selimitasse às reivindicações mais ób-vias e que tentasse ir mais além”. “Acomissão organizadora entendeu quealgumas das formas de reivindicaçãojá estão um pouco gastas e faria sen-tido inovar e encontrar uma novaforma de dar peso à voz dos estudan-tes”, afirma.

Expetativas de adesão

Apesar de as comemorações decorre-rem a uma sexta e sábado, os diri-gentes encontram-se otimistasquanto à adesão dos estudantes àsatividades. O presidente da Associa-ção Académica da Universidade deTrás-os-Montes e alto Douro, SérgioMartinho, no fim-de-semana pas-sado, no ENDA de Évora, afirmou

que “os dirigentes associativos mos-traram-se dispostos a participar e amobilizar os estudantes das respeti-vas academias para as atividades”. Opresidente da Associação Académicada Universidade de Aveiro, TiagoAlves, corrobora o otimismo, esclare-cendo que o “objetivo é que haja umadeslocação para se ir ao Porto e aCoimbra e que as iniciativas nãoabranjam só estes estudantes, masdas diversas instituições do país quedesejem participar”. Neste sentido,Ricardo Morgado diz que a AAC vaidisponibilizar autocarros para os es-tudantes que queiram ir sexta-feiraao Porto.

Em Lisboa

Tendo sido a capital palco de partedos eventos de 62, lá as comemora-ções não poderiam passar ao lado.Assim, a reitoria da Universidade deLisboa em conjunto com a comissãode antigos alunos de 62, que costu-mam assinalar a data todos os anos,relembra a data com uma série de ini-ciativas. Entre elas, destaca-se a inau-guração da exposição “100 dias queabalaram o regime”, dedicada à crisede 62 e o lançamento do livro com omesmo nome. As comemorações ter-minam com um sarau cultural naAula Magna da reitoria, onde vaihaver um momento de homenagem aJosé Afonso e a Adriano Correia deOliveira. Artur Pinto, membro da co-missão, justifica o maior leque de ini-ciativas com a força dos cinquentaanos passados e, também, “porque aprópria universidade, os professorese os estudantes atravessam um mo-mento de crise”.

NDIA

AGENDA

po r to

23 MARÇO

coi m br a

ESTUDANTEdo

A escultura Cogito, de Pedro Cabrita Reis, foi erguida em 1992, em memória do Dia do Estudante, em Coimbra.

20h30 - tertúLia com eurico

fiGueiredo (diriGente académico de

62) aLberto martins (diriGente

académico de 69) e diriGentes da

actuaLidade

LocaL: saLão nobre da reitoria

da universidade do porto

entrada Livre

24 MARÇO

11h30 - receção

12h00 - inauGuração da

exposição "100 dias Que

abaLaram o reGime"

12h30 - Lançamento do in-teiro postaL e de o meu seLo.

possibiLidade do carimbo do

dia na banca montada peLos

correios

LocaL: Átrio da reitoria da

universidade de Lisboa

13h00 – aLmoço/convívio

LocaL: cantina veLha da

universidade de Lisboa

17h30 – sarau cuLturaL:JorGe siLva meLo (poesia);

coro da universidade de

Lisboa; coro infantiL da

universidade de Lisboa; -tanGo, “LibertanGo”

- estudantes da facuLdade de

medicina; -estudantina universitÁria de

Lisboa; -Grupo de teatro universidade

técnica

homenaGem a:- José afonso, com a

participação de João afonso

- adriano correia de oLiveira,com o Grupo Jurídico da

Guitarra e do canto de coim-bra

LocaL: auLa maGna

20h30 - actividade cuLturaL

com Grupos académicos de todo o

país e concerto de Luísa sobraL

LocaL: via Latina da universidade

de coimbra

entrada Livre

L is b oa

Mais informação em

INês amado da sIlva