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Olivro Perdido em Marte [1] (TheMartian, título original eminglês), escrito por Andy Weir,

tem causado intenso alvoroço que vaialém do meio literário. Mark Waltney éum astronauta da NASA que faz parte datripulação de uma missão destinada a ex-plorar o planeta Marte. Waltney é deixadopara trás por seus companheiros após umgrave acidente provocado por uma intensatempestade de areia no planeta vermelho.A história de Waltney e de sua luta porsobrevivência ganhou vida nas telas docinema em outubro de 2015.

Weir cresceu lendo livros de ficçãocientífica escritos, por exemplo, porArthur C. Clarke e Isaac Asimov. Aos 15anos, conseguiu emprego como progra-mador em uma agência de pesquisa dogoverno americanoligada ao departa-mento de energia. Elecomeçou a escreverhistórias de ficçãocientífica no início deseus 20 anos. Apesarde escrever algunstrabalhos sem ne-nhum sucesso consi-derável, Weir teve a ideia de escreverPerdido em Marte em 2009. Ele tornoualguns capítulos de seu livro acessíveis emseu blog sem nenhum custo aos leitores,e alguns deles se encantaram com a obra,pedindo que Weir a lançasse em versãoebook, o que a tornaria disponível paradownload. Não demorou muito para umaeditora comprar os direitos do livro eintroduzi-lo no mercado literário. Empouco tempo a obra tornou-se um best-seller nos Estados Unidos. Tal sucessolevou a indústria cinematográfica ameri-cana a dar vida à história do astronautaMark Waltney no cinema.

A história se inicia quando MarkWaltney acorda depois de sofrer um graveacidente causado por uma tempestade de

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D.M. OliveiraNASA Goddard Space Flight Center,Greenbelt MD, USAGoddard Planetary HeliophysicsInstitute, University of MarylandBaltimore County, Baltimore, MD USAE-mail: denny.m.deoliveira@nasa.gov

A.S. EmygdioColégio Exatus, São Paulo, SP, BrasilInstituto de Física, Universidade de SãoPaulo, São Paulo, SP, BrasilE-mail: alexandre.emygdio@usp.br

areia em Marte. A tripulação da NASAficaria em Marte por aproximadamente30 dias. O resto da tripulação tinha con-cluído que Waltney havia sucumbido àtempestade e deixaram o planeta imedia-tamente. Depois de chegar ao Hab (o abri-go), ele percebeu que sua sobrevivênciadependeria de suas habilidades técnicas ecientíficas não somente de imediato, mastambém a longo prazo. Waltney conside-rou a possibilidade de ser resgatado pelamissão Ares 4 (ele fazia parte da missãoAres 3). Seu problema maior seria sobre-viver em um ambiente totalmente inós-pito a qualquer tipo de vida pelos próxi-mos 4 anos até seu eventual socorro che-gar ao planeta vermelho.

A originalidade de Weir fica evidenteao se analizar as condições de seu perso-

nagem desse ponto devista. Weir realizouuma extensa pesquisacientífica para que ahistória ficasse, segun-do suas palavras, “omais cientificamentecorreto possível”.Waltney, assim comoos outros tripulantes

de Ares 3, possui duas qualificações. Ele éengenheiro mecânico e botânico com pós-graduações. Assim, o astronauta tentautilizar ao máximo suas especialidades nabatalha diária de simplesmente per-manecer vivo. Uma das tarefas na mis-são de Waltney era observar como asplantas se desenvolveriam ali; no entanto,as únicas sementes que possuía eram deespécies mais resistentes e de fácil desen-volvimento como as de gramas e samam-baias. Vasculhando os mantimentos doHab, Waltney descobre diversos vegetaisque poderia plantar e, dentre eles, a me-lhor opção para produzir conteúdo caló-rico para sua sobrevivência eram batatas.Batatas crescem profusamente e cada umapoderia ser dividida em pedaços com olhos

Deixado acidentalmente para trás em umamissão de exploração do planeta Marte, o as-tronauta da NASA, Mark Waltney, articula seusconhecimentos para o enfrentamento desituações-problema. Utilizando criatividade epragmatismo o livro de Andy Weir permite,em uma linguagem simples e de fácil compre-ensão, que o público, em especial o jovemestudante, valorize as múltiplas áreas doconhecimento científico. O livro Perdido emMarte inaugura um novo seguimento literáriodenominado de nerd thriller.

Uma novela de ficção científica para alunos do Ensino Médio

Perdido em Marte é umromance que mostra como

Mark Waltney, astronauta daNASA em missão exploratória aMarte, luta pela sobrevivência

após ser inadvertidamentedeixado para trás por seuscompanheiros de missão

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germinativos, multiplicando ainda maisa sua produtividade e prolongando suareserva de alimento em uma escala detempo de 4 anos. Ele calcula quantas bata-tas, em função de suas calorias, ele precisaconsumir por dia e cultivar nesse períodode tempo. O astronauta faz vários cálculosquase o tempo todo, e o leitor inevitavel-mente faz as contas juntamente comWaltney. Para cultivar batatas, o astro-nauta precisa de água, algo não encon-trado em Marte.1 Waltney decide então fa-bricar água em Marte. Com seus conhe-cimentos de química ele queima hidrazina,um composto químico altamente infla-mável, para produzir água. Suas aptidõesem engenharia mecânica são frequente-mente empregados em tarefas relacio-nadas a adaptações de equipamentos eveículos levados pelos astronautas ao pla-neta vermelho. Um ponto marcante dolivro corresponde ao fato de que Waltney,quando encontra a solução para um deter-minado problema, geralmente causa umoutro problema. Para tentar aliviar a sen-sação de solidão e desesperança, o astro-nauta escreve suas tarefas diárias em umlog (uma espécie de diário) no qual cadaentrada é denominada Sol, ou dia solar.Um Sol correspondente a 24 horas e 39minutos em Marte. Sol 1 correspondeentão ao primeiro dia da tripulação emMarte. O restante da tripulação partiu doplaneta vermelho em Sol 6. O astronautatambém se utiliza de seu bom humor natentativa de superar suas dificuldades.

“Sou o melhor engenheiro mecânico emMarte e portanto tenho que resolver esseproblema”, diz Waltney em uma ocasião.

Outros conhecimentos técnicos ecientíficos são utilizados pelo astronautasolitário. Devido ao fato de estar incomu-nicável, Waltney viaja com um dos veí-culos ao local onde a sonda Pathfinder per-deu contato com a Terra em 1997. Umabússola, mesmo se estivesse disponível,não funcionaria, pois, segundo Waltneyexplica em seu log, Marte não tem umcampo magnético próprio. Para contornaressa situação, o astronauta utiliza concei-tos de astronomia de posição para deter-minar sua localização em solo marciano.Waltney descreve que seu instrumento denavegação mais importante é o satélitenatural marciano Fobos, que cruza ohorizonte pelo menos duas vezes por Sol.Ao retornar ao Hab, Waltney trabalha nasonda usando seus conhecimentos de ele-trônica, e consegue restabelecer contatocom a Terra. Entretanto, o sistema ope-racional de Pathfinder é obsoleto, pois asonda fora concebida quase 20 anos an-tes. Para iniciar uma comunicação com aNASA, Waltney dispunha da plataformada câmera como parte móvel paratransmissão de informações através debilhetes. Como existiam algumas possí-veis restrições físicas para escrever comcaneta fora da nave e limitação de papel,Waltney resolve utilizar o código ASCII.Seu objetivo é transmitir pares de dígitoshexadecimais, então prepara cartões de 0

a 9 e de A a F, além de um cartão de per-gunta, totalizando dezessete cartões emvolta da câmera. A câmera se encontravano centro e podia girar 360°, isso permitiamais de 21° de precisão entre dois cartõesconsecutivos para que não provocasse dú-vidas em qual cartão ela estaria apontan-do.

Para otimizar ainda mais sua comu-nicação com a NASA, Waltney atualiza osistema operacional da sonda utilizandoum código escrito na linguagem compu-tacional FORTRAN. Para realizar essatarefa (programação não é uma de suasmelhores habilidades), Waltney necessitada ajuda de técnicos da NASA para com-pilar o código e tornar Pathfinder nova-mente e efetivamente operacional. Elerealiza esta tarefa com sucesso.

Há alguns pontos no livro que nãosão necessariamente cientificamente apu-rados. Por exemplo, não se sabe se a reali-zação de um EVA (do inglês Extravehicu-lar Activity) seria seguro devido à radiaçãosolar intensa que chega ao solo marciano(veja comparação entre Marte e a Terrasegundo o próprio Waltney). O Hab de-veria portanto ser enterrado. A pressãoatmosférica em Marte corresponde amenos de 1% a da Terra. Temperaturas nasuperfície de Marte variam amplamente,mas geralmente são muito baixas.Entretanto, o astronauta encontrou umasolução inusitada a esse problema princi-palmente em suas viagens por terra eperante a ideia de tomar um banho em

Uma novela de ficção científica para alunos do Ensino Médio

Figura 1. Cena do filme Perdido em Marte, estrelado pelo ator Matt Damon como Mark Waltney, um astronauta da NASA. Waltneycontempla a vastidão do vazio após ser abandonado no planeta vermelho. Crédito da imagem: 20th Century Fox.

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Figura 2. Waltney e o sistema de comunicação com a NASA durante seu isolamento emMarte. Crédito da imagem: 20th Century Fox.

uma banheira de água quente. Ele utilizouum recipiente com uma substância alta-mente radioativa como fonte de calor.

Apesar de alguns pontos negativos,o balanço geral do livro é positivo. A ne-cessidade de conhecimento técnico e cien-tífico e suas aplicações efetivas a proble-mas críticos é a marca registrada do livro.Essa é a principal mensagem de Weir: osconhecimentos técnicos e científicos fazemcada vez mais parte da vida cotidiana depessoas comuns. Com base nesse argu-mento, os autores fortemente sugeremque professores de ciências em geral eprofessores do Ensino Médio recomendema leitura desse livro a seus alunos, muito

embora a situação vivida pelo astronautaWaltney dificilmente seria enfrentada poralguém na Terra. Escrito em linguagemsimples, sem nenhuma fórmula matemá-tica, embora repleto de raciocínios lógicosnão-triviais, o livro apresenta conheci-mentos científicos interessantes e de fácilcompreensão por não-cientistas e estu-dantes em geral.

Para finalizar, gostaríamos de salien-tar que Andy Weir inaugura, com Perdidoem Marte, um novo segmento literário, onerd thriller. Nós esperamos que o futurotraga muitas obras semelhantes a esta, oque certamente enriquecerá o conheci-mento de ciências dos jovens estudantes.

Como resultado, a importância e aplica-bilidade desse conhecimento à nossa com-plexa sociedade contemporânea será me-lhor compreendida.

Comentário dos autores

A leitura da tradução em português éacessível e de fácil compreensão ao públicoadolescente, das últimas séries do EnsinoFundamental II em diante. A escrita simplessem muitos termos técnicos permite queas diferentes linguagens abordadas no livroe no filme, como a matemática, a biologia,a química e a física se apresentem comoferramentas para a articulação de meca-nismos de estímulo ao aprendizado do estu-dante. Eixos cognitivos comuns a todas asáreas do conhecimento, como por exemploo enfrentamento de situações-problema,ampliam a criatividade e o pragmatismoem soluções que muitas vezes passamdesapercebidas.

Nota1Curiosamente, a NASA (agência espacialnorte-americana) anunciou a presença deágua altamente salinizada no planetavermelho enquanto os autores escreviamesse texto.

Referência

[1] A. Weir, Perdido em Marte (Editora Ar-queiro, Rio de Janeiro, Brasil).

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