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Direito Tributário para AFRFB Teoria e questões comentadas Prof. Aluisio Neto Aula 02 Prof. Aluisio Neto www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 156 AULA 02 SUMÁRIO PÁGINA Apresentação Inicial 01 Princípios Gerais Tributários 03 Princípio da Irretroatividade 04 Princípio da Legalidade Tributária 09 Princípio da Anterioridade Anual 24 Princípio da Anterioridade Nonagesimal 35 Princípio da Isonomia 46 Princípio da Capacidade Contributiva 56 Princípio do Não-Confisco 68 Princípio da Liberdade de Tráfego 79 Princípio da Uniformidade Geográfica 82 Princípio da Tributação Isonômica das Rendas das Obrigações da Dívida Pública e dos Vencimentos dos Agentes Públicos dos Estados, Distrito Federal e Municípios 86 Princípio da Proibição de Concessão de Isenções Heterônomas 88 Princípio da Progressividade 93 Princípios da Generalidade e da Universalidade 101 Princípio da não-discriminação quanta à procedência ou ao destino 102 Princípio da Territorialidade 105 Princípio da Seletividade 107 Princípio da Não-Cumulatividade 110 Princípio da Transparência Fiscal 117 Questões Propostas 119 Gabaritos 155 Bibliografia 156 Olá, caro amigo e futuro AFRFB! Chegamos à segunda aula do nosso curso de direito tributário para o cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil (AFRFB), cargo que atualmente ocupo com grande satisfação e orgulho. Espero ter você, em breve, como colega de trabalho. Um dos passos fundamentais, contudo, é aprender essa deliciosa matéria chamada direito tributário.

555 10209 Aula 02 Direito Tributario Afrfb

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    AULA 02

    SUMRIO PGINA Apresentao Inicial 01 Princpios Gerais Tributrios 03 Princpio da Irretroatividade 04 Princpio da Legalidade Tributria 09 Princpio da Anterioridade Anual 24 Princpio da Anterioridade Nonagesimal 35 Princpio da Isonomia 46 Princpio da Capacidade Contributiva 56 Princpio do No-Confisco 68 Princpio da Liberdade de Trfego 79 Princpio da Uniformidade Geogrfica 82 Princpio da Tributao Isonmica das Rendas das Obrigaes da Dvida Pblica e dos Vencimentos dos Agentes Pblicos dos Estados, Distrito Federal e Municpios

    86

    Princpio da Proibio de Concesso de Isenes Heternomas

    88

    Princpio da Progressividade 93 Princpios da Generalidade e da Universalidade 101 Princpio da no-discriminao quanta procedncia ou ao destino

    102

    Princpio da Territorialidade 105 Princpio da Seletividade 107 Princpio da No-Cumulatividade 110 Princpio da Transparncia Fiscal 117 Questes Propostas 119 Gabaritos 155 Bibliografia 156

    Ol, caro amigo e futuro AFRFB!

    Chegamos segunda aula do nosso curso de direito tributrio para o cargo

    de Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil (AFRFB), cargo que

    atualmente ocupo com grande satisfao e orgulho. Espero ter voc, em

    breve, como colega de trabalho. Um dos passos fundamentais, contudo,

    aprender essa deliciosa matria chamada direito tributrio.

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    Nessa aula iremos tratar do seguinte tema:

    Princpios Tributrios.

    Os princpios constitucionais so um dos temas preferidos pelas bancas

    organizadoras de concursos, em especial a ESAF, que sempre aborda o

    tema em suas provas de direito tributrio.

    Nossa aula ser composta por uma srie de questes comentadas de provas

    passadas da ESAF quanto de outras bancas, para aprofundar ainda mais o

    conhecimento proposto na aula.

    Qualquer dvida que surgir, peo que me envie o mais breve possvel um e-

    mail, para que no ocorram atrasos nos seus estudos. Seguem os meus

    dois e-mails:

    [email protected]

    [email protected]

    http://www.facebook.com/#!/profile.php?id=100002354992888

    Os comentrios s questes propostas e no resolvidas em aula sero

    disponibilizadas em arquivo em separado no site. Espero que faa bom

    proveito, futuro AFRFB!

    Boa sorte! E bons estudos!

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    Princpios Gerais Tributrios

    Veremos agora os seguintes princpios constitucionais tributrios, todos

    presentes no texto da Carta Federal de 1988:

    Princpio da Irretroatividade;

    Princpio da Legalidade Tributria;

    Princpio da Anterioridade Anual;

    Princpio da Anterioridade Nonagesimal;

    Princpio da Isonomia;

    Princpio da Capacidade Contributiva;

    Princpio do No-Confisco;

    Princpio da Liberdade de Trfego;

    Princpio da Uniformidade Geogrfica;

    Princpio da Tributao Isonmica das Rendas das Obrigaes da Dvida

    Pblica e dos Vencimentos dos Agentes Pblicos dos Estados, Distrito

    Federal e Municpios;

    Princpio da Proibio de Concesso de Isenes Heternomas;

    Princpio da Progressividade;

    Princpios da Generalidade e da Universalidade;

    Princpio da no-discriminao quanta procedncia ou ao destino;

    Princpio da Territorialidade;

    Princpio da Seletividade;

    Princpio da No-Cumulatividade;

    Princpio da Transparncia Fiscal;

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    Princpio da Irretroatividade

    No primeiro princpio da nossa aula iremos tratar deste que est presente nos

    chamados princpios relativos segurana jurdica, protegendo o sujeito

    passivo de atos contrrios aos ditames do chamado Estado de Direito.

    Esse princpio est relacionado ao fato de as leis tributrias somente

    alcanarem os fatos geradores surgidos aps a sua entrada em vigor, no

    podendo alcanar fatos pretritos.

    Por exemplo, caso determinada lei institua o imposto sobre a realizao de

    concursos, de competncia da Unio (uma vez que um imposto no previsto

    expressamente na CF/88, fazendo parte da chamada competncia tributria

    residual quanto aos impostos, exclusiva desse Ente Federativo),

    estabelecendo como fato gerador o momento de entrega da prova ao

    candidato, essa lei somente surtir efeitos em relao aos concursos

    realizados aps a data de vigncia da respectiva lei.

    Logo, os candidatos que fizeram concurso antes do inicio da vigncia da lei

    no sero obrigados a pagar qualquer tipo de imposto. (Ainda bem, pois eu j

    fiz muitos concursos antes de me aposentar... j estava imaginando quanto

    que eu iria ter que pagar de imposto sobre a realizao de concursos..., e

    mais um para a RFB fiscalizar). A irretroatividade da lei tributria,

    QUANTO MAJORAO OU INSTITUIO DE TRIBUTOS, NO

    COMPORTA EXCEES.

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    Esse princpio est insculpido no artigo 150, III, a, da CF/88, cujo texto o

    seguinte:

    Art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao

    contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito

    Federal e aos Municpios:

    (...)

    III - cobrar tributos:

    a) em relao a fatos geradores ocorridos antes do incio da

    vigncia da lei que os houver institudo ou aumentado;

    (Grifos nosso)

    Antes de prosseguirmos, atente bem para o que est presente no enunciado

    do inciso III: TRIBUTOS. Assim, a regra vlida para todo tipo de

    tributo, e no apenas para impostos, como muitas bancas costumam cobrar

    em suas provas, tentando confundir e arrancar pontos preciosos dos

    candidatos menos atentos.

    O princpio da irretroatividade relaciona-se diretamente como o inciso XXXVI

    do artigo 5 da CF/88, tratando da segurana jurdica em geral:

    XXXVI - a lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a

    coisa julgada;

    Assim, a lei tributria, regra geral, no retroagir. Quanto instituio

    ou majorao de tributos, JAMAIS RETROAGIR, conforme comentamos.

    Em relao a outros temas, como aplicao de penalidades tributrias e

    aplicao de leis meramente interpretativas, teremos situao em que a lei

    tributria poder ter efeitos retroativos, os quais estudaremos quando

    estivermos tratando da aplicao da legislao tributria, a ser vista em aula

    posterior. Essas disposies constam no artigo 106 do CTN, o qual, nesse

    momento, apenas transcrevo para ilustrao da possvel retroatividade da lei

    tributria em relao a leis que no criem ou majorem tributos, caro aluno.

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    Em momento posterior, estudaremos cada conjuno do texto do artigo

    abaixo:

    Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretrito:

    I - em qualquer caso, quando seja expressamente

    interpretativa, excluda a aplicao de penalidade infrao

    dos dispositivos interpretados;

    II - tratando-se de ato no definitivamente julgado:

    a) quando deixe de defini-lo como infrao;

    b) quando deixe de trat-lo como contrrio a qualquer

    exigncia de ao ou omisso, desde que no tenha sido

    fraudulento e no tenha implicado em falta de pagamento de

    tributo;

    c) quando lhe comine penalidade menos severa que a

    prevista na lei vigente ao tempo da sua prtica.

    Antes que o senhor finalize, professor: e quanto aos casos de reduo ou

    extino de tributos? O que acontece?

    A CF/88 no fala sobre essas duas situaes. Mas, uma vez que se traduz

    num benesse ao contribuinte, ao passo que a instituio e majorao numa

    obrigao, as leis que extinguem ou reduzem tributos tem aplicao imediata,

    conforme doutrina dominante, a menos que a lei determine em contrrio.

    Veja algumas decises do STF quanto irretroatividade tributria:

    A Corte firmou entendimento segundo o qual a reviso ou

    extino de um benefcio fiscal, que por se tratar de poltica

    econmica que pode ser revista a qualquer momento pelo

    Estado, no est restrita observncia dos princpios

    constitucionais da anterioridade e da irretroatividade. (AI

    783509 AgR/SP, de 19/01/2010).

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    A mudana nos ndices de correo monetria, com base em

    legislao superveniente, no constitui ofensa ao princpio do

    direito adquirido ou da irretroatividade tributria. (RE 395981

    AgR / DF, de 28/09/2009).

    A norma legal que simplesmente altera o prazo de

    recolhimento de tributo no se sujeita ao princpio da

    anterioridade especial (CF, art. 195, 6). II - No h falar

    em "direito adquirido" ao prazo de recolhimento

    anteriormente previsto, pois, como se sabe, o STF no

    reconhece a existncia de direito adquirido a regime jurdico.

    III - A circunstncia de o fato disciplinado pela norma - isto

    , o pagamento do tributo - haver de ocorrer aps a sua

    edio suficiente para afastar a alegada violao ao

    princpio da irretroatividade (CF, art. 150, III, a).( RE 219878

    / PE, de 13/06/2000).

    (ESAF/Auditor Fiscal/2005/MG) Assinale a opo correta. O princpio

    segundo o qual vedado cobrar tributos em relao a fatos geradores

    ocorridos antes do incio da vigncia da lei que os houver institudo ou

    aumentado (art. 150,III, a da CRFB/88) o da:

    a) anterioridade.

    b) irretroatividade.

    c) anualidade.

    d) imunidade recproca.

    e) legalidade.

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    Questo gua com acar. A proibio de cobrar tributos em relao a fatos

    geradores ocorridos antes do incio da vigncia da lei que os houver institudo

    ou aumentado caracterstica do princpio da irretroatividade.

    Assim, resta como correta a alternativa "b", gabarito da questo.

    Quanto ao princpio da irretroatividade, apenas isso, caro aluno. Outros

    temas mais especficos que tambm tratam do princpio de algum modo sero

    visto no decorrer das aulas

    Vamos agora ao princpio da legalidade!

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    Princpio da Legalidade Tributria

    O princpio da legalidade um dos princpios basilares do nosso ordenamento

    jurdico tributrio, por meio do qual se impe ao ente tributante instituir ou

    majorar tributos, ou reduzir ou extinguir tributos, apenas por meio de lei em

    sentido estrito, no podendo ser utilizado outro normativo infraconstitucional

    que no seja esse. outro princpio intrinsecamente relacionado ao da

    segurana jurdica, sendo uma garantia individual do contribuinte e

    clusula ptrea da nossa atual CF/88.

    Esse princpio est presente de forma genrica no inciso II do artigo 5 da

    Carta Federal, cujo texto o seguinte:

    II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer

    alguma coisa seno em virtude de lei;

    Esse princpio est diretamente relacionado segurana jurdica, a qual, por

    sua vez, exige do Estado a previsibilidade e o conhecimento prvio, por parte

    dos cidados, das normas tributrias a que sero submetidos.

    O princpio da legalidade tributria se traduz no fundamento de validade de

    todo o ordenamento jurdico tributrio e da tributao por ele estabelecida,

    sem o qual inexiste o direito tributrio.

    Esse princpio est contido expressamente no texto constitucional em seu

    artigo 150, I, da CF/88, cujo texto o seguinte:

    Art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao

    contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito

    Federal e aos Municpios:

    I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabelea;

    Quanto criao de tributos (e, por meio do princpio do paralelismo das

    normas, tambm quanto extino e reduo), somente lei em sentido

    estrito poder fazer, no se admitindo nenhuma exceo. Como

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    veremos mais adiante, para outros temas tributrios, a regra da legalidade

    poder ser atenuada em relao majorao de tributos por meio do

    aumento da alquota a ser aplicada sobre a base de clculo. Mas esse tema

    trataremos mais adiante.

    Quanto lei em sentido formal, a lei que cria ou majora tributos ser, EM

    REGRA, lei ordinria. Entretanto, para alguns casos previstos na CF/88, a

    criao ou majorao ser dar por lei complementar.

    Antes de continuarmos, temos que fazer meno ao que determina o artigo

    62, 1, III, da CF/88, relativamente s medidas provisrias e o confronto de

    competncias atribudas este instituto e lei complementar:

    Art. 62. (...)

    1 vedada a edio de medidas provisrias sobre

    matria: (...)

    III reservada a lei complementar;

    Assim, os tributos sujeitos sua criao ou majorao por meio de lei

    complementar jamais podero ser regulados por meio de medida provisrio,

    mesmo no ocorrendo para as lei ordinrias, cuja medida provisria ter fora

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    a esta equivalente. Nada impediria, por exemplo, que o ITR viesse a ser

    institudo por meio de MP, desde que atendidos os requisitos exigveis para a

    edio desta. O mesmo no aconteceria, por exemplo, para os emprstimos

    compulsrios, que exigem LC para a sua criao ou majorao.

    Por sua vez, ao instituir um tributo, cabe lei criadora definir com clareza os

    elementos que o caracterizam e o definem, adequando determinada conduta

    do sujeito passivo ao que consta na norma tributria, hiptese em que

    falamos do princpio da tipicidade da lei tributria. Esses elementos so,

    principalmente, os seguintes:

    Fato Gerador (elemento material);

    Local de ocorrncia do fato gerador (elemento espacial);

    Base de clculo e alquota(s) (elementos quantificadores do tributo);

    Sujeitos passivos (elemento pessoal);

    Momento da ocorrncia do fato gerador (elemento temporal).

    O pargrafo acima decorrente do que determina o artigo 97 do CTN, que

    assim nos diz sobre a adoo do princpio da legalidade e determinao dos

    elementos nucleares do tributo:

    Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

    I - a instituio de tributos, ou a sua extino;

    II - a majorao de tributos, ou sua reduo, ressalvado o

    disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

    III - a definio do fato gerador da obrigao tributria

    principal, ressalvado o disposto no inciso I do 3 do artigo

    52, e do seu sujeito passivo;

    IV - a fixao de alquota do tributo e da sua base de

    clculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e

    65;

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    V - a cominao de penalidades para as aes ou

    omisses contrrias a seus dispositivos, ou para outras

    infraes nela definidas;

    VI - as hipteses de excluso, suspenso e extino de

    crditos tributrios, ou de dispensa ou reduo de

    penalidades. (Grifos nosso)

    Uma vez que a definio de vencimento do prazo para pagamento de

    tributos, bem como a instituio de obrigaes tributrias acessrios

    no esto elencadas no artigo 97, no esto submetidas ao princpio

    da legalidade, podendo ser livremente estipuladas por normativos

    infralegais, como Decretos do Poder Executivo.

    Segundo orientao firmada por esta Suprema Corte, a

    fixao do prazo de recolhimento de tributo pode ser

    realizada por norma infraordinria, isto , sem o rigor

    do processo legislativo prprio de lei em sentido

    estrito. Se a reduo abrupta do prazo de recolhimento

    implicou a majorao artificial do montante real devido,

    eventual violao constitucional ocorreria em relao

    capacidade contributiva (equilbrio base de clculo ' critrio

    material), segurana jurdica e proibio do uso de tributo

    com efeito confiscatrio, mas no em relao regra da

    legalidade. (RE 546316 AgR/SP, de 18/10/2011).

    Improcedncia da alegao, tendo em vista no se encontrar

    sob o princpio da legalidade estrita e da anterioridade a

    fixao do vencimento da obrigao tributria; j se

    havendo assentado no STF, de outra parte, o entendimento

    de que a atualizao monetria do dbito de ICMS vencido

    no afronta o princpio da no-cumulatividade. (RE 195218

    AgR/MG, de 28/05/2002).

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    Por sua vez, o princpio da tipicidade no um princpio autnomo, estando

    umbilicalmente ligado ao princpio da legalidade, sendo decorrente deste,

    definindo os elementos caracterizadores do tributo institudo. Enquanto que o

    princpio da legalidade est relacionado forma como sero impostos os

    normativos tributrios (lei em sentido estrito), o princpio da tipicidade est

    relacionado ao contedo que estes tero, o que devem tratar em seus textos.

    (FCC/2011/TCM-BA - Procurador Especial de Contas) O grupo criou

    uma rede de 80 empresas de fachada (...) todas registradas em nome de

    laranjas. As empresas importavam produtos qumicos, mas no pagavam

    nenhum tributo sobre as operaes. (...) Os produtos importados eram

    revendidos, em operaes fictcias, a outras empresas do grupo, espalhadas

    por vrios estados. A partir da, o bando revendia os produtos a seus clientes

    normalmente, usando empresas reais (...), mas sem arcar com o custo dos

    impostos. A quadrilha tambm fraudava os fiscos estaduais: nessas

    operaes cruzadas, acumulava crditos tributrios, mesmo sem nunca

    recolher ICMS. Nessa outra fraude, pode ter sonegado mais de 1 bilho de

    reais.

    (Revista Veja. Editora Abril. Edio 2231, Ano 44, no 34, 24/08/2011, p. 76)

    O texto acima est se referindo ao princpio explcito da

    a) legalidade.

    b) irretroatividade da lei tributria.

    c) anterioridade da lei tributria.

    d) segurana jurdica.

    e) igualdade.

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    Observe que em todas as situaes apresentadas, a quadrilha em questo

    burlou o que dizia a lei, sonegando, abrindo empresas fantasmas, realizando

    operaes fictcias, entre outras. O que faz com que as operaes dela sejam

    ilegais?? Isso! A presena de lei estipulando o contrrio, ou o que deve ser

    feito corretamente. Logo, estamos diante do princpio da legalidade, o que

    nos leva a ter como gabarito a alternativa a.

    (ESAF/APO/Unio/2008) A competncia tributria, assim entendida como

    o poder que os entes polticos Unio, Estados- Membros, Distrito Federal e

    Municpios tm para instituir tributos, no ilimitada. Ao contrrio,

    encontra limites na Constituio Federal, entre os quais destacamos o

    princpio da legalidade tributria, segundo o qual nenhum tributo poder ser

    institudo ou majorado a no ser por lei. Porm, a prpria Constituio

    Federal excetua da obrigatoriedade de ser majorados por lei (podendo s-lo

    por ato do Poder Executivo) alguns tributos. So exemplos desses tributos:

    a) imposto sobre renda e proventos / imposto sobre importao de produtos

    estrangeiros / contribuio para o PIS/PASEP.

    b) imposto sobre produtos industrializados / CIDE combustvel / contribuio

    para o PIS/PASEP.

    c) imposto sobre importao de produtos estrangeiros / imposto sobre

    exportao de produtos nacionais ou nacionalizados / imposto sobre renda e

    proventos.

    d) CIDE combustvel / imposto sobre produtos industrializados / imposto

    sobre operaes de crdito, cmbio e seguros.

    e) contribuio para o PIS/PASEP / imposto sobre operaes de crdito,

    cmbio e seguros/ imposto sobre produtos industrializados.

    Os tributos que so excees ao princpio da legalidade so os que seguem:

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    Imposto de Importao (II);

    Imposto de Exportao (IE);

    Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);

    Imposto sobre operaes de crditos, cmbio e seguros (IOF);

    ICMS monofsico;

    CIDE-combustveis

    Diante disso, somente a alternativa d atende a enumerao acima, sendo o

    gabarito da questo apresentada.

    Mais uma vez fica clara a necessidade de memorizar os tributos que so

    excees aos princpios tributrios.

    Vamos agora s atenuaes do princpio da legalidade, conhecidas tambm

    como excees ou mitigaes ao princpio, de grande importncia para as

    provas de concursos de direito tributrio. As bancas adoram esse tema, caro

    aluno! Muita ateno.

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    EXCEES AO PRINCPIO DA LEGALIDADE

    Inicialmente temos que fixar que, quanto majorao ou criao de tributos,

    princpio da legalidade no comporta excees, devendo ser sempre por meio

    de lei em sentido estrito, formal.

    Por sua vez, quase que regra absoluta, as excees dizem respeito a

    alteraes de alquotas de determinados tributos, as quais veremos agora.

    Nenhuma das excees diz respeito a fatos geradores e sujeitos passivos.

    ---------------------------

    01 Alterao das alquotas dos seguintes impostos federais, todos

    revestidos de carter extrafiscal (nesse carter, a funo primordial do

    tributo a de regulao da economia ou de situaes de mercado, e no a

    funo arrecadatria):

    Imposto de Importao (II);

    Imposto de Exportao (IE);

    Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);

    Imposto sobre operaes de crditos, cmbio e seguros IOF).

    Essas quatro excees ao princpio da legalidade esto previstas no artigo

    153, 1, da CF/88. Para tanto, a alterao das alquotas dos impostos pode

    ser feita por meio de ato do poder executivo federal, no necessitando de lei

    formal. Em geral, essas alquotas so alteradas por meio de decreto

    presidencial ou portaria do Ministrio da Fazenda.

    Entretanto, as alteraes devem ser apenas para reduzi-las ou restabelec-

    las, jamais para superar os valores previstos na lei instituidora do tributo.

    Assim, caso a lei que institui o IPI fixe para determinado produto uma

    alquota de 30%, o poder executivo poder reduzi-la para 5%, mas, ao

    restabelec-la, dever fix-la, no mximo, em 30%, no podendo superar

    esse valor, a menos que haja previso na prpria lei.

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    Veja o que dispe o Decreto-Lei n 1.578, de 1977, que regula o imposto de

    exportao:

    Art. 3o A alquota do imposto de trinta por cento,

    facultado ao Poder Executivo reduzi-la ou aument-la, para

    atender aos objetivos da poltica cambial e do comrcio

    exterior.

    Pargrafo nico. Em caso de elevao, a alquota do

    imposto no poder ser superior a cinco vezes o

    percentual fixado neste artigo. (Grifos nosso)

    Por fim, a competncia para a fixao das alquotas do imposto de

    exportao de produtos nacionais ou nacionalizados no exclusiva do

    presidente da Repblica; pode ser exercida por rgo que integre a estrutura

    do Poder Executivo, conforme citado em prova realizada pelo CESPE em

    2010. Quanto aos impostos sobre o comercio exterior, essa competncia da

    CAMEX (Cmara de Comrcio Exterior).

    02 Definio das alquotas do ICMS incidente sobre combustveis e

    lubrificantes em relao incidncia monofsica (chamado de ICMS

    monofsico) desse tributo.

    Para esses casos, cabe aos convnios celebrados pelos Estados e pelo Distrito

    Federal, por meio de seus representantes, a fixao de alquotas do imposto

    para essas situaes, as quais tero eficcia em todo o territrio nacional,

    no sendo utilizada lei em sentido formal.

    Ou seja, para o ICMS incidente uma nica vez, e relativo a combustveis e

    lubrificantes, as alquotas do imposto sero fixadas por meio de Convnio

    celebrados pelos Estados e pelo Distrito Federal, assinado pelos

    representantes do poder executivo. Essa previso consta no artigo 155,

    4, IV, da CF/88:

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    4 Na hiptese do inciso XII, h, observar-se- o seguinte:

    (...)

    IV - as alquotas do imposto sero definidas mediante

    deliberao dos Estados e Distrito Federal, nos termos do

    2, XII, g, observando-se o seguinte: (...)

    Por sua vez, o 2, XII, g e h, nos diz o seguinte:

    XII - cabe lei complementar: (...)

    g) regular a forma como, mediante deliberao dos Estados e

    do Distrito Federal, isenes, incentivos e benefcios fiscais

    sero concedidos e revogados.

    h) definir os combustveis e lubrificantes sobre os quais o

    imposto incidir uma nica vez, qualquer que seja a sua

    finalidade, hiptese em que no se aplicar o disposto no

    inciso X, b;

    03 As alquotas da CIDE-combustveis podero ser alteradas por ato

    do poder executivo federal, no necessitando de lei em sentido

    estrito.

    A CIDE (Contribuio de Interveno no Domnio Econmico) somente poder

    ter suas alquotas reduzidas e restabelecidas, no podendo seus valores

    ser majorados alm dos previstos na lei que a regula.

    Essa previso consta no artigo 177, 4, I, b, da CF/88:

    4 A lei que instituir contribuio de interveno no

    domnio econmico relativa s atividades de importao ou

    comercializao de petrleo e seus derivados, gs natural e

    seus derivados e lcool combustvel dever atender aos

    seguintes requisitos:

    I - a alquota da contribuio poder ser: (...)

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    b)reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo,

    no se lhe aplicando o disposto no art. 150,III, b; (Grifos

    nosso)

    Caso o poder executivo queira alterar as alquotas alm do limite permitido,

    este no poder fazer, cabendo ao poder legislativo fixar outro limite mximo.

    04 Tambm por meio de convnios interestaduais podero ser

    concedidos benefcios fiscais em matria de ICMS (iseno, concesso

    de crditos resumidos, remisses, anistias, redues de base de

    clculo).

    Essa previso consta no artigo 150, 6, juntamente com o artigo 155, 2,

    XII, g, ambos da CF/88:

    6. Qualquer subsdio ou iseno, reduo de base de

    clculo, concesso de crdito presumido, anistia ou remisso,

    relativos a impostos, taxas ou contribuies, s poder ser

    concedido mediante lei especfica, federal, estadual ou

    municipal, que regule exclusivamente as matrias acima

    enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuio,

    sem prejuzo do disposto no art. 155, 2., XII, g.

    2 (...)

    XII - cabe lei complementar: (...)

    g) regular a forma como, mediante deliberao dos Estados e

    do Distrito Federal, isenes, incentivos e benefcios fiscais

    sero concedidos e revogados.

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    Uma caracterstica marcante das regras acima que todas elas possuem o

    carter extrafiscal, ou seja, a funo primordial no a arrecadao, mas a

    interveno no mercado ou na economia, regulando situaes em que se

    mostra necessria a interveno do Estado.

    Para finalizar esse princpio, vamos a algumas decises proferidas pelo STF

    quanto ao tema:

    Smula STF n 239: Deciso que declara indevida a

    cobrana do imposto em determinado exerccio no faz coisa

    julgada em relao aos posteriores.

    Esta Corte consolidou entendimento no sentido de

    caracterizar como taxa a cobrana pecuniria pela SUFRAMA

    para anuir aos pedidos de guias de importao de insumos e

    bens de capital e aos pedidos de desembarao aduaneiro e

    do controle dos internamentos na Zona Franca de Manaus. 2.

    A cobrana de taxa por meio de portaria viola o princpio da

    legalidade tributria. (RE 599450 AgR/AM, de 08/11/2011).

    As contribuies anualmente devidas aos conselhos de

    fiscalizao profissional possuem natureza tributria e, desse

    modo, sujeitam-se ao princpio da legalidade tributria,

    previsto no art. 150, I, da Lei Maior. II O Plenrio desta

    Corte, no julgamento da ADI 1.717/DF, Rel. Min. Sidney

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    Sanches, declarou a inconstitucionalidade de dispositivo legal

    que autorizava os conselhos de fiscalizao profissional a

    fixar suas contribuies anuais. (ARE 640937 AgR/PR, de

    23/08/2011).

    A instituio dos emolumentos cartorrios pelo Tribunal de

    Justia afronta o princpio da reserva legal. Somente a lei

    pode criar, majorar ou reduzir os valores das taxas

    judicirias. Precedentes. 4. Inrcia da Unio Federal em

    editar normas gerais sobre emolumentos. Vedao aos

    Estados para legislarem sobre a matria com fundamento em

    sua competncia suplementar. (ADI 1709/MT, de

    10/02/2000).

    (ESAF/APO/Unio/2008) A competncia tributria, assim entendida como

    o poder que os entes polticos Unio, Estados- Membros, Distrito Federal e

    Municpios tm para instituir tributos, no ilimitada. Ao contrrio,

    encontra limites na Constituio Federal, entre os quais destacamos o

    princpio da legalidade tributria, segundo o qual nenhum tributo poder ser

    institudo ou majorado a no ser por lei. Porm, a prpria Constituio

    Federal excetua da obrigatoriedade de ser majorados por lei (podendo s-lo

    por ato do Poder Executivo) alguns tributos. So exemplos desses tributos:

    a) imposto sobre renda e proventos / imposto sobre importao de produtos

    estrangeiros / contribuio para o PIS/PASEP.

    b) imposto sobre produtos industrializados / CIDE combustvel / contribuio

    para o PIS/PASEP.

    c) imposto sobre importao de produtos estrangeiros / imposto sobre

    exportao de produtos nacionais ou nacionalizados / imposto sobre renda e

    proventos.

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    d) CIDE combustvel / imposto sobre produtos industrializados / imposto

    sobre operaes de crdito, cmbio e seguros.

    e) contribuio para o PIS/PASEP / imposto sobre operaes de crdito,

    cmbio e seguros/ imposto sobre produtos industrializados.

    Os tributos que so excees ao princpio da legalidade so os que seguem:

    Imposto de Importao (II);

    Imposto de Exportao (IE);

    Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);

    Imposto sobre operaes de crditos, cmbio e seguros (IOF);

    ICMS monofsico;

    CIDE-combustveis

    Diante disso, somente a alternativa d atende a enumerao acima, sendo o

    gabarito da questo apresentada.

    (ESAF/SRF/ Auditor Fiscal do Tesouro Nacional/1996) O princpio da

    legalidade no se aplica, em toda a sua extenso:

    a) aos impostos de importao e exportao, imposto sobre produtos

    industrializados e imposto extraordinrio decorrente de guerra.

    b) aos impostos de importao e exportao, ao imposto sobre produtos

    industrializados e ao impostos sobre operaes financeiras.

    c) s taxas e contribuies de melhoria.

    d) aos impostos de importao e exportao, imposto sobre produtos

    industrializados e imposto extraordinrio de guerra.

    e) s taxas e contribuies sociais.

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    Questo repetida, exigindo apenas os tributos aos quais no se aplica o

    princpio da legalidade em sua integralidade, sendo assim excees este.

    Conforme vimos na questo anterior, so excees ao princpio:

    Imposto de Importao (II);

    Imposto de Exportao (IE);

    Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);

    Imposto sobre operaes de crditos, cmbio e seguros (IOF);

    ICMS monofsico;

    CIDE-combustveis

    Diante disso, somente a alternativa b atende a enumerao acima, sendo o

    gabarito da questo apresentada.

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    Princpio da Anterioridade Anual

    Esse outro princpio relacionado ao princpio da segurana jurdica, e visa

    dotar os sujeitos passivos de um tempo mnimo para se ajustarem

    aos efeitos de uma nova lei ou imposio tributria. E tambm

    conhecido como princpio da no surpresa tributria, juntamente com o

    princpio da anterioridade nonagesimal, a ser visto logo adiante, sendo

    conceituado ainda como uma garantia individual dos contribuintes, possuindo

    status de clausula ptrea na nossa atual CF/88.

    O princpio da anterioridade anual, do exerccio financeiro ou comum,

    est previsto no artigo 150, III, b, da CF/88, cujo texto o seguinte:

    Art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao

    contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito

    Federal e aos Municpios: (...)

    III - cobrar tributos: (...)

    b) no mesmo exerccio financeiro em que haja sido publicada

    a lei que os instituiu ou aumentou;

    Como podemos observar no texto constitucional, esse postulado se volta para

    todos os Entes Federativos, e em relao a todos os tributos por eles

    institudos, RESSALVADAS AS EXCEES EXPRESSAMENTE PREVISTAS

    NA CF/88. Logo veremos essas importantes ressalvas, bastante cobradas

    em provas de concurso.

    Conforme o princpio, uma lei publicada no ano X, e que institua ou majore

    tributos, somente surtir efeitos (ter eficcia) no exerccio financeiro X + 1.

    vedado aos Entes polticos cobrar tributos dentro do mesmo exerccio

    financeiro em que tenha sido publicada a lei que os instituiu ou majorou,

    somente podendo fazer isso no exerccio financeiro seguinte ao da publicao.

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    Assim, uma lei publicada em 20 de setembro de 2011, e que majora

    determinado tributo federal (e desde que no seja uma exceo ao princpio)

    j possui plena vigncia no mundo jurdico. Entretanto, sua eficcia somente

    se dar, regra geral, em 1 de janeiro de 2012, atendendo o princpio da

    anterioridade anual.

    Por sua vez, por exerccio financeiro devemos entender o perodo

    compreendido entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de uma mesmo ano do

    calendrio civil, conforme consta na lei federal n 4.320, de 1964.

    Com efeito, o princpio tem como finalidade evitar a surpresa tributria, como

    falamos anteriormente, preparando o sujeito passivo para a nova tributao

    ou atenuao desta, de modo que ele possa organizar suas finanas para

    acomodar o novo nus tributrio.

    Ateno, caro aluno: no confunda o princpio da anterioridade anual,

    presente na nossa Carta de 1988, como o princpio da anualidade

    tributria, no mais vigente nosso ordenamento constitucional. Esse

    ltimo princpio rezava que um tributo somente poderia em um determinado

    exerccio caso autorizado em oramento anual, sendo autorizada a cobrana

    do tributo em um ano e permitida a cobrado no exerccio seguinte. Esse

    princpio, repito, no mais se aplica aos dias atuais! Cuidado, as bancas

    costumam cobrar isso como se fosse o princpio da anterioridade tributria.

    O aumento ou a majorao de tributos, como vimos, submete-se ao princpio

    da anterioridade tributria. Ok. Mas e a diminuio ou extino de um

    tributo? Submete-se?

    Nenhum dos dois se submete, tendo aplicao imediata para os contribuintes.

    O princpio se aplica apenas quando h prejuzo para o contribuinte, e no

    para benefici-lo.

    Por sua vez, a revogao de uma iseno INCONDICIONADA TAMBM

    NO SE SUBMETE AO PRINCPIO DA ANTERIORIDADE, uma vez que o

    tributo j era existente ao tempo da concesso, sendo conhecido do

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    contribuinte que passar a suportar o nus tributrio advindo com a

    revogao. Assim, passa a ser imediatamente exigido o tributo outrora

    isentado pelo legislador. Esse entendimento est presente em deciso do STF,

    a qual transcrevo abaixo, caro aluno:

    EMENTA CONSTITUCIONAL. TRIBUTRIO. ISENO.

    REVOGAO. PRINCPIO DA ANTERIORIDADE. I. Revogada a

    iseno, o tributo volta a ser imediatamente exigvel. Em

    caso assim, no h de se observar o princpio da

    anterioridade, dado que o tributo j existente. (RE

    204062/ES, de 27/09/96). (Grifos nosso)

    Por sua vez, a reduo ou extino de desconto para o pagamento de

    tributo previsto em lei no ofende o princpio da anterioridade, tendo

    aplicao imediata. Veja o que diz o STF sobre o tema:

    Alegada violao ao art. 150, III, alnea "c", da Constituio

    Federal. 5. A reduo ou a extino de desconto para

    pagamento de tributo sob determinadas condies previstas

    em lei, como o pagamento antecipado em parcela nica, no

    pode ser equiparada majorao do tributo em questo, no

    caso, o IPVA. No-incidncia do princpio da anterioridade

    tributria. 6. Vencida a tese de que a reduo ou supresso

    de desconto previsto em lei implica, automtica e

    aritmeticamente, aumento do valor do tributo devido. (ADI

    4016 MC/PR, de 01/08/2008).

    A regra legislativa que se limita simplesmente a mudar o

    prazo de recolhimento da obrigao tributria, sem qualquer

    repercusso, no se submete ao princpio da anterioridade.

    (RE 274949/SC, de 13/11/2001).

    Diante do que consta acima, o STF editou a seguinte Smula:

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    Smula STF n 669: Norma legal que altera o prazo de

    recolhimento da obrigao tributria no se sujeita ao

    princpio da anterioridade.

    Outras decises nos dizem o seguinte quanto anterioridade:

    A modificao dos fatores de indexao, com base em

    legislao superveniente, no constitui desrespeito a

    situaes jurdicas consolidadas (CF, art. 5, XXXVI), nem

    transgresso ao postulado da no-surpresa,

    instrumentalmente garantido pela clusula da anterioridade

    tributria (CF, art. 150, III, "b"). (RE 200844, de

    25/06/2002).

    EMENTA: I. Ao direta de inconstitucionalidade: L. 959, do

    Estado do Amap, publicada no DOE de 30.12. 2006, que

    dispe sobre custas judiciais e emolumentos de servios

    notariais e de registros pblicos, cujo art. 47 - impugnado -

    determina que a "lei entrar em vigor no dia 1 de janeiro de

    2006": procedncia, em parte, para dar interpretao

    conforme Constituio ao dispositivos questionado e

    declarar que, apesar de estar em vigor a partir de 1 de

    janeiro de 2006, a eficcia dessa norma, em relao aos

    dispositivos que aumentam ou instituem novas custas e

    emolumentos, se iniciar somente aps 90 dias da sua

    publicao. II. Custas e emolumentos: serventias judiciais e

    extrajudiciais: natureza jurdica. da jurisprudncia do

    Tribunal que as custas e os emolumentos judiciais ou

    extrajudiciais tem carter tributrio de taxa. III. Lei

    tributria: prazo nonagesimal. Uma vez que o caso

    trata de taxas, devem observar-se as limitaes

    constitucionais ao poder de tributar, dentre essas, a

    prevista no art. 150, III, c, com a redao dada pela EC

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    42/03 - prazo nonagesimal para que a lei tributria se torne

    eficaz. (ADI 3064/AP, de 20/09/2006).

    Por sua vez, temos outra importante deciso do STF, j cobrada literalmente

    em provas de concurso, que dispe sobre a simples prorrogao de prazo de

    aplicao de alquota anteriormente publicada e j vigente, no sendo

    necessria obedincia ao princpio da anterioridade para que seja novamente

    aplicvel. Segue a sua transcrio:

    TRIBUTRIO. ICMS. MAJORAO DE ALQUOTA.

    PRORROGAO. INAPLICABILIDADE DO PRAZO

    NONAGESIMAL (ARTIGO 150, III, C, DA CONSTITUIO

    FEDERAL). RECURSO EXTRAORDINRIO CONHECIDO E

    PROVIDO. 1. A Lei paulista 11.813/04 apenas prorrogou a

    cobrana do ICMS com a alquota majorada de 17 para 18%,

    criada pela Lei paulista 11.601/2003. 2. O prazo

    nonagesimal previsto no art. 150, III, c, da

    Constituio Federal somente deve ser utilizado nos

    casos de criao ou majorao de tributos, no na

    hiptese de simples prorrogao de alquota j

    aplicada anteriormente. 3. Recurso extraordinrio

    conhecido e provido para possibilitar a prorrogao da

    cobrana do ICMS com a alquota majorada. (RE 584100/SP,

    de 25/11/2009).

    CONSTITUCIONAL E TRIBUTRIO. PIS. EMENDA

    CONSTITUCIONAL 10/96. ADI 1.420/DF. EFEITOS

    RETROATIVOS. PRORROGAO DE ALQUOTA.

    ANTERIORIDADE NONAGESIMAL: INAPLICABILIDADE.

    PRECEDENTES. 1. A deciso agravada aplicou a

    jurisprudncia desta Corte no sentido da constitucionalidade

    da Emenda Constitucional 10/96 e das alteraes por ela

    trazidas legislao do PIS. Precedentes. 2. O Supremo

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    Tribunal Federal possui entendimento segundo o qual a

    prorrogao da data originariamente prevista para vigorar o

    tributo no equivale a sua instituio ou majorao, razo

    pela qual a anterioridade nonagesimal no incide nessa

    hiptese. (RE 537688 AgR/RS, de 19/04/2011).

    Por sua vez, como toda e boa regra, o princpio da anterioridade comporta

    algumas excees, que veremos agora.

    O princpio da anterioridade tributria nos diz que nenhum ente poltico

    poder cobrar tributos no mesmo exerccio financeiro que em tenha sido

    publicada a lei que os instituiu ou aumento.

    Excepcionado essa regra, temos alguns tributos, que, ao serem institudos ou

    majorados, j podem ser cobrados no mesmo exerccio financeiro em que

    essas mudanas forem impostas aos sujeitos passivos.

    Observe a figura que segue abaixo, onde constam as excees ao princpio da

    anterioridade, bem como aos da legalidade e ao da anterioridade

    nonagesimal, a ser vista logo adiante na aula:

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    Assim, temos como excees ao princpio da anterioridade os seguintes

    tributos:

    II, IE, IOF e IPI (os chamados impostos com funo extrafiscal)

    Artigo 153, I, II, IV e V;

    Impostos Extraordinrios de Guerra (IEG) Artigo 154, II;

    Instituio de emprstimos compulsrios nos casos de

    calamidade pblica, guerra externa ou sua iminncia Artigo

    148, I;

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    Instituio ou majorao de alquotas das Contribuies

    parafiscais para a seguridade social Artigo 195, 6;

    Alterao (reduo e restabelecimento) das alquotas da CIDE-

    Combustveis Artigo 177, 4, I, b;

    Alterao (reduo e restabelecimento) das alquotas do ICMS -

    Monofsico, relativo aos combustveis e lubrificantes Artigo

    155, 4, IV.

    A previso das excees est contida nos artigos 150, 1, 148, I, 195, 6,

    177, 4, II, b e 155, 4, IV, que assim nos dizem:

    Artigo 150. (...)

    1 A vedao do inciso III, b, no se aplica aos

    tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e

    154, II; e a vedao do inciso III, c, no se aplica aos

    tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154,

    II, nem fixao da base de clculo dos impostos previstos

    nos arts. 155, III, e 156, I.

    Art. 195. (...)

    6 - As contribuies sociais de que trata este artigo s

    podero ser exigidas aps decorridos noventa dias da data da

    publicao da lei que as houver institudo ou modificado, no

    se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".

    Art. 177. (...)

    4 A lei que instituir contribuio de interveno no domnio

    econmico relativa s atividades de importao ou

    comercializao de petrleo e seus derivados, gs natural e

    seus derivados e lcool combustvel dever atender aos

    seguintes requisitos:

    I - a alquota da contribuio poder ser: (...)

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    b)reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, no se

    lhe aplicando o disposto no art. 150,III, b;

    Art. 155. (...) 4 Na hiptese do inciso XII, h, observar-se-

    o seguinte: (...)

    IV - as alquotas do imposto sero definidas mediante

    deliberao dos Estados e Distrito Federal, nos termos do

    2, XII, g, observando-se o seguinte: (..)

    c) podero ser reduzidas e restabelecidas, no se lhes

    aplicando o disposto no art. 150, III, b.

    Assim, por exemplo, caso o poder executivo federal majore as alquotas da

    CIDE-combustveis no dia 14 de maro de 2010, a alterao j poder surtir

    efeito no mesmo exerccio financeiro, qual seja, 2010. Para tanto, dever

    observar apenas o prazo de 90 dias contados da data da publicao da lei que

    a majorou, em obedincia ao princpio da anterioridade nonagesimal, o qual

    veremos agora, no item seguinte da aula.

    Somente para constar, a alterao das alquotas j poderia produzir efeitos

    para os contribuintes em 13 de junho de 2010, noventa dias aps o dia 14 de

    maro de 2010.

    Vamos ver agora como esse tema foi cobrado em prova, caro aluno. Vejas as

    seguintes questes.

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    (ESAF/SRF/Tcnico do Tesouro Nacional/1998) Quanto ao princpio da

    anterioridade, pode-se dizer que:

    a) probe que se tributem fatos geradores que ocorreram antes do incio da

    vigncia da lei que houver institudo ou aumentado um tributo.

    b) no se aplica ao Imposto de Importao, ao Imposto sobre Operaes

    Financeiras e s Taxas decorrentes do exerccio do poder de polcia.

    c) no se aplica ao Imposto de Importao, ao Imposto sobre Operaes

    Financeiras e ao Imposto de Exportao.

    d) se aplica aos emprstimos compulsrios, qualquer que seja o pressuposto

    de sua instituio.

    e) se aplica s contribuies para seguridade social da mesma forma que s

    outras espcies tributrias.

    Alternativa a) Incorreta. Essa definio est relacionada ao princpio da

    irretroatividade, e no ao da anterioridade, que probe, exceto em relao s

    excees ao princpio, que se tribute fatos geradores no mesmo exerccio

    financeiro em que tenha sido publicada a lei que os instituiu ou aumento.

    Alternativa b) Incorreta. O princpio realmente no se aplica aos dois

    primeiros impostos, mas se aplica integralmente s taxas em razo do

    exerccio do poder de polcia.

    Alternativa c) Correta. Esses so algumas das excees ao princpio da

    anterioridade, que so os seguintes:

    II, IE, IOF e IPI (os chamados impostos com funo extrafiscal) Artigo

    153, I, II, IV e V;

    Impostos Extraordinrios de Guerra (IEG) Artigo 154, II;

    Instituio de emprstimos compulsrios nos casos de calamidade

    pblica, guerra externa ou sua iminncia Artigo 148, I;

    Instituio ou majorao de alquotas das Contribuies parafiscais para

    a seguridade social Artigo 195, 6;

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    Alterao (reduo e restabelecimento) das alquotas da CIDE-

    Combustveis Artigo 177, 4, I, b;

    Alterao (reduo e restabelecimento) das alquotas do ICMS -

    Monofsico, relativo aos combustveis e lubrificantes Artigo 155, 4,

    IV.

    Alternativa d) Incorreta. Quanto aos emprstimos compulsrios, o

    princpio no se aplica nos casos de instituio do mesmo em razo de de

    calamidade pblica, guerra externa ou sua iminncia. Porm, ser aplicado

    nos casos de investimento publico de carter urgente ou de relevante

    interesse nacional.

    Alternativa e) Incorreta. Vale a mesma explicao dada na alternativa c.

    (FCC/2010/AL-SP/Agente Tcnico Legislativo Especializado)

    Submete-se integralmente aos princpios da legalidade, anterioridade anual e

    anterioridade nonagesimal o imposto sobre:

    a) os produtos industrializados.

    b) a renda e proventos de qualquer natureza.

    c) a transmisso de bens causa mortis e doao.

    d) a propriedade de veculos automotores.

    e) a propriedade territorial urbana.

    Consultando a figura apresentada anteriormente, fica fcil encontrar a

    resposta, a qual se apresenta na alternativa c, uma vez que o ITBI no

    apresenta excees a esse princpio.

    Vamos ao princpio da anterioridade nonagesimal!

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    Princpio da Anterioridade Nonagesimal

    O princpio da anterioridade nonagesimal foi acrescentado CF/88 pela

    Emenda Constitucional n 42, de 2003, proibindo a cobrana de tributos

    antes de decorridos noventa dias da data em que tenha sido

    publicada a lei que os instituiu ou aumentou, conforme o artigo 150, II,

    c, cujo texto seguinte:

    Art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao

    contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito

    Federal e aos Municpios: (...)

    III - cobrar tributos: (...)

    c) antes de decorridos noventa dias da data em que

    haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,

    observado o disposto na alnea b; (Grifos nosso)

    Esse princpio, tambm conhecido como princpio da anterioridade

    privilegiada ou qualificada, veio a reforar ainda mais a segurana jurdica

    dos contribuintes contra um aumento inesperado da carga tributria, uma vez

    que muitos tributos poderiam ter suas alquotas alteradas no dia 31 de

    dezembro de 2010, por exemplo, e j produzirem efeitos em 1 de janeiro de

    2011, obedecendo estritamente o que determina o princpio da anterioridade

    anual.

    Assim, ressalvadas as excees noventena previstas expressamente

    na CF/88, os tributos, na sua majorao ou extino, estaro submetidos

    observncia dos dois princpios: anterioridade anual e nonagesimal.

    Por exemplo, caso a Unio venha a alterar a alquota do ITR (imposto

    submetido aos dois princpios) por meio de lei publicada em 20 de dezembro

    de 2011, as alteraes somente surtiro efeito em 21 de maro de 2012, 90

    dias aps a data da publicao.

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    Caso a mesma lei do ITR seja publicada em 20 de maro de 2011, esta

    somente produzir efeitos em 1 de janeiro de 2012, uma vez que o prazo de

    90 se encerrar dentro do ano de 2011, hiptese em que no ser observado

    o princpio da anterioridade anual.

    Caso a mesma lei agora seja publicada em 1 de outubro de 2011, depois de

    decorridos 90 dias aps a data da publicao, chegaremos ao dia 31 de

    dezembro, sendo atendido o princpio da noventena, mas no o da

    anterioridade anual. Assim, os efeitos da lei somente se daro um dia depois,

    em 1 de janeiro de 2012.

    Por fim, caso publicada a lei em 02 de outubro de 2011, depois de decorridos

    90 dias aps a data da publicao, chegaremos ao dia 1 de janeiro de 2012,

    no limiar que atende aos dois princpios: anterioridade e noventena.

    Com isso, chegamos a uma regra bsica para a contagem dos prazos.

    Considere que a lei, quanto ao prazo da noventena, somente entra em vigor

    no 91 dia aps a data de publicao da lei que institui ou majora o tributo. O

    texto da CF/88 fala depois de decorridos 90 dias aps a data da publicao

    da lei.

    As regras so (GUARDE BEM, CARO ALUNO):

    Caso a lei seja publicada entre 1 de janeiro e 1 de outubro de um

    ano, invariavelmente, e desconsiderando as excees, sua vigncia

    somente se dar em 1 de janeiro do ano seguinte;

    Caso a lei seja publicada entre 02 de outubro e 31 de dezembro de um

    determinado ano, basta, para atendimento dos dois princpios,

    estabelecer o 91 dia da contagem, sendo este o dia em que a lei

    produzir efeitos junto aos contribuintes.

    Assim como o princpio da anterioridade anual, o da noventena tambm

    possui excees constitucionalmente previstas, presentes no artigo 150, 1,

    da CF/88:

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    Artigo 150. (...)

    1 A vedao do inciso III, b, no se aplica aos tributos

    previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a

    vedao do inciso III, c, no se aplica aos tributos

    previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II,

    nem fixao da base de clculo dos impostos

    previstos nos arts. 155, III, e 156, I.

    Para fixao das excees noventena, trago novamente a figura

    apresentada anteriormente:

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    Assim, temos como excees ao princpio da noventena os seguintes tributos:

    II, IE, IOF e IR Artigo 153, I, II, III e IV;

    Impostos Extraordinrios de Guerra (IEG) Artigo 154, II;

    Emprstimos compulsrios nos casos de calamidade pblica, guerra

    externa ou sua iminncia Artigo 148, I;

    Fixao da base de clculo do IPVA Artigo 155, III;

    Fixao de base de clculo do IPTU Artigo 156, I.

    Diante do quadro apresentados, SO EXCEES AOS DOIS PRINCPIOS

    (ANTERIORIDADE E NOVENTENA) OS SEGUINTES TRIBUTOS:

    IMPOSTO DE IMPORTAO (II);

    IMPOSTO DE EXPORTAO (IE);

    IMPOSTO SOBRE OPERAES FINANCEIRAS (IOF);

    IMPOSTO EXTRAORDINRIO DE GUERRA (IEG);

    EMPRESTIMOOS COMPULSRIOS, DECORRENTES DE

    CALAMIDADE PIBLICA, GUERRA EXTERNA OU SUA IMINENCIA

    (EC).

    Ateno redobrada quanto aos dois ltimos casos de exceo noventena: as

    alteraes dizem respeito BASE DE CALCULO DO IPVA E DO IPTU, E

    NO SE EXTENDE A ALQUOTAS. comum o elaborador das questes

    tentar pegar o candidato menos atento. MUITA ATENO, CARO ALUNO!

    Por sua vez, quanto base de calculo dos dois tributos acima, esta

    considerada como sendo a VALOR VENAL DO BEM, seja o imvel, seja o

    veiculo. Ao menos, na grande maioria das legislaes estaduais e municipais.

    Por sua vez, as duas ltimas excees quanto CIDE-combustveis e ao ICMS

    monofsico dizem respeito s ALTERAES DE ALIQUOTAS.

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    OUTRA OBSERVAO MUITO IMPORTANTE PARA CLCULOS: 90 DIAS NO

    IGUAL A TRS MESES, REGRA GERAL. A coincidncia somente se dar para a

    seqncia dezembro-janeiro-fevereiro e janeiro-fevereiro-maro, e desde que

    o ano considerado no seja bissexto.

    Vamos agora ao que nos diz a CF/88 em relao s medidas provisrias e os

    princpios da anterioridade anual e da noventena.

    MEDIDAS PROVISRIAS

    O artigo 62, 2, da CF/88, nos diz o seguinte:

    2 Medida provisria que implique instituio ou

    majorao de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I,

    II, IV, V, e 154, II, s produzir efeitos no exerccio

    financeiro seguinte se houver sido convertida em lei at o

    ltimo dia daquele em que foi editada

    A previso acima foi instituda pela EC n 32, de 2003, permitindo

    expressamente a edio de MP para a instituio e majorao de IMPOSTOS.

    ATENAO, CARO ALUNO: O TEXTO DA CF/88 FALA APENAS EM IMPOSTOS!!

    Entretanto, recentes decises do STF tm estendido a previso tambm s

    taxas e contribuies sociais, antes mesmo da citada EC, como podemos

    notar abaixo:

    EMENTA: Recurso extraordinrio. 2. Medida provisria. Fora

    de lei. 3. A Medida Provisria, tendo fora de lei,

    instrumento idneo para instituir e modificar tributos e

    contribuies sociais. (RE 236976/MG, de 17/08/1999).

    Quanto MP, os tributos por ela criados devem obedincia aos princpios da

    anterioridade anual e da noventena, assim como os criados por meio de lei,

    exceto nos casos em que se observam excees.

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    Por sua vez, para que possam surtir efeitos no exerccio financeiro seguinte,

    as medidas provisrias devem ter sido CONVERTIDAS EM LEI at o ltimo

    dia do exerccio em que foram editadas, sem o qual somente produziro

    efeitos no prximo exerccio posterior ao seguinte da edio. Essa regra

    vlida apenas para os impostos, e ressalvadas as excees previstas no texto

    do artigo 62, 2, quais sejam:

    IMPOSTO DE IMPORTAO (II);

    IMPOSTO DE EXPORTAO (IE);

    IMPOSTO SOBRE OPERAES FINANCEIRAS (IOF);

    IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI);

    IMPOSTO EXTRAORDINRIO DE GUERRA (IEG).

    Assim, caso uma MP venha a instituir ou majorar tais impostos, a incidncia

    se dar de imediato, sem que seja necessria a converso da MP em lei para

    tanto. Entretanto, para o IPI, dever ser observado o prazo da noventena, de

    90 dias aps a data de publicao da MP.

    Quanto s taxas e contribuies de melhoria, devem ser observados,

    SEMPRE, os dois princpios: anterioridade e noventena. Quanto essas

    espcies, no h exceo.

    Para os emprstimos compulsrios, o imposto sobre grandes fortunas e os

    impostos e contribuies residuais, estes no podero ser institudos ou

    majorados por meio de MP, uma vez que exigem lei complementar, a qual

    no pode ter temas a ela conferidos tratados por MP, por expressa proibio

    constitucional (artigo 62, 1, III).

    Por fim, quanto s contribuies sociais, o STF entende que o prazo de

    90 dias deve ser contado a partir da edio originaria da MP. Logo,

    publicada a MP majorando ou instituindo contribuio, esta comear a ter

    eficcia a partir do 91 seguinte ao da publicao da MP, INDEPENDENTE DO

    DIA DA CONVERSO EM LEI.

    Veja os seguintes julgados do STF, caro aluno:

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    EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO

    EXTRAORDINRIO. COFINS. MEDIDA PROVISRIA

    1.724/1998, CONVERTIDA NA LEI 9.718/1998. ALQUOTA

    FIXADA EM 3% (TRS POR CENTO). ANTERIORIDADE

    NONAGESIMAL. 1. A jurisprudncia do Supremo Tribunal

    Federal, que me parece juridicamente correta, firme no

    sentido de que o prazo nonagesimal de que trata o 6

    do art. 195 da Constituio Federal contado a partir

    da publicao da Medida Provisria 1.724/1998, e no

    a partir da publicao da Lei 9.718/1998. (RE

    493396/SP, de 26/04/2011).

    EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTRIO. PIS. MEDIDA

    PROVISRIA 1.212/95. REEDIES. ART. 62, P. NICO, DA

    CF/1988. CONSTITUCIONALIDADE. O Pleno do Supremo

    Tribunal Federal, por ocasio do julgamento do RE 232.896

    (rel. min. Carlos Velloso, DJ de 01.10.1999), entendeu que

    medida provisria reeditada dentro de seu prazo de validade

    no perde sua eficcia em funo de sua no-apreciao pelo

    Congresso Nacional. Decidiu-se, tambm, que o prazo

    nonagesimal a que se refere o art. 195, 6, nos casos de

    reedio de medida provisria, conta-se a partir da

    veiculao da primeira medida provisria. (RE 577923

    AgR/BA, de 10/02/2009.

    PORM, A PREVISO ACIMA SOMENTE SE D EM CASO DE APROVAO DA

    LEI SEM QUE HAVA ALTERAO SIGNIFICATIVA EM RELAAO AO TEXTO

    ORIGINAL DA MP.

    CASO HAJA ALTERAAO SUBSTANCIAL DO TEXTO DA MP NO

    CONGRESSO NACIONAL ANTES DE SUA CONVERSO EM LEI, O PRAZO

    DE 90 DIAS SER CONTADO A PARTIR DA PUBLICAO DA LEI NOVA,

    E NO DA DATA DA PUBLICAO DA MP.

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    (FCC/2006/SEFAZ-PB/Auditor Fiscal de Tributos Estaduais/Prova 2)

    Aplica-se o princpio da anterioridade nonagesimal (noventena criada pela

    Emenda Constitucional no 42 de 19/12/2003) ao imposto sobre:

    a) operaes de crdito, cmbio e seguro ou relativas a ttulos ou valores

    mobilirios.

    b) renda e proventos de qualquer natureza.

    c) importao de produtos estrangeiros.

    d) exportao, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados.

    e) operaes relativas circulao de mercadorias e sobre prestaes de

    servios de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicao.

    So excees ao princpio da noventena os seguintes tributos:

    II, IE, IOF e IR Artigo 153, I, II, III e IV;

    Impostos Extraordinrios de Guerra (IEG) Artigo 154, II;

    Emprstimos compulsrios nos casos de calamidade pblica, guerra

    externa ou sua iminncia Artigo 148, I;

    Fixao da base de clculo do IPVA Artigo 155, III;

    Fixao de base de clculo do IPTU Artigo 156, I.

    Assim, resta como correta a alternativa "e", gabarito da questo.

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    (FMP 2007 - Adjunto de Procurador do Ministrio Pblico Especial

    junto ao Tribunal de Contas do RS) Quanto anterioridade tributria,

    (A) h duas regras de anterioridade: a anterioridade de exerccio para os

    impostos e a anterioridade nonagesimal para as contribuies.

    (B) as contribuies no esto sujeitas anterioridade de exerccio.

    (C) as contribuies sociais destinadas ao financiamento da seguridade social

    no esto sujeitas anterioridade de exerccio.

    (D) as taxas no esto sujeitas anterioridade nonagesimal mnima prevista

    no art. 150, III, c, da CF.

    (E) a anterioridade nonagesimal mnima s aplicvel aos impostos sobre o

    patrimnio.

    Alternativa a) Incorreta. O princpio da anterioridade, seja ele do exerccio

    ou nonagesimal, aplicado tanto a impostos quanto contribuies,

    indistintamente, e desde que determinada hiptese no seja uma exceo a

    um ou outro princpio, ou a ambos.

    Alternativa b) Incorreta. Exceto nos casos previstos na CF/88

    expressamente, as contribuintes esto sujeitas ao princpio da anterioridade.

    Como exemplo, temos as contribuies de melhoria, as contribuies para o

    custeio do servio de iluminao pblica, entre outras.

    Alternativa c) Correta. o que nos diz o artigo 195, 6, da CF/88, o qual

    determina que as contribuies sociais ficaro sujeitas apenas ao princpio da

    anterioridade nonagesimal. Ou seja, ainda que a lei de instituio de uma

    contribuio seja publicada em 2011, esse tributo j poder ser exigido

    dentre deste mesmo ano, desde que j tenham sido decorridos noventa dias

    a partir da publicao da lei de instituio.

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    Alternativa d) Incorreta. As taxas so tributos que obedecem aos dois

    princpio da anterioridade previstos na nossa CF/88. Tanto o da anterioridade

    anual quanto o da anterioridade nonagesimal, no comportando excees.

    Alternativa e) Incorreta. A anterioridade nonagesimal aplicada

    especificamente a cada tributo, no comportando regra que englobe esse ou

    aquele grupo de tributos em razo de uma caracterstica comum, como o so

    os impostos sobre o patrimnio (IPTU, IR, ITR, entre outros). O princpio da

    anterioridade nonagesimal, por exemplo, aplicado tambm aos impostos

    sobre a circulao, como o ICMS, regra geral.

    (ESAF/Auditor Fiscal/Natal/2008) O Governador do Estado de Minas

    Gerais fez publicar, em 6 de novembro de 2007, em ateno s Constituies

    Estadual e Federal, medida provisria visando majorao de imposto

    estadual. A norma entrou em vigor na data de sua publicao. O Poder

    Legislativo Estadual, porm, somente converteu a medida provisria em lei no

    dia 20 de fevereiro de 2008. Em face da situao hipottica e considerando os

    parmetros de vigncia e aplicao da legislao tributria, aponte em que

    data o aumento poder ser efetivamente cobrado.

    a) 1 de janeiro de 2008.

    b) 4 de fevereiro de 2008.

    c) 20 de maio de 2008.

    d) 1 de janeiro de 2009.

    e) 31 de maro de 2009.

    A regra presente no artigo 62, 2, da CF/88 clara, dispondo que, salvo no

    caso das excees expressamente previstas (II, IE, IPI, IOF, IEG), as

    medidas provisrias que impliquem em instituio ou majorao de impostos

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    s produzir efeitos no exerccio financeiro seguinte se houver sido convertida

    em lei at o ltimo dia daquele em que foi editada.

    Uma vez que as excees dizem respeito a tributos federais, a medida

    provisria editada pelo poder estadual somente poderia surtir efeitos no ano

    de 2008 se houvesse sido convertida em lei at o ultimo dia de 2007, o que

    no ocorreu no caso.

    Uma vez que a medida provisria somente foi convertida em lei no dia 20 de

    fevereiro de 2008, e atendendo aos princpios da anterioridade e da

    noventena, o referido tributo somente poder ser cobrado no dia 1 de

    janeiro de 2009.

    Assim, resta como correta a alternativa "d", gabarito da questo.

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    Princpio da Isonomia

    Tributar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na

    medida da sua desigualdade. Essa a famosa frase em que se baseia o

    princpio da isonomia tributria, que visa estabelecer parmetros de

    tributao justa e equnime entre os diferentes tipos de contribuintes.

    A isonomia, ou igualdade, est prevista genericamente no caput do artigo5

    da CF/88:

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de

    qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

    estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito

    vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade,

    nos termos seguintes: (...)

    Por sua vez, o princpio da isonomia, no mbito tributrio, encontra-se

    insculpido no artigo 150, II, da CF/88, que assim nos diz:

    Art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao

    contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito

    Federal e aos Municpios:

    (...)

    II - instituir tratamento desigual entre contribuintes

    que se encontrem em situao equivalente, proibida

    qualquer distino em razo de ocupao profissional ou

    funo por eles exercida, independentemente da

    denominao jurdica dos rendimentos, ttulos ou direitos;

    (Grifos nosso)

    Estabelecer uma s regra para todos os contribuintes no aplicar

    corretamente o princpio da isonomia, uma vez que a lei tributria deve

    considerar as diferenas que existem entre cada uma das classes de sujeitos

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    passivos, rendas, patrimnios e demais fatores pertinentes a capacidade

    contributiva de cada um.

    Por exemplo, caso a lei que regula o Imposto de Renda estabelecesse uma

    alquota nica de 10% para todos os contribuintes, estaria atingindo

    frontalmente o princpio da isonomia, uma vez que aqueles que dispem de

    pouca renda seriam tributados igualmente aos milionrios, que dispem de

    maior patrimnio e renda.

    Tirar, por exemplo, R$ 100,00 de quem ganha R$ 1.000,00 por ms no

    parece ser to justo quanto tirar R$ 1.000,00 de quem ganha R$ 10.000,00.

    Os que ganham mais participam do financiamento da sociedade com valores

    maiores do que aqueles que ganham menos. Isso sem levar em considerao

    os que nada ganham, ou ainda os atuais isentos do IR.

    Diante disso que foi institudo, para o imposto de renda, alquotas

    progressivas, visando tributar com uma parcela maior dos rendimentos

    aqueles que ganham mais renda, cuja alquota mxima 27,50%. Observe a

    seguinte tabele de rendimentos e respectivas alquotas de IR para o ano-

    calendrio 2010, sendo um timo exemplo de aplicao do princpio da

    isonomia:

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    Por sua vez, a igualdade tributria pressupe duas vertentes importantes:

    IGUALDADE PERANTE A LEI a igualdade no seu sentido

    jurdico, no qual os normativos tributrios devem prever tratamento

    jurdico igualitrio entre todos aqueles que se mostram iguais e em

    idnticas situaes, aplicando-se regras diferenciadas para cada grupo

    de iguais e desiguais;

    IGUALDADE NA LEI a igualdade no sentido econmico, que

    visa tributar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os

    desiguais, sem extrapolar os limites da sua capacidade contributiva,

    sendo os imposto graduados conforme o que cada um pode contribuir

    (por exemplo, os que ganham R$ 10.000,00, a princpio, parecem

    iguais, mas a lei deve considerar que uns podem gastar BA parte da sua

    renda apenas com luxos e bens suprfluos, enquanto outros gastam

    parte delas com educao, dependentes, remdios, hospitais, etc.).

    Veja o que nos diz o STF sobre o tema acima:

    O POSTULADO CONSTITUCIONAL DA ISONOMIA - A

    QUESTO DA IGUALDADE NA LEI E DA IGUALDADE PERANTE

    A LEI (RTJ 136/444-445, REL. P/ O ACRDO MIN. CELSO

    DE MELLO). - O princpio da isonomia - que vincula, no plano

    institucional, todas as instncias de poder - tem por funo

    precpua, consideradas as razes de ordem jurdica, social,

    tica e poltica que lhe so inerentes, a de obstar

    discriminaes e extinguir privilgios (RDA 55/114),

    devendo ser examinado sob a dupla perspectiva da

    igualdade na lei e da igualdade perante a lei (RTJ

    136/444-445). A alta significao que esse postulado assume

    no mbito do Estado democrtico de direito impe, quando

    transgredido, o reconhecimento da absoluta desvalia jurdico-

    constitucional dos atos estatais que o tenham desrespeitado.

    Situao inocorrente na espcie. - A iseno tributria

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    concedida pelo art. 2 da Lei n 8.393/91, precisamente

    porque se acha despojada de qualquer coeficiente de

    arbitrariedade, no se qualifica - presentes as razes de

    poltica governamental que lhe so subjacentes - como

    instrumento de ilegtima outorga de privilgios estatais em

    favor de determinados estratos de contribuintes.(AI 360461

    AgR/MG, de 06/12/2005).

    Observe que a CF/88 no probe a discriminao tributria, apenas condena

    aquelas que sejam desvirtuadas em sem razo de ser. Diferenciao

    tributria em razo de sexo, origem, raa, opo sexual, convico

    poltica ou filosfica, por exemplo, no se apresentam como

    justificativa para a adoo de tratamento tributrio diferenciado

    entre os contribuintes.

    esse tipo de discriminao que a CF/88 veda, em especial em razo da

    atividade profissional ou funo exercida pelo contribuinte, ou ainda em

    funo da denominao jurdica dos rendimentos, ttulos ou direitos

    percebidos.

    Assim, razovel instituir uma iseno do IPTU queles que moram em

    imveis situados em reas reconhecidamente carentes de infraestrutura. Ou

    aos automveis, quanto ao IPVA, com mais de 15 anos de uso. Exemplo

    clssico a permisso de dedues do IR quanto aos valores pagos com

    educao e sade do contribuinte e dependentes.

    De maneira diferente, no se mostra coerente, em nenhuma tica de

    pensamento comum e igualitrio, isentar do imposto de renda os rendimentos

    dos governadores estaduais, ou conceder iseno para o ITBI quanto aos

    imveis transmitidos para artistas de televiso.

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    Outro exemplo, dessa vez em relao denominao dos rendimentos, ttulos

    ou direitos, seria o caso de duas empresas do ramo de construo civil que

    possuem exatamente o mesmo tipo de trabalhar executando a mesma

    funo. Em uma, os valores pagos so denominados de salrio. Em outra, de

    auxilio construo. A tributao de ambos no poder ser diferenciada

    exclusivamente em razo da denominao dada a cada um deles, ainda que,

    para fins jurdicos, elas no existam na prtica (foi apenas um exemplo

    esdrxulo, caro aluno).

    Todos os exemplos tratados acima se referem aos chamados privilgios

    odiosos, que so os privilgios baseados em critrios repugnantes e sem

    fundamento tributrio. So eles que o princpio da isonomia visa combater,

    devendo existir correlao aceitvel entre o benefcio a ser concedido e a

    discriminao a ser instituda.

    Clusula do Pecunia Non Olet

    Essa clusula, traduzida tambm como um princpio tributrio, se firma no

    sentido de que o dinheiro no tem cheiro, de autoria do Imperador

    Vespasiano, na Roma Antiga. Assim, a hiptese de incidncia tributria deve

    ser entendida de forma que o intrprete se abstraia da licitude ou ilicitude da

    atividade exercida.

    Por esse pensamento, tanto as atividades perfeitamente lcitas e legais

    quanto aquelas ilcitas e margem da legalizao devem ser tributadas de

    igual forma, uma vez que o direito tributria se afirma apenas na ocorrncia

    do fato gerador, abstraindo-se da validade jurdica ou no dos atos que a ele

    deram origem.

    O direito tributrio preocupa-se apenas com a relao econmica relativa a

    determinado fato jurdico, conforme nos diz o artigo 118 do CTN, cujo texto

    o seguinte:

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    Art. 118. A definio legal do fato gerador

    interpretada abstraindo-se:

    I - da validade jurdica dos atos efetivamente

    praticados pelos contribuintes, responsveis, ou terceiros,

    bem como da natureza do seu objeto ou dos seus

    efeitos;

    II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos. (Grifos

    nosso)

    Como exemplo, imagine um traficante da recm tomada Rocinha que, em

    razo do seu negcio de circulao de drogas e entorpecentes de elevada

    estima e qualidade, tenha auferido renda de R$ 100.000,00. Nada mais claro

    do que a ilicitude do trfico de drogas e entorpecentes proibidos, sendo

    considerado inclusive um crime inafianvel.

    Contudo, a renda auferida est sujeita incidncia do IR, uma vez que houve

    o seu fato gerador, qual seja: auferir renda. Assim, igualmente a todos os

    trabalhadores que auferem renda em razo da labuta diria, o prezado

    traficante tambm est obrigado ao pagamento do IR. Observe que o motivo

    no o trfico de drogas, mas sim a aquisio da renda decorrente deste,

    que d origem obrigao tributria. No h qualquer sano imposta por

    meio do tributo em decorrncia do ato ilcito. Esse dever ser punido em

    outra esfera, como a penal, mas jamais na tributria.

    Da mesma maneira, so tambm tributveis todas as rendas decorrentes, por

    exemplo, do trfico de pessoas, lenocnio, prostituio, corrupo, lavagem

    de dinheiro (que bom seria que fosse realmente tributvel na prtica), jogos

    de azar, entre outros.

    Nada impediria, por exemplo, a cobrana de IPTU sobre imvel utilizado como

    casa de prostituio ou no sacrifcio ilegal de animais, ou ainda em rituais

    satnicos. Nada disso importa para a tributao. Se h a propriedade predial

    de imvel situado no Municpio, devido o IPTU aos cofres municipais.

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    Veja o que diz o STF sobre o tema:

    A jurisprudncia da Corte, luz do art. 118 do Cdigo

    Tributrio Nacional, assentou entendimento de ser possvel a

    tributao de renda obtida em razo de atividade ilcita, visto

    que a definio legal do fato gerador interpretada com

    abstrao da validade jurdica do ato efetivamente praticado,

    bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos.

    Princpio do non olet. (HC 94240/SP, de 23/08/2011).

    EMENTA: Sonegao fiscal de lucro advindo de atividade

    criminosa: "non olet". Drogas: trfico de drogas, envolvendo

    sociedades comerciais organizadas, com lucros vultosos

    subtrados contabilizao regular das empresas e

    subtrados declarao de rendimentos: caracterizao, em

    tese, de crime de sonegao fiscal, a acarretar a competncia

    da Justia Federal e atrair pela conexo, o trfico de

    entorpecentes: irrelevncia da origem ilcita, mesmo quando

    criminal, da renda subtrada tributao. A exonerao

    tributria dos resultados econmicos de fato criminoso -

    antes de ser corolrio do princpio da moralidade - constitui

    violao do princpio de isonomia fiscal, de manifesta

    inspirao tica. (HC 77530/RS, de 25/08/1998).

    ----------------------------------------

    Para finalizar, vamos ver algumas decises do STF sobre o tema da igualdade

    tributria:

    Sob o pretexto de tornar efetivo o princpio da isonomia

    tributria, no pode o Poder Judicirio estender benefcio

    fiscal sem que haja previso legal especfica. No caso em

    exame, a eventual concluso pela inconstitucionalidade do

    critrio que se entende indevidamente restritivo conduziria

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    inaplicabilidade integral do benefcio fiscal. A extenso do

    benefcio queles que no foram expressamente

    contemplados no poderia ser utilizada para restaurar a

    igualdade de condies tida por desequilibrada. (RE

    405579/PR, de 01/12/2010).

    A Constituio Federal outorga aos Estados e ao Distrito

    Federal a competncia para instituir o Imposto sobre

    Propriedade de Veculos Automotores e para conceder

    iseno, mas, ao mesmo tempo, probe o tratamento

    desigual entre contribuintes que se encontrem na mesma

    situao econmica. Observncia aos princpios da igualdade,

    da isonomia e da liberdade de associao. (ADI 1655/AP,

    03/03/2004).

    Ao instituir incentivos fiscais a empresas que contratam

    empregados com mais de quarenta anos, a Assemblia

    Legislativa Paulista usou o carter extrafiscal que pode ser

    conferido aos tributos, para estimular conduta por parte do

    contribuinte, sem violar os princpios da igualdade e da

    isonomia. (ADI 1276/SP, de 29/02/2002).

    Por disposio constitucional (CF, artigo 179), as

    microempresas e as empresas de pequeno porte devem ser

    beneficiadas, nos termos da lei , pela "simplificao de suas

    obrigaes administrativas, tributrias, previdencirias e

    creditcias, ou pela eliminao ou reduo destas" (CF, artigo

    179). 4. No h ofensa ao princpio da isonomia tributria se

    a lei, por motivos extrafiscais, imprime tratamento desigual a

    microempresas e empresas de pequeno porte de capacidade

    contributiva distinta, afastando do regime do SIMPLES

    aquelas cujos scios tm condio de disputar o mercado de

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    trabalho sem assistncia do Estado.(ADI 1643/DF, de

    05/12/2002).

    A Constituio consagra o tratamento isonmico a

    contribuintes que se encontrem na mesma situao, vedando

    qualquer distino em razo de ocupao profissional ou

    funo por eles exercida (art. 150, II, CF). II Assim,

    afigura-se inconstitucional dispositivo