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SOCIOLOGIA APLICADA Graduação

59069281 Apostila de Sociologia Geral

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SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

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SOCIOLOGIA APLICADA

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Os tempos atuais nos trazem mudanças que são cada vez mais aceleradas. Estas se refletem em nosso cotidianoexigindo-nos adaptações e assimilações constantes. O nosso jeito de falar, trabalhar, assim como de estudar sãoalterados. Não estudamos mais como antigamente. Hoje, temos um elemento-chave que faz parte, permanentemente,desta atividade - o ‘computador’. Os currículos escolares se modificam para acompanhar essas mudanças e comoum dos frutos de todas essas transformações temos uma nova metodologia de ensino que é o Ensino a Distância –EaD.

Dentro desse contexto descrito acima, a Sociologia, como outras disciplinas, inicia sua trajetória “on-line” ao seulado.

Tendo em vista essas novas necessidades, procuramos organizar uma disciplina que propicie a você – aluno – umaauto-suficiência, isto é, que você seja capaz de conduzir o seu processo de aprendizagem, fazendo a leitura domaterial, interagindo com o conteúdo e se auto-avaliando ao final de cada unidade de estudo.

Se por um lado a Sociologia é considerada uma ciência nova, pois nasceu no século XIX, por outro lado, é consideradatambém uma ciência dinâmica que incorpora novas questões, constantemente, ao seu objeto de estudo e ampliasuas relações com outras ciências. E é essa visão dinâmica que enfatizamos em nossos estudos, procurando nãosó transmitir conhecimentos, mas estimular a reflexão, contribuindo para fomentar a produção de conhecimentosatravés da pesquisa.

Dessa forma, iremos introduzi-lo no estudo das principais problemáticas que fazem parte do arcabouço teórico destadisciplina, assim como não deixaremos de examinar seus principais pensadores que montaram os diferentesparadigmas no intuito de embasá-lo para a compreensão da realidade social aplicando a teoria à prática através deexemplos de sua vida real.

As profundas mudanças que vivenciamos hoje conferem à Sociologia um especial papel analítico, daí a importânciado seu ensino na formação profissional de diferentes áreas, contribuindo para que este profissional possa construiruma postura crítica e consciente deste quadro, assumindo um papel ativo na busca de uma sociedade mais justa esolidária.

Estaremos presente para auxiliá-lo nesta tarefa quando for preciso, por isso vamos em frente, cumprindo passo apasso as atividades propostas, administrando bem o seu tempo e alcançando todos os prazos!

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Graduação

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SOCIOLOGIA APLICADA

UN

IDA

DE 1

A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA

COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Prezado aluno iniciaremos os nossos estudos de Sociologia fazendo

uma análise do contexto sócio-histórico que propiciou o seu surgimento e, a

partir daí, poderemos entender melhor o seu conceito e o seu objeto de

estudo.

OBJETIVO DA UNIDADE:

• Analisar as condições sócio-históricas que favoreceram o

surgimento da Sociologia como ciência, identificando seu objeto

de estudo e comparando as diferentes posturas paradigmáticas

neste contexto, a fim de que possa participar do processo social

conscientemente.

PLANO DA UNIDADE:

• O contexto sócio-histórico e intelectual do surgimento da

Sociologia.

• A crise do Feudalismo.

• A formação dos Estados-Nacionais.

• O Mercantilismo e a expansão comercial ultramarina.

• A Sociologia se estabelece como Ciência.

Bem-vindo à primeira unidade de estudo.

Sucesso!

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UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E INTELECTUAL DO SURGIMENTO DA

SOCIOLOGIA

O surgimento da Sociologia pode ser identificado no bojo de um amplo

processo histórico que tem início na transição feudal-capitalista, quando se

dá a desagregação da sociedade feudal no

século XV e vai até o período das revoluções

burguesas - revolução industrial inglesa e a

revolução francesa no século XVIII, marcando

a consolidação da sociedade capitalista.

Respondendo a essas indagações,

estaremos com os nossos estudos bem

encaminhados... Sendo assim, vamos em

frente!

A CRISE DO FEUDALISMO

Caminharemos juntos nesta etapa, visando entender que, para que a

nova ordem pudesse ganhar espaço, o Feudalismo teria que extinguir todas

as suas possibilidades de reprodução.

A partir dos séculos XV e XVI podemos observar que grandes

transformações ocorreram na Europa e, conseqüentemente, no mundo todo.

Esses acontecimentos desestruturaram o

sistema feudal existente e deram origem a

um novo sistema – o capitalismo. A grande

crise do feudalismo desenvolveu-se na

Europa Ocidental no século XIV, atingindo

indiscriminadamente campo e cidade,

disseminando a fome, epidemias e as

guerras, podendo ser explicada por um

conjunto de fatores que trouxe, como

conseqüência, a superação do sistema

feudal.

A economia medieval encontrava-se em

crise face à baixa produtividade agrícola,

ocasionada pelo esgotamento dos solos - utilização inadequada de técnicas

agrícolas predatórias - o que projetava um declínio na produção de alimentos,

gerando a fome e, conseqüentemente, as epidemias.

Em meados do século XIV, os comerciantes genoveses trouxeram da

região do Mar Negro uma epidemia que, no espaço de dois anos, espalhou a

morte por toda a Europa, atingindo homens e mulheres adultos e crianças

de todos os segmentos sociais, sendo conhecida como Peste Negra – um

castigo de Deus.

A crise se agravou na medida em que os senhores feudais viram seus

rendimentos declinarem devido à falta de trabalhadores e ao despovoamento

dos campos.

Capitalismo: sistema

social baseado no capital, no

dinheiro.

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A mortalidade trazida pela fome e a peste

negra foi ainda ampliada pela longa Guerra

dos Cem Anos (1337/1453), desencadeada

pela disputa das regiões de Bordéus e

Flandres, entre França e Inglaterra.

A conjuntura de epidemias, de aumento

brutal da mortalidade e de superexploração

camponesa que caracterizou a Europa do

século XIV trazendo a crise, foi sendo superada

no decorrer do século XV, com a retomada do

crescimento populacional, agrícola e comercial.

FORMAÇÃO DOS ESTADOS-NACIONAIS

Para acompanharmos as transformações em curso, é fundamental

concentrarmos-nos na aliança entre a burguesia e o rei, que resulta na formação

dos Estados-Nacionais, verificando-se a consolidação territorial a partir de

práticas políticas absolutistas, com o fortalecimento do poder e autoridade

dos reis.

Essa nova forma de organização política atendia aos interesses tanto

da nobreza quanto da burguesia. Os nobres, apesar de sua crescente

dependência frente aos reis e da perda de autonomia, tiveram assegurados

os seus privilégios feudais sobre os camponeses, mantendo suas terras e os

seus títulos nobiliárquicos, além de cargos administrativos, pensões e chefias

de regimentos militares.

Os burgueses procuraram aliar-se aos reis, financiando-os com recursos

para a manutenção de exércitos profissionais permanentes, necessários à

manutenção da ordem e do poder. Além disso, a centralização política e

administrativa trouxe a gradual unificação de impostos, leis, moedas, pesos,

medidas e alfândegas em cada país, beneficiando o comércio e a burguesia.

Os Estados-Nacionais, formados a partir de fins do século XIV em

Portugal e durante o século XV na França, Espanha e Inglaterra, evoluíram no

sentido do Absolutismo monárquico. Sistema político o qual o rei detém o poder

total, cabendo-lhe o direito de impor leis e obediência aos súditos. Mesmo as

regiões que permaneceram divididas em pequenos reinos e cidades, como a

Itália e a Alemanha, a tendência foi para o

fortalecimento do poder político dos

governantes locais.

MERCANTILISMO E A EXPANSÃO

COMERCIAL ULTRAMARINA

Veremos agora como os europeus –

pioneiramente Espanha e Portugal - chegam

a regiões nunca antes alcançadas e quais

os seus verdadeiros interesses. A expansão

territorial implementada pela política

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UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

mercantilista resultou na conquista e exploração de novos territórios

denominados “colônias” e estas passando a cumprir o papel de

complementaridade da economia da metrópole, constituindo-se em fontes

geradoras de riquezas dos países europeus. Através do “Pacto Colonial”,

ficava assegurada a exclusividade das transações mercantis estabelecidas

entre as metrópoles e suas respectivas colônias, numa relação também

conhecida como monopólio comercial.

Dentre as características do Mercantilismo, podemos identificar:

• expansão marítima comercial e a conquista de novos mercados

fornecedores de matérias-primas e mão-de-obra;

• busca incessante do lucro, através da manutenção de uma

balança comercial de superávit, ou seja, exportar sempre mais

do que importar;

• idéia metalista – nível de riqueza de um país medido pelo

montante de ouro e prata acumulado em seu tesouro nacional;

• absolutismo monárquico – poder político centralizado em torno

do rei que constituía-se na autoridade maior do sistema, com o

Estado controlando a política econômica em favor dos interesses

burgueses.

As práticas mercantilistas impulsionaram o crescimento do capitalismo

comercial dando origem à acumulação primitiva de capitais, pré-condição

necessária ao desenvolvimento do próprio capitalismo.

Secularização

É importante agora, percebermos as mudanças do

entendimento do homem sobre si mesmo e o mundo. Na transição

feudal-capitalista surge um novo homem, principalmente nos

centros urbanos, mais crítico e sensível, representando um

pensamento antropocêntrico – o homem como o centro de

todas as coisas e racionalista – crença ilimitada na capacidade

da razão em dar conta do mundo - movimento resgatado da

antiguidade greco-romana, que chocava-se com a postura

teocêntrica e dogmática, definida pelo poder clerical na Idade

Média.

Desenvolve-se, então, uma nova forma de entender a

realidade, isto é, a razão passou a ser considerada o elemento

principal de interpretação dos fatos. O homem constrói uma concepção

anticlerical apoiada em bases de liberdade, que não precisava se submeter

à autoridade divina imposta pela Igreja Católica.

Renascimento

O Renascimento foi um movimento intelectual que marcou a cultura

européia entre os séculos XIV e XVI, originário da Itália e irradiado por toda

a Europa.

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Está associado ao humanismo e fudamentado nos conceitos dacivilização da antiguidade clássica, numa demonstração demenosprezo pela Idade Média, considerada como “noite de mil anos”ou “escuridão”.

O Renascimento representou uma nova visão de mundo queatendia plenamente aos interesses da burguesia em ascensão. Suasprincipais características eram o racionalismo, crença na razão comoforma explicativa do mundo em oposição à fé; o antropocentrismo,colocando o homem no centro de todas as coisas, em oposição aoteocentrismo e o individualismo, em oposição ao coletivismo cristão.

O Humanismo pregava a pesquisa, a crítica e a observação, emoposição ao princípio da autoridade.

A explicação da origem italiana do Renascimento e doHumanismo, se dá em função da riqueza das cidades italianas, dapresença de sábios bizantinos, da herança clássica da Antiga Romae da difusão do mecenato. A invenção da Imprensa contribuiu muito

para a divulgação das novas idéias.

Fases do Renascimento

O Renascimento pode ser dividido em três grandes fases,correspondentes aos séculos XIV, XV e o XVI.

Trecento - século XIV - manifesta-se predominantemente na Itália, maisespecificamente na cidade de Florença, pólo político, econômico e cultural daregião. Giotto, Boccaccio e Petrarca estão entre seus representantes. Suascaracterísticas gerais são o rompimento com o imobilismo e a hierarquia dapintura medieval - valorização do individualismo e dos detalhes humanos;

Quatrocento - século XV - o Renascimento espalha-se pela penínsulaitálica, atingindo seu auge. Neste período atuam Botticelli, Leonardo da Vinci,Rafael e, no seu final, Michelangelo, considerados os três últimos o “triosagrado” da Renascença. As características gerais do período são: inspiraçãogreco-romana (paganismo e línguas clássicas), racionalismo eexperimentalismo;

Cinquecento – século XVI - o Renascimento torna-se neste século ummovimento universal europeu, tendo, no entanto, iniciado sua decadência.Ocorrem as primeiras manifestações maneiristas e a Contra-reforma instaurao Barroco como estilo oficial da Igreja Católica. Na literatura atuaram LudovicoAriosto, Torquato Tasso e Nicolau Maquiavel, já na pintura eram Rafael eMichelangelo.

O Iluminismo

O Iluminismo foi o movimento intelectual desenvolvido na França no séculoXVII e teve o seu apogeu durante o século XVIII - o chamado “Século dasLuzes”, que enfatizava o domínio da razão e da ciência como formas deexplicação para todas as coisas do universo, substituindo as crenças religiosase o misticismo que bloqueavam a evolução do homem desde a Idade Média.

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UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porémera corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam quese todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais paratodos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contraas imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contráriosao absolutismo do rei, além dos privilégios dados à nobreza e ao clero.

O Iluminismo foi mais intenso na França onde influenciou a RevoluçãoFrancesa, assim como na Inglaterra e em diversos países da Europa onde aforça dos protestantes era maior, chegando a ter repercussões, mesmo emalguns países católicos.

Podemos dizer que, de certo modo, este movimento é herdeiro datradição do Renascimento e do Humanismo por defender a valorização doHomem e da Razão, contribuindo também para o avanço do capitalismo eda sociedade moderna na medida em que disseminava os ideais de umasociedade “livre”, com possibilidades de transição de classes e maisoportunidades iguais para todos.

Economicamente, o Iluminismo identificava que era da terra e danatureza que deveriam ser extraídas as riquezas dos países. Segundo Adam

Smith, cada indivíduo deveria procurar lucro próprio sem escrúpulos o que,

em sua visão, geraria um bem-estar geral na civilização.

Os principais filósofos do Iluminismo foram: John Locke (1632-1704),ele acreditava que o homem adquiria conhecimento com o passar do tempoatravés do empirismo; Voltaire (1694-1778), ele defendia a liberdade depensamento e não poupava crítica à intolerância religiosa; Jean-JacquesRousseau (1712-1778), ele defendia a idéia de um estado democrático quegarantia igualdade para todos; Montesquieu (1689-1755), ele defendeu adivisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário; Denis Diderot(1713-1784) e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), juntos organizaramuma enciclopédia que reunia conhecimentos e pensamentos filosóficos da

época.

O outro lado da moeda

Estas transformações foram acompanhadas, nos séculos XVII e XVIII,

por mudanças políticas, tais como: a Revolução Inglesa, a Revolução

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Americana e a Revolução Francesa, que introduziram grandes alterações

nessas sociedades e influenciaram a mudança de outras no mundo a fora.

Você pode observar que a sociedade que antes tinha suas bases na

produção da terra passa a ter suas bases na produção industrial e trouxe

consigo uma nova forma de trabalho, que é o trabalho assalariado. Este

também trouxe novas formas de relações entre as pessoas e de

representatividade nos governos.

Tudo mudava. Aquela sociedade tradicional que antes existia estava

completamente transformada precisando se organizar para atender às novas

necessidades.

Revolução Industrial Inglesa

Agora, iremos pesquisar a revolução que alterou a relação entre os

homens, configurando as formas do mundo contemporâneo.

No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande

transformação no setor da produção, em decorrência dos avanços das

técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a qual se deu o nome de

Revolução Industrial. A invenção e o aperfeiçoamento das máquinas

permitiram o aumento vertiginoso da produtividade, resultando na diminuição

dos preços dos produtos e o crescimento do consumo e dos lucros.

Esse momento revolucionário de passagem da energia humana,

hidráulica e animal para motriz, é o ponto culminante de uma revolução

tecnológica, social e econômica, cujas origens podem ser encontradas nos

séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio, adotada pelos

Estados-Nacionais e a adoção da política mercantilista. A acumulação de

capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados

proporcionada pela expansão marítima estimularam o crescimento da

produção, exigindo mais mercadorias e preços menores. Gradualmente,

passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas

para a produção mecanizada nas fábricas.

Para Karl Marx, a Revolução Industrial integra o conjunto das

chamadas “Revoluções Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise

do Antigo Regime na passagem do capitalismo comercial para o industrial.

Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos

Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios

iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para a Idade

Contemporânea.

A Inglaterra foi o país pioneiro da industrialização, sendo que alguns

fatores contribuíram para isso:

• o principal deles foi a aplicação de uma política econômica liberal

em meados do século XVIII, liberalizando a indústria e o

comércio o que acarretou um enorme progresso tecnológico e

aumento da produtividade em um curto espaço de tempo;

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UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

• a Lei de Cercamento dos Campos, denominados “enclouseres”

marcou o fim do uso comum das terras, expulsando o homem

do campo e gerando o “trabalhador livre”. Na medida em que

não tinham mais condições de vida no meio rural, partiam para

as cidades, gerando forte concentração de mão-de-obra urbana,

o que favorecia às indústrias;

• a Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em

seu subsolo, a principal fonte de energia para movimentar as

máquinas e as locomotivas a vapor. Possuíam também

consideráveis reservas de minério de ferro, principal matéria-

prima utilizada neste período.

• a burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as

fábricas, comprar matéria-prima, máquinas e contratar

empregados por causa da grande taxa de poupança que existia

na época;

• a agricultura inglesa desenvolveu-se com a difusão de novas

técnicas e instrumentos de cultivo.

A mecanização da produção criou o proletariado rural e urbano,

composto de homens, mulheres e crianças, submetido a jornadas de trabalho

diárias, extensivas e intensivas, de mais de 16 horas no campo ou nas fábricas.

Com a Revolução Industrial, consolida-se o sistema capitalista baseado

em duas classes fundamentais: a burguesia detentora do capital e o

proletariado, que nada possuíam a não ser a sua força de trabalho, que

vendiam aos capitalistas em troca de um salário.

O capital apresenta-se sob a forma de terras, dinheiro, lojas, máquinas

ou crédito. O agricultor, o comerciante, o industrial e o banqueiro, donos do

capital, controlam o processo de produção, contratam ou demitem os

trabalhadores, conforme seus interesses.

As formas de transformação de matérias-primas em produtos são:

trabalho artesanal – é a forma mais primitiva de trabalho, dominada

pelo homem há milhares de anos. O trabalho era manual, sem a utilização

de máquinas e o artesão realizava sozinho todas as etapas da produção,

desde o preparo da matéria-prima até o acabamento final dos produtos,

não havendo divisão do trabalho. O artesão era dono dos meios de produção

- oficina e ferramentas simples - possuindo também o produto final de seu

trabalho.

trabalho manufaturado – estágio intermediário entre o artesanato e a

indústria. Neste processo, podemos observar o uso de máquinas simples e

a divisão social do trabalho (especialização do trabalhador) com cada

trabalhador ou grupo de trabalhadores, realizando uma etapa para a obtenção

do produto final. Na manufatura, já encontramos a figura do capitalista com

interferência direta no processo produtivo, passando a comprar a matéria-

prima e a determinar o ritmo de produção.

indústria moderna – com a mecanização da produção introduzida pela

Revolução Industrial, os trabalhadores perdem o controle do processo

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produtivo, passando a trabalhar para um patrão – burguês - na condição de

operários – empregados assalariados. Esses trabalhadores passam a

manejar máquinas que pertencem agora ao empresário, dono dos meios de

produção e para o qual se destina o lucro, sendo que a matéria-prima e o

produto final não mais lhes pertencem.

Temos como etapas da industrialização, os seguintes períodos:

Primeira Revolução Industrial – desenvolvida entre meados do século

XVIII até as últimas décadas do século XIX, com a predominância do trabalho

intensivo com jornadas de trabalho de até 16 horas por dia, com baixa

remuneração do operariado. Utilização de máquinas à vapor nas indústrias

têxteis, sendo que a grande fonte de energia era o carvão mineral.

Segunda Revolução Industrial – compreendida entre as últimas décadas

do século XIX até o final da década de 1970 – século XX. A jornada de trabalho

cai para 8 horas diárias e passa a ser regulamentada por leis trabalhistas, a

partir dos avanços sociais relativos ao processo histórico de cada país. O

petróleo vai substituindo o carvão até se constituir na principal fonte de

energia e a indústria automobilística como maior atividade produtiva.

Terceira Revolução Industrial – conhecida também como Revolução

Técnico-Científica, tem início a apartir da segunda metade da década de 1970,

sendo caracterizada pelo avanço do conhecimento e tecnologia avançada.

As jornadas de trabalho são mantidas em 8 horas diárias. Os setores de

ponta são a informática, a robótica, as telecomunicações, a química fina e a

biotecnologia. Neste período, temos uma diversificação quanto às fontes de

energia – hidrogênio, energia solar, etc.

A Revolução Industrial favoreceu também o desenvolvimento dos

transportes. Logo vieram a locomotiva e a navegação a vapor, o que fez com

que houvesse uma redução nos custos dos fretes, baixando os preços dos

produtos e aumentando o consumo.

Com a Revolução Industrial, a Inglaterra se transformou no maior

produtor e exportador de produtos manufaturados e a população dos centros

urbanos cresceu assustadoramente. Não podemos esquecer de que havia

nesse país matérias-primas indispensáveis para o funcionamento e a

construção dessas máquinas – carvão e ferro.

E, então, você já pode imaginar o que foi acontecendo: a burguesia

investiu na inovação tecnológica e as máquinas foram cada vez mais se

aprimorando e aumentando a produção que se expandia por todo o mundo,

estabelecendo laços de dependência entre as nações.

O trabalho assalariado que substitui o trabalho artesanal ganha força

utilizando-se fortemente da mão-de-obra feminina e infantil e a energia a

vapor cresce em lugar da energia humana.

Revolução Francesa

A Revolução Francesa é um importante marco histórico da transição do

feudalismo para o capitalismo, inaugurando um novo modelo de sociedade

baseada na economia de mercado.

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UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

A Revolução Francesa significou o colapso das instituições feudais do

Antigo Regime e o fim da monarquia absoluta na França. Ao mesmo tempo,

propiciou a ascensão da burguesia ao poder político, fortalecendo as condições

essenciais para a consolidação do capitalismo.

Movimento político de extrema relevância para o continente europeu e

para o Ocidente, a Revolução Francesa teve início em 1789 e se prolongou

até 1815. Sofreu grande influência dos ideais do Iluminismo, baseando-se

no direito à liberdade, à igualdade e à fraternidade e nos princípios

democráticos e liberais da Independência Americana(1776).

O êxito do processo revolucionário francês, encerrando os privilégios

da nobreza e do clero, serviu de motivação para novos movimentos em

direção ao igualitarismo em outras partes da Europa.

A Revolução Francesa pode ser subdividida em quatro grandes

períodos: a Assembléia Constituinte, a Assembléia Legislativa, a Convenção

e o Directório.

Causas da Revolução

A Revolução Francesa foi resultado de uma conjugação de fatores

sociais, econômicos, políticos e, pelo menos um desses fatores, é apontado,

pela maioria dos historiadores, como determinante para o desencadeamento

do processo revolucionário. Trata-se do descontentamento do povo com os

abusos e privilégios do regime absolutista.

A composição social da sociedade francesa, na segunda metade do

século XVIII, é marcada por uma rígida hierarquia e estratificação social. A

hierarquia social francesa propiciava honras e privilégios em função do

nascimento e dividia a população de maneira discriminatória segundo ordens

ou estados.

De um lado, duas classes – o clero e a nobreza, que juntas usufruíam

dos privilégios e da riqueza produzida pela sociedade francesa.

O Clero ou 1º Estado composto por importantes membros da Igreja

Católica, originário da nobreza, que em 1789 representava 2% da população

francesa.

A Nobreza ou 2º Estado formado pelo rei e sua família, bem como

outros nobres como: condes, duques, marqueses, aproximava-se de 1,5%

dos habitantes. Controlava a maior parte das terras, concentrando em suas

mãos boa parte de tudo que produziam os camponeses; gozava de inúmeros

privilégios e não pagava impostos.

Do outro lado, o povo – base da sociedade francesa, que sustentava

pelo peso de impostos que pagava, a vida de riqueza e muito luxo dos nobres

e do clero.

O Povo ou 3º Estado era formado pela burguesia, pelos trabalhadores

urbanos (a maioria deles desempregados), artesãos e camponeses - sans

cullotes.

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SOCIOLOGIA APLICADA

O desenvolvimento do comércio e da indústria, assim como a conquista

de novos mercados na Europa e fora dela, fizeram a burguesia acumular

riquezas muito rapidamente. A confortável posição que desfrutava no campo

dos negócios, contrastava com a desfavorável condição que a burguesia

ocupava na vida política do regime absolutista. Apesar de rica, a estrutura

social francesa barrava a ascensão da burguesia, uma vez que os privilégios,

honras e títulos estavam reservados somente à nobreza e ao alto clero.

Além disso, a má administração das finanças, a cobrança excessiva de

impostos e os gastos descontrolados da nobreza eram considerados

obstáculos aos interesses burgueses.

Os camponeses e os trabalhadores urbanos que representavam a

esmagadora maioria da população francesa viviam em precárias condições

de vida e de existência, ou seja, em quase absoluta miséria.

No campo, embora grande parte dos camponeses fosse livre, somente

uma pequena parcela podia manter-se com a produção da terra. A elevada

carga de impostos relegou boa parte dos pequenos proprietários a subsistir

trabalhando nas propriedades dos grandes senhores ou dedicar-se a

produção artesanal.

Por outro lado, o progresso industrial não representou para a classe

trabalhadora operária uma melhoria das condições de vida e de trabalho. A

classe operária convivia com salários muito baixos e com altos níveis de

desemprego.

O quadro de desigualdade social da sociedade francesa, alimentado

pela crise econômico-financeira do Antigo Regime, tornou ainda mais precárias

as condições em que viviam os trabalhadores do campo e da cidade.

Relegados a condições miseráveis de existência, camponeses e trabalhadores

urbanos desejavam novas formas de vida e de trabalho.

As origens do processo revolucionário francês de 1789 devem ser

buscadas nas contradições dos interesses estabelecidos pelo regime

absolutista e as novas forças sociais que estavam em ascensão. Ou seja, os

interesses econômicos e políticos da nova e poderosa classe burguesa

sufocada por uma organização social aristocrática e decadente fizeram

despertar o povo (o terceiro estado), que passou a rejeitar as ordens, as

diferenças sociais e as restrições. Diante das promessas igualdade e

fraternidade, o povo foi atraído para a causa

revolucionária.

A SOCIOLOGIA SE ESTABELECE COMO

CIÊNCIA

Tendo em vista todos estes

acontecimentos, Augusto Comte (1798-

1857) defende uma proposta para resolver

os problemas da sociedade de sua época que

viria através da reforma intelectual do homem

alcançando a reforma das instituições.

Liberalismo: corrente

política de pensamento que

defende a liberdade do indi-

víduo frente ao

intervencionismo do Estado.

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UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Estas reformas estavam embasadas no Liberalismo que triunfara no

século XIX e pregava a liberdade e a igualdade inata entre os homens. Porém,

suas reformas estabeleciam a autoridade e a ordem pública contra os abusos

do individualismo da Escola Liberal (RIBEIRO JR. 1988:15).

A Sociologia nasce como resposta a esse individualismo pregado pela

sociedade capitalista e vai assim enfatizar as ações altruístas entre os

homens.

O positivismo de Comte comparava a sociedade à vida orgânica, cujas

partes que a constituem desempenham funções que se orientam para a

preservação do todo. Sendo assim, a sociedade não poderia sofrer revoluções

violentas e sim se desenvolver harmoniosamente. Repudia o laissez-faire

do Liberalismo, pregando o planejamento social.

Comte defendia a idéia de que as ciências deveriam atingir a máxima

objetividade possível.

A influência de Comte foi além da escola francesa, atingindo também

os republicanos no Brasil, como podemos observar, o lema na bandeira

nacional “Ordem e Progresso”.

A especificidade do conhecimento sociológico

As ciências se distinguem pelos seus objetos de estudo e pelos seus

métodos.

E com a Sociologia não vai ser diferente. Se observarmos uma

sociedade, veremos que os homens praticam atos que podemos chamar de

individuais, tais como: dormir, respirar, caminhar, como também, praticam atos

considerados sociais – casar, fazer reuniões, pedir demissão – são situações

que só podem ser entendidas através das relações que se estabelecem

entre indivíduos ou grupos de indivíduos e que não podem ser entendidas

isoladamente. São estes fatos coletivos que interessam à Sociologia, pois

suas causas são encontradas não no individual, mas sim na sociedade.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de

estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-

lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no

processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as

respostas no caderno e depois as envie através do nosso

ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Nesta primeira unidade estudamos a formação da Sociologia como

conhecimento científico. Na próxima unidade, estudaremos a Sociologia

Clássica. Espero você na próxima unidade. Temos muito que estudar!

Positivismo: corrente fi-

losófica cujo iniciador foi

Augusto Comte. Defendia a

ciência acima de tudo.

Laissez-faire: expressão

francesa que transmite uma

das essências do Liberalismo

que dizia: deixai - fazer, ou

seja, o homem era livre para

fazer o que quisesse.

Objeto de estudo: aquilo

que vai ser estudado pelo ci-

entista.

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1

SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

EXERCÍCIOS

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9

SOCIOLOGIA APLICADA

UN

IDA

DE 1

A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. A partir da transição feudal-capitalista, surge uma nova postura intelectual

do homem, nova forma de ver a realidade e uma nova maneira de interpretar

as coisas sagradas, que o colocava numa condição de liberdade, rompendo

com a submissão diante da autoridade divina:

a) existencialismo;b) positivismo;c) marxismo;d) racionalismo;e) tomismo.

2. A Sociologia é a ciência que estuda as ações humanas sob qual perspectiva?

a) As ações humanas fora do contexto histórico-social;b) As ações humanas comparativamente às demais espécies animais;c) As ações humanas tomadas isoladamente;d) As ações humanas tomadas em coletividade;e) As ações humanas tomadas em estado de natureza.

3. Dentre os pensadores iluministas, destacamos Jean-Jacques Rousseau

(1712-1778), que defendia a idéia de:

a) procura do lucro individual sem escrúpulos;b) centralização política em torno de um Estado forte;c) intolerância religiosa;d) um estado democrático que garanta igualdade para todos;e) divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário.

4. A Crise Geral do Feudalismo do século XIV, só foi superada em função da:

a) retomada do crescimento populacional, agrícola e comercial;b) linha de crédito bancária obtida junto aos reis;c) Revolução Industrial Inglesa;d) fatores naturais dada a fé religiosa do povo;e) união entre todos os segmentos sociais em torno do Pacto de Moncloa.

5. A produção industrial trouxe consigo uma nova forma de expressão do

trabalho:

a) servil;b) escravo;c) voluntário;d) assalariado;e) terceirizado.

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10

UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

6. A Revolução Industrial inglesa, utiliza em seus momentos iniciais, que tipos

de energia?

a) Energia humana e energia eólica;b) Energia humana e energia a vapor;c) Energia humana e energia nuclear;d) Energia humana e energia elétrica;e) Energia humana e energia solar.

7. Que tipo de motivação, inserida na lógica do capitalismo, levou a classe

burguesa a investir em “inventos”?

a) Acompanhar o ritmo de produção da classe trabalhadora;b) Retração da produção para atendimento do mercado interno;c) Atender as exigências dos reis;d) Renovação do parque industrial;e) Racionalização e aumento da produção.

8. Com a Revolução Industrial, que tipo de fenômeno populacional se deu

na Inglaterra?

a) Aumento vertiginoso das populações urbanas;b) Envelhecimento assustador da população adulta;c) Aumento da população feminina, uma vez que o número de óbito en-

tre os homens aumentou em face da exploração desumana do traba-lhador;

d) Alta na taxa de mortalidade infantil, num processo de contaminaçãoproduzida pelas máquinas;

e) Aumento da taxa de mortalidade, tanto dos homens quanto das mu-lheres, em razão de que, as condições de trabalho no sistema capita-lista, se apresentavam mais hostis do que as verificadas no sistemafeudal.

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO

1. O que foi o Renascimento e quais as suas principais características?

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

2. O que foi o “Pacto Colonial” e quais as partes envolvidas neste acordo?

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

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SOCIOLOGIA APLICADA

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Graduação

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SOCIOLOGIA APLICADA

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UN

IDA

DE 2

A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

Como vimos na Unidade 1, a Sociologia enquanto ciência surgiu como

resposta intelectual para as “crises” decorrentes da implantação e da

consolidação das sociedades capitalistas modernas. Nesta segunda unidade

de estudo, vamos a Sociologia Clássica.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

Compreender o pensamento de três autores considerados clássicos

na Sociologia do século XIX e no início do século XX. São eles Émile Durkheim,

Max Weber e Karl Marx.

PLANO DA UNIDADE:

• Uma nova ciência: a Sociologia.

• A Sociologia de Émile Durkheim.

• A Sociologia de Karl Marx.

• A Sociologia compreensiva de Max Weber.

Bons estudos!

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UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

26

UMA NOVA CIÊNCIA: A SOCIOLOGIA

As transformações sociais, econômicas e políticas desencadeadas pelo

duplo processo revolucionário - a Revolução Industrial e a Revolução Francesa,

no século XVIII - fizeram emergir um novo gênero de “questões sociais” que

despertou o interesse de filósofos e intelectuais em investigar a sociedade.

A sociedade passava assim a se constituir em objeto de estudo de uma

nova ciência – a Sociologia.

Observadores da nascente sociedade industrial, cada um deles

procurou em estudos que realizaram, interpretar as questões sociais

fundamentais da sociedade de seu tempo. Todos três, de maneira diversa,

estavam comprometidos com o propósito de apresentar respostas para a

crise da sociedade moderna. Suas obras apresentam distintas interpretações

das crises sociais de uma nova sociedade que nasce mergulhada em

contradições profundas.

Para Durkheim(1858-1917), a crise da sociedade industrial moderna

estava associada à fragilidade moral da época em orientar com eficácia a

conduta dos indivíduos. A sociedade só poderia manter sua estrutura e

equilíbrio se reconstituísse uma nova moral comum que pudesse reunir os

membros da coletividade. Para ele, a Sociologia deveria servir para resgatar

o bom funcionamento da sociedade, reconstruindo novos hábitos e valores,

instituindo, enfim, uma nova moral capaz de recuperar a “normalidade social”

e preservando, assim, a ordem social.

Para Karl Marx (1818-1883), a questão fundamental da sociedade do

seu tempo eram as contradições insolúveis engendradas pela sociedade

capitalista. O antagonismo entre as classes sociais constituía a realidade

concreta do capitalismo. Para ele, a divisão do trabalho entre os homens

era uma fonte inesgotável de exploração e alienação. A ciência, em sua

tarefa de conhecer a realidade, deveria converter-se em um instrumento

político para a transformação social.

A contribuição dos trabalhos realizados por Weber(1864-1920) tornou-

se referência para o desenvolvimento da Sociologia. Polêmico pelas críticas

ao positivismo de Durkheim e ao Materialismo Histórico de Marx, Weber foi

capaz de compreender as particularidades das ciências humanas realçando

o caráter particular de cada formação social e histórica, realçando aquilo

que ela apresenta de específico.

Caro aluno, saiba que quando buscamos empreender uma análise da

vida social, nos deparamos com um conjunto significativo de pressupostos

teóricos, que nos levam a diferentes abordagens e concepções metodológicas

também variada. A marca principal da análise sociológica do fenômeno social

é a pluralidade de abordagens e contribuições teóricas que nos informam

como a realidade e a vida social foram analisadas e interpretadas. Essa

diversidade teórica nos permite construir diferentes imagens do fenômeno

estudado e apontam para diferentes direções.

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SOCIOLOGIA APLICADA

27

A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM

Embora, Auguste Comte seja reconhecidamente apresentado como

fundador da Sociologia pela sua preocupação de dotar a Sociologia de bases

científicas, Durkheim é apontado como um dos primeiros grandes teóricos

desta ciência.

Representante do Positivismo, uma das preocupações centrais de

Durkheim foi estabelecer a Sociologia como uma disciplina rigorosamente

científica. De acordo com Durkheim, a Sociologia deveria assentar-se em uma

base sólida afastando-se de todas as orientações que transformavam a

investigação social numa dedução de fatos particulares, mergulhada em

generalidades abstratas, interpretando a realidade social sem critérios e

limites impostos pela ciência.

Autor de obras essenciais para o pensamento sociológico, como: A

Divisão de Trabalho Social (1893), As Regras do Método Sociológico (1895), O

Suicídio (1897) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1909).

Em sua visão, a Sociologia deveria delimitar com rigor o objeto de

estudo de seu interesse; definir um objeto de investigação próprio, específico,

distinto do objeto analisado por outras ciências.

Em sua obra – “As Regras do Método Sociológico (1895)”, Durkheim

afirmava que a Sociologia deveria estudar fatos essencialmente sociais e

procurar interpretá-los sociologicamente.

O Fato Social como objeto de investigação da Sociologia

Para Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia é o fato social.

Mas, o que são fatos sociais? Afirma Durkheim (1970, p.87-88):

“Antes de procurar saber qual é o método que convém ao estudo

dos fatos sociais, importa dar a conhecer os fatos que assim designamos.

A questão é tanto mais necessária quanto as pessoas se servem

desta qualificação sem grande precisão. Empregam-na correntemente

para designar, mais ou menos, todos os fenômenos que ocorrem na

sociedade, mesmo que apresentem, apesar de certas generalidades,

pouco interesse social. Mas, partindo desta acepção, não há, por assim

dizer, acontecimentos humanos que não possam ser apelidados de

sociais. Cada indiví-duo bebe, dorme, come, raciocina, e a sociedade

tem todo o interesse em que estas fun-ções se exerçam regularmente.

Assim, se estes fatos fossem sociais, a sociologia não teria um objeto

que lhe fosse próprio e o seu domínio confundir-se-ia com os da biologia

e da psicologia.

Mas, na realidade, há em todas as sociedades um grupo determinado

de fenômenos que se distinguem por características distintas dos

estudados pelas outras ciências da natureza.

Quando desempenho a minha obrigação de irmão, esposo ou

cidadão, quando satis-faço os compromissos que contraí, cumpro

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UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

28

deveres que estão definidos, para além de mim e dos meus atos, no

direito e nos costumes. Mesmo quando eles estão de acordo com os

meus próprios sentimentos e lhes sinto interiormente a realidade, esta

não deixa de ser objetiva, pois não foram estabelecidos por mim, mas

sim recebidos através da educação. Quantas vezes acontece

ignorarmos os pormenores das obrigações que nos incumbem e, para

os conhecer, termos de recorrer ao Código e aos seus intérpretes

autorizados! Do mesmo modo, os fiéis, quando nascem, encontram já

feitas as crenças e práticas da sua vida religiosa; se elas existiam

antes deles, é porque existiam fora deles. O sistema de sinais de que

me sirvo para exprimir o pensamento, o sistema monetário que

emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo

nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na minha

profissão, etc. funcionam independentemente do uso que deles faço.

Tomando um após outro todos os membros de que a sociedade se

compõe, pode repetir-se tudo o que foi dito, a propósito de cada um

deles.

Estamos, pois, em presença de modos de agir, de pensar e de

sentir que apresentam a notável propriedade de existir fora das

consciências individuais.

Não somente estes tipos de conduta ou de pensamento são

exteriores ao indivíduo, como são dotados dum poder imperativo e

coercivo em virtude do qual se lhe impõem, quer ele queira quer não.

Sem dúvida, quando me conformo de boa vontade, esta coerção não

se faz sentir ou faz-se sentir muito pouco, uma vez que é inútil. Mas

não é por esse motivo uma característica menos intrínseca de tais

fatos, e a prova é que ela se afirma desde o momento em que eu

tente resistir. Se tento violar as regras do direito, elas rea-gem contra

mim de modo a impedir o meu ato, se ainda for possível, ou a anulá-

lo e a restabelecê-lo sob a sua forma normal, caso já tenha sido

executado e seja reparável, ou a fazer-me expiá-lo, se não houver

outra forma de reparação. Tratar-se-á de máximas puramente morais?

A consciência pública reprime todos os atos que as ofendam, através

da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos e das penas

especiais de que dis-põe. Noutros casos, a coação é menos violenta,

mas não deixa de existir. Se não me submeto às convenções do mundo,

se, ao vestir-me, não levo em conta os usos seguidos no meu país e

na minha classe, o riso que provoco e o afastamento a que me submeto

produ-zem, ainda que duma maneira mais atenuada, os mesmos efeitos

de uma pena propria-mente dita. Aliás, a coação não é menos eficaz

por ser indireta. Não sou obrigado a falar francês com os meus

compatriotas, nem a usar as moedas legais, mas é impossível fazê-lo

de outro modo. Se tentasse escapar a esta necessidade, a minha

tentativa falharia miseravelmente. Se for industrial, nada me proíbe

de trabalhar com processos e métodos do século passado, mas, se o

fizer, arruíno-me pela certa. Mesmo quando posso libertar-me dessas

regras e violá-las com sucesso, nunca é sem ser obrigado a lutar

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SOCIOLOGIA APLICADA

29

contra elas. Mesmo quando são finalmente vencidas, ainda fazem sentir

suficientemente a sua força constrangedora, pela resistência que opõem.

Não há inovador, mesmo bem sucedido, cujos empreendimentos não

acabem por chocar com oposições deste tipo.

Aqui está, portanto, um tipo de fatos que apresentam

características muito especiais: consistem em maneiras de

agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um

poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem. Por

conseguinte, não poderiam ser confundidos com os fenômenos

orgânicos, visto consistirem em representações e ações; nem com os

fenômenos psíquicos, por estes só existirem na consciência dos

indiví-duos, e devido a ela. Constituem, pois, uma espécie nova de

fatos, aos quais deve atribuir-se e reservar-se a qualificação de sociais.

Tal qualificação convém-lhes, pois, não tendo o indivíduo por substrato,

não dispõem de outro para além da sociedade, quer se trate da

sociedade política na sua íntegra ou de um dos grupos parciais que

engloba: or-dens religiosas, escolas políticas, literárias, corporações

profissionais, etc. Por outro lado, a designação convém unicamente a

estes fatos, visto a palavra “social” só ter um sentido definido na

condição de designar apenas os fenômenos que não se enquadrem em

nenhuma das categorias de fatos já constituídas e classificadas. Eles

são, portanto, o domínio próprio da sociologia.”

A partir dessa definição, podemos, então, afirmar que são três as

características básicas que permitem reconhecer os fatos sociais.

A primeira característica dos fatos sociais é a exterioridade. Segundo

Durkheim, o indivíduo ao nascer já encontra regras sociais, morais, legais,

religiosas, etc., que foram sedimentadas pelas gerações anteriores que

deverão ser internalizadas a sua existência para que ela possa viver em

sociedade. São maneiras de ser e de agir consolidadas pelo grupo, que

existem independente de sua vontade individual, ou seja, são fatos sociais

exteriores ao indivíduo. Ele não é consultado para decidir se agirá ou não

em concordância com esse conjunto de regras. O fato do indivíduo pertencer

a uma determinada sociedade ou grupo social implica na adesão obrigatória

de regras que servirão para orientar sua conduta e comportamento.

Portanto, além de exteriores, os fatos sociais são coercitivos, ou seja,

dotados de um poder imperativo que se impõem ao indivíduo pela força.

Essa é, pois, a segunda característica dos fatos sociais - exercer sobre o

indivíduo uma coerção exterior. Todo conjunto de regras: jurídicas, morais,

religiosas, financeiras, lingüísticas, etc., constituídas pela sociedade é imposto

coercitivamente ao indivíduo. Cabe a ele conformar-se às regras socialmente

instituídas e orientar-se de acordo com elas, independente de sua vontade

particular.

Segundo Durkheim, um fato social é reconhecido pelo poder de coação

externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a

presença desse poder é reconhecida, por sua vez, pela existência que o fato

opõe a qualquer iniciativa individual que tende a violentá-lo.

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UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

30

Uma pessoa pode não querer usar o idioma falado em sua sociedade,

pode não querer usar a moeda corrente em seu país ou pode não querer se

subordinar aos códigos legais vigentes em seu meio, mas certamente, suas

atitudes serão severamente tolhidas pela força que a sociedade exercerá

sobre seu comportamento.

Além da exterioridade e coercitividade dos fatos sociais, uma terceira

característica deve ser considerada – a generalidade. Será considerado

social o fato que é geral, ou seja, o fato que se manifesta pela sua natureza

coletiva, difusa - formas de viver consolidadas socialmente, como os hábitos,

as crenças e os valores, e também, as formas de habitação, as vias de

comunicação que definem o fluxo das correntes migratórias e de escoamento

da produção.

Portanto, o domínio da Sociologia compreende um determinado grupo

de fenômenos – fatos sociais – que são reconhecidos pelo seu poder de

coerção externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos;

e se manifestam pela sua generalidade, pela difusão que têm no interior de

uma determinada sociedade.

O Método Sociológico

Para Durkheim, o conhecimento e a explicação da vida social impõem

ao pesquisador a escolha de um método que permita investigar de maneira

cientifica os fatos sociais. Para observar e interpretar a realidade social, o

pesquisador deveria assumir posição semelhante a do estudioso das

ciências naturais, considerando, entretanto, que a Sociologia examina fatos

que pertencem ao reino social, com especificidades próprias que os

distinguem dos fenômenos da natureza.

Segundo Durkheim, a explicação científica dos fatos sociais exigiria

do pesquisador um compromisso com a objetividade e a neutralidade em

relação aos fenômenos observados. A regra fundamental para observação

dos fatos sociais era considerá-los como coisa, isto é, como realidades

exteriores ao indivíduo.

O distanciamento do pesquisador em relação ao objeto investigado é

condição essencial para garantir a cientificidade de seu estudo. O sociólogo

deve ser capaz de observar a realidade dos fatos sem “contaminar” a

interpretação com suas prenoções, seus preconceitos, sentimentos e

concepções de mundo pessoais, o que certamente, dificultaria conhecer

verdadeiramente o objeto em questão. O sociólogo deve procurar interpretar

a realidade tal como ela é, e não como ele gostaria que ela fosse, fazendo

prevalecer visões permeadas de valores e preconceitos.

A Sociedade

Precursor da corrente positivista e inspirado nas análises das ciências

naturais, Durkheim compara a sociedade a um corpo vivo, em que cada

“órgão”, ou seja, cada uma das partes que compõem a sociedade,

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SOCIOLOGIA APLICADA

31

desempenha uma função específica para a preservação e a coesão do todo.

Ao comparar a sociedade a um organismo vivo, Durkheim identifica dois

estados em que a sociedade pode se encontrar: o normal e o patológico.

Para ele, os fenômenos que apresentam uma regularidade no meio

social e que estão previstos em sua estrutura e organização deverão ser

interpretados como normais. De outra forma, a sociedade poderá apresentar

comportamentos que podem ameaçar a integridade e a harmonia sociais,

colocando em risco o consenso que deverá prevalecer. Tais situações são

consideradas “patológicas”, anormais. Considerava Durkheim que a

sociedade poderia apresentar, como um “corpo vivo” que é, alguma disfunção.

Depois de instalada, a “doença” deveria ser tratada para não provocar

prejuízos maiores e comprometer a integridade e “bom” funcionamento da

ordem social. Os fenômenos sociais “patológicos” deveriam ser tratados

para restabelecer a “saúde” e o equilíbrio da sociedade.

Para Durkheim, a sociedade industrial se encontrava em um estado

patológico porque as crises geradas por ela colocavam em risco o seu pleno

funcionamento. A crise que se encontrava a sociedade capitalista, não era

de natureza econômica, como defendiam os socialistas, mas sim uma certa

fragilidade moral e a ausência de regras de conduta e comportamento que

correspondessem à nova realidade, capazes de frear o ímpeto de destruição

e de desordem sociais e guiar com eficácia a vida dos indivíduos.

A Sociologia de Karl Marx

Ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, Karl Marx faz parte do grupo

seleto de intelectuais que integram o pensamento teórico da Sociologia

Clássica.

Autor de obras fundamentais para a teoria sociológica, como o Manifesto

do Partido Comunista(1848), Contribuição à Crítica da Economia Política (1859)

e, sem dúvida, a mais importante obra dedicada a interpretar o funcionamento

do sistema capitalista – O Capital (1867). A questão central que orientou os

trabalhos de Marx foi analisar o funcionamento do capitalismo, o processo

histórico que o gerou e a sua evolução.

Em sua trajetória intelectual, contou com a colaboração de outro

importante intelectual alemão – Friederich Engels(1820-1903).

Comprometidos com a não-preservação da ordem socioeconômica do sistema

capitalista, Marx e Engels não estavam interessados em dotar a Sociologia

de um caráter científico, institucionalizá-la como disciplina acadêmica, como,

aliás, fizeram Durkheim e Weber, mas sim torná-la instrumento político de

reflexão e crítica da sociedade capitalista, denunciando as contradições e os

antagonismos entre as classes sociais, com o objetivo extremo de

proporcionar os fundamentos teóricos para a transformação revolucionária

desse modelo de sociedade. Embalados por um ideal revolucionário,

defendiam a adesão da ciência a uma proposta de ação política prática. Para

Marx, a ciência deveria converter-se em um instrumento de transformação

radical da sociedade.

Page 27: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

32

A análise socioeconômica do capitalismo

Enquanto para análise positivista, as crises sociais e os conflitos entre

trabalhadores e empresários na sociedade capitalista eram interpretados

como fenômenos passageiros, passíveis de serem superados pela inclusão

de um sistema de regras para orientar a conduta dos indivíduos. A análise

marxista procurou realizar uma crítica radical a esse modelo histórico de

sociedade, apontando suas contradições e antagonismos.

Comprometidos com ideal revolucionário de transformação social, Marx

e Engels identificavam a luta de classes como a principal característica da

sociedade capitalista. Concordavam que a crescente divisão de trabalho na

sociedade moderna era a principal fonte de exploração, opressão e alienação.

Afirmava Marx, em O Manifesto do Partido Comunista:

A história de todas as sociedades que existiram até os nossos dias

tem sido a história das lutas de classes.

Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre

de corporação e companheiro, numa palavra opressores e oprimidos,

em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora

franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma

transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição

das duas classes em luta.

Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte,

uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala

graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios,

cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores vassalos,

mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes,

gradações especiais.

A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade

feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir

novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às

que existiram no passado.

Entretanto, a nossa época, a época da burguesia caracteriza-se

por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se

cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes

classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.

(Marx, Karl. Manifesto do Partido Comunista. In: FERNANDES, Florestan. Marx e Engels –

História. São Paulo: Editora Ática, p.365-366)

Dois conceitos essenciais para o pensamento de Marx podem ser

analisados a partir deste trecho do Manifesto do Partido Comunista: classe

social e alienação.

Marx partiu da idéia de que a sociedade estava dividida em classes,

cada uma com regras e condutas apropriadas, mas que estão inseridas em

um único sistema que é o modo de produção capitalista.

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SOCIOLOGIA APLICADA

33

Para Marx, na sociedade capitalista as relações sociais de produção

definem duas classes principais: a burguesia – classe dominante detentora

dos meios de produção (propriedades, máquinas, ferramentas, capital, etc.),

e o proletariado que destituído dos meios de produção, oferece a sua força

de trabalho em troca de salário.

Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria

desigualdade social, uma vez que a concentração de riquezas se daria pela

exploração dos trabalhadores. O capitalismo se revelaria, portanto, em um

sistema “selvagem”, pois o trabalhador produziria mais para o seu empresário

do que o seu próprio custo para a sociedade. O capitalismo se apresentaria

necessariamente como um regime econômico de exploração, sendo a mais-

valia a lei fundamental do sistema.

O capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seus

meios de produção (suas terras, ferramentas, máquinas, etc.), provocando

um “estranhamento” entre o trabalhador e seu trabalho. O homem aliena-

se de sua própria essência que é o trabalho. A divisão social do trabalho no

capitalismo promove, então, a alienação, uma vez que o trabalhador deixa

de ter o domínio do processo de trabalho e dele não se beneficia.

As crises e conflitos em que se envolviam a burguesia e o proletariado

decorriam, em grande medida, da oposição de interesses entre as classes

sociais. No capitalismo, os trabalhadores estão submetidos à dominação

econômica, uma vez que se encontram destituídos da propriedade dos meios

de trabalho. A enorme capacidade de produzir do regime capitalista não foi

capaz de reduzir a miséria da grande massa da população.

Os trabalhadores, no entanto, não estavam submetidos somente a

dominação econômica. A dominação estendia-se ao campo político, ideológico

e jurídico da sociedade. Para Marx, o instrumento de que dispõe a burguesia

para fazer prevalecer seus interesses e privilégios é o Estado. Através do

Estado e dos seus aparatos repressivos (exércitos, polícias), a classe

dominante impõe seus interesses ao conjunto da sociedade, fazendo-a

submeter-se às regras políticas. Além do aparato repressivo, a classe

dominante dispõe do aparato jurídico – o Direito – para garantir, através do

estabelecimento de leis que sua vontade prevaleça.

Materialismo Histórico

Para interpretar o capitalismo e compreender a história das sociedades

humanas, Marx desenvolveu uma teoria – o Materialismo Histórico, que

procurava explicar qualquer tipo de sociedade, em todas as épocas, através

de fatos materiais, essencialmente econômicos.

Na Contribuição à Critica a Economia Política, afirmava Marx (1957, 4-5):

“O resultado geral ao qual cheguei, e que, uma vez adquirido, serviu

de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado brevemente

assim: na produção social de sua existência, os homens entram em

relações determinadas, necessárias, independente de suas vontades,

Page 29: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

34

relações de produção que correspondem a um grau de

desenvolvimento determinado de suas forças produtivas materiais. O

conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica

da sociedade, base concreta sobre a qual se ergue uma superestrutura

jurídica e política e à qual correspondem formas de consciências sociais

determinadas. O modo de produção da vida material condiciona o

processo de vida social, política e intelectual em geral. Não é a

consciência dos homens que determina o seu ser; é inversamente seu

ser social que determina sua consciência. A um certo estágio de seu

desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram

em contradição com as relações existentes, ou, o que não é senão a

expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais

se moviam até então. De formas de desenvolvimento de forças

produtivas que eram, essas relações tornaram-se obstáculos. Abre-

se, então, uma época de revolução social. A mudança na base

econômica transtorna mais ou menos rapidamente toda a enorme

superestrutura. Considerando-se estes transtornos, torna-se

necessário sempre distinguir entre a desordem material – que pode

-constatar de forma cientificamente rigorosa - das condições de

produção econômica e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas

ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas sob as quais os

homens tomam consciência desse conflito, levando-o às últimas

conseqüências. Da mesma forma que não se pode julgar um indivíduo

pela idéia que faz de si mesmo, não se poderia julgar uma época de

transtornos pela consciência que ela tem em si mesma; é necessário,

ao contrário explicar esta consciência pelas contradições da vida

material, pelo conflito existente entre as forças produtivas sociais e as

relações de produção. Uma formação social nunca desaparece antes

que sejam desenvolvidas todas as forças produtivas que ela possa

conter, e nunca relações de produção novas e superiores tomam seu

lugar antes que as condições de existência materiais destas relações

surjam no seio da velha sociedade. É por isso que a humanidade só se

coloca problemas que possa resolver; pois, olhando isso de mais perto,

poder-se-á observar sempre que o problema só surge onde as

condições materiais para resolvê-lo já existem ou estão pelo menos

em vias de existir. Em geral, os modos de produção asiático, antigo,

feudal e burguês moderno podem ser qualificados de épocas

progressivas da formação social-econômica. As relações de produção

burguesas são a última formação contraditória do processo de produção

social, contraditória, não no sentido de uma contradição individual,

mas de uma contradição que nasce das condições de existência

social dos indivíduos; entretanto, as forças produtivas que se

desenvolvem no seio da sociedade burguesa, criam ao mesmo tempo

as condições materiais para resolver esta contradição. Com esta

formação social termina então a pré-história da sociedade humana.”

Nessa passagem destacamos algumas questões centrais que serviram

de suporte teórico ao materialismo histórico:

Page 30: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

SOCIOLOGIA APLICADA

35

1) os homens constroem a sua vida (social) e a sua história, porém não

as constroem em condições por eles escolhidas, determinadas pela sua

vontade. A vida em sociedade estabelece relações sociais que não foram

geradas pela vontade individual. A ação do indivíduo no mundo que o envolve

obriga-o a contrair relações, as relações sociais. Elas determinam o ser

social, ou seja, o indivíduo é o resultado das forças econômicas e das relações

sociais que atuam sobre ele.

Para viver, os homens têm de inicialmente transformar a natureza,

arrancando dela tudo o que necessita para subsistir e para ultrapassar a

vida simplesmente natural. É pelo trabalho que os homens transformam e

dominam a si próprios e a natureza. Assim, é pelo trabalho, através dos

instrumentos que ele gerou, como as ferramentas ou máquinas, as técnicas

empregadas para produzir e a divisão do trabalho, que os homens produzem

a sua existência.

Portanto, as relações fundamentais de qualquer sociedade são as

relações de produção. As relações de produção são as formas pelas quais

os homens se organizam para executar a atividade produtiva. São as relações

fundamentais dos homens com a natureza e dos homens entre si na sua

atividade produtiva.

As relações de produção articulam-se a três elementos: as condições

naturais (clima, solo, fauna, flora, etc.) determinada pela própria natureza,

as tecnologias e a divisão do trabalho. Esses três elementos constituem as

forças produtivas.

No curso da história, cada um desses elementos pode sofrer

modificações e aperfeiçoamentos. Por exemplo, a exploração e o uso de

novos recursos naturais exigem o aperfeiçoamento tecnológico e a invenção

de novas técnicas para atingir o máximo de produção. Por outro lado, além

da incorporação de novos instrumentais e tecnologias, uma nova organização

da divisão do trabalho também será exigida, determinando novos padrões

de formação e aperfeiçoamento da capacidade técnica da força de trabalho.

Portanto, as forças produtivas e as relações de produção são fatores

essenciais para organização de toda atividade produtiva realizada em

sociedade. A forma como cada uma existe e se desenvolve vai determinar o

que Marx chamou de modo de produção.

2) Defendendo rigoroso determinismo econômico em todas as sociedades

humanas, Marx distingue as etapas da história humana a partir dos modos

de produção. São quatro os modos de produção: o asiático, o antigo, o feudal

e o capitalista.

Segundo Aron (1987), esses quatro modos de produção podem ser

reunidos em dois grupos. Os modos de produção antigo, feudal e capitalista

são representantes da história do Ocidente. Enquanto o modo de produção

asiático caracteriza uma civilização distinta da do Ocidente. O modo de

produção antigo é caracterizado pela escravidão; o modo de produção feudal

pela servidão e o modo de produção capitalista pelo trabalho assalariado.

Eles correspondem a três modos distintos de exploração do homem pelo

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UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

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homem. O modo de produção capitalista seria a última etapa de uma

formação social baseada na exploração do homem pelo homem, na medida

em que o modo de produção que o substituiria, seria o modo de produção

socialista, não submeteria a massa de trabalhadores à exploração e à

opressão.

3) Estabelece uma distinção entre a infra-estrutura e a superestrutura.

Compara a sociedade a um edifício, cuja base, a infra-estrutura, seria

representada pelas forças econômicas - forças produtivas e relações de

produção, enquanto a superestrutura representaria as idéias, costumes e

instituições jurídicas e políticas, as ideologias e as filosofias.

É sobre essa base econômica que se ergue a superestrutura da

sociedade moderna. O campo político, jurídico e ideológico por sua vez

representa a forma como os homens estão organizados no processo

produtivo. Para Marx, a esfera econômica determina e condiciona o

desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral.

A Sociologia compreensiva de Max Weber

Pretendendo distanciar-se do Positivismo de Durkheim – que pretendia

estabelecer “leis universais” comuns a várias ou a todas as configurações

históricas, e do Materialismo Histórico de Marx – que pressupõe um

determinismo econômico na análise dos processos históricos, Max Weber

parte da idéia de que cada formação histórica carrega especificidade e

importância próprias. Sendo tarefa do sociólogo trazer à tona o que há de

peculiar, de particular em cada uma delas.

Para Weber, os fenômenos sociais que interessam a Sociologia não

devem ser tratados como “coisa”, ou seja, fatos exteriores que devem ser

analisados à distância pelo pesquisador.

“O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões

‘objetivas’ entre as ‘coisas’ mas as conexões conceituais entre os

problemas. Só quando se estuda um novo problema com auxílio de

um método novo e descobrem verdades que abre novas e importantes

perspectivas é que nasce uma nova ciência”.

(WEBER, M. A “Objetividade” do Conhecimento nas Ciências Sociais. In: COHN, G. Weber –

Sociologia. São Paulo: Editora Ática, p.84)

Nem tampouco devem tentar interpretá-los sempre tomando como

única explicação causal a esfera econômica. “Em nenhum domínio dos

fenômenos culturais pode a redução unicamente a causas econômicas ser

exaustiva, mesmo no caso específico dos fenômenos ‘econômicos’”.

(WEBER,Op.Cit,86)

Sua obra é marcada pela análise teórica e empírica dos fatos

econômicos, históricos e culturais. Weber partia do pressuposto que a

realidade social era infinita e inesgotável, portanto, o conhecimento e os

fundamentos gerados pelas ciências sociais não deveriam se limitar a

determinar “leis” gerais que explicassem a totalidade da vida social.

Page 32: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

SOCIOLOGIA APLICADA

37

“A ciência social que nós pretendemos praticar é uma ciência da

realidade. Procuramos compreender a realidade da vida que nos

rodeia e na qual nos encontramos situados naquilo que tem de

específico; por um lado, as conexões e a significação cultural das

suas diversas manifestações na sua configuração atual e, por outro, as

causas pelas quais se desenvolveu historicamente assim e não de outro

modo.

Ocorre que, tão logo tentamos tomar consciência do modo como

se nos apresenta imediatamente a vida, verificamos que se nos

mani-festa, “dentro” e “fora” de nós, sob uma quase infinita diversidade

de eventos que aparecem e desaparecem sucessiva e simultaneamente.

E a absoluta infinidade dessa diversidade subsiste, sem qualquer

atenuante do seu caráter intensivo, mesmo quando prestamos a nossa

atenção, isoladamente, a um único “objeto” - por exemplo, uma

transação concreta -; e isso tão logo tentamos sequer descrever de

forma exaus-tiva essa “singularidade” em todos os seus componentes

individuais, e muito mais ainda quando tentamos captá-la naquilo que

tem de causal-mente determinado. Assim, todo o conhecimento reflexivo

da realidade infinita realizado pelo espírito humano finito baseia-se na

premissa tácita de que apenas um fragmento limitado dessa realidade

poderá constituir de cada vez o objeto da compreensão científica, e de

que só ele será “essencial” no sentido de “digno de ser conhecido”.

(WEBER, In: COHN, 1979, p.88)

Segundo Weber, o propósito da ciência não é dar conta da infinita e

exaustiva totalidade da vida social, reduzindo-a às leis gerais “vazias de

conteúdo”.

“Isto porque quanto mais vasto é o campo abrangido pela validade

de um conceito genérico – isto é quanto maior a sua extensão -, tanto

mais nos afasta da riqueza da realidade, posto que para poder abranger

o que existe de comum no maior número possível de fenômenos,

forçosamente deverá ser mais abstrato e pobre de conteúdo.”

(Ibid., p.96)

Na perspectiva de Weber, a ciência pode e deve produzir uma análise

objetiva das diversas dimensões (econômica, política, cultural, religiosa, etc.)

da realidade, sem a intenção de reduzir e aprisionar toda a riqueza dos

fatos a leis gerais. O que importa é compreender a significação que a

realidade da vida possui para os indivíduos em diferentes contextos e em

diferentes épocas.

O método sociológico interpretativo

Para Weber, todo o conhecimento da realidade social é parcial, limitado

e subordinado a pontos de vista particulares. O cientista social fará sempre

uma seleção, consciente ou inconscientemente, dos elementos da realidade

que pretende analisar a partir do seu ponto de vista particular, destacando

Page 33: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

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“conexões” que, para ele, possui significado. O fenômeno social que o

pesquisador escolhe, assim como a delimitação do problema que orientará

a sua investigação serão determinados pelas suas escolhas, orientado

pelas suas idéias de valor, ou seja, o pesquisador é orientado pela sua

convicção pessoal e subjetiva, que é ele que confere ao seu estudo uma

direção e exprime uma determinada interpretação do fato estudado.

Afirmava Weber que apenas as idéias de valor que dominam o

investigador e uma época podem determinar o objeto de estudo e os limites

desse estudo.

Mas, no que refere a validade científica, uma questão emerge: como

conferir ao conhecimento produzido a partir das idéias e dos valores

subjetivos do pesquisador, a validade e o rigor de uma obra científica? Como

alcançar a objetividade científica?

No que se refere ao método de investigação, defendia Weber que

para alcançar maior objetividade científica seria fundamental o pesquisador

construir sua interpretação baseada nas normas e preceitos válidos e

determinados pela ciência de seu tempo “só será considerada uma verdade

científica aquilo que se pretende válido para todos os que querem a

verdade.”(WEBER,idem,p.100)

Segundo Aron (1987), a ciência, na perspectiva weberiana, apresenta

dois pressupostos fundamentais para o alcance de sua validade científica.

O primeiro significa que a ciência moderna se caracteriza pelo não-

acabamento, isto, porque o conhecimento científico é um processo que

jamais se esgotará.

Weber não acreditava que o conhecimento gerado na atividade

científica representava um retrato fiel e acabado da realidade, já que esta é

ampla e inesgotável, impossível de ser encerrada em sua totalidade. O

conhecimento será sempre parcial, fragmentado e inacabado. O que o

pesquisador consegue alcançar em sua tarefa investigativa é apenas uma

comparação aproximada da realidade.

O segundo diz respeito à objetividade do conhecimento como requisito

indispensável para qualquer cientista que procure construir um conhecimento

verdadeiro e válido.

Ação Social: objeto da ciência

Segundo Weber, a Sociologia é uma ciência voltada para a

compreensão interpretativa da ação social, conduta humana dotada de

sentido e subjetivamente elaborada. À Sociologia caberia buscar

compreender o sentido que os indivíduos atribuem a sua conduta. Segundo

Cohn (1979) é tarefa da Sociologia desvendar o sentido que manifesta em

ações concretas e que envolve um motivo sustentado pelo indivíduo como

fundamento da sua ação. Tanto o indivíduo como as suas ações são

considerados pontos-chave da investigação científica, evidenciando o que

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SOCIOLOGIA APLICADA

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para Weber era o ponto de partida para a Sociologia: a compreensão e a

percepção do sentido que cada indivíduo atribui à sua conduta.

Portanto, é tarefa do cientista social reconstruir o motivo que

fundamenta a ação, porque ela figura como causa e efeitos da conduta dos

indivíduos. Na concepção weberiana, o indivíduo age orientado por

motivações informadas pelos valores, por interesses racionais ou pela

emoção.

Existirá uma ação social toda vez que um indivíduo estabelecer com

outro algum tipo de comunicação, a partir da sua conduta com os demais

indivíduos. Para Cohn (1979) a ação social é a conduta à qual o indivíduo

associa um sentido subjetivo. É a ação orientada significativamente pelo

indivíduo conforme a conduta de outros indivíduos e que transcorrem

consonância com isso.

Weber elabora uma distinção entre quatro tipos de ação social: a ação

racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores, a

ação tradicional e a ação afetiva.

1) A ação racional com relação a fins: é uma ação concreta em

que o agente concebe claramente objetivos específicos a serem alcançados.

Exemplo: o atleta que se prepara para realizar uma competição; a ação do

cientista.

2) A ação racional com relação a um valor: é a ação definida pela

crença consciente no valor - moral, ético, religioso, estético, etc. – que justifica

determinada conduta. O indivíduo age motivado pela “força” dos valores

sobre a sua conduta. Aceita todos os riscos para manter-se fiel a sua honra

ou causa que acredita. Por exemplo: o “homem-bomba”, que mesmo

consciente do fim trágico de sua ação, age em conformidade com a sua

crença religiosa.

3) A ação afetiva: é a ação que corresponde ao “estado de

espírito” do agente que a pratica. É definida por uma reação emocional dos

indivíduos em determinadas circunstâncias, que necessariamente não foi

orientada por um planejamento prévio ou motivada por valores. Exemplo: a

explosão de raiva do motorista quando leva uma “fechada” no trânsito.

4) A ação tradicional: é a ação ditada pelos hábitos, costumes ecrenças arraigadas. O indivíduo age obedecendo a reflexos adquiridos pelaprática. Para agir conforme a tradição, o indivíduo não precisa orientar-sepor um objetivo ou valor, nem tragado por uma emoção, obedecesimplesmente a hábitos enraizados por longa prática. Exemplo:o batismodos filhos realizados por pais pouco comprometidos com a religião.

Segundo Quintaneiro (1999), o sociólogo pode usar essas categoriaspara analisar o sentido de quase todas as condutas que o indivíduo pode ounão praticar: estudar, dar esmolas, comprar, casar, participar de umaassociação, fumar, presentear, socorrer, castigar, comer certos alimentos,assistir à televisão, ir à missa, à guerra, etc. É tarefa do sociólogo, portanto,compreender o sentido que o sujeito atribui à sua ação e seu significado

social.

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UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

40

Os “tipos ideais”

Para tornar possível a investigação e a compreensão de categorias e

conceitos empregados na análise sociológica, Weber recorreu a certos

instrumentos metodológicos que permitiriam ao cientista uma investigação

dos fenômenos particulares. A este recurso metodológico Weber chamou

de tipo ideal, o qual cumpriria duas funções principais: primeiro a de selecionar

explicitamente a dimensão do objeto que virá a ser analisado e,

posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura, sem suas

sutilezas concretas.

Para Weber(Falta o ano e a página), o tipo ideal é construído:

“mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista,

e mediante o encadeamento de grande quan-tidade de fenômenos

isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior

ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam

segundo os pontos de vista unilateralmente acentua-dos a fim de se

formar um quadro homogêneo de pensamento. Torna-se impossível

encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza

conceitual, pois trata-se de uma utopia. A atividade historio-gráfica

defronta-se com a tarefa de determinar, em cada caso particular, a

proximidade ou afastamento entre a realidade e o quadro ideal, em

que medida portanto o caráter econômico das condições de determinada

cidade poderá ser qualificado como “economia urbana” em sentido

conceitual. Ora, desde que cuidadosamente aplicado, esse conceito

cumpre as funções específicas que dele se esperam, em benefício da

investigação e da representação”.

Trata-se, portanto, de uma construção teórica abstrata dos fenômenos

particulares que se pretende investigar. O cientista constrói um modelo (tipo

ideal) acentuando algumas características cujo exame lhe parece importante

na observação do fenômeno selecionado para o estudo.

Segundo Costa(2005, 100):

o tipo ideal não é um modelo perfeito a ser buscado pelas

forma-ções sociais históricas nem mesmo em qualquer realidade

observável. É um instrumento de análise científica, numa construção

do pensa-mento que permite conceituar fenômenos e formações sociais

e iden-tificar na realidade observada suas manifestações. Permite

ainda com-parar tais manifestações.

A construção do tipo ideal permite ao sociólogo explicar uma realidade

complexa, partindo de traços característicos essenciais.

Chegamos ao final desta unidade, abordando as principais questões

e conceitos que orientaram os estudos dos principais teóricos clássicos da

Sociologia. Esperamos que você tenha percebido que a realidade social é

um fenômeno que pode ser compreendido de várias formas distintas e que

a análise sociológica é plural, porque permite olhar um mesmo fenômeno

por diferentes ângulos.

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SOCIOLOGIA APLICADA

41

LEITURA COMPLEMENTAR:

COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da

sociedade. 3a.ed. ver. ampl..SãoPaulo: Moderna, 2005. 416p.

MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38a. ed. São

Paulo: Brasiliense,1994. (Coleção Primeiros Passos-57). 58p.

QUINTANEIRO, T. Um Toque de Clássicos: Durkheim, Marx e

Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. 157p.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de

estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-

lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no

processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as

respostas no caderno e depois as envie através do nosso

ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Na unidade 3, estudaremos a caracterização da sociedade humana.

Vamos em frente!

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1

SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

EXERCÍCIOS

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SOCIOLOGIA APLICADA

UN

IDA

DE 2

A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. Segundo Durkheim, é objeto de estudo da Sociologia:

a) a ação social.b) o fenômeno orgânico.c) a consciência individual.d) o fato social.e) as classes sociais.

2. Aponte os principais critérios de validade científica para Durkheim.

a) Objetividade e especificidade.b) Subjetividade e neutralidade.c) Neutralidade e especificidade.d) Objetividade e neutralidade.e) Subjetividade e especificidade.

3. Marque a alternativa correta:

É a maneira como a sociedade é organizada para produzir bens e

serviços. Consiste de dois aspectos principais: forças produtivas e relações

de produção.

A que conceito fundamental da análise marxista se refere esta idéia?

a) Modo de produção.b) Mais-valia.c) Alienação.d) Força de Trabalho.e) Mercado de Trabalho.

4. Marque a alternativa correta:

É a relação rompida entre o trabalhador e o seu trabalho, porque os

que produzem bens não têm voz sobre o que produzir e como produzir.

Na perspectiva marxista, este conceito representa a idéia de:

a) classe social.b) divisão do trabalho.c) meios de produção.d) relações sociais.e) alienação.

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12

UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

5. Marque a alternativa correta:

Ao denunciar a forma de contradição inerente ao regime capitalista,

afirmava que o papel da Sociologia era unir conhecimento científico à ação

política. Caberia a Sociologia denunciar a contradição essencial do capitalismo

entre o aumento das riquezas e a miséria crescente da maioria, contribuindo,

assim, para a realização de transformações radicais na sociedade.

Essa idéia expressa o pensamento de:

a) Émile Durkheim.b) Georg Hegel.c) Max Weber.d) Karl Marx.e) Auguste Comte.

6. Marque a alternativa correta:

A percepção de um estado de anarquia na sociedade capitalista não

poderia ser atribuída somente a uma distribuição injusta da riqueza, mas,

principalmente, à falta de regras de comportamento mais rigorosas capazes

de conduzir a vida dos indivíduos. A união de esforços entre a elite

empresarial e intelectual seria fundamental para a orientação da conduta

dos indivíduos.

Essa idéia expressa o pensamento de :

a) Karl Marx.b) Max Weber.c) Friedrich Engels.d) Émile Durkheim.e) Francis Bacon.

7. Perspectiva teórica baseada na idéia de que uma interpretação sociológica

de comportamento deve necessariamente incluir o significado que os fatores

sociais atribuem as suas condutas.

a) Sociologia Marxista.b) Sociologia Compreensiva.c) Sociologia Positivista.d) Sociologia Crítica.e) Sociologia Aplicada.

8. Marque a alternativa correta:

“Depois que um terrorista suicida de Gaza voou pelos ares, os parentes

encontraram freqüentes referências ao Paraíso em seus cadernos. Ele escreveu

muito sobre o desejo de morrer, de ‘conhecer Deus como mártir e viver uma

vida muito melhor do que esta’”. (Jornal Estado de São Paulo,1994)

De acordo com a análise weberiana, esta passagem exemplifica que tipo de

ação social?

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13

SOCIOLOGIA APLICADA

a) Afetiva.b) Irracional.c) Racional em relação aos fins.d) Tradicional.e) Racional em relação a valor.

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO

1. Explique porque, segundo Durkheim, os fatos sociais são exteriores e

coercitivos:

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___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

2. Leia e explique a afirmação a partir da análise sociológica desenvolvida

por Max Weber:

“Apenas as idéias de valor que dominam o investigador e uma época podem

determinar o objeto de estudo e os limites desse estudo.”

___________________________________________________________

___________________________________________________________

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___________________________________________________________

___________________________________________________________

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1

SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

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SOCIOLOGIA APLICADA

43

UN

IDA

DE 3

CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE

HUMANA

Nesta unidade, veremos como o homem é um ser que necessita viver em

grupo para se hominizar, ou seja, para se tornar verdadeiramente humano.

Examinaremos o seu ambiente social e a sua produção em grupo. Vamos lá!

OBJETIVOS DA UNIDADE:

• Diferenciar a sociedade humana da sociedade animal,

identificando seus elementos principais.

• Conceituar cultura atentando para as suas sutilezas.

• Construir uma visão crítica acerca da influência da indústria

cultural nos dias atuais, avaliando seu papel ideológico.

PLANO DA UNIDADE:

• Elementos principais da sociedade humana.

• A essência da cultura.

• Classificação da cultura.

• Cultura popular e cultura erudita.

• Indústria cultural ou cultura de massa.

Bons estudos!

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UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA

44

Tendo em vista o que foi exposto na unidade anterior, examinaremos

agora o ambiente social do homem, o seu papel como elemento ativo da

sociedade em que vive e suas possibilidades transformadoras deste

ambiente.

ELEMENTOS PRINCIPAIS DA SOCIEDADE HUMANA

O homem sempre viveu em grupos e não podemos imaginar a sua

existência fora deles. Sem contato com o grupo social, o homem dificilmente

pode desenvolver as características que chamamos de humanas, como, por

exemplo: organizar instituições, chorar e sentir pela morte de seus entes

queridos, transmitir mensagens através de símbolos... O processo de

hominização ocorre, justamente, na sociedade em que ele aprende a viver

com outros homens e a se comportar como tal.

Portanto, o ser humano é produto da interação social. É interagindo

com os outros homens, ou seja, é influenciando e sendo influenciado que

ele irá aprender a conviver.

Segundo Durkheim que o homem só é homem porque vive em sociedade.

A criança não nasce sabendo se comportar em sociedade. É convivendo,

primeiramente, com seus grupos mais íntimos

(família e escola) e depois com outros grupos

que irá se tornar um membro ativo da sociedade

em que nasceu. A esse processo chamamos de

socialização.

Conseqüentemente, podemos observar que

a criança tem poucas possibilidades de seguir

seus desejos e suas vontades, que

normalmente são hedonistas e egoístas e que

muitas vezes são opostas às vontades do

grupo, o qual exige restrição, disciplina, ordem

e abnegação. E nesta relação, a sociedade

normalmente sai ganhando.

Embora o ambiente físico seja também importante, o ambiente social é o

fator verdadeiramente determinante na socialização da criança. Mas este

processo durará pela vida toda, pois ele é permanente e nós estamos sempre

aprendendo coisas novas em nossa sociedade.

O ambiente social influencia até no tipo de

personalidade dos indivíduos, assim

observamos, ao longo da História, sociedades

que geraram homens guerreiros, homens

caçadores, homens viajantes, homens

executivos com tino para negócios, etc. De um

modo geral, pode-se dizer que cada cultura

produzirá seu tipo especial ou tipos especiais

de personalidades.

Socialização: processo de

aprendizagem da cultura da

sociedade em que nascemos.

Hedonista: ligado aos praze-

res.

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SOCIOLOGIA APLICADA

45

Durkheim (In: CASTRO & DIAS, 1981) afirmou que o pensamento e o

comportamento dos indivíduos são determinados pelas “representações

coletivas”. Esta representação indicava o corpo de experiências, idéias e

ideais de um grupo do qual o indivíduo inconscientemente depende para a

formulação de suas idéias, atitudes e comportamento.

A ESSÊNCIA DA CULTURA

A cultura tem sido definida de diversas maneiras.

Spencer (In: KOENIG, 1985) considerou-a o ambiente superorgânico,

ambiente peculiar ao homem, enquanto os outros dois (inorgânico ou físico

e orgânico, o mundo dos vegetais e animais) ele compartilha com os animais

inferiores.

Uma definição muito conhecida é a de Edward Tylor (1871, p1):

“Cultura é todo o complexo que inclui conhecimento, crença, arte,

moral, lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos

adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

Também pode ser definida como:

A soma total dos esforços do homem para ajustar-se a seu ambiente

e melhorar suas maneiras de viver.

Desta forma, os antropólogos enfatizam que a cultura é o comportamento

aprendido em sociedade, pois o comportamento instintivo é inerente aos

animais. Logo, a cultura é resultante da invenção social, é aprendida e

transmitida por meio da educação e da comunicação entre os membros de

uma sociedade humana.

Alguns animais vivem em sociedades, mas

estas se baseiam em instintos ou

comportamento reflexo e não mostram variação

de geração para geração. O caso mais

apontado é o das abelhas, em que visualizamos

certa organização social.

Os instintos animais respondem a leis

biológicas, sendo assim suas reações podem

ser previstas e estão ligadas completamente

ao mundo natural, não o ultrapassando. Já o

homem se comportará de acordo com a

sociedade em que vive, respondendo

diferenciadamente aos estímulos e às necessidades de seu meio ambiente

e de seu tempo.

Entretanto, para a produção de cultura, o homem precisa se comunicar e

esta comunicação, que é feita de várias maneiras na sociedade humana,

ganha maior peso com a linguagem simbólica (abstrata) que é exclusiva do

homem.

Page 45: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA

46

Assim o homem transmite a sua cultura, mas ao mesmo tempo rompe

com as tradições, renovando esta cultura e acrescentando novos elementos

à mesma. Desta forma, observamos que o homem é um ser histórico que

vive a cada época de maneira diferente.

CLASSIFICAÇÃO DA CULTURA

As culturas apresentam um aspecto material e outro não-material. Aqui

podemos situar as tradições, os costumes, as leis, as ciências, as ideologias,

etc. A cultura, também possui o seu lado material, concreto, em que são

produzidos todos os tipos de objetos, máquinas, ferramentas, que estão

ligados, obviamente, ao lado abstrato.

Sob o enfoque marxista, como vimos na unidade I, o homem é o único

animal que produz cultura, pois é o único animal que transforma a natureza

através de seu trabalho, produzindo bens materiais para a sua subsistência.

CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA

Esses conceitos geram, muitas vezes, discussões entre os estudiosos

da questão, pois como se define o que é popular e o que é erudito? Quais os

critérios utilizados para separarmos o que é uma coisa e o que é outra?

O critério mais utilizado é o da classe social, ou seja, a cultura popular

pertenceria ao povo e a cultura erudita às elites ou classes dominantes

dentro da sociedade capitalista. Para alguns antropólogos, estas definições

são muito mais complexas do que aparentemente se apresentam, pois as

classes não são homogêneas e nem tão pouco a sua produção cultural.

Portanto, esta divisão traz em si um grande debate científico.

Em uma sociedade como a nossa, verificamos a existência de uma inter-

relação entre a cultura popular e a cultura erudita, o que permite a manutenção

da sociedade como um todo. Os elementos que a princípio pertencem à

cultura popular ou à cultura erudita vão se transformando dinamicamente e

se entrelaçando. O que podemos dizer é que este fenômeno é conseqüência

da vivência do homem em sociedade. E assim, se por um lado vemos a feijoada

que a princípio era alimento de escravos nos melhores restaurantes das

cidades, por outro lado, vemos a música clássica (pertencente às elites) em

um radinho de pilha de um operário.

Page 46: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

SOCIOLOGIA APLICADA

47

Edgar Morin (1986, p.75), grande pensador sobre as questões culturais,

analisa o conceito de cultura da seguinte forma:

Cultura: falsa evidência, palavra que parece uma, estável, firme, e,

no entanto, é a palavra armadilha, vazia, sonífera, mimada, dúbia,

traiçoeira. Palavra mito que tem a pretensão de conter em si completa

salvação: verdade, sabedoria, bem-viver, liberdade, criatividade...

O que percebemos é que a cultura é um sistema em que todos os

elementos estão ligados entre si e que cada sociedade transmite a seus

membros a sua cultura, o seu patrimônio cultural.

Cada sociedade possui a sua cultura e é ela que a caracteriza.

Indústria cultural ou cultura de massa

Podemos começar a falar de indústria

cultural ou cultura de massa a partir do século

XVIII quando foi marcante a multiplicação dos

jornais na Europa, fato que anteriormente à

industrialização somente o clero e a nobreza

tinham acesso à escrita.

A industrialização trouxe consigo grandes

transformações sociais, econômicas, políticas e

culturais, não somente os bens materiais

produzidos por ela apresentaram aumento no

consumo, mas também os bens culturais. O número de leitores aumentou

consideravelmente com o barateamento dos custos do papel, os jornais

tinham cada vez mais tiragens. Cresceram as companhias de teatro, balé,

circos, que se preocupavam com o público das cidades que aumentava a

cada dia com o êxodo rural.

Todas estas transformações fizeram com que um ramo da indústria

passasse a se dedicar exclusivamente a este fato. Logo, não só os jornais

apresentavam crescimento, como já foi dito anteriormente, mas os livros, as

peças, as “mercadorias culturais” como um todo, cresciam.

Este termo, indústria cultural, foi criado por dois grandes filósofos

contemporâneos: Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheime (1895-

1973).

Eles explicam como os meios de comunicação de massa (rádio, televisão,

cinema) vendem as mercadorias culturais e como são veiculadas as imagens

da sociedade capitalista através da propaganda desta sociedade, a fim de

que ela se mantenha como está, ou seja, para que a sua estrutura permaneça

a mesma.

Page 47: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA

48

Os atuais meios de produção propiciaram a reprodução de obras de arte

que foram sendo popularizadas em larga escala. E sobre esse aspecto os

estudiosos da questão afirmam que não podemos pensar em cultura erudita

ou cultura popular sem antes examinarmos a indústria cultural.

Entretanto, os autores mencionados

criticavam a indústria cultural, pois

consideravam que, ao invés de democratizar os

bens culturais chamados de eruditos,

simplesmente os banalizavam, na medida em

que o povo não conseguia compreendê-los.

Logo, só serviam para controlar e manter o

status quo através da dependência e da

alienação dos homens.

Em contrapartida, outros autores, assim

como Marshall Mcluhan (1911-1980) analisam a

indústria cultural sob outro ângulo mais positivo,

pois consideram que os meios de comunicação de massa aproximam os

homens e diminuem as distâncias territoriais e sociais entre eles e muitas

vezes, estes são as únicas fontes de informação para uma considerável

parcela da população.

Segundo esta corrente de pensadores, a indústria cultural contribuiu

para a emancipação e melhoria das sociedades, pois promovendo a

padronização dos gostos e sensibilidades entre as classes sociais, promove

também a união e o sentimento de nacionalidade.

Faça uma revisão deste conteúdo, buscando rever os pontos principais

que foram abordados.

LEITURA COMPLEMENTAR:

CASTRO & DIAS. Introdução ao pensamento sociológico. Rio

de Janeiro: Eldorado, 1981.

KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar,

1985.

MORIN, E. Cultura de Massa no século XX. O espírito do tempo

-2. NECROSE. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de

estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-

lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia

no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija

as respostas no caderno e depois as envie através do nosso

ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Na próxima unidade, estudaremos a estratificação social. Até lá!

Status quo – expressão latina

que significa o sistema vigen-

te.

Page 48: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

1

SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

EXERCÍCIOS

Page 49: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

15

SOCIOLOGIA APLICADA

UN

IDA

DE 3

CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE

HUMANA

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

Marque a alternativa correta nas questões abaixo:

1. A indústria cultural nasceu na Europa propiciando a expansão e circulação

dos livros, das peças teatrais, dos jornais, na maioria das cidades, portanto:

a) a produção das mercadorias culturais aumentou, mas a circulação con-tinuou restrita às classes dominantes.

b) o comércio das mercadorias culturais continuou a se restringir ao cleroe à nobreza.

c) a indústria cultural produz mercadorias que interessam basicamenteàs pessoas que estão ligadas à educação formal.

d) as mercadorias produzidas pela indústria cultural se tornaram de difícilacesso ao povo porque eram caras.

e) a indústria cultural produzia mercadorias culturais que passaram a cir-cular entre as diversas classes sociais.

2. Marque a alternativa que completa corretamente o parágrafo abaixo:

Spencer chamou o ambiente peculiar ao homem de _________________,

enquanto que o _______________ pertenceria ao mundo físico e o

__________________ aos animais e vegetais.

a) orgânico – superorgânico – inorgânico;b) superorgânico – inorgânico – orgânico;c) inorgânico – superorgânico – orgânico.d) orgânico – inorgânico – superorgânico;e) superorgânico – orgânico – inorgânico;

3. O homem é considerado um ser histórico porque:

a) vive diferentemente em cada sociedade ao mesmo tempo.b) estabelece contato com várias culturas diferentes aprimorando a sua

cada vez mais.c) vive diferentemente em cada época, o que demonstra o seu poder de

transformação.d) transforma a sua cultura de acordo com a influência de outros povos.e) interage com várias pessoas de lugares diferentes através da comuni-

cação.

Page 50: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

16

UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA

4. Como vimos nesta unidade, o homem é um ser que não nasce pronto e

por isso depende do grupo social para se:

a) movimentar.b) concentrar.c) transportar.d) socializar.e) especializar.

5. O processo de socialização é aquele no qual:

a) o homem aprende a cultura de sua sociedade de forma contínua.b) a criança aprende a respeitar seus amiguinhos.c) o homem troca experiências com as gerações mais novas.d) o homem aprende a cultura dos países com quais mantém contato.e) as crianças brincam com os coleguinhas na escola.

6. Marque (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as falsas:

I. ( ) As culturas apresentam três aspectos considerados importantes:

o material, o não-material e o sobrenatural.

II. ( ) Os conceitos de cultura erudita e de cultura popular são facilmente

definidos entre os antropólogos.

III. ( ) Muitas vezes, quando definimos cultura, somente o seu aspecto

abstrato é lembrado, como as tradições e as crenças.

IV. ( ) A linguagem simbólica é considerada uma linguagem abstrata

porque se baseia na fantasia humana.

V. ( ) Verificamos em sociedades como a nossa, uma freqüente inter-

relação entre o que é erudito e o que é considerado popular.

a) F, V, V, V, V.b) F, V, V, F, V.c) V, V, F, F, V.d) F, F, V, F, V.e) V, V, F, V, F.

7. Dois elementos são apontados durante esta unidade como diferenciadores

da sociedade humana, são eles:

a) o trabalho e os meios de comunicação.b) a cultura de massa e os meios de comunicação.c) a linguagem simbólica e os meios de comunicação.d) a leitura e os transportes.e) a linguagem simbólica e o trabalho.

8. A indústria cultural é vista por alguns autores sob um ângulo negativo

porque:

a) faz com que as pessoas consumam cada vez mais mercadorias des-necessárias.

Page 51: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

17

SOCIOLOGIA APLICADA

b) diminui o papel da escola, pois as crianças se interessam mais pelatelevisão do que pelos estudos.

c) vende muito mais revistas do que livros.d) serve apenas para controlar e manter a sociedade capitalista através

da dependência e da alienação dos homens.e) aumenta o consumo de bens que antes eram apenas das classes

dominantes.

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO

1. Quais são as críticas mais apontadas à indústria cultural por Adorno e

Horkheime?

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

2. Explique por que Edgar Morin afirma que a palavra cultura parece ser

uma armadilha.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

Page 52: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

1

SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

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SOCIOLOGIA APLICADA

49

UN

IDA

DE 4

A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

O estudo que faremos agora visa esclarecer as formas de estratificação

social que os diversos tipos de sociedades moldaram para se organizarem e

suprirem suas necessidades.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

Analisar os variados tipos de estratificação social que se estabeleceram

nas diferentes sociedades através dos tempos, avaliando o grau de

desigualdades sociais gerados por esses.

PLANO DA UNIDADE:

• O que é estratificação social?

• O sistema de castas

• A organização social através dos estamentos

• As classes sociais

Bons estudos!

Page 54: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

50

O QUE É ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL?

Os indivíduos, ao viverem em sociedade, ocupam posições diferentes por

motivos variados, compondo uma hierarquia social. Esta hierarquia é formada

por camadas de indivíduos e grupos superpostas de acordo com os valores

atribuídos a elas e é exatamente a esse fenômeno que chamamos de

estratificação social.

E sendo essa problemática uma constante em todas as sociedades, se

torna um objeto de estudo da Sociologia que é analisado por vários autores,

resultando daí uma tipologia que nos ajuda a compreender melhor esse fato

social.

Observando as diferentes formas de sociedade, poderemos verificar como

esse fato se expressou produzindo as castas, os estamentos e as classes

sociais.

O SISTEMA DE CASTAS

Existem sociedades nas quais a posição social do indivíduo é definida na

ocasião de seu nascimento independentemente de sua vontade e de seu

esforço posterior para tentar modificá-la. É uma situação herdada.

A sociedade indiana é o exemplo mais característico desse tipo de

estratificação social. Esse sistema é considerado muito rígido e fechado, como

vimos acima. Não é facultado ao indivíduo transitar de uma casta para outra,

ou seja, ele não tem mobilidade social, além de ser endógamo, isto é, os

casamentos ocorrem com indivíduos da mesma casta. Seus direitos e deveres

são específicos de sua casta.

De acordo com esse sistema foram instituídas quatro castas eternas

originárias da divindade que são: os brâmanes, os xátrias, os sudras e os

vaicias e aqueles que não pertencem a nenhuma casta, pois não seguiram

os códigos de suas castas que são os párias. As três primeiras castas são

compostas por indivíduos que já reencarnaram ou nasceram “duas vezes”.

As castas não podem manter contato entre elas, de acordo com o ritual isto

é impuro, deve-se manter distância entre as pessoas de castas diferentes,

sendo que em algumas regiões até o contato da sombra de um pária pode

ocasionar impurezas. O que os “impuros”

tocassem ficava contaminado. Os indivíduos são

identificados pelo modo de se vestir, pela

qualidade e cor das roupas e pela ocupação.

Outra característica dessa sociedade é com

referência ao prestígio de cada casta. As castas

daqueles “nascidos duas vezes” ou “puros”

gozam de maior prestígio do que aqueles que

“nasceram uma vez só” ou “impuros”. Os

brâmanes são considerados a casta de maior

prestígio e o principal critério de status de uma

casta é quando esta tem alguma relação com

A palavra casta é de origem

da língua portuguesa, mas na

língua indiana corresponde a

varna.

os párias - Grande número de-

les é composto por pessoas

que contraíram matrimônio

fora de suas castas.

Page 55: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

SOCIOLOGIA APLICADA

51

eles. Esse tipo de organização social parte do pressuposto de que os direitos

são desiguais por natureza, já que os elementos que os caracterizam foram

definidos hereditariamente. Somente os indivíduos considerados puros

poderiam exercer cargos públicos.

Como as ocupações são hereditárias, salvo algumas exceções, a

sociedade apresenta uma divisão funcional do trabalho baseada nesse

esquema. A industrialização teve grande impacto nesse sistema, mas este

incorporou muitas inovações.

Cada casta possui leis específicas e tribunais próprios. Grurye (In:

Lakatos, 1985) aponta algumas transgressões que devem ser julgadas pelos

tribunais:

· comer, beber ou manter atividades com pessoas de outras

castas;

· tomar por concubina mulheres pertencentes a outras castas;

· adultério;

· sedução de mulheres casadas;

· recusa de cumprimento de promessa de casamento;

· recusa de manter uma esposa;

· o não pagamento de dívidas;

· roubo;

· quebra dos hábitos de comércio peculiar à casta;

· apropriar-se de clientes de outro e elevar ou reduzir os preços

das mercadorias e serviços;

· matar uma vaca ou outro animal sagrado;

· insultar um brâmane;

· desafiar os costumes das castas por ocasião de cerimoniais de

casamento e outras.

Essas castas podem ser encontradas em qualquer lugar da Índia, apesar

de apresentarem diferenciações ocasionadas por vários fatores que deram

origem a divisões múltiplas. Algumas dessas subcastas têm caráter nacional,

mas outras são encontradas apenas em determinados locais.

Desvinculando a casta de seu conteúdo religioso, como ocorre na Índia,

alguns autores consideram a existência das castas em outras circunstâncias,

tais como: no Antigo Egito, no Japão medieval, na Alemanha nazista.

A ORGANIZAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DOS ESTAMENTOS

A sociedade feudal européia (séc. IX ao séc. XIV) se organizou através

desse sistema, que tinha suas bases apoiadas na tradição que definia seus

estratos em nobres, clero e servos.

Nobres – dedicavam-se à guer-

ra, à caça e a funções jurídicas

e administrativas.

Clero – dividia-se em alto clero

(era uma elite eclesiástica e

intelectual e seus membros vi-

nham da nobreza); baixo clero

que era composto pelos padres

originários da população pobre.

Servos – trabalhavam a terra

para si e para os seus senho-

res.

Page 56: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

52

Como foi dito anteriormente, era através da tradição que se definia os

elementos principais dessa organização que eram a honra, a hereditariedade

e a linhagem. Os estamentos ou estados eram semelhantes às castas, porém

não eram tão fechados. A mobilidade social era difícil, mas não impossível.

Este tipo de hierarquização social está ligado a um determinado momento

histórico com suas características econômicas e políticas.

E como se comportavam as pessoas nesse tipo de organização social?

Cada uma se comportava de acordo com o seu estamento porque os

privilégios também eram desiguais, pois aqueles que se encontravam no

topo da pirâmide social (nobres e clero) possuíam maiores privilégios. As

atividades guerreiras, sacerdotais e a administração pública eram reservadas

aos estamentos dominantes. Para manter seus privilégios, esses estamentos

criavam certas resistências à penetração de outros através de monopólios

de determinadas funções e da endogamia.

Os servos trabalhavam nas terras dos senhores feudais e estes os

protegiam. Um servo que não estivesse ligado a um senhor feudal estava

desprotegido perante a lei.

A propriedade e o uso da terra, no

sistema feudal, determinavam uma série de

obrigações que estavam ligadas por relações

de reciprocidade e de fidelidade.

Existiam também, nesse tipo de

organização social, os vassalos, que eram

aqueles que serviam a um senhor. Possuíam

obrigações de ajudar nas guerras, guardar

os castelos, prestar serviços de criadagem

doméstica, entre outros. Como foi dito acima,

o senhor também tinha obrigações de

proteger os seus vassalos.

Os senhores feudais, por sua vez,

também eram vassalos do rei, que estava no topo desta hierarquização e

ao qual todos estavam subordinados.

Esse tipo de organização social é chamado de patrimonialista, pois está

ligado diretamente à propriedade da terra, que era o maior patrimônio que

alguém poderia ter. Dessa forma, se definia a organização política da

sociedade feudal. Os nobres que não possuíam terras e usavam as de outro

nobre subordinado a eles. O clero também possuía terras e, com isso, muitos

nobres estavam subordinados a ele.

O poder estava nas mãos daqueles que detinham a propriedade das

terras, daí a nobreza e o clero estarem no topo da pirâmide social e,

conseqüentemente, os cargos públicos estavam vinculados a esse esquema

de tradição e fidelidade.

Os valores dessa sociedade eram difundidos pela Igreja Católica e os

indivíduos aceitavam que determinadas pessoas eram portadoras desses

privilégios pela hereditariedade, pela honra e pela linhagem.

Senhor – o proprietário das ter-

ras, também denominado de

suserano.

Marx foi o primeiro estudioso

a utilizar esse conceito, “clas-

ses sociais”, apesar de não tê-

lo definido com precisão.

Page 57: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

SOCIOLOGIA APLICADA

53

AS CLASSES SOCIAIS

A sociedade capitalista produz uma hierarquização social própria que se

configura no sistema de classes sociais, ou seja, essas classes expressam

como se organiza tal tipo de sociedade.

Dessa forma, uns são capitalistas – proprietários dos meios de produção

e outros possuem apenas a sua força de trabalho - operários. Esses dois

grupos dão origem às classes sociais que sustentam todo o sistema e como

resultado dessa relação surgem os interesses opostos, os antagonismos.

Quando falamos que as classes que sustentam o sistema capitalista são

duas, não quer dizer que existam apenas essas duas. Outras classes

intermediárias foram surgindo ao longo do desenvolvimento do capitalismo.

Historicamente, desde o nascimento do sistema capitalista com a queda

do sistema feudal, essas classes são consideradas antagônicas tanto no

que diz respeito ao aspecto econômico quanto ao aspecto político.

Economicamente, no que diz respeito à apropriação/expropriação e

politicamente no que diz respeito à dominação que a classe capitalista exerce

sobre as demais.

Essa divisão da sociedade em classes sociais não é um fato opcional,

isto é, os homens não escolhem participar de uma ou de outra classe, pois

elas são produzidas socialmente. Contudo, a mobilidade social é possível

nesse sistema, um indivíduo pode ir de uma classe para outra dependendo

de seu êxito nas relações de produção. O operário não pode dizer que não

vai mais trabalhar para o capitalista e o capitalista não pode dizer que não

precisa mais do operário, pois estariam abrindo mão de sua própria

existência.

As classes sociais só se estabeleceram no

sistema capitalista, porque estão

relacionadas a esse sistema. Como vimos,

anteriormente, no sistema feudal a

hierarquização dos estratos estava baseada

em estamentos.

Por que isso acontece? Porque a forma

de organização do trabalho é diferente e a

forma de propriedade também. Na sociedade

capitalista, o trabalho é livre e assalariado e

a cada dia requer uma divisão mais

especializada. Isto se faz necessário porque

no capitalismo existe a necessidade de se

gerar sempre excedentes que são comercializados e geram os lucros dos

capitalistas.

Quanto à distribuição do prestígio, este está associado às relações entre

as pessoas e os elementos da produção, os proprietários dos meios de

produção sempre gozam de maior prestígio social do que os trabalhadores.

Quanto à distribuição de poder, também não é diferente, possuem maior

poder aqueles que detêm os meios de produção.

Antagônicas – que possuem

interesses contrários, opostos.

Page 58: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

54

Vimos que o fenômeno da estratificação social está intimamente

relacionado às desigualdades sociais, pois ele é a própria expressão dessa

desigualdade.

Portanto, ao examinarmos os diversos tipos de estratificação social,

podemos concluir que não é possível compreendê-la sem antes compreender

como os homens organizam sua produção econômica e como distribuem o

poder político.

Agora, procure fazer uma nova leitura, observando os aspectos das

desigualdades sociais e da mobilidade social em cada um dos tipos de

estratificação social.

LEITURA COMPLEMENTAR:

LAKATOS, E. M. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 1985.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de

estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-

lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia

no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija

as respostas no caderno e depois as envie através do nosso

ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

No próximo capítulo, trataremos da sociedade capitalista atual, suas

características e sua inclinação para mudanças contínuas.

Page 59: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

1

SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

EXERCÍCIOS

Page 60: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

19

SOCIOLOGIA APLICADA

UN

IDA

DE 4

A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1. A organização do trabalho no sistema de classes sociais se diferencia do

sistema baseado em estamentos porque:

a) permite o trabalho escravo em suas colônias;b) se utiliza do trabalho assalariado;c) mantém uma relação de servidão entre as pessoas;d) depende do trabalho servil dos operários;e) permite a existência do trabalho feminino e infantil.

2. Marque a alternativa que corresponde ao sistema de castas.

a) Existe a liberdade de mudar de um estrato para o outro;b) Os servos trabalhavam nas terras do senhor;c) A busca pelo lucro é sempre o maior objetivo;d) O trabalho assalariado é uma característica essencial;e) Os indivíduos não podem mudar de um estrato para o outro.

3. Para entendermos a estratificação social de uma sociedade é necessário:

a) observar como eram as relações de vassalagem entre os senhoresfeudais e o rei;

b) estudar as relações entre os empregados e os serviços prestados poreles;

c) compreender como os capitalistas obtém os seus lucros;d) compreender como os homens organizam sua produção e como distri-

buem o poder na sociedade;e) estudar a distribuição das mercadorias na economia.

4. No sistema de castas indiano as desigualdades sociais são justificadas

através:

a) dos problemas políticos;b) da base religiosa;c) das diferenças sociais;d) das culturas populares;e) da economia de mercado.

5. O sistema feudal possuía como seu principal bem:

a) a terra;b) o castelo do senhor feudal;c) o exército do rei;d) o produto agrícola;e) a igreja.

Page 61: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

20

UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

6. Complete a frase abaixo com o grupo de palavras mais adequado.

Chamamos de estratificação social a ___________________ de pessoas ougrupos de pessoas que vivem em uma sociedade determinada, ocupando____________________ diferentes, de acordo com os _______________que lhes são atribuídos.

a) convocação – cargos – missõesb) colocação – cargos – valoresc) aceitação – estratos – ocupaçõesd) especificação – locais – problemase) hierarquização – posições – valores

7. Os estamentos faziam parte de um tipo de estratificação social que estavaapoiada em:

a) relações econômicas onde o lucro era o principal objetivo;b) tradições das épocas greco-romanas;c) relações de obrigações e fidelidade entre seus membros;d) produções de riquezas nas colônias americanas;e) produções de um excedente para a comercialização.

8. A mobilidade social no sistema capitalista é considerada:

a) muito rígida porque o operário sempre vai ser operário;b) fechada porque cada classe tem o seu próprio lugar no sistema;c) rígida e fechada porque é herdada de pai para filho;d) semi-aberta, pois o capitalista permite que o operário mude de classe

ou não;e) aberta porque um indivíduo pode mudar de classe social.

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO

1. Por que é dito, pelos estudiosos da questão da estratificação, que somentena sociedade capitalista e não na sociedade feudal, e nem na indiana, amobilidade social é possível?

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

2. Explique por que as classes sociais (capitalistas/ trabalhadores) possueminteresses antagônicos.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

Page 62: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

1

SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

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SOCIOLOGIA APLICADA

55

UN

IDA

DE 5

A SOCIEDADE CAPITALISTA

CONTEMPORÂNEA

Nesta unidade, examinaremos o processo de globalização que se

desenvolve entre nós e suas repercussões nas áreas econômica, política e

cultural.

OBJETIVO DA UNIDADE:

Caracterizar o processo de globalização, avaliando suas conseqüências

no contexto sócio-político-econômico e cultural.

PLANO DA UNIDADE:

• O fenômeno da globalização

• Um estudo sobre os primórdios da globalização

• As conseqüências do processo de globalização

Bons estudos!

Page 64: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

56

UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA

O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO

O assunto que vamos estudar agora é muito comentado em revistas,

jornais e livros, pois se trata de um tema bastante atual e polêmico. Contudo,

tentaremos esclarecê-lo abordando-o passo a passo.

O fenômeno da globalização vem se fazendo presente na atualidade de

forma avassaladora, se expandindo a cada dia, alterando estruturas políticas,

econômicas, jurídicas e ideológicas. O panorama nacional e internacional

ganha novos perfis, uma vez que, as negociações transnacionais com

empresas que aplicam seus capitais nos mercados que mais lhes ofereçam

vantagens, crescem vertiginosamente.

Esse fato é possível, pois a tecnologia, as comunicações e a economia

fazem do planeta uma unidade cada vez mais entrelaçada, complexa e inter-

relacionada, como afirma Leslie Sklair (1995, p.14):

Historicamente, a sociedade mundial se tornou uma idéia

acreditável somente nos últimos séculos e a ciência, a tecnologia, a

indústria e os valores universais estão produzindo um mundo do século

XX que difere de qualquer épocas passadas.

O estudioso no assunto John Naisbitt (1983) chamou a atenção para um

fato muito importante, pois observou que ao invés do que pensava Marshall

McLuhan que seria a televisão que faria do mundo uma “aldeia global”, na

verdade foram os satélites que a princípio estavam voltados para as

pesquisas espaciais, que realmente propiciaram esse fato.

UM ESTUDO SOBRE OS PRIMÓRDIOS DA GLOBALIZAÇÃO

Mas o que é globalização? Quando este fenômeno começou?

Tentaremos responder a essas perguntas nesse item, mas precisaremos

recorrer aos conhecimentos de várias ciências, pois esse fenômeno vem

desafiando os diversos saberes, e, conseqüentemente, não encontraremos

um conceito único para o tema e nem tão pouco uma data ou época precisas.

Ainda mais por se tratar de um assunto estudado pelas ciências sociais que

são, na sua essência, questionadoras, proporcionando pontos de vistas

diferentes entre os estudiosos do assunto.

Enquanto que para alguns autores a globalização se iniciou desde o

século XV com as Grandes Navegações, pois a partir daí a Europa tomou

conhecimento de outros povos e nações do mundo como um todo e o

capitalismo encontrou assim as possibilidades de seu desenvolvimento, para

outros a globalização é um processo nítido que teve início no século passado

(século XX) através da comunicação via satélite, o que propiciou uma

transformação na sociedade como destaca NAISBITT (1983, p.12):

(...) 1957, marca o começo da globalização, da revolução da

informação. Os soviéticos lançam o Sputnik – o catalisador tecnológico

que faltava numa crescente sociedade de informação. A real importância

não vem do fato de ter se iniciado a era espacial – iniciou-se a era da

comunicação global por satélite.

Aldeia global – termo criado por

Marshall McLuhan com a inten-

ção de demonstrar que com a

utilização da televisão o mun-

do todo faria parte de uma mes-

ma sociedade.

Page 65: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

57

SOCIOLOGIA APLICADA

Portanto, observando por esta perspectiva, a globalização é um

fenômeno típico da segunda metade do século XX que estabeleceu a crescente

inter-relação das economias e das sociedades dos vários países, tanto no

que diz respeito à circulação de mercadorias e serviços quanto aos mercados

financeiros e de informações e que vem se desenvolvendo até hoje.

Segundo outros autores, a globalização

surgiu a partir da queda do bloco socialista e

o conseqüente fim da Guerra Fria (entre 1989

e 1991), como esclarece IANNI ( 1997, p.219):

(...) Emerge de forma particularmente

evidente, em suas configurações e em seus

movimentos, no fim do século XX, a partir do

desabamento do mundo bipolarizado em

capitalismo e comunismo (...)

A globalização também é considerada

como uma fase do desenvolvimento do

capitalismo, ou seja, assim como o

colonialismo esteve para a sua etapa

comercial e o imperialismo para sua fase industrial e inicio da financeira,

está a globalização para a fase científico-tecnológica do capitalismo.

Verificamos também que essa fase é uma expansão que tem por objetivo

aumentar os mercados e conseqüentemente os lucros da classe dominante.

Desta forma, a globalização rompe fronteiras geográficas e históricas se

consolidando a cada dia, como podemos observar nos estudos de IANNI

(1997, p.221):

Na base da ruptura que abala a geografia e a história no fim do

século XX está a globalização do capitalismo. Em poucas décadas, logo

se revela que o capitalismo se tornou um modo de produção global.

Está presente em todas as nações e nacionalidades, independente de

seus regimes políticos e de suas tradições culturais ou civilizatórias.

Aos poucos, ou de repentemente, as forças produtivas e as relações

de produção organizadas em moldes capitalistas generalizam-se por

todo o mundo.

Mas apesar dessa expansão da globalização ter sido vertiginosa, isto

não quer dizer que tenha sido de forma linear e sem resistências.

Encontramos, no decorrer desse processo, avanços e recuos, como esclarece

HAESBAERT (1998, p.14):

Se retornarmos no tempo, verificaremos que, na identificação de

fases ou “ondas”, o capitalismo apresentou avanços e recuos em sua

dinâmica competitiva, imperialista e globalizadora, não só pela natureza

contraditória de sua reprodução como também pela interferência, mais

ou menos intensa, dos trabalhadores (organizados em sindicatos, por

exemplo) e do Estado (...)

A sociedade global deixou de ser imaginária e se tornou uma realidade

econômica, política e social, tendo conseqüências marcantes no campo

cultural, pois alterou as condições de vida e de trabalho de muitas pessoas.

Page 66: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

58

UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA

No passado, as inovações tecnológicas atingiram a sociedade agrária

dando lugar ao desenvolvimento do setor industrial, a mão de obra se

transferiu para a área urbana. Hoje, as novas tecnologias, ligadas ao setor

da informação e da microeletrônica atingem o setor industrial, aumentando

a sua produção e destruindo milhões de empregos. Entretanto, como

podemos observar, há uma mudança nos empregos, como afirma MAGNOLI

et al (1997, p.24):

Nas duas últimas décadas, a diminuição de empregos industriais

nos países ricos foi parcialmente compensada pela criação de empregos

no setor de serviços. Nos países do G7 (os sete países economicamente

mais poderosos do planeta: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França,

Grã-Bretanha, Itália e Canadá), entre 1974 e 1994, registraram-se

treze anos de redução de empregos no setor secundário: no mesmo

período os serviços ampliaram continuamente os seus postos de

trabalho (...)

Surge então, a sociedade de informação ou a sociedade pós-moderna

como chamou Daniel Bell sociólogo de Harvard. Atualmente, muito mais

trabalhadores lidam com a informação do que dentro de fábricas. Muito mais

pessoas gastam o seu tempo criando, processando ou distribuindo

informações. E o que caracteriza uma sociedade, como já vimos em outras

unidades, é justamente o modo como se organiza o trabalho.

Portanto, a sociedade hoje é chamada de sociedade de informação,

pois passou a sociedade industrial em números de trabalhadores (Naisbitt,

1983). Da mesma forma que a rede de transportes levou os produtos da

industrialização, a rede de comunicação está levando agora os novos

produtos da sociedade da informação.

AS CONSEQÜÊNCIAS DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO.

O fenômeno da globalização vem desafiando os estudiosos quanto as

suas conseqüências. Apesar de seu aspecto econômico ter sido enfatizado,

outras ciências, como já foi dito anteriormente, também vêm estudando

esse processo. A cada dia são promovidos seminários, encontros, palestras

de avaliação e previsão de suas conseqüências. O interesse dispensado ao

tema pelas universidades e pela imprensa, já demonstra que este se trata

de um assunto que gera polêmicas e conflitos. Delineiam-se, desta forma,

dois grupos de análises: os que são a favor e os que são contra a

globalização, FLORIANI (2004).

GLOBALIFÓLICOS GLOBALIFÍLICOS

Grupo que critica a globalização Grupo que defende a globalização

O grupo contrário à globalização critica a idéia de que este fenômeno

promove a interdependência entre os países e as regiões, aproximando-os

e propiciando o desenvolvimento. Acredita, este grupo, que a unilateralidade

Page 67: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

59

SOCIOLOGIA APLICADA

do poder das nações mais ricas em busca da hegemonia do mercado é que

acaba prevalecendo, ou seja, essas nações é que ditariam sempre as regras

para as nações mais pobres. Além de destacarem que as nações mais ricas

possuem o domínio da tecnologia e que hoje a distância entre os países

ricos e os países pobres é cada vez maior do que no passado.

Já para o grupo que a defende, a

globalização desfaz fronteiras e o mundo

passa a ser um todo regido por regras e

práticas comuns, que devem ser adotadas

por todos. Nessa abordagem, muitas são

as vantagens advindas da globalização,

pois um mercado sem limites entre as

nações, que possui liberdade e se auto-

regulariza é a base ideal para o

desenvolvimento pleno do Neoliberalismo.

Também, o Estado se livra de suas

responsabilidades públicas, diminuindo sua

participação nas ações sociais destinadas

a garantir o desenvolvimento da

população, deixando essas atribuições para as empresas particulares. É a

política do Estado Mínimo.

Conseqüentemente, os Estados-Nacionais transformarão seus perfis

adotando novas formas e funções possibilitando a formação de uma gestão

mundial, como prevêem alguns cientistas políticos.

Entretanto, o processo de globalização vem recebendo severas críticas

desde as últimas crises no mercado financeiro internacional e também a partir

do elevado crescimento dos níveis de pobreza e de exclusão social. Um outro

aspecto apontado é que a globalização não está conseguindo uniformizar

os gostos, os padrões culturais como era previsto, pois os seus benefícios

não são para todos os cidadãos como já foi dito acima. Grande parte da

população não consegue se inserir nesse processo ficando assim excluída.

Diante desses fatos, adverte FLORIANI (2004, p.54) que:

Como pano de fundo, dois cenários parecem desafiar os

contendores: por um lado, o economicismo do Fórum Econômico

(Davos-Nova York) que não só propugna por mais globalização dos

mercados, do comércio, mas considera a única saída viável para o

planeta; por outro, o Fórum Social Mundial (de Porto Alegre) que se

coloca na resistência do processso, com os mais diferentes matizes,

mas com uma grande coincidência de oposição ao neoliberalismo

globalizante.

Além dos riscos econômicos, sociais e culturais, Giddens e Beck (In: Floriani,

2004) apontam como o maior problema da sociedade mundial o risco global,

em especial o risco ecológico proveniente, dentre outros, da crescente

desigualdade entre as regiões e países.

Hegemonia – dominação e di-

reção exercidas por uma clas-

se social dominante.

Neoliberalismo – Fase atual do

capitalismo que prega a liber-

dade total de transações co-

merciais sem a interferência do

Estado.

Estados-Nacionais – Surgiram

na Europa renascentista quan-

do as monarquias absolutistas

empreenderam a centralização

do poder político, destruindo

assim o poder local dos senho-

res feudais.

Page 68: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

60

UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA

MAS SERÁ QUE ESSE PROCESSO É IGUAL EM TODOS OS PAÍSES?

Apesar de falarmos sempre em um processo de globalização, os

sociólogos advertem que existem vários processos de globalização, que

este fenômeno é plural, isto é, cada realidade compõe o processo de

globalização de forma diferente. Portanto, existem vários processos de

globalização distintos para cada realidade, ou seja, cada país, dependendo

da sua posição no capitalismo (país central ou periférico), viverá este

processo de maneira particular.

Quanto às influências culturais, os antropólogos assinalam que cada

realidade incorporará os elementos importados de outros países de acordo

com sua realidade, ou seja, a homogeneização cultural seria impossível na

medida em que cada grupo social incorporasse nesses elementos as suas

vivências locais recriando-os.

Segundo Huntington (1998) os conflitos que surgirão nas próximas

décadas entre as nações serão de ordem cultural, pois estas questões

gerarão os maiores conflitos no mundo contemporâneo. O choque entre as

diferentes civilizações dominará a política global.

TERIA O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO ATINGIDO TAMBÉM A ÁREA

EDUCACIONAL?

Podemos afirmar que sim, pois nesse contexto constatamos mudanças

nos processos de produção das mercadorias, nos perfis dos trabalhadores,

nas relações de trabalho e nos hábitos de consumo que necessariamente

terão repercussões no terreno educacional, exigindo novas necessidades

de qualificação e requalificação profissional.

Muitas são as idéias que surgem desse

processo, uma delas é a de que o estudante

será cada vez mais independente e

autodidata, podendo aprender sozinho

através de suas pesquisas e o professor não

será mais um transmissor de conteúdos em

uma escola formal, mas um orientador em

uma escola virtual.

Os estudiosos no assunto enfatizam que

a escola atual não está atendendo as

necessidades de uma sociedade em

transformação, pois a mesma não está

conseguindo acompanhar a evolução tecnológica. Em contrapartida,

assinalam que a escola também é uma formadora de valores essenciais

para o convívio humano, valorizando o seu papel na educação.

Faz-se necessário que a escola atenda as demandas do século XXI seja

criada, com novos currículos, metodologias e dinâmicas educativas próprias

que enfrentem o futuro. Essas mudanças seriam resultantes de novos

objetivos advindos dessa visão de mundo. Uma escola onde exista a crítica

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61

SOCIOLOGIA APLICADA

das informações e a produção do conhecimento. Onde os estudantes saibam

encontrar a informação, seja nas aulas, na biblioteca, no computador, e diante

dessa informação saibam reelaborá-la criticamente. Os veículos de informação,

tais como: a televisão, o vídeo, o computador, o cinema não poderão mais

ser ignorados, pois eles também são veículos de aprendizagem. Cabe ao

professor ensinar ao aluno a processar essas informações, ou seja, dar

significado a elas.

Outros paradigmas de ensino-aprendizagem surgirão para atender esse

novo processo. Os professores, segundo Libâneo (1998), deverão

desenvolver comportamentos éticos e saberem orientar os alunos em valores

e atitudes em relação à vida, ao ambiente, às relações humanas e a si

próprios.

Estamos cientes de que com esta unidade não esgotamos o assunto,

mas esperamos que você tenha aprendido um pouco sobre o processo de

globalização que, como vimos, é muito complexo.

LEITURA COMPLEMENTAR:

NAISBITT, J. Megatendências. As dez grandes transformações

que estão ocorrendo na sociedade moderna. Edição. São

Paulo: Abril, 1983.

SKLAIR, L. Sociologia do sistema global. Trad. de Reinaldo

Orth. Edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.

IANNI, O. Sociedade e linguagem. Edição. Campinas: Editora

da UNICAMP, 1997.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de

estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-

lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no

processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as

respostas no caderno e depois as envie através do nosso

ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Na próxima unidade, iremos estudar alguns dos conceitos e expressões

muito utilizadas no campo da Sociologia.

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1

SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

EXERCÍCIOS

Page 71: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

21

SOCIOLOGIA APLICADA

UN

IDA

DE 5

A SOCIEDADE CAPITALISTA

CONTEMPORÂNEA

EXERCÍCIOS AUTO-AVALIAÇÃO

1. Uma das conseqüências da globalização, apontada pelos estudiosos,

será:

a) o estudante ficará cada vez mais dependente do computador e datelevisão;

b) o professor passará a transmitir muito mais conteúdos do que agora;c) o professor se ocupará mais em valorizar os livros;d) o aluno será cada vez mais independente e autodidata;e) a direção das escolas terá que ser mais centralizadora.

2. Os teóricos que são contrários à globalização declaram que:

a) o comércio exterior não é tão expressivo quanto pretende ser;b) a globalização trará uma ameaça de guerra constante entre as na-

ções;c) as culturas locais serão as mais prejudicadas;d) a educação será atingida de forma progressista;e) haverá um relacionamento mais humano entre as nações pobres e as

nações ricas.

3. Marque (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as falsas.

I. A era da comunicação global começou através da televisão. ( )

II. A globalização tem como um de seus objetivos aumentar os mercados e,

conseqüentemente, os lucros da classe dominante. ( )

III. A globalização alterou as condições de vida e de trabalho de muitas

pessoas. ( )

IV. Entramos na sociedade de informação ou na sociedade pós-moderna. ( )

V. Hoje, muito mais trabalhadores estão nas fábricas do que criando,

processando e distribuindo informações. ( )

a) F, F, V, F, V;

b) F, F, F, V, V.

c) F, V, V, V, F;

d) V,V, F, F, V;

e) V, F, V, F, F;

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22

UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA

4. A globalização por ser um fenômeno ligado às tecnologias, o marco

histórico de seu início é apontado como sendo:

a) As Grandes Navegações;b) A chegada do Homem à lua;c) O descobrimento das Américas;d) A invenção do telefone.e) O lançamento do satélite Sputinik;

5. Complete o parágrafo abaixo com o grupo de palavras mais adequado.

O processo de globalização vem recebendo severas ______________, desde

as últimas ___________ do mercado financeiro internacional e também a

partir do elevado crescimento da pobreza e da ___________.

a) condenações – críticas – poluição;b) condenações – advertências – exclusão social.c) críticas – crises – exclusão social;d) advertências – décadas – fome;e) características – advertências – inclusão social.

6. O tema globalização é considerado:

a) por demais econômico, pois só atinge essa área de estudo;b) irrelevante, pois queira ou não teremos que participar dele;c) um tema ultrapassado, pois já se falou muito sobre ele e tudo já foi

dito;d) um tema polêmico, haja vista a quantidade de palestras e artigos

sobre o assunto;e) unilateral, pois só interessa as grandes empresas.

7. A Globalização é um fenômeno que faz parte de uma determinada fase

do capitalismo que é:

a) a fase tecnológico-científica;b) a fase comercial;c) a fase colonial;d) a fase financeira;e) a fase imperialista.

8. O fenômeno da globalização é um processo que acontece:

a) somente na área econômica, pois promove diversos tipos de transa-ções comerciais;

b) entre os países considerados centrais, pois os países periféricos nãopodem participar desse processo;

c) nos campos econômicos e políticos, pois envolve transações de altonível;

d) na Europa e nos Estados Unidos, pois é lá que se encontram os paí-ses centrais que comandam o capitalismo mundial;

e) na economia, na política e nas áreas cultural e social, pois envolvesituações variadas de transações e comunicações.

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23

SOCIOLOGIA APLICADA

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO

1. Desenvolva a afirmativa abaixo:

A globalização é um fenômeno que não é vivenciado pelos países da mesma

forma.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

2. Que pontos positivos e negativos são apontados para o papel da escola

nesse contexto globalizado?

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

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1

SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

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SOCIOLOGIA APLICADA

63

UN

IDA

DE 6

CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTESUTILIZADAS NA SOCIOLOGIA

Muito bem, pessoal! Aqui vocês encontrarão alguns dos conceitos e

expressões muito utilizados no campo da Sociologia.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

Conceituar e diferenciar os principais conceitos da ciência sociológica

observando sua dinâmica a fim de instrumentalizar-se para a compreensão

da mesma.

PLANO DA UNIDADE:

• ACOMODAÇÃO

• E adaptação?

• ALIENAÇÃO: Você já ouviu falar em alienação?

• ANTAGONISMO SOCIAL

• ASSIMILAÇÃO

• CIDADANIA

• COMPETIÇÃO

• CONFLITO

• CONSCIÊNCIA DE CLASSE

• COOPERAÇÃO

• DIREITOS FUNDAMENTAIS

• INTERAÇÃO SOCIAL

• JUSTIÇA SOCIAL

• MOBILIDADE SOCIAL

• MOVIMENTOS SOCIAIS

Bons estudos!

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UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA

64

A nossa preocupação foi articular esses conceitos com letras de música,

textos de historiadores, poetas, jornalistas, pois é a partir da

contextualização que os significados se tornam mais claros.

ACOMODAÇÃO

A acomodação é um processo pelo qual os indivíduos se ajustam formal

e exteriormente a uma sociedade, muitas vezes de forma imposta e

obrigatória. Desenvolve-se a acomodação quando as pessoas ou grupos

julgam necessário agir em conjunto, apesar das diferenças e divergências.

É uma situação que pode ter vida curta ou perdurar séculos. É um processo

que pode acompanhar, reduzir ou evitar um conflito, o que não significa que

a solução gere satisfação para ambos os contendores. Repare como Gilberto

Freire (1984, p.163) aborda esse assunto:

“Não foi só de alegria a vida dos negros escravos dos ioiôs e das

iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, enforcando-

se, envenenando-se com ervas e potagens dos mandingueiros. O banzo

deu cabo de muitos. O banzo - a saudade da África. Houve os que de

tão banzeiros ficaram lesos, idiotas. Não morreram, mas ficaram

penando.”

E ADAPTAÇÃO?

A adaptação é um processo pelo qual o indivíduo se ajusta à sociedade,

podendo-se afirmar que esse ajuste ocorre em três níveis: o afetivo, o

biológico e o cognitivo. Há de salientar-se que o primeiro está relacionado

aos valores prezados pela sociedade, os afetivos em relação aos pais, aos

namorados, a pátria, etc. - que geram inclusive datas comemorativas. O

segundo refere-se aos hábitos de um povo e o terceiro, aos padrões

desenvolvidos por ela, como, por exemplo, os padrões morais.

Em relação ao patriotismo, percebe-se que os próprios poetas trataram

de cultivá-lo e difundi-lo, muitas vezes até de formas diversas. Veja como

esse sentimento se revela nos versos extraídos do poema “Pátria Minha”,

de Vinícius de Moraes (1998, p.179)

(...)

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:

Não sei. De fato, não sei

Como, por que e quando a minha pátria

Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água

Que elaboram e liquefazem a minha mágoa

Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria

De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...

Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias

Page 77: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

SOCIOLOGIA APLICADA

65

De minha pátria, de minha pátria sem sapatos

E sem meias pátria minha

Tão pobrinha!

(...)

O segundo e o terceiro níveis podem ser ilustrados pelo seguinte poema

(Oswald de Andrade, 1971, p.84) que trata da chegada dos portugueses ao

Brasil. Veja a estranheza que os hábitos e os padrões de comportamento

dos índios causam aos portugueses:

(...)

os selvagens

Mostraram-lhes uma galinha

Quase haviam medo dela

E não queriam por a mão

E depois a tomaram como espantados

primeiro chá

Depois de dançarem

Diogo Dias

Fez o salto real

as meninas da gare

Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis

Com cabelos mui pretos pelas espáduas

E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas

Que de nós as muito bem olharmos

Não tínhamos nenhuma vergonha.

ALIENAÇÃO: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM ALIENAÇÃO?

Naturalmente, sim. Alienação é um afastamento ou separação de partes

ou do todo da personalidade em relação à realidade exterior na qual se

insere. Esse fato pode ser exemplificado a partir dos versos de Bertolt Brecht

(1982, p.183) em “O analfabeto político”:

O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa

Dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe,

Da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das

decisões políticas.

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UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA

66

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o

peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da

sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado,

e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra,

corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

ANTAGONISMO SOCIAL

Antagonismo social é a incompatibilidade de convívio harmonioso entre

as classes sociais, sendo cada uma destas, tal como Karl Marx afirmava, o

conjunto dos agentes sociais colocados nas mesmas condições no processo

de produção com afinidades ideológicas e políticas. Dessa forma, uma tenta

manter seus privilégios, e a outra, superar a dominação tanto política quanto

econômica que sofre por parte da primeira.

Não é isso que Cazuza retrata em seus versos “Brasil”?

Não me ofereceram

Nem um cigarro

Fiquei na porta estacionando os carros

Não me elegeram

Chefe de nada

O meu cartão de crédito é uma navalha

Brasil

Mostra tua cara

Quero ver quem paga

Pra gente ficar assim

Brasil

Qual é o teu negócio?

O nome do teu sócio?

Confia em mim

ASSIMILAÇÃO

A assimilação é um processo pelo qual um conjunto de traços culturais

é abandonado e um novo conjunto é adquirido. Este entendido como padrões

de comportamento, sentimentos e tradições. Pode ocorrer não só entre

povos distintos, mas também entre classes sociais. Como exemplo, pode

ser citado o caso de determinadas construções lingüísticas próprias das

camadas socialmente desprestigiadas que acabam influenciando o linguajar

das mais abastadas. Repare como Oswald de Andrade (1971, p.112) trata

dessa questão:

Page 79: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

SOCIOLOGIA APLICADA

67

Pronominais

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro.

E também em Erro de Português, do mesmo autor, com um tom, porém,

bastante irônico:

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português.

(Ibid., p.123)

CIDADANIA

Da forma como abordada por Thomas Marshall, o conceito de cidadania

pode ser compreendido a partir da articulação de três tipos distintos de

direito:

1) direitos civis, que incluem os direitos fundamentais à vida, à

liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei.

2) direitos políticos, se referem à participação do cidadão na vida

política da sociedade. Consistem na capacidade do cidadão

participar da organização dos partidos políticos de votar e de

ser votado.

3) direitos sociais, se referem aos direitos que garantem sua

participação na riqueza coletiva. São direitos sociais: a

educação, a saúde, o trabalho, o salário, a segurança pública,

a habitação, o lazer, etc.

Portanto, na ótica de Marshall, seria considerado cidadão pleno aquele

que usufruísse dos três tipos de direito. Cidadãos incompletos seriam os

que parcialmente usufruíssem alguns dos direitos. Os que não se

beneficiassem de nenhum direito não seriam considerados cidadãos.

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UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA

68

É o que se verifica nas estrofes de Ferreira Gullar (1980, p.137) em

seu poema O Açúcar:

O branco açúcar que adoçará meu café

Nesta manhã de Ipanema

Não foi produzido por mim

Nem surgiu no açucareiro por milagre.

(...)

Este açúcar veio

da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,

dono da mercearia.

Este açúcar veio

de uma usina de açúcar em Pernambuco

ou no Estado do Rio

e tampouco o fez o dono da usina.

(...)

Em lugares distantes, onde não há hospital

nem escola,

homens que não sabem ler e morrem de fome

aos 27 anos

plantaram e colheram a cana

que viraria açúcar.

Em usinas escuras,

homens de vida amarga

e dura

produziram este açúcar

branco e puro

com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.”

COMPETIÇÃO

Você já reparou como os indivíduos competem entre si na sociedade

em maior ou menor intensidade, porque seus desejos e necessidades são

diferentes? A competição se faz presente quanto maior for a escassez dos

recursos ou mesmo quando existem poucos lugares para muitos. A

competição é a luta que ocorre quando as pessoas tentam maximizar suas

vantagens a expensas dos demais.

A competição pode ser pessoal, como quando dois rivais lutam para

vencerem uma eleição; ou pode ser impessoal, como nos concursos públicos,

Page 81: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

SOCIOLOGIA APLICADA

69

em que os concorrentes nem ao menos têm a consciência da identidade dos

outros.

Todas essas tentativas de melhorar de vida ou de atingir uma posição

mais significativa na sociedade tem por base uma competição.

No inciso II, do art. 37, da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, encontra-se a seguinte determinação:

(...) a investidura em cargo ou emprego público depende de

aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos,

de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na

forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em

comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.

Nasce desse dispositivo, então, uma intensa luta entre candidatos por

uma vaga no serviço público. Ao se empenharem nos estudos, tentam através

destes alcançar seu objetivo, excluindo assim o uso da força e da violência.

CONFLITO

Conflito é um processo que pode ser definido como um processo em

que os envolvidos procuram obter recompensas pela eliminação ou

enfraquecimento dos competidores. É um processo que revela uma grande

tensão entre os indivíduos, já que o objetivo a ser alcançado visa à lesão,

neutralização e eliminação dos rivais.

Isso torna-se freqüente quando os privilégios de uma classe social

chegam a tal ponto que a menos favorecida já consegue obter o mínimo

necessário para a sobrevivência.

A todo momento a imprensa noticia os conflitos entre os fazendeiros e

os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra:

MST e ruralistas entram em conflito em Cascavel

O conflito no campo teve mais um capítulo de tensão ontem:

integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST)

afirmam terem sido agredidos após pararem em um bloqueio

promovido por ruralistas em Cascavel, no Oeste do Paraná. Os

supostos agressores negam e acusam os sem-terra de terem

agido com violência. O resultado da confusão: vários feridos.

Os sem-terra se dirigiam para a fazenda experimental da Sygenta

Seeds, desapropriada pelo governo estadual, em Santa Tereza

do Oeste, quando foram parados quilômetros antes do destino

por um bloqueio da Sociedade Rural Oeste (SRO) na BR-277.

Segundo a assessoria do MST, os integrantes tiveram que descer

dos veículos e atravessar a pé os tratores e caminhões parados

na pista, momento em que alguns teriam sido atingidos por

pauladas. A viagem somente pôde prosseguir no fim da tarde,

quando a pista começou a ser liberada.

Já o presidente da SRO, Alessandro Meneghel, afirma que os

cerca de 150 produtores rurais não agrediram ninguém e que,

Page 82: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA

70

ao contrário, teriam sido alvejados por pedras. “Uma delas

acertou um homem de 70 anos”, contou. “Chegaram a mostrar

arma para nós”. O MST promovia uma marcha de encerramento

da 1ª Jornada de Educação na Reforma Agrária, que teve início

no último domingo (26), no Centro de Convenções e Eventos

de Cascavel. A manifestação dos ruralistas aconteceu em frente

ao Parque de Exposições Celso Garcia Cid. Disponível em: <http:/

/www.terradedireitos.org.br>. Acesso em: 27/12/2006

Outro caso remete a uma situação particular que desde tempos

remotos vem preenchendo as páginas da literatura universal – o tão

malfadado triângulo amoroso. Confira em “Domingo no Parque”, de Gilberto

Gil:

(...)

A semana passada, no fim da semana

João resolveu não brigar

No domingo de tarde saiu apressado

E não foi pra Ribeira jogar capoeira

Não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar

(...)

Foi no parque que ele avistou Juliana

Foi que ele viu

Foi que ele viu Juliana na roda com João

Uma rosa e um sorvete na mão

Juliana seu sonho, uma ilusão

Juliana e o amigo João

(...)

Olha a faca! (olha a faca!)

Olha o sangue na mão (ê, José)

Juliana no chão (ê, José)

Outro corpo caído (ê, José)

Seu amigo João (ê, José)

Amanhã não tem feira (ê, José)

Não tem mais construção (ê, João)

Não tem mais brincadeira (ê, José)

Não tem mais confusão (ê João)

CONSCIÊNCIA DE CLASSE

Já ouviu falar de consciência de classe? Pois bem. De acordo com Karl

Marx, é um processo pelo qual os membros de uma classe – o proletariado

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SOCIOLOGIA APLICADA

71

- se tornam consciente de si mesmos como classe. Tornam-se conhecedores

de sua condição de vendedores de sua força de trabalho aos detentores

dos meios de produção e, conseqüentemente, lutam pelo rompimento dos

privilégios e da dominação política e econômica que estes últimos exercem

sobre eles. Assim, não há como separar conhecimento da realidade e o

resultado deste, que vem no bojo da luta entre dominantes e dominados.

Para ilustrar o exposto, cabe a leitura de um fragmento de “Operário

em Construção”, de Vinícius de Moraes (1998, p.335):

“Era ele que erguia casas

Onde antes só havia chão.

Como um pássaro sem asas

Ele subia com as casas

Que lhe brotavam da mão.

Mas tudo desconhecia

De sua grande missão:

Não sabia, por exemplo

Que a casa de um homem

É um templo

Um templo sem religião

Como tampouco sabia

Que a casa que ele fazia

Sendo a sua liberdade

Era a sua escravidão.

(...)

Mas ele desconhecia

Esse fato extraordinário:

Que o operário faz a coisa

E a coisa faz o operário.

De forma que, certo dia

À mesa, ao cortar o pão

O operário foi tomado

De uma súbita emoção

Ao constatar assombrado

Que tudo naquela mesa

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UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA

72

— Garrafa, prato, facão —

Era ele quem os fazia

Ele, um humilde operário,

Um operário em construção.

(...)

E um fato novo se viu

Que a todos admirava:

O que o operário dizia

Outro operário escutava.

E foi assim que o operário

Do edifício em construção

Que sempre dizia sim

Começou a dizer não.

E aprendeu a notar coisas

A que não dava atenção:

(...)

Que seus dois pés andarilhos

Eram as rodas do patrão

Que a dureza do seu dia

Era a noite do patrão

Que sua imensa fadiga

Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!

E o operário fez-se forte

Na sua resolução.

COOPERAÇÃO

É um processo pelo qual se visa à realização de um objetivo comum. É

o esforço coordenado para atingir objetivos comuns. Pode ser temporária

quando os indivíduos ou grupos se reúnem num determinado período de

tempo para executar a ação ou contínua quando os indivíduos ou grupos

se reúnem freqüentemente, pois necessitam sempre da colaboração entre

eles. Pode ser direta quando os indivíduos fazem atividades semelhantes

ou indireta quando fazem atividades diferentes e necessitam uns dos outros.

Quando os detentores dos cargos eletivos se reuniram em Assembléia

Constituinte em 1988 para a elaboração da nossa atual Carta Magna, o

fizeram temporária e diretamente. Naquele momento, a sociedade ansiava

por uma Constituição que extirpasse todo o autoritarismo dos governos

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SOCIOLOGIA APLICADA

73

militares, trazendo como um de seus pontos altos a ampliação e defesa dos

direitos de cidadania.

Outro exemplo relaciona-se a uma fábrica que se volta para uma

atividade complexa, que exige fases diversas, desenvolvendo-se numa forma

contínua e indireta, pois a etapa seguinte depende da anterior e,

evidentemente, cada momento tem um trabalhador especializado.

DIREITOS FUNDAMENTAIS

Naturalmente você já deve ter ouvido falar em Direitos Fundamentais.

São aqueles direitos considerados indispensáveis à pessoa humana,

necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual. Direitos

Individuais são limitações impostas pela soberania popular aos poderes

constituídos, para resguardar direitos indispensáveis à pessoa humana. Após

os governos militares, fez-se questão de que a Constituição Federal, também

denominada “Constituição Cidadã”, deixasse explícitos esses direitos,

conforme se verifica no artigo 5º:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes

no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

INTERAÇÃO SOCIAL

É o processo que ocorre quando pessoas agem sob a influência

recíproca de um contexto social. Pode ocorrer por meio de comunicação. Saiba

que a esse conceito relacionam-se cooperação, competição e conflito.

Observe a seguinte estrofe de Bertolt Brecht (1982):

Eu vim para a cidade no tempo da desordem,

quando a fome reinava.

Eu vim para o convívio dos homens no tempo

da revolta

e me revoltei ao lado deles.

Assim se passou o tempo

que me foi dado viver sobre a terra.”

JUSTIÇA SOCIAL

Numa concepção ampla, justiça é um conceito que remete a idéia de

eqüidade, ou seja, o processo em que as pessoas almejam obter aquilo que

merecem. Do ponto de vista jurídico, por exemplo, justiça assume o sentido

de tratamento imparcial de todos perante a lei, com vistas a garantir os

direitos prescritos nas normas legais instituídas em uma determinada

sociedade.

Você já deve ter observado que o termo tem sido empregado para

designar uma realidade determinada, uma justiça específica.

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UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA

74

Há uma divisão clássica que distingue três espécies da justiça nas

relações entre os homens:

a) as relações entre grupos ou pessoas particulares;

b) as relações entre a sociedade e seus membros;

c) as relações entre os membros das sociedades como tais

ligadas à justiça regida pelo direito, isto é, justiça legal.

Tem sido freqüente, no entanto, o emprego dessa expressão para a

distribuição igualitária das riquezas, a justa remuneração, que incluiria as

condições mínimas de sobrevivência, a distribuição da propriedade privada

e dos seguros sociais. E não havendo isso, haverá naturalmente injustiça

social, fato elucidado por Émile Zola (1978, p.209), ao tratar do dia-a-dia

dos trabalhadores de uma mina de carvão no século XIX, em O Germinal:

Na rua estava escuro, era noite fechada, e a lua, entre as nuvens,

iluminava a terra de uma maneira sinistra. Em vez de atalhar pelos

jardins, a mulher [ esposa de Maheu, que saiu de casa para implorar

comida para a família de 10 pessoas] fez a volta, desesperada, não

ousando entrar em casa. Mas, ao longo das fachadas mortas, todas as

portas ressudavam fome e inércia. De que adiantava bater? A miséria

estava por toda parte. Havia semanas que não se comia mais, o próprio

cheiro de cebola tinha desaparecido, esse cheiro forte que de longe,

do campo, anunciava a aldeia; agora só havia um odor de porões

bolorentos, de buracos úmidos onde ninguém vive. Os ruídos vagos

iam esmorecendo aos poucos: eram lágrimas abafadas, pragas soltas

ao léu. E o silêncio era cada vez mais pesado, sentia-se avançar o

sono da fome, o esquecimento dos corpos jogados nas camas sob os

pesadelos dos estômagos vazios (...)

MOBILIDADE SOCIAL

É o movimento ascendente ou descendente próprio das sociedades

estratificadas. Segundo Cherkaoui (1995, p.183) pode-se considerar a

mobilidade como resultado de uma seleção de indivíduos através de uma

série de mecanismos próprios de certos agentes como a família, a escola, a

Igreja, as burocracias. Essas instâncias controlam, orientam, determinam

diretamente a posição dos indivíduos dentro da sua estratificação própria.

O lugar e a importância desses agentes de seleção variam de sociedade

para sociedade. Para determinada mobilidade social, a família constitui

instância de orientação mais importante; para outra, é a Igreja ou o exército;

para uma terceira, é a escola e a competência adquirida no seio de certas

organizações.

MOVIMENTOS SOCIAIS

Segundo Alain Touraine (1995), os movimentos sociais se identificam

simultaneamente por um modo de ação, por um tipo de participantes e,

sobretudo, por um desafio. Segundo ele, os movimentos sociais consistem

de fato numa: 1- “ação conflitual”, 2- conduzida por um “ator de classe”, 3-

Page 87: 59069281 Apostila de Sociologia Geral

SOCIOLOGIA APLICADA

75

que se opõe a seu adversário de classe com vistas a fazer prevalecer uma

nova ordem de vida e de sociedade.

Exemplo de movimento social é o Movimento dos Sem-Terra no Brasil.

Este movimento consiste em um movimento político-social brasileiro cujos

integrantes vêm ocupando as terras improdutivas como forma de pressão

pela reforma agrária, reivindicando também empréstimos e ajuda para que

possam realmente produzir nessas terras. Apesar dos constantes conflitos

e massacres, hoje existem escolas em sua área de assentamento e

acampamento e um trabalho de alfabetização de jovens e adultos sem-terra.

Tem-se notícia também da formação de técnicos e de educadores em cursos

de nível médio e superior, assim como diversas outras iniciativas de formação

de sua militância e do conjunto da família Sem-Terra.

É interessante notar que a Constituição da República Federativa, em

seu inciso XXIII, do art. V, determina que a propriedade atenderá a sua

função social, ainda que o inciso anterior garanta o direito de propriedade.

Caso contrário, em se tratando de propriedade rural, haverá desapropriação

para fins de reforma agrária.

Assim, esperamos que você daqui para frente comece também a

associar esses conceitos com a sua realidade e o mundo que o envolve. Boa

sorte!

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de

estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-

lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no

processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as

respostas no caderno e depois as envie através do nosso

ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco!

LEITURA COMPLEMENTAR:

ANDRADE, C. D. de. Obra Completa. 4ª edição. Rio de Janeiro:

Nova Aguillar, 2000. 163p.

ANDRADE, O. A Descoberta. 2ª edição. Rio de Janeiro:

Civilização brasileira. 1971. 253p.

BOURDON, R. & Bourricaud F. Dicionário Crítico de Sociologia.

2ª edição. São Paulo: Ática, 2002. 653p.

BRECHT, B. Poemas. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1982. 224p.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 13ª edição. São Paulo: Ática,

1995. 424p.

FERREIRA G. Toda poesia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1980. 300p.

FREIRE, G. Casa grande & senzala. 7ª edição. Rio de Janeiro:

José Olympio, 1984. 294p.

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UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA

76

MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. 1ª edição.

Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.232p.

MORAES, V. de. Poesia completa e prosa. 4ª edição. Rio de

Janeiro: Nova Aguilar, 1988. 1597p.

ZOLA, É. Germinal. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1978.280p.

Terminamos nesta unidade os nossos estudos sobre a Sociologia

Aplicada. Daqui para frente, nos dedicaremos ao estudo da Sociologia

Aplicada ao Direito (como texto complementar).

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1

SOCIOLOGIA APLICADA

SOCIOLOGIA APLICADA

Graduação

EXERCÍCIOS

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SOCIOLOGIA APLICADA

CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES

UTILIZADAS PELA SOCIOLOGIA

EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO

1-Leia atentamente a estrofe do poema Banzo, de Menotti del Picchia.

“Ele fica na porta da senzala

de mão no queixo e cachimbo na boca varado de angústia,

olhando o horizonte,

calado, dormente,

pensando,

sofrendo,

chorando, morrendo.”

As palavras do poeta ilustram um momento de nossa história. Elas

exemplificam um caso de:

a) competição.b) conflito.c) acomodação.d) cooperação.e) mobilização social.

2-Observe a estrofe abaixo (Língua Portuguesa, de Olavo Bilac).

“Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!” E em que Camões chorou, no exílio

amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!”

Os versos exemplificam um caso de:

a) assimilação.b) adaptação.c) competição.d) cooperação.e) acomodação.

3-Leia, com atenção, a seguinte notícia:

Quinta-feira, Abril 22, 2004

Brasil: Governo quer impedir confrontos entre índios e garimpeiros na

Amazônia .

UN

IDA

DE 6

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26

UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS PELA SOCIOLOGIA

“Brasília, 21 de Abril - A Polícia Federal e as Forças Armadas iniciaram uma

operação conjunta em Rondônia para tentar solucionar os conflitos entre índios

e garimpeiros na Reserva Indígena Roosevelt, na Amazônia, anunciou o ministro

da Justiça do Brasil. Márcio Thomaz Bastos, que recebeu terça-feira

representantes de 35 tribos indígenas do Brasil, admitiu ter ‘há muito tempo’

informações de que os garimpeiros que exploravam diamantes nas terras

indígenas da etnia Cinta Larga corriam riscos. ‘0 governo tem há muito tempo

informações das dificuldades, dos problemas, dos riscos no garimpo Roosevelt.

É uma situação séria, que veio relegada de outros governos. Hoje, estamos a

começar uma operação que tem vindo a ser planejada desde julho do ano

passado’, afirmou. A Polícia Federal já resgatou 29 corpos de garimpeiros na

região, a 534 quilômetros da capital Porto Velho, e continuam as buscas por

mais vítimas do massacre na maior reserva de diamantes da América do Sul. “

(http://indios.bloQspot.com/2004)

A situação retratada consiste em:

a) cooperação.b) acomodação.c) assimilação.d) alienação.e) conflito.

4. Leia os seguintes versos de Comportamento Geral, de Gonzaguinha:

“Você deve aprender a baixar a cabeça / E dizer sempre: ‘Muito obrigado’

São palavras que ainda te deixam dizer / Por ser homem bem disciplinado / Deve

pois só fazer pelo bem da Nação / Tudo aquilo que for ordenado

Pra ganhar um Fuscão no juízo final / E diploma de bem comportado

Você merece, você merece

Tudo vai bem, tudo legal

Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabar em teu Carnaval’

Observa-se que o autor trata de:

a) alienação.b) conflito.c) consciência de classe.d) competição.e) cooperação.

5. Quando você lê uma notícia sobre a situação dos hospitais públicos que

não vêm atendendo às necessidades da população, é correto afirmar que

se trata:

a) de mobilização social.b) de afronta a um direito fundamental.c) de competição.d) do respeito à cidadania.e) ocorrência de justiça social.

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27

SOCIOLOGIA APLICADA

6. Cidadania consiste:

a) apenas na participação das decisões políticas.b) em não ser alienado.c) em opinar sobre a atual situação de nosso país.d) não só na luta pelos próprios direitos, mas também na efetivação des-

tes.e) apenas na observação de realidade.

7. A organização de uma festa de aniversário para uma pessoa feita por um

grupo de amigos é um caso de:

a) conflito.b) competição.c) cooperação.d) mobilização social.e) consciência de classe.

8. O conflito existente entre as classes sociais reflete:

a) a justiça social.b) o antagonismo social.c) cidadania.d) alienação.e) acomodação.

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO

1. A cidadania consiste apenas na luta por determinados direitos do homem?

Justifique sua resposta e exemplifique.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

2. Você deve ter observado que o termo ‘conflito’ relaciona-se a duas

situações bem distintas. Disserte sobre elas e exemplifique.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

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___________________________________________________________

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Questões Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3 Unidade 4 Unidade 5 Unidade 61 D D E B D C2 D D B E A B3 D A C D C E4 A E D B E A5 D D A A C B6 B D D E D D7 E B E C A C8 A E D E E B

OBS

GABARITOS DOS EXERCÍCIOS DAS UNIDADES DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA - ONLINE

questões 9 e 10 das unidades são subjetivas