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5ª AULA RELAÇÃO DE EMPREGO Na legislação brasileira podem ser indicados no texto do artigo 3º da CLT, onde é conceituado o empregado, como pessoa fisíca que presta serviço não eventual a empregador, sob dependência deste mediante salário. De outro lado, se analisado o texto do artigo 2º, onde é definido o empregador, ver-se-á a perfeita correspondência conceitual entre os dois sujeitos da relação de emprego, com ênfase, em relação ao ultimo, para assumir os riscos da atividade econômica. A relação de emprego então apresenta os seguintes traços: 1) a existência de alguém capaz de empreender atividade econômica e, no intuito de dela obter resultados, entre outros fatores necessários à empresa, empregar força humana de trabalho. 2) a inserção dessa força de trabalho na atividade empresarial, daí decorrente a pessoalidade da prestação, a não eventualidade dos serviços, a subordinação do empregado e o assalariamento. # ATIVIDADE ECONÔMICA A relação de emprego pressupõe a figura do empregador, daquele que emprega força de trabalho humana em sua empresa. Essa aptidão para empreender atividade econômica por sua conta e risco e pôr em sua esfera jurídica a força de trabalho do empregado, com faculdade de comandar a prestação pessoal de serviços, pressupõe auto- suficiência econômica, capital. Vejamos o seguinte exemplo, um pedreiro e seu auxiliar. Em regra o auxiliar trabalha sob orientação do pedreiro e comando profissional, cabendo também ajustar o valor dos serviços e receber o correspondente pagamento, repassando parte ao respectivo montante ao ajudante. Se formos apurar a fundo em que condições essas relações se estabelecem, veremos que esse profissional, suposto empregador, é tão hipossuficiente

5ª Aula Relação de Emprego T.39

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5ª AULA

RELAÇÃO DE EMPREGO

Na legislação brasileira podem ser indicados no texto do artigo 3º da CLT, onde é

conceituado o empregado, como pessoa fisíca que presta serviço não eventual a

empregador, sob dependência deste mediante salário. De outro lado, se analisado o texto do

artigo 2º, onde é definido o empregador, ver-se-á a perfeita correspondência conceitual

entre os dois sujeitos da relação de emprego, com ênfase, em relação ao ultimo, para

assumir os riscos da atividade econômica.

A relação de emprego então apresenta os seguintes traços:

1) a existência de alguém capaz de empreender atividade econômica e, no intuito de dela

obter resultados, entre outros fatores necessários à empresa, empregar força humana de

trabalho.

2) a inserção dessa força de trabalho na atividade empresarial, daí decorrente a

pessoalidade da prestação, a não eventualidade dos serviços, a subordinação do

empregado e o assalariamento.

# ATIVIDADE ECONÔMICA

A relação de emprego pressupõe a figura do empregador, daquele que emprega

força de trabalho humana em sua empresa. Essa aptidão para empreender atividade

econômica por sua conta e risco e pôr em sua esfera jurídica a força de trabalho do

empregado, com faculdade de comandar a prestação pessoal de serviços, pressupõe auto-

suficiência econômica, capital.

Vejamos o seguinte exemplo, um pedreiro e seu auxiliar. Em regra o auxiliar

trabalha sob orientação do pedreiro e comando profissional, cabendo também ajustar o

valor dos serviços e receber o correspondente pagamento, repassando parte ao respectivo

montante ao ajudante. Se formos apurar a fundo em que condições essas relações se

estabelecem, veremos que esse profissional, suposto empregador, é tão hipossuficiente

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quanto seu auxiliar, sem as mínimas condições de empreender uma atividade de risco,

porque nenhum investimento se realizou.

A luz do artigo 2º da CLT a auto-suficiência é capacidade de empreender uma

atividade produtiva, por sua conta e risco.

# NÃO EVENTUALIDADE

A lei fala em serviços de natureza não eventual, ou seja, serviços vinculados ao

objeto da atividade econômica, imprescindíveis à sua consecução. Serviços não-eventuais

são os serviços rotineiros da empresa, por isso, necessários e permanentes, vinculados ao

objeto da atividade econômica, independentemente do lapso de tempo em que são

prestados, contrario dos serviços eventuais.

Não é o lapso de tempo o seu fator determinante, mas a natureza do trabalho. O

exemplo de um eletricista que poderá permanecer trabalhando numa loja um mês inteiro, e

a balconista apenas um dia. O primeiro não será empregado porque na loja sua atividade é

eventual, já a segunda, é empregado, porque sua atividade está perfeitamente adequada à

rotina da loja.

Portanto, não importa o tempo, pois o trabalho não eventual é aquele naturalmente

inserido na atividade da empresa e é esse trabalho que constitui objeto da relação de

emprego.

# SUBORDINAÇÃO

A subordinação hierárquica é consequência natural da não eventualidade dos

serviços prestados pelo empregado. O trabalho subordinado contrapõe-se ao trabalho

autônomo, o primeiro é por conta alheia, o segundo por conta própria. A execução do

trabalho subordinado é continuada, no autônomo cessa a relação jurídica, tão logo obtido o

resultado esperado.

O artigo 3º da CLT não faz referência à subordinação do empregado, define-o como

sujeito que mantém sob dependência do empregador. A subordinação jurídica ou

hierárquica resulta a obrigação personalíssima de trabalhar, independentemente da

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qualificação profissional e da condição econômica ou socia l do prestador. Tal obrigação

não se limita ao ato de trabalhar, mas também de fazê- lo sob a direção e fiscalização de

outrem. Cuida-se de trabalho dirigido segundo o contrato.

Nem sempre essa situação de inferioridade hierárquica apresenta-se de forma clara.

Muitas vezes, os elementos caracterizados da subordinação jurídica do empregado (sujeição

a ordens, a fiscalização, a orientação e a disciplina), expressões visíveis do poder de

comando do empregador, são de difíceis percepção. Um exemplo disso seria os cargos de

altas patentes, gerentes regionais, de departamentos, e etc. A subordinação hierárquica

persiste e pode vir à tona a qualquer momento, basta que o empregador exercite seu poder

disciplinar de punir o empregado faltoso.

Desse encontro de energias, da certeza e da garantia de que tal encontro venha a

perdurar indefinida e permanentemente, através da atividade vinculada e/ou expectada,

surge a noção de trabalho subordinado que transcende a simples sujeição a ordens,

orientação e disciplina do empregador. O elemento que vincula o empregado ao

empregador é a atividade, a sua atividade, que é, em síntese, a execução do trabalho.

O poder de comando do empregador é desdobrado em várias facetas (poder de

regulamentar, de dirigir, de fiscalizar, de punir, de adequar a força de trabalho às

necessidades da empresa), em relação aos empregados. Há intimo relacionamento da

atividade não eventual com a subordinação hierárquica do empregado. O trabalho

emergencial não comporta a relação hierárquica, pois se exaure quando atingido o

resultado.

# PESSOALIDADE

A prestação de trabalho haverá de ser pessoal, o trabalhador que substitui ou sucede

outro trabalhador vincula-se à empresa por novo contrato de trabalho, não faz no contexto

do contrato substituído ou sucedido. A pessoalidade decorre da infungibilidade da prestação

laboral. É o próprio trabalhador o veículo da energia que se expressa no ato de trabalhar

direcionado pelo comando do empregador: ninguém pode entregar a força de trabalho pelo

qual outro se obrigou.

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A prestação de trabalho é personalíssima, porque o objeto do contrato de trabalho

não é o resultado do trabalho, mas o ato de trabalhar. Este somente se consubstancia através

de um homem trabalhando, daquele empregado, que se obrigou a entregar sua energia, a

trabalhar.

A subordinação hierárquica e a pessoalidade andam juntas, esta ultima nada mais é

do que fruto do ato de escolha de determinado empregado pelo empregador, no momento

da admissão no emprego. Já aí se manifesta a inferioridade hierárquica do empregado: ele é

escolhido, o empregador o escolhe.

# RISCOS DA ATIVIDADE ECONÔMICA

O empregador assume os riscos do empreendimento econômico. Embora a leitura

superficial do art. 2º da CLT possa levar ao equívoco de visualizar o empregador no sujeito

que admite, assalaria, e dirige a prestação pessoal dos serviços, a sua correta compreensão

permite concluir serem atributos, embora inerentes ao empregador, delegáveis a terceiros,

em nome e por conta do empregador. O que, efetivamente, tipifica o empregador é a

assunção dos riscos da atividade econômica. Admitir, assalariar, e dirigir a força de

trabalho são mera conseqüência dessa condição.

Há um diferença nas atividades do empregador e do empregado: enquanto o

empregado trabalha por conta alheia (do empregador), o empregador trabalha por conta

própria (de sim mesmo). O empreendimento econômico é por ele bancado e os respectivos

resultados são exclusivamente seus. Em contrapartida, eventuais prejuízos também são

apenas por ele suportados. Ao empregado, que aliena força de trabalho, é devida a

contraprestação salarial, independentemente dos resultados da empresa.

# O ASSALARIAMENTO

O trabalho na relação de emprego é de natureza produtiva. Não há lugar para

gratuidade, pois o trabalho de natureza cultural, esportiva, filantrópica, religiosa, política ou

voluntária não constitui objeto da relação de emprego. A expressão mediante salário

contida no artigo 3º da CLT deve ser tomada como reflexo da onerosidade da relação de

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emprego. A ausência de salário não caracteriza ausência de contrato de trabalho, mas

simples inadimplência de prestação principal do contrato. Tanto é que a lei supre a ausência

de ajuste salarial através do salário mínimo ou de critérios para sua fixação.

Em se tratando de trabalho prestado em favor de empresa, atividade econômica por

excelência, será sempre produtivo e, portanto, assalariado. Impensável admitir gratuidade

em tal contexto. Se o trabalhador foi admitido para entregar força de trabalho em atividade

econômica, está implícito que o fez na busca de salário.

As entidades sem finalidade econômica equiparam-se à empresa para os fins da

relação de emprego, à luz do artigo 2º, parágrafo 1º, da CLT, quando contratam

empregados. É certo, que tais entidades contam com a colaboração de pessoas que nela

exercem trabalho não eventual, sem caráter produtivo, vinculado às suas finalidades

culturais, esportivas, filantrópicas, políticas, religiosas, etc. Ao contrário do que ocorre na

empresa, onde a prestação de trabalho é presumivelmente onerosa, não há tal presunção em

favor de trabalho prestado no âmbito de instituições sem fins lucrativos, equiparadas a

empregador apenas quando contratam empregados para a consecução desses fins. Aqui

deve se ter cuidado de ver se o trabalho tem caráter profissional, ou se a atividade ali

praticada é decorrência da identificação com a causa de tais entidades.

As dificuldades quanto à prova do trabalho voluntário são poucas, a lei 9.608/1998,

define serviços voluntários como “atividade não remunerada prestada por pessoa física e

entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que

tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência

social, inclusive mutualidade”, insuscetível de gerar relação de emprego (art. 1º e parágrafo

único). O serviço de caráter voluntario deverá ser provado através de termo de

compromisso exigido no artigo 2º da Lei 9.608/1998, presumindo-se, na sua falta, a relação

de emprego.

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LEGISLAÇÃO :

CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

§ 1º - Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados.

§ 2º - Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e

cada uma das subordinadas.

Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

Parágrafo único - Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual.

LEI 9.608/1998

Art. 1º Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada

de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade.

Parágrafo único. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim.

Art. 2º O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o

objeto e as condições de seu exercício.