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ESCOLA SECUNDÁRIA SEBASTIÃO DA GAMAAno lectivo 2001/2002
Ficha de Avaliação SumativaPortuguês B
Ficha de Avaliação Sumativa
Grupo I
1
Agora tu, Calíope1, me ensinaO que contou ao Rei o ilustre Gama;Inspira imortal canto e voz divinaNeste peito mortal, que tanto te ama.Assi o claro inventor da Medicina2,De quem Orfeu pariste, ó linda Dama,Nunca por Dafne, Clície ou Leucothoe3
Te negue o amor divido, como soe4.
2
Põe tu, Ninfa, em efeito meu desejo,Como merece a gente Lusitana;Que veja e saiba o mundo que do TejoO licor de Aganipe5 corre e mana.Deixa as flores de Pindo6, que já vejoBanhar-me Apolo na água soberana;Senão direi que tens algum receioQue se escureça o teu querido Orpheio7.
3Prontos estavam todos escuitandoO que o sublime Gama contaria,Quando, despois de um pouco estar cuidando,Alevantando o rosto, assi dizia:«Mandas-me, ó Rei, que conte declarandoDe minha gente a grão genealosia;Não me mandas contar estranha história,Mas mandas-me louvar dos meus a glória.
Luís de Camões, Os Lusíadas.
1 Calíope: uma das nove Musas, chefiadas por Apolo; Calíope, que alguns autores querem inspiradora da poesia épica, era amada por Apolo.2 “claro inventor da Medecina”: Apolo.3 “Dafne, Clície ou Leucothoe”: três ninfas amadas por Apolo.4 “soe”: costuma.5 “O licor de Aganipe”: fonte que produzia inspiração poética.6 “Pindo”: monte consagrado a Apolo e às Musas.7 “Orpheio”: filho e Calíope e Apolo, tinha o poder de encantar, com a sua lira, toda a natureza.
1. Localize as estâncias na estrutura interna de Os Lusíadas.
2. Identifique o pedido que o poeta fez a Calíope.
3. Estão presentes, nestas três estâncias, diversos sentimentos.
3.1. Explicite os sentimentos manifestados pelo poeta.
3.2. Identifique os sentimentos revelados por Vasco da Gama.
4. Faça o levantamento dos principais recursos estilísticos da estância 1,
referindo o seu valor expressivo.
II Grupo
Numa composição cuidada, de 100 a 200 palavras, refira as influências
clássicas presentes na obra Os Lusíadas, privilegiando os modelos
clássicos, o assunto e a estrutura.
ESCOLA SECUNDÁRIA SEBASTIÃO DA GAMAAno lectivo 2001/2002
Ficha de Avaliação SumativaPortuguês B
Cenários de Resposta da 5ª Ficha de Avaliação Sumativa
1. As estâncias acima transcritas correspondem ao início do canto III
(estâncias 1-3), nas quais o poeta invoca a musa Calíope, musa da eloquência e
da poesia épica, para o ajudar em tão difícil tarefa (cantar os feitos do povo
lusitano). Estas estâncias constituem um corte na Narração (estância 19 até ao
fim da obra, do Canto I), que se reinicia a partir do quinto verso da terceira
estância, com o discurso do Gama ao rei de Melinde sobre a localização do Reino
Lusitano na Europa e na Península Ibérica, a História de Portugal e a viagem já
realizada desde Lisboa.
2. Tal como os deuses tinham decidido em Consílio (canto I), a armada
portuguesa encontra um lugar para descansar na costa africana, em Melinde,
onde os navegadores são muito bem acolhidos por toda agente, em especial pelo
rei que já tinha conhecimento da fama dos portugueses. O rei revela a Vasco da
Gama a sua vontade de conhecer melhor o povo lusíada e pede que este lhe
conte tudo sobre a sua pátria.
É por isso que o canto III abre com uma nova invocação, desta vez a
Calíope, musa da epopeia e da eloquência, a quem o Poeta pede que o ensine a
narrar com exactidão aquilo que Vasco da Gama contou ao rei de Melinde («Agora
tu, Calíope, me ensina/O que contou ao Rei o ilustre Gama;», estância 1, vv.1-2),
recorrendo a influências clássicas ligadas à inspiração como a fonte “Aganipe” ou
ao dom de ser escutado como “Orfeu”, filho de Apolo e Calíope.
3.
3.1. N’ Os Lusíadas encontram-se bem patentes os sentimentos
manifestados pelo poeta que, regra geral, surgem sempre no fim de cada canto.
Todavia, no início do canto em questão, estes são bem evidentes: Camões
demonstra que o contar os feitos do povo lusíada é trabalho árduo, de grande
responsabilidade e orgulho, dada a grandiosidade da história (« Põe tu, Ninfa, em
efeito meu desejo,/Como merece a gente Lusitana;/Que veja e saiba o mundo que
do Tejo/O licor de Aganipe corre e mana.», estância 2, vv1-4). Porém, o poeta
revela também uma certa preocupação, porque precisava de «imortal canto e voz
divina» (estância 1, v.1).
3.2. A partir da terceira estância deste canto (vv.5-8), há uma mudança de
narrador da acção, pois deixa de ser o Poeta, para ser Vasco da Gama. Vasco da
Gama revela nas suas palavras o prazer que tem em contar ao rei a história do
seu povo: «Mandas-me, ó Rei, que conte declarando/De minha gente a grão
genealosia; /Não me mandas contar estranha história, /Mas mandas-me louvar
dos meus a glória.» (estância III, vv.4-8); porém, o navegador português uma
certa preocupação e embaraço por ter de louvar os seus compatriotas: «Quando,
despois de um pouco estar cuidando, (…) /Mas mandas-me louvar dos meus a
glória.» (estância III, vv. 3 e 8).
4. Os principais recursos estilísticos presentes na estância 1 são a apóstrofe
(«Agora tu, Calíope,», v.1), a antítese («Inspira imortal canto e voz divina/Neste
peito mortal, que tanto te ama.», vv.3-4) e os verbos no Imperativo ( ex:
«ensina», «inspira»). Estes recursos contribuem para que na Invocação se
verifique o predomínio da função apelativa da linguagem, que é própria do
discurso que pretende convencer alguém.
II Grupo
A narrativa épica Os Lusíadas constitui um dos maiores legados da época
renascentista devido às influências da cultura greco-latina.
Publicada numa altura em que o império português mostrava já sinais
evidentes de crise e ruína, a nossa epopeia canta a glória do povo português, com
incidência no seu período de maior fulgor – a época dos Descobrimentos,
representada pela viagem de Vasco da Gama em 1498.
A obra camoniana Os Lusíadas é, habitualmente, considerada uma «epopeia
de imitação» pois, segue os modelos das chamadas epopeias clássicas, isto é, a
Ilíada e a Odisseia de Homero, bem como da Eneida de Virgílio, que Camões
chega a seguir de muito perto em alguns episódios. Com efeito, ao elaborar esta
obra Camões pretendia imortalizar os feitos do povo português, elogiar a bravura
e a coragem daqueles que deram a vida pela pátria. Deste modo, o autor recorre
ao início “in medias res”, às alusões ao plano dos deuses, à organização da obra
em dez cantos de oitavas decassilábicas, contendo Proposição, Invocação,
Dedicatória e Narração para evidenciar o estilo rigoroso e eloquente da sua obra,
bem como das próprias epopeias em que se inspirou.
Em suma, Os Lusíadas apresentam-se como uma obra única que soube aliar
conteúdos de épocas anteriores, de forma sublime e verídica.
ESCOLA SECUNDÁRIA SEBASTIÃO DA GAMAAno lectivo 2001/2002Português B – 10º Ano
Professora: Patrícia Gonçalves Turma: H
Cotações da 5ª Ficha de Avaliação Sumativa
I Grupo
Questões de Interpretação...................................... 140 pontos
1. .................................................................................. 35 pontos
Conteúdo ( 25 pontos )
Organização e correcção linguística ( 10 pontos )
2. ................................................................................. 30 pontosConteúdo ( 20 pontos )
Organização e correcção linguística ( 10 pontos )
3. ................................................................................. 50 pontos
3.1 …………………………………………………………… 25 pontos Conteúdo ( 15 pontos )
Organização e correcção linguística ( 10 pontos )
3.2 ………………………………………………………… 25 pontos
Conteúdo ( 15 pontos )
Organização e correcção linguística ( 10 pontos )
4. ............................................................................... 25 pontos Conteúdo ( 20 pontos )
Organização e correcção linguística ( 15 pontos)
II Grupo
Produção de um texto expositivo – informativo....... 60 pontos
Conteúdo (36 pontos)
Organização e correcção linguística (24 pontos)