60_Ordenamento Territorio e Desenvolvimento Rural

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    ndice

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    ficha tcnica Caderno Pessoas e Lugares

    publicao Rede Portuguesa LEADER+

    propriedade IDRHa (Av. Afonso Costa, 3 - 1949-002 Lisboa Tel.: 21 844 22 00)

    conselho editorial Rede Portuguesa LEADER+

    redaco Joo Limo (INDE), Maria do Rosrio Aranha (INDE), Paula Matos dos Santos (INDE)

    colaboraes Antnio M. Machado (ADRAT), Glria Diniz (IDRHa), Joo Rocha Pinho (CNR), Maria Jos Curado(CIBIO), Maria do Rosrio Serafim (IDRHa), Marta Alter (Monte), Rita Vacas (ADL), Susana Paulo(CNR),Teresa Andresen (CIBIO),

    fotografias capa: Pauliana Pimentel (fotografia de Palmela)interior: Pauliana Pimentel (pp. 2, 6 e 7) / ADRAT (pp. 11 e 12) / Monte (p. 14) / ADL (p. 15) / Pedro

    Jesus, Associao dos Produtores Florestais da Serra do Caldeiro (p. 18) / Joo Paulo Sotto Mayor (pp. 22e 23) / Glria Diniz (p. 25)

    concepo grfica Diogo Lencastre (INDE)

    impresso Europress (R. Joo Saraiva, 10A - 1700-249 Lisboa Tel.: 21 844 43 40)

    tiragem 2 000 exemplares

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    editorial

    entrevista

    A Poltica de Ordenamento do Territriopor Francisco Nunes Correia, Ministro do Ambiente, do Ordenamento do

    Territrio e do Desenvolvimento Regional

    o leader e o ordenamento do territrio

    Ordenamento do Territrio e Desenvolvimento Ruralde Joo Limo, Paula Santos e Maria do Rosrio Aranha, jornalistas da INDE

    Da proximidade do Ordenamento do Territrio e do DesenvolvimentoRural, por Antnio M. Machado, ADRAT

    Ordenamento do Territrio - Instrumento de uma Estratgia deDesenvolvimento Local, por Marta Alter, MONTE

    Planeamento Territorial escala regional/local na sub-regio doAlentejo Litoral, por Rita Vacas, ADL

    uma poltica inovadora

    O planeamento da recuperao de reas ardidasA experincia da Equipa de Reflorestao (2004-2006)por Joo Pinho e Susana Paulo, membros do Conselho Nacional de Florestao

    um caso exemplar

    Plano Intermunicipal de Ordenamentodo Territrio do Alto Douro VinhateiroUm plano valorizador do carcter da paisagempor Teresa Andresen e Maria Jos Curado da Faculdade de Cincias do Porto edo Centro de Investigao em Biodiversidade e Recursos Genticos

    sntese

    Enquadramento do Ordenamento do Territrio nas vertentespoltica, estratgica e jurdicapor Glria Diniz, IDRHa

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    editorial

    edio dos Cadernos Temticos PESSOAS E LUGARES, da REDE PORTUGUESA LEADER+, resulta dointeresse manifestado pelos Grupos de Aco Local (GAL) em aprofundarem temticas fundamentais para o

    desenvolvimento das zonas rurais, onde se incluem as questes relativas ao ordenamento do territrio. Estareflexo, dinamizada atravs de diferentes meios, como sejam o tratamento temtico do ordenamento doterritrio num nmero do jornal da Rede (Jornal Pessoas e Lugares), a realizao de um seminrio sobre estetema, a edio de uma brochura com a sistematizao e aprofundamento dos temas abordados nesse seminrioconstitui esta edio, mais um contributo para se atingir esse objectivo. Na verdade, estando a poltica deordenamento ligada ao desenvolvimento e revitalizao dos territrios rurais e aliada a algumas das suas situaesmais problemticas, como sejam, a defesa dos ecossistemas e biodiversidade, a preservao dos recursos naturaise da paisagem, a preveno de incndios florestais, o combate desertificao, entre outros, a sua aplicaoefectiva e coerente ser certamente um valioso contributo para a concretizao do nvel de competitividadedesejvel que Portugal deve atingir, em harmonia com os objectivos de coeso e equidade social.

    Para tal, concorre o interesse em se articularem as aces locais desenvolvidas pelos GAL com estratgias maisamplas ao nvel regional e, mesmo, nacional. Os GAL so, em si, um espao de parceria e articulao que podeser fundamental para a harmonizao de diferentes sensibilidades, participao das populaes e envolvimentodos diversos actores, dinmicas requeridas pelos actuais processos e metodologias de ordenamento. Nestaperspectiva, o papel deste grupos pode ser relevante dado o amplo e minucioso conhecimento que tm dosterritrios, assim como a sua prpria natureza e constituio.

    A implementao dos diferentes instrumentos de gesto do territrio, alguns j em fase de consulta pblicacomo o Programa Nacional da Poltica de Ordenamento do Territrio ou os Planos Sectoriais de grandeabrangncia territorial, como sejam, os Planos Regionais de Ordenamento Florestal, o Plano Sectorial da RedeNatura e o Plano Regional do Algarve, ou outros, em incio de elaborao como sejam, os Planos Regionais deOrdenamento do Territrio do Norte, Centro, Oeste e Vale do Tejo e do Alentejo, aps os quais devero serrevistos os Planos Directores Municipais (PDM), so ferramentas essenciais para a preservao e valorizaodo ambiente e melhoria da qualidade de vida das populaes.

    Assim, reconhecendo-se que o desenvolvimento local est operacional e estrategicamente ligado s questes deordenamento do territrio e que os novos modelos de regulao e planeamento envolvem, como sabemos,regras e comportamentos relacionados com a abordagem ascendente, localizada, integrada, em parceria e emrede, o papel dos GAL pode revestir-se de grande significado nos processos de gesto e sustentabilidadeeconmica, social e ambiental das zonas rurais. Por outro lado, todos reconhecemos que o desenvolvimentosustentvel, sendo uma prioridade para os territrios rurais, exige uma abordagem policntrica e mltipla com aparticipao de todos quantos se empenham na busca de solues adequadas e duradouras para as zonas rurais.Sob este ponto de vista, a experincia adquirida por estas associaes constitui um valor acrescentado de inegvelinteresse, tanto no que se refere diversificao e valorizao de produtos e de iniciativas, como na criao decondies para, a nvel local, se concertar a cidadania com a afirmao da autonomia com responsabilidade e, emltima anlise, para se reforarem os processos de governana local.

    Os artigos includos neste caderno temtico so contributos importantes para o aprofundamento do debatesobre o ordenamento e da sua importncia para o desenvolvimento das reas do interior, com respeito peloequilbrio do meio envolvente, da paisagem, da conservao da natureza ou, ainda, na perspectiva da melhoriada atractividade das zonas mais pobres e perifricas e da fixao das populaes rurais. Deste modo,destacamos a importncia e actualidade da perspectiva governamental, dado pelo Sr. Ministro do Ministrio doAmbiente, Ordenamento do Territrio e do Desenvolvimento Regional (MAOTDR), Eng. Nunes Correia,assim como um conjunto de outros artigos relacionados com algumas solues inovadoras, relacionadas comesta matria, como sejam, o ordenamento, gesto e proteco de espaos florestais, a participao eenvolvimento dos agentes locais e dos diferentes servios pblicos no planeamento e gesto de algumasmedidas de ordenamento, a integrao da actividade econmica, dos recursos solo, gua e biodiversidadenuma paisagem cultural nica, traduzida no Plano Intermunicipal do Alto Douro Vinhateiro.

    Maria do RMaria do RMaria do RMaria do RMaria do Rosrio Serafimosrio Serafimosrio Serafimosrio Serafimosrio Serafim

    Coordenadora da Rede Portuguesa LEADER+

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    Francisco Nunes Correia, Ministro do Ambiente, do Ordenamentodo Territrio e do Desenvolvimento Regional

    A Poltica de

    Ordenamento do TerritrioEm tempo de aplicao da Lei de Bases de Ordenamento do Territrio e DesenvolvimentoUrbano, nomeadamente o Plano Nacional da Poltica de Ordenamento do Territrio(PNPOT) e o incio dos trabalhos de elaborao dos Planos Regionais de Ordenamentodo Territrio, instrumentos estratgicos de planeamento e ordenamento do territrio, aRede Portuguesa LEADER+ convidou para uma entrevista o responsvel destas polticas,o Prof. Francisco Nunes Correia, Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Territrio edo Desenvolvimento Regional. A sua relevante experincia nestas matrias, a par daconcepo e realizao de estudos aprofundados, confere-lhe uma significativaautoridade sobre o planeamento e ordenamento do territrio em Portugal, aspecto que

    se reconhece como muito vlido para o presente Caderno Temtico.

    entrevista

    ordenamento do territrio (OT) suportadopelos Planos Directores Municipais (PDM) de

    primeira gerao, elaborados numa perspectiva urbana,em detrimento de uma perspectiva rural. Com a nova

    legislao de OT (Lei de Bases de Ordenamento doTerritrio e de Urbanismo e o regime jurdico dosinstrumentos de gesto territorial) nos instrumentosestratgicos nela criados, nomeadamente os Planos

    Regionais de Ordenamento do Territrio (PROT), quese do orientaes para a reviso dos PDM. Qual oenquadramento e mbito territorial dos PlanosRegionais de Ordenamento do Territrio e para quando esperada a deciso acerca da sua elaborao?

    A nossa poltica de ordenamento do territrio assentanum sistema de gesto territorial organizado essencial-mente em trs mbitos: nacional, regional e municipal.O mbito regional concretizado atravs dos PROT,

    que desempenham assim o papel fundamental decharneirado sistema.Em conjunto com o Programa Nacional da Poltica deOrdenamento do Territrio (PNPOT), que constitui

    GLRIA DINIZIDRHa

    MARIA DO ROSRIO ARANHAINDE

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    entrevista

    O princpio da participao informada, activae responsvel dos cidados e das instituies

    nos processos de planeamento e ordenamentodo territrio est consagrado num dos seisobjectivos estratgicos do programa de

    polticas do PNPOT

    a cpula e o quadro de referncia estratgico de todoo sistema, os PROT definem as grandes opes deorganizao e desenvolvimento do territrio, promo-

    vem a integrao das polticas sectoriais com incidncia

    nas regies e definem orientaes para os diversosPlanos Municipais de Ordenamento do Territrio(PMOT), em particular os PDM.No continente, a elaborao dos PROT compete sComisses de Coordenao e Desenvolvimento Re-

    gional (CCDR), que devem envolver nesse processoos diferentes sectores da administrao, os municpiose a sociedade civil.Existir um PROT para cada uma das cinco Regies:Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algar-

    ve. Os PROT podero ser estruturados internamentepor sub-regies. No caso particular da sub-regio doOeste e Vale do Tejo, haver um PROT especficoarticulado com o da Regio Metropolitana de Lisboa.O perodo da actual legislatura (2005-2009) constituirum marco fundamental na institucionalizao da polticade ordenamento do territrio, por trs razes: primei-ra, o PNPOT foi aprovado pelo governo para efeitosde discusso pblica e ser apresentado sob a formade Proposta de Lei Assembleia da Repblica aindaem 2006; segunda, a elaborao ou reviso do conjuntodos PROT foi desencadeada e concluir-se- at ao finalde 2007; e, terceira, a reviso dos PDM, em coernciacom as orientaes do PNPOT e dos PROT, deverconcluir-se no horizonte da legislatura. Portugal dispor

    assim, pela primeira vez, de um sistema coerente ecompleto de instrumentos de gesto territorial.

    >>>>> Um dos problemas da Reserva Ecolgica Nacional(REN) , para alm da sua desajustada demarcaoem termos tcnicos, a sua regulamentao bastanterestritiva. Para que a sua gesto no constitua umtravo s actividades desenvolvidas no territrioquestiona-se se est prevista, e para quando, a revisoda Lei da REN, de modo a permitir a compatibilidadeentre as necessidades de desenvolvimento dosterritrios rurais e a defesa dos ecossistemas?

    A REN, apesar das opinies dos seus detractores,constitui um instrumento muito importante no quadrode um ordenamento do territrio sustentvel, e temem vista a preservao de reas relevantes em termos

    de proteco dos processos ecolgicos, dos recursosnaturais e da paisagem, revestindo-se de um carcterpioneiro, implementado desde a dcada de noventa.No entanto, foi j identificada a sua excessiva rigidez

    em termos regulamentares, levando a que seja vista,em alguns sectores, como um travo ao desenvolvi-mento. A reviso da legislao relativa a esta figuraregulamentar, flexibilizando-a e criando condiespara a sua compatibilizao com usos e actividadesque no afectem os recursos e processos naturais eecolgicos que se pretendem salvaguardar, surgeassim como uma das principais prioridades deste Go-

    verno, a nvel do ordenamento do territrio. Nestesentido, desenvolveu-se, numa primeira fase, umaproposta de alterao do actual regime, que, com baseem trabalhos anteriores de diagnstico da situao,foi objecto de adaptao ao contexto actual da suaaplicao, bem como de uma consulta alargada a vriasentidades, que j se encontra concluda e aguarda pu-blicao. Nesta fase, foi identificado um conjunto deusos e aces, nos domnios das actividades agrcolae florestal, tursticas, de recreio e lazer, de implantaode infra-estruturas, entre outras, que em certa dimen-so ou grau, se considera poderem ser compatveiscom a capacidade de carga de alguns tipos de reasintegradas na REN, e que podero ser autorizados;nalguns casos mais leves, no requerendo qualquer

    tipo de autorizao, noutros, com comunicao enoutros ainda sujeitos autorizao prvia da entidade

    competente, que neste caso so as CCDR.Com esta alterao, flexibilizam-se muitas das situaesque, at actualmente requeriam, para a sua localizao,a designao como RIP (reconhecimento de interessepblico), possibilitando a instalao de actividades quese considera no prejudicarem o equilbrio ecolgicodestas reas, definindo-se as regras para a sua utilizao,e que por outro lado sero importantes para o desen-

    volvimento scio-econmico das reas em causa. Paradar exemplos, aces como a construo de apoiosagrcolas, como estbulos, armazns ou queijarias, estu-fas ou construo de habitao para residncia de agri-

    cultores, podero ser implantados em certas reas daREN, de acordo com regras claras e transparentes.Simultaneamente, estamos a desenvolver uma revisoda legislao da REN mais abrangente, preservando

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    entrevista

    o seu mbito nacional, com a redefinio dos seusprincpios e critrios de demarcao, dos modelosde gesto e de integrao eficaz e coerente no sistemade ordenamento territorial que o Ministrio est alevar a cabo, e que ser concretizada logo aps a etapaatrs referida. Deste modo se pretende concretizara necessria complementaridade entre a protecodo equilbrio ecolgico e o desenvolvimento dos terri-

    trios rurais.

    >>>>> No o momento de se pensar a ReservaAgrcola Nacional (RAN), de acordo com a finalidadeinicial de reserva estratgica de solos de produo debens alimentares, constituda por solos de maiorespotencialidades agrcolas ou que foram objecto de

    importantes investimentos destinados a aumentar asua capacidade produtiva, mas tambm por reasafectas a fileiras importantes em termos econmicoscomo regies vitivincolas, olivcolas, hortcolas ououtras de grande potencial?

    A RAN e a REN constituem instrumentos importantesporque os nicos modelos de desenvolvimento a longoprazo sustentveis tero de ser aqueles que assentamna preservao e valorizao dos recursos naturais, eno aqueles que so dilapidadores desses recursos.Estabelecemos a reviso da REN como uma das priori-dades do Ministrio do Ambiente, do Ordenamento

    do Territrio e do Desenvolvimento Regional e estamosa trabalhar nela, e consideramos que seria desejveluma articulao com a reviso da RAN na perspectivados desafios e problemticas que se colocam ao mundorural e ao desenvolvimento das actividades agrcolas eflorestais, iniciativa essa que cabe ao Ministrio da

    Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas.

    >>>>> Na ltima dcada e decorrente da sada dalegislao atrs referida tem-se assistido elaboraode Planos Sectoriais, definidores da estratgia paracada sector. Dentro destes h uns quantos com umatraduo espacial mais abrangente como o PlanoNacional Rodovirio, o Plano Nacional da guadesagregado nos diferentes Planos de Bacia

    Hidrogrfica, o Plano Desenvolvimento Sustentvel daFloresta com os respectivos Planos RegionaisOrdenamento Florestal e o Programa Sectorial daRede Natura 2000, estes dois ltimos em fase final deelaborao. Relativamente aos Planos de BaciaHidrogrfica questiona-se se a ocorrncia de fogosflorestais, em 2003 e 2005, e de perodosprolongados de seca, exigem alteraes sorientaes, opes ou medidas preconizadas nestesplanos e a sua adequao s mudanas verificadas?

    A elaborao dos planos de bacia hidrogrfica corres-pondeu a uma etapa relevante no domnio da chamada

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    primeira gerao de planeamento e gesto de recursoshdricos, lanada na segunda metade da dcada de 90,e que envolveu a mobilizao de um vasto conjunto demeios e recursos humanos que culminaram, entre 2001e 2003, com a finalizao do Plano Nacional da gua ede 15 planos para as bacias hidrogrficas para Portugalcontinental. Recentemente, a transposio da DirectivaQuadro da gua, atravs da Lei n 58/2005 de 29 deDezembro, veio criar novos instrumentos e metas,como sejam a elaborao dos Planos de Gesto de BaciaHidrogrfica (PGBH), a desenvolver at 2009, bemcomo a possibilidade de desenvolver planos especficospara determinadas situaes, os Planos Especficos daGesto da gua (PEGA). Embora com novasdesignaes, a tarefa do planeamento tem que sercontnua e adaptativa, pelo que as questes relacionadascom as situaes de seca e de stresshdrico j estoidentificadas nos instrumentos vigentes, e foramobjecto de medidas de actuao especfica no Programade acompanhamento e mitigao dos efeitos da Seca2005, desenvolvido no ano passado, tendo tambm sidoidentificadas as medidas de mbito geral e sectorial a

    tomar na ocorrncia de condies futuras destefenmeno extremo. Essas medidas esto a informar anecessria actualizao dos planos de bacia hidrogrfica

    tendo em vista a elaborao dos PGBH, criadas pelanova Lei da gua, que em si prpria prev medidas

    especficas para a proteco de situaes extremascomo as secas e cheias. Existe tambm, actualmente,a conscincia da necessidade de articulao de medidase actuao conjunta em diversos sectores da Admi-nistrao, nomeadamente no que refere ao risco deincndios, pese embora o facto de as medidas de com-bate estarem sobretudo a cargo de outros sectores, apreveno tem e j est a ser encarada de modo global,atravs de estratgias concertadas nos domnios dagua, do solo, da gesto de resduos e do sectorflorestal.

    >>>>> No que se refere gesto de reas classificadas comostios da Lista Nacional de Stios e Zonas de ProtecoEspecial para a Avifauna (ZPE), esperava-se com o PlanoSectorial que fossem ponderados os problemas causadospela gesto destes valores nas actividades desenvolvidasnos territrios, o que no aconteceu e est reflectido noparecer final na Comisso Mista de Coordenao (CMC)da elaborao deste plano. No se dever definir regrasde gesto precisas por espcie e habitat, e identificaractividades compatveis com os valores em presena?No ser tambm importante ponderar os interessesque convergem no territrio com os objectivos da Rede

    Natura 2000?O Plano Sectorial da Rede Natura 2000, cuja discussopblica terminou em Maro e da qual est ser elabora-do o relatrio de ponderao, engloba um relatrio

    final, fichas dos valores naturais (espcies e habitatsnaturais), fichas de Stios e de ZPE (Zonas de Pro-

    teco Especial para avifauna) bem como cartografiade distribuio dos valores e das orientaes de gestoque a eles se aplicam. As fichas de valores naturaisestabelecem as regras de gesto por espcie e porhabitat que depois so incorporadas por Stios e ZPEconforme os valores em presena. Os interesses queconvergem no territrio foram ponderados na elabo-rao do Plano Sectorial, que acompanhado por umaComisso Mista de Coordenao com representantesde vrios Ministrios, da ANMP, e das ONGA. Todaviaconvir no esquecer que estamos em presena de

    valores, em muitos casos nicos, e que constituem onosso patrimnio comum.

    >>>>> A partir de 2007 haver um novo pacotefinanceiro (decorrente do novo quadro comunitrio),que inclui pagamentos natura aos produtoresagrcolas e florestais para as reas includas na RedeNatura, como pretende que seja agilizado o processodo Plano Sectorial, de modo a estarem definidas rease regras de gesto para cada valor natural,contribuindo assim para a manuteno e salvaguardados valores naturais desta rede?

    O novo pacote financeiro 2007-2013 prev, especifi-camente, atravs do eixo 2 do Fundo Europeu Agrco-la para o Desenvolvimento Rural (FEADER), contribuirpara o financiamento da Rede Natura 2000. Tal poderser efectuado recorrendo a diversos mecanismoscomo as medidas agro-ambientais, silvo-ambientais eos pagamentos natura.Neste mbito, o Instituto de Conservao da Nature-za (ICN) encomendou durante o passado ano umestudo ao Instituto Superior de Agronomia (ISA) coma finalidade de obter orientaes estratgicas de ndoleagrcola e florestal, enquadrveis neste regulamentoe que permitem integrar reas e regras de gesto daRede Natura 2000, articulando a necessidade e obriga-

    toriedade de preservar os valores naturais com ossistemas de gesto agro-florestal existentes.Estando o nosso pas situado na regio mediterrnica,

    verifica-se, na maior parte dos casos, uma clara relaoentre os sistemas de uso do solo, ou seja a actividadehumana, e os valores naturais. Nestas condies asorientaes de gesto que emanam do Plano Sectorialpodem ser integradas sob a forma de incentivos deapoio para alterar, adequar ou manter as actividadessem prejuzo dos valores naturais, ou seja de umaforma sustentada.

    A adeso a este conjunto de medidas ser voluntria,

    mas sendo a gesto da Rede Natura 2000 uma questoprioritria em termos europeus, os nveis de apoiosdevero ser, necessariamente, aliciantes para garantir

    taxas de adeso significativas.

    entrevista

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    >>>>> Qual ter sido a contribuio do OT para odesenvolvimento das reas rurais? O que poder serfeito no futuro neste mbito?

    A poltica de ordenamento do territrio incide tantonas reas urbanas como nas reas rurais e evita a dicoto-mia rural-urbano que, nos dias de hoje, inadequadapara compreender os territrios e a sociedade e, por-

    tanto, para agir no sentido do seu desenvolvimento.Alm disso, deve contribuir para interligar as vrias pol-ticas com incidncia territorial, aliando-se, em particular,s que visam especificamente o desenvolvimento dosespaos e dos recursos rurais, agrcolas e florestais.No se trata apenas de proteger e valorizar recursos

    vitais como o solo ou a gua, ou de garantir o ordenamen-

    to fsico do territrio. Estas misses so fundamentais.Mas importa igualmente criar condies de desenvolvi-mento econmico e social s escalas regional e local,com a participao activa dos cidados e das instituiespblicas, associativas e privadas que os representam.Esta viso abrangente da relao da poltica de ordena-mento do territrio com o desenvolvimento das reasrurais est inscrita no PNPOT e dever orientar

    tambm a elaborao dos PROT e dos PDM de novagerao, que se pretendem mais estratgicos e maisatentos diversidade de espaos e potencialidadesdos territrios municipais.Em concreto, o que se pretende , por um lado, aco-lher nos instrumentos de gesto territorial de carcterestratgico as orientaes e prioridades definidas pelaspolticas desenvolvimento rural e de ordenamentoagro-florestal e, por outro lado, incentivar os PDM adesenvolverem e concretizarem, no modelo de orga-nizao espacial do territrio municipal e na respectivaplanta de ordenamento, a definio de estratgias eopes para o espao rural e os correspondentesdispositivos de programao da execuo.

    >>>>> Uma das crticas mais frequentes em relao aoprocesso de OT o tempo de elaborao e aprovao

    dos instrumentos de gesto territorial, que os tornadesajustados e desactualizados quando entram emvigor. O que pretende fazer para obviar este problema?

    O governo d ateno prioritria melhoria do sistemade planeamento e gesto territorial na base da conju-

    gao dos critrios de simplificao e eficincia.As medidas que iro ser adoptadas permitiro encur-tar o tempo de elaborao e aprovao dos planos,em particular dos PDM, sem prejudicar a sua eficciae o pleno exerccio dos direitos de participao porparte dos representantes dos interesses econmicos,sociais, culturais e ambientais. Esto j consagradas e

    parcialmente especificadas no programa de aco doPNPOT e assentaro, nomeadamente, na agilizaoe na antecipao temporal dos procedimentos de con-sulta pblica e de concertao.

    entrevista

    >>>>> Quais os mecanismos planeados para mobilizar eenvolver os agentes locais de desenvolvimento, taiscomo as associaes gestoras do programa LEADER+que incluem um leque representativo de parceiroslocais, na participao da elaborao e reviso deplanos municipais de ordenamento do territrio emesmo de outros planos de mbito regional e local?

    O princpio da participao informada, activa e respon-

    svel dos cidados e das instituies nos processosde planeamento e ordenamento do territrio estconsagrado num dos seis objectivos estratgicos doprograma de polticas do PNPOT. Naturalmente,entre essas instituies contam-se as associaes dedesenvolvimento local e, em particular, as que se tmdestacado no mbito do programa LEADER.No plano prtico, as respostas devem ser encontradasquer atravs da composio e funcionamento dasComissesMistas de Coordenao,que acompanhama elaborao dos planos, quer dos procedimentos deconsulta prvia, de concertao e de discusso pblicae do modo como so tratadas e acolhidas as sugestes,pretenses e reclamaes apresentadas pelos cida-dos e agentes locais de desenvolvimento.Neste sentido, salvaguarda-se sempre o princpio daparticipao mas respeita-se tambm o princpio dasubsidiariedade, o que significa descentralizar respon-sabilidades e adoptar solues adequadas diversida-de dos territrios e dos planos.Por exemplo, no caso das recentes RCM n. 29/2006,30/2006 e 31/2006, de 23 de Maro, que determina-ram a elaborao de PROT, respectivamente, para aregio Norte, para o Oeste e Vale do Tejo e para aregio Centro, a composio das ComissesMistas

    de Coordenaocontempla sempre a representaode associaes de desenvolvimento, mas apresentaalguma diversidade em funo da especificidade dombito territorial de cada PROT.

    Portugal dispor, pela primeira vez,de um sistema coerente e completo

    de instrumentos de gesto territorial

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    om o fim de inverter ou, pelo menos, travar astendncias crescentes de polarizao urbana e

    de litoralizao lanou-se um desafio aos resistentes

    do mundo rural: implementar uma estratgia para odesenvolvimento integrado e sustentvel de um

    territrio. O LEADER ancora e apoia, desde sempre,a sua aco no terreno do desenvolvimento ruralatravs de um modus operandi, composto por seteprincpios essenciais: a abordagem territorial, aabordagem ascendente, a parceria horizontal e entresectores privado e pblico, o carcter inovador dasaces, a ligao entre as aces abordagemintegrada multisectorial, a instalao em rede e acooperao transnacional e as modalidades de gestoe financiamento. Em muitos aspectos, as sete

    especificidades do programa LEADER podem serviros fins da poltica de ordenamento do territrio (OT)e de urbanismo, nomeadamente, em termos dereforo da coeso nacional, organizando o territrio,

    corrigindo as assimetrias regionais e assegurando aigualdade de oportunidades dos cidados no acessos infra-estruturas, equipamentos, servios e funes

    urbanas; de valorizao integrada das diversidades doterritrio nacional; de aproveitamento racional dosrecursos naturais, preservao do equilbrio ambiental,humanizao das cidades e funcionalidade dos espaosedificados; de defesa e valorizao do patrimniocultural e natural; de promoo da qualidade de vidae garantia de condies favorveis ao desenvolvimentodas actividades econmicas, sociais e culturais; desalvaguarda e valorizao das potencialidades do espa-o rural, contendo a desertificao e incentivando acriao de oportunidades de emprego1. Por outro la-do, a poltica de OT obedece a princpios gerais, prxi-

    mos da filosofia LEADER: de sustentabilidade, de eco-nomia, de articulao com polticas de desenvolvimen-to econmico e social, bem como polticas sectoriais,de subsidariedade, de participao atravs do acesso

    Ordenamento do Territrioe desenvolvimento rural

    Quando em 1991, a Iniciativa Comunitria LEADERabraou a causa do desenvolvimento rural, j os processosde desertificao fsica e social tinham tomado conta deboa parte da paisagem rural portuguesa.

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    o leader e o ordenamento do territrio

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    o leader e o ordenamento do territrio

    informao, de responsabilidade, de contractualiza-o2. Antnio M. Machado, coordenador da ADRAT- Asso-ciao de Desenvolvimento da Regio do AltoTmega (ler pp.11-12), refere a profcua coincidnciade linguagem e discurso entre o desenvolvimento locale ordenamento do territrio. Refora, afirmando quea metodologia LEADER tem dado contributos impor-

    tantes para o desenvolvimento e para a consolidaodessa filosofia de interveno, baseada, prioritaria-mente, numa grande cumplicidade e interligao comas estratgias de ordenamento do territrio. Os resul-

    tados obtidos tm encorajado o transplante destalgica de interveno para outras actuaes.

    Um espao para o

    desenvolvimento rural

    Na Portaria sobre o Projecto de Interveno em Espa-o Rural (PIER) pode ler-se o seguinte: Tirar partidodas potencialidades do espao rural significa, entreoutros aspectos, a gesto, a conservao e a valoriza-o dos recursos naturais e culturais existentes, asse-

    gurando o equilbrio de usos e a qualificao das paisa-gens, evitando situaes de sobreocupao, sem con-tudo esquecer que a ausncia de actividades econmi-cas conduz a situaes de degradao, acentua odespovoamento e as assimetrias regionais e pode con-

    tribuir para a continuidade de fluxos migratrios quepressionam as cidades por falta de oportunidades defixao das populaes no interior rural do Pas.3Este, desde 1991, o mbito de interveno dos Gruposde Aco Local (GAL) LEADER.O frente-a-frente entre os instrumentos de gesto

    territorial, hierarquizados, organizados e coordenadose a pletora de territrios rurais nem sempre pacfica.Da a necessidade de articular o trabalho em parceria,rede e cooperao. A figura do GAL LEADER consti-

    tui-se como um espao de encontro, dilogo e tra-balho entre foras vivas, pblicas e privadas, de uma

    mesma unidade territorial e interterritorial. certoque se trata de uma unidade territorial construda quedificilmente corresponder a divises territoriais dese-nhadas a um nvel superior de ordenamento.

    As entidades LEADER cresceram a articular acompa-nhamentos estratgicos e planos territoriais com umconjunto de instrumentos de natureza estratgica PNPOT, Planos Sectoriais, PEOT, PROT, ou regula-mentar PIMOT, PDM, PU e PP. Ainda a primeira

    gerao destes programas e planos era alvo de crticaspor falta de coerncia4, j as entidades gestoras doLEADER eram convidadas a apresentar para as suas

    Zonas de Interveno um Plano de Aco Local(LEADER I e II) ou de Desenvolvimento Local(LEADER+), correspondentes a uma estratgia inte-

    grada local para os respectivos territrios. Refira-se

    que estes planos sucessivos se constrem a partir deprocessos participativos ao nvel de cada territrio.

    Junta-se participao ascendente, o trabalho emparceria e obtm-se eixos mestres da abordagemLEADER, incorporada e disseminada por entidades

    gestoras do Programa, com trabalho desenvolvido,h mais de 15 anos no terreno, cujo mrito hojereconhecido. No mbito das Orientaes estratgicascomunitrias de desenvolvimento rural para o perodode programao 2007-2013, ficou acordado que, anvel europeu, o mtodo LEADER seria multiplicado.A nova gerao de estratgias e programas de desen-

    volvimento rural ser construda em torno de quatroeixos: eixo 1, aumento da competitividade dos secto-res agrcola e florestal; eixo 2, melhoria do ambientee da paisagem rural; eixo 3, qualidade de vida naszonas rurais e diversificao da economia rural e eixo4, abordagem Leader5. Este ltimo introduz possi-bilidades de governao inovadora por meio de abor-dagens locais ascendentes, no que se refere ao desen-

    volvimento rural6e participao activa de mltiplosactores locais.

    A organizaolegal do territrio

    A ideia de que as zonas rurais constituem uma reservado mundo urbano est ultrapassada. Hoje, admite-seque as zonas rurais, pela sua funcionalidade e estru-

    tura, constituem um potencial de desenvolvimento.A agricultura no mais a grande prioridade da polticade desenvolvimento das zonas rurais. A evoluo

    tecnolgica, a Poltica Agrcola Comum (PAC), oaumento dos tempos de lazer e recreio e a prpriaalterao dos valores das comunidades urbanas tm

    dado origem a uma multiplicidade de opes de utiliza-o das zonas rurais em todo o mundo. Perante estanova realidade, necessrio repensar, planificar, deforma integrada, e ordenar correctamente este espa-o. No como um espao destacado e isolado do espa-o urbano, mas como um espao de oportunidades.Em Portugal, a poltica do ordenamento do territriopassa a ser uma poltica de organizao do espao sdiversas escalas no final da dcada de 90, com a publi-cao da Lei de Bases da Poltica de Ordenamentodo Territrio e de Urbanismo (Lei n. 48/98, de 11de Agosto) que constitui a salvaguarda e valorizao

    das potencialidades do espao rural, contendo a de-sertificao e incentivando a criao de oportunidadesde emprego, como um dos fins da poltica de ordena-mento do territrio.

    De parte a parte, h um caminhoa percorrer para ir ao encontro

    do bem comum

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    Posteriormente, o Decreto-Lei n.380/99, de 22 deSetembro, alterado pelo Decreto-Lei n.310/2003, de10 de Dezembro, aprova o Regime Jurdico dos Instru-mentos de Gesto Territorial, define solo rural e solourbano e estabelece que o regime de uso dos solos enunciado nos planos municipais de ordenamento do

    territrio atravs da classificao e da qualificao dosolo. Entre os planos municipais de Ordenamento doTerritrio regulados neste diploma, apenas o PlanoDirector Municipal (PDM) toca a questo do espaorural. O Plano de Urbanizao (PU) de mbito emi-nentemente urbano, embora com a alterao do De-creto-Lei n.380/99, de 22 de Setembro, introduzidapelo Decreto-Lei n.310/03, de 10 de Dezembro, oPU possa englobar solo rural complementar do urba-no que exija uma interveno integrada de planeamen-

    to. E o Plano de Pormenor (PP), mesmo assumindo amodalidade simplificada de projecto de intervenoem espao rural (regulamentada pela Portaria n.389/2005, de 5 de Abril), assume-se, pelo seu carctermaterial, como um instrumento de desenho urbano.Em termos de contedo material, o PDM estabelecea definio de estratgias para o espao rural,identificando aptides, potencialidades e refernciasaos usos mltiplos diversos (art. 85, DL 380/99). Noespao rural no devem ser admitidos usos que,

    teoricamente, so prprios do espao urbano,

    excepto quando so complementares das actividadesprprias do espao rural.

    Atravs do designado Projecto de Interveno emEspao Rural (PIER) os municpios podem intervir, disci-plinando, com detalhe, a ocupao do solo rural de mo-do a garantir a sua qualificao numa perspectiva dedesenvolvimento sustentvel de zonas, cujas poten-cialidades endgenas devem ser aproveitadas a benef-cio de um correcto ordenamento do territrio, mas

    tambm da qualidade de vida da populao. Os munic-pios passam, assim, a ter um importante papel na pro-moo do ordenamento do espao rural, quer na pers-pectiva do desenvolvimento sustentvel, quer numaptica de preveno de riscos e de interveno em situa-es de emergncia, designadamente a ocorrncia deincndios florestais. De acordo com a Portaria n.389/2005, de 5 de Abril, o projecto de interveno em espaorural, que incide sobre uma rea especfica do territriomunicipal, classificada como solo rural, estabelecendoos objectivos mais adequados ao seu ordenamento edesenvolvimento sustentvel, contm, designadamente:a definio da rea de interveno e a sua caracterizao;a caracterizao da utilizao dominante do solo, bemcomo da relao entre os espaos rurais e urbanos; adefinio das categorias do solo rural.O diploma surge numa altura em que a reestruturaodos sectores agrcola e florestal e os desafios coloca-

    Ao eleger como matria-prima de trabalhoum territrio, a legio de agentes de desen-volvimento local que nasceu e cresceu, nestesltimos 25 anos, nomeadamente, mas no s, luz do LEADER, est j, plena e consciente-mente, a intervir no seu planeamento e de-senvolvimento, atribuindo-lhe um valor real,mas no contabilizvel. Pois, a premissa quesustenta e move uma estratgia de desenvol-

    vimento local da ordem do imaterial.Por definio, o agente de desenvolvimentovaloriza o espao rural onde compe a suainterveno. O objectivo local comum pro-porcionar ou obter condies duradouraspara que estes e outros cidados e cidadspossam permanecer num territrio que res-pire qualidade de vida. Refira-se que a polticade ordenamento do territrio e de urbanismovisa, tambm ela, assegurar uma adequadaorganizao e utilizao do territrio na pers-pectiva da sua valorizao1.Neste quadro, gostaramos de pr em pers-

    pectiva a dimenso da valorizao atravs dotrabalho desenvolvido em torno da unidadede organizao territorial aldeia. A propsi-to de um projecto de revalorizao e revitali-

    zao de aldeias e patrimnio, Mateo Andrs,director do Centro para o Desenvolvimentode Maestrazgo-Teruel (Espanha), escreve oseguinte: Acreditamos que a equao territ-rio, patrimnio e populao desencadeiam odesenvolvimento 2. Para completar aequao, acrescentar-lhe-amos apenas outravarivel de peso neste contexto: o ambiente.Em Portugal, falamos emAldeias de Tradio

    (LEADER),Aldeias deXisto (Programa Ope-racional da Regio Centro/Aco Integradade Base Territorial (AIBT) do Pinhal Interior),Aldeias Histricas (Programa de Recuperaodas Aldeias Histricas de Portugal), Aldeias doAlgarve (Programa de Revitalizao dasAldeias do Algarve/Programa Operacional doAlgarve) ou da Rede Village Terraneo(InterregIIIB), projectos que convergem para a fixaoda populao, revalorizao das aldeias, a re-cuperao e preservao do patrimnio, amelhoria da qualidade de vida, a criao deuma actividade econmica (complementar),

    entre muitos outros objectivos.Pegando no mote da valorizao, MateoAndrs situa tambm o lugar do patrimnio:A dimenso turstica dos projectos impor-

    tante, mas a valorizao do nosso patrimniodestina-se antes de mais populao local. a cultura-sujeito e no a cultura-objecto queprocuramos, porque, para ns, o patrimnio um instrumento de ordenamento do terri-trio mas tambm e sobretudo um instru-mento de democracia participativa, de identi-dade colectiva e de alargamento do campode conscincia.3

    Isto remete-nos de novo para valores imate-riais que forosamente tm de acompanhare sustentar estes processos de revitalizaode reas em risco ou em situao de abando-no e desertificao. O planear, organizar, pro-jectar no resultar sem apelar ao questiona-mento, dilogo, reflexo dos principais inte-ressados. Por isso, preservar, sim, recuperar,sim, construir, sim, mas sem esquecer de va-lorizar: o territrio, o patrimnio, o ambiente,a populao para o bem do desenvolvimentolocal e no s da indstria turstica.

    Boas prticas para seguir de perto

    1 Lei n. 48/98 de 11 de Agosto, Artigo 1., Ponto 2.2 Maestrazgo-Teruel: a aposta no desenvolvimento duradouro

    a partir da identidade, in: LEADER Magazine nr.8-Inverno,1994, Bruxelas, AEIDL/Clula de Animao LEADER.

    3 idem.

    o leader e o ordenamento do territrio

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    dos pelo desenvolvimento sustentvel se encontramno centro das preocupaes da Unio Europeia. Tirarpartido das potencialidades do espao rural significa a

    gesto, conservao e valorizao dos recursos natu-rais e culturais existentes, assegurando o equilbriode usos e a qualificao das paisagens. O conceito demultiplicidade do espao rural ganha acuidade.

    Um espao rural

    com cidados activos

    Nos textos do ordenamento do territrio, concede-se ao espao rural uma definio residual. O solo rural agricultura, pecuria, florestas, minas, espao naturalde proteco ou lazer ou com infra-estruturas queno urbanas. Pouco sobra para o espao rural ser mui-

    to mais. Onde esto os cidados, as comunidades eas populaes, no fundo, os principais arquitectos,operrios e cidados dos territrios?Ter a pessoa em considerao passa por lhe conferir odireito de exercer activa e oportunamente o seu estatu-

    to de cidado e cidad, em igualdade de oportunidadese conhecimentos. Urge criar ou cultivar o hbito departicipar, se sentir implicado em primeira instncia.De parte a parte, h um caminho a percorrer para irao encontro do bem comum. neste espao que osagentes de desenvolvimento podem e devem intervir

    para despertar, educar e guiar o esprito participativo,servindo tambm de elo de ligao entre as populaese as entidades pblicas com poder de lei e de deciso.O OT tem que proporcionar espao e condies mni-mas para que os agentes de desenvolvimento possamlevar a bem o processo de desenvolvimento sustent-

    vel e integrado em conjunto com as populaes. Anvel local, esta questo prende-se directamente comos processos de elaborao e reviso dos Planos Di-rectores Municipais (PDM). Hoje, a grande maioriadas 52 entidades gestoras do LEADER+ integra noseio das suas direces ou parcerias, eleitos locais,

    familiarizados com a metodologia LEADER. Este facto, em si, um mais que deveria influenciar positiva-mente os processos de elaborao e reviso dos PDM,

    tambm no sentido do desenvolvimento rural. Aproximidade assumida, como afirma Marta Alter,agente de desenvolvimento do GAL - Monte, Desen-

    volvimento Alentejo Central, ACE (ler pp.13-14): Aarticulao dos Planos de Desenvolvimento Local(PDL) definidos pelos GAL com as questes do orde-namento do territrio pode operar-se de duas for-mas, cumulativas: as autarquias locais, que sobre estamatria tem obrigaes definidas na construo de

    instrumentos de ordenamento, integram a parceriaGAL e deste modo a definio dos PDL encerra assuas preocupaes e objectivos no domnio do orde-namento; os diferentes agentes locais com as suas

    estratgias especficas, fazem-se ouvir e participamnos vrios momentos de consulta pblica e discussodos diferentes planos de ordenamento.

    As entidades LEADER j tm uma experincia vastaem gesto de intervenes, desenvolvidas num deter-minado territrio, onde, em funo das matrias, secruzam e, por vezes, se sobrepem diversas esferas enveis de competncias. Como releva a agente dedesenvolvimento local, Rita Vacas, da ADL - Associaode Desenvolvimento Local do Litoral Alentejano (lerpp.15-17): A experincia de execuo do PIC (Progra-ma de Iniciativa Comunitria) LEADER + Alentejo Lito-ral demonstra uma matriz de articulao territorial efuncional, permitindo identificar factores de sucessoextrapolveis para a integrao numa proposta demodelo de governncia territorial ao nvel supramuni-cipal. Esta abordagem territorial resulta, numa ligaohorizontal em rede dos diferentes micro-territrios,articulada com uma ligao vertical de dimenso regio-nal de planeamento onde, preferencialmente, devemocorrer os servios desconcentrados do Estado comoparceiros nas diferentes fases e com a mesma dimen-so territorial de interveno. O planeamento dos

    territrios locais e regionais traduz uma combinaode geometria varivel entre abordagens de carizsectorial e territorial., cuja complementaridade entreinstrumentos diversos uma garantia de desenvolvi-

    mento integrado. Se, por um lado, o Ordenamento doTerritrio no deveria alhear-se do desenvolvimentodos espaos rurais, nomeadamente quando quer umaadequada organizao e utilizao do territrio naperspectiva da sua valorizao7, por outro, os tcnicosLEADER, agentes do desenvolvimento rural, deveropersistir em assumir funes de animadores, operado-res, mediadores e polticos num quadro comum, cha-mado desenvolvimento de espaos rurais, onde a inicia-

    tiva econmica das populaes locais se confronta fre-quentemente com os diversos nveis e reas de planea-mento do territrio. Ao fim ao cabo, a comunidade de

    referncias e objectivos obriga os dois terrenos deinterveno a aliarem-se para o bem do Pas e do(s)

    territrio(s).

    1 Lei n. 48/98 de 11 de Agosto, Artigo 3.

    2 Lei n. 48/98 de 11 de Agosto, Artigo 5.

    3 Portaria conjunta dos Ministrios da Agricultura, Pescas e Florestas e doAmbiente e do Ordenamento do Territrio n.389/2005, de 5 de Abril, deaplicao da Conveno Europeia da Paisagem.

    4 Programa do XVII Governo Constitucional, Captulo III - Qualidade de vidae desenvolvimento sustentvel, I. Mais qualidade ambiental e melhorordenamento do territrio, 4. Trs condies para a coordenao daspolticas territoriais, p.96.

    5 Deciso do Conselho, de 20 de Fevereiro de 2006, relativa s orientaesestratgicas comunitrias de desenvolvimento rural (Perodo de

    programao 2007-2013), Anexo, Ponto 2.3.6 Deciso do Conselho, de 20 de Fevereiro de 2006, relativa s orientaes

    estratgicas comunitrias de desenvolvimento rural (Perodo deprogramao 2007-2013), Anexo, Ponto 2.3.

    7 Lei n. 48/98 de 11 de Agosto, Artigo 1.2.

    o leader e o ordenamento do territrio

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    O ordenamento do territrio tem vindo a serum tema omnipresente no quadro global deanlise e discusso de estratgias de desenvol-vimento para qualquer regio, deixando deser um tema especial, de grande componentetcnica e de discusso dentro de um crculo

    muito estreito de especialistas, para comeara descer a um nvel mais local e aberto, assu-mindo uma capacidade de se relacionar comoutro tipo de intervenes.O ordenamento do territrio adquiriu, assim,uma caracterstica participativa emergente,que lhe outorgou uma determinada transver-salidade na hora de abordar a problemticade qualquer regio, passando mesmo a assu-mir-se como a raiz de um planeamento capazde nos transmitir uma viso global e pros-pectiva de um territrio.A ttulo de exemplo, podemos observar quecoisas aparentemente to simples, como amanuteno de uma determinada paisagem,deixaram de ser obra do acaso ou de acespontuais, para passarem a ser o resultado deuma interveno efectuada no mbito de umprocesso de planeamento.Se a esta questo adicionarmos a importnciaque a manuteno de uma paisagem de quali-dade tem para os processos de desenvolvi-mento de regies rurais, podemos imaginar

    a ateno que devemos dispensar aos pres-supostos, garantes dessa manuteno, indis-cutivelmente relacionados com questes degesto e de ordenamento do territrio.Questes relacionadas com landscape mana-gement,ou seja, com a gesto e manuteno

    sustentvel da paisagem, tm vindo, em todaa Europa, a assumir um papel cada vez maisimportante na definio e promoo deestratgias de desenvolvimento local, aoponto de simples projectos de intervenoem espaos rurais passarem a ter de ser defi-nidos, no numa lgica pontual ou solitria,mas numa abordagem global e integrada.Verificamos que as questes relacionadascom o ordenamento do territrio passarama ter uma maior abrangncia, comeando acomplementar-se e a integrar-se numa lgicade actuao prxima do desenvolvimentolocal. Hoje, absolutamente impensvelpromover qualquer processo de desenvol-vimento local sem que haja, igualmente, umadefinio estratgica de ordenamento domesmo territrio. Por outras palavras, come-amos a observar uma interessante e profcuacoincidncia de linguagem e de discurso entreo desenvolvimento local e o ordenamento doterritrio. Temas, como a valorizao do locale dos recursos, a solidariedade regional, a

    ADRAT

    Da proximidade do ordenamentodo territrio e do desenvolvimento rural

    sustentabilidade ecolgica, econmica ecultural, o combate aos desequilbrios, asnovas centralidades, a escala e as mobilidades,passaram a ser utilizados por todos na horade abordar e definir estratgias de interven-o para um territrio.

    Todavia, se a planificao relativamente fcilde efectuar, j a implementao e a gesto deuma poltica territorial podem ser bastantemorosas e complicadas, podendo os proces-sos e metodologias de interveno, j experi-mentadas e comprovadas ao nvel de desen-volvimento local, ajudar bastante. o que d a entender a Carta Europeia deOrdenamento do Territrio (1983), ao defi-nir como objectivos prioritrios a melhoriada qualidade de vida das comunidades locais,a obteno de um determinado equilbrioespacial e a utilizao racional dos territrios,objectivos esses que so bastante coinciden-tes com aqueles de que falamos quando abor-damos polticas, estratgias e metodologiasde desenvolvimento local.No fundo, tal como no desenvolvimentolocal, o que se pretende com a introduode factores de ordenamento territorial ,essencialmente, obter ferramentas e meca-nismos capazes de nos ajudar a dar uma de-terminada coerncia a um territrio.

    Cmplice com

    as estratgias de OT

    exactamente isso que a Associao deDesenvolvimento da Regio do Alto Tmega(ADRAT) tem vindo a procurar fazer no seuterritrio e na sua rea de aco, orientandotodas as suas actuaes numa lgica de inte-grao num mesmo e nico processo; pro-cesso esse, fortemente sustentado nas reali-dades, competncias e capacidades locais eque se pretende que conduza a um modelocapaz de transmitir uma imagem competitiva,atractiva e diferente.Neste contexto, importante referir que ametodologia LEADER tem dado contributosimportantes para o desenvolvimento econsolidao dessa filosofia de intervenobaseada, prioritariamente, numa grande

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    Castelo de Aguiar, Vila Pouca de Aguiar

    o leader e o ordenamento do territrio

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    cumplicidade e interligao com as estratgiasde ordenamento do territrio. Os resultadosobtidos tm encorajado o transplante destalgica de interveno para outras actuaes.

    Projectos LEADER

    Ainda no mbito do LEADER, podemos apontaralguns casos exemplares de intervenes pon-tuais de desenvolvimento local que acabarampor ter um impacto e uma abrangncia interes-santes, principal e assumidamente ao procura-rem dar um contributo importante para um me-lhor ordenamento espacial da nossa regio. o caso dos projectos promovidos no mbitoda criao e manuteno de diversas zonasde lazer, de determinados arranjos paisa-gsticos ou da recuperao de margens flu-viais. Projectos, tantas vezes criticados peloseu peso autrquico, mas cuja importncia sobejamente reconhecida pelas comunidadeslocais, no fundo os grandes destinatrios desteprograma, como forma de preservao deuma identidade e qualidade paisagstica essen-ciais para a promoo do processo de de-senvolvimento especfico desta regio.Gostaramos de apontar trs projectos exem-plares desta lgica de interveno em que de-senvolvimento local e ordenamento territo-rial se encontram totalmente unidos em prin-cpios, objectivos e metodologias: os pro-jectos de Valorizao do Castelo de Aguiar,da Quinta Biolgica do Rebento e do Centrode Promoo e Dinamizao Rural do AltoTmega. Estes exemplos baseiam-se emprincpios de integrao, sustentabilidade eescala que ultrapassam qualquer intervenopontual de apoio ou participao local, aoponto de serem autnticos projectos estrutu-rantes para a regio onde se inserem. A inte-grao advm da articulao que assumemcom toda a envolvente, no s em termosde espao ou de comunidade local, mastambm ao nvel da complementaridade eenquadramento regional; a sustentabilidadepela capacidade de concentrao, de se auto-nomizar, de conquistar uma certa afirmaoe de se tornar num elemento ncora; por fim,a escala pela capacidade que estes projectos

    tm e que podem proporcionar para se obterum nvel de competitividade regional maiselevado.

    Mais projectos

    Parece-nos igualmente importante referir aexistncia de outros projectos onde foi apli-cada esta mesma metodologia e nos quais aADRAT tambm teve uma interveno di-recta, embora nestes casos se deva ressaltarque se tratam de projectos de ndole e inter-veno mais espacial: estamo-nos a referir rede de ninhos de empresas e de zonas delocalizao de actividades produtivas,projectos apoiados por outros programas enos quais se levou em linha de conta a articu-lao deste tipo especfico de intervenescom a estratgia de ordenamento territorialexistente, baseada nas realidades e vontadeslocais.

    Neste quadro, refira-se tambm outro projectode grande dimenso chamado Ecomuseu doBarroso. Este projecto, que conta com o apoioda ADRAT em termos de implementao e pro-moo, tem uma interveno muito concretano terreno, com caractersticas inter-institucio-

    nais e inter-sectoriais muito intensas e interes-santes ao nvel da manuteno da identidadecultural e da paisagem da regio, e donde resul-tam fortes reflexos para questes relacionadascom o ordenamento do territrio.Reforando tudo o que foi dito e a importn-cia atribuda pela ADRAT articulao entreas vrias componentes de interveno terri-torial e ao seu planeamento e ordenamentoespacial, interessa igualmente referir quemesmo projectos mais imateriais foram pen-sados como estruturantes dentro dessa lgicade interveno, sendo os casos mais eviden-tes, a Rede de Tabernas do Alto Tmega ouos Postos de Vendas de Produtos Locais,intervenes que acabaram por ter um talimpacto na envolvente que levaram promoo de cuidados particulares na gestodo seu territrio de influncia.Poderamos continuar a apontar bons exem-plos, e possivelmente tambm alguns menosbons, atravs dos quais se demonstraria facil-mente a necessidade e a importncia de umasalutar complementaridade e cumplicidadeentre as polticas estratgicas do desenvolvi-mento local e o ordenamento do territrio.Todavia, importa que todos os actores locaistenham a noo da necessidade desta articu-lao, para bem das comunidades locais e detodas as regies, bem como da importnciaque o ordenamento do territrio tem comofactor e promotor de um desenvolvimentosustentvel e garante do equilbrio ambiental.Resta afirmar que tudo o que foi dito no passada simples opinio de algum que, trabalhandono terreno como agente de desenvolvimentoe pretendendo, em vo, ser um estratega eum planificador, no deixa de assumir porinteiro a percepo da enorme importncia daspolticas de ordenamento do territrio.

    ANTNIO M. MACHADOADRAT - Associao de Desenvolvimento da Regio do Alto Tmega

    Hoje, absolutamenteimpensvel promover qualquer

    processo de desenvolvimentolocal sem que haja uma definio

    estratgica de ordenamento

    Quinta Biolgica do Rebento, Chaves

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    o leader e o ordenamento do territrio

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    A construo de estratgias de desenvolvi-mento rural para um territrio assenta, se-gundo os princpios definidos pelo Programade Iniciativa Comunitria LEADER1 , numaparceria territorial representativa dos agenteslocais (Grupos de Aco Local - GAL).

    A articulao dos Planos de DesenvolvimentoLocal (PDL), definidos pelos GAL, com asquestes do ordenamento do territrio podeoperar-se de duas formas cumulativas: asautarquias locais, que sobre esta matria tmobrigaes definidas na construo de instru-mentos de ordenamento, integram a parceriaGAL e, deste modo, a definio dos PDLencerra as suas preocupaes e objectivos nodomnio do ordenamento; os diferentes agen-tes locais com as suas estratgias especficas,fazem-se ouvir e participam nos vrios mo-mentos de consulta pblica e discusso dosdiferentes planos de ordenamento.Durante muito tempo, entendeu-se que oordenamento do territrio se fazia, sobretudo,pela definio (apenas) de regras orientadaspara a organizao dos espaos fsicos de umterritrio. Se estas constituem instrumentosimportantes para a regulao da utilizao doespao, hoje, aparecem associadas frequente-mente a eixos estratgicos de planos de desen-volvimento (rural), a escalas diversas e articu-lados com planos regionais de desenvolvi-mento. Embora a definio de classes e usosespecficos de espaos deva ser entendida peloconjunto de possibilidades associadas ao seudesenvolvimento e, no tanto, pela definiode limites ao desenvolvimento do espao, porvezes, o entendimento comum que delas sefaz o do que no pode ser feito.A discusso pblica dos instrumentos deordenamento que, por vezes, no estimula-da e encerra dificuldades pela abordagem de-masiado tcnica utilizada, deve ser incentiva-da, constituindo um meio para garantir a suaexecuo, implementao e validade.Nesta acepo, em que o ordenamento uma das vertentes (instrumento) de um planode desenvolvimento, a definio do PDL poruma parceria territorial (GAL) pode (e deve)contribuir para o ordenamento do territrio.A participao da administrao local e re-

    gional nas parcerias territoriais potencia estaarticulao, bem como a participao pblicana fase de discusso dos instrumentos deordenamento. Em matria de participaopblica, a realidade nacional no , ainda,significativa, no sendo por isso de estranhar

    que no seja uma prerrogativa utilizada querpelos GAL e parceiros, quer incentivada pelasautarquias locais junto destas parcerias.Todavia, os PDL podem ser concebidos pelosGAL e os seus parceiros, de forma a contribuirpara o ordenamento do territrio. Com efeito,e contrariando o que pode ser um conjuntode aces avulsas, o PDL constitui um instru-mento de aplicao de uma estratgia de de-senvolvimento local, susceptvel de mobilizardiversas dinmicas territoriais, envolvendo re-cursos e iniciativas, de forma transversal.

    O caso do Alentejo Central

    No caso do Alentejo Central, no perodo deprogramao correspondente ao programaLEADER II (1994-1999), a estratgiaconsertada pelo GAL MONTE teve porobjectivo principal, a renovao e requalifica-o de espaos rurais, em particular, dos lu-gares e aldeias que devido s alteraesregistadas no emprego agrcola, envelhe-cimento e xodo populacional, registavamfenmenos de desertificao humana e fsicade grande dimenso.A dinmica em torno daqueles lugares notinha qualquer expresso, emergindo na paisa-gem vrios aglomerados vazios de pessoas ede actividades econmicas pouco expressivas.A projeco de actividades econmicas alter-nativas para aqueles espaos passava funda-mentalmente pela recuperao fsica dosmesmos e pela oferta de servios de alojamen-to rural, nas antigas casas da aldeia.Esta renovao, concretizada com o trabalhode animao local feito pelo GAL MONTEjunto da iniciativa privada, encontrou eco nosinstrumentos de ordenamento que viabiliza-ram estes investimentos e acompanharam aoferta de novos servios, designadamente,restaurao e animao turstica, em tornoda oferta de alojamento criada.

    A criao e dinamizao de duas unidades deTurismo de Aldeia2 contriburam para a revitali-zao daqueles aglomerados rurais, tendo asautarquias locais encontrado no PDL oportuni-dades para incentivar aces no domnio da be-neficiao do patrimnio construdo, pblico e

    privado, bem como, na melhoria de acessos erequalificao dos espaos naturais envolventes.A iniciativa nacional no domnio da animaode Centros Rurais3 constitui outro testemunhoda articulao do ordenamento com o desen-volvimento rural. Concebidos para interven-es focalizadas num espao, por vezes, nosuperior a uma freguesia4 , baseavam-se emestratgias ancoradas na iniciativa e investi-mento pblico, nomeadamente aquele queestava mais dirigido recuperao de patrim-nio construdo mas que, simultaneamente,deveria criar as condies necessrias, do pon-to de vista do ordenamento do territrio, paraincentivar a diversificao das actividades eco-nmicas dos agentes e empresas locais.De uma forma geral, considera-se que aexistncia de instrumentos semelhantes aosdescritos, e que tm no PIC LEADER o seureferencial por excelncia, face metodologiae princpios em que se baseia, deve ser aopo a privilegiar na concepo de futurasintervenes de matriz territorial para odesenvolvimento rural.Contrariando instrumentos de carcter maissectorial, a definio de estratgias de desen-volvimento rural para um dado territrio,articula-se com os planos de ordenamentodo territrio, na medida em que estes consti-tuem a operacionalizao da estratgia e amatriz da organizao do espao, potencian-do os diferentes vectores de interveno.Ilustrou-se esta articulao com a renovaodo patrimnio rural, e como este pode ser

    MONTE

    Ordenamento do Territrio - Instrumentode uma Estratgia de Desenvolvimento Local

    A participao daadministrao local e regionalnas parcerias territoriaispotencia a participao pblicana fase de discusso dosinstrumentos de ordenamento

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    o leader e o ordenamento do territrio

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    apoiado pela criao de ordenamento doterritrio que garantam a viabilizao daqueleobjectivo; de outro modo, uma estratgia ba-seada numa vertente mais ambiental, queprocure incentivar a utilizao sustentvel doambiente, interage com a regulao dos espa-

    os naturais, em particular, em matria de con-servao e proteco da natureza.Atravs da definio de um PDL possvelincentivar a criao de actividades econmi-cas ligadas ao sector do ambiente, estimular odesenvolvimento de aces de educaoambiental e criar condies para que aadministrao pblica incentive a participaoe discusso destas medidas com a populaodas comunidades locais, criando as condiesde viabilizao da estratgia definida para osector do ambiente, com as normas de regula-o do espao natural de um dado territrio.A concretizao desta articulao - que nosparece fundamental - depende em grandeparte da participao do GAL na elaborao ereviso dos instrumentos de ordenamento. Aresponsabilidade na elaborao de uma estra-tgia de desenvolvimento local e na definiodas opes de desenvolvimento rural deve serpartilhada pela parceria e, fundamentalmente,pelos seus parceirosper si, desempenhandoas autoridades pblicas locais (e regionais), umpapel fundamental no incentivo a esta partici-pao e no reconhecimento da importnciadestas parcerias; isto , uma construo parti-cipada dos instrumentos de ordenamento doterritrio e, por isso, de um desenvolvimentoparticipado por todos.

    MARTA ALTERMONTE, Desenvolvimento Alentejo Central, ACE

    1 Vide Comunicao aos Estados-membros (2000/C 139/05de 14 de Abril).

    2Turismo de Aldeia de So Gregrio, Santiago Rio deMoinhos (freguesia do concelho de Borba) e Turismo deAldeia do Telheiro, Monsaraz (freguesia do concelho deReguengos de Monsaraz).

    3 PPDR - Programa de Promoo de Potencial de

    Desenvolvimento Regional.4 No caso da Regio do Alentejo Central, o MONTE foi

    responsvel pela dinamizao do Centro Rural deMontoito (freguesia do concelho de Redondo) e de Veiros(freguesia do concelho de Estremoz).

    Castelo de Arraiolos, Arraiolos

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    ADL

    Planeamento territorial escalaregional/local na sub-regio do Alentejo Litoral

    Em termos de enquadramento territorial asub-regio do Alentejo Litoral (NUT III) estencaixada entre a rea Metropolitana deLisboa e o Algarve, constituindo um enclaveentre o modelo de litoralizao vigente emtoda a faixa litoral de Norte a Sul de Portugal,

    pois concilia, simultaneamente, caractersti-cas de ruralidade com alguns riscos associa-dos presso sobre Litoral. Como tal, exigeuma interveno coordenada, de acordo comas suas especificidades e caractersticas inter-nas, atendendo sempre sua contextualiza-o no espao envolvente.O Litoral Alentejano com toda a sua comple-xidade, estendendo-se desde o extremo maissetentrional da Pennsula de Tria (concelhode Grndola) at embocadura da ribeira deOdeceixe (concelho de Odemira), numaextenso de cerca de 165 Km, congrega umconjunto de unidades de paisagem que vopara alm da faixa costeira, resultando na inte-grao de grande percentagem do territriona rede de reas protegidas e classificadas deacordo com o tipo de recursos naturais e cul-turais existentes.O resultado da posio geogrfica da CostaSudoeste, a diversidade de paisagens e a redu-zida presso humana faz com que esta reaalbergue um patrimnio natural de elevado

    interesse, cujos objectivos de conservao evalorizao esto subjacentes criao dasreas Protegidas.O Parque Natural do Sudoeste Alentejano eCosta Vicentina (PNSACV) corresponde a umazona de interface mar-terra, que lhe imprime

    uma especificidade prpria, com uma grandevariedade de habitats, responsveis pela rique-za de espcies faunsticas e florsticas, conside-rada, pelo menos at data, uma das faixascosteiras mais bem conservada da Europa.Na faixa costeira, em virtude do movimentodas dunas, a rede hidrogrfica apresenta vriaslagoas costeiras, constituindo-se nos seusespaos envolventes reas protegidas, comoa Reserva Natural das Lagoas de Santo Andre da Sancha.A linha de costa caracteriza-se tambm pelaexistncia de esturios e sapais, importantesdo ponto de vista faunstico, constitudos porum conjunto complexo de caractersticas fsi-cas e qumicas que fazem deles os ecossiste-mas costeiros mais ricos, como a Reserva Na-tural do Esturio do Sado, que possui umgrande nmero de espcies protegidas asso-ciadas aos diversos bitopos terrestres comoas salinas, arrozais, sobreirais e pinhais.A regio dispe ainda da Bacia Hidrogrficado Rio Mira, que cruza o territrio de forma

    transversal em direco ao interior, existindonesta rea vrias ribeiras muito interessantesdo ponto de vista da modelao paisagsticae do uso recreativo-turstico, constituindoverdadeiros percursos de descoberta at sfreguesias interiores rurais.

    O territrio do Litoral Alentejano, apesar dadiversidade de recursos, apresenta uma certahomogeneidade em termos de caractersticaspaisagsticas, demogrficas e econmicas,com um elemento que as une e constitui ocerne das nossas preocupaes: a forte vo-cao/apetncia turstica.A unidade da sub-regio tambm se destacaao nvel da experincia de actuao conjuntados seus actores locais, atravs do critrio depolarizao e de sistema manifestado pelasrelaes criadas, pelo estabelecimento de flu-xos e interdependncia. Permite criar umacerta coerncia interna, sendo um espaocom vivncias, onde a populao desenvolveum sentimento de pertena e de identificaoao territrio, atravs de factores histricos ede identidade cultural. So estas caractersti-cas que nos permitem afirmar que se tratade uma unidade territorial.A ADL (Associao de Desenvolvimento doLitoral Alentejano), entidade de mbito regio-nal, tem vindo a desenvolver uma estratgia

    O territrio do Litoral Alentejano, apesar da diversidadede recursos, apresenta uma certa homogeneidade

    Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

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    de desenvolvimento no mbito doPrograma Iniciativa Comunitria (PIC)LEADER+, atravs de uma metodologiaparticipativa com os vrios actoresrepresentativos do Litoral Alentejano. Omodelo definido para a implementao

    do programa LEADER+ Alentejo Lito-ral no territrio teve como pressupostoprioritrio o cruzamento entre uma escalaregional de planeamento e articulao inter-institucional e uma escala local de interven-o/animao. Esta abordagem territorialtraduziu-se no estabelecimento de parceriascom entidades de mbito local, criando estru-turas de descentralizao concelhia para aanimao territorial, com base no reconheci-mento do papel privilegiado de mediao queestas estruturas podem assumir entre o nvellocal e o regional. A escala local poder evoluirpara um funcionamento em rede com osespaos circundantes, criando sinergias comuma estratgia escala regional/nacional.Consideramos esta actuao, de baixo paracima, um excelente exemplo de articulaoentre a escala de animao territorial ao nvellocal, atravs dos Ncleos de Animao Con-celhia, com a escala regional estratgica defi-nida no Plano de Desenvolvimento LocalLEADER + Alentejo Litoral, tornando-seabsolutamente fundamental para o surgimen-to de projectos que provm de uma verdadei-ra concertao local e que se revelam, forte-mente, ancorados no territrio.

    Proposta de um

    modelo de governncia

    de nvel supramunicipal

    A experincia de execuo do LEADER+Alentejo Litoral demonstra uma matriz de arti-culao territorial e funcional, permitindo iden-tificar factores de sucesso extrapolveis paraa integrao numa proposta de modelo de go-vernncia territorial ao nvel supramunicipal.Esta abordagem territorial resulta numa ligaohorizontal em rede dos diferentes micro-terri-trios, articulada com uma ligao vertical dedimenso regional de planeamento onde, pre-ferencialmente, devem ocorrer os servios

    desconcentrados do Estado como parceirosnas diferentes fases e com a mesma dimensoterritorial de interveno. O planeamento dosterritrios locais e regionais traduz uma combi-nao de geometria varivel entre abordagensde cariz sectorial e territorial.O cruzamento da multiplicidade de actuaesao nvel local com uma estratgia territorialao nvel regional, coerente e integradora condicionado pelo contexto de governnciaterritorial, uma vez que este traduz o quadrode relacionamentos existentes e demonstraa capacidade colectiva de mobilizao, organi-zao e valorizao de recursos.Como tal, a proposta situa-se no encontrode dispositivos de cooperao intermunicipalsubordinados a uma estratgia de governaoespacial, que devem assumir a forma de par-cerias pblico-privadas, baseadas nas associa-es de desenvolvimento local/regional ou nacriao de consrcios de entidades, capazesde dar respostas adaptadas s diferentes ques-tes da gesto territorial.Face multiplicidade de actores pblicos eprivados com interesses e objectivos diferen-ciados ao nvel do poder local, traduzindo-senuma pulverizao das escolhas pblicas eprivadas, urge, no prximo quadro comunit-rio, uma capacidade redobrada de coordena-o e cooperao.Em termos de perspectivas futuras, importaconsiderar um reforo das polticas de de-senvolvimento rural integrado, tendo emconta a proposta do Conselho da Unio Euro-peia para uma ferramenta nica de apoio aodesenvolvimento rural Fundo Europeu deApoio ao Desenvolvimento Rural (FEADER),

    atravs de uma descentralizao deprogramas de apoio ao desenvolvi-mento rural numa lgica de planeamen-

    to escala regional, incidindo numa deli-mitao de sub-regies com continuida-des territoriais, atravs da gesto de pro-

    gramas regionais, de acordo com a me-todologia LEADER.

    A necessidade de desenvolver um novo pro-cesso de governncia territorial tem de vertervantagens comparativas ao nvel da equidaderegional e da coeso espacial dos territriosrurais, em detrimento de polticas centralistas,concebidas de cima para baixo. A propostade um novo modelo de gesto territorial aonvel supra-municipal deve basear-se numagovernncia terr itor ia l que assegure aconciliao das estratgias de desenvolvimen-to regional com a aplicao dos financiamen-tos, indo ao encontro das orientaes emtermos de planeamento e ordenamento doterritrio, atravs da criao de instrumentosque vinculem os actores territoriais (planoscom fora de lei).

    Instrumentos de

    gesto territorial

    O Programa Nacional de Poltica de Ordena-mento do Territrio (PNPOT) estabelece asgrandes opes com relevncia para a organi-zao do territrio nacional e consubstanciao quadro de referncia a considerar na elabo-rao dos demais instrumentos de gestoterritorial. De acordo com o quadro tericolegislativo2 , vigente desde 1999, foi impostoque os esquemas nacionais e regionais do de-senvolvimento e ordenamento identifiquemos meios de financiamento das aces pro-postas. No entanto, no se verifica nenhumarepercusso prtica, tendo em conta que oPNPOT, desde a publicitao da lei em 1999,se encontra na fase final de concluso e, desdea mesma data, ainda no foi concluda a elabo-rao ou reviso de nenhum Plano Regionalde Ordenamento do Territrio (PROT).A escala regional do sistema de gesto terri-torial concretizado pelos PROT, que tmcomo objectivo a definio da estratgia re-

    DimensoVertical Funcional

    FileirasProdutivasSectoriais

    Dimenso Horizontal TerritorialSistemas territoriais a diferentes escalas geogrficas

    Nacional

    Regional

    Local

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    gional de de senvolvimento terr itor ia l,integrando as opes estabelecidas a nvelnacional e considerando as estratgias muni-cipais de desenvolvimento local, constituindoo quadro de referncia para a elaborao dosPlanos Municipais de Ordenamento do Terri-

    trio (PMOT). Os PROT no tm um pero-do de vigncia definido, como os Planos Di-rectores Municipais (PDM), obrigatoriamenterevistos aps dez anos de vigncia. Consi-dera-se que estes planos devero ser altera-dos sempre que a evoluo das perspectivasde desenvolvimento econmico e social odetermine3 .A nvel nacional, as primeiras medidas de pla-neamento com repercusso territorial sur-gem com a criao da figura de plano geralde urbanizao (1934), mas s em 1982 quecomearam a ser institudos os planos deordenamento escala municipal, assim comoa legislao relativa ao ordenamento do terri-trio (OT) escala regional. A partir do 25de Abril de 1974, surgem as primeiras tesesdefensoras da descentralizao territorial,traduzindo-se na criao das regies adminis-trativas consagradas na Consti tuio daRepblica Portuguesa.

    Intervenes escala

    Apesar deste contexto de evoluo, at data, Portugal mantm uma estrutura admi-nistrativa com interveno escala central elocal, resultando numa centralizao da pol-tica territorial, sendo essencialmente umacompetncia da Administrao Central, semprejuzo das competncias especficas dasautarquias ao nvel concelhio.Actualmente, na ausncia das regies admi-nistrativas incumbe s CCDR (Comisses deCoordenao e Desenvolvimento Regional),enquanto servios desconcentrados do Mi-nistrio do Ambiente, do Ordenamento doTerritrio e do Desenvolvimento Regional,executar as polticas territoriais ao nvel regio-nal (ambiente, OT, conservao da naturezae da biodiversidade, utilizao sustentvel dosrecursos naturais, requalificao urbana e pla-neamento estratgico) nas cinco regies-pla-

    no delimitadas pelas NUT II (Lisboa e Vale doTejo, Alentejo, Algarve, Centro e Norte).Neste contexto, e pensando na realidade dasub-regio do Alentejo Litoral, torna-se pre-mente desenvolver uma estratgia escalasupramunicipal, atravs da implementao de

    um instrumento de desenvolvimento territo-rial - Plano Intermunicipal de Ordenamentodo Territrio do Litoral Alentejano (PIOT-LA)4 , que assegure a articulao entre o futu-ro PROT Alentejo e os PDM dos cinco muni-cpios da sub-regio (Alccer do Sal, Grn-dola, Santiago do Cacm, Sines e Odemira).

    Uma vez que se trata de uma rea territorialque, pela interdependncia dos seus elemen-tos estruturantes, necessita de uma coorde-nao integrada para a salvaguarda da paisa-gem litoral e manuteno do espao rural. escala local devem ser identificadas proble-mticas territoriais prioritrias, objecto deinterveno inovadora e demonstrativa paraoutros territrios, com a possibilidade deimplementar Planos de Interveno em EspaoRural (PIER). Apesar do conceito de espaorural no quadro do regime jurdico do OT na-cional no apresentar uma traduo explcita,no mbito do PNPOT foi publicada a Portarian 389/2005, de 5 de Abril que prev a criaode uma nova figura de OT e que define asorientaes ao nvel da implementao de Pla-nos de Pormenor para as reas rurais.O desafio, em termos futuros de actuaodas ADL, em parceria com as entidades locais,seria conceber e implementar programasintegrados de interveno para os espaosrurais com zonamentos perfeitamente deli-neados sobre o potencial estratgico de usosdo territrio. Isto implica a elaborao deestudos da paisagem e da capacidade de carga

    1 Na traduo para portugus do termo anglo-saxnicogovernance, optou-se pelo neologismo governncia(OCDE, 2002), entendido como um novo paradigma dagovernao dos assuntos pblicos, assente no reforo da

    participao dos cidados na tomada de decises pblicas.Afirma-se como um dos pilares das democracias modernas.

    2 A legislao portuguesa distingue: instrumentos dedesenvolvimento regional (PNPOT, PROT, PIMOT),planeamento territorial (PMOT PDM, PP, PU), polticasectorial (Planos sectoriais) e natureza especial (PEOT).

    3 Situao em que se encontra o Plano Regional deOrdenamento do Territrio do Alentejo Litoral (PROTALI), eque j no se adequa realidade actual.

    4 (art 61) Os planos intermunicipais de OT visam articular asestratgias de desenvolvimento econmico e social dos mu-nicpios envolvidos, designadamente nos seguintes domnios:

    a) Estratgia intermunicipal de proteco da natureza e degarantia da qualidade ambiental;

    b) Coordenao da incidncia intermunicipal dos projectosde redes, equipamentos, infra-estruturas e distribuio dasactividades industriais, tursticas, comerciais e de servios

    constantes do programa nacional da poltica deordenamento do territrio e dos planos sectoriais aplicveis;

    c) Estabelecimento de objectivos, a mdio e longo prazo,de racionalizao do povoamento;

    d) Definio de objectivos em matria de acesso aequipamentos e servios pblicos.

    dos locais, contrariando a abordagem tradi-cional dos PDM que considera o espao ruralcomo o espao restante, no apresentandopossibilidades de usos.O OT, configurando-se como uma questoessencial para a sustentabilidade dos espaos

    rurais, pode contribuir para atenuar o isola-mento destas zonas e impedir a sua subordi-nao a interesses relacionados com a pres-so urbana, desde que a sua concepo eefectivao procure harmonizar interesseseconmicos e preocupaes ambientais e so-ciais. O OT deve ser a base para a revitaliza-o do mundo rural, valorizando os seus re-cursos naturais e culturais e reforando umarede de centros urbanos que apoiem e sus-tentem os processos de desenvolvimento ea reconverso das zonas rurais.As polticas de desenvolvimento rural no ne-cessitam s de instrumentos de OT; maisimportante a forma de implementao dessasmesmas polticas, que devero ser concebidase implementadas numa base territorial concre-ta e com uma viso estratgica de actuao.

    RITA VACASADL - Associao de Desenvolvimento do Litoral Alentejano

    Pensando na realidade daSub-Regio do Alentejo Litoraltorna-se premente desenvolver

    uma estratgia escalasupramunicipal

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    o Vero de 2003, Portugal assistiu pior pocade incndios florestais de sempre. Vinte pes-

    soas morreram em consequncia directa dos fogos equase quatro mil famlias foram directamente afecta-das. A superfcie ardida totalizou cerca de 420 milhectares, valor quatro vezes superior mdia dos dezanos anteriores. O ano de 2004 assistiria repetioda ocorrncia de incndios de muito grande dimensono extremo sul de Portugal, em especial na serra do

    Algarve, e 2005 revelaria outro Vero desastroso,desta vez tambm para o Norte e Centro litorais. O

    territrio percorrido pelo fogo nos ltimos cinco anoseleva-se ao valor espantoso de 1.117.040 hectares,numa mdia anual de 223.408 hectares.

    Logo aps os incndios de Agosto de 2003, o profundochoque na sociedade portuguesa desencadeou umaintensa reflexo, no s sobre as suas causas, mas tam-bm sobre a melhor forma de recuperar as regies

    afectadas, nas vertentes ecolgica e socioeconmica.De facto, estas regies contam-se entre as mais de-primidas do pas do ponto de vista econmico e sociale os incndios florestais constituem uma sria ameaa sobrevivncia das comunidades locais, degradandoecossistemas e paisagens notveis (Figura 1). Os incn-dios pem ainda em causa a viabilidade de fileiras indus-

    triais estratgicas para o pas, como a do papel ou dacortia, e tambm a capacidade de Portugal cumpriracordos firmados com a Comunidade Internacional,como o Protocolo de Quioto ou o compromisso euro-peu de estancar a perda de biodiversidade at 2010.

    Apesar da dimenso especialmente catastrfica dos fo-gos nos ltimos anos, em determinadas regies do con-tinente os incndios tornaram-se endmicos a partirdo incio da dcada de 60 do sculo passado. Precocesforam tambm as primeiras tentativas para resolvereste problema. Data de 1962 a primeira comisso inter-ministerial sobre a questo dos fogos de que temosconhecimento, surgindo logo aps o primeiro surto de

    grandes incndios que afectou quer macios implanta-dos pelo Estado no mbito da Lei do Povoamento Flo-restal de 1938, quer matas privadas na regio Centro.

    O planeamento da recuperao de reas ardidas

    A experincia daequipa de reflorestao

    JOO ROCHA PINHOMestre em Planeamento Regional e Urbano, Conselho Nacional de Reflorestao

    SUSANA PAULOMestre em Gesto do Desenvolvimento Rural, Conselho Nacional de Reflorestao

    uma poltica inovadora

    n

    Foto 1. Efeito de desmatao r ecentena intensidade do fogo (incndio daserra do Caldeiro, Julho de 2004).

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    A resposta tradicional na recuperao de regies

    afectadas por grandes incndios tem sido a elaboraoexpedita de planos e projectos de rearborizao, nor-malmente de execuo prioritria no quadro dosapoios pblicos aos sectores florestal ou ambiental.Porm, bastaro boas solues tcnicas na rearboriza-o dos terrenos ardidos?

    A experincia da

    Equipa de Reflorestao

    A dimenso dos incndios florestais em Portugal conti-nental constitui um problema extremamente com-plexo, com causas que radicam profundamente na so-ciedade portuguesa; seja nas profundas mutaes dossistemas e das paisagens rurais, seja no atavismo e na

    transversal falta de formao e de inovao tcnica eorganizacional, seja ainda na ineficincia do aparelhodo Estado no acompanhamento das dinmicas socio-ecolgicas, desde a gesto do meio natural aplicaoda legislao e adopo de polticas de longo prazoque afrontem as deficincias estruturais.

    A Equipa de Reflorestao constituiu uma das respos-tas institucionais aos incndios de 2003 que procura-ram afrontar alguns dos bloqueios gesto e pro-

    teco dos espaos silvestres. Tratou-se de uma estru-tura de misso criada em Maro de 20041 , com umperodo previsto de funcionamento de dois anos,dependente do Ministro da Agricultura, do Desenvol-

    vimento Rural e das Pescas, e que teve como incum-

    bncias proceder ao planeamento integrado das inter-

    venes nos espaos florestais ardidos e coordenaras aces de recuperao desses espaos, garantindoa participao activa das organizaes e agentes locaise dos diferentes servios pblicos.No mbito desta Equipa funcionaram o ConselhoNacional de Reflorestao (CNR) e quatro comissesregionais de reflorestao (CRR), nas regies do PinhalInterior e Beira Interior, Alto Alentejo, Ribatejo e

    Algarve.O Conselho Nacional de Reflorestao,para alm doselementos da estrutura de misso, era constitudo porrepresentantes da Administrao Central, designada-mente da Direco-Geral dos Recursos Florestais, doServio Nacional de Bombeiros e de Proteco Civil edo Instituto da Conservao da Natureza, um da Asso-ciao Nacional de Municpios Portugueses, por trsrepresentantes das organizaes de proprietrios eprodutores florestais (Federao dos Produtores Flo-restais de Portugal, FORESTIS e FENAFLORESTA) eainda por trs personalidades, Jos Miguel CardosoPereira, Helena Freitas e Rogrio Freire. Teve comomisso estabelecer as orientaes estratgicas para arecuperao das reas ardidas e acompanhar os traba-lhos desenvolvidos pelas comisses regionais de reflo-restao.

    As quatro comisses regionais de reflorestao foramcriadas nas regies mais duramente afectadas pelosincndios de 2003, onde se tornou mais premente umainterveno estruturante no territrio. Abrangem 30

    Fig. 1. Localizao dos incndios ocorridos entre 2001 e 2005, sobreo mapa Portugal Menos Favorecido, do Programa de Recuperaode reas e Sectores Deprimidos R.C.M. n. 11/2004.

    uma poltica inovadora

    Fig 2. Regies de interveno da Equipa deReflorestao e do Programa LEADER+.

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    uma poltica inovadora

    Fig. 3. Modelo de rede regional de defesa da floresta. Fonte: CRR do Pinhal Interior e Beira Interior.

    concelhos, numa superfcie total de cerca de 1.300.000hectares e 375 mil hectares de rea ardida entre 2003e 2005 (Figura 2).Cada uma das comisses regionais era composta pelosservios da administrao central responsveis pelasflorestas, agricultura, ordenamento do territrio edesenvolvimento regional e conservao da natureza,

    tambm por todas as cmaras municipais e ainda portodas as organizaes de proprietrios e produtoresflorestais da regio. Como observadores, participaramainda associaes de bombeiros e responsveis re-

    gionais da proteco civil, organizaes de agricultorese caadores, associaes de defesa do patrimnio,entre outros.Desde h quatro dcadas que os incndios florestais,e os grandes incndios em particular, esto na agendarural portuguesa. Como ponto de partida para o traba-lho desenvolvido pela Equipa de Reflorestao, a anli-se dos sucessos e insucessos associados a experinciasconcretas de recuperao de reas ardidas em ante-riores pocas de incndios2 permitiu retirar, entreoutras, as seguintes ilaes: a interveno exclusiva nos terrenos ardidos (ou

    em zonas de reduzida dimenso, no caso dos fo-gos mais pequenos) oferece poucas garantias desucesso quanto possibilidade de alterar decisiva-mente os factores estruturais que contriburam

    para a extenso dos fogos; a adopo de medidas especiais de defesa da

    floresta contra incndios (DFCI) dever ser con-siderada prioritria, aproveitando a janela de opor-

    tunidade para a reestruturao do espao; o envolvimento de outras entidades e, em espe-

    cial, dos proprietrios florestais tem, entre outros,o mrito de fomentar a contribuio positiva porparte dos diversos actores, garantindo um maiorequilbrio nas solues e um maior empenhamen-

    to na sua execuo.

    Com base nestes pressupostos, o trabalho da Equipade Reflorestao concretizou-se: numa abordagem deplaneamento estratgico, com

    a aprovao pelo CNR, em Junho de 2005, dasOrientaes Estratgicas para a Recuperao das

    reas Ardidas em 2003 e 20043 (na sequncia daaprovao, em Outubro de 2004, de uma versopreliminar) e de outros normativos de nvel nacional;

    num trabalho de planeamento regional e local,com a aprovao de orientaes regionais para arecuperao das reas ardidas4. Estas orientaesincluem a definio das redes regionais de defesa

    da florestae de um estudo prvio para a delimitaode zonas de interveno florestal5 (ZIF), resultantesde uma aco conjunta de planeamento queenvolveu dezenas de instituies.

    Identificados os grandes objectivos que deveriamnortear a vertente florestal da recuperao das reasardidas - criar florestas e paisagens rurais mais resisten-

    tes e resilientes passagem do fogo e diminuir forte-mente o risco de repetio do fogo nas regies abran-

    gidas, definiram-se trs linhas de interveno: identificao de novos modelos de organizao territo-

    rial e de gesto, incluindo no s o condicionamentoda expanso e da reduo das reas arborizadas e aalterao da composio da floresta, num quadro deracionalidade ecolgica e econmica e sempre nombito das ZIF e dos planos de gesto florestal (PGF),mas tambm a definio e implementao generaliza-da de medidas de silvicultura preventiva, de gestodas galerias ribeirinhas, de proteco dos aglomeradospopulacionais e dos edifcios e de condicionamentoda edificao nos espaos silvestres;

    seleco dos modelos gerais de silvicultura maisadequados, segundo as funes principais desem-penhadas pelos espaos florestais e recorrendo aum conjunto de 54 espcies de utilizao prioritria;

    novo modelo de infra-estruturao dos espaosflorestais, com a concepo, planeamento e exe-cuo de redes regionais de defesa da floresta,que compartimentam os espaos florestais, garan-

    tem a gesto estratgica dos combustveis e inte-gram as principais vertentes da DFCI.

    As redes regionais de defesa da floresta abordam deforma integrada os trs pilares da DFCI: a prevenoda ecloso do fogo, o planeamento do territrio(incluindo a infra-estruturao e a gesto estratgicados combustveis) e o combate aos incndios. Envol-

    vem o planeamento e a execuo integrada de dife-rentes componentes (Figura 3):

  • 7/21/2019 60_Ordenamento Territorio e Desenvolvimento Rural

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