29
6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia e que certamente constituem exemplos de aplicação do GEOFLUX3D. O primeiro exemplo refere-se a uma fundação apoiada num solo exposto a ciclos de secagem e umedecimento. As principais características dos solos não saturados são representadas através deste exemplo, que mostra o efeito que a sucção ocasiona na capacidade de carga de um solo. O segundo exemplo refere-se à extração d’águas subterrâneas de sistemas aquíferos através de poços de bombeamento. As respostas obtidas através de análises acopladas e desacopladas são comparadas e discutidas neste exemplo. Finalmente, o terceiro exemplo trata da análise do comportamento de uma barragem de terra zonada submetida ao primeiro enchimento do reservatório. Em todos estes exemplos de aplicação, constatou-se que a nova formulação do GEOFLUX3D gerou resultados bastante satisfatórios que demonstram a capacidade de resolução do programa e sua potencial aplicação na modelagem de diversos problemas geotécnicos. 6.2. Análise do problema de adensamento sobre um solo parcialmente saturado Tradicionalmente, as análises de fundações são conduzidas na hipótese de solo saturado, caso contrário, estas poderiam se tornar mais complexas em função das relações constitutivas do solo parcialmente saturado. No exemplo do ensaio triaxial do capítulo anterior, algumas características dos solos parcialmente saturados foram observadas quando distintas amostras tiveram um aumento de resistência pelos incrementos de sucção que foram aplicados. Nos solos de fundação, o processo inverso, de umedecimento, constitui a principal preocupação. Nestes casos, o comportamento do solo quando

6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

  • Upload
    others

  • View
    4

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

6 Exemplos de aplicação

6.1. Considerações gerais

Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na

Geotecnia e que certamente constituem exemplos de aplicação do GEOFLUX3D.

O primeiro exemplo refere-se a uma fundação apoiada num solo exposto a

ciclos de secagem e umedecimento. As principais características dos solos não

saturados são representadas através deste exemplo, que mostra o efeito que a

sucção ocasiona na capacidade de carga de um solo. O segundo exemplo refere-se

à extração d’águas subterrâneas de sistemas aquíferos através de poços de

bombeamento. As respostas obtidas através de análises acopladas e desacopladas

são comparadas e discutidas neste exemplo. Finalmente, o terceiro exemplo trata

da análise do comportamento de uma barragem de terra zonada submetida ao

primeiro enchimento do reservatório.

Em todos estes exemplos de aplicação, constatou-se que a nova formulação

do GEOFLUX3D gerou resultados bastante satisfatórios que demonstram a

capacidade de resolução do programa e sua potencial aplicação na modelagem de

diversos problemas geotécnicos.

6.2. Análise do problema de adensamento sobre um solo parcialmente saturado

Tradicionalmente, as análises de fundações são conduzidas na hipótese de

solo saturado, caso contrário, estas poderiam se tornar mais complexas em função

das relações constitutivas do solo parcialmente saturado.

No exemplo do ensaio triaxial do capítulo anterior, algumas características

dos solos parcialmente saturados foram observadas quando distintas amostras

tiveram um aumento de resistência pelos incrementos de sucção que foram

aplicados. Nos solos de fundação, o processo inverso, de umedecimento, constitui

a principal preocupação. Nestes casos, o comportamento do solo quando

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 2: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

109

umedecido dependerá do seu estado de tensão prévio ao umedecimento, podendo

sofrer pequenas expansões elásticas (exceto em argilas muito expansivas) ou

contrações elastoplásticas que podem ocasionar o colapso do solo da fundação. A

este respeito, Gens (2010) apresenta um caso real em que o solo de uma fundação

colapsa depois de ter sido saturado por águas provenientes de uma chuva

torrencial atípica. Problemas desta natureza constituem exemplos recentes da

aplicação de análises de problemas com acoplamento hidromecânico em solos

parcialmente saturados, como os investigados nos trabalhos de Sheng et al.

(2003b), Abed (2008) e Galavi (2010).

Para analisar este tipo de problema, neste exemplo simulou-se o

carregamento de uma fundação rasa e flexível apoiada sobre um solo que é

exposto a ciclos de secagem e umedecimento.

A geometria e a malha de 121 elementos BRICK20 com 960 nós estão

ilustrados na figura (6.1). O solo homogêneo e isotrópico desta fundação foi

submetido às seguintes fases: secagem, carregamento e umedecimento. A

sequência destas fases foi escolhida com o propósito de obter trajetórias de tensão

que levem ao colapso do solo.

Figura 6.1.- Geometria e malha de elementos finitos empregadas na análise de uma

sapata flexível sobre solo parcialmente saturado.

Na primeira fase, o solo foi exposto à secagem pela imposição de

incrementos de sucção na superfície em z=0m. Na segunda fase, aplicou-se um

carregamento uniformemente distribuído de 80kPa numa área de 0,25m2,

simulando o carregamento de uma sapata flexível. Finalmente, na terceira fase, o

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 3: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

110

solo da fundação foi umedecido pela imposição de taxas de infiltração que

simulam um evento chuvoso.

O comportamento mecânico do solo foi representado pelo modelo de

Barcelona e o comportamento hidráulico pelo modelo de van Genuchten. Os

parâmetros utilizados encontram-se listados na tabela (6-1). Na figura (6.2) se

apresentam as curvas características do solo obtidas com os parâmetros de van

Genuchten.

Tabela 6-1.- Propriedades mecânicas e hidráulicas do solo da fundação analisado.

Parâmetros Valores Unidades Ângulo de atrito (ϕ’) 25,0 [º] Módulo de Poisson () 0,30 [-] Inclinação da LCN em condições saturadas (λ0) 0,20 [-] Inclinação da LCD ( ) 0,02 [-] Peso específico dos grãos sólidos (s) 22,1 [kN/m3] Porosidade na LCN com p’=1kPa (n) 0,63 [-] Parâmetro para determinar λs (r) 0,70 [-] Parâmetro para determinar λs ( s ) 0,012 [kPa] -1

Permeabilidade isotrópica saturada (ksat) 10-6 [m/s] Saturação máxima ( s

lS ) 1,00 [-]

Saturação residual ( rlS ) 0,20 [-]

Parâmetro de van Genuchten (vg) 1,0 [m-1] Parâmetro de van Genuchten (nvg) 0,5 [-] Parâmetro de van Genuchten (mvg) 1,0 [-]

0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000s (kPa)

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Sl (

-)

1E-010 1E-009 1E-008 1E-007 1E-006kr ksat(m/s)

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Sl (

-)

Figura 6.2.- Curvas características do solo da fundação.

O solo encontra-se inicialmente saturado e em equilíbrio hidrostático com a

superfície freática localizada em z=0m. Os deslocamentos em x foram restritos

nas superfícies em x=0m e x=5m; os deslocamentos em y, nas superfícies em

y=0m e y=0,5m; e todos os deslocamentos, na superfície em z=-5m.

O estado inicial de tensão foi estabelecido pela aplicação de forças de corpo

com K0=0,72 e PPS=50kPa. A superfície de escoamento no plano desviador foi

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 4: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

111

representada através do hexágono de Mohr-Coulomb com o critério de

arredondamento proposto por Sheng et al. (2000).

Durante a primeira fase do problema, uma sucção uniforme de 20kPa foi

aplicada na superfície do solo durante 4x107s. Em seguida, aplicou-se um

carregamento de 80kPa numa área de 0,25m2 durante 4x107s, mantendo a sucção

de 20kPa constante na superfície do solo. Após este carregamento, a condição de

contorno de sucção foi liberada e sobre esta se aplicou uma taxa de infiltração de

5x10-9m/s durante 4x107s.

As tolerâncias utilizadas foram ITOL = 10-6 e DTOL = 10-3. Os incrementos

de tempo adotados foram t0 = 105s; tmin = 103s e tmax = 106s. O tempo total de

simulação foi Timetotal = 12x107s.

A figura (6.3) apresenta a distribuição dos deslocamentos verticais e das

poropressões no final de cada fase de simulação.

No final da fase de secagem, os deslocamentos verticais são uniformes e da

ordem de 4cm no topo do solo da fundação. Na base do modelo, as poropressões

positivas foram reduzidas, já que ocorre o rebaixamento da superfície freática para

uma profundidade em torno de z=-2,1m.

No final da fase de carregamento, observam-se deslocamentos verticais

diferenciais, principalmente nas regiões próximas à sapata, em que os

assentamentos atingem 20cm no plano de simetria. Por outro lado, a distribuição

das poropressões sofreu poucas alterações, já que a velocidade com que foi

aplicado o carregamento permitiu a dissipação de qualquer excesso de

poropressão que poderia ter sido gerado nesta fase.

No final da fase de umedecimento, observa-se uma redução nas sucções,

produto das infiltrações de água pelo topo do solo; no entanto, estas não são

suficientes para saturá-lo. Observa-se também que nas regiões próximas à sapata,

assentamentos do solo continuam a ocorrer, atingindo 23cm. No entanto, nas

regiões afastadas, ocorre o contrário, isto é, os assentamentos tendem a diminuir.

Isto coloca em evidência alguns comportamentos que são característicos dos solos

não saturados, com algumas regiões que experimentam deformações plásticas de

contração e outras que experimentam deformações elásticas de expansão.

Para um melhor entendimento dos comportamentos descritos acima,

também se apresenta na figura (6.4) a evolução temporal dos deslocamentos para

diversos pontos na superfície do solo em y=0m.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 5: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

112

Final da fase de secagem

Final da fase de carregamento

Final da fase de umedecimento

Figura 6.3.- Deslocamentos verticais e poropressões no final de cada fase da simulação.

Malha deformada sem exagero.

Na figura (6.4), verifica-se que durante a fase de secagem a superfície do

solo teve um assentamento uniforme de 3,7cm em todos os pontos analisados. Na

seguinte fase, os deslocamentos produzidos pelo carregamento da sapata foram

diferentes. Quando o carregamento é completamente aplicado, ocorrem os

seguintes assentamentos (valores aproximados): 20cm em x=0m (centro da

sapata); 12,5 cm em x=0,5m (eixo da sapata); e 4,7cm em x=1m. Em x=5,0m, os

assentamentos da fase anterior praticamente não sofreram alteração.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 6: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

113

0 20 40 60 80 100 120

Tempo (106 s)

-0.30

-0.25

-0.20

-0.15

-0.10

-0.05

0.00

Des

loca

me

nto

ve

rtic

al (

m)

x = 0.0m

x = 0.5m

x = 1.0m

x = 5.0m

Fase de secagem Fase de carregamento Fase de umedecimento

Figura 6.4.- Deslocamentos verticais em diversos pontos da superfície do solo

empregando o BBM.

Em seguida, na fase de umedecimento, observa-se que a superfície do solo

se eleva ou continua a se assentar, dependendo da posição analisada. No centro e

no eixo da sapata, em que deformações plásticas aconteceram na fase do

carregamento, se produzem assentamentos adicionais de 2,8cm e de 1,3cm,

respectivamente. No entanto, em x=1,0m e x=5,0m, a superfície do solo se eleva

em 1,0cm e 0,7cm, respectivamente.

Estes comportamentos distintos ocorrem em função das taxas de redução,

tanto da pressão de pré-adensamento do solo não saturado ( *0p ) como da tensão

octaédrica ( 'p ), quando o solo é umedecido. Observe que para o modelo de

Barcelona, *0p e 'p são utilizados para definir se o estado de tensão do solo se

encontra numa região elástica ou numa região plástica.

De acordo com Sheng et al. (2003b), se 'p diminui mais rapidamente que

*0p , pequenas deformações elásticas de dilatação ocorrerão, independentemente

do estado de tensão do solo. Este é o caso, por exemplo, das regiões do solo

afastadas da sapata em que a superfície do solo se eleva, reproduzindo o

comportamento de alguns solos expansivos.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 7: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

114

Por outro lado, se *0p diminui mais rapidamente que 'p e o estado de tensão

do solo estiver próximo ou sobre a superfície de escoamento, deformações

elastoplásticas de contração ocorrerão pelo umedecimento. Este é o caso das

regiões do solo que experimentaram deformações plásticas durante a fase de

carregamento, reproduzindo o comportamento dos solos denominados colapsíveis.

A capacidade de poder modelar este tipo de comportamento constitui uma

das principais características que distinguem o BBM dos modelos convencionais

para solos saturados. Com o objetivo de mostrar a influência da sucção no

comportamento elastoplástico do solo, simulou-se novamente o problema anterior

empregando o modelo Cam-Clay Modificado (MCC). A geometria, a malha de

elementos finitos, as condições de contorno e as propriedades são aquelas já

mencionadas.

0 20 40 60 80 100 120

Tempo (106 s)

-0.30

-0.25

-0.20

-0.15

-0.10

-0.05

0.00

Des

loca

men

to v

ert

ical

(m

)

x = 0.0m (BBM)

x = 0.5m (BBM)

x = 1.0m (BBM)

x = 5.0m (BBM)

x = 0.0m (MCC)

x = 0.5m (MCC)

x = 1.0m (MCC)

x = 5.0m (MCC)

Fase de secagem Fase de carregamento Fase de umedecimento

Figura 6.5.- Deslocamentos verticais em diversos pontos da superfície do solo

empregando o BBM e o MCC.

A figura (6.5) apresenta uma comparação dos deslocamentos obtidos

empregando o BBM e o MCC. Observa-se que na fase de secagem os

deslocamentos previstos com o MCC são iguais aos previstos pelo modelo BBM.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 8: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

115

Isto acontece porque o solo teve um comportamento elástico durante toda esta

fase, sem nenhuma interferência da superfície de escoamento, e desta forma,

ambos modelos fornecem os mesmos resultados.

Na fase de carregamento, já se observam diferenças significativas nos

deslocamentos entre ambos os modelos, principalmente nas regiões próximas do

centro da sapata (x=0m e x=0,5m). Nestas regiões, os assentamentos simulados

pelo MCC atingiram valores até 23% superiores daqueles simulados pelo BBM no

final da fase de carregamento. Este comportamento tem explicação na fase de

secagem. No BBM, a secagem fez com que a pressão de pré-adensamento do solo

incrementasse, aumentando o tamanho da superfície de escoamento e fazendo

com que o solo ficasse mais sobreadensado. Por outro lado, no modelo MCC, a

superfície de escoamento não sofreu alterações durante a fase de secagem, já que

a pressão de pré-adensamento deste modelo é independente da sucção,

experimentando apenas mudanças na tensão octaédrica. Por esta razão, o solo

modelado com o MCC sofre antecipadamente deformações plásticas, no instante

55x106 segundos; enquanto que o solo modelado com o modelo BBM sofre

deformações plásticas somente no instante 60x106 segundos.

Desta figura (6.5), observa-se também que os deslocamentos que ocorrem

nas regiões mais distantes do centro da sapata (x=1m e x=5m) são similares entre

ambos os modelos, pois ambos conseguem representar as deformações

volumétricas dilatantes do solo. Isto tem explicação no comportamento elástico

que se manteve nesta região, inclusive após a fase de carregamento.

6.3. Simulação da extração de águas subterrâneas de aquíferos por poços de bombeamento

A modelagem de sistemas aquíferos através de análises acopladas é

complexa e quase sempre inviável, sobretudo quando geometrias tridimensionais

são requeridas. Por essa razão, os sistemas aquíferos são geralmente modelados

através de análises de fluxo desacoplado, desconsiderando os fenômenos de

tensão-deformação envolvidos. Entretanto, existem situações nas quais o

comportamento hidráulico dos sistemas aquíferos não pode ser explicado a menos

que análises hidromecânicas sejam realizadas.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 9: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

116

Nos últimos anos, o uso d’água subterrânea tem aumentado constantemente

no mundo, principalmente pela demanda nas regiões com escassos recursos

hídricos, levando à extração d’água por poços de bombeamento. Ao se extrair esta

água, altera-se o equilíbrio hidromecânico do aquífero e as consequências

precisam ser avaliadas para garantir um uso sustentável. Um dos problemas que

compromete esta sustentabilidade é o risco de subsidência da superfície do solo

como consequência de uma redução das poropressões quando a água é extraída

por poços de bombeamento. Esta subsidência pode comprometer pavimentos de

vias publicas e edificações nas zonas urbanas próximas ao poço. Cabral et al.

(2006) apresentam resumidamente uma série de casos mundiais em que foram

observados problemas deste tipo. No Brasil, existem poucos casos registrados; no

entanto, essa falta de informação não indica necessariamente uma inexistência

deste fenômeno.

Para analisar o comportamento de sistemas aquíferos nestas condições,

foram idealizados dois modelos através dos quais se simula a extração d’água por

poços de bombeamento. Estes modelos são baseados em sistemas aquíferos

sedimentares de distintas configurações. No primeiro destes, se simula a extração

d’água de um aquífero semiconfinado por um aquitardo (Modelo I) e no segundo,

a extração d’água de um aquífero livre (Modelo II). O modelo geométrico e a

malha, composta por 4096 elementos BRICK8 e 4913 nós, são apresentados na

figura (6.6).

Figura 6.6.- Geometria e malha empregadas na análise do problema de poços de

bombeamento em sistemas aquíferos.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 10: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

117

O modelo I é composto por dois estratos: o superior, de 15m de espessura,

corresponde a um aquitardo de argila pré-adensada; o inferior, de 35m de

espessura, corresponde a um aquífero de areia semiconfinado pelo aquitardo. Um

poço de bombeamento foi introduzido no centro do modelo permitindo, através de

planos de simetria, que o sistema seja representado apenas por uma quarta parte

de sua geometria original, como mostra a figura (6.6). O poço, localizado em

x=0m e y=0m, tem um raio de 0,3m e 25m de profundidade, atravessa todo o

aquitardo e parte do aquífero. O filtro do poço, que permite a extração d’água,

encontra-se no aquífero entre as profundidades -25mz -15m. Inicialmente,

assume-se que o sistema aquífero se encontra em equilíbrio hidrostático com a

superfície freática localizada no aquitardo em z=-5m, permitindo a ocorrência

inicial de regiões não saturadas entre -5mz 0m.

A extração d’água pelo poço foi simulada pela redução instantânea da carga

hidráulica total em -10m naqueles nós da malha que conformam o filtro do poço.

Nas superfícies verticais correspondentes a x=250m e y=250m fixou-se uma carga

hidráulica total de -5m, enquanto que os deslocamentos foram restringidos na

direção horizontal. Na superfície vertical em x=0m foram restringidos os

deslocamentos e o fluxo na direção x. Na superfície vertical em y=0m foram

restringidos os deslocamentos e o fluxo na direção y. Na superfície horizontal da

base do modelo foram restringidos os movimentos e fluxos verticais, enquanto

que a superfície horizontal do topo do modelo, com exceção dos contornos

laterais, é livre para se movimentar nas três direções.

Tabela 6-2.- Propriedades mecânicas e hidráulicas empregadas na simulação do sistema

aquífero.

Parâmetros Aquífero Aquitardo Unidades Ângulo de atrito (ϕ’) - 30,0 [DEG] Módulo de Young (E) 8,33x103 - [kPa] Módulo de Poisson () 0,25 0.30 [-] Inclinação da LCN em condições saturadas (λ0) - 0.28 [-] Inclinação da LCD ( ) - 0.028 [-] Peso específico dos grãos sólidos (s) 26,0 26,5 [kN/m3] Porosidade na LCN com p’=1kPa (n) 0,44 0,66 [-] Parâmetro para determinar λs (r) - 0,70 [-] Parâmetro para determinar λs ( s ) - 0,012 [kPa-1]

Razão de pré-adensamento (RPA) - 2,0 [-] Permeabilidade isotrópica saturada (ksat) 3,26 8,24x10-3 [m/h] Saturação residual ( r

wS ) 0,152 7,58x10-5 [-]

Parâmetro de van Genuchten (vg) 0,913 1,352 [m-1] Parâmetro de van Genuchten (nvg) 4,27 1,20 [-]

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 11: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

118

Para representar o comportamento mecânico do aquitardo empregou-se o

BBM e do aquífero empregou-se o modelo elástico linear. Os parâmetros

utilizados correspondem a materiais representativos para sistemas aquíferos

(Halford, 1997; Kim & Parizek, 1997; Chai et al., 2005) e estão listadas na tabela

(6-2). Na figura (6.7) apresentam-se as curvas características de cada uma destas

estratificações segundo o modelo de van Genuchten. A compressibilidade d’água

é de 4,40x 10-7(kPa)-1 e seu peso específico é de 9,81 kN/m3.

0.01 1 100 10000 1000000s (kPa)

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Sl (

-)

aquíferoaquitardo

1E-010 1E-008 1E-006 0.0001 0.01 1kr ksat (m/hr)

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Sl (

-)

aquíferoaquitardo

Figura 6.7.- Curvas características dos estratos que compõem o sistema aquífero.

As tolerâncias utilizadas foram ITOL = 10-5 e DTOL = 10-3. Os incrementos

de tempo adotados foram t0 = 10-4h; tmin = 10-5h e tmax = 200h. O tempo total

de simulação foi Timetotal = 1000h.

Inicialmente, simulou-se o modelo I empregando uma análise acoplada. A

figura (6.8) apresenta os resultados em regime permanente correspondentes às

distribuições de cargas de pressão, cargas totais, deslocamentos verticais e

velocidades. Pelas distribuições de cargas hidráulicas, verifica-se o rebaixamento

da superfície freática em torno da região do poço, produzindo assentamentos de

até 6cm na superfície do solo, sendo que a extração de água pelo poço se produz

com velocidades da ordem de 13m/h.

Em seguida simulou-se o mesmo problema através de uma análise de fluxo

desacoplada. Os resultados desta análise foram similares àqueles obtidos pela

análise acoplada na condição de regime permanente. No entanto, durante o regime

transiente, algumas diferenças foram observadas na evolução temporal das cargas

hidráulicas de dois pontos a 14m de distância do centro do poço e localizados nas

elevações z=-12,5m (aquitardo) e z=-17,5m (aquífero), como mostra a figura

(6.9).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 12: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

119

Figura 6.8.- Distribuição de cargas hidráulicas, deslocamentos verticais e velocidades na

condição de regime permanente para o Modelo I empregando uma análise acoplada.

0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000Tempo (h)

-8.00

-7.50

-7.00

-6.50

-6.00

-5.50

-5.00

-4.50

Ca

rga

hid

rául

ica

tota

l (m

)

z=-17.5m - aquífero (acoplado)z=-17.5m - aquífero (desacoplado)z=-12.5m - aquitardo (acoplado)z=-12.5m - aquitardo (desacoplado)

Figura 6.9.- Evolução temporal das cargas hidráulicas em dois pontos distantes a 14m

do centro do poço no Modelo I.

Na figura (6.9) observa-se que as curvas resultantes do ponto localizado no

aquífero, obtidas pela análise acoplada e desacoplada, apresentam tendências

similares com quedas ao longo do tempo. Por outro lado, as curvas resultantes do

ponto localizado no aquitardo apresentam consideráveis diferenças,

principalmente durante a primeira hora de simulação. A carga hidráulica total

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 13: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

120

obtida pela análise desacoplada apresenta um comportamento similar aos daqueles

pontos localizados no aquífero, com quedas. Já a carga hidráulica total obtida pela

análise acoplada apresenta incrementos durante aproximadamente os primeiros

dois minutos de simulação, atingindo um valor máximo de -4,60m.

Este comportamento, similar àquele observado na esfera de Cryer, ocorre

pelo desenvolvimento de excessos de poropressão nas regiões do aquitardo

próximas ao poço durante os primeiros instantes de bombeamento. Este fenômeno

tem sido observado através de testes de bombeamento realizados em campo e é

conhecido na literatura como “efeito de Noordbergum” (Andreansen & Brookhart,

1963; Verruijt, 1969; Rodrigues, 1983). Durante os primeiros instantes de

bombeamento, a água contida no aquífero flui em direção ao filtro do poço,

causando deformações de compressão e uma redução do volume do aquífero. Já a

água contida no aquitardo, de baixa permeabilidade, não tem tempo de fluir e

termina opondo-se à compressão, gerando os excessos de poropressão

identificados pela análise acoplada.

Estes excessos de poropressão ocorrem com mais intensidade nas regiões do

aquitardo próximas à interface com o aquífero. Em consequência, o sentido dos

gradientes hidráulicos destas regiões se inverte e ocorre a flutuação do nível

d’água, como mostrado na figura (6.10).

0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000Tempo (h)

-9.00

-8.50

-8.00

-7.50

-7.00

-6.50

-6.00

-5.50

-5.00

-4.50

-4.00

z (m

)

Nível d´agua - acopladoNível d´agua - desacoplado

Figura 6.10.- Evolução temporal do nível d’água do centro do poço no Modelo I.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 14: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

121

Na figura (6.10) observa-se que após aproximadamente uma hora, os

excessos de poropressão são dissipados e ocorre o normal rebaixamento do nível

d’água, seguindo uma trajetória similar àquela da análise desacoplada. Também se

pode observar que ocorre uma mudança nas tendências das curvas de

rebaixamento de ambas as análises, acoplada e desacoplada, no intervalo de tempo

compreendido entre 3 e 20 horas de simulação. Esta mudança de tendência ocorre

pela contribuição d’água proveniente das regiões não saturadas acima do

aquitardo. A intensidade desta contribuição é suficiente para diminuir a taxa de

redução do rebaixamento durante o intervalo indicado, após o qual esta

contribuição se torna insignificante e o rebaixamento continua sua tendência de

queda até atingir a condição de regime permanente. Nesta condição, o nível

freático se estabelece em torno dos -8,9m de profundidade, produzindo

rebaixamentos máximos de 3,86m e 3,92m nas análises, acoplada e desacoplada,

respectivamente.

A evolução temporal dos deslocamentos verticais resultantes da análise

acoplada é apresentada para quatro pontos na superfície na figura (6.11). Estes

pontos estão localizados a r=0,3m, r=20m, r=50m e r=110m do centro do poço.

Observa-se que em todas as curvas os assentamentos se incrementam com

tendências similares até 10 horas de simulação.

0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000Tempo (h)

-0.07

-0.06

-0.05

-0.04

-0.03

-0.02

-0.01

0.00

De

sloc

ame

ntos

(m

)

r = 0.3mr = 20mr = 50mr = 110m

Figura 6.11.- Evolução temporal dos deslocamentos de quatro pontos localizados na

superfície do Modelo I distantes a uma distância r do centro do poço.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 15: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

122

Após 10 horas de simulação, as taxas de assentamento se reduzem e a partir

de 200 horas de simulação, ocorre até uma elevação dos pontos mais próximos do

poço. Este comportamento tem explicação na redução das tensões totais

provocada pelo rebaixamento do nível d’água. Observando a figura (6.9), pode-se

constatar que após 200 horas de simulação, as poropressões no aquífero se

encontram praticamente equilibradas; no entanto, pela figura (6.10), verifica-se

que o rebaixamento d’água ainda continua. Isto provoca uma redução das cargas

geostáticas suportadas pelo aquífero, e em consequência, as tensões efetivas nesta

região se reduzem, provocando uma expansão elástica. Esta expansão é refletida

pelas curvas dos assentamentos, produzindo elevações de 6mm na superfície do

solo ao redor do centro do poço. Já nas regiões afastadas, em que o rebaixamento

do nível d’água é menor, estes incrementos são imperceptíveis. Contudo, no

regime permanente, a máxima subsidência determinada pela análise acoplada é de

5,4cm.

0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000Tempo (h)

120

140

160

180

200

220

240

260

Va

zão

(m

3 /h)

vazão acopladavazão desacoplada

Figura 6.12.- Evolução temporal da vazão de bombeamento no Modelo I nas análises

acoplada e desacoplada.

A figura (6.12) apresenta a evolução temporal da vazão de bombeamento

obtida nas análises acoplada e desacoplada. Inicialmente, observam-se valores

elevados de vazão de bombeamento provocados pela redução instantânea das

cargas hidráulicas; no entanto, à medida que as análises tendem ao equilíbrio

hidráulico, esta vazão se reduz em 50% para ambas as análises. Verifica-se que a

vazão determinada pela análise acoplada é inferior àquela determinada pela

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 16: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

123

análise desacoplada. Esta diferença é explicada pela deformação volumétrica de

compressão que se produz na análise acoplada. Esta deformação provoca uma

redução dos espaços porosos pelos quais a água flui, causando uma redução das

permeabilidades saturadas. Já na análise desacoplada, esta permeabilidade

permanece inalterada. No regime permanente, verifica-se que a vazão obtida pela

análise acoplada é de 127,9m3/h, enquanto que a vazão obtida pela análise

desacoplada é de 132,1m3/h.

Para o segundo sistema aquífero (Modelo II), adotou-se a mesma geometria

do primeiro, mas foram empregadas as propriedades do aquífero em todo o

modelo, simulando desta forma um aquífero livre. Novamente, assume-se que o

sistema aquífero se encontra em equilíbrio hidrostático, mas desta vez com a

superfície freática localizada no topo do modelo em z=0m. Desta forma, o sistema

aquífero inicialmente é completamente saturado. As condições de contorno

utilizadas são as mesmas do Modelo I, com exceção da carga hidráulica total

imposta nas superfícies verticais em x=250m e y=250m, que agora é nula.

0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000Tempo (h)

-3.50

-3.00

-2.50

-2.00

-1.50

-1.00

-0.50

0.00

0.50

Car

ga h

idrá

ulic

a to

tal (

m)

z=-17,5m - aquífero (acoplado)z=-17,5m - aquífero (desacoplado)z=-12,5m - aquífero (acoplado)z=-12,5m - aquífero (desacoplado)

Figura 6.13.- Evolução temporal da carga hidráulica em dois pontos distantes a 14m do

centro do poço no Modelo II.

Analogamente ao Modelo I, duas análises, uma acoplada e outra desacoplada,

foram realizadas. A figura (6.13) apresenta a evolução temporal da carga

hidráulica, obtida por ambas as análises, medida em dois pontos distantes a 14m

do centro do poço e localizados nas elevações z=-12,5m e z=-17,5m. Pelas curvas

da análise acoplada, verifica-se que há um incremento da carga hidráulica durante

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 17: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

124

os primeiros instantes do bombeamento. No entanto, diferentemente do resultado

obtido para o Modelo I, este incremento é pequeno e se dissipa rapidamente

porque a permeabilidade do aquífero é muito superior àquela do aquitardo. Na

figura (6.13), também se verifica que, durante o regime transiente, a análise

acoplada fornece uma carga hidráulica ligeiramente inferior à obtida pela análise

desacoplada. Na condição de regime permanente, esta situação se inverte.

Este comportamento é devido à variação da porosidade em função das

deformações sofridas pelo sistema aquífero. Durante a análise transiente, as

porosidades nas regiões próximas ao poço são reduzidas pelas deformações

volumétricas de compressão. Em consequência, a capacidade de retenção destas

regiões é reduzida o processo de fluxo se desenvolve mais rapidamente nas

análises acopladas do que nas análises desacopladas. Por outro lado, em períodos

de tempo próximos da condição de regime permanente, a variação da capacidade

de retenção específica não influi nos resultados porque não há mais variação de

cargas hidráulicas ou de deslocamentos. Nesta condição, o parâmetro

preponderante é a permeabilidade saturada que foi reduzida pelas deformações

volumétricas. Isto provoca uma menor extração d’água e consequentemente, um

menor rebaixamento produzido pela análise acoplada, como apresentado na figura

(6.14).

0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000Tempo (h)

-3.50

-3.00

-2.50

-2.00

-1.50

-1.00

-0.50

0.00

0.50

z (m

)

Nível d´agua (acoplado)Nível d´agua (desacoplado)

Figura 6.14.- Evolução temporal do nível d’água do centro do poço no Modelo II.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 18: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

125

Na figura (6.14) verifica-se que, no regime transiente, não ocorrem

destacadas oscilações no nível d’água. Em regime permanente, a análise acoplada

produz um rebaixamento de 3,31m, enquanto que a análise desacoplada produz

um rebaixamento de 3,42m. Estas diferenças também foram observadas nas

análises do Modelo I; no entanto, foram inferiores em função da menor

deformação volumétrica que experimentou esse sistema aquífero.

A evolução temporal dos deslocamentos verticais resultantes da análise

acoplada em quatro pontos é apresentada na figura (6.15). Estes pontos estão

localizados na superfície do Modelo II e estão localizados a r=0,3m, r=20m,

r=50m e r=110m do centro do poço. Pode-se observar que, diferentemente do

Modelo I, não ocorre a expansão elástica do aquífero nos períodos de tempo

próximos da condição de regime permanente. Neste caso, o rebaixamento do nível

d’água se produz de forma simultânea com a redução das poropressões; desta

forma, não há incrementos significativos nas tensões efetivas do aquífero que

possam produzir uma expansão elástica. Em regime permanente, a máxima

subsidência determinada pela análise acoplada é de 9cm nas regiões próximas ao

centro do poço.

0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000Tempo (h)

-0.10

-0.08

-0.06

-0.04

-0.02

0.00

De

sloc

ame

ntos

(m

)

r = 0.3mr = 20mr = 50mr = 110m

Figura 6.15.- Evolução temporal dos deslocamentos de quatro pontos localizados na

superfície do Modelo II distantes a uma distância r do centro do poço.

Finalmente, a figura (6.16) apresenta a evolução temporal da vazão de

bombeamento no Modelo II obtida tanto pela análise acoplada como pela

desacoplada. Analogamente ao Modelo I, observa-se uma vazão elevada no início

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 19: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

126

do bombeamento. Novamente, verifica-se que a vazão determinada pela análise

acoplada é inferior àquela determinada pela análise desacoplada. No regime

permanente, a vazão obtida pela análise acoplada é de 224,3m3/h, enquanto que a

vazão obtida pela análise desacoplada é de 234,7m3/h. Estes valores de vazão são

consideravelmente superiores àqueles obtidos para o Modelo I porque, sem a

presença do aquitardo de baixa permeabilidade, o poço pode extrair água com

maior facilidade.

0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000Tempo (h)

220

240

260

280

300

320

340

360

380

400

420

Va

zão

(m

3 /h)

vazão acopladavazão desacoplada

Figura 6.16.- Evolução temporal da vazão de bombeamento no Modelo II.

6.4. Simulação do primeiro enchimento do reservatório de uma barragem de terra zonada

As barragens de terra são estruturas geotécnicas que permitem o

armazenamento de grandes quantidades de água. De forma geral, estas barragens

podem ser classificadas em dois tipos, homogêneas ou zonadas, em função dos

materiais que as constituem. A escolha pelo tipo de barragem depende dos

materiais existentes nas zonas próximas do local em que são construídas. O corpo

das barragens homogêneas é constituído por solos com características similares; já

o corpo das barragens zonadas é constituído por solos com distintas características

mecânicas e hidráulicas. Desta forma, as barragens homogêneas podem ser

consideradas como um caso particular das zonadas.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 20: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

127

Basicamente, o corpo das barragens zonadas é formado por três zonas

identificadas na figura (6.17). As zonas dos espaldares geralmente são

constituídas por materiais granulares, sendo responsáveis pela estabilidade do

corpo da barragem. O núcleo, constituído por materiais finos, é responsável pela

impermeabilização que impede ou minimiza a percolação d’água pela barragem.

Finalmente, a zona de filtros e drenos é constituída por areias e britas que

garantem a expulsão da água que atravessa a barragem.

Figura 6.17.- Seção típica de uma barragem de terra zonada.

Durante o primeiro enchimento do reservatório se desenvolvem frentes de

saturação assim como carregamentos que podem originar a ocorrência de

movimentos complexos, observados em numerosas barragens.

De acordo com Nobari e Duncan (1972), quatro efeitos ocorrem devido ao

primeiro enchimento de uma barragem zonada: a) redução das tensões efetivas no

espaldar à montante, b) desenvolvimento de pressão hidráulica na face de

montante do núcleo, c) desenvolvimento de pressão hidráulica na fundação e sub-

pressão no núcleo central e, d) colapso dos materiais devido ao umedecimento.

Todos estes efeitos são ilustrados na figura (6.18).

a) b)

colapso

c) d) Figura 6.18.- Efeitos do primeiro enchimento do reservatório em uma barragem de terra

zonada (Novari e Duncan apud Parra, 1996).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 21: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

128

O efeito de redução das tensões efetivas na figura (6.18a) ocorre como

consequência do umedecimento do espaldar. À medida que as frentes de saturação

se desenvolvem pela infiltração d’água, esta zona apresenta uma redução nas

tensões efetivas, provocando sua expansão através de deslocamentos ascendentes

na direção de jusante.

O efeito do surgimento da pressão hidráulica na figura (6.18b) ocorre pela

baixa permeabilidade do núcleo em relação à permeabilidade do material do

espaldar de montante, desenvolvendo-se estas pressões na face de montante do

núcleo à medida que o nível do reservatório se incrementa. De acordo com Parra

(1996), esta pressão produzirá deslocamentos direcionados para jusante, chegando

a ser apreciáveis na fase final do enchimento do reservatório.

O efeito de surgimento de pressões hidráulicas na figura (6.18c) ocorre pelo

desenvolvimento de poropressões na fundação. Durante os instantes iniciais do

enchimento do reservatório, desenvolvem-se pressões hidráulicas na fundação a

montante do núcleo, provocando assentamentos e rotação da barragem para

montante. No entanto, à medida que o nível d’água do reservatório se eleva,

também se incrementam as poropressões da fundação, originando subpressões na

base do núcleo que provocam movimentos ascendentes e rotação da barragem

para jusante.

O colapso do material na figura (6.18d) ocorre pelo seu umedecimento.

Comportamentos deste tipo foram observados no primeiro exemplo de aplicação

apresentado neste capítulo. Este tipo de comportamento é característico de solos

finos; no entanto, também pode acontecer em materiais granulares devido à

redução de resistência que estes experimentam pelo umedecimento. Hunter & Fell

(2003); Alonso et al. (2005) e Divino (2010) apresentam alguns exemplos de

barragens que experimentaram este tipo de problemas.

Para analisar o comportamento de uma barragem de terra zonada submetida

ao primeiro enchimento, foram realizadas duas simulações numéricas com o

GEOFLUX3D, que contemplam uma análise acoplada (Modelo 1) e uma análise

de fluxo desacoplada (Modelo 2).

A seção transversal da barragem e a malha de elementos finitos utilizadas

nestas análises são apresentadas na figura (6.19). A malha é composta por 2759

elementos tipo QUAD4 e 2865 pontos nodais. Como se pode observar, a malha

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 22: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

129

apresenta um maior refinamento na fase do talude à montante, já que esta região é

diretamente exposta aos efeitos do enchimento do reservatório.

Figura 6.19.- Geometria e malha de elementos finitos empregada na análise do

enchimento de uma barragem de terra.

Os modelos para representação do comportamento mecânico destes

materiais foram o modelo elastoplástico de Barcelona para o núcleo e o modelo

elástico linear para os espaldares, dreno e fundação. Para representação do

comportamento hidráulico destes materiais quando não saturados, empregou-se o

modelo de Van Genuchten (1980). Os parâmetros utilizados na modelagem são

representativos de diversos tipos de materiais utilizados em barragens de terra

zonada (Alonso et al., 2005; Quevedo, 2008; Alonso & Pinyol, 2009; Callari &

Abati, 2009; Dias, 2010; Divino, 2010) e estão apresentados nas tabelas (6-3) e

(6-4). As curvas características utilizadas são apresentadas na figura (6.20).

Tabela 6-3.- Propriedades mecânicas empregadas nas simulações.

Parâmetros Núcleo Espaldar Fundação Drenos Unid. Módulo de Young (E) - 150 400 100 [MPa] Módulo de Poisson () 0,40 0,30 0,30 0,30 [-] Ângulo de atrito (ϕ’) 35 - - - [º] Inclinação da LCN em cond. saturadas (λ0) 0,03 - - - [-] Inclinação da LCD ( ) 0,002 - - - [-] Peso específico dos grãos sólidos (s) 28,6 28 30 31 [kN/m3] Porosidade (n) 0,44 0,38 0,30 0,39 [-] Parâmetro para determinar λs (r) 0,7 - - - [-] Parâmetro para determinar λs ( s ) 0,007 - - - [kPa-1]

Tabela 6-4.- Propriedades hidráulicas empregadas nas simulações.

Parâmetros Núcleo Espaldar Fundação Drenos Unid. Permeabilidade saturada na vertical (ksx) 8,64x10-4 8,64x10-1 8,64x10-3 34,6 [m/dia] Permeabilidade saturada na horizontal (ksy) 4,32x10-4 4,32x10-1 8,64x10-3 6,92 [m/dia] Saturação residual ( r

wS ) 0,256 0,075 0,01 0,051 [-]

Parâmetro de Van Genuchten (vg) 0,147 1,077 0,40 2,67 [-] Parâmetro de Van Genuchten (nvg) 1,78 3,01 3,74 2,29 [-] Compressibilidade do solo () 6,00x10-6 8,00x10-6 3,00x10-6 1,20x10-5 [kPa-1]

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 23: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

130

0.1 1 10 100 1000 10000s (kPa)

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Sl (

-)

NúcleoEspaldarFundaçãoDreno

1E-008 1E-006 0.0001 0.01 1 100kr ksx (m/dia)

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Sl (

-)

NúcleoEspaldarFundaçãoDreno

Figura 6.20.- Curvas características dos solos que compõem a barragem de terra

zonada.

As tensões iniciais foram determinadas pela aplicação das forças de corpo

com RPA = 1,0 para representar esta zona em um estado normalmente adensado.

Admitiu-se que a superfície freática inicial é estabelecida na cota y=0,0m

com uma sucção que se incrementa linearmente até um valor máximo de 50kPa

em y=5,0m, cota acima da qual a sucção é mantida constante nesse valor. Uma

análise do comportamento da barragem durante a fase de construção é ideal para

determinar as condições iniciais. No entanto, estas foram simplificadas já que,

para análises do primeiro enchimento do reservatório, as poropressões que se

desenvolvem na barragem são preponderantes nos resultados (Cordão Neto, 2005;

Alonso & Pinyol, 2009).

A taxa utilizada para o enchimento foi de 0,5m/dia, que está dentro dos

limites máximos admissíveis na prática da engenharia de barragens (Alonso &

Pinyol, 2009). Desta forma, na fase de enchimento, a barragem atinge seu nível

máximo em 190 dias, após os quais esse nível é mantido constante até atingir a

condição de fluxo em regime permanente.

Como condição de contorno, fixou-se a base da fundação em ambas as

direções x e y, enquanto que os contornos verticais da barragem em x=0m e

x=490m foram fixados na direção x. Na jusante da barragem, uma carga

hidráulica total de 0m foi imposta na fundação a fim de estabelecer a linha freática

no pé do dreno.

As tolerâncias utilizadas foram ITOL = 10-5 e DTOL = 10-3. Os incrementos

de tempo adotados foram t0 = 10-5dias; tmin = 10-6dias e tmax = 10dias. O tempo

total de simulação foi Timetotal = 2000dias.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 24: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

131

No final da simulação, a diferença entre os tempos computacionais gastos

pelas duas análises foi bastante significativa. O tempo computacional gasto no

Modelo 1 (acoplado) foi de 6,0 horas, enquanto que no Modelo 2 (desacoplado)

foi de apenas 0,2 horas, empregando um computador com processador Intel ®

Core i5 e memoria RAM de 8GB.

A figura (6.21) apresenta a evolução da superfície freática em diversos

estágios da fase de enchimento até atingir a condição de regime permanente (2000

dias) para o Modelo 1. Com o objetivo de visualizar melhor as deformações

sofridas pela barragem, nesta figura também se plotou a geometria indeformada

da barragem.

Figura 6.21.- Evolução da linha freática e campos de deformação (malha deformada

com fator de escala = 100) durante o primeiro enchimento do reservatório.

Observa-se que, à medida que o nível do reservatório se eleva, também se

desenvolve uma frente de saturação que avança através do espaldar de montante

até atingir a base do núcleo em 100 dias de simulação. Até este período de tempo,

não se visualizam significativas deformações da barragem em função da elevada

rigidez assumida para o espaldar. Posteriormente, se observa que, pela baixa

permeabilidade do núcleo, ocorre um atraso no desenvolvimento da frente de

saturação, formando-se uma pressão hidráulica na face de montante do núcleo. À

medida que esta pressão incrementa, deslocamentos direcionados para jusante

acontecem à medida que se eleva o nível do reservatório. Neste período de tempo,

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 25: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

132

também ocorrem movimentos ascendentes nas bases do núcleo e do espaldar de

montante, provocados pela subpressão da fundação.

Após 2000 dias de simulação, observa-se a posição da superfície freática na

condição de regime permanente. Neste período de tempo, também se observa que,

em relação ao período de tempo anterior (190 dias), o núcleo teve certa

movimentação em direção à montante. Estes movimentos ocorrem porque, à

medida que a frente de saturação avança, as pressões hidráulicas na face de

montante do núcleo são contrapostas pelas poropressões que se desenvolvem no

seu interior.

Na condição de regime permanente, observam-se também movimentos

ascendentes, na região superior do espaldar de montante, produzidos pela

expansão deste material devido ao umedecimento. No entanto, a região superior

do núcleo à jusante parece experimentar movimentos descendentes, evidenciando

que estas regiões experimentam colapso por umedecimento. Para uma melhor

explicação destes comportamentos, alguns resultados são apresentados a seguir

para alguns pontos do modelo, sendo estes indicados pela figura (6.22).

Figura 6.22.- Localização de pontos para análise de resultados.

A figura (6.23) apresenta a evolução dos deslocamentos, verticais e

horizontais, assim como da poropressão nestes pontos durante o período de tempo

simulado. Durante os primeiros 120 dias, o ponto A experimenta os maiores

deslocamentos devido ao incremento da pressão hidráulica exercida pela água na

face do talude do espaldar de montante. No entanto, após este período de tempo,

este ponto apresenta uma queda na taxa dos deslocamentos horizontais,

ocasionada pelo surgimento de poropressões que se contrapõem à pressão

hidráulica. Diferentemente deste ponto, os outros pontos parecem se deslocar em

direção à jusante com taxas que vão se incrementando à medida que se eleva o

nível do reservatório. Este comportamento também é observado no ponto E,

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 26: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

133

devido ao surgimento de elevadas poropressões na fundação, gerando subpressões

na base do núcleo.

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Tempo (dias)

0.00

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

0.08

Des

loca

men

tos

vert

icai

s (m

)

A

B

D

E

C

200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Tempo (dias)

0.00

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

0.08

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Tempo (dias)

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18

0.20

Des

loca

men

tos

hori

zont

ais

(m)

A

B

D

E

C

200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Tempo (dias)

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18

0.20

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Tempo (dias)

-100

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Por

opre

ssão

(kP

a)

A

B

D

E

C

200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Tempo (dias)

-100

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Figura 6.23.- Deslocamentos vertical e horizontal e poropressão nos pontos de

observação durante a fase de enchimento do reservatório até o regime permanente.

Quando o reservatório está praticamente cheio, os deslocamentos verticais

no ponto B apresentam uma queda que ocorre até os 400 dias de simulação; a

mesma situação acontece com seus deslocamentos horizontais. Observa-se

também que as quedas destes deslocamentos coincidem com os incrementos de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 27: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

134

poropressão nesta região, evidenciando um comportamento de colapso à medida

que esta se umedece. A figura (6.24) confirma esta hipótese, apresentado regiões

com deformações plásticas quando o nível de reservatório atinge seu máximo

valor.

Figura 6.24.- Regiões com deformações plásticas no final do enchimento do

reservatório. Malha deformada com fator de escala = 100.

Estas deformações plásticas são originadas, em princípio, pelos diferentes

módulos de rigidez dos materiais do espaldar e do núcleo, criando assentamentos

diferenciais na interface entre ambos durante o enchimento do reservatório. Como

consequência, os materiais desta região experimentam mecanismos de

cisalhamento que causam a plastificação do núcleo. Assim, o estado de tensão

destas regiões é modificado de tal forma que, à medida que a frente de saturação

se desenvolve pelo núcleo, deformações plásticas de contração continuam a

ocorrer.

Após 400 dias de simulação, os deslocamentos verticais no ponto B

continuam a se incrementar. Isto pode ser explicado observando o comportamento

que apresenta o ponto C, próximo à base do núcleo. As regiões próximas deste

ponto não sofreram mecanismos de cisalhamento durante o enchimento do

reservatório. Consequentemente, quando umedecidas (vide a evolução das

poropressões em C) estas regiões se expandem elasticamente, fazendo que as

regiões superiores do núcleo, como o ponto B, experimentem movimentos

ascendentes. Repare que os comportamentos observados nos pontos B e C

também foram identificados no primeiro exemplo de aplicação.

A figura (6.25) apresenta os resultados das poropressões determinadas por

ambas as análises acoplada e desacoplada para fins comparativos.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 28: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

135

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Tempo (dias)

-100

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Por

opr

essã

o (k

Pa)

Poropressão em Aacoplado

desacoplado

A

B

D

E

C

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Tempo (dias)

-50

-25

0

25

50

75

100

125

150

175

Por

opre

ssão

(kP

a)

Poropressão em Bacoplado

desacoplado

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Tempo (dias)

-100

0

100

200

300

400

500

Por

opre

ssão

(kP

a)

Poropressão em Cacoplado

desacoplado

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Tempo (dias)

200

300

400

500

600

700

800

Por

opre

ssão

(kP

a)

Poropressão em Eacoplado

desacoplado

Figura 6.25.- Comparação de poropressão obtidas pelas análises acoplada e

desacoplada durante o primeiro enchimento do reservatório.

Na figura (6.25) observam-se comportamentos similares para os pontos A e

E. Isto acontece porque nestas zonas foram considerados elevados módulos de

elasticidade; desta forma, os resultados da análise desacoplada, que assume que

todos os materiais são rígidos, se aproximam dos resultados da análise acoplada.

No entanto, diferenças significativas entre os resultados de ambas as

análises podem ser apreciadas nos pontos B e C. Para estes pontos, a frente de

saturação da análise acoplada se desenvolve muito mais rapidamente que aquela

da análise desacoplada. Esta frente atinge os pontos B e C com tempos de

antecipação de 400 e 180 dias, respectivamente. Posteriormente, na condição de

regime permanente, verifica-se que as poropressões são bastante superiores nas

análises acopladas.

Estas diferenças nos resultados de ambas as análises são explicadas pelas

pressões hidráulicas aplicadas na face de montante da barragem durante o

enchimento do reservatório. De acordo com Alonso & Pinyol (2009), estas

pressões hidrostáticas originam esforços de compressão que provocam

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB
Page 29: 6.1. Considerações gerais · 2018-01-31 · 6 Exemplos de aplicação 6.1. Considerações gerais Neste capítulo, apresentam-se alguns problemas comumente encontrados na Geotecnia

Exemplos de aplicação

136

incrementos nas poropressões. Consequentemente, as frentes de saturação se

desenvolvem mais rapidamente nas análises acopladas porque os gradientes

hidráulicos são maiores. As diferenças significativas nos resultados do ponto B na

condição de regime permanente podem ser atribuídas às elevadas deformações

que ocorrem nas regiões próximas a este ponto, discutidas anteriormente.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0812431/CB