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1 COMEÇANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado RESUMO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL-PARTE I PROFª SABRINA DOURADO NOÇÕES GERAIS DA TEORA GERAL DO PROCESSO Afim de obter a tão sonhada pacificação social, o Estado criou regras para a solução dos conflitos , as quais, em seu conjunto denominam-se “Direito Processual”, que sem dúvida é uma das formas mais importantes e dos tempos modernos para a superação das antinomias, das tensões e dos conflitos que lhe são próprios. Assim, o processo é um instrumento a serviço da paz social. As normas de direito processual disciplinam o exercício da jurisdição e, conforme a natureza da lide pode ser direito processual penal ramo que regulamenta a atuação da pretensão punitiva do Estado, por intermédio da perda da liberdade imposta à pessoa que praticou conduta violadora de norma considerada relevante para todo o corpo social; o direito processual do trabalho regula a atuação do Estado na apreciação de conflitos relativos à relação de emprego, e, após a Emenda Constitucional n. 45/2004, também às relações de trabalho, caso das pessoas físicas prestadoras de serviço autônomo dentre outros; e o direito processual civil que regulam o exercício da jurisdição quanto às lides de natureza civil. Quando se fala em regulamentação do exercício da jurisdição, está-se a referir, entre outras coisas, à disciplina das atividades dos órgãos jurisdicionais (juizes), das partes (autor e réu), dos auxiliares dos órgãos jurisdicionais (escreventes, escrivães, oficiais de justiça, peritos etc.) e do Ministério Público. Destarte, o Direito Processual Civil pode ser conceituado como o conjunto de princípios e normas que regulam a função jurisdicional do Estado, responsável pela solução de conflitos. Possui natureza de direito público, pois sua função imediata é a aplicação da lei ao caso concreto para restabelecer a ordem jurídica ditada pelo Estado de Direito. A função mediata é a pacificação social. NOMENCLATURA A ciência processual recebeu ao longo da história diversas nomenclaturas, dentre elas processo civil, direito judiciário e direito jurisdicional. Entretanto, a nomenclatura mais acertada e mais usual para esta ciência é a de direito processual, o que é gênero das espécies: direito processual civil, direito processual penal e direito processual do trabalho. AUTONOMIA DO DIREITO PROCESSUAL Há autonomia do direito processual civil, ou direito instrumental, em face do direito civil, ou direito substancial, e perante outros ramos do direito, em razão da evidente diversidade da natureza e de objetivos. Contudo, esta autonomia não significa isolamento, uma vez que o direito processual civil faz parte do sistema maior, a ciência do direito, da qual apenas é um dos seus vários ramos. No direito constitucional - o direito processual vai encontrar as diretrizes jurídicas-políticas da sua estrutura e da sua função na Constituição Federal se esboçam os princípios fundamentais do processo. Estreitas as relações do direito processual civil com o direito administrativo, máxime no que concerne à organização dos serviços da justiça, como serviços públicos regulamentados, segundo princípios e normas abrangentes dos demais serviços do estado. FONTES Podem ser materiais ou formais. Formais Constituição, leis ordinárias federal (CPC), regimentos internos dos tribunai s, LOJ’s. Devem ser obrigatoriamente seguidos.

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado RESUMO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL-PARTE I PROF SABRINA DOURADO NOES GERAIS DA TEORA GERAL DO PROCESSO Afim de obter a to sonhada pacificao social, o Estado criou regras para a soluo dos conflitos , as quais, em seu conjunto denominam-se Direito Processual, que sem dvida uma das formas mais importantes e dos tempos modernos para a superao das antinomias, das tenses e dos conflitos que lhe so prprios. Assim, o processo um instrumento a servio da paz social. As normas de direito processual disciplinam o exerccio da jurisdio e, conforme a natureza da lide pode ser direito processual penal ramo que regulamenta a atuao da pretenso punitiva do Estado, por intermdio da perda da liberdade imposta pessoa que praticou conduta violadora de norma considerada relevante para todo o corpo social; o direito processual do trabalho regula a atuao do Estado na apreciao de conflitos relativos relao de emprego, e, aps a Emenda Constitucional n. 45/2004, tambm s relaes de trabalho, caso das pessoas fsicas prestadoras de servio autnomo dentre outros; e o direito processual civil que regulam o exerccio da jurisdio quanto s lides de natureza civil. Quando se fala em regulamentao do exerccio da jurisdio, est-se a referir, entre outras coisas, disciplina das atividades dos rgos jurisdicionais (juizes), das partes (autor e ru), dos auxiliares dos rgos jurisdicionais (escreventes, escrives, oficiais de justia, peritos etc.) e do Ministrio Pblico. Destarte, o Direito Processual Civil pode ser conceituado como o conjunto de princpios e normas que regulam a funo jurisdicional do Estado, responsvel pela soluo de conflitos. Possui natureza de direito pblico, pois sua funo imediata a aplicao da lei ao caso concreto para restabelecer a ordem jurdica ditada pelo Estado de Direito. A funo mediata a pacificao social. NOMENCLATURA A cincia processual recebeu ao longo da histria diversas nomenclaturas, dentre elas processo civil, direito judicirio e direito jurisdicional. Entretanto, a nomenclatura mais acertada e mais usual para esta cincia a de direito processual, o que gnero das espcies: direito processual civil, direito processual penal e direito processual do trabalho. AUTONOMIA DO DIREITO PROCESSUAL H autonomia do direito processual civil, ou direito instrumental, em face do direito civil, ou direito substancial, e perante outros ramos do direito, em razo da evidente diversidade da natureza e de objetivos. Contudo, esta autonomia no significa isolamento, uma vez que o direito processual civil faz parte do sistema maior, a cincia do direito, da qual apenas um dos seus vrios ramos. No direito constitucional - o direito processual vai encontrar as diretrizes jurdicas-polticas da sua estrutura e da sua funo na Constituio Federal se esboam os princpios fundamentais do processo. Estreitas as relaes do direito processual civil com o direito administrativo, mxime no que concerne organizao dos servios da justia, como servios pblicos regulamentados, segundo princpios e normas abrangentes dos demais servios do estado. FONTES Podem ser materiais ou formais. Formais Constituio, leis ordinrias federal (CPC), regimentos internos dos tribunais, LOJs. Devem ser obrigatoriamente seguidos.

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado Materiais A jurisprudncia, os costumes e a doutrina. Servem para consulta. DIFERNA ENTRE O DIREITO MATERIAL E PROCESSUAL O direito material cria regras para distribuir os bens da vida, materiais e imateriais, como os direitos da personalidade, regras para o casamento e a separao, contratos etc., que servem de parmetro para o estado, no exerccio da jurisdio, solucionar os conflitos, a exemplo, do Direito Civil. Enquanto, O direito processual trata da forma como as situaes conflituosas sero apreciadas pelo Judicirio, dispondo sobre a distribuio do exerccio jurisdicional da tutela pleiteada (processo de conhecimento, execuo e cautelar). O processo no um fim em si mesmo, mas tcnica desenvolvida para a tutela do direito material. O processo realidade formal conjunto de formas preestabelecidas. A separao entre direito e processo no pode implicar um processo neutro em relao ao direito material que est sob tutela. A viso instrumentalista do processo estabelece a ponte entre o direito processual e o direito material. Dessa forma, o direito processual eminentemente formal, pois estabelece requisitos relativos ao modo, ao lugar e ao tempo em que se realizam os atos jurdicos e que constituem sua forma de expresso. No se engloba na forma a discusso sobre a substncia do ato praticado. A prevalncia das formas, entretanto, no absoluta, uma vez que o direito processual moderno repudia o apego ao formalismo. Se o ato processual no ocorre na forma que foi estabelecida, muito embora atinja seu objetivo, considerado vlido se no causar prejuzo aos litigantes, ou ao exerccio da jurisdio (CPC, arts. 244 e 249, 1 e 2).

A LEI PROCESSUAL CIVIL E A EVOLUO HISTRICA DA CINCIA PROCESSUAL CIVIL Como cedio, toda norma jurdica tem eficcia limitada no espao e no tempo, isto , aplica-se somente dentro de dado territrio e por um determinado perodo de tempo. Tais limitaes aplicam-se, inclusive, norma processual. Assim, a lei processual aplica-se,desde logo, aos processos pendentes (art. 1.211, CPC), respeitando-se, prem, os atos j praticados, bem como o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada (art. 5, XXXVI, CF). Sendo a jurisdio o exerccio do poder de soberania do Estado, vigora o principio da territorialidade, segundo o qual se aplica a lei processual brasileira aos casos que aqui forem submetidos a julgamento, mesmo em se tratando de negcios jurdicos concludos no exterior, mas cuja execuo ocorra no Brasil, ou que as partes elejam a Justia brasileira para dirimir eventual conflito. A territorialidade da aplicao da lei processual expressa pelo art. 1 do C.

BREVE HISTRICO DA CINCIA PROCESSUAL At a edio do regulamento n. 737 no ano de 1850, que regulou o procedimento das causas comerciais, vigoravam no Brasil as Ordenaes Filipinas, que datavam de 1603. Posteriormente, o Regulamento n 763, de 1890, j na era republicana estendeu o Regulamento n 737 aos feitos civis. Pouco depois, em 1891, a primeira Constituio Republicana dividiu a Justia em Federal e Estadual, autorizando os Estados Federados a legislar sobre processo. A iniciativa no deu certo e a Constituio de 1934 atribuiu exclusivamente Unio a competncia para legislar sobre o processo. Em 1 de maro de 1940 entrou em vigor o Cdigo Nacional de Processo Civil, Decreto-lei n 1.608/39, que vigorou at 1973, quando entrou em vigor o atual Cdigo de Processo Civil, lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973, que reformou o Cdigo de 1939, baseando-se em anteprojeto redigido pelo Ministro Alfredo Buzaid. Desde ento, o Cdigo j foi alterado dezenas de vezes, mas manteve sua estrutura bsica, que se compe de cinco livros, assim intitulados: I Do Processo de Conhecimento; II Do Processo de Execuo; III Do processo Cautelar; IV Dos Procedimentos Especiais: V Das Disposies Gerais e Transitrias.

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado FORMAS DE RESOLUO DE CONFLITOS As resolues de conflitos no jurisdicionais Autotutela Autocomposio Renncia (conciliao) Submisso Transao (conciliao) Arbitragem A resoluo de conflito jurisdicional A jurisdio

Jurisdio

Ao

Processo A cincia processual se estrutura em trs pilares bsicos, os quais sejam: a jurisdio, a qual pode ser concebida como o poder que tem o Estado de resolver os conflitos existentes na sociedade. Ao passo que a ao, num dos seus diversos sentidos, compreendida como direito fundamental constitucional que tem o cidado de buscar na proteo jurdica frente a uma leso ou ameaa dela. Por fim, esta estrutura primria do processo ou da cincia processual ainda tem como pilar o processo, que nada mais que um instrumento que tem por finalidade a garantia do exerccio da ao por maio da jurisdio. Os conflitos, tambm conhecidos como lides, podem ser resolvidos por meios jurisdicionais e nojurisdicionais. Estes ltimos formam a regra da vida em sociedade por longo perodo, j que o Estado no interferia neles. Com a passagem ao Estado intervencionista, passa-se a consagrar um modelo de resoluo de conflitos jurisdicional, uma vez que o Estado passa a ser o detentor da jurisdio. Com o passar do tempo, o volume de processos levados aos rgos jurisdicionais nos trs a chamada crise da justia, a qual responsvel pelo renascimento da resoluo dos conflitos no-jurisdicionais que hoje, nas modalidades de autocomposio e arbitragem, crescem de forma relevante. Entende-se por forma de resoluo de conflitos no-jurisdicionais, modalidades de solues, isto , meios alternativos de pacificao social. A conscientizao de que o importante pacificar, torna-se irrelevante que a pacificao venha por obra do Estado ou por outros meios, desde que eficientes. As principais espcies so: AUTOTUTELA A autotutela, ou seja, a autoproteo, pode ser compreendida como a primeira das formas de resoluo de conflitos. No passado surgindo um desacordo entre dois sujeitos, este seria resolvido atravs do uso da fora, sem a influncia do Estado ou de terceiros. Vale ressaltar que hoje a autotutela proibida na grande maioria dos ordenamentos jurdicos, sendo excepcionalmente permitida, j que ela configura inclusive um ilcito penal. Exemplos da excepcional autotutela permitida: direito de greve, a legtima defesa e a reteno de bagagens. Logo, a autotutela pode ser compreendida como a soluo de conflitos de interesses que se d pela imposio da vontade de uma das partes, com o sacrifcio do interesse da outra. Caracteriza-se pela ausncia de juiz distinto das partes; e imposio por uma das partes outra; 3

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AUTOCOMPOSIO Autocomposio pode ser compreendida como a forma de resoluo de conflitos que pode ser dada ntre dois sujeitos quando estes procedem ao ajuste de vontade sem a utilizao da fora. Ela pode ser dividida em submisso (nesta uma das partes abre mo da sua vontade, submetendo-se vontade da outra). Obs.- A submisso um instituto que est vinculado aquele que tem contra si a postulao do direito, sendo renncia a abdicao do direito postulado pelo sujeito. J a transao, tambm compreendida como conciliao, concebida como ajuste recproco de vontade entre as partes, sendo ela a mais comum das autocomposio. Vale ressaltar que na autocomposio poder surgir ainda a figura do mediador o qual, regra geral, ser um bacharel em direito que se colocar entre as partes para aconselh-las a resolver um conflito sem ter, no entanto, poder decisrio. MEDIAO Objetiva trabalhar o conflito; surgindo o acordo como mera conseqncia. As partes em conflito nomeiam um terceiro que ir oferecer uma soluo para a controvrsia. Conciliao a tentativa de conciliar, ou seja, acordar as partes conflitantes. O cdigo de processo civil atribui ao juiz o dever de tentar a qualquer tempo conciliar as partes (art. 125, IV) e em seu procedimento ordinrio inclui-se uma audincia preliminar (ou audincia de conciliao), na qual o juiz, tratando-se de clusulas, versando direitos disponveis, tentar soluo conciliatria antes de definir os pontos controvertidos a serem provados. Em matria Criminal a conciliao vinha sendo inadmissvel, dada absoluta indisponibilidade da liberdade corporal e a regra nulla poena sine judicio, de tradicional prevalncia na ordem constitucional brasileira (intra, n.7). Com a CF/88, abriu-se nova perspectiva, que previu a instituio de juizados especiais, providos por juizes togados ou togados e leigos, competentes para conciliao, o julgamento e a execuo de infraes penais de menor potencial ofensivo. A mediao assemelha-se conciliao. Na primeira objetiva-se trabalhar o conflito, surgindo o acordo como mera conseqncia. Na segunda, busca-se, sobretudo, um acordo entre as partes. Arbitragem tcnica de soluo de conflitos mediante a qual os conflitantes buscam uma terceira pessoa, de sua confiana, a soluo amigvel e imparcial do litgio. No Brasil, a arbitragem regulamentada pela Lei n. 9.307/96. S podem recorrer arbitragem as pessoas maiores e capazes. Assim, constitui vantagens de utilizao da arbitragem: rapidez, em face da ausncia de acumulo de servio dos rbitros, to comum no Poder Judicirio; a especializao dos rbitros; irrecorribilidade das decises; e a constituio de um ttulo executivo, que legitima a propositura da de processo de execuo. O arbitro uma terceira pessoa de confiana das partes que vai impor uma deciso, e agir com imparcialidade. O mediador tambm escolha de terceiro pelas partes, porm, no pode impor sua deciso. O rbitro no possui fora executiva. A arbitragem foi instituda pela Lei 9.307/96 e consiste no procedimento para solues de conflitos que tratem de direitos disponveis, e so resolvidos por terceiros particulares escolhidos de comum acordo pelos contratantes. Tambm de acordo com o art. 31 da Lei da Arbitragem, a sentena arbitral ser ttulo executivo quando contiver eficcia condenatria. Entretanto, o contedo da sentena arbitral vulnervel analise do Poder Judicirio, apenas, sobre os aspectos da sua regularidade. Logo, podemos indicar como caractersticas da arbitragem: 1 Podem se submeter arbitragem qualquer pessoa maior que tenha capacidade. 2 Os dois sujeitos envolvidos num conflito devero escolher um terceiro de comum acordo. 3 O rbitro ao carecer da graduao em direito, podendo ele ser qualquer do povo que conte com 18 anos. 4 Podero as partes escolher as regras do direito que sero utilizadas, e conforme o art. 2 da Lei, podem ainda se valer da eqidade. 5 A arbitragem pode ser convencionada por dois meios especficos, a clusula arbitral ou compromissria ou por uma conveno arbitral. A primeira delas sempre prvia existncia do conflito e 4

COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado ajustada pelas partes antecipadamente. Normalmente, ela vem posta numa clusula contratual, ao passo que a conveno surge aps o conflito para regulamentar. 6 O rbitro dever obrigatoriamente proferir sentena arbitral, a qual est prevista nos arts. 23 a 33 da Lei 9.307/96. 7 Esta sentena em regra irrecorrvel no judicirio, o qual poder apenas ajustas pequenos equvocos formais cometidos nesta sentena. 8 Uma vez descumprida pelas partes, ela s ser executada no judicirio, j que o rbitro no possui fora executiva. 9 Se quaisquer dos requisitos da arbitragem forem infringidos, ela poder ser controlada pelo judicirio, eis o que ocorre com os contratos de adeso. Obs. Somente os direitos disponveis podem ser resolvidos pela arbitragem. O TEMPO X O CUSTO DO PROCESSO Muito se discute sobre o problema do acesso justia, j que com o passar do tempo percebeu-se que o processo no era acessvel todos, seja pelo seu custo ou pelo tempo que era gasto na obteno da tutela jurisdicional (proteo ofertada pelo Estado) Em relao ao custo do processo, foram criados mecanismos que facilitassem todos o incio de um processo, da surgiram os benefcios da gratuidade judiciria e da assistncia judiciria integral. Ambas foram regulamentadas pela Lei 1.060/50. No mesmo intuito, foram criados os juizados especiais cveis, os quais esto regulamentados, por determinao constitucional, pela Lei 9.099/95. Estes rgos tm como principal finalidade o atendimento populao carente, sendo eles isentos de custas. Ressalte-se ainda populao que as partes podero pleitear seus direitos sem a necessria presena do advogado quando as suas causas tiverem como valor at 20 salrios mnimos. Em relao ao tempo do processo, passou-se a questionar a morosidade da prestao jurisdicional, j que o processo no tem um tempo pr-estabelecido mas, passou-se a ser concebido como procedimento ineficaz. Diante destes problemas, alguns doutrinadores, a exemplo da Ada Pellegrini, passou a afirmar que estaramos vivenciando a crise da justia, j que para se falar de acesso justia preciso tratar de um acesso a uma ordem jurdica justa. Destas problemticas, a EC 45/2044 implementa a chamada reforma do judicirio, a qual responsvel pela edio de diversas Leis que alteram o CPC, pela implementao do princpio da durao razovel do processo (art. 5, LXXVIII).

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JURISDIO O litgio coloca em perigo a paz social e a ordem jurdica, o que reclama a atuao do Estado, que tem como uma de suas funes bsicas, a tarefa f solucionar a lide. Dentro deste contexto, o Estado, por meio do Poder Judicirio, tem o poder-dever de dizer o direito, formulando norma jurdica concreta que deve disciplinar determinada situao jurdica, resolvendo a lide e promovendo a paz social, este poderdever do Estado de dizer o direito, resolvendo o conflito, o que a doutrina chama de jurisdio. Assim, a jurisdio abrange trs poderes bsicos: deciso, coero e documentao. Pelo primeiro, o Estado-juiz tem o poder de conhecer a lide, colher provas e decidir; pelo segundo, o Estado-juiz pode compelir o vencido ao cumprimento da deciso; pelo terceiro, o Estado-juiz pode documentar por escrito os atos processuais. As acepes da jurisdio so: Poder capacidade de decidir imperativamente e impor decises; atividade dos rgos para promover pacificao dos conflitos; funo complexo de atos do juiz no processo. FINS DA JURISDIO De acordo com a concepo instrumentalista do processo, a jurisdio tem trs fins: a) o escopo jurdico, que consiste na atuao da vontade concreta da lei. A jurisdio tem por fim primeiro, portanto, fazer com que se atinjam, em cada caso concreto, os objetivos das normas de direito substancial; b) o escopo social consiste em promover o bem comum, com a pacificao, com justia, pela eliminao dos conflitos, alm de incentivar a conscincia dos direitos prprios e o respeito aos alheios; e c) o escopo poltico.- aquele pelo qual o estado busca a afirmao de seu poder, alm de incentivar a participao democrtica (ao popular, ao coletivas, presena de leigos nos juizados etc.) e a preservao do valor liberdade, com a tutela das liberdades pblicas por meio dos remdios constitucionais (tutela dos direitos fundamentais). PRINCPIOS INERENTES JURISDIO: Investidura a jurisdio o exerccio de um poder estatal, mas como ente abstrato, o Estado tem de atribuir a funo jurisdicional a um rgo ou agente, pessoa natural que o representa, recebendo parcela desse poder quando regularmente investida na autoridade de juiz. Territorialidade por se tratar de um ato de poder, o juiz exerce a jurisdio dentro de um limite espacial sujeito soberania do Estado. Alm desse limite ao territrio do Estado, sendo numerosos os juzes de um Estado, normalmente o exerccio da jurisdio que lhes compete delimitado parcela do territrio, conforme a organizao judiciria da Justia em que atua, sendo as reas de exerccio da autoridade dos juizes divididas na Justia Federal em sees judicirias e na Justia Estadual em comarcas. Assim, se o juiz, em processo, precisa ouvir testemunha que resida em outra comarca, dever requisitar por meio de carta precatria ao juiz da outra comarca (juzo deprecado) que colha o depoimento da testemunha arrolada no processo de sua jurisdio (do juzo deprecante), uma vez que sua autoridade adere ao territrio em que exerce a jurisdio. O mesmo ocorre com a citao por oficial de justia e a penhora de bem situado em comarca diversa daquela em que tramita o feito. Se o ato a praticar situar-se fora do territrio do Pas, dever ser solicitada carta rogatria autoridade do Estado estrangeiro, solicitando sua cooperao para a realizao do ato. Indelegabilidade cada poder da Repblica tem as atribuies e o contedo fixados constitucionalmente, vedando-se aos membros de tais Poderes por deliberao, ou mesmo mediante lei, alterar o contedo de suas funes. Aplica-se a hiptese aos juizes, que no podem delegar a outros magistrados, ou mesmo a outros Poderes ou a particulares, as funes que lhes foram atribudas pelo Estado, j que tais funes so do poder estatal, que as distribui conforme lhe convm, cabendo ao juiz apenas seu exerccio. Inevitabilidade este princpio traduz-se na imposio da autoridade estatal por si mesma por meio da deciso judicial. Quando provocado o exerccio jurisdicional, as partes sujeitam-se a ela mesmo contra a sua vontade, sendo vedado autoridade pronunciar o non liquet em seu oficio jurisdicional. O Estado deve decidir a questo, no se eximindo de sentenciar alegando lacuna ou obscuridade da lei (CPC, art. 126).

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado Inafastabilidade previsto no art. 5, XXXV, da CF/88, este princpio consiste no direito concedido a qualquer pessoa (natural ou jurdica) de demandar a interveno do Poder Judicirio para satisfazer uma pretenso fundada em direito que entende haver sido lesado, ou estar sob a ameaa de leso. O Judicirio, reconhecendo ou no o direito pleiteado, no pode recusar-se a intervir no litgio. Tambm designado princpio do controle jurisdicional. Juiz natural as partes, na soluo do litgio, tm direito a julgamento realizado por juiz e tribunal com competncia previamente estabelecida (CF/88, art. 5, XXXVII), que sejam independentes e imparciais. Inrcia o princpio da inrcia est ligado ao carter inquisitivo ou acusatrio do processo respectivamente, se o juiz tem poderes para exercer de oficio o controle jurisdicional ou se depende da provocao das partes. Nosso sistema optou pelo acusatrio, ou principio da ao, atribuindo s partes o poder de provocar o exerccio jurisdicional, dizendo-se ento que a jurisdio inerte. Justifica-se o principio da inrcia tambm pelo fato de que a atividade jurisdicional deve incidir em carter excepcional, no intervindo espontaneamente em conflitos que podem ser solucionados amigavelmente entre as partes dentro do mbito de disponibilidade de seus direitos. CARACTERSTICAS DA JURISDIO Substitutividade consiste na circunstncia de o Estado, ao apreciar o pedido, substituir a vontade das partes, aplicando ao caso concreto a vontade da norma jurdica. Imparcialidade conseqncia do quanto j visto: pois para que se possa aplicar o direito objetivo ao caso concreto, o rgo judicial h de ser imparcial. Para muitos, a principal caracterstica da jurisdio. Lide conflito de interesses qualificados pela pretenso de algum e pela resistncia de outrem. Entretanto, nem sempre necessrio lide para exercer a jurisdio, como por exemplo, nos casos de separao consensual, mudana de nome etc. Monoplio do Estado o Estado tem o monoplio da jurisdio, que pode ser exercido pelo Judicirio, como tambm pelo legislativo. Inrcia a jurisdio inerte, porque somente se movimenta se for provocada. O juiz s pode agir dentro de um processo quando provocado pelas partes. Porm existem excees, a exemplo, de reconhecimento da prescrio ex-oficio, para proteger direitos de menores e incapazes etc. Unidade - a jurisdio poder estatal; portanto, uma. Para cada Estado soberano, uma jurisdio. S h uma funo jurisdicional, pois se falssemos de varias jurisdies, afirmaramos a existncia de varias soberanias e, pois, de vrios Estados. No entanto, nada impede que esse poder, que uno, seja repartido, fracionado, em diversos rgos, que recebem cada qual suas competncias. O poder uno, mas divisvel. Aptido para a produo de coisa julgada material: a definitividade a possibilidade da deciso judicial fazer coisa julgada material situao que j foi decidida pelo Poder judicirio em razo da apreciao do caso concreto a qual no poder ser revista por outro poder, exceto : caso de penso alimentcia etc. CLASSIFICAES OU ESPCIES DE JURISDIO. Enquanto poder estatal, a jurisdio una; no entanto, por motivos de ordem prtica, principalmente pela necessidade da diviso do trabalho, costuma-se dividir as atividades jurisdicionais segundo vrios critrios. Assim, quando a doutrina fala em espcies de jurisdio, trata, na verdade, da distribuio do conjunto de processos em determinadas categorias. Distingue-se entre a jurisdio penal e a civil. O critrio classificatrio o objeto da pretenso deduzida perante o estado-juiz, sendo a penal uma pretenso punitiva, que tem por objeto privar temporariamente a liberdade do acusado pela prtica de determinado ilcito, definido em lei como crime. Seu exerccio dividido entre juizes estaduais comuns, pela Justia Militar estadual, pela Justia federal, pela Justia Militar Federal e pala Justia Eleitoral, cuja competncia definida pela Constituio federal, que confere atribuies s justias especializadas em razo da matria ou da funo exercida pelas pessoas. Justia Estadual resta a competncia residual, tanto em matria criminal quanto em matria civil.

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado A jurisdio civil, em sentido amplo, composta pelas demais espcies de pretenses de natureza civil, tributaria administrativa, trabalhista, comercial etc. a jurisdio civil exercida pela Justia Federal, pela Justia Trabalhista, pela Justia Eleitoral e pela Justia estadual. Ressalte-se que, apesar da distino, impossvel isolar completamente a relao jurdica, determinando competncia exclusiva jurisdio penal, ou civil. que o ilcito penal no difere, na substancia, do civil, sendo as definies dos direitos violados naquele extradas do direito civil. Aludiu-se a existncia de organismos judicirios a que a Constituio distribui competncia para julgar casos em matria criminal e civil. Com base nessa diviso, classifica-se a jurisdio tambm em especial e comum, integrando a primeira a Justia Militar, a Eleitoral, a Trabalhista e as Justias Militares Estaduais, compondo a segunda a Justia federal e a Justia estadual. Ressalte-se que, prevendo nosso ordenamento o duplo grau de jurisdio, tem-se a diviso em jurisdio inferior, composta pelas instancias ordinrias em primeiro grau, com julgamentos proferidos por juizes singulares, e jurisdio superior, composta pelas instancias superiores, em segundo grau pelos tribunais de Justia dos estados, Tribunais regionais federais e Tribunais das Justias Especializadas, bem como o Superior Tribunal de Justia, a zelar em ltima instncia pela correta aplicao da lei federal, e o Supremo Tribunal federal, ao qual compete, em ltima instncia, zelar pelo respeito Constituio, sendo o julgamento proferido por um colegiado de juizes. Distingue-se a jurisdio de direito e a de eqidade. A primeira incide no processo civil, consistindo no dever de o juiz julgar o caso sob a exata medida disposta nos institutos, sendo apenas excepcionalmente autorizado a julgar por eqidade (CPC, art. 127). Esta tambm a regra da jurisdio voluntria (CPC, art. 1.109). A JURISDIO VOLUNTRIA E TRAGA SUAS CARACTERSTICAS A jurisdio voluntria, tambm conhecida como jurisdio graciosa ou administrativa, comumente definida como a administrao pblica de interesses privados; nela no se cuida da lide, mas de questes de interesse privado que por fora da lei devem ter a chancela do Poder Pblico, tais como: nomeao de tutor ou curador, alienao de bens de incapazes, separao consensual, arrecadao de bens de ausentes etc. jurisdio voluntria aplicam-se as garantias fundamentais do processo, necessrias sobrevivncia do Estado de Direito, bem como todas as garantias da magistratura, asseguradas constitucionalmente. Em relao aos poderes processuais do magistrado, a doutrina aponta duas caractersticas da jurisdio voluntria: Inquisitoriedade: vige nos procedimentos de jurisdio voluntria, o principio inquisitivo, podendo o juiz tomar decises contra a vontade dos interessados. O magistrado, em inmeras situaes, tem a iniciativa do procedimento: arts. 1.129, 1.142, 1.160, 1.171 e 1.190, CPC. Possibilidade de deciso fundada na equidade: permite-se (art. 1.109, CPC) ao juiz no observar a legalidade estrita na apreciao do pedido, facultando-lhe o juzo por eqidade, que se funda em critrios de convenincia e oportunidade. O juzo de equidade excepcional; somente se poder dele valer o juiz quando expressamente por lei autorizado (art. 127 do CPC). No se trata, porm, de juzo de equidade acima da lei. Permite-se, em vrios casos, que o magistrado profira juzo discricionrio, que deve, porm, respeitar o princpio da proporcionalidade. COMPETNCIA CONCEITO O Estado tomou para si a funo de dizer o direito em todo o seu territrio. Para tanto, criou dentro da alada do Poder Judicirio, uma grande organizao, composta por diversos rgos jurisdicionais (STF, STJ, STM, STE, TRF etc.), repartindo a jurisdio entre eles, embora se deva ressaltar que a jurisdio, enquanto poder-dever do Estado, una, sendo que a mencionada repartio apenas para fins de diviso do trabalho. Deste modo, competncia nada mais do que a fixao das atribuies de cada um dos rgos jurisdicionais, isto , a demarcao dos limites dentro dos quais podem eles exercer a jurisdio. Neste sentido, juiz competente aquele que, segundo limites fixados pela Lei, tem o poder para decidir certo e determinado litgio (art. 86, CPC). 8

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FONTES Considerando-se os inmeros processos que podem ser instaurados durante a atividade jurisdicional no Pas, costuma-se organizar essa atividade estatal pela diviso de atribuies para apreciar determinadas causas entre seus rgos. Essa distribuio feita pela Constituio Federal, pelos diplomas processuais civil e penal e pelas leis de organizao judiciria, alm da distribuio interna da competncia nos tribunais, feita pelos seus regimentos internos. A Constituio brasileira j distribui a competncia em todo o Poder Judicirio federal (STF, STJ e Justias Federais: Justia Militar, Eleitoral, Trabalhista e Federal Comum). A Justia estadual , portanto, residual. PRINCIPAIS CRITRIOS DE FIXAO DA COMPETNCIA Os critrios que o legislador levou em conta para a distribuio de competncia so o da soberania nacional, o da hierarquia e atribuies dos rgos jurisdicionais (critrio funcional), o da natureza ou valor da causa e o das pessoas envolvidas no litgio (critrio objetivo), e os dos limites territoriais que cada rgo judicial exerce a atividade jurisdicional (critrio territorial).

CRITRIOS OBJETIVOS Competncia em razo da pessoa (partes); a fixao da competncia tendo em conta as partes envolvidas (ratione personae) pode ensejar a determinao da competncia originaria dos tribunais, para aes em que a Fazenda Pblica for parte etc; Competncia em razo da matria (ratione materiae) - causa de pedir; considera-se, ao fixar a competncia, a natureza da relao jurdica controvertida, definida pelo fato jurdico que lhe d ensejo, por exemplo: para conhecer de uma ao de separao, ser competente um dos juizes das Varas da Famlia e Sucesses, quando os houver na Comarca; Competncia em razo do valor da causa (pedido); muito menos usado, serve para delimitar, entre outras hipteses, competncia de varas distritais, ou, quando houver organizado, dos Tribunais de Alada. CRITRIO TERRITORIAL Os rgos jurisdicionais exercem jurisdio nos limites das suas circunscries territoriais, estabelecidas na Constituio federal e/ou Estadual e nas Leis. Destarte, os juizes estaduais so competentes para dizer o direito nas suas Comarcas, e os juizes federais, por sua vez, nos limites da sua Seo Judiciria. J os Tribunais Estaduais so competentes para exercer a jurisdio dentro do seu estado, os Tribunais Regionais Federais, nos limites da sua regio. O STF e o STJ podem dizer o direito em todo o territrio nacional. Sob o ngulo da parte, a competncia territorial em princpio determinada pelo domicilio do ru, para as aes fundadas em direito pessoal e as aes fundadas em direito real sobre bens mveis. (art. 94, CPC). Se o ru tiver domiclios mltiplos, poder ser demandado em qualquer deles ( 1); se incerto ou desconhecido, ser demandado no local em que for encontrado, ou no foro de domiclio do autor ( 2), facultando-se ao autor ajuizar a ao no foro de seu domiclio, se o ru no residir no Brasil e se o prprio autor tambm no tiver residncia no Pas ( 3). Ser ainda no foro de domiclio de qualquer dos rus no caso de litisconsrcio passivo ( 4). Alm dessas regras, existem outras, seja no CPC, seja em leis extravagantes, que estabelecem regras especficas para certas aes, por exemplo: I ao de inventrio, competente o foro do ultimo domicilio do autor da herana (art. 96, CPC; art. 1.785, CC/02); II ao declaratria de ausncia, competente o foro do ultimo domiclio do ausente (art. 97, CPC); III ao de separao, divrcio, converso de separao em divorcio e anulao de casamento, competente o foro do domiclio da mulher (art. 100, I, CPC); IV ao de alimentos, competente o foro do domiclio do alimentado, isto , aquele que pede os alimentos (art. 100, IICPC); V ao de cobrana, competente o foro do lugar onde a obrigao deveria ter sido satisfeita (art. 100, IV, d, CPC); VI ao de despejo, competente o foro da situao do imvel (art. 58, II, Lei n 8.245/91); VII ao de responsabilidade do fornecedor de produtos e servios, competente o foro domiclio do autor (art. 101, Lei n 8.078/90-CDC); VIII ao de adoo, competente o

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado foro do domiclio dos pais ou responsveis (art. 146, Lei n 8.069/90 ECA); IX aes movidas no Juizado Especial Cvel, competente o foro do domiclio do autor (art. 4, Lei n 9.099/95 JEC). CRITRIO FUNCIONAL Enquanto nos outros critrios busca-se estabelecer o juiz competente para conhecer de determinada causa, no critrio funcional reparte-se a atividade jurisdicional entre rgos que devam atuar dentro do mesmo processo. Como o procedimento se desenvolve em diversas fases, pode haver necessidade de determinados atos se realizarem perante rgos diversos; o caso da carta precatria para citao ou intimao e oitiva de testemunha que esteja domiciliada em comarca diversa daquela em que tramita o processo, para a realizao de penhora de bem situado em comarca diversa. Essa competncia alterada tambm de acordo com o grau de jurisdio. Normalmente se desloca a competncia para um rgo de segundo grau, um tribunal, para reapreciar processo decidido em primeira instancia por meio de recurso. CLASSIFICAO DE COMPETNCIA A competncia classifica-se em: Competncia do foro (territorial) e competncia do juzo Foro o local onde o juiz exerce as suas funes; a unidade territorial a qual se exerce o poder jurisdicional. No mesmo local, segundo as leis de organizao judiciria podem funcionar vrios juizes com atribuies iguais ou diversas. De tal modo, para uma mesma causa, constata-se primeiro qual o foro competente, para depois averiguar o juzo, que em primeiro grau de jurisdio, corresponde s varas, o cartrio, a unidade administrativa. Nas Justias dos Estados o foro de cada juiz de primeiro grau o que se chama comarca; na Justia Federal a subseo judiciria. O foro do Tribunal de Justia de um estado todo o Estado; o dos Tribunais Regionais Federais a sua regio, definida em lei (art.107, par. nico, CF); o do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justia e de todos os demais tribunais superiores todo o territrio nacional (CF, art.92, pargrafo nico). Portanto, competncia de foro, sinnimo de competncia territorial, e Juzo de rgo judicirio. A competncia do juzo matria pertinente s leis de organizao judiciria; j a de foro regulada pelo CPC. Competncia originria e derivada: A competncia originria atribuda ao rgo jurisdicional diretamente, para conhecer da causa em primeiro lugar; pode ser atribuda tanto ao juzo monocrtico, o que a regra, como ao tribunal, em algumas situaes, como por exemplo, ao rescisria e mandado de segurana contra ato judicial. Enquanto que a competncia derivada ou recursal atribuda ao rgo jurisdicional destinado a rever a deciso j proferida; normalmente, atribui-se a competncia derivada ao tribunal, mas h casos em que o prprio magistrado de primeira instancia possui competncia recursal, por exemplo, nos casos dos embargos infringentes de alada, cabveis na forma do art. 34 da lei de Execuo Fiscal, que sero julgados pelo mesmo juzo prolator da sentena. Incompetncia relativa x Incompetncia absoluta As regras de competncia submetem-se a regimes jurdicos diversos, conforme se trate de regra fixada para atender somente ao interesse publico, denominada de regra de incompetncia absoluta, e para atender predominantemente ao interesse particular, a regra de incompetncia relativa.. A incompetncia defeito processual que, em regra, no leva extino o processo, mesmo tratando-se de incompetncia absoluta, salvo nas excepcionais hipteses do inciso III do art.51 da Lei n.9.099/95 (juizados Especiais Cveis), da incompetncia internacional (arts. 88-89 do CPC) e do 1 do art. 21 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. A incompetncia quando absoluta pode ser alegada a qualquer tempo, por qualquer das partes, em sede de preliminar contestao, e, quando relativa, mediante exceo. Se absoluta, o juiz poder reconhecla de ofcio (CPC, art. 113), independentemente da alegao da parte, remetem-se os autos ao juiz competente e reputam-se nulos os atos decisrios j praticados, e, se relativa (CPC, art. 112), somente se 10

COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado acolher a exceo de incompetncia, remeter o juiz o processo para o juzo competente para apreciar a questo, que ter duas opes: reconhecer sua competncia ou divergir, declarando-se igualmente incompetente, suscitando o conflito de competncia (CPC, art. 115, II), e no se anulam os atos decisrios j praticados. Na incompetncia absoluta, responder integralmente pelas custas, a parte que deixar de alegar na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos responder integralmente pelas custas, na relativa, o juiz no pode reconhec-la de ofcio (Sumula 33 do STJ). REGRAS DE COMPETNCIA INTERNACIONAL A jurisdio fruto da soberania do Estado e, por conseqncia natural, deve ser exercida dentro do seu territrio. Entretanto, a necessidade de convivncia entre os Estados, independentes e soberanos, fez nascer regras que levam um Estado a acatar, dentro de certos limites estabelecidos em tratados internacionais, as decises proferidas por juizes de outros Estados. Diante dessa realidade, o legislador nacional definiu casos em que a competncia exclusiva do Poder Judicirio brasileiro (art. 89, CPC), e casos em que a competncia concorrente, sendo que a deciso proferida no estrangeiro pode vir a gerar efeitos dentro do nosso territrio, aps ser homologada pelo STJ (arts. 88, 89 e 483, CPC). MOMENTO QUE DEMARCA A FIXAO DE COMPETNCIA; EXCEES REGRA DA PERPETUATIO JURISDICTIONIS Segundo dispe o art. 87 do CPC, a competncia, em regra, determinada no momento em que a ao proposta com a sua distribuio (art. 263 c/c art. 251 do CPC) ou com o despacho inicial, sendo irrelevantes as modificaes do estado de fato (ex. Mudana de domiclio do ru) ou de direito (ex. ampliao do teto da competncia do rgo em razo do valor da causa) ocorridas posteriormente (perpetuatio jurisdictionis), salvo se suprimirem o rgo judicirio cuja competncia j estava determinada inicialmente - por exemplo, a extino de uma vara cvel; ou quando as modificaes ocorridas alterarem a competncia em razo da matria ou da hierarquia - porque so espcies de competncia absoluta, fixadas em funo do interesse pblico, razo pela qual outras modalidades de competncia absoluta devem estar abrangidas. Por exemplo, suponha-se a hiptese de vir a ser modificada, na lei de organizao judiciria, a competncia de uma das Varas Cveis da capital, que deixou de ter atribuies para conhecer de aes que envolvam direitos reais. O juiz dessa vara perder a competncia sobre todas as causas dessa espcie, j em curso naquela Vara, embora se trate de competncia ditada pela matria. A CONEXO E A CONTINNCIA A regra geral a da perpetuatio jurisdictionis (CPC, art. 87), que veda a alterao de competncia no curso da ao, sendo ela fixada no momento da propositura. No obstante a regra geral, o CPC, permite a modificao da competncia aps a propositura da ao nos casos de conexo ou continncia (art. 102, CPC). Assim, segundo o art. 103 do CPC, reputam-se conexas duas ou mais aes quando lhes for comum o objeto, ou seja, o pedido, por exemplo, nas aes entre as mesmas partes pedindo reviso do valor da penso alimentcia, e a causa de pedir , isto , o fato jurdico que d arrimo ao pedido, como nas aes com fundamento no mesmo contrato ou no mesmo fato, um acidente, por exemplo. A continncia, que uma espcie de conexo, segundo o art. 104 do CPC dse entre duas ou mais aes sempre que h identidade quanto s partes e causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras, como por exemplo nas aes entre as mesmas pessoas, relativas a um contrato de mtuo , sendo que em uma delas cobra-se uma prestao; na outra, cobra-se todo o valor do mtuo. PREVENO Preveno um critrio de confirmao e manuteno da competncia do juiz que conheceu a causa em primeiro lugar, perpetuando a sua jurisdio e excluindo possveis competncias concorrentes de outros juzos. Por se tratar de matria de ordem pblica, no se sujeita precluso, podendo ser alegada a qualquer tempo. Sendo juzes de mesma competncia territorial, considerar-se- prevento o que despachou em 11

COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado primeiro lugar (CPC, arts. 106 e 263), e sendo de competncia territorial diversa (comarcas distintas), considerar-se- prevento o juiz do processo que realizou a citao em primeiro lugar (CPC, art. 219). Entretanto, essa reunio s ser possvel se no ocorrer hiptese de competncia absoluta dos rgos julgadores e se as aes ainda estiverem pendentes de julgamento, tramitando no mesmo grau de jurisdio. OBSERVAO IMPORTANTE: A incompetncia relativa no pode ser declarada de oficio pelo juiz (compete ao ru levantar a questo, atravs de pea em separado, chamada exceo de incompetncia), salvo, segundo o pargrafo nico do art. 112 do CPC, acrescentado pela Lei n 11.280, de fevereiro de 2006, nos casos que envolvam litgios que tenham arrimo em contratos de adeso, vez que neste caso licito ao juiz ex officio reconhecer a nulidade da clusula de eleio de foro e declinar de sua competncia para o juzo de domicilio do ru. CONFLITO DE COMPETNCIA A questo da competncia ou incompetncia tambm pode ser levantada por um outro procedimento prprio, denominado conflito de competncia, regulado nos arts. 115 a 124 do CPC. O conflito pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo Ministrio Pblico ou pelo juiz (art. 116), e decido pelo tribunal que designa qual juiz o competente para decidir o conflito, pronunciando-se sobre a validade dos atos praticados pelo incompetente (art. 122). Instaura-se mediante petio dirigida ao presidente do tribunal, instruda com os documentos que comprovem o conflito, ouvindo o relator, com a distribuio, os juzes em conflito. Sobrestar o processo, caso o conflito seja positivo; se o conflito for negativo, o sobrestamento no ser necessrio, pois no haver juzo praticando atos processuais. Dever ainda o relator designar um juiz para solucionar as questes urgentes. Assim, h conflito de competncia quando dois ou mais juizes se declaram competentes (conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo) e tambm no caso de controvrsia sobre reunio ou separao de processos (CPC, art. 115, I, II e III). O conflito entre autoridade judiciria e autoridade administrativa, ou s entre autoridades administrativas, chama-se conflito de atribuies e no conflito de competncia. AO ACEPES E CONCEITO DE AO No obstante a controvrsia profunda em torno da natureza jurdica da ao, causa de inmeras teorias sobre o assunto, o entendimento moderno e que rene a maioria dos juristas no sentido de que a ao um direito pblico subjetivo. , assim, o direito que assiste a qualquer pessoa de pedir, num caso concreto, a prestao da atividade jurisdicional do Estado, a quem cabe zelar pela harmonia social. A palavra ao, na dogmtica jurdica, possui vrios sentidos. A cincia processual, notadamente sob influencia italiana, preocupou-se em delimitar o conceito de ao. Delimitar o conceito de ao, foi o principal tema, o principal objeto de pesquisa dos processualistas na fase de afirmao do processo civil como ramo autnomo do Direito. Inmeras foram as teorias. PRINCIPAIS ACEPES SOBRE O QUE SEJA AO ao como direito material em movimento/exerccio. No processo romano no havia distino ntida entre a relao jurdica processual e a relao jurdica material no processo deduzida. Ao, neste contexto, era o prprio direito material violado, cujo exerccio se dava perante os tribunais da poca.Esta vinculao do direito de ao ao direito material ainda bastante visvel nas leis civis, que vez por outra falam que algum tem ao contra outrem. Fala-se, por exemplo, em ao regressiva, como sinnimo de direito de reembolso.

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado Ao como direito autnomo em relao ao direito material. Ao, neste sentido, seria o direito de provocar a jurisdio, direito ao processo, direito de instaurar a relao jurdica processual. Trata-se da pretenso tutela jurdica (PONTES DE MIRANDA), que se exerce contra o Estado para que ele preste justia.s autonomistas dividiam-se entre:abstrativistas, que consideravam que o direito de ao era abstrato, pois existiria sempre, pouco importa o resultado da causa (existncia ou no do direito matrias).concretistas, para quem, embora autnomo, o direito de ao s existiria se o autor tivesse o direito material.A concepo abstrativista prevaleceu, embora com o tempero que lhe foi ministrado pela concepo ecltica de ENRICO TULLIO LIEBMAN. No h quem discuta que a CF, quando garante a inafastabilidade da apreciao do Poder Judicirio (art. 5, XXXV), confere a todos o direito de exigir do Estado a prestao jurisdicional, em qualquer situao. Este direito incondicionado e pertence a todos. Ao como exerccio daquele direito abstrato de agir. Ao exercida, Ao processual, demanda, pleito, causa, todas essas so palavras sinnimas e possuem o sentido de identificar o exerccio do direito abstrato de ao, que no caso sempre concreta, porque relacionada a determinada situao jurdico-substancial.Pela ao processual, exerce-se o direito constitucional de ao, levando-se a juzo a afirmao de existncia do direito material (ao em sentido material), fato que j revela como o estudo desse instituto se encontra no ponto de contato do direito processual como direito material. Essa acepo a considerada, atualmente, do ponto de vista prtico e didtico, a mais importante. O estudo dos elementos da ao, da cumulao de aes, do concurso de aes, da classificao das aes gira em torno da ao exercida, e no do direito de ao constitucionalmente considerado.Questes, como a coisa julgada, a conexo/continncia, a prejudicialidade, a interveno de terceiro, do mesmo modo, esto intimamente relacionada ao exercida. As condies da ao tambm s se admitem se a ao condicionada for a ao exercida. PRINCIPAIS CARACTERSTICAS Direito pblico: pblico subjetivo exercitvel pela parte para exigir do Estado a obrigao da prestao jurisdicional; Direito abstrato: pouco importando seja de amparo ou desamparo pretenso de quem o exerce; Direito autnomo: pode ser exercitado sem sequer relacionar-se com a existncia de um direito subjetivo material; Direito instrumental: refere-se sempre deciso a uma pretenso ligada ao direito material (positiva ou negativa), sendo o Estado o detentor do poder. Dever de solucionar os conflitos inter-subjetivos de interesses ocorrentes entre os indivduos e as coletividades; a ao exercida contra ele, no contra o ru. Exerce-se a ao contra o Estado e em face do ru. Ao como direito autnomo e concreto: seria a ao um direito autnomo. Embora diverso do direito material lesado, s existe quando tambm exista o prprio direito material a tutelar. A ao seria o direito sentena favorvel. A ao dirigida contra o Estado e contra o adversrio, defendido por Wach, Bullow, Hellwig e Chiovenda. CONCEITO DE DEMANDA Demanda a pretenso levada a juzo. aquilo que se vai buscar ao judicirio, o que se almeja perante o juzo. um direito subjetivo que instrumentalizado atravs da petio inicial. AS CONDIES DA AO Condies da ao so os requisitos necessrios para pedir a prestao jurisdicional, isto , para propor ou contestar ao, e esto previstas no ordenamento jurdico ptrio a saber, a) o interesse processual a necessidade que tem a parte de recorrer ao Poder Judicirio para alcanar a tutela pretendida, e essa tutela pode trazer-lhe algum interesse do ponto pratico; b) a legitimidade para a causa (legitimatio ad causam) a qualidade que deve ter aquele que pretende participar diretamente em processo judicial, como autor, como ru ou como terceiro juridicamente interessado; e c) possibilidade jurdica do pedido que a existncia de previso legal, ou ausncia de proibio, para a pretenso formulada ao Poder 13

COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado Judicirio, pelo menos em tese. O termo pedido deve ser entendido no em seu sentido estrito (relativo ao mrito), mas conjugado com a causa de pedir. CLASSIFICAO AS AES Quanto ao tipo de provimento pedido pelo autor, as aes so ordinariamente classificadas em aes cautelares, de conhecimento e de execuo. As aes cautelares so as que suscitam medidas jurisdicionais preventivas, a fim de acautelar interesses das partes em perigo pela demora da tutela jurisdicional nas aes de conhecimento ou de execuo. J as aes de conhecimento, ou cognio, so aquelas que invocam uma tutela jurisdicional de conhecimento, em que o Estado-juiz, aps tomar conhecimento pleno do conflito, prolata deciso que resolve a lide. Ressalve-se que a Lei n 11.232, de 22 de dezembro de 2005, com vigncia para 24 de junho de 2006, transformou a ao de execuo fundada em titulo judicial em fase da ao de conhecimento, que no mais termina com a sentena, estendo-se at a efetiva realizao do direito (atos executivos), salvo quando a executada for a Fazenda Pblica (arts. 730 e 731, CPC). Por ltimo, as aes de execuo so aquelas que invocam uma tutela de execuo (fora estatal), que procuram realizar praticamente o direito j reconhecido em certos ttulos extrajudiciais com eficcia executiva (art. 585, CPC), e em decises proferidas nas aes de conhecimento em desfavor da Fazenda Pblica (arts. 730 e 731, CPC). Como j vimos, a tutela jurisdicional se manifesta por meio de deciso, ou meio de atos de execuo, ou por meio de medidas cautelares ou preventivas. A tutela jurisdicional sob forma de deciso do mrito da causa pressupe um processo de conhecimento. A tutela de execuo reclama atos executrios que realizem praticamente a sentena proferida em ao de conhecimento ou ttulos extrajudiciais a que a lei atribui eficcia executiva. A tutela jurisdicional cautelar visa a acautelar interesses das partes em perigo pela demora da providncia jurisdicional de conhecimento ou de execuo. Conforme se trate de tutela jurisdicional de conhecimento, de execuo, preventiva ou cautelar, se classificam as aes em aes de conhecimento, aes de execuo e aes cautelares. Aes de Conhecimento: O processo, de que se vale o rgo jurisdicional, se diz de conhecimento, porque atravs dele se conhecer com segurana no s a pretenso do autor como a resistncia que lhe ope o ru, isto , a lide posta em juzo. Assim, as aes de conhecimento podem ser: meramente declaratria aquela em que o pedido do autor se resume declarao de existncia ou de inexistncia de uma relao jurdica ou autenticidade ou falsidade de documento (CPC, art. 4.)1 ; b) condenatria declara-se a violao ao preceito legal e impe-se uma sano ao infrator, e c) constitutiva Ex. Separao Judicial por injria grave: declara-se a existncia de uma injria grave e decreta a extino do vnculo conjugal. Resciso de contrato: declarado o inadimplemento contratual, segue-se a decretao da resciso do contrato. Aes Executivas: Visam um provimento satisfativo. Provocam providncias jurisdicionais de execuo. Pode acontecer que, proferida a sentena, na ao condenatria, o ru, isto , o devedor, satisfaa a obrigao. Caso no satisfaa espontaneamente a obrigao poder o credor utilizar-se do ttulo executivo para solicitar da jurisdio providncias indispensveis para realizar efetivamente a regra sancionadora contida na sentena. Aes Cautelares: So aes preventivas que visam a providncias urgentes e provisrias, tendentes a assegurar os efeitos de um provimento principal, em perigo por eventual demora na soluo do processo.

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado Em verdade, atravs do processo de conhecimento e de execuo, a jurisdio cumpre o ciclo de suas funes principais. Mas, para assegurar o xito dessas atividades, no raro, necessita-se da atividade cautelar. OBS: A substituio processual expresso sinnima da legitimao extraordinria? O Cdigo de Processo Civil em vigor no Brasil diploma legal moderno e erigido sobre os mais slidos pilares da dogmtica do Direito Processual Civil. Todavia, exclusivamente individualista. Sua preocupao foi unicamente a de encaminhar solues para as lides individuais - direitos individuais das pessoas fsicas e jurdicas. O art. 6, que regula a legitimidade extraordinria ou substituio processual que: s se pode agir em juzo em nome prprio para a defesa de direito prprio, o que prova a sua caracterstica individualista. Deve haver coincidncia entre a legitimao de direito material e a legitimao de direito processual. S quando houver expressa autorizao legal que algum pode em nome prprio, defender direito de outrem (CPC 6 a contrario sensu). a substituio processual. Porm, existem problemas que decorrem de relaes jurdicas de massa, que reclamam solues diferentes daquelas previstas pelo CPC para os conflitos intersubjetivos. Razo esta pela qual sobrevieram algumas normas legais no Brasil destinadas a encaminhar solues para as lides coletivas. AES DPLICES Conceitua-se aes dplices como aes (pretenses de direito material) em que a condio dos litigantes a mesma, no se podendo falar em autor e ru, pois ambos assumem concomitantemente as duas posies. Tal circunstncia decorre da pretenso deduzida em juzo. So exemplos: a) as aes declaratrias; aes divisrias; c) as aes de acertamento, como a prestao de contas e oferta de alimentos. CUMULAO DE AES E CONCURSO DE AES Concurso de aes significa que uma nica lide pode ser dirimida de mais de uma forma, de uma ao. A opo por uma dessas aes, geralmente, significa a renncia s demais, como se d na maioria das vezes. Como exemplo, pode-se invocar o caso dos vcios redibitrios: onde o adquirente pode, uma vez constatado o defeito oculto ou um vcio que torne a coisa imprpria para o consumo, optar entre redibir o contrato ou reclamar o abatimento do preo. Aqui, escolhida uma via, haver a renncia da outra. Isto ocorre porque a sentena do juiz que julgar o mrito (a lide) produz coisa julgada material, proibindo a repetio de uma ao que j tenha sido decidida em seu mrito. Cumulao de aes a possibilidade de o autor cumular, ajuntar, num mesmo processo, dois ou mais pedidos. O autor pode, exemplificativamente, acionar o ru para postular contra ele sua condenao ao pagamento de danos materiais e morais, desde que oriundos do mesmo fato (o que permitido pelo STJ, em entendimento j sumulado). A cumulao de aes orienta-se pelo princpio da economia processual. PROCESSO E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS CONCEITO DE BREVE HISTRICO Processo o mtodo por meio do qual se opera a jurisdio. Em outras palavras, processo o instrumento utilizado pelo Estado-juiz para realizar a funo de prestar a tutela jurisdicional queles que o procuram por meio do ajuizamento de uma ao, seja qual for a natureza do conflito. Portanto, o processo se constitui numa relao jurdica de direito pblico, que tem seus atos documentados por escrito (autos do processo). Enquanto o processo se apresenta como mtodo, o instrumento, pelo qual o Estado exerce a jurisdio, procedimento a forma material pela qual o processo se realiza em cada caso concreto.

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado Vrias so as teorias acerca da natureza jurdica do processo. O direito processual, at meados do sculo XIX, no era reconhecido como cincia autnoma. Na chamada fase imanentista, o processo era tratado como mero apndice do direito material. Os civilistas ou imanentistas consideravam essencial o direito material, por isso, o denominaram direito substantivo, ao passo que o processo, tido como simples conjunto de formalidades para atuao prtica daquele, era chamado direito adjetivo. A formulao das teorias da relao processual e da nova conceituao do direito de ao pelos alemes, sob influncia do direito italiano, foram decisivas para o desmembramento do direito processual frente ao direito material. O marco inicial da autonomia cientfica do direito processual data da publicao, em 1868, do reconhecido livro do jurista alemo Oskar von Blow denominado Teoria dos pressupostos processuais e das excees dilatrias, com a qual se inicia o desenvolvimento da teoria do processo como relao jurdica, e esboase os princpios bsicos de forma a dar contornos de cincia ao direito processual civil. de Bllow a qualificao do processo como relao jurdica que no se reduz a um simples procedimento de regulamentao e ordenao das formas e atos das partes e do juiz. Essa tese possibilitou a sistematizao do instituto substancial. Elucidou o conceito de processo como relao das partes com o Estado-juiz distinta da relao de direito material em discusso, esclarecendo que a relao processual o continente onde se realiza a discusso de direito material, mas que envolve, naquela, a) sujeitos diversos, pois, alem das partes na defesa de suas posies, tem-se o Estado-juiz mediando o conflito e decidindo, b) que tem por objeto a prestao jurisdicional, c) com pressupostos prprios de constituio e validade (pressupostos processuais). PINCPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL Princpios processuais gerais, ou fundamentais, so normas jurdicas, escritas ou no, que informam e guiam todo sistema processual (processo e procedimento), servindo de parmetro para o legislado infraconstitucional, medida que envolve um prvio juzo de valor sobre vrios aspectos do processo. O Estado Democrtico de Direito, ao estabelecer regras, baseia-se em princpios orientadores, deduzidos do sistema jurdico ou expressos constitucionalmente. Diante da possibilidade de conflito entre as regras, e pelo fato de estas se basearem em princpios do sistema, faz-se necessrio solucionar tais conflitos, sem afastar a incidncia dos princpios que as fundamentaram. Dessa forma, diferenciam-se as regras dos princpios. Estes so valores abstratos que orientam a estruturao do ordenamento jurdico; enquanto, as regras so entendidas como comandos gerais de conduta sobre fatos. Toda cincia, em qualquer ramo do conhecimento humano, requer uma organizao coerente de todas as regras que a compem. Para garantir a coerncia e evitar o conflito entre as regras, faz-se necessrio o estabelecimento de princpios, que servem como base de organizao e estabelecem os contornos da cincia. Funcionam como preceitos fundamentais e, no caso do direito, consistem em valores com fins sociais, polticos, morais ou ticos, eleitos para informar o sistema jurdico e auxiliar na elaborao legislativa, na interpretao de normas e na aplicao da lei ao caso concreto. Assim, existem vrios princpios constitucionais processuais que so garantidores de verdadeiros direitos fundamentais processuais. H ainda, outros princpios processuais que dizem respeito mais especificamente a alguns assuntos da dogmtica processual: jurisdio (juiz natural e inafastabilidade) lealdade (deveres da s partes) recursos (duplo grau de jurisdio). H tambm o direito fundamental assistncia jurdica e assistncia judiciria. Assim, relacionaremos os princpios fundamentais que comandam as garantias processuais do cidado, revelando a sua importncia. Princpio fundamental a um processo devido. (devido processo legal) Este o principal princpio desta disciplina. Alguns doutrinadores o apelidam de princpio me do processo, outros afirmam que s ele bastaria para regulamentar essa cincia, j que dele que nascem todos os demais. A primeira vez que se falou deste princpio foi em 1215, na carta de Joo - Sem-terra. Hoje ele tido como postulado constitucional bsico, segundo o qual ningum poder ser processado sem o devido processo legal.

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado Considera-se o princpio do devido processo legal aquele que garante aos jurisdicionados a proteo estatal, obedecendo-se ainda as formas processuais pr-estabelecidas, bem como a ordem processual justa. Antigamente, este princpio tinha funo meramente formal. Concebia-se como devido processo ento, aquele que atendesse forma dos atos pr-estabelecida. Com o advento o Estado democrtico de direito e da influncia constitucional, este princpio teve o seu conceito ampliado, passando-se a falar em um devido processo material, ou seja, aquele que garantisse os direitos fundamentais dos litigantes. Trata-se do postulado fundamental do processo. Tambm conhecido pela expresso inglesa due processo of law, encontra-se expressamente previsto no art. 5, LIV, da Constituio Federal que declara que ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal, significando que a pessoa s pode ser privada de seus bens por meio de processo cujo procedimento e cujas conseqncias tenham sido previstos em lei, entendida esta como a regra geral que, emanada de autoridade competente, imposta coercitivamente obedincia de todos. Aplica-se este princpio genericamente a tudo que disser respeito vida, ao patrimnio e liberdade. Inclusive na formao de leis. O devido processo legal aplica-se, tambm no mbito privado, seja na fase pr-contratual, seja na fase executiva. Na verdade, qualquer direito fundamental, e o devido processo legal um deles, aplica-se no mbito das relaes jurdicas privadas. Direito fundamental efetividade ( tutela executiva) ou mxima da maior coincidncia possvel. A Constituio federal no art. 5, 1 e 2 deixa claro que o rol dos direitos e garantias fundamentais no exaustivo, incluindo outros previstos em tratados internacionais. Assim, a doutrina mais moderna fala, no direito fundamental tutela executiva, denominado tambm de princpio da mxima coincidncia possvel. Trata-se de velha mxima Chiovendiana, segundo a qual o processo dever dar a quem tenha razo o exato bem da vida a que ele teria direito, se no precisasse se valer do processo jurisdicional. Direito fundamental a um processo sem dilaes indevidas No Brasil, o direito ao processo sem dilaes indevidas, como corolrio do devido processo legal vinha expressamente assegurado ao membro da comunho social por norma de aplicao imediata (art. 5, 1, CF). Decorreria esse direito fundamental, ainda, dos princpios da inafastabilidade e da proteo dignidade da pessoa humana. A EC. N. 45/2004, incluiu no inciso LXXVIII no art. 5 da CF/88, assegurando a todos a razovel durao do processo e os meio que garantam a celeridade de sua tramitao. Acrescentou, ainda, na alnea e, inciso II do art. 93 da CF/88 que o juiz no a mesma emenda constitucional que no ser promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder alm do prazo legal. Direito fundamental igualdade O principio da igualdade (CF/88, art. 5, caput) estabelece o dever do Estado-juiz de dar tratamento isonmico s partes litigantes. Essa isonomia, entendida como igualdade de tratamento e de oportunidade de intervir no processo, deve ser substantiva, ou seja, o julgador deve buscar o equilbrio de fato entre os litigantes, tratando os desiguais na medida de sua desigualdade. Dessa forma, os litigantes devem receber tratamento processual idntico; devem estar em combate com as mesmas armas, de modo a que possam lutar em p de igualdade, ou seja, devem estar em paridade de armas: o procedimento deve proporcionar s partes as mesmas armas para a luta. Direito fundamental participao em contraditrio. O processo um instrumento de composio de conflito pacificao social que se realiza sob o manto do contraditrio. Por isso, a Constituio federal em seu art. 5 , LV , impe a paridade de tratamento entre as partes, o que garante ao ru no s o direito de conhecer o pedido do autor, mas tambm o direito de respond-lo.

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado O contraditrio e a ampla defesa (CF/88, art.. 5, LV) so desdobramentos do principio da igualdade. Consistem na garantia de iguais oportunidades de atuao das partes para buscar o convencimento judicial no processo. O contraditrio outorga o direito de audincia bilateral das partes no processo, correspondendo ao dever do magistrado de possibilitar essa audincia antes de formar seu convencimento e para form-lo. No admite exceo. Nos processos de conhecimento em que se antecipam os efeitos da tutela e nas cautelares em ao de conhecimento, quando no ouvida a parte contrria, que muitas vezes nem citada, diante da urgncia e da necessidade de garantir o resultado prtico da ordem judicial, posteriormente, a ela conferido o direito ao contraditrio, impugnao de tais decises. Diz-se em tais casos que o contraditrio deferido. em que se concede liminarmente uma tutela que visa assegurar a preservao de bem jurdico que ser disputado A ampla defesa consiste em possibilitar parte fazer uso de todos os meios legais previstos para obter a tutela de seu direito na mais ampla instruo probatria, sendo esses recursos facultativos no processo civil e obrigatrios no processo penal. Neste no pode o ru ficar sem defesa tcnica, garantindo-se ainda ao acusado o direito autodefesa por meio do interrogatrio e ainda a presenciar todos os atos de instruo do processo. Cabe ressaltar que o inqurito policial no procedimento judicial, e sim administrativo, portanto no se lhe aplicam tais princpios.

Direito fundamental amplitude da defesa Previstos no mesmo dispositivo constitucional (art. 5, LV, CF/88), contraditrio e ampla defesa distinguem-se. Ressalte-se que a ampla defesa direito fundamental de ambas as partes, .consistindo no conjunto de meios adequados para o exerccio do adequado contraditrio. Trata-se do aspecto substancial do contraditrio. Princpio da adequao e da adaptabilidade do procedimento Segundo a doutrina, o principio da adequao, pode ser visualizado em dois momentos: a) o pr-jurdico, legislativo informador da produo legislativa do procedimento em abstrato; b) o processual, permitindo ao juiz, no caso concreto, adaptar o procedimento de modo a melhor afeioa-lo s peculiaridades da causa. Princpio da precluso Pela precluso, se superam as fases procedimentais, impulsionando a dinmica processual. Precluso a perda de uma faculdade processual ou da possibilidade de se rediscutirem ou regularem questes. H trs espcies: temporal, lgica e consumativa. Principio da instrumentalidade O direito processual eminentemente formal, pois estbelece requisitivos relativos ao modo, ao lugar e ao tempo em que se realizam os atos jurdicos e que constituem sua forma de expresso. Embora no referido por muitos autores, esse princpio serve para salientar que o processo no um fim em si, mas apenas um instrumento de realizao do direito como um todo. Principio da cooperao Quanto ao princpio da cooperao, existe no Brasil alguma repercusso na doutrina, que orienta o magistrado a tomar uma posio de agente-colaborador do processo, de participante ativo do contraditrio e no mais a de um mero fiscal de regras.Este princpio Direito fundamental publicidade 18

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Buscando garantir a veracidade, correo e transparncia dos atos processuais, estes devem ser preferencialmente pblicos, inclusive as audincias (arts. 155 e 444, CPC), conforme norma prescrita na Constituio federal, que declara que todos os julgamentos dos rgos do poder Judicirio sero pblicos, e fundamentados todas as decises, sob pena de nulidade... Juiz natural aquele com competncia previamente estabelecida para conhecer do litgio pelas normas legais. Assim, as partes, na soluo do litgio, tm direito a julgamento realizado por juiz e tribunal investidos de atribuies jurisdicionais fixadas e limitadas pela Lei Maior, que sejam independentes e imparciais. O artigo 5, inciso XXXVII, da CF, consagra o princpio da regular investidura do juiz ou do juiz natural, cujo escopo proibir uma justia de privilgios ou exceo, garantindo-se a todos que o julgamento de seus litgios sejam efetivados por juzes legais, juzes investidos nas suas funes de conformidade com as exigncias constitucionais. A fora dessa garantia constitucional no permite que os poderes constitudos criem juzos destinados a julgamentos de determinados casos ou de pessoas especificadas. Assim, o princpio do juiz natural fundamenta-se no sentimento universal exposto na Declarao Universal dos Direitos do Homem, de 10 de dezembro de 1948, ao consagrar que "toda pessoa tem direito, em condies de plena igualdade, de ser ouvida, publicamente, e com justia, por tribunal independente e imparcial, para a determinao de seus direitos e obrigaes, ou para o exame de qualquer acusao contra ela em matria penal". Contudo, o Juiz natural recebe do Estado a atribuio constitucional de exercer a funo jurisdicional, com observncia rigorosa aos princpios fundamentais constantes no art. 93 da Carta Magna. Princpio da Isonomia Este princpio fundamenta-se no caput, artigo 5, da Constituio Federal de 1988, que estabelece o dever do Estado-juiz de dar tratamento isonmico s partes litigantes. Essa isonomia, entendida como igualdade de tratamento e de oportunidade de intervir no processo, deve ser substantiva, ou seja, o julgador deve buscar o equilbrio de fato entre os litigantes, tratando os desiguais na medida de sua desigualdade. O princpio da igualdade tem por escopo garantir a identidade de situao jurdica para o cidado. premissa para afirmao da igualdade perante o juiz. No se refere, conforme se depreende do texto constitucional, a um aspecto ou a uma forma de organizao social; existe como um postulado de carter geral, com a misso de ser aplicado em todas as relaes que envolverem o homem. No mbito da proteo das garantias processuais do cidado, o princpio da igualdade constitui postulado vital. um direito fundamental que exige um comportamento voltado para que a lei seja tratada de modo igual para todos os cidados. Princpio da Publicidade O processo deve ser pblico, pois a atividade jurisdicional, como parte das funes do estado, submete-se ao controle da sociedade (CF/88, arts. 5, LX e 93, IX). Esse controle visa garantir a independncia, a imparcialidade, a autoridade e a responsabilidade do juiz em seu mister. Este princpio constitui uma preciosa garantia do indivduo no tocante ao exerccio da jurisdio. A presena do pblico nas audincias e a possibilidade do exame dos autos por qualquer pessoa representam o mais seguro instrumento de fiscalizao popular sobre a obra dos magistrados, promotores pblicos e advogados. O povo o juiz dos juzes. O sistema brasileiro admite apenas excepcionalmente a restrio da publicidade, quando o bem jurdico tutela considerado mais relevante que a divulgao de atos do processo. Princpio da Economia e celeridade processuais Tem por escopo a rpida soluo do litgio, privilegiando a celeridade e a efetividade do processo. Desse modo, aes que sejam conexas por lhes serem comuns o objeto ou a causa de pedir, ou uma ao que contenha outra com pedido mais restrito, devero ser reunidas para evitar o desperdcio de dupla atividade judicial e para impedir a prolao de decises contraditrias. A reconveno e o procedimento sumrio tambm so exemplos da incidncia do princpio da economia. O pargrafo nico do art. 154 do CPC tambm representa um desdobramento deste princpio, ao admitir que os tribunais podero disciplinar a

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado prtica e a comunicao oficial dos atos processuais por meios eletrnicos, mais cleres no desenvolvimento do processo. Outro desdobramento deste princpio o aproveitamento dos atos processuais, tambm designado princpio da instrumentalidade das formas. Consiste no entendimento de que,embora praticados de maneira diversa da estabelecida, se os atos alcanaram o objetivo que se visava no feito, no h por que serem invalidados, como por exemplo, quando o ru ingressa espontaneamente nos autos, fazendo as vezes da citao no realizada, e contesta a ao. Princpio da Fundamentao das decises judiciais Este princpio, como o da publicidade, voltado para o controle de sociedade sobre a atividade jurisdicional, como mecanismo de averiguao da imparcialidade dos juizes e da justia da deciso. Presta-se tambm como meio de justificar s partes as razoes de convencimento do julgador, necessrias para eventual interposio de recurso. Determina a Carta Magna, a obrigao de o juiz de qualquer grau motivar as suas decises, independentemente da natureza das mesmas. O no cumprimento deste princpio acarretar a nulidade do julgamento.

Princpio da Imparcialidade O juiz representa o rgo do Estado encarregado da soluo do conflito de interesses entre dois ou mais litigantes. Deve situar-se, portanto, entre as partes e acima delas, no devendo adotar posio apriorstica a favor de qualquer litigante sem antes garantir o desenvolvimento do processo por intermdio do exerccio dos direitos de ao e de defesa, com a produo de provas pelas partes at culminar na deciso fundamentada. A imparcialidade do juiz pressuposto para que a relao processual se instaure validamente. Nesse sentido, o rgo jurisdicional dever ser subjetivamente capaz. Como garantia da imparcialidade vigora tambm o principio do juiz natural, que aquele com competncia previamente estabelecida para conhecer do litgio. Princpio do Dispositivo/inquisitivo O princpio dispositivo aquele que informa que cabe pessoa interessada provocar, por meio do ajuizamento de uma ao, o Poder judicirio. Em outras palavras, aquele que pensa ter sido violado em seus direitos deve provocar o estado-juiz, que at ento permanece inerte. Este princpio encontra-se previsto expressamente no art. 2 CPC. Todavia, embora o processo deva necessariamente comear por iniciativa da parte (princpio da inrcia), uma vez ajuizada a ao, esta se desenvolve por impulso oficial (princpio do impulso oficial) , ou seja, cabe ao juiz cuidar para que esta siga a sua marcha at que seja prolatada a sentena, resolvendo ou no a lide. Neste sentido, a norma do art. 262 do CPC, que declara que o processo civil comea por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial. Ligado a estes dois princpios, h ainda o principio inquisitivo, que confere ao juiz poder para buscar, por todos os meios a seu alcance, a verdade real, podendo, a fim de alcanar este objetivo determinar a produo das provas que achar necessria (art. 130, CPC). Princpio da Proporcionalidade/razoabilidade O princpio da proporcionalidade o instrumento hbil para a harmonizao de princpios do mesmo grau hierrquico (princpio da propriedade privada X princpio da funo social da propriedade). Consiste na acomodao da incidncia de princpios em coliso, por critrios de proporcionalidade, afastando interpretaes extremas de um dos princpios em desfavor do outro. A proporcionalidade conjuga a aplicao de um dos princpios sem deixar de respeitar um mnimo de incidncia do outro. O princpio da razoabilidade proclama que as partes agem sempre de acordo com a razo e enquadradas em certos padres de conduta. Seu conceito fundamenta-se no artigo 5, LIV, da Constituio Federal que diz:: ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Devido a ampla possibilidade de interpretao, o 20

COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado referido enunciado tem gerado muitas implicaes., tais como: a determinao de que ningum ser julgado seno por juzo competente e pr-constitudo, alm de aplicarem-se ao referido enunciado os brocardos latinos de nullum crimen sine lege, ou ento nulla poena sine lege. Contudo, enquanto princpio conformador de direito material que a ausncia de disposio expressa do princpio da razoabilidade mais sentida. PRINCIPAIS CARACTERSTICAS E OBJETO As principais caractersticas do processo so: Formalismo jurdico so formas estabelecidas por lei e que devem ser obedecidas na realizao dos atos jurdicos. Solenidades que do aos atos os seus efeitos jurdicos. A principal caracterstica do processo a que eles so formais, e suas solenidades ho de ser observadas para que tenham eficcia plena e conduzam o procedimento do qual fazem parte a sua seqncia natural, at o ultimo ato a ser realizado, que a sentena. Imperatividade evidente a imperatividade das regras e dos princpios processuais. No entanto, h juristas que no admitem seja o direito constitudo de juzos imperativos. Consideram toda norma jurdica como um enunciado simplesmente indicativo ou descritivo: a certos fatos, correspondem certas conseqncias. A norma no mais seria que uma declarao ao mesmo tempo ntica (descritiva do fato) e dentica (o que deve ser) da espcie regulada. J outros juristas que admitem o carter imperativo das normas, mas o consideram como um imperativo hipottico e no como um imperativo categrico. Porm, grande parte dos juristas antigos consideravam a norma legal como um imperativo categrico, como um comando obrigatrio, mas hoje ela tida como um imperativo hipottico binado, que liga um prmio ou uma sano, conforme o destinatrio cumpra ou descumpra o preceito.

SUJEITOS PROCESSUAIS Os sujeitos do processo so pessoas, fsicas ou jurdicas, que participam da relao processual (partes), quais sejam: autor e ru. Diz-se do autor aquele que formula o pedido ao juzo, enquanto o ru aquele em face de quem o autor faz o pedido; juiz sujeito imparcial do processo, investido de autoridade para dirimir a lide; e terceiros interessados - poder ingressar como parte principal. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS Pressupostos processuais so todos os elementos de existncia, os requisitos de validade e as condies de eficcia do procedimento, aspecto formal do processo, que ato de formao sucessiva, ou seja, so os requisitos necessrios para a constituio e o desenvolvimento regular do processo. Subidividem-se em: Pressupostos de existncia do processo: subjetivos: juiz e parte; objetivo existncia de demanda. Pressupostos antecedentes, ou de existncia do processo, so aqueles que devero preexistir relao processual. So os requisitos necessrios para a instaurao do processo. Requisitos de validade: subjetivos: juiz e partes (capacidade processual e capacidade postulatria); objetivos: extrnsecos(ou negativos) perempo, litispendncia, coisa julgada, conveno de arbitragem. Destarte, os pressupostos processuais responsveis pela validade da relao processual podem ser classificados sob dois aspectos distintos: os pressupostos positivos, que devem estar presentes no processo, e os pressupostos negativos, cuja ausncia necessria para a validade da relao processual. CLASSIFICAO

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COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado Alm das condies da ao, que como se disse, se apresentam como requisitos para a obteno de um pronunciamento judicial quanto ao mrito do pedido (direito material), existem outros requisitos, denominados pela doutrina pressupostos processuais, que constituem condio para o estabelecimento vlido da relao jurdica processual. Em sntese, tanto as condies da ao como os pressupostos processuais se apresentam como pressupostos da atividade jurisdicional. As condies referem-se viabilidade da ao sob o ponto de vista do direito material invocado, j os pressupostos processuais referem-se exclusivamente possibilidade da formao vlida da relao processual. Tradicionalmente, a doutrina classifica os pressupostos processuais em: I pressupostos de existncia, que demandam seja o processo iniciado por meio de petio inicial, distribuda ou protocolada perante rgo do Poder Judicirio, que quem tem jurisdio, e, por fim, a citao vlida do ru, que completa a relao jurdica processual; II pressupostos de validade, que se subdividem em: subjetivos, que demandam a presena de um juiz regularmente investido (princpio do juiz natural), competente, segundo as normas de organizao judiciria, e imparcial, e parte que tenha capacidade processual e esteja regularmente representada por advogado ou pelo Ministrio Pblico, que tm capacidade postulatria; objetivos, que envolvem a inexistncia de fatos impeditivos (v.g. litispendncia, perempo, coisa julgada, conveno de arbitragem etc.), e a subordinao s normas legais (v.g. petio inicial elaborada nos termos do art. 282 do CPC, apresentao do instrumento de mandato, escolha correta do procedimento etc.). OBS: Como o ordenamento jurdico ptrio prev o regramento processual das pessoas casadas? O casamento fato jurdico que ecoar de forma bastante expressiva no processo civil, mais designadamente no diz respeito capacidade processual das pessoas casadas. Assim, reformulando substancialmente o assunto, o novo Cdigo disps de maneira mais condizente com a situao da mulher, sobre a capacidade processual das pessoas casadas. Marido e mulher tm hoje, como se v do artigo 10, plena capacidade para a propositura de aes em juzo, sem que um necessite da autorizao do outro, salvo em determinados casos em que, obrigatoriamente, ambos devem figurar no processo. Portanto, quando tiverem de propor aes sobre bens imveis ou direitos reais sobre imveis alheios, um depende da autorizao do outro (art. 10 CPC). Por outro lado, tero plena capacidade para serem rus isoladamente, em quaisquer aes, salvo as seguintes, para as quais, conforme pargrafo nico do art. 10, devem, obrigatoriamente, ser citados conjuntamente: I nas aes fundadas em direitos reais imobilirios; II nas resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cnjuges ou de atos praticados por eles; III findadas em dividas contradas pelo marido a bem da famlia, mas cuja execuo tenha de recair sobre o produto do trabalho da mulher ou os seus bens reservados; IV que tenham por objeto o reconhecimento, a constituio ou a extino de nus sobre imveis de um ou de ambos os cnjuges . Deste modo, o marido e a mulher, quando tiverem de propor aes sobre bens imveis e sobre direitos reais sobre imveis alheios, no o podero fazer sem o consentimento recproco. Da mesma forma, quando algum pretender mover as aes a que se referem os quatro itens do pargrafo nico do referido artigo, ter, obrigatoriamente, que ajuiz-las contra o marido e a mulher, pedindo a citao de ambos. A falta de autorizao do marido e a de outorga da mulher, nos casos em que esse consentimento for exigido, podem ser supridas pelo juiz, segundo o art. 11, CPC, desde que a recusa da autorizao ou da outorga no se assente em motivo justo, ou que a sua manifestao tenha sido impossvel. Nesses casos, se o juiz concluir pela procedncia das alegaes apresentadas pelo cnjuge, suprir o consentimento do outro, expedindo o necessrio alvar. Ficar invalidado o processo para o qual a lei exige o consentimento do marido e a outorga da mulher, se no for exibida a respectiva autorizao ou o competente alvar de suprimento do consentimento (pargrafo nico, art. 11, CPC). O cdigo no indica o procedimento a ser seguido para o processamento do pedido de suprimento de consentimento. Tratando-se, porem, de uma medida que visa a acautelar interesses, pela recusa ou impossibilidade de um dos cnjuges em dar a necessria autorizao, de se aplicar, por analogia, o procedimento prescrito para as medidas cautelares (arts. 81 a 803, CPC) CONDIES DA AO 22

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O direito de ao autnomo e incondicional, conforme j se viu; todavia para que a parte possa obter um pronunciamento judicial quanto ao mrito do seu pedido no chamado direito processual de ao, necessria a presena das seguintes condies: interesse processual, legitimidade das partes, possibilidade jurdica do pedido. Entretanto, estas condies no impedem que o autor ajuze a ao, que, enquanto direito, incondicional, mas representam requisitos impostos ao autor para que este consiga um pronunciamento quanto ao mrito do seu pedido. Assim, faltando qualquer dessas condies, o autor ser declarado carecedor de ao, extinguindo-se o feito sem julgamento de mrito (art. 267, VI, CPC). Como se disse anteriormente, no se nega ao individuo acesso ao Poder Judicirio, uma vez que o juiz que, por sentena, declara eventualmente o litigante carecedor de ao; o que se nega, repita-se, a possibilidade de que o Estado-juiz venha a conhecer do pedido, porque no esto presentes aspectos fundamentais de viabilidade do processo.

Interesse processual ou interesse de agir Como vimos, a ao visa obter uma providncia jurisdicional quanto a uma pretenso e, quanto a um bem jurdico pretendido pelo autor. Assim, h na ao, como seu objeto, um interesse de direito substancial, consistente no bem jurdico, material ou incorpreo, pretendido pelo autor, cognominado interesse primrio. Todavia, h outro interesse que move a ao - o interesse na obteno de uma providncia jurisdicional quanto quele interesse, ou seja, h o interesse de agir, de reclamar a atividade jurisdicional do Estado, para que este tutele o interesse primrio ou direito material. Profere-se que o interesse de agir um interesse secundrio, instrumental, subsidirio, de natureza processual, consistente na necessidade de obter uma providncia jurisdicional para alcanar o resultado til previsto no ordenamento jurdico em seu benefcio. Para tanto, preciso que em cada caso concreto, a prestao jurisdicional solicitada seja necessria e adequada. O interesse processual se traduz no binmio necessidade/utilidade (arts. 3 e 4, CPC). Com efeito, a pessoa no pode usar da ao para fazer uma consulta ao Poder Judicirio. necessrio que a atuao judicial seja imprescindvel para a obteno do direito, seja porque o devedor, ou obrigado, se recusa a cumprir a obrigao ou reconhecer o direito do autor (negativa do devedor), seja por imposio legal, isto , s por meio do ajuizamento da ao possvel obter a pretenso (v.g., divrcio, adoo, interdio etc.). Legitimao das partes (legitimatio ad causam) Regra geral, a ao s pode ser ajuizada por quem se declara titular do direito material em face do obrigado ou devedor, na chamada legitimao ordinria, uma vez que somente assim possvel realmente solucionar a lide. De fato, ningum pode pedir o que no seu, e de nada adiantaria o ajuizamento de uma ao em face de quem no o obrigado. Em circunstncias excepcionais, a lei permite (art. 6, CPC), na chamada substituio processual, ou legitimao extraordinria, que uma pessoa demande em nome prprio direito de outrem (v.g., consorte que reivindica a coisa comum que se encontra na posse de terceiros, art. 1.314, CC/2002; credor solidrio, art. 267, CC/02; Ao Popular, art. 5, LXXIII, CF; Ao Civil Pblica, arts. 1 e 5 ), Lei n 7.347/85- LACP; Mandato de Segurana, Lei n 1.533/51-LMS; Ministrio Pblico, art. 81 do CPC, que substituto processual sempre que autorizado por Lei, como no caso do CDC, art. 81, CPP, art. 68, Lei n 8.560/92, art. 2 etc.) Possibilidade jurdica do pedido No obstante, o direito de ao seja distinto do direito material a que visa tutelar, a proposta da obteno de uma providncia jurisdicional sobre uma pretenso tutelada pelo direito objetivo, ou seja, o pedido dever consistir numa pretenso que, em abstrato, seja tutelada pelo direito objetivo, isto , admitida a providncia jurisdicional solicitada pelo autor. Alis, nem todos os conflitos so tutelados pelo direito (v.g., questes morais, religiosas e de foro intimo), e outros, ainda, so expressamente proibidos. Assim, o pedido do autor possvel quando no for direta ou indiretamente vedado pelo ordenamento jurdico. Em outros termos, o pedido ser juridicamente 23

COMEANDO DO ZERO Processo Civil Sabrina Dourado impossvel quando o juiz, ao receber a exordial, constatar de plano a sua inviabilidade (v.g., autor requer a priso civil do devedor por divida no alimentcia; autor requer a penhora de bens pblicos; cobrana de divida de jogo etc.). ATENO! FUNO DO CURADOR ESPECIAL A curadoria especial, ou curador de ausentes, mnus pblico imposto pelo juiz a terceira pessoa para que, dentro do processo, represente uma das partes. Com efeito, dispe o art. 9 do CPC que o juiz dar curador especial: I ao incapaz, se no tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele; II ao ru preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora certa. A nomeao do curador especial tem como propsito proteger os interesses da parte curatelada, razo pela qual ele dever necessariamente responder ao pedido do autor, apresentando, conforme as circunstancias do caso, contestao, exceo, reconveno, impugnaes e embargos, sendo-lhe vedada a prtica de qualquer ato que implique disposio do direito material do curatelado, como confisso, transao ou reconhecimento do pedido. Na falta de elementos que possam fundamentar a contestao, o curador especial deve faz-la por negao geral (art. 302, pargrafo nico, CPC), que tem o efeito de tornar controvertidos os fatos narrados na petio inicial, afastando os efeitos da revelia e impondo ao autor o nus de provar os fatos constitutivos de seu direito. NULIDADES PROCESSUAIS Os atos processuais, assim como os demais atos jurdicos, podem apresentar certos vcios que os tornem invlidos ou ineficazes. E no campo direito processual civil, estes vcios em geral so decorrentes da inobservncia da forma pela qual o ato devia ter sido regularmente realizado. No que tange ao conceito de invalidade processual, muitas so as proposies doutrinrias. Segundo Grinover, Arajo Cintra e Dinamarco "em algumas circunstncias, reage o ordenamento jurdico imperfeio do ato processual, destinando-lhe a ausncia de eficcia. Trata-se de sano irregularidade, que o legislador impe, segundo critrios de oportunidade (poltica legislativa), quando no entende conveniente que o ato irregular venha a produzir efeitos". Essa convenincia decorre, sobretudo, da "necessidade de fixar garantias para as partes", assim como assegurar a prevalncia do contraditrio. Para Plcido e Silva, nulidade a "ineficcia de um ato jurdico, em virtude de haver sido executado com transgresso regra geral, de que possa resultar a ausnci