62 Gel a Divina Comédia Enunciação e Figuratividade

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    Enunciação

    •   A enunciação, considerada como instância pressuposta pelo encaracteriza-se por uma função de intencionalidade por parte do enuou seja, por meio de um contrato de veridicção, caracterizamodalidade do fazer-crer  verdadeiro, proposta ao enunciatário. Esse

    de veridicção é estabelecido no domínio literário pelo raciocínio figu

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    Ilusão de verdade

    • “Partindo do princípio de que todo discurso procura persuadir seu destina verdadeiro (ou falso), os mecanismos discursivos tem, em ultima análise, criar a ilusão de verdade” (BARROS, 2005, p.55).

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    Relações entre enunciador e enunciatá

    •  Fazer persuasivo do destinador e fazer interpretativo do enunciatário

    •   Contrato de veridicção: determina o estatuto veridictório do discurso

    •   Argumentação: fazer persuasivo do enunciador –  jogo de imagens qude si mesmo e do seu enunciatário.

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    Percursos temáticos

    Resultantes da formulação abstrata dos valores narrativos.

    Conversão dos sujeitos discursivos em atores que cumprem papéis tedeterminação de coordenadas espaciotemporais para os percursos narr

    Nos discursos temáticos enfatizam-se efeitos de enunciação, apsubjetiva ou distanciamento da enunciação, por oposição aos efeitos ddependentes da figurativização.

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    Figurativização

    •  Figuras de conteúdo recobrem os percursos temáticos abstratos e atraços de revestimento sensorial.

    •   Figurativização: instalação das figuras, primeiro nível de especificaçãpropondo-se a passagem do tema à figura;

    •   Iconização: efeito figurativo exaustivo –  objetivo de produzir ilusão refer

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    Raciocínio figurativo

    •   A adesão do enunciatário dá-se, portanto, mediante uma foracionalidade de ordem analógica, ao que Bertrand (2003, p. 155) cacomo “raciocínio figurativo ”.

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    Gênero Comédia 

    •   Desse modo, nos propomos caracterizar o gênero   comédia , timortalizado por Alighieri. Na concepção de Bertrand (2003, p. assunção do discurso, no âmbito da análise literária, é geralmente sob a égide do narrador, figura delegada do enunciador, nesse cDante Alighieri na Divina Comédia , levando em consideração a maneeste gênero está submetido à organização textual e aos valores emppor um narrador, nos diferentes tipos de focalização e nos divertextuais empregados no gênero (narração, descrição e argumentação

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    Linguagem literária - Figuratividade

    •  Outra característica da linguagem literária é a presença da figuratividadecomo a propriedade que todas as linguagens têm em comum “de  prodrestituir, parcialmente, significações análogas às de nossas experiências pemais concretas”   (BERTRAND, 2003, p.154). A noção de figucompreende, portanto, “todo   conteúdo de um sistema de representaçã

     verbal, ou outro) que tem um correspondente no plano da expressão dnatural, isto é, da percepção”  (BERTRAND, 2003, p. 420). Esse “mundtambém é percebido como uma relação entre o plano do conteúdo e oexpressão, cujo sentido é construído e interpretado como um objeto semió

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     A Divina Comédia - Análise

    •   Nossa análise procura empreender, portanto, como a noção de enunciaçãponto de vista estrutural a Divina Comédia , relato de viagem que Dante empara visitar os três reinos do outro mundo: Inferno, Purgatório e Paraíspoema de linguagem simbólica, que procura descrever figurativamente umuma realidade que ultrapassam a experiência humana. Veremos, portantoenunciação e a figuratividade regem a forma do gênero em A Divina Comédenunciatário vivenciando a experiência da percepção mediante a insttempo, espaço, objetos e valores no enunciado. São essas figuras que condimensão figurativa dos discursos, mediante as quais o “mundo nos fala ”.

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     A enunciação, de início rejeitada por razões de método da semântica

     foi em seguida reintegrada no corpo teórico da análise do discu

     pressuposto lógico do enunciado, e definida pelas operações de de

    embreagem. Na perspectiva do discurso em ato, a enunciação tem a p

    seu sujeito define-se, de maneira indissociável, como sujeito sensível dae sujeito discursivo da predicação (BERTRAND, 2003, p. 419).

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    Canto I - Inferno

    1.   Ao meio caminhar de nossa vida

    Fui me encontrar em uma selva escura:

    Estava a reta minha vida perdida.

    4.   Ah! Que a tarefa de narrar é dura

    Essa selva selvagem, rude e forte,

    Que volve o medo à mente que o figura.

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    •   Ao meio do caminho da duração provável da vida humana, portanto, aos 3idade, temos a representação da primeira figurativização, por meio da experceptiva da “selva escura”. Essa selva seria a representação do extravioda virtude, ou seja do fluxo fórico empreendido pela grandeza escatohistórico cultural da Comédia, sendo essa um testemunho de uma época homem devia viver em conformidade a vontade de Deus e a ela submetido

    •   Do ponto de vista da estrutura do texto, a Comédia é o relato de viagem empreende para visitar aos três reinos do outro mundo: o Inferno, o PurgParaíso. Toda narrativa é contada em 100 cantos, dos quais o primeiroanalisamos, funciona como uma introdução.

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    •  Narrada em primeira pessoa, toda a poesia é expressa por elementos simfigurativos, de modo que procuramos recortar como Dante escreve e reprealidade em figuras poéticas que ultrapassam a experiência humana.

    •   Assim sendo, temos a viagem de Dante ao além túmulo que procura restitufórico ao qual o sujeito estaria apartado, isso, pois, a razão da viagem con

    redenção moral da humanidade, que se via submetida aos bens terrenos, àmundanas, fadados, portanto, à perdição eterna. Assim sendo, Dante tendcomo seu guia no Inferno e no Purgatório e Beatriz e São Bernardo nbusca a restituição do fluxo fórico e da salvação almejada.

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    •  Assinalamos, assim, a figura de um sujeito divino  –  arquidestinadorEspirito Santo) atingível apenas mediante a figura do monte iluminsol da graça divina que ele avista enquanto mediador (intercessor restabelecer o fluxo fórico do fiel-enunciador, reintegrando-o aos vfé católica). Segundo (BECKER, 1999, p. 192 )“a ligação entre o céu

    é concebida simbolicamente, à semelhança de uma escadapossibilidade da ascensão espiritual e desenvolvimento superiopenosamente conquistado: vista dessa forma a montanha é para terrestres o caminho da subida, para a proximidade de Deus”.

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    28. Após pousar um pouco o corpo lasso,me encaminhei, pela encosta deserta,

    co’ o pé firme mais baixo a cada passo.

    31. E eis que, ao encetar a rampa certa,uma onça ligeira e desenvolta,

    de pelo maculado recoberta,

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    34.   saltando a minha frente e á minha volta,

     Tanto me obstava a via do meu destino

    Que mais vezes voltei-me para a volta.

    37. Amanhecia, e no céu cristalino

    O sol subia co’ essas mesmas estrelas

    Que o acompanham quando o amor divino

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    40.  primo moveu todas as coisas belas.Para não temer, davam-me assim razão

     A fera do gracioso pelo, aquelas

    43.  matinais horas e a doce estação;mas não tanto que medo não me dessea vista, que surgiu-me, de um leão

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    46. que parecia que contra mim viesse

    co’ a fronte erguida e com fome raivosa,

    parecendo que o próprio ar temesse;

    49. e de uma loba, de cobiça ansiosa,

    em sua torpe magreza, carregada,

    que muita gente a vida fez penosa.

    52. Essa tornou-me a alma tão pesada,

    Pelo pavor manante da sua vista,

    Que perdi a esperança da assomada.

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    •   Após a paixão da angústia experienciada pelo sujeito, esse escapa da aparecem-lhe as figuras representadas pelas três feras: onça, leã(alegorias das três transgressões principais –  incontinência, violência que fazem com que o sujeito pare, que ele não prossiga seu fluxo f

    reestabelecimento da salvação eterna, figurativizado pelo caminho dque ele avista iluminado pelo sol da graça divina.

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    •  O antiprograma, realizado de modo implícito pelo antidestinador, demôinclinações (alegoria das três transgressões principais) corresponde remissivo, à parada. Ao antiprograma remetemos o conceito de encarregado da ruptura da relação contratual entre destinador e destinainterrupção do fluxo fórico. A performance  não se realiza, o sujeito é manipu

    paixão da angústia e do medo pelo antiprograma narrativo desenvolvido transgressões principais. O antidestinador, figurativizado pela onça, leãinterrompem o fluxo fórico proposto, ao introduzir a experiência dilacmorte, o que ocasiona a parada da continuidade projetada por Deus, no eem análise.

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    Inferno

    61. Quando eu já para o vale descaído Tombava a minha frente um vulto incerto

    Que por longo silencio emudecido

    Parecia, irrompeu no grão deserto. [...]

    E ele me respondeu: [...]

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    Poeta fui, cantei aquele justo

    Filho de Anquiste, de Tróia a volver,

    Quando o soberbo Ilion foi combusto.

    [...]

    “A ti convém seguir outra viagem”, Tornou-me ele ao me ver lacrimejando,

    Para escapar desse lugar selvagem.

    [...]

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    112. Portanto, pra teu bem, penso e externoQue tu me sigas, e eu irei te guiando.

    Levar-te-ei para lugar eterno.

    [...]

    121. Às quais depois, se quererás subir Alma terás mais digna do que eu;

    Deixar-te-ei com ela meu partir;

    124. Que o imperador que reina lá no Céu,Porque para sua lei eu fui herege,

    Nega-me conduzir-te ao reino seu.

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    •  Notamos, ao longo do texto, a presença do destinador-manipulador tentacom que o sujeito não pare, que ele siga o curso de restabelecimentooriginal. Desse modo, o destinador-manipulador tenta assegurar a diretidireção estabelecida pelo âmbito contratual da fé e, para isso, faz uso de mde velocidade.

    •   Esse prolongamento da relação cojuntiva é estabelecida no texto pela figurdo poeta Virgílio, representativo da razão humana e que pretende acompapercurso do inferno ao Purgatório, até o limiar do Paraíso, sendo esse, entãpela figura de uma alma mais digna. A alma beata da paixão adolescente dBeatriz, que ele encontrará na terceira parte do poema “Paraíso”.

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    Referências Bibliográficas

    •  ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia –  Inferno; Purgatório e Paraíso. 2ª. ed. Ebilíngue. Tradução e notas de Italo Eugênio Mauro; prefácio de Carmelo DistantePaulo: Editora 34, 2010.

    •   BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria Semiótica do Texto. São Paulo: Ática, 2

      BECKER, Udo. Dicionário de símbolos. São Paulo: Paulus, 1999.•   BERTRAND, Denis. Caminhos da Semiótica Literária. Bauru-SP: Edusc, 2003

    •   SILVA, Sueli Maria Ramos da Silva. Discurso de divulgação religiosa: semióticaretórica. Tese de Doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012.