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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

PrólogoO Primeiro sinal...

O ar estava estagnado, nem uma única brisa soprava. O correr sempre agitado das águas dos rios experimentava uma calmaria incomum. Os animais emudeceram, como nunca acontecerá antes. As ruas estavam desertas, ninguém em sã consciência se atrevia a sair de suas moradas. O silêncio dominava o reino...

Na câmara principal duas poltronas ao centro sobressaiam-se majestosamente as demais, não eram ocupadas à tempos, em épocas remotos qualquer um gostaria de poder sentar-se sobre seus assentos, eles designavam poder , autoridade e respeito a quem os ocupasse. Hoje porém, todos queriam distância desses lugares amaldiçoados, sentar-se naquele momento sobre qualquer um deles, significava tomar decisões que afetariam todo o reino e as conseqüências destas seriam catastróficas.

Um pouco mais à frente, outros quatro lugares mereciam destaque, um dos assentos se encontrava vago, nos outros três, expressões assustadas observavam aquele que acabara de se levantar. Com sua posição grandiosa, invocava para si a atenção de todo aglomerado de olhares, sabia o caos que suas palavras causariam, isto já era visto perante a grande agitação dos presentes, antes mesmo de seus lábios pronunciarem qualquer som.

Muitos outros lugares comuns formando uma oval finalizam a câmara, desse modo todos os membros podiam se ver. O conselho se encontrava todo reunido. O local estava à mercê das sombras e apenas o branco dos olhos dos participantes se distinguiam.

Esperavam que aquela convocação fosse um equívoco, um presságio mal interpretado, porém em seus íntimos conheciam a realidade e ela se manifestava contrária as suas expectativas. As assembléias do conselho eram sempre para tratar de assuntos de máxima urgência, e dessa vez todos conselheiros e sábios estavam presente, isso já dava um significado todo especial àquela convocação de última hora.

A quietude continuava a causar calafrios àquelas faces amedrontadas. Atentos, continuavam a estudar o rosto soberano sempre imponente, ao centro prestes a falar, iluminado timidamente apenas pela chama do castiçal central, muitos traços de sua fisionomia eram engolidos pela escuridão conforme se movimentava.

O silêncio continuava mortal. O tempo custava a passar. Os únicos sons pronunciados naquela noite, e que parecem ecoar no reino todo, finalmente saíram da figura central do círculo.-O profeta esta entre nós! - Sua respiração saiu com dificuldade, antes de prosseguir. - Começou!

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O Início...Vinham dos céus num levante avassalador. Só era possível vê-los nos intervalos dos

clarões passando pelas massas gasosas sem resistência. Iam em direção a pontos luminosos, ainda distantes, que pareciam formar um mapa gigantesco. A colisão era certa, dada a espantosa velocidade da aproximação. Logo, seus destinos se encontrariam.

A chuva caía sem trégua, a tempestade atípica nesta época poderia ser interpretada como mau agouro. A vasta superfície da cúpula da Basílica recebia grande carga d’água, em seu interior porém tudo parecia indiferente ao que ocorria do lado externo.

A basílica dispunha de laterais com colunas de mármore brancas, ligadas entre si por arcos ornados com enfeites rústicos entre cada pilar. Vitrais imensos com cores e desenhos diferentes encaixavam-se perfeitamente sobre os arcos. Várias fileiras de bancos vazios acompanhavam a disposição das colunas, veredas os separavam permitindo assim chegar da entrada principal ao conjunto de degraus ao centro sem nenhum obstáculo.

O grande altar central se localizava embaixo da cúpula da basílica, feito de pedra calcária branca, estava coberto por uma pequena peça de linho, onde repousavam dois castiçais dourados. A construção já fora palco de grandes celebrações. O livro empoeirado entre os castiçais há tempos intocado, revelava que o local a muito não era visitado por viva alma.

Hoje, porém dois corpos se encontravam em seu interior, atrás da pedra retangular, molhados uniam-se num abraço forte e demorado.

Ela com seus cabelos loiros abaixo dos ombros, seus fios lisos eram presos por uma pequena tiara vermelha. Possuía olhos grandes de coloração castanha cheios de vida, que agora porém, exibiam uma expressão de medo. Os dentes comprimiam seus lábios carnudos, ferindo-os profundamente. Seu vestido branco se estendia até a metade da coxa, a umidade o colava ao corpo e exibia toda sua beldade, uma musa aos olhos alheios.

Ele deixava seus cabelos cacheados caírem sobre os olhos azuis da cor do mar, realçando assim seu rosto. Jovem alto e dono de uma estrutura atlética. De fala pausada, porém firme. Todos lhe rendiam elogios – o que não era para menos, pois seus feitos eram aclamados por todo o reino.

Para ela, foi amor à primeira vista e logo após o primeiro beijo teve certeza, este era o homem que desejaria ter por toda eternidade. Entretanto neste instante estava tão nervosa que não percebia que suas unhas marcavam as costas do jovem enquanto seu abraço o comprimia para si. Ele sempre estivera ao seu lado apoiando-a, fora seu amparo nos momentos difíceis. -Einar! Estou com medo! Vamos embora enquanto podemos. Sua voz tremula já demonstrava os sinais de fraqueza, estava no limite de suas forças, prestes a perder o controle.-Michaela não podemos desistir agora, chegamos tão longe...-Será que você não percebe que estamos sozinhos nisso! A voz saíra mais alto do que ela desejara.

Vendo-a tão frágil, sua expressão meiga o comoveu, sentiu suas forças revigorarem, lutaria por ela até o fim mesmo que isso lhe custasse à própria vida.

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-Eu a protegerei! Você e o nosso querido filho. Disse colocando as mãos sobre a barriga saliente dela. – Confie em mim. Jacó virá nos encontrar, o grande sábio do conselho se mostrou muito confiante quando soube de sua gravidez. Einar acariciou-lhe o rosto. -Temos que acreditar! Ele irá nos ajudar...

Um trovão cobriu o som das vozes dos jovens...

Jacó andava a passos rápidos pelos corredores escuros, a fraca iluminação dos archotes presos as paredes não lhe permitia ter uma visão plena do local. Ansiava chegar a basílica. A imagem das expressões assustadas de todos quando suas palavras anunciaram “o começo” não lhe saia da memória. “Tudo esta perdido? Não! Não pode ser assim...”

Tentou afastar os pensamentos ruins que lhe vinham à mente. Não podia perder a fé, não agora.“Ainda há esperança. Ninguém sabe ainda, mas há. Esta criança que esta por vir mudará o rumo da nossa história. Ela será início da mudança. Quem sabe de uma possível união...”

O sábio parou por um momento, um odor fétido invadiu o local, seus pés ficaram gelados. Pegou um archote apontando-o para o chão, uma névoa impregnava todo o local.-Mas o que é isto? Prendeu a respiração. Sua expressão mudou-se rapidamente. –Não pode ser...

Quando compreendeu do que se tratava já era tarde. Tossiu perdendo o fôlego, não conseguiu tomá-lo novamente a névoa o havia engolido.

-Michaela, não se preocupe, estou aqui com você. Apertou-a com mais força contra seu peito, fazendo-a sair de seu “transe”.-Estão contra nós, todos! Um pequeno soluço a fez parar por um breve momento. - Há algo nesta basílica... Posso sentir... Suas pernas fraquejaram. -Não há nada aqui.-E os Livros Sagrados? Michaela mudara de assunto como se estivesse falando consigo mesma. Relembrava acontecimentos sinistros ocorridos recentemente -O que acontecerá se eles caírem em... Não temos saída! Você não percebe! Houve uma época em que a esperança me acompanhava, mas acho que ela me abandonou há muito tempo. Lágrimas escorreram por sua face, enquanto se protegia nos braços de seu amado. -Meu pai tentou me avisar, mas não lhe dei ouvidos. Em sua aflição, parecia poder ouvir as sábias palavras dele.

“Fique minha filha, você não imagina que forças estão envolvidas nesse conflito, não podemos fazer nada. Você não entende. Por favor, não vá. Implorou ele.”“O senhor é um covarde meu pai, se alguém não lutar, jamais sairemos desta condição.”“Somos uma minoria, não seja precipitada... Se for agora só ira encontrar dor e desespero. Coisas terríveis poderão lhe acontecer. Ainda não é o momento. Fique eu lhe imploro...”

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“Se eu não for talvez este momento nunca chegue. Einar me protegerá! “

A porta bateu com violência quando a jovem saiu, deixando para trás a expressão triste na face do homem de idade avançada. Hoje via que o pai tinha razão, fora muito precipitada em sua escolha e pagava um preço muito alto por isso, mais do que podia suportar.

Fez-se o clarão de um raio acompanhado do barulho de um trovão. Isso a trouxe para a realidade novamente. -Tudo vai ficar bem Michaela. Olhou-a bem fundo nos olhos, com seu sorriso confiante, passou as mãos pelo seu rosto enxugando-lhe as lágrimas. – Só peço que acredite em mim, após esta noite tudo estará terminado, não haverá mais dor ou medo, ficaremos juntos para sempre. Aproximou seus lábios aos dela, cedendo-lhe um beijo carinhoso

Outro raio rompeu-se perto da Basílica. Um rumor súbito ao fundo foi ouvindo por ambos. O jovem guerreiro adiantou-se, entretanto uma mão delicada o deteve.-Não vá! -Você esta tremendo! Acalma-se... Estou aqui para protegê-la.-Fique comigo, sinto algo que jamais senti antes. O medo esta me dominando. É melhor irmos embora.-Não podemos! Deve ser Jacó.

Desvencilhando-se dela, contornou o altar, seus passos ecoavam mais baixos à medida que se distanciava da mesa de mármore. Ainda soluçando ela implorava pela sua desistência. Encostou suas delicadas costas na perna do altar deixando seu corpo escorregar até o chão onde ficou rezando.

O jovem caminhava com cuidado em direção a porta dos fundos, a peça de madeira presa por dobradiças não era larga, porém alta. E mesmo com a chuva constante que caía unida aos barulhos regulares dos trovões, os batimentos em seu peito pareciam poder ser ouvidos a distância. Um raio iluminou uma pequena estátua ao lado, o susto que Einar provou foi intenso.

O jovem esticou os braços devagar, quando seus dedos se aproximaram do trinco, este virou-se sozinho emitindo um som agudo. Recompôs-se logo da indecisão que o invadira momentaneamente, abriu a porta com determinação. Estava vigilante, o que encontraria no corredor? Entretanto para sua surpresa e alívio o corredor externo estava vazio.

Olhou para o altar, não conseguia ver Michaela. Virou-se novamente para o corredor, uma névoa branca e densa formava uma parede à sua frente, o odor fétido que lhe chegava as narinas causava-lhe náuseas.-Que coisa é essa...

Introduziu o braço dentro da barreira, sua constituição era gélida e úmida... Não conseguiu tocar em nada, aproximou mais o rosto na esperança de enxergar melhor.

Da névoa, dois grandes olhos vermelhos, frios e repugnantes se abriram. Duas possantes garras desceram sobre os seus ombros, o corpo do jovem foi arrastado para o interior do vapor aquoso. A porta se fechou em seguida produzindo um estrondo iminente.

Michaela levantou-se assustada, seus olhos não encontraram Einar. A porta estava fechada. A basílica vazia. Não conseguiu se conter, deixou-se cair novamente rente a perna

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do altar, mas agora em vez de rezar, chorava.

Passou-se um breve instante, antes das dobradiças começarem a ranger. A peça de madeira estava sendo aberta, no peito da jovem a pulsação disparou, podia ouvir os passos vindos em sua direção. Eles avançavam lentamente pelo local, entretanto se aproximavam cada vez mais. Já os ouvia subindo os degraus do altar

Michaela tentou ser forte, queria se levantar para ver quem era, mas seu corpo não obedecia. Fechou os olhos. Cruzou os braços junto as pernas e continuou soluçando baixinho. -Michaela!

O sussurro ao seu lado não deixou dúvidas, era Einar, sua tensão diminuiu. A mão de seu amado pousou em seu ombro, enquanto ela enxugava as lágrimas para poder olhá-lo. Sentiu algo quente escorrer por seu braço.

Um raio iluminou o local, seu vestido estava todo manchado de uma coloração avermelhada, era essência, não entendeu bem o que estava acontecendo até virar-se para Einar. Seu corpo estava todo ferido. O rosto pálido quase sem vida tentando desesperadamente lhe falar. Fez um esforço enorme para pronunciar suas últimas palavras antes de cair sem vida.-FFFuuujjjaaaa!!!!

Michaela ajoelhou-se, colocou o rosto em seu peito, chorava desesperadamente, não podia acreditar no que via, em questão de minutos sua vida tinha se transformado. Subira dos altos céus para cair nas profundezas do inferno. Tudo estava perdido, tudo pelo que haviam lutado.

Sentiu que suas pernas estavam ficando geladas, um odor fétido invadiu o local. Ao abrir os olhos viu uma névoa que impregnava todo o chão. Levantou-se assustada, uma garra apertou-lhe o pescoço com uma intensidade enérgica, seu corpo foi suspenso ao ar, agitado inúmeras vezes antes de ser atirado contra o vitral da parede que se estilhaçou em milhares de pedaços menores.

A chuva molhava todo seu corpo. Seus membros estavam doloridos, cheios de cacos de vidro, mesmo assim ainda tentava se levantar, sem sucesso. A dor parecia aumentar cada vez mais. Sentia suas energias exaurirem.

Olhou para trás, viu a névoa ultrapassando o vitral quebrado. Com o pouco de forças que restava conseguiu se erguer a muito custo, caminhou poucos passos, antes de tropeçar, e cair novamente. A sua frente divisava uma luz branda, rastejava-se em sua direção. Quanto mais se aproximava mais intensa a luz se tornava

Um pequeno túnel a livrara da chuva, um rastro avermelhado desprendia-se de seus ferimentos. Chegou ao final do corredor onde uma estátua postando uma tocha as mãos iluminava o local. O vento fazia as chamas dançarem de um lado para outro, entretanto o brilho da mesma não se apagava.

A jovem sabia onde estava, o desespero aumentou, a única saída daquele local era por onde havia entrado. Continuou a se aproximar da estátua. Virou-se ofegante, não tinha

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mais controle sobre seu corpo cansado, ficou parada olhando para até onde as chamas faziam frente à escuridão. Rezava para que nada entrasse pela abertura do túnel.

Uma eternidade se passara naqueles breves momentos de espera. Será que estava a salvo? Isso já não importava mais, Einar estava morto, porém ainda lhe restava o filho, tinha que salvá-lo. Sentiu raiva de si mesma por ser tão fraca, sentiu raiva de tudo e todos, até do destino que agora a afligia.

Sua atenção foi dirigida novamente à entrada, a névoa começou a surgir na parte iluminada do túnel, ganhava espaço rapidamente. Levantou-se reunindo suas últimas forças.-Me deixe em paz! Saia daqui. Gritou histérica.

Ela foi envolvida pela névoa, as garras a atingiram sem piedade, começou a sentir falta de ar, a cabeça ficara pesada repentinamente, experimentou um ardor quente no abdômen, foi perdendo a consciência e seus olhos fecharam vagarosamente.

Tinha falhado, com todos, imagens vinham-lhe à mente nesse momento, seu pai, seus companheiros, todavia a mais nítida delas era de Einar... Ele não conseguiu protegê-la como havia prometido, porém estava certo em uma coisa, hoje tudo estaria terminado e eles estariam juntos para sempre.

Seu corpo jazia inerte no solo, a vida dentro dele também se extinguira.

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Parte IA Passagem...

A janela do quarto aberta exibia o brilho da lua cheia, quando as nuvens lhe davam um momento de liberdade. Na estante, localizada entre o banheiro e o guarda-roupa, os diversos livros repousavam arrumados em ordem alfabética.

O quadro preso à parede do lado oposto do aposento tinha como atrativo um cavalo correndo pela campina verde. O verde da obra parecia ganhar vida em contraste com o branco da argamassa que cobria os tijolos.

Na cômoda, ao lado da cama de casal desarrumada, o abajur desligado repousava sobre uma revista de carros de corrida. Na cabeceira do leito os algarismos vermelhos do rádio-relógio contavam o tempo. Em cima do colchão, o corpo de um jovem se abrigava sob a manta branca acolchoada.

Sua estatura mediana realçava seu porte atlético. Os cabelos negros arrepiados na parte superior da cabeça perdiam o vigor rente à franja, deixando que os fios caíssem sobre as pálpebras fechadas. Eles davam a impressão de estarem despenteados, porém sempre se portaram desse modo. Os olhos desfrutavam de uma coloração esverdeada.

O nariz pouco arrebitado e saliente, combinava com seus lábios carnudos, mas o que chamava a atenção em sua face era uma pequena covinha no queixo, da qual o jovem tinha muito orgulho.

Virava-se ora de um lado, ora de outro, o sono não conseguia dominá-lo. Normalmente dormia muito rápido. Novamente o corpo tombou para o lado. Colocou a cabeça embaixo do travesseiro, na tentativa do sono chegar mais rápido, entretanto sem qualquer resultado positivo.

O brilho do Luar iluminou grande parte da cama. O vento soprou, mas não mexeu as cortinas da janela. O relógio cravou seus dígitos em 23h45min05s. O tempo mudou...

23h45min08s. O momento em tudo começou. 23h50min25s. Parou de se mexer, fitou o teto branco, aquela imensidão parecia hipnotizá-lo. 23h55min22s. Os sons foram ficando distantes.23h57min30s. Os olhos começaram a piscar vagarosamente, as pálpebras já não se agüentavam abertas.23h59min00s. Adormeceu...23h59min32s. Um brilho apareceu timidamente pela fresta da porta do banheiro, foi se arrastando lentamente pelo quarto. Ganhando terreno... 00h00min00s. O brilho do luar foi encoberto pelas nuvens. A porta do banheiro movia-se vagarosamente sobre suas dobradiças.00h00min15s A porta se escancarou totalmente, produzindo uma batida seca, o fulgor foi intenso. Ofuscou-lhe à vista.00h00min30s O cobertor foi arrebatado para longe, seu corpo começou a ser sugado para dentro do aposento iluminado, a força que o consumia tinha um poder incrível. Não conseguia por mais que tentasse impor resistência alguma. Derrubou o abajur com as mãos

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em busca de apoio. 00h00min45s. Caiu no chão em cima do tapete fofo, ainda tentou agarrá-lo. A força porém, não tomou conhecimento e arrastou-o junto com o estofo macio.00h00min50s. Seu corpo todo estava imerso pela luz, apenas as mãos ainda tentavam encontrar algo que lhe proporcionava sustento.00h01min00s. A porta do banheiro se fechou, o jovem havia sido sugado pela força, foi consumido pela luz, sem saber qual seria seu destino.

Vagou a esmo por um tempo indeterminado. Não sentia mais seu corpo. A luz foi diminuindo de intensidade até apagar-se completamente. Já tomava conhecimento de seus membros novamente. Mexia as mãos, os braços e por fim suas pernas o sustentaram em pé. Quando conseguiu abrir os olhos se encontrava em um local estranho, totalmente desconhecido.

Lembrava uma cidade com moradias que se espalhavam por todas as partes. Em sua maioria eram constituídas de pedras calcárias de cores variadas, onde muitas delas apresentavam certo grau de polimento. Ao centro das ruas, jardins com pequenos arbustos unidos as folhagens crespas contrastavam com a palidez das construções, dando um toque todo especial à vista.

O jovem começou a avançar em direção ao centro do aglomerado, as edificações iam se agigantando a sua frente. Nas varandas flores eram tocadas pelo vento onde os pássaros voavam livres. A limpeza e a ordem estavam presentes por todos os lados, nada parecia estar fora do lugar.

Todas as pessoas se cumprimentavam sem cerimônia, com saudações alegres e calorosas, porém ninguém parecia notar sua presença, passava desapercebido por onde quer que fosse.

Seus trajes nada tinham de usuais. As mulheres usavam vestidos curtos de cores vivas, combinando com suas sandálias de couro abertas, cujos cadarços subiam trançados pelas pernas. Em seus braços argolas de adorno realçavam a beleza das damas a cada movimento. Os cabelos soltos eram levados pela leve brisa no momento em que esta os tocava. Quando não estavam soltos, as tiaras com enfeites prendiam os fios, não prejudicando em nada as suas belas imagens.

As sandálias também eram utilizadas pelos homens e junto com as túnicas presas por uma cinta compunham todo o conjunto de vestimentas masculinas. O conforto estava presente em cada uma delas. Eles movimentavam-se despreocupados pelas ruas e praças, como se nada houvesse para ser feito, a não ser apreciar a calma e a quietude do lugar. A paz reinava...

O jovem ficara abismado com tudo em seu raio de visão. Todavia algo lhe chamou mais a atenção do que qualquer coisa, pois simplesmente não tinha como não notá-la. Uma torre de proporções sublimes, sua base estava localizada no núcleo principal da cidade, onde o contingente de pessoas era maior.

A construção era uma área peculiar que ficava suspensa sobre um enorme emaranhado de águas, a qual estava ligada à área urbana por três pontes. De suas partes

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inferiores escorriam cachoeiras que terminavam nas águas logo abaixo, onde muitas pessoas passeavam de barco.

Um gigante de pernas e braços abertos fora entalhado na lateral da torre. Apesar de seu tamanho avantajado seriam necessário muitos dele para abraçar o monumento. Entre suas pernas um portão com emblema de uma águia desenhado permanecia fechado. A vigília da entrada era feita por quatro homens portando lanças prateadas, suas vestimentas brancas unidas a duas ombreiras prendiam capas douradas que se moviam ao toque do vento.

Uma criança sentada perto de uma das pontes brincava com uma bola, com seus cabelos formados por muitos cachos loiros e dona de um sorriso lindo, lembrava um anjo, pelo menos foi o pensamento que ocorreu ao jovem. A menina sorria-lhe oferecendo seu brinquedo. Seria a única a notar sua presença? Devolveu o sorriso em retribuição indo foliar com ela. Como um fantasma suas mãos atravessaram a bola, não entendia o que estava acontecendo. A criança porém, nem se importou com o fato e continuou a sorrir.

Apontou o dedo para a imensidão do céu azul, nenhuma nuvem, a claridade do sol ofuscava à vista. De repente o rosto que era só alegria e risos mudou-se, a expressão de felicidade foi substituída por uma nova que unia medo e pavor.

Um pequeno ponto negro surgiu no meio de todo o azul celeste, ganhava dimensões maiores à medida que se aproximava a grande velocidade da cidade, o impacto seria breve. As pessoas começavam a tomar conhecimento do que estava para acontecer, o pânico domínio a todos. Um meteoro negro chocou-se contra o solo, fazendo toda a cidade estremecer, muitas de suas estruturas vieram abaixo. Nuvens carregadas cobriram os céus imediatamente, a escuridão rompia a luz do dia e junto com ela uma chuva fina com raios começou a cair.

A cratera formada pelo impacto exauria um vapor denso e aquoso, do meio dele muitas criaturas surgiam, pareciam formigas saindo de um formigueiro. Os seres de peles negras e rostos deformados, trajavam roupas velhas em sua maioria rasgadas e sujas, o que lhes dava um aspecto medonho. Algumas possuíam garras enormes, outras porém, portavam espadas ou machados com um estranho brilho negro. As armas com fulgor negro eram utilizadas para dilacerar as pessoas da cidade que corriam desesperadas para salvar a própria vida. As criaturas espalhavam terror e destruição pelas ruas.

O portão da torre abriu-se lentamente, muitos homens partiram em formação de blocos prontos para o ataque. Possuíam armaduras brancas entalhadas em relevo no peito a cabeça de um tigre. Os elmos e ombreiras tinham a mesma coloração das armaduras, entretanto as ombreiras esquerdas exibiam pequenos detalhes pretos que formavam o desenho da pata do felino. Armados com arcos e espadas, cruzavam as pontes em direção à massa de seres sinistros que massacravam o local.

Uma chuva de flechas engolia a multidão negra. Ao perceberem a movimentação dos guerreiros passando pelas pontes, as pestes negras avançavam desorganizadas, como um bando de animais enfurecidos, atirando-se sobre suas formações em blocos. Os cavaleiros matavam muitas delas, os corpos jaziam pelo chão, todavia por mais que caíssem, seu número parecia não diminuir. Com o correr da batalha as pestes foram alcançando êxito abrindo caminho entre os blocos.

A situação se invertia começava a matança de homens. Sem qualquer piedade,

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mesmo os corpos caídos sem vida não cansavam de receber golpes. Não demorou para que as criaturas dominassem as passarelas, seu próximo alvo foi o portão da torre. Foram contidas no portão pelos quatro guardiões que lutavam corajosamente, mesmo estando em maior número os seres negros não conseguiam vencer as figuras valentes, que depositavam todo vigor de suas energias nesse combate.

Uma trombeta soou estridente, misteriosamente o ataque cessou, as criaturas recuaram. Da cratera uma garra surgiu e fincou-se ao chão, tamanha foi à força que as pedras ao redor se estilhaçaram, outra garra lançou-se ao lado com a mesma intensidade da anterior. Um par de asas se abriu, a névoa se tornou mais densa , todavia um brilho pôde ser visto, ele era emitido por dois grandes olhos vermelhos. Uma besta negra gigante soltou um urro e partiu sobre o mar negro de seres em direção ao portão.

O garoto assistia a tudo abismado, olhou para ver se a criança estava a salvo. Em meio a todo aquele caos havia se esquecido dela. Ao seu lado, havia um pilar tombado, só conseguiu ver um pequeno braço estendido sob o mesmo. Tentou levantar o objeto, mas seus braços passavam por ele, era tarde demais para a pobrezinha... O que estaria acontecendo?

A besta negra tinha passado com muita facilidade pelos guardiões, sua força avassaladora não encontrou resistência, mesmo com suas poderosas lanças em segundos os quatro guerreiros foram derrotados.

O próximo alvo foi o portão principal, desferiu vários golpes, levando-o abaixo pouco tempo depois. A legião de criaturas acompanhou os passos da besta. Um clarão emergiu de dentro da torre. A besta foi lançada longe junto com muitas criaturas. Os corpos atingiram bancos, postes e as moradias mais próximas.

O brilho foi se tornando mais intenso, um homem surgiu com um escudo em uma das mãos e uma espada na outra, impunha respeito na entrada da construção. Seu elmo tinha o desenho de uma águia e sua capa vermelha estava presa por um par de ombreiras. A armadura branca reluzia perante a escuridão. Traços dourados percorriam toda a vestimenta.

A enorme besta se recuperara rápido do golpe, partira novamente para o combate atirando-se sobre o cavaleiro, os dois rolaram portão adentro. O restante das criaturas se preparava para mais uma vez fazer travessia da ponte.

Como um telespectador preso em uma cena o garoto continuava estático, até ouvir uma voz vindo de suas costas, um bando de jovens que aparentavam ter a mesma idade que ele corriam em sua direção, possuíam desenhos na pele, cada um portava um bastão as mãos. Tudo era tão real que ele podia sentir a tensão percorrer seu corpo.

-Olhem a entrada torre! Eles conseguiram passar pelas nossas defesas. Temos que agir rápido! Gritava um deles.

Algo o perturbou, entre os jovens um deles era uma cópia sua. Com exceção das vestimentas e das gravuras desenhadas pelo corpo era idêntico a ele, entretanto agia por vontade própria. Todos passaram pelo pilar caído, sua cópia parou exatamente onde ele se encontrava sobrepondo-o, olhou para o pequeno braço estendido.

Uma garota aproximou-se apressada pegando-o pelo braço.-Vamos! Não temos tempo a perder!

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Vendo que o garoto não se movia deu-lhe um chacoalhão.-O que deu em você?

Ele observou que a jovem tinha um desenho de uma lua no pulso direito. Com a força que a garota parecia estar fazendo, pensou que fosse ser deslocado, mas em vez disso foi sua cópia que partiu rumo a ponte. -Não podemos enfrentá-los em campo aberto, seremos derrotados rapidamente. Falou outro jovem.- Vamos formar uma barreira rente ao portão principal. Como o espaço é menor isso anulará a vantagem numérica do inimigo. É a única chance que temos. Gritou novamente o primeiro jovem.

Após se fixarem em frente à torre, empunharam seus bastões aguardando o avanço das criaturas. O choque veio logo em seguida, a batalha estava acirrada, os jovens tentavam a todo custo impedir que nada rompesse suas defesas, a cada toque de suas armas o corpo das criaturas se esfarelava todo.-Ninguém saia de sua posição. Temos que resistir. Se um ceder sobrecarregara os outros e com certeza estaremos perdidos. Gritou o mesmo garoto que dera a ordem anterior aos demais. -Isto serve para você. Falou outro garoto à cópia do garoto.

A menina chegou perto da cópia, puxando-a novamente.-Temos que entrar. Disse ela.-O quê? Você ficou maluca? Não ouviu que temos que continuar juntos ou todos sucumbirão! Respondeu a cópia.

Um golpe passou rente a seu braço, entretanto sua agilidade permitiu esquivar-se a tempo de evitá-lo. Investiu contra o pescoço de seu oponente que tombou à sua frente.-Se você quiser ficar, que fique! Eu vou entrar. O tempo esta contra nós. Ou nós entramos agora, ou tudo estará perdido. Gritou ela.

As palavras determinadas da garota convenceram a cópia, os dois partiram construção adentro.-Eu sabia que não podíamos confiar neles. Urrou um jovem, todavia não teve muito tempo para continuar reclamando, precisou defender-se de um poderoso golpe de uma clava que ia atingir-lhe o peito. A pancada foi forte, entretanto seu bastão a repeliu. Não acredito... Disse outro garoto, com uma pequena menina ao seu lado, olhava a cena com espanto, em sua face o desânimo se fazia presente tinha sido abandonado por seus amigos.

Quando os dois entraram, o garoto que assistia a tudo como mero espectador, sentiu

sua visão embaçar, ao conseguir enxergar novamente o local havia mudado, estava no lado interno da torre. Se no lado externo a construção era de proporções assombrosas por dentro as mesmas eram mantidas. Salas e portas se espalhavam por todos os lados, escadas desciam e subiam em espiral.

Viu os dois corpos passarem pelo salão central, onde estátuas repousavam ao lado de vitrais junto às paredes. Os corpos seguiram pelas escadarias laterais. Tudo acontecia rápido

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demais, muito dos detalhes lhe passava desapercebido. -Pare! A cópia estava assustada, interrompeu o movimento de ambos. -Por que tínhamos que entrar? E os outros como ficarão? -Não sei te explicar, mas eu sinto que temos que ir... É como um sonho... Disse a garota querendo se explicar-Já estou cheio de sonhos. Vamos voltar. Ordenou á cópia- Eu apenas sinto... É por aqui. A garota partiu deixando a cópia para trás-Você sente? Perguntou ele incrédulo correndo para alcançá-la. - Como sabe que caminho temos que fazer? Já passamos por tantos corredores, tantas escadarias... Estou me sentindo perdido.-Não se esqueça que já estive aqui. Respondeu a garota à cópia. -Sim, eu sei que sim, mas isto são pressentimentos. Minha nossa! Você esta se orientando por uma percepção.-Confie em mim.

Chegaram a um corredor composto de pedras hexagonais brilhantes, uma corrente de ar vinha da parte superior, não sabiam por onde ela poderia estar entrando. A iluminação era feita por archotes de ambos os lados, pingos de água caíam do teto e o cheiro de incenso que impregnava o local era muito agradável. No final do corredor uma porta finalizava o caminho.-O que faremos agora? A cópia do garoto estava impaciente.-Vamos esperar, minhas percepções só me guiam até este ponto. Mas tenho certeza que algo vai acontecer. Respondeu, embora ela mesma duvidasse que tinham agido corretamente.-Fizemos a escolha errada. Abandonamos a todos. Deveríamos estar lutando. Arrependida a cópia deixou seu peso repousar sobre porta que cedeu ao mesmo. A falta de equilíbrio quase o levou ao chão.

Ambos entraram em uma câmara escura, o ar sombrio que envolvia o recinto só era quebrado por uma luz vinda de uma fresta no teto. O local coberto pela iluminação era pequeno e nela um pergaminho repousava sobre um pedestal. Um ser encapuzado se aproximava do papel, a sombra do capuz impedia a visão de seu rosto.-Você acredita em mim agora? Falava toda satisfeita consigo mesma.

A cópia do garoto avançou em direção ao ser, entretanto seu movimento foi impedido por uma explosão. A parede ao lado não existia mais. O cavaleiro que a pouco estivera lutando contra a besta negra na entrada do portão apareceu.-Como você chegou até esta câmara garoto? Saía daqui agora.

As garras da besta sugiram pelo buraco, o cavaleiro precisou se defender. A cópia voltou sua atenção para o pergaminho, porém quando ia seguir adiante bastou um simples movimento de braço do ser encapuzado para que o corpo da cópia fosse arremessado contra a parede. O bastão escapou-lhe das mãos.-Você é uma presa fácil garoto. A voz era arrastada e fria, sem mostrar qualquer sinal de emoção. – Só lhe resta um caminho, morrer...

A garota tentou impedir a ação. O ser mais uma vez movimentou o braço, apontando o dedo indicador para garota, dele emitiu-se uma luz branca no formato de um raio. Ela posicionou o bastão a sua frente na esperança de deter o ataque. Este, porém foi muito

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intenso partindo o bastão em dois, terminando por atingir-lhe o corpo. Ela caiu agonizando de dor. O ser voltou sua atenção para a cópia-Onde tínhamos parado? A sim eu ia te matar...

Estava sem forças, não conseguia nem se levantar, a cópia estava condenada. Quando o ser lhe apontou o dedo, o cavaleiro atirou sua espada, decepando-lhe a mão, entretanto na tentativa de salvar o garoto, descuidara-se por um momento da besta negra. Esta não vacilou, desferiu um golpe certeiro e mortal, o corpo do cavaleiro tombou sem vida.

O ser encapuzado pegou o pergaminho, estava tenso, ficou aborrecido demais depois de receber o golpe do cavaleiro, voltou-se para as sombras do aposento e desapareceu... A besta negra que observava a cena sumiu na escuridão.

A cópia do garoto tentava se levantar, mas ainda se sentia muito franco. A garota rastejava tentando chegar ao seu encontro. A mão decepada estava caída a sua frente, nela havia uma pequena pedra esverdeada presa por uma corrente. A garota não conseguiu chegar até onde queria, mas pegou o objeto brilhante apertando-lhe contra o peito com o que restava de suas forças até fechar os olhos pela última vez.

Ajoelhada à cópia deixava que as lágrimas escorressem pela sua face, os gritos de lamentos foram ouvidos fora da sala.

O garoto que até então era um mero espectador de tudo aquilo, ouviu uma voz chamando-lhe, o som vinha abafado, fazendo tudo aquilo ficar distante, o lugar, a garota caída sem vida, sua cópia... A voz era conhecida. Sua visão novamente se embaçou, ele perdeu os sentidos...

Arão! Arão! Não me faça subir até ai. Acorde! Você está atrasado. Ele abriu os olhos, a luz do sol passava pela janela, incidindo sobre as cobertas da

cama.-O café esta na mesa! Desça rápido senão ele vai esfriar. A voz continuava a chamar.-Já vou mãe. "Estou me sentindo como se tivesse dormido uns dois dias seguidos ". Pensou “Que horas são?".Olhou para o display digital do rádio-relógio, este estava parado marcando 00h01min00s."Nossa! Dormi demais. Justo hoje que tenho vestibular o aparelho não despertou. Será que parou a força a noite? ".

Levantou-se com um pulo da cama, bateu a mão no aparelho, o display começou a piscar no mesmo instante que o som da estação local vinha dos alto-falantes. O som da música "Thears of the Dragon" invadia o quarto. "Eu adoro essa música, é minha favorita".

Correu pegar sua mochila junto com o material que estava arrumado sobre a estante. Colocava as canetas e o caderno dentro da mochila enquanto cantava a música junto com o aparelho. Um noticia urgente interrompeu a canção.- Não! Agora não! Espere terminar a música. Protestou o garoto.

"Informamos que uma colisão ocorrida nesta manhã envolvendo um caminhão e um carro

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teve duas vitimas fatais. O garoto A.C. de 16 anos esperava no carro sua mãe que fora comprar o material necessário para ele prestar vestibular.O caminhão de Helio de Souza perdeu o controle e atravessou o canteiro central. Invadiu o estacionamento do SuperMercado Melvis ocasionando a colisão. Pessoas entrevistadas no local dizem não entender como o caminhão sem direção conseguiu fazer todo o percurso e ainda atingir o veículo parado. Um fato estranho que mereceu atenção especial da policia local é que segundo laudos do Hospital São Conrado, o motorista Helio de Souza, tinha dado entrada no hospital um dia antes, sofrendo com problemas respiratórios e veio a falecer na mesma noite de insuficiência respiratória. Com essa já sobem para seis o número de mortes de menores só esta semana em nossa região. Estas foram às notícias da última hora de sua FM...”. A música voltou a tocar.

O jovem pegou seus pertences desligando o som com um tapa no rádio-relógio. Desceu as escadas pulando alguns degraus. Chegou à sala que acabara de ser varrida pela mãe. Sobre o sofá creme, as almofadas estavam colocadas umas ao lado das outras. Entre as poltronas havia uma pequena mesa de vidro quadrada onde várias revistas se misturavam com o jornal do dia. A TV desligada sobre a estante ficava logo abaixo do quadro da santa ceia. Um grande vaso com flores ornava a passagem de acesso à copa.

Entrou na copa a passos largos com o jornal embaixo do braço. O café dentro da xícara estava pronto para ser degustado. A mesa se mostrava farta com duas jarras de louça, uma com suco de laranja e outra com leite. O pão ainda estava quente, ao lado de uma vasilha com presunto e queijo. O copo de requeijão se encontrava ao lado da cesta de frutas.

Arão deu um beijo no rosto de sua mãe antes de sentar-se à mesa.-Bom dia meu filho. Você não tinha acordar mais cedo hoje? Perguntou a mãe colocando na mesa o leite que acabara de ferver.-Eu até tinha, mas o rádio-relógio simplesmente parou. Ontem a noite houve falta de energia? -Que eu saiba não. O aparelho do meu quarto esta funcionando normalmente. -Estranho...-Como você passou à noite? Dormiu bem?-Para dizer a verdade demorei a pegar no sono. Mas quando adormeci tive um sonho e tanto. As palavras saiam com entusiasmo. -Sonhei que estava em uma cidade diferente de tudo o que já vi, alias muito bonita por sinal. As pessoas usavam roupas esquisitas e teve um combate... Descreveu um pouco do sonho para sua mãe.-Bom vamos voltar à realidade. Disse a mãe cortando a descrição do sonho no meio. - Tome logo seu café senão vai se atrasar.

- Mãe! Que cheiro estranho é esse? Você não esta sentindo? Parece ser gás. Acho que vem da cozinha.-Não pode ser meu filho, acabei de vir de lá, tenho certeza que desliguei tudo!

Parou um momento olhando o garoto. Lembranças do passado percorreram sua mente. Tinha sido um tempo difícil, chegará sem emprego e sem um lar para morar. Sozinha

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com a criança, tivera que trabalhar muito para construir tudo o que tinham hoje. A vida de professora tomava-lhe muito tempo e lhe rendiam muitas preocupações. Porém nenhuma era maior que o filho. Era tudo o que tinha, tudo o que importava. Mesmo as dificuldades iniciais foram superadas com alegria, pois via o garoto crescer forte e saudável."Valeu a pena, tudo o que passei, tudo que sofri, noites em claro me preocupando, achando que não ia conseguir, mas vejo que valeu a pena..."

O menino nunca chegara a conhecer o pai, mas isto parecia não incomodá-lo, sabia que essa fora a melhor solução. Entretanto no fundo desconfiava que o garoto tinha muita curiosidade sobre o assunto, mas nunca a incomodara exigindo respostas, de modo que ela sempre fora muito evasiva.“A única coisa que você jamais pode ser esquecer é que seu pai foi um grande homem, pena ele ter partido tão cedo...”

Essa era a resposta mais comum que o garoto recebia quando a questionava sobre o assunto, mas um dia ele entenderia o porquê.

Seus olhos ainda se prendiam ao menino devorando seu café à mesa. A satisfação dos últimos pensamentos lhe fez brotar um sorriso no rosto.-Que foi mãe? Você esta com uma cara estranha. Olhou em volta como se algo estivesse errado com ele. -Ta rindo de que?

A mulher corou ante o questionamento do filho.-Nada meu filho estava apenas me lembrando de uma piada que ouvi ontem.-Sei...

O som da campainha veio da porta da frente.-Tem alguém em casa! Estou "afundando"!

Arão parou de tomar café, aquela voz grave não deixava dúvidas, ele a reconheceria mesmo a quilômetros de distância. -Entre Tícero. Estamos na copa tomando café. Gritou a Helena.

O homem de porte atlético e ombros largos, possuía uma cabeleira negra perdida em meio a muitos fios grisalhos, seu corpo passou pela porta da sala se dirigindo a copa. O nariz delgado sentiu o aroma do café que só ela sabia fazer. Seus olhos castanhos notaram todas as coisas arrumadas. Um sorriso lhe surgiu em sua boca larga ao seu lembrar de como Helena gostava de todas as coisas em ordem.

Tícero apareceu pouco tempo depois de terem se mudado, foi uma benção. Dono de uma academia conquistou uma enorme clientela com seu caráter exemplar e jeito carismático. Trabalhava duro quatorze horas por dia, à academia abria a oito horas da manhã, fechando somente às dez horas da noite.

Conheceu Arão desde pequeno e acabou se apegando muito a ele. Como o menino não tinha pai, praticamente "adotou-o". Começou arranjando-lhe um emprego na academia, não que precisasse de mais empregados, pois tinha vários, só queria uma proximidade maior de ambos. Na parte matutina exigia que o garoto estudasse. No restante do dia as horas eram gastas nos ensinamentos que ele vivia-lhe passando. Eles iam desde artes marciais, lutas com lanças e espadas até como um verdadeiro homem de caráter deveria se portar. Tinha certeza que muito da personalidade do garoto tinha sido moldado por ele.-Bom dia Helena. Cumprimentou cordialmente.

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-Bom dia, Tícero. Respondeu ela ao seu aceno.O homem aproximou-se devagar no mesmo instante em que o garoto levantou-se da

cadeira, olhos nos olhos, a tensão tomou conta do local. Tícero foi o primeiro a se movimentar, sua mão direita partiu rapidamente, Arão se esquivou agilmente aplicando-lhe um contra golpe que teria acertado com sucesso seu alvo, se o movimento não tivesse sido interrompido intencionalmente. O homem ficou assustado com a mão do garoto parada a poucos centímetros do seu rosto. Logo os dois explodiram em gargalhadas.-Acredito que tenha te ensinado bem demais. Deu uma piscada para ao garoto. -Daqui pra frente terei que tomar mais cuidado quando desafiá-lo.-Acho que é a idade que vem chegando. Brincou o garoto. -Há algum tempo atrás você teria defendido esse golpe sem problemas.-Vocês dois parem de agir como crianças! Sentem-se à mesa senão o café senão vai esfriar.

A mulher falava em tom de repreensão. Após a bronca, os dois se olharam com cara de cúmplices enquanto sentavam quietos à mesa. -Arão cuidado com a hora, senão você vai se atrasar.

O garoto balançou a cabeça.-Aceita um café, Tícero. Continuou a ela.-Sim obrigado. O homem colocava açúcar em seu café quando algo pareceu incomodá-lo. -Vocês não estão sentindo um cheiro de gás aqui dentro?

Perguntou respirando mais fundo como se quisesse sentir o cheiro de algo.-Eu já reclamei disso, mas ela nem me ouviu. Complementou o garoto.-Vou dar uma olhada.

Tícero levantou-se da mesa enquanto Helena pegava mais café. Entrou na cozinha ao lado da copa. A pia estava cheia de pratos com um escorredor de louça ao lado cheio de talheres limpos. Encostada na pia, a geladeira ligada emitia um zunido agudo interminável, em frente a ambas o fogão com o botijão encostado exalava gás por um dos bocais. -Helena! Helena! Onde esta todo aquele cuidado que você sempre teve. Disse para si mesmo enquanto girava o botão rapidamente para fechar o bocal.-Tícero! Você vai demorar? Seu café vai esfriar. Falou a mulher da copa.-Já estou indo. -Tudo em ordem? Perguntou Arão.-Nada que não pudesse ser resolvido com um pequeno giro. Sentou-se em seu lugar saboreando seu café. - Como sempre Helena, ele está divino.

A mulher corou com o comentário.-E você meu jovem, pronto para a prova de hoje?–Prontíssimo! Não vou negar que estou ansioso. Mas estudei bastante. Agora seja o que Deus quiser. Não vejo a hora que tudo isso acabe.

Hoje era o dia para o qual tanto se preparara, o vestibular era difícil e apesar de se esforçar muito ainda se sentia um pouco inseguro. Precisava entrar em uma faculdade publica, não que a mãe não pudesse sustentá-lo caso passasse em uma particular, mas isto não fazia parte de seus planos. Sabia que se conseguisse entrar daria uma grande alegria para sua mãe. Queria dar este presente a ela. Como no dia em começou a dançar, chegou em casa pegando a mãe pela cintura.

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“Mãe, veja o que aprendi...”. Ela o olhou toda orgulhosa.-Você não seria uma pessoa normal se não ficasse ansioso ou nervoso antes do vestibular, isso acontece com todo mundo. Mas no seu caso já esta tudo aí dentro. Tícero apontou o dedo para a cabeça de Arão.-E ninguém pode tirar isso de você. Procure ficar calmo e tudo correrá bem. Olhou para Helena. -Estaremos torcendo por você.-Falar é fácil.Queria ver o senhor sentado naquela mesinha, preso por quatro horas fazendo prova.-Eu aposto que me sairia muito bem. Mas mudando de assunto, o que tem de interessante no jornal hoje? Perguntou Tícero.-Ainda não consegui folheá-lo para dizer a verdade, mas no noticiário da rádio hoje de manhã, aconteceu um fato triste, mas que acabou tendo seu lado cômico. Comentou o garoto.-O que meu filho?-Um garoto que também ia prestar vestibular morreu num acidente de carro. Menos um concorrente. Brincou Arão, entretanto sua expressão mudou rapidamente ao ver a cara de reprovação da mãe.- O motorista do caminhão também morreu.

Tícero esperou Arão terminar de falar, para perguntar logo em seguida.-O que tem de engraçado nessa notícia?-É que segundo a polícia, o homem que dirigia o caminhão já havia morrido na noite anterior, ou seja, morreu duas vezes.-Que notícia mais estranha. Você tem certeza disso? Perguntou Tícero passando a mão no queixo, ficou pensativo.-Certeza absoluta.-Arão! Pare de brincadeira. Ordenou Helena demonstrando certo nervosismo. -Pegue suas coisas e vá fazer a prova, senão irá se atrasar.-Xxxiiii! Hoje ela não acordou de bom humor. Cochichou o garoto para Tícero. Depois aumentou mais o volume da voz para a mãe ouvir. - Estou de saída...

Deu um beijo no rosto da mãe e apertou a mão de Tícero se despedindo. Deixara para trás as duas pessoas mais importantes de sua vida. A mãe ainda gritou na esperança do filho ouvir, mas ele já estava longe correndo rua afora.-Boa sorte! À noite você me conta como foi! Helena virou as costas para Tícero, recolhendo a louça suja da mesa enquanto o homem terminava seu café.-Você sabe que ele não vai mais voltar!

Não era uma pergunta, mas sim uma afirmação.A mão de Helena fraquejou, o prato escorregou-lhe, fazendo-se em muitos pedaços

menores ao cair no chão.-O quê? Ela não tinha coragem de encará-lo, estava cabisbaixa.-Você sabe do que eu estou falando. Ele não retornará para lhe contar como foi a prova.

O homem ficou quieto por alguns segundos, acrescentando logo em seguida.-Começou...

Ela virou-se para ele, lágrimas escorriam por seu rosto.-Ele teve um sonho hoje... Os soluços impediram que ela terminasse a frase.

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–Teve mesmo? O sonho! As notícias estranhas no rádio! Isto prova que não estou enganado em meu julgamento...-Mas ele é só um garoto, como podem esperar alguma coisa dele. O corpo de Helena escorregou-se na cadeira. -Tão pequeno, tão frágil...-Não se engane! Ele não é tão frágil assim como você esta dizendo! Sabe se cuidar sozinho, não há com o que se preocupar, ele vai ficar bem.

Tinha esperança que suas palavras lhe passassem alguma confiança, mas no fundo também estava cheio de incertezas.-Será que fizemos tudo o que podíamos por ele? Perguntou Helena angustiada.

As mãos de Tícero pousaram nos ombros da mulher enquanto seu rosto exibia-lhe um sorriso encorajador.-Você foi a melhor mãe que ele poderia ter. Aposto que Arão tem muito orgulho de você e sabe que fez tudo o que estava ao seu alcance por ele. Agora quanto a mim ainda resta uma última coisa que tenho que fazer.

Virou a xícara de café tomando todo o líquido quente em um só gole, deixou Helena sentada na copa perdida em seus pensamentos, enquanto saia em direção a rua.

A mulher chorava baixinho, olhava para as paredes ainda remoendo seus pensamentos..."Foram anos muito bons que passamos juntos. E agora querem tirar tudo de mim. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde esse dia chegaria, só esperava ser mais forte. Deus proteja-o, afinal ele é só uma criança e tem um caminho tão árduo pela frente..."

O cheiro de gás voltou a invadir a copa vindo da cozinha.-Mas que cheiro é esse? Perguntou a si mesma. -Tícero foi verificar se estava tudo em ordem. Será que ele não olhou direito? Mas ele nunca foi desleixado nas coisas que faz, muito pelo contrário...

Entrou rápido no cômodo indo até o fogão, quando olhou para os bocais os seis estavam abertas ao máximo expelindo gás.-Como isso foi acontecer? Perguntou-se. Antes de conseguir fechar o primeiro bocal à resposta veio de atrás de si.-Eu estava com fome, então decidi preparar algo para mim, mas acho que exagerei na dose. Você não acha?

Helena virou-se agilmente. A sua frente se encontrava um estranho usando vestimentas pretas que cobriam todo seu corpo, seu rosto e suas mãos que não eram cobertos pelas roupas estavam muito pálidos... Ela agira rápido, pegando uma faca que estava em cima da pia. -Quem é você? O que você quer? Tossia repetidas vezes por causa do gás.-Quem eu sou não é importante no momento e o que quero já foi embora. Olhou para porta. Helena entendeu o recado.-Se você tocar em um fio de cabelo do meu filho eu mato você.

Com um movimento rápido da mulher a faca feriu a mão do estranho abrindo-lhe um corte.- A dor! Exclamou ele, olhando para mão. -Convivo com ela o tempo todo. Suspirou profundamente antes de continuar. –Calma! Não fique brava, nesta casa não tem mais nada que seja do meu interesse, mas já que estou aqui vou aproveitar e levá-la para uma

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pequena viagem.-Viagem? Para onde? Perguntou a mulher levando a mão à garganta, a dificuldade para respirar aumentava a cada instante.

O homem apontou o dedo indicador para cima e sorriu com sarcasmo, enfiou a outra no bolso. Helena estava ficando zonza, as imagens começavam a ficar turvas, viu a mão do estranho dançar a sua frente com um isqueiro, buscou um apoio na pia para não cair. Ele se aproximou sussurrando ao seu ouvido:–Adeus minha querida, cumprimente os anjos por mim quando os encontrar.

Esticou a mão à frente do rosto de Helena, o isqueiro emitiu um pequeno ruído, a chama se acendeu. A explosão foi enorme, as labaredas de fogos consumiram a casa toda.

Arão andava distraído pelas ruas, sua escola se aproximava e com ela o vestibular. O vento tocava-lhe a face enquanto tentava recordar algumas fórmulas de física, elas tinham grande probabilidade de serem utilizadas no exame.

A rua se encontrava deserta, em raros momentos carros circulavam pela via, entretanto há algum tempo nem isso acontecia. Ao chegar perto de um cruzamento ouviu o som de um objeto metálico cair, da esquina uma tampa de lixo de ferro veio rolando até seus pés. Um grito de desespero seguiu-se logo após.

Arão precipitou-se, alguém parecia estar em dificuldades. Ao dobrar a esquina a cena que viu deixou-o estarrecido, uma garota provavelmente da mesma idade que ele, estava sendo molestada por quatro homens. Eles trajavam roupas pretas e a palidez na pele estava presente em cada um deles. O mais alto segurava a bolsa da garota, que tentava em vão puxá-la para si, enquanto os outros três riam observando a cena.-Devolva minha bolsa. Implorava a garota. -Deixem-me em paz!-Você quer ficar em paz menina?

O homem que estava mais distante, se movimentou em direção à garota tirando um punhal do bolso. - Pois bem! Vou lhe dar a paz. Falou de modo intimidador, acrescentando em seguida com ironia. - Depois disso ninguém nunca mais vai importuná-la.

O sangue fluiu-lhe nas veias com maior rapidez, não tinha idéia da intensidade do grito que dera, todavia devia ter saído muito alto, pois todos olharam espantados.-Soltem-na seus covardes!- Ora, vejo que temos um herói aqui, se manda menino pirralho.-Eu mandei você soltar ela.- Oras ele é bravinho e ainda quer me dar ordens?

O homem com o punhal avançou em sua direção. Arão não teve muito tempo para pensar, uma vassoura velha se encontrava encostada na parede junto com o lixo. Um pisão foi o suficiente para separar o cabo da parte de palha.

O ser investiu com o punhal tentando acertar o estômago do garoto. Um pulo para trás foi o movimento suficiente para desviar-se da arma. O contra ataque com cabo de madeira levou o punhal ao chão. Em seguida foi a vez do rosto do homem receber a carga

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do bastão. Ele se ajoelhou com as duas mãos sobre a face sofrendo terrivelmente. Os outros vieram socorrer o companheiro, porém tiveram a mesma sorte, logo

estavam deitados gemendo de dor.Arão largou o bastão e olhou para os lados, mas não viu a garota. Seu olhar se

distanciou um pouco, do meio da rua a jovem acenava-lhe alegremente. Seu sorriso era lindo.

Um calafrio percorreu o corpo do jovem, suas pernas tremeram, a garota logo percebeu a reação, pois seu sorriso sumiu da face. Olhou para trás, um carro vinha em alta velocidade. O motorista fez um último esforço para se desviar dela, os sons dos pneus patinando foram altos. Conseguiu executar a manobra com sucesso, o único problema é que agora o veículo seguia para onde Arão se encontrava.

O jovem ainda deu alguns passos para trás, mas logo esbarrou na parede, não teria como escapar, o avanço do veículo era muito rápido. Fechou os olhos, o impacto seria breve, apenas esperou... Sentiu algo bater forte em seu corpo, caiu batendo a cabeça no chão e perdeu a consciência...

Ao abrir os olhos sua visão aos poucos foi se acostumando com o ambiente, via pessoas passando por todos os lados. Algumas trajavam fardas militares, outras uniformes de para-médicos. Sua cabeça doía muito.

Viu um carro parado a seu lado com a frente toda destruída. No banco do motorista um corpo sem qualquer sinal de vida estava suspenso preso pelo cinto de segurança. Ao lado do veículo outro corpo estava ao chão coberto por um lençol todo manchando de sangue.

Tentou se levantar, mas foi contido por uma mulher que usava roupas brancas com símbolo de uma cruz vermelha desenhado ao peito.-Calma garoto! Você não pode se levantar, procure descansar. O galo em sua cabeça é muito grande, isso só me leva a crer que sua batida foi muito forte, portanto tente não se mexer. Ordenou-lhe a mulher.-O que aconteceu?

Arão lutava com as mãos da mulher, mas por estar meio zonzo, não era muito difícil para ela imobilizá-lo. -A garota, onde ela esta? E os quatro homens?

Não entendia o que tinha acontecido, se lembrava de ter salvo a garota do carro vindo em sua direção, quando sentiu uma forte pancada e tudo se apagou.-Eu ia lhe fazer esta mesma pergunta. O que aconteceu? Nós recebemos um chamado sobre um acidente, chegamos o mais rápido possível, mas fora você que estava inconsciente. Os únicos homens que encontramos, foram o motorista e aquele outro senhor embaixo dos lençóis. A propósito, sou a doutora Melissa.

Enquanto a doutora lhe explicava sobre o ocorrido quando a equipe médica chegou, um dos para-médicos ergueu o lençol para verificar a identidade do corpo que jazia sobre o pano. Arão perdeu o fôlego por uns instantes, não acreditou no que viu, o corpo era de Tícero.

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Começava a entender o que tinha se passado, Tícero arremessou-se contra ele, o choque de ambos os corpos atirou-o ao chão momentos antes do carro acertá-lo, salvando-o assim da morte certa, porém isto fez com que Tícero tomasse seu lugar no acidente.

O garoto entrou em pânico queria ir até o local onde o corpo de Tícero se encontrava. A médica precisou chamar mais um enfermeiro para ajudar a segurá-lo. Logo que conseguiram imobilizá-lo, ela aplicou-lhe uma injeção de sedativos.-Fique calmo! Agora você ira descansar um pouco. Depois que acordar e estiver mais tranqüilo, nós conversaremos sobre tudo o que aconteceu.

A cabeça de Arão foi ficando pesada, um policial chegou ofegante perto de onde ele estava. Suas palavras saíam rápidas demais, estava agitado tentando se comunicar seu oficial superior que observava o motorista.-Sargento! Ele esta morto!-Isto até uma criança pode ver cabo, diga-me alguma coisa que eu ainda não saiba. Retrucou o sargento impaciente com a ingenuidade do cabo.-Não! O cabo tomava fôlego para prosseguir. -O senhor não esta entendendo, de acordo com as informações da central e do Hospital local, o motorista do veículo se chama, Julio Herminiano Silva, 55 anos, viúvo, tem um filho que já estava a caminho para ver o corpo do pai. -Sim, e o que tem isso de novidade cabo? O homem morreu, o filho vem para reconhecer o corpo do pai. É duro para os familiares, mas é assim que as coisas funcionam. A impaciência transparecia no rosto do sargento.-É que este homem que está morto aqui na nossa frente, faleceu ontem à noite de parada cardíaca! O hospital notificou o sumiço do corpo hoje de manhã...

As vozes foram sumindo Arão foi perdendo os sentidos, finalmente adormeceu...

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A Chegada...

Arão abriu os olhos com dificuldade, seu corpo repousava sobre um sofá muito confortável. À sua frente esparramado em um tapete marrom, um cachorro o vigiava alegremente abanando-lhe o rabo. Devido a sua enorme quantidade de pelos ficava impossível ver seus olhos.

A cabeça ainda doía e isso ficou mais evidente quando tentou se levantar. Não se recordava de nada, sua memória se apagará completamente. Tentava em vão recuperar alguma lembrança, mas a única coisa que conseguia era aumentar a sua dor.

Uma sensação de paz e bem estar o envolveu, junto com ela um sorriso brotou-lhe no rosto. Não existiam mais problemas ou preocupações.

O local em que se encontrava era rústico, limpo e bem organizado, seu interior lembrava muito uma cabana abrigando vários móveis. Haviam duas cadeiras de bambus sem pés presas ao teto por cordas. Uma janela logo a frente deixava entrar os raios do sol, por onde também um beija-flor acabara de entrar. Sobre a lareira ao lado repousava um pequeno vaso cheio de flores coloridas. E ao centro da sala uma mesa abrigava livros e papiros, no meio deles um prato com enfeites de bronze contrastava com o visual dos papeis.

Caminhou pelo recinto com o cachorro como companhia, sem querer esbarrou em um pedestal que continha um vela cheia de desenhos. Graças a sua agilidade o destino da vela não foi o chão.’’Que objeto estranho. Sera algo mistico?“ . Pensou.

No lugar da porta havia um tapete preso a parede, com ambas as mãos puxou o tecido para o lado, a claridade o cegou momentaneamente. A dor penetrou-lhe a cabeça, imagens desgovernadas começaram a chegar-lhe a mente. Um acidente, médicos, policias, um corpo sob um lençol e por fim a escuridão...

]Quando seus olhos se acostumaram com a claridade exterior, ele quase perdeu o fôlego.-UUUUAAAAAAA, que beleza ... Que lugar é esse?

As palavras saíram atropeladas, caminhou mais alguns passos com o cachorro pulando em sua perna.

Seu raio de visão contemplava um longo e vasto campo coberto por flores, com algumas árvores perdidas no meio daquele mar colorido. Atras da cabana alguns morros formavam uma barreira natural, todos cobertos por uma vegetação verde e o maior deles possuia uma cachoeira. Quando as cadeias elevadas chegavam ao final, o mar tomava conta da paisagem.

Olhando para o chão viu que estava sobre uma passarela feita de bambus e cordas. Abaixo dela um lago de águas cristalinas com o fundo visivel abrigava muitos peixes que nadavam por toda extensão do mesmo.

A vista era linda, entretanto algo a tornava especial, não muito distante, um morro estava suspenso no ar como se fosse uma estalactite. Em sua parte superior existiam muitas árvores, podia se ver de longe pequenas manchas que pareciam ser pássaros se movimentando entre as árvores, de sua base escorria uma imensa cachoeira caindo no solo,

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onde se formava um rio que cruzava toda extensão do campo florido.Esfregou as mãos nos olhos. Seria isto um sonho do qual ele acordaria a qualquer

momento? Mas tudo parecia tão real. Notou uma pequena movimentação ao longo do campo que antes lhe passara desapercebido, um grande rebanho de animais passeava, entre eles, várias raças se misturavam e conviviam tranqüilamente, não havia cerca que os impedisse de ir a qualquer lugar, estavam simplesmente livres.

Sentiu uma mão tocar em seu ombro no mesmo instante que uma voz chegou aos seus ouvidos.-Lindo não?

O susto não passou desapercebido ao homem de estatura mediana, com um vasta cabeleira grisalha e grandes olhos claros que acabara de parar ao seu lado. Suas vestimentas eram uma simples calça azul surrada e uma camisa branca toda suja de terra.-Desculpe não pretendia assustá-lo.-Quem é o senhor? Que lugar espetacular é este? O que eu estou fazendo aqui? Não consigo me lembrar de nada, somente de um estranho acidente...

As perguntas não paravam de sair, ele não conseguia organizá-las em sua mente. O jovem estava muito confuso...-Parece assustado e cheio de dúvidas, não o culpo, é compreensível, mas logo irá se acostumar e mais rápido do que imagina. Meu nome é Kamis.

Mesmo sem memória, não soube como mas um nome lhe veio a mente.-O meu é Arão.

Estendeu a mão para cumprimentá-lo, entretanto para seu espanto o homem abraçou-o.-Isto sim é um bom cumprimento, aprenda isso meu jovem. Deu-lhe um largo sorriso.

Arão ficou um pouco emcabulado com o cumprimento mas não reclamou.-Agora o porquê de você estar aqui é um assunto para mais tarde. Quanto a sua outra pergunta, que lugar é este? Bem, eu não quero assustá-lo.

Ficou pensativo por alguns instantes.- Diria que ele leva muitas denominações: Éden, paraíso, firmamento... eu poderia citar muitos outros, mas pela cara que você acaba de fazer acho que já compreendeu tudo.-Como assim? Não estou entendendo, e não sei se quero entender. Quer dizer que eu estou no firmamento?

O homem fez um sinal de positivo com a cabeça.-Isto quer dizer que eu morri. Estou morto.-Não fique assustado, você fala da morte como se ela fosse o fim, mas ela é apenas uma passagem.

Kamis ficou em silêncio, algo em Arão dizia que não conseguiria extrair nada mais daquele homem, a não ser que ele assim o desejasse. Decidiu tentar de outra forma sanar suas dúvidas.-Não posso estar onde você afirma, pois se estou mesmo no firmamento... Arão tentava organizar seus pensamentos. - Por que estou com fome?

O homem sorriu-lhe e tirou uma maçã do bolso. -Pegue experimente essa fruta.

Arão estava realmente faminto, devorou a fruta em instantes. Ao acabar somente um

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pensamento lhe ocorreu.“Que delicia, acho que nunca experimentei nada tão doce“.

Kamis não disse nada, apenas observou o jovem. Retirou outra maçã e lhe entregou.-Agora prove esta.

O jovem obedeceu. -E aí como estava?-Olha está boa, mas não dá para comparar com primeira que estava muito melhor... -O que estou querendo lhe mostrar, é que as coisas aqui são muito parecidas como no mundo dos homens contendo apenas pequenas diferenças.-Quer dizer que há fome aqui?-É claro que existe, vou lhe dar um exemplo, se você não estivesse com fome, o prazer ao saborear esta fruta não seria o mesmo. Qual é um dos maiores prazeres dos homens? Kamis perguntou sem dar chance para Arão responder. - Comer! O prazer da comida sendo mastigado, seu sabor na boca, hhuumm, é uma das melhores coisas que existe. E se é tão bom por que iriam nos privar disso?-Mas existem milhões de pessoas que passam fome. Aqui também existe isso? Questionou Arão.-Essa é a diferença do firmamento com o mundo dos homens. As pessoas ficam com fome no firmamento? A resposta é sim! Mas sempre há comida, por que somos irmãos e cooperamos entre nós para sanar todas as necessidades de cada um. Aqui nínguém morre de fome.

Kamis olhou para Arão que parecia não acreditar em suas palavras.-E quanto ao trabalho ? As pessoas trabalham no firmamento, isto nos enobrece. Pois passar a eternidade sem fazer nada enjoa, se é que você me entende. Kamis deu uma piscada amigável para Arão. –Todos fazem o que gostam e isto sim é o mais importante. Se sentem cansaço param e descansam, não há cobrança. Você não imagina o prazer que é descansar depois de trabalhar horas a fio. O homem suspirou fundo.- Por que está me olhando com esta cara de espanto? Por acaso achou que o firmamento é um lugar onde anjos cantam o dia todo e nós ficamos só apreciando em eterna reflexão? Da mesma forma como no mundo dos homens estamos aqui para aprender. Aprender a amar e servir.-Você está querendo me dizer...-O que estou querendo dizer, é que como os homens, nós temos fome, sono, cansaço, alegrias e até tristezas, por exemplo quando um amigo parte, sentimos sua falta, mas depois quando ele retorna, a alegria não seria tão plena se não sentíssemos sua falta.-Mas eu pensei que... A pergunta foi cortada pela continuidade da explicação de Kamis-Vai dizer que você acha que não temos o direito de nos apaixonarmos? Perguntou o homem.-Não eu apenas...-Que somente os homens teriam a maior dádiva que existe, o amor. Somos iguais aos homens, porém nossas consciências estão num plano superior, não temos inveja, ciúmes ou maldade... E é por isso que este lugar é chamado de paraíso é tudo o que de bom existe no mundo dos homens, sem os males que os afligem. E mais algumas pitadas de como poderei

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dizer, "magia" para completar. Riu apontando para o morro suspenso. - A magia sempre existiu em todos os mundos é que os homens deixaram de acreditar nela.-Eu ainda não acredito no que estou vendo. -É natural que estejas confuso, leva-se um tempo para aceitar a verdade, mas não se preocupe muitos passam por isso. É o que ocorre quando não se está preparado. Em breve você lembrará de tudo.

A expressão de Kamis mudou, ficou em silêncio observando o rebanho que se movia. Arão não perguntou mais nada, mesmo por que Kamis parecia já ter encerrado a conversa. Um breve tumulto se formou entre os animais, muitos correram de medo em várias direções. No espaço aberto, um leão matara uma pequena zebra. Ela caiu morta, o leão se aproximou e com a cabeça mexeu no pequeno corpo caído, por fim deu um rugido alto e saiu deixando o corpo sem vida estendido no chão.

Kamis deu um longo suspiro.-Nossa!!!! Arão espantou-se. -Está certo que não me lembro de muita coisa, mas uma cena assim, aposto que nunca presenciei. A lei da sobrevivência.

A satisfação estampou seu rosto. Olhou novamente para Kamis este entretanto fazia um sinal de desaprovação.-Lei da sobrevivência você diz. Fechou os olhos e moveu a face para baixo. -O que acabamos de presenciar foi pura crueldade.-Mas os animais só matam outros quando estão com fome, quando necessitam de alimentos, não existe crueldade nisso, é coisa da natureza. Respondeu Arão. - E se aqui as coisas são iguais ao do mundo dos homens...-Você não achou estranho que o predador simplesmente foi embora e não tocou no animal morto.

Com a expressão séria, deu as costas a Arão e foi embora. -Mas como isto é possível, você acabou de me dizer que no firmamento as coisas são diferentes, que não existem esses sentimentos...

Arão falou mais alto, pois Kamis já estava um pouco distante. Ele virou-se novamente para o jovem.-Este é o problema, antes não existiam, mas agora.... O equilíbrio foi quebrado, logo seremos iguais ou até piores ao mundo a que você pertencia. Não quero assustá-lo com minhas previsões, procure descansar e aproveitar sua estadia aqui, afinal ela será muito breve. Suas respostas lhes serão dadas na hora certa.-Espere! Espere...

Mas o homem já estava fora de seu alcance. Arão continuou parado por um longo periodo, absorto em seus pensamentos. Teve como companhia o cachorro com quem brincou um pouco antes de entrar na morada e deitar-se. Tinha tantas perguntas e nenhuma resposta. A noite conversaria com Kamis, exigiria dele algum esclarecimento, esse pensamento o tranqüilizou, nem chegou a perceber quando adormeceu.

Quando acordou, os raios do sol já não entravam mais pela janela. Muitas velas

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espalhadas faziam a iluminação do local. A decoração do ambiente mudará, havia muitos vasos com flores na sala, alguns continham violetas, outros rosas e todos estavam presos por correntes ao teto. Muitas folhagens se espalhavam agrupadas as paredes tornando o ambiente mais colorido.

Suas pernas estavam apoiadas sobre algumas almofadas. Uma sensação boa tomava conta de seu corpo e vinha de seus pés. Em frente a eles estava uma mulher ajoelhada com uma toalha nos ombros, ao seu lado repousava uma vasilha com água que exalava um aroma refrescante. Suas mãos realizam movimentos rápidos e firmes massageando os pés de Arão.

Ela sorriu-lhe, deixando-o sem jeito. -Como estais?

Não obtendo resposta a mulher prosseguiu. -É sua primeira noite aqui certo? Espero que esteja sendo agradável.

Mais uma vez esboçou-lhe um sorriso.-Desculpe-me por não estar presente a tarde para recebê-lo, mas tinha alguns afazeres para terminar.

O garoto queria se levantar, entretanto sentia-se tão relaxado que desejava continuar assim por muito tempo. Ela o tocou com delicadeza.-Não! Apenas relaxe. Você não sabia que os anfitriões devem receber seus hóspedes da melhor maneira possível? É um costume que temos de que quando alguém chega em sua casa os pés do visitante devem ser lavados pelo anfitrião em sinal de amizade e respeito.-Dormi muito bem, sinto-me revigorado, somente minha cabeça ainda está um pouco pesada. Respondeu-lhe o garoto.-Isso é normal, o começo é sempre mais difícil, porém não deixa de ser agradável. Leva-se um tempo até se entrar em sintonia com este maravilhoso mundo. Não fique sem jeito pelo que estou fazendo.

Olhou para os pés do garoto.-Como disse, isso é um costume e para mim um enorme prazer.-Você é muito boa nisso. Sinto meu corpo todo relaxado. -Antes de continuarmos nossa conversa é melhor que eu me apresente. Meu nome é Velana.-O meu é Arão.-Mas como ia dizendo os pés são os nossos pontos de apoio. Examinando-os podemos descobrir quais partes do corpo estão fora de equilíbrio. Cada ponto dos pés correspondem a uma determinada parte do corpo. Assim uma massagem no ponto certo é um tratamento muito eficiente para corrigir certos desequilíbrios. Os pés carregam a energia do corpo todo e sua purificação é feita através da lavagem com água.-Você realmente gosta de pés? Perguntou meio sem jeito com intenção de continuar a conversa. -Sim, acho-os fascinantes, é a primeira parte do corpo que costumo olhar quando conheço alguém. Fico muito desapontada quando as pessoas vem me ver com sandálias fechadas, elas nos privam a visão de seus pés. Sorriu encabulada. -Os seus são muito bonitos.-Obrigado, nunca me preocupei muito com eles, mas ouvindo você falar assim, a partir de agora, darei mais atenção a meus pés .

Arão sorriu, a mulher lhe transmitia paz e tranqüilidade.

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-Então isso quer dizer que meu corpo esta descrito neles?-Sim! E não é só nos pés, mas nas mãos e iris também, aliás o corpo de um modo geral, nos revela muito do que somos, ele é uma máquina formidável, cada parte tem sua particularidade, podemos até querer nos escondermos, mas se soubermos ler a linguagem corporal, conheceremos muito das pessoas mesmo que elas não falem nada a seu respeito.-Você sabe tudo isso? Perguntou espantado.-É como uma ciência, tudo está intimamente ligado. Disse sorrindo ao garoto - Aposto que nunca imaginou que seu corpo pudesse ser tão maravilhoso, pois ele o é, e se prestar atenção, ele dirá tudo o que precisa saber.-Já vi que tenho muito a aprender.-Sim! Tem! Quando as pessoas morrem no mundo dos homens suas almas deixam o corpo fisíco, entretanto ao chegarem aqui elas tomam o mesmo formato do corpo que fora abandonado. Com todos os seus orgãos e funções fisiologicas.-Mas por que?-Tudo para uma melhor aceitação. A única diferença é que não temos doenças ou qualquer outro mal que aflija o corpo como no mundo dos Homens. E não é o que todos querem? Viver sempre com saúde?-Então quer dizer que tenho sangue correndo em minhas veias? -Não, o corpo no firmamento é composto de ''essência'' apesar da coloração avermelhada quando algo acontece o que se esvai de nosso corpo é a “essência da alma“.

O garoto se divertia com a conversa descontraída, ficou impressionado com a mulher de aparência simples e acolhedora, mas dona de um vasto conhecimento.

Fizeram a refeição em silêncio, seus anfitriões trajavam vestimentas mais confortaveis e alegres. Arão não perguntou nada, apenas saboreou a comida. Tudo parecia um sonho. Encontrava-se no firmamento. Seria real? E as coisas que vira a tarde ? E essa sensação de bem estar e felicidade que o acompanhava, como explicar? Sua curiosidade aumentava a cada momento, ia fazer uma pergunta quando Velana tomou a palavra.-Sua mente deve estar confusa, e penso que custe a acreditar em tudo o que viu hoje.-Você lê pensamentos?

A mulher fez um sinal de negação então o garoto prosseguiu. -Realmente estou muito espantado, não sei se tudo isso é real ou se é minha mente que está me pregando uma peça. -Tudo o que você viu é real, e a imaginação é sua principal arma aqui, foi ela quem construiu este mundo, o melhor que o homem poderia querer. Tudo o que se deseja você encontra aqui, a beleza esta presente em toda parte, a paz, a tranqüilidade, a convivência pacifica e o amor... aaahhhh. Estar num eterno estado de felicidade. Suspirou a mulher. -Com todo esse entusiasmo que você fala posso afirmar que aqui é mesmo o paraíso. Disse ele animando-se.-É uma bela definição, tão simples e ao mesmo tempo tão complexa.

Kamis falara pela primeira vez desde que começara o jantar.-Parece que você começou a compreender.

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Ela levantou-se sorrindo, passou as mãos pelo cabelo do garoto e foi até a janela. O brilho das estrelas era intenso, não se avistou uma única nuvem sequer, a noite estava esplendida, havia tantas estrelas no céu que poderia se fazer qualquer desenho com elas. -Acho que não tenho outra opção...

As palavras de Arão foram cortadas pela voz imperativa que vinha de Velana.-Silêncio, ele está chegando!!!"Ele?". Pensou Arão.

Todos sentaram-se quietos no sofa, um ponto luminoso surgiu no horizonte, veio silêncioso e rápido, seu tamanho crescia conforme se aproximava da morada. Uma bola de luz entrou pela janela, sua intensidade foi se esvaecendo, tomando a forma de uma pessoa, Arão se viu diante de um ser perfeito em todos os seus sentidos. Sua aproximação fez com que imagens tumultuadas ocupassem a mente do garoto deixando-o confuso. Ao mesmo tempo que ficara impressionado com a beleza do visitante e com a sensação de paz e tranqüilidade que ele transmitia. Não sabia por que, mas seu rosto não lhe era estranho. De onde o conhecia?-Boa noite Nemamiah.

A mulher pegou a mão do homem, beijou-a em sinal de respeito.-Boa noite a todos. Respondeu-lhes o recém chegado, sua voz era pausada e suave, saía como uma canção que faz aflorar bons pensamentos.-Aqui está ele meu senhor.

Apontou para o garoto com a cabeça e abraçou sua mulher.-Meu amigo Kamis sem formalidades, somos todos iguais.

Colocou a mão no ombro do homem, exibindo um belo sorriso, talvez um dos mais sinceros que Arão tivesse visto.-Podemos passar sem isso.

Virou-se para o garoto, iniciando um dialogo com o mesmo enquanto Kamis e Velana ficaram abraçados observando. -Boa noite Arão! Estou muito contente que estejas conosco, é um motivo de muita alegria.

O visitante se aproximou mais. -Ainda bem que conseguimos trazê-lo a salvo. Não sabíamos qual seria o momento de sua chegada. Tivemos muitas perdas, infelizmente nem todos tiveram a mesma sorte. Fez-se uma pequena pausa. -Meu nome é Nemamiah, sou 57º gênio. E julgo que pela sua expressão deve estar querendo receber muitas respostas. Bom, algumas eu poderei providenciar, outras, porém ainda rondarão sua mente e lhe serão dadas na hora certa."Eles poderiam ser mais diretos, por que todo esse suspense". Pensou.

Arão tinha vontade de falar, fazer muitas perguntas, mas gaguejava, as palavras não lhe saiam. Seria a presença desse ser que o deixava desse jeito? A única frase que conseguiu emitir foi:-Eu vi um morro suspenso no ar...-Ah o morro do sol, simplesmente maravilhoso. Aliás, é impossível não notá-lo, sua excelência se sobressai ao resto, mas é apenas uma das muitas belezas que existem. Você encontrará coisas que vão muito além da sua imaginação e por enquanto de sua compreensão. O tempo será seu mestre, ele lhe ensinará tudo o que precisa aprender. Mas

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seu rosto me diz que estou confundindo-o mais em vez de ajudá-lo a compreender.-Olha para vocês pode ser normal ver um morro suspenso no ar, animais selvagem soltos convivendo pacificamente entre si. Mas para mim não! Tudo isso ainda é uma grande novidade e pelo pouco que vi este lugar é um sonho.-Um sonho? Huummm.... Se você quer denominá-lo desse modo que assim seja, afinal ele já recebeu tantas designações...Um lindo sonho que jamais se acaba, tudo aqui está em perfeita comunhão, é uma dádiva. -Espere ai. Interrompeu Arão assustado, colocou as mãos na cabeça e fechou os olhos. Algumas imagens vieram a sua mente, visualizava a cena de um acidente de carro. -Eu.. Eu... Morri, isso explicaria muita coisa. Agora me lembro o acidente... Eu estou morto!

Indagou num sussurro perdendo o equilíbrio. Velana colocou a mão em seu ombro para apoiá-lo. -Não consigo me recordar de mais nada, porém o acidente, dele tenho recordações, estou morto...

O visitante pegou as mãos de Arão e sorriu, num instante toda sua aflição e medo sumiram, a paz se fez presente sobre sua inquietação.

-Não! Essa seria a resposta a te dar, você não morreu. O firmamento te causa tanto assombro assim, a ponto de você não conseguir contemplar a perfeição que reina aqui. Como a convivência pacifica entre todos os seres ou ainda o morro do Sol que seria impossível para um ''homem comum'' conceber que exista tamanha graça. Logo meu jovem irá se acostumar e não vai querer estar em outro lugar. Quando estiveres em sintonia com este mundo, ele o acolherá.

-Então este vazio que sinto, assim como minha a falta de lembranças, essa é a sensação de se estar morto, pelo menos até eu me acostumar com este mundo... O jovem continuava a insistir.-Você não está morto.

Continuou o visitante a explicar com muita paciência.-Simplesmente por que sempre pertenceu a este mundo. Há algumas correções a serem feitas em seus pensamentos. Quando a morte chega, o homem passa por um período revendo toda sua existência, os seus erros e acertos, as coisas que poderia ter feito diferente, se ele se dispusesse a ser melhor.

O visitante caminhou até a janela olhando para o céu.-Ele entenderá que suas escolhas é que traçam o seu caminho, mas que nada acontece por acaso. Existe uma vontade superior que o guiou por toda sua existência, presente até mesmo nos momentos mais difíceis, onde ele pensou estar sozinho e desamparado. Essa mesma vontade o trouxe até aqui. E neste momento ele receberá as respostas para as inúmeras provações pelas quais passou e não entendia o porquê. E no final terá sua recompensa por ter sido fiel e suportado tudo com fé sem jamais deixar de acreditar...-Se tudo é revelado por que não consigo me lembrar de nada além do acidente que sofri.

Colocou as mãos na cabeça, mais algumas imagens lhe vieram à mente.-Seu caso é especial, na realidade você foi transmigrado para este mundo. Você passou do mundo dos homens para este sem conhecer a morte. Nesta passagem rápida, sua memória se apagou momentaneamente, isso acontece para que a adaptação a este mundo, seja mais natural, já que você não passou pela fase de rever seu caminho, mas aos poucos você

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irá recordando seu passado.Arão olhou-o cheio de desconfiança.

-Quando vai voltar totalmente? O visitante indagou antecipando-se a próxima pergunta de Arão e respondeu ao

mesmo tempo. -Isso só o tempo dirá, conforme fores vivendo aqui e dependendo dos fatos que presenciares sua mente trará todos as lembranças de volta. Para alguns isto é muito rápido para outros mais lento e por fim existem aqueles aos quais não é bom saberem nada até que o momento mais oportuno chegue.-Mas por quê? Quero dizer, o que estou fazendo aqui se não morri??? Aposto que não foi um engano de alguém. Indagou de modo sarcástico.-Não foi um engano tudo tem um propósito para acontecer, e sua presença neste mundo não é mero acaso, aliás, tínhamos grande preocupação se você conseguiria chegar bem.-Como assim?-Meu jovem amigo.

O visitante falava pausadamente. -Você nunca pertenceu ao mundo dos homens, teve uma curta passagem de tempo por ele. Seu lugar sempre foi entre nós, não cabe a mim explicar o porquê, o mais importante é que você retornou são e salvo. Também não sou a pessoa digna de dizer-lhe o que se passou, quando chegar à hora outros lhe revelarão a verdade, os motivos vão além de sua compreensão. -Quer dizer que não sou realmente humano? Fez um momento de silêncio. - Então o que sou? -É um ser celestial que nasceu no firmamento. A única verdade que você precisa saber é que foi impreterível que fosses mandado ao mundo dos homens para viver junto deles, nem mesmo nós sabíamos quanto esse período duraria e agora retornou para cumprir seu destino. -Isso é incrível. Disse Arão-Gostaríamos de ter tido mais tempo de prepará-lo para este momento. Não queríamos que chegasse com tantas dúvidas e com tamanha desconfiança, porém o curso da história tomou outro rumo. Fomos obrigados a trazê-lo, atrasar mais sua vinda poderia significar um grande risco e isso não poderíamos correr.-Existem mais como eu?-Sim.-Deixa me ver se entendi.

Arão fez um resumo do que acabara de ouvir.- Estou no céu e não sou, ou melhor, nunca fui humano, apesar de me sentir um, sou um ser celestial fiquei na terra ou sei lá qual denominação vocês dão para ela aqui. Por que algo aconteceu. Estou retornando, pois algo aconteceu novamente ou está acontecendo que não estavam nos seus planos. Isso, isso é difícil de se acreditar. Olhou para o visitante e observou-o melhor."De onde conheço esse cara?" Não conseguia lembrar.-Um pouco confuso, mas resumistes bem os fatos. Sei que apesar de toda a tua desconfiança, você acredita em mim. Disse o visitante.

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Sua feição era séria e complacente, denotava confiança, o jovem por momento algum duvidou que tudo o que ele disse não fosse verdade.-Infelizmente não posso lhe revelar mais do que isso.-As pessoas têm família no firmamento?-Claro que tem, é tudo praticamente igual ao que você já conhecia.-Então eu também tenho família? -É estranho você perguntar isso, mas infelizmente não temos maiores relatos sobre sua família. -Que pena. O garoto pareceu ficar desolado. –Você veio só para conversar comigo? -Na verdade sou o guardião da cidade Ocidental, um mensageiro, minha missão é lhe trazer a seguinte mensagem:"Sua estadia nesta morada é curta, amanhã cedo partirás rumo a Cidade Superior. Deverás se juntar com os outros garotos. Na Cidade Superior obterá todas as respostas que procura“.-Você é um mensageiro? Quer dizer um anjo? Imaginei vocês bem diferentes.

Arão ficou surpreso com a revelação do viajante.-Eu sei, nos imaginam sérios, com asas, luzes e auréola. A mente humana é muito criativa aprendemos muito com eles. A missão de cada mensageiro é ajudar as pessoas, para isso e para ganharmos a confiança de cada um temos que nos adaptar a cada crença e religião. Nossas formas podem ser as mais variadas possíveis, assim como nosso temperamento, cada pessoa esta pronta para nos receber a seu modo. Talvez a melhor resposta seja: Os anjos têm a forma da qual as pessoas necessitem. Mas independente da forma ou temperamento, a essência é uma só, onde estão presentes amor, paz, fé, justiça, compreensão e perdão.

Velana tomou a palavra depois de um longo tempo em silêncio- Nemamiah é o guardião e protetor do pergaminho da cidade Ocidental, é um arcanjo, deve ajudar a todos que trabalham por uma causa justa. No mundo em que você vivia, ele tem a missão de ajudar as pessoas a prosperar em todas as áreas e a libertar outras que encontraram no vício sua destruição, encaminhando-as para uma vida saudável. Nos orgulhamos de tê-lo ao nosso lado, ele sempre nos apoiou com justiça e sinceridade, sem contar seu vasto conhecimento que ajuda a discernir o certo do errado.-Obrigado pela consideração Velana, mas tenho que partir. Já cumpri minha missão aqui.-Mas como vou conseguir encontrar tal cidade? Perguntou Arão. -Não conheço nada...-Não tem como errar. No caminho encontrarás indicações. Receberás ajuda nos momentos mais oportunos.

O Anjo virou-se para ir embora.-Vou vê-lo novamente?

Apesar da pergunta os pensamentos de Arão estavam com outra dúvida :"De onde eu o conheço? Esse rosto não me é estranho ".-Sim em seus sonhos. Respondeu o Arcanjo e piscou para o garoto. Um estalo, o jovem lembrou-se de onde era, seus pensamentos foram cortados pelas palavras finais do Anjo.-Mas tome cuidado, apesar de estar no firmamento nem sempre seus caminhos serão seguros e antes que você me pergunte, muitas vezes os sonhos podem se tornar realidade.

Essas foram às últimas palavras do mensageiro antes de partir.

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Arão levou as mãos a cabeça e novamente fechou os olhos. De repente a cena veio em sua mente, uma torre gigantesca, o portão com símbolo de uma águia, uma besta horrível, um cavaleiro lutando... A morte... Abriu os olhos assustado, reconhecia Nemamiah, era ele o cavaleiro que o havia salvo da morte na torre, porém se seu sonho se transformasse em realidade...

Os três ficaram sozinhos, sua mente ainda era povoada por pensamentos e imagens de tudo o que tinha vivenciado naquele dia. Um cenário incrível, todavia estava acontecendo. Estaria em um transe profundo? Voltou à realidade quando uma voz feminina soou-lhe aos ouvidos.-Esta tudo bem com você? Perguntou Velana.-Sim esta. Respondeu Arão vagamente. Olhou para o casal que o observava de modo preocupado.-Acho melhor irmos dormir, amanhã será um novo dia e você terá uma longa caminhada até a Cidade Superior.

Completou a mulher. Mas Arão queria mais respostas.-O que é esta tal Cidade Superior? O que ela tem de importante?

Dessa vez foi Kamis quem respondeu.-É o símbolo da paz e da união entre os povos. Um lugar comandado pela justiça divina, onde os regentes e seus discípulos se reúnem para trocar conhecimento. Uma cidade diferente de tudo o que se possa imaginar. Pelo menos costumava ser.

Seu rosto tomou um ar mais sombrio.-Os bons tempos passaram, uma nuvem negra paira sobre a cidade agora, mas peço para ser forte e provar que nós o povo celestino somos dignos de ter representantes nela.

Kamis proferiu com rancor as últimas palavras.-O que quer dizer com sermos dignos? Até parece que não serei bem recebido nessa tal cidade ...-Kamis não esta na hora de nos recolhermos?

A voz de Velana denotava certa preocupação.-Não Velana! Ele precisa saber. Se eu fosse você, não esperaria uma recepção calorosa...-Mas como isso?

A indignação de Arão era visível.-Estamos no céu não? Onde tudo é lindo e maravilhoso. Todos vivem em harmonia, hoje mesmo vi animais que normalmente estariam se matando convivendo em paz, como posso ser recebido com indiferença.-Mesmo os animais adquiriram um instinto de crueldade que antes não existia, prova disto foi a morte que você presenciou a tarde. Se fosse em outras épocas, você seria recebido com graças e glórias, hoje, porém os tempos são outros, a desconfiança e a discórdia habitam aquela cidade. Os presságios não são nada bons. -Por quê? Do jeito que fala parece que as pessoas da cidade superior não gostam de vocês. Estou certo?-Meu jovem, infelizmente você está correto. Kamis respondeu a pergunta e continuou. -As pessoas da Cidade Superior, não vêem com bons olhos o povo celestino. Para eles existem dois povos, o da Cidade Superior e os renegados, nós os celestinos. O povo celestino vive nos campos e nas comunidades, são pessoas honestas e simples. Na Cidade Superior estão

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os grandes sábios e os gênios, conhecidos como anjos e outros que são os responsáveis pelo bem estar dos reinos dos céus e da terra. Tínhamos uma convivência fraterna, porém muito disso mudou, sentimentos que antes não existiam, passaram a fazer parte do dia a dia, a conviver conosco conturbando tudo.-Sentimentos... Disse o garoto.-Sim! O medo, a desconfiança, a raiva, o ódio, o ciúme e tantos outros, até parece que abriram a caixa de pândora. No firmamento não sabíamos o significado dessas palavras a milhares de anos e agora eles estão se alastrando, o povo da Cidade Superior nos olha com desconfiança. Penso que eles estão preocupados com os presságios que surgem. E por não entenderem o que está acontecendo, tentam achar culpados para isso.

O pesar na voz de Kamis denotava toda a sua tristeza.-Quer dizer que existem dois povos? O celestino e os cidadãos da Cidade Superior e ambos estão com relações estremecidas?

Velana fez um sinal de afirmação com a cabeça.-Mas você me disse que os anjos vêm da Cidade Superior. Então o que Nemiamiah estava fazendo aqui e por que foi tão gentil conosco?-Você adora fazer perguntas.

Velana respondeu preocupada vendo Arão se interessar tanto pelo assunto, mesmo este não sendo tão agradável de se comentar. Kamis prosseguiu com sua explicação.-Como em todo lugar existem aqueles que estão acima dos acontecimentos e conseguem no meio de todo o caos enxergar a verdade, Nemamiah é um deles, sua profunda compaixão e grande sabedoria o coloca no caminho certo, o caminho da verdade. Por isso ele nos ajuda, pois sabe que devemos ser o que sempre fomos um único povo. Separados somos fracos.

Velana foi até janela olhar para o brilho das estrelas.-Mesmo por que experimentar o medo é novo para todos, assusta e causa insegurança. Isso foi sentido no começo dos tempos, mas nem todos se lembram ou não querem relembrar essa época sombria.

Velana voltou-se para Arão colocando as mãos ao redor do pescoço.- Meu jovem, seu caminho não vai ser fácil, fico com pena que um garoto tão novo tenha que passar por esta sina, mas aproveite o presente e desfrute da nossa hospitalidade, pois este será um dos poucos momentos de paz que terá. Não quero assustá-lo, mas não posso iludi-lo. Iremos nos recolher agora, tenha uma ótima noite e nos veremos amanhã cedo.

Velana se aproximou de Kamis, o casal se abraçou indo para o quarto, Arão permaneceu sentado na sala por um longo tempo, seu olhar fixou-se nas estrelas. O cachorro deitou-se ao seu lado, tentava organizar seus pensamentos, queria acreditar que iria adormecer e ao acordar não estaria mais ali, voltaria a sua vida normal, seja qual fosse ela... Adormeceu...

Sentiu algo quente e macio em sua barriga, abriu os olhos o cachorro dormia a seu lado, a realidade não mudara.

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A Jornada...Arão acordou cedo com seu destino já traçado, teria que vagar solitário pelos

caminhos do firmamento até chegar a Cidade Superior. Seria uma longa jornada que duraria alguns dias. No meio do caminho cruzaria um pequeno vilarejo, a Vila dos Escribas, isso o poria em contato com outras pessoas.

Ainda não acreditava na semelhança entre os mundos. A conversa na noite anterior com Nemamiah tinha sido proveitosa, por mais que ainda estivesse incerto quanto à razão de sua estadia no firmamento, pelo menos neste momento sabia o que tinha que fazer, só não sabia o porquê.

Percebia que não podia apressar os acontecimentos suas dúvidas seriam respondidas na hora certa, mas o que seria esta hora certa? Lembrou-se do caminho que tinha pela frente, sentia-se alegre e a energia que lhe percorria o corpo permitiria lhe andar por muito tempo sem ao menos descansar.

Olhou seus anfitriões abraçados, era a hora da despedida, eles o observavam com lágrimas nos olhos, pareciam um casal que vê o filho partir para a vida e não tem certeza de que vão revê-lo novamente.-Vá em paz e espero que cumpra o seu destino. Falou a Velana antes de dar-lhe um abraço de despedida.-Sejas forte e tenha confia em ti. Pois tenho certeza que serás guiado pelas mãos divinas.

Kamis pousou as mãos nos ombros de Arão , antes de abraçá-lo.-Obrigado por tudo. Espero revê-los novamente.

Uma sombra de incerteza quase imperceptível passou pelo rosto do casal, cortando um pouco a alegria que havia desde a sua chegada, uma brisa soprou. -Assim esperamos. Murmurou a Velana, forçando um sorriso.

Foi a primeira vez que notou tristeza na voz da mulher, pegou suas coisas e partiu, a figura do casal foi ficando distante, pequena e finalmente desapareceu, assim como toda aquela bela paisagem. O morro suspenso no ar virou um pequeno ponto no horizonte.

Velana afundou sua cabeça no peito de Kamis resmungando baixinho. -Olhe para ele é apenas um garoto. Como conseguirá suportar tudo o que esta por vir? Não é justo, vai ser demais, espero que ele seja forte para aceitar suas tribulações. -Cabe a ele traçar seu próprio destino, cada um tem um papel fundamental nisto tudo, nós tivemos o nosso recebendo-o, mas ainda podemos fazer mais por ele.

Olhou carinhosamente para mulher. -Como? Perguntou angustiada.-Rezando.

Andou o dia todo sozinho, não encontrara uma viva alma sequer, sua companhia era a paisagem, os rios , as matas , os animais, o cantar dos pássaros e tantas outras partes da natureza." 0 que será que está acontecendo neste lugar?". Pensava.

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O céu claro cobria todos os cantos que sua visão conseguia enxergar, sentia-se só, mas ao mesmo tempo confortado. Chovia ao menos uma vez por dia, mas nem isso lhe tirara o ânimo de prosseguir, ao contrário era gostosa a sensação da água percorrendo todo seu corpo.

O sol se escondia e com ele o calor do dia, o frio começava a arrepiar-lhe a pele, precisava parar e descansar. Uma noite de sono lhe garantiria mais um dia de firme caminhada. “Aquela clareira parece ser o lugar perfeito para se passar à noite“. Pensou.

Juntou vários gravetos secos, planejava fazer uma pequena fogueira. Havia muitas estrelas no céu, bem ao centro como uma deusa à lua brilhava, cheia e majestosa, se destacando de tudo o mais. O espetáculo deslumbrante não se limitava somente ao céu, na clareira além das árvores, muitos vaga-lumes passeavam dividindo a atenção de Arão. A claridade permitia contemplar muito do local e apesar de estar sozinho não sentia medo, até...

Um estalo despertou Arão de seus pensamentos, as pulsadas em seu peito aumentaram, parecia que sua respiração ofegante ecoava longe. Apagou a fogueira rapidamente, deitou-se para não ser visto. Tentava ouvir se o barulho persistia, mas somente tomava conhecimento do som da mata se mexendo ao tocar do vento. De repente outro ruído, não sabia dizer o que era, mas estava se aproximando. Começou a pensar no que fazer, não tinha nada que lhe servisse como arma. Silêncio novamente... Entretanto não demorou para o som recomeçar, a mata sendo desbravada não deixava duvida, algo vinha em sua direção.

Rastejou-se contornando a clareira assim poderia pegar de surpresa o que quer que fosse, observava a uma distância segura. Logo avistou algo se aproximando, este usava um manto com um capuz que lhe cobria toda a face, era quase do seu tamanho. O corpo parou rente à fogueira apagada, seus pés afastaram os gravetos ainda quentes. Olhou em volta, com certeza esperava encontrar alguém.

Arão ao longe não conseguia saber o que era, parecia ser uma pessoa, mas depois de tudo o que passara nada o surpreenderia. Decidiu aproximar-se, com cuidado rastejou chegando cada vez mais próximo, o ser abaixou-se perto da fogueira mexendo nos gravetos novamente.

Se ele conseguisse avançar um pouco mais sem ser notado... Pegaria a coisa de surpresa, o que ia lhe acontecer depois não fazia a mínima idéia e não queria nem pensar no assunto.

Quando o vulto se levantou, Arão saltou sobre suas costas, rolou com ele pelo chão, ouviu um grito agudo vir de dentro do capuz, conseguiu montar em cima do ser, ia aplicar-lhe um golpe quando o capuz abaixou-se, pode ver a face de uma linda garota. Ficou paralisado, sem reação isto era o que ele menos esperava encontrar...

Ela foi rápida vendo o desconcerto dele, pegou-lhe pelo braço e mesmo deitada conseguiu atirá-lo ao solo. Com o impacto Arão gemeu de dor, ao abrir os olhos à garota já estava sobre ele, olhando-o de forma divertida.-Parece que você se distrai muito fácil, isto pode lhe custar caro um dia.

A garota estendeu-lhe a mão ajudando-o a levantar-se. -Se um dia alguém me dissesse que eu ia precisar me preocupar aqui no firmamento,

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chamaria-o de louco.Arão batia com as mãos em sua roupa para tirar a terra que se acumulara .

-O que uma garota está fazendo sozinha no meio da mata? A julgar pela aparência calculava que a garota tinha a mesma idade que a sua, mas

não se espantaria se ela dissesse que era muito mais velha do que aparentava.-Não vejo nada que proíba alguém de caminhar por aqui. Respondeu com autoridade. -Afinal estamos no reino em que a liberdade é um direito de todos, somos livres para ir e vir como bem entendermos. -Você é bem arrogante. Como conseguiu entrar aqui com esse gênio todo? Aposto que foi no dia das exceções. Falou Arão com sarcasmo.-Olha quem fala! Não costumo chegar pulando nos outros pelas costas. Respondeu a garota em tom desafiador.-É que eu não sabia o que poderia ser, por isso fiquei um pouco apreensivo. Disse Arão.-Medo você que dizer! Ficou com medo...

Ela era afiada com as palavras. -Vi o clarão do fogo enquanto caminhava entre as árvores, estou a alguns dias andando sozinha e uma companhia é sempre bem vinda. Sorriu pela primeira vez.

Arão pode ver toda a sua beleza, cabelos negros ondulados, olhos verdes vivos e uma boca muito carnuda. Suas vestes não permitiam ver-lhe o corpo, mas se ele seguisse os traços do rosto, o que provavelmente acontecia, ela deviria ser muito linda. Possuía dois desenhos na pele, eram como pequenas listras que começavam perto da orelha e se afinavam até o meio das bochechas. Outras duas pouco maiores que as anteriores ficavam entre o pescoço e os ombros, sua coloração era amarela. O garoto achou melhor não perguntar sobre elas.-Mas que falta de educação a minha meu nome é Arão.-O meu é Cassiana, mas pode me chamar de Cassi. Eu da venho da cidade Oriental e estou a caminho da Cidade Superior. O que você faz perdido no meio da mata? Está caçando vaga-lumes?-Não.

Arão viu que ela se divertia com o constrangimento dele.-Também estou indo para a Cidade Superior, não sei onde fica, mas me falaram que no caminho encontraria indicações que me levariam até ela. Acho que acabei de encontrar uma.-Bom podemos ir juntos se não se importar. Sugeriu a garota.-Claro que não, assim não tem perigo de me perder pelo caminho.-Ou sair pulando em cima do primeiro que aparecer.

Ela riu da própria piada. -Então você é um dos escolhidos.

Cassiana examinou-o com um olhar inquisidor que o percorreu dos pés a cabeça. -Não parece grande coisa.-Escolhidos? Como assim? Perguntou Arão-Você é um celestino não?

Arão fez sinal de positivo com a cabeça.-Foi o que me disseram.-Bom nenhum celestino estaria indo a Cidade Superior à-toa nestes tempos. Como é possível

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não saber nada sobre os escolhidos? A quanto tempo está no firmamento?-Apenas um dia, mas posso dizer que já vi muita coisa que me surpreendeu por uma vida toda.-Nossa! Tão pouco tempo assim, é obvio que está perdido. Vou lhe explicar, nós somos dois dos três escolhidos do povo celestino para formar o grupo de candidatos a guardiões no reino. -Guardiões??? Murmurou Arão-Sim! Já vi que vou ter que lhe explicar tudo desde o começo, por isso preste atenção e não me interrompa.

Cassiana começou sua narrativa. -No início dos tempos somente existia o reino dos céus com seus seres perfeitos, os anjos. O Criador fez então o mundo dos Homens, com filhos a sua imagem. Os anjos não conseguiam entender como o Criador podia amar essas criaturas imperfeitas. Foi dada então aos seres perfeitos sentimentos semelhantes ao dos homens: o ciúme, a inveja, a cobiça... O Criador esperava com isso que os anjos compreendessem o porquê ele tinha que dirigir sua maior atenção para aqueles filhos imperfeitos.-Mas pelo visto o tiro saiu pela culatra. Afirmou Arão.-Isso mesmo. Pressupôs-se que os anjos como seres perfeitos conseguiriam dominar esses sentimentos e utilizá-los para ajudar os filhos do Altíssimo. Porém aconteceu justamente o contrário eles foram dominados por tais sentimentos e se revoltaram contra o Altíssimo, foi quando se deu a primeira grande guerra entre o Bem e o Mal. O resultado dessa guerra foi à criação de todos os reinos.-Reinos?-Isso, o Firmamento, o Reino dos Titãs e o Mundo inferior. Os anjos derrotados foram banidos para o mundo Inferior e a paz voltou ao Firmamento. Porém o Mundo Inferior esta cheio de sentimentos ruins e com o passar dos tempos, os derrotados viraram as piores e mais temidas criaturas que existem. Os demônios.-Devem ter sido tempos ruins estes.-Mas isto não terminou assim. Essas ardilosos seres esperaram pacientemente até que surgisse uma nova oportunidade para regressarem e quando ela surgiu, organizaram um levante invadindo o firmamento provocando a segunda grande guerra entre o Bem e o Mal.-Como eles conseguiram invadir o firmamento?-O Criador é piedoso. Havia uma passagem que interligava os mundos, pois se acreditava que uma alma sempre merece uma última chance de se arrepender, mesmo que esta estivesse no mundo inferior, assim poderia vir para o reino dos céus. Esta passagem só aparecia para as almas arrependidas. Não se sabe como, mas os demônios a descobriram e por ela se deu o acesso das legiões do mal. Agora ela não existe mais, a última chance de redenção para as almas perdidas se foi para sempre.-Qual das duas foi a pior?-Acredito ter sido a segunda. A famosa guerra das "Quarenta Eras", onde os Deuses siameses Set e Osíris lutaram contra "O adversário" e sua legião de demônios. A guerra foi longa e com grandes perdas para ambos os lados, a batalha final se deu na grande pirâmide da “Ascensão”, no lado oeste do reino, nela Osíris e Set puseram fim à tentativa de "O Adversário" de chegar ao poder. O problema maior é que Osíris ficou gravemente ferido pelo

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“fogo negro” nesta última batalha.-O que é o fogo negro?-Não sei responder isto, esse assunto na minha comunidade era proibido. Só o que sei é que Osíris esta adormecido aos cuidados dos sábios, que usam seus encantamentos para tentar retardar o efeito do fogo negro. Porém eles sabem que mais cedo ou mais tarde a morte vira se nada for feito. Ninguém sabe onde o Deus Osíris esta, por que uma vez já tentaram contra sua vida. Mesmo com a guarda do santuário sendo feita pelos Cavaleiros Celestiais, os Potências.-A morte de um Deus? Imagino que isso será uma grande perda para todos.-Você não imagina como. Porém ainda há uma esperança, foi descoberto no reino dos Titãs um Cálice Sagrado, quem beber deste cálice será capaz de sobrepujar a magia de qualquer um dos reinos. Set o bravo, foi buscar este artefato místico. O problema é que sua missão é perigosíssima, afinal muitos o cobição. Ele é a única esperança de Osíris já que as deusas que tem o dom da cura não existem mais no firmamento. Concluiu a garota.-O que é reino dos Titãs? -O Reino dos Titãs é para onde as almas que precisam se "purificar" vão antes de entrar no firmamento.

Arão ouvia tudo atentamente, não perdia uma palavra sequer que Cassiana falava.-Esses Titãs, o que são eles?-São como juízes em seu reino. Entenda que no firmamento acima dos Deuses está o Altíssimo ou Criador como você preferir, ele fica em outro plano e é o responsável pela criação de todas as coisas. Os anjos e Deuses ficam no plano inferior mais próximos do mundo dos Homens com a missão de ajudá-los. As criaturas do reino inferior juraram vingança ao Criador, mas não tem mais como chegar ao firmamento, então eles tentam atingi-lo atormentado sua mais fiel criação, o homem. Fez então o reino dos Titãs, seres com poderes semelhantes aos deuses, que tinham como missão purificar as almas antes de entrarem no céu. Ninguém pode ir ao reino dos Titãs, sobe pena de uma severa punição e nem mesmo os temidos Titãs permitiram isso, dizem que somente os Deuses podem enfrentá-los e mesmo assim não se sabe qual lado sairia vitorioso. -E nós o que temos a ver com isso? -Não seja apressado! Eu estou quase chegando nessa parte. Mesmo perdendo o rei das trevas viu que faltou muito pouco para alcançar a vitória. Antes de ser enviado ao Mundo Inferior ele deixou uma escritura no mundo dos Homens com seus seguidores. Essa escritura tinha uma profecia impressa. Um profeta a encontrou e conseguiu decifrar seu significado: "Eu subirei aos céus, acima das estrelas de Deus, exaltarei o meu trono. Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo". -Isto não soa nada bem. Completou Arão.-E não é para soar mesmo. A última parte da profecia é mais sinistra ainda: "Será um tempo de angústia, como nunca houve até então, desde que começaram a existir as nações". Os sábios acreditam que o tempo desta profecia esta próximo. Com Osíris debilitado e Set no reino dos Titãs, as forças do firmamento estão enfraquecidas, por isso fomos convocados para tentarmos nos tornar guardiões e fortalecer as forças do firmamento até que os deuses retornem.

Cassi ficou quieta por um momento.

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-O que é que você está olhando? A garota inquiriu de forma grosseira-Te olhando assim você parece tão delicada... E ainda quer ser guardiã... Parece ser demais para uma garota.

Apesar de ser sincero, Arão arrependeu-se de dizer estas palavras. Cassi foi tomada pela raiva e as palavras dela se atropelavam.–Frágil! Isso é o que você quer dizer...

Apontou-lhe o dedo indicador.-Não se esqueça que essa garota frágil, o atirou ao chão e poderia muito bem ter lhe dado uma surra. -Ora, isso só aconteceu por que me distrai quando te vi, jamais esperava ver uma garota tão bo...-Bonita? É isso que pretende dizer, obrigada pelo elogio, mas foi seu primeiro erro. Disse tocando-lhe o peito com o dedo de modo inquisidor.-Vamos me ajude aqui, precisamos acender este fogo, ou você vai ficar só olhando, cadê o cavalheirismo? Abaixou-se para pegar gravetos de modo mais descontraído.-Tudo bem vamos acendê-lo novamente, mas se você não tivesse chegado de surpresa a chama ainda estaria acesa.

Arão protestou enquanto se juntava a ela para recolher a madeira.-Homens sempre reclamando.-Lá vem você implicar comigo. Acho que não estamos fazendo muitos progressos, não é mesmo senhorita Cassiana?-Acho que tem razão.

Ela esboçou um pequeno sorriso com o último comentário dele, de certa forma o garoto à sua frente fazia-lhe sentir-se bem, mesmo conhecendo-o tão pouco.

-Eu ia perguntar mais sobre você, mas aposto que não vai se lembrar de muita coisa, pelo menos por enquanto. Alias não sei como pode ser um dos escolhidos sem ter passado por nenhuma prova.-Prova? Espere um pouco, agora que você comentou tenho uma vaga lembrança de uma prova que ia fazer... Mas não tenho certeza se fiz ou não. Recordo-me de um acidente depois tudo se torna muito vago, só sei que quando acordei ontem estava no firmamento.-Quando as pessoas passam do mundo dos Homens para cá...

Cassi ia começar a explicar, mas Arão a interrompeu lembrando-se da conversa que tivera com seus anfitriões e o anjo.-Isso você não precisa me explicar, eu já conheço essa história. Gostaria de poder me lembrar de mais coisas, minha partida foi tão repentina que não tive tempo para conhecer muito sobre meus anfitriões.

A voz de Arão mostrava uma certa tristeza.-Não se preocupe quando tudo isto terminar vocês terão muito tempo para ficarem juntos. Mas uma coisa pode lhe ajudar a recuperar sua memória. Comentou Cassi. - Os ensinamentos e as habilidades que tínhamos na outra vida são preservadas e temos a chance de aperfeiçoá-las mais. Talvez através delas você consiga mais pistas sobre seu passado. -Ainda não consigo me lembrar do que gostava... Como poderei me aperfeiçoar?–Não se exija demais ainda é muito cedo, acho que você fez progressos maravilhosos

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recordando-se de um acidente. Eu por exemplo adorava música, tocava piano e violão, tudo que emitisse algum tipo de som merecia minha admiração. Minha mãe era médica cuidava das pessoas, acho que peguei este dom dela. Eu adoro cuidar das pessoas.

Cassi pegou a lenha e colocou na fogueira, Arão pode notar uma marca que estava um pouco abaixo de sua mão.-O que é isto em seu pulso?-A isto é uma marca de nascença, uma lua. Bonitinha não?

Algumas imagens vieram novamente à mente de Arão. Ele levou as mãos à cabeça.-Você está bem? Perguntou Cassi.-Sim estou, apenas algumas imagens um pouco embaralhadas vieram-me à mente. Mas quero te fazer outra pergunta, se vamos a essa tal Cidade Superior ajudar, por que as pessoas dela e os celestinos se hostilizam?

A pergunta intrigava Arão. A expressão de Cassiana fechou-se.-Existem dois fatos que contribuíram muito para isso: Como te disse antes, depois que Osíris ficou gravemente ferido com o fogo Negro, e estava sobre os cuidados dos grandes sábios. Houve um atentado contra sua vida. Alguns celestinos passaram pelos guardas de vigília de Set, e tentaram matá-lo... Por sorte Medar o grande conselheiro chegou antes e impediu que uma desgraça maior acontecesse. Ninguém sabe qual foi o destino destes celestinos, eles simplesmente desapareceram.-Nunca os encontraram?-Não, mas a partir deste acontecimento o povo superior passou a não confiar mais no povo celestino. Osíris sempre foi o mais popular entre os deuses, não fazia distinções entre as nações, tratando a todos com igualdade e justiça.

Cassi engoliu a seco as palavras, parecia ter dificuldade em continuar.-Não entendo por que alguém iria querer matá-lo. É isso, o grande defensor do povo celestino traído por um dos que ele protegia.

Ela ficou quieta por um longo período até Arão quebrar este silêncio.-Não esta faltando algo não? Você disse que eram dois os fatos. Qual o segundo?

A garota parecia relutante em continuar, mas por fim falou.-Foi a morte de um dos grandes sábios do conselho da Cidade Superior. A voz de Cassi soou um pouco mais baixa e recatada. -Uma mulher celestina matou o grande Sábio.-Uma mulher celestina? Perguntou Arão.

Cassiana prosseguiu sem ouvir a pergunta do garoto.-Mas ela não estava só, dizem que essa mulher tinha tamanho poder que conseguiu persuadir um homem da Cidade Superior a colaborar com seus planos, como se o tivesse enfeitiçado. O homem da Cidade Superior foi encontrado morto no salão do santuário com marcas horríveis pelo corpo. Alguns acham que após ter executado seu plano, ela voltou sua ira contra ele matando-o sem piedade.-E o que aconteceu com essa mulher?-Ai esta outro mistério. Ninguém sabe ao certo seu paradeiro, uns dizem que morreu, outros que fugiu, seu corpo nunca foi encontrado. Também que diferença isso poderia fazer?

Cassi cortou o assunto ficando muda.-Muita! Pois se conseguissem prendê-la, poderiam fazer justiça, acalmando assim o ódio que povo superior sente em relação aos celestinos.

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O silêncio voltou. -Por que uma garota como você quer se tornar uma guardiã? Arão perguntou com muita curiosidade.-Eu não quero, eu vou me tornar uma guardiã. Respondeu Cassi com muita raiva, as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. -Quero mostrar meu valor, provar que posso ser alguém de quem as pessoas tenham orgulho e consertar os erros passados.-Você parece ter muito ressentimento quando fala do passado.-Não interessa o que sinto, isto é um problema somente meu.-Desculpe Cassi não queria ser intrometido.Fez um momento de silêncio antes dela falar novamente.-Eu é que te devo desculpas pelo jeito rude de como o tratei, mas carrego um fardo muito grande. Tempos atrás, alguns homens do povo celestino decidiram invadir a Cidade Superior quando houvesse uma assembléia do grande conselho, pretendiam expor suas intenções de reatar a aliança entre os povos. Nem todos sabem, mas muitos no grande conselho partilham no seu íntimo essa vontade.

Arão ia fazer uma pergunta, mas achou melhor não interromper.-Uma noite eles partiam, minha irmã se juntou ao grupo, lembro-me dela dizendo que tinha algo muito importante a revelar, que poderia mudar nossa história. Eu a amava, acreditava nela, ela era tudo o que eu queria ser.

Cassi ficou um tempo perdida em seus pensamentos antes de prosseguir. -Porém antes deles chegarem ao conselho, alguém desertou o grupo e os traiu entregando a intenção dos homens celestinos ao povo da Cidade Superior. Com exceção de um que conseguiu voltar terrivelmente ferido a comunidade Oriental, todos foram mortos. Infelizmente este também não viveu muito tempo devido aos seus ferimentos.-Mas ele disse o nome do traidor? Questionou o garoto.-Sim ele disse.

O pesar na voz de Cassi era enorme.-Mas não foi um traidor, e sim uma traidora, a mesma que matara o grande Sábio, minha irmã! Ela abandonou o grupo com um jovem da Cidade Superior. A partir daquele dia eu fiquei conhecida como a irmã da traidora, e todos começaram a me evitar, tudo o que eu fazia, as pessoas a quem eu ajudava,... Tudo me foi tirado... Eu passei a odiar minha irmã.

Ela já não conseguia mais conter o choro na voz.-Mas será verdade isso que ele disse? Perguntou Arão-As pessoas a quem eu amava estavam naquele grupo, muitos amigos queridos, inclusive meu pai, que não aprovava a idéia, mas foi somente para protegê-la. Disse a garota sem prestar atenção à pergunta de Arão. -Ela arruinou tudo, a partir deste dia mesmo ignorada por todos eu comecei a treinar muito e jurei me tornar uma guardiã. Passei por todos os testes que me impuseram, derrotei vários garotos. E agora aqui estou. Quero limpar meu nome e de meu pai. Finalizou enxugando as lágrimas. -Você ainda odeia sua irmã?-Michaela!!! Espero que estejas morta, pela traição que cometeu e pela morte do grande Sábio Jacó. Seria mais que merecido...

Cassi tinha um estranho brilho em seu olhar.

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-Acho melhor irmos dormir. Virou-se de lado finalizando a discussão.

A noite passou rápido, mas Arão sonhou... O sonho, o mesmo de antes, a torre, as criaturas, a grande besta negra e o guerreiro emitindo sua forte luz, tudo idêntico, porém mais real... A garota, o pergaminho, a morte...

Acordou com Cassiana sacudindo-o.-Nossa finalmente acordou, não vou nem perguntar se era um sonho bom, pois do jeito que você se debatia, acredito que era um pesadelo horrível, me deu o maior trabalho acordá-lo. Só espero que seja o que for nunca se torne real.

Riu descontraída. -Vamos ainda temos um longo caminho pela frente

Estendeu a mão para Arão como apoio para ele se levantar.-Desculpe pelo meu modo grosseiro de ontem, mas é que não gosto de tocar naquele assunto. Arão, Arão você esta me ouvindo?

Ele parecia distante, voando em seus pensamentos...-Hã. O quê!?-Você está bem?

Ela o sacudiu. -Acorda Arão! É o sonho? Aposto que sim, parece que viu o fim do mundo, seu rosto está todo suado, foi só um sonho...

Cassi tentava amenizar um pouco a situação. "É o que espero". Pensou, porém não tinha certeza, guardou seus pensamentos para si.

Partiram com uma linda manhã ensolarada, não importava quanto faltava para chegar a Cidade Superior sentia-se bem ao lado de Cassi e isso era o que importava. Entretanto em seu intimo rezava em silêncio para que nada do que sonhara se tornasse realidade, que fosse apenas mais uma noite de sonhos ruins, como muitas outras...

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A Vila dos Escribas...Andaram por horas na mata, a vegetação mudara de um aglomerado de árvores altas

para plantas menores, mais ralas e distantes entre si. Pequenas construções surgiam no horizonte.-Finalmente chegamos a Vila dos Escribas.

Cassi estava de muito bom humor. -Vamos fazer uma pequena parada, neste local o comércio é muito difundido, os Serafins são ótimos comerciantes. Pessoas do reino todo passam por essa vila onde os anjos cuidam do comércio. E como precisamos de provisões este vilarejo veio bem a calhar.-Vai ser muito interessante conhecer o vilarejo. Vamos ver quem chega primeiro? Aposto que ganho de você.-Então conte até três e partimos. Tudo bem pra você?

Arão começou a contagem, nem bem chegou ao três e Cassi já havia partido.-Assim não vale! Você está trapaceando. Berrava Arão tentando alcançá-la.

O vilarejo era o típico lugar isolado de tudo, muito simples, com várias pousadas e lojas. Suas construções tinham aparências rústicas e bem conservadas, as plantas faziam parte da paisagem. Na praça central, vários bancos se espalhavam sem uma ordem definida, abrigando pessoas que conversavam animadamente. Um relógio de sol ficava no meio de um lago e pela disposição da sombra de seu ponteiro, a hora do almoço se aproximava.

Pararam em frente a uma taberna, em sua varanda oval dois pilares sustentavam uma pequena fachada com lampiões presos ao teto. A porta de entrada era feita de madeira, e abria tanto para fora como para dentro dependendo da direção que as pessoas a empurrassem. Dois vitrais se postavam um em cada lado da porta de entrada acompanhando seu tamanho. Suas cores escuras impediam a visão de quem estivesse do lado de fora do estabelecimento.

A placa pregada à frente do estabelecimento anunciava: ”Pousada do Oberon ”, a movimentação em seu interior era intensa. -Do que você está rindo Cassi? -Espero que não me leve a mal, mas entre os garotos celestinos que se dirigiram para a cidade Ocidental, eu fui a melhor, estou preparadíssima para ser uma guardiã, mas dizem que os candidatos da Cidade Superior são muito melhores e para seu azar vamos competir com eles. Apesar de todo o meu treinamento, achei que até pudesse me dar mal, mas pensando bem, existe alguém que vai conseguir se sair muito pior do que eu.-É? Quem?-Você horas! Afinal está aqui a somente dois dias e sem o mínimo preparo para o que vai vir.-Obrigado pelo incentivo. Você sabe como animar as pessoas.-Não fique assim, nós seremos três no total por parte do povo celestino, resta um para conhecermos, ainda há esperança, ele pode ser pior que você. Ai poderá contar vantagem sobre alguém.-Puxa você é legal hein. Mas afinal quem começou com essa história de guardiões?-Foi o grande Deus Set que vendo o clima que se instaurou entre os povos, permitiu que três jovens celestinos viessem a Cidade Superior para tentarem ser guardiões. Com isso ele

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espera mudar o relacionamento entre os povos. Olhe como nosso papel é importante, estamos representando todas as comunidades fora da Cidade Superior. Se obtivermos êxito, poderemos provar que os celestinos são dignos de confiança dando início a quem sabe uma retomada na aliança entre os povos.-Esse Set parece ser um Deus muito sábio e bondoso. Arão fez o comentário, seguido de outra pergunta. -Mas você disse três?-Isso mesmo, o terceiro viria dos candidatos que se dirigiram a Comunidade Oriental. Assim como você Arão, não faço a mínima idéia de quem seja.-Será que como nós ele esta neste momento a caminho da Cidade Superior? Onde estará ele numa hora dessas?

Arão passava a mão no queixo.De repente um estrondo, a vidraça do lado direito da porta se partiu, um corpo fora

arremessado com grande violência de dentro da taberna. Aos pés de Arão e Cassi estava um jovem estendido com a face toda contorcida de dor e suja pelo chão.-Bem seu pedido foi atendido. Acho que encontramos o terceiro escolhido bem aos nossos pés. Retrucou Cassi.-Como você sabe que ele é o outro escolhido?-Por que nenhum garoto celestino estaria neste local sozinho. Pelo menos não nestes tempos.-Oi, ai, ai... Isso dói. Vocês não imaginam como um vôo desses é complicado.

O garoto levantou-se com a ajuda de Arão, bateu na roupa para tirar a sujeira. Tinha os cabelos e olhos cor de mel, sua cabeleira chegava perto dos ombros. Nem de longe lembrava um atleta, quem o visse diria que era um garoto ''normal''. Possuía estatura mediana e boca pequena, seu nariz pouco afinado tornava seu rosto bem incomum. Em sua face havia dois desenhos vermelhos, lembrando um pouco a letra “Z“, que começavam na altura dos olhos depois desciam rente as orelhas e por fim curvavam-se em direção ao nariz, entretanto não chegavam perto do mesmo.-Meu nome é Balduíno, mas meus amigos me chamam de Bal...

Não teve tempo de terminar a frase pois duas cordas com ganchos envolveram seus tornozelos. -Essa não, novamen...te nnããooo.

Foi arrastado para dentro da taberna pelo mesmo local que havia sido atirado. -Vamos entrar? Perguntou Arão. -Precisamos saber o que esta acontecendo. -Fazer o que né! Afinal, não vai ser nada fácil para nós três na Cidade Superior no meio de todos os candidatos, se chegarmos em dois então será muito pior.

Aproximaram-se colocando as cabeças para dentro da vidraça quebrada, o local se encontrava cheio. Muitas pessoas se divertiam, a maioria delas usavam roupas bem exóticas e nem prestavam atenção a confusão que estava acontecendo.

Três sujeitos estranhos, estavam com o garoto que tinha literalmente voado aos seus pés. Arão viu de relance como se fosse uma sombra cinza ao lado de cada um deles, fechou os olhos e abriu novamente.

À frente deles uma mesa de madeira abrigava vários cristais escuros sem coloração, no meio deles havia um espelho com forma arredondada inclinado para trás, estava preso a uma caixa com um pequena abertura ao lado.

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O mais alto dos três seres, dono de uma força descomunal, levantava Balduíno pelo pescoço com apenas um braço. Seus olhos, cabelos e barba desfrutavam de uma coloração negra. Tinha uma argola cinza presa ao braço esquerdo, suas ombreiras pretas combinavam com as botas da mesma cor. Em seu peito um colete negro com pontas de metal contrastavam com o resto de sua roupa cinza. Em suas costas um machado estava preso por tiras de metal.

As vestimentas dos outros dois eram idênticas a do ser que sufocava Balduíno, com uma única diferença, ambos possuíam uma capa presa pelas ombreiras. Os dois decidiam acirradamente quem ia desferir o primeiro golpe contra o corpo suspenso.-Escute eu não fiz de propósito, apenas queria... Ele resmungou um pouco até sentir uma pressão maior sobre seu pescoço.-Cale a boca! Não vê que eles estão no meio de uma decisão importante. Disse um deles.-Muito bem Molf, erga-o um pouco mais. Como iremos decidir quem acertará o jovem primeiro Sender?

Sender parecia ser o líder, dono de um olhar acinzentado e frio onde uma cicatriz sobre o olho esquerdo marcava seu rosto, possuía uma vasta cabeleira branca, seu corpo apresentava uma leve curvatura para frente era o mais baixo dos três, portava em sua cintura dois punhais cruzados entre si. -Acho que o mais correto Tulgor seria eu. Disse Sender. -Pois fui eu quem o viu mexendo em nossos cristais.

O ser falava enrolado, como se tivesse a língua presa ao mesmo tempo que jogava saliva para todo lado.

Tulgor tinha estatura média, possuía cabelos e olhos cinzas, com nariz muito grande e fino, não se separava de sua querida foice que usava como apoio para andar. Sua pessoa transparecia traços de crueldade.

As aparências dos três seres desencorajavam qualquer um da taberna a interferir a favor do garoto. -Ai! Isso dói, calma ai grandão.

Balduíno tentava fazer força para se livrar, mas era inútil a mão de Molf parecia uma prensa de aço.-Não dá para termos bons modos, afinal estamos no céu não? Não deveria existir violência aqui.-Nem trapaceiros também. Molf o sacudiu no ar.-Mas o que há de errado com vocês foi só um cristalzinho, eu estava curioso só isso, não sei como ele veio parar no meu bolso.-Você estava tentado nos roubar. Agora vamos mostrar o que acontece com quem tenta nos enganar. Tulgor olhou para Sender. -Acho que tive uma idéia melhor. Vamos bater os dois ao mesmo tempo, o que você acha?-Socorro alguém me ajude! Por favor, esses caras são malucos.

Ninguém se movia, os olhares espantados continuavam a fazer de conta que nada estava acontecendo. A sorte parecia estar selada para o garoto, ia levar uma surra ou algo bem pior, pois a expressão dos seus agressores não era nada animadora para se esperar algo de menor intensidade.-Certo está decidido! Vamos acertá-lo juntos. Finalizou Sender. -No três está bem?

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-Hei, isto é covardia, dois contra um. Não é justo.Novamente Bal sentiu o aperto no pescoço.

-Tá bom, não me esqueci de você não grandão, três contra um. Conclui com dificuldade.Molf soltou a garganta e segurou o garoto pelos braços, abriu-os como se estivesse

crucificado e depois virou-o de frente para seus companheiros.-O que vai acontecer agora? Perguntou Arão.-Acho que ele vai apanhar um pouco. Ou muito... Cassi estava com rosto sério. -A não ser que ele seja muito forte, mas não é isso que a situação demonstra.-Não podemos permitir isso Cassi. Arão pegou Cassi pelo braço. A garota estava relutante. -Eles são três e o coitado está sozinho.-Nem sabemos o que aconteceu, talvez ele esteja recebendo o que merece. Além do mais, a julgar pelas aparências desses três brutamontes é melhor que um tome uma surra, do que os três.-Nós só vamos espantá-los, não precisamos bater neles.

Arão ia serrando os punhos.-Eu estou falando de nós. Gritou Cassi incrédula.

Porém quando ela percebeu seu companheiro já havia partido na direção da confusão.-Homens... Tão impulsivos, agem primeiro para depois pensar. Balançou a cabeça em sinal de reprovação e olhou para cima. -Na próxima encarnação quero continuar sendo mulher. Partiu atrás do companheiro.

Molf começou a contar: -Um, dois

Ria calorosamente entre cada contagem. Os outros dois empunharam os braços, mas antes de dizer três, Bal viu Arão vindo

em sua direção, deu com o calcanhar na partes baixas de seu algoz. Pode só ouvir um "três" abafado e dolorido. Molf soltou sua presa, ao mesmo tempo que Arão pulava e caia com Bal para o lado.

Os punhos dos outros dois não pararam e acertaram o peito de Molf que já se contorcia de dor, lançando-o para trás sobre a mesa. Os cristais e o espelho foram para o chão junto com a móvel.-Seu desastrado olhe o que você fez. Urrou Sender enrolando a língua dando um tapa na cabeça de Tulgor. – Quebrou o espelho, nosso único meio de contato.

No canto os dois garotos estavam sentados ainda meio tontos pela queda-Obrigado, acho que escapei de uma surra e tanto. Apertou a mão de Arão.-Escapou? Acho que não! Eu apenas adiei isso um pouco.

Apontou para os dois seres que se dirigiam para eles correndo."Dessa a gente não escapa". Pensou Arão

Tulgor e Sender avançaram sobre os garotos, Cassi empurrou uma mesa que interceptou seus caminhos. Eles não conseguiram parar tombando junto com o objeto de madeira. Os garotos olharam espantados para ela que sorria.-Vocês não usam a cabeça, não mesmo. Disse estendendo as mãos ajudando-os a se levantarem.-Ela é sempre espirituosa assim. Perguntou Bal olhando para Arão.-Vamos embora logo, já estou cheio de confusão por hoje. Vocês homens são um problema

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em qualquer um dos mundos.Cassi virou-se porém trombou o rosto com a abdômen de Molf e foi jogada para trás

caindo nos braços de Bal.-Elas não resistem ao meu charme.

Brincou Bal, porém logo seu sorriso sumiu, Molf encontrava-se parado, era um muro a frente dos garotos, já havia se recuperado dos socos e estava muito furioso.-Acho que estamos encrencados, esse aí parece ser mais forte que os outros dois juntos. Engoliu seco Bal.

O gigante caminhou na direção dos garotos encurralando-os na parede. -Vocês não vão escapar desta vez. Sender falava espalhando saliva pela boca, Tulgor estava a seu lado com humor revigorado, a vantagem era toda deles.-Ora, ora vamos ter diversão finalmente, desde nossa passagem para cá não tivemos nada que nos animasse. Nada até agora...Vocês vão ser nossos brinquedinhos. Tulgor riu medonhamente.

Tudo estava perdido. Estavam condenados... Uma figura surgiu do meio da multidão brincando com um pergaminho enrolado, jogava-o de uma mão à outra. O desconhecido parecia não se preocupar com o número em que os seres estavam, nem com o tamanho ou força deles, muito pelo contrário se divertia com isso.-Teria lugar para mais um nessa maravilhosa festa? Brincou o intruso-Quem é você Intrometido? Acho que teremos que surrar mais um além destes três. Sugeriu Tulgor a seus dois comparsas. -Surrar número ímpar da azar. Brincou ele.-Acho melhor vocês deixarem os garotos em paz, e irem embora, senão...-Senão o quê? Ninguém, mas ninguém interrompe meu divertimento.

Molf estava aborrecido, avançou com fúria contra o intruso. O que se passou em seguida, porém foi algo de engraçado à assustador, o desconhecido arremessou o gigante com tamanha facilidade para fora do estabelecimento estilhaçando a outra vidraça, que os outros dois não hesitaram em fugir como loucos, pegaram o espelho quebrado junto com algumas pedras que estavam ao chão e partiram sem ao menos olhar para trás.-Que coisa!!! Exclamou desanimado. - Nem deu para me aquecer. O recém chegado pegou uma cadeira caída e sentou-se em uma mesa vazia, logo outra pessoa surgiu do meio da multidão sentando-se a seu lado. Com um gesto acolhedor pediu para que os três garotos se acomodassem. Os jovens obedeceram.-Você não toma jeito mesmo. Poderia ter conversado com mais calma com os três e tudo se resolveria na santa paz, como deve ser. Disse o outro recém chegado ao homem que tinha afugentado os três sujeitos.-E o que eu diria? Por favor, caros amigos se não for muito incomodo... Meu caro Raphael, você não sabe como aproveitar a ocasião.-Estão bem? Perguntou Raphael, os três ficaram em silêncio. -Creio que este silêncio deve significar sim, meu nome é Raphael e este de atos rudes que vocês puderam presenciar é meu amigo e irmão TsadKiel. Não é muito sensato da parte de vocês saírem por aí arrumando confusão.

Os três não sabiam se ele estava dando-lhes uma bronca ou apenas brincando.-Mas não fomos nós que começamos. Arão interrompeu Raphael. -Nós só queríamos ajudar...

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-Tudo bem meu jovem. Eles também não eram santos. Riu sozinho de sua própria piada e depois olhou para TsadKiel, ao ver seu rosto sério

e impaciente, calou-se mudando sua expressão tornando-a mais séria e sombria. -Tomem cuidado! Nem sempre existiram pessoas como nós para ajudá-los. Advertiu-os. -Vocês estão indo para Cidade Superior?

Novamente a ausência de palavras prevaleceu. -Suponho mais uma vez que este silêncio quer dizer sim. Espero que a partir deste ponto sua jornada seja mais tranqüila. -Como vocês sabem que vamos até a Cidade Superior?

O espanto de Bal foi evidente no momento em que fazia a pergunta.-Nós sabemos muita coisa meu jovem.

Raphael olhou com cumplicidade para TsadKiel. -Quanto a vocês não creio que saibam no que estão se metendo.-Claro que sabemos! Estamos indo para Cidade Superior para sermos guardiões.-Deixe-me explicar lhe uma coisa mocinha.

Raphael abaixou a voz, aproximou a cabeça como se fosse contar algo confidencial, os jovens fizeram o mesmo.–Alguns candidatos ficaram no firmamento enquanto outros foram mandados ao mundo dos Homens para serem salvos, entretanto um número mínimo retornou. Muitos perderam a vida antes.-Como assim?

O interesse de Arão era visível, pois ele estava nesta situação.-As trevas estão presente no firmamento isso é uma realidade e ninguém mais nega esse fato. O Mal quer vencer e não tem limites para alcançar seu objetivo, começaram matando as crianças do firmamento. As crianças da Cidade Superior mais vocês três que são uma exceção as regras são as únicas que podem se tornar guardiões. Uma a uma elas foram sendo mortas, mesmo nós não tínhamos condições de proteger todas. A solução foi mandar a maior parte delas para o mundo dos Homens onde estariam a salvo até a hora do regresso.-Parece ter sido uma medida muito sensata. Comentou Balduíno-Nem tanto meu jovem. O que era para ser a salvação virou um pesadelo. Imaginou-se que as crianças nunca seriam encontradas, mas o segredo foi descoberto. O Mal utilizou os Succubus e Inccubus para atacá-las no mundo dos Homens.-O que são Succubus e Inccubus? Inquiriu Arão.-São espíritos malignos, ao contrário do que muitos pensam, tanto o Mal como o Bem só podem entrar no mundo dos Homens quando forem invocados por eles. Os Succubus e Inccubus são espíritos que conseguem habitar os corpos das pessoas que morreram, sua estadia em cada corpo acaba quando este chega a um estado de decomposição que não permita mais que o espírito tenha o controle sobre o mesmo, levando-os a procurarem outro hospedeiro. Quando estão nos corpos a dor nos espíritos é constante por que o corpo continua sua decomposição e eles a sentem. Isso os tornam mais perigosos.- No reino as pessoas estão com medo, e não podemos confiar em muitos. Disse TsadKiel. -Por que não? Perguntou Cassi.-Vocês já pararam para se perguntar o que acontece quando alguém morre aqui no

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firmamento?Somente Cassi fez um sinal de positivo com a cabeça.

-Mas as pessoas podem morrer aqui?Arão ficou espantado com a colocação de Raphael.

-É exatamente esse o ponto meu rapaz. Isso nunca deveria acontecer. No mundo dos homens a pessoa sabe que se morrer poderá desfrutar de uma existência no firmamento, isso a incentiva a agir corretamente e a não temer a morte. Mas no firmamento tudo chega na hora certa, e se a morte não vier de modo “natural”, ela significa literalmente o fim da existência. Isso assusta, a pessoa não sabe lidar com esse fato e o medo a faz mudar.-E o que seria o fim da existência? Perguntou Bal

TsadKiel tomou a palavra.-Quando se morre no mundo dos Homens existem dois caminhos possíveis, o da perdição que leva ao reino inferior ou o da salvação que o encaminha ao firmamento. É claro que antes de vir para cá você pode ter uma pequena estadia no reino dos Titãs para se purificar.

Raphael o interrompeu.-Pode deixar que eu continuo amigo, você nunca levou muito jeito com as palavras, seu forte é a ação.

Voltou-se para os garotos. -No firmamento tempo é contado de forma diferente, enquanto estiver nele você ampliara seus conhecimentos, servirá de exemplo e por fim morrerá. Entretanto este morrer tem outro significado, todos esperam por essa ‘morte’, pois se sua missão estiver completa, seu destino será o nível mais alto do firmamento para viver ao lado do grande Criador, onde glória eternas o aguardão.

Raphael fez uma pausa satisfeito, pois as atenções dos três jovens estavam totalmente voltadas para suas palavras .-Não que aqui não seja assim. Porém se sua missão não estiver completa, o mundo dos Homens será seu destino novamente para finalizar o que esta pendente e com o conhecimento adquirido sua vida poderá ser muito melhor. O problema é que quando se volta as lembranças somem, nem o tempo que se ficou no firmamento é recordado. As tentações existentes no mundo dos Homens continuam e acreditem muitos se perdem e se tornam piores que antes. Esse ciclo pode se repetir por várias vezes até que tudo seja consumado ou se a pessoa ceder as tentações ela acabará indo para o mundo Inferior.-Você só esta me enrolando por que responder minha pergunta que é bom nada.-Calma meu jovem. Ninguém gosta de falar sobre esse assunto. Mas quando algo provoca a morte da pessoa no firmamento “fora do momento” escolhido pelo Criador, ela terá como destino o fim da existência que é o último reino, o buraco negro do firmamento, nem mesmo nós mensageiros sabemos o que existe nele , simplesmente por que nunca ninguém retornou de tal lugar. "O Esquecimento".

Raphael fechou os olhos permanecendo calado por alguns instantes. -Eu e Tsadkiel temos uma missão crucial, encontrar a última das profecias que se encontra perdida entre os mundos. Nela estão descritos os males que afligirão os reinos.

Raphael afastou-se um pouco e olhou para todos na mesa.- Se soubermos o que irá acontecer, poderemos nos antecipar e talvez consigamos mudar...

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Não conseguiu terminar a frase, vendo a dificuldade de Raphael, TsadKiel se intrometeu na conversa mudando de assunto.-Vocês parecem muito fracos para desejarem ser guardiões. Com a expressão de curiosidade ele os examinava.-Só por que nos salvou não tem o direito de nos insultar. Cassi foi arrogante e continuou desafiadora.-Acha-se melhor que nós?

Ele se mexeu na cadeira, com a intenção de se levantar, mas seu braço foi seguro por Raphael fazendo-o acalmar-se.-Com certeza ele é melhor que nós.

Falou Balduíno, exibindo um sorriso como se pedisse desculpa pela frase da garota. Virou-se para Cassi falando baixo ao seu ouvido. -Você está maluca ou o que? Viu o que ele fez com o grandão sem o menor esforço, imagine o que não faria conosco.-Calma meus amigos. Nós só viemos aconselhá-los a serem mais prudentes. Afinal os tempos são outros e um lugarzinho como este pode abrigar várias surpresas. Explicou-lhes Raphael-Vocês estão nos aconselhando? Ou nos julgando pelo que aconteceu? Questionou Arão-Julgar? Longe de nós querermos isso, não temos esse poder. Digamos que somos amigos, que estamos sempre no local e hora certa ajudando a quem precisa. Ainda mais agora que o equilíbrio foi quebrado e novos tempos vão surgir.-Mas no final tudo ficará bem não? Perguntou Bal sorrindo.-Esperamos que sim e é por isso que precisamos encontrar a última profecia. Olhou para cima antes de se dirigir para os três jovens. -Quanto a vocês descendentes do povo celestino é melhor partirem e lembrem-se não terão facilidades na Cidade Superior, eu mesmo não ficarei surpreso se desistirem antes mesmo de tentarem se tornar um guardião.-Como assim? Esta dizendo que não teremos coragem nem de tentar? Pois garanto que conseguiremos. Afirmou Cassi com convicção.-Antes fosse somente isso menina. Continuou Raphael e olhou tristemente para os três. -Agora vão! Não devem mais perdem tempo, isso é o que menos temos. -Mas espere queremos algumas respostas, não podem sair assim sem mais nem menos. Disse Arão.

TsadKiel levantou-se dando um murro na mesa. -Vão!!!

Os três pularam assustados.-Já estamos indo. Falou Balduíno pegando o braço de Arão, que parecia querer enfrentar os dois. - Já estamos indo, não é Arão. Balduíno puxou novamente o braço de Arão desta vez com mais força - Você não vai querer ver o cavalheiro bravo, vai?-Bal tem razão acho que eles já disseram tudo o que podiam. Não tem mais sentido ficarmos aqui. Insistiu Cassi.

Arão fez um sinal com a cabeça, viraram-se para partir quando ouviram um assobio.-Hei garoto? TsadKiel apontou para Balduíno. - Não foi isso que causou toda essa confusão?

Mostrou-lhe uma pequena sacola com cristais. "Agora to frito". Pensou.

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-Siimmm Senhor.-Então pegue.

Atirou a sacola para Bal que a agarrou no ar, sorriu aliviado. Os três partiram sem saber ao certo o que os aguardava num futuro próximo.Os dois

mensageiros ainda podiam ouvir a conversa dos garotos enquanto se distanciavam.-Cassi por que o Arão não tem desenhos pelo corpo como a gente?-Acho que é por que ainda não esta totalmente integrado a este mundo...-O que significam estes desenhos? Perguntou Arão.-Eles servem para designar os estágios da alma de cada um que ira se tornar guardião...

Finalmente as vozes saíram do alcance dos ouvidos de Raphael e TsadKiel .-Você acha que eles conseguirão? Perguntou TsadKiel. -Não parecem nem um pouco aptos.

Como não obtivera resposta de Raphael, olhou para o lado, este estava perdido em pensamentos, olhando para um ponto imaginário a sua frente.-O destino às vezes é ingrato, tenho dó dessas crianças se é assim que podemos chamá-las, um terrível destino as aguarda e nem desconfiam disso. Gostaria que fosse diferente. Se pudéssemos ao menos tomar o lugar delas. Não vejo como eles poderão conseguir...

Suas palavras tinham um grande pesar deixando a frase sem final.-Calma amigo! Tsadkiel colocou a mão sobre o ombro de Raphael.-Você desanimado? Nunca o vi assim. Você melhor do que ninguém sabe que tudo tem um motivo para acontecer...-E você me dando conselhos. Realmente Tsadkiel os tempos estão mudando.-No final tudo dará certo.

Queria que suas palavras dessem esperança, mas sabia que era muito difícil pois ele mesmo tinha dúvidas. Seu olhar voltou para o céu.-Às vezes chego a duvidar disso! Finalizou Raphael

Os três caminhavam alegres conversando, dando boas risadas na maior parte do tempo. Cassi tomou a palavra e não parou mais de falar, contou toda sua história a Bal. A qual Arão teve de ouvir novamente e nem chegou a questioná-la quando a garota omitiu a parte sobre sua irmã. Também contou tudo o que sabia a respeito de Arão. O garoto nem pode acrescentar muita coisa, pois realmente o que Cassi havia falado era tudo o que ele tinha conhecimento. -Bem então aqui estou eu com meus novos companheiros de jornada, Arão e Cassi. Bal abraçou os dois-Hei espere aí! Cassi é só para os amigos. Interrompeu a garota.-Ora, Ora, mas você vai ver que antes do imagina estará gostando de mim. Vai me implorar para chamá-la de Cassi.

Chegou mais perto encostando-se nela com um sorriso no rosto. -Sei, já vi como terminam suas amizades. A taberna foi uma bela amostra.-Isso não vale.

Os três riram.-Eles estavam tão bravos com você, só por causa desta bolsa com pedras escuras?

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Arão apontou para a bolsa presa na cintura de Bal.-Na verdade quando cheguei, eu procurava apenas uma informação para encontrar o caminho até a Cidade Superior. Disseram-me que três dias seriam suficientes, mas acho que devo ter errado o caminho em algum ponto, pois já estou caminhando a mais de três dias e nada dela.-Mas não acredito que toda aquela ira dos seus "amigos" foi por você simplesmente pedir uma informação. Cassi zombou dele.-Quando os encontrei, vi que tinham cristais brutos com um espelho de "Alfeu", isso atiçou minha curiosidade. Eles estavam discutindo algo sobre um encontro, pareciam muito irritados, sem querer mexi em um dos cristais. Os caras ficaram umas feras comigo e o resultados vocês puderam ver por si mesmo.-O que estas pedras e este espelho tinham de especial? Perguntou Arão.

Bal ficou desconcertado com a pergunta, como se fosse alguma coisa terrível ele não ter o conhecimento sobre o assunto.-Não ligue não, você se esqueceu que ele é novato aqui. Explicou Cassi.-O que há de errado em eu não saber sobre isso.-A tá, é que isso é um assunto tão conhecido entre todos, que chega a ser engraçado alguém não saber nada sobre ele. Vou lhe dar uma aula sobre os cristais. Eles possuem várias utilidades e algumas são bem interessantes. Os cristais quando são lapidados podem armazenar energia, guardando dentro de si essências importantíssimas e recebem o nome de gemas. Mas em sua forma bruta eles servem para armazenar informações e o espelho de Alfeu é o instrumento pelo qual conseguimos ler estas informações.-Você estava querendo bisbilhotar os segredos alheios. Então eles tinham razão em estarem zangados.

Bal nem deu atenção à censura de Arão-Mas não é assim não, eu não ia olhar, só queria ver o espelho de que tanto ouvi falar.-Claro só ia olhar. Disse Cassi com sarcasmo.-Mas é verdade eu juro, trabalhei com os cristais e suas propriedades, mas nunca tive a oportunidade de ver como eles se comportam com um espelho de Alfeu, dizem que só os candidatos da Cidade Superior tem acesso a tais artefatos.-Você não poderia esperar mais um pouquinho, na Cidade com certeza poderemos usá-los. Cassi conclui. -Assim essa confusão não teria ocorrido.-Tenho minhas dúvidas se vão nos deixar mexer com eles.-De onde você vem? Perguntou Arão.-Venho da comunidade Ocidental, as pessoas da minha terra são muito hospitaleiras, e acredito que como no resto das outras quatro grandes comunidades temos sempre comemorações maravilhosas, parece que tudo é motivo de festa. O povo costuma se dedicar muito a cultura de cristais e aos jogos intelectuais, as mais importantes pedras e a maioria dos grandes sábios vieram da minha comunidade. Tudo o que desafie o conhecimento é motivo de estudo no ocidente. -Interessante. Comentou Arão-Eu costumava trabalhar com cristais, já vi quase todos tipos deles, Agatha, Esmeralda, Diamante e tantos outros, são de uma beleza estonteante. No firmamento eles fascinam as pessoas, porém não há toda a obsessão que existe lá em baixo.

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Abaixou o olhar fazendo menção ao mundo dos Homens. -A força dessas pedras aqui são muito maiores.

- Mas por que o espelho recebe o nome de Alfeu? -Segundo dizem Alfeu foi um dos primeiros grandes sábios a explorar essas jóias em forma bruta para guardar informações e conseguiu esse feito com muito estudo e paciência. Contrariando muitos que só pensavam em transformá-las para armazenar energias. Por isso o instrumento foi batizado com o nome de seu criador. Isso o levou à Cidade Superior junto com os grandes sábios para ensinar a sua arte. Ele nunca mais retornou, mas deixou vários discípulos e foi com eles que aprendi tudo o que sei. Eu mesmo nunca manuseei um espelho de Alfeu, nos ficávamos muito na teoria, se é que me entendem, entretanto tenho certeza, quando pegar um não terei dificuldade alguma. Pena que aquele se quebrou. -Na comunidade Oriental tive contato com cristais, todavia nós dávamos mais importância as energias que eles podiam armazenar depois de lapidado e os benefícios que eles traziam as pessoas. Interveio Cassi -O que você foi em sua vida passada no mundo dos Homens? -Eu era filho de um joalheiro, acho que por isso me identifico tanto com essas maravilhas. Meu pai me deixava encarregado de fazer os cálculos de peso, quantidade e preço das pedras, a logística da coisa por assim dizer. Ele dizia que eu era a pedra encantada da loja. Vocês não imaginam como ele se orgulhava de mim. Os clientes sempre perguntavam: "-Como você deixa esse garoto cuidar de tanto dinheiro?" Ele respondia. "-Esse moleque nasceu para mexer com números, tenho mais confiança nele para isto do que em mim mesmo, ele fuça até não poder mais nas coisas. É curioso que só vendo...". -Mas eu também tinha outra paixão, os computadores, quando não estava brincando com as coisas de meu pai, lá estava eu horas a fio em frente ao micro. Até cheguei a fazer alguns programinhas para a loja. Entretanto nem tudo que fiz foi tão correto assim, uma vez dei uma dor de cabeça danada pro meu velho, quebrei alguns códigos de segurança de uma rede bancária. O que lhe rendeu algumas visitas de alguns homens da lei e uns puxões de orelha para mim. Aposto que quando nos encontrarmos aqui vamos dar boas gargalhadas lembrando-nos desses fatos.-Você deve ter sido bem levado quando criança, seu pai deve ter passado poucas e boas em suas mãos. Comentou Cassi.-Mas você ainda não o viu? Arão perguntou mesmo sabendo que para os outros dois isso era uma pergunta tola. -Eu pensei que encontraríamos todos a quem amávamos no firmamento. -Você já se esqueceu das palavras de Raphael? Questionou Cassi. -Temos várias passagens pela vida antes de completarmos nossa ‘missão’. Nem sempre é certo que veremos os nossos entes queridos no começo. Os tempos são diferentes para cada um, pode ser que ele também esteja tendo outra existência antes de ficar em definitivo no firmamento.-Hhaaaa você não sabe de nada. Bal deu um tapa nas costas de Arão. -É melhor pararmos a conversa e seguir andando. Sugeriu Cassi.

Pensavam no que iriam encontrar pela frente e nas palavras de advertência dos dois mensageiros. Nenhum deles poderia sequer imaginar o que o destino os reservara. No

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fundo só sabiam que não iria ser fácil.-Será que é verdade? Corremos tanto perigo assim? Isso é um tanto contrário de tudo o que este mundo representa. Cassi falava mais com ela mesmo, do que com os garotos.-Na verdade foi só dito para termos um pouco de cuidado. Um pouquinho.

O gesto de Bal esticando os dedos, indicador e polegar enquanto os outros permaneciam fechados, queriam demonstrar uma pequena distância. -Acho que eles estavam exagerando só para nos meter medo... Infelizmente está funcionando. -Está enganado Bal, não sei ao certo, mas sinto algo, não sei especificar bem o que é, porém bom não pode ser.

Cassi finalizou.

Caminharam mais alguns dias, sem muitas preocupações, iam passando por tanto cenários belos, viam muitas cachoeiras e cavernas, algumas com lagoas naturais dentro. A beleza era tanta que quase se esqueciam para onde estavam indo e o porquê.

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A Profecia...Conforme o tempo passou e a caminhada se estendeu, a paisagem não perdeu a

beleza em momento algum, chegaram ao que parecia ser uma divisão entre as topografias, terminavam as lagoas, as árvores, e as flores. Tinha inicio uma vasta planície, sua aparência lembrava um oceano esverdeado devido a cor da vegetação e o vento se encarregava de fazer com que ondas surgissem no meio da mata. A tarde já se anunciava e uma pedra em formato de um pequeno cone era avistada muito distante de onde se encontravam, suas proporções foram aumentando conforme venciam a distância.–Olhem! Parece uma pequena barreira formada pela vegetação. Não consigo enxergar o que está à frente. Só vejo a pedra! Calculo que ela deva estar a mais ou menos um quilômetro de distância.Gritou Bal. -Vejam só! Vou correr e com um pulo passarei pela barreira com a maior facilidade.

Saiu todo apressado atirando-se sobre a vegetação.-Espere Bal! Você não sabe o que pode ter do outro lá... Interveio Arão.-AAAAAHHHHH ... O grito de Bal foi forte e agudo e cortou as palavras do amigo. -Socorro!!!! Me ajudem.

Cassi e Arão precipitaram-se entre a vegetação e se não fosse Cassi segurar Arão pela blusa este teria caído no precipício que existia a sua frente. Teve dificuldade, mas conseguiu recuperar o equilíbrio, fora salvo pela garota.-Te devo uma.-Minha nossa. Exclamou a garota.

Estavam diante de uma cavidade com forma cilíndrica, ela possuía dois quilômetros de diâmetro aproximadamente e sua altura era equivalente a seu raio. A pedra que eles avistavam desde o começo da planície era o cume de uma torre em forma cônica. Parecia um dente que emergira do chão, sua coloração era branca, mas a maior parte dela estava enegrecida, como se tivesse aos poucos perdendo a vida. Ao redor da torre a vegetação composta na sua maioria por cipós dificultava o acesso. O local tinha um ar selvagem.-Parem de ficar olhando e me ajudem aqui!

Ao olharem na direção de seus pés se depararam com Bal agarrado a algumas raízes que afloravam das paredes da grande saliência e somente por este motivo não fora se espatifar no chão abaixo.-Vocês homens são muito apressados, está vendo, se não estivéssemos aqui com certeza você estaria ainda gritando por ajuda ou pior...

Falou Cassi olhando para o fundo e interrompendo a fala ao ver o quão distante este se encontrava, enquanto Arão ajudava Bal a subir.-Foi apenas um erro de cálculo.

De joelhos ao chão, Bal ofegava, tentando recuperar fôlego após todo esforço desprendido para subir.-É meu amigo este erro poderia ter lhe custado caro. Da próxima vez ouça sua amiga Cassi e seja mais cauteloso. Mas afinal de contas onde estamos? Não esta com cara de ser a Cidade Superior e além do mais este lugar parece estar abandonado.

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Arão fixava seu olhar na torre enquanto falava.-Como passaremos por isso? Teremos que contorná-la, não há como descer até a base desta torre e atravessá-la.

Apesar da respiração ainda um pouco agitada, as palavras de Bal saiam com mais calma.-Esperem! Podemos descer passando pelo centro do templo! O que vocês acham?

Os dois jovens olharam incrédulos para Cassi se perguntando mentalmente se ela esquecera qual era a distância que os separava do fundo da grande saliência. -Se você não reparou não temos asas, afinal não somos anjos. Reclamou Bal.-Olhem ali!

Apontou Cassi para o lado onde havia uma escada cuja visão era dificultada pela vegetação que a encobria, mas mesmo assim ela seguia até o fundo da saliência. Os jovens desceram em silêncio a escadaria apreciando a magnífica torre.-O que é ou foi isso?

Arão perguntou aos dois quando chegaram ao final da escadaria, do fundo da saliência a construção parecia maior do que nunca.-Não faço a mínima idéia, mas gostaria de já estar do outro lado. Bal nem tinha terminado de falar quando tropeçou em uma raiz. -Aposto que o jardineiro foi mandado embora, alguém precisava dar uma limpadinha neste lugar. -Mesmo para nós que estamos aqui à muito tempo fica difícil ter conhecimento de tudo, existem coisas que ignoramos por completo. Nós levaríamos uma eternidade para conhecermos cada canto do firmamento.

As palavras de Cassi saíram baixas.-Mas é justamente esse o tempo que temos não é? Então vamos entrar e verificar. Arão pronunciou suas palavras seguindo em direção a torre. - Seja o que for podemos explorar um pouco mais. Quem sabe não descobrimos o que aconteceu com este lugar e por que ele esta desabitado.

Um som abafado veio de dentro da torre. -Opa!! Acho que isto é um sinal de advertência para não entrarmos.

Bal deu meia volta, mas topou-se cara a cara com Cassi.-Não seja medroso.

Ela pegou-o pelo braço, levando-o em direção à entrada que era muito pequena se comparada com o tamanho da construção.-Pelo formato da entrada eu diria que este não é um lugar que recebia muitas visitas.

Avançaram sem maiores dificuldades por um pequeno túnel, não havia sinal de vida, o lugar apresentava um enorme círculo central no chão pintado de diversas cores. Ao redor deste muitos pedestais de bambu eram usados na iluminação do local, vários apresentavam cortes em seus gomos, entretanto todos estavam apagados. As paredes tinham rachaduras, onde pedaços se soltavam a todo instante indo se espatifar no chão. Muitas máscaras alegóricas cobriam as paredes entre as rachaduras. As janelas tinham um formato circular e as luzes que entravam por elas não eram suficientes para iluminar todo o local. -Nossa que máscaras esquisitas, o dono desse lugar tinha um péssimo gosto para decoração. Exclamou Bal.

Os outros poucos objetos que haviam no local estavam revirados, quebrados ou ainda

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amassados como se tivessem sido pisoteados, a torre simplesmente era oca por dentro. Uma escadaria circulava em toda sua parede interna, ela levava a um andar superior que não podia ser visto de onde eles se encontravam. Um som parecido com um gemido veio da parte superior colocando todos em estado de alerta.-Vamos subir! O som vem dali.

Ordenou Arão apontando o dedo indicador para cima no mesmo instante em que se adiantava em direção a escadaria. Antes mesmo de Bal começar a reclamar sobre subir para o outro andar Cassi o tomou pelos braços conduzindo-o pelos degraus. Finalmente chegaram ao outro nível.-Que coisa estranha! O que será isso?

Cassi mexia com o pé em um objeto pontiagudo que estava no chão.-Parece uma espécie de elmo. Disse Arão. – Com o desenho de uma serpente em sua parte superior e tem muito mais deles espalhados por aqui, além de espadas e machados .

Apontou-os mostrando aos amigos. -Mas isto é muito estranho.

Bal pegou uma espada do chão, olhava fixo para sua lâmina, nela havia entalhes negros que reluziam timidamente. -Essas não são simples espadas, elas são as espadas do fogo negro, o fogo que queima a vida. Eu pensei que haviam sido banidas do reino, só me lembro delas em contos dos anciãos, quando se referiam há tempos muito remotos. -O que estas espadas do fogo negro tem de especial? Cassi você não disse que Osíris estava sobre o efeito do fogo negro?

Arão pegou uma espada enquanto suas palavras saiam seu dedo indicador se aproximava da lâmina do objeto, foi quando Bal deu lhe uma tapa no braço derrubando a arma.-Não faça isso. A menos que queira morrer.-Como assim?-Você está vendo estes pequenos entalhes negros na lâmina, bem observe.

Bal foi até uma grande raiz de planta que entrava pela janela e espetou a mesma com a espada, os entalhes negros pareceram mover-se por um rápido instante, a planta começou a fica negra, apodreceu em poucos instantes transformou-se em um pó negro, o vento que bateu começou a levar seus restos embora.-Nossa, eu não sabia que seu efeito era tão devastador. Intrometeu-se Cassi na conversa.-Mas o que aconteceu?-Esses pequenos entalhes na verdade são fogo, o fogo negro. Essas armas foram cunhadas nas profundezas da Montanha da Morte, com as chamas do dragão mais temido de todos, o Dragão Negro. Eu pensei jamais ver uma destas. Olhando assim você diria que é um simples detalhe, mas quando a espada penetra no corpo, o fogo se infiltra também e vai consumindo-o por dentro. Se a resistência do corpo for grande ele ainda poderá se manter com vida por mais um tempo, entretanto a morte com certeza irá chegar, mas antes dela um sofrimento terrível se apossara da vitima. Um simples corte é mortal. Mas como elas vieram parar...

O som novamente, entretanto muito mais perto, vinha da sala ao lado. Seguiram em silêncio passando pela porta, dentro do recinto havia uma pedra de forma cilíndrica , com

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gravuras talhadas em quadros contando a evolução de uma história. Nenhum dos jovens ainda havia notado, mas no meio da pedra um cordão grosso de couro se encontrava preso. O som continuava, vindo de trás da pedra. Arão fez sinal para que em silêncio fizessem a volta no objeto. Iriam surpreender o responsável pela emissão dos sons. Bal agarrou o braço de Cassi e foram pela direita, Arão arrastou-se pela esquerda.

Cassi soltou um grito seco com a cena que viu.-Não pode ser... -Exclamou Bal surpreso.

Um ser de coloração preta se encontrava preso pelo cordão junto à pedra, em sua mão esquerda empunhava uma espada enquanto a outra tinha um pergaminho. Sua cabeça calva pendia sobre o peito. Seu nariz era achatado e parte da barba tocava os colares ao redor de seu pescoço. Seus braços possuíam muitos orifícios pequenos que lembravam picadas e em sua barriga vários cortes se espalhavam de forma desordenada.

A sua frente havia duas grandes serpentes, seus olhos amarelos contrastavam com suas escamas verdes onde algumas manchas negras se perdiam. Elas montavam vigia sobre o ser esperando o final de suas forças. Suas línguas dançavam entre as presas nas bocas abertas e os pares de asas nas costas se agitaram com a chegada dos novos visitantes. Uma delas avançou em Arão enquanto a outra investiu contra Cassi e Bal

A serpente deu o bote, todavia Arão foi mais rápido, pulou para o trás se esquivando das presas do réptil. Ao seu lado encontrou uma espada com detalhes negros fincada numa estatua de madeira, arrancou-a para se defender. A serpente iniciou um novo ataque, o garoto esquivou-se mais uma vez. O réptil chocou-se contra a estatua ficando atordoado. Foi o tempo necessário para Arão desferir-lhe um golpe certeiro decepando-lhe a cabeça.

Quando a outra serpente pulou sobre Bal e Cassi, o garoto empurrou Cassi e se atirou ao chão deixando a serpente passar entre os dois. Entretanto numa manobra ágil, o réptil virou-se perseguindo Bal que rastejava para fugir. Uma parede bloqueou seu caminho, não havia saída estava encurralado. A serpente tomou posição para atacar, o veneno escorria de suas presas, foi quando o metal negro da espada atravessou a cabeça do réptil por trás saindo em sua boca. Bal olhou para cima e viu Cassi com a arma que Arão havia-lhe jogado. O réptil caiu se contorcendo, seu corpo tornou-se negro e começou a murchar como se dentro só houvesse ar e finalmente virou pó.-Conseguimos! Vibrou Bal. -Fico te devendo essa Cassi.-Mais um que me deve, se continuar assim vou ficar rica.-O efeito do fogo negro é terrível e agiu muito rápido nos répteis... Observou Arão.

Um gemido veio do ser preso à rocha, em meio a luta haviam se esquecido dele. -Me ajudem aqui, vamos tirá-lo deste cordão e colocá-lo no chão. Ordenou Arão

Quando o deitaram no solo, um líquido negro começou a escorrer pelos seus ferimentos.-Ele está perdendo essência. Disse Bal.-Essência? A sim, me lembrei quando cheguei a este mundo me falaram que a essência da alma forma o corpo.-Isso mesmo. Continuou Bal. -No firmamento não temos sangue como os homens, mas possuímos essência que compõe nossos corpos, quando perdemos a essência estamos na verdade perdendo nossa alma.

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-BES, não pode ser!!! Cassi chorava enquanto ajeitava a cabeça do ser.-Realmente diziam que ele era feio, mas eu não imaginava tanto.

O espanto nas palavras de Bal era mais dirigido a ele mesmo do que para os amigos.-Bal!!! Protestou Cassi.-Desculpe.-Mas quem é este?

Perguntou Arão tirando a espada de uma mão. Bal tentava tirar o pergaminho da outra mão, sem sucesso, a grande mão de BES parecia ser feita de aço, era impossível movê-la. Cassi começou a explicar.-BES é um dos deuses aqui do firmamento, é agressivo, mas ao mesmo tempo alegre, sua missão é nos proteger contra serpentes e muitos outros terrores, dizem que por não ser muito belo sua aparência espanta os espíritos ruins. Também ajuda mulheres nos nascimentos das crianças, por isso é muito adorado entre todos, leva sempre consigo instrumentos musicais, facas ou hieróglifos que representam proteção. Pode-se dizer que BES é o protetor das famílias e está associado aos nascimentos. Ele é muito forte por isso não consigo compreender o que aconteceu. Olhem para ele! Está todo ferido.-Eu diria que ele está morrendo.-Cale a boca Bal! BES não pode morrer. A garota começou a soluçar enquanto as lágrimas escorriam por sua face.-Não pode! Ele mais que qualquer outro Deus é nosso protetor. Vocês parecem não entenderem o quanto ele é importante.

As lágrimas continuavam a descer com mais intensidade.-Arão. Bal cochichou aos ouvidos de Arão para que Cassi não ouvisse, pois suas palavras poderiam fazer a ira da garota voltar. - Temos um problema grave aqui. Ele parece estar nas últimas. Conhecendo a história de BES, o Deus guerreiro, como eu conheço não vejo quem teria tamanho poder para fazer isso com ele.-Isso não importa agora. Vamos Bal, acho que devemos deixá-la sozinha um pouco com BES, ele está inconsciente. Não podemos fazer mais nada...

Viraram-se para deixar o recinto, todavia a mão de BES agarrou o braço de Arão dando-lhe um susto. Os olhos emitiram um pequeno brilho, de sua boca um filete de líquido preto escorreu dificultando as palavras que tentava proferir. Os três se assustaram quando BES colocou nas mãos de Arão o pergaminho que segurava.-A escuridão nos ronda, os presságios estão surgindo como temíamos, mas nem todos acreditam. Vocês precisam levar isto a Cidade Superior, é muito importante que todos vejam. Que tomem conhecimento da realidade. Eles tentaram me impedir e quase obtiveram sucesso. Achei que poderia detê-los, mas esse foi meu grande erro, não fui páreo... nunca pensei que pudessem chegar tão longe...-Não fale BES, você vai ficar bom. Murmurou Cassi.-Quem fez isto com você? Perguntou Arão.

BES esforçou-se um pouco mais, levantou a cabeça e olhou para Arão.-Você é...-Calma.-Vocês não entendem, não há mais tempo, a leitura deste pergaminho pode ser a diferença entre a vida e a morte de milhares. A vida como a conhecemos hoje está destinada a mudar.

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Uma nova ordem começou... BES emitiu alguns grunhidos antes de prosseguir.

-Meu jovem, eu não pude... eles estão mais forte do que antes, ninguém no reino imaginaria que chegariam a tanto, eu não pude... O medo e o terror se aproximam...

Sua cabeça pendeu extinguindo sua vida.-BES, não!!!

Cassi chorava sobre o corpo sem vida, entretanto esse tempo foi mínimo pois o corpo foi se desmanchando até tornar-se pó e começar a ser levado pelo vento.-Ainda acho difícil conceber a morte no firmamento. Espere aí e o Criador? Como ele pode assistir a tudo isso e não fazer nada? Questionou Arão.A garota disse: -Ele já fez e ainda continua fazendo muito mais do que você pode imaginar. Está escrito:"O filho ao contrário, depois de ter oferecido, um sacrifício único pelos pecados, sentou-se para sempre a direita do Pai. Não lhe resta mais senão esperar até que seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. De fato esta única oferenda, levou a perfeição definitiva os que ele santifica".-Dizem que a justiça no mundo dos homens vem do Criador através das mãos dos próprios homens, no firmamento não é diferente. Temos que ser fortes e dignos o suficiente para superarmos todos estes desafios e fazer a justiça prosperar. Assim poderemos estar a direita do Criador, pois a ele só resta esperar...

Nada mais foi dito naquele momento, a grande construção enegreceu, parecia ter perdido a vida, um leve tremor começou, devagar e foi se intensificando mais e mais. A torre estava desmoronando.-A torre vai ruir. Gritou Arão.-Mas é claro BES se foi, sua torre vai consigo. Respondeu Bal.

Estavam correndo para sair pelo mesmo caminho que entraram. No meio do percurso, Cassi não agüentou e recomeçou a chorar baixinho enquanto descia as escadas, não conseguia acreditar em tudo que estava acontecendo...

Arão e Bal seguiam a garota de perto. Saíram no exato momento em que a torre veio abaixo. Cassi sentou-se no chão, seus soluços vinham em meio a um pranto de lágrimas.-Tudo isto é um pesadelo que esta se tornando realidade , BES era soberano...

Bal e Arão ficaram ao lado da garota por um longo tempo, até Arão se levantar e dizer:–BES se sacrificou por isto. Arão ergueu o pergaminho. Temos que levá-lo a Cidade Superior, esse era seu desejo e parecia ser muito importante.

Quando os jovens foram ajudar Cassi a se levantar o pergaminho escapou das mãos de Arão caindo ao solo, o vento o abriu. Sua escritura ficou visível."O final dos tempos se aproxima. A escuridão já me escurece a vista. Meus pensamentos já não são tão claros. Os sábios nada podem fazer. Dessa vez a força é infinitamente maior que antes” - I -As Sete revelações:Primeira Revelação - O silêncio dominará o reino.

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Segunda Revelação - O sol escurecerá e a lua não brilhará.Terceira Revelação - O Sangue correrá nas veias do reino.Quarta Revelação - A vida primitiva se extinguirá.Quinta Revelação - As estrelas começarão a cair do céu.Sexta Revelação - As forças do céu serão abaladas.Sétima Revelação - As trevas dominarão. As palavras do pergaminho provocaram calafrios nos jovens.-O que significa isso? Perguntou Bal.-Não sei parece alguém relatando seus pensamentos e depois fazendo referência a sinais.-Uma profecia você quer dizer Cassi.-Parece que sim Arão, mas não gostei nada do jeito que foi descrito. Concluiu Bal-Tenho certeza que foram as últimas palavras de quem escreveu. Disse Cassi.-Isso não importa quando chegarmos a Cidade Superior alguém saberá traduzi-la. Precisamos nos apressar... Finalizou Arão.

Partiram deixando os escombros da torre de BES para trás, em suas mentes dúvidas era o que não faltavam. O futuro parecia incerto e temeroso. Algo grande estava para acontecer e mais rápido do que todos imaginavam. Os fatos que vivenciaram juntos desde que se conheceram foram fortalecendo a amizade entre os três e mesmo com o pouco tempo de convivência, já se consideravam amigos de longa data.

No último morro em que passaram podiam avistar uma encosta cercada por uma planície enorme, quase idêntica a que cercava o local onde ficava a torre de BES, a diferença era que nesta a vegetação era mais rasteira, à frente da encosta uma lagoa de águas cristalinas repousava.

Ao cruzarem a planície, a encosta se fazia mais sublime que nunca, os sons das águas caindo eram ouvidos a distância. A coloração verde musgo dava um aspecto único ao local. Os pássaros matavam sua sede em pequenas piscinas naturais próximas a lagoa. Gostariam de poder perder um pouco mais de tempo somente apreciando a paisagem ma isto estava fora de cogitação.

Próximo à encosta o som da queda d água era ensurdecedor, e não era uma, mas sim três. A maior delas nascia no cume da encosta dando a impressão que tocava as nuvens, as outras duas menores saíam de cavernas que se formavam quase no meio dessa barreira natural, uma de cada lado da queda central. A beleza de ambas não deixava nada a desejar a maior, as águas se uniam antes de tocar o solo, formando a lagoa. -Só há uma encosta em todo o reino em que as águas que caem de locais separadas e distantes conseguem se juntar antes de chegar ao solo. Essa deve ser a famosa encosta do "abraço eterno", sua história é muito curiosa.

Enquanto falava Cassi não notou que os dois apesar de estarem fascinados pelas cachoeiras, ainda prestavam atenção as suas palavras.- Essa é uma história bem tradicional de onde venho, e sempre é lembrada. Principalmente quando se fala de amor.

Fez uma pausa para ordenar os pensamentos. Arão vendo que a demora se prolongava muito deu um ‘empurrãozinho’ para que ela começasse.

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-Bom para o firmamento é um nome muito sugestivo "abraço eterno", mas qual a razão disso?

“ Dizem que a muito tempo atrás no mundo dos homens existia um amor digno de inveja, seus protagonistas foram Isabel e Samuel. Filhos de famílias ricas que mantinham laços extremos de amizade.“

“Os dois brincaram, cresceram e amadureceram sempre um na companhia do outro, a amizade que nutriam quando criança também cresceu e com o tempo passou para afeto mais forte, e a conseqüência mais lógica disto aconteceu, o amor. “

“Tinham sido prometidos um ao outro, a união do casal agradava as famílias. Perto da tão sonhada união, as terras do reino onde viviam foram invadidas por bárbaros. Todos os homens foram convocados para defendê-la, inclusive Samuel.”

“A batalha era muito desigual, os bárbaros eram numerosos, sanguinários e impiedosos. Samuel sabia que as chances de retornar aos braços de sua amada eram mínimas. Sua linda Isabel implorou para que seu amado não fosse. Ela queria fugir com ele.”

“Ao ver que não mudaria a opinião de seu amado, ela entregou-lhe um crucifixo como símbolo de seu amor eterno. Mas ele apenas disse:”“-A única coisa que podemos fazer é orar e pedir para que nosso amor seja tão forte que nada possa rompê-lo. Quero que saibas que não importa o que aconteça estarás sempre em meu coração.”“-Não saberei viver sem ti, se eu o perder, minha vida já não terás mais sentido. Quero ir contigo, se tiveres que aceitar a morte que ao menos seja ao teu lado. Disse ela soluçando.”“-Nossos destinos não estão mais em nossas mãos.““-Samuel tomando-a nos braços, limpou suas lágrimas com os dedos e acariciou-lhe os longos cabelos cacheados. Sua face ficara rosada, a linda boca tremia de medo. Seus olhares se cruzaram antes de seus lábios se encontrarem num último beijo.”

“Rezaram na capela onde ele fez um ultimo pedido com muita fé. Se viesse a morrer gostaria que fosse nos braços de sua amada. Ela porém, condenou o destino e jurou naquele lugar que não importava qual fosse o resultado do combate, não iria continuar a viver sem seu grande amor.”

“Os homens partiram para batalha, o esperado se concretizou e a vitória dos bárbaros foi avassaladora. No campo de batalha milhares de corpos jaziam ao céu aberto. Samuel fora atingido por uma flecha e ao cair ao solo teve seu braço direito decepado por um machado inimigo, não foi morto por que os bárbaros precisavam de escravos para carregarem seus mantimentos. “

“As famílias dos nobres foram dominadas e maioria sacrificadas, outras porém ofereciam algo em troca para continuarem com vida e Isabel foi uma das oferendas ao chefe dos bárbaros. Sua família ainda viveria em suas terras, mas estariam sob domínio de seus conquistadores. Isabel tinha duas escolhas: Ou se recusava a casar-se com o chefe dos bárbaros e assistia a morte de seus familiares um a um a sua frente. Ou aceitava tal provação e ainda mantinha viva a esperança de encontrar seu amado. Mesmo com todas as terríveis notícias que recebera ainda tinha a fé de vê-lo novamente, tê-lo em seus braços, por um breve momento que fosse.”

“Chegado o dia da união, quando saia a rua, uma carroça cheia de prisioneiros

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maltratados e esfomeados passava à sua frente, muitos imploravam a chegada da morte, já que vinham sofrendo a dias as torturas dos bárbaros. “

“ Quando a carroça se aproximou, um braço a agarrou através das grades. Isabel se assustou. Ao olhar para o homem enjaulado que mais parecia um animal, viu que lhe faltava um braço, porém no peito reconheceu o crucifixo que havia dado a seu amado.“

“Ficou aflita e pediu liberdade do prisioneiro ao seu algoz. Apesar de protestar o bárbaro o libertou por saber de quem ela se tornaria esposa. No mesmo instante que sua mão tocou o rosto de Samuel uma espada atravessou o abdômen tirando-lhe a vida em seus braços. A arma era de seu futuro marido, que ria a seu lado.”“-Não deves se importar com esses vermes. Logo todos encontrarão a paz como este pobre coitado que jaz em tua frente, porcos imundos. Cuspiu no corpo caído.”

“Ela foi rápida, pegou a faca da cinta do bárbaro e se matou. Este ato dela teve conseqüências graves, já que toda a sua família foi executada depois.”

-Nossa que história triste, mas o que isso tem haver com a encosta? Perguntou Arão.Cassi fez um sinal para ele ficar quieto e não interromper.

“-No dia do julgamento, a pobre Isabel teve suas ações condenadas, por não aceitar seu destino como deveria ter sido. O suicídio mesmo que seja por amor é um ato condenável, não cabe à pessoa decidir quando termina sua existência, mesmo que tudo lhe pareça sem sentido. Porém Samuel suplicou misericórdia por sua bela amada. Seu pedido foi ouvido, todavia ela teria que passar por algumas tribulações antes de retornar. Quando isso acontecer finalmente eles ficarão juntos. Dizem que ele ainda a espera dentro desta encosta. A cachoeira maior simboliza o corpo de Isabel, as outras que saem de cada lado são os braços de Samuel e o local onde elas se encontram antes de cair ao chão é o momento em que ele a abraça. Por isso o nome de "abraço eterno". -Puxa que amor hein! Mas é uma história um pouco triste, você não acha Bal. Disse Arão

Bal não prestou atenção à pergunta e já emendou outra.-Mas alguém já viu esse tal de Samuel?–Vocês uns são bobos, é apenas uma história, uma lenda, se é verdade ou não eu não sei dizer, mas que dá uma magia toda especial ao lugar isso com certeza dá, a gente o vê com olhos diferentes. Respondeu Cassi. -Alguns amores conseguem passar por cima de muitas barreiras e atravessar a eternidade. Olhou para cima e deu um longo suspiro.-Bom, vamos deixar os amores um pouco de lado agora, afinal não é meu coração que está reclamando, mas sim meu estômago. Reclamou Bal-Como você é insensível Bal. Criticou a jovem. -Não sou insensível, sou realista.–Claro que é, afinal depois de uma história dessas, só no que você consegue pensar é em comida.-Vamos nos banhar primeiro, a água parece estar ótima. Convidou Arão. O garoto correu e deu um salto nas águas que formavam a lagoa.-Não! A água deve estar muito gelada. Além do mais temos que nos concentrar na Cidade Superior. Comentou Cassi.-Ora vamos, não seja estraga prazer. Continuou Bal.

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-Eu vou ter que fazer um esforço imenso e matar minha fome mais tarde, a Cidade Superior pode esperar um pouco. Além do mais nós precisamos também descansar e relaxar de vez em quando. -Acho que você tem razão.-Eu sempre tenho razão. Passou falando ao ouvido de Cassi.-Convencido. Protestou a garota. –A água parece estar muito gelada. -Está nada. Gritou Arão já dentro da lagoa. -Venham rápido.-Vamos Cassi. Bal pegou-a pelos braços e atirou-a nas águas.-Não!!! Me solte...

Mas já era tarde, seu corpo caiu na lagoa.-Tá vendo como ela só precisava de um empurrãozinho. Completou Bal.

Nadaram até que a fome tornou-se insuportável, Cassi não agüentava mais ouvir Bal reclamar, foram para a beira da lagoa onde começaram a se organizar para passar a noite e fazer a refeição. Arrumaram todas as coisas, a tarde estava terminando, os raios do sol iam se escondendo no horizonte, sua coloração mudara para um tom avermelhado.

Fizeram um círculo no chão tirando toda a mata que existia. Vários gravetos foram juntados até formarem um pequeno amontoado, a fogueira estava pronta. Encheram uma vasilha com água e levaram-na ao fogo para cozinhar alguns legumes. O vento soprava mais frio com a chegada do final da tarde. Cassi cuidava da refeição, enquanto Arão se incumbia de manter o fogo vivo, já Bal arrumava as bagagens que tinham trazido, não era muita coisa, mas alguém tinha que acomodá-las em algum canto.

As imagens passadas não saiam das mentes dos jovens. Ainda se perguntavam se tudo não tinha sido um sonho. Todavia o pergaminho entregue por BES antes de perecer, a salvo com Arão, não deixava dúvidas, tudo era real. Suas inscrições sagradas eram muito sinistras, revelando um futuro sombrio. Arão mudou de assunto perguntando sobre a Cidade Superior, a partir daí a conversa se tornou mais alegre e descontraída.-Me disseram que é a mais bela de todas, cheia de monumentos e templos grandiosos cultuado aos deuses, nenhuma outra cidade dizem ter a sua beleza. Proclamou Bal. -Não vejo a hora de chegarmos até a grandiosa, o reduto dos sábios e anjos.

Olhou para os amigos e prosseguiu. -Nunca tivemos uma oportunidade como esta, gostaria que a situação fosse diferente, que não houvesse esse rancor entre os dois povos. Mas independente disso, todos que colocaram seus pés lá dizem que ela é fantástica. Com flores presentes em sua arquitetura dando vida às construções. Nenhuma beleza pode ser comparada a Cidade Superior. Majestosa por si só como deve ser.

Os pensamentos de Bal foram cortados pelas palavras de Cassi.-Eu só quero tornar-me uma guardiã e honrar novamente minha família.

As palavras da jovem possuíam um rancor evidente.Os dois ficaram quietos até que Bal cochichou para Arão.

-Ela sempre muda de humor tão rápido assim? A minutos atrás estava toda sorridente.- Mulheres... Comentou Arão disfarçando, sabia o porquê da mudança de comportamento de

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Cassi quando se referia à família. Um novo silêncio se instaurou no grupo até que...-Vocês dois venham cá um pouco. Chamou-lhes-Espero que seja algo que demande minha atenção, pois estava no meio de uma corrente de pensamentos muito importante. Bal olhou com desaprovação para Cassi, entretanto fez o comentário mais para atormentar Cassi.-Sim, o que foi? Perguntou Arão.-Olhem!!! Apontou para a vasilha com a água.- Sim, é uma vasilha. E daí? Perguntou Bal. Vendo o rosto impaciente da garota ele prosseguiu. - O que tem a vasilha? Não há nada aí, além de água e legumes.-Espere! Você não está sentindo? Questionou Arão.

Foi quando Bal notou que a água começou a se mexer dentro da vasilha. O chão começara a tremer, leves pancadas que iam aumentando num ritmo crescente já eram percebidas pelos três amigos.-No Horizonte! Vejam! Cassi apontou para o outro lado do pôr do sol onde uma grande nuvem de poeira subia.-Mas o que poderá ser aquilo? Perguntou Arão. -Chega de surpresas, não sei se agüento tanta emoção num só dia. Reclamou Bal

A nuvem foi ampliando seu tamanho, os tremores no chão também, ambos vinham em direção a eles. Bal observou mais atentamente a poeira que se aproximava. -Não acredito! Não pode ser!!! Os anciãos da vila sempre me falaram sobre eles. Disse com entusiasmo.-Eles quem? Perguntou Arão-Unicórnios! Um estouro de unicórnios! Eles sempre correm ao final da tarde para o pôr do sol...-O quê??? Indagou Arão com surpresa.-Sim, eu também já ouvi falar deles, são como lendas contadas de geração há geração, poucos são os que tem o privilégio de vê-los. Os que conseguiram tal façanha deixam em suas narrativas momentos tão gloriosos, que mesmo os adultos mais ranzinzas ficam fascinados. "Não cavalgam no chão, mas sim em nuvens". Essas foram as palavras de Gideão uns dos poucos da minha cidade que já os viu. Comentou Cassi.-Eles nunca ficam no mesmo local, passeiam por todo o reino, dois dias é o máximo que eles param em algum lugar, por isso são muito difíceis de se encontrar.-Vamos, vamos... Arão pegou Bal e Cassi pelo braço, seguindo com eles em direção a nuvem que se erguia.-Está maluco! Queixou-se Bal desvencilhando-se de Arão. -Vamos ser pisoteados! Se você não notou é um estouro. Olhem como vem feito loucos em nossa direção. Acho que você não está batendo bem, né? -Nunca estive mais lúcido, como Cassi mesmo disse são poucos os que tem o privilégio de vê-los, imaginem então o privilégio que nós teremos.-Do que você está falando Arão? Perguntou Bal tendo certeza de que não ia gostar da resposta.-O que você tem em mente? Cassi disse a frase ao mesmo tempo que Bal pronunciava a dele e ambos olhavam para Arão estupefados. -Seremos mais ousados que todos, vamos montá-los, tenho certeza que nos divertiremos

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muito, e não creio que nos farão mal algum. Argumentou Arão.-Alôôô! Tem alguém ai? Bal bateu com a mão na cabeça de Arão. -Acho que você se esqueceu do que aconteceu na torre de BES, podemos acabar nos dando mal nessa sua brincadeira, eu não vou. Olhou para Cassi buscando apoio.-Não sinto maldade nesses animais, muito pelo contrário sinto uma forte energia positiva emanada deles. Concluiu a garota ajudando Arão a convencer Bal.-Sente? Você sempre sente. Estou vendo toda essa energia, estão com tanta dela, que vão depositar tudo em cima de nós com seus cascos. -Oras, até minutos atrás você estava todo empolgado falando deles Bal. O que foi que aconteceu com todo aquele entusiasmo?-Arão aquilo foi antes de você nos colocar no caminho do estouro. Estou gostando de apreciá-los, mas a uma distância segura.-Relaxe meu amigo, essas criaturas são magníficas, com uma beleza dessas é inconcebível, que possam machucar alguém.

Arão partiu na direção dos animais que aproximavam-se em grande velocidade.-Diga isso a eles, não a mim.-Vamos aproveitar o momento. Quais foram as palavras que você me disse momentos atrás... me lembrei: “Nós precisamos também descansar e relaxar de vez em quando” .

Ela deu um tapinha no ombro de Bal e seguiu Arão. O garoto foi ficando para trás. -Você chama isto de relaxar? Vocês são malucos, isso é o que são, eu não, não vou de jeito nenhum, podem ir, loucos, depois não digam que não avisei...

Uma rajada de vento lhe bateu as costas, arrepiando os cabelos na nuca. Bal olhou para os lados e viu-se sozinho. -Bom pensando bem, acho que montar um pouquinho não é uma má idéia.

Saiu em disparada atrás de seus amigos. – Ei! Esperem por mim.-Ora, ora, veja quem veio para a festa, o que deu no senhor para mudar de idéia tão rápido, se sentiu muito solitário? Ou será que ficou com medo? Zombou Cassi.-Medo??? Eu??? O grande Balduíno não tem medo de um bando de cavalos com chifres. Aliás como eu poderia abandonar meus queridos amigos na hora da diversão, com certeza irão precisar de mim...-Preparem-se, aí vêm eles. Com um gesto Arão apontou para o bando. “Meu Deus, o que estou fazendo aqui ”. Os pensamentos de Bal o deixava paralisado.-Vejam só o que vou fazer.

Correu ao encontro dos unicórnios, desviou-se do primeiro, fez o mesmo com o seguinte que avançava, neste momento ele o viu, Arão avistou um unicórnio diferente de todos os demais. Todos tinham os pêlos brancos, este porém, tinha pêlos prateados, agarrou-se a crina do animal e com um salto, caiu em cima de sua anca. Não houve resistência alguma, pelo contrário o unicórnio ajudou-o a se equilibrar. O garoto foi-se embora com o bando que começava a passar pela lagoa. -Parece divertido acho que vou experimentar. Gritou Cassi partindo em seguida. Em manobra idêntica a de Arão, ela subiu sobre a anca de um deles. -Vamos Bal! É uma sensação maravilhosa.

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-Não acredito no que vou fazer, acho que também estou ficando louco, mas o que deu em mim? Olhou para os lados. -Posso até estar perdendo o juízo, mas não vou ficar aqui sozinho...

Subiu em uma pedra enquanto eles passavam, tomou coragem e pulou sobre o primeiro que atravessou sua frente. O único problema foi que caiu ao contrário no animal, sua barriga estava encostada na anca do mesmo, enquanto suas pernas ficaram voltadas para a cabeça do unicórnio, este ia lhe acertando a face com o rabo. Ele gritava com a intenção do animal parar, porém a cada grito que dava incitava mais ainda a corrida do unicórnio. -Caramba, eu sabia que não tinha vocação para esportes radicais, em minha outra vida sempre preferi aproveitá-los atrás da telinha do meu querido computador.

Os Unicórnios mudaram seu percurso estavam se distanciando da encosta. Arão quase nem sentia as passadas leves e rápidas deles. Compreendeu as palavras que Cassi proferiu: “Não cavalgam no chão, mas sim em nuvens”. Arão e Cassi estavam se divertindo muito, enquanto Bal com seus gritos histéricos não via a hora que aquilo acabasse. -Isso é fantástico. Gritou Cassi-Vamos mais rápido. Arão incitava o animal-Mãããeeee...Para, para... Berrava Bal

O bando fez novamente uma curva, retornavam para a encosta, seguindo em direção a lagoa, muitos pararam bruscamente indo saciar sua sede nas águas cristalinas. Arão e Cassi fizeram uma parada perfeita e desceram dos animais como se já montassem à muito tempo, logo atrás veio Bal, porém como estava de costas não viu seu unicórnio parar. Ele não teve onde se agarrar e foi atirado dentro da lagoa. Os outros dois caíram na gargalhada enquanto o garoto saia todo encharcado reclamando.

A visão de todos os unicórnios parados tomando água na lagoa, era muito linda.-São todos mansos. Comentou Cassi passando as mãos em alguns deles que nem se importavam com suas presenças, ao contrário pareciam gostar muito delas. -Eles devem sempre parar à tarde para tomar água. Acho que vão passar à noite aqui conosco, pois a encosta os protegera do vento. Acredito que no começo eles ficaram um pouco afoitos com a nossa presença por isso passaram correndo a primeira vez.-Como são belos, seus pêlos parecem tapetes, tamanha a maciez. Arão alisava o unicórnio.-São muito levados, isso sim. Falou Bal espirrando logo em seguida.

A noite foi calma e tranqüila, jantaram os legumes e as sobras foram atiradas aos animais que comeram de bom grado, ao final da refeição se deliciaram com algumas frutas que Cassi tinha trazido. Ao irem dormir, puderam observar que os unicórnios já estavam deitados descansando ao redor da lagoa. Muitos repousavam aos seus lados, os três se sentiram como parte do bando. Acordaram na manhã seguinte, os unicórnios já pastavam nas planícies. Tomaram um belo café da manhã, arrumaram as todas as coisas arrumadas e estavam prontos para partir.-Espero um dia voltar aqui. Comentou Arão.

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-Tomara que seja mais calmo que ontem. Disse Bal se espreguiçando.-Bom, vamos indo que está um dia lindo e se caminharmos rápido talvez possamos chegar na Cidade Superior amanhã. É uma pena que os unicórnios estejam nas planícies, adoraria me despedir deles. Comentou Cassi.

Começaram a andar para longe da encosta. Os unicórnios se aproximaram formando um círculo ao redor dos três, que continuavam a caminhar. O animal prateado saiu do círculo e se aproximou de Arão. O garoto passou a mão em sua crina, o animal mexeu a cabeça como se fizesse sinal para que ele subisse.-Oi amigo, não posso brincar agora, tenho que ir para Cidade Superior, foi muito divertido ontem. Quem sabe numa próxima oportunidade...

Arão continuava acariciando o animal. Foi para o lado, o unicórnio o acompanhou. Mais uma vez mexeu a cabeça. Outra vez e a cena tornou-se a repetir.-Tá vendo você o deixou mal acostumado, eu disse que era má idéia andar neles. Ele gostou tanto da brincadeira de ontem que quer novamente e não temos tempo para isso.-Quieto Bal. Ordenou Cassi. Outro unicórnio se aproximou de Cassi e abaixou a cabeça à frente dela. -Acho que eles estão querendo que subamos. Vão nos levar até a Cidade Superior, não são umas gracinhas.

A garota subiu na anca do animal. Arão já estava em cima do seu.-De jeito nenhum, me recuso a ir. Proclamou Bal cruzando os braços. Um unicórnio chegou por trás e com a cabeça cutucou seu braço assustando o garoto. -Hei meu chapa vai mais devagar aí, eu não vou subir em você.-Tudo bem, pode ficar e ir à pé, nós iremos na frente e quando chegarmos, avisaremos que você vai se atrasar. Cassi se divertia com a situação. –Tchauzinho.

Bal foi ficando para trás com seu animal.-Olha só como ela é comigo. Dizia ele para o unicórnio como se ele compreendesse. -Não senhor, não vou mesmo, prefiro ir a pé. Olhou para o animal. -Não me leve a mal, não é nada pessoal, mas não levo jeito com animais. Na minha casa em outra vida, a gata da minha tia vivia me arranhando, eu a odiava, simplesmente não servíamos para conviver sobre o mesmo teto.

Novamente um vento soprou forte, olhou em volta e só o unicórnio lhe fazia companhia.-Eu é que não vou ficar aqui sozinho não.

Começou a correr em direção a seus companheiros que já estavam longe. O unicórnio corria atrás dele.-Sai, sai, vai embora.

Dizia Bal e parava. O animal também parava, ele voltava a correr e o animal o acompanhava. Sem Bal tomar conhecimento o unicórnio colocou a cabeça entre suas pernas e com um golpe rápido o lançou para o alto. O garoto caiu em cima da anca do animal, só que mais uma vez ao contrário. De novo seu rosto ia sendo chicoteado pelo rabo do unicórnio.

Os gritos incessantes de medo de Bal pedindo para que o animal parasse tinham efeito contrário, incitavam-no a ir mais rápido. Logo os dois passaram como um raio por Cassi e Arão.-Socorro me tirem desse bicho doido, ele ficou maluco... Gritava Bal.

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Mas os dois não conseguiram ouvir seus apelos.-Nossa antes com medo e agora já está se dando tão bem com ele. E ainda para se exibir monta o animal de costas. Comentou Cassi.-Realmente não sei se existe encarnação pra bichos, mas se existir esse unicórnio deve ter sido a gata da minha tia. Protestou Bal.

Arão e Cassi trataram de apertar o ritmo de seus unicórnios por que Bal e seu animal estavam se afastando.

O dia estava passando rápido, viram que a distância que percorreram com os unicórnios era muito grande, talvez levassem mais de dois dias de caminhada para fazer todo o percurso até a Cidade Superior a pé. Quando avistaram no horizonte os primeiros sinais da cidade os unicórnios pararam.-Acho que a partir daqui teremos que ir à pé o resto do caminho. Disse Cassi abraçando seu unicórnio. -Obrigado amigos, vocês são maravilhosos.- Foi muito bom mesmo. Completou Arão passando a mão na cabeça do animal.Bal virou as costas para o seu unicórnio. Este porém com o chifre deu-lhe um cutucão de leve no traseiro.-Hei, cuidado com isso. Haaa eu sabia que você era a gata da minha tia agora não tenho mais dúvidas.

O unicórnio deu um passo à frente.-Oohhh! Vá com calma amigo, alguém pode se machucar com isso.-Bal pare de ser maldoso, ele só está querendo agradar. Disse Cassi.-Era isso que minha tia dizia quando a gata dela me arranhava. Jeito estranho esse de agradar você não acha?O unicórnio se aproximou mais e com um movimento rápido, passou sua cabeça no rosto de Bal num gesto de carinho, isso pegou o jovem desprevenido. Logo em seguida foi-se juntar aos outros.-AAAAhhhh! Exclamou Bal limpando o rosto com a mão, virou-se para o lado e sem que ninguém visse esboçou um pequeno sorriso. -Adeus amigos e obrigado, vocês nos ajudaram muito. Finalizou Cassi

Os unicórnios se viraram e foram embora com a mesma rapidez que tinham chegado, passados alguns minutos já não viam mais sinais do bando. Os três continuaram sua caminhada em direção ao horizonte que se tornava aos pouco avermelhado.

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Na Cidade...

A Cidade se agigantava à medida que a distância ia sendo vencida. A vegetação da planície foi sendo substituída por flores, um mar de flores coloridas, a quantidade era tamanha que não era possível ver o solo. Pássaros voavam alheios à presença dos jovens, saciavam a sede em pequenos riachos que abriam caminhos entre as plantas como veias percorrendo toda sua extensão.

O sol estava alto e forte, insidia sobre uma passarela branca com corrimãos dourados. Ela surgia do meio das flores e ficava suspensa no ar. De suas bordas escorriam águas que caiam nos riachos. A passarela que era escoltada em toda sua extensão por duas fileiras de palmeiras imperiais, levava os visitantes até a entrada da cidade. O caminho era agradável e prazeroso principalmente por que um arco-íris dava boas vindas aos visitantes.

A beleza da Cidade impressionava mesmo do lado de fora. Um portal gigantesco guardava a entrada, e em cada lado seu havia uma pequena torre de tijolos marrons. Pequena perto das outras por que seus tamanhos eram consideráveis.

Não sabiam se era o fim da jornada que durara dias ou encanto que o local exercia sobre eles, mas uma sensação de conforto e bem estar apossou-se de cada um, esse sentimento crescia cada vez mais. De repente não tinham mais cansaço, dores, ou qualquer outro tipo de preocupação. A sensação de paz invadiu-os por completo, cada um a experimentou de um jeito, mas o efeito provocado por ela era o mesmo.

O portão começou a se abrir lentamente o barulho produzido era intenso. Arão imaginou ser necessário uma centena de pessoas no mínimo para realizar tal proeza. A visão adentro foi algo mágico, tudo parecia mais intenso. Em cada lado portão jaziam estatuas de mármores de pessoas aladas segurando as mãos harpas douradas. O brilho dos instrumentos cegava momentaneamente quem dirigisse a visão para eles.

A Cidade era asseada por construções arquitetônicas deslumbrantes, estruturas que deixariam de boca aberta o mais perfeccionista dos arquitetos do mundo dos homens. Entre elas se destacavam os templos que ficavam cada vez maiores e mais majestosos conforme suas vistas seguiam adiante. Se por fora dos muros a povoação parecia grande por dentro sua imensidão era inacreditável. Era impossível que uma cidade daquele porte coubesse dentro das muralhas que avistaram a momentos atrás.

Um arco enorme parecia desafiar as leis da física humana, formado por feixes de água que se entrelaçavam sem jamais se tocar, ambos saiam de duas estátuas de crianças segurando pequenos jarros com algumas plantas e flores presentes. A beleza não era exclusividade das estatuas, ela se espalhava pelo local de forma aleatória, ficando difícil saber onde fixar o olhar para apreciar a elegância do lugar.

A simplicidade e a complexidade conviviam harmoniosamente. As cores eram, ora brancas, ora mais vivas e intensas, muitos desenhos em relevos desatacavam-se entre as construções, era um lugar cercado por muros, mas onde o que mais se experimentava era o sentimento de liberdade. Tudo contribuía para realçar o mistério que envolvia toda a Cidade Superior.

Foram "despertados", por uma voz.

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-Olá irmãos vindos de tão distantes terras, é muito bom tê-los em nosso meio. Espero que gostem da cidade e sintam-se em casa. Afinal irão passar um longo período entre nós.-Quem disse isso? Cassi olhava assustada para os lados sem encontrar qualquer sinal de vida.-Parece que vem dali.

Arão apontou para o lado no mesmo instante que respondia a pergunta de Cassi. Sua indicação mostrava uma estátua de uma criança sentada à borda de uma fonte, cuja água jorrava incessantemente. Nela um pequeno arco íris se formava na própria fonte.

Bal se aproximou da estátua olhando-a de modo inquisidor. Bateu com a mão na cabeça da mesma, o que produziu um som seco e curto.-Tem certeza que foi daqui que veio a voz? Ao menos eu nunca ouvi falar que pedra falasse. Disse Bal. - Será que na Cidade Superior as estátuas ganharam vida?-Eu tenho certeza que veio daí. Verifique melhor. Insistiu Arão.-Acho que você teve uma alucinação. Provavelmente foi o sol. Respondeu Bal aproximando mais o rosto da cabeça da estátua.-Seu amigo tem razão.

Uma cabeça saiu de trás da estátua onde antes parecia não haver nada. O susto que Bal experimentou com a aparição inusitada o fez cair sentado no chão. -A voz vem da estátua, bem eu não diria exatamente da estátua. Mas respondendo sua pergunta, as estátuas aqui são como em todo o reino elas não tem vida. Pelo menos eu acredito que seja assim, porém já vi tanta coisa que nada me surpreenderia.-Quem é você? Perguntou Cassi.-Jovens amigos desculpem meus maus modos e se acabei assustando-os. Meu nome é Abdala. Sou um humilde servo deste magnífico lugar e estou aqui para guiá-los pelas lindas ruas da cidade até o "Santuário".

Diante deles estava um anão de cabelos brancos compridos, seus grandes olhos castanhos contrastavam com seu nariz fino e sua boca pequena. Possuía a expressão de uma pessoa que já aparenta certa idade, andava com ajuda de um cajado dourado. Seu sorriso era muito receptivo e seu ser exprimia muita vitalidade, carregava uma pequena bolsa em sua cintura e usava um largo chapéu verde. -Um servo? Quer dizer que existe escravidão na Cidade Superior? Estamos perdidos. Disse Bal se levantado do tombo. -Esse anão não parece ser confiável, posso pressentir isso. Aposto que vai querer nos tornar escravos também, só por que somos celestinos.-Jovem amigo não é nada disso, você me interpretou mal, sou servo de coração. Eu escolhi isso. Quando estiverem mais acostumados com o local entenderão o que quero dizer. Aqui servir é um prazer. Fico muito feliz e honrado com a posição que ocupo e como queria muito conhecê-los me foi designado à missão de mostrar-lhes o caminho até o Santuário.-Nos conhecer? Então muitos sabem de nossa vinda? Perguntou Cassi.-Todos sabem e os esperam, só que a mim coube a honra de poder recepcioná-los. -Chega de conversa fiada. Disse Bal-Olha quem fala. Retorquiu Cassi.-Eu sou Balduíno, essa fera aqui é minha amiga Cassiana e este louco é meu amigo Arão.-Já que fomos apresentados podemos prosseguir. Disse Abdala.-Você disse Santuário? O que ele é? Perguntou Arão.

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-Calma jovem amigo tudo na sua devida hora. Respondeu Abdala com um sorriso. Arão já estava se acostumando a não receber respostas, mas sim a mesma explicação

de sempre que tudo viria na sua devida hora, percebeu que a paciência seria sua grande virtude.-Acho melhor irmos indo temos um longo caminho a percorrer. Comentou Abdala-Não diga longo caminho você não imagina o quanto já andamos. Resmungou Bal-Mas existe algo de bom nisso eu serei seu guia. Passaram um tempo em minha companhia.-Uauu! Pensando bem, olha como somos importantes nos mandaram até um guia. Bal cutucou Arão. -Aqueles estranhos na taberna disseram para termos cuidado com a recepção daqui. Todos nos esperam, vamos ser recebidos como reis. Já estou até vendo, festas, comidas e lindas garotas.

Sorriu Bal diante de seu próprio comentário.-Puxa! Você não toma jeito. Cassi ficou brava com as palavras do amigo.-Só quero aproveitar afinal reconheceram minha grandeza. Finalizou Bal com ar zombeteiro.-Meus jovens amigos, receio que devo adverti-los para não esperarem muito das pessoas da Cidade Superior, pois nem todos compartilham os mesmos sentimentos como vosso servo aqui. Disse com tristeza virando-se para eles.-Muitos já nos advertiram sobre isso, só não entendo o porquê? Nós viemos para ajudar. Pelo que entendi até agora estamos todos na mesma situação. Se o mal se concretizar todos sofremos. Por que não deixarmos as diferenças de lado e nos unirmos para passar esse período difícil?

A indignação de Arão era visível.-Antes todos pensassem como você. Entretanto mais uma vez peço vossa calma e um pouco de compreensão. Não passe a carroça à frente dos bois. Se estiverem prontos poderemos começar a jornada.

Iniciaram sua peregrinação pela cidade enquanto uma leve brisa lhes tocava as faces. O barulho das águas da fonte ficava para trás e com ela toda a beleza da entrada, porém isso era apenas o começo das maravilhas que estavam por presenciar. -Espere um pouco Abdala, isso aqui é uma cidade, não? Então onde estão as outras pessoas? Perguntou Cassi enquanto caminhavam.

Abdala não respondeu apenas continuou com seus passos, ao dobraram a esquina para chegar a primeira rua o silêncio que havia desapareceu, vários sons vindos de todos os lados surgiram, eram vozes de homens, de mulheres e gritos de crianças. O local antes deserto transformou-se num mutirão de pessoas que surgiu num passe de mágica.

Os três ficaram espantados, vendo-os parados Abdala virou-se para explicar.-Normalmente as pessoas não costumam ficar próximas a entrada principal, e a esta hora esse é o local que apresenta a maior aglomeração da cidade, a Rua das Pedras, onde os Serafins realizam todo tipo de comércio, tudo o que procuram pode ser encontra aqui...

Realmente pareciam estar em uma enorme feira ao ar livre. Bal exclamou espantando olhando para as casas que estavam atrás das tendas.-Olhem são pedras preciosas nas paredes. Ali rubis, diamantes, e tantos outros... -Como é possível que ninguém tente pegá-las? O que há de errado? São falsas? Perguntou Arão.-São todos reais, mas o que vocês fariam com elas? Aqui riqueza não conta, para que então

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guardar ou acumulá-las, o que é belo tem que ser mostrado, e não existe melhor forma do que adorná-las as casas. Explicou Abdala.-Entendeu Arão? Aqui os valores são diferentes. Concluiu Cassi. -Bal o que você acha... Bal? Procurou em volta. - Ele sumiu. Não acredito, justo agora que precisamos partir.-Aposto que foi pegar algumas pedras. Vamos procurá-lo. Arão não via Bal em lugar nenhum. -Por favor, Abdala nos espere aqui. Já voltaremos com ele. -Vivo ou morto. Acrescentou Cassi furiosa.-Mas meus jovens amigos esperem...

Saíram um para cada lado e só ouviram Abdala gritar.-Está bem, ficarei esperando por vocês, só não demorem muito por que já estamos atrasados. Jovens! Balançou a cabeça. -A cidade sempre os priva da razão na primeira vez que vêem visitá-la...

Partiram entre tendas e barracas, muitas delas terminavam em portas ou em mantos que substituíam as mesmas nas casas. A quantidade de pessoas que transitavam no local era imensa.

Arão percorreu várias barracas muitas vezes se espremendo entre as paredes. Uma delas estava vazia."Sorte que ninguém mexe nas coisas senão o vendedor desta estaria perdido" Pensou.

Notou também que ao contrário das outras, a tenda em que estava acabava em uma parede que não tinha porta ou manto. Não deu muita atenção ao fato e seguiu em frente. Não encontrando nada decidiu voltar. Tinha perdido muito tempo sem resultados positivos, seria melhor encontrar Cassi e ir embora, quem sabe Bal já tivesse voltado. Quando regressava notou que a tenda vazia agora possuía uma entrada onde antes era uma parede."Antes não havia entrada e agora há. Será a mesma?".

A curiosidade foi maior que sua responsabilidade fazendo o garoto se dirigir à entrada. Um manto enrolado até a parte superior exibia uma pequena passagem. Uma névoa impedia a visão do interior. "Como pode ser isso?". Pensou.Caminhou para dentro no meio da névoa, o manto desenrolou assim que ele passou, seus olhos foram se acostumando com falta de luz do local. Viu uma mulher de idade avançada sentada em uma mesa olhando para um cristal. A mulher sem desviar o olhar do objeto disse:-Sente-se meu jovem, parece um pouco confuso. Apontou uma cadeira em frente à mesa.

Arão apontou para a parede um pouco desconcertado e até envergonhado por ter entrado sem ser convidado. Se a mulher quisesse poderia expulsá-lo dali, mas esta não parecia ser sua intenção. -Realmente estou confuso, antes não existia uma entrada ali... Sentou-se em silêncio.-Sim eu sei todos dizem isso, mas nunca procuram olhar atentamente para as coisas, muitas vezes, elas não são o que aparentam ser. Meu nome é Nesália e pelo que vejo você está perdido. O garoto não respondeu.

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–Veio até mim para encontrar seu caminho. Estou certa?-Bem, na verdade eu esta... Foi interrompido.-Estava procurando seu amigo que se perdeu na Rua das Pedras. A primeira vez é sempre assim.Pode ver a expressão de espanto estampada no rosto de Arão. -Como adivinhei? Bom eu sei de muitas coisas, e o que não sei, vejo através dos sinais. Não fique assustado, muita gente se perde na primeira vez que vem a Rua das Pedras, é muita confusão para pouco espaço lá fora.-Agora compreendi. Você é realmente muito observadora e eu pensei que você podia adivinhar as coisas. Observou Arão menos impressionado.-É, muitas coisas são dedutíveis, outras não, é só termos um pouco mais de atenção e tudo se revela a nossa frente. Infelizmente poucos se tocam disso. De me sua mão por um momento.

O garoto hesitou. -Vamos não fique assim, procure relaxar, não vou lhe fazer nenhum mal e nem lhe cobrar por meus serviços, apenas gosto do que faço e tenho prazer nisso. Quero somente entender você melhor. Posso?-Mas acabou de me dizer que apenas deduzia os fatos. Aposto que vai me pedir para falar muitas coisas e tentar "encaixar" tudo em suas deduções, assim me fazendo acreditar que adivinhou meu futuro. Não é isso?-Você é um jovem bem desconfiado hein? Isso até que é bom. Nós somos diferentes, eu já fui alguém, hoje sou uma simples celestina vinda da comunidade do norte. Nesália ficou um segundo em silêncio para organizar seus pensamentos.-Na minha vida passada era uma charlatona que costumava enganar as pessoas lendo lhes a sorte, através de cartas e jogos... fazia realmente o que você disse, enganava-as dizendo o precisavam ouvir e ganhava bem com isso. Ai você deve estar se perguntando: Como alguém como eu veio parar no firmamento enganando as pessoas? Bom chegou uma época da minha vida em que cansei de tantas mentiras, acabei me arrependendo e como existe o dom do perdão, cá estou. Mas uma coisa você deve saber, todos possuímos dons que nos são dados, uns diferentes dos outros, isto é a beleza de cada um, o que nos faz sermos especiais. Por isso os conservamos de uma vida a outra. Sobre a mesa a mulher observava ao centro uma bola transparente com uma névoa ao seu redor que formava um anel, a frente da mesma haviam três buracos, dois deles preenchidos por pequenas chamas, enquanto o buraco central se encontrava vazio.-O que significa est... A pergunta foi novamente interrompida.-A bola e as chamas? São as Três Visões...

Respirou fundo antes de prosseguir. -A bola ajuda a enxergar além do conhecimento dos sábios.-Quer dizer que vai ver meu futuro? Arão perguntou de forma cínica.-Você pega as coisas rapidamente meu jovem, De me sua mão um pouco. Como a resistência do garoto persistia, ela pegou a força. Arão pode sentir a suavidade da pele da mulher e uma energia atravessar-lhe o corpo.-Os sábios não gostam de adivinhações, preferem deduzir tudo o que há por vir através de sentimentos e conhecimentos, interpretando-os a seu modo. Mas ai eu pergunto: Suas

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

conclusões são sempre corretas? Inquiriu Nesália despreocupada.

- Eu apenas vejo... Sem me preocupar como elas são ou o porquê delas acontecerem. Épocas de mau agouro essas! O ar está pesado, você consegue senti-o?

A mulher deu mais uma respirada profunda. Arão fez o mesmo, mas não notou nada de diferente. -Acredito que muito breve o mal que se esconde revelará sua face. Guarde bem estas palavras que vou lhe dizer: ‘Quando o dia se perder na escuridão a Cidade Superior viverá seus piores tempos ’. Eu tentei avisá-los, mas ninguém me deu ouvidos. Eu fui completamente ignorada.

Parou um instante perdida em seus próprios pensamentos.-E o que vai acontecer? Questionou Arão.-Deixe isso para depois, o mal atrai o mal. Vejamos que fardo você carrega, sua mão é macia com traços muito incomuns. Eu até arriscaria dizer que jamais encontrarei outros assim, mas seu caminho segue por...

Suas sobrancelhas se arquearam exibindo leves traços de preocupação em sua face. A tensão percorreu o ar enquanto a voz da mulher sumiu por um breve momento.-O que você está vendo?Com um gesto seco a mulher pediu silêncio a Arão.–Bem, já acabei.-E???-E nada... Não vejo muita coisa de interessante no seu futuro.

Calou-se sem mudar sua expressão.-Só isso? Acabou assim? Sem nada de especial...

Arão ficou um tempo quieto, parado, sabia que a mulher o estava estudando. De repente perguntou. -Para que servem os três buracos na mesa? E por que só dois estão com chamas? -Vou-lhe mostrar as Três Visões.

Seu rosto se descontraiu um pouco, a tensão desapareceu. -Dizem que o fogo purifica a alma e na escuridão serve como guia. A intenção dessas chamas é orientar. A última chama é a mais especial de todas, apesar de você não vê-la, ela está aí e só se faz visível se realmente for necessário. "A terceira visão", só aparece em ocasiões especiais. Por isso meu jovem nem sonhe em vê-la. Vamos a primeira visão. Tire uma carta.

Disse a mulher estendendo-lhe um baralho. Arão obedeceu. -Mas a carta está em branco? O que isso significa?-Coloque a carta sobre a primeira chama.

O fogo queimou a carta somente em alguns lugares específicos, formando assim um símbolo estranho. -hhhuuummm interessante. Sussurrou a mulher. -Agora olhe para a bola.

A névoa da esfera se agitou formando algumas imagens.-Vejo água, muita água. Parece ser um oceano com algo emergindo dele. Ouço vozes gritando, mas não consigo distinguir o que dizem. Sinto um forte poder se estendendo por um grande período.

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-Ótimo meu jovem.-O que significa este símbolo estranho?-Ainda não. Continuemos com a segunda visão depois lhe explico sobre ele. Pegue outra carta.

Arão obedeceu, apanhou a segunda carta que também estava em branco, colocou-a na segunda chama e novamente o mesmo símbolo se formou. A mulher o olhou com curiosidade.-Mas... Arão não conseguiu terminar seu protesto.-Depois meu jovem, olhe para a bola agora. O que você vê?-Vejo terras, muitas terras, como se estivesse em um deserto. Existem muitas pessoas vagando por ele com os rostos escondidos por máscaras. Mesmo consigo sentir o medo que as habita.-Muito bem acho que termina...-Olhe!!

Arão apontou o local onde estava a terceira chama, interrompendo as palavras da mulher.-A terceira visão! Não pode ser!

A mulher estava assustada.-A chama apareceu, isto quer dizer que tenho direito a mais uma carta?

A expressão de preocupação retornou aos traços do rosto da mulher. Sua mão coçava o queixo. A cabeça abaixada evitava o olhar do garoto. “Como isto é possível “. Pensava.-Tire a última carta. Sua voz soou trêmula.

Arão colocou a carta sobre a terceira chama. Ela se queimou como as outras, Nesália fechou os olhos se concentrando.-O que você vê? Perguntou a velha ansiosa.

Arão olhou para a esfera.-Vejo nuvens...–Hã, compreendo... Continue...-Vejo...

Sua concentração foi cortada ao ouvir o nome de Bal sendo gritado, era uma voz familiar. Cassi chamava por seu amigo na rua. O fogo se extinguiu rapidamente assim que o garoto deu um pulo da cadeira e fechou a mão guardando a carta. Nesália abriu os olhos encarando-o severamente.-Preciso ir vê-la. É minha amiga chamando pelo Balduíno que se perdeu. Ela deve estar muito preocupada.

O olhar da mulher se tornou triste. -Vá meu jovem. Você é um rapazinho muito bom e espero que continue sempre assim. Nunca desista. Não deixe que os problemas que encontrar na Cidade Superior o desviem de seu caminho, pois este será apenas o início de sua jornada.-Você está assim por que não viu a última carta. Eu já volto, aliás como a senhora mesmo disse isto são apenas suposições que talvez por sorte ou coincidência venham algum dia a acontecer. Você não tem o poder de prever o futuro só tenta fazer adivinhações. Mas eu prometo voltar para lhe mostrar o resultado da última carta.

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-Eu não preciso ver a última carta para saber que é igual as outras.Arão abriu a mão e lá estava novamente o mesmo símbolo queimado na carta.

-Mas como a senhora soube? Ouviu mais uma vez o nome de Bal ser chamado.-Vá Arão! E que Deus o acompanhe. Disse a mulher.

Arão saiu atrás de Cassi com as cartas na mão, guardou-as consigo no mesmo instante que a mulher dizia baixinho para si mesma: -Não gostaria de estar no seu lugar meu jovem.-Cassi aqui !!-Arão onde você estava? Não consigo achar o Bal em lugar nenhum. Talvez ele já tenha voltado. Quando eu colocar minhas mãos nele... Pelo visto você também não teve muita sorte.-Eu estava com uma mulher, ela estava... Parou de falar subitamente. -O que foi Arão? Por que está assim tão espantado???-Ela me disse: Vá Arão! E que Deus o acompanhe..."

Ficou pensativo tentando recordar-se de algo que havia se passado. -Sim e daí foi um modo carinhoso de dizer adeus.–Curioso, em nenhum momento eu disse a ela o meu nome, como poderia ter adivinhado... Será que realmente ela pode prever o...

Pegou Cassi pelo braço.-Temos que voltar. Venha comigo, só preciso de um minuto para esclarecer um pequeno assunto.

Correram até o local onde estava a velha.-Calma Arão.

Para sua surpresa ao chegar à tenda não havia mais porta alguma somente uma parede.-Arão, acho que viemos a tenda errada.-Não! É esta! Tenho certeza absoluta.

Arão parou e perguntou a um senhor que estava em uma barraca ao lado.-Por favor, o senhor não reparou o que aconteceu com a porta que havia nesta parede?-Ai? Impossível meu filho, eu estou nesta barraca a centenas de anos e a senhora que ocupava ai ao lado já partiu há muito tempo. Hoje o local está abandonado. Mas muitos dizem que um dia ela vai voltar. -Você está bem? Será que simplesmente não imaginou tudo isso. Acho que é por que estamos na Cidade pela primeira vez e você está vislumbrado com tudo...-Claro que não. Tenho certeza do que vi. Veja isto. Mostrou as cartas para Cassi. -A mulher me deu estas três cartas. Como era o nome dela mesmo?

O garoto se esforçava para lembrar. -Nesália! Este era o nome dela. Olhe, observe os símbolos. Arão frisou os desenhos.-Sim e daí? O que tem os símbolos?-Não compreendo são todos iguais.-Se você não compreende, eu muito menos, vamos embora senão estaremos perdidos. Abdala não deve estar nada contente conosco.

Puxou Arão pelo braço rua abaixo. -Ele ainda não voltou? Cassi estava furiosa. -Mas onde será que aquele Bal foi se meter...

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Abdala conversava descontraído com outra pessoa, gesticulava tanto que parecia um louco. Ambos davam altas gargalhadas de uma piada que ele acabara de contar.-Desculpe amigo não posso mais acompanhá-lo, tenho uma missão a cumprir. Até mais. Finalizou a conversa se dirigindo aos jovens.-Que caras são essas? Até parecem que perderam alguma coisa importante.-E perdemos mesmo! Aquele bobo do Bal sumiu. Disse por fim Cassi desanimada. - Já estamos atrasados e não conseguimos achá-lo.-Ora, mas por que vocês não disseram que era isto que os afligia, ele está ali naquela tenda comendo. Ele saiu para procurar comida e voltou, mas você já tinha saído com seu amigo rua abaixo. Ele me pediu para avisá-la que estaria na tenda das frutas.

Abdala parecia estar com ótimo humor.-Aquele comilão. Então desde o começo você sabia onde ele estava?

Abdala fez um sinal de positivo respondendo a pergunta de Cassi. -E mesmo assim nos deixou procurá-lo? Estávamos preocupados, andamos por muitas ruas e o tempo todo ele estava aqui perto. Falou Arão. -Por que não nos impediu?-Eu bem que tentei, mas vocês não me deram ouvidos e saíram correndo feito loucos.

Bal vinha todo despreocupado comendo uma fruta que aparentava estar deliciosa. Cassi o pegou pela manga da camisa e o advertiu:-Hei! O que você pensa que está fazendo?-Eu estava me abastecendo se não se importam, afinal andamos muito e comemos pouco hoje.-Eita saquinho sem fundo você. Disse Cassi.-Não resisti a elas. Eu até voltei, mas vocês tinham desaparecido. Perguntei a Abdala se tinha tempo para mais algumas frutas, ele disse que vocês iam demorar um pouco. Bom, aproveitei o tempo para comer esta delícia.

Bal exibiu uma linda maçã.-Mas vai pagar com o quê? Perguntou Arão.-Sabe, no início eu pensei em pegar umas dessas pedras que estão nas paredes para trocar pela fruta, porém desisti.-Como você pagou? De onde venho sempre trocamos comidas por favores. Não vá dizer que você...

Cassi ficara tão incrédula que nem terminou a pergunta.-Não! Não roubei nada, apenas peguei. Respondeu-lhe Bal.-Assim, apenas pegou.

A garota falava muito rápido e debochado. Olhou para Arão e cada um segurou um braço de Bal conduzindo-o de volta para a tenda.-Você vai devolver isso agora é muito feio roubar. Disse Arão.–Peraí, não empurra não.

Foi arrastado em direção a tenda. -Sou inocente eu juro. Gritava.

Abdala os acompanhava sem falar nada, divertia-se com a situação. Chegaram à tenda onde um homem estava atrás de uma banca cheia de frutas. Ao ver os três chegarem e soltarem Bal a sua frente ficou com a expressão preocupada. Perguntou com um sotaque

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estranho:-Problemas Senhor Bal? Não gostar da fruta? Ter outras. Muitas outras. Eu pegar a mais bonita e suculenta. -Sim eu gostei, ela estava maravilhosa, mas meus dois grandes amigos acham que eu roubei a fruta.-Não, não, não. Dizia o homem com simplicidade querendo explicar a todos o que aconteceu. - Senhor Bal não roubar, eu dar pra ele fruta. Vocês querer? Eu poder lhes dar umas também. Sorriu para Cassi.-Mas não temos como pagar-lhe? Respondeu Arão.-Pagar? E por quê? Eu não cobrar. Um belo sorriso e a satisfação em servir já será mais que eu merecer. Disse o homem.-Mas como pode isso? Não cobra nada. Não podemos fazer algo pelo senhor? Perguntou Cassi constrangida pela bondade do homem.-Acho que vocês se esqueceram de onde estão. No firmamento o maior pagamento de uma pessoa é poder ajudar e acho que se vocês não aceitarem estarão fazendo desfeita para este humilde, porém feliz vendedor. Verão que a Cidade Superior é diferente de tudo que já presenciaram, mesmo para vocês que são de outras comunidades. Interveio Abdala.

Puderam ver um imenso sorriso em seu rosto enquanto indicava as frutas.-Obrigado. Cassi ia pegar, quando foi interrompida pelo vendedor.-Parar, parar...-Mas o Senhor disse que podíamos pegar. Respondeu assustada com a reação do homem.-Sim, poder pegar, mas essa, essa não boa.

Tirou a fruta da mão de Cassi, pegou em seu bolso a maior e mais bonita fruta que se podia ver na tenda.-Esta sim, merecer ser mordida. Sorriu carinhosamente.-Obrigada. Agradeceu Cassi vendo que o homem queria agradar-lhes ao extremo.-Bom vamos indo. Mas o que você está fazendo Bal ?

Ele enchia uma sacola com algumas frutas.-Só por precaução, não sabemos ainda quanto vamos andar e se der fome...-Deixe isso aí. Implicou Cassi.-Calma Cassi. O Homem está oferecendo as frutas. Vamos aceitá-las. Disse Arão.-Está bem, mas somente desta vez. Obrigado senhor.

Agradeceram e preparavam-se para partir. Quando Bal foi sair notou grande peso em sua sacola. As frutas faziam muito volume, havia muito mais do que ele tinha colocado, ele não entendeu como aquilo aconteceu até que percebeu que o homenzinho as estava colocando sem ele ver.-Frutas levar, não poder passar fome. Dizia o homenzinho e não parava de encher a sacola.-Ei! Peraí! Tá bom! Já está cheia. Pelo que você colocou vou passar a eternidade toda comendo frutas. Reclamou Bal saindo rápido, pois o homenzinho tinha saído para buscar mais frutas.-Na verdade você tem toda a eternidade para comer essas frutas. Comentou Arão com um sorriso.-Vamos partir, não podemos demorar muito mais a chegar ao Santuário. Disse Abdala

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-Puxa! Só de pensar que vamos ter que caminhar mais já me faz sentir cansaço. Não existe um modo mais rápido de chegar a esse tal Santuário? Desde que saí de minha comunidade não parei de andar um só minuto.

Bal parecia uma criança choramingando.-Nossa como você reclama. Depois dizem que as mulheres é que são choronas. Debochou Cassi.-Estamos muito distantes do Santuário? Perguntou Arão a Abdala.-Não estamos longe, mas acho que Balduíno tem razão, estamos muito devagar e vocês devem estar cansados. Apesar da revigorada que a cidade causa, vocês andaram muito, nada mais justo do que facilitarmos o restante do caminho. Vamos pegar um trenó de Orzário assim iremos mais rápido e vocês poderão chegar no fim do treinamento descansados. Respondeu.-Trenó de Orzário? Mas como um trenó poderá nos levar mais rápido? Mesmo por que essas ruas estão cheias de pessoas. Perguntou Cassi.-Vocês já vão ver. Me sigam.

Abdala guiou-lhes através de uma porta em uma tenda mais adiante. O lugar estava cheio de ferramentas, pedaços de madeira, tábuas, potes de vidros contendo parafusos, velas, algumas roupas esquisitas e vasos cheios de plantas. O cheiro da madeira era forte e a luz só penetrava por pequenas saliências no teto. Nas janelas cortinas marrons claro impediam a claridade de se propagar mais. O local aparentava estar deserto.-Não toquem em coisa nada, Orzário é muito organizado e não gosta que tirem coisa alguma lugar. Advertiu Abdala.

Os três olharam entre si, Bal fez um gesto com os ombros como quem não entendesse as palavras de Abdala, como não viu ninguém decidiu explorar o lugar. “Que mal teria? Este lugar esta cheio de coisas interessantes”. Pensou.

Começou a olhar uma prateleira cheia de frascos, todos tinham dentro um espécie de pó, cada um de uma cor diferente.-Interessante isso, o que será que é? Perguntou Bal a si mesmo, enquanto tentava abrir o vidro sem obter muito sucesso.-Não mexa nisso!

Ouviu uma voz grave que vinha de trás do balcão. A figura de um homem surgiu. Ele possuía estatura mediana, olhos claros, cabelos alongados de coloração branca e nariz empinado. Não era nem gordo nem magro e suas mãos estavam sujas de graxa. Ele usava um avental que estava com a mesma aparência de seus membros superiores.

Bal quase derrubou o vidro perante o grito do homem que avançou sobre ele, tomou-lhe o pote das mãos lhe dirigindo a voz calma e pausada.-Você não ia gostar de abrir este vidro. Advertiu o homem.-Por que não? Perguntou Cassi se intrometendo na conversa.-Por que este vidro contém uma fórmula que o incomodaria muito, é o pó da aversão.-Pó da aversão? O que significa isso? Perguntou Bal.-Bom, ele lhe daria uma coceira interminável.

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Olhou para o lado e viu o guia que os acompanhava.-Eu lhes disse que Orzário era ciumento com as coisas dele. Comentou-Abdala meu amigo! Como vai você? Há quanto tempo? Cumprimentou-lhe Orzário.-Realmente, muito mesmo meu caro Orzário, os tempos são outros e neles temos muito mais tarefas a realizar. Mas é sempre bom poder estar à disposição para ajudar e o que seria de nós, se não fôssemos mais necessários. Sorriu-Você tem razão meu caro. Aceitam alguma coisa para beber? Quem sabe aquele velho licorzinho sagrado que tomávamos juntos?

Abdala assentiu com a cabeça. Orzário pegou uma toalha colocando-a sobre a mão direita. Puxou-a rapidamente e como num passe de mágica sobre sua mão surgiram, uma bandeja com um jarro e cinco copos que foram servidos a cada visitante.

-Mas precisamos reservar um tempinho para conversarmos, sair como antigamente. Como aquela vez nas cachoeiras celestiais, Lembra-se das meninas?

Orzário deu um cutucão na barriga de Abdala e o olhou com um ar de arteiro.-É foi muito divertido. Respondeu Abdala com a face corado de vergonha.-Então vocês já se conheciam? Perguntou Cassi.-Sim, já nos divertimos muito juntos, nos conhecemos à séculos e quando digo séculos, quero dizer séculos realmente. Posso dizer que cultivamos uma bela amizade, toda vez que nos encontrávamos, recordávamos as velhas histórias que passamos. Como aquela vez no monte dos cinco dias eu você e...-Já chega. Podemos passar sem isto. Interrompeu Abdala meio encabulado. -Eles não estão interessados nisso.-Como não? Pode mandar os segredos dele pra gente. Disse Bal tomando um belo gole da bebida, ao qual teve que cuspir imediatamente. -Como vocês conseguem beber uma coisa ruim dessas. -Já vi que um de seus amigos não tem gosto refinado meu caro Abdala.-Você tem uma loja muito organizada, com muitas coisas interessantes. Aposto que vive pesquisando sobre os mais diversos assuntos.

Afirmou Arão desviando o assunto e salvando assim Abdala das suas recordações que pareciam ser bem constrangedoras, porém muito divertidas.-Realmente, pesquisar é minha vida, buscar novos desafios. Comentou Orzário. -Sempre gostei de estudar e cada descoberta é um grande motivo de muita alegria para mim.-Orzário é a nossa cabeça pensante, procura sempre obter conhecimento e estar bem informado. Eu diria que é um grande sábio, pois todas as coisas práticas que existem aqui foram criadas por ele.-Não é para tanto Abdala, assim você me deixa constrangido, mas o que o traz por esses lados? Não creio que tenha vindo me convidar para um passeio, muito menos para relembramos nossas velhas peripécias, como aquela vez nas cavernas...

Novamente Abdala interrompeu o amigo, antes que esse se empolgasse e passasse a tarde contando histórias.-Acertou caro amigo, estou levando estes três jovens ao Santuário, gostaríamos de chegar mais rápido, se é que me entende, então me lembrei que você tem os melhores trenós do reino e seria muita gentileza se nos emprestasse um para terminarmos nossa jornada.-Mas claro! Será um prazer. Por que não disse logo? Venham comigo.

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Acompanharam Orzário entre vários compartimentos antes de chegaram a uma sala vazia.-Você fabrica trenós? Puxa, deve ser muito interessante. Eles são bons? Questionou Arão.-Pode ter certeza que são os melhores. Respondeu Orzário se gabando.-Mas cadê eles? Aqui só tem uma sala vazia? Indagou Bal cheio de curiosidade.-Ah! Me desculpem. Orzário estendeu uma toalha ao chão, quando puxou-a de volta, surgiram três trenós, um azul escuro , um vermelho fosco e o outro rosa, um mais belo que o outro. -Pronto amigos! Sintam-se à vontade para escolher o que mais lhe agradam. Todos são excelentes.-Eu escolho. Interveio Cassi. -Vamos ficar com o rosa.-Nnnãããooooo. Gritou Bal. -O rosa não.-Bela escolha minha jovem. Aplaudiu Orzário. -Que preconceito Bal, o importante é chegar. Concluiu Arão fazendo sinal para que todos subissem.-Não está faltando alguma coisa? Perguntou Bal.-O quê? Questionou Orzário com ar de preocupado.-Alguma coisa errada? Isso é impossível! Fiz todos os acertos necessários nele. Voa como uma flecha.-Claro, mas quem vai puxá-lo? Como iremos sair dessa sala? Ele não passa por aquela porta. Concluiu Bal.

Abdala piscou para Orzário que estava com o rosto aliviado.-Puxar? E quem disse que ele precisa de alguém para puxá-lo? Você não prestou atenção nas minhas palavras. Eu disse que ele voa como uma flecha.-Voa? Como assim? Questionou Bal.

Orzário pegou em uma alavanca no meio do veículo movendo-a para trás, o trenó se elevou um pouco do chão. Os três jovens gritaram de espanto.-Adeus caro amigo, a gente ainda vai se sentar para conversar sobre nossas aventuras. Abdala acenava enquanto deixavam a sala por uma imensa janela aberta à frente.

Sobrevoaram grande parte da Cidade Superior, as coisas que viram eram inacreditáveis, praças, torres, lagos, estátuas, tudo muito diferente e belo, talvez as coisas mais belas que já haviam presenciado.-Vamos seguir o arco-íris. Sugeriu Abdala. De repente surgiu à frente do trenó um enorme arco-íris, sobre o qual o veículo foi sendo guiado.-Que lindo! A vista daqui é maravilhosa!!! Exclamou Cassi com entusiasmo.

O veículo foi perdendo velocidade gradativamente até chegaram a uma grande muralha. Um pequeno túnel iluminado em ambos os lados dava passagem através da muralha. Seu o aroma era muito agradável e as gravuras nas paredes pareciam contar uma pequena história entre dois anjos, eram tão reais...-Bom, agora vou-lhes explicar o que desejavam saber. O Santuário é o local onde vocês ficarão enquanto ainda não forem guardiões. Ele é composto de um templo e um castelo. O castelo que mais parece uma cidade será usado para vocês repousarem, enquanto no templo

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receberão os ensinamentos. Este por sua vez possuía uma arquitetura incrível sendo composto por um aglomerado de basílicas. Dentro dele existem muitos locais cultuados a Osíris e Set...

No final do túnel uma luz começou a surgir, primeiro como um pequeno ponto, para depois ir aumentando até cegá-los complemente, quando conseguiram abrir os olhos a visão que tiveram era inacreditável. O túnel era a passagem que levava a um outro mundo dentro da Cidade Superior, totalmente diferente do resto. Não compreendiam como a cidade podia comportar tudo aquilo, mas como este era um mundo formado por magia...

Um enorme vale se agigantava à frente, com árvores, pássaros e um grande lago de águas cristalinas para onde convergiam vários rios. Um castelo se localizava ao centro, ligado por uma ponte a um templo. A frente do templo três pilares se erguiam, cada um com uma estátua cravada em seu cume, duas prateadas que representavam figuras femininas segurando um semi-círculo à altura do peito, estes quando unidos formavam a figura da lua. Elas faziam reverência à estátua central, dourada, um representante masculino com uma tocha acesa na mão direita, sua chama era não era muito intensa. Embaixo do pilar da estátua dourada havia uma abertura que era preciso atravessar para chegar à entrada do templo.-Parecem surpresos meus caros amigos, Já se esqueceram que estamos no mundo dos sonhos. Mesmo para os que já fazem parte do Firmamento as surpresas serão constantes. O Santuário é o coração da magia, portanto risquem do vocabulário de vocês a palavra "impossível". Comentou Abdala.-Mas isso é incrível, este lugar é imenso. Olhem as águas correndo tão cristalinas e as aves voando, acho que nunca vi algo assim e veja o tamanho daquele templo!-Acho que a senhorita não é a única a ficar impressionada com o local. Riu Abdala ao se dirigir a Cassi. -Olhe seus amigos.

Ambos estavam em silêncio, hipnotizados pela beleza do local e o templo... o impossível tinha acontecido Bal estava de boca fechada a alguns minutos sem dizer uma palavra sequer.-Aquelas estátuas que vocês estão vendo representam os dias e as noites do firmamento. Conforme o dia vai surgindo, o homem dourado que estava ajoelhado se levanta e a chama de sua tocha se acende, vai ficando mais forte até chegar ao ponto máximo que é ao meio dia. Com o cair da tarde e a chegada da noite, ele cai de joelhos e sua chama se torna mais fraca até se apagar completamente.

Explicava Abdala -Com as duas mulheres acontece o contrário, elas fazem reverência ao dia e a noite se impõem, suas mãos se levantam, as semi luas brilham incessantemente, ao nascer do sol elas novamente voltam a fazer reverência, e as luas tem seus brilhos ofuscados. Isto ocorre desde o início dos tempos e nunca mudou.-Muito interessante. Arão olhava intensamente para a chama.

O fogo parece que nos hipnotiza. Chamando nos para ele.-Sim, o fogo... Um dos quatro elementos mais poderosos do reino. O fogo, a terra, a água e o ar. Os quatro elementos básicos. No Santuário vocês terão os melhores mestres, o conhecimento se faz presente a todo o momento neste lugar. Tenho certeza que com o

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tempo conseguirão as melhores amizades. Sua face ganhou traços de seriedade antes de completar seu raciocínio.

-No inicio talvez vocês encontrem um pouco de dificuldade de se relacionar com as pessoas deste lugar, mas com respeito, lealdade e dignidade conseguirão conquistar a confiança de qualquer um. Serão merecedores de sua admiração. Afinal, pelo pouco que estive com vocês sei que são pessoas puras e com ótimos corações.

Abdala bateu forte com a mão ao peito. Arão ia fazer uma perguntar, mas algo chamou-lhe atenção. -Olhem à frente do templo. Apontou Bal.

Um gramado verde se estendia amplamente, era tão perfeito que ao vê-lo de longe julgava-se ser um enorme tapete. Cortando o verde havia um caminho de duas fileiras de pedras de mármores, com balaústres em toda sua extensão, chegava até a entrada do templo. No gramado alguns jovens trajando vestimentas brancas, estavam divididos em três grupos, ouviam um homem alto de meia idade que usava roupa cinza escura, com seus olhos claros e sua feição que demonstrava muita severidade, proferia palavras que prendiam a atenção dos jovens. O conteúdo da conversa devia ser muito importante, pois não se ouviu um barulho sequer, sua presença tomava os olhares de todos.

Quando o trenó se aproximou à conversa cessou. A atenção de todos os jovens foi despertada, saíram do transe que o homem lhes impunha.-Acho que eles não gostaram da gente. Cassi falava observando as expressões sérias nos rostos dos garotos.-Você acha? Eu tenho certeza disso. Será que é por que nós interrompemos o que eles estavam fazendo? Perguntou Bal.-Acho que não é isso não Bal, pelas expressões deles, eu diria que não somos bem vindos interrompendo ou não o que quer que estavam fazendo. Completou Arão.-Saudações meu amigo Abdala. Vejo que cumpriu sua missão, fico contente que tenha corrido tudo bem.-Saudações! Mestre Amagus. Fazia muito tempo que não o via.

Os dois se abraçaram.-Pena desta vez você estar em uma missão nada agradável.

Um homem que nenhum deles havia reparado surgira. Cabelos e olhos castanhos, estatura mediana, trajava uma roupa vermelha. Olhou para os três jovens parados ao lado de Abdala.-Saudações Inimis. Estou sempre pronto a servir de bom grado, e a propósito tenho certeza que vai mudar de opinião quanto a esses três jovens quando conhecê-los melhor. Respondeu Abdala.-Não creio nisso. Nenhum deles deveria estar presente entre os candidatos da Cidade Superior. Afinal uma maçã podre pode estragar um cesto todo.

A arrogância esteve presente em cada palavra que Inimis proferiu.-Meça suas palavras Inimis. Advertiu Amagus. -Bem vamos ver o que temos aqui.

O homem começou a analisá-los com um olhar crítico que ia dos pés à cabeça, sua expressão séria nada dizia, primeiro Cassi , depois Bal e por fim Arão. Parou nele um tempo maior.-Huuumm parecem perfeitos.

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Um dos jovens saiu do grupo e parando a frente de Amagus.-Mestre! Não entendo por que devemos deixá-los ficar entre nós. Suas palavras expressavam ódio. -Não precisamos deles, somos muito melhores. Os celestinos envergonham o nosso povo. Mande-os de volta.-Não fale desse modo Odrin, não se esqueça que foi o grande Deus Set que em sua imensa bondade pediu para acolhermos estes irmãos.-Irmãos? Não sou irmão de nenhum deles, muito menos quero estar próximo a eles. Virou-se para os três jovens. - Vocês são a escória do reino, como se atreveram a aparecer no Santuário. Eu deveria...-Odrin! Já chega. Volte para seu lugar.

O garoto obedeceu. Inimis se divertia com a situação. Amagus se dirigiu ao garoto rebelde de forma autoritária.-Já disse a você que foi a grande vontade de nosso Deus que assim o quis e assim será feito. Alguma objeção?-Não senhor!

A contra gosto o jovem concordou com as palavras de Amagus.-Acho que definitivamente eles não gostam da gente. Sussurrou Bal para Arão.-Aquele rapaz tinha muito ódio da gente, aposto que se pudesse teria nos tirado daqui a ponta pés. Disse Arão.-Não compreendo como alguém pode acumular tamanho sentimento, sinto nele muito rancor. Comentou Cassi com seus amigos.

Foram interrompidos pela arrogância de Inimis.-Obrigado Abdala, seus serviços não serão mais necessários. Vamos ver até onde esses garotos resistirão.-Até mais meus jovens amigos, estou de partida. Sejam fortes.

Montou no trenó que começou a subir devagar... -O que é isto preso a sua cintura. Perguntou Amagus à Arão. -Nós pegamos isso na torre de BES, ele pediu para trazermos a Cidade Superior, mas não sei a quem devo entregar. Arão ofereceu o pergaminho a Amagus. Quando o homem colocou seus olhos no papel sua cor sumiu, o branco prevaleceu em sua pele, parecia que tinha perdido o ar.-A profecia das Sete Revelações... que Raphael e Tsadkiel procuravam... ela finalmente foi encontrada.... Não posso acreditar... Amagus tomou fôlego antes de perguntar.-Você disse que BES o entregou?

Arão fez um sinal afirmativo com a cabeça.-Como ele está?

Arão não sabia o que responder, por isso Cassi se adiantou, abaixou a cabeça e falou.-Ele morreu senhor.-BES morto? Impossível...

Se os três ficaram espantados com a atitude do homem, os outros garotos estavam mais perplexos ainda, nunca tinham visto Amagus daquele jeito.-A culpa é deles. Inimis apontava o dedo indicador acusando os três recém-chegados. -Esses jovens trazem maus agouros.

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

Quando Amagus começou a ler o pergaminho, uma sombra começou a descer pelo mesmo, sua expressão se tornou mais sinistra ainda...

Num instante o sol começou a perder seu brilho, um corpo o encobria, a magnitude da grande estrela amarela estava sendo apagada, um eclipse se anunciava, sutil e rápido pegando a todos de surpresa. O que antes era dia estava se tornando uma noite aterrorizante...

Arão se lembrou das palavras sinistras de Nesália: ‘Quando o dia se perder na escuridão a Cidade Superior viverá seus piores tempos ’.

A estátua dourada foi se abaixando mais rápido que o normal, sua chama ia se apagando conforme era engolida pela escuridão, porém as duas mulheres que deveriam se levantar perante o final da claridade não o fizeram, suas semi luas não brilharam. Pela primeira vez desde o início dos tempos as três estátuas se encontravam agachadas, sem brilho algum, fazendo reverência para a escuridão que consumia o reino.

O vento começou a soprar, um barulho imenso se ouviu, o trenó onde estava Abdala veio abaixo, o corpo do homem estirou-se ao chão, a vida que habitava nele se exauriu. O medo se espalhou entre os jovens.–Rápido! todos para dentro do templo. Ordenou Amagus.

Os jovens seguiram pelo caminho de pedras que refletiam a imagem perfeita dos corpos correndo desgovernados, os rostos desesperados buscando um abrigo seguro, a cada dois ou três passos deixavam para trás uma pedra. Chamas foram acesas automaticamente nos balaústres quando a escuridão começou a engolir os céus, mesmo assim ela parecia prevalecer.

Os garotos não entendiam o porquê de todo aquele alvoroço, mas a imagem a pouco de Abdala ao chão não fazia ninguém questionar as ordens de Amagus. Muitos garotos tropeçavam nas divisórias do mármore, os companheiros os ajudavam, o importante era não ficar no caminho da sombra que avançava. Um garoto perdeu o equilíbrio caindo à frente de Arão.–Rápido! Eu ajudo você a se levantar! Pegou-o pelo braço e o levantou.-Jamais toque em mim novamente! Entendeu? Eu não preciso de sua ajuda para me levantar.

O Garoto empurrou Arão que perdeu o equilíbrio e só não caiu por que foi seguro por Bal que vinha logo atrás. Arão ficou imóvel, abismado perante a reação de raiva e ódio do garoto , todos iam passando por ele.

Seu braço foi tirado do estado de inércia e seu corpo foi obrigado a acompanhá-lo.-Vamos. Não está vendo que todos estão indo para o templo, a menos que você queira ter o mesmo destino que Abdala! Gritou Cassi.

Para chegarem no templo tiveram que subir por uma escadaria interminável, passaram sob o pilar que abrigava a estátua dourada. Na entrada do templo um portal sob a forma de uma grande concha se abria rapidamente.

Dentro da estrutura, o vento havia dado uma trégua, passos apressados ecoavam na escuridão do local. Quando estes cessaram um murmúrio de vozes intenso começou. No meio deles sempre um ou outro era mais enérgico, as vezes feminino, outras masculino.-Mas o que foi que aconteceu lá fora?

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-Santos Deus! Nunca vi nada assim, foi horrível.-Estou com medo!

Não conseguiam identificar ninguém em meio aquele caos, foi uma voz imperativa que soou firme e forte, fazendo todos se calarem.-Silêncio! Fiquem calmos vocês estão a salvo aqui dentro.

Ao som de palmas chamas se acenderam por todo o templo, o tamanho dos garotos era insignificante naquele recinto. O teto estava a aproximadamente trinta metros de altura, escadas subiam por todos os cantos levando as bancadas superiores. Ao centro da cobertura uma redoma com a imagem do sol e da lua feitos de cristais transparentes exibiam a escuridão.

As atenções dos jovens se voltaram para uma bancada à frente, ela era composta por pessoas de diversos tipos, idades e aparências. Em comum entre eles, somente suas togas douradas com as mangas tão longas que impediam a visão de suas mãos. Do lado da bancada, homens portando armaduras com a cabeça de leão entalhado ao peito e elmos, ambos de cores douradas. Eram cavaleiros da Cidade Superior. Suas ombreiras seguravam uma capa branca. As ombreiras direitas se diferenciam por possuírem detalhes dourados que formavam a garra de um leão. –Silêncio! Por favor! Pediu um homem ao centro. Sua toga tinha detalhes brancos e vermelhos. Possuía olhos claros e barba branca rala. Com sua feição paterna e ar severo tentava acalmar os ânimos exaltados dos garotos.-Olhem é ele! Apontou Arão-Ele quem? Perguntou Cassi.-Aquele ali no canto é Nemamiah, eu conversei com ele.-Você está a apenas alguns dias no firmamento e diz que conhece um dos arcanjos mais poderosos. Está de brincadeira não? Questionou Bal. O jovem observou que alguns anjos que se postavam ao lado dos cavaleiros fitavam-lhes com olhares fixos. A voz do homem se prolongou por todo o recinto.-Peço um minuto da vossa atenção, sei que no momento todos estão assustados e confusos. Pois acredito que nenhum de vós nunca presenciou uma cena como a que se passou. Ela nos deixa perplexos e preocupados. -É Medar! Apontou um garoto-E não é só ele, mas também todo o conselho, unidos aos anjos e cavaleiros da armada de Set. Completou outro. O grupo se acalmou.-Quem é Medar? Sussurrou Arão para Bal e Cassi.-Lembra-se que eu te disse que ele salvou a vida de Osíris?-Sim, agora me lembrei.-Ele é um dos grandes conselheiros, mas não entendo o porquê dele aqui. Ou todos os outros. Sabe Arão, a coisa deve ser mais feia do que parece.- Bal, não brinque com assuntos sérios, você viu o que aconteceu lá fora, fiquem quietos. Ordenou Cassi. - Vamos ouvir o que ele tem a dizer.-Creio que a maioria já me conhece. Olhou para os três garotos celestinos -Vou poupar as apresentações.

Sua voz era pausada, calma e transmitia tranqüilidade.

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-Finalmente estamos todos reunidos, chegou o momento de passar-lhes tudo o que sabemos. Sei que muitos de vocês pensam que conhecem todos os fatos, mas mesmo estes desconhecem nossa real situação. Porque até nós, os grandes sábios e profetas, fechamos-nos em nossa "ignorância" e não conseguimos ver o que estava por vir.

Olhou para os lados onde todos faziam silêncio. -Não poderíamos jamais ter deixado as coisas chegarem a ponto de envolvermos vocês meus queridos filhos nisso. Isto que está em minhas mãos agora prova tudo o que temíamos.

Os três jovens se olharam espantados, era o pergaminho que tinham pego na torre de BES. A voz continuou suave, porém mais firme para chamar novamente todas as atenções para sua pessoa.-Este pergaminho confirma todos os nossos medos. A profecia das Sete Revelações. Podemos estar chegando a um ponto que não haverá mais volta, todavia ainda podemos mudar os fatos. Se não fizermos algo agora, a cena que vocês acabaram de presenciar minutos atrás, se tornará comum, entretanto isto será apenas o começo.

O ruído das vozes dos garotos voltou a tomar conta do salão, uns discutiam entre eles, outros tentavam em vão se fazer ouvir para que suas perguntas fossem respondidas.-Por favor, meus filhos!

Todos se calaram.-Em toda a nossa existência desde o momento da criação, nós tivemos um período de apenas seis dias em que o mal não existiu. Ele tem a idade do próprio homem. A primeira batalha de toda a história não foi travada no mundo dos Homens, mais sim no firmamento. E nenhum de vós ou qualquer homem tem idéia de como ela foi terrível. Dizemos que os homens são maus, mas somos piores. A maldade no coração do pior dos homens não se compara à crueldade do menor dos demônios.

Os olhos de Medar percorreram o recinto. -As trevas surgiram da luz... O mais belo entre todos, hoje é o mais temido e o mais ardiloso dos seres, ele já fez parte deste nosso mundo, "O portador da luz ", foi o primeiro a conhecer o desprezo, a dor e o sofrimento. Onde os mais fortes escravizam os mais fracos. Ele governa as regiões inferiores de maneira cruel e tem sobre seu comando legiões de criaturas terríveis e um exército de mensageiros que até os céus tem receio em enfrentar, os temidos anjos negros.

Suas últimas palavras deixaram alguns rostos com expressão de pavor.-Sua intenção é derrotar o Criador. Ele quer gerar o caos, derrubar o Firmamento e governar os mundos. Imaginem vocês se o firmamento se tornasse outro mundo igual ao dos Homens, não haveria esperança. A cada grande guerra as conseqüências são muito graves para ambos os mundos. A primeira grande guerra ocasionou a expulsão do Homem do paraíso. Na segunda o mal era tanto que o mundo dos Homens se perdeu e teve que ser purificado com água deixando poucos sobreviventes. Agora estamos perto novamente de mais uma grande guerra. O mundo dos Homens já acusa isto, as grandes potências lutam entre si há algum tempo, o egoísmo e ganância predominam, todos querem o poder.-Os demônios se alimentam desses sentimentos ruins, tornando-se assim mais poderosos. E neste momento eles arranjaram outra fonte de energia, o Firmamento. Não se assustem, mas na balança da vida os lados se equilibram, de um deles a bondade do Firmamento, do

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outro a maldade do Reino Inferior, mas está balança esta se tornando desigual, esta pendendo para o lado das trevas. E sabem o porquê de nós chegarmos a uma situação desta?

Não houve resposta. -Porque o Criador quer tanto nos céus como na terra que sejamos felizes, e para isso nos deu o livre arbítrio, liberdade... Para traçarmos nossos próprios caminhos. Isso é que é amor, aceitar os seres como eles são, com suas virtudes e defeitos. Os demônios se aproveitam disso, ludibriam prometendo riqueza e poder com isso conseguindo acesso aos mundos, mas quando entram atacam-nos impiedosamente. -Temos que nos proteger e também os entes queridos do Criador. Todos os dias batalhas são travadas no mundo dos Homens entre nós e as criaturas do Reino Inferior. Muitas vezes saímos vitoriosos, outras quando a fé não se faz presente acabamos perdendo. Se o mal vencer posso lhes garantir que a palavra holocausto será coisa de criança. No Reino Inferior a dor não dura segundos ela é eterna.

Medar ficou em silêncio um momento antes de continuar.-Agora eu vos pergunto: Somos melhores que eles?

Medar apontou para baixo, fazendo menção ao mundo dos Homens. -A única verdade imutável é que o Criador independente de nossas ações continua nos amando e nos deu a chance de vencermos através de vocês. Não sabemos que planos maquiavélicos as trevas possuem e infelizmente também não estamos tão bem preparados como em outros tempos. -Mas e todo o poder dos anjos? Eles deveriam nos proteger! Um dos jovens interrompeu o discurso de Medar.-Receio que talvez esse poder não seja suficiente para deter o avanço das trevas.

Continuou Medar. –Temos que aguardar Set retornar do Reino dos Titãs, se ele conseguir salvar seu irmão Osíris talvez os povos se unam novamente e com isso teremos uma chance. Mas precisamos resistir enquanto isso não ocorre.-Por que o mal não invade o Reino dos Titãs? Perguntou outro garoto.-Eles não ousariam!

Respondeu Medar com surpresa e espanto a pergunta como se aquela hipótese fosse impossível de conceber. -Ninguém em sã consciência enfrentaria um Titã, porém se o mal dominar o Firmamento sua força seria inigualável, deste modo o Reino dos Titãs também correria perigo. Mas as escrituras também nos trazem revelações que nos dão esperança: "Quando o tempo do caos e da desordem chegar, surgirão jovens que dominarão os elementos da natureza. E junto com os anjos e santos combaterão a escuridão que consome os mundos". Não sei se o tempo para prepará-los será suficiente. Só pedimos a vocês que façam o melhor, pois se falharem os mundo cairão.

A expressão nos rostos dos garotos era de espanto e medo.-Sei que nossos erros nos cegaram, mesmo o maior dos sábios pode se tornar cego se deixar à arrogância dominá-lo. Com certeza existe uma movimentação das forças do reino inferior que não entendemos, parecem estar esperando algo, um sinal talvez...Não queríamos que vocês pagassem por nossos erros, entretanto não temos como voltar atrás. Devemos nos

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unir pois ainda há esperança...Pela primeira vez Arão olhou para o lado, viu um grupo de moças que pareciam

musas saídas de um conto de fadas de tão belas, uma delas se destacou a vista do garoto, olhos claros, cabelos louros, longos e ondulados, com seus lábios carnudos, falava com graça e delicadeza as suas amigas.

A garota olhou-o timidamente e voltou-se para frente."Acho que já vi esta garota". Pensou Arão. ''Mas onde?''

Só estava ali há poucos dias e todos as pessoas que tinha visto estavam marcados em sua memória. Bal deu-lhe um cutucão.-Malandrinho você hein! Nem bem chegou e já está azarando as moças.-Não! Eu só estava imaginando...

Não chegou a terminar à frase, ficou desconcertado com a colocação inesperada de Bal.-Sei... Imaginando ela em seus braços, dando-lhe aquele beijo... Conclui Bal por fim.-Aquelas devem ser as candidatas a Deusas. As Deusas já não existem mais no firmamento, todas se foram durante as últimas grandes guerras. Além de sua bondade e estarem sempre prontas para proteger os guerreiros Deuses, elas tem o poder curador, também são justas e sinceras.-Hei Arão de qual você gostou mais? Aliás, besteira a minha perguntar né...-Eu ora, eu só estava... Tentava se justificar.-Homens! Não perdem a oportunidade, como é que se diz no mundo dos homens? Ficou pensativa um instante. -Acho que é: Está no sangue! Estamos ouvindo coisas importantes e vocês discutindo sobre mulheres.

Cassi não reparou, mas tinha falado alto demais e em um momento em que todos ficaram quietos. Todos os olhares estavam sobre ela, seu rosto corou de vergonha.-Desculpe.

Medar olhou de modo paciente para ela e com carinho disse: -Agora que as conversas paralelas terminaram podemos continuar. Como ia dizendo fomos presenteados no inicio dos tempos quando as grandes batalhas foram travadas, temos alguns trunfos em nossas mãos. Os quatro elementos podem nos proteger formando o grupo dos guardiões. Não sei se eles vão conseguir conter o poder de todo mal, mas são nossas únicas esperanças. Espero que estes nove jovens, Teles, Odrin, Keyllor, Lethan, Tiror, Irian, Yalo, Kitrina, Lissa e Milena junto com os três celestinos, Cassiana, Arão e Balduíno tenham a sorte de serem agraciados com a honra de se tornar um guardião.''Como ele sabe nossos nomes?” Perguntava-se Bal mentalmente.-Vós tereis que serem aceitos pelos elementos, afinal não é qualquer um que consegue dominar a sua força. Tenham fé e confiança em vós para enfrentar os embates que surgirem. O que havia para ser dito, já o foi. Absorvam com calma cada palavra e apesar de tudo nunca desistão. Agora, vão em paz para seus quartos. Amanhã cedo com a presença de todos começaremos realmente a traçar nosso futuro. Procurem não se perturbar com o que acabaram de ouvir. -Fácil para ele falar. -Cale a boca Bal.

Cassi deu um cutucão em Bal. Medar continuou sem prestar à atenção a discussão

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dos dois.-Se formos bem sucedidos, talvez esses tempos não cheguem e a profecia das Sete Revelações nunca se realize.

Pronunciou as palavras com tremor na voz.-O profeta já se encontra entre nós, esta escondido semeando a discórdia e o medo,

os tempos de incertezas chegaram, enquanto não o acharmos e não detivermos a profecia, a paz não voltará a reinar:

O tom de sua voz aumentou."O sol vai escurecer, e a lua não brilhara mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas... e será um tempo de angústia, como nunca houve até então, desde que começaram a existir as nações...O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão...Mas nesse tempo teu povo será salvo todos os que se acharem inscritos no livro. Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno". Calou-se.-Mas isto é a passagem do final dos tempos... O garoto não conseguiu terminar a frase.-Sim! Isto é a passagem do "Apocalipse".

Todas as pessoas estavam se retirando do recinto. Os três não sabiam para onde ir ou o que fazer.-O que faremos? Perguntou Cassi.-Bom, o homem disse para irmos para nossos quartos, então vamos para os quartos. Bal respondeu a pergunta de Cassi.-Você não está esquecendo de nada não? Continuou Cassi.–E o quê seria?-Nós acabamos de chegar ainda não temos quartos.-É verdade.-Vamos esperar que com certeza alguém virá falar conosco. Senão podemos dar uma volta para conhecer o lugar. Disse Arão.-Pode parar. Já ouvi essa conversa antes na torre de BES e a única coisa que conheci foi uma serpente com asas. Exclamou Bal.

O recinto se encontrava vazio, os três ainda permaneciam calados e sozinhos. Foi quando uma criança apareceu à frente deles.-Olá amigos! Eu sou um querubim, um guia do Santuário, meu nome é Lalas e tenho que levá-los para os três grandes. Por favor, sigam-me.

A criança seguiu caminho à frente deixando os jovens para trás...Seus pensamentos divagavam. O perigo realmente existia? Eles conseguiriam impedir?

E este profeta que estava entre eles semeando a discórdia, quem seria? Estavam sendo levados para os três grandes. Que eram os três grandes? O que fariam com eles?

Passaram por um corredor escuro com colunas que acompanhavam sua extensão em ambos os lados. Atrás de uma delas, uma mão surgiu e agarrou Arão pelo braço, o susto foi grande. Das sombras emergiu uma linda garota, a mesma que Arão tinha visto entre as candidatas a Deusa.-Desculpe não queria assustá-lo, mas não posso me arriscar ser vista, principalmente na companhia de vocês. Olhou para os lados para ver se não avistava ninguém. -Meu tempo é

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curto, entretanto eu precisava vê-lo. Queria agradecê-lo pessoalmente.-Me ver? Gaguejou Arão confuso.-Você conhecia essa beldade e nem me avisou? Bal sussurrou no ouvido de Arão.-Sim, já nos conhecemos. Não se lembra? Eu até fiquei olhando para você no salão.

Arão ficou sem jeito.-Mas me agradecer por quê?

A garota ficou confusa, buscou apoio nos dois. Então Cassi adiantou-se sem muita paciência para explicar.-Ah! Não ligue não, ele está aqui há pouco tempo e sua memória ainda está ruim, não se lembra de muita coisa. Quando se trata de mulher os homens sempre têm memória ruim. Zombou ela.

A garota sorriu aliviada. Seu sorriso era encantador, Bal ficou de queixo caído.-Isso explica por que todo esse espanto. É que os candidatos e candidatas da Cidade Superior quando chegam ao Santuário recebem um tratamento especial dos sábios para conseguirem se lembrar de tudo mais rápido, pois não podemos perder tempo, estranho você não ter recebido. Mas tudo bem.

Sua voz era doce e suave -Meu nome é Damira, mesmo não se lembrando, você me salvou de um acidente ou algo muito pior. Eu tinha que vir lhe agradecer se não fosse por você eu não estaria aqui neste momento.

Arão levou as mãos à cabeça, imagens começaram a surgir... Homens trajando roupas pretas, um carro vindo desgovernado, um corpo sem vida embaixo de um lençol...-Você está bem? Damira pegou em sua mão.-Sim estou.

Entretanto seus pensamentos voavam distantes dali.A mão da moça foi arrancada violentamente do braço de Arão, um tapa foi lhe

desferido no rosto desequilibrando-a por completo. Os garotos levaram um susto e ficaram sem reação. À frente deles se encontrava um homem e mais dois garotos, um deles era Odrin, o outro Teles.

Odrin possuía a estatura maior que a maioria dos garotos e era muito forte. Tinha cabelos negros e suas pupilas também era da mesma cor. Usava roupa diferente das de momentos atrás. Estava de ombreiras laranja escura quase marrom, não usava camisa e uma faixa de couro preta descia da ombreira direita até sua calça. Em seu peito via-se desenhada uma estrela de três pontas laranja, duas delas começavam perto dos braços e a última ponta terminava no umbigo.

Teles tinha cabelos loiros e olhos azuis, seu corpo não era tão avantajado quanto o de Odrin, mas mesmo assim era possível ver seus músculos salientes. Vestia calcas escuras com uma blusa fina marrom sem mangas. Assim como Odrin ele também possuía ombreiras. Nos braços pequenas listras verdes escorriam dos ombros até os cotovelos. Bem ao centro da testa um pequeno desenho que lembrava a letra grega beta.-Filha minha não deve se misturar com esse tipo de gente. Onde você quer nos levar com isso? Quer a nossa desgraça? É Isso?

As palavras do homem eram ditas com uma fúria tremenda.-Não pai! Eu queria apenas... Seu choro se misturava com suas palavras.

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-Espere um pouco! Mas quando Arão adiantou-se, Odrin e o Teles cortaram-lhe à frente.

-Não chegue perto da minha irmã novamente. Esbravejou Odrin.-Diga isso a ela, não a nós!

Bal se arrependeu no mesmo momento em que desferiu suas palavras. O pai da moça a olhou com mais fúria ainda. Puxou-a para si arrastando-a pelo braço corredor adentro, seus soluços foram ficando mais fracos e baixos junto com a voz do homem que ainda a repreendia.-Mas onde você está com a cabeça? Conversar com essas pessoas? Arão tentou passar pelos dois garotos.-Vocês são a desgraça de todo o reino, da próxima vez não vou ficar apenas parado na sua frente. Disse Teles.-Nem se atreva a tentar nada. Odrin interrompeu os passos de Arão.-Ou eu o partirei em dois agora mesmo.-Quem você está pensando que é para falar assim com a gente? Cassi se interpôs entre Arão e Odrin.-Acho melhor vocês irem embora, pois ele fala sério e eu também. Disse o Teles. - Não quero sujar minhas mãos com celestinos.

O querubim reapareceu quando a discussão estava ficando acirrada.-Por que pararam? Estão atrasando tudo!

Percebeu o silêncio que se fez entre os jovens.-Algum problema Odrin? E com você Teles?-Não senhor! Nós já estávamos indo embora. Respondeu Teles virando as costas para Arão, Odrin o acompanhou.-Puxa, eu adoro querubins, eles sempre chegam na hora certa! Desculpe Arão, eu não tinha intenção de piorar as coisas. Comentou Bal.-Estou preocupado com o que possa vir a acontecer com ela! Disse Arão demonstrando que sabia que Bal não tinha feito o comentário de propósito.-Quem eram aqueles dois? Perguntou Cassi.-Odrin e Teles são os mais gabaritados jovens que temos no Santuário. São os melhores em tudo o que fazem, todos os respeitam e juntos são praticamente imbatíveis. Colocamos muita fé neles, se existem pessoas que podem nos salvar, essas são Odrin e Teles. Com certeza se tornarão guardiões. Odrin teve muitos problemas no começo, mas conseguiu superá-los e Teles não se tem nem o que dizer dele, são da classe guerreira.-Classe guerreira? Perguntou Arão.-Mas o que significa isso?-Logo vocês irão descobrir. Entrem por aqui.

Uma cortina branca se levantou, os jovens foram introduzidos em uma sala de formato cilíndrico com algumas colunas e um grande círculo central desenhado no chão. Três pontos formavam um triângulo dentro círculo. A sala possuía candelabros com velas em seus cumes, fora esses artefatos a sala se encontrava vazia.-Alguém aqui? Perguntou Bal. -O querubim sumiu!-Acho que devemos esperar... Cassi olhou para Arão que estava com ar sério. -Não fique assim Arão, você esta tão quieto! É pelo que aconteceu? Sei que é uma situação

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ruim, principalmente para a garota, mas o que se pode fazer quando se tem como irmão um Mastodonte daqueles?-Bela definição Cassi. Disse Bal.-Sim, mas eu cheguei a me lembrar de algumas coisas que ela falava...

As chamas das velas se acenderam, um canto lírico quase imperceptível começou a invadir a sala.

Uma cortina dourada desceu do teto, de seu lado direito apareceu uma mulher morena, com os cabelos soltos e olhos verdes. Usava um vestido azul claro e transparente, apesar da transparência só conseguiam divisar os contornos de seu corpo. Da outra extremidade surgiu outra mulher, com os cabelos ruivos soltos e olhos azuis. Seu vestido vermelho também era transparente, porém se agarrava mais as curvas de seu corpo. A cortina por fim abriu-se ao meio, um homem apareceu com suas vestes amarelas escuras e douradas. Possuía cabelos e barbas grisalhas ralas e seus olhos castanhos combinavam com suas vestimentas. Os três andavam descalços.-Olá meus jovens, finalmente os últimos chegaram para a análise. A mulher de vermelho se aproximou deles observando cada um atentamente. -Qual deles será o meu?-Hum! Difícil, acho que para mim será mais fácil identificar, mas mesmo assim gostaria de examinar cada um. A mulher de azul se aproximou enquanto proferia as palavras.-Vamos ser imparciais e darmos o mesmo tratamento dado aos garotos da Cidade Superior. Pronunciou o homem, voltou-se para os garotos e disse. –Vocês são os últimos, os três celestinos. Estávamos curiosos para conhecê-los.-Estavam? Grunhiu Bal-Mas ninguém daqui parece gostar de nós. Por que vocês seriam diferentes? Perguntou Arão.

Linch prosseguiu com seu discurso.-A situação não é bem assim, existe realmente muito rancor contra o povo celestino, mas vocês encontrarão muitas surpresas no Santuário. Vamos analisar em que categoria poderemos enquadrá-los. Farão parte do grupo dos candidatos graças ao grande Set, espero que nunca se esqueçam disso. Irão precisar de muita sorte para conseguir alcançar a glória de ser um guardião, digo isso porque os outros já estão treinando à muito tempo, mesmo se vocês já tiverem iniciado uma preparação fora da Cidade Superior, nunca conseguirão resultados iguais, verão que existirá uma grande diferença entre vocês e os outros candidatos do Santuário. Na realidade não sei se terão alguma chance.-Nós vamos conseguir sim. Cassi estava mais determinada do que nunca após ouvir as palavras do homem. -Não chegamos até aqui para desistir. Vocês irão se surpreender conosco. Estamos preparados.-Será que todos estão?

Virou-se bruscamente ficando cara a cara com Arão. O jovem assustou-se, pois estava distraído ainda pensando no incidente envolvendo a garota. –Espero que sim. Qualquer cuidado é pouco, é bom sempre estarem atentos. Meu nome é Linch, esta de vermelho é Nasiel e a de azul Nahray. Vamos começar a analisá-los um por vez.

Entraram no círculo que havia no chão, sentaram um em cada ponta do triângulo falando ao mesmo tempo.-Estão aqui por vontade própria para se tornarem guardiões?

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Os três jovens fizeram sinal de afirmativo com a cabeça.-Irão proteger o reino contra todo o tipo de mal, levando sempre convosco a justiça, a fraternidade e o perdão. E o mais importante, devem aceitar nossa escolha sem questionar os motivos ou o grupo que comporão.

Bal olhou para os dois amigos sem entender o significado das palavras. Só fez o sinal de afirmação apos Cassi dar-lhe um cutucão. -Ótimo. Disse o homem. -Aproxime-se minha jovem.

Cassi adiantou-se obedecendo os gestos de Linch que pedia para ela sentar-se ao centro do triângulo. Enquanto ela estava com os três, nem Bal, nem Arão ouviam nada do que era dito, como se existisse uma redoma invisível que os separasse.-Procure relaxar e não pense em nada, deixe sua mente solta... Cassiana. A garota da comunidade Oriental que foi criada por gente simples, dedicou sua vida a cuidar das pessoas. Conhecedora dos problemas e sentimentos de cada um, procura consolar e ajudar os outros com seus dons. Quer mostrar-lhes que sempre existe esperança e assim colocá-los no caminho correto. Por trás dessa sua determinação esconde-se uma mulher frágil e bondosa. Disse a Nasiel.-Tem um grande caminho a seguir e de seus esforços muitas vezes vai depender o sucesso de seus amigos, terás uma dura batalha pela frente, vejo pra você um futuro árduo cheio de provações, mudar as pessoas não é fácil, o seu êxito poderá determinar a vitória ou derrota de um dos lados. Lembre-se as aparências nem sempre nos dizem a verdade, esta talvez seja sua maior provação. Nahray acabara de falar.-No mundo celestial, você tem muitas vezes servido como guia espiritual, pode vir a se tornar muito poderosa, mas o poder acabará por tirar um pouco de sua sensibilidade, cuidado. Se não souber lidar bem com seus sentimentos poderá tomar caminhos perigosos. Carrega grande mágoa consigo, terá de aprender a perdoar. Apesar de tudo sua grande virtude ainda continua a ser a compreensão para com os outros. O caminho não é fácil para aqueles que escolhem ser guardiões, mesmo assim desejas continuar? Perguntou o Linch.-Sim!

Nasiel levantou-se, colocou sobre os ombros de Cassi um pano vermelho, imediatamente este se desintegrou sobre sua roupa, mudando-a completamente. Suas vestes se tornaram vermelhas, ficaram mais justas, Uma gargantilha surgiu em seu pescoço, junto com uma pequena corrente com uma pedra em sua testa. Uma faixa moldou seus seios cobrindo-os completamente, entretanto deixando seu abdômen a mostra. Do seio direito à faixa subiu passando por seu ombro prendendo-se as costas. Um pedaço de um véu surgiu à frente e atrás de sua cintura e botas pretas lhe subiram até o joelho. A nova roupa exibia um brilho memorável, aos poucos foi perdendo a tonalidade, tornando-se um vermelho fosco misturado com cores brancas.-Cassiana, por suas habilidades iras fazer parte do clã dos sentimentos, estarás junto de pessoas que possuem a sensibilidade e os poderes da alma como guia neste mundo. Estas vestes que recebeste estão de acordo com a escolha que fizemos. Farás parte do grupo das sacerdotisas.-Já pode ir. Quando ela estava para sair Nasiel a chamou. -Cuidado com a confiança que

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você deposita nas pessoas, ela pode tornar-se sua destruição.Bal e Arão simplesmente ficaram de ''queixos caídos'' ao ver Cassi com suas novas

vestimentas, como ela era bela. Não conseguiram nem disfarçar o assombro.-O que vocês estão olhando? Perguntou ela com desconfiança.-Que roupa maneira a sua Cassi, mas este vermelho é muito chamativo será que eles não têm um modelito mais discreto para mim? De outra cor talvez?

Bal estava provocando-a enquanto entrava no círculo tentando disfarçar a surpresa que teve.-Não enche Bal!

-Sente-se Balduíno, garoto esperto e inteligente. Não gosta muito de regras não é? Pelo contrário adora quebrá-las, sempre aprontando e saindo ileso de suas travessuras. Gosta de desafios e tem grande queda por assuntos intelectuais.

Nasiel terminou sua análise e ficou olhando para Bal até que Nahray tomou a palavra. -Garoto levado, atrevido e muito brincalhão, tem o dom natural para confusão, tenta evitá-la, todavia ela sempre o persegue. Conta com a ajuda dos amigos para livrá-lo das emboscadas, é fiel aos mesmos, mas às vezes não é muito sincero. Precisará saber cativar para conquistar. Até que tem muita paciência quando o assunto lhe interessa, terá que ter muito mais daqui para frente.

Por fim foi a vez de Linch.-Precisa tomar cuidado com o que está por vir, a sua vontade de quebrar as regras,

nem sempre é ruim. Regras servem para serem obedecidas, e realmente algumas podem ser quebradas. Porém, outras poderão levar seus amigos, que é o que você mais preza a perigos terríveis. Cuidado com suas escolhas saiba que nem sempre elas poderão resultar em benefícios. Finalizou o homem.-Balduíno você receberá o manto azul.

Nahray se aproximou e colocou sobre os ombros de Bal o manto azul, este se fundiu a sua roupa ganhando um brilho intenso. Suas vestimentas mudaram... Uma capa presa por uma corrente apareceu em seu pescoço. Uma cobertura de feltro azul escuro surgiu em sua cabeça com duas pedras brilhantes em cada lado, logo acima das orelhas. Sua blusa se alongou até os punhos onde pequenos braceletes se formaram. Na cintura um cinto preto com várias figuras se prendeu. Logo abaixo do cinto ainda podia se ver o final de sua blusa que chegava até metade de sua coxa. Usava uma calça escura e botas pequenas. A cor foi perdendo o brilho aos poucos e se tornando um azul turquesa, O azul contrastava com a cor branca que também fazia parte de suas vestimentas. -Farás parte do clã da sabedoria e intelectualidade. Será um mago. Vá garoto dos enigmas e fórmulas, se quer meu conselho arrisque sempre e não tema o que há por vir, mas lembre-se, arriscar-se não quer dizer colocar-se em perigo, pois você poderá perder o controle da situação.

Quando saiu de dentro do círculo o comentário de Cassi veio cortante:-Nossa! Você falou da minha roupa, mas o seu “modelito”. Cassi deu ênfase à última palavra. –Não deixa nada a desejar, hein?-Arão venha! A voz vinha de dentro do círculo.-Sua vez meu chapa, pode ficar tranqüilo que não dói nada, mas eu vou ficar esperando para

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ver com que cor de roupa você vai sair. Bal deu um sorriso.

Quando Arão entrou os três fecharam os olhos e ficaram meditando por um longo período, o tempo passava, mas nenhum deles pronunciava uma palavra sequer. Finalmente os três abriram os olhos.-Interessante, muito interessante. Comentou Nasiel. -Não consigo ver muita coisa.-É como se ele tivesse começado a existir alguns dias atrás, simplesmente surgisse do nada e sem qualquer lembrança passada. Completou Nahray.-Eu diria que isto é impossível, mas estamos no local onde o impossível não existe. Linch tomava conta da situação. -Nunca tivemos um caso assim, só podemos analisá-lo a partir do momento em que pisou no firmamento.-Deve ser por que não consigo me recordar de muita coisa, mas as pessoas dizem que logo me lembrarei de tudo.

Linch prosseguiu-Sim isso é verdade. Em breve você se lembrará.

Olhou seriamente para Arão. –Entretanto o que isso poderá lhe causar? Seu caso é diferente, eu diria que é muito raro acontecer isso entre os candidatos a guardiões, mesmo por que você não faz parte dos garotos da Cidade Superior.-Linch, não podemos permitir que ele continue, isso seria um erro, é como se alguém não quisesse que soubéssemos nada sobre ele. Nasiel parecia preocupada.-Acho que Nasiel tem razão, nós só temos conhecimento que seu comportamento foi muito bom aqui, mas não podemos desprezar os efeitos causados pelo firmamento nas pessoas, não sabemos no que você poderia vir a se tornar sem uma maior análise. Nem o que poderá representar futuramente para seus companheiros. Nahray entendia muito bem o que Nasiel estava sentindo.-Bom não temos outro meio para você meu jovem. Linch parecia determinado. -A não ser quebrar as regras e nos arriscar, por que meus instintos me dizem algo. Vou dar-lhe o manto dourado. Colocou-o sobre o ombro de Arão. O manto se fundiu a roupa tornando-a dourada brilhante. Logo em seguida mudando-se para um laranja mais escuro. Uma ombreira surgiu em seu ombro direto. Sua camisa perdeu a manga encolhendo um pouco. Um cinto preto prendeu-se a sua cintura, de sua ombreira desceu um faixa de couro até seu cinto. Botas subiram sobre as calças até quase alcançarem seus joelhos.

A cor de sua roupa se ofuscou, fundindo-se com cores brancas. Em seu rosto duas pequenas faixas apareceram pouco abaixo dos olhos, lembravam muito a letra ''C'', estas estavam voltadas para cima. Em seus braços uma faixa se fechou em cada um, como se fossem braceletes de coloração laranja claro. -Farás parte do clã dos guerreiros, a vitalidade e a determinação serão seu grande trunfo. Espero estar fazendo a escolha certa. O que vocês acham?

Olhou para as mulheres ao seu lado.-Devemos concordar, mas lembre-se do que já aconteceu. Disse Nasiel.-Não deveríamos prosseguir com ele. Interpôs Nahray.

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-O que aconteceu? Perguntou Arão-Nós já erramos, uma única vez, e nosso erro foi gravíssimo, até hoje todos sentem as conseqüências desse erro. Nós sempre fizemos as escolhas certas para os garotos da Cidade Superior entre os três grupos: O dos sacerdotes e sacerdotisas, o dos magos e o dos guerreiros. Normalmente os sacerdotes e sacerdotisas quando adquirem maior compreensão do firmamento e se desenvolvem por completo tornam-se Santos. Já os magos ao atingir o grau de plenitude superior tornam-se sábios e conselheiros. Por fim os guerreiros no final de sua jornada tornam-se mensageiros, os tão conhecidos arcanjos. Os que já estão em qualquer um desses estágios avançados, quando “morrem de uma causa natural no firmamento” passam para o plano superior junto ao Criador. É assim as gerações se renovam. -Mas o que há de errado em entrar em qualquer grupo? -Imagine você se colocássemos alguém que é destinado a ser um sacerdote para ser um guerreiro. Ele estaria nas primeiras frentes de combate, o que ele presenciaria não é adequado com seu caráter, seus sentimentos e crenças. Ele sofreria demais, sem o treinamento adequado ele poderia não suportar tal provação, desviando-se assim de seus ideais e desenvolvendo o seu lado mais obscuro.

Linch olhou para as mulheres antes de continuar.-No primeiro grande levante das forças do mundo inferior. Colocamos alguém que não deveria ser um guerreiro nas linhas de frente do combate. Ele era um prodígio, pareceu-nos que poderia servir a qualquer um dos clãs. Porém adquiriu gosto por lutar e desenvolveu uma técnica de luta insuperável, tornando-se o mais cruel dos guerreiros... Nosso único erro até hoje, porém fatal.-Essa pessoa continua no Firmamento? O jovem estava muito curioso.-Felizmente não. Este assunto não nos trará benefício algum, pode ter certeza que um dia você vai estar frente a frente com ele, todos estarão.

Calou-se por um momento. –“A Cruz Branca”.-Mas a cruz é o símbolo do Bem contra o Mal. -Você é um garoto ingênuo, a cruz também tem outro significado. Linch tinha o olhar vago.-Qual?-A Morte!

O silêncio prevaleceu por alguns momentos antes de Nahray tomar a palavra.–E se estivermos cometendo o mesmo erro, talvez seja melhor ele voltar e esquecer tudo o que viu até aqui. Ela hesitava sobre a escolha de Linch.-Esperem! Eu sei que não tenho lembranças e muito menos sei quem sou ou de onde vim, mas tudo o que tenho esta aqui. Meus amigos...

Olhou para Cassi e Bal. -Quero ter uma chance, quero ficar junto deles.

-Pode ser muito perigoso, para nós e para eles se te aceitarmos. Nasiel apoiava Nahray em sua decisão -Não sabemos quais habilidades você poderá vir a desenvolver, nem mesmo sabemos qual será sua influência no meio do grupo dos candidatos, pode ser boa como também pode ser ruim, em tempos de presságios tão sombrios não podemos arriscar nada.-Mas vocês têm que me dar uma chance para provar que posso ser digno de estar entre os

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candidatos. Olhou para Linch, um olhar de suplica, como se implorasse por uma chance.

-Além do mais do modo como me foi explicado a pouco por Medar todos estamos sujeitos a ir à guerra e o que acontecer comigo pode acontecer a qualquer um. -Você tem razão meu jovem, todos podem ser chamados. Linch ficou quieto por um instante. -Está decidido então.

As duas mulheres se olharam vitoriosas, Arão estava visivelmente decepcionado -Ele fica mesmo no grupo dos guerreiros.-Mas Linch! As duas pareciam inconformadas.-Isso! Isso!

Arão vibrou com a resposta, depois ficou desconcertado com o olhar que todos lhe dirigiam. -Desculpem.-Vá meu jovem, espero faça jus à confiança que coloquei em ti.-Vou sim, vocês vão ver... Quando eu voltar, até vocês duas terão mudado de idéia a meu respeito. Disse saindo apressado.-Não fiquem assim, sei que o melhor para todos seria tê-lo dispensado, mas sinto que este jovem não é uma ameaça, algo o envolve, não sei explicar o que é.-À distância entre o caminho do bem e o do mal é muito pequeno. Comentou Nahray.-Eu compreendo o que você quer dizer, mas ainda existe outro ponto que vocês não estão considerando, e foi nele que baseei minha opinião.

As duas o olhavam com curiosidade. -Esses jovens nunca terão chance contra os garotos da Cidade Superior, vamos deixá-los descobrirem isso sozinhos. -Não entendo como o mais criterioso e rigoroso entre nós abriu uma exceção. Nahray fez a colocação virando-se para Linch.-Nem considerou nossas opiniões. Disse Nasiel.-A decisão já foi tomada, no fundo acho que o deixei seguir, só para saber até onde ele conseguirá chegar. Os três jovens estavam reunidos fora do círculo, olhando para seus trajes e cores diferentes entre si. Bal tirava sarro de Arão por que agora ele também possuía desenhos pelo corpo.

Linch, Nasiel e Nahray caminharam em direção aos garotos.-Estes são os trajes de cada grupo, vocês notarão que todas as vestimentas mesmo a de grupos idênticos possuem pequenas diferenças entre si, mas em geral cada grupo tem cores e estilos específicos. Para que todos se conheçam melhor, nós faremos um resumo do que aconteceu. Disse Nahray. Nasiel tomou a palavra.-Cassi pertence ao clã das sacerdotisas, é uma líder espiritual, lida com as faculdades mentais, e tem o conhecimento profundo dos sentimentos. Com o tempo desenvolvera todas as faculdades. -Balduíno do clã dos magos, mestre da sabedoria e inteligência. Conhece os mistérios das magias e encantamentos. Será o guia nos caminhos do firmamento. Mas até os magos devem respeitam as regras. Certo Balduíno? Nahray sussurrou a última frase. Bal gaguejou

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antes de responder-Certo.-Por fim, você meu caro Arão pertence ao clã dos guerreiros, onde impera, a vitalidade , a agilidade, a força, e a coragem . Deste clã saem os grandes líderes, o inimigo sempre conhecera primeiro o sabor de suas armas antes de qualquer outro. Apontou para Cassi e Bal. - Lutam pela justiça e a honra é o seu código. O destino de muitos estará em suas mãos. Todos o respeitarão, mas só seguirão o comando de um verdadeiro líder.

Linch olhou para os três dirigindo-lhes a palavra.-Para alcançarem os níveis superiores e se aperfeiçoarem, terão que desenvolver o poder da ''Aura''. Ela é a emanação da força que existe na alma de cada um, quanto mais poderosa for à aura maior será o poder da pessoa, aumentando assim a chance de sobreviver ao que há por vir. Não há como alguém lhes ensinar como desenvolver o poder da aura, isto vocês terão que descobrir sozinhos.

Linch fez uma pausa antes de prosseguir. -Como podem ver vocês se completam num todo, serão dependentes uns dos outros e a perfeita união de cada elemento, sentimento, sabedoria e força é que poderá levar-nos a vitória sobre as forças sombrias que avançam.-Mas por que essa divisão? Perguntou Cassi.-Os guardiões precisam ser coesos entre si e reunir todas as qualidades para poderem sobreviver, de que adiantaria um grupo somente com guerreiros, teriam a força, mas sem sabedoria e sentimentos seriam um bando de carniceiros cruéis. Um grupo de magos sozinhos poderiam ter o poder, mas não conseguiriam entender os sentimentos das pessoas e não teriam a coragem para guiá-las para uma paz de espírito necessária, no final se tornariam vazios. E por fim de que adianta a compaixão e o amor se não existir força e sabedoria para fazer justiça aos oprimidos. Como vocês podem ver todos estão interligados. Um não pode existir sem o outro. Vocês foram classificados segundo suas habilidades, assim como os outros garotos que já estão no Santuário.

Todos ouviam atentamente.-Mas somente quatro de vocês se tornarão guardiões, o restante poderão cooperar de outras maneiras.-Mas por que somente quatro? Perguntou Arão.-Porque a força que tem os guardiões residem nos quatro elementos básicos, cada elemento necessita de um guardião, que lhes provêm uma força magnífica. Os elementos são: "Ar, Água, Terra e Fogo". Além da força, cada guardião receberá em seu poder uma arma mágica, concebida por cada elemento.-Que tipo de armas mágicas? Interveio Bal.-Não há como saber, o elemento escolhe o guardião e não o contrário. Você meu jovem pode ser aceito pelo elemento "ar" mas ser recusado pelo "fogo". Quanto às armas, elas mudam de pessoa para pessoa, se você Balduíno pegar o elemento "terra" poder ser que ele se torne uma foice por exemplo, se o mesmo elemento "terra" for manipulado por Cassiana, pode ser um punhal. Dizem que o elemento se adapta a capacidade de cada um da melhor maneira possível. Em toda história do firmamento, jamais chegamos ao ponto de ter que recrutar jovens para serem guardiões, espero que eles sejam tudo aquilo que está escrito a respeito deles. Deu um suspiro profundo.

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-Com o poder de cada elemento e com o que Linch acabou de dizer sobres os guardiões, seremos muito poderosos. Somos a única esperança do reino. Gabou-se Bal.-Sim realmente, os jovens que conseguirem serão muito poderosos. Mas não se esqueçam, não poderão fazer muito se não desenvolverem sua Aura. Os elementos lhes darão poder, só que eles também se nutrem da força de cada guardião. Resumindo em poucas palavras, de nada adianta um guardião possuir um elemento e ter uma Aura fraca, a sua força seria igual à de qualquer um. Quanto mais poderosa for a Aura do guardião, maior será a potência de sua arma. Como vocês podem ver os elementos não são à força dos guardiões, todavia são instrumentos que podem ajudá-los.-Sei que o que coloquei é novidade, mas é obvio que fora da Cidade Superior muito pouco se conhece sobre os guardiões ou o poder das Auras.

Prosseguiu Linch. -Logo muito dos esforços que fizeram até este momento não terão valido nada. Só espero que minhas palavras não os desanimem por que com certeza estão em desvantagens com relação aos outros.

Cassi olhava espantada para Linch, não esperava por aquela colocação, tinha treinado e se dedicado muito, achou que nada fosse impedi-la de se tornar uma guardiã. Nunca havia se questionado sobre desenvolver sua Aura, agora porém, descobrira que aquilo era um dos requisitos mais importantes.-Você é muito dúbio, uma hora nos desanima, outra pede para não desistirmos, isto seria um teste? Não há nada que possamos fazer para tirarmos essa desvantagem que eles tem sobre nós? Arão perguntou.-Existe sim, tenham muita fé em vocês.-Não desanimaremos, vamos conseguir. Disse Arão determinado.-É isso aí. Completou Bal. Cassi esboçou um tímido sorriso.-Principalmente você Arão, terá que se esforçar muito mais, pois está no clã dos guerreiros, junto com Teles e Odrin. É muito difícil dizer quem é o melhor, creio que Teles talvez leve um pouco de vantagem, mas mesmo assim será quase impossível para você derrotar qualquer um dos dois.

Arão ouviu em silêncio o comentário de Linch e não respondeu.-Mas qual é a verdadeira força de um guardião? Cassi perguntava mais para si mesma do que aos outros.-Segundo as escrituras, desenvolvidos plenamente, os guardiões podem enfrentar os maiores e mais terríveis inimigos de qualquer um dos reinos. Nasiel tomou a palavra para responder a pergunta da garota.-Tô até vendo, Bal, Cassi e Arão os super poderosos, ninguém poderá conosco, os mais fortes, os mais valentes... Ninguém fará frente para nós. Bal se vangloriava.-Não é bem assim. Disse Nahray.-O que você quer dizer! Acabou de nos falar que quando evoluídos os guardiões são as forças supremas. Resmungou Bal.-E são! Entretanto existem males que muitos de nós desconhecemos, tão poderosos que não seria aconselhável um dia enfrentá-los, mas o mal que mais tememos é... Nahray não terminou a frase.-Qual?

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Perguntaram os três jovens ao mesmo tempo. E desta vez foi Linch quem respondeu.-Do mesmo modo que temos do nosso lado os quatro guardiões do bem, o mal com ajuda dos homens criaram os quatro guardiões mais temidos, um mal de tamanha força, que causam pavor em todo o reino, eles também possuem armas mágicas, porém estas são regidas pela magia negra, e são desconhecidas por nós. Eles existem desde o início dos tempos.-Mas quem são eles? Perguntou Arão-Os quatro cavaleiros negros, os cavaleiros do... Ficou em silêncio. -Eles estão se tornando mais poderosos do que nunca, pois o tempo deles se aproxima... Podem ir...

Os jovens saíram em silêncio. Linch olhava para as duas.- Eu sei o que vão dizer. Eu falei mais do que devia, mas estes jovens não tem noção do que estão para enfrentar...

Ao saírem para o corredor, o querubim os esperava pacientemente. -Eu os levarei a vossos aposentos, peço que não saiam deles por motivo algum, depois do que ocorreu hoje não é seguro andarmos a noite desacompanhados, os próximos dias serão cruciais para sabermos que rumo nossos destinos irão tomar.

Andaram por vários corredores, alguns estreitos e outros largos, todos iluminados por tochas, passaram diante de uma porta , o objeto de madeira se moveu, o querubim parou.-Senhorita Cassiana. A senhorita ficará neste aposento, os outros dois ainda tem mais um pequeno trecho a percorrer, esta é a ala feminina.-Obrigada. Agradeceu a garota entrando no seu quarto.

Nele havia duas camas, em uma delas uma moça estava sentada em silêncio, suas pernas estavam flexionadas, suas as mãos abraçavam as pernas, enquanto seu queixo repousava sobre seus joelhos. Olhava fixamente para Cassi enquanto esta tirava alguns travesseiros de cima do colchão. O olhar da garota começava a incomodar Cassi.-Alguém nessa cama?

A garota fez um sinal de negação com a cabeça. Seu olhar fixo continuava a cair sobre Cassi, ela não agüentou mais a situação.-Alguma coisa errada? Posso saber qual é o problema?

A garota fez novamente um movimento de negação e continuou quieta, olhando...-Olhe, tudo bem se você não quiser me responder, ou mesmo falar comigo, mas seu olhar está me incomodando e muito.

Cassi tirou algumas frutas da bolsa que havia pego na Rua das Pedras. Faria uma ceia particular.-Aceita?

Sem mesmo esperar a resposta da garota disse:-Aposto que não, pois se não abre a boca nem para falar um "Oi", imagine se vai conseguir abri-la para comer.

Deitou na cama e virou-se para o outro lado com a fruta, foi quando ouviu a voz atrás de si.-Você não me parece ser tão má, dizem que os celestinos são de caráter muito ruins e não devemos ficar próximos a eles.-A então você fala, que bom. Eu não mordo, não precisa ficar toda recatada em sua cama,

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quanto ao caráter se sou boa ou ruim, você vai ter que descobrir enquanto convive comigo. Meu nome é Cassiana, mas pode me chamar de Cassi. E o seu?-O meu é Kitrina, seja bem vinda.

Ela possuía longos cabelos negros e olhos castanhos, sua pele morena contrastava com os dois desenhos em cada bochecha, eram duas pequenas faixas rosas claras paralelas em cada uma delas. Seu corpo era muito belo e combinava com suas vestimentas, estas só se diferenciavam das de Cassi por que as faixas que protegiam os seios possuíam um pequeno véu e este acabava caindo sobre parte de seu abdômen.-Já estamos fazendo progressos. Cassi sorriu-Se o convite ainda estiver em pé, eu gostaria de um pedaço da sua fruta, parece deliciosa, aposto que veio da Rua das Pedras.-Como adivinhou? Cassi atirou uma fruta para a garota.-As melhores frutas da cidade são da Rua das Pedras, principalmente as de um homenzinho que fala engraçado e sempre "enche" as pessoas que vão lá com suas frutas. Não sei se você entende o que quero dizer.

Cassi fez um sinal de positivo com a cabeça. Kitrina estava com a boca cheia, pois tinha acabado de dar uma bela mordida na fruta. Cassi riu.-Sim, entendo. Ambas riam. Arão e Bal continuavam sua peregrinação pelos corredores e escadas.-Puxa isso não acaba mais... Lalas! Você tem certeza que estamos indo no caminho certo? Eu quero ver se consigo tirar um cochilo ainda esta noite. Reclamava Bal.-Calma Bal! Aposto que logo estaremos deitados dormindo como anjos! Disse Arão sabendo que isso ia irritar Bal. -Calma? Estamos andando a um tempão, estamos muito longe da ala das gatinhas e eu estou morrendo de sono, preciso dormir. Como é possível ter calma em um momento desses?-Como saberemos que horas vamos ter que levantar? Alguém virá nos chamar?-Arão nem dormimos ainda e você já esta preocupado com que horas iremos levantar?-Pronto chegamos. Disse o querubim. -Não se preocupem com o amanhã, vocês saberão a hora de se levantar.

A porta se abriu, o querubim fez um gesto para que ambos entrassem. A mão do querubim continuava estendida enquanto Bal passava. Ele parou na frente do anjo, tirou do bolso uma fruta colocando-a sobre a na mão do menino.-Toma aí sua gorjeta Lalas! E obrigado por nos trazer sãos e salvos até nosso quarto.

Lalas fez uma cara de pouco amigos, mas não disse nada.-Bal, como você é terrível, adora provocar os outros, não me admira o que te ocorreu na taberna quando nos encontramos pela primeira vez.-Qual é Arão, aquilo foi apenas uma discórdia de opiniões e quanto a este querubim, aposto que ele estava tirando uma com a nossa cara, deve nos ter feito dar muitas voltas desnecessárias antes de chegarmos a este aposento, só para nos ver mais cansados. Mas eu não vejo a hora de cair na cama e dorm... Nossa Arão veja isto!!!!

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-O que foi Bal?-Um espelho de Alfeu! Ao lado da parede, não acredito. Eu sonhei tanto em poder fuçar em um deles e agora ele esta aqui bem na minha frente. Sabia que este espelho, além de ler as informações de cristais e ter acesso as mais variadas fontes de informações, também pode ser usado para se comunicar com outros espelhos de Alfeu.

O sono de Bal parecia haver sumido, estava encantado com o objeto que refletia a sua imagem. -Se mais alguém estiver "usando" o espelho eu posso me comunicar com ela através de mensagens.

Arão foi dar uma espiada no espelho.-Que é isso que está aparecendo nele? É uma mensagem. Não toquem em nada até receberem ordem. Está vendo Bal não é para mexermos.-Alguém deve tê-lo bloqueado de propósito para não usarmos, mas acho que posso dar um jeitinho nisso.-Vamos dormir Bal! Advertiu Arão.-Pode ir, vou ficar olhando um pouco, isso me fascina demais, e um bloqueio pode ser burlado. Existem muitos meios para isso.-Bal! No que você está pensando?-Nada, pode ir dormir tranqüilo... Droga acesso negado! Ele brigava consigo mesmo. -Você se acha espertinho, mas vou quebrar sua segurança rapidinho.-Acho melhor não tocarmos nele, vamos dormir, amanhã será um longo dia e depois você terá muito tempo para brincar com isso. -Não seja estraga prazeres Arão, eles não deixariam uma coisa dessas aqui se não quisessem que mexêssemos. É só uma olhadinha prometo não vai fazer mal algum. Em um minuto estarei dormindo.

Arão adormeceu, quando acordou estava amanhecendo, apesar de não saber em que momento viriam chamá-lo, calculava que ainda tinha tempo para tirar mais um pequeno cochilo.

Olhou para o lado e Bal ainda se deliciava na frente do espelho. Sua sensibilidade entorpeceu-se mais uma vez, caiu no sono, passado um tempo acordou com a claridade no quarto, Bal estava sentado de olhos fechado com a boca aberta, provavelmente não tinha nem notado a fadiga o dominar. Dormiu em frente ao espelho.

Um trombeta soou logo cedo, o som era forte e estridente se prolongou por um breve momento, Arão compreendeu as palavras do querubim: "Não se preocupem, vocês saberão a hora de levantar".

Arão levantou-se da cama, espreguiçou-se e foi acordar Bal. Iriam iniciar seus treinamentos. Aproximou-se e antes de chamá-lo olhou o espelho que emitia um brilho intenso, nele havia imagens de algumas mulheres, Arão sorriu e disse para si mesmo.-Você não tem jeito.

A trombeta soou mais uma vez, o dia começava no Santuário. Bal nem se mexia, Arão o cutucou.-Bal! Acorde! Vamos! Temos que ir senão chegaremos atrasados.-Não mãe, agora não, deixa eu dormir mais um pouco.

Arão pressionou mais forte.

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-O que foi! Acordou assustado. -Não fui eu, eu juro, nem cheguei perto.-Vamos! Está na hora, senão chegaremos atrasados, e o que é isso no espelho?-AAHHH! isso ora, é uma mulher, pensei que você conhecesse...-Não é isso que quis dizer, mas de qualquer forma levante-se temos que ir.-Mas já! Bal caiu deitado na cama. -Eu nem sequer dormi direito.-Eu avisei para não ficar muito tempo brincando com o espelho.-Eu sei, mas é que achei um monte de coisas interessantes, venha ver.

Bal se posicionava frente ao espelho novamente, quando Arão o arrancou a força com um puxão.-Não há tempo para isso agora, vamos embora.-Está bem, não precisa puxar.

Os dois garotos corriam pelos corredores, se guiavam pelo barulho que ia aumentando, um murmúrio de vozes vinha através das portas. Ao entraram, o bando de garotos ficou mudo e seus olhares se concentraram nos dois novos integrantes.-Acho que somos o centro das atenções. Comentou Bal.

Cassi veio ao encontro deles.-Bom dia seus dorminhocos, conseguiram no primeiro dia ser os últimos a chegarem.-Diga isso ao senhor encrenca aqui do lado, pois a culpa do atraso foi dele. Ficou a noite toda acordado e não queria de jeito nenhum se levantar.-Bal, o que você ficou fazendo para não dormir?-Eu estava ocupado resolvendo... Virou-se para Arão que o reprovava com o olhar. -Bom, estava resolvendo uns probleminhas.

Chegou perto de Arão e cochichou em seu ouvido.-Estou morrendo de sono, prometo que ficarei por um bom tempo longe desses espelhos. Dou-lhe minha palavra.-Bom dia garotos, não sei se garotos seria a melhor designação afinal já estão bem crescidos. Meu nome é Milenus para os que não me conhecem,. Temos pouco tempo e muito a fazer, por isso não vou fazer alarde, vou direto ao assunto. Nesse período todos continuarão a apreender conhecimentos gerias em conjunto e farão treinamentos individuais para conseguirem desenvolver suas habilidades. Cada um possui dons diferentes que só irão aflorar com o esforço individual. Nos próximos dias também iremos ver um pouco de treinamentos com armas e por fim o mais importante, vamos estudar e conhecer um pouco da Aura de cada um. Espero que de tudo isso consigam tirar o máximo de proveito. Sigam-me.

Entraram em uma sala cheia de espelhos.

-Nós estamos em quatro mulheres e nove homens, quero que vocês sentem-se em dupla nos espelhos de Alfeu, o que ficar sozinho escolha uma dupla e se acomode com eles. Através dos espelhos ‘naveguem’ e tentem aprender mais sobre o nosso mundo e o mundo dos Homens, pois esse tipo de conhecimento será importante.-Nossa!! Arão que maravilha uma sala cheia de espelhos.

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Os olhos de Bal brilhavam-Mas você acabou de me prometer que não iria brincar com um espelho desses por algum tempo.-Sentem-se. Ordenou Milenus. -Para os que não conhecem este é um espelho de Alfeu, não vou explicar como usá-lo, vocês vão descobrir por si só sua utilidade. Meu conselho é o mesmo que dou para quem já o conhece. Divirtam-se.-Está vendo Arão, é ele quem está mandando, e não podemos desobedecê-lo.

Arão sentou-se com Bal enquanto Cassi sentou-se com Kitrina. A garota estava muda. Será que era por estarem perto de todos? Como era difícil ter de disfarçar que tinha ficado a noite toda no quarto com Cassi sem trocar uma palavra. Mas ela procurou entender a situação, por isso nem tentava puxar conversa. Teles sentou-se ao lado de Odrin.-O par perfeito, não acha, só faltam eles saírem de mão dadas.- É Bal, cada um tem o que merece. Comentou Arão

Milenus observava todos em seus lugares com muita curiosidade, era estranho como aqueles três novos garotos causavam uma mudança no comportamento de todos.-Vamos fazer algumas mudanças para tornar o aprendizado mais interessante, trocou alguns jovens de lugar, chegou perto de Odrin e Teles.-Odrin!-Sim senhor.-Levante-se, vou trocá-lo de lugar. -Está bem senhor, onde devo me sentar.-Kitrina venha cá se sentar com Teles. Odrin se sentará com Cassi."Como eles são rápidos para guardar nomes, Será que todos eles são assim?" Pensou Cassi.-O quê? Será que eu ouvi direito? Indagou Odrin visivelmente desconcertado.-Em alto e bom som, alguma objeção ao meu pedido Odrin? A voz de Milenus era autoritária.-Não senhor. Odrin respondeu contrariado.-Então, por favor! Indicou o lugar ao lado de Cassi.

Odrin olhou para Teles este fez um aceno com a cabeça, ele se dirigiu a lugar indicado. Ao sentar-se ao lado de Cassi e disse.-É bom saber que não gosto de você e muito menos de estar aqui, não toque em nada. Não é só por que é uma mulher que vou esquecer de onde você veio.-Por que não pára de reclamar, e vê se coopera um pouco, para que possamos pelo menos aproveitar o pouco tempo que temos. Infelizmente somos obrigados a ficar juntos e não sei se já se questionou se eu gostaria de estar ao seu lado. Você é um grosso!

Cassi assumiu a frente do espelho.Odrin ficou surpreendido, ninguém entre eles jamais ousou enfrentá-lo daquele jeito e

ela era apenas uma garota que parecia não ter medo dele. Agora se recordava que na primeira vez que a viu quando sua irmã conversava com Arão, ela também o tinha enfrentado."Ou ela é muito corajosa ou muito estúpida. Mas vai ver, vou colocá-la em seu verdadeiro lugar". Pensou Odrin dando um sorriso malicioso, foi tirado de seus pensamentos por uma

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pergunta de Cassi.-Por que você não gosta do povo celestino?-Não é questão de gostar, eu simplesmente odeio o povo celestino. São a escória do firmamento e você parte dela. Vocês não merecem estar aqui, não deveriam ousar ter colocado os pés na Cidade Superior, muito menos profanar o Santuário. Vão ser um fiasco.-Sabe o que eu acho? Que você fala demais.-Hã! Hã! Vocês dois podem deixar as divergências para depois e se concentrar no que realmente importa. Milenus tinha se postado atrás deles sem que ninguém percebesse.-Puxa Arão, tivemos sorte dele não nos ter mudado, mas fico com pena de Cassi ter que se sentar com aquele tal de Odrin, ele é muito arrogante, até a pouco eles estavam discutindo, se Milenus não chegasse acho que eles iriam sair no tapa. É lógico que ela sairia perdendo, mas... Conclui Bal-Espere um pouco Bal, eu irei lá e me sentarei do lado dele.-Arão, você ficou maluco ou algo do gênero? Não pode levantar-se e simplesmente ir tomar satisfações. Bal segurou Arão pelo braço antes que ele se movimentasse.-Não consigo ficar olhando essas cenas sem fazer nada.-Calma amigo, ela sabe se cuidar. Como ela o chamou mesmo ontem? Bal ficou pensativo. – Ah! Sim, me lembrei... o "Mastodonte" vai ver que pegou um osso duro de roer.-Acho que você tem razão.

Arão e Bal começaram a pesquisar, muitas eram as informações sobre os mundos, tudo o que eles podiam imaginar parecia estar registrado no espelho.-Que roupa estranha é essa Bal?-Isto é uma capa Sirinder branca com um colete dourado, quando você quiser conquistar alguém, use uma desta. Como dizem por ai, esta roupa já denota segundas intenções.-Eu nunca usaria algo assim... É muito feio. Resignou-se Arão.-Já vi que você não entende de moda. Acredite em mim Arão, elas gostam e já sabem quais são suas intenções quando se usando uma destas.

Arão voltou seus olhos para onde estavam Odrin e Cassi. O garoto tinha se levantado e estava conversando com Teles, Cassi estava sozinha frente ao espelho.-Arão dê uma olhadinha nessa beleza. Chamou Bal.-Bal! Estamos aqui para aprender não ficar olhando mulheres, não temos tempo pra essas banalidades.-Banalidades? Chama estas belezinhas de banalidades! Retorquiu Bal incrédulo. -Relaxa, temos que ter um tempinho para a higiene mental.

Bal levantou as sobrancelhas com malícia enquanto falava.-Você tem que tomar jeito. Ei! olhe ali embaixo, no canto inferior do espelho existe um pequeno, quadrado. O que é?-Está inscrito Reino dos Titãs, Reino Inferior. -Vamos dar uma olhada.-Você é quem manda senhor certinho, mas eu preferia a loira aqui. Hum... não temos acesso a esta área.-Droga, por que será?-Talvez eles desejem que só vejamos sobre o firmamento e o Reino dos Homens. Conclui Bal-Eu gostaria de poder dar uma olhada, conhecer um pouco sobre os outros mundos.

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A voz de Arão demonstrava sua decepção.-Fale por você eu quero distância deles. Mas já que você está falando a minha língua, e que insiste tanto... Fique de olho e veja se Milenus não vem aqui.

Arão vigiava.-O que você está fazendo?-Calma, só mais um pouco e vou lhe dar o que pediu. Pronto não foi tão difícil assim. Saindo informações quentinhas sobre o reino dos Titãs.-Você é um gênio Bal.-Quando é para fazer coisa errada pra você sou um gênio...-Nossa que estranho é o Reino dos Titãs, totalmente diferente de tudo o que vimos no firmamento. Comentou Arão. -Vamos ver essa parte que fala sobre seres e criaturas.-Veja este dragão que maneiro Arão. Olhe tem duas cabeças, seu corpo é transparente, de um lado é composto fogo, do outro por um gás branco congelante. Seu nome é Ardrieza vem da junção de ardor com frieza. Não há magia que resista a combinação mortal de seu fogo e gelo. É um dragão de classe maior do Reino dos Titãs. Muito poderoso e hostil não divide seu espaço com qualquer outra forma de vida.

Bal passou a mão pela testa antes de continuar.-Não gostaria de cruzar com um animal desses, deve ser morte na certa. Diz ainda que sua verdadeira força reside nas mandíbulas capaz de destruir qualquer coisa. Complementou o garoto-Fique tranqüilo, ele está lá. Arão fazia referência ao mundo dos Titãs. -E você aqui, ou seja, estamos a mundos de distância dele.

Arão estava tão compenetrado nas informações do espelho que se esqueceu de verificar se Milenus estava por perto. Ao olhar para Cassi viu que esta acenava para eles desesperadamente, parecia adivinhar que estavam olhando algo que não podiam.-O que vocês estão vendo, posso saber? Disse Milenus parado atrás deles. Imediatamente Bal se colou à frente do espelho dizendo.-Nós? Bem... Nada... Apenas estamos estudando como você pediu. -Então acho que não vão se importar se eu der uma olhada.

Afastou o garoto da frente do espelho. Bal fechou o olhos esperando uma bronca, Arão abaixou a cabeça.-Sugiro que estudem algo interessante, pois nosso tempo é escasso. Além do mais, gosto é gosto e não se discute.

Virou-se de costas e se afastou. Os dois ficaram sem entender o que havia acontecido, não tinham levado bronca alguma por terem entrado em áreas proibidas, seria Milenus maleável? Ao voltarem suas atenções para o espelho novamente, viram a imagem de um homem musculoso de sunga, escrito campeão mundial de fisiculturismo. Uma frase apareceu no espelho: Foi o que deu para arranjar.-Bal o que significa isso? Perguntou Arão-Eu não disse que os espelhos tem comunicação entre si, pois olhe nossa amiga Cassi rindo, foi ela quem colocou essa imagem em nosso espelho... Não sei o que é pior, se Milenus nos pegar vendo áreas que não são permitidas ou com essa imagem...

Cassi fez um sinal com os ombros.-Ela nos salvou dessa Bal.

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-Não sei se eu queria ser salvo desse jeito, o que será que Milenus vai pensar de nós. Tenho uma reputação a zelar.-Você? Reputação... Conta outra... Arão mandou uma frase de agradecimento para Cassi. Nesse momento Odrin apareceu e empurrou-a para o lado.-Seu grosso! Murmurou ela.-Então eles querem brincar? Vão ver o que é bom.-Odrin pare com isso.-Não se intrometa menina, senão as coisas poderão ficar ruins para você também.-Bal! O que está acontecendo com as imagens do nosso espelho estão piscando!!-Alguém esta querendo "brincar" conosco.

Olhou por cima do seu espelho, viu Cassi brava discutindo com Odrin. -Acho que já sei quem é. O amigo Mastodonte de Cassi. Mas ele não perde por esperar.-Pronto! Arão avise-me quando Milenus estiver perto de Cassi.-Está quase, acho que vai querer saber por que ela está tão brava.-Ótimo, pois veja só isto, ou melhor, observe só o espelho dela.

Na tela do espelho de Odrin começaram a surgir várias imagens de mulheres.-O que está acontecendo jovem Cassiana? Por que está tão nervosa? Milenus olhou para o espelho, as imagens. -Entendo porque está brava.

Falou dirigindo a palavra para Odrin.- Esta me desapontando meu jovem. Sugiro que se concentre na aula e deixe as futilidades para depois.

Todos olharam e riram. Teles se aproximou-Foi ele.

Apontou para Bal que se divertia com a situação. Odrin levantou-se como um raio e partiu para cima de Bal, este por sua vez se escondeu atrás de Arão, Milenus porém foi mais rápido que todos e tomou a frente de Odrin.-Com essas atitudes você nunca será um guardião meu jovem.

Odrin se conteve, entretanto a raiva transparecia em seu rosto.-Estão dispensados por hora. Finalizou Milenus.-Bal, mais uma vez você conseguiu, acabou de fazer um inimigo por toda a eternidade.-Ora Cassi, acabei de te salvar. Você ainda me recrimina, ele teve o que merecia.-Cassi, não sou muito de concordar com as colocações de Bal, mas desta vez tenho de dizer que ele tem razão. Odrin teve o que merecia.-Até você Arão! Mas sabe que sentada ao lado dele, eu pude ver que minha presença o incomodava muito.-Qualquer celestino que chegasse a menos de dez metros daquele Mastodonte o incomodaria. Disse Bal.-Não foi isso o que eu quis dizer, ele saiu de onde estava e só voltou por que eu estava mandando uma mensagem pra vocês...-Ei! Mas chega disso, já passou. Comentou Bal passando o braço sobre os ombros dos dois. - Já que nossos estudos acabaram mais cedo o que vamos fazer de bom?-Contanto que não envolva espelhos, por mim qualquer coisa. Finalizou Arão.

Passaram o resto do dia conhecendo muitas das basílicas do templo do Santuário, o

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local era imenso não conseguiram visitar uma mínima parte dele, pois a noite já se anunciava.

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A Lua de Sangue, 1ª Noite...

À noite Bal estava novamente à frente do espelho, se "comunicando" com outras pessoas.-Isso já esta virando um vício, simplesmente você não sai da frente deste espelho.–Arão, é muito bom poder ficar trocando mensagens com outras pessoas, eu poderia... Ah deixa pra lá, você não iria entender.-Mas como os outros falam com você? Afinal somos celestinos não?-Primeiro, eu só envio mensagens, assim ninguém fica sabendo quem sou, a menos que eu conte. Existe também outro modo que é possível se comunicar, e este utiliza a imagem da pessoa, mas como você mesmo disse são poucos os que se comunicariam comigo. Além do mais somente com mensagens criamos um certo mistério...-Entendi Bal, então você mente o tempo todo e ninguém desconfia.-Não é bem assim, eu sou muito sincero. Deu um pequeno riso. -Mas sabe Arão, eu estava por fora. Achei que eram poucos os que tinham acesso ao espelho, fiquei surpreso com o grande número de pessoas conversando através de mensagens. Olhe aposto que esta daqui é uma gatinha, vou mandar uma mensagem para ela, certo Arão! Arão?...

Bateu com as mãos, Arão que parecia estar em transe olhou para Bal.-Hã! O quê?-Meu! O que há com você, temos em nossas mãos uma belezinha dessas para podermos falar com quem quiser e você aí viajando... O que está acontecendo?-Eu só estava pensando...-Já sei, você estava pesando na irmã do Mastodonte, não? A candidata à deusa, como é mesmo o nome dela... Damira! Não é isso? Bom, ela é muito linda, não o culpo por isso.

Arão corou.-Não é isso, é que ela me fez ter algumas recordações, Se eu conseguir conversar outra vez com ela quem sabe o que mais poderei descobrir. -Tipo se ela lhe deu seu telefone. Se vocês marcaram um encontro...-Pare com isso Bal. Estou falando sério. Segundo ela me disse eu a ajudei, posso ter contando muito mais sobre mim e isso já ajudaria bastante.-Eu também estou falando sério, saiba que as candidatas também têm acesso aos espelhos, quem sabe ela não está aqui bem debaixo de seu nariz.

Apontou para o espelho -E você nem sabe...

Arão parou, ficou imóvel no momento em que ouviu as palavras de Bal.-É verdade? Posso olhar um pouco?

Arão se apossou do espelho... Algumas horas depois–Nossa, para quem não se interessava por ele até você que está bem empolgado. Agora é minha vez Arão, afinal antes de você usá-lo, eu quase tinha conseguido marcar um encontro. -Calma Bal, só mais um pouco...

O tempo foi passando, Arão não desgrudava os olhos do espelho, Bal adormeceu em sua cama.

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-Acho que isso é perda de tempo não vou conseguir nada. Resmungou Arão.As imagens do espelho começaram a ficar trêmulas.

-Mas o que está acontecendo?Uma mensagem veio à face do espelho.

Você não pode se tornar um guardião, não pertence a eles.-O que significa isso?

Arão ia perguntar para Bal, mas este estava num sono tão profundo que ele não quis incomodá-lo. Outra mensagem.É melhor você ir embora enquanto pode, muitos irão morrer...

Arão mandou uma mensagem.Quem é você? Está brincando comigo?

A resposta veio em seguida.Eu não brinco com assuntos sérios, vá enquanto pode... As cinco noites de terror, as Luas de Sangue, estão começando hoje...

Arão respondeu.Mas quem é você, não acredito em nada do que está me dizendo.Não acredita..., pois vou lhe mostrar o que o aguarda...

Um estalo, a porta se moveu um pouco e uma pequena fresta surgiu. Arão ficou indeciso.Está com medo, meu jovem?Não estou.Vou lhe mostrar o significado da palavra medo, saia no corredor.

Arão ficou imóvel olhando para a tela do espelho.Saia! Agora.

Essa foi à última mensagem. Outro estalo, a porta se deslocou um pouco mais, uma pequena luz jazia. Ela passou rápido pela fresta debaixo da porta e sumiu. Arão olhou para Bal que dormia tranqüilamente, o garoto estava ansioso, sua respiração ficou ofegante. Caminhou até a porta hesitando em abri-la.

Um barulho veio do lado externo, isto o encorajou, saiu no corredor vazio, este era pouco iluminado pela luz da lua que atravessava pequenas saliências laterais arredondadas. A escuridão era favorecida pela coloração avermelhada da lua, até parecia que esta estava sangrando. Novamente sons fizeram-se ouvir do fundo do corredor. O garoto partiu em direção aos sons sendo engolido pelas sombras.

O som vinha em intervalos irregulares, fazendo Arão subir muitos lances de escadas e passar por vários corredores, cada vez que ele parecia se aproximar o barulho voltava a ficar distante. O jovem chegou a uma porta semi aberta, acomodou-se com cuidado atrás de um pilar, a iluminação da sala estava sendo feita por três velas e sua visibilidade não era boa. De onde estava via um vulto coberto por um capuz, mas este logo ficou fora de sua visão limitada pelo local. Outro corpo surgiu, pareceu ser de uma mulher. Se aproximou mais tentando ouvir o que eles diziam.-Como se atreve a vir até o Santuário? Você não é bem vinda aqui. A voz era forte e estridente-Eu tinha que vê-lo é o único que pode nos ajudar. -Você escolheu seu caminho há muito tempo atrás, eu tentei ajudá-la, mas você não aceitou

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minha ajuda.-Por favor, me ouça, não é hora para remoermos antigas desavenças, os sinais não deixam qualquer dúvida, ele está realmente entre nós, o profeta... Pude perceber. Vocês podem não acreditar nos sinais, mas sabe que o mal nos ronda, as sombras avançam e sinto uma presença maligna, algo que nunca havia sentido antes, minha alma esta aflita.

Arão reconheceu a voz, mas não conseguia associar a quem ela pertencia.-Pare com isso velha!-Sabe como pude enxergar tudo claramente?

O homem não respondeu.-Alguns dias atrás recebi em minha tenda um jovem, as visões mostraram os mares, as terras e os céus, se o círculo se fechar...

Ela calou-se por um momento. -Você não imagina o que aconteceu, a "terceira visão" se acendeu. Desde os tempos mais remotos que ela não aflorava. Não acha que deve considerar isso? "Nesália!".

Arão teve certeza, era ela quem falava com o estranho de capuz. O homem estava quieto refletindo sobre o significado das palavras dela.-E não é só isso, ele tirou a terceira carta e o símbolo visto foi o mesmo nas três cartas, nem precisei ver a última carta para saber o seu significado. Ele é um garoto ‘marcado’.

Ao ouvir o comentário Arão tirou a carta que ainda estava em seu bolso, olhou o símbolo estranho desenhado nela.“Qual é o seu significado? Parece ser importante pelo que Nesália disse”. Seus pensamentos foram cortados pela voz do ser de capuz.-Você tem certeza velha!-Claro que tenho, a linguagem dos símbolos é muito antiga, mas algumas pessoas ainda conseguem interpretá-los, eis aqui o símbolo. -É o numero seis. Confirmou o homem ao olhar para o desenho do símbolo.-Sim, isso mesmo, três vezes, se ele estiver mesmo ligado ao número... Corremos grande perigo... Você entende por que eu tinha que vir. É pior do que eu imaginava. Esta casa já me acolheu muito bem, eu não voltaria se não tivesse um bom motivo, ainda há tempo... Podemos evitar um mal maior. Os destinos ainda não foram traçados, temos que fazer alguma coisa...'Será que Nahray e Nasiel estavam certas? Eu não deveria estar no Santuário? Poderei me tornar algo terrível se estiver no clã errado? Será que represento um perigo para seus amigos?''

Foi tirado de seus pensamentos pelas vozes que prosseguiam seu dialogo.-Então ele talvez esteja certo... Disse o homem levantando a mão-O nome do dele é...

Ela parou de dizer repentinamente. Na mão do homem um brilho verde apareceu de dentro da manga de seu manto."Não pode ser... Será que é..." Pensou Nesália

O homem cobriu a mão com a manga do manto. Arão ainda conseguiu ver o brilho por alguns instantes.-Isto é ruim... Murmurou o homem. –Você não deveria ter visto isto.

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O rosto de Nesália tinha se contraído, o medo estava estampado em sua face.- Ainda está aqui no reino? Perguntou Nesália apontando para a mão do homem. Ele permaneceu calado. -Não o controlará pra sempre. Nem mesmo Set ousou tê-lo aqui.-Você não sabe de nada velha. É melhor você partir, já deu seu recado.

A velha saiu sem dizer mais palavras, tinha que avisar outros, os anjos, os sábios, todos eles... o mal estava mais próximo do que imaginavam. Um som forte veio do outro lado. Nesália partiu, sendo consumida pela escuridão do corredor. O homem continuava na sala.-Acho que já está bom.

Abriu uma porta dentro da sala.-Vá!

O brilho verde em sua manga se tornou mais intenso. Arão sentiu uma sombra negra passar muito rápido por ele, ficou imóvel e prendeu a respiração com medo de ser descoberto. A porta da sala fechou-se. Arão pode ouvir as últimas palavras do homem.-Velha! Agora é a minha vez de dar o recado!

O garoto não conseguiu ver realmente quem era o homem, só sabia de uma coisa precisava voltar para seu quarto o mais rápido possível, já tinha visto demais naquela noite...

Correu pelos corredores na escuridão da noite, estava desorientado, não se lembrava do caminho de volta, acabou saindo em uma varanda onde via os jardins.

Nesália passava pelos corredores, apesar de tempos longe do Santuário, conhecia bem seus caminhos, houve época em que ela fizera parte de tudo aquilo, nada havia mudado desde então. Esse fora seu lar até ser expulsa pelos sábios e conselheiros por começar a pregar que alguns dentro da própria Cidade Superior estavam confabulando contra a ordem do reino.

Muitos a acusaram de proferir boatos infundados, espalhando o medo e a desordem, jogando os sábios e conselheiros uns contra os outros. Eles não acreditavam nos sinais, mas ela sim e agora tinha certeza disso. O mal estava presente no Santuário.

Parou no corredor, pensou ter ouvido um barulho atrás de si. Ia prosseguir, quando..."Alguém está me seguindo". Pensou.

Desceu as escadas e quando se encontrava no meio delas, pode ver que duas luzes se aproximavam descendo a parte superior da escadaria. Tomada de medo apressou o passo, não enxergava mais nada atrás de si, porém tinha certeza de que algo vinha em seu encalço. Cruzou uma sala conhecida chegando a um corredor iluminado por archotes em ambos os lados da parede. O final do mesmo não podia ser visto devido à escuridão. Parou para se certificar de que tinha despistado seu perseguidor. Respirou fundo.

De repente o final do corredor pareceu começar tomar corpo, se tornar maior e crescer, ela demorou alguns segundos para entender que algo vinha em sua direção e ao passar pelas tochas apagava-as uma de cada vez.

Só ouvia o barulho do fogo sendo extinto, o medo crescia dentro de si. Partiu desesperada, sentia algo se aproximando, a cada momento chegava mais perto, tropeçou e

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caiu esfolando o rosto no chão. Fechou os olhos e serrou os dentes antes de se levantar. Continuou a correr.

Tinha que sair daqueles corredores, precisava chegar até os jardins onde estaria segura. Sentia a presença maligna se aproximando, mais e mais, não teria chance alguma se fosse pega... Ao lado pode ver uma saída, isso renovou suas esperanças, continuou em frente, tinha que alcançar a porta, se chegasse até ela estaria a salvo, ninguém seria louco o suficiente para atacá-la fora dali, olhava para trás as luzes vinham em sua direção.

Alcançou a porta atirando-se sobre a mesma, seu corpo caiu sobre a grama do lado externo. Estava salva, respirou mais aliviada. Caminhou pelos jardins apressada, precisava informar os outros. Procuraria o conselho... Não havia mais tempo, talvez fosse melhor ir agora mesmo, amanhã poderia ser tarde demais.

Olhou para trás não ouviu sons de passos, não viu mais luzes, mas a porta continuava aberta, caminhou um pouco mais devagar e entrou em uma moita. Parou para observar os jardins queria ter certeza que estava salva, não havia como alguém pegá-la nos jardins, este pensamento a acalmou.

Começou a mover as folhas da moita para ter uma visão melhor, não via mais nada, decidiu prosseguir e concluir seu objetivo, ao tentar sair do meio das plantas, as folhas se abriram, do meio delas duas luzes surgiram a sua frente, caíram sobre a mulher num piscar de olhos, nenhum grito foi ouvido, somente o som seco de um corpo sem vida cair no chão e ali permaneceu.

De onde Arão estava na varanda pode reconhecer Nesália correndo nos jardins, ela caminhava em direção a uma moita, no outro lado dos jardins pode ver duas luzes que percorriam diretamente para o espesso conjunto de plantas, eles iriam se encontrar.

As luzes atingiram a moita em cheio houve uma pequena tremulação das folhas, depois tudo se aquietou. Elas emergiram, a moita continuou imóvel, nenhum sinal de Nesália. Arão pode ver as luzes entrando pela porta de onde tinham saído para os jardins. "O que será que havia acontecido?".

Arão Adiantou-se para dentro lembrando-se que tinha que voltar para seu quarto, se fosse pego por alguém fora dele com certeza seria repreendido. Os corredores eram confusos à noite, teria que se concentrar para voltar. Estava andando há algum tempo, quando parou por um momento, achou ter ouvido um barulho vindo do final do corredor. "Não foi nada. Deve ter sido minha imaginação".

Continuou a percorrer o corredor, parou outra vez, não havia dúvidas, alguma coisa no final se encontrava no final do caminho. Algo o seguia, começou a andar mais rápido, sua respiração tornou-se mais ofegante. Chegou a uma escadaria e desceu até o meio dela, onde ficou imóvel esperando. Uma luz surgiu no corredor, mas em vez de descer a escada ela seguiu adiante.

Arão sentiu-se mais aliviado, prosseguiu sua caminhada, mas quando virou a cabeça para trás notou que a luz estava voltando, ela parou no topo da escada. A luz incidiu sobre o garoto, este cobriu o rosto com as mãos e não conseguia enxergar nada. Ouviu alguma coisa, mas não teve como definir o que eram aqueles sons e também não pretendia ficar

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para descobrir. Correu escada abaixo, a luz o seguia. "Preciso fugir. O que será isso?".

Tropeçou em uma saliência no chão, desceu rolando os últimos degraus, seu corpo todo doía. A luz continuava a se aproximar, estava perdido, tinha que se levantar e rápido. Não conseguiria fugir, por isso decidiu esconder-se atrás de uma estátua. Nela havia um pequeno bastão preso à mão da estátua, Arão tentou com muito esforço soltá-lo e através de vários puxões a sorte se fez presente, o bastão jazia com ele. A luz se aproximava mais devagar. Suas mãos suavam segurando o pesado objeto.

Teria chance para apenas um golpe, se errasse poderia ser o seu fim, a luz crescia. Quando ela chegou rente à estátua Arão de um salto de trás da mesma e com um golpe certeiro derrubou seu perseguidor. Um grunhido veio do chão, a luz caiu iluminando o teto.

Arão correu até a luz queria ver seu perseguidor tombado ao solo, quando iluminou sua vítima veio o espanto, viu Bal caído gemendo de dor.–Arão! Você está louco? Por que me bateu?????-Eu pensei que fosse... -Pensou que fosse o quê????-Mas o que você está fazendo aqui?-Acordei e não te vi no quarto, a porta estava aberta, achei que pudesse ter acontecido alguma coisa e vim verificar.-Por que não disse que era você? Assim eu não o teria acertado.-Mas eu te chamei na escada, quando passei por ela ouvi um barulho e voltei. Até te iluminei com a lanterna e chamei seu nome, mas em vez de você responder, saiu correndo feito um louco. Ai eu vim atrás. E acabei aqui caído no chão. Grande amigo é você.-Desculpe, mas eu vi algumas coisas muito estranhas hoje e fiquei um pouco assustado.–Desculpas?? Depois de tudo você ainda quer descul...

Arão tapou a boca de Bal.-Xxxiiiuuu! Você está ouvindo? vem dali do lado.

Os dois se esgueiraram até o lado de uma coluna e viram três sombras passarem iluminados por uma tocha.-Eu adoro essa parte Sender. Disse o ser maior.-Temos que fazer isso rápido Molf. Você sabe que ele não gosta de falhas. Falou Sender com seu jeito enrolado lançado saliva para todos os lados.-Aposto que ela nem sabe o que a atingiu.

O terceiro deu um soco no ar ao dizer suas palavras.-Arão, sãos os três seres da taberna. Sussurrou Bal ao ouvidos de Arão.-Vamos Bal temos que voltar para nosso quarto.

Arão abriu os olhos , não viu ninguém no aposento, a noite anterior tinha sido bem agitada, isso contribuiu para que demorasse a pegar no sono, porém quando conseguiu dormir o fizera mais que o planejado. “Por que Bal não me chamou? Vou chegar atrasado aos treinamentos. Quando eu o encontrar...”.

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Esperava saber logo cedo o que tinha ocorrido à noite passada. O que será que aconteceu com Nesália? Apesar de que ele já tinha uma idéia de qual poderia ter sido o destino dela. Comentou isso com Bal quando estava contando o que se passara com ele antes de encontrá-lo ontem e amigo concordou, jamais a veriam novamente.

Encontraria todos alvoroçados no salão? No mínimo Bal estaria sendo o centro das atenções contando a todos o que tinha se passado. Por isso não o tinha chamado para receber todas as glorias só para si e com certeza acabaria como herói da história.

Ao se aproximar do grande salão ouviu o barulho de vozes, realmente pareciam estar todos agitados. Imaginou Bal contando sua narrativa que com certeza viraria um épico. Outro pensamento lhe ocorreu: “Será que os grandes sábios o estariam interrogando?”.

Com certeza deveria ser isso. Entretanto quando seus olhos viram a cena ficou sem entender o que estava ocorrendo.

Os garotos formavam um círculo como ele esperava, mas no meio não era Bal quem falava, muito pelo contrário ele estava quieto ao lado de Cassi observando Odrin ao centro diante de outro garoto. O jovem Yalo possuía cabelos e olhos castanhos, tinha estatura mediana e seu porte físico não impressionava muito. Usava vestimentas semelhantes às de Bal, porém tinha desenhado uma pequena estrela azul ao centro da testa e uma faixa no queixo que chegava até as proximidades da boca. Odrin e Yalo empunhavam bastões fluorescentes, desferindo golpes entre si, o resto dos garotos observavam a cena com o maior entusiasmo.-Mas onde você estava? Perguntou Cassi. - Está muito atrasado!-Eu sei.

Arão olhou para Bal com reprovação.-Desculpe, sabe, eu ia te chamar, mas aí... bem você estava dormindo... eu vim aqui e vi...

Os gritos se tornaram mais intensos, abafando a resposta de Bal, Odrin acertou a mão de Yalo com seu bastão.-Bal te contou o que aconteceu conosco à noite passada? Perguntou Arão a Cassi.-Sim, ele me narrou tudo o que vocês passaram, inclusive quando você estava fugindo e ele teve que arriscar a vida para te salvar.-O que? Como assim? Indagou Arão voltando sua atenção para Bal que fazia uma cara de desentendido.-Bem eu não acreditei mesmo em tudo o que ele me disse. Explicou Cassi. –Mas realmente é uma situação muito estranha, não sei o que pode estar ocorrendo.-Mas e os outros garotos o que disseram?

Voltou-se para Bal, imaginando que ele já deveria ter espalhado a notícia para todo mundo.-Nem quiseram saber Arão. Aliás, ninguém nem se quer quis conversar comigo quanto mais ouvir o que eu tinha a dizer.

Arão olhou espantado.-Acho que isso é verdade, pois mesmo a garota com quem divido meu quarto, nem ao menos me deu um bom dia hoje, passou por mim como se nem me conhecesse.-Depois você fala que eu tenho amigos estranhos? Inquiriu Bal-Mas acho que a entendo, o que seria dela se fosse vista falando comigo. Concluiu Cassi.

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-Temos que tentar descobrir o que aconteceu ontem à noite. Acho que os três seres da taberna, levaram o corpo de Nesália para que ninguém desconfiasse de nada, a conversa que ouvimos deles ontem só pode ter sido sobre isso.

A voz de Arão foi suprimida pelos gritos dos garotos. -Mas o que é que está acontecendo aqui?-Eu diria que eles estão testando sua masculinidade. Disse Cassi com desprezo - Lutando entre si para ver quem é o melhor. Que besteira, o que eles conseguem provar com isso? Olhe para Odrin que prepotente se acha melhor que os outros.-Mas você há de convir que ele é muito bom. Comentou Bal.

Prestando mais atenção, Arão pode ver que Odrin se movimentava com agilidade e destreza, era impiedoso com seu adversário, estava simplesmente brincando com Yalo. Este até tentava acertá-lo, mas a cada tentativa o bastão de Odrin era mais rápido e o interceptava, ou quando seu bastão não era interceptado, Odrin se esquivava com uma facilidade impressionante, ele era realmente como Bal disse, muito bom e a luta acabaria assim que ele desejasse.-Como é mesmo o nome do oponente dele? Perguntou Arão.-Se chama Yalo, mas só fiquei sabendo seu nome por que os outros garotos o gritaram antes dele entrar para lutar. Aposto que como eu, você não guardou o nome de ninguém. Respondeu Bal-Como vocês são ruins com nomes. Disse Cassi sem se virar para eles.-Alguém mais lutou? Perguntou Arão-Ainda não.

Respondeu Bal, pois Cassi estava relutante em falar, achava aquilo tudo um absurdo.-Isso é uma luta entre parceiros como costumam chamar. Observe são sete homens e três mulheres, um deles fica de fora, os outros formam grupos distintos, com dois homens e uma mulher cada. As mulheres lutam contra as mulheres e os homens contra os homens, um de cada vez, assim que dois deles vencem, o grupo se torna vencedor, portanto pode ocorrer que um deles nem precise lutar. Isso faz com que todos se esforcem mais e fiquem no mesmo nível de combate. De que adianta um ser excepcional e os outros não? Essa é a primeira luta como são três grupos um está esperando para ver quem vai ganhar e passar adiante para assim enfrentá-lo. Poderia fazer a bondade de nos dizer os nomes deles senhorita sabe tudo?

Bal provocava Cassi.-O grupo de Odrin, Teles e Lissa está enfrentando o grupo de Yalo, Lethan e Milena. A primeira luta é essa que estamos vendo, entre Odrin e Yalo, a segunda é entre Teles e Lethan e a última Lissa e Milena.

Cassi imaginou que as duas fossem do clã das sacerdotisas mesmo por que suas vestimentas eram idênticas. A diferença era que Milena possuía dois braceletes dourados, enquanto Lissa não possuía a gargantilha nem a corrente com a pedra na testa.

Milena era loira de olhos castanhos, tinha boca e olhos grandes, dona de uma beleza natural que chamava a atenção ao primeiro olhar, com suas faixas cinzas claras que subiam do colo até o pescoço, e com desenho de uma meia lua em cada bochecha não passava desapercebidas aos olhares alheios.

Lissa era mais bruta, cabelos ruivos, seus olhos verdes pareciam estar enraivecidos,

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tinha algumas sardas no rosto, porém nem isso tirava seu charme de garota selvagem. Possuía faixas vermelhas nos pulsos e mais duas que desciam acompanhando o contorno de seus olhos até rente ao nariz.-Interessante. Brincou Arão-Interessante nada, isso é maior idiotice que já vi, uma perda de tempo. Concluiu Cassi com indignação. -Eu nunca participaria de algo tão sem propósito como isto.-O que são estes bastões que eles usam?-Bem Arão, estes são bastões de energia, eles tem as hastes opacas e esta é à parte onde ele deve ser segurado, a parte brilhante quando toca o corpo causa uma certa dormência no local atingido, acompanhado de dor aguda.-Na verdade é como se você tivesse se queimado. Explicou Cassi.-Iiii! Posso terminar de explicar? Bal reclamou contrariado. -Como eu ia dizendo, ele causa dor igual a uma queimadura.

Virou o rosto para Cassi e prosseguiu.–Surgem algumas manchas onde o bastão tocou, mas elas somem depois de algum tempo, a não ser que o contando seja muito prolongado. Dentro de cada bastão existem pedras que emanam a energia que os alimentam, como eles só estão com uma pedra seus danos são mínimos, mas se forem colocadas mais que uma eles podem se tornar mortais. Além de serem armas de ataque eles também produzem um escudo de energia que protege quem os manuseia.-É isso aí, vamos tente me acertar!

A atenção dos três foi novamente voltada para o centro do círculo, Odrin atingiu a perna de Yalo, este caiu ajoelhado ao chão, o sofrimento estava estampada em seu rosto, levantou a mão para se defender, mas o bastão de Odrin o acertou. A dor foi intensa, Yalo largou seu bastão que rolou até os pés de Arão.-Aprendam com os melhores. Finalizou Odrin caminhando até Teles antes de lhe passar o bastão. - Sua vez, acabe com ele.

Ambos chocaram as mãos com os punhos cerrados em cumprimento.Lethan se dirigiu até onde Arão se encontrava, pegou o bastão aos seus pés e exibiu

uma expressão de medo que Arão não conseguiu entender o porquê, mas logo descobriria... Os dois caminharam para o centro do círculo. Lethan mudou repentinamente quando se posicionou para a luta, seu rosto assumiu uma expressão de seriedade, estava determinado a vencer, respirava e inspirava profundamente, fazia várias acrobacias com o bastão, Teles por outro lado permanecia parado com olhar fixo em seu adversário, não havia mudança em seu comportamento, estava frio e impassível.-Acho que essa luta é do Lethan. Afirmou Bal.

Do mesmo tamanho de Teles, Lethan era do clã dos guerreiros, cabelos negros e olhos azuis, possuía grande força, tinha uma faixa que lembrava um raio, esta começava na testa sobre seu olho esquerdo, onde era interrompida, recomeçando logo abaixo do mesmo e terminando na bochecha. -Aposto que ele leva essa.

Bal olhou para Cassi, mas ela nem esboçou reação. -E aí Arão, não concorda comigo? Olhe para Teles está paralisado de medo, provavelmente sabe que não é páreo para Lethan, nem consegue se mexer. É melhor ele desistir. Veja

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como seu adversário manuseia o bastão...-Não creio que seja assim como você diz, Bal. Teles parece estar estudando Lethan.-Aaaa! Arão, já vi que de luta você não entende nada.

Nesse instante as garotas candidatas a deusas entravam no salão, Damira, Ingrid, Jenya, Etality e Moira, todas trajavam vestidos brancos de seda e estavam com os cabelos soltos. Pararam para acompanhar a luta entre os garotos.

Lethan gingava de um lado para outro à frente de Teles, a expressão deste não mudava, continuava com olhar fixo em seu alvo móvel. O jovem partiu ao ataque, atirou-se em direção a Teles, este fechou os olhos e sorriu, apenas girou o corpo de lado enquanto o jovem passava por ele. Com um golpe vindo de baixo para cima jogou o bastão da mão de Lethan para o ar, esticou o pé fazendo o garoto tropeçar e cair.

Quando Lethan se virou no chão, Teles tinha pego seu bastão no ar com a outra mão e agora apontava os dois bastões para ele.-Eu desisto! Apressou o jovem em dizer.

Todos ficaram quietos. Teles deixou cair os dois bastões, sorriu para Arão e virou-se de costas saindo do meio do círculo. Olhou para o grupo das candidatas, seu olhos fixaram-se em Damira.

Arão estava impressionadíssimo, ele era tão bom ou até melhor que Odrin, isso não dava pra dizer, pois ele lutara pouco, mas Arão apostava na segunda hipótese."Ele luta muito bem, é frio, impassível e sabe analisar a fraqueza de seu oponente, tenho minhas dúvidas se alguém conseguiria vencê-lo".-Está vendo Lissa, você nem vai precisar lutar. Zombou Odrin.-Assim não tem graça, eu nem tive chance de me divertir um pouco. Na próxima eu iniciarei a série!-Combinado. Concordou Odrin pegando os dois bastões do chão.-Nós somos os próximos. Um jovem saiu do grupo que estava esperando e pegou o bastão das mãos de Odrin. -Vai me enfrentar?

Odrin olhou para o lado e sorriu.-Espere! Vamos ver como nossos novos amigos se saem.

Atirou o bastão para Arão. -Venha enfrentar Tiror...

Tiror tinha cabelos loiros que chegavam até seus ombros, olhos verdes, de estatura mediana e muito forte. Possuía desenhos em forma de faixas verdes que saiam de seu queixo e contornavam seu maxilar até as orelhas. Os mesmos eram vistos bem pequenos embaixo dos olhos. Suas mãos manuseavam com habilidade o bastão, com certeza ele fazia parte do clã dos guerreiros.

Damira olhou com apreensão para Arão, como se pedisse para ele não aceitar o desafio.-E por que não? Disse Arão. Bal o segurou pelo braço.-Está louco? Se você for lutar sabe o que isso significa? Nós também teremos que lutar. Afinal a luta é para três.

Bal se dirigiu aos outros garotos. -Desculpe amigos, mas não iremos.

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Arão parecia decidido.-Cassi me ajude aqui.

Implorava Bal puxando o braço de Arão que estava retesado.-Ele tem razão, o que iremos provar com isso, nada! Vamos embora, não vale a pena.

Arão olhou para a garota, entendeu o que ela queria dizer, seu braço amoleceu e caiu ao lado do corpo, Bal soltou um suspiro de alívio.-Ainda bem que você tomou um pouco de juízo nessa sua cabeça. Vamos Cassi, temos que tirá-lo daqui antes que ele acabe mudando de idéia. Além do mais você nem sabe lutar iria só passar vergonha.

Viraram para se afastar quando Odrin comentou.-Celestinos covardes! Não merecem realmente estar no Santuário, não são confiáveis, por causa de uma traidora de vocês que estamos assim hoje.

Arão não pode deter o que tinha acabado de ocorrer, sabia os efeitos que estas duras palavras causariam. Elas atingiram Cassi em cheio, a garota puxou o bastão das mãos de Arão e foi ao encontro de Odrin, parando bem a sua frente. -Não somos traidores, seu grosseiro prepotente, aceitamos seu desafio, venha lutar comigo agora. Bal cochichou no ouvido de Arão. -Acho que não ouvi direito, ela disse nós aceitamos? Foi isso que ouvi?-Parece que sim. Acho que vamos ter que ficar mais um pouco e participar da brincadeira. Falou Arão puxando Bal com energia.

Odrin ficou impressionado e mais uma vez sem reação, ela o estava enfrentando como das outras vezes. Recompôs-se logo, desta vez não ia ter piedade.-Não costumo enfrentar uma mulher, mas já que você insisti vou abrir uma exceção.

Quando estava pronto para lutar com Cassi, uma mão tocou em seu braço.-Espere um pouco Odrin, não pode enfrentá-la, mesmo você tem que seguir as regras é nossa vez de lutar. Comentou Tiror.-Cassi, eu serei sua oponente. Kitrina sua companheira de quarto, manejava o bastão a sua frente. -Se o seu grupo vencer, aí sim, poderá desafiar quem você quiser do outro grupo. Explicou Tiror-Com medo, garotinha.

Odrin falou com desdém na voz.-Me aguarde machão!

A luta estava para começar entre Cassi e Kitrina, ao centro do círculo as duas se encontravam prontas para iniciar a luta.-Mas o que foi deu nela? E toda aquela história de: "Isso é uma bobagem. O que se prova com isso..." Espero que suas habilidades sejam tão boas como é sua língua afiada.

Bal pronunciava as palavras ainda não acreditando no que acabara de acontecer.A luta teve início e foi muito dura, tanto Cassi quanto Kitrina lutavam muito bem e

tinham habilidades muito parecidas, os bastões se chocavam a todo momento entre ataques e defesas das duas, algumas vezes eles até tocavam os corpos de ambos, tirando-lhes gemidos de dor."Mesmo sendo uma celestina, ela tem muita habilidade com o bastão, não posso me desconcentrar ou irei perder" Pensou Kitrina.

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"Ela é muito forte, mas tenho que vencer, por meu pai...". Cassi procurava tirar força de seus pensamentos.

Kitrina via que Cassi não estava apenas treinando, algo mais a motivava. Todos ficaram impressionados com a determinação da garota celestina, ela estava exausta e respirava com dificuldade, mas mesmo assim sua força não diminuía. Ela parecia realmente determinada a vencer. A exaustão foi dominando a ambas, finalmente Cassi conseguiu tirar o bastão das mãos de Kitrina e acabou vencendo. Mas ela viu que seu esforço seria em vão se Arão e Bal não vencessem, somente a união poderia levá-los a vitória.-Quem será o próximo? Perguntou Odrin.

Bal empurrou Arão de lado e ao passar por Cassi pegou o seu bastão e comentou.-Você e seu gênio impulsivo! Veja onde nos meteu...-Calma Bal encare isso como um desafio."É fácil para ela falar, o único tipo de luta que apreciava na outra vida era quando eu brincava com meus jogos nas telas dos computadores".

Keyllor seria seu adversário, ele tinha cabelos castanhos claros presos por uma fita formando um rabo, seus olhos também eram castanhos e mais alongados que o dos outros, sua boca era fina porém larga. Duas faixas azuis cortavam seu pescoço. Bal ao entrar no círculo tropeçou e quase foi ao chão.-Esse já era Keyllor!

Tiror falava com muito entusiasmo ao companheiro. Nem reparava em Kitrina que estava ao seu lado torcendo também. Quando a luta começou o resultado chegou a ser cômico, Bal não conseguiu manejar muito bem o bastão, era nítido o quando sofria para se manter firme a frente de Keyllor, mesmo assim a luta demorou um pouco para chegar ao desfecho final e o resultado foi o esperado, Bal perdeu. Cassi e Arão foram ajudá-lo a sair do meio do círculo, seu corpo apresentava vários hematomas.-Esta contente agora! Resmungava Bal para Cassi enquanto era carregado.

Finalmente chegou a vez de Arão ir ao centro do círculo, Tiror já o esperava, empunhando seu bastão.-Ei! Arão sinto muito.

Bal falava sentado no chão passando a mão em uma mancha enorme em sua perna.-Sente pelo quê?-Pelo fato de que quando você cair como eu, não vou poder me levantar para ir ajudá-lo.-Obrigado pelo apoio. Agradeceu Arão -Bom vamos ver no que dá! -Bal você devia apoiá-lo e não amedrontá-lo.-Cassi, ele é o menos preparado de todos nós, está óbvio que daqui a pouco ele estará sentado ao meu lado, contando seus hematomas.

A garota ficou em silêncio, no fundo sabia que Bal tinha razão.Arão segurou com firmeza seu bastão, olhou para o lado e viu que Damira o

observava, sua mente foi divagando ele parecia estar longe, imagens começavam a povoar seus pensamentos, porém ele retornou rápido a realidade, Tiror investia contra ele. Arão conseguiu se desviar do golpe, o próximo foi interceptado pelo bastão. O jeito de pegar no bastão, o modo como se deslocava, seus pés tinham passadas leves e rápidas, era como se tudo aquilo lhe fosse familiar e já estivesse acostumado a esse tipo de situação.

Seu oponente era muito rápido, entretanto Arão não sabia como, mas era fácil

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desviar-se de seus golpes, em um dos ataques Tiror perdeu o equilíbrio e acabou caindo em cima de Odrin. Arão ficou parado ao centro observando enquanto Odrin levantava o garoto pelas vestimentas, cheio de fúria.-É melhor você dar cabo dele logo, aquele celestino imprestável não é páreo para você, senão pode ter certeza que não merecerá mais estar entre os garotos da Cidade Superior.

Segurando o bastão em posição de combate, novamente a mente de Arão foi se distanciando enquanto esperava Tiror se recompor, começou a divagar, tudo ao seu redor sumiu...

Estava em uma rua, o lugar não lhe parecia estranho, devia ter voltado no tempo, pois estava com alguns anos a menos, segurando um pedaço de madeira a mão enfrentava um outro menino. Este era um pouco obeso e usava óculos, um grupo de cinco garotos assistia o combate, gritando para que o menino derrotasse Arão.

A luta foi rápida, com apenas alguns simples golpes, Arão derrubou seu oponente. Os meninos ficaram todos quietos e decepcionados com o resultado. Nesse momento surgiu um homem, Arão lembrava vagamente dele, pediu para que os outros se afastassem e estendeu a mão para ajudar o menino que estava caído.-Malcom você está bem? Não apareceu mais na academia.-É verdade Tícero, não tem me sobrado muito tempo já que começou o campeonato de xadrez.-Ótimo, é bom saber que você mesmo não indo à academia está se dedicando a algo bom, mas por que você estava lutando contra Arão?-Por que eu o desafiei. Respondeu Arão -Consegui ganhar fácil, fácil. Sou o melhor.-Por que você aceitou Malcom?-Bom, ele começou a zombar de mim na frente de todos os meus amigos. Eles tiraram sarro de mim, eu não podia recuar.-O que você ganhou com isso?-Fora o tombo? Indagou Malcom com uma cara marota. -Acho que muitas caçoadas por ser tão ruim lutando, vou ser o motivo de riso dos meus amigos por semanas.

O menino se sentia encabulado.-Está vendo Tícero. Sou realmente o melhor. Arão ainda se gabava de sua vitória.-Malcom o que é aquilo do lado de sua bolsa? Seria um tabuleiro de xadrez? Perguntou Tícero.-Sim é, por quê?-Poderia me emprestá-lo um pouco?-Claro, mas não estou entendendo...-Vocês dois sentem-se.

Tícero colocou o tabuleiro no meio dos dois.-Quero ver vocês jogarem uma "melhor de três".

Os meninos formaram uma roda interessados em observar as partidas. Malcom que estava meio desanimado mostrou um sorriso no rosto e foi logo arrumando o tabuleiro, Arão ficou espantado com o desafio que Tícero propunha, pois ele sabia que Arão jogava

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muito pouco xadrez. A cada lance os meninos vibravam, Malcom ganhou as três partidas com muita facilidade, os garotos pegaram e o abraçaram ao final da última vitória.-Puxa, você é o melhor! Gritou um dos meninos-Detonou ele! Berrou outro.–Pronto, obrigado Malcom pode ir agora e espero vê-lo na academia o mais rápido possível.-Pode deixar.

O menino se aproximou de Arão estendeu a mão e o cumprimentou. -você até que não joga mal, mas tem que melhorar muito para entrar para nosso grupo de xadrez, se precisar é só avisar...-Obrigado. Respondeu Arão sem jeito.

Sorriu correndo para junto de seus amigos. Arão observava tudo com resignação. Tícero sabia que ele não era bom no xadrez por que tirara o brilho de sua vitória na luta.-Tícero eu não entendo o ...-Pegue seu pedaço de madeira, vamos lutar agora...-O quê?-Você me ouviu garoto, vamos lá.

Arão obedeceu e pegou o bastão. Mesmo se empenhando ao máximo não conseguiu acertar um golpe sequer em Tícero. O bastão do menino era atirado longe a cada ataque que ele impregnava. -Pegue logo. Ordenou Tícero. -Você não é o melhor, como pode deixar que eu tire a madeira de suas mãos com tamanha facilidade.

Por fim Tícero o acertou e o levou ao chão.-Já está bom para mim Tícero, não vou conseguir vencê-lo. Mas contra Malcom eu dei uma surra nele.-Aí está seu erro garoto, que mérito tem vencer alguém que não está no seu nível, alguém que nem mesmo sabe lutar direito. Você deveria ficar contente se conseguisse me vencer, pois eu sim sei lutar.-Mas isso é quase impossível, o senhor é muito bom.-Então treine mais, dedique-se de corpo e alma até aperfeiçoar mais sua técnica. Ai sim quando me derrotar sua vitória terá um sabor especial. Você tem habilidades espetaculares, luta muito bem e aprende rápido, com certeza um dia poderá vir a ser o melhor, mas se somente usar os seus músculos nunca se tornará bom o suficiente, use isto também.

Apontou para cabeça.-Lutando com o Malcom a única coisa que conseguiu foi envergonhá-lo na frente seus amigos. Sem contar que no xadrez ele deu um "coro" muito feio em você.-Mas Tícero eu não jogo xadrez.-Ele não treina luta... Lembre-se às vezes a vitória não é o mais importante, principalmente quando ela não acrescenta nada para você, às vezes perdendo você pode até ganhar.-Como o quê?-Ora, você pode ganhar um amigo...

Sua mente regressou para o momento presente, estava em pé com o bastão,

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pronto para se defender do outro ataque que Tiror ia lhe imprimir. Enquanto Odrin gritava como um doido. A luta recomeçou. Tiror atacava com mais ímpeto que antes."Ele se esquiva muito bem". Pensou Tiror.

Arão procurava evitar seus golpes, a roda se animava com o combate, a agitação era geral, até as candidatas as deusas, estavam exaltadas, somente uma delas assistia aflita ao combate.

Arão se defendeu mais uma vez até se distrair por um momento, olhou para o rosto lívido de Damira, foi o tempo suficiente para o bastão penetrar por sua guarda e atingir seu abdômen. Ele caiu ao chão com uma dor intensa, sua pele latejava, não conseguia se levantar e sentia dificuldade para respirar. Bal e Cassi entraram no centro do círculo para ajudá-lo.-O combate acabou. Disse Cassi pegando Arão pelo braço. Ao levantá-lo, Tiror chegou perto de Arão, olhou-o de modo estranho e baixou a cabeça em cumprimento pela luta. Não disse mais nenhuma palavra, pegou o bastão de sua mão e virou-se voltando para seu grupo.-É Arão, até que você foi bem, mas como eu disse você iria acabar no chão como eu. Brincou Bal. -Não foi tão divertido assim. Protestou Arão com dificuldade enquanto uma das mãos alisava sua barriga.-Isso dói.

As candidatas a deusas se movimentaram passando pelos garotos, Damira deu-lhe um olhar assustado, Arão teve vontade de ir falar com ela, mas sabia que não podia.

As lutas prosseguiram com os dois grupos vencedores se enfrentado, Odrin não cumpriu o prometido, ele e Teles lutaram primeiro, massacraram seus adversários e Lissa mais uma vez não precisou lutar. As lutas acabaram no momento em que Milenus estava chegando para continuar com os ensinamentos.-Bem garotos, vamos continuar...-Bal, preciso falar com Damira.-Arão acho que você pirou, ou tomou gosto por apanhar, aposto que foi a luta. Eu sei que ela é bonita e tudo o mais, mas o irmão dela não ia gostar nada disso. Olha, existem muitas mulheres aqui e você vai logo invocar com uma que a família quer ver nossa raça desaparecer.-Não é isso Bal, hoje quando estava no centro do círculo, imagens vieram à mente, tenho certeza que eram sobre meu passado, acho que Damira pode me ajudar. Preciso saber o que mais ela conhece sobre mim. Ela pode me ajudar a recuperar memória.-Isso vai ser difícil Arão, se o irmão dela pegar vocês dois juntos, vai fazer picadinho de você.–Aliás. Intrometeu-se Cassi. -Como sabe que ela ainda quer conversar com você? Depois de tudo o que aconteceu... Tenho lá minhas dúvidas.-Ai é que está, se eu não tentar nunca vou saber. Concluiu Arão.

Entraram na sala para continuar seu aprendizado. Milenus disse que este seria o último dia à frente dos espelhos de Alfeu. Estava chegando o momento em que iriam aprender sobre as auras e como desenvolver suas habilidades individuais. Depois teriam a grande prova final onde escolheriam os quatro garotos que tentariam se tornar guardiões.

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Bal e Arão outra vez sentaram juntos frente ao espelho, vendo muitas coisas interessantes.-Sabia que podemos ouvir músicas através dos espelhos?- Música?-Ora Arão, a música é uma das coisas mais belas que existem, ela estimula, mexe com os sentimentos, seria um pecado ela só existir no mundo dos homens.-Coloque uma Bal para nós ouvirmos.-Do firmamento ou lá debaixo?- Não sei, qualquer uma.

Bal colocou uma música lírica.-Não, essa não.

Arão procurou entre as músicas do mundo dos Homens. -Que tal essa? "Thears of the Dragon". -Não conheço. Resmungou Bal.-Hei! Eu já ouvi esta música.

Imagens vieram a mente de Arão. Um quarto, o rádio-relógio tocando...-Hã, hã! Não é melhor vocês se concentrarem nas coisas importantes?

Milenus estava parado atrás deles. Bal parou rapidamente a música e Arão despertou de seu transe.

O resto do dia transcorreu tranqüilamente com os jovens sentados em frente aos espelhos colhendo informações, somente Cassi que novamente entrou num bate boca com Odrin, não entendia como Milenus podia colocá-la ao lado dele.

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A Lua de Sangue, 2ª Noite...

À noite quando entrou nos seus aposentos ao lado de Kitrina, Cassi estava possessa da vida.-Não entendo como Milenus pode fazer isso comigo. Odrin é um ... é um...–Mastodonte? Acho que é palavra que você está procurando, não?-O quê?-Eu ouvi seu amigo Balduíno chamando-o assim.-Aaaahh o Bal, não liga pra ele não.-Mas olhe Cassi, desculpe por ignorá-la hoje. Não tenho nada contra os celestinos, até gosto muito de você, mas acho que pode ver como "eles" são. Kitrina se referia a Odrin e Teles. - Não perdoariam quem tivesse amizade com os celestinos e colocariam todos os outros garotos contra.-Não tem importância eu entendo você, mas foi uma bela luta a sua hoje...-A sua também, aliás, acho que somos muito parecidas, da próxima vez o resultado vai ser diferente. Eu perdi por que você estava lutando com muito mais empenho, parecia muito determinada...

Cassi lembrou-se das palavras de Odrin antes da luta e realmente estava lutando por algo mais...-Nossa! Mas vencendo você, eu a deixei em má situação perante os outros, me desculpe...-Não esquenta não, como sou mulher eles não ligam tanto, o problema teria sido se Tiror tivesse perdido para seu amigo Arão. Ia ser muito divertido se todos pudessem conviver em paz como amigos-Não sei se ia ser divertido ter aquele prepotente e arrogante perto de mim. -Sabe Cassi, você parece nutrir por ele o mesmo ódio que ele tem contra você. Cassi parou um pouco para pensar nas palavras de Kitrina.-Não é bem assim, é que... Ele não dá chance de se aproximar, nem quer saber que tipo de pessoa somos, para ele basta ser celestino para ser ruim. Será que ele sempre foi assim?-Na verdade não, ele já foi bem diferente.-Sério? Não consigo imaginá-lo agindo de outro modo.-Bem, vou lhe contar a história toda, pois para as pessoas da Cidade Superior ela não é nenhum segredo. Há tempos atrás à família de Odrin foi muito respeitada e admirada. Odrin tinha um irmão ao qual ele venerava, era seu ídolo, muito mais que o próprio pai. Era um dos guerreiros mais fortes do reino. Odrin não se desgrudava dele, onde passavam sentia orgulho de tê-lo ao seu lado, porém quando os tempos começaram a mudar.

Kitrina chegou mais perto de Cassi.-O irmão de Odrin se apaixonou por uma jovem garota celestina, ela era muito bela, nessa época as relações entre o povo celestino e o da Cidade Superior já estavam estremecidas. Os primeiros sinais começavam a surgir, algo ameaçava a paz do reino. Seu pai foi contra o relacionamento e tentou impedir de todos os modos possíveis à união dos dois, mas o Irmão de Odrin era determinado e a amava mais que tudo. Lutou por ela em todos os momentos, dizem que até iria defendê-la perante o conselho de anciãos. Mesmo com a maioria sendo contra essa decisão.

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Cassi fez cara de poucos amigos diante das palavras de Kitrina. -Nessa época o grande Osíris já estava isolado em seu templo protegido por causa do ataque que sofrera na pirâmide. Quando os rebeldes fugiram frustrados da tentativa de matá-lo, afinal foram descobertos por Medar que evitou o pior, um desses rebeldes era o irmão de Odrin. A partir deste acontecimento o garoto passou a ser visto como o irmão do traidor, sua família perdeu todo o respeito que tinha e imagine o choque que deve ter sido para ele, tão pequeno, todos o repeliam. Seu grande ídolo nada mais fora do que um traidor. Odrin teve que conviver com isso todos os dias na Cidade Superior. Sendo um renegado da fama que seu irmão deixara. Muitos diziam que estava fadado a seguir o mesmo destino do irmão.

Kitrina se locomoveu pelo quarto antes de prosseguir.-Entretanto com muito esforço e dedicação ele jurou se tornar o melhor dos candidatos a guardião, conquistou o respeito da maioria, mas mesmo assim ainda é visto por alguns com uma certa desconfiança. Ele odeia o irmão e muito mais o povo celestino, se pudesse acho que ele acabaria com todos com as próprias mãos.

A garota sentou-se ao lado de Cassi.-No fundo acho que Odrin acredita que o irmão tinha sido ludibriado pela garota celestina a cometer tamanho crime, mas também não o perdoa por ele ter sido tão fraco, a garota celestina foi sua perdição, ele não desconfiou do plano dela. O grande homem que jurou lutar pela justiça havia caído perante um rosto belo.-Falando assim até dá uma certa pena dele, mas isso não dá o direito de tratar todos do modo como ele trata. Os celestinos não são maus Kitrina.-Eu sei Cassi, mudei de opinião no instante em que te conheci, mas tenho dó dos que cruzarem os caminho de Odrin, principalmente por que ele jurou encontrar os outros responsáveis que ajudaram com o atentado. Falam por aqui que a família toda dela estava envolvida, pois até o pai da moça foi morto depois. Ele agora procura pelo outros familiares em busca de justiça.-Acho que isto pode se chamar mais de vingança...-Chame como quiser Cassi, mas ele não vai descansar enquanto não acabar com todos os descendentes daquela garota.-Mas e o irmão dele o que disse? E a tal garota onde se encontra?-Ele foi morto aqui na Cidade Superior, quanto a ela ninguém sabe o que aconteceu. Mas antes de suas mortes conseguiram desferir outro golpe contra o reino, mataram o grande sábio Jacó.

Cassi começou a suar frio, passada sua raiva inicial, estava prestando mais atenção à história, não somente dando respostas evasivas a Kitrina sem pensar. A história lhe parecia familiar demais...-O pior é que Odrin foi avisado que o irmão estava na cidade e partiu para combatê-lo, mas quando chegou ele já estava morto. Ela com certeza o matou e fugiu, já o tinha usado para eliminar Jacó. Você vê como uma celestina causou tanta dor na Cidade Superior. Às vezes sinto pena dele, deve ter sofrido muito.

Cassi empalideceu, sentiu um aperto muito forte no peito, sua voz não saía, queria ir embora dali, ficar só, pensar um pouco...-Cassi! O destino foi cruel com Odrin, ele precisava ter encontrado seu irmão antes da

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

morte, pois ele nunca obteve as respostas que queria. Einar! Einar! Você deixou um peso muito grande sobre os ombros de seu irmão.

Kitrina disse a última frase mais para si mesma do que para Cassi.-Cassi! Cassi! Aonde você vai??

Mas a garota já tinha se levantado e saído.

Arão estava em seu quarto esperando por Bal que ainda não voltara do refeitório.

-Nossa como você demorou, achei que fosse fazer ceia sozinho hoje... Arão mostrou algumas guloseimas que tinha pegado.-Eu também peguei algumas, aliás muitas, mas vamos deixar isto para depois. Arão! Acho que resolvi os seus problemas...-O que você aprontou desta vez? Normalmente suas soluções consistem em aumentar o problema muitas vezes e ainda por cima me colocar em confusão.-Não seja pessimista e me ouça. Você queria conversar com Damira? Pois eu posso resolver isto.-Como? -Vamos até o espelho de Alfeu que eu lhe mostro. Enquanto eu estava no refeitório, ouvi alguns jovens comentarem que no final da próxima lua, que deve ocorrer nos próximos quatro dias, vai haver um baile na Cidade Superior e todos são convidados para irem. Arão! Olhe para o espelho não para mim. Pois bem nele você poderá se encontrar e conversar com Damira.-Não sei se você já chegou a pensar nisso, mas como farei para conversar com ela sem que ninguém note. Todos os garotos da Cidade Superior estarão presentes. E o quanto ao resto das pessoas? Acredito que o pai dela também deva ir, todos estarão de olhos nas candidatas a deusa. Simplesmente não terei chance.-Mas esta é a melhor parte, fique tranqüilo Arão que eu já pensei em tudo. Primeiro que o "tema" para o baile ainda não foi escolhido. Olhe as opções.-Baile Celestial? Mas o que é um baile Celestial? -E como é que eu vou saber Arão.-Baile da Lua? Arão estava cada vez mais confuso. -Não creio que isto me ajudará muito.-Não temos muito tempo para ficar pesquisando os temas. Bal deu um sorriso maroto para Arão. -Mas...-Mas??? A resposta de Arão foi mais uma pergunta.-Olhe! O tema vai ser escolhido pelos candidatos a guardiões e as candidatas a deusa. Devemos usar nossos os espelhos para votar e temos direito a um único voto. Somos em treze e as candidatas são cinco, então temos no total dezoito votos certo?-Certo, e pelo que vejo quase todos os garotos, com exceção de nós dois já votaram.

Todos votaram no Baile Celestial, com certeza Odrin esta comandando esta votação. Das mulheres Lissa e Milena já votaram então temos nove votos para o baile celestial. Restam nós dois, duas garotas, uma delas deve ser a Cassi e as cinco candidatas à deusa no total são nove.-Sim, e daí?

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-Qual o único jeito de você vê-la sem que ninguém note?-Bal, só eu estivesse mascarado.-Isto mesmo Arão, agora você parece que está pegando a idéia da coisa.-Mas não existe a opção baile de máscaras aí.-Ainda não, mas o tema é livre e ninguém sugeriu outro... Podemos acrescentar uma opção do mundo dos Homens.

Bal se sentou em frente ao espelho, Arão o observava, logo apareceu uma opção a mais , "Baile de Máscaras".-Ótimo, mas isto ainda não resolve todos nossos problemas Bal. Não se esqueça que o Baile Celestial tem nove votos, se mais alguém votar nele perdemos. E ainda temos que torcer para todos votarem no Baile de Máscaras, o que será quase impossível.-Tenha fé meu caro amigo. Acho que posso crer que todos os restantes vão querer o Baile de Máscaras. Você acredita em milagres?-Bal, você vai fazer o que eu estou pensando...-Já fiz, simplesmente todos os restantes querem o baile de máscaras.-Você votou por todos. Que jogo sujo, hein?!-Você quer ou não quer conversar com ela?-Quero! Arão foi incisivo mesmo considerando o que o amigo acabara de fazer. -Mas ainda temos problemas, pois empatamos nove a nove com o Baile Celestial.-Não se de repente Odrin mudasse de opinião e votasse no Baile de Máscaras. Pronto, agora são dez a oito no placar. E o vencedor é, o Baile de Máscaras.-Mas eles podem reclamar, não? -Sem chances assim que o último votar, o resultado é fechado e não tem mais volta. Está no regulamento aqui ao lado. Amanhã nós veremos nos espelhos de Alfeu o pronunciamento de que o Baile de Máscaras ganhou. E os preparativos para o baile se iniciarão. -Bal, você é incrível!

Bal dividia o espelho com Arão. Ele tinha tomado novo interesse pelo objeto assim que soube que talvez pudesse utilizá-lo para conversar com Damira. Mas simplesmente ainda não conseguira... Estava distraído olhando para tela quando...Aprendeu o significado da palavra medo?-Olhe, Bal, é ele novamente.

Bal olhava sem entender.-A pessoa que me mandou as mensagens ontem.-A ta, sai pra lá, vou ver se consigo descobrir quem é ele.Balduíno nem adianta tentar que sua busca será em vão. Não conseguirá me localizar ou mesmo descobrir quem sou.-Ei! Como ele sabe meu nome.As letras iam aparecendo no espelho.Eu sei de muitas coisas. Ontem foi só uma amostra do que está por vir Arão. Ainda resta tempo para você ir embora.-Que cara teimoso. Disse Arão e enviou-lhe uma mensagemEu já disse que não vou embora e ponto final. Não tem como me convencer do contrário.Você está realmente decidido a ficar! Então preste muita atenção nas minhas

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palavras: As trevas estarão andando livre nesta segunda noite da Lua de Sangue, a lua da morte, não se atreva a sair de seus aposentos. Aconteça o que acontecer não saia. Quem sair hoje terá o mesmo destino que Nesália."Isto significa que Nesália..." Pensou Arão.

Por um instante a imagem do espelho ficou turva, mas logo voltou ao normal.-Arão a pessoa que enviou estas mensagens sabe o que está fazendo. Eu nem ao menos consegui localizá-la e olha que eu entendo disso.Arão estava deitado em sua cama pensativo.-Você acredita no que ele acaba de dizer?

Arão saiu de seu transe e respondeu a Bal.-Temo que seja verdade. Ontem eu ouvi a conversa de Nesália com alguém que não consegui identificar. Depois senti como se alguma coisa sinistra passasse por mim e ela alcançou a pobre mulher. Pelo visto hoje algo vai voltar a acontecer. Temos que avisar alguém.-Mas ele disse para não sairmos, se for verdade estaremos correndo grande perigo lá fora. Os anciãos também nos proibiram de sair dos aposentos. Algo não esta me cheirando bem. Ontem já nos arriscamos demais.–Bal, tive uma idéia, muitas pessoas da Cidade Superior utilizam o espelho, inclusive alguns grandes sábios certo?-Certo. Respondeu Bal-Você pode contatar qualquer pessoa através dele?-Sim posso! Hhhuuummm estou entendendo onde você quer chegar. Podemos simplesmente avisá-los sem sair daqui.-Então vamos ver se encontramos alguém que possamos avisar.

Bal começou a procurar, Arão continuava sentado na cama. De repente...Oi.

Bal respondeu rápido enquanto continuava a procuraOi. Quem é?Meu nome é Kitrina.Companheira de quarto de Cassi?Sim, e você?-Arão é a Kitrina, a amiga de Cassi, estou falando com ela.-Não temos tempo para ficar de conversinha, precisamos encontrar alguém que nos ajude, você pode conversar com ela depois.-Mas ela é bonita Arão...

Arão olhou-o de modo reprovador...-Tá bom. Já entendi. Estraga prazeres. Meu nome é Balduíno. Olha, estou um pouco ocupado no momento, será que poderíamos conversar depois? Claro, eu ia adorar.

O rosto de Bal deu uma ruborizada com a resposta da garota. Não esperava por isso, mas a voz de Arão o fez voltar ao que estava fazendo.-Vamos Bal.De um abraço em Cassi por mim, ta bom.

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Tudo bem, mas vou ter que esperar ela voltar para poder lhe transmitir o abraço.-Voltar? Como assim voltar? Bal falava alto para o espelho.Mas onde ela foi? Com quem? Vai demorar?Não sei estávamos conversando e ela simplesmente saiu do quarto.-Temos um problema Arão.-O que aconteceu?-Cassi não está no quarto. Ela saiu!-O quê! Arão levantou-se bruscamente derrubando vários objetos que estavam em cima da cama.-Para onde ela foi? Saiu sozinha?-Não sei, Kitrina não soube responder. Ela apenas disse que Cassi saiu.-Precisamos encontrá-la antes que...-Antes do que Arão?-Que algo a encontre. Vamos...-Mas não podemos sair...

Bal nem teve chance de terminar a frase. Arão o arrastava pelos corredores escuros do Santuário...

A iluminação da lua avermelhada que passava pelas formas desenhadas na parede quebrava um pouco da escuridão, mas mesmo assim ainda era difícil se orientar.-Temos que chegar na ala onde ficam as garotas e encontrar Cassi rápido.–Arão acredite em mim. Se fosse em outras circunstâncias eu ficaria muito feliz de ir ala feminina. Quem sabe Cassi já não voltou para o quarto dela.-Não podemos arriscar.

Após muito caminharem, chegaram a um pequeno pátio com duas estátuas. Um homem com um livro dourado estava de costas para Arão e Bal. A outra, uma mulher com uma arpha prateada as mãos estava de frente para eles. Ela guardava a entrada de um outro compartimento do Santuário. Espalhas pelo local haviam torres com cavaleiros dentro que faziam a vigília noturna.-Se fizermos sinal para eles, podemos avisar o que está acontecendo. Sugeriu Bal.-Primeiro seríamos repreendidos por estarmos fora de nossos quartos. Segundo, quem acreditaria em nós? Apesar do que aconteceu com Nesália, ninguém parece ter tomado conhecimento. E terceiro, somos celestinos lembra-se? Não gozamos da simpatia de todos... Acho que devemos ir por ali. Com um pouco de sorte chegaremos à ala feminina. Bal precisamos estar atentos. Bal... Bal...-Desculpe, mas achei ter visto duas pequenas luzes entre aquelas folhagens.

Apontou para uma moita no canto do pátio. -Mas elas sumiram... Será que estou tendo alucinações?

Arão olhou desconfiado para a moita.-Não temos como checar isso agora. Precisamos atravessar logo para o outro lado. Cuidado para não ser visto.

Passaram com todo o cuidado para a outra ala, cristais presos às paredes iluminavam o corredor. O teto era todo coberto por vitrais e águas escorriam pelas paredes como se

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fossem veias. Avançaram em silêncio, Arão puxava Bal pelo braço enquanto passavam por várias portas fechadas.

Cassi tinha andado sem rumo pelos corredores. Seu rosto estava úmido pelas lágrimas. Não queria ver ninguém, estava com ódio de tudo e de todos. Ainda bem que saíra do quarto, não sabia o que poderia fazer se continuasse lá.

Como foi duro ouvir as palavras da boca de Kitrina. O povo da Cidade Superior também achava que sua irmã tinha planejado contra o grande Osíris e ainda matado Jacó e Einar. No fundo ela não queria acreditar... Encostou-se na parede, deixou-se deslizar até o chão e começou a chorar.

O tempo passara rápido e quando conseguiu parar de soluçar, Cassi ouviu um barulho vindo não muito distante de onde se encontrava. Pareciam passos que se aproximavam, levantou a cabeça, ergueu-se assustada e procurou um lugar para se esconder. Os passos se aproximavam.

Viu três vultos passando por ela, cada um carregando uma jovem. De imediato reconheceu os três seres, eram os mesmos da taberna, quando ela e Arão conheceram Bal. Eles traziam consigo três candidatas a deusas.

Seguiu-os pelo corredor, pararam em uma câmara com oito entradas em forma de arco. O centro do local era iluminado através de um vitral enorme que tinha o formato de uma cruz.-Pronto, vamos deixá-las nesta câmara, faltam buscar as outras duas para finalizarmos nosso trabalho. Disse um deles espalhando saliva pela boca antes de saírem silenciosos pelo corredor.

Ficou claro para Cassi que eles não tinham boas intenções para com elas. Aproximou-se das garotas reconhecendo Damira de imediato. Tentou acordá-la com um leve tapa no rosto, mas ela não esboçou reação alguma. Decidiu arrastá-las e escondê-las de seus raptores. Puxou primeiro Damira para o lado. Quando conseguiu levá-la para trás de um pilar, os seres já haviam voltado com o restante das garotas. Colocaram-nas ao chão ao lado das outras.-Eu podia jurar que trouxemos três garotas quando viemos a primeira vez. Grunhiu o Molf.-É claro que trouxemos seu imbecil, mas uma delas sumiu. Será que acordou? Perguntou o Tulgor.-Impossível!

Gotas de saliva explodiram dos lábios de Sender. -Ou será que...

Sender empunhou os dois punhais da cintura, os outros dois os acompanharam, Tulgor pegou sua foice enquanto Molf carregou seu machado.

Cassi ficou paralisada tamanho o medo que sentia, ela pode notar nas armas entalhes negros que brilhavam. Eram inimigos... Estavam vasculhando a câmara. Ela torcia para que eles não a achassem.

Damira que estava deitada inconsciente começou a se mexer, saindo do sono que se encontrava. Cassi foi rápida ao levar sua mão a boca da garota, mas não impediu-a de

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tossir uma vez. A candidata a Deusa se assustou quando viu Cassi fazendo sinal para ficarem em silêncio. A câmara estava quieta. Cassi não ouvia mais vozes. Olhou com cuidado através do pilar, não viu nenhum dos seres. Por um momento ficou tranqüila e relaxou um pouco. “Será que foram embora ou foram procurar em outra câmara?”

Quando tirou a mão da boca de Damira para lhe falar, esta ficou com uma expressão de horror no rosto e soltou um grito.-Mas o que você está fazendo? Estou do seu lado, se não ficar quieta estaremos perdidas.

Damira apontou para trás do ombro de Cassi. Ela entendeu o que assustava a jovem candidata. Um dos seres estava atrás dela, com uma expressão maquiavélica na face, empunhava um punhal e desferiu-lhe um golpe certeiro...

-Arão, você sabe pra onde estamos indo?-Não, mas senão me engano os aposentos das candidatas a deusas e das candidatas a guardiãs são separados. Esses devem ser os quartos das deusas.-Quer dizer que provavelmente ainda estamos longe de onde Cassi deve estar. Tem idéia de como poderemos encontrá-la? Perguntou Bal.

Um grito veio do fundo do corredor.-Ai esta sua resposta. Vamos...

Disse apontando para a direção de onde viera o som. Ambos correram até que Arão subitamente parou.-O que foi? Por que você parou?

A sensação da noite anterior voltou.-Bal, não estamos sozinhos, alguma coisa está no final do corredor.-O quê? Como assim? Não consigo ver nada lá.

Um grito estridente veio percorrendo a estreita galeria, quebrando todos os cristais da parede, até chegar aos ouvidos de Bal e Arão. Quando tudo ficou escuro e quieto, duas pequenas luzes se acenderam.-Corra Bal! Corra! Gritou Arão pegando-o pelo braço.-Não precisa nem mandar.

Suspirou Bal assustado acompanhando o amigo.

Cassi só teve tempo para abaixar a cabeça. O punhal acertou o pilar em cheio, soltando algumas faíscas. Ela deu um chute no rosto do ser tombando-o para trás. Levantou Damira e as duas partiram por uma das saídas.-O que aconteceu?

Molf arqueou-se ao lado de Sender.-A maldita me acertou com um chute. Explicou jogando saliva no rosto de Molf.-Não achei que ia ser tão difícil... São apenas garotas... Disse Tulgor.-Tulgor fique e vigie as outras. Você! Ordenou. – Molf! venha comigo vamos acabar com as duas.

Cassi segurava Damira, temia olhar para trás, seus perseguidores poderiam aparecer

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a qualquer momento. A candidata a Deusa estava exausta. Cassi parou por um momento, tinha uma pequena dianteira em relação a seus inimigos.-Não vou conseguir correr mais, estou muito fraca, vá e salve-se.

A voz de Damira saía com muita dificuldade, como se a cada palavra ela precisasse ir buscar ar para conseguir falar.-Não seja tola, é claro que você vai conseguir. Vamos, nós precisamos...-Eu agradeço por tudo, mas não tenho mais forças.

Cassi observava as feições da garota, parecia impossível continuar se ela não descansasse. Havia a possibilidade de carregá-la, entretanto seriam alcançadas logo.-Vá rápido. Pediu Damira colocando as mãos no joelho e abaixando a cabeça para ver se melhorava um pouco.-Ouça o que vou fazer.

Cassi a pegou pelos ombros e levantou-a.-Irei por aquele lado fazendo barulho. Eles me seguirão e como está escuro não conseguirão ver que estou sozinha. Você espera e assim que eles passarem foge para o outro lado.-Não!-Você não está em condições de discutir.

Cassi partiu. Damira ficou imóvel na parede ao lado de um pilar, viu dois vultos passarem por ela.-Vamos! Elas foram por ali. Berrou Sender.

Damira saiu cambaleando para outro lado, usando a parede como apoio, sumiu na escuridão esperando encontrar algum rosto conhecido pelos corredores...

Arão e Bal corriam desesperados com seu perseguidor em seus encalços. Dobraram um corredor onde havia uma estátua. O perseguidor não conseguiu fazer a curva e acabou chocando-se contra a estátua, gerando assim uma grande explosão. Bal e Arão pararam.-Caramba que batida, será que ele se foi. Perguntou Bal a Arão. - Ou seja lá o que for.-Não sei.

Arão aproximou-se com cuidado dos destroços da estátua.-Bem feito pra esta coisa. Quem mandou mexer com a gente. Hei! Até que formamos uma bela dupla. Você não era páreo para gente sua coisa insignificante.

Disse Bal chutando umas pedras pequenas no chão.Os destroços começaram a se mover, as luzes saltaram atirando pedaços de pedra

para todo lado.-Vamos Bal! Ainda está vivo.-Eu estava brincando quando lhe chamei de coisa insignificante.

Os dois partiram em disparada novamente. Pelos vidros da galeria conseguiram avistar luzes vindo de outras partes do Santuário, provavelmente mais gente tinha ouvido o barulho. Continuaram seguindo pelos túneis se esforçando para escapar. Arão olhou para trás as luzes haviam sumido. "Será que foi embora quando viu o movimento do outro lado?" Pensou consigo mesmo.

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Arão e Bal pararam um pouco para se certificarem de que não estavam mais sendo seguidos.-Parece que ele desistiu. Comentou Bal com alívio. -Acho que fomos rápido demais para ele.-Não sei não.

Um som veio da direção para onde eles estavam se dirigindo.-O que poderá ser isso Arão?

Os dois retesaram seus corpos esperando... Passos lentos e pesados vinham em suas direção.-Fique firme Bal.-Firme? Estou com as pernas bambas... Como aquela coisa passou por nós? Estamos perdidos.

Os passos continuavam...

Tulgor ficou na câmara com as outras garotas, estava impaciente. A demora de seus companheiros estava sendo muito grande e já comprometia todo o plano do mestre. Ele começava a ver as luzes se aproximando. Não esperaria pelos outros, executaria ele mesmo as ordens e assim não sofreriam punição.

Colocou sua foice de lado e tirou um punhal de sua cintura, levantou-o e sorria para si mesmo.-Adeus. Sussurrou para umas das garotas.

Ouviu passos chegando por uma das entradas. "Droga". Pensou, seu tempo se esgotará, mas sua vinda até ali não seria em vão, tinha que apresentar pelo menos algum resultado positivo ou eles iriam pagar. O punhal desceu veloz. Os passos se aproximavam mais, estariam entrando na câmara em questão de segundos, teve que partir sem completar sua missão...-Ainda nos veremos novamente minhas crianças...

Cassi conseguia divisar uma luz vinda da outra sala. Passou apressada pela porta e

novamente se encontrava na câmara onde estavam as candidatas a deusas. As quatro que ela havia deixado ainda estavam deitadas, porém uma delas levantava uma das mãos trêmula chamando-a.

Ao se aproximar parou estarrecida, não estava preparada para aquela cena. Ficou indecisa sem saber o que fazer. Não sabia se continuava ou simplesmente ia embora, enquanto a mão da jovem tremia no ar.

Ajoelhou-se e pegou a mão da garota que tentava lhe dizer algumas palavras, mas elas não saiam. Um punhal estava cravado em seu abdômen, detalhes negros se moviam na lâmina. A essência escorria pela boca da garota. Cassi fez sinal para ela ficar quieta, passou a mão pelo metal frio e puxou com força. Outras duas garotas que estavam se levantado olharam para o lado e começaram a gritar assustadas.

Uma delas fugiu com medo por uma das entradas, nem bem dobrou o primeiro

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corredor e deu de cara com duas luzes brilhantes. Sentiu um medo que jamais sentirá antes, estava paralisada. As luzes vieram em sua direção, ela perdeu a consciência e caiu...

Os perseguidores de Cassi nem entraram na câmara. Ao chegarem à porta e ver a cena, pararam, deixaram seus corpos serem engolidos novamente pela escuridão do corredor. Saíram sem serem vistos.

-O que faremos agora? Bal esperava que Arão lhe desse uma resposta tranqüilizadora, mas sabia que era impossível. Estavam ali expostos no corredor.

Os passos se aproximavam, a luz da janela logo lhes mostrariam o que era... Um pé delicado e descalço apareceu, logo depois o outro. Os tornozelos finos exibiam em um deles uma tornozeleira dourada. As pernas entrelaçadas por um vestido branco transparente e a cintura fina se locomoviam no mesmo ritmo dos passos desgovernados... Era Damira que caminhava com dificuldade. A luz do luar iluminava todo seu corpo, ela estendeu a mão e perdeu o equilíbrio, vindo a tombar para frente. Arão foi rápido, adiantou-se impedindo que seu corpo tocasse o solo. Ela estava semi consciente em seus braços.-Damira você está bem? O que aconteceu?

A garota tentava responder, mas era difícil para as palavras saírem. Se sentia novamente segura, porém alguns gritos vindo de perto afastaram essa sensação.

Arão a conduziu junto com Bal na direção dos gritos. Avistaram uma entrada pela qual passaram. O assombro veio em seguida, Cassi estava ajoelhada com um punhal na mão, e em seu colo, uma garota repousava com um líquido escuro escorrendo de seu abdômen. No mesmo instante as outras entradas foram preenchidas por corpos que também ouviram os gritos. Dentre eles estavam alguns anjos e os outros candidatos a guardiões. Uma das garotas que estava ao chão gritou.-Ela... Ela a matou... Matou Ingrid...

Cassi ficou pálida. Pensavam que ela tinha matado a garota quando na verdade ela tinha tentando fazer o contrário. Salvá-la. Arão e Bal não sabiam o que fazer. Odrin que estava do outro lado do salão viu sua irmã sendo amparada pelo garoto celestino e partiu imediatamente para cima dele.-O que você pensa que vai fazer com minha irmã? Estava segurando para ser a próxima vítima de sua amiguinha?-Mas eu não fiz nada! Gritou Cassi.

Uma confusão se armou, até que... -Silêncio todos! Os fatos aqui são obscuros e confusos. Precisamos esclarecer tudo antes de darmos qualquer julgamento.

A pessoa que falava impôs todo seu respeito.-Mas Medar...

Odrin começou a reclamar.–Quieto! Não vamos nos precipitar. Quero que todos voltem para seus quartos.

Pegou o punhal do chão. Amagus que estava a seu lado perguntou.-Como isto pode ter vindo parar aqui?–isto é uma boa pergunta. Reúna todo conselho imediatamente. Ordenou Medar.

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Odrin tirou Damira dos braços de Arão, no mesmo instante que seu pai chegava.-Você! Seu rosto foi ficando vermelho enquanto se aproximava da filha. -É uma vergonha, jamais permitirei que chegue perto desse garoto, sofrerá as devidas punições.-Mas pai eu não...-Não diga mais nada, eu não quero mais vê-la junto com este povo.

Olhou com desprezo para os celestinos. -Você quer se tornar igual a seu irmão Einar? Nos envergonhar novamente?-Não...-Espero que desta vez aprenda...

Arão se intrometeu na conversa.-Mas meu senhor ela precisava de ajuda, nos só ...-Como ousa me dirigir à palavra! Se ela estava em apuros, deviam tê-la deixado. Se este era seu destino...

Deu as costas para Arão partindo com a garota em seus braços.

Na manhã seguinte os três passeavam pelos jardins. Ninguém conseguiu dormir mais a noite passada. A garoa fina que começara cedo, já não caia mais. A relva matinal molhava seus pés enquanto caminhavam. Apesar de Medar ter reunido a todos e fazer um discurso sobre a inocência de Cassi. A garota achava que muitos não se convenceram ou ainda pensavam que ela estava ajudando quem quer que tivesse matado a candidata a deusa.-Tudo isso está me parecendo muito estranho. Bal coçou a cabeça levemente. -O que você estava fazendo lá Cassi?

A pergunta pegou a garota de surpresa.-Bem... Eu estava entediada no meu quarto e decidi dar uma volta. Gaguejava um pouco para encontrar as palavras. –Aí, eu estava andando pelos corredores e vi uma garota caída. O que eu poderia fazer? Fui ajudá-la...

Não sabia se suas palavras estavam convencendo os dois, mas não conseguia pensar em nada para dizer naquele momento. Seu olhar cruzou com o de Arão que permanecia calado ouvindo.-Mas não faz sentido. Você sabia muito bem que não podia sair do quarto por nenhum motivo sequer. Prosseguiu Bal com suas repreensões.-Eu sei, eu sei...

Não sabia mais como fugir daquela situação. Só queria que ela terminasse. Ficou muito aliviada quando Arão interrompeu.-Vejam.

Arão apontou para um grupo das garotas, com vestimentas brancas, que se desprendiam do corpo com a passagem das brisas. Elas estavam sentadas em posição de medição. Os olhos se encontravam fechados. A copa de uma árvore lhes davam proteção contra a luz do sol que começava a surgir. A frente delas uma mulher que também trajava vestimentas brancas ocupava suas atenções. Ao seu lado Inimis observava a chegada deles com olhar reprovador.-O mais importante é vocês manterem a concentração. Esqueçam de tudo o que está a sua

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volta. Procurem buscar dentro de cada uma o equilíbrio e verão que a força interior que possuem é maior do que qualquer outra.

A mulher falava passivamente.-Respirem e aspirem. Sintam a energia fluir por todas as partes de seus corpos. Vocês têm que dominar esta energia e usá-la em nosso favor.

Inimis continuava a observar tudo a sua volta. -São as candidatas a deusas. Exclamou Bal.-Olhem quem está de cão de guarda, nosso fã número um.

Cassi falava aliviada já que as atenções não estavam mais sobre ela.-Tenho certeza que ele está louco para vir até aqui e nos dar um abraço. Comentou Arão com sarcasmo.

Os jovens podiam jurar que se lhe fosse permitido Inimis os tiraria a força dali.-Deve estar mesmo por que ele não tira os olhos de nós. Bal sorriu para Arão antes de prosseguir. - Ele nutre um carinho todo especial por nós três.

Arão respondeu sem tirar os olhos das meninas.-Ele odeia toda nossa raça. Vamos nos aproximar mais.-Você deve estar brincando. A face de espanto de Bal era evidente. -Inimis vai nos matar se chegarmos mais perto.-Bal não estamos fazendo nada de errado, iremos apenas olhar. -Para Inimis nossa presença aqui já é um erro. Concluiu Bal.-Deixe disso Bal, também estou curiosa para ver o treinamento delas.

Cassi puxou Bal pelo braço. Aproximaram-se mais do grupo. A medida que isto acontecia a expressão de poucos amigos no rosto de Inimis ia piorando. A mulher, porém continuava a falar ignorando a tudo. A presença deles parecia indiferente para ela.-Isso continuem, estão indo muito bem. Concentrem-se, não esqueçam a importância de respirar e inspirar longa e profundamente. Achem o equilíbrio dentro de vocês e conseguirão fluir a energia. Todos os corpos a possuem, isso lhes dá vida, mas muitas vezes a energia que os governa fica desequilibrada, não dando condições de lutar contra as adversidades.

Ela respirou e fechou os olhos antes de prosseguir. -Nós podemos ajudá-los transmitindo-lhes as nossas. Tentem fazer a de vocês fluírem o máximo que puderem.

Uma a uma as garotas começaram a levitar, afastando-se poucos centímetros do solo, seus cabelos voavam livremente, como se uma brisa os tocasse.-Isso. Não se esqueçam da respiração. A mulher parecia muito satisfeita consigo mesma.

Os três observavam tudo com muito interesse. Uma das garotas subiu um pouco mais que as outras, descruzou as pernas e ficou em pé, flutuando sobre o solo.-Jenya. O que você está fazendo? Volte para a posição básica.

A mulher ergueu o tom de voz.-Olhem, esta foi à garota que fugiu para o corredor quando eu estava com o... Cassi tinha dificuldade para terminar a frase. -Punhal... -Ela foi encontrada por Medar e os outros caída em um dos corredores, enquanto eles faziam uma busca para achar os culpados pela morte...

Bal evitou continuar para não machucar mais a amiga, entretanto acrescentou. -Dizem estava inconsciente e não se lembrava do que havia acontecido.

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Jenya continuava com os olhos fechados. Suas sobrancelhas se arquearam e a feição de seu rosto se alterou, demonstrando grande dor e sofrimento. Os punhos cerrados permaneciam colados ao corpo.-Não! Não! Afaste-se de mim. A voz de Jenya foi aumentando de intensidade. -Me deixe em paz.

Todas as garotas saíram do transe e olhavam assustadas para Jenya. A mulher tentava se aproximar, mas uma forte corrente de ar expelida do corpo da garota a impedia. Todos se espantaram mais ainda quando a expressão de dor mudou para raiva.-Jenya, tente se concentrar. Gritava a mulher com as mãos sobre o rosto para se proteger.

A corrente de ar aumentava sua intensidade a cada minuto.-Ele está aqui. Eu posso sentir, mas onde? Nãããooo. Ele esta dentro de mim, posso ouvi-lo me chamando.-Quem está dentro de você Jenya?Os braços de Jenya se abriram, seus punhos continuavam cerrados. Suas feições se tornaram malignas.-Jenya! Responda!

As mãos da menina se abriram. As pálpebras de seus olhos se moveram. Sua íris tinha coloração branca.-Ela não pode responder agora.

A voz que veio da garota era uma voz demoníaca.-Quem é você? Perguntou a mulher.-Não... Não... A voz voltou a ser de Jenya. Parecia estar lutando contra algo dentro de si.-Jenya! Concentre-se, você consegue. A mulher praticamente implorava.-Você não vai conseguir. Gritou Jenya o mais alto que pode.

O vento parou. A íris recuperou a cor negra, sua feição maligna foi sumindo vagarosamente, não antes de dar um último sorriso. Sua face perdeu a cor e seu rosto ficou lívido antes dela cair ao solo.

Os rostos espantados observavam a cena. Pairava no ar um misto de medo e desconfiança. A mulher e Inimis se aproximaram do corpo de Jenya.-Ela está bem, mas muito fraca, precisamos levá-la ao templo, rápido. Disse Inimis.-Não entendo o que aconteceu. A mulher levantou Jenya.-A culpa é deles. Inimis apontou para os três. -São uma ameaça a todos, trouxeram com eles o mal para o Santuário.

Arão ameaçou esboçar uma reação, mas Cassi o conteve.-E você garota? Continuou Inimis fixando o olhar em Cassi. -Deve estar se divertindo com tudo isso. Ontem não foi o suficiente. Jovem traidora.

As palavras atingiram fundo Cassi.-Chega Inimis. Temos que levá-la. Que marcas são essas no braço dela, parecem pequenos furos... Questionou a mulher.

Ele tomou a garota das mãos da mulher e levou-a no colo. As outras jovens candidatas à deusa seguiram-nos.-Vamos sair daqui.

Bal puxou os dois para longe. A última coisa que Arão viu foi o rosto amedrontado de

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Damira indo embora.

Ninguém pronunciava qualquer som, Bal quebrou o silêncio com uma sugestão.-Já sei o que faremos.

Olhou para Arão, mas ele estava perdido em seus pensamentos. Virou-se para Cassi, ela parecia carregar todo o peso do mundo em suas costas. Seu olhar era triste e as cores tinham sumido de seu rosto. -Ânimo vocês dois. Vamos a taberna Circense? Podemos comer alguma coisa lá. O que vocês acham? Aonde? Arão despertou de seu transe. -Como você sabe da existência deste lugar?-Você acha que fico a noite só com conversas bobas no espelho de Alfeu?-Sim eu acho.-Acertou. É por isso que sei de lugares assim e você não.-Eu não estou com fome Bal. Quero apenas ficar sozinha. Comentou Cassi.-Mas não vai mesmo. Insistiu Bal. -Nós vamos é comer um pouco. Ei Arão! Estou precisando de um apoio aqui.-Claro, vamos a essa taberna.

Arão estava desconfiado da proposta de Bal, mas como não tinham nada para fazer. Isso talvez distraísse um pouco Cassi.-Como dizia o grande sábio: “Barriga cheia, ânimo melhor”.-Que sábio que disse isso Bal? Perguntou Cassi parecendo desconhecer o provérbio.-Ora! Quem mais do que o grande sábio Balduíno!-Aaa! Bal fique quieto.

Cassi deu-lhe um pequeno empurrão, e sorriu. Realmente a taberna parecia uma ótima sugestão, pelo menos estaria livre de aborrecimentos. Nenhum deles se atreveu a comentar o que havia acontecido, mas a imagem de Jenya não lhes saia da mente e o medo também.

Atravessaram os jardins seguindo entre várias construções rústicas.-Bal, você tem certeza que sabe onde fica essa tal taberna Circense? Perguntou Arão. -Já estamos caminhando há muito tempo e nada dela.-Fique calmo, deve ser depois daquele monumento ali.-Bal, acho que estamos perdidos, nós já passamos por aqui e acabamos virando à direita. Comentou Cassi.-Por isso que dessa vez vamos virar à esquerda.

Depois de algum tempo finalmente chegaram à entrada da taberna. O movimento de seres entrando e saindo era intenso. Na entrada bancos acomodavam pessoas que conversavam alegremente.

No interior da taberna a iluminação era feita por velas presas em hastes na parede. Elas ficavam protegidas por redomas de vidro. No salão mesas redondas com cinco lugares compunham o ambiente. Preso ao teto bem no centro do recinto havia um grande lustre

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com chamas que saíam de suas hastes. No lado direito das mesas localizava-se um balcão de madeira escura onde a comida e a bebida eram servidas a vontade. Do lado oposto do mesmo ficava uma enorme estante contendo vários livros, todos estavam organizados por ordem alfabética.

Mais ao fundo pessoas entravam e saiam de quatro pistas, com bonecos presos por cordas e com alvos fixados em seus corpos. Estes pavimentos eram separados por divisórias sólidas, ficando impossível ver quem estava ao lado. Entretanto estas não eram compridas, não chegavam nem perto da metade da pista. Elas serviam de entretenimento. Atrás dos pavimentos uma parede se erguia cheia de mãos que seguravam vários tipos de armas, estas eram usadas para acertar os bonecos. Havia espadas, machados, chicotes, dardos, arcos, bestas, flechas e muitas outras.–Sentem-se em alguma mesa que irei buscar algo para comermos. Prontificou-se Arão.-Não estou com fome, mas obrigada mesmo assim.-Cassi você não pode ficar assim, tem que comer. Insistiu Arão.-Fique tranqüilo não vou morrer de fome, se esqueceu de onde estamos.-Engraçadinha você. Comentou Bal com sarcasmo. -Pode ir buscar Arão eu fico aqui tomando conta dela, garanto que quando voltar o apetite dela estará à flor da pele.

Arão estava indo quando Bal chamou-o.-A propósito Arão se você se perder é só gritar.-Não enche Bal.

Arão sorriu e prosseguiu. Cassi ia sentar-se em uma cadeira, mas Bal a impediu.-O que você pensa que está fazendo?-Vou me sentar e esperar Arão voltar com a comida.-Aaa! Mas não vai mesmo, nesse ânimo que você está, será muita sorte se quando ele voltar ainda encontrá-la viva. Vem comigo vamos para lá. Apontou para as pistas. -Uma delas estava vazia.

Bal puxou Cassi que se arrastava relutante. Foi até a parede pegou de uma das mãos um arco e de outra algumas flechas.-Agora sim vou poder te mostrar toda minha habilidade com o arco e flecha. Vamos competir, três flechas para cada um. Quero ver quem consegue acertar o alvo preso no boneco mais vezes. Como você está triste posso até pensar em deixá-la ganhar.

Cassi se animou um pouco com a proposta de Bal.- al, você fala demais, passe-me o arco.-Calma. Pra que toda essa pressa. Deixe-me primeiro mostrar como se faz. Ele armou o arco. Cassi o olhava assustada.-Mas Bal...-Fique quieta, senão irá tirar minha concentração.

Bal disparou a flecha acertou o boneco, mas da pista ao lado.-Hei. Mas o que foi isso?

Uma voz de protesto veio de trás da divisória.-Opis. Acho que fiz besteira.

Bal coçou a cabeça de um modo maroto. Jogou o arco para Cassi rapidamente.-Sua vez.

Um garoto pulou o mural, era Tiror. Ficou espantado ao ver Cassi com o arco,

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passado o susto inicial olhou de modo divertido.-Hei! Você precisa tomar mais cuidado com isso. Pode acabar machucando alguém. Acho que está precisando de umas aulas. Você é um perigo com essa arma nas mãos. -Eu disse isso a ela. Apressou-se Bal em dizer. -Mas ela não me ouve. Estou tentando lhe ensinar alguma coisa, mas acho que vai ser impossível. Ela fica reclamando que o arco está ruim, as flechas estão tortas e coisas desse tipo. Você sabe como são as mulheres.-O quê? Cassi fulminava Bal com o olhar. Tiror parecia se divertir com a cena.-Deixe -me ver. Ele pegou o arco das mãos de Cassi. -Ele parece estar em perfeito estado.-Mas eu não... Cassi foi interrompida por Bal.-Não ligue não. Ela está sem graça devido a sua presença. Na verdade estou impressionado que ela tenha conseguido acertar o alvo desta vez. Ta certo que foi o do lado, mas normalmente é pior.- Bal! Gritou Cassi.-Primeiro eu gostaria de dizer que acredito em você. Disse tiror se referendo aos acontecimentos da noite passada. Um sorriso brotou do rosto de Cassi ao ouvir as palavras do garoto. –Segundo, não precisa ter vergonha por não saber atirar com arco e flecha. Eu vou lhe ensinar.

Prontificou-se ele.Cassi parecia muito desconcertada. Bal fazia sinais com a cabeça para ela aceitar a

oferta. Tiror devolveu o arco para Cassi e ficou parado atrás dela, pegou nos seus braços quase a envolvendo em um abraço. A garota ficou sem jeito, mas não protestou.-Puxe a flecha. Agora é só mirar no alvo e disparar.

Quando ia disparar uma mão segurou o arco e o baixou bruscamente.-O que você pensa que está fazendo Tiror?-Odrin! Exclamou Tiror assustado. -Estava ensinando-a a usar o arco e a flecha.-Você sabe que não devemos conversar com esses celestinos. Eles não conseguem fazer nada direito. Saia daqui.

Tiror afastou-se alguns passos. Odrin pegou o arco e a flecha das mãos de Cassi.-Dê-me isto garota.-Escute aqui seu...

Bal tentava conter Cassi que queria avançar para cima de Odrin.-Uma celestina querendo aprender a usar o arco, que piada. Odrin falava com arrogância, o que deixava Cassi mais brava ainda. - Pois bem vou lhe mostrar somente uma vez como que se faz.

Odrin armou o arco.-Espere, assim está muito fácil. Vamos tornar a brincadeira mais interessante. Tiror vá até o final da pista e balance o boneco.

Tiror obedeceu à ordem de Odrin deu um empurrão no boneco. Este preso pela corda começou a descrever os movimentos de um pêndulo. Odrin se concentrou alguns segundos e disparou. Quando Tiror parou o boneco a flecha tinha fincado poucos centímetros do ponto central. Fez um sinal de positivo.-Ótimo disparo. Gritou.-Está vendo, quando quiser um professor. Odrin falou em tom de deboche. -Fale comigo só

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não sei se irei ensiná-la.-Me dá isso. Cassi arrancou o arco das mãos de Odrin. -Mexa isso novamente. Ordenou para Tiror.

Foi até a parede, pegou duas flechas e ficou de costas para o boneco. Virou-se e atirou as duas flechas, uma seguida da outra sem mesmo pensar ou fixar no alvo.

Tiror parou o boneco e soltou um assobio de espanto. Uma das flechas tinha despedaçado a de Odrin e a outra acertara bem no ponto central. Bal estava de boca aberta e Odrin com o rosto vermelho de raiva. Cassi jogou o arco no peito de Odrin e pegou Bal pelo braço.-Vamos sair daqui. Bal deu um sorriso para Odrin e foi arrastado para longe, mas não antes de dizer.-Eu a treinei...-Ela é fantástica com o arco. Elogiou Tiror se aproximando.-Essa nunca foi minha arma preferida. Em sua voz transparecia todo ódio que estava sentindo.

Odrin os seguiu com vista, jogou o arco no chão. Foi até a parede arrancou uma machadinha de uma das mãos e atirou sem ao menos olhar o alvo. A machadinha partiu as duas flechas e cravou bem no centro do alvo.-Eu odeio essa garota. Virou-se e foi embora.

Cassi e Bal sentaram-se em uma mesa, passado alguns instantes Arão chegou trazendo três pratos com comida.-Parecem estar deliciosos. Falou colocando os pratos sobre a mesa.

Bal ainda olhava espantado para Cassi. Ela por sua vez respirava pesado.-Eu perdi alguma coisa? Perguntou Arão.-Nada. Respondeu Bal, já com a boca cheia de comida. -Apenas fomos praticar um pouco com arco e flecha. Onde você aprendeu a atirar daquele jeito?-Eu sempre achei as lutas com armas muito brutais. Mas o arco tem toda uma elegância. Eu praticava muito.

Nem terminou de falar quando um homem parou ao lado da mesa deles.-Posso? Apontou para cadeira. Arão olhou sem jeito para Cassi e Bal antes de responder.- Claro. Quem é você?-Não importa quem sou. O que vocês precisam saber é que eu já fui alguém, hoje sou apenas um amigo que veio lhes dar um recado.

Abaixou um pouco a cabeça e o tom de voz para que mais ninguém ouvisse.-Vão embora enquanto podem. Vocês correm perigo.-Pelo que eu saiba todos estamos em grande perigo. Replicou Arão.-Vocês ainda não entenderam a gravidade da situação. As trevas estão avançando dentro da Cidade Superior e estão presentes no Santuário. -Avançando? Inquiriu Bal.-Sim. Continuou o estranho. -Mas desta vez é diferente. Eles estão mais fortes. Prova disso é o que aconteceu a pouco com a jovem.

A imagem de Jenya voltou à mente deles.

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-Como assim? Perguntou Cassi. -Você pode nos explicar o que aconteceu hoje?-A visão de vocês ainda é muito restrita para entender. Mesmo por que eu não conseguiria contar tudo antes deles chegarem. Por isso vou ser breve.-Quem vai chegar?

Bal olhava para os lados, verificando se alguém se aproximava. O homem fez um sinal de reprovação para Bal e continuou.-Algo mais importante aconteceu. Os quatro Livros Sagrados sumiram.-Os quatro Livros Sagrados?

Bal apenas transformara a afirmação do homem em uma pergunta, pois não tinha idéia do que eram os livros.-Eu nunca ouvi falar desses livros. Disse Cassi.-É claro que não, pouquíssimos são os que sabem de sua existência. Raros os que conhecem seus conteúdos. O livro de Ouro, o livro da Aliança. O livro de Prata, o livro do Caminho. O livro de Bronze, o livro da Persuasão e por fim o livro de Ferro, o livro da Potência.-O que são ou contém esses livros que os tornam tão importantes? Perguntou Arão.-São as chaves para vitória. Deixados pelo criador no início dos tempos para que o mal nunca viesse a triunfar. Foi um presente. Nunca foi necessário utilizá-los. Nem mesmo nas outras grandes guerras foi sequer cogitado seu uso. Pois seu poder apesar de desconhecido é extraordinário, talvez o maior que tenha existido. Mas agora que as trevas avançam com uma força que nós desconhecemos, eles sumiram... Os livros podem dar um poder ilimitado a quem os possuir, o poder sobre a vida e a morte, o poder do Criador... Ninguém sabe onde eles estão, existem algumas suposições, porém um dos lacres sagrados foi quebrado, seu efeito já pode ser sentindo.- É? Qual deles? Perguntou Bal cheio de curiosidade.-Ouçam, meu tempo se esgotou, eles já chegaram e acabei falando demais. Saiam da Cidade Superior enquanto podem. O profeta esta entre nós...

O homem bateu com o dedo indicador na mesa.-Espere um pouco eu quero lhe perguntar uma coisa.

Cassi estava confusa com as colocações enigmáticas do homem.Bal chamou atenção de Cassi e Arão.

-Ei! Olhem! Seus olhares se voltaram para a porta, onde Molf, Tulgor e Sender acabavam de

entrar. Junto com eles havia mais um ser que eles desconheciam. A coloração de sua pele era escura. Metade de sua face estava coberta por uma mascará de metal, onde no lugar do olho havia um cristal negro. O outro olho era verde claro. Tinha boca grande e nariz curvado para baixo. Seus cabelos longos castanhos estavam presos para trás por uma tiara. Seus braços eram grandes com braceletes cheios de pontas. Suas ombreiras e colete eram de metal. Possuía estatura mais alta que a normal que transmitia pavor a quem lhe dirigisse o olhar. Sua capa se arrastava por detrás de seu corpo que parecia ser forte como aço.-O senhor conhece...

Mas Arão não teve tempo de terminar a pergunta, o estranho da mesma maneira misteriosa que chegou, sumiu.-Para onde ele foi? Questionou Cassi.-Eu não sei, mas acho que devemos fazer como ele. Bal se aproximou mais dos dois. -Fugir

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rapidinho sem sermos notados. -Por quê? Arão não entendia a pressa repentina de Bal.-É que acho que eles. Bal apontou disfarçadamente, para os seres perto da entrada. -Acabaram de encontrar o que estavam procurando.-O que é? Perguntou Cassi.-Nós! A voz de Bal saiu tremula.

Os quatro seres vinham em suas direções.-Vamos. Ordenou Arão. -Precisamos sair daqui.

Eles se levantaram e foram pelos fundos, uma pequena porta serviu como rota de fuga.-Para onde iremos? Perguntou Cassi.-Para qualquer lugar, desde que seja bem longe deles. Respondeu Bal.-Por ali! Arão apontou para uma enorme construção, que parecia estar abandonada.-Este é o templo dos antigos cavaleiros de Osíris, mas já não é usado há algum tempo. Explicou Bal enquanto corriam.-Como você sabe tudo isso? Perguntou Arão enquanto se aproximavam cada vez mais da entrada. -Não vá dizer que é no espelho de Alfeu.-Pode apostar que é.-Vocês dois podem parar de discutir essas bobagens e se concentrar na nossa fuga. Xingava Cassi desesperada. -Temos que pensar em um jeito de entrar. A entrada parece estar lacrada.-Olhem. Apontou Arão. -Aquela janela parece estar aberta.

Cassi entrou primeiro, seguida de Bal e por fim Arão. No mesmo instante em que eles acabaram de entrar um dos seres gritou do lado de fora.-Eles entraram no templo abandonado dos cavaleiros. O novo integrante do grupo riu alto. -Eles estão facilitando demais. Foram para um local ermo. Vai ser mais fácil do que pensei.

Os quatro também se dirigiram ao templo.-Ai! Bal tropeçou em um candelabro que estava ao lado de uma coluna.-Cale a boca Bal, senão eles vão nos achar. Ordenou Cassi.

Arão fez um gesto com as mãos para que ambos ficassem quietos. Passaram por um salão central escuro e empoeirado com várias colunas. No local havia duas fileiras de bancos de madeira. E muitos vitrais com desenhos de cavaleiros lutando.-Minha nossa! Sussurrou Bal. -Que desperdício.

Havia uma pilha de espelhos de Alfeu atrás deles e um grande objeto coberto por um pano.-Bal, o que você está fazendo? Sibilou Arão. -Eles vão nos descobrir.-Não posso acreditar no que estou vendo. Bal parecia perplexo. -É o maior espelho que eu já vi.

Ele levou a mão à bolsa que carregava consigo onde os cristais pegos na taberna repousavam. -Aposto que consigo ver o que há nesses cristais através deste espelho.-Por que você não vê no espelho de seu quarto? Perguntou Cassi aflita querendo ir embora.-Pensa que eu não tentei, mas ele não tem recursos suficientes. Com este seria possível.-Nós não temos tempo, logo eles estarão aqui atrás de nós. Disse Arão.

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A porta do outro lado do salão foi aberta, quatro vultos entraram.-Temos que encontrar uma saída.-Espere Arão. Quero só dar mais uma olhada no espelho.-Você ficou maluco Balduíno! Cassi estava furiosa.- Por aqui. Arão se dirigiu para uma porta próxima ao espelho, Bal e Cassi o seguiram. Atrás da porta uma escada descia em espiral. - Silêncio.

Arão desceu primeiro, seguida de Cassi e Bal.-Cuidado ao fechar a porta. Pediu Cassi.

Uma corrente de ar passou e a porta escapou das mãos de Bal.-Oh, oh!

Bal olhou para trás. Uma voz abafada veio do salão.-Eles entraram por aquela porta.-Que delicadeza, hein Bal? Foi como se eu não tivesse pedido nada.-Não foi culpa minha, Cassi. A porta escapou da minha mão.-Vocês dois querem parar de discutir. Temos assuntos mais urgentes para tratar. Como fugir, por exemplo.

Os três desceram rápido a escadaria. O som da porta sendo aberta indicava que os quatro perseguidores se aproximavam. Conforme fugiam ouviam um barulho de água caindo que se tornava mais intenso, juntamente com a corrente de ar que soprava. Entraram em uma grande câmara. Do teto escorria muita água, caía ao chão em um polígono de cinco lados. De cada ponta do polígono formava-se um córrego que saía para cinco túneis diferentes.-Estamos em uma espécie de galeria. Observou Cassi.-E agora? Para que lado? Questionou Bal.-Por aqui! Arão puxou os dois.-Você sabe onde isso vai dar? Perguntou Bal enquanto corriam.-Não faço a mínima idéia.-Pra que eu fui perguntar.

Entraram em um dos túneis, corriam sobre as águas do córrego, o lugar parecia um labirinto com várias reentrâncias.-Olhem estou vendo uma luz logo à frente. Gritou Arão.

O túnel fazia uma curva. Arão fez a curva rapidamente, o córrego terminava em uma enorme queda d' água. Ele tentou parar e se equilibrar para não cair. Cassi que vinha logo atrás, mas parou a tempo e ajudava Arão a se segurar devido à falta de equilíbrio. Bal foi o último olhava para trás enquanto corria, só sentiu o impacto de seu corpo com o de Cassi. Os três só não caíram por que Bal ainda conseguiu se segurar em um ferro que saía da parede. Estava com metade do corpo suspenso no ar e a outra metade ainda dentro do córrego. Arão segurava Cassi por uma mão e a outra se agarrava a uma perna de Bal. Os dois estavam totalmente suspensos.-Eu não vou agüentar muito tempo Arão. Gritou Cassi. -Minha mão está escorregando.-Segure firme Cassi! Vou te puxar.

Entretanto Arão não conseguiu segurar mais, a mão de Cassi se soltou. O garoto observou o pavor no rosto da garota ao cair.-Cassi... Nãããooo. Berrou Arão. Ela se foi junto com as águas.

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Um solavanco na mão de Arão, a roupa de Bal estava rasgando. As vestimentas partiram-se e Arão sem apoio encontrou o mesmo destino de Cassi. Bal sentia-se mais leve, mas a água que vinha do córrego estava fazendo suas mãos escorregarem do ferro. Ele pode ver os quatro perseguidores se aproximando. Seus corpos saíam da escuridão para a luz. Todos sorriram para Bal, a sacola com os cristais estava caída ao seu lado, fora do alcance das águas.-Ora, ora, parece que vamos recuperar o que esse ladrãozinho nos roubou.

Bal não estava mais agüentando, fez um último esforço para tentar pegar a sacola. Vendo a intenção do garoto um dos seres se atirou ao chão na direção da sacola. Bal foi mais rápido, mas ao pegar a sacola suas mãos se soltaram do ferro e ele também foi engolido pela queda d'água. Caiu de uma altura imensa. Não sabia dizer se foi rápido ou demorada sua queda. Afundou-se em águas muito geladas. Conseguiu subir a superfície e nadou até uma parte que fosse rasa. Não podia acreditar estava salvo. Passou as mãos pelo corpo para certificar-se que não havia se machucado.-Estou vivo! Gritou. Olhou para o lado, viu a sacola de cristais boiando na água. Pegou-a e a beijou. -Que maravilha vocês estão salvos.

Foi aí que se deu conta de que Arão e Cassi não estavam mais com ele. Olhou para os lados, viu que muitas pessoas o observavam. Ele estava em uma das piscinas centrais dos jardins da Cidade Superior. Tinha caído de dentro de uma jarra de uma estátua enorme em forma de mulher que alimentava a piscina com água. Raphael estava parado a sua frente, de um lado Arão, do outro Cassi. A multidão não se aproximava deles.-Vocês me acompanhem. Ordenou Raphael. A multidão foi abrindo caminho para eles. -Parece que vocês têm o dom para se meter em confusão.

Não disse mais nenhuma palavra. Enquanto passavam pela multidão ouviam vários comentários.-Não sei como permitiram que eles ficassem entre nós.-Eles não têm jeito mesmo.-Tomara que os mandem embora.

Raphael os conduziu até um grande câmara. Abriu a porta e se curvou.-Grande Medar, eis os três celestinos. Saiu logo em seguida.

Os três ficaram olhando para aquela figura de manto branco sentado meditando. A toga cobria todo os dois braços, mas pela posição eles deveriam estar cruzados. Fez um sinal para que se sentassem. Abriu os olhos.-Muito bem, eu tenho na minha frente os garotos problemas do Santuário.

Sua voz era calma e suave, mas havia nela um tom de reprovação. Bal ameaçou iniciar uma explicação, mas Medar levantou a mão em sinal de censura e continuou.-Meus jovens! Parece que toda confusão que acontece aqui tem vocês como personagens principais. Até o momento eu havia conseguido contornar a situação, mas acho que ela se tornou insustentável. Entendam que o povo da Cidade Superior tem muito receio das vossas

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presenças. Vocês tinham que aproveitar a chance que Set lhes deu. Ele tinha esperança de reatar a aliança que existia entre os povos através de você. Mas creio que isto não será mais possível.-O que o senhor quer dizer? Perguntou Arão mesmo já sabendo a resposta.-Que o conselho quer que vocês deixem a cidade.-Não!!! Gritou Cassi. -O senhor precisa nos ajudar. Não podemos ser expulsos.

Arão entendia o desespero de Cassi, a irmã já fora renegada para seu povoado. Na Cidade Superior Cassi tinha a chance de limpar o nome de sua família, mas a expulsão seria o fim para ela. Bal abraçou-a.-Não fique assim.-Meu jovem o que carrega nessa bolsa? Perguntou Medar com certa curiosidade.-Bem... Bal ficou indeciso ao responder.

Cassi tomou a palavra e falou rapidamente sem ao menos respirar.-São cristais que ele pegou na taberna antes de chegarmos a Cidade Superior.-Entendo. Respondeu Medar. -Posso?

Perguntou Medar estendendo a mão para pegá-los.Bal ainda estava indeciso. Ele adorava os cristais e a idéia de alguém os pegar que

não fosse ele, o incomodava demais. Por fim entregou a bolsa para Medar. Este retirou um dos cristais de dentro da bolsa e o colocou sobre a luz.-Vocês sabem o que ele contém? Perguntou Medar depois de observar por um tempo o cristal.-Não conseguimos ver. Falou Bal com entusiasmo. -Mas podemos conseguir, sei que podemos... No templo dos Cavaleiros de Osíris tem um...

Bal calou-se, lembrou que o templo estava fechado, a entrada nele era proibida. Medar fez que não ouviu o comentário para não repreendê-lo.-O que o senhor fará com a gente? Vai mesmo nos mandar embora? O senhor não pode intervir no conselho a nosso favor?

Cassi praticamente implorava a Medar.Ele respirou fundo, olhou com pesar para os jovens e por fim falou.

-Meus jovens, vou reunir todo o conselho agora e ver se mais uma vez eu consigo interceder por vocês. Não sei se conseguirei, mas farei o possível.-Obrigado senhor.

Cassi estava emocionada com as palavras de Medar.-Voltem para seus aposentos, mais tarde os chamarei para lhes reportar a decisão do conselho. E por favor, evitem se meter em problemas nesse meio tempo. Sorriu. -Raphael os acompanhará.-O senhor vai ficar com os cristais? Perguntou Bal.-Se você não se importar.

Estendeu a bolsa vazia para Bal devolvendo-a.-Claro que não, é que eu... Respondeu Bal pela metade.-Gostaria apenas de dar uma olhada com mais calma neles. Talvez não seja nada jovem Balduíno. Mas se tiver alguma coisa prometo que você será o primeiro a saber.-Claro, como o senhor achar melhor. Cassi mais uma vez tinha se intrometido na conversa e

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puxava Bal para fora.-Mas... Resmungou Bal saindo. Medar chamou Raphael.-Cuide para que cheguem bem até seus aposentos. Vou ver se consigo um milagre com o conselho.

O mensageiro virou-se e saiu. Arão e Bal ficaram no quarto o resto da tarde, Cassi em vez de ir para o seu decidiu ficar com os amigos.-Isso aqui está precisando de uma pequena limpeza.

Ela foi mexendo nos objetos que estavam sobre a cômoda da cama de Bal.-Ei! Não toque nisso. Reclamou o garoto.

Arão estava sentado olhando para o lado de fora da janela, a vista era muito bonita.-Arão tudo bem? Perguntou Cassi.-Sim, acho que sim. Respondeu, mas seu pensamento estava muito distante dali. -Não sei como eles conseguem.-Quem consegue o quê? Cassi se aproximou da janela.-Veja, são alguns membros do conselho. Disse Bal se aproximando.-Estão sentados debaixo daquela árvore desde que chegamos e não mudaram de posição uma vez sequer. Comentou Arão.-Olhe bem Arão, um dia teremos que fazer isso também. Cassi respirava mais devagar enquanto falava. -Ajuda a encontrar o equilíbrio e a paz interior.-Sai da frente Cassi, isso é uma chatice. Proferiu Bal.-Chatice? Já vi que você não entende nada. Também você não conseguiria ficar dois minutos com a boca fechada.-Olha quem fala, a senhorita concentração. Zombou Bal. -E você Arão por que está tão quieto?-Estou pensando no que irá acontecer conosco.-Não se preocupe Medar, vai nos ajudar. Eu sei que vai. Cassi tentava parecer confiante, mas sua voz denotava incerteza. Bal olhou outra vez pela janela.-Será que já decidiram qual vai ser nosso futuro?

Uma batida na porta, Raphael entrou.-Medar gostaria de vê-los.-Aí está sua resposta. Disse Cassi.

Caminharam em silêncio acompanhando Raphael. Ele não disse uma palavra o caminho todo.-Sentem-se, por favor.

O veredicto seria dado finalmente. Cassi tinha a sensação de estar com náuseas. -Bem meus jovens, parece que mais uma vez vocês conseguiram. Reuni a todos no conselho e os convenci a dar mais uma chance para vocês.

Os três sorriram agradecidos. Um enorme peso parecia ter sido tirado dos ombros de Cassi.-Agora me ouçam com muita atenção. Eu pensei muito em como Set teve a iniciativa de tentar a união dos povos. E como seu mais leal conselheiro, devo tentar realizar a vontade dele. Medar sorriu para os três. -Sejam bonzinhos, não foi fácil convencer a todos. O conselho é muito severo em questões que envolvem indisciplina. Espero que a partir deste momento vocês entrem no eixo.

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-Vamos entrar sim. Agradeceu Cassi.-E quanto aos meus cristais? Perguntou Bal.-Não consegui vê-los ainda. Fiquei o tempo todo ocupado com a reunião do conselho.-Acho que os antigos donos estão tentando reaver os cristais. Disse Arão.-Por que você pensa assim jovem Arão?-Por que antes de virmos para cá, fomos perseguidos por quatro seres estranhos que estavam na taberna, quando...-Ganhei os cristais. Apressou-se Bal em responder.-Perseguidos? No Santuário?

Os três confirmaram fazendo um sinal de positivo com a cabeça. Medar passou a mão pelo queixo pensativo. Por fim falou.-Mas isto é terrível. Como vocês sabem passamos por tempos difíceis. O povo está com medo. Notícias como essas que vocês me disseram causariam mais pânico. Não vamos criar nenhum alarde desnecessário. Manteremos isso entre nós. Eu tomarei as medidas necessárias para que um fato como este não se repita. -Assim como o roubo dos Livros Sagrados? Bal fez a pergunta sem pensar.

A reação de Medar foi de espanto.-Como vocês sabem disso? Vocês chegaram a ler algum dos cristais?-Não, não. Apressou Bal a responder. -É que um sujeito abordou-nos hoje na taberna Circense e nos contou sobre o desaparecimento dos quatro Livros Sagrados.

Cassi tentava se explicar para Medar para evitar maiores repreensões.-Aproximem-se um pouco mais. Pediu Medar -Já vi que vocês estão muito bem informados. Vou lhes dizer o que está acontecendo. A profecia que vocês trouxeram da torre de BES.

Seu rosto tomou uma feição mais sombria. -Ela fala sobre os sinais do final dos tempos.-O apocalipse você quer dizer. Interrompeu Arão.-Isso mesmo. Infelizmente os sinais já começaram e a cada um deles que ocorre nosso mundo sofre com uma catástrofe. Novos sentimentos estão aflorando nas pessoas. O firmamento está passando por mudanças como as profecias pregam. No final ele se tornará idêntico ao mundo dos Homens com todos os males que os afligem. Isso já se iniciou, raiva, ira, ódio, ganância, inveja e tantos outros...

Medar abaixou um pouco a cabeça e falou com pesar. -Até a morte anda entre nós. Para agravar ainda mais a situação, os quatro Livros Sagrados que poderiam mudar a história do nosso destino sumiram. Dois ficavam sobre a guarda de Set e os outros dois com Osíris.-O que contém os livros? Perguntou Arão.-Pouco se sabe sobre eles, nem mesmo eu ouso mencioná-los. Estamos desesperados, sem os livros ficamos vulneráveis. Não sabemos se mesmo com os guardiões seremos capazes de resistir se os livros caírem em mãos erradas. Mesmo assim depositamos nossas últimas esperanças em vocês. Estamos vivendo o advento da Segunda Revelação, onde: O sol escurecerá e a lua não brilhará. Ele é marcado pela fase da Lua de Sangue, a lua da morte, são cinco noites em que a estrela mãe ficará com uma coloração avermelhada.

Medar se mexeu em sua cadeira incomodado com o assunto.

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-Em cada manhã deste período o Sol se encontra com a Lua por um breve momento. Se nele, o astro pegar a coloração da lua, significa que houve a perda de uma vida. Se em cada noite houver uma morte no Santuário de entes que tenham nascido na Cidade Superior, ao final do sexto dia uma catástrofe se abaterá sobre nós. Entendem por que não queremos ninguém andando a noite no Santuário.

-São sete os sinais da profecia. Comentou Cassi.-Sim! São as Sete Revelações e no final delas... O Caos.

Os jovens estavam mudos.-Não fiquem assim meus jovens. Eu não pretendia assustá-los.-Claro que não, a notícia do fim do mundo não causaria medo em ninguém.

Cassi deu um cutucão em Bal pelo deboche que acabara de fazer.

-Olhem temos que nos preocupar mais é com o terceiro sinal e não mais com o segundo.-Por quê? Questionou Arão.-Porque o segundo irá passar e nenhuma catástrofe irá se realizar.-Como o senhor pode ter tanta certeza? Questionou Cassi.-É que na noite passada foi à segunda da fase da Lua de Sangue, onde tivemos aquele infeliz acontecimento. Medar olhou para Cassi.

Ela ainda se lembrava de estar segurando o corpo de Ingrid sem vida em suas mãos. Essa lembrança fez Cassi ter um leve estremecimento.-Porém. Continuou ele. -Na primeira noite ninguém da Cidade Superior morreu, por isso devemos nos concentrar mais no terceiro sinal. Mas mesmo assim precisamos tomar cuidado, pois o período da Lua de Sangue, a lua da morte, por si só é muito perigoso. Nossa atual situação é muito delicada. Entenderam?

Os jovens acenaram que haviam compreendido.''Ele não sabe sobre a primeira noite, mas não há com o que se preocupar, não ira mudar nada...'' Pensou Arão, estava em dúvida se devia ou não contar, não queria dar mais preocupações para Medar.-Alguma coisa o preocupa jovem Arão?-Não! Nada. Respondeu o garoto a Medar.-Só peço a vocês para não comentarem isso a ninguém, não queremos que o pânico domine as pessoas. Posso confiar em vocês?-Claro. Responderam os três ao mesmo tempo.-Podem voltar a vossos aposentos. Espero que aproveitem essa nova chance que estão recebendo. Dêem o melhor de si.-Nós daremos. Respondeu Cassi.-Mais uma coisa. Cuidado com as pessoas que vocês encontrarem. Essa pessoa da taberna, vocês nunca a viram antes?-Não senhor. Respondeu Arão.-Por quê?-Não lhe ocorreu que ela poderia estar distraindo os para que fossem surpreendidos pelos seres que os perseguiram.

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-É verdade. Disse Bal.-Se o virem outra vez me avisem.

Medar invocou o nome do santo. -Raphael! Acompanhe nossos jovens amigos até seus aposentos. Providencie para que eles não saiam de seus quartos. Já que eles tem por hábito dar passeios noturnos. Piscou para os três.

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A Lua de Sangue, 3ª Noite... Bal estava no quarto brincando com o espelho, enquanto Arão passeava inquieto pelo cômodo.-Cinco noites, cinco...-Calma Arão, você ouviu o que Medar disse, não ocorrerá nada no final das cinco noites. Temos que nos concentrar no terceiro sinal.

Arão foi até a porta e a abriu, havia um cavaleiro de armadura dourada vigiando o corredor.-Droga! Urrou.-No que você está pensando? Sabe que não podemos sair...-Você não entende. Eu ouvi o que Medar disse. Mas primeiro foi Ingrid, e depois como explicar o que aconteceu com Jenya. -Realmente foi muito sinistro.

Foi uma das poucas vezes que Bal tirara os olhos do espelho para responder. -Mas Medar está tomando todas as providências para garantir a segurança de todos.-Será que vai ser suficiente? Questionou Arão. -Acredito que este período das cinco noites será muito pior do que imaginamos.-Vire essa boca para lá Arão. Você é muito pessimista.-Não. Sou realista.-Mas o que... Bal chacoalhava o espelho. - Essa coisa deve estar com defeito. As imagens estão ficando turvas.-Você fica muito preso a este espelho. Concordo que ele é muito útil, mas você está viciado nele. Acho melhor parar um pouco.- Olhe, Damira me mandou uma mensagem.- É? O que diz? Arão aproximou-se entusiasmado.-Agora se interessou pelo espelho!-Não seja bobo Bal! Repreendeu Arão dando as costas para Bal.- Arão!

Ele não respondeu ao chamado de Bal.-Arão!-O que você quer? Respondeu Arão a contra gosto.

Bal apontava para o espelho.- O que foi agora?-Nosso amigo misterioso mandou outra mensagem.

Arão sentou-se ao lado de Bal.Então não seguiram meu conselho e decidiram ficar na Cidade Superior.-Só pode ser o sujeito com quem conversamos na taberna. É ele com certeza, temos que avisar Medar.-Espere Bal, vamos ver o que ele tem a nos dizer.-Mas Medar disse...-Eu sei o que ele disse, mas vamos só esperar mais um pouco. Deixe me mandar uma mensagem para ele.

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Você tentou nos enganar hoje.A resposta veio rápida.

Não! Agora é tarde demais. Os destinos de vocês já estão selados. Não conseguirão mais sair da cidade.-Arão ele está nos ameaçando! Com certeza vai mandar aqueles seres novamente atrás de nós.

Outra mensagem.Nossas últimas esperanças estão se esvaecendo. Mesmo o futuro dos guardiões está ameaçado. O mal é maior que imaginávamos. Infiltrou-se por todos os lugares, ninguém está seguro. A morte vaga pela Cidade Superior, o Santuário é seu alvo, falta pouco para o caos reinar.Quem é você? E como sabe de tudo isso?Hoje é a terceira noite, não menosprezem o segundo sinal. As cinco noites lhes trarão muitas surpresas. A verdade logo será conhecida.As imagens do espelho voltaram ao normal.-Ele se foi. Disse Bal.

Arão foi mais uma vez até a porta.-Medar cuidará de tudo. Acho que este sujeito seja lá quem for está tentando nos confundir. Vamos descansar Arão, amanhã será um longo dia.-Acho que você tem razão.

Eles foram deitar, Bal dormiu e teve um sono pesado e tranqüilo. Arão acordou no meio da noite assustado. Tinha sonhado novamente com a invasão da cidade, a luta com a besta negra, o cavaleiro da luz e a morte da garota com símbolo da lua. Estava suando quando se levantou para tomar um pouco de água."Preciso dormir, deixe de ser tonto, foi apenas um sonho."

Deitou e fechou os olhos, teve o resto da noite sem sonhos. O que ele não sabia é que naquela mesma noite outro garoto teve o mesmo sonho que ele. O dia amanheceu nublado. Arão e Bal se encontraram com Cassi bem cedo. Os garotos estavam reunidos no jardim central para mais um dia de treinamento.- Agora estamos tranqüilos. Foi mais uma noite sem incidentes. Disse Cassi exibindo um belo sorriso. -Não houve morte alguma.-Está vendo Arão e você preocupado com as cinco noites. Bal tocou o ombro de Arão. -Não vai mais haver catástrofe do segundo sinal e o resto do período da Lua de Sangue será tranqüilo.

As nuvens foram se abrindo.-Olhem! Gritou Bal apontando para cima.-Mas como isso é possível. Exclamou Cassi. -O santuário estava sendo vigiado. Ninguém poderia passar pelos guardas. Não foi dado nenhum sinal de alarme.

Ainda era possível ver o sol e a lua juntos no céu, o astro brilhava com uma coloração avermelhada, nesse momento Damira apareceu correndo desesperada na direção onde Odrin e Teles conversavam. Caiu nos braços do irmão e começou a chorar.-O que aconteceu? Perguntou Odrin preocupado.

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-Ela... Ela... Os soluços emitidos pela garota impediam que as palavras saíssem. Odrin a segurou

pelos ombros.-Acalme-se e me conte o que aconteceu.-Jenya... Ela não resistiu e morreu esta noite.-Agora sabemos por que ninguém deu alarme algum. Disse Arão.

O som de uma trombeta ecoou forte. Várias pessoas se movimentavam de um lado para outro. Milenus vinha a passadas largas, ao seu lado uma mulher o acompanhava. Eram seguidos por um homem que aparentava idade mais avançada, mas nem por isso diminuía seu ritmo. Pararam na frente dos jovens. Milenus tomou fôlego antes de falar.-Sei que os acontecimentos recentes e a perda de mais uma vida causam muita dor. Só que não podemos ficar parados lamentando, simplesmente por que não temos como mudar o que já aconteceu. Precisamos continuar a nos aperfeiçoarmos e tomar medidas mais enérgicas para que o que aconteceu com Jenya não volte a se repetir. Não vou explicar tudo o que foi decidido pelo conselho esta manhã. Mas vamos precisar da colaboração de todos, temos que correr para proteger a cidade e o Santuário. Não questionem minhas ordens apenas às cumpram.-Lissa, kitrina, Milena e Cassiana vocês acompanharão a sacerdotisa Evelyn na região das cavernas.

Kitrina segurou a mão de Cassi e deu um pequeno sorriso.-Yalo, Irian e Balduíno, vocês acompanharão o mago Salum pelo labirinto. Odrin, Teles, Keyllor, Tiror, Lethan e Arão me seguirão ao templo Sagrado. Cada um de vocês pegue um bastão de energia, os outros dois grupos não precisarão.

Milenus entregou um bastão para cada jovem.

-Nosso objetivo é: acender as chamas dos três grandes pilares da cidade. Cada pilar representa um Deus. Evelyn e as sacerdotisas irão para o pilar de Khnum. Salum e seu grupo se dirigirão para o pilar de Neith. Por fim eu e meu grupo iremos para o de Nekhebet. Os pilares se encontrão em regiões distintas e quando suas chamas forem acesas formarão um plano místico sobre a cidade. Isto nos dará uma proteção contra o avanço das trevas nas Luas de Sangue. Foi assim no passado, será assim no presente. As chamas precisam ser acesas simultaneamente e antes do cair da noite. Se falharmos não teremos uma segunda chance. Cada grupo levará uma ampulheta, ao final do escorrer da areia é que os fogos dos pilares deverão ganhar vida. Nem um minuto a mais ou a menos. -Mais um dia agitado! Cochichou Bal para Arão.-Kitrina, Tiror e Yalo. Chamou Milenus. -Peguem uma ampulheta cada e voltem para seus lugares.-Milenus, não temos mais tempo. Disse Salum. -A próxima noite não tardará a chegar, tenho medo de não retornemos a tempo.-Vamos. Ordenou Milenus.

Cada grupo partiu em uma direção diferente.

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As garotas seguiam Evelyn por um longo corredor. O chão foi se tornando mais áspero e irregular, com muitas ondulações e buracos.-Garotas procurem ficar juntas. Falou Evelyn. -Estamos entrando na região das cavernas, é um local muito misterioso e teremos que passar por ele rapidamente. Não podemos nos deter por nada nem por ninguém.

Evelyn nem tinha terminado suas palavras quando uma névoa invadiu o local.-Não consigo enxergar nada! Reclamou Milena.

Um ruído veio da frente, como se alguma coisa houvesse atingido alguém.-Kitrina onde você está? Perguntou Cassi. -Aqui.

Cassi não conseguia vê-la, mas pela intensidade do som parecia estar muito próxima.-Precisamos ficar juntas. Gritou Cassi. -Você precisa disso, não eu. A voz de Lissa também vinha de muito perto.

A névoa se dissipou lentamente, as quatro já conseguiam enxergar.-Onde está Evelyn? Perguntou Milena.

Fizeram uma rápida busca no local, mas não obtiveram sucesso.-Para onde poderá ter ido? Perguntou Cassi.-Será que aconteceu alguma coisa com ela? Murmurou Kitrina com certo temor.-Não seja tola Kitrina. Criticou Lissa. -Ela deve estar por aqui. Talvez tenha ido à frente para verificar se o caminho é seguro.

Apesar de que mesmo Lissa duvidava de sua ultima colocação.-Precisamos encontrá-la. Mas por onde começar? Questionou Milena. -Que tal começarmos por ali? Sugeriu Cassi.

Logo à frente o túnel ganhava um pouco de iluminação. O vento estava mais fresco e sua intensidade era maior.-Esperem não podemos prosseguir. Disse Kitrina. -E se ela ainda estiver dentro do túnel.-Eu vou voltar. Milena parou subitamente. Precisamos achá-la.-Não podemos! Cassi se interpôs entre elas. -Temos que seguir adiante. O tempo está correndo. Disse apontando para ampulheta que estava presa a cintura de Kitrina.-O que você está dizendo?

Lissa empurrou Cassi para o lado. -Quer abandonar Evelyn? -Não é isso. Ela não está dentro do túnel e se não obtivermos êxito em nossa missão, muitos poderão vir a sofrer.-Como você sabe que ela não está? Desafiou Lissa. -Você está com medo de voltar Celestina! Ou será que pra você tanto faz morrer mais alguém?Lissa se referia à candidata Ingrid.-Eu não sinto a presença dela. Indagou Cassi sem ligar para a provocação.-Você não sente. Oras! Explodiu Lissa.

Elas sentiram um tremor repentino, o teto começou a desmoronar.-Vai desabar! Corram! Ordenou Cassi.

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As jovens agiram com velocidade e ao saíram do túnel, este já havia deixado de existir. -Bem, parece que não temos opção. Disse Kitrina. -Teremos que seguir adiante. -Satisfeita agora, celestina. As palavras de Lissa saíram com raiva.-Evelyn, não! Resmungou Milena vendo o caminho bloqueado. Caiu de joelhos ao chão.

Cassi ajoelhou-se segurando os braços de Milena, estes estavam trêmulos. A garota celestina sentiu um grande vazio por dentro.-Milena, me ouça. Cassi deu um chacoalhão para conseguir a atenção dela. -Eu sei o que você está sentindo, entretanto Evelyn não estava lá. Precisamos continuar.-Sabe nada! Você nem imagina...

Milena se recompôs, as quatro estavam prontas para prosseguir. Mas ficaram estarrecidas por um momento e foi Kitrina quem quebrou o silêncio.-Nós vamos ter que passar por aquilo ali?

À frente delas erguia-se uma ponte de uns duzentos metros de comprimento, formada por pequenas tábuas de madeira e sustentada por cordas. Ela dançava ao som do vento que soprava. Atrás da passarela ficava uma cachoeira que terminava depois de percorrer uma grande distância em grandes pedras pontiagudas. Uma queda daquela altura seria fatal.-Pela aparência dessa ponte eu diria que ela é muito antiga. Disse Cassi. -Parece estar toda podre. -Se está com medo pode ficar aqui mesmo celestina. Lissa avançou à frente.

Cassi foi acompanhá-la, mas Kitrina a pegou pelo braço. Ela pode ver o medo estampado no rosto da companheira.-Cassi eu não vou passar por essa ponte.-Acalme-se amiga, não vai acontecer nada conosco. Nós precisamos passar para o outro lado é o único caminho que temos para seguir. -É melhor as duas pararem de reclamar. Milena apressava as ambas.

Lissa seguia a frente sem olhar para as companheiras. A segunda era Cassi que ia um pouco mais devagar. Apesar do medo Kitrina era a que se dava melhor, poucos eram os rangidos ouvidos de seus passos. Por fim vinha Milena que caminhava com maior dificuldade de todas. Elas pisavam com cuidado para que as tábuas não quebrassem. O ranger da madeira a cada passo causava calafrios em cada uma delas. Muitas vezes quando o equilíbrio se perdia buscavam uma nas outras o apoio. A ponte continuava a balançar muito, as dificuldades aumentavam a cada metro avançado.

Cassi pisou em uma tábua que se estilhaçou com seu peso. Suas mãos se agarram com mais força as cordas, uma perna sua ficara suspensa no ar. Lissa olhou para trás, mas não esboçou nenhuma ação para ajudá-la. Foi Kitrina quem a socorreu levantando-a pelo braço.

O vento continuava a aumentar de intensidade, as cordas começavam a arrebentar, a ponte não sobreviveria por muito tempo. Outro estalo de madeira se rompendo, seguido de um grito agonizante. A tábua não suportara o peso de Milena, seu corpo estava suspenso no ar. Suas mãos seguravam as cordas com muita vitalidade, porém esta não duraria muito tempo. Kitrina tentou ajudá-la. Mas suas mãos escorregavam ao tentar puxar a Milena.-Ela não vai agüentar muito. Gritou Kitrina.-Precisamos erguê-la rápido. Cassi se dirigiu a Lissa.

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As cordas da ponte continuavam a se romper. Uma das mãos de Milena escapou, A garota gritava desesperada com a possibilidade de cair sobre as pedras. Cassi deu um pulo ao lado de Kitrina e segurou-lhe a mão."Não vamos conseguir." Pensava Cassi. "Não vou conseguir puxá-la.".

O medo começava a invadi-la. -Não fique aí parada, venha nos ajudar.

Ordenou Cassi a Lissa. A garota hesitou, parecia zangada ao receber ordens. Por fim segurou Cassi e Kitrina pela cintura e puxou-as para trás.

Cassi sentiu uma força percorrer seu corpo, isso a ajudou a se livrar do medo e trazer Milena para cima. Ela ficou alivia. Cassi deixou Milena passar e seguiu por ultimo, ainda tinham que prosseguir até o final da ponte.

Elas estavam quase chegando quando as cordas do lado direito se partiram. A ponte ficou presa somente por um dos lados. Todas as garotas estavam se segurando nela, com seus corpos suspensos no ar.-Mais rápido. Ordenou mais uma vez Cassi. -A outra corda não agüentará nosso peso por muito tempo.

Lissa, Kitrina e Milena conseguiram atravessar. Faltando poucos metros para Cassi chegar à corda se rompeu. Ela segurou a corda e veio num movimento brusco, se chocando contra a parede. Com o impacto ela se soltou por uns instantes caindo alguns metros abaixo, antes de se agarrar novamente à ponte. Ela segurava nas cordas e usava as tábuas como apoio para os pés, subia lentamente. A ponte estava preste a cair.-Precisamos ajudá-la! Gritou Kitrina.-Precisamos? Respondeu Lissa. -Ela nem merecia estar entre nós. Que se vire sozinha.

Kitrina olhou para Milena, esta estava indecisa se ajudava ou não. Era como se precisasse da permissão de Lissa para fazer qualquer coisa.-Mas ela acabou de te ajudar. Implorou Kitrina.-Ela não vai ajudar. Lissa respondeu por Milena.

Cassi prosseguia lutando para subir, as cordas continuavam a se romper. Kitrina ficou inconformada enquanto gritava por ajuda. Ela viu que não adiantaria ficar discutindo com as duas. Voltou-se para Cassi e tentava desesperadamente lhe estender a mão, faltava pouco para alcançá-la quando finalmente todas as cordas cederam. Num ultimo esforço ela conseguiu segurar a mão de Cassi. Com o que restava de suas forças puxou-a para cima. Kitrina levantou-se para tomar satisfações com Lissa, mas Cassi lhe deu um abraço antes.-Esqueça. Disse ela. -O importante é que estamos todas bem. Vamos continuar precisamos encontrar Evelyn.

Lissa deu as costas para Cassi avançando para longe da ponte, Milena apenas abaixou a cabeça e a seguiu. Ambas, porém, antes de partirem olharam para ampulheta presa à cintura de Kitrina... A areia escorria rápido... Os jovens seguiram Salum, os caminhos que o mago percorria não eram conhecidos por nenhum dos garotos. Subiram um pequeno morro com o sol incidindo sobre suas vistas.

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Não conseguiam sequer olhar para o mago sem ter que proteger os olhos com as mãos. Ele era rápido e ágil, os garotos tinham dificuldade em acompanhá-lo. Quando chegaram ao topo Salum ordenou que parassem."Finalmente vamos fazer algo interessante." Pensou Irian, jovem moreno de cabelos pretos e olhos azuis. As vestimentas de mago cabiam perfeitamente em sua estatura mediana. Em seu rosto possuía dois triângulos verdes desenhados em ambos os lados.

Os jovens só conseguiam ouvir a voz alta e possante do homem que dizia:-Cuidado! A partir deste trecho começaremos a descer. Vamos seguir em fila. Peço que se concentrem em nossa missão. Por motivo algum se afastem uns dos outros. Esta região esconde várias surpresas, a maioria delas desagradáveis, mas uma delas é mortal... Entenderam?-Sim.

Responderam todos assustados com a colocação que Salum acabara de fazer.-Não precisam ficar com medo, basta seguir minhas ordens e tudo acabará bem.

Passado um tempo da descida avistaram um grande vale, tomado por muros brancos e pretos. Os muros cruzavam-se por todos os lados formando um grande complexo. Lembrava um labirinto. Mesmo com o sol, algumas partes do labirinto permaneciam na escuridão. Em outras, uma nevoa tornava impossível à visão dos muros, e por fim algumas das partes com luminosidade estavam alagadas. No final do labirinto um enorme pilar.-É lá que nossa missão termina, no pilar de Neith. Apontou Salum para o portal.Desceram pela encosta do morro. Quando estavam quase terminando a descida o mago parou.

- Meus jovens, aguardem neste local por um breve momento. Vou descer a frente e verificar se não existe nenhum tipo de perigo para nós. Aproveitem para descansar um pouco este talvez sejam os últimos momentos de tranqüilidade que tenhamos.

Yalo sentou-se colocando a ampulheta em uma pedra. Irian que estava a seu lado comentou:-Ela é muito bonita, daria um ótimo enfeite.-Pena que o tempo corre muito rápido dentro dela. Disse Bal observando a areia escorrer.

Yalo e Irian o olharam por um momento, mas o ignoraram."Eu não queria falar com vocês mesmo". Pensou.

Bal virou-se de lado e começou a observar o lugar onde estavam. Um movimento em uma moita ao lado chamou-lhe a atenção.-Vocês viram aquilo? Perguntou Bal aos outros dois garotos.-Viu o quê? Questionou Yalo.-Não vê que ele só esta querendo chamar nossa atenção. Resmungou Irian.Os dois voltaram a ignorar Bal."Tolos, se acham o máximo"

Bal continuava a observar a moita. Nenhum movimento. "Acho que estou imaginando coisas".

Um novo barulho e a moita se mexeu mais uma vez, Bal levantou-se e foi verificar.-Salum disse para ficarmos juntos. Falou Yalo.-Deixe o celestino que vá, quem sabe ele não se perca e não retorne mais.

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As palavras de Irian eram em tom de deboche.Bal não deu atenção a eles. A moita parou de se mexer, mas algo pareceu sair

rapidamente dela e se dirigir a outra um pouco mais adiante. Ele ficou intrigado, mas não conseguiu ver o que era. Estava entre seguir o conselho de Salum e voltar, ou acompanhar sua curiosidade e prosseguir. Acabou seguindo adiante.

Quanto mais ele avançava, mais a coisa fugia. Por fim chegou a um local sem saída, cercado por rochas por todos os lados. Havia uma última moita. -Seja o que for agora você não me escapa!

Bal seguiu cuidadosamente até a moita, abriu-a com as mãos, entre suas folhagens havia um pequeno lagarto de olhos amarelados, parecia inofensivo.-Vem cá bichinho. O lagarto alterou suas feições, mostrou suas presas e num movimento ágil pulou no peito de Bal derrubando-o. Salum chegou e com seu cajado atirou o lagarto longe. Atrás deles vinham Irian e Yalo.

O lagarto voltou, mas Salum o mantinha a distância com seu cajado.-Levante-se e fique atrás de mim. Eu não mandei que ficassem juntos. -Eu sei é que...-Eu disse que este lugar reserva muitas surpresas, mas uma...

Por um momento Salum olhou para Bal e distraiu-se. O réptil aproveitou-se da situação e pulou por cima do cajado mordendo a mão do mago antes de fugir.-...Mortal... Salum gemeu de dor.

-O senhor está bem? Perguntou Yalo.-Olhe o que você causou celestino. Disse Irian.-Ele vai ficar bom foi só um arranhão. Falou Bal tentando se desculpar.-Receio que não meu jovem.

A entonação da voz de Salum demonstrava muita dor. -Este é um lagarto de olhos amarelos das montanhas do labirinto. Por eles serem pequenos atraem suas vítimas para longe de tudo e a ferem com suas presas expelindo seu veneno.-Mas o que veneno causa? Perguntou Yalo.-Fiquem quietos, temos que voltar logo para a entrada do labirinto e rezem para não estarem perto quando o veneno fizer efeito.

Terminaram de descer o morro e chegaram a um portão, com dois elefantes cravados em cada parte. Um escuro, outro claro. Salum tomou a palavra.-Este é o labirinto onde as luzes e as sombras convivem à milênios. O Labirinto do Caçador. -Não gostei do nome. Disse Bal respirando fundo.Salum prosseguiu.-Vocês precisarão ser espertos, astutos e ter muita destreza para atravessá-lo. Salum parou e levou uma das mãos à altura do estômago.-Por que ele tem esse nome? Perguntou Yalo.-Porque quem entra nele é caçado o tempo todo.-Gostei menos ainda da explicação. -Fique quieto celestino. Protestou Irian.-O senhor está bem?

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Yalo perguntou por que a aparência de Salum piorara muito depois da mordida que levara. Um gemido veio do mago. Ele levantou a mão indicando para os jovens pararem de falar.- Estou, mas eu não tenho muito tempo e nem vocês.

Apontou para ampulheta que estava com Yalo. - Devem partir agora e cruzar o labirinto, mas não conseguirão isso sozinhos. Devem antes fazer a escolha e rápido. O tempo está se esgotando.- Escolha? Que escolha? Perguntou Bal sem saber o que pensar. – Se tiver que escolher, eu escolho voltar.

Salum se curvou, os cabelos caíram lhe sobre a face, ergueu uma das mãos. Os portões começaram a executar movimentos laterais abrindo-se.

Elas estavam ansiosas demais, não sabiam com o que iriam se deparar. Mas foram preparadas a maior parte de suas vidas para este momento. Tinham que atender as expectativas, dentre muitas, somente às três melhores foram selecionadas.-Como será que eles são? Questionou Mary.-Não sei, mas tenho certeza que me darei muito bem com ele. Respondeu Helian.-O meu será o mais bonito. Afirmou Mary-O meu vai ser o mais elegante e inteligente. Contestou Helian que não queria sair perdendo.-Ora, mas por que você está tão acanhada Dafne. Acha que não vai ser escolhida. Zombou Mary.

A jovem estava quieta, trêmula, com os braços escondidos atrás do corpo.-Eu ouvi dizer que eles judiam muito das que não lhes agradam. Continuou Mary.

O rosto de Dafne ficou pálido.-Mas e se ninguém a quiser, o que vai fazer? Havia maldade na voz de Helian. -Coitada. Riu...-Quem vai querê-la? Mary disse se aproximando. -Eu teria vergonha de estar aqui. Se estivesse em seu lugar já teria ido embora.

As lágrimas começavam a escapar dos olhos de Dafne. Ela pensou em fugir, mas neste momento não havia mais tempo para voltar atrás, o portão estava se abrindo. Logo estaria frente a frente com eles."E se ninguém me quiser? E se me maltratarem?"

As perguntas corriam soltas pela mente de Dafne e o arrependimento de estar ali tocava fundo sua alma.

Os portões se abriram completamente. Os jovens preparavam-se para entrar no labirinto, entretanto três moças com menos da metade do tamanho de uma pessoa normal cruzavam seus caminhos. Todas possuíam pequenos coletes que deixavam a mostra os braços e as pernas. As três tinham cabelos curtos e lisos, estes eram penteados para baixo e pareciam estar sempre molhados. Elas estavam flutuando a uma altura do solo que ficavam praticamente da mesma altura deles.

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

Salum apresentou-lhes as três.-Aquela é Mary.

Sua vestimenta tinha coloração vermelha. O que combinava com seus cabelos loiros, possuía olhos azuis claros e sua pele era macia e clara.-A do meio é Helian.

Sua vestimenta eram esverdeada, cabelos ruivos e olhos verdes. Sua pele também era clara e possuía algumas sardas no corpo.-E por fim a última delas é Dafne.

Sua vestimenta era azul escura. Possui cabelos negros, seus grandes olhos também eram negros, o que era raro entre as ninfas. Tinha lábios carnudos e sua pele branca parecia não conhecer os raios solares. Ela estava muito apreensiva, mas nem isso tirava sua beleza.-O que é isso? Inquiriu Irian.

Salum aparentava ficar pior a cada minuto que passava, sua respiração saia com dificuldade. As palavras vieram fracas: -Como disse antes, vocês teriam que fazer uma escolha. Um mago iniciante precisa de uma companheira que o ajude. Estas foram as três ninfas escolhidas para acompanhá-los.

Mary e Helian gesticulavam e sorriam muito, enquanto Dafne permanecia imóvel. -Elas lhes serão muito útil, além de companheiras, os ajudarão a seguir pelos caminhos certos. Possuem ótima memória para guardar fórmulas de poções e feitiços mágicos. Quando vocês se concentrarem juntos poderão ter seus poderes aumentados. Como muitos de nós magos somos temidos, muitas as pessoas evitam conversar conosco. Elas serão suas amigas e confidentes. Nós temos um pacto com as ninfas, elas lhes serão fieis até o dia em que vocês as libertarem.-Quando será isso? Perguntou Bal.-Quando se tornarem magos mais experientes. Isso ainda vai demorar um pouco. Mas não precisam se preocupar quando chegar à hora vocês saberão. Elas também têm um dom muito especial que é o da levitação. Além de serem muito bonitas.

Mary e Helian fizeram um pequeno gracejo, enquanto o rosto de Dafne corou de vergonha. Salum conseguiu se levantar.-Bem, minhas jovens ninfas. Declarou Salum com autoridade. -Estes são os candidatos da Cidade Superior, Yalo e Irian e este é Balduíno, ele é um celestino. Podem escolher.

Bal estava à frente de Yalo e Irian. Ia escolher primeiro, mas Mary e Helian passaram voando por ele muito rápido. O garoto levantou o dedo, mas não conseguiu dizer palavra alguma. Mary agarrou Irian pelo pescoço enquanto Helian abraçou o peito de Yalo. Bal ficou parado esperando Dafne, mas ela não se mexeu, ficou imóvel onde estava.

O celestino se aproximou lentamente dela. Dafne não ousava olhá-lo, suas mãos continuavam escondidas atrás das costas e à medida que o jovem se aproximava ela tremia mais e mais.-Não entendi! Reclamou Bal. -Eu não ganho nenhum abraço?

Ela falou pela primeira vez, mas mesmos assim de um modo tenso.-Bem, é que eu..., Eu...-Já sei, você não chegou perto de mim por eu ser celestino. Não foi isso?

As palavras de Bal denotavam um certo grau de impaciência.

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-Não. Eu não queria... É que...-Vamos Dafne, de um abraço nele. Mary falava com sarcasmo.-Tudo bem, um simples aperto de mão serve. Bal esticou a mão para ela.

A ninfa ainda ficou indecisa, mas estendeu a mão. O garoto deu uma sacudida um pouco mais forte, o que fez Dafne perder o equilíbrio. Precisou usar ambas as mãos para segurar as de Bal. Nesse momento um pequeno rabo, fino e delicado apareceu de trás dela. Bal perguntou assustado.-Você tem um rabo?

A ninfa ficou sem jeito, corando o rosto todo.-É uma aberração mesmo. Caçoou Helian.

Mary, Yalo e Irian caíram na gargalhada com a cena. Dafne fugiu aflita do local.-O que faço agora? Questionou Bal.-Eu lhes darei uma dica, que os ajudará a passar pela primeira parte do labirinto. As demais vocês encontrarão pelo caminho.

Salum abriu a mão e dela saiu uma bola de luz que tomou a forma de um querubim."No labirinto irão entrar. Dois caminhos a escolher. Deverão despercebidos passar. Sem atenção para si chamar".Salum caiu de joelhos, sua dor era intensa, já não conseguia mais ficar em pé.-Vão rápido. Grunhiu ele.

Quando Bal passou pelo mago. O braço dele prendeu o garoto.-Você não pode ir, volte para a Cidade Superior. Jamais se tornará um guardião.-O quê? Como assim? Bal ficara espantado com a atitude de Salum. -Claro que vou me tornar um guardião. Se eu não me tornar como ficarão meus amigos?A lembrança de Arão e Cassi lhe veio à mente.-Mas sem uma ninfa jamais conseguirá isso.-Ora, mas que droga! Exclamou Bal e saiu correndo na direção em que Dafne havia ido. Antes, porém ouviu Yalo conversar com Irian.-Nós temos os caminhos, do lado da luz e das sombras. O aviso nos disse para passarmos despercebidos. Lembra-se do encanto da invisibilidade? Podemos usá-lo e passar sem sermos notados. Vamos pelo lado da luz.Bal ainda olhou para trás e viu os quatro entrando no labirinto.-Puxa, essas coisas só acontecem comigo. Reclamou ele. -Onde ela está?

Ouviu um barulho vindo ao lado de trás de umas folhagens, se aproximou lentamente. Abriu passagens com as mãos. Viu Dafne sentada chorando.-O que você está fazendo? Perguntou Bal bravo.

Dafne viu o jovem sair tropeçando do meio das folhagens, engoliu o choro. Apesar de toda a sua tristeza, esboçou um pequeno sorriso com a cena."Nossa! Ele é muito atrapalhado".Bal tirava os últimos ramos que ficaram presos as suas vestimentas.-Eu não quero mais, eu não vou, escolha outra.-Escute aqui. Eu vou me tornar um guardião. E preciso de você para isso. Portanto você vem comigo, seja por bem ou por mal. Você escolhe.

Dafne não se mexeu. Bal pegou a mão dela, mas ela a soltou com um movimento brusco. O garoto olhou para cima e suspirou.

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-Daí me força. Olha eu sei o que você está passando, mas precisamos voltar, os outros já entraram no labirinto.-Você sabe o que estou passando? Você não faz a mínima idéia. Sou uma rejeitada, uma aberração, ninguém quer falar comigo por causa disso. Virou-se e balançou o rabo.-Eu sei sim. Desde que cheguei a Cidade Superior todos vivem me tratando mal. Ninguém vem conversar comigo, só por que sou do povo celestino. E olha que sou igualzinho a eles.Dafne ouvia suas palavras atentamente.-Mas não tenho tempo para explicar isso agora para você. Já estamos muito atrasados.

Bal pegou Dafne pela cintura jogou-a no ombro e voltou correndo. -A propósito meu nome Balduíno, mas pode me chamar de Bal.-Ei! O que você está fazendo? Me solte!

Ela se esperneava, mas mesmo assim Bal prosseguiu. Chegaram onde Salum estava, ele continuava ajoelhado. Seus cabelos escondiam seu rosto.-Pronto chegamos. Disse Bal se dirigindo a Salum. -Agora podemos entrar?-Eu já disse que não vou.-Dafne! A voz de Salum era imperativa. -Você passou a sua existência inteira treinando para acompanhar e ajudar um mago. Muitas se sacrificaram para você estar aqui hoje. Você tomou o lugar de outras ninfas e agora quer renegar o seu destino?

Dafne ficou quieta e pensativa.-O senhor tem razão. Virou-se para Bal. -Desculpe se o prejudiquei com o meu mal comportamento, farei de tudo para auxiliá-lo a se tornar um grande mago.-Isso quer dizer que você vai entrar comigo no labirinto?

Ela fez um sinal de positivo com a cabeça.-Maravilha! Gritou Bal. -Até que em fim estamos nos entendendo.

Salum abriu a mão, dela saiu um pó branco que envolveu todo o corpo de Dafne. A ninfa gritou de dor caindo no chão.-Por que o senhor fez isso? Perguntou o garoto.-Eu mereci Balduíno. Disse ela.-Ela fugiu de sua missão. Explicou Salum.-Então me puna também. Pediu Bal.-Por quê? Questionou Salum.-Já éramos para estar dentro do labirinto ajudando os outros a acender a chama do pilar. Mas não estamos. Eu me espantei com o rabo dela. Não a aceitei como era e acabei deixando-a constrangida.

Era uma das poucas vezes que Bal falara sério.-Tem certeza disso?-Tenho.-Não! Não faça isso! Implorava Dafne. -A culpa foi minha.-Não. Bal foi incisivo. -Nós somos uma dupla se você falhar, eu também falharei. Se você vencer, eu vencerei. Estamos no mesmo barco. Pode me punir.

Dafne se afastou, Salum jogou o pó em Bal. Ele gemeu de dor e caiu de joelhos. A

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atitude do garoto impressionou muito a ninfa.-Isso doeu demais. Resmungou Bal enquanto Dafne o ajudava a se levantar. -Você poderia ter me avisar que doía bastante, ai eu teria desistido.

Ele sorriu para ela.-Podemos entrar? Perguntou Bal.-Vão logo, acendam a chama do pilar de Neith. A segurança de muitos depende disso. Não se esqueçam do aviso. O meu tempo se esgotou.-Que aviso? Dafne perguntou cheia de curiosidade.

Bal repetiu as palavras do querubim.-Rápido ou irão se arrepender de ficar aqui... O veneno...

Foi o último gemido de Salum antes de cair no chão. Protuberâncias começaram a surgir por todo seu corpo. Bal e Dafne se afastaram. A roupa do mago se rasgou toda, assim com sua pele. Uma mutação acontecia dentro de seu corpo. Parecia que algo maior crescia dentro dele e estava preste a sair. Um enorme lagarto de olhos amarelos e grandes presas surgiu. Tinha chifres na cabeça e um deles localizava-se sobre o focinho. Suas garras afiadíssimas arranhavam o chão emitindo um som ensurdecedor.-Minha nossa, mas que coisa é essa? Exclamou Bal assustado.-Não sei, mas parece faminto.O lagarto virou na direção dos dois dando seus primeiros passos.-Já sei quem vai ser o prato principal. Acho que seria bom se começássemos a correr.

Bal olhou para os lados. -O labirinto! Temos que correr para dentro dele.

O garoto pegou a mão de Dafne que flutuava a seu lado e fugiu apressado. Os dois se dirigiam para a entrada da luz, mas Dafne o puxou pela roupa.-Não. Por aí não.-Mas todo mundo foi por esse caminho. Eu vi.

O rugido do lagarto se aproximava, não tinham muito tempo para ficarem discutindo. Dafne se adiantou e seguiu pelo caminho das sombras. Bal a acompanhou. Após um tempo de caminha concluíram que estavam perdidos. Algum tipo de força impedia que a ninfa subisse e ultrapassasse os limites superior dos muros, impedindo-a de ver o caminho para se orientar. Os urros do lagarto continuavam a serem ouvidos no labirinto, às vezes pareciam estar muito próximo, outras vezes muito distante.-Por que você quis vir por este caminho? Não entendo.-Só estou seguindo o que “aviso” dizia. Temos que passar despercebidos, sem chamar a atenção. O caminho das sombras é o melhor para isso pelo menos no início.-Mas os outros disseram que há uma magia que pode fazer desaparecer. Isso iria ajudá-los.-Você não sabe, mas nós conhecemos um pouco da história do Labirinto do Caçador. É por esse motivo que eles jamais deveriam ir pelo lado das luzes usando magia.-Como assim? O que existe de tão terrível? Bal sentia-se curioso e com medo ao mesmo tempo.-O observador.-O observador? Repetiu Bal.-Sim, praticamente nada escapa a sua visão, principalmente magia. Se eles usarem qualquer tipo de mágica, aí sim atrairão sua atenção. Na parte da luz não terão onde se esconder.

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Mary e Helian já deveriam saber disso.-Não tem importância eu não sabia a magia mesmo.

Ele deu com os ombros. -O que faremos?-Iremos pelos cantos e bem quietos. Vamos torcer para não sermos notados pelo Observador, quem sabe assim consigamos passar pela primeira parte do labirinto. Precisamos continuar...

Dafne voava sobre o ombro direito de Bal.-Você é mesmo um celestino?-Sim, sou. Bal falava enquanto avançavam pelo corredor escuro.-Sua atitude me impressionou muito antes de entrarmos no labirinto. Querendo ser castigado comigo.

Bal ficou quieto e não fez nenhum comentário.-Você deve ter passado maus momentos na Cidade Superior.

O garoto percebeu onde Dafne queria chegar.-Posso te dizer que não nos receberam de braços abertos.-Nós? Você quer dizer que tem mais celestinos na Cidade Superior?-Sim, tem o Arão e a Cassi, são meus amigos. Muitas pessoas nos odeiam. Querem distância de nós.

A lembrança de Odrin veio-lhe a mente, calafrios percorreram seu corpo. -Acham que nossa presença entre eles é um erro. Nos tratam como se fôssemos de espécies diferentes. E nem mesmo nos conhecem direito...-Eu sei o que você quer dizer com isso. Comentou Dafne olhando para seu rabo.-Oras, mas seu rabo é bonitinho, não devia ter vergonha dele.-É por causa dele que as pessoas me evitam. Riem de mim...-Mas ele é tão simpático.

Na verdade era bem delicado.-Acha mesmo? Dafne o balançava animada.-Você tem que pensar assim. Ele a torna diferente de todas as outras. Aliás, ele tem um charme todo especial.-É? Eu nunca tinha pensado desse modo.

Com seu jeito brincalhão Bal deixava Dafne bem à vontade. Ela tinha até se esquecido dos incidentes e mágoas anteriores.

Gritos foram ouvidos do outro lado do labirinto, o lado da luz.-Será que eles estão bem? Perguntou o garoto.

Dafne não respondeu, mas Bal entendeu o significado da ausência de sua resposta. Eles não tinham como ajudá-los. Dafne fez uma oração mentalmente para os outros e depois quebrou o silêncio.– Sabe, nós ninfas normalmente vivemos nas florestas, convivemos com os animais e as plantas. Passamos a maior parte do dia nos banhando e nos cuidando. Somos muito vaidosas. Observamos todos os que passam por nossas matas, mas quase nunca nos mostramos. A não ser que achemos que a pessoa mereça.-Mas se vocês quase nunca aparecem e são tão vaidosas, como chegaram até nós?-No início tudo era diferente e desempenhávamos papéis importantes, nas grandes guerras

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existiam magos que não estavam suficientemente preparados. Como a guerra não espera, nossa missão era ficar ao lado deles, apoiá-los, até que estivessem prontos. Porém, o tempo passa, as guerras acabam e os magos já não precisam mais de nós. Somos orgulhosas, uma ninfa não aceita rejeição, então começamos a migrar para as florestas. Longe daqueles que nos "dispensaram" e mais perto da natureza. Nos isolamos de tudo.

Dafne não parava mais de falar, se a história não fosse tão interessante, Bal teria se arrependido de tê-la elogiado para que se soltasse mais.-Porém, há algum tempo atrás. Um grande sábio procurou nossa rainha e disse que tinha uma revelação a fazer.-Vocês têm uma rainha? Bal fez a pergunta como se aquilo fosse algo totalmente inesperado.

Dafne fez um sinal de positivo com a cabeça e prosseguiu.-Deve ter sido algo muito importante, pois aquilo a perturbou demais. Por muito tempo ela ficou indecisa sobre qual decisão tomar. Mas o tempo facilitou a sua resolução. As florestas já não são mais seguras, elas ficaram mudas. Os Bosques nos dão medo e neles os animais começaram a desenvolver sentimentos estranhos. Eles agora caçam por prazer e não por necessidade. Os pássaros não cantam como antes. As ninfas foram sumindo dentro das matas. Algumas jamais retornaram, as que voltaram ficaram irreconhecíveis, começaram a semear a discórdia entre nós. Não demorou muito e nossas aldeias estavam divididas em grupos-Puxa! Que história. Exclamou Bal admirado.-Foi quando nossa rainha começou a recrutar as ninfas mais jovens, levando-nos para longe, no coração da floresta, para iniciar um treinamento secreto. Quando retornamos, nosso mundo já não era mais o mesmo. Muitas se escondiam de nós, seu próprio povo.

Dafne se exaltou um pouco.-Muitas coisas importantes estão para acontecer que irão mudar todo o sentido da existência. Nesta hora nós estaremos ao lado dos magos mais uma vez. O labirinto em que estamos já foi alvo de muitos magos e ninfas que quiseram atravessá-lo para conseguir poder e reconhecimento. Mas todos falharam, quer dizer quase todos, apenas um conseguiu. Os outros jamais saíram e seu destino foi um só.-Sei que vou me arrepender por perguntar. Mas qual foi seu destino?-O caçador. Respondeu Dafne.-Eu sabia que ia me arrepender. Como é este caçador.- Não sei. Acho que ninguém sabe. -Mas você disse que um mago conseguiu vencer o labirinto. Ele poderia nos dizer.-Não Balduíno, ele não é de falar muito. Ele nunca contou a ninguém como fez tal proeza. E olha que milhares tentaram conseguir a resposta.-Mas e se tentarmos falar com o mago. Agora ele deve falar, pois é uma emergência.-Ele não vai falar. Disse Dafne com convicção.-Como você pode ter tanta certeza? -Por que ele virou um lagarto.-Você quer dizer Salum?

Dafne fez sinal de positivo com a cabeça.-Pelo menos veja o lado bom estamos a salvo e nada aconteceu.

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Bal nem tinha acabara de falar quando seu pé pisou sobre uma pedra solta. Esta se afundou emitindo um pequeno ruído. O chão começou a tremer e uma fenda começou a abrir-se da direita para esquerda. O buraco ia aumentando de tamanho, revelando muitas lanças fincadas ao chão.-Corra!

Foi a única palavra que Dafne conseguiu gritar antes de Bal sair em disparada. Ele aumentava as passadas o mais rápido que podia, mas a fenda se alongava numa velocidade maior.-Mais rápido, o final do corredor esta próximo.

Berrava Dafne, ela não estava perigo por que conseguia flutuar. O chão estava se acabando. Bal corria perto da parede, começava a ficar difícil manter o equilíbrio e as lanças dentro do buraco pareciam estar bem afiadas. A pequena faixa no solo que restava obrigava o garoto a caminhar a passadas largas com as costas grudadas na parede. Dafne o ajudava a equilibrar-se, pressionando seu peito contra a parede.-Não vai dar. Eu vou cair. Eu vou cair. Bal não conseguia manter os olhos abertos.-Cale-se e continue andando.-Por que todas as mulheres gritam comigo?-Vamos Balduíno! Falta pouco!

O final do corredor estava próximo, mas ele não ia conseguir.-Pule! Ordenou Dafne.

O garoto pulou, o chão sumiu embaixo de seus pés. Ele agarrou-se à borda do buraco. Olhava para baixo onde as lanças o esperavam. Uma de suas mãos escapou, Dafne a segurou. Ele apoiou as duas mãos na borda e fazia força para subir. A ninfa o agarrou pela cintura e voava mais alto para erguê-lo. Conseguiu finalmente sair, sentou-se ofegante. Dafne o abraçou e tampou-lhe a boca. À frente deles um vulto negro com contornos de um colosso permanecia em pé observando o corredor.

O tempo passou e o ser não se mexia, os dois continuavam imóveis. A atenção dele foi despertada por alguma coisa que os dois não souberam explicar o que era. O colosso se moveu entre as paredes do labirinto se dirigindo para a parte de luz.-O que era aquilo? Perguntou Bal.-O observador.-Eu pensei que ele ia tentar nos impedir. Nós estávamos bem a sua frente e ele não fez nada.-Ele é praticamente imbatível as magias e consegue ver tudo o que se move ou esconde. Mas não consegue ver as coisas paradas a sua frente esse é o nosso trunfo.-Mas como ele não bate nas paredes, elas estão paradas? -Balduíno ele está aqui a mais tempo do você pode imaginar. Conhece este labirinto como a palma da mão.-Você é muito inteligente creio que arranjei a parceira certa. Bem temos que continuar.Os gritos recomeçaram na parte de luz do labirinto.

Milenus seguia a frente dos jovens, eles formavam duas filas com Odrin e Teles

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seguindo a frente de ambas. Seguidos por Arão e Tiror e por ultimo vinham Lethan e Keyllor.-Temos que estar atentos, pois para acendermos a chama do pilar de Nekhebet teremos que entrar no templo de Opak, o Deus de Granizo. Ele é um Deus menor mesmo assim muito poderoso. Cuidado com seus seguidores são traiçoeiros e atacam sem avisar, portanto fiquem com seus bastões preparados para ação.

Arão apertou o cabo de seu bastão com mais força. Subiram uma escadaria com estátuas de ambos os lados. Todas tinham o mesmo formato e tamanho. Não tinham cabelos, apenas um rabo de cavalo, dois colares vermelhos no pescoço e panos que tapavam suas partes íntimas. Cada uma possuía seis braços, todos seguravam uma espada. No centro do peito possuíam uma pedra vermelha.

O silêncio imperava no grupo-Esse celestino só irá nos atrapalhar. Sussurrou Odrin para Teles, sabendo que Arão estava ouvindo. -Poderíamos dar um jeito nele.

Tiror parecia desaprovar a atitude dos dois.-Cuidado Tiror. De que lado você está? Questionou Odrin.-Ei! Vocês ouviram isso? Perguntou Lethan no final da fila.-Isso o quê? Retrucou Keyllor.-Não estou ouvindo nada.-Tem certeza?

Arão se aproximou de Lethan, mas foi empurrado por Odrin que abria passagem até o garoto.-Sai da frente celestino. O que você ouviu?-Pareciam passos, eu diria que são de alguém grande ou muito pesado, mas de repente tudo ficou em silêncio.-Quietos vocês todos. Ordenou Milenus.

Nesse momento o chão à frente do grupo foi rompido por um ser que era uma cópia das estátuas pequenas, porém seu tamanho era cinco vezes maior. -Opak! Gritou Milenus.

O gigante agarrou Milenus com uma das mãos, parecia tão forte que podia esmagá-lo quando quisesse. Os jovens esboçaram uma reação para auxiliá-lo, mas o ser expeliu fogo pela boca e mantive todos afastados. Quando o fogo cessou as estátuas que acompanhavam os degraus adquiriram vida, e formaram uma barreira entre os jovens e Opak.-Precisamos ajudá-lo. Gritou Arão.

Os garotos iam avançar, todavia as estátuas deram um passo à frente intimidando a ação. Opak subiu as escadas, o ser sumiu no topo com Milenus. Suas cópias menores viraram e rapidamente seguiram seus passos.

Os jovens partiram rumo ao topo da escadaria. Nele se depararam com um rio de lava passando, na outra margem havia uma outra escadaria maior que a que tinham acabado de percorrer e no final da mesma um templo.

Para atravessar o rio só havia um modo, pedras redondas flutuavam formando um caminho único. Keyllor se aproximou e olhou para cima.-Acho que teremos que atravessar o rio e subir até o templo. Com exceção de Opak que raptou Milenus todas as outras estátuas estão paradas em sua entrada.

Arão olhou para cima, não conseguiu ver nada além do templo e mesmo assim muito

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distante e pequeno.-Como ele consegue ver as estátuas?

A pergunta de Arão se dirigia a todos de um modo geral. Odrin o empurrou para o lado.-Você não sabe de nada.

Tiror se aproximou para explicar.-Keyllor tem esse dom, o da visão, ele poder enxergar com perfeição grandes distâncias. Se ele diz que as estátuas estão lá, acredite elas estão.-Precisamos atravessar o rio pulando de pedra em pedra. Disse Lethan.

Teles observava o caminho.-Vamos seguir em frente. Disse Odrin.

Quando ele passou ao lado de Teles, este o segurou pelo braço e fez um sinal muito discreto para aguardar um momento. -Está fácil demais.

Keyllor iniciou a travessia, Arão se adiantou, mas Odrin o impediu.-Se você quiser ir, será por último celestino!

Keyllor pulou na primeira pedra, imediatamente nuvens apareceram alguns metros acima do rio, encobrindo a imagem da escadaria e do templo.-Não estou gostando nada disso. Exclamou Tiror.

O jovem foi para segunda, ao tocar a base da pedra, dois troncos presos por cordas surgiram das nuvens logo acima dele. Vindos em direções opostas esmagariam-no com facilidade. Ele percebeu tarde o que estava para acontecer, não teria tempo para fugir. Apenas fechou os olhos esperando o impacto, houve um barulho abafado e quando Keyllor tornou a abri-los, viu Odrin ao seu lado com os braços abertos segurando os dois troncos.-Rápido saia daqui, eu não vou agüentar mais tempo.

Uma força invisível parecia continuar a pressionar os troncos contras os dois.-Ele é muito forte. Afirmou Lethan.

Arão concordou plenamente com as palavras de Lethan. Keyllor voltou, Odrin soltou os troncos rapidamente e pulou para a primeira pedra. O som do encontro de ambos fez os jovens estremecerem. Logo em seguida os troncos sumiram nas nuvens como se tivessem sido puxados de volta.-O que faremos? Perguntou Lethan.-Daremos um jeito de atravessar. Disse Odrin.-Mas temos que ser rápido. Falou Arão.-Você acha que eu não estou prestando a atenção na ampulheta que está com Tiror, Celestino?

Odrin deu um empurrão no peito de Arão. Este se controlou, uma briga agora não ajudaria em nada.-Não é isso. Olhe para o rio. O nível do rio começou a subir. Prosseguiu Arão.-Se demorarmos muito não haverá mais pedras para pisarmos.

Odrin ignorou a explicação de Arão, apesar de ver que o que ele dizia era verdade.-Faremos o seguinte. Sugeriu Lethan. -Odrin irá à frente segurando os troncos, nós aproveitamos e passamos. Será fácil. O que vocês acham?

Nesse momento mais cordas suspensas apareceram das nuvens, mas desta vez não

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eram troncos, mas sim lâminas gigantescas que descreviam os movimentos de pêndulos e para cada pedra existia uma lâmina.-Agora sim. Revoltou-se Keyllor. -Odrin não poderá mais segurar. Estamos perdidos.-Nunca conseguiremos passar. Resmungou Lethan. -As lâminas nos pegarão em seus movimentos.-Não podemos abandonar Milenus, nem o povo da Cidade Superior. Disse Tiror girando a ampulheta nas mãos."Há um outro jeito". Pensou Arão. “Mas é muito arriscado e a pessoa tem que ser muito boa para conseguir realizá-lo ”.-Observem! Falou Teles que tinha permanecido quieto até então.

Ele pegou o bastão de energia e pulou na primeira pedra. Quando a lâmina veio em sua direção, ele saltou para cima e agarrou a corda do objeto cortante. Esperou a lâmina se cruzar com a próxima. Quando isto aconteceu ele cortou a corda em que estava e pulou para a próxima, a lâmina afundou na lava. Ele fez isso até chegar ao outro lado do rio. O caminho estava livre para eles.-Você foi excelente meu amigo. Odrin Cumprimentou Teles ao terminar a travessia."Então ele também enxergou". Pensou Arão.

Os jovens estavam parados frente à escadaria que levava ao templo.-Vai ser uma longa subida. Comentou Tiror a Arão. -Mas pelo menos será mais tranqüilo que a travessia do rio.

Arão ficou quieto com seus pensamentos. "Há algo errado...”

Os primeiros degraus começaram a ser subidos, o tempo corria contra eles, e a escadaria estava apenas começando...

As jovens estavam mais atentas após o que passaram na ponte. Encontraram apenas

uma saída que levava a um túnel úmido e escuro, o qual tiveram que atravessar. Durante algum tempo caminharam quietas.-Olhem! Gritou Kitrina -Uma claridade logo à frente. -Finalmente vamos sair deste túnel. As palavras de Milena saíram muito animadas.

As quatro apertaram o passo, Milena tropeçou indo ao chão. Cassi adiantou-se para ajudá-la, Lissa virou-se para Milena e depois olhou para Cassi. Milena levantou-se rápido antes da celestina chegar.-Não se aproxime de mim, posso me cuidar sozinha.

Kitrina chamou Cassi.-Cassi não fique aí parada. Não ligue para Milena, normalmente ela é mais calma. Deve ser este lugar. Tenho certeza que logo vocês serão muito amigas.-Tenho lá minhas dúvidas. Ponderou Cassi.

Quando elas saíram do túnel se depararam com um pequeno vale. Uma esfinge na entrada do vale fazia a guarda do local. Por todos os lados haviam várias pirâmides compostas por pedras amareladas e dispostas aleatoriamente. Todas possuíam uma pequena abertura em um dos lados. Entre as pirâmides haviam muitas árvores com a

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vegetação alta em volta, dando a impressão de que o vale a muito tempo não era habitado.Uma muralha muito maior que as pirâmides cortava o vale todo em zigue e zague,

dividindo-o em dois. Pela primeira vez desde que saíram do túnel notaram que o vale ficava em um lugar subterrâneo, provavelmente dentro de uma montanha. Na parte superior, o teto era composto por milhares de estalactites. Alguns raios de sol passavam por frestas entre as protuberâncias, mesmo assim o lugar permanecia escuro.

As jovens estavam paradas bem no início da muralha.-Podemos seguir sobre a muralha e cortar o vale mais rápido. Sugeriu Cassi.-Devemos descer para verificar o que existe nessas pirâmides, quem sabe não encontramos Evelyn. Retrucou Lissa.-Não devemos! Este lugar não possui boas vibrações. -Está com medo celestina? Zombou Lissa.-Acho que ela tem razão Lissa. O tempo está correndo. Nossa missão é muito mais importante que ficar explorando este lugar. Ele me dá calafrios.

O corpo de Kitrina deu uma leve tremida.-Você está dando razão a esta celestina? Sua traidora. Explodiu Milena.

Lissa parecia muito satisfeita com a aparente revolta de Milena. A discussão estava ficando mais acirrada. Porém, não tiveram tempo para continuar, da esfinge veio um som agudo e estridente. As jovens não agüentaram a intensidade do som e levaram as mãos aos ouvidos. A dor que sentiam era intensa. Não precisaram continuar brigando para decidir qual caminho seguir, quando viram as quatro estavam correndo pela muralha.-O que foi aquilo? Gritou Cassi ofegante.-Não sei e não quero ficar para descobrir. As palavras de kitrina saiam atropeladas enquanto corriam.

Da boca da esfinge uma grande besta alada emergiu. Movimentava com rapidez suas possantes asas negras. Voava alto e rápido observando o avanço das garotas. Enquanto emitia seu som ensurdecedor.-Mas o que...

Milena não teve tempo de terminar a frase, pois a resposta de Lissa cortou a sua.-É um morcego gigante!

O animal começou a voar em círculos.-O que ele está fazendo? Perguntou Cassi.-Boa coisa não deve ser. Respondeu Kitrina.-Está chamando o resto do bando. Explicou Milena.-Como você sabe disso? Indagou Lissa.-Olhem para lá.

Elas acompanharam o dedo de Milena que apontava para baixo. Da entrada das pirâmides milhares de morcegos saíam. Não eram tão grande quanto aquele que os chamavam, mas eram do tamanho das jovens. Outra diferença é que o maior possuía dois chifres sobre as narinas e estes não, mas mesmo assim eram igualmente assustadores. Logo o espaço do vale foi tomado pelas pestes negras voadoras.-Acho que eles estão preparando para dividir o pão. O problema é que nós somos o pão. Vamos sair daqui.

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Desta vez nem Lissa, nem Milena protestaram contra a sugestão de Cassi e se puseram a correr. Os morcegos desciam em vôos rasantes tentando pegá-las. Os sons emitidos pelas pestes começaram a rachar as estalactites. A maioria delas precipitou-se para baixo com grande velocidade. Muitas caíam sobre os próprios morcegos arrastando-os para o solo, outras prostravam-se sobre as pirâmides e algumas ainda sobre a muralha. Uma delas abriu um grande buraco na muralha separando as garotas, Kitrina ficou para trás.-Venha correndo e pule. Gritou Cassi para Kitrina.-Eu não vou conseguir.

Ela estava apavorada com a possibilidade de ser deixada para trás. Cassi percebia isso.-Nós não vamos deixá-la. Você consegue. Insistiu Cassi.

Lissa chegou ao seu lado.-Você não vê que o buraco é grande demais. Ela não vai...

Lissa não terminou a frase. Milena também estava preocupada, mas via que era impossível fazer qualquer coisa pela amiga.-Temos que ir. Ordenou Lissa.-Eu vou ficar! Disse Cassi.-Faça como quiser.

Rebateu Lissa com desprezo enquanto corria com Milena tentando se esquivar dos morcegos. Cassi continuava a insistir para Kitrina pular. Ela não tinha outra escolha, era isso ou esperar que alguma besta voadora a pegasse. A garota obedeceu, Cassi observou assustada o salto suicida. Quando ela parecia que não ia conseguir algo muito estranho aconteceu, por um breve momento o corpo de Kitrina pareceu sumir e surgir mais próximo da outra beira. Isto pegou Cassi desprevenida. As duas se chocaram.-Como você fez aquilo?-Aquilo o quê? Eu apenas saltei e aqui estou.

A alegria estava estampada no rosto dela. Não tiveram muito tempo para comemorar. Um morcego passou e rasgou um pedaço das vestimentas de Kitrina com suas garras.-Temos que sair daqui Kitrina.

As duas partiram atrás de Lissa e Milena que continuavam avançando. Uma das bestas negras veio na direção de Lissa que se esquivou. Milena parou e fechou os olhos. Estendeu as mãos como se com aquele gesto fosse possível evitar o ataque da besta. Uma estalactite se rompeu do teto e caiu sobre o animal antes que ele a alcançasse. Parte da muralha foi junto com a estalactite.

Cassi e kitrina alcançaram as outras duas, estavam próximas à saída, iam conseguir, entretanto o morcego maior desceu sobre a passagem.- Como vamos passar? Ele está bloqueando a saída. A voz de Kitrina saia trêmula.-Não tem jeito! Concluiu Milena.

Um tremor atingiu o vale, o teto começou a desabar. Os raios de sol invadiram o local, incidiram sobre o morcego. Ele ficou incomodado com a claridade e não conseguia mais enxergar suas vitimas.-Temos que aproveitar o momento. Ele está confuso com a luz. Proclamou Cassi.

As quatro conseguiram passar pela besta negra. O teto desabou todo. Elas deixavam para trás o vale das Bestas Aladas...

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-Nossa que susto que eu tomei. Achei que o observador fosse nos pegar. Comentou Dafne.-Que nada! Ele viu que estava lidando com o grande Balduíno e ficou com medo.-Pare de ser convencido. Você reparou que os gritos cessaram. Isso aconteceu depois que o observador partiu. Você acha que eles...

A frase de Dafne ficou no ar, sem final e sem resposta.Chegaram a um corredor escuro com uma cabeça em relevo na parede. Bal se

aproximou.-Que coisa mais estranha, para que será que serve isso?-Balduíno acho melhor você não tocar nisso.Tarde demais, ele já havia colocado os dedos sobre a testa da figura e um estalo se fez ouvir."Ops! acho que fiz besteira". Pensou.-O que você fez?-Eu não fiz nada, apenas toquei nela.

Uma luz começou a sair dos olhos e da boca da cabeça, ela vinha acompanhada de uma voz rouca e grave."Pelo corredor irão passar, neles seus sonhos vão caminhar com a brisa do ar e só terminarão quando a manhã do sol raiar".

A cabeça perdeu a claridade novamente.-Não vejo como a luz do sol vai aparecer neste que é o lado das sombras do labirinto. Esse enigma é muito estranho.- Acho que você tem razão Balduíno.-Por favor, me chame de Bal.-Como quiser Balduí... Quero dizer Bal. Espere estou me lembrando esse deve ser o corredor do descanso eterno.-Descanso eterno?-Vamos sair daqui.-Mas por quê?-Quem adormecer neste corredor, dependendo do tempo que ficar desacordado. Ela fez uma pausa e falou de uma forma sinistra. -Jamais abrirá os olhos novamente.-Mas eu não estou com sono. Disse ele.-Vamos voltar, por favor. Implorava Dafne. -Podemos tentar achar outro caminho.-Está bem, afinal este labirinto é muito grande.

Nem bem tinham dados alguns passos quando começaram a ouvir ruídos assustadores.-O que será isso?

Dafne flutuava devagar, mas estava muito assustada.-Será que é ...

O lagarto estava no corredor avançando em suas direções. As presas prontas para serem usadas em um ataque.-Droga foi como eu pensei, Salum não se esqueceu da gente.

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-Balduíno pare com isso.-Eu já disse para me chamar de Bal. O garoto suava frio. -Temos que voltar, não há como passar por ele.

Bal pegou Dafne pelo braço e voltou-se para o outro lado do corredor. Passaram pela cabeça presa a parede e seguiram pela estreita passagem que parecia não ter fim. Conforme a distância aumentava o ritmo de Bal diminuía até se estagnar completamente. O garoto arqueou-se colocando as mãos sobre os joelhos. Ele estava muito ofegante.- Acho... Acho que ele não está mais atrás de nós. O garoto tentava tomar fôlego.

Olharam para trás e não conseguiram ver mais o início do corredor. Dafne soltou um grito de espanto e acabou assustando Bal também.-O que foi?

Ela não conseguia falar, mas sua mão apontava para parede.-São cabeças! Bal virou para o outro lado. -Tem mais ali. As paredes estão cheias delas.Todas eram cabeças de pessoas com os olhos fechados.-Acalme-se, elas não podem nos fazer mal algum. Disse Bal, mas Dafne flutuava fazendo sinais de negação com a cabeça. Bal se aproximou da parede e bateu com o dedo na testa de um rosto.-Viu só, são apenas enfeites.

Dafne gritou novamente só que desta vez mais alto. Bal voltou sua atenção para a parede, o rosto parecia ter mudado de posição, aproximou-se mais para examinar melhor. Quando seu rosto chegou perto da parede os olhos da cabeça abriram. O garoto caiu para trás assustado. Aos poucos todas as cabeças foram abrindo os olhos e soltando-se das paredes.-Mas o que é isso? Questionou Bal.

As cabeças começaram a circular ao redor de Dafne e Bal, onde elas passavam deixavam um rastro de um gás branco. Uma música que não sabiam de onde vinha lhes invadia as mentes e parecia tirá-los da realidade.-Não estou enxergando nada.

A voz do jovem estava ficando mole, suas pálpebras começaram a pesar mais que o normal. Sentia um sono forte tomar-lhe conta.- Não consigo, abrir... Não consigo...

Caiu no chão desmaiado.

Dafne o puxava pelas vestimentas tentando levantá-lo.-Não durma. Você não acordará mais.

Ela fazia muita força para levantá-lo, mas não adiantava seu corpo não se movia.-Que música é esta. Falou consigo mesma.

Aos poucos seus olhos foram ficando cansados, suas forças sumindo. Ela caiu sobre o corpo de Bal, dormia profundamente. Um rumor súbito, uma dor na face esquerda, seguido de uma sensação de um líquido frio escorrer em seu rosto. Sua vista estava turva, via uma mancha a sua frente que aos poucos foi ganhando contornos mais nítidos até se formar na imagem de Dafne.-Vamos Balduíno acorde.

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Ela deu mais um tapa em seu rosto antes de jogar mais água em sua face. Bal engasgou e começou a tossir.-Calma aí! Você tem a mão pesada hein. Disse Bal passando a mão pela bochecha avermelhada.-Desculpe. Não fique bravo comigo. Só fiquei com medo que você não acordasse mais.-O que aconteceu? Perguntou levantando-se.

Ao olhar para o lado viu Yalo com Helian e Irian com Mary.-Como vocês chegaram até aqui?-Eles nos salvaram Balduíno.-Onde vocês acharam água para jogar em mim?-Eu dei uma forcinha. Yalo falou olhando com cumplicidade para Helian.-Mas o que aconteceu afinal de conta?

Dafne novamente assumiu as palavras.-Nós caímos no descanso eterno, e se eles demorassem mais um pouco para nos encontrar nunca mais acordaríamos.-Puxa! Vocês nos salvaram e eu achei que nos odiassem.-Não pense que isso muda nada entre nós. Disse Irian que segurava uma tocha na mão.-Mas como vocês chegaram até aqui? Nós ouvimos os gritos na primeira parte do labirinto.-Nós acabamos entrando no lado das luzes do labirinto e nos tornamos invisíveis para tentar passar pelo Observador, entretanto ele nos capturou e prendeu-nos em uma jaula.

Mary estava adorando ser o centro das atenções enquanto explicava tudo para Bal. -Mas aí quando ele ia acabar conosco algo despertou sua atenção, ele nos deixou presos e saiu.-Deve ter sido quando ele veio atrás da gente, Bal. Falou Dafne interrompendo Mary. Helian continuou a narração.-Nesse meio tempo aproveitamos para escapar. Quando ele voltou estávamos fugindo. Corremos até o lado das sombras e ficamos parados, conseguindo assim enganá-lo. Depois chegamos a este corredor e pegamos o enigma. Mas quando avançamos encontramos vocês dois caídos. O resto você já sabe.-E os rostos na parede?-Que rostos? Yalo devolveu a pergunta de Bal.-Havia muitos rostos na parede.

Ele olhou em volta, mas as paredes estavam vazias. -Você viu comigo Dafne.-Sim, eu vi. Mas eu não sei o que aconteceu. Eles simplesmente sumiram.-Chega de conversa. Vamos andando. Ordenou Irian parando a conversa. -Temos que atravessar o labirinto, vejam a ampulheta de Yalo.

Já tinha caído mais da metade da areia. Iam prosseguir, mas uma rajada de vento bateu e apagou a tocha. Irian atirou-a longe.-Ela não ia durar muito tempo mesmo.

Continuaram sua peregrinação. Aos poucos as cabeças foram reaparecendo.-Vejam são elas! Exclamou Bal.-Estão saindo da parede e vindo em nossa direção. Disse Irian.

As ninfas estavam paralisadas de medo.

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-Precisamos fazer alguma coisa. Berrou Yalo.As cabeças começaram a formar um círculo em volta dos jovens. A música

recomeçou.-De onde vem essa música? Perguntou Yalo.Bal pensava rápido. "Os sonhos... A brisa do ar... Terminar... Manhã do sol raiar... brisa do ar...” -Já sei. Gritou Bal. -Dafne vocês voam rápido?

A ninfa não respondeu estava paralisada olhando as cabeças passarem. Bal a pegou pelos ombros e lhe deu um chacoalhão, ela pareceu sair do seu transe.-Quão rápido vocês podem voar?-Por quê?- Estou perguntando, apenas responda, não temos muito tempo antes de cairmos no sono.-Muito mais rápido do que você possa imaginar.-Ótimo pegue Mary e Helian, comecem a voar o mais rápido que puderem ao nosso redor.

As ninfas obedeceram, voavam o mais rápido que podiam. Estava dando certo, fizeram um redemoinho que impedia que a névoa das cabeças chegasse até eles.-E agora? Perguntou Yalo.-Temos que agir rápido, elas não vão suportar por muito tempo. Temos que acender a tocha novamente. A luz os espantara.-Mas é claro. Comentou Yalo. -Só terminarão quando a manhã do sol raiar. As cabeças não estavam conosco quando a tocha estava acesa.-Onde está? Perguntou Bal.-Eu a joguei, lembra-se? Respondeu Irian.-Estamos condenados. Comentou Bal.-Irian! Chamou Yalo. -Você se lembra da magia da bola de luz?-Claro que sim, fazíamos com perfeição... Já sei no que você está pensando, mas estamos sem as ninfas para nos ajudar a torná-la mais poderosa.-Tudo bem ela deve ser suficiente para expulsá-los.

A névoa começava a passar pela barreira feita pelas ninfas, a velocidade delas estavam diminuindo, logo cairiam no sono.-Rápido. Pediu Bal.

Yalo e Irian fecharam os olhos e se concentraram. A névoa já alcançava seus corpos. A música aumentava de intensidade. As ninfas já tinham parado de voar, estavam de joelhos no chão. Aos poucos um pequeno ponto de luz surgiu entre os jovens, foi ganhando volume e aumentando até se tornar uma pequena bola de luz. Parecia um pequeno Sol. As expressões dos rostos que eram sorrisos malignos foram mudando para expressões de espanto, terror e dor. Suas feições se contorciam. Da mesma forma que apareceram elas sumiram. A música finalmente cessou.-Conseguimos! Gritou Irian cumprimentando Yalo.-Nós somos demais. Conclui Yalo.– Hei, eu também ajudei. Disse Bal. -Decifrei o enigma.

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-Nós teríamos descoberto sem você. Falou Irian.-Vamos pegar as ninfas e dar o fora daqui. Yalo foi na direção de Helian.-Elas precisam descansar um pouco, ainda estão zonzas. Comentou Bal ao pegar Dafne.

Ruídos vieram do começo do corredor, o lagarto apareceu, de sua boca escorria uma saliva esverdeada.-Não temos tempo para descansar... Precisamos sair daqui. Finalizou Irian.

Os três pegaram as ninfas nos braços e partiram. A caçada continuava...

As nuvens que cobriam o rio sumiram, assim que os garotos começaram a subir a grande escadaria. O sol incidia diretamente sobre eles o que dificultava a visão.-Temos que nos apressar, cada minuto perdido pode ser crucial para Milenus. Falou Teles ao grupo.-Quanto a você celestino se estiver com medo pode ficar. Mas se decidir vir, o que acho desaconselhável, vê se não atrapalha. Havia desprezo na voz do Odrin.

Estavam avançando bem até...-Esperem! Gritou Keyllor ao grupo. Todos obedeceram.-O que foi? Indagou Tiror.-Vejo algo vindo em nossa direção.-Não vejo nada. Disse Lethan. -Mas posso ouvir sons, alguma coisa esta descendo...

Arão olhou para cima, mas o sol o privava da visão, tentou ouvir algo, mas tudo foi em vão. Com exceção de Keyllor todos tinham dificuldade de enxergar. Odrin se aproximou de Keyllor.-Tem certeza? Keyllor fez um sinal de positivo com a cabeça.-Você consegue ver o que é?-Acho melhor você dizer o que são. Ele está se multiplicando, estão vindo muito rápido preparem-se.

Os corpos dos jovens se retesaram e tomaram a posição de combate, uma mão no bastão e outra protegendo a vista, esperavam a chegada do inimigo. O chão começou a tremer, viam pequenos pontos brilhantes.-Não pode ser! Falou Keyllor, mais para si mesmo do que para os outros.

Os pontos foram ficando maior à medida que se aproximavam.-São esferas de fogo. Berrou Keyllor. -Elas estão quicando. Onde elas tocam o solo some.

Arão pode ver as bolas incandescentes percorrendo a escadaria, elas tinham uns dois metros de diâmetro cada. O calor emanado por elas era terrível e ainda soltavam labaredas que queimavam tudo o que estivesse próximo.

Os garotos se moviam para os lados com longos saltos, se esquivando como podiam. Além de evitar as esferas tinham que tomar o cuidado para não cair nos buracos feito por elas, pois neles haviam resíduos incandescentes. As bolas não cessavam de cair e seu número parecia aumentar com o tempo.-Tiror isso não está nada bom nós estamos desviando delas, mas não saímos do lugar

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precisamos começar a avançar. Gritou Arão a seu companheiro ao lado. Tiror se dirigiu a Odrin.

–Odrin! Temos que avançar, se continuarmos assim, mais cedo ou mais tarde elas irão nos pegar. -Precisamos nos organizar. Disse Odrin.

- Muito bem Odrin, vou subir na frente subam em fila atrás de mim. Teles começou a percorrer a escadaria.-Vamos sigam Teles. Ordenou Odrin.

Os jovens foram subindo em fila um atrás do outro. Teles guiava o grupo seguido logo atrás por Odrin, Tiror e Lethan vinham depois, no final da fila Keyllor e por fim Arão.

A subida estava sendo difícil. Na maioria das vezes os últimos da fila não conseguiam fazer o mesmo caminho que os que iam à frente por causa dos buracos formados. Uma esfera chocou-se ao lado de Arão, as labaredas desprendidas atingiram seu braço.-Aaahhh. Gemeu o garoto de dor, porém não pode ficar se lamentando, pois outra esfera incandescente o fez pular com agilidade para o lado. Um golpe inesperado atingiu o grupo uma bola ao se aproximar deles se dividiu em duas. Uma estourou bem à frente de todos atingindo a coxa de Lethan que caiu urrando de dor. Tiror parou para ajudá-lo. A outra estourou entre Arão e Keyllor, jogando ambos ao chão.

Arão começou a bater na roupa rapidamente, pois as chamas haviam atingido suas vestimentas, queimando um pouco do tecido. O jovem olhou para o outro lado do buraco e viu Keyllor sentado desesperado com as mãos aos olhos.-Alguém me ajude, não estou vendo nada.

O garoto piscava e forçava a vista para tentar enxergar. Usou o bastão de energia como apoio para se levantar.-A esfera. Gritou Tiror.

Arão olhou para cima, viu uma bola vindo na direção de Keyllor.-Cuidado Keyllor, aí vem outra. Berrou Arão.-Onde? Não consigo enxergar, me ajudem.

Com a vista ruim, o garoto acabou tropeçando no degrau. Os jovens que estavam à frente olhavam apreensivos para Keyllor. Arão teria que agir depressa se quisesse salvá-lo. A bola vinha se aproximando, ele teria que pular o buraco e chegar até o garoto que estava desesperado. Quando se preparou para executar a manobra, a esfera se dividiu em duas, fazendo Arão recuar para não ser consumido pela mesma. - Keyllor nnããoo! Gritou Lethan.

A esfera atingiu-o. Ele levantou o bastão de energia formando uma pequena barreira, mais parecida com um pequeno campo de força, que segurou a bola. Porém isto não estava sendo suficiente, as chamas foram rompendo aos poucos a proteção. Algumas labaredas atingiram os braços de Keyllor, outras as pernas e barriga. Ele gritava de dor. Tudo aconteceu muito rápido, devido às queimaduras nos braços, eles logo arquearam. A bola ultrapassou a barreira. Chocou-se ao solo onde Keyllor estava, consumindo-o todo. Em seu lugar uma pequena cratera incandescente formou-se.-Keyllor. Sussurrou Odrin baixo de modo que ninguém ouvisse.

Os jovens ficaram estáticos.

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-Precisamos continuar. Gritou Teles, tirando-os da inércia que se encontravam.Faltava pouco para alcançarem o topo. Apesar de se empenharem em subir, os

ânimos não eram mais os mesmos. Após muito esforço conseguiram alcançar o último degrau. Os cinco pararam a vanguarda do templo. As esferas cessaram, com parte das vestimentas consumidas pelas chamas e muitas queimaduras pelos corpos, eles tinham obtido êxito. Mas não havia o que comemorar. E nenhum sinal de quem pudesse estar atirando as esferas. Ninguém sabia explicar de onde elas vinham.

Odrin se aproximou de Arão, pegando-o pela camisa.-Celestino desgraçado. Você viu que ele estava em perigo e nem sequer o ajudou. A culpa é sua dele não estar mais com a gente.Arão tirou a mão de Odrin de suas vestimentas.-Do que você está falando. Eu tentei ajudá-lo, mas não consegui.-Não conseguiu ou não quis? Odrin continuava a esbravejar. -Eu vou fazer o que já deveria ter feito à muito tempo.

Odrin se preparava para avançar sobre Arão, mas foi interrompido. -Eu ia adorar ver você acabar com ele. Disse Teles. -Mas deixem para resolver suas diferenças depois, a ampulheta de Tiror não vai ficar parada enquanto vocês brigam.-Ele tem razão. Tiror tentava acalmar Arão. -Sei que é difícil, mas infelizmente temos que prosseguir, senão outros perecerão.

Arão sabia que apesar de Tiror estar sendo muito forte, aquela situação deveria estar doendo muito nele também.-Ainda resolverei minhas diferenças com você celestino.-Quando você quiser. Respondeu Arão.

O templo era imenso.-Como iremos entrar? Perguntou Lethan.

Após a pergunta de Lethan o portal do templo abriu-se misteriosamente.-Acho que isto responde sua pergunta. Falou Tiror.

Os jovens estavam avançando em direção a entrada. Arão estava absorto em seus pensamentos. " Estamos indo para uma armadilha."

Eles finalmente entraram, mais uma vez estavam sós, porém algo naquele templo dizia que não estariam nessa condição por muito tempo.

As jovens olhavam assustadas para a ampulheta.-Está quase se esgotando nosso tempo. Será que conseguiremos? Perguntou Kitrina.-Claro que vamos conseguir. Afirmou Lissa.-E a Evelyn? Nem sinal dela. Comentou Milena.

As jovens ficaram em silêncio não gostavam de pensar no que poderia ter acontecido com ela, apenas queriam manter a esperança de encontrá-la sã e salva.-No que você está pensando Cassi? Kitrina quebrou o silêncio.-Estava pensando nos outros, como será que estão indo? Ficou quieta por um momento. -Mas de qualquer forma logo estaremos chegando ao pilar de Khnum, entretanto perdemos

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muito tempo... Alcançaram mais um túnel, menor que os anteriores. Elas conseguiam enxergar o seu

final.-Vamos atravessá-lo. Disse Lissa entrando nele.-Cassi olhe. Kitrina mostrou a ampulheta à areia chegava a níveis mínimos. -Temos que nos apressar ou não conseguiremos acender junto com os outros.-Vejam.

Apontou Milena, havia esqueletos no chão usando armaduras douradas. Possuíam detalhes em azul pintados nos braços e emblemas de uma águia branca fixados ao peito.-Nossa! Resmungou Kitrina.-São armaduras da antiga armada de Osíris. Comentou Lissa. -Eles eram um dos grupos da elite de Osíris do início dos tempos. Foram mandados em uma missão para proteção da cidade, mas nunca retornaram.-Eu me lembro dessa história. Eles eram num total de dez e combateram nas grandes guerras. Mas esqueletos neste local? Como isso é possível?

Nenhuma delas respondeu a pergunta de Kitrina. Ela prosseguiu então com assombro na voz.-E o estranho é que não há vestígios no túnel de um provável inimigo, porém eles perderam a vida neste local. Quem será que conseguiria acabar com todos eles sem sequer ser atingido uma única vez. -Pelas posições dos esqueletos, eu diria que não há vestígios de inimigos, simplesmente por que não houve nenhum. Respondeu Cassi.-Como isso é possível Cassi? Kitrina perguntou intrigada.-Eles lutaram entre si!-Que estranho e justo quando estavam tão próximos de conseguir.-Um deles pelo menos conseguiu. Cassi apontava para um esqueleto solitário à frente de uma pequena elevação com o botão.Milena comentou:-As grandes guerras foram terríveis. No passado para proteger a cidade Superior do mal os sábios usaram os pilares dos Deuses. Agora nós estamos tentando usá-los novamente. Isso significa que o perigo é realmente terrível.

A tensão dominou o espírito das jovens. Entretanto acho que temos somente que apertar aquele botão para sairmos desse túnel.

A observação final de Milena animou o grupo. Entretanto subitamente duas paredes se fecharam atrás e a frente das jovens, estavam presas.-Como chegaremos ao pilar? Perguntou Kitrina. -Pergunte a celestina, ela acha que sabe de tudo, Você são a escória do reino. O povo celestino é a causa de tudo isso. Vocês deveriam morrer. Lissa agredia Cassi sem piedade.-Por que isso? Perguntou Kitrina.

Lissa olhou rapidamente para Milena, esta se dirigiu para Kitrina.-Cale a boca. Você é amiga da traidora. Está do lado deles. Também merece morrer.

Cassi colocou-se entre Milena e Kitrina para evitar uma discussão, entretanto Milena moveu a mão na direção de Cassi. Ela foi atirada contra a parede e caiu sem sentidos.-Isso Milena morte às traidoras. Lissa falou no ouvido de Milena sua face exibia uma

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expressão maligna.-Você me chamou de traidora? Kitrina dirigia a palavra a Milena. -Vou-lhe mostrar quem é a traidora.

Os rostos das duas também tinham se modificado. Kitrina pulou sobre Milena, porém esta com outro movimento rápido de suas mãos, arremessou o corpo de sua adversária contra a parede. Milena prosseguia com os braços esticados, com isso o corpo de Kitrina continuava suspenso no ar, prensado contra a parede. Era como se Milena manipulasse uma força invisível. Ela começou a flexionar os dedos das mãos e o pescoço de Kitrina começou a ser estrangulado.-Isso temos que matar todas traidoras. Zombava Lissa.-Matar todas as traidoras. Respondeu Milena automaticamente.

Cassi abriu os olhos e viu a cena. Lissa ao lado de Milena que estava com os braços estendidos. kitrina com o rosto roxo, suspensa contra a parede. Suas mãos a garganta lutando contra algo invisível que parecia estar estrangulando-a. Cassi tentava se levantar, mas sentia fortes dores nas costas. Estava com raiva de Milena e Lissa se chegasse a elas poderia matá-las. Colocou as mãos na cabeça, rolou de um lado para outro."Não, não..., tenho que acabar com as duas... Isso! Não..."

Cassi rastejou até onde Lissa estava e agarrou sua perna. Lissa foi perdendo suas forças e caiu de joelhos. Por um momento os braços de Milena baixaram, o corpo de Kitrina tombou, ela tossia passando as mãos pela garganta. -Rápido vá até a parede, passe por ela e aperte o botão. Ordenou Cassi.-Mas como? O caminho se fechou, não há como passar.-Se você não for logo as duas vão nos atacar mais vez. Apenas corra em direção a parede.

Kitrina obedeceu e correu até a parede, não conseguia encontrar uma passagem. Via Lissa e Milena se dirigirem até Cassi. Ela estava em pânico, colocou a ampulheta no chão. Num último esforço desesperado se afastou um pouco, fechou os olhos e se atirou contra a parede. A garota não entendeu bem o que aconteceu, mas o choque com a parede não aconteceu e quando ela abriu os olhos estava do outro lado. Apertou o botão e as paredes subiram. Voltou-se para dar um abraço em Cassi que estava pronta para tentar se defender de Milena e Lissa que pareciam ter saído de um transe.-O que aconteceu? Perguntou Milena.-É este lugar estava nos forçando a lutar umas contra as outras. Respondeu Cassi. -Ainda bem que Kitrina conseguiu apertar o botão a tempo, senão nem gostaria de imaginar o que poderia ter acontecido.-Então foi este o fim da armada de Osíris. Se mataram por causa deste lugar. Conclui Lissa.-Vejam o pilar de Khnum. Apontou Kitrina.

No centro do local em que se encontravam, um enorme pilar jazia.-Precisamos acendê-lo logo, a areia da ampulheta de Kitrina está chegando ao fim. Disse Cassi.As jovens se aproximaram do pilar, em sua base havia uma jóia vermelha.-Posso?

Milena pediu as honras de acender o fogo do pilar. Todas concordaram fazendo gestos afirmativos. A areia da ampulheta chegou ao final. A garota colocou a mão sobre a pedra e esta brilhou mais forte. Finalmente o pilar de Khnum foi aceso.

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-Conseguimos. Ovacionou Cassi. -Mas não sabemos ainda o que aconteceu com Evelyn.-É verdade. Será que os outros tiveram a mesma sorte que nós? Kitrina segurava a ampulheta vazia.

Do corredor por onde haviam passado uma névoa surgiu e as envolveu. Não conseguiam ver nada e nem respirar, estavam sendo sufocadas pelo vapor aquoso. Uma a uma elas foram perdendo os sentidos. Cassi ainda viu a névoa tomar a forma de um rosto de mulher, sua feição era conhecida, mas como aquilo era possível. Caiu ao chão, sua vista embaçada ainda viu a chama do pilar bem acima dançar irregularmente. Foi fechando os olhos devagar tudo ao seu redor desapareceu.

Aquilo seria o fim? Não sabia responder.

Os garotos e as ninfas percorriam o labirinto já algum tempo, a ironia é que isso é o que eles menos tinham.-A areia da ampulheta está quase no fim. Resmungou Mary. -Este labirinto parece não ter mais fim. Como iremos conseguir?

Ninguém respondeu a sua pergunta.-Acho que estamos perdidos. Falou Helian.-Dafne você me disse, que as ninfas sabiam muitas coisas sobre o labirinto, isso engloba a saída também, não?-Para lhe ser sincera Bal, nunca nos falaram sobre o final dele. Mesmo por que segundo nossa mentora Nayara, a única pessoa que o atravessou, só lhe contou o que havia até um certo ponto. Quando ela o questionou sobre o final, ele disse:" Rezem para nunca precisar entrar no Labirinto do Caçador. Mas se entrarem, não se preocupe com o final, pois nunca chegarão até ele."-A se eu me encontrar com aquele lagarto novamente ele vai ver só. Comentou Bal.Um estrondo veio de perto, alguma coisa arranhava o solo e se aproximava cada vez mais. Não conseguiam ver o que era porque o corredor atrás deles dobrava a direita.-Não estou gostando nada disso. Comentou Yalo.-Minha nossa, o que será? A voz Helian tremia enquanto ela perguntava.-Não sei o que é, mas descobriremos logo. Respondeu Irian.

O barulho continuava a aumentar, como se o chão estivesse sendo rasgado. Um chifre apareceu na dobra do corredor.

Bal colocou as mãos sobre o joelho e suspirou.-A não! Você de novo. Olha eu estava brincando quando disse sobre te encontrar novamente.

A cabeça do lagarto já era visível a todos, porém ela parecia maior do que antes.-Você já viu esse lagarto antes? Perguntou Mary toda amedrontada.-Sim, já nos vimos algumas vezes por aí.-Balduíno pare de brincadeiras. Repreendeu Dafne.-Eu já disse para me chamar de Bal. E por falar em brincadeira, que tal brincarmos de

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correr, pois ele está vindo para cá.Os jovens se lançaram pelos corredores enquanto as ninfas voavam ao seus lados.

Depois de muito correrem, chegaram a uma pequena rampa.-Vamos descer por aqui. Gritou Yalo a todos.

Passando a elevação havia uma plataforma redonda, a primeira metade dela era composta por pedras negras e a segunda por pedras brancas. Sobre cada metade existiam dois enormes sacos de couros suspensos. Eles estavam presos por cordas. No chão, dois círculos cravados ao centro, um ao lado do outro. Um branco que ficava no lado das pedras negras e outro negro que ficava no lado das pedras brancas. Dentro de cada anel, havia frases escritas. Mary foi à primeira ninfa a entrar na plataforma, foi ao chão.-Ai! Gemeu ela de dor. -Não estou conseguindo voar aqui. Helian e Dafne foram mais cuidadosas e entraram andando na plataforma.-Existe algum tipo de força que nos impede de voar. Dafne observava o lugar com atenção.-Olhem do outro lado. Proclamou Helian toda animada.

Havia uma outra rampa. Ao lado desta se encontrava a estátua de um menino com uma tocha apagada nas mãos. Passando a rampa poucos metros à frente, a visão os deixou fascinados, o pilar de Neith que tanto procuravam estava bem ali.-Como não vimos antes o pilar? Questionou Irian.-Esse lugar deve ter seus truques, já que é um labirinto para magos. Completou Yalo. –O pilar só ficou visível quando entramos na plataforma

Bal olhava os dizeres dos círculos.-Não consigo ler o que esta escrito.

Dafne se aproximou.-É a língua dos antigos magos.-Você consegue ler isto?

Dafne fez um sinal de afirmação com a cabeça e começou a pronunciar as frases."Não cruzarás as sombras deixando seus semelhantes para trás, isto libertará a maldição das luzes e da escuridão. O fogo jovem não pode ser apagado, somente paralisado. O caminho das águas os levará para a as profundezas sombrias”.-O que isso quer dizer? Perguntou Yalo.-Não temos tempo para adivinhações, vejam areia da ampulheta está quase se esgotando. Falou Irian andando em direção a parte branca da rampa. -Vamos sair logo deste lugar e acender a chama desse pilar.-Espere Irian! Mas já era tarde.

Quando ele ultrapassou a linha central que dividia a plataforma. Indo do lado das negras para as brancas, a tocha da estátua se acendeu. A rampa foi bloqueada por chamas que formavam uma barreira impossível de se transpor. Os dois círculos cravados ao centro da plataforma se soltaram e começaram a levitar.-O que está acontecendo? Perguntou o jovem.-Segundo os dizeres dentro dos círculos, " não cruzarás as sombras deixando seus semelhantes para trás..." deveríamos ultrapassar a linha todos juntos. Libertamos a maldição das luzes e da escuridão, por isso os discos branco e negro se soltaram. Explicou Bal.

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Dafne se agarrou à perna de Bal antes de perguntar.-O que vai acontecer? -Isso eu já não sei responder. Mas pode ter certeza que coisa boa não é.-Estou com medo Balduíno. Sussurrou Dafne.-E você acha que estou tremendo por que?

Os círculos começaram a girar e a se movimentar no ar. Eles iniciaram ataques rasantes contra os jovens.-Cuidado! Gritou Dafne.

Um disco atingiu o braço de Yalo, fazendo um corte no mesmo. Outro atingiu a coxa de Irian, que caiu de joelhos no chão gemendo.-Precisamos fazer alguma coisa. Falou Irian ainda ajoelhado. -Não iremos agüentar mais esses ataques desses.-Venha Irian precisamos bloquear os discos. Pediu Yalo.-Fiquem atrás de nós. Disse Irian encostando-se em Yalo, Bal e as três ninfas se posicionaram as costas dos dois. Eles ergueram as mãos e se concentraram, à frente deles, dois escudos de energia se formaram. Conforme eles mexiam seus braços os escudos os acompanhavam. Os discos vieram, mas seus movimentos eram interceptados pelos escudos. Os anéis ricocheteavam nos escudos.-Isso conseguimos. Urrou Yalo. -Fique atento que eles estão retornando para mais um ataque.Os discos desta vez bateram nos escudos e continuaram colados a eles girando velozmente como se fossem parti-los ao meio.-Irian, não vamos conseguir detê-los, são muito poderosos. Grunhiu Yalo ao companheiro fazendo um grande esforço para manter os escudos. Os escudos sumiram os jovens pularam para os lados abrindo espaço para os anéis voadores passarem.-O que aconteceu? Perguntou Dafne.-Nossa magia não é forte o suficiente para detê-los.-Nós podemos ajudar. Ofereceu-se Mary. -Afinal estamos aqui para isso.-Formem seus escudos novamente. Ordenou Helian.-Mas eles não vão...-Não discuta, apenas faça o que ela pede. Pediu Dafne a Yalo.-Hei amigos acho melhor vocês fazerem isso logo, pois os discos estão voltando.

Bal observava atônito a aproximação dos anéis. Os dois obedeceram. Mary se postou ao lado de Irian e Helian ao lado de Yalo. As duas ninfas fecharam os olhos pareciam estar em transe.-Leiam nossos pensamentos. Pediu Mary.-Tomem nossa energia. Prosseguiu Helian.

Os escudos ganharam um volume maior e ficaram mais fortes, por mais que os discos tentassem, não conseguiam rompê-los. Os ataques cessaram.-Nós conseguimos. Vencemos!

Os discos porém mudaram o de alvo, começaram a atacar os sacos de couros, suspensos pelas cordas. Fizeram vários cortes em suas superfícies, das saliências começava a vazar água.- Mas o que é que eles estão fazendo? Irian questionava impaciente.

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-Por que não nos atacam? Viram que não são páreos para nós.Dafne olhou para Bal, ele estava evasivo. Quando seus olhares se cruzaram, eles

emitiram um grito juntos.-Detenham-nos!-Mas por quê? Quis saber Yalo.-Não interessa, apenas faça-os par... Não conseguiu terminar a frase. Um dos sacos estourou e derramou todo o seu conteúdo sobre a plataforma. Os pés dos jovens ficaram encharcados, a plataforma tremeu e baixou alguns centímetros.-O que está acontecendo? Perguntou Mary.-O caminho das águas os levará as profundezas sombrias. Recitou Dafne.-Se eles cortarem todos os sacos a água fará a plataforma cair. Explicou Bal. -Protejam os sacos.

Os jovens obedeceram, com seus escudos evitavam os avanços dos discos. Porém eles se uniram e formaram um único anel, muito maior com uma saliência no meio. O disco ficou sobre os jovens e desceu até que eles estivem em seu centro neste momento ele começou a encolher.-Ele vai nos cortar se continuar assim. Falou Dafne.-Aahh, mas não vai mesmo. Disse Irian. Escudos!

Irian e Yalo com a ajuda de suas companheiras lançaram seus escudos impedindo que o círculo diminuísse mais.-Conseguimos detê-lo mais uma vez. Vangloriou-se Irian.-Isto não é o suficiente. Bal falava bem ao centro da roda. -Ele não pode mais diminuir e nós não podemos nos mexer. A água continua escorrendo dos sacos, quando vazarem toda a plataforma virá abaixo conosco dentro.-Deve haver alguma coisa que possamos fazer.

Dafne olhava para Bal, esperava uma resposta que os salvasse. Mas nada...-Esperem! O enigma esta incompleto, esquecemos de considerar alguma parte.

Os pensamentos de Bal voavam a milhão.-É isso, o fogo da estátua. O fogo é a chave.-Devemos apagar o fogo Bal?-Não Dafne! Ele não pode ser apagado, mas sim para paralisado. Mas como?-Podemos congelá-lo.-Sim, é isso que ele quer dizer com paralisá-lo. Amigos! Bal se dirigia a Irian e Yalo. -Preciso que vocês façam um daqueles truquezinhos e congelem uma pequena chama.-Não vê que estamos ocupados.

A voz de Yalo saía com muita dificuldade, devido a seu esforço para manter o escudo.-Temo que isso dependa de nós Balduíno.-O quê? Você ficou maluca eu nunca fiz um truque de mágica na vida.

O segundo saco de couro se partiu, o seu volume de água fez a plataforma afundar mais.-Vamos Bal não temos tempo, logo os outros dois sacos se partirão e aí será o fim.-Ei! Você chamou do jeito certo.-Agora não Balduíno.

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-Foi só elogiar e pronto...-Basta fechar os olhos e se concentrar.

Bal obedeceu à ordem da ninfa que fez a mesma coisa.-Eu não vou conseguir Dafne.-Balduíno nós precisamos conseguir ou todos morreremos neste lugar.

O garoto podia ouvir em sua mente a voz de Dafne dizendo palavras estranhas, levantou a mão para a chama da estatua e recitou as palavras. Uma crosta transparente se formou ao redor do fogo da estátua, ele ficou imóvel. A barreira que existia na rampa sumiu. O anel ficou paralisado no ar. O garoto abriu os olhos.-Nós conseguimos! Puxa, eu não acredito, mas conseguimos! Bal abraçou Dafne levantou-a do chão com alegria com movimentos giratórios rodopiava com a ninfa. -Nós conseguimos!-Balduíno me solta. Estou ficando zonza.

Irian passou do lado de Bal dizendo com rancor.-Não devia ficar contente por causa de um truque barato desses.-Qual é o problema dele? Comentou Bal com Dafne.

Ela sorriu e respondeu.-Acho que o problema dele é você. Vamos sair daqui, ainda precisamos acender a chama do pilar de Nelth.

O terceiro saco de couro se rasgou, a plataforma afundou-se mais ainda.-Vamos rápido ou não conseguiremos alcançar a rampa. Insistiu Dafne.

Os garotos estavam quase chegando a rampa quando ouviram um estrondo do outro lado da plataforma.-Você não larga do meu pé. Disse Bal desanimado.

O lagarto estava furioso vindo na direção deles. Os garotos estavam levantando Mary para que ela alcançasse a rampa.-Não entendo como a plataforma não caiu com o peso do lagarto, ele deve pesar toneladas. Observou Helian.-Isso não tem a ver com peso, mas sim com a água, se o último saco se romper, nós estaremos enrolados. Comentou Bal.-Não conseguiremos subir todos, o lagarto nos pegará antes. Observou Yalo.-Conseguiremos sim. Respondeu Bal. -Ajude todos a subir e quando eu mandar quebre o gelo do fogo da estátua. Bal correu em direção ao lagarto. Dafne gritou desesperada.-Baaallll.-Já é a segunda vez que você acerta, esta melhorando. Gritou ele olhando para a ninfa.

Dafne se preparava para ir atrás dele, mas Yalo a pegou no colo jogando-a em cima da rampa."Mas o que é que eu estou fazendo. Aposto que é a má influencia do Arão em minha vida. Já estou querendo bancar o herói ". Pensou Bal.

Ele começou a chamar pelo lagarto, queria desviar a atenção do réptil, até que todos subissem na rampa. O plano de Bal deu certo o lagarto se esqueceu dos outros. ''O que faço agora?''

O garoto corria muito para fugir, mas acabou tropeçando indo de peito ao solo. Dafne fechou os olhos com medo do que iria acontecer. O réptil quase o pegou, suas garras

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rasgaram um pedaço de suas vestimentas. A última bolsa estava para estourar. Todos já haviam saído da plataforma, observavam assustados a cena.

Bal correu em direção a eles, com seu perseguidor em seu encalço. Pulou dentro do círculo o lagarto o acompanhou, ao sair do anel ordenou a seus companheiros.-Quebrem o gelo agora! Gritou ele.

Os jovens obedeceram, estilhaçaram o gelo, no mesmo instante em que ele pulava se agarrando na rampa. Com o gelo quebrado a barreira de fogo voltou, porém estava num nível mais baixo devido ao deslocamento da plataforma, logo esta não feriu Bal. O círculo voltou a se fechar, prendendo o réptil, começou a dilacerar sua pele seca e escamosa. A quarta bolsa se rompeu, a plataforma foi inundada pela água afundando na escuridão. Os dois garotos ajudaram Bal a subir.

Dafne olhou para ampulheta de Yalo, a areia já tinha corrido toda para o outro lado. Ela correu para a manivela na base do pilar girando-a com rapidez fazendo com que o fogo se acendesse.-Espero que tenha dado tempo.-Será que conseguimos? Perguntou Mary.-Saberemos em breve. Respondeu Irian.-O que é aquilo? Apontou Helian.

Uma garra surgia na beirada onde a plataforma caíra, depois outra... O som que veio fez os garotos estremecerem.-Puxa, como ele é teimoso. Bal se aproximou de Dafne. -Não desiste nunca.

O lagarto mesmo com todo o corpo machucado se postava frente a eles, expeliu um gás de coloração amarelada de sua boca, os jovens ficaram tontos, perderam os sentidos e caíram. Bal pode ver o réptil envolvendo os outros com um material gosmento que saia de sua boca formando uma espécie de casulo. Dafne era a próxima.-Daf...

Tentava ele chamar, mas as palavras não saiam. Caiu na escuridão sabendo que logo chegaria a sua vez.

Os jovens caminhavam um ao lado do outro em silêncio. Os sons de seus passos ecoavam no salão. Ele era comprido e seu teto ficava a uma altura considerável do solo. Duas fileiras de colunas gigantescas com tochas acessas acompanhavam toda a sua extensão. Entre elas gravadas nas paredes estavam imagens de guerreiros de seis braços que lutavam em batalhas contra diversos adversários. Caminhavam tensos, as mãos firmes aos bastões de energia, não sabiam o que poderiam encontrar.-Arão, tenho a impressão de que estamos sendo observados. Tiror praticamente sussurrava no ouvido dele.-Eu também estou com este pressentimento, mas não vi uma alma viva sequer neste salão.

Os garotos relaxaram um pouco, o salão estava vazio, o calor do ambiente fazia seus corpos suarem.-Não compreendo. Lethan parecia confuso. -Não há outro lugar para ir dentro deste templo. Como uma criatura daquele tamanho, com

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um pequeno exército poderia sumir assim, sem deixar pista alguma.-Isso aqui parece um forno. Está quente demais. Reclamou Odrin.

Nas paredes algo de estranho acontecia sem a percepção dos jovens. Devido ao calor a tinta dos desenhos começava a derreter e escorria até o chão. Porém, a única parte das imagens que derretia era a dos guerreiros de seis braços o resto continuava intacto. Várias poças se formaram no solo.

Tiror foi o primeiro a notar o que estava se passando.-Realmente tudo está derretendo por aqui.-Não só derretendo, mas fervendo também. Lethan apontava para as poças que começavam a borbulhar.

De maneira estranha às poças começaram a subir como se estivessem sendo sugadas. Ganharam forma e cada uma se tornou um guerreiro de pedra.-Cuidado! Gritou Odrin a todos.

As estátuas começaram a atacar, cada um de seus seis braços, empunhava uma espada. Movimentavam-se com muita agilidade, juntas elas impunham aos jovens pesados ataques. Eles até se defendiam bem, entretanto seu número era muito inferior aos de seus inimigos.

Arão se esquivou de um golpe, atacou em seguida acertando com o bastão de energia o braço de uma das estatuas. Ele ficou animado pelo menos por um breve momento, no lugar do braço arrancado crescera outro igual com uma espada. O braço decepado aumentou de tamanho e se tornou outro oponente. Os jovens se esforçavam, mas a cada golpe o número de adversários aumentava.-Eles estão se tornando mais numerosos e nos cansando, se continuar assim, logo seremos derrotados."Deve existir um ponto fraco nessas coisas”. Pensou Arão.

A sorte estava selada, os jovens logo sucumbiriam. Um golpe porém mudou o destino do combate. Tiror deixou seu bastão cair, Arão jogou o seu para salvar o amigo, este cravou-se no peito da estátua, bem sobre a pedra vermelha. A criatura se desmanchou toda e não se recompôs mais. Os jovens se olharam e gritaram juntos.-As pedras vermelhas!

Tiror pegou seu bastão. Entregou o de Arão de volta.-O que eles gritaram? Perguntou Odrin a Teles que estava ao seu lado.

Teles compreendeu rapidamente o que eles disseram e com muita agilidade desferiu dois golpes certeiros que derrubaram dois inimigos. Agora Odrin também percebera o segredo das estátuas. Aos poucos elas foram cedendo, os jovens sairiam vitoriosos.-Conseguimos. Gritou Odrin.-Ainda não acabou. Falou Lethan ao grupo. -Temos que encontrar o pilar e Milenus.-Nosso tempo é curto. Tiror ergueu a ampulheta.-Vocês estão ouvindo isso? Questionou Lethan ao grupo.

Ninguém soube o que responder, pois não estavam ouvindo nada. Lethan ergueu a cabeça, a escuridão do teto não permitia ver nada. Um barulho veio de cima do salão, todos voltaram suas atenções para o alto, o breu na parte superior ganhou vida.-Está caindo. Berrou Lethan. -Vindo em nossa direção.

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Subitamente da escuridão algo caiu e explodiu no meio dos jovens provocando um grande estrondo. Muita poeira foi levantada, ficava difícil descobrir o que havia acontecido. Os jovens acabaram separados. No meio da poeira, braços começaram a se agitar.-É Opak! Gritou Arão.

O ser ameaçou atacar, da parte superior do salão centenas de estátuas menores desciam das paredes, os movimentos de seus braços lembravam muito as pernas das aranhas.-Temos que nos unir. Gritou novamente Arão.-Pare de dar ordens celestino. Você não manda aqui. Respondeu Odrin com arrogância.

Os jovens se reuniram, as estátuas estavam paradas esperando um comando da criatura maior para atacar.-Precisamos permanecer juntos para atraí-los. Eles irão nos cercar e darão a batalha como ganha por estarem em maior número. Quando isto acontecer partimos para as colunas isso os deixará confusos por tempo. Ai poderemos pegar o líder deles de surpresa.-Cale a boca celestino. Você não sabe o que fala. Vamos nos unir e atacaremos de frente, furaremos o bloqueio para chegarmos até líder. Certo Teles?

Teles fez um aceno de positivo com a cabeça para Odrin, mas parecia pensar em outra coisa.-Mas isto é loucura, eles são em muito maior número que nós. Nunca vamos conseguir chegar...-Se está com medo, aproveite e fuja enquanto lutamos. Quem está comigo?

Todos acenaram, com exceção de Teles. Arão não sabia se eles não conseguiam ver a loucura que estavam prestes a cometer ou se estavam com vontade de morrer. O ataque começou. As estátuas se juntaram em um imenso aglomerado atacando impiedosamente. Os jovens as abatiam, mas para cada uma que caia duas outras tomavam seu lugar. Não estavam conseguindo avançar, pelo contrário estavam começando a recuar."Poderíamos estar usando os pilares como escudos, isso quebraria a formação desse grande bloco de criaturas. Eu poderia ir sozinho seria mais fácil, porém estaria abandonando-os".

Arão não conseguia organizar seus pensamentos e tomar uma decisão, a luta continuava...

Os garotos fizeram um círculo um de costas para o outro, lutavam incessantemente, tentavam conter o ataque. A criatura maior expeliu fogo pela boca, muitas das menores foram atingidas por ele, se despedaçando de imediato, entretanto o fogo serviu para desfazer o círculo dos jovens.

Eles tentavam se aproximar novamente. Tiror caiu sentado, Arão foi ajudá-lo. Quando este se levantou, colocou a mão na cintura e viu que não estava mais com a ampulheta.-Precisamos achá-la Arão. Sem ela não saberemos qual o momento de acendermos o pilar.-Olhe, está ali no chão.

Arão apontou para onde muitas estátuas passavam, a ampulheta estava no caminho delas, se alguma delas pisasse no objeto seria o fim da missão. -Eu vou pegá-la. Disse Arão.

Tiror acabara de ser ferido na perna, mancava enquanto tentava se mover. Arão teve que ficar em sua companhia por que senão o garoto não teria muita chance de sobreviver. Lethan viu o que estava acontecendo e passou rapidamente ao lado deles.

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-Deixa que eu pego. Ele conseguiu pegar o objeto antes que uma das estátuas pisasse sobre ele. Virou

para os companheiros, acenou-lhes com a ampulheta a mão. Esperava ver alegria em seus rostos, mas em vez disso, viu suas expressões de assombro. Lethan não viu Opak as suas costas expelir uma rajada de fogo. Em questão de segundos, nem Lethan ou mesmo a ampulheta existiam mais.

O círculo estava se fechando, Arão, Odrin, Teles e Tiror mesmo machucado ainda lutavam.-Você deixou Lethan sozinho. Já é o segundo de nós que morre por sua causa. Vociferou Odrin para Arão.

Estavam perdidos e esgotados se a batalha se prolongasse mais não suportariam a carga das estátuas... Teles abandonou os três, partindo em direção as colunas, algumas das estátuas até tentaram detê-lo, mas sem resultado, as outras estavam tão compenetradas com os jovens que nem o perseguiram.

Teles passou por um pilar, a criatura maior, lançou um jato de fogo em sua direção, mas ele conseguiu se esquivar. Pulou o mais alto que pode, arremessando seu bastão de energia em direção ao peito de Opak, ele acertou bem no centro da pedra vermelha, esta se rompeu em muitos pedaços. A criatura veio ao chão fazendo-se em pedaços. No mesmo instante todas as outras estátuas pararam, as pedras de seus peitos caíram e elas tombaram virando pó instantes depois.

Os jovens estavam a salvos. Arão foi conversar com Teles.- Como você pode abandonar o grupo, nós poderíamos ter morrido. Argumentou Arão.-Vocês iriam morrer de qualquer jeito.

Virou as costas para Arão. O garoto o pegou pelo braço.-Você abandonou seus amigos na luta.-Primeiro você não é meu amigo. Segundo o importante é vencer não importa os meios utilizados e nós vencemos. Teles falava com frieza. -Sacrifícios às vezes são necessários, você mesmo sacrificou dois amigos nossos por negar-lhes ajuda. E terceiro é melhor você soltar meu braço se não quiser se machucar.

Odrin chegou afastando Arão com um empurrão.-O que você pensa que está fazendo? Ele acaba de nos salvar e você o esta recriminando? Não se esqueça que por sua causa tivemos duas baixas. Chegou sua hora irá se ver comigo.Tiror se colocou entre os dois.-Parem com isso, perdemos a ampulheta e nem ao menos sabemos onde está o pilar. Temos que prosseguir. Acho que nossa única opção é aquela porta ali.

Uma porta no fundo do salão estava a vista. Os quatro caminharam em silêncio até ela, quando a abriram havia mais do que o pilar do outro lado.

Odrin foi o primeiro a entrar, seguido por Teles, Tiror e Arão. A chama do pilar estava apagada. Na sala estavam parados em pé Milenus, Salum que brincava com um pequeno lagarto e Evelyn. Sentados mais confortáveis estavam Medar, Empoly, que mais tarde Arão soube ser um dos conselheiros de Osíris, além de Inimis e Amagus.

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Inimis virou-se para Medar.-A culpa só pode ser dos garotos celestinos, por isso os outros não foram bem sucedidos.-Não seja duro com eles Inimis, estes jovens acabaram de passar por uma prova dificílima. Medar tem razão. Disse Amagus.-Razão? Mas eles comprometeram a todos nós. Insistiu Inimis.

Arão olhou para o lado e viu o grupo das sacerdotisas, Cassi lhe esboçou um pequeno sorriso. No outro canto havia o grupo dos magos, porém os três garotos estavam acompanhados de três pequenas mulheres que Arão não conhecia. Ele não estava entendendo nada do que estava acontecendo. Medar levantou-se, dirigiu suas palavras aos jovens.-Bem, aposto que todos estão um pouco confusos, mas logo entenderão o que está acontecendo.

Suas palavras eram calmas e pausadas. -Hoje vocês foram testados, creio que o resultado não foi satisfatório, mas fico contente em vê-los.-Testados?

A voz de Arão saiu mais alta do que ele esperava.-Sim. Respondeu Medar.-Que tipo de teste é esse em que se perdem os companheiros?

Todos olhavam assustados para Arão, seu tom de voz era muito agressivo.-Isto só aconteceu por culpa sua. Recriminou Odrin. -Você quer dizer como aqueles?

Medar apontou para o lado, onde surgiram Lethan e Keyllor, os garotos sorriam e acenaram para os companheiros. Arão notou que todos os seus ferimentos haviam desaparecidos, não só os dele, mas os dos outros garotos também.

-Acreditem! Fizemos isso para o bem de vocês, se não fosse desse jeito iriam demorar muito para descobrir suas habilidades. Apesar de que uma parte do teste era verdadeira, a parte das chamas dos pilares...

Medar sentou-se, Evelyn se aproximou das sacerdotisas.-Vocês estão no caminho certo, mas tem muito que aprender. Não acreditam em si mesmas e ainda não agem como um grupo. Isso pode ser vital em batalhas futuras. Mas nós temos um grupo com habilidades bem diversificadas.

Evelyn percorreu cada sacerdotisa dizendo suas qualidades.-Milena tem o dom sobre a matéria, através da força do pensamento consegue mover os objetos. Foi assim que ao correr perigo no vale das Bestas Aladas, fez a estalactite cair sobre um morcego. Ou, ainda quando atirou Kitrina e Cassiana contra a parede no Corredor da Discórdia sem ao menos tocá-las.-Kitrina tem o dom sobre o corpo, ou seja pode transportar sua estrutura física de um local a outro. Com isto na ponte ela praticamente levitava. Foi com esse domínio que ela conseguiu fazer seu corpo sumir por alguns instantes e aparecer mais à frente quando saltou o buraco na muralha do vale das Bestas, uma pessoa normal jamais teria conseguido. No corredor da discórdia conseguia ainda atravessar a parede para apertar o botão, salvando assim suas companheiras de uma luta mortal entre si.

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-Lissa tem um poder perigoso que precisa ser muito bem controlado, o dom sobre a mente, foi com o domínio da mente que ela jogou muitas vezes Milena contra Cassiana. Se a mente for fraca poderá ser controlada com muita facilidade.-E por fim chegamos até Cassiana, ela possui um dom muito especial, o dom do sentimento, consegue saber o que as pessoas estão sentindo. Quando ela toca alguém consegue absorver os sentimentos da pessoa naquele momento. Foi assim o tempo todo, a cada toque ela sabia o que as outras sentiam. No final foi à única a resistir ao Corredor da Discórdia, ao tocar em Lissa absorveu todo o seu ódio, fazendo com que a companheira desmaiasse, o que possibilitou que Kitrina saísse e salvasse a todas.As garotas estavam impressionadas, pois nem elas haviam percebido que tinham tal poder. -No entanto. Prosseguiu Evelyn em tom de advertência. -Ainda precisam desenvolvê-los mais, pois estão somente no início de suas jornadas. Conforme a Aura de vocês aumentarem, seus poderes também aumentarão. Uma sacerdotisa completa, a Sacerdotisa da Luz, domina todos os dons, o da matéria, o do corpo, o da mente e o dos sentimentos. Vocês podem chegar a ser uma. Mas terão que se esforçar muito, a prova de hoje demonstrou isso.

Evelyn não tinha mais comentários a fazer e se afastou. Salum saiu de seu lugar, vindo a frente de todos, brincava com um lagarto em sua mão.-Ei aquele foi o lagarto que me atacou, e que tinha feito Salum virar um monstro gigante. Rosnava Bal com fúria. -Espere só eu colocar minhas mãos nele.-Não fique bravo com ele Balduíno, ele é um animal inofensivo. Brincou Salum. -Eu só o usei para tornar tudo mais interessante. Bom, no caso de vocês, os magos, até que foram bem. Precisam melhorar muito é verdade, mas eu fiquei satisfeito com o resultado da prova, o objetivo maior era que conhecerem suas companheiras ninfas.

Salum dirigiu sua atenção por uns instantes as três ninfas.-Todas as três tem poderes semelhantes. Como foi dito antes elas lhes serão de grande ajuda, servirão para guardar fórmulas de encantamentos e feitiços e ainda compartilharam suas energias para aumentar a potência de suas magias, como vocês já puderam perceber no labirinto.

Os dedos de Salum indicaram os jovens Yalo e Irian. -Vocês dois tem muita facilidade com encantamentos, com as magias podemos assim dizer. No labirinto usaram na para ficar invisíveis, criar uma bola de fogo e ainda criar escudos para bloquear os discos. Enquanto Balduíno tem muita facilidade com jogos, adivinhações e charadas, tudo o que envolve inteligência. Não preciso nem dizer que para se tornar um Mago Divino terão que dominar tanto a magia como o conhecimento. O poder das Auras os ajudarão a conseguirem esta transformação. A prova de hoje mostrou que ainda estão muito longe de trabalhar em equipe, mas quem sabe num futuro próximo isso possa mudar... Acho que já falei o necessário...

Salum se afastou, era a vez de Milenus falar.-Eu fiquei muito decepcionado com o grupo dos guerreiros. Por causa de vocês nossa missão foi comprometida, não conseguimos acender as três chamas ao mesmo tempo. Ficamos em uma situação delicada.

A raiva e a decepção estavam estampadas no rosto de Milenus.-A culpa é do garoto celestino. Inimis interrompeu Milenus. -Temos ótimos guerreiros no

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Santuário.Apontou para Odrin e Teles. -Os melhores que já formamos, mas o garoto celestino é a ovelha negra do grupo. Deixou dois companheiros sozinhos, se fosse uma situação real, eles teriam perdido a vida. Não podemos confiar nele.Arão levantou-se para protestar. Medar tomou a palavra.-Meu jovem pode sentar-se.-Mas... Arão sentou-se contrariado.-Isso se aplica a você também Inimis. Nós sabemos o que você quer dizer. Vamos deixar Milenus continuar.-Como eu estava dizendo estamos verificando as habilidades de cada guerreiro. Lethan possui a habilidade de escutar sons que para nós seria impossível ouvir. Foi assim que ele conseguiu ouvir Opak chegar para me pegar antes de qualquer um. No templo novamente ele denunciou a criatura quanto esta pulou do teto para confrontá-los.-Keyllor possui a habilidade da visão, consegue enxergar o inimigo a distância. Isso pode ser muito útil para evitar surpresas. Em uma batalha você poderá ser um grande batedor, seguindo sempre a frente das tropas verificando a posição do inimigo.-Tiror muito habilidoso e companheiro eu diria que é o mais sábio dos guerreiros, sabe lidar com ambos os lados, o dos celestinos e o da Cidade Superior, poderá vir a ser um grande líder, unindo ambas as partes. -Odrin o mais forte e destemido dos guerreiros não tem medo de nada, nem de ninguém enfrenta o inimigo face a face não importa o seu poderio. -Teles o mais ágil, astuto e veloz, possui habilidades incríveis consegue permanecer frio e impassível no combate, encontrando assim fraqueza de seu oponente tornando sua derrota quase certa. Com o bastão é praticamente imbatível. -Arão, não conseguimos analisar muito de você, é ágil e valente, mas até agora se mostrou muito limitado, precisa evoluir e muito eu diria que necessita liberar a força que está dentro do seu ser. O pior é que talvez não tenha esse tempo. Todos os guerreiros ainda não alcançaram muito do verdadeiro poder que tem, nem sequer começaram a emanar a Aura que é o grande trunfo de um guerreiro. Cada um tem condições de desenvolver os dons que os outros possuem e se tornar um Cavaleiro Celeste...

Milenus não terminou seu discurso, saindo apressado. Medar se dirigiu aos garotos.-Não deixem que os sentimentos de Milenus os afetem. Ele está um pouco decepcionado com o desempenho do grupo, mas também ele é muito severo e exigente quando se trata de treinamento. É um excelente Cavaleiro Celeste e só quer o melhor para vocês. É melhor irem descansar amanhã será um longo dia, hoje vocês tiveram uma prova de fogo, devem estar exaustos. Amanhã aprenderão sobre as auras, que é o poder máximo que alguém pode adquirir. Vão...

Bal ainda pensava nas palavras que tinha ouvido sobre seu amigo. Arão tinha abandonado seus companheiros no combate? Será que um dia o abandonaria também? Ele imaginava que Arão não sabia lutar, mas fugir e deixar um companheiro para trás era pior do que morrer em combate. O garoto procurou afastar seus pensamentos, com certeza aquilo era mentira... mas o incomodavam...

Os jovens saíram sem dizer uma palavra, sobre os ombros de cada um caía a sensação de derrota por não conseguirem acender as chamas dos pilares e proteger a

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Cidade. Por causa deles toda Cidade Superior iria sofrer.

Medar estava sentado em seus aposentos, pensativo. Os raios do sol do final de tarde

ainda entravam pela janela. Do alto da torre ele tinha uma visão privilegiada da cidade. Batidas soaram a porta.-Entre! Está aberta.

Rangidos vieram da porta. Passos rápidos se aproximaram do local onde Medar se encontrava.-Ah Milenus é você.-Medar precisamos conversar.-Você também acha que fiz errado em confiar a chamas dos três pilares ao jovens?-Eu poderia tê-las acendido. Sem maiores problemas, a cidade estaria mais segura agora.-Será que não entende, eu queria dar uma chance a eles para provarem seu valor.

-Eles são muito jovens e inexperientes. Vamos ter excelentes guerreiros, Odrin e Teles são exemplo disso. Mas não agora, a situação é diferente, não podemos nos dar ao luxo de ficarmos tão vulneráveis. Ficamos sem a proteção das chamas dos pilares, elas nos protegeram no passado...-Suas palavras são corretas Milenus. Nos protegeram no passado. Mas desta vez não creio que elas fariam diferença, o que nos espreita é maior do que qualquer um possa imaginar.

Medar fixou seu olhar na janela, permanecendo distante por um longo período. Milenus apenas o observava.-Aconteceu alguma coisa Medar?-O sol está se pondo.O rosto de Milenus expressava sinais de dúvida. Ele não tinha entendido o significado das últimas palavras do conselheiro. Medar completou.-Vai começar a quarta noite... Que o Criador tenha piedade de nós.

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A Lua de Sangue, 4ª Noite... Arão e Bal estavam sentados em seus quartos, enquanto Dafne voava de um lado para outro.-Nossa Bal, este quarto está uma bagunça, precisa de uma pequena limpeza. Pequena não seria a palavra correta. Ele precisa de uma grande limpeza.-Mulheres todas iguais. Resmungou Bal, lembrando que Cassi já havia reclamado do quarto quando estivera ali.-Olhe isso! Apontou para objetos em cima da cômoda. -E este aqui! Combina mais no outro lado. Vocês homens precisam ter um pouco de senso de estética.

Apesar de estar chateado com o que aconteceu nas provas, Arão se divertia com os comentários de Dafne. Para variar Bal estava brincando com o espelho de Alfeu. O garoto tentara narrar para Arão tudo o que havia acontecido no Labirinto do Caçador, de como conhecera Dafne e de como a ‘salvara’ inúmeras vezes. Mas como sempre era interrompido pela ninfa, ele desistiu e deixou a narração por conta dela, enquanto os dois se transformaram em meros espectadores.Oi! Tudo bem!

A mensagem chegou no espelho de Bal.Oi! Quem é?

Respondeu Bal com curiosidade.E aí, senhor sabe tudo, não consegue adivinhar quem é?kitrina? É você?Sim.-Veja Arão estou conversando com aquela gatinha amiga da Cassi.-Como assim? Questionou Dafne parecendo demonstrar um pouco de ciúmes. Prosseguiu fazendo uma bateria de perguntas. -Quem é ela? O que ela quer com você? Você vai responder para ela?

Dafne aproximou-se do espelho. Voava sobre o ombro direito de Bal acompanhando a troca de mensagens.-Nossa Dafne, você parece minha mãe falando.-Eu? Sou muito nova para ser sua mãe.

A ninfa ficou contrariada não entendendo o que Bal queria dizer. Ela se dirigiu para Arão. -Você acha que pareço à mãe dele?

O garoto que acompanhava a discussão dos dois, ia perdendo o ânimo com o assunto. As imagens da tarde ainda estavam em sua mente. Pediu para que não o envolvessem em suas discussões.''Será que as pessoas que me colocaram no clã dos guerreiros estavam certas? Sou um perigo para meus amigos...''

Esse pensamento o atormentava.De fato depois do que ocorrera com os garotos, todos, com exceção de Tiror,

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culpavam Arão pelo fracasso da missão. Até Lethan e Keyllor o culparam por suas "mortes" no treinamento. Diziam que ele não sabia trabalhar em grupo e que qualquer um que fosse seu parceiro estava fadado a perder.

O jovem tinha ficado muito abalado no começo, mas estando na companhia de Bal e Dafne se distraia um pouco, pelo menos era o que demonstrava.Oi! Bal é a Cassi, Tomei o lugar da Kitrina um pouco. E o Arão como está?- E eu? Não quer nem saber como estou? Bal Reclamava olhando para o espelho, por Cassi ter perguntado por Arão e não por ele. -Arão! Cassi está perguntando como você está.-Diga a ela que vou sobreviver. Disse com a voz um pouco murcha.Ele disse que desta noite não passa. Vai se suicidar. Respondeu Bal para Cassi.BALDUÍNO!!! Pare de gracinhas.-Puxa até longe ela me dá bronca.-Você mereceu!-Que é isso Dafne, um complô contra mim? Você deveria estar do meu lado e não do dela.Diga para ele que tenho uma notícia que vai alegrá-lo. Seja rápido.-Já vou! Bal resmungava para si mesmo. -Arão é melhor você vir conversar com ela. Cassi está histérica aqui.-Está bem.

Arão sentou-se ao lado de Bal. Começou a manipular o espelho.Como você está Cassi?

Enviou Arão a mensagem.Estou bem. Mas e você?Bem.

Respondeu Arão a mensagem de Cassi, porém não estava muito animado para ficar trocando recados.Arão, pergunte ao Bal se ele consegue colocar mais de dois espelhos se comunicando simultaneamente, para trocarmos mensagens entre mais pessoas. A pessoa que está agora me enviando mensagens gostaria que você também as recebesse.-Deixa comigo. Disse Bal lendo a mensagem ao mesmo tempo em que se apossava do espelho. - Faço isso rapidinho... "Essa não, mais gente na conversa, justo hoje que não quero falar com ninguém. Gostaria de ficar só“. Pensou Arão.-Conseguiu? O que você está fazendo Bal?

Dafne estava cheia de curiosidade, apoiada sobre o ombro do garoto. -Espere... Mais este aqui... E este outro. Bal nem prestava atenção às perguntas de Dafne. - Pronto! Consegui, eu sou demais... Vamos lá Arão, converse com a Cassi.

Arão ficou novamente à frente do espelho.''Espero que seja rápida essa conversa...''-Vamos ânimo! Bal cutucou o ombro de Arão.Cassi enviou uma mensagem.Que bom então já podemos trocar mensagens os três.A próxima mensagem surgiu.

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Oi Arão.Ele não soube por que mas seu corpo se arrepiou, sentiu algo percorrê-lo dos pés a

cabeça, o desânimo desapareceu. A expressão de seu rosto demonstrava uma mudança total de comportamento. Ia fazer a próxima pergunta, mas parecia já adivinhar a resposta.Quem é você?

A resposta não demorou a aparecer no espelho.Damira... Será que ainda se lembra de mim?"Como poderia esquecer" Pensou.

Outra mensagem na tela, só que desta vez era de Cassi.Você deve estar se perguntando como a conheci. Na verdade Kitrina a conhece, elas estavam trocando mensagens. Eu vi quem era e pedi a Kitrina se podia falar um pouco com ela. Expliquei sobre você querer conversar com ela e agora estamos aqui nós três no espelho.

As bochechas de Arão ficaram vermelhas. Damira lhe enviou uma mensagem.Cassi me disse que você estava desanimado, talvez queira conversar outra hora.

A resposta de Arão foi mais do que rápida.Claro que não. Podemos conversar agora.-Que sorte a sua, fica dois minutos em frente ao espelho e já arranja uma gata para falar. Eu preciso ficar o maior tempo para arranj... Aaaiiii...Mas por que você fez isso?

Dafne tinha torcido a orelha de Bal.-Você está muito assanhado! Repreendeu ela.

Enquanto todos estavam em seus quartos, alheios a tudo. As demais dependências do Santuário permaneciam sem vida, o silêncio imperava naquela noite...

Longe dele sobre uma colina, um ser encapuzado, solitário, com os braços voltados aos céus, pronunciava palavras em um idioma antigo, pouco usado, incompreensível para maioria das pessoas. Parecia ser uma invocação...-... Ashet moRieveNent sobreGragui nuEla...

Somente as últimas palavras foram ditas na língua comum. -Desça! Caminhe sobre as terras do Firmamento, por onde passar deixe seu rastro de morte. A lua cheia, a lua da morte se fazia presente no céu, sua magestividade seria considerada maravilhosa se os tempos fossem outros. Uma névoa começava a se desprender do grande gigante branco com tons avermelhados, formando um pequeno caminho que descia até o solo. Começou a ganhar corpo, seguiu como uma onda em direção ao Santuário varrendo tudo a sua frente... Aos poucos os corredores do Santuário estavam tomados pela névoa. Os cavaleiros, anjos da categoria dos Dominações, eram as únicas almas vivas nos corredores e foram pegos de surpresa pela massa flutuante. Nervosos e confusos, ficavam sem reação, um a um foram sendo engolidos pelo vapor aquoso, pareciam estar sendo transportados para outro mundo. A quarta noite estava apenas começando.

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Arão era outro, nem sombra do garoto amuado de minutos atrás. Estava animado e não era para menos finalmente conseguiria falar com Damira. Bal e Dafne esperavam ao lado do espelho ansiosos para que o amigo iniciasse a troca de mensagens. Ele parecia indeciso sobre como iniciar a conversa. Bal deu-lhe um pequeno empurrão.-Vamos Arão... Vai deixar ela esperando a noite toda. Daqui a pouco ela se desinteressa de você e começa a trocar mensagens com outro.

Dafne deu-lhe uma bronca e fez sinal para ele ficar quieto. Arão enviou uma mensagem.É que não sei por onde começar, são tantas dúvidas, tantas perguntas, que estou um pouco confuso. Damira respondeu rapidamente.Cassi me disse que você gostaria de recordar sobre seu passado. Que tal começarmos pelo acidente?Você poderia me contar o que aconteceu naquele dia?

Arão enviou a mensagem e aguardou o retorno. O tempo passou, entretanto a resposta não vinha.-Ela não responde! Arão ficou um pouco confuso.-Eu disse para você não demorar. Criticou Bal. -Com certeza ela já deve estar mandando mensagens para outro.

Novamente as mãos de Dafne foram firmes em apertar Bal.-Tá bom, eu já entendi, vou ficar quieto.Cassi você está aí?Sim.

Foi a resposta enviada por Cassi.Damira não responde. Ela está sozinha?

Enviou Arão.Não! Ela está com mais outra candidata a Deusa. Sua amiga Etality.

As imagens do espelho começaram a ficar turvas.-Bal! Arão chamou incisivo. -O que está acontecendo?

Bal olhava desconfiado para o espelho.-Parece algum tipo de interferência...Uma mensagem apareceu na tela.A quarta noite chegou e com ela a morte ronda pelos corredores do Santuário.-Mas é nosso amigo misterioso novamente. Exclamou Bal.-Nosso quem? Perguntou Dafne logo em seguida.

Uma mensagem de Cassi chegou rápido.Quem é este?-O que será que ele tem para nos dizer? Questionou Arão.Ele está solto pelas sombras da noite, em busca de mais uma vítima. Hoje ele obedece a ordens, mas o mal dentro dele cresce. Muito em breve ninguém poderá controlá-lo.-Não estou entendendo. O que ele quer dizer. Praguejava Arão.Quem esta no Santuário?

Enviou Arão. Bal e Dafne acompanhavam a tudo colados no espelho.

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Ele é perigoso, terrível... Tem que ser detido imediatamente. Ele está se fortalecendo, a cada vítima adquiri mais poder...Como podemos detê-lo?

Perguntou Cassi na sua mensagem.Vocês não são páreos para ele, não tem como vencê-lo.

Respondeu o estranho.-Diga para ele falar logo quem está solto. Esse suspense me mata.-Calma Bal. Disse Dafne, já acostumada com o diminutivo do nome de seu companheiro."Quem está solto?

Perguntou Arão.A mensagem demorou a vir, mas finalmente chegou.

O Ente da Noite.-O Ente da noite? Perguntou Bal.Então não devemos sair dos nossos aposentos?

Perguntou Arão.Hoje ele estará distante de vocês, mas suas ações comprometerão todo nosso futuro. Seu alvo são as Filhas do Criador.

Todos olhavam apreensivos para o espelho, mas as mensagens cessaram. Depois de um tempinho Dafne perguntou. -Cadê ele? -Não sei, acho que foi embora. Respondeu Arão.-Ele é sempre assim, vai e vem como bem entende e sempre nos deixa cheios de dúvidas. Reclamou Bal.Cassi está tudo bem com vocês?

Arão enviou a mensagem preocupado depois do que acabara de ler.Sim, aqui estamos só eu e Kitrina, mas está tudo bem.

Respondeu Cassi.-Arão veja se relaxa, segundo nosso amigo misterioso hoje estamos seguros. Bal fez uma careta antes de prosseguir. - O ''Ente da Noite'' está atrás das ''Filhas do Criador''. Aliás, alguém sabe o que seria um Ente da Noite?

Sua pergunta ficou sem resposta. -Vamos procurar no espelho. Sugeriu Arão. Porém foi tudo em vão, por mais informações que o espelho tivesse não constava nada sobre qual o significado do nome Ente da Noite.-É, parece que não vamos conseguir nada. Disse Bal desanimado.-Não sabemos o que é esta coisa, mas podemos tentar pesquisar sobre as ''Filhas do Criador'', quem sabe não descobrimos quem será o alvo dessa noite. Sugeriu mais uma vez Arão.

Dafne ia falar alguma coisa, mas Bal pediu que ela ficasse quieta. Voltou-se para Arão.-Ótima idéia meu amigo.

Os dois garotos já se preparavam para começar outra busca no espelho, quando Dafne os interrompeu mais uma vez.-O que é? Bal estava impaciente.-Nem precisam procurar.-Por que? Você acha que não vamos encontrar nada sobre isso também? Inquiriu Bal.

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-Não! É que eu sei o que significa a expressão "Filhas do Criador".-E por que não nos disse logo? Perguntou Bal virando-se para Dafne.- Era o que eu estava tentando fazer, mas você disse para eu me calar.-Não sobre isso.-Ei! Parem de brigar vocês dois. Arão se intrometeu na discussão. -Assim nós não vamos chegar a lugar algum.

Os dois ficaram quietos. -Pode falar Dafne. O que é que você sabe sobre as Filhas do Criador.-Bom, creio que a pessoa que passou as mensagens deve estar enganada.-Como assim? Questionou Bal.-"Filhos do Criador" é uma expressão antiga usada pelos sábios para se referirem aos deuses. Logo quando ele cita as filhas deve estar querendo se referir às deusas. Porém, não existem mais deusas no firmamento.-Esperem! Gritou Bal extasiado. -Ele disse que o Ente da Noite está comprometendo o futuro fazendo suas vítimas. Não existem deusas, mas futuramente vão existir.-As candidatas! Exclamou Arão.-Exato. Confirmou Bal.-Olhem. Gritou Dafne apontando para o espelho.

Uma nova mensagem surgira.Estou com medo.

Era de Damira.A mensagem provocou um alvoroço nos três. Cassi enviou uma mensagem.

O que está acontecendo Damira?Algo estranho... Havia guardas no corredor. Começamos a ouvir gritos de desespero, houve uma batida na porta, como se algo tivesse se chocado contra ela. Fomos ver o que era... O corredor estava vazio, com exceção de uma névoa que cobria toda a extensão do chão. Vimos duas pequenas esferas de luzes no final do corredor. Elas emitiram um ruído medonho, vieram rápido em nossa direção. Fechamos a porta. Estamos presas aqui...-Pela descrição que Damira nos forneceu, deve ter sido o mesmo ser que pegou Nesália e nos perseguiu na outra noite. Disse Arão.-O ‘Ente da Noite’. Bal pronunciou as palavras de forma assustadora. -Então elas correm grande perigo.-Não estou entendendo, quem perseguiu vocês? Perguntou Dafne cheia de curiosidade.-É uma longa história. Depois eu te explico. Disse Bal.Não saiam do quarto.

Arão esperava que elas obedecessem a mensagem dele. Damira enviou outra mensagem.Estamos ouvindo batidas na porta. Parece que algo está sendo arremessado contra ela.Fujam.

Enviou Cassi.Nossa única esperança é pular pela janela, um rio passa ao lado do nosso quarto.

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Um pequeno momento de silêncio, os espelhos estavam vazios, sem mensagens. Arão ficou mais aliviado, com certeza elas tinham pulado, conseguindo assim escapar do Ente da Noite. Entretanto uma nova mensagem surgiu à tela.As batidas cessaram, tudo está quieto do lado de fora. Etality foi verificar como esta o corredor.

Arão ficou impaciente, enviou uma mensagem, torcendo para elas lerem antes de abrir a porta.Nãããooo!!! Não abra a porta. Pulem pela janela.

A narrativa de Damira continuou, ignorando o aviso de Arão, só que desta vez com frases curtas.Ela esta se aproximando da porta.

Novo momento sem mensagens o tempo parecia demorar uma eternidade a passar enquanto outra mensagem não chegava. O que se seguiu após esta breve pausa foram várias mensagens rápidas uma após da outra, como se quem as enviasse estivesse muito nervoso e apavorado.Alguém está forçando a porta.Ela se abriu.Algo está caído ao chão.Meu Deus. É o tronco de um cavaleiro do Santuário.A névoa esta entrando no quarto.As luzes... Um urro medonho...

Novo momento de inatividade no espelho até...Etality foi arrastada por elas para dentro do corredor.Eu tentei ajudá-la, mas não pude fazer nada foi tudo muito rápido. Ouço os gritos dela. Socorro me ajudem!

Eles não podiam ver, mas Damira estava em prantos. Arão estava impaciente queria sair de qualquer maneira, porém Bal o estava segurando. -Não podemos sair, esqueceu-se do Medar di...

Os dois estavam praticamente lutando, só pararam quanto Dafne gritou.-Vejam outra mensagem.Tudo ficou quieto, não ouço mais Etality, estou com muito medo.Esperem, o urro novamente, mais próximo, as luzes. Arão me ajude...

Desta vez Bal não conseguiu segurar Arão, que com um empurrão o jogou para o lado, partindo corredor à dentro.-Não acredito que ele vai querer bancar o herói de novo. Reclamou Bal partindo atrás do amigo.

Dafne ficou aturdida, sozinha, sem saber o que fazer. A cabeça de Bal reapareceu à porta.-Dafne não saia daqui.

Sumiu logo em seguida. Uma mensagem de Cassi apareceu à tela.Cadê todo mundo. O que aconteceu?

Dafne respondeu.Foram ajudar Damira. Eu não vou ficar neste quarto sozinha. Tchau.

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Dafne partiu. Cassi se levantou em seu quarto ia sair, mas Kitrina a segurou.-Onde você vai? Não podemos sair, é perigoso.-Eles foram ajudar Damira, tenho que ir também.-Espere!

Ordenou Kitrina com uma voz autoritária. Cassi parou e virou-se para a amiga.-Eu irei junto com você.

As duas partiram.

Arão corria a frente, Bal vinha logo atrás, Dafne voava rápido para alcançá-los. Não havia ninguém nos corredores. A névoa dificultava o senso de orientação dos jovens, mesmo assim eles prosseguiam.-Arão! Chamou Bal. -Você sabe como chegar onde estão as Candidatas? Tenho a impressão de que já passamos por aqui.-Essa névoa está atrapalhando, estamos perdendo muito tempo. Respondeu Arão. -Acho que posso dar uma ajuda. Disse Dafne.-Como? Perguntou Arão.-Concentre-se Bal. Ordenou ela.

Bal fechou os olhos, se concentrando junto com a ninfa. O garoto começou a ouvir uma voz em sua mente que dizia-lhe palavras estranhas. Ele não soube o porquê, mas começou a recitá-las em voz alta a sua frente uma pequena bola de luz surgiu. Bal abriu os olhos.-Eu fiz isso?-Nós fizemos.-Como vocês conseguem? Perguntou Arão.-Na verdade, Bal ainda não tem o poder suficiente para fazer os encantamentos sozinhos, por isso precisa de mim. Conheço muitas magias todas armazenadas aqui.

Dafne apontou para sua própria cabeça. -Eu o ajudo a fazê-las. Ele se utiliza de minha força para que o encanto seja mais forte, mas quando ele estiver pronto, não vai mais precisar de mim. Sua memória e força cuidarão de tudo sozinho.-Você não quer tentar Arão é divertido. Disse Bal.-Infelizmente não dá, somente os que têm a essência de mago dentro de si é que conseguem utilizar a magia. Explicou Dafne.- É Arão, parece que nem vai dar.-Não temos mesmo tempo para isso, Bal, vamos prosseguir.

A Pequena bola de luz seguia a frente de Bal, enquanto avançavam...

Cassi e Kitrina andavam de mãos dadas avançando pelo meio da névoa.-Cassi, eu conheço bem estes corredores, mas com esta névoa fica difícil saber se estamos

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indo na direção certa.-Se pra você já é ruim imagine para mim. Completou Cassi.

As duas continuaram andando, de repente Cassi parou, colocando uma das mãos no ombro de Kitrina como se buscasse apoio.-Cassi! Você está bem?-Tive um mal-estar passageiro. Mas passou, já estou melhor.-Tem certeza?

Cassi confirmou com a cabeça, foi continuar a andar, seus joelhos dobraram e se não fosse pelo abraço que Kitrina lhe dera ela teria tombado ao chão.-Cassi o que está acontecendo?

Ela tremia olhava para frente em direção a um ponto imaginário. Kitrina a sacudía.-Fale comigo!-Eu... Eu sinto... Eu posso sentir...-O quê?-A sensação de ter o domínio da situação... maldade e crueldade... Ao mesmo tempo prazer e excitação... -Isto é muito confuso para mim. Quem nutriria tais sentimentos?

Cassi olhou para Kitrina antes de responder.-Um predador diante de sua vítima. Kitrina não entendia bem o significado das palavras da amiga.''O que ela está querendo dizer?''-Me ajude... Vamos sair daqui o mais rápido que pudermos.

As duas começaram a correr, usavam todas as suas forças, quando olhavam para trás viam a névoa se movendo, algo estava em seus encalços. Chegaram a um corredor que terminava em uma porta trancada.-Droga! Gritou Cassi. -Estamos encurraladas neste corredor.

A névoa começava a se abrir, estava chegando rápido perto delas.-Estamos perdidas. Murmurou Kitrina. Cassi pegou a mão da amiga, podia sentir o medo. Nesse momento Kitrina acalmou-se e virou-se para a amiga. -Espere um pouco.

Ela se concentrou, colocou as mãos na porta. Seu corpo foi desaparecendo. Cassi olhava para a abertura na névoa que se aproximava mais e mais..."Pelo menos uma de nós se salvou."

Pensou se conformando um pouco com o que iria acontecer. Não havia mais jeito... Fechou os olhos esperando pelo pior. Sentiu uma forca segurar sua mão, foi puxada para trás. Perdeu o equilíbrio e caiu no chão. Quando abriu os olhos, viu Kitrina fechando a porta. -Desculpe deixá-la só. Kitrina estava com as costas na porta. -Mas somente assim poderia abrir esta porta por dentro.-Ainda bem que você conseguiu, não gostaria nem de pensar se você tivesse demorado um pouco mais... Onde estamos?-Devemos estar dentro de uma das sinagogas do castelo. Respondeu Kitrina sem muita confiança.

O salão onde estavam, era composto por pilares que faziam o contorno todo do

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recinto, enormes candelabros acompanhavam os pilares. Havia três lustres no teto e fileiras de bancos que estavam quase submersos pela névoa.-Precisamos sair deste local. Temos que encontrar Arão, Bal e Dafne. Cassi acabara de se levantar. -Só não podemos voltar pelo mesmo caminho que viemos.- Não se preocupe, as sinagogas sempre tem no mínimo duas saídas. Kitrina apontou para frente, as duas começaram a andar em direção a uma porta do outro lado da sala.

Um rumor súbito fez as duas pararem imediatamente. Um arrepio percorreu as costas de Kitrina. Ao olharem para trás a porta se abrira um pouco, tornando a se fechar logo em seguida. Ambas ficaram tensas, a névoa começou a ser movimentada ao redor delas, como se algo corresse em círculos, cercando-as. Os candelabros ao lado do pilar iam caindo um a um. As duas estavam de costas uma para outra, respirações ofegantes. De repente tudo se acalmou. A névoa se aquietou...-Será que foi embora? Perguntou Kitrina após alguns segundos.-Não. Está nos observando. Vai nos atacar a qualquer momento.

Cassi mal tinha acabado de falar e duas luzes se acenderam ao seu lado. Pularam sobre elas. Cassi empurrou Kitrina e tombou no chão. As luzes passaram sobre elas, caindo sobre os bancos provocando grande alvoroço. Cassi levantou-se e pegou Kitrina pelo braço.-Vamos fugir.

Ambas correram para a porta, para onde se dirigiam antes daquela confusão. Por sorte esta não estava trancada, saíram rápido. Ouviram um estouro atrás de si, estilhaços de madeira voaram para todo lado, as luzes as perseguiam.

Estavam sendo alcançadas, logo a frente havia uma passagem que levava a outra câmara. Ao entrarem, Kitrina tropeçou, caindo sobre Cassi. Levantaram rápido olhando para os lados.-Este lugar me parece familiar. Disse Cassi.

Kitrina ficou um pouco sem jeito ao falar, pois o assunto poderia ser doloroso a Cassi.-É o local onde a primeira candidata à deusa foi morta. Você estava aqui...

Cassi percebeu por que Kitrina hesitava em continuar-Sim! Me lembrei...

A sala possuía oito entradas, elas não sabiam por qual haviam vindo.-E agora? Perguntou Kitrina.-Ele está brincando com a gente. Pode nos pegar no momento em que quiser. Vamos enfrentá-lo.-Mas e se não formos páreos para essa coisa?-Não somos! Cassi foi incisiva. -Mas temos que arriscar. Pensaremos em alguma coisa.

Kitrina não tinha muita certeza, mas acreditava em sua companheira.-Procure algo para se defender. Ordenou Cassi.-Olhe tem uns pedaços de madeira neste canto. Kitrina estava ao lado de um monte de tábuas.

Uma luz estava começando a aparecer em um das entradas.-Não temos mais tempo terá que ser com isso mesmo. Disse Cassi.-Vou esperar ao lado da entrada, quando ele passar, apareço de repente. Acerto essa coisa, você vem depois e me ajuda. Sugeriu Kitrina. Estavam em posição, Kitrina ao lado da parede e Cassi um pouco mais distante. A luz

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ia ficando mais forte. Cassi podia sentir a ansiedade em Kitrina crescer a cada momento que passava."Só mais um pouco" Pensava ela.-Agora! Gritou Kitrina pulando a frente da luz, queria pegá-lo de surpresa. Acertou seu oponente com força. Um grito abafado foi ouvido, a luz se apagou. Um corpo estava estendido no chão. Cassi pulou para ajudar Kitrina, mas um par de mãos a impedia. Ela lutava com todas as forças para se desvencilhar, até ouvir uma voz.-Cassi, sou eu Arão!

Ela parou, olhou e viu Kitrina desconcertada com a madeira na mão. Bal estava caído gemendo.-O que você pensa que está fazendo? Gritou Dafne para Kitrina enquanto ajudava Bal a se levantar.-Bem... É que eu pensei que fosse...-O que vocês estão fazendo aqui? Perguntou Arão.-Nós vimos que as candidatas a deusas corriam perigos e decidimos vir ajudá-las também. Respondeu Cassi-Arão, não saio mais à noite com você, por que toda vez que tento acompanhá-lo, sempre acabo apanhando. Resmungou Bal, já em pé.-Doeu muito? Kitrina se aproximou de Bal.-Bate e ainda quer ver se está bem? Dafne estava sendo provocante.-Eu já disse que foi sem querer.-Hei, vamos parar de discutir. Interveio Arão.-Você fala isso por que não foi você quem levou a paulada. Para uma mulher até que ela é bem forte.-Eu sei Bal, mas não podemos ficar aqui. Cada minuto é precioso. Todos se calaram, concordando com Arão. -Vamos prosseguir.

Seguiam os cinco pelos corredores tentando encontrar o caminho que levasse aos aposentos das Candidatas. Cassi entre eles era a única que não pensava nas garotas que estavam indo salvar. Ela estava mais preocupada com o que a sensação de estar sendo espreitada. Sentia-se como a alguns momentos atrás, antes de encontrar seus amigos. A névoa continuava.

Enquanto caminhavam Kitrina tomou a frente do grupo.-Eu já sei onde estamos. Falta pouco para chegarmos à ala das candidatas. Porém, temos duas opções.-Quais? Perguntou Bal.-A frente reside o salão nobre onde os conselheiros costumavam se reuniam para refletir sobre assuntos importantes. Hoje em dia ele não é mais usado. Nós podemos contorná-lo, mas teremos que descer e subir inúmeros lances de escadas para chegarmos até as candidatas. Isso nos tomará um pouco de tempo.-Que é justamente o que não temos. Observou Arão.-Ou, podemos atravessar o salão por uma pequena sacada que fica na parte superior do mesmo.-Por que tem que ser pela sacada? A ninfa saiu de trás do ombro de Bal. -Se ele não é mais

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ocupado, por que simplesmente não o atravessamos.-Eu a ensinei. Disse Bal de forma zombeteira.

Quase todos concordaram com a colocação de Dafne.-O salão se comunica com várias partes do Santuário. Qualquer um pode chegar de qualquer parte. Seria muito fácil nos pegarem desprevenidos. No salão seremos alvos fáceis.

Kitrina olhou para Cassi buscando seu apoio.-É melhor seguirmos pela sacada do salão. Sugeriu Cassi.-Está bem, vamos pelo salão. Pronunciou Arão, a decisão estava tomada.

Os jovens chegaram a entrada do grande salão pensando em encontrá-lo vazio. Entretanto ao contrário disto, algumas velas estavam acessas. Iluminavam três pessoas que conversavam aos sussurros, mesmo assim podiam ser ouvidos. A névoa não havia entrado no recinto.-Você não disse que o salão não era mais utilizado. Cochichou Bal para Kitrina.-E Não é. Não sei o que pode estar acontecendo. Respondeu a jovem.-Teremos que voltar. Disse Dafne. -Não podemos.

Arão sabia que Cassi tinha razão, não poderiam voltar do ponto em que se encontravam. Observou bem o local.-Se formos em silêncio poderemos atravessar até a sacada sem que eles nos notem. Disse Arão.-Não sei não... Interveio Bal.-Fiquei quieto e ande logo. Murmurou Cassi impaciente.-Cassi eu sei que no fundo, lá no fundo você me adora.

Kitrina foi à primeira, desviou-se de alguns objetos no chão, conseguiu chegar a base da sacada sem ser notada. Logo em seguida foi Cassi quem conseguiu realizar a proeza com sucesso. Por fim chegou à vez de Bal, ele ia devagar com Dafne voando ao seu lado. Arão seria o último. Olhava para Bal que já estava no meio do caminho, se preparava para partir, quando notou um objeto ao chão no caminho de Bal.

Como este olhava para Cassi e Kitrina, nem parecia notá-lo. Não haveria tempo, nem como avisá-lo. O garoto tropeçou ia emitir um grito de susto e cair ao chão. Mas Dafne tapou-lhe a boca com uma mão e segurou seu corpo. O objeto, porém rolou para frente chamando a atenção das três pessoas do salão.-Vocês ouviram alguma coisa? Perguntou um deles.

Cassi e Kitrina se esconderam na base da varanda, Arão não se moveu, pois ali estaria seguro. Mas Bal e Dafne não tinham para aonde ir, seriam descobertos, pois os três seguiam para onde eles estavam. Os dois fecharam os olhos e segundos antes dos três chegarem seus corpos desapareceram.-Eu podia jurar que ouvi algo. Murmurou um deles.

Olharam em volta, mas não havia sinal de ninguém.-Você esta muito nervoso. Acalme-se ninguém vai aparecer neste salão eu já disse que há muito tempo ele não mais utilizado.Vamos terminar isso logo.

Kitrina reconheceu quem acabara de falar, era Empoly, o conselheiro de Osíris.Os três corpos voltaram para a iluminação das velas, segundos depois Bal e Dafne

reapareceram. O garoto parecia ter feito um esforço descomunal, pois estava muito

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ofegante. Finalizaram a passagem pela sacada rastejando, estavam exatamente sobre os três que finalizam sua discussão.-Eles são uns tolos, nem percebem o que está se passando. Dizia Empoly.-Logo todos sucumbirão. A cada sinal da profecia o reino se enfraquece. No primeiro, o mal entrou...

Ficou quieto por alguns momentos, pensativo com os olhos fechados. Abriu-os novamente e prosseguiu. -Estamos quase chegando no final do segundo sinal, eles não tem como proteger a todos. O grande Medar tentou... Mas ele cometeu um grave erro.

Ficou novamente pensativo. -Com suas medidas ele até conseguiu proteger todas as comunidades, mas deixou exposta a Cidade Superior e o próprio Santuário. Ela sofrerá as conseqüências. Esse é o momento que tanto esperamos, temos que tomar o poder. No final do segundo sinal mesmo as forças do firmamento não poderão evitar o que esta por acontecer...-Mas o que vai acontecer. Perguntou um deles.-A queda de uma das comunidades.

Os jovens conseguiram passar sem serem notados. Ouviram as palavras finais de Empoly.-Uma conspiração é isso! Kitrina ficou indignada. - Como eles são capazes de tal coisa.

Cassi a pegou pelos ombros.-Sei que você está revoltada. Mas a única coisa que podemos fazer no momento contra isso é ajudar as candidatas.

Arão chegou próximo das duas.

-Vamos continuar, temos a vantagem de ninguém saber o que estamos fazendo. Se alguém descobrir estamos enrolados.-O mínimo que irá acontecer é sermos expulsos da Cidade Superior. Comentou Bal em tom de deboche.

Seguiram em frente por uma longa galeria até chegarem onde ficavam os aposentos das candidatas. Verificaram que com exceção de uma, todas as demais portas estavam fechadas. Aproximaram-se com cuidado. O quarto estava todo revirado.-Aposto que este é o aposento de Damira. Exclamou Arão olhando em volta com visíveis sinais de preocupação no rosto.-Parece que um furacão passou por aqui. Comentou Bal, se afastando em direção a porta. -Acho que chegamos tarde demais.

Dafne pegou um pedaço de pano que estava molhado. -É essência...

Uma mão caiu sobre o ombro esquerdo de Bal. O garoto não agüentou deu um grito que veio junto com um pulo. Ele caiu aos pés de Arão. Todos levantaram a guarda automaticamente. Na porta uma pequena garota que parecia mais uma boneca, tamanha a sua beleza, estava parada. Seu corpo tremia todo, seu rosto estava molhado pelas lágrimas. Ela despencou, Cassi e Kitrina se adiantaram para ampará-la.

A garota abriu os olhos, viu vários rostos que a observavam.-O que aconteceu? Perguntou ela.-Você desmaiou, mas agora está tudo bem. Cassi segurava sua mão. -Quem é você? O que

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se passou aqui?"Conheço este lindo rosto". Eram os pensamentos de Bal. Olhou para o lado e se espantou com a cara fechada de Dafne o observando.

A garota parecia se concentrar para dar uma resposta a Cassi, mas seus pensamentos devem ter sido muito ruins, pois ela desabou a chorar.-Foi horrível, não gosto nem de lembrar. Soluçava muito.-Damira está bem? Questionou Arão afoito

Ela fez um sinal de negação com cabeça.-Mas o que aconteceu?-Calma Arão, não vê que ela está em choque.

Cassi pegou em sua mão, a garota pareceu se acalmar, Cassi tremia. Kitrina a abraçou. -Eu sou Moira umas das Candidatas a Deusa."Eu sabia que já a tinha visto, nunca esqueço um rosto bonito."

Mais uma vez Bal pegou Dafne o olhando de maneira inquisidora. A garota continuou sua narração.- Eu era companheira de quarto de Jenya, até que ela...

Voltou a chorar. Cassi acariciava sua mão.-Calma, está tudo bem, ninguém vai te fazer mal. Nós estamos aqui para ajudar, pode continuar.-Hoje ia ser minha última noite sozinha em meu quarto, amanhã eu seria transferida para este junto com Damira e Etality. Só que esta noite aconteceram coisas estranhas. Primeiro uma névoa tomou todo o corredor. Ouviu um barulho por algum tempo. Achei que fosse dos cavaleiros que estavam de guarda, mas tudo ficou quieto depois. Uma luz percorria o corredor, eu podia ver pela fresta da porta, parecia procurar algo. Eu senti medo como nunca havia sentido antes, achei que fosse morrer.

Puxou a mão de Cassi para mais próximo de seu rosto. -Eu queria ver o que era, mas algo me impedia, não conseguia me mover. A garota limpou as lágrimas dos olhos antes de continuar. -Depois ouvi um estrondo como se alguém arrombasse uma porta. Os gritos de Etality... Horríveis, gritos de medo...

Sua voz foi abaixando até praticamente desaparecer. -Foram sumindo corredor à dentro, ficando mais fracos...

Ela parecia não conseguir mais falar. Reuniu todas suas forças para continuar.-Por fim ouvi os gritos de Damira.-Você a viu? Sabe onde está? Arão praticamente a chacoalhava.-Arão! Arão! Gritava Cassi.

O jovem caiu em si, soltando a garota. Ela se escondeu no colo de Cassi.-Desculpe. Pediu Arão.Moira olhou para Dafne, apontava com o dedo trêmulo para a direção da ninfa.-O que foi?

Dafne olhava confusa, não sabia o que a garota queria. Todos olhavam para a ninfa tentando adivinhar o que Moira estava querendo mostrar.-O pano. Finalmente disse.

Dafne olhou para o pano rasgado sujo de essência que estava em suas mãos.

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-Ah! Isto? Exclamou ela. -Eu achei caído no chão. Disse toda displicente.-Ele é da roupa que Damira estava usando.

Todos ficaram parados atônitos, ninguém se atrevia a dar nenhuma opinião do que poderia ter acontecido às garotas. Finalmente Arão disse, após um longo momento de silêncio.-Precisamos procura-las.-Não podemos deixar Moira aqui sozinha. Ela mal consegue se mexer.

Cassi tinha razão no que acabara de dizer. Moira estava em estado de choque. Seu corpo tremia todo. Seu rosto esta lívido, ela ficava repetindo palavras sem nexo algum e cada vez que Cassi tentava colocá-la de lado, Moira se agarrava mais ainda a ela.-Eu cuido dela. Sugeriu Bal de um jeito maroto. -Enquanto vocês procuram as outras e o nosso querido Ente da Noite.-Bal! Grunhiu ao lado Dafne inconformada.-Eu só estou querendo ajudar.

Na verdade ele pretendia ficar no lugar que julgava mais seguro. Mas viu suas esperanças irem por água abaixo com o pronunciamento de Arão.-Cassi! Você e Kitrina fiquem aqui cuidando de Moira. Eu, Bal e Dafne vamos tentar encontrar Etality e Damira.

As duas concordaram de imediato.-Por que será que ninguém me ouve. Resmungou Bal enquanto era arrastado por Arão. Só conseguiu ouvir as ultimas palavras de Kitrina.-Tomem cuidado.

Bal sorriu, gritando em resposta.-Eles é que devem tomar cuidado comigo. Murmurou Bal muito baixinho, mais para si

mesmo, do que para qualquer um. -Acho que ela gosta de mim. Viu o rosto de Dafne ao lado, ela estava de cara fechada.

-O que foi que você disse?-Eu? Bem... Bal ficou sem jeito. -Eu disse que acho que essa noite não vai ter fim.-Não foi isso que entendi. Retrucou ela.

Assim foram os dois discutindo na escuridão dos corredores.

Kitrina olhava para Cassi, enquanto segurava uma das mãos de Moira.-O que vamos fazer? Ela precisa ficar em um local seguro e alguém precisa examiná-la. Mas não podemos deixá-la sozinha para irmos buscar ajuda, seria muito arriscado.

Restavam poucos resquícios da névoa que invadira o Santuário, ela tinha praticamente sumido. As duas se olharam indecisas.-Vamos levá-la conosco. Sugeriu Cassi. -Pegamos uma em cada braço, podemos arrastá-la até encontrarmos alguém que possa ajudá-la. O único problema vai ser deixá-la sem que ninguém nos veja.

Kitrina concordou com a sugestão e com grande esforço as duas conseguiram levantar Moira, cada uma passou um braço da menina ao redor do seu pescoço, servindo de

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sustento. Iam começar a andar, mas ouviram o som de passos apressados vindos do corredor.- Quem poderá ser? O que vamos fazer? Sibilou Kitrina.

Não conseguiriam se deslocar com rapidez segurando a garota. Os passos se aproximavam com grande rapidez.-Ninguém pode nos ver aqui. Vamos colocá-la no chão, podemos esperar escondidas para ver quem é.

As duas colocaram Moira no chão, se esconderam atrás de um pequeno criado mudo.Os passos se aproximavam em questão de segundos estariam no quarto. Pararam na porta.-Meus Deus.

O som da voz assustada soou familiar para as duas. Era Medar que corria em direção ao corpo de Moira, pegou-a nos braços. Junto com ele estavam Amagus, Inimis e mais três anjos Dominações.-Olhe para o estado dela. O que aconteceu aqui? Perguntou Amagus.-Aposto que os celestinos têm algo a ver com isso! Afirmou Inimis.-Não seja tão rigoroso com eles. Pediu Medar.-Mas desde que eles chegaram, o Santuário foi tomado por uma onda de acontecimentos sinistros. Eles trouxeram o mal consigo.-Onde estão as outras candidatas? Perguntou Amagus.-É obvio que não vamos conseguir estas respostas neste aposento. Vou levá-la até um anjo ''virtude'', com certeza ele poderá cuidar dela. Precisa de ajuda urgente. Pegue os Dominações, quantos precisar e inicie uma busca, quero as outras duas candidatas.-Sim senhor. -Pobre menina. O que fizeram com você.

Amagus viu Medar sair com a menina nos braços, sabia que não estava sendo fácil para ele, no fundo devia estar sofrendo muito. Afinal ele ficou sendo o responsável pela Cidade Superior depois que Set partira e muitas mortes já tinham acontecido desde então."Farei de tudo para ajudá-lo Medar". Esse era o pensamento de Amagus.-Vamos! Ordenou Amagus para os Dominações. -Vasculhem cada canto do Santuário, quero essas duas garotas sã e salvas. Vão...

Os guardas obedeceram prontamente. Inimis os acompanhou. Amagus ainda ficou um tempo no quarto, perdido em seus pensamentos. Cassi e Kitrina observavam-no escondidas. Foi até a janela, olhava fixamente para ela, sua expressão se alterou rapidamente. Ele virou-se e partiu apressado do aposento.

As duas garotas saíram de trás do criado mudo. Estavam um pouco confusas.-O que será que aconteceu? Perguntou Kitrina se aproximando da janela.-Não sei.-Vamos ajudar os outros?-Acho melhor não. Cassi se aproximou de Kitrina. -Vamos voltar para nosso quarto. As buscas já começaram, se nos encontrarem fora do quarto seremos repreendidas.-O que é isso? Cassi viu pequenas manchas na janela.-Não sei dizer ao certo. Parece essência...

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-Bom, vamos embora, já fizemos tudo o que poderíamos ter feito para ajudar. Ficaremos olhando o espelho, esperando que Arão ou Bal nos de notícias.

Elas voltaram para o quarto, sem maiores complicações, esperaram pelas novidades dos outros em frente ao espelho. Porém naquela noite, nenhuma mensagem a mais chegou, não tiveram notícias de mais ninguém.

Bal corria no encalço de Arão incessantemente com Dafne voando sobre seu ombro direito. -Arão! Você sabe para onde estamos indo. Perguntava Bal ofegante, sem parar de correr.

A névoa retrocedera mais, os labirintos do Santuário já ficavam visíveis. -Não... -Ótimo, por que será que eu sempre pergunto quando já sei a resposta? Sabe o que eu adoro?-Não?-Eu adoro quando você tem o domínio da situação. Muito mais que sua sinceridade. Zombou Bal.

Eles pararam, precisavam pensar no que fariam.-Precisamos encontrá-las.-Como Arão? Nem ao menos sabemos onde começar a procurar.-Se o Ente da Noite as pegou não poderia carregá-las para muito longe. Tem que estar em algum lugar aqui por perto.-Acho que você tem razão. Foram as primeiras palavras de Dafne, depois de sair com Arão e Bal.-Como assim? Perguntou Bal.

Dafne apontava para o canto. A névoa já deixara quase todo o corredor. Com sua saída algo estava a vista deles, caído ao solo. Arão parou de respirar por alguns momentos, um corpo ao chão de costas para eles estava visível. Suas vestimentas brancas estavam rasgadas, seu cabelo molhado colado ao corpo.

Arão se aproximou com dificuldade. Bal e Dafne o observavam. Ele pensava muito em Damira...

Ajoelhou-se ao lado do corpo, precisaria virá-lo para poder identificá-lo. Colocou uma das mãos no pescoço, estava gelado, a cor sumira, o corpo jazia sem vida. Um calafrio percorreu-lhe, não tinha coragem de vira o cadáver, sabia o rosto que ia encontrar. Agiu com firmeza sem pensar muito, puxou-o fechando os olhos. Ao abri-los foi tomado por uma profunda tristeza no que viu, mas ao mesmo tempo, ficou envergonhado com o alívio que sentiu. A candidata morta era Etality. Ela tinha a composição física muito semelhante a de Damira e estava com pequenas marcas que Arão não conseguia dizer do que eram.-E aí Arão?-Está morta, não podemos fazer nada por ela.

Arão soltou o corpo da garota respondendo a pergunta de Bal.-Minha nossa. Dafne escondia o rosto com as mãos, parecendo não acreditar no que via.

Arão inquiriu seus dois companheiros sobre os pequenos orifícios no corpo de Etality.

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-Que marcas estranhas são essas no corpo dela?Eram dois pequenos orifícios localizados acima do pulso. Bal sacudiu a cabeça em

sinal de negação, não fazendo a menor idéia do que fosse.-Será que o corpo de Damira está aqui por pert... Aaaaiii.... Dafne dera uma cotovelada em Bal. -Quero dizer, precisamos encontrar Damira.-Não sei se vai ser tão fácil assim.-Sabe Arão, acho que toda essa situação está muito complicada. Penso que se tivéssemos olhado aqueles cristais que Medar me tomou poderíamos ter algumas respostas.-Que cristais? Intrometeu-se Dafne, mas nenhum dos dois garotos parecia tê-la ouvido.-Acho que você tem razão Bal. Infelizmente não temos mais os cristais.-Quem disse que não. Bal brincava com uma pedra em suas mãos.-O que você está fazendo com isso. Repreendeu Arão. -Isto devia estar com Medar. Você roubou da sala dele?-É claro que não. Eu só não tive coragem de entregar todos. Além do mais Medar não vai sentir a falta de um. Podemos ir ao salão de Osíris e verificar, o que me diz? Como disse antes quando estávamos com Medar, o espelho do nosso quarto é igual aos que utilizamos para estudar, ele não tem capacidade, nem poder suficiente para ler o conteúdo deste cristal, já o do salão...

Bal não terminou a frase, mas deixou subentendido o que pensava.Arão queria encontrar Damira, mas alguma coisa dentro dele dizia que aquilo seria

impossível. Não sabia nem se ela estava viva... Não queria pensar no assunto.-Está bem, vamos.

Concordou sentindo um grande vazio por dentro, como se tivesse se perdido algo importante. No fundo ele também estava curioso para saber qual o conteúdo do cristal. Esperava que ele os ajudasse.-Salão? Que salão? Dafne estava confusa com tudo aquilo.-Antes de chegarmos lá te ponho a par de tudo. Disse Bal.

Os três sumiram pelos corredores tentando achar o caminho que os levasse ao salão de Osíris.

Saíram com muito cuidado para um pátio, não queriam ser vistos e ter que dar explicações do que estavam fazendo fora dos seus aposentos àquela hora. Andaram por vários locais, chegando a frente da taberna Circense. Bal colocou Dafne a par de tudo o que lhes ocorrera desde suas chegadas a Cidade Superior. Não encontraram mais ninguém pelo caminho.-Se não me falha a memória Arão, o salão que procuramos fica perto da parte posterior da taberna.

Ouviram um barulho vindo próximo de onde estavam. Esconderam-se ao lado da taberna. Esperavam aparecer alguém, mas nada aconteceu. Dafne subiu um pouco mais alto para conseguir ver algo.-Não há ninguém. Respondeu aos garotos quando desceu perto de Bal.-Podemos prosseguir.

Arão levantou-se, atravessou toda a área exterior da taberna, mesmo após o aviso da ninfa de que não havia ninguém, ele andava com cuidado, olhava para os lados. Bal o

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acompanhava bem de perto, Dafne voava aflita sobre seu ombro direito... Finalmente chegaram a entrada do templo.-Como vamos conseguir abrir isso. Perguntou espantada Dafne.

Arão encostou-se nela, um pequeno estalo se fez ouvir.-Acho que vamos precisar somente de um pouco de força para isso. Ela não parece estar trancada. Bal me ajude aqui.

Os dois garotos empurraram a porta, até uma distância que fosse suficiente para poderem passar um de cada vez. Logo que entraram encostaram a porta novamente.- Esse lugar está da mesma maneira que vimos da última vez. Disse Bal.-Uma bagunça, consegue ser pior que o quarto de vocês. Completou Dafne. -Obrigado pelo lembrete, se quiser fazer uma limpezinha nele... Provocou Bal-Vejam o espelho. Arão apontava para o grande objeto no final do salão.

Bal foi andando ao encontro do mesmo, estava tão vidrado no objeto que não viu um candelabro caído a sua frente. Mandou-o longe com um chute.-Au! Essa doeu. Gemeu levando as mãos a canela.-Não faça barulho. Dafne olhava para ver se o barulho não tinha atraído alguém.-Você acha que fiz isso de propósito?

Os três estavam frente ao grande espelho. -Não é emocionante. Exclamou Bal sem tirar os olhos do objeto cobiçado.

Arão deu com os ombros. Como se não entendesse o que alguém poderia achar naquele espelho que fosse tão fantástico assim. Bal retirou de seu bolso o cristal sem vida, colocando-o num orifício grande ao lado. Ao tocar o cristal o orifício se ajustou perfeitamente ao seu tamanho. Imagens começaram a surgir no espelho, mas depois sumiram.-O que aconteceu? Arão ficou preocupado. -O espelho esta quebrado?-Não! Ele está funcionando muito bem. Mas vocês não esperavam que fosse ser tão fácil assim? Agora é que eu entro.

Arão e Dafne deixaram Bal concentrado com o espelho. No inicio ambos estavam quietos, o tempo foi se estendendo e Bal não fazia muitos progressos. Passado algum tempo ambos pararam de observar e começaram a conversar. Na verdade Arão estava mais quieto pensando em tudo que ocorrera, mesmo por que, fora os dias que estivera no firmamento não se lembrava de muita coisa. Dafne ao contrário contava toda a sua história animadamente. Não parava de falar um minuto sequer. O garoto não se incomodava era melhor assim.-Bal é melhor irmos embora, logo vai amanhecer. Temos que voltar para no quarto.-Só mais um pouco...

O tempo passou, Dafne dormiu no colo de Arão. O garoto também tinha cochilado, estava com as mãos sobre a cabeça dela, foi acordado com um grito exaltado.-Isso! Bal agitava os braços para cima. -Consegui.

Dafne pulou de susto. As imagens começaram a aparecer no espelho. Um ser encapuzado falava. Não era possível ver seu rosto."O tempo se aproxima, logo estarei entre vós..."

Sua voz era rouca, arrastada, sem emoções e tinha algo de muito sinistro nela.-Eu sabia que era importante. Disse Bal.

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Arão fez sinal para Bal ficar quieto, queria ouvir o que estava contido no cristal. Um som veio de trás, Dafne virou para Bal, pedindo para que ele ficasse quieto.-Mas eu não fiz nada.

Arão olhou para a entrada assustado. A porta começava a se mexer, abria vagarosamente.-Óh não! Eles novamente. Por que nada pode ser simples aqui. Bal ficou resignado quando viu Sender, Molf e Tulgor entraram no salão.-Vocês os conhecem? Perguntou Dafne. -Quem são eles? -Nem queira saber. Sussurrou Bal.Os três tinham se esquecido do espelho. Nele o homem encapuzado continuava a falar."Para que isso de certo as candidatas a deusas devem morrer antes da quinta noite, da fase da Lua de Sangue..."

Arão gostaria de continuar a ouvir o que estava sendo relatado, mas os três já estavam muito próximos, deixando-os em uma situação muito perigosa.-Precisamos sair daqui. Disse Arão.-Eu não vou sem meu cristal.

Bal tentava arrancá-lo do orifício. A voz continuava a vir do espelho.''A espada revelará quem ele é....''-Vamos Bal. Dafne o puxava.-Ele não sai. Reclamava Bal

Arão foi ajudar a ninfa e arrastaram Bal a força.-Vocês ouviram isso.

Em meio à saliva que escorria de sua boca, Sender tirou dois punhais da cintura.-Eu não ouvi nada. Resmungou Molf.-Veio dali. Sender prosseguiu um pouco mais adiante até se deparar com o espelho. -Venham ver.

Molf e Tulgor se aproximaram dele.-Mas é o ...

Sender tapou-lhe a boca antes de pronunciar o nome.-Jamais diga esse nome. Advertiu-lhe Sender. -Ou estaremos mortos.-É um dos nossos cristais. Rosnou Tulgor. -Aqueles pirralhos... Eu disse que devíamos ter acabado com eles logo. Mas vocês não me ouviram.

Tulgor pegou sua foice enquanto Molf empunhava seu machado. Faziam um busca no local, vendo se encontravam os jovens.-Eles ainda devem estar no templo, vasculhem tudo e se os encontrarem não tenham piedade.-Podem ficar com o cristal. Sibilou Bal assustado. -Só quero sair deste lugar com vida.

Começou a engatinhar olhando para o outro lado. Esbarrou em algo duro. Quando olhou para frente...-Ora vejam só o que temos aqui.

Era o outro ser com a mascara de metal cobrindo metade do rosto, que estava com os três quando foram perseguidos pela primeira vez. -Aqui seus vermes! Berrou.

Arão levantou-se para tentar alguma coisa, mas os outros três já o cercavam. Dafne

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quis voar, mas Molf segurou-a pelos braços. Ele era muito forte. Ela parecia estar presa por ferros, não conseguia mexer um músculo sequer.-Onde você pensa que vai anãzinha. Brincou ele.-Eu não sou uma anã, mas sim uma ninfa.

Tentava chutar-lhe, mas ele esticou os braços e suas pernas pequenas não alcançavam o corpo de seu algoz.-Ela é brava. Rui Tulgor.-Quem são vocês? O que querem? Arão serrava os punhos, mesmo sabendo que não poderia fazer nada que os salvasse.-Meu nome é Jitar. Respondeu o ser com a máscara de ferro, segurando um chicote em sua mão direita. -Quanto a sua outra pergunta, será uma dúvida que levará para seu túmulo. Acabem com eles.

Arão não morreria sem lutar. Olhou para frente, os seres se divertiam, isso o deixava furioso. Viu Dafne de olhos fechados, voltou-se para Bal.-Feche os olhos! Gritou Bal.

Arão obedeceu, Bal fez o mesmo. Uma bola de luz se formou entre eles, explodindo logo em seguida. O clarão cegou-os momentaneamente. Dafne conseguiu se soltar, Bal e Arão correram. Ela ia seguí-los, mas antes tinha que resolver um assunto mais importante. Afinal estava com orgulho ferido. Chegou perto de Molf que levava as mãos aos olhos tentando enxergar.-Eu sou uma ninfa, não uma anã. Berrou dando-lhe um chute nas partes baixas, o ser caiu no chão contorcendo-se de dor. Ela partiu na direção dos dois.-Rápido. Gritou ela. -Isso não os deterá por muito tempo. Eles voltarão a enxergar rapidinho.-Peguem-nos, acabem com eles. Não quero que ninguém escape com vida. Vociferou Jitar.

Os três corriam pelos corredores, da última vez que estiveram ali, a saída que conseguiram achar foi através de uma grande queda d' água. Porém desta vez não deveriam estar indo no mesmo caminho, pois não havia nenhum córrego. Pararam e puderam ouvir passos vindo dos corredores.-Eles estão bem em nosso encalço, o que faremos? Perguntou Bal.-Continuaremos por este caminho.

Arão apontou para um corredor que surgira à esquerda. Sumiram pela galeria, mas os passos atrás deles também continuavam. Uma claridade se formou à frente, estariam a salvo, o corredor que mais parecia um túnel acabava logo à frente.

Quando se aproximaram da luz, tentaram parar rapidamente e se não fosse Dafne segurar os dois pelas suas vestimentas, eles teriam caído de uma altura considerável.-Estamos perdidos, encurralados! Bal estava aflito ouvindo os passos se aproximarem. -Não temos como seguir adiante e não podemos voltar.-Vejam! Existe uma pequena saliência na parede. Disse Dafne.-Mas ela não tem saída. O que vamos fazer? Nos esconder nela? Bal ainda procurava ver se algum de seus perseguidores aparecia no corredor. O som dos passos aumentava de intensidade. -Estaremos fora da visão deles, mas quando chegarem aqui, com certeza olharão para o lado e nos verão. Concluiu o garoto.

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-Tive uma idéia. Mas irei precisar de vocês. Disse Arão.-Por que acho que não vou gostar de ouvir o que você tem a dizer. Bal não vai acontecer nada com você. -Está bem, diga logo.-Vocês conseguem fazer alguma mágica ou truque que congele alguma coisa?-Eu não consigo fazer mágica nenhuma. Aliás, acho que fui colocado no clã errado. Resmungou Bal.Dafne deu-lhe um esbarrão.-Acho que me recordo de um pequeno encantamento sobre isso.

A ninfa lembrou-se da chama na estátua quando estavam no Labirinto do Caçador.-Ótimo. Disse Bal, ele pensou por alguns momentos. -Mas o que você quer com isso? Vai querer que congele os quatro?-Não! Quero que vocês se escondam dentro da saliência. Congelem o chão, quando eles vierem escorregarão e deslizarão para baixo.-Mas e se eles vierem devagar? Podem até escorregar, mas não irão cair. A pergunta de Bal tinha fundamento.-É por isso que vou ficar no corredor para atraí-los. Quando eu passar deslizando você me segura. -Não sei não.-Bal não temos tempo para discutir. Conto com vocês. Voltou-se para a direção de onde vinham os sons dos passos e partiu na escuridão.-Vamos Dafne seja rápida com isso. -Calma! Estou fazendo o melhor possível, esse encantamento é muito antigo. Concentre-se comigo.

O garoto começou a pronunciar as palavras que lhe vinham a mente, das suas mãos um pó branco começou a se desprender, caindo no solo congelando-o.-Não está sendo suficiente. Grunhiu Bal.-Fique quieto e se concentre para me ajudar.

Bal obedeceu enquanto Dafne fazia muito esforço, mas conseguiram congelar todo o chão. Ela caiu exausta. O garoto a segurou, foi com todo o cuidado para dentro da saliência evitando um possível escorregão.

Passaram alguns segundos, antes de Arão aparecer correndo com seus perseguidores quase o alcançando. Ele escorregou, caiu deslizando em direção a saída, o mesmo aconteceu com os seus algozes. Bal segurou-o, por pouco ele não lhe escapou das mãos. Viram passar por eles e desaparecer pela saída, Sender, Tulgor e Molf, entretanto este último se agarrou aos pés de Arão e não caiu. Levantou-se com cuidado. Ergueu Arão pelos pés, de ponta cabeça e pegou Bal pelo colarinho. Suspendia os dois no ar rindo sem parar. Os dois gritavam assustados, estavam perdidos.-Agora vou acabar com vocês dois. Moleques atrevidos. Já devia ter feito isso a muito, muito tempo atrás.

Dafne apareceu voando a frente de Molf.-O que você quer anã atrevida.

O rosto de Dafne corou, a raiva tomou conta de seu corpo. Ela fechou os olhos protegeu a cabeça com as mãos, indo de encontro ao peito de Molf. Com a batida o ser perdeu o equilíbrio soltando os garotos, caiu deslizando para ir ao encontro de seus dois

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companheiros que a pouco haviam caído. Dafne segurou Arão e Bal para que eles não tivessem o mesmo destino. Aproximou-se da beira e gritou.-Eu já disse que sou uma ninfa e não uma anã. Grandão idiota.

Ela olhou para Bal e Arão que se divertiam vendo-a brava.-Que vocês estão olhando!

Eles fizeram umas caras de quem não tinha nada a dizer. Voltaram para dentro do corredor. Despreocupados, andavam mais aliviados por terem conseguido se livrar de seus algozes.-Precisamos voltar para os quartos. Já deve estar amanhecendo. Disse Arão. -Se alguém nos vir aqui... A propósito você se saiu muito bem. Bal elogiava Dafne que ficou toda cheia de si. -Só me lembre de nunca chamá-la de...-Olha o que você vai dizer. Advertiu ela.

Chegaram a uma câmara que parecia passar por uma reforma. Tinha várias barras de ferros, areia e ferramentas ao chão. A única coisa que estava em ordem na câmara era um enorme lustre preso ao teto, mesmo assim cheio de poeira.-Que bagunça! Exclamou Dafne. -Estamos quase chegando ao salão. Será que o cristal ainda esta lá? Questionou Bal.-Acredito que não deva estar. Disse Arão, no que Dafne concordou plenamente com ele. -Pelo menos sabemos que eles querem acabar com as candidatas a deusa.-Pena que não conseguimos ver mais. A ninfa voava de um lado para outro.-Demos uma bela surra neles. Bal que estava desanimado pelo cristal, animou-se com o seu próprio comentário. -Eles vão pensar duas vezes antes de mexer conosco. -Aposto que vão. Mas eu não.

A voz que pronunciou as últimas palavras não veio de nenhum deles. Ficaram assustados. Quem poderia ser? Olharam para o lado onde um metal reluzia na escuridão. Um corpo surgiu das sombras. Era Jitar, o brilho vinha da face coberta pela máscara de ferro.-Vou acabar o trabalho daqueles incompetentes.

Jitar foi rápido, com um lance de seu chicote prendeu Dafne, puxando-a para si. Colocou-a no chão.-Sem truques pequenina. Quero ver do que esses dois são capazes.

Sua mão sofreu uma transformação e virou uma espada, enquanto a outra tomou forma de um machado.

Arão foi rápido e pegou dois canos de ferro. Jogou um para Bal, ficando com outro. Jitar investiu contra Arão. Os golpes da espada eram defendidos com a barra de ferro. Porém o ser era muito rápido, a cada golpe fazia Arão recuar, era questão de tempo até o garoto ceder.-Você não é páreo para mim garoto. Vou fazer você sentir o gosto do fogo negro, quando minha espada penetrar seu corpo."Não vou conseguir resistir... ". -Bal! Preciso de ajuda.

Bal estava parado olhando tudo estarrecido. Mais um golpe de Jitar, Arão se esquivou.

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-Morra moleque.O golpe foi forte, o machado partiu com toda a força. Arão tentou aparar o golpe com

a barra, mas ela foi dividida em duas. O garoto caiu sentado e desarmado, Jitar estava sobre ele pronto para deferir o golpe fatal. Foi quando um metal atravessou seu corpo. Ele parecia não acreditar no que tinha acontecido. Sua expressão mudara completamente. Bal viera correndo com os olhos fechados, mirando com a barra as costas de Jitar, o ferro atravessou-lhe o corpo.

Bal soltou a barra incrédulo.-Desculpe. Gaguejava ele enquanto Jitar se contorcia. Arão se levantou.-Bom trabalho Bal. -Mas eu... Eu... O matei...

Jitar começou a rir, uma risada medonha.–Qual será a graça Arão? O corpo dele esta atravessado por um ferro...

Jitar se levantou, tirou a barra de si, puxando-a para o lado, seu corpo parecia ser líquido, não opondo qualquer resistência a saída do objeto metálico. O buraco que havia nele se fechou instantaneamente.-Surpresos? Ficarão mais ainda quando acabar com vocês.

Arão pegou do chão uma metade da barra que Jitar tinha cortado, foram recuando enquanto o ser avançava. A cada passo a expressão do ser se tornava mais maligna.-Não sei se você reparou Arão, mas uma barra toda nem sequer o arranhou o que você espera fazer com metade dela?-Você já vai ver.

Foram recuando para onde Dafne estava. Jitar continuava avançando estava confiante em sua vitória. Os garotos não tinham como se defender. Quando ele chegou ao centro da câmara, Arão adiantou-se, atirou o pedaço de metal para cima atingindo a corrente do lustre. Ela partiu-se e deixou o peso do imenso objeto caiu sobre Jitar. Os dois ficaram parados, não notaram nenhum movimento embaixo do lustre.-Será que ele morreu? Perguntou Bal.-Não vamos ficar para descobrir.

Libertaram Dafne e fugiram.Passados alguns momentos, um líquido começou a escorrer por baixo do lustre, foi

ganhando a forma do ser. Jitar se recompôs novamente, pegou sua mascará no chão, a metade de seu rosto que era coberta pelo metal não podia ser vista por causa da escuridão.-Eu subestimei vocês, não cometerei este erro da próxima vez. Riu alto virando as costas e partiu.

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A Aura... Os três chegaram ao salão, confirmando o que Arão dissera, o cristal não estava mais no espelho e este se encontrava com o vidro quebrado.-É uma pena. Lamentou Bal. -Quanto maior o espelho, maior é sua capacidade. Perdemos muito sem esse aqui.-Ora Bal, temos muitos espelhos.-Você não entende Arão, com a capacidade deste espelho, poderíamos até conseguir nos comunicar com os outros reinos. Com o que temos em nosso quarto é impossível.

Saíram do salão. O amanhecer do dia se anunciava, caminhavam se escondendo pelos cantos para chegar ao quarto sem serem vistos. Havia uma grande agitação nos pátios, provavelmente a notícia sobre o que ocorrera na noite já era de conhecimento de todos. Uma procissão passava. Viram um grupo de seis pessoas com batinas brancas levando uma maca, três de cada lado. Nela um corpo jazia sob um lençol branco, o cabelo longo do cadáver quase roçava o chão. Logo atrás uma pequena multidão cantava salmos. Algumas pessoas levavam velas, outras carregavam livros e por fim uma grande maioria somente acompanhava a passeata. Os três pensaram imediatamente em Etality. Mais uma perda no santuário.

Arão estava perdido em seus pensamentos, distante e triste quando Bal o chamou. -Arão! Arão! Olhe...

Um grupo isolado estava chegando à procissão, Medar, Amagus e Inimis acompanhavam uma garota enrolada em um grande cobertor branco. Ele se animou, não podia acreditar, era Damira. Não sabia o que tinha acontecido com ela, mas estava contente só de poder vê-la com vida. Logo seu entusiasmo sumiu, Empoly e os outros dois que se reuniram à noite, caminhavam junto deles fazendo comentários entre si. Arão quis ir ao encontro do grupo, no entanto foi impedido por Bal.-Onde você pensa que vai? -Temos que avisar Medar sobre o que está acontecendo. As duas candidatas que restam correm perigo, que existe um plano para...

Ele não conseguiu terminar a frase.-Mais uma vez a insanidade te invade. Você perdeu a razão. Repreendeu Bal. -Sei que suas intenções são as melhores. Mas como explicaremos que sabemos disso? Vamos dizer: Olha Medar nós saímos mais uma vez sem permissão, mesmo depois de você interceder por nós perante o conselho todo. Descobrimos um plano para organizar uma revolta, vão tomar o poder e ainda querem matar as candidatas... Nós seríamos punidos e eles dificilmente acreditariam na gente. Ele está com Inimis que quer nos ver fora do Santuário... Ou seja, nada conspira a nosso favor ...-Acho que Bal está certo. Apoiou Dafne. - Precisamos de provas. Arão ficou em silêncio, sabia que Bal tinha razão. -Já sei o que vou fazer. Disse Arão entusiasmado enquanto seus amigos o olhavam sem compreender suas intenções.-Vou falar com Damira, avisá-la sobre o que descobrimos. Ela poderá falar com Medar, não precisaremos contar nada, a palavra dela deve ter um peso maior que a nossa. Com certeza

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nela eles acreditarão-Você deve estar mesmo maluco Arão. Concluiu Bal. -Como você pretende fazer isso?-Ela provavelmente irá para seu quarto depois que tudo isso acabar. Eu vou, converso com ela rápido, voltando a tempo de ir para os treinamentos.-Mas você nem sabe se ela estará sozinha.-Bal eu vou dar um jeito, deixe comigo. Vão para o quarto e me esperem para irmos juntos ao treinamento hoje.-Tudo bem, mas acho que está se arriscando demais.

Dafne concordou com as últimas palavras de Bal.-Vai ser fácil. Vocês vão ver.

Bal e Dafne ficaram vendo Arão se afastar.-O que uma mulher não faz com um homem. Comentou Bal para si mesmo.-O que faremos? Perguntou Dafne.-Você não ouviu o que ele disse? Vamos para o quarto esperá-lo para ir aos treinamentos.

Arão estava escondido observando todos passarem, ele esperava que aquilo acabasse logo. Queria conversar com Damira, mas não tinha muito tempo precisa voltar antes dos treinamentos começarem. Não conseguia imaginar um jeito de ficar a sós com ela, todavia esperava que a sorte estivesse ao seu lado.

A procissão parou, Medar tomou a atenção de todos e foi à frente. Começou a falar sobre como era difícil perder mais uma candidata à deusa. Ao mesmo tempo tentava animar as pessoas a lutarem juntas para vencerem esta batalha que estava se iniciando. No final ele dizia: "Nós superaremos o mal e conseguiremos sair vitoriosos".

As palavras saíam com energia era incrível como mesmo na situação que se encontravam, ele conseguia contagiar todos os presentes. Os rostos não pareciam mais aqueles assustados e inseguros que cantavam salmos no começo da procissão. Pelo contrário à multidão gritava ovacionando Medar.

O próximo que começara a discursar foi Empoly, falando sobre as mortes e como elas foram misteriosas. Seu discurso se concentrou mais em encontrar e punir os culpados. Ele não causou tanto alvoroço como Medar, mas conseguiu levantar as vozes da pequena multidão. Arão sentia raiva ao ouvir cada palavra dele.

Damira parecia atônita. O garoto não via um modo de se aproximar sem chamar a atenção, foi então que notou que muitas pessoas usavam batinas com capuzes que encobriam seus rostos."Como poderia arrumar uma destas? ". Ele pensava, mas não conseguia imaginar como até...''Espere estou no firmamento certo? As pessoas gostam de ajudar uma as outras''.

Aproximou-se de um homem que passava.-Meu senhor onde consigo uma dessas. Apontou para as vestimentas.

O homem sorriu e chamou uma mulher que tinha um saco as mãos. Ele cochichou alguma coisa com ela. A mulher tirou de dentro de um saco uma roupa idêntica a deles e entregou ao garoto. Ele agradeceu. A mulher deu-lhe um sorriso caloroso que animou-lhe todo. Vestiu a batina, colocou o capuz de modo que ele cobrisse todo seu rosto.

Caminhou em direção ao final da multidão, passava pelas pessoas com cuidado,

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aproximou-se cautelosamente até chegar onde Damira se encontrava. Inimis estava ao seu lado.

Amagus tomou a palavra, falava ao público com muito entusiasmo tomando a atenção de todos. Arão aproveitou o momento, abaixou a cabeça com o capuz e parou ao lado de Damira. Ele esbarrou levemente no corpo da garota, ela olhou desinteressada e logo se virou para frente. Ele tocou-a mais uma vez, sem dizer uma palavra sequer a garota dirigiu-lhe um olhar severo."Como conseguirei falar alguma coisa com Inimis parecendo um cão de guarda ao lado".

Foi mais ousado, pegou a mão dela. Ela olhou-o espantada, Inimis percebeu colocou-se a frente do jovem que não ousou levantar a cabeça.-Deseja alguma coisa? Sua voz era áspera e denotava uma certa irritação.

Arão ficou sem saber o que fazer, tinha que pensar em algo rápido. Pegou a mão de Inimis virada com a palma para cima e com sua outra mão começou a fazer gestos como os dedos.-Não quero que você leia minha mão, não acredito nessas coisas.

O Homem zangou-se, puxou a mão rapidamente voltando-se para o lado de Damira. – Esse tipo de pessoa sempre me irrita.

Arão pegou na mão da jovem novamente, podia sentir a suavidade dela, Damira ficou sem jeito, mas não impediu que ele continuasse.-Dispense logo esse sujeito. Disse Inimis com desprezo. Concentrou-se novamente nas palavras de Amagus.

O garoto fazia gestos passando sua mão sobre a dela, levantou um pouco o rosto. Damira reconheceu o rosto levando um pequeno susto. Inimis não tinha notado o desconcerto da jovem. Ele continuava concentrado nas palavras de Amagus. Ela recolheu sua mão.-Obrigada, já chega por hoje. Voltou-se para Inimis. -Acho que vou retirar-me para o meu quarto, preciso descansar um pouco e tenho que me vestir.

Damira falava alto para que o ser encapuzado pudesse ouvir. Ele baixou a cabeça em sinal de agradecimento, foi-se embora.

Inimis olhou-a preocupado.-Fique tranqüilo. Disse Damira. -Não vai me acontecer nada, afinal já amanheceu. E tem guardas em todos os cantos.

Ele fez uma cara de quem não estava nada satisfeito com a vontade da candidata, mas sabia que ela precisava descansar um pouco e suas roupas por baixo do manto estavam toda rasgada.-Espere um pouco. A garota parou. -Não demore muito, logo estará começando seu treinamento. A propósito o que aquele ser disse sobre sua sorte?-Não entendi direito o que ele resmungava, mas foi alguma coisa sobre ver meu anjo da guarda hoje.-Charlatão... Pior que ainda existem pessoas que acreditam nisso. Murmurou Inimis para si mesmo.

Damira partiu, estava quase saindo da multidão quando duas mãos a seguram de

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modo brusco.-Onde você pensa que vai?

Ela olhou para Empoly, nem reparou que ele tinha saído da frente da multidão e tinha vindo atrás dela.-Vou me trocar! Disse se livrando das mãos dele.-Vai sozinha?-Não há perigo agora.-Sempre há perigo. Quer que eu a acompanhe? Ofereceu-se ele.-Não obrigado. Irei sozinha.-Quem era aquele que estava com você e Inimis? O que ele queria?-Nada! Apenas queria ler minhas mãos.

Virou-se, foi embora sem olhar para trás. Empoly observava-a de modo desconfiado. Caminhou até Inimis se encontrava. A garota andava rápido pelos corredores do Santuário, estava ansiosa para chegar a seu quarto. Depois de tudo pelo que passara nesses dias, seria bom ter um momento de paz. Dobrou o corredor onde ficava seus aposentos, um garoto a esperava. Apressou mais os passos, o garoto estava encostado na porta, olhos fechados, exibia um largo e confiante sorriso.

Damira parou insegura, seu rosto mostrava traços de incerteza e espanto.-Olá, Damira! Parece surpresa em me ver?-Teles! Exclamou ela. -O que você está fazendo aqui? O treinamento dos candidatos começa daqui a pouco. Se não se apressar ira chegar tarde às atividades de hoje.-Não vou me atrasar. Eu só vim lhe fazer um convite.

O garoto tomou-lhe uma das mãos. –Aliás, eu e seu irmão chegamos a um consenso. -Qual?-Que você deveria ir ao baile comigo."O baile! Com tantas coisas acontecendo, tinha até me esquecido dele".

A garota parecia em dúvida.-Eles vão fazer o baile? Mesmo com tudo o que está acontecendo? Não temos motivos para comemorar!-Eu sei! Mas eles mantiveram a decisão de ter o baile.-Teles não posso ir com você.-Por quê?

O jovem parecia desapontado e espantado ao mesmo tempo, não esperava uma recusa, estava acostumado a sempre conseguir o que queria.

Damira parou para pensar por um momento, nem ela sabia por que não poderia ir na companhia de Teles. O jovem se recompôs.-Se você não for comigo ficará isolada. Ninguém se atreverá a chegar perto de você.-Eu... Eu não posso.

Ele a olhou de modo ameaçador.-Essa é sua palavra final.

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-Sim é! Ficou brava com o tom das últimas palavras dele. Devolveu-lhe um olhar desafiador.Ele virou-se para ir embora, mas antes sorriu sem olhar-lhe nos olhos dela.

-Você será minha e sabe disso!Ela ficou muda, sem reação contra as palavras dele."Eu não posso ser sua..." Ficou pensativa. "A menos que...". Entrou em seus aposentos, fechando a porta atrás de si. Ele estava todo arrumado, a bagunça da noite passada não existia mais. O cômodo estava vazio, percorreu-o todo com o olhar. Verificou embaixo da cama, foi até a janela e viu o rio correndo mansamente. Ninguém a vista. Algo a empertigava, alguma coisa estava diferente, mas não sabia dizer o quê. Sentou-se na cama um pouco desanimada, arqueou o corpo. Teles tinha sido duro com ela e o pior era que ele sempre conseguia o que desejava. Não era a toa que todos o consideravam o melhor entre os candidatos a guardião. Talvez no fundo ela soubesse e temesse o que ele queria dizer. No final não teria como escapar de seu destino, acabaria sendo dele.

Damira sentiu um leve estremecimento. Algo se mexeu as suas costas, retesou o corpo, mas não foi rápida o suficiente para levantar-se. O lençol da cama ergueu-se, dois braços saíram dele puxaram-na para o colchão. Ela tentou gritar, mas uma mão tapou-lhe a boca. Tinha medo de abrir os olhos. Tomou coragem, aos poucos a imagem de Arão foi surgindo diante de seus olhos. Ele pedia para ela não gritar, tirou a mão que pressionava a boca da garota, saindo de cima dela. -É assim que você diz ''oi'' as pessoas? -Não! Foi enfático, depois ficou meio sem jeito continuou. - Eu estava esperando por você, mas ouvi um barulho alguém vinha no corredor, não sabia o que fazer, a porta estava aberta, acabei entrando no quarto. Procurei um lugar para me esconder, quando passei por cima de sua cama o colchão simplesmente afundou, então tive a idéia...

Ele viu que os olhos dela começavam a lacrimejar. -Colchão estranho o de vocês...

Não terminou a frase e Damira o abraçou chorando. Ele sentia o corpo dela tremer todo, abraçou-a ternamente.-Eu estou com medo. Não gosto de pensar no que está acontecendo. Etality se foi... Fecho os olhos à noite e rezo para conseguir abri-los no outro dia.

A garota soluçava muito, Arão imprimiu um pouco mais de força a seus braços, comprimindo-a mais contra ele. Sentia o corpo quente dela junto ao seu. Sua cabeça estava encostada em seu ombro, ele ouvia a respiração dela bem próxima a seu ouvido.-Ainda mais com este baile, onde temos que mostrar que estamos felizes quando realmente não estamos. Teles...

Ela voltou a chorar. -Meu futuro aqui é incerto, mas eu não posso fugir...

Arão tentava entender o significado daquelas palavras, mas precisava dar o recado sobre o que ouvira no espelho. A sensação de tê-la em seus braços era muito agradável, acolhê-la toda para si. Empurrou-a um pouco, mesmo com ela resistindo em afastar-se dele.-Damira eu preciso dizer-lhe uma coisa. -O quê? Disse ela olhando com os olhos cheio de lágrimas, frágil e meiga.

De repente esqueceu-se o que tinha a dizer. Apenas queria olhá-la, aproximar seu

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rosto mais do dela, chegar mais próximo e... Batidas violentas vieram da porta.-Damira! A voz soou novamente. -Damira!

Ela empurrou Arão para trás, limpando as lágrimas. -É meu irmão.

Ela estremeceu por dentro. -Você precisar ir, o colchão não o esconderá uma segunda vez.-Mas eu preciso avisá-la sobre...

Ela não deixou terminar a frase.-Você tem que ir agora. Por favor, senão ambos iremos sofrer punições.-Mas por onde vou fugir, eles estão na porta que é a única saída.-A janela! Disse ela.Ele foi até ela, o rio corria embaixo dela.-É muito alto, vou me quebrar todo.-Não vai não. Disse ela o empurrando contra a janela.-Como você sabe disso?-Por que eu já pulei dela.-Você o quê? Arão parecia espantado com o que ela havia dito. -Quem foi o maluco que lhe pôs isso na cabeça?-Você! Afirmou ela. -Ontem à noite você me disse para pular pela janela, foi o que eu fiz. Como você acha que eu escapei?

Ele a olhava com mais espanto ainda, porém de um modo mais divertido.-Depois Amagus me encontrou caída às margens do rio. Apesar de que tenho que te confessar uma coisa, no escuro a distância não parecia ser tão alta assim.

Ela o empurrou observando o corpo do garoto cair nas águas.-Damira! Abra a porta!-Estou indo.

A garota abriu a porta. Odrin e Teles entraram.-Por que você trancou a porta? Perguntou Odrin.-Não sei, eu nem percebi que tinha trancado, foi um descuido meu. Deu um sorriso meio sem graça.-Eu vim saber por que você não aceitou o convite de Teles?

Enquanto Odrin fez a pergunta enquanto Teles a observava com olhar triunfante.-Talvez sua irmã já tenha planos para ir com outra pessoa.-Não! Claro que não.

Tentou explicar, mas ela estava confusa.-Então está decidido, você irá com Teles. Afirmou Odrin. -Eu não posso. Insistiu ela.-Posso saber o que a impede?

A voz veio da entrada da porta onde um homem acabara de entrar. Damira virou-se, estremeceu com olhar do recém-chegado, Teles abaixou a cabeça e o cumprimentou.-Senhor Hartch!-Pai!

Acenou Odrin para o homem que trazia uma estola nas mãos. ele questionou novamente.

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-Posso saber por que você não quer ir ao baile com Teles?A garota ficou muda, sem reação. Seu pai parou ao lado dela, passou-lhe um braço

sobre o pescoço.-Claro que ela irá com você.

Confirmou ele. Como Damira não fez qualquer objeção ele prosseguiu. -É melhor irem para os treinamentos ou chegarão atrasados.

Os dois partiram, antes de sair do quarto porém Teles sorriu-lhe, afinal ele sempre conseguia o que queria. O pai de Damira a olhou de modo inquisidor.-Como você ousa recusar um convite de Teles?-É que eu...

Não conseguiu terminar a frase. Hartch a pegou pelo braço.-Jamais ouse fazer isso novamente.-Mas eu não gosto dele.

Ele se dirigiu à porta, foi fechando-a devagar enquanto dizia.-Já vi que vou ter que ensiná-la da pior maneira...

Arão ficou um tempo escondido atrás de uma árvore ao sair do rio. Queria ver se o local estava vazio. Saiu devagar, com cuidado de trás de seu esconderijo. Dois dominações vinham em sua direção, ele foi rápido e pulou atrás de algumas moitas no jardim. Os cavaleiros passaram por ele, o jovem suspirou aliviado. Levantou-se para ir a seu quarto encontrar com Bal. Tinham que seguir para os treinamentos daquele dia, não podia se atrasar. Sentiu uma batida na cabeça acompanhada de um baque seco. Tudo se apagou. Bal e Dafne esperavam ansiosos por Arão. -Seu amigo Arão está atrasado.-Eu sei, não precisa me lembrar disso, mas você sabe como são as mulheres...

Dafne exibia seu olhar reprovador. Bal ficou em silêncio, seus pensamentos corriam soltos."Arão onde você se meteu? Será que está em apuros?"

A voz de Dafne tirou a Bal de seu transe.-Não podemos esperar mais senão iremos chegar atrasados. Dafne se aproximou. -Não fique preocupado, ele está bem, quando chegar com certeza ira nos encontrar.-Acho que você tem razão. Preciso parar de ficar pensando besteira.

Ela sorriu por vê-lo mais descontraído. Bal acenou com a cabeça, no fundo algo lhe dizia que as coisas não estavam bem e ele sabia que Dafne pensava da mesma maneira.

Encontraram com Cassi e Kitrina no corredor, as duas se espantaram em não ver Arão com eles. Trataram de expor todos os assuntos da noite passada.-Fico contente que Damira esteja bem. Apesar da tristeza que sinto ao pensar em Etality. Kitrina segurou a mão de Cassi.-Com certeza alguém virá perguntar o porquê de Arão não estar conosco, como explicaremos isso?-Não sei. Respondeu Bal a pergunta de Cassi. -Poderíamos falar que ele teve uma pequena indisposição e que virá depois?

As três olharam para o garoto como se dissessem: "Ninguém acreditará nesse

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absurdo".-Eu só estava tentando ajudar.-E se aconteceu alguma coisa com ele? Precisamos falar com alguém. Disse Kitrina.-Se falarmos seremos expulsos da cidade. Medar nos avisou...

Bal não sabia qual decisão tomar.-Mas e se ele estiver em perigo? Precisando de ajuda... Insistiu kitrina.-Vamos esperar um pouco se ele não aparecer logo procuramos ajuda.-Dafne tem razão Bal. Cassi tinha tomado a palavra. -Vamos dar mais um tempinho para Arão. Iremos para os treinamentos e se ele não aparecer procuramos Medar.

Todos concordaram.

Dirigiram-se para o local onde seria realizado o treinamento daquele dia. O lugar era todo aberto, um coreto sustentado por colunas brancas, estava perdido no meio de muitos jardins. O som de pássaros cantando era ininterrupto. Varias borboletas voavam despreocupadas pelas folhagens. O dia estava claro, sem nuvens e a Lua de Sangue já havia sumido. Tiror veio conversar com Cassi.-Tudo bem com você? Está com uma cara estranha.

Ela ia responder, mas Odrin o interrompeu.-Olha só. Cadê seu amiguinho Arão? Ele estava sendo irônico. -Finalmente ele percebeu que não estava à altura dos garotos da Cidade Superior. Sim, por que a culpa de não conseguirmos completar a missão foi dele. Acho que vocês deviam ter o mesmo bom senso que ele.

Olhou para Teles que concordou. No início ninguém soube o que responder, foi Cassi que tomou a iniciativa, partindo para cima dele. Bal e Kitrina a detiveram antes que algo pior acontecesse.-Calma Cassi. Olhe o tamanho dele. Dizia Bal enquanto tentava detê-la.-Quem se importa com tamanho. Berrava ela."Eu me importo". Pensava Bal.-Não ouse falar mal do Arão. Continuava ela.-Ele é um covarde mesmo.

Ao ouvir estas palavras, Bal empurrou Cassi para trás, olhou para Odrin, Dafne estava ao seu lado, ele ergueu as mãos e pronunciou algumas palavras. Um raio partiu de suas mãos, atingiria Odrin, mas um escudo apareceu a sua frente repelindo o ataque. Ao lado de Odrin apareceram Irian e Mary. -Se é briga que vocês querem, é briga que terão. Havia ódio nos olhos de Irian. -Só que vocês devem lutar com alguém com os mesmos poderes seus.

A confusão estava armada, o primeiro que fizesse qualquer movimento desencadearia um terrível combate entre os jovens. Iam começar quando uma força maior repeliu todos para o chão. Um ser calvo, com uma enorme barba branca até a cintura apareceu. Ele usava uma bata verde. Andava de olhos fechados, porém possuía um terceiro olho no centro da testa que nunca se fechava.-A juventude sempre impulsiva. Que confusão é essa? Sua voz era calma e pausada.-Nós estávamos...

A frase de Odrin foi interrompida pelo ser, que mais parecia um ancião.

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

-Quietos todos vocês. Não quero desavenças neste local sagrado. Guardem suas forças para usarem contra nossos inimigos e não entre vocês. Seria um desperdício.

Todos ficaram quietos, ninguém parecia conhecer o ser que se encontrava parado perante eles. Isto de certa forma foi bom, pois ele nem sentiu a falta de Arão e também evitou que os jovens comentassem alguma coisa.-Meu nome é Calisto, tenho a missão de orientá-los, para que conheçam o caminho para vossas auras. Peço a todos que se acalmem sentem-se numa posição confortável e cruzem as pernas. -Nós iremos meditar? Bal fizera o comentário muito baixo com Cassi.-Não meu jovem, não iremos meditar.

Bal ficou surpreso que Calisto tivesse ouvido suas palavras, afinal ele estava distante de onde o garoto se encontrava.

-Hoje vou guiá-los numa viagem muito interessante. Talvez a maior de suas aventuras e a mais difícil também. Já que estão confortáveis, fechem os olhos, ouçam minha voz ela os guiará. Os garotos da Cidade Superior já devem ter feito este treinamento, mas peço que o realizem assim mesmo.

O vento batia na face dos garotos, fazendo seus cabelos voarem, suas roupas colavam ao corpo. O som dos pássaros continuava... Aos poucos a voz de Calisto foi tomando conta deles, o vento, os pássaros, o coreto, nada mais parecia existir. Era como se tivessem à deriva no espaço fazendo uma longa viagem pelo sistema solar.-O bem e o mal existem desde o princípio dos tempos, convivem em constante tensão. Uma pequena linha separa ambos. Nossos pensamentos e atos podem ser voltados tanto para um como para outro. Cabe a cada um decidir para qual lado tomara partido. Todos possuímos uma aura, muitos nem tomam conhecimento disso, mas ela existe e nela reside o poder máximo de cada um.

Calisto falava com calma, sua voz orientava todos os pensamentos dos garotos. -A espessura da aura de cada um, dirá o quão poderoso essa pessoa é. Quanto maior for, maior será o seu poder. A espessura é proporcional à quantidade de bons ou maus pensamentos. Quando alguém realiza uma boa ação esta se converte em luz, aumentando a luminosidade de seu corpo espiritual. Da mesma forma quando o mal é praticado, ele se converte em sombras, aumentando as trevas ao redor da pessoa. Os pensamentos reforçam esta luz ou as trevas que envolvem cada um.

Sua voz pareceu sumir por um breve momento, mas logo retornou.-O ódio, a inveja, o ciúme e a ganância existentes no mundo dos Homens também estão presentes no firmamento, isto não novidade. Eles fazem com que as trevas sejam um inimigo intransponível. Porém, o pouco de bondade e amor que ainda resta nos mantém vivos.-Nosso corpo aqui é parecido com os dos homens, mas entendam, nossa força e poder reside nesse campo energético que se cria em nós, a ''Aura''. A potência de um soco, a agilidade nos movimentos, a intensidade de um encantamento ou mesmo a força da mente, tudo vem do poder da aura. Ela nos protegerá das energias negativas.-A aura pode se desenvolver durante toda nossa existência, por isso temos que estar em constante treinamento. Ela pode ser sentida quando nos aproximamos de alguém, mas isto só é possível para pessoas que tenham muita experiência. Para alguns isto se torna mais

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fácil, como no caso das sacerdotisas, mas mesmo elas tem que treinar muito para desenvolver este dom.

Cassi estava um pouco desconfortável, em alguns momentos perdia a concentração, em sua mente ecoavam gritos, imagens de um rosto desfigurado que às vezes se tornava conhecido, vindos de um local pequeno e pouco iluminado. Uma dor a invadia...-Ninguém poderá lhes mostrar como desenvolver a aura isto depende de cada um... Lembrem-se apenas uma linha separa o bem do mal, todos podem desenvolver a sua luz interior, mas cuidado para não alimentar as trevas, elas consomem e destroem. Foi isso que aconteceu no começo dos tempos, isso que levou as grandes guerras nos céus e é por isso que estamos aqui hoje... Arão foi acordado com a água escorrendo pelo seu rosto, tomando conta de todo seu corpo. Suas vestimentas estavam ensopadas. Seus braços e pernas estavam presos a uma parede por correntes. Olhou em volta, o local onde se encontrava parecia ser uma torre, feita de pedras por todos os lados. O chão e as paredes estavam muito frios. A única luz proveniente do lugar vinha de uma pequena janela acima. O garoto não conseguia ver nenhuma porta de entrada, já que a maior parte do local não era iluminado pela luz da janela, encontrando-se em completa escuridão.

Tentou em vão fazer força para escapar, mas as correntes eram muito resistentes. O máximo que conseguiu foi machucar os pulsos e os tornozelos, onde os grilhões estavam presos.-Está se divertindo, meu jovem?

A voz vinha da escuridão bem a sua frente. Um balde apareceu rápido a sua frente, jogando muito mais água sobre ele.-Eu quero você bem acordado para vê-lo sofrer.

A voz lhe era familiar, mas ele não conseguia ver quem as proferia.-Quem é você? O que quer de mim? Arão estava receoso sobre o que ia lhe acontecer.-O que eu quero? A voz estava tomada pelo ódio. -Quero ver você sofrer. Quero te machucar, até você desmaiar e não acordar mais.

Parte do ser saiu das sombras.-Inimis! O que você está fazendo?-O que eu estou fazendo? Você pensa que pode fazer coisas escondidos, que ninguém irá descobrir e puni-lo? Pois fique sabendo que posso não ver, mas minha visão não se limita somente aos meus olhos. Tudo o que ocorre no Santuário eu tomo conhecimento.

Saiu totalmente das sombras, em uma de suas mãos trazia um bastão de energia.-Você sabe o que é isto?

Mostrou-lhe o bastão. Arão não respondeu, mas é claro que sabia, lutara com Tiror usando um destes, sabia que seu contato com o corpo causava uma dor insuportável.-Isto é para castigá-lo. Você sabia que ele se torna muito pior em contato com a água?-Eu só queria avisar as...

Calou-se com o tapa que Inimis aplicou-lhe no rosto. O garoto sentiu o gosto de essência em sua boca.-Cale-se!

A fúria parecia estar aumentando, os traços de seu rosto mostravam alguém sem o

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mínimo controle sobre si mesmo. -Só emita algum som quando eu mandar ou quando não agüentar mais a dor! Pensou que ia passar impune com seus truques.

Rasgou a camisa de Arão com as mãos, o garoto estava com o peito e o abdômen a mostra. Inimis encostou o bastão em sua barriga, a dor foi latente, seu corpo tremeu todo. Arão perdeu as forças e o equilíbrio, só não foi ao chão, por que estava amparado pelas correntes. -Os celestinos são uma vergonha para todos nós. Jamais o grande Set deveria permitir que vocês viessem a Cidade Superior. Eu tentei avisá-lo, mas fui veemente repreendido.

Encostou outra vez o bastão em Arão, o garoto tremeu todo. A dor era insuportável.-Mas não irei matá-lo. Você servirá de exemplo para os outros.

Ele tinha dificuldade em falar.-Vou... Vou procurar Medar...–Medar! Gritou Inimis. – E o que vai dizer a ele? Que eu o castiguei por você ir ver uma das candidatas à deusa? Ele dará razão a mim e você será expulso se fizer isso...-Não importa.

Arão praticamente sussurrava com a cabeça abaixada, não tinha forças para levantá-la. Inimis aproximou-se, ergueu a cabeça do garoto pelos cabelos, a dor era tanta em seu corpo, que ele nem parecia sentir o cabelo.-O que você acha que acontecerá com Damira se você falar? Já pensou nas conseqüências para ela? Não, você não irá falar.

Arão viu as palavras dele tinham fundamento, se o pai da garota soubesse, com certeza ela seria punida. Inimis jogou mais água sobre ele.-Não vá desmaiar ainda, quero você bem acordado para mim. O que você pensa que está fazendo chegando perto das candidatas?-Existe... um complô para derrubar...

Outro tapa.-Complô? Não diga besteira. Você quer arranjar uma desculpa para se safar do castigo. Está mentindo! Jamais ouse chegar perto das candidatas a Deusas outra vez. Elas nunca poderão ser de um celestino, entendeu?

Novamente o bastão exerceu toda a sua força sobre o corpo de Arão. O jovem gritava, queria que a tortura acabasse logo. Não suportava mais aquilo, mas seus gritos pareciam não atravessar as enormes paredes, e mesmo que passassem, ninguém parecia se importar, pois nenhuma ajuda surgia. O bastão continuava a funcionar, aos poucos a voz de Inimis foi sumindo, as expressões de ódio ainda surgiam em seu rosto. A dor já não o incomodava mais, a sala começou a rodar, sua cabeça ficou pesada e sua boca estava seca. Imagens distorcidas vinham a sua mente. Uma sensação de paz o dominou, perdeu os sentidos, mergulhando na escuridão.

Os jovens não perceberam o tempo passar, Calisto continuava sua narrativa sobre a aura.-A aura, além de dizer o quão poderosa é a pessoa, também ajuda a identificá-la, mas cuidado muitos conseguem escondê-la. Por exemplo, as Deusas adquirem aura prateada,

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possuem muita sensibilidade, com seus poderes tem o dom da cura e podem dar a vida às pessoas. Já um Deus no começo de sua vida também possui a aura prateada, mas com o tempo ela começa a mudar para a coloração dourada. Os deuses possuem poderes muito especiais, que não discutiremos neste momento, mas muitas vezes eles podem mudar a cor de sua aura.

A sensação de dor e sofrimento passara, Cassi finalmente relaxou, tudo acabara... Mas ela ainda continuava preocupada. Calisto foi explicando sobre a Aura de cada grupo do firmamento.-As sacerdotisas possuem aura azul, sua energia espiritual é muito forte, agem sobre os outros de forma a tocar os seus sentimentos, independente dos poderes que possua. É a aura de quem mais se preocupa em ajudar os outros. -Os magos têm aura amarela, conseguem trabalhar em grupo harmoniosamente é o guia da sabedoria dos que estão ao seu lado. Tem capacidade para resolver problemas. Adora saber como as coisas funcionam, prezam pelo estudo da ordem superior do universo e de leis e princípios que as governam. -Já os guerreiros possuem aura laranja. A aura dos destemidos, corajosos e poderosos. Deles nascem os grandes líderes. Muitas vezes se tornam descuidados com a segurança pessoal, por excesso de confiança em sua força. -Os sábios, conselheiros e anjos normalmente possuem a aura branca. Mas as piores almas são aqueles que cultuam as trevas, pois eles desenvolvem a tão temida aura negra. Não iremos discutir detalhes das virtudes de cada aura, devido ao tempo escasso que temos. Vocês descobrirão por si só no decorrer de vossa caminhada, mesmo por que como disse antes não há modo de ensinar, como desenvolver a aura. Mas devo avisar mais uma vez para terem cuidado ao fazer isso, lembre-se o bem e o mal andam juntos.

Calisto parou por um momento, sabia que o assunto a seguir causaria espanto nos que o ouviam pela primeira vez.-Do mesmo modo que temos as sacerdotisas, magos e guerreiros no firmamento, outros reinos também os tem. As sacerdotisas do reino dos Titãs, são as Videntes, no reino inferior as Sagas ou Hereges. Os magos do reino dos Titãs, sãos os Feiticeiros, no reino inferior os Bruxos. Os guerreiros do reino dos Titãs, são os Sentinelas, os Bárbaros, Ciclopes e outros. No reino inferior temos os Zumbis, as Caveiras Negras, que formam a temível Tempestades de Ossos...

O homem esperou por alguma pergunta, mas esta não veio.-Conhecemos pouco dos outros reinos, devem existir muitos outros perigos, que nem imaginamos. Vocês que tem pouco conhecimento sobre as auras devem começar a tentar desenvolvê-las, concentrar-se, livrando-se de todos sentimentos ruins, os pensamentos bons trarão a luz interior de cada um e ela se expandira para fora do corpo. Procurem sentir a energia fluindo... Deixem-na sair... Tentem...

Os jovens se empenharam ao máximo, mas poucos obtiveram sucesso, mesmo entre os candidatos da Cidade Superior. Teles foi o melhor, conseguiu aos olhos de Calisto emanar um pouco de brilho de sua aura.-Você é um jovem muito especial. Disse Calisto olhando-o com curiosidade e espanto.

Kitrina foi a que conseguiu superar todas as sacerdotisas. Por fim, Bal ficou muito atrás, entre os garotos que seriam os futuros magos. Calisto pediu para que os garotos

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abrissem os olhos e descruzassem as pernas.-Confesso que este é o resultado que eu esperava mesmo. Tive uma surpresa. Olhou para Teles. -Mas no geral eu sabia que ia ser assim mesmo. Procurem sempre se aperfeiçoar, buscando o desenvolvimento da aura, pois é ela que lhes trará as vitórias. O treinamento acabou.-Aos jovens magos, tenho três livros de encantamentos para irem treinando sem suas ninfas.-Como assim? Perguntou Bal a Dafne ao seu lado.-Logo você se tornará muito poderoso e não precisará mais de mim. Este é seu primeiro livro de encantamentos, estude-o, guarde o máximo de magia que puder nessa sua cabecinha. Dafne tocou de leve a cabeça de Bal. -Comece a praticá-los sem minha ajuda. No início será difícil, porém quanto mais treinar mais fácil se tornará o aprendizado. Para que num futuro próximo consigas derrotar os inimigos do firmamento sem ajuda de ninguém. -Podem vir buscar. Calisto colocou os livros no chão. -Todos devem pegar um bastão de energia. Vocês irão precisar daqui para frente. Eles possuem duas pedras de energia cada, podem fazer um estrago considerável.-Legal. Gritou Odrin.

Bal pensava em Arão, o amigo ficaria sem bastão, a menos que... Todos já haviam pegado um, sobraram dois. Os garotos estavam entretidos com os objetos, ninguém prestava a atenção em Bal. Ele se aproximou queria pegar os dois restantes, mas Calisto estava ao seu lado observando. Não teve jeito, teve que pegar somente um, virou para partir quando a voz de Calisto soou.-Jovem Balduíno, venha cá. Ordenou. -Deixe-me ver o seu bastão.

O garoto ficou espantado por Calisto saber seu nome. Pegou-o na mão, olhou com atenção. -Hhhumm! Fez uma cara de reprovação. -Este bastão não parece estar muito bom... Faça o seguinte leve este último também, se por acaso, ele não funcionar, você pode utilizar o outro. Piscou para Bal."Será que ele lê pensamentos ?"

Calisto se foi do mesmo modo que chegou, rápido e sem deixar vestígios. Os garotos retornavam do treinamento, não tinham percebido o tempo passar, ficaram o dia todo ouvindo sobre a aura. Estava quase anoitecendo esta seria a quinta e última noite da Lua de Sangue e Arão não estava entre eles.

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A Lua de Sangue, 5ª Noite... A noite se anunciava... O garoto abriu os olhos, estava sentindo a grama molhada em seu rosto. Teria sonhado? Em seu sonho que era mais um pesadelo Inimis o torturara até perder os sentidos."Foi um sonho e bem ruim. Um pesadelo".

Tentou se levantar, não conseguia se mexer, seus membros doíam muito, conseguiu mover um pouco a cabeça. Tudo parecia normal, ele não tinha manchas ou qualquer hematoma no corpo. Entretanto sua camisa estava rasgada. Ele se encontrava atrás de uma moita no jardim. Não sonhara, a roupa rasgada e o corpo todo dolorido confirmava, a tortura foi real.

Seus esforços foram tremendos e depois de algum tempo finalmente conseguiu se levantar. A muito custo foi se arrastando para tentar chegar ao quarto sem que ninguém o visse. Inimis sabia como trazer a dor às pessoas. A raiva que sentia era imensa por ter ficado tão impotente quando fora aprisionado... Procuraria Medar, estava decido. Mil pensamentos passavam por sua mente."O dia já acabou, o que será que Cassi e Bal fizeram quando viram que eu não apareci?"."O que acontecerá se alguém me vir nesse estado?"."Será que estão me procurando?".

Parou um instante a dor era latente e sua companheira. Tinha muitas dúvidas, lembrou-se de Damira, mudou de idéia. Uma certeza formou-se, não poderia contar nada a ninguém do que havia acontecido. Não por estar com medo de ser expulso da Cidade Superior, mas sim por receio do que aconteceria com a candidata. Sentiu-se fraco novamente... A discussão entre Cassi, kitrina, Bal e Dafne estava acirrada para decidir o que fariam em relação ao desaparecimento de Arão.-Devemos procurar Medar. Sugeriu Cassi.-Você esta louca, ele vai nos expulsar. Retrucou Bal.-Mas deve ter acontecido algo grave com ele. Cassi olhou para todos. -Quando estávamos no treinamento hoje, durante alguns momentos eu senti muita dor e sofrimento.-Você acha que era... Dafne levou as mãos a boca num gesto de espanto.-Cassi está certa, vamos falar com Medar. Kitrina olhava para Bal. -Se alguém pode nos ajudar esse alguém é Medar.

Os quatro seguiam rápido na esperança de encontrar o grande conselheiro de Set, em suas mentes ainda ecoava a pergunta: “O que aconteceu com Arão”. Estavam quase saindo dos jardins, quando Bal ouviu um barulho.-Bal! Vamos embora não podemos ficar parando em cada canto.

As palavras de Cassi saíram automaticamente ao ver o garoto se dirigir para a folhagem do jardim. Ele enfiou as mãos entre as plantas, abrindo uma pequena brecha para poder enxergar o que havia do outro lado.-Minha nossa! Exclamou ele. -Mas o que foi que fizeram com você.

Ele pulou para dentro das folhagens. Assobiou para as garotas, fazendo sinal para elas virem depressa.

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-Eu espero que seja algo importante. Vociferou Cassi contrariada. - Não temos tempo para suas brincadeiras... –Oh, meu Deus! Exclamou ao chegar, ela viu Bal tentando levantar Arão.-Ele está? Dafne tinha receio de terminar a frase.

Kitrina aproximou-se , começou a apalpar o corpo de Arão, o jovem se contorcia a cada toque dela.-Ele está bem. Apressou-se em dizer. -Deve ter desmaiado em decorrência da dor.-Dor? Que dor? Perguntava Bal confuso.-Com certeza alguém deve tê-lo acertado com um bastão de energia.

Vendo que o rosto de dúvida de Bal permanecia.

-Aquele que ganhamos hoje e lutamos dias atrás. -Eu sei o que é um bastão de energia.- Bem, eles provocam muita dor. Continuou Kitrina.-Eu sei disso também.

Bal recordara da dor que sentira ao ser atingido por Keyllor.-Não ficou nenhuma marca no corpo. Prosseguiu ela explicando. -Como o contato dele deve ter sido prolongado a dor permanece por algum tempo. Mas logo ele estará bem. Provavelmente quando acordar estará melhor.-Mas por que alguém o atingiria sem querer com um bastão? Perguntou Bal.-Estou querendo dizer que alguém o atingiu inúmeras vezes com o bastão propositalmente, até que ele desmaiasse de dor.-Ele foi torturado! Grunhiu Dafne.-Vamos levá-lo para seu quarto. Ordenou Cassi a Bal.

O garoto passou um dos braços de Arão pelo seu pescoço, Cassi fez o mesmo do outro lado. Arrastaram o jovem pelos corredores, tiveram o cuidado de ir se esgueirando pelas passagens menos povoadas. Por isso demoraram o dobro do tempo normal para chegar ao seu destino. Deitaram Arão na cama, o jovem dormia, mas às vezes suas feições mudavam radicalmente como se ainda sentisse dor.-Você tem certeza que ele vai ficar bem? Bal duvidava de que Kitrina estivesse certa.-Ele vai acordar todo dolorido e com uma tremenda dor de cabeça. Mas logo irá se recuperar. Com certeza a pessoa que fez isso com ele usou apenas uma pedra de força no bastão, senão o resultado teria sido fatal.-Ótimo. Clamou Cassi. -Já que ele está bem, vamos deixá-lo descansando. Quando acordar poderemos perguntar o que aconteceu. Acho que por enquanto é só o que podemos fazer por ele. Kitrina precisamos voltar para nosso quarto. Bal, mande-nos uma mensagem pelo espelho assim que ele acordar.

O garoto acenou com a cabeça, fazendo um sinal de afirmação. Cassi ia saindo, mas virou-se bruscamente.-Acredito que não preciso nem dizer que este será um segredo só nosso.

Olhou para Kitrina que acenou dizendo que entendera o recado. Dafne concordou plenamente e Bal fechou a boca, fazendo um sinal sobre a boca como se estivesse puxando um zíper. As duas garotas se retiraram.

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Bal e Dafne olhavam para o garoto adormecido sem saber o que fazer ou esperar. -Será que ele está bem? Perguntou Dafne vendo Arão se contorcer todo.-Espero que sim. Bal olhava preocupado sentado à frente do espelho.

Em alguns momentos Arão se debatia puxando a coberta para si, noutros ficava quieto, suava bastante e falava palavras desconexas. Bal e Dafne não conseguiam entender o significado delas.-A torre... A besta negra... O pergaminho... Cuidado, cuidado...-Ele está sonhando. Disse Dafne.-Pelo visto é um pesadelo daqueles. Conclui Bal.-Nnnnãããooo...

Arão teve um espasmo, como se alguém o estivesse atingindo, de repente ficou quieto. As pálpebras se abriram lentamente, era difícil sustentá-las abertas, elas fechavam constantemente, mas ele fazia força para mantê-las abertas. Ergueu a cabeça que parecia pesar toneladas, apoiou-a nas mãos, pois tinha certeza que se não o fizesse ela penderia para trás.-Ele está acordando. Gritou Dafne se agitando no ar.

Bal largou o espelho, levantou-se dirigindo-se até onde o amigo estava.-Que sonho hein?

O que nenhum deles sabia é que para Arão o sonho tinha acabado, mas para outro garoto no Santuário, ele estava apenas começando, o mesmo sonho, porém muito mais real... A torre... A besta negra a garota com a marca no pulso, a morte... Como está se sentindo?

Bal queria ouvir toda história que Arão tinha para contar, depois ia fazer o possível para deixar Cassi curiosíssima, até que a garota implorasse para que ele contasse tudo o que sabia. Ela e Kitrina aguardavam no espelho por novidades.-Aaaahhhh minha cabeça. Gemeu Arão levantando-se vagarosamente e sentou-se na cama. -Meu corpo está dormente. Parece que tomei uma surra daquelas.-E tomou mesmo. Brincou Dafne enquanto fazia círculos perto do teto.-O que foi que aconteceu? Bal estava impaciente. -Nós ficamos preocupados. Você não apareceu nem nos treinamentos. Ainda bem que ninguém perguntou nada.-Como estão Cassi e Kitrina?

Arão notou que estava sem camisa e o resto de suas vestimentas estavam rasgadas. Ficou corado por causa de Dafne, enrolou-se no lençol.-Estão bem, somente preocupadas com você. Estão esperando no espelho para que eu envie notícias. Mas conte-nos tudo.-Foi Inimis.-Inimis? Repetiu Dafne.

O garoto contou-lhes tudo que passara aquele dia e o porquê de não poderem contar a mais ninguém a história. Bal e Dafne ficaram revoltados, mas entenderam que tinham que guardar segredo pelo bem de Damira. Arão sabia que Cassi ia querer ouvir o relato, mas deixou isso a cargo de Bal. O amigo era um mestre imbatível na arte de contar histórias.-Eu fiquei desacordado muito tempo?-Um pouco. Respondeu Dafne. -Já é tarde da noite. Mas ainda bem que você acordou. Senão sua visita teria que voltar

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outro dia.-Minha o quê?

Arão não entendera o que Dafne queria dizer. Olhou para Bal confuso.-Bom, sabe o que acontece... Bal não sabia como contar a ele. -É que hoje você receberá uma visita.-Eu? Quem?-Damira.-O quê? Você ficou louco! Ela não pode vir aqui. Hoje é a última noite da Lua de Sangue. Como você pode deixar...

Arão mesmo com dores pelo corpo avançou na direção de Bal.-Eu não pude evitar. Bal tentava se explicar fugindo das mãos de Arão que o agarravam. -Cassi conversou com ela pelo espelho bem antes de você acordar. Contou que você tinha sumido a tarde e como o encontramos. Ela ficou preocupada e disse que quando a lua estivesse bem ao centro na noite, viria vê-lo. Você sabe como são as mulheres quando metem algo na cabeça...

Arão o soltara.-Mas ela não pode. É perigoso.-Eu sei Arão, Cassi a avisou, entretanto ela é teimosa quis vir assim mesmo. Temo que agora seja tarde demais.-Vamos usá-lo. Apontou Arão para o espelho. -Dizer a ela que estou bem. Que ela não precisa mais vir. -Creio que não podemos. Quando ela estava falando com Cassi removeram o espelho dela.

Dafne voava nervosa ouvindo a discussão dos dois garotos.-Não tem outro jeito. Terei que ir ao quarto dela. Assim ela não correrá perigo andando sozinha à noite.-Impossível! Bal foi incisivo na colocação. -Hoje me parece que ela sofreu uma punição. Na hora não entendi bem, mas agora sei o porquê. Depois do que você contou, acredito que deve estar relacionado a uma possível recusa de ir ao baile. Mudaram-na de quarto, ninguém sabe onde ela está, desta vez teremos que esperar.

Arão estava visivelmente preocupado. Damira estava andando sozinha pelos corredores, esta era a última noite da Lua de Sangue. Estava quase chegando o momento em que a garota tinha prometido aparecer. Arão rezava para que ela aparecesse.-Bom, já estamos de partida.-Como assim? Para onde vocês vão? E por quê? Arão olhava desconfiado para o rosto maroto de Bal.-Meu amigo, nós não queremos atrapalhar nada. Bal deu um olhar de cumplicidade para Dafne. -Como? Arão entendeu o que eles queriam dizer. -Deixe de ser bobo Bal, eu só preciso avisá-la sobre o grande perigo que correm as candidatas a deusa.-Eu sei, eu sei. Sorriu o amigo de forma maliciosa. -Diga para ele.

Dafne pegou o livro que o garoto ganhara a tarde.-Bal precisa treinar encantos e magias sozinho, senão nunca se tornará um grande mago. Eu irei com ele só para supervisionar.-Mas onde vocês ficarão?

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-Não iremos longe eu prometo. Na verdade ficaremos no quarto ao lado que está vazio.-Está quase na hora da moça chegar. Comentou Dafne.-Arão não é melhor você esperá-la do lado de fora?-Acho que você tem razão.

Ele saiu do quarto. A porta se fechou atrás dele. Bal olhou para Dafne.-É agora... Ambos riram.

Arão ouviu muitos barulhos vindo de dentro do quarto, ia entrar, mas Bal e Dafne saíram fechando a porta. O quarto estava escuro, o corredor mais ainda.-Bal, não está escuro demais hoje? Não consigo enxergar nada.-Impressão sua Arão. Aliás, você não vai encontrá-la de lençol, vai?

Somente após Bal ter comentado é que ele lembrou-se que estava enrolado em um lençol.-É verdade. Mas não tenho outra roupa. -Bal pode dar um jeito nisso. Eu sei um encantamento que lhe dará uma roupa novinha. Comentou Dafne alegre. -Enquanto isso eu arrumo a sua.Arão aceitou a oferta generosa de Dafne.-Pronto. Disse Bal. - Podemos ir agora.-Bal que tipo de roupa você me deu? Ela está apertando meu pescoço.-Relaxa Arão, vamos que ela já deve estar chegando.

Os dois entraram no quarto ao lado, Arão não conseguia ver sua roupa, mas ela apertava seu pescoço e parecia ser muito grande, pois estava pisando em cima da mesma.''Que raios de roupas são essas que você me deu Bal?. ''

Ao entrar no quarto Dafne perguntou.-Você disse as palavras certas?-Claro que disse. É só esperar, a primeira pessoa que descer a escada para chegar ao nosso aposento terá uma grande surpresa. Só espero que seja Damira.

Damira andava pelos corredores apreensiva, não queria e não podia encontrar ninguém. A mudança de aposento não ajudara muito, independente de ter sido por questão de segurança ou por punição. Primeiro por que começara a dividir o quarto com Moira, elas eram as duas últimas candidatas a Deusas, esperara a garota dormir para sair. Depois teve ainda que passar despercebida pela guarnição, agora reforçada, devido a tragédia da noite passada.

Não poderia demorar muito, senão seria descoberta. Tinha vindo porque quando recebera a notícia de que Arão não participara do treinamento e fora encontrado desacordado, sentira-se de certa forma culpada.

Ela conhecia os caminhos do Santuário, estava perto dos aposentos dos garotos celestinos, faltava somente descer uma escada em espiral para chegar ao corredor que dava acesso ao quarto de Arão.

A escuridão limitava um pouco a velocidade de seus passos. Segurou o corrimão, no seu primeiro passo, no momento em que seu pé tocou no degrau uma vela se acendeu no mesmo instante, no centro dele havia uma rosa. A garota por um momento esqueceu-se de qual era a sua situação, parou sorrindo. A cada passo uma nova vela se acendia, iluminando uma rosa deitada no degrau. “Arão, Arão''. Sorriu com seus pensamentos.

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Ela foi recolhendo todas as flores no último degrau seu ramalhete já era enorme, pegou a última vela para ajudá-la, seguiu pelo corredor. Arão viu a iluminação fraca vindo da escada, ficou em dúvida se seria Damira. Conseguia ver as pernas da garota sob o vestido, mas seu rosto estava escondido por flores."O que ela pretende com isso? Será um modo de se passar despercebida? Essas flores não a esconderiam de ninguém." Pensou ele.

Arão a ajudou com as flores, mas achou melhor não comentar nada. Quando a luz os iluminou, ele pode ver seus traços, ela continuava linda, mesmo com tudo o que passara sua beleza continuava intacta.

O garoto notou que a Damira o olhava de modo estranho, Ela percorreu o seu corpo todo com a vela antes de soltar uma exclamação.-Uma capa Sirinder Branca com um colete dourado! Ela parecia espantada. –Arão, quais são suas intenções para esse encontro?

Sorriu divertida ao ver o constrangimento dele.Ele se tocara, a capa Sirinder com colete, normalmente, era usada em encontros

amorosos, como Bal lhe mostrara durante os estudos com os espelhos de Alfeu. Ele corou..."Bal o que você está pretendendo? Ainda bem que a falta de luz está me ajudando, devo estar vermelho como um pimentão." Foi tirado de seus pensamentos pelas palavras delas.-Nós podemos entrar? Ele lembrou-se que Bal fora o último a sair do quarto.-Acho melhor ficarmos do lado de fora.-Por quê? Ela estava intrigada. - Algum problema?-Problema? Não nenhum. Gaguejou ele.

Ela abriu a porta e o que ele temia aconteceu. Velas pelo quarto todo se ascenderam, um violino estava no ar, começou a tocar."Bal eu mato você quando o encontrar".

No quarto ao lado, Bal com a orelha colada a parede, sorria para Dafne.-Tenho certeza que Arão vai me agradecer pelo que fiz.

O jovem acordou assustado, todo suado, olhou para os lados, viu que todos dormiam. O sonho novamente, a cada noite que passava ele tinha o mesmo sonho, porém a cada dia ele se tornava mais real, mais violento, mais desesperador... Não sabia o que fazer, ou a quem procurar. Será que alguém acreditaria nele?

As noites estavam se tornando piores, a cada manhã a lua anunciava a perda de uma vida, ali estava seguro, mas e os outros?

Não sabia ao certo o que o futuro reservava, mas de uma coisa tinha certeza."O sonho é real e vai acontecer mais rápido do que todos imaginam".Levantou-se pegou uma pequena pedra ao lado da cama, saindo logo em seguida.

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-Eu conheço esta música. Comentou Damira. -Eu a adoro chama-se "Eu sei que vou te amar". Você teve um trabalhão para arrumar tudo isso.

Arão queria explicar o que estava se passando, mas a cada palavra de Damira ele ficava mais vermelho e encabulado.-Olha Damira, eu gostaria...

Ele gaguejava muito, as palavras se enrolavam ao sair, ficou mais aliviado, quando ela sentou-se na cama, mudando de assunto.-O que aconteceu com você hoje? Por que sumiu? Nem se quer foi ao treinamento?

Arão sentou-se ao seu lado. Fez-lhe um pequeno resumo do que se passou na noite anterior e de como foi o seu dia. Contou-lhe que elas corriam grande perigo, que ele havia sido torturado, mas achou melhor não citar o nome de Inimis como seu algoz. Damira ouvia tudo em silêncio, não perguntou nada enquanto o garoto falava. Sua expressão mudava constantemente durante a narrativa, como se vivenciasse com ele cada parte da história. Ficou espantada quando ele citou o nome de Empoly, porém mesmo assim não o interrompeu, quando terminou, ela o questionou.-Tem certeza que não conseguiu ver quem o torturava? É uma pena, pois se você soubesse poderíamos denunciá-lo a Medar. Ele seria punido.-O capuz me impedia de ver-lhe a face.

Mentiu Arão, ele gostaria de contar-lhe a verdade, mas tinha receio de que se dissesse o nome de Inimis este seria levado até Medar. O que seria dela, então, quando descobrissem que Inimis o torturara por ir vê-la.-Ainda está doendo?

Ela tocou-lhe o braço, seu toque era suave. Damira não percebeu, mas Arão sentiu a pele de sua nuca arrepiar-se com seu contato. Se havia dor ela não o incomodava nesse momento.-Não. Respondeu.-Eu fiquei preocupada. Senti-me culpada pelo que aconteceu a você.-Não foi culpa sua. Eu sabia que não deveria ter ido te ver.

Porém, algo ainda o intrigava, enquanto falara com Damira de manhã, Inimis não parecia tê-lo notado. Como ele poderia ter descoberto que Arão fora vê-la, alguém deveria ter contado, mas quem poderia ser? Tinha sido cuidadoso ao ir até o quarto dela.-Você conversou com alguém depois que deixou Inimis?-Não.

Arão ficou um pouco desapontado com a resposta, esperava descobrir alguma coisa. Damira percebeu, ficou pensativa para ver se conseguia se lembrar de algo mais.-Espere! Empoly me parou. Estava um pouco estranho, perguntou quem era a pessoa com quem eu estava conversando.-Você disse algo a ele?

Ela fez um sinal de negação com a cabeça.-Só pode ter sido ele. Comentou Arão.-Está querendo dizer que Empoly o torturou?

Arão foi rápido ao negar, mas sabia que era ele quem deveria tê-lo denunciado.-Não! Mas tenho certeza que foi ele quem avisou que eu estava indo ao seu quarto.-Impossível. Damira parecia incrédula. -Empoly jamais faria isso, ele é um conselheiro de

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Osíris, sempre foi justo e leal ao povo da Cidade Superior.-Mas eu sou um celestino, lembra-se? Não se esqueça do complô que ele está movendo para tomar o poder.-Eu ouvi o que você disse, mas acho difícil de acreditar. Você está aqui há pouco tempo, como pode acusar as pessoas assim? -Isso é verdade, eu o vi tramando com mais duas pessoas. Além do mais não sabemos o que pode acontecer nestes tempos sombrios. Segundo dizem muitos mudarão de lado.

Damira não podia ou não queria acreditar nas palavras de Arão, mas o garoto parecia sincero. Ela estava com raiva. Em seu íntimo o medo e o desespero a dominavam."Tantas mortes..." Pensou a garota.

Arão a envolveu em seus braços, no início ela relutou, mas depois não ofereceu mais resistência. Correspondeu ao abraço, se sentia segura na presença dele. Poderia passar o resto da noite assim sentindo o calor do corpo dele junto do seu.-Você e Moira precisam falar com Medar. Vocês necessitam de mais proteção.-Você não entende o que está ocorrendo.

A garota tremia nos braços dele. -Medar está fazendo o possível por nós, mas não somos a prioridade do reino.-Que prioridade pode estar acima de uma vida? Arão perguntou contrariado. -Vocês serão as futuras deusas, o que pode ser mais importante?

Afastou-a de seu peito para ver seu rosto, lágrimas escorriam-lhe pela face avermelhada.-Existe algo... Ela praticamente sussurrou as palavras.

Arão se comoveu perante a fragilidade da garota. Apesar do choro, ela também se mostrava forte, pois aceitava seu destino sem reclamar. Ele inclinou a cabeça, aproximou seu rosto do dela. Ela fechou os olhos, apertou mais as mãos nas costas dele. Seus lábios estavam quase se tocando, quando ele sentiu as mãos dela perderem as forças inclinou a cabeça para o lado para evitá-lo.-O que você pensa que está fazendo? Disse desvencilhando-se dos braços dele. Arão ficou confuso com a atitude repentina. -Você não entende? Não posso, nós nunca poderemos...

Virou-se e correu para o corredor batendo a porta bem à frente de Arão. Deixou-o ali parado totalmente sem reação. Os passos eram apressados, ela corria pelos corredores, as lágrimas escorriam-lhe pela face em maior quantidade. Estava sem rumo, todavia isso pouco importava, só queria se afastar, queria fugir. Sentira-se tão bem, tão segura em seus braços, mas não podia... Seu destino lhe reservava outros caminhos.

Parou encostando-se na parede para tomar fôlego, não sabia dizer por quanto tempo correu, mas não havia sido pouco. Arqueou-se para descansar, o corredor estava vazio, escuro e em completo silêncio até... Um pequeno ruído soou perto de onde se encontrava. Olhou assustada, arrepiou-se toda."Hoje é a quinta noite" Seus pensamentos a fizeram ter um calafrio.-Você ouviu? Perguntou Dafne.-Claro que ouvi. Uma porta se fechou.

Bal se levantou.

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- Com certeza Arão já fez o "trabalho". Podemos voltar. Não agüento mais este quarto, é horrível. O que a gente não faz pelos amigos.

Dafne o acompanhou.-O que você quis dizer com "fez o trabalho"?

Bal corou um pouco, ficando sem graça.-Eu quis dizer? Bom... Ele retomou o ar de sério, pigarreou de propósito. -Que ele já deve ter explicado toda a situação para ela.

Dafne parecia desconfiada da resposta dele. -Apesar de que ele foi muito rápido. Bal passava a mão pelo queixo todo cheio de curiosidade.

Parou na frente da porta, fez sinal para Dafne esperar, queria fazer uma entrada triunfal, já imaginava Arão todo contente, vindo agradecido dar-lhe um abraço pela ajuda que recebera. Abriu a porta de sopetão e gritou.-Surpresa! E aí, como foi?

A cena que presenciou não era nem de perto a que ele esperava encontrar. A capa branca jogada sobre o violino que flutuava no quarto. Arão estava deitado na cama olhando fixamente para o teto, com ar desanimado, apenas respondeu sem tirar os olhos do teto, sem nenhuma emoção na voz.-Não foi...

O garoto percorria os corredores solitário, carregava na mão uma pequena pedra. Conseguiu sair de seus aposentos sem ser notado. Quanto a isso ele nunca teve dúvidas, mas havia sido muito mais difícil do que imaginara. Sua ala tinha muitos Dominações guardando o local, ficou convencido de que devia ser a ala mais bem protegida."A quinta noite chegou". Pensava enquanto se movimentava sozinho pela escuridão. “O Sonho esta cada diferente, ele é real...”

Desta vez não ignoraria os presságios... Teria que dar um fim em tudo esta noite. Estivera relutante antes...

Finalmente chegara ao corredor desejado, olhou com cuidado não viu nenhum cavaleiro de guarda, aquilo parecia ser mais fácil do que havia pensado, porém a parte mais difícil ainda estava por vir.

Parou rente a porta, tentou ouvir algum som, mas nada, já deveriam estar dormindo. A sorte estava a seu lado. Abriu a porta, entrou em silêncio, como imaginara, no aposento o sono dominava os ocupantes do cômodo. Aproximou-se da cama. Tudo seria muito simples, observava aquele rosto que dormia tranqüilamente.

Teria que ser rápido e eficiente, agir antes que qualquer um acordasse ou seu plano estaria arruinado.

Cassi acordou assustada, uma sensação de medo a invadia, alguma coisa a

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incomodara durante o sono. Virou-se para o lado onde Kitrina dormia profundamente. Olhou para o espelho, mas ele estava enegrecido, sem qualquer mensagem. O quarto parecia em ordem, porém sentia-se transtornada, pegou seu bastão de energia, alguma coisa estava errada. Levantou-se com cautela, empunhava o bastão com força. Verificava tudo ao seu redor, as cortinas esvoaçavam com o vento, foi até a janela, não havia ninguém. Ao voltar notou a porta levemente aberta. Dirigiu-se a mesma com o bastão postado a frente do corpo. Abriu-a e preparou-se para se deparar com alguém, mas não havia ninguém.

Mesmo assim continuava desconfiada, depois de algum tempo desistiu, deu com os ombros e voltou para dentro. Se alguém estivera ali, foi espantado pelo súbito acordar dela. Ficou mais calma, deitou-se esperando pegar fácil no sono.

Porém, não teria se deitado tão tranqüila se tivesse observado melhor o corredor, de trás de uma coluna dois olhos a observavam, um sorriso brotou maliciosamente no rosto quando vira Cassi entrar no quarto sem desconfiar de nada."Missão cumprida".

Uma sensação de satisfação o invadiu enquanto ia embora.

Damira ainda se encontrava parada no corredor, não ousava se mexer, sua respiração estava mais ofegante. Havia mais alguém no corredor além dela. Tomou coragem, não se permitiria esperar para ver quem era, correu na direção oposta. O medo a invadira. Quem quer que fosse vinha atrás dela. Moveu-se o mais rápido que pode, quando sentiu suas forças se exaurindo parou para descansar. Entrou em um pequeno salão, postou-se atrás da estátua de uma mulher, esperou o tempo passar. Os sons cessaram, mas mesmo assim ela não ousava sair. Tinha medo do que podia ocorrer nesta que era a última noite da Lua de Sangue.

Ouviu o som de respiração vindo logo atrás dela. Quase desmaiou de susto quando sentiu algo pousar em seu ombro. Ela virou-se estremecida, ficou paralisada com aquela forma que a observava das sombras. Mas logo reconheceu quem era.-É você! Levou as mãos ao peito. Me deu um susto tremendo. -O que você está fazendo aqui? Perguntou aliviada, talvez seu medo fosse sem fundamento.

Duas mãos a seguraram pelos ombros. A voz saiu mais como um sussurro excitado bem diferente do normal, quase irreconhecível.-Eu poderia te fazer a mesma pergunta. Tive um sonho... Fez um momento de silêncio. -Preciso ir...

As mãos a soltaram, sumiram na escuridão assim como a pessoa que estava ao seu lado.

Damira achou estranho o que acabara de acontecer, ao mesmo tempo ficara aliviada. Saiu do local onde estava, precisava retornar aos seus aposentos antes que Moira acordasse. Se desse por falta dela, poderia chamar alguém. Andou pelo salão, quando estava para sair, um ruído veio do outro lado, a porta se abriu vagarosamente, duas luzes se acenderam. Damira não teve dúvida, correu fechando a porta atrás de si.

Parou no meio do corredor esperando, tinha certeza que algo surgiria para pegá-la. Mas nada aconteceu. De repente uma mão puxou-a para o lado contra a parede enquanto

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outra tapava-lhe a boca.-Xiiu! Ouviu a voz sussurrar atrás de si. A mão saiu de sua boca.-Amagus! Exclamou ela. -O que você está fazendo aqui? Seu lugar é junto de Medar.-Eu sei. Sussurrou ele. -Medar pressentiu que algo de ruim fosse acontecer. Pediu-me para verificar se estava tudo bem. Acho que ele tinha razão.

Amagus apontou para a porta que agora se encontrava aberta. Damira estremeceu toda, mas não viu nada no corredor. Amagus a colocou atrás de si, para protegê-la. Tirou da cintura o punhal que continha o fogo negro em seus entalhes, a mesma arma que outrora tirara a vida de uma das candidatas.-Pra que essa arma? Perguntou a garota.-Nós íamos mostrá-la na união das quatro grandes comunidades, pois alguns ainda não estão crentes que o mal está presente. Isto é uma prova irrefutável. Esperava que nunca mais alguém fosse usar esta arma, mas pelo visto ela terá mais um último confronto a participar. Silêncio ele está aqui.-Onde? Não vejo nada.

O corredor permanecia vazio. Uma gota de líquido caiu sobre a ombreira de Amagus provocando um pequeno estalido. Ambos olharam para o teto opaco, onde a escuridão parecia se mover. O homem só teve tempo de empurrar Damira com força, fazendo a garota cair para trás. Tudo isso momentos antes das duas luzes se acenderam no teto e cair como um raio sobre ele.

Damira levantou assustada via Amagus se debatendo contra a escuridão as luzes acendiam e apagavam. O corpo do homem foi atirado com muita força, vindo parar aos seus pés. Ele estava todo dilacerado, Damira ainda o ajudou a se levantar, mas ele a empurrou outra vez.-Vamos fuja daqui, encontre Medar, diga-lhe o que aconteceu. -Não! Damira não conseguia conter as lágrimas.-Vá. Ordenou ele. -Ou ambos morreremos.

Ela correu, Amagus virou-se empunhou o punhal mais uma vez. Não se entregaria sem lutar, todos os seus descendentes foram grandes guerreiros, a essência deles fluía nele."Sou um guerreiro criado na Cidade Superior, não vou me dar por vencido. Só espero ter forças para detê-lo o tempo suficiente para ela fugir".

As luzes avançaram sobre ele, não conseguira desferir um golpe sequer, sua garganta fora retalhada com maior facilidade, seu corpo caiu com ímpeto, jazia ao solo o guerreiro sem vida.

Damira ouvira o grito de Amagus, o silêncio que se seguiu depois a deixou apreensiva, não se atrevia a parar, precisava fugir para se salvar.

Virou o corredor abriu um pequeno sorriso, ao avistar dois guardas. Um deles a segurou. Ela tremia demais, não conseguia falar apenas apontava para a dobra do corredor.

Os Dominações fizeram o mesmo que Amagus, colocaram-na para trás de si, apontaram suas lanças para frente e aguardaram... Damira olhava atenta, esperava a qualquer momento as luzes aparecerem, mas desta vez elas não surgiram.

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O Baile... A manhã já se anunciava, a Lua de Sangue fazia companhia para o sol, quando Damira entrou nos aposentos de Medar guiada por dois guardas. O conselheiro observou aquele rosto desesperado. Pediu cheio de compaixão para que ela se aproximasse.-Sente-se ao meu lado.

Damira ainda estava em choque sob os efeitos da noite. Foi tirada de seu transe pelas mãos de Medar a tocar em seus braços. Ela deu um pequeno salto.-Calma, minha menina. A voz dele era suave, aos poucos Damira foi relaxando, se sentindo mais à vontade. -Sei que vai ser muito difícil, mas gostaria que me contasse o que se passou nesta noite infeliz.

Fez um sinal para que os guardas saíssem, no que foi atendido de prontidão. Ela narrou o ocorrido, omitindo a parte que tinha ido se encontrar com Arão, nem mesmo mencionou qualquer coisa que o garoto havia dito. Apenas disse que não conseguia dormir e precisa sair para ‘pensar’ mesmo sabendo que não devia. Não sabia se Medar tinha acreditado, porém ele não a questionou em nada, apenas limitava-se a ouvi-la, nada lhe fugia, estava atento a cada palavra pronunciada por ela.-Uma perda lamentável, Amagus era um dos grandes líderes de nossas forças.

Comentou ao ouvir a jovem narrar sobre como Amagus a havia salvo. No final lamentou tudo o que tinha ocorrido. Pediu a jovem que voltasse a seus aposentos.-Pedirei a Inimis que a acompanhe. Assim você se sentirá mais segura. Ao virar para porta ela viu que ele já estava a sua espera. -Ele cuidará de você.

Antes dela sair, Medar se aproximou, segurou-lhe as mãos com carinho.-Força minha jovem, sei que você tem passado por provações que poucos conseguiriam suportar, mas lembre-se que muitos precisam de você. Pode ir. Tente se preparar para a comemoração de hoje à noite.-Ela vai acontecer? Mesmo com tudo isso que estamos passando? Damira parecia espantada.Medar a olhou com tristeza.-Sei que o momento não é propício. Mas nada podemos fazer pelo que passou, coisas piores hão de vir. Por isso vamos aproveitar este pequeno tempo que temos para comemorar.-Comemorar o quê? Perguntou ela.

Ele respondeu com paciência.-Comemorar que as cinco noites da Lua de Sangue já se passaram. E mais que nós conseguimos evitar que em cada noite morresse uma pessoa da Cidade Superior, no Santuário. Na segunda noite Ingrid, na terceira Jenya, na quarta Etality e nesta, a quinta Amagus, se na primeira tivéssemos perdido alguém da cidade... Teríamos uma tragédia indescritível. Sei que tivemos perdas muito importantes. Isso me deixa muito triste, mais do que você possa imaginar, já que Set confiou a guarda da Cidade Superior a mim. É melhor você se recolher, peço-lhe força e paciência prometo que puniremos os culpados por isso.

Inimis envolveu Damira nos braços e a levou.-Mas o que você estava fazendo fora de seu quarto? Perguntava ele em tom reprovador. Ela não respondeu, mas gelou por dentro quando ele fez a próxima colocação.

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-Fui obrigado a comunicar o que ocorreu a seu pai. Ele está feliz em saber que você está bem, mas quer saber detalhes de tudo o que se passou...

Ele parou a frente dela.-Você não pensa naquele garoto celestino?

Ele dizia as palavras com raiva, seus olhos fixaram-se nos dela. Ela não respondeu, mas abaixou a cabeça. -Lembre-se que os celestinos são a desgraça desse reino e de sua família, eles merecem serem expulsos. São mentirosos e traiçoeiros.-Arão não é assim. Respondeu ela sem pensar, arrependendo-se logo em seguida.-Ah! Então é isso. O jovem celestino... Continuou ele com mais raiva ainda. -Eu a proíbo de vê-lo. Hoje você irá ao baile com um garoto da Cidade Superior. Ouviu! Gritou ele por fim.-Não pode me obrigar. Sussurrou ela com vontade de chorar.-Você não pode contrariar-me, isto já foi decidido! Afirmou ele puxando-a pelo braço. -Lembra-se?

Apesar de tudo, no começo ela ainda sentia-se um pouco animada com o baile. Seria uma oportunidade de ficar sozinha. Conversar com Arão e explicar-lhe o porquê de seu comportamento na última vez que se encontraram. Seria preciso somente se livrar de Teles. Mas agora via todas as suas esperanças irem por água abaixo. No fundo tinha medo do que Inimis poderia fazer, para evitar que ela se aproximasse dos celestinos.

Neste mesmo instante um guarda passava por eles indo em direção aos aposentos de Medar.-Senhor, não achamos nem sinal de arma alguma no local onde Amagus foi encontrado.-É uma pena. Respondeu ele. -Quero que vasculhem cada canto do Santuário atrás dela, é nossa garantia para que as comunidades acreditem em nós... Enquanto Medar falava com o cavaleiro, Sender escondido em um local sombrio distante dali ria com um punhal com entalhes negro na mão. -O mestre pensa em tudo... Riu. – Eles sabem que algo ronda o Santuário fazendo muitas vitimas, entretanto não tem uma prova concreta para convencer as comunidades a se unirem. Medar continuou seu discurso. -Mas mesmo assim não comentem isso, não vamos estragar a festa de todos. Instrui Inimis para pedir a colaboração de Damira.

Respirou profundamente. - Dispensamos muitos de nossos esforços para ajudar a proteger as comunidades, nestes dias do segundo sinal, mesmo as custas de nossas próprias perdas. Eu esperava dar continuidade ao desejo do grande Deus Set e unificar os povos, mostrando nossa boa vontade através deste ato. Mesmo assim eles se mostram céticos a nosso respeito. Esperava que na próxima reunião dos conselhos das comunidades pudesse mostrar o punhal com fogo negro, provando de uma vez por todas para aqueles que não acreditam que as trevas já estão entre nós. Mesmo entre eles não existe uma relação de amizade tão firme assim.-Lamento ouvir isso, senhor. Proclamou o guarda. -Quer dizer que apesar de tudo que está ocorrendo na Cidade Superior as grandes comunidades não acreditam em nós?-Sim, isto é verdade. Muitos ainda não acreditam, acham que tudo isso é uma manobra nossa para uni-las, desfazer seus conselhos, colocando assim o conselho da Cidade

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Superior para governar todos.-Mas então por que mandaram seus representantes para tentar se tornarem guardiões?-Alguns ainda tem bom senso.-Tenho pena deles.-Eu também. Disse Medar. -Pois quando eles abrirem os olhos para o que nos afligi será tarde demais... Para eles e para nós...

Depois do desaparecimento da lua, o sol revelava todo seu esplendor. Muitos comemoravam o final do segundo sinal, enquanto outros se revelavam recatados ainda temerosos de que uma catástrofe ainda estivesse por vir.

A verdade é que o dia foi calmo e tranqüilo, a maioria das pessoas da Cidade Superior estavam empolgadas com a comemoração da noite. Apesar de atípica, pois nunca houvera antes um baile de máscaras. Mesmo assim não poupavam esforços para que a festa fosse a melhor possível, tudo para comemorar o final das noites de terror.

Os garotos caminhavam pelos jardins pensando em suas vestimentas, observavam a intensa movimentação das pessoas com enfeites.-Vendo a alegria com que eles se empenham em adornar tudo isso, nem parece que acabamos de passar por um período de tamanha dificuldade. Comentou Cassi. -Por que não fazem isso com mágica? Perguntou Dafne. -Seria muito mais fácil. -Concordo com você. Falou Kitrina. -Entretanto há um motivo, arrumando assim eles tem contato entre si, conversam mais e acabam ficando mais próximos uns dos outros. A amizade se intensifica.-Ânimo Arão. Bal deu-lhe um tapa no ombro. -Hoje você poderá conversar com Damira, inclusive já tenho um plano para isso...-Espere um pouco. Interveio Arão. -Como o da noite passada com violino... O tom de Arão era reprovador.-Psiu! Vejam ali. Apontou Dafne.

Odrin discutia com Lethan, Keyllor e Teles.-De quem foi a idéia estúpida deste tema? Perguntou Keyllor revoltado.-As candidatas à deusa escolheram. Disse Teles.-Mas Odrin, você também votou nesse tema. Acusou Lethan.-Eu já disse que não votei. Odrin estava furioso.-Mas seu nome estava lá. Finalizou Keyllor.

O grupo passou por eles, Bal ria baixinho. Cassi percebeu.-Balduíno!"Xi! Aí vem bronca". Pensou ele.-Espero que você não tenha nada a ver com isso.

Bal olhou para Arão com ar de cumplicidade.-Eu? Por que teria? Viu a cara de Cassi nada satisfeita. -Eu não fiz nada. Juro. Disse cruzando os dedos atrás das costas.–Por que seus dedos estão cruzados Bal? Perguntou Dafne inocentemente.

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-Xiu! Fique quieta. Repreendeu Bal rapidamente para que Cassi não ouvisse sua observação. -Bom, acho melhor irmos nos preparar para a noite. Sugeriu Kitrina a Cassi.-Nós também iremos. Disse Arão sem muito entusiasmo.

O grupo se separou. Cassi e Kitrina foram para seus aposentos. Arão, Bal e Dafne se dirigiram aos seus. Bal ainda gritou.-Até a noite.-Isso é, se vocês nos acharem.

Brincou Cassi, colocando as mãos sobre o rosto com se estivesse com uma máscara.

Ao seguirem pelos jardins, Lissa e Milena passaram fazendo comentários maldosos sobre Kitrina estar andando com Cassi.-Olha ela! Já virou uma delas. Comentou Milena.-Traidora! E pensar que um dia aceitamos sua amizade. Lissa carregava seu bastão de energia. - Sua hora vai chegar. Disse apontando o bastão para Cassi. -Depois... Olhou para Kitrina -Não esquenta. Disse Cassi sorrindo.-Eu sei, se eu for ligar para o que elas dizem estou perdida. Mas Lissa me preocupa, ela é muito vingativa.

As duas continuaram caminhando olhando para trás sem prestar atenção ao caminho. Cassi trombou com um garoto mascarado. Ela tentou passar por ele, mas conforme se movia, ele se colocava a sua frente.

Ela perdeu a paciência, estava pronta para falar-lhe umas "poucas e boas" mas ele tirou uma flor debaixo de suas roupas oferecendo-lhe. Cassi foi pega de surpresa pelo gesto do desconhecido e ficou sem saber o que fazer. Ele tirou a máscara revelando seu rosto.-Tiror é você.

Estava aliviada por não ter falado o que pretendia instantes atrás. -Eu nunca ia adivinhar quem era.-Bem, agora você já sabe como é minha máscara e se... Ele ficou um pouco sem jeito para falar. -Se de repente você estiver sozinha à noite e quiser procurá-la...

Ela pegou a flor, cheirou-a, seu aroma era muito doce, porém, suave ao mesmo tempo. Tiror tomou-a colocando sobre a orelha de Cassi. Os cabelos cobriram o caule da planta, dando-lhe uma aparência maravilhosa.-Se você usá-la. Disse o garoto. -Saberei como achá-la.Cassi riu.-Tenho que ir ajudar os outros. Colocou a máscara e partiu se despedindo das duas.-Parece que esta noite terei que arrumar outra companhia para conversar. Provocou Kitrina.

Cassi corou com o comentário, mas no fundo esperava que isso acontecesse mesmo.

A discussão no quarto estava exaltada.-Por que é tão teimosa? Sabe que ninguém vai se atrever a chegar perto de você se não for com Teles.-Meu querido irmão, não posso ir com ele.

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-Você irá e acabou. Por que não quer ir?-Não! Disse com ódio dele, no momento em que a porta se abria. -Eu não quero ir com ele.

Hartch e Inimis entravam no quarto.-O que está havendo aqui? Hartch impunha um tom autoritário.-Nada. Respondeu Damira.-Damira estava mudando de idéia sobre o baile. Eu apenas estava dizendo que conforme vocês sugeriram, ela deveria ir acompanhada de Teles.– Foi por isso mesmo que trouxe seu pai aqui Odrin. Para que ele diga qual é a seu desejo final a respeito do baile.

Damira olhou assustada para Inimis, este fez um sinal de confirmação com a cabeça. Ela se viu tomada por uma ira que teve que ser contida a muito custo.-Pensei que já tivéssemos decidido sobre isso. Replicou Hartch. -Tem a minha bênção. Damira ira com Teles e Inimis ficará ao lado de vocês para garantir que nenhum celestino os importunem. “Ele ficará ao meu lado como um cão de guarda, minha noite vai ser terrível'”.

Estava realmente decido, teria que ir ao baile com Teles, um sorriso de triunfo apareceu mais uma vez no rosto do garoto, quando Odrin lhe deu a confirmação da notícia.

Tudo estava preparado, a lua surgindo anunciava o início da noite. Com sua chegada os ânimos se exaltavam pelo período de alegria que viria.

Teles bateu a porta e ficou aguardando por alguns instantes. Quando ela se abriu a visão que teve o deixou extasiado. Damira usava um vestido branco, onde os bustos eram realçados pelo decote. Seus ombros amostra exibiam uma pele clara e suave. O vestido justo à sua cintura fina, alongava-se depois. Luvas brancas e finas se estendiam até o cotovelo, onde havia uma mínima ligação com o vestido. As costas ficavam praticamente todas expostas. Os cabelos estavam presos e uma pequena máscara branca cobria-lhe a face.

O garoto contemplava abismado aquela visão maravilhosa, estendeu-lhe a mão. Ela a tomou, desceram para o baile, sem trocar uma palavra.

-Vamos Bal! Gritou Dafne da porta, ela usava uma pequena máscara. -Como pode ser tão enrolado. A ninfa estava impaciente. -Você não acha ele muito enrolado?

Perguntou a Arão que estava escorado na porta absorto em seus pensamentos.-Arão, estou falando com você.-Ah! Claro. Respondeu sem saber qual era a pergunta.-Vou buscá-lo. Dafne voou para dentro do quarto. O garoto estava arrumando o cabelo em frente ao espelho.-Agora sim! Hoje vou arrasar. Aiiii!

Dafne o pegou pela orelha arrastando-o para fora. -Calma aí, estou indo. Cuidado com meu cabelo deu muito trabalho para arrumá-lo.

Arão se divertia com a cena. -Espero que hoje seja uma longa noite, com muito agito. Bal chacoalhou Arão, exibindo um largo sorriso. - Certo amigo?-Se assim você o diz...

Colocaram as máscaras e por fim partiram. A festa dava um novo colorido ao lugar. A noite seria espetacular, cheia de emoção. Essa era a expectativa dos garotos.

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

Cassi e Kitrina entraram no salão maravilhadas com a decoração. Tudo estava perfeito. A música na altura certa, o local estava cheio. Todos usavam máscaras e as roupas que as pessoas desfilavam eram umas mais bonitas que as outras. Cassi usava um pequeno vestido amarelo e branco com uma sandália combinando com sua vestimenta. Enquanto Kitrina usava um azul, os dois eram muito parecidos, só se diferenciavam por pequenos detalhes. As sandálias de Kitrina ao contrário das de Cassi trançavam os cadarços até as canelas. As máscaras encobriam-lhes a face, mas qualquer um que as olhassem saberia que se tratavam de duas garotas belíssimas.

A comemoração estava sendo realizada na maior basílica que Cassi já vira. Quatro pilares de proporções descomunais sustentavam o teto em formato de concha. Na parte central, um enorme bico se projetava em direção ao céu.-Parece que todo mundo da cidade compareceu a festa. Comentou Cassi.-Cassi! Como iremos achá-los aqui. Existe muita gente. Kitrina procurava, mas a quantidade de pessoas era surpreendente. – E pra ajudar todos mascarados. Vai ser impossível. -Não vai não. Olhe ali. Cassi apontou para uma pequena menina mascarada que voava acima da cabeça dos outros. -Me siga.

Foi abrindo caminho no meio da multidão. -Oi! Cassi tocou no ombro de Bal que levou um susto.-Kitrina! Cassi! São vocês? Como nos encontraram?-Você é inconfundível Bal. Com ou sem máscara. Disse Kitrina.

O garoto não sabia se aquilo era um elogio ou uma gozação, por isso não respondeu.-O que é esta flor na sua orelha? Bal ia mexer nela, quando a mão de Cassi acertou lhe um tapa no braço. Ela olhou para Kitrina e ambas sorriram parecendo cúmplices.-Apenas um adereço. Respondeu ela. -E você Arão, animado para a festa?-Sim, acho que estou.

Dafne deu um abraço acompanhado de um beijo no rosto para animá-lo.-Ele vai se divertir bastante hoje. Disse olhando para todos.

A festa começou animada, as pessoas riam, falavam alto, comemoravam sem medo. Eles mesmos estavam impressionados de como todos pareciam se esquecer do que estavam passando. Viram-se tomados por sentimentos de paz e alegria.

Em uma bancada superior observando a festa estavam sentados os conselheiros, sábios e alguns anjos. Entre as personalidades estavam Medar, Empoly e Inimis. A cadeira que seria ocupada por Amagus estava vazia.-Arão! Arão! Chamou Bal.

Ele olhava como muitos outros olhos faziam. Uma beldade, talvez a mais bela da noite. Ela descia as escadas com um vestido branco, acompanhada por um garoto mascarado. Inimis localizou seu alvo. Ficaria atento a noite toda.

Pararam ao lado de um grupo de garotos. Arão não teve dúvida em identificar Odrin entre eles, o garoto tinha uma forma avantajada, se destacando dos demais. Mas Arão não conseguia tirar os olhos da garota de branco.-Vamos dançar?-Não estou me sentindo muito disposta. Respondeu a garota de branco.-Vamos? Uma dança vai animá-la um pouco.

O garoto a conduziu mesmo a contra gosto, ela acabou indo.

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Cassi sentiu alguém tocar levemente em sua mão.-Eu sabia que uma flor me mostraria o caminho da felicidade hoje. Só não sei distinguir qual das duas é mais bela.

Cassi sorriu perante o elogio do garoto mascarado. -Me concede a honra desta dança?

Cassi fez uma mesura, o garoto a tomou pelas mãos. Dirigiram-se para uma grande pista de dança.-Quem era aquele? Perguntou Bal cheio de curiosidade.-Não faço a mínima idéia. Mentiu Kitrina rindo.-Essas músicas parecem muito difíceis de se dançar. Comentou Dafne.-Concordo com você. Bal olhava para os casais admirado, havia uma harmonia entre eles, mesmo Cassi dançava muito bem com seu parceiro mascarado. -Eu não levo o menor jeito para a dança. Confessou ele.

Arão observava as pessoas dançando, o ritmo da música percorria seu corpo, não sabia o porquê. De repente viu a jovem, a garota de branco, sendo conduzida para fora do local onde todos dançavam.-O que aconteceu? Perguntou Odrin ao ver os dois chegarem. -Ela erra demais. Eu diria que: ou ela não quer dançar, ou está com os pensamentos em outro lugar.

Odrin a pegou pelo braço.-Vai ficar aqui do lado nosso. Verá que ninguém ousará tirá-la para dançar.-Gostaria de dançar comigo? Moira estava radiante. Teles lhe ofereceu o braço, os dois foram para o meio da pista.

Arão pegou um copo com uma bebida que estava sendo servida e tomou um gole, sua face se contorceu toda.-Nossa isto até que é bom, mas está muito quente. O que é isso?-Não sei, mas deixa que eu resolvo. Bal se adiantou. -Vou lhe mostrar o truque que aprendi nos meus treinamentos de congelar as coisas. Vou fazer aparecer alguns cubos de gelo.-Quer uma ajuda? Ofereceu Dafne.-Não! Deixa comigo isso, eu me viro sozinho. Bal fechou os olhos e se concentrou. Arão começou a sentir a mão que segurava o copo formigar.-Ei! Bal pare! Gritou ele. O garoto abriu os olhos.-E aí, consegui?-Eu diria que sim. Arão estava com a boca do copo virada em direção ao solo, nem uma gota de líquido caía. -Minha bebida virou um bloco de gelo. Eu posso dizer que jamais vou reclamar quanto à quentura dela novamente.-Foi mal. Acho que preciso praticar mais.-Dá licença. Interveio Kitrina. -Mas estou cansada de esperar alguém me convidar para dançar. Pegou Bal pelos braços. -Vou roubá-lo um pouco de vocês.

Disse Kitrina a Dafne e Arão. Ele assentiu com a cabeça.-O quê!? Respondeu Dafne espantada.-Elas não resistem ao meu charme. Gritou Bal para os dois. -Espere aí! Eu não sei dançar...

Ele tentou se livrar dela, mas não conseguiu.

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Dafne estava inconformada, voava de um lado para o outro.-Que atrevimento! Reclamava ela. -Você não vai fazer nada?

Dirigiu-se para Arão que estava quieto.-Eu? Mas o que é que posso fazer?-Você é amigo dele não devia permitir...-Por quê?-Como por quê! Você devia protegê-lo.

Arão se divertia com os ciúmes dela. -Olha, acho que ela o está beijando.

O rosto de Dafne ficou vermelho. -Onde? Perguntou ela revoltada.-Ali, no meio, eu vi.

Apontou para uma direção qualquer. A ninfa saiu em disparada para o meio dos casais que dançavam."Finalmente terei um pouco de paz". Pensou o garoto sorrindo consigo mesmo perante a mentira que acabara de contar. Mas algo do outro lado do salão chamou-lhe a atenção. -Você não teme que os outros o vejam comigo?-Cassi se eu for deixar que eles me digam o que fazer estou perdido. Tenho que seguir meu coração.Cassi corou na hora, agradecendo por Tiror não poder ver-lhe o rosto.-Além do mais isto é um baile de máscaras, hoje estou salvo. Sorriu para ela. -A partir deste momento a coisa começa a ficar boa.-Por quê? Perguntou ela.-É que as próximas músicas são de ritmos totalmente diferentes. Nem todos sabem dançar. Os que não conseguirem acompanhar o ritmo deverão sair da pista de dança até que reste um único casal.-Nossa! Parece interessante.-Vamos ver até onde conseguimos ir.

Damira estava sozinha, todos dançavam e como dissera Odrin ninguém se atreveria a se aproximar dela, nem mesmo para trocar algumas palavras. Inimis não a perdia de vista de onde estava. No fundo por mais doloroso que fosse devia ter continuado com Teles, pois pelo menos estaria dançando, não ficaria tão solitária ali. Para ela a festa estava muito triste. O evento mais divertido da festa começara, os casais desafiavam os ritmos das músicas. Damira adorava essa parte, as candidatas a deusas eram excelentes dançarinas, ela lamentou perder essa parte. "Vou me retirar". Pensou. Não agüentava mais ficar isolada de todos. Abaixou a cabeça e levou as mãos à face. Sentiu uma mão quente tocar suas luvas finas.-Me concede o prazer de sua companhia para esta dança?

Ela olhou para o garoto, ia responder um "não" incisivo como resposta, mas o sorriso dele a impediu. As palavras não saíam, não opôs qualquer resistência, apenas se deixou ser conduzida até o meio da pista, pela primeira vez na noite se sentiu alegre. Já nos primeiros ritmos Bal saiu do meio com Kitrina.

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-Desculpe, mas eu disse que estava meio enferrujado.-Tudo bem. Eu adorei mesmo assim.-É!? Disse ele se animando.Dafne os encontrara.-Onde vocês estavam?-Nós? Dançando... Respondeu ele.

Ela olhou para Kitrina que ria, depois olhou outra vez para Bal desconfiada.-Aconteceu alguma coisa? Perguntou Dafne chegando bem perto do rosto de Bal examinando-o minuciosamente.-Comigo? Não, por quê?-Seus lábios parecem estar inchados. Segurava as bochechas dele com as mãos. Puxava-as com força. O garoto era forçado a fazer muitas caretas.-Eu já disse que estou bem. Disse ele se livrando das mãos dela. -Onde está Arão?-Bom... Ele estava ao meu lado, mas foi só me descuidar um pouco para ele sumir...

As músicas iam tocando, no final poucos pares restavam dançando. Um círculo de pessoas formavam-se ao redor da pista para observar os restantes. Cassi e Tiror logo foram se juntar a Bal, Kitrina e Dafne.-Até que fomos muito bem. Disse Cassi.-Realmente. Confirmou Tiror. -Você me surpreendeu.

Os ritmos foram se tornando menos conhecidos. No final apenas dois casais dançavam.-Como eles dançam bem. Comentou Kitrina.-Quem serão eles? Perguntou Bal.-Bom, eu diria que um deles é Teles e Moira. Respondeu Tiror. -Mas o outro me intriga e apavora um pouco.-Por quê? Questionou Bal.-Por que a dama é Damira, sem dúvida. Mas o cavalheiro seja ele quem for, além de ser um ótimo dançarino é alguém muito tolo.-Por quê? Repetiu a pergunta, Bal. Tiror apontou para o lado onde vários garotos se amontoavam.-Porque quando acabar a música, Odrin, Lethan, Keyllor, Yalo e Irian o estarão esperando.

Inimis também olhava da parte superior o casal dançando. Cassi sentiu um calafrio a percorrer-lhe o corpo. Damira dançava pela pista como nunca fizera antes. Esperava que fosse ficar apenas uma ou duas músicas, o que já lhe seria uma grande coisa, mas a habilidade de seu parceiro a surpreendeu. Ela tinha chegado um pouco displicente a pista de dança, porém quando ele parou, olhou em seus olhos através da máscara, pelo jeito como a abraçou. Ela sentiu que ele tinha o domínio da situação. Simplesmente a levava como queria, ela se entregou completamente.

Na bancada superior todos os olhares estavam fixos nos dois casais dançando. Alguém comentou.

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-Eles dançam divinamente, quem serão estes.-Eu tenho uma pequena idéia de quem sejam. Disse Inimis irritado coçando o queixou. -Mas espero que esteja enganado ou alguém vai se dar muito mal. Damira notara na pista a movimentação do grupo de jovens que parecia estar esperando somente a música acabar para atacar seu parceiro.-Podemos sair daqui? Damira falava em seu ouvido.-Já? Ela fez um sinal de afirmação com a cabeça. Ele sabia o porquê, notara a aglomeração dos garotos muito antes dela, mas já que iria apanhar poderia ser no final da música, pois assim ele aproveitaria ao máximo a companhia dela. A garota o puxou quando estavam longe, do outro lado da pista, saindo rápido, segurava-o pelas mãos no meio da multidão. Os garotos foram pegos de surpresa pela atitude da garota, mas mesmo assim foram atrás do casal.

Teles largou Moira, também se juntou aos outros. Muitas pessoas interceptavam-lhe à frente para cumprimentar-lhes pela dança, mas ele nem lhes dava atenção.-Precisamos ajudá-lo. Gritou Cassi.-Deixa comigo. Disse Bal entrando na frente do bando de garotos que corriam na direção dos dois fugitivos. Ele pensava em algo para fazer, mas nada lhe vinha a mente. Odrin que vinha à frente empurrou-o.-Sai da frente. Berrou ele enfurecido.

Bal foi ao solo. Tiror ajudou-o a se levantar.-Vamos temos que fazer alguma coisa.

Porém, quando iam partir, Inimis interceptou-lhe o caminho. -Aonde vocês pensão que vão?-Nós temos que ajudá-lo. Respondeu Kitrina. -Vocês não irão a lugar nenhum.-Ele vai ser massacrado. Protestou Bal.-Existem pessoas que não sabem dar valor ao conselho dos outros. Virou-se e sorriu."Quero ver escapar desta. Quando eles colocarem as mãos em você tenho certeza que irá sentir saudades da minha tortura".

Damira corria alucinada puxando o garoto que vinha cambaleando logo atrás. Já tinham deixado a multidão para trás, precisava arranjar algum lugar para se esconder. Estavam contornando uma pequena torre, ela era formada de fendas em todo o seu redor.

Pararam ao lado da porta, não havia mais tempo, seus perseguidores vinham em seus encalços contornando a construção. Puxou o garoto para dentro da fenda logo ao lado da porta. Os dois ficaram espremidos na saliência, corpos colados um de frente para o outro. O grupo de garotos finalmente chegou, procuravam por todos os lados, mas nem sinal deles. Ninguém até então se preocupara em olhar as fendas. Yalo foi ver a porta, ela estava trancada.-Droga! Urrou Odrin dando um chute na mesma, ela foi escancarada quebrando o cadeado e a corrente que a prendiam.-Com certeza aqui dentro eles não estão. Yalo se dirigiu ao grupo.

Damira podia sentir as batidas sobressaltadas no peito do garoto. Ele observava preocupado o bando. Ela por sua vez olhava-o, reparava nas suas feições preocupadas.

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Apesar de estarem escondidos como era bom senti-lo assim tão próximo. Ela levantou as mãos passou sobre seu rosto tirando a máscara. Faz o mesmo com a sua logo em seguida. Arão olhou-a assustado.-Eu queria apenas ver seu rosto. Sussurrou ela e sorriu.-Eles não devem estar muito longe. Vamos nos separar em dois grupos. Quem o achar não acabe com ele tão depressa. Eu tenho alguns acertos a fazer antes. Vamos.-Você é quem manda Odrin. Brandiu Keyllor indo no outro grupo. Os dois esperaram todos partirem. Damira o puxou para dentro da torre, fechando a porta logo em seguida. Subiram alguns lances de escadas e chegaram a uma sala que possuía uma abertura no teto, onde a luz da lua entrava formando um círculo no solo. Da janela podiam ver a festa animada.-Você dança muito bem. Observou ela. -Onde aprendeu?-Eu não me lembro, só sei que quando ouvia as músicas, meu corpo pareceu ganhar vida própria. É como se eu já soubesse o que tinha que fazer. Ele se aproximou um pouco mais dela.-Então você já sabia que era eu?-Meu sexto sentido me disse que eu não iria me arrepender de aceitar o convite de um estranho tão charmoso. Piscou para ele.-Posso? Disse ele soltando o cabelo dela. -Prefiro você assim.

Ele se aproximou mais ainda, ela abaixou a cabeça, falando um pouco desanimada.-O que você pretende, Arão?

A pergunta o pegara desprevenido. -Vou lhe ser bem sincera. Não sei o que sinto, mas eu adoro ficar perto de você Arão. Quando o vejo sinto vontade de estar ao seu lado, abraçá-lo, mas... Ficou quieta.-Mas...

O garoto falou para incentivá-la a prosseguir.-Jamais poderemos ter algo.-Por quê?-Porque eu sou uma futura deusa e estou prometida a um Deus. Levantou a cabeça com os olhos úmidos.-Você vai ser mulher de Set? Perguntou ele estarrecido.-Não! De seu filho.

Ela passou as mãos pelo cabelo. -Onde ele está?-Eu não devia lhe contar... Acho que você já sabe que na última guerra algumas crianças ou foram enviadas para o mundo dos homens ou ficaram escondidas no firmamento sobre o cuidado de pessoas especiais, para escapar do mal que estava tomando-lhes a vida. Entre elas estava o filho de Set, sucessor do reino dos céus, já que Horus, descendente de Osíris, foi morto.-Mas quem é ele? Onde ele está?-Ninguém sabe quem é ele, para enganar o mal ele foi misturado com as outras crianças. Nem mesmo Set o conhece, mas ele está seguro entre nós. -Nós?-Sim, ele está entre um dos futuros candidatos a guardião. Por isso, nós candidatas,

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tínhamos tão pouca proteção enquanto os garotos da Cidade Superior eram super protegidos.-Como saberão quem é ele?-Isso eu não sei. Mas é por isso que não temos chance alguma.-Do jeito que você diz eu poderia ser ele...

Ela duvidou que poderia ter alguma esperança.-Não creio que ele seja um celestino. Nunca o mandariam para terra, ou aos cuidados de um celestino. Mesmo porque vocês não receberam proteção nenhuma nestes dias. Somente uma pessoa pode ser descartada.-Quem?-Meu irmão Odrin ele foi um dos poucos que ficaram sobre a guarda dos sábios aqui na Cidade Superior.

Ela parecia desanimada. O silêncio tomava conta da sala.-Que estranho. Arão apontou para o chão, mudando de assunto. -Apesar da luz da lua passar direto pelo teto, ela toma forma de um círculo no solo. O teto não tem forma arredondada. Como isso é possível?-Essa é uma sala muito especial. Explicou ela. -Ela é mística.-Mística? Ele parecia espantado com a colocação dela.-As pessoas vêm até este aposento para saber como vai ser à noite. Se o círculo está cheio como agora, significa que a noite vai ser calma e tranqüila. Conforme o círculo vai sumindo, a situação vai ficando pior. Hoje depois de cinco noites ele esta cheio novamente. Dizem que na pior das noites da lua de sangue somente um quarto do círculo era visto.

Ela tomou fôlego e falou. -Ainda bem que já passou. Não se conteve abraçando-o forte.-É, mas tivemos muitas perdas. Respondeu ele."Sim". Pensou ela, lembrando-se de todos. "Ingrid, Jenya, Etality e Amagus".

Fechou os olhos e apertou-lhe mais.-Quatro noites com mortes. Ainda bem que foram só três da Cidade Superior. Comentou Arão."Será que ele não sabe sobre Amagus?". Pensou logo em seguida. -Mas Amagus era da Cidade Superior. Afirmou ela. -Eu não estou falando dele. Digo... Ele a olhou sem compreender suas palavras. -O que aconteceu com Amagus? Eu não estou sabendo nada... Aconteceu alguma coisa com ele? Não esperou resposta. -Estou falando de Nesália que sumiu na primeira noite.

Damira abriu os olhos assustada, afastou-se dele. -Você esta falando de Nesália a profetisa que fazia parte do grande conselho da Cidade Superior? Ela foi expulsa por proclamar catástrofes que nos atingiriam.-Mas ela me disse que era uma velha celestina que vinha da comunidade do Norte.-Ela foi para o norte, pode até ter se “tornado” uma celestina, já que ficou decepcionada com a decisão do conselho de expulsá-la. Entretanto isso só aconteceu depois que foi banida da Cidade Superior. Ela sempre foi e sempre será uma cidadã da Cidade Superior... Então foram cinco mortes em cinco noites... Nesália, Ingrind, Jenya, Etality e Amagus... Concluiu

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Damira. Arão olhou novamente pela janela.

-Que movimentação é aquela lá fora.As pessoas corriam assustadas de um lado para outro.

-Arão, olhe! Gritou Damira.O círculo feito pela luz do luar havia sumido por completo.

O garoto desceu correndo as escadas, Damira o seguia. Uma movimentação intensa e gritos assustados vinham do local onde antes havia risadas e alegria do baile.-É melhor você ir para seu quarto. Ordenou Arão. -Não sabemos o que está acontecendo. Você estará segura nele.

Ela assentiu com a cabeça, Arão ia partir quando as mãos dela o impediram.-Cuidado! Pediu ela. -Todas as noites que uma parte do círculo da torre sumia uma morte se anunciava. Desta vez ele sumiu todo... Estou com medo, a catástrofe ao final do segundo sinal...

Ele deu lhe um sorriso tranqüilizador, correndo em direção a movimentação. Deixou-a sozinha. No fundo tinha medo do que à noite lhe reservava.

Chegou ao salão, com exceção dele todos os candidatos a guardião estavam reunidos. Medar à frente deles pronunciava um pequeno discurso, parou quando Arão chegou. Todos voltaram seus olhares para ele, alguns com ódio e desprezo.-Acho que vai precisar disso. Bal jogou-lhe um dos bastões de energia que estava em sua mão. - Como eu sabia que você ia se atrasar. Bal piscou para ele. -Decidi trazer seu bastão.-Obrigado. Agradeceu ele.

Medar emitiu um pequeno ruído, para que ambos ficassem quietos.-Como todos sabem. Ele fez uma pequena pausa, voltou seu olhar para Arão antes de continuar. -Uma catástrofe de proporções extraordinária está nos assolando. Algo que temíamos e procurávamos evitar, aconteceu. A ilha da grande torre do manuscrito, na comunidade oriental está sendo atacada. Infelizmente não podemos contar com a ajuda de nossos irmãos celestinos. Mesmo os anjos não podem deixar seus postos nas grandes comunidades para irem em nosso auxílio, sob pena da catástrofe atingir uma intensidade muito maior. Por isso nossas esperanças dependem única e exclusivamente de vocês. Esta torre é de suma importância, pois nela está guardado o "Pergaminho dos Elementos". Ele contém a localização exata de cada elemento que os escolhidos terão que manipular para se tornar guardiões. Por isso sua defesa se torna imprescindível, não podemos deixar o manuscrito cair em mãos erradas, senão nosso futuro estará comprometido. Boa sorte a vocês, que o Criador ilumine vossos passos. -Vocês chegarão até a ilha usando os Celebares, são águias gigantes, que voam muito rápido e os conduzirão a tempo de evitar que os danos se tornem irreversíveis. Partirão neste exato momento. Milenus se aproximou de Medar.-Não precisa me dizer nada. Eu também senti. Indagou Medar preocupado. -Um lacre foi quebrado. O poder de um dos livros sagrados está sendo usado.-Espero que eles se saiam bem. Milenus serrava os punhos com raiva. -Pois desta vez a batalha é real.

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A Realidade...Duas enormes águias pousaram no chão, uma branca e outra negra. Aguardavam a

chegada dos garotos. Bal quase teve náuseas ao vê-las e acabou piorando ao ouvir as palavras de Odrin.-Finalmente uma luta de verdade.

O jovem se alegrava com a proximidade da batalha. Eles se dividiram em dois grupos. Yalo, Irian, Keyllor, Lethan, Lissa e Milena subiram às costas da águia negra. Enquanto o restante. Teles, Odrin, Tiror, Bal, Cassi, Kitrina e Arão foram na branca. As ninfas voavam sobre as águias cada uma ao lado de seu respectivo companheiro.-A não! Primeiro unicórnios, agora vou ter que voar em águias. Exclamou Bal com medo. - Só está faltando nos mandarem nadar nas costas de tubarões no mar.-Calma Bal, se você montou em unicórnios. Sorriu Kitrina divertida. -Em águias vai ser moleza.-O problema é que se eu caísse dos unicórnios encontraria o chão rapidinho, mas aqui...

Bal não terminou a frase, pois a águia dera uma pequena guinada. Quando todos os jovens se acomodaram as aves se ergueram e içaram vôo. Eles precisavam se segurar às penas para não cair, o vento batia-lhes no rosto com muita força. Tinham que falar alto para poderem ser ouvidos. Cassi que estava ao lado de Arão falou-lhe.

-Eu já estive nessa pequena ilha. É muito bela, a torre então, nem se fala uma obra fantástica, só perde em beleza para as maravilhas do mundo antigo.-O que você foi fazer lá? Perguntou Arão.-Fui com os sábios fazer penitência.

Odrin ouviu a conversa dos dois e se intrometeu no assunto.-Escute bem celestino, não quero você nos atrapalhando. Da última vez Lethan e Keyllor "morreram" graças a sua falta de companheirismo abandonando-nos na hora da luta, nossa missão falhou por culpa sua.

Arão não respondeu à provocação.-Acho melhor você não participar dessa. Intrometeu-se Teles. -Tenho certeza que ele vai fugir da luta. Celestino covarde, um dia ainda vai nos abandonar a própria sorte durante a batalha.-Cale a boca Odrin. Gritou Cassi.-Vocês não conhecem como ele é durante as batalhas. Conheço esse tipo de pessoa, vai retirar-se na primeira oportunidade ou pior vai levar um de nós à desgraça.-Ele não é assim. Defendeu Bal. -Ele nunca irá nos abandonar. Não é Arão?

Os pensamentos de Bal trouxeram lembranças ruins. A imagem de todos acusando Arão de ter deixado Lethan e Keyllor a própria sorte, nas provas para acender as chamas dos pilares e proteger a Cidade Superior. Mas Arão não respondeu... Os primeiros contatos visuais com a torre chegavam até eles. O garoto estremeceu por dentro.Bal notou um certo temor no olhar de Arão.“Será que os outros estão certos? Será que Arão esta com medo?”.

Mas logo abandonou seus pensamentos, pois as águias mudaram o curso de seus vôos e começaram a descer. As aves pousaram em um local um ermo. Os jovens desceram

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empunhando seus bastões de energia. Seguiam em direção ao centro do aglomerado, as edificações iam se agigantando a

sua frente. Ninguém precisava ensinar à Arão para onde ir, para ele aquele caminho já era familiar.

Mulheres com vestidos curtos de cores vivas, combinando com suas sandálias de couro abertas, cujos cadarços subiam trançados pelas pernas. E argolas de adorno nos braços passavam correndo por eles indo na direção oposta. Algumas levavam crianças consigo. Tiaras caíam dos cabelos sendo pisoteadas no meio da confusão. Elas fugiam para salvar suas vidas.

Os garotos continuavam firmes em sua marcha, sobre as casas, podiam ver a torre de proporções descomunais que se agigantava a sua frente, conforme se adiantavam.

Saíram do domínio das moradias para chegar na praça central, onde se localizava a construção descomunal. Arão parou assombrado, apesar de vê-la várias vezes, agora ela parecia mais magnífica que nunca, merecendo uma admiração toda especial. Ela estava bem a sua frente e o pior era real. Bal vinha logo atrás e puxou-lhe pelas vestimentas.-Vamos! Precisamos continuar.

O tempo tornara-se pior repentinamente, muitas nuvens negras tomaram os céus deixando-o com aspecto sinistro. O vento forte não lhes davam trégua.

A praça central estava suspensa sobre uma lagoa, onde águas escorriam até encontrar as águas inferiores da lagoa. O gigante de pernas e braços cravados na torre causava forte impressão, mesmo à distância. Eles seguiram correndo adiante. Teriam que passar por uma das três pontes que ligava a torre À praça.

Muitas das moradias haviam cedido, a chuva fina e fria continuava a castigar-lhes os corpos. À frente da torre várias criaturas com rostos e corpos deformados atacavam sem piedade as pessoas da cidade. Elas empunhavam espadas e machados com brilho negro."O Fogo Negro". Pensou Arão.

As criaturas forçavam passagem para chegar ao portão da torre. Muitos homens deixavam a construção em blocos, possuíam armaduras brancas entalhadas em relevo no peito a cabeça de um tigre. Os elmos e ombreiras tinham a mesma coloração das armaduras, entretanto as ombreiras esquerdas exibiam pequenos detalhes pretos que formavam o desenho da pata do felino. Armados com arcos e espadas, cruzavam as pontes em direção à massa de seres sinistros que massacravam o local.

Uma chuva de flechas engolia a multidão negra, muitos tombavam, mas seu número em vez de diminuir parecia aumentar constantemente. Avançavam desorganizados, como um bando de loucos enfurecidos, abutres em busca de carne fresca.

Os cavaleiros matavam muitos delas, os corpos jaziam pelo chão, mas por mais que caíssem, seus números pareciam não diminuir. Com o correr da batalha as pestes foram alcançando êxito abrindo caminho entre os blocos

A situação se invertia começava a matança de homens. Sem qualquer piedade, mesmo os corpos caídos sem vida, não cansavam de receber golpes. Não demorou para as criaturas dominarem as passarelas, seu próximo alvo foi o portão da torre. Foram contidas no portão pelos quatro guardiões que lutavam corajosamente, mesmo estando em maior número os seres negros, não conseguiam vencer as figuras valentes que depositavam

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todo vigor de suas energias nesse combate.Uma trombeta soou estridente, misteriosamente o ataque cessou, as criaturas

recuaram. Da cratera uma garra surgiu e fincou-se ao chão, tamanha foi à força que as pedras ao redor se estilhaçaram, outra garra lançou-se ao lado com a mesma intensidade da anterior. Um par de asas se abriu, a névoa se tornou mais densa , todavia um brilho pôde ser visto, ele era emitido por dois grandes olhos vermelhos. Uma besta negra gigante soltou um urro e partiu sobre o mar negro de seres em direção ao portão.

Arão corria feito louco a frente de todos. Seus pensamentos estavam voltados para a imagem de uma criança que brincava com uma bola.-O que deu nele? Perguntou Dafne.-Medo da batalha? Zombou Bal para Odrin.

Via a sua frente um pilar tombando, tinha que se apressar. -O que foi Arão? Gritou Cassi.

Mas ele não podia dar-lhe ouvido. Tinha que ir mais rápido sabia o que estava por acontecer. Chegou tarde demais, o pilar já estava no chão, tentou levantar o objeto, mas era muito pesado. -Olhem a entrada torre! Eles conseguiram passar pelas nossas defesas. Temos que agir rápido! Gritou Teles.

Cassi parou ao lado de Arão, viu o pequeno braço sob o pilar, levou as mãos à boca, sentiu-se enjoada. Ela pegou-o pelo braço.-Vamos! Não temos tempo a perder!

Vendo que o garoto não se movia deu-lhe um chacoalhão.-O que deu em você?

Arão observou o desenho da pequena lua no pulso direito de Cassi. Ele voltou seu olhar para a torre. A besta negra tinha passado com muita facilidade pelos guardiões, sua força avassaladora não encontrou resistência, mesmo com suas poderosas lanças em segundos os quatro guerreiros foram derrotados. O próximo alvo foi o portão principal, desferiu vários golpes, levando-o abaixo pouco tempo depois. A legião de criaturas acompanhou os passos da besta"Não consegui salvar a criança".

Tudo estava se tornando muito real... Ele sabia como iria acabar.Um clarão veio de emergiu de dentro da torre. A besta foi lançada longe junto com

muitas criaturas. Os corpos atingiram bancos, postes e as moradias próximas. O brilho foi se tornando mais intenso, um homem surgiu com um escudo em uma das mãos e uma espada na outra, impunha respeito na entrada da construção. Seu elmo tinha o desenho de uma águia e sua capa vermelha estava presa por um par de ombreiras. A armadura branca reluzia perante a escuridão. Traços dourados percorriam toda a vestimenta. Arão o reconheceu. "Nemamiah".

A enorme besta se recuperara rápido do golpe, partira novamente para o combate atirando-se sobre Nemamiah, os dois rolaram portão adentro.-Não podemos enfrentá-los em campo aberto, seremos derrotados rapidamente. Falou Odrin.-Vamos formar uma barreira rente ao portão principal. Como o espaço é menor isso anulará a vantagem numérica do inimigo. É a única chance que temos. Gritou novamente Teles.

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Após se fixarem em frente a torre, empunharam seus bastões aguardando o avanço das criaturas. O choque veio logo em seguida, a batalha estava acirrada, os jovens tentavam a todo custo impedir que nada rompesse suas defesas, a cada toque de suas armas o corpo das criaturas se esfarelava todo.-Ninguém saia de sua posição. Temos que resistir. Se um ceder sobrecarregara os outros e com certeza estaremos perdidos. Urrou Teles aos demais. -Isto serve para você. Falou Odrin a Arão com desprezo.

Cassi se aproximou de Arão, como ele previa. Puxando-o novamente.-Temos que entrar. Disse ela.

Queria explicar-lhe que não deviam, não podiam, pois ele sabia o que os aguardava dentro da construção. Mas as palavras lhe soaram diferente do que ele pretendia.-O quê? Você ficou maluca? Não ouviu que temos que continuar juntos ou todos sucumbirão?

Um golpe passou perto de seu braço, entretanto sua agilidade o permitiu esquivar-se. Investiu contra o pescoço de seu oponente que tombou à sua frente.-Se você quiser ficar, que fique! Eu vou entrar. O tempo esta contra nós. Ou nós entramos agora, ou tudo estará perdido. Gritou ela.

Ele estava desesperado por dentro, queria impedi-la, mas inexplicavelmente a sua ação foi acompanhá-la para dentro da torre.-Eu sabia que não podíamos confiar neles. Urrou Odrin, todavia não teve muito tempo para continuar reclamando, precisou defender-se de um poderoso golpe de uma clava que ia atingir-lhe o peito. A pancada foi forte, o bastante para jogá-lo para trás estraçalhando seu bastão, mesmo assim ele voltou a lutar.-Não acredito...

Exclamou Bal que lutava ao lado de Dafne. Ele olhou para Arão depois para Cassi com espanto e desânimo, os dois corriam deixando o grupo. Ele tinha sido abandonado por seus amigos.

Arão ainda deu uma última olhada para trás, antes de entrar na torre. Dentro dela as dimensões eram muito maiores que fora. Portas e salas se espalhavam por todos os lados, escadas subiam e desciam em espiral. Passavam por um salão central, onde estátuas repousavam ao lado de vitrais junto às paredes. Ele já conhecia o lugar passara por ali muitas vezes, o local era idêntico ao seu sonho."Algo está errado". Pensou ele.

Tudo acontecia rápido demais. As palavras continuavam a brotar-lhes dos lábios.

-Pare! Arão estava assustado, interrompeu o movimento de ambos.

-Por que tínhamos que entrar? E os outros como ficarão? -Não sei te explicar, mas eu sinto que temos que ir... É como um sonho... Disse a garota querendo se explicar.-Já estou cheio de sonhos. Vamos voltar. Ordenou Arão.- Eu apenas sinto... É por aqui. A garota partiu deixando a cópia para trás-Você sente? Perguntou ele incrédulo correndo para alcançá-la.

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-Como sabe que caminho temos que fazer? Já passamos por tantos corredores, tantas escadarias... Estou me sentindo perdido.-Não se esqueça que já estive aqui. Respondeu a Cassi a Arão. -Sim, eu sei que sim, mas isto são pressentimentos. Minha nossa! Você esta se orientando por uma percepção.-Confie em mim.

À medida que avançavam, seus temores aumentavam. A hora derradeira estava chegando, do jeito que as coisas estavam indo ele não poderia fazer nada.

Chegaram a um corredor composto de pedras hexagonais brilhantes, uma corrente de ar vinha da parte superior, não sabiam por onde ela poderia estar entrando. A iluminação era feita por archotes de ambos os lados, pingos de água caíam do teto e o cheiro de incenso que impregnava o local era muito agradável. No final do corredor uma porta finalizava o caminho.

-O que faremos agora?

Arão estava impaciente.

-Vamos esperar, minhas percepções só me guiam até este ponto. Mas tenho certeza que algo vai acontecer.

Respondeu, embora Cassi mesmo duvidasse que tinha agido corretamente.

-Fizemos a escolha errada. Abandonamos a todos, deveríamos estar lutando. Como Arão queria que ela respondesse que tinha razão e voltassem. Gostaria que a

porta a sua frente jamais se abrisse. Lutava contra seu próprio corpo, mas este repousou seu peso sobre a porta. Ela abriu cedendo ao peso dele. Com a falta de equilíbrio ele quase caiu para trás. Seus piores temores estavam se confirmando."Alguma coisa não está certa". Pensou novamente.

Mas ao entrarem, tudo prosseguia idêntico ao sonho, a sala era grande e escura, o ar sombrio dominava o recinto, havia um local iluminado por uma fresta no teto. Arão sabia que um pergaminho repousava sobre o pedestal. Se olhasse para ele já imaginava o que iria encontrar.

Um ser encapuzado se aproximava do papel enrolado. As sombras do capuz impediam a visão de seu rosto.-Você acredita em mim agora? Cassi estava satisfeita consigo mesma.

Arão avançou em direção ao ser, entretanto seu movimento foi impedido por uma explosão. A parede ao lado não existia mais. Nemamiah que à pouco estivera lutando contra a besta negra na entrada do portão apareceu.-Como você chegou até esta câmara garoto? Saía daqui agora

Como Arão esperava, a besta apareceu pelo buraco da parede, Nemamiah teve que se defender. O garoto voltou sua atenção para o pergaminho, quando foi seguir adiante o ser encapuzado levantou a mão. Arão foi arremessado contra a parede. O bastão escapou-lhe das mãos.

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-Você é uma presa fácil garoto. A voz era arrastada e fria, sem mostrar qualquer sinal de emoção. – Só lhe resta um caminho, morrer...

Cassi tentou impedir, mas ser mais uma vez movimentou os braços, apontando o dedo indicador para garota, dele emitiu-se uma luz branca no formato de um raio. Ela posicionou o bastão a sua frente na esperança de deter o ataque. Este porém, fora muito intenso jogando-a para trás. Ela caiu agonizando de dor. O ser voltou sua atenção para a Arão.-Onde tínhamos parado? A sim eu ia te matar...

Arão estava sem forças, não conseguia nem se levantar, ele estava condenado. Quando o ser lhe apontou o dedo, Nemamiah atirou sua espada, decepando-lhe a mão, entretanto na tentativa de salvar o garoto, descuidara-se por um momento da besta negra. Esta não vacilou, desferiu um golpe certeiro e mortal, o corpo de Nemamiah tombou sem vida.

O ser encapuzado pegou o pergaminho, estava tenso, ficou aborrecido demais depois de receber o golpe do mensageiro, voltou-se para as sombras do aposento e desapareceu... A besta negra que observava a cena sumiu na escuridão.

Arão tentava se levantar, mas ainda se sentia muito franco. Cassi rastejava tentando chegar ao seu encontro. A mão decepada estava caída a sua frente, nela havia uma pequena pedra esverdeada presa por uma corrente. A garota não conseguiu chegar até onde queria , mas pegou o objeto brilhante apertando-lhe contra o peito com o que restava de suas forças até fechar os olhos pela última vez.

Ele sabia o que ia acontecer e não pode fazer nada para evitar. Odrin tinha razão, ele levara um deles a morte. O garoto ajoelhou-se às lágrimas lhe escorressem pela face, os gritos de lamentos foram ouvidos fora da sala.

Ouviu uma voz chamando-lhe, o som vinha abafado, fazendo tudo aquilo ficar distante. A voz era conhecida, parecia Bal. A última visão que teve foi de Cassi caída a sua frente, antes de tombar ao chão sem sentidos.

Arão abriu os olhos vagarosamente, as imagens surgiam-lhe embaçadas. Não fazia idéia de quanto tempo estivera desacordado ou onde estava. Quando sua vista se acostumou com a claridade do lugar, ele viu uma mulher com um vestido branco a sua frente. Ela era muito grande e podia se dizer que estava acima do peso, mas seu sorriso era quente e amigável. De um lado de sua cintura apareceu a cabeça de Bal do outro Dafne.-Quem é você? A voz de Arão saía mole e arrastada.-Sou madame Zoira, um anjo da categoria dos Virtudes, cuido dos enfermos por aqui.-Onde eu estou?-Numa espécie de enfermaria. Dafne respondeu rapidinho a pergunta, como se já soubesse que ela iria ser feita.

Zoira foi à mesa ao lado pegar alguns panos. Enquanto os dobrava, disse ao garoto.-Teve muita sorte rapazinho. Muitos não teriam sobrevivido ao que você passou.

As lembranças de Cassi vieram-lhe a mente. Ele tentou se levantar, mas sentiu-se tonto e caiu na cama novamente.

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-Onde está Cassi? O que aconteceu com ela? Ele queria saber mesmo temendo a resposta que iria receber. Bal amuou o rosto, fez

um sinal de negação com a cabeça. -Ela está na ala feminina. Não permitem vê-la. Também não nos falam se ela está bem ou não. Mas a movimentação dos Virtudes é muito grande naquela ala. Estou preocupado.-Você é mesmo um perigo para seus amigos, sem contar que nos abandonou mais uma vez no meio da batalha.

A voz veio de trás da cama de Arão, Odrin colocava a blusa sobre as costelas enfaixadas. -Nunca ninguém irá seguí-lo, senão acabarão como sua amiga. Xingou saindo da sala. -Não ligue para ele Arão. Deve estar de mau humor porque foi atingido por uma clava no combate. Bal gesticulava muito enquanto falava. -Dizem que o clã dos guerreiros nasceu para lutar, deve ser uma vergonha para ele ser carregado.-Ele foi carregado? -Sim foi. Em um determinado momento as criaturas se retiraram da luta. Nós entramos, fui o primeiro a chegar até onde vocês estavam. Odrin chegou se arrastando. Quando viu você e Cassi caídos, saiu berrando feito louco que você os abandonara, mas desmaiou de dor.-Arão! Bal sussurrou baixo perto dele. -Você é meu amigo, não o culpo como todos estão fazendo pelo que aconteceu com Cassi, mas você nos abandonou na luta.

Arão sentia o ressentimento na voz do amigo.-É melhor vocês irem saindo, ele precisa descansar. Zoira se interpôs entre a cama e Bal. Ele ameaçou falar algo, porém ela foi incisiva. -Não adianta reclamar, vão! Vão!

Bal e Dafne tiveram que sair sem se despedir.

O conselho estava todo reunido. Medar tomou a palavra. -Creio que vocês já sabem das notícias nada agradáveis que tenho para dar. Nosso grande irmão Amagus se foi.

Um murmúrio geral surgiu no conselho. Medar fez um gesto pedindo para que ficassem quietos. -Infelizmente não conseguimos evitar que o pergaminho dos elementos caísse nas mãos de nossos inimigos. Também não podemos arriscar novamente nossos jovens candidatos, estaremos pondo em risco a vida do filho do grande Set.-O que você sugere que façamos? Brandiu uma voz no meio da multidão.-Sugiro que amanhã devemos separar o filho de nosso grande senhor Set do meio dos candidatos. Também está na hora de escolhermos os quatro jovens que se tornarão guardiões. Isso tem que ser feito o mais rápido possível. Eles irão para a região das Cordilheiras Celestiais.

A decisão foi unânime a sugestão de Medar.-Concordo com você. A voz era de Empoly. -Mas como os jovens irão localizar os elementos sem o pergaminho? Você sabe muito bem o que os aguarda naquela região. Os perigos que assolam as Cordilheiras... Sem contar Sekhmet...

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

Um silêncio tomou conta da sala. Todos olhavam assustados para ele.-Meus irmãos! Teremos que contar com a sorte e a ajuda do Criador. Não vejo outra solução para o problema. Alguém tem alguma sugestão?

Ninguém respondeu, o silêncio reinou por alguns instantes.-Está decidido então. Milenus, leve os jovens amanhã até os jardins do templo de Set.-Meu senhor não querendo contrariá-lo, mas mandando os jovens para as Cordilheiras Celestiais sem o pergaminho estamos condenando-os a morte.-O conselho já tomou sua decisão Milenus.-Será como o senhor quiser.

Milenus saiu contrariado.

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A Identidade Revelada...Arão levantou-se na manhã seguinte. Zoira arrumava as camas.

-Acordou cedo! Ela exibiu-lhe um sorriso muito agradável. -É melhor você se apressar jovenzinho, Milenus pediu-me para lhe dar o seguinte recado. Assim que levantasse você deveria ir ao seu quarto, pois no meio da manhã ele passará recolhendo os candidatos.-Para quê?-Não sei. Porém, tenho certeza que é algo muito importante, pois ele me disse para fazer você ir, nem que eu tivesse que carregá-lo no colo.

Ela sorriu mais uma vez, novamente seu sorriso foi o que animou um pouco Arão. -Eu disse a ele que não seria preciso. Que ao acordar você estaria novinho em folha.

Arão estava partindo, virou-se para perguntar.-Alguma notícia de minha amiga Cassi?

O sorriso de Zoira, sumiu por um momento.-Não sei como está sua amiga, mas pode ter certeza que ela está em boas mãos. Precisamos orar por ela.

Arão saiu. Teria que ir para seu quarto, da porta da frente Inimis saía escoltando Damira e Moira. Ele parou a frente delas, esperou Arão passar para prosseguir. Damira esperava ansiosa que Arão lhe desse um pequeno olhar. O jovem, porém passou de cabeça baixa, nem sequer olhou para eles. Em seu íntimo estava preocupado com Cassi. Bal e Dafne já estavam na porta do quarto, esperando Milenus. Arão não teve tempo para fazer nada. Ao chegar junto deles, Milenus apareceu com o restante dos garotos candidatos atrás de si.-Juntem-se a nós, vamos.

Andaram bastante até entrarem dentro do templo de Set, Milenus os conduziu por um caminho que por fim terminava em um maravilhoso jardim.

Milhares de cavaleiros se posicionaram em dois numerosos blocos, alinhados em fileiras idênticas. Em uma, um bloco de cavaleiros com armaduras e elmos dourados, com a cabeça de leão entalhada ao peito e o desenho da pata do leão cravada na ombreira direita, sua coloração era um dourado mais forte que o da armadura. Eram os Dominações, anjos do exército de Set. No outro cavaleiros portando armaduras e elmos brancos com a cabeça de tigre entalhada ao peito, na ombreira esquerda o desenho da pata do tigre. A coloração do desenho era preta. Os Potencias, os anjos que compunham exército de Osíris.

O conselho mais uma vez estava reunido, Arão viu Moira e Damira um pouco distantes dos demais. Em outro canto separado estavam as candidatas a guardiãs. A falta de Cassi o deixou triste.

Arão demorou a perceber que a sua frente uma mão rompia o solo. Ela segurava com um forte aperto uma espada diferente de todas as outras que ela já vira. No cabo dourado um Sol entalhado com uma pedra ao centro. Nela, um leão com a cabeça virada para o lado resplandecia. Sua lâmina exibia um brilho dourado que segava a vista.-Meus filhos, cada Deus possui em seu poder uma arma divina, esta é uma espada sagrada. A meia irmã, a legendária espada do Sol, ela já fez tombar muitos de nossos Inimigos. A

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espada do Leão, o predador que comando os dias. Muitos se curvaram perante seu poder. Reconheceram sua grandiosidade. A mais perfeita das armas. Ela é a garantia de paz e justiça.

Medar fez uma pausa para que todos os jovens absorvessem suas palavras. -Mais uma vez ela se levantará para nos proteger. A Espada do grande Deus Set, ela está assim há tempos, mas hoje um de vocês a empunhará. Esperamos que quem for o escolhido, a use com sabedoria para a glória eterna. Que nossos inimigos tremam diante de seu poder.

Todos estavam quietos ouvindo, Damira olhava para Arão.-Poucos sabem, mas Set teve um filho, deixou-nos um herdeiro, ele, e somente ele, poderá empunhar esta magnífica arma. Ele está entre vós, por uma questão de segurança sua identidade foi mantida em segredo, mas hoje ela nos será revelada. Por favor, aproximem-se.

Formou-se uma fila única. Odrin ficara de lado. O primeiro a tentar foi Lethan, não obteve sucesso, a espada nem sequer se mexeu. Em seguida foi a vez de Yalo, obteve o mesmo resultado do anterior. O próximo seria Keyllor, depois Arão, Bal, Teles e por último Irian. Por mais que Keyllor se esforçasse à espada não cedera um centímetro sequer, ele acabou desistindo.

Chegou à vez de Arão. Ele se posicionou frente à mão, segurou o cabo da espada. Por um momento nada aconteceu, foi quando sentiu uma energia percorrer-lhe o corpo. Ele começou a tremer todo. Os olhares de espanto das pessoas se voltaram para ele, Medar ficou apreensivo, era como se Arão tivesse levando um choque, seu corpo foi arremessado para longe. A espada permanecia firme presa à mão, ela o negara.

Odrin sorriu satisfeito.-Como um celestino ousa tocar a espada de um Deus.

Damira abaixou a cabeça. Arão sentia-se tonto. Bal que era o próximo virou-se para Teles.-Tenha a bondade. Serei gentil e deixarei você ir à frente. Disse indo para o final da fila.

Teles era o próximo. Ao encostar a mão no cabo à espada começou a brilhar. A mão se abriu e ele conseguiu empunhá-la. As cabeças dos leões e os desenhos das patas das armaduras dos Dominações começaram a brilhar também. Todos os Dominações se ajoelharam. -Salvem nosso Deus! Ovacionaram. -Teles filho de Set o Soberano.

A melhor das armas, empunhada por Teles. Desferiu um ou dois golpes no ar, o zunido provocado deixaria com inveja o mais poderoso dos guerreiros. “É assim que deve ser''. Pensou o garoto. O herdeiro de Set, o soberano. Com esta espada ele comandaria os exércitos do firmamento para vitória. Uma nova Dinastia seria implantada.

As esperanças de Damira morreram naquele momento. Bal ajudou Arão a se levantar todos ainda comemoravam o surgimento do filho de Set.-Vamos encostá-lo na parede. Sugeriu Dafne a Bal.

Eles estavam chegando para apoiar Arão contra a parede, quando viram uma figura ao lado de Zoira. A tristeza do garoto sumiu naquele momento, abriu um largo sorriso. Cassi estava ao lado dela, enrolada em um cobertor, toda despenteada.

Os dois se aproximaram.

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-Nossa Cassi! Você está com uma cara horrível.-Não enche Bal.-Pensei que não ia mais vê-la. Arão parecia aliviado, estava ainda um pouco zonzo com tudo que ocorrera.-Mas o que aconteceu? Perguntou Dafne.-Disseram que eu tive sorte.-E teve mesmo. Interrompeu Zoira. -Se não fosse pelo bastão estar a sua frente na hora do ataque, agora você estaria no "Esquecimento".

Proferiu a última palavra mais baixa, de forma mais sombria.-Então o amigo do mastodonte é um Deus. Disse Cassi rindo.-Não importa. Respondeu Arão ainda feliz por ver Cassi.-Bom mocinha, o que importa neste momento é você repousar para amanhã estar bem para a prova.-Prova?

Indagaram Arão e Bal ao mesmo tempo para Zoira.-Vocês jovens não procuram se informar de nada. Já que o filho de Set "está entre nós", amanhã será realizada a prova para definir quais os quatro candidatos que serão escolhidos como guardiões.-Uau! Exclamou Bal.-Vamos indo. Arão olhava Zoira que acompanhava Cassi para dentro."Eu sabia que tinha algo errado. Só não entendia o que... Mas isto parece improvável. A menos que..."

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A Seleção...O dia tão sonhado chegou. Todos os candidatos estavam esperando para saber qual

seria a prova e o que teriam que fazer.Os jovens se encontravam à frente do grande Castelo. Havia um vasto gramado que

terminava em uma floresta de árvores altas bem a suas costas. O sol brilhava com grande intensidade. O portão principal cedeu, foi sendo abaixado segurado por correntes, dele saíram Milenus e Empoly acompanhados por outros sábios. Um deles trazia uma redoma cheia de esferas pequenas. Medar apareceu logo em seguida acompanhado por Inimis.

Alguns anjos se faziam presentes em cima das torres do Castelo, Elas possuíam várias janelas de tamanhos variados. Muitos Dominações faziam a guarda do local. Arão olhou para uma das janelas a raiva transpareceu em seu rosto.-Salvem o filho de Set.

Bradou um dos sábios. Todos se curvaram. Em seu lado direito estava Moira, do lado esquerdo Damira.

Milenus se colocou à frente dos doze garotos.-Hoje nós conheceremos os quatro jovens que serão escolhidos para irem em busca da glória de se tornarem guardiões. Vocês deverão se dividir em três grupos de quatro integrantes cada. Todos tem qualidades e defeitos, por isso os grupos se equilibrarão entre si, ninguém sairá em desvantagem. O grupo que conseguir terminar a prova primeiro, demonstrando assim melhor companheirismo entre si, é o que será escolhido.

Odrin foi separando os grupos deixando os celestinos isolados ao lado.-Não sei quem vai ser o infeliz que irá fazer parte deste grupo. Comentou ele. -Mas já pode se considerar um perdedor.-Não é bem assim Odrin. Não são vocês quem escolhem os grupos. Serão ordenados conforme o desejo divino.

Odrin não entendeu o que Medar queria dizer com aquelas palavras. -Menelau! Medar chamou o sábio que carregava a redoma, ele se adiantou frente aos garotos. - Cada jovem deve tirar uma esfera.-As esferas da amizade. Murmurou Kitrina.-Isso mesmo! Adiantem-se e retirem uma cada.

Enquanto os jovens faziam o que Medar havia pedido, o conselheiro foi explicando o significado daquela ação. -Nas grandes guerras cada cavaleiro levava uma esfera. Ela servia para identificá-los como amigos. Tornando-os assim irmãos de armas no combate. Hoje elas servirão para identificar cada grupo. Emitirão brilhos de colorações diferentes, porém algumas terão brilhos semelhantes entre si, estas serão a que irão compor cada grupo.

Os jovens se prostraram em fila um ao lado do outro, cada um possuía uma esfera em suas mãos. Elas começaram a brilhar inicialmente todas com a mesma luminosidade esbranquiçada. As esferas de Yalo, Lethan, Lissa e Keyllor mudaram para a cor amarela. As de Tiror, Kitrina, Milena e Irian para azul. Odrin não podia acreditar, mas a sua esfera exibia a cor vermelha, a mesma cor das de Cassi, Bal e Arão.-Não. Gritou ele. -Isto está errado.

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-A escolha das esferas não deve ser contestada. Enfureceu-se Milenus. -A menos que você queira desistir de ser um guardião.

Ele abaixou a cabeça consternado.-Não senhor.-Nós decidiremos agora quais provas cada grupo realizará. Aproximem-se. Será selecionado um local dentre as seis maravilhas antigas do mundo dos homens. Nele cada grupo realizará sua missão.-Não são sete? Perguntou Arão a Bal, todavia foi Milenus quem respondeu.

-São sete sim meu jovem. Quando o homem em sua ignorância destruir a última delas em seu mundo, as pirâmides do Egito. Nós as ergueremos aqui no firmamento.-Podem escolher. Pediu Medar.

Arão ia avançar, mas Odrin o barrou.-Eu farei isto celestino.-As escolhas são: o Farol de Alexandria, o Templo de Zeus, o Colosso de Rodes, o Mausoléu de Helicarnasso, o templo de Artemis e os Jardins Suspensos da Babilônia. Eles estão localizados em pontos distintos do firmamento.

Keyllor se aproximou representando o primeiro grupo, escolheu o Mausoléu de Helicarnasso. Tiror foi o segundo, escolhendo o farol de Alexandria. Odrin se aproximou estava indeciso entre o Colosso de Rodes e os Jardins Suspensos.

Empoly sorriu maliciosamente para Odrin.-Escolha difícil. Para um grupo sem esperança.

O garoto se voltou para Medar.-Senhor deve haver algum engano, eu não deveria estar nesse grupo.

Medar se aproximou, olhou com muita paciência, entendendo o que o jovem sentia.-Entendo o que você deve estar sentindo, mas as esferas não se enganam. Você está neste grupo por algum motivo.

Medar acompanhou Odrin que se dirigiu até a placa que dizia Jardins Suspensos da Babilônia.-Revelaremos a missão de cada grupo. Anunciou Milenus. -O primeiro grupo irá ao Mausoléu de Helicarnasso e deverá trazer a grande cruz dourada. Ela se encontra dentro do recinto onde repousa os resto do rei Mausolo, marido e irmão da rainha Artemissa II. Entretanto deverão ter cuidado, pois antes de chegar até ele deverão passar pelos seus servos, os "mortos", que tem a missão de guardar a cruz de seu mestre.-O segundo grupo, do Farol de Alexandria, deverá roubar a chama eterna que brilha no topo do farol, trazendo-a nesta pequena redoma. Cuidado, vários seres e animais alados vivem perto do farol e idolatram sua chama. Ela é sua razão de existência... Logo não permitirão que vocês partam com tanta facilidade.-Por fim, o terceiro grupo, ele irá aos Jardins Suspensos e deverá trazer o dragão de luz. -Podem partir, sigam em direção as árvores da floresta, quando as atravessarem estarão nos locais desejados, para voltar devem utilizar o mesmo caminho.

Anunciou Medar tomando o lugar de Milenus.-Vai ser moleza! Disse Bal. -Nós não precisaremos passar por ninguém para pegar esse tal dragão de luz? Questionou

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

Arão.Milenus se aproximou deles.

-Eu não estaria tão contente se fosse vocês. O dragão de luz não é uma estatueta que vocês terão que simplesmente pegar. Duvido que vocês consigam vê-lo, quanto mais trazê-lo para cá. -Lembrem-se. Gritou Milenus enquanto os grupos partiam em direção as árvores da floresta. -Sejam rápidos, pois o primeiro grupo a chegar será o vencedor.

Os grupos se separaram e entraram na floresta. Caminhavam seguindo sempre em uma mesma direção. Poucos metros à frente já não conseguiam mais ver o sol devido à altura e a proximidade das árvores. Poucos raios penetravam na mata. As árvores, todavia acabavam misteriosamente e os quatro garotos saíram em frente a um enorme arco. Ficaram extasiados com a visão: flores e cachoeiras com águas cristalinas. Arco-íris se espalhavam por todos os lados. Havia inúmeras elevações com árvores e pedras, nelas pequenos lagos naturais se formavam. As cores vivas impressionavam. Algumas escadas subiam para níveis superiores, de onde também escorriam águas. A maioria das partes dos jardins estava suspensa no ar. Pássaros sobrevoam todo o terreno dando uma magia especial ao local.-Que maravilha! Exclamou Cassi abaixando-se para pegar uma flor.

Dafne voava de um lado para outro eufórica.-Que pedra é essa em seu pescoço? Perguntou Bal a Cassi vendo o brilho esverdeado no corpo da garota.

Ela colocou a pedra dentro da blusa escondida dos olhos de todos. Olhou para Arão, mas voltou-se para Bal ao responder.-É um presente que pretendo devolver, quando encontrar quem me deu...-Não entendi.

Arão mudou de assunto.-Então como achamos esse tão dragão de luz? Completou o garoto em seguida. -Não deve ser difícil localizar um dragão. -Na verdade é. Respondeu Bal. -Segundo meus conhecimentos, o dragão de luz é uma criatura mítica e antiga, muito pequena, na verdade menor que Dafne.

A Ninfa ficara ofendida com a comparação. -Mas muito veloz. Seu nome vem do fato dele emanar luz própria do corpo. Não é feroz, mas também não se aproxima de nenhum ser vivo e também não deixa que ninguém se aproxime dele. Podemos levar uma eternidade para capturá-lo. Mas como disse antes: Vai ser moleza! Afinal vocês estão com o grande Balduíno.

Dafne fez uma careta.-Precisamos ficar atentos. Alguma sugestão? Perguntou Cassi.-Vamos andar em linha, separados alguns metros um dos outros para cobrir uma área maior. Enquanto Dafne poderá voar, vendo se avista alguma coisa lá de cima.

Os jovens pareciam satisfeitos com as palavras de Arão, porém Odrin contestou.-Façam como quiserem, mas eu não vou seguir ordens de nenhum celestino. Irei a meu

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modo e capturarei o dragão sozinho.-Somos uma equipe. Cassi ficara irada com Odrin. -Temos que estar unidos senão perderemos.–O Arão sabe o que faz. Falou Bal.-Assim como quando o abandonou e quase levou sua amiga a morte? Retorquiu Odrin.

Bal ficou em silêncio, ainda ressentia-se um pouco com o fato de Arão os ter abandonado na batalha da torre do manuscrito.-O que ele quer dizer com isso? Questionou Cassi.

Bal ia responder, mas Dafne os interrompeu.-Olhem vejo alguma movimentação numa lagoa logo à frente.

Os quatro partiram rápido, cada um tinha levado um pequeno rolo de cordas para amarrar o dragão ou fazer uma armadilha para o mesmo. Avançaram por uma grande parte do jardim até chegar à lagoa que estava completamente revirada. A destruição se fazia presente em cada canto, dividindo os jardins em duas partes. Algumas partes dos jardins estavam queimadas, outras tinham pequenas pedras de gelo esparramadas pelo chão, flores congeladas...-Nossa! O jardineiro não costuma visitar estes lados. Disse Bal.-O que houve com esta parte do jardim? Arão olhava para os lados. –Nem parece que estamos no mesmo lugar. Eu pensei que todo ele fosse belo.-Alguma coisa aconteceu aqui. Resmungou Cassi. -Não estou gostando disso.-Fiquem atentos. Pediu Arão.

Odrin fez que não ouviu, indo a frente deles. Procuraram em toda a beira da lagoa, mas nenhum sinal do dragão de luz, o tempo ia passando...

No castelo todos esperavam olhando para as folhagens. O primeiro grupo a aparecer foi o do Farol de Alexandria cansados, mas alegres. Tiror exibia orgulhoso a redoma com a chama do Farol. Pouco tempo depois apareceu o segundo grupo, do Túmulo de Mausolo, exibindo a cruz dourada, alguns garotos estavam sujos, com suas vestimentas rasgadas e não ficaram animados ao ver que foram os segundos a chegar. O tempo foi passando e nada do grupo dos Jardins Suspensos da Babilônia chegar.

-Não estou vendo dragão nenhum. Gritou Dafne de cima. -Dragãozinho, aqui dragãozinho. Chamava Bal subindo em uma pedra na beira da lagoa.-Estamos perdendo muito tempo. Disse Arão.-Se vocês não atrapalhassem já poderíamos ter achado o dragão. Reclamou Odrin.

Cassi notara um pequeno brilho ao lado de uma pedra. Avançou em silêncio, podia ser o dragão de luz. Se fosse rápida poderia pegá-lo desprevenido. Contornou a pedra, deu um pulo veloz sobre o que acreditava ser o dragão. Caiu sobre uma estátua de gelo que se espatifou toda. Ela pegou um pedaço grande em formato de uma pequena cabeça de dragão, soltando um grito de espanto e medo ao mesmo tempo.

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-O que foi isso? Perguntou ArãoBal respondeu com cansaço em sua voz.

-É a histérica da Cassi, no mínimo deve ter esbarrado em alguma lagarta. O garoto deu um grande suspiro.

-Eu desisto, passamos quase o dia todo procurando esse danado e nem sinal dele. Acho que já se mandou daqui.-Cuidado! Gritou Cassi.

Bal encostou-se em uma pedra. Ela se moveu, um ruído veio junto com bolhas feitas na água. Um olho se abriu da pedra. O garoto teve que se segurar para não cair. Uma cabeça enorme de dragão saiu de dentro da lagoa, urrando. A pedra afundou-se e subiu rapidamente, Bal saiu encharcado das águas. A lama da pedra se desprendeu, só daí Bal percebeu que estava em outra cabeça do dragão. O animal tinha duas cabeças e levantara-se da lagoa, o nível das águas abaixara consideravelmente, seu tamanho assustava, seu urro era estarrecedor.-Mas que coisa é essa. Arão parecia ínfimo frente ao monstro. -Bal seu mentiroso, você disse que ele era pequeno e manso. Gritou para o garoto preso à cabeça do dragão.-Acho que ele se enfureceu de tanto nos esperar. Gritou Bal com muito medo.-Esse não é ele. Odrin aproximou-se de Arão.-Não é mesmo. Cassi exibia em sua mão a cabeça do dragão de luz congelada.-Vamos recuar.-Você quer dizer, correr. Disse Cassi a Arão.

O dragão perseguia os três, Dafne voava sobre uma das cabeças onde Bal se matinha agarrado.-O que vamos fazer Arão? -Não podemos fazer muito daqui de baixo, precisamos ir para as árvores.

Odrin entendeu o que Arão pretendia, o dragão se dirigia para as árvores da floresta. Bal escorregou sobre as narinas do dragão. O monstro lançou-lhe longe através das árvores com sua respiração.

-Está ficando muito tarde. A voz e expressão de Milenus denotavam clara impaciência. -Não é possível que demorem todo esse tempo para capturar um simples dragão.-Eu disse que esses celestinos jamais conseguiriam se tornar guardiões. Inimis virou-se para Medar. -São uma vergonha para nós. Tenho pena de Odrin estar no meio deles. Acho que deveríamos reconsiderar a posição dele.

Lissa se adiantou à frente dos dois.-Aposto que a culpa do atraso é dos celestinos. Com certeza Odrin foi atrapalhado por eles.

Um bando de aves voou assustadas da floresta em frente ao castelo. O chão tremeu uma vez, duas vezes. Um urro assustador foi ouvido.-O que foi isso? Questionou Milenus voltando sua atenção para as arvores ao fundo. Os anjos se agitaram no castelo. Uma esfera prateada surgiu do meio das árvores, vindo a uma grande velocidade. -Protejam-se. Gritou Milenus.

Muitos se abaixaram à esfera passou por eles, Dafne a acompanhava de perto. Ela

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chocou-se contra a parede do castelo, esta cedeu em parte, blocos de pedra caíram sobre a bola. Todos olhavam espantados para ela, sem entender o que poderia ser aquilo.

A esfera se desfez, Bal saiu do meio dos blocos se limpando.-Você está bem? Dafne sorria a seu lado.-Ainda bem que lembrei deste encantamento de proteção, senão seria meu fim. Preciso agradecer Calisto pelo livro. Temos que voltar!Preparava-se para voltar para floresta, porém Milenus o interceptou.-O que está acontecendo? -Espere só um minuto que já vamos trazer seu dragão.

Saiu de lado, voltando para a mata. As árvores impediam a visão dos que estavam no castelo de ver o que se passava.

Passados alguns segundos, Bal e Cassi apareceram correndo de dentro da floresta em direção ao castelo. Dafne voava logo atrás. As árvores tombavam aos montes, o dragão apareceu, com uma corda em volta de cada pescoço. Arão em cima de uma cabeça e Odrin em outra. Os dois não conseguiam pará-lo, mas por estarem em cima das cabeças não eram atingidos pelo monstro.-Meu Deus! É Ardrieza. Falou Inimis.-Mas como isto é possível. Proclamou Milenus confuso e assustado ao mesmo tempo.

Os anjos do castelo partiram para combater o temível dragão. Muitas das pessoas que esperavam os garotos corriam de medo. O monstro avançava em direção ao castelo expelindo fogo por uma boca e um ar gelado pela outra. Medar tentava organizar todos os sábios do conselho.-Vamos nos juntar.-Podemos vencê-lo? Perguntou Milenus.-Acho pouco provável, ele é um Titã.

Por fim um aglomerado se juntou para tentar conter o avanço do dragão. Keyllor pegou seu bastão, correu em direção ao monstro, uma das cabeças expeliu fogo sobre o garoto. Ele levantou o bastão para se defender, quando as chamas se extinguiram, nem keyllor, nem o bastão existiam mais. Milena caíra à frente do monstro. Yalo e Helian foram ajudá-la, a cabeça que expelia gelo os atingiu com um jato de ar frio. Foram congelados instantaneamente. Helian que estava voando caiu sobre Milena e Yalo, o choque fez seus corpos quebrarem em milhares de pedaços menores.-Concentrem-se. Ordenava Medar apreensivo. -Não podemos vencê-lo, mas vamos tentar fazê-lo perder os sentidos.

Até os esforços dos anjos eram em vão contra o titã enfurecido. Teles pulou para o campo de batalha ia combater também.-Nossa força de pensamento não vai funcionar enquanto o dragão estiver concentrado na luta, precisamos distraí-lo, tirar sua concentração. Berrou Medar para Milenus.

A cabeça que expelia fogo mirava em Moira e Damira. O fogo saiu veloz, Arão usou as cordas para chegar até elas. Laçou com uma das extremidades a haste de uma das torres e se atirou sobre as garotas segurando a outra extremidade, jogou-as para longe dali. O fogo deixou um buraco na parede.

Damira abraçou Arão com medo. Este só teve tempo de empurrá-la para o lado da varanda. A cabeça que expelia gelo trombara contra a parede onde Arão estava. O garoto

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acabou dentro da boca do monstro que movia a cabeça de um lado para outro.Teles pegou a sua espada do sol, a espada do leão. Com ela conseguia atravessar a

pele do dragão com seus golpes. Furou-lhe uma pata. Da boca do dragão percebia-se uma luminosidade, enquanto pequenas quantidades de gases gelados saíam das narinas. Ela foi se abrindo aos poucos Arão estava ajoelhado com os braços estendidos.-Damira! Gritou ele.

Teles atingiu a perna do monstro, a cabeça baixou, batendo no chão, Arão rolou e caiu imóvel. Algumas partes de seu corpo estavam brancas, pareciam congeladas.

Os anjos puxavam as cordas do pescoço do monstro tentando derrubá-lo. Teles furou novamente a pata do monstro. O dragão tirou as duas patas dianteiras do chão, no mesmo instante em que Odrin que pulara da cabeça do animal momentos atrás, corria com uma tora embaixo do braço para acertar-lhe o corpo. Isso, mais a força dos anjos derrubaram o dragão.

Os sábios conseguiram assim, dominar o monstro. Fizeram-no dormir com sua força de pensamento, finalmente a besta estava fora de combate. Nada se falava sobre o resultado dos grupos. O ocorrido aquela tarde deixara um estrago incomensurável, a destruição estava presente em toda parte.-Não toquem nele. Pediu Milenus vendo Arão deitado com os jovens Bal e Cassi parados ao seu lado tentando ajudá-lo. -Temo que seja tarde para seu amigo. Mas mesmo assim vamos levá-lo para Zoira.

Milenus se aproximou de Medar. -Milena, Keyllor, Yalo e Helian estão mortos.-Teremos que nos virar com o que restou, além do mais fora Milena o grupo vencedor ainda está aqui.-Mas como explicar Ardrieza?-O poder dos livros... Disse Medar sombriamente.

Zoira observou os guardas colocarem o garoto sobre a cama. Sua primeira análise não a deixou nada animada. Várias partes de seu corpo estavam esbranquiçadas por causa do gelo. Ele tremia, às vezes mesmo inconsciente.-Você parece ter gostado daqui. Disse mais para si mesmo do que para alguém, também não ria como antes a cada piada que fazia.

Olhou para porta viu três rostos apreensivos. Cassi e Bal estavam com as cabeças coladas ao batente enquanto Dafne flutuava acima com uma mão na cabeça do garoto e a outra na cabeça da garota. Zoira foi até eles.-Acho melhor vocês irem descansar.-Ele vai ficar bom? Cassi perguntou tentando forçar um sorriso.-Não vou mentir para vocês, a situação dele é muito delicada. Ele não está nada bem. Viu os rostos dos três se contraírem. -Esta noite será crucial para sabermos se ele ficará bem. Vamos, rezem por ele tenho certeza que suas orações vão ajudar.

Tentou ser otimista, mesmo sabendo do estado deplorável que o jovem se encontrava.

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Os jovens se retiraram a pedido de Medar e Milenus. Empoly estava ao lado, mas não disse nada. Os dois se reuniram mais tarde com Zoira ao lado da cama de Arão.-O que você acha? Perguntou Medar.-Não creio que passe desta noite. Ela fez um sinal de negação com a cabeça. -Esses ferimentos em seu corpo são terríveis.

Neste momento Arão emitiu um gemido na cama. Empoly se aproximou.-Ele não tem chance. Afirmou.

Zoira ignorou o comentário dele.-Como os senhores podem ver ele está tendo alucinações. Não posso fazer nada contra isso. Ele deve estar sofrendo muito.Milenus se adiantou um pouco.-Não há nada que possamos fazer? Perdemos quatro vidas hoje... Deve haver alguma coisa...-Passarei a noite fazendo orações para este jovem. Mas não creio que faça diferença. Mesmo que a força interior dele seja fortíssima e ele escape, o que acho pouco provável. Ele nunca estará pronto para partir amanhã com os outros candidatos.-Então ainda há uma esperança para que ele se salve? Medar olhava assustado, pois via como o jovem parecia debilitado.-Milagres acontecem. Mas a face de Zoira não fazia jus a suas palavras. Empoly balançou a cabeça em sinal de negação.

A noite corria, a lua avançava para cumprir seu tenro caminho entre os horizontes. Em uma das salas os quatro seres se ajoelharam ao verem a entrada de seu mestre. O ser imponente se postou à frente deles entregando nas mãos do mais próximo um rolo de papel.-Este é o pergaminho que nos levará a vitória.

Jitar ergueu a cabeça, o brilho da luz refletiu no pedaço de metal em seu rosto. Aceitou o objeto com muito prazer.-Como estão indo seus planos, mestre?

O ser a quem chamavam de mestre, que não saía das sombras, respondeu com um brilho estranho no olhar.-Não poderiam estar melhores. Meus inimigos estão caindo todos a meus pés. Esse pergaminho levará vocês direto ao local onde os elementos estão. Enquanto os candidatos terão que passar pelos perigos das Cordilheiras Celestiais, jamais conseguirão... Vocês se tornarão os meus guardiões e ninguém poderá nos deter. Quando ele chegar ficará satisfeito com nossa conquista. Fiquem prontos! Amanhã quando a passagem se abrir para os candidatos vocês deverão passar também.-Como desejar mestre. Respondeu Jitar.-Você está vendo Sender, vamos nos tornar guardiões. Sussurrou Molf.-Cale a boca. Ordenou Sender babando.-Podem ir. Hoje preciso terminar de eliminar meus inimigos.

Os quatro se levantaram e partiram. O ser ria, seu riso era medonho e invadia os

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corredores desertos.

Zoira olhou mais uma vez para o garoto, estava nu apenas coberto por um lençol.

-É triste ver um jovem assim nestas condições. Garotos não deveriam morrer.Acendeu algumas velas para que o aposento ficasse iluminado. Foi até a porta e

voltou seu olhar para a cama onde o corpo debilitado repousava.-Voltarei em breve. Não posso fazer muita coisa, mas se você partir, ao menos quero estar ao seu lado. Jamais abandonei alguém que estivesse sobre meus cuidados.

Fechou a peça de madeira, desaparecendo no corredor. Olhos observavam Zoira partir, esperavam que ela se distanciasse para se aproximar do quarto em segurança.

A porta foi deslocada com cuidado, abriu-se lentamente, a sombra de um corpo penetrou no aposento avançando devagar. As chamas das velas tremulavam enquanto uma brisa entrava pela janela. Arão continuava deitado, as alucinações pioravam, ele gemia mais e em intervalos menores.

O ser olhou-o curiosamente por um tempo, atento a tudo que se passava, o garoto ficou quieto de repente. Das sombras uma mão surgiu, tocando o braço de Arão, ele emitiu um pequeno gemido.

Um sorriso tímido brotou na face tomada pelas sombras. Envolveu o corpo do garoto em um tapete. Como que por mágica seu corpo começou a flutuar. Arão foi levado para fora de seu quarto. A porta se fechou quando a sombra do corpo retirou-se. O corpo de Arão foi levado para o quarto vizinho e repousou sobre uma cama, os olhos de seu seqüestrador os seguiam. Duas velas foram acesas, a iluminação não era muito forte, mas o suficiente para espalhar luz sobre o tronco de Arão. Um casaco branco e grosso caiu ao chão, na claridade da luz as mãos tiraram o tapete que cobria o garoto. A cena era triste, o jovem estava tão indefeso, tão perto do fim.

Um corpo feminino entrou no raio de iluminação das chamas das velas. Tirou o casaco que a protegia, usava uma finíssima e transparente roupa debaixo, mais parecendo um vestido. Ele mostrava as curvas de uma beldade, o corpo perfeito, de pele suave e aroma agradável. Aproximou-se mais. -Você me salvou duas vezes. Nesta noite de grande provação para você eu precisava estar ao seu lado. Agora é minha vez...

A voz de Damira saiu como um sussurro doce e suave. Ela deu-lhe um beijo na testa, recebeu uma lamuria inconsciente como reposta, mas logo tudo ficou quieto.

A candidata deitou-se ao seu lado, encostou-se nele aos poucos. Ele gemia quando cada parte de seu corpo era tocado, entretanto ela se ajeitava devagar. Seus braços o envolveram, colocou uma das pernas no meio das dele, seus seios tocaram o peito dele. Ele estava gelado, e as vestimentas dela não lhe forneciam proteção alguma. A pele dela arrepiou-se toda. Aconchegou sua cabeça junto à dele. Uma lágrima rompeu-lhe o rosto, caindo na face do garoto.

Damira adormeceu a seu lado, teve um sonho tranqüilo, sem perceber, o momento em que duas luzes cruzavam o corredor em frente ao aposento em que estavam. Zoira voltou algum tempo depois, abriu a porta do quarto. As chamas das velas ainda

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estavam acesas, porém já tinham consumido mais da metade da peça cilíndrica de cera. O colchão da cama estava jogado ao lado, todo arranhado, o corpo do garoto tinha sumido.

Ela entrou em desespero, a porta se fechara atrás de si, um barulho veio de dentro de um grande armário ao fundo do cômodo. A mulher ficou indecisa sobre que decisão tomar. Finalmente se decidiu, passou com cuidado por cima da cama, indo até o móvel.

Abriu-o esperando encontrar algo, mas ele estava vazio. Ao virar-se tropeçou em uma coberta e caiu. As chamas das velas se apagaram. Pode ver por baixo da armação da cama a porta se abrir, Alguma coisa estava parado na abertura que surgira, não conseguia enxergar o que era, mas sabia que se tratava de uma presença maligna.

Seu corpo ficou paralisado, o medo a dominava, esperava não ser notada, passado um tempo conseguiu se controlar. Rastejou por trás da cama, quando olhou outra vez para a porta, não havia nada. Levantou-se, procurou por todos os lados, nada. Deu um suspiro profundo."Já foi embora". Pensou mais aliviada.

Puxou o colchão para colocá-lo sobre o estrado, tornou a se virar, mas desta vez duas luzes se acenderam, caíram sobre ela numa silhueta rápida e mortal. Seu corpo tombou sobre a armação da cama. Damira foi acordada por um barulho vindo da parede ao lado. Arão continuava deitado junto dela. Ouviu ruído de passos no corredor, colocou seu casaco, olhou pela fresta da porta e viu Potências correndo. Reconheceu a voz de Milenus. -O que aconteceu aqui?-Alguém atacou Zoira. Ouvimos o barulho, viemos o mais rápido que podemos, mas não conseguimos capturar o responsável.-E o garoto que estava com ela?-Não há nenhum sinal dele.-Quero uma busca já. Revistem todos os quartos do corredor. Revistem todo Santuário se necessário, quero que o achem.-Mas senhor disseram que ele não passaria dessa noite. É provável que já esteja morto. Disse um dos Potências.-Traga-me o corpo provando isso. Rugiu ele com raiva e partiu corredor adentro.

Damira precisava sair dali urgente. Lembrou-se das palavras de advertência de Arão, onde as candidatas a deusas deveriam ser mortas, ela se arriscara mais uma vez, porém desta vez não se importava.

Olhou uma ultima vez para o garoto deitado, não queria abandoná-lo, mas não podia fazer nada. Com certeza os guardas viriam ao quarto e o encontrariam. Se olhassem esse primeiro, iria ser pega. Um potência vinha em direção a porta onde estava. Ia abri-la, quando outro o chamou.-Venha ver isto.

Ela segurou a respiração e fechou os olhos, por sorte os guardas foram ao outro cômodo. Isso deu tempo para ela fugir pelo corredor. Saíra assustada, andou pensativa pelas galerias estreitas, lembrava-se da imagem de Arão. Ele não se mexera uma única vez, continuava no mesmo estado. “Será que todo meu esforço foi em vão?”

Virou o corredor para chegar em seu quarto, alguém a esperava.

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-Inimis!

Na manhã seguinte o conselho estava todo reunido tomando decisões importantes. -Vamos mandar os jovens esta noite. Medar comandava a reunião. -E quanto a Milena? Milenus confrontara o olhar de Medar. -Ela fazia parte do grupo que venceu a prova, quem irá substituí-la? -Por sorte, a maior parte do grupo vencedor sobreviveu. Lethan ou Lissa ocupara seu lugar, no momento certo os elementos decidirão. Enviarei com junto com os garotos três sábios. Como estão sem o pergaminho eles serão de grande ajuda.-Não devíamos mandá-los. É inútil. Empoly se levantara do seu lugar. -Sem o pergaminho, estamos enviando-os para sua própria destruição.-Me parece que você não quer a proteção dos guardiões.

Todos ouviam as palavras de Medar. -Ou será que tem uma sugestão melhor?

Empoly sentou-se quieto em seu lugar. Um dos sábios se levantou.-O conselho sabe que a situação é difícil, não gostaríamos de mandar essas pobres crianças para as Cordilheiras Celestiais, porém não vemos outra alternativa. Espero que todos estejam de acordo.

Todos assentiram. A decisão foi mantida pelo conselho, os jovens partiriam esta noite.

No final da tarde Milenus foi aos aposentos de Medar.-Entre meu amigo. Milenus entrou receoso. Em seu rosto traços de preocupação se tornavam visíveis. -A decisão do conselho me deixa apreensivo... Aqueles garotos nas Cordilheiras...-Eu sei... Mas no fundo você sabe que não temos muito o que fazer...-Isso é loucura. Estamos condenando aqueles garotos à morte..-Não podemos fazer mais nada. A decisão já foi tomada...

Milenus ficou quieto. Medar estava absorto em seus pensamentos, caminhou a passos lentos até a janela."As Cordilheiras Celestiais, local sombrio do firmamento, nela as batalhas contra as forças do reino inferior foram terríveis. Os primeiros a se converterem para o lado das trevas no firmamento vieram de lá. Da montanha da traição. Tempos em que o Retalhador de Almas ceifava as almas que se converteram para o lado das trevas a mando dos magos da Cidade Superior. Seu perdão no final da guerra veio junto com o voto de fidelidade ao Criador. Épocas obscuras essas que as forças do bem usavam o mal para destruir o próprio mal. Será que a presença das trevas liberou o lado mais sombrio existente nas Cordilheiras novamente? Os sentimentos que sempre estiveram adormecidos retornaram? Teriam os votos sido quebrados?".

Seus pensamentos foram interrompidos pelas palavras de Milenus.-O que me intriga nisso tudo, é que me parece que desta vez você concorda com a decisão

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do conselho.-Espero não parecer um carrasco a seus olhos, meu amigo. Mas Sekhmet anseia por essência do povo da Cidade Superior, sem o pergaminho com certeza eles irão confrontá-lo.-Quer dizer que fora os quatro escolhidos, os outros estão indo somente para satisfazer a sede de Sekhmet. Serão ''iscas'' para que os guardiões escapem. Medar abaixou a cabeça com vergonha de suas próprias palavras.-Quem sabe com este pequeno sacrifício, ele não poupe os quatro escolhidos.-Eu irei com eles.-Não pode! Medar foi enfático em sua afirmação. –Mais do que nunca precisamos de sua presença no Santuário. Você sabe disso. O filho de Set precisa de seus conhecimentos.

Milenus sabia que era verdade. Virou-se e partiu da sala sem dizer uma palavra sequer. Em seu íntimo ele temia pelo futuro do reino. Os garotos jamais conseguiriam. A noite chegara, Jitar entrou nos aposentos de seu mestre.

-O que aconteceu meu senhor? Jitar ajudou seu mestre a se levantar.

-Não tenho mais a pedra. Ele não me obedece, está desenvolvendo vontade própria. Logo nem a pedra ele temerá mais. Ouviu me falar sobre os elementos, a Cordilheiras Celestiais e Sekhmet.-O que faremos?-Por enquanto nada. Eu imagino quais são seus planos. Ele deseja mais força, mais poder, nas Cordilheiras ele o encontrará.-Não quer que o matemos, mestre? -Matar? Riu ele. -Vocês seriam mortos facilmente. Já não são mais páreos para ele. Deixem-no, ele ainda poderá nos ser de grande valia. Aposto que ele acompanhara o grupo que partira esta noite.-Por que pensa assim, mestre?-Porque na montanha da traição se encontra o poder para torná-lo pleno. Preparem-se para partir.

As gargalhadas do mestre eram medonhas."Maldito seja Ente da Noite". Pensou Jitar.

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A Peregrinação... Os jovens logo partiriam para a região das Cordilheiras. Estavam se aprontavam para seguir em sua missão. Os últimos preparativos estavam sendo feitos.-Vamos Lethan, devem estar nos esperando.-Pode ir na frente Tiror, já alcanço você.

O garoto arrumava sua mochila com seus pertences para se juntar aos outros. A noite estava agradável, uma pequena brisa vinha do leste. As poucas nuvens no céu não conseguiam encobrir a lua em sua magnitude."Ainda tenho uma chance de me tornar um guardião. Não vou desperdiça-la". Pensou o garoto.

A porta do quarto fechou-se às suas costas.-Tiror é você? Já disse que estou indo.

As chamas das velas do aposento se apagaram.-Tiror?

O garoto virou-se espantado com o ocorrido. Não teve tempo para se defender. Duas luzes caíram sobre o garoto, nenhum grito foi ouvido.

O grupo estava reunido na praça central. Os sábios em pé a frente deles. Teles, Moira e Damira ocupavam a posição central. -Pensei que não fosse vir mais. Disse Tiror a Lethan.-Tive um pequeno contra tempo, mas está tudo bem.

A conversa dos dois fora interrompida por Medar.-Meus jovens a passagem para as Cordilheiras se abrirá em poucos instantes. Ela permanecerá aberta enquanto a lua estiver na extensão central do céu. Os sábios Sorai, Nicol e Filas os acompanharão, confiem neles. Tenho certeza que serão bem sucedidos. Todos receberão um bastão de energia com três pedras cada, eles estão em sua potência máxima, espero que lhes sejam úteis como arma para se livrarem dos inimigos e proteção para salvar-lhes às vidas. Estão prontos?

Todos acenaram com a cabeça.-Esperem! A voz de Milenus tomou a atenção de todos. -Acho que mais alguém gostaria de se juntar ao grupo.

Do escuro do corredor, um jovem saiu para tirar exclamações de todos.-Impossível!-Mas como?-Ele estava quase morto.

Arão avançou em direção ao grupo, pegando um bastão, Cassi veio ao seu encontro e deu-lhe um caloroso abraço.-Como você se recuperou tão rápido?-Não sei, acho que foi um milagre.-Que assim seja! Pronunciou Medar surpreso. -Estão prontos?

O portal se abriu, os jovens e sábios partiram. Um sorriso brotou nos lábios de Damira enquanto olhava a despedida dos jovens.

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“Nossas esperanças partem com esses jovens". Os pensamentos de Milenus voavam por um futuro incerto.

A multidão se retirou do local logo após os garotos partirem. A praça estava deserta. A lua se preparava para iniciar sua descida dos altos céus, o portal permaneceria aberto somente mais alguns instantes, porém foi tempo suficiente para que quatro formas cobertas por capuzes pudessem passar.

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Parte IIRastros de Destruição...

As lareiras das casas às margens da lagoa se encontravam em grande parte acesas àquela hora da madrugada. O frio característico da região não cedera em nada. Os cães não ousavam sair de suas casas aquecidas. A aldeia se encontrava em total silêncio, a maioria dos moradores dormia. Ínfimo foi o número de olhos que viram um objeto cruzar os céus naquela noite. As águas cristalinas da lagoa estavam agitadas, a superfície se revolvia quando os sopros de ventos a incomodavam.

O impacto que ocorreu movimentou ainda mais as águas, formando ondas que invadiram a terra. Muitos barcos parados às margens foram atirados por terra, tombando de ponta cabeça. Os cães começaram a latir acintosamente. Aos poucos as pessoas acordavam para verificar o fato anormal que ocorrera.

krisna foi uma delas, morava no final da aldeia, distante da lagoa. A garota dormia tranqüila ao lado de seu cachorro, quando o acontecido a assustou, roubando-lhe o sono. Levantou-se com o rosto um pouco inchado e com marcas das cobertas. Caminhou até a janela para verificar o porquê de toda aquela agitação. Viu várias pessoas que se movimentavam desesperadas, outras formavam um aglomerado na praça central. Seu cachorro se escondera assustado embaixo da cama, ela fazia um tremendo esforço para alcançá-lo.-Errn venha cá garoto.

O primeiro contato se deu com os habitantes que moravam rente a lagoa. Observavam espantados e curiosos os pequenos pontos negros surgirem de dentro das águas, aos poucos estes iam se dirigindo para as margens, quanto mais rasa a lagoa ficava mais os pontos ganhavam forma.

Rostos deformados emergiam de dentro das águas geladas, corpos mutilados que traziam consigo armas com um estranho brilho negro em suas lâminas. Os moradores só entenderam o que estava acontecendo quando era tarde demais.

As criaturas sedentas pelo caos avançaram sobre eles ceifando-lhes as vidas sem piedade, queimavam as casas, destruíam tudo o que encontravam pela frente. Não havia escapatória, a morte esperava os habitantes do local enquanto o fogo ardia causando um rastro de destruição. O pai de krisna estava na sala em pé, com um arco nas costas, uma lança nas mãos e seu chicote na cintura, ele era um excelente caçador. E graças à caça que realizavam regularmente krisna também aprendeu a arte de atirar com o arco e flecha. Os homens da aldeia praticavam a pesca usando lanças nos rios rasos e com eles aprendeu a manejar lanças e bastões não só para pesca, mas para defesa pessoal também. Era jovem, mas sabia se cuidar. Tornou-se uma excelente caçadora. Movimentava-se com muita agilidade pela mata em busca de presas que serviam de alimentos para família. Os moradores diziam que era melhor do que muitos caçadores experientes da aldeia.

Juni era uma mulher ruiva, corpulenta e de personalidade forte. Ela ajudava a cuidar da casa. Normalmente ficava com a menina quando o pai de krisna saía em suas longas

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temporadas de caça e não podia levá-la. Apesar de que, nas últimas vezes que tinha se ausentado levou a filha em sua companhia.

Quando ele entrou no aposento a porta ficou aberta atrás de si. Pela fresta a visão dos homens correndo assustados continuava. Eles empunhavam arcos, lanças ou mesmo facas e seguiam em direção a lagoa, enquanto mulheres e crianças partiam aflitas na direção oposta. Juni fechou o objeto de madeira com uma batida seca. -Dizem que casas a beira da lagoa ardem em chamas, homens-demônios estão invadindo a aldeia, destruindo tudo, matando sem piedade, nem os animais são poupados.

krisna aparecera novamente, mas desta vez trazia a lança que o pai lhe fizera em uma das caçadas.-Juni cuide de krisna, irei ajudar nossos irmãos.-Irei junto. Proclamou a menina obstinada.-Não! Não irá.

O pai ajoelhou-se à frente da garota, ela era seu orgulho e se tornara uma garota muito linda. Tinha cabelos loiros, um pouco abaixo das orelhas, entretanto eram os olhos verdes claros o que mais chamava a atenção em sua aparência. Na aldeia não havia um garoto que não desejasse tê-la ao seu lado, mesmo que fosse para uma simples conversa. Sua pele clara e seu corpo muito bem torneado pelas constantes atividades de caça, faziam-nos muitas vezes lutarem entre si para saber quem poderia acompanhá-la. Ela é claro se divertia com a situação, mas não possuía ninguém em especial, aliás nem pensava nisso.-Imagine, se acontecer alguma coisa com você eu jamais me perdoaria. Continuou o Pai.-A situação está feia meu senhor. Disse Juni. -A maioria dos moradores estão mortos, os que estão indo ajudar não conseguiram detê-los por muito tempo. Todos estão sucumbindo, devemos partir.

Disse as últimas palavras mesmo sabendo que não seria atendida nisso.Pela primeira vez o medo se apossou de krisna. O medo de perder alguém querido.

-Não vá pai! Por favor.-Tenho que ir minha filha.

Ele bem que gostaria de ficar, mas seus ancestrais tinham sido antes de tudo guerreiros. Ele trazia esta herança consigo, combateria com honra pelas coisas que construíra e que acreditava, porém o mais importante, lutaria pelas pessoas que amava, olhou para a filha mais uma vez, não podia fugir.-Me prometa uma coisa.-O quê? Disse a menina chorando. -Se o pior acontecer, prometa que você vai sobreviver.

Ela assentiu chorando.-Essa é minha menina.

Beijou-lhe o rosto Antes de sair pediu a Juni.-Proteja-a.

Partiu sem olhar para trás, uma lágrima escondida escorreu pela sua face.A ultima imagem que krisna teve do pai, foi vê-lo de costas, correndo em direção a

lagoa. A garota deu um abraço apertado em Juni.O fogo invadia toda aldeia, os reforços que chegaram a beira da lagoa não fizeram

frente as criaturas e foram arrasados em pouco tempo.

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krisna via pela janela os seres deformados invadirem as casas, arrastavam quem estivesse dentro e tiravam-lhes as vidas sem perdão. Seu avanço era rápido e arrasador, o rastro do terror era deixado pelo caminho que percorriam.

Dirigiam-se para o final da aldeia onde a casa de krisna se localizava. Juni bloqueara a porta da frente com muitos dos moveis e pertences da casa, porém aquilo não seguraria as criaturas sedentas pelo caos por muito tempo. O fogo começou a arder no teto composto de palha e madeira.

Juni pegou krisna.-Temos que sair daqui, em breve tudo isso vai desabar. Não quero estar nesta sala quando isso acontecer. Rápido! Vamos pelos fundos.

Ela balançou a cabeça compreendendo a situação, pegou Errn nos braços.-A esta altura os fundos devem estar cheios de criaturas, vamos combinar uma coisa. Eu vou distraí-los enquanto você foge com Errn.-Não. Respondeu krisna. -Eu vou lutar.-Não seja tola. Não temos tempo para discutir. Eu irei logo depois, estarei atrás de você. Entendeu?

Colocou a menina ao lado, respirou fundo preparando-se para o combate, Juni derrubou a porta em chamas com um chute forte. Saiu com um arco. Derrubou os três primeiros inimigos que avistou.-Agora! Corra o máximo que puder, afaste-se daqui. Gritou para krisna.

A garota correu, um ser deformado ameaçou ir atrás dela, mas foi derrubado pela última flecha de Juni. Ela jogou o arco ao chão tirou duas foices presas as costas para se defender.

krisna observou Juni derrubar vários oponentes, a mulher lutava melhor que muitos homens, porém um machado acertara-lhe o braço. Manchas negras corriam do machado para o corpo da mulher. A essência dela escorria pelo braço. Logo seu membro ficou inutilizado. Ainda sim, ela se mantinha em pé com apenas uma das mãos, continuava a derrubar os inimigos que lhe cruzassem a frente. Mas eram muitos, não demorou para ela ceder e cair perante os vermes famintos pelo caos. Assim como a aldeia toda, veio a tombar perante a força deles. As chamas no céu fora tudo que restara do que um dia fora o lar de krisna.

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O Vale da Perdição...

Avançavam cavalgando sobre seus cavalos com os sábios seguindo a frente, empunhando seus cajados. Nas hastes dos mesmos uma safira brilhante em formato de um pequeno sol, ajudavam os guias a vencer a distância e a geografia da região. -Mas e aí Arão, conta qual foi o milagre que te aconteceu?

Bal cavalgava a contragosto, todavia sua curiosidade evitava que ficasse reclamando o tempo todo, enquanto Dafne voava a seu lado, queixando-se do forte calor.-Eu não sei. A única coisa que me recordo é que todo o meu corpo parecia arder, havia muita dor. Eu me sentia distante, afastando-me cada vez mais. Entretanto depois alguma coisa aconteceu, me senti envolvido por força, algo que me protegia e acalentava ao mesmo tempo em que me transmitia paz. Ela foi tomando conta de mim e me trouxe de volta. Foi uma experiência única, não sei como descrevê-la. Só sei que quando eu abri os olhos, Milenus estava sorrindo ao meu lado dizendo: Oras! Vejo que aconteceu um milagre no Santuário.-Estranho, mas como eles diriam no mundo dos Homens: Podemos dizer que você nasceu de novo. Brincou Cassi.-Vamos ter que abandonar nossos animais. Eles já serviram a seu propósito. A partir deste ponto seguiremos a pé.

Filas pronunciava suas palavras enquanto observava o relevo a sua frente, era muito acidentado, tornando-se impossível para os animais.-Não temos como descer com eles até o vale. Concluiu.

Os jovens estavam parados frente a um grande vale, duas colinas se erguiam de cada lado, o horizonte engolia seu final. Seu comprimento era espantoso. Sorai olhava para um ponto distante entre as colinas... -Vocês notaram que ao contrário do calor que estávamos sentindo a pouco, o frio começa a aparecer? Dentro do Vale da Perdição, ele será predominante. Durante o dia conseguimos ter uma visão de praticamente toda a depressão do terreno, mas à noite o manto da morte branca desce sobre ela. É uma névoa que avança de cada colina, e se encontra no meio do vale, ficando praticamente impossível enxergar mais de dois metros adiante. Isso ocorre toda à noite. Esse é o Vale da Perdição.-Não gostei do nome. Sussurrou Bal para Cassi.-Por que Vale da Perdição? Questionou Arão.-Aqui, foi onde às forças do firmamento sofreram as maiores perdas. Nas grandes guerras, as terras para onde nós estamos nos dirigindo concentraram a maior parte das forças das trevas. Foi o primeiro local a aderir contra o Criador e um dos últimos a sucumbir antes do mal ser banido para o Reino Inferior.

Sorai tinha a atenção de todos. -Quando as forças do firmamento marchavam para o que parecia ser uma vitória certa, os anjos negros os emboscaram neste local, neste tão temível vale. A sorte da batalha quase teve outro fim. Como se leva dias para atravessá-lo, o Mal esperava a noite chegar. No

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momento em que o manto descia e com ajuda da pouca visibilidade, os vultos negros atacavam, ceifando muitas vidas das forças do Firmamento. Não havia como derrotá-los. Era preciso chegar as Cordilheiras Celestiais para combater o que restava das forças das trevas e sair desta armadilha mortal.-Como eles conseguiram vencer? Perguntou Arão.-Não conseguiram. Tiveram que recuar para não perder. Todavia as forças do firmamento tinham um trunfo. Sekhmet!-O que é isso? Perguntou Kitrina surpresa desconhecendo o significado do nome.-Nós nunca o vimos, só sabemos que ele caçou cada anjo negro do vale, um a um, eles foram caindo perante seu poder. Mas ele não parou por aí. Sua sede por essência o tornou cruel e temido. Por isso ele foi trancado no que hoje é conhecida como Montanha dos Quatro Elementos. No passado sua denominação era ''A Montanha da Traição'', por causa da traição de Sekhmet que caçava suas vítimas e as levava para a montanha para saciar sua sede. Hoje ele é o guardião do lugar, todavia dizem que sua cede por essência não diminuiu, ao contrário após todos esses séculos ela aumentou... Explicou Nicol.-Quer dizer que teremos que enfrentá-lo se quisermos ser guardiões? Perguntou Tiror.-Com o pergaminho não precisaríamos, pois ele nos mostra passagens por onde seguiríamos evitando um possível encontro. Porém sem ele vamos torcer para termos a sorte de achar o caminho que nos propicie tal benção. Disse Filas descendo de seu cavalo. -Vamos prosseguir.

Todos abandonaram seus animais, desceram por uma vereda entre as rochas até chegarem ao início do vale. Conforme foram avançando e ganhando terreno a temperatura foi caindo bruscamente. Ao final do caminho estrito, o frio era degradante.

Iniciaram a travessia da grande depressão e com ela veio à chegada da noite. Os garotos puderam ver a névoa descendo de ambos os lados, arrastando-se pelas colinas, era tão densa que realmente lembrava um manto sendo puxado.

À noite, o ar gelado os castigavam arduamente. Haviam feito uma fogueira, o fogo ajudava a dissipar um pouco da massa gasosa. Isso lhes permitiam enxergar a todos que estavam sentados em volta das brasas incandescentes.

Os garotos já haviam ceado e se preparavam para dormir. Tiror arrumava suas coisas, queria conseguir um apoio para sua cabeça, alguns tentavam o mesmo feito enquanto outros já dormiam. -Que saudades do meu travesseiro. Reclamou Bal.

Tiror virou-se para o lado, as coisas de Lethan estavam ao chão, mas o garoto havia sumido. Ele procurou em volta, levantou-se, caminhou entre os presentes tentando encontrar o amigo.O que foi? Perguntou Odrin mal humorado.-Lethan sumiu. Ele estava ao meu lado agora a pouco, mas...

Nicol, Filas e Sorai pegaram seus cajados, as pedras nas pontas emitiam um brilho intenso. -Fiquem aqui nós iremos procurá-lo. Não se distanciem desta fogueira, aconteça o que acontecer. Este é o único lugar em que podemos ter a visão de todos. O fogo será a diferença entre vida e a morte. Os três sábios sumiram na névoa. Os jovens somente conseguiam ver as luzes dos cajados à

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distância.Cassi passava as mãos nos braços. Kitrina se pôs diante dela perguntando.

-O que foi? -Uma sensação ruim. Eu já a tive antes e não gosto nem de lembrar.

De repente uma das três luzes tremeu por um breve instante e foi ao chão. -Não! Ela exclamou assustada. -Ele está aqui no Vale da Perdição.

Arão e Bal viram o cajado ir ao chão, pegaram seus bastões de energia e partiram em meio à névoa com os outros garotos logo atrás em seus encalços.

O grupo chegou ao local onde a luz se encontrava, viram Filas agachado, com seu cajado tombado ao lado, o sábio observava a sua frente uma terrível cena. O corpo de Lethan jazido ao chão com deformações horríveis. Passados alguns momentos Sorai e Nicol se juntaram a eles.

Filas fez um sinal de negação com a cabeça desaprovando o que acabara de presenciar.-O que aconteceu com ele? Perguntou Mary nauseada.-Ele está entre nós. Murmurou Cassi.-Do que ela está falando? Questionou Lissa visivelmente irritada.

Algo surgiu em meio à névoa, não puderam ver se eram garras ou mãos, pousaram sobre o peito e cabeça de Sorai e o tragaram para dentro da névoa.

Os gritos do sábio foram ouvidos se perdendo no meio da massa gasosa. Os garotos se adiantaram para ajudar tentando se guiar pelos sons emitidos por Sorai.-Não! Parem! Voltem para perto do fogo é nossa única esperança. Gritou Filas em sinal de advertência. Mas já era tarde os jovens já tinham partido. Cada um foi para um lado seguindo seu próprio senso de orientação, estavam separados...-Fiquem juntos. Continuava Filas a gritar, sua voz, porém vinha de longe e tinha um tom autoritário.

Irian estava com Mary, Odrin e Lissa.-Onde está Lissa? Perguntou Mary. Fitando para os lados.-Estava ao nosso lado agora pouco. Respondeu Irian.-Droga! Lissa! Berrou Odrin.

O grito dela foi ouvido a alguns metros de onde se encontravam. Odrin foi o primeiro a chegar. A garota estava caída ao chão. Ele ajudou-a a levantar-se. Filas chegou junto com os outros jovens, pegou Lissa no colo, levando-a para junto da fogueira.-Rápido todos para junto do fogo onde temos uma visão melhor.

Eles obedeceram mesmo confusos com a situação.-E Sorai? Precisamos encontrá-lo. -Já é tarde demais para ele. Lamentou Nicol.-Por quê? Perguntou Bal.-Por causa disto!

Filas tombou a cabeça de Lissa um pouco para o lado, no pescoço dela havia duas pequenas saliências. A noite passou rápido, os sábios não comentaram nada sobre o ocorrido. Os garotos ficaram sem respostas para suas perguntas. A curiosidade de cada um aumentava a cada segundo que se passava, assim como o medo.

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Os sábios ficaram vigilantes, Lissa pareceria piorar sensivelmente à medida que a manhã ia surgindo. Conforme a claridade aumentava o manto ia se reduzindo deixando o vale visível novamente. Nicol aproveitou a claridade e saiu para dar uma volta, retornou momentos depois trazendo o cajado de Sorai.-Isso foi tudo o que restou dele. Não consegui encontrar seu corpo. Entregou o cajado a Filas.-Não precisamos mais disto. Atirou o objeto ao solo. A safira da ponta do bastão enegrecida partiu-se em muitos pedaços menores.-Foi o mesmo sentimento que tive no Santuário. Comentou Cassi, olhando para os sábios. -É ele, não é?-O "Ente da Noite". Bal complementou as palavras de Cassi num tom sinistro.-Vamos partir. Devemos seguir rápido. Filas estava com suas coisas todas arrumadas, pronto para prosseguir a viagem.-Espere! Arão estava parado a frente dos sábios. -Ninguém irá adiante enquanto vocês não disseram o que estamos enfrentando.

Nenhum garoto protestou perante a imposição de Arão.-Você não entende que saber não vai ajudar em nada. Isso o que me pede poderá até piorar a situação. Ira trazer desconfiança ao grupo.-Olhe para ela. Exclamou Cassi consternada apontando para Lissa. -Está muito mal e nem sabemos o que podemos fazer para ajudá-la.-Acho que eles têm razão Nicol, devemos isso a eles.

Todos se sentaram. Cassi acomodou Lissa entre suas pernas, o rosto da garota estava pálido e quente. Ela tremia, suas mãos seguravam as de Cassi com muita força como se elas fossem seu único apoio para continuar viva. Filas começou a narrativa.-Estamos enfrentando uma alma penada, que por algum motivo não está no local correto onde deveria estar. O "Ente da Noite" como o conhecemos recebe uma designação diferente no mundo dos homens, ele é um Morto - Vivo...-Morto - Vivo?

Bal repetiu as últimas palavras de Filas, com uma certa dúvida se estava entendendo o que ele queria dizer. O sábio confirmou com a cabeça e prosseguiu.-Existem criaturas que estão entre os céus e a terra. Mesmo no mundo dos Homens, apesar de muitos acharem que eles fazem parte de lendas e invenções das mentes criativas. Posso lhes assegurar, eles existem...

Seu rosto tomou um ar sombrio.-Quem? Perguntou Odrin.-Vampiros. Lastimou Nicol.-Você quer dizer que estamos lutando contra um vampiro? Cassi não podia acreditar no que ouvia.-De certa forma. Prosseguiu Filas. -O que conhecemos como Ente da Noite é alguém que foi mordido em vida por um vampiro, por conta disto, sua alma não vem até nós. Ele vaga na terra fazendo vítimas buscando sangue humano, faz isso sem controle, sem consciência... Não consegue parar. A sede por sangue, por vida é maior que ele, foge-lhe ao controle. Quando finalmente ele é libertado, ou seja alguém consegue destruí-lo, sua alma deixa o reino dos Homens, entretanto esta pode ter sido boa até ser mordida e sendo assim como

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poderemos julgá-la?O sábio olhou para os jovens e ficou satisfeito com a atenção que ganhava.

-O fato é que elas vão para o Reino dos Titãs, sem consciência, sem inteligência, como se fossem animais, para esquecer o que lhes aconteceu em vida. Passam por severas penas e depois disso é que sabemos se elas poderão ou não entrar no Firmamento. Muitos conseguem, outros não. É desses outros que falamos, aqueles que não conseguem largar o que poderíamos chamar de vício e continuar a querer mais vítimas. Pois existe o perigo, dele recobrar a consciência sem ter conseguido perder a sede por sangue e vir a buscá-lo aqui.-Mas no Firmamento não existe sangue? Comentou Kitrina.-Isso é verdade, mas existe algo mais poderoso, mais cobiçado por essas almas do que qualquer outra coisa, a essência. Ela compõem cada um de nós e pode tornar um Ente da Noite muito mais forte e independente. -Filas se entendi bem o que você está querendo dizer, é que se alguém que foi um vampiro no mundo dos Homens, e se não for “tratado” corretamente, continua sendo vampiro aqui?

O sábio confirmou com a cabeça.-Aqui eles possuem características semelhantes ao mundo dos Homens, mas também desenvolvem outras diferentes. Continuam tendo uma força descomunal, são muito ágeis, seus olhos à noite brilham como luzes. A cada vítima feita se tornam mais poderosos e vão ganhando consciência do que são. Recuperam a memória, até chegar um momento em que se tornam plenos, não temendo mais a luz do dia. Existem amuletos mágicos que nos dão proteção e ajudam a controlá-los. Mas quando eles se tornam plenos nem mesmo os amuletos são páreos para eles e as vítimas são somente para lhe satisfazer o desejo. Seu corpo pode adquirir características de suas vítimas. Não precisam obrigatoriamente morder o pescoço para sugar-lhe a essência, qualquer lugar do corpo serve. -Por isso Jenya tinha marca nos braços.

Filas ignorou as palavras de Cassi e continuou. -Uma pessoa mordida por um Ente da Noite tem uma ligação muito especial com o mesmo. Ele vai aos poucos sugando-lhe toda a essência até que ela venha a perecer. É isso o que está acontecendo com sua amiga Lissa neste momento. Se não fizermos algo em breve ela morrerá.-O que temos que fazer?-Só há um modo de ajudá-la.

Todos o olharam. -Destruindo o Ente... Assim quebramos a ligação que existem entre predador e vitima.-Como o matamos aqui? Cruzes? Estacas? Que eu saiba não trouxemos alho conosco para colocar no pescoço e nos proteger. Comentou Bal.-Não. Isto não surte efeito nem aqui nem no mundo dos Homens. No Firmamento eles morrem como nós.-Mas onde está ele?

Tiror olhou em volta, o desfiladeiro estava vazio. Temos que achá-lo e destruí-lo.-Esse é o problema e é o porquê não queríamos contar-lhes nada. O Ente com o qual estamos lidando deve ser a alma de Homem, pois desde a Cidade Superior ele só suga a essência de mulheres, matando os homens, não é uma regra, mas a maioria age assim. Porém, ele só consegue andar livremente e liberar toda a sua força a noite, de dia ele

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precisa de um hospedeiro para se alojar e estará sujeito as limitações do corpo do mesmo, pelo menos até se desenvolver por completo.-Você está querendo dizer que ele está alojado no corpo de Lissa? Cassi assustou-se. -Que teremos que matá-la para nos livrarmos dele?-Não! Respondeu Filas abaixando a cabeça, olhava para o solo. -Eles nunca ocupam o corpo de suas vítimas. O corpo normalmente escolhido seria de um homem e neste momento mesmo distante, ele esta roubando-lhe a essência, por isso ela esta cada vez mais fraca.

Os olhares cheios de dúvidas incidiram sobre Filas.-O que estou querendo dizer é que o motivo de vocês não verem o Ente da Noite no desfiladeiro é que ele está entre nós.

Todos olharam entre si, assustados e desconfiados do peso que aquelas palavras representavam.-Ele é um de nós.

A caminhada durante o dia foi difícil, o sol brilhava exuberante sob suas cabeças, mas entre as colinas o frio predominava. O silêncio, só era quebrado quando havia uma discórdia entre os jovens, o que era bem freqüente, já que a confiança do grupo foram abalada após a revelação dos sábios. Cassi e Kitrina ajudavam Lissa, porém a jovem estava muito debilitada isso os atrasava muito. Eles sabiam que tinham que ser rápido, quanto mais demorassem, mais noites passariam no vale.-Preciso descansar um pouco. Lissa praticamente implorava. -Não estou mais agüentando.-Vamos parar um pouco.

As palavras de Filas soaram muito bem aos ouvidos dos garotos, já que imprimiram um ritmo forte a manhã toda.-Não há nada que possamos fazer? Olhe o estado dela. Cassi segurava Lissa sentada.-Infelizmente não. Lamentou Filas. -Se ao menos estivéssemos na Cidade Superior.-Se descobríssemos quem é ele...

Todos voltaram sua atenção para Nicol, o sábio baixou o olhar. -Mas acho que isso será praticamente impossível. Pois é muito difícil para alguém do bem se passar por maldoso, já o contrário... Suas palavras sumiram. -É horrível saber que existe alguém entre nós que está "tomando" a vida de Lissa e que estamos de mãos atadas vendo isso acontecer. Kitrina estava revoltada.

Odrin levantou-se parou em frente a Arão.-Acho que é você celestino. Você deve ser o Ente da Noite.Arão ergueu-se para enfrentá-lo.-Pare de falar bobagens.

Bal tentava segurar Arão, enquanto Irian segurava Odrin.-Parem de brigar vocês dois. Isso não nos ajudará em nada. Ordenou Filas. -Vamos continuar.-Sabe Cassi. Lissa sussurrava. -Você é uma boa amiga, pena eu não ter percebido isso antes. Poderíamos ter aproveitado mais. Estou com medo...-Não fale. Pediu Cassi. -Poupe suas energias.

As duas garotas ampararam mais uma vez Lissa e a caminhada recomeçou. Passaram a tarde toda andando. O sol já se punha e a chegada da noite trazia consigo um frio mais

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intenso. A névoa começava a mostrar seus primeiros sinais nos picos.-Precisamos fazer outra fogueira. Desta vez vamos ficar todos juntos. Lembrem-se aconteça o que acontecer, não saiam do círculo de visão ao lado do fogo.

Lissa tremia muito.-Ele está entre nós. Sussurrava ela, apertando mais os braços de Cassi. -Esta me possuindo, eu sinto sua presença. Estou com medo, muito medo.

Ela delirava, sua aparência estava muito pior. -Ele me quer. Não deixe ele me pegar...-Precisamos fazer alguma coisa ou ela vai morrer. Berrou Cassi.

Lissa começou a se contorcer toda nos braços de Cassi. Teve um último espasmo, caindo quieta ao seu lado.-Ela está?

Dafne não conseguiu terminar a frase. Filas se aproximou.-Sim. Ela nos deixou.

Nesse momento o corpo de Nicol foi arrastado para dentro da névoa. Odrin e Irian pegaram os bastões seguindo-o. Mary acompanhou Irian.-Não! Gritou Filas. -Precisamos ficar juntos.

Tarde demais os jovens já haviam sumido dentro da névoa.-Fiquem aqui e protejam as garotas, eu irei atrás deles. Ordenou Filas partindo.-Bal fique com elas. Tiror e eu iremos ajudá-los.-Mas Arão, Filas disse...-Eu ouvi o que ele disse. Mas temos que ir.

Arão e Tiror seguiram os outros. Todos estavam separados pela névoa.-O que faremos? Perguntou Irian para Mary.-Eu estava discutindo com Dafne isso, existe uma magia que pode nos ajudar.

Os dois se concentraram metade de uma esfera surgiu do chão e os envolveu.-Ele não conseguirá nos pegar dentro desta redoma. Afirmou Mary. -Ela não deixará que ninguém se aproxime.

A ninfa nem tinha acabado de pronunciar suas palavras quando um corpo trombou na esfera assustando os dois, estava com as costas virada para redoma, parecia lutar contra algo na névoa que eles não conseguiam ver.-Precisamos ajudá-lo.

Irian avançou e desfez a esfera puxando Nicol para dentro. Refez a redoma outra vez. O sábio estava todo machucado.-Ele está ai do lado de fora, me atacou sem piedade.

O sábio respirava com dificuldade, estava muito ofegante. -Ele é muito forte.

Uma pancada na esfera. Odrin utilizava seu bastão tentando rompê-la. Gritava com eles, mas era impossível ouvi-lo, estavam isolados.-É ele. Explicou Nicol. -Não o deixem entrar.

A expressão de Odrin era de muita fúria.-Não posso acreditar Odrin... Murmurou Irian.

A redoma ficou mais fraca. -O quê? Como ele conseguiu?

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Irian não conseguia entender, ao virar para trás, viu Mary caída, seu corpo jazia sem vida no chão, as mãos de Nicol sujas de essência, seu rosto deformado exibia um sorriso maligno. Ele atacou Irian que nem teve chance de se defender. A redoma se desfez rapidamente. Odrin conseguiu passar, mas já era tarde para Irian.

O corpo de Nicol tombou para trás, duas luzes saíram ferindo o ombro de Odrin, este perdera o equilíbrio indo ao chão. O garoto se levantou com rapidez pegou seu bastão e partiu atrás do Ente.

Um grito medonho foi ouvido, Bal foi ao chão com o golpe que recebera. Quando acordou viu Dafne caída ao seu lado. Cassi e Kitrina estavam tombadas mais à frente. Arrastou-se até Dafne, acordando-a com um pequeno chacoalhão. Levantou-se e após certificar-se que a ninfa estava bem, foi ajudar as outras duas garotas.

Arão apareceu logo em seguida saindo da névoa.-Onde está Tiror? Perguntou Cassi preocupada. -Eu o perdi.

Filas surgiu com Tiror aparecendo momentos depois e por fim Odrin com uma mão no ombro.-Você conseguiu achar Nicol? Onde estão Irian e Mary?

Odrin fez um sinal de negação com a cabeça as perguntas de Filas.-Todos eles mor... Dafne gaguejava.-O que aconteceu? Perguntou Arão.-Não sei. Foi tudo muito rápido. Respondeu Bal. -Algo apareceu de dentro da névoa, acho que se chocou comigo. Aí eu apaguei...-Todos estão bem? Perguntou Filas.-Acho que sim. Respondeu Cassi olhando para os lados. -Certo Kitrina? Kitrina?

A garota tremia, ela tirou o cabelo do pescoço exibindo as duas pequenas marcas de presas que antes não estavam ali.

Estavam sentados ao redor da fogueira esperando o sol nascer, Cassi estava ao lado de Kitrina. Finalmente ela conseguiu dormir um pouco, mas mesmo assim acordou assustada.-Cassi tive um sonho terrível. Ele vinha me buscar. Aquelas luzes medonhas. Estou com medo.-Calma amiga, estamos aqui para ajudá-la.

O sol já se anunciava, o manto se recolhera mais uma vez.-Precisamos continuar. Disse Filas.

O sábio ia à frente do grupo, Odrin era o segundo e caminhava sozinho. Tiror ajudava Cassi a levar Kitrina, ela começava a demonstrar visíveis sinais de fraqueza.''Ele está entre nós. Ele é um de nós...'' Pensava ela... Olhou para Tiror, abraçado do outro lado de Kitrina, depois para Arão e Bal... Ficou com vergonha de seus pensamentos.

Dafne fechava o grupo voando quieta. Nem ela que falava o tempo todo, não ousava pronunciar uma palavra sequer. No fundo a desconfiança voltara a crescer no grupo, já que entre eles estava o Ente da Noite. Kitrina tropeçou, escapando dos braços de seus companheiros, seu corpo tombou ao chão. Cassi ajudou-a a erguer-se. -Ela está ficando muito débil, mais rápido que Lissa.

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-O Ente está ficando mais forte, sua necessidade por vítimas está aumentando. Explicou Filas.

Sentaram-se para o almoço. Cassi acomodou Kitrina, Tiror estava ao seu lado.-Fique com ela um pouco. Pediu a ele.

Cassi levantou-se foi até Odrin que se encontrava isolado de todos.-O que você quer? Perguntou com desprezo. -Por que não volta junto de seu amigo.

Apontou para Tiror. -E me deixa em paz.-Pare de se fazer de durão e deixe-me ver como está o seu ombro.-Não precisa. Vai ficar bom. Além do mais eu poderia muito bem ser o Ente da Noite.-Eu não tenho medo de você. Agora fique quieto.

Porém, quando Cassi o tocou, ela sentiu... Odrin puxou o braço rápido.-Já disse que não preciso de seus cuidados.

Saiu de perto de Cassi, não se atreveu a olhar em seus olhos, apenas afastou-se mais deles.-O que aconteceu Cassi? Você está com uma cara estranha?-Nada apenas que eu....-O quê? Perguntou Tiror.-Nada...

Ele a encarou, fez um gesto com as mãos para ela se aproximar.-Sente-se conosco. Kitrina precisa de você. -E eu também.

Cassi corou, não esperava por aquele comentário, mas ficou contente com a atitude dele. Sentia-se estranha ao lado de Tiror, mas a sensação não era ruim, chegava a ser muito agradável.-Chame Odrin. Pediu Filas. -Precisamos partir.

Arão se dirigiu até o companheiro isolado.-Vamos partir.

Ele levantou-se, passando por Arão sem dizer uma palavra. -Que bicho será que mordeu ele. Comentou Bal ao seu lado.

Não tardou para o sol percorrer toda a extensão do céu, o dia estava chegando ao seu final e a noite não tardaria a chegar. Kitrina piorara muito, não conseguia mais andar sem a ajuda de Cassi. Tiror estava ao lado das duas, procurando apoiá-las quando precisasse.-Arão! Chamou Tiror. -Ela não passará desta noite.-Filas precisamos parar.

O sábio concordou com eles. Mais uma vez o fogo aquecia o início da noite que chegava rápido. Cassi e Dafne estavam com Kitrina, enquanto os outros se reuniam do outro lado da fogueira. Entreolhavam-se quietos. Tinham que descobrir quem era o Ente da Noite, para o bem de Kitrina e deles próprios, afinal estavam sendo caçados um a um.-O que faremos? Perguntou Bal.-Nada... Ele se tornou mais inteligente do que nós. Respondeu Filas erguendo seu bastão. -Logo vai nos sobrepujar.-Deve haver alguma coisa que possamos fazer, não é possível ficarmos aqui assistindo a

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morte dela. Explodiu Arão.-Estamos de mãos atadas. Disse Filas-Ele precisa morrer... Sussurrou Odrin.-Não podemos só ficar ao lado do fogo parados. Afirmou Arão.

Filas fez um sinal de positivo com a cabeça, seu olhar estava distante enquanto proferia as palavras.-Se quisermos sobreviver, por motivo algum devemos sair de perto da fogueira.-Nnnãããoooo! O grito de Cassi fez as palavras no grupo se calarem.

Dafne voava pouco acima das duas, as mãos apertadas sobre seu peito, estava apreensiva.-Kitrina! Fale comigo! Vamos fale comigo.

Cassi deitou a cabeça sem vida de Kitrina.Todos a observavam, ela ergueu o rosto entre lágrimas, os olhos mostravam uma

fúria crescente. Abandonou o corpo da amiga pegando seu bastão de energia e se dirigiu ao grupo.-Seu covarde! Por que não se mostra. O Bastão tremia em suas mãos. -Eu sei que você está aí. Apareça.

Ninguém ousava responder. Ela virou-se começou a andar para longe do grupo.-Cassi aonde você vai? Perguntou Arão apreensivo. -Não podemos sair de perto do fogo. Ou ele poderá nos pegar.

Tiror deu um passo à frente, em direção a ela.-Não se aproxime de mim. Nem você nem ninguém.-O que você vai fazer? Fique conosco. Tiror praticamente implorava. -Por favor.-Você não vai mesmo se mostrar. Suas palavras eram dirigidas a todos. -Pois bem covarde. Vou dar-lhe a chance de realizar seu desejo. Venha me pegar.-Cassi você está ficando louca. Murmurou Bal.-Calem a boca! Estou cansada, não agüento mais isso. Você me quer? Pois bem, estou lhe dando a chance.

A garota correu, seu corpo sumiu dentro da densa névoa...-Cassi! Dafne deu um grito de espanto.

Odrin pegou seu bastão foi mais rápido que todos e partiu atrás da garota.-Ele vai pegá-la. Alertou Filas.-Droga! Grunhiu Arão, correndo para acompanhá-los.

Todos saíram, em pouco tempo se viram separados, perdidos mais uma vez no meio da névoa.

Dafne acompanhava Bal pela névoa.-Para onde foram todos, não consigo ver ninguém.-Arão! Cassi! -O que você está fazendo? Bal repreendeu Dafne.-Eu só estava tentando encontrar alguém. Respondeu ela.- Chamando assim você irá atrair o Ente até nós.-Desculpe. Disse ela sem jeito. -Já sei!

Dafne dera um grito de alegria.-O quê?

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-Vamos criar uma redoma para nos proteger. Eu havia comentado com Mary sobre isso, ela é poderosa. Até pensamos em usar para proteger a todos, mas nossa força não seria suficiente.

Os dois se concentraram e após algumas palavras de Bal, uma semi-esfera surgiu, um campo de energia os protegia. Estavam distraídos quando algo bateu na esfera.-O que foi isso? Dafne levou um susto.-Não sei, mas olhe. Bal apontava para alguém que tinha acabado de encostar-se ao campo de energia. -Não consigo ver seu rosto, mas parece que esta lutando contra alguma coisa.-É Filas! Exclamou Dafne. -Precisamos ajudá-lo. Bal desfez o campo para que Filas entrasse, refazendo-o logo em seguida. O sábio estava ferido.-Ele está aqui perto, eu o vi, lutei contra ele, mas ele é muito forte. Vejam é ele.

A atenção de todos se voltou para uma parte do campo. Onde Arão estava parado gritando para todos, mas não podiam ouvi-lo. Começou a bater com o bastão na redoma.-O que ele está querendo fazer? Bal o olhava espantado. -Está querendo entrar, quer nos pegar. Declarou Filas. -Precisamos evitar que ele passe pela redoma.-Não vai conseguir atravessá-la. Afirmou Bal com firmeza.

Por alguma razão que o garoto não entendia a redoma começou a ficar fraca. Arão olhou espantado e atingiu a si próprio com seu bastão, aquilo tirou a concentração de Bal e a redoma sumiu. Arão levantou-se gemendo de dor, atirou o bastão na direção de Bal. -Oh! Não, Filas tinha razão. O bastão passou-lhe raspando o rosto. -Ficou maluco. Gritou Bal, com espanto.

Ouviu um urro de dor atrás de si, quando virou-se... O bastão atingira o braço de Filas que estava com Dafne em suas mãos sufocando-a. Seu rosto estava todo deformado. Ele caiu gemendo de dor, um vulto pareceu sair de seu tronco e fugir. O corpo do sábio estava sem vida à frente deles.

Bal foi socorrer Dafne que estava caída, a ninfa levou as mãos ao pescoço, tossia bastante, e seus olhos encheram de lágrimas. -Você está bem? Perguntou Bal.

Ela continuou tossindo, mas fez um sinal de afirmação com a cabeça. Um grito não muito distante ecoou.-Cassi! Frisou Arão pegando bastão.-Espere, Arão. Pediu Bal, mas ele já tinha partido.

Tiror chegou rápido ao local.-O que você está fazendo? Perguntou ao ver Cassi com o bastão nas mãos apontando para Odrin.-Nada. Respondeu ele com desprezo.

Cassi virou o bastão na direção de Tiror.-Não se aproxime.-Mas Cassi sou. Murmurou ele.

Arão também acabara de chegar.-Eu já não sei quem é quem.

Suas palavras saiam com a voz trêmula. O bastão estava inclinado para Arão. Bal se

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aproximou com Dafne, juntando-se ao grupo.-Fique onde está. Ordenou ela.-Calma Cassi. Pediu Dafne.-Onde está Filas? Perguntou Tiror.-Se foi. Respondeu Arão olhando para Cassi.-Eu estou vendo todos caírem, acabei de perder minha amiga e sinto a presença dele entre nós.

Nesse momento todos empunharam seus bastões, não os apontavam para ninguém em especial, os olhares percorriam a todos.-O que sugere que façamos? Perguntou Arão.-Estou com medo. Cassi caiu de joelhos. -Não quero perder mais ninguém.

Dafne foi ajudá-la enquanto Tiror, Odrin, Bal e Arão se olhavam mutuamente. Odrin sorria.-Qual é a graça? Perguntou Tiror com raiva.-Um de nós já era. Respondeu ele com sarcasmo. -Então...

Arão percebeu que ele estava preste a atacar, apertou com mais força seu bastão. Uma trombeta soou alto no vale, os garotos ficaram parados.-O que foi isso? Questionou Bal assustado.-Olhem!

Dafne apontava para os lados. Inúmeros pontos luminosos sugiram entre a névoa junto com eles era possível ver muitas bandeiras, que esvoaçavam com o vento.

Nenhum deles tinha idéia do que poderia ser aquilo, mas os pontos vinham de todos os lados, foram se aproximando. De dentro da névoa pontas metálicas surgiram, formando um círculo ao redor dos garotos, estavam cercados. As lanças pareciam afiadas o suficiente para fazer um estrago considerável ao mínimo toque. Dafne voou para cima, conseguindo escapar do cerco.

Não conseguiam ver quem empunhavam as armas, uma bandeira a frente com desenho de um cavalo alado vermelho tremulava. Uma parte das lanças se abriu, um ser vestido com um colete de malha dourada, trajando o mesmo símbolo da bandeira se postou à frente deles. Segurava um elmo em uma de suas mãos, uma espada estava presa na cintura e sua capa descia dos ombros até o chão. Possuía olhos não muito grandes, nariz levemente alongado, sobrancelhas delgadas e lábios pequenos. Seus cabelos eram longos e estavam presos as costas.-Ora! Ora! O que temos aqui. Falou com calma. -Espiões do leste.-Não somos espiões. Retorquiu Bal.

Algo no olhar do ser disse a Bal que era melhor ficar calado.-Joguem suas armas fora.

Todos obedeceram, colocando seus bastões no solo. Outro ser apareceu, igual ao anterior, as únicas diferenças eram o colete de malha que era da cor prata e suas ombreiras muito menores. Ele se aproximou e prendeu os braços dos garotos com correntes. Fez sinal para eles o acompanharem. Cassi parecia assustada e impaciente, olhava para os lados, tremendo um pouco.-Você está bem? Perguntou Arão.

Ela não respondeu, mas Arão pode ver entre seus cabelos duas pequenas saliências

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em seu pescoço.

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A Comunidade do Sul...A visão da cidade era belíssima, o sol iluminando o castelo ao centro. Ele ocupava

uma parte considerável da grande região. Um rio o envolvia e era preciso atravessar uma ponte de madeira para ter acesso à obra, passando pelo pátio chegava-se as suas três torres centrais. A iluminação que o sol infringida às torres entrava pelas janelas e clareava todo o recinto. No meio das colunas muitos rostos conversavam, o murmúrio geral invadia o salão nobre.

Um homem se encontrava ajoelhado, em um tapete vermelho que seguia por toda a extensão do local. Ele estava diante de três tronos, aguardava paciente as instruções que receberia após comunicar as novas que aflingiam a região.

O trono central era ocupado por uma mulher com grande vestido vermelho, cruzado na frente por uma faixa dourada. Um losângo era visto em seu peito exibindo sua pele, porém escondendo suas partes íntimas. Em sua mão direita segurava um cetro com uma jóia vermelha. O cabelo era branco, mas seu rosto mostrava uma mulher jovem. Seus olhos castanhos claros e sua boca grande davam um charme incomum a beldade. Ela ouvia todo o relato atentamente.

No seu lado esquerdo, uma outra mulher com cabelos azuis, olhos e roupas da mesma cor dos cabelos, também dispensava sua atenção para as palavras que acabara de ouvir.

Ao lado direito um homem sem cabelos usava um manto branco sobre o corpo, com um objeto dourado na cabeça, parecia um prato virado de cabeça para baixo. Estava com os olhos fechados meditava com as mãos coladas junto ao peito.-Você tem certeza do que acaba de me dizer Uriel?

Sabia que era verdade, mas aquilo ainda soava tão distante, tão irreal que precisava ouvir mais uma vez para acreditar. -Sim. Disse abaixando a cabeça. -As aldeias litorâneas foram todas arrasadas, os inimigos avançam numa marcha impressionante, destroem tudo o que encontram pela frente. Nenhuma vida é poupada. Grupos isolados tentam resistir e fazer frente às hordas das bestas, mas não são páreos para detê-los. Muitos estão fugindo para o interior, tentando se proteger. Porém o destino final deles será refugiarem-se aqui na Comunidade do Sul.-Não temos capacidade para comportar tantas pessoas. O homem abrira os olhos pela primeira vez.-O problema não é a capacidade, mas sim que não temos escolha, teremos que ajudá-las. Dentro das muralhas da comunidade do Sul elas estarão a salvo.-Mas até quando?-Essas muralhas não caíram no passado, elas não cairão agora. Respondeu a mulher.-Outra coisa me preocupa. ''Moscas'' começaram a surgir por toda a cidade, isto é um mal presságio. Continuou Uriel. -As muralhas nos protegerão com certeza, porém não podemos ficar muito tempo dentro delas. Doenças estranhas começaram a atacar o povo da Comunidade. Parece que não temos opção. Se atacarmos morremos, porque o inimigo esta em número muito superior ao

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nosso. Se ficarmos ilhados dentro das muralhas da comunidade as doenças nós destruirão... Parece não haver saída. Se pelo menos as outras comundades nos ajudassem...-Como isso é possível? Como chegamos a esse ponto? Indagou a mulher de azul ao lado."Os livros". Pensou a figura central.-Podemos fazer alguma coisa por eles? Perguntou a figura ajoelhada.-Minha querida Diana temos que mandar nossas forças para proteger os que tentam chegar até nosso refúgio. Senão eles não terão nenhuma chance, vão ser dizimados...-E nossa ajuda?-Não podemos contar com apoio da Cidade Superior, as outras comunidades estão com receio de nos enviar auxílio, tem medo de serem atacadas nesse meio tempo ficando assim expostas.-Teremos que contar com nossas próprias forças. Clamou Diana.-Estamos perdidos. Proferiu o homem no trono da esquerda.-Uriel providencie para que estejamos prontos para chegada de nossos inimigos. Prepare a cavalaria para ajudar os necessitados que tentam chegar a nossa comunidade.-Assim será feito.Uriel estava quase saindo, quando Diana o chamou.-Uriel quem é o reponsável por isso?

As palavras que ele proferiu fez o corpo de Diana gelar.-'O Senhor das Moscas'.-Qual o tamanho de suas forças?-A pior possível. Todas as suas legiões.

Ela sentou-se em seu trono espantada.-Precisaremos de um milagre para nos salvar. Sussurou baixo.

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O Povo das Cordilheiras Celestiais...Os garotos foram levados a um acampamento, várias fogueiras e tendas estavam

espalhadas por todos os lados. Todos os observam com reprovação em seus olhares.Suas constituições eram iguais ao ser que colocou-lhes as correntes. Todos pareciam

guerreiros. Não podiam ver o resto do acampamento devido ao nevoeiro, mas notava-se que era um exército muito grande. Arão não se lembrava de já ter visto algo de tamanha magnitude.

Bandeiras diferentes tremulavam em várias tendas que tinham tamanhos diferenciados entre si. Os garotos concluíram que era por questão de hierarquia. O que não deixava de ser verdade. Assim como as bandeiras, às vestimentas também mudavam. Foram levados ao que parecia ser a maior de todas as tendas, merecendo a atenção de muitos guardas. Um pano foi removido por um anão, mostrando uma pequena entrada aos novos visitantes.-Entrem! Ordenou ele.

Os jovens entraram portando suas correntes, estavam diante de quatro seres sentados sobre almofadas com cestas cheias de frutas a frente. Suas vestimentas eram diferentes de todas as outras que viram e mesmo entre eles, elas se diferenciavam. A única coisa que continuava semelhente era a aparência.-Sentem-se. Ordenou um deles.Os garotos obedeceram.-Sejam bem vindos espiões. Disse outro fazendo uma pequena reverência. -Quer dizer que os homens estão do lado dos Elfos Negros.-Eu nem sabia que existiam Elfos no firmamento, quanto mais negros. Quem são vocês? Perguntou Bal olhando para os outros.-Nós não somos espiões. Disse Arão.-Mentira! Berrou um deles esmurrando o chão. -Vocês não nos enganam. Se não for por isso, o que vocês estariam fazendo no Vale da Perdição. Nenhum homem em sã consciência viria até aqui.-Além do mais achamos no caminho os corpos de seus amigos. Vocês homens não são confiáveis, traem e matam os de sua própria gente.-Ei! espere aí. Reclamou Bal. -Não foi bem isso o que aconteceu.-Não importa. Respondeu outro. -Deveríamos ter chegado um pouco mais tarde, com certeza vocês a essa hora já teriam se abatido. E não teríamos o infortúnio de sujar nossas mãos matando-os.

Os jovens olharam assustados.-Vocês serão executados no momento em que sol nascer.-Esse é o fim que merecem os traidores.

Um deles levantou-se, foi em direção dos garotos.-A menos que prefiram morrer agora.

Desembanhou a espada. Avançou na direção de Arão, o garoto prendeu a espada entre as correntes, a lançou para o alto. Odrin a pegou e desarmou com muita facilidade outro dos seres que investiu contra ele.

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-Guardas! Três guardas entraram.

-Matem-nos. Ordenou o ser que tinha perdido a espada.Os guardas preparavam-se para avançar.

-Parem! Um voz soou forte e imperativa. Um garoto, com orelhas finas e pontudas, nariz

levemente alongado e cabelos longos presos as costas saiu de trás de um cortina.-Senhor!

Responderam todos ao mesmo tempo que curvavam-se perante o garoto.-Esses são os homens traidores.-Sim, eu ouvi. Parecem ser muito habilidosos com a espada também. Talvez possamos aproveitá-los.-Vá sonhando. Respondeu Odrin.-Vou matá-lo por dirigir-se a nosso líder com tamanha arrogância.-Espere Sunsez, quero conversar com eles primeiro, antes de decidir sobre seus futuros. Sentem-se por favor.-Meu nome é Caravelliz líder das tropas dos Elfos Brancos das Cordilheiras Celestiais. Esses são meus quatro comandantes. Sunsez, o impiedoso, líder das tropas da região sul, Locas, o destemido, líder das tropas da região norte, Ehmilian, o voraz, líder das tropas da região oeste e por fim Guergrern, o líder da tropas da região leste. Estamos indo para o Coliseu das Guarras do Dragão, ele se localiza na montanha dos quatro elementos.

Aquelas palavras prenderam a atenção dos jovens.-Para cumprir nosso desafio... Observei vocês... espero poder contar com vossas habilidades com as espadas para nos ajudar.-E se recusarmos? Perguntou Arão.-Não costumamos carregar peso extra conosco, teremos que nos livrar dele, se é que vocês me entendem.-Ele nos deixa muitas opções. Comentou Bal.-Qual seria este desafio? Continuou Arão.-Vocês parecem espantados em descobrir outros seres que não os homens vivendo no firmamento. Nós habitamos o mundo dos homens, a muito tempo, muito mais do que eles próprios imaginam. Hoje não existimos mais nele, porém ocupamos o firmamento desde o início dos tempos. Os Elfos participaram das primeiras grandes batalhas no firmamento. Também foram os primeiros a se aliar com as forças das trevas, pelo menos alguns deles.

Caravelliz abaixou a cabeça antes de prosseguir. -Com o final das guerras e a derrota do mal fomos perdoados pelos nossos erros. Entretanto ficamos limitados a região das Cordilheiras, praticamente esquecidos pelos homens. Os Elfos não possuem aura como vocês, mas quando se tornam malignos a coloração de sua pele se torna negra, e ganham a designação de Elfos Negros. De um tempo para cá muitos de nós começaram a mudar, o mal está presente entre os homens do firmamento e os Elfos já o sentem. Muitos quebraram seu juramento, esqueceram que foram perdoados, aderiram ao mal. Eu, Caravelliz, governo as quatro cidades élficas, norte, sul, leste e oeste. Porém a maior delas, a cidade central, é governada por Golair, um elfo justo e honesto. Eu ia

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me casar com sua filha Eroin, juntando assim todas as comunidades. Mas ela foi raptada por Xelluz, um elfo negro que quer o poder. Ele sonha em governar todas as cidades élficas para depois atacar as comunidades dos homens no firmamento.-Mas vocês não tem poderio suficiente para vencer as forças dos homens no firmamento. Indagou Tiror.-Não se enganem. Recebi notícias de meus informantes que neste exato momento legiões das trevas invadiram o firmamento, muitas vilas e aldeias estão sendo destruídas, logo será a vez das grandes comunidades e por fim a Cidade Superior. Xelluz espera ajudar na derrota dos homens, garantindo assim um lugar para os Elfos fora das Cordilheiras.

Os garotos ficaram surpresos com as informações de Caravelliz.-Vocês deveriam se juntar a nós em nossa batalha. Sugeriu Arão. -As trevas não dividirão nada com ninguém.-Olhe quem fala de juntar as forças. Sunsez deu uma gargalhada. -Vocês se matam. Não respeitam os de suas própria espécie.

Jogou entre os garotos o cajado de Filas.-Não nos envolveremos nas batalhas dos homens. Apenas queremos juntar as cidades élficas para resistir as forças das trevas. Disse Caravelliz comendo uma uva.-Por quanto tempo vocês acham que conseguirão resistir as força das trevas? Perguntou Cassi desafiadora.-Isso é problema nosso, os homens não merecem confiança, se vocês não quiserem ajudar...

Fez um momento de silêncio -Onde nós entramos nessa história toda? Perguntou Arão.-Xelluz invocou um antigo ritual Elfico, onde qualquer um pode lutar pelo direito da mão da filha do líder da Cidade Central. Nos estamos indo para lutar por ela. Se vocês forem bons como acho que são, quero que lutem ao meu lado para libertar Eroin. Assim que ela estiver livre eu os libertarei, tem minha palavra.-E se perdermos? Questionou Tiror.-Seu destino não será muito diferente do que os aguardaria ao amanhecer, quando o Sol surgir.-Agora sim, estou mais tranqüilo. Debochou Bal.-O que não entendo. Arão estava pensativo. -É que com esse exércíto todo que você tem em mãos, não seria mais fácil simplesmente ir pegá-la? -Não é tão simples assim. Apesar de sermos em maior número. Depois de feito o desafio nenhum elfo ousaria interferir, é uma questão de honra. Estou levando meu exército porque Xelluz é traiçoeiro, acredito que ele esteja armando uma emboscada. Só poderemos lutar se ele tentar algo. Muitos dos guerreiros que lutarão com eles não são elfos. Dizem que são guerreiros das trevas, Xelluz está muito confiante em sua vitória. Se vencer terá todas as cidades sobre seu comando. Começara uma nova era de tirania entre os Elfos. Isso eu não posso permitir.

Ficou em silêncio absorvido por seus pensamentos, saiu rápido de seu transe, sua feição mudou repentinamente. -Acho melhor vocês irem descansar, amanhã cedo veremos quais de vocês tem condições de participar. Partiremos logo em seguida. Boa noite.

Os garotos foram levados da tenda. Quando todos já tinham ido embora...

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-Senhor, não devemos confiar nos homens. Disse Ehmilian. -Eles só pensão em si próprio, na primeira oportunidade irão nos abandonar.-Amanhã decidiremos isso. Finalizou Caravelliz. “ Espero não me arrepender da decisão que tomei..''

-Arão não podemos ajudá-los, nos matarão logo que conseguirem o que querem.-Calma Bal, não acho que será assim. Além do que junto com eles estaremos indo para a montanha dos quatro elementos. Que nem fazemos idéia de onde fica.-Cassi! Você está bem? Disse Tiror amparando-a nos braços.-Só estou um pouco zonza. Preciso me deitar.

Arão olhava para Cassi preocupado se não fizessem algo, logo ela teria o mesmo destino das demais.

Na manhã seguinte quando saíram da tenda havia um círculo formado por elfos,

dentro dele Caravelliz esperava com mais dois acompanhantes.-Bom dia. Espero que o restante da noite tenha sido agradável. Essa é Sefi.

Ela era uma garota de cabelos claros e curtos, tinha olhos verdes, e sua beleza era realçada pela roupa verde colada ao corpo, com uma faixa amarrada a testa. Pelo que puderam notar era a única mulher no acampamento. -E este é Jassont,

Era mais velho que Caravelliz e Sefi, tinha cabelos longos e ombros largos. Dono de uma postura atlética, parecia ter a mesma idade dos demais soldados.-Vocês devem conhecer a luta de três?

Fizeram um sinal de positivo com a cabeça.-Bom, esses são meus companheiros, os melhores de minhas comunidades. Pelas leis sou obrigado a participar. Porém dois de vocês lutarão contra eles, quem sair vencedor fará parte do grupo. Quem será o primeiro?

Arão ia se levantar, mas Cassi o segurou.-Por favor, fique comigo, não vá.-Me dá isso aqui. Odrin pegou a espada de um dos elfos. Estava mal humorado.–Ótimo! Um voluntário. Proclamou Caravelliz. -Você lutará contra Seti.

Os dois se posicionaram ao centro do círculo, Caravelliz fez um sinal para que a luta começasse. A Elfa lutava bem e dificultava os ataques furiosos de Odrin, mesmo sua defesa eficaz apresentava falhas para conter os golpes ágeis da elfa. Um golpe passou rente a sua barriga, ele conseguiu se esquivar, mas a garota acabou tirando a espada de sua mão que caiu ficando no solo.

Sefi foi se aproximando com um sorriso, estava confiante em sua vitória. Odrin porém a derrubou com uma rasteira. Pulou pegando sua espada novamente. Os dois golpearam com suas armas, a intensidade foi tanta que elas se partiram. Aquilo tirou a atenção de Sefi, Odrin aproveitou para pegá-la nos ombros. Rodopiou com elfa, estava pronto para jogá-la no chão quando um grito se fez ouvir.

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-Já chega. Bradou Caravelliz. -Você luta muito bem. Disse ao garoto. - Espero demonstre toda esta fúria quando me representar na batalha de verdade.

Odrin colocou a garota no chão. Ela ficou chateada com o resultado, nem olhou no rosto de seu oponente, virou-se saindo do meio da roda.-O próximo. Tiror olhou para Arão.-Cuide dela para mim. Pediu Tiror.

Ele ia fazer objeção, mas Cassi apertou sua mão, ela parecia mais frágil. Arão olhou-a carinhosamente e depois seus olhos se encontraram com os de Jassont no centro do círculo, não podia abandoná-la. Tiror pegou uma espada se dirigindo ao centro da roda.

A luta teve início, os dois lutavam de forma muito parecidas. Ambos desferiam e defendiam vários golpes. Jassont acertou a perna de Tiror, este se ajoelhou devido ao golpe. Levantou-se irado, partiu para cima do elfo, desferia golpes e mais golpes, um deles atravessou a defesa do elfo acertando-lhe a mão. Sua espada caiu, ele estava desarmado. Tiror estava ofegante olhando seu adversário. Queria finalizar a luta, entretanto mais uma vez a voz de comandou se fez ouvir:-É o suficiente. Disse Caravelliz. -Vocês dois estarão ao meu lado no Coliseu para sermos parceiros na luta. Ja estamos de partida, em breve chegaremos a montanha dos quatro elementos.

Os elfos levantaram acampamento muito rápido, partindo logo em seguida. Sua marcha já tinha seu destino traçado. Suas tropas se deslocavam com velocidade, junto com eles os jovens seguiam para a montanha. Caminharam o dia todo, no meio da tarde, um pequeno ponto ficara visível no horizonte, a medida que avançavam o ponto se tornava maior.-Que montanha enorme. Comentou Arão.-Não é possível nem ver o topo. Observou Tiror.-Dizem que esta montanha na verdade é uma das pernas de um dagrão adormecido. Explicou caravelliz.-Espero que ele não acorde, principalmente agora. Bal olhava suas proporções assombrosas.-Calma, isso são só lendas, histórias do povo elfico. Continuou Caravelliz. -O topo da montanha tem o formato de uma garra, dentro da garra está o Coliseu. Teremos que subir pelos caminhos que seguem contornando a montanha, dizem que estes caminhos são as veias do monstro que se solidificaram.

As tropas subiam devagar por uma estrada íngreme que contornava a montanha. Arão notou que havia outro caminho além do que eles estavam percorrendo, faziam as mesmas curvas que as deles, mas nunca se encontravam, a trilha também sumia nas nuvens.-O que é aquilo?

Perguntou Arão, vendo bandeiras negras sendo agitadas no ar, cornetas sendo tocadas, brados de guerras sendo ovacionados e uma multidão subindo pelo outro caminho.-Aquele é o exército de elfos negros de Xelluz, para chegar ao topo existem dois caminhos este que nós escolhemos. E o que Xelluz esta percorrendo que fica do outro lado. Cada um deles termina em uma entrada do Coliseu, nossas forças só encontrarão as dele no topo da montanha.

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Eles passaram pelas nuvens, onde o ar era mais frio e úmido. O cume da montanha era imenso. O Coliseu ficava dentro da pata do dragão, colunas gigantescas o sustentavam terminando em cabeças de dragões. Nos olhos e bocas dos monstros chamas permaneciam acesas, emitindo luz que clareava a arena principal. Os comandantes guiavam suas tropas pelas entradas.-Eles devem ficar nas arquibancadas, apenas torcendo. Explicava Caravelliz. -As tropas de Xelluz ocuparão a outra parte do Coliseu, nós deveremos nos dirigir para a Arena onde ocorrerá a luta.

Os jovens acompanharam Caravelliz seguindo por corredores dentro da enorme construção. -Quem são esses caras? Perguntou Bal para Caravelliz.

Alguns homens trajando túnicas brancas com faixas vermelhas os examinavam. -São os juízes. Eles cuidam para que todas as regras sejam cumpridas e nenhum lado se beneficie com a quebra das mesmas.-Para que essas correntes? Perguntou Bal.-São as regras. Entraremos acorrentados. Somente os que forem combater serão libertados, mesmo assim somente na hora de suas respectivas lutas.-Preparem-se. Disse o juiz virando as costas para todos. -O desafio se aproxima do seu inicio.

Nesse momento um elmo com uma capa apareceu voando no local em que eles se encontravam.-O que é isso? Perguntou Odrin intrigado.-Pelos deuses, que feitiçaria é essa? Inquiriu Caravelliz.

O elmo e a capa foram ao chão.-Dafne! Bal dera um grito de felicidade. -Nunca fiquei tão feliz em vê-la.-Digas que sentiu saudades. Pediu ela toda dengosa. -Eu os estava seguindo há muito tempo. Pensei que jamais fosse ter uma oportunidade de ficar a sós com vocês. Podemos fugir, vamos aproveitar que estão todos no Coliseu, não há nenhum guarda nesta câmara, é nossa chance.

Olhou para Bal, com um pequeno movimento da cabeça dele, as algemas se abriram."Eu não devia ter confiado neles. Vou perder tudo. As cidades estarão perdidas. Eroin.... Xelluz venceu. Malditos sejam os homens ".

Os pensamentos de Caravelliz lhe causavam muita dor e ira ao mesmo tempo.Tiror ajudava Cassi a se levantar.

-Esperem! Branhiu Arão. -Não podemos ir. Se formos não estaremos cumprindo com a nossa palavra. Nós prometemos ajudar Caravelliz.-Promessa essa feita sobre o "olhar" de muitas lanças e espadas. Reclamou Bal.-Não importa, nós demos nossa palavra, temos que cumpri-la. Eu vou ficar e lutar.

Caravelliz ficou impressionado com as palavras de Arão.-Faça como quiser. Retorquiu Odrin. -Eu vou embora. Vamos Tiror.-Espere Tiror. Eu também vou ficar e lutar.-Mas você não pode Cassi está muito fraca.-Mesmo assim eu ficarei.

Bal e Dafne se aproximaram de Arão.

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

-Lá vai você mais uma vez com seu raciocínio heróico. Estamos com você, apesar de achar sua idéia maluca. Aliás, sempre achei que você não ''batia'' muito bem das cacholas.

Tiror também decidira ficar.-Não acredito que vocês querem bancar os heróis.

Mesmo contrariado Odrin se viu sozinho, não tinha opção a não ser seguir com eles.

Quando eles pisaram na Arena foram ovacionados pela multidão. Os guerreiros de Caravelliz que ocupavam grande parte das arquibancadas tocavam suas trombetas, batiam com os cabos das bandeias e lanças no chão. A outra parte composta pelas tropas de Xelluz, o lado negro do coliseu, apenas acompanhava com o olhar a entrada dos guerreiros.-Minha nossa! Exclamou Bal. -Que lugar fantástico.

Uma trombeta soou forte fazendo todos se calarem. Do outro lado das arquibancadas três seres entraram acorrentados. Dois deles eram elfos negros, suas vestimentas eram pretas também dando um aspecto sinistro aos mesmos. O que chamou a atenção de Arão foi o terceiro integrante. Um ser com um elmo negro, tornando impossível avistar seu rosto, um véu cobria-lhe a boca, o elmo parecia lhe impor uma escuridão própria. Suas ombreiras eram partes superiores de crânios. Nos cotovelos pequenas pontas de metais sobressaíam. No peito a armadura possuía um rosto sinistro com dois olhos negros. As botas subiam até o joelho, nelas havia dois rostos de metais desenhados. Sua capa preta voava com o vento enquanto caminhava.

Todos ficaram impressionados com o oponente. As tropas de Xelluz ovacionavam-no chamando-o de "Espectro Negro"."Esse nome não me é estranho". Pensou Bal.

Um dos juízes se aproximou dos grupos, as multidões se calaram. Duas espadas estavam ficandas no solo à frente de cada grupo.-Vocês se enfrentarão com as Espadas de Som, três de vocês deverão lutar. E apesar disto uma nova regra foi imposta. O vencedor de cada confronto escolhera quem será o oponente para próxima luta. -Eu vou ter que lutar? Perguntou Bal incrédulo.-Só se você for escolhido. Prosseguiu o Juiz. -Quando o número de lutas chegar a três, o lado que obter mais vitórias ganhará o diretio de ter a mão de Eroin.

O juiz apontou para cima onde havia uma parte especial nas arquibancadas ocupadas por vários juízes, entre eles uma elfa com vestido branco se encontrava.-Eroin. Murmurrou Callaveriz.

Xelluz se adiantou.-Vejo que tem novos amigos. Eles são bons? Não esperou a resposta. -Pois vão precisar ser... Após o dia de hoje Caravelliz, você me deverá obediência. Se curvará aos meus pés. Eroin será minha esposa e eu comandarei todas as cidades. -Vá sonhando. Retorquiu Caravelliz.-Convencido ele. Se eu pudesse arrancaria o sorriso desse cara. Resmungou Bal bravo.-Mas você pode. Falou Arão. -Basta pegar a espada e enfrentá-lo.-Vou dar a oportunidade para outro...

Xelluz virou-se para o juiz.

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

-Nós não precisaremos de três lutadores. Apenas um será necessário. Se alguém vencê-lo nós desistimos.-Não é contra as regras? Perguntou Tiror. - Todos têm que lutar.

Olhou para Caravelliz.-Acho que eles a mudaram...-Não estou gostando disso... Retorquiu Bal.-Que assim seja. Disse o juíz se retirando.

O ser do outro lado avançou tirou a espada do chão. Odrin se adiantou, sem perguntar a opinião de ninguém e empunhou a outra arma fincada ao solo. Uma música começou a tocar, no Coliseu.-Mas que coisa é essa? Disse Odrin visivelmente contrariado.

Bal teve um pequeno estremecimento, aproximou devagar de Arão.-Os sábios de minha comunidade contavam a história de um caçador de recompensa, um mercenário, que lutou nas grandes guerras. Era um guerreiro lendário. Sua destreza e habilidade com a espada eram tamanhas que jamais foi derrotado. Possuía uma velocidade de luta fantástica por isso recebera o apelido de Espectro Negro, mas em muitos lugares era conhecido como ’’Retalhador de Almas’’. Quando as guerras acabaram foi poupado por ter feito vários "trabalhos" pelo firmamento derrotando seus inimigos. Ele sumira desde então, nunca mais se ouviu o seu nome.-Você acha que este aí é o Retalhador de Almas?-Se eu acho? Tenho certeza! Suspirou Bal desanimado. - Estamos perdidos.

A luta começou, Odrin atacava com empenho, mas o ser a quem a multidão de elfos negros chamavam de Espectro Negro se desviava com facilidade. Odrin acertou, dois golpes nele, mas simplesmente nem o arranhou.-Hei! Minha espada não é de verdade. Disse ele no mesmo momento em que o Espectro atingira-lhe a perna. Fazendo-o se ajoelhar perante o golpe.-Eu pensei que vocês já tinham lutado com uma espada de som. Gritou Caravelliz. -Você deve ouvir a música, somente na batida mais forte do ritmo da mesma a lâmina da espada se torna ’’verdadeira“, aí sim poderá ferir seu oponente.-Maldição! Berrou ele. -Por que não me disse antes?

Os bumbos que tocavam ao fundo faziam as marcações dos golpes. Odrin tinha muita dificuldade para lutar, não conseguia se concentrar na música. O espectro brincava com ele.-Aquele cara se movimenta com muita rapidez. Observou Tiror. -Fica até difícil ver os seus golpes.

A música se tornou mais intensa e a luta também, aos poucos os golpes do Espectro foram minando Odrin. O garoto caiu aos pés de seu oponente, ele se aproximou do garoto apontando-lhe a espada perto do pescoço. -Você já era!

Odrin fora derrotado.A multidão de elfo negros ovacionava o espectro. Arão e Bal foram ajudar Odrin.

-Tirem suas mãos de mim. Urrou o garoto furioso.O Espectro apontou para Caravelliz.

-Você é o próximo.Ele se levantou, indo ao centro. Outra música começou a tocar. A luta teve inicio.

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-Acaba com ele. Gritou Bal.Caravelliz lutava bem, mais suas habilidades em pouco lhe ajudaram. O Espectro tinha

domínio total das ações. A luta não durou muito tempo, após ferir as duas mãos de Caravelliz, o ser negro o desarmou e fez um corte em sua perna esquerda. O elfo foi ao chão, através do elmo o olhar de satisfação por mais uma vitória era exibido. Xelluz se adiantou à frente de Caravelliz. -Vá se acostumando a ficar nessa posição, pois a partir de hoje você me chamará de mestre. Não quero matá-lo, pois quero que passe o resto dos seus dias dessa sua vida miserável me vendo no trono ao lado de Eiron, me deverás obediência eterna...

Riu com satisfação sua vitória seria completa.-Prefiro morrer a ver você governando as cidades elficas. Mas ainda não terminou... Disse Caravelliz ofegante.-Tem alguma dúvida de que eu serei o vencedor? Xelluz riu ao voltar para seu lugar. -Acabe logo com isso logo! Ordenou para o Espectro.

Tiror se levantara para pegar a arma. -Vai lá Tiror tira esse sorrisinho da cara dele. Berrou Bal empolgado.

O Espectro fez um sinal de negação com a mão.-Quero você! Apontou para Arão, pedindo para que este se adiantasse.-Estamos perdidos. Retrucou Bal murchando todo. -Tiror é muito melhor. O Arão nem sabe lutar direito. Por que tínhamos que vir com mais de três lutadores para a Arena? Por que eu não fugi quando tive chance?

Bal não parava de reclamar, até...-Acho que você está enganado. Bal olhou para o lado, se surpreendendo com a colocação feita, pois ela partira de Odrin.

Tiror ficara ao lado de Cassi, que piorara muito. A música começou novamente. A luta ia se iniciar.-De onde vem essa música? Perguntou Bal. -Ela é medonha, fica impossível se concentrar com ela. -Dali. Respondeu Caravelliz apontando para um local fechado não muito longe de onde eles estavam.

O Espectro era muito rápido, Arão não conseguia ver seus movimentos, por mais que tentasse, só conseguia se defender. Ele parou fez um movimento de positivo com a cabeça para Arão, como se estivesse gostando de lutar com o garoto, investiu novamente atingindo Arão no braço."Ele é bom, que surpresa agradável, pensei que não ia me divertir, mas ainda tem muito que aprender". Os pensamentos animaram o Espectro.-Ei! Ele até que não é ruim. Exclamou Bal com alegria.-Mas não vencerá. Ele se defende muito bem, mas não consegue atacar. As palavras de Odrin tiraram o ânimo de Bal. -O Espectro está dominando o combate."Ele é muito rápido. Não consigo me concentrar com esta música ".

A primeira música acabou, Arão conseguira terminá-la sem cair. Mas estava todo machucado com os golpes que levara."Preciso fazer alguma coisa, senão não agüentarei mais uma música. Vamos concentre-se, concentre-se".

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Arão buscava alguma saída. A próxima música começara.''Quem está escolhendo estas músicas?''. Pensou Arão.

Bal olhou para a entrada da arena. Podia ver Dafne, fez um sinal para ela. A ninfa veio rápida até onde o garoto estava.–Ajude-me a tirar essas correntes.

Os dois se concentraram e com poucas palavras de Bal as correntes caíram. O garoto estava saindo... -Aonde você vai? Não podemos fugir? Indagou Tiror.-Eu não vou fugir, vou ajudar Arão.-Mas você não pode... Retrucou Caravelliz.

Bal partiu até uma das bordas da Arena, subiu na parte fechada de onde o Elfo disse que vinha o som. Entrou... Viu um anão com uma bola de cristal a sua frente.-Saia pra lá. Xingou ele atirando o anão para o lado. O anão ameaçou voltar, mas Bal fez uma careta e ele fugiu assustado.-Vamos colocar música de verdade. Bal mexia os dedos com alegria.

Arão se defendia arduamente, quando a música cessou. Os dois lutadores pararam. Uma ópera começou a tocar.-Mas o que é isso? Disse Arão.-Ops! Música errada! Bal voltou a procurar nas relações das músicas. -Vamos! Vamos. Há achei... Gritou satisfeito.-Irei acabar com você quando a música recomeçar. A gargalhada do Espectro era medonha. –Eu confesso que me animei um pouco, mas a luta esta ficando chata demais.

A música voltou, Arão ficou paralisado, um tremor percorreu seu corpo todo, seus olhos se fecharam."Eu conheço essa música, Thears of the Dragon".

Imagens vieram a sua mente, um homem passando-lhe ensinamentos, um nome surgiu..."Tícero".

Seus olhos abriram subitamente, ele estava diferente, seu olhar estava mais penetrante, sua pose com a espada mudara até o Espectro percebera.''Que energia é essa que estou sentindo? De onde vem? Não pode ser deste jovem...''.

Partiu para o ataque, mas Arão se defendia de forma espetacular. O garoto atacou desferindo alguns golpes que atingiram o Espectro pela primeira vez, este recuou assustado."Como pode ser? Ele estava derrotado. Como pode ter adquirido tamanha destreza na luta".

O espectro tirou sua capa, jogando-a para o lado. Partiu para o ataque, mas Arão novamente repeliu todos os seus golpes, em outro ataque cortou-lhe o pulso. "Maldição! Vou ter que usar minha técnica secreta. Agora você caíra". Riu...

O Espectro concentrou-se de seu corpo cinco novos oponentes surgiram todos iguais a ele.-Isso é trapaça. Gritou Bal de onde estava.

O grupo de Arão se assustou, mas ele não se importou a música se tornara mais lenta, porém a cada batida mais forte ele eliminava uma cópia. No final restaram somente ele e o Espectro original.

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"Como é possível isso? Ele não passa de puro lixo se comparado comigo". O Espectro Negro estava assustado. A mesma cara era feita por Xelluz que não

acreditava no que via.-Esse estilo de luta. Murmurou Odrin surpreso. -Não pode ser...-Esta preparado para seu fim. Disse Arão avançando, o Espectro recuara, a música chegara a sua parte final e aumentara o ritmo. O garoto atacava impiedosamente. Deu-lhe um golpe na mão, a espada de seu oponente voou para cima, quando ela estava caindo, o garoto a pegou, cravando ambas as espadas nos ombros do Espectro destruindo suas ombreiras. Ele caíra de joelhos diante do golpe, só não foi ferido por que a música acabou, tornando as lâminas inúteis.

O exército de Caravelliz comemorava. Bal e Dafne bateram as mãos num comprimento de alegria.-É isso aí vencemos, graças ao maluco do Arão. Gritou Bal enquanto voltava para junto de seus amigos. -Você foi ótimo. Comemorava Caravelliz.-Eu sabia que ele estava escondendo o jogo. Ai...

Dafne dera um cutucão em Bal dizendo.-Deixa de ser mentiroso.

Xelluz não acreditava no resultado, a fúria em seu rosto era visível.-Não! Eu não vou perder. Ataquem! Gritou ele. Seu exército começou a invadir a arena.

Os jovens recuaram até a entrada. Um grito soou de Caravelliz, o exército de elfos brancos ao seu comando também invadiu a Arena para o combate. Arão estava pronto para ir lutar quando foi impedido por Caravelliz.-Essa luta não é mais sua meu amigo. Neste momento Xelluz quebrou sua palavra chamando seus elfos negros, minhas tropas lutarão até o fim ao meu lado. Agradeço tudo o que fez por mim, não tenho como retribuir. Você mudou minha visão sobre os homens. Ainda existem homens honrados que cumprem com a palavra. Terás minha amizade eterna. Guarde bem minhas palavras: ''Quando você mais precisar eu estarei ao seu lado''. Isto é uma promessa. Vão! Seus bastões de energia estão ali do lado. Se seguirem por este caminho atravessarão a montanha dos quatro elementos. E leve isto consigo.

Atirou-lhe uma bolsa.-O que é isso? Perguntou Arão.-É água Élfica, ela não cura ferimentos, mas repõe as energias. Tomem um pouco e entregue também a sua amiga, ela vai precisar. Devo agora me juntar aos meus companheiros.

Apertou as mãos de Arão, partindo para o centro da Arena.Os jovens carregaram Cassi e partiram do caos que fora instalado no Coliseu.

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A Invasão ...Os portões da muralha se abriram, deles saíram milhares de cavaleiros, todos com

armaduras brancas, com cabeças de tigres ao peito e patas pretas entalhadas nas ombreiras esquerdas, eram os Potências de Osíris, que defendiam a comunidade do Sul. A visão dos cavaleiros partindo em filas todas organizadas era muito bela.

Nos muros olhos observavam aqueles corajosos guerreiros partirem em uma missão suicida: Não morrer e impedir que muitos outros não fossem mortos.

Diana acompanhava a partida com tristeza, sabia da coragem de seus homens. Eram guerreiros valorosos, que dariam a vida por um ideal. Seus ancestrais lutaram nas grandes guerras. Em suas essências, corria a coragem dos seus antecepassados. Eles marchariam até o fim, até o último dos homens cair. Seguiriam sem hesitar seu líder, Uriel... Pena que tinha que ser assim, ela jamais imaginou que tudo fosse desenrolar dessa forma e com tamanha rapidez. Se pudesse voltar atrás, reatar as alianças. Mas mesmo no Firmamento o tempo não parava, estavam pagando pelas suas decisões passadas. Krisna estava com Ernn em frente a uma das tabernas da vila. As pessoas amontoavam seus pertences em carroças, selavam seus cavalos. Tudo tinha que estar pronto para a hora decisiva. Mulheres e crianças corriam assustadas fazendo os últimos preparativos para partir.

As legiões das trevas varriam a região, saqueando, destruindo e matando. Na vila os dois grupos existentes iam se separar, os que se preparavam para partir e aqueles que ficariam para tentar conter o avanço das criaturas. Garantindo assim a fuga de muitos para a Comunidade do Sul. Sabiam que não havia futuro para eles, mas seu sacrifício seria em prol de um bem maior.

Krisna estava sentada despreocupada olhando para o horizonte, sabia que em breve estaria em uma batalha sem futuro, pelo menos para ela.-Tem certeza que não deseja partir conosco? Insistiu um homem ao seu lado. -Temos um lugar em nossa carroça. Se ficar vai encontrar a morte com certeza. Não desperdice sua vida, você é tão jovem...

Krisna pensou em seu pai, em Juni lutando para salvá-la, toda a sua aldeia em chamas, as pessoas queridas que tinham partido.-Não, obrigada. Meu destino já foi traçado. Eu vou ficar. Respondeu com desdém. -Por favor, leve Ernn e cuide bem dele para mim.-Pode deixar. Lamentou o homem.

O cachorro relutou, não queria se separar dela. Porém a criança da carroça o acolheu com tamanho carinho que logo ele se acalmou. Ela passou a mão na cabeça do animal.-Cuide dele com carinho. Ele é um cão muito esperto.-Vou cuidar."Adeus Ernn".

Falava em seus pensamentos enquanto a carroça partia. Olhava para a última esperança de partir, de ficar com vida, exitou por um instante, teve vontade de correr atrás dos que partiam. Mas logo recobrou seus pensamentos anteriores. Caminhou para ajudar os homens a tombarem as carroças e fazer uma barreira. Iriam dificultar ao máximo a

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passagem das criaturas. Muito dos coches foram deixadas no meio do caminho com palha dentro.

Ao lado deles, Barris foram enchidos com material inflamável, acenderiam assim que os seres surgissem. Suas fechas incendiárias cruzariam os céus em busca dos barries e do terrível inimigo. O terreno plano com dois pequenos morros ao lado era o único caminho para chegar a vila. Ela daria aos homens uma pequena vantagem. Primeiro atirariam suas flechas para causar o caos no inimigos que estaria em terreno aberto. Após isso dois pelotões de homens desceriam os morros fazendo uma carga sobre as criaturas de ambos os lados. Essa era a melhor estratégia para lutar contra um inimigo mais numeroso. O terreno os favorecia. Se tinham alguma chance, essa era ela. Agora só tinham que esperar o tempo passar até a hora do combate.

Uma garoa fina caia, acompanhada de um frio incomum para aquela época. Krisna cochilara embaixo de uma carroça, foi acordada com vários gritos desesperados. O horizonte estava tomado por um mar negro que se movia em direção a eles. A visão era inacreditável.–Acendam as flechas.

Gritavam os homens, enquanto as criaturas marchavam em um único bloco em direção a eles. Krisna obedeceu.-Esperem os desgraçados chegarem até as carroças.

O inimigo passava pelos coches, flechas incendiárias foram atiradas, cruzaram os céus atingindo a palha. O fogo se alastrou para os barris e indo logo após para as criaturas, muitas tombavam com seus corpos em chamas. Mas mesmo isso não diminuía sua marcha. As setas também foram direcionadas aos seres que se moviam. Acertavam várias delas, mas seu número parecia não reduzir. As flechas de Krisna estavam no fim assim como as de seus companheiros. As criaturas já tinham passado pela barreira das carroças.

Foi quando dois contingentes de homens saíram de seus esconderijos nos morros, atacando sem piedade de ambos os lados. Portavam espadas, machados, lanças e foices, começaram a matança nos flancos do inimigo. A estratégia surtira resultado, a carga fora perfeita, eles estavam conseguindo conter as feras sedentas por vidas humanas.

De repente as nuvens se tornaram mais escuras, o vento soprava mais forte e as criaturas surgiam mais e mais. Os homens perdiam terreno na batalha, já não conseguiam mais segurar o inimigo. No chão corpos de homens e criaturas se misturavam sem vida.

Krisna pegou uma espada, partindo para o combate corpo a corpo. Vários seres tombavam ante a sua arma, após muito combater, o cansaço começou a domina-la. Sua visão estava ficando limitada. Não tinha forças para prosseguir, em breve estaria a merce das criaturas. Sentiu um pancada nas costas, uma clava a atingira. Caira ao chão sob os pés de um dos seres. Sua vista estava turva, conseguia ver um vulto negro a sua frente levantando as mãos com a clava para desferir um novo golpe. As imagens ficaram distorcidas.

Viu o corpo negro tombando em cima de si. Tudo se apagou de repente, foi tragada pelas trevas.

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

A Montanha dos Quatro Elementos...

Estavam longe do Coliseu quando pararam à frente de um túnel na direção em que Caravelliz apontara. Tomaram a água élfica. Ela encheu-os de ânimo e revigou-lhes as forças. Porém, a maior parte foi destinada a Cassi, pois ela estava muito debilitada. O líquido ajudou-a de forma inacreditável, mesmo eles ficaram espantados, pois após algumas goladas ela conseguiu se movimentar sem o auxilio de ninguém. Partiram túnel adentro.-E agora? Perguntou Cassi, dando passadas firmes.-Não sei. Respondeu Arão incerto. -Este túnel deve nos levar para dentro da montanha.

Um leve tremor começou, tornando-se mais intenso, pedras começaram a desabar do teto. Os garotos fugiam para o coração da montanha. O chão começou a rachar e eles foram engolidos pelas fendas. Arão levantou-se, estava sozinho com um pequeno caminho à sua frente. Chamou por seus amigos. Não obteve resposta, decidiu seguir pela passagem.

Bal estava se levantando com a ajuda de Dafne. -O que aconteceu? Resmungou passando a mão na cabeça. -Parece que levei um golpe. Onde estão todos?-Nós caímos. Não há sinal de ninguém por aqui. Respondeu a ninfa. -Vamos seguir por este túnel. Talvez os encontremos mais adiante.

Cassi levantou-se um pouco zonza, ouviu barulho de batidas e gemidos vindos de muito perto. Correu pelo túnel. Ao passar por um conjunto de pedras viu Tiror caído ao chão desarmado, Odrin estava em cima dele com o bastão apontado para seu peito.-Você vai morrer!

Tiror olhou para o lado e viu a garota.-Cassi me ajude! Ele está fora de si.

Odrin desferiu o golpe, mas Cassi o interceptou com seu bastão, defendendo o golpe. Logo em seguida acertou Odrin, o garoto foi jogado para trás. Ela ajudou Tiror a se levantar.-Vamos sair daqui rápido. Ordenou ela puxando Tiror pela mão.-Odrin ficou louco, ele queria me matar.-Não era ele... Odrin ja não existe mais...

Um grito veio das costas deles enquanto fugiam. Odrin se levantara. Depois de um tempo correndo, chegaram a um local com vários buracos ao chão. Tomavam cuidado para não cairem em nenhum deles.-Acho que o despistamos.

Cassi abraçou Tiror fechando os olhos, um sorriso brotou em seu rosto, uma sensação de segurança a invadia.

Os traços de felicidade começaram a mudar em seu rosto para uma expressão de dor. Ela não conseguia respirar direito. Foi afastado pelos braços do garoto. Ele apertava suas costelas com uma força incrível.-Tiror o que esta acontecendo? Sua voz saia fraca e com muita dificuldade

O rosto de espanto de Cassi, fez o garoto rir, a face dele estava deformada. Seus olhos emitiam um estranho brilho. Ele rasgou a faixa que passava sobre o ombro da garota,

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

levando-a ao chão. -A pedra! Gemeu ele afastando-se perante o brilho verde que vinha do colo de Cassi. -Por isso não consegui possuí-la tão rápido como as outras. E depois aquela água Elfica. Mas agora você vai morrer. Nem a pedra irá salvá-la.

Cassi rastejava no chão tentando fugir dele. Ele a pegou pelos pés, puxando-a a seus pés.-Garota tola! Morra!

Algo porém bateu no corpo de Tiror atirando-o contra a parede. Ao cair no chão foi sugado por um dos buracos. O garoto sontou um urro... o som foi sumindo junto com o brilho de seus olhos.

Odrin estava em pé diante de Cassi muito ofegante. A garota o abraçou, chorava.-Desculpe! Pedia ela. -Eu não sabia...

Seus soluços cortavam as palavras.Odrin não sabia o que fazer. Ele ficou sem jeito, mas acabou envolvendo-a em seus

braços. Ela encostou a cabeça em seu peito, ficaram em silêncio por um longo tempo.Um novo tremor provocou a queda de muitas pedras. Odrin corria segurando as mãos

de Cassi. Ela tropeçou indo ao chão. Ele voltou para ajudá-la, entretanto uma enorme pedra caiu bloqueando o caminho. Os gritos de ambos não passavam pela extensão do obstáculo. Estavam separados.

Odrin vagou solitário por muito tempo até se defrontar com uma porta com inscrições marcadas no centro. Passou a mão pelo símbolo entalhado na porta.-Espero que você saiba como abrir essa porta. Pois vai ter que me dizer antes de morrer.

Odrin virou-se para trás. Um ser grande com um machado negro nas mãos estava postado a sua frente.-Quem é você? Perguntou Odrin.-Meu nome é Molf. Vou acabar com você, mas antes preciso saber como abrir a porta. Jogou o machado no chão.-Não preciso disso para acabar com você.-Verdade? Pago para ver.

Sorriu Odrin deixando seu bastão cair.

Bal e Dafne caminhavam com uma pequena bola incandescente à frente. Ela não era muito grande, mas iluminava boa parte do túnel.-Bal, já estamos andando faz um bom tempo.-Eu sei! Eu sei! Você acha que sou adepto a longas caminhadas? Só queria encontrar alguém. Estou cansado de ficarmos sozinho.

Um riso medonho veio da escuridão dando um tremendo susto em Bal.-Seu desejo foi atendido.-Retiro o que eu disse. Acho que prefiro a solidão.

Um brillho veio da escuridão aos poucos uma foice foi surgindo, Tulgor saiu das sombras...

Cassi ficou perdida sem saber para onde ir, andou a esmo até que achou uma

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

abertura que a conduziu por um túnel pequeno. Quando por fim chegou ao que parecia ser final do túnel, viu que se encontrava em uma sala que não possuía chão. Pedras erguiam-se da escuridão formando um caminho. Onde um ser examinava uma pedra com um símbolo ao centro.-Quem é você? O que está fazendo?-Estava esperando por você minha querida. Não se lembra mais de mim? A sáliva escorria por seus lábios, as palavras confusas saiam rápidas de sua boca. -Tentei matá-la algumas vezes no Santuário, porém não obtive sucesso. Desta vez não falharei. Meu nome é Sender.

O ser sacou dois punhais da cintura.

Arão parou diante de uma estreita ponte de pedras. Em cima dela várias estalactites

se postavam de maneira mortal. No final da ponte uma pedra com escrições estava a sua vista. Bastaria apenas atravessar a ponte para chegar até ela. Estava no meio da passagem quando ouviu passos atrás de si. Jitar surgira das sombras sorrindo, suas mãos se transformaram em duas lâminas.

Odrin e Molf agarraram-se medindo suas forças, Molf esperava encontrar um garoto fraco, porém ficou surpreso com a força de seu oponente.-Você é forte garoto. Mas não o suficiente.

Atarracou Odrin pela cintura, levantou-o do solo. Esmagava-o com um abraço mortal. Odrin tinha dificuldade em respirar."Preciso escapar ou não vou aguentar muito temp..."

Com as mãos livres Odrin deu-lhe dois golpes no ombro, fazendo Molf gemer de dor e assim soltar sua vítima. O ser ficou furioso e partiu para cima do garoto. O jovem saiu da frente, o gigante tropeçou vindo-se a chocar contra a parede.-Você é forte, mas o que tem de musculos, falta-lhe de inteligência. Clamou Odrin apontando para cabeça.

Após recuperar-se, Molf pegou uma pedra do chão. Atirou-a contra Odrin. O garoto se desviou com muita agilidade. O ser partiu novamente para cima dele, Odrin deitou-se no chão agarrou o ombro do gigante e usou os pés como apoio, atirando-o longe.-E aí grandão, vai querer mais?-Seu garoto insolente.

Molf pegou o machado do chão.-Você não está jogando limpo.-Vou matá-lo! Fazer picadinho de você e por fim separar essa sua cabecinha de seu corpo.

Molf avançou, o garoto mais uma vez saiu da frente e passou-lhe uma rasteira. O gigante caiu sobre o machado que cravou-lhe o peito.

Ele levantou-se com dificuldade, ainda sem entender o que acontecera. Tirou a arma de seu corpo, mas seu peito foi ficando negro. Ele tombou sem vida enquanto o fogo negro agia em seu tronco.

Um novo tremor e a porta se abriu, muita terra escorria do teto e das paredes por onde Odrin entrou. O jovem ficou tão distraído com medo de um desabamento, que esqueceu completamente de seu bastão de energia.

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

-O que faremos? Perguntou Bal deixando o bastão cair.O ser sorriu, sua vitória seria fácil demais.

-Não sei. Respondeu Dafne. -Você é o mago aqui.-Por que sempre a responsabilidade maior cai sobre nós homens.

Tulgor tinha em seu cinto várias facas presas, com movimentos ageis começou a dispará-las contra seus oponentes.

Um escudo surgiu na frente do garoto repelindo as facas. Tulgor vociferou palavrões pegando sua foice, partiu para cima do garoto. Bal correu até ficar encurralado, estava sem saída. Não tinha para onde ir, aguardava somente Tulgor desferir o golpe mortal. Neste momento uma pedra chocou-se contra a cabeça do ser que foi ao chão. Dafne apareceu, sorria mediante o golpe que aplicara salvando Bal.-Puxa, essa foi por pouco. Suspirou o garoto aliviado.-É melhor você pensar em alguma coisa rápido . Reclamou Dafne. -Por que ele já está se levantando.

Tulgor passava as mãos à cabeça, a dor era latente.-Vou acabar com vocês de uma vez por todas.

O ser correu na direção dos dois, Bal se concentrou junto com a ninfa, lançando-lhe um encatamento que congelou todo o seu corpo. O garoto saiu da frente vendo o bloco de gelo deslizar indo chocar-se contra a parede. O impacto fez o bloco quebrar-se em vários pedaços. O garoto se vangloriava de sua vitória. Uma pedra deslocou-se mostrando um pequeno caminho. Bal começara a entrar quando Dafne o avisou.-Você não está esquecendo seu bastão, não?

Ia voltar, mas o caminho atrás de si tinha sumido. O único modo de prosseguirem era seguir em frente, o chão estava úmido. Gotas de água escorriam do teto.

Cassi saltava nas pedras tentando não cair. Isso a deixou um pouco fraca, mas mesmo assim conseguia pular. Sender rancou um chicote de trás de suas costas, atirou em Cassi prendendo-lhe a perna. Fez força puxando-a para si. O corpo dela foi ao chão, soltando o bastão, estava sendo arrastada para fora da pedra, iria cair na escuridão.

A garota conseguiu pegar o bastão, passou pelo chicote cortando-o. Estava livre, ficou em pé na rocha.

Sender jogou o chicote e pegou seus punhais, pulou nas pedras até chegar perto de onde a Cassi estava. Desferia golpes com suas armas. A garota rebatia todos os ataques, mas estava recuando, chegando perigosamente ao final da pedra.

Precisa pensar em algo para livrar-se dele. Sender desferiu um golpe que jogou o bastão de Cassi na escuridão. O ser pulou para sua pedra. Ela se atirou em outra, ele a seguia num jogo de gato e rato. A garota viu o chicote cortado caído sobre uma das pedras. Pulou até ele, Sender estava em seu encalço, ele foi pular na próxima pedra para alcançá-la. Ela porém atirou-lhe o chicote que enrolou em seus pés. O ser perdeu o equilíbrio, não conseguindo completar o salto, vindo a cair na escuridão do abismo.

A pedra no final do caminho se deslocou, uma passagem se abriu. O vento soprava

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forte dentro dele. Cassi teve que firmar o corpo para não se desequilibrar pela força do vento.

Jitar avançou ao encontro de Arão, usava as mãos transformadas como armas mortais.-Desta vez acabarei com você. Se meteu onde não devia garoto.-Não pense que será tão fácil quanto pensa. -Espero que não mesmo, porque se for, eu ficarei muito desapontado.

Os dois lutavam com muito empenho a ponte começara a desfazer-se em alguns pontos. Ela não resistiria muito mais. Arão atingiu o corpo de Jitar com um de seus golpes.-É melhor você desistir. Sugeriu Arão. -Não quero machucá-lo.-Machucar-me? Jitar gargalhava.

Pulou sobre Arão, o bastão cravou na barriga. O ser se contorceu caindo ao chão. O garoto levantou-se.-Eu avisei.

Informou Arão dando-lhe as costas para sair da ponte.Jitar começou a gargalhar. Levantou-se com o bastão preso a barriga, puxou o objeto tirando do corpo como se este fosse líquido.-Você perdeu isso? Jitar atirou o bastão aos pés de Arão.

Uma das mãos do ser transformou-se em um machado, ele voltou a atacar Arão. O garoto se defendia e atacava, mas todos os seus golpes passavam pelo corpo de Jitar."Afinal do que ele é feito". Arão tropeçou e caiu.-Eu disse que não subestimaria você de novo.

jitar sorriu andando em direção a Arão. O garoto olhou para cima. -Eu vou derrotá-lo do mesmo jeito que fiz antes.

Respondeu com fúria atirando o bastão em uma estalactite no teto, ela se quebrou caindo sobre Jitar.-Nnnãããoooo! Gritou ele antes da pedra o esmagar.

Arão respirou aliviado, porém um líquido escorreu dos vãos das pedras. As gargalhadas voltaram a ser ouvidas. Ele se recompôs suas mãos se mudaram. Uma virou uma esfera com pontas segurada por uma corrente, a outra um chicote.

A ponte estava em seu limite, desmoronaria a qualquer momento. Arão percebeu, correndo para o seu final, um estrondo e ela sucumbiu, Jitar lançou seu chicote prendendo o pé do garoto. O ser ficou suspenso no ar. Arão se agarrou a uma pedra que não havia cedido. O peso de Jitar ia fazer ambos cair. –Se eu cair, vou levá-lo comigo. Riu ele-Ah! Mas não vai não.

O garoto passou o bastão pelo chicote que lhe prendia, cortando-o. Ele observou Jitar sumir na escuridão. Teve que largar seu bastão para conseguir se segurar e subir. Estava a salvo.

A pedra à frente de Arão se abriu. Um pequeno corredor exibia-lhe uma passagem. O garoto entrou, foi colocar a mão nas pedras para se equilibrar, com um movimento rápido recolheu-a de volta, as rochas estavam muito quentes.

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Medar entrou apressado no salão de reuniões. O conselho estava reunido. Os murmúrios cessaram. Olhou para os rostos de Empoly e Milenus que estavam sentados lado a lado, mas não trocavam uma palavra sequer.-O que aconteceu? Perguntou.Milenus levantou-se.-Ardrieza desapareceu.-O quê?

A sua voz de surpresa sumiu repentinamente, assim como o temível Titã.-Já convoquei todos os Dominações. Pedi ajuda a todos mensageiros das comunidades. A maioria nos atendeu.

Milenus explicava as medidas tomadas. -Mesmo assim estamos numa situação muito delicada.-Compreendo.

Medar ocupou seu lugar.A reunião prolongou-se por muito tempo, no final, todos estavam alerta, a Cidade

Superior ficara vulnerável. O Titã poderia atacar e destruir toda ela num piscar de olhos. Se os guardiões não chegassem logo para auxiliá-los poderia ser o fim.

Odrin passou pelo corredor e chegou no que parecia ser uma arena. Ela abrangia uma área enorme. Toda cercada por muros sólidos de pedra. Nela havia uma mesa de pedra ao centro, ao seu lado uma esfera de metal com uma corrente. A bola estava presa até sua metade no solo. Não havia sinal de ninguém em lugar algum.-Acho que acabei vindo a um lugar errado.

Virou-se para voltar, mas um tremor agitou toda a Arena e o caminho por onde Odrin passara, ficara bloqueado por muitas pedras.-Agora sim! Reclamou ele. - Estou preso aqui.

Caminhou até a esfera, pegou a corrente e fez força, mas a esfera de metal nem se mexeu, estava firme ao chão.-Isso não sairia daqui nem com cem homens puxando.

Dirigiu-se a mesa, distante ela parecia pequena, porém quando se aproximou viu que o objeto alcançava a altura de seu peito. Apoiou-se sobre a mesa. Não via como sair dali. Começou a ouvir um barulho atrás de si. No chão, era como se a areia brotasse das pedras, formando um pequeno monte que foi crescendo, mais e mais.

A areia foi ganhando a forma de um homem. Ele não possui olhos, ou língua, caminhava em direção a Odrin, por onde passava deixava atrás de si um rastro de terra que caia de todo o seu corpo, porém seu volume não diminuía.-Parece perdido, meu jovem. Disse o ser composto de areia, sua voz era forte e grave. A cada palavra pronunciada seus lábios pareciam se desmanchar em um pó forte e grosso.-Perdido não é bem a palavra. Odrin olhava desconfiado para o ser. -Estou preso e não vejo

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nenhuma saída.-Está aqui por alguma razão especial?-Por que esse interesse?-É que talvez eu possa ajudá-lo.

Odrin não tinha o que perder, por isso foi honesto com o ser.-Vim como escolta de amigos da Cidade Superior. Eles iam se tornar guardiões, mas estão todos mortos. Preciso voltar para a Cidade Superior, precisamos defendê-la.-Você não pensa em ser guardião?-Dizem que os elementos escolhem os guardiões. Acho que não fui o escolhido.-Entendo. Disse o ser. -Eu posso ajudá-lo a sair. Mas somente se você me vencer.-Vencer? Como?-Você parece ser um jovem muito forte.

O ser se encaminhou até a mesa. Colocou o cotovelo sobre a mesma. –Venha e me vença, se vencer poderá sair.-Está me desafiando para uma queda de braço?

O ser confirmou com um gesto movimentando a cabeça.-Você vai se arrepender.

Vangloriou-se Odrin passando a mão sobre seu braço direito.O garoto ficou intrigado, imaginou que ao tentar pegar a mão do ser, a sua iria passar

pela areia. Porém o aperto foi firme e forte. Um punhado de terra escorreu pelo braço de Odrin.-Devo avisar que nunca fui derrotado.-Talvez você não tenha enfrentado os adversários certos. Provocou Odrin.

A disputa começou o ser tinha uma força incrível. O braço do garoto pendia para o lado. Ele ria vendo o garoto sofrer para mudar a situação. Odrin concentrou-se, tinha que reunir todas as suas forças ou iria perder.

Aos poucos a situação foi invertendo, o braço do ser começou a pender para a outra direção, ele parecia não acreditar no que estava acontecendo. O garoto fez um esforço final, conseguindo por fim deitar a mão de seu adversário na mesa de pedra. Sua vitória fez o ser soltar um grito de raiva.

-Muito bem meu jovem, você me venceu.Ele virou-se e começou a se afastar.-Espere! Você falou que ia me mostrar à saída.-Eu menti.

Confessou o ser se desfazendo. A areia foi tragada pela pedra. Odrin ficou parado observando sem saber o que fazer.

Bal caminhava pelo corredor úmido com Dafne, chegou a um enorme pilar quadrado. Este possuía uma passagem dentro de si.-É vamos ter que atravessá-lo para continuar. Disse Bal.

O garoto entrou, Dafne ia segui-lo, porém duas portas de vidros baixaram prendendo Bal dentro do pilar. Ele batia com as mãos, tentava erguer a porta, tudo sem sucesso.

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Proferiu alguns encantamentos, mas a porta não sofreu nenhum arranhão. Olhava para Dafne. Ela gritava-lhe do outro lado, mas ele não conseguia ouvir nada do que ela falava.

Parou seus esforços por um momento, prestando maior atenção no interior da construção. Na parede existiam vários círculos, Bal calculava que o raio de cada círculo devia ter de trinta a quarenta centímetros. Em um canto da parede um painel com várias figuras geométricas.-O que é isso? Bal tocou no painel. Algumas figuras acenderam e apagaram em seqüência. -Que estranho.

De um dos círculos na parede começou a sair água num volume considerável.-O que foi que eu fiz? Isso vai encher de água comigo dentro.

Ele foi desesperado para porta tentando sair, mas nada acontecia com exceção da água que continuava a subir. Dafne estava mais desesperada do lado de fora.-O que eu faço? Pense Balduíno, pense. O que foi que eu fiz? Mexi no painel.

Bal se dirigiu ao painel. Observando-o melhor. -Deve haver um jeito de fazer essa água parar.

Colocou a mão sobre uma figura qualquer, ela ascendeu e de outro círculo começou a vazar água.-Ótimo, consegui piorar minha situação. Deixe-me ver as figuras acenderam em uma ordem específica.

Bal apertou a primeira que ele se lembrara que tinha acendido. Ela se acendeu, mas de nenhum outro círculo começou a sair água.-Isso! Gritou ele. -Agora é só me lembrar dos outros.

Conseguiu terminar a seqüência com sucesso, a água parou de cair. Virou-se para Dafne pulando de alegria. -Eu sou demais, comigo ninguém pode.

Mas a ninfa estava quase tendo um ataque de nervos Bal não entendia o porquê. Quando se virou para o painel.-Essa não!

O painel começou a piscar em seqüência mais uma vez, porém desta vez maior que a anterior e Bal não tinha visto o começo dela. Quando cessou, as águas dos dois círculos voltaram a correr.

O garoto tinha perdido as duas primeiras figuras, apertou qualquer uma, foi abrindo novos círculos que jorravam água. Ela subia rápido, logo todo interior do pilar estaria submerso. Olhou para Dafne ela apontava para o painel, tentava-lhe mostrar as figuras iniciais da seqüência.

Bal tinha dificuldades para entender a ninfa desesperada, mesmo por que ela também parecia estar em dúvida entre dois símbolos.-Vamos! Decida-se logo. Berrou, mas Dafne não podia ouvi-lo.

Com a ajuda dela e mais dois círculos abertos, aumentando a vazão da água, ele conseguiu acertar a segunda seqüência. Porém a água atingira mais da metade do pilar seus pés já não alcançavam mais o chão.

A seqüência recomeçou uma terceira vez. -Meu Deus, até onde isso vai?

Ele tinha dificuldade em ver o painel por causa da água. Tomou fôlego e afundou

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observou o conjunto de luzes do painel ascender e apagar várias vezes. Os sinais pararam de piscar. Ele tinha que ser rápido ou morreria afogando. Errou algumas vezes mesmo com a ajuda de Dafne. Tentou subir para tomar ar, mas a água tomava quase todo o pilar. Vários círculos já estavam abertos, teria sua última chance e se houvesse mais uma seqüência com certeza morreria.

Foi para o painel, já não importava mais errar, pois o pilar estava todo tomado pela água. Estava ficando sem ar, não agüentava mais, apertou a última figura que se lembrava, o painel começou a piscar todo, a água começou a sair muito mais rápido do que entrou. As portas se abriram. Dafne entrou. Bal estava caído ao chão tossindo, tentava recuperar o fôlego.

Cassi chegou a um lugar que parecia uma imensidão. O vento era forte, vinha de todas as direções. Não havia chão, somente nuvens. Elas se moviam conforme a direção que ar se propagava e ambos possuíam movimentos irregulares.

A uma distância considerável Cassi podia ver um pequeno ponto, mas não conseguia distinguir o que era. Olhou para trás e o caminho pelo qual viera simplesmente não existia mais.-Acho que o único modo de prosseguir é seguir em frente. Mas como?

Teria que arriscar deu um passo para trás. -Não quero nem pensar no que vai acontecer comigo, se isso der errado.

Com um impulso forte saltou e caiu sobre uma nuvem. Ficou surpresa ao ver que a mesma não deixara seu corpo passar, tinha uma consistência firme. O vento soprou mais forte, Cassi foi jogada para trás, rolou sobre a nuvem. Olhou para baixo, não conseguiu enxergar o chão.-Seria uma queda e tanto.

Esperou que o vento se acalmasse pulando para a próxima. A cada nuvem que Cassi avançava mais forte o ar se tornava e mais as nuvens se moviam, dificultando seu equilíbrio. Não faltava muito para chegar...

Saltou para a próxima, entretanto uma rajada de vento a deslocou antes de Cassi chegar. Por pouco ela conseguiu se agarrar, mas seu corpo estava suspenso no ar balançando muito. Tentava não olhar para baixo. Uma de suas mãos escapou, entretanto ela continuava pendurada.

Não iria conseguir... O vento aumentou consideravelmente. Fez um esforço para se agarrar com ambas as mãos. Conseguiu subir. Estava decidida a seguir adiante, todavia mais uma vez o vento agiu, as nuvens começavam a se desfazer. Agora além do cuidado para não cair, tinha que ser rápida, pois todo o caminho estava se desintegrando.

Pulou em outra, mas ela foi dividida ao meio, conseguiu se agarrar as duas com cada uma das mãos, usou as como se estivesse em um trapézio para pegar impulso e com um movimento de vai e vem jogou-se para a próxima.

Estava quase chegando não podia parar, tinha que ser mais rápida. Começou a correr aos pulos nas nuvens torcendo para o vento ajudar. Uma delas sumiu a sua frente, ela caiu, mas antes encontrou algo sólido à frente para se segurar. Com muito esforço conseguiu

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subir, o vento tinha cessado misteriosamente. Ela estava exausta, virou e deitou-se de costas no solo. Estava sobre uma plataforma sólida. Arão correu pelo resto do túnel, a lava derretida escorria pelas paredes destruindo tudo atrás de si. Quando saiu do corredor, olhou para trás a barreira natural formata pela lava impedia qualquer tentativa de volta.

Estava em uma sala circular. Cinco pilares faziam o contorno da sala entre cada pilar uma arma ficava pendurada a parede. Uma espada, um machado, uma lança, uma foice e uma clava.

Não viu ninguém dentro da sala, a sua frente, do outro lado do recinto, uma porta se encontrava fechada. Entrou caminhando até o centro, quando chegou no ponto central, de trás de cada pilar surgiu um ser. Suas cores eram avermelhadas não conseguia ver seus rostos, pois pareciam encobertos por uma máscara. Todos portavam uma espada cada e cercaram o garoto.

Do teto começou a escorrer lava derretida em intervalos regulares entre os pilares. Ao tocarem no chão elas sumiam por um buraco que percorria todas as colunas.

Os seres sacaram suas espadas, avançando sobre o garoto. Ele se desviou dos primeiros golpes, mas não tinha com o que se defender. Estava sendo encurralado para onde a lava escorria. Esperou ela cessar, cruzando a linha dos pilares, correu até a parede e pegou a foice.-Agora vai ser um luta justa!

Voltou para o combate contra os seres, porém no primeiro golpe que defendeu a foice se desintegrou.-O quê!?

O garoto foi pego de surpresa e quase foi atingido. Segurou um dos seus adversários pelo braço atirando no liquido incandescente.-Menos um. Bradou ele.

Todavia quando a lava cessou o ser voltou para a luta como se nada tivesse acontecido. Arão foi para o canto se desviando dos golpes, esperou a lava cessar mais uma vez, pegou a lança e atirou-a no peito de um de seus adversários, ele caiu sem vida, à lança se desintegrou em seguida.

O garoto se movimentou para o outro lado da sala pegou a clava, atacou um de seus oponentes. O ser tentou se defender, mas a clava quebrou sua espada, atingindo-o em cheio, tombou ao chão derrotado, a arma desapareceu.

Restavam duas armas e três adversários. O garoto pegou a espada, quando um dos seres investiu, ele abaixou-se e com um movimento ágil cravou-lhe a espada no seu abdômen.-Menos um, faltam dois.

Arão correu pegou o machado da parede. -Terá que ser dois coelhos com uma cajadada só.

Atirou o machado na direção dos dois seres na esperança de que a arma acabasse com ambos, porém um deles conseguiu se desviar. Arão olhou para as paredes não havia mais nenhuma arma e ainda restava um adversário. O garoto pensou rápido. O ser atacou-o. Ele esquivou-se do golpe, tirou-lhe a espada das mãos. Num movimento veloz lançou a espada que acertou o peito do ser deixando seus oponentes todos sem vida na sala. Arão

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olhou surpreso para frente à porta se abriu.

Odrin olhava a Arena vazia. “O que devo fazer?"

Não havia saída, estava preso. Um novo tremor se abateu sobre a Arena, porém desta vez pareceu que vinha do chão abaixo do garoto.-Mas o que pode ser?

O solo começou a se romper, uma mão apareceu, seguido por uma cabeça. Por fim frente a Odrin estava um colosso de pedra. O garoto esperava ansioso para ver o que aconteceria. O colosso se moveu, seus possantes braços ganharam movimento, os punhos cerrados partiram na direção de Odrin. Ele saltou para trás. As mãos do monstro abriram uma cratera no chão.-Esse monstro é muito grande não posso ficar parada ou serei um alvo fácil.

O garoto se movimentava rápido, enganou várias vezes seu perseguidor, porém o gigante era incansável e não havia saída da Arena. Logo Odrin se cansaria.-Como posso derrotar uma coisa dessas?

O garoto pegava as pedras que saíam do solo quando o monstro o atingia com seus punhos. Atirava-as nele, porém não surtia nenhum resultado.-Maldição! Eu nem consigo arranhá-lo. Arranhá-lo? É isso.

Odrin correu para o outro lado da arena. Pegou a corrente da esfera de metal puxava para tirá-la do solo, mas sem sucesso.-Não sai!

O braço do colosso passou rente a seu rosto.-Já sei. Hei bicho feio. Gritou ele. -Você não é de nada, quero ver você me acertar.

O colosso levantou os dois braços arremessando-os contra o garoto. Odrin saltou, o golpe quebrou as pedras do solo libertando a esfera.-Isso!

Vangloriou-se ele pegando a corrente da esfera. Ela era muito pesada, mas mesmo assim o garoto girou-a, arremessando contra o braço do colosso, este veio ao solo esfarelado.-Não esperava por essa hein! Um a zero para mim.

Mesmo sem um braço o monstro continuava a lutar. Odrin partiu novamente atrás da esfera, girou-a novamente e atirou-a contra uma das pernas de seu oponente. Ela se quebrou, o monstro foi ao chão, tombou de costas e não se mexeu mais. O garoto subiu em seu peito, a corrente da bola estava ao seu lado.-Mais alguma brincadeira. Gritou ele.

O colosso despertou de repente, com a mão que lhe restava segurou Odrin pela cintura apertava com força, para esmagá-lo. O garoto tentava se livrar, mas a força do monstro era descomunal. A esfera com a corrente estavam perto, com muito esforço conseguiu pegá-la. Atirou-a para cima a esfera subiu, na volta caiu sobre a cabeça do ser, fazendo-a em pedaços. A mão do monstro se afrouxou. Odrin escapou.

Ele viu o corpo todo do gigante virar pó e sumir.

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Bal e Dafne atravessaram o pilar, entraram em uma câmara com muitas cachoeiras em seu redor. No centro da câmara, havia dois pedestais, com grandes livros sobre eles. À frente de cada um deles um recipiente grande com água repousava. Bal subiu até o pedestal, começou a folhear o livro.-O que tem aí Bal? Perguntou Dafne olhando por cima de seu ombro.-São magias... Muitas magias e encantamentos. Mas por que isto está aqui?-Por quê?

A voz veio de trás do outro pedestal. Um ser saiu da escuridão. De seus olhos e mãos escorriam água. -Para uma disputa e para que mais seria?-Eu e minhas perguntas. Preciso aprender a ficar de boca calada.-Prepare-se meu jovem.-Espere aí. Gritou Bal. -Eu não vou participar...

Mas não teve tempo de responder. O ser folheou o livro, pronunciou algumas palavras, a água de seu recipiente tomou o formato de uma espada atacando o garoto e a ninfa.

Bal apressou-se em folhear o seu livro. Achou uma magia e a pronunciou. A água de seu recipiente transformou-se em um escudo protegendo-o dos golpes da espada. O ser riu.-Muito bem, meu jovem, há tempos não me divertia assim.-Não estou achando graça nenhuma. Ralhou Bal.-Nem eu. Completou Dafne.-Obrigado por compartilhar da minha opinião ao menos uma vez. Gracejou Bal.

O ser folheou novamente o livro pronunciou palavras, a espada mudou-se em uma corda de água e prendeu Bal.-Ela está me esmagando.-Faça alguma coisa Bal.-Não posso estou com as mãos presas não consigo pegar o livro. Gemia o garoto.

Dafne pegou o livro, folheando perto do rosto do garoto.-Espere! Pare! Volte duas páginas. Rápido.

Os grunhidos de Bal faziam a ninfa perder o controle, porém ela conseguiu. Bal pronunciara as palavras seu escudo de água virara uma tesoura, cortando a corda que o prendia.-Vejo que você é bom garoto. Iremos ficar muito tempo aqui trocando truques. Vou ter que usar outros métodos para vencê-lo.

O ser começou a olhar fixamente para eles, seus olhos pareciam dois redemoinhos.-Você está ficando com sono, com muito sono. Você vai dormir...-Não está funcionando. Zombou Dafne, porém ao olhar para Bal, viu que o garoto estava de olhos fechados, dormindo...

O ser invocou mais umas palavras, a água de sua vasilha virou uma enorme serpente. Ela rastejava vigorosamente em direção ao garoto.-Durma! Vangloriava-se o ser. -Durma o sono do qual jamais acordara!

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-Bal acorde! Gritava Dafne desesperada. -A cobra! A ninfa chacoalhava o garoto, batia-lhe no rosto, mas o garoto não acordava. Ela voou

até o recipiente pegou água, e jogou em sua face. O garoto despertou.-Mas o que você está fazen... A frase foi cortada. -Uma cobra, uma cobra.

Virou várias páginas do livro.-Ah! Achei!!! Essa deve servir.

Gritou as palavras mais alto que o habitual. A água de seu recipiente subiu, transformou-se em uma águia e desceu em um vôo rasante cortando a cobra ao meio. Ela prosseguiu seu vôo atingindo o ser.

O pedestal caiu e o ser desapareceu.

Cassi explorava a plataforma. Viu uma moça que a observava sorrindo.-Oi meu nome é Brisaria.-O meu é Cassiana. O que você faz nesta plataforma?-Eu moro aqui e você?-Estou perdida, preciso sair deste lugar, você pode me ajudar?-Posso sim... Você quer ser minha amiga?

Cassi balançou a cabeça em resposta a pergunta da garota, ficou intrigada. -Ótimo. Nunca aparece ninguém por estes lados, eu me sinto sozinha. Venha comigo vou-lhe apresentar a minha mãe.

Ela pegou em sua mão. Cassi sentiu um grande vazio, como se a garota não estivesse ali, ficou confusa com suas sensações. Chegou em uma parte da plataforma onde havia dois tronos. Um deles, o maior, era ocupado por uma senhora de cabelos brancos, o outro se encontrava vazio.-Mamãe veja minha nova amiga, Cassiana.-Brisaria! Repreendeu a mulher. -Como se atreve a trazer esta garota má até mim. Ela só vai te machucar.-Não, mamãe!-Sim, vai. Eu sei o que estou falando. Livre-se dela.

A garota abaixou a cabeça e virou-se para Cassi.-Sinto muito, mas tenho que me livrar de você. -O quê?

A garota levantou os braços em direção a Cassi um corrente de ar saiu dela, jogando Cassi longe.-Você queria me enganar! Ia me machucar! Gritava a menina sem controle antes de mandar Cassi longe novamente. -Mamãe sempre soube. Ela me protege.-Espere Brisaria isto é mentira.

Ela apontou as duas mãos, a corrente de ar foi mais forte ainda, Cassi caiu batendo as costas no chão.-Ela me protege de gente má como você."Preciso pensar em algo não suportarei mais um desses. Mas a garota não parece ser real, eu não consigo senti-la, a menos que..."

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-É isso mesmo Brisaria eu quero machucá-la.Ela lançou um jato de ar, mas Cassi se esquivou.

-Vou ferir você.Outro jato quase acertou Cassi. Brisaria estava ficando brava seus jatos de ar saiam

com muito mais força. A garota nem pensava antes de disparar só queria atingir Cassi. Estava totalmente descontrolada."Minha nossa não quero nem pensar se um desses me acertar”.

A mulher no trono sorria.-Isso mesmo acabe com ela. Destrua-a. Ela quer machucar você.

Brisaria não se contia diante das provocações de Cassi, atirava seus jatos de ar para todos os lados. Foi quando Cassi correu para o lado, passando pelo trono da mulher. Brisaria concentrou todo seu poder. Cassi foi rápida o suficiente para sair da frente. -Brisaria espere. Não!

A rajada de ar atingiu os tronos, jogando a mulher para fora da plataforma.-Não! Gritou Brisaria.

Cassi olhou para fora da plataforma, o breu da escuridão predominava, virou-se novamente. Brisaria havia sumido.

Arão seguiu para a próxima sala. Observava curioso o ser parado no meio da sala com dois bastões na mão. Usava um roupão vermelho com um dragão estampado em amarelo. Uma máscara cobria seu rosto, no lugar dos olhos duas chamas estavam acesas.-Vejo que derrotou meus discípulos.-Posso dizer que eles me deram uma recepção bem calorosa.-Bem meu jovem, desta sala você não poderá passar.-Veremos. Indagou Arão.

O ser jogou um bastão para ele. Ambos estavam parados quietos se estudando. O chão começou a se encher de lava, quatro blocos de pedras flutuavam bem acima do fogo derretido. O ser pulou sobre um deles, Arão pulou sobre outro.-Esses blocos têm uma propriedade interessante, eles se movem para onde seu corpo se inclinar. Espero que aproveite esta dica que dei, pois será a única. Que comece o show.

Proclamou o ser inclinando o corpo, indo em direção a Arão. O garoto fez o mesmo, no momento em que se cruzaram seus bastões se chocaram.

Arão perdeu o equilíbrio, quase caindo de seu bloco. Novamente eles se cruzaram, chocando seus bastões. O garoto estava pronto para investir contra o ser, porém ele afundou seu bastão no fogo incandescente e o usou como apoio para pular até um bloco vazio.

Tirou o bastão do fogo, quase pegando o garoto desprevenido, por muito pouco ele não foi atingido. Arão inclinava o corpo para frente e para trás desferindo golpes contra o ser. Entretanto todas as suas investidas não surtiram efeito, o ser era rápido demais."Não vou conseguir derrotá-lo com esses bastões ele é muito rápido".

O ser pulava entre os blocos confundindo Arão. Acertava vários de seus golpes, o garoto estava com o corpo todo dolorido. Arão estava parado só observando a agilidade do

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

ser pulando entre os blocos. O impressionante é que a velocidade dele parecia aumentar cada vez mais."Não posso acompanhá-lo, só tenho uma chance".

Arão pegou o bastão, levantou-o sobre o ombro como se fosse arremessá-lo.-Vai tentar me acertar no ar com seu bastão. Riu ele entre um pulo e outro. -Se errar, seu bastão cairá na lava, deixando você indefeso.

O garoto continuava a observar, pronto para o disparo.-Eu esperava mais de você, meu jovem. Estou muito decepcionado. Vai morrer aqui. Você sabe que eu sou muito rápido para você me acertar com este bastão. Mesmo atirando-o de tão perto."Sim eu sei". Pensou -Os fracos devem morrer. Gritou o ser rindo.-Pegue isto.

Arão atirou o bastão, porém em vez de mirar no ser, atirou no bloco de pedra que o ser ia cair. O bloco se despedaçou, sem apoio, o ser afundou nas chamas incandescentes.-Você era rápido demais para mim, mas o bloco não saía do lugar.

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Na Comunidade...A dificuldade foi grande para ela conseguir abrir os olhos, as pálpebras pareciam não

querer se sustentar. A cabeça doía, olhava para um teto de cor branca.Então isto era o "Esquecimento", não parecia ser tão ruim assim. Tentou virar-se para

o lado, sentiu as cobertas lhe caírem do corpo. Uma senhora sorriu-lhe vindo cobri-la.-Qual seu nome, minha jovem?

Mil coisas lhe passavam pela mente, mas interrompeu todos os seus pensamentos para responder a pergunta.-Meu nome é Krisna. Eu morri?-Não você não morreu, minha jovem, mas descanse mais um pouco até recobrar todas as suas forças.-Onde estou? Perguntou ela olhando para o lado, vendo várias camas cheias de pessoas deitadas, muitas delas feridas. Várias mulheres de branco transitavam pelo local, algumas levavam toalhas, outras jarros com água e outras ainda comida.-Está na Comunidade do Sul. Explicou a mulher pacientemente. -Você chegou até nós desacordada, dormiu por muito tempo, fico contente em vê-la acordar. Eu sou uma virtude e irei cuidar de você até que se recupere completamente.- Krisna? É você mesmo? -Jhuá! Você também está aqui.

Ela se alegrou por ver um rosto conhecido. Jhuá esteve lutando ao seu lado. Mas acabaram se separando depois que as flechas acabaram e tiveram que partir para a luta corpo a corpo.-Estou feliz por vê-la com vida novamente.-Mas o que aconteceu comigo, eu me recordo de estarmos no campo de batalha lutando. Todavia a última coisa que me lembro é de ser atingida, daí tudo ficou escuro. Achei que tivesse morrido.-Não, você não morreu. Eu vi tudo o que aconteceu, estávamos lutando, quando você caiu acertada pelo golpe de uma clava, tentei correr para ajudá-la, mas havia muitos inimigos a minha frente. O demônio ia lhe desferir um segundo golpe, mortal, ia ser o seu fim. Foi quando uma fecha perfurou-lhe a garganta e ele caiu sem vida sobre você.-Quem me salvou? Perguntara curiosa.-Foi Uriel. Ele chegou com uma cavalaria vindo da Comunidade do Sul para ajudar as pessoas a fugirem. Jhuá se virou na cama, antes de continuar. -Ele nos ajudou. Enquanto os Potências lutavam fomos retirados do campo de batalha, enviados para a Comunidade do Sul. Ainda bem que ele apareceu senão seríamos massacrados.-Onde Uriel está?-Lutando! A mulher passava-lhe a toalha pelo rosto. -Tentando segurar o máximo que pode as legiões do mal. Ele é um mensageiro muito corajoso. Graças a ele muitos estão conseguindo escapar. Estamos recebendo feridos constantemente das vilas e aldeias. Porém, não reclamamos ajudamos com o maior prazer.

Então foi isso que aconteceu, foi salva quando a morte lhe era certa. Estava grata por receber aquela bênção. Fechou os olhos, voltou a seus pensamentos, imagens distorcidas de

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seu pai lhe passavam a mente. Sentia saudades dele, uma lagrima escorreu por sua face, em meio a isso nem percebeu quando o sono a dominou. Krisna andava pelos corredores do castelo, sua recuperação fora muito rápida, notou uma intensa movimentação de pessoas indo em direção a uma grande sala. Decidiu ver o que estava ocorrendo, passou por entre as pessoas. Todas estavam em silêncio ouvindo uma discussão que se seguia.

-Diana. Disse o homem. -Uriel teve êxito em sua missão, mas as perdas foram grandes entre seus cavaleiros, os Potências. Creio que ele e suas tropas devam estar chegando aqui amanhã na alvorada.-E o inimigo quando chegará?-Acreditamos que chegarão à tarde.-Já estamos prontos para a sua chegada?-Sim. Respondeu o homem.-Nossos reforços? Perguntou ela.-As comunidades ainda relutam em enviar suas forças para cá. -Deixe-me ir. O velho de manto branco, falara pela primeira vez.-Mas conselheiro Math, é muito arriscado, para chegar a comunidade Oriental, você terá que passar pelas legiões do mal.-Podemos ir pelas florestas, passando despercebidos por eles. Quanto tempo acha que suportaremos essa terrível situação? Questionou o sábio conselheiro.

Diana não respondeu, ela estava pensativa.-Eu tenho uma ótima amizade com o líder da comunidade Oriental se eu for tenho certeza que posso convencê-lo a nos ajudar. Explicou Math.

Diana olhou para o outro homem que lhe trouxera as notícias de Uriel.-Toda ajuda será bem vinda. Disse ele. -Sugiro que mandemos um pequeno grupo, se eles forem rápido poderão cruzar as florestas antes do inimigo chegar.

A mulher continuava pensativa, não queria mandar seus homens numa missão perigosa assim, porém não via outra saída.-Que assim seja reúna um grupo de seus melhores homens.

Uma mão se levantou no meio da multidão, foi passando entre as pessoas, chegou em frente à Diana e ajoelhou-se.-Permita que eu vá também.-Mas você é apenas uma garota. Qual seu nome? Perguntou ela espantada.-Krisna.-Você deve saber que esta missão será muito perigosa, pode lhe custar a vida. O que a motiva a ir?-Eu já deveria estar morta, Uriel me salvou, gostaria de dar minha contribuição.-Esta certo vá se aprontar para partir com os homens.

A garota se retirou.-Por que você permitiu que ela fosse? Perguntou Math.-Eu vi nos olhos dela um brilho, pude sentir. Mesmo que eu dissesse não, ela iria do mesmo jeito.

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O Guardião dos Elementos...

Odrin estava parado no meio da Arena, ia começar a andar quando quatro pedras retangulares surgiram do chão, uma a frente, outra atrás, uma do lado direito e outra no seu lado esquerdo. Elas tinham pelo menos duas vezes o tamanho do garoto e caíram sobre ele.

Bal passou pelo pedestal a sua frente, pisava com certa dificuldade, o solo parecia estar amolecendo, de repente embaixo de si formou-se um redemoinho. Ele foi tragado pelo mesmo. Dafne nem teve tempo para ajudá-lo.

Cassi olhava para cima, nuvens negras começavam a se formar. O vento estava forte. Das nuvens formou um furacão. Ela não conseguiu correr, ele caiu sobre a garota, içando-a para cima.

Arão esperou o nível da lava abaixar para descer do bloco, apesar de haver fogo no chão, há pouco tempo o mesmo não estava quente. Um barulho veio de cima de sua cabeça. Uma bola de fogo incandescente caiu sobre o garoto provocando uma grande explosão. Formou-se uma bolha de fogo que consumiu o garoto.

As pedras se transformaram em pó. Odrin saiu do meio dos escombros batendo a roupa. Estava todo sujo de terra. Algo estava diferente ele sentia isso, o desenho de um urso formou-se em suas costas. Sua mão estava cheia de terra. Ele levantou o braço direito, inclinou-o para o lado esquerdo. Moveu-o para o lado direito, no ar um pouco acima de sua cabeça um rastro de poeira se formou. Este foi se solidificando, aumentando de volume até se tornar um grande machado com um pequeno furo na lâmina. Ele caiu sobre os ombros de Odrin que segurou pelo cabo em cima dos ombros. O garoto se arqueou um pouco com o peso da arma, mas logo depois sorriu.

O redemoinho cessou Bal estava deitado no chão todo molhado. Sentiu algo estranho, seus cabelos se alongaram mais e ficaram com a coloração azul, mesma cor que suas íris adquiriram, em sua mão esquerda gotas de água escorriam da palma caindo até o chão. Uma poça se formou, começou a se mexer e um jato subiu passando pelas suas mãos . O garoto fechou-a, a água se solidificou formando um cajado, ele possui um pequeno furo no meio. Um aro na ponta de cima, dentro dele uma esfera d'água se formou. Dafne olhou assustada para a nova aparência de seu companheiro.

Cassi caiu no solo quando o vento cessou. Estava toda descabelada. Levantou olhando para ver onde estava, se continuava no mesmo lugar. Alguma coisa a incomodava, seus desenhos pelo corpo haviam mudado de cor, as listras do rosto, do pescoço e dos ombros de amarelo haviam pegado a tonalidade cinza. Levantou o braço direito, descendo rente ao corpo, uma névoa foi formando, deixando um rastro atrás de sua mão. A névoa foi tomando a forma de um arco.

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A garota segurou no meio da arma onde havia uma pequena figura de uma mulher. No centro do arco havia um pequeno buraco. Não havia corda nele, mas quando ela passou a mão pelo espaço vazio, uma corda e uma flecha de vapor se formaram.

O fogo da bolha se consumiu todo, Arão se levantou, cheio de cinzas por cima de si. Bateu no corpo para a sujeira sair, quando elas saíram de suas costas, uma imagem de um dragão estava desenhada. Suas mãos queimavam, olhou para as palmas das mesmas, elas estavam vermelhas. Esticou os braços e bateu com as mãos frente ao peito. Conforme foi afastando-as um rastro de fogo foi surgindo. Arão se assustou, mas continuou a afastá-las. O fogo foi se tornando lava depois ficando sólido, tomando a forma de uma espada. No cabo um pequeno buraco.

O grupo dos guardiões estava formado.Passagens abriram-se, eles corriam por dentro da montanha, uma pequena luz surgiu

a frente de cada um. Chegaram quase ao mesmo tempo a um câmara grande. Cada um entrou por uma passagem diferente. Olharam-se intrigados.-Onde vocês estavam? Perguntou Cassi. -Eu pensei que vocês tivessem...-Vire essa boca pra lá. Resmungou Bal.-Todos estão bem? Onde está Tiror? Arão perguntou, mais para Cassi do que para qualquer outro.

A garota olhou para Odrin. Ele abaixou os olhos.-Nós o perdemos. Sua voz soava com tristeza.-Esperem até eu contar para vocês o que aconteceu comigo. Bal se animara um pouco.-Eu quero saber é como sairemos daqui? Dafne estava olhando para todos os lados da câmara.-Não sairão!

Todos olharam assustados para o local de onde viera àquela voz.-Quem disse isso?-Não sei Cassi, mas não gostei nada. Bal como os outros olhavam para a câmara, mas não viam ninguém.

Quando voltaram suas vistas para cima algo saiu da escuridão, caindo no chão, provocando um grande estrondo. Os jovens só conseguiam ver um par de asas cruzadas em meio à poeira.-O que é isso? Perguntou Cassi.

As asas subiram um pouco. O que quer que fosse estava até então agachado e agora tinha ficado em pé. Elas continuavam a esconder o seu corpo, mas as pernas já estavam visíveis. Eram maiores que a de um homem.-Quem é você? Perguntou Arão.-Meu nome é Sekhmet. Sou o guardião da montanha dos quatro elementos e não permitirei que vocês saiam daqui com vida. Sinto falta de essência e vocês saciarão minha sede.-Olha, você não vai gostar da minha não. Ela é muito ruim. Comentou Bal.-Além do mais não deixarei que vocês levem desta montanha as armas dos elementos.

Os garotos se olharam entre si, surpresos. Cassi fechou os olhos.-Você está bem? Perguntou Arão.

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-Sim, foi apenas um pequeno mal estar, mas já estou bem.-Me entreguem as armas.-Nós as entregaremos. Instigou Arão. -Com tudo o que elas tem.

Fechou as mãos sobre o peito, foi afastando, a espada de fogo formou-se. Odrin levantara o braço e o movimentou sobre os ombros a poeira deixada tornou-se um machado. Bal esticou o braço no chão surgiu uma poça de água, ela subiu com um jato e formou-se um cajado. Cassi levantou o braço e o desceu rente ao corpo, a névoa deixada dissipou-se em um arco.-É melhor você nos deixar passar. Bradou Arão.-Tolos! Pensam que conhecem bem as suas armas. Mas não sabem nada sobre elas... Isso será a perdição para vocês.-Você fala demais. Disse Odrin.

As asas se abriram, revelando um ser com corpo grande e forte com uma cabeça de leão.

Cassi lançou pela primeira vez suas flechas, o ar formava flechas brancas que partiram com uma velocidade incrível. Sekhmet se defendeu com as mãos. Odrin bateu com seu machado no chão, um grande estrondo se fez, ondas no solo se formaram, indo em direção ao ser. Ele levantou vôo, ficou suspenso no ar vendo as ondas passarem.-Belas armas. Mas elas não os ajudarão em nada. Levantem! Levantem! Urrava Sekhmet.-O que ele está falando? Perguntou Bal confuso. -Nós já estamos em pé. -Não é para nós. É para eles.

Cassi apontara para o chão, onde do solo saíam quatro rochas que tomaram a forma de leões.-Peguem-nos.

Ordenou. Os leões avançaram. Os garotos tinham dificuldade de lutar contra eles, pois eram rápidos e suas garras mortais e certeiras. Cassi não teve tempo para atirar a flecha. O leão quase a acertou, o leão deu um pulo muito grande surpreendendo a garota. Ele atacara outra vez, Cassi mirou com cuidado e disparou a flecha. Ela atingiu a pata dianteira do leão enquanto ele estava no ar, arrancando-a fora, quando o animal caiu no chão não teve como se apoiar, bateu com o rosto no mesmo e quebrou-se inteiro.

Dois leões vinham em direção a Bal.-Cuidado. Gritou Dafne.

Ele apontou o cajado para o solo. Uma barreira de água se formou, com se fosse uma parede. Os leões pararam. Odrin empurrou Bal para o lado. -Sai da frente.

Ordenou ele, cravou seu machado no chão, uma onda levantou a terra indo em direção a barreira de água. Os dois leões que estavam parados atrás dela não viram a terra ir se levantando passar pelas águas, só sentiram o impacto atingir-lhes. Os dois foram jogados contra a parede e se esfarelaram.

Arão se defendia das garras com sua espada. Em um dos golpes, sua espada arrancou uma das pernas do animal de pedra. Ele levantou-se mesmo assim, pulou sobre Arão, mas este o atingiu com um golpe na cabeça, fazendo-o em pedaços.-Mais alguma brincadeira? Agora é a sua vez. Disse Arão apontando para Sekhmet.

O ser voltou ao solo, os jovens estavam prontos para atacá-los, porém suas armas

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perderam a energia.-O que foi meus jovens amigos, suas poderosas armas se tornaram inúteis?-O que aconteceu? Cassi não entendia, mas as flechas de ar não se formavam mais.

Sekhmet se aproximou e estendeu a mão. Nela havia quatro pedras.-Essas são as quatro pedras do poder. Se vocês olharem para suas armas verão que elas possuem pequenas saliências. O diamante a pedra do fogo. A jade a pedra da água. A opala a pedra do ar. E a esmeralda a pedra da terra. Essas pedras dão vida às armas. As suprem com a energia. Sem elas seus brinquedinhos se tornam inúteis. Um dia talvez, vocês possuam a aura suficientemente forte que não necessitem mais das pedras, mas hoje elas são fracas e só conseguiram sustentar as armas por um pequeno período.-Foi por isso que você mandou os leões. Exclamou Arão com raiva. -Para esgotar as energias delas.-Bem observado, meu jovem. Mas agora eu acabarei com vocês.-Por que está fazendo isto? Viemos aqui por que todo o firmamento corre perigo.

Sekhmet riu perante a observação de Arão.-Eu não ligo para os homens. Um dia os homens precisaram de mim. Eu os ajudei. Livrando o Vale da Perdição de seus inimigos. Derrotei cada um deles, me tornando forte e poderoso a cada morte eu me fortalecia. Os homens passaram a ter medo do meu poder. Por isso me trancaram nessa montanha, a montanha dos Quatro Elementos, onde o poder místico de cada elemento me impede de sair. Depois de tudo que fiz por eles me traíram. Usaram-me e depois me prenderam. As trevas os assolam, eles querem a ajuda dos elementos? Pois saibam que eles jamais a terão.-Espere eu me lembro dessa história. Bal procurava se recordar. –Sim, os magos da minha comunidade contavam a história do grande caçador do vale. Realmente ele derrotou todos os inimigos, mas ao fazer isso tomou contato com a essência. Gostou tanto que começara a matar os seres por prazer, para sugar-lhes toda ela. Tornara-se um assassino. Como eles não tiveram força para detê-lo o prenderam. -Sim, eu me tornei dependente da essência. Mas ela me foi negada, fiquei confinado neste local por séculos Nunca mais a provei... Quase enlouqueci todo esse tempo sem ela. Agora vocês sabem porque não posso deixá-los partir. Serão minhas vítimas. Para vocês saírem é simples basta me derrotar e passarem por aquela passagem.

Apontou o outro lado da sala. –Se seguirem aquele caminho, vocês sairão na ponte da Fenda Eterna, onde qualquer queda é fatal.-Por quê? Perguntou Bal.-Porque ela não tem fim. -O que faremos? Dafne puxava a blusa de Bal nervosa.-Sem as armas não temos como enfrentá-lo. Reclamou Odrin.-Arão temos que pegar as pedras. Completou Cassi

O garoto sabia que ambos tinham razão em suas colocações. Sekhmet deu um passo a frente. Os jovens recuaram.-O que irão fazer? Resistir ou se entregar pacificamente?

O ser pulou dividindo o grupo, Odrin e Cassi eram alvos fáceis, quando Sekhmet pulou uma segunda vez, suas garras vinham certeiras para acertar os dois. Odrin empurrou Cassi

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para o lado. As garras não a alcançaram, porém acertaram o peito de Odrin. O garoto foi jogado para trás perto da parede. Estava cercado, seria morto.

Arão via a cena sem saber o que fazer. Estavam indefesos. "De onde vem essa força". Pensou Sekhmet.

Uma fúria percorreu todo o corpo do garoto, pegou a espada avançando em direção a Sekhmet.-O que você pensa que vai conseguir? Apenas está adiando sua morte.

Ele olhou para o garoto correndo em sua direção com a espada apagada, sorriu, acabaria primeiro com ele. Sem o poder das armas eram presas fáceis. Algo, porém aconteceu que o pegou de surpresa. Um brilho laranja surgiu ao redor de Arão, os desenhos de sua pele brilharam. A luz do fogo se acendeu na novamente. Desferiu o golpe, decepando a mão de Sekhmet. As pedras voaram todas. Dafne pegou-as.-Peguem! Gritou ela jogando para seus amigos.

Os garotos colocaram as pedras nas armas que ganharam vida mais uma vez.-Agora você vai ver o que é bom já que recuperamos nossas armas. Disse Bal.

Sekhmet segurava o braço atingido. Ele comeu a rir. Arão se colocava à frente dos garotos, não entendia o porquê do riso, ele o havia atingido. -Muito bem garoto. Deixarei você ir, pelo golpe que aplicou, mas ficarei com seus amigos. Jamais alguém havia me acertado antes.

Arão estava quieto, os garotos apreensivos."Ele irá nos abandonar". Pensava Bal desanimado.-Vá e escape da morte.-Não! Eu ficarei com eles.-Prefere ficar e morrer aqui. Do que fugir e viver.-Se eu tiver que ir, que seja ao lado deles. Não fugirei deixando ninguém para trás.

Até Odrin ficara impressionado com as palavras de Arão. Cassi agachou-se por um momento. Bal a ajudou.-Tudo bem?-Acho que sim."Este garoto possui uma força incrível poderia viver e se tornar um grande guerreiro. Entretanto será muito prazeroso matá-lo. Eu adoro quando minhas vitimas lutam, porém no fim sempre tem o mesmo destino, a morte".-Que assim seja, se sua vontade é morrer com eles... Eu o atenderei.

A luta recomeçou. Os jovens atacavam Sekhmet, mas ele conseguia repelir os golpes, mesmo sem uma das mãos. O ser se concentrou, mãos de pedras surgiram das paredes. Prenderam os garotos e a ninfa pelas mãos e pernas. Suas armas caíram ao chão, estavam presos.-Vocês me pertencem.

Por mais força que fizessem não conseguiam escapar.-É inútil tentar se soltar. Não conseguirão. Vocês são muito jovens, ainda não tem força o suficiente para usar as armas dos elementos. Precisariam de muito mais tempo para ter o domínio sobre elas e tempo é a coisa que vocês menos tem.

Riu maldosamente, capturou os jovens, mas não fora fácil, eles lutavam bem, se fossem mais experientes...

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-Foram muito tolos em me enfrentar. A morte é certa para todos vocês.-Não queria morrer assim. Resmungou Bal.-Você esta bem? Perguntou Odrin a Cassi.

Arão também olhava para a garota. Sua cabeça pendia sobre o peito, ela estava mal, suava frio e murmurava palavras sem sentindo.-Eu o sinto. Ele está aqui.-Quem? Perguntou Arão, mas ela não respondia. Só repetia a mesma frase.-Ele está aqui.

Sekhmet se aproximava dos garotos, a escuridão acima no teto moveu-se velozmente. Luzes apareceram, um corpo negro caiu sobre Sekhmet, cravando-lhe as presas em seu pescoço.-O Ente da Noite. Berrou Bal.

Sekhmet era maior que o corpo negro, se debatia para tirá-lo de cima de si, entretanto não conseguia. Por fim atirou-o para o lado. Sekhmet ficou com o ombro ferido. O ser negro parecia um lobo, mas sua escuridão não permitia lhe definir uma forma exata. Seus olhos emitiam um brilho sinistro.

O corpo negro aumentou de tamanho, ficou mais forte. Atacou Sekhmet novamente cravando-lhe mais uma vez as presas, desta vez ele não conseguiu repeli-lo. Aos poucos foi perdendo a força. Caiu inerte no chão. O corpo negro caiu, parecia estar sofrendo uma metamorfose...-O que está havendo com ele? Perguntou Bal.

O ser negro agigantou-se, parecendo-se mais com os homens porém muito maior, asas romperam-lhe as costas.-Isso! Urrou levantando os braços. -Agora estou completo, sou pleno...

Sua voz era grave, a cada palavra parecia haver uma ameaça existente.-Tolos! Eles pensaram que poderiam me controlar, mas se enganaram. A cada vítima eu me fortalecia, sugava toda a sua essência, ganhando todo o seu poder e força. Finalmente consegui o poder de Sekhmet, daqui em diante ninguém poderá me deter.-Quer dizer que você veio para cá de propósito? Perguntou Arão.-Sim. Ouvi falarem de Sekhmet. Percebi que conseguindo o poder dele, eu não temeria mais o dia. Neste instante nem a pedra poderá mais me deter.

Ele levantou a mão, o corpo de Cassi arqueou para frente. A pedra verde mesmo presa pela corrente estava suspensa no ar à vista de todos.-Por isso ela não morreu como as outras. Ele fechou a mão à pedra se estilhaçou. –Agora você é minha. -Sim, mestre. Sussurrou Cassi. Seus olhos ficaram brancos como se estivesse em transe.-Não!

Odrin lutava para se libertar.-Ora, o que temos aqui. O Ente o observava com curiosidade. -Esta menina tem o poder do sentimento. Interessante. Eu posso sentir também...

O Ente abaixou a cabeça, as mãos que seguravam Cassi e Odrin sumiram.-Peguem suas armas. Ordenou.-O quê? Questionou Odrin.

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Cassi se abaixou, estava de posse de seu arco.-Minha serva.-Sim, meu mestre.-Eu ordeno que acabe com este jovem.-Cassi não faça isso.

Gritavam os garotos presos.-Eu não vou lutar com ela. Recusou-se Odrin.-Como quiser. Murmurou o Ente. -Eu já esperava isto. Acabe com ele. Ordenou.

Cassi disparou uma flecha. Odrin pulou antes que ela pudesse acertá-lo. O garoto pegou o machado. A garota não parava de disparar as flechas. Odrin as defendia com o machado. Não ousava atacá-la.-E então? O que vai ser? Vai atacar e matá-la ou deixará que ela o mate. Você deve escolher, entre a razão e o coração.-Não entendi esta parte. Comentou Bal.-Finalmente compreendi tudo. Já sei o que estava errado em meu sonho. Exclamou Arão. -Nele Odrin defendia o golpe que recebeu e Cassi morria... O bastão dela se quebrava quando era atingido. Mas aconteceu justamente o contrário.-Sim eu também tive o mesmo sonho. Comentou Odrin olhando para baixo. -Por isso fui até o quarto dela e coloquei uma pedra do meu bastão no dela deixando-o mais forte.-Mas por que ele faria isso? Inquiriu Bal. -Ele nos odeia.-A nós talvez, mas ela...

Olhou para Cassi. Ela já empunhava outra flecha no arco. Odrin deixou cair o machado. O rosto dele ficara vermelho. Estava indeciso como se não soubesse como prosseguir.-Não posso atacá-la. Olhou nos olhos dela. -Eu gosto de você. Eu tentei lutar contra isso que sinto, mas foi impossível. Tinha raiva de Tiror por ele ter contato com você. Raiva dele. Apontou para Arão. -Que sempre estava ao seu lado.-Mas eles sempre se odiaram. Fofocou Bal para Dafne.-Já vi que você não entende nada de assuntos amorosos. Reclamou a ninfa.-Ela foi à primeira garota que me confrontou. Quando me tocou no vale, tenho certeza que soube o que eu sentia. Eu fiquei assustado, acabei fugindo, Sabia o que ela sentia por Tiror.

Ficou quieto antes de prosseguir. -O ódio aos celestinos sempre nos foi passado. Eu tenho minhas razões pessoais para crer nisso. Convivendo com vocês, vi que as coisas são diferentes. Eu fiquei em dúvida sobre em que acreditar. Meus ideais pareciam errados. Existem celestinos ruins, alguns que eu gostaria de matar.

Odrin pensou em seu irmão que fora traído por uma celestina. -Porém existem pessoas boas. Eu os invejo pelos laços de amizade que os une... Não vou lutar com você, pode atirar.

Lágrimas escorriam dos olhos brancos de Cassi. A mira de seu arco tremia junto com ela.-Muito comovente. Mas isso não irá salvá-lo. Atire! Ordenou o Ente.

Cassi atirou a flecha, ela seguiu direto para Odrin. O garoto não se mexeu, nem

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procurou evitar a flecha. A seta passou raspando o seu braço, fazendo um pequeno corte.-Como se atreve a me desobedecer.

Os olhos do Ente brilharam com mais intensidade. Cassi gritou de dor.-Vamos acerte-o. Jamais ouse questionar minhas ordens novamente.-Não faça isso Cassi.

Pedia o garoto.-Sim, mestre.

Um brilho surgiu ao redor do corpo da garota. Ela disparou a flecha certeira, porém antes disso virara o arco na direção do Ente. Ele recebeu a flecha no peito caindo para trás. Cassi desmaiou. As pedras que seguravam os garotos sumiram.

O Ente se levantou.-Idiotas! Acham que isso poderá me deter?

Os jovens se preparavam para lutar. Odrin segurava Cassi desacordada em seus braços.-Não podemos com ele. Indagou Bal. -Ele é muito poderoso e Cassi está desacordada.-Você tem razão Bal, mas não temos escolha à não ser enfrentá-lo.

Arão estava à frente do grupo.O Ente se preparava para avançar quando uma mão o agarrou por trás. A cabeça de

Sekhmet surgia logo ao lado da sua.-Me solte. Gritava o Ente tentando se desvencilhar dele.-Você morrerá comigo.

Uma esfera de luz surgiu envolvendo os dois corpos, foram subindo. Os gritos do Ente ainda podiam ser ouvidos. A montanha começou a ruir.-Temos que sair daqui. Berrou Arão tendo com última imagem do local a esfera rompendo as pedras, explodindo o teto.

Eles corriam afoitos tentando sair da montanha antes que esta viesse abaixo. Seguiram pelo caminho que Sekhmet havia indicado. Dafne levava o machado de pedra e o arco de ar. Enquanto Odrin carregava Cassi nos braços. Quando chegaram ao início da ponte à montanha se desfez por completa. Eles sentaram aliviados.-Essa foi por pouco.

Um enorme peso parecia ter sido tirado dos ombros de Bal.-Conseguimos! Vibrava Dafne, abraçando Bal.

Odrin colocou Cassi deitada no chão, à garota estava um pouco zonza.-Acho que lhe devo desculpas. Disse Odrin se dirigindo a Arão.-Você não me deve nada. Amigos?

Estendeu a mão para ele, o garoto sorriu e o cumprimentou. Bal se aproximou também.-Eu também lhe devo desculpas por achar que você tinha nos abandonado.-Tudo bem, mas com uma condição.-Qual?-Nunca mais tente dar uma de cúpido.

Os dois riram, Odrin ficou sem entender a piada, mas não perguntou nada. Cassi se levantou com a ajuda de Dafne.-Como está? Perguntou Bal.

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-Ainda me sinto um pouco fraca. Mas acho que...Uma explosão veio dos escombros da montanha. Um ser negro voava passando sob o

sol, sua sombra atravessou os jovens. Pousou na ponte. As suas garras fizeram o chão tremer.-Tenho que reconhecer que esse cara é muito persistente. Inquiriu Bal levantando-se com o cajado a mão.-Eu disse que ninguém ia conseguir me deter. Primeiro sugarei toda a essência da garota depois acabarei com todos vocês.-Arão ele é muito poderoso.-Eu sei Bal.-Vamos atacar todos juntos!-Concordo com Cassi, podemos atacá-lo de frente. Apoiou Odrin a sugestão da garota.-Não adiantaria. Concluiu Arão. -Ele é muito poderoso, acredito que mesmo com nossas armas não conseguiríamos vencê-lo.-Então o que faremos? Perguntou Dafne com medo. -Não quero morrer aqui.-E não vamos.

Todos olhavam para Arão, não viam saída."Tenho que pensar em alguma coisa senão nossos túmulos serão cravados nesta ponte".-É melhor vocês desistirem. O Ente se vangloriava de sua superioridade. -Prometo lhes dar uma morte rápida, mas nem por isso ela deixará de ser dolorosa.-Nós vamos morrer. Choramingava a ninfa."Espere..." Arão parecia ter pensado em algo. "Pode dar certo, porém se não der estaremos todos condenados... ".-Tenho uma idéia, mas vou precisar da ajuda de todos. Cassi você está forte o suficiente para disparar algumas flechas?

A garota confirmou com a cabeça.-Odrin quão poderoso é seu machado?-O suficiente...

Respondeu o jovem brincando com a arma nas mãos.-Vou confiar na sua palavra. Eu o enfrentarei sozinho. Bradou Arão.-Você não está com as idéias em ordem! Bal não se conformava com a sugestão dele. -Está querendo morrer? Completou Cassi.-Confiem em mim. Pediu ele.

Todos olharam desconfiados. O Ente ria perante a proposta de Arão.-Se você quer assim. Mas lembre-se não terei piedade."Garoto tolo, vou acabar com você num instante".-Bal preciso que você congele a ponte.-Mas por quê? Não estou entendendo.-Apenas faça o que pedi.

Bal obedeceu, ele e Dafne se concentraram, o garoto apontou a cajado para o solo, um jato de água saiu de seu objeto cobrindo toda a ponte. Num instante a água se solidificou, formando uma grossa camada de gelo, congelando a passarela. O Ente pulou e ficou um pouco no ar com as asas abertas, descendo logo em seguida sobre a ponte escorregadia.

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-O que você espera com esse truque bobo? Ele não vai ajudá-lo em nada. Ira morrer de qualquer jeito.-Cassi vou partir ao encontro do monstro, quero que você lance várias flechas, para mantê-lo ocupado. O chão está escorregadio ele não conseguirá tomar impulso para voar. Odrin esteja pronto para usar seu machado.-Não consigo imaginar o que você esta querendo fazer. Mas estarei... Respondeu ele.-Você entenderá daqui a pouco. “Quando chegar o momento”. Pensou, logo após ter respondido a Odrin.-Bom, lá vou eu.

Bal entrou na frente.-Olhe o tamanho dele. Ele é enorme.-Esse é o ponto fraco dele. Ele pensa que já nos venceu...

Bal se afastou, Arão pegou a espada.-Está pronto! Pois aí vou eu.-Venha encontrar a morte.

Arão olhou para Cassi. A garota começou a atirar as flechas que eram defendidas facilmente pelo Ente.-Que brincadeira tola é essa?

Arão cravou a espada de fogo no chão. Começou a correr com ela à frente. A espada derretia o gelo impedindo Arão de escorregar. O Ente estava em posição para esmagar Arão, pernas abertas, os braços levantados acima da cabeça para acertá-lo. Quando o garoto chegou perto do Ente tirou a espada do chão. Atirando-se ao solo, o chão congelado deu-lhe velocidade. O ser negro não esperava por isso, errou completamente o seu golpe.

Arão passou deslizando por debaixo das pernas dele, cravou a espada novamente ao chão detendo seu movimento. Pulou nas costas do ser, com dois golpes certeiros cortou-lhe as duas asas. -Agora! Gritou ele

Odrin entendeu o recado. Aplicou um golpe com o machado na ponte, fazendo-a ruir toda. Arão deu um impulso nas costas do Ente para ganhar força, conseguindo chegar do outro lado. Cravou a espada na parede, ficando suspenso no ar. Olhou para trás, viu o corpo negro sumindo na escuridão da fenda.

Seu plano funcionou. Conseguiram finalmente derrotar o Ente da Noite. Com ajuda de uns truques de Bal todos conseguiram passar pela fenda. Estavam mais tranqüilos depois que a luta terminara.-Como voltaremos para a Cidade Superior? Perguntou Bal - Estamos muito distantes.-Vamos demorar muito tempo. Indagou Cassi.-Vejam aquilo!

Dafne apontou para uma nuvem de poeira que se levantava no horizonte aproximando-se deles.-A não! Grunhiu Bal. -De novo não.

Os unicórnios vinham a uma velocidade espantosa.

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O Encontro...A Comunidade do Sul estava em estado de alerta. Nos muros da cidade os Potências,

guardas leais da comunidade olhavam as nuvens negras que pairavam no horizonte. Raios cruzavam os céus. Enquanto na torre do portão principal, Diana observava a tudo absorta em seus pensamentos."Isto é o fim. A que ponto chegamos, o fim dos dias..." -A tempestade está se aproximando. Exclamou alguém.-O pior não é a tempestade, mas sim o que ela traz consigo. Lamentou Diana.

Um exército de seres negros surgia. Como uma peste que se alastra, cobriam as planícies, avançando em direção as muralhas. Os principais conselheiros e sábios da Comunidade do Sul reunidos na torre principal analisavam a movimentação das legiões de seres diabólicos.-Minha nossa!

Exclamou um sábio com espanto vendo a quantidade de inimigos que se aproximava. -Como poderemos fazer frente a tal força?-Teremos que rezar para que Math chegue a Comunidade Oriental e consiga fazer uma aliança, para nos trazer reforços. Somente desse modo teremos alguma chance. Esta é uma luta muito desigual.-Eles irão nos atacar. Disse um dos sábios.-Não creio que eles tentarão tal loucura. Uriel acabara de entrar na sala da torre. -Mesmo o 'Senhor das Moscas' sabe que é loucura atacar as muralhas da Comunidade do Sul. Elas são protegidas por magias milenares muito antigas. Eles jamais conseguiriam transpô-la. Mesmo o mal é inteligente o suficiente para saber que isso seria mandar suas legiões para o extermínio.-Então o que eles pretendem fazer? Questionou um conselheiro.-Não sei. Acho que pretendem sitiar a cidade. As doenças estão assolando o povo, logo teremos que começar a transportar as pessoas para outras comunidades, pois aqui com certeza elas morrerão. Nossas provisões são consideráveis, mas não agüentaremos muito tempo. Entretanto parece que algo acontecerá antes. Este será um período muito longo e a paciência nunca foi uma virtude do ´Senhor das Moscas'.-O que você está querendo dizer Uriel?

Diana respeitava muito a opinião do mensageiro Uriel. Apesar de sábios estarem ao seu lado.-Sinto que eles possuem algum trunfo do qual não temos idéia. Alguma arma ou plano que eles acreditam poder romper nossas muralhas. -Impossível.

Murmuravam alguns. Outros incrédulos criticavam as palavras de Uriel.-Você acredita mesmo nisso Uriel?-Sim Diana, senão porque eles estariam aqui.-Alguma notícia de Math e os outros? Perguntou Diana.-Não. Respondeu um dos conselheiros.

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-Quanto tempo isso irá levar? Perguntou outro.-Não sei. Respondeu Diana. -Só espero que esse tempo seja suficiente.-Senhor! Interrompeu um dos guardas. -Está havendo movimentações estranhas nas legiões inimigas.

Muitos que estavam discutindo os próximos passos a seguir, foram acompanhar o que acontecia.-Ele está avançando com algumas de suas legiões. Comentou Uriel.-Irá nos atacar? A pergunta veio do meio dos sábios.-Já disse que não creio nisso. Respondeu Uriel.-Eles estão trazendo cinco objetos. Replicou Sara.

Diana observou melhor os objetos empurrados a frente das legiões pelas criaturas negras. Ela ficou horrorizada com a visão que teve.

-Não pode ser! Exclamou ela aflita. -Estamos perdidos. Sara olhava para a cena não acreditando no que via.

–Agora jamais conseguiremos vencê-los. Lamentou.

Os unicórnios corriam com os garotos em suas ancas. Cassi estava muito mais animada. As marcas no pescoço começavam a sumir. Odrin cavalgava ao lado de Arão que montava o único unicórnio prateado.

Cassi não tinha ousado trocar nenhuma palavra com Odrin e mesmo ele não sabia como lidar com a situação."Como explica, que eu fui me apaixonar por uma celestina. Não posso ter o mesmo destino de meu irmão. Não serei um traidor".

Estava sendo atormentado por seus demônios interiores. Ele se distanciara dela, tentava ser indiferente, assim se sentia mais seguro. Cassi por sua vez sentia a falta de Tiror.

Dafne voava acompanhando Bal, que vinha reclamando a viagem toda. Além de montar na posição contrária, vinha sendo castigado pelo rabo do animal. -Por que você tem que ser diferente de todo mundo? Questionava Dafne brava. -O que faremos ao chegar a Cidade Superior?-Não sei, Odrin, conversaremos com Medar. Ele decidirá o nosso destino.-Sei que talvez o tenha julgado mal. E sei também que você gosta de minha irmã... Arão ouvia atento as palavras de Odrin. -Eu o respeito, mas gostaria de pedir para que se afastasse dela. Ela já sofreu demais, merece ser feliz.-Quem decide o que ela precisa para ser feliz? Ela ou você?-Minha opinião não interessa mais. Ela vai ser uma deusa. Esta prometida a Teles.-Será que ela vai ser feliz ao lado dele? Isso não é justo. E quanto a Moira? Ela também pode ser uma deusa.-Arão! Teles escolheu Damira. Eu não queria lhe dar esta notícia, mas eles vão se unir.

Arão que estava impassível até então, mudou a expressão.-Como assim? Ela está sendo forçada a isto! Com certeza Inimis...

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-Antes até podia ser. Mas agora não. Eu estava perto quando ela disse sim e juro-lhe que Inimis nada teve a ver com isso. Ela foi por vontade própria. A união se realizará em breve. Juntos eles poderão livrar o Firmamento de seu trágico destino. A união dos dois pode salvar o reino, você não pode interferir nisso...

O ânimo de Arão sofrera uma terrível baixa com a noticia. Ele não queria acreditar nas palavras de Odrin, sabia como ele fora contra os celestinos, mas agora o garoto parecia ter mudado desde a luta na montanha. Desta vez suas palavras soavam com sinceridade.-Alguma coisa está estranha. Gritou Cassi a Odrin e Arão. Eles pararam de conversar para dar atenção a ela.-O que foi? Virou-se Arão.-Não parece que estamos indo para a Cidade Superior.-Ela tem razão Arão. Concordou Odrin.

Eles tentaram em vão mudar a direção dos unicórnios puxando-lhes as crinas, mas mesmo isso não lhes mudavam o curso. Estavam seguindo para o desconhecido.

Diana se apoiava na sacada, mesmo assim precisou ser amparada por Sara. Não agüentou ver a cena que presenciava. Á frente das legiões que haviam avançado do grande exército negro. Algumas criaturas empurravam cinco placas de madeira com rodas. Sobre cada uma delas havia uma cruz, com uma pessoa presa. Estavam muito machucados, Diana identificou Math na cruz central, logo ao lado, a pequena jovem que pedira para ir junto na missão de buscar ajuda. A governanta chorava, não sabia o que pensar muito menos o que fazer.-Eu os mandei para a morte. Murmurava ela.-Eles sabiam dos riscos quando aceitaram a missão. Sara tentava consolá-la com suas palavras.-Covardes! Precisamos libertá-los. Urrou Uriel com raiva na voz.-Não podemos. Disse um dos sábios. -Estão fazendo isso somente para abrirmos os portões centrais.-Fizeram de propósito. Querem nos forçar a sair como se isto fosse um desafio.-Desafio? Questionou Sara.-Sim, eles matarão a todos na nossa frente se não sairmos para enfrentá-los.. Sabem que não podemos com todas as suas forças. Por isso avançaram apenas algumas legiões. Se formos fazer o jogo deles quando estivermos lutando eles mandarão, mais demônios até que nos vençam.-Covardes! Exclamou um dos sábios. -E o que você esperava deles? Proclamou outro. –São demônios. -Nós teríamos que ser muito rápidos para vencê-los, salvar os reféns e conseguir entrar novamente na comunidade antes que eles e o resto das legiões cheguem até nós.-Mas o que eles ganham? Não conseguirão entrar.

Sara não entendia o porquê daquilo.-Eles estão jogando conosco. Diana tomara a palavra. -Querem nos ver sofrer. Isso os diverte. Só de vermos esses que foram capturados serem mortos já nos revolta. Se

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mandarmos homens para salvá-los mais irão morrer. Nosso sofrimento é diversão para eles.-O que faremos? Perguntou Sara.-Esperaremos... Sussurrou Diana.-Deixe-me ir. Bradou Uriel.-Você não conseguirá salvá-los. Ninguém conseguiria salvá-los.-Meus homens morrerão felizes lutando por uma boa causa.-Eu sei que eles o seguiriam sem pensar duas vezes, mas não podemos ...

Uma trombeta soou alta e estridente, todos olharam para as cruzes. Criaturas negras se aproximaram da primeira cruz e começaram a dilacerar o crucificado. Os gritos podiam ser ouvidos dos muros. Por fim atearam fogo nela.-Não posso ficar aqui olhando. Esbravejou Uriel esmurrando a parede. -Temos que fazer alguma coisa. Deixe-me ir.-Não! É justamente o que eles querem. Você ficará aqui conosco.

Uriel saiu revoltado com a resposta de Diana. Uma segunda trombeta soou. A quinta cruz teve o mesmo destino da primeira.

Krisna sentia o calor do fogo da cruz ao lado, logo chegaria a sua vez. Olhava para os grandes muros da Comunidade do Sul, sua vista estava fraca, o sol atrapalhava bastante. Seu único desejo era que a dor que dominava seu corpo passasse logo."Pai logo estarei com você. Juni vou adorar encontrá-la novamente. Onde quer que estejam".

Mais uma vez a trombeta soou. A terceira cruz se foi. Krisna seria próxima... -Não consigo mais ficar olhando isso. Sara estava nauseada.

A criatura ia tocar o trombeta mais uma vez. O som saiu alto, mais prolongado e diferente dos três anteriores. Diana olhou assustada se pendurando a sacada. Não era a trombeta que tinha tocado, mas sim o portão principal que foi aberto. Uriel partiu a cavalo com sua tropa de cavaleiros atrás.-Ele é louco. Sussurrou Sara.-Não é louco. Sei o que ele sente, pois eu estou sentindo a mesma coisa. Qualquer perda por menor que seja é dolorosa. Toda vida é importante. Ele é um guerreiro corajoso, mas está indo para morte certa. Completou Diana desanimada. O grupo de cavaleiros brancos partiram rumo ao enxame de criaturas negras. Elas se agitaram vendo o portão se abrir, se posicionavam para receber a carga dos cavaleiros. As criaturas erguiam seus machados e espadas, muitas gritavam palavras estranhas. As legiões mais distantes começavam a se movimentar para encontrar-se com as primeiras. Os cavaleiros avançavam, sua formação era uma espécie de triângulo, com Uriel que seguia a frente puxando seus homens rumo ao mar negro. Os cavalos iam se multiplicando em fileiras maiores. A intenção era chegar o mais rápido possível às cruzes. As criaturas se postaram frente das ultimas duas restantes, partindo ao encontro dos cavaleiros."Temos que ser rápidos, se as legiões que estão na retaguarda conseguirem chegar até onde estamos não teremos a mínima chance. Seremos massacrados".

O choque com as criaturas aconteceu muito rápido, os cavalos passavam, abrindo caminho no mar negro. Pisavam nas criaturas que tombavam ao solo. Os cavaleiros

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utilizavam suas espadas e lanças para abaterem os inimigos.Um grande número delas caíam, Uriel lutava incansavelmente, os corpos iam se

amontoando ao redor de seu cavalo. Muitos cavaleiros tombavam frente às armas do fogo negro. Quando um cavaleiro ia ao solo era coberto por uma legião de seres negros, pareciam urubus sobre as carcaças mortas. A velocidade, porém que era algo imprescindível diminuía conforme avançavam. Ainda estavam longe das cruzes, as legiões mais distantes se aproximavam rapidamente.

Os unicórnios pararam em uma encosta íngreme, muito parecida com uma enorme duna. Tinham a visão abaixo privilegiada do vale. Mas ela causava terror em todos eles.-Meu Deus! Exclamou Dafne.-Temos que descer rápido. Odrin agitava as mãos desesperado.-Vamos demorar muito para descer. Indagou Cassi. -Precisaríamos ser mais rápidos.-Acho que sei um jeito de descermos mais rápido. Arão olhou para Bal. -Você conseguiria fazer um bloco de gelo para deslizarmos até o fim desta colina?-É pra já. Saindo um bloco de gelo no capricho...

Assobiou para Dafne chamando-a. Ergueu seu cajado, os dois se concentraram. A água se concentrou formando uma placa muito grossa de gelo ao chão. Os quatro subiram, Dafne voava ao lado de Bal. Deram um impulso o bloco desceu a encosta.

Uriel ultrapassou as linhas inimigas, desceu do cavalo chegando a cruz de Math. -Calma amigo já vou libertá-lo.-Você não devia ter vindo. Sussurrou Math muito cansado. -Apenas está sacrificando mais vidas.

Olhou para trás, seus homens lutavam bravamente acabando com as criaturas. Virou a cabeça para o outro lado as legiões se aproximavam... Não conseguiriam fugir.-Deixe-me aqui. Salve-a. Pediu Math apontando para a cruz logo atrás da sua. O sábio tinha consciência que Uriel não conseguiria salvar a ambos.-Já não tem mais importância sobre quem resgatar. Falou Uriel com Math nos braços. -Pois ninguém se salvará.

As outras legiões finalmente os alcançaram. Diana observava tudo acontecer com tristeza, perderia seus valiosos homens e se não fizessem algo toda a sua comunidade em breve cairia. Abaixou a cabeça colocando-a entre os braços. A dor a invadia. Chorava desolada.“O Criador nos ajude! Não nos abandone nesta hora de nossa provação. Mostre sua força e faça um milagre por estes seus filhos que sofrem”.

Orava Diana mentalmente sem muita convicção.-O que é aquilo? Gritou Sara apontando para algo que produzia um reflexo enquanto descia a encosta se aproximando da batalha.

Diana ergueu a cabeça, seu corpo se retesou.

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-Esperança!Os jovens empunhavam suas armas, Odrin gritava feito doido como se a proximidade

da batalha o excitasse. Bal gritava de desespero pela velocidade que a placa de gelo atingira.-Prontos! Gritou Arão.

Todos acenaram com a cabeça. Cassi já lançava suas flechas derrubando vários inimigos.-Vou lhes dar as boas vindas. Urrou Odrin. Saltando do bloco de gelo.

Uriel viu algo descendo a encosta. Um bloco de gelo com quatro garotos e uma ninfa. As criaturas ainda não tinham notado a presença deles. Odrin caiu desferindo um poderoso golpe de sua arma no chão entre as cruzes e as legiões de criaturas, no momento em que iam sofrer um ataque das forças que vinham da retaguarda. Uma explosão ocorreu, o machado de Odrin provocou ondas na terra que varreram milhares criaturas.

O bloco de gelo se espatifou ao terminar de descer a encosta. Levando muitas criaturas consigo. Cassi, Arão e Bal pularam antes. A garota conseguia derrubar vários inimigos com apenas uma flecha. Algumas criaturas cercaram Bal e Dafne. O garoto com a ajuda da ninfa fez uma tromba d’água sair de seu cajado derrotando todas elas.

Arão avançou ceifando criaturas até chegar às cruzes. Subiu na madeira para libertar Krisna.-Você é um anjo? Sussurrou ela desmaiando

Arão olhou para a garota apesar de machucada, era muito bela, sentiu toda a rigidez de seu corpo ao tomá-la em seus braços.-Vamos!

Gritou Uriel montado em um cavalo segurando Math junto de si. Apontou para outro cavalo que outrora tivera um cavaleiro, mas que caíra durante a batalha. Arão obedeceu, chamou pelos seus amigos. Tinham que voltar para dentro da comunidade, as criaturas já tinham se refeito do susto inicial. Reagrupando-se para um novo ataque e mesmo eles não seriam páreos para o grande número delas.

Bal com a ajuda de Dafne montou em um cavalo, seguia os outros rumo ao portão principal. Cassi tinha ficado para trás não havia mais cavalos, um grupo de inimigos avançavam sobre ela. Estava cercada. Foi quando um cavalo rompeu sobre as criaturas, Odrin estendeu a mão, ela segurou firme montou com ele, ainda atirava flechas derrubando vários seres negros enquanto batiam em retirada. A legião negra foi ficando para trás, ela se agarrou à cintura de Odrin, alcançando os outros.

Todos partiram em direção ao portão principal. As criaturas corriam atrás, mas por estarem a pé, ficaram muito distantes.-Abram o portão principal. Ordenou Diana.

Os cavaleiros entraram, com os portões fechando as suas costas. Arão entregou a garota, junto às mesmas Virtudes que levaram Math. Subiu nos muros junto com seus companheiros. A legião negra avançava contra as muralhas da Comunidade.-Arqueiros, preparar! Ordenou Uriel.

As criaturas já estavam no raio de ação das flechas. Arão estranhava o homem não

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dar ordem para os arqueiros dispararem.-Por que não... O homem o interrompeu, como se adivinhasse a pergunta. -Espere meu jovem, e verá...

As criaturas chocaram-se contra o muro. Urros foram ouvidos, as que tinham tocados as muralhas saíam queimadas como se óleo quente lhes caísse na pele.-Meu nome é Uriel. Disse apresentando-se. -As criaturas não podem encostar nas muralhas, elas são protegidas por um encantamento. O resultado do toque vocês puderam ver. Olhou para os lados, ergueu os braços empunhando a espada, abaixando num movimento brusco.-Disparar flechas.

A chuva de setas cortou o ar acertando as criaturas, que caíam aos montes. Elas começaram a recuar, fugindo desesperadas. Arão olhou para Uriel.

-Eles fogem desgovernados, não entendo, porque vocês não os enfrentam. Podem até ser muitos, mas são totalmente desorganizados.-Se nossas preocupações fossem somente com eles nós já teríamos juntado todas nossas forças e os liquidados.-Mas o que é então? Perguntou Cassi a Uriel.-Aguardem. E vejam por si só.

No centro das legiões negras, um demônio de asas, colete com pontas e um elmo formado por um crânio estava ajoelhado a frente de um trono de um ser coberto por um névoa escura, impossibilitando de ver sua aparência. Ao seu lado, uma enorme besta negra dormia.-Meu mestre, ‘Senhor das Moscas', não conseguimos capturá-los.-Como ousa, me trazer más notícias.

Sua voz era grave e pautada. Como se tivesse sendo distorcida a cada palavra. -A esta altura os homens de Uriel já deveriam estar mortos.-Mas meu senhor os guardiões não estavam em nossos planos.-Não quero desculpas. Suas armas são fantásticas, mas são apenas crianças, com eles ou sem eles a Comunidade do Sul irá cair. E minhas legiões?

O demônio se encolheu como se tivesse medo do que iria acabar de dizer.-Eles se descontrolaram, avançaram sobre a comunidade desobedecendo vossa ordem. Muitos estão fugindo neste momento.-O quê? Temem mais os homens do que o Mestre do Caos? Esmurrou o trono ficando em pé.-O que devo fazer? Perguntou o demônio.-Mande os Predadores do Inferno. Ordenou sentando-se novamente... Rindo...

Arão junto com os outros observavam as criaturas fugirem. No horizonte uma névoa negra surgiu. Avançando rápido em direção as muralhas da comunidade.

Quando as criaturas viram a névoa mudaram de direção imediatamente, fugindo de volta para as muralhas."O que poderia causar tanto medo nas criaturas para fazê-las virem para a morte nos muros da comunidade?". Pensou Arão.

A névoa se desfez uma coluna de cavalos compostos somente por ossos e montados por lagartos muito similares aos homens aparecem. Usavam mascaras com chifres e coletes

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com pontas de metal. Suas ombreiras possuíam desenhos de cobras e empunhavam tridentes negros. Partiram em direção dos seres que fugiam desgovernados, em pouco tempo o chão perto da comunidade ficou cheio de corpos das criaturas.-Eles matam seus próprios companheiros. Exclamou Bal com espanto.-O mal tem medo, mas eles são cruéis e impiedosos, mesmo com os seus. Não admitem falhas.

Uriel estava se retirando.-Aonde você vai? Questionou Arão.-Hoje a batalha já acabou.-Vamos descer. Pediu Diana. -Vocês devem estar cansados, comeremos alguma coisa e conversaremos...

A noite os jovens estavam reunidos, em uma grande mesa. A chuva fina caía do lado de fora do castelo. Rente à cidade as fogueiras eram vistas no acampamento das legiões inimigas. Uivos como os de lobos eram ouvidos fora da comunidade.

Muitas pessoas ocupavam a mesa, Diana estava no topo dela, ao seu lado direito sentava-se Sara, enquanto do lado direito estava Uriel. Os quatro jovens mais a ninfa sentavam-se perto deles. Diana virou-se para Uriel.-E a situação de Math e da garota?-Estão muito machucados, mas irão sobreviver.-Nossa ajuda? Continuou ela.-As comunidades continuam temerosas, Math não obteve sucesso em sua missão, não conseguiu chegar a comunidade Oriental. Acredito que os reforços não irão chegar. Porém, se eles soubessem que o 'Senhor das Moscas' está envolvido nisso, acredito que talvez poderiam mudar de idéia. -Ou talvez não, Uriel! -Diana amanhã os quatro grandes estarão reunidos conosco.-Ótima notícia Uriel. Diana dirigiu-se aos jovens. -Então vocês são os quatro guardiões. Fiquei surpresa e feliz ao vê-los. Vocês foram mandados pelo santuário para nos ajudar? Isso me surpreende.-Na verdade não. Respondeu Arão, narrando a aventura deles até a chegada a Comunidade do Sul.-Então vocês estão aqui por acidente, talvez isso seja providencial. Disse Diana. -Amanhã será o grande dia, precisaremos de vocês.

Os jovens acenaram com a cabeça.-Vocês viram que as legiões demoníacas não podem invadir a comunidade enquanto os muros estiverem em pé. Uriel tinha tomado a palavra. -Não entendemos bem o que eles tramam, ou o que pretendem. Eles não têm como destruir as muralhas, porém nosso povo está sendo dizimado. O Mal têm conhecimento disso, e sabem que mais cedo ou mais tarde nós teremos que sair. Nossos guardas informaram que existe uma movimentação grande nas legiões do inimigo, estão tomando posições como se fossem invadir a comunidade imediatamente. Nossas forças não são tão grandes como as do inimigo. Se realmente acontecer um combate perderíamos com certeza.-Mas você acabou de falar que eles não tem como destruir as muralhas? Questionou Bal cheio de dúvidas.

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-Sim, eu disse, essas muralhas são protegidas por um encantamento poderoso, nada seria capaz de transpô-la...

Uriel ficou quieto pensativo... Seu rosto mostrava traços de preocupação.-Suas armas são especiais. Comentou Diana. -Elas possuem uma força incrível, uma das maiores conhecidas, o poder dos elementos, que é a força da natureza. Elas podem vencer qualquer magia. Por isso são muito importantes.-Posso lhe fazer uma pergunta? Perguntou Arão a Diana.-Claro.-Quem são os quatro grandes que estarão reunidos amanhã?-São os quatro mensageiros, Uriel, Michael, Gabriel e Rafael. Os quatro arcanjos estarão juntos novamente para lutar pela liberdade do firmamento.-Uau! Exclamou Bal.-Mas com a força deles, e com os seus exércitos de anjos, os Potencias, mesmo o inimigo sendo em maior número, vocês não seriam capaz de derrotá-los? Perguntou Cassi.-Talvez até teríamos. Os anjos Potencias são nossa principal força. Mas o destino dos quatro grandes é outro na batalha. Eles enfrentarão o mal vivo, o Senhor das Moscas.

Os jovens pareciam confusos com as palavras de Diana.-O grande general do mundo inferior, senhor do caos e da destruição, detesta qualquer forma de harmonia. É extremamente hostil e delinqüente, possui o desejo de matar tudo e a todos. Qualquer forma de vida que respire o teme. Trata-se de uma inteligência inumana em perpétua revolta, impiedoso, sem escrúpulos. Irracional ao extremo, a morte segue seus caminhos, faz do extermínio rápido uma forma de diversão. Regente efetivo do princípio da decomposição, assume formas nauseantes e grotescas, assim como seus comandados, cheios de feridas e deformações. Sob seu comando estão demônios responsáveis por toda espécie de infecções e contágios, ele consegue ter esse poder até em níveis espirituais. É por isso que várias pessoas estão morrendo na comunidade, 'as moscas'. Não podemos ficar muito tempo sitiados, ou todos morrerão. Ele é considerado líder da legião de zumbis.

Diana se calou por um momento, então Uriel assumiu a narração.-O ministro dos espíritos malignos. Ele é aterrorizante, enorme, preto, inchado e chifrudo. É cercado de fogo com asas de morcego. Um tirano autoritário. Vocês puderam presenciar sua crueldade hoje com seus próprios comandados. O príncipe dos diabos, vocês viram alguns deles, os Predadores do Inferno. Michael já o enfrentou antes e o enfrentará amanhã novamente. Ele está com sua besta negra que já atacou a ilha do manuscrito, onde estavam os pergaminhos com a localização dos elementos. Acreditamos ainda que ela também já tenha agido no santuário.

Os jovens recordaram mentalmente a batalha da qual Uriel falara.-Por isso precisamos da ajuda de vocês, pois mesmo com os quatro arcanjos se nenhuma das comunidades nos enviar mais reforços não conseguiremos enfrentar as hordas das trevas.-O Senhor das Moscas! Falou Sara. -Mais conhecido como Bellzebu...

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

A Batalha... Após o jantar todos tinham ido deitar-se. O dia ia ser longo. Arão não conseguia dormir, pensando em tudo o que aconteceu, levantou-se. Andava pelo castelo, encontrava vários Virtudes. Seguiu-os até onde estavam as pessoas feridas ou adoecidas devido ao mal provocado pelo Senhor das Moscas. Um Virtude cuidava de uma garota em uma cama. Arão reconheceu-a. Ele a havia salvado.-Ela vai ficar boa? Perguntou ao Virtude, com aparência de um senhor já de idade.-Sim vai, ela é muito forte. Logo estará recuperada. Os sonhos ruins atormentam os que caem sobre os males da doença. Você pode me fazer um favor? Pegue este pano úmido, passe na testa dela, estamos com muitas pessoas aqui e tenho que olhar muitos outras ainda.

Arão obedeceu o Virtude que foi embora deixando o garoto a sós com ela.A garota dormia, era muito bela, parecia estar sonhando, às vezes se mexia na cama,

alterando suas feições. Arão obedecia passando o pano e observando-a, sua beleza era estonteante. Ela pegou a mão do garoto inconsciente levando-a até seu rosto. O garoto sentiu a suavidade da pele dela em contato com a sua. Ela parecia mais calma agora que segurava a mão dele. Arão reparava em todo seus traços, até...

A garota começou a se mexer bruscamente, parecia lutar contra algo em seus sonhos, ele olhou para os lados, não havia nenhum Virtude por perto. -Pai! Pai... Não! Murmurava ela.

Teve que segurar com força a garota, ela se debatia muito. Por fim ela se acalmou, Arão estava quase deitado sobre a garota, de tanta força que fizera para imobilizá-la. Seu rosto estava próximo ao dela. Krisna abriu os olhos, se assustando com a proximidade do garoto. Empurrou-o, afastando-o de si. -O que você pensa que esta fazendo? Exclamou ela estava assustada, não o reconhecendo.-O que aconteceu? Um Virtude apareceu.

A garota começou a chorar o Virtude a abraçou, consolando-a. Pediu para Arão sair. O garoto ficou sem jeito e deixou as dependências. A noite estava quase chegando ao fim, a madrugada era escura e fria. O dia começava em meio a escuridão. Muitos estavam sobre as muralhas da comunidade, observavam a movimentação dos exércitos. Uriel estava com uma armadura branca toda com detalhes dourados, uma longa capa dourada cobria as suas costas. Em cima de três torres nas muralhas da comunidade, três seres com as mesmas vestimentas de Uriel se equilibravam milagrosamente em cima de pontas de hastes finíssimas que saíam do teto das torres. O vento movimentava suas capas. Preparados, aguardavam para a terrível batalha. Eram Michael, Gabriel e Raphael. As legiões se aproximavam.-Não entendo o que eles pretendem. Disse Uriel -Estão avançando como se tivessem certeza de conseguirem entrar na comunidade.

Todos estavam apreensivos olhando para o espaço frente à comunidade. Ele ia sendo ocupado pelo mar negro de criaturas. Logo atrás vinham fileiras de predadores montados em esqueletos de cavalos. Por fim seres com corpos parecidos com os dos homens, porém

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tinham duas vezes o seu tamanho e suas cabeças lembravam rinocerontes, seguravam machados e martelos. Suas armas acompanhavam suas proporções.

Segundo explicou Diana esses eram o resultado dos que estavam mais próximos de Senhor das Moscas, sua guarda de confiança. No meio deles um trono era carregado com um senhor envolto em uma névoa negra.-Bellzebul. Exclamou Uriel.

Um trombeta soou fazendo as legiões pararem. Mais dois sopros foram ouvidos, as legiões abriram caminho. No horizonte seres puxando duas correntes foram aparecendo. Eles eram enormes, pareciam humanóides deformados. Havia uma centena deles para segurar cada corrente. Seres lagartos empunhavam chicotes, com os quais incentivavam através de chibatadas os humanóides a fazerem força.

Um urro alto ouvido em toda comunidade veio do horizonte. Arão percebeu que o som lhe era familiar. Duas cabeças presas pelas correntes surgiram, logo seguidas pelo corpo monstruoso em cima de uma gigantesca plataforma de madeira com rodas. As rodas se moviam com muita lentidão. Uma das cabeças lançou um jato de fogo queimando muito dos humanóides que estavam nas correntes. Os que sobraram tentaram fugir, mas acabaram cercados pelos seres lagartos, através dos chicotes foram forçados a voltar a puxar o ser monumental. Outros humanóides tomaram o lugar daqueles que se desintegraram com as chamas.-Ardrieza! Mas como?

Um pensamento o fez Uriel tremer por dentro."Os livros..."

Uriel estava agitado, Michael, Raphael e Gabriel desceram junto com ele.-Precisamos fazer alguma coisa. Disse Uriel agitado.-Sabe que não podemos nos envolver com isso. Falou Michael. -Nosso destino é outro nessa batalha. Completou olhando para o trono.-O que faremos? Perguntou Diana.-Não entendi. Intrometeu-se Arão. -Sei que ele é poderoso, mas enquanto estivermos dentro das muralhas nós estaremos protegidos.

Diana se aproximou dele com delicadeza.-Lembra-se quando disse a vocês que suas armas são muito poderosas por que possuem um dos maiores poderes existentes?

Os jovens fizeram sinal com a cabeça.-Bem... Continuou ela. -Os antigos não possuíam magia, mas nem por isso eles deixavam de ser menos poderosos. Eles tinham o poder dos elementos. Ardrieza possui este poder. Fogo e gelo, calor e frio. Os dois combinados podem romper qualquer magia, esse dragão tem o poder de levar nossas muralhas abaixo em pouco tempo. O Fogo de Ardrieza consome qualquer coisa. Enquanto o gelo dele pode congelar tudo... A combinação dos dois é mortal...-Por isso eles estavam tão confiantes. Comentou Uriel. -Com Ardrieza eles conseguirão entrar facilmente. Não temos força suficiente em nossas tropas para detê-lo.-Nós sabemos. Concordou Cassi. -Já vimos o poder desse monstro. Na Cidade Superior foram necessários todos os sábios e anjos para detê-lo.

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-Não conseguiríamos fazê-lo dormir mais uma vez?-Não creio que isso funcione. Um Titã não cai duas vezes no mesmo truque. Explicou Uriel a Bal.-Estamos perdidos. Diana estava desesperada.Arão se intrometeu na conversa.-Se vocês me arrumarem alguns homens podemos detê-lo.

Bal engoliu a seco.-Podemos? Ficou maluco...

O garoto estava desesperado cutucando o braço de Arão.-Meu jovem não vou arriscar nenhum de meus homens, colocando-o para enfrentar Ardrieza. Mesmo com a força de suas armas talvez não seja possível detê-lo.-Bom, creio que não tem jeito então.

Bal suspirou aliviado ao ouvir estas últimas palavras de Arão. Porém, quase caiu de costas com as que seguiram.-Teremos que enfrentá-lo somente nós quatro.-O quê? Eu ouvi direito? Olhe o tamanho do dragão, veja quantos são preciso para puxar aquele monstro.-Eu sei, Bal. Arão colocou a mão no ombro dele. -Eu sei, mas também sei que podemos vencê-lo.-Com licença, mas estamos falando do mesmo monstro?

Diana se intrometeu na conversa. -Acho que seu amigo tem razão jovem Arão. Vocês não teriam chance, não desperdicem suas vidas à toa.-Não é à toa, acredito que podemos vencer. Se ficarmos, ele destruirá os muros e morreremos. Se formos poderemos perder e também morreremos, mas temos uma chance. Certo Bal?-Visto deste ponto de vista. Prefiro ficar e morrer mais tarde. Bal cruzou os braços em sinal de protesto.-Vocês estão comigo?

Arão estendeu a mão. Cassi colocou a mão sobre a de Arão.-Eu confio em você.

Depois foi a vez de Odrin fazer o mesmo.-Estou com você até o fim.

Todos olhavam para Bal. Dafne lhe deu um chute.-Aí! Tá bom, tá bom, eu vou, mas só por que sei que sem mim vocês não terão chance alguma.

Bal colocou sua mão sobre a de seus companheiros.-Isso é loucura. Protestou Uriel.-Espere. Entreviu Michael. -Vamos deixá-los ir. Se assim o desejam, mas lembrem-se que estarão sozinhos.-Certo. Disse Arão concordando."Mesmo indo para morte. Eles vão sem medo, parecem se divertir com a situação. E esse jovem, que eles seguem sem ao mesmo questionar. Acho que acreditam que podem vencer mesmo. Isso é loucura. É uma pena perdê-los tão cedo. Em outros tempos eles poderiam se

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tornar muito valiosos". Michael olhou para os céus. “Estejas com eles ó Criador”.A plataforma estava próximo ao portão principal. Ardrieza lançava jatos de fogo e gelo

contra o portão. Pedaços da entrada principal iam se desfazendo, o portão ia ficando mais fino, mais frágil. Os potências atiravam flechas. Acertavam os humanóides que tentavam fugir. Porém as setas não tinham nenhum efeito sobre o Dragão. As legiões esperavam, impacientes para efetuar o ataque assim que as muralhas viessem abaixo.-Senhor! Chamou um guarda exaurido. -Os portões não agüentarão muito mais tempo.-Seja lá o que vocês vão fazer, façam logo. Implorou Sara.-Precisam de alguma coisa? Perguntou Michael.-Precisamos ficar atrás do dragão e cordas... Pediu Arão.-Cordas???? Retorquiu Bal. -Você pretende amarrá-lo?

Arão não respondeu. Os quatro mensageiros levaram os jovens até o local pedido. Voando de volta para a comunidade.-Vamos nos preparar. Anunciou Michael -Nossa luta vai começar.

Estavam atrás do carro. As legiões ficaram quietas observando os jovens que aparentemente iriam tentar impedir Ardrieza. Até mesmo Bellzebu se moveu em seu trono mostrando curiosidade. O dragão ainda não os tinha visto. -O que faremos? Atacaremos pelos lados? Perguntou Odrin.-Não desta vez atacaremos pela frente.

Odrin sorriu, apertando mais forte seu machado.-Agora você está falando a minha língua.-Vou fazer de conta que não ouvi o que você disse. Protestou Bal.-Vocês não irão. Tranqüilizou-os Arão. -Somente eu e Odrin.-A bom. Suspirou Bal. -Menos mal-Precisamos chamar a atenção dele. Pediu Arão.-Não seja por isso.

Odrin avançou e acertou um golpe no solo fazendo-o tremer. Ardrieza virou-se para trás, quebrou as correntes que o prendiam. Voltou-se contra os jovens.-E agora? Perguntou Bal apavorado. Enquanto Dafne se escondia atrás de seu ombro. –Corremos?-Eu e Odrin atacaremos, precisamos chegar até as cabeças dele. Enquanto isso vocês dois distraem ele um pouco.

Arão e Odrin partiram. -Espere Arão! Você disse distraí-lo? Como se isso fosse tão fácil assim.

Mas os dois já estavam correndo em direção ao dragão, nem deram atenção para Bal.-Eu fico com a cabeça de gelo. Sugeriu Cassi atirando flechas nela.-Droga! Sempre eu fico com a pior.-Pare de reclamar Bal. Gritou Dafne.

Eles se concentraram, lançando um forte jato de água sobre a cabeça de fogo. Estavam incomodando as duas cabeças a tal ponto que elas não notaram, dois pequenos corpos a subir pelo seu pescoço, utilizando as cordas. -O que eles estão tentando fazer? Perguntou Sara.-Acho que entendi o que eles vão tentar fazer. Pode dar certo. Afinal Ardrieza só pensa em

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destruir... Disse Diana. Arão chegou na cabeça de gelo e Odrin na de fogo. Começaram a acertá-las com suas armas. A cabeça de gelo começou atirar jatos de ar congelantes para acertar Odrin, enquanto a de fogo tentava acertar Arão. As duas foram se acertando e se machucando ao mesmo tempo. Logo estavam brigando entre si.-Ardrieza é imune a praticamente tudo, menos a ele próprio. Comentou Diana.-Precisamos sair daqui. Gritou Arão.

Os jovens pularam no chão. Estavam contentes, ao contrário das legiões de demônios que olhavam espantados, o Titã se destruir. A cabeça de gelo estava toda machucada, um olho seu tinha derretido, ela lançou seu ar, congelou totalmente a de fogo. Esta quebrou-se caindo ao chão reduzindo-se a inúmeros pedaços menores. Quase toda sem escama devido ao fogo a única cabeça restante não conseguia controlar seu corpo, o dragão cambaleava de um lado a outro. Virou-se para o portão principal da comunidade, tombando...

O que era para ser um festejo se transformou em terror, ao cair, o corpo de Ardrieza destruiu o que restava do portão da comunidade que já estava enfraquecido, levando consigo parte das muralhas. As legiões vendo a chance avançaram contra a abertura que se formara. -Meu senhor Ardrieza foi morto. Lamentou o demônio se encolhendo frente ao trono.

O ser riu...-Ele serviu a seu propósito, que era derrubar as muralhas. Agora eu e minha besta acabaremos com todos.

De trás do trono um ser negro com grandes asas surgiu. –Uriel você não ira conosco. Ordenou Raphael. -Comande seus Potências para combater as legiões, defendendo a comunidade. Nós cuidaremos de Bellzebul.-Potências em posição de combate. Berrou Uriel sem questionar as palavras de Raphael. Todos os cavalos estavam enfileirados. -Potências marchar! Gritou logo em seguida.

Os primeiros batalhões enfrentariam as tropas sem cavalos, combateriam no chão as legiões, receberiam a primeira carga do inimigo. Enquanto os demais potências combateriam os Predadores do inferno. As legiões de demônios eram muitas. Avançavam, chegando mais próximas do portão. -Vejam!

Apontou Cassi para o trono onde um terrível monstro cercado de fogo se levantava perante a chegada dos três mensageiros. -É Bellzebul e atrás dele a criatura que atacou a ilha roubando o pergaminho dos quatro elementos.-Precisamos nos dividir para ajudarmos ambos os lados. Cassi! você e Odrin vão para a entrada do portão principal e ajudem a deter as criaturas. Eu, Bal e Dafne ajudaremos os anjos lutando, continuava a besta negra.-Não podemos inverter não? Reclamou Bal. –Ninguém me ouve... Odrin e Cassi foram em direção ao portão principal, as legiões avançavam, sedentos por caos e destruição.

Os três mensageiros estavam postados frente a Bellzebul.

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-Michael quanto tempo.-Realmente e se tudo correr bem, nós ficaremos muito mais tempo sem nos vermos.-Desistam. Vejam minhas legiões são em maior número que os homens que defendem a comunidade. Vocês três não são páreo, para mim e minha besta.

Arão, Bal e Dafne chegaram ao encontro dos três mensageiros. -Que tal mais três para participar da festa? Perguntou Arão.

Se Bal achava a besta negra assustadora, não conseguiu definir o medo muito maior que Bellzebul causava-lhe.-Vocês são jovens corajosos e espertos. Fiquem com a besta negra nós cuidaremos do Senhor das Moscas.-Idiotas aqui será o túmulo de todos vocês. Ataque! Ordenou à besta que avançou sobre os garotos.

Os três mensageiros combatiam o demônio que estava envolto em chamas. Subiram como raios para as nuvens, elas se tornaram mais negras do que aparentavam, raios começaram a cortar os céus, como se uma enorme tempestade se anunciasse.

Arão e Bal estavam tendo muita dificuldade para lutar com a Besta. Ela era muito poderosa. Não conseguiam nem ao menos chegar perto para atacá-la. Ela movimentava as asas e o vento produzido os jogava para trás.-Arão, não vamos conseguir. Gritou Bal.-Temos que vencer.-Mas sozinhos jamais conseguiremos.

De sua cama Krisna via a batalha através de uma janela, cavaleiros brancos se misturavam com as criaturas negras numa dança mortal. A batalha se desenrolava não muito distante de onde ela estava, se continuasse naquele ritmo logo as legiões estariam dentro da comunidade. O som das armas se chocando podiam ser ouvidos a uma distância considerável. Ela observava, tentava achar no meio daquele caos o jovem que a salvara.Por que o procurava? Nem ela mesmo sabia. Talvez por gratidão, por tê-la salvo, mas ele deixou uma forte impressão nela. Não via nada. "Será que já caiu na batalha?"

Não era um pensamento agradável, mas podia ser a realidade. O fim estava próximo, seu maior desgosto era não estar junto com os outros lutando.

Cassi e Odrin lutavam bravamente ao lado de Uriel e suas tropas para defender a comunidade. As legiões demoníacas em maior número pareciam multiplicar, mas este não era o grande problema. Os predadores em seus cavalos e a infantaria dos homens com cabeça de rinoceronte é que estavam fazendo a diferença. Perante eles muitos Potências caíam mortos.-Vocês precisam ajudar seus companheiros. Gritou Uriel. -Eles não têm chance contra a besta negra de Bellzebul.

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-Não podemos abandoná-lo. Retorquiu Cassi.-Vocês não têm escolha precisam se salvar. Ajude-os e fujam, a comunidade tombará de qualquer forma. Eles são muitos. É importante que vocês escapem e vivam para lutar novamente. Os guardiões serão nossa única esperança no futuro.-Não podemos! Retrucou Odrin.-Vão! Ordenou Uriel decepando a cabeça de um inimigo. -Subam pelos muros, há cordas penduradas, desçam por elas e ajudem seus amigos.

Arão lutava com sua espada contra as garras da besta.-Precisamos imobilizá-la. Gritou Arão.-Imobilizar! Mas como? Já sei. Chamou por Dafne. -Vamos nos concentrar.

Nas patas da besta que estavam no chão, um imenso bloco de gelo foi se formando. A besta não conseguia andar, porém continuava a mover as asas fazendo com que os jovens fossem ao chão com o vento. Ela quebrou o gelo com facilidade, avançando sobre eles que estavam indefesos, seriam suas vítimas, o vento impedia que atacassem e a besta estava chegando muito perto.-Estamos perdidos. Berrou Dafne.

De repente o vento cessou. A besta não conseguia mais bater as asas. Em sua cabeça surgiu à figura de um garoto, era Odrin com um golpe cravou seu machado no crânio da criatura.

A besta urrou, jogando o garoto para trás com seu movimento. O machado ficou grudado na cabeça. Quando ela se virou para atacar Odrin. Eles viram que as asas estavam presas por duas flechas que Cassi havia disparado, elas impediam os movimentos da criatura.

Odrin estava caído ao solo frente ao monstro. Arão pegou sua espada pulou nas costas da besta, cravou sua espada, descendo com ela retalhando o corpo do ser provocando um enorme ferimento. A besta não agüentou e caiu morta. Os jovens se reuniram, Odrin acabara de juntar a eles após recuperar seu machado.-Onde estão os anjos e Bellzebul? Perguntou Cassi.

Bal apontou para cima. Eles olharam para comunidade que resistia o quanto podia as legiões de demônios.-Uriel ordenou para que fôssemos embora. Disse Odrin.-E deixar a comunidade cair?-Ela cairá de qualquer jeito. Bal falava meio sem jeito.

Todos pareciam desanimados por não poderem fazer nada.-Nós somos os guardiões escolhidos pelos elementos para defender o Firmamento. Não podemos fugir. Se a comunidade cair, então que caia conosco. Falou Arão com entusiasmo.

Todos voltaram seus olhares para ele entendendo o significado de suas palavras.-É assim que se fala. Sorriu Odrin.

Cassi concordou.-Lá vamos nós de novo.-Pare de reclamar Bal. Repreendeu Dafne.

Partiram ao encontro das legiões, para mais uma vez lutar, na qual seria a última de suas lutas.

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A batalha estava dura, eles se misturaram ao meio do caos negro, combatendo os seres. Mesmo para eles que possuíam armas especiais a luta era desigual. Estavam sendo encurralados junto com as tropas de Uriel não suportariam a carga dos inimigos por mais tempo.

Foi quando criaturas da retaguarda das legiões das trevas começaram a cair atingidas por flechas. As setas cortavam os céus vindo de cima da encosta, caiam sobre o mar negro, mas ninguém conseguia ver quem as disparavam. Uma trombeta soou forte e estridente.-Eu conheço esse som. Disse Arão defendendo um golpe. -É uma trombeta Élfica. Falou Cassi. -A mesma que ouvimos no Vale da Perdição. Diana via de uma das torres o que estava acontecendo.-Elfos? Questionou incerta. -Impossível.

Cavalos montados por Elfos começaram a surgir aos milhares de cima da encosta. - Caravelliz. Murmurou Arão."Como prometi amigo, quando você mais precisasse, eu estaria ao seu lado". Pensou Caravelliz erguendo a espada de cima da colina.- Atacar!

Ordenou ao exercito de Elfos que parecia não ter fim, desciam a encosta sobre seus cavalos atacando impiedosamente a retaguarda das legiões de demônios que precisam investir contra duas frentes, foram tirando proveito disso, abrindo caminho entre o mar negro. Os demônios estavam apavorados, a vantagem que tinham acabou-se, o exército Elfo era muito numeroso. Não demorou para que a situação se invertesse, as legiões foram caindo. Os que fugiam era pegos pelas flechas dos arqueiros que observavam a batalha à longa distância. No final os corpos no chão mostravam o quão violenta havia sido a batalha.

Arão e seus amigos olhavam os corpos caídos. Caravelliz se aproximou dele.-Amigos! Exclamou apertando-lhe as mãos. -Uma promessa é algo que jamais deve ser quebrada.Arão sorriu. -Ainda bem que você pensa assim. Falou Bal aliviado com o final do combate.

Os céus estavam negros, caiam raios maiores e mais fortes, ninguém sabia dizer o que estava acontecendo. Um objeto parecido com um cometa saiu das nuvens chocando contra o solo. Uma imensa cratera se formou. Michael apareceu em pé ao lado do enorme buraco. Sua capa estava rasgada e sua armadura quebrada. A espada na mão direita servia de apoio para o seu corpo machucado. Gabriel segurava Raphael, dos três ele era o mais ferido. Não se agüentava em pé. Se não fosse o apoio que Gabriel lhe proporcionava...

Na frente deles Bellzebul estava tombado. Ria com dificuldade, de sua boca um líquido negro escorria.-Aproveitem este momento, pois é o único de glória que terão. Vocês não têm idéia do tamanho das forças das trevas e de como elas se infiltraram o Firmamento. Sintam o poder do mundo inferior e tremam...

Deu sua última gargalhada antes de sua cabeça pender sem vida. A batalha finalmente acabara...

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O Retorno... Diana estava sentada em seu trono observando os quatro jovens.-Agradeço a ajuda de vocês. Com certeza serão de grande valia para todo nosso reino.-Precisamos voltar para Cidade Superior. Disse Arão.-Eu entendo. Já preparamos cavalos para vocês. Chegarão mais rápidos com eles.

Bal fez uma cara feia.-Ele não tem chifres? Perguntou recordando os unicórnios.

Dafne deu-lhe um cutucão.-O quê? Questionou Diana não entendendo a preocupação do garoto.-Nada...-Façam uma boa viagem e quem sabe um dia, as comunidades e a Cidade Superior voltem a ser uma só. Neste dia nos reencontraremos novamente. Só peço-lhes para terem cuidado, pois o Mal também deve estar presente na Cidade Superior.

Os garotos estavam prontos para partir, Arão ia subir em seu cavalo quando algo lhe chamou a atenção. Uma jovem loira se dirigia a ele. Reconheceu-a de imediato a sua beleza era notada por todos que abriam passagem para ela chegar até os garotos.-Meu nome é Krisna, gostaria de lhe agradecer por me salvar. E me desculpar pela noite passada.-Noite passada? Murmurou Bal ao lado surpreso.-Não precisa me agradecer.

Ela pegou as mãos dele. Arão corou, experimentou um sentimento estranho, porém agradável por dentro.-Nos encontraremos novamente. Talvez lutando juntos, quem sabe. Mantenha-se vivo até lá.

A garota sorriu para ele, virou-se e foi embora. Arão ficou confuso, olhando a garota partir. Com certeza a veria novamente isso o deixou contente.-Esse é meu amigo. Bal ia dar um tapa no ombro de Odrin, mas a cara dele o desencorajou. Eles já estavam distantes.-O que vocês fizeram a noite passada? Perguntou Bal. Arão não respondeu.-Bal que pergunta indiscreta. Reclamou Cassi.-Sim, por que se fosse eu...-Se fosse você o quê?

Dafne estava furiosa ao lado de Bal, deu-lhe um puxão de orelha.-Aaaiii...

A voz deles foi sumindo conforme seus corpos desapareciam no horizonte.

Passaram pelo túnel, que ia até o Santuário. Na entrada central tropas combatiam entre si, a movimentação era grande. Guerreiros brancos e dourados, os Potências e os Dominações se enfrentavam. Muitos corpos eram vistos pelo chão sem vida, a luta estava sendo muito cruel.

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-Alguma coisa não está me cheirando bem. Disse Bal.-Grande dedução. Zombou Cassi.-É a guarda de Empoly, está combatendo contra a guarda do Santuário. Comentou Odrin.-A revolta! Empoly está tentando tomar o poder. Replicou Arão. -Precisamos entrar, mas acho que não conseguiremos entrar pela frente. Vamos nos separar nos encontraremos no salão principal de Set.

Eles partiram, cada um por um caminho diferente somente Bal tinha companhia, Dafne o seguia.

Arão teve que escalar um pequeno muro. Entrou por uma pequena janela, reconheceu a sala em que estava. Fora onde tinha sido indicado a fazer parte do clã dos guerreiros. Passou entre as colunas, viu algo ao lado de uma delas. Ao se aproximar viu o corpo de Nahray sem vida ao chão. Ficou apreensivo. Esticou as mãos à frente do peito separando-as, fez surgir à espada de fogo. Empunhava-a rente ao peito, continuou andando, um pouco mais adiante viu o corpo de Nasiel, a expressão de terror em seus olhos, mostrava que tivera uma morte terrível.

Ia prosseguir, mas um barulho despertou-lhe a atenção. Virou-se de lado, viu um ser vestido com calças e botas negras, sua pele também era negra, estava sem camisa, em seu peito tinha tatuado uma cruz branca no centro da cruz a cabeça de uma caveira negra. Com duas espadas negras nas mãos estava parado à frente de Linch.

Seus cabelos brancos e longos davam-lhe uma expressão sinistra. Os olhos negros com a Íris branca emanavam um brilho assustador.“A Cruz Branca” O pensamento de Arão adveio das palavras passadas de Linch quando estivera ali pela primeira vez.-Esperei muito tempo por isso velho.-Fuja! Assentiu Linch. -Você não tem chance. Ele é um dos...-Não! Gritou Arão.

Mas já era tarde com um movimento rápido o ser utilizou as duas espadas decepando a cabeça de Linch. Ele olhou para trás.-Ora! O que temos aqui, um guardião. Jamais pensei ver um.

O garoto levantou sua espada e partiu para ataque. O ser era ágil demais para Arão, ele nem sequer conseguia ver seus movimentos, enquanto o ser zombava dele. Arão investiu mais uma vez sem sucesso, olhou ao redor, nenhum sinal de seu oponente. Ouviu uma voz vindo de suas costas.-Você é patético. A voz vinha no mesmo instante que duas lâminas frias tocavam-lhe o pescoço. -Nem vale o esforço de matá-lo. Seria fácil demais acabar com você. Espero que da próxima vez, você me de um pouco mais de trabalho.

Apertou a lâmina contra o pescoço de Arão, o garoto fechou os olhos sentindo a pressão. Quando abriu-os novamente não havia mais ninguém na sala, somente os três corpos caídos sem vida. Sentiu um grande alívio."Quem será esse guerreiro? Eu nem ao menos consegui ver seus movimentos". Arão foi tirado de seus pensamentos por um barulho vindo do lado de fora da sala. Cassi andava atenta pelo corredor, tinha passadas leves. Ouviu um ruído vindo da frente. Caminhou com cuidado, passou entre as cortinas. Sentiu algo tocar em suas costas, virou-se rápido com o arco pronto para disparar.

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-Ei calma aí, sou eu. Apressou-se Bal em dizer.Dafne surgiu logo atrás dele.

-Oi.-Bal! Você me deu o maior susto, quase atirei em você.-Ora e você não me assus...

Bal ficou quieto, um som abafado veio da sala ao lado. Ao abrirem a porta viram Medar encostado na parede apavorado. A sua frente Empoly estava com uma espada na mão pronto para dar o golpe fatal.-Espere aí! Gritou Cassi.

Os dois olharam. Ela disparou uma flecha tirando a espada da mão de Empoly, Bal apontou seu cajado, dele saiu um jato de água que atingiu Empoly jogando-o contra a parede. Bal chegou perto do corpo de Empoly caído ao chão. Cutucou com o pé. -Este está fora de combate.-O senhor está bem?

Cassi estava ao lado de Medar. Tentou ajudá-lo, pegando-o pela mão que estava escondida sobre a manga de suas vestimentas. Porém não encontrou nada. O conselheiro sorriu malignamente, levantou o braço à manga abaixou no lugar de sua mão havia apenas um “toco”. Como se a mesma houvesse sido cortada.

Quando Cassi percebeu tarde o que estava acontecendo, o outro braço de Medar já estava levantado, nele a mão aparecia bem visível, apontando o perigosamente para Cassi. Um clarão saiu jogando-a para trás.-Obrigado por me salvarem, mas agora preciso acabar com vocês.

Bal não teve tempo para se defender, recebeu o próximo disparo, indo ao chão junto com Dafne.-No final a vitória seria minha mesmo. Riu Medar vendo os corpos caídos a sua frente.

Odrin entrou na salão de Set, uma figura estava parada na parte central do salão.-Damira! Disse Odrin se aproximando. Outra figura se moveu saindo de trás de um dos pilares.-Teles!

A expressão dele estava estranha, havia algo que Odrin não sabia definir o que era.-O que está acontecendo? Perguntou Odrin.-Acho que você não vai viver por muito tempo para saber.

Teles puxou das costas a espada do sol pertencente ao Deus Set.-O que você está fazendo? Questionou Odrin pegando seu machado.-O que já devia ter sido feito a muito tempo. Matado você...''Teles o que aconteceu com você...'''.

Os dois começaram a lutar. Odrin defendia os golpes de Teles, porém a espada que o garoto empunhava parecia ter uma força incrível. Os golpes faziam o machado vibrar.

Damira assistia a tudo paralisada, o terror estava estampado em seu rosto. Ela queria fazer alguma coisa para aquilo parar, mas uma força invisível a impedia de se mexer. -Você não tem chance alguma de me vencer. Brincou Teles ferindo a perna de Odrin. Mais um golpe e o próximo ferimento ocorreu na mão do garoto. -Este é o final da luta.

A espada de Teles brilhou acertando o machado, este se desfez como se fosse feio de

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Guardiões de Deus: Livro I - A Batalha nos Céus

areia, a esmeralda, a pedra do machado caiu quebrada. Odrin foi jogado para trás.-Meu amigo, chegou seu fim.

Sorriu Teles, seu rosto estava mais sombrio que antes.-O que há com você? Me diga...

O garoto desfechou o golpe, mas este foi interceptado por uma espada de fogo.-Você veio se juntar a ele. Debochou Teles. -Não posso permitir que você continue com isso.-Não! Gritou a garota para Arão. -Não o enfrente, por favor, vá embora.

Os dois começaram trocar golpes com as espadas. Arão sentia todo o poder da espada do Sol, a arma divina. A luta prosseguia, ele olhava para Dímera, ela estava apavorada, gritando para Arão deixar Teles em paz. Os dois cruzaram as espadas, medindo forças.-Vocês não entendem. Disse Teles. -Mesmo que sejam guardiões suas armas não estão à altura de um Deus com sua arma divina.

Damira ajoelhara ao chão, tremia de medo, não queria a morte de nenhum deles. A espada brilhou mais uma vez atravessando as chamas da lâmina da espada de Arão atingindo o ombro de Arão. O garoto tombou para trás ferido. A espada caiu apagada ao chão, o diamante, a pedra da arma caiu partida ao meio, sem coloração. Teles iria avançar sobre ele, mas a candidata o deteve.-Não, por favor! Pediu ela.-Você teve sorte celestino. A pedido da minha futura deusa pouparei sua vida.

A garota confirmou com a cabeça e se aproximou de Arão.-Eu nunca poderei ser sua...

Ela se virou e dirigiu-se até Teles. Uma lágrima escorreu de seu rosto. Nesse momento Medar entrou na sala.-Rápido meu senhor fuja. Eu cuidarei deles.

Um feixe de luz se abriu, Teles pegou Damira nos braços, ambos atiraram-se na luz. Arão ainda tentou impedir, mas a dor era intensa em seu ombro.-O que você fez com ele?

Medar se aproximou dos dois com um punhal que exibia um brilho negro em suas mãos.-Nada! Adeus meus jovens.

Ia desferir o golpe em Arão, quando um objeto atravessou-lhe a barriga. Ele caiu de joelhos, atrás de si estava empoly, que soltou a espada cravada em Medar.-Vocês estão bem? Perguntou.

Ambos fizeram sim com a cabeça. Bal apareceu mancando.-Onde esta Cassi? Perguntou Odrin.-Na outra sala com Dafne.-Então era Medar esse tempo todo. Disse Arão.-Sim! Falou Empoly. –O profeta que estava disseminando a discórdia, que tanto procurávamos. Temos tantas evidências. A prova dos pilares, ele que exigiu que vocês fossem enquanto poderíamos tê-los acendidos sem maiores dificuldades. A falta de proteção da Cidade Superior, onde tudo estava ocorrendo, ele desviou todo nosso contingente de cavaleiros. Mesmo na prova para guardiões ele quem fez vocês irem para os Jardins

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Suspensos da Babilônia.-Eu me lembro que ia escolher o Colossos de Rodes, mas Medar me “guiou” até os Jardins. Concordou Odrin. –Onde ele deveria saber sobre Ardrieza. Ele nos queria mortos.-Isso e muitas outras coisas, como por exemplo, roubar o pergaminho dos elementos, além de manter um Ente da Noite aqui no Santuário. Nem mesmo Set ousou deixar uma criatura tão temível no reino. Ele também estava influenciando o jovem Deus Teles. -Mas nós ouvimos você falando sobre uma conspiração. Disse Bal.-Então eram vocês aquela noite, ninguém acreditaria em mim se dissesse que o grande Medar que salvou o Deus Osíris estava querendo tomar o poder da Cidade Superior, eu ia ser tratado como louco por isso tive que agir em segredo.-Mas você me denunciou para Inimis quando fui conversar com Damira. Disse Arão nem olhando para Odrin.-Sim realmente eu fiz isso, mas somente por que achei que você estava tentando fazer alguma de ruim com ela. Não foi por mal acredite em mim. Eu não sabia quem estava do nosso lado.-Agora me lembrei de uma coisa, quando íamos ser expulsos do santuário e Medar nos salvou, Vocês se lembram disso?-Sim. Respondeu Cassi.-Medar disse que tinha reunido todo o conselho, mas acontece que quando estávamos esperando a resposta, vimos membros do conselho meditando. Ele mentiu para nós. Aposto que só voltou atrás por viu o conteúdo dos cristais que pegou de Bal.“Aqueles cristais deviam ser muito importantes, o que será que eles continham?” Pensou Arão.-Meus lindos cristais. Choramingou Bal.-Existiam cristais? Comentou com surpresa Empoly. –Talvez você tenha razão. Temos que achá-los de qualquer maneira, quem sabe ainda estejam no Santuário. Talvez neles possamos descobrir o que se passou e o que esta por vir. Temos muitas perguntas e poucas respostas...-Onde podem ter ido Teles e Damira? Perguntou Arão mudando de assunto.-Temo que tenham ido para um dos piores lugares possíveis.-Onde?-O Reino dos Titãs, o Mundo das Lendas e das Almas Penadas. Falou Empoly deixando Bal arrepiado.-Mas veja o lado bom Arão, pelo menos conseguimos evitar o pior. Nós impedimos que a profecia das Sete Revelações se realizasse.

Bal se aproximou de um jarro que escorria água na sala.-Que sede.

Odrin estava ao lado do corpo de Medar. O conselheiro reuniu as últimas forças para falar. Sibilou para Odrin.-Traidor! Juntou-se aos celestinos.-Você nos traiu. Nem todos os celestinos são maus. São ótimas pessoas. Disse pensando em Cassi.-Você já esqueceu de seu irmão?-Claro que não.

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-Você sabe de quem ela é irmã? Sussurrou Medar baixinho se referindo a Cassi. -De Michaela.

Essas foram as ultimas palavras de Medar.O ódio tomou conta de Odrin. Ele pegou o punhal caído ao chão do lado do corpo de

Medar partiu mancando para a sala ao lado.-Aonde você vai? Perguntou Arão.-Resolver assuntos pendentes. Anunciou saindo com um olhar sinistro."Teremos que ir ao reino dos Titãs". Pensava Arão. "Que perigos nos aguardão... Mas pelo menos estamos livre do mal maior a profecia". Seus pensamentos divagavam... ”Damira...”

Bal soltou um grito agudo. Arão e Empoly se viraram para ele, o garoto saíra de perto da fonte estava todo molhado, mas a coloração da água em seu rosto estava avermelhada. Um pensamento ocorreu a Arão e Empoly ao mesmo tempo."O Sangue correra nas veias do reino".

Era o inicio do terceiro sinal, a profecia continuava...

Fim do livro I

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