6289-16551-1-PB

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    1/14

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    MARCELLO PERA E A RACIONALIDADE RETRICA DA CINCIA

    Adan John Gomes da Silva1

    RESUMO

    O debate acerca da racionalidade cientfica um tema antigo, mas que ganhou atenoespecial graas s pesquisas historiogrficas que, a partir de meados do sculo XX, minaramnossa viso tradicional de cincia. Com efeito, a ideia segundo a qual o carter racional dacincia depende de sua conformidade a um mtodo preciso e universal foi abalada quando oshistoriadores constataram no haver tal mtodo, o que levou alguns deles a concluir que, dadaessa ausncia, a cincia no poderia ser considerada um empreendimento totalmente racional.Dentro desse contexto, Marcello Pera oferece uma perspectiva que, ao mesmo tempo em quecorrobora a falncia do modelo metodolgico, salva a cincia das consequnciasirracionalistas que lhe foram imputadas. Nesse sentido, ele prope que rejeitemos a ideiasegundo a qual a cincia s pode ser racional se for baseada num mtodo preciso e universal,

    adotando em seu lugar aquela que v na retrica isto , num conjunto de estratgiasargumentativas e persuasivasa responsvel pela racionalidade dos debates cientficos. Paraisso que ele empreende, aps analisar uma srie de casos histricos nos quais a perspectivaretrica mostra-se mais fecunda e esclarecedora do que a metodolgica, um estudo minuciosoa fim de descobrir e legitimar o tipo de lgica implcita nesses debates. O que pretendemoscom este texto apresentar as motivaes, argumentos e exposies feitas por Pera em sua

    proposta de transferir a racionalidade cientfica da rea do mtodo para a rea da retrica.

    Palavras-chave:Cincia. Racionalidade. Retrica. Marcello Pera.

    ABSTRACT

    The debate about scientific rationality is an old topic, but has gained special attention thanksto historiographical research which, from the mid-twentieth century, undermined ourtraditional view of science. Indeed, the idea that the rational character of science depends onits conformity to a accurate and universal method was shaken when historians found no suchmethod, which has led some to conclude that, given this absence, science could not beconsidered a fully rational enterprise. In this context, Marcello Pera offers a perspective that,while corroborating the failure of methodological model, saves science from irrationalistconsequences which were attributed to it. In this sense, he proposes that we reject the idea thatscience can only be rational if it is based on a accurate and universal method, adopting instead

    one that see in the rhetoric that is, a set of argumentative and persuasive strategies theresponsible for the rationality of scientific debates. For this, he undertakes, after reviewing aseries of historical cases in which the rhetoric perspective seems to be more fruitful andenlightening than the methodological one, a detailed study in order to discover and legitimizethe kind of logic implicit in these debates. Our intention with this paper is to present themotivations, arguments and expositions made by Pera on its proposal to transfer the scientificrationality from the area of the method to the area of rhetoric.

    Key-words:Science. Rationality. Rethoric. Marcello Pera.

    1Professor do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN); e-mail: [email protected].

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    2/14

    84

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    1. INTRODUO

    Marcello Pera um filsofo da cincia que viveu, como muitos de sua gerao, entre

    duas tradies. Por um lado, viu-se fortemente influenciado pela perspectiva segundo a qual acincia seria um empreendimento racional, desde que detentora de um mtodo preciso e

    universal2, perspectiva fundada j pelos modernos e encabeada na contemporaneidade por

    filsofos como Karl Popper. Por outro, viu essa mesma perspectiva ser abalada por estudos

    historiogrficos que, atestando a inexistncia daquele mtodo preciso e universal almejado

    desde os modernos, concluram ser a cincia guiada por fatores subjetivos, parciais e

    polticos, e, por isso, irracional, concluso assumida por autores como Paul Feyerabend3ou

    aqueles pertencentes ao Programa forte4.

    Prova desta influncia est no fato de Pera tambm utilizar uma srie de estudos

    historiogrficos como ponto de partida para seu prprio trabalho, concordando com eles

    quanto inexistncia de um mtodo preciso e universal. Porm, longe de concluir pela

    irracionalidade da cincia, ele tentou resgatar o carter racional desta vinculando-o a outra

    coisa que no o modelo metodolgico.

    nesse sentido que o autor v na retrica o elemento chave dessa mudana de

    perspectiva, apontando-a como a responsvel por livrar a cincia de sua dependncia do

    modelo metodolgico e conferindo a ela um carter racional capaz de driblar os problemas

    inerentes quele modelo. Contudo, ao propor uma tese como essa o autor adota para si duas

    tarefas. Primeiro, identificar a razo pela qual devemos abrir mo do modelo metodolgico,

    apontando ainda porque o abandono deste no implica no irracionalismo. Em segundo lugar,

    explicar porque acredita ser a retrica um substituto adequado quele modelo, explicao que

    deve conter ainda as razes para acreditarmos que o apego a ela faz da cincia um

    empreendimento racional.

    2Preciso por apontar todos os passos necessrios ao empreendimento cientfico, evitando assim que este ficasseem algum momento entregue a posies subjetivas ou gostos pessoais. Universal, por dever ser seguido portodas as especialidades cientficas. Essas duas caractersticas juntas deveriam ainda servir como demarcaoentre cincia e no cincia.3 Embora seja um dos autores mais citados por Pera como representante da corrente que defende airracionalidade da cincia, h dvidas sobre se essa de fato a posio defendida por Feyerabend. Sobre isso verLEAL (2011).4Segundo Kuhn, o programa forte a forma mais extrema de uma corrente de pensamento segundo a qual acincia deve ser entendida em termos de jogos de interesses, poltica e poder ao invs de reconstrues racionais.Segundo esse grupo, a prpria natureza, seja l o que for isso, parece no ter papel algum no desenvolvimentodas crenas a seu respeito. O falar de evidncia, da racionalidade das asseres extradas e da verdade ou

    probabilidade dessas asseres foi visto como simplesmente a retrica atrs da qual a parte vitoriosa esconde seu

    poder. O que passa por conhecimento cientfico torna-se, ento, apenas, a crena dos vitoriosos (KUHN, 2006,p. 139).

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    3/14

    85

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    Nesse sentido, as tarefas de Pera servem tambm como o guia deste trabalho, na

    medida em que seu objetivo acompanhar o raciocnio que aquele autor segue desde a recusa

    do modelo metodolgico at o apego argumentao retrica como critrio de racionalidade,

    raciocnio que deve ser seguido ainda de uma breve explicao de como, na viso deste autor,essa mudana de perspectiva incide sobre a relao entre cincia, verdade e progresso.

    2. A SUPERAO DA SNDROME CARTESIANA

    A chave da posio de Pera est na superao daquilo que ele chamou de dilema

    cartesiano, ou, como chama mais comumente, sndrome cartesiana. De acordo com essa

    ideia, desde Descartese graas principalmente a eleos filsofos da cincia associaram de

    tal forma a racionalidade da cincia a adequao a um mtodo preciso e universal que a

    impossibilidade de enquadra-la em tal mtodo afetaria tambm a crena em sua racionalidade.

    Assim, o irracionalismo de filsofos como Feyerabend seria nada mais do que o outro lado da

    moeda em cujo verso estaria a obsesso de filsofos como Popper em definir e legitimar o

    mtodo cientfico (PERA, 1994, pp. 1-12).

    Dessa forma, ao realizar a ponte entre os estudos historiogrficos que minaram o

    modelo metodolgico e a acusao de irracionalismo cientfico, a sndrome cartesiana torna-

    se o primeiro elemento a receber a ateno de Pera, que pretende desconstru-la na inteno

    de criar uma brecha atravs da qual a racionalidade cientfica possa livrar-se do modelo

    metodolgico, podendo assim vincular-se a outra coisa.

    Com isso em mente Pera passa a demonstrar que o projeto cartesiano do qual a

    sndrome cartesiana apenas uma consequnciaao afirmar que [h] um mtodo universal e

    preciso que separa a cincia de qualquer outra disciplina intelectual (Ibid.,p. 4), ele prprio

    insustentvel5. Para tanto ele analisa trs concepes comuns que os filsofos da cincia tm

    do mtodo cientfico6, avaliando se tais propostas esto em conformidade com a prtica real

    5O projeto cartesiano consiste, segundo Pera, em trs teses:Primeira tese: H um mtodo universal e preciso que separa a cincia de qualquer outra disciplina intelectual.Segunda tese: A aplicao rigorosa desse mtodo garante a obteno da meta da cincia.Terceira tese: Se a cincia no possusse mtodo, ela no seria um empreendimento cognitivo e racional(PERA, 1994, p. 4).6Aquele entendido comoprocedimento(uma srie de movimentos ordenados que o cientista deve percorrer a fimde alcanar o objetivo da cincia), como regras (normas ou prescries que governam cada passo do

    procedimento) ou como conjunto de tcnicas conceituais e materiais necessrias pelo procedimento (comoaquelas encontradas na coleta de dados, etc.). (Ibid., pp. 14-25)

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    4/14

    86

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    da cincia ao longo da histria (critrio de adequao) e se possvel distinguir atravs de

    algum desses mtodos disciplinas cientficas de no cientficas (critrio de preciso).

    O resultado dessa avaliao leva o autor ao que ele chamou de paradoxo do mtodo

    cientfico. Segundo esse paradoxo, toda vez que tentamos definir com exatido o mtodocientfico, encontramos na histria da cincia exemplos de teorias que no o satisfazem.

    Quando, por outro lado, ampliamos tal mtodo de forma a abarcar todas as teorias cientficas,

    ele torna-se to vago que deixa de servir como um critrio de cientificidade satisfatrio. Em

    outras palavras, existe uma tenso entre preciso e adequao no que diz respeito ao mtodo

    cientfico, de forma que no possvel satisfazer ambos os critrios igualmente bem, levando

    Pera a concluir que a cincia caracterizada pelo mtodo, mas uma precisa caracterizao

    desse mtodo destri a cincia (Ibid., p. 28).

    Dessa forma, o paradoxo do mtodo cientfico mal que assolaria at mesmo os

    modelos metodolgicos mais elaborados de Laudan e Lakatos (Ibid.,pp. 32-46)desconstri

    o dilema cartesiano ao mostrar o problema incontornvel do projeto no qual ele se funda,

    justificando a recusa de Pera tanto do modelo metodolgico como baluarte da racionalidade

    cientfica quanto das implicaes irracionalistas do modelo contra metodolgico.7

    3. A RETRICA NA CINCIA

    A negao do vnculo entre a racionalidade e o modelo metodolgico, bem como das

    pretenses irracionalistas do modelo contra metodolgico, chamam nossa ateno de volta

    para a segunda tarefa de Pera, a qual deve responder a seguinte pergunta: a que se deve o

    carter racional da cincia? Sobre isso, o autor sugere ser possvel reabilitar o carter racional

    da cincia transferindo-a do reino da demonstrao para o domnio da argumentao

    (PERA, 1994, p. 47), entendendo aqui argumentao como argumentao retrica, ou seja,

    aquela que visa induzir uma mudana de crena em uma audincia durante um debate(Ibid.,p. 107). Essa mudana de foco no significa, contudo, descartar totalmente o papel das

    prescries metodolgicas do trabalho cientfico, como teremos oportunidade de ver mais

    adiante, mas sim eleger a argumentao como fator central e anterior a essas prescries.

    As razes que levaram Pera a atribuir argumentao retrica o papel antes creditado

    ao mtodo esto exatamente no fato daquela suprir as limitaes desta. Segundo ele,

    7 Apesar do prprio Pera fazer parte de um modelo contra metodolgico, na medida em que critica o ideal

    metodolgico cartesiano, ele reserva esse termo queles cuja oposio ao mtodo cientfico acarretam a defesade uma posio irracionalista.

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    5/14

    87

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    [...] regras metodolgicas tm um texto aberto que pode ser ajustado apenasatravs de decises que tm que ser bem fundamentadas. Mas fazer decisese argumentar por elas envolve discutir perspectivas rivais e convencer umpblico. Essa a razo fundamental porque a retrica entra na cincia.

    (PERA, 1994, p. 51)

    Com efeito, Pera descreve diversas situaes nas quais o uso da argumentao impe-

    se diante das limitaes de qualquer conjunto de regras. A primeira dessas limitaes diz

    respeito aplicao de determinada regra a determinado caso. A fim de exemplificar esse tipo

    de limitao ele pede que consideremos o seguinte silogismo:

    Teorias confirmadas pelos experimentos O so aceitveis

    T confirmada por um experimento do tipo O, e

    Logo, T aceitvel

    Diante de tal argumento, continua Pera, o cientista deve lidar com uma srie de

    decises preliminares antes de chegar concluso apresentada. Com efeito, ele ter que

    convencer seus interlocutores de que e um experimento do tipo O, ou que experimentos

    desse tipo so de fato confirmaes de T. Essas decises preliminares no podem ser tomadas

    mecanicamente, mas dependem de um juzo ponderado e, exatamente por isso, esto abertas discusso, momento no qual entra o apelo argumentao retrica.

    Outra razo pela qual a retrica entra na cincia diz respeito carncia de

    interpretao por parte das regras, que, nas palavras de Pera, so frequentemente vagas e

    incompletas (Ibid.,pp.54-55). Uma regra do tipo rejeite qualquer hiptese desaprovada por

    dados observacionais consolidados, por exemplo, suficientemente vaga para deixar amplo

    espao de interpretao, de forma que a deciso entre aceitar e rejeitar uma teoria acaba

    repousando sobre o que cada cientista considera como dado consolidado. Algo semelhanteacontece com regras do tipo no use hipteses ad hoc, j que uma regra como essa , a

    despeito de sua generalidade, incompleta, ou seja, no consegue indicar de forma bvia

    quando exatamente uma hiptese ad hoce quando ela essencial. Em outras palavras, o que

    conta como uma hiptese ad hoctorna-se inevitavelmente tema de discusso em cada caso

    particular.

    Uma terceira razo pela qual, ainda segundo Pera, a retrica entra na cincia tem a ver

    com a mudana e escolha das regras metodolgicas. Segundo ele, o cientista no apenas o

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    6/14

    88

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    executor, mas frequentemente tambm o criador de regras e de novas hierarquias entre regras

    j aceitas. Contudo, mudanas nas regras nunca so justificadas por outras regras, mas pelo

    fato de que aqueles que defendem a mudana usam argumentos que so mais fortes e mais

    convincentes do que aqueles de seus adversrios. (Ibid., p. 57), o que, em outras palavras,chama mais uma vez a argumentao retrica para suprir as limitaes do mtodo8.

    Alm destas, Pera ainda identifica diversas outras funes desempenhadas pelos

    argumentos retricos nos debates empreendidos entre Galileu e os geocentristas, Darwin e

    seus opositores, e entre os modernos cosmlogos9, apontando-os como casos exemplares em

    que o uso de argumentos retricos desempenhou um papel essencial na defesa das teorias

    envolvidas. Nesses casos ele mostra como ataques pessoais, apelos ignorncia e

    autoridade, ou ainda analogias romnticas e redues ao ridculo serviram para escolher um

    novo procedimento metodolgico (essencial para a aceitao da nova teoria), justificar pontos

    de partida, dar credibilidade a uma hiptese, tirar a credibilidade de uma hiptese rival ou

    rejeitar objees contra sua hiptese (Ibid., pp. 59-102).

    A argumentao retrica, conclui Pera, a responsvel por dar os primeiros passos

    num debate cientfico, conduzindo seus participantes ao consenso necessrio para o

    funcionamento efetivo de prescries metodolgicas. Nesse sentido, sua presena na histria

    da cincia vai alm de uma apario contingente, tendo em vista a demanda real a que atende,

    chegando a ser essencial ao andamento da cincia.

    4. RETRICA E RACIONALIDADE

    Contudo, o mero uso de argumentos retricos no torna a cincia necessariamente

    racional, j que exatamente fazendo essa conexo que alguns filsofos defendem a

    irracionalidade da cincia, identificando retrica com alguma espcie de ornamentao verbal

    sem contedo epistmico. Por essa razo, logo aps sugerir que a retrica deve tomar o lugarque antes era associado ao mtodo cientfico, Pera encara a tarefa de vincular essa a alguma

    forma de racionalidade.

    Nesse sentido, ele encara dois desafios. Primeiro, o de desconstruir o conceito

    tradicional de racionalidade, no qual apenas argumentos dedutivos e indutivos seriam

    8 interessante notar que Thomas Kuhn (1977) e Harold Brown (1990) apontam praticamente essas mesmaslimitaes no mtodo cientfico, as quais seriam supridas por elementos subjetivos e os valores da comunidadeou pelo juzo do cientista, respectivamente.9Alm de em Pera (1994), anlises dos elementos retricos do debate entre Darwin e seus opositores e entre osmodernos cosmlogos podem ser encontradas de forma mais sucinta em Pera (1988) e (1987), respectivamente.

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    7/14

    89

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    considerados vlidos. Segundo, atrelar argumentao retrica alguma forma de

    normatividade, de forma que ela escape assim da sempre perigosa acusao de que permite

    tudo.10

    4.1 SUPERANDO O DUALISMO LGICO

    No que diz respeito primeira tarefa, Pera comea identificando o conceito tradicional

    de racionalidade com o que chamou de dualismo lgico, segundo o qual seriam racionais

    apenas aquelas formas de raciocnio redutveis a argumentos dedutivos ou indutivos,

    imputando a todos os demais a alcunha defalaciosos(PERA, 1994, p. 103). Opondo-se a essa

    associao ele sugere que

    [p]ara entender a natureza dos argumentos retricos ns devemos ampliarnossa ideia de racionalidade e estar preparados para encontrar uma lgicaprpria para eles, ao invs de rejeit-los por no se encaixarem claramentecom uma lgica pronta (PERA, 1994, p. 106).11

    Tal sugesto est em conformidade com sua proposta de mover a cincia do reino da

    demonstrao para o da argumentao, j que o abandono do mtodo cientfico tal qual

    previsto pelo projeto cartesiano em prol de um modelo baseado na argumentao retrica

    representa uma mudana ainda mais fundamental. Representa uma mudana do racional

    entendido em termos de provas coercitivas e concluses necessrias para o racional baseado

    em argumentos plausveis, porm falveis.

    Com efeito, enquanto os filsofos observadores do modelo clssico de racionalidade

    para os quais, segundo Harold Brown (1990), um empreendimento racional deveria ser

    necessrio, universal e regulamentado12 viram na matemtica e na lgica exemplos

    paradigmticos a serem seguidos pelas cincias empricas13, outros julgaram um modelo

    10Pera associa racionalidade normatividade, sem com isso identifica-la quele tipo de norma encontrada nomodelo metodolgico. Assim, falando sobre seu modelo de racionalidade ele diz que [d] iferente do modelocontra metodolgico, ele conserva uma noo normativa de racionalidade; mas diferente do modelometodolgico ele vincula racionalidade no a certas propriedades das teorias fixadas por regras, mas a qualidadedos argumentos que suportam as teorias (PERA, 1994, p. 144).11 Apelar para uma redefinio da racionalidade cientfica como uma forma de negar as conclusesirracionalistas do ataque ao modelo metodolgico no uma estratgia originria de Pera. Nesse sentido verKuhn (1987, p. 91), Brown (1990, p. 112), Laudan (2011, pp. 7-8) e Stegmller (1977, pp. 388-389).12 Necessrio, pois suas concluses deveriam se seguir necessariamente de suas premissas. Universal, pois,levando em conta a relao necessria entre premissas e concluses, todos que estivessem a par das mesmasinformaes deveriam chegar s mesmas concluses. E regulamentado, pois deveria ser guiado por regras.13 Segundo Magalhes (1996, p. 20): assim que, no sculo XVII, Descartes sugestionado pela clareza edistino da matemtica, considerada perfeita pela sua organizao demonstrativa, faz corresponder os princpios

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    8/14

    90

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    assim definido muito exigente, razo pela qual procuraram retirar a certeza e a infalibilidade

    da lista de critrios de racionalidade.

    Assim, buscando essa mudana de conceito, Pera passa a criticar o dualismo lgico.

    Para tanto, ele apresenta uma srie de exemplos que demonstra que, graas inflexibilidadedas formas lgicas dedutivas e indutivas inflexibilidade que diz respeito a sua falta de

    preocupao com o contexto em que esto sendo utilizadas o mesmo argumento com a

    mesma forma potencialmente falacioso se usado para um propsito e potencialmente bom se

    usado para outro (Ibid., p. 109).

    Como prova disso ele pede que consideremos um argumento extrado do debate acerca

    da cosmologia: Ou aceitamos o princpio cosmolgico perfeito, ou, se as lei s da fsica

    mudam com o tempo e espao, a cosmologia impossvel de perseguir (Ibid.,p. 104). Um

    argumento como este, redutvel forma pou q, no-q; ento p, pode ser falacioso, desde

    que algum consiga apontar para uma terceira possibilidade, ou no, desde que se mostre que

    as duas possibilidades so incompatveis e completas (no deem espao para uma terceira

    opo).

    Outro exemplo est na considerao do argumento ((H O) . O) H. Quando almeja

    ser uma prova dedutiva de H onde lemos Se a hiptese H verdadeira, ento

    conseguiremos observar O; O foi observado; logo, a hiptese H verdadeira incorre na

    falcia da afirmao do consequente, algo que no acontece quando ele usado como um

    argumento indutivo, ocasio na qual torna-se perfeitamente vlido (Ibid., p. 109).

    Assim que, atentando para o fato de que uma anlise puramente formal incapaz de

    avaliar a validade de alguns argumentos, Pera conclui que o dualismo lgico incapaz de

    expressar uma noo correta de racionalidade.

    4.2 RETRICA E RACIONALIDADE

    Segundo Pera, o abandono do mtodo no significa o abandono de todo tipo de

    normatividade, j que mesmo os debates retricos nos quais os cientistas se envolvem so

    guiados por certos constrangimentos. Prova disso o fato de que um cientista no livre para

    agir como bem entende, a despeito da inerente flexibilidade do conjunto de regras que possa

    da matemtica aos princpios da razo, defendendo bastar a razo para construir todo o saber. Desta forma, oconhecimento racional torna-se num conhecimento formal, lgico-matemtico.

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    9/14

    91

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    seguir, algo tambm sugerido pelas decises relativamente unvocas a que chegam14. Segundo

    ele,

    [a]lgumas interpretaes e brechas desses constrangimentos so compatveiscom a imperfeio fisiolgica de qualquer cdigo, mas outras sodificilmente tolerveis e, quando sujeitas ao debate crtico, claramenteinsustentveis, mesmo para a mais flexvel lei (PERA, 1994, p. 57).

    A fim de avaliar a que se deve essa normatividade, Pera prope o que ele chama de

    dialtica cientfica, isto , a lgica que deve legitimar os argumentos retricos, que, junto com

    um conceito de aceitao racional de uma teoria, prov um modelo de racionalidade chamado

    por ele de modelo dialtico.

    A dialtica cientfica baseada nos fatores substantivos e nas regras que governam osdebates, chamadas por Pera de fatores de procedimento. Os fatores substantivos seriam

    aqueles elementos ao redor dos quais se organiza a cincia, e que so usados comopremissas-

    ponte pelos cientistas na construo de seus argumentos, funcionando como o que Toulmin

    chamou de garantias da argumentao (PERA, 1994, p. 123)15. Nesse sentido, a base

    substantiva da dialtica cientfica composta de fatos, teoriasbem estabelecidas,suposies

    metafsicas, valores epistmicos (como simplicidade, elegncia, fecundidade, etc.),

    preferncias em comumepressuposies(Ibid., pp. 113-116). O acordo com esses elementoscostuma tornar um argumento convincente, enquanto o desacordo tem o efeito oposto.

    Contudo, a fora dos argumentos no determinada apenas pela presena desse tipo

    de fator, pois seu peso est condicionado importncia, hierarquia e interpretao dada a eles

    no contexto em que so usados, o que pode variar de grupo para grupo e de poca para poca.

    Da Pera ter levado em conta tambm a configurao da base substantiva, isto , o arranjo

    dos fatores substantivos em vigor em dado momento.16

    Embora essa variao introduza certo relativismoj que um argumento pode ser bom

    em determinada configurao e ruim em outra este tem seus limites, pois dizer que cada

    14Ponto tambm aludido por Kuhn (1977).15 Premissas-ponte, ou as garantias de Toulmin, funcionam como premissas responsveis por justificar (ougarantir) a inferncia de uma concluso a partir de outro conjunto de premissas, como o que acontece com a

    primeira premissa do argumento: Todo homem mortal; Scrates homem; logo, Scrates mortal. por issoque no contexto cientfico tais fatores so os responsveis por prover [...] uma base de apoio para os disputantesem um debate (PERA, 1994, p. 123).16 Como exemplo disso, Pera cita o caso de Darwin, que esperou durante anos para publicar sua teoria da

    evoluo, j que uma das suposies mais importantes de seu argumento o transformismoainda no era bem

    aceita pela comunidade cientfica. Em outras palavras, ele esperou que uma alterao na configurao da basesubstantiva tornasse seu argumento mais forte do que o que seria antes dessa alterao (PERA, 1991, p. 45).

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    10/14

    92

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    poca tem sua prpria configurao no o mesmo que dizer que cada uma tem seus prprios

    fatores. Com efeito,

    [c]onfiguraes dependem do peso relativo atribudo aos fatores emdiferentes contextos histricos, mas os fatores dependem de uma tradio.Enquanto configuraes alteram as posies relativas dos fatores, a tradioos estabelece. A maioria dos fatores nos quais a pesquisa cientfica baseia-seso aqueles que foram primeiro estabelecidos pelos gregos, e entoendossados por Galileu e seus seguidores. Assim, em cincia, ns almejamosconcordncia de afirmaes com observaes; ns queremos exatido,simplicidade, coerncia, e assim por diante (PERA, 1991, p. 45).17

    J os fatores de procedimento so aqueles responsveis por prover os passos

    permitidos em um debate e os meios de determinar e avaliar seu trmino, que no geral no

    diferem muito de um debate comum (PERA, 1994, p. 121). Com efeito, ambos derivam de

    uma tradio mais antiga, e nesse sentido esto submetidos mesma lgica da citao

    acima.18

    Conduzido segundo essas regras, um debate seguiria como Pera exemplifica (Ibid., p.

    122): I comea propondo uma tese S, ao que seu interlocutor pode concordar com ela,

    discordar ou pedir razes para acreditar nela. Como resposta, I pode basear sua tese em certa

    razo r1, ao que seu interlocutor pode alegar que r1 na verdade uma razo para rejeitar S,

    pode rejeitar I rejeitando as razes oferecidas, pode rejeitar S com base nas razes oferecidas

    por I ao lado de outras razes, r2, ou pode ainda propor uma tese diferente, S2, baseado em r1

    e r2. Assim, o proponente pode retirar sua tese, ocasio que significa sua prpria retirada do

    debate, ou pode modificar sua tese inicial, apresentando razes adicionais para ela e

    retomando o ciclo de debate.

    Um debate conduzido desta forma acaba e aqui entram as regras sobre o trmino e

    avaliao de um debate quando A refuta B, isto , quando um dos lados encontra uma ou

    mais concesses feitas pelo seu interlocutor as quais, ao lado de um fator substantivo

    17 Kuhn j havia notado que, a despeito da elasticidade dessa lista, sua observao era o que tornava oempreendimento cientfico coeso. Tanto assim que, segundo ele, se adicionarmos a essa lista a utilidadesocial teramos escolhas que se assemelhariam quelas feitas por um engenheiro. Da mesma forma, retirando dalista a preciso teramos algo mais prximo da filosofia do que da cincia como a conhecemos (KUHN, 1977,

    p. 396).18 As formas argumentativas de persuaso podem ser vistas como resultado da tradio crtica nascida naGrcia, e mais profundamente da atitude natural de raciocnio argumentativo. Outra vez, isso no significa queaqueles fatores esto fixados de uma vez por todas. Permanncia no importante; o que importa continuidade.Continuidade de fatores compatvel com diferentes configuraes deles, mas no compatvel com aquele tipo

    de relativismo radical de acordo com o qual cada poca tem seus prprios pontos de vista [...] e no h meiosargumentativos e racionais de discutir uma mudana de um ponto d vista para outro (PERA, 1991a, p. 45).

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    11/14

    93

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    compartilhado que sirva como premissa-ponte, conduza negao daquela tese (Ibid., p.

    123), ou ainda quando,

    (C1) B no oferece razes em suporte de sua tese que pertenam basesubstantiva.(C2) B, que tem o nus da prova, transfere-o para A.(C3) B no responde aos problemas que ele mesmo reconhece comorelevantes durante o debate.(C4) B contradiz uma tese previamente admitida, pressuposta, ou derivadade uma ou outra de suas concesses e no pode resolver a contradio.(C5) B nega um ou outro dos fatores substantivos na configurao da base dadialtica cientfica compartilhada.(C6) B nega uma pressuposio que ele mesmo aceita.(C7) B levado a afirmar uma tese contrria a uma pressuposio aceita.(C8) A prova sua tese partindo de uma das concesses de B (PERA, 1994,

    p. 124)

    Percebe-se aqui que o papel de um cientista em um debate no apenas oferecer

    razes para sua tese sem entrar em contradio com alguma premissa j aceita, mas mostrar

    que seu interlocutor o faz, sendo essa a base para o conceito do que Pera ir chamar de

    estratgia dialtica.

    Tendo todos esses elementos em mos, estamos prontos para apresentar a srie de

    conceitos atravs dos quais o autor descreve seu modelo de racionalidade. Primeiro temos sua

    definio de aceitao racional, segundo a qual [u]ma teoria T racionalmente aceitvel se

    e apenas se suportada por argumentos vlidos, ou se os argumentos que suportam T so

    mais forte que os que suportam T (Ibid., p. 144).

    Isso nos leva a questionar o que faz de um argumento um argumento vlido, questo

    para a qual Pera diz: Um argumento cientfico [...] vlido (bom) se sua concluso

    suportada por uma estratgia dialtica vitoriosa com base nas premissas compartilhadas e nos

    fatores substantivos da dialtica cientfica admitida naquele campo e para aquela funo

    (PERA, 1991, p. 46).Temos ento mais um conceito que precisa ser apresentado, o de estratgia dialtica

    vitoriosa, para o qual o autor d a seguinte definio:

    Uma estratgia dialtica em favor de uma tese cientfica T vitoriosa paraum lado P contra o outro Q se, com base nas regras que governam debatescientficos, P, comeando com as premissas admitidas por Q e com osfatores substantivos da dialtica cientfica, fora Q a consentir com T, acalar-se, ou a se retirar do debate (PERA, 1994, p. 121).

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    12/14

    94

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    Por fim, para os fins aqui necessrios, o conceito de fora pode ser definido da

    seguinte forma: Um argumento cientfico [...] forte se em favor de sua concluso existe

    uma estratgia dialtica vitoriosa com base nas premissas assumidas na situao dialtica e na

    configurao dos fatores substantivos da dialtica cientfica, e ser mais forte que outro namesma situao dialtica se baseado em mais ou mais importantes fatores substantivos que

    os contemplados pela estratgia dialtica rival (PERA, 1994, pp. 119-120).

    Sendo assim, uma definio completa de aceitao racional de uma teoria ficaria como

    segue: Uma teoria T racionalmente aceitvel se baseada em argumentos cuja concluso

    suportada por uma estratgia dialtica que, partindo das premissas assumidas num debate e na

    configurao dos fatores substantivos da dialtica cientfica, capaz de fazer seu rival

    consentir, calar-se ou retirar-se do debate, ou se esta estratgia dialtica baseada em mais ou

    mais importantes fatores substantivos que a do seu rival.

    Apesar dos mritos que esse modelo apresenta j a primeira vista, seu autor dedica

    ainda algum tempo para responder algumas questes que surgem aps sua exposio. A

    primeira delas diz respeito acusao de que a dialtica cientfica apenas substituiria um

    conjunto de regras por outro, fazendo, no mximo, alargar ou relaxar a metodologia (Ibid.,p.

    127).

    Quanto a isso, embora o autor concorde quanto flexibilidade do modelo apresentado,

    nega que ele esteja no mesmo nvel do modelo metodolgico, funcionando como um

    suplemento dele (Ibid., p. 128). Com efeito, ao atentar para o objetivo dos argumentos

    retricosa lembrar, operar uma mudana de crena num auditrio durante um debate

    Pera sugere que [t]odos os argumentos so retricos se eles so usados retoricamente (Ibid.,

    p. 108), o que submete at mesmo o uso de argumentos dedutivos e indutivos (bem como as

    prescries metodolgicas) lgica dialtica. Da concluir que a dialtica a lgica do uso

    retrico das lgicas formais, ou simplesmente a lgica das lgicas(Ibid.,p. 109).

    Uma segunda crtica diz respeito ao suposto relativismo em que esse modelo cai ao

    basear a qualidade e a aceitao de uma teoria numa configurao de fatores que pode mudar

    de grupo para grupo, o que levanta dvidas tambm sobre a possibilidade de escolha racional

    entre teorias situadas em diferentes configuraes. Sobre isso, ele torna a invocar o fato de

    que os cientistas participantes do debate, embora pertenam a configuraes diferentes dos

    fatores substantivos, sempre tm a possibilidade de recorrer a fatores comuns legados pela

    tradio como ponto de contato entre suas posies, e que por isso ainda compartilham um

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    13/14

    95

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    conjunto de fatores que os leva a ter uma discusso razovel (Ibid., p. 142), na qual uma

    posio parece mais forte que outra (Ibid.,p. 148).

    Tudo isso nos leva a concluir, junto com Pera, que a despeito da inerente flexibilidade

    dos elementos que compem o modelo dialtico, este suficientemente preciso para indicarque tipo de argumentos e de teorias so racionalmente aceitveis, assim como indicar quando

    uma teoria prefervel outra, fornecendo-nos uma imagem menos severa que a do modelo

    metodolgico, menos elstica que a do modelo contra metodolgico, mas mais realstica que a

    dos dois (Ibid.,p. 136).

    REFERNCIAS

    BROWN, Harold. Rationality. London and New York: Routledge, 1990.

    KUHN, Thomas.A estrutura das revolues cientficas. Traduo de Beatriz Vianna Boeirae Nelson Boeira. So Paulo: Perspectiva, 2005.

    ______. Notas sobre Lakatos. In LAKATOS, Imre. Historia de la ciencia y susreconstrucciones racionales.Traduo de Diego Ribes Nicols. Madrid, Espanha: EditorialTecnos S.A., 1987, pp. 79-95.

    ______. Objectividade, juzo de valor e escolha terica. In KUHN, Thomas. A tensoessencial. Lisboa: Edies 70, 1977, pp. 383-405.

    ______. O problema com a filosofia histrica da cincia. InKUHN, Thomas. O caminhodesde A estrutura.Traduo de Cezar Mortari. So Paulo: editora UNESP, 2006, pp. 133-151.

    LAUDAN, Larry. ______. O progresso e seus problemas: rumo a uma teoria do crescimentocientfico.Traduo de Roberto Leal Ferreira. So Paulo: Editora Unesp, 2011.

    LEAL, Halida Macedo. Paul Feyerabend e as possibilidades racionais da cincia. Curitiba;editora CRV, 2011.

    MAGALHES, Joo Baptista. A ideia de progresso em Thomas Kuhn no contexto da. Porto: Edies Contraponto, 1996.

    PERA, Marcello. The discourse of Science. Traduo de Clarissa Botsford. The University ofChicago Press, Chicago, 1994.

    ______. From methodology to dialectics. A post-Cartesian Approach to Scientific Rationality.In PSA 1986, vol. 2, edited by A. Fine and M. Forbes, East Lasing, Philosophy of ScienceAssociation, 1987, pp. 359-374.

  • 7/25/2019 6289-16551-1-PB

    14/14

    96

    ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.

    ______. Breaking the link between methodology and rationaliy; a plea for rhetoric inscientific inquiry. In Theory and Experiment, edited by D. Batens and J. P. van Bengem,Dordrecht, D. Reidel, 1988, pp. 259-276.

    ______. The role and value of rhetoric in Science (1991a). In PERA, Marcello; SHEA,

    William R. (editors) Persuading Science; the art of Scientific rhetoric. Canton, Mass: ScienceHistory Pub. USA, 1991, pp. 29-54.

    PUTNAM, H. Mathematics, matter and method. Cambridge: Cambridge University Press,1975.

    STEGMULLER, Wolfgang. A filosofia contempornea.Vol. 2. So Paulo: EPU, 1977.