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    PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE CAMPINASFaculdade de Arquitetura e Urbanismo

    Mestrado em Urbanismo

    V SEMINRIO DE HISTRIA DA CIDADE E DO URBANISMOCidades: temporalidades em confronto

    Uma perspectiva comparada da histria da cidade, do projeto urbanstico e da forma urbana.

    SESSO TEMTICA 5:HISTRIA E CULTURA URBANA

    MODELOS E VIRTUALIDADESCOORDENADOR: RICARDO MARQUES DE AZEVEDO

    (FAU-PUCCampinas)

    Algumas consideraes sobre a cidade telemtica: o desenvolvimento tecnolgicodos meios de comunicao e o espao pblico.

    MARIA FERNANDA RODRIGUES CAMPOS LEMOS

    Introduo

    As trs ltimas dcadas deste milnio tem sido palco do crescimento progressivo de umarede global de telecomunicao composta por cabos de fibra tica, emisseseletro-magnticas e satlites geoestacionrios. Esta rede representa uma grandeampliao das possibilidades tecnolgicas no campo das comunicaes, alimentada porum processo de convergncia das tecnologias da informtica e da telecomunicao num

    mesmo meio a telemtica (1) que penetra todos os campos da vida contempornea,a tal ponto que, potencialmente, dever atingir de modo crescente a estrutura e a formadas cidades. No estgio atual de desenvolvimento em que esse sistema convergente seencontra, ele estabelece uma diviso hierrquica dessa rede, que adquire um cartersegregativo em termos de acesso e uso, promovendo grandes diferenas entre reasdistintas.

    Tal contexto d origem a uma serie de questes acerca da relao entre essedesenvolvimento tecnolgico dos meios de comunicao e as cidades. Como esse novocontexto telemtico ir transformar o espao urbano? Como as cidades e a vida nascidades se interrelacionam com a proliferao das redes eletrnicas em todos os campos

    da vida e em todas as escalas geogrficas? (2). E ainda, at que ponto o acesso a redede comunicao ser universal e democrtico?

    As questes acima se estabelecem em alguns aspectos fundamentais envolvidos nestarelao cidade/ telemtica. Essencialmente importante observar que trata-se de umprocesso de desenvolvimento no apenas tecnolgico, mas ao mesmo tempo de umatransformao social e poltica, e que essas transformaes caminham juntas para aformao da cidade telemtica e no como decorrncia uma da outra. Seria muitosimplificado portanto, um estudo que partisse da premissa que a telemtica, com poderesautnomos, transformaria a cidade e a sociedade junto com ela. Ao invs disso, importante observar que existe um desenvolvimento de vrios setores da vida, numa

    interao profundamente complexa, cujo futuro indeterminado na medida em que osdiferentes grupos sociais, os diferentes interesses polticos, e a prpria imprevisibilidadedo caminho que ir tomar a tecnologia, se projetam em sentidos divergentes e at

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    conflituosos para a formao desse futuro; no h portanto uma tendncia universal epreestabelecida e sim uma enorme gama de possibilidades.

    Nesta profuso de interesses surge uma srie de tenses: lutas sociais que sedesenvolvem sobre a constituio dos espaos urbanos e eletrnicos; conflitos sobrerepresentao social, identidades e percepo em cidades e telecomunicaes; tenses

    funcionais e materiais entre a inrcia dos espaos urbanos e a propriedade dinmica dastelecomunicaes e dos espaos eletrnicos.

    Apesar da urgncia da compreenso da cidade telemtica, esse tema tem sidonegligenciado nos estudos urbanos mais recentes, deixando assim uma lacuna que vemsendo preenchida por pesquisadores de outras reas afins. A importncia deste contextotelemtico nos estudos urbanos torna-se ainda mais fundamental se considerarmos aimportncia ontolgica da comunicao nas cidades. Segundo Tarr et al, os especialistasurbanos de forma geral concordam que as cidades evoluram com o objetivo de facilitar acomunicao humana(3). A prpria funo das cidades pode ser discutida neste sentido,em oposio a funo do espao virtual, como veremos mais adiante.

    Com essa negligncia, somada s caractersticas imprevisveis desse contexto, o maiorvolume de trabalhos realizados sobre o tema apresentam um carter especulativoacentuado. Tais trabalhos, apesar do pequeno contedo cientfico, mantm seu valortendo contribudo principalmente no sentido de um importante impulso para o estudodessa realidade. Para uma breve anlise desses trabalhos, ser aqui adotada aclassificao utilizada por Graham and Marvin, 1996,onde os trabalhos so classificadosem quatro correntes principais.

    muito difcil especular em torno do futuro desse contexto, embora, a evoluo dessesistema convergente aponte no sentido de uma tendncia centrpeta em relao aglomerao urbana, uma tendncia de descentralizao com a exploso da rede decomunicao, possibilitando uma acesso cada vez mais difundido a essa rede. Nestecampo da especulao, entretanto, podemos vislumbrar diversas possibilidades:estaramos caminhando realmente para uma uniformizao da rede mundial e umaacessibilidade difundida por todas as reas do globo, ao ponto de tornar as grandesaglomeraes urbanas quase desnecessrias? Ou estariam algumas cidades seafirmando progressivamente como ncleos preponderantes no sistema global, criando porconseqncia, em torno de si, reas de grande defasagem e dependncia? Oupoderamos ainda identificar uma tendncia centrifuga que adviesse, em vez danecessidade de acesso rede, da possvel melhoria da qualidade de vida decorrente

    principalmente da reduo drstica das necessidades de deslocamento e gerao demais tempo livre, possibilitados pela prpria tecnologia?

    Assim como no podemos prever o futuro do sistema global, dentro desse novo contexto,tambm pouco sabemos sobre a tendncia de evoluo do sistema local. De umamaneira ou de outra, seria bastante razovel esperar que a forma da cidadeacompanhasse transformaes sociais e tecnolgicas to significativas como as deste fimde sculo. O que se observa, entretanto, uma inrcia nas composies espaciais, emespecial dos espaos pblicos, em oposio a transformaes to radicais na estruturasocial contempornea. Deve-se ter em conta, que tais transformaes urbanasapresentam caractersticas distintas com relao produo de novos espaos, e

    renovao e integrao de espaos tradicionais.

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    Palavras como globalizao, virtualidade, telemtica, vem compondo haproximadamente trs dcadas, um discurso onde as diferenas culturais e sociais, queenriquecem a cidade, so preteridas. Se por um lado o espao sem fronteiras das redesde comunicao virtuais seduzem com seu poder de universalizao com isso refiro-me capacidade crescente que as redes virtuais apresentam de romper barreiras fsicas,temporais e culturais, permitindo a comunicao em grande velocidade entre lugares

    distantes e culturas diferentes por outro lado, a troca cultural no espao da cidade, ainterao fsica entre os indivduos, tem uma importncia quase medicinal, uma atividadenecessria para a sade psquica dos cidados, para a qual ainda no existe substitutovirtual e por isso, acredito, deve ser preservada.

    Vises sobre o futuro das cidades

    Na atraente perspectiva de prever o futuro da relao entre a vida nas cidades e as novastecnologias das comunicaes, vm sendo elaboradas diferentes imagens deste futuroa maioria delas, imagens de impacto envolvendo as questes tecnolgicas, sociais,espaciais, polticas, econmicas, filosficas, enfim, todos os aspectos envolvidos no novocontexto.

    A maioria dos trabalhos que deram impulso a essa profuso de previses e estudosacerca do futuro, como j foi dito, guardam um carter um tanto especulativo e at certoponto alarmista, em maior ou menor grau.

    Um primeiro grupo de pensadores sobre esse futuro tem um carter determinista comrelao aos impactos da tecnologia sobre a vida urbana. Essa corrente v a relaotecnologia/ sociedade como uma relao direta de causa e efeito: as novas tecnologias dacomunicao causando diretamente as transformaes na cidade. Algo inevitvel eunidirecional, restando portanto aos autores apenas saber, como viver e lidar com essanova situao, sem considerar a possibilidade de um sistema dinmico que pode seralterado e reescrito por iniciativas e intervenes que ainda no foram tomadas.

    A viso unilateral o eixo fundamental desta abordagem, mesmo alguns autores nestegrupo para os quais o poder de transformao da telemtica no ilimitado, ser ainda atecnologia que ir determinar as transformaes nas vidas das pessoas e na forma das

    cidades.Outra postura comum, o traado de paralelos entre o papel da telecomunicao e dainformtica em determinar transformaes urbanas e o papel de outras inovaestecnolgicos ao longo da histria, como o telgrafo ou o automvel (4). Tais comparaestm por objetivo corroborar as afirmaes e as previses das futuras transformaes.Segundo Lvi basta que alguns grupos sociais disseminem um novo dispositivo decomunicao, e todo o equilbrio das representaes e das imagens ser transformado,como vimos no caso da escrita, do alfabeto, da impresso, ou dos meios de comunicaoe transporte modernos(5).

    Alguns autores, nesta linha um tanto alarmista, como por exemplo Pascal em seu trabalhode 1987, predizem at mesmo o fim da cidade como a conhecemos, em conseqncia dainformatizao do cotidiano, do trabalho, e do desenvolvimento incontrolvel das

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    telecomunicaes. Nessa linha, todas as possibilidades mais sofisticadas, como arealidade virtual, so adotadas, descartando definitivamente outras formas decomunicao tradicionais que necessitam de contato humano, e constituem, segundoesse pensamento, a ltima razo de ser da cidade. Isso levaria a transformaesdrsticas e inevitveis, como a descentralizao ou mesmo dissoluo das cidades, apartir da universalizao de uma rede de comunicao com poderes ilimitados; da

    transformaes do sistema econmico tradicional em direo a uma economia baseadana informao; do crescimento de uma cultura da teleinformao; enfim umatransformao no sentido de uma vida urbana imaterial.

    Uma segunda linha de previses poderia, segundo os autores de Telecommunicationsand the City, ser classificada como futurista e utpica. Este grupo apresenta um carterde afastamento de perspectivas reais ou da explorao dos impactos correntes.Normalmente apresenta vises positivas dos impactos sobre o espao e sobre atotalidade dos grupos sociais. A tecnologia aqui vista como a soluo para os maioresproblemas da sociedade industrial, como poluio, congestionamento, degradao moral,dentre outros (6).

    Nessa perspectiva encontra-se a premonio de uma estruturao social completamentediferente, de uma sociedade muito mais justa com relao ao acesso cultura, comigualdade e justia social, onde toda a informao estar disponvel a qualquer hora elugar para qualquer pessoa.

    O autor que mais influenciou idias futuristas utpicas foi Toffler em Third-wavede 1981,onde ele acredita na dissoluo das cidades nessa sociedade da onda informatizada,Toffler desenvolve teorias (como eletronic cottage, telecommuters, home-centred society),onde a cidade e a produo tornam a ser centradas na habitao. Outros autoresmostraram suas vises como Mason and Jennings em computer home de 1982 (7);Moran em the eletrnic home de 1993 (8); ou Echevarra em la vida domstica enTelpolis de 1996 (9). A partir dessa idia da casa inteligente, surge a idia da cidadeinteligente, da cidade eletronicamente controlada, uma viso que envolve uma srie deoutras questes e principalmente a do controle.

    importante hoje pensarmos sobre a idia da clausura, sobre a possibilidade dosurgimento de uma sociedade do no contato.

    Outro grupo, apresenta vises de economia poltica e anti-utopia. Para estes o futuro daaplicao das tecnologias convergentes est inserido nas relaes polticas, econmicas

    e sociais capitalistas.Estes trabalhos mostram ento uma perspectiva da relao entre a vida urbana e atecnologia oposta viso utpica, j que ao contrrio de qualquer possibilidade positiva,as transformaes tecnolgicas e o novo contexto s tendem a piorar os desajustessociais, a segregao e a qualidade de vida nas cidades. Neste sentido, ao invs datecnologia possibilitar uma sociedade igualitria como imaginam o grupo anterior, ela irjustamente acelerar o acmulo de capital, criar novos sistemas de explorao e novosmtodos de controle social, estabelecendo uma nova geografia mantida pelos mesmosalicerces da cidade industrial. Trata-se de uma imagem do futuro das cidades degradadae segregada como a retratada em Blade Runner por exemplo.

    Com isso esses autores tambm acreditam que a telemtica est at fortalecendo ascidades. O fato da telemtica acarretar uma descentralizao de certas atividades

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    urbanas e um fortalecimento da estrutura de vida privada com atividades de toda anatureza realizadas dentro das casas (10) ao invs de simplesmente desinventar acidade, ir minar a dimenso de vida pblica e cidadania, fortalecendo as aglomeraesurbanas como ns de controle das redes globais, como lugares de concentraoinigualvel de infra-estrutura, mercado de trabalho, servios, informao, e como arenasde vigilncia e controle social.

    O ltimo grupo que tratarei, apresenta uma viso da tecnologia como uma construosocial (11). Uma corrente que antagnica s vises deterministas da tecnologia compoderes autnomos e s vises econmicas do capitalismo como fator determinante.

    Para eles anatureza compulsria da maioria das transformaes tecnolgicas melhorexplicada em se vendo a tecnologia no como aparte da sociedade, como o faz odeterminismo tecnolgico, mas como uma parte indissocivel da sociedade(12).

    Nesta concepo os diferentes grupos sociais podem escolher posturas diferentes frentes inovaes e possibilidades tecnolgicas. Portanto, a tecnologia no gerada em si

    mesma, mas sim nas relaes sociais, tcnicas e econmicas que j existem e sedinamizam e se desenvolvem.

    As principais crticas a essas vises do futuro acima descritas se localizam naparcialidade das anlises, ou na excessiva simplificao da relao cidade/ telemtica,em seu carter especulativo e alarmista, ou ainda na carncia de embasamento empesquisas, tendo portanto uma contribuio limitada para a compreenso do contexto realcuja formao estamos presenciando.

    As duas ltimas vises embora tambm com falhas principalmente onde suas abordagensprivilegiam determinados aspectos polticos e econmicos, ou sociais, olham odesenvolvimento tecnolgico como uma construo poltica, social e cultural, mantendoassim uma viso mais ampliada e complexa em relao as duas primeiras.

    A cidade das tecnologias convergentes (cidade telemtica)

    Hoje convivemos com um enorme potencial no campo das comunicaes, possibilitadopela convergncia das tecnologias da informtica e das telecomunicaes num mesmomeio, dando origem a grandes redes mundiais de comunicao a partir de uma tecnologia

    que permite a utilizao e transmisso, a longas distncias e alta velocidade de som,imagem e dados, simultaneamente, em sofisticados aparelhos que para a grande maioriados grupos sociais so ainda um tanto inacessveis e complexos. A apropriao, poresses grupos, dos modernos sistemas de comunicao, tanto em espaos de trabalho,como na vida privada, e a sua participao efetiva nas redes mundiais, ainda bastanteinconstante. Varia, na escala local com a posio social e econmica do grupo na cidadee no pas, e na escala global com a participao destes no sistema mundial.

    Para a compreenso da vida na cidade telemtica em formao, necessrio termos emconta que apesar da alta velocidade com que as transformaes tecnolgicas e sociaisdeste sculo tm se apresentado, este processo ainda constitui um fenmeno gradual

    para o qual vrios fatores contribuem e interagem e divergem. A viso de que algum tipode onda radical ir transformar a cidade num nico sentido absolutamente positivo, ou

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    negativo como se mostraram algumas das perspectivas descritas anteriormentepouco contribui no sentido da compreenso da nova realidade.

    possvel entretanto, mantendo uma viso anti-radical, observar que existem certastendncias de carter geral que se fortalecem no contexto atual e tm uma relao diretana forma e na vida nas cidades, como o descongestionamento das cidades; a vivncia

    cada vez mais acentuada da realidade virtual; ou ainda a ampliao das redes mundiais.

    A discusso em torno da formao da cidade telemtica relativamente recente (desde adcada de 70), e diretamente relacionada questo da comunicao no sentido amplodas trocas sociais; s questes das transformaes igualmente significativas na estruturasocial; e forma de interao pessoal e espacial entre os diversos grupos com a cidadeque provoca alteraes nas noes de tempo e espao, rompendo barreiras culturais eatingindo diferentemente nveis locais e globais.

    A cidade telemtica hoje j apresenta algumas transformaes nos principais setores daestrutura urbana: no setor de transportes urbanos em funo principalmente da reduo

    de deslocamentos, no setor de servios, na indstria de lazer, no setor educacional, nosetor administrativo e nos servios pblicos, na vida social e cultural, enfim, em tudo quecompe as cidades (13).

    No aspecto fsico das cidades, observamos a afirmao de nsde comunicao comopreviam os economistas polticos, embora este no seja necessariamente o estgio finaldessa evoluo como por exemplo tecnopolos, teleportos ou mega estruturas deinterligao (estaes que oferecem todo o tipo de transporte, como aerovirio,ferrovirio, metrovirio e rodovirio, alm de uma eficiente estrutura de servios etelecomunicaes que liga esse ncleo ao resto do mundo). So portanto novasestruturas cuja existncia se justifica na necessidade urgente de comunicao rpida eeficiente e cuja instalao cria espaos novos, alterando seu entorno e os espaostradicionais da cidades onde so estabelecidos.

    Alm das novas estruturas, as cidades se transformam tambm com a ocupao de seusubsolo por uma ampla rede de cabos que ligam essas novas estruturas s estruturastradicionais preexistentes, como as habitaes e os escritrios. Esse um aspectoimportante na questo das redes de comunicao e da participao das cidades nessasredes mundiais, pois a instalao dessa rede de cabos nas cidades (hoje em expanso)tem um limite fsico e um alto custo que se transformam em dificuldades de instalao,incentivando o desenvolvimento de redes via satlite, para um futuro prximo, cujas

    caractersticas dispensam qualquer tipo de aglomerao urbana apontando para umatendncia de desconcentrao das cidades ao contrrio das redes de cabos.

    Esse contexto telemtico acompanhado por transformaes importantes tambm nocampo econmico e poltico. Trata-se do fenmeno de globalizao da economia, que porsua vez viabilizado por essa tecnologia das comunicaes. Fenmeno esse, que porsua abrangncia social e carter de massificao, traz conseqncias importantes para aproduo cultural nas cidades.

    No aspecto tecnolgico em si, estamos presenciando possibilidades de experinciasinteiramente novas como a de vivncia da realidade virtual e do espao virtual, dentre

    outros, e cujo reflexo no campo social imprevisvel, especialmente em uma sociedadeque j apresenta uma tendncia ao individualismo e ao isolamento. Por outro lado, essainformatizao da cidade possibilita uma reduo de tempo de trabalho e de

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    deslocamento, que produz um excedente de tempo para ser gasto em lazer econseqentemente em mais convvio social, dando origem por fim a uma utilizaodiferenciada dos espaos da cidade.

    Do ponto de vista filosfico, tambm so apontadas transformaes fundamentaisprincipalmente nas noes de tempo, e dimenso fsica (14), que se refletem na

    percepo e na relao dos grupos sociais com o espao urbano.

    Estabelece-se portanto uma questo fundamental: de que maneira os cidados e osgrupos sociais iro se utilizar de toda dessa tecnologia e do tempo gerado por ela narelao com a cidade, transformando assim a funo, o uso e a forma do espao urbano?

    Perspectivas

    Apesar de uma aparente tendncia centrpeta de evoluo das cidades dentro docontexto telemtico, o que originou tanto as vises deterministas para o fim das cidades,quanto as vises econmicas de ncleos urbanos preponderantes na rede global,podemos pensar em uma tendncia centrfuga baseada no mais na necessidade deproximidade e acesso infra-estrutura, trabalho e servios, mas na qualidade de vida ena oferta de cultura e lazer indispensveis sade psquica.

    Essa tendncia centrfuga uma perspectiva em que a cidade se fortalece retomandovalores antigos de utilizao e percepo do espao, num ritmo de deslocamento e devida mais humano, a partir do momento em que deixa de ser necessria comoaglomerao para acesso rede de comunicao mundial. Podemos pensar tambm napossibilidade de que a manuteno da vida no espao pblico, a partir da telemtica,estabelea suas razes nas atividades que no podem ser realizadas plenamente noespao virtual, como o contato pessoal, alicerado na linguagem cultural. Estefenmeno, por fim, incentivaria funes de lazer, cultura, e turismo, que por sua vezalimentam as tendncias tecnolgicas j citadas, pois aproveitam o tempo excedente e asnovas possibilidades tecnolgicas, revertendo o ambiente catico das grandesaglomeraes urbanas em um ambiente com uma qualidade de vida renovada.

    Para entendermos o novo contexto e as possibilidades dessa relao cidade/telemtica fundamental o estudo da dualidade que se estabelece entre os conceitos de fsico (real) e

    eletrnico (virtual), pois esta questo envolve e altera outros conceitos fundamentaiscomo os de tempo e espao, e com isso questes dialticas como, para citar apenasalgumas: territorialidade X globalizao; inrcia/deslocamento X dinmica/onipresena;materialidade X imaterialidade; visibilidade X invisibilidade; e finalmente concentrao/densidade X desconcentrao/repulsividade.

    Com o crescimento das possibilidades de comunicao virtual (15), inaugura-se, porassim dizer, um novo espao: o espao virtual, para onde poder se transferir parte dessainterao social que at ento se realizava prioritariamente no espao fsico, emboraexista uma diferena significativa na interao dentro dessas duas dimenses, issoporque, as interaes no espao virtual dependem em menor grau da linguagem cultural

    (que enriquece a comunicao no espao urbano), permitindo assim o rompimento dealgumas barreiras. Dessa forma o espao pblico passa a ser utilizado com outros fins,no mais com a funo de trocas sociais e comunicao sem esquecer que esta no

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    a nica funo fundamental do espao pblico, nem a nica atingida nesse processo detransformao dando lugar ao estabelecimento de atividades com outras motivaesno espao urbano.

    Outra funo fundamental e igualmente envolvida no advento da era da informtica, ade deslocamento, no sentido tambm de ligao entre espaos privados. A reduo da

    necessidade de deslocamentos no espao pblico, a partir do estabelecimento das redesmundiais de comunicao, assim como a vivncia do espao virtual, tem conseqnciasimportantes na transformao do espao pblico. Isso se deve reduo drstica dovolume de deslocamentos para fins de trabalho, que possibilita uma grande melhoria naqualidade de vida urbana, com reduo de poluio, congestionamentos, e tempo gastonessa atividade, gerando um excedente de tempo para ser utilizado em atividades delazer e cultura.

    importante para finalizar que, como profissionais que pensam a cidade e intervm nacidade, utilizemos os conhecimentos desse contexto telemtico com o fim de melhorar aqualidade dos espaos urbanos desde agora. Hoje j seria defensvel o estabelecimento

    de uma relao entre a tenso da inrcia fsica e estrutural da cidade em comparao dinmica tecnolgica e social, e a desvitalizao de alguns espaos tradicionais dacidade. Tal situao, acredito, poderia ser revertida com a prtica de intervenesurbanas conscientes, que levassem em considerao o novo contexto teleinformatizado,ampliando a flexibilidade espacial no sentido de adaptao ao novo, e no sentido deencontrar uma identificao cada vez maior com o grupo social e seus desejos emtransformao.

    Notas

    1. A palavra telemtica tem sua origem atribuda a Nora e Minc que em 1978 utilizaram o termo, em

    francs tlmatique, para denominar o fenmeno ento recente, que soma as possibilidades dainformtica s telecomunicaes em servios e infra-estruturas. Tal fenmeno a fase atual deevoluo da telecomunicao que tem seu incio nas primeiras transmisses telegrficas de meados dosculo passado e nas primeiras ligaes telefnicas, trs dcadas depois.

    2. GRAHAM, Stephen & MARVIN, Simon. Telecomunications and the City: eletronic spaces, urban places,London and New York: Routledge, 1996, pg. 4. Traduo da autora.

    3. TARR, J., FINHOLT, T. e GOODMAN, D. The City and the Telegraph: Urban Telecommunications inthe Pre-telephone Era, inJournal of Urban History 14(1), 1978, pp. 38-80.

    4. JOHNSON, N. Urban man and the communications revilution. InRegional Urban Communications.Detroit: Metropolitan Fund Inc., 1970. Citado em GRAHAM, S., e MARVIN, S., op. Cit, pg. 81.

    5. LVI, Pierre. As Tecnologias da Inteligncia: O Futuro do Pensamento na Era da Informtica, SoPaulo: Ed. 34, 1990, pg. 16.

    6. SANTUCCI, G. information highways worldwide: challenges and strategies, inI&J Magazine. Spring,

    614, 1994, pg. 22.7. MASON, R. e JENNNGS, L. The Computer Home: will tomorrows housing come alive? InThe Futurist

    (16)1, February, 35, 1982.8. MORAN, R. The Eletronic Home: Social ans Spacial Aspects. Dublin: Europian Foundatin of Living and

    Working Conditions, 1993.9. ECHEVARRA, J. La Vida Domstica en Telpolis, la Ciudad Global in Col-legi d'Arquitectes de

    Catalunya & Centre de Cultura Contempornia de Barcelona (ed.) in Arquitectura en las Ciudades,Presente y Futuros. Barcelona, 1996, pp. 100-103.

    10. ECHEVARRA, J. op. Cit.11. EDGE, D. The social shaping of technology, Edinburgh PICT Working Paper No.1, 1988.12. MACKENZIE, D. e WAJCMAN, J. (eds). The Social Shaping of Technology, Milton Keynes: Open

    University Press, 1985, pg. 14. Traduo da autora.13. GRAHAM, S. & MARVIN, S. op. Cit,pg. 6.

    14. VIRILLIO, Paul. O Espao Crtico. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993, pg. 23.15. LVI, Pierre. O Que o Virtual. So Paulo: Ed. 34, 1995.

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