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CASTAS, ESTAMENTOS

E CLASSES SOCIAIS

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

ReitorJOSÉ TADEU JORGE

Coordenador Geral da UniversidadeFERNANDO FERREIRA COSTA

Conselho Editorial

PresidentePAULO FRANCHETTI

ALCIR PÉCORA – ARLEY RAMOS MORENO

JOSÉ A. R. GONTIJO – JOSÉ ROBERTO ZAN

LUIS FERNANDO CERIBELLI MADI – MARCELO KNOBEL

SEDI HIRANO – WILSON CANO

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CASTAS, ESTAMENTOS

E CLASSES SOCIAIS

Introdução ao pensamentosociológico de Marx e Weber

3a edição revista

Sedi Hirano

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Índices para catálogo sistemático

1. Marx, Karl, 1818-1883 146.32. Weber, Max, 1864-1920 146.33. Classes sociais 301.44

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA

BIBLIOTECA CENTRAL DA UNICAMP

Copyright © by Sedi HiranoCopyright © 2006 by Editora da UNICAMP

1a edição, Alfa-Ômega, 1974

1a reimpressão, 2006

Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada emsistema eletrônico, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos ou

outros quaisquer sem autorização prévia do editor.

Hirano, Sedi.Castas, estamentos e classes sociais — Introdução

ao pensamento sociológico de Marx e Weber /Hirano, Sedi. – 3a ed. revista – Campinas, SP: Editorada UNICAMP, 2002.

1. Marx, Karl, 1818-1883. 2. Weber, Max, 1864-1920. 3. Classes sociais. I. Título.

H613c

ISBN 85-268-0746-3 CDD 146.3

301.44

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Dedico este livro

à memória de meu pai Yoshitaro Hirano eà minha mãe Chino Hirano.

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Como não poderia deixar de ser, esta obrasurgiu como resultado da colaboração e do alento deinúmeros colegas e amigos, aos quais devemos since-ros agradecimentos:

Ao professor, mestre e amigo Octavio Ianni, pornos ter iniciado na carreira acadêmica e, mais ainda,por ter sido o orientador original de nossa primeira in-vestigação sobre a estrutura de classes da sociedade bra-sileira, com a qual um dia esperamos alcançar mais doque atingimos com o presente trabalho.

Ao professor Florestan Fernandes, que, distin-guindo-nos com a sua confiança, possibilitou a execuçãodo programa de investigação do qual derivaram estes ex-certos e, acolhendo gentilmente o nosso pedido, aquiexpôs as suas impressões.

Ao professor Luiz Pereira que, quando de suaatuação como orientador formal, sugeriu-nos a redaçãodeste trabalho.

Aos professores Azis Simão, Fernando AugustoAlbuquerque Mourão e Gabriel Cohn pelas argutas críti-cas formuladas, muitas das quais foram incorporadas àredação final deste livro.

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Ao professor Juarez Rubens Brandão Lopes, quenos iniciou como professor universitário na Faculdadede Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro.

Aos professores José Carlos Pereira e José CésarA. Gnaccarini, pelas valiosas e cuidadosas anotações crí-ticas que em muito nos ajudaram a melhorar a forma, oestilo e o conteúdo do presente estudo.

Aos professores José de Souza Martins e HeloísaRodrigues Fernandes, amigos e incentivadores, que fo-ram os primeiros a nos encaminhar às editoras, da suges-tão desta última resultando a feitura da primeira ediçãodeste livro.

Aos professores e amigos Akira Yamaguishi, Dir-ceu Nogueira Magalhães e Irineu Ribeiro dos Santos;Geraldo Giovanni, Maria Lúcia Ruiz Giovanni, JoséRoberto Cosmo, Mieko e Noboru Yasuda, Jessita MariaNogueira Moutinho, Maria Célia Pinheiro MachadoPaoli, Heloisa Helena T. Souza Martins, Maria HelenaO. Augusto e Irene de Arruda Ribeiro Cardoso, que diretaou indiretamente nos incentivaram, cada um a seu modo,amenizando as dificuldades por nós enfrentadas no decor-rer da nossa formação intelectual e do nosso programade investigação.

À colega e amiga Neusa Yaeko Hirata e a MiriamFumiko Yoshida, pela revisão que ambas realizaram emdiferentes fases do trabalho.

Aos professores Carlos Guilherme Mota eDuglas Teixeira Monteiro, pela acolhida que deram aopresente estudo.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado deSão Paulo por nos ter subvencionado a pesquisa da qualresultou o relatório intitulado Formação das classes mé-

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dias no Brasil: estudo introdutório, que indiretamentedeu origem ao presente trabalho.

Aos filhos Ana Cristina, Ana Helena, Ana Caro-lina, Luís Afonso, Ana Paula, Luís Felipe e à minha espo-sa Toshimi, pela comovente demonstração do espírito desolidariedade e compreensão.

Finalizando, cabe lembrar que o presente estudofoi redigido entre fins de 1971 e meados de 1972 e, emsua versão original, apresentado como tese de mestrado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................... 13

Capítulo 1

CASTAS COMO UMA DAS MODALIDADES DE FORMAÇÃO

SOCIAL PRÉ-CAPITALISTA .................................................................................................................................... 31

Capítulo 2

ESTAMENTOS: DO FEUDALISMO À MONARQUIA ABSOLUTA .......................... 51

Capítulo 3

CLASSES SOCIAIS: DA MONARQUIA ABSOLUTA

AO CAPITALISMO MODERNO ................................................................................................................... 101

CONCLUSÕES ............................................................................................................................................................... 193

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................................... 207

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O presente estudo emergiu da necessidade de reveras concepções de Karl Marx e Max Weber, dois clássicos dasociologia alemã, quanto a noções e conceitos de casta, esta-mento e classe social, para que a investigação sobre a estruturade classes da sociedade brasileira pudesse ser empreendidade uma forma satisfatória. A partir dessa preocupação, deli-neamos o objetivo do presente livro: a) sistematizar o que oscitados autores selecionaram como relevante à discussão dosconceitos e noções de casta, estamento e classe social; b)relacionar as noções e os conceitos com determinadasformações sociais e os seus respectivos modos de produçãoe/ou modalidades típico-ideais de organização da produção.

O tema assim exposto conduz ao aguçamento dosseguintes problemas: a) especificidade e generalidade dos concei-tos; b) periodização macro-histórica em termos de capitalis-mo e pré-capitalismo; c) análise centralizada na instância infra-estrutural (econômica) ou nas esferas supra-estruturais (no ní-vel das representações ideológicas e jurídico-políticas); e, final-mente, d) centralização da análise no ator ou no grupo social.

Estas colocações preliminares servirão como bali-zamentos teóricos para o desenvolvimento do tema do pre-sente estudo: castas, estamentos e classes sociais. Não leva-

INTRODUÇÃO

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remos em consideração as correntes teóricas neomarxistas eneoweberianas (senão como pequenas anotações críticas derodapé e, por conseguinte, intencionalmente sumárias e es-quemáticas). O que pretendemos com este estudo é traçar umconfronto entre metodologias radicalmente diversas, em ter-mos epistemológicos e axiológicos, que subsidiará a pesquisaque estamos elaborando sobre a formação da sociedade declasses no Brasil.

Com esse objetivo, empreendemos este estudo decaráter preliminar, quase marginal — não passa de aponta-mentos ou pequenos comentários —, composto de três capí-tulos. O primeiro, intitulado “Castas como uma das mo-dalidades de formação social pré-capitalista”; o segundo,“Estamentos: do feudalismo à monarquia absoluta”; e o ter-ceiro, “Classes sociais: da monarquia absoluta ao capitalismomoderno”, sendo os dois últimos os capítulos centrais.

Por outro lado, principalmente em relação a Marx,procuraremos encadear estamentos sociais com classes so-ciais, numa articulação que deverá pressupor, necessariamen-te, uma relação de sucessão. Os primeiros precedendo assegundas como “fases progressivas” de desenvolvimento his-tórico-social. Em outras palavras, a base do estudo versarásobre a transformação ou a transição da sociedade estamentalà sociedade de classes. Essa proposição central nos conduziráà discussão da transição do feudalismo ao capitalismo, umavez que os pressupostos da sociedade estamental são o modode produção feudal e a propriedade feudal ou estamental,como veremos em Marx, e os da sociedade de classes, omodo de produção capitalista moderno e a propriedade pri-vada ou burguesa. Ao debater a transição entre estes doisestádios de desenvolvimento das forças produtivas, coloca-remos a discussão da seguinte questão: será a monarquia

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absoluta um Estado feudal ou burguês? Quem são os deten-tores do poder, a burguesia emergente ou a aristocracia emdecadência? As relações jurídicas e políticas são ou não se-qüelas das instituições feudo-estamentais? Ou, de outro modo,são as relações jurídicas e políticas, no período da monar-quia absoluta, formas cristalizadas que refletem em seus códi-gos o poder da burguesia? Estas questões nos remeterão àdiscussão da formação da burguesia e da constituição dessegrupo social em classe social a partir das fissuras do feudalis-mo. Nesse contexto, será desenvolvida a nossa interpretaçãodas classes sociais e da formação da sociedade de classes.

Em Weber, tornar-se-á desnecessário, ou melhor,irrelevante, este encaminhamento, em face da poli-histo-ricidade de suas formulações teóricas,1 como veremos maisadiante.

Finalmente, o primeiro capítulo será apenas umexemplo de uma das alternativas de formação social pré-capitalista, uma vez que o regime de castas não é comum atodas elas.

Quanto à técnica de exposição, ela é aparentementereiterativa por duas razões: a) em vez de parafrasearmos Marxe Weber, optamos pelas citações de longos e exaustivos excer-tos, localizando neles alguns elementos que consideramosfundamentais para a análise da estratificação e da estruturasocial; b) na caracterização sistemática, procuramos selecio-nar os componentes essenciais que delimitariam os conceitosde casta, estamento e classe social, para posteriormente rein-tegrá-los numa perspectiva histórica, em termos de forma-ção, desenvolvimento e desintegração de uma dadaformação social (no caso de Weber seria mais em termosde constituição, persistência e ausência das característicastípico-ideais).

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Nótulas metodológicas

Neste pequeno comentário metodológico, gosta-ríamos de realçar a irredutibilidade axiológica e episte-mológica dos pensamentos de Marx e Weber.

Em Weber, “a finalidade da construção do conceitotípico-ideal é sempre tornar mais claramente explícita, não acategoria (classe) ou a característica média, mas sim a carac-terística individual dos fenômenos culturais”. De forma in-tencional, Weber considera o tipo ideal

essencialmente — se não exclusivamente —como um constructo mental para o levanta-mento minucioso e a caracterização sistemá-tica de padrões (de comportamento) indi-viduais concretos que são significativos emsua singularidade, tais como cristianismo,capitalismo etc.

Na caracterização sistemática, por exemplo, ressal-tam-se de modo unilateral, abstraindo-se e acentuando-se, “cer-tos elementos conceitualmente essenciais”.2 A partir deste pro-cedimento, elaboram-se os conceitos típico-ideais da socio-logia compreensiva, que tem por objeto de estudo as açõessociais interindividuais dotadas de um sentido “mentado”.

Em termos epistemológicos e axiológicos a poli-historicidade dos conceitos weberianos advém de seu rela-tivismo e dos pressupostos metodológicos assumidos peloinvestigador, a saber: a realidade é infinita (primeira assunção);somente uma parcela desta realidade é passível de ser enten-dida e compreendida pelo sujeito da investigação (segundaassunção). A compreensão se completa a partir da captaçãodos sentidos da ação e da relação social, e os conceitos, apreen-

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didos pelo sujeito através da abstração, resultam em instru-mentos de interpretação, no caso em conceitos típico-ideaiselaborados a partir da observação a posteriori de uma dadarealidade histórico-cultural (apesar de no momento da in-vestigação eles aparecerem como elaborações apriorísticas).Mas os conceitos “puros” (por serem frutos de uma depura-ção mental e por sua fundamentação lógica) vão além destarealidade, transformando-se em experimento ideal. Raramen-te correspondem, de modo absoluto, à forma social histori-camente dada, ao objeto de investigação. A sua poli-histo-ricidade reside, em suma, no fato de ser a realidade inapreensívelem sua totalidade, mas parcialmente apreensível, em algunsde seus elementos, pela representação intelectualmente elabo-rada, escorada por regras formais, as quais garantem umconhecimento condicional que, na concepção weberiana, emoutras palavras, é a interpretação dos fatos sociais, feita a par-tir de uma formalização de pressupostos que são ordenaçõesapriorísticas e valorativas de conceitos sociológicos.

Em termos de teoria do conhecimento, segundo ainterpretação realizada por Merleau-Ponty, para Weber “a ver-dade sempre deixa uma margem de sombras, que ela nãoesgota a realidade do passado e menos ainda a do presente,porque admite que a história é o lugar natural da violência”.Prosseguindo, esse autor afirma:

Não se poderia evitar a invasão da históriana história, porém pode-se proceder de talmodo que o entendimento histórico, comoo sujeito kantiano, construa de acordo comcertas regras que lhe assegurem, na sua re-presentação do passado, um valor intersub-jetivo.

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Ainda, segundo Merleau-Ponty,

o entendimento histórico, como o entendimen-to físico, forma uma verdade “objetiva” na me-dida em que a constrói e na qual o objeto ésomente um elemento numa representação co-erente, que pode ser retificada e precisada indefi-nidamente, porém sem nunca se confundir coma coisa em si. O historiador não pode observaro passado sem encontrar nele um sentido, semacrescentar-lhe o relevo do importante e doacessório, do essencial e do particular, esboços erealizações, preparações e decadências, e estesvetores traçados no conjunto compacto dos fa-tos já desfiguram uma realidade na qual tudo éigualmente real e fazem cristalizar nela os nos-sos interesses.3

Nessas passagens divisamos uma posição metodo-lógica e filosófica que separa o ser cognoscente do objetocognoscível e afirma a impossibilidade de o primeiro apreen-der o objeto em sua essência absoluta, isto é, a negação doconhecimento absoluto tal como existe na realidade histó-rica. Portanto, de acordo com essa visão, Weber nega a pos-sibilidade de o sujeito investigador apreender o objeto deconhecimento em sua pureza fenomênica e sua verdade ab-soluta. Por conseguinte, o entendimento histórico torna-seuma probabilidade quando o investigador introduz nos fa-tos sociais uma representação intelectual, escorada por re-gras que, como já afirmamos, garantem o conhecimentocondicional resultante da opção do investigador quanto àrelevância que este atribui aos fenômenos sociais quando daseleção dos eventos considerados significativos do ponto devista do conhecimento científico.

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Considerando o exposto, a concepção weberianapressupõe, na interpretação das formas sociais,

uma ordenação a priori de um sistema de con-ceitos sociológicos construídos através da ela-boração típico-ideal, [...] a sociologia tem porobjeto a interpretação da ação social, paraexplicá-la em seus desenvolvimentos ou efeitos[i. é.] compreender, interpretando-as, as açõesorientadas por um sentido.

Segundo Florestan Fernandes, “a interpretação daação social depende, inteiramente, da capacidade do sociólogopara descobrir o sentido subjetivo ou mental das ações [...]seja do sentido existente de fato [...] seja do sentido construídocomo tipo ideal e referido a agentes típico-ideais”. Neste último,“procura-se captar o sentido ou a conexão de sentido atravésde sua construção racional” (pela interpretação), levando-seem consideração “as conexões de sentido irracionais, condicio-nadas afetivamente, do comportamento, que influem na ação,como ‘desvios’ de um desenvolvimento da mesma ‘cons-truído’ como puramente racional com relação a fins”.4

Como observa Florestan Fernandes, ao construir otipo ideal o investigador lida com duas séries, “uma real (osfenômenos observados em seu curso) e outra ideal (os fenô-menos no curso do como se, isto é, no curso construído racio-nalmente)”, o que permitiria ao investigador isolar pela com-paração, “de forma positiva e objetiva, os fatores realmenteessenciais e significativos para a interpretação sociológica deum fenômeno social dado”. Enfim, conforme essa análise daposição metodológica de Weber, os “conceitos assim elabora-dos são conceitos generalizadores: retêm o que é essencial enão o que é acessório [...] parecem relativamente vazios diante

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da realidade histórica”, pois dentro de sua pureza conceitualestas categorias de análise são construções teóricas: “O mes-mo fenômeno histórico pode ser ordenado, através de um deseus elementos, por exemplo, como feudal, por outro comopatrimonial, por algum outro ainda como burocrático, e poroutro como carismático”. São simplesmente, acrescentaFlorestan Fernandes, “formas lógicas subjetivas de entendi-mento, utilizadas sociologicamente como esquemas in-terpretativos”.5

Em suma, os esquemas interpretativos resultantesda construção de tipos ideais são conceitos puros, gene-ralizadores, invariantes, despojados da dimensão tempo. Nãose deve entender por poli-histórico, ressalte-se, uma possívelcompetição entre os diversos elementos coexistentes na reali-dade social, cada qual em conflito para se impor como domi-nante, mas, ao contrário, a poli-historicidade está não ape-nas no objeto, mas também no sujeito da ação social comosujeito poli-histórico.

Quanto à possibilidade de conduta, os indivíduospodem agir tanto de forma completamente irracional quantoracional:

A ação real sucede na maioria dos casos comobscura semiconsciência ou plena incons-ciência de seu sentido “mentado”. O ator [...]atua na maior parte dos casos por instinto oucostume. Apenas ocasionalmente — e, numamassa de ações análogas, unicamente em al-guns indivíduos — se eleva à consciência umsentido (seja racional ou irracional) da ação.Uma ação com sentido efetivamente tal, ouseja, clara e com absoluta consciência, na rea-lidade é um caso limite. [...] Porém isto nãodeve impedir que a sociologia construa seus

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