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"INC o Commission Afr limo pe_ ..‘ „_7", t _ .7.... des Droits de , P. 11 1" 4 . 4 •11 Z t= o Cr, r R a •C' 0- s 3#4 et des P Et 6 NO MOÇAMBIQUE ""--- African Commission on Human & Peoples' Rights RELATÓRIO DA VISITA 14-24 DE DEZEMBRO DE 1997 PELO PROF. E.V.O. DANKWA RELATOR ESPECIAL SOBRE PRISÕES E CONDIÇÕES DE DETENÇÃO EM AFRICA AGRADECIMENTOS A Comissão Africana dos direitos Humanos e dos Povos agradece à Agência Norueguesa para o Desenvolvimento e a cooperação (NORAD) e à Reforma Penal Internacional pelo apoio prestado ao programa do Relator Especial sobre as Prisões e as Condições de Detenção em África. SERIE IV n°3 Os relatórios do Relator Especial da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos irão ser publicados sob a série IV.

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NO MOÇAMBIQUE ""---

African Commission on Human

& Peoples' Rights

RELATÓRIO DA VISITA 14-24 DE DEZEMBRO DE 1997

PELO PROF. E.V.O. DANKWA

RELATOR ESPECIAL SOBRE PRISÕES E

CONDIÇÕES DE DETENÇÃO EM AFRICA

AGRADECIMENTOS A Comissão Africana dos direitos Humanos e dos Povos agradece à Agência Norueguesa para o Desenvolvimento e a cooperação (NORAD) e à Reforma

Penal Internacional pelo apoio prestado ao programa do Relator Especial sobre as Prisões e as Condições de Detenção em África.

SERIE IV n°3 Os relatórios do Relator Especial da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos irão

ser publicados sob a série IV.

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VISITA NO MOÇAMBIQUE

Agradecimentos

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ANTECEDENTES

6

REUNIÕES

9

15 de dezembro de 1997

9 Ministério da Justiça

9 Director do Departamento de Prisões

9

Ministérios da Justiça e do Interior

10 Ministro da Justiça

12

23 de dezembro de 1997

14 Secretário Geral do Ministro

14

VISITAS A PRISÕES

15

16 de dezembro de 1997 15 Prisão Central de Maputo 15 Prisão Civil de Maputo 19

17 de dezembro de 1997 23 Prisão Central de Beira 23 Delegacia Central de Polícia de Beira 26

19 de dezembro de 1997 28 Prisão Central de Nampula 28 Delegacia de polícia do primeiro esquadrão, Nampula 31

20 de dezembro de 1997

32 Centro Aberto Hanhane, Matola

32

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21 de dezembro de 1997 33

22 de dezembro de 1997

33 Prisão Provincial de Xai-Xai

33

Conversa com o Director

33 Delegacia de Polícia de Xai-Xai

35

23 de dezembro de 1997

37 Prisão de Machava, Maputo

37

Conversa com o Director e seu suplente

37

RECOMENDAÇÕES

39

COMENTARIOS DO GOVERNO DO MOÇAMBIQUE

41

TERMOS DE REFERÊNCIA PARA O RELATOR ESPECIAL SOBRE AS PRISÕES E AS CONDIÇÕES PRISIONAIS EM ÁFRICA

44

VISITA NO MOÇAMBIQUE

AGRADECIMENTOS

Audrey Pascaud de Penal Reform International (PRI) prestou inestimável apoio administrativo. PRI também me forneceu informações gerais muito úteis. Ingella Sthal, do Instituto Raoul Wallenberg tornou inteligível a língua portuguesa para mim.

O Instituto Raoul Walleberg contribuiu com importante apoio.

Sem o apoio constante da Liga Moçambicana de Direitos Humanos, especialmente sua Directora Executiva, Sra. Mabote e o Oficial Legal, Danilo Nala, a missão não teria tido êxito. Eu estava em contacto constante com eles, e a meu pedido, Danilo Nala me acompanhou em algumas de minhas visitas. Membros da Liga em Nampula andaram connosco de uma prisão para outra, na chuva.

Portanto, estou muito agradecido a todos eles.

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ANTECEDENTES

a) (i) "Joaquim Gouveia (guerrilheiro da FRELIMO) recorda-se que quando as

forças de Kaulza (Comandante-chefe das Forças Armadas Portuguesas em Moçambique) entraram nas áreas onde a FRELIMO estava fortemente enraizada, eles mataram qualquer um, crianças, velhos, mulheres - só matavam, matavam, matavam. E levaram tudo - enxadas, machetes, potes, até pilões para esmagar o milho... Gouveia lembra-se também que os aviões estavam a deitar 'bombas incendiárias que queimavam tudo o que tocavam' e armas químicas que tinham um efeito ainda pior. 'Estavam a deitar estas bombas nas plantações para as destruir e garantir que não haveria colheita no ano seguinte e, assim, as pessoas iriam passar fome..." (p. 64)

(ii) "O padre Cesare Bertull, o Superior Regional dos Padres Brancos (Católicos Romanos) em Moçambique, descreveu detalhadamente as terríveis torturas que foram sujeitos os moçambicanos suspeitos de se oporem ao regime colonial."(p.68)

(iii)"Os Dragões da Morte rapidamente mostraram as suas cores políticas. Foram até a prisão central da capital e libertaram cerca de 200 agentes da PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) que as autoridades portuguesas pós-golpe tinham detido enquanto decorriam as investigações para determinar quem eram os responsáveis pela tortura de prisioneiros políticos. Outros partidários dos Dragões davam voltas pelo distrito negro em veículos abertos, disparando ao acaso nos moçambicanos negros." (p.87)

(iv) "Em parte devido ao custo cada vez maior da guerra, e em parte porque quase todos os técnicos no país eram portugueses e tinham partido, os moçambicanos não puderam consertar as infra-estruturas destruídas nos ataques pela Rodésia. Ao arrasar aldeias e destruir estradas, pontes, ferrovias e centros vitais de comunicação, o chefe militar de Smith, General Peter Walls, estava a fazer mais do que a enfatizar o factor de custo da guerra: estava a mostrar que os moçambicanos estavam a perder o pouco que tinham herdado dos portugueses e que em breve não teriam mais nada." (p.100)

(v) "Moçambique não tinha um exército regular moderno e bem equipado. A estrutura guerrilheira herdada dos dias de independência era inadequada perante as invasões grandes de infantaria e artilharia com forte apoio aéreo.

Os moçambicanos seriam obrigados a fazer investimentos grandes em equipamento militar que iriam limitar muito a capacidade do governo para melhorar as condições de vida dos seus cidadãos." (p. 100)

(vi) "...Samora Machel nunca hesitou em apoiar a luta do Zimbabwe. Moçambique transformou-se no refúgio de Robert Mugabe e da ZANU. Foi este relacionamento entre Machel e Mugabe que se tornou a bigorna para a independência do Zimbabwe. Machel foi generoso no seu apoio, apesar de sofrer incursões constantes das forças de Ian Smith e infiltrações pelos Selous Scouts." (David Owen) (p.102)

(vii)"Moçambique é, e foi então, um país pobre, por isso o recrutamento de mercenários ... não foi difícil. Tornou-se ainda menos difícil depois que os rodesianos e seus substitutos destruíram escolas, clínicas e facilidades para comunicações que tinham sido estabelecidas desde a independência. Aldeias novas com todas facilidades instalações foram atacados e os camponeses foram mortos." (p. 106)

(viii)"Na República Popular de Moçambique testemunhamos violações sistemáticas da legalidade: violações da constituição, violações de leis e regulamentos e violações de nossos princípios. Um aspecto particularmente sério desta situação é que estas violações são muitas vezes cometidas por membros das forças de defesa e segurança. São cometidas por membros das Forças Armadas de Moçambique (FPLM), por membros da polícia e milicianos e pelo pessoal do Serviço Nacional de Segurança (SNASP)...

A agressão e a tortura são usados como meio de punir erros, frequentemente imaginários, e para fazer as pessoas confessarem crimes, cometidos ou não. "[Estes abusos são] o resultado da presença contínua de valores e práticas da sociedade colonial-capitalista e tribal-feudal, e erros e desvios que resultam de nossas próprias falhas" (Samora Machel num comício massivo em Maputo no dia 5 de novembro de 1981) pp 160-161.

(ix) "O Presidente (Samora Machel) andava de um lado para outro na plataforma, a falar sem parar, agitado por antigas memórias de amigos que foram reduzidos a ruínas humanas antes de serem assassinados pelos colonialistas e seus mercenários. As enfermeiras do hospital que tinham desaparecido depois de serem levadas aos calabouços secretos da polícia. Os guerrilheiros da FRELIMO que foram capturados feridos e que se recusaram a revelar segredos sob as mais cruéis torturas.

Surgiram então recordações do outro lado do salão. Confissões penosas de traições. Livres de qualquer ameaça de prisão ou enforcamento, muitos homens confessaram que foram pagos pela polícia secreta para infiltrar grupos

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de estudantes, associações de debate, até conversas em comboios, para obter os nomes de nacionalistas africanos. Esses nacionalistas eram então presos, e muitos torturados até a morte na prisão. Um motorista para o PIDE-DGS confessou ter levado os corpos para os lançar ao mar.

Dois antigos comandos confessaram terem testemunhado o massacre em 1972, de Wiriyamu na Província de Tete, quando granadas de mão foram atiradas contra uma multidão de aldeões. Demorou três dias para se enterrarem os corpos." (p. 173)

(Os trechos acima foram reproduzidos do livro de Iain Christie, Samora Machel, Uma Biografia, PANAE, impresso por Zed Press Ltd., Londres e Nova Jersey (1989).

a) Os moçambicanos valorizam os direitos humanos. André Matzangaisse e Afonso Dhlakama não negariam esta afirmação. E foi para a promoção, protecção e gozo dos direitos dos moçambicanos que Eduardo Mondlane, Marcelino dos Santos, Samora Machel, Joaquim Chissano, Alberto Chipande, Sebastião Mabote e muitos outros trabalharam, lutaram e alguns deles morreram. Da casa de Eduardo Mondlane em 1961, no que era então Lourenço Marques, agora Maputo, através da formação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em 1962, à independência em 25 de junho de 1975, a criação da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o seu conflito com a FRELIMO, o Acordo Geral de Paz em outubro de 1992, e as eleições presidenciais e legislativas de 27 e 28 de outubro de 1994 até hoje, a preocupação permanente dos moçambicanos tem sido a preservação de sua dignidade e seu direito à autodeterminação e ao desenvolvimento. A Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos identifica-se muito com estas preocupações.

b) Foi com o intuito de contribuir para a realização destes objectivos que o Relator Especial para as Prisões e Centros de Detenção em África visitou Moçambique de 14 a 24 de dezembro de 1997, uma visita que o levou a :

(i) Maputo (Prisão Central e Prisão Civil)

(ii) Beira (Prisão Central e Esquadra de Polícia)

(iii) Nampula (Prisão e Esquadra de Polícia)

(iv) Matola (Prisão Aberta)

(v) Xai-Xai (Prisão e Esquadra de Polícia) e Macheva (Prisão)

REUNIÕES

Tive reuniões com o Ministro da Justiça, José Ibraimo Abudo, o Chefe do Gabinete do Ministério da Justiça, Charles Almasso, o Director Nacional das Prisões, António Eduardo Munete, o Secretário Geral do Ministério do Interior e com autoridades dos Departamentos de Prisão e Polícia. Os resumos de algumas dessas reuniões é o seguinte:

15 de dezembro de 1997

Ministério da Justiça

(i) O Chefe do Gabinete do Ministério da Justiça informou -me que o seu Ministro se encontrava no Parlamento a tentar obter aprovação de um orçamento que aumentaria a quantia destinada às prisões. Como durante todas as reuniões, eu expliquei em linhas gerais o objectivo da minha missão dentro do contexto do CADHP e meu mandato, sempre relembrando os meus ouvintes ou hóspedes que a Comissão procura atingir suas metas através do diálogo com os Estados Parte.

Director do Departamento de Prisões

(ii) Durante uma reunião com o Director do Departamento de Prisões sob o Ministério da Justiça no dia 16 de dezembro de 1997, chegou-se a uma ideia sobre questões como a população prisional, a divisão de responsabilidades entre os Ministérios da Justiça e do Interior, a detenção de menores de idade e de mulheres, cuidados de saúde, o processo judicial, desaparecimentos, disciplina e castigo, prisão preventiva, a situação das prisões e os planos para o futuro. De forma geral, as questões e respostas da minha parte e do Director respectivamente tiveram os resultados expostos abaixo. O Director também me garantiu permissão por escrito para visitar lugares de detenção que eu tinha incluído no meu programa.

O Director recebeu muito bem a minha visita que, como as visitas de outras organizações internacionais de direitos humanos, ele declarou ser necessária. Ele explicou que as violações dos direitos humanos de que foi acusado Moçambique foram o resultado das más condições nas prisões e nos centros de detenção, e não o resultado da falta de vontade para implementar as normas internacionais. Declarou também que era difícil controlar a

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administração das celas de prisões e de esquadras da polícia, devido à falta de meios para a fiscalização regular e ao controlo destas instituições

População Prisional

O número total era de aproximadamente 11.000 numa população nacional de 16 milhões. O Ministério do Interior era responsável por aproximadamente 5.000 destes reclusos, enquanto 5.800 estavam sob responsabilidade do Ministério da Justiça. Destes últimos, 3.200 estavam aguardando julgamento ou sentença. 995 pessoas entre 16 e 21 anos de idade estavam em prisões sob a tutela do Ministério da Justiça. Estas continham também 114 mulheres. Não havia estatísticas exactas sobre o número de estrangeiros. O que se sabia é que a maioria dos reclusos estrangeiros estavam em prisões perto das fronteiras de Moçambique tais como Manica, Tete e Niassa. Foram sido presos principalmente por entrada ilegal no país.

Superlotação

Este era um problema muito grave. A Prisão Central de Maputo, por exemplo, abrigava 1.600 reclusos tendo sido construída para 800. Não se construiu nenhuma prisão desde os anos sessenta e a maioria das que existem são velhas e não foram renovadas ou bem mantidas. A isto se juntava o problema da falta de cobertores e colchões.

Eu sugeri o uso do Serviço Comunitário e de julgamentos rápidos como meios de se descongestionar as prisões. De acordo com o Director, os centros abertos no interior do país , onde os reclusos poderiam cultivar seus próprios alimentos estavam sendo considerados como uma maneira de resolver o problema de superlotação.

Ministérios da Justiça e do Interior

De forma geral o Ministério do Interior é responsável pela prisão preventiva enquanto as pessoas acusadas são transferidas para as prisões do Ministério da Justiça para serem julgadas, mas a responsabilidade deste começava especificamente quando o dossier de um réu era transmitido ao ministério público pela polícia de investigação criminal. Dentro de cada ministério existe um Departamento Nacional que cuida daqueles que estão em locais de custódia e detenção.

Os guardas do Ministério do Interior são policias enquanto que os do Ministério da Justiça são guardas de prisão normais.

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Prisão Preventiva

Por lei, uma pessoa presa não deve ficar numa cela da polícia durante mais de 48 horas. As pessoas suspeitas podem ser detidas em Centros de Detenção do Ministério do Interior por um período máximo de 90 dias, embora este período possa ser prolongado em casos complexos ou quando não se há fiança, até 2 ou mais anos. Se um magistrado souber que um processo irá levar mais do que 90 dias, poderá conceder liberdade sob fiança.

Processo Judicial

A lentidão dos tribunais é notória. São necessários muito mais juizes e magistrados do que existem actualmente, e isto resulta numa situação em que um magistrado se torna responsável por várias secções em vez de apenas uma.

Saúde

As prisões sob o Ministro da Justiça têm Postos de Saúde com enfermeiras e pessoal paramédico. Os reclusos doentes são tratados nos Postos de Saúde das prisões por um oficial médico ou por uma enfermeira, duas ou três vezes por semana. Os casos sérios, bem como os casos que requerem atenção de especialistas, são enviados para o hospital. Os postos de saúde não têm medicamentos suficientes.

Disciplina

As Regras Mínimas Padrão das Nações Unidas para o Tratamento de Prisioneiros são cumpridas. As regras nacionais a este respeito estão em conformidade com as Regras das Nações Unidas. O castigo físico é proibido por lei. Os reclusos são disciplinados em casos de infracção dos regulamentos pelo confinamento em solitária, mas não recebem tratamentos desumanos ou degradantes. A regra é que não deverá haver outro castigo além da própria privação de liberdade. O castigo arbitrário e a dieta disciplinar estão proibidos por lei.

Desaparecimentos

Este fenómeno é desconhecido nas prisões do Ministério da Justiça. Ocorre em instituições sob o Ministério do Interior e resulta da evasão de detidos das esquadras da polícia onde os suspeitos podem permanecer durante 48 horas.

Menores de Idade

De acordo com a lei criminal, uma pessoa com menos de 16 anos de idade não é

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23 de dezembro de 1997

Secretário Geral do Ministro

(iv) O Ministro do Interior, H.E. Almerinho Manhenji, não pode vir à reunião prevista para esta data. O Secretário Geral do Ministro, Armando Mario Correia, portanto, o substituiu. Eu o informei sobre duas preocupações importantes que devem ser tratadas com prioridade e receber a devida atenção: menores de idade e prisão preventiva.

Menores de Idade

Eu exprimi minha preocupação com o fato de que se nada fosse feito sobre as pessoas cuja conduta era desculpada pelo fato de serem menores de idade (menos do que 16 anos), muitos deles entrariam directamente para a prisão assim que chegassem à idade de responsabilidade criminal. Em resposta, o Secretário Geral declarou que tinham programas de prevenção estabelecidos com os Ministérios da Justiça, da Cultura e da Saúde, com o intuito de ajudar os jovens que se tornaram órfãos durante a guerra, para que não se envolvessem em actividades criminais. No entanto, não se havia conseguido muitos resultados com esta iniciativa. Também declarou que havia um tribunal que protegia os interesses dos menores de idade quando seus pais eram divorciados. Há também um tribunal que age como mediador entre as vítimas de "crimes" de "menores de idade" e as famílias dos infractores.

Prisão Preventiva

O Secretário Geral declarou que o período máximo de detenção para a finalidade de investigação era 84 dias. Porém, os magistrados encarregados poderiam estender o período de detenção no caso de delitos graves.

Os funcionários de prisão eram obrigados por lei a mandar os reclusos doentes a um hospital sempre que necessário. A liberdade condicional era possível nos casos dos acusados de crimes passiveis de menos do que 8 anos de prisão. Também se pode libertar sob fiança em qualquer momento durante o processo judicial, investigação ou julgamento.

As dificuldades para conseguir transporte de Beira para Xai-Xai impediram-me, em duas ocasiões, de me reunir com o Presidente da Associação de Advogados.

(v) Em 23 de dezembro, tive uma reunião com ONGs e jornalistas que aprenderam sobre o trabalho da Comissão, inclusivé o meu mandato. Eu informei-os sobre meu trabalho em Moçambique até onde era permissível.

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VISITAS A PRISÕES

16 de dezembro de 1997

Prisão Central de Maputo (sob o Ministério da Justiça)

Localizada no sector norte de Maputo, a prisão tem prédios que alojam a administração, a cozinha e as oficinas. Jardins, árvores de fruta e outras ornamentam o grande terreno. Numa reunião que precedeu a visita às celas e a outras partes da prisão estiveram presentes:

a) O Director, Sr Aruerico Abílio Parruque, que trabalha na prisão há 33 anos, sendo Director durante os últimos 7 anos da administração prisional;

b) Sr Jaime Ernesto Tivane, Secretário;

c) Sr Julio Sitoe, Chefe da Guarda;

d) Sr Lourenço Magul, Assistente para Assuntos Sociais;

e) Sr Francisco Fulaho, Chefe do controle penal (soltura e disciplina)

A prisão foi construída em 1965 com capacidade máxima para 800 reclusos, embora no momento da visita tivesse 2.059 reclusos, todos homens. Devido ao espaço limitado, as prisioneiras estavam sendo alojadas na prisão civil de Maputo. 1.018 reclusos estavam aguardando julgamento. Havia tambem100 jovens adultos. O detido mais jovem tinha 17 anos, enquanto o mais velho tinha 55 anos. 180 guardas trabalhavam na prisão. Fui informado de que não havia reclusos políticos em Moçambique.

Embora de acordo com os regulamentos, os reclusos devessem ficar alojados separadamente em grupos de acordo com sua idade, tipo de delito e estatuto (prisão preventiva ou condenado), era dificil implementar as regras devido à limitação do espaço.

Alimentação

Conforme a lei, devem ser servidas três refeições por dia aos reclusos, mas as restrições financeiras resultaram em somente ser possível garantir uma refeição por dia. Esta consiste de farinha de milho, feijão e às vezes peixe e arroz, quando o orçamento o permite.

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Vestuário

Os reclusos têm que providenciar suas próprias roupas. As organizações não governamentais fornecem vestuário àqueles que não o têm.

Correio

Não há limite para o número de cartas que os reclusos podem receber ou enviar. A Cruz Vermelha tenta reunir os detidos com suas famílias através de correspondência.

Visitas

Os membros da família e amigos podem visitar os reclusos. Cada prisioneiro tem direito a duas visitas por mês.

Jogos

Os presos jogam futebol e xadrez. Também cantam, dançam e faziam apresentações dramáticas, mas de forma geral, faltam equipamentos para jogos.

Saúde

Serviços médicos eram providenciados na prisão e os casos sérios eram levados para hospitais.

Formação Vocacional

Há cursos de formação vocacional e académica. Os cursos vocacionais incluem marcenaria, cerâmica, costura e de formação como electricista. Também há a oportunidade de participar em actividades de agricultura: o cultivo de milho, feijão e verduras. Os adultos jovens têm prioridade para os cursos vocacionais. Há cursos de alfabetização até o 90 grau.

Exercício Físico / Tempo nas Celas

É permitido que os reclusos que não estão envolvidos em formação vocacional permaneçam fora de suas celas durante duas horas por dia, uma hora de manhã e outra hora de tarde.

Motins

Houveram rebeliões de detidos em prisão preventiva como protesto contra a comida.

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Relacionamento entre os guardas e os prisioneiros

Foi-me dito que é bom, com os guardas fazendo um bom trabalho e os detidos reagindo bem reciprocamente.

Disciplina e Castigo

O contraste com os assuntos anteriores foi marcante, pois a resposta à minha pergunta sobre este assunto levou muito mais tempo para ser dada. Quando foi respondida, veio de direcções diferentes, não tratando directamente do assunto. Eventualmente, informou-se que o castigo principal era o isolamento em celas disciplinares. Estas celas também alojavam os presos que constituíam um risco para a segurança (por exemplo, aqueles presos ou sentenciados por roubo à mão armada). Se um guarda provocasse um prisioneiro, ele era punido. Os maiores problemas, no entanto, eram entre os próprios reclusos.

Evasões

Usavam-se armas de fogo em última instância para evitar a evasão de reclusos.

Condições Sanitárias

O director falou de um surto de cólera na prisão.

Visita às instalações

A prisão tinha um posto de saúde muito bem cuidado com um enfermeiro e assistentes. Uma parte da prisão tinha sido isolada para os pacientes com cólera ou a receberem tratamento para a cólera. Desde o início da epidemia em novembro de 1997, dois presos morreram, 28 ainda estavam a receber tratamento, 310 contraíram a doença, e 285 receberam tratamento no posto de saúde. Os doentes de cólera da prisão civil de Machava também tinham sido transferidos para a Prisão Central para receberem tratamento. A organização MSF - Médecins sans Frontières (Médicos sem Fronteiras) estava providenciando assistência médica e material para combater a epidemia. O sistema de fornecimento de água, por exemplo, estava sendo consertado pela MSF.

Cozinha e Restaurante

A comida era preparada numa cozinha para todos os reclusos por alguns deles. Eles começavam a trabalhar às 4 da manhã. Infelizmente, um restaurante agradável, com 26 mesas de cimento de 3 metros de comprimento cada uma, não

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estava a ser utilizado pois a maioria das mesas e assentos estavam a necessitar de reparos.

Aulas

Uma aula sobre assuntos de saúde estava a decorrer no momento da minha visita. As pessoas que assistiam à aula deviam transmitir aquilo que aprendiam aos outros detidos.

Uma missa transmitida por alto-falantes também estava a decorrer durante a minha visita.

Discussões em particular com alguns reclusos

- Manuel Carlitos Massango: A idade aparentemente tenra deste prisioneiro atraiu-me. Ele disse que tinha 15 anos de idade e já tinha passado 15 meses na prisão depois de ser condenado a 3 anos de prisão por roubo. Ele disse também que só recebeu sabão duas vezes durante esses 15 meses. Tinha recebido apenas uma visita desde que tido sido detido na prisão. Era pouca comida, queixou-se ele.

Armando Domingo Macie: Eu fui atraído para este prisioneiro pela mesma razão que o anterior. Este detido sob prisão preventiva disse ter 15 anos de idade, embora sua ficha indicasse ter 19 anos.

Oficinas e Campos de Cultivo

Devido ao equipamento e matéria prima limitados, apenas alguns dos reclusos trabalhavam nas oficinas. O equipamento na marcenaria precisava de reparos. Uma secção para fazer sapatos transformou-se num local para conserto de sapatos porque a maquinaria para o fabrico dos sapatos não funcionava.

Um pomar impressionante com muitas frutas estava a ser cultivado pelos reclusos numa área central da prisão. Plantaram também algumas árvores de fruta à volta das celas. De acordo com o Director, as frutas eram para aqueles presos que as pudessem pagar assim como para os doentes e para aqueles que trabalhassem no pomar.

As Celas

Dos 10 edifícios construídos para alojar reclusos, 8 estavam habitáveis. Uma das construções abrigava 219 jovens adultos. A maioria destes estava em regime de prisão preventiva. Fora das celas não havia separação entre os adultos e os jovens adultos.

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Uma cela continha menos de 25 camas para 53 pessoas. Uma pequena secção desta cela estava a ser utilizada como casa de banho. Os reclusos reclamaram que não tinham nenhum equipamento para fazer a limpeza da casa de banho e que tinham que o fazer com as mãos.

Outra cela com 54 reclusos tinha 16 camas. O detido mais jovem nesta cela tinha 16 anos. Não recebiam nenhum sabão, mas podiam tomar banho diariamente. A maioria deles não recebia visitas de familiares ou porque não tinha família, ou porque as famílias não tinham dinheiro suficiente para fazer a viagem, ou porque não sabiam que eles estavam presos.

Celas Disciplinares

Os reclusos nestas celas perdem o direito a visitas. Não tinham recebido sabão. Alberto Junior passou aqui 5 meses por tentativa de evasão da cela para assaltantes à mão armada. Os presos nas celas de assaltantes à mão armada recebiam mais comida do que os na cela disciplinar.

Fernando José Cherinza tinha cicatrizes consistentes com a sua alegação de ter sido agredido pelos guardas ao tentar escapar da cela disciplinar. Ele tinha anteriormente tentado escapar da cela para assaltantes à mão armada. Outros reclusos das celas disciplinares reclamaram que tinham sido espancados pelos guardas. Eles tinham sido informados sobre minha visita e instruídos a não falarem de assuntos como os espancamentos pelos guardas. Alguns estavam em prisão preventiva há dois anos. Também houve reclamações sobre a polícia que exigia pagamento para desistir das acusações.

A visita terminou obedecendo uma das medidas instituídas pelos visitantes do Ministério da Saúde que era lavar as mãos em água com cloro.

Prisão Civil de Maputo (Ministério do Interior)

O Director, Diamantino Alfredo, que tinha sido notificado da minha visita, informou -me sobre a prisão.

É uma prisão para pessoas com detenção preventiva. Embora seja uma exigência da lei, não há vice-director. Há 4 departamentos na prisão: segurança, reabilitação, controle e administração, bem como uma ala feminina sob o Ministério da Justiça. Foi construída com capacidade para 250 reclusos, mas continha 300. Cuidados médicos primários eram providenciados pelo hospital da prisão.

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Alimentação

Recebi respostas diferentes sobre o número de refeições diárias: um funcionário disse que eram 2, embora as restrições financeiras às vezes permitissem somente uma refeição, enquanto outro funcionário disse que, em princípio, deveria haver 3 refeições diárias, mas na realidade eram 2 ou 3. A dieta consiste de feijão, farinha de milho, peixe fresco ou seco e verduras da estação.

Duração da prisão preventiva

A média era de 34 dias, mas algumas vezes se estendia até 90 dias, e em alguns casos raros, até além desse período.

Castigo

A punição por uma infracção aos regulamentos era a solitária por 1 ou 2 dias, embora às vezes durasse até 10 dias. O isolamento era acompanhado da proibição de visitas.

Vestuário

As autoridades da prisão providenciavam roupas para os reclusos.

Visitas

Cada prisioneiro tinha direito a duas visitas por mês com duração de 3 horas cada.

Correspondência

Não havia limite para o número de cartas que um prisioneiro poderia receber ou enviar..

Água e Higiene

Às vezes era um problema conseguir água, mas geralmente havia acesso a água três vezes por dia. O sistema de esgotos estava num estado lamentável. Havia distribuição de sabão duas vezes por mês, sempre que disponível.

Procedimento para Reclamações

Os reclusos podiam reclamar com o sector de reabilitação que passaria a reclamação às autoridades apropriadas, inclusive o Presidente da República.

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Visita às Instalações

Um salão comprido com vista para um campo de futebol servia de recepção para visitas. Uma ala de trânsito alojava os recém-chegados até que eram transferidos para outras prisões ou sectores da Prisão Civil de Maputo. No momento da minha visita, todos os presos na ala de trânsito eram policiais.

la Secção da Prisão

Com dificuldade, os funcionários acabaram concordando em deixar que eu tivesse uma discussão em particular com os reclusos. Eles teriam preferido estar presentes durante a conversa. Os reclusos eram servidos uma refeição escassa por dia. Tinham camas e cobertores. Eles reclamaram que não recebiam visitas: somente recebiam mensagens informando-os sobre os nomes de quem eram suas visitas sem poder vê-los. Deve-se notar que o surto de cólera levou ao cancelamento das visitas. Tinham camas e cobertores, mas não havia sabão. Havia naturais de Serra Leoa, Nigéria, Uganda e Portugal entre os reclusos.

Os reclusos reclamaram muito sobre a corrupção entre os policiais que destruíam as provas de um crime quando recebiam pagamento. Um dos estrangeiros reclamou que, embora tivesse sido dada uma ordem para sua soltura por um juiz, ele havia continuado preso por mais uma semana porque não conseguiu arrecadar o dinheiro pedido pela policia para sua soltura de fato. Sua embaixada também não sabia que ele havia sido detido.

A maioria dos reclusos não quis falar pois, como me informaram, tinham recebido ordens para não falar.

2a Secção da Prisão

Uma cela com 6 reclusos tinha uma cama e dois cobertores. Alguns deles, portanto, dormiam no chão nu. Um deles não quis falar comigo pois temia o que poderia acontecer com ele após a minha partida. Um banheiro tinha água escorrendo sem controle, embora em alguns dias não há água nenhuma.

Posto de saúde

Um posto de saúde, que atendia homens e mulheres em horários diferentes, era bem ordenado e limpo, assim como a enfermeira.

Sector Feminino

O chefe desta unidade era um homem. Continha 67 mulheres com 9 crianças entre 1 e 4 meses de idade. Uma delas nasceu há três meses na prisão. Disseram-

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me que a mãe tinha sido presa pouco antes de dar à luz. As crianças comiam a mesma comida que suas mães, que consistia de milho e feijão. Elas reclamaram da má qualidade da comida. Não recebiam sabão.

A maioria delas estava em prisão preventiva, algumas até um ano. Algumas nem tinham sido acusadas. Outras deveriam ter ficado detidas na Prisão Central de Maputo, mas com o espaço limitado nessa prisão, tinham sido enviadas para esta. As prisioneiras condenadas e as em prisão preventiva conviviam na mesma cela. Não tinham uniforme.

O cancelamento das visitas devido ao surto de cólera era uma razão de muita reclamação, pois assim elas não recebiam nada para melhorar sua dieta: a comida trazida pelos visitantes. Outras reclamações eram que não tinham medicamentos suficientes, a falta de recipientes para água e a impossibilidade de deitarem fora a água suja.

As celas pareciam melhores que as dos reclusos homens. As mulheres tinham camas e cobertores.

Celas disciplinares

Algumas celas continham roupas, chávenas e escovas de dente, o que levava a crer que as celas eram habitadas, mas não se viu ninguém naquele momento.

O Director deu-me as boas-vindas e disse-me que acolheria qualquer ajuda que a Comissão pudesse dar para melhorar as condições na prisão. Ele também pediu desculpas pelo mal-entendido sobre as conversas em particular com alguns reclusos no início da visita. Ele não tinha recebido instruções para as permitir.

17 de dezembro de 1997

Prisão Central de Beira

A prisão localiza -se dentro da cidade, e os presos conseguem ver um pouco da vida fora da prisão através das janelas. Uma parede de uns 2 metros de altura circunda a prisão.

Luís Seberto Tsueane, o Director, parecia estar verdadeiramente surpreso em nos ver, pois não tinha recebido notificação da nossa visita. Contudo, acolheu-nos muito bem e concordou em conversar connosco, assim como permitiu uma visita às celas e outras secções da prisão.

Construída há aproximadamente 80 anos, nunca foi renovada. Foi planeada para alojar 150 reclusos, mas continha 626 no momento da minha visita, 17 dos quais eram mulheres. Embora não fosse possível estabelecer o número exacto de jovens adultos (16 a 21 anos) de imediato, sabia-se que era a maioria, pois constituíam o grupo criminoso mais activo. Nenhum dos reclusos tinha menos de 16 anos.

206 ainda não tinham sido formalmente acusados, 218 estavam esperando julgamento e 202 já tinham recebido sentença. O período médio de prisão preventiva era de 6 meses a 1 ano. Todas estas categorias de reclusos estavam misturadas: faziam tudo junto devido à exiguidade do espaço. A prisão tinha 66 funcionários (guardas e pessoal administrativo). Havia uma prisão nova, que o Director desejava mostrar, mas que não pudemos ver por falta de tempo, que irá alojar todos os reclusos da Prisão Central de Beira quando ficar pronta. Localizada perto de Beira, deveria ter ficado pronta há muito mais tempo se não fosse a falta de verba.

Saúde • Havia um posto de saúde com uma enfermeira. Os casos sérios eram transferidos

para hospitais. Aqueles que podiam, pagavam pelos medicamentos mais caros, pois o posto de saúde só tinha medicamentos básicos.

Alimentação

Era um problema para a administração da prisão. Se tivesse uma cozinha na prisão, os reclusos poderiam receber 2 refeições diárias. Mas devido ao facto que as refeições eram preparadas a certa distância da prisão, o que se devia comer em duas refeições, era misturado o e preparado uma vez por dia (600 g por prisioneiro).

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Rebeliões

Houve uma rebelião em 1993 quando os reclusos em prisão preventiva exigiram julgamento imediato.

Castigo

O único castigo era a prisão solitária em celas disciplinares. A gravidade da infracção é que determinava a duração deste castigo. O período máximo de detenção em solitária era 30 dias, mas em alguns casos raros (evasão ou tentativa de evasão) poderia chegar a 60 dias. Havia apenas duas saídas por dia das celas disciplinares e estas eram para ir aos sanitários.

Higiene

A prisão não tinha dinheiro para comprar sabão ou material de limpeza para os reclusos. De outubro a dezembro, portanto, não houve nenhum fornecimento de sabão. A alimentação era a preocupação prioritária para o Director, que exprimiu a sua esperança de que o novo orçamento permitiria atender às necessidades dos reclusos. Ele observou que não recebia nenhuma assistência de outra fonte além do orçamento.

Visitas e Correspondência

Um prisioneiro tem direito a 2 visitas por mês, embora em casos de emergência sejam permitidas visitas suplementares. Os reclusos têm direito a escrever e a receber cartas sem limite. As cartas que saem e entram, estão no entanto sujeitas a censura.

Formação de Guardas

Eles foram formados, mas a sua moral estava baixa na medida em que o trabalho se tornava mais difícil com a superlotação e os problemas criados por esta. O relacionamento entre guardas e reclusos em geral era bom, mas de vez em quando alguns guardas agrediam os reclusos. Sempre que isso acontecia, os guardas eram disciplinados.

Jogos

A prisão era tão pequena que não se havia espaço para quaisquer jogos.

Discussões in camera com os detidos.

No início, o Director não estava disposto a permitir que eu conversasse com os detidos a sós, pois não tinha recebido o programa da minha visita. Mas finalmente, ele deixou -se convencer.

Sector Feminino

Somente guardas femininas trabalhavam neste sector. As presas reclamaram que a comida não era bem preparada. Algumas freiras católicas visitavam e traziam leite. Uma das prisioneiras tinha uma criança pequena com ela. O Director informou que 96 prisioneiras tinham sido transferidas para uma prisão aberta no dia anterior.

A construção estava num estado geral lamentável, com manchas nas paredes e corrimões e tetos prestes a cair. As paredes estavam extremamente sujas, havia água de esgoto estagnada por toda parte e pode-se imaginar o mau cheiro que isto produzia.

Sector Masculino

Rés-do-chão

Cela 1: Ao entrar, um cheiro forte e extremamente desagradável assolava as narinas. Vários dos 18 presos estavam vestidos em trapos. Tomás Sinamunda Chawasini, de 55 anos, reclamou que precisava de cirurgia para um mal agudo no estômago. Um preso que parecia idoso disse que tinha 64 anos de idade. Outro preso estava sofrendo de tuberculose. Esta cela era reservada aos doentes e os presos disseram que recebiam medicamentos do hospital, mas em algumas ocasiões não recebiam nada.

A Cela 2 também era para doentes e estava num estado parecido com a Cela .

Cela Disciplinar

Havia 11 pessoas nesta pequena cela de aproximadamente 8 metros quadrados. Um dos presos disse que esteve preso nesta cela durante 57 dias por haver fumado uma droga. Outra pessoa , que segundo nos disseram tentou tentado escapar do hospital, estava confinada por 40 dias. Saíam duas vezes ao dia para comer e tomar banho. Nenhum deles tinha um cobertor e não havia luz na cela.

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Primeiro Andar

Todas as celas estavam extremamente superlotadas. Em nenhuma delas havia espaço suficiente para todos dormirem. A palavra "terrível" resume as condições nestas celas: é impossível imaginar como todos os presos pudessem caber nas celas. Numa conversa final com o Director da prisão em 18 de dezembro de 1997, ele indicou que a nova prisão deveria ficar pronta em julho de 1998. Seria uma prisão moderna com oficinas de marcenaria, mecânica e costura. Teria também uma cozinha, um restaurante e uma ala para agricultura. O Director queria saber sobre as condições prisionais em outros lugares. Respondi que se deveria sempre ter em mente o pano de fundo e a história de Moçambique, mas indiquei que assim mesmo era possível adoptar medidas para melhorar as condições das prisões. As minhas principais preocupações eram que:

a) a maioria dos presos eram jovens adultos que não tinham sido julgados, mas estavam junto com outros que eram criminosos;

b) a superlotação era tão grave que os presos nem mesmo tinham suficiente espaço para se sentarem confortavelmente, embora 96 deles tivessem sido transferidos no dia anterior; e

c) a cela disciplinar era simplesmente indescritível, e que não era correcto que em Moçambique existisse uma cela assim, quaisquer que fossem suas circunstâncias económicas.

Sugeri, não obstante o trabalho que isto causaria, que:

a) os detidos não julgados fossem separados dos sentenciados;

b) exercícios físicos externos fossem organizados em turnos para evitar que todos os presos estivessem fora das celas ao mesmo tempo; e

c) a cela disciplinar fosse limpa, e a chapa de ferro cobrindo a janela removida para deixar luz e ar entrar na cela.

O director, extremamente atencioso, explicou que os reclusos poderiam ser mandados para o centro aberto no interior do país caso se tiverem bom comportamento. Aqueles que continuavam na prisão eram aqueles cuja conduta não era consistente com o regime de prisão aberta.

Finalmente, exprimi a esperança de fazer uma visita de acompanhamento no futuro próximo.

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Delegacia Central de Polícia de Beira

Eu informei o Sr Francisco Chaneiro, Comandante, e o Sr Alberto Nete, Chefe da Administração, sobre a minha missão. Isto realizou-se após confirmação de que eu tinha autorização para a minha visita do Ministério do Interior em Maputo.

Celas

Havia 180 detidos em 5 celas no momento de minha visita. Eles recebiam uma refeição por dia. Uma cela de trânsito onde eram colocados os recém-chegados durante no máximo 24 horas foi o cenário da minha primeira conversa particular com presos na delegacia. O comandante concordou facilmente com este tipo de conversa. Dois dos presos disseram que estavam nesta cela há 4 e 9 dias respectivamente. Eles limpavam os sanitários com as mãos nuas.

Uma cela com 72 presos entre 18 e 21 anos de idade não tinha camas e quase não havia luz. A maioria deles disse ter ficado na cela há mais de 46 horas, alguns por 30 dias ou mais. Um dos presos reclamou que ele era menor de 16 anos de idade, mas não tinha nenhum documento para prová-lo. Isto foi negado pelo Oficial de Polícia responsável pela investigação criminal. Era permitido aos presos que saíssem três vezes durante 30 minutos cada vez.

Eu entrei em mais duas celas, mas não havia nada fora do comum para relatar.

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19 de dezembro de 1997

Prisão Central de Nampula

Foi muito valioso ter a companhia de um membro da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos durante minhas visitas em Nampula, mesmo sob uma chuva bem forte.

O Director José Ramote Fakira disse que não tinha nada a esconder e permitiu-me ver o gráfico da organização e o estado dos presos na parede de seu escritório. Há um chefe dos guardas subordinado ao director provincial. Dois outros oficiais eram responsáveis pelas operações e a administração. Havia 5 guardas.

Uma cela disciplinar não continha nenhum preso. A prisão tinha um total de 438 presos, dos quais 286 em prisão preventiva e 152 sentenciados. Havia apenas 5 mulheres presas. A duração da prisão preventiva era entre 90 e 120 dias, embora a lentidão do processo no tribunal às vezes fizesse esticar esse período para 6 meses, o maior tendo sido de 8 meses. Os adultos jovens não ficavam separados dos outros adultos. Em geral, os presos sentenciados eram alojados em celas diferentes dos que tinham prisão preventiva, e também eram mantidos separados durante os exercícios ao ar livre. Entre os sentenciados não havia categorização de acordo com a duração da sentença ou o tipo de delito cometido devido à limitação de espaço.

Alimentação

Eram servidas 3 refeições diárias aos presos: farinha de milho com açúcar para o pequeno almoço, farinha de milho e feijão para o almoço, e arroz e peixe seco para o jantar. Além disso, os presos podiam receber duas refeições por dia de fora da prisão.

Saúde

Um posto de saúde providenciava assistência médica para os doentes. Os casos graves eram levados ao hospital em Nampula.

Castigo

O confinamento numa cela disciplinar era o único castigo conhecido pela administração da prisão. Um preso confinado podia sair de manhã durante meia hora para tomar banho e tomar ar.

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Visitas

Tanto os detidos em prisão preventiva como os sentenciados podiam receber duas visitas por semana.

Correspondência

Os presos podiam escrever cartas duas vezes por mês, mas este direito quase nunca era exercido. O correio era censurado.

Higiene

Os presos tinham acesso a água. Também recebiam sabão duas vezes ao mês.

Perdão

A última amnistia foi dada sob o finado presidente Samora Machel. A liberdade condicional pode ser dada após 6 meses para detidos com prisão preventiva, e depois de cumprida metade da sentença no caso dos reclusos sentenciados que tenham bom comportamento.

Centro Aberto

Um, para a agro-pecuária, ficava no distrito de Rex. Os reclusos com bom comportamento podiam ser mandados para lá.

Visita às Celas

Os presos confirmaram que recebiam três refeições por dia. Dois deles reclamaram que estavam presos sem julgamento desde 1995. Três disseram que tinham 15 anos de idade. Eles podiam sair das celas duas vezes ao dia durante 1 hora cada vez. Não havia suficiente espaço para dormir (estado normal das coisas) nas celas e alguns presos dormiam encurvados ou simplesmente sentados. Alguns até dormiam no casa de banho.

Vestuário

Não havia uniforme fornecido pelas autoridades. Muitos presos estavam vestidos em trapos.

Segurança

Alguns presos eram líderes das celas, responsáveis pela ordem e segurança nas suas celas.

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Celas

Um porta-voz dos detidos com prisão preventiva reclamou sobre a duração excessiva da prisão preventiva. Não tinham problemas com os guardas ou a administração da prisão que acreditavam estarem fazendo o melhor que podiam. Mas ele estava muito irado com a polícia que levava muito tempo nas suas investigações, resultando em detenções muito longas. Alguns deles estavam na prisão por delitos mínimos tais como roubar uma galinha ou uma camiseta. Ele convidou o governador para ver com seus próprios olhos.

Fiquei impressionado com a pouca idade da maioria dos presos na cela de prisão preventiva e perguntei quantos dentre eles tinham pais. Mais da metade disse não ter pais; provavelmente foram vítimas da guerra. Estes órfãos não recebiam assistência nenhuma de fora.

Estrangeiros

Havia 2 tanzanianos entre os detidos em prisão preventiva.

Cela para Sentenciados

Como no caso da cela dos detidos com prisão preventiva, a superlotação era tanta que não era possível os presos dormirem deitados - simplesmente sentavam.

Havia um preso gravemente doente deitado numa varanda, que não havia sido levado ao hospital, e ninguém parecia se importar. A morte não parecia muito distante.

Cela 3

Os sentenciados estavam misturados com os detidos em prisão preventiva. Esta cela era relativamente espaçosa. Os 23 ocupantes eram responsáveis por várias tarefas na prisão.

Cela Feminina

Das cinco com entrada nos registros da prisão, três tinham sido enviadas a uma prisão-fazenda, deixando somente duas na cela. A cela disciplinar quase não tinha janela. Até cinco pessoas ficavam confinadas aqui embora fosse difícil imaginar como seria possível conter até mesmo duas pessoas. Parecia ter fezes no chão.

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Delegacia de polícia do primeiro esquadrão, Nampula

Havia 4 esquadras da polícia em Nampula, e a que eu visitei era a esquadra central.

Enquanto esperava permissão do comandante provincial para visitar as celas, vi um menino de 13 anos que tinha sido preso por vender cassetes na rua. Havia testemunhas que me disseram que ele já estava na rua há mais de uma hora e previram que a polícia iria apreender as mercadorias, e assim aconteceu. O menino foi libertado sem as cassetes. Duas outras pessoas, aparentemente maiores de 16 anos, também estavam na esquadra da polícia por um delito semelhante.

Havia 133 detidos nas celas, detidos ali durante 16 a 30 dias, embora o limite legal fosse 48 horas.

Ao chegar, o comandante declarou que os suspeitos passavam 40 a 60 dias na esquadra da polícia antes de serem transferidos a uma prisão.

Castigo

A sanção por infracções aos regulamentos era o confinamento em cela disciplinar. Devido à superlotação, a cela disciplinar era utilizada para acomodar suspeitos.

Alimentação

Era servida uma refeição por dia.

Vestuário

Os presos recebiam uniformes.

Visitas

Os presos podiam receber duas visitas por mês.

O Comandante não me permitiu ter uma conversa privada com nenhum dos presos.

Cela A

Os presos reclamaram que limpavam as fezes com as próprias mãos. Outra reclamação era que os uniformes não eram lavados, embora fossem passados de um preso para outro. A maioria deles dormia no chão. Também comiam sempre a mesma comida..

Um dos presos, que o aparentava, disse que tinha 14 anos. Selemane Mussa disse que embora estivesse preso há 4 dias, não sabia o que havia feito para isso.

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20 de dezembro de 1997

Antes de partir de Nampula, fui entrevistado na radio por Rafael D. Ornar da Radio Moçambique, que também é membro da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos. A entrevista centrou-se na Comissão, no meu mandato, na missão a Moçambique e nas minhas averiguações. Dei uma indicação geral dos esforços feitos pelas autoridades; as dificuldades financeiras e materiais enfrentadas em Moçambique; a abertura das autoridades e sua boa vontade em receber recomendações e não esconder as condições das prisões; mas realcei que havia ainda certas coisas que poderiam ser feitas para melhorar a situação.

20 de dezembro de 1997

Centro Aberto Hanhane, Matola

Este situa-se aproximadamente a 2 quilómetros de Maputo. Havia dois centros como este na vizinhança de Maputo e pelo menos um em cada uma das 10 províncias de Moçambique.

O Director Nacional das Prisões sob o Ministério da Justiça e Danilo Nala da Liga Moçambicana de Direitos Humanos acompanharam-nos nesta visita.

O Centro foi estabelecido em 1986 para mulheres, mas desde então também para là foram enviados homens . Na ocasião da minha visita, havia 6 mulheres e 8 homens, embora o centro tivesse capacidade para 25 presos. Homens e mulheres viviam em edifícios diferentes. O das mulheres era melhor que o dos homens no que se referia às condições para dormir. As guardas eram todas mulheres.

O Director explicou que os presos em centros abertos geralmente eram aqueles que já tinham cumprido a maior parte das suas sentenças e iam ser em breve postos em liberdade. Além disso, deveriam ter bom comportamento. O centro também era usado para avaliar a conveniência de se libertar os presos que deveriam estar sob liberdade condicional. Uma ideia importante para os centros abertos era que ajudassem a reintegrar os presos na sociedade. As duas habitações do centro eram quase totalmente circundadas por duas fazendas com laranjeiras, limoeiros, mangueiras, pereiras, e plantações de milho, feijão, mandioca e papaia.

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21 de dezembro de 1997

Eu tive uma conversa com a Srta Mabote, Directora Executiva da LMDH. Esta organização é a maior entidade local que trabalha na área da promoção e protecção dos direitos dos reclusos. Alguns jornalistas e organizações não-governamentais também trabalham nesta área.

22 de dezembro de 1997

Prisão Provincial de Xai-Xai

Xai-Xai é uma pequena cidade na Província de Gaza localizada a 200 quilómetros ao norte de Maputo. A partir de Maputo, fica logo após o Rio Limpopo. Também se atravessa o Rio Nkomati no caminho de Maputo para Xai-Xai.

Xai-Xai tem uma rua principal, larga e bem asfaltada, com calçada e árvores de ambos os lados.

Os oficiais da prisão tinham sido avisados sobre a minha visita e estavam à minha espera. Como sempre, uma conversa com o Director, Domingo Chambal, precedeu a visita às celas e outras partes da prisão.

Conversa com o Director

Num quadro negro atrás da escrivaninha do Director havia estatísticas vitais da prisão. 118 dos presos estavam em prisão preventiva, enquanto 53 tinham já sido condenados, fazendo um total de 171. 166 eram homens e 5 mulheres. Três destas cinco estavam sob a responsabilidade do Ministério do Interior.

Não havia registro do número de órfãos na prisão e também não se sabia ao certo quantos jovens adultos tinham sido presos.

Foi construída em 1946 para conter 70 presos (informação parcialmente fornecida pelo Director).

Embora os homens e as mulheres ficassem separados, o mesmo não se passava com os sentenciados e os em prisão preventiva devido à exiguidade do espaço.

Alimentação

Eram servidas três refeições por dia aos presos. Estas consistiam de milho, arroz, feijão e peixe.

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Quando perguntei como as autoridades prisionais podiam fornecer três refeições diárias, o Director respondeu que os presos trabalhavam em fazendas e eram pagos. Gaza também era uma província agrícola e a prisão tinha uma fazenda. 46 dos presos trabalhavam na fazenda da prisão no dia da visita.

Embora estivesse situada perto do Rio Limpopo, o fornecimento de água era um problema para a prisão. A própria cidade não tinha água encanada.

Crimes Comuns: Roubo, homicídio e furtos eram os crimes comuns naquela área.

Religião

Membros de diferentes igrejas pregavam na prisão nos domingos e quartas-feiras.

Visitas

Os presos podiam receber duas visitas por mês, geralmente no primeiro e terceiro domingo do mês. Visitas de emergência eram permitidas nos outros dias.

Correspondência

Os presos podiam escrever e receber cartas a qualquer momento, mas este direito era raramente exercido. A maioria dos presos vinha da província e recebia visitas de suas famílias.

Castigo

Aqueles que infringiam os regulamentos da prisão eram confinados em celas disciplinares até 5 dias. Os presos para quem a segurança máxima era necessária (por exemplo, que tentassem evadir-se) também eram confinados nas mesmas, mas a estes permitia-se um pouco de liberdade para sair durante o dia.

Visitas às Celas

8 dos 171 presos não dormiam nas celas. Viviam nas suas casas e trabalhavam fora da prisão. Eram seleccionados pelo seu bom comportamento e este era um exercício em reabilitação para preparar sua volta à sociedade.

Sector Feminino

Era bastante espaçoso. Das 8 presas, duas tinham ido trabalhar fora da prisão. Uma das presas reclamou da qualidade da comida e das condições para dormir. Algumas dormiam em sacas de arroz sem colchões ou cobertores. Outra reclamou que sua família não sabia que ela estava presa. Uma detida com prisão

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preventiva tinha uma criança de sete meses que tinha um mês de idade quando sua mãe foi presa. Às vezes trabalhavam em fazendas, e a mãe também trabalhava com a criança amarrada às costas.

Cozinha

A comida que estava a ser preparada era feijão com peixe.

Sector Masculino

Tinham 6 celas de tamanhos diferentes e duas celas disciplinares. A maioria das celas não tinha camas e muito pouca penetração de luz natural.

Conversas com Presos sem a presenca de Oficiais

O Director encorajou-os a falar sem inibição. No entanto, dois presos disseram que tinham medo de falar. Outro disse que estava em prisão preventiva há 3 anos e não sabia quando ia se realizar o seu julgamento. Outra reclamação era que a comida não era bem preparada. Alguns estavam muito ressentidos com o Director pois ele não fazia a ronda das celas para descobrir em que condições se encontravam tanto os presos como as celas, embora seu suplente o fizesse. Não lhes era dado uniforme. Distribuía-se sabão de três em três meses. Eram assaltados na fazenda pelos guardas. Havia um paciente psiquiátrico entre os presos.

Visitas

Não era problema. Recebiam visitas das famílias e de certas ONGs.

Delegacia de Polícia de Xai-Xai

47 pessoas estavam nas celas, três das quais eram mulheres. A duração da estadia na esquadra era de 48 horas a 3 meses.

Alimentação

Os reclusos recebiam por dia duas refeições de feijão e milho.

Vestuário

Um uniforme era fornecido.

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As medidas estritas de segurança impossibilitavam as tentativas de evasão.

Reclamações dos presos

Para se ser libertado, era necessário dar dinheiro. Não se deixava a alguns jogarem futebol. Ficavam trancados nas celas por tempo excessivo. Eram assaltados por guardas usando cacetetes, as mãos e os pés. Os que não tinham dinheiro para pagar aos investigadores não tinham seus casos investigados e, portanto, ficavam presos por períodos muito longos. A comida fornecida pelas autoridades era mal preparada. A comida trazida pelas visitas nem sempre chegava às mãos dos presos a quem se destinava. Na secção de jovens adultos, por exemplo, o "chefe" (deste grupo) ficava com uma da comida e dava uma parte para outros. Não havia sabão. Um jovem adulto que tentou escapar quando estava fumando uma droga foi baleado. Ele ficou em Macheva durante 3 meses sem ser levado para o hospital.

Em duas das casas de banho, a água corria sem controle. O encanamento para água no pátio, no entanto, estava sendo consertado.

Cela Disciplinar

Não seria fácil para as quatro pessoas que ficavam nesta cela encontrarem espaço para dormir.

Sector de Presos Perigosos

Os presos neste sector não podiam sair de suas celas. Um deles estava ali desde setembro de 1996. A maioria dos presos estava sendo guardados a pedido da polícia. Um deles estava a cumprir uma pena de 12 anos.

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RECOMENDAÇÕES

As recomendações seguintes foram feitas levando em conta o fardo que os moçambicanos carregam em consequência da longa guerra de independência e à luta interna entre a FRELIMO e a RENAMO.

1. Deve-se tomar medidas para apressar a investigação de casos e o julgamento das pessoas acusadas. Isto irá diminuir a carga do governo ao reduzir o número de presos que vivem às custas do mesmo.

2. Devem ser tomadas medidas urgentes para estabelecer regimes e programas para tratar de delinquentes juvenis. Se isto não for feito, este jovens irão "graduar" para as prisões ao chegar à idade adulta.

3. As sentenças alternativas, tais como o serviço à comunidade, deverão ser exploradas e implementadas para descongestionar as prisões e não interromper a vida em sociedade daqueles que cometerem infracções menores.

4. As alegações de corrupção da polícia e de guardas de prisão devem ser investigadas e deve-se tomar medidas disciplinares.

5. Devem ser feitos esforços para evitar os assaltos aos presos, e os guardas responsáveis pelos assaltos devem ser punidos.

6. Deve ser dirimida a impressão nítida que se tem de que os presos muito doentes são abandonados pelos guardas para morrerem, obrigando-os a pelo menos levarem estes doentes para o hospital.

7. As realidades duras da vida tornam imprescindível uma nova avaliação da criminalização da actividade de mascate. Enquanto esta actividade continua sem o menor impedimento e sem consequências criminais, mesmo para os velhos de Maputo, parece imoral que as mercadorias de menores de idade, que estão lutando para sobreviver, sejam confiscadas em Nampula

8. Com vistas a suplementar os esforços do governo para realizar a reforma penal, o governo deveria encorajar as ONGs a se interessarem pelas prisões e os presos.

9 . Onde os presos cultivam árvores frutíferas e outros alimentos, como na 39

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Prisão Central de Maputo, sua dieta deve ser complementada pelos frutos do seu trabalho.

10. O método tradicional de fazer sopa deveria ser reavaliado tendo como fim o fabrico para uso na prisão. Isto poderia ser produzido nos Centros Abertos. Irá também contribuir para a reabilitação dos reclusos nesses Centros.

11. Utensílios simples como vassouras e pás de madeira podem ser fabricados pelos presos no Centro Aberto para fornecer às prisões para sua limpeza.

COMENTARIOS DO GOVERNO DO MOÇAMBIQUE

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

MINISTRIO DA JUSTIÇA

Gabinete do Ministro

Excelentíssimo Senhor Professor E.V.0 Dankwa Faculdade de Direito da Universidade de Gana Legon-Gana.

Maputo, aos 28 de Agosto de 1998 382/SIC-GMJ/98

Assunto: Relatório da Missão sobre as Prisões em Moçambique - 14-21/12/97

Estimado Senhor Professor

Acuso a recepção da vossa carta datada de 28 de Maio corrente reportando sobre o estado da população prisional em Moçambique.

Desjo através desta carta manisfestar os meus agradecimentos pela análise descritiva do relatório e pelos seus breves comentarios sobre a situaçáes por si constatadas.

Como V.Excia. teve a ocasião de verificar, as prisões em Moçambique carecem de melhorias substanciais em infra-estruturas, equipamento, dieta alimentar dos reclusos, formação sobre tratamento de prisioneiros dos guardas prisionnais,

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introdução de sistemas alternativos de cumprimento da pena, reforço de actividades produtivas, educativas desportivas, e de reabilitação do próprio recluso, situações que vão sendo sanadas de acordo com as reformas que vão decorrendo na área prisional.

Pretendo tambén esclarecer à V.Excia. sobre os prazios de prisão preventiva indicados na lei, em relação aos quais V.Excia, reporta no seu relatório, carecendo, porém, de precisão. A Lei consagra prazos distintos de duração da prisão preventiva, consoante se trate de prisão preventiva com ou sem culpa formada vejamos então:

Nos casos da prisão preventiva sem culpa formada:

A Lei estabelece dois períodos de prisão preventiva sem culpa formada a saber:

a) a que vai até à notificação do arguido da acusação ou do pedido de instrução contraditória;

Para o primeiro período; teúos os prazos constantes do § 1° do Art° 380° do Código do P. Penal que são os seguintes:

- 20 dias, por crimes dolosos, a que caiba pena correccional de prisão superior a um ano;

- 40 dias, por crimes a que caibam penas de prisão maior;

90 dias, para crimes que estão dentro da jurisdição exclusiva da Polícia de Investigação Criminal (PIC) (por ex: falsificação de notas, tráfico de estupefacientes, etc.) ou que nos casos de competéncia deferida, em que o deferimento da competência compete ao Procurador Geral da República;

Estes prazos contam-se a partir da data de captura.

b) A posterior até a pronóncia;

Para o segundo período, ou seja, nos casos de prisão preventiva até ao despacho de pronóncia, temos o §2° do mesmo artigo, que establece os seguintes prazos:

• 3 meses, se à infracção couber pena a que corresponda o processo e polícia correccional;.

• 4 meses para crimes que podem levar a pena após o julgamento.

Estes prazos contam-se, já não a partir da data de captura, mas sim a partir da notificação ao arguido da acusação que sobre si impende ou do pedido de

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instrução contraditória.

Findo aqueles prazos é obrigatória a libertação do Arguido, que será colocado em liberdade provisória mediante caução e submetido a determinadas obrigaçáes impostas pelo Juiz.

Relacionado com a liberdade provisória e com as obrigaçáes inerentes à mesma, a lei estabelece um prazo especial da prisão preventiva para as situaçáes de não cumprimento dessas obrigaçáes. Assim, os prazos de prisão preventiva, verificandose essenão cumprimenton são os correspondentes à infracção cometida.

Existe um excepção que diz respeito aos casos de inadmissilidade de liberdade provisória. Nestes casos, o Juiz poderá, depois de ouvido o Ministério Publico, e o defensor do arguindo, em despacho fundamentado, marcar desde logo a data des diligéncias que repute indispensáveis para a ultimação da instrução e prorrogar os referidos prazos por período não excedente a 60 dias.

Para os casos de prisão preventiva com culpa formada:

Havendo réus presos e a duração da prisão preventiva até ao julgamento tenha ultrapassado 1 ano nos processos de querela, 6 meses nos processos de polícia correccional e 3 meses nas res(antes formas de processo, o Ministério Publico informará do facto ao Procurador Geral da República que tomará ou proporá as providencias adequadas, nos termos do Art°337° do Código do P. Penal, podendo requerer ao Tribunal Supremo que marque data para julgamento.

Terminando expressando votos para que o seu trabalho, na qualidade de Comissário de Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, contribua positivamente no conjunto geral das políticas prisionais a serem introduzidas, e aperfeiçoadas pelos Governos dos nossos países.

Aceite a expressão dos meus elevados votos de consideração.

O Ministro da Justiça José Ibraimo Abudo

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Mandato

1. De acordo com o seu mandato sob o artigo 45 da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (A Carta), a Comissão África dos Direitos do Humanos e dos Povos (A Comissão), cria a posição de Relator Especial sobre as Prisões e as Condições Prisionais em África.

2. O Relator Especial tem o poder de examinar a situação das pessoas privadas da liberdade dentro dos territórios dos Estados-Parte na Carta Africana dos Direitos do Humanos e dos Povos.

Métodos de trabalho

3. Relator Especial deverá

3.1 Aminar o estado dos estabelecimentos prisionais e das condições de detenção em África e fazer recomendações com o fim de as melhorar;

3.2 Defender a aderência à Carta e às normas e padrões internacionais de direitos humanos, relacionados com os direitos das pessoas privadas da liberdade e as condições em que estas se encontram, examinar as leis nacionais e os regulamentos nos respectivos Estados-Parte e a sua implementação, assim como fazer as recomendações apropriadas em relação à conformidade com a Carta e com os tratados e as normas internacionais;

3.3 Fazer recomendações à Comissão em relação a comunicações a esta apresentada por indivíduos que tenham sido privados da liberdade, pelas suas famílias ou representantes, por ONGs ou por outras pessoas ou instituições;

3.4 Propor qualquer acção urgente apropriada;

4. O Relator Especial deverá levar a cabo estudos sobre as condições ou situações que contribuam para a violação dos direitos humanos das pessoas privadas da liberdade e recomendar medidas de prevenção. O Relator

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5. O relatório deverá ser publicado e divulgado de acordo com as disposições pertinentes da Carta.

Métodos de implementação do mandato

6. O Relator especial deverá solicitar e receber informações dos Estados -Parte na Carta, de indivíduos, de organizações e instituições nacionais e internacionais, assim como de outras entidades relevantes, sobre casos ou situações que estejam dentro do âmbito do mandato como acima descrito.

7. De forma a que o mandato seja eficaz o Relator Especial deverá receber todo o auxilio e cooperação necessária para poder levar a cabo visitas aos estabelecimentos e receber informações por parte de indivíduos que estejam privados da liberdade, pelas suas famílias ou representantes, por parte de organizações governamentais e não- governamentais e por outras pessoas.

8. O Relator Especial deverá solicitar cooperação com os Estados-Parte e garantias por parte dos mesmos, que as pessoas, organizações ou instituições que estão a fornecer as informações ao Relator Especial não irão ser prejudicadas por esse motivo.

9. Todos os esforços possíveis iram ser feitos para que o Relator Especial possa ter os recursos necessários para levar a cabo o seu mandato.

Duração do mandato

10. Este mandato terá uma duração inicial de dois anos que poderá ser renovada pela Comissão.

Prioridades do mandato para os dois primeiros anos

11. O Relator Especial deverá concentrar-se nas actividades seguintes e deverá em cada caso prestar atenção especial aos problemas relacionados com o género.

11.1 Avaliar as condições de detenção, realçando as áreas problemáticas principais inclusive: condições prisionais, matérias de saúde, detenção

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Especial deverá coordenar as suas actividades com as actividades de outros Relatores Especiais e com Grupos de Trabalho da Comissão Africana e das Nações Unidas. O Relator Especial deverá apresentar perante a Comissão um relatório anual.

TERMOS DE REFERÊNCIA PARA O RELATOR ESPECIAL SOBRE AS PRISÕES E AS

CONDIÇÕES PRISIONAIS EM ÁFRICA

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ou prisão arbitrária ou extra-legal, tratamento das pessoas privadas da liberdade; condições de detenção em relação aos grupos vulneráveis como: refugiados, pessoas com deficiências físicas ou mentais, e crianças. O Relator Especial deverá tomar em consideração os dados fornecidos pelos Estados e por outras fontes pertinentes.

11.2 Fazer recomendações especificas com o objectivo de melhorar as condições prisionais e as condições de detenção em África e criar mecanismos de prevenção para que se evite a ocorrência de desastres e epidemias nos locais de detenção.

11.3 Promover a implementação da Declaração de Kampala sobre as Prisões e as Condições de Detenção em África.

11.4 Propor se necessário, à Comissão Africana, ao fim dos dois anos de duração, uma revisão aos termos de referência e um programa completo para o estágio seguinte.

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Composição Penal Reform International

84 rue de Wattignies 75012 Paris

France Tel.: 33 1 55 78 21 21 Fax: 33 1 55 78 21 29

e-mail: [email protected]

com o apoio da NORAD (Agência Norueguesa para o Desenvolvimento e a Cooperação)

1999