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Superintendente Regional do Trabalho de São Paulo fala de sua experiência à frente do cargo JANEIRO 2010 - 7ª edição - ANO IV - TRIMESTRAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA www.sintetel.org [email protected] Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo EM REVISTA Nos últimos anos o movimento sindical tornou-se sujeito da história. Mesmo defendendo causas relevantes e influenciando avanços trabalhistas, a grande mídia prefere deixá-lo em segundo plano.

7 - O grito que a mídia quer calar

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Linha Direta - Revista do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações no Estado de São Paulo – SINTETEL-SP

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Superintendente Regional do Trabalho de São Paulo fala de sua experiência à frente do cargo

O grito que a mídia quer calar

JANEIRO 2010 - 7ª edição - ANO IV - TRIMESTRAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA [email protected]

Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo

EM REVISTA

Nos últimos anos o movimento sindical tornou-se sujeito da história. Mesmo defendendo causas relevantes e influenciando avanços trabalhistas, a grande mídia prefere deixá-lo em segundo plano.

GUIA DE CONVÊNIOS PROPORCIONA VANTAGENS PARA OS ASSOCIADOS DO SINDICATO

O Sintetel tem consciência de que o custo de vida tem ficado cada

vez mais alto e que, por isso, qualquer centavo economizado faz

diferença no final do mês. Pensando nisso, o Sindicato disponibiliza

para seus associados um Guia de Convênios que lista as parce-

rias firmadas entre a entidade e prestadores de serviços dos mais

diversos ramos de atividade. Entre os conveniados estão hotéis,

faculdades, academias, médicos, psicólogos e farmácias.

Esses convênios proporcionam descontos aos sócios e, em alguns

casos, também aos seus dependentes. O Guia está organizado por

região e em ordem alfabética, tudo para facilitar a vida de quem

procura um bom negócio.

Atualizada anualmente, a publicação com a lista dos convênios

está em sua 5ª edição e também pode ser encontrada no site

www.sintetel.org.

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LINHA DIRETA em revista 3

ÍNDICE

EM REVISTA

Editorias

4 Editorial

10 Subsedes

16 Aposentados

23 Notícias

24 Comunicando

28 Mulher

30 Cultura

33 Passatempo

Artigos

32 Faça-se JustiçaJoão Guilherme Vargas Netto

34 Boas FestasPaulo Rodrigues

Entrevista - José Roberto de Melo........................................ 5Superintendência Regional do Trabalho sob nova direção

Cidadania - Um gesto vale mais que mil palavras .................. 8Centro de Formação Profissionalizante dá curso sobre Libras

Fique por dentro - Kindle .................................................. 13Leitor digital de livros chega ao Brasil

Sindicalismo na tela - Lula - O Filho do Brasil .................. 14Estreia nos cinemas filme sobre a história do presidente

Saúde - Lei antifumo ............................................................. 1894% dos paulistas aprovam a iniciativa

Capa - O despreparo da grande mídia ................................... 20Entenda porque a imprensa deprecia o movimento sindical

Greve - Trabalhadores da Tivit cruzam os braços ................... 25Movimento vitorioso exigia cumprimento da Convenção Coletiva

Celebração - Dia Nacional da Pessoa com Deficiência ........ 26Sintetel e Apse comemoram a data

Apresento com orgulho a 7ª edição de Linha Direta em Revista. A partir de 2010, esta publicação será tri-mestral. Ou seja, neste ano que se inicia teremos uma edição a mais e isto já fazia parte do projeto original, bastava apenas constatar a aceita-ção do veículo. E para nossa sur-presa, os elogios vieram de todos os segmentos; isto nos dá força para prosseguir e aperfeiçoar cada vez mais nossa comunicação.

Temos muito que comemorar em 2009. O ano foi repleto de vitórias e realizações. Vale destacar que o Sintetel assinou a 1ª Convenção Coletiva do setor de teleatendimento, realizamos uma greve vitoriosa na Tivit, participamos do 3º Congresso da Fenattel que marcou a reunificação da categoria e retomamos a caminhada com a nova diretoria renovada em 60% de seus membros. Além disso, o Sintetel esteve presente em acontecimentos importantes como na 6ª Marcha da Classe Trabalhadora e na 1ª Confecom, entre outras atividades com dimensão nacional.

O ano de 2010 será atípico. Teremos a Copa do Mundo, eleições gerais, os desdobramentos da 1ª Confecom, realizada recentemente em Brasília, além de nossas habituais tarefas.

Este é o primeiro ano da nova diretoria do Sintetel e não foi por coincidên-cia que adotamos o slogan “Sintetel – preparado para o futuro”. Estamos predispostos a enfrentar novos desafios, além de trazer inovações à nossa prática sindical.

Estamos em processo de implantação de um Departamento de Cultura, Esporte e Lazer, sob o comando da Secretaria de mesmo nome e da diretoria Social. O objetivo é trazer o jovem trabalhador para o Sindicato e oferecer-lhes um leque de opções nas áreas descritas pelo departamento. Vamos inovar e revolucionar a categoria com a realização de festivais, campeonatos, concursos, somados à nossa prática de luta que demonstramos na vitoriosa greve na Tivit (confira reportagem completa ainda nesta edição).

Fato importante que quero destacar é que, nas próximas eleições, centraremos a força da categoria telefônica para eleger o companheiro Gilberto Dourado trabalhador em telecomunicações como nosso representante na Assembléia Legislativa. Boa leitura.

* Almir Munhoz é presidente do Sintetel.

4 LINHA DIRETA em revista

Preparados para o futuro

EDIToRIAL

Almir Munhoz *

DIRETORIA DO SINTETEL

Presidente: Almir Munhoz

Vice-Presidente: Gilberto Rodrigues Dourado

Diretoria Executiva: Cristiane do Nascimento, Fábio Oliveira da Silva, José Carlos Guicho, Joseval Barbosa da Silva e Marcos Milanez Rodrigues.

Diretores Secretários: Alcides Marin Salles, Ana Maria da Silva, Aurea Meire Barrence, Germar Pereira da Silva, José Clarismunde de Oliveira Aguiar, Kátia Silvana Vasconcelos de Barros, Maria Edna Medeiros e Welton José de Araújo.

Diretores Regionais: Elísio Rodrigues de Sousa, Eudes José Marques, Jorge Luiz Xavier, José Roberto da Silva, Ismar José Antonio,

Genivaldo Aparecido Barrichello e Mauro Cava de Britto.

Jurídico: Humberto Viviani [email protected]

OSLT: Paulo Rodrigues [email protected]

Recursos Humanos: Sergio Roberto [email protected]

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Diretor Responsável: Almir Munhoz

Jornalista Responsável: Marco Tirelli MTb 23.187

Revisão Geral: Amanda Santoro MTb 53.062

Redação: Amanda Santoro, Emilio Franco Jr., Larissa Armani, Marco Tirelli e Pâmela Alves

Diagramação: Agência Uni (www.agenciauni.com)

Fotos: J. Amaro (www.jotamaro.com.br), Liliane Barbosa e Sandra Yumi

Colaboradores: João Guilherme Vargas Netto e Paulo Rodrigues

Impressão: Gráfica Unisind Ltda. (www.unisind.com.br)

Distribuição: Sintetel

Tiragem: 25.000 exemplares

Periodicidade: Trimestral

Linha Direta em Revista é uma publicação do Sindicado dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo | Rua Bento Freitas, 64

Vila Buarque | 01220-000 | São Paulo SP | 11 3351-8899

www.sintetel.org | [email protected]

SUBSEDES

ABC: (11) 4123-8975 [email protected]

Bauru: (14) 3231-1616 [email protected]

Campinas: (19) 3236-1080 [email protected]

R.Preto: (16) 3610-3015 [email protected]

Santos: (13) 3225-2422 [email protected]

S.J.Rio Preto: (17) 3232-5560 [email protected]

V. Paraíba: (12) 3939-1620 [email protected]

O Sintetel é filiado à Fenattel (Federação Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicações), à UNI (Rede Sindical Internacional) e àForça Sindical. Os artigos publicados nesta revista expressam

exclusivamente a opinião de seus autores.

Cartas“Gostaria de parabenizar todas as pessoas envolvidas na publi-cação de Linha Direta em Revista. Li a última edição via internet, pela página do Sintetel, e achei o formato muito bonito, de fácil manuseio, além de conter conteúdo diversificado e interessante. Os trabalhadores da região de Votuporanga, São Paulo, felicitam toda a equipe!” – Daniel Caranante, funcionário da Tel.

Você também pode enviar as suas sugestões, opiniões e comen-

tários para a redação de Linha Direta em Revista. Basta encaminhar

um e-mail para [email protected], ligar para (11) 3351-8892 ou

mandar uma carta para o seguinte endereço: Rua Bento Freitas, 64

Vila Buarque, CEP: 01220-000, São Paulo - SP

“A fiscalização é o nosso carro-chefe, mas não é a única coisa a ser feita”

LINHA DIRETA em revista 5

Desde março de 2009, a Superintendência Regional do Trabalho de São Paulo conta com um novo administrador. Conheça nesta reportagem José Roberto de Melo.

Amanda Santoro

Em março de 2009, José Roberto de Melo assu-miu a Superintendência Regional do Trabalho no estado de São Paulo com a certeza de que tarefas difíceis estariam por vir nos meses seguintes. Aos 60 anos de idade, o administrador de empre-sas – que tem duas faculdades e dois MBAs na bagagem profissional – trocou o sossego de uma confortável aposentadoria pela inédita escolha de gerenciar um órgão público.

Com um invejável currículo de apresentação, que engloba o trabalho como radialista na juven-tude, como professor de matemática do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e como especialista de Recursos Humanos em mul-tinacionais, José Roberto admite a inexperiência em trabalhos diretos para o Governo Federal. No entanto, nem o complicado obstáculo parece ser capaz de intimidá-lo.

Ansioso para encarar o desconhecido, o simpático José Roberto de Melo aceitou o convite de Linha Direta em Revista para ser o sétimo entrevistado da publicação. Com vistas centradas na articulação e no bom tratamento de todos os atores sociais, o atual superintendente regional do Trabalho ana-lisou francamente as perspectivas econômicas do País e as fragilidades que a sociedade brasileira de-verá enfrentar nos próximos anos.

Confira abaixo os principais trechos da en-trevista concedida à Linha Direta em Revista em seu escritório na Rua Martins Fontes, no centro de São Paulo:

Linha Direta em Revista: Como aconteceu a nomeação para o cargo de superintendente regional do Trabalho?

José Roberto de Melo: Esta é uma função políti-

ENTREVISTA

“Precisa acontecer uma desmistificação social, pois neste órgão público não existem servidores em excesso”

6 LINHA DIRETA em revista

ca, pois a nomeação se dá por meio do Ministério do Trabalho e a minha permanência caminha ao sabor das mudanças da base de sustentação governamental. Eu fico aqui en-quanto houver interesse do ministro. É a minha primeira experiência no Governo, nunca trabalhei em serviço público, mas o ministro Carlos Lupi procurava um gestor que fizesse ar-ticulação política. Trazemos aqui representantes das empresas e dos trabalhadores, englobando todos os lados, então há uma necessidade real de intermediação. Estou nesta fun-ção para tentar cumprir as metas do governo federal quanto à fiscalização das empresas e à qualificação do em-prego no Brasil.

LDR: Quais são as principais fun-ções da Superintendência?JRM: A fiscalização é o nosso carro-chefe, mas não é a única coisa a ser feita. Acho importante também a articulação e a negociação, mesmo porque são pontos que convergem com a minha história profissional. Es-tamos falando de 25 regionais e 114 agências, não só neste prédio da Rua Martins Fontes. São mais de 1.500 servidores e auditores ficais, é um

órgão muito grande. Nossos recursos são finitos, mas as demandas, como sempre, são infinitas. Cabe a nós ge-renciarmos o que temos em mãos.

LDR: Mas para que aconteça essa fiscalização o número de auditores fiscais deveria ser suficiente...

JRM: Só na Superintendência de São Paulo, de 1999 a 2009, o Ministério perdeu 15% dos auditores fiscais. Ao passo que perdemos esse número efe-tivo de gente para a função, a econo-mia brasileira cresceu cerca de 60%. Para piorar, nos próximos dois anos, mais 20% deve se aposentar ao atingir a idade. Se nada for feito, teremos uma defasagem de quase 35% em compa-ração a 11 anos atrás. Isso dificulta muito a fiscalização. Conhecemos o

problema, mas temos que administrar também a ânsia sindical, com algumas limitações. Não conseguimos colocar um profissional para cada denúncia, precisamos racionalizar. Tenho feito um trabalho de articulação com os deputados e com o Governo Federal para que aconteça a contratação de auditores fiscais. Precisa acontecer uma desmistificação social, pois aqui não existem servidores em excesso. No Ministério do Trabalho o que

acontece é justamente o oposto. Es-tamos com falta de profissionais, e posso provar isso para qualquer um que me procure.

LDR: Qual avaliação pode ser feita sobre a última administração da Su-perintendência, presidida pela Dra. Lucíola Rodrigues Jaime ? JRM: A Lucíola, ao contrário de mim, é uma profissional de carreira, que teve muito tempo de experiên-cia como auditora fiscal. Ela fez um trabalho muito bom sobre a inclusão de pessoas com deficiência, chaman-do para si a missão de inseri-las no mercado de trabalho. A legislação já existe há 18 anos, mas andava meio esquecida nos últimos tempos. Em 2001, por exemplo, tínhamos ape-nas 600 pessoas com deficiência tra-balhando no estado de São Paulo. Hoje são mais de 100 mil. É verdade que falta gente capacitada, mas sem-pre existiram momentos de carência profissional nos ciclos históricos da economia brasileira, não apenas no campo dos deficientes.

LDR: Então a questão da qualifica-ção profissional é generalizada...

JRM: De acordo com os últimos da-dos levantados pelos indicadores, a economia brasileira irá crescer de 5% a 6% nos próximos anos. O governo Lula teve uma preocupação especial em trazer as camadas mais pobres para o consumo, aumentando ainda mais o poder de crescimento brasi-leiro graças ao nosso mercado interno. Afinal, ter 200 milhões de habitantes não é qualquer coisa. Isso certamente revelará um monte de fragilidades quanto à qualificação profissional. É falsa essa história de que falta gente qualificada. Isso sempre aconteceu e sempre acontecerá.

LDR: Mas existem particularidades quanto à questão da deficiência?

JRM: A única diferença refere-se à aplicação das cotas. O que falta é uma

ENTREVISTA

“O País vai crescer, as

oportunidades de emprego vão

surgir, e nós, do Ministério do Trabalho,

vamos focar em qualificação e

educação”

LINHA DIRETA em revista 7

articulação maior na sociedade para que as boas iniciativas sejam amplia-das. Faltam pesquisas científicas e es-tratégias que trabalhem com os dados recolhidos. Lógico que existem limi-tações. Não é fácil, por exemplo, en-contrar pessoas com deficiência visual para trabalhar na área dos eletricitári-os. Qual é então o papel do Governo Federal? Entender essas necessidades e discutir com as empresas e trabalha-dores. Neste ponto a gente começa a perceber que a função do Ministério do Trabalho não é só fiscalizar. Temos que ser sensíveis às demandas da socie-dade e facilitar a qualificação da mão de obra. Os brasileiros já se manifes-taram quanto à questão da inclusão de pessoas com deficiência. A partir do momento que a lei foi aprovada pelos parlamentares, que agem como uma caixa de ressonância das nossas necessidades, isso ficou bem claro.

LDR: Além da luta pela inclusão das pessoas com deficiência, quais outros programas ganham destaque nesta gestão?

JRM: Temos um projeto na área de aprendizagem dos jovens tão forte quanto o que foi feito para as pessoas com deficiência. A legislação, inclu-sive, foi modificada com a ampliação da faixa etária do jovem, que hoje vai dos 14 aos 24 anos. Para quem não sabe, a aprendizagem também tem uma cota na CLT: de 5% a 15% da mão de obra das empresas. O que o Governo está fazendo é uma articula-ção para que as empresas olhem com mais carinho para a questão da inser-ção dos jovens no mercado de tra-balho. Temos também que trabalhar a questão das terceirizações fraudulen-tas e da precarização do trabalho. Se formos para o bairro do Bom Retiro, por exemplo, podemos ver pessoas de origem boliviana, peruana e coreana em regime semiescravo. Queremos trazer esses imigrantes à luz do dia,

reconhecer e oficializar as relações de trabalho, e não só agir do ponto de vis-ta policialesco. O governo Lula apro-vou recentemente uma lei de anistia aos imigrantes que considero muito boa. Estamos presenciando uma nova fase para esse pessoal que vive no sub-mundo do trabalho. Temos ainda que regularizar os trabalhadores da frente rural, que vivem em condições não muito boas e são expostos a tipos es-pecíficos de doenças. É um trabalho bonito de se ver, difícil de fazer, mas muito importante para a sociedade.

LDR: Como os conselhos sindicais auxiliam nesta questão?

JRM: Os conselhos são compostos por representantes das centrais sindi-cais que trabalham junto conosco. Obviamente eles não interferem no cotidiano do Ministério do Trabalho, pois temos algumas prerrogativas que só cabem a nós. Porém, há uma série de outras questões que só podem ser resolvidas com a ajuda e com a inter-venção do empresariado e dos repre-sentantes dos trabalhadores.

LDR: Quais mudanças podem ser

apontadas entre a atual gestão e a anterior?

JRM: Não existe essa cisão, pois a mudança de administrador não acarreta em uma transformação radi-cal do trabalho realizado. A equipe da Superintendência é praticamente a mesma, muda só uma coisa aqui, outra ali. Os programas também são os mesmos. O que pode existir são mudanças de enfoque. Particu-larmente acho que devemos centrar nossos esforços na articulação e na tarefa de trazer a sociedade mais para dentro do Ministério do Trabalho. Eu não sou um profissional técnico, não saberia responder questões de como isso ou aquilo funcionam. Em minha autocrítica, sou bom administrador e articulador. Ao longo da minha vida profissional, aprendi a mediar as coi-sas, a entrar em contato com todos os lados envolvidos.

LDR: O que os trabalhadores po-dem esperar para 2010, que se con-figura como um ano eleitoral?

JRM: Como sou bastante otimista e tenho em mãos alguns dados in-teressantes, acredito que a econo-mia brasileira crescerá, não importa quem ganhe as próximas eleições. A sociedade chegou a um patamar de conscientização suprapartidário, não há como ignorar a questão econômi-ca. Os modelos de administração antigos não servem mais para nós e os valores adquiridos nos últimos anos, com os projetos de incentivos sociais, já estão solidificados. Será que algum legislador acabaria com a Lei de Cotas? Isso é impraticável nos dias de hoje. Aliás, penso que a Lei de Cotas existe para um dia acabar. É o caminho natural das coisas, a socie-dade deverá assimilar a questão sem a necessidade de uma lei regulatória. O País vai crescer, as oportunidades de emprego vão surgir, e nós, do Ministério do Trabalho, vamos focar em qualificação e educação.

ENTREVISTA

Wilson Gomes é surdo de um ouvido e iniciou sua carreira em Libras em 1985. Hoje ele é intérprete no curso de eleva-ção de escolaridade no Centro de For-mação Profissionalizante Sintetel.

Natália, aluna do Centro, afirma que o maior problema dos deficientes au-ditivos é a falta de divulgação das leis que amparam seus direitos.

8 LINHA DIRETA em revista

CIDADANIA

Como milhões de pessoas tentam dar voz ao seu discurso através das mãos

Um gesto vale mais que mil palavras

O ditado existe e, no caso dos deficientes auditivos, expressa a realidade cotidiana. Para quem julga difícil a tarefa de conseguir se comunicar efetivamente, não conhece o tipo de obstáculo que os surdos, como muitos preferem ser chamados, enfrentam. O primeiro empecilho é o reconhecimento da deficiência dentro da sociedade. Na contramão de discussões cada vez mais presentes so-bre as condições dos cadeirantes, os deficientes auditivos esbarram em questões como a falta de atendimento especial nos espaços públicos e o preconceito generalizado.

A ponte entre essas pessoas e aquelas que podem se comunicar ver-balmente é a Linguagem Brasileira de Sinais, mais conhecida como Libras. Feita por meio de sinais construídos com as mãos, a lingua-gem de sinais não possui uma data de implementação no País. Tudo o que se sabe é que a nossa linguagem de sinais derivou da língua francesa, porém, em cada país, existem diferenças grandes de sinais, ou até mesmo a diferença de “sotaque” entre regiões.

A regulamentação dessa linguagem, no entanto, aconteceu apenas durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, que em 2002 tentou introduzir de fato a Libras nos ambientes educa-cionais. O principal ponto dessa lei era levar para os cursos supe-riores de formação de professores a presença obrigatória da Libras, assim como para os formandos em fonoaudiologia que estejam en-volvidos com instituições de ensino.

Para Rafaela dos Santos Queirós, deficiente auditiva, a lei foi pro-mulgada, mas os direitos e a divulgação da Libras continuam restri-

tos ao papel. Por meio do tradutor Wilson Gomes da Cruz, Rafa-ela confirmou que as dificuldades vão muito além do que a maioria das pessoas imagina. “Se passo mal, não posso simplesmente ir ao hospital. Tenho que estar sempre acompanhada pelos meus pais, para que eles possam traduzir os meus sintomas aos médicos”, afirmou.

Wilson Gomes tam-bém é surdo de um ouvido e conta que

desde 1985 iniciou sua carreira na lin-guagem das Libras. “Resolvi me dedicar à área, pois conhe-cia as dificuldades deste grupo. A partir daí, passei a partici-par de todas as ofi-cinas e congressos disponíveis sobre o tema”, explicou. Atualmente, Wil-son e Rafaela, entre muitos outros, estão envolvidos no Curso de Elevação de Es-colaridade para De-ficientes Auditivos, desenvolvido no Centro de Formação Profissionalizante Sintetel, e disponibilizado graças a uma parceria entre Sindicato, Grupo Apse, Fundação Telefônica e Colégio Inaci.

A principal proposta da iniciativa é compactar todo o conteúdo do ensino médio em dez meses de aulas, já que o ensino de con-teúdos didáticos, com linguagem de Libras, é uma realidade bem distante nas escolas de todo o País. Para um dos professores do curso, Daniel Macruz, a maturidade e seriedade para ensinar o conteúdo são fundamentais para que esses jovens possam ter um diferencial no mercado de trabalho.

Esse, aliás, é um dos pontos mais difíceis para os deficientes: como conseguir o reconhecimento profissional e a aceitação da deficiên-cia. Ainda segundo Rafaela, há um preconceito dentro do precon-ceito, ou seja, os deficientes físicos contam com filas preferenciais e alguns serviços destinados à sua condição, como vagas especiais e um símbolo de identificação. Já para os surdos, a divulgação de diferenciais como placas não é muito explorada.

Poucas pessoas sabem que o símbolo que identifica os deficientes auditivos é o desenho da orelha com faixa na transversal. Os carros dirigidos por surdos têm uma placa diferenciada, com cor esver-deada e uma tarja laranja na transversal. Em shoppings, merca-dos ou lojas, é comum vermos símbolos de cadeirantes pintados no chão, representando vagas preferenciais, porém o mesmo não acontece com os deficientes auditivos.

A desinformação vai muito além. Existem diversos tipos de surdez, como a mais branda, que caracteriza os deficientes auditivos, e

Larissa Armani

Linguagem Brasileira de Sinais

A turma do curso de elevação conta com 23 pessoas que esperam ter uma oportunidade melhor no mercado de trabalho.

O alfabeto em libras usa as mãos e é extremamente dinâmi-co, já que nem todas as palavras são soletradas letra a letra.

LINHA DIRETA em revista 9

CIDADANIA

Um gesto vale mais que mil palavras

a falta de percepção total, que afeta a fala e designa as pessoas realmente surdas. Para Guilherme Henrique, deficiente auditi-vo, ainda faltam módulos profissionalizantes na sociedade que realmente preparem o deficiente para trabalhos mais específi-cos. Portanto, cursos como o do Sintetel são considerados uma excelente plataforma.

Assuntos corriqueiros, que muitas vezes são tratados com indife-rença pelas pessoas que se comunicam verbalmente, são verda-deiros problemas para os surdos. A questão política é um desses entraves. Guilherme cita o fato de apenas recentemente as cam-panhas eleitorais mostrarem tradução para a Libras. Também diz que para o deficiente conseguir participar ativamente da escolha

dos representantes do governo é muito difícil, e que o ato de votar é muito complicado, pois não conseguem participar dos debates.

Ir ao banco, por exemplo, também é um problema. Muitas vezes os surdos ficam em filas que não são destinadas a deficientes e, quando chega sua hora de ser atendido, não conseguem se comu-nicar com o atendente. Para Erick de Melo Raimundo, estudante do curso oferecido pelo Sintetel, ainda falta muita conscientização por parte das empresas e do próprio Governo.

A grande mobilização dessas pessoas acontece principalmente dentro das associações, grupos de ajuda e conselhos, que cons-troem pautas para serem levadas aos deputados, além de deba-terem a mobilização das empresas e das instituições públicas sobre a acessibilidade. A Associação dos Surdos de São Paulo (ASSP) e a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS) são bons exemplos dessa luta unificada. A FENEIS oferece cursos de intérprete de Libras para surdos e faz grandes pesquisas na área tecnológica, como desenvolvimento de aparelhos celulares adaptados.

O debate, porém, não deve focar apenas no que deveria ser feito, muito menos restrito ao fato de quais ações o governo poderia tomar para criar a acessibilidade para essas pessoas. A sociedade civil tem papel fundamental nessa questão e deve trazer para o debate público essa discussão. O reconhecimento da deficiência como um diferencial, sem apelo negativo, é o primeiro passo para essa caminhada. Participar de reuniões, congressos e elaborar pau-tas para serem levadas aos deputados e congressistas também são ações importantes. A questão a ser discutida é a igualdade entre seres humanos, que independentemente da maneira como se co-municam, podem ter muito a dizer.

O Banhado é uma grande depressão que se estende até o Rio Paraíba do Sul, uma área de proteção ambiental desde 1984. Proporcionando uma bela vista natural, é o principal cartão postal de São José.

O Vale do Paraíba é composto por 47 municípios e foi São José dos Campos a cidade escolhida pelo Sintetel para fixar sua subsede.

No coração do Vale Cidade Esperança

Marco Tirelli

SUBSEDES

Em 1997, na gestão do então presidente Osvaldo Rossato, o Sin-tetel inaugurou a subsede do Vale do Paraíba. Foi uma resposta do Sindicato a uma antiga reivindicação dos trabalhadores da região que necessitavam que a entidade estivesse mais perto.

Nesses 12 anos passaram pela subsede três diretores: o primeiro foi o saudoso companheiro Djalma Aparecido dos Santos, seguido por Artur Alves Pinheiro (aposentado) e Eudes José Marques, que co-manda atualmente a regional. Linha Direta em Revista abre espaço para apresentar mais uma de nossas subsedes.

Histórico de São José dos CamposAs origens de São José dos Campos remontam ao final do século XVI, quando se formou a “Aldeia do Rio Comprido”, uma fazenda dos padres Jesuítas que usava a atividade pecuarista para evitar in-cursões dos bandeirantes. Porém, em 1611, a lei que regulamentava os aldeamentos indígenas por parte dos religiosos fez com que os jesuítas fossem expulsos e os aldeãos espalhados.

Os jesuítas voltaram anos mais tarde, estabelecendo-se em uma planície a 15 quilômetros de distância, sendo este o núcleo que deu origem à cidade em que hoje encontramos a Igreja Matriz de São Benedito. Novamente a missão passava aos olhares externos como fazenda de gado. Nesse período, a aldeia apresentou sérias dificul-dades econômicas, em função do grande fluxo de mão de obra para o trabalho nas minas.

Em 1759, os jesuítas foram expulsos do Brasil, e todas as posses da ordem confiscadas pela Coroa Portuguesa. Na mesma época, as-sumiu o governo da Capitania de São Paulo Dom Luis Antonio de Souza Botelho Mourão com a incumbência de reerguer a Capitania, mera coadjuvante num cenário em que Minas Gerais se destacava pela atividade mineradora. Uma de suas primeiras providências foi elevar à categoria de Vila diversas aldeias, entre elas São José, com o objetivo de aumentar a arrecadação provincial. Em 27 de julho de 1767, a aldeia foi elevada à categoria de Vila, com o nome de “São José do Paraíba”. Entretanto, a emancipação política não trouxe grandes benefícios, permanecendo a vila em um longo período de marasmo, até meados do século XIX, quando passou a exibir sinais de crescimento econômico, graças à expressiva produção de algodão exportada para alimentar a indústria têxtil inglesa.

Cidade EsperançaApós ocupar posição periférica no período áureo do café no Vale do Paraíba, através da chamada “fase sanatorial”, São José dos Campos ganhou certo destaque nacional, com inúmeros doentes procurando o clima da cidade em busca de cura para a “peste branca”, como era conhecida a tuberculose pulmonar. Gradativamente já estava sendo criada uma estrutura de atendimento com pensões e repúblicas, quando em 1924 foi inaugurado o Sanatório Vicentina Aranha, o maior do País.

10 LINHA DIRETA em revista

Parque Municipal Roberto Burle Marx pertenceu à família Gomes e hoje parte das terras pertence à Prefeitura.

Equipe Sintetel: Liliane, Sandra, Vivian e Eudes são os responsáveis pela ação sindical no Vale

LINHA DIRETA em revista 11

SUBSEDES

Foi somente em 1935, quando o município foi transformado em Estância Climatérica e Hidromineral, e com as medidas tomadas pelo governo Vargas, que São José pôde investir em infraestrutura, principalmente na área de saneamento básico, que no futuro viria a ser um trunfo a mais para a atração de investimentos destinados ao desenvolvimento industrial.

Durante o período de 1935 a 1958, o município foi administrado por prefeitos “sanitaristas” nomeados pelo governo estadual. Em 1958, o município ganhou autonomia para eleger seus prefeitos, perdendo-a novamente em 1967, durante o regime militar. Este período na cidade caracterizou-se por um grande fluxo migratório de tuberculosos (vindos de cidades como São Paulo, Santos e Rio de Janeiro) que se dirigiam para lá devido principalmente a crença que o afamado clima da cidade poderia proporcionar à cura da doença e que a tornaria conhecida como “Cidade Esperança”.

Maior centro de pesquisas do BrasilO processo de industrialização da cidade tomou impulso a partir da instalação do Centro Técnico Aeroespacial – CTA, em 1950 e da inauguração da Rodovia Presidente Dutra (1951), cortando a parte urbana de São José dos Campos. Nas décadas seguintes, com a consolidação da economia industrial, São José dos Campos apresen-tou um crescimento demográfico expressivo que também acelerou o processo de urbanização no município.

Além de aviões exportados para os cinco continentes e satélites que ajudam a monitorar os vastos recursos naturais do País, o município é sede de um moderno complexo industrial com destaque para em-presas do setor automobilístico, aeroespacial, eletroeletrônico e de telecomunicações, nos quais se destacam o CTA e a Embraer.

Localização EstratégicaSão José dos Campos ocupa posição estratégica no Vale do Paraíba, entre as duas mais importantes cidades do Brasil - São Paulo e Rio de Janeiro, às quais se liga por duas rodovias expressas (Presidente Dutra e Carvalho Pinto). O interior do Estado de São Paulo, impor-tante centro de consumo e industrial, é acessado por outra rodovia expressa, a D. Pedro I. Por rodovias São José está a 90 km de São Paulo, a 330 km do Rio de Janeiro e a 147 km de Campinas. Tam-bém está próximo aos portos de São Sebastião e Santos. Além disso, está localizada perto do mar através das praias do Litoral Norte e da

montanha pela Serra da Mantiqueira, por isso possui clima ameno e agradável durante o ano todo. Com temperatura média anual de 21ºC, tem inverno seco e verão chuvoso, característicos do clima tropical. A cidade faz fronteira ao Norte com Camanducaia, Sapu-caí Mirim – MG, ao Sul com Jacareí, Jambeiro – SP, ao Leste com Monteiro Lobato, Caçapava –SP e a Oeste com Igaratá, Joanópolis e Piracaia – SP. A Taxa de Alfabetização é de 88,4%.

Todos os fatores econômicos e culturais colocam São José como im-portante centro comercial de uma região com cerca de dois milhões de habitantes, formada pelo Vale do Paraíba, Litoral Norte, Serra da Mantiqueira e Vale Histórico.

Parque da Cidade é referênciaMais conhecido como Parque da Cidade, o Parque Municipal Roberto Burle Marx pertenceu à família Gomes e hoje parte das terras pertence à Prefeitura. O local tem extensa área verde ideal para caminhadas e piqueniques, fazendo com que as pessoas se sintam mais próximas à natureza. Animais como capivaras, macacos e garças vivem no parque e podem ser admirados pelos visitantes.

As obras arquitetônicas assinadas pelo arquiteto Rino Levi (residên-cia Olivo Gomes, a usina de leite e o Galpão Gaivotas - utilizado para grandes feiras e eventos) e o tratamento paisagístico de Roberto Burle Marx (incluindo os painéis existentes na residência), formam um dos mais importantes trabalhos da arquitetura moderna brasi-leira, dando ao Parque da Cidade reconhecimento internacional.

O parque também conta com um anfiteatro para apresentações cul-turais e artísticas, palmeiras imperiais trazidas da Europa e outras construções que fazem parte da história da cidade.

O Sintetel se instala no Vale do ParaíbaFruto de uma antiga reivindicação da classe trabalhadora local, o Sintetel instalou sua subsede no Vale do Paraíba, na cidade de São José dos Campos, em meados de 1997. Naquela ocasião, o presi-dente do Sindicato era Osvaldo Rossato, que designou o compa-nheiro Djalma Aparecido dos Santos para ser o diretor regional.

Com a saída do companheiro Djalma, foi Artur Alves Pinheiro quem assumiu a tarefa de conduzir a subsede. Ele aceitou o convite para se mudar de Ribeirão Preto (cidade na qual era diretor do Sindicato) e encarar o desafio de comandar a regional no Vale.

Após sua aposentadoria, o atual presidente, Almir Munhoz, designou o companheiro Eudes José Marques para ficar à frente da subsede. “Em março de 2000, fui liberado da empresa com o obje-tivo de exercer o trabalho sindical em tempo integral”, conta Eudes.

Subsede do Vale do Paraíba

Atendimento das 8h30 até 12h30 e das 13h30 até as 17h30

Av. Paraíso, 165 – Bairro Jardim América – São José dos CamposCep: 12235-460

Fones: (12) 3939-4401 ou (12) 3939-1620

Correio eletrônico:[email protected]

A regional abrange 47 cidades, 10 empresas e 14 mil trabalhadores

Fonte: Prefeitura Municipal de São José dos Campos e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Greve vitoriosa na TivitFoi São José dos Campos que iniciou o movimento vito-rioso dos trabalhadores da Tivit. Por descumprimento da Convenção Coletiva, o Sindicato mobilizou a categoria e no dia 15 de outubro deu início a uma grande e vitoriosa greve. “Os trabalhadores aderiram à paralisação e setores vitais da empresa atingiram 95% de adesão, conforme dados deles próprios”, conta Eudes. A greve contou com apoio de grande parte dos vereadores. “A maioria dos vereadores assinou uma moção de apoio à nossa greve”, completa Eudes.

No dia seguinte, mediante a mobilização constatada, a em-presa aceitou pagar o abono de R$ 240,00. Após o exemplo de São José dos Campos, o Sintetel ainda realizou greve em Jundiaí e Mogi das Cruzes. Em ambos os lugares o movi-mento também foi vitorioso.

Painel criado pelo artista Roberto Burle Marx

Eudes, diretor da Regional, mobiliza os trabalhadores durante a greve na Tivit

12 LINHA DIRETA em revista

SUBSEDES

Após este acontecimento, Eudes compôs a Chapa 1 no cargo de secretário de Esporte, Cultura e Lazer. “Em março de 2005, o atual presidente Almir Munhoz me convidou para assumir a subsede do Vale”, completa.

A subsede trabalha e atua em sintonia com as determinações da sede, em São Paulo, o que faz da unidade a marca registrada do Sintetel.

Mudança de sedeA antiga subsede ficava em um prédio no centro da cidade. Havia dificuldade para a realização de reuniões, além de possuir um espaço físico limitado. “Tão logo eu cheguei aqui, mudamos de endereço por motivos como a falta de estacionamento e a restrição de horário, pois não tínhamos condições de fazer reunião com os trabalhadores após o expediente comercial,” conta Eudes.

Eudes relata que o local escolhido para instalar a nova subsede foi es-tratégico. “Procuramos o melhor lugar e hoje estamos centralizados, uma vez que as principais empresas presentes na cidade ficam em um raio de no máximo dois quilômetros”, completa.

O dia a dia na subsedeA subsede executa todo o serviço que a sede em São Paulo faz. “Uma coisa que a gente leva a sério aqui é a entrega dos jornais, porque a necessidade de infor-mação do trabalhador é muito grande”, res-salta Eudes.

As cidades mais visita-das pelo diretor regio-nal, com o objetivo de verificar as reivindica-ções dos trabalhadores, são São José dos Cam-pos, Taubaté, Guara-

tinguetá, Campos do Jordão, e também as cidades do litoral como Ubatuba, Caraguatatuba, Boiçucanga e Ilha Bela. “Muitas vezes nós temos que ir duas vezes nessas cidades por causa dos trabalhadores que fazem a manutenção dos TPs (telefones públicos) uma vez que a empresa não consegue conciliar o horário dos trabalhadores com os nossos”, explica.

Para auxiliar no trabalho sindical, a subsede conta com oito repre-sentantes. São eles: os diretores de base Elisete, Silvio (da Telefo-nica), Adalgisa, Anita, Simone (da Atento) e Junielson (Ability), os delados sindicais Lelis e Nelson (Ability).

Quem é o responsável pela subsede?

Eudes José Marques (mais conhecido como periquito) é o dire-tor Regional do Vale do Paraíba desde 2005. Casado, ele é pai de dois filhos. Funcionário da Telefônica desde 9 de junho de 1978, Eudes ocupa o cargo de Examinador de Linhas. Incorporou-se ao Sindicato a partir da grande greve de 1985, a convite do então presidente Geraldo de Vilhena Cardoso.

Além da luta sindical que Eudes tem muito prazer em desenvolver, sua segunda paixão é a dança. Conhecido entre os companheiros por dançar muito bem, Eudes não confirma, mas quem já viu destaca suas habilidades como um verdadeiro professor de samba-rock.

LINHA DIRETA em revista 13

FIQUE PoR DENTRo

Leve e fino, o Kindle chega ao Brasil para concorrer com o livro impressoPâmela Alves

Livraria de bolso

Ainda pouco divulgado em território nacional, o Kindle – a pronúncia em português é “kindol” – é um pequeno aparelho cuja principal função é permitir a leitura de livros digitais comprados na internet. Lançado nos Estados Unidos em novembro de 2007, o aparelho ganhou disponibilidade em outros 100 países, dentre eles o Brasil, em outubro do ano passado. Fabricado pela norte-americana Amazon, o Kindle tem pouco mais de 15 cm de comprimento e pesa menos de 300 gramas. Apresentando visor de seis polegadas e a espessura de uma caneta de 0,91 cm, o aparelho pretende revolucionar o mercado da leitura e acabar com as idas às livrarias, já que até 1.500 livros podem ser armazenados em seus 2 gibabytes de memória, que pode ser expandida por cartões de memória.

Como funciona?

Por meio de uma conexão wireless (internet sem fio), os usuários podem aces-sar a loja da Amazon de qualquer lugar e adquirir mais de 350 mil obras. Com tecnologia e-bink, que possibilita a reprodução eletrônica da tinta presente no papel, os livros são mostrados na tela do aparelho em tons de cinza, o que facilita a leitura e diminui o esforço da vista do usuário.

Também estão disponíveis mais de 85 jornais e revistas de todo o mundo, dentre eles “The New York Times”, “El País” e “Le Monde”. Na compra de produtos desta linha, o consumidor pode optar entre duas alternativas: a com-pra individual ou a assinatura periódica dos jornais e revistas. Neste segundo módulo, o usuário recebe o produto automaticamente toda vez que uma nova edição for publicada.

O acervo de obras em português ainda é pequeno: somente 16 livros, den-tre eles “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro”, ambas de Machado de Assis. Os livros do escritor Paulo Coelho são vendidos em inglês e best-sellers como “Crepúsculo”, de Stephenie Meyer, e “O símbolo Perdido”, de Dan Brown, só são encontrados em suas versões originais.

A Amazon não disponibiliza nenhuma revista brasileira, e o jornal “O Globo” é o único periódico da América Latina que pode ser assinado e comprado na loja vir tual da empresa.

A falta de obras em nossa língua pode, no entanto, ser contornada por um aplicativo presente no aparelho. A empresa disponibiliza um programa que permite ao usuário ler qualquer arquivo com extensões “pdf” ou “doc”, possi-bilitando que obras em português, compradas em sites especializados, possam ser transferidas do computador para o aparelho.

Mesmo com essas limitações, o administrador Edú Arruda Neto, de 37 anos, afirma que o Kindle é a prova viva da globalização. “Acho sensacional que um livro lançado nos EUA chegue em 5 segundos ao Brasil”, afirmou com tom de entusiasmo. “O Kindle ainda permite que acordemos com a edição atual dos nossos jornais e revistas prediletos, não importando se estamos em São Paulo ou em uma cidade remota do Mato Grosso”, completou.

A estudante de matemática Cristiane de Oliveira, de 25 anos, também com-partilha a mesma opinião. “Posso ir à faculdade levando apenas o Kindle e um caderno. O aparelho também possibilita a leitura de revistas, jornais e livros enquanto aguardo o médico, e o melhor: sem carregar peso”, finalizou.

Funções extrasUma das grandes diferenças do Kindle é que o usuário pode escolher entre seis tamanhos diferentes de fontes na hora da leitura. O aparelho também possui um teclado, que permite ao leitor acrescentar anotações, recortar ou sublinhar partes do texto.

O Kindle conta ainda com um recurso experimental chamado “Text to Speech”, que na tradução literal para o português significa “Leitura em Voz Alta”. Quando o aplicativo é acionado, reproduz-se por som o que o usuário está lendo, além de apresentar tocador de músicas. Outro recurso interessante é o acesso a mais de 7 mil blogs americanos e à biblioteca virtual WIKIPEDIA por meio da conexão gratuita à internet.

Preço altoA versão internacional do Kindle é vendida no site da Amazon por 259 dólares acrescidos por uma taxa de importação no valor de 250 dólares. O consumidor brasileiro que quiser o Kindle deverá desembolsar cerca de R$ 900, valor ainda alto e inacessível para a maioria dos cidadãos. O custo das obras varia de 2 a 10 dólares.

Concorrente Inglês

No dia 30 de novembro o portal brasileiro “Gato Sabido” disponibilizou para compra um concorrente do Kindle, o leitor eletrônico Cool – Er – a pronún-cia em português fica “culer”.

O equipamento fabricado na Inglaterra chega ao Brasil custando R$ 750, preço mais acessível que o nor te-americano.

Maior que o Kindle, o aparelho possui 1 cm de espessura, 178 gramas, tela de seis polegadas, 1 gibabyte de memória - que pode ser expandida até 4 gibabytes - versão em 8 cores diferentes e reprodutor de música.

O aparelho, no entanto, não possui rede sem fio e para baixar os livros é pre-ciso, primeiro, fazer o download no computador e depois transferir o arquivo para o equipamento.

SINDICALISmo NAS TELAS

14 LINHA DIRETA em revista

“Você sabe quem é esse homem, mas não conhece sua história”. É com esse slogan que chega aos cinemas o filme mais caro da história do Brasil, que teve custo total de produção na casa dos R$ 16 milhões. O personagem prin-cipal é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que encerra o seu segundo mandato neste ano. Com ares de superprodução, a expectativa dos produtores é de uma bilheteria nunca vista an-tes, com público total entre 12 e 20 milhões de espectadores somente nos cinemas.

O diretor do filme, Fábio Barreto, tem repeti-do aos quatro ventos que não permitirá uso eleitoral do longa e que não cederá imagens da produção para a campanha presidencial. Além disso, o cineasta já deixou claro que, para ele, a política ficou em segundo plano. “O mais im-portante no cinema é a emoção”, opina Fábio. “As pessoas têm que ser tocadas pelo que veem e é isso que eu acredito ao fazer cinema”, declara.

Fábio Barreto, poucos dias após conceder a entrevista, sofreu um grave acidente de carro e encontra-se internado no hospital. Até o fe-chamento desta edição, seu quadro clínico era grave, porém estável.

Os partidos de oposição ao governo discordam e continuam batendo na tecla de que o longa-metragem pode ser um importante instrumento de propaganda, além de criticarem a escolha do momento para a estreia do filme, justamente em um ano eleitoral. Para o ator que interpreta Lula quando adulto, Rui Ricardo Diaz, as acusações são infundadas. “Quando as pessoas assistirem ao filme, verão que a história não é sobre um presidente da República ou sobre um homem político, mas, sim, sobre um homem único que tem como diferencial a consistência, a persistên-cia e a teimosia herdada da mãe”, pontua.

O filme é uma adaptação do livro homônimo, escrito por Denise Paraná, também uma das responsáveis pelo roteiro. O corte temporal da narrativa começa com o nascimento de Lula, no miserável sertão pernambucano, e acom-

panha sua vida até a morte de sua mãe, Dona Lindu (Glória Pires), no início dos anos 80. Fica de fora do filme tudo aquilo que já é conhecido, inclusive a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).

Pré-estreia naForça SindicalAinda em dezembro do ano passado, quase um mês antes da estreia nos cinemas, a sede da For-ça Sindical em São Paulo viveu um dia atípico. O auditório “Deputado Paulo Pereira da Silva” foi palco de uma pré-estreia para convidados. Na plateia, destacavam-se as presenças ilustres do diretor Fábio Barreto, da produtora Paula Barreto, da atriz Vanessa Bizarro e dos atores Rui Ricardo Diaz e Guilherme Tortolio, que in-terpretam Lula quando adulto e quando jovem, respectivamente.

Foi nesse meio tempo, entre a chegada dos con-vidados e o começo da projeção, que Rui Ri-cardo Diaz contou para Linha Direta em Revista como foi a preparação para interpretar nas telo-nas o presidente. “Foram dois meses de intensa preparação. Desde o começo, o Fábio [Barreto] foi bem claro comigo e disse que não queria nada caricato, queria um trabalho sincero, que partisse da emoção, e foi esse o caminho que eu busquei durante todo o processo”, conta. “Eu praticamente me mudei para São Bernardo, fiquei lá vivendo, vendo como era essa vida de

sindicalista, os lugares onde Lula viveu e firmou sua personalidade”, acrescenta com empolgação. “Visitei o estádio de Vila Euclides, a Igreja Ma-triz e o próprio sindicato dos metalúrgicos. Fui conhecer e trabalhar nesses lugares”, conclui.

Após uma rápida apresentação feita pelo Depu-tado Federal e presidente da Força Sindical Paulo Pereira da Silva e pelo cineasta Fábio Bar-reto, a exibição teve início. O público parecia hipnotizado pelo filme. O silêncio evidenciava a atenção que todos prestavam na história. Ora ou outra ouvia-se risos provocados por pas-sagens bem humoradas, que quebravam um pouco o clima dramático do enredo. Mas o que predomina é mesmo o drama, que acompanhou boa parte da vida de Lula e que era pouco co-nhecida pelo grande público. O próprio Rui conta que ao ler o livro que originou o filme pensou que tudo aquilo não podia ter acon-tecido a uma só pessoa. “Não é possível que tenha acontecido tanta tragédia com um único homem. Mas se você for ver, é verdade, aconte-ceu de fato”, afirmou.

Quando o filme chegou ao seu final, após duas horas e dez de duração, os aplausos tomaram conta do auditório e, assim que as luzes foram acesas, era possível ver a emoção estampada nos rostos dos presentes. As pessoas começaram a deixar o local de exibição fazendo comentários de aprovação. O Ministro do Trabalho e Em-prego Carlos Lupi, mais um ilustre espectador, comentou: “o elenco está ótimo, tudo extrema-mente bem feito. Eu gostei muito”.

Para Rui Ricardo Diaz, “o público tem reagido bem porque é uma história de identificação e as pessoas se sentem próximas à história”. O diretor Fábio Barreto complementa: “essa

Longa-metragem de Fábio Barreto mostra trajetória do presidente brasileiro

Lula, o filho do Brasil

Emilio Franco Jr.

Deputado Federal Paulo Pereira da Silva assiste à pré-estreia de Lula ao lado do diretor Fábio Barreto e da produtora Paula Barreto.

história é para falar do povo brasileiro. A vida dele representa a realidade de milhões de pessoas e serve como lição para essas pessoas pararem de reclamar pelas pequenas coisas e irem a luta sem desistir frente às dificuldades que aparecem na vida”.

O filmeEm “Lula – O Filho do Brasil”, o diretor Fábio Barreto desen-volve um drama contundente, com passagens feitas para emo-cionar. Os atores encontram espaço para construir grandes per-sonagens por meio de suas atuações marcantes, mérito também de Barreto. Glória Pires brilha e emociona ao interpretar Dona Lindu, que divide com Lula o protagonismo da história. A mãe de Lula é a representação de uma realidade brasileira incômoda, mas absolutamente verdadeira. Glória Pires constrói uma Lindu lutadora, mas pautada sempre por expressões de puro esgota-mento, de cansaço com a vida. Por isso comove ver a verdade com que a atriz interpreta a emoção de uma mãe que se sente recompensada ao assistir às conquistas de seus filhos.

O até então desconhecido Rui Ricardo Diaz é quem interpreta Lula, e seu trabalho de composição foge por completo da carica-tura, sem a exploração excessiva da voz marcante do presidente, o que resulta em um trabalho de interpretação perfeito justa-mente por fugir da pura imitação. E seguindo o caminho verda-deiro de não construir uma pessoa inexistente, Diaz, com o aval de Barreto, entrega-se nas falas a pequenos erros de português. Esses equívocos gramaticais, que condizem com a realidade, tor-nam mais verdadeiros e convincentes os diálogos de Lula com a massa de trabalhadores metalúrgicos e que, como ele, tiveram de dividir os estudos com o trabalho pesado desde cedo.

Quando o filme chega à fase da ditadura militar e, mais tarde, nas grandes greves do ABC, Barreto intercala cenas ficcionais com imagens de arquivo sobre os acontecimentos, o que aumen-ta a importância do filme por seu caráter histórico, registrando não só a história de Lula, mas também a história do Brasil.

Os aspectos técnicos também impressionam pela qualidade. A fotografia de Gustavo Hadba é bela tanto nas cenas do sertão nordestino, com cores quentes e uma impressão visual áspera, como nas cenas de São Paulo, quando as cores perdem o ex-cesso de tom. Espetáculo a parte é a trilha sonora de Antônio Pinto, que constrói a força da narrativa por meio do piano e do violino marcantes da música-tema. Outro mérito é o excelente trabalho de edição, com cortes ricos nos quais a transição de

tempo ocorre com fluidez, como, por exemplo, quando o Lula da adolescên-cia dá lugar ao Lula adulto pelo simples baixar e subir de uma máquina in-dustrial. Os cor-tes temporais são estabelecidos com elegância, o que torna a narrativa ainda mais eficaz. O roteiro é redon-do, assim como o resultado final do filme.

LINHA DIRETA em revista 15

SINDICALISmo NAS TELAS

Rui Ricardo Diaz: “Se o filme fosse lançado depois de 2010, iam dizer que o Lula estava preparando uma volta à presidência em 2014”.

Promoção de ingressosTodo trabalhador que apresentar carteirinha de filiação a qualquer sindicato do Brasil terá a seguinte vantagem: para exibições a partir de 15 de janeiro de 2010, um ingresso com desconto de 50% sobre o valor da entrada inteira. Válidos para Circuito Cinemark, Severiano Ribeiro e UCI.

Motivo de orgulho: as carteiras de delegada sindical e de sócia do Sintetel (a antiga e o cartão atual).

“Era muito complicado trabalhar como delegada sindical porque a CTB não aceitava o Sincato”

16 LINHA DIRETA em revista

APoSENTADoS

“Tenho prazer em trabalhar no Sintetel”Linha Direta em Revista conta a história de uma trabalhadora que nutre um

carinho especial pelo Sindicato há mais de 50 anos.

Quem visita o Departamento de Aposentados do Sintetel, em um pequeno prédio quase em frente à sede do Sindicato, logo se depara com uma simpática senhora atrás do balcão de atendi-mento. Trata-se de Odette Franco da Cunha, ou simplesmente dona Odette, como é conhecida pela categoria. Natural de Campinas, Odette começou a trabalhar na CTB (Companhia Telefônica Brasileira) em 2 de maio de 1942, menos de um mês após a fundação do Sintetel – ocorrida em 14 de abril do mesmo ano, na gestão do presidente Mário Mello.

Pertencente a uma família de quatro irmãos, três mulheres e um homem, Odette foi a única das irmãs que não casou, fato que contribuiu para a construção de uma carreira dentro da empresa. “Minhas irmãs não trabalharam e logo se casaram. No entanto, tenho uma sobrinha que trabalhou por pouco tempo como tele-fonista na cidade de Campinas, assim como eu”, orgulha-se.

Vida na Companhia TelefônicaDona Odette ingressou na CTB para exercer o cargo de telefo-nista e apenas seis meses depois foi promovida para coordenar o setor. “Trabalhava no prédio onde atualmente fica a sede da Telefônica, na rua Martiniano de Carvalho, e depois fui trabalhar na rua Sete de Abril” [ambas regiões da caital paulista], relembra. “Naquela época, todas que entravam na empresa como telefo-nista eram transferidas para a rua Sete de Abril após um curto período”, destaca.

Quando entrou na Companhia Telefônica, Odette se deparou com um sistema completamente manual. “Os assinantes telefo-

navam para nosso setor e pediam o número com o qual queriam falar, então nós mesmas ligávamos e transferíamos a ligação para eles”, explica. De acordo com nossa entrevistada, o prédio da rua Sete de Abril abrigava as telefonistas que faziam interurba-nos, enquanto o prédio da rua Martiniano de Carvalho fazia as ligações locais.

Na época da ditadura militar, quando trabalhava na seção de aná-lises, Odette presenciou a invasão da Companhia pelo Exército, que tinha o intuito de monitorar as ligações daqueles que eram contrários ao regime. “O meu setor era como um laboratório, pois todas as linhas passavam por lá”, conta. Os agentes arma-dos do Governo permaneceram alojados no interior do depar-tamento por um tempo. “Nesse período trabalhávamos sob os olhares do Exército”, acrescenta.

Recordar é viver

Odette lembra que as grandes dificuldades daquele tempo eram as negociações do acordo coletivo e dos benefícios, que aconte-ciam diretamente com as prefeituras, o que dificultava a con-quista de qualquer reajuste.

Uma lembrança muito importante para Odette é a conquista do turno de 6h15 para as telefonistas, sem redução de salários. Isso aconteceu graças a uma grande mobilização das telefonis-tas junto com o Sintetel, ocorrida em 1960, e que até hoje é lembrada como uma das principais conquistas do Sindicato. O resultado final foi a redução da jornada de trabalho de 8h para 6h15. Depois o benefício foi estendido às telefonistas das demais empresas. “Estávamos todos mobilizados para entrar em greve,

Marco Tirelli

Profissão telefonista

“Eu sempre gostei do Sindicato e me sinto muito bem trabalhando aqui.”

LINHA DIRETA em revista 17

inclusive levamos colchões para dormir no Sindicato e assim começar o movimento logo cedo”, lembra.

Em 1963, o então presidente do Sintetel, Hélcio Maghenzani, foi eleito deputado federal pelo PTB, levando a voz das telefonis-tas para a Câmara. Odette participou ativamente da campanha eleitoral e conta-se que Hélcio foi eleito com os votos das telefo-nistas do Estado de São Paulo. “O Hélcio foi um grande presi-dente, ele conseguiu que conquistássemos três aumentos salariais num mesmo ano”, afirma.

O próprio Hélcio falou em entrevista concedida ao jornal Linha Direta (edição comemorativa de 50 anos do Sintetel) sobre a força da categoria. “Possuíamos 93% da categoria associada, o que significava cerca de 13 mil trabalhadores”. Esse é um número bastante expressivo para a época, o que lhe rendeu uma cadeira no Congresso Nacional.

Conhecendo o Sintetel

Uma senhora chamada América, encarregada da seção das tele-fonistas, foi quem apresentou o Sintetel para Odette. “Eu conheci o Sindicato da seguinte maneira: uma senhora que trabalhava conosco, quando chegava ao final da tarde, reunia as meninas e as levava para o Sintetel”, conta. Todas as moças acompanhavam a Sra. América porque ela era a mais velha e experiente. Além disso, naquela época, o Sindicato disponibilizava cabeleireira e manicure.

Como se fosse ontem, Odette relembra com carinho do antigo prédio do Sintetel. “Logo na entrada era a recepção do expe-diente e em seguida nos deparávamos com todas as salas dos diretores”, destaca.

Em 1º de outubro de 1954, Odette associou-se ao Sindicato e logo foi conduzida ao cargo de delegada sindical. Naquele tempo, a empresa dificultava a ação sindical e por isso eram constantes os obstáculos para realizar o trabalho de base e levar informações aos trabalhadores. “Era muito complicado trabalhar como dele-gada sindical porque a CTB não aceitava o Sindicato”, conta. Os dias eram agendados pela empresa para que os delegados sindi-cais fossem liberados a fim de participar das reuniões no Sintetel. Dona Odette relembra que na CTB todos tinham medo e os diretores sindicais não podiam entrar na empresa. “Hoje as coisas são bem diferentes”, acrescenta.

Aposentadoria e o trabalho no Sintetel

A aposentadoria para Odette chegou no mês de setembro de 1971. “Graças a Deus eu me aposentei com complementação e hoje não passo as tristes dificuldades que a maioria dos aposenta-dos brasileiros enfrenta”, comenta.

Algum tempo após o seu desligamento da empresa, Odette foi convidada pelo então diretor do Sintetel Sr. Brandão - que estava organizando o setor de aposentados - para auxiliá-lo. “Recebi o convite para trabalhar com ele e ajudá-lo a organizar o cadastro

dos aposentados, e foi nesta época que surgiu este setor no Sin-tetel”, relata.

Após ajudar na organização do setor, Odette recebeu um novo convite. Desta vez para trabalhar no departamento de colônia de férias. Na época, existia um setor específico que fazia as reservas para as colônias. “Nós trabalhávamos em três funcionárias neste setor: a Batistinha, a Neusa e eu”, explica. “Trabalhávamos em três horários, mas no final, quando as duas saíram, fiquei so-zinha no período todo”.

Ela lembra com orgulho das eleições sindicais de 1998, em que três chapas disputaram o comando do Sintetel. “Na apuração, representantes das três chapas fecharam a rua em frente ao Sindi-cato e por pouco não saiu uma grande confusão”, relembra com entusiasmo. “Nós amanhecemos dentro do Sintetel e ficamos lá até terminar a apuração que confirmou a vitória da chapa encabeçada pelo companheiro Almir Munhoz”, comemora.

A vida fora do SintetelA trajetória de dona Odette mistura-se, na mesma proporção, com duas grandes paixões: o Sintetel e o Palmeiras. Ainda quando criança, dona Odette tinha um vizinho palestrino que foi morar em Campinas após deixar a capital paulista. “Ele falava tanto num time chamado Palestra Itália que acabou me convencendo a torcer pela mesma equipe”, destaca.

Daí em diante seu carinho pelo Palestra (atualmente Sociedade Esportiva Palmeiras) só aumentou e, quando se mudou para capital, tornou-se sócia do clube. Odette conheceu inúmeros lugares do País enquanto viajava para acompanhar o time nos mais variados campeonatos. ”Já fui a Porto Alegre, Curitiba, Vitória, Goiás e também fui ao Uruguai acompanhada por um grupo do próprio clube para assistir a um jogo da Libertadores da América”, conta.

Atualmente, ela é sócia remida do Palmeiras, possui cadeira cativa no estádio e sempre que tem disponibilidade acompanha os jogos ao vivo. Além do futebol, Odette também gosta de fazer palavras cruzadas e de visitar as irmãs e as 14 sobrinhas. Hoje em dia, ela trabalha para o setor de aposentados, no atendimento aos sócios, das 9h às 17h. “Eu sempre gostei do Sindicato e me sinto muito bem trabalhando aqui, só tenho a agradecer ao Germar (diretor de aposentados) e ao Almir (presidente do Sintetel)”.

APoSENTADoS

18 LINHA DIRETA em revista

Lei antifumo entrou em vigor em agosto passado e mudou o hábito dos paulistas

SAÚDE

Emilio Franco Jr.

Quando começaram as discussões a res-peito de uma lei que proibiria o fumo em locais coletivos parcialmente ou total-mente fechados, a barulheira foi grande. De um lado, fumantes inconformados com a censura ao cigarro e donos de esta-belecimentos revoltados com a proibição que poderia resultar na perda da clientela. Do outro lado da história, os não-fumantes que, incomodados ou não com a presença da fumaça alheia, enxergaram na lei uma forma de se livrar do cheiro de tabaco que impregnava na roupa e no cabelo. Soma-se a isso, o benefício invisível que a não inalação de substâncias tóxicas traz para os chamados fumantes passivos.

A lei antifumo do Governo de São Pau-lo entrou em vigor em agosto de 2009 e quase seis meses depois é possível perceber que foi uma iniciativa bem sucedida. A fumaça que dominava ambientes fecha-dos desapareceu e a população de modo geral se conscientizou dos benefícios da proibição. Já é raro ver gente fumando em baladas, bares e restaurantes. Pesquisas realizadas pela Secretaria de Saúde do Es-tado apontam que 99,5% dos estabeleci-mentos aderiram à nova lei e que 94% dos paulistas consideram a iniciativa boa. O que mais chama a atenção é que entre os fumantes a aprovação atinge níveis altís-simos, chegando a 87%.

Esse é justamente o caso de Luciana Ra-bassallo, jovem de 21 anos, seis deles na companhia do cigarro. Antes contrária à restrição, ela agora enxerga os benefícios da iniciativa. “Quando estou em um bar ou balada e preciso sair para fumar, pre-firo segurar a vontade”, conta. “É chato, pois a bebida esquenta e eu acabo perdendo a conversa com os meus amigos”. Ela ainda acredita que os maiores beneficiados são mesmo os não-fumantes. “Faz bem para eles não ficarem em um ambiente fechado, uma noite inteira, inalando a fumaça alheia”, complementa.

Esse também é o pensamento de Natália Daumas, estudante de 22 anos não adepta ao tabaco. “É desagradável respirar a fu-maça dos outros, ainda mais sabendo que fumantes passivos também têm a saúde comprovadamente prejudicada”, afirma. Quando sai com seus amigos, ela percebe que aos poucos os hábitos estão mudando, justamente como contou Luciana. “Os fumantes costumam deixar os ambientes para fumar, mas isso não é agradável”, conta. Para evitar este tipo de situação, os mais viciados estão se controlando. “A lei restringe as oportunidades que o fumante tem de acender um cigarro”, acrescenta.

O cigarro foi aos poucos deixando de fre-quentar os ambientes fechados e as pes-

quisas realizadas pelos órgãos do Governo do estado comprovam que as mudanças nos hábitos melhoraram a qualidade do ar desses locais. Poucas semanas antes de a lei antifumo entrar em vigor, 50 garçons e clientes em casas noturnas de São Paulo foram monitorados e o resultado mostrou que uma noite era suficiente para que um não-fumante atingisse níveis de monóxido de carbono no pulmão equivalentes aos de fumantes. Uma semana após a lei, os pesquisadores testaram 30 não-fumantes no mesmo estabelecimento, e constataram baixos índices de monóxido de carbono em seus pulmões do início ao fim da noite.

Acabou a fumaça

LINHA DIRETA em revista 19

SAÚDE

Andrea Matarazzo, ex-secretário de Co-ordenação das Subprefeituras, demons-tra a preocupação que havia em relação às pessoas que trabalham com o público, especialmente os garçons, e explica que antes da lei esses profissionais tinham obrigatoriamente de conviver com a fu-maça durante toda a jornada de trabalho. Para ele, a lei antifumo era necessária e “pegou” desde o primeiro dia em vigor. “A restrição ao fumo é uma tendência mun-dial que provoca poucas alterações no dia a dia da população e promove uma grande melhoria na qualidade de vida”, afirma. Andrea ainda pede para que a população se lembre das melhorias que a lei propor-ciona para a saúde das pessoas. “É uma lei que veio ao encontro dos anseios da so-ciedade”, sentencia. O político tucano diz que apoia incondicionalmente a norma mesmo sendo fumante e explica o motivo. “Tenho fumado menos desde a sanção da lei”, confidencia.

Mas, obviamente, não é fácil largar um vício como o cigarro da noite para o dia, muito menos se acostumar a abolir as tra-gadas em locais antes maciçamente ocu-pados pela fumaça do tabaco. É por isso que a estudante de direito Melina Scom-batti de Lara, de 21 anos, considera a proi-bição totalmente absurda. “Só respeito a lei quando me obrigam”, afirma. “Não acredito na eficácia e na legitimidade dessa iniciativa”, completa. Para ela, a restrição gera apenas benefícios superficiais e a ideia de que a proibição ao fumo salva vidas é absurda. “Para isso, teríamos que adotar uma política de melhoria mais completa, com a proibição da circulação de veículos poluentes e controle da emissão de gases das fábricas”, opina.

Apesar da incredulidade da estudante, estudos apontam que o número de ataques cardíacos em países da Europa e da Améri-ca do Norte nos quais existem leis de proi-bição ao fumo caiu em um terço após a adoção de tais medidas. Não podendo fu-gir da realidade, Melina conta que ainda está se adaptando a lei, assim como todos os fumantes, e que seu interesse em fre-quentar bares e locais públicos fechados diminuiu bastante, sendo que a permissão ao cigarro virou um atrativo para ela com-

parecer a eventos públicos. “Eu não con-firmo presença em uma comemoração sem antes me certificar de que haja uma área própria para fumantes”, afirma. Quando não existem locais para alimentar o vício, a estudante costuma procurar brechas em todos os lugares que frequenta. “Eu me sinto neurótica ao ter que me privar da companhia de amigos para poder dar umas tragadas”, desabafa.

O deputado estadual Fausto Figueira (PT) concorda que a lei peca ao estabelecer um tom policialesco contra os fumantes, mas, mesmo assim, mostra-se favorável às práticas de restrição ao tabagismo. “Como médico e militante da saúde pública, sou a favor desse combate, que deve contemplar, além das restrições, uma política ampla de atendimento aos fumantes que desejam abandonar o vício”, opina. Para ele, a cons-cientização e a manutenção de políticas públicas de saúde voltadas aos fumantes é o caminho mais apropriado.

Apesar de algumas ressalvas, a lei antifumo é uma realidade de sucesso. A estudante Natália Daumas é categórica ao afirmar que a lei “pegou”. “Gosto de voltar para casa sem estar cheirando cigarro”. Mas ela faz um adendo. “O que ainda não pegou é o hábito de jogar as bitucas no lixo”. E re-clama: “as calçadas têm ficado sujas”.

E é por isso que a Secretaria de Saúde do Governo de São Paulo alerta que não é

apenas a fumaça do cigarro que polui. A bituca, se jogada na rua, também provoca consequências indesejáveis. Além de deixar a cidade suja, elas poluem, pois liberam diversas substâncias químicas. Os filtros de cigarros demoram cerca de 100 anos para se degradarem. Acumulados, eles po-dem acabar entupindo esgotos. Ou seja, não basta não fumar. É importante que os fumantes se lembrem de jogar as bitucas devidamente apagadas no lixo. No geral, a medida foi tão bem recebida que outros estados já aprovaram leis semelhantes.

O que não é mais permitido?Consumir cigarros, charutos, cigar-rilhas, cachimbos, narguiles ou quais-quer outros produtos fumígenos em bares, restaurantes, danceterias, boates, cinemas, shoppings, bancos, supermercados, açougues, padarias, farmácias, repartições públicas, insti-tuições de saúde e escolas.

Quais são as exceções?Locais de culto religioso onde o fumo faça parte do ritual, institui-ções de saúde que tenham pa-cientes autorizados a fumar pelo médico responsável, vias públicas, residências, estabelecimentos ex-clusivamente destinados à venda e consumo de produtos fumígenos e atores no exercício da profissão. Em quartos de hotéis, pousadas e simi-lares o fumo será permitido, desde que estejam ocupados.

20 LINHA DIRETA em revista

CAPA

O despreparo da grande

mídiaEntenda por que os veículos de maior circulação do País ignoram as lutas encabeçadas pelo movimento sindical

A 6ª Marcha da Classe Trabalhadora, em Brasília, foi um dos grandes atos do movimento sindical em 2009. Realizada no dia 11 de novembro, a mobilização reuniu as centrais sindicais brasilei-ras em torno de uma luta comum: a defesa da redução da jornada de trabalho. Apesar de pouco divulgada pelos grandes veículos de comunicação, a Marcha da Classe Trabalhadora é uma das princi-pais lutas conjuntas do movimento sindical brasileiro desde 2004, quando foi realizada pela primeira vez com foco no salário míni-mo. Para marcar esta luta, milhares de trabalhadores se reuniram e empunharam como principal reivindicação a aprovação da Pro-posta de Emenda Constitucional (PEC 231/95) que tramita no Congresso. A PEC estabelece a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem redução de salário.

A pauta unificada de reivindicações também exige a ratificação das convenções 151 e 158 da OIT, a aprovação da PEC do Tra-balho Escravo, a atualização dos índices de produtividade da terra, a definitiva aprovação do projeto que regulamenta a política de valorização do salário mínimo, a aprovação do PL 1621/07, que estabelece direitos iguais para trabalhadores diretos e terceiriza-dos, e o projeto popular para o pré-sal. No entanto, quanto o leitor sabe deste assunto? Quantas vezes o tema foi abordado pela grande imprensa?

A 6ª Marcha reuniu mais de 50 mil trabalhadores e a grande mídia destinou quase nenhum espaço para cobertura do evento, além de diminuir a sua importância. Vejamos alguns exemplos:

Portal UOL: “Cerca de 20 mil trabalhadores, segundo a Polícia Militar, participaram de passeata na Esplanada dos Ministérios para reivindicar a redução da jornada”.

Grupo Folha S. Paulo: A edição impressa distribuída no dia seguinte à Marcha nada registrou.

Jornal O Estado de S. Paulo: “Marcha dos Trabalhadores reúne 15 mil pessoas no DF”.

Jornal Correio Braziliense: O veículo estimou a participação de cerca de 30 mil trabalhadores. A citação foi inserida em uma pequena nota do dia anterior que noticiava uma passeata dos servidores públicos.

Revista Veja online: “Marcha dos Trabalhadores reúne 15 mil pes-soas no DF”. A revista apenas repetiu a informação do jornal O Estado de S. Paulo.

O fato é que a grande imprensa subestima o sindicalismo, ora por linha editorial, ora por falta de conhecimento dos profissionais. Hoje são poucos os jornalistas que cobrem o movimento com co-nhecimento de causa.

As editorias sindicais foram, aos poucos, extintas das redações. Hoje elas estão pulverizadas nas demais áreas, como Economia, Geral ou Cotidiano. Para citar um exemplo, o Jornal O Diário de São Paulo (antigo Diário Popular) mantinha uma coluna sindi-cal, chamada Diário Sindical, de segunda a sexta-feira, até alguns anos atrás. Hoje, a coluna limita-se a aparecer duas vezes por semana, nas segundas e quartas-feiras, e seu espaço foi drastica-mente reduzido.

Além de sumariamente ignorar o movimento sindical, a imprensa também adotou uma postura de se referir a ele de forma negativa e pejorativa, não reconhecendo a sua importância na conquista de avanços trabalhistas e sociais para o País.

Da redação

A mídia que desconhece o movimento

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CAPA

O despreparo da grande

mídia

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, ressalta a parcialidade dos grandes meios de comunica-ção. “Mais do que tratar de forma negativa, o que mais acontece é a tentativa prolongada de fingir que não nos notam”, destaca.

Arthur ainda explica que outra forma sutil, mas perversamente eficaz, é não noticiar que algumas coisas boas estão acontecendo em função da pressão e capacidade de elaboração de propostas do movimento sindical. “Não ligam os fatos às suas raízes históricas. É o caso, por exemplo, do salário mínimo e da correção da tabela do imposto de renda”, destaca. “Hoje o movimento tem mais es-paço e influência sobre o Orçamento, e a mídia não tem interesse em destacar isso”, acrescenta. “Trabalhador bom, para a mídia, é aquele que só tem o direito de reclamar desde que trabalhe e não consiga avanços”, opina Artur.

O assessor sindical e jornalista José Luiz Passos Jorge deixa de lado qualquer tipo de radicalismo e faz uma análise sóbria dos interesses que guiam os meios de comunicação. Para ele, não se pode perder de vista a natureza empresarial da imprensa. “São empresas que visam o lucro, comprometidas com o interesse de seus acionistas e anunciantes”, pondera. “Sabemos de situações nas quais eram interessantes para um grupo econômico a mobilização do movi-mento sindical a fim de criar dificuldade para seus concorrentes e, nessa ocasião, houve ampla cobertura do Movimento”, conta.

José Luiz conclui que a imprensa tem caráter de classe e que, por isso, não existe isenção na informação veiculada. “Quando o Mo-

vimento Sindical entra na disputa por determinados espaços de poder, começa a incomodar e a mídia criminaliza suas ações”.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Sérgio Gomes, jornalista e fundador da Oboré Editorial, concorda com a existência de uma criminalização contra o sindicalismo e ainda acrescenta que essa estratégia acontece contra todos os movimentos sociais. Ele expõe que a grande imprensa não quis, por exemplo, perceber a plata-forma sindical para o enfrentamento da crise financeira interna-cional. “A imprensa, de um modo geral, não liga para as demandas da classe baixa”, explica. “A mídia pauta seus assuntos de cima para baixo e dialoga com quem está em cima, com quem detém o capi-tal”, sentencia.

Sérgio explica como funciona a lógica da grande imprensa e expõe alguns artifícios sutis que ela usa para construir de forma quase im-perceptível essa imagem negativa do movimento dos trabalhadores junto às classes média e alta. “A mídia faz uma generalização e só divulga que os trabalhadores lutam por meio de greves que atrapa-lham a vida dos cidadãos, escondendo as verdadeiras pautas reivin-dicadas”, salienta. “São raros os jornais que abordam as motivações dos trabalhadores e explicam todo o sofrimento pelo qual eles vêm passando”, lamenta. “Quem trabalha em Sindicato sabe que a greve é última etapa, quando não há mais negociação”.

O jornalista ainda vai além e diz que a grande imprensa é contra alimentar os sindicatos com dinheiro, pois, dessa forma, as suas ações ficariam mais restritas. “O que a revista Veja fez recentemente [denúncias contra o sindicalismo] acontece sempre”, revolta-se. “Primeiro, eles apresentam uma reportagem para criminalizar o

A criminalização dos sindicatos

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CAPA

meio sindical e, depois, ignoram totalmente a existência do movi-mento dos trabalhadores e suas conquistas. É assim que funciona”.

A revista Veja trouxe em sua edição de 28 de outubro de 2009, uma matéria de cinco páginas na qual faz sérias acusações contra o movimento sindical. Para os leitores menos atentos, os absur-dos publicados pela revista podem parecer verdadeiros, mas, se lida com pouco mais de atenção, a reportagem é claramente um ataque ao aumento da força de reivindicação das centrais sindicais e das constantes conquistas que os sindicatos têm alcançado no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A Veja atacou o movimento às vésperas da votação de uma de nossas principais lutas, que é a redução da jornada de trabalho. Já era uma atitude esperada”, afirmou Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT).

A revista chama o Brasil de república sindical, termo usado no pas-sado pelos simpatizantes da UDN e que virou o termo adotado pelos golpistas para justificar a derrubada de Jango e o início da ditadura militar. Com o passar dos anos, a Veja tem mostrado cada vez mais sua faceta golpista e ataca indiscriminadamente as ideias liberais e de esquerda. A revista se posiciona contra os avanços tra-balhistas e se mostra politicamente a serviço da direita conserva-dora que tanto atraso traz ao País.

O deputado federal e presidente da Força Sindical Paulo Pereira da Silva adota tom extremamente crítico em relação aos métodos de Veja que, no passado recente, fez denúncias contra ele. “Essa revista semanal tentou macular minha imagem” afirma. “Percebo que a revista vem perdendo credibilidade porque está exagerando tendenciosamente no seu texto jornalístico”, prossegue o depu-tado. “Eles até pegaram uma foto minha e modificaram minhas características faciais de modo nefasto” confidencia sem esconder sua perplexidade. “A direção desse semanário não faz jornalismo como conhecemos, que é de apurar a verdade e divulgá-los. Seu modo é panfletário e tendencioso”, completa.

Todos os entrevistados por Linha Direta em Revista são unânimes em um aspecto: o movimento sindical aumentou seu poder de reivindicação durante o governo do presidente Lula, que na década de 80 presidiu o sindicato dos metalúrgicos do ABC. Para o jor-nalista sindical João Franzin, a aproximação do movimento sindical com o governo federal incomoda os setores empresariais da mídia. “Aquela velha história de república sindicalista é sinal de que, para eles, os trabalhadores não têm o direito de se organizar”. E ele ex-plica o porquê disso. “O que os incomoda é ver a massa organizada, buscando aumento de salário e melhores condições de trabalho. Como sabem que essa articulação é feita pelo movimento sindical, eles tentam atingi-lo com críticas e campanhas negativas”.

Nesta luta velada pelo reconhecimento, os desafios do movimento sindical são árduos e requerem muito jogo de cintura. A primeira tarefa a ser reavaliada pelos dirigentes é a profissionalização da im-prensa sindical, que apesar de empregar um número expressivo de

profissionais e deter tiragem geral superior aos veículos da grande mídia, ainda não consegue obter a mesma efetividade de resulta-dos. “Hoje, cada sindicato faz o seu próprio veículo informativo, mas não há uma integração entre todas essas publicações”, pontuou Altamiro Borges, diretor do Portal Vermelho e autor do livro “Di-tadura da Mídia”. “Nos moldes que hoje nos encontramos, fica im-possível rivalizar em importância com a grande mídia”, finalizou.

Hoje a imprensa sindical cresceu muito. De 1980 a 2002 viveu-se a fase de ouro da imprensa sindical no Brasil, que alcançou uma tiragem recorde, em 1992, de 30 milhões de publicações regulares por mês. Para Almir Munhoz, presidente do Sintetel, o movimen-to sindical deve centrar forças na comunicação. “Temos em mãos uma mídia alternativa que atinge milhares de trabalhadores. Eu defendo o investimento nestes setores, pois só assim conseguiremos transmitir com qualidade uma mensagem diferente do interesse da grande mídia comercial”, constata.

Assim como já acontece com as Marchas em Brasília, que unem as centrais sindicais em torno de um denominador comum, outras lu-tas do movimento devem ganhar importância dentro das publica-ções institucionais. Um dos acontecimentos mais marcantes neste campo é a Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) – veja artigo sobre o tema na página 24 desta publicação.

Existem dois Projetos de Lei que tramitam no Congresso e que poderão auxiliar o movimento sindical. O deputado federal Vi-centinho (PT-SP), preocupado com a dificuldade encontrada pelo movimento sindical em dialogar com uma quantidade ainda mais expressiva de pessoas, principalmente com aqueles mais distantes das atividades sindicais, apresentou, no dia 21 de outubro de 2009, projeto de lei para estabelecer o acesso gratuito das centrais ao rádio e à televisão. A intenção do deputado é criar um sistema seme-lhante ao Horário Eleitoral Gratuito, que reserva certa quantidade de tempo nas programações dos veículos de comunicação para os partidos políticos exporem suas ideias para a população.

Vicentinho não é o único a apoiar novas formas de comunicação entre o movimento sindical e os cidadãos. A jovem deputada fe-deral gaúcha, Manuela D’ávila, apresentou o Projeto de Lei 6.104, que tem o mesmo propósito do texto do ex-presidente da CUT. Devido às semelhanças, a proposta dele será anexada a da deputada e, assim, serão discutidas em conjunto. Atualmente, o assunto está sob análise da Comissão de Trabalho da Câmara, que até agora não indicou um relator para a matéria. Após passar pela apreciação desse grupo de parlamentares, o projeto segue para as comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, Constituição e Justiça e Cidadania.

O percurso até a aprovação final é longo, mas esse é o primeiro pas-so rumo à democratização da comunicação entre os movimentos sociais e a sociedade civil. Os sindicatos e as centrais deverão apoiar tal iniciativa. “Precisamos democratizar os meios de comunicação no Brasil e, para isso, é importante debatermos e apresentarmos propostas consistentes”, conclui Paulo Pereira da Silva.

A matéria da Veja

Propostas e projetos

Desafios e tarefas

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Comitê Uni Américas Telecomunicações

Em 2009, São Paulo recebeu a reunião anual do Comitê Uni Américas Telecomunicações, que contou com a participação de mais de 20 re-presentantes de diversos sindicatos da Améri-ca. O objetivo do encontro foi abordar assun-tos globais sobre o setor, além de tratar das problemáticas regionais de cada país. Por meio do intercâmbio de experiências, o congresso traçou uma série de resoluções como forma de fortalecer o movimento sindical.

NoTÍCIAS

Secretaria de Esportes, Cultura e LazerOs departamentos Social e de Esportes, Cultura e Lazer do Sin-tetel desenvolveram uma série de atividades para 2010 visando a melhoria da qualidade de vida dos jovens da categoria. Os as-sociados do Sindicato poderão se inscrever para participar de oficinas teatrais, de música e dança, além também de campeona-tos esportivos. Os interessados devem se inscrever pelo e-mail [email protected].

16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as MulheresO Sintetel participou das atividades promovidas em decorrência da campanha da UNI (Rede Sindical Mundial) intitulada “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”. As atividades, organizadas simultaneamente em diversos países, aconteceram

entre 25 de novembro e 10 de dezembro de 2009. Destaque para a manifestação promo-vida pela Força Sindical a fim de reivindicar o funcionamento 24 horas da Delegacia da Mulher.

6º Marcha para BrasíliaCerca de 50 mil trabalhadores compareceram a 6ª Marcha para Brasília, movimento organizado pelas centrais sindi-cais - entre elas a Força Sindical - e que em 2009 teve como lemas a redução da jornada de trabalho para 40 horas se-manais, aumento real para os aposentados e ratificação das convenções 151 e 158 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

O Sintetel auxiliou no processo de organização dos tra-balhadores por meio do diretor regional da subsede Santos - e também diretor regional do Vale do Ribeira da Força Sindi-cal - Genivaldo Barrichello. Na ocasião, um ônibus fretado partiu da região e muitos pu-deram participar da manifesta-ção pela primeira vez.

Redução da jornada

“Se não forem votadas as 40 horas sem redução salarial neste ano, em 2010 vamos parar fábrica por fábrica até conseguir a redução da jornada”. (Paulo Pereira da Silva,

deputado federal e presidente da Força Sindical.)

Conferência de Comunicações

24 LINHA DIRETA em revista

Linha Direta em Revista inaugura novo espaço para discutir a democratização do setor

Marco Tirelli

A pedido do presidente do Sintetel, o departamento de Comunicação/Imprensa estreia a coluna Comunicando. A cada edição, abordaremos variados temas com o objetivo de suscitar o debate e incentivar a reflexão.

O tema escolhido para inaugurar deste espaço é a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), ocorrida em dezembro de 2009, em Brasília. A realização deste evento já desponta como um marco histórico e uma grande conquista para a sociedade brasileira. Assim como a Conferência Nacional da Saúde que já está consolidada, a Confecom deverá trilhar um longo caminho para a democratização dos meios de comunicação.

A influência da comunicação

Os meios de comunicação estão cada vez mais presentes na vida do cidadão. Eles direcionam nossos compromissos e sugerem gostos e vontades. Induzem nossa consciência e ditam padrões de comportamento, moda e tendências. Sua grande capacidade de influenciar a vida do povo foi potencializada pelos grandes avanços tecnológicos e pela convergência digital que congrega rádio, televisão, internet e telefonia celular.

Tudo isso acontece sem passar por um controle social. Trata-se de uma concepção limitada, pois há um abuso de concessões públicas para emissoras de rádio e TV. Elas são monopolizadas por pequenos grupos e utilizadas para fins privados, criando obstáculos à comunicação em si. Os meios de comunicação no Brasil são elitizados e não atuam como instrumento popular.

Os grandes controladores das emissoras, sobretudo de rádio e de TV, temem que um dia haja um controle social ou qualquer instrumento democrático de gestão. O movimento sindical acredita que a comunicação seja um direito cidadão, assim como saúde, educação e transporte.

Conferência termina com avanços para a Comunicação

Aconteceu de 14 a 17 de dezembro, 1ª Conferência Nacional de Comunicação, da qual participaram 1,6 mil delegados representando o Poder Público, os movimentos sociais e o empresariado do setor. A Conferência aprovou

mais de 700 propostas que, em seu conjunto, representam avanços para a regulação das comunicações brasileiras. Na avaliação de todos os segmentos, a conferência foi vitoriosa pela sua própria realização.

Vale lembrar que a Confecom não é uma instituição legislativa, servindo suas conclusões para orientar os po-deres Executivos e Legislativos na adoção de medidas para torná-las realidade. As resoluções aprovadas na Confecom integrarão o Caderno de Propostas que será encaminhado a diferentes instâncias do Poder Executivo e ao Congresso Nacional.

Do total de mais de 1,4 mil propostas, 601 foram aprovadas nos grupos de trabalho, sendo que 532 por consenso e 69 delas obtiveram 80% de aprovação entre os integrantes dos grupos.

As 129 propostas que não obtiveram índice de aprovação foram encaminhadas à plenária. Algumas foram rejeitadas. Para Marcos Milanez, diretor do Sintetel na Confecom, “o simples fato da Confecom ter sido realizada já significa um salto de qualidade nas comunicações. A Fenattel e o Sintetel já tinham a preocupação de suscitar uma discussão a respeito da democratização das telecomunicações haja vista que já se passaram dez anos da privatização do setor”, afirma. Marcos acrescenta que já era hora de abordar o tema da universalização da banda larga, da internet para todos, da TV comunitária, uma vez que a comunicação está no centro do debate público.

Entre as propostas que foram aprovadas destaca-se a que institui o projeto Operador de Rede Digital Pública e a que prevê a distribuição eqüitativa, entre os setores estatal, privado e público dos canais digitais a serem consignados.

O assessor sindical, João Guilherme Vargas Neto afirma que o evento foi só o primeiro passo. “Foi a primeira conferência em 200 realizadas voltadas a outros setores. A Confecom apresentou avanços significativos e trouxe lições para o movimento sindical”, destaca. A partir de agora depende da unidade e da capacidade de melhorar ainda mais a comunicação no movimento.

A Confecom veio para colocar todas essas discussões na mesa e trabalhar pela grande democratização dos meios de comunicação de massa. Já era tempo.

A importância da Confecom

ComUNICANDo

O que diz a Convenção Coletiva? • Pagamento do Abono de R$ 240,00;• Mudança da data-base para 1º de janeiro;• Reajuste de 5,45% no salário e benefícios;• Piso salarial de R$ 510,00 em janeiro de 2010;• Vale-refeição de R$ 3,70 em jan/2010, R$ 4,20 em jun/2010 e R$ 4,40 em out/2010 (carga horária de 6h); • Abono de R$ 90,00 em junho de 2010 para todos os trabalhadores.

Gilberto Dourado, vice-presidente do Sinte-tel, lidera movimento grevista.

Após solicitação da polícia, a Tivit liberou os ônibus com os teleoperadores.

GREVE

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Trabalhador unido jamais será vencidoDez mil teleoperadores cruzaram os braços e exigiram que a Tivit cumprisse integralmente a Convenção Coletiva de Trabalho Amanda Santoro

O Sintetel sempre bate na tecla de que somente com demonstrações de união e mobilização é que a voz da classe trabalhadora consegue ser ouvida pelas empresas. Outra vez, em mais uma manifestação de trabalho conjunto, o principal lema do Sindicato mostrou na prática que tem eficácia garantida. Entoando o grito “trabalhador unido jamais será vencido”, os funcionários da Tivit cruzaram os braços e deixaram bem claro que não aceitarão as condições que os patrões estavam submetendo-os.

Iniciado em meados de outubro, o movimento grevista englobou as regiões de São José dos Campos, Mogi das Cruzes, Jundiaí e São Paulo, terminando somente quando a empresa aceitou rever a sua postura autoritária quanto a aceita-ção integral da Convenção Coletiva de Trabalho 2009/2010. Adotada pelo restante do segmento, a Convenção estipula cláusulas gerais para to-das as empresas de teleatendimento e somente a Tivit insistia em remar contra a maré. Atento, Contax e Dedic, que aparecem como algumas das companhias mais representativas no setor, já cumprem o estipulado pelo documento desde a sua assinatura, em setembro de 2009.

A Convenção Coletiva de Trabalho não aceita questionamentos quanto a sua aplicabilidade e legitimidade. Assinado pelo sindicato patronal (Sitesp) e pelo sindicato dos trabalhadores (Sin-tetel), o documento foi protocolado na Justiça

do Trabalho e tem força de lei. “Somos os re-presentantes oficiais dos trabalhadores dessas regiões e não podíamos aceitar a forma que a empresa estava nos tratando”, afirmou Almir Munhoz, presidente do Sintetel. “Temos uma história de luta internacionalmente reconhe-cida”, complementou.

Aliás, a força política gerada pelo Sintetel na greve da Tivit evidenciou todo o seu prestígio perante a comunidade internacional. Entidades de cinco países encaminharam cartas de desaprovação ao comportamento que a empresa desprende aos seus trabalhadores. A Uni (Rede Sindical Mun-dial) também fez o seu protesto formal, endos-sando o coro coletivo de insatisfação.

Movimento IntegradoCerca de 10 mil trabalhadores da Tivit de dife-rentes regiões do estado de São Paulo para-lisaram suas atividades como forma de protesto. As cidades de São José dos Campos, Jundiaí e Mogi das Cruzes fizeram mobilizações próprias, mas os resultados eram acompanhados de maneira unitária pelos dirigentes do Sindicato. “Após uma audiência no TRT de Campinas, a unidade de São José dos Campos foi obrigada a pagar o abono salarial de R$ 240,00. Isso in-centivou os trabalhadores de Mogi e Jundiaí a continuarem na luta, pois a empresa é a mesma e as regras devem ser iguais”, afirmou Gilberto Dourado, vice-presidente do Sintetel.

Gilberto ainda esteve à frente dos três dias de mobilização acontecidos na região de Jundiaí. “Quando a empresa resolveu pagar o abono tam-bém para o pessoal de Mogi, a situação ficou insustentável na nossa região. Fomos com tudo para cima da Tivit e acabamos conquistando os nossos objetivos”, finalizou.

Posição arbitrária

A Tivit, em diversos momentos, utilizou-se de seu poder como empresa para intimidar os tra-balhadores que aderiam ao movimento. Supervi-sores e gerentes, a mando do RH da empresa, filmavam e fotografavam o movimento como forma de coagir e amedrontar os funcionários. “O direito de greve é constitucional e está previs-to na Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). O movimento grevista é unitário e democrático, atendendo aos anseios de todos os trabalha-dores da empresa”, afirmou Mauro Cava de Britto, diretor do Sintetel que esteve à frente da paralisação em Mogi das Cruzes.

Em Jundiaí, a empresa encontra-se afastada do perímetro urbano e muitos teleoperadores pre-cisam utilizar fretados para chegar à unidade. A Tivit, então, impediu que esses veículos se aproximassem dos portões de entrada, como forma de diminuir a adesão ao movimento. A atitude foi configurada como cárcere privado e também foi rechaçada pelo Sintetel.

Alunos do centro de formação cantam o Hino Nacional em Libras

26 LINHA DIRETA em revista

CELEBRAÇÃo

Sintetel e ApSe comemorAm DiA internAcionAl DA peSSoA com DeficiênciA Palestras e exposições atrairam o público com histórias de quem venceu na carreira

Pâmela Alves

Inclusão Social

A Organização das Nações Unidas (ONU) realizou durante dez anos o Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência, com objetivo de conscientizar e promover a adoção de medidas que melhorem a situação das pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida. Depois de uma década dedicada à temática, o mesmo fórum decidiu instituir, em 1992, o dia 3 de dezembro como o Dia Inter-nacional da Pessoa com Deficiência. A iniciativa despontou, então, como um marco que sedimentava a luta por consoli-dar as ações em um campo mais prático do que teórico.

O programa da ONU procura garantir ainda que pessoas com deficiência participem plenamente da vida da comu-nidade, assegurando que todos tenham voz em programas e políticas que afetem suas vidas. Seguindo esta linha de ações, foi criada em 1991 a Lei 8.213 para garantir ao defi-ciente uma oportunidade no mercado de trabalho. Conhe-

cida como “Lei de Cotas”, o decreto estabelece a contrata-ção obrigatória de deficientes físicos, conforme o número de trabalhadores que cada empresa possui. A efetivação deve acontecer da seguinte forma: se uma instituição tiver de 100 a 200 empregados, 2% deles devem ser deficientes; de 201 a 500 empregados, 3%; entre 501 e 1.000 devem contratar 4%; e aquelas que possuem mais de 1.000 em-pregados devem contratar 5%. Mas mesmo depois de 18 anos de implementada a lei, uma pesquisa realizada pela organização “Espaço da Cidadania” revelou que a média de empregabilidade é de apenas 15,4%.

Lutas e Dificuldades Além da inclusão social, no entanto, os deficientes lutam pelo reconhecimento do seu esforço e dedicação. E para mostrar aos seus alunos alguns casos de superação, o Sintetel e o Grupo Apse realizaram, no dia 3 de dezembro, a primeira edição do evento “Frutos da Inclusão”, que teve como obje-

Laila Sankari falou sobre Inclusão Profissional

Visitante observa um dos trabalhos expostos pelos alunos

Arlete de Paula foi a palestrante em “Conquista Acadêmica”

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CELEBRAÇÃo

tivo mostrar ao deficiente que ele pode ser uma pessoa produ-tiva e que deve ser reconhecido profissionalmente.

Eloiza Neres, gerente de Projeto e Talentos do grupo, conta sobre a importância do trabalho. “A grande dificuldade para os deficientes é a escolaridade, por isso realizamos um tra-balho para incentivar a inserção deles na vida profissional. Nós qualificamos esses jovens para que ingressem na empresa e sejam funcionários produtivos, não um número de cotas. Isso sim é inclusão.”

A comemoração contou também com a apresentação do Hino Nacional cantado em Libras (Língua Brasileira de Si-nais) e com a leitura de um texto escrito pela aluna Elaine Cristina Bertu, 30 anos, deficiente motora. Com o título “Sociedade consciente, inclusão eficiente”, a jovem contou como os deficientes são vistos e tratados pela sociedade. “To-dos os dias pessoas nos olham com dó, com desprezo, com receio de chegar perto, como se fossemos um bicho estranho. As pessoas veem com naturalidade um idoso ter metade do seu corpo paralisado após um derrame, mas se assustam ao ver um jovem sem um de seus membros em decorrência de um acidente ou doença”, declara. Elaine ainda reforça a importância de se aceitar e lutar por sua inclusão na socie-dade. “Espero que um dia eu seja lembrada como uma pes-

soa comum. Pelo meu trabalho, pelo meu es-forço, pelo meu nome, e não como aquela que manca, a deficiente.”

O Centro de Formação Profissionalizante ainda forneceu aos alunos e visitantes palestras com portadores de deficiên-cia que superaram as dificuldades e hoje estão formados e empregados. Com o tema “Conquista Acadêmica”, a deficiente

auditiva Arlete de Paula, 41, contou como conseguiu cur-sar a faculdade de pedagogia e falou sobre as possibilidades de vencer na carreira. “A vida é difícil, mas nós precisamos lutar. Quando meus colegas foram avisados que existia uma menina surda na sala, todos me olharam com surpresa. Aos poucos ensinei a eles como deveriam se comunicar comigo, e com o tempo as coisas ficaram mais fáceis.”

Sem ter uma intérprete durante o ensino básico, Arlete repe-tiu a oitava série mas não desanimou. Após passar no vestibu-lar, a professora avisou para a universidade que, de acordo com a Lei de nº 10.436, ela tinha direito a um intérprete que a acompanhasse durante as aulas. Criada em 23 de dezembro

de 2005, a “Lei de Libras” garante aos deficientes auditivos um tradutor nas instituições federais de ensino de todo o País, além de equipamentos e tecnologias que possibilitem o acesso à comunicação e à informação.

Porém, quando Laila Sankari, 52, começou a trabalhar de Assistente de Gestão de Políticas Públicas na Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mo-bilidade Reduzida, o decreto ainda não exis-tia. Por isso, a deficiente auditiva teve medo de ingressar no mercado de trabalho. “Quando me formei em comunica-ção no ensino técnico, fiquei um ano sem trabalhar. Depois prestei uma prova na prefeitura e passei, mas como não tinha intérprete tive medo e senti muita dificuldade.”

Laila e Arlete ainda contaram que recebiam tapas nas mãos todas as vezes que eram vistas usando a língua de sinais du-rante o ensino médio, e por conta disso aprenderam a falar e a usar a leitura labial com os professores e colegas.

Além das palestras, o evento contou com a apresentação dos trabalhos de 75 alunos do Projeto de Inclusão Social Escola e Trabalho. Desde outubro passado, os estudantes desen-volveram trabalhos ligados à Física, Português, Arte, Inglês e outras áreas, para mostrar aos visitantes do evento o que aprendem nos cursos realizados na instituição.

28 LINHA DIRETA em revista

mULHER

Adotar ficou mais fácilDescubra as mudanças e os benefícios da nova Lei da Adoção

Emilio Franco Jr.

“Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes”. É isso o que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente, existente desde 1990. Entretanto, a realidade brasileira afronta esse direito, já que um número considerável de crian-ças cresce dentro de abrigos públicos enquanto espera por uma família nova. Visando contornar esse grave problema social, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou em agosto de 2009 a nova Lei da Adoção, um conjunto de normas que facilita aos menores am-parados pelo Estado na difícil missão de encontrar um lar, além de tornar menos burocrático o processo para quem deseja ter um filho.

Pelas novas regras, o limite máximo de espera pela adoção em um abrigo não pode superar dois anos, com exceção dos casos em que há recomendação judicial. To-das as pessoas maiores de 18 anos, independentemente do estado civil, têm assegurado o direito de adotar uma criança. Porém, a lei estabelece a necessidade de que haja uma diferença mínima de 16 anos entre futuros pais e filhos. Com isso, uma pessoa que acabou de completar a maioridade só pode adotar crianças de até dois anos de idade. Essa pequena restrição não deve gerar problemas, já que a grande maioria dos adotantes procura meninos e meninas que não tenham ultrapassado os três anos.

O principal facilitador é que agora pessoas solteiras ou casadas por meio de união estável podem realizar a adoção, além, claro, de casais unidos legalmente no civil, o que já era previsto anteriormente em lei. Entretanto, a adoção por parte de casais homossexuais continua proibida, isso porque a união de pessoas do mesmo sexo ainda não é reconhecida legalmente no Brasil, o que pode mudar após o Supremo Tribunal Federal apreciar o caso.

Com a entrada da lei em vigor no dia 3 de novembro de 2009, exatamente 90 dias após a sanção presidencial, criou-se um cadastro nacional e estadual de crianças e adolescentes em condições de adoção, assim como de casais aptos a praticá-la. O intuito é tornar o processo mais ágil, buscando de forma rápida e eficaz crianças dentro do perfil desejado pelos futuros responsáveis. Após a concretização da adoção, haverá preparação dos novos pais e acompanhamento da adaptação da criança ao novo lar. A lei aprovada é cuidadosa quanto ao trata-mento dispensado às crianças e, além do acompanha-

Adotada ainda na maternidade, Marianna orgulha-se da sua família e da educação que teve.

LINHA DIRETA em revista 29

mento pós-adoção, prevê que os abrigos enviem relatórios semestrais sobre a situação dos menores para a autoridade judicial.

Uma das inovações da lei é a chamada “família extensa”, que dá prefe-rência a adoção dentro da própria família da criança. Com isso, tios, primos e parentes próximos têm prioridade no momento da adoção. A lei também se preocupa em ouvir o que pensam os que serão adota-dos e, por isso, crianças maiores de 12 anos poderão opinar sobre o processo de adoção e o juiz deve levar isso em conta na hora de decidir. Outro ponto de destaque é a determinação para que irmãos sejam adotados por uma única família, o que põem fim ao drama de parentes que são separados em abrigos quando crianças.

Histórias de adoção

Flávio Tadeu Dal Fabbro, advogado de 41 anos, e a supervisora de vendas Rosana Afonso Sobral Dal Fabbro, de 43, mostram-se muito felizes por serem pais adotivos. “Quando fomos até o abrigo conhecer os meninos que seriam nossos filhos foi amor à primeira vista”, conta Flávio. “Sabíamos que eles iam ser nossos”, completa.

A antiga legislação obrigava o preenchimento do chamado “cadastro de intenção de adotar”. Entretanto, essa papelada burocrática era di-vidia em Comarcas, o que tornava o processo mais complexo. Flávio e sua esposa cumpriram o procedimento na Vara de Infância e da Juventude de São Bernardo do Campo e assim entraram na fila de adoção. Mesmo depois de tudo preenchido, como as informações so-bre idade, sexo e cor das crianças pretendidas, o advogado conta que o processo continua a se desenvolver com muita lentidão. Quando o cadastro é aprovado, a família é considerada apta a adotar.

No caso específico da família de Flávio, as crianças aptas para adoção e que se encaixavam no perfil desejado estavam em outra comarca, a de Palmital, no interior de São Paulo. Como o cadastro era descen-tralizado, eles só ficaram sabendo das crianças ao serem informados por parentes. “O primeiro entrave causado pela Lei antiga foi por causa da diferença de Comarca nossa e das crianças”, explica. Antes, as Comarcas davam prioridade a suas respectivas filas de adoção. “O que facilitou foi o fato de eu ser advogado e ter conhecimento da parte processual”, salienta.

O primeiro passo, conta, foi ligar para a assistente social. Entretan-to, o mau atendimento deixou o casal desanimado. “Ela nos disse que não tinha tempo para nos atender”. Passada a raiva do péssimo atendimento, Flávio e Rosana decidiram conversar diretamente com o promotor responsável e no mesmo dia foram ao fórum. “Para nossa surpresa, o promotor foi muitíssimo atencioso, gostou de nós e nos incentivou a ingressar com um pedido de guarda provisória”, conta. Logo em seguida, eles deram entrada no pedido e apenas três meses depois conseguiram a guarda provisória. “Tivemos que esperar todas as pessoas daquela Comarca não aceitarem a adoção dos dois”, acrescenta.

Mas, enfim, depois de um ano, veio a guarda definitiva do menino, a época com quatro anos, e da menina, com um ano e meio de vida. “Hoje eles já estão com o nosso nome e definitivamente adotados”, orgulha-se. Mas, lá no começo, existiram as dificuldades normais desse tipo de situação. “A adaptação foi muito complicada”, confiden-cia. “A maior dificuldade ocorreu porque estávamos todos em adapta-ção. Tanto as crianças como nós”, explica.

Flávio diz que não é simples ver a casa cheia de uma hora para a outra. Eles não estavam acostumados com as crianças, e elas também estra-nhavam o novo lar. O mais velho dos filhos, de acordo com Flávio, era bastante arredio, tinha medo de todos e se apoiava inteiramente neles. A menina, por sua vez, chorava muito à noite e eles ficavam deses-perados sem saber direito o que fazer. “O que assusta num primeiro momento é o fato de chegarmos à conclusão: agora é para sempre”, conta. Muitas famílias, ao concluírem o mesmo, devolvem as crianças para o abrigo, e isso acarreta em danos irreparáveis para elas.

Mas, para o casal de pais coruja, a situação foi outra. Três anos e meio depois da adoção, Flávio diz que seus filhos estão perfeitamente adaptados, assim como ele e sua esposa. “Não vemos nossa vida sem eles. Minha esposa sempre diz que nós é que fomos adotados por eles. Não sabemos mensurar a felicidade que a adoção nos trouxe”, completa. Flávio conta que ao ser questionado sobre o assunto por alguém, ele diz que as crianças são filhos do coração e que, aos poucos, os meninos vão compreendendo o que isso significa.

Para Marianna Muradas, atualmente com 21 anos de idade, a adoção, como ela mesma classifica, foi algo maravilhoso em sua vida. Desde pequena, sua família contava a verdade, mas ele só foi assimilar o fato quando era adolescente, em uma conversa com sua prima. “Eu es-queci totalmente que minha mãe já havia me contado”, explica. “No primeiro momento foi um choque, mas depois percebi que isso não muda nada”, acrescenta.

A história de Marianna é atípica. Ela foi adotada ainda na materni-dade quando Maria de Lurdes Muradas, sua mãe, estava no hospital em função do nascimento de outra criança da família e soube por meio de um médico que a mãe biológica de Marianna, na época com apenas 14 anos, não queria assumir a maternidade. Foi assim que Maria de Lurdes decidiu que daquele momento em diante ela seria a mãe da menina. Devido à circunstância inusitada, o processo de adoção não foi legalmente reconhecido, mas, para Marianna, isso não é importante. “Não faz diferença ser adotada pela lei, o que importa é a atitude, é o coração”, palpita.

A jovem garota de feição europeia, educada em um renomado colégio de São Paulo, reconhece que teve sorte e considera a nova lei uma ótima iniciativa do governo federal. “Esse tipo de regulamentação é sempre importante”, afirma. “Estamos falando de vidas e, por isso, é preciso que existam regras e critérios para a adoção”, conclui.

mULHER

30 LINHA DIRETA em revista

CULTURA

O boom das séries no Brasil

Amanda Santoro

Quem nunca riu com as cômicas aventuras vividas pelos seis companheiros do sitcom* “Friends” ou levantou teorias mirabolantes sobre o mistério que envolve a ilha de “Lost”? Muito populares nos Estados Unidos, os seriados vêm pouco a pouco consolidando um papel de peso na rede televisiva brasileira. Partindo desta premissa, os “enlatados” norte-ameri-canos já podem ser con-siderados pedras nos sapatos das telenovelas, incomodando os exe-cutivos de televisão que ignoraram a fórmula de sucesso consagrada no exterior. “A Globo comprava os direitos de duas ou três séries, no máximo, mas não tinha interesse em exibi-las. Ela já apresentava uma ampla produção própria de conteúdo”, afirmou Paulo Gustavo Pereira, jornalista espe-cializado no tema e autor do livro “Almanaque de Seriados”. “O canal até realizou uma tímida tentativa nos anos 80, quando incorporou cinco séries na grade de programação vespertina. Naquela época, na verdade, a iniciativa mais funcionava como tapa buracos”, complementou o escritor.

A história da televisão, no entanto, estava prestes a dar uma guinada que inevitavel-mente favoreceria os “quebra-galhos” de outrora. Em 1988 passou a vigorar no País o decreto de regulamentação da TV por assinatura, permitindo que emissoras pagas testassem produtos sem a forte pressão por audiência da TV aberta. Os canais de dis-tribuição aumentaram exponencialmente e o novo formato começou a cair no gosto popular. Pela primeira vez em solo nacional, os seriados norte-americanos chamaram as atenções para si, abrindo um novo leque de possibilidades.

Hoje “Supernatural” é o caso que melhor ilustra essa mudança de perspectiva. A sé-rie, que por aqui recebeu o nome de “Sobrenatural”, vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 21 horas, no SBT. Com índices de audiência invejáveis, a luta demoníaca dos irmãos Winchester ocupa o antigo horário das telenove-las produzidas por Silvio Santos, mas isso não chega a ser um problema. O suspense consolidou um público fiel, principalmente entre os mais jo-vens, aumentou em 110% a audiência do horário em novembro passado, e desbancou por algumas vezes o reality show “A Fazenda”, que até então havia

Bebel Gilberto é uma cantora de mão cheia. Super badalada nos Estados Unidos e no leste europeu, a filha de João Gilberto e Miú-cha não desperdiçou o talento herdado no berço e seguiu os passos dos pais. Atualmente a cantora e compositora divide o lar e o coração entre duas cidades bem distintas, porém bastantes importantes no pa-norama mundial: Nova Iorque e Rio de Janeiro. Nascida nos Estados Unidos, Bebel não tem pudores ao revelar seu coração bem brasileiro, fato que pode ser visto com clareza nas canções regadas à bossa nova. O primeiro álbum da artista, chamado “Tanto Tempo”, foi eleito pela crítica como um dos 1.000 discos que devem ser ouvidos antes de morrer. Em 2004 a cantora lançou o segundo cd, que leva seu nome no título, e em 2007 apresentou ao público “Mo-mento”, seu terceiro trabalho. Neste ano a cantora lança o álbum “All in One”, que traz regravações de músicas como “Bim Bom” e “Chica Chica Boom Chic”, sendo esta úl-tima pertencente à trilha so-nora da novela “Viver a Vida”. Vale a pena conferir!

Dica de música

Emissoras de televisão aberta investem em seriados norte-americanos para alavancar audiência

* Abreviatura de “ situation comedy”, que em português significa comédia de situação, do cotidiano.

LINHA DIRETA em revista 31

CULTURA

A pós-modernidade trouxe consigo uma gama de aspec-tos que atingem diretamente o homem. Muito mais do que apresentar elementos históri-cos, a era neoliberal mudou as relações sociais, atingindo for-temente os relacionamentos afetivos. Em “Amor Líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos”, o sociólogo po-lonês Zygmunt Bauman ana-lisa que o peso dado à riqueza e ao status na sociedade líquida revela-se inversamente proporcional à durabilidade dos relacionamentos. Segun-do o autor, as pessoas desta geração estão mais propícias à paixão e aos relacionamentos fervorosos de curta duração, não mais optando pela força dos laços afetivos. Nunca a variedade de relacionamen-tos foi tão grande, permi-tindo que cada um escolha o que considera melhor para si, remontando um esquema semelhante ao de compra de produtos nos hipermercados. Crescem as inseguranças, o tédio (e, com isso, as formas capazes de eliminá-lo), o sen-timento de rápida saciedade e a busca pela liberdade. Para Bauman, a fragilidade das rela-ções é uma proposta da pós-modernidade, não uma rota alternativa casualmente ado-tada no caminho. “A solidão por trás da porta fechada de um quarto com um telefone celular à mão pode parecer uma condição menos arrisca-da e mais segura do que com-partilhar um terreno domés-tico comum”, disse o autor.

Dica de leiturase firmado na segunda colocação do Ibope. “O SBT nunca teve dinheiro para investir em produção nacional e, por isso, adotou a estratégia de importar programas e formatos. Silvio Santos fechou acordo com as novelas da Televisa, e as fitas do seriado ‘Chaves’ estavam in-cluídas no pacote”, disparou Bruno Carvalho, advogado e colunista do site Ligado em Série. “Contrariando todos os executivos da época, Silvio acreditou no potencial da atração, man-dou dublá-la e colocou no ar. O sucesso foi tão grande que ‘Chaves’, ‘Chapolin’ e a turma ‘Chesperito’ são exibidas até os dias hoje”, enfatizou.

Entretanto, fica evidente que os índices de “Sobrenatural” – que ficam na casa dos 10 pon-tos – ainda não representam perigo para as telenovelas, que chegam à marca dos 40 pontos e estão enraizadas na cultura do povo (cada ponto representa cerca de 60 mil televisores na Grande São Paulo). “Apesar da maior audiência que as tramas da Record têm apre-sentado nos últimos tempos, a Globo ainda desponta como líder incontestável na área. A dona-de-casa que adianta o jantar da família para assistir à novela de Manoel Carlos não irá mudar seus hábitos tão facilmente”, afirmou Vanessa Medeiros, editora do canal

de séries do Portal Estrelando. “Existe, no entanto, um grupo de pessoas que não suporta mais este formato de produto que se repete com o passar dos anos. Colocar um seriado nesta faixa de horário é tentar chamar a atenção desse públi-co”, completou a jornalista.

As outras emissoras nacionais também estão atentas à tendên-cia, mesmo que larguem com desvantagem em relação ao ca-nal de Silvio Santos. Dono do maior acervo, o SBT detém os direitos dos seriados da Warner, mas foi a Globo que arrebatou os aclamados “Lost” e “24 Ho-

ras”. A Record finaliza suas noites com a exibição da franquia “CSI” e de “House”, en-quanto a Band tenta emplacar, ainda de forma desordenada, “The Sopranos” e “The Shield”. “Há outras iniciativas isoladas, mas os horários são confusos e raramente a ordem dos episódios é respeitada”, disse Ale Rocha, jornalista e editor do blog Poltrona.

Assim como acontece nas telenovelas brasileiras, os investimentos em seriados são altíssimos nos Estados Unidos e o retorno ocorre de forma quase instantânea com audiências gigantescas. A revista Época Negócios, em reportagem publicada no mês de outubro, afirmou que “CSI” apresentou a cena mais cara da televisão. A sequência de abertura da 10ª temporada, que durou apenas 120 segundos e utilizou tecnologia Bullet Time, já empregada no longa-metragem “Matrix”, custou R$ 692 mil. Outro valor impres-sionante refere-se ao episódio piloto de “Lost”, que teve duração de 80 minutos e custou entre US$ 10 milhões e US$ 14 milhões. Os executivos da ABC nunca chegaram a um número exato.

Assistindo de camarote a guerra pelos maiores números, os telespectadores são os grandes beneficiados pela inclusão de um novo formato de qualidade na televisão brasileira. “Essa tendência tem sido muito bem recebida pelos fãs das séries. Temos agora a esperança de assistir temporadas atuais na TV aberta”, afirmou o estudante de jornalismo Miguel Pieruccini, que fundou o site CineSéries na companhia de alguns amigos. Porém, como em todo processo transitório, algumas dificuldades são percebidas e questionadas pelo público. “As principais críticas dos fãs referem-se às traduções equivocadas dos títulos originais e às dublagens que nem sempre respeitam a personalidade dos personagens”, disparou Miguel.

Aos brasileiros resta a espera paciente pelos próximos episódios desta história que ainda está longe de terminar. Novos canais deverão surgir, estratégias ganharão força e a populari-zação do tema parece ser inevitável. Linha Direta em Revista acompanhará de perto esse pro-cesso, pois muitas temporadas ainda serão transmitidas antes que o season finale vá ao ar.

32 LINHA DIRETA em revista

Em PAUTA

João Guilherme

Quando nos conhecemos, há mais de 20 anos, conhecimento de livraria, na an-tiga Cortez na descida da Rua Bartira era quase um anônimo procurando, como eu, livros e novidades. Hoje é, seguramente, um dos maiores sociólogos do mun-do inteiro e o mais influente em nossa língua.

Boaventura de Sousa Santos construiu uma obra imponente e abordou temas relevantes da globalização e da modernidade. Estudou com persistência os siste-mas jurídicos e formulou teses que se transformaram em verdadeiros axiomas, como se pode ver em seu livro de 2007, “Para Uma Revolução Democrática da Justiça”.

Recentemente publicou na Folha de S. Paulo (4/12/09) o artigo “A Contrarre-volução Jurídica”, cujo título fala por si próprio, mas que ele trata de definir como “um ativismo judiciário conservador que consiste em neutralizar, por via judicial, muito dos avanços democráticos”. Isto se passa em vários países latino-americanos, e para ele, é possível que o Brasil venha a ser um deles.

Não é um movimento concertado, muito menos uma conspiração e não abrange todo sistema judiciário; é um entendimento tácito entre elites político-econômi-cas e judiciais, criado a partir de decisões concretas.

Boaventura arrola inúmeros exemplos de resistência às políticas afirmativas de acesso à educação de negros e índios, à legalização de terras indígenas e quilom-bolas e à punição de torturadores; inclui também a criminalização do MST.

Em sua lista faltou o registro das inúmeras agressões aos direitos sindicais (inclu-sive o direito a recursos financeiros dos trabalhadores) e trabalhistas (como a uti-lização indiscriminada do “interdito proibitório” contra greves e mobilizações). Apesar desta ausência o artigo cria um quadro conceitual de referência para raciocinarmos sobre o fenômeno.

Nas relações institucionais do movimento sindical com a área jurídica, especialmente nas Pro-curadorias do Trabalho, algo de positivo começa a acontecer de-pois das denúncias encaminha-das unitariamente pelas centrais sindicais à OIT, em Genebra.

Pode-se desenvolver, com fa-cilidade, as ideias do artigo de Boaventura em relação aos grandes meios de comunicação, objeto de reportagem de capa nesta edição da nossa revista. O sociólogo Boaventura de Souza Santos

LINHA DIRETA em revista 33

PASSATEmPo

Você sabia que...

... a voz envelhece?Assim como o restante do corpo, o envelheci-mento da voz é ocasionado pelo desenvolvimen-to natural do organismo, que acaba por engrossar

as cordas vocais, reduzir os movimentos das articu-lações e atrofiar a muscu-latura laríngea. Sendo as-sim, a voz envelhece de acordo com as alterações da boca, lábios e língua.

... a hanseníase é a doença mais antiga o mundo?Os primeiros registros da enfermidade, popu-larmente chamada de lepra, datam de 1.350 a.C. Apesar disso, o tratamento eficaz para a hanseníase só foi descoberto nos anos 80. Ocasionada pela bactéria Mycobacterium leprae, a moléstia ataca os nervos e a pele, gerando estágios graves de deformações.

... a quantidade de cabelos varia de acordo com a coloração?Em geral, o ser humano possui cerca de 100.000 fios de cabelos, porém esse número pode variar para mais ou menos de acordo com a coloração. Os ruivos, por exemplo, tem em média 90.000 fios, enquanto os morenos possuem 110.000 e os louros 140.000.

Fonte: Brasil Escola e VoceSabia.net

oLHo DA RUA

34 LINHA DIRETA em revista

Boas Festas

- Estou empregado neste final de ano, parceirinho. Sem carteira assinada, mas empregado. A gente lá de casa já está antegozando o cheiro do frango assado e sonhando com as borbulhas do es-pumante. Só eu estou contrafeito pelas circunstâncias em que fui contratado.

Estas foram as palavras com que o meu amigo Zanganor me recebeu em nosso último encontro. Percebendo seu mau humor – coisa rara num temperamen-to pacífico e luminoso como o dele -, convidei-o para tomar uma cerveja no Quiroga. Sabia que a forma festiva com que ele é sempre recebido no bar fun-cionaria como uma generosa dose de bons fluidos.

- Então, meu caro, que circunstâncias desastrosas foram essas?

Louco para desabafar, o Zanga não se fez de rogado e foi logo me contando do constrangimento pelo qual tinha passado no processo seletivo:

- Veja que absurdo, parceirinho: me can-didatei a uma vaga de Papai Noel numa loja de brinquedos com poucas filiais, todas por ali mesmo, na região onde eu me escondo. Eram quatro vagas e só apareceram três candidatos. Mesmo assim, tive que brigar para não ser des-cartado. O gerente argumentou que nunca ninguém viu Papai Noel preto e magro como eu. Dá pra acreditar?

- E você? Ameaçou processá-lo por racismo, imagino.

- Que nada. O cara é gente boa, meu amigo de longa data. Eu sei muito bem que ele não tem preconceito de es-pécie alguma. Em verdade, ele reclamou do custo e da mão de obra que seria manter alguém disponível para me pro-duzir várias vezes ao dia.

- Ora – argumentei, Papai Noel usa luvas, barrete, barba postiça. Sobraria pouca superfície para denunciar sua cor verdadeira. E a magreza, nada que algu-mas almofadas não pudessem resolver.

- Pois é. Ele implicou mesmo foi com as minhas fornalhas, que, reconheço, são um pouco exageradas. Mas acabou reconhecendo que eu, como já exerci a função de palhaço-locutor numa loja ali do lado, poderia dar um jeito na maquiagem sozinho. O problema é que sou desajeitado pra caramba e não sei como descascar esse pepino. Vou é me borrar todo.

Então, por brincadeira, recomendei que ele usasse o nariz vermelho de palhaço. Pois não é que ele gostou da ideia? Emborcou o que restava da cerveja num sorvo prolongado, me agradeceu com efusivos votos de Boas Festas, e desceu a rua todo pimpão, afagando com carinho suas amplas e expressivas chaminés.

Paulo Rodrigues *

* Paulo Rodrigues é assessor do Sintetel e autor do livro À margem da Linha, que ganhou prêmio da APCA.

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