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CENTROS DE DOCUMENTAÇÃO DE BOA VISTA/RR: DIAGNÓSTICO E PROBLEMATIZAÇÃO ARTIGO RESUMO: Este artigo apresenta as conclusões da primeira etapa da pesquisa “Diagnóstico e Cadastramento do Acervo Documental dos Centros de Informação de Boa Vista/RR”, cujo objetivo é a identificação das principais dificuldades que pesquisadores e instituições enfrentam, respectivamente, para acessar, conservar e difundir a documentação histórica de Roraima. A coleta de dados através de questionário e observação in loco revelou, como resultado, o diagnóstico sobre a segurança, as condições de acondicionamento do acervo, as instalações físicas e os recursos materiais dos principais centros de documentação de Boa Vista. Palavras-chave: Centro de documentação. Conservação de acervos. Diagnóstico. 1 Licenciada Plena em História e Especializanda em Patrimônio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). E-mail: [email protected] 2 Arquiteta e Urbanista - Mestre em Desenvolvimento Urbano. Técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). E-mail: [email protected] PAULINA ONOFRE RAMALHO¹ CARLA GISELE MACEDO S. M. MORAES² 17

741-2453-1-PB

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  • CENTROS DE DOCUMENTAO DE BOA VISTA/RR:

    DIAGNSTICO E PROBLEMATIZAO

    ARTIGO

    RESUMO: Este artigo apresenta as concluses da primeira etapa

    da pesquisa Diagnstico e Cadastramento do Acervo

    Documental dos Centros de Informao de Boa Vista/RR, cujo

    objetivo a identificao das principais dificuldades que

    pesquisadores e instituies enfrentam, respectivamente, para

    acessar, conservar e difundir a documentao histrica de

    Roraima. A coleta de dados atravs de questionrio e observao

    in loco revelou, como resultado, o diagnstico sobre a segurana,

    as condies de acondicionamento do acervo, as instalaes

    fsicas e os recursos materiais dos principais centros de

    documentao de Boa Vista.

    Palavras-chave: Centro de documentao. Conservao de

    acervos. Diagnstico.

    1 Licenciada Plena em Histria e Especializanda em Patrimnio do Instituto do Patrimnio

    Histrico e Artstico Nacional (IPHAN). E-mail: [email protected]

    2 Arquiteta e Urbanista - Mestre em Desenvolvimento Urbano. Tcnica do Instituto do

    Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN). E-mail: [email protected]

    PAULINA ONOFRE RAMALHO

    CARLA GISELE MACEDO S. M. MORAES

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  • INTRODUO

    O presente artigo expe as concluses da primeira etapa da pesquisa

    Diagnstico e Cadastramento do Acervo Documental dos Centros de

    Informao de Boa Vista/RR, desenvolvida no mbito do Instituto do

    Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), como atividade do Programa

    de Especializao em Patrimnio (PEP). Esta etapa consiste na identificao

    das principais dificuldades que pesquisadores e instituies enfrentam,

    respectivamente, para acessar e conservar a documentao histrica de

    Roraima.

    Percebemos no estado de Roraima, nos ltimos anos, um relativo

    incremento no quadro das pesquisas desenvolvidas nas mais diversas reas.

    No entanto, elas continuam extremamente escassas se comparadas ao

    potencial do estado. Analisando essa insuficincia dos trabalhos realizados,

    percebemos que a grande dificuldade de se desenvolver uma pesquisa so as

    fontes, ou melhor, o acesso a elas.

    Nesse sentido, consideramos importante um trabalho que se destine a

    fazer um diagnstico do atual estado dos centros de informao de Boa Vista e

    das condies de acesso s fontes documentais.

    Inicialmente, para embasar as questes metodolgicas e o trabalho de

    campo, teceremos uma discusso conceitual a partir de princpios da

    arquivologia e biblioteconomia. Em seguida, apresentaremos a metodologia

    utilizada e os resultados produzidos. As consideraes finais abordam o atual

    estado dos centros de documentao de Boa Vista e suas implicaes para as

    pesquisas empreendidas em Roraima. Situamos nossa iniciativa, nessa

    conjuntura, como uma contribuio para o conhecimento, manuseio e

    tratamento da documentao roraimense.

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  • A GESTO DOS CENTROS DE DOCUMENTAO: CONCEITOS E PRINCPIOS

    Ao desenvolvermos a pesquisa, recorremos aos conceitos utilizados

    pela Arquivologia para definir, segundo a finalidade, as instituies que

    possuem a guarda dos documentos de Roraima:

    A partir destes conceitos, percebemos que o centro de documentao

    ou informao o mais complexo, tendo em vista que rene documentao

    diversificada (livros, filmes, relatrios, microfilmes, fotografias, mapas etc.) e

    abrange algumas atividades prprias da biblioteconomia, da arquivstica e da

    informtica (PAES, 2004, p.17). Assim, seu campo de atuao mais amplo

    que o dos rgos de documentao especializados em um nico tipo de

    documento. Para efeito deste trabalho, o termo centro de documentao ou

    informao ser utilizado, de maneira geral, para designar os locais

    pesquisados.

    O estabelecimento de uma nomenclatura mais eficiente para designar

    os locais que guardam os documentos surgiu da ampliao do conceito de

    acervo que, inicialmente restrito ao documento em suporte de papel, agora

    inclui documentos de diferentes espcies (atas, decretos, relatrios,

    diapositivos, gravuras, plantas, mapas) e gneros (audiovisuais, filmogrficos,

    iconogrficos, cartogrficos, sonoros, informticos, textuais) (PAES, 2004,

    p.25-26). Esta ampliao do conceito aumentou a complexidade da gesto de

    acervos, exigindo novos instrumentos de conservao e segurana (MAST;

    MUSEU VILLA-LOBOS, 2006, p.5).

    Os desafios da conservao so muitos, contribuindo para a

    deteriorao dos acervos fatores diversos, que vo desde a ao antrpica at

    as condies ambientais do local em que o acervo est acondicionado (GTHS

    In: MAST, 2007, p.27). A conservao preventiva , na atual conjuntura da

    gesto de acervos, uma alternativa vivel e econmica:

    ARQUIVO - a acumulao ordenada dos documentos, em sua maioria

    textuais, criados por uma instituio ou pessoa, no curso de sua atividade,

    e preservados para a consecuo de seus objetivos, visando utilidade

    que podero oferecer no futuro.

    BIBLIOTECA - o conjunto de material, em sua maioria impresso, disposto

    ordenadamente para estudo, pesquisa e consulta.

    MUSEU - o conjunto de interesse pblico, criado com a finalidade de

    conservar, estudar e colocar disposio do pblico conjuntos de peas e

    objetos de valor cultural. (...)

    CENTRO DE DOCUMENTAO - Tem por finalidade coligir, armazenar,

    classificar, selecionar e disseminar toda a informao. (PAES, 2004, p.

    16;17; grifos da autora)

    19

  • A conservao preventiva se aplica a todos

    os elementos do patrimnio em situao de

    deteriorao ativa ou no, visando proteg-los

    de qualquer agresso natural e humana, e a

    adoo de medidas de conservao preventiva

    , tambm, uma resposta dos profissionais que

    atuam no campo da preservao do patrimnio

    cultural s modificaes de uso dos edifcios

    histricos, s variaes dos sistemas de

    propriedade das colees, s mudanas das

    condies ambientais do entorno, que tanto

    interferem no estado de conservao das

    colees.

    O ambiente o campo de ao privilegiado

    da conservao preventiva, sendo o controle

    ambiental uma das suas principais estratgias.

    (CARVALHO In: MAST, 2007, p.36)

    Este controle parte de estratgias diferenciadas, dependentes da

    realidade de cada local, que incluem medidas de manuteno dos nveis de

    temperatura, umidade relativa, iluminao, bem como a excluso das

    condies favorveis biodeteriorao (poluio, incidncia solar, fungos,

    mofo e cupins). Do mesmo modo, as instalaes fsicas do prdio que abriga o

    acervo requerem medidas especficas, pois, quando no so satisfatoriamente

    estruturadas contribuem para sua deteriorao. Como ressalta Gths,

    Nos prdios antigos temos problemas nos

    sistemas eltr ico e hidrulico, salas

    inadequadas, [falta de] segurana contra roubo,

    dificuldades de adaptao de um edifcio para

    guarda de acervos. (In: MAST, 2007, p.27)

    As condies ideais do acervo pressupem um ambiente seguro,

    prevenido contra incndio e planejado de modo que no haja incidncia de luz

    natural e ocorra um controle da iluminao artificial, mantendo a umidade

    estvel (entre 45 e 58%) e a temperatura sem grandes oscilaes (entre 20 e

    22C), atravs do uso constante de aparelhos de ar condicionado e

    desumidificadores. No caso de acervos j danificados, algumas operaes de

    conservao podem auxiliar na recuperao dos documentos, tais como

    desinfestao, limpeza, alisamento e restaurao ou reparo (PAES, 2004,

    p.142).

    3 Uma soluo alternativa para o controle da umidade o uso de slica-gel em recipientes plsticos,

    nos equipamentos que guardam os documentos (PAES, 2004, p.141).

    20

  • Alm dos problemas propriamente relacionados conservao,

    perceptvel, na relao entre o pblico e o acervo, um distanciamento e

    desconhecimento da sua finalidade. Ainda reina a ideia do museu como um

    antiqurio, local que somente guarda e expe coisas antigas. A biblioteca, por

    sua vez, utilizada principalmente por estudantes do ensino fundamental e

    mdio durante suas tarefas escolares. Da mesma maneira, o arquivo pblico

    encarado como o local que rene uma documentao velha, fechada e restrita.

    Esta mentalidade vai de encontro ao uso social desses espaos, que guardam

    fragmentos da histria, da memria e do saber humano e tm como

    compromisso a difuso do conhecimento.

    A partir desta constatao, Belloto prope a extroverso dos arquivos,

    com a interao com a comunidade, tanto o pblico escolar, como o adulto [em]

    geral, tendo como usurio no apenas o pesquisador, mas o cidado (BELLOTO

    apud FUNARI, 2006, p.130).

    J existe uma legislao que regulamenta a conservao e extroverso

    de acervos, estabelecendo normas e responsabilidades sobre os documentos.

    O Governo Federal reconhece, desde 1937 (Decreto-Lei n. 25/1937), a

    importncia da preservao dos arquivos, sejam eles pblicos ou privados. A

    Lei n. 8.159, de 08 de janeiro de 1991, dispe, em seu Art. 1:

    dever do Poder Pblico a gesto documental e

    a proteo especial a documentos de arquivos,

    como instrumento de apoio administrao,

    cultura, ao desenvolvimento cientfico e como

    elementos de prova e informao.

    As pessoas fsicas ou jurdicas que possuem arquivos relevantes para a

    histria, a cultura e o desenvolvimento nacional de interesse pblico e social

    tambm esto sujeitas a normas jurdicas. O artigo 9 do Decreto n. 2.942, de

    18 de janeiro de 1999 esclarece que:

    Os proprietrios ou detentores de arquivos

    privados declarados de interesse pblico e

    social devem manter preservados os acervos

    sob sua custdia, f icando sujeito

    responsabilidade penal, civil e administrativa,

    na forma da legislao em vigor, aquele que

    desfigurar ou destruir documentos de valor

    permanente.

    Todos esses procedimentos tcnicos e legislativos constituem o

    respaldo a partir do qual aliceramos o diagnstico dos centros de informao.

    21

  • DIAGNSTICO E PROBLEMATIZAO: A SITUAO DOS CENTROS DE

    DOCUMENTAO

    O I Encontro Roraimense dos Estudantes de Histria, promovido em

    2008 pelos acadmicos de Histria da UFRR e UERR, abordou questes

    fundamentais para o debate sobre os centros de documentao de Roraima. A

    inexistncia de um arquivo pblico e a indisponibilidade da documentao

    produzida pelas instituies do estado, tanto para o pblico em geral como para

    os pesquisadores em particular, foram alguns dos aspectos discutidos no

    evento. Sobre o arquivo pblico, sabemos que:

    O arquivo pblico (...) ainda no existe em

    Roraima. A informao da Assessoria de

    Comunicao do Governo do Estado. Conforme

    o governo, o material produzido pelas

    secretarias guardado no arquivo morto de

    cada rgo. A diviso de Patrimnio Histrico,

    localizada na avenida Jaime Brasil, possui

    arquivo de jornais e dados histricos sobre

    Roraima, com fotografias, discos (vinil e CD),

    alm de livros que servem como fonte de

    pesquisa. Segundo a chefe da Diviso do

    Patrimnio Histrico, Meire Saraiva, nenhuma

    secretaria encaminha documentos para o setor

    (...). (Trecho da notcia Historiadores debatem

    arquivo pblico. Folha de Boa Vista, 5 mai.

    2008; sem grifo no original)

    Alm disso, o professor Jaci Guilherme Vieira faz uma crtica ao papel

    do estado para a preservao documental:

    Segundo o professor, responsabilidade do

    Governo do Estado criar esse acervo [pblico],

    que deve armazenar todos os documentos

    produzidos pela burocracia alm de jornais e

    livros que vo servir para que futuros

    historiadores possam contar a histria do

    Estado. (Trecho da notcia Roraima o nico

    estado que no tem um arquivo pblico. Folha

    de Boa Vista, 23 abr. 2008; sem grifo no

    original)

    Diante do contexto exposto, reconhecemos a necessidade de

    identificar, de forma mais concreta, a situao real de nossos acervos. Nesse

    sentido, selecionamos instituies de Boa Vista (ver Quadro 1) que se

    caracterizam por apresentarem documentos que so referncias para os

    pesquisadores do estado. Das sete instituies consultadas, seis so pblicas

    e apenas uma de carter privado.

    22

  • Aps um contato prvio com as instituies, iniciamos o diagnstico

    dos centros de documentao, tomando como premissas as regras bsicas de

    conservao documental (acondicionamento, armazenamento, conservao e

    restaurao), segurana e gesto de acervos (BACELLAR In: PINSKI (org.),

    2005, p. 57).

    Para mensurar as variveis do nosso estudo e obter uma gama maior

    de informaes sobre as instituies, que se complementaram nossa

    observao in loco, elaboramos um questionrio com 38 perguntas objetivas e

    semifechadas, intitulado Questionrio sobre segurana, acondicionamento do

    acervo e condies fsicas e materiais dos Centros de Documentao de Boa

    Vista/RR. A elaborao tomou como exemplo o modelo formulado pelo Museu

    de Astronomia e Cincias Afins e pelo Museu Villa-Lobos na construo de uma

    23

  • poltica de segurana para arquivos, bibliotecas e museus (MAST; VILLA-LOBOS,

    2006, p.105). A fim de adapt-lo realidade dos nossos acervos e s

    informaes que desejvamos recolher em nossa pesquisa, realizamos

    algumas modificaes (acrscimos e supresses). Por ltimo, o questionrio foi

    dividido em seis sees: dados gerais, infra-estrutura, segurana, instalaes

    do centro de documentao, mecanismos de controle de acesso e sistemas de

    proteo do acervo (PAES, 2005, p. 35-36).

    As seis instituies que responderam ao questionrio at a data-limite

    (14 de abril de 2009), correspondentes a 85,71% do total, foram: Diocese de

    Roraima, Biblioteca Pblica do Estado, Museu Integrado de Roraima, Ncleo

    Insikiran de Formao Superior Indgena da UFRR, Departamento de Histria

    da UFRR e Diviso de Patrimnio Histrico do Estado.

    A anlise dos dados demonstrou a realidade e a conjuntura das

    pesquisas e centros de informao em Roraima.

    Constatamos que a maioria das instituies no possui uma rea

    adequada para a consulta das fontes documentais que garanta a segurana do

    acervo e o conforto do pesquisador. Pois, a organizao do espao fsico no

    conjuga fatores essenciais como iluminao, climatizao do ambiente e

    mobilirio.

    Grfico 1. Cincia dos riscos aos quais o acervo

    est sujeito e registro de

    perdas nos ltimos 10 anos

    Grfico 2. Frequncia de vistoria ao acervo

    Grfico 3. Instalaes

    construdas para a finalidade

    de abrigar o acervo

    Fonte: Informaes do

    Questionrio aplicado junto aos

    Centros de Documentao de Boa

    Vista

    Fonte: Informaes do

    Questionrio aplicado junto aos

    Centros de Documentao de Boa

    Vista

    Fonte: Informaes do

    Questionrio aplicado junto aos

    Centros de Documentao de Boa

    Vista

    De maneira geral, os centros de informao no possuem profissionais

    especializados que possam atender satisfatoriamente e acompanhar o usurio

    em sua pesquisa, visto que no h uma poltica de formao e capacitao de

    recursos humanos nas reas de museologia, biblioteconomia e/ou

    arquivologia:

    24

  • No estado, devido a falta de curso superior em

    biblioteconomia, h poucos profissionais da

    rea que atuam em escolas, faculdades e

    universidades. Todos os responsveis pelo

    funcionamento das bibliotecas tm formao

    na rea fora de Roraima.(...)Para os

    profissionais da informao, dentre eles o

    bibliotecrio, o objetivo de trabalho a

    informao, devendo este estar envolvido em

    todo o ciclo documental ou informacional. A

    informao o ponto principal para atuao

    do profissional bibliotecrio, por isso a

    importncia de ser formado e estar sempre se

    qualificando dentro da rea. (LIMA, 2009.

    Trecho da notcia Profissionais da rea de

    Biblioteconomia so poucos em RR. Jornal

    Folha de Boa Vista, 12 mar. 2009)

    A equipe que trabalha na maior parte destes centros pequena, como

    pode ser demonstrado no Grfico 4. No entanto, verificamos esforos dessas

    pessoas para contornar as dificuldades no tratamento documental e no

    atendimento ao pblico.

    Grfico 4. Nmero de pessoas trabalhando no centro de documentao

    Fonte: Informaes do Questionrio aplicado junto aos Centros de Documentao de Boa Vista

    As instalaes so inapropriadas para a guarda do acervo, j que no

    se tratam de edifcios planejados para essa finalidade. Grande parte dos

    prdios no provida de equipamentos de segurana (alarmes, extintores de

    incndio, circuito interno de TV, sistema de deteco eletrnica) e mecanismos

    de controle ambiental (aparelhos de ar condicionado, desumidificadores,

    iluminao artificial adequada etc.).

    25

  • Grfico 5. Equipamentos dos centros de documentao

    Fonte: Informaes do Questionrio aplicado junto aos Centros de Documentao de Boa Vista

    Figura 1. Casa da Cultura. Mau

    acondicionamento de jornais

    Fonte: IPHAN/Sub-Regional de Roraima. Fotografia:

    Carla Moraes (abril/2009)

    Figura 2. Reserva tcnica do Museu

    Integrado de Roraima. Falta de espao para

    o acervo

    Fonte: IPHAN/Sub-Regional de Roraima. Fotografia:

    Carla Moraes (abril/2009)

    26

  • Figura 3. Casa da Cultura. Falta de espao

    para documentos

    Fonte: IPHAN/Sub-Regional de Roraima. Fotografia:

    Carla Moraes (abril/2009)

    Figura 4. Reserva tcnica do Museu

    Integrado de Roraima. Material arqueolgico

    em caixas de sorvete

    Fonte: IPHAN/Sub-Regional de Roraima. Fotografia:

    Carla Moraes (abril/2009)

    Entre as principais ameaas ao acervo, foram citadas pelos

    entrevistados: umidade, alta temperatura, instalaes inadequadas, incidncia

    solar, falta de espao para a documentao, fungos, mofo e cupins.

    Grfico 6. Principais ameaas ao acervo documental

    Fonte: Informaes do Questionrio aplicado junto aos Centros de Documentao de Boa Vista

    27

  • Apesar disso, nenhum dos centros de informao possui um plano para salvar

    o acervo em caso de emergncia, embora a maioria tenha registrado perdas

    relevantes de documentos nos ltimos 10 anos. Estas instituies no possuem um

    programa de conservao preventiva e apenas uma afirmou ter recursos destinados

    conservao e restaurao do acervo.

    Figura 5. Reserva tcnica do Museu

    Integrado de Roraima. Urnas funerrias em

    caixas de papelo

    Fonte: IPHAN/Sub-Regional de Roraima. Fotografia:

    Carla Moraes (abril/2009)

    Figura 6. Reserva tcnica do Museu

    Integrado de Roraima. Material arqueolgico

    em caixas de papelo

    Fonte: IPHAN/Sub-Regional de Roraima. Fotografia:

    Carla Moraes (abril/2009)

    Figura 7. Laboratrio de Anlise

    Documental da UFRR. Jornais empilhados

    sobre o cho

    Fonte: IPHAN/Sub-Regional de Roraima. Fotografia:

    Carla Moraes (abril/2009)

    28

  • Figura 8. Laboratrio de Anlise

    Documental da UFRR. Incidncia solar

    sobre o acervo e espao de consulta

    inadequado

    Fonte: IPHAN/Sub-Regional de Roraima. Fotografia:

    No que concerne aos instrumentos para processamento tcnico do

    acervo, as instituies usam, em sua maioria, livros de registro ou simples

    listagens para controle dos documentos. Dentre elas, apenas trs esto em

    processo de informatizao sumria de seu acervo. A construo da base de

    dados digital, em razo do volume e diversidade documental, ser lenta, mas

    extremamente necessria.

    Esse significativo acervo perfaz um total de cerca de 65.000

    documentos nas seis instituies. Porm, no existem investimentos slidos no

    seu incremento. Somente trs centros de informao afirmaram realizar

    freqentes aquisies.

    O quadro diagnosticado revela, portanto, um panorama alarmante,

    confirmando algumas afirmaes explicitadas por usurios desses centros de

    informao, como Vieira:

    Na avaliao do professor do curso de

    Histria da UFRR, Jaci Guilherme Vieira,

    Roraima o nico Estado que no tem arquivo

    pblico nos moldes dos demais estados (...).

    Conforme Guilherme, os locais no tm

    estrutura para pesquisa, nem pessoal

    qualificado para trabalhar no setor, como por

    exemplo, historiadores, pesquisadores e

    arquivistas (...). Guilherme salienta que

    pesquisar sobre a histria local difcil porque

    no h material suficiente e normalmente os

    29

  • pesquisadores buscam informaes em outros

    estados. No se tem acesso. Caso seja

    necessrio saber sobre a poca da ditadura em

    Roraima, ficamos sem informaes, reclamou.

    (Trecho da notcia Historiadores debatem

    arquivo pblico. Folha de Boa Vista, 5 mai.

    2008; sem grifos no original)

    A Diviso de Patrimnio Histrico, referncia mais lembrada quando se

    fala em documentao histrica de Roraima, tambm no possui condies

    estruturais para a guarda e conservao dos documentos:

    nesse espao que a Prof Meire Saraiva, uma

    grande batalhadora e guardi dos documentos

    que compe o acervo da Casa da Cultura,

    juntamente com o Terncio Lima e o Nereu

    Souto Maior, atendem pessoalmente os alunos

    que buscam informaes sobre Roraima. O

    atendimento realizado para todos os nveis,

    desde o aluno de 1 e 2 graus at o aluno

    universitrio, l que conseguimos as parcas

    informaes sobre a histria de Roraima e na

    Diviso de Patrimnio Histrico que esto os

    poucos documentos que formam a memria do

    povo de Roraima.

    No entanto, quem tiver a inteno de utilizar

    esses servios tem agora que suportar um calor

    medonho e a falta de espao para os servidores

    e visitantes, j que as instalaes da Diviso de

    Patrimnio Histrico hoje se resumem ao anexo.

    (MULINARI, 2007. Trecho da notcia Casa da

    Cultura Madre Leotvia Zoller II. Jornal Folha de

    Boa Vista, 13 nov. 2007; sem grifo no original)

    O Centro de Informao Ambiental, Cientfica e Tecnolgica e a reserva

    tcnica funcionam nas instalaes do Museu Integrado de Roraima,

    compartilhando os mesmos problemas:

    Alm da sujeira, os boa-vistenses tambm

    reclamam do abandono do Museu. O local que

    possui sua arquitetura em madeira est repleto

    de cupins, e segundo os usurios os objetos de

    exposio esto mal cuidados. O estudante,

    Felipe Aguiar, expe que o ano passado, a

    aranha caranguejeira, um dos acervos de

    animais, havia fugido. No apenas a falta de

    30

  • No decorrer da pesquisa, a difcil situao dos centros de

    documentao de Boa Vista foi se cristalizando, demonstrando as inmeras

    barreiras que existem para a conservao dos acervos. H uma deficincia

    muito grande, que vai desde as questes mais simples, como a falta de material

    de escritrio, mobilirio e equipamentos especficos, at problemas mais

    complexos, como instalaes totalmente inadequadas e carncia de pessoal

    graduado nas reas de Biblioteconomia e Arquivologia. A partir desse

    diagnstico, apresentamos algumas reflexes que podem contribuir para o

    planejamento e aes que visem segurana e conservao dos acervos

    pesquisados.

    CONSIDERAES FINAIS

    Os principais acervos documentais sobre Roraima no se encontram

    organizados, gerando dificuldades de acesso ao pblico externo, que se depara

    com uma grande diversidade de documentos (livros, revistas, jornais, relatrios,

    fotografias etc.) sem prvia catalogao. Como encontrar, em meio a caixas,

    estantes e armrios repletos de papis, o documento que nos interessa de fato?

    Esta primeira constatao nos leva a outras implicaes. Tendo em vista que

    ainda no foi instituda a prtica de quantificar e classificar a documentao,

    no possvel precisar, na maioria dos centros de informao, o volume do

    acervo. Como saber quantos e quais so os documentos sobre Roraima em

    cada um desses lugares? Essa estimativa , hoje, impossvel, tornando o

    trabalho dos pesquisadores mais rduo e dificultando medidas de preservao

    e segurana. No entanto, a importncia desses centros inquestionvel, tendo

    em vista que esses so os principais locais onde possvel consultar

    documentos histricos do estado.

    cuidado, mas o espao no tem atrativo, no

    possui uma boa aparncia e mtodos didticos.

    Ainda querem chamar de museu, o local tem 22

    anos e nunca foi valorizado, reclama.

    (CHACON, 2009. Trecho da notcia Usurios

    afirmam que Parque Anau est abandonado.

    Jornal Folha de Boa Vista, 5 jan. 2009; sem grifo

    no original)

    O museu que deveria estar aberto ao pblico, se

    encontra fechado, com suas toras de madeira,

    que sustentam parte do telhado, corrodas

    pelos cupins, aumentando os riscos de ceder e

    causar maiores danos. (CAVINATO, 2009.

    Trecho da notcia Parque Anau: Descaso e

    destruio so hoje as atraes. Jornal Folha

    de Boa Vista, 10 abr. 2009; sem grifo no

    original)

    31

  • Outro problema proporcionado pela restrio de acesso aos

    documentos. Alguns acervos no esto totalmente disponveis para os

    pesquisadores, ora pela existncia de documentos sigilosos, ora por limitaes

    de horrio para a consulta da bibliografia e, por fim, por proibies reproduo

    do material.

    H, ainda, a constatao de que uma srie de fontes essenciais ao

    entendimento do processo formador da histria, cultura e sociedade

    roraimenses encontra-se nas mos de particulares, que no as disponibilizam.

    A inacessibilidade dessas relquias de famlia, patrimnio de todos, impede o

    levantamento das condies dessas colees. Por outro lado, muitos

    pesquisadores localizam e acessam documentos raros, mas no divulgam sua

    origem aos demais estudiosos e ao pblico em geral. Esta prtica corrente entre

    professores e estudantes dificulta o acesso s fontes primrias e restringe as

    possibilidades de novas pesquisas que precisem revisitar evidncias

    fundamentais sobre o estado.

    O diagnstico tambm tornou mais explcito o fato de que importantes

    fontes histricas no se encontram em Roraima, mas em arquivos, bibliotecas e

    museus de outros estados e pases. Infelizmente, se quisssemos solicitar o

    direito de posse sobre esta documentao, nossos centros de informao no

    apresentariam as condies ideais de acondicionamento, deixando-nos numa

    desconfortvel situao, um verdadeiro impasse. Como reivindicar para

    Roraima estes documentos se no temos espao, condies e pessoal

    especializado para organizar, conservar, manusear e disponibilizar esse acervo

    ao pblico?

    Esses problemas citados so, a nosso ver, alguns dos maiores entraves

    ao desenvolvimento de pesquisas em Roraima. Nessa conjuntura, nosso

    estudo pretende ser um alerta ao pblico para o atual estado fsico e as

    condies de manuteno e divulgao dos acervos documentais.

    Acreditamos, assim, que preciso haver uma mobilizao de

    pesquisadores, professores, estudantes e agentes pblicos responsveis, a fim

    de reconhecer a importncia de nossos centros de documentao.

    Precisamos, portanto, enriquecer nossos acervos, realizando pesquisas,

    fortalecendo e legitimando o papel das instituies que detm a guarda dos

    documentos estaduais. E mais, um grande investimento, com o incremento da

    infra-estrutura, necessrio organizao, conservao e, sobretudo,

    divulgao das fontes.

    A disseminao da documentao, sob a conscincia de que ela um

    bem coletivo, fundamental para que os centros de informao cumpram o seu

    papel social que inclui, entre outros fatores, estabelecer subsdios para

    polticas culturais mais slidas. Ao mesmo tempo, estimular o pblico a visitar

    os centros de pesquisa e documentao uma condio sine qua non para a

    valorizao do nosso patrimnio cultural.

    32

  • REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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