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Jung no Espirito Santo Site de Fabrício Moraes Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257) - Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS) Coordenador do Grupo Aion – Estudos Junguianos Atua em consultório particular em Vitória desde 2003. Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: [email protected] www.psicologiaanalitica.com 1 Algumas Considerações Sobre o Lugar da Persona (02 de maio de 2015) Em 2008, escrevi minha monografia de conclusão de curso na especialização em “Teoria e Prática Junguiana”, sob orientação da profa. Dra. Elizabeth Christina Cotta Mello, com o título “O Lugar da Persona”. Escolhi esse tema pelo desafio que seria pensar esse conceito, visto que no geral, é pequena a literatura acerca desse conceito. Este texto é uma revisão daquela monografia, aproveitei aqui os capítulos centrais onde discuto aspectos da dinâmica da persona. Para compreender ou ampliar o conceito de persona, acredito que devemos seu aspecto arquetípico, suas representações (míticas), sua interação na dinâmica psíquica. A Persona Jung chamou de persona o processo dinâmico de adaptação ao mundo das relações sócio-culturais. Para melhor compreender a escolha do termo latino persona, devemos recorrer a sua etimologia. Na etimologia de Persona, temos Persona, ae, f.Phoed. a máscara. Cic. a pessoa, a condição, o estado, a dignidade, o cargo de cada um. Ter. a Personagem que se representa no theatro.Cic. a pessoa, o individuo humano. Cic. a espécie, ou aparecia falsa de alguma cousa.(SOUZA, 1931, p.559) Onde também encontramos PERSONA, -ae, subs.f I Sent. Próprio: 1) máscara (de teatro) (Cic. De Or. 2, 193). Daí, por extensão: 2) Papel (atribuído a essa máscara) (Cic. Phil. 2, 65). II Sent. Figurado: 3) papel, cargo, função, caráter (Cíc. Pis. 71). 4) Individualidade, Personalidade, ator.(Cic. At. 15, 1a,2). 5) Pessoa Gramatical (Varr. L. Lat. 8,20). (FARIA, 1956, p.771) No sentido próprio e original, persona era o nome dado a máscara utilizada pelos atores de teatro na antiguidade, acredita-se que o termo derivava de personare por onde passa o som (ou a voz humana). Contudo, desde a antiguidade o termo

75 - Algumas Considerações Sobre o Lugar Da Persona - Fabricio Moraes

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Texto sobre o conceito de persona

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  • Jung no Espirito Santo Site de Fabrcio Moraes

    Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257) - Psiclogo Clnico de Orientao Junguiana, Especialista em Teoria e Prtica Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clnica e da Famlia (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS) Coordenador do Grupo Aion Estudos Junguianos Atua em consultrio particular em Vitria desde 2003. Contato: 27 9316-6985. /e-mail: [email protected]

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    Algumas Consideraes Sobre o Lugar da Persona

    (02 de maio de 2015)

    Em 2008, escrevi minha monografia de concluso de curso na especializao

    em Teoria e Prtica Junguiana, sob orientao da profa. Dra. Elizabeth

    Christina Cotta Mello, com o ttulo O Lugar da Persona. Escolhi esse tema pelo

    desafio que seria pensar esse conceito, visto que no geral, pequena a literatura

    acerca desse conceito. Este texto uma reviso daquela monografia, aproveitei

    aqui os captulos centrais onde discuto aspectos da dinmica da persona.

    Para compreender ou ampliar o conceito de persona, acredito que devemos seu

    aspecto arquetpico, suas representaes (mticas), sua interao na dinmica

    psquica.

    A Persona

    Jung chamou de persona o processo dinmico de adaptao ao mundo das

    relaes scio-culturais. Para melhor compreender a escolha do termo latino

    persona, devemos recorrer a sua etimologia.

    Na etimologia de Persona, temos

    Persona, ae, f.Phoed. a mscara. Cic. a pessoa, a condio, o

    estado, a dignidade, o cargo de cada um. Ter. a Personagem que

    se representa no theatro.Cic. a pessoa, o individuo humano. Cic. a

    espcie, ou aparecia falsa de alguma cousa.(SOUZA, 1931, p.559)

    Onde tambm encontramos

    PERSONA, -ae, subs.f I Sent. Prprio: 1) mscara (de teatro)

    (Cic. De Or. 2, 193). Da, por extenso: 2) Papel (atribudo a essa

    mscara) (Cic. Phil. 2, 65). II Sent. Figurado: 3) papel, cargo,

    funo, carter (Cc. Pis. 71). 4) Individualidade, Personalidade,

    ator.(Cic. At. 15, 1a,2). 5) Pessoa Gramatical (Varr. L. Lat. 8,20).

    (FARIA, 1956, p.771)

    No sentido prprio e original, persona era o nome dado a mscara utilizada pelos

    atores de teatro na antiguidade, acredita-se que o termo derivava de personare

    por onde passa o som (ou a voz humana). Contudo, desde a antiguidade o termo

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    persona j era utilizado, como vimos, para indicar uma pessoa no exerccio de

    seu papel social. No tinha como funo indicar o indivduo em sua

    particularidade ou intimidade, mas sim em sua relao com os outros.

    Devemos pensar tambm que mscara no teatro possua uma dupla funo: 1-

    expor ou tornar visvel o papel ou personagem que se encena; 2 ocultar o ator.

    Essa dupla funo da mscara tambm pode ser observada em ritos religiosos

    onde se utilizam mscaras e trajes caractersticos para representar a presena

    da divindade, como p.ex. no Candombl, onde a indumentria indica a presena

    do orix e oculta a individualidade do adepto. Tanto nas religies quanto no

    teatro, a mscara delimita o espao entre o individuo e o coletivo, assim como

    nossa pele, a mscara separa o mundo exterior do mundo interior.

    As mscaras presentes na cultura so expresses dessa estrutura psquica que

    faz a ponte entre o eu e mundo. O termo Persona ou mscara a imagem

    mais clara de representar esta dinmica. Por isso, Jung utilizou essa imagem

    arquetpica, a mscara, para descrever esse fenmeno, que facilita a

    compreenso acerca do papel persona.

    Nas definies do livro Tipos Psicolgicos, Jung afirmou que,

    A Persona , pois, um complexo funcional que surgiu por razes de

    adaptao ou de necessria comodidade, mas que no idntico

    a individualidade. O complexo funcional da Persona diz respeito

    exclusivamente relao com os objetos. (JUNG, 1991, p. 390)

    Assim, experimentamos a persona na experincia pessoal como um complexo

    de adaptao, orientado pelas relaes com objetos externos. Este complexo

    adaptativo se nutre das experincias provenientes da conscincia coletiva.

    assim, a persona vai indicar um ideal social, o modo correto de ser e agir visando

    as exigncias coletivas. Uma persona adequada vai aparentar uma totalidade

    psquica, uma vez que o indivduo socialmente funcional, atendendo

    necessidades coletivas. Entretanto, o indivduo acaba por perde contato com si

    mesmo, entrando numa atitude unilateral, isto , direcionado para atender

    exclusivamente as demandas sociais sem dar o devido valor s exigncias

    internas.

    A persona o complexo mais intimamente relacionado com o Ego, pois ambos

    esto relacionados com o processo natural de adaptao do indivduo ao meio

    externo. Sobre as relaes da persona com o ego discutiremos mais adiante.

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    O arqutipo de adaptao

    No livro A busca do Smbolo, Whitmont, apresenta a Persona [...] como uma

    imagem representacional do arqutipo de adaptao (WHITMONT, 2002,

    p.140). Essa considerao importante pois, a persona foi um termo utilizado

    por Jung por nos remeter a imagem da mscara do ator do teatro clssico,

    possibilitando que intuitivamente compreendamos sua dinmica e sua relao

    com os papis sociais que desempenhamos, contudo corremos o risco de cair

    num reducionismo reduzindo a persona a funo de mscara. Assim,

    fundamental termos clareza que subjacente a imagem da persona est a

    dinmica arquetpica do processo de adaptao. Para compreendermos um

    arqutipo em sua amplitude devemos considera-los desde seus aspectos

    biolgicos, isto , seus processos fisiolgicos bsicos at seu aspecto psquico

    e sua representao cultural e mtica.

    Se formos pensar no mbito fisiolgico da adaptao notaremos que esta se

    relaciona com o processo natural de homeostase, que a capacidade de um

    sistema complexo se autoregular e se manter estvel. Desse processo de

    autorregulao natural, Jung observou que havia dinamismos distintos,

    identificando a persona aos processos relacionados a adaptao do organismo

    a realidade externa. Assim, num nvel mais primitivo poderamos pensar a

    persona associada aos mecanismos de controle homeosttico da temperatura

    corporal (que visa adaptar o indivduo ao meio onde se encontra), onde em

    ambientes quentes promove vasodilatao e transpirao para evitar o

    aquecimento excessivo do organismo, e, nos ambientes frios, atua atravs da

    vasoconstrio e dos calafrios para evitar e produzir calor.

    Os processos vinculados a adaptao ao meio externo esto vinculados a pele,

    que o rgo que protege e intermedia a relao de nosso organismo com meio

    externo. Fazendo uma ampliao, na natureza, podemos observar o processo

    de adaptao manifesto principalmente atravs da camuflagem e o mimetismo.

    No homem a evoluo dividiu o processo de adaptao externa em duas vias:

    1) adaptao ao meio externo; 2) adaptao ao meio cultural.

    A adaptao ao meio externo deixou de ser um processo puramente fisiolgico,

    passando a ser um processo determinado pela cultura. Quando nosso

    organismo percebe as mudanas de clima e temperatura, em geral, nossa

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    resposta se relaciona a uma adequao das roupas que vestimos e, no, uma

    adaptao fisiolgica no sentido estrito do termo.

    Com o desenvolvimento da cultura, dos grupos e sociedades, surgiu tambm o

    processo de adaptao ao meio cultural, similar ao processo de adaptao ao

    meio externo, mas, baseado em smbolos e regras culturais. Tanto nas

    sociedades pr-industriais e/ou pr-letradas quanto em nossa sociedade

    contempornea a pintura do corpo, tatuagens, escarificaes, cortes de cabelo,

    roupas (rituais ou no) esto intimamente relacionados com os processos de

    adaptao cultural. E, esto relacionados diretamente com a pele.

    A pele um dos principais veculos do arqutipo de adaptao. Seja como

    recipiente das manifestaes culturais desse arqutipo (indumentrias, pinturas,

    tatuagens) quanto manifestaes inconscientes e compensatrias do processo

    de adaptao como enrubescimento, palidez, transpirao e as doenas

    psicossomticas (que denunciam, muitas vezes, problemas de adaptao).

    O arqutipo de adaptao contm em si, a possibilidade basal de adaptao

    tanto meio externo atravs dos processos fisiolgicos relacionados com a pele

    quanto a possibilidade de identificao das estruturas culturais e se adaptar as

    mesmas.

    Representaes Mticas do Arqutipo de adaptao

    Ao estudar os resduos arcaicos e dos delrios de pacientes psicticos, Jung se

    deparou com a similaridade desses fenmenos com as narrativas mticas. Com

    o desenvolver de seus estudos e de sua teoria, Jung observou que a dinmica

    dos arqutipos e a narrativa mtica eram complementares como se os mitos

    fossem uma projeo cultural da dinmica arquetpica. Tornou-se parte do

    mtodo de Jung o estudo comparativo das dinmicas arquetpicas e a mitologia.

    Por isso, torna-se importante pensarmos a persona em termos mticos.

    Todo mito apresenta uma srie de arqutipos interligados. Dessa forma,

    necessrio observarmos os elementos prprios de cada dinmica arquetpica.

    No caso do arqutipo de adaptao, sua dinmica est relacionada com a

    possibilidade de uma melhor relao com o meio, com a resposta mais adequada

    ou mesmo com a apresentao mais adequada.

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    Para exemplificar e discutir os aspectos mticos relacionados com o arqutipo de

    adaptao escolhemos elementos mticos de duas tradies distintas, a saber,

    tradio hindu e tradio grega.

    Vishnu e seus avatares

    Na mitologia hindu Vishnu era um dos principais deuses, ao lado de Brahman e

    Shiva. Vishnu

    repousando em uma solido que apesar de transmundana sustenta

    toda a histria do mundo, assegurando-lhe a continuao e

    periodicamente descendo at o seu tumulto para, na qualidade de

    salvador e redentor, restabelecer a justia e ordem. (ZIMMER,1988

    p.163)

    Vishnu, chamado de conservador dos mundos ou de o preservador, era a

    divindade mais prxima dos homens, tornado-se tambm uma das mais

    veneradas. Conta-se que sempre que uma era chega ao seu ponto extremo de

    corrupo ou que um grande mal ameaa os homens, Vishnu se corporificava

    para conduzir os homens a uma nova era de harmonia, livrando-os do mal e/ou

    evitando que o mundo fosse destrudo por Shiva.

    Para cumprir sua misso de proteger o mundo, Vishnu se corporificava atravs

    de avatares, que vem do Snscrito avatara que significa aquele de descende de

    deus ou mesmo encarnao do deus.

    A tradio hindusta relata dez avatares de Visnhu que desde o inicio dos tempos

    salvava a humanidade. 1. Matsya,o peixe que salvou os vedas ; 2. Kurma: a

    tartaruga; 3. Varaha: o Javali; 4. Narasimha: o homem-leo; 5. Vamana: o ano;

    6.Parashurama: homem com o machado. 7. Rama: o protagonista do Ramyana

    8. Krishna: 9. Buddha;10. Kalki: o guerreiro que vir ao final desta era para

    restaurar a ordem e salvar a humanidade.

    Cada avatar representa o papel ou funo que Vishnu deveria assumir ou

    desempenhar para exercer seu papel de preservador. So Personagens que

    Vishnu criou para se adaptar a cada situao, resolvendo os problemas dentro

    seu prprio contexto. Os avatares de Vishnu representam sua adaptao a cada

    situao. Os avatares no eram disfarces, mas formas de revelar o poder de

    Vishnu e sua possibilidade de se adaptar e se adequar para lidar com as

    necessidades.

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    Zeus e suas metamorfoses

    Na mitologia grega, Zeus um dos principais deuses olmpicos, a divindade do

    cu e da luz. Os mitos gregos colocam Zeus como o rei dos deuses, aps ele

    liderar seus irmos na luta contra os tits, divindades relacionadas com as foras

    primordiais. Contudo, como uma divindade do cu e, por conseqncia, dos

    fenmenos atmosfricos, um deus da fertilidade.

    Zeus , antes do mais, um deus da fertilidade, mbrios e

    hyticos, chuvoso. deus dos fenmenos atmosfricos, como j

    disse, por isso que dele depende a fecundidade da terra, enquanto

    khthnios. (...) Essa primeira caracterstica primeira de Zeus

    explica vrias de suas ligaes com deusas de origem ctnia,

    como Europa Smele, Demter e outras. Trata-se de unies que

    refletem claramente hierogamias de um deus, senhor dos

    fenmenos celestes, com divindades telricas. (BRANDO, 2000,

    p. 499)

    Zeus uniu-se a deusas e mortais tendo muitos filhos. Para concretizar essas

    unies, Zeus metamorfoseava-se para se aproximar e fecundar suas escolhidas.

    Das metamorfoses de Zeus podemos citar o Touro forma que seduziu Europa;

    para fecundar Dnae, ele assumiu a forma de uma chuva dourada; para seduzir

    Alcmena, Zeus assumiu a forma de seu marido Anfitrio; para seduzir Leda,

    transformou-se num cisne; Zeus assumiu a forma de rtemis para seduzir

    Calisto; para seduzir Antope, tornou-se um Stiro e, para seduzir Ganimedes e

    leva-lo para o Olimpo, Zeus tornou-se uma guia. Atravs da mudana de forma,

    Zeus adaptava-se a cada situao podendo efetuar suas conquistas.

    A metamorfose uma habilidade que caracterstica presente nas divindades e

    seres fantsticos tanto nos mitos e em contos de fadas. Algumas vezes, os

    deuses mudavam a forma de um homem para possibilitar que ele enfrentasse

    sua tarefa se adaptando melhor a situao que se configurava a sua frente.

    Podemos citar como exemplo, quando Atena tornou Ulisses um velho, para que

    ele pudesse entrar em sua casa e verificar a situao e se preparar para

    enfrentar os pretendentes de sua esposa.

    As metamorfoses comuns as mitologias ocidentais, assim como na ndia

    encontramos os avatares, so expresses da possibilidade divina de adaptao.

    Nem as metamorfoses, nem os avatares revelam a natureza da divindade, elas

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    apenas indicam a forma mais apropriada para exercer a atividade que lhe era

    prpria.

    A Conscincia Coletiva

    Para que um arqutipo seja constelado, necessrio que existam elementos

    correspondentes no meio externo. Esses elementos devem fornecer ao

    arqutipo os parmetros necessrios para que ele se constele/manifeste atravs

    de imagens e smbolos e no apenas como impulso instintivo.

    De forma geral, esses parmetros so oferecidos pela cultura. Apesar de Jung

    ter sido um atendo observador da dinmica da psique coletiva de seu tempo1,

    ele no se aprofundou teoricamente no mbito da cultura enquanto fenmeno

    consciente, mas focou aquele aspecto intimamente relacionado com a esfera

    arquetpica, isto , com os padres arquetpicos que se manifestam em nossa

    realidade.

    De forma geral, o conceito de conscincia coletiva no utilizado pelos autores

    junguianos. Em nossa reviso bibliogrfica apenas Hall (2001) considerou a

    conscincia coletiva como uma quarta instncia da estrutura psquica. Em outros

    autores, conscincia coletiva era usado apenas como uma generalizao da

    conscincia pessoal.

    Existem, pois, quatro nveis da psique:

    1) Conscincia pessoal, ou a percepo consciente

    ordinria;

    2) o inconsciente pessoal, o que exclusivo de uma Psique

    individual, mas no-consciente;

    3) a Psique objetiva, ou inconsciente coletivo, que possui

    uma estrutura aparentemente universal na humanidade e

    4) o mundo exterior da conscincia coletiva, o mundo cultural

    dos valores e das formas compartilhadas. (HALL, 2001,

    p.14)

    1 Cf. McGuire, W., e R. F. C. Hull, C.G. Jung: Entrevistas e Encontros; Ed. Cultrix,So Paulo, 1982.

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    Na sociologia, o conceito de conscincia coletiva foi amplamente trabalhado e

    difundido por mile Durkheim(1857-1917), segundo o mesmo,

    O conjunto de crenas e de sentimentos comuns mdia

    dos membros de uma mesma sociedade forma um sistema

    determinado que tem sua vida prpria; pode-se cham-lo de

    conscincia coletiva ou conscincia comum. Sem dvida, ela

    no tem por substrato um nico rgo; ela , por definio,

    difusa em toda extenso da sociedade; mas no tem

    caracteres especficos que a tornem uma realidade distinta.

    Com efeito, ela independe das condies particulares em

    que se encontram os indivduos; eles passam e ela

    permanece. a mesma no Norte e no Sul, nas grandes e

    nas pequenas cidades, nas mais diferentes profisses. Da

    mesma forma, no muda a cada gerao mas, ao contrrio

    enlaa umas s outras as geraes sucessivas. Ela

    portanto uma coisa inteiramente diferente das conscincias

    particulares, ainda que no se realize seno nos indivduos.

    Ela forma o tipo psquico da sociedade, tipo que tem suas

    propriedades, suas condies de existncia, seu modo de

    desenvolvimento, tal qual os tipos individuais, ainda que de

    uma outra maneira. (...) Existem em ns duas conscincias:

    uma contm os estados que so pessoais a cada um de ns

    e que nos caracterizam, enquanto os estados que abrangem

    a outra so comuns a toda sociedade. A primeira s

    representa nossa Personalidade individual e a constitui; a

    segunda do tipo coletivo e, por conseguinte, a sociedade

    sem a qual no existiria. Quando um dos elementos desta

    ltima quem determina nossa conduta, no em vista do

    nosso interesse pessoal que agimos, mas perseguimos fins

    coletivos. (DURKHEIM, 1990, p.74-76)

    O conceito de Conscincia Coletiva de Durkheim importante, por um lado,

    por oferecer uma proposta para compreender fenmenos sociais (e culturais) e

    por outro, nos fornecer uma referencia para pensarmos a dinmica psquica

    coletiva complementar a psique arquetpica.

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    O conceito de Conscincia Coletiva nos oferece uma luz para compreendermos

    fenmenos que transcendem a esfera individual, nos permitindo pensar

    fenmenos como, por exemplo, a linguagem. Acredito que uma digresso

    poderia ser bastante til. Para pensarmos a linguagem, em nosso contexto,

    devemos considerar que na concepo junguiana, a conscincia pessoal um

    processo contnuo de adaptao as exigncias do meio, assim, esta conscincia

    exigiria, basicamente, de energia suficiente para se manter funcional o estado

    de viglia. Devemos considerar tambm que uma das principiais caractersticas

    da conscincia seria seu direcionamento focal, isto , um foco de ateno e ao.

    Todos os contedos que no esto no foco de percepo consciente poderiam

    ser considerados contedos contedo subliminares e/ou inconscientes. Deste

    modo, seramos obrigados a considerar a linguagem como um contedo

    inconsciente, por estar fora do campo de ateno consciente. Pois, a todo o

    momento pensando que estamos falando em portugus (ou lendo em

    portugus), ns simplesmente falamos somente quando nos deparamos com

    a realidade de outro idioma que tomamos conscincia de nossa linguagem.

    Podemos considerar que a linguagem operaria no mbito limiar da conscincia,

    e, por isso est relacionada aos processos inconscientes dos complexos

    ideoafetivos do inconsciente pessoal como Jung comprovou em seus estudos

    de associao de palavras, contudo, a linguagem no pertence ao individuo

    este teria um acervo de palavras que poderia compor seu repertrio verbal, este

    sim, como uma aquisio pessoal, mas a linguagem estaria operando numa

    esfera coletiva, fora do inconsciente pessoal. Do mesmo modo, no perderamos

    relacionar a linguagem com os processos do inconsciente coletivo, pois, como

    Jung preconizava o inconsciente coletivo formado pelos arqutipos e instintos

    elementos oriundos de uma herana filogentica.

    O conceito de conscincia coletiva necessrio para compreender uma gama

    de experincias coletivas, que assim como a linguagem no podem ser

    reduzidas ao inconsciente.

    Se o conceito de inconsciente coletivo nos possibilita compreender o

    enraizamento do indivduo na histria humana, no processo de constituio do

    Homem, a conscincia coletiva nos permite compreender o enraizamento do

    individuo no aqui e agora, no processo coletivo do grupo que o circunda, nos

    possibilitando compreender a sua constituio pessoal a partir das suas relaes

    com meio social.

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    Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257) - Psiclogo Clnico de Orientao Junguiana, Especialista em Teoria e Prtica Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clnica e da Famlia (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS) Coordenador do Grupo Aion Estudos Junguianos Atua em consultrio particular em Vitria desde 2003. Contato: 27 9316-6985. /e-mail: [email protected]

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    A Persona e a Dinmica da Personalidade

    A persona sempre vai indicar um ideal coletivo para individuo. Este ideal ir se

    associar com a imagem que um individuo tem de si mesmo ou como gostaria de

    ser visto pelos outros. Contudo, a Persona no uma estrutura parte ou

    dissociada da personalidade. Para compreendermos a dinmica da persona

    devemos pensa-la em relao com as demais estruturas da personalidade.

    Assim, abordaremos as relaes da Persona com Ego, com a Sombra e a Anima

    e Animus.

    A Persona e o Ego

    A Persona o complexo mais intimamente relacionado com o Ego, pois ambos

    esto relacionados com o processo natural de adaptao do indivduo ao meio

    externo. A relao entre Persona e Ego deve ser compreendida em dois

    momentos, o primeiro na infncia e posteriormente na vida adulta.

    A persona possui um papel importante para auxiliar o desenvolvimento do Ego

    na infncia. Por ser um complexo funcional relacionado adaptao aos

    estmulos externos, a persona estabelece uma identidade com Ego, que

    fundamental para a aderncia do Ego conscincia e o mundo exterior. Pois, a

    persona agrega a si os papeis sociais, que vo localizar o individuo, inicialmente,

    na dinmica familiar (filho, irmo, neto, sobrinho, primo) e fornecer os elementos

    primrios de identidade, favorecendo a constelao do Ego, assim como sua

    vinculao conscincia.

    Ao longo da infncia, a persona continua a ser importante para o

    desenvolvimento do Ego, pois, ao fornecer os elementos de orientao social,

    propicia tambm uma economia de energia psquica, que vai disponibilizar ao

    Ego energia para o uso da conscincia, isto , no exerccio da vontade.

    A persona intermedia as relaes do Ego com os objetos externos. Tal como

    uma mscara, a persona expe uma face ou papel para o mundo e oculta ou

    protege Ego. Essa funo de, simultaneamente, expor e proteger o Ego nas

    relaes com o mundo exterior importante por auxiliar na estabilidade do Ego,

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    evitando que as presses e exigncias do mundo exterior gerem ansiedade e

    risco de desestruturao.

    O desenvolvimento inadequado da persona vai prejudicar tanto as formas como

    indivduo percebe o mundo quanto a forma como ele percebido. Essa relao

    entre a Persona e o Ego vai ser determinante no contexto da adaptao do Ego.

    O desenvolvimento inadequado da persona pode ser prejudicial ao

    desenvolvimento do ego, nesse sentido Hall(2001) aponta trs das formas de

    desenvolvimento inadequado,

    Existem, entretanto, casos de funcionamento anmalo da Persona

    que exigem com freqncia uma interveno psicoteraputica.

    Trs destacam-se: (1) desenvolvimento excessivo da Persona; (2)

    desenvolvimento inadequado da Persona; e (3) identificao com

    a Persona a tal ponto que o Ego se sente equivocadamente

    idntico ao papel social primrio.

    O desenvolvimento excessivo da Persona pode produzir uma

    personalidade que preenche com preciso os papis sociais, mas

    deixa a impreciso de que no existe, dentro, uma pessoa real. O

    desenvolvimento insuficiente da Persona produz uma

    personalidade que abertamente vulnervel possibilidade de

    rejeio e dano, ou de ser arrebatada ou eliminada pelas pessoas

    com quem se relaciona. As formas usuais de psicoterapia individual

    ou de grupo so de grande ajuda nessas condies.

    A identificao com a Persona um problema que se reveste de

    maior gravidade, em que existe uma percepo insuficiente de que

    o Ego separvel do papel social vivenciado como uma ameaa

    direta integridade do prprio Ego. (HALL, 2001, p.24)

    Essas trs possibilidades afetam diretamente o Ego, o desenvolvimento

    excessivo e a identificao com a persona so relativamente prximas, pois,

    ambas indicam um funcionamento defensivo da persona. Geralmente ocorre na

    infncia, onde uma situao onde a criana se sente vulnervel seja por meio

    de abandono, agresso ou cobrana excessiva e, desenvolve a persona como

    uma forma defensiva, envolvendo a personalidade de modo a apresentar uma

    estrutura funcional, socialmente adequada, mas, aparentemente vazia ou

    artificial. Isso, porque a defesa proporcionada pela persona oculta a identidade

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    do ego, fazendo com que o mesmo responda de forma padronizada. No s na

    aparncia a vida da pessoa fica vazia assim que ela se sente, incapaz de ser

    ela mesma.

    Os analistas junguianos da escola desenvolvimentista identificaram essa

    formao da persona como similar ao que foi descrito pelo psicanalista ingls

    D.W. Winnicott como falso self, pois, indicam o mesmo processo. Como os

    junguianos no deram uma maior importncia as teorizaes acerca da persona,

    temos pouco material especfico. Assim, a leitura acerca do falso self possibilita

    uma ampliao a compreenso da dinmica defensiva da persona.

    O desenvolvimento insuficiente da persona uma situao muito delicada pois,

    no protege o ego das dificuldades impostas pelo meio exterior. Essa fragilidade

    pode gerar muita ansiedade e, em casos extremos, a de um surto psictico.

    Nesses casos tanto o processo psicoteraputico quanto o processo de

    ressocializao passariam pela reconstituio da persona.

    A Persona e a Sombra

    Para pensarmos a relao da Persona com a Sombra importante que faamos

    uma distino do funcionamento dessas estruturas na dinmica arquetpica e da

    dinmica pessoal. Abaixo segue uma citao do texto Sobre o conceito de

    Sombra, publicado em nosso site em 28 de junho de 2010.

    Na esfera arquetpica, a persona est relacionada com a imagem

    idealizada de adaptao e adequao cultural. Deste modo, a

    persona arquetpica vai indicar o ideal de homem perfeito,

    contudo, sem a totalidade da experincia humana Assim, a persona

    vai refletir toda a luz da cultura e da razo coletiva. A persona,

    como veculo da cultura, da conscincia e razo, vai estar

    associada moral e aos mais altos valores culturais. Em culturas

    que valorizam a introspeco ou a busca espiritual, a persona

    arquetpica tende a se vincular ao santo, profeta ou asceta que

    abandona sua individualidade pelos valores e bens comuns. Em

    sociedades guerreiras seria o heri guerreiro que se sacrifica

    (como sacrifcio da individualidade) em prol do grupo. Os modelos

    que regem uma cultura esto intimamente relacionados com a

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    Persona, uma vez que esta representa o pacto social, um cone

    da cultura.

    Por outro lado, a Sombra arquetpica como um buraco negro que

    atrai tudo para a esfera dos instintos, visando a satisfao dos

    mesmos. Nesse aspecto, a Sombra a radicalizao do que somos

    enquanto espcie, de todos nossos instintos em seus aspectos

    mais arcaicos. A natureza da Sombra contrria e refratria a

    cultura, deste modo, as representaes culturais da Sombra vo

    indicar algo perigoso, nocivo e que deve ser evitado. Esta

    incompatibilidade se deve ao fato da cultura se desenvolver a partir

    de um sacrifcio da esfera instintual, isto , da Sombra

    arquetpica. Podemos observar nos mitos de criao, onde os

    heris ou deuses civilizadores matam monstros para ordenar o

    universo (como no caso de Marduk que mata sua av, Tiamat e do

    combate de Zeus e Tifon), ou vencem os deuses primordiais (como

    no caso da guerra entre os deuses olmpicos e os tits) ou a perda

    do paraso eterno (no caso do mito judaico cristo). A Sombra

    representa o mal, a destrutividade ou negatividade quando

    observada pela tica da cultura e da Persona. A Sombra

    arquetpica o veculo e meio de manifestao dos instintos e a

    Persona arquetpica veculo da cultura.

    Na esfera pessoal, a Persona representa o pacto social. um

    complexo que forma a partir de elementos coletivos associados a

    fatores individuais, mas com predominncia dos elementos

    coletivos. Atravs da Persona o indivduo se torna um ser social.

    Atua como uma referncia coletiva para o Ego, isto , um ideal de

    Ego que serve orientao para o Ego, mas, que aprisiona e impede

    o desenvolvimento do individuo, isto , o processo de individuao.

    Por outro lado, a Sombra pessoal, corresponde a historia do

    individuo organizada no inconsciente pessoal por meio dos

    complexos. Na Sombra, os complexos atuam como so

    testemunhas da histria do indivduo e fornecem ao Ego os

    elementos de histricos de identidade. A Sombra vai remeter o

    indivduo s suas prprias experincias, ignorando as

    necessidades coletivas. (MORAES, 2010)

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    A Persona e a Sombra confrontam o Ego com a polaridade Coletiva e pessoal

    da existncia.

    A Persona e a Anima/Animus

    Na dinmica psquica, tanto a persona quanto a Anima/Animus possuem a

    funo relacional, isto , a Persona vai intermediar a relao do Ego com o

    mundo externo e a Anima/Animus com o mundo interno. Desse modo,

    Anima/Animus e persona estabelecem entre si uma relao de oposio e

    compensao.

    Na dinmica psquica, a Anima/Animus se constela medida que a constelao

    da Persona, sua identificao com Ego, se configura. Isso ocorre, pois, com o

    desenvolvimento do Ego e sua adaptao realidade se forma um hiato entre a

    conscincia do Ego e a realidade do inconsciente.

    Assim, na mesma proporo que o Ego vincula-se ao externo, por meio da

    Persona, a Anima/Animus vai se configurar e se projetar em objetos externos

    como forma de interagir com o Ego, levando-o a considerar o inconsciente por

    meio das projees.

    Desse modo, a Persona e a Anima/Animus foram um sistema compensatrio,

    pois, quanto maior for a identificao entre o Ego e a Anima, maior ser a

    inadequao na relao com as relaes sociais e com as escolhas com o

    mundo externo. Do mesmo, quanto maior a identificao com do Ego a Persona,

    maior ser os conflitos internos e a formao de smbolos (sintomas), na

    tentativa de equilibrar o sistema.

    Jung (2001b) afirma que no processo de individuao necessrio que o Ego

    de diferencie tanto da Persona quanto da Anima/Animus. De modo, que o Ego

    possa interagir com tanto com o inconsciente quanto com o mundo da cultura de

    modo adequado.

    A relao adequada do eixo Anima/AnimusEgoPersona favorece o

    enraizamento do Ego no Si-mesmo, isto , o eixo Ego-Self. Isso porque, o Ego

    passa a ter uma dimenso mais clara da realidade psquica sem ser conduzindo

    pelas demandas sociais nem pelas projees de complexos. Uma vez que

    integrados, a Persona e Anima, passam contribuir com a estruturao do Ego,

    possibilitando o relacionamento adequado com do Ego com o Self, isto , com a

    totalidade psquica que envolve tanto o mundo interno quanto externo.

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    A Persona no Processo de Individuao

    A Psique um sistema, isto , como um conjunto de estruturas/elementos que

    interagem entre si de forma mais ou menos harmnica. O sistema psquico

    representado pelo arqutipo do Self.

    O Self um conceito que abarca a organizao e dinmica psquica. Todos os

    padres de organizao psquica (tanto pessoais quanto coletivos) expressam

    aspectos de realidade do Self. Quando nos referimos aos arqutipos ou

    complexos, estamos falando do Self ou da totalidade psquica que, por meio de

    um processo de auto-clivagem, que Fordham denominou deintegrao, se

    manifesta por meio de aspectos parciais deintegrados que so constelados

    de acordo com a necessidade da vida do individuo. Cada um desses aspectos

    ou deintegrados possuem autonomia e uma dinmica caracterstica, que

    secompensam e se equilibram mutuamente. No processo de individuao, esses

    deintegrados so reintegrados constelando o Self.

    Desde modo, cada elemento da estrutura psquica vai revelar uma face do Self,

    assim, a compreenso de que toda estrutura psquica uma manifestao

    parcial do Self, nos permite compreender que todos os elementos psquicos so

    aspectos funcionais do Self e esto relacionados com todas estruturas que

    formam a realidade psquica.

    A Persona tambm um aspecto parcial e que expressa o Self. A persona

    exprime a funo adaptativa do Self, mas, essa funo no deve ser

    compreendida como reativa ao meio, pois, atravs da Persona o individuo se

    manifesta e interage com o mundo.

    Marie-Louise Von Franz discutindo a relao do Ego e o Self, faz uma

    interessante comparao, ela afirma que [...] o ego como o olho do Simesmo,

    somente ele capaz de ver e vivenciar como o Si-mesmo nasceu (1999, p.232).

    Aproveitando essa interessante comparao, poderamos dizer que se o Ego

    a olho do Self, a persona seria a boca - poderamos, inclusive, nos relembrar a

    origem etimolgica, onde Persona vem de per sonare, isto , por onde o som

    passa ou por onde a voz passa como um indicativo da mscara do ator clssico.

    Assim, persona indica o modo como o Self se expressa nas relaes sociais e

    com o meio.

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    O processo de individuao o processo no qual o individuo se torna quem se

    , isto , constela o Self, por meio do processo de reintegrao dos aspectos

    parciais, que vo constelar o Self. Apesar desse processo atingir seu clmax na

    crise da meia idade, ele se desenrola durante toda a vida.

    A primeira metade da vida marcada pelo processo de constelao dos

    arqutipos funcionais na experincia pessoal do individuo. A Persona assume

    um papel importante na constelao do Ego, em sua manuteno como centro

    organizador da conscincia.

    Ao longo da vida, a funo da Persona intermediar a relao Eu-Outro, como

    uma ponte indicando a forma mais adequada do Ego se relacionar com a meio

    externo. Contudo, quando Ego assume uma atitude neurtica, a persona pode

    tambm se dissociar, impondo ao Ego uma dinmica estritamente pautada na

    dinmica social. Por outro lado, devemos considerar que sempre que um

    complexo constelado, ativado seu elemento correspondente tanto no Ego

    quanto na Persona. Por exemplo, um complexo materno constelado, vai ativar o

    elemento de identidade filho no Ego e o padro de comportamento adequado

    a identidade de filho na Persona.

    Desse modo, importante compreendermos a persona est relacionada com

    todo o sistema psquico. Da mesma forma que toda ao ou atitude da

    conscincia vai provocar uma reao inconsciente, toda dinmica e

    manifestao do inconsciente vai provocar uma mudana na conscincia e na

    forma como o indivduo vai se relacionar com o mundo exterior, isto implica

    necessariamente em mudanas na dinmica da Persona.

    No processo de individuao, a assimilao da Persona significa, antes de tudo,

    uma reorganizao da relao com o mundo. Assim, a reintegrao da Persona

    faz com que ela assuma sua funo natural de fornecer ao Ego os padres

    sociais de comportamento, de modo a servir dinmica do eixo Ego-Self, e no

    apenas a ser um a voz da coletividade no indivduo.

    Palavras finais

    O objetivo deste texto foi contribuir com a ampliao acerca do conceito de persona, tenho plena certeza que ainda h vrios aspectos a serem explorados no que concerne a persona.

    Referncias bibliogrficas

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