14
1 A importância dos princípios no processo do trabalho 1 Regina Célia Pezzuto Rufino O presente artigo abordará os princípios do processo do trabalho e sua importância como respaldo normativo na seara das relações laborais. Como escopo principal, procura-se demonstrar a importância dos princípios gerais do direito como fonte do direito, sendo considerada a maior delas e embasamento para todas as outras fontes citadas. Insta ressaltar, primeiramente, que o tema é polêmico e divergente entre os juristas processualistas, acerca do rol e incidência deles no processo laboral, razão pela qual não há a pretensão de esgotar o tema, e sim, analisar e refletir alguns pontos em evidência. Para um entendimento mais didático e organizado, a priori, serão identificadas e explicitadas as fontes que servem de base ao Direito Processual do Trabalho, destacando os princípios gerais do direito. Em seguida, será apresentado um apanhado genérico dos princípios gerais do direito, aplicados na disciplina processual, demonstrando os mais comentados na disciplina de processo, tomando por base aqueles aplicados em todos os ramos processuais do direito, para posteriormente focar aqueles princípios aplicados especificamente no processo do trabalho. Na identificação de cada princípio do processo do trabalho, foram apontados entendimentos doutrinários e até jurisprudenciais que embasaram cada um deles, além de dispositivos legais, inclusive súmulas que corroboram a existência de tais princípios como normas norteadoras à prática processual. Contudo, conforme já mencionado, busca-se com esse estudo uma instigação à reflexão jurídica sobre os princípios e sua aplicação no processo do trabalho, não tendo a pretensão de nada concluir, e sim, desenvolver um raciocínio ou pensamento crítico sobre sua aplicabilidade como respaldo ou embasamento no processo trabalhista. 1 RUFINO, Regina Célia Pezzuto. A importância dos princípios no processo do trabalho. Teoria Geral do Direito Processual do Trabalho [material didático]. Designer Instrucional: Rafael da Cunha Lara. Diagramação: Noemia Mesquita. Rev. Diane Dal Mago. Palhoça: UnisulVirtual, 2014.

[7707 - 24246]unidade1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

FFFF

Citation preview

Page 1: [7707 - 24246]unidade1

1

A importância dos princípios no processo do trabalho1

Regina Célia Pezzuto Rufino

O presente artigo abordará os princípios do processo do trabalho e sua importância como respaldo normativo na seara das relações laborais. Como escopo principal, procura-se demonstrar a importância dos princípios gerais do direito como fonte do direito, sendo considerada a maior delas e embasamento para todas as outras fontes citadas.

Insta ressaltar, primeiramente, que o tema é polêmico e divergente entre os juristas processualistas, acerca do rol e incidência deles no processo laboral, razão pela qual não há a pretensão de esgotar o tema, e sim, analisar e refletir alguns pontos em evidência.

Para um entendimento mais didático e organizado, a priori, serão identificadas e explicitadas as fontes que servem de base ao Direito Processual do Trabalho, destacando os princípios gerais do direito. Em seguida, será apresentado um apanhado genérico dos princípios gerais do direito, aplicados na disciplina processual, demonstrando os mais comentados na disciplina de processo, tomando por base aqueles aplicados em todos os ramos processuais do direito, para posteriormente focar aqueles princípios aplicados especificamente no processo do trabalho.

Na identificação de cada princípio do processo do trabalho, foram apontados entendimentos doutrinários e até jurisprudenciais que embasaram cada um deles, além de dispositivos legais, inclusive súmulas que corroboram a existência de tais princípios como normas norteadoras à prática processual.

Contudo, conforme já mencionado, busca-se com esse estudo uma instigação à reflexão jurídica sobre os princípios e sua aplicação no processo do trabalho, não tendo a pretensão de nada concluir, e sim, desenvolver um raciocínio ou pensamento crítico sobre sua aplicabilidade como respaldo ou embasamento no processo trabalhista.

1 RUFINO, Regina Célia Pezzuto. A importância dos princípios no processo do trabalho. Teoria Geral do Direito Processual do Trabalho [material didático]. Designer Instrucional: Rafael da Cunha Lara. Diagramação: Noemia Mesquita. Rev. Diane Dal Mago. Palhoça: UnisulVirtual, 2014.

Page 2: [7707 - 24246]unidade1

2

Pós-graduação

Princípios Gerais do Direito

Considerações iniciais

Para Cândido Dinamarco (1995), a Teoria Geral do Processo é um sistema de conceitos e princípios genéricos e condensados indutivamente a partir do confronto dos diversos ramos do direito, sobretudo o instrumental. A teoria geral do processo visa a harmonizar e equilibrar os diversos ramos ou sistemas processuais, partindo da finalidade em comum.

A Teoria Geral do Processo busca o caminho para instrumentalizar os direitos em questão, por meio de uma visão metodológica harmônica e universal do direito processual, uma vez que todos os ramos processuais integram o mesmo sistema, devendo os princípios especiais estarem de acordo com os princípios gerais ou serem exceções.

Essas soluções devem respeitar regras mínimas chamadas princípios, os quais servem de embasamento e norteiam as normas processuais.

Os princípios gerais do direito são considerados fontes do direito por servirem de respaldo em toda área jurídica, sobretudo na processual, a qual não se instrumentaliza, sem o respaldo nas fontes embasadoras.

Assim, se faz necessário conhecermos quais são essas fontes e como os princípios gerais do direito se inserem nelas.

Fontes do direito

É de onde se originam as normas trabalhistas, os preceitos que vigoram e regem o direito laboral.

Há doutrinadores que classificam as fontes do direito em primárias e secundárias, caracterizando aquelas pelas leis e essas pelos costumes, jurisprudência e doutrina. Outros ainda classificam como fontes materiais ou formais.

As fontes materiais emergem do direito material do trabalho, com respaldo nos fatos sociais, políticos, econômicos, culturais, éticos e morais, uma vez que entre os escopos do processo está o de promover a realização do direito material. As fontes formais são aquelas que conferem ao Direito Processual do Trabalho um caráter de direito positivo, dividindo-se em fontes diretas (atos normativos e administrativos editados pelo Poder Público e o costume) e indiretas (doutrina e jurisprudência) (LEITE, 2006).

Page 3: [7707 - 24246]unidade1

3

As fontes do Direito do Trabalho e Processo do Trabalho são:

• Leis:

- Constituição Federal – fonte principal, da onde emana todas as normas. Um ato só terá validade se praticado de acordo com as regras ditadas pela Constituição Federal (art. 7º CF/88);

- Consolidação das Leis do Trabalho – elenca o maior contingente de normas imperativas;

- Legislação Não Consolidada – leis e regulamentos esparsos.

• Acordo ou convenção coletiva de trabalho: normas que versam sobre as condições de trabalho, estabelecido por acordo entre grupos (sindicatos) de empregadores e trabalhadores. A convenção fixa as regras a serem cumpridas por empresários e trabalhadores pertencentes à determinada categoria, no território que representam.

• Regulamento de empresa: normas que regulam as condições de trabalho dentro da empresa, sendo que são fixadas pelo empregador; (poder disciplinar). São as regras internas da empresa.

• Contrato individual de trabalho: acordo entre trabalhador e empregador, onde se ajustam as regras inerentes à respectiva relação de trabalho (Art. 8º da CLT).

• Sentença normativa: decisão jurisdicional sobre determinado conflito coletivo que, apoderando-se do Poder Normativo da Justiça do Trabalho, fixa as regras aplicáveis a uma determinada categoria profissional.

• Recomendações internacionais: regras estabelecidas além do âmbito do território nacional, que resultaram do funcionamento da Organização Internacional do Trabalho.

• Jurisprudência: é o entendimento dos juízes colegiados, do Tribunal, ao proferir uma decisão (acórdão) em determinado processo, buscando, assim, unificar um entendimento sobre determinado caso nesta justiça especializada. Alguns doutrinadores entendem que não pode ser considerada fonte do direito. Outros, como Pedro Paulo Teixeira Manus, entendem que sim.

• Doutrina: é o entendimento dos juristas, conhecedores do direito, sobre determinada norma ou ato jurídico. Pode ser uma interpretação da lei. Ex.: CLT Comentada.

• Usos e costumes: são a prática reiterada de determinadas ações por uma sociedade ou coletividade no âmbito das relações entre empregado e empregador. Alguns autores também não entendem que podem ser considerados fontes do direito do trabalho.

Page 4: [7707 - 24246]unidade1

4

Pós-graduação

• Analogia: na ocorrência de um caso que não tem previsão legal, aplica-se uma lei que regula outro caso semelhante e análogo.

• Equidade: para Valentin Carrion em sua CLT comentada (2008, p. 88), “É o decidir-se um litígio que não se enquadra com perfeição em nenhuma hipótese legislativa.”

• Princípios Gerais do Direito: é a aplicação do justo, do equilíbrio, do senso de honestidade. Os princípios são considerados pelos doutrinadores como a fonte principal, uma vez que todas as demais fontes devem estar em consonância com os princípios gerais do direito.

Princípios como fundamento do Direito

Pode-se dizer que os princípios gerais do direito são o fundamento do Direito, a base que irá inspirar as normas jurídicas.

Para Bezerra Leite (2011, p. 76), “A coerência interna de um sistema jurídico decorre dos princípios sobre os quais se organiza. Para operacionalizar desse sistema, torna-se necessária a subdivisão dos princípios jurídicos, como os gerais e especiais”. São ideias, normas fundamentais do sistema jurídico, anseios sociais que buscam interpretar o direito positivo (MALTA, 2007).

Para Bobbio (1997, p. 158-159):

Os princípios gerais são normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normas mais gerais. A palavra princípios leva a engano, tanto que é velha questão entre os juristas se os princípios gerais são normas. Para mim não há dúvida: os princípios gerais são normas como todas as outras. E esta é também a tese sustentada por Crisafulli. Para sustentar que os princípios gerais são normas, os argumentos são sustentar que os princípios gerais são normas, os argumentos são dois, e ambos válidos: antes de mais nada, se são normas aquelas das quais os princípios gerais são extraídos, através de um procedimento de generalização sucessiva, não se vê por que não devam ser normas também eles: se abstraio da espécie animal obtenho sempre animais, e não flores ou estrelas. Em segundo lugar, a função para a qual são extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas, isto é, a função de regular um caso. E com que finalidade são extraídos em casa de lacuna? Para regular um comportamento não regulamentado: mas então servem ao mesmo escopo a que servem as normas expressas. E por que não deveriam ser normas?

Page 5: [7707 - 24246]unidade1

5

Em seguida complementa:

Ao lado dos princípios gerais expressos há os não expressos, ou seja, aqueles que se podem tirar por abstração de normas específicas ou pelo menos não muito gerais: são princípios, ou normas generalíssimas, formuladas pelo intérprete, que busca colher, comparando normas aparentemente diversas entre si, aquilo a que comumente se chama o espírito do sistema. (Ibidem).

Portanto, os princípios inspiram, sugerem preceitos, revelam-se por meio das normas formais e positivas do Direito Processual do Trabalho consolidado ou extravagante. E o tal ramo processual, visa a efetivar o Direito Material do Trabalho, o qual é essencialmente protecionista.

Princípios do Processo do Trabalho

Miguel Reale (1977, p. 299) aduz:

Princípios são verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa.

Classificação dos Princípios

Os princípios em geral podem ser classificados em fundamentais e informativos.

• Princípios fundamentais:

- Princípio da isonomia: em conformidade com art. 5º da Constituição Federal, todos são iguais perante a lei. Contudo, esta igualdade é a formal, conforme aduz Bezerra Leite (2011), este princípio deve ser interpretado no sentido amplo, sendo necessária a adaptação de sua aplicabilidade nos domínios do direito processual do trabalho, observando a desigualdade econômica entre os demandantes.

- Princípio da ampla defesa e do contraditório: de acordo com art. 5º, LV da Constituição Federal, esse princípio implica a bilateralidade do processo, induz o direito à resistência, a defesa, ao recurso e à impugnação do postulado pela parte contrária, para se auferir o outro lado dos fatos (LEITE, 2011).

Page 6: [7707 - 24246]unidade1

6

Pós-graduação

- Princípio da razoabilidade: este princípio se coaduna tanto com a questão da necessidade do juiz ser razoável e sensato em seu julgamento, de acordo com o homem comum, como também, este princípio analisa a questão da menor durabilidade possível da lide, conforme art. 5º LXXVIII da Constituição Federal, nos mesmos moldes do princípio da celeridade. Bezerra Leite (2011) magistra que com esse princípio, o ordenamento jurídico se preocupa não só com o acesso ao cidadão ao Poder Judiciário, mas que também seja célere, de modo que o jurisdicionado tenha a garantia da duração razoável em sua tramitação.

- Princípio da Economia e da celeridade processual: fazem liame com a razoabilidade da duração do processo, art. 5º LXXVIII da Constituição Federal, devendo ser aplicados em todos os processos em geral e em todas as atividades, não devendo proceder com lentidão ou com atos ou onerosidade inúteis, de acordo com art. 125, II do CPC e 844 da CLT (MALTA, 2011).

- Princípio da livre convicção do juiz: o magistrado possui liberdade para valorar mais as provas que entender mais importantes, o juiz firma sua convicção pela livre e isenta apreciação da prova, não existindo tarifas impostas para valoração de cada uma delas, o juiz não se limita ou fica adstrito a critérios apriorísticos e valorativos, devendo buscar sempre aquela que demonstra de forma mais irrefutável a verdade real no caso a ser apreciado. Ives Gandra (2007) leciona que neste princípio, o juiz não se submete a uma hierarquia probatória, possuindo ampla liberdade para apreciá-la.

- Princípio do Duplo grau de jurisdição: no entendimento de Tostes Malta (2007), este princípio funda-se em poder a primeira decisão proferida em um feito estar errada, devendo, por isso, haver possibilidade de ser corrigida. Sendo a decisão proferida por um juiz, que é um ser humano, ela pode estar equivocada, cabendo sua reforma por juízes de uma instância superior, em conformidade com art. 5º LV da CF.

- Princípio da lealdade processual: as partes não poderão faltar com a verdade nem empregar artifícios fraudulentos. Tendo em vista a aplicação do direito comum subsidiariamente ao processo do trabalho, nos moldes do art. 769 da CLT, aplica-se o art. 17 do CPC que dispõe sobre o comportamento ético dos sujeitos do processo, impondo sanções pela infração de preceitos deontológicos (MALTA, 2007).

Page 7: [7707 - 24246]unidade1

7

- Princípio da dignidade da pessoa humana: este princípio não é unanimidade na doutrina. Como sendo um princípio processual, todavia, muitos afirmam que é fundamental e deve ser considerado em todas as áreas do direito, principalmente no direito processual do trabalho, sendo vedadas as partes ou ao juiz praticar atos no processo que violem a dignidade de alguma das partes (ou da outra). Isso deve ser respeitado por ser um dos principais de nosso ordenamento jurídico, nos moldes do art. 1º, III da Constituição Federal.

• Princípios informativos: podemos considerar princípios informativos, aqueles relacionados aos atos processuais, contudo, no presente trabalho vamos limitar nosso estudo aos princípios específicos do Processo do Trabalho, ou seja, aqueles que norteiam a relação especializada entre empregados e empregadores, conforme a seguir expostos:

- Princípio Protecionismo: a fim de equilibrar as desigualdades entre empregado e empregador, evitando que o primeiro esteja à mercê do segundo, face a sua condição de hipossuficiente. Este princípio pode se dividir em outros dois, como a aplicação da norma mais benéfica ao trabalhador, ou In dúbio pro operatio: havendo duas ou mais normas vigorando sobre um mesmo fato, deverá prevalecer aquele que melhor atender aos interesses do trabalhador. A aplicação desse princípio pode ser observada em várias regras processuais, como a obrigatoriedade exclusiva do empregado em fazer o depósito recursal, o recebimento dos recursos somente no efeito devolutivo, o ônus da prova que, na maioria dos casos, recai sobre o empregador entre outros.

Ao explicitar sobre este princípio Bezerra Leite (2011, p. 86) expõe:

A desigualdade econômica, o desequilíbrio para a produção de provas, a ausência de um sistema de proteção contra a despedida imotivada, o desemprego estrutural e o desnível cultural entre empregado e empregador certamente são realidades trasladadas para o processo do trabalho.

A jurisprudência trabalhista também vem aplicando este princípio, que é considerado uns dos principais, in verbis:

Da aplicação do Princípio da Proteção, que vigora no processo do trabalho, tem-se que toda prestação de serviço traz, em si, a presunção (relativa) da subordinação, salvo demonstração cabal em contrário, a cargo do empregador. (TRT 6º R., RO 00027.2003.006.06.00-9, 1ª T., Rel. Juiz Valéria Gondim Sampaio. J. 23.09.2003, unânime, DOE 25.10.2003)

Page 8: [7707 - 24246]unidade1

8

Pós-graduação

Logo, percebe-se que tratando de partes desiguais, necessário se faz a proteção à parte mais fraca (empregado), para que essa ganhe força e consiga chegar no mesmo patamar que a parte mais forte (empregador), mantendo-se, assim, o equilíbrio tão almejado na balança do Direito.

• Princípio do Jus postulandi: de acordo com esse princípio, as partes podem postular em juízo sem a representação de um advogado. Tendo em vista que o empregado é hipossuficiente, pois busca na Justiça verbas salariais, as quais servem para sua subsistência, a obrigatoriedade da contratação de um advogado poderia limitar o acesso do empregado ao judiciário, por não ter meios de arcar com os respectivos honorários, por isso, pode atuar diretamente na ação, benefício esse que se estendeu também ao empregador. Esse princípio se vislumbra em diversos dispositivos da CLT, sobretudo, no art. 840 que dispõe que a petição inicial pode ser feita oralmente pelo próprio empregado. É em razão desse princípio, também, que em regra não há condenação de honorários advocatícios no processo do trabalho, exceto nas hipóteses previstas pela Súmula 219 do TST (se o empregado for de baixa renda e estiver assistido pelo sindicato da categoria)

• Princípio da Busca da Verdade Real: a relação objetiva evidenciada pelos fatos determina a verdadeira relação jurídica existente entre os contratantes, ainda que sob capa dissimulada, não correspondentes à realidade. Deriva do princípio do direito do trabalho, princípio da primazia da realidade.

Os tribunais da justiça especializada também têm julgado com base nesse princípio, a fim de buscar o que realmente ocorreu na realidade, fazendo com que a verdade formal coincida com a verdade real:

PROVA TESTEMUNHAL. No Processo do Trabalho, vigora o princípio da primazia da realidade, que faz com que a prova documental ceda espaço à testemunha, quando esta se mostra firme no sentido de desconstituição daquela. (RO 00599.401/98-2, 5ªTurma do TRT da 4ª Região, Caxias do Sul, Rel. Francisco Rossal de Araújo.j. 20.03.2003, unânime, DJ 12.05.2003)

PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE – PREVALÊNCIA DA PROVA. Um dos princípios que rege o processo do trabalho é o da primazia da realidade. Assim, se a prova documental é contraditória, prevalece, então, a prova testemunhal. (RO 770/2002 (6752/2002), TRT da 17ª Região/ES, Rel. Juiz Geraldo de Castro Pereira. J. 09.07.2002, unânime, DO 02.08.2002).

Page 9: [7707 - 24246]unidade1

9

De acordo com este princípio, os juízes podem e devem buscar provas que corroborem os fatos reais os quais consubstanciarão sua convicção. Inclusive, o art. 765 da CLT prevê a liberdade que os magistrados possuem na direção do processo, velando pelo célere andamento processual e determinando qualquer diligência necessária na busca da verdade real (LEITE, 2011).

• Princípio da Conciliação: a composição é a melhor forma de solução de conflitos, e entre as formas de composição, a conciliação, muito embora não seja exclusiva do processo laboral, é um fundamento expresso e constante nas normas processuais trabalhistas, conforme salienta Bezerra Leite (2011, p. 64):

O art. 764 da CLT dispõe que “os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação.” (grifos nossos).

O art. 831 da CLT também prioriza a conciliação ao dispor que a sentença “será proferida depois de rejeitada pelas partes a proposta de conciliação.” (grifos nossos).

Ainda, o art. 846 da CLT prevê os momentos em que o juiz deverá tentar a conciliação de proferir a sentença quando diz “aberta a audiência, o Juiz ou Presidente proporá a conciliação” (grifos nossos).

E o art. 850 da CLT que prevê o outro momento “Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em prazo não excedente de 10 minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovará a proposta de conciliação, e não se realizando esta, será proferida a decisão.” (grifos nossos).

Outrossim, temos os dispositivos do art. 625-A e seguintes que dispõem sobre a Comissão de Conciliação Prévia, a fim de evitar o litígio que tanto tumultua os tribunais.

Por conseguinte, verifica-se que o processo do trabalho, muito embora eivado de normas procedimentais que levam as partes a uma lide, prioriza a conciliação entre as partes, buscando sempre solucionar da forma mais célere e mais satisfatória que se enseja pela conciliação das partes.

• Princípio da Oralidade: tendo em vista a informalidade que vigora no processo do trabalho, muitos atos processuais podem ser praticados oralmente, desde que reduzidos a termo. Desde a petição inicial prevista no art. 840 da CLT até a defesa prevista no art. 847 da CLT, além das razões finais previstas no art. 850 da CLT muitos atos importantes podem ser praticados oralmente, em razão da não obrigatoriedade da representação por advogado, podendo as partes praticar os atos oralmente, cabendo aos serventuários reduzir tais atos, a termo para que possam ficar registrados no processo.

Page 10: [7707 - 24246]unidade1

10

Pós-graduação

• Princípio da imediatidade (concentração): este princípio possui um liame com o da celeridade processual, pois a regra no processo do trabalho é que a audiência seja UNA, praticando os atos inerentes à audiência num único momento. Tanto no processo ordinário, no qual a audiência tem que ser Una na medida do possível, quanto no sumaríssimo que obrigatoriamente terão que ser unas (art. 852-C da CLT) salvo justificativa do juiz, os atos se concentram num único momento, buscando sempre a solução da lide, de forma mais célere.

• Princípio da despersonalização da pessoa jurídica: por meio deste princípio, a pessoa jurídica do empregador pode ser desconsiderada para atingir o patrimônio pessoal das pessoas físicas dos sócios, evitando, assim, fraudes cometidas, nas quais os sócios não deixam patrimônio em nome da empresa hábil para arcar com o passivo trabalhista, colocando tudo em nome dos sócios, com intuito de fraudar os direitos dos trabalhadores.

Neste sentido, Maurício Godinho Delgado (2012, p. 392) preleciona:

A despersonalização do empregador é um dos mecanismos principais que o Direito do Trabalho tem para alcançar certos efeitos práticos relevantes: de um lado, permitir a viabilização concreta do princípio da continuidade da relação empregatícia, impedindo que ela se rompa em função da simples substituição do titular do empreendimento empresarial em que se encontra inserido o empregado. De outro lado, harmonizar a rigidez com que o Direito Individual do Trabalho trata as alterações objetivas do contrato empregatício (vedando alterações prejudiciais ao empregado) com o dinamismo próprio ao sistema econômico contemporâneo, em que se sobreleva um ritmo incessante de modificações empresariais e interempresariais.

Prevista no art. 28 do Código de Defesa do Consumidor e posteriormente no art. 50 do Código Civil em vigência, a despersonalização visa à anulação da personalidade jurídica empregadora como sujeito autônomo, para atingir a pessoa física dos sócios, por meio da responsabilidade patrimonial desse último, buscando, assim, garantir o recebimento do crédito do trabalhador, pela constrição de bens dos sócios.

Page 11: [7707 - 24246]unidade1

11

A grande crítica à aplicação desses princípios é que os tribunais trabalhistas não têm seguido a regra de aplicar a despersonalização da pessoa jurídica, somente quando essa não mais dispõe de patrimônio apto para garantir a dívida, determinando os magistrados que a constrição recaia sobre o patrimônio dos sócios, antes mesmo de se analisar se a pessoa jurídica empregadora dispõe de patrimônio para garantir a satisfação do crédito do empregado, o que é um abuso, por não aplicar corretamente as regras dispostas no instituto.

• Princípio da Irrecorribilidade das decisões interlocutórias: no processo do trabalho, não cabe recurso contra decisões interlocutórias, conforme previsão do art. 893 § 1º da CLT:

Art. 893. Das decisões são admissíveis os seguintes recursos:

(...)

§ 1º Os incidentes do processo serão resolvidos pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias somente em recurso da decisão definitiva.

Logo, caberá recurso para reexaminar somente as decisões terminativas, ou seja, aquelas que extinguem o processo sem julgamento de mérito, ou as definitivas, as quais extinguem o processo com julgamento de mérito, com a ressalva quanto ao despacho denegatório, aquele que não dá seguimento a um recurso, ensejador da interposição do Agravo de Instrumento.

O TST já pacificou o entendimento no tocante à irrecorribilidade das decisões interlocutórias, ao editar a Súmula 214 que dispõe:

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. IRRECORRIBILIDADE – NOVA REDAÇÃO – RES. 127/2005, DJ 16.3.05. Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária a Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT.

Com efeito, vislumbra-se que os princípios pertinentes ao Direito Processual Trabalhista são apontados como fonte das normas materializadas nos artigos referidos, norteando as regras, normas e fontes aplicadas na instrumentalização do direito do trabalhador.

Page 12: [7707 - 24246]unidade1

12

Pós-graduação

Considerações finais

O Direito Processual do Trabalho integra o ramo do Direito Processual ou Instrumental, muito embora possua certa autonomia devida à sua peculiaridade, possuindo em comum diversos princípios e normas gerais, explicitados pela Teoria Geral do Processo.

Esses princípios são considerados fontes do Direito Processual do Trabalho ou apenas normas integrantes do ordenamento jurídico, as quais fundamentam atos e práticas processuais.

No Direito Processual do Trabalho, são aplicados princípios que também norteiam os outros ramos processuais, como o Processo Civil ou até o Processo Penal, enfatizando, contudo, alguns que são peculiares à Justiça Especializada, a qual trata de partes desiguais, buscando um equilíbrio.

Nesse esteio, denota-se o princípio do protecionismo, que visa a dar força ao empregado considerado hipossuficiente ou até o princípio da oralidade, no qual alguns atos são praticados verbalmente, o princípio do jus postulandi, dispensando a presença da representação pelo advogado, ou o princípio da busca da verdade real, priorizando mais o conteúdo do que a forma, no alcance da verdadeira justiça.

Os Princípios da Celeridade, da Concentração, da Oralidade e da Conciliação, apesar de aplicados às vezes no Processo Civil, manifestam-se com maior ênfase no Processo do Trabalho, ao denotarem a resolução rápida e efetiva da lide, ou na medida do possível, obter a composição entre os litigantes, que ainda é, sem dúvida, a melhor forma de solução de conflitos.

Pertinentes ao Processo do Trabalho, e também de suma importância, são os princípios da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, visando a evitar os recursos procrastinatórios interpostos pelos empregadores, que arrastam por anos uma demanda trabalhista e o da despersonalização da pessoa jurídica, o qual possui o escopo de encontrar bens que satisfaçam o crédito do trabalhador, mesmo que aqueles estejam disfarçados no patrimônio da pessoa física dos sócios, priorizando, novamente, mais o conteúdo do que a forma.

Logo, os princípios são fontes e normas essenciais para a aplicação da tutela jurisdicional de forma satisfatória, norteando os atos que culminam na busca desta tutela, mas sem deixar, jamais, de aplicar o princípio da dignidade humana, tanto da parte do trabalhador quanto da parte do empregador, pois uma vez violado alguns dos princípios analisados, estará se violando o princípio da dignidade humana, o qual preconiza um processo justo, equilibrado, imparcial e espelho da realidade, pois só assim, ao final, encontrar-se-á a verdadeira Justiça.

Page 13: [7707 - 24246]unidade1

13

Entretanto, é mister analisar a aplicação desses princípios nas novas modalidades que surgem da prática de atos processuais, a fim de que a busca pela celeridade e peã informalidade no processo do trabalho acabe se sobrepondo aos princípios garantidores do equilíbrio e da isonomia nas relações trabalhistas.

Referências:

ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo do Trabalho. Saraiva 2007.

BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10. ed. Brasília: UnB, 1997.

CARRION, Valentim. Comentários a Consolidação das Leis do Trabalho. Rio de Janeiro: Saraiva, 2008.

GIGLIO, Wagner D. Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTR. 2011.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2012.

DINAMARCO, Cândido Rangel. A Reforma do Código de Processo Civil. São Paulo: Malheiros, 1995.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2011.

MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Prática do Processo Trabalhista. São Paulo: LTr, 2006.

MARTINS FILHO, Ivens Gandra da Silva. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2007.

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2013.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2005.

REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1977.

TRIBUNAL Regional do Trabalho 4ª Região, Rio Grande do Sul. Disponível em: <http://www.trt4.jus.br/portal/>. Acesso em: 31 jan. 2014.

TRIBUNAL Regional do Trabalho 6ª Região, Pernambuco. Disponível em: <http://www.trt6.jus.br/portal/>. Acesso em: 31 jan. 2014.

TRIBUNAL Regional do Trabalho 6ª Região, Espírito Santo. Disponível em: <http://www.trt17.jus.br/portal/>. Acesso em: 31 jan. 2014.

Page 14: [7707 - 24246]unidade1