79036199 Direito Civil Pablo Stolze

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    LFG - Intensivo I

    DIREITO CIVIL

    Prof. Pablo Stolze Gagliano

    www.novodireitocivil.com.br

    Personalidade Jurdica

    Conceito: personalidade jurdica a aptido genrica para se titularizar direitose contrair obrigaes na ordem jurdica, ou seja, a qualidade para ser sujeitode direito.

    Pessoa Fsica ou Natural

    Em que momento a pessoa fsica adquire personalidade?Em um primeiro momento pode-se dizer que o momento est no art. 2

    do CC que diz a personalidade civil da pessoa fsica adquirida a partir donascimento com vida. Nascimento com vida traduz a idia de funcionamentodo aparelho cardio-respiratrio (Conselho Nacional de Sade Resoluo01/88).

    Obs: Afastando-se do sistema espanhol (art. 30 do Cdigo da Espanha), odireito brasileiro, luz da dignidade da pessoa humana, no exige para efeito deaquisio de personalidade forma humana e tempo mnimo de sobrevida.

    No caso da anencefalia existem outros aspectos mais profundos como acompleta inviabilidade de vida e a dignidade da gestante.

    Em um primeiro plano o CC diz no art. 2 que a personalidade jurdicacomea com o nascimento com vida, porm na segunda parte do mesmodispositivo est contido mas a lei pe a salvo, desde a concepo, os direitos donascituro.

    Teorias explicativas do nascituro

    Nascituro, com base na doutrina do professor Limongi Frana, o enteconcebido, mas ainda no nascido.

    Obs: nascituro um embrio com vida intra-uterina.

    Nascituro tem personalidade jurdica?Existem duas correntes doutrinria tentando explicar a natureza jurdica

    do nascituro:1) Teoria Natalista ( a tradicional no Brasil Eduardo Espnola, VicenteRo, Slvio Venosa etc): sustenta que o nascituro no considerado pessoa,gozando de mera expectativa de direito, uma vez que a personalidade jurdica s adquirida a partir do nascimento com vida. Esta teoria muito usada poraqueles que defender o aborto.

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    2) Teoria Concepcionista (Teixeira de Freitas, Clvis Bevilqua, SilmaraChinelato etc): sustenta que o nascituro considerado pessoa, inclusive paraefeitos patrimoniais, uma vez que a personalidade jurdica adquirida desde aconcepo.

    Obs: A denominada Teoria da Personalidade Formal ou Condicional,referida por alguns autores como a professora Maria Helena Diniz, sustenta queo nascituro teria personalidade apenas para determinados efeitos de ordem nopatrimonial, porquanto a plena aquisio de sua personalidade, inclusive paraefeitos patrimoniais s ocorreria a partir do nascimento com vida.

    Questo especial de concurso: Qual foi a teoria adotada pelo Cdigo CivilBrasileiro?Segundo Clvis Bevilqua, em seu Cdigo Civil dos Estados Unidos do Brasil,edio histrica, editora Rio, 1975, pg. 178, o codificador aparentemente adotaa teoria Natalista, por ser mais prtica (1 parte do art. 2), mas acaba por sofrer

    forte influncia da teoria concepcionista (2 parte do art. 2) ao reconhecerdireitos ao nascituro.

    Que direitos efetivamente o nascituro tem?Ex: direito vida (inclusive proteo contra o aborto); direito proteo pr-natal; direito de receber doao e herana; direito de lhe ser nomeado curadordos seus interesses (art. 877 e 878 do CPC);

    Obs: embora no seja to comum na casustica pode-se tambm imputar aonascituro obrigao, a exemplo da dvida fiscal que acompanha o imvel que lhe doado.

    Nascituro tem direito aos alimentos?A jurisprudncia brasileira em geral, sempre foi resistente tese, havendoexcees (Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul, Agravo de instrumento70006429096). Recentemente, foi aprovada a lei dos alimentos gravdicos (Lei11804/08) que reconheceu e regulou expressamente o direito aos alimentos donascituro.

    Art. 6 - Convencido da existncia de indcios da paternidade, o juiz fixaralimentos gravdicos que perduraro at o nascimento da criana, sopesando asnecessidades da parte autora e as possibilidade da parte r.Pargrafo nico - Aps o nascimento com vida, os alimentos gravdicos ficamconvertidos em penso alimentcia em favor do menor at que uma das partessolicite a sua reviso.

    E se descobrir posteriormente que no era pai?Os alimentos so irrepetveis, portanto, no h como devolver, podendo apenas

    buscar o ressarcimento atravs da responsabilidade civil ou at mesmo um danomoral caso a me soubesse que ele no era o pai.

    O nascituro tem direito indenizao por dano moral?O STJ, a exemplo do recente julgado referente ao REsp 931556/RS, temconcedido indenizao para nascituro por danos morais.

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    O natimorto goza de tutela jurdica?O natimorto aquele que nasceu morto. O enunciado n 1 da primeira jornadade direito civil reconhece determinados direitos extrapatrimonias ao natimorto,em respeito ao princpio da dignidade.

    1 Art. 2: a proteo que o Cdigo defere ao nascituro alcana o natimorto no queconcerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.Capacidade

    Teixeira de Freitas afirmava que a capacidade seria a medida dapersonalidade.

    A capacidade se desdobra em duas:- Capacidade de direito- Capacidade de fato

    Quando se soma a capacidade de direito com a capacidade de fato tem-sea capacidade civil plena.No se deve confundir capacidade com legitimidade. A falta de

    capacidade no pode ser confundida com o impedimento para a prtica dedeterminado ato. A falta de legitimidade uma ausncia de pertinnciasubjetiva para a prtica de determinado ato, ou seja, podem-se ter pessoascapazes que no tem pertinncia subjetiva para determinado ato. Ex: doisirmos maiores e capazes no podem casar entre si.

    A capacidade de direito a capacidade genrica, ou seja, qualquer pessoatem. No momento em que se adquire personalidade jurdica automaticamente

    se adquire capacidade de direito.

    Qual a diferena entre capacidade de direito e personalidade jurdica?Orlando Gomes diz que no queira visualizar uma diferena entre

    capacidade de direito e personalidade jurdica, pois nos dias de hoje soconceitos que se confundem.

    A capacidade de fato a aptido para pessoalmente praticar atos na vidacivil. Esta capacidade de fato nem todo mundo tem. Faltando a capacidade defato surge a incapacidade civil.

    A incapacidade civil pode ser absoluta ou relativa. Os absolutamenteincapazes so representados e os relativamente incapazes so assistidos.

    Obs: no sistema protetivo do incapaz no se deve inserir o benefcio derestituio (restitutio in integrum). Tal benefcio consistiria na prerrogativaconferida ao incapaz de desfazer o ato praticado, ainda que formalmente vlido,caso lhe fosse prejudicial.

    Art. 3 So absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:I os menores de dezesseis anos; (menores impberes)II os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem o necessriodiscernimento para a prtica desses atos;III os que, mesmo por causa transitria, no puderem exprimir sua vontade.

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    Obs: a despeito da incapacidade absoluta do menor abaixo dos 16 anos de idade,a sua vontade relevante, ainda que no vinculativa, no que tange situaesexistenciais (enunciado 138 da terceira jornada de direito civil)

    A incapacidade absoluta por enfermidade ou deficincia mental deve seraferida no bojo de um procedimento de interdio (art. 1177 e seguintes do CPC),nomeando ao incapaz interditado um curador.

    Toda ao de estado da pessoa deve ser conduzida pelo juiz de direito(estadual).

    Se o interditado incapaz vier a praticar um ato, ainda que em momento delucidez, sem a participao de seu curador este ato nulo de pleno direito.

    O ato praticado pelo incapaz ainda no interditado, pode vir a serimpugnado a posteriori?

    Orlando Gomes, amparando-se no direito italiano, estabelece que o atopoder ser invalidado se concorrerem trs requisitos:

    - Demonstrao da incapacidade;- Prova do prejuzo;- M-f da outra parte.Slvio Rodrigues conclui que a m-f pode ser circunstancialmente

    demonstrada.O art. 503 do Cdigo da Frana refora a tese defensiva da invalidade do

    ato praticado pelo incapaz no interditado

    Toda pessoa, que no seja doente metal, mas que no puderem exprimirsua vontade, seja por causa transitrio ou permanente absolutamente incapaz.Ex: aquele que sofreu um acidente de trnsito e est em como no hospital.

    Obs: o inciso III ao reconhecer a incapacidade absoluta da pessoa que, por causatransitria, esteja impedida de discernimento, implicitamente contemplou osurdo-mudo sem habilidade especial para manifestar vontade, o qual vtimade uma causa permanente privativa de discernimento.

    A pessoa que vtima de intoxicao fortuita pode alegar incapacidadeabsoluta com base no inciso III do art. 3.

    Obs: segundo Alvino Lima, em sua tese de ctedra Da Culpa ao Risco, a teoriada actio libera in causa tambm deve ser aplicada no direito civil: a pessoa que

    voluntariamente coloca-se em estado de incapacidade no se isenta deresponsabilidade civil.

    A senilidade no causa de incapacidade civil.

    Art. 4 So incapazes, relativamente a certos atos, ou maneira de os exercer:I os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; (menores pberes)II os brios habituais, os viciados em txicos, e os que, por deficincia mental,tenham o discernimento reduzido;III os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;IV os prdigos.Pargrafo nico. A capacidade dos ndios ser regulada por legislao especial.

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    A embriaguez, a toxicomania e deficincia mental podem tambm setornar incapacidade absoluta quando privar do discernimento.

    O prdigo tambm pode ser interditado nomeando-lhe um curador. O

    curador do prdigo vai assisti-lo em atos de cunho patrimonial.

    O prdigo a pessoa que gasta imoderadamente o seu patrimnio,podendo reduzir-se misria.

    Questo de concurso: O que estatuto jurdico do patrimnio mnimo?Trata-se de uma tese desenvolvida pelo professor Luiz Edson Fachin,

    segundo a qual, em uma perspectiva constitucional de promoo da pessoahumana, as normas legais devem resguardar para cada pessoa um mnimo depatrimnio para que tenha vida digna. As normas do bem de famlia traduzemesta teoria, assim como a tutela dada ao prdigo.

    Obs: o Estatuto do ndio, Lei 6001/73, em seu art. 8, considera como regrageral a incapacidade absoluta do ndio que no revele conscincia do atopraticado.

    Efeitos da Reduo da Maioridade Civil

    - Efeito no campo previdencirio: a nota SAJ n 42/03 da Casa Civil daPresidncia da Repblica, assim como o Enunciado 03 da I Jornada de DireitoCivil fixaram o entendimento de que no regime geral de benefcios daprevidncia social o limite etrio de pagamento permanece aos 21 anos de idade,

    em virtude de norma especial.

    - Efeito da reduo no que tange o direito aos alimentos: desde o informativo232, passando por diversos julgados ( exemplo do REsp 442502/SP), o STJ jfirmou o entendimento segundo o qual atingindo o alimentando a maioridadecivil no se cancela automaticamente a penso alimentcia. Reforando esseentendimento a smula 358 do STJ obriga a instalao do contraditrio antesda deciso exoneratria.

    O MP tem legitimidade para recorrer da deciso que exonera oalimentante da penso alimentcia?

    O STJ vem firmando o entendimento (REsp 982410/DF) no sentido deque o MP no tem legitimidade para recorrer contra deciso que extingue odever de prestar alimentos.

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    Emancipao

    Regra geral, a menoridade cessa aos 18 anos completos (art. 5 do CC).

    Art. 5 A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica

    habilitada prtica de todos os atos da vida civil.

    Segundo Washington de Barros Monteiro esta maioridade atingida noprimeiro instante do dia em que se completa 18 anos.

    Emancipao traduz numa forma de antecipao da capacidade plena,podendo ser: voluntria, judicial e legal.

    Emancipao voluntria (art. 5, pargrafo nico, I, primeira parte): aquelaconcedida pelos pais, ou por um deles na falta do outro, em carter irrevogvelmediante instrumento pblico independentemente de homologao do juizdesde que o menor tenha 16 anos completos.

    O menor participa do ato emancipatrio, pois ir repercutir em sua esferajurdica, porm ele no tem poderes para autorizar ou desautorizar os pais.

    Obs: forte parcela da doutrina na linha de julgados do prprio STF (RTJ62/108, RT 494/92) sustenta que, na emancipao voluntria, persiste aresponsabilidade civil dos pais pelo ato ilcito do menor.

    Emancipao judicial (art. 5, pargrafo nico, I, 2 parte): o menor emancipado pelo juiz, ouvido o tutor, desde que tenha 16 anos completos.

    Obs: o art. 91 da LRP (Lei 6015/73) estabelece que quando o juiz conceder a

    emancipao dever comunic-la de ofcio ao oficial de registro caso no constedos autos prova de este registro ter sido feito em 8 dias.

    Emancipao legal(art. 5, pargrafo nico, II a V):

    - Pelo casamento: Homem e mulher podem casa a partir de 16 anos deidade, porm at completar 18 anos necessita da autorizao de seurepresentante legal ou juiz. O CC no art. 1520 estabelece duas hipteses em que possvel o casamento antes dos 16 anos, quais sejam: gravidez e para evitarcumprimento de pena criminal. Ainda que venha a se separar ou divorciarposteriormente a emancipao decorrente do casamento permanece. Seguindo acorrente que sustenta a retroatividade dos efeitos da sentena que invalida ocasamento (Flvio Tartuce, Fernando Simo, Cristiano Chaves, Zeno Veloso)conclumos que a emancipao decorrente desaparece.

    - Pelo Exerccio de emprego pblico efetivo: um exemplo de que podeemancipar antes dos 18 anos na carreira militar.

    -Pela colao de grau em curso de ensino superior:

    - Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pelo exerccio da relao deemprego, desde que, o menor com dezesseis anos completos tenha economia

    prpria: o estabelecimento civil traduz o exerccio de uma atividade noempresarial (ex: um servio artstico ou cientfico); o estabelecimento comercial

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    traduz o exerccio de uma atividade empresarial (ex: compra e venda deverduras).

    O que se entende por economia prpria?O CC brasileiro integra um sistema jurdico aberto, permeado de

    clusulas gerais e conceitos vagos ou indeterminados. Segundo o professor

    Miguel Reale, luz do princpio da operabilidade, tais conceitos devero serpreenchidos observando as caractersticas do caso concreto (economia prpria,justa causa, risco so exemplos de conceitos vagos ou abertos).

    Extino da pessoa fsica ou natural

    O critrio que a comunidade cientfica mundial tem adotado a morteenceflica, como referencial mais seguro do momento da morte, inclusive paraefeito de transplante (no Brasil, ver Resoluo 1480/97 do CFM).

    O CC no art. 6 estabelece que a morte marca o fim da pessoa natural.

    Art. 6 A existncia da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessodefinitiva.

    Obs: a morte deve ser atestada por um profissional da medicina, podendotambm ser declarada por duas testemunhas, na falta do especialista.

    O CC estabelece alm da morte real, duas hipteses de morte presumida:a) Decorrente da ausncia (art. 6, 2 parte)

    b) As situaes decorrentes do art. 7

    Conceito de ausncia: a ausncia ocorre quando uma pessoa desaparece de seudomiclio sem deixar notcia ou representante que administre os seus bens ( verapostila no material de apoio) a matria disciplinada a partir do art. 22 doCC.

    Obs: a sentena de ausncia no registrada no livro de bito, mas sim em livroespecial.

    No caso do art. 7 no h o procedimento de ausncia e sim oprocedimento de justificao em que o juiz colhe a prova e por sentena declarao bito. Esta sentena ser registrada no livro de bito.

    Se aquele que teve a morte presumida voltar dever entrar comprocedimento para reconhecer a inexistncia do ato que declarou o bito.

    Questo de concurso: O que comorincia?Comorincia traduz a situao jurdica de morte simultnea. A regra da

    comorincia, prevista no art. 8 do CC, somente deve ser aplicada quando nofor possvel indicar a ordem cronolgica dos bitos. No podendo se indicar aordem das mortes, presume-se que a situao de falecimento simultneo,abrindo-se cadeias sucessrias autnomas e distintas.

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    Art. 8 Se dois ou mais indivduos falecerem na mesma ocasio, no se podendoaveriguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-osimultaneamente mortos.Pessoa Jurdica

    A pessoa jurdica nasce como decorrncia do fato associativo (versociologia jurdica Antnio Machado Neto).

    Conceito: a pessoa jurdica o grupo humano, criado na forma da lei, e dotadode personalidade jurdica prpria, para a realizao de fins comuns.

    Teorias explicativas da pessoa jurdica:

    a) Corrente negativista (Brinz, Planiol, Duguit): negava ser a pessoa jurdicasujeito de direito. No aceitava a tipologia.

    b) Corrente afirmativista: aceitava a teoria da pessoa jurdica, ou seja,

    reconhecia a pessoa jurdica como sujeito de direito. Varias teoriassurgiram desta corrente, dentre elas:

    a. Teoria da Fico (Savigny): desenvolvida por Savigny a partir dopensamento de Windsheid sustentava que a pessoa jurdica seriaum sujeito com existncia ideal, ou seja, fruto da tcnica jurdica.O grande erro desta teoria foi dar uma grande abstrativizao pessoa jurdica negando-lhe uma participao social.

    b. Teoria da Realidade Objetiva ou Organicista (Clvis Bevilqua): o contraponto da teoria da fico. Para esta teoria a pessoa jurdicano seria fruto da tcnica jurdica, mas sim um organismo social

    vivo.

    c. Teoria da Realidade Tcnica (Ferrara): esta teoria, aproveitandoelementos das duas correntes anteriores, mais equilibrada, afirmaque, posto a pessoa jurdica seja personificada pelo direito, tematuao social, na condio de sujeito de direito. a teoriaadotada pelo CC brasileiro.

    Personificao da pessoa jurdica

    Art. 45. Comea a existncia legal das pessoas jurdicas de direito privado com ainscrio do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessrio,de autorizao ou aprovao do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as

    alteraes por que passar o ato constitutivo.Pargrafo nico. Decai em trs anos o direito de anular a constituio das pessoasjurdicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo dapublicao de sua inscrio no registro.

    O CC em seu art. 45 firma a natureza constitutiva do registro da pessoajurdica, com eficcia ex nunc.

    Obs: regra geral, a personificao da pessoa jurdica decorre simplesmente doregistro do seu ato constitutivo, mas, em algumas situaes, necessria umaautorizao especial de constituio dada pelo Poder Executivo. Ex: banco;operadora de plano de sade; seguradora.

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    As sociedades que carecem do registro do ato constitutivo no registropblico so sociedades despersonificadas. O ato constitutivo da pessoa jurdicaque ser levado a registro o estatuto ou o contrato social. Em regra, o registroser feito na junta comercial ou no Cartrio de Registro de Pessoa Jurdica.Obs: algumas pessoas jurdicas tm registro em sistema especial, a exemplo da

    sociedade de advogados, que tem registro na OAB.

    O que se entende por ente despersonalizado?Para Maria Helena Diniz so entes com personalidades anmalas. Porm,

    a rigor esses entes no tm personalidade jurdica. So entes dotados decapacidade processual. Ex: esplio, condomnio, massa falida.

    Espcies de pessoa jurdica de direito privado

    O CC no art. 44 em sua redao originria dizia: So pessoas jurdicas dedireito privado:

    I- Associaes,II- Sociedades eIII- Fundaes

    Porm o art. 2031 dizia que essas pessoas jurdicas deveriam se adaptarao CC. Com isso as organizaes Religiosas e os Partidos Polticos, que soespcies de associaes, se rebelaram e foram at o legislativo requerendo quehouvesse modificao deste dispositivo. Portanto, o legislador deu nova redaoao art. 44 bem como ao art. 2031.

    O art. 44 do CC fora desdobrado, acrescentando-se as organizaes

    religiosas e os partidos polticos para permitir em seqncia a alterao do art.2031 eximindo estas entidades de se adaptarem ao novo Cdigo Civil.

    O prazo de adaptao ao novo Cdigo Civil foi modificado vrias vezesfindando em 11 de janeiro de 2007.

    Art. 44. So pessoas jurdicas de direito privado:I as associaes;II as sociedades;III as fundaes;IV as organizaes religiosas;V os partidos polticos.

    Art. 2.031. As associaes e fundaes, constitudas na forma das leis anteriores,bem como os empresrios, devero se adaptar s disposies deste Cdigo at 11 dejaneiro de 2007.Pargrafo nico. O disposto neste artigo no se aplica s organizaes religiosasnem aos partidos polticos.

    Pessoa Jurdica pode sofrer dano moral?Ainda vigora no Brasil a corrente que sustenta a tese segundo a qual a

    pessoa jurdica sofre dano moral (smula 227 do STJ e art. 52 do CC). O STJtem admitido a reparao do dano moral pessoa jurdica, especialmente por

    violao sua imagem (REsp 752672/RS e REsp 777185/DF). Porm h uma

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    corrente minoritria que entende que no seria possvel o dano moral para apessoa jurdica, pois este seria de cunho psicolgico.

    O enunciado 286 da IV jornada de direito civil, ainda que por via oblquaculminou por negar ou enfraquecer a tese vigente no Brasil defensiva do danomoral pessoa jurdica.

    286 Art. 52. Os direitos da personalidade so direitos inerentes e essenciais pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, no sendo as pessoas jurdicas titularesde tais direitos.

    Obs: O STJ, conforme notcia de 17/10/08 (REsp 963387) afastou a incidnciade imposto de renda sobre a indenizao por dano moral.

    FUNDAES

    Conceito:A fundao de direito privado decorre da afetao de um patrimnio quese personifica visando atingir finalidade ideal (art. 62 do CC).

    Toda fundao tem finalidade ideal, ou seja, finalidade no econmica.

    A fundao constituda por escritura pblica ou testamento.

    Uma fundao pode perfeitamente gerar receita, mas isso no quer dizerque ela est gerando lucro a ser rateado entre seus administradores.

    Obs: as ONGs por tambm perseguirem finalidade ideal devem se constituirsob forma de fundao ou associao.

    Requisitos para se constituir a fundao de direito privado:a) Afetao de bens livres

    b) Constituio por escritura pblica ou testamentoc) Elaborao do Estatuto da Fundao

    O estatuto da fundao pode ser elabora diretamente pelo seu instituidorou, mediante delegao, por um terceiro. Subsidiariamente, nos termosdo art. 65 do CC, a elaborao do estatuto poder ser feita pelo MinistrioPblico.

    d) Aprovao do estatuto pelo MP quando a elaborao for feita peloinstituidor ou por terceiro delegado. Elaborado o estatuto pelo prprioMP, o art. 1202 do CPC submete-o aprovao do juiz.

    e) Registro da fundao no Cartrio de Registro de Pessoa Jurdica

    O MP, nos termos do art. 66 tem a precpua funo fiscalizatria dasfundaes. Se a fundao atua em mais de um Estado os MPs destes estados,em parceria, tero a incumbncia de fiscaliz-la.

    Caso a fundao funcione do Distrito Federal ou em territrio aincumbncia para fiscaliz-la ser do Ministrio Pblico do Distrito Federal eTerritrios e no do Ministrio Pblico Federal conforme determinado peloart. 66, 1.

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    A ADIN 2794, j julgada procedente, reconheceu a inconstitucionalidadedo 1 do art. 66, uma vez que a atribuio fiscalizatria das fundaes doDistrito Federal no cabe, em primeiro plano, ao MPF e sim ao prprio MP doDistrito Federal.

    Ateno: Deve-se falar que o instituidor fez uma dotao do patrimnio para a

    criao da fundao, no devendo utilizar-se da expresso doao, pois nestapresume-se que a Fundao j estaria constituda.

    Alterao do Estatuto da Fundao

    Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundao mister que a reforma:I seja deliberada por dois teros dos competentes para gerir e representar afundao;II no contrarie ou desvirtue o fim desta;III seja aprovada pelo rgo do Ministrio Pblico, e, caso este a denegue, podero juiz supri-la, a requerimento do interessado.

    Art. 68. Quando a alterao no houver sido aprovada por votao unnime, osadministradores da fundao, ao submeterem o estatuto ao rgo do MinistrioPblico, requerero que se d cincia minoria vencida para impugn-la, se quiser,em dez dias.

    A minoria vencida, nos termos do art. 68 do CC, tem o direito potestativode impugnar a alterao do estatuto no prazo decadencial de 10 dias.

    Art. 69. Tornando-se ilcita, impossvel ou intil a finalidade a que visa afundao, ou vencido o prazo de sua existncia, o rgo do Ministrio Pblico, ou

    qualquer interessado, lhe promover a extino, incorporando-se o seu patrimnio,salvo disposio em contrrio no ato constitutivo, ou no estatuto, em outrafundao, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.

    Salvo disposio em contrrio, o patrimnio da fundao incorporado aoutra fundao, designada pelo juiz, de fim igual ou semelhante.

    SOCIEDADES

    Conceito:A sociedade, espcie de corporao, dotada de personalidade jurdica

    prpria e instituda por meio de contrato social, visa a proveito econmico epartilha de lucro.

    Toda e qualquer sociedade visa o proveito econmico e so constitudaspor contrato social (art 981 do CC).

    Obs: Marido e mulher podem constituir sociedade?O CC, no art. 977, restringe esta autonomia privada, sob o fundamento de

    evitar fraude ao regime de bens. O parecer jurdico n 125/03, bem como oenunciado 204 da III Jornada, afirmam que a proibio prevista no art. 977 doCC s se aplica a sociedades constitudas aps a entrada em vigor do Novo

    Cdigo Civil.

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    Enunciado 204 Art. 977: A proibio de sociedade entre pessoas casadas sob o regimeda comunho universal ou da separao obrigatria s atinge as sociedadesconstitudas aps a vigncia do Cdigo Civil de 2002.Espcies de Sociedades:

    Antes do CC/2002 havia dois tipos de sociedade: sociedade civil esociedade Mercantil ou de Comrcio. Essa diviso derivava da Teoria dos Atosde Comrcio que dizia que eram sociedade mercantil aquelas que praticavamatos de comrcio e sociedade civil aquelas que no praticavam atos de comrcio.

    Entretanto, o conceito de comrcio evoluiu para empresas e hoje adota-sea teoria de Empresa e, a luz do direito positivo brasileiro, no se fala mais emsociedade civil e mercantil e sim Sociedade Simples e Sociedade Empresria.

    Ateno: deve-se dizer que so tipos de sociedade a Sociedade Simples e aSociedade Empresria. No se deve utilizar a expresso Sociedade Empresarialpara designar um dos tipos de sociedade.

    Uma sociedade para ser empresria deve reunir dois requisitos. Umrequisito material e um requisito formal. O requisito material que estasociedade deve desempenhar uma atividade econmica organizada (art. 966) e orequisito formal que o registro dos atos constitutivos desta sociedade seja feitona Junta Comercial.

    A sociedade simples se chega por excluso, ou seja, a sociedade que norene esses dois requisitos ser considerada sociedade simples.

    Sociedades:a) Sociedade Simples

    b) Sociedade Empresriaa. Requisito Material: Desempenhar atividade econmica organizadab. Requisito Formal: ter seu ato constitutivo registrado na Junta Comercial

    A sociedade empresria, capitalista e impessoal por excelncia, submete-se legislao falimentar, e se notabiliza pelo fato de os seus scios atuaremcomo meros articuladores de fatores de produo (capital, trabalho, tecnologia ematria-prima), sendo obrigatrio o seu registro na Junta Comercial. J associedades simples, pessoais por excelncia, tem o seu registro no Cartrio deRegistro das Pessoas Jurdicas e notabiliza-se pelo fato de a sua atividade serprestada ou supervisionada direta e pessoalmente pelo prprio scio.

    Exemplo de sociedade empresria: revendedora de veculos, banco.Exemplo de sociedade simples: sociedade de advogados

    Art. 982. Salvo as excees expressas, considera-se empresria a sociedade quetem por objeto o exerccio de atividade prpria de empresrio sujeito a registro (art.967); e, simples, as demais.Pargrafo nico. Independentemente de seu objeto, considera-se empresria asociedade por aes; e, simples, a cooperativa.

    Obs: a legislao especfica da cooperativa (Lei 5764/71, lei 7231/84), bem comoo enunciado 69 da I JDC afirmam que a cooperativa continua sendo registradana Junta Comercial. Entretanto, uma segunda corrente doutrinria (Julieta

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    Lunz, Paulo Rego, Maria Helena Diniz) sustenta que por ser simples o registroda cooperativa no Cartrio de Registro das Pessoas Jurdicas.

    ASSOCIAO

    Conceito:

    As associaes so entidades de direito privado, formadas pela unio deindivduos, nos termos do art. 53 do CC, visando a finalidade no econmica.

    A associao formada pela unio de indivduos, diferentemente dasfundaes.

    A associao, nos termos do art. 54 do CC, o ato constitutivo de umaassociao o seu estatuto que registrado no Cartrio de Registro das PessoasJurdicas.

    O rgo mais importante de uma associao a Assemblia Geral, cuja asatribuies esto no art. 59 do CC.

    Art. 59. Compete privativamente assemblia geral:I destituir os administradores;II alterar o estatuto;III e IV Suprimidos. Lei n 11.127, de 28-6-2005.Pargrafo nico. Para as deliberaes a que se referem os incisos I e II deste artigo exigido deliberao da assemblia especialmente convocada para esse fim, cujoquorum ser o estabelecido no estatuto, bem como os critrios de eleio dosadministradores.

    Em uma associao pode ter categorias diferentes de associados, pormdentro de cada categoria no pode haver discriminao entre os associados.

    Art. 57. A excluso do associado s admissvel havendo justa causa, assimreconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nostermos previstos no estatuto.

    Justa causa um conceito aberto (valorativo) em que o juiz ir preencherno caso concreto.

    A associao no se confunde com o condomnio. Portanto, no seriapossvel expulsar o condmino, pois se assim o fizesse estaria realizando umadesapropriao privada. Porm, quando o condmino tem comportamento anti-social pode ser aplicado a ele multa.

    Extino da Pessoa JurdicaPara extinguir uma pessoa jurdica necessrio satisfazer o passivo da

    pessoa jurdica, para somente depois cancelar o registro da pessoa jurdica.Pode ocorrer de trs formas:

    a) Convencional: d-se quando os scios estipulam desfazer a pessoajurdica mediante distrato.

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    b) Administrativa: quando resulta da cassao da autorizao deconstituio e funcionamento de determinadas pessoas jurdicas. Ex:quando o Banco Central faz uma interveno em um Banco.

    c) Judicial: opera-se por meio de processo. Ex: o procedimento de falnciaculmina em uma dissoluo judicial.

    Obs: O procedimento de liquidao de sociedades no sujeitas falncia regulado nos termos do art. 1218 do CPC, pelos art. 655 a 674 do CPC de1939.

    Desconsiderao da Pessoa Jurdica (disregard doctrine)

    A doutrina da desconsiderao da Pessoa Jurdica nasce na Inglaterra nocaso Salomon x Salomon Co.

    No Brasil o primeiro autor a cuidar da matria foi Rubens Requio.

    1) Conceito:

    A doutrina da desconsiderao da Pessoa Jurdica pretende oafastamento temporrio da sua personalidade, para permitir que os credorespossam satisfazer os seus direitos no patrimnio pessoal do scio ouadministrador que cometeu o ato abusivo.

    A desconsiderao da pessoa jurdica pode ser aplicada at mesmo nasassociaes, fundaes e entidades filantrpicas e no apenas nas sociedadesempresrias.

    Despersonificao da Pessoa Jurdica mais severa que a

    desconsiderao da pessoa jurdica, pois pretende o aniquilamento da pessoajurdica mediante o cancelamento do seu registro. Ex: as torcidas organizadasque eram associaes e tiveram o seu registro cancelado.

    2) Direito Positivo

    Art. 28 do CDCArt. 50 do CC

    Art. 28. O juiz poder desconsiderar a personalidade jurdica da sociedadequando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de

    poder, infrao da lei, fato ou ato ilcito ou violao dos estatutos oucontrato social. A desconsiderao tambm ser efetivada quando houverfalncia, estado de insolvncia, encerramento ou inatividade da pessoajurdica provocados por m administrao. 1 VETADO. 2 As sociedades integrantes dos grupos societrios e as sociedadescontroladas, so subsidiariamente responsveis pelas obrigaesdecorrentes deste Cdigo. 3 As sociedades consorciadas so solidariamente responsveis pelasobrigaes decorrentes deste Cdigo. 4 As sociedades coligadas s respondero por culpa.

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    5 Tambm poder ser desconsiderada a pessoa jurdica sempre que suapersonalidade for, de alguma forma, obstculo ao ressarcimento de prejuzoscausados aos consumidores.

    Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurdica, caracterizado pelo

    desvio de finalidade, ou pela confuso patrimonial, pode o juiz decidir, arequerimento da parte, ou do Ministrio Pblico quando lhe couber intervirno processo, que os efeitos de certas e determinadas relaes de obrigaessejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou scios dapessoa jurdica.

    Obs: o que se entende por Teoria Ultra Vires Societatis?

    Esta doutrina no pode ser confundida com a Teoria daDesconsiderao da Pessoa Jurdica. Prevista no art. 1015 do CC, a Teoriaultra vires sustenta ser invlido e ineficaz o ato praticado pelo scio que

    extrapole os limites do contrato social, no vinculando por conseqnciaa referida pessoa jurdica.Portanto, a Teoria ultra vires societatis uma forma de proteo

    da pessoa jurdica, pois se o scio, por exemplo, realizar um contratoextrapolando os limites do contrato social a responsabilidade serpessoal do scio, no vinculando a pessoa jurdica.

    Regra geral, segunda a doutrina brasileira (Edimar Andrade, GustavoTepedino), a desconsiderao matria sob reserva de jurisdio, nos termos doart. 50 do CC, mas na excepcional situao de fraude grave comprovada adesconsiderao pode se dar de ofcio pela Administrao Pblica (RMS

    15166/BA)

    3) Requisitos da Desconsiderao da Pessoa Jurdicaa. Descumprimento de obrigao

    b. Abuso caracterizado ou pelo desvio de finalidade ou pela confusopatrimonial.

    O art. 50 do CC, na linha de pensamento do prof. Fbio KonderComparato, seguindo uma linha objetiva, ao cuidar da teoria dadesconsiderao no exigiu que o credor provasse o dolo especfico do scio ouadministrador que cometeu o ato abusivo.

    Obs: exemplo grave de abuso em que h confuso patrimonial opera-se quandouma pessoa jurdica atua por meio de outra visando a se eximir deresponsabilidade. Neste caso, poder o juiz desconsiderar a primeira empresa(empresa podre) e atingir indiretamente a que est por trs.

    Questo de concurso: Qual a diferena entre Teoria Maior e Teoria Menor daDesconsiderao da Pessoa Jurdica?

    A Teoria Maior a adotada pelo CC, exigindo alm do descumprimentoda obrigao ou insolvncia, requisitos especficos caracterizadores do abuso; jna Teoria Menor, mais fcil de ser aplicada, como no direito do consumidor eambiental no se exigem os requisitos caracterizadores do ato abusivo, bastandoo credor demonstrar que a obrigao foi descumprida (neste caso a nica sada

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    pode ser atingir o scio ou administrador que est por trs). (Ver REsp279273/SP)

    Nos termos do enunciado n 7 da I JDC, seguindo a vereda dos projetosde lei 3401/08 e 4298/08, a desconsiderao, a ser formulada em requerimento

    especfico, respeitando o nexo de causalidade, dever atingir o patrimnio doscio ou administrador que cometeu o ato abusivo ou dele se beneficiou.Aula 04

    4) Questes especiais

    firme a jurisprudncia no STJ no sentido de que a desconsiderao possvel no curso da execuo (REsp 920602/DF).

    O que desconsiderao inversa?Na desconsiderao inversa, o juiz no afasta a pessoa jurdica, pelo

    contrrio: verificando que o scio se valeu da pessoa jurdica para ocultar bens,atinge o patrimnio desta para alcanar o agente causador do dano. Suaaplicao se faz sentir, em especial, no Direito de Famlia.

    O enunciado 283 da IV JDC firmou esse entendimento.

    283 Art. 50. cabvel a desconsiderao da personalidade jurdica denominada inversa paraalcanar bens de scio que se valeu da pessoa jurdica para ocultar ou desviar bens pessoais,com prejuzo a terceiros.

    Obs: Smulas novas do STJ

    Smula 369: No contrato de arrendamento mercantil (leasing) ainda quehaja clusula resolutiva expressa, necessria a notificao prvia doarrendatrio para constitu-lo em mora.

    Smula 370: Caracteriza dano moral a apresentao antecipada de chequeprdatado

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    DOMICLIO

    Domus = casa

    Para se chegar a noo de domiclio dever primeiramente passar pelanoo de residncia e inicialmente pela noo de morada.

    Morada Residncia Domiclio

    Morada (estadia): o lugar em que a pessoa fsica se estabelecetemporariamente.

    Residncia: o lugar em que a pessoa fsica se estabelece habitualmente. Aresidncia pressupe mais estabilidade do que a morada.

    Domiclio: nos termos do art. 70 do CC, o lugar em que fixa a residncia comnimo definitivo (animys manendi) transformando-o em centro de sua vida

    jurdica e social.

    Obs: na vereda do art. 83 do Cdigo de Portugal, o art. 72 do CC consagrou o

    domiclio profissional: Trata-se de uma forma especial de domiclio restrita aaspectos da relao profissional. Portanto, o domiclio profissional somenteinteressa se estiver discutindo na relao processual aspectos da relaoprofissional, caso contrrio dever utilizar-se da regra do domiclio natural.

    Mudana de Domiclio

    Art. 74. Muda-se o domiclio, transferindo a residncia, com a intenomanifesta de o mudar.Pargrafo nico. A prova da inteno resultar do que declarar a pessoas municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se taisdeclaraes no fizer, da prpria mudana, com as circunstncias que aacompanharem.

    O que se entende por domiclio aparente ou ocasional? uma aplicao da teoria da aparncia, uma fico jurdica. Aplica-se o

    domiclio aparente para pessoas que no tenha domiclio certo, a exemplo dosprofissionais do circo, considerando-as domiciliadas no lugar onde foremencontradas.

    Art. 73. Ter-se- por domiclio da pessoa natural, que no tenha

    residncia habitual, o lugar onde for encontrada.

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    Domiclio da Pessoa Jurdica

    Em regra, o domiclio civil da pessoa jurdica de direito privado a suasede, indicada em seu estatuto, contrato social ou ato constitutivo equivalente.

    Art. 75.Quanto s pessoas jurdicas, o domiclio :I da Unio, o Distrito Federal;II dos Estados e Territrios, as respectivas capitais;III do Municpio, o lugar onde funcione a administrao municipal;IV das demais pessoas jurdicas, o lugar onde funcionarem asrespectivas diretorias e administraes, ou onde elegerem domiclioespecial no seu estatuto ou atos constitutivos. 1 Tendo a pessoa jurdica diversos estabelecimentos em lugaresdiferentes, cada um deles ser considerado domiclio para os atos nelepraticados. 2 Se a administrao, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-

    se- por domiclio da pessoa jurdica, no tocante s obrigaescontradas por cada uma das suas agncias, o lugar do estabelecimento,sito no Brasil, a que ela corresponder.

    Classificao do domiclio

    a) Domiclio Voluntrio: o comum, fixado por simples manifestao devontade.

    Obs: Qual a natureza jurdica do ato de fixao do domiclio voluntrio?Trata-se de ato jurdico em sentido estrito.

    b) Domiclio de eleio: aquele estipulado pelas prprias partes nocontrato (art. 78 do CC e art. 111 do CPC).

    A autonomia privada no pode traduzir expresso de autoridadeeconmica. Com isso, o exerccio da autonomia negocial e da livreiniciativa suporta parmetros constitucionais de contenso,especialmente em decorrncia da funo social e da boa f objetiva. Porisso, existe forte entendimento no sentido de ser nula a clusula deeleio que prejudique o aderente, especialmente o consumidor, podendoo juiz declinar de ofcio da sua competncia (art. 112 do CPC).

    c) Domiclio legal ou necessrio: decorre de mandamento da lei, em ateno condio especial de determinadas pessoas.

    Art. 76.Tm domiclio necessrio o incapaz, o servidor pblico, omilitar, o martimo e o preso.Pargrafo nico. O domiclio do incapaz o do seu representanteou assistente; o do servidor pblico, o lugar em que exercerpermanentemente suas funes; o do militar, onde servir, e, sendoda Marinha ou da Aeronutica, a sede do comando a que seencontrar imediatamente subordinado; o do martimo, onde o

    navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir asentena.

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    Martimo o marinheiro da marinha mercante privada.

    Art. 77. O agente diplomtico do Brasil, que, citado no estrangeiro,alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no pas, o seu

    domiclio, poder ser demandado no Distrito Federal ou no ltimoponto do territrio brasileiro onde o teve.

    BENS JURDICOS

    BEM DE FAMLIA

    1) Histrico

    O referencial histrico mais importante do bem de famlia foi o institutotexano do homestead actde 1839.

    2) Espcies de Bem de famlia

    a. Bem de famlia voluntrio (art. 1711 e seguintes do CC): institudo por ato de vontade do casal ou de terceiro e registradono cartrio de imveis (art. 167, I, 1 da LRP 6015/73). Exige umaatuao de vontade e um registro. O bem de famlia voluntrioproduz dois efeitos:

    i. Impenhorabilidade: registrado o bem de famlia voluntrioele se torna impenhorvel por dvidas futuras, com asressalvas do art. 1715 do CC

    ii. Inalienabilidade (art. 1717 do CC)

    Nos termos dos arts. 1711 e 1712, no novo cdigo civil, o bem de

    famlia voluntrio tem duas caractersticas especiais:i. No poder ultrapassar o teto de 1/3 do patrimnio lquidodos instituidores.

    ii. Poder abranger valores mobilirios (inclusive rendas)

    Obs: situao diversa pode ocorrer: por necessidade econmica, ocasal poder ser compelido a alugar o seu nico imvel residencialpergunta-se: Neste caso a renda proveniente do aluguel impenhorvel pelas regras do bem de famlia?O STJ j pacificou o entendimento no sentido de ser tambmimpenhorvel a renda produzida pelo nico imvel residencial

    locado a terceiros (REsp 439920/SP AgRg no REsp 975858/SP).

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    Administrao do bem de famlia voluntrio: art. 1720Extino do bem de famlia voluntrio: art. 1722

    b. Bem de famlia legal (Lei 8009/90)A smula 205 do STJ, resguardando o mbito existencial mnimo

    da pessoa do devedor, admite a aplicao da lei 8009/90 parapenhoras realizadas antes da sua vigncia.

    205.A Lei no 8.009/90 aplica-se penhora realizada antes desua vigncia.

    A grande vantagem da lei 8009/90 foi consagrar umaimpenhorabilidade legal independentemente da constituioformal e do registro do bem de famlia.

    Lei 8009/90(inteira)

    Art. 1 O imvel residencial prprio do casal, ou da entidade familiar, impenhorvel e no responder por qualquer tipo de dvida civil,comercial, fiscal, previdenciria ou de outra natureza, contrada peloscnjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietrios e neleresidam, salvo nas hipteses previstas nesta Lei.Pargrafo nico. A impenhorabilidade compreende o imvel sobre o qualse assentam a construo, as plantaes, as benfeitorias de qualquernatureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, oumveis que guarnecem a casa, desde que quitados.Art. 2 Excluem-se da impenhorabilidade os veculos de transporte, obrasde arte e adornos suntuosos.Pargrafo nico. No caso de imvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens mveis quitados que guarneam a residncia e que sejamde propriedade do locatrio, observado o disposto neste artigo.Art. 3 A impenhorabilidade oponvel em qualquer processo de execuocivil, fiscal, previdenciria, trabalhista ou de outra natureza, salvo semovido:I em razo dos crditos de trabalhadores da prpria residncia e dasrespectivas contribuies previdencirias;II pelo titular do crdito decorrente do financiamento destinado construo ou aquisio do imvel, no limite dos crditos e acrscimosconstitudos em funo do respectivo contrato;III pelo credor de penso alimentcia;IV para cobrana de impostos, predial ou territorial, taxas econtribuies devidas em funo do imvel familiar;V para execuo de hipoteca sobre o imvel, oferecido como garantiareal pelo casal ou pela entidade familiar;VI por ter sido adquirido com produto de crime ou para execuo desentena penal condenatria a ressarcimento, indenizao ouperdimento de bens;VII por obrigao decorrente de fiana concedida em contrato delocao.

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    Art. 4 No se beneficiar do disposto nesta Lei aquele que, sabendo-seinsolvente, adquire de m-f imvel mais valioso para transferir aresidncia familiar, desfazendo-se ou no da moradia antiga. 1 Neste caso poder o juiz, na respectiva ao do credor, transferir aimpenhorabilidade para a moradia familiar anterior, ou anular-lhe a

    venda, liberando a mais valiosa para execuo ou concurso, conforme ahiptese. 2 Quando a residncia familiar constituir-se em imvel rural, aimpenhorabilidade restringir-se- sede de moradia, com os respectivosbens mveis, e, nos casos do artigo 5, inciso XXVI, da Constituio, rea limitada como pequena propriedade rural.Art. 5 Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta Lei,considera-se residncia um nico imvel utilizado pelo casal ou pelaentidade familiar para moradia permanente.Pargrafo nico. Na hiptese de o casal, ou entidade familiar, serpossuidor de vrios imveis utilizados como residncia, a

    impenhorabilidade recair sobre o de menor valor, salvo se outro tiversido registrado, para esse fim, no registro de imveis e na forma doartigo 70 do Cdigo Civil.

    Obs: o STJ, em mais de uma oportunidade (REsp 207693/SC,REsp 510643/DF, REsp 515122/RS), bem como no noticirio de15/05/2007, tem admitido o desmembramento do imvel para efeitode penhora. Ex: desmembrar o imvel para penhorar a piscina echurrasqueira.

    Quais so os bens mveis protegidos pela lei 8009/90?

    Exemplos, na jurisprudncia brasileira e doutrina, de bens mveisprotegidos pela lei 8009/90: Freezer, mquina de lavar, mquina desecar, computador, televiso, ar condicionado. No REsp 218882/SP oSTJ entendeu que a proteo se estende a instrumento musical(teclado).

    Vaga de garagem protegida pela lei 8009/90?O STJ j consolidou que vaga de garagem, com matrcula e registro

    prprios penhorvel (Ag Rg no Ag 1058070).

    O art. 5 da lei 8009/90 estabelece que caso o casal ou a entidadefamiliar seja possuidora de mais de um imvel residencial, a proteoautomtica do bem de famlia legal recair no de menor valor, salvo seoutro imvel houver sido inscrito como bem de famlia voluntrio.

    3) Excees impenhorabilidade do bem de famlia legal

    Do ponto de vista doutrinrio, o professor entende que essasexcees podem ser aplicadas ao bem de famlia voluntrio, pois onde h

    a mesma razo vigora o mesmo direito.

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    Art. 3 A impenhorabilidade oponvel em qualquer processo deexecuo civil, fiscal, previdenciria, trabalhista ou de outranatureza, salvo se movido:I em razo dos crditos de trabalhadores da prpria residncia edas respectivas contribuies previdencirias;

    II pelo titular do crdito decorrente do financiamento destinado construo ou aquisio do imvel, no limite dos crditos eacrscimos constitudos em funo do respectivo contrato;III pelo credor de penso alimentcia;IV para cobrana de impostos, predial ou territorial, taxas econtribuies devidas em funo do imvel familiar;V para execuo de hipoteca sobre o imvel, oferecido comogarantia real pelo casal ou pela entidade familiar;VI por ter sido adquirido com produto de crime ou para execuode sentena penal condenatria a ressarcimento, indenizao ouperdimento de bens;

    VII por obrigao decorrente de fiana concedida em contrato delocao.

    Obs: ficou assentado no REsp 644733/SC, no que tange interpretaodo inciso I do art. 3, que trabalhadores ou empregados eventuais, comopedreiro, eletricista ou pintor, no esto abrangidos pela exceo legal.

    Obs: o STF j firmou entendimento, seguido pelo STJ, no sentido de quea cobrana de taxa de condomnio resulta tambm na penhora do imvel(RE 439003/SP).

    Obs: O STJ, por outro lado, como se l no Ag Rg no REsp 813546/DF,tem entendido que a simples indicao do bem penhora no implicarenncia ao benefcio da lei 8009/90.

    Obs: O STF, por seu plenrio, j firmou ser constitucional a penhora doimvel residencial do fiador na locao (RE 352940-4/SP).

    Obs: a smula 364 do STJ firmou entendimento no sentido de que aproteo do bem de famlia alcana inclusive devedores solteiros,separados e vivos.

    BENS JURDICOS PARTE GERAL

    Com base na doutrina de Orlando Gomes, bem jurdico toda utilidadefsica ou ideal objeto de um direito subjetivo.

    Bem e coisa

    Segundo Maria Helena Diniz, acompanhada por Silvio Venoza, a noode coisa mais abrangente do que a de bem. Orlando Gomes afirma o contrrio:

    bem gnero e coisa espcie. Washington de Barros Monteiro por sua vezrefere que pode haver sinonmia.

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    Na linha do direito alemo, conforme 90 do BGB, a noo de coisarestringe-se a objetos corpreos.

    Conclui-se ento: a noo de bem jurdico genrica, abrangendoutilidades materiais (coisas), bem como utilidades ideais (a exemplo da honraou da prpria vida).

    O que se entende por patrimnio jurdico?Para a doutrina clssica, patrimnio a representao econmica da

    pessoa, no entanto mais adequado se dizer, quanto sua natureza jurdica,que se trata de uma universalidade de direitos e obrigaes. Autores modernos,a exemplo de Carlos Bitar, Wilson Melo da Silva, Rodolfo Pamplona Filho,afirma que, para alm de mera representao econmica da pessoa, o conjuntode direitos da personalidade traduz o que se denomina de patrimnio moral.Forte doutrina no Brasil (Clvis Bevilaqua, Caio Mrio) afirma que cada pessoa titular de um nico patrimnio ainda que os bens derivem de causas diversas.

    Classificao dos Bens Jurdicos

    BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS

    Bens imveis so aqueles que no podem ser transportados de um lugar paraoutro sem alterao de sua substncia (um terreno).Bens mveis so os passveis de deslocamento, sem quebra ou fratura (umcomputador, v.g.). Os bens suscetveis de movimento prprio, enquadrveis nanoo de mveis, so chamados de semoventes (um cachorro, v.g.).

    No Cdigo Civil:

    Art. 79. So bens imveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ouartificialmente.

    Bem Imvel por fora de lei:

    Art. 80. Consideram-se imveis para os efeitos legais:I os direitos reais sobre imveis e as aes que os asseguram;II o direito sucesso aberta.

    O direito herana nos termos do inciso II do art. 80 tem natureza imobiliria,isto explica a exigncia legal da escritura pblica para cesso de direitohereditrio (art. 1793), bem como o fato de respeitvel doutrina (FranciscoCahali) sustentar a exigncia de outorga uxria na cesso, nos termos do art.1647.

    OBS.: Importantes efeitos derivam da natureza imobiliria do direito sucesso aberta, a exemplo da necessidade, apontada por parcela respeitvel dadoutrina, de se exigir a outorga uxria do cnjuge do renunciante, no bojo doinventrio, por se considerar que a renncia, no caso, opera-se de formasemelhante alienao de um imvel, exigindo a vnia conjugal para aqueles

    que no casaram no regime da separao absoluta de bens (art. 1647). Sobre otema, tivemos a oportunidade de escrever:

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    Outro aspecto a considerar que respeitvel parcela da doutrina sustenta anecessidade do consentimento do outro cnjuge do renunciante.

    Nesse sentido, FRANCISCO CAHALI preleciona que:Tratando a sucesso aberta como imvel (CC-16, art. 44, III) a renncia

    herana depende do consentimento do cnjuge, independentemente do regimede bens adotado (CC-16, arts. 235, 242, I e II). Considera-se que a ausncia doconsentimento torna o ato anulvel, uma vez passvel de ratificao(RT675/102).Embora se possa imaginar que essa autorizao do cnjuge necessria paratodo tipo de renncia inclusive a abdicativa, em que o herdeiro se despoja deseu quinho em benefcio de todo o monte partvel, indistintamente ,entendemos que tal formalidade s necessria em se tratando da rennciatranslativa, analisada acima, hiptese em que o herdeiro renuncia em favor dedeterminada pessoa, praticando, com o seu comportamento, verdadeiro ato decesso de direitos. E tanto assim que, como dissemos, nesta ltima hiptese,

    incidiro dois tributos distintos: o imposto de transmisso mortis causa (emface da transferncia dos direitos do falecido para o herdeiro/cedente) e oimposto de transmisso inter vivos (em face da transferncia dos direitos doherdeiro/cedente para outro herdeiro ou terceiro/cessionrio). Deve, pois, nesseparticular, estar o juiz atento, para evitar sonegao tributria.Cumpre registrar ainda haver entendimento no sentido de no ser exigvel aautorizao do outro cnjuge para a renncia de direitos hereditrios. aposio de MARIA HELENA DINIZ, para quem, a pessoa casada pode aceitarou renunciar herana ou legado independentemente de prvio consentimentodo cnjuge, apesar do direito sucesso aberta ser considerado imvel paraefeitos legais, ante a redao dada ao art. 242 do Cdigo Civil pela Lei n.

    4.121/62 (RT, 605:38, 538:92, 524:207).Entretanto, considerando que o direito sucesso aberta tratado como sendode natureza imobiliria (art. 44, III), foroso convir assistir razo a FRANCISCOCAHALI, quando demonstra a necessidade da outorga.

    Posto isso, voltemos anlise do Cdigo Civil:

    Bem Imvel por fora de lei:

    Art. 81. No perdem o carter de imveis:I as edificaes que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, foremremovidas para outro local;II os materiais provisoriamente separados de um prdio, para nele sereempregarem.

    Questo de concurso: Os bens imveis por acesso intelectual continuam emvigor?Ex: escada de incndio de um prdio.Existe profunda polmica a este respeito. O enunciado 11 sustenta que estaclassificao no existe mais. Maria Helena Diniz e Flvio Tartuce entendemque permanece.

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    Art. 82. So mveis os bens suscetveis de movimento prprio, ou de remoopor fora alheia, sem alterao da substncia ou da destinao econmico-social.

    Bem Move por fora de lei:

    Art. 83. Consideram-se mveis para os efeitos legais:I as energias que tenham valor econmico;II os direitos reais sobre objetos mveis e as aes correspondentes;III os direitos pessoais de carter patrimonial e respectivas aes.

    Os navios e aeronaves so bens mveis especiais, uma vez que, por exceo,admitem hipoteca e tem registro peculiar.

    Art. 84. Os materiais destinados a alguma construo, enquanto no foremempregados, conservam sua qualidade de mveis; readquirem essa qualidade osprovenientes da demolio de algum prdio.

    O CDC, adotando peculiar classificao, subdivide os bens, quanto ao direitopotestativo de reclamar por vcio de qualidade (art. 26), subdivide os bens emdurveis e no durveis.

    Bens fungveis so aqueles que podem ser substitudos por outros da mesmaespcie, qualidade e quantidade (dinheiro por ex.).Bens infungveis por sua vez, so aqueles de natureza insubstituvel. Exemplo:uma obra de arte.

    No Cdigo Civil:

    Art. 85. So fungveis os mveis que podem substituir-se por outros da mesmaespcie, qualidade e quantidade.

    Bens consumveis so os bens mveis cujo uso importa destruio imediata daprpria substncia, bem como aqueles destinados alienao (um sanduche).Bens inconsumveis so aqueles que suportam uso continuado (um avio, umcarro).

    No Cdigo Civil:

    Art. 86. So consumveis os bens mveis cujo uso importa destruio imediatada prpria substncia, sendo tambm considerados tais os destinados alienao.

    Bens divisveis so os que se podem repartir em pores reais e distintas,formando cada uma delas um todo perfeito (uma saca de caf).Bens indivisveis no admitem diviso cmoda sem desvalorizao ou dano(um cavalo).

    No Cdigo Civil:

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    Art. 87. Bens divisveis so os que se podem fracionar sem alterao na suasubstncia, diminuio considervel de valor, ou prejuzo do uso a que sedestinam.

    Art. 88. Os bens naturalmente divisveis podem tornar-se indivisveis por

    determinao da lei ou por vontade das partes.

    Bens singulares so coisas consideradas em sua individualidade,representadas por uma unidade autnoma e, por isso, distinta de quaisqueroutras (um lpis, um livro).Bens coletivos ou universalidades so aqueles que, em conjunto, formam umtodo homogneo (universalidade de fato um rebanho, uma biblioteca;universalidade de direito o patrimnio, a herana).

    No Cdigo Civil:

    Art. 89. So singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si,independentemente dos demais.

    Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que,pertinentes mesma pessoa, tenham destinao unitria.Pargrafo nico. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto derelaes jurdicas prprias.

    Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relaes jurdicas, deuma pessoa, dotadas de valor econmico.

    BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS

    Principal - o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente (a rvore emrelao ao fruto).

    Acessrio o bem cuja existncia supe a do principal (fruto em relao rvore), acompanhando-o segundo o princpio da gravitao jurdica.

    So bens acessrios:a) os frutos trata-se das utilidades renovveis, ou seja, que a coisa principalperiodicamente produz, e cuja percepo no diminui a sua substncia (caf,soja, laranja).

    Classificam-se em:Quanto sua natureza:a) naturais so gerados pelo bem principal sem necessidade dainterveno humana direta (laranja, caf);

    b) industriais so decorrentes da atividade industrial humana (bensmanufaturados);c) civis so utilidades que a coisa frugfera periodicamente produz,

    viabilizando a percepo de uma renda (juros, aluguel).

    Quanto ligao com a coisa principal:

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    a) colhidos ou percebidos so os frutos j destacados da coisa principal,mas ainda existentes;

    b) pendentes so aqueles que ainda se encontram ligados coisaprincipal, no tendo sido, portanto, destacados;c) percipiendos so aqueles que deveriam ter sido colhidos mas no o

    foram;d) estantes so os frutos j destacados, que se encontram estocados earmazenados para a venda;e) consumidos: que no mais existem;

    b) os produtos trata-se de utilidades no-renovveis, cuja percepo diminui asubstncia da coisa principal (carvo extrado de uma mina esgotvel).c) os rendimentos - so frutos civis, como os juros e o aluguel.d) as pertenas trata-se das coisas que, sem integrarem a coisa principal,facilitam a sua utilizao, a exemplo do aparelho de ar condicionado (art. 93 doCC).

    O rdio em relao ao carro uma pertena?Jos Fernando Simo (USP) afirma que sim, ressalvada a hiptese do rdiointegrado de fbrica.

    e) as benfeitorias trata-se de toda obra realizada pelo homem na estrutura deuma coisa, com o propsito de conserv-la (benfeitoria necessria ex.:reforma em uma viga), melhor-la (benfeitoria til abertura do vo de entradada casa) ou embelez-la (benfeitoria volupturia uma escultura talhada naparede de pedra do imvel). Vide arts. 96 e 97 do CC. No se confundem com asacesses, tema que ser desenvolvido em nossas aulas de Direitos Reais.

    Acesso modo de aquisio de propriedade imobiliria ao passo que abenfeitoria um bem acessrio. A acesso implica no aumento de volume dacoisa principal enquanto a benfeitoria no implica necessria e considervelaumento de volume da coisa principal. No existe benfeitoria natural. Toda

    benfeitoria obra do homem (artificial). J as acesses podem ser naturais ouartificiais.Construo significa aumento de volume da coisa principal, portanto, acessoe no benfeitoria.Em geral, piscinas so benfeitorias volupturias.f) as partes integrantes integra a coisa principal de maneira que a suaseparao prejudicar a fruio do todo, ou seja, a utilizao do bem jurdico

    principal (ex.: a lmpada em relao ao lustre).

    BENS PBLICOS E PARTICULARES

    Quanto ao titular do domnio, os bens podero ser pblicos (uso comum dopovo, uso especial e dominiais) ou particulares.

    Os bens pblicos so estudados pelo Direito Administrativo.

    No Cdigo Civil:

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    Art. 98. So pblicos os bens do domnio nacional pertencentes s pessoasjurdicas de direito pblico interno; todos os outros so particulares, seja qualfor a pessoa a que pertencerem.

    Art. 99. So bens pblicos:

    I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praas;II - os de uso especial, tais como edifcios ou terrenos destinados a servio ouestabelecimento da administrao federal, estadual, territorial ou municipal,inclusive os de suas autarquias;III - os dominicais, que constituem o patrimnio das pessoas jurdicas de direitopblico, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.Pargrafo nico. No dispondo a lei em contrrio, consideram-se dominicais os

    bens pertencentes s pessoas jurdicas de direito pblico a que se tenha dadoestrutura de direito privado.

    Art. 100. Os bens pblicos de uso comum do povo e os de uso especial soinalienveis, enquanto conservarem a sua qualificao, na forma que a leideterminar.

    Art. 101. Os bens pblicos dominicais podem ser alienados, observadas asexigncias da lei.

    Art. 102. Os bens pblicos no esto sujeitos a usucapio.

    Art. 103. O uso comum dos bens pblicos pode ser gratuito ou retribudo,conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administrao

    pertencerem.

    FATO JURDICOConceito

    Fato jurdico em sentido amplo todo acontecimento, natural ouhumano apto a criar, modificar ou extinguir relaes jurdicas.

    O fato jurdico em sentido amplo subdivide-se em:a) Fato jurdico em sentido estrito: todo acontecimento natural relevante

    para o direito.a. Ordinrio: quando so comuns. Ex: nascimento, morte natural,

    decurso do tempo.

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    b. Extraordinrio: tem carga de imprevisibilidade ou inevitabilidade.Ex: furaco.

    b) Ato-fato jurdico: embora o CC no haja contemplado em normaespecfica o ato-fato, a doutrina trata da matria (Marcos Bernardes deMello). No ato-fato, embora o comportamento derive do homem e

    deflagre efeitos jurdicos, desprovido de voluntariedade e conscinciaem direo ao resultado jurdico existente. Ex: atos reflexos. JorgeFerreira, com base em Pontes de Miranda, exemplifica tambm o ato-fatona compra de um doce por criana de tenra idade.

    c) Aes humanasa. Ato jurdico em sentido amplo: ato jurdico, espcie de fato

    jurdico em sentido amplo, toda ao humana lcita que deflagraefeitos na rbita jurdica.

    i. Ato jurdico em sentido estrito: tambm denominado de atono negocial, o ato jurdico em sentido estrito traduz umsimples comportamento humano voluntrio e consciente

    cujos efeitos esto previamente determinados em lei. Estetipo de ato pode ser exemplificado nos meros atos materiaise nos de comunicao (ex: percepo de um fruto;intimao; protesto; reconhecimento de filho em cartrio)

    ii. Negcio Jurdico: o negcio jurdico, por sua vez, pedra detoque das relaes econmicas mundiais , na sua essncia,de estrutura mais complexa do que o ato em sentido estrito.Isso porque, no negcio temos uma declarao de vontade,emitida segundo o princpio da autonomia privada, pelaqual o agente disciplina efeitos jurdicos possveisescolhidos segundo a sua prpria liberdade negocial.

    b. Ato ilcito

    A despeito da polmica, entendemos na linha de Vicente Ro, FlvioTartuce, Jos Simo, e Zeno Veloso que ato jurdico a ao humanalcita, no se confundindo com o ato ilcito, categoria prpria comcaracteres especficos.

    Teoria do Negcio Jurdico

    O negcio jurdico deve ser analisado em trs planos:a) Plano de Existncia

    b) Plano de Validadec) Plano de Eficcia

    Teorias explicativas do negcio jurdico

    Corrente Voluntrias (da vontade)Baseada na teoria alem WillenstheorieSustenta que o ncleo do negcio jurdico a vontade interna, a intenodo declarante, havendo influenciado fortemente o Cdigo Civil de 2002(art. 112).

    Corrente Objetiva (da declarao)Baseada na teoria alem Erklrungstheorie.

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    Esta segunda teoria, diferentemente, sustenta que o ncleo do negciojurdico no a vontade interna a vontade externa que se declara.

    Plano de existncia do Negcio Jurdico

    o plano substantivo do negcio jurdico, onde ir analisar suasubstncia.

    Analisa os pressupostos existenciais ou os elementos constitutivos donegcio jurdico, sem os quais ele um nada.

    Todo negcio jurdico para existir dever ter os seguintes pressupostos:a) Manifestao de vontade: a soma da vontade interna com a vontade

    externa que se declara.b) Agente emissor da vontadec) Objetod) Forma: A forma o revestimento exterior da vontade, ou seja, o veculo

    pelo qual a vontade se manifesta. Todo negcio pressupe uma forma:oral, escrita, mmica, sinais.

    Quem cala consente. Este ditado popular tem respaldo no direito civil?Em carter excepcional, admite-se que o silncio seja considerado forma decelebrao do negcio?

    Nos termos do pensamento do professor Caio Mrio, em sua clssica obrainstituies de Direito Civil, regra geral, o silncio o nada, no traduzindomanifestao de vontade. Excepcionalmente, a teor do art. 111 do Cdigo CivilBrasileiro, na linha do art. 218 do Cdigo de Portugal, o silncio emdeterminadas situaes pode gerar efeitos jurdicos. Ex: na doao pura, osilncio do donatrio no prazo fixado importa aquiescncia (art. 539).

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    Obs: o silncio reveste-se de grande importncia na situao de dolonegativo, prevista no art. 147.

    Plano de validade do Negcio Jurdico

    O Cdigo Civil inicia o negcio jurdico com o plano de validade (art.104), desprezando o plano de existncia, porm isso no quer dizer quedevemos desprezar o plano de existncia.

    Art. 104.A validade do negcio jurdico requer:I agente capaz;II objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel;III forma prescrita ou no defesa em lei.

    Os pressupostos de validade traduzem requisitos de qualificao do

    negcio, para que tenha aptido para gerar efeitos jurdicos.

    So pressupostos de validade:a) Manifestao de vontade livre e de boa-f

    b) Agente capaz e legitimadoc) Objeto lcito, possvel, determinado ou determinveld) Forma prescrita ou no defesa em lei

    Se faltar objeto no negcio jurdico ser inexistente, porm se o objetopor indeterminado o negcio jurdico ser invlido.

    Um negcio jurdico de prestao de servios sexuais seria vlido?Este negcio existe, pois preenche todos os pressupostos de existncia,

    porm ele poder ser invlido por ilicitude do objeto, apesar de ser altamentediscutvel tal afirmao.

    Obs: Licitude, segundo Orlando Gomes, traduz compatibilidade com a leie com o padro mdio de moralidade.

    Os defeitos do negcio jurdico (erro, dolo, coao, leso, estado deperigo, simulao, fraude contra credores) interferem no plano de validade, poisem geral, esses defeitos atacam o pressuposto de manifestao de vontade livree de boa-f. Ex: se no assinar o contrato ir queimar a fazenda inteira (coao).

    Obs: no que tange forma, o art. 107 do CC consagra o princpio daliberdade como regra geral. Por exceo, todavia, a forma pode ser exigida oupara efeito de prova do negcio, art. 227, denominando-se negcio ad

    probationem, ou a forma pode ser exigida como pressuposto de validade, art.108, denominando-se negcio ad solemnitatem.

    Obs: por exceo, admite-se a no observncia da forma pblica, aindaque o valor arbitrado no negcio, seja superior a 30 salrios mnimos, como se

    d com a promessa de compra e venda (art. 1417 e 1418)

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    O enunciado 289 da IV Jornada de Direito Civil, firmou entendimento nosentido de que o valor fixado no negcio para efeito de lavratura de escriturapblica, nos termos do art. 108, o arbitrado pelas partes e no pela

    Administrao Pblica para fins tributrios.

    289 Art. 108. O valor de 30 salrios mnimos constante no art. 108 do Cdigo Civil brasileiro,em referncia forma pblica ou particular dos negcios jurdicos que envolvam bens imveis, o atribudo pelas partes contratantes e no qualquer outro valor arbitrado pelaAdministrao Pblica com finalidade tributria.

    Plano de Eficcia do Negcio Jurdico

    Neste terceiro plano, segundo o professor da USP Antnio Junqueira deAzevedo, estudam-se a eficcia jurdica do negcio e os elementos acidentaisque interferem nesta produo de efeitos.

    Elementos de eficcia:a) Condio

    b) Termoc) Modo ou encargo

    Defeitos do Negcio Jurdico

    a) Erro

    Teoricamente, o erro traduz uma falsa percepo positiva da realidade,uma atuao comissiva equivocada, em prejuzo do declarante; a ignorncia, porsua vez, um estado de esprito negativo de desconhecimento.

    A doutrina clssica, desde Clvis Bevilaqua, costumava afirmar que oerro, para ser causa invalidante do negcio deveria ser: essencial (substancial) eescusvel (perdovel).

    A doutrina moderna, corporificada no enunciado 12 da I jornada dedireito civil, interpretando o art. 138 do CC, tem entendido ser irrelevante aescusabilidade do erro para efeito de invalidao do negcio.

    Nos termos do art. 144 do CC, o erro no invalidar o negcio se houver

    recomposio da situao de perda. Ex: quando faz um pagamento indevido nobanco e pede o estorno para o gerente.

    Obs: veremos nas aulas da teoria geral do contrato a diferena entre erro e vcioredibitrio.

    Modalidades de erro:

    Art. 139.O erro substancial quando:I interessa natureza do negcio, ao objeto principal da declarao, oua alguma das qualidades a ele essenciais;

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    II concerne identidade ou qualidade essencial da pessoa a quem serefira a declarao de vontade, desde que tenha infludo nesta de modorelevante;III sendo de direito e no implicando recusa aplicao da lei, for omotivo nico ou principal do negcio jurdico.

    a. Erro sobre o objeto: incide na identidade ou caractersticas doobjeto do negcio. Ex: quem compra um relgio femininopensando ser masculino.

    b. Erro sobre Negcio: incide na estrutura da declarao negocial devontade. Ex: confundir comodato com doao.

    c. Erro sobre Pessoa: incide nas caractersticas pessoas dodeclarante. Ex: celebra um negcio com Pedro pensando estarcelebrando com o seu irmo gmeo univitelino. O erro sobre apessoa tem especial aplicao no direito de famlia, para efeito deanulao de casamento (art. 1556 e 1557).

    Questo especial de concurso: O erro de direito invalida o negciojurdico?Tradicionalmente, a doutrina de Clvis Bevilaqua, e na mesma linha oCC de 1916, no se admitia a tese do erro de direito. Posteriormente,autores como Eduardo Espnola, Carvalho Santos e Cio Mriosustentaram esta possibilidade desde que no traduzisse recusaintencional aplicao da lei. O Novo Cdigo Civil em seu art. 139, IIIadmite o erro de direito como causa de invalidade do negcio jurdico.O erro de direito justifica-se quando o declarante de boa-f equivoca-se quanto ao mbito de atuao permissiva da norma, vale dizer, um

    erro sobre a ilicitude do fato possvel de ocorrer.

    O erro causa de invalidade do negcio jurdico, anulando-o.

    b) Dolo

    O dolo nada mais do que o erro provocado, resultando na invalidade donegcio jurdico (anulao).

    No Direito Romano este vcio traduzia o chamado dolus malus. No seconfundia todavia com o dolus bonus.

    O dolus bonus muito utilizado como tcnica de publicidade quando aempresa reala as caractersticas de seu produto. Entretanto, pode-se passar aser um dolus malus se a empresa alm de realar as caractersticas do produtoas deturpam tambm.

    Obs: as mensagens subliminares traduzem prtica comercial abusiva,manifestao de dolus malus, vedada pelo ordenamento brasileiro, valendoregistrar o projeto de lei 4068/08 que pretende alterar o CDC paraexplicitamente proibir este tipo de mensagem.

    Na teoria do negcio jurdico, o dolo, a teor do art. 145, para anular onegcio precisa ser principal.

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    Art. 146. O dolo acidental s obriga satisfao das perdas e danos, e acidental quando, a seu despeito, o negcio seria realizado, embora poroutro modo.

    Obs: diferentemente, o dolo meramente acidental no prejudica a

    validade do negcio, impondo apenas a obrigao de pagar perdas e danos.

    Obs: o que se entende por dolo negativo?Dolo negativo consiste na quebra do princpio da boa-f, por

    descumprimento do dever anexo de informao, como se d na omisso deinformao essencial celebrao do negcio (art. 147). Ex: algum vai aosEUA e compra um aparelho que no funciona no Brasil e vende para seu vizinhoomitindo esta informao de que este aparelho no funciona no Brasil.

    O que dolo bilateral?O art. 150 estabelece que, em havendo dolo recproco (bilateral) o

    negcio jurdico fica como est.

    Dolo de terceiro:

    Art. 148. Pode tambm ser anulado o negcio jurdico por dolo de terceiro,se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento;em caso contrrio, ainda que subsista o negcio jurdico, o terceiroresponder por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.

    Na forma do art. 148 do CC, o dolo de terceiro s invalidar o negciojurdico se o beneficirio dele soubesse ou tivesse como saber. Em casocontrrio, se no soubesse e nem tivesse como saber, o negcio mantidorespondendo apenas o terceiro pelas perdas danos.

    c) Coao

    A coao traduz violncia psicolgica apta a influenciar a vtima a realizarnegcio jurdico que a sua vontade interna no deseja efetuar.

    Esta coao moral, pois caso seja coao fsica, o contrato serinexistente por falta de manifestao de vontade.

    A coao moral causa de invalidade do negcio jurdico (anulao).

    Art. 151. A coao, para viciar a declarao da vontade, h de ser tal queincuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considervel suapessoa, sua famlia, ou aos seus bens.Pargrafo nico. Se disser respeito a pessoa no pertencente famlia do paciente, o juiz,com base nas circunstncias, decidir se houve coao.

    A coao dever ser sempre analisada em concreto nos termos do art.152.

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    Obs: No se pode confundir coao com a ameaa do exerccio regular deum direito nem como simples temor reverencial (art. 153). Ex: a empresa quecobra a dvida sob pena de inscrio do nome do devedor SPC.

    Temor reverencial o respeito autoridade instituda, que pode serfamiliar, profissional, militar, eclesistica. Segundo Pontes de Miranda ser

    coao se junto com o temor reverencial estiver a ameaa.

    Qual a diferena entre coao de terceiro e dolo de terceiro?A coao de terceiro est regulamentada nos art. 154 e 155 do CC.

    Art. 154. Vicia o negcio jurdico a coao exercida por terceiro, se delativesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e estaresponder solidariamente com aquele por perdas e danos.

    Art. 155. Subsistir o negcio jurdico, se a coao decorrer de terceiro,sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter

    conhecimento; mas o autor da coao responder por todas as perdas edanos que houver causado ao coacto.

    Na coao de terceiro, nos termos do art. 154, se o beneficirio soubesseou tivesse como saber, o negcio seria anulado, respondendo este beneficirioSOLIDARIAMENTE com o coator pelas perdas e danos. Esta previso desolidariedade no houve no dolo de terceiro. Finalmente, se o beneficirio nosouber nem tiver como saber, responder apenas o coator pelas perdas e danos,mantendo-se o negcio jurdico.

    d) Leso

    - Histrico:

    O CC/1916 no cuidava desta matria, que tem raiz no Direito Romano.

    Obs: No Direito Romano, diferenciava-se leso enorme de lesoenormssima. A enorme, menos grave, ocorreria quando a desproporo donegcio fosse superior metade do preo justo. J a enormssima, quando estadesproporo ultrapassasse mais de 2/3 do preo justo.

    A primeira lei a tratar da leso foi a lei 1521/51 (Lei de economia popular)que tipificava o crime de usura no contrato.

    No campo de direito privado a primeira lei que cuidou da matria foi oCdigo de Defesa do Consumidor (art. 6, V) e posteriormente o art. 157 do CCde 2002 cuida do vcio de leso.

    - Conceito:

    Intimamente conectado ao abuso de poder econmico, o defeito da leso,causa de invalidade do negcio jurdico, verifica-se na desproporo existenteentre as prestaes do negcio, em virtude do abuso da necessidade ouinexperincia de uma das partes.

    A leso causa de que tipo de invalidade?

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    No Cdigo Civil, para negcios civis em geral, art. 157, a leso causa deanulao do negcio; j no CDC, dada a sua superior principiologia de ordempblica, causa de nulidade absoluta do negcio.

    Doutrinariamente, a leso compe-se de dois elementos:

    1) Material ou objetivo: desproporo2) Imaterial ou subjetivo: necessidade ou inexperincia da parteque assume a obrigao excessiva. Alguns doutrinadorescolocam tambm dentro do elemento subjetivo o dolo deaproveitamento. Porm, para a doutrina moderna este no mais um elemento (dolo de aproveitamento) essencial da leso.

    Obs: O CC, assim como o CDC, dispensa a prova deste dolo deaproveitamento (art. 157).

    Qual a diferena entre leso e Teoria da impreviso:

    A leso (Teoria Geral do Direito Civil) caracteriza-se por umadesproporo que nasce com o prprio negcio, justificando a suainvalidade. J na teoria da impreviso (Teoria Geral dosContratos), o negcio nasce vlido e se desequilibra depois em

    virtude de um acontecimento superveniente. Ademais, aqui no seinvalida nada: a impreviso autoriza apenas a reviso ou aresoluo do negcio.

    e) Fraude contra credores

    - Conceito:

    A fraude contra credores traduz a prtica de um ato negocial que diminuio patrimnio do devedor em detrimento do direito de credor preexistente.

    - Requisitos da fraude contra credores:1) Consilium fraudis: a m f presente na fraude.2) Eventus damni: o prejuzo ao credor preexistente.

    Obs: Modernamente, a doutrina, a exemplo de Maria Helena Diniz eMarcos Bernardes de Melo, tem dispensado a prova da m f nafraude, em atos graves, a exemplo da doao fraudulenta.

    - Hipteses legais de fraude contra credores:1) Negcios de transmisso gratuita de bens (art. 158)2) Perdo fraudulento de dvida (art. 158)3) Negcios onerosos fraudulentos (art. 159): alm dos requisitos gerais da

    fraude, neste caso (negcio oneroso fraudulento) o credor precisarprovar ou que a insolvncia era notria ou que haveria motivo para serconhecida pela outra parte (Ex: parentesco prximo)

    4) Antecipao fraudulenta de pagamento feita a um dos credoresquirografrios, em detrimento dos demais (art. 162)

    5) Poder haver fraude tambm na outorga fraudulenta de garantia (art.163)

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    Obs: Pode-se encontrar outras hipteses de fraude contra credores noordenamento brasileiro e que no esteja elencado na parte geral do CC, comopor exemplo, na hiptese em que poder haver fraude contra credorestambm na instituio fraudulenta de bem de famlia voluntrio.

    Questes especiais de jurisprudncia envolvendo fraude contra credores:1) No conflito de competncia 74528/SP, o STJ firmou entendimento nosentido de que competncia da justia comum analisar o vcio dafraude, mesmo que a questo advenha do juzo trabalhista.

    2) A smula 195 do STJ firmou entendimento no sentido de que emembargos de terceiro no se anula ato por fraude contra credores.

    3) No pode confundir fraude contra credores com fraude execuo. Estaltima, mais grave, implica ineficcia total do ato fraudulento pordesrespeitar inclusive a administrao da justia. REsp 684925/RS1.

    A ao de defesa contra a fraude contra credores a Ao Pauliana.

    Trata-se de uma ao pessoal com prazo decadencial de 4 anos.

    Legitimidade ativa: o credor preexistente, quirografrio ou no.

    Obs: Se a garantia se tornar insuficiente o credor tambm poder manejar aao pauliana.

    11. A fraude execuo consiste na alienao de bens pelo devedor, na pendnciade um processo capaz de reduzi-lo insolvncia, sem a reserva - em seupatrimnio - de bens suficientes a garantir o dbito objeto de cobrana. Trata-se deinstituto de direito processual, regulado no art. 593 do CPC, e que no se confundecom a fraude contra credores prevista na legislao civil.2. O escopo da interdio fraude execuo preservar o resultado do processo,interditando na pendncia do mesmo que o devedor aliene bens, frustrando aexecuo e impedindo a satisfao do credor mediante a expropriao de bens.3. A caracterizao da fraude execuo prevista no art. 185 do CTN, na redaoanterior conferida pela LC 118/2005, reclama que a alienao do bem ocorra apsa citao do devedor. Nesse sentido, (Resp 741.095, Rel. Min. Teori AlbinoZavascki, DJ de 30/05/2005;Resp 241.041, Rel. Min. Joo Otvio de Noronha, DJde 06/06/2005)4. Consoante consta dos autos, a empresa foi regularmente citada, oferecendo penhora caixas plsticas de vasilhame padro Skol e garrafas de vidro do mesmo

    padro. O Fisco discordou da nomeao e requereu que a constrio recasse sobreo imvel matriculado no Ofcio de Registro de Imveis de Caxias do Sul, o que foideferido pelo Juzo. Lavrado o Auto de Penhora e Depsito do Imvel (fl.40), foiexpedido o ulterior mandado de Registro de Penhora, o qual foi negado peloCartrio, sob o fundamento de que o imvel no mais pertencia empresaexecutada.5. In casu, o fato de a constrio do bem imvel no ter sido registrada nocompetente Registro de Imveis, beneficiaria apenas o terceiro adquirente de boa-f, posto que a novel exigncia do registro da penhora, muito embora no produzaefeitos infirmadores da regra prior in tempore prior in jure, exsurgiu com o escopode conferir mesma efeitos erga omnes para o fim de caracterizar a fraude execuo. Aquele que no adquire do penhorado no fica sujeito fraude in re ipsa,

    seno peloconhecimento erga omnes produzido pelo registro da penhora.6. Recurso Especial desprovido.

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    Legitimidade Passiva: o credor fraudulento e aquele com quem este celebroucontrato fraudulento em litisconsrcio.

    Obs: Quanto a legitimidade passiva, o prprio STJ j entendeu, em recentejulgado de 02/09/2008 (REsp 242151/MG), que haver litisconsrcio

    necessrio entre todos aqueles que participaram do ato fraudulento, inclusive oterceiro de m f. Por outro lado, estando de boa f o bem permanecer com elecabendo ao credor buscar outros bens do devedor.

    Qual a natureza jurdica da sentena na Ao Pauliana?Corrente preponderante (Clvis Bevilaqua, Moreira Alves, Nelson Nri)

    com base no art. 165 do CC no deixa dvidas: a sentena desconstitutivaanulatria da fraude. Todavia, h que sustente o equvoco da primeira corrente(Yussef S. Cahali, Alexandre Cmara, Frederico Pinheiro), argumentando queem verdade a sentena pauliana apenas declara a ineficcia jurdica do atofraudulento em face do credor preexistente (REsp 506312/MS2)

    f) Simulao2Natureza Jurdica da Ao PaulianaPROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ALNEA C. AUSNCIA DEDEMONSTRAO DO DISSDIO. FRAUDE CONTRA CREDORES. NATUREZA DASENTENA DA AO PAULIANA. EXECUO. EMBARGOS DE TERCEIRO.DESCONSTITUIO DE PENHORA SOBRE MEAO DO CNJUGE NO CITADO NAAO PAULIANA.

    1. O conhecimento de recurso especial fundado na alnea c do permissivoconstitucional exige a demonstrao analtica da divergncia, na forma dos arts.541 do CPC e 255 do RISTJ.2. A fraude contra credores no gera a anulabilidade do negcio j que oretorno, puro e simples, ao status quo ante poderia inclusive beneficiar credoressupervenientes alienao, que no foram vtimas de fraude alguma, e que nopoderiam alimentar expectativa legtima de se satisfazerem custa do bemalienado ou onerado.3. Portanto, a ao pauliana, que, segundo o prprio Cdigo Civil, s pode serintentada pelos credores que j o eram ao tempo em que se deu a fraude (art. 158, 2; CC/16, art. 106, par. nico), no conduz a uma sentena anulatria donegcio, mas sim de retirada parcial de sua eficcia, em relao a determinados

    credores, permitindo-lhes excutir os bens que foram maliciosamente alienados,restabelecendo sobre eles, no a propriedade do alienante, mas a responsabilidadepor suas dvidas.4. No caso dos autos, sendo o imvel objeto da alienao tida por fraudulenta depropriedade do casal, a sentena de ineficcia, para produzir efeitos contra amulher, teria por pressuposto a citao dela (CPC, art. 10, 1, I). Afinal, asentena, em regra, s produz efeito em relao a quem foi parte, "nobeneficiando, nem prejudicando terceiros" (CPC, art. 472).5. No tendo havido a citao da mulher na ao pauliana, a ineficcia do negcio

    jurdico reconhecido nessa ao produziu efeitos apenas em relao ao marido,sendo legtima, na forma do art. 1046, 3, do CPC, a pretenso da mulher, queno foi parte, de preservar a sua meao, livrando-a da penhora.

    5. Recurso especial provido.(REsp 506.312/MS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRATURMA, julgado em 15.08.2006, DJ 31.08.2006 p. 198)

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    - Conceito:Na simulao celebra-se um negcio jurdico que tem aparncia normal,

    mas que no pretende atingir o efeito que juridicamente deveria produzir.

    A diferena da simulao para o dolo que neste uma das partes enganada e naquela as duas partes se unem para enganar um terceiro ou violara lei.

    No novo CC, a simulao, prevista no art. 167 causa de nulidadeabsoluta do negcio jurdico.

    Obs: sob o prisma do direito intertemporal (art. 2035), vale lembrar que onegcio simulado celebrado sob a gide do cdigo de 1916 continua regido porele (anulvel).

    Espcies de Simulao:1) Absoluta: cria-se um negcio jurdico destinado a no gerar efeitojurdico algum. Ex: A e B celebram um contrato transferindo bens de Apara B como se fosse para pagamento em que B ir apenas guardar esses

    bens e no futuro transferir novamente para A. Esse contrato feito paraburlar a diviso de bens de A e sua esposa.

    2) Relativa (ou dissimulao): as partes criam um negcio destinado aencobrir um outro negcio jurdico cujos efeitos so proibidos por lei. Ex:

    Aquele que querendo doar um bem para sua amante simula um contratode compra e venda.

    Obs: a simulao relativa tambm pode se dar por interposta pessoa.

    Vale lembrar, com base no enunciado 153 da III Jornada que nasimulao relativa o negcio simulado nulo, mas o dissimulado (encoberto), aluz do princpio da conservao, poder ser aproveitado se no violar a lei oucausar prejuzo terceiro. Ex: O marido que simula uma compra e venda paradoar um bem amante. Porm, se o casamento contiver um defeito e for nulo,esta simulao poder ser aproveitada.

    Obs: O CC/1916 permitia a simulao inocente, aquela sem a inteno deprejudicar terceiro. O novo Cdigo Civil, conferindo tratamento mais gravoso

    simulao, considera qu