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1 GUIA PRÁTICO SOBRE A ADMISSIBILIDADE

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    GUIA PRTICO SOBRE A

    ADMISSIBILIDADE

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    Conselho da Europa/Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, 2011.

    O Guia pode ser descarregado em Portugus em www.gddc.pt

    O Guia foi preparado pela Diviso de Investigao do Tribunal Europeu e no vincula o

    Tribunal Europeu. O manuscrito original foi concludo em Dezembro de 2009, e atualizado

    em 31 de Maro de 2011. Est disponvel em www.echr.coe.int (Case-law Case-Law

    information Admissibility Guide).

    A traduo foi efectuada mediante acordo com o Conselho da Europa e o Tribunal

    Europeu dos Direitos do Homem, sob a orientao da Sra. Agente do Governo Portugus

    junto do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem Gabinete de Documentao e Direito

    Comparado da PGR, sendo da responsabilidade do Sr. Dr. Paulo Marrecas Ferreira

    Fevereiro de 2013.

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    INDCE DE MATRIAS

    Introduo

    A. Recurso individual

    1. Objeto da disposio

    2. Qualidade da queixa

    3. Livre exerccio do direito de queixa

    4. Os deveres do Estado requerido

    a) Artigo 39 do Regulamento do Tribunal

    b) Fixao dos factos

    c) Misso de inqurito

    B. Qualidade de vtima

    1. Noo de vtima

    2. Vtima direta

    3. Vtima indirecta

    4. Falecimento da vtima

    5. Perda da qualidade de vtima

    I. As inadmissibilidades relativas ao processo

    A. No esgotamento das vias de recurso internas

    1. Finalidade da regra

    2. Aplicao da regra

    a) Flexibilidade

    b) Respeito das regras internas e limites

    c) Existncia de vrias vias de recurso

    d) Substncia da queixa

    e) Existncia e adequao

    f) Acessibilidade e efetividade

    3. Limites aplicao da regra

    4. nus da prova

    5. Aspetos processuais

    6. Criao de novas vias de recurso

    B. Incumprimento do prazo de seis meses

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    1. Finalidade da regra

    2. Data em que o prazo de seis meses comea a correr

    a) Deciso definitiva

    b) Incio do prazo

    c) Notificao da deciso

    d) Falta de notificao da deciso

    e) Ausncia de recurso

    f) Contagem do prazo

    g) Situao contnua

    3. Data da apresentao da queixa

    a) Primeira comunicao

    b) Diferena entre a data de redao e a data de expedio

    c) Envio por telecpia

    d) Prazo aps a primeira comunicao

    e) Qualificao da queixa

    f) Fundamentos de queixa (griefs) posteriores

    4. Exemplos

    a) Aplicabilidade dos constrangimentos de prazo obrigao processual decorrente

    do artigo 2 da Conveno

    b) Condies de aplicao do prazo de seis meses nos processos relativos a perodos

    de deteno mltiplos luz do artigo 5 3 da Conveno

    C. Queixa annima

    1. Carcter annimo de uma queixa

    2. Carcter no annimo de uma queixa

    D. Queixa redundante

    1. A identidade dos requerentes

    2. A identidade dos fundamentos de queixa

    3. A identidade dos factos

    E. Queixa j apresentada perante uma outra instncia internacional

    1. A noo de instncia

    a) A instncia deve ser pblica

    b) A instncia deve ser internacional

    c) A instncia deve ser independente

    d) A instncia deve ser judicial

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    2. As garantias processuais

    a) O contraditrio

    b) As exigncias que se impem ao rgo jurisdicional

    3. A funo da instncia

    a) A instncia deve poder determinar responsabilidades

    b) A instncia deve ter por objetivo fazer cessar a violao

    c) A eficcia da instncia

    F. Queixa abusiva

    1. Definio geral

    2. Desinformao do Tribunal

    3. Linguagem abusiva

    4. Violao do dever de confidencialidade quanto resoluo amigvel

    5. Queixa manifestamente vexatria ou desprovida de qualquer interesse real

    6. Outras hipteses

    7. A atitude a adotar pelo Governo requerido

    II. As Inadmissibilidades relativas competncia do Tribunal

    A. Incompatibilidade rationae personae

    1. Princpios

    2. Competncia

    3. Responsabilidade, imputabilidade

    4. Questes relativas eventual responsabilidade de Estados-partes na Conveno em

    razo de aes ou omisses que resultam da sua qualidade de membro de uma

    organizao internacional

    B. Incompatibilidade ratione loci

    1. Princpios

    2. Casos especficos

    C. Incompatibilidade ratione temporis

    1. Princpios gerais

    2. Aplicao destes princpios

    a) Data relevante em relao ratificao da Conveno ou aceitao da

    competncia dos rgos da Conveno

    b) Factos instantneos anteriores ou posteriores entrada em vigor ou declarao

    3. Situaes especficas

    a) Violaes contnuas

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    b) Obrigao processual contnua, decorrente do artigo 2, de investigar os

    desaparecimentos ocorridos antes da data relevante

    c) Obrigao processual decorrente do artigo 2 de investigar uma morte: processos

    ligados a factos que esto fora da competncia temporal do Tribunal

    d) Considerao dos factos anteriores

    e) Processos e deteno em curso

    f) Direito a indemnizao em caso de erro judicirio

    D. Incompatibilidade ratione materiae

    1. A noo de direitos e obrigaes de carter civil

    a) Condies gerais de aplicabilidade do artigo 6 1

    b) O litgio

    c) Existncia de um direito reconhecido de modo sustentvel na lei interna

    d) Carcter civil do direito

    e) Direito de natureza privada: a dimenso patrimonial

    f) Extenso a outro tipo de litgios

    g) Matrias excludas

    h) Aplicabilidade do artigo 6 a processos, que no o processo principal

    2. A noo de acusao em matria penal

    a) Princpios gerais

    b) Aplicao dos princpios gerais

    Processos disciplinares

    Procedimentos administrativos, fiscais, aduaneiros e em matria do direito da

    concorrncia

    Questes polticas

    Expulso e extradio

    Diferentes fases dos processos penais, anexos e recursos posteriores

    c) Relao com outros artigos da Conveno ou os seus Protocolos

    3. As noes de vida privada e de vida familiar

    a) O campo de aplicao do artigo 8

    b) A esfera da vida privada

    c) A esfera da vida familiar

    Direito paternidade e maternidade

    Quanto a crianas

    Quanto a casais

    Quanto a outras relaes

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    Interesses materiais

    4. As noes de domiclio e de correspondncia

    a) O campo de aplicao do artigo 8

    b) O alcance da noo de domiclio

    c) Exemplos de ingerncias

    d) O alcance da noo de correspondncia

    5. A noo de bens

    a) Bens protegidos

    b) Alcance autnomo

    c) Bens atuais

    d) Crditos

    e) Restituio de bens

    f) Rendimentos futuros

    g) Clientela

    h) Licenas de exerccio de uma atividade comercial

    i) Inflao

    j) Propriedade intelectual

    k) Aes

    l) Prestaes de segurana social

    III. As Inadmissibilidades quanto ao fundo

    A. Falta manifesta de fundamento

    1. Introduo geral

    2. Quarta instncia

    3. Falta manifesta ou evidente de violao

    a) Nenhuma aparncia de arbitrariedade ou iniquidade

    b) Nenhuma aparncia de desproporo entre os fins e os meios

    c) Outras questes de fundo relativamente simples

    4. Queixas no demonstradas: falta de prova

    5. Queixas confusas ou fantasiosas

    B. Ausncia de um prejuzo significativo

    1. Contexto da adoo do novo critrio

    2. Objeto

    3. A questo de saber se o requerente sofreu um prejuzo significativo

    4. Duas clusulas de salvaguarda

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    a) A questo de saber se o respeito dos direitos humanos exige o exame sobre o

    mrito da queixa

    b) A questo de saber se o caso j foi devidamente examinado por um tribunal

    interno

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    INDICE DOS ACRDOS E DAS DECISES

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    Introduo

    1. O sistema de proteo dos direitos e liberdades fundamentais introduzido pela

    Conveno Europeia dos Direitos do Homem (a Conveno) assenta no princpio da

    subsidiariedade. Incumbe em primeiro lugar aos Estados Partes na Conveno garantir

    a sua aplicao, devendo o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (o Tribunal)

    intervir apenas onde os Estados faltaram ao seu dever.

    O controlo de Estrasburgo desencadeado, no essencial por meio de queixas

    individuais que qualquer pessoa, singular ou coletiva, que se encontre sob a jurisdio

    dos Estados Parte na Conveno pode dirigir ao Tribunal. O nmero de potenciais

    requerentes , assim, imenso: alm dos oitocentos milhes de habitantes da Grande

    Europa e dos cidados de pases terceiros que a residem ou por a transitam,

    necessrio contar milhes de associaes, fundaes, partidos polticos, empresas,

    etc Sem esquecer as pessoas que, por efeito de atos extraterritoriais dos Estados

    Partes na Conveno, praticados fora dos seus respetivos territrios, caem sob a sua

    jurisdio.

    Desde h vrios anos e devido a diversos fatores, o Tribunal est submergido por

    queixas individuais (mais de 130.000 estavam pendentes em 31 de Agosto de 2010).

    Ora a quase totalidade destas queixas (mais de 95%) rejeitada, sem exame quanto ao

    fundo, por no ter sido respeitado um dos critrios de admissibilidade previstos na

    Conveno. Esta situao provoca uma dupla frustrao. Por um lado, tendo a

    obrigao de responder a cada queixa, o Tribunal no se encontra em condies de

    concentrar-se dentro de prazos razoveis sobre os casos que carecem de um exame

    sobre o fundo, e assim sem real utilidade para os destinatrios. Por outro lado,

    dezenas de milhares de requerentes vm inexoravelmente rejeitadas as suas queixas,

    muitas vezes, depois de muitos anos de espera.

    2.Os Estados Partes na Conveno assim como o prprio Tribunal e o seu Secretariado,

    nunca deixaram de refletir sobre medidas para tentar enfrentar este problema e

    garantir uma administrao eficaz da Justia. Entre as medidas mais visveis est a

    adoo do Protocolo n. 14 Conveno, prevendo, alm do mais, a possibilidade de

    as queixas manifestamente inadmissveis serem doravante tratadas por um juiz

    singular assistido por relatores no judiciais e j no por um comit de trs juzes. Este

    instrumento, que entrou em vigor em 1 de Junho de 2010, institui tambm um novo

    critrio de admissibilidade ligado importncia do prejuzo sofrido por um requerente.

    Visa desencorajar a introduo de queixas por parte de pessoas que tenham sofrido

    um dano insignificante.

    Em 19 de Fevereiro de 2010, os representantes dos quarenta e sete Estados membros

    do Conselho da Europa, todos vinculados Conveno, reuniram-se em Interlaken, na

    Sua, para debater o futuro do Tribunal e nomeadamente o seu bloqueamento,

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    devido ao afluxo de queixas no admissveis. Numa Declarao solene, os Estados

    reafirmaram o papel central do Tribunal no sistema europeu de proteo dos direitos e

    liberdades fundamentais e comprometeram-se a promover o reforo da sua eficcia,

    preservando ao mesmo tempo o princpio do recurso individual.

    3. A ideia de por disposio dos potenciais requerentes informaes objetivas e

    completas relativas ao processo de apresentao das queixas e aos critrios de

    admissibilidade consta explicitamente do ponto C-6 (a) e (b) da Declarao de

    Interlaken. Este guia prtico sobre as condies de admissibilidade das queixas

    individuais inscreve-se nesta lgica. Foi concebido para permitir uma leitura mais clara

    e detalhada das condies de admissibilidade com o objetivo, por um lado, de limitar

    tanto quanto possvel o afluxo de queixas sem qualquer condio de dar lugar a

    decises sobre o fundo e, por outro lado, de permitir que as queixas que, em

    contrapartida, meream ser examinadas quanto ao fundo, passem o teste da

    admissibilidade. Atualmente, na maior parte dos casos que atualmente passam este

    teste, a admissibilidade e o fundo so examinados ao mesmo tempo, o que simplifica e

    acelera o processo.

    Trata-se de um documento substancial, destinado principalmente aos prticos do

    Direito, nomeadamente aos advogados com vocao para representar os requerentes

    diante do Tribunal. Um segundo documento, mais leve e redigido em termos menos

    tcnicos, servir de ferramenta pedaggica para um pblico mais vasto e menos

    especializado.

    Todos os critrios de admissibilidade previstos nos artigos 34 (queixas individuais) e

    35 (condies de admissibilidade) da Conveno foram examinados luz da

    jurisprudncia do Tribunal. Naturalmente, algumas noes, como o prazo de seis

    meses e, em menor medida, o esgotamento das vias de recurso internas, so mais

    simples de destrinar que outros, como a falta manifesta de fundamento, que pode

    declinar-se praticamente ao infinito, ou a competncia do Tribunal ratione materiae ou

    ratione personae. Por outro lado, alguns artigos so muito mais vezes invocados que

    outros pelos requerentes, e certos Estados no ratificaram todos os Protocolos

    adicionais Conveno, enquanto outros emitiram reservas quanto ao campo de

    aplicao de algumas disposies. Os raros casos de queixas interestaduais no foram

    tomados em considerao pois este tipo de queixa obedece a uma lgica muito

    diferente. Quanto ao novo critrio de admissibilidade, tendo em conta que o Protocolo

    n. 14 s entrou em vigor muito recentemente, ainda cedo para traar um quadro

    preciso da jurisprudncia do Tribunal neste domnio. Este guia no pretende, assim,

    ser exaustivo e concentra-se em exemplos mais correntes.

    4.Este guia foi elaborado pelo Servio do Jurisconsulto do Tribunal e no vincula em

    nenhum caso o Tribunal, na sua interpretao dos critrios de admissibilidade. Ser

    regularmente atualizado. Redigido em Francs e em Ingls, ser traduzido num certo

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    nmero de outras lnguas privilegiando as lnguas oficiais dos Estados contra os quais a

    maior parte das queixas dirigida.

    5. Aps ter definido as noes de recurso individual e de qualidade de vtima, a anlise

    incidir sobre os fundamentos de inadmissibilidade atinentes ao Processo (I),

    Competncia do Tribunal (II) e ao Fundo (III).

    A. Recurso individual

    Artigo 34 -Queixas individuais

    O Tribunal pode receber peties de qualquer pessoa singular,

    organizao no governamental ou grupo de particulares que se

    considere vtima de violao por qualquer Alta Parte Contratante dos

    direitos reconhecidos na Conveno ou nos seus Protocolos. As Altas

    Partes Contratantes comprometem-se a no criar qualquer entrave ao

    exerccio efetivo desse direito

    1. Objeto da disposio

    6. O artigo 34, instituindo o direito de recurso individual, contm um verdadeiro

    direito de ao do indivduo no plano internacional. Constitui alm disso, um dos

    pilares essenciais da eficcia do sistema da Conveno; faz parte das pedras de toque

    do mecanismo de salvaguarda dos direitos do Homem (Loizidou c. Turquia, excees

    preliminares), 70; Mamatkulov e Askarov c. Turquia [GC], 100 e 122).

    7. Enquanto instrumento vivo, a Conveno deve ser interpretada luz das condies

    de vida atuais, valendo esta jurisprudncia constante tambm para as disposies

    processuais tais como o artigo 34 (Loizidou c. Turquia (excees preliminares), 71).

    2. Qualidade da queixa

    8. Campo de aplicao: A proteo da Conveno pode ser invocada por todo o

    particular, contra o Estado, desde que a violao alegada tenha ocorrido dentro dos

    limites da jurisdio do Estado e, em conformidade com o artigo 1 da CEDH ( Van der

    Tang c. Espanha, 53). A vtima no tem que especificar o artigo da Conveno que foi

    violado ( Guzzardi c. Itlia, 61).

    9. Titulares: Qualquer pessoa singular ou coletiva pode exercer o seu direito de recurso

    individual sem que a nacionalidade, o lugar de residncia, o estado civil, a situao ou

    a capacidade jurdica entrem em linha de conta (me privada da autoridade parental

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    (Scozzari e Giunta c. itlia [GC], 138), ou menor (A c. Reino Unido), ou pessoa

    juridicamente incapaz sem o acordo da tutora ( Zehentner c. Austria, 39 e segs.).

    Toda a organizao no governamental, em sentido lato, isto excluindo as

    organizaes com prerrogativas de poder pblico, pode exercer o seu direito de

    queixa. Ver, quanto s pessoas coletivas de direito pblico que no exercem qualquer

    prerrogativa de poder pblico (Os santos mosteiros c. Grcia, 49, e Radio France e

    outros c. Frana (dec.), 24-26) e jurdica e financeiramente independente do Estado

    ( Companhia martima da Repblica Islamita do Iro c. Turquia, 80-81, ou Undic c.

    Frana, 48-59).

    Em contrapartida, uma autarquia local ( Ayuntamiento de Mula c. Espanha (dec.)) ou

    um seu departamento que participa no exerccio do poder pblico (Section de

    Commune dAntilly c. France (dec.) no tm legitimidade para introduzir uma queixa

    com fundamento no artigo 34.

    Qualquer grupo de particulares: trata-se de uma associao informal reunindo, o mais

    das vezes de modo temporrio, vrias pessoas ( Caso lingustico belga. Todavia, nem

    as coletividades locais nem outros organismos pblicos podem apresentar queixas,

    atravs das pessoas singulares que as constituem ou que as representam, por qualquer

    ato reprimido pelo Estado de que dependem e em nome do qual exercem o poder

    pblico (Demirbas e outros c. Turquia (dec.)).

    10. O artigo 34 no permite queixas in abstrato por violao da Conveno. No

    possvel a queixa de uma disposio de direito interno unicamente porque parece

    infringir a Conveno (Monnat c. Sua, 31-32); a Conveno no reconhece a actio

    popularis (Klass e outros c. Alemanha, 33; Partido Trabalhista Gergio c.

    Gergia*1(dec.); Burden c. Reino Unido [GC], 33).

    11. Queixa apresentada por meio de um representante: sempre que um requerente

    escolha ser representado em vez de apresentar ele prprio a sua queixa, o artigo 45

    n. 3 do Regulamento do Tribunal exige que apresente uma procurao devidamente

    assinada. essencial que o representante demonstre ter recebido instrues

    especficas e explcitas por parte da pessoa que se pretende vtima no sentido do

    artigo 34, em nome da qual pretende agir diante do Tribunal (Post c. Pases

    Baixos*(dec.)). Sobre a validade de um poder de representao (Aliev c. Gergia,

    44-49). Sobre a autenticidade de uma queixa,(Velikova c. Bulgria, 48-52).

    12. Abuso do direito de queixa individual: tratando-se de comportamentos de um

    requerente contrrios finalidade do direito de queixa, ver a noo de abuso do

    1 O Tribunal profere os seus acrdos e decises em Ingls ou em Francs, as suas duas lnguas oficiais.

    O texto dos acrdos e decises marcados com um asterisco existe apenas em ingls.

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    direito de queixa individual no sentido do artigo 35 3 da Conveno: Mirolubovs e

    outros c. Letnia, 62 ss).

    3. Livre exerccio do direito de queixa

    13. O direito de queixa perante o Tribunal absoluto e no sofre qualquer limitao.

    Este princpio implica uma liberdade de comunicao com os rgos da Conveno

    (correspondncia em deteno: Peers c. Grcia, 84; Kornakovs c. Letnia, 157 ss).

    Ver, neste sentido, o Acordo Europeu relativo s pessoas que participam nos processos

    diante do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem de 1966 (STCE 161).

    14. As autoridades nacionais devem abster-se de qualquer presso visando retirar ou

    modificar os fundamentos da queixa. Segundo o Tribunal, as presses podem consistir

    em coaes diretas e em atos flagrantes de intimidao dos requerentes, declarados

    ou potenciais, da sua famlia ou do seu representante em juzo, mas podem consistir

    igualmente em atos ou contactos indiretos feitos de m f ( Mamatkulov e Askarov c.

    Turquia[GC], 102).

    O Tribunal examina o efeito dissuasivo sobre o exerccio do direito de queixa ( Colibaba

    c. Moldova*, 68).

    preciso ter em considerao a vulnerabilidade do queixoso e o risco de as

    autoridades o influenciarem (Iambor c. Romnia (n. 1), 212). Um requerente pode

    encontrar-se numa situao particularmente vulnervel quando est colocado em

    priso preventiva e os seus contactos com a sua famlia ou com o mundo exterior

    esto sujeitos a restries (Cotlet c. Romnia, 71).

    15. Exemplos a reter:

    - Perguntas feitas pelas autoridades acerca da queixa: Akdivar e outros c.

    Turquia [GC], 105; Tanrikulu c. Turquia [GC], 131;

    - Ameaas de procedimento penal contra o advogado da requerente: Kurt c.

    Turquia, 159-165, ou uma queixa das autoridades contra o advogado no

    processo interno: MCShane c. Reino Unido*, 151;

    - Interrogatrio pela polcia ao advogado e ao tradutor da requerente acerca do

    pedido de resoluo amigvel: Fedotova c. Rssia*, 49-51; ou ainda Riabov

    c. Rssia*, 53-65, sobre um inqurito ordenado pelo representante do

    governo;

    - Impossibilidade de o advogado e o mdico do requerente se reunirem:

    Boicenco c. Moldova*, 158-159;

    - Incumprimento da confidencialidade das relaes advogado/requerente no

    parlatrio: Oferta Plus SRL c. Moldova*, 156;

    - Ameaas expressas pelas autoridades penitencirias: Petra c. Romnia, 44;

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    - Recusa da administrao penitenciria de enviar uma queixa ao Tribunal

    Europeu com o fundamento de que as vias de recurso interno no teriam sido

    esgotadas. Nourmagomedov c. Rssia*, 61;

    - Presses exercidas sobre uma testemunha num caso perante o Tribunal sobre

    condies de deteno: Novinski c. Rssia*, 119 e segs.;

    - Observaes dissuasivas por parte das autoridades penitencirias conjugadas

    com a omisso e o atraso injustificados na entrega ao detido do material

    necessrio sua correspondncia e dos documentos solicitados para a sua

    queixa diante do Tribunal: Gagiu c. Romnia, 94 e segs.

    - Recusa das autoridades em fornecer ao requerente detido cpias dos

    documentos necessrios para a apresentao da sua queixa diante do Tribunal

    (Naydyon c. Ucrnia*, 68);

    - Medidas de intimidao e presses de que o requerente foi alvo por parte das

    autoridades, relativamente sua queixa diante do Tribunal (Lopata c. Rssia*,

    154-160).

    16. As circunstncias do caso podem atenuar o alegado entrave queixa individual:

    Syssoyeva e outros c. Letnia [GC], 118 e segs. Ver ainda o caso Holland c. Sucia*

    (dec.) no qual o Tribunal entendeu que a destruio dos registos udio de uma

    audincia antes da expirao do prazo de seis meses a respeitar para apresentao da

    queixa diante do mesmo Tribunal, em aplicao do direito interno, no tinha

    prejudicado o exerccio eficaz pelo requerente do direito de queixa, e o caso Farcas c.

    Romnia (dec.), no qual se considerou que a impossibilidade alegada pelo requerente,

    deficiente fsico, de esgotar os recursos internos, devido falta de adaptaes

    especiais que permitissem o acesso aos servios pblicos, no prejudicou o exerccio

    eficaz do seu direito de queixa.

    4. Os deveres do Estado requerido

    a) Artigo 39 do Regulamento do Tribunal

    17. De acordo com o artigo 39 do seu regulamento, o Tribunal pode indicar medidas

    provisrias (Mamatkulov e Askarov c. Turquia [GC], 99-129). Existir violao do

    artigo 34 se as autoridades de um Estado contratante no adotarem todas as medidas

    que poderiam razoavelmente ser perspetivadas para se conformarem medida

    indicada pelo tribunal (Paladi c. Moldova [GC], 87-92).

    18. Alguns exemplos recentes:

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    - Falta das autoridades em assegurarem, em tempo til, a reunio de um

    requerente de asilo detido com um advogado, no obstante a medida

    provisria decretada pelo Tribunal nos termos do artigo 39 do seu

    Regulamento, a este respeito (D.B. c. Turquia*, 67);

    - Entrega de detidos s autoridades Iraquianas, apesar da medida provisria

    indicada pelo Tribunal (Al Saadoon e Mufdhi c. Reino-Unido, 162-165);

    - Expulso do primeiro requerente, a despeito da medida provisria indicada

    pelo Tribunal ( Kamaliyevy c. Rssia*, 75-79).

    19. O Tribunal controla o cumprimento da medida provisria; o Estado que entende

    possuir elementos susceptveis de convencer o Tribunal a anular esta medida deve

    inform-lo acerca desses elementos (Paladi c. Moldova [GC], 90-92; Olaechea

    Cahuas c. Espanha, 70; Grori c. Albnia*, 181 segs.).

    A apresentao de um simples pedido de aplicao do artigo 39 no suficiente para

    obrigar o Estado a suspender uma extradio (Al Moayad c. Alemanha* (dec.), 122

    e segs.; ver tambm o dever de o Estado requerido de cooperar de boa f com o

    Tribunal).

    b) Fixao dos factos

    20. Se bem que o Tribunal seja o responsvel pela fixao dos factos, cabe s partes

    assisti-lo de modo ativo, fornecendo-lhe todas as informaes pertinentes, podendo o

    seu comportamento entrar em linha de conta aquando da obteno da prova (Irlanda

    c. Reino Unido, 161).

    No mbito do funcionamento do sistema de queixa individual, importa que os Estados

    facultem todo o auxlio necessrio a um exame efetivo das queixas. No fornecer

    informaes pertinentes na sua posse, sem justificao satisfatria, pode permitir que

    sejam extradas concluses sobre a consistncia das queixas (Maslova e Nalbandov c.

    Rssia, 120-121), mas tambm luz do artigo 38 da Conveno (falta de acesso

    aos registos de priso preventiva: Timurtas c. Turquia, 66), ou falta de acesso s

    cpias do dossier de inqurito: Imakayeva c. Rssia*, 201). Sobre a no divulgao

    ao Tribunal de um relatrio classificado: Nolan e K. c. Rssia*, 56 e segs.

    Constitui um entrave ao exerccio ao direito de queixa, nos termos do artigo 34, no

    permitir a um advogado aceder ao processo clnico do seu cliente, essencial para a sua

    queixa diante do Tribunal, (Boicenco c. Moldova, 158; encontro entre um requerente

    internado num hospital psiquitrico e o seu advogado: Chtoukatourov c. Rssia, 138

    e segs.). Comparar com o atraso do Governo em fornecer certas informaes

    complementares, considerado lamentvel, sem constituir contudo obstculo ao

    direito de queixa individual nos termos do artigo 34 (alan c. Turquia [GC], 201).

  • 17

    Sobre a relao entre os artigos 34 e 38, Bazorkina c. Rssia*, 170 e segs. e 175.

    O artigo 34, almejando assegurar uma aplicao efetiva do direito de queixa

    individual, como que uma regra geral, enquanto o artigo 38 obriga especificamente

    os Estados a cooperar com o Tribunal.

    O Tribunal pode concluir pela violao do artigo 38, mesmo na ausncia de uma

    deciso separada sobre a admissibilidade (artigo 29 3, ver o caso Enoukidze e

    Guirgvliani c. Gergia*, 295).

    c) Misso de inqurito

    21. O contributo do Estado requerido tambm esperado aquando da realizao de

    misses de inqurito (art. 38), pois pertence ao Estado facultar as necessrias

    facilidades para permitir examinar eficazmente as queixas (Caiki c. Turquie [GC],

    76; os obstculos realizao de uma misso de inqurito infringem o art. 38

    (Chamaev e outros c. Georgia e Rssia, 504).

    B. Qualidade de vtima

    Artigo 34 -Queixas individuais

    O Tribunal pode receber peties de qualquer pessoa singular,

    organizao no governamental ou grupo de particulares que se

    considere vtima de violao por qualquer Alta Parte Contratante dos

    direitos reconhecidos na Conveno ou nos seus Protocolos ().

    22. De acordo com o artigo 34, s um requerente que se considere vtima de uma

    violao pode queixar-se diante do Tribunal. Cabe, em primeiro lugar, s autoridades

    nacionais reparar uma alegada violao da Conveno. Assim, a questo de saber se

    um requerente pode pretender-se vtima da alegada violao coloca-se em todos as

    fases do processo diante do Tribunal (Scordino c. Itlia (n. 1) [GC], 179).

    1. Noo de vtima

    23. A noo de vtima interpretada de modo autnomo e independente das regras

    de direito interno, tais como o interesse em agir ou a qualidade para agir (Gorraiz

    Lizarraga e outros c. Espanha, 35). A noo no implica a existncia de um prejuzo

    (Brumarescu c. Romnia [GC], 50). Um acto com efeitos jurdicos temporrios pode

    ser suficiente (Monnat c. Suia, 33).

    24. A noo de vtima objeto de uma interpretao evolutiva luz das condies

    de vida atuais e a sua aplicao deve fazer-se sem demasiado formalismo (Gorraiz

  • 18

    Lizarraga e outros c. Espanha, 38; Monnat c. Suia, 30-33; Stukus e outros c.

    Polnia, 35; Zietal c. Polnia, 54-59). O Tribunal sustentou que a questo da

    qualidade de vtima pode ser junta ao mrito do caso (Siliadin c. Frana, 63).

    2. Vtima direta

    25. O ato ou omisso litigiosos devem afetar de modo direto o requerente (Amuur c.

    Frana, 36). Este critrio no se aplica todavia de modo mecnico e inflexvel (Karner

    c. Austria, 25).

    26. O Tribunal tem aceitado, caso a caso, as queixas de vtimas potenciais, ou seja,

    que no podem queixar-se de uma ofensa direta.

    27. Exemplos: os acrdos relativos s escutas telefnicas na Alemanha (Klass e outros

    c. Alemanha, 34); a um caso relativo a uma extradio (Soering c. Reino Unido); a

    medidas que restringem a divulgao de informao sobre o aborto podendo afetar as

    mulheres em idade de procriar (Open Door e Dublin Well Women c. Irlanda, 44).

    28. Em contrapartida, suspeitas ou conjeturas no so suficientes para conferir a

    qualidade de vtima: ausncia de ordem formal de reconduo fronteira

    (Vijayanathan e Pusparajah c. Frana, 46); alegadas consequncias de um relatrio

    parlamentar (Federao Crist das Testemunhas de Jeov de Frana (dec.)); eventual

    multa aplicada sociedade requerente (Senator Lines c. Etats de lEU [GC] (dec.));

    alegadas consequncias de uma deciso judicial relativamente a terceira pessoa, em

    coma (Ada Rossi e outros c. Itlia (dec.)). Um requerente no pode pretender-se vtima

    quando ele , em parte, responsvel pela violao alegada (Pasa e Erkan Erol c.

    Turquia).

    29. Relativamente a uma lei nacional, um particular pode invocar que ela viola os seus

    direitos, na ausncia de ato individual de aplicao, se for obrigado a mudar de

    comportamento sob pena de procedimento judicial (Norris c. Irlanda; Bowman c. Reino

    Unido) ou se fizer parte de uma categoria de pessoas que correm o perigo de sofrer

    diretamente os efeitos da legislao (Burden c. Reino Unido [GC], 34; Johnston e

    outros c. Irlanda). Tratando-se da Constituio: Sejdic e Finci c. Bsnia-Herzegovina

    [GC], 29.

    3. Vtima indirecta

    30. O Tribunal pode aceitar a queixa individual da pessoa considerada vtima indireta,

    quando exista uma ligao particular e pessoal entre a vtima e o requerente.

    31. Exemplos: com base no artigo 2, a queixa da esposa da vtima (McCann e outros c.

    Reino Unido [GC]), ou o do sobrinho do defunto (Yasa c. Turquia, 66). Com base no

  • 19

    artigo 3, a queixa da me de um homem desaparecido durante a sua deteno (Kurt

    c. Turquia), embora o irmo de um desaparecido no tenha sido considerado vtima

    (Cakiki c. Turquia [GC], 98-99). Com base no artigo 5 5, o caso do cnjuge de uma

    requerente internada num hospital psiquitrico (Houtman e Meeus c. Blgica, 30).

    Com base no artigo 6 1 8 (processo equitativo), a imparcialidade dos tribunais

    (Gradinar c. Moldova*); o direito de defender a reputao dos cnjuges falecidos

    (Brudnicka e outros c. Polnia, 26 e segs.); um caso de equidade e demora do

    processo (Marie-Louise Loyen e Bruneel c. Frana). Com base no artigo 6 2, a viva

    de um acusado vtima de uma ofensa presuno de inocncia (Nlkenbockhoff c.

    Alemanha, 33). Com base no artigo 10, o interesse da esposa do requerente falecido

    (Dalban c. Romnia [GC], 39). Por outro lado, os scios no podem pretender-se

    vtimas de uma violao dos direitos da sua sociedade, no mbito do artigo 1 do

    Protocolo n. 1 (Agrotexim e outros c. Grcia, 62 e 64), exceto em circunstncias

    excepcionais (Camberrow MM5 AD c. Bulgria*(dec.)).

    4. Falecimento da vtima

    32. Uma queixa s pode ser apresentada por pessoas vivas ou em seu nome; uma

    pessoa falecida no pode, mesmo por meio de um representante, apresentar uma

    queixa diante do Tribunal (Kaya e Polat c. Turquia (dec.)). No entanto, o falecimento da

    vtima no determina automaticamente o arquivamento do processo no Tribunal.

    33. Em geral, os familiares do requerente originrio podem manter a queixa, desde

    que possuam interesse suficiente para o efeito, quando o requerente originrio tenha

    falecido aps a introduo da sua queixa diante do tribunal. Ver para o caso de

    herdeiros ou de parentes prximos como viva e filhos (Raimondo c. Itlia, 2;

    Stojkovic c. A Ex-Repblica Jugoeslava da Macednia*, 25); pais (X.c.Frana, 26);

    num outro caso (Malhous c. Repblica Checa [GC] (dec.)); e, a contrario, o acrdo

    Scherer c. Suia, 31.32); tratando-se de um legatrio universal sem vnculo familiar:

    Thvenon c. Frana (dec.); Lger c. Frana [GC] (arquivamento), 50-51.

    34. Em contrapartida, a situao diferente quando a vtima direta faleceu antes de se

    dirigir ao tribunal (Fairfield c. Reino Unido (dec.)).

    Numa queixa por violaes relacionadas com a morte de um familiar: ver Velikova c.

    Bulgria (dec.), ou sobre o desaparecimento de um familiar: Varnava e outros c.

    Turquia [GC], 112.

    Tratando-se de violaes no mbito do artigo 6, ver Micallef c. Malta [GC], 48 e

    segs., com as referncias que a constam.

    Sobre pessoas prximas que suscitam violaes no mbito dos artigos 8 a 11. e 3.

    do Protocolo n. 1 com referncia a processos e factos relativos ao prprio falecido:

  • 20

    ver Gakiyev e Gakiyeva c. Rssia*, 164-168, (e as referncias que a constam). Sobre

    a questo das queixas transmissveis: Sanles sanles c. Espanha (dec.).

    35. O Tribunal , de resto, competente para apreciar a oportunidade de prosseguir o

    exame com vista proteo dos direitos do Homem (Karner c. Austria, 25 e segs.).

    Esta competncia est subordinada existncia de uma questo de interesse geral

    ibidem, 4 27, e Marie-Louise Loyen e Bruneel c. Frana, 29), questo que se pode

    colocar, nomeadamente, quando a queixa respeita legislao, a um sistema jurdico

    ou a uma prtica do Estado requerido (mutatis mutandis, Karner c. Austria, 26 e 28;

    ver ainda Lger c. Frana[GC] (arquivamento), 51).

    5. Perda da qualidade de vtima

    36. O requerente deve poder justificar a sua qualidade de vtima durante todo o

    processo (Bourdov c. Rssia, 30).

    37. Posto isto, a atenuao de uma pena, a adoo de uma deciso ou de uma medida

    favorvel ao requerente pelas autoridades nacionais apenas determinar a perda da

    qualidade de vtima se for acompanhada por um reconhecimento explcito da violao

    ou, pelo menos, em substncia, seguida de uma reparao: Scordino c. Itlia (n. 1)

    [GC], 178 e segs e 193. Isso depende, nomeadamente, da natureza do direito cuja

    violao alegada, da motivao da deciso (Jensen c. Dinamarca (dec.)), e da

    persistncia das consequncias desfavorveis para o interessado aps esta deciso:

    Freimanis e outros c. Letnia, 68.

    38. Exemplos: Dalban c. Romnia [GC], 44 (artigo 10); Brumarescu c. Romnia [GC],

    50 (artigo 1 do Protocolo n. 1 e 6.); sobre queixas no mbito do artigo 6 relativas

    a um processo que foi por fim anulado ou deu origem a uma absolvio: Oleksy c.

    Polnia*(dec.) (e comparar com uma queixa por demora deste processo), a comparar

    com Arat c. Turquia*, 47, e Bouglame c. Blgica (dec.); quanto a casos especficos:

    Constantinescu c. Romnia, 40-44; Guisset c. Frana, 66-70; Chevrol c. Frana

    30 e segs.; (deteno ) Moskovets c. Rssia, 50; (multa) Moon c. Frana, 29 e

    segs.; (artigo 2 do Protocolo n. 4) D.J. e A.-K.R. contre Roumanie (dec.), 77 e segs.;

    ( artigo 4 do Protocolo n. 7) Sergue Zolotoukhine c. Rssia [GC], 115.

    39. A reparao deve ser apropriada e suficiente. Isso depende do conjunto das

    circunstncias do caso e, em particular, da natureza da violao da Conveno que

    est em causa (Gfgen c. Alemanha[GC], 116).

    40. O estatuto de vtima pode ainda depender do montante da indemnizao

    concedida pelo juiz nacional e da efetividade (incluindo tambm a celeridade) do meio

    de recurso que permite receber este montante ( Normann c. Dinamarca* (dec.), e

  • 21

    Scordino c. Itlia (n. 1), 202, ou Jensen e Rasmussen c. Dinamarca (dec.), Gfgen c.

    Alemanha [GC], 18 e 19).

    41. Exemplos de precedentes:

    No que respeita questo das medidas apropriadas adotadas pelas autoridades

    nacionais, no contexto do artigo 2 da Conveno (Nikolova e Velichkova c.

    Bulgria*, 49-64).

    No que concerne ao artigo 3 da Conveno (ver Gfgen c. Alemanha [GC],

    115-129, Kopylov c. Rssia*, 150). Sobre queixas no mbito do artigo 3 devido a

    condies de deteno: Schilbergs c. Rssia*, 66-79. Ver ainda o caso Ciorap c.

    Moldova (n. 2)*, 23-25, no qual o Tribunal concluiu que o requerente podia

    sempre pretender-se vtima nos termos do artigo 34 da Conveno, visto que a

    reparao concedida pela jurisdio nacional tinha sido muito inferior ao mnimo

    que o prprio Tribunal geralmente atribui nos casos em que constata violaes do

    artigo 3.

    No contexto do artigo 6 1, demora de um processo (ver Scordino c. Itlia (n. 1)

    [GC] 182-207 e Cocchiarella c. Itlia [GC], 84-107, Delle Cave e Corrado c.

    Itlia , 26 e segs.); atraso na execuo de uma deciso judicial definitiva (Kudic

    c. Bsnia Herzegovina*, 7-18, Bourdov c. Rssia (n. 2).)

    42. Por outro lado, h arquivamentos por perda da qualidade de vtima/locus standi

    (resoluo do caso ao nvel interno aps a deciso de admissibilidade (ver Ohlen c.

    Dinamarca* (arquivamento); acordo sobre cesso dos direitos objecto de queixas em

    curso no Tribunal (Dimitrescu c. Romnia, 33-34)).

    43. Alm do mais, o Tribunal analisa os acontecimentos que se verificaram aps a

    apresentao da queixa, para verificar se o caso deve ser arquivado por um ou vrios

    dos motivos enunciados no artigo 37 da Conveno, apesar de o requerente poder

    ainda considerar-se vtima (Pisano c. itlia [GC] (arquivamento), 39), ou

    independentemente de saber se este pode ou no continuar a reivindicar essa

    qualidade (ver para desenvolvimentos posteriores deciso de enviar o caso Grande

    Cmara (ver El Majjaoui e Stichting Touba Moskee c. Pases Baixos [GC]

    (arquivamento), 28-35; admissibilidade da queixa: Chevanova c. Letnia [GC]

    (arquivamento), 44 e segs.; a um acrdo de Seco, Syssoyeva e outros c. Letnia

    (arquivamento)[GC], 96)).

  • 22

    I. As inadmissibilidades relativas ao processo

    A. No esgotamento das vias de recurso internas

    Artigo 35 1 -Condies de admissibilidade

    1. O Tribunal s pode ser solicitado a conhecer de um assunto

    depois de esgotadas todas as vias de recurso internas, em

    conformidade com os princpios de direito internacional geralmente

    reconhecidos e num prazo de seis meses a contar da data da

    deciso interna definitiva.

    44. As condies de admissibilidade fundamentam-se nos princpios gerais de direito

    internacional geralmente reconhecidos, tal como indica o texto do artigo 35. A

    obrigao de esgotar as vias de recurso internas faz parte do direito internacional

    consuetudinrio, reconhecido enquanto tal pela jurisprudncia do Tribunal

    Internacional de Justia (por exemplo o caso Interhandel (Sua c. Estados Unidos)

    acrdo de 21 de Maro de 1959). Encontra-se tambm noutros Tratados

    internacionais relativos aos direitos humanos: o Pacto Internacional sobre os Direitos

    Civis e Polticos (artigo 41 1 c)) e o seu Protocolo Facultativo (artigos 2 e 5 2 b)),

    a Conveno Americana dos Direitos do Homem (artigo 46) e a Carta Africana dos

    Direitos do Homem e dos Povos (artigos 50 e 56 5). Tal como o Tribunal fez notar

    no caso De Wilde, Ooms e Versyp c. Blgica, o Estado pode renunciar ao benefcio da

    regra do esgotamento das vias de recurso internas, pois existe uma longa prtica

    internacional bem estabelecida a este respeito ( 55).

    45. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem considera que desempenha uma

    funo subsidiria relativamente aos sistemas nacionais de proteo dos direitos do

    homem, sendo desejvel que os tribunais nacionais tenham previamente a

    possibilidade de resolver as questes de compatibilidade do direito interno com a

    Conveno. No caso de uma queixa ser, contudo, posteriormente apresentada em

    Estrasburgo, o Tribunal Europeu deve poder tirar proveito das posies daqueles

    tribunais, os quais esto em contacto direto e permanente com as foras vivas do seu

    pas (Burden c. Reino Unido [GC], 42).

    46. Questiona-se se determinada via de recurso interna ou internacional. Se for

    interna, teria normalmente que ser esgotada antes que a queixa seja apresentada

    diante do Tribunal. Se for internacional, a queixa pode ser rejeitada ao abrigo do artigo

    35, 2 b) da Conveno (ver o ponto I.E.). Cabe ao Tribunal determinar a natureza

    interna ou internacional de uma dada jurisdio, tendo em conta todos os fatores

    pertinentes, nomeadamente a sua natureza jurdica, o instrumento que previu a sua

    criao, a sua competncia, o seu lugar (se aplicvel) no sistema judicial existente e o

  • 23

    seu financiamento (Jelicic c. Bsnia-Herzegovina (dec.); Peraldi c. Frana (dec.) (ver o

    ponto I.E.)).

    1. Finalidade da regra

    47. A lgica subjacente regra do esgotamento das vias de recurso internas consiste

    em proporcionar s autoridades nacionais, em particular aos tribunais, a oportunidade

    de prevenir ou reparar as alegadas violaes da Conveno. Baseia-se na ideia,

    refletida no artigo 13, de que a ordem jurdica interna assegura uma via de recurso

    efetiva contra as violaes de direitos consagrados pela Conveno. Este um aspeto

    importante do carcter subsidirio do mecanismo institudo pela Conveno (Selmouni

    c. Frana [GC], 74; Kudla c. Polnia [GC], 152; Andrsik e outros c. Eslovquia

    (dec.)). Vale independentemente da questo da incorporao das disposies da

    Conveno no direito nacional (Eberhard e M. c. Eslovnia*). O Tribunal reiterou, ainda

    recentemente, que a regra do esgotamento das vias de recurso internas parte

    indispensvel do funcionamento do mecanismo de proteo institudo pela Conveno

    e que se trata de um princpio fundamental (Demopoulos e outros c. Turquia (dec.)

    [GC], 69 e 97).

    2. Aplicao da regra

    a) Flexibilidade

    48. O esgotamento das vias de recurso internas pode ser descrito mais como uma

    regra de ouro do que um princpio inscrito na pedra. A Comisso e o Tribunal

    sublinharam frequentes vezes que devia ser aplicada com uma certa flexibilidade e

    sem formalismo excessivo, dado o contexto de proteo dos direitos do homem

    (Ringeisen c. ustria, 89; Lehtinen c. Finlndia (dec.)). A regra no tem carcter

    absoluto nem suscetvel de aplicao automtica (Kozacioglu c. Turquia [GC], 40).

    Por exemplo, o Tribunal decidiu que seria um excessivo formalismo exigir aos

    interessados que utilizassem um recurso que o prprio Supremo Tribunal de um pas

    no os obrigava a exercer (D.H. e outros c. Repblica Checa [GC], 116-118). O

    Tribunal tomou em considerao, num caso, a escassez dos prazos fixados ao

    requerente para responder, sublinhando a pressa com que tiveram que apresentar

    os seus argumentos (Financial Times Ltd e outros c. Reino Unido, 43-44). Todavia, a

    utilizao dos recursos disposio em face do direito nacional e o respeito das

    formalidades prescritas no direito nacional tm maior importncia quando esto em

    jogo consideraes de clareza e segurana jurdicas (Saghinadze e outros c. Gergia*,

    83-84).

    b) Respeito das regras internas e limites

  • 24

    49. Os requerentes devem todavia cumprir as regras e os procedimentos aplicveis no

    direito interno, sem o que a sua queixa corre o risco de ser rejeitada por no ter sido

    satisfeita a condio ***do artigo 35 (Ben Salah, Adraqui e Dhaime c. Espanha (dec.);

    Merger e Cros c. Frana (dec.); MPP Golub c. Ucrnia (dec.), Agbovi c. Alemanha

    (dec.)). O artigo 35 1 no respeitado quando um recurso no admitido devido a

    um erro processual imputvel ao requerente (Gfgen c. Alemanha [GC], 143).

    Todavia, convm notar que, sempre que um tribunal de recurso examina o mrito de

    um recurso, ainda que o considere improcedente, o artigo 35 1 ser respeitado

    (Voggenreiter c. Alemanha). tambm assim no caso dos requerentes que no

    respeitaram as formas requeridas segundo o direito interno, se, apesar disso, o recurso

    foi examinado em substncia pela entidade competente (Vladimir Romanov c. Rssia*,

    52). O mesmo sucede relativamente a um recurso formulado de modo muito

    sumrio e apenas minimamente compatvel com as exigncias legais, mas em que o

    juiz se pronunciou sobre o mrito, ainda que muito sumariamente (Verein gegen

    Tierfabriken Schweiz (VgT) c. Suia (n. 2) [GC], 43-45).

    c) Existncia de vrias vias de recurso

    50. No caso de o requerente dispor eventualmente de mais de uma via de recurso que

    pode ser efetiva, apenas tem obrigao de utilizar uma de entre elas (Moreira Barbosa

    c. Portugal (dec.); Jelicic c. Bsnia-Herzegovina (dec.); Karak c. Hungria*, 14;

    Aquilina c. Malta [GC] 39). Com efeito, quando uma via de recurso foi utilizada, no

    exigida a utilizao de uma outra via cuja finalidade seja praticamente a mesma (Riad e

    Idiab c. Blgica, 84; Kozacioglu c. Turquia [GC], 40 e segs.; Micallef c. Malta [GC],

    58). Cabe ao requerente escolher o recurso que for o mais apropriado no seu caso. Em

    resumo, se a lei nacional prev vrios recursos paralelos em diferentes domnios do

    direito, o requerente que tentou obter a reparao de uma alegada violao da

    Conveno por meio de um desses recursos, no tem necessariamente que utilizar

    outros que tenham essencialmente a mesma finalidade (Jasinsikis c. Letnia*, 50 e

    53-54).

    d) Substncia da queixa

    51. No necessrio que o direito consagrado pela Conveno seja explicitamente

    invocado no processo interno, desde que a alegada violao seja suscitada pelo

    menos em substncia (Castells c. Espanha, 32; Ahmet Sadik c. Grcia, 33; Fressoz

    et Roire c. France, 38; Azinas c. Chypre [GC], 40-41). Isto significa que, se o

    requerente no invocou as disposies da Conveno, deve ter suscitado meios de

    efeito equivalente ou semelhante, fundados no direito interno, de modo a ter dado a

    oportunidade s jurisdies nacionais de remediarem, em primeiro lugar, a alegada

    violao (Gfgen c. Alemanha [GC], 142,144 e 146; Karapanagiotou e outros c.

  • 25

    Grcia, 29), e sobre uma violao que no foi suscitada na ltima instncia, mesmo

    de modo subjacente (Associao As testemunhas de Jeov c. Frana (dec.)).

    e) Existncia e adequao

    52. Os requerentes apenas esto obrigados a esgotar as vias de recurso internas

    disponveis que eles prprios possam diretamente utilizar e efetivas, tanto em

    teoria como na prtica, na poca dos factos, ou seja, que eram acessveis, suscetveis

    de proporcionar a reparao das suas queixas e que apresentavam perspetivas

    razoveis de xito (Sejdovic c. Itlia [GC], 46).

    53. No necessrio esgotar as vias de recurso discricionrias ou extraordinrias, por

    exemplo, pedindo a um Tribunal a reviso da deciso (Cinar c. Turquia (dec.); Prystavka

    c. Ucrnia (dec.), ou, pedir a reabertura do processo, salvas circunstncias particulares,

    quando, por exemplo, est estabelecido, luz do direito interno, que o pedido de

    reabertura do processo constitui um recurso eficaz (K.S. e K.S. AG c. Suia (dec.)), ou

    quando a anulao de uma sentena transitada em julgado constitui o nico meio que

    permite ao Estado requerido corrigir a situao no quadro do seu prprio sistema

    jurdico (Kiiskinen c. Finlndia (dec.); Nikula c. Finlndia (dec.)). Do mesmo modo, no

    constitui uma via de recurso efetiva, uma queixa pela via hierrquica (Horvat c.

    Crocia, 47; Hartmann c. Repblica Checa, 66), nem uma via jurdica que no esteja

    diretamente acessvel ao requerente mas dependa do exerccio do poder discricionrio

    de outrem (Tanase c. Moldova [GC], 122). Por outro lado, sobre o carcter eficaz, no

    caso concreto, de um recurso que em princpio no era meio a esgotar (Provedor),

    veja-se a fundamentao do acrdo Egmez c. Chipre, 66-73. Por fim, uma via de

    recurso interna que no est submetida a nenhum prazo determinado e que causa,

    assim, incerteza, no pode ser considerada efetiva (ver Williams c. Reino Unido (dec.) e

    referncias citadas).

    Quando um requerente tentou utilizar uma via de recurso que o tribunal entende ser

    pouco apropriada, o tempo gasto para esse efeito no impede o decurso do prazo de

    seis meses, o que poder conduzir rejeio da queixa por incumprimento deste prazo

    (Rezgui c. Frana (dec.) e Prystavska c. Ucrnia (dec.)).

    f) Acessibilidade e efetividade

    54. Os recursos devem existir com um grau suficiente de certeza, tanto na prtica

    como na teoria. Para apreciar se uma particular via de recurso satisfaz ou no a

    condio de acessibilidade e de efetividade, convm ter em conta as circunstncias

    particulares do caso (cfr., adiante, ponto 4). A jurisprudncia nacional deve estar

    suficientemente consolidada na ordem jurdica interna. Assim, o Tribunal considerou

    que o recurso para um tribunal superior perde o seu carcter efetivo devido a

    divergncias jurisprudenciais no seio deste Tribunal, e enquanto tais divergncias

    continuarem a existir (Ferreira Alves c. Portugal (n. 6), 28-29).

  • 26

    O Tribunal deve tomar em conta, de modo realista, no apenas os recursos previstos

    em teoria no sistema jurdico interno, mas tambm o contexto geral, jurdico e poltico

    em que se inscrevem, bem como a situao pessoal do requerente (Akdivar e outros c.

    Turquia [GC], 68-69; Khashiyev e Akayeva c. Rssia, 116-117). H que examinar

    se, tendo em conta o conjunto das circunstncias da causa, o requerente fez tudo o

    que se podia razoavelmente esperar dele para esgotar os recursos internos (D.H. e

    outros c. Repblica Checa [GC], 116-122).

    H que notar que as fronteiras, de facto ou de direito, no constituem em si mesmas

    obstculo ao esgotamento das vias de recurso internas; em princpios, os requerentes

    que residem fora da jurisdio de um Estado contratante no esto desonerados da

    obrigao de esgotarem as vias de recurso internas nesse Estado, apesar dos

    inconvenientes prticos que isto representa ou de uma relutncia pessoal

    compreensvel (ver Demopoulos e outros c. Turquia (dec.) [GC], 98 e 101, no caso de

    requerentes que no relevam de sua plena vontade da jurisdio do Estado requerido).

    3. Limites aplicao da regra

    55. Segundo os princpios de direito internacional geralmente reconhecidos, certas

    circunstncias particulares podem dispensar o requerente da obrigao de esgotar as

    vias de recurso internas que se lhe oferecem (Sejdovic c. Itlia [GC], 55). (ver a seguir

    ponto 4).

    A regra tambm no se aplica quando se demonstra uma prtica administrativa

    consistente na repetio de atos proibidos pela Conveno e uma tolerncia oficial do

    Estado, de modo que todo o processo seria em vo ou ineficaz (Aksoy c. Turquia, 52).

    Num caso particular, em que a exigncia de que o requerente apresentasse um

    recurso era, na prtica, desrazovel e constitua um obstculo no proporcional ao

    exerccio eficaz do seu direito de queixa individual, garantido pelo artigo 34 da

    Conveno, concluiu o Tribunal que o requerente estava disso dispensado (Veriter c.

    France, 27; Gaglione e outros c. Itlia, 22).

    A aplicao de uma multa em funo do resultado de um recurso, sem se referir que

    teria sido doloso ou abusivo, exclui este recurso dos que devem ser esgotados (

    Prencipe c. Mnaco, 95-97).

    4. nus da prova

    56. Compete ao Governo que exceciona o no esgotamento das vias de recurso

    internas, a prova de que o requerente no utilizou uma via de recurso que era

    simultaneamente efetiva e disponvel (Dalia c. Frana, 38; McFarlane c. Irlanda[GC],

    107). A acessibilidade de uma via de recurso desta natureza deve ser

  • 27

    suficientemente clara na lei e na prtica (Vernillo c. France). A base da via de recurso

    deve por conseguinte ser clara na lei interna (Scavuzzo-Hager c. Suia (dec.); Norbert

    Sikorski c. Polnia, 117; Srmeli c. Alemanha [GC], 110-112). O recurso deve ser

    suscetvel de remediar as queixas em causa e oferecer uma perspetiva razovel de

    sucesso (Scoppola c. Itlia (n.2) [GC], 71). A evoluo e a disponibilidade do recurso

    invocado, nomeadamente o seu mbito e o seu domnio de aplicao, devem estar

    previstos com clareza e ser confirmados ou completados pela prtica ou pela

    jurisprudncia (Mikolajov c. Eslovquia*, 34). Isto aplica-se mesmo no quadro de

    um sistema jurdico inspirado pela common law e dotado de uma constituio escrita

    que garanta implicitamente o direito invocado pelo requerente (McFarlane c. Irlanda

    [GC], 117 e 120, quanto a um recurso existente em teoria h, aproximadamente,

    vinte e cinco anos mas nunca utilizado).

    Os argumentos do Governo tm manifestamente mais peso se este der exemplos de

    jurisprudncia nacional ( Doran c. Irlanda; Andrsik e outros c. Eslovquia (dec.); Di

    Sante c. Itlia (dec.); Giummarra c. Frana (dec.); Paulino Toms c. Portugal (dec.);

    Johtti Sapmelaccat Ry e outros c. Finlndia (dec.), que se mostre pertinente

    (Sakhnovski c. Rssia[GC], 43-44.

    57. Quando o Governo sustenta que o requerente teria podido invocar diretamente a

    Conveno diante dos tribunais nacionais, deve demonstrar, por exemplos concretos,

    o grau de certeza desta via de recurso (Slavgorodski c. Estnia (dec.)).

    58. O Tribunal foi mais sensvel aos argumentos invocados num caso em que o

    parlamento nacional tinha institudo uma via de recurso especfica para tratar a

    durao excessiva dos processos judiciais (*Brusco c. Itlia (dec.), Slavicek c. Crocia

    (dec.)). Ver tambm Scordino c. Itlia (n. 1) [GC], 136-148. Comparar com Merit c.

    Ucrnia, 65.

    59. Uma vez que o Governo satisfaa a sua obrigao em matria de prova,

    demonstrando que existia uma via de recurso adequada e efetiva, acessvel ao

    requerente, cabe a este demonstrar que:

    - esta via de recurso foi de facto esgotada( Grsser c. Alemanha* (dec.)); ou

    - por determinada razo, era inadequada e no efetiva no caso (Selmouni c. Frana

    [GC], 76; por exemplo, em caso de demora excessiva no andamento de um

    inqurito (Radio France e outros c. Frana (dec.), 34); ou no caso de um recurso

    disponvel, como o recurso em cassao, mas que, tendo em conta a

    jurisprudncia estabelecida em casos semelhantes, se revelava ineficaz (Scordino

    c. itlia (dec.); Pressos Compania Naviera S.A. e outros c. Blgica, 26 e 27);

    ainda que se trate de uma jurisprudncia recente (Gas e Dubois c. Frana (dec.)).

    tambm assim se o requerente no podia recorrer diretamente ao tribunal em

    causa (Tanase c. Moldova [GC], 122). Pode ainda tratar-se, em certas condies

  • 28

    especficas, de requerentes em situaes anlogas, em que alguns no recorreram

    ao tribunal referido pelo Governo, mas com justa causa, pois o recurso interno

    exercido por outros revelou-se ser ineficaz na prtica, o que teria tambm

    sucedido com os restantes (Vasilkoski e outros c. A Ex-Repblica Jugoslava da

    Macednia*, 45-46; Laska e Lika c. Albnia*, 45-48). Trata-se, contudo, de

    casos especficos (comparar com Saghinadze e outros c. Gergia*, 81-83); ou

    - circunstncias particulares dispensavam o requerente desta exigncia (Akdivar e

    outros c. Turquia [GC], 68-75; Sejdovic c. Itlia [GC], 55; Veriter c. France,

    60).

    60. Um destes elementos pode ser a passividade total das autoridades nacionais face a

    alegaes srias, segundo as quais, agentes do Estado cometeram faltas ou causaram

    um prejuzo, por exemplo, quando no abrem inqurito ou no propem auxlio.

    Nestas condies, pode dizer-se que o nus da prova desloca-se de novo e que

    compete ao Estado requerido demonstrar as medidas que tomou face dimenso e

    gravidade dos factos denunciados (Demopoulos e outros c. Turquia (dec.)[GC], 70).

    61. O simples facto de ter dvidas no dispensa o requerente de intentar a utilizao

    de determinada via de recurso (Epzdemir c. Turquia* (dec.); Milosevic c. Pases

    Baixos* (dec.); Pellegriti c. Itlia (dec.); MPP Golub c. Ucrnia (dec.)). Pelo contrrio, o

    requerente tem todo o interesse em dirigir-se ao tribunal competente, de modo a

    permitir que este faa a interpretao que lhe compete e aplique os direitos

    consagrados (Ciupercescu c. Romnia, 169). Numa ordem jurdica em que os direitos

    fundamentais esto protegidos pela Constituio, incumbe ao lesado pr prova esta

    proteo; num sistema de common law, o interessado deve dar possibilidade aos

    tribunais nacionais de aplicar estes direitos pela via da interpretao (A.B e C c. Irlanda

    [GC], 142) No entanto, quando, de facto, uma via de recurso judicial no fornece

    perspetivas razoveis de sucesso, por exemplo, por fora da jurisprudncia interna

    estabelecida, o facto de o requerente no a ter esgotado no obsta admissibilidade

    da queixa (Pressos Compania Naviera S.A. e outros c. Blgica, 27; Carson e outros c.

    Reino Unido [GC], 58).

    5. Aspetos processuais

    62. A obrigao de o requerente esgotar as vias de recurso internas aprecia-se, em

    princpio, na data da introduo da queixa diante do Tribunal (Baumann c. Frana,

    47), salvo exceo justificada pelas circunstncias de um determinado caso (ver a

    seguir, ponto 6). O Tribunal tolera, todavia, que o ltimo grau de recurso seja

    alcanado pouco depois da apresentao da queixa mas antes de se pronunciar sobre

    a sua admissibilidade (Karoussiotis c. Portugal, 57).

  • 29

    63. Quando o Governo pretende suscitar a exceo de no esgotamento, deve faz-lo,

    na medida em que a natureza da exceo e as circunstncias o permitam, nas suas

    observaes anteriores deciso sobre a admissibilidade; apenas circunstncias

    excecionais podem dispens-lo desta obrigao (Mooren c. Alemanha [GC], 57 e as

    referncias que a constam, 58-59).

    No raro que a exceo de no esgotamento seja junta ao exame de fundo,

    nomeadamente nos casos relativos s obrigaes ou s garantias processuais, por ex.

    as queixas ligadas vertente processual do artigo 2 (Dink c. Turquia, 56-58) ou do

    artigo 3; tratando-se do artigo 6 (Scoppola c. Itlia (n. 2) [GC], 126); do artigo 8.

    (A, B e C c. Irlanda [GC], 155); do artigo 13 (Srmeli c. Alemanha [GC], 78; M.S.S. c.

    Blgica e Grcia [GC], 336).

    6. Criao de novas vias de recurso

    64. O esgotamento das vias de recurso internas normalmente avaliado em funo do

    estado do processo na data em que a queixa foi depositada junto do Tribunal.

    Contudo, esta regra sofre excees (ver Icyer c. Turquia (dec.), 72 e segs.). Em

    particular, o Tribunal afastou-se desta regra em casos referentes a atrasos de

    processos judiciais, na sequncia de novos meios de recurso (Predil Anstalt c. Itlia

    (dec.); Bottaro c. Itlia (dec.); Andrsik e outros c. Eslovquia (dec.); Nogolica c. Crocia

    (dec.); Brusco c. Itlia (dec.), Korenjak c. Eslovnia *(dec.), 66-71, ou referente a um

    novo meio de recurso de indemnizao por ingerncia no direito de propriedade

    (Charzynski c. Polnia (dec.); Michalak c. Polnia *(dec.) e Demopoulos e outros c.

    Turquia (dec.) [GC]), ou a no execuo de decises internas (Nagovitsine e Nalgev c.

    Russia (dec.), 36-40, ou em matria de sobrelotao prisional (Latak c. Polnia*

    (dec.)).

    O Tribunal toma em conta o carcter efectivo e acessvel dos novos meios de recursos

    que surgiram (Demopoulos e outros c. Turquia (dec.) [GC], 88).

    Sobre um caso em que a nova via de direito no se mostra eficaz no caso concreto

    (Parizov c. A Ex-repblica Jugoslava da Macednia *, 41-47). Sobre um recente

    recurso constitucional eficaz (Cvetkovic c. Srvia *, 41).

    Sobre o momento a partir do qual se torna razovel opor ao requerente uma via de

    recurso recentemente integrada no sistema jurdico de um Estado na sequncia de

    uma nova jurisprudncia: (Depauw c. Blgica (dec.)); e de modo mais geral (Mcfarlane

    c. Irlanda [GC] 117); sobre um novo recurso introduzido depois de um acrdo piloto

    (Fakhretdinov e outros c. Russia* (dec.), 36-44); e sobre uma mudana da

    jurisprudncia nacional (Scordino c. Itlia (n. 1) [GC], 147).

  • 30

    Nos acrdos Scordino c. Itlia (n. 1) [GC] e Cocchiarella c. Itlia [GC] o Tribunal deu

    indicaes quanto s caractersticas que os recursos internos devem apresentar para

    serem efetivos em caso de demora do processo (e mais recentemente Vassilios

    Athanasiou e outros c. Grcia, 54-56). Regra geral, um recurso sem efeito preventivo

    ou compensatrio quanto demora do processo no tem de ser esgotado (Puchstein

    c. Austria*, 31). Um recurso com fundamento na demora do processo, deve, em

    particular, decorrer sem excessivas delongas e fornecer um nvel de reparao

    adequado (Scordino c. Itlia (n. 1) [GC], 195 e 204-207).

    65. Sempre que o Tribunal tenha verificado a existncia de lacunas estruturais ou

    gerais na lei ou na prtica internas, pode pedir ao Estado requerido que examine a

    situao e, se necessrio, adote as medidas efetivas para evitar que casos da mesma

    natureza lhe sejam apresentados (Lukenda c. Eslovnia, 98). O Tribunal pode concluir

    que o Estado deve modificar o tipo de recursos existente, ou criar novos recursos de

    modo a que as violaes dos direitos previstos na Conveno possam ser remediadas

    de forma verdadeiramente efetiva (por exemplo, os acrdos piloto Xenides-Arestis c.

    Turquia, 40, e Bourdov c. Russia (n. 2), 42, 129 e segs., e 140). Deve ser

    concedida uma ateno particular necessidade de garantir recursos internos efetivos

    (ver o acrdo piloto Vassilios Athanasiou e outros c. Grcia, 41).

    Quando o Estado requerido implementou uma via de recurso, o Tribunal assegura-se

    de que esta era efetiva (por exemplo Robert Lesjak c. Eslovnia *, 34-55;

    Demopoulos e outros c. Turquia (dec.) [GC], 87)). Nesse caso, o Tribunal entendeu

    que os autores de queixas anlogas deviam esgotar esta nova via, desde que questes

    de prazo no os impedissem de o fazer. O Tribunal declarou as suas queixas no

    admissveis, nos termos do artigo 35 1, mesmo se apresentadas antes da criao

    desta nova via de recurso, desde que no tivessem sido impedidos em razo do prazo

    (Grzincic c. Eslovnia, 102-110; Icyer c. Turquia (dec.), 74 e segs.).

    Trata-se, pois, de recursos internos que se tornaram disponveis aps a apresentao

    das queixas. A apreciao de circunstncias excecionais que exigem ao requerente o

    esgotamento deste recurso tomar em conta, nomeadamente, a natureza da nova

    regulamentao nacional e o contexto em que esta surgiu (Fakhretdinov e outros c.

    Rssia*, (dec.), 30. Neste caso recente, o Tribunal decidiu que o recurso interno,

    efetivo, - colocado disposio na sequncia de um acrdo piloto do Tribunal de

    Estrasburgo que ordenou a instaurao de um recurso interno efetivo - devia ser

    esgotado antes de se recorrer ao Tribunal.

    O Tribunal precisou tambm as condies de aplicao do artigo 35 1, segundo a

    data de apresentao da queixa (ibidem, 31-33, igualmente Nagovistine e Nalgev c.

    Rssia* (dec.), 4 29 e segs., e tambm 42).

  • 31

    B. Incumprimento do prazo de seis meses

    Artigo 35 1 -Condies de admissibilidade

    1. O Tribunal s pode ser solicitado a conhecer de um assunto

    depois de esgotadas todas as vias de recurso internas, em

    conformidade com os princpios de direito internacional geralmente

    reconhecidos e num prazo de seis meses a contar da data da

    deciso interna definitiva.

    1. Finalidade da regra

    66. A regra dos seis meses tem por finalidade garantir a segurana jurdica e velar para

    que os casos que suscitem questes luz da Conveno sejam examinados num prazo

    razovel, evitando tambm que as autoridades e outras pessoas interessadas fiquem

    durante muito tempo numa situao de incerteza (P.M. c. Reino Unido* (dec.)).

    67. Alm do mais, esta regra faculta ao potencial requerente um prazo de reflexo

    suficiente, que lhe permite ponderar sobre a oportunidade de apresentar a queixa e,

    sendo caso disso, sobre os precisos fundamentos e argumentos a apresentar

    (Oloughlin e outros c. Reino Unido* (dec.)); facilita tambm a fixao dos factos pois,

    com o tempo, tornar-se problemtico examinar de modo equitativo as questes

    suscitadas ( Nee c. Irlanda* (dec.)).

    68. Esta regra marca o limite temporal do controlo efectuado pelo Tribunal e indica

    aos particulares, bem como s autoridades, o perodo alm do qual este controlo j

    no se exerce (Tahsin Ipek c. Turquia * (dec.), Di Giorgio e outros c. Itlia (dec.)).

    69. O Tribunal no pode deixar de aplicar a regra dos seis meses (por exemplo com o

    fundamento de que o governo no deduziu uma exceo preliminar com base nesta

    regra) (Belaousuf e outros c. Grcia, 38).

    70. A regra dos seis meses no exige que o requerente recorra ao Tribunal antes que a

    situao relativa questo em causa tenha sido objeto de uma deciso definitiva ao

    nvel interno (Varnava e outros c. Turquia [GC], 157).

    2. Data em que o prazo de seis meses comea a correr

    a) Deciso definitiva

    71. O prazo de seis meses corre a contar da deciso definitiva no mbito do

    esgotamento das vias de recurso internas (Paul e Audrey Edwards c. Reino Unido *

    (dec)). O interessado deve ter feito um uso normal dos recursos internos que se

  • 32

    mostrem efetivos e suficientes para remediar as suas queixas (Moreira Barbosa c.

    Portugal (dec.)).

    72. Apenas os recursos normais e efetivos podem ser tidos em conta pois o requerente

    no pode estender o estrito prazo imposto pela Conveno, procurando formular

    pedidos inoportunos ou abusivos a instncias ou instituies que no tm o poder ou a

    competncia para conceder, com fundamento na Conveno, uma reparao efetiva

    da violao em causa (Fernie c. Reino Unido * (dec.)).

    73. No se podem levar em conta os recursos cujo exerccio est dependente do poder

    discricionrio de funcionrios e que, por conseguinte, no so diretamente acessveis

    aos requerentes. De igual modo, os recursos que no tm prazos fixos geram incerteza

    e tornam inoperante a regra dos seis meses prevista no art. 35 1 (Williams c. Reino

    Unido * (dec.)).

    74. Em princpio, o artigo 35 1 no exige que se faa uso de um recurso de reviso

    ou de recursos extraordinrios do mesmo tipo e no permite estender o prazo de seis

    meses com o fundamento de que tais vias de recurso foram utilizados (Berdzenichvili c.

    Rssia (dec.); Tucka c. Reino Unido (n. 1)* (dec.)). No entanto, se uma via de recurso

    extraordinrio constitui o nico recurso judicial disposio do interessado, o prazo de

    seis meses pode ser contado a partir da data da deciso deste recurso ( Ahtinen c.

    Finlndia * (dec.)).

    Uma queixa apresentada pelo requerente nos seis meses a seguir deciso que

    rejeitou o seu pedido de reabertura do processo no admissvel, visto que esta

    deciso no uma deciso definitiva (Sapean c. Armnia , 24).

    No caso de reabertura de um processo ou da reviso de uma deciso definitiva, o

    decurso do prazo de seis meses com referncia ao processo inicial ou deciso

    definitiva apenas se interrompe relativamente s questes relativas Conveno, que

    serviram de fundamento reviso ou reabertura e que foram examinadas pelo rgo

    de recurso extraordinrio (Sapean c. Armnia , 24)

    b) Incio do prazo

    75. O perodo de seis meses comea a correr a partir da data em que o requerente

    e/ou o seu representante tiveram conhecimento suficiente da deciso interna

    definitiva (Ko e Tosun c. Turquia (dec.)).

    76. Cabe ao Estado que exceciona o incumprimento do prazo de seis meses indicar a

    data em que o requerente teve conhecimento da deciso interna definitiva (Sahmo c.

    Turquia (dec.)).

    c) Notificao da deciso

  • 33

    77. Ao requerente: sempre que um requerente tem o direito de ser notificado ex

    officio com uma cpia da deciso interna definitiva, mais conforme ao objeto e

    finalidade do artigo 35 1 da Conveno, considerar que o prazo de seis meses

    comea a correr a contar da data da notificao com cpia da deciso (Worm c.

    ustria, 33).

    78. Ao advogado: o prazo de seis meses corre a partir da data em que o advogado do

    requerente teve conhecimento da deciso com que se esgotaram os recursos internos,

    mesmo que o requerente tenha tomado conhecimento desta deciso posteriormente

    (Celik c. Turquia * (dec.)).

    d) Falta de notificao da deciso

    79. Quando a notificao no est prevista no direito interno, convm tomar em

    considerao a data em que a deciso finalizada, data a partir da qual as partes

    podem realmente tomar conhecimento do seu contedo (Papachelas c. Grcia[GC],

    30.

    80. O requerente ou o seu advogado devem fazer prova de diligncia no sentido de

    obterem uma cpia da deciso depositada na secretaria (lmez c. Turquia(dec.)).

    e) Ausncia de recurso

    81. Quando resulta claro, desde logo, que o requerente no dispe de nenhum recurso

    efetivo, o prazo de seis meses inicia-se na data da ocorrncia dos atos ou medidas

    denunciados ou na data em que o interessado deles teve conhecimento ou sofreu os

    seus efeitos ou

    o prejuzo (Dennis e outros c. Reino Unido* (dec.); Varnava e outros c. Turquia[GC],

    157).

    82. Quando o requerente utiliza um recurso aparentemente disponvel e s mais tarde

    se d conta de circunstncias que o tornam no efetivo, pode ser adequado contar

    como inicio do prazo de seis meses, a data na qual o requerente teve ou deveria ter

    tido, pela primeira vez, conhecimento desta situao (Varnava e outros c. Turquia [GC],

    158).

    f) Contagem do prazo

    83. O prazo comea a correr no dia seguinte ao da leitura da deciso interna definitiva

    ou, na falta desta leitura, no dia seguinte quele em que foi levada ao conhecimento

    do requerente ou do seu representante, e expira seis meses de calendrio aps, seja

    qual for a verdadeira durao destes meses (Otto c. Alemanha (dec.)). O cumprimento

    do prazo de seis meses opera segundo critrios prprios da Conveno, e no em

    funo das modalidades previstas, por exemplo, no direito interno de cada Estado

  • 34

    requerido (Benet Praha, spol. s.r.o. c. Repblica Checa* (dec.); Bykdere e outros c.

    Turquia, 10).

    84. O Tribunal pode fixar a expirao do prazo de seis meses, numa data que diverge

    da indicada pelo Estado requerido (Ipek c. Turquia* (dec.)).

    g) Situao contnua

    85. O conceito de situao contnua designa um estado de coisas que resulta de

    aes contnuas cometidas pelo Estado ou em seu nome, de que os requerentes so

    vtimas. O facto de um acontecimento ter consequncias importantes prolongadas no

    tempo no significa que esteja na origem de uma situao contnua(Iordache c.

    Romnia, 49).

    86. Quando a violao alegada constitui uma situao contnua contra a qual no

    existe nenhum recurso na lei interna, o prazo de seis meses comea a correr a partir

    do momento em que esta situao contnua findou (lke c. Turquia (dec.)). Enquanto

    perdura, a regra dos seis meses no tem aplicao (Iordache c. Romnia), 50. Ver

    igualmente Varnava e outros c. Turquia [GC], 161 e segs.

    3. Data da apresentao da queixa2

    a) Primeira comunicao

    87. Segundo a prtica estabelecida pelos rgos da Conveno e o artigo 47 5 do

    Regulamento do Tribunal, a queixa , regra geral, considerada como apresentada na

    data da primeira comunicao do requerente, expondo ainda que sumariamente o

    seu objeto, desde que um formulrio de queixa devidamente preenchido tenha sido

    apresentado nos prazos fixados pelo Tribunal (Kemevuako c. Pases-Baixos*(dec.)).

    88. o carimbo do correio que faz f, e no o carimbo de receo aposto na queixa:

    Kipritci c. Turquia, 18. Sobre circunstncias particulares que podem justificar uma

    abordagem diferente: Bulinwar OOD e Hrusanov c. Bulgria, 30 e segs.

    b) Diferena entre a data de redao e a data de expedio

    89. Na falta de explicaes sobre o intervalo de mais de um dia entre a data na qual a

    carta foi escrita e a data na qual foi enviada pelo correio, esta ltima que deve ser

    considerada a data de apresentao da queixa (Arslan c. Turquia (dec.); Ruzickov c.

    Repblica Checa (dec.)).

    2 Ver o regulamento do Tribunal e a instruo prtica sobre a apresentao da instncia.

  • 35

    Esta regra vale tambm para o envio do original do formulrio de queixa, no prazo

    exigido de oito semanas: Kemevuako c. Pases-Baixos* (dec.), 24, e sobre uma

    expedio por telecpia: Otto c. Alemanha (dec.).

    c) Envio por telecpia

    90. No suficiente a simples expedio por telecpia do formulrio de queixa, sem

    envio do original ao Tribunal dentro do prazo exigido: Kemevuako c. Pases-Baixos*

    (dec.), 22 e segs.

    d) Prazo aps a primeira comunicao

    91. Seria contrrio ao esprito e finalidade da regra dos seis meses, considerar que,

    por meio de qualquer comunicao inicial, um requerente pudesse desencadear o

    processo previsto na Conveno e permanecer em seguida inativo por um perodo de

    tempo inexplicado e indeterminado. Os requerentes devem, pois, dar seguimento

    sua queixa com uma diligncia razovel depois do primeiro contacto, seja ele qual for

    (P.M. c. Reino Unido *(dec.)).Na falta de observncia do prazo de oito semanas

    concedido (cfr. o artigo 47 5 do Regulamento do Tribunal e o pargrafo 4 da

    instruo prtica sobre a abertura da instncia) a data da apresentao ser a da

    submisso do formulrio de queixa completo (Kemevuako c. Pases-Baixos * (dec.),

    22 a 24).

    e) Qualificao da queixa

    92. A queixa caracteriza-se pelos factos que denuncia e no pelos simples

    fundamentos ou argumentos de direito invocados (Scoppola c. Itlia (n. 2) [GC], 54).

    f) Fundamentos de queixa (griefs) posteriores

    93. No que respeita aos fundamentos de queixa no contidos na queixa inicial, o

    decurso do prazo de seis meses s interrompido na data em que tal fundamento

    apresentado pela primeira vez a um rgo da Conveno (Allan c. Reino Unido *

    (dec.)).

    94. Os fundamentos de queixa invocados aps a expirao do prazo de seis meses s

    podem ser examinadas se respeitarem a aspectos especficos dos invocados dentro do

    prazo (Parquia Greco Catlica Smbata Bihor c. Romnia* (dec.)).

    95. O simples facto de um requerente ter invocado o artigo 6 na sua queixa no basta

    para apresentar posteriormente todos os fundamentos de queixa no mbito desta

    disposio, quando no foi dada inicialmente nenhuma indicao quanto base

    factual e natureza da violao alegada (Allan c. Reino Unido * (dec.); Adam e outros c.

    Alemanha * (dec.)).

  • 36

    96. A apresentao de documentos do processo interno no suficiente para

    constituir apresentao de todos os fundamentos de queixa posteriores baseados

    nesse processo. pelo menos necessria uma indicao sumria da natureza da

    violao alegada luz da Conveno para apresentar um fundamento de queixa e

    interromper o decurso do prazo de seis meses (Bozinovski c. A Ex-Repblica Jugoslava

    da Macednia * (dec.)).

    4. Exemplos

    a) Aplicabilidade dos constrangimentos de prazo obrigao processual

    decorrente do artigo 2 da Conveno

    97. Em caso de morte, os entes prximos, requerentes devem providenciar para

    estarem a par do andamento do inqurito, ou do seu no andamento, e apresentar as

    queixas com a necessria celeridade a partir do momento em que sabem, ou deveriam

    saber, que no est a ser conduzido nenhum inqurito penal efetivo ***(Varnava e

    outros c. Turquia [GC], 158 e 162).

    98. Nos casos de desaparecimento, indispensvel que os entes prximos da pessoa

    desaparecida, que pretendem queixar-se em Estrasburgo por falta de efetividade de

    inqurito ou por ausncia do inqurito, no demorem indevidamente a apresentar no

    Tribunal a sua queixa. Em matria de desaparecimentos, os requerentes no podem

    esperar indefinidamente para recorrerem ao Tribunal. Devem fazer prova de diligncia

    e de iniciativa e apresentar as queixas sem excessiva demora (Varnava e outros c.

    Turquia [GC], 165, e sobre o prazo 162 166).

    b) Condies de aplicao do prazo de seis meses nos processos relativos a

    perodos de deteno mltiplos luz do artigo 5 3 da Conveno

    99. Os perodos de deteno mltiplos e consecutivos devem ser considerados como

    um todo, s comeando o prazo de seis meses a correr a partir do fim do ltimo

    perodo de deteno (Solmaz c. Turquia, 36).

  • 37

    C. Queixa annima

    Artigo 35 2 a) -Condies de admissibilidade

    O Tribunal no conhecer de qualquer petio individual formulada

    em aplicao do disposto no artigo 34 se tal petio:

    a) For annima; ()3.

    1. Carcter annimo de uma queixa

    100. Uma queixa perante o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem considerada

    annima quando o respetivo dossier no indicar qualquer elemento que permita ao

    Tribunal a identificao do requerente: Blondje c. Pases Baixos * (dec.); nenhum dos

    formulrios e documentos apresentados contm uma meno ao nome, apenas uma

    referncia e a indicao de alias, e a procurao ao representante est assinada

    X: a identidade do requerente no est indicada.

    101. Foi considerada annima uma queixa apresentada por uma associao em nome

    de pessoas no identificadas, em que esta associao no se considerava ela prpria

    vtima e se queixava de uma violao do direito ao respeito da vida privada desses

    particulares no identificados, sendo estes os requerentes que a associao declarava

    representar: Confederao dos sindicatos mdicos franceses e federao nacional dos

    enfermeiros c. Frana (dec.).

    2. Carcter no annimo de uma queixa

    102. No annimo um formulrio de queixa no assinado contendo todos os

    detalhes pessoais que permitem dissipar qualquer dvida sobre a identidade do

    requerente, seguido de uma correspondncia devidamente assinada pelo

    representante do requerente: Kouznetsova c. Rssia * (dec.).

    103. Queixa apresentada com indicao de nomes fictcios: caso de indivduos que

    utilizavam pseudnimos, explicando ao Tribunal que o contexto de um conflito armado

    os obrigava a no revelar os seus nomes verdadeiros, de modo a proteger as suas

    famlias e os seus entes prximos. Entendendo que por detrs das tticas de

    ocultao das verdadeiras identidades por razes que se podem compreender,

    encontram-se pessoas reais, concretas e identificveis por um nmero suficiente de

    indcios, que no os nomes () e a existncia de um nexo suficientemente estreito

    entre os requerentes e os acontecimentos em causa, o Tribunal no considerou que a

    3 A queixa annima no sentido do artigo 35, 2 a) da Conveno distingue-se da questo da no

    divulgao da identidade de um requerente em derrogao da regra normal da publicidade do processo diante do Tribunal, e da questo da confidencialidade diante do tribunal (cfr. artigos 33 e 47 3 do regulamento do tribunal e as instrues prticas em anexo).

  • 38

    queixa fosse annima: Chamaev e outros c. Gergia e Rssia (dec.). Ver tambm,

    Chamaev e outros c. Gergia e Rssia 275.

    104. Uma queixa apresentada por um rgo eclesistico ou uma associao de fins

    religiosos e filosficos que no revelava a identidade dos membros, no foi rejeitada

    como sendo annima (artigos 9, 10 e 11 da Conveno): Omkarananda e o Divine

    Light Zentrum c. Suia (dec.).

    D. Queixa redundante

    Artigo 35 2 b)

    2. O Tribunal no conhecer de qualquer petio individual

    formulada em aplicao do disposto no artigo 34, se tal petio:

    ()

    a) For, no essencial, idntica a uma petio anteriormente

    examinada pelo Tribunal ()4.

    105. Uma queixa considerada como sendo essencialmente a mesma quando as

    partes, os fundamentos e os factos so idnticos: Pauger c. ustria (dec.); Verein

    gegen Tierfabriken Schweiz (VgT) c. Suia (n. 2) [GC], 63.

    Quando se verifica esta identidade, a queixa declarada inadmissvel.

    1. A identidade dos requerentes

    106. Queixas com o mesmo objeto mas apresentadas, conjuntamente, por pessoas

    singulares que tinham recorrido ao Tribunal, e, por uma associao que tinha

    apresentado uma comunicao ao Comit dos Direitos do Homem da ONU, no

    podem ser consideradas como apresentadas pelos mesmos autores: (Folgero e outros

    c. Noruega (dec.). Ou, uma comunicao apresentada ao Alto Comissrio para os

    Direitos do Homem das Naes Unidas, por uma ONG e no pelos requerentes: Celniku

    c. Grcia, 36 a 41. O mesmo sucede com um pedido apresentado diante do Grupo

    de Trabalho sobre Deteno Arbitrria por uma ONG e um pedido apresentado pelos

    requerentes: Iliu e outros c. Blgica (dec.).

    107. Uma queixa interestadual apresentada por um Governo no priva um particular

    da possibilidade de apresentar ou de fazer valer as suas prprias queixas: Varnava e

    outros c. Turquia [GC], 118.

    4 Esta disposio constava precedentemente sob o artigo 27.

  • 39

    2. A identidade dos fundamentos de queixa

    108. A noo de fundamento da queixa define-se pelo objeto ou pelo fundamento

    jurdico do pedido.

    Caracteriza-se pelos factos denunciados e no pelas simples razes de facto ou de

    direito invocados: Guerra e outros c. Itlia, 44, Scoppola c. Itlia (n. 2)[GC], 54,

    Previti c. Itlia (dec.), 293.

    109. A anlise do Tribunal faz-se por cada fundamento da queixa.

    Apenas os fundamentos da queixa que so essencialmente os mesmos que os

    examinados numa outra queixa sero rejeitados com base no artigo 35 2: Dinc c.

    Turquia (dec.).

    110. Quando o requerente insiste em fundamentos que j apresentara numa queixa

    anterior, a queixa em questo ser declarada inadmissvel: X. c. Repblica Federal da

    Alemanha (dec.); Duclos c. Frana (dec.); Clinique Mozart Sarl c. Frana (dec.); Rupa c.

    Romnia (dec.), 52; Coscodar c. Romnia (dec.), 27).

    111. Se uma nova queixa respeita ao mesmo prdio, embora a outra fraco e a outro

    inquilino, e se a questo de fundo essencialmente a mesma que a de um caso

    precedente que foi declarado inadmissvel, esta nova queixa, formulada pelo mesmo

    requerente e que repete os motivos anteriormente formulados sem trazer elementos

    novos, essencialmente a mesma que a queixa inicial e , assim, inadmissvel (X. c.

    Repblica Federal da Alemanha (dec.)).

    112. Assim, as queixas no so substancialmente as mesmas quando respeitam a:

    -um litgio relativo s condies de deteno do requerente que distinto do

    litigio relativo sua condenao pelo Tribunal de Segurana do Estado e do litigio

    relativo perda de mandato de deputados na sequncia da dissoluo do

    partido a que pertenciam ( Sadak c. Turquia, 32-33);

    -um litgio relativo s condies de deteno e condenao do requerente pelo

    Tribunal de Segurana do Estado que distinto do litgio relativo s condies de

    perda de mandato dos deputados (Yurttas c. Turquia, 36-37).

    113. Compete ao Tribunal a qualificao jurdica dos factos no estando vinculado pela

    qualificao que feita pelos requerentes ou pelos Governos. Por consequncia, uma

    queixa que visa o reexame, sob o ngulo de outras disposies da Conveno, dos

    factos que estavam na origem de uma outra queixa, respeita ao mesmo fundamento

    de queixa e deve, por isso, ser rejeitada por inadmissibilidade (Previti c. Itlia (dec.),

    293-294).

  • 40

    3. A identidade dos factos

    114. A identidade do fundamento de queixa no , em si s, obstculo

    admissibilidade da queixa se for acompanhada por factos novos.

    115. Quando o requerente apresenta factos novos, a queixa no ser essencialmente a

    mesma que a queixa precedente (Chappex c. Suia (dec.); Patera c. Repblica Checa

    (dec.)) (as queixas incidentes sobre factos j invocados diante de outra instncia

    internacional so inadmissveis; em contrapartida, os factos posteriores, novos, so

    admissveis).

    116. No caso contrrio, a queixa ser declarada inadmissvel: Hokkanen c. Finlndia*

    (dec.); Adesina c. Frana* (dec.); Bernadet c. Frana (dec.); Gennari c. Itlia (dec.);

    Manuel c. Portugal (dec.).

    E. Queixa j apresentada perante uma outra instncia

    internacional

    Artigo 35 2 b) Condies de admissibilidade

    2. O Tribunal no conhecer de qualquer petio individual formulada em

    aplicao do disposto no artigo 34, se tal petio:

    ()

    b) For, no essencial, idntica a uma petio anteriormente examinada pelo

    tribunal ou j submetida a outra instncia internacional de inqurito ou de

    deciso e no contiver factos novos.

    117. A finalidade desta disposio consiste em evitar a pluralidade de processos

    internacionais sobre os mesmos casos.

    118. As condies de admissibilidade previstas por esta alnea so cumulativas:

    - a queixa no deve ser essencialmente a mesma que uma outra, ou seja, no

    de