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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO (UFMT) FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA E EXTENSÃO RURAL APOSTILA PISCICULTURA PROF. NICOLAU ELIAS NETO CUIABÁ/MT 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO (UFMT) FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA E EXTENSÃO RURAL

APOSTILA PISCICULTURA

PROF. NICOLAU ELIAS NETO

CUIABÁ/MT 2008

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ÍNDICE

CAPÍTULO 1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PEIXES 1. Características gerais ......................................................................................... ............. .. 4

CAPÍTULO 2 - ASPECTOS DE ENGENHARIA 1. Construção de benfeitorias em piscicultura ....................................................................... .. 7 2. Detalhes de construção dos viveiros e tanques .................................................................. 12 3. Classificações das instalações segundo sua finalidade ...................................................... 14 4. Infra-estrutura da piscigranja ............................................................................................. 15 5. Alteração biológica da água ............................................................................................... 16 6. Tipos de cultivos ................................................................................................................ 17 7. Tipos de exploração ........................................................................................................... 18 8. Consorciamento.................................................................................................................. 19

CAPÍTULO 3 - REPRODUÇÃO DE PEIXES

1. Introdução........................................................................................................................... 22 2. Definições básicas .............................................................................................................. 22 3. Reprodução: um evento cíclico .......................................................................................... 22 4. Reprodução induzida.......................................................................................................... 23 5. Origem do plantel de reprodutores..................................................................................... 23 6. Biologia reprodutiva dos peixes......................................................................................... 24 7. Mecanismo endócrino da reprodução ................................................................................ 24 8. Idade para reprodução ........................................................................................................ 24 9. Época de reprodução .......................................................................................................... 25 10. Hipofisação....................................................................................................................... 25 11. Administração do hormônio............................................................................................. 26 12. Hora-grau ......................................................................................................................... 26 13. Extrusão e fecundação...................................................................................................... 27 14. Coleta e produção das hipófises ....................................................................................... 27 15. Incubação dos ovos .......................................................................................................... 31 16. Transporte das pós-larvas para os viveiros ...................................................................... 31 17. Alimentação das pós-larvas.............................................................................................. 32 18. Esquema de laboratório e incubadora .............................................................................. 33

CAPÍTULO 4 - QUALIDADE DE ÁGUA E MANEJO EM PISCICULTURA

1. Oxigênio dissolvido............................................................................................................ 35 2. Constituintes da água dos viveiros ..................................................................................... 38 3. Variações hidrológicas ....................................................................................................... 38 4. Comunidades planctônicas ................................................................................................. 43 5. Preparação do viveiro......................................................................................................... 46 6. Algumas observações importantes ..................................................................................... 49 7. Cuidados com a fertilização química e orgânica................................................................ 50

CAPÍTULO 5- SELEÇÃO DE ESPÉCIES PARA PISCICULTURA 1. Seleção de espécies para piscicultura................................................................................. 52 2. Principais espécies nativas de peixes cultivadas no Brasil ................................................ 52

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3. Outras espécies nativas de importância econômica ........................................................... 61 4. Espécies exóticas para piscicultura .................................................................................... 62

CAPÍTULO 6 - A DESPESCA E PRINCIPAIS DOENÇAS EM PISCICULTURA 1. A despesca.......................................................................................................................... 66 2. Doenças não-infecciosas .................................................................................................... 67 3. As principais doenças......................................................................................................... 68

CAPÍTULO 7 - O CULTIVO DE PEIXES EM TANQUES-REDE

1. Introdução........................................................................................................................... 71 2. O sistema de produção ....................................................................................................... 71 3. Tanques-rede e gaiolas ....................................................................................................... 72 4. Fatores que afetam a produtividade em tanques-rede (TR) .............................................. 72 5. Aspectos construtivos dos tanques- rede e gaiolas............................................................. 77 6. O planejamento da produção em tanques-rede .................................................................. 83 7. Capacidade de suporte de pequenas represas e açudes com tanques-rede ......................... 84

ANEXO ........................................................................................................................................ 86

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CAPÍTULO 1

CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PEIXES

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1. CARACTERÍSTICAS GERAIS São vertebrados aquáticos de respiração branquial e incapazes de regular a temperatura

corporal (pecilotérmicos). São anatômica e fisiologicamente mais simples que os vertebrados superiores, são muito mais especializados e diversificados, apresentando inúmeras adaptações reprodutivas, alimentares e morfológicas que os capacitam a ocupar todos os nichos ecológicos que o meio aquático apresenta.

Pela facilidade de realizarem trocas gasosas com o meio, os peixes apresentam aproveitamento ótimo da energia consumida como alimento. Também pelo fato de não despenderem energia para regular a temperatura corporal (homeostase térmica) e pouca energia para se locomoverem, sua conversão alimentar é altamente eficiente.

Seu formato afilado e fusiforme é uma característica presente maioria das espécies. Isto se deve às limitações impostas pelo meio em que vive, pois a água é cerca de 800 vezes mais densa do que o ar. O corpo apresenta simetria bilateral, é recoberto por escamas e por uma camada de muco recobrindo todo o corpo. A pele é contínua até mesmo sobre os olhos e tem função protetora e apresenta vários órgãos anexos: as escamas; os cromatóforos ou células pigmentosas; os fotóforos ou órgãos luminescentes e várias glândulas secretoras de muco ou de substâncias irritantes de função defensiva.

A linha lateral funciona como órgão tátil dos peixes e é por ela que os peixes percebem as mudanças de temperatura, salinidade, sons, etc. As nadadeiras são os apêndices locomotores dos peixes. O meio onde vivem facilita a sua locomoção pela força de empuxo da água, que mesmo reduzindo a velocidade de locomoção, facilita a natação e a flutuação, diminuindo o dispêndio de energia e facilitando a locomoção por movimentos ondulatórios corporais e agitação das nadadeiras. As nadadeiras dividem-se em pares: (ventrais e peitorais) e ímpares (anal, caudal, dorsal e adiposa) (Figura 1).

A respiração é propiciada pela água que entra pela boca, passa pelas guelras, onde são feitas as trocas gasosas - retirada do oxigênio e excreção do gás carbônico que sai pelas fendas atrás dos opérculos. A absorção do oxigênio é difícil porque sua concentração na água é muito menor que no ar. Entretanto podem utilizar até 60% do oxigênio absorvido, em contraste com os mamíferos que utilizam apenas 20%. As guelras também têm a função de retirar sais minerais da água e expelir a amônia.

O sistema circulatório dos peixes é simples, o fluxo sanguíneo é unidirecional. O coração tem cavidades simples que conduzem apenas sangue venoso, que ao passar pelas brânquias se torna arterial. Os peixes também apresentam orifícios, sendo os orifícios do trato digestivo: boca, fendas branquiais e ânus; e os orifícios relacionados com os órgãos dos sentidos: as fossas oculares, as narinas e os poros da linha lateral.

O trato digestivo apresenta boca, esôfago, estômago, intestino anterior, intestino médio, intestino posterior ou grosso e ânus. O sistema excretor é simplificado com apenas um rim, disposto longitudinalmente no corpo, abaixo da coluna vertebral. Esse rim comunica-se com o poro uro-genital por onde é eliminada a urina, que é praticamente isenta de metabólitos nitrogenados, possibilitando, assim, aos peixes grande economia de energia. É através do poro uro-genital que os peixes eliminam os ovos e espermatozóides nas épocas de reprodução das espécies.

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Figura 1: Parâmetros morfométricos (A) e figuras anátomo-morfológicas externas (B) do corpo dos peixes.

A

B

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CAPÍTULO 2

ASPECTOS DE ENGENHARIA

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1. CONSTRUÇÃO DE BENFEITORIAS EM PISCICULTURA A piscicultura é uma parte da aqüicultura e pode ser praticada em tanques, viveiros,

açudes, gaiolas ou tanques redes e balsas, no sistema “raceways”, em canais, aquários, etc. A construção adequada de tanques e viveiros é de vital importância para o manejo dos

peixes e, conseqüentemente, para o aumento da produtividade. Para iniciar um projeto de piscicultura e ter sucesso na atividade é necessário estar atento às condições de implantação, as quais dependem fundamentalmente dos seguintes fatores:

• Topografia do terreno • Tipo de solo • Avaliação da qualidade e quantidade da água. • Proximidade de mercado consumidor com capacidade de absorver a produção • Facilidade de acesso ao local • Dados meteorológicos • Condições climáticas ideais para o cultivo das espécies • Manejo a ser adotado • Infra-estrutura básica.

Todos estes dados irão influenciar no processo construtivo, no tamanho da exploração e nos custos de implantação. 1.1. Topografia do terreno Como as modernas técnicas de engenharia permitem a construção em quase todos os tipos de terrenos, devemos dar preferência aos terrenos planos ou com declividade suave (5%) que permitam a construção de tanques com a mínima movimentação de terra, assim como, o abastecimento e escoamento por gravidade, que irá baratear os custos de construção e operacionalização do projeto.

É a topografia que determinará o volume de terra a ser movimentada. Quanto maior o declive do terreno, maior será a movimentação de terra e mais alto será o custo de construção dos viveiros, mas será menor a superfície de terra a ser inundada.

Deve-se observar a distância da tomada de água e a cota mais elevada da área dos tanques, de modo a permitir o abastecimento d’água através da gravidade.

Assim, antes da tomada de decisão, deve-se efetuar o planejamento de todas as etapas a cumprir. Portanto, deveremos ter em mãos:

• declividade do terreno; • diferença de nível existente nos diversos pontos do viveiro; • curvas de nível do terreno, marcadas metro a metro; • linhas e ângulos de contorno da área;

Estes fatores determinarão a disposição, número de tanques e forma dos viveiros. Nunca devemos esquecer que a maior dimensão dos tanques (comprimento, nos tanques retangulares) seja paralela às curvas de nível do terreno para propiciar uma maior economia no trabalho de terraplanagem. 1.2. Tipo de solo

Os melhores solos para piscicultura são os semipermeáveis (intermediários entre o arenoso e o argiloso). Os solos arenosos e turfosos são permeáveis, não sendo indicados quando se dispõem de pouca quantidade de água. Os solos muito argilosos racham quando esses são

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completamente esgotados, devido às características de expansibilidade das argilas quando perdem água.

Quanto aos aspectos de fertilidade, é recomendável a escolha dos solos com fertilidade moderada, principalmente quanto aos teores de N e P, que são os nutrientes necessários à produção primária, ou seja, formação do plâncton. Os solos de estrutura mediana, também favorecem no trabalho de escavação e compactação das paredes e do fundo dos tanques, evitando assim a infiltração excessiva de água.

É recomendável uma sondagem do subsolo, a fim de evitar a construção de tanques em solos arenosos, pedregosos ou turfosos ou sob grandes formigueiros, sendo esses solos pouco produtivos e muito permeáveis. Em termos gerais, os solos apropriados para projetos de piscicultura deverão ter o teor de argila acima de 30% e o de areia abaixo de 50%. Valores fora desses limites tendem a tornar o projeto inviável.

Obs. Um solo é considerado impermeável quando tiver níveis de infiltração entre 6 a 7 mm de água/dia. 1.3. Quantidade e qualidade de água

A piscicultura demanda água de qualidade e de quantidade abundante. As melhores águas são a de poços profundos (artesianos), pois apresentam pouca variação em relação às épocas do ano, são isentas de predadores, patógenos, peixes invasores, agrotóxicos e poluentes. Sua grande desvantagem é o custo da construção, perfuração, bombeamento e da vazão que na maioria das vezes são insuficientes. Além disso, estas águas profundas possuem oxigênio muito baixo e gás carbônico e nitrogênio a níveis muito elevados. Por isso essas águas devem receber um tratamento especial quando forem utilizadas em piscicultura, principalmente no que se refere à sua oxigenação, devendo a mesma ser armazenada antes de ir aos tanques ou viveiros em depósitos com grande superfície de área onde receberão oxigênio naturalmente ou com o auxílio de aeradores. Também devem ser abastecidas aos tanques a uma altura que favoreça a sua oxigenação pela queda brusca da água. Por outro lado devido à sua facilidade de obtenção, baixo custo e manejo mais simples, as águas superficiais de fontes, como rios e riachos são as mais utilizadas, desde que sejam limpas, perenes e sem contaminantes.

Se possível as águas de abastecimento dos viveiros devem ter a sua nascente dentro da propriedade, por permitir o completo acompanhamento de suas características naturais. Caso isso não seja possível devemos evitar as águas que margeiam lavouras que usam constantemente produtos químicos, bem como as águas que recebem dejetos industriais ou residenciais, cujos contaminantes podem levar ao fracasso qualquer sucesso esperado em piscicultura.

Os teores de oxigênio disponível (OD) devem estar em torno de 6,0 mg/l ou mais. O pH deve estar de neutro a alcalino, ideal para o crescimento das comunidades planctônicas como para as necessidades das espécies a serem cultivadas. As águas alcalinas são as mais produtivas. A água ou o solo do viveiro com pH abaixo de 6,0 deverão ser necessariamente corrigidos.

A quantidade de água deverá ser o suficiente para permitir a reposição das perdas por evaporação, infiltração e renovação dos tanques. Os levantamentos da capacidade de abastecimento deverão ser feitas nas épocas mais críticas do ano, ou seja, no período seco.

Em piscicultura semi-intensiva, recomenda-se que além de repor as perdas diárias, a vazão necessária seja suficiente para renovar de 10 a 15% do volume dos tanques por dia. Para a piscicultura intensiva é necessário que a água alcance um fluxo de 1,0 l/min/ kg de peixe em estoque. Já para a piscicultura extensiva recomenda-se que a vazão da água reponha as perdas diárias de evaporação e infiltração. A vazão mínima necessária deverá ser em torno de 10 litros/s/ha de lâmina d’água.

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Em nossas condições de clima tropical as perdas de água por evaporação e infiltração chegam ser de 2 a 3 cm/dia de lâmina d’água, perdas essas a serem consideradas para efeitos de cálculo da vazão necessária.

O volume de água necessário é calculado em função da área e da profundidade do viveiro, nunca se esquecendo de acrescentar as perdas por evaporação, infiltração e renovação. 1.4. Proximidade do mercado consumidor

Sabemos que a carne de peixe apresenta perdas do seu valor protéico e deterioração bastante acelerada. Assim, centros consumidores próximos às granjas piscícolas são interessantes, pelo fato de fornecerem um produto de qualidade ao consumidor, que geralmente tem preferência pelo peixe fresco. Longas distâncias e vias de acesso ruins são empecilhos graves a serem vencidos pelo criador e que às vezes impede o sucesso da criação. Além desses fatores há de se correlacionar a capacidade de consumo de pescado na região. 1.5. Dados meteorológicos

É de suma importância conhecer os fatores climáticos que influenciarão diretamente o criatório, para se tomar medidas preventivas, tanto de manejo como de construção das benfeitorias em piscicultura.

Registros anteriores de precipitação, temperaturas médias, insolação, ventos dominantes, etc. devem ser levantados por um período longo de tempo (em torno de 50 anos), principalmente dados de enchentes e estiagens prolongadas. Consultas às estações meteorológicas locais e com moradores mais velhos da região são recomendados neste processo.

As medidas de vazão dos cursos d’água a serem utilizadas para abastecimento deverão ser feitas, nos períodos mais secos do ano, para não se incorrer em erros futuros e vir a ter problemas de abastecimento dos tanques, e aí tendo que se lançar mão de outros artifícios como bombeamento, que é bastante oneroso e a venda dos peixes fora do tamanho e peso ideal, caso a vir a ter problemas com a falta de água.

As condições climáticas correlacionadas com as espécies a serem criadas, também serão analisadas. A temperatura da água influencia em todos os aspectos da vida dos peixes (crescimento, desova, alimentação, respiração, etc.) na quantidade de oxigênio dissolvido no meio e na ação tóxica de certos compostos. Em nossas condições tropicais, temos grandes quantidades de espécies nativas, adaptadas ao clima, que também é favorável à atividade em questão.

São consideradas frias as águas cujo limite de temperatura está em torno de 20ºC. Espécies como a truta e os salmões se adaptam muito bem às essas faixas térmicas. Já as águas quentes seriam aquelas cujas temperaturas ótimas para o crescimento dos peixes está em torno de 25 a 32ºC. Importante lembrar que quanto menor for a variação da temperatura durante o dia, melhor será o ambiente para os peixes. 1.6. Manejo a ser adotado

Está diretamente ligado à escolha da espécie a ser cultivada, sendo que este fator deve interagir com os demais, como a quantidade e qualidade de água, oxigênio disponível, temperatura, mercado consumidor, condições topográficas, para se chegar a um resultado comum. Sabemos que o potencial de número de espécies a ser trabalhado é grande, mas, a pesquisa em piscicultura é recente e a opção de escolha sempre tem recaído com o que se tem disponível em termos de tecnologia de produção, cujo processo é dominado pelos órgãos de pesquisa e por criadores mais tecnificados.

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1.7. Infra-estrutura

A infra-estrutura básica deve ser favorável no processo de levantamento de dados preliminares para elaboração do projeto de piscicultura. Deve ser observada a disponibilidade de energia elétrica e se essa energia é constante ou não (geralmente é inconstante no meio rural), devendo neste sentido providenciar a instalação de um grupo gerador de reserva com capacidade para suportar as necessidades mais urgentes como: aeradores, freezers, incubadoras, iluminação de emergência, etc. As condições de estradas, pontes, fornecedores de insumos, alevinos, assistência técnica, equipamentos, oficina, também deverão ser diagnosticadas. 1.8. Construção de tanques, viveiros e açudes

São construções diferenciadas sendo: VIVEIROS- são reservatórios construídos em terreno natural dotados de sistemas de

abastecimento e de drenagem. Estruturalmente são divididos em viveiros de barragem (açudes), viveiros de derivação e viveiros sem derivação de cursos d’água.

a) Açudes - são construídos a partir de um dique ou barragem, capaz de interceptar um curso de água. Também poderão ser feitas represas maiores com a finalidade de acumular água para abastecimento dos viveiros e tanques.

A barragem contará com alguns cuidados para poder cumprir sua finalidade. Deverá ter a forma de um trapézio, com a crista horizontal, medindo, no mínimo, 3,0 m de largura. Sua base deve ter, para cada metro de altura do dique acima de 1,0 m, mais 0,30 m na largura da crista. Essa altura está correlacionada com o volume de água a ser estocado. As paredes externas e internas da barragem, chamadas taludes devem ser chanfradas, sendo o talude interno com inclinação menor 1:1,5 e o talude externo com inclinação de 1:2,5 em relação à altura do dique. Os dois modelos de cálculo são aceitos existindo variantes quanto ás dimensões externas e internas dos taludes, havendo controvérsias, alguns autores recomendam o talude interno com inclinação maior que o externo, ou com a mesma inclinação. Para solos pouco argilosos e de infiltração um pouco acentuada é recomendado a construção de um núcleo central de argila, com 1,0 metro de largura e até 60,0 cm abaixo do nível do solo, com forma de um canal. A barragem é construída com sucessivas camadas de 10 a 20 cm de solo muito bem compactado.

A altura da barragem deve ultrapassar cerca de 80 cm acima da altura da lâmina d’água da represa e do ladrão, como medida de segurança em épocas de chuvas. O ladrão ou sangradouro poderá ser de vários materiais, PVC, cimento, ferro ou mesmo manilhas de barro queimado. Deverá ser colocado à altura do nível da água que se quer manter na represa ou açude. O sangradouro deve ter capacidade para escoar o volume de água igual ao da maior precipitação ocorrida nos últimos cinqüenta anos. Na construção de açudes deve-se inicialmente retirar as árvores, arbustos, pedras, troncos, de modo a dar condições da despesca com redes de arrasto e tarrafas. O nivelamento do fundo permite uma melhor despesca com a rede de arrasto e evita a formação de poças d’água quando da drenagem do mesmo. Vantagens dos açudes: baixo custo de construção por aproveitar os pequenos vales para a sua alocação. Desvantagens: não se tem um controle efetivo da qualidade da água; risco constante de rompimento na ocorrência de chuvas muito fortes; dificuldade de manejo (adubação, alimentação artificial e principalmente das despescas); às vezes pode restringir só ao cultivo de espécies pouco exigentes em oxigênio, devido à pequena taxa de renovação de água.

b) Viveiros de derivação - são construídos em terrenos que apresentam grande declividade ao longo do curso de água (declive longitudinal), e em pontos onde é fraco o declive transversal do terreno. Tanto o abastecimento quanto a drenagem são feitos por canais ou

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tubulações. Os taludes devem ser construídos com inclinação de 45º. As principais vantagens são: facilidade no manejo e o controle de entrada e saída do fluxo de água. Desvantagens: custo mais alto de construção.

c) Viveiros sem derivação do curso de água: são construídos com barragens sucessivas no curso d’água. O custo é relativamente baixo, mas tem o inconveniente de não se controlar a água que passa de um viveiro para outro e o esvaziamento de um dependerá do esvaziamento do outro. Recomenda-se que a água de um viveiro passe ao outro de sua parte mais superficial possível, possibilitando menos sujeiras e maior oxigenação. Vantagens: baixo custo de construção. Desvantagens: não renova completamente a água, limita à peixes resistentes a baixos teores de oxigênio disponível, difícil esvaziamento dos viveiros.

TANQUES - são benfeitorias cuja característica básica reside no fato de serem revestidos (alvenaria, pedra, tijolos ou concreto). Esse revestimento pode ser total ou parcial (apenas as paredes laterais). São recomendados para terrenos arenosos, pedregosos ou para a larvicultura, incluindo o cultivo do microrganismo alimento. São de custo mais alto, mas, apresentam alta produtividade. Suas paredes podem ser verticais ou podem apresentar uma inclinação entre 30 a 40º. Também são de baixa manutenção e grande durabilidade. 1.8.1. Diferenças e comparações entre tanques e viveiros

Os viveiros são reservatórios naturais, cujos detalhes de construção diferenciam-no dos tanques. Os viveiros se aproximam mais com as condições naturais, são menos onerosos na sua construção, mas, os cuidados com a sua manutenção são redobrados, principalmente contra os desmoronamentos e inclinação das paredes externas e internas.

O tamanho dessas construções são variáveis, dependem da topografia do terreno, finalidade da construção (engorda, alevinagem), biologia da espécie e aspectos econômicos da construção. Tanques ou viveiros pequenos apresentam vantagens de serem de fácil manejo, enchimento e escoamento mais rápido, tratamento de doenças, eliminação de parasitas e predadores, fácil manutenção e finalmente, as possíveis perdas no tanque ou viveiro pode não representar grandes prejuízos.

Os viveiros de maior tamanho, também apresenta vantagens, pois permitem uma melhor ocupação do espaço disponível na propriedade, além de serem mais econômicos sua construção por unidade de área. Adicionalmente, tais viveiros possibilitam uma melhor estabilidade dos parâmetros de qualidade da água.

A profundidade dos viveiros não deve ser muito grande. Para o nosso clima, a média de 1,20 a 1,50 metros é a mais recomendada, pois garante a penetração de luz até o fundo, aumentando a produção primária e, também, reduzindo o volume necessário e as práticas de manejo da água.

Quanto ao formato dos tanques, as plantas quadradas exigem menor movimentação de terra na construção dos diques e na escavação, se comparados com os tanques retangulares, ovais, circulares ou de formato irregular. Entretanto, os mais utilizados são os tanques retangulares com proporção de 1x4 (largura x comprimento). Essa configuração retangular vem a proporcionar uma hidrodinâmica favorável á oxigenação.

O fundo dos tanques e dos viveiros deverá ter uma declividade variando de 0,5 a 2,0%, partindo da extremidade de entrada de água para o escoamento. Este desnível propicia o arrasto das substâncias depositadas no fundo em direção à saída de água. Este desnível também favorece a despesca, pois os peixes irão se acumular na parte mais funda dos tanques, onde deverá ser instalada a caixa de coleta. Esta caixa deverá ter 0,2% de toda a área do viveiro, com 30 a 50 cm

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de profundidade, revestida lateralmente de tijolos ou toda de concreto, já que fica junto ao monge. O seu formato deverá ser retangular. Existe variante deste sistema de refúgio dos peixes, principalmente para tanques muito grandes onde a caixa de coleta não suportaria a carga de peixes presentes ali. Desse modo é comum a construção de uma valeta estreita ao longo do eixo central do tanque com profundidade em torno de 40 cm e uma largura de 2,0 a 3,0 metros. Um leve declínio transversal favorecerá o escorregamento dos peixes para este canal. 2. DETALHES DE CONSTRUÇÃO DOS VIVEIROS E TANQUES 2.1. Limpeza da área

É uma operação idêntica à realizada para os açudes, com a retirada de árvores, arbustos, raízes, etc. Tem a finalidade de favorecer o ambiente no viveiro e facilitar o trabalho das máquinas na escavação. 2.2. Tubulações de entrada e saída de água

Necessárias para o controle do nível da água no tanque e o esvaziamento total num prazo ao redor de 5 dias. A tubulação de entrada de água aporta de canais de abastecimento que são geralmente abertos e revestidos de concreto. Sua inclinação deverá ser de 1,0 a 4,0%º, garantindo menor velocidade da água e uma distribuição mais uniforme. Estes canais são de fácil manutenção e permitem a oxigenação da água desde sua tomada no reservatório até seu aporte no tanque. A tomada de água no reservatório deve ser feita pouco abaixo da superfície, proporcionando água mais limpa e oxigenada. A entrada de água nos tanques deverá ser feita por tubos de PVC ou calhas de modo que avancem sobre a margem dos tanques com uma altura em torno de 0,5 metros, para permitir melhor oxigenação pela queda e borbulhamento. Deve-se sempre ter filtros e telas nas captações de água do reservatório como na tubulação que vai aos tanques. A entrada desta água deverá ser oposta á saída da mesma dos tanques.

O sistema de escoamento em vasos comunicantes (monge) é o mais indicado para tanques de piscicultura. Os monges podem ser construídos externa ou internamente aos tanques. Os dois sistemas devem ser construídos quando da determinação da base da barragem, onde se assentam as tubulações (PVC, ferro ou concreto). A canalização deverá prolongar-se 1,0 metro antes e depois da base da barragem para evitar entupimentos por erosão e propiciar a construção da base do monge. O declive deste cano deverá ser de 1,0%. Outro sistema é o escoamento na forma de sifão, usando tubos de PVC em forma de cachimbo, onde se regula a altura da água em movimentos pendulares do mesmo. Qualquer que seja o caso deve-se proteger a saída d’água para evitar o escape de peixes e entupimento dos drenos. 2.3. Canalização de abastecimento ou alimentação.

Este canal pode ter forma retangular ou trapezoidal, com paredes revestidas de cimento ou tábuas ou mesmo canais escavados no solo. Seu tamanho será variável e dependerá da quantidade de água necessária para abastecimento (Tabela 1).

Tabela 1: Dimensões para tomada de água. Canal de alimentação Vazão menor 20 l/s Vazão entre 20 e 30 l/s Largura do fundo (cm) 25 a 30 50 Profundidade (cm) 25 a 40 60 a 80 Declividade do fundo Zero 1/1000

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2.4. Tomada de água para abastecimento. É o local de onde provém a água para abastecer os tanques ou viveiros. Geralmente são derivações do curso de água ou provenientes de grandes represas para abastecimento dos tanques. A tomada de água é conseguida com uma obstrução do leito do rio ou córrego, total ou parcialmente, de forma a elevar este nível de água e derivá-lo para os canais de alimentação. Poderá ser feita por pequenas represas ou mesmo obstrução com madeiras, pedras, argila ou concreto. 2.5. Canal de escoamento Deve-se obedecer as regras de construção dos canais de abastecimento, com declividade de 1% ou mais, se as condições do terreno permitir. 2.6. Filtros e telas de proteção São utilizados para impedir a entrada de outros peixes e predadores, bem como a saída de peixes do cultivo do tanque. Exigem manutenção periódica e podem ser colocados em vários locais entre elas citam-se:

• Entrada da canalização de alimentação principal; • Entrada ou saída das canalizações ou tubos de alimentação dos tanques; • Saída das canalizações de escoamento (monge ou sifão), para impedir fuga de

peixes; • Entrada das canalizações de escoamento para evitar entupimentos.

2.7. Impermeabilidade do fundo Necessária para diminuir a infiltração de água, com a compactação do solo ainda um pouco úmido. Esta compactação poderá ser acompanhada de calcário, esterco e adubos químicos. Neste sentido favorecerá a formação do lodo e decantação de partículas que obstruirá os poros e pequenas aberturas no fundo dos viveiros. 2.8. Aeração São utilizados mecanismos artificiais para melhorar as quantidades de oxigênio disponível nos tanques, principalmente nas horas mais críticas (primeiras horas do dia). Os meios mais utilizados são:

• Tubos perfurados de forma oblíqua ao fluxo, obrigando a entrada de ar no sistema pela própria sucção procedida pela rápida e contínua passagem da água. São utilizadas quando não é possível o uso de canaletas de abastecimento a céu aberto.

• Tubos ou canaletas dispostos em cima do tanque, para permitir a queda prolongada, borbulhamento e oxigenação da água.

• Aerador mecânico, com pás de movimentação rápida e vigorosa, podendo ser acionado por tratores, geradores a diesel ou energia elétrica.

2.9. Entorno São as áreas em volta dos tanques. Deve-se observar nesse sentido um plano para facilitar o manejo, como movimentação de máquinas, caminhões, distribuidores de rações, etc. 2.10. Distância a ser guardada entre viveiros

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Pelo menos em três de seus lados deverá ter uma distância de 3,0 metros. Os tanques ou viveiros poderão ser construídos aos pares, separados por uma simples parede, suficiente para não permitir a mistura de água entre eles. 2.11. Gramados Os gramados visam dar sustentação ao terreno, prevenindo desabamentos (preferência por gramíneas de raízes estoloníferas) Brachiaria decumbens, capim rhodes, quicuio, etc. O plantio de árvores e arbustos deve ser estudado com critério, pois o sistema radicular destas podem causar danos graves aos tanques. 3. CLASSIFICAÇÕES DAS INSTALAÇÕES SEGUNDO SUA FINALIDADE 3.1. Viveiros de reprodutores São construídos com profundidade variando de 1,7 a 2,0 metros. Sua área deve ser de 200 a 1000 m2. A densidade utilizada gira em torno de 5,0 m2 para cada Kg de peso vivo do reprodutor ou matriz. 3.2. Tanques de reprodução São destinados ao manejo reprodutivo dos peixes que se reproduzem em cativeiro. Devem ter o fundo de terra e sua área em torno de 50 a 100 m2. 3.3. Tanques de larvicultura São aqueles que recebem as pós-larvas e que irão sofrer uma triagem e serão recriados até a 1ª alevinagem, sendo transferidos quando começam a se alimentar. Poderão ser transferidos para tanques berçários flutuantes feitos com tela de nylon com malha de 0,3 mm; para tanques de alevinagem ou mesmo no viveiro adubado recentemente. 3.4. Viveiro de alevinos São construídos em terreno natural, com área de 100 a 200 m2, com profundidade de 1,2 a 1,5 m. Suas paredes devem ter inclinação de 2:1 (dois metros de largura para cada metro de altura). Devem possuir sistemas de abastecimento e drenagem. A densidade varia com a espécie que se vai trabalhar, geralmente está em torno de 50 a 500 alevinos por m2. 3.5. Viveiros de crescimento, recria ou engorda Sua área é muito variável, podendo ir de 1000 até 5000 m2. As represas ou açudes podem ser transformadas ou adaptadas em viveiros de engorda. Para tanto, devem ser totalmente drenadas, a fim de eliminar as espécies indesejáveis e permitir a coleta total dos peixes estocados. Sua densidade varia com o manejo alimentar e o fluxo de abastecimento de água e da tecnologia utilizada, podendo ir de 1,0 peixe para cada 10 m2 ou até 2,0 peixes/m2. 3.6. Viveiros de produção de plâncton São aqueles extremamente adubados, eutrofizados para alta produtividade de plâncton. 3.7. Tanques de depuração São tanques de alvenaria, abastecidos com água limpa, onde os peixes ficam em torno de um a quatro dias para retirada de eventual sabor desagradável que possam apresentar, logo após a sua colheita. São tanques pequenos com tamanho médio de 50m2.

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3.8. Tanques de quarentena São destinados a estocagem de reprodutores ou alevinos de outras procedências por um período de tempo em torno de um mês. Sua localização deverá ser a mais jusante possível dos viveiros, de modo a evitar a transmissão de eventuais doenças infecto-contagiosas. 4. INFRA-ESTRUTURA DA PISCIGRANJA São as construções necessárias à operacionalização de todo o processo produtivo. As ilustrações dos principais equipamentos e instalações utilizados na infra-estrutura de uma piscigranja encontram-se em anexo no final desta apostila. 4.1. Barracão para preparo e estocagem de ração Local apropriado para o preparo de ração podendo conter em seu interior:

• misturador de ingredientes (tipo betoneira) • triturador de grãos • balança tipo plataforma

4.2. Barracão para guarda dos equipamentos utilizados no trabalho cotidiano com os peixes (redes , tarrafas, enxadas, baldes, puçás, carrinho -de- mão, etc.). 4.3. Laboratórios a) Móvel - são utilizados equipamentos portáteis para monitoramento das condições da água e da biometria dos peixes. Seus principais equipamentos são: oxímetro (determinação do oxigênio disponível), pHmetro (determinação do pH da água), salinômetro (sais), condutivímetro (condutividade elétrica, mede a quantidade de partículas em suspensão na água pela corrente elétrica que transmitem), ictiômetro (medidas de comprimento e largura), balança e o disco de Secchi que medirá a turbidez da água. b) Estático - é a instalação geralmente destinada para trabalhos de reprodução artificial dos peixes. Nela estão os equipamentos como balanças analíticas, incubadoras tipo funil, tanques de espera para reprodutores, etc. 4.4. Equipamentos de limpeza São os materiais ou equipamentos necessários para a manutenção dos viveiros e da área em volta dos mesmos. Entre eles citam-se: equipamentos de capina, poda e varredura (enxadas, foices, alicates de poda, vassouras, ancinhos, etc.). 4.5. Equipamentos de captura Compõem-se de todos os apetrechos para captura dos peixes, entre eles citam-se: a) Rede de plâncton- para coleta do material sobrenadante, destinados à análise dos integrantes do fito e zooplâncton presentes na água e também para abastecimento de plâncton aos viveiros. Apresenta-se com rede de malha milimétrica, formato cônico com abertura da boca medindo 30,0 cm de diâmetro. b) Tarrafa- utilizada para capturar peixes com o tanque cheio, geralmente utilizada para amostragens e determinação do tamanho e peso dos peixes. É constituída de rede cônica com chumbadas na borda para rápido afundamento e captura dos peixes. c) Picaré - É uma estrutura de redes fixadas com madeiras nas extremidades e utilizadas para cercar e conter os peixes nos cantos dos tanques.

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d) Rede de arrasto- Utilizada em tanques onde o esgotamento da água não pode ser total na despesca. Exige no mínimo três pessoas para manuseio. Apresenta chumbadas na parte inferior e bóias na parte superior. Tamanhos de até 15,0 x 2,0 metros são ideais para arrasto, facilitando o trabalho. 4.6. Equipamentos de seleção São as redes de malhas calibradas, facilita a triagem dos animais quanto ao tamanho. Ao passá-la pelo tanque seleciona os peixes de acordo com o tamanho da malha. 4.7. Baldes para contagem São baldes com o fundo e as laterais perfurados, muito utilizados quando se processa a venda de alevinos. A contagem sempre é feita por amostragens. Pode ser utilizado para o mesmo trabalho pequenas peneiras plásticas. 4.8. Puçás ou passaguás São pequenas redes armadas com aros metálicos, utilizados para selecionar peixes já capturados (para pesagens, reprodução induzida, etc.). Também são utilizados para retirada de lixo sobrenadante como folhas, madeira, papel, etc. 5. ALTERAÇÃO BIOLÓGICA DA ÁGUA São as alterações causadas por diversos tipos de poluentes. 5.1. Poluição doméstica São os resíduos residenciais jogados diretamente nos rios, que causam problemas de contaminação na água e também nos peixes. Geralmente causam distúrbios por modificarem o ambiente onde vivem. Diminuem o oxigênio disponível pela maior eutrofização do ambiente aquático e causam também maior acidez ou alcalinidade, deixando a água menos favorável ao desenvolvimento dos peixes. Os principais resíduos ambientais domésticos que trazem problemas aos peixes são: vidros, latas e plásticos; restos de alimentos; dejetos de esgotos sem tratamento. 5.2. Poluição agrícola São os poluentes mais danosos que afetam a qualidade biológica da água, devido a grande persistência e alta mortalidade que causam aos peixes. Os inseticidas e pesticidas do grupo dos DDT e organoclorados em especial Dieldrim, Endrim, BHC e Heptacloro, foram os pesticidas mais encontrados em amostras realizadas. Por serem de baixa solubilidade são persistentes e cumulativos, fixando-se ao longo das cadeias alimentares, desde os organismos integrantes do plâncton até atingir o ser humano como elo final dessa cadeia alimentar. Há de se destacar também na poluição agrícola as erosões que causam assoreamento nos leitos dos rios. 5.3. Poluição Industrial Atualmente é o poluente que degrada as águas dos rios em maior escala devido ao grande desenvolvimento industrial das ultimas décadas. Sua gama de produtos químicos, físicos e biológicos jogados na água é imensa. Afetam a temperatura da água, o pH, o oxigênio, a salinidade e ainda introduz os metais pesados no ambiente, de alta toxidez, radioatividade e persistência. Causam doenças degenerativas em toda a flora e fauna aquática, bem como a extinção de muitas espécies.

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6. TIPOS DE CULTIVOS De acordo com a escolha do tipo de cultivo, determina-se a produtividade e os custos. É lógico que muitas vezes o ambiente e as condições do piscicultor e a disponibilidade da água é que determinarão qual o cultivo que mais se enquadra na exploração da propriedade agrícola. Os tipos de cultivo mais comuns são: o cultivo extensivo, o semi-intensivo, o intensivo e o super-intensivo; o monocultivo e o policultivo, consórcios de peixes com a criação de outros animais. 6.1. Cultivo Extensivo É a exploração onde se promove uma modificação mínima ao ambiente natural, ocorre nos açudes, lagoas, represas e outros mananciais. O fundo dos viveiros é irregular e inexiste controle sobre a entrada e saída da água e também dos predadores naturais. A quantidade de peixes também não é controlada. A coleta dos peixes é difícil e incompleta e a alimentação é feita com sobras da propriedade, mandioca, frutas, esterco de aves, bovinos e suínos. A produção de peixes num sistema extensivo depende muito da capacidade alimentícia da água, ou seja, da produtividade natural da água, dos nutrientes que ela contém. Deve-se escolher espécies adequadas que suportariam presença de predadores ou que os utilizassem como alimento. A taxa de estocagem geralmente empregada nesse sistema é de um peixe para cada 10 m2, ficando difícil estimar a real produção dessas criações, pois, na maioria das vezes, sequer tem-se controle do volume de água dessas represas, considerando-se como produção apenas aquilo que se conseguiu coletar por diferentes métodos de pesca. Alguns sistemas conseguem produções de 100 a 1500 Kg/ha. A utilização de alevinos de maior porte (10 a 15 cm) é praticamente necessária devido a presença constante de predadores nos criatórios. Uma estocagem inicial de 50 a 2000 alevinos por ha é recomendada. 6.2. Cultivo Semi-Intensivo Neste sistema ocorre a contribuição do homem na melhoria da produtividade do ecossistema aquático. São feitas, pelo menos, calagens e adubações e são fornecidos vários tipos de alimentos, como resíduos da agroindústria, restos de abatedouros dentre outros. Pratica-se também uma suplementação alimentar aos peixes, tais como grãos: milho e sorgo; farelos: milho, sorgo, trigo e soja; tortas: mamona e algodão e farinhas: carne, peixes e ossos. A densidade de estocagem é maior chegando em média a trabalhar com três a cinco peixes a cada 10 m2 de área do viveiro. Já existe neste sistema um melhor controle da renovação da água, bem como as condições de construção dos tanques são melhores ao facilitar o manejo dos peixes. Produtividades em torno de 1000 a 2000 kg/ha são facilmente alcançados nesse sistema. Aqui também é comum o consorciamento com outras espécies animais como patos, marrecos de pequim e suínos. 6.3. Cultivo Intensivo É o tipo de piscicultura atualmente mais utilizada em nossa região, onde os criatórios são construídos objetivando apenas essa finalidade. Os tanques/viveiros são construídos com técnicas modernas de engenharia apresentando vários detalhes como: controle de entrada e saída da água, declividade do fundo e das paredes do tanque, caixas de coleta, filtros e telas de proteção. Na alimentação são utilizadas rações balanceadas (peletizadas e extrusadas), adubações químicas e orgânica, calagens do solo e da água, bem como o acompanhamento total das condições da água e do crescimento da biomassa dos peixes. A densidade de cultivo neste sistema varia entre um a dois peixes por m2 ou mesmo um peixe a cada 2m2. A produtividade esperada neste sistema está em torno de 4000 a 5000 kg/ha. Neste sistema é comum o uso de aeradores artificiais.

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6.4. Cultivo Super-Intensivo É o tipo de cultivo mais tecnificado que trabalha com espécies de alto valor comercial, sempre em monocultivo, a densidade de estocagem é alta com vinte a oitenta peixes por m3 de água. Como a piscicultura super intensiva implica total dependência dos peixes aos alimentos que o criador lhes oferece, para o empreendimento ser economicamente viável, o alimento deve proporcionar elevada conversão alimentar para promover um rápido crescimento, e o peixe, por sua vez, deve alcançar alto valor no mercado para que a atividade seja lucrativa. O aumento de densidade de estocagem é dependente de dois fatores primordiais que são os teores de oxigênio e de amônia na água. Para se resolver esse problema, ou se eleva o fluxo de água que renova o suprimento de oxigênio que arrasta a amônia, ou se promove a filtração e a aeração artificial da água por processos mecânicos. Os peixes recebem alimentação peletizada ou extrusada e, a adubação orgânica para provimento de plâncton não é utilizada. São exemplos desse tipo de cultivo a criação de peixes em “TANQUES-REDE” ou gaiolas e os sistemas de fluxo contínuo de água chamados de “RACEWAYS”.

• TANQUE REDE - São viveiros de tela de material resistente, com formato redondo, hexagonal ou retangular, com altura que varia de 1,5 a 3,0m e são montados em grandes reservatórios de água e, também, nas enseadas das orlas litorâneas, em profundidades médias de 4 a 10m., amarradas em postes de concretos ou madeira ou âncoras chamadas poitas. Essa técnica originária do Japão é utilizada no Brasil onde encontra grande potencial de crescimento devido aos mais de cinco milhões de hectares de águas represadas pelas Usinas Hidroelétricas, sendo que o nosso País possui o maior potencial do mundo em água doce represada.

• RACEWAYS - ou canais com fluxo contínuo de água. É um sistema mais sofisticado e mais caro, consistindo em uma série de tanques de alvenaria ou concreto, paralelos, e interligados com largura de 1,5 a 4,5m., e comprimento variável, que permite a criação de peixes em altas densidades de estocagem em função do elevado fluxo de abastecimento dos tanques, promovendo a troca de oxigênio e a remoção de amônia e de sobras de alimentos. Como esta vazão é muito alta, muita destas criações estão acopladas a sistemas de reciclagem da água já utilizada, com recalque para um depósito em nível mais elevado e retorno da mesma água aos viveiros, após biofiltração que reduz a amônia que é altamente tóxica. A produtividade neste sistema varia muito com a densidade utilizada, obtendo índices que variam de 70 a 100 kg de peixes por m3.

Analisando todos esses sistemas de exploração em piscicultura, devemos ficar atentos que antes de se adotar qualquer regime de criação, é necessário pesquisar com cuidado todas as variáveis de produção, principalmente a economia da tecnologia a ser empregada e se a mesma é viável no local onde será aplicada. Deve ficar claro também, que todo o incremento de tecnologia utilizado reflete em ganho de produtividade, mas do mesmo modo exige maiores cuidados na operacionalização, bem como nos riscos do empreendimento. 7. TIPOS DE EXPLORAÇÃO

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• MONOCULTIVO - nesse sistema, opta-se por uma única espécie a ser criadas no viveiro, sendo mais comuns nos sistemas extensivos e semi-intensivos e quase que obrigatórios nos super-intensivos. Comparativamente é menos recomendado do que o policultivo devido a subutilização dos alimentos naturais não consumidos pela espécie principal bem como das sobras de rações que vão ao fundo do tanque.

• POLICULTIVO - consiste na criação de espécies diferentes e de hábitos alimentares diferentes para que possam aproveitar melhor o alimento disponível no tanque, bem como o espaço físico na água. Nesse sistema, são cultivadas duas ou mais espécies de peixes, explorando melhor a cadeia alimentar formada com adubação orgânica.

Deve-se estabelecer a densidade de estocagem dos viveiros e a proporção relativa ideais das espécies a serem criadas, buscando sempre a otimização da produtividade. Vantagens: aumento do oxigênio das águas dos tanques pelo consumo do excesso de algas e do lodo do fundo; reciclagem rápida e completa dos excrementos de uma das espécies, já que a outra pode-se alimentar de dejetos; decréscimo da população de espécies indesejáveis pela competição natural no viveiro. Desvantagens: pode estabelecer competição entre as espécies cultivadas se houver desbalanço na densidade; maior mão de obra na separação das espécies quando da despesca, que encarece a produção; taxa de crescimento diferentes que ocasionará coletas parciais ou em épocas diferentes nos viveiros. 8. CONSORCIAMENTO 8.1. Consórcio peixes-suínos É um tipo de consórcio onde há o aproveitamento contínuo do esterco fresco, onde as fezes e urina são escoados diretamente para dentro do viveiro. Os suínos são criados em galpões próximos ou sobre os viveiros. As fezes frescas contêm cerca de 20% de alimentos mal digeridos, sendo o restante utilizado como adubo orgânico, estimulando a produção de plâncton que também serão consumidos. Recomenda-se uma relação de 60 suínos adultos para cada hectare de tanque ou em condições de melhor renovação da água até 200 suínos por ha, poderá ser recomendado. Alguns cuidados essenciais devem ser tomados principalmente para não concentrar a alimentação num só local do tanque, e também cuidados com o uso de produtos químicos na criação dos suínos que poderiam contaminar os peixes. Pode-se obter produções em torno de 2 a 3 toneladas por hectare neste sistema de consórcio. 8.2. Consórcio peixes-aves O mais comum desses consórcios com aves é a criação de peixes juntamente com patos ou marrecos de pequim, que atingem 2,4 a 2,6 kg de peso (tamanho ideal para abate e a comercialização destes animais) em um curto período de 50 a 60 dias. A relação de marrecos para um hectare de tanque é de 300 a 500 marrecos, por terem crescimento rápido os marrecos precisam ser alimentados com ração contendo de 15 a 18% de proteína bruta. O excedente da ração acaba indo para a água, pois os comedouros das aves devem ficar próximos a esta, ou mesmo acima em ilhas construídas com ripados de madeira. Também são importantes para alimentação dos peixes os excrementos que os marrecos liberam, os quais servirão diretamente como alimento aos peixes, ou indiretamente, através da adubação da água dos viveiros.

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Uma das vantagens desse consórcio é a oxigenação promovida pelos marrecos devido a sua intensa movimentação na água e também a erradicação da vegetação aquática, da qual os marrecos se servem como alimento. A grande desvantagem deste sistema é o estrago que os marrecos causam aos taludes, também o fato de serem de difícil comercialização, além do que são parasitos dos mesmos vermes comuns aos peixes. A produção de peixes nesse sistema está em torno de duas toneladas por hectare.

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CAPITULO 3

REPRODUÇÃO DE PEIXES

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1. INTRODUÇÃO O sucesso da piscicultura depende da capacidade de perpetuação da espécie, onde são produzidas larvas a serem utilizadas na criação, visando a terminação ou a manutenção do plantel de reprodutores. Na reprodução natural, vários mecanismos reprodutivos ocorrem como a partenogênese, a bissexualidade e o hermafroditismo. A bissexualidade ocorre com os peixes apresentando os sexos separados, machos e fêmeas, com a fecundação e o desenvolvimento externo (ovuliparidade). Ex. dourado, pacu, pintado, tambaqui, matrinxã, curimbatá, etc. 2. DEFINIÇÕES BÁSICAS Dimorfismo sexual: é a diferenciação sexual nos peixes, sendo que a maioria das espécies não apresentam tal característica fora do período reprodutivo. Algumas apresentam alguns sinais indicativos:

• Tucunaré- apresenta uma protuberância entre a cabeça e a nadadeira dorsal; • Curimbatá- emite sons durante a piracema; • Pirarucu- apresenta uma coloração avermelhada na borda das escamas dos peixes

machos; • Dourado- aparece algumas espículas (espinhos) na nadadeira anal; • Tilápias machos são maiores que as fêmeas, e no caso das trutas e salmões as

fêmeas é que são maiores que os machos.

Na época de reprodução as fêmeas da maioria das espécies apresentam o ventre abaulado e macio, com a abertura urogenital intumescida, saliente e avermelhada. Já os machos, sob leve pressão no abdômen no sentido encéfalo-caudal, liberam o sêmen. Cuidado parental: é o cuidado que os pais dispensam à prole, para garantir a sobrevivência da espécie. Espermatogênese: são as várias divisões mitóticas das células germinativas até formarem os espermatozóides. Ovulogênese: é o processo de formação dos óvulos, através das várias divisões mitóticas no organismo das fêmeas. 3. REPRODUÇÃO: UM EVENTO CÍCLICO Os peixes apresentam uma periodicidade no seu processo reprodutivo, geralmente desovando a cada ano, podendo ocorrer a desova mais de uma vez ao ano em algumas espécies de tilápias. Todo esse processo é sincronizado com fatores ambientais que garantirão a sobrevivência da prole. O ciclo anual pode ser dividido em três fases:

• Fase 1- pós desova: neste período as gônadas se encontram de tamanho reduzido, encontrando-se em repouso;

• Fase 2- pré desova: aqui as gônadas iniciam a produção de gametas (gametogênese) e ocorre a produção e incorporação do vitelo nos ovócitos (vitelogênese) e é acompanhado por um aumento gradual no tamanho das gônadas;

• Fase 3- ovulação: é a maturação final dos gametas, culminando com a desova, a liberação dos gametas e a fertilização dos ovos.

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4. REPRODUÇÃO INDUZIDA Todo o processo de indução começou com Rodolpho Von Ihering, que iniciou os trabalhos de cultivo de peixes na Região Nordeste em 1932. Havia o interesse de expandir a piscicultura, mas, a dificuldade de obtenção de alevinos era grande, haja vista a impossibilidade de reprodução natural das várias espécies de peixes em cativeiro. Alguns grupos de peixes reproduzem-se naturalmente em águas lênticas (lagoas ou represas), como os lambaris, traíras e tucunarés. Outros grupos de peixes, que abrange a maior parte de nossas espécies nativas, necessitam realizar a piracema (migrações) rumo às cabeceiras dos rios para a reprodução, são os chamados peixes REOFÍLICOS, como o pacu, tambaqui, curimbatá, dourado, pintado, piavuçú, piraputanga, piracanjuba, etc. Peixes estes de grande interesse para a piscicultura. Para estas espécies, que em cativeiro não se reproduzem naturalmente, pressupõe-se o processo de reprodução induzida a fim de que seja possível a obtenção de larvas para posterior cultivo. A reprodução induzida consiste da utilização de hormônios naturais ou sintéticos a fim de que seja possível induzir a ovulação e espermiação de algumas espécies de peixes com potencial para ser utilizadas em piscicultura. Assim, justifica-se a reprodução induzida, para obtenção de uma produção em massa de larvas, com alta taxa de sobrevivência para o abastecimento dos sistemas de criação de espécies reofílicas. 5. ORIGEM DO PLANTEL DE REPRODUTORES Os reprodutores utilizados para indução hormonal podem ser obtidos dos rios, sendo estocados em tanques, recebendo alimentação e outros manejos de acordo com a espécie, idade do animal, etc. Os animais também podem ser obtidos de outras piscigranjas, estações de piscicultura, etc. Embora possam ser estocados em viveiros maiores, a manutenção desses animais em viveiros menores, com 1500 a 3000 metros quadrados, facilita o acompanhamento do seu desenvolvimento, alimentação e observação das mortalidades, além de facilitar a captura para utilização na reprodução, sendo a densidade mantida na proporção de 5 a 10 m2 por reprodutor. A alimentação destes reprodutores deve suplementar suas exigências para manutenção e desenvolvimento gonadal, sendo que para os animais em crescimento é necessário que a ração supra as suas exigências de mantença, crescimento e também aquela porção que será destinada à reprodução. No caso de reprodutores de hábito alimentar carnívoro, como o pintado e a piraputanga, pode-se utilizar de outras espécies para melhorar o desempenho reprodutivo e também reduzir os custos com a alimentação. Para as espécies que aceitam bem dietas artificiais, uma taxa de arraçoamento entre 1 a 2% tem trazido bons resultados sobre o desempenho, sendo que peixes carnívoros exigem níveis protéicos mais elevados. As dietas deverão ser reduzidas nas épocas mais frias, e de acordo com a condição corporal do animal. Os peixes apresentam elevada fecundidade. Para se ter uma idéia, uma fêmea de tambaqui de 3,0 kg desova cerca de 500 mil óvulos, já uma fêmea de dourado de 7,0 a 8,0 kg chega a desovar mais de um milhão de óvulos. Hipofisação: é a aplicação do hormônio gonadotrófico extraído da hipófise de peixes doadores, os quais devem ser adultos e estarem maduros sexualmente ou em fase de maturação gonadal avançada.

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6. BIOLOGIA REPRODUTIVA DOS PEIXES Os peixes no ambiente natural se preparam para a reprodução, geralmente na mesma época, estando maduros produzem gametas com óvulos e espermatozóides viáveis. As espécies de piracema realizam migrações anuais cíclicas que coincidem com o período das chuvas e aumento da temperatura e do fotoperíodo. Nessa migração procuram lugares adequados que são os trechos dos rios passíveis de inundações, onde formam as lagoas marginais, que são os berçários onde vão parar os ovos depois de fecundados e hidratados em pleno leito do rio. Em menos de 24 h ocorrem a eclosão das larvas. Quando estão maduras sexualmente as gônadas (ovários e testículos) apresentam-se como uma massa volumosa, de coloração variável, dentro da cavidade abdominal, paralelo à bexiga natatória. 7. MECANISMO ENDÓCRINO DA REPRODUÇÃO Existe uma glândula chamada hipotálamo, que através das influências climáticas inicia a secreção do GnRH (hormônio gonadotrópico), que intensifica a formação da gonadotrofina pela hipófise ou glândula pituitária. Esta gonadotrofina cai na corrente sanguínea e chega aos tecidos das gônadas, estimulando a produção e secreção dos hormônios sexuais (andrógenos e estrógenos). A hipófise ainda sintetiza o hormônio tirotrópico (TSH) que atuará na maturação final dos óvulos (Figura 1). Figura 1: Produção de hormônios e sua atuação nas diferentes estruturas reprodutivas de peixes 8. IDADE PARA REPRODUÇÃO A primeira maturação é variável com a espécie, sexo, tamanho, bem como dos fatores externos como alimentação e condições climáticas. Alguns exemplos de idade de maturação podem ser observados abaixo:

• Pirapitinga (fêmea): 3,5 anos; Pirapitinga (macho): 2,5 anos • Pacu/tambaqui (fêmea): 4,5 anos; Pacu/tambaqui (macho): 3,5 anos • Matrinxã (fêmea): 3,0 anos; Matrinxã (macho): 2,0 anos

No clima temperado este tempo poderá ser maior para o início da maturação sexual.

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9. ÉPOCA DE REPRODUÇÃO Cada espécie apresenta uma época mais favorável à reprodução induzida. A maioria apresenta sazonalidade sincronizada com fatores ambientais, períodos chuvosos, altas temperaturas com os dias mais longos (Tabela 1). Tabela 1: Épocas de reprodução de algumas espécies de peixes de água doce

Espécie Meses do ano Piracanjuba (Brycon orbignyanus) D-J Curimbatá (Prochilodus lineatus) D-J-F Dourado (Salminus maxillosus) O-N-D-J Lambari (Astianax bimaculatus) A-S-O-N-D-J-F-M Mandí (Pimelodus maculatus) O-N-D-J-F-M Trairão (Hoplias Lacerda) S-O-N-D-J-F Piapara (Leporinus elongatus) D-J Pintado (Pseudoplatystoma corruscans) N-D Pacu (Piaractus mesopotamicus) D-J-F-M Tambaqui (Collossoma macropomum) D-J-F-

10. HIPOFISAÇÃO A hipofisação começa com a determinação da quantidade de hormônio a ser aplicado e com as técnicas utilizadas. O extrato bruto de hipófise é utilizado na proporção de 4,5 a 5,5 mg/kg de peso vivo das fêmeas que se pretende induzir. Nos machos são aplicadas doses menores (0,5- 1,0- 2,5 mg/kg) (Tabela 2). Calculada a quantidade de hipófises, elas são colocadas em um cadinho e perfeitamente trituradas com o auxílio de um pistilo. Para se ter uma dispersão mais fina usa-se algumas gotas de glicerina (não mais que 0,5 ml) e continua-se triturando até obter uma pasta fina, adiciona-se o soro fisiológico calculado, mexendo bem a solução. Despreza-se a parte sólida e utiliza o sobrenadante. Exemplos das dosagens utilizadas para pacu/tambaqui:

• Fêmeas Dose preparativa - 0,5 mg de hipófise/kg de peixe Dose final - 4,5 a 5,0 mg de hipófise/kg de peixe Intervalo entre doses - 14 a 22 horas Soro fisiológico - 0,5 ml/kg de peixe.

• Machos Dose única- 2,5 mg de hipófise/kg de peixe Tempo- logo após a segunda dose das fêmeas Soro fisiológico- 0,5 ml/kg de peixe.

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Tabela 2: Doses hormonais utilizadas para machos e fêmeas de algumas espécies de peixes empregadas na reprodução induzida. ESPÉCIE DOSE (mg/Kg de peso vivo) FONTES Pacu (Piaractus mesopotamicus) Fêmea

1ª dose: 0,2 2ª dose: 20,0

Macho 1ª dose: 0,2 2ª dose: 14,0

CASTAGNOLLI E DONALDSON (1980)

Pacu (Piaractus mesopotamicus) Fêmea 1ª dose: 0,5 2ª dose: 5,0

Macho 1ª dose: 1,5

AYROSA et al. (1994)

Dourado (Salminus maxillosus) Fêmea 1ª dose: 5,0 2ª dose: 20,0

Macho 1ª dose: 5,0 2ª dose: 10,0

PINTO GUGLIEMONI (1986)

Matrinxã (Brycon amazonicus) Fêmea 1ª dose: 0,4 2ª dose: 4,0

Macho 1ª dose: 1,5

BERNARDINO et al. (1993)

Piracanjuba ( Brycon orbignyanus) Fêmea 1ª dose: 0,5 2ª dose: 5,0

Macho 1ª dose: 1,0

MENDONÇA (1996)

Pintado (Pseudoplatystoma corruscans) Fêmea 1ª dose: 1,0 2ª dose: 5,0

Macho 1ª dose: 2,0

GOMES et al. (1990)

11. ADMINISTRAÇÃO DO HORMÔNIO O hormônio deve ser administrado por via intramuscular ou intraperitonealmente. O local mais utilizado é a base da nadadeira peitoral (musculatura vermelha). A injeção da solução hipofisária é realizada após a retirada dos reprodutores dos tanques de hipofisação, sendo os mesmos colocados em uma espuma para evitar lesões e cobrir sua cabeça com pano úmido para facilitar a injeção hormonal. Quando o peixe é difícil de ser manejado, como o dourado e a matrinxã, antes da pesagem, os reprodutores devem ser anestesiados com xilocaína (1,0 g/10,0 kg) que ajuda a reduzir o estresse; ou a quinaldina colocada na água (caixas de cimento amianto ou mesmo isopor na proporção de 0,5 ml/100 litros de água). Antes da dose final para evitar perdas de ovos, pode-se suturar a dobra que protege a abertura sexual das fêmeas. 12. HORA-GRAU Após aplicação da dose final, a fêmea é devolvida ao tanque. Inicia-se então a leitura da temperatura da água em intervalos de uma em uma hora, sendo anotada em ficha própria, a fim de calcular o tempo de ovulação (hora-grau). A hora-grau para o tambaqui varia de 260-280 para temperatura entre 26 a 29ºC. O conhecimento do valor de horas-graus é importante para se saber aproximadamente quanto esperar para a ovulação após a última injeção. Esse valor varia de acordo com a espécie e com o tipo de tratamento utilizado (Tabela 3).

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Tabela 3: Espaço de tempo entre a segunda injeção e o momento da extrusão Horas-grau Hipofisação LHRH 18-22°C 23-26°C 27-29°C 23-26°C 27-29°C Carpa Comum 1 260 250-260 230-240 420-440 - Carpa capim 1 225 210-220 - - - Carpa prateada 1 225 210-220 - - - Carpa cabeçuda 1 240 220-230 - - - Tambaqui 2 180 Pacu 5 - 182 - - 380-390 Matrinxã 1 - 190-200 - 340-380 - Piracanjuba 4 170 Dourado 1 - 250-260 - 340-360 - Bagre africano 3 221,3

1 WOYNAROVICH E HORVÁTH (1983); 2 CACHO e CHELAPPA (1992); 3 MOURA e CHELAPPA (1992); 4

MENDONÇA (1996); 5 FANG (1996). 13. EXTRUSÃO E FECUNDAÇÃO O peixe é envolvido em toalhas e levado para a mesa com colchão de espuma. Se houver pontos, eles são removidos e a extrusão é feita pressionando a região do abdômen por detrás da nadadeira peitoral. Os ovos são expelidos em jatos e separados em pequenas bacias de plástico bem secas. Muitas vezes, por ter o abdômen muito musculoso, não se consegue extrair de uma só vez todos os ovos e, por esse motivo, pode-se providenciar uma nova sutura do orifício sexual e após uma hora repete-se a operação. Os machos são espermiados diretamente sobre os ovos já coletados das fêmeas e misturados com o auxílio de uma pena. A mistura precisa ser feita de maneira rápida e de modo cuidadoso, com movimentos suaves e seguros, não ferindo os ovos. Após realizada a mistura adiciona-se água pura em pequenas quantidades, mexendo imediatamente. Colocar cerca de 15% de água sobre o peso total dos óvulos, realizando uma nova homogeneização. O volume de água não deve ser muito elevado para evitar a diluição da mistura, dificultando a fertilização pela dificuldade de penetração na micrópila, que é uma abertura localizada na zona pelúcida dos ovócitos dos peixes, através da qual o espermatozóide atinge a superfície ovocitária durante a fertilização. Os espermatozóides no líquido de esperma seco são imóveis e iniciam seu movimento agilmente quando em contato com a água. O movimento dos espermatozóides também não dura mais que um minuto, por isso a fertilização precisa ser feita rapidamente. 14. COLETA E PRODUÇÃO DAS HIPÓFISES A condição da produção e coleta de hipófises divide-se em etapas distintas, e para cada uma delas algumas considerações devem ser feitas.

• OBTENÇÃO DE DOADORES Inúmeros peixes podem ser utilizados como doadores, entre eles citam-se a carpa, curimbatá, piavuçu, salmão, trairão e tucunaré. A principal característica que o peixe deve ter

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para ser considerado como doador é apresentar maturidade sexual, ou seja, peixes nos quais se podem observar ovários ou testículos já desenvolvidos.

• TAMANHO DO PEIXE DOADOR A principal característica para o peixe ser considerado doador é o grau de maturidade sexual. Esta característica não está ligada diretamente com o tamanho do peixe, pois estudos mostram que a atividade gonatrópica é a mesma, seja o hormônio obtido de hipófises de peixes grandes (> 1 kg) ou pequenos (< 0,3 kg), desde que estejam sexualmente maduros. As hipófises de peixes grandes possuem maior quantidade de gonadotropinas do que as dos peixes pequenos.

• LOCALIZAÇÃO DA HIPÓFISE A hipófise ou glândula pituitária localiza-se na base do crânio, numa pequena depressão conhecida como célula túrcica, logo abaixo do hipotálamo. O hipotálamo é facilmente reconhecido, pois se apresenta como uma região dilatada da parte inferior do cérebro. Quando se retira o cérebro do peixe, algumas vezes a hipófise permanece ligada a ele, mas de maneira geral ela se desprende do cérebro, ficando aderida na célula túrcica (Figura 2). Figura 2: Localização da hipófise em peixe

• COLETA DAS HIPÓFISES - Tempo para retirada da hipófise: a atividade gonadotrópica é a mesma quando se coletam as hipófises de peixes recém sacrificados ou até 24 horas após a morte, desde que neste caso se resfriem os peixes ou suas cabeças imediatamente após a morte a uma temperatura de 4ºC.

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- Época da coleta das hipófises: a concentração de hormônios gonadotrópicos se altera durante o ano, mudança esta relacionada com o ciclo reprodutivo dos peixes. Sua concentração é máxima durante a pré-desova, mas estudos mostram que hipófises coletadas durante o ano todo se mostraram viáveis à indução hormonal em peixes de tamanho grande.

• MÉTODOS DE EXTRAÇÃO

Existem os mais variados métodos de extração das hipófises. A escolha pode estar em função dos equipamentos disponíveis para extração ou de fatores mercadológicos, como, por exemplo, se a retirada das cabeças causará depreciação do pescado. A hipófise pode ser retirada com a remoção da parte superior da cabeça (ossos frontal e occipital), de modo a aparecer o cérebro do peixe. O cérebro deve ser removido cuidadosamente com uma pinça, aparecendo então a hipófise. Também pode ser retirada com furadeira elétrica adaptada com serra-copo para a extração da hipófise. Os doadores devem de preferência ser transplantados vivos até o momento da retida das glândulas, quando serão sacrificados por meio de uma incisão profunda a partir da base da nadadeira peitoral (Figura 3). Figura 3: Extração da hipófise em peixes.

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• PRESERVAÇÃO DAS HIPÓFISES À medida que as hipófises vão sendo coletadas, colocá-las imediatamente em acetona. Quando terminada a coleta, utilizando-se de agulhas, estiletes, etc., procede-se uma limpeza preliminar, eliminando tecidos estranhos que tenham sido coletadas simultaneamente, e substitui-se a acetona, adicionando-se um volume mínimo de 20 vezes o volume de hipófises. Após 8 horas substituí-se novamente a acetona. Após outras 24 horas retira-se toda a acetona e colocam-se as glândulas sobre um papel filtro e deixa-se secar a temperatura ambiente e em local seco. Terminada a secagem procede-se à limpeza final para retirar tecidos remanescentes, e separam-se as hipófises inteiras das fragmentadas (estas podem ser utilizadas para a indução hormonal dos machos). Figura 4: Preservação das hipófises.

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• ARMAZENAMENTO DAS HIPÓFISES As hipófises assim produzidas podem ser armazenadas por vários anos, desde que sejam mantidas livres de umidade. Para isto adotam-se os procedimentos ilustrados na figura 5. Figura 5: Armazenamento das hipófises. 15. INCUBAÇÃO DOS OVOS Logo após o período de fertilização, os ovos são levados às incubadoras de 60 litros, na quantidade de 100 gramas de ovos, adicionados em água corrente de boa qualidade. Alguns cuidados na incubação quanto a quantidade de ovos:

• de 130 a 200 mil ovos para incubadoras de 60 litros • de 250 a 400 mil ovos para incubadoras de 200 litros

Quanto à vazão de água na incubadora: • de 4 - 5 litros/minuto para incubadora de 60 litros • de 7 - 10 litros/minuto para incubadoras de 200 litros

Estas precauções são necessárias para que ocorra o revolvimento dos ovos com suavidade evitando o seu rompimento. A eclosão destes ovos demora cerca de 16 -19 horas, estando, ligado diretamente este tempo com a variação da temperatura. Os ovos podem ficar na incubadora de 60 litros ou serem transferidos para as incubadoras de 200 litros, após decorridos 24 horas. Devem permanecer neste ambiente até a fase de pós-larva quando ocorre a absorção do saco vitelínico e desenvolvimento das nadadeiras, neste período a boca já esta formada e já recolhe a comida do ambiente. Decorrido este período vão aos viveiros, que já deverão estar preparados com antecedência de 3 a 4 dias, favorecendo o crescimento do fito e zooplâncton que fornecerá a alimentação neste estágio de desenvolvimento. O preparo deste viveiro de alevinagem deverá ser feito com 200-300 kg de esterco bovino para cada 1.000 m3, após a adição de 15 a 20 kg de calcário. 16. TRANSPORTE DAS PÓS-LARVAS PARA OS VIVEIROS

Alguns cuidados deverão ser observados nesta etapa: • O transporte sempre nas primeiras horas da manhã;

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• Recolhimento das pós-larvas das incubadoras por aspiração com tubulação apropriada, a qual é denominada sifonagem;

• A temperatura da incubadora deverá estar o mais próximo possível a da água do viveiro, para não ocorrer o choque térmico;

• A densidade recomendada de 150 mil pós-larvas para cada 1000 m2 de viveiro; • O nível da água do viveiro deverá estar entre 40 a 50 cm, somente completando

com o nível máximo após 48 horas do transporte inicial. 17. ALIMENTAÇÃO DAS PÓS-LARVAS

A alimentação deverá ser fornecida em duas parcelas/dia durante os sete primeiros dias, com distribuição uniforme pelo viveiro. A quantidade de ração a ser fornecida é calculada de acordo com o número de pós-larvas (Tabela 4). Tabela 4: Quantidade de ração para cem mil pós-larvas. SEMANA DA PÓS-LARVA QUANTIDADE (g) GRANULOMETRIA 1ª 200 Pó 2ª 500 Pó 3ª 1000 Muito Fina 4ª 1500 Fina (Granulada) 5ª 2000 Fina (Granulada)

Após quatro a cinco semanas, os alevinos terão de 3 a 5 cm e poderão ser levadas aos

viveiros de engorda ou vendidos para açudes ou represas (15 a 20 cm). A tabela 5 apresenta os principais componentes de rações para pós-larvas e alevinos.

Tabela 5: Formulação e Componentes de Rações para Pós-Larvas e Alevinos. COMPONENTE FASE ALIMENTAR INICIAL (%) ALEVINOS (%) ARROZ (PÒ) 25 - MILHO - 25 FARINHA SOJA 25 25 FARINHA PEIXE 25 25 FARINHA CARNE 25 25

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18. ESQUEMA DE LABORATÓRIO E INCUBADORA

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CAPÍTULO 4

QUALIDADE DE ÁGUA E MANEJO EM PISCICULTURA

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1. OXIGÊNIO DISSOLVIDO Quando falamos em qualidade da água para piscicultura, o primeiro e mais importante dos componentes que deve vir à mente é o Oxigênio Disponível (OD). É o componente mais limitante em piscicultura. Sua solubilidade é baixa e ainda é reduzida com o aumento da temperatura, com o decréscimo da pressão atmosférica e com o aumento da salinidade da água. Sua taxa de difusão também é muito lenta, ou seja, a transferência de oxigênio do ar para a água. Isto torna as algas fotossintetizantes a principal fonte de OD nos ecossistemas aquáticos. Sabemos que na água existem os produtores e os consumidores de oxigênio, sendo que o fitoplâncton inverte seu papel de produtor de oxigênio durante o dia para consumidor do mesmo no período noturno (fotossíntese e respiração). Havendo nutrientes na água em abundância para a fotossíntese e conseqüente produção de oxigênio, a luz solar passará a ser o fator limitante, podendo ocorrer morte de peixes em períodos longos de dias nublados. Existe um valor adequado de plâncton no tanque (que deve ser monitorado com o disco de Secchi). Se este plâncton for demasiado no tanque, a luz solar chegará muito atenuada na parte mais profunda do mesmo, diminuindo a fotossíntese e a produção de oxigênio. Concomitantemente durante a noite o número elevado de algas consumirá este oxigênio disponível, podendo ocorrer variações na concentração de OD de 20 mg/l no período da tarde para até menos de 2,0 mg/l nas primeiras horas da madrugada. A maioria dos peixes de água quentes suportam concentrações inferiores a 1,0 mg/litro de oxigênio, mas preferem concentrações superiores a 3,0 mg/litro e crescem muito bem quando as concentrações estiverem acima de 5,0 mg/litro. Então, conclui-se que a variação do oxigênio nos tanques está em função da quantidade de plantas, da profundidade, da temperatura e da incidência de luz 1.1. Causas da diminuição das concentrações de oxigênio dissolvido em viveiros

• Morte rápida de grandes quantidades de fitoplâncton existente no viveiro, com a decomposição da matéria orgânica, consome-se grandes quantidades de oxigênio disponível na água (Figura 1 e 2).

• Céu aberto com dias sem vento ou longo período chuvoso, havendo excesso de fitoplâncton nos viveiros. Nesse caso o fitoplâncton passa apenas a consumir o oxigênio, competindo com os peixes pelo mesmo O2.

• Chuvas ou ventos fortes causarão a suspensão da matéria orgânica depositada no fundo dos viveiros, assim parte do oxigênio seria gasto nesta mineralização.

• Superpopulação de peixes nos viveiros, a maior quantidade de peixes, consumirá o O2 de forma mais rápida, podendo ocorrer problemas principalmente no final da madrugada, quando não há produção de oxigênio pelo fitoplâncton.

• Falhas nos equipamentos de aeração. • Excesso de alimento ou de fertilizantes orgânicos.

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Figura 1: Variação superficial diária do OD em tanques com diferentes densidades de plâncton. Figura 2: Concentração de OD média em tanques com diferentes densidades de plâncton.

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1.2. Sintomas da queda do oxigênio nos viveiros (Figura 3) • Peixes param de se alimentar; • Mudança na coloração da água, que passa de verde para marrom; • Peixes abrindo e fechando a boca na superfície; • Peixes concentrados próximos à entrada de água do viveiro; • Morte dos peixes maiores.

Figura 3: Efeito da concentração de OD nos peixes. 1.3. Algumas medidas a serem tomadas na falta de OD

• Diminuir gradativamente, ou mesmo parar a adubação orgânica e/ou arraçoamento;

• Encher o viveiro com o máximo de água limpa possível e por queda brusca; • Evitar agitar a água do fundo, não passando rede de arrasto ou mesmo entrar no

tanque; • Remover plantas que provoquem sombra na água e impeçam a fotossíntese; • Utilizar aeração mecânica; • Aplicação de cal hidratada, pois a mesma reduz a quantidade de CO2 na água e faz

com que haja mais O2 disponível para os peixes.

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2. CONSTITUÍNTES DA ÁGUA DOS VIVEIROS As águas naturais contêm gases, íons inorgânicos e substâncias em solução ou substâncias particuladas em suspensão (inorgânicas ou orgânicas). Os gases nitrogênio, oxigênio e gás carbônico são os mais abundantes. A matéria orgânica particulada é constituída de fungos, bactérias, fitoplâncton (algas) e zooplâncton (animais microscópicos). A matéria inorgânica particulada é constituída de finas partículas, entre elas citam-se: sal, os íons cloreto, sulfato, magnésio, cálcio, potássio e bicarbonatos. A água muda em função da composição dos minerais do solo, como resultado de reações químicas. Em viveiros de piscicultura é importante observar os sedimentos orgânicos que se depositam no fundo. 3. VARIAÇÕES HIDROLÓGICAS São as modificações sofridas pelos corpos d’água devido a vários fatores como as condições ambientes ou mesmo de manejo. 3.1. Luz e temperatura Uma parte desta energia é refletida e outra é absorvida sob a forma de calor e causam na água diferentes intensidades de calor, chamadas de estratificação térmica com a formação de três zonas térmicas. 3.2. Estratificação térmica: efeito da temperatura e luz na água dos viveiros A velocidade de reações químicas é duas vezes menor ou maior a cada 10ºC de flutuação da temperatura. Assim, a taxa de degradação da matéria orgânica, da dissolução de nutrientes e fertilizantes, da degradação de produtos químicos é maior em águas quentes que em águas frias. A luz e o calor propagam-se na coluna d’água. Como a densidade da água varia com a temperatura ocorre a chamada Estratificação Térmica dos corpos d’água. As águas superficiais são mais leves e quentes e não se misturam facilmente com as águas mais profundas (mais pesadas e frias). Surge desta forma uma estratificação térmica da água (Figura 4):

• Epilímnion: é a camada mais superficial e mais quente, também chamada de zona fótica;

• Metalímnion ou termoclina: é a camada intermediária onde a temperatura cai bruscamente, ou seja, muda com a profundidade;

• Hipolímnion: é a camada mais profunda e mais fria. Em tanques rasos de até 1,5 m não ocorre a formação da 3ª camada. À noite o perfil térmico tende a se homogeneizar, misturando as camadas bruscamente. Os peixes não suportam mudanças bruscas de temperatura, e tendem a buscar sua zona de conforto térmico dentro dessas camadas. Desse modo, mudanças na temperatura da água podem induzir o desequilíbrio fisiológico (estresse) e mesmo matar os peixes em um viveiro. Variações bruscas de 5º C pode ser letal para certas espécies de peixes, principalmente quando são transferidos da água mais fria para águas mais quentes. A estratificação térmica de um tanque também pode ser quebrada pela ação dos ventos, da chuva ou pelo frio. Pode ocorrer uma mistura completa das águas superficiais com as águas profundas, ocasionando uma depleção (queda) na concentração de OD no tanque e conseqüentemente morte dos peixes. Espécies de peixes de hábitos mais profundos estão menos sujeitos a tais variações.

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Figura 4: A estratificação térmica de um corpo d’água pouco profundo. Assim, são necessárias medidas corretas no manuseio de peixes em épocas onde a variação térmica é mais acentuada (final do outono, inverno e início da primavera). No transporte de peixes de regiões de maior para menor altitude; de águas frias para águas quentes, etc. O manuseio dos peixes deve ser feito nos horários onde a temperatura ambiente e da água estejam mais próximas entre si e da faixa de conforto térmico da espécie cultivada. 3.3. Turbidez da água Interfere na penetração de luz na água (transparência da água). É medida através do disco de Secchi, que é a profundidade na qual um disco de 20 cm de diâmetro, alternado com quadrantes brancos e pretos desaparece de vista. A turbidez está em função direta da quantidade de partículas em suspensão na água, conferindo à mesma colorações diferenciadas. O plâncton produz turbidez desejável na água até os limites de 30 a 50 cm de transparência do disco de Secchi, correlacionando-se com boa produtividade de peixes e com sombreamento adequado para controle do crescimento de macrófitas aquáticas. Se o disco de Secchi só é visto acima dos 30 cm, ocorrerá certamente falta de oxigênio no período noturno, pelo excesso de algas. A temperatura também é maior em viveiros túrbidos, comparado com os viveiros onde a água é clara, devido à grande absorção de calor pelo material particulado. 3.4. O pH da água O pH é o potencial hidrogeniônico. Mede a concentração de íons hidrogênio na água (H+). Sua escala vai de 0 a 14 ( ácido a básico), sendo 7,0 o ponto de neutralidade. O pH da água sofre influência de vários fatores, entre eles amônia, enxofre e nitritos, mas, o principal é o gás carbônico. O CO2 assim como o OD sofre influência pelo seu consumo durante o dia pelas algas

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e a sua liberação à noite. O gás carbônico tem o poder de acidificar a água, ocorrendo então baixos valores de pH no período noturno, bem como valores mais altos durante o dia. A faixa ótima de pH para os peixes está entre 6,5 a 7,5. Valores de pH que pode ser prejudicial são aqueles abaixo de 4,0 e acima de 11,0. Valores entre 4,0 e 6,5 ou entre 9,0 e 10,0 os peixes sobrevivem, mas com baixo desempenho (Figura 5). Se a água de um viveiro é mais ácida do que o pH 6,0 ou mais alcalina do que o pH 9,5, por longo período de tempo, a reprodução e o crescimento diminuirão. A respiração, fotossíntese, adubação, calagem e poluição são os únicos fatores que causam mudança de pH na água (Figura 6). Figura 5: Efeitos do pH para os peixes cultivados. Figura 6: Flutuações diárias do pH em um tanque. 3.5. Efeito da fotossíntese e respiração no pH Durante o dia, as plantas aquáticas removem o CO2 da água para o uso na fotossíntese. Plantas e animais estão continuamente liberando CO2 na água pela respiração, entretanto, durante o dia as algas e plantas aquáticas em geral removem o CO2 da água mais rapidamente do que é reposto através da respiração. De madrugada ocorre o pH mais baixo no período de 24 horas, pois não ocorre a fotossíntese que consome o CO2 e libera O2 no meio. Com a luz do sol, a fotossíntese recomeça e

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o CO2 é utilizado pelos organismos autotróficos da comunidade aquática, voltando a aumentar o valor do pH na água. 3.6. Efeitos da localização na mudança do pH na água Águas de viveiros localizadas próximas a áreas agrícolas tendem a aumentar o pH, devido à erosão, que transporta nutrientes e calcários. Aqueles viveiros próximos a áreas industriais possuem pH baixo, devido às chuvas ácidas. A acidificação pode diminuir a produção primária, limitar o crescimento de espécies zooplanctônicas e pode também ser responsável pelo desaparecimento de diversas espécies de peixes, poderá influenciar também negativamente na reprodução dos peixes. 3.7. Alcalinidade total A alcalinidade total é a expressão das bases existentes na água que são os íons bicarbonatos (HCO3

-) e carbonatos (CO3-). Podem reagir para neutralizar íons hidrogênio (H+),

atuando como bases, e, portanto, contribuindo para elevar o teor de alcalinidade da água. Em viveiros de piscicultura são desejáveis valores acima de 20 mg/l de CaCO3 (carbonato de cálcio), sendo que valores de alcalinidade entre 200-300 mg/l podem proporcionar grande sucesso no cultivo de peixes. As mais altas produções não resultam diretamente de altas concentrações de alcalinidade, mas de altos níveis de fósforo e outros elementos essenciais, cuja disponibilidade aumenta juntamente com o aumento do teor da alcalinidade. Geralmente, este teor depende da textura do solo:

• solos de areia apresentam baixa alcalinidade; • solos de argila apresentam alta alcalinidade; • solos de regiões áridas apresentam alcalinidade excessiva pela grande evaporação

e concentração de íons. 3.8. Dureza total A dureza total mede a concentração dos cátions divalentes livres na água, principalmente íons de cálcio e magnésio. O teor de cálcio na água pode determinar o seu grau de dureza. Tanto a alcalinidade quanto a dureza total são expressas em mg de CaCO3/l . Valores acima de 20,0 mg de CaCO3/l indicam que haverá pouca variação do pH durante a noite/dia, ficando o pH em torno de 7,5 a 8,5. Valores abaixo de 20,0 mg de CaCO3/l indicarão uma variação de 6,0 a 6,5 no amanhecer e 9,5 a 10,0 no final da tarde. A alta alcalinidade está relacionada com as águas duras, pois alcalinidade e dureza são de concentrações similares em muitas águas. Assim, as águas podem ser classificadas da seguinte forma:

• Água mole: de 0 a 75 mg de CaCO3; • Água moderadamente dura: de 75 a 150 mg de CaCO3; • Água dura: de 150 a 300 mg de CaCO3; • Água muito dura: acima de 300 mg de CaCO3.

Estes valores poderão ser utilizados para observações da qualidade da água a ser escolhida em piscicultura. 3.9. Condutividade elétrica

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É uma forma de se avaliar a quantidade de nutrientes disponíveis nos corpos d’água. A medida é feita através de um aparelho chamado de condutivímetro, que mede a quantidade de eletricidade que pode ser conduzida pela água. Quanto maior a quantidade de sais dissolvidos na água, maior será a sua condutividade. Quando uma água apresenta alta condutividade, certamente ela deverá ter alta concentração de nutrientes dissolvidos, assim, em águas muito duras ou alcalinas também apresenta elevada condutividade. Os valores médios de viveiros de piscicultura estão em torno de 23 a 71 uS/cm (micro Siemens/cm). 3.10. Salinidade É a medida da quantidade de sais presentes na água. Para sua determinação poderá ser utilizados aparelhos como refratômetros e ou salinômetros, ou mesmo a equação de Swingle (1969): Salinidade (mg/l) = 0,03 + (1,805). Cl(mg/l) As exigências em sais na água depende das espécies, podendo variar de valores próximos a zero até 24,0 ppm para peixes de água doce. Como não se tem um estudo aprofundado das exigências ou limites de salinidade para os peixes cultivados, baseia-se como parâmetro os valores médios das águas do seu local de origem. Ex: Tambaqui (Colossoma macropomum)-Bacia Amazônica (0,05 a 3,4 ppm); Pacu (Piaractus mesopotamicus)-Bacia Paraná/Uruguai ( 3,0 a 14,0 ppm). 3.11. Amônia Aparece nas duas formas químicas: gás amônia (NH3) e íon amônio (NH4

+). Ambas ocorrem ao mesmo tempo na água, conforme a seguinte reação química: H+ + NH3 � NH4

+. Para cada unidade de aumento no pH, o íon amônio aumenta 10 vezes. Fonte de amônia em cultivos: decomposição de restos de ração, morte do fitoplâncton, excreção dos peixes, fertilização dos viveiros (sulfato de amônio ou uréia) (Tabela 1). Tabela 1: Fontes e quantidades de amônia produzidas em um cultivo semi-intensivo Origem da amônia Quantidade produzida (kg/ha) Excreção dos peixes 1.000-1.200 Fertilização química 200 Renovação de água 50 O que a amônia causa aos peixes: alterações fisiológicas na corrente sangüínea, enzimas e membranas biológicas (brânquias). Sintomas de toxicidade: peixes nadando erraticamente; ao serem capturados tremem e não conseguem saltar. Níveis de amônia: de 0 a 0,15mg/l de NH3 (ideal); de 0,15 a 1,0mg/l de NH3 (diminuição no crescimento e estresse); > que 1,0mg/l de NH3 (letal). Tratamentos: renovação de água, aeração, redução do pH, suspensão da fertilização, suspensão do arraçoamento. 3.12. Nitrito

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Parte da amônia é transformada em nitrito (bactérias Nitrosomonas). A amônia é dez vezes mais tóxica que o nitrito. Níveis de nitrito: de 0 a 0,5mg/l de NO2 (ideal); de 0,5 a 5,0mg/l de NO2 (diminuição no crescimento); > que 5,0mg/l de NO2 (morte por asfixia). Sintomas de toxidez por nitrito: sangue e brânquias com coloração vermelha intensa ou marrom; peixes nadam de lado e/ou ficam parados na superfície da água; peixes boquejando (mesmo quando os níveis de oxigênio encontram-se ideais); altas taxas de mortalidade. Tratamento e prevenção: o tratamento mais eficiente é a colocação de sal na água. Para o cálculo utiliza-se a seguinte proporção “concentração de nitrito x 6 partes de cloro”. Exemplo: nitrito na água = 7,0 mg/l x 6 = 42mg/l de cloro. A quantidade de cloro no sal é de 60%. Logo, 42/0,6= 70mg de sal/litro de água. A tabela 2 ilustra os principais parâmetros de qualidade de água e periodicidade ideal de monitoramento em uma piscicultura. Tabela 2: Periodicidade ideal de monitoramento. Parâmetro Periodicidade Período mais crítico do dia Temperatura 2 vezes ao dia Madrugada e meio da tarde Oxigênio 2 vezes ao dia Madrugada e final de tarde pH 3 vezes por semana Madrugada e final de tarde Amônia Semanal Final de tarde Nitrito Semanal Final de tarde Gás carbônico Semanal Amanhecer Alcalinidade Mensal Amanhecer 4. COMUNIDADES PLÂNCTONICAS O tanque ou viveiro de piscicultura abriga uma comunidade biótica (viva) composta de produtores primários (fitoplâncton, perifíton e macrófitas aquáticas), heterótrofos (peixes, zooplâncton, vermes, larvas de insetos, anfíbios, etc), decompositores (bactérias e fungos) que colonizam o ambiente à medida que vai se desenvolvendo o cultivo (Figura 7). Estes organismos dependem da qualidade da água, indicada pelas variáveis físicas, químicas e biológicas que são de grande importância para a produção de peixes. Sua distribuição, em grande parte, deve-se ao seu hábito alimentar, que também depende da penetração de luz no sistema. Os produtores são capazes de sintetizar matéria orgânica a partir da água, gás carbônico e luz solar, produzindo uma biomassa que constitui a fonte de energia para as cadeias alimentares de todo o ecossistema. Os consumidores podem ser herbívoros, que obtêm sua energia direta ou indiretamente a partir da matéria orgânica sintetizada pelos produtores primários; podem ser carnívoros, que obtêm sua energia a partir de outros consumidores; e por último os detritívoros, que se alimentam de restos de plantas e animais. Localizam-se principalmente no sedimento, formando as comunidades bentônicas. Todos os organismos pertencem a determinados níveis tróficos (produtores, consumidores primários, consumidores secundários, etc.) que em seqüências possuem relacionamento alimentar, e constituem a cadeia alimentar. Em todos os ecossistemas aquáticos não existem cadeias alimentares simplificadas, mas sim todo um inter-relacionamento e entrelaçamento de cadeias, constituindo a chamada rede ou teia alimentar.

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Figura 7: Estrutura biológica da água dos viveiros. 4.1. Constituintes do ecossistema aquático (Figura 8) Plâncton: É constituído por microrganismos vegetais (fito) e animais (zooplâncton) flutuantes à meia altura e na superfície da água dos lagos, represas e tanques de criação de peixes, que são de importância vital para a sobrevivência de larvas, alevinos e juvenis de peixes. Fitoplâncton: são as algas unicelulares responsáveis pela produção primária do meio através da fotossíntese. Utiliza para isso a luz solar, os nutrientes presentes na água e o CO2. Durante o dia produzem O2, vital para a vida dos peixes e de outros organismos presentes neste ecossistema.As principais algas são as clorofíceas (algas verdes) e as cianofíceas. Nanoplâncton: são as algas microscópicas presentes na água, que se alimentam principalmente da matéria orgânica dissolvida. Também são produtoras de oxigênio, pode-se dizer que são as mais importantes para a produção primária e para a coloração esverdeada da água dos tanques. Zooplâncton: são os microorganismos presentes na água e que não possuem movimento próprio. Se alimentam do fito e do nanoplâncton. Os principais organismos do zooplâncton são: Rotíferos: pequenos animais aquáticos que medem entre 0,1 a 1,0 mm. São importantes alimentos para as pós-larvas de peixes. Microcrustáceos: são os consumidores primários do biótopo. Dois grupos tem importância maior nos viveiros: a) os cladóceras (pulga da água) ou Daphnias e b) os copépodas - Diatomus e Cyclops. Embora o valor nutritivo dos cladóceras seja menor do que os copépodas, eles são mais importantes nos viveiros, porque os peixes as capturam facilmente. Necton: são os seres que vivem na água e possuem movimentos natatórios voluntários, ou seja, são capazes de nadar. São os consumidores secundários do ecossistema aquático. Aqui se incluem os pequenos peixes zooplanctófagos, os grandes peixes de hábitos alimentares diversos e os demais vertebrados aquáticos. Bentos: são os organismos que vivem no substrato do fundo do tanque (lodo). É onde ficam depositados plantas e animais mortos, enriquecido com materiais orgânicos comestíveis. Estes materiais são fontes de alimentos para os peixes iliófagos (que se alimentam do lodo) e também para os peixes que se alimentam de larvas de insetos como os de efemerópteros e quironomídeos. Também constituem o bentos alguns vermes, moluscos e minhocas. Servem de alimento para diversas espécies de peixes iliófagos como o curimbatá e a carpa.

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Vegetais Superiores: também conhecidos por macrófitas aquáticas, são as plantas que vivem submersas parcialmente ou totalmente na água, geralmente ficam próximos aos taludes dos viveiros. Podem ser consideradas como produtores primários do ecossistema aquático. São indesejáveis por causarem problemas de manejo nos viveiros. Perifíton: é constituído por animais e vegetais presos a substratos artificiais ou naturais, como talos e raízes de plantas, folhas e troncos submersos, pedras e sedimentos. Nêuston: corresponde à fauna e flora associada à tensão superficial na interface ar-água, ou seja, flutuando à superfície da água. Ex. aracnídeos, ácaros e insetos pertencentes às ordens Collêmbola e Hemíptera. Algumas algas cianofíceas (Euglena spp) e clorofíceas. Pleuston: são organismos vegetais que vivem na interface ar-água. Ex: os Aguapés. Toda essa cadeia alimentar pode ser representada por uma pirâmide que demonstra a passagem de um nível trófico para outro com perda de energia . Por isso as cadeias alimentares mais simples ou diretas são mais produtivas que as cadeias ou teias alimentares mais complexas (Figura 9). Figura 8: Representação artística da comunidade de um ecossistema aquático.

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Figura 9: A pirâmide da produção (numérica ou biomassa) na cadeia alimentar de um ecossistema aquático. 5. PREPARAÇÃO DO VIVEIRO Antes de iniciar um cultivo, os viveiros da propriedade deverão ser adequadamente preparados para poderem receber os peixes. O preparo consta de uma série de procedimentos que devem ser observados para que se consiga atingir os níveis esperados de produtividade. Esses procedimentos envolvem basicamente:

• Enchimento/ Esvaziamento e secagem dos viveiros • Desinfecção • Aplicação de calcário • Oxidação da matéria orgânica • Fertilização

5.1. Enchimento/esvaziamento e secagem Ao se terminar um cultivo, o viveiro deve ser completamente esvaziado e seco ao sol. Ao secar o solo racha, permitindo a entrada de oxigênio até as camadas mais profundas. Isto é altamente benéfico, pois ajuda a oxidar e mineralizar o excesso de matéria orgânica que sempre fica no fundo. A mineralização é a decomposição da matéria orgânica liberando os nutrientes para serem aproveitados, principalmente pelo fitoplâncton. A exposição ao sol permite a oxigenação do próprio solo, diminuindo a decomposição anaeróbica que produz compostos tóxicos aos peixes, como o ácido sulfídrico. Também auxilia na eliminação de ovos de peixes e de outros predadores, que podem sobreviver no solo úmido, mas nunca no solo completamente seco. O tempo de exposição é variável e poderá ficar de 5 a 7 dias ou mais. É importante caminhar por todo o viveiro sem afundar os pés, quando isso ocorrer, o solo terá secado o suficiente. Solos sulfurosos não deverão ser completamente secos, pois apresenta pH baixo (4,0) e alta concentração de enxofre. Se exposto ao sol formam manchas vermelhas no fundo resultantes da formação de hidróxido de ferro (Fe2(OH)3 e ácido sulfúrico.

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O solo sulfuroso é facilmente conhecido ao se adicionar um pouco de água oxigenada a uma pequena amostra, ao se formar grandes quantidades de bolhas de gás, há grande probabilidade de este solo ser sulfuroso. Para se evitar este processo que irá diminuir ainda mais o pH do solo como a toxidez formada pelo ácido sulfúrico, na despesca deixar uma camada de água suficiente para cobrir o fundo. 5.2. Desinfecção Será necessária para eliminar resíduos tóxicos entre dois ciclos de produção ou a presença de microrganismos indesejáveis. Vantagens da desinfecção: oxidação da matéria orgânica acumulada; aumento da fertilidade do solo dos viveiros. A desinfecção por produtos químicos é muito utilizada, principalmente quando não se tem sol suficiente, em dias de muitas chuvas ou em viveiros mal drenados. a) Uso da cal virgem (CaO) ou cal hidratada (Ca(OH)2) Em contato com a água, a cal virgem libera calor, além de aumentar muito e rapidamente o pH da água e do solo, matando todos os organismos aquáticos que estiverem presentes no ambiente. Já a cal hidratada mata exclusivamente pelo aumento do pH, pois não eleva a temperatura da água. A quantidade recomendada para eliminar todos os organismos indesejados é de 2,0 ton/ha. Em áreas com solo muito anaeróbicos, onde existem manchas de lama mais escura e com cheiro de ovo podre (enxofre), utiliza-se um produto mais forte para oxidar a matéria orgânica. O hipoclorito de sódio (água sanitária), ou uma solução de cloro de piscina poderá também ser utilizado. O procedimento é o seguinte:

• Colocar a solução concentrada de cloro (100 ppm ou seja 0,1 grama de cloro/litro de água em um aplicador manual de herbicidas ou em um balde plástico. Aplicar cerca de 1,0 litro/m3 nas áreas afetadas. Revirar o solo (com enxadão ou enxada). Aplicar novamente a solução com cloro (por duas a três vezes) até desaparecer o forte cheiro do enxofre. Deixar o fundo do viveiro exposto ao sol por mais dois ou três dias para que o cloro evapore e não coloque em risco a saúde dos peixes que serão cultivados.

5.3. Calagem A aplicação de calcário ou calagem poderá ocorrer na forma de carbonato de cálcio (CaCO3) que é o calcário agrícola; óxido de cálcio (CaO) ou hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) que é a cal hidratada. Sempre será necessária quando o pH estiver abaixo de 6,0. Deverá ser feita com o tanque vazio com 2 a 3 semanas antes do enchimento do mesmo. Poderá também ser efetuada com o viveiro cheio em locais onde a água é muito ácida e a sua constante renovação acidifica o meio. Utilidade da correção do solo do viveiro: a) permitir ou melhorar a sobrevivência dos peixes cultivados; b) permitir a reprodução ou crescimento dos peixes; c) dar condições para que os demais procedimentos de manejo possam ter sucesso, principalmente a fertilização dos viveiros. Funções da Calagem: a) Elevar o valor do pH do solo e da água; b) Diminuir a retenção de fósforo no fundo dos viveiros;

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c) Aumentar a quantidade de gás carbônico para a fotossíntese. O calcário ou a cal adicionada ao solo vai reagir com a água e produzir gás carbônico, o fitoplâncton precisa desse gás carbônico para realizar a fotossíntese. A fotossíntese é muito importante para a piscicultura, pois é através dela que o fitoplâncton produz e libera na água grande quantidade de oxigênio que será usado na respiração dos peixes (6CO2 + 6H2O + luz e nutrientes= C6H12O6 + 6O2) d) Diminuir a turbidez da água e a quantidade de material em suspensão. e) Aumentar a alcalinidade da água. Necessidade de Calagem: a melhor maneira para se determinar a calagem é a realização de análises de solo e da água utilizada nos cultivos. A aplicação de calcário deverá ser feita quando:

• a alcalinidade da água dos viveiros for inferior a 20 mg/l de CaCO3; • o pH do solo for inferior a 6,0-6,5; • solos ricos em alumínio; • solos que, mesmo realizando fertilizações periódicas, não se consegue obter uma

resposta adequada em termos de aumento da quantidade de fitoplâncton nos viveiros.

Época de aplicação do calcário: o ideal é de 2 a 3 semanas antes de fertilizar os viveiros, pois em um primeiro momento, o calcário irá reduzir as quantidades de fósforo e de CO2 disponíveis. Depois de alguns dias reagindo com a água, ele faz aumentar novamente essas concentrações. Duas semanas após o enchimento verificar a alcalinidade da água. Se o valor estiver abaixo de 20 mg/l de CaCO3, pode-se aplicar mais 500 a 1000 kg de calcário/há. 5.4. Oxidação da matéria orgânica A matéria orgânica está presente naturalmente em alguns tipos de solos, mas é comum que haja um acúmulo ainda maior no fundo em função dos excessos de alimento ou de restos de adubos orgânicos (estercos) utilizados no cultivo anterior. Se não for controlado, o excesso de matéria orgânica provocará uma diminuição das concentrações de oxigênio dissolvido e poderá levar à produção de gases e substâncias tóxicas, que irão prejudicar os cultivos que vierem a ser realizados. Além da secagem ou o uso de oxidantes químicos, como a água sanitária e a cal, uma técnica muito eficiente e barata é a aplicação de fertilizantes químicos que contenham nitrogênio (uréia). Esse fertilizante nitrogenado deve ser espalhado pelo fundo do viveiro, de preferência junto com calcário (cerca de 10 kg de nitrogênio/ha, o que equivale a 22 kg de uréia/ha). 5.5. Fertilização dos viveiros Os viveiros são ambientes artificiais criados pelo homem para a criação de peixes em número muito maior aos encontrados na natureza. Há muitos anos os piscicultores vêm aumentando a produção a partir do uso de fertilizantes químicos ou orgânicos. A principal função da fertilização é aumentar a quantidade de fitoplâncton existente na água. Este serve de alimento para animais microscópicos chamados de zooplâncton e constituem alimento natural de grande número de peixes. Havendo condições propícias de luz e temperatura os nutrientes presentes nos fertilizantes (NPK, principalmente), dissolvem-se na água e são assimilados pelo fitoplâncton. O crescimento do fitoplâncton atinge todo o viveiro deixando a água com uma coloração esverdeada. O esterco

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de animais (aves, suínos e bovinos) contém estes nutrientes, mas em proporções menores, e são as bactérias as responsáveis pela liberação dos mesmos na água. As fertilizações feitas no verão são mais rápidas e eficientes do que as de inverno, devido a temperatura acelerar todo o processo. O fitoplâncton é uma alga unicelular, por isso vive pouco tempo, mas possui a vantagem de se reproduzir muito rapidamente. Os fertilizantes utilizados, a princípio, são os mesmos utilizados na agricultura. O importante é que tenham os elementos necessários ao desenvolvimento do fitoplâcton. O mais utilizado como fonte de nitrogênio é a uréia, mas deve ser utilizada com parcimônia, pois seu excesso pode causar a intoxicação dos peixes pela amônia. Já os fertilizantes à base de nitratos apresentam melhores resultados, mas são bem mais caros que a uréia. O fósforo é muito mais importante que o nitrogênio e o potássio para o fitoplâncton, sendo que este último quase não é utilizado. Quantidade a ser aplicada: geralmente se utiliza uma relação N:P de 1:3, ou seja, três vezes mais fósforo do que nitrogênio. O cálculo poderá ser feito pela seguinte equação Q= (A.C)/I, onde Q= quantidade de fertilizante (kg); A= Área do viveiro (ha); C= Concentração que se pretende colocar de N, P ou outro nutriente (kg/ha) e I= Percentagem de N ou P no fertilizante. A aplicação do fertilizante químico consiste na colocação de sacos porosos presos em estacas dentro do viveiro. Os nutrientes dissolvidos passarão do saco para a água, onde serão aproveitados pelo fitoplâncton. A eficiência será maior se o fertilizante for distribuído em dois ou mais sacos espalhados pelo viveiro. 5.6. Fertilizantes orgânicos São os vários tipos de estercos animais que são utilizados neste tipo de fertilização. A liberação dos nutrientes presentes no esterco será feita por bactérias, o que de certa forma diminuirá o oxigênio dissolvido na água, isto devido ao fato das bactérias consumirem oxigênio para poderem sobreviver. A quantidade de oxigênio que será consumida dependerá do tipo de dejeto a ser utilizado e da temperatura da água. Quanto maior for a temperatura, maior será o risco de que venha faltar oxigênio para os peixes, em caso de excesso de adubação. É por isso que a quantidade de dejetos lançada nos viveiros deve ser sempre bem controlada. As quantidades de esterco a serem aplicadas é muito variável e depende do bom monitoramento das condições da água. A tabela abaixo nos dá uma indicação que poderá ser adotada para a fertilização orgânica. TIPO DE ESTERCO QUANTIDADE EM KG/SEMANA BOVINO 1000 AVES E SUÍNOS 600-800 OVINOS E EQUINOS 1000 6. ALGUMAS OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

• Viveiros sem aeração, não aplicar mais de 50-70 kg de esterco seco/ha/dia; • Sempre que possível utilizar esterco na forma líquida, a não ser que o mesmo seja

utilizado como alimento para os peixes; • A grande quantidade de fibras do esterco seco poderá causar maior consumo de

oxigênio na sua degradação, gerando também resíduos sólidos no fundo do viveiro;

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• A resposta à adubação é medida pela abundância de fitoplâncton presente no viveiro, que torna a água do mesmo mais esverdeada;

• O monitoramento das condições de turbidez da água é feito com um aparelho chamado disco de Secchi (Figura 8);

• O disco mede 20 cm de diâmetro e é pintado de preto e branco em quadrantes alternados. A transparência ideal da água poderá ser definida com uma visibilidade do disco entre 30 a 45 cm.

7. CUIDADOS COM A FERTILIZAÇÃO QUÍMICA E ORGÂNICA

• Avaliar a qualidade da água, principalmente o oxigênio dissolvido, antes de fertilizar;

• Não colocar mais fertilizantes orgânicos do que o necessário, pois em excesso podem diminuir a vida útil dos viveiros;

• Fornecer as dosagens de forma parcelada é melhor do que aplicar de uma só vez toda uma carga de fertilizantes;

• Não fertilizar os viveiros tomados por outros vegetais, que não o fitoplâncton, devendo os mesmos serem retirados;

• Diminuir a renovação de água ao máximo, quando estivermos fertilizando o viveiro;

• Adquirir as quantidades de fertilizantes suficientes para um ciclo completo de produção, evitando o seu envelhecimento e queda de qualidade.

Figura 10: Representação esquemática de um disco de Secchi.

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CAPÍTULO 5

SELEÇÃO DE ESPÉCIES PARA PISCICULTURA

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1. SELEÇÃO DE ESPÉCIES PARA PISCICULTURA Inicialmente deverão ser observados vários itens de interesse para o sucesso do

empreendimento, pois a piscicultura é uma atividade comercial e como tal deve ser encarada. O peixe é o produto de comercialização, então deve se enquadrar nas características exigidas pelo mercado. Outro aspecto a ser considerado é o nível de manejo que será empregado na produção de peixes. Essa é também uma decisão que deve ser tomada antes de iniciar qualquer cultivo e é a partir dela que o produtor deverá planejar o quanto irá investir e quanto pretende produzir em sua propriedade. Alguns itens deverão ser observados para a escolha da espécie:

1.1. Mercado Verificar a existência de mercado para a espécie que se quer produzir. Conhecer as características exigidas pelo mercado (tamanho mínimo, uniformidade do lote, sabor da carne, espécies esportivas ou espécies ornamentais). 1.2. Economia

• Preço a ser obtido pelo produto; • Custos de construção e adequação dos viveiros para cultivo dessa espécie; • Estimativa do custo de produção de cada Kg de peixe; • Tempo previsto para o retorno do capital investido.

1.3. Biologia da espécie

• Reprodução em cativeiro ou controle da reprodução por métodos naturais ou artificiais;

• Rusticidade (resistência a enfermidades); • Boa taxa de sobrevivência em cativeiro; • Crescimento rápido; • Exigências nutricionais (alimento fácil de encontrar e barato).

1.4. Exigências climáticas

• Clima adequado ao crescimento (conhecimento das respostas que a espécie apresenta em condições adversas);

• Tolerância à baixa qualidade da água. 1.5. Manejo

• Escolha das espécies de fácil manejo, tanto na despesca, comercialização, conservação, beneficiamento, transporte, etc.

1.6. Infra-estrutura

• Facilidade na compra de insumos (rações, produtos químicos e alevinos); • Energia elétrica; • Telefonia; • Vias de escoamento: facilidade e custos de transporte de insumos e da produção.

2. PRINCIPAIS ESPÉCIES NATIVAS DE PEIXES CULTIVADAS NO BRASIL Muitas são as espécies nativas utilizadas em piscicultura, sendo que as técnicas de cultivo variam de acordo com a região. Entre as espécies nativas mais estudadas visando sua exploração

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comercial, destacam-se o pacu, considerado como uma espécie de boa aceitação no mercado. Na década de 90, o pintado, a matrinxã, a piracanjuba, o piau, o piavuçu, a piapara, o tucunaré e o dourado tiveram seus cultivos incrementados. 2.1. PACU, TAMBAQUI E SEUS HÍBRIDOS O Pacu (Piaractus mesopotamicus), foi uma espécie classificada anteriormente como Colossoma mitrei, sendo largamente distribuído nos rios da Bacia do Prata, onde apresenta grande importância na pesca comercial. Apresenta uma cabeça relativamente pequena, com duas séries de dentes, escamas pequenas, havendo citações de peixes com 82,0 cm de comprimento total e 18,5kg de peso vivo. O tambaqui (Colossoma macropomum) é um peixe de piracema nativo da Bacia Amazônica. No seu meio natural comporta-se como onívora alimentado-se de frutas, sementes, crustáceos, etc. São espécies que tem despertado interesse para a piscicultura pelo seu elevado valor comercial, adaptação a alimentação artificial e também pela facilidade de obtenção de larvas através da reprodução induzida, apresentando uma boa taxa de crescimento. São espécies pertencentes à família CHARACIDAE e subfamília MYLEINAE:

• Tambaqui - Colossoma macropromum; • Pacu - Piaractus mesopotamicus; • Pirapitinga - Piaractus brachypomus.

São espécies de desova total, ovulíparas, com reprodução ocorrendo no período em que as águas dos rios apresentam maior volume, altas temperaturas ambiente e fotoperíodo alto. Apresentam elevada prolificidade e em cativeiro só se reproduzem através de indução hormonal. A primeira maturação sexual acontece por volta do 4º ano de vida. Em cativeiro, aceitam muito bem as rações balanceadas, já existindo, dados experimentais a respeito de suas exigências nutricionais. Da mesma forma, nas fases iniciais da criação alguns trabalhos parecem indicar um manejo alimentar a bases de ração e, também, de microorganismos (zooplâncton). São os peixes mais estudados em trabalhos de pesquisa, sendo obtidas produtividades que variam conforme o sistema de manejo entre 1,5 ton/ha a mais de 10 ton/ha/ano. O tambacu oriundo do cruzamento do pacu macho com fêmea de tambaqui é um híbrido que foi produzido objetivando o potencial de crescimento e a resistência para cultivo em regiões mais frias. Outro híbrido é o paqui, resultante do cruzamento da fêmea do pacu com o macho tambaqui. 2.1.1. Reprodução A produção de alevinos do pacu e do tambaqui é obtida através da reprodução induzida, onde, apresentam boa taxa de fertilização. São utilizadas as hipófises de Salmão, Carpa, Curimba, Piavuçu, etc, ou mesmo os hormônios sintéticos. A incubação dos ovos é realizada numa temperatura entre 25 a 27º evitando-se alterações bruscas de temperatura nas incubadoras e mantendo-se uma taxa constante de renovação da água. A eclosão das larvas do pacu e tambaqui ocorre cerca de 20 a 25 horas após a fertilização, com uma temperatura média da água de incubação em torno de 25º. Logo após a eclosão o pacu apresenta um peso vivo médio de 0,12 mg e comprimento total de 4.4 mm. O crescimento durante o primeiro mês varia grandemente de acordo com a alimentação e dos fatores bióticos e abióticos da água. 2.1.2. Sistema de criação

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A densidade de cultivo durante a fase inicial é de fundamental importância na determinação da taxa de crescimento e, principalmente, na sobrevivência das larvas, que está relacionado com a disponibilidade de “organismos - alimento”, sendo recomendada uma densidade de 15 a 50 alevinos por m², a qual pode variar em função da disponibilidade de plâncton e/ou alimento artificial, qualidade da água, taxa de crescimento desejada, etc. Os sistemas de criação e a tecnologia utilizada é que vão determinar a produtividade de cada tipo de exploração. Para sistemas extensivos com densidade de 0,5 a 1,0 peixe/5m², períodos de criação de 18 a 24 meses e taxa de arraçoamento de 0,5 a 1% da biomassa do tanque, termina-se os animais com 1 a 1,5kg de peso vivo. No mesmo sistema extensivo, o pacu ou o tambaqui podem ser cultivados com outras espécies de peixes, dando-se preferência para as carpas (exóticas) e o curimbatá que podem ser despescadas juntamente com o pacu ou o tambaqui. No sistema semi-intensivo é necessária uma adequada análise e, se necessário, a correção do solo, bem como adubação para produção de plâncton. Nesse sistema utiliza-se uma densidade de 1 a 2 peixes por m², com uma taxa de arraçoamento diário de 2 a 5% da biomassa do tanque, que depende da fase da criação, da temperatura da água, e da qualidade da mesma. Pode-se utilizar dietas fareladas, desintegradas na fase inicial e peletizada e extrusada no período de crescimento/terminação. Nos últimos anos o pacu tem sido utilizado para criação em tanques redes. Nesse sistema utiliza-se uma elevada densidade de estocagem, possibilitada pela grande renovação de água. A dieta balanceada pode ser fornecida a lanço, em comedouros tipo cocho ou mecânico, sendo utilizada preferencialmente a dieta extrusada, que proporciona uma melhor conversão, na proporção de 3 a 5% da biomassa total, parcelada em pelo menos duas vezes ao dia. A densidade é bastante variável, sendo comum a utilização de 50 a 100 peixes/m³, permitindo a obtenção de peixes de 1 a 2 kg de peso vivo no período de 1 ano. 2.1.3. Alimentos e alimentação Em sistemas de confinamento, ao contrário do que ocorre em meio natural, para um adequado crescimento, os peixes necessitam de todos nutrientes em quantidades adequadas, uma vez que o alimento natural não atende às exigências nutricionais, principalmente durante o período de crescimento/terminação. Vários tipos de alimentos produzidos e disponíveis em nosso país podem ser empregados na alimentação do pacu e do tambaqui, como o milheto, substituindo o milho sem afetar a conversão alimentar, a levedura ou farelo de girassol e o farelo de algodão, sendo necessária a avaliação biológica e econômica do emprego das mesmas. A alimentação natural apresenta grande importância no desenvolvimento e sobrevivência das pós-larvas e alevinos, sendo importante observar aspectos quantitativo, qualitativos. O início da alimentação exógena ocorre de 3 a 5 dias após a eclosão e, nessa fase, é imprescindível uma boa disponibilidade de zooplâncton, principalmente de rotíferos, que apresentam um elevado valor nutritivo, tamanho adequado e é de fácil captura pelos peixes. O fitoplâncton também possui grande participação durante o período inicial de alimentação exógena (Tabela 1).

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Tabela 1: Principais aspectos observados na alimentação do pacu durante o período de eclosão até 30 dias de vida

Adaptado de PINTO E CASTAGNOLLI (1984). Para a produção em massa desses “organismos alimentos” é necessária uma adequada correção do solo do viveiro e uma posterior adubação química e/ ou orgânica, e também a manutenção do plâncton através de novas adubações. Geralmente, em função do custo, utiliza-se a adubação orgânica, que pode ser esterco de aves, suínos, bovinos, caprinos, coelhos ou eqüinos, realizada uma semana antes da estocagem das larvas ou alevinos. A adubação de manutenção deve ser realizada sempre que necessária, sendo controlada através do disco de Secchi, onde é considerado como ideal, em termos de produção de plâncton uma altura em torno de 30 cm. A adubação química também é bastante utilizada associada ou não com adubação orgânica. Ainda que uma adubação antecipada (cerca de duas semanas) propicie o desenvolvimento de microorganismos, como copépodas e cladoceras, no momento de distribuição das larvas, é importante ressaltar que esse manejo possibilitará maior período para o desenvolvimento de larvas de odonata, capazes de provocar elevadas taxas de mortalidade. Quanto o tamanho ideal da partícula da ração em relação ao tamanho do peixe, é importante avaliar alguns estudos a respeito da forma e fornecer uma partícula que possa ser ingerida com facilidade (Tabela 2) e além disso reduzir custos com alimentação, manter uma boa qualidade da água e melhor desempenho dos animais, obtendo-se assim uma adequada taxa de uniformidade e de sobrevivência. Tabela 2: Relação entre o comprimento padrão e o tamanho da partícula (mm) mínimo e máximo para pacu e tambaqui

O manejo alimentar adequado, não somente quanto ao tamanho da partícula alimentar, mas também com relação à taxa de arraçoamento, resultará em uma melhora na conversão alimentar, reduzindo as perdas de uma dieta de elevado custo. A produtividade de acordo com alimentação utilizada pode ser:

Idade/dias Alimentos 1 saco vitelínico 3 saco vitelínico 4 a 8 algas (cianofíceas) 9 Rotíferos 11 rotíferos e copepoditos 15 rotíferos e larvas de chironomidae 23 rotíferos, cladocera e larvas de chironomidae 29 rotíferos, larvas de chironomidae, cladoceras e copepoditos

Tamanho da partícula (mm) Comprimento padrão (cm) mínimo máximo

1,6 0,35 0,42 2,1 0,50 0,71 3,1 0,71 1,00 4,5 1,00 1,41 4,5 1,00 1,41

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• Só com uso de adubo orgânico: 800 a 1600kg/ha; • Rações de baixo custo mais adubação: 2700 a 5000kg/há; • Rações completa (proteínas, aminoácidos e minerais): 8000 a 11000kg/há.

2.2. PIRAPUTANGA E MATRINXÃ São espécies da mesma família do pacu e tambaqui (Characidae), mas pertencentes à subfamília Bryconinae, que têm no gênero Brycon várias espécies com potencial para piscicultura. Estas espécies de maior valor econômico utilizadas em piscicultura são conhecidas vulgarmente nas Bacias Amazônica e Paraná-Uruguai, respectivamente, como matrinxã e piraputanga. O matrinxã (Brycon amazonicus) tem recebido maior atenção na pesquisa, com o objetivo de viabilizá-lo na piscicultura. São peixes de coloração geral oliváceo-dourada, com nadadeiras caudal e anal prateadas ou levemente avermelhadas. Habitam águas limpas e são pescados com anzóis usando como iscas, frutas ou carnes de outros peixes A piracanjuba (Brycon orbignianus) é uma espécie em extinção da bacia Paraná-Uruguai, onde ainda pode ser capturada, principalmente nos rios Grande e Paraná. Pertencem também à mesma subfamília, a piraputanga (Brycon microlepsis) cujos trabalhos de criação ainda são iniciais. Ainda são poucos os sistemas de criação avaliados para essas espécies. No período de terminação tem-se utilizado de 1 a 2 peixes/m² sendo também preconizado a sua criação em tanques redes, onde tem apresentado bons resultados. O matrinxã, quando em ambientes pobres em oxigênio, expande o lábio inferior, o que permite uma maior eficiência na captação de oxigênio. São peixes de hábito alimentar onívoro e, em condições naturais, são muito dependentes de alimentos alóctones, ou seja, frutos e sementes. Trabalhos de pesquisa obtiveram ganho de peso de 0,5 g/dia e uma conversão alimentar de 2,7:1, usando ração granulada. Em outros experimentos obtiveram produções de 2,75 a 3,61 ton/ha/ano em monocultivo de matrinxã. Segundo CIRYNO (1985), o matrinxã digere igualmente bem a proteína de origem animal ou vegetal e a energia pode ser obtida tanto a partir de carboidratos como de lipídeos. O autor admitiu que uma dieta com os níveis de proteína bruta de 35% e energia de 2300 kcal EM/KG parece atender as exigências da espécie. 2.2.1- Reprodução São espécies reofílicas, ou seja, necessitam da piracema para a reprodução no seu meio natural. A maturidade sexual é atingida com 2 a 3 anos de vida, sendo que no período de reprodução o macho apresenta uma aspereza na nadadeira anal, liberando sêmen sob leve pressão abdominal no sentido encéfalo-caudal, enquanto que as fêmeas apresentam o ventre abaulado e macio, com uma coloração rosada da papila genital. A reprodução induzida segue os padrões normais com o emprego de 0,5 a 5,0 mg/kg de peso vivo nas fêmeas, na primeira e segunda aplicação e para os machos, têm-se utilizado de 0,5 a 3,0 mg/kg de peso vivo, juntamente com a segunda aplicação das fêmeas. A incubação é feita numa densidade de 500 a 1000 larvas/litro, ocorrendo a eclosão das larvas num período de 10 a 15 horas após a fertilização. 2.2.2- Larvicultura e alevinagem A criação de larvas é um dos fatores mais limitantes no cultivo dessa espécie, principalmente em função da elevada taxa de canibalismo que ocorre durante esse período. Visando esse canibalismo têm-se utilizado larvas de outros peixes e também organismos-

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alimento, como a artêmia (copépoda), ainda assim a taxa de sobrevivência é relativamente baixa quando comparada com outras espécies. A densidade nessa fase varia de 25 a 70 peixes/m². Os tanques devem ser preparados de forma idêntica àquela realizada para a larvicultura e alevinagem do pacu, onde devem ser totalmente esvaziados, permanecendo expostos aos raios solares por um período de cinco a sete dias e, posteriormente, realiza-se a calagem e adubação dos tanques. O tipo e quantidade de esterco adicionado aos tanques influenciam no peso final médio, uma vez que ocorre uma variação quali-quantitativa no plâncton produzido, em função dos nutrientes que encontram-se disponíveis para a produção dos mesmos, assim como sua influência sobre a qualidade da água. Experimentos feitos com adubos orgânicos de bovinos, aves e de eqüinos fornecidos na proporção de 500, 200 e 300 g/m², respectivamente, mostraram taxas de sobrevivência de 37, 22 e 20% e comprimento final médio de 4,3, 3,1 e 3,9 cm, para os estercos de bovinos, aves e eqüinos respectivamente. A desuniformidade do lote é um dos principais motivos de canibalismo, tornando assim a alimentação adequada quanto á disponibilidade e tipo um dos fatores mais importantes para se obter uma taxa maior de sobrevivência durante esse período. Na fase de crescimento levam de 60 a 90 dias para atingir 200 gramas. A densidade nessa idade é de 50.000 peixes/ha, com renovação da água, aeração e ração flutuante. A produtividade média está em torno de 10.000 kg/ha com ração mais esterco. 2.2.3- Alimentos e alimentação São espécies onívoras que se dão bem com dieta à base de proteínas animais e vegetais, o que possibilita a utilização do farelo de soja em substituição á farinha de peixe, sendo importante avaliar outra fontes protéicas em substituição ao farelo de soja para reduzir o custo com alimentação. O nível de proteína na ração varia de 25 a 30% sendo recomendada a utilização de 30% na fase inicial e de 25 a 27% no período de terminação, com cerca de 3300 kcal de EM/kg de ração na dieta, parcelada em duas ou três vezes ao dia, onde atingem cerca de 1,0 kg no período de um ano, com uma conversão alimentar variando de 1,5 a 2,0:1, dependendo da disponibilidade e qualidade do alimento natural no viveiro. 2.2.4. Comercialização São espécies cuja carne apresenta elevado valor comercial, sendo também amplamente preconizadas para a pesca esportiva. Ao peso de comercialização apresentam um bom rendimento de filé (cerca de 50%) com pele. 2. 3. DOURADO (Salminus maxillosus) É um peixe de piracema que apresenta coloração amarela-dourada, com reflexos prateados, sendo uma espécie distribuída por toda a Bacia do Prata. Pertencem à subfamília dos peixes saltadores e, pela sua agressividade quando fisgado, é considerado um dos melhores peixes para a pesca esportiva, além de possuir uma carne de grande valor comercial. Apresenta uma elevada taxa de canibalismo e os custos com a alimentação dessa espécie, em todos os estágios, têm dificultado a viabilização econômica do seu cultivo. Apresenta ainda corpo robusto e compacto, cabeça grande e forte, boca larga com duas fileiras de dentes. Na natureza chega a devorar 30 kg de alimentos para converter em 1,0 kg de peso vivo. São ainda altamente exigentes em oxigênio dissolvido.

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2.3.1- Reprodução e larvicultura É uma espécie reofílica, sendo que a construção das grandes usinas tem interferido na migração dessa espécie, causando prejuízos á sua reprodução. O processo de reprodução induzida segue ao obtido por outras espécies reofílicas. A sua larvicultura baseia-se em fornecimento de alimento à base de outros peixes e larvas de insetos. É um peixe muito sensível no manejo para reprodução induzida, sendo necessário usar tranqüilizantes para evitar traumatismos. Embora os problemas relacionados com a sua reprodução já estejam praticamente resolvidos, observa-se uma elevada taxa de canibalismo durante o período inicial, logo após a eclosão, cerca de 24 horas de vida. O problema do canibalismo só foi solucionado com regime de ração balanceada, seis vezes ao dia, conseguindo assim zerar o canibalismo e chegar a um modelo de engorda comercial do peixe. Além disso ainda é importante a produção de zooplâncton assim como a utilização de outras espécies forrageiras como alimento para essa espécie. 2.3.2. Sistema de criação e comercialização O melhor sistema de criação em cativeiro para o dourado foi através dos tanques redes, desenvolvida pela ITAIPU, onde estão sendo criados não apenas dourados, mas pacus e piracanjubas. Consiste numa balsa flutuante, sustentada por tambores. Seu piso é subdividido em compartimentos fechados, feitos com rede de náilon, que ficam a profundidade de dois metros. É um sistema de criação intensiva indicada para grandes massas de água, geralmente de boa qualidade das hidrelétricas. O sistema permite concentrar 45kg de peixe por m³, cerca de seis vezes mais que os tanques comuns. Cada módulo de 36m³ após um ciclo de 15 meses dá para pagar todo investimento. É considerado uma espécie de elevado valor comercial e ótimo rendimento de carcaça, atualmente é muito procurado para pesca esportiva nos pesque-e-pague. 2.4. PINTADO O pintado (Pseudoplatystoma corruscans) é um peixe de couro bastante conhecido pelo seu grande porte, podendo atingir mais de 3m de comprimento e peso superior a 100kg. É uma espécie encontrada principalmente nas bacias dos rios Prata, Uruguai e São Francisco. O cachara (P. fasciatus) apresenta menor porte que o pintado sendo diferenciado principalmente pela presença de manchas longitudinais ao longo do corpo. Seu grande valor de mercado é amplamente conhecido, apresentando uma carne bastante apreciada, caracterizando-se pelo baixo número de espinhas. Os estudos visando a sua utilização na piscicultura ocorreram principalmente na década de 90, onde tem se buscado a viabilização da sua criação em cativeiro, ainda que sejam escassos os dados sobre crescimento e desenvolvimento. 2.4.1. Reprodução e larvicultura Também é uma espécie de piracema que necessita da migração para reprodução, sendo que atualmente através da reprodução induzida, tem-se obtido um grande número de larvas. O principal fator limitante na larvicultura é a elevada taxa de canibalismo que ocorre logo após o início da alimentação exógena. Para a reprodução induzida os melhores resultados tem sido obtidos com as fêmeas recebendo 0,5 a 5,0 mg de extrato de hipófise por kg de peso vivo, com os machos recebendo 1 a 2 mg de extrato de hipófise por quilo de peso vivo, e como geralmente os reprodutores são de maior porte, quando comparados com outras espécies, leva a um maior custo de indução hormonal por quilo de peixe. A extrusão dos óvulos é realizada com aproximadamente 240hs/º, numa temperatura média de 28,5ºC. O momento exato da aplicação dos hormônios indutores é

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percebido através da técnica chamada canulação. Ela consiste em aplicar um pequeno tubo, ligado a uma seringa, no poro genital da fêmea, para retirar alguns ovos diretamente do ovário. O tamanho e aparência desses ovos vão revelar se eles estão maduros ou não. Esta técnica permite economizar boas quantidades de hormônios. As maiores dificuldades com o pintado se diz respeito com a larvicultura pois a mortalidade é muito alta. Para melhorar os índices de sobrevivência são utilizados pequenos tanques redes com altura de até 20cm para os alevinos, pois estes preferem águas rasas, com cerca correnteza e boa oxigenação. Estudos têm demonstrado a possibilidade de obtenção de taxas relativamente elevada de sobrevivência, através do fornecimento de Artemia durante o período que vai do início da alimentação exógena até o primeiro mês de vida. Também é importante o fornecimento de plâncton, principalmente zooplâncton, parcelada em várias vezes ao dia para evitar o canibalismo. 2.4.2. Sistema de criação Essa espécie vive preferencialmente em grandes massas de água. O seu desenvolvimento inicial ocorre nas lagoas marginais, onde encontra alimento adequado. Pelo fato de ser uma espécie recentemente introduzida na piscicultura, não existe uma padronização quanto ao sistema de cultivo. É utilizado principalmente em sistema extensivo e em consorciação com outras espécies forrageiras, quer sejam para formação de plantel de reprodutores ou então para obter animais para serem comercializados. 2.4.3. Alimentação Baseia-se inicialmente em plâncton e ou Artemia, sendo que estes também podem ser associados com peixes forrageiros. Durante a fase adulta, no seu meio natural, alimenta-se principalmente de peixes, crustáceos e insetos. A utilização de vísceras de frango pode ser uma alternativa de alimentação, mas é necessário observar a qualidade da água. Tem-se desenvolvido várias dietas balanceadas, de alto valor nutritivo, portanto de alto custo. Para adequada taxa de sobrevivência e de crescimento, manejo de adaptação às dietas artificiais é fundamental. 2.4.4. Comercialização É uma das carnes de peixe de água doce mais apreciada e valorizada, comercializada na forma de peixe inteiro ou postas, com a sua carne apresentando demanda garantida em qualquer época do ano. Essa espécie também tem sido comercializada para outros países como peixe ornamental, onde tem alcançado bons preços. Os pesquisadores ainda não tem levantamentos confiáveis sobre o ganho de peso do pintado em cativeiro. Estima-se que ele possa ganhar de 1,5 a 2kg por ano. 2.5. TUCUNARÉ O tucunaré (Cichlas ocellaris) é uma espécie proveniente da bacia amazônica, introduzida no sul do país através das estações de usinas hidroelétricas, que entendiam naquela época, serem as espécies mais indicadas para a propagação em rios e reservatórios. A espécie mais conhecida da região é o tucunaré-açu (C. ocellaris), tucunaré comum ou tucunaré de porte maior que é o tucunaré pinima ou tinga (C. temensis). São espécies bastante sensíveis às baixas temperaturas, entretanto tem-se adaptado muito bem em nossas regiões. 2.5.1. Reprodução

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O tucunaré cuida da prole após a eclosão, possuindo ovos relativamente grandes e em menor número (cerca de 3000 a 5000 por desova). No período de reprodução, o macho apresenta uma protuberância na região frontal da cabeça, daí a denominação de peixe zebu. A reprodução ocorre em águas com temperatura em torno de 28ºC, onde procura estruturas lisas e duras, tais como pedras ou troncos onde deposita os ovos fecundados que ficam aderidos entre si, sendo protegidos e mantido pelos pais até a eclosão. 2.5.2. Alimentação Na larvicultura dessa espécie tem-se utilizado de organismos alimento, que são encontrados no zooplâncton. O tucunaré pode ser considerado carnívoro estrito. Desenvolve muito bem enquanto são alimentados com espécies forrageiras e possui capacidade de serem condicionados a aceitarem determinados tipos de alimentos quando criados desde jovens em cativeiro. Também as duas espécies podem aceitar rações pastosas com alto valor protéico, apesar de na fase inicial de desenvolvimento preferirem organismos zooplanctônicos, e, à medida que forem se desenvolvendo, podem aceitar rações. 2.5.3. Sistema de cultivo Apesar do interesse da introdução dessa espécie em épocas passadas, hoje praticamente são poucos utilizadas, a não ser para pesca esportiva ou para criação consorciada com espécies de alta prolificidade, como as tilápias, favorecendo seu controle. Nesse caso o tucunaré deve ser criado numa densidade populacional aproximada de 1:5, e em tanques de porte médio com área aproximada de 0,1ha. 2.5.4. Comercialização Seu cultivo tem como objetivo a pesca esportiva. Usualmente, uma vez obtido o peixe, retiram-se dois filés, ocorrendo uma perda muito grande na carcaça que é desprezada. Possuí carne de excelente sabor. 2.6. TRAIRÃO Em grande parte dos nossos mananciais de água lênticas (paradas) vamos encontrar a conhecida traíra ou traíra comum (Hoplias malabaricus). Por outro lado, encontramos também o trairão (H. lacerdae), que originalmente ocupava a Bacia Amazônica. São peixes carnívoros vorazes, apesar de movimentos lentos. Ressalva-se que o trairão possuí porte bastante avantajado (até 20kg de peso vivo) em relação a traíra comum e que aquele vive mais em grandes rios, enquanto esta vive em lagoas pequenos mananciais. Sua pesca é realizada principalmente com iscas vivas, sendo a traíra pescada nos rios durante o período noturno, caracterizando pela sua agressividade. 2.6.1. Reprodução Tanto o trairão quanto a traíra possui ovos bastante desenvolvido e em pequenas quantidades (cerca de 15000 a 25000 por peixe), se comparada com as espécies reofílicas. Entretanto essas espécies reproduzem-se em águas paradas pelo processo natural, mantendo os cuidados iniciais no período de incubação e após a eclosão das larvas. Os lotes são desuniformes apresentando uma elevada taxa de canibalismo. Muitas vezes a propagação dos ovos da traíra e trairões é efetuada por pássaros piscívoros ou aves aquáticas que transportam seus ovos, bastante pegajosos, junto às patas para diversos outros mananciais. Procurando maximizar a taxa de eclosão e a sobrevivência larval, é possível

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se efetuar alguns manejos que auxiliam o processo reprodutivo dessas espécies. Nos tanques convencionais de terra pode-se construir uma área com cerca de 30cm de profundidade por 40 a 50 cm de largura, ocupando todo o comprimento do tanque. Esta faixa pode ser protegida com aguapés e é onde os trairões farão os ninhos para a deposição dos ovos e sua posterior fertilização. Estes ovos podem ser recolhidos e levados às incubadoras, ou então, permanecem nesse local até a eclosão, quando então as larvas serão transferidas para os tanques de primeira alevinagem. Recomenda-se que esses tanques tenham pelo menos entre 100 a 200m², com uma densidade de um peixe para cada 5m² e farto substrato alimentar, pois são bastante agressivos. O acasalamento ocorre no período mais quente do ano, entre setembro a março, quando se formam os casais que iniciam a construção dos ninhos para as suas desovas parceladas (3 a 4 desovas por período). 2.6.2. Sistema de cultivo Pode-se recomendar o seu consórcio com outros peixe, principalmente tilápias através da predação. Apresenta crescimento rápido, sabor agradável da carne, rusticidade e controle de ninhadas. Para as nossas condições pode ser introduzidos em represas ou açudes onde encontram outras espécies para se alimentarem como: lambaris, barrigudos, carás e joana-guensas. Os tanques de larvicultura são bastante eutrofizados para a produção de organismos alimentos, além das espécies forrageiras. O trairão tem mostrado resultados bastante razoáveis utilizando em média 10 a 20% da população, ou seja, uma proporção de 1 para 5, assim como tem se utilizado para o tucunaré e algumas espécies carnívoras. 2.6.3. Alimentação O trairão é essencialmente carnívoro e muitas vezes é espécie indesejável em tanques com manejo incorreto ou em açudes e represas. A sua larvicultura deve ser conduzida com alimentos zooplanctônicos em tanques previamente preparados ou através de Artemia numa primeira fase. Já na segunda fase, deve-se fornecer espécies forrageiras que supram as necessidades dos alevinos, tomando-se os devidos cuidados nas duas fases para evitar o canibalismo que ocorre quando o manejo não está totalmente adequado. 2.6.4 Comercialização O trairão apresenta carne saborosa, sendo considerado como inconveniente o elevado número de espinhas, que torna essa espécie pouco indicada para comércio “in natura”, mas que independente disso, é muito bem aceita em algumas regiões do país. Sua pesca é bastante apreciada, em função da sua agressividade. Em um ano de cultivo obteve-se peixes com peso acima de 600 gr. 3. OUTRAS ESPÉCIES NATIVAS DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA 3.1. CURIMBATÁ (Prochilodus lineatus) Fam. Prochilodontidae São peixes de hábito alimentar iliófago (se alimentam do lodo). No geral, alcançam cerca de 30, 35cm de comprimento e 500 a 1000gr de peso em um ano de cultivo. Alimenta-se, basicamente, de detritos orgânicos e fauna bentônica e, mesmo ração. A primeira maturação sexual ocorre com cerca de dois anos, sendo espécies de hábito reofílicas (migrador). A época de reprodução também ocorre nos meses chuvosos de fim/começo do ano. O curimbatá apresenta grande rusticidade e, portanto, grande potencial para a piscicultura intensiva (em policultivo, com

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baixa densidade do mesmo), semi-intensiva, com uso de fertilizantes, ou extensiva, para repovoamentos, o que é facilitado pelo hábito alimentar iliófago. O curimbatá fêmea desova em torno de 100.000 ovos por kg de peso corporal. Sua faixa térmica ideal, embora não haja trabalhos conclusivos sobre o assunto, parece estar entre 20 a 26ºC. 3.2. PIAVUÇU (Leporinus macrocephalus) Fam. Anastomidae São peixes de hábito alimentar onívoro, com predominância para herbívoro. Alimentam-se basicamente de algas, raízes, folhas, frutos e larvas de insetos. São espécies reofílicas que desovam uma vez por ano, são encontrados em lagos e rios marginais. São facilmente adaptáveis as rações artificiais, sendo, portanto, recomendado para criações intensivas em policultivo. Os piavuçus são ótimos para os pesque e pague devido ao fato de brigarem ao serem fisgados. Sua reprodução já está controlada pela indução hormonal. Os peixes dessa família também apresentam potencial para a piscicultura como a piapara (L. piapara), do rio Paraná e o piau (L. friderici) do rio Paraguai. São peixes muito utilizados para extração de hipófises. 4. ESPÉCIES EXÓTICAS PARA PISCICULTURA Apesar de ser proibida a criação a criação, reprodução e engorda de peixes exóticos no Estado de Mato Grosso, pela Assembléia Legislativa, pela Lei Nº 6648 de 07/07/1995, é importante o conhecimento das principais espécies comercializadas e alguns dados sobre a sua biologia e reprodução. 4.1. Família Cyprinidae

• Carpa (Cyprinus carpa): tem sua origem na China à aproximadamente 3000 anos. Chegou ao Brasil em 1882, com os primeiros criadores instalados no Vale do Paraíba. São espécies muito rústicas e adaptáveis à várias amplitudes técnicas (4ºC a 35ºC). São muito utilizadas para a obtenção de hipófises. São consideradas pragas (por se alimentar de outros peixes), principalmente nos Estados Unidos, Austrália, África do Sul e Nova Zelândia. No Brasil são criadas as seguintes carpas: Carpa comum ou de escamas (herbívora) (Cyprinus carpio); Carpa espelho (C. carpio variedade Specubris; Carpa colorida C. carpio var. korarl; Carpa capim (herbívoro) - Ctenopharyngodon idella (difícil reprodução); Carpa prateada (fitoplanctófagas) Hypopythalmichths melitrix; Carpa cabeça grande (zooplanctófago) Aristichtys nobilis (difícil reprodução). Características Gerais: são peixes de água paradas e quentes embora suporte baixas temperaturas. Só se reproduz quando a temperatura da água ultrapassa 20ºC. Resiste bem a baixa quantidade de oxigênio dissolvido na água, suportando até 3,2mg/l. A carpa possui boa conversão alimentar, rápido crescimento, primeira reprodução em torno de 8 a 10 meses, são resistentes ao manejo da criação. O peso ideal para venda está próximo a 1kg sendo facilmente obtido aos 10 meses de cultivo. A carpa comum não é espécie de piracema, mas a carpa capim a prateada e a cabeça grande são reofílicas. Para a sua criação são necessários pelo menos 4 tanques ou viveiros: um para reprodução e 3 para alevinagem, com medida de 80, 200 a 500m² para alevinos e reprodutores respectivamente. No tanque de reprodução devem ser estocados 2 a 3 machos por fêmea na densidade de 1 reprodutor para cada 10m² de tanque. A colocação de aguapés, galhos ou cordas de náilon desfiadas, serve para aderir os ovos nas mesmas que são levados aos incubadores e posteriormente aos tanques de alevinagem. A incubação demora de 60 a 80 horas, variando um pouco com a temperatura. Após a eclosão as larvas permanecem 36 horas sem se

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alimentar e já no 2º dia de vida precisam encontrar alimentos (rotíferos e microcrustáceos), em quantidades suficientes. Com uma semana já podem receber rações finamente moídas. 4.2. Família Ictaluridae

• Bagre do Canal (Ictalarus punctatus): bagre do canal ou Catfish é uma espécie norte americana acostumada a clima mais amenos. Reproduzem-se naturalmente nos tanques, no interior de caixas ou latas de 20 litros, com buracos por onde entram para as desovas. Retiradas as latas, são levados os ovos para incubação em bandejas. Tanques de reprodutores, tamanho similar ao da carpa. Densidade de estocagem 1 kg/5m² de viveiro na proporção de 2 machos para cada três fêmeas. A fêmea deposita em torno de 10.000 ovos por kg de peso corporal, sendo o macho que protege os ovos durante a incubação. Nestas condições a produção obtida é de 25.000 alevinos por kg de peso da fêmea. Na recria ou engorda dos peixes, os alevinos devem ser estocados à densidade de 50 a 100 exemplares por m². 4.3. Família Salmonidae

• Truta arco-íris (Onchorhynchus mikyss): é um peixe de águas frias originária dos Estados Unidos, Europa e Japão. Foram introduzidas no Brasil em 1949. Os ovos vieram embrionados da Dinamarca. A intenção era suprir a ausência de peixes na Serra do Mar, Mantiqueira e Bocaina. É muito comum a comercialização dos ovos embrionados, sendo comercializados com 18 a 20 dias após a fecundação. Atingem 250gr com 12 meses de cultivo, alimentadas diariamente com rações peletizadas e extrusadas. Reprodutores atingem a maturidade com 2 anos de recria pesando em torno de 600gr. Exigências das Trutas: disponibilidade de água com alto fluxo e baixa turbidez; altitudes superiores a 1200 m; temperatura oscilando entre 8ºC e 20ºC, nunca superior a 26ºC; teor de oxigênio superior a 6mg/l; pH entre 6,5 a 8,0. 4.4. Família Cichlidae

• Tilápias (Oreochromis ssp.): são mais de 20 espécies conhecida por este nome. Tilápia rendalli (O. rendalli): chegou ao Brasil em 1953, se alimenta principalmente de folhas de vegetais superiores. Iniciam a reprodução com 5 a 6 meses de idade. Tilápia do Nilo (O. niloticus): apresenta listas verticais na nadadeira caudal. São bastante rústicas e precoces. Alimentam-se principalmente de algas clorofíceas, que predominam nas águas doces. Aceita também qualquer outro tipo de alimento o que a torna interessante para a piscicultura. Começam a se reproduzir em torno de 6 meses de idade nos meses de setembro a abril, podendo ocorrer duas desovas neste período. Podem ser alimentadas com estercos provenientes da criação de outros animais, bem como aproveitar sub-produtos industriais (cervejaria, resíduos de milho, arroz, soja, etc). Tilápia hornorum (O. hornorum): Foram introduzidas com objetivo de hibridação para engorda quando cruzadas com as fêmeas de tilápia do Nilo. 4.5. Família Centrarchidae

• Black Bass (Micropterus salmoides): de origem americana, são peixes de escamas, com coloração amarela esverdeada, de tonalidade mais escura no dorso e mais clara na região ventral, com manchas escuras ao longo do flanco. Vivem em águas limpas, tranqüilas e ricas em oxigênio dissolvido. Preferem temperaturas médias entre 18 a 26ºC, sendo 10 e 32º seus extremos de suporte. Atingem 500gr com 1 ano de criação. São de hábito alimentar carnívoro, exigindo alto

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teor de proteína na ração. Recomenda-se a sua criação em açudes com 2 a 3 m de profundidade com áreas sombreadas para fugir do calor nos dias quentes. Podem ser consorciadas com lambari, tambaqui e acarás, que lhes proporcionarão alimento natural abundante e barato. É indicado para pesque e pague por ser agressiva ao ser fisgada. A carne é de boa qualidade para o consumo e apresenta excelente sabor. Período reprodutivo começa no 2º ano de vida e podem ocorrer duas desovas por período que é chamado de desova parcelada. Podem desovar até 10.000 ovos para as fêmeas de maior porte. Preparam os ninhos em locais rasos, sendo que a eclosão ocorre em média 4 a 6 dias após a fecundação.

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CAPÍTULO 6

A DESPESCA E PRINCIPAIS DOENÇAS EM PISCICULTURA

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1. A DESPESCA É a fase final de um processo criatório, na qual se encerra o cultivo e inicia-se a fase de comercialização da produção. Portanto, os cuidados também devem ser redobrados, para não se perder toda uma tarefa já realizada. Hoje, há um grande mercado para peixes vivos, demandada pelos pesque-pagues, bem como a venda dos peixes frescos, recomendada pela sua aparência frente ao consumidor. 1.1. Preparo da Despesca Antes da despesca final deverão ser amostrados e avaliados (saúde, peso médio e número de peixes no viveiro). Alguns sinais pode ser característica de boa qualidade dos peixes:

• Bom apetite; • Baixos índices de mortalidade; • Ausência de sinais de ferimentos.

Definida a data da despesca, os peixes devem ser mantidos em jejum por 2 dias, para que possam suportar melhor o transporte a longas distâncias, principalmente para que a água esteja sempre com boa qualidade. Os peixes podem regurgitar o alimento durante o transporte e com o trato digestivo vazio se estressam menos durante o trajeto. 1.2. Métodos de Despesca São dois os tipos principais de despescas mais utilizados:

a) drenagem dos viveiros e coleta dos peixes com rede ou nas caixas de coleta: esse método necessita ter a sua estrutura definida desde a definição do projeto de construção dos viveiros, pois é muito bem utilizada em açudes grandes, irregulares ou em grandes viveiros, onde a rede não funciona bem. É a única forma de garantir que todos os peixes serão retirados dos viveiros.

b) Utilização de redes de Arrasto: neste método também é necessário abaixar o nível do viveiro. A rede é estendida em um dos lados menores e é arrastada lentamente até o outro lado, concentrando os peixes em um só local para facilitar a sua captura. Esta técnica é recomendada para viveiros pequenos, regulares, de fundo plano e sem obstáculos (tocos, raízes, etc). A rede de arrasto poderá ser selecionadora, quando as malhas permitam a despesca parcial dos peixes pelo tamanho, deixando os menores para atingir maior tamanho. As redes devem ser lavadas e secas ao sol, evitando, desta forma, roedores que poderiam danificá-la ou mesmo transmissão de doenças de um tanque para outro.

1.3. Dados da Despesca Deverão ser mensurados para a avaliação técnica e econômica da atividade:

• Número de peixes produzidos; • Peso médio dos peixes; • Taxa final de sobrevivência; • Produção alcançada; • Produtividade; • Higiene e profilaxia na piscicultura.

Em qualquer tipo de criação sabemos que a higiene e medidas profiláticas são a melhor maneira de evitá-las. O peixe fica doente como qualquer outro animal. O Brasil é um dos poucos países que não tem laboratórios especializados no diagnóstico de doenças de peixes. Sem saber,

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muitas vezes o que fazer, resta aos interessados no assunto se armar de conhecimentos necessários para sobreviver nesta atividade. Existem, entretanto, formas de diagnosticar, prevenir, e controlar doenças em ambiente de cultivo. As doenças encontradas em peixes cultivados podem ser subdivididas em:

• Doenças não infecciosas (ou não transmissíveis); • Ambientais; • Nutricionais; • Neoplasias; • Doenças infecciosas (transmissíveis); • Vírus; • Bactérias; • Fungos; • Parasitos.

2. DOENÇAS NÃO-INFECCIOSAS: 2.1. Ambientais Em geral aparecem quando os fatores ambientais estão fora da faixa ótima da espécie em cultivo, ou quando ocorrem mudanças bruscas desses fatores. Os fatores que causam as doenças ambientais são:

• Variações de temperatura; • pH; • Sólidos em suspensão; • Toxinas endógenas e exógenas (efluentes, metais pesados, toxinas orgânicas

industriais, gases, agrotóxicos, etc).

2.2. Doenças nutricionais Freqüentemente, as alterações no comportamento dos peixes são confundidas com doenças, mas poderão ser de fundo nutricional, ocasionado pelo uso de rações desbalanceadas, ou de baixa qualidade. Sempre deve se considerar esta opção, quando se muda do tipo de ração comumente utilizada ou em sistemas intensivos de produção. As doenças nutricionais podem ter origem de:

• deficiência de aminoácidos essenciais; • presença de toxinas na ração; • deficiência de ácidos graxos essenciais; • oxidação de lipídios; • deficiência mineral; • deficiência de vitaminas; • armazenagem inadequada.

2.3. Doenças Neoplásicas A neoplasia ou câncer resulta do crescimento não controlado de células do próprio ser vivo. É comum aparecer em peixes mais velhos e é limitado o aparecimento no plantel. Pode estar relacionado com os seguintes fatores:

• Contaminação d’água por compostos químicos; • Problemas de caráter genético;

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• Danos mecânicos (tanques ou viveiros maus construídos, densidade populacional alta, excesso de sedimentos em suspensão).

2.4. Doenças Infecciosas São provocadas por organismos patogênicos ou oportunistas e podem ser transmitidas de um peixe para outro. O viveiro poderá estar contaminado, ou ocorrer a contaminação por outras fontes como:

• Peixes invasores contaminados; • Equipamentos contaminados; • Água de abastecimento; • Aves aquáticas contaminadas.

2.5. Doenças causadas por vírus São agentes patogênicos microscópicos, que necessitam parasitar o interior de uma célula para se reproduzirem. Em piscicultura, as doenças viróticas são de difícil controle e causam perdas muito rápidas nos peixes. A prevenção é a melhor forma de combatê-las, pois não existem tratamentos contra os vírus. A doença virótica mais conhecida é a viremia primaveril da carpa. 2.6. Doenças causadas por bactérias: Todas as espécies de bactérias causadoras de enfermidades em peixes são na realidade, saprófitas, ou seja, que se alimentam de matéria orgânica em decomposição encontrada naturalmente no meio ambiente. São as maiores causadoras de enfermidade nos peixes (65%), o tratamento envolve o uso de antibióticos. 2.7. Doenças causadas por fungos: São organismos multi-celulares e saprófitas. Poucas espécies são efetivamente parasitas de peixes, a maioria atua como oportunistas, quando ocorre exposição de tecidos mortos através de feridas ou quando a resistência do peixe está reduzida. São considerados por isso agentes secundários. 2.8. Doenças causadas por protozoários São organismos unicelulares de vida livre, comensais ou parasitas. Na maioria das vezes atacam parasitando os peixes. 3. AS PRINCIPAIS DOENÇAS: 3.1. Vírus:

• Viremia Primaveril da Carpa: ocorre perda de coordenação e equilíbrio, exoftalmia e ascite, hemorragia dos órgãos internos. Tratamento desconhecido.

3.2. Bactérias

• Furunculose: causada pela bactéria Aeromonas salmonicida. Causa hemorragia generalizada, úlcera na pele. Tratamento através de antibióticos.

3.3. Fungos

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• Saprolegniose: causada pelo fungo Saprolegnia. Aparece crescimento das hifas sobre o corpo como tufo de algodão. Tratamento: banhos com químicos utilizados para ectoparasitas ou sulfato de cobre na proporção de 1:10.000.

3.4. Protozoários

• Ictiofitríase ou Doenças dos pontos brancos: o peixe fica hiperativo, ocorrendo perda de apetite, pontos brancos na superfície do corpo e nas brânquias. O peixe se aloja na superfície da água ou próximo ao aerador ou entrada da água. Causa mortalidade intensa. Única forma de tratamento é interromper o ciclo de vida do protozoário, ou melhorar as condições da água de cultivo pode atenuar o problema, juntamente com banhos com produtos químicos para ectoparasitas.

3.5. Ácaros

• Argulose: provocada pelo ácaro Argullus folillacius também é conhecido como piolho das carpas. O peixe apresenta movimentos nervosos nas nadadeiras e pontos avermelhados na pele.

3.6. Endoparasitas dos Peixes Os principais vermes dos peixes são do grupo dos nematóides. Apresentam-se nos intestinos ou tecidos dos peixes. Parasitam muitas espécies de peixes de água doce e marinha, podem causar perda do valor do produto quando for encontrado na musculatura. O tratamento é através de vermífugos e desinfecção dos tanques. O melhor tratamento utilizado em piscicultura é através da própria água, sendo também o mais simples a ser utilizado. Existem alguns métodos de se fazer esse tratamento:

• DIP: é uma exposição rápida de alguns segundos ou minutos, realizada com auxilio de puçás num tanque ou caixa d’água. Devem ser aerados devido ao stress causado aos peixes.

• Banho rápido: realizado em pequenos tanques de concreto com fluxo de água contendo a solução de tratamento. Sendo os peixes levados depois de tratados para tanques descontaminados.

• Banhos de longa duração: realizado nos viveiros, reservatórios ou lagos, e quando não se pode lançar mão dos métodos anteriores. Mistura os produtos de tratamento em água, antes de administrá-los nos viveiros. Podem ser pulverizados na água ou colocados na entrada de abastecimento. Reduz-se o nível da água do viveiro até metade da sua capacidade, sendo o produto adicionado lentamente por 20 a 30 minutos.

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CAPÍTULO 7

O CULTIVO DE PEIXES EM TANQUES-REDE

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1. INTRODUÇÃO A produção de peixes em tanques-rede possibilita o aproveitamento dos rios, dos grandes

reservatórios, dos estuários, dos lagos naturais e dos açudes espalhados por milhares de propriedades rurais por todo o país.

As primeiras iniciativas de criação nesse sistema esbarraram no desconhecimento das técnicas de cultivo e na falta de rações nutricionalmente completas. O setor da aqüicultura na qual está inserida a piscicultura é o segmento da produção animal que mais cresce no cenário mundial, tendo superado as taxas de crescimento da bovinocultura, da avicultura e da suinocultura na última década. Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), a produção mundial de pescado proveniente da aqüicultura que representava cerca de 10,1 milhões de toneladas em 1984, passou para 32,9 milhões de toneladas em 1999, com 60% dessa produção cultivada em água doce.

O peixe é considerado alimento nobre e tem grande preferência pelos consumidores em muitas culturas, superando os suínos e aves. Este fato aliado à tendência de declínio dos estoques pesqueiros mundiais e à conseqüente estagnação da ofertas de peixes capturados, tem tornado a piscicultura uma atividade fundamental para a manutenção da oferta desses produtos.

O Brasil reúne condições favoráveis ao desenvolvimento da piscicultura. Além do enorme potencial dos mercados nacional e mundial, conta ainda com clima favorável ao cultivo de inúmeras espécies de peixes nas diferentes regiões, possui boa disponibilidade de área, grande produção de grãos e outros ingredientes usados nas rações, um parque industrial bastante desenvolvido nas áreas de insumos e beneficiamento, grande número de técnicos especializados em todos segmentos da cadeia produtiva e acima de tudo um invejável potencial hídrico. Com cerca de 5,3 milhões de hectares de água doce em reservatórios naturais e artificiais, conta ainda com uma extensa rede hidrográfica que pode ser parcialmente aproveitada na produção de organismos aquáticos.

Somando-se ao incremento da produção nacional de pescado (204.000 toneladas em 2001) outros ganhos como a geração de milhões de empregos ao longo da cadeia produtiva e o aumento da oferta de proteína animal de alta qualidade. Ganhos ambientais uma vez que o cultivo alivia a pressão de captura sobre os estoques naturais. Adicionalmente, o estabelecimento da atividade contribuiria muito para o uso sustentável dos recursos hídricos, por ser uma atividade totalmente dependente da qualidade do ambiente para alcançar resultados satisfatórios

2. O SISTEMA DE PRODUÇÃO O cultivo em tanques-rede (TR) é um sistema de produção intensiva no qual os peixes são confinados sob altas densidades, dentro de estruturas que permitem grande troca de água com o ambiente e onde os peixes recebem ração nutricionalmente completa e balanceada. A produção de uma grande biomassa de peixes por unidade de volume (30 a 250 kg/m³) é possível devido à alta taxa de renovação da água dentro das unidades, que supre a demanda de oxigênio dos peixes e remove os dejetos e metabolitos produzidos. Além da qualidade do ambiente aquático onde estão instalados os TR, o desempenho do cultivo depende da qualidade dos insumos (alevinos e rações), das técnicas de manejo da produção e, sobretudo, da dedicação e capacidade técnica e gerencial do produtor.

2.1. Características da produção de peixes em tanques-rede (TR)

• Aproveitamento de ambientes aquáticos existentes, dispensando o desmatamento de grandes áreas e a movimentação de terra, evitando problemas de erosão e assoreamento de rios e lagos;

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• Baixo conflito pela ocupação da terra e pelo uso dos recursos hídricos; • Reduzido custo de implantação e a rápida montagem da infra-estrutura de

produção; • A possibilidade de uma rápida expansão na capacidade de produção, de forma a

atender o aumento na demanda do mercado; • A mobilidade do sistema de produção, podendo ser deslocado para outros locais,

conforme a necessidade; • O controle facilitado dos estoques de peixes e das colheitas; • A maior proteção contra predadores naturais (aves, répteis, mamíferos e outros

peixes); • A alta afinidade com a cultura dos pescadores, apresentando em comum o peixe e

o ambiente aquático com parte do seu cotidiano, tornando-se assim uma atividade econômica alternativa em regiões onde a pesca está em declínio;

• A obtenção de um produto diferenciado, com baixa incidência e intensidade de problemas como mau sabor (“off flavor”) no pescado.

Paralelamente ao estudo econômico, é recomendado que seja feito um estudo sobre os locais disponíveis para a implantação do TR, levantando se existem restrições legais à sua ocupação e verificando se as características ambientais atendem às necessidades da espécie e do regime de produção planejado. A escolha do local apropriado para a instalação é fundamental, pois influencia diretamente os custos de produção e o risco do empreendimento, pois a correção da qualidade da água em rios e reservatórios é impraticável. 3. TANQUES-REDE E GAIOLAS A denominação de TR é empregada às unidades de cultivo que utilizam, para a contenção dos peixes, materiais que se comportam como uma rede na hora da colheita. Geralmente são usados redes de multifilamento de poliamida, sendo a malha com ou sem nó. Outros materiais comumente usados e bastante resistentes são as telas de aço galvanizado revestido de PVC, ou as telas de aço inoxidável, trançadas no formato de alambrado, que podem apresentar comportamento retrátil como uma rede, dependendo da orientação em que forem arrumadas na confecção dos TR. As gaiolas são estruturas fabricadas com material de contenção rígido, geralmente telas de aço, ou quando todo o perímetro da estrutura é rígido mesmo usando material flexível para o fechamento das laterais e do fundo. Telas plásticas também usadas na contenção de peixes em gaiolas, muitas vezes com armação de madeira ou de bambu, com arranjo das laterais e do fundo na forma de grade. Os TR e as gaiolas geralmente são montados em estruturas flutuantes. No entanto, TR fixos com o uso de estacas também são comuns. A escolha do tipo de TR a ser utilizado depende, principalmente, das características do local onde serão implantados, da espécie de peixe sob cultivo, das dimensões das unidades, da finalidade de uso, da disponibilidade dos materiais necessários à sua construção e do custo de fabricação. 4. FATORES QUE AFETAM A PRODUTIVIDADE EM TANQUES-REDE (TR) Ao considerarmos um corpo aquático de área e volumes limitados (um açude, por exemplo), a produtividade total do mesmo seria semelhante cultivando os peixes soltos ou confinados em TR. O piscicultor menos experiente, ao visualizar o grande espaço superficial

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disponível devido ao confinamento dos peixes num pequeno volume de TR, tomaria a iniciativa de aumentar o número de TR num próximo cultivo. Procedendo assim, aumentaria o risco de poluição da água do açude devido ao excessivo aporte de ração e, conseqüentemente, de morte dos peixes causados por problemas na qualidade da água. Diversos fatores influenciam a biomassa de peixes capaz de ser alojada de forma econômica dentro dos TR, como a qualidade do ambiente onde estão instalados os TR, a qualidade do alimento utilizado, a qualidade dos alevinos, as características da espécie de peixe cultivado e a taxa de renovação de água no interior do TR. Esta, por sua vez, depende:

• do tamanho/volume de TR; • da velocidade das correntes de água; • do formato do TR; • da área vazada da malha.

4.1. Qualidade do ambiente onde estão os TR O potencial produtivo dos TR depende, em muito, da qualidade da água no ambiente onde estão alocados. Diversos parâmetros de qualidade de água podem ser decisivos ao crescimento, conversão alimentar e saúde dos peixes. Os parâmetros ideais de qualidade de água estão na tabela 1. Tabela 1: Valores dos principais parâmetros de qualidade da água considerados adequados ao bom desempenho produtivo e à manutenção da saúde dos peixes tropicais em tanques-rede. Variáveis Valores adequados Temperatura (T) 26 a 30°C Oxigênio dissolvido dentro do TR (OD) > 60% saturação (> 4mg/L) pH 6,5 a 8,0 Alcalinidade total (AT) > 10 mg CaCO3/L (>20 ideal) Dureza total (DT) > 10 mg CaCO3/L (>20 ideal) Amônia tóxica (NH3) < 0,20mg/L NH3 Nitrito (NO2

-) < 0,30mg/L NO2-

Gás carbônico (CO2) < 10 mg/L CO2 Turbidez mineral < 80 mg/L A qualidade da água nos TR é de fundamental importância para o sucesso da produção. Os efeitos da má qualidade da água são agravados pelo confinamento e grande adensamento aos quais os peixes são submetidos. No ambiente natural os peixes têm a opção de procurar por locais com melhores condições de qualidade da água. Isto não é possível aos peixes confinados em TR. Portanto, o piscicultor deve monitorar de perto as condições do cultivo, a fim de prevenir a ocorrência de grandes alterações na qualidade da água, ajustando a biomassa de peixes estocados ao limite sustentável do açude ou represa, ou mesmo, no caso de grandes reservatórios, posicionando os TR em locais de qualidade de água adequada e constante. Outro aspecto importante é o nível da água nos reservatórios. A amplitude destas variações deve ser conhecida e estar dentro de limites toleráveis de modo a não prejudicar a qualidade da água. Um estudo detalhado das características sazonais do local onde os TR serão implantados pode evitar surpresas. 4.1.1. Grau de eutrofização do ambiente aquático

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O nível de eutrofização (enriquecimento em nutrientes) da água dos açudes e reservatórios, onde serão implantados os TR, pode ser avaliado indiretamente pela transparência da água, medida com o Disco de Secchi (Tabela 2). Esta medida tem por finalidade avaliar a densidade da população de fitoplâncton na água, que normalmente está relacionado com a riqueza de nutrientes. No caso de águas com alta concentração de argila ou barro em suspensão (sólidos minerais) que interferem na transparência da água, a medida do Disco de Secchi é inadequada para avaliar o grau de enriquecimento em nutrientes. Tabela 2: Avaliação do nível de eutrofização pela transparência da água e produtividade de peixes esperada (Adaptado de Schmittou, 1993).

Transparência no Disco de Secchi

Grau de enriquecimento em nutrientes

Expectativa de biomassa em tanques-rede de baixo volume/alta densidade

≥ 200 cm Pobre (oligotrófico) Alta (> 200 kg/m3) 80 a 200 cm Médio (mesotrófico) Média (até 200 kg/m3) 40 a 80 cm Rico (eutrófico) Regular (até 150 kg/m3) Outro método que pode ser usado para a classificação do nível trófico dos corpos d’água com plâncton ou com argila em suspensão é a determinação, em laboratório, da concentração de fósforo presente na água. Em geral, os corpos d’água naturais têm baixa concentração de fósforo, que é um nutriente essencial para o crescimento do fitoplâncton e das plantas aquáticas. E como os efluentes causadores de poluição nos corpos d’água geralmente são ricos em fósforo (orgânico ou inorgânico), este nutriente é comumente usado como indicador do nível trófico de reservatórios e rios. (Tabela 3) Tabela 3: Relação de Vollenweider entre a concentração de P-total na água e os níveis tróficos de reservatórios (modificado de Esteves, 1988). Estado trófico de reservatórios Concentração de P-total na água (mg/m3) Ultra-oligotrófico < 5 Oligomesotrófico 5 a 10 Meso- eutrófico 10 a 30 Eu-politrófico 30 a 100 Politrófico > 100 4.1.2. Temperatura da água A temperatura da água apresenta efeito direto sobre o consumo de alimento e na atividade metabólica dos peixes. Dentro da faixa de temperatura favorável para uma espécie, a taxa de crescimento aumenta com o aumento da temperatura até que esta atinja a faixa ótima para o crescimento. Qualquer incremento na temperatura acima da faixa ótima resulta em redução no consumo de alimento e, conseqüentemente, no crescimento. De um modo geral, o conforto térmico das espécies tropicais é alcançado dentro da faixa de temperatura entre 26 e 30ºC (Tabela 4). Tabela 4: Faixas de temperatura da água (°C) e desempenho esperado para os principais peixes tropicais cultivados comercialmente. Temperatura (°C) Resposta esperada

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> 34 Maior incidência de doenças e mortalidade crônica 30 a 34 Redução no consumo de alimento e no crescimento 26 a 30 Crescimento ótimo < 22 Consumo de alimento e crescimento são bastante reduzidos < 18 Consumo de alimento e crescimento praticamente cessa 10 a 15 Faixa letal para a maioria dos peixes tropicais 4.3. Oxigênio dissolvido e gás carbônico As concentrações de OD e CO2 dentro do TR podem variar em função da biomassa de peixes estocada e da concentração destes gases na água do ambiente onde os TR estão instalados. A manutenção de adequadas concentrações desses gases no interior dos TR depende da intensidade de troca de água entre os TR e o ambiente. A capacidade de renovação de água no interior dos TR depende de diversos fatores. A concentração de OD no interior dos TR deve ser superior a 4,0 mg de O2 por litro, a 28ºC, de forma a assegurar adequado crescimento e eficiência alimentar. A concentração de CO2 no interior dos TR não deve ultrapassar 10 mg de CO2 por litro. As principais fontes de gás carbônico são a respiração dos organismos aquáticos e a decomposição aeróbia da matéria orgânica. Em equilíbrio com o ar, a concentração de gás carbônico na água está em torno de 0,5 mg/l a 25ºC. Quando o CO2 está presente em altas concentrações na água, os peixes podem apresentar dificuldades na respiração. Concentrações acima de 25 mg/l de CO2 prejudicam o desempenho produtivo dos peixes, principalmente sob baixas concentrações de O2 dissolvido. 4.4. Renovação de água no interior dos TR Outro importante fator determinante da produtividade no cultivo de peixes em TR é a taxa de renovação da água no interior dos mesmos, que é promovida pelas correntes naturais e pela movimentação dos peixes dentro dos TR. A facilidade de renovação da água depende, em grande parte, do tamanho dos TR e da resistência das malhas à passagem da água. 4.4.1. Tanques-rede de pequeno ou grande volume Os TR ou gaiolas são freqüentemente agrupados em duas categorias, de acordo com sua capacidade volumétrica e produtiva: os TR de pequeno volume e alta densidade (PVAD) e os TR de grande volume e baixa densidade (GVBD). Na tabela 5 são apresentadas as principais características e uma rápida comparação entre TR de pequeno volume/alta densidade (PVAD) e dos tanques-rede de grande volume/baixa densidade (GVBD). TR ou gaiolas de PVAD apresentam tamanho entre 1 e 4 m³ e permitem produzir entre 10 e 250 kg/m³/ciclo. TR com volumes superiores a 18 m³ são considerados de GVBD, com biomassa econômica variando entre 20 e 80 kg/m³. Também são utilizados tamanhos intermediários entre 6 e 18 m³ com produtividades entre 50 e 100 m³

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Tabela 5: Comparação de algumas características dos tanques-rede de pequeno volume/alta densidade (PVAD) e dos tanques-rede de grande volume/baixa densidade (GVBD). Características TR de

PVAD TR de GVBD

Volume útil (m3) Até 6 Acima de 18 Capacidade de renovação de água Maior Menor Biomassa econômica (kg/m3) 100 a 250 20 a 80 Custo de implantação por m3 Maior Menor Porte do empreendimento onde são mais utilizados Pequeno Grande Tempo de retorno do capital investido Menor Maior Custo de mão de obra/m3 de volume útil Maior Menor Custo de mão de obra/kg de peixe produzido Menor Maior 4.4.2. Capacidade de suporte em TR Capacidade de Suporte (CS) é um termo utilizado para definir a máxima biomassa sustentável dentro de uma unidade de cultivo. Quando a capacidade de suporte é atingida o ganho de peso ou de biomassa da população estocada é zero, ou seja, os peixes param de crescer. Na capacidade de suporte, algum fator limitante restringe a continuidade da produção. A quantidade de O2 dissolvido na água é o primeiro fator limitante ao aumento de produção nas unidades de cultivo. No cultivo de peixes em TR, a CS, expressa em quilos de peixe por metro cúbico (kg/m³), em geral, está relacionada de maneira inversa ao volume (tamanho) das unidades de produção. Os TR de PVAD permitem alcançar uma maior capacidade de suporte comparados aos tanques de GVBD. A principal razão disso é a maior taxa de renovação de água, e conseqüentemente maior aporte de oxigênio, em tanques de pequeno volume:

Muitas vezes as correntes em represas e açudes são pequenas. Como explicar as bem sucedidas produções de peixes em TR sob alta densidade nesses locais. O deslocamento de água promovido no interior dos TR pela natação dos peixes é responsável pela troca de água e a reoxigenação do interior dos TR. Desta forma, quanto menor for a massa de água contida no interior dos TR, em relação à biomassa de peixes estocada, mais facilmente ocorre renovação da água nos TR. Em TR de grande volume, a distância do centro às laterais é maior, comparado aos

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TR de pequeno volume. Isto faz com que os peixes consigam deslocar apenas parte da massa de água da região central para fora dos TR, não realizando, portanto, uma renovação e oxigenação tão eficaz. Apesar das inúmeras vantagens observadas com o uso de TR de pequeno volume e alta densidade, estes não são aplicáveis ao cultivo de todas as espécies de peixes, tampouco são recomendados para determinados tipos de ambientes. Sendo assim, alguns aspectos importantes devem ser considerados na escolha desse sistema, como exemplo:

a- alguns peixes, principalmente aqueles de hábito pelágico, que exercem grande atividade natatória e/ou são comercializados com grande porte não se adaptam a TR de pequenas dimensões.

b- No planejamento de empreendimentos visando uma grande escala de produção deve ser feita uma análise detalhada das vantagens do uso de TR de pequeno volume, pois, a necessidade de trabalhar com um número muito elevado de unidades de produção demanda um maior gasto operacional com alimentação, movimentação e colheita dos peixes.

c- Em ambientes pouco protegidos, onde ventos intensos ocorrem com freqüência, o uso de TR de pequeno volume é pouco vantajoso porque a alimentação que normalmente é feita com auxílio de barcos fica prejudicada ou até mesmo é impedida devido à formação de ondas.

4.4.3. Resistência das malhas à passagem da água A facilidade com que a água é trocada entre o interior do TR e o meio aquático depende da área vazada das malhas nas laterais e no fundo dos TR. A percentagem de área vazada varia em função da abertura das malhas e da espessura do material (fios multifilamento ou telas) usado na confecção dos mesmos. Também depende do acúmulo de materiais orgânicos e do crescimento de algas que podem causar a obstrução parcial das malhas (colmatação), dificultando a renovação da água do interior dos TR. Os TR devem ser confeccionados com malhas de abertura suficientemente pequena para impedir a fuga dos peixes estocados. Com o avanço do cultivo é recomendado o aumento no tamanho da malha para melhorar a renovação da água. Isto possibilita uma maior densidade de estocagem e produtividade, além de reduzir os riscos de problemas na qualidade da água dentro dos TR, decorrente da colmatação das malhas. Em geral o tamanho das malhas usadas em TR pode variar de 5 a 30 mm (distância entre nós), dependendo da fase de cultivo dos peixes. Malhas de tamanho muito grande facilita a entrada de outros peixes indesejáveis ao cultivo como lambaris, carás, mandis, piaus, piranhas e outros. Estes peixes competem com os peixes estocados no momento da alimentação, prejudicando o crescimento e a conversão alimentar, onerando assim o custo de produção.

5. ASPECTOS CONSTRUTIVOS DOS TANQUES- REDE E GAIOLAS Os TR e gaiolas vêm sendo construídos com uma grande variedade de materiais estruturais, tipos de malhas e telas; diversos formatos e dimensões; diferentes estruturas de flutuação ou fixação.

5.1. Malhas e componentes estruturais Os materiais utilizados nas malhas e nas estruturas de sustentação e de flutuação dos TR e gaiolas devem apresentar as seguintes características:

• Boa resistência ao esforço mecânico e corrosão;

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• Resistência mínima à passagem de água; • Material deve ser o mais leve possível e de baixo custo; • Material não abrasivo ou cortante, que possa causar ferimento aos peixes; • Simples reparo, manuseio e limpeza.

5.1.1. As malhas As redes de multifilamento com ou sem nós, as telas plásticas rígidas, telas metálicas rígidas de aço galvanizado com revestimento plástico (PVC) rígido ou sanfonado estão entre os materiais mais comumente utilizados na confecção dos TR e gaiolas (Tabelas 6 e 7). 5.1.2. Componentes estruturais Em alguns projetos de gaiolas de PVAD, a própria tela da gaiola serve como estrutura, havendo apenas a necessidade de algum acessório para flutuação. Os TR de PVAD são normalmente individuais e não possuem nenhum tipo de passarela com o piso à sua volta. Estes modelos são geralmente construídos usando tubos e perfis metálicos na armação superior onde são presos a malha e os flutuadores. TR de GVBD são comumente montados utilizando estruturas de sustentação para as malhas dispostas como plataforma periférica. Estas plataformas proporcionam além de sustentação física às estruturas, facilidade na execução das rotinas de alimentação e no manuseio dos peixes, nas transferências, estocagens e colheitas. Os TR de grande volume que utilizam plataformas compartilhadas devem possuir articulações entre as unidades que dêem flexibilidade à estrutura. A ocorrência de ondas freqüentes e estruturas rígidas com vários TR sofrem grande risco de serem rompidas.

5.2. Flutuadores As estruturas que permitem a flutuação dos TR ou das plataformas podem ser feitas com tambores e galões de plástico ou metal podendo ainda ser preenchidas com espuma de poliuretano, tubos de PVC com as extremidades tampadas e vedadas, blocos de isopor (poliestireno) com revestimento impermeabilizante, bambus, toras de madeira, entre outros materiais. Os flutuadores devem conferir boa estabilidade e serem vedados à entrada de água para proporcionar segurança às estruturas. 5.3. Sistemas de fixação dos tanques-rede Os TR podem ser fixados individualmente ou em conjunto ao longo de cabos de aço ou de nylon. As extremidades dos cabos podem ser presas às margens ou fixados ao fundo da represa ou do lago com o uso de âncoras ou poitas (Figuras 1 e 2). A escolha do tipo de fixação deve ser feita respeitando as exigências legais e com base nas características do ambiente serão instalados os TR. O sistema de fixação deve ser projetado de modo a:

• não interferir no tráfego de embarcações, sobretudo quando as extremidades dos cabos forem presas às margens;

• possibilitar ajustes de acordo com o nível da água no local onde serão instalados os TR;

• a profundidade do local onde as âncoras ou poitas poderão ser lançadas, considerando a operacionalidade e os custos

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• as características físicas do fundo onde serão lançadas as âncoras ou poitas (predomínio e areia, lama (argila) ou pedra.

Figura 1: Esquemas para fixação de tanques-rede em represas e grandes reservatórios.

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Figura 2: Tanques-rede individuais e conjugados: (a) sem piso e ancorados em conjunto; (b) com piso e ancorado individualmente; (c) com piso individual e ancorados em conjunto; (d) piso compartilhado formando uma plataforma.

Os tipos de solo do fundo do corpo d’água onde serão lançadas as poitas ou âncoras também têm grande influência sobre a eficiência de fixação dessas estruturas. Solos argilosos têm

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menor coeficiente de fixação, seguido dos solos argilo-arenosos e finalmente os solos arenosos. Portanto, a fixação feita com âncoras e poitas em solos argilosos requer estruturas maiores para sustentar o mesmo número de TR comparado a fixação em solos arenosos. Existem diversos tipos de âncoras que podem ser usadas pára fixar os TR (Figura 3). Entre as mais comuns estão os tipos Bruce e Danforth. As poitas de concreto também podem ser usadas. Figura 3: Tipos de âncoras freqüentemente usados para fixar tanques-rede. Quando os TR são fixados usando âncoras ou poitas, os cabos de nylon ou de aço que ligam os tanques à ancoragem devem ter comprimento total de no mínimo três vezes a profundidade máxima do local para garantir que as âncoras permanecerão bem cravadas ao fundo. Caso a opção seja o uso de cabos de nylon na ancoragem, é recomendado usar uma composição de cerca de 1/3 do comprimento total com corrente de aço e 2/3 com o cabo de nylon. A corrente que será presa à âncora auxilia na fixação da mesma, pois seu peso ajuda a manter o cabo paralelo ao fundo. A bóia usada no sistema de ancoragem deve ficar a uma distância de aproximadamente 10 m dos tanques ou da plataforma, e sua capacidade de flutuação deve ser equivalente a cerca de 1,8 vezes o peso do cabo que sustenta. 5.4. O tamanho e o formato dos tanques-rede ou gaiolas Quanto maior for a relação entre a área lateral e o volume do TR, maior será o potencial de renovação da água do interior do mesmo. TR ou gaiolas de PVAD apresentam relação área lateral/volume superior aos TR e gaiolas de GVBD. Por exemplo, um TR de 2x2x1 m, ou seja, de 4m³ tem uma relação de 8 m² de área lateral, para cada 4m³ de volume, ou seja, uma relação de 8:4 ou 2:1; enquanto isso um TR de 5x5x2 m apresenta 40 m² de área lateral e 50 m³ de volume, ou seja, uma relação área lateral/volume de 40:50 ou 0,8:1. Assim, quanto menor o TR ou a gaiola, maior a renovação de água e o potencial produtivo do mesmo. Contudo, o uso de TR de PVAD pode não ser a melhor opção no cultivo de peixes pelágicos e de espécies cultivadas até grande porte, a exemplo dos salmões, atuns e pirarucus. TR de formato retangular ou quadrado são mais eficientes no que diz respeito à renovação de água do que os TR redondos, hexagonais ou octogonais (formas cilíndricas) pois nesses há uma tendência de desvio de parte da água que incide sobre as laterais. (Figura 4).

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Figura 4: Movimento da água através de tanques-rede com formato cúbico ou cilíndrico. 5.5. Cobertura Os TR devem ser preferencialmente cobertos para impedir que os peixes saltem para fora e, também, para que seja evitado o acesso de animais aquáticos e pássaros predadores. As tampas dos tanques devem ser opacas para reduzir a incidência direta de luz solar (raios ultravioleta) sobre os peixes e também atenuar o estresse (intimidação) causado pela presença de pássaros e outros animais sobre o TR. Peixes como o bagre do canal e o surubim ou pintado, definitivamente se beneficiam da redução na entrada de luz na água. Com tilápias e outros peixes o efeito da cobertura opaca não é tão pronunciado. 5.6. Comedouro O comedouro é uma importante estrutura auxiliar dos TR. Quando a alimentação é feita usando rações extrusadas flutuantes, podem ser usados anéis de alimentação flutuante, ou comedouros fixados à própria tampa do TR e que se estendam cerca de 30 a 40 cm abaixo da superfície da água. Outra possibilidade é a utilização de um anteparo com tela (de abertura menor do que o tamanho dos grãos de ração) ao longo de toda a extensão das laterais dos TR. Os comedouros de superfície devem cobrir pelo menos 40 a 50% da superfície do TR. As telas e anteparos laterais dos comedouros devem se cerca de 30 a 40 cm abaixo e pelo menos 20 cm acima da superfície. Alguns peixes que se alimentam no fundo necessitam de um anteparo para que a ração não se perca ou mesmo um cocho de fundo com a ração sendo fornecida por um tubo de PVC (Figura 5).

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Figura 5: Representação de três tipos de comedouro: (a) anel de alimentação usado para rações flutuantes; (b) bordadura com tela fina interna ao redor do perímetro do tanque-rede; (c) cocho de fundo de descida da ração para uso de rações peletizadas. 5.7. Disposição dos tanques-rede em relação a outros tanques-rede Os TR devem ser dispostos no ambiente de maneira que a água de baixa qualidade que sai de um tanque não entre em outro logo a seguir e assim, prejudique o crescimento dos peixes. É comum se observar a disposição de TR alinhados e encostados uns aos outros, o que prejudica a troca de água com o ambiente e reduz a produtividade do conjunto. É recomendado manter uma distância mínima entre cada TR de 2 a 3 vezes o tamanho do próprio TR (Figura 6). Figura 6: Tanques-rede dispostos de forma aglomerada prejudicando a circulação de água e tanques-rede alinhados com espaçamento adequados para facilitar a passagem da água. 6. O PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO EM TANQUES-REDE A capacidade de suporte (CS) representa a máxima biomassa sustentada por volume de TR. É expressa em quilos de peixe por metro cúbico de volume útil ou submerso do TR. Dizemos

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que um TR atingiu a CS, quando o incremento em biomassa for nulo. O primeiro fator determinante da CS é a concentração de oxigênio dissolvido no interior do TR. No Brasil já há o registro de biomassa próxima de 480 kg/m³ no cultivo de tilápias, isto nos dá uma idéia que em TR de PVAD a CS gira em torno de 500 a 700 kg/m³ . Em TR de GVBD a CS geralmente é atingida com cerca de 80 a 120 kg/m³. Quando a biomassa dentro de um TR se aproxima da CS, aumenta o risco de mortalidade e perda da produção devido à má qualidade da água no interior do TR ou à maior incidência de doenças e parasitoses. 6.1. Biomassa Econômica (BE) Na produção de peixes, busca-se garantir ótimas condições de alimentação, qualidade da água e manejo da produção para manter um ritmo adequado de crescimento e obter bons índices de conversão alimentar, almejando, ao final, o maior acúmulo de lucro possível. A produção em TR segue o mesmo princípio e tem como meta atingir a biomassa que resulta no maior lucro acumulado, ou seja, a biomassa econômica. Produzir a máxima quantidade possível de peixes em um TR (ou seja, atingir a CS) não significa máximo lucro. O ponto de BE (ou de máximo lucro acumulado) está bem antes da CS ser atingida. Isso ocorre porque quando a produção em um TR vai se aproximando da CS, os índices de desempenho pioram acentuadamente, sobretudo a conversão alimentar e o ganho de peso diário. E como a ração é o insumo de maior custo individual na piscicultura em TR, o custo de produção do peixe aumenta e a lucratividade diminui. Incrementos na biomassa, além da BE, resultam também na diminuição progressiva dos lucros acumulados no cultivo até então. Em viveiros, a BE geralmente está entre 60 a 80% da biomassa na capacidade de suporte. No Brasil há relatos de produção de tilápias em gaiolas de 4 e 5 m³ onde o melhor retorno econômico na produção foi obtido com biomassa entre 150 e 250 kg/m³. Outros dados dos EUA sugerem metas de produção ao redor de 200 kg/m³ em TR de PVAD. Em TR a produção pode variar de 180 a 250 kg/m³ em TR de 1,0 m³, 90 kg/m³ em TR de 10 m³ e 45 kg/m³ em TR de 15 m³. Estes valores foram considerados próximos da biomassa econômica em cada situação. Em gaiolas de GVBD, de forma geral, a BE para a produção de tilápias gira em torno de 20 e 80 kg/m³. É importante ressaltar que os valores de BE podem variar significativamente para uma determinada espécie sob diferentes condições de cultivo, assim como entre diferentes espécies. 7. CAPACIDADE DE SUPORTE DE PEQUENAS REPRESAS E AÇUDES COM TANQUES-REDE Os limites de capacidade de suporte e os níveis máximos de alimentação sugeridos para o cultivo de peixes em viveiros servem como referência para estabelecer a CS no cultivo de TR instalados dentro de viveiros, pequenas represas ou açudes particulares. Assim, não é possível produzir, em TR ou gaiolas, biomassa de peixes que excedam a capacidade de suporte observada no cultivo de peixes livres nesses viveiros. Por exemplo, em uma represa com pouca renovação de água a CS (biomassa máxima) gira em torno de 6000 kg/ha quando se cultivam peixes livres. Se no próximo ciclo de cultivo o piscicultor quiser instalar TR nesta mesma represa e produzir apenas peixes confinados, ele não poderá contar com uma produção superior aos da represa (6000 kg/ha), mesmo que a área ocupada pelos TR represente apenas uma pequena fração da área da represa. Os peixes confinados não conseguem procurar áreas com melhor qualidade de água e muitas vezes nem conseguem acesso à superfície quando o oxigênio se torna crítico, o que pode resultar em mortalidades massivas e repentinas. O nível máximo de alimentação nessas condições não deve ultrapassar 20 a 30 kg de ração/ha/dia. Isto é suficiente para sustentar uma biomassa

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econômica de 2000 a 3000 kg de peixe/há sem grandes prejuízos na qualidade da água da represa ou açude. Tabela 6: Tamanhos de malhas recomendas para o cultivo da maioria das espécies em tanques-rede. Faixa de peso do peixe (g) Tamanho da malha (mm) 1 a 5 5 5 a 20 8 20 a 200 13 200 a 500 18 a 25 Acima de 500 > 25 Tabela 7: Abertura livre para a passagem da água em 1m2 de tela do tipo alambrado com fio de aço galvanizado revestido de PVC.

Diâmetro do fio usado na tela 1 Tamanho da malha 2,14 mm (BWG 18) 2,55 mm (BWG 16)

19 x 19 0,79 m2 0,75 m2 25 x 25 0,84 m2 0,81 m2 32 x 32 0,87 m2 0,85 m2 1 O diâmetro do fio pode variar de acordo com o fabricante, dependendo da espessura da camada de PVC usada.