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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE GUARULHOS EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE GUARULHOS DO ESTADO DE SÃO PAULO URGENTE PEDIDO LIMINAR O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO , por seu Órgão de execução que esta subscreve, com fundamento com fundamento na Constituição Federal (artigos 1º, incisos II e III; 3º, incisos I, III e IV; 5º caput e § 1º; 6º; 23, inciso II; 37 caput e § 6º; 127 caput; 129, incisos II e III; 196/198 e 227 caput e §§ 1º e 7º); no Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal nº 8.078/90 - artigos 22 e 81/100); na Lei da Ação Civil Pública (Lei 1

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE GUARULHOS DO ESTADO DE SÃO PAULO

URGENTEPEDIDO LIMINAR

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu Órgão de execução que esta subscreve, com fundamento com fundamento na Constituição Federal (artigos 1º, incisos II e III; 3º, incisos I, III e IV; 5º caput e § 1º; 6º; 23, inciso II; 37 caput e § 6º; 127 caput; 129, incisos II e III; 196/198 e 227 caput e §§ 1º e 7º); no Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal nº 8.078/90 - artigos 22 e 81/100); na Lei da Ação Civil Pública (Lei Federal nº 7.347/85 - artigos 1º, inciso IV, 5º caput, 11, 12 caput e § 1º; 19 e 21); na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei Federal nº 8.625/93 - artigos 1º caput; 25, inciso IV, alínea “a” e 27, incisos I e II); na Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal nº 8.080/90); na Constituição do Estado de São Paulo (artigos 217; 219, parágrafo

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único, nºs 1/4; 220 caput e parágrafo 4o; 222 caput e incisos I, III, IV e V; 223, inciso I, II, “a”, “b”, “e” e “f” e 277 caput); na Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de São Paulo (Lei Complementar nº 734/93 - artigos 1º caput e 103, incisos I, VII, alínea “a” e VIII); no Código de Saúde do Estado de São Paulo (Lei Complementar Estadual nº 791/95) e Lei Estadual nº 10.083/98, ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA INIBITÓRIA (AÇÃO COLETIVA)

em face do MUNICÍPIO DE GUARULHOS, pessoa jurídica de direito público interno, que deverá ser citada na pessoa de seu representante legal, na sede do Poder Executivo;

pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

I – DOS FATOS

A. AS MORTES DAS CRIANÇAS E A INTERDIÇÃO DA UTI

Esta Promotoria de Justiça da Infância e Juventude instaurou inquérito civil para a apuração do elevado número de mortes na UTI pediátrica do Hospital Municipal da Criança.

No momento da instauração da investigação (26 de maio) eram 09 (nove) as mortes ocorridas. Outras se seguiram

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de modo que, no período de 07 de abril a 03 de junho, foram 14 (quatorze) as mortes noticiadas,número este superior à média do hospital, conforme as declarações da própria diretora e as estatísticas por ela encaminhadas (DOCs. nº 01, 02 e 03).

Foram todas crianças que faleceram, sendo 12 bebês (DOC. nº 04). São elas:

Criança Idade data do óbito

1.R V C B 3 meses 07/07/20112.E M R C 1 mês 10/04/20113.M A P 2 meses 12/04/20114.L E A S 4 anos e 6

meses22/04/2011

5.J V S 1 ano e 6 meses 23/04/20116.M E P S 5 meses 24/04/20117.M P R 3 meses 03/05/20118.D E S 6 meses 03/05/20119.F F S 8 anos e 4

meses09/05/2011

10.M F A 1 ano e 1 mês 16/05/201111.P V S 10 meses 17/05/201112.P A M D 6 meses 25/05/201113.S O L 5 meses 26/05/201114.J V D 11 meses 03/06/2011

Uma das primeiras medidas do inquérito civil foi a solicitação de realização de visita de inspeção pelas Vigilâncias

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Sanitária e Epidemiológica do Estado que a realizaram acompanhadas pela Vigilância Sanitária Municipal.

Durante a visita foram lavrados os autos de infração nº 006870 e nº 006871 e o auto de imposição de penalidade nº 010595, sendo determinada a INTERDIÇÃO DA UTI PEDIÁTRICA“devendo o estabelecimento transferir os pacientes internados no prazo de 24 horas e não admitir novos pacientes em hipótese alguma, uma vez que a unidade oferece risco iminente à saúde, conforme o disposto no artigo 110, artigo 112, inciso IX, artigo 115, inciso I da Lei 10083/98” (DOC. nº 05).

Mesmo com a interdição, realizada em 31 de maio, a transferência não foi imediata sendo que, em 03 de junho, houve novo óbito. Somente então algumas crianças foram transferidas e uma delas recebeu alta da unidade permanecendo, contudo, na enfermaria do hospital (T E R A). Esta faleceu dias depois (15ª morte).

Cumpre ressaltar que houve, ainda, outro caso grave. O bebê W.K.C.S., de apenas dois meses de vida, foi internado no Hospital Municipal da Criança em 12 de junho e foi entubado, na enfermaria. No dia seguinte apresentou arroxeamento no pé direito (onde estava localizado seu acesso periférico). Em 14 de junho foi sugerida avaliação da equipe de cirurgia vascular, com transferência do paciente para o Hospital Francisco Morato. Retornou em 20 de junho para o HMC. Em 29 de junho teve parte do dedo do pé amputado. A criança permanece internada na enfermaria (DOC. nº 06).

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Segue cópia digitalizada do Auto de Interdição:

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B. RELATÓRIOS DAS VIGILÂNCIAS ESTADUAIS

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O relatório técnico de inspeção elaborado pelo Grupo de Vigilância Sanitária e Epidemiológica do Estado, o GVS VIII (DOC. nº 07), demonstra as condições em que a Unidade de Terapia Intensiva foi encontrada. A equipe que realizou a visita, composta por 2 biologistas, visitador sanitário, arquiteta, 2 enfermeiras e 1 médico constatou uma série de irregularidades, todas bem descritas nos relatórios que instruem a presente.

Ressaltamos alguns dos pontos relevantes levantados.

O Hospital Municipal da Criança não possui PROGRAMA DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR.

Há, ainda, segundo a equipe sanitária do Estado:

“- ausência de manuais ou rotinas técnico-operacionais visando prevenção e controle da Infecção Hospitalar, segundo informações está em fase de revisão. Foi apresentada cópia de um manual, versão 07/2005;

- Ausência de procedimentos por escrito de troca de materiais médico-hospitalares como equipo de soro, circuito de respirador, relativos ao uso racional de germicidas e antissépticos e procedimentos descritos e padronizados do serviço de limpeza nos setores;

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- (...) a CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar) não elabora regularmente relatórios com dados informativos e indicadores do controle de infecção hospitalar. Na inspeção fomos informados pelas médicas do SCIH que não havia elaborado o relatório do trimestre março, abril e maio, portanto, não há divulgação dos relatórios entre o corpo clínico do hospital;

- (...) Ausência de protocolos por escrito de mecanismo para detecção de casos de infecção hospitalar pós-alta segundo informação é realizado no ambulatório de egressos;

- não possui normas e rotinas, visando limitar disseminação de microorganismos de doenças infectocontagiosas em curso no hospital por meio de medidas de precaução e isolamento;

- (...) número de lavatórios insuficiente para uso da equipe de saúde e falta de manutenção das torneiras acionadas por sensor;

Área coletiva, detalhe da bancada de serviços

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Área coletiva - Lavatório único da equipe

- procedimentos escritos orientando lavagem das mãos e cuidados com catéteres intravasculares e urinários estão disponíveis, porém não estão disponíveis nos setores os de biossegurança, de curativos, coleta de sangue para hemocultura, limpeza e desinfecção de artigos, esterilização e limpeza de ambientes;

- (...) inexistência de registros referentes à rotina de controle de bacteriológico da água nos pontos críticos de consumo, bem como microbiológico;

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Sala de utilidades da UTI – banheiro – caixa do sanitário sem tampa

Área coletiva – banheiro com infiltração

_ (...) o sistema de Vigilância Epidemiológica das Infecções Hospitalares é dirigido, com coleta de dados feita diariamente e o processo utilizado é o de busca ativa. Os indicadores utilizados no CIH

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(Controle de Infecção Hospitalar), segundo informação, são taxa de IH, taxa de paciente com IH, taxas de IH por topografia (urinária, cirúrgica, respiratória, cutânea, corrente sanguínea), taxa de IH em cirurgia limpa e não apresentou taxa de letalidade por IH e a taxa de IH nos últimos três meses significando que não há avaliação e priorização dos problemas com base nos indicadores. Os membros executores da CCIH não realizam a análise do Sistema de Vigilância Epidemiológica, que permite a identificação do surto em tempo hábil para medidas de controle;

- o serviço de lavanderia hospitalar é terceirizado e externo, sendo a empresa GUIMA Conseco Construção Serviços Ltda.. Segundo informação do SCIH não conhece a lavanderia e se a mesma possui sistema de barreira que separa a área limpa da suja;

- (...) há cruzamento de fluxo de pessoas, materiais e produtos na UTI pediátrica, ausência de sistema de ventilação/climatização adequada, sem o controle microbiológico da qualidade do ar e ausência de plano de manutenção, operação e controle do sistema de climatização da UTI pediátrica;

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Poltrona de acompanhante – os pertences ficam no interior da UTI

Sala de utilidades desorganizada

- EM ANÁLISE DOS DOCUMENTOS APRESENTADOS DURANTE INSPEÇÃO SANITÁRIA CONSTATARAM-SE ALTAS TAXAS DE INFECÇÃO PRIMÁRIA DE CORRENTE SANGUÍNEA ASSOCIADAS A CATÉTER CENTRAL E COMPROVAÇÃO LABORATORIAL DAS

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HEMOCULTURAS (06 (SEIS) CASOS NO MÊS DE ABRIL DE 2011) E 04 (QUATRO) CASOS DE PNEUMONIAS ASSOCIADAS À VENTILAÇÃO MECÂNICA, TODOS CULMINANDO COM ÓBITO” (grifado).

Concluiu a experiente equipe sanitária estadual:“A unidade hospitalar não possui Programa de Controle de Infecção Hospitalar infringindo a Lei 9431/97, a Portaria 2616/98 e a Lei 10083/98, sem qualidade dos serviços prestados, oferecendo riscos iminentes à saúde dos pacientes e profissionais, além de não possuir estrutura física adequada. Sendo assim houve lavratura de auto de infração AIF no. 006871 e auto de imposição de penalidade de interdição parcial do estabelecimento – API nº 010595 em 31/05/2011, no caso da UTI pediátrica”.

C. RELATÓRIO DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA

O CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA também realizou visita de inspeção no hospital e apresentou extenso e preocupante relatório, composto por 61 laudas (DOC. nº 08).

Os médicos do CREMESP realizaram três visitas ao hospital e concluíram que “durante a presente vistoria

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observamos várias inadequações que, por sua natureza, podem ser diferenciadas em função do que segue: as que decorrem da expressiva deterioração e/ou inadequação da área física, equipamentos e mobiliários locais e as que decorrem da execução inadequada de processos de trabalho tradicionalmente afetos à prestação de cuidados hospitalares”.

Com relação à deterioração e/ou inadequação da área física, equipamentos e mobiliários os i. experts apontaram 25 inadequações (pex.: “o lavatório para mãos, instalado dentro do saguão de cuidados da UTI infantil, apresentava vazamento no sifão, sob o qual havia um pano de chão”; “nas dependências da UTI infantil observamos espaço exíguo para a manipulação de medicamentos e materiais pelo corpo de enfermagem”).

No tocante à execução inadequada de processos de trabalho afetos à prestação de cuidados hospitalares, 14 foram as irregularidades apontadas (pex.:carrinhos de emergência equipados e posicionados de forma inadequada; foram observados ausência de desfibrilador e uso de desfibrilador sem pás para uso infantil nos carrinhos de emergência; as muretas instaladas no saguão de cuidados da UTI infantil estavam sendo utilizadas como bancadas para materiais e medicamentos, compondo ambiente sem organização; entre os meses de janeiro, fevereiro e março, houve 53 turnos de plantões da UTI que funcionaram com equipe médica reduzida).

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D. ESTATÍSTICAS DAS MORTES DA UTI PEDIÁTRICA

A análise do número de óbitos da UTI nos últimos anos demonstra que, conforme constatado pelas autoridades sanitárias do Estado e pelo próprio Conselho Regional de Medicina, a situação não estava sob controle da direção do Hospital.

Através dos dados estatísticos requisitados por esta Promotoria de Justiça, computados os óbitos ocorridos com mais e também com menos de 24 horas de internação, é evidente que o número de mortes no período foi superior aquele considerado aceitável para o Hospital. As causas estão ainda em investigação.

E. REDE DE GASES

O CREMESP apontou: “rede de gases inadequada impunha a utilização de torpedos de oxigênio em vários ambientes do hospital, inclusive em enfermarias de internação” (página 55 do relatório – DOC. nº 08).

Mas a questão vai além da inadequação. A médica coordenadora da UTI, Dra. A P L B V, em oitiva na Promotoria de Justiça, apresentou filmagem (DOC. nº 09 -cd anexo) realizada por ela mesma quando a unidade ainda estava em funcionamento demonstrando que vazava água pelo bico de oxigênio da UTI (DOC. nº 10).

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Referida filmagem demonstra que os bicos que deveriam fornecer oxigênio para as crianças internadas na UTI, por vezes vertiam água. A médica ainda informou que não era um determinado bico com tal problema, mas sim vários que apresentavam o mesmo problema de forma assistemática, ou seja, em alguns momentos funcionavam normalmente em outros não. Com isso nem a equipe médica, nem a equipe de enfermagem tinha controle sobre o correto funcionamento da rede de gases.

Considerando que a rede de TODO o hospital é uma, então extenso será o trabalho de constatação e solução do problema, inclusive para a reabertura da unidade.

F. MEDIDAS PARA A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS LEVANTADOS

Como se vê, são muitos os pontos que necessitam de reformulação em TODO o hospital. A presente ação, entretanto, cinge-se à UTI interditada. As demais questões seguem objeto de investigação no inquérito civil.

As mesmas autoridades sanitárias (GVS VIII) que procederam à interdição apontaram quais são as medidas imperiosas a serem tomadas em um primeiro momento. São elas:

“- implantação imediata de PCIH, bem como as ações de prevenção e controle de infecções hospitalares;- necessidade urgente de adequação física e organização dos setores;- melhor monitoramento das IHs para nortear o acompanhamento prospectivo;

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- implantar educação continuada em conjunto com a CCIH;- melhoria da análise dos dados de IH e análise crítica da Vigilância Epidemiológica municipal com correção das planilhas antes do envio para GVE VIII;- adequar a escala de funcionário do setor, em número e categoria profissional;- na verificação da planilha (CVE) de dados da UTI pediátrica do mês de abril, constatamos aumento importante no número de IH notificadas: 06 IPCS laboratoriais associadas a cateter central e 04 pneumonias associadas a ventilador mecânico;- foram analisados os prontuários 12 casos de óbitos ocorridos na UTI pediátrica no período de 10/04/2011 a 25/05/2011 para avaliar critérios de definição de IRAS. Do total de casos analisados: 4 IRAS (pneumonias); 6 casos descartados; 2 casos possíveis”.

Não se pode permitir a reabertura da UTI sem que essas mesmas autoridades analisem se as reformulações efetuadas atendem ao solicitado.

G. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DA VIGILÂNCIA ESTADUAL E A NOTICIADA REABERTURA DA UTI

Os autos de infração lavrados pelas autoridades sanitárias estaduais deram origem a um processo administrativo (nº 001.0725.000.497/11). Conforme as anexas informações prestadas pelo Grupo de Vigilância Sanitária (DOC.nº 11), o dd. Secretário Municipal de Saúde não apresentou recurso contra a decisão administrativa de interdição da UTI no prazo legal. Tampouco atendeu às solicitações constantes dos relatórios,

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informando àquelas autoridades que se “reportaria à Vigilância Sanitária Municipal” (DOC. nº 12).

Na data de ontem foi ouvido na Promotoria de Justiça o engenheiro civil da Vigilância Sanitária Municipal (DOC. nº13), Geriel Pereira da Silva.

Confirmou a informação já veiculada na imprensa (DOC. nº 14), de que o dd. Secretário de Saúde procederá à reabertura da UTI nesta semana.

Pior. Noticiou que o Hospital não possui alvará sanitário. Nunca houve a aprovação do Laudo Técnico de Avaliação (LTA) do Hospital, que só é aprovado pela Vigilância se todas as normas regulamentares são respeitadas em TODO o hospital, o que nunca ocorreu. Essa é uma questão prejudicial à análise do projeto de reforma da UTI.

Ainda assim referido profissional realizou inspeção na UTI no último dia 08 de julho e detectou 14 pontos que necessitam de esclarecimentos e abordagem ANTES da reabertura da UTI (DOC. nº 15). Tais observações foram encaminhadas à Secretaria Municipal de Saúde e, como se verá, são essenciais à reabertura. São elas: 1) vedar/lacrar todas as janelas da UTI; 2) retirar ralo existente na UTI I; 3) rever ralo do vestiário feminino pois o mesmo apresenta forte odor porque está ligado direto no esgoto; 4) instalar pia de despejo e pia de lavagem comum na sala de utilidades; 5) A CTI não possui ponto de vácuo clínico; 6) as paredes e pisos não foram revestidos; 7) a casa de máquinas do sistema de ventilação mecânica (ar condicionado e exaustão) não foi concluída; 8) o pé direito não

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atende as normas a respeitos; 9) apresentar projeto de ventilação mecânica com ART; 10) apresentar laudo de profissional/empresa habilitado, da rede de gases medicinais; 11) executar todas as adequações apontadas pelo laudo da rede de gases, como casa de máquinas com infiltração e ventilação insuficiente, alarmes de queda de pressão, válvulas em locais de acesso não restrito etc; 12) apresentar declaração de profissional habilitado, atestando a estabilidade da estrutura, pois a casa de máquinas está sendo construída na laje da CTI; 13) apresentar declaração do profissional responsável pelo projeto e execução do sistema de ventilação mecânica atestando a proteção acústica no interior da CTI, tendo em vista a localização e a proximidade entre a casa de máquinas e a CTI; 14) rever layout da UTI II (8,50 m2 por leito).

Em suma: houve interdição promovida pela Vigilância Sanitária Estadual, ainda vigente e nem mesmo a autoridade sanitária municipal entende possível a reabertura da unidade.

Vê-se, pois, que o reinício das atividades da UTI pediátrica do Hospital Municipal no presente momento, não apenas importará em clara ofensa ao ordenamento jurídico, como também poderá acarretar novas mortes.

II – DO DIREITO

A Constituição Federal de 1.988, acompanhando a Declaração dos Direitos Humanos, adotou como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da

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pessoa humana e, como forma de assegurar sua efetividade, estabeleceu diversos direitos sociais, dentre os quais o direito à Saúde.

Conforme nos ensina o douto Prof. José Afonso da Silva, entendem-se os direitos sociais:

“como dimensão dos direitos fundamentais do homem, são prestações proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em que criam condições materiais mais propícias ao aferimento da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da liberdade”1

Assim, constitui direito de todos e dever do Estado assegurar aos cidadãos os serviços de Saúde, permitindo o acesso universal igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação (artigos 1942 e 196 da Constituição Federal).

Ante sua natureza, os serviços públicos de saúde devem obediência ao princípio da eficiência estabelecido no artigo 37, caput, da Constituição Federal, que impõe aos seus prestadores:

1 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, 16. ed., São Paulo: Malheiros. 1999, p. 289.2“A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.”

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“a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitar-se desperdícios e garantir-se uma maior rentabilidade social. Note-se que não se tratada consagração da tecnocracia, muito pelo contrário, o princípio da eficiência dirige-se para a razão e fim maior do Estado, a prestação dos serviços sociais essenciais à população, visando a adoção de todos os meios legais e morais possíveis à satisfação do bem comum”3

Por outro lado, o artigo 7o da Lei n° 8.987/95 (Lei de Concessões e Permissões de Serviços Públicos) estabelece como direito de todo e qualquer cidadão o recebimento de “serviço público adequado” que é definido no artigo 6º, §1º, do mesmo diploma como aquele que “satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas”.

Comentando tal dispositivo o saudoso Prof. Diógenes Gasparini conclui que:

“o serviço público deve ser prestado aos usuários com segurança, tendo em vista a natureza do serviço. Nada deve ser menosprezado se puder, por qualquer modo, colocar em risco os usuários do serviço público ou terceiros ou, ainda, bens públicos e particulares. Não deve haver qualquer descuido ou omissão, por menor que seja, na execução dos serviços de manutenção dos equipamentos utilizados na prestação dos serviços públicos. As falhas devem ser imediatamente corrigidas, substituindo-se as peças impróprias ou

3 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 333.

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promovendo a renovação do próprio equipamento.”4

O Código de Defesa do Consumidor, por seu turno, também estabelece em seu artigo 22 que:

“os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.Parágrafo único – Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código”.

O mesmo diploma estabelece em seu artigo 8o

que:

“os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.”

O Código de Saúde do Estado de São Paulo – Lei Complementar Estadual nº. 791/95 – estabelece que:

“a) o direito à saúde é inerente à pessoa humana, constituindo-se em direito público subjetivo (art. 2º, § 1º); b) o estado de saúde, expresso em qualidade de vida, pressupõe: (...); (II) reconhecimento e salvaguarda dos direitos do indivíduo, como

4 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 266.

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sujeito das ações e dos serviços de assistência em saúde, possibilitando-lhe exigir serviços de qualidade prestados oportunamente e de modo eficaz; (III) ser tratado por meios adequados e com presteza, correção e respeito (art. 2º, § 3º, II a IV, “a” e “c”); c) no território de nosso Estado, as ações e serviços de saúde implicam co-participação e atuação articulada do Estado e dos Municípios na sua execução e desenvolvimento, constituindo o Sistema Único de Saúde (art. 4º e § 1º; art. 9º, I; art. 11);”

No mesmo sentido é a Lei Estadual nº 10.083/98 que dispõe em seus artigos 50 e 51:

“Artigo 50 - Os estabelecimentos de assistência à saúde que deverão implantar e manter comissões de controle de infecção serão definidos em norma técnica.Parágrafo único A responsabilidade pessoal dos profissionais de saúde pelo controle de infecção em seus ambientes de trabalho independe da existência da comissão referida neste artigo.

Artigo 51 - Os estabelecimentos de assistência à saúde e os veículos para transporte de pacientes deverão ser mantidos em rigorosas condições de higiene, devendo ser observadas as normas de controle de infecção estipuladas na legislação sanitária.”

A Portaria CVS nº15/02 dispõe sobre a necessidade de qualquer estabelecimento de saúde obter Laudo Técnico de Avaliação(LTA) para seu devido funcionamento:

“Define diretrizes, critérios e procedimentos para a avaliação físico-funcional de projetos de edificações dos estabelecimentos de interesse à saúde para emissão de LTA - Laudo Técnico de Avaliação.

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A Diretora Técnica do Centro de Vigilância Sanitária, da Coordenação dos Institutos de Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, em conformidade com o disposto na Lei nº10.083/98 (Código Sanitário do Estado de São Paulo), combinado com o Decreto Estadual nº 44.954/00 que dispõe sobre o SEVISA - Sistema Estadual de Vigilância Sanitária e o CEVS - Cadastro Estadual de Vigilância Sanitária, entre outros e, considerando:

o disposto no § 3º do artigo 7º da Portaria CVS 01 de 02/01/02, que estabelece a necessidade de detalhamento técnico dos procedimentos relacionados à avaliação físico-funcional de projetos de edificações e emissão do correspondente Laudo Técnico de Avaliação (LTA);

que o Laudo Técnico de Avaliação - LTA, estabelecido pela Portaria CVS 01/02, é pré-requisito para o cadastramento e/ou licenciamento de determinados estabelecimentos de interesse à saúde;

que a avaliação físico-funcional de projetos de edificações constitui importante instrumento para avaliação de risco e prevenção de impactos à saúde;”

Por fim, o artigo 17 da Lei Complementar Estadual nº 791/95 estabelece a possibilidade de o Estado de São Paulo intervir nas questões de saúde envolvendo Municípios, em especial no tocante às questões afetas à Vigilância Sanitária e Epidemiológica:

“Artigo 17º - Compete, ainda, à direção estadual do SUS:I. Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços de: a. assistência integral à saúde;b. vigilância epidemiológica; c. vigilância sanitária;d. controle de endemias;…

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§ 1º - exercidas em articulação e integração com outros setores, dentre os quais os de saneamento básico, energia, planejamento urbano, obras públicas, agricultura e meio ambiente. § 2º - A vigilância sanitária abrangerá o conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, inclusive o do trabalho, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde. § 3º - A vigilância epidemiológica abrangerá o conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva, com a finalidade de adotar ou recomendar medidas de prevenção e controle das doenças e agravos à saúde.”

III- DA COMPETÊNCIA

Claraé a competência desta Vara Especializada da Infância e da Juventude para a apreciação e o julgamento da presente ação.

Isso porque, conforme dispõe o artigo 196 da Constituição Federal:

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

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Considerando que os direitos à vida e à saúde, além de consistirem em direitos fundamentais albergados constitucionalmente, são resguardados pelo artigo 7º do Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual prevê que “a criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.”

E, por fim, considerando que no Capítulo VII do ECA, que traz dispositivos sobre a “Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos” há expressa referência à oferta irregular de acesso às ações e serviços de saúde, inafastávelé a competência deste r. Juízo:

“Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular:

(...)

VII - de acesso às ações e serviços de saúde”.

IV – DO PEDIDO LIMINAR

Nesse momento importante a lição de Luciane Gonçalves Tessler5:5 Ação Inibitória na Proteção do Direito Ambiental in Aspectos Processuais do Direito Ambiental/organizadores, José Rubens Morato Leite, Marcelo Buzaglo Dantas, 2a ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 124.

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“Importante é perceber que, apesar de em muitos casos o ato de violação da norma produzir imediatamente um dano, há casos em que a prática do ilícito antecede a configuração do dano. Para estes casos é que a tutela inibitória apresenta sua grande vantagem, porque para a obtenção de uma tutela inibitória basta a prova do ilícito, o que é muito mais fácil de demonstrar que a prova do dano e da culpa. Ademais, nos casos em que se caracterizou o ato ilícito e não ocorreu o dano, há que se considerar que o ordenamento também merece ser protegido. Não haveria sentido o legislador criar uma norma e não permitir mecanismos de se tentar evitar sua violação.”

Crê-se que com esta exposição arremata-se a possibilidade de tutela inibitória no caso concreto, em especial quando se trata de defesa de saúde e vida de crianças que poderão ser falecer no Hospital Municipal de Guarulhos, tal como já ocorreu, conforme acima explicitado.

Há sérios indícios no sentido de que as normas de proteção à saúde serão violadas, tanto assim que a imprensa local tem publicado notícias (confirmadas pelo engenheiro da Vigilância Sanitária Municipal) no sentido de que a UTI Pediátrica será reaberta, mesmo com a decisão de interdição administrativa estadual ainda vigente.

Ressalta-se, por fim, que a presente ação tem por objetivo fazer com que o Poder Judiciário impeça eventual ofensa às normas de saúde, fato que está prestes a ocorrer, resultando daí a condição da ação – interesse processual.

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Assim, demonstrada a relevância da demanda, a plausibilidade do direito invocado e o manifesto perigo de perecimento do bem jurídico tutelado e da ineficácia do provimento final – já que, caso as atividades da UTI Pediátrica sejam iniciadas sem o levantamento da interdição promovida pela Vigilância Sanitária Estadual, haverá clara possibilidade de risco à saúde e vida de crianças que venham a ali ser internadas -, com esteio no artigo 12, caput, da Lei no 7.347/85, que inaudita alteraparte, pede o Ministério Público que seja DEFERIDA LIMINAR, a fim de que:

a) o Município de Guarulhos seja impedido judicialmente de iniciar quaisquer atividades da UTI Pediátrica do Hospital Municipal Infantil enquanto não levantada a interdição administrativa promovida pela Vigilância Sanitária Estadual, sob pena de:

a.1) lacração judicial da UTI Pediátrica, com o devido apoio policial (expedindo-se ofício para tanto), a fim de evitar-se o descumprimento da decisão judicial6;

6 Consoante autoriza o artigo 213 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

“Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando o réu.§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento”.

E, ainda, o art. 84 do Código de Defesa do Consumidor:

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a.2) multa diária para o caso de descumprimento da ordem judicial no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a ser recolhida aoFundo Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente de Guarulhos7, justificando-se o montante acima mencionado a título de multa diária, justamente para que o réu seja coagido a não desrespeitar a decisão judicial, caso deferida.

V – DOS PEDIDOS FINAIS

Diante dos fatos acima descritos, o Ministério Público Estadual pede:

a) a distribuição desta Ação Civil Inibitória (Ação Coletiva) que deverá seguir o rito ordinário previsto na lei processual civil;

“Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação defazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento....§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.”7É o que estabelece o artigo 214 do Estatuto da Criança e do Adolescente: “Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município.§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária.”

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b) a citação do réu para apresentar defesa, sob pena de revelia, e para produzir a prova que desejar, até final sentença de condenação, na forma do pedido abaixo especificado;

c) a condenação do réu em obrigação de não fazer, consistente em não iniciarquaisquer atividades da UTI Pediátrica do Hospital Municipal Infantil enquanto não emitido Laudo Técnico de Avaliação 8 pela Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo ;

d) Condenação do réu ao pagamento de multa diária para o caso de descumprimento da ordem judicial no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a ser recolhida aoFundo Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente de Guarulhos;

e)Deixa-se de requerer a condenação do réu ao pagamento das custas e despesas processuais.

Protesta-se provar o alegado por todos os meios de prova no direito pátrio admitidos, em especial, prova documental, pericial, testemunhal e mediante inspeção judicial.

Dá-se à presente causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) apenas a título de alçada.

Guarulhos, 12 de julho de 2011.

8Estabelecido nas Portarias Técnicas do Centro de Vigilância em Saúde a Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo

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RENATA GONÇALVES DE OLIVEIRAPromotora de Justiça

da Infância e da Juventude

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