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1 Estimular o pensamento criativo Termina nesta edição a série de artigos sobre o Plano de Atividades Sociopedagógicas, previsto no manual da Segurança Social. Por último, deixamos- -lhe atividades para estimular o pensamento criativo em creche, nomeadamente o movimento, a música, a arte e atividades visuo-espaciais. Atividades práticas em creche A criatividade é um constuto com- plexo que tem sido vital para o progresso da civilização huma- na e para o desenvolvimento do raciocí- nio. Criar é o ato de originar alguma coisa, sendo o pensamento criativo essencial em todas as situações, uma criança criativa raciocina melhor e inventa soluções mais eficazes para superar as suas próprias dificuldades. Tudo pode estimular a criatividade na criança. Através da arte, sendo que a arte para a criança não é a mesma para o adul- to, estimula-se a criatividade, pois é um meio de expressão, de comunicação do pensamento. Uma criança que desde cedo esteja ha- bituada a ter de lidar com situações que estimulem o seu pensamento criativo em momentos lúdicos, será posteriormente um adulto detentor de mais estratégias para lidar com situações adversas. Catarina Sobral Coordenadora Técnica Maria Melo Técnica para o Desenvolvimento Infantil Técnica Superior de Reabilitação Psicomotora www.cocegasnospes.com 93 425 73 56

93 425 73 56 Atividades práticas em ...coisasdecrianca.com/upload/multimedia/ficheiros/103925-CC69... · brinquedos musicais. Deste modo é permitido à criança explorar diferentes

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Estimular o pensamento criativo

Termina nesta edição a série de artigos sobre o Plano

de Atividades Sociopedagógicas, previsto no manual da Segurança

Social. Por último, deixamos- -lhe atividades para estimular

o pensamento criativo em creche, nomeadamente o movimento, a música, a arte e atividades

visuo-espaciais.

Atividades práticas em creche

A criatividade é um constuto com-plexo que tem sido vital para o progresso da civilização huma-

na e para o desenvolvimento do raciocí-nio. Criar é o ato de originar alguma coisa, sendo o pensamento criativo essencial em todas as situações, uma criança criativa raciocina melhor e inventa soluções mais eficazes para superar as suas próprias dificuldades. Tudo pode estimular a criatividade na

criança. Através da arte, sendo que a arte para a criança não é a mesma para o adul-to, estimula-se a criatividade, pois é um meio de expressão, de comunicação do pensamento.Uma criança que desde cedo esteja ha-bituada a ter de lidar com situações que estimulem o seu pensamento criativo em momentos lúdicos, será posteriormente um adulto detentor de mais estratégias para lidar com situações adversas.

Catarina Sobral Coordenadora Técnica

Maria MeloTécnica para o Desenvolvimento InfantilTécnica Superior de Reabilitação Psicomotorawww.cocegasnospes.com93 425 73 56

Projeto Pedagógico de Sala1. ATIVIDADES DOS 3 MESES ATÉ À AQUISIÇÃO DA MARCHAa) Vamos movimentar!Objetivo: estimular a associação do som ao movimento.Procedimento: utilizar canções simples com movimentos igualmente simples, como por exemplo a música da “Galinha põe o ovo” e pegar na mão da criança e fazer com ela os movimentos. Esta atividade enquadra-se mais a partir dos 6 meses, pois até lá a criança ainda se está a familiarizar com a música em si. Esta mesma atividade pode ser aplicada às faixas etárias seguintes, tendo o mesmo objetivo mas aumentando a complexidade dos movimentos. Para a faixa etária dos 12 aos 24 meses pode-se utilizar a canção do “Tiruliruliru” e para a faixa etária os 24 meses aos 36 meses pode-se utilizar a música “Cabeça, ombros, joelhos e pés”.

b) Teatro de marionetesObjetivo: estimular o sentido figurativo.Procedimento: o educador cria uma

história simples com marionetes, o que vai permitir à criança identificar cores, formas, movimentos e personagens. Esta atividade pode-se realizar desde muito cedo, sendo que os mais velhos continuam a adorar e podem também refletir sobre a lógica da história.

c) Hora do contoObjetivo: estimular o sentido figurativo.Procedimento: o educador conta histórias simples e apelativas criando um espaço de lazer, divertimento e prazer.

d) O espaço à minha voltaObjetivo: descobrir o corpo e a relação deste com o espaço.Procedimento: colocar diferentes materiais na sala, com diferentes cores, tamanhos, texturas, com e sem música, como por exemplo: bolas simples, bolas com picos, peluches, cubos revestidos com diferentes tipos de texturas, rugosas ou macias, rocas, brinquedos musicais. Deste modo é permitido à criança explorar diferentes sensações.

O melhor veículo para estimular o pen-samento criativo na infância é através do brincar, pois esta é uma atividade elabo-rada, indispensável ao desenvolvimento, que desenvolve a criatividade, a imagina-ção, o sentido figurativo e representativo. Não há atividade tão completa como o brincar. A criança precisa de atividades lú-dicas que sejam fisicamente equilibradas, variadas, estimulantes, desafiantes, que façam apelo à imaginação, à criatividade e à exploração dos limites do corpo e da mente.É a imaginação em ação ou o brincar que permite à criança ir além da perceção afe-tivo-motora para criar a representação do mundo.De forma a estimular a criatividade, é ne-cessário que o professor seja criativo para estimular a criança e permitir que esta construa os seus próprios raciocínios. Em creche, há atividades que se podem reali-zar para estimular o pensamento criativo, independentemente da faixa etária, como ter música na sala de aula, incitar ao mo-vimento espontâneo ou permitir a explora-

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ção livre do espaço e dos materiais. Ativi-dades planeadas a realizar fora da sala de aula são igualmente importantes, como ir a concertos para bebés.Ao longo deste artigo apresentam-se vá-rias propostas de atividades para desenvol-ver o pensamento criativo em contexto de creche, através do movimento, da música, da arte e das atividades visuo-espaciais.

a) Imitar ritmosObjetivo: estimular a noção rítmica.Procedimento: o educador realiza ritmos simples, com apenas dois tempos, por exemplo através de vocalizações simples (ma, ma; ta, ta; mo, mo; tu, tu) ou usando o corpo (por exemplo, bater uma ou duas palmas, estalar os dedos, bater com as mãos nos joelhos uma ou duas vezes) e solicita às crianças que o imitem. O mesmo exercício pode-se realizar com crianças da faixa etária dos 24 meses aos 36 meses, aumentando a complexidade dos ritmos (por exemplo, pum pum tlim tlim; ma ma ta ta) e com o corpo aumentar também a complexidade da atividade (exemplo: bater com as mãos nos joelhos duas vezes e bater duas palmas ou bater no joelho, uma palma, bater no joelho outra vez e outra palma e posteriormente a criança imita).

b) Pintar com o meu corpo!Objetivo: desenvolver a noção de esquema corporal.Procedimento: utilizando papel de cenário grande e tintas comestíveis (é só água com gotinhas de corante, depois despejar para um prato com farinha), o educador solicita às crianças que utilizem o seu corpo para pintarem, nomeadamente as mãos e os pés.

c) Empilhar cubosObjetivo: desenvolver a noção espacial.Procedimento: criar torres de cubos e blocos. Esta atividade permite à criança construir e destruir, ver os cubos a caírem, brincar com esse desfecho, relacionar o equilíbrio dos cubos e a necessidade de os colocar de uma certa maneira.

Se estes forem coloridos é mais um fator de estimulação. Este tipo de atividade pode ser realizada com os mais crescidos através do aumento da complexidade, como por exemplo aumentar o número de cubos ou solicitando a construção de formas diferentes.Entre os 11 e os 19 meses (idade média 15 meses) é esperado que uma criança consiga empilhar 2 cubos; entre os 15 e os 24 meses é esperado que consiga empilhar 4 cubos (idade média 18 meses); e entre os 21 e os 27 meses (idade média 24 meses) é esperado que consiga empilhar 8 cubos. A idade média para imitar uma ponte é de 3 anos (intervalo dos 27 aos 39 meses).Outra atividade que se pode desenvolver usando cubos para se construírem formas passa, por exemplo, por dispor cubos brancos em três filas de igual número (formando um quadrado) e por cima deste fazer um triângulo de cubos vermelhos. Espera-se que a criança identifique uma casa.

d) Cada peça no sítio certo!Objetivo: estimular a capacidade de resolução de problemas.Procedimento: utilizar caixas para introduzir peças estimulando a capacidade de resolução de problemas. Este tipo de atividades também pode ser realizado com os mais crescidos, aumentando a sua complexidade, por exemplo através do tipo de formas. Numa caixa de papelão, recortar buracos de diferentes formas e encontrar objetos que tenham arestas com essas formas. Pintar a caixa de branco e proteger os orifícios com fita-cola de diferentes cores primárias.

Por exemplo:- Recortar um círculo com o diâmetro de uma bola de 12 cm. A criança deverá colocar a bola nesse orifício.- Recortar um círculo com o diâmetro 6 cm. A criança deverá colocar um rolo de papel higiénico (forrado a cartolina azul) nesse orifício.- Recortar um retângulo com a largura de uma caixa de bolachas. Pintar a caixa de vermelho. A criança deverá colocar a caixa de bolachas no orifício correto. Utilizar caixas de fósforos vazias e pintadas, caixas de sapatos, caixa de pasta de dentes (em que o objetivo será colocar a caixa dentro do orifício, ao alto - para crianças mais velhas).

e) Jogos de obstáculosObjetivo: estimular a capacidade de resolução de problemas.Procedimento: criar um circuito com obstáculos simples que as crianças tenham de ultrapassar, utilizando diferentes materiais, como arcos, bolas ou colchões. Torna esta atividade mais interessante e apelativa se o caminho construído corresponder a uma história e os obstáculos corresponderem a elementos figurativos, como por exemplo fazer como se estivessem numa floresta e aí colchões podem passar a rios, que a criança não pode pisar; espumas passam a ser túneis, onde se tem de passar por baixo a rastejar; ou arcos, que podem ser pedras que as crianças têm de saltar de uma para outra. Esta atividade também pode ser aplicada a crianças com maior idade sendo que basta aumentar a complexidade dos obstáculos e daquilo que podem representar como por exemplo adicionar um objetivo à tarefa (salvar a princesa, descobrir o tesouro, derrotar dragões).

2. ATIVIDADES AQUISIÇÃO DA MARCHA ATÉ AOS 24 MESES

As atividades encontram-se divididas em três grupos etários de acordo com os cri-térios definidos pelo Ministério da Soli-dariedade e da Segurança Social para a disposição das crianças pelas diferentes salas de creche, nomeadamente desde a entrada para a creche até à aquisição da marcha, da aquisição da marcha até aos 24 meses e dos 24 meses até aos 36 me-

ses. Como cada criança é única no seu processo de desenvolvimento, estas ativi-dades correspondem apenas a propostas, podendo ser flexíveis de acordo com o de-senvolvimento de cada um.O educador é aquele que se move, que tem um corpo, uma expressão corporal e uma linguagem que serve de modelo à criança. É também através da descoberta

Guia Prático para Educadores 4

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:● Branco, M. (2010). João dos Santos: Saúde

Mental e Educação. Lisboa: Coisas de Ler.

● Cordeiro, M. (2010). O Grande Livro do Bebé. Lisboa: A Esfera dos Livros.

● Góes, R. (2009). A Música e as suas possibilidades no desenvolvimento da criança e do aprimoramento do código linguístico. Revista do Centro de Educação a Distância. 2, (1), 1-16.

● Mead, B., Carrasco, J. & Flores, R. (2013). The structure of creative cognition in the human brain. Frontiers in Human Neuroscience. 7, 1-13.

● Ministério da Solidariedade e da Segurança Social. (31 de Agosto de 2011). Portaria n.º 262/2011 de 31 de Agosto. Diário da República, 1.ª série — N.º 167.

● Stopard, M. (2011). Guia Completo para Cuidar de Bebés e Crianças. Porto: Civilização Editora.

Projeto Pedagógico de Sala

do outro, que a criança se descobre a si mesma.É através da capacidade de brincar, de sonhar e de criar artisticamente que a criança constrói a representação do self e do mundo. A origem da criatividade resi-de assim nas experiências precoces que a criança vivencia, nas quais o educador tem um papel ativo. n

3. ATIVIDADES DOS 24 MESES ATÉ AOS 36 MESES

a) Eu construoObjetivo: estimular a capacidade visuo-construtiva.Procedimento: utilizando barro, ou material moldável, deixar a criança livremente fazer as suas próprias construções. Para se fazer plasticina caseira basta juntar farinha, sal (metade da quantidade de farinha), um bocadinho de óleo e depois ir juntando água aos poucos até se atingir a consistência desejada. No final adicionam-se corantes alimentares para se obter as cores pretendidas.

b) O espelhoObjetivo: desenvolver a noção de esquema corporal.Procedimento: colocar música e deixar que a criança se expresse livremente

em frente a um espelho, deste modo é colocado em jogo aquilo que a criança acha que está a fazer com o que realmente está a fazer.

c) PuzzlesObjetivo: estimular a noção espacial e capacidade de resolução de problemas.Procedimento: introduzir a criança ao mundo dos puzzles, nestas idades é recomendado utilizarem-se puzzles grandes com poucas peças, de modo a que a criança consiga descobrir por si própria a solução.

d) Nuvens imagináriasObjetivo: estimular o pensamento criativo.Procedimento: produzir diferentes formas com plasticina e perguntar à criança o que é. Estas formas não

deverão ser nada em concreto mas ter algum sentido. Por exemplo, fazer um rolinho de plasticina azul e criar dois arcos unidos. Mediante a resposta da criança, elaborar mais questões sobre esse objeto. Pedir à criança que conte uma história em que esse objeto entre. Esta atividade pode ser realizada em grupo. Utilize diferentes matérias para criar a mesma atividade, por exemplo através da pintura com diferentes matérias.Uma variante deste jogo será pedir à criança que faça uma forma com a plasticina e perguntar o que é. Fazer a mesma questão relativamente a todos os objetos criados pelas restantes crianças e pedir que construam uma história em conjunto.