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39 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.1, p. 39-50, jan./abr. 2012 1 CONSIDERAÇÕES SOBRE VISUALIZAÇÃO DE INFORMAÇÃO E CARTOGRAFIA 1 A “visualização de informação” vem sendo tema de pesquisas e da atuação prossional em várias instituições no mundo. No jornalismo, área em que suas aplicações são evidentes e têm impacto direto sobre a sociedade, autores como Cairo (2008) e Sancho (2001) advogam a importância de recursos de visualização para que informações e dados relevantes possam ser melhor e mais rapidamente lidos e compreendidos pelo leitor. Fernanda Viégas (2010), designer e ex- pesquisadora da IBM, atualmente compondo a equipe do Google, trabalha com softwares de visualização de informações há vários anos. 1 Esta pesquisa, em andamento no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, tem o apoio do CEFET-MG. Em conferência proferida durante o SWIB 2 , em Belo Horizonte, em 2010, a designer narrava a trajetória histórica da visualização. De softwares para tratamento e visualização gráca de dados cientícos complexos (para meteorologia e ciências espaciais, por exemplo), em geral restritos a pesquisadores em laboratórios, passou-se a uma preocupação mais democrática e social, sendo a visualização desenvolvida para sumarizar e apresentar, de maneira legível e compreensível, dados que possam interessar à população (como crescimento da violência em dada cidade ou em determinado país, aumento de renda, desemprego, idade da população, etc.). Segundo Cairo (2008), a visualização tem ampla relação com a cartograa e com a infograa (na origem, information graphics), atualmente circulante em jornais impressos e na televisão. Para 2 O SWIB foi composto de quatro eventos: Simpósio Brasileiro de Sistemas Colaborativos; Simpósio Brasileiro de Sistemas Multimídia e Web; Simpósio de Fatores Humanos em Sistemas Computacionais; Simpósio Brasileiro de Bancos de Dados. VISUALIZAÇÃO DE INFORMAÇÃO E ALFABETISMO GRÁFICO: questões para a pesquisa 1 Ana Elisa Ribeiro * RESUMO A interação entre as tecnologias de visualização de informações e os letramentos do leitor brasileiro é o tema deste trabalho. Com base em uma breve revisão (não exaustiva) da literatura sobre infografia, considera-se a existência de um intervalo, em princípio indesejável, entre os esforços da produção de infográficos (e outras formas de visualização da informação) e a ampliação dos letramentos do leitor. O impacto dessa discrepância tem aumentado em razão de as técnicas de visualização terem cada vez mais circulação social, especialmente por meio da produção jornalística. Faz-se um contraponto entre o discurso que projeta positivamente a visualização de informação e dados oficiais sobre habilidades de leitura de gráficos no Brasil. Constatado o gap entre um e outro, conclui-se pela necessidade de pesquisas que integrem os dois aspectos da produção de sentidos. Palavras-chave: Letramento Visual. Leitura. Infografia. Visualização de Informação. * Doutorado em Estudos Lingüísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil. Professora do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. E-mail: [email protected] artigo de revisão

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  • 39Inf. & Soc.:Est., Joo Pessoa, v.22, n.1, p. 39-50, jan./abr. 2012

    1 CONSIDERAES SOBRE VISUALIZAO DE INFORMAO E CARTOGRAFIA1

    A visualizao de informao vem sendo tema de pesquisas e da atuao profi ssional em vrias instituies no mundo. No jornalismo, rea em que suas aplicaes so evidentes e tm impacto direto sobre a sociedade, autores como Cairo (2008) e Sancho (2001) advogam a importncia de recursos de visualizao para que informaes e dados relevantes possam ser melhor e mais rapidamente lidos e compreendidos pelo leitor.

    Fernanda Vigas (2010), designer e ex-pesquisadora da IBM, atualmente compondo a equipe do Google, trabalha com softwares de visualizao de informaes h vrios anos.

    1 Esta pesquisa, em andamento no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, tem o apoio do CEFET-MG.

    Em conferncia proferida durante o SWIB2, em Belo Horizonte, em 2010, a designer narrava a trajetria histrica da visualizao. De softwares para tratamento e visualizao grfi ca de dados cientfi cos complexos (para meteorologia e cincias espaciais, por exemplo), em geral restritos a pesquisadores em laboratrios, passou-se a uma preocupao mais democrtica e social, sendo a visualizao desenvolvida para sumarizar e apresentar, de maneira legvel e compreensvel, dados que possam interessar populao (como crescimento da violncia em dada cidade ou em determinado pas, aumento de renda, desemprego, idade da populao, etc.).

    Segundo Cairo (2008), a visualizao tem ampla relao com a cartografi a e com a infografi a (na origem, information graphics), atualmente circulante em jornais impressos e na televiso. Para

    2 O SWIB foi composto de quatro eventos: Simpsio Brasileiro de Sistemas Colaborativos; Simpsio Brasileiro de Sistemas Multimdia e Web; Simpsio de Fatores Humanos em Sistemas Computacionais; Simpsio Brasileiro de Bancos de Dados.

    VISUALIZAO DE INFORMAO E ALFABETISMO GRFICO: questes para a pesquisa1

    Ana Elisa Ribeiro*

    RESUMO A interao entre as tecnologias de visualizao de informaes e os letramentos do leitor brasileiro o tema deste trabalho. Com base em uma breve reviso (no exaustiva) da literatura sobre infografia, considera-se a existncia de um intervalo, em princpio indesejvel, entre os esforos da produo de infogrficos (e outras formas de visualizao da informao) e a ampliao dos letramentos do leitor. O impacto dessa discrepncia tem aumentado em razo de as tcnicas de visualizao terem cada vez mais circulao social, especialmente por meio da produo jornalstica. Faz-se um contraponto entre o discurso que projeta positivamente a visualizao de informao e dados oficiais sobre habilidades de leitura de grficos no Brasil. Constatado o gap entre um e outro, conclui-se pela necessidade de pesquisas que integrem os dois aspectos da produo de sentidos.

    Palavras-chave: Letramento Visual. Leitura. Infografia. Visualizao de Informao.

    * Doutorado em Estudos Lingsticos pela Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil. Professora do Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais. E-mail: [email protected]

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    ele, a visualizao jornalstica bebe na fonte da cartografi a, na representao estatstica, no design grfi co, nas artes plsticas e, nos ltimos anos, na animao, no design de interao e multimdia, e inclusive na realidade virtual3 (CAIRO, 2008, p. 24), isto , a infografi a jornalstica derivada da visualizao de informao em geral, depois de ter sido tratada pelas regras do jornalismo (CAIRO, 2008, p. 24). No se trata apenas de desenhar informaes de maneira visual, mas de uma disciplina [que se] ocupa de como organizar textos de forma mais efetiva para acelerar a compreenso e a memorizao das mensagens (CAIRO, 2008, p. 27). Segundo esse autor, no h registro de quem tenha sido o inventor da cartografi a, no entanto, sabe-se que o inventor da estatstica foi o engenheiro, matemtico e economista escocs William Playfair, no sc. XVIII.

    A importncia desses modos de tratamento e visualizao de informao ganhou diversas aplicaes, embora nem sempre abertas ao pblico, como tm sido hoje. Coelho (2004), na mesma direo, aponta que, em pocas passadas, mapas eram reservados a governantes e seus exrcitos por serem considerados conhecimento estratgico. Para a autora, esse panorama se modifi cou muito nos ltimos sculos, sendo que, da dcada de 1990 para c, a alfabetizao cartogrfi ca tem se ampliado. O valor simblico do mapa (especialmente o mndi) pode ser depreendido das fotos de lembrana escolar tiradas de vrias geraes de estudantes. Complementando as afi rmaes dos autores citados, pode-se dizer que talvez os letramentos cartogrfi cos (ou infogrfi cos) possam estar sendo incrementados pela utilizao cada vez mais popular de mapas na web, de informes sobre trnsito (Fig. 1), em games (Fig. 2) e nas possibilidades de cruzamento de informaes, como o caso dos mashups4 feitos por usurios da internet que conseguem sobrepor aos mapas os dados sobre criminalidade, movimentao nas ruas, entre outros (PISANI; PIOTET, 2010).

    3 Todas as tradues de Cairo (2008), neste trabalho, so de minha responsabilidade.4 Mashups so aplicaes online resultantes da soma de dois ou mais contedos ou servios que, juntos, oferecem uma nova funo para o usurio. A palavra vem das misturas feitas na msica, especialmente a eletrnica. (FELITTI, Guilherme. Mashups: entenda a combinao de contedo digital em ascenso na web. IDG Now!, 26/05/2007). Disponvel em . Acesso: 2.11.2010.

    Conforme Coelho (2004), as noes de cartografi a continuam intimamente ligadas ao trabalho com a geografi a nas escolas. A disciplina, no entanto, passa por problemas e no conta, ainda, com uma abordagem que de fato estimule o desenvolvimento de leitores crticos de mapas e representaes relacionadas ao espao. No mesmo sentido, Lopes (2004) aponta difi culdades no ensino de noes estatsticas, incluindo-se a a leitura e a interpretao de grfi cos, tabelas e quadros.

    Figura 1 - Print Screen de consulta ao Google Mapas para saber a situao do trnsito em tempo real, em determinada regio da cidade de Belo Horizonte. Conforme a legenda (alto direita), o trnsito estava bom.

    Fonte: Google.com.br

    Figura 2 - Print Screen do game on-line Red Dead Redemption, em que necessrio guiar o personagem pela cidade por meio de orientaes fornecidas pelo mapa esquerda.

    Fonte: Red Dead Redemption.

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    Visualizao de informao e alfabetismo grfi co

    A produo jornalstica tem claramente se apropriado dos conhecimentos produzidos em visualizao de informao. Revistas brasileiras como a SuperInteressante (grupo Abril) e poca (Globo) j foram reconhecidas por sua produo de infogrfi cos. Tanto em suas verses impressas quanto nas digitais, jornais e revistas vm se esmerando na produo de grfi cos capazes de sintetizar e apresentar informaes, evitando tabelas e narrativas mais difceis de compreender.

    Ao menos do ponto de vista da produo, a visualizao de informaes, tal como feita, hoje, por pesquisadores e produtores das tecnologias digitais e jornalistas, parece ter como meta facilitar a compreenso dos dados pelo leitor (FIGUEIREDO, 2005).

    Cairo (2008) cita o jornal The New York Times como ponta de lana em tecnologias da visualizao, premiado diversas vezes em razo de seus infogrficos e pioneiro na composio e na publicao de certos tipos de visualizao. Tal o caso, por exemplo, de um grfico sobre partidos polticos nos Estados Unidos, que, segundo a mdia da poca, provocou muita polmica. Para alguns, tratava-se de um infogrfico difcil de ler e de compreender. Para outros, era a primeira vez que um jornal deixava de subestimar a capacidade intelectual de seu leitor e propunha uma leitura exploratria do texto.

    A relao entre visualizao e leitura est sempre no centro da discusso sobre representaes grfi cas. Para Cairo (2008), uma tendncia estetizante foi cedendo lugar a uma outra, mais analtica, que prima menos pela visualidade do que pela informao. De outro lado, muitas publicaes cientfi cas especializadas incluem em suas pginas complexas tabelas estatsticas multivariantes que no teriam espao em um produto peridico orientado ao grande pblico (CAIRO, 2008, p. 23). A afi rmao revela, ento, certa conscincia de que o grande pblico no tem habilidades leitoras sufi cientes para lidar com visualizaes difceis. E esse ser um confl ito constante entre produtores e consumidores. A tarefa de transformar dados puros em informao e de parcelar ao leitor a construo de conhecimento reconhecida. No entanto, os dados de vrios indicadores

    e testes feitos com leitores, no Brasil, tornam essa relao menos direta e proporcional do que poderia ser. A infografi a, por exemplo, teria o papel no apenas de fazer publicaes impressas mais atrativas para um leitor que j no l, por viver imerso na cultura da imagem (aspecto discutido por CAIRO, 2008, p. 30), mas, de outro lado, no se pode afi rmar que a leitura de qualquer infogrfi co necessariamente mais simples ou mais rpida do que a do texto (CAIRO, 2008, p. 32, grifo do autor). Para o autor, a visualizao na imprensa no consiste em simplifi car a informao no sentido de reduzi-la de modo artifi cioso para que possa ser apreendida com rapidez por leitores pouco ilustrados (CAIRO, 2008, p. 32), mas de tratar a informao e permitir que sejam vistos padres e relaes que, de outro modo, provavelmente, fi cariam ocultos.

    Nesse ponto, uma certa teoria multimodal5 pode ser depreendida do discurso de Cairo (2008, p.32-33), quando ele afi rma que a infografi a deve ser fortalecida no jornalismo, isto , deve deixar de ser relegada a um imerecido papel secundrio e ser, ento, entendida como ferramenta de comunicao sem cujo uso seria impossvel transmitir certo tipo de dados. A produo das representaes grfi cas no jornalismo se guia pela compreenso de que

    a diferentes tipos de histrias e informaes correspondem modos diferentes de codificao que no dependem necessariamente uns dos outros. A ferramenta de comunicao usada em cada caso eleita em funo da natureza da histria, e do objetivo delas (seja texto, grfico, vdeo ou udio para web) e sempre potencializar a compreenso pelos leitores (CAIRO, 2008, p. 33).

    Nesse sentido, as questes multimodais surgem como elementos do trabalho do jornalista-infografi sta. E, na atualidade, tornam-se tambm preocupao com a interatividade e a multimdia: o jornalista visual deixa de

    5 Refiro-me teoria de Kress e Van Leeuwen, especialmente na obra de 2006, em que os autores conceituam o design como o arranjo dos recursos semiticos disponveis na produo da representao de uma mensagem (p. 219), sempre lembrando que certas mensagens so melhor expressas com certos recursos.

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    ser quem interpreta os dados para o leitor, de certa maneira, para se tornar quem projeta as ferramentas que o leitor poder usar para desvelar a realidade por si mesmo (CAIRO, 2008, p. 68, grifo do autor). Alm disso, os jornais atuais vm chamando o leitor e se abrindo sua participao.

    Exemplo simples disso este infogrfico (FIG. 3), apresentado pelo Universo On-line (UOL) em outubro de 2010, que ajuda o leitor a saber a composio das cmaras estaduais, por estado da federao, aps o primeiro turno das eleies. O recurso na web permitia ao leitor escolher o estado (aqui, Minas Gerais foi selecionado) e ver, por meio das cores, a composio da Cmara Estadual em perodos diferentes, assim como inferir sobre o crescimento de determinados partidos.

    Figura 3 - Print Screen de infogrfi co interativo sobre composio de cmaras estaduais.

    Fonte: UOL

    Em outro caso, um tanto mais amplo, o Estado apresenta, com recursos parecidos, a nova composio do Congresso Nacional, incluindo uma variedade importante de informaes, como partidos, estados, propores e profi sses dos polticos. Certamente, a leitura de um infogrfi co como este exige do leitor uma atitude exploratria e integradora dos conhecimentos prvios e das informaes apresentadas.

    Figura 4 - Print Screen de infogrfi co interativo sobre composio do Congresso Nacional.

    Fonte: Estado de S.Paulo

    2 ALFABETISMO E INFORMAO

    Se, de um lado, a produo de grficos e infogrficos circula, reconhecidamente, na esfera jornalstica e acessada pelos leitores, diariamente, por meio dos boletins meteorolgicos da TV, das reconstituies de crimes e de matrias de jornal impresso (e digital), de outro lado, o leitor parece participar de eventos de letramento ligados a essas mdias. Ao experimentar a leitura (ou ao ouvir as explicaes dos jornalistas) de grficos e infogrficos, a sociedade se familiariza com representaes cartogrficas ou grficas de narrativas, estatsticas e informaes. O alfabetismo, no entanto, entendido como o desenvolvimento de habilidades individuais (ROJO, 2009), ligado leitura de grficos (ou de visualizaes em geral), ainda no pode ser considerado de nvel elevado no pas.

    A despeito de a esfera jornalstica se esforar por aproximar a visualizao de informao do leitor/espectador, a escola, considerada uma forte agncia de letramento, no tem feito sua parte, no Brasil. Segundo Lopes (2004), o ndice de erros e no-respostas a questes do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF) que demandavam leitura de grficos chega

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    Visualizao de informao e alfabetismo grfi co

    a mais de 90%, em alguns casos (todos os demais resultados tambm so fracos). importante frisar, no entanto, que as ltimas dcadas assistiram no apenas ao incremento das possibilidades de visualizao de informaes por meio de mdias massivas ou de softwares na web (caso do Many Eyes6, por exemplo), como tambm ampliaram fortemente a aproximao do usurio comum com dispositivos de geolocalizao, como GPS (Global Positioning System) (Fig. 4), e consultas a servios de informao que fornecem mapas, trajetos, clculo de tempo, indicao de meios de transporte, etc. (caso do Google Mapas ou de softwares mais recentes, como o Street View). A disponibilizao desses recursos e a transformao do leitor em usurio de mapas ou em colaborador (dando informaes, comentando, inserindo tags, etc.) podem ser entendidas como a emergncia de eventos de letramento ligados s tecnologias digitais.

    Figura 4 - Print Screen de consulta ao Google Mapas para saber localizao de lojas de GPS. Note-se o exemplo de comentrio de usurio.

    Fonte: Google.com.br

    O Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF) traz um resultado preocupante em relao s habilidades de leitura da populao brasileira. Dois teros dos brasileiros no alcanam o nvel de leitura considerado mais alto, o que signifi ca que no somos, na maioria, capazes de compreender um texto de extenso maior do que alguns

    6 Software aberto para produo de visualizao de dados (IBM).

    pargrafos, fazendo inferncias e conexes importantes (RIBEIRO, 2003). O INAF trabalha com a noo de letramento matemtico, tambm chamado de numeramento, em uma espcie de analogia com o letramento em leitura (FONSECA, 2004). As operaes matemticas de que somos capazes, em nosso dia a dia, tambm esto aqum do que seria necessrio para a atuao competente, em diversas esferas da sociedade.

    Embora grfi cos e infogrfi cos sejam objeto de leitura, eles aparecem muito mais entre as preocupaes ligadas ao numeramento do que ao letramento, em sentido estritamente ligado aos textos verbais. De forma geral, os textos imagticos so pouco trabalhados nas escolas, sendo comum que apaream apenas como complemento do texto escrito ou ilustrao, em dilogo com esse texto. O mesmo ocorre com grfi cos, mapas e infogrfi cos.

    Alguns trabalhos acadmicos j discutem a autonomia do grfi co (ou do infogrfi co) como gnero independente, mas o debate sobre o assunto ainda no produziu qualquer consenso. Paiva (2009), por exemplo, um dos pesquisadores que se dedicam questo, trabalhando a leitura de infogrfi cos da revista SuperInteressante e apoiando-se na sociossemitica de Kress e Van Leeuwen (especialmente 2006). Cairo (2008) faz longa defesa do infogrfi co como texto autossufi ciente e independente do texto verbal, reivindicando a esse tipo de visualizao no apenas um status equilibrado em relao ao texto verbal, como tambm o reconhecimento da necessidade de que o infografi sta seja considerado to jornalista quanto os profi ssionais especialistas no texto noticioso verbal.

    Em relao ao leitor estudante, Duarte (2008) traz um resultado que, de certa forma, confi rma os achados de pesquisas como o INAF. A autora focaliza o letramento visual promovido por atividades escolares, trabalhando tambm o infogrfi co. Segundo os resultados desse trabalho, a leitura de grfi cos apontada, pelos estudantes pesquisados, como objeto das aulas de Matemtica e de Geografi a, ainda que de forma irregular e no-sistemtica. Ler grfi cos, portanto, no objeto de aulas de Portugus. Nesta disciplina, ,

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    inclusive, bastante comum a descaracterizao (ou desconfi gurao) das pginas originais de jornais e revistas, visando ao tratamento do texto, entendido como contedo expresso verbalmente. Nesses casos, nenhum aspecto visual, incluindo-se a o layout, considerado, muito menos abordado (com raras excees fotos ou ilustraes, tratadas como complementares ao texto, por exemplo).

    Coelho (2004, p. 174, grifo nosso) discute resultados do INAF, considerado a avaliao das prticas de leitura de informaes representadas grafi camente, na vida diria dos entrevistados. A despeito disso, a autora dedica bastante espao discusso sobre o ensino de geografi a nas escolas e, por extenso, ao ensino de noes de cartografi a. Para ela, a habilidade de ler, compreender e interpretar representaes grfi cas est ligada a um tipo de inteligncia humana bsica, a espacial, chamada por Balchin (1978 citado por Coelho, 2004) de grafi cacia, isto , a capacidade de comunicar informao espacial que no pode ser transmitida adequadamente atravs de meios verbais ou numricos (COELHO, 2004, p. 174). Mais uma vez, uma teoria de multimodalidade se revela na seleo dos modos de representao possveis a certo tipo de informao.

    Coelho (2004, p.175) afi rma ainda que, segundo os resultados do INAF, grande parte da populao brasileira parece no ter desenvolvido a habilidade de ler, compreender e interpretar mapas e outros tipos de representao grfi ca, provavelmente em decorrncia da falta de familiaridade com tais documentos, e creio que quase certo que tambm no compreenda sua utilidade para prticas cotidianas. Para a autora, o desenvolvimento dessas habilidades pode inserir o indivduo no contexto da vida do mundo moderno, j que mapas so essenciais para que se possa pensar o espao e sobre o espao (COELHO, 2004, p. 175). O conhecimento de cartografi a (e a leitura de mapas) auxiliaria na formao de imagens, na compreenso de informao, na sntese e na memorizao.

    O nmero de acertos das questes do INAF sobe na mesma proporo do aumento da escolaridade; e ter completado o ensino mdio parece fazer muita diferena no alfabetismo cartogrfi co dos jovens. A pouca intimidade da populao com a representao cartogrfi ca, no entanto, intriga Coelho (2004). Para a autora, curioso que

    uma proporo to grande de pessoas tenha tido tanta dificuldade para resolver um problema relacionado representao espacial, pois a julgar pela veiculao cotidiana, pelos meios de comunicao, de informaes sob a forma de mapas, poder-se-ia supor que a sua compreenso fosse amplamente dominada pelo pblico! Particularmente as emissoras de televiso, que pretendem alcanar o maior nmero de pessoas, enfim a massa, parecem supor que os telespectadores no apenas esto familiarizados com a leitura de mapas, mas tambm dominam o raciocnio geogrfico, essencialmente estratgico [...]. (COELHO, 2004, p. 177).

    Na mesma direo, Lopes (2004, p.187) aponta a estatstica como

    um poderoso aliado neste desafio que transformar a informao tal qual se encontra nos dados analisados que permitem ler e compreender uma realidade. Talvez por isso tenha se tornado uma presena constante no dia-a-dia de qualquer cidado, fazendo com que haja amplo consenso em torno da idia necessria da literacia estatstica, a qual pode ser entendida como a capacidade para interpretar argumentos estatsticos em textos jornalsticos, notcias e informaes de diferentes naturezas.

    Para a autora, o acesso do cidado a questes sociais e econmicas, na atualidade, cada vez mais precoce, fazendo-se, principalmente, por meio de tabelas e grficos [que] sintetizam levantamentos, ndices so comparados e analisados para defender idias (LOPES, 2004, p. 189). A escola considerada a agncia principal onde se d a formao de conceitos que estariam diretamente ligados ao exerccio da cidadania.

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    Visualizao de informao e alfabetismo grfi co

    A compreenso de grfi cos, no entanto, no fcil, o que corrobora as preocupaes de Cairo (2008), quando trata do jornalista-infografi sta. de suma importncia que o leitor tenha condies de atribuir signifi cado s representaes com que toma contato. Para Lopes (2004, p. 189), trs fatores so fundamentais para a compreenso do grfi co: o reconhecimento do tipo de grfi co, as relaes matemticas existentes entre os nmeros e suas respectivas idias, e as operaes matemticas envolvidas. Com base em Curcio (1989), a autora menciona a importncia de o leitor alcanar a leitura dos dados, a leitura entre os dados e a leitura para alm dos dados. importante destacar que os resultados do INAF, por exemplo, mostram as difi culdades do leitor para alcanar mesmo o primeiro desses estgios.

    Alguns elementos podem infl uenciar a compreenso do grfi co: a intimidade do sujeito com a temtica abordada; a esttica do grfi co; e a quantidade de informaes no mesmo grfi co. Esses elementos so prejudicados, segundo Lopes (2004, p. 191), pela pouca

    vivncia da populao brasileira na leitura de dados que expressam sua realidade, o que gera menos possibilidades de um exerccio crtico de sua cidadania, diminuindo as perspectivas positivas de transformaes sociais. A leitura de representaes visuais fundamental no apenas para a obteno de informaes, mas tambm para que se possa tomar decises mais conscientes.

    Em tese, portanto, infogrfi cos tm sido produzidos sob o pressuposto de que tornam a informao mais compreensvel, isto , apresentam informaes de maneira mais acessvel. Manovich (2011), por exemplo, trabalha na perspectiva que chama de visualizao direta, que evita transformar dados e informaes em desenhos abstratos, empregando, desta forma, os prprios objetos em sries analisveis. Um exemplo o tratamento infogrfi co das capas da revista Popular Science Magazine. A imagem a seguir (FIG. 5) sintetiza centenas de capas, na ordem em que foram publicadas, que mostram, diretamente, a srie histrica e as mudanas e tendncias do peridico, de 1882 a 2007.

    Figura 5 - Print Screen da visualizao das capas da revista Popular Science Magazine, 1882-2007. Com isso, possvel analisar tendncias como design, layout, temas, etc.

    Fonte: http://manovich.net/

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    3 BASES PARA UMA INVESTIGAO

    Discusses sobre a produo de visualizaes de informao, inclusive direcionadas a pblicos cada vez mais amplos, e, de outro lado, o alfabetismo grfi co dos leitores (ou, mais amplamente, o letramento) no tm, de modo geral, ocupado os mesmos espaos. Propostas da produo de visualizao de informaes, especialmente aquela apropriada pelos jornais de larga circulao, no parecem coincidir com as condies de letramento do leitor brasileiro, pouco afeitos leitura (e mais ainda produo) de visualizaes como grfi cos infografi as.

    Esse lacuna entre produtores e consumidores no novidade, nem mesmo pode ser considerado uma questo contempornea. Pinheiro (2010) acusa um descompasso entre produo jornalstica e formao de leitores j no incio de nossa produo editorial, no sculo XIX. Embora a autora descreva um panorama regional (Manaus), outros trabalhos constantes em Bragana e Abreu (2010) do conta de situao muito parecida no Brasil, de forma geral. Trata-se, portanto, de um pas que pode publicar produtos editoriais (inclusive sem grande atraso de tendncias mundiais7) antes de conseguir formar pblico para consumi-los. Ora, se os tempos de aprender a ler infogrfi cos (e grfi cos) na escola so to limitados e, ao mesmo tempo, o movimento dos jornais e das mdias, de modo geral, cada vez mais em direo visualizao de informao (especialmente a infografi a), h um descompasso qualquer entre o letramento promovido pela escola e os objetos de leitura que circulam socialmente, especialmente os jornais (impressos ou suas verses na web). Isso leva a questes tais como: Que relaes os leitores j acostumados aos recursos da visualizao da informao estabelecem entre os eventos de letramento escolar e os eventos ligados s mdias?

    4 DESIGN DO TEXTO E MULTIMODALIDADE

    Em 1996, o New London Group apresentava comunidade acadmica, por meio

    7 O caso dos grandes jornais exemplar. A Folha de S.Paulo e outros dirios tm se pautado em grandes jornais internacionais, em aspectos grficos e editorais, h dcadas. A ideia dos jornais de duas velocidades importada da Espanha e dos Estados Unidos, sem grande atraso. Aspectos dessa questo podem ser vistos em Vizuete (2005), Ferreira Jnior (2003) e Silva (2007).

    da Harvard Educational Review, seu manifesto programtico para o prximo milnio. O design era aspecto central da proposta, em sentido um tanto reapropriado. O design do texto e do discurso surgia como uma preocupao importante, uma vez que a oferta de mdias e objetos de ler se ampliava e, mais do que isso, se diversifi cava, em dispositivos e em modos de produo. Ler objetos multimodais fi cava mais evidente, mais necessrio e, provavelmente, era uma ao que faria parte do cotidiano das pessoas.

    Os textos jornalsticos circulam aps terem sido objeto de um design complexo e evidentemente multimodal. Texto, layout, imagens e grfi cos se articulam de forma a constituir um design que pauta o dia a dia de nossa sociedade. Cada vez mais, essa multimodalidade se evidencia, no apenas porque se deseja informar o leitor (infl uenci-lo, convenc-lo e mesmo confundi-lo), mas tambm porque os recursos tcnicos capazes de imprimir (ou publicar na web) imagens, textos e cores foram se aperfeioando, especialmente ao longo do sculo XX. Na primeira dcada do 1900, no era por falta de vontade que as fotos no apareciam nos jornais. As difi culdades de se imprimir fotografi as so conhecidas na literatura tcnica em Comunicao. As cores s foram possveis na metade do sculo, sob alguma infl uncia da chegada da TV colorida. E os movimentos de organizao e agrupamento de temas nos jornais (cadernos, cores, editorias) caminham junto com movimentos da leitura, das preferncias do pblico e das possibilidades tcnicas e tecnolgicas da produo grfi ca e jornalstica (SILVA, 2007).

    O design do texto (em sentido amplo) e a multimodalidade so elementos da produo que se foram complexifi cando. O leitor, de outro lado, aprendeu, por meio de diversas agncias (KLEIMAN, 1995), a operar esses objetos de leitura e seus discursos, embora nem sempre com sucesso. O layout, as cores, a hierarquia das informaes escolhidos desenham uma pgina e um discurso. As anlises de Kress e Van Leeuwen sobre capas de jornal (1998) ajudam a construir uma leitura de informaes dadas e novas, idealizadas e factuais. Outras abordagens podem ser somadas a essa, no sentido de se revelarem discursos de objetos de leitura que, aparentemente, operam sobre a ideia da

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    Visualizao de informao e alfabetismo grfi co

    imparcialidade ou do simples espelhamento da realidade.

    Sempre que se precisa compor um texto, considerando-se aqui todas as linguagens que poderiam ser chamadas para essa composio, importante pensar em seu design e na costura entre linguagens e recursos (lingusticos, imagticos, grfi cos). Aps a dcada de 1990, com a relativa popularizao do microcomputador (tipo desktop), as possibilidades de produo de layouts chegaram s mos do usurio comum, isto , no profi ssional de Comunicao, por exemplo. Simular um jornal, uma revista ou simplesmente formatar um texto tornaram-se operaes simples de se fazer, mesmo usando um software no profi ssional. Editores de texto permitem a criao de layouts, inclusive com a composio de estilos que ajudam a dar identidade ou padronizao aos produtos, sejam eles redaes escolares ou um relatrio de prtica laboratorial.

    No caso da produo profi ssional de jornais, a visualizao de informaes tem sido feita por especialistas, na tentativa de se criar um texto de leitura gil, primando-se pela sntese das informaes em um s grfi co. Os jornais, em alguns casos, trabalham dentro da concepo de jornal de duas velocidades, isto , pginas que podem ser lidas na ntegra, gastando-se mais tempo, ou que podem ser lidas diagonalmente, com rapidez, se o leitor apenas buscar elementos mais salientes e informaes sintetizadas (VIZUETE, 2005).

    No caso do leitor comum, no profi ssional, mltiplos letramentos emergem das prticas provocadas pelos meios ou so necessrios para oper-los. O caso da leitura de infogrfi cos tem sido pesquisado por cientistas em vrias partes do mundo. As relaes entre os letramentos e a leitura de textos que empregam visualizao de informaes, alm dos letramentos construdos para se criar visualizaes para informaes e dados fornecidos aos sujeitos, merecem mais ateno do que a que tem sido dispensada ao problema. Pennac (1993) menciona a trindade texto, leitor e produtor como uma fuso. Teorias do texto vm dando conta de que o foco dos estudos deve recair sobre a interao entre produtores, produtos e leitores, e no pender a anlise para apenas uma das partes. esse estudo da convergncia e das relaes na leitura que se deve enfatizar, trazendo implicaes para todos os agentes envolvidos.

    5 CONSIDERAES FINAIS E UM CONVITE INVESTIGAO

    O esforo do jornalismo (e das mdias, de maneira geral) em aproximar o leitor da informao por meio de visualizaes bem-planejadas parece caminhar na mesma direo do acesso da populao escola e ampliao dos nveis de alfabetismo. Mais eventos de letramento surgem no sistema de mdias atual, fazendo com que uma sociedade inteira navegue em instrues e dispositivos ligados cibercultura. Mesmo que no saibam como funciona ou ainda que no tenham acesso a um computador pessoal, os cidados, especialmente em reas urbanas, so obrigados a conviver com caixas eletrnicos de bancos ou com telefones celulares integrados a cmeras e a servios de mensagem8.

    Embora as mdias e seus processos de edio tenham impacto sobre a oferta de eventos de letramento dos cidados, a escola continua sendo uma das mais fortes agncias de letramento. Nela, seria possvel fazer apropriaes mais crticas e refl exivas da leitura e da produo de grfi cos e outros tipos de visualizao, criando-se uma situao de ler dados, ler entre os dados e ler para alm dos dados, conforme prope Lopes (2004).

    Diante da oferta cada vez mais qualifi cada de objetos de leitura que trazem grfi cos, mapas, tabelas e outros tipos de visualizao de informao e diante da constatao de que essa oferta no signifi ca uma apropriao direta e competente da leitura desse material por parte do leitor, de suma importncia pesquisar e compreender as relaes entre letramento multissemitico e alfabetismo da populao.

    Nesse sentido, importante esclarecer o que se entende aqui por letramento e por alfabetismo. Segundo Rojo (2009), os letramentos (no plural) esto mais ligados s prticas sociais da cultura escrita, enquanto o alfabetismo toma essas prticas em mbito individual, como competncias que os indivduos constroem, especialmente na vida escolar (embora o INAF trate de alfabetismos ligados vida cotidiana tambm, e no apenas de pessoas em idade escolar regular). Para a autora, a experincia

    8 Segundo dados da Agncia Nacional de Telecomunicaes - Anatel, so 191 milhes de celulares no pas; 0,98 celular por habitante; 82,14% em planos pr-pagos. Esses dados podem ser conferidos em http://www.teleco.com.br/ncel.asp.

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    Ana Elisa Ribeiro

    de escolarizao de longa durao dos brasileiros recente, assim como o contato com impressos da variada natureza e a consequente democratizao dos letramentos. Como visto em outros autores, essa democratizao faz-se tambm pelo contato com a televiso, que, conforme resultados do INAF no incio dos anos 2000, atingia 81% da populao9 .

    Os letramentos tratados por Rojo (2009) abarcam mltiplas possibilidades, sendo umas de valor simblico maior, isto , de mais prestgio social, enquanto outras so estigmatizadas. A esfera jornalstica estaria entre os letramentos mais prestigiosos de nossa sociedade. Nela circulam gneros ligados visualizao de informao, como se viu aqui. Os letramentos multissemiticos tambm esto no rol das necessidades atuais relacionadas cidadania. cada vez mais importante que se possa ler e produzir textos em diversas linguagens e semioses (verbal oral e escrita, musical, imagtica...) (ROJO, 2009, p. 119). Diante disso, exames como o Programa Internacional de Avaliao de Alunos (PISA), o Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM) e o Sistema de Avaliao da Educao Bsica (SAEB)10 abordam uma diversidade de discursos e gneros

    textuais, inclusive os multimodais, por meio da apresentao de textos como mapas, grfi cos e infogrfi cos.

    Lastima-se que os alunos brasileiros tenham apresentado os piores resultados no PISA de 2002, e ainda piores quando se trata de leitura de grficos, mapas e diagramas. No caso dos exames nacionais, como ENEM e SAEB, os resultados tambm no so animadores, j que a mdia geral bastante baixa (valendo para escolas pblicas e particulares). A ampliao progressiva de textos de vrias esferas e de gneros diversos na escola pode oferecer mais oportunidades de letramento e de alfabetismo, inclusive multissemiticos. O caso da visualizao de informao digno de nota, j que se trata de textos fortemente multimodais, que lidam no apenas com textos, desenhos e cartografias, por exemplo, mas tambm com a sutileza das cores, dos pesos, dos tamanhos e de modalidades menos tratadas trabalhos acadmicos. As articulaes multimodais so fundamentais nesses textos, no menos do que em outros, e, assim como em outros casos, precisam ser notadas e compreendidas pelo leitor.

    INFORMATION VISUALIZATION AND GRAPHIC LITERACY: issues for research

    Abstract The interaction between information visualization technologies and Brazilian people literacies is the theme of this paper. Based on a brief literature review (not an exhaustive one) about infographics and visualization, it is considered the existence of a gap, initially undesirable, between the efforts in the infographics production (and other forms of information visualization) and the expansion of the reader literacies. The impact of this discrepancy has grown due to the increasing social circulation of the visualization techniques, especially through the journalistic production. A counterpoint between the discourse that projects a positive view of information visualization and the official data on reading skills in Brazil is made. Once found the gap between them, comes the conclusion that researches to integrate the two aspects of meaning production are necessary.

    Keywords: Visual Literacy. Reading. Infografics. Information visualization.

    9 Segundo o Censo de 2000 (IBGE), 87,2% dos domiclios brasileiros tinham aparelho de televiso em casa. Essas informaes podem ser conferidas emhttp://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/familias/censo2000_familias.pdf.10 Ver detalhes em http://www.inep.gov.br.

    Agradecimentos

    Agradecemos profa. Roxane Rojo e o apoio de Vincius Rocha a esta pesquisa.

    Artigo recebido em 12/02/2012 e aceito para publicao em 25/04/2012

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    Visualizao de informao e alfabetismo grfi co

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