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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LUZINETE RODRIGUES DA SILVA SANTANA A AÇÃO DO GESTOR NA FORMAÇÃO CONTINUADA NA ESCOLA: CONTRIBUIÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA CUIABÁ-MT 2011

A AÇÃO DO GESTOR NA FORMAÇÃO … Ao meu orientador, Profº. Drº. Ademar de Lima Carvalho, por sua paciência, orientação e confiança no meu trabalho. Por me apontar caminhos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LUZINETE RODRIGUES DA SILVA SANTANA

A AÇÃO DO GESTOR NA FORMAÇÃO CONTINUADA NA

ESCOLA: CONTRIBUIÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO PARA

UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA

CUIABÁ-MT

2011

LUZINETE RODRIGUES DA SILVA

A AÇÃO DO GESTOR NA FORMAÇÃO CONTINUADA NA

ESCOLA: CONTRIBUIÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO PARA

UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade Federal de

Mato Grosso como requisito para a obtenção do título

de Mestre em Educação na Área de Currículo Práticas

e Formação de Professores, Linha de Pesquisa

Organização Escolar, Formação e Práticas

Pedagógicas

Orientador: Prof. Dr. Ademar de Lima Carvalho

CUIABÁ-MT

2011

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

S232a Santana, Luzinete Rodrigues da Silva.

A ação do gestor na formação continuada na escola : contribuições

para a construção para uma escola democrática / Luzinete Rodrigues da

Silva Santana. -- 2011.

135 f. ; 30 cm.

Orientador: Ademar de Lima Carvalho.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso,

Instituto de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação,

Cuiabá, 2011.

Inclui bibliografia.

1. Gestor – Educação. 2. Formação continuada – Escola. 3. Gestão

democrática – Escola. 4. Gestão escolar participativa. 5. Escola

democrática. I. Título.

CDU 371.11/.14(817.2)

Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099

Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte

LUZINETE RODRIGUES DA SILVA

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À COORDENAÇÃO DO PROGRAMA

DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFMT

Professores Componentes da Banca examinadora

____________________________________

Profº. Dr. Ademar de Lima Carvalho

Orientador (UFMT)

_________________________________

Profª. Drª. Emília Darci de Souza Cuyabano

Examinador Externo (UFMT)

___________________________________

Profª. Drª. Jorcelina Elizabeth Fernandes

Examinador Interno

___________________________________

Profª. Drª. Lindalva Maria Novaes Garske

Examinador Suplente

Cuiabá-MT, 29 de abril de 2011.

Aos meus dois grandes amores:

Heloisa e Raissa.

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Para Erenir minha mãe e meu saudoso pai

Zenandes. Meus mais sinceros agradecimentos

pela vida e aprendizagem que me

proporcionaram, e pelo empenho e incentivo

para eu ir sempre além.

Agradeço, também, a Zélia, Zenandes,

Elissandro e Kairo, que compartilharam

comigo o apoio, dedicação e convivência

como irmãos.

À queridíssima “mana Evânia”, onde você

estiver.

Agradeço, também especialmente, aos meus

tios e tias pelo apoio, carinho e torcida.

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Profº. Drº. Ademar de Lima Carvalho, por sua paciência,

orientação e confiança no meu trabalho. Por me apontar caminhos e compreensões para que

este empreendimento pudesse ser possível.

À pesquisadora Maria Cecília Camargo Magalhães, cujo trabalho e os valores que

ele encerra são fonte constante de inspiração.

A todos os professores do PPGE/ IE/ UFMT, que conheci e aprendi a admirar, por

me mostrarem novas realidades possíveis, abrirem meus horizontes e colaborarem na minha

construção como pesquisadora.

Agradeço especialmente à Profª. Dra. Emília Darci de Souza Cuyabano, pela

oportunidade de conhecimento e crescimento

Agradeço à Profª. Drº Valter de Souza Guimarães. à Profª. Dra. Jorcelina

Elizabeth Fernandes e à Profª. Drª. Lindalva Maria Novaes Garske, integrantes da banca de

qualificação, pela leitura cuidadosa, pelas críticas e orientações precisas, que colaboraram

muito para reorganização final desta dissertação.

À amiga, Genialda Soares Nogueira, que me introduziu neste caminho de

pesquisa e tem uma importância enorme na minha caminhada enquanto pesquisadora. Mesmo

de longe, foi durante este período um incentivo constante, com quem dialoguei muito.

À querida amiga Regina, com quem aprendi muito, muito mesmo, durante o curso

as apresentações de trabalhos e viagens. Considero-me privilegiada por ter tido a

oportunidade de conhecer e trabalhar com você.

Às minhas queridas amigas: Sandra, por sua alegria constante, Neidinha, por sua

paz de espírito e Simone, interlocutoras de todas as horas, com quem dividi risos e angústias,

apoio, dúvidas e questionamentos.

Às minhas amigas, pelo incentivo para a realização do mestrado e deste trabalho:

Teresa, Marisa, Dulcilene, Vanuza, Wanda, Aparecida, Sueli, Orcina, Bete, JuIia, Maria, Ana,

Elizangela, Delma, Elisa, Lourdes Marquélia e Maria. E a tantas e tantos outros amigos que

fiz neste caminho.

Ao Renato, Rogério e Deocleciano, funcionários do Departamento de

Administração da SEMEC.

A Professora Margarida agradeço muito pela revisão cuidadosa.

À SEMEC pelo apoio financeiro durante o período de desenvolvimento deste

trabalho.

Profundas raízes vão crescer

A luz das pessoas me faz crer

Eu sinto que vamos juntos

Ohh, nem o tempo amigo

Nem a força bruta

Pode um sonho apagar.

(Milton Nascimento).

Precisamos contribuir para criar a escola

que é aventura,

que marcha, que não tem medo do risco,

por isso,

que recusa o imobilismo. A escola em

que se pensa,

em que se atua, em que se cria,

em que se fala, em que se ama, em que

se adivinha,

enfim, a escola que apaixonadamente diz

sim à vida.

(Paulo Freire, 1995).

RESUMO

A presente pesquisa está vinculada ao Mestrado em Educação no PPGE/UFMT e tem como

objetivo principal compreender a ação do gestor na formação continuada na escola e

investigar se o mesmo contribui na construção de uma escola democrática. Trata-se de uma

pesquisa qualitativa com a utilização da entrevista como fonte de coleta de dados, além da

análise de documentos. O estudo se concentra em duas categorias de análise: a primeira se

refere à Gestão Democrática e a segunda categoria traz a Formação Continuada na escola.

Estas categorias por sua vez se estruturam sobre três bases de pesquisa: o olhar dos diretores;

O olhar dos coordenadores pedagógicos responsáveis pela formação e o olhar dos documentos

oficiais que regem esta formação. Os principais referenciais teórico-metodológicos foram

buscados em Nóvoa (1997), Freire (1982, 1988, 1989, 1997, 2000), Carvalho (2005),

Imbernón (2009, 2010), Contreras (2002), Paro (1993, 1997, 2007), Libâneo (2000), Apple e

Beane (2001), Ferreira (1999, 2003), Luck (2000), Guimarães (2004, 2006, 2008),

Vasconcelos (1995), Bogdan e Bilklen (1995), Lüdke e André (1986), entre outros. Foi

constatado que todas as propostas políticas dos diretores escolares, enquanto candidatos ao

cargo eletivo contemplam a formação continuada, embora sob aspectos diferenciados, como

fator essencial para a concretização de espaços de diálogo e reflexões, possibilitando relações

mais democráticas na escola. As entrevistas com os gestores (diretor e coordenador) de cinco

escolas da Rede Municipal de Ensino de Rondonópolis- MT, sujeitos desta investigação,

revelaram a necessidade de maior participação da comunidade externa e interna nos processos

de organização e gestão escolar, uma vez que este é um dos fatores primordiais da

constituição de uma escola democrática. Outra verificação relevante se constitui no fato de

que algumas escolas ainda não possuem um Projeto de Formação Continuada que seja claro e

que subsidie a formação contínua desenvolvida no interior da escola. Emergem das falas dos

gestores pontos nevrálgicos como a pouca participação efetiva dos professores nas formações

que se dão na escola, bem como, nas tomadas de decisões necessárias para o desenvolvimento

qualitativo da própria escola, embora considerem essencial a formação que é realizada nesse

espaço.

Palavra-chave: Gestão Democrática. Formação Continuada. Gestores. Participação.

ABSTRACT

This very research is linked to the Master in Education at PPGE/UFMT and its main objective

is to comprehend the manager’s action in the continuing education process at school as well

as to investigate if it contributes to the construction of a democratic school. It is a qualitative

research with the utilization of interview as data collection source, along with document

analysis. The study focuses on two categories of analysis: the first one is related to

Democratic Management and the second category highlights Continuing Education at school.

These categories, on their turn, are based on three stages of the research: the director’s view,

the view of the pedagogical coordinators responsible for the educational process and the view

on the official documents that regulate such continuing education procedures. The main

theoretical and methodological references were based on Nóvoa (1997), Freire (1982, 1988,

1989, 1997, 2000), Carvalho (2005), Imbernón (2009, 2010), Contreras (2002), Paro (1993,

1997, 2007), Libâneo (2000), Apple e Beane (2001), Ferreira (1999, 2003), Luck (2000),

Guimarães (2004, 2006, 2008), Vasconcelos (1995), Bogdan e Bilklen (1995), Lüdke e André

(1986), among others. It was found that all policy proposals by school directors, while

candidates for elective office have a look on continuing education, although under different

aspects, as an essential factor for achieving spaces of dialogue and reflection, making more

democratic relationships possible at school. The interviews with the managers (director and

coordinator) of five municipal schools in Rondonópolis, state of Mato Grosso, subjects of this

investigation, revealed the necessity of more participation of both the external and internal

community in the organization and school management processes, since it is one of the

primary factors for the constitution of a democratic school. Another relevant finding is the

fact that some schools still do not have a Continuing Education Program which is clear and

gives support to the continuing education process developed in the school itself. Some

hotspots come out of the managers’ discourse, such as little effective teachers’ participation in

the continuing education meetings that are offered at school, as well as in the necessary

decision-making process for the qualitative development of the school itself, although the

educational process offered in such space is considered essential.

Keywords: Democratic Management. Continuing Education. Managers. Participation.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Público-alvo da entrevista.............................................................. 72

Tabela 2: Sexo dos pesquisados...................................................................... 73

Tabela 3: Faixa etária.....................................................................................

73

Tabela 4: Formação acadêmica...................................................................... 74

Tabela 5: Tempo de serviço na rede municipal de ensino.............................. 74

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART – Artigo

AC 1 – Coordenador Pedagógico da Escola “A”

BC 1 – Coordenador Pedagógico da Escola “B”

CC 1 – Coordenador Pedagógico da Escola “C”

CDE – Conselho Deliberativo Escolar

DC 1 – Coordenador Pedagógico da Escola “D

EC 1 – Coordenador Pedagógico da Escola “E”

EMEIS – Escola Municipal de Educação Infantil

FNDE – Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação

G1 – Gestor da Escola “A”

G2 – Gestor da Escola “B”

G3 – Gestor da Escola “C”

G4 - Gestor da Escola “D”

G5 - Gestor da Escola “E”

HTPC – Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

MEC – Ministério da Educação e Cultura

MT – Mato Grosso

PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola

PDE- Plano de Desenvolvimento da Escola

PNE – Plano Nacional da Educação

PPP – Projeto Político-Pedagógico

PROERD - Programa De Orientação e Resistência as Drogas

RME- Rede Municipal de Ensino

SAEM- Sistema de Avaliação do Ensino Municipal

SEDUC– Secretaria de Estado de Educação

SEMEC – Secretaria Municipal de Educação

UMEIS – Unidade Municipal de Educação Infantil

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................. 16

1 OPÇÃO METODOLÓGICA.................................................................................... 21

1.1 Contexto da Pesquisa e Procedimentos de Coleta de

Dados..................................................................................................................

25

2 EDUCAÇÃO E GESTÃO DEMOCRÁTICA ......................................................... 28

2.1 Um instrumento da gestão: Projeto Político-Pedagógico ............................. 30

2.2 Conselho Escolar um Mecanismo de Democratização .............................. 31

3 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA ................................................ 33

3.1 Democracia e Gestão Participativa ............................................................ 35

3.2 Considerações acerca de Autonomia e os Princípios basilares da Gestão

Democrática Escolar ..................................................................................

41

3.3 Algumas reflexões a respeito da Cidadania ........................................................... 45

3.4 A Participação: Algumas Considerações ........................................................... 47

4 FORMAÇÃO CONTINUADA NA ESCOLA.......................................................... 52

4.1 A Exigência da Formação Continuada ............................................................ 56

4.2 Formação Continuada na Escola possibilidade de autonomia do professor .... 61

4.3 Formação como espaço para reflexão e mudanças ............................................... 68

5 RESULTADO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS COLETADOS

70

5.1 Contextualizando a Gestão Democrática na Rede Municipal de Ensino de

Rondonópolis/MT .................................................................................................

70

5.2 Sujeitos da Pesquisa.................................................................................... 71

5.3 Perfil dos Sujeitos Entrevistados das Cinco Escolas................................... 72

5.4 Breve Contextualização do Município ............................................................. 75

5.5 Resultado e Análise Interpretativa dos Dados............................................ 77

5.5.1 Primeira Categoria: gestão democrática na escola.................................. 77

5.5.2 Segunda Categoria: Formação Continuada na escola.......................................... 105

CONSIDERAÇÕES............................................................................................. 123

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 128

ANEXOS............................................................................................................. 134

16

INTRODUÇÃO

As discussões acerca do processo de democratização da gestão escolar e da

formação continuada na escola assumem prioridades nas questões da formação dos

professores da escola pública bem como do projeto de construção da melhoria da qualidade

para a educação no contexto educacional brasileiro.

A busca constante pela democratização do acesso e permanência na escola

pública, ou seja, que este acesso e permanência sejam para todos, continua sendo uma ação

política empreendida por educadores comprometidos com a construção da autonomia e

emancipação de vários setores da sociedade com o objetivo de construir relações mais

humanas e igualitárias.

No entanto, não se trata de apenas garantir estes direitos à educação, mas também

promover na práxis pedagógica administrativa uma gestão efetivamente comprometida com o

processo participativo e humanizador e consciente da necessidade de uma formação

continuada compreendida e organizada de forma a atender às necessidades do cotidiano

escolar. Trata-se ainda, de se implementar o necessário investimento na formação política dos

educadores, dentro de um referencial de maior qualidade.

Desta forma, a ampliação dos processos democráticos e a participação de todos os

setores da comunidade escolar se constituem um desafio para a gestão administrativa

comprometida com a descentralização e socialização do poder. Neste contexto, a formação

contínua na escola precisa ser concebida como instância capaz de promover mudanças na

relação escola-comunidade.

Portanto, a gestão da escola necessita ser aberta para o diálogo e a participação de

pais, alunos e educadores nessa gestão, da escola para que se possa recriar e reconstruir o

saber em sintonia com a cultura local e possibilitar a reflexão e ação da prática e, assim,

construir uma prática pedagógica que vise à formação do indivíduo em sua integralidade e

que também seja comprometida com a transformação da realidade existente.

Dentro desta perspectiva, a participação contribui para o desenvolvimento da

autonomia, pois resgata o sentido da educação pública em termos da organização e do poder

de tomar as decisões na ação educativa e abrir canais que favoreçam o exercício da

democracia na escola.

17

Este espaço para a participação representa uma mudança fundamental com vista à

construção de uma nova proposta pedagógica que atenda aos objetivos da escola pública de

democratizar as decisões compartilhando-as com a comunidade escolar, estabelecendo novos

direitos; de construir igualdade e justiça, emancipação e autonomia para todos que constituem

e utilizam-se da escola.

Infere-se do exposto que democratizar a gestão na escola pública é ter

compreensão sobre a função social a ser cumprida por uma escola pública comprometida com

a transformação. Significa ter clareza de que tipo de homem necessitamos formar para

atuarem na sociedade articulada com o interesse do bem coletivo.

Este estudo de pesquisa foi desenvolvido com enfoque na ação do diretor e do

coordenador pedagógico no âmbito da educação escolar, pois estes são considerados líderes

no cotidiano escolar, que é complexo, dadas a estrutura, a exigência e a relevância da função

social da escola. É neste contexto que se elaborou o problema da investigação da pesquisa:

Como o gestor tem desenvolvido sua ação na formação continuada na escola para a

construção de uma escola democrática?

Nesta perspectiva, os novos cenários em que a gestão democrática da escola

pública está inserida precisam ser compreendidos como um processo amplo da emancipação

humana, a qual se considere como uma exigência para que se alcance a autonomia e a

construção democrática e, que, sendo estes dois aspectos indissociáveis, assegure ao gestor a

ação e a articulação necessárias na luta constante por uma escola cidadã. Sob a luz deste

cenário, o gestor, enquanto líder, é um dos articuladores do processo de democracia da gestão

escolar e responsável pela condução deste processo no chão da escola.

O presente trabalho teve como objetivo geral: Investigar e analisar criticamente a

ação do gestor na formação continuada na escola para a construção de uma escola

democrática. Como objetivos específicos, propõem: Investigar se a ação do gestor na

formação continuada que se desenvolve na escola assume um caráter amplo, em que a sua

responsabilidade vá além das questões que envolvem os problemas do cotidiano escolar;

Verificar como o gestor escolar tem conduzido os trabalhos na escola numa perspectiva de

liderança democrática, participativa e autônoma, na qual todos os atores do ambiente escolar

tenham a oportunidade de ensinar e aprender; Verificar se em uma escola de gestão

democrática o gestor tem propiciado aos atores do processo educativo a troca de experiências,

informações, conhecimentos e saberes que qualificam a vivência de democracia.

O interesse por esta investigação teve origem em reflexões sobre a minha prática

profissional, pois há mais de vinte anos sou funcionária da Rede Pública Municipal de Ensino,

18

na cidade de Rondonópolis-MT, exercendo as funções de professora, coordenadora

educacional e diretora escolar e, desde 1994, sou concursada como supervisora escolar. Neste

contexto, bem como após a conclusão do Curso de Pedagogia com habilitação em Docência e

Supervisão Escolar, em 1990, na Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT/Campus

Universitário de Rondonópolis, durante toda a minha experiência profissional o foco esteve na

gestão e na Formação de Professores.

Iniciei o meu percurso profissional na SEMEC - Secretaria Municipal de

Educação de Rondonópolis, onde integrei a equipe do Departamento de Ensino responsável

pelo assessoramento do trabalho dos professores das séries iniciais nas escolas de zona rural e

escolas sem direção1. Posteriormente, tornei-me supervisora escolar da Escola Municipal do

Jardim Gramado-CAIC (Centro de Atenção à Criança e ao Adolescente) e, depois, a primeira

diretora eleita pela gestão democrática, nesta mesma escola, por três mandatos consecutivos

de dois anos cada um.

Nessa trajetória sempre acompanhei e desenvolvi junto com a equipe técnica da

escola o processo de Formação Continuada de professores. Nos últimos quatro anos estive na

coordenação pedagógica geral da Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida, até que me

afastei para os estudos do mestrado.

Por todo esse tempo, interessei-me pela escola enquanto organização/sistema

estabelecido como meio para a construção de práticas de gestão mais democráticas no

cotidiano escolar. Levei sempre em conta a visão de que a educação é um fenômeno

complexo e histórico, produto do trabalho de seres humanos e, como tal, responde aos

desafios que diferentes contextos políticos e sociais lhe apresentam.

Nesta perspectiva pode-se afirmar que a educação retrata e reproduz a sociedade,

mas também deve-se compreender que ela projeta a sociedade que se quer. Por isso, vincula-

se profundamente ao processo civilizatório e humano. Enquanto prática histórica tem o

desafio de responder às demandas que os contextos lhe colocam (CONTRERAS, 2002).

No âmbito da sociedade a escola é um dos principais espaços de socialização de

crianças, adolescentes e jovens, visto ser nela que o aluno encontra os meios para concretizar

seus projetos de vida. Por isso, todo estudante tem direito a uma educação de qualidade e deve

saber exigir esse direito dos seus governantes. Mas é necessário não apenas exigir, também é

preciso valorizá-la.

1 Escolas que não possuíam diretores nem supervisores, sendo responsabilidade da Secretaria assessorar e dar

formação aos professores.

19

Ademais, têm-se evidenciado que vários processos de mudanças vêm ocorrendo,

tanto com relação à escola, quanto com as demais instituições que fazem parte da vida diária

do ser humano, pois a sociedade vem impondo um ritmo acelerado de transformações e espera

da escola uma nova forma de ensinar e de aprender.

Neste novo contexto, não basta somente que as pessoas tenham um diploma; é

indispensável que elas possam desenvolver saberes e buscar conhecimentos. Assim, as

escolas, com os alunos, buscam conhecimentos contextualizados em sua realidade, e a gestão

trabalha com um processo democrático, já que se exige de todos os educadores (docentes,

gestores e coordenadores) uma nova atitude, em que o papel de cada sujeito formador da

escola seja avaliado e reavaliado, na busca de uma postura ética e cidadã.

Tal atividade de integração requer uma equipe de educadores comprometidos com

a autonomia da escola e com uma gestão democrática na qual o projeto pedagógico possa

constituir um instrumento de democratização e de qualificação para a construção de uma

escola mais humana e voltada para a dignidade e cidadania dos educandos.

No decorrer desta pesquisa são apontados conceitos e tecidas considerações que

evidenciam a necessidade atual de existir nas escolas públicas uma gestão escolar completa,

cidadã, humana e humanizante, voltada para políticas de gestão conscientes, transformadoras

e participativas.

As questões aqui consideradas orientaram o desenvolvimento da investigação a

partir de ações teórico-metodológicas que permitiram analisar o papel do diretor e do

coordenador pedagógico na Formação Continuada na Escola um espaço de construção para

uma escola democrática, nas unidades escolares da Rede Municipal de Ensino de

Rondonópolis-MT, considerando as condições existentes no cenário institucional deste

município.

A dissertação está estruturada em cinco capítulos. No primeiro apresenta-se a

metodologia da pesquisa, considerando-se os instrumentos utilizados para a coleta dos dados,

os sujeitos da pesquisa e a caracterização das Unidades em estudo, levando em conta o

entendimento acerca da construção da autonomia escolar.

O segundo capítulo versa sobre a gestão democrática da escola, apontando os

desafios que se encontram no novo conceito de gestão nas escolas, ressaltando a participação,

autonomia e cidadania, bem como o Projeto Pedagógico e o Conselho Escolar como

princípios basilares da gestão democrática escolar.

O terceiro capítulo apresenta alguns conceitos e tece algumas considerações

acerca da gestão participativa, democracia, autonomia, cidadania e participação. Refere-se à

20

gestão desenvolvida através do diálogo entre todos os segmentos da escola, concebendo a

dialogicidade como fundamental para a articulação, comunicação e participação de todos os

segmentos da comunidade escolar no processo educativo, com o objetivo único a ser

alcançado, que é maior aprendizagem e qualidade e, do ensino prestado pelas escolas, com a

consciência de que somos responsáveis pelo tipo de sujeito que se pretende formar numa

sociedade democrática.

No quarto capítulo, trata-se do cenário nacional no tocante à formação continuada

na escola, desenvolvendo-se uma breve discussão das questões sobre o papel do gestor frente

à Formação Continuada como elemento essencial para a construção da democracia escolar.

O quinto e último capítulo foi construído a partir dos relatos dos sujeitos da

investigação e de dados dos resultados da pesquisa desenvolvida em documentos das escolas,

bem como de um processo de análise interpretativa realizado com a finalidade de responder à

questão problema e buscar atingir os objetivos propostos para o estudo.

Considerações finais sobre o trabalho desenvolvido, em que estão inseridas as

concepções avaliadas a partir das informações teóricas e também das informações coletadas

com a prática da pesquisa junto aos sujeitos-alvo do estudo.

Sob uma observação abrangente pode-se considerar que, este estudo tratou da

necessidade de democratizar a gestão da escola; sobretudo do papel desempenhado pela

atuação da gestão escolar no processo de formação continuada na escola como contribuidora

(ou não) na construção da escola democrática. O tema refere-se a um componente

incontestável de uma educação de qualidade, pública e cidadã, capaz de oferecer saberes que

transcendam as disciplinas escolares e permitam a formação de homens e mulheres

responsáveis pela construção de uma sociedade mais humana, justa, igualitária, cidadã e

democrática.

21

1 OPÇÃO METODOLÓGICA

Neste capítulo abordo questões relacionadas a opção metodológica da pesquisa.

Em seguida discorro sobre a problematização que gerou este trabalho justifico a escolha

metodológica e descrevo o contexto da pesquisa, os participantes, os procedimentos de

registro e seleção de dados, os critérios e as categorias de análise e discussão dos dados.

Guimarães (2006, p. 149) considera que: [...] “a pesquisa se constitui em última instância, na

busca de respostas para os problemas que nos inquietam”.

A fim de compreender os aspectos ligados a ação do gestor na formação

continuada que acontece no interior da escola, busquei contribuições e referências nas teorias

das ciências humanas e sociais, de modo que a investigação não se trata de uma quantificação

e sim de uma interpretação e compreensão qualitativa das relações que permeiam e englobam

o fenômeno.

Busquei apoio na pesquisa qualitativa interpretativa, por ser um processo que

possibilita a reflexão e análise da realidade. Segundo Ludke e André, “a pesquisa qualitativa

tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal

instrumento” (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 11).

Os estudos desta pesquisa caracterizam por mapeamento bibliográfico, aplicação

de questionários e entrevistas, transcrição dos dados, elaboração de categorias, análise dos

dados e, por fim, a redação da dissertação.

Durante o estudo ficou evidente que o primeiro passo a ser dado por aquele que se

propõe desenvolver uma pesquisa é a escolha do assunto e que a pesquisa bibliográfica tem

como finalidade colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito

sobre o assunto selecionado. Neste procedimento metodológico, realizo-se:

levantamento bibliográfico;

leitura de artigos relacionados ao tema;

leitura de livros, na busca das informações teóricas para a constituição da

problemática estudada;

fichamentos.

Ruiz, (2002, p.58) conceitua bibliografia como

[...] o conjunto dos livros escritos sobre determinado assunto, por autores

conhecidos e identificados ou anônimos, pertencentes a correntes de pensamento

22

diversas entre si, ao longo da evolução da Humanidade. E a pesquisa bibliográfica

consiste no exame desse manancial, para levantamento e análise do que já se

produziu sobre determinado assunto que assumimos como tema de pesquisa

científica.

Assim considerando, foi realizado um estudo teórico dos autores que discutem a

concepção de gestão democrática participativa e as práticas de formação continuada realizada

na escola, quais sejam: Apple (2001); Sander (1995), Paro (1993, 2004); Luck (2005) e

outros. Para subsidiar as discussões a respeito da formação continuada numa perspectiva

crítica da educação tomaram-se como autores basilares: Freire (1988, 1997, 2006), Contreras

(2002), Gadotti (2003, 2008), Pimenta (2002, 2004), Libâneo (2004), Candau (1997),

Imbernón (2002), Nóvoa (1992, 1995, 2003), Giroux (1997) e Oliveira (2005), entre outros.

Com relação ao uso do questionário em pesquisa qualitativa, Oliveira (2007, p.

83) explica que:

o questionário pode ser definido como uma técnica para obtenção de informações

sobre sentimentos, crenças, expectativas, situações vivenciadas e sobre todo e

qualquer dado que o pesquisador (a) deseja registrar para atender os objetivos de seu

estudo. Em regra geral, os questionário têm como principal objetivo descrever as

características de uma pessoa ou de determinados grupos sociais.

Ainda acerca dos procedimentos metodológicos utilizados para o

desenvolvimento da presente investigação, registre-se que, de acordo com Triviños (2006, p.

145), “a entrevista é um dos principais meios pelo qual o pesquisador lança mão para coletar

dados”, e que para Ludke e André (1986), os documentos são considerados um importante

instrumento para a complementação de dados obtidos através de outras técnicas; Por sua vez,

“os documentos são fonte natural de informações já existentes que o pesquisador tem acesso

para conhecer determinado assunto.

Já Bogdan e Biklen (1994, p. 117, 118) classificam os documentos sob dois

aspectos: pessoais e oficiais. Estes últimos são “os boletins informativos, códigos de ética,

propostas, memorandos, entre outros produzidos por alguma instituição ou repartição

pública”.

O campo de pesquisa de coleta de dados constitui em três contextos: nos

documentos oficiais da Secretaria Municipal de Educação de Rondonópolis, nos Projetos

Políticos das escolas e nas entrevistas realizadas com os gestores (diretor/a e coordenador/a).

Os dados foram colhidos por meio de entrevistas semiestruturadas em que os

sujeitos foram ouvidos individualmente. Foram entrevistados cinco diretores e cinco

coordenadores das escolas, e a abordagem das coletas foi descritiva o que permitiu detalhar o

23

contexto em toda a sua amplitude e riqueza de fatos, observado de forma minuciosa gestos,

falas, comportamentos para obter- se percepções dos diretores e coordenadores.

O presente trabalho utilizou duas categorias de análises: a gestão

democrática e a formação continuada. As categorias de análises justificam-se na pesquisa

para estabelecer classificações, que segundo (MINAYO, 1994, p. 70): as categorias servem

para classificar as informações importantes que emanam dos resultados da pesquisa com o

intuito de se encontrar respostas para o problema de investigação. Explicando um pouco mais

detalhadamente a questão,

as categorias podem ser estabelecidas antes do trabalho de campo, na fase

exploratória da pesquisa ou a partir da coleta de dados. Aquelas estabelecidas antes

são conceitos mais gerais e mais abstratos. Esse tipo requer uma fundamentação

teórica sólida por parte do pesquisador. Já as que são formuladas a partir da coleta

de dados são mais específicas e mais concretas (MINAYO, 1994, p.70).

Ainda neste contexto, lê-se em Bogdan e Biklen (1994, p. 221) diz que: “as

categorias constituem um meio de classificar os dados descritivos que recolheu de forma a

que o material contido num determinado tópico possa ser fisicamente apartado dos outros

dados”.

A pesquisa foi realizada em cinco escolas públicas de ensino fundamental, por

acreditar que a construção da escola democrática pode se dar desde o início da escolarização

nas relações estabelecidas no processo educativo mediatizados pela construção e compreensão

do mundo e de si enquanto sujeito inserido na trama de relações com mundo.

Outro fator que motivou esta escolha consistiu no fato de que as escolas públicas

desta rede municipal de ensino acreditam ser organizadas dentro do ideário da escola

democrática, mostrando em seu discurso a prática da gestão escolar participativa, a qual

pressupõe que os recursos devem ser geridos, discutidos e implementados pela comunidade

escolar.

A partir desse fato, por meio das analises documentais e das entrevistas com os

sujeitos pesquisados, buscou-se desvelar as coisas como elas são, no processo das

experiências do cotidiano da escola; o que dizem estas experiências; que conteúdo ético

político pode-se revelar numa prática educativa; que mudanças são percebidas, sentidas; o que

se oculta e o que se desvela nessas práticas.

Para compreender o fenômeno fez-se necessário saber se a prática exercida pelos

gestores desta rede contribui ou não para a construção de uma escola democrática. Por isto a

pesquisa aconteceu com os gestores (diretor e coordenador) que coordena o processo de

24

formação continuada das escolas públicas municipais de Ensino Fundamental do município

de Rondonópolis/MT.

Esses campos diversificados de pesquisa foram selecionados justamente por

propiciar a observação de realidades sociais distintas, na intenção de averiguar se há

estratégias de formação continuada no ambiente dessas escolas e qual é a concepção de

democracia para os gestores que desempenham o trabalho educativo com os profissionais e a

comunidade escolar nesse ambiente.

Os critérios para a escolha dos diretores como sujeitos desta pesquisa foram os

seguintes: ser diretor de escola municipal urbana que oferta o Ensino Fundamental; ser eleito

pela comunidade escolar; ter pelo menos dois mandatos consecutivos.

Na busca de tais sujeitos, recorri à análise documental. Especificamente,

pesquisei, nas pastas do Lotacionograma2, os dados dos gestores desta rede de ensino;

também busquei conhecer as propostas políticas de todos os diretores, elaboradas enquanto

candidatos a diretores de escola para verificar quais atenderiam aos critérios estabelecidos

para este estudo. Do universo de vinte escolas urbanas, dezessete preencheram esses critérios.

Foram selecionadas por meio de sorteio cinco escolas e seus respectivos diretores e

coordenadores responsáveis pela formação continuada na escola para, maiores contatos.

Esse contato com os diretores e coordenadores, ouvindo-os sobre as experiências

com a formação continuada para uma escola democrática, forneceu elementos para o

desvelamento dessa realidade.

Cabe, neste ponto, lembrar que, segundo Bogdan e Biklen (1994), uma

característica da pesquisa qualitativa é a questão o aspecto descritivo dos dados, bem como a

preocupação com o processo e não simplesmente com o resultado, buscando verificar de que

forma os fenômenos se manifestam numa determinada realidade. Outra característica da

pesquisa relaciona-se com o fator de que os elementos subjetivos, os significados que as

pessoas dão à vida e às coisas, são considerados na pesquisa. Por último, a análise não se

constitui num processo onde as hipóteses são apenas confirmadas, mas tendem a seguir por

um processo indutivo (LUDKE e ANDRÉ, 1986).

A análise interpretativa permite formulações gerais que integram a riqueza dos

conteúdos identificados no discurso dos gestores. Também é do tipo interpretativa dadas as

particularidades que requer o trabalho de pesquisa na área das ciências sociais, mais

especificamente no campo da educação.

2Lotacionograma é o documento que anualmente as escolas encaminham para o Departamento de Recursos

Humanos contendo as informações a respeito dos professores lotados naquela unidade escolar.

25

Os estudos qualitativos são importantes por proporcionar a real relação entre

teoria e pratica, disponibilizando instrumentos de coleta de dados eficazes para a interpretação

das questões educacionais. Como o objeto de estudo é a ação do gestor na formação

continuada no espaço da escola, a pesquisa qualitativa é a que contribui para o sucesso desta

investigação.

Ao se utilizarmos a pesquisa qualitativa, Bogdan e Biklen (1994, p. 47, 51)

orientam-nos explicitando cinco características que a assinalam:

a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o

instrumento principal;

É de natureza descritiva [...], os dados recolhidos são em forma de palavras e

imagens e não de números;

O interesse está mais no processo do que simplesmente nos resultados ou produtos;

Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva;

não se recolhem dados ou provas com objetivo de confirmar hipóteses construídas

previamente, ao invés disso, as abstrações são construídas à medida que os dados

particulares, que foram recolhidos, vão se agrupando;

O significado é de importância vital na obra qualitativa.

Conforme salienta, Guimarães (2006) os aspectos metodológicos devem ser

organizados de forma que apreendam e explique o objeto de estudo e que sejam capazes de

responder às questões que movem a investigação. É essencial para o pesquisador, ainda, ter

clareza de que os fios condutores de qualquer trabalho de pesquisa são os procedimentos

metodológicos.

Enfatiza-se que os instrumentos metodológicos no transcorrer da pesquisa de

campo foram a entrevista semiestruturada e a análise documental e que neste âmbito, foram

analisados os Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) das escolas, bem como o Projeto de

Formação continuada da Escola. Para Lüdke e André (1986, p.38), a análise documental, além

de poder complementar informações já obtidas por outras técnicas, pode desvelar “aspectos

novos de um tema ou problema".

Desta forma, compreende-se que os resultados de uma pesquisa em ciências

sociais constituem-se uma aproximação da realidade social, sendo a mesma histórica

dinâmica, interativa e interpretativa. Nesta perspectiva, o olhar do pesquisador sobre esta

realidade deve ser excêntrico.

1.1 Contexto da Pesquisa e Procedimentos de Coleta de Dados

O levantamento de documentos foi realizado na Secretaria Municipal de

Educação, através de documentos e dados oficiais fornecidos por técnicos responsáveis. No

26

desenvolvimento do presente estudo, buscou-se, no primeiro momento, a utilização dos dados

colhidos nos documentos oficiais, procurando diagnosticar a ação do gestor na formação

continuada centrada na escola e suas contribuições para a construção de uma escola

democrática.

Estes se mostraram instrumentos de fundamental importância para o complemento

dos dados e a seleção dos sujeitos. Diante disso, realizou-senos documentos a coleta das

informações sobre as propostas de ação dos candidatos a diretores na Rede Municipal de

Ensino, o tempo de mandatos eletivos como gestores e as ações que configuravam nas

propostas com relação à formação continuada na escola. No curso da coleta de dados, fui

muito bem acolhida pelos técnicos da SEMEC.

Pôde-se averiguar que a Rede Pública Municipal de Ensino de Rondonópolis foi

instituída a partir da Lei nº 121 de 20 de março de 1963, a qual determinou a criação da

Secretaria Municipal de Educação e Cultura, que, de acordo com a própria, tem em seu

quadro de funcionários 582 professores efetivos do Ensino Fundamental e Educação Infantil e

533 professores com contratos temporários.

Com relação ao quadro de alunos (matrícula inicial), o total geral, incluindo

Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos, é de 13.177 alunos,

assim distribuídos conforme demonstrado no quadro a seguir.

Quadro demonstrativo de matrícula inicial – 2010.

Escola/Modalidades Nº de alunos atendidos

Nas escolas que atendem a pré-escola

(crianças de 04 e 05 anos)

1649 alunos;

Ensino Fundamental 9.488 alunos;

Educação de Jovens e Adultos 2.040 alunos.

A respeito das unidades escolares, a rede possui 11 escolas rurais e 24 escolas

urbanas que ofertam o Ensino Fundamental, sendo que, destas, algumas oferecem a Educação

Infantil; 05 Escolas Municipais de Ensino Infantil, que atendem crianças de 04 e 05 anos, na

modalidade de Educação Infantil/ pré escolar, com 533 alunos; e 9 Unidades Municipais de

Educação Infantil (creches) que atendem 1505 crianças de 0a 3 anos e 114 alunos na

modalidade Educação Infantil/pré- escola, perfazendo um total de 1619 crianças atendidas por

estas Unidades.

Existem, além disso, convênios com algumas entidades, tais como a Cáritas

Diocesana de Rondonópolis e a creche Santa Lúcia, com a modalidade de Educação Infantil,

atendendo um total de 1750 alunos, totalizando, assim, 5551 alunos atendidos com a

27

Educação Infantil/creche e pré-escola e 17079 alunos em todas as modalidades oferecidas

pela Rede Municipal de Ensino de Rondonópolis.

Estes dados foram coletados no Departamento de Administração Escolar da

Secretaria Municipal de Rondonópolis.

Quanto à Gestão Democrática, das 35 unidades escolares da Rede Municipal de

Ensino, apenas 04 unidades não têm diretores eleitos pelo voto direto da comunidade interna e

externa, mas são escolhidos através de uma lista tríplice encaminhada pelo Conselho

Deliberativo Escolar, sendo nomeados pelo/a Secretário/a Municipal de Educação como

coordenador escolar, responsável por aquela unidade de ensino.

A pesquisa foi viabilizada e sistematizada, em consonância com o referencial

teórico tomado como orientador das discussões, em duas grandes categorias de análise:

Categoria 1: gestão democrática na escola – na qual se propõe discutir a

concepção de democracia, a autonomia da escola e a participação.

Categoria 2: formação continuada na escola –tem por foco apresentar o

parecer e o olhar dos diretores, o olhar dos coordenadores pedagógicos responsáveis pela

formação e a legislação expressa nos documentos oficiais que regem a formação.

Ao procurar compreender como a formação continuada pode contribuir para uma

educação mais democrática no contexto da escola é que o presente estudo debruçou sobre o

cotidiano escolar, por entender este como um contexto de múltiplas relações. Nesta

perspectiva analisa o Projeto Pedagógico das escolas pesquisadas com o propósito de

identificar como está organizada a formação continuada e como os gestores têm contribuído

para a efetivação da mesma no espaço escolar.

A prática tem mostrado que o diretor é fundamental para fortalecer a construção

coletiva e a implantação do projeto pedagógico da escola e também o acompanhamento e

verificação da realização prática do que está teoricamente proposto para ser desenvolvido na

escola.

Na unidade escolar o gestor é a pessoa que deve exercer liderança, na organização

da escola e no “clima” escolar que pressupõe a liberdade para articular as tomadas de decisão

no interior do processo educativo e não nos gabinetes burocráticos.

Observe-se, ainda, que o diretor exerce uma ação essencial na gestão democrática,

pois ele pode inibir ou promover a implantação de processos participativos.

28

2 EDUCAÇÃO E GESTÃO DEMOCRÁTICA

A gestão escolar democrática exigiu das instituições escolares várias

transformações para que estas viessem a tornar-se entidades caracterizadas por relações de

interação entre todos os sujeitos que nelas atuam.

A escola necessária para essa realidade é aquela que provê a formação cultural e

científica comprometida com a ética e a estética e, acima de tudo, com a qualidade do ensino

que oferta; é uma escola que luta contra a exclusão econômica, política, cultural e pedagógica.

Diante disso, a implantação da gestão democrática nas escolas públicas pode ser

entendida como espaço para a constituição de práticas igualitárias que possibilitam e

contribuem para a construção da consciência democrática e a participação popular como

elemento primordial para a democratização do espaço escolar e da própria sociedade.

Por outro lado, penso que a gestão escolar extrapola a mera administração, no que

tange ao pensar e ao agir social pertinente à democratização que suscita um “clima” que

envolve maior compromisso de todos que formam a escola para torná-la capaz de interferir

criticamente na realidade de maneira a transformá-la, uma escola orientada para a “formação

de sujeitos capazes de decisões livres, conscientes e responsáveis” (FREIRE, 1997, p.47).

Dessa forma, torna-se possível conhecer o mundo real, o que é o primeiro passo

para se obter a cidadania ativa tão vislumbrada por Paulo Freire e que nos tem sido subtraída.

Segundo Antunes (2005), só se exerce a cidadania de forma ativa quando se tem

conhecimento de qual é o nosso papel na realidade econômica e social e do que podemos

fazer para participar criticamente dessa realidade a fim de transformá-la na perspectiva de

uma “outra globalização”, que seja capaz de ler o mundo para desnaturalizar a “perversidade”

da globalização capitalista.

Por isso, há o interesse pela educação que priorize o interesse da camada

majoritária da população, ou seja, dos menos favorecidos; que favoreça o exercício da

cidadania e que seja apta a superar as maiores práticas de opressão, discriminação e exclusão

que se presencia e vive em nossa sociedade.

É justamente nesta perspectiva que a escola pública representa um universo

específico, no qual suas próprias relações só podem ser compreendidas pela sua intensa

relação com a comunidade na qual está inserida. Isto pode ser entendido no que toca à prática

cotidiana da administração, ou no que se refere à enorme diferença sociocultural em que se

constitui a sociedade brasileira, cuja realidade se apresenta o Brasil real de miséria, nos mais

29

diversos sentidos. Portanto, quando se fala em gestão participativa, estamos nos referindo a

uma relação entre desiguais.

Por conseguinte, vamos encontrar uma escola desaparelhada de recursos

financeiros capazes de acompanhar e enfrentar os crescentes desafios que se apresentam na

sociedade do capital e também caracterizada pelo despreparo de uma comunidade que não

tem formação nem costume de participar das tomadas de decisão e, assim, muito pouco se tem

na gestão participativa e na administração da escola.

Parto do pressuposto de que o processo de educação para a humanização e

libertação do ser humano, necessariamente, está apoiado na realidade em que ele se encontra

inserido e com a qual ele convive diariamente, é elaborado de acordo com a cultura

estabelecida. Tal elaboração tem o sujeito como o principal articulador atuante e participante

nessa relação de construção de um modelo social que valorize o humano e não a mercadoria

banalizada, fundamental nas relações de opressão.

Neste sentido, numa gestão democrática participativa as decisões são

compartilhadas e as pessoas aprendem a estabelecer e exigir novos parâmetros de qualidade,

de conteúdos e de como gerir os recursos financeiros da escola. Consequentemente passam a

sentir-se co-responsáveis pelas ações deliberadas na escola, pelas concepções de política, de

ensino e de sociedade, bem como pela avaliação dos resultados, tudo isso como forma de

garantir o cumprimento do que foi estabelecido pelo coletivo da instituição, dar credibilidade

ao ensino oferecido e fortalecer a gestão democrática.

A participação é, portanto, condição necessária para que todos os atores da

comunidade escolar tenham conhecimento do funcionamento da escola, um contato

permanente com o mesmo e a compreensão de que a entidade escolar faz parte da formação

do sujeito, que precisa se sentir, realmente, o sujeito da aprendizagem e da educação.

Neste contexto, educar significa formar para a autonomia, isto é, para

autogovernar-se. Um processo educacional será verdadeiramente autônomo e libertador

somente se for capaz de formar cidadãos críticos, dotados das condições que lhes permitam

compreender os contextos históricos, sociais e econômicos em que estão inseridos.

Para viabilizar a consecução destes objetivos, é necessária a adoção de alguns

princípios, a que chamo basilares, da gestão escolar democrática. Destes, as próximas seções

destacam dois: o Projeto Político Pedagógico e o Conselho Escolar.

30

2.1 Um Instrumento da Gestão: Projeto Político-Pedagógico

Considerando a importância do Projeto Político Pedagógico (PPP) como

instrumento e processo de organização escolar, busco em Libâneo (2004) a compreensão dos

princípios e fins desse projeto que possibilita a autonomia da escola.

O projeto político pedagógico constitui o alicerce de funcionamento das

atividades escolares. Conforme explicita Libâneo (2004), “ele sintetiza os interesses, os

desejos, as propostas dos educadores que trabalham na escola respondendo [...] perguntas”

(p.152) que são necessárias para a construção do paradigma de escola que se busca

implementar no cotidiano.

Também de acordo com Libâneo (2004), o projeto é um elemento essencial dentro

da escola, uma vez que, na sua construção, ficam explicitadas respostas às questões acerca de

que tipo de escola os profissionais da instituição têm compromisso de formar e quais

objetivos e metas são estabelecidos para que se dê conta de satisfazer às necessidades e

expectativas da comunidade escolar, os quais orientem para o entendimento de que os alunos

necessitam de formação que lhes possibilite a compreensão para a autonomia, cidadania e

participação. O projeto precisa trazer na sua constituição também a permanente avaliação e

reflexão dentro da prática pedagógica.

O autor enfatiza, ainda, que, dado o caráter processual do planejamento, o PPP é

avaliado no decorrer do ano letivo, visando à verificação das ações e se elas estão

correspondendo ao que foi previsto, de forma que os desvios possam ser corrigidos e haja um

replanejamento dando um novo rumo ao projeto e que, portanto ele é inconcluso.

É imprescindível considerar a importância da participação da família, da

comunidade, pais e responsáveis na elaboração desse projeto, como forma de ação inclusiva,

dinâmica e participativa. Neste sentido, cabe à gestão da escola criar a cultura de participação

da comunidade no cotidiano escolar, visto que o sucesso de uma instituição, bem como de

qualquer pessoa, se dá de acordo com o planejamento e execução de um projeto elaborado

criteriosamente.

Diante do exposto, avalia-se que, de acordo como o seu Projeto Político-

Pedagógico escolar e pela execução do mesmo através de ações cooperativas, a escola pode

ser vista como de bom nível de desenvolvimento profissional dos educadores e funcionários e

também de liderança democrática da gestão.

Dessa forma, o Projeto Político-Pedagógico é fundamental para que a escola seja

lançada para frente, pois exige um repensar da ação da prática escolar e da realidade ali

31

existente. Contudo, não se trata de um plano a ser elaborado e executado sem se considerar o

ambiente e a comunidade escolar, mas de uma proposta de trabalho que se constrói e se

realiza, ao mesmo tempo; isso, através do diálogo, do questionamento, do repensar, do

instituir e do recriar, visto que não é algo que possa ser encomendado nem feito por

especialistas para que os professores possam executar. É preciso compreender a realidade e a

cultura da comunidade como um todo.

Em síntese, é preciso ter clareza de que o PPP não pode ser confundido com a

organização escolar, nem tampouco substitui a gestão. O projeto guia e institui os

procedimentos e instruções para a ação. Cabe à gestão escolar colocá-lo em prática

organizando o processo e subsidiando o desenvolvimento do mesmo; assim, ele é visto como

um instrumento da gestão, (LIBÂNEO, 2004).

2.2 Conselho Escolar, um Mecanismo de Democratização

A institucionalização do Conselho se deu na década de 80, após intensos

movimentos liderados pela população, movida pelos anseios de maior participação nos

processos de tomada de decisão, reivindicando espaços de participação democráticos,

requerendo espaços institucionais de intervenção junto aos órgãos governamentais.

Na área da educação, esse movimento foi liderado por docentes, que exigiam dos

governantes que ampliassem as obrigações e atribuições do conselho na escola. Assim, foram

criados os Conselhos Deliberativos, que passaram a ter poder de decisão sobre os aspectos

administrativos, financeiros e pedagógicos das escolas.

O Conselho de uma escola está estruturado com o objetivo não só de participação,

mas também como um instrumento de gestão da própria escola. Assim sendo, tem o poder de

deliberar, ou seja, discutir, rediscutir e decidir sobre os aspectos administrativos e com relação

a todos os problemas que possam surgir na escola.

Nesta perspectiva, o Conselho Escolar é formado por todos os segmentos da

escola: dos pais, de alunos, de professores, de funcionários e da direção, que é membro nato.

A composição dos membros é sempre paritária, ou seja, é sempre garantido o mesmo número

de representantes de cada segmento, com exceção do diretor. Todos os membros do Conselho

são eleitos pelos seus pares para gerirem coletivamente a escola, por isso lembra Gadotti

(2004) essa participação é tida como uma forma de a comunidade acompanhar e controlar a

qualidade da educação oferecida pelo Estado.

32

Na concepção de Antunes (2002, p.22), o Conselho da Escola pode desempenhar

as funções de natureza consultiva, quando é apenas consultado e não toma decisões; ou de

natureza deliberativa, quando define as diretrizes e possui maior poder de atuação na gestão

escolar tomando “decisões capazes de modificar a história da escola e da comunidade” e de

acordo com a autora é o modelo que melhor pode contribuir para que a democracia e

autonomia escolar sejam realmente alcançadas.

Trago a seguir as orientações e lembretes de Antunes (2002, p. 24 e 25), para

facilitar o entendimento da participação e das atribuições do Conselho Escolar.

O Conselho decide sobre questões administrativas, financeiras e pedagógicas

da escola. Ele analisa o desempenho, os problemas e as potencialidades da escola, e

propõe soluções.

O Conselho de Escola deve garantir a participação de todos os interessados.

Os que não foram eleitos, mas querem se envolver com as atividades devem ser

incentivados a participar.

Em todos os Regimentos de que temos conhecimento, os membros eleitos

têm direito a voz e voto. Os demais participantes têm direito a voz.

Geralmente, o Conselho de Escola é eleito no início do ano letivo e seus

membros podem ser reeleitos.

A duração dos mandatos não é a mesma em todos os Municípios e Estados.

Os mais comuns são os anuais e bienais. Há municípios onde o mandato do

Conselho dura o mesmo tempo do mandato dos diretores eleitos.

Quando o Conselho de escola é deliberativo, ele pode tomar decisões capazes

de mudar a história da escola e da comunidade.

O Conselho de Escola deliberativo elabora, aprova e acompanha a execução

do Projeto-Político-Pedagógico da Escola.

Participação, autonomia, democracia e cidadania exigem aprendizado. O

Conselho de Escola pode nos ensinar a construir esses saberes.

Com essas características, os Conselhos Escolares se tornam um dos mecanismos

vitais para se democratizar o exercício do poder dentro da escola. A partir dessa compreensão,

nas escolas públicas vem sendo apontadas uma nova forma de pensar e repensar as ações

cotidianas da escola tendo como elementos essenciais a abertura da escola, buscando maior

participação; e compromisso da gestão com a democratização da escola.

Portanto, compreendo que a participação da comunidade em todas as esferas da

escola tem permitido que as práticas escolares tomem novos rumos considerando a realidade

na qual essa escola se insere e praticando no seu interior uma educação concebida como

processo de formação e desenvolvimento da pessoa humana.

33

3 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA

Neste capítulo por meio de estudo bibliográfico, trago os conceitos de democracia

e de gestão democrática da escola e os princípios basilares para a efetivação da gestão

democrática escolar. Considero relevante, para a compreensão do objeto de estudo desta

pesquisa, buscar, através dos diversos autores que promovem e que discutem essa temática,

suporte teórico para que se possa compreender os aspectos históricos, socioeconômicos e

culturais da mesma e como estes conceitos são definidos ao longo do processo educacional, a

fim de se entender suas influências e ações na educação e em nossa prática pedagógica

escolar.

O conceito de democracia, no decorrer dos anos e das transformações que se

deram na educação e em nossa sociedade, passou por diversas mudanças, e, assim sendo, para

se definir o que é democracia é necessário entender sob quais perspectivas e que tipo de

sociedade e escola são necessárias para que a escola, de acordo com as práticas da atualidade,

torne-se democrática, participativa, autônoma e cidadã.

A palavra democracia teve sua origem na Grécia; é constituída a partir dos

seguintes termos: demos= povo e crato= poder. Deste modo, em sua origem significa “poder

do povo” ou “poder que emana do povo”.

Santos (2004) entende que, na constituição desta palavra, encontra-se implícita a

participação do povo na vida política e nas tomadas de decisões dos governos, assim como

maior sociabilidade na organização da vida em sociedade. Nestes termos, a palavra

democracia compreende ética e valores referenciais que garantem a participação popular nos

processos democráticos exigindo condições de igualdade, justiça e alternativas de escolha em

toda a esfera social.

Também para Santos (2004), a questão democrática foi alvo de intensa discussão

no século XX, pelo desejo de democracia e, mais tarde, principalmente após a Segunda

Guerra Mundial, travou-se o debate foi acerca das condições estruturais da democracia com

relação à compatibilidade ou incompatibilidade da mesma no capitalismo. No âmbito dessa

controvérsia, a discussão girou em torno dos modelos de democracia alternativa ao modelo

liberal, ou seja, democracia participativa ou democracia popular.

A gestão democrática, por sua vez, teve seu surgimento na Europa, no limiar do

século XX, momento histórico do capitalismo em que buscava um novo modelo de

gerenciamento que desse conta de responder às novas exigências do capital, para unir o

34

mesmo ao modelo de produção neoliberal, implantando a figura do gestor e retirando deste o

distintivo de chefe, gerado no período taylorista/fordista. Passava-se, então ao líder do novo

liberalismo, o papel de agregar parceiros para estabelecer uma nova ordem, uma gestão em

que todos participam e são responsabilizados pela elaboração, produção e qualidade dos

trabalhos ofertados. No entanto, o modelo de democracia liberal vulnerabilizou violentamente

o trabalho, na medida em que o instrumentalizou para atender às transações do mercado

capitalista, comprometendo a ética fundante da democracia.

Em nossa realidade educacional a gestão democrática está disposta na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394, art. 3º, do inciso VIII. A Lei

garante que a educação adote o princípio da “gestão democrática do ensino público, de acordo

com a Lei e a legislação dos sistemas de ensino”. Em seu art. 12, no que se refere às

obrigações dos estabelecimentos de ensino, encontra-se disposto no inciso I que a escola deve

“elaborar e executar sua proposta pedagógica”. No art. 13, inciso I, quanto às obrigações do

professor, fica estabelecido que este deve “participar da elaboração da proposta pedagógica do

estabelecimento de ensino”.

Dessa forma, o disposto na Lei deixa claro que tanto a escola como o professor

devem participar ativamente dos momentos democráticos que fundamentam as ações dos

estabelecimentos de ensino.

É importante enfatizar ainda que, no art. 14 da LDBEN (9.394/96), afirma-se: “Os

sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação

básica, de acordo com as suas peculiaridades [...]”.

Essa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional surge com novas propostas

de gestão que apontam, além da descentralização e maior autonomia para gerir os recursos

destinados à escola, para a participação da comunidade escolar na elaboração e tomada de

decisões e para a eliminação da burocracia, possibilitando maior autonomia, também, para

desenvolver seus projetos pedagógicos em busca de maior qualidade do ensino ofertado.

Todavia, o que se observa é apenas uma redistribuição de tarefas administrativas e não do

poder. Para que se alcance a verdadeira descentralização, contudo, necessário se faz

reformular o sistema existente buscando a participação dos maiores interessados na educação,

que são os educadores e a comunidade que dela se beneficiam, sem, no entanto, dispensar o

Estado de suas obrigações para com o ensino e a educação.

Portanto, esses conceitos de administração, atualmente, estão sendo revistos, pois

a população está exercendo uma participação ativa na escolha dos seus representantes pelo

voto. No entanto, sabemos que a classe popular leva desvantagem por inúmeras razões,

35

inclusive porque é estritamente manipulada pelo poder dominante. Na história da educação

brasileira, as preocupações concernentes à administração escolar estiveram, na maioria das

vezes, relegadas à articulação do sistema nacional de ensino e dos vários órgãos que o

compõem. A administração da educação, com isso, então por muito tempo ficou circunscrita à

gestão e à implementação das políticas públicas no setor.

3.1 Democracia e Gestão Participativa

A gestão participativa (democrática) pode despertar a comunidade para a

importância do processo educativo, assim como da responsabilidade que os pais também têm

com a formação de seus filhos. Neste movimento, algumas estratégias interessantes são

utilizadas como elo entre a comunidade e a escola, tais como: realização de encontros,

palestras, bem como formação e informação de interesse de todos, propiciando a participação

frequente dos pais no ambiente escola. A Associação de Pais e Mestres, o Conselho Escolar e

o grêmio estudantil são órgãos que podem viabilizar essa aproximação. De acordo com a

estrutura moderna, o gestor que desenvolve bem a sua função, entre outras coisas, conhece

suas habilidades e areais necessidades do seu entorno, administra de forma participativa

envolvendo o maior número de pessoas na elaboração e desenvolvimento do processo

educativo, assim como valoriza o potencial criativo de todos utilizando-se de elementos

essenciais para a realização de uma gestão participativa e democrática.

A respeito dos princípios da educação que fundamentam a gestão democrática, é

interessante a observação transcrita a seguir.

Vejo com esperança os esforços dos pensadores de uma pedagogia cidadã, baseada

na participação solidária de professores, alunos, pais de alunos e representantes da

comunidade para a concepção e a promoção dos interesses educacionais coletivos

(SANDER, 2005, p.42).

A forma cultural de uma sociedade é que determina e define toda a sua estrutura e

funcionalidade. Assim, a função social da Escola tem se transformado ao longo dos tempos,

de acordo com as necessidades de cada época, sociedade e cultura, a partir das quais se

originam as formas diferenciadas de educação e de escolarização em que o conhecimento é

transmitido e tem o potencial de expressar estas necessidades. Se antes era necessário educar,

instruir e socializar, hoje se faz relevante refletir sobre a necessidade de transformar essa

educação, ajustar o ensino de maneira que valores, saberes e conhecimentos venham de fato

construir e reconstruir novas metodologias de trabalho, ampliando a visão de mundo e o

36

comprometimento do indivíduo com práticas mais críticas, mais humanas e humanizantes,

capazes de tornar a escola mais democrática e autônoma.

Nesta perspectiva, entende-se que a escola autônoma exige que os gestores

invistam na sua formação continuada. Tal exigência deve-se ao fato de que a prática da

autonomia demanda por parte dos gestores da escola e de sua comunidade, assim como dos

responsáveis e agentes do sistema de ensino, um amadurecimento caracterizado pela

confiança recíproca, pela abertura, pela transparência, pela ética e pela transcendência de

vontades e interesses setorizados, em nome de um valor maior, que é a educação de qualidade

para os alunos.

Essa mudança metodológica e prática precisa ser elaborada e vivenciada como um

antídoto contra os medos e receios. E as escolas e os sistemas que se iniciam nesse processo

tomam iniciativas e constroem sua autonomia construindo sua credibilidade e desenvolvendo

sua competência pedagógica e social que fundamentam a prática escolar para a cidadania.

Assim sendo, o processo de democratizar a escola torna-se crucial para a

formação do futuro cidadão fornecendo subsídios para que o mesmo se torne protagonista da

sua história. Desta forma, a conquista da cidadania requer um esforço dos educadores em

estimular insistentemente as práticas de participação popular no cotidiano escolar, assim

como no contexto social.

Segundo Lima (2002), a construção da escola democrática constitui-se através de

um projeto que não é sequer pensável sem a participação ativa de professores e de alunos, mas

cuja realização requer a participação democrática de outros setores da comunidade escolar e

também o exercício da cidadania crítica de outros atores, não sendo, portanto, obra que possa

ser edificada sem ser em co-construção.

Este processo de mudança demanda que a instituição escolar deixe de ser um

lugar restrito e abra espaço para a comunidade participar nas decisões tomadas dentro da

escola com a finalidade de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino ofertado aos

seus usuários. Neste sentido, democratizar a gestão na escola pública é compreender sobre a

função social a ser cumprida por esta escola, comprometida com a transformação e em busca

da construção de uma sociedade mais justa, humanitária e menos excludente.

Ainda na busca de melhor conceituar a democracia, vê-se que Apple (2001) a

define como convivência, crença, em que os costumes e valores são constituídos como

inspirações de esperança por uma sociedade melhor, pois a mesma tem um significado

poderoso e que pode dar certo para atingirmos a liberdade, dignidade e os direitos individuais

e das minorias para nossa vida em sociedade. Para tanto, as pessoas necessitam descobrir e

37

buscar o significado da vida com democracia, pois só assim poderemos vivenciá-la, buscando

a compreensão de valores e ideais para o bem comum. O autor em pauta compreende que as

organizações e instituições sociais são responsáveis pela promoção e ampliação do modo de

vida democrático.

Freire (1997, p.89), discorrendo sobre democracia e escola, afirma que

é preciso e até urgente que a escola vá se tornando um espaço acolhedor e

multiplicador de certos gostos democráticos como o de ouvir os outros, não

por puro favor mas por dever, o de respeitá-los, o da tolerância, o do

acatamento às decisões tomadas pela maioria a que não falte contudo o

direito de quem diverge de exprimir sua contrariedade. O gosto da pergunta,

da crítica, do debate. O gosto do respeito à coisa pública que entre nós vem

sendo tratada como coisa privada, mas como coisa privada que se despreza.

Na história, contudo, as formas de gestão da sociedade (planos de governo,

medidas econômicas, etc.) têm-se caracterizado por uma cultura personalista, ou seja, o

governo é visto como se ele sozinho fosse responsável por todas as decisões tomadas, sejam

boas ou ruins.

Com esses conceitos, as pessoas não participam, não lutam por seus direitos,

esperando que o governo tome decisões, que elas acreditam ser boas para a população. Para o

governo esta forma de administrar é a melhor, mesmo porque não vai ser cobrado nem

pressionado pela população.

A democracia, pelo contrário, se aprende com a prática da participação, sugere

convivência e aprendizado nas tomadas de decisão com igualdade de direitos; uma

participação responsável e comprometida, com sujeitos autônomos capazes de conduzir uma

organização da prática pedagógica escolar autônoma e democrática, na qual o sujeito que se

transforma é também responsável por sua transformação. O principal objetivo desta

participação é o mundo mais humanizado e com maior expansão de ações democráticas que

viabilizem o aprender e o interagir de maneira que favoreçam a inserção dos menos

favorecidos na sociedade, possibilitando a libertação e um novo modo de pensar e agir para

participar da elaboração e construção de um projeto coletivo apto a operar transformações na

sociedade cujos indivíduos possam enfrentar e superar as contradições nela existentes.

O discurso acerca da democratização na educação permeia o sistema educativo

brasileiro desde a década de 1930, mas somente se constituiu em 1980, com uma rede de

discussões sobre os princípios da gestão democrática na escola.

Com a promulgação da Constituição Federal Brasileira em 1988 e a partir do

estabelecido no capítulo III, art. 206, inciso VI e endossado pela LDB - Lei 9394/96 é que os

38

sistemas educacionais brasileiros passaram a adotar as determinações legais no que se refere à

gestão democrática no contexto educacional. Embora muitos estados já adotassem esses

princípios em seus sistemas, Mato Grosso deu início a essas discussões somente em 1987 e à

implantação com as exigências.

Essa questão tem como principal fator a descentralização e a eleição para os

gestores escolares, abrindo, assim, parte de uma caminhada que possibilita a participação da

sociedade civil no debate da política de educação democrática, idealizando e propondo que a

escola se torne um espaço de relações democráticas ao romper com a cultura da

hierarquização, subordinação, alienação, clientelismo. Assim sendo, a gestão democrática

fortalece e abre espaços para que toda a comunidade escolar passe a discutir com direitos

assegurados a gestão da escola para uma educação e ensino de qualidade.

Pensa-se em um espaço em que as decisões sejam criativas e tomadas

coletivamente objetivando atender a um bem comum. Propõe-se uma escola que conte mais

com a participação da comunidade escolar. Para isso, têm-se os mecanismos de participação;

são eles: a construção do Projeto Político-Pedagógico, a eleição de diretores e o Conselho

Escolar. A escola passou deste modo, a dispor de maior autonomia diante do Estado, tanto em

sua dimensão financeira quanto administrativa e pedagógica.

A liberdade para gerir os recursos financeiros, especificamente, representa um

meio e não um fim na constituição da autonomia. Entretanto, é imprescindível compreender

que a participação e construção da autonomia só são possíveis na democracia.

Considera-se a democracia como um estágio do desenvolvimento humano

buscado por muitos grupos sociais. Neste sentido, várias propostas vêm sendo elaboradas e

implantadas em esferas políticas e sociais, para que se conquiste tal objetivo. Assim sendo, a

escola, enquanto instituição de importante atuação na sociedade, também apresenta

procedimentos similares, sendo por isso elemento fundamental no planejamento, elaboração e

implantação de propostas democráticas. Pretende-se que estas propostas no espaço escolar,

atinjam os diversos campos de atuação envolvendo toda a comunidade que compõe

determinada escola. È necessário que uma escola democrática favoreça o engajamento do

coletivo que se vincula à escola e à comunidade e que o mesmo seja conscientizado de seus

respectivos papéis sociais e políticos na direção administrativa e na identidade da unidade de

ensino.

Importa, neste ponto, salientar que, para Contreras (2002), a educação é um

fenômeno complexo e histórico, produto do trabalho de seres humano e, como tal, responde

aos desafios que diferentes contextos políticos e sociais que lhe apresentam. O autor enfatiza

39

que a educação retrata e reproduz a sociedade, socializa a cultura, mas também projeta a

sociedade que se quer. Por isso, vincula-se profundamente ao processo civilizatório e humano.

Enquanto prática histórica tem o desafio de responder às demandas que os contextos lhe

colocam.

Avançando um pouco mais nos conceitos aqui buscados, a conceituação de escola

almejada pode ser compreendida a partir de Paro (2004). O autor define a escola pública

como aquela em que a contradição do caráter da necessidade e da imprescindibilidade do

educador aparece necessariamente no momento em que a obrigação deste desaparece. Esse

movimento ocorre quando o educando, cativado pelo educador, decide aprender e realiza sua

aprendizagem.

É justamente nesta perspectiva que a educação é vista essencialmente como um

processo de aquisição de conhecimentos, necessários ao homem no seu intercâmbio com a

natureza e com os outros indivíduos, e esse processo de aquisição do conhecimento ocorre no

próprio espaço de trabalho e dele é fruto.

A escola, sendo um espaço privilegiado para a educação, deve proporcionar ao

aluno todo o estímulo necessário à sua aprendizagem e propiciar, também, o contato com os

objetos a serem estudados. Ademais, acredito que a escola, além de se preocupar com os

conteúdos precisa trabalhar com vistas à formação do cidadão, e é neste sentido que a gestão

democrática pode contribuir, desde que haja uma conscientização para tal função.

Neste contexto, vejo que a gestão democrática caminha ao encontro da

perspectiva de qualidade da educação com sentido qualitativo, sua vivência propicia aos seus

envolvidos o desenvolvimento da dimensão individual e social. A gestão democrática nasce

no ambiente escolar a partir da realidade na qual está inserida a escola e mediante a ação dos

dirigentes que direcionam a elaboração do planejamento participativo de modo a sensibilizar a

comunidade sobre a realidade em que esta vive para romper com as ideologias impostas pelo

sistema dominante e ver além das aparências, a fim de que se tornem sujeitos críticos,agentes

transformadores da práxis.

Portanto, parece adequado concordar com Beane & Apple (2001), segundo os

quais as escolas democráticas necessitam fundar suas bases numa definição abrangente de

“nós” e com o compromisso de edificar uma comunidade que é tanto da escola quanto da

sociedade em que ela está inserida.

Assim sendo, a gestão democrática, na escola, cria a oportunidade para a

comunidade apresentar seu descontentamento, suas ideias, seus anseios e, por outro lado,

possibilita, também, conhecer, ouvir e compreender com mais profundidade as condições de

40

trabalho e o cotidiano escolar. Esta compreensão permite que a escola e a população tenham a

possibilidade de conquistar melhorias de interesses coletivos, visto existirem questões que

ultrapassam os muros da escola e demandam esforços mais ampliados da sociedade para que

as mudanças se efetivem, tanto para a escola como para a comunidade.

Pode-se compreende, então, que a efetivação da democracia na sociedade depende

do desenvolvimento e fortalecimento de ações capazes de formar os indivíduos das classes

subalternas criando espaços para o debate e compreensão da ideologia por estas classes,

permitindo que as mesmas venham a discutir as ideologias já difundidas pela classe

dominante e, assim, criar e recriar uma nova proposta para a sociedade.

Para isto, a gestão democrática é essencial tendo em vista a ressignificação de

políticas educacionais que norteiam a prática educativa no âmbito da escola, bem como

revigoram os procedimentos e orientam os processos de maior participação nas decisões,

dentro dos parâmetros definidos no interior da instituição de ensino.

Ferreira (2001) aponta que a gestão da educação acontece e se desenvolve em

todos os âmbitos da escola, inclusive e fundamentalmente na sala de aula, onde se objetiva o

projeto político-pedagógico não só como desenvolvimento do planejado, mas como fonte

privilegiada de novos subsídios para novas tomadas de decisões e para o estabelecimento de

novas políticas. Acrescenta, ainda, que

A razão de ser da gestão da educação consiste, portanto na garantia de qualidade do

processo de formação humana, expresso no projeto político pedagógico, que

possibilitará ao educando crescer e, através de conteúdos do ensino, que são

conteúdos de vida, hominizar-se, isto é, tornar-se mais humano (p. 309).

O objeto dessa transformação é o homem, que assume a educação e se assume

orientando-se para os caminhos da emancipação política, cultural e social. E, nessa linha de

raciocínio, também o processo de democratização, na medida em que reúne gestores,

professores, funcionários, estudantes, pais e demais segmentos que são representantes da

comunidade escolar para discutir, decidir, acompanhar e avaliar o desenvolvimento do Projeto

Político-Pedagógico da Escola, propondo e conduzindo esse processo para a construção de

novos espaço de participação nas práticas educacionais.

As críticas aos modelos pragmatistas dos sistemas escolares vêm ocorrendo

praticamente em todos os países. Propondo a adaptação significativa e o estar de acordo com

a situação na qual esta comunidade e a sociedade se inserem. Essa nova exigência requer uma

concepção de formação de educadores pautada na construção de atitudes inovadoras e formas

41

mais humanas e democráticas de atuar, baseadas em princípios e valores que conduzam a

práticas dialogadas e fortalecedoras da prática cidadã.

Segundo Kosik (1976), a realidade pode ser mudada só porque e só na medida em

que nós mesmos a produzimos, e na medida em que saibamos que é produzida por nós.

Entendo que tal compreensão seja o fundamento da gestão democrática, que pressupõe a idéia

de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas, analisando situações, decidindo

sobre o seu encaminhamento e agindo sobre elas, em conjunto, para mudar a realidade, que,

sendo produzida pela sociedade, pode ser transformada. Desse trabalho compartilhado,

orientado por uma vontade coletiva, cria-se um processo de construção de uma escola

competente compromissada com a sociedade.

Na escola, a participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma força de

atuação consistente pela qual os membros que a compõem reconhecem e assumem seu poder

de exercer influência na dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e dos seus resultados.

Esse poder seria resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir

e agir em torno de questões que lhe dizem respeito (LÜCK, 1998).

O que se propõe é que a gestão da escola seja democrática, isto porque se entende

que a escola deve promover a formação para a cidadania. E essa formação se torna plena, não

apenas mediante uma nova mentalidade e atitudes; ela necessita, para sua expressão, de

conhecimentos e habilidades, que capacitem as pessoas a agir com proficiência. Isto, porque

de nada valem as boas ideias sem que sejam traduzidas em ações competentes e consequentes.

É a ação que transforma a realidade, e não a contemplação.

As ideias não têm valor por si próprias, mas por sua capacidade de impulsionar a

ação para promover resultados desejados. E elas devem ser monitoradas e avaliadas, a fim de

que se possam evidenciar ao público os seus resultados e se ter parâmetros para o

prosseguimento das ações.

3.2 Considerações acerca da Autonomia e dos Princípios Basilares da Gestão

Democrática Escolar

A tomada de consciência em defesa de uma escola pública comprometida com a

maioria da população promove a emancipação, permite maior comunicação e diálogo e,

conseqüentemente a autonomia. Isto se torna possível levando-se em conta os princípios da

democracia e da cidadania, da igualdade e da justiça social e com os propósitos de oferecer

elementos para um novo exercício da política, a partir dos menos favorecidos, excluídos das

42

tomadas de decisões e de esclarecer ao máximo a ligação da política escolar com o cotidiano

das relações comunitárias no qual se insere a escola.

Autonomia implica gestão democrática, que se constitui como um processo

coletivo, vivência participativa e compartilhamento de responsabilidades que emergem do

cotidiano escolar, efetivados no conjunto de discussões, de opiniões e tomadas de decisão.

Não se trata, no desenvolvimento desse processo, de a escola ser autônoma para alguém, para

algum grupo, mas de ser autônoma com todos, em nome da sociedade, desse modo caracteriza

a gestão democrática, isto é, uma gestão compartilhada e participativa.

Esta forma de gestão implica a participação de todos os segmentos da unidade

escolar na elaboração e execução do plano de desenvolvimento da escola, de forma articulada,

para realizar uma proposta educacional compatível com as amplas necessidades sociais.

A autonomia e a participação constituem-se elementos basilares dos processos de

democratização na escola, pois têm como cerne da questão a prática democrática. Portanto,

tudo que foi até agora afirmado em relação a esses processos refere-se, “por tabela”, à gestão

democrática. Cabe, no entanto, evidenciar alguns aspectos.

Em sua etimologia a palavra autonomia vem do grego, resultado da composição

do pronome reflexivo, com posição atributiva, autos (próprio, a si mesmo, independente) com

o substantivo nomes (lei, norma, regra). Para os gregos, significava a capacidade de cada

cidade se autogovernar, elaborar seus preceitos, suas leis, de os cidadãos decidirem o que

fazer. Era a afirmação do ser cidadão e a negação do ser escravo, a qualidade inerente ao ser

cidadão. A filosofia define a autonomia como ser a lei para si mesmo; agentes autônomos são

agentes autogovernáveis.

Dentro deste contexto, pensa-se uma educação para a autonomia que se estrutura

no espírito da coletividade, na dimensão do social e não do enclausuramento do indivíduo.

Assim sendo, o sujeito aqui pensado está além dos indicativos do individualismo preconizado

pelo pensamento social e educativo do liberalismo, isto porque a intervenção crítica que ele

deve realizar na realidade não é só em favor de si mesmo, enquanto indivíduo, mas visando ao

bem-estar, também, coletivo. Assim, vislumbra-se um ser humano autônomo, responsável e

com aptidões para colocar-se a serviço do bem comum e a favor da libertação das pessoas e

de suas vidas desumanizadas pela opressão e dominação social.

Contribuindo com o tema, Rios (2005, p. 121) define autonomia como “a

possibilidade de estabelecer princípios e regras para a ação, reconhecendo e internalizando os

valores do contexto ou problematizando e substituindo aqueles que não se mostram

consistentes.”

43

Já para Freire (1997),

[...] a autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si é processo, é vir a ser.

Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem

de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade,

vale dizer, em experiências respeitosas de liberdade (p. 107).

A autonomia na perspectiva freireana exige repensar as relações de poder e a

ampliação das práticas participativas na escola, nos sistemas, na sociedade tendo por base a

racionalidade, comunicação e dialogicidade. Nesse processo a participação é o elemento

chave para o compartilhamento, emancipação e ações de tomadas de decisões individuais e

coletivas de todos os atores da escola.

Deve-se atentar, porém, que é complexo pensar em autonomia sem a consolidação

da gestão democrática da e na escola. É necessário que esta última tenha um projeto político,

sustentação teórica e metodológica estabelecida como princípios no seu Projeto Político-

Pedagógico e também um Conselho Escolar atuante que possibilite a autonomia financeira da

instituição.

Além disso, a autonomia da escola não se resume a essas condições: ela é mais

significativa e refere-se à capacidade de tomar decisões compartilhadas e comprometidas com

os desafios educacionais, assumindo a responsabilidade e a sua finalidade, que é a de formar

os indivíduos que frequentam as nossas escolas.

Esse referido repensar as ações de poder e ampliar as práticas de participação na

escola, nos sistemas e na sociedade, portanto, requer, entre outros fatores reflexões, conflitos,

negociações, debates e embates entre gestores e comunidade escolar, sistema de ensino e

sociedade.Isto porque a busca pela autonomia, que tem sido constante na história da

humanidade pressupõe reflexão individual e social, visto não ser possível desejar ou alcançar

a autonomia sem um projeto coletivo.

Nesse processo, o gestor escolar tem o dever de prestar contas de suas ações

pedagógicas, administrativas e financeiras para a comunidade escolar e para a sociedade como

um todo. Isto significa que, a igualdade entre os participantes da gestão da escola é condição

essencial para se realizar e concretizar o processo de participação e da democracia na

comunidade escolar.

Embora se espere que a escola consiga pensar a participação e a democracia em

sua forma prática, é impossível que a mesma as consiga sem a garantia das mínimas

condições de igualdade. Poderemos tê-las no mero discurso ou na utopia, mas na prática só se

44

tornará possível pela igualdade de oportunidades entre as pessoas que buscam uma escola

pública de melhor oferta de ensino com e pela democracia tendo a consciência de que ela só

se efetivará quando entendida como um trabalho coletivo e verdadeiro dos seres humanos nas

suas relações com os demais membros da sociedade como um todo.

Entendo também que a gestão democrática escolar tem como princípio

compreender que a educação tem grande valor social e, portanto, a escola deve ser construída

a partir da ação coletiva. Assim, se o propósito é formar cidadãos honestos e responsáveis, a

gestão democrática é a política mais necessária para qualquer administrador escolar. A partir

dessa compreensão será possível desenvolver e vivenciar a democracia no dia-a-dia da escola

e levá-la a consolidar a participação entre toda a comunidade, colaborando, assim, no

processo de inclusão social do país.

Nesse contexto, buscar a Gestão Democrática demanda conquistar a própria

autonomia escolar, o que implica em ações de descentralização. Isto poderá contribuir para a

valorização da escola, da comunidade e, por consequência, também para a valorização e,

ainda para o crescimento profissional do Gestor e da equipe que está envolvida no processo.

Para se efetivar a gestão entendida nesta perspectiva são necessárias parcerias

sólidas e comprometidas com uma educação melhor e inovadora, pautada em valores

humanos que engrandeçam ações e ideais humanizadores, com a finalidade de proporcionar

maiores opções de elevar o conhecimento dos alunos. Assim entendendo, o gestor não cairá

no risco de implementar ações pragmáticas e tecnicistas, mas, considerando as diferenças,

promoverá as interrelações e dará prioridade sempre ao bem comum, levando em conta as

mencionadas necessidades.

Ainda nesta compreensão, democratizar o ensino significa lutar para que a

população tenha acesso, permanência e terminalidade, com aprendizagem e conhecimento, em

escolas que ofereçam ensino público, gratuito e de qualidade. De fato, há muito que repensar

acerca das relações da gestão escolar e do que fazer para que sejamos capazes de transformar

a realidade social humana em nossa sociedade.

Esta exigência torna-se urgente em nossos dias, uma vez que o mundo real se

confunde com a barbárie do mundo virtual e a violência é cada vez mais presente no

cotidiano, acabando com os direitos humanos de viver e conviver e dificultando o

desenvolvimento da cidadania plena. Assim sendo, considero que é papel da equipe gestora da

unidade escolar proporcionar ao coletivo da escola espaços de formação que possibilitem

saber pensar criticamente e democraticamente sobre a realidade do meio social em que se

45

insere. Para Freire (1996) saber pensar é duvidar de suas próprias certezas, é questionar suas

verdades, e isto pode se aplicar à realidade ora apontada.

Ora, não é possível pensar em democracia sem pensar em cidadania, pois sem

cidadania a democracia não teria força. No próximo tópico explicito, portanto, o conceito de

cidadania como elemento fundamental para a construção de uma sociedade justa, digna,

igualitária e democrática e suas implicações na escola.

3.3 Algumas reflexões a respeito da Cidadania

Para empreender os processos de democratização, penso que a escola não pode

abdicar da democracia, da cidadania, da participação e da autonomia. Idealizada como um

espaço educacional por meio do qual os indivíduos se apropriam do conhecimento elaborado

e acumulado historicamente, a escola não pode alicerçar seu trabalho e suas práticas em bases

autoritárias, ao contrário, tendo como principio de ação a realidade concreta na qual o

educando está inserido, deve buscar práticas mais humanas e humanizantes com vistas à

emancipação e construção da cidadania.

A palavra cidadania faz lembrar cidade e cidadãos. Isto leva apreender que

cidadania relaciona-se ao lugar onde muitas pessoas convivem e necessitam de organização

para que tudo funcione perfeitamente. Esta convivência requer conhecer os direitos e os

deveres de cada um e (de todos), de modo, que todos tenham sua liberdade preservada, uma

casa para morar, uma escola para estudar, sem, contudo, esquecer que coabitamos num espaço

comum a todos do qual temos dever de cuidar.

De acordo com Paro (2001), um dos fundamentos da sociedade democrática é o

exercício concreto da cidadania, que se constitui como síntese dos direitos e deveres do

cidadão para com a sociedade civil. Para o autor uma sociedade só é democrática na medida

em que seus cidadãos também tenham posturas democráticas, sendo ponto relevante a

participação real e cotidiana dos indivíduos nas tomadas de decisões desta sociedade.

Pode-se afirmar, por conseguinte, que é de responsabilidade das instituições

públicas, especialmente das escolas, realizar movimentos que estimulem a participação da

sociedade envolvendo-a em ações que verdadeiramente atinjam o nível de democracia que a

sociedade brasileira necessita e almeja alcançar. É imprescindível, também, que a escola

desenvolva em seus indivíduos a consciência de seu direito e dever de participar como

cidadão formador da sociedade.

46

Arroyo (1987) aponta que a cidadania se constrói por meio de ações e

procedimentos que se dão na prática social e política de grupos de uma sociedade. É sabido

que a cidadania é uma conquista diária e de todas as pessoas que se comportam como cidadãs

no dia-a-dia, em casa, no trabalho ou na escola. Cabe à instituição escolar garantir a formação

do cidadão que saiba olhar e avaliar de modo crítico a sociedade em que vive com vistas à sua

transformação. Nesta trilha, Demo (1995) enfatiza a importância da educação para a

construção da cidadania afirmando que esta só se concretizará como emancipatória se a

educação tiver caráter crítico, reflexivo e de participação política.

Paro (2001) considera em seus estudos que a construção para a cidadania implica

em conhecimento e apropriação da cultura elaborada e produzida historicamente pela

humanidade. Só assim cada indivíduo poderá desempenhar e realizar o seu papel social à

altura de seu tempo e da sociedade na qual está inserido, pois o homem é produtor e também

produto dessa cultura, e suas crenças, valores, insatisfações e desejos são frutos da mesma.

Daí a importância da educação, visto que esse processo de apropriação da cultura é por ela

realizado.

Entretanto, educar os indivíduos não é uma tarefa exclusiva da escola, é também

da família e da comunidade instâncias em que os costumes, os hábitos, os conhecimentos e as

crenças acontecem na interação das pessoas que ai vivem. A formação do homem é muito

mais ampla do que apenas aprender os conhecimentos acadêmicos ou familiares, ela

ultrapassa o individual chegando ao social.

Pelo exposto, vê-se que as transformações sociais que se consideram necessárias

exigem a atuação dos sujeitos como cidadãos. A cidadania, por sua vez, bem como a

democracia, são produtos da educação de uma sociedade como um todo e que abrange todos

os espaços e setores, inclusive o da escola, que precisa assumir o seu papel político no

processo educativo.

Essa compreensão nos remete a Rios (2004), que aponta a escola como parte da

sociedade, tendo uma relação dialética cabal que traz na sua função contraditória a

manutenção das relações de exploração e, ao mesmo tempo, a possibilidade de

conscientização e transformação destas condições.

Para Freire (1997) esse compromisso precisa ser assimilado pelo educador que

não pode se furtar do seu papel de educar no sentido de reforçar e aguçar a curiosidade e a

capacidade crítica de seus educandos colocando-os como sujeitos capazes de buscar a sua

constituição enquanto ser humano-histórico e autônomo.

47

Portanto, se o desejo é efetuar uma educação que seja propulsora da democracia,

da construção do aluno enquanto esse sujeito histórico e transformador ela deve ser realizada

para muito além de atender às exigências técnico-burocráticas do mercado de trabalho ou

apenas para que o aluno seja aprovado no vestibular. O papel da escola democrática, cidadã e

autônoma é promover a aprendizagem significativa dos conhecimentos historicamente

construídos pela humanidade e, igualmente, criar práticas e valores de participação que

redirecionem a uma nova ação de educação e autonomia com forma e características do bem

coletivo.

3.4 A Participação: Algumas Considerações

A participação é o ponto-chave da gestão democrática, uma vez que democracia

significa, grosso modo, a participação das pessoas nas questões referentes à coisa pública. Ela

fundamenta-se no princípio articulado de autonomia que se contrapõe aos modelos

autoritários nas tomadas de decisão realizadas nas instituições.

Um modelo de gestão democrática, portanto, encontra na participação um dos

meios eficazes para assegurar o envolvimento dos usuários da escola no processo de

organização e nas deliberações. Essas tomadas de decisão na coletividade fazem com que o

planejamento e a utilização dos recursos ocorram de modo mais consciente e voltado para as

reais necessidades da unidade escolar.

A gestão democrática, como um princípio da educação nacional, tem como

compromisso fundamental, exatamente, capacitar a comunidade educacional para que seja

apta à elaborar e desenvolver um projeto pedagógico de qualidade que permita a participação

desses indivíduos como cidadãos críticos e ativos nas decisões para o crescimento e

emancipação da sociedade democrática.Sendo assim,a gestão democrática, além de tornar a

cultura organizacional da escola mais democrática,ainda favorece a construção do pensamento

crítico e da formação para a cidadania.

Nesse modelo de gestão escolar, a prática da participação constitui uma das ações

necessárias para um melhor alcance dos objetivos estabelecidos pela escola, tendo em vista o

cumprimento da tarefa essencial da instituição, qual seja assegurar a qualidade dos processos

de ensino e aprendizagem. Esta afirmação se justifica porque, para atingir o referido objetivo,

a escola precisa resolver os problemas ali existentes e garantir as condições necessárias para a

realização da prática docente, e isto passa, necessariamente, pela participação, que possibilita

o deslocamento do eixo de poder, descentraliza decisões e confere maior autonomia, à

48

instituição, dando condições para que haja a interação com a comunidade escolar na busca

dessas soluções necessárias e também se fortaleça o trabalho coletivo na escola.

Este trabalho coletivo, por seu lado, não deve perder de vista que a adesão do

grupo é essencial para dar rumo às ações, para colocar em prática o que foi estabelecido na

elaboração cultural e organizacional da escola, no sentido de construir uma gestão articulada,

sólida e consciente.

O estudo de Libâneo (2004) ajuda a esclarecer a questão destacando que equipe

não consiste apenas em um grupo de pessoas juntas. Para ele, uma equipe é construída quando

todos, conjuntamente, assumem conscientemente a disposição para tomar decisões e colocá-

las em prática, uma vez que o trabalho em equipe somente ganha sentido quando articulado e

organizado em estruturas sólidas, com processos definidos e com a participação de todos os

membros da instituição. O autor afirma que o trabalho em equipe compreende liderança, a

qual não é atributo apenas dos gestores (diretor e coordenador), mas uma qualidade que pode

ser desenvolvida por todos na escola através das práticas de participação.

O mesmo autor considera, ainda, que para se efetivar um trabalho eficaz na

escola é necessário uma definição conjunta de objetivos e metas comuns, compreendidos e

desejados por todos; a existência de sólida estrutura de organização e gestão, em que haja um

forte comprometimento da direção e da equipe técnica, definição clara de responsabilidades e

capacidade de liderança para motivar e mobilizar as pessoas em torno de objetivos e metas

comuns;estabelecimento de canais de comunicação, pelos quais sejam passadas informações e

realizadas consultas, envolvendo troca de ideias entre a direção, equipe técnica e

professores;desenvolvimento de habilidades necessárias para a participação eficaz nas

atividades da escola e no trabalho em equipe;estabilidade do corpo técnico e docente e,

preferentemente, com tempo integral numa escola;utilização ao máximo das capacidades

criadoras de cada um dos membros da equipe.

Lück (2005), por sua vez, distingue a participação como uma atividade e postura

de conscientização dos membros de uma instituição social que reconhecem e assumem o

poder de participar das tomadas de decisão que irão orientar as ações e dinâmicas dessa

cultura e de seus procedimentos. Tais atitudes resultam da capacidade e interesse dessas

pessoas de opinar, decidir e agir em torno de questões que lhes digam respeito.

Numa gestão democrática participativa como essa, as decisões são compartilhadas

e as pessoas aprendem a estabelecer e exigir novos parâmetros de qualidade, de conteúdos e

de como gerir os recursos financeiros da unidade escolar. Consequentemente, passam a sentir-

se co-responsáveis pelas ações deliberadas na escola, pelas concepções de política, de ensino

49

e de sociedade e avaliação dos resultados como forma de garantir o cumprimento do que foi

estabelecido pelo coletivo da instituição e dar credibilidade ao ensino oferecido e

fortalecimento à gestão democrática.

A participação, bem, como qualquer ação para a melhoria do processo educativo,

requer, ainda, a adoção e implantação de programas pertinentes e necessários para que todos

tenham compromisso com os princípios, conceitos e valores estabelecidos como meios de

administrar, participar e criar um ambiente eficaz de ensino e aprendizagem. Assim sendo, a

melhor forma de promover a gestão participativa na escola é a que se dá através de ações

cuidadosamente planejadas, incluindo, também práticas e procedimentos que promovam a

confiança, transparência e respeito às pessoas.

O que até aqui se expôs leva a crer que os problemas educacionais precisam ser

avaliados, discutidos e ressignificados pela comunidade escolar levando-se em consideração o

cotidiano dessa comunidade alicerçado em valores e atitudes mais humanos e

transformadores. A partir dessas considerações, aponta-se para a necessidade de compreensão

e conscientização de vários saberes por parte do gestor, o que se constitui num processo a ser

construído e conquistado pela ação e reflexão de todos os atores da comunidade escolar sobre

a realidade da escola a fim de transformá-la.

Acerca do processo de construção dessa consciência, Carvalho (2008, p. 435)

pondera que: [...] é papel da gestão democrática construir as condições necessárias para que

cada segmento seja seduzido a participar do processo de constituição que vai definir o

trabalho pedagógico da escola.

Pode-se perceber aí a importância de o gestor assumir um caráter amplo para suas

responsabilidades, que vai além dos problemas do dia-a-dia escolar: o seu papel é de agente

integrador da escola. Portanto, fica evidente que o gestor democrático precisa gerir a

instituição com uma liderança participativa em que todos os sujeitos que formam a mesma

tenham a oportunidade de ensinar, aprender e conviver num ambiente propício para a

realização e troca de conhecimentos e saberes.

Paro (1997, p.17) ressalta que

a participação da comunidade na escola, como todo processo democrático, é um

caminho que se faz ao caminhar, o que não elimina a necessidade de se refletir

previamente a respeito dos obstáculos e potencialidades que a realidade apresenta

para a ação.

Para o autor essa necessidade é guiada pelas determinações da realidade concreta

e tal reflexão deve ser pautada por relações efetiva de diálogo e de um repensar crítico da

50

realidade social e, também, pelas contradições que esta apresenta, pois, ao se examinar a

realidade no interior das escolas, ainda se encontram sérias dificuldades para a participação

efetiva da comunidade na gestão da unidade de ensino. Isto se deve aos múltiplos interesses

ali estabelecidos e que condicionam a ação dos sujeitos envolvidos na pratica educativa dentro

da escola.

É exatamente por esse motivo que Paro (1998, p. 22) nos alerta: “A escola

pública, como acontece em geral com as instituições numa sociedade autoritária, é organizada

com vistas às relações verticais, de mando e submissão, em detrimento das relações

horizontais, de cooperação e solidariedade entre as pessoas. ”Vê-se, portanto, que a

participação da comunidade na gestão escolar é que, sem dúvida nenhuma, estabelece as

relações de democracia e, com isso, contribui para a superação dos condicionantes do

autoritarismo na escola.

Ressalta-se, ainda que, em uma gestão democrática, o reconhecimento das idéias e

contribuições apresentadas é independente do nível hierárquico das pessoas que as propõe.

Sendo assim, o gestor se torna um líder eficaz quando valoriza o trabalho de todos os

indivíduos, estimulando o ambiente e acreditando no potencial de seus pares.

Acrescente-se que a escola, uma entidade viva e dinâmica que envolve, também,

relações interpessoais conflitivas, que requer do gestor uma liderança capaz de realizar a

interação entre os membros e a supracitada valorização e de buscar novos caminhos e

alternativas de construção de um projeto pedagógico sustentado pelo engajamento concreto

das pessoas, assim como pela reflexão a respeito das relações no espaço social e da prática

cotidiano da escola. Aliás, o conceito de gestão já traz, em si, a idéia de participação e o

envolvimento de pessoas agindo conjuntamente para tomarem decisões (Lück 2005).

A autora desta última observação afirma também que no que se refere às escolas

e sistemas de ensino, a gestão participativa envolve todos os atores da comunidade escolar,

bem como qualquer outro representante da comunidade que se interesse pela melhoria da

escola e do processo pedagógico. Convém lembrar, contudo que, no espaço escolar, assim

como na sociedade, a construção da participação popular acontece de forma lenta, permeada

de vários conflitos e requer tempo, compromisso e trabalho.

Mesmo assim, entendo que essa participação deve ser estimulada, incorporada,

aprimorada e praticada em nossas escolas. Compete, por isso, ao diretor comprometido com a

função social e política da escola inteirar toda a comunidade escolar e extraescolar das

informações e decisões, estabelecendo uma nova compreensão de escola, de sociedade e de

51

mundo, buscando meios e procedimentos para que, coletivamente, se atinjam os objetivos

elaborados pela escola.

Diante dessas reflexões, percebe-se a necessidade de haver um trabalho efetivo na

escola e adquire-se a compreensão de que somente intuito de ações democráticas não dá

resultados. É necessária a cultura de participação nas instituições escolares para a informação,

o debate e a tomada de decisões coletivas, com um único objetivo: a construção de uma escola

de melhor qualidade que possibilite a formação do sujeito autônomo.

Portanto, concordo que

o encontro da comunidade com uma escola viva possibilita abrir caminhos para a

construção da democracia direta e um engajamento no processo de construção da

escola cidadã, sonhada e gerida, visando a promoção de todos (CARVALHO, 2008,

p.423).

Enfim, a participação tem papel fundamental no espaço escolar, local onde os

interessados, os compromissados, os responsáveis e críticos comprometidos com a luta pela

qualidade da educação e da escola contribuem e desenvolvem uma gestão democrática,

utilizando também vários recursos essenciais para a democracia nesse espaço da escola como

um programa de formação continuada que contemple o chão da escola; este é um dos

objetivos de discussões teóricas que se seguem neste trabalho.

A seguir discuto alguns suportes da educação transformadora, emancipadora e

autônoma, com a qual acredito ser possível manter a aspiração e a esperança de uma

verdadeira formação humana para as mudanças e transformações nas realidades escolares.

52

4 FORMAÇÃO CONTINUADA NA ESCOLA

No intuito de compreender como é concebida a formação continuada e qual é sua

importância para a realização da prática educativa no cotidiano escolar, de maneira que,

através de estudos, discussões e reflexões, esse momento venha contribuir como fundamento

para a criação de ações transformadoras na escola é que faço algumas considerações com base

em teóricos que abordam essa temática.

Constituída como um dos desafios do mundo contemporâneo e que envolve não

só um dos mecanismos legais que moldam a carreira do professor, mas também um elemento

fundamental que dá sustentação à função e à finalidade do trabalho docente, a formação

continuada é vista por Cury (2009) como um meio que possibilita ao professor compreender e

projetaras mudanças para além das salas de aula, uma vez que, de acordo com o autor, a

formação “permite que o professor se aproprie do conhecimento que gerou e se torne um

professor-investigador, que pode rever sua prática, atribuir-lhe novos significados e obter

mais espaços para a compreensão das mudanças” (p.120).

Nessa linha, a formação continuada na escola deve ter como princípio e

característica estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, a qual que favoreça aos docentes a

construção de um pensamento autônomo que facilite as dinâmicas e os meios de auto-

formação participada. Assim sendo, estar em formação implica um investimento pessoal, um

trabalho livre e criativo sobre os percursos e projetos próprios, com vista à construção de

valorização e identidade, que também é uma identidade profissional.

Partindo desse pressuposto, compreendo que a uma formação permanente dos

educadores precisa ser articulada comum subsídio teórico e prático que possibilite pensar,

avaliar, refletir e repensar criticamente sobre as suas próprias concepções e ações educativas

de modo que se sintam compelidos a realizar as mudanças necessárias ao processo de ensino e

aprendizagem. A formação contínua pensada nessa perspectiva é concebida como condição da

profissionalização dos professores, contribuindo decisivamente na construção da identidade

do profissional docente progressista comprometido com a libertação do ser humano e com a

transformação social.

Faz-se necessário, então, reconhecer o professor como sujeito histórico, capaz de

inserir-se criticamente na realidade histórica, de forma a criar e recriar a sua existência

baseando-se no seu cotidiano. Relaciona-se a esta concepção a idéia de Freire de que o

homem só se conscientiza quando está no mundo e com o mundo, quando toma como sua a

53

responsabilidade de participar e co-participar com os outros; é nesta situação que o homem se

torna homem, que atua no cotidiano da história, que se constrói junto ao outro, de forma

coletiva. Tal conscientização

está evidentemente ligada à utopia, implica em utopia. Quanto mais conscientizados

nos tornamos, mais capacitados estamos para sermos anunciadores e denunciadores,

graças ao compromisso de transformação que assumimos (FREIRE, 2006, p.28).

Penso que é possível compreender que a formação docente, na perspectiva da

educação libertadora preconizada por este autor, apresenta-se como possibilidade privilegiada

e indispensável para a superação do modelo de educação “bancária”, reprodutivista,

conservadora e individualista de inspiração liberal, tão presente, ainda, nos espaços escolares.

Tal formação será sempre importante para qualquer mudança educacional,

sobretudo para a melhoria da qualidade do ensino. E pensar a qualidade da educação no

contexto da formação de professores, por sua vez, significa colocar-se à disposição da

construção de um projeto de educação cidadã que propicie condições para a formação de

sujeitos históricos capazes de, conscientemente, produzir e transformar sua existência.

Salienta-se, ainda, que a prática docente e a formação continuada na escola devem

ser consideradas em relação aos diferentes aspectos da prática educativa. Tanto uma como

outra são indissociáveis das políticas culturais que as condicionam, bem como da definição de

uma carreira mais profissional. O corolário imediato desta afirmação é que nenhuma prática

educativa se justifica fora da sua conjuntura política e/ ou social.

Em decorrência desta última assertiva, pode-se assegurar que é imprescindível

esclarecer-se a “consciência” que está à frente da organização da estrutura educativa da

sociedade e ainda como a mesma consciência compreende o ser humano sujeito do processo

educativo, em uma sociedade dividida em classes, como é a sociedade capitalista, e, mais, em

permanente luta pela garantia das posições hegemônicas. A partir dessa verificação ficarão

mais claras as heteronomias a serem combatidas pela educação emancipadora, na tentativa de

assegurar, no lugar delas, a verdadeira autonomia do ser humano.

Considerando-se - conforme esclarecido neste estudo - a educação em qualquer

nível de ensino como um dos momentos privilegiados de formação do sujeito

histórico/humanizado, vê-se como indispensável que esse processo se estabeleça, para o

educando, na relação dialógica de reflexão e ação transformadora. Esta relação que se dá, no

caso da escola, com os colegas, com os professores e também com a comunidade.

É fato que o processo educativo é essencialmente formativo. Esta formação é aqui

entendida como o desenvolvimento pleno das potencialidades humanas em permanente ação

54

transformadora da realidade, compreendendo-se que acreditar numa sociedade mais digna,

mais justa, mais humana e mais igualitária significa estar inserido na luta pela superação da

relação opressor-oprimido, uma luta da qual, por uma questão de princípio, ninguém pode se

excluir. Não se trata de algo impossível, mas de uma proposta prática com o fim de superar os

aspectos opressores percebidos na realidade, o que pode ser traduzido pelo inédito-viável, ou

seja, algo inédito, ainda não claramente conhecido e vivido, mas sonhado.

É neste entendimento que penso com Carvalho (2005, p.253) que a escola

comprometida com a proposta de “educação de qualidade social precisa definir no seu projeto

educativo a política de formação permanente para todos os segmentos escolares, na

perspectiva do desenvolvimento da capacidade reflexiva e avaliação emancipatória.” Só assim

os educadores poderão ter clareza crítica da sua prática e, com isto, fazê-la avançar de modo a

transformá-la.

Esse desenvolvimento da consciência crítica, estendendo-se em relação à história,

ao mundo e a si próprio, é condição sine qua non3 para que o ser humano atinja a verdadeira

autonomia. Por esta razão, compreende-se que o respeito à autonomia e à dignidade de cada

um é um imperativo ético e não um favor, uma vez que se faz necessário refletir sobre o que

se espera de um processo de formação e sobre os agentes que medeiam este processo, para

verificar se os objetivos traçados são, realmente, os melhores e se tendem para o bem do

formando e da sociedade. O objeto da educação, afinal, é o conhecimento em sua perspectiva

mais ampla, considerando a sua possibilidade transformadora.

Tendo em vista a argumentação já desenvolvida, a posição que defendo é a de que

a discussão e reflexão sobre a transformação da prática educativa deve ser realizada na escola,

considerando a situação de sujeito histórico, consciente de seus limites e possibilidades diante

do contexto social, em uma perspectiva emancipatória. Também sustento que se deve

conduzir a escola com uma liderança democrática permeada pelo diálogo e pela participação e

a partir de conhecimentos gerados no cotidiano escolar. Sendo assim, a autonomia da escola

também resulta em maior autonomia dos envolvidos, em especial dos professores.

Refletindo, sobre a importância da escola enquanto espaço de reflexão e de

transformação e as novas posturas propiciadas pela formação, compreendo que ao tomar por

base o conceito vindo da abordagem que enfatiza os aspectos sócio-econômico e cultural da

educação, é que a relação dialógica estabelecida entre educador e educandos, na perspectiva

da educação libertadora,adquire como objetivo a libertação, a emancipação humana. Este

3sine qua non – ou condição sine quan non é expressão que originou-se do termo legal em latim que pode ser

traduzida como “sem o qual não pode ser”.

55

objetivo, que torna a relação professor-aluno uma relação de cumplicidade, é por si um ato,

também, de amor. Só a dimensão da amorosidade humana pelo mundo e pelo próprio ser

humano é capaz de oportunizar o diálogo educativo.

Carvalho (2005) enfatiza a relevância deste último lembrando que o aluno aprende

a dialogar com a prática da dialogicidade no cotidiano de sala de aula. Logo, “o convite ao

diálogo é um elemento básico do processo de ensino e aprendizagem. E com o professor fica a

tarefa de estimular, articular a discussão e o processo de conhecimento, esforçando-se para

gerar diálogo entre os alunos” (p.71).

Desta maneira, problematizando o mundo, educando è estimulado e desafiado a

reconhecer-se como sujeito no mundo e a compreender sua condição enquanto ser humano,

condição básica para a reflexão crítica acerca da sua existência. Esta nova postura do

professor o torna mais participativo e solidário para com a aprendizagem do aluno e também

lhe possibilita maior comprometimento com a promoção do mesmo.

Compreender a escola desta forma, a saber, como espaço permanente de reflexão,

é possibilitar o diálogo constante com o outro e com as diferenças existentes neste espaço de

diversidade cultural, facilitando ao aluno construir os caminhos do seu próprio

desenvolvimento, bem como produzir um novo conhecimento.

Quanto à autonomia, convém alertar que ela demanda de cada integrante do grupo

compromisso e capacidade de assumir responsabilidades, ou seja, de responder por suas

ações, de prestar contas de seus atos, de cumprir seus compromissos e de estar comprometido

com eles de modo a enfrentar instabilidades e conquistas.

Por conseguinte, a magnitude da autonomia pedagógica está diretamente

relacionada com a amplitude dessa responsabilização, que exige uma postura crítica e

reflexiva sobre os processos e resultados de cada escola.

Entende-se, em acréscimo, que a escola pública representa um espaço amplo para

que a implantação da democratização tenha sucesso, pois ela traz em sua trajetória as

condições favoráveis ao processo de democracia. Inicialmente, por ser pública, já que o

público ainda é tido como lugar que privilegia o debate; também por manter relações diretas

com a comunidade na qual está inserida e que se utiliza dos serviços prestados por essa

instituição e, ainda, por apresentar condições de aperfeiçoar os processos democratizadores,

tais como a eleição de diretores e a criação de conselhos escolares, e de desenvolver os

mecanismos de participação da comunidade. Por todas estas características, a escola

constitui-se em aparelho político e social, sendo também objeto de disputa, enquanto espaço

político-ideológico que pode tanto reproduzir e conservar o modelo que está posto como

56

contribuir para a transformação e o alcance de uma sociedade mais justa, humana e

igualitária.

4.1 A Exigência da Formação Continuada

O atual contexto social, econômico e político tem exigido uma adequação cada

vez maior do sistema educacional ao modelo econômico e tecnológico. Devido às essas

constantes transformações que se verificam, o conhecimento e a educação, bem como a

formação de professores passam a ter uma grande importância, constituindo-se como um

desafio para a educação.

A formação continuada é um fenômeno resultante das transformações históricas

de empobrecimento cultural do professor relevado pelo descaso e esvaziamento da educação

escolar e da necessidade de formação de indivíduos ajustados à lógica do capital, que

alcançou várias dimensões nas políticas educacionais implementadas nos últimos anos em

nosso país.

No que se refere à questão educacional em nosso país, ela não tem se alterado, ao

longo da história, no que diz respeito à promoção social da cidadania, uma vez que ainda

existem grandes índices de analfabetismo tanto na zona rural como urbana de nosso país, má

qualidade do ensino ofertado nas escolas, insuficiência de condições físicas e humanas para a

realização da atividade educativa, além da falta de políticas públicas integradas e orgânicas no

sistema educacional.

A partir da década de 1990, em todo o mundo, a formação continuada de

professores apareceu como um dos fatores primordiais na busca da melhoria da qualidade da

educação. As dificuldades apresentadas pelos índices de desenvolvimento escolar dos alunos

na aprendizagem foram os principais motivos que conduziram as discussões internacionais

com vistas a introduzir essas melhorias no desempenho educacional.

Neste contexto, a legalização da formação continuada de docentes teve início no

Brasil através de dois documentos: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -

LDBEN 9394/96 (BRASIL, 1996a) e a Lei Federal 9424/96 (BRASIL, 1996b) que

regulamentou o FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental

e da Valorização do Magistério). Posteriormente a essas publicações surgiram também os

Referenciais para a Formação de Professores (BRASIL, 1999) e as Diretrizes Gerais para a

Rede de Formação Continuada (BRASIL, 2005).

57

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 (BRASIL, 1996a)

estabelece o direito à formação continuada a todos os profissionais do ensino da educação

básica, em seu título VI, e aponta fundamentos e responsabilidades para com a formação

continuada no país por meio dos seguintes artigos:

Art. 61 (dos profissionais da educação) – A formação de profissionais da

educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino [...]

terá como fundamento:

Parágrafo I – a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a

capacitação em serviço.

Art. 63 (dos profissionais da educação) – Os institutos superiores de educação

manterão:

Parágrafo III – programas de educação continuada para os profissionais da

educação nos diversos níveis.

Art. 67 (dos profissionais da educação) – Os sistemas de ensino promoverão a

valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos

estatutos e dos planos de carreira do magistério público:

Parágrafo II – aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com

licenciamento periódico remunerado para esse fim (BRASIL, 1996a).

Já no art. 70 do título VII, destinado aos recursos financeiros, essa mesma Lei

explicita as responsabilidades financeiras da formação continuada:

Art. 70 (dos recursos financeiros) – Considerar-se-ão como de manutenção e

desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas à consecução os objetivos

básicos das instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a:

Parágrafo I – remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais

profissionais da educação (BRASIL, 1996a).

A formação docente continuada cresce dia-a-dia, não só no Brasil como nos

sistemas educacionais em todo o mundo e tem sido vista como necessária para se ter uma

qualidade maior na educação e profissionais competentes. Esta ideia se desenvolve entre

estudiosos, pesquisadores, professores e acadêmicos e está presente de forma constante na

definição de políticas que englobam e definem os sistemas de profissionalização.

Essa formação contínua, se desenvolvida na própria unidade escolar, apresenta-se

como essencial não somente como forma de preenchimento de lacunas da formação inicial,

mas também por ser a escola um lugar privilegiado de constituição e de socialização do

conhecimento entre os professores, onde se atualizam e se ampliam os saberes docentes e se

58

realizam trocas de experiências entre pares, considerando o cotidiano dos professores e o

conhecimento elaborado nesse ambiente.

O reconhecimento da escola como lócus privilegiado da formação docente

continuada tem várias implicações para a melhoria do cotidiano escolar, na medida em que

canaliza as ações para a promoção, no interior da escola, de experiências que veem na prática

cotidiana do professor componentes formativos e articulados, sem, no entanto deslocá-los

para outros espaços, tomando a formação continuada como um processo constante e não

pontual articulado com as atividades e as práticas profissionais que estão sendo desenvolvidas

dentro da unidade de ensino. Essa formação precisa ser voltada para o coletivo de todos os

profissionais da escola, ou, pelo menos, deveria ter esse olhar.

Ademais, compreendo que o ambiente de trabalho do professor se constitui como

essencial para a construção da democracia, considera-se que a formação docente continuada

deve estimular o estudo entre pares, permeado por discussões pautadas em uma reflexão da

prática que se fundamente em teoria consistente. O objetivo é que os diretores, coordenadores

e professores não somente modifiquem sua prática, mas também efetivem a participação da

comunidade na escola e proporcionem a integração de todos os atores da comunidade escolar

na organização da unidade de ensino.

Entende-se também que, assim como todos os participantes da divisão social do

trabalho, a escola é responsável por ofertar um benefício ou serviço que se considera

fundamental, almejado e benéfico à sociedade. Seu trabalho se efetiva por meio da formação

de sujeitos, e, sendo assim, o seu produto, mais do que qualquer outro, tem necessidades que

apresentam especificações rigorosas quanto à qualidade que nele deve existir.

No entanto, o reconhecimento a esse respeito, quer entre os profissionais da

educação em nossas unidades de ensino quer na comunidade em geral, é muito pequeno, já

que pouca reflexão tem se realizado acerca da real utilidade do serviço que a escola oferece às

famílias e à sociedade. Isto se refere aos que dela se servem bem como aos contribuintes que

têm demonstrado pouco ou nenhum interesse a respeito do trabalho prestado pela mesma.

É importante salientar, porém, que, a partir da compreensão aprofundada do papel

da escola e do serviço que ela presta a própria escola, a comunidade e a sociedade se

empoderam da magnitude desta ação e das transformações sociais que a mesma pode

promover. Assim ocorrendo, tanto o educador quanto as pessoas que compõem a sociedade

passam a fazer uma nova leitura da realidade, mais reflexiva e crítica, empreendendo ações e

modificações que fortalecem a participação e a democracia e exigem consequentemente,

daquele que se empodera tornar-se sujeito da sua construção para a cidadania.

59

Nessa perspectiva, o trabalho de formação continuada passa a ser verdadeiramente

uma intervenção e mudança na postura do educador. Desenvolve sua consciência política,

tendo em vista que sua ação não é neutra e amplia sua prática pedagógica, evidenciando a

necessidade de nossos educandos serem preparados para exercerem a cidadania ativa e

participativa. Contribui também para a construção de conhecimentos de forma crítica,

criativa, reflexiva e participativa do professor enquanto protagonista de uma nova prática na

educação.

Alerta-se que, neste processo, o gestor escolar (diretor e coordenador) é também

um professor que necessita estar preparado para ouvir, dialogar e fazer de sua prática um ato

de liberdade, para que haja articulação e acessibilidade ao debate. Ele deve ter a compreensão

do querer da comunidade escolar, sem esquecer-se da função política e pedagógica da

educação.

Para tanto, é necessário querer bem, gostar da ação pedagógica e das relações que

se dão no cotidiano da escola. Demanda-se dele um querer bem pelo ser humano inacabado,

que está em constantes transformações e a compreensão de que as relações humanizantes no

ambiente de trabalho ampliam a sua visão crítica e as trocas de experiências entre seus pares.

É preciso um gostar de ensinar e aprender, de estimular a construção do conhecimento e

aprendizagem, um sentir prazer naquilo que realiza, em ver os propósitos da escola sendo

construídos e realizados com qualidade e eficácia do ensino e de um modo que permita ao

educador e educando serem capazes de transformar as relações que ocorrem na escola e na

sociedade para que assumam de formas mais críticas, justas e igualitárias.

É tendo como base a concepção democrática de que a educação escolar de

qualidade constitui-se em condição de garantia de direitos e de construção do exercício da

cidadania que se vê, na sociedade atual, a necessidade de se repensar a formação dos

professores. Verifica-se, por exemplo, que a escola de nossos dias, ainda exclui um grande

contingente de alunos por não terem um comportamento padrão em termos de

desenvolvimento da aprendizagem, linguagem ou características socioeconômicas favoráveis,

ou, em muitos casos, por apresentarem algum déficit ou deficiência, precisando, neste sentido,

urgentemente repensar a sua prática.

Essa realidade exige que se edifiquem projetos de formação contínua e práticas

educativas que respeitem a diversidade social, geográfica e cultural como um todo e que nas

escolas a inclusão social e a educação não sexista sejam realizadas pela prática do diálogo e

respeito às demandas que se colocam à produção de uma educação pública de qualidade,

gratuita e de acessibilidade para todos.

60

Todas essas dimensões são requeridas no processo de formação permanente dos

professores, uma vez que as principais atitudes no âmbito da prática educativa e coletiva de

forma geral são propostas e discutidas nesse espaço de estudo, constituindo um eixo

fundamental de fortalecimento das reflexões e ações com vistas à educação emancipatória.

Esta proposta remete-se à formação de sujeitos capazes de se reconhecerem com

potencialidades sociais e pessoais, a qual deles exija constantes atualizações que lhes

permitam o empoderamento proveniente de nossa cultura, tanto popular quanto erudita,

potencializando, assim, o se autogovernar.

Assumido como uma necessidade fundamental para o sucesso educacional do

professor, o processo formativo se impõe, a cada dia, seja pelos mecanismos públicos e

gratuitos, seja pela busca de recursos diferenciados, individuais e autônomos, ou promovidos

por instituições. Mas, de qualquer forma, sempre será importante se elaborado de maneira

plural consciente e firmado na reflexão-ação. Deve buscar o caráter autônomo e a interação

entre o eu individual, o eu pessoal e o eu social, visando, principalmente, à melhoria da

qualidade do ensino oferecida na escola como da formação e do desempenho docente.

Freire (1997) orienta, ao mesmo tempo que estimula, os educadores e educadoras

a repensarem os fazeres de suas práticas pedagógicas, transformando aquilo que

compreendem como necessitando ser mudado, mas, principalmente, a buscarem o

aprimoramento do trabalho que realizam com os educandos, além de procurarem a cada dia a

escolha pelo melhor. O autor afirma que os professores devem fazer tudo isto com a

consciência, a certeza e a esperança de que é possível realizar essas mudanças, visto que para

ele a educação é também um ato de amor e com compromisso político.

O pensamento de Carvalho (2005) contribui trazendo a concepção da formação

continuada centrada na unidade escolar, cuja temática nuclear se refere à escola considerada

como aquela que aprende e qualifica a pessoa e cuja ação norteadora é a compreensão da

educação, do pedagógico e da avaliação em favor do sujeito social. Propõe a aprendizagem

significativa para todos, em unidade indissociável com o projeto político-pedagógico que

represente a concepção da finalidade social da escola e a compreensão do processo de ensino

e aprendizagem que privilegie a democracia.

61

4.2 Formação Continuada na Escola: Possibilidade de Autonomia do Professor

Autonomia é expressão de cidadania. A consciência de que, vivendo em um

contexto, temos, em relação a ele, direitos que se justificam pelos deveres assumidos é pré-

condição para a efetivação da autonomia, daí por que ela expressa a cidadania. Da mesma

forma, quando a escola se propõe promover a cidadania crítica e competente em seus alunos,

emerge como condição natural para a realização desse objetivo a construção de sua

autonomia, processo por si só pedagógico, em cuja expressão se articulam direitos e deveres.

Quando- e à medida que- se constrói a autonomia da escola, os alunos aprendem, ao viver

nesse ambiente, o espírito da cidadania.

Nessa trilha, autonomia é vista comum processo de articulação entre os âmbitos

macro e micro. Portanto, ela não consiste em um processo interno à escola, mas, sim,

representa um princípio que deve permear todo o sistema educacional e até mesmo toda a

sociedade. É por isso que não se realiza autonomia por decreto, nem se delegam condições de

autonomia. Para ser plena, ela necessita de que no âmbito macro de gestão-que tanta

influência exerce sobre a escola, não apenas por suas regulamentações e determinações, mas

por seu modo de ser e de fazer, adote-se a prática da construção de sua própria autonomia, que

implica sua responsabilização pelo todo. Aqui, ela é compreendida como a responsabilidade

de se promover a autonomia da reflexão e da prática do professor para que a escola cumpra o

seu verdadeiro papel, que é o de ensinar.

Os programas de formação continuada destacam, precisamente, a importância da

discussão sobre as práticas de organização e desenvolvimento do trabalho escolar buscam

relacionar teoria e prática. Segundo Perrenoud (1993, p. 48),

a formação continuada mais eficaz consiste muitas vezes em intensificar e fazer

partilhar a reflexão sobre a prática. Portanto, a demanda por um trabalho reflexível

consiste na formação continuada no lócus de cada unidade de ensino de forma

contínua, efetiva e eficiente, para que a sociedade colha os frutos através da ação

social de seus professores e alunos, como um produto final reerguendo valores de

pátria, nação, tornando-a mais humana e humanizadora, com modelos de vida mais

digna, mais feliz e mais respeitável, entre seus cidadãos.

Deste modo, o desenvolvimento profissional e a realização da formação

continuada implicam em um processo de apreensão de novos conhecimentos e de

desenvolvimento de competências e atitudes no trabalho organizacional e pedagógico da

escola. É com este propósito que a formação continuada deve se propor ao gestor como uma

atualização da prática educativa, que torne possível vivenciar, renovar e acrescentar novos

62

elementos e que proporcione também uma possibilidade para a reflexão sobre os aspectos

éticos fundamentais que estão presentes na ação e postura da prática de educar. No entanto,

esses elementos relacionados à postura do professor são raramente abordados e discutidos nas

formações docentes.

Tal compreensão remete a Ferreira (2003, p. 110), quando pondera que a

“formação do profissional exige hoje, mais do que nunca, uma sólida formação humana e que

esta relaciona-se diretamente com a sua emancipação como indivíduo social, sujeito histórico

em nossa sociedade.” Essa dimensão educativa como humanista tem propiciado novas formas

de se pensar as formações e capacitações,visto que,nestes espaços, o fluxo de ideias é maior e

contribui para que a participação e as emoções que ali se apresentam vão se constituindo em

novos conhecimentos éticos,estéticos, políticos e emocionais que são verdadeiramente

emancipatórios, do ponto de vista pessoal, político e social.

Como outros teóricos, Candau (2003) identifica a escola como o lócus de

formação contínua; no entanto, ela adverte que simplesmente estar na escola não garante as

condições mobilizadoras da formação. Esta necessita ser uma ação reflexiva da prática,

fundamentada na construção coletiva dos conhecimentos e com ênfase na pesquisa-ação,

sendo os professores educadores e educandos, isto é, atores e autores da sua prática.

Também com Imbernon (2009) vê-se que formação não se realiza somente pela

experiência: uma permanente que almeja atingir as habilidades humanas de reflexão e ação

precisa estar em consonância com uma relação entre teoria e prática, uma vez que os saberes

são produzidos através da reflexão e problematização do fazer pedagógico.Nessa relação, a

reflexão teórica dará sustentação à prática educativa.

Portanto, neste percurso a prática do professor tem na sua essência o trabalho

intelectual, construído historicamente pela sociedade. Considera-se que, desta forma, ela traz

no bojo de seu desenvolvimento as possibilidades de transformação dessa prática com valores

e princípios que possam promover a libertação do ser. Será necessário formar o professor na

mudança e para a mudança

É importante ressaltar, neste ponto, que valores éticos e comprometimento

político se tornam essenciais para uma educação transformadora comprometida com os

princípios democráticos. Freire (1988) enfatiza essa reflexão acerca do profissional que tem

compromisso com a sociedade e que consegue fazer relação com os condicionantes da

mesma: este se torna sujeito da sua ação na medida em que reflete sobre tais condicionantes e

busca formas de transformar essa sociedade mediante as experiências da vida cotidiana, numa

ação-reflexão-ação, pautado nos valores de humanização.

63

Estas reflexões sábias de Paulo Freire enfocando a estruturação da prática

educativa como humanista conduz à compreensão de que aprendemos conjuntamente,

eliminando e nos libertando das amarras, dos medos, dos valores e hábitos inculcados e

defendidos pelas classes hegemônicas.

Em referências aos valores mencionados acima, pode-se afirmar que sua

concepção é idealizada em diversas esferas da sociedade, particularmente na escola local, em

que o desenvolvimento e aprendizagem dos indivíduos sofre influências das atitudes

desenvolvidas dentro e fora do espaço público escolar.

Assim sendo, atualmente, a educação pautada em princípios de democracia e

cidadania apresenta-e se constitui defendendo- o respeito às diferenças, estas cada vez mais

presentes em nosso meio, devido à evolução das tecnologias que, aproximam os seres

humanos e que têm se refletido, inclusive, na educação.

A construção e ampliação do conhecimento pedagógico, no processo educacional

aqui focado, se dá no próprio percurso trilhado pelos profissionais da educação, no cotidiano

escolar, nas discussões com seus pares e na relação da teoria com a sua prática de atividades

em sala de aula, entre outros fatores.

O conhecimento da disciplina exige desses profissionais o planejamento, levando

em conta os meios pelos quais ocorrem a transmissão e a compreensão do aluno sobre o que

está sendo ensinado. Já a atuação e competência do profissional é resultado de toda uma trama

educativa, elaborada a partir da relação de dialogicidade entre os professores e o exercício da

atividade docente com seus próprios alunos; é adquirida durante um longo processo de

formação e informação no que toca à realidade cultural dos educandos, sendo considerada a

sociedade em constantes mudanças.

Por conseguinte, os modelos de formação continuada passam a ser vistos como

necessidade inerente à formação do professor, primordialmente, para o seu novo papel de

profissional facilitador da aprendizagem prático-reflexivo, consciente e responsável pela

autonomia e participação e que colabora para a melhoria da qualidade de vida de toda a

sociedade e, na essência, para o saber em toda a sua extensão.

Severino (2003), ainda a respeito da formação do educador, enfatiza que nos

currículos dos cursos de licenciatura não há uma formação para a sensibilidade do educador, e

que os cursos não formam para perceber o que é relevante na formação dos seus alunos; com

isto, percebe-se mais uma vez, a relevância de se pensar na formação de professores;se a

mesma não for capaz de superar a visão etnocêntrica e monocultural da educação, certamente

não possibilitará mudanças significativas que permitam ao professor ter autonomia para

64

pensar sobre sua práxis para além do ensino técnico. Tais mudanças são importantes porque

podem lhe proporcionar uma ressignificação, na perspectiva de olhar para a diversidade

étnico-cultural como uma possibilidade de efetivar uma educação menos excludente e mais

humana e cidadã.

Freire (1988), por sua vez, ao apresentar sua concepção de formação continuada

recomenda que esta deve ser constante e sistematizada, porque a prática se faz e se refaz, se

constrói na interação com o outro, que aprende e ensina.

Em sua proposta de programa de formação de educadores, Freire (1988) vê a

mesma como condição para o processo de reorientação curricular da escola, que tenha como

eixo básico a apropriação, pelos educadores, dos avanços científicos do conhecimento

elaborado historicamente e que eles possam contribuir para a qualidade da escola que se quer

com vistas à promoção do homem enquanto ser humano de relações dialogadas.

Acrescente-se, ainda, que formação continuada desenvolvida, no próprio espaço

onde acontece a ação pedagógica dos sujeitos envolvidos, possibilita aos mesmos fazer uma

reflexão da sua ação e ao gestor avaliar a gestão escolar que está desenvolvendo. Implica

tomada de decisões quanto às ações pedagógicas em situações reais da prática docente.

Constitui-se,desta forma, a construção democrática de um espaço que favoreça a

aprendizagem contínua do trabalho docente, reflexão crítica, ação e compartilhamento. Tal

reflexão crítica sobre a prática não se limita à sala de aula, mas pode que contemplar a

realidade social e todos os interesses subjacentes à educação como forma de emancipação do

ser.

Convém observar, mesmo que de passagem, que, nesse contexto, a reflexão, que

deve ser crítica e não dissociada da trama social, constitui elemento fundamental na

construção da gestão democrática na escola, sendo essencial para a compreensão e

transformação dos problemas postos pela prática pedagógica.

Prosseguindo na apresentação dos argumentos de teóricos sobre a formação de

professores, vê-se que, de acordo com Gadotti (2005, p. 33) a nova formação do professor

deve basear-se no diálogo e visar à redefinição de suas funções e papéis, à redefinição do

sistema de ensino e à construção continuada do projeto político-pedagógico da escola.

Para Nóvoa (2000), o conhecimento que deve ser veiculado pela escola

atualmente não é qualquer um, nem tampouco se deve restringir às formas clássicas.

Fundamentalmente, deve-se levar em consideração a produção/circulação atual que passa

pelas transformações, pela revolução tecnológica e pela variação complexa que se realizam no

conhecer e no aprender. O autor em foco traz uma importante contribuição para pensarmos na

65

construção do “ser professor”, revelando a complexidade que envolve a formação e a

atividade docente nos dias atuais. Aponta, também, que no fazer cotidiano do professor a

comunidade, a autonomia e o conhecimento são eixos basilares.

Nóvoa (2000) explicita que a definição do que seja o conhecimento da profissão

docente não é simples. Há dimensões teóricas, práticas, experienciais, mas que são difíceis de

serem formalizadas e conceituadas.

Ainda segundo o autor, na atualidade existem fortes tendências, nos programas de

formação, quanto ao papel dos professores como investigadores, pesquisadores.

A partir da tese “saber analisar e saber analisar-se”, Nóvoa (2000) também

recomenda a reflexão prática e deliberativa da ação docente abrindo espaço para a prática de

discussões em que as opiniões sejam avaliadas e submetidas à apreciação dos outros. Para o

autor a pesquisa e reflexão sobre o trabalho pedagógico realizado pelo professor é a única

forma de resolver o dilema do conhecimento. Ele, porém alerta que o professor deve ser

cuidadoso para não cair no praticismo, nem na inconsequente retórica do professor

investigador ou do professor reflexivo.

Contreras (2002) faz considerações similares e que complementam as ideias de

Nóvoa (2000) sobre a formação docente. Ele pondera que o trabalho docente não é unilateral,

com decisões única e exclusivamente do professor e que o ensino não pode ser concebido para

atender a fatos visíveis da sala de aula. Afirma que:

o ensino é um jogo de “práticas aninhadas”, onde fatores históricos, culturais,

sociais, institucionais e trabalhistas tomam parte, junto com os individuais. Deste

ponto de vista, os docentes são simultaneamente veículo através dos quais se

concretizam os influxos que geram todos estes fatores, e criadores de respostas mais

ou menos adaptativas ou críticas a esses mesmos fatores (CONTRERAS, 2002, p.

75).

Partindo dessa premissa, o teórico apresenta três dimensões da profissionalidade

docente: a obrigação moral; o compromisso com a comunidade; a competência profissional.

Essas três dimensões são convergentes com os três dilemas apontados por Nóvoa

(2000), a saber, autonomia, comunidade e conhecimento. Isso nos indica que estes autores

discutem pontos comuns e que considero como relevantes e essenciais para a profissão

docente.

Para Contreras (2002) a primeira dimensão supõe um compromisso de caráter

moral pelo qual o professor se compromete com os estudantes em seu desenvolvimento como

pessoas; ao buscar o avanço na aprendizagem, exerce sobre eles influência acerca de valores.

Segundo este autor, o aspecto moral do ensino liga-se à dimensão emocional que se encontra

66

em toda relação educativa e “esta consciência moral sobre seu trabalho traz emparelhada a

autonomia como valor profissional” (CONTRERAS, 2002, p. 78).

A segunda dimensão diz respeito à relação com a comunidade social em que os

docentes efetivam a realização de sua prática profissional. Contreras (2002) acentua a

obrigação moral dos professores, considerando que a ética de suas atuações poderia estar

associada a uma ideia de profissionais isolados.

Contudo, assegura ele, a moralidade não é um fato isolado, mas um fenômeno

social, e, portanto, “a educação não é um problema da vida social dos professores, mas uma

ocupação socialmente encomendada e responsabilizada publicamente” (CONTRERAS, 2002,

p. 79). Exige-se, então, o compartilhamento das práticas.

Contreras (2002) prossegue, afirmando que estas duas dimensões da

profissionalidade- obrigação moral e compromisso com a comunidade – requerem uma

terceira: a competência profissional compatível com ambas. Considera que ela deve

ultrapassar os limites puramente técnicos do recurso didático e por isso fala de “competências

profissionais complexas que combinam habilidades, princípios e consciência do sentido e das

consequências das práticas pedagógicas” (CONTRERAS, 2002, p. 83).

Nessa direção, o autor aponta para uma abordagem sobre o conhecimento do

professor que não necessariamente se restringe ao adquirido nos meios acadêmicos, mas que

se trata, de um conhecimento complexo, que é, ao mesmo, tempo adquirido pelo aprendizado

da experiência cotidiana da prática pedagógica, compartilhado pelas aprendizagens

socializadas e diversificado pelas influências aprimoradas ao longo da história. O autor ainda

continua, ressaltando que, embora esse conhecimento se constitua a partir de todas essas

dimensões, há um aspecto fundamental que constitui o trabalho docente, o qual é marcado e

referenciado pela ação do professor e, por isso, de difícil descrição.

É nesta perspectiva que se vê quanto é necessário que os educadores venham a

adquirir qualidade na realização do seu trabalho, considerando que a sua profissão exige que

ele, enquanto profissional da educação, esteja constantemente estudando e atualizando os

conhecimentos produzidos no seu campo de atuação. Da mesma forma se compreende a

democracia (direitos e deveres que devem ser respeitados por todos: professores, alunos, pais

e funcionários) e a importância do diálogo com os outros.

Na escola aprendemos a organizar o raciocínio lógico e a exposição de nossas

idéias e o nosso senso crítico. É nela também que os docentes concebem o espaço da

profissionalização, lugar onde compartilham suas vivências educativas. Consequentemente, a

67

sua participação em todos os âmbitos e espaços da escola e também na construção de sua

própria autonomia está intrinsecamente ligada às condições em que se dá sua formação.

Compreendo – enfatizo – que educar significa formar para a autonomia, isto é,

para autogovernar-se. Um processo educacional será verdadeiramente autônomo e libertador

somente se for capaz de formar cidadãos críticos dotados das condições que lhes permitam

entender os contextos históricos, sociais e econômicos em que estão inseridos, uma vez que é

a partir de práticas democráticas que formamos cidadãos.

Nesta compreensão também se faz necessário pensar em um importante aspecto

da formação para a cidadania, que consiste em

[...] intensificar a sensibilidade do (a) docente e do gestor para a pluralidade de

valores e universos culturais, para a necessidade de um maior intercâmbio cultural

no interior de cada sociedade e entre diferentes sociedades, para a conveniência de

resgatar manifestações culturais de determinados grupos cujas identidades se

encontram ameaçadas, para a importância da participação de todos no esforço por

tornar o mundo menos opressivo e injusto, para a urgência de se reduzirem

discriminações e preconceitos (MOREIRA e CANDAU, 2007, p. 31).

Ainda é nesta perspectiva que se torna possível compreender a reflexão de

Alarcão, para quem,

Quando retomamos o enfoque da gestão realizada pela escola e a importância do

perfil do gestor para uma escola democrática, o ponto primordial e que nos chama

atenção é que a escola é uma organização humana. Essa dimensão é muito

importante para a urgência e formação de profissionais que venham refletir sobre

suas práticas e permitir aos profissionais novas atitudes e posicionamentos que

estejam contemplados com “contextos que favoreçam o seu desenvolvimento,

contextos de liberdade e responsabilidade” (ALARCÃO, 2004, p. 45).

Na busca desses objetivos, a construção do Projeto Político-Pedagógico mostra-se

como o primeiro passo a ser dado rumo à democratização da gestão escolar, considerando que

ele será o elemento norteador da organização da unidade de ensino em seus múltiplos

aspectos: tempos e espaços, avaliação e currículo, participação da comunidade, função social,

política e papel institucional. Tal projeto deverá estar assentado e articulado com o contexto

local onde a escola está organizada, com identidade e cultura próprias, produzindo, assim,

diferenciados resultados.

Esse movimento de análise e reflexão da prática permite que o gestor se

conscientize de sua condição de co-autor de seu processo de formação pessoal e profissional

e, com isto, supere as barreiras que reforçam as resistências ao novo e motive-se às propostas

de formação continuada para que realmente se tenha uma escola democrática e autônoma.

68

Pressupõe, ainda, que a exclusão, a seletividade e o autoritarismo sejam banidos das relações

escolares e que o compromisso seja o de realizar a integração dos diferentes setores com bases

éticas e coerentes com um projeto social de humanização e libertação.

Em suma, para se desenvolver um trabalho significativo de ensino- aprendizagem,

que realmente proporcione ao aluno aprender com autonomia e, ao professor, desenvolver e

realizar uma pesquisa da sua própria ação, exige-se que os profissionais da educação, em

especial a equipe de gestão do trabalho pedagógico, invistam na formação continuada.

4.3 Formação como Espaço para a Reflexão e Mudanças

Estudos têm apontado que a marca dos programas de formação continuada é a

busca de articulação entre a teoria e a prática na medida em que consideram o trabalho

docente como algo que é construído pelos profissionais na práxis e, entende-se, que favoreça

experiências de democracia. Concebe-se o professor como um intelectual crítico-

transformador que oferece elementos para a construção de uma postura crítico-reflexiva

fundamentada no estudo e investigação das práticas e contextos educativos.

Portanto, o movimento e a garantia da manutenção da ação e reflexão da ação

requerem programas de formação docente que tenham por lócus a escola, com o propósito de

estimular o educador a adquirir conhecimentos necessários ao saber docente, que se situem no

saber fazer, no domínio da área em que atua e no repertório de cultura geral. Neste contexto é

que se espera que o gestor seja capaz de refletir o movimento dialético entre a prática e a

teoria, a teoria e a prática e projetá-lo de modo a assegurar ao professor e principalmente ao

aluno a aprendizagem e a autonomia.

Ao refletir sobre a escola e o professor, Giroux (1987) analisa este como um

intelectual reflexivo frente à proletarização do ensino, e sua análise, focaliza o modo como

este profissional, na escola, é reduzido a mero executor de tarefas. O autor vai além quando

avalia que as instituições de formação e treinamento de professores têm-se omitido no que diz

respeito ao educar o professor como um intelectual. Chama a atenção para a proletarização da

educação, já que muitas vezes o educador, diante da burocratização do ensino, não reflete

sobre o que faz, não pensa sobre sua práxis.

Ainda no tocante a essa questão, Giroux (1987) aponta como prejudicial o fato

que, como as instituições de formação são instrumentos que simplesmente habilitam o

professor para sua prática cotidiana, determinam que o mesmo tenha um papel de coadjuvante

na educação.

69

Assim, pode-se inferir que na formação há uma desqualificação desse profissional

como sujeito capaz de criar sua própria história, uma vez que a palavra treinamento significa

aprendizado de técnica, quando não, adestramento. Portanto, diante da concepção dos cursos

de formação de educadores como aprendizado de técnicas ou adestramento, pergunta-se: A

serviço de quem ou contra quem está essa prática?

É, pois, frente a essa problemática que compreendo como necessária a formação

continuada dos professores e também como fundamental, para que se legitime a cada dia, seja

ela realizada através dos meios públicos e gratuitos, seja pela busca incessante de recursos

mais diferenciados, individuais e autônomos ou, ainda, proporcionados pelas instituições,

agremiações ou sindicatos, que a mesma tenha o caráter de formação sempre consciente,

crítica, reflexiva, interativa e plural. Ela deve se efetivar por meio da prática das

competências, quer pela autonomia, quer pela interação entre o eu individual, o eu pessoal e o

eu social.

Mais uma vez, torna-se possível avaliar a importância da formação continuada no

ambiente escolar, visto ser nesse local que se compreendem e assimilam conceitos de justiça,

solidariedade e respeito, bem como o respeito por si mesmo e às normas e os valores da

sociedade.

A valorização da profissão docente passa, também, por um processo de formação

que possibilite aos professores alcançar uma prática profissional que seja reflexo de

concepções pedagógicas coerentes,éticas e teoricamente fundamentadas, para que sua

atuação possa atingir os objetivos da formação do ser inconcluso, integrada a um projeto de

vida voltado para a ideia de autonomia que tenha como princípio a reestruturação e o

crescimento da coletividade.

.

70

5 RESULTADO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS COLETADOS

O presente trabalho apresentou dados sobre a ação dos gestores na formação

continuada para a construção de uma escola democrática, e neste capítulo se apresentam e se

discutem e apresentamos as análises sobre as informações levantadas, em duas categorias de

análise: a gestão democrática e a formação continuada.

5.1 Contextualizando a Gestão Democrática na Rede Municipal de Ensino de

Rondonópolis-MT

O processo de democratização da rede municipal de ensino de Rondonópolis-MT

teve sua implantação na década de 80, entre 1986 e 1987, anos em que a Secretária Municipal

de Educação passou a realizar um trabalho junto às equipes diretivas das unidades escolares e

a comunidade para a criação dos Conselhos Escolares como forma de promover maior

envolvimento dos pais e consequentemente buscar um ensino com maior democracia e

promoção de processos de cidadania.

Considerado como marco de desenvolvimento de práticas mais democráticas no

espaço escolar, esse, trabalho foi apenas o começo dessa luta, pois a democratização das

relações no interior da escola com a eleição para diretores só foi implantada legalmente no

ano de1990, a partir da Lei n° 1749 de 10 de agosto desse mesmo ano. A Lei dispunha sobre a

nova forma de gestão e instituía que, a partir de sua promulgação, “os diretores das escolas

públicas municipais serão escolhidos mediante eleição direta nas unidades de Ensino”.

Com o tempo, a eleição para gestor de escolas da rede municipal de ensino de

Rondonópolis-MT sofreu algumas mudanças necessárias para a legitimação do processo e

atualmente encontra-se fundamentada na Lei nº 2072 de 20 de dezembro de 1993, que

estabelece critérios para o processo de eleição: “poderão ser candidatos os professores ou

especialistas em educação do quadro da escola que tenha no mínimo um ano de serviço

prestado na Unidade Escolar, e que comprove possuir disponibilidade para dedicação

exclusiva ao cargo”.

No art. 11 fica determinado que o gestor deve assumir de forma democrática o

mandato de dois anos, que se inicia a partir do primeiro dia útil do ano subsequente, ao da

eleição, com direito à reeleição.

71

Observando esses preceitos os candidatos interessados devem, como requisito,

apresentar para a comunidade escolar e ao conselho da escola uma proposta administrativo-

pedagógica que possa ser desenvolvida durante os dois anos de sua gestão.

É de responsabilidade do Conselho Escolar: a) constituir uma Comissão Eleitoral

por intermédio de uma assembleia por segmentos da Comunidade Escolar e b) acompanhar o

processo eleitoral juntamente com a Comissão Eleitoral.

Cabe a esta comissão a tarefa de coordenar todo o processo eleitoral de forma

democrática, promovendo e organizando debates entre os candidatos (se for o caso de mais de

um) e, também, organizar a apresentação das propostas à comunidade interna e externa à

escola.

Têm direito a voto os professores da escola, o pai, mãe ou responsável pelo aluno,

a equipe técnica, os demais funcionários e os alunos com idade a partir de 12 (doze) anos, não

se considerando a série escolar do aluno. Cada um dos votantes tem direito a um único voto.

De acordo com Monteiro (2009, p.64), “Existe consenso de que a eleição de

diretor de escola e a formação de conselhos escolares são formas democráticas de gestão”. No

entanto, como assinala a autora, há uma necessidade de mudanças na estrutura de poder da

escola. Dessa forma compreende-se que um dos mecanismos de fortalecimento da gestão

democrática dos processos escolares e que fortalece a autonomia da escola está na

constituição e efetivação do Conselho Escolar e na responsabilidade e comprometimento da

comunidade escolar na elaboração do PPP.

5.2 Sujeitos da Pesquisa

Os sujeitos da pesquisa totalizaram 10 (dez) entrevistados: dois gestores (diretor e

coordenador) de cada uma das cinco escolas que compõem o cenário da investigação.

Esta população, assim constitui-se de indivíduos que se enquadravam dentro das

características requeridas dos entrevistados alvos do estudo.

A opção desta pesquisa foi pela preservação da identidade dos sujeitos

entrevistados, e, desta forma, os referidos pesquisados não foram identificados pelo nome e,

sim, por símbolos que significam: D, (Diretor) e C (Coordenador pedagógico).

O primeiro dado a se considerar foi o total de sujeitos entrevistados das cinco

escolas, “A”, “B”, “C”, “D” e “E”, conforme a apresentação na tabela 1.

72

Tabela 1 Público-alvo da entrevista

Coordenador Pedagógico Diretor Total

05 05 10

Fonte: Pesquisa desenvolvida nos meses de março a junho de 2010.

O trabalho de coleta de dados foi desenvolvido no período de março a junho de

2010, perfazendo um período total de seis meses, distribuídos em dias e semanas alternado.

Durante o período das entrevistas foi realizada também a leitura do Projeto

Político- Pedagógico, Projeto de Formação Continuada e outros documentos da escola.

Não houve delimitação de espaço para a observação, ela aconteceu

simultaneamente, com as entrevistas sendo observadas as ações, atitudes, comportamentos e

conversas para a coleta de informação com os componentes da escola.

É importante ressaltar que os sujeitos da pesquisa se mostraram motivados a

responder ás questões, demonstrando grande interesse pelo tema abordado e colaborando com

valiosas informações sobre a gestão democrática e a formação continuada na escola.

Tendo sido a receptividade dos entrevistados nas cinco unidades pesquisadas

positiva, as informações contribuíram para que a investigação obtivesse os resultados,

superando as expectativas, no que se relaciona às informações coletadas. Para melhor avaliar

essas informações, primeiramente foi traçado o perfil dos sujeitos entrevistados das cinco

instituições de ensino, sendo que tais dados estão apresentados a seguir.

5.3 Perfil dos Sujeitos Entrevistados das Cinco Escolas

No transcorrer da parte prática do estudo, os sujeitos foram contatados por várias

vezes, sendo que a receptividade, como foi anteriormente mencionado, foi um dos principais

fatores motivadores do trabalho.

Para um melhor entendimento acerca da pesquisa desenvolvida é que se traçou o

perfil dos sujeitos participantes. As escolas foram selecionadas conforme critérios

estabelecidos com a metodologia utilizada, ou seja, ser escola pública municipal de ensino

fundamental, ter o diretor eleito pelo voto direto com mais de dois mandatos de dois anos na

mesma escola e estar desenvolvendo um projeto de Formação Continuada na escola.

Outro dado que se buscou foi o referente ao sexo dos entrevistados, o que se

mostra na Tabela 2 a seguir.

73

Tabela 2 Sexo dos pesquisados

Tipo de Sexo Nº de Sujeitos por Sexo Porcentagem %

Masculino 03 30%

Feminino 07 70%

Total 10 100

Fonte: Pesquisa desenvolvida nos meses de março a junho de 2010.

Nas cinco escolas alvo da pesquisa, observou-se que os sujeitos participantes das

entrevistas foram predominantemente do sexo feminino, o que corresponde a 70% dos

entrevistados. Pôde-se perceber que este índex referente ao gênero dos sujeitos confirmou

informação tradicional de que em relação à distribuição por gênero dos atuantes na área da

educação, o percentual feminino é superior, bem como foi possível constatar maior interesse

dos indivíduos do sexo feminino em participar da pesquisa.

Dando sequência ao estudo, foi indagado acerca da faixa etária dos pesquisados,

sendo que as respostas estão apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3: Faixa etária

Faixa Etária

(Idade em Anos)

Nº de Sujeitos por Faixa Etária Porcentagem %

18 – 25 00

26 – 35 00

36 – 45 06 60%

46 – 55 04 40%

56 – 65 00

Mais de 65 00

Total 10 100,00%

Fonte: Pesquisa desenvolvida nos meses de março a junho de 2010.

A faixa etária predominante entre os entrevistados concentrou-se na idade entre os

36 e 45 anos, com um percentual de 60% do público total de pesquisados.

Ao dar prosseguimento à pesquisa, perguntou-se aos pesquisados sobre a

formação acadêmica, ao que eles responderam de acordo com o constante na Tabela 4.

74

Tabela 4: Formação acadêmica

Nível de Formação Nº de Sujeitos Porcentagem %

Ensino Fundamental

Incompleto

00

Ensino Médio 00

Graduação 02 20%

Especialização 08 80%

Mestrado 00

00

Total 10 100%

Fonte: Pesquisa desenvolvida nos meses de março a junho de 2010.

Na coleta de informações junto aos pesquisados, ao se realizar um levantamento

em relação à formação acadêmica, foi constatado que todos os sujeitos possuem licenciatura e

80% destes são especialistas.

Fazendo-se uma apreciação das informações e observações coletadas no que se

refere a este aspecto, foi possível confirmar que a formação acadêmica tem sido uma questão

primordial para uma educação de qualidade, do que se infere que os sujeitos desta pesquisa se

encontram aptos e com a formação acadêmica necessária para que possam realizar um

trabalho condizente com uma prática escolar mais democrática.

A próxima questão formulada versava sobre o tempo de serviço dos entrevistados,

dados que se oferecem na Tabela 5 a seguir.

Tabela 5: Tempo de serviço na rede municipal de ensino

Tempo de serviço na rede

(anos)

Nº de Sujeitos por tempo de

serviço

Porcentagem %

4 a 10 anos 01 10%

11 a 15 anos 05 50%

16 a 20 anos 03 30%

21 a 25 anos 01 10%

26 ou mais 00

Total 10 100%

Fonte: Pesquisa desenvolvida nos meses de março a junho de 2010.

A pergunta que abordou o tempo de serviço na rede municipal de ensino em que

atuam os sujeitos da pesquisa obteve o maior numero de respostas indicando a faixa de 11 a

15 anos, o que corresponde a 50% do total.

75

Observou-se que a maioria dos sujeitos tem mais de onze anos de vínculo na rede

municipal; isto pode indicar que os mesmos já têm a experiência de organização de uma

escola necessária para uma prática escolar com ações impregnadas de cidadania e participação

nas tomadas de decisão.

5.4 Breve Contextualização do Município

Como caminho para melhor situar o lócus em que se realizou a pesquisa de

campo, buscou-se contextualizar o município em estudo, traçando um breve perfil histórico,

social, cultural e econômico de Rondonópolis-MT.

De acordo com Tesoro (1993), a formação do Povoado do Rio Vermelho teve

início em 1902 com a fixação de famílias que migraram de Goiás e de Cuiabá e outras regiões

do estado. Assim sendo, em 1915 já existiam setenta famílias na localidade que hoje é

Rondonópolis, as quais viviam com certa organização econômica, social e política.

Nesse mesmo ano de 1915, Joaquim da Costa Marques, Presidente de Estado do

Mato Grosso, promulgou o Decreto- Lei nº 395, que estabelecia uma reserva de 2.000

hectares para o patrimônio da povoação do Rio Vermelho. Esse decreto marcou de modo

oficial a existência do povoado, cuja data de fundação (10 de agosto de 1915) foi

regulamentada pela Lei Municipal 2.777 de 22 de outubro de 1997.

Tesoro (1993) relata que em 1918 o então deputado, agrimensor e tenente Otávio

Pitaluga concluiu o projeto de medição, alinhamento e estética da localidade. Esse projeto, já

no ano de 1948, foi aproveitado pelo engenheiro Domingos de Lima como base para a

construção do traçado do atual quadrilátero central.

Segundo a mesma escritora, Pitaluga foi o responsável pela alteração do nome

povoado Rio Vermelho para Rondonópolis, no ano de 1918, quando foi realizada uma

homenagem ao Marechal Rondon, que passou a ser considerado o patrono da localidade. Em

1920, Rondonópolis transformou-se em distrito de Santo Antônio do Leverger e comarca de

Cuiabá, período de involução na economia do lugar, causada pela exploração de pedras

preciosas em localidades vizinhas.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE (2007), na

década de 20 o recém- criado distrito passou a ter problemas com enchentes, epidemias e

discórdia entre os moradores; e nesse mesmo período João Arenas descobriu os garimpos de

diamantes na vizinha região de Poxoréu (1924).

76

Conforme explica Tesoro (1993), a combinação dos problemas enfrentados no

lugarejo com a exploração de pedras preciosas em Poxoréu ocasionou um período de

despovoamento de Rondonópolis, ao mesmo tempo em que os garimpos projetavam o

crescimento de Poxoréu, que, em 1938, foi elevado à categoria de Município. Devido à

proximidade física, Rondonópolis foi incluído como distrito de Poxoréu, por intermédio da

Lei Estadual nº 218 de 1938. Nos anos de 1930 a meados de 1947 Rondonópolis permaneceu

despovoado.

Porém, no ano de 1947, iniciou um novo período de crescimento à medida que foi

inserida no contexto capitalista de produção como fronteira agrícola mato-grossense, com

resultados econômicos que geraram sua emancipação política, datada de 10 de dezembro de

1953.

Tesoro (1993) observa, ainda, que, nas décadas de 50 e 60, o crescimento

econômico de Rondonópolis se fundamentou na ampliação do agronegócio, período em que

se destacou a força da mão-de-obra de migrantes mato-grossenses, nordestinos, paulistas,

mineiros, bem como, japoneses e libaneses entre outros.

Nos anos 70, houve um processo de aceleração da produção agropecuária, com

ênfase para a produção de soja e a modernização do campo, que permitiu um crescimento

maior da produção e cultura da soja, da pecuária de corte e do próprio comércio. Nessa

mesma época se iniciou a migração sulista e, com isso, a mecanização da produção agrícola.

Já na década seguinte, Rondonópolis passou a ser polo econômico da região,

classificado como o segundo município do estado em estimativa política, econômica,

demográfica e urbana.

Nos anos 90, projeta-se como a “Capital Nacional do Agronegócio”, com um

significativo crescimento do setor agroindustrial, que permitiu o surgimento de grandes

eventos econômicos como a Exposul e a Agrishow Cerrado.

De acordo com o IBGE (2010), atualmente, Rondonópolis apresenta uma

população de 195.500 mil habitantes e é a segunda maior cidade depois da capital. É

conhecida em todo o país pela produtividade agrícola e por sua localização privilegiada, no

entroncamento das Rodovias BR 163 e BR 364, ligando a cidade com as demais regiões do

Norte e Sul do país. Além disso, o município é considerado como o “Portal da Amazônia” e

como a “porta” de entrada para o Pantanal Mato-grossense.

77

5.5 Resultado e Análise Interpretativa dos Dados

Este trabalho teve o seguinte objetivo geral: investigar e analisar criticamente a

ação do gestor na formação continuada na escola para a construção de uma escola

democrática. Como objetivos específicos, propôs-se: verificar se a ação do gestor na formação

continuada na escola apresenta um caráter amplo em que a sua responsabilidade vai além das

questões que envolvem os problemas do cotidiano escolar; investigar como o gestor escolar

tem conduzido os trabalhos na escola numa perspectiva de liderança democrática,

participativa e autônoma em que todos os atores do ambiente escolar tenham a oportunidade

de ensinar e aprender; verificar se em uma escola de gestão democrática o gestor tem

propiciado aos atores do processo educativo a troca de experiência, informação, conhecimento

e saberes que qualifica a vivência como democracia.

É com este enfoque e com base no referencial teórico e metodológico que se

apresentou nos primeiros capítulos a finalidade do presente estudo, que foi analisar a ação do

gestor (diretor e coordenador) na Formação Continuada na Escola enquanto possibilidade de

construção de uma escola democrática.

5.5.1 Primeira categoria: gestão democrática na escola

A escola deve ocupar o lugar de destaque que merece, deve ser tratada com

generosidade e rigor conceitual, para que construa um projeto aberto para o futuro, vinculado

à democracia e em permanente diálogo com as grandes maiorias. É consenso que o objetivo

primordial dessa instituição é promover a aprendizagem dos alunos, e isto se realiza com a

atividade dos professores e com as condições oferecidas pelas práticas de organização e

gestão. Entretanto, falar em escola é falar em aprendizagem, modos de aprender, é falar em

coisas que têm uma especificidade, que apresentam determinadas condições e exigências,

tanto dos professores como da própria escola, sob o risco de se comprometer o que esta se

propõe, que é a consolidação das aprendizagens dos discentes.

Com o foco na qualidade dessa aprendizagem é que apresento a primeira

categoria-democracia e suas subcategorias que abordaram; as concepções de democracia; de

gestão; de autonomia e de participação.

As análises foram realizadas seguindo esta organização: apresentar primeiro as

falas dos (cinco) diretores entrevistados e, em seguida, as falas dos (cinco) coordenadores.

Após cada pergunta e as respostas obtidas, foram desenvolvidas as análises utilizando alguns

78

autores que deram sustentação teórica à realização do trabalho. Os entrevistados responderam

a dois blocos de questões: o primeiro constituído de oito questões (ver anexo) e o segundo,

formado por cinco questões (ver anexo).

Indagados a respeito da forma pela qual concebem a democracia, os entrevistados

revelaram, em algumas respostas, um reducionismo entre a compreensão de democracia e de

gestão democrática. Esse tipo de situação ficou evidente em algumas falas dos gestores tais

como:

A democracia de forma geral é um instrumento que tem feito o Brasil crescer. Se

você me perguntar gestão democrática na escola, eu vou dizer que eu sou cria da

gestão democrática na escola, mas tenho muita dificuldade de lidar com o sucesso

da educação na escola democrática, tenho percebido que a escola vou falar do

município que é com ela que estou lidando hoje.No ano de eleição nas escolas a

dificuldade do profissional, do professor fazer um trabalho pedagógico, desvincular

um pouco dos interesses pessoais. Se você me perguntar:-Você é contra o processo

democrático na escola? Não. A escolha do gestor público que precisava ser

repensada de uma forma de não se vincular tanto aos processos que têm que

acontecer na escola durante esse período. (...) o que a gente tem assistido na rede é

que quando se tem mais de um, dois três candidatos isso não fica bem definido, e a

relação na escola é pior que os processos políticos que a gente acompanha na

sociedade pública e isso prejudica o fazer pedagógico ensino-aprendizagem. (D-A)

Democracia hoje é vista entre parêntese, ela é e não é, porque o seguinte: o voto

somente que nós temos hoje temos compromisso com a Secretaria de Educação e

muitas vezes ela nos dá certos limites ou até mesmo poder esse poder muitas vezes

ele é podado [...]. (D-B)

Democracia seria o trabalho coletivo onde todos participam na questão aqui da

escola, todos têm o direito de participar, de opinar, dar sugestões, de discutir no

coletivo [...]. (D-C)

É um conceito muito amplo e envolve principalmente o ponto participação e

especificamente em relação da escola e gestão democrática. [...].(D-D)

Democracia é o governo do povo, no qual as pessoas participam do seu

desenvolvimento e toma decisões juntamente com os governantes. (D-E)

Analisando as falas acima podemos dizer que as mesmas revelam a necessidade

do entendimento por parte desses gestores de que Democracia é muito mais ampla do que

gestão democrática, implica corresponsabilizar-se com os compromissos assumidos. Assim,

cabe-nos fiscalizar, acompanhar e avaliar as ações dos governantes, como também os

compromissos coletivamente assumidos. Ela não se constrói apenas com discurso, mas,

precisamente, de ações e aprendizados que possam corporificá-la. E isso requer tempo.

Tais posicionamentos evidenciam a compreensão desses diretores sobre a

necessidade de participar e colaborar com o exercício da cidadania e também da democracia

79

como ponto de reflexão acerca da dimensão da qualidade do ensino, que também é um direito

do cidadão numa sociedade democrática.

Neste último aspecto, entendo como Paro (2004) que é por meio da educação que

nos apropriamos dos conhecimentos elaborados historicamente e com eles construímos nossa

cultura e história e, também, ganhamos condições intelectuais para participar ativamente da

democracia.

A democracia a respeito da qual discorro neste trabalho não é a mesma

proclamada pelos discursos social- democratas ou neoliberais. O foco é a democracia real,

segundo a qual a aspiração e a prática são de justiça e de respeito a todo ser humano, e, mais

ainda, a luta pela sua humanização.

Nesse contexto, ao gestor cabe ter um perfil democrático e, portanto, desenvolver

condições de favorecer o processo democrático no cotidiano da escola. Para possuir todas

essas características, ele precisa dispor também de grande arcabouço teórico na área

pedagógica, bem como das habilidades técnicas e políticas, que representam recursos

essenciais para se garantir uma gestão inserida em uma perspectiva democrática, da qual

todos participem.

Nessa visão, o diretor passa a ser entendido, atualmente, como um articulador de

toda a equipe de educadores. Sua atuação é hoje considerada como fundamental para a criação

de um ambiente propício à discussão de questões referentes ao ensino-aprendizagem,

participação colaborativa, construção da cidadania e implementação de programas de

formação contínua de educadores (docentes e não docentes).

Muito embora diretores já tenham uma percepção cada vez mais nítida da

inadequação de algumas formas de atuação para o enfrentamento dos desafios atuais, sua

prática cotidiana ainda se revela fragmentada, técnica e burocrática, restringindo-se à divisão

e distribuição de tarefas destinadas a organizar o cotidiano escolar. Para Libâneo (2004, p.

216), todavia, “o diretor de escola é o dirigente e o principal responsável pela escola, tem a

visão de conjunto, articula e integra os vários setores (setor administrativo, pedagógico,

secretaria, serviços gerais, relacionamento com a comunidade)”.

Quanto à efetivação da democracia na sociedade, pode-se considerar que ela

também depende do desenvolvimento e fortalecimento de ações, e que estas sejam capazes de

formar os indivíduos das classes subalternas criando espaços para o debate e a compreensão

da ideologia destas classes,permitindo que os mesmos venham a debater com as ideologias já

difundidas pela classe dominante e criar uma nova proposta para a sociedade.

80

Apresenta-se,neste momento as falas dos coordenadores sobre democracia. Ao se

questionar como constroem a democracia e a gestão democrática dentro da instituição escolar,

os entrevistados enfatizam que essa construção tem sido realizada pelos processos de

participação, visto que é prática dos mesmos ouvirem a comunidade. Veja-se o que

expressaram os coordenadores:

Eu acho que nós temos um conceito equivocado de democracia, porque falamos que

vivemos num país democrático, mas você é obrigado a servir o exército, você é

obrigado a votar, você é obrigado a trabalhar no dia da eleição e se você não for

você sofre penalidades, então eu acho que a verdadeira democracia é aquela que

você tem livre arbítrio de escolher sem ter as sanções.Então acho que está longe

deste conceito, democracia tem seu significado bem trabalhado, bem vivenciado.

A nossa democracia é muito subjetiva porque você tem liberdade mas ao mesmo

tempo você tem uma série de conceitos morais ,éticos, religiosos que faz com que

você fique preso a alguma coisa, né, eu acho que a verdadeira democracia é você

ter consciência mas também poder fazer o que quer e arcar com as

consequências da sua escolha. Eu acho que democracia é isso aí. (C-A)

Democracia acima de tudo é liberdade de expressão, para agir, para pensar,

liberdade no geral, liberdade que você tem para decidir. E com relação à escola?

Acho que a liberdade que a gente tem que dá aos professores sensação de crítica,

uma liberdade que a gente dá aos funcionários em geral. (C-B)

Democracia é quando você trabalha num grupo, tudo que você faz é em comum

acordo com todos, é uma coisa aberta onde todos participam, onde todos colocam

sua opinião. (C-C)

É quando temos a liberdade de participar de todos os projetos nas tomadas de

decisões, é quando decidimos algo observando a opinião e sugestão de todo um

grupo em que todos têm o direito de opinar para a resolução dos problemas da

comunidade em geral. (C-D)

Vejo a democracia como algo que possibilita direitos ao cidadão e que as pessoas

sejam reconhecidas e que tenham a sua dignidade, contudo é preciso que não haja

confusão entre aquilo que você tem de direito e aquilo que realmente você exerce

como papel na sociedade. Ela é construída a partir do momento em que nós

ouvimos as pessoas com as quais nos relacionamos, em todos os segmentos da

escola, em momentos de discussões, reuniões e nos momentos dessas discussões nós

possamos tomar decisões ouvindo todas as partes pra que possamos chegar a um

consenso, aquilo que possa atender à vontade da maioria.Para que nós possamos

realmente preservar a chamada democracia que é considerada e existente em nosso

país e no ambiente escolar é bem propício o espaço para que nós conseguíssemos

ter realmente uma sequência, tenha valor, e eu acredito que em nenhuma escola

apesar de nós termos funções que para uns são inferiores,mas nós sabemos que o

gestor sem os outros componentes da escola ele não consegue desenvolver um bom

trabalho, por isso o gestor com sua equipe precisa ouvir todas as partes para a

tomada de decisões.(C-E)

Os depoimentos dos coordenadores revelaram que a democracia é mais bem

compreendida e está vinculada à participação nas tomadas de decisões da sociedade, o que

81

acaba favorecendo a conquista da cidadania e requer um esforço dos educadores em estimular

insistentemente as práticas de participação popular no contexto social.

A reflexão de Lima (2002, p. 42), contribui para esse entendimento:

A construção da escola democrática constitui, assim, um projecto que não é sequer

pensável sem a participação activa de professores e de alunos, mas cuja realização

pressupõe a participação democrática de outros sectores e o exercício da cidadania

crítica de outros actores, não sendo, portanto, obra que possa ser edificada sem ser

em co-construção.

A seguir vem a transcrição dos depoimentos dos diretores sobre o que é gestão

democrática.

Eu tenho tratado, essa é a minha intenção democracia, com a mais absoluta

tranqüilidade, eu nunca tive dificuldade nenhuma com o Conselho Escolar, que pra

mim é o órgão máximo da gestão democrática, a maior prova se a gestão é

democrática, é ou não, é quando o conselho é ativo. Eu, por exemplo, não tenho

tomado nenhuma decisão sem que não tenha consultado e discutido com o Conselho

e com as outras representatividades. (D-A)

Pra mim é um trabalho em conjunto, junto com a direção, os pares, a secretaria, o

administrativo, todo mundo em conjunto. Então, gestão democrática é um trabalho

em conjunto, sempre ouvindo e não tomar decisões sozinha, as decisões são

tomadas juntas. (D-B)

Gestão Democrática seria eleição de diretor através do voto da comunidade escolar

em geral. Penso que é isso. (D-C)

A gestão democrática não se encerra no dia da eleição para diretor, é um processo

diário, é um desafio, na verdade porque o gestor escolar ainda há uma ideia de que

ele é quem manda, é ele quem determina, e não deve ser desta forma. Nós temos que

dialogar muito na escola, então a gestão democrática envolve muito o diálogo e a

consideração das opiniões das pessoas, porque não adianta também só dialogar e

depois prevalecer a ideia só do diretor. (D-D)

A gestão democrática consiste, eu vejo assim, posso até estar equivocado, mas é o

que eu já disse. É a participação, uma gestão na qual as pessoas decidem qual a

escola os mesmos desejam, qual escola os pais gostariam para os seus filhos, qual

escola os servidores gostariam de construir, qual a escola os alunos gostariam pra

eles. Então nas tomadas de decisões eles estarem presentes e buscar construir essa

escola de acordo com a realidade daquilo que eles desejam. (D-E)

Percebe-se pelas respostas que os diretores entendem que numa gestão

democrática todos são responsáveis para que as decisões sejam tomadas de forma que levem à

construção de um projeto comum. Contudo, essa participação, como todo processo

democrático, é construído na vivência e na ação de democracia.

82

Segundo Antunes, a gestão democrática é entendida “como uma das formas de

superação do caráter centralizador, hierárquico e autoritário que a escola vem assumindo ao

longo dos anos [...]” (ANTUNES, 2002, p. 131).

Este processo de mudança exige que a unidade escolar deixe de ser um lugar

restrito e abra espaço para a comunidade participar nas decisões tomadas em seu interior a fim

melhorar a qualidade do ensino oferecido pela escola aos seus usuários. Portanto, considera-se

que, democratizar a gestão na escola pública inclui ter compreensão sobre a função social a

ser cumprida por essa escola, se a mesma for comprometida com a transformação e estiverem

busca de uma sociedade mais justa e mais humanitária.

Apple (2001) define a democracia como convivência, crença, sendo os costumes e

valores constituídos como inspirações de esperança por uma sociedade melhor, pois a mesma

tem um significado poderoso e que pode dar certo para atingirmos a liberdade, dignidade e os

direitos individuais e das minorias para nossa vida em sociedade. Para tanto, as pessoas

necessitam buscar e descobrir o significado da vida com democracia, pois só assim

poderemos vivenciá-la, a saber, procurando a compreensão de valores e ideais para o bem

comum.

Vejamos, agora, a transcrição de algumas falas dos coordenadores a respeito da

construção da gestão democrática:

A democracia que é construída na escola, ela vai daquele, como é que eu vou dizer,

nossa democracia de que o meu direito vai onde termina o seu, a nossa democracia

é muito limitada, nossos direitos é muito limitado. (C-A)

Acima de tudo, o respeito tem que priorizar isso aí porque o respeito acima de tudo,

só que você tem que estar muito atento que ainda existe professor que confunde

liberdade com libertinagem, ainda infelizmente ainda existe isso aí. O que acontece

é da mesma forma que nós temos uma equipe grande, muito boa para trabalhar, nós

temos aquela turminha do” quanto pior melhor”, então você tem que estar dando

liberdade, estar atenta ao que eles pensam, porque eles têm que trocar com você

também. Porque a gente diz muito a eles na HTPC4:- não adianta você ficar aí no

fundão criticando, criticando e não dar sugestão, você tem que dá uma sugestão

para melhorar o processo. (C-B)

Pra mim é um trabalho em conjunto, junto com a direção os pares a secretaria, o

administrativo, todo mundo em conjunto. Então, gestão democrática é um trabalho

em conjunto, sempre ouvindo e não tomar decisões sozinhas as decisões são

tomadas juntas. (C-C)

Procuro construir a democracia na escola valorizando a opinião da equipe escolar.

Levando o grupo a observar todas as particularidades dos integrantes da escola,

4 HTPC- Hora do Trabalho Pedagógico Coletivo

83

pois como atuo como coordenadora procuro valorizar a nossa equipe para que o

ensino seja cada vez mais dinâmico. (C-D)

Ela é construída a partir do momento em que nós ouvimos as pessoas com as quais

nos relacionamos, em todos os segmentos da escola, em momentos de discussões

reuniões e nos momentos dessas discussões nós possamos tomar decisões ouvindo

todas as partes pra que possamos chegar a um consenso aquilo que possa atender

à vontade da maioria. (C-E)

Os depoimentos levam à compreensão de que para esses entrevistados o diálogo

represente a melhor forma de se desenvolver os processos democráticos na escola e,

consequentemente, a garantia da construção da gestão democrática participativa com objetivo

da melhoria do ensino.

Observa-se que existe entrosamento maior desses gestores com a comunidade

escolar, uma vez que suas falas denotam um comprometimento com os vários segmentos da

escola, bem como a necessidade de ouvir a opinião de todos no interior da mesma. Isso revela

que, os coordenadores concebem o papel do gestor como mediador, articulador das ações da

escola, intermediador de todo o processo de ensino e aprendizagem, articulador do

pedagógico e do administrativo, aquele que tem que estar a par de tudo.

De forma geral, pode-se enfatizar essa presença da comunidade no cotidiano da

escola constitui um avanço muito grande, indica que a gestão democrática tem oportunizado a

vivência dos processos democráticos nas decisões escolares, rompendo com os modelos

técnico-burocráticos de mando e poder, tão presentes no âmbito escolar e que acabam por

impedir o processo de democratização da gestão escolar e, por conseguinte inviabilizam a

melhoria do atendimento escolar. Hora (1994) enfatiza que a escola só terá possibilidade para

atuar como fator de mudança social na medida em que desenvolva uma relação consciente

com a comunidade escolar.

A concretização desse fator depende da inserção do diálogo com todos os

segmentos que representam o desejo da comunidade. Daí a necessidade de se desenvolver na

escola uma reflexão sobre o sentido e significado da construção da gestão democrática na

escola. Contudo, para que se consolide a democracia no espaço escolar, faz-se necessário,

oportunizar a democratização do saber, a fim de se atingir o objetivo de democratizar a

sociedade.

Se quisermos construir uma escola para o futuro, devemos ir além da cultura da

época; é inegável que temos problemas de gestão, mas eles precisam ser pensados e

enfrentados em sua justa dimensão. Os grandes problemas da escola e da educação pertencem

84

a outro tipo. Dependem, para serem solucionados, de pessoas que mobilize recursos humanos

políticos, sociais e ideológicos visando a uma transformação substantiva.

Os diretores assim se manifestaram sobre os desafios e perspectivas da gestão

democrática na escola hoje:

Porque todas as decisões que a escola tem tomado tem sido no coletivo, e a gente

faz questão de manter, por exemplo aquelas duas ou quatro assembleias onde toda

a comunidade vem e (... a gente joga[assunto]) com propriedade para eles. Então,

essa participação, primeiro, do Conselho na escola é muito grande com relação aos

professores. Nesse processo democrático nós temos a cada sessenta dia uma

reunião que nós chamamos de Reunião Pedagógica, onde nós discutimos todos os

problemas que envolve a parte pedagógica de cada aluno, de cada turno, de cada

professor, além de reuniões de trabalho. Nessa reunião pedagógica eu faço questão

de abrir para que todos têm o direito de falar e de ouvir, então isso tem feito com

que o grupo tenha refletido muito. Da mesma forma o segmento de funcionários, eu

me propus a eles e com eles que sempre no final do bimestre a gente senta pra fazer

essas avaliações como vai, o que não vai, como está o diretor o que está faltando o

que não esta. Eu sempre faço essas avaliações, é um jogo muito aberto, e essa

reunião tem sempre a participação de representantes do Conselho nessas reuniões.

É todo esse fazer da escola, são ações democráticas são ações de valorizar cada um

com suas diferenças, né, e eu me vejo como gestor que, muitas vezes, aquele bom

professor ele quer julgar o outro, então esse é problema do gestor de aproveitar

cada um dentro de suas diferenças, de suas dificuldades, mas também de suas

grandezas e aproveitar para discutir e fazer com que o coletivo cresça. Então eu

tenho dito que a escola não são os 37 funcionários iguais, cada um com sua forma

de ser, de fazer diferenciado, mas a gente tem valorizado cada um dentro de suas

competências, dentro do seu fazer pedagógico, dentro do próprio caráter de cada

um, e isso tem crescido o coletivo da escola, então pra mim essa é a gestão

democrática: não só discutir a questão de recursos, não só discutir os problemas,

mas é também valorizar o ser humano na maior necessidade que cada um tem. (D-

A)

Eu construo a democracia aqui dentro da escola ouvindo meus pares, ouvindo as

pessoas, de acordo comum com todos, porque muitas vezes as coisas vêm,

logicamente, para o gestor, certo, mas eu já disse para os meus pares: se acontecer

alguma coisa eles já estão sabendo o que nós combinamos, como que nós vamos

fazer, então democracia aqui na escola, o meu princípio maior é ouvir os meus

pares. (D-B)

Os desafios da Gestão Democrática, o mais difícil seria a questão da participação

dos funcionários. Porque às vezes os funcionários eles não têm aquele pensamento

que ele também faz parte do coletivo, e às vezes você chama para uma reunião e às

vezes, porque está discutindo o pedagógico, eles não têm necessidade de participar

porque a parte deles é a limpeza. Então, ele não tem essa visão, mas aos

pouquinhos eles estão” pegando” que a escola é um todo, desde a merendeira até o

porteiro, todos têm que ter noção de educação, do pedagógico, porque faz parte. Se

a vigilante não sabe tratar os pais que chegam, os próprios alunos, então aquilo ali

também está educando, a merendeira sabe falar, tudo isso faz parte. Então, o maior

desafio é esse: a participação de todos. (D-C)

Eu penso que a gestão tem muito ainda que avançar, que é um processo, na

verdade, nós estamos vivenciando um processo. Há poucas décadas não existia

eleição para diretores, era indicado pelos governantes, então nós estamos num

processo de aprendizagem, que muitas pessoas ainda têm que internalizar que elas

podem chegar ao poder através do voto da comunidade e com capacidade pra isso,

é um processo, mesmo. (D-D)

85

Olha, os desafios eu vejo assim: a abertura é muito grande, eu não vejo assim

tantos desafios ,mais na questão da infra-estrutura e do financiamento, mesmo;

mas a nível de participação de informação, essas coisas não temos porque hoje a

participação dos pais é boa, poderia ser melhor, mas considerando os diversos

fatores que interferem, entendo que há realmente um, a boa participação, os

servidores em estar trabalhando com clareza, entendendo seu papel. Mas o grande

desafio é a questão do financiamento da própria escola, material que não chega, os

recursos que são poucos, investimentos que não chegam, o mínimo possível dentro

da escola. Então, de repente, você quer desenvolver um projeto na escola e você

não encontra respaldo financeiro pra tal; então, você buscar parcerias hoje não

está fácil, está uma carga tributária tão grande que você chega nas empresas pra

buscar parcerias, então eles fecham as portas, então, por sermos uma escola

pública e que existe muito recurso pra tal. O que a gente almeja é que o próprio

poder público garanta essa escola de qualidade e gestão democrática, esse processo

de gestão democrática também é uma escola de qualidade. Você tem que garantir

aprendizagem aos alunos, tem que garantir essa escola aos alunos, então por mais

que nós temos dificuldades, nós temos que fazer o melhor e atender da melhor

forma possível. (D-E)

De forma geral, pode-se observar que houve avanços significativos na gestão

escolar, com relação à necessidade de ouvir os usuários da escola. A análise aqui realizada

indica que, embora os gestores se refiram à necessidade de maior participação da comunidade

no espaço escolar, contudo é interessante rever os aspectos relacionados ao entrosamento da

comunidade com a escola e o porquê de a gestão da escola ainda não ter conseguido envolver

a comunidade de forma efetiva, o que se torna um dos principais desafios para a direção

escolar.

Conforme se mostrou acima, os gestores declaram que a democracia se aprende

com a prática da participação, sugere convivência e aprendizado nas tomadas de decisão com

igualdade de direitos. Trata-se de uma participação responsável e comprometida, com sujeitos

autônomos capazes de conduzir uma organização da prática pedagógica escolar que seja

autônoma e democrática, na qual o sujeito que se transforma é também responsável por sua

transformação.

Neste ponto, adquire interesse à observação de Veiga (2007, p. 19),

A gestão democrática implica necessariamente o repensar da estrutura de poder da

escola, tudo em vista de sua socialização. A socialização do poder propicia a prática

da participação coletiva, que atenua o individualismo; da reciprocidade, que elimina

a exploração; da solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, que anula a

dependência de órgãos intermediários que elaboram políticas educacionais das quais

a escola é mera executora.

Compreende-se que esse processo de participação é o principal elemento para que

o mundo seja mais humanizado, pois acaba possibilitando uma maior expansão da

democracia. E isso possibilita aos seres humanos ações de aprender e interagir com o meio

86

social do qual fazem parte. Possibilita e favorece a inserção dos menos favorecidos na

sociedade e sua libertação, apresentando um novo modo de pensar e agir, visando à

elaboração e construção de um projeto coletivo capaz de operar transformações na sociedade

e torná-la mais humanizada e que os indivíduos possam enfrentar e superar as contradições

nela existentes.

É por isso que o fator da descentralização e da eleição para os gestores escolares

faz parte de uma caminhada que objetiva a participação da sociedade civil no debate da

política de educação democrática, idealizando e propondo que a escola se torne um espaço de

relações democráticas, rompendo com a cultura da hierarquização, subordinação, alienação,

clientelismo. Nestes moldes, a gestão democrática fortalece e abre espaços para que toda a

comunidade escolar passe a discutir com direitos assegurados a gestão da escola para uma

educação e ensino de qualidade.

Seguem-se as falas dos coordenadores, também a respeito dos desafios e

perspectivas da gestão democrática na escola.

A nossa escola ela é democrática. Assim, a equipe gestora, dentro da minha parte

que é a coordenação, eu posso tomar a atitude que eu precisar tomar, mas só que eu

tenho que ver que acima de mim tem o diretor e que ele como diretor ele tem o

dever, a obrigação de saber tudo o acontece na escola. Então, eu não posso, por

exemplo, tomar uma atitude e ignorar o diretor, em hipótese alguma, porque ele é o

diretor da escola. Então nós somos assim: não tem nada imposto, vamos fazer isso

ou aquilo, a gente tudo é conversado, né, tudo é a equipe, ela é muito coesa, e o que

a equipe fecha a gente fecha com os professores. Mas existe assim, a gente trás uma

proposta em qualquer decisão, se a proposta da equipe for vencida pela proposta

dos professores, a democracia aqui é mantida, porque democracia é você aceitar o

voto da maioria e abraçar essa ideia, não é falar: Mas eu não votei nisso aí, eu não

quero, não tô nem aí. Não, mesmo sendo voto vencido a equipe, por exemplo, a

gente aceita o voto da maioria. O maior desejo de uma escola é ver seus

participantes , alunos , toda a equipe e funcionários trabalhando em conjunto sem

ter sanções, penalidades, sem ter essas burocracias. (C-A)

O maior desafio que a própria escola encontra é fazer essa coletividade, e a gente

sempre fala:-A coletividade não consiste em trocar figurinhas,maior desafio é a

gente fazer o professor entender que uma escola funciona em cima da coletividade,

e é isso que a gente almeja que no futuro isso venha acontecer. Que o pequeno

grupo “quanto pior melhor” venha interagir com o grande grupo que está querendo

elevar o nome da escola, elevar o IDEB5 da nossa escola, trabalhar junto o coletivo,

mesmo. Aqui na escola nós dividimos um pouco o nosso trabalho e a gente deixa

essa parte mais burocrática para o diretor, a gente fica mais com o pedagógico,

essa parte de chamar funcionário no geral a gente deixa para o diretor em função

do nosso trabalho pedagógico. Nós somos responsáveis totalmente pela parte

pedagógica e pelos professores e pela comunidade em geral, os pais de alunos,

quando chega um pai de aluno que vem são atendidos pela coordenação, passa pra

eles o que está acontecendo. Então, nosso trabalho está mais voltado para o

atendimento ao aluno, o pai, o professor. (C-B)

As dificuldades que eu vejo aqui na escola geralmente é reunir professores, que

grande parte é de contrato, e reunir todos os professores não é fácil porque não tem

5 Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

87

horário, mas muitas vezes é o estudo, porque a maioria dos professores não

querem estudar textos tal, ler, ir para a plenária , discutir , eles falam assim:-Já

estou velha pra estudar, já estudei demais, a dificuldade nossa é isso. O que almejo

é que nós trabalhássemos em conjunto, e aqui a gente tem muita ajudada diretora,

das coordenadoras. Na minha opinião, estudo na escola muitas vezes a gente não

está preparado, a gente pode fazer uma leitura ,mas aquela explicação deveria ser

mais profissional, professor que entende, que trabalha na área, eu vejo assim,

melhoraria muito se essa formação viesse da Secretaria. (C-C)

O principal desafio está em trazer a comunidade para a escola, para que juntos

possamos contribuir com a equipe escolar, firmando assim uma gestão

verdadeiramente democrática. A perspectiva é que um dia consigamos ter a

comunidade participando efetivamente de todos os processos da escola assim como

dando sugestão para um ensino cada vez melhor e de maior qualidade. (C-D)

Os desafios são em relação a algumas pessoas que não querem participar das

discussões e diálogo e resiste em estudar e mudar a sua prática, ou seja, uma

concepção que está pronta e acabada . O que eu almejo é que essas pessoas de fato

participem da formação, façam reflexão e que venha mudar efetivamente a sua

prática. (C-E)

Ao se analisar as falas dos coordenadores verifica-se que todos são unânimes em

dizer que é muito importante que todos participem das discussões dentro da escola. A gestão

democrática, portanto, caminha ao encontro da busca de qualidade da educação, e sua

vivência propicia aos envolvidos o desenvolvimento da dimensão individual e social.

De fato, a educação é essencialmente um processo de aquisição de conhecimentos

necessários ao homem no seu intercâmbio com a natureza e com os outros indivíduos, e

entende-se que esse processo de aquisição do conhecimento ocorre no próprio contexto de

trabalho e dele é fruto. Por isso, vê-se como fundamental que a comunidade participe dos

projetos da escola.

Acrescente que uma vez que a escola constitui um espaço privilegiado para a

educação, ela deve proporcionar ao aluno o todo estímulo necessário à sua aprendizagem e

propiciar o contato com os objetos a serem estudados. Além dessa preocupação com os

conteúdos, deve também visar à formação do cidadão, e é neste aspecto que a gestão

democrática pode contribuir, desde que haja uma conscientização para tal função da escola.

Tal situação se vincula por inteiro ao objetivo final da organização da instituição

escolar que coordena a prática democrática em favor do desenvolvimento do aluno autônomo,

tendo em vista que o fim de uma escola democrática é precisamente a formação de seres

humano-históricos em seus educandos, e, assim, ela estará verdadeiramente contribuindo com

a educação para a cidadania.

Diante dessas considerações, parece adequado concordar com Beane & Apple

(2001), que consideram que as escolas democráticas necessitam fundar suas bases numa

88

definição abrangente de “nós”, com o compromisso de edificar uma comunidade que é tanto

da escola quanto da sociedade na qual está inserida.

Ora, entende-se que a gestão democrática nasce no ambiente escolar, exatamente a

partir da realidade em que se insere a escola e mediante a ação dos gestores que direcionam a

elaboração do planejamento participativo de modo a sensibilizar os integrantes da

comunidade a respeito do contexto em que vivem e a romperem com as ideologias impostas

pelo sistema dominante, a enxergarem para além das aparências e para se tornarem sujeitos

críticos, agentes transformadores da práxis.

Esta gestão democrática é essencial para a ressignificação de políticas

educacionais que direcionam a prática educativa no âmbito da escola, bem como para

revigorar os procedimentos que orientem os processos de maior participação nas decisões,

dentro dos parâmetros definidos no “chão” da escola.

O processo de democratização pode ocorrer na medida em que reúne gestores,

professores funcionários, estudantes, pais e demais segmentos que são representantes da

comunidade para discutir, decidir, acompanhar e avaliar o desenvolvimento do Projeto

Político-Pedagógico da Escola, deste modo propondo e conduzindo o processo para a

construção de novos espaços de participação nas práticas educacionais. Nessa direção,

estaremos longe das práticas rotineiras e consolidando um ambiente escolar com igualdade de

condições e de trabalho para todos.

Ao se perguntar aos gestores a respeito de como conduzem a participação de

todos os setores da comunidade escolar, as respostas foram variadas, porém todas revelam a

preocupação dos mesmos com a necessidade de participação de todos os segmentos de forma

que, através das opiniões e sugestões, os processos decisórios dentro da instituição venham a

ser de comum acordo e atendam aos anseios da maioria. Eis o teor das falas dos diretores:

Cada segmento tem a sua representatividade no Conselho, então o Conselho nós

temos reunião a cada sessenta dias, ou mesmo a Regional, que acontece a cada dois

meses, onde cada segmento tem seu espaço pra estar fazendo sua fala e colocando.

Além disso, dentro do calendário escolar nós temos garantido quatro grandes

assembléias. Nessas assembleias onde a comunidade como um todo, pais, alunos e

funcionários está presente no pátio da escola para a tomada de decisões e pra

tomar conhecimento de como foram encaminhadas a coisas na escola durante esse

período. Além dessas assembleias nós temos diversas participações dos pais, nos

estamos oferecendo há a dois anos tanto a alunos e pais o curso de formação do

PROERD6. Escola é aberta para a comunidade usar, até porque não tem um espaço

público na comunidade, e os alunos, primeiro na representatividade da sala de

aula, na participação das próprias aulas e nos eventos culturais e esportivos, todos

os eventos culturais possíveis, os alunos têm participado junto com os professores.

6 Programa Educacional de Resistências às Drogas e a Violência.

89

Também fazemos evento para a comunidade externa, para vir acompanhar os

trabalhos dos alunos. (D-A)

Todos os setores em reuniões periódicas, reuniões de todos os setores, e quando a

gente está como dificuldades a gente chama os pais, telefona, faz reunião por turma

devido à grande quantidade de alunos, começa fazer por ciclo e fica mais fácil de

você conduzir os trabalhos e dá mais resultado. Faço reunião com os servidores,

conversa, vê o que é melhor, participam, conversam, os pais vêm, ajudam na escola,

observando seus filhos, sabendo das dificuldades dos filhos. A escola é aberta, e eu,

sempre em reuniões, falo:-O portão está aberto pra vocês virem a hora que

quiserem, a escola é nossa,é uma escola que todos participam de forma correta. (D-

B)

Olha, toda a comunidade, quando falo inclui também os pais. É, então os pais são

chamados para a reunião, convocados quando há reunião ordinária,

extraordinária, eles são convocados através de bilhetes e eles comparecem, e a

gente coloca qual é o sentido da reunião, aí eles comparecem. Na escola, da mesma

forma, a gente convoca:- Vai ter uma reunião coletiva, e eles participam dessa

forma. Os pais participam assim, eles falam, mas na hora dão nenhuma opinião, os

pais. Os funcionários dão opinião, mas quando você faz uma reunião do pedagógico

os funcionários acham que não é da alçada deles, então ainda tem esse pouco de

resistência nesse sentido. Eles gostam de reunião de funcionários, aí eles querem

falar do trabalho deles no sentido de algo que não e tão importante, tipo” lavagem

de roupa” e que eu não gosto. (D-C)

Nós temos um projeto da escola, nós temos que chamar a comunidade, ela tem que

participar, ela tem que opinar e prevalecer o que é interessante para a comunidade

de acordo com a legislação pertinente à educação a comunidade escolar de uma

forma geral, todos os segmentos. (D-D)

A participação a gente busca ela, primeiro a gente busca ela trazendo os pais para

dentro da escola, primeiro objetivo era trazer eles, depois começamos a ouvi-los.

Eles querem ser ouvidos, então nós começamos com os momentos culturais, as

datas festivas e nós procurávamos estar trazendo eles para a escola, depois nós

mudamos o foco, as nossas reuniões com eles nós abrimos para eles falarem mais ,

então nós diminuímos o nosso tempo de fala para ouvir mais eles. Então aquelas

reuniões para os pais falarem com os professores, elas acontecem, mas ela é

específica, porém nós temos nossas reuniões para estar ouvindo os pais, então eles

participam através das sugestões que eles fazem por escrito. A gente abre espaço

eles darem sugestões, levam vários problemas que eles estão observando dentro da

escola. Enquanto a gente analisa todos esses levantamentos através da caixinha de

sugestões, a gente chama para reuniões com todos, apresentamos a situação e aí

eles dão as participações deles. Nós temos reunião mensal com os pais, não só para

entrega de notas, mas também procuramos ter eles mais tempo dentro da escola,

então as reuniões elas são bem definidas, caracterizadas por cada seu momento e

não só para prestação de contas, entendeu? Mas também para informação, dar um

momento de descontração pra eles, um momento cultural, então numa reunião só a

gente procura estar fazendo essas atividades diferenciadas e ao mesmo tempo estar

ouvindo-os. (D-E)

Nas respostas dos diretores fica evidente que eles compreendem que a gestão

democrática, na escola, cria oportunidade para a comunidade apresentar seu

descontentamento, suas ideias, seus anseios e, por outro lado, possibilita conhecer, ouvir e

90

compreender com mais profundidade as condições de trabalho e o cotidiano escolar. Essa

compreensão permite que tanto escola quanto a população tenham a oportunidade de

conquistar melhorias de interesses coletivos, visto existirem questões que ultrapassam os

muros da escola e demandam esforços mais ampliados da sociedade para que as mudanças se

efetivem tanto para a escola como para a comunidade. Percebe-se pelo exposto, contudo, que

a escola enfrenta, ainda, resistências ao trabalho numa perspectiva de gestão democrática.

Paro (2001, p. 317) esclarece que

“Ao estimular a participação de todos os segmentos, a escola está

potencializando a sua ação pedagógica, assumindo a articulação das

responsabilidades de cada sujeito para o sucesso do processo de aprendizagem. Ao

mesmo tempo que gerencia a produção do conhecimento, a escola estabelece,

educativamente, os diversos papéis (do professor, do funcionário, do aluno e da

família, como sujeitos com ações de natureza distintas, mas com contribuições

indispensáveis ao sucesso escolar).”[...].

Acredita-se que, a razão de ser da gestão da educação consiste, portanto, na

garantia da qualidade do processo de formação humana – expresso no Projeto Político

Pedagógico que possibilitará ao educando crescer e, através de conteúdos do ensino, que são

conteúdos de vida, hominizar-se, isto é, tornar-se mais humano. O objeto dessa transformação

é o homem que assume a educação e se assume orientando-se para os caminhos da

emancipação política, cultural e social.

Ainda, de acordo com Paro (2001, p. 306),

A participação da população na escola ganha sentido [...] na forma de uma postura

positiva da instituição com relação aos usuários, em especial aos pais e responsáveis

pelos estudantes, oferecendo ocasiões de diálogo, de convivência verdadeiramente

humana, em suma, de participação na vida da escola.

As críticas aos modelos pragmatistas vêm ocorrendo, praticamente em todos os

países, com relação aos sistemas escolares; essa nova realidade exige uma concepção de

formação de educadores pautada na construção de atitudes inovadoras e formas mais humanas

e democráticas de gestão, baseadas em princípios e valores que conduzam a práticas

dialogadas e fortalecedoras da prática cidadã.

Apresentam-se na seqüência os depoimentos dos coordenadores entrevistados

sobre os modos como conduzem a participação de todos da comunidade escolar.

Acho que a primeira atitude para a participação é o respeito pelo trabalho de cada

um, compromisso que a gente tem com essa escola e pelo papel que a gente

91

desempenha. Com os professores essa participação está bem interiorizada porque

nós temos formação continuada não é de agora, ela está bem consolidada dentro do

nosso PPP (Projeto Político Pedagógico) desde 2005. (C-A)

Aqui na escola nós dividimos um pouco o nosso trabalho e a gente deixa essa parte

mais burocrática para o diretor, a gente fica mais com o pedagógico, essa parte de

chamar funcionário no geral a gente deixa para o diretor em função do nosso

trabalho pedagógico. Nós somos responsáveis totalmente pela parte pedagógica e

pelos professores e pela comunidade em geral, os pais de alunos, quando chega um

pai de aluno que vem são atendidos pela coordenação, passa pra eles o que está

acontecendo. Então, nosso trabalho está mais voltado para o atendimento ao aluno,

o pai, o professor. (C-B)

No início do ano em uma reunião geral a gente decide, todo mundo junto, aí todo

mundo vota, porque às vezes tem várias opinião, a gente coloca na lousa, ai eles

escolhem, fica ali quem ganhou. A gente faz reunião, marca com eles, o pessoal da

tarde vem de manhã, o da manhã vem à tarde, a gente faz assim. Ai duas vezes no

ano tem reunião extraordinária, no final do ano também que a gente vai fazer uma

avaliação dos trabalhos e vê algumas coisas que têm que ser mudado, e todo mundo

participa dando a sua opinião, falando, fazendo parte. (C-C)

Na nossa escola todos os funcionários são convidados a participar da elaboração

do PPP da escola. Então, nós fazemos reunião, discutimos o que é de interesse do

coletivo da escola. Mandamos bilhetes convidando os pais para vir na escola,

mandamos questionários, mas não é todos que devolvem, e escutamos as opiniões

dos segmentos que representa todos os setores da escola. (C-D)

Continuamente as coordenadoras, juntamente com o gestor, realizam reuniões para

que todos possam tomar decisões, e nesse momento dessa participação todos têm

espaço para falar e nós também realizamos os nossos encontros com os professores

e com os pais também, porque nós acreditamos que todos os elementos envolvidos

na escola precisam participar e contribuir e eu avalio nesse momento que nós

estamos com uma participação boa. Embora exista alguns casos que nós ainda não

conseguimos resolver em relação a algumas pessoas que deveriam participar um

pouco mais, contudo eu acredito nesse momento que nós estamos com uma

participação considerada boa diante de uma sociedade que tem tantos afazeres,

tanta correria, tanto compromissos , mas os elementos envolvidos na escola eles

buscam esclarecer, tirar dúvidas, eles nos procuram constantemente para que

possamos atendê-los, para que possamos resolver os problemas possíveis. Isso

através de nossas discussões, encontros, reuniões com os pais juntamente com os

professores ou reuniões só com os professores ou reuniões só com os funcionários.

Essas reuniões se fazem contínua e nesses momentos nós cedemos espaços pra que

as outras pessoas possam falar, para que nós possamos saber o que elas estão

pensando, se nós estamos caminhando no rumo certo, se estamos fazendo como

deveria ser feito, buscando sugestões deles. Nas reuniões com os pais nós

distribuímos uma caixinha com lápis, papel para que os pais coloquem suas

opiniões, colocar sugestões, críticas, pois estamos abertos a críticas para que

possamos mudar naqueles pontos que nós estamos falhando. (C-E)

Fica evidenciado no discurso dos entrevistados que grande parte do interesse e do

objetivo dos mesmos se relaciona à melhoria das relações na escola. Contudo, é possível notar

que essa participação, ainda, é um dos aspectos a ser melhor entendido por todos os atores da

escola, pois falta compreensão da real necessidade da participação da comunidade nas

92

tomadas de decisões. Explicita-se em algumas falas, também, que o PPP da escola representa

a organização dos projetos da unidade de ensino.

A análise aqui realizada indica-nos que, embora a escola tenha oportunizado aos

segmentos que a integram a participarem e juntos elaborarem uma proposta de trabalho

escolar, ela não tem conseguido efetivar tal ação, isso não significa, porém, que a comunidade

não tenha dado sua contribuição ou que os gestores tenham deixado de agilizar instrumentos

que pudessem promover avanços no sentido de trazer a opinião e a participação da

comunidade escolar. Cabe-nos aqui, portanto, uma reflexão acerca de como é vista essa

participação por parte dos pais e quais os condicionantes que contribuíram com a não

participação desejada.

Diante do exposto acima, é que defendo uma escola pública comprometida com a

maioria da população e que leve em consideração os princípios da democracia e da cidadania,

da igualdade e da justiça social tendo em vista oferecer elementos para um novo exercício da

política a partir dos menos favorecidos, excluídos das tomadas de decisão e esclarecer ao

máximo a ligação da política escolar com o cotidiano das relações comunitárias nas quais a

escola está inserida. Essa tomada de consciência promove a emancipação e permite maior

comunicação e diálogo e, consequentemente, a autonomia.

Sobre esta questão - a autonomia - os diretores assim se manifestaram:

Autonomia é um passo único do princípio da escola democrática. Agora, ninguém

dá essa autonomia, a escola precisa ir construindo aos poucos a sua autonomia. Ela

é autônoma quando os seus professores buscam na formação alicerçar o seu fazer

pedagógico, a equipe diretiva juntamente com o seu quadro de professor, com seu

grupo de funcionários, quando essa comunidade escolar sabe o que quer e

batalham por isso com competência, com conhecimento de causa, a escola aí ela

consegue sua autonomia. (D-A)

Uma escola autônoma, a gente tem as leis que regem que a gente faça dentro do que

rege e que não crie atrito, que não venha prejudicar, que há um consenso, o

andamento e a qualidade do ensino, que todos respeitem e dialoguem com um

objetivo comum, que é a qualidade do ensino, porque nós temos o IDEB, é, o mesmo

a cada ano aumenta apesar das dificuldades. (D-B)

A escola não e autônoma inteiramente, ela nunca vai ser, pois nós devemos aos

nossos superiores esse elo, com superior, então, autônoma não é. Por exemplo, eu

quase não busco a Secretaria para resolver problemas internos, então dificilmente

eu levo problemas para lá, eu tenho que resolver aqui dentro da unidade escolar.

Então ela e autônoma nesse sentido, mas não inteiramente, porque tem assuntos que

você depende, tem que passar por lá, questão de funcionários, questão de

contratação, às vezes a gente só pode contratar até trinta dias, tem que passar pela

SEMEC, pode selecionar e encaminhar e eles acatam se quiser. E autonomia é ser

capaz de resolver os seus problemas, os que dão conta. Eu particularmente quase

não procuro a Secretaria. (D-C)

93

Escola autônoma é aquela que cumpre a legislação educacional e sabe porque está

cumprindo essa legislação, porque pode acontecer de algo que parece uma

imposição de uma Secretaria de Estado ou Município que não ser uma imposição,

ser uma conquista da sociedade. Então, nós precisamos saber diferenciar, então

autonomia envolve isso, saber o porquê das ações. Nós temos uma decisão para ser

tomadas na escola, nós vamos tomar essa decisão pautada em que?Pautadas na

legislação, isso é ter autonomia. A partir do momento em que a escola é impedida

de fazer sua ação com base na legislação educacional, não tem autonomia. (D-D)

Escola autônoma eu vejo que seria aquela escola que tivesse a possibilidade de

caminhar com suas próprias pernas em todos os aspectos. Financeiramente falando,

recurso financeiro descentralizado, de espaço dentro da escola, porque isso não

acontece hoje, as escolas dependem muito da rede e dentro da rede, municipal não é

descentralizado ainda. A única coisa que é descentralizada é a merenda. Então as

outras ações, tudo que se precisa na escola depende exclusivamente da Secretaria

de Educação, então isso tem uma demora muito grande, você quer executar, você

tem muitas necessidades e você acaba não tendo como. Mas, administrativamente

falando, é com relação à gestão de pessoas, também a gente tem certas dificuldades

na hora de fazer os contratos que passa por lá, tem um certo limite e de certa forma

a escola não pode ultrapassar. Os contratos são de responsabilidades da escola

somente até trinta dias, passando disso não é mais nós. E o que acontece?O próprio

servidor que vem, você não pode estar selecionando, você é obrigado a trabalhar

com aquele que é encaminhado, então isso dificulta, também. Muitos professores

que hoje estão despreparados vêm para a escola não têm domínio de sala, não têm

domínio do conhecimento, do conteúdo, mesmo, então você vê uma defasagem muito

grande, sem nenhuma experiência de sala de aula, alias, de escola , não têm

experiência. De certa forma isso dificulta, então escola autônoma eu vejo como

aquela que conseguisse superar essas dificuldades e caminhar com suas própria

pernas, que ela mesmo decidisse os seus caminhos a seguir. Nós procuramos fazer

isso mais a nível pedagogicamente falando, nossos projetos e tal, mas quando você

vai executar isso em alguns momentos você encontra bastante barreiras. (D-E)

Falar de autonomia exige repensar as relações de poder e ampliar as práticas

participativas na escola, nos sistemas, na sociedade, baseadas na racionalidade, comunicação

e dialogicidade. Como já foi explicitado a participação é o elemento-chave para o

compartilhamento, emancipação e tomadas de decisões individuais e coletivas por parte de

todos os atores da escola.

Os depoimentos revelaram que para alguns diretores, a busca pela autonomia é

constante. É uma busca que pressupõe reflexão individual e social, visto que não é possível

desejar ou alcançar a autonomia sem um projeto coletivo.

Além disso, como pensar em autonomia sem a consolidação da gestão

democrática da e na escola? Portanto, é necessário que a escola tenha um projeto político e

sustentação teórica e metodológica estabelecidos como princípios no seu Projeto Político

Pedagógico, bem como um Conselho Escolar atuante que possibilite a autonomia financeira

da instituição.

A autonomia da escola, entretanto, não se resume a essas condições. Ela é mais

significativa e refere-se à capacidade de tomar decisões compartilhadas e comprometidas com

94

os desafios educacionais, assumindo a responsabilidade e a sua finalidade, que é formar os

indivíduos que frequentam as nossas escolas.

Estudo de Lima (2002, p. 96) explicita que

A autonomia da escola, a autonomia dos professores e dos alunos, e de outros

actores educativos, concretizando-se através de processos democráticos de tomada

de decisões, incidindo sobre todas as áreas político-educativas (curriculares,

didáticas, avaliativas, organizacionais, administrativas, etc.), ainda que em graus

variáveis, consubstancia-se no exercício de uma pedagogia da autonomia,

assegurando-lhe condições para sua realização livre e democráticas mas, sobretudo,

traçando-lhe um quadro de valores, objectivos e projectos político-educativos de

referência.

Pelo que se expôs, compreende-se que repensar as ações de poder e ampliar as

práticas de participação na escola, nos sistemas e na sociedade requer reflexões, conflitos,

negociações, debates e embates entre gestores e comunidade escolar, sistema de ensino e

sociedade. Nesse processo, o gestor escolar tem o dever de prestar contas de suas ações

pedagógicas, administrativas e financeiras para a comunidade escolar e para a sociedade como

um todo.

Nesta perspectiva, a igualdade entre os participantes da gestão da escola

representa condição essencial para se realizar e concretizar o processo da participação e da

democracia na comunidade escolar. Sem - as mínimas, que sejam, condições de igualdade é

impossível efetivar-se a participação e a democracia em sua forma prática e de que a escola

necessita. Elas permanecerão no nível do simples discurso ou da utopia, mas só se tornarão

possíveis na prática pela igualdade de oportunidade para aqueles que buscam uma escola

pública de melhor oferta de ensino com e a favor da democracia. Nesta procura, é

imprescindível a consciência de que se alcançará tal escola somente quando entendida como

um trabalho coletivo e verdadeiro dos seres humanos nas suas relações com os demais

membros da sociedade.

Paro (2004) assegura que é necessário pensar e transformar de forma radical a

maneira como a unidade escolar organiza suas ações, dotando-a de estruturas administrativas

que favoreçam a participação dos diferentes segmentos de sua comunidade na gestão dessa

escola. Daí, a importância de se garantir as condições para a participação da comunidade no

espaço escolar, oferecendo momentos de formação e informação relativas à necessidade de

todos se sentirem responsáveis pelo trabalho da escola e também pelas tomadas de decisão.

Até aqui, ganhou completa evidência a ideia que a autonomia não passa,

exclusivamente, pelo financeiro. No entanto, é preciso, ainda, que se pergunte que tipo de

95

autonomia a escola está propondo, pois sabemos que as escolas estão ligadas a leis que regem

e regulamentam o ensino.

Apresenta-se a seguir a transcrição das falas dos coordenadores sobre autonomia.

([...]) é aquela autonomia que você sabe nós estamos ligados à SEMEC que está

ligada à SEDUC/MT 7que está ligada ao MEC

8, e a gente precisa compreender e

respeitar a hierarquia. (C-A)

Escola autônoma que tenha liberdade para tomar atitude, muita, muita. Vou dar um

exemplo: escola e Secretaria de Educação é o nosso chefe maior. O que acontece a

escola muitas vezes tem uma falsa autonomia, eu falo isso sem menor preocupação

porque não adianta te dar uma autonomia e você tentar agir da melhor forma

possível enquanto a escola decide no coletivo e de repente é barrado no que foi

decidido no todo da escola. Isso, em todos os exemplos, desde o calendário escolar

que é discutido na Semana Pedagógica, é decidido com todo o coletivo e de repente

é barrado lá na frente. Ai surge aquela falsa autonomia. O diretor é o chefe maior,

ele é autonomia dentro da escola, sendo que ele não pode decidir tudo ou pelo

menos uma grande parte. Ele fica então responsável pela prestação de contas,

responsável pela merenda ou por fazer funcionar a escola, e o que é de

responsabilidade de outros departamentos, de outras coisas, e a gente percebe

assim: tem coisa que não é da gestão, cai... o exemplo é nossa construção: nós

pegamos esse prédio inacabado, de repente se cair uma parede dessa, a culpa é do

diretor. (C-B)

Autônoma seria assim, eu acredito que a nossa escola é, porque nós tomamos

nossas decisões, a gente não espera vir da Secretaria, vir lá de cima, a gente vê

aqui o que é necessário, o que tem que ser feito, a gente toma opinião e depois leva

para a Secretaria:- Oh, a gente vai fazer assim, junto com a comunidade. Igual o

nosso apoio pedagógico, é feito todos os dias. Às vezes não era possível, então a

comunidade reuniu, nós resolvemos dar nova autonomia à escola. Tem que resolver,

fizemos bilhete e mandamos, a gente toma decisões, já que é gestão democrática,né,

em conjunto é a capacidade de tomar decisões. (C-C)

Escola autônoma é aquela que conduz as suas decisões observando as necessidades

do grupo, bem como decidindo o que é melhor para a escola, desde que esteja de

acordo com os princípios legais que regem o ensino e a educação. (C-D)

Como nós fazemos parte de uma rede, a autonomia até certo ponto ela é restrita,

porque nós precisamos respeitar as leis estabelecidas, as normativas, toda parte da

legislação que rege a educação municipal. Mais em relação às decisões internas,

decisões que cabem somente àquelas pessoas que estão na unidade, eu creio que

nós temos autonomia para tomarmos algumas decisões nesse sentido, contudo

sempre respeitando o que rege nas legislações. Ter autonomia é ter liberdade para

tomar decisões que são pertinentes daquele ambiente escolar e são decisões que às

vezes exigem uma certa urgência e que o gestor precisa, mesmo, tomar uma

posição e que a escola precisa decidir o que fazer naquela situação, e é por isso

que se envolve a questão do conhecimento, é preciso conhecer para não termos de

repente informações sobre determinado assunto. Precisamos buscar junto à pessoa

que tem essa informação para podermos respeitar as questões do ambiente da

escola porque a autonomia é fundamental no processo pedagógico, no processo das

decisões de sala de aula, nos processos da escola. Contudo, nós sabemos que existe,

7 Secretaria de Estado de Educação/ Mato Grosso.

8 Ministério da Educação.

96

mesmo, uma Normativa que acaba regendo as decisões da escola, mas as internas,

elas devem ser mesmo tomadas pela unidade. (C-E)

Ao falar em autonomia, constata-se que os coordenadores compreendem o que é.

Percebe-se, todavia, que a sua compreensão de escola autônoma ainda está muito ligada à

burocratização e controle que os órgãos centrais estabelecem com as unidades escolares. Isto

sugere ser possível que esses gestores sofram interferência de caráter externo nas ações

realizadas no interior da escola. Demonstra, por outro lado, uma incompreensão entre a

legislação que rege o ensino e as ações empreendidas no cotidiano escolar que possibilitem a

autonomia da escola.

Depreende-se destas verificações, mais uma vez, que é necessário alicerçar-se em

uma gestão que propicie o exercício da cidadania, promovendo a participação de todos os

segmentos que compõem a escola e a comunidade local. Essa gestão deve se sustentar em

bases democráticas.

No processo de construção dessa consciência, Carvalho (2008. p.435) entende que

“[...] é papel da gestão democrática construir as condições necessárias para que cada

segmento seja seduzido a participar do processo de constituição que vai definir o trabalho

pedagógico da escola”.

Vale enfatizar, ainda, que para se concretizar a gestão democrática na escola é

preciso desenvolver ações que favoreçam a construção da autonomia bem como o

envolvimento na busca da melhoria da prática educativa como ingredientes necessários para a

ordenação da gestão escolar democrática. Isso, tomando os princípios basilares da

participação, organização e envolvimento da comunidade escolar, pois só assim teremos a

concretude da gestão democrática.

Por outro lado, Luck (2005), adverte que a constituição da autonomia escolar

requer mecanismos específicos e fundamentais, como as condições administrativas e

estruturais de uma gestão organizada que garantam a participação de todos os segmentos na

gestão da escola; a escolha do diretor através da eleição democrática e o trabalho coletivo com

o envolvimento da comunidade para a elaboração e desenvolvimento de um projeto político-

pedagógico. Deve ficar muito claro, também, que a autonomia da escola é um dos princípios

basilares da gestão democrática e que não acontece de um dia para o outro, leva tempo para

ser construída.

Quanto à participação, perguntou-se aos gestores acerca da importância do

Conselho Escolar. Torna-se oportuna, aqui. A transcrição das respostas dos diretores

97

escolares, que serviram de subsídios para compreender a forma como percebem esse

Conselho.

Torna-se oportuna, aqui, a transcrição de algumas respostas que serviram de

subsídios para compreender a forma como percebem a importância do Conselho Escolar. As

respostas foram às seguintes:

Falas dos gestores:

Sim, e ele é reformulado a cada dois anos, nós temos a representatividade são:

quatro pais, dois titulares e dois suplentes; temos quatro representantes de

professores, dois titulares e dois suplentes; quatro representantes de funcionários,

dois titulares e dois suplentes; a representatividade dos alunos na reformulação do

estatuto, foi tirada a participação dos alunos porque nossos alunos estão na média

de 12 e 13 anos e as responsabilidades do Conselho têm responsabilidades até

jurídicas então a comunidade em assembléia entendeu que a participação dos

alunos se dará de outra forma e não com a participação no Conselho. Então, nós

temos estes três segmentos fazendo essa representatividade e que se reúne a cada

dois meses e sempre que tem qualquer coisa diferenciada o presidente do conselho

é sempre um servidor da escola, então a gente tem facilidade de chamar os

conselheiros para discutir e fazer os encaminhamentos caso haja alguma

necessidade. (D-A)

Conselho, e é atuante. Existe é atuante, quem participa são os pais, alunos,

professores e funcionários, e são ativos, participam de reunião, compra, vê o que é

melhor para a escola, ensinamento e acompanhamento porque o Conselho é o

órgão mais importante da escola, principalmente com relação à autonomia da

escola, porque você tem um Conselho que participa todos e que dá respaldo à

escola,você ter alguém para sustentar aquilo que você faz, aquilo que está certo,

então o Conselho está dessa forma. (D-B)

Ele é atuante, sim, e a atuação dele é participativa. Eu acho que ainda tem que

fazer um trabalho de formação com o Conselho porque muitos participantes não

sabem da importância que ele tem para a escola, sabe que precisa, ainda, pensa que

o Conselho é para prestar conta delegar, e não é. O conselho é para o

acompanhamento geral, então esse Conselho, eu não sei, os pais quando são

chamado eu prefiro fazer à noite as reuniões devido ao tempo. Pra gente conseguir

que professores participe é uma dificuldade igual e coloquei, no começo:- Gente,

vamos participar do Conselho, e às vezes ninguém levanta a mão, a gente busca

tanto do período matutino, vespertino, do segmento de pais e funcionários para

cada um representar do matutino, porque nenhum não quis. Não se interessou, e foi

onde eu coloquei:- Bom as discussões que foram tomadas, não terão representantes

do matutino. (D-C)

Sim, participativo e atuante no sentido de participar das reuniões. Se nós temos uma

situação que envolve o pedagógico, alguma situação de sala de aula, nós chamamos

esses representantes, eles se fazem presentes e têm contribuição muito boa ASD

(Auxiliar de Serviços diversos)/ vigilante. Sim nós temos participação de todos os

segmentos. (D-D)

Com certeza, o Conselho funciona, é um Conselho atuante, nós fazemos nossas

reuniões sempre no período intermediário para não atrapalhar porque nós temos

três turnos, então nós fazemos essas reuniões no período intermediário e com mais

frequência não só numa reunião, então, quando precisamos tomar uma decisão. Ele

é composto de dois representantes de pais, na verdade nós acabamos acrescentando

98

mais, porque ali na reunião sempre aparece mais e acabam como suplentes e

suplentes dos suplentes dos suplentes, então nas reuniões eles participam, eles não

têm poder de decisão, mas eles sugerem e acaba convencendo, participando, só que

na hora do voto são os representantes, que são os dois representante de pais, dois

representantes de alunos, dois representante de professores e dois representantes de

funcionários e o diretor, que é membro nato. (D-E)

Nas respostas desses gestores pode-se inferir que os mesmos sabem que para uma

escola ser democrática e autônoma é necessário que a escola tenha a presença do Conselho

Escolar, um órgão de gestão que garante, por um lado, a representatividade e, por outro, a

continuidade e, conseqüentemente, a legitimidade, dos trabalhos desenvolvidos na escola.

Sabe-se que a gestão democrática não se resume a eleições ou escolha

democrática do diretor escolar. É preciso muito mais do que isso. Nesta visão, dentro da

unidade de ensino podemos criar conselhos ou grupos que ajudem na efetivação da

democracia na escola. Tais instâncias colegiadas devem fazer parte do Projeto Político-

Pedagógico da escola, conhecer e construir a concepção educacional que orienta a prática

pedagógica.

O Conselho Escolar deve incentivar a comunicação ampla e a participação nas

decisões sobre questões importantes e que estão interrelacionadas na escola, tais como

currículo, qualidade de ensino, inclusão, sucesso escolar, entre outros.

Ressalta-se, ainda, a importância do Colegiado Escolar na construção coletiva do

Projeto Político-Pedagógico, ao participar na sua elaboração, aprovação, acompanhamento e

execução e fazendo com que este documento realmente seja significativo para a vida e o

direcionamento dos rumos da instituição.

Garske (1998, p.88) explicita que

O conselho deliberativo, elemento indispensável na construção de um projeto de

escola, na perspectiva democrática, é um órgão colegiado de natureza deliberativa,

consultiva e fiscal, que tem como papel assegurar, no âmbito da escola, o

estabelecimento de critérios relativos à sua ação, a organização de sua estrutura e

funcionamento e o seu relacionamento com a comunidade.

Um elemento fundamental nas ações da escola è o envolvimento dos pais. Muitas

vezes, no entanto, essa participação pode ser tímida, porque eles desconhecem as questões

educacionais, teóricas e pedagógicas e, de certa forma, não sabem qual é seu papel de

cidadão.

Neste contexto, importa apresentar a assertiva de Rios (2004, p. 91), para quem é

função social da escola “desenvolver capacidades, habilidades e isso se realiza pela

socialização dos conhecimentos, dos múltiplos saberes”. Esses conteúdos transmitidos,

99

construídos ou socializados na escola devem ter sentido para a construção do ser humano e

para o seu desenvolvimento.

Para que a educação desenvolva um processo de formação humana

pluridimensional, exige-se também que ela seja fonte de auto-reflexão grupal e institucional e

que suas ações se direcionem com firmeza em função de um projeto claro de sociedade e de

ser humano que se quer formar.

Apresentam-se, agora, as falas dos coordenadores sobre o Conselho Escolar.

Conselho deliberativo, eu inclusive sou tesoureira. Ele é formado em assembleia e

composto de todos os segmentos de professores, alunos, funcionários e pais, ele é

composto de todos os segmentos e muito sério. O diretor não toma nenhuma atitude

sem falar com o Conselho, né, questão de verbas, PDDE,9 essas coisas. O que

vamos comprar, prestar contas, o nosso Conselho é muito atuante, muito ativo.(C-

A)

Sim. Agora, sim. Nós tivemos muitos problemas com os conselhos passados, onde

ninguém queria assumir pela função, como é que eu posso dizer, diferença de

pensamento entre gestão e presidente de conselho. Aí virava aqueles atritos,

aquelas coisas, e na próxima eleição ninguém queria, ninguém pegava, aí era uma

reunião esporádica, uma aqui, outra de vez em quando, onde muitas coisas que

deveriam passar pelo Conselho e não passava, porque não estava totalmente ativo

ou quando tinha reunião faltava membro, aí tinha que ser substituído antes de

acabar a gestão, entendeu? Mas hoje não temos um Conselho formado, ativo,

atuante mesmo. Os membros do Conselho são compostos por pais de alunos,

alunos, professores e representantes de funcionários. (CB)

Sim. O nosso Conselho ele não é muito atuante porque a gente resolve tudo entre

nós, coordenação, direção. Senta, conversa, então não tem aquela necessidade de

chamar o Conselho pra resolver. Agora, ele faz o que o Conselho deveria fazer, ele

toma decisões do que tem que comprar, né, não vejo ninguém falar que vai procurar

o Conselho pra resolver isso e aquilo. Eu acho que não é necessário, tem uma boa

administração na escola, não é tão necessário. (C-C)

Sim, o Conselho funciona, é um Conselho que poderia ser mais atuante, nós fazemos

nossas reuniões mensais e quando necessárias. Ele é composto por dois

representantes de cada segmento, menos o de aluno, devido à idade, segmento de

pais, professores e funcionários. Eles são escolhidos em assembleia e através do

voto. (C-D)

Nós temos, ele funciona efetivamente e tem sua grande importância nas decisões

que são tomadas por ele, então nós temos a liberdade de realizar os gastos dos

recursos que vêm para a escola, nos reunimos com o Conselho e muitas decisões

são tomadas juntamente com os professores, com os pais, então o Conselho não

decide sozinho, apesar de nós termos ali dentro do Conselho os representantes dos

diversos segmentos, há momentos que esse Conselho precisa abrir para outras

reuniões com grupos maiores. Os diversos segmentos são representados por dois

membros e o diretor, que é membro nato. O Conselho é atuante, acompanha,

participa e dá sugestões. (C-E)

9 Programa Dinheiro Direto na Escola.

100

Convém esclarecer que o Conselho Escolar tem quatro grandes funções:

deliberativa, consultiva, supervisora e mobilizadora. São funções interligadas e

complementares, pois ao Conselho compete elaborar, aprovar, deliberar, discutir, assessorar,

emitir pareceres, supervisionar, acompanhar, avaliar, estimular a participação, fazer aflorar e

promover a comunidade escolar e local, mobilizar, entre outros a liberdade, a igualdade, a

dignidade e a justiça social.

Trago a contribuição de Veiga (2001), que explica:

Conselho escolar: funções, composição e funcionamento. Implantar e viabilizar o

conselho escolar exige uma profunda alteração na organização do trabalho

pedagógico da unidade educativa bem como das estruturas organizacionais ligadas à

educação nos diferentes níveis da esfera administrativa: federal, estadual e

municipal. O conselho escolar é fomentado e viabilizado como colegiado instituído

para possibilitar a desconcentração de um poder autoritário

Os depoimentos dos entrevistados apontam para a importância do Conselho, que,

entre outros mecanismos, tem papel decisivo na gestão democrática da escola. Contudo,

viabilizado , acredita-se, apenas se o mesmo for utilizado como instrumento comprometido

com a construção de uma escola cidadã.

Constitui-se como um órgão colegiado que representa a comunidade escolar e

local, atuando em sintonia com a administração da escola e definindo caminhos para se tomar

decisões administrativas, financeiras e político-pedagógicas condizentes com as necessidades

e potencialidades da escola.

Com isto, a gestão deixa de ser prerrogativa de uma só pessoa e passa a ser um

trabalho coletivo, no qual os segmentos escolares e a comunidade local se congregam para

construírem uma educação de qualidade e socialmente relevante. Divide-se o poder e as

consequentes responsabilidades.

Cabe neste ponto salientar que a democratização da sociedade brasileira e,

especificamente, da educação, dar-se-á não apenas pela garantia de acesso à escola, mas

também da permanência e do sucesso do educando. Conforme alerta Gadotti (2009, p. 9 apud

Bordignon, 2009), “Não basta garantir o direito à educação. É preciso garantir a participação

de todos: a educação não será para todos enquanto todos não participarem da educação”.

A escola existe para servir à comunidade onde se situa. Ela precisa ser um fórum

aberto de participação no qual a democracia se efetive. Nesta visão, a democracia somente se

concretizará, de fato, quando a comunidade (o povo) tomar as rédeas e decidir ousada e

corajosamente os rumos da sua história. Portanto, vê-se como indispensável que a escola

101

chegue à família e a conduza para seu interior, formando uma comunidade ou um grupo para

se discutirem problemas de interesse comum.

O modelo de educação que se insere em uma perspectiva democrática e

antidiscriminatória, no qual se vivencia uma gestão participativa, comprometida com a

construção de uma escola pública popular de qualidade, busca formar alunos livres e

conscientes que consigam fazer uma aproximação crítica entre a escola e a vida. Assim, a

cidadania será construída a partir do exercício efetivo de práticas democráticas e

participativas na escola, comprometidas com a emancipação e a autonomia dos sujeitos

ativos, atores de sua própria história.

Apesar de todas as limitações e problemas existentes, reconheço a escola pública

como o lugar social de se viver, experimentar e construir a verdadeira democracia.

Para melhor compreender o processo de participação na escola, fez-se necessário

indagar ao diretor e coordenador pedagógico sobre o processo de construção do projeto

político pedagógico da escola. Entendo o como a constituição que ordena toda a organização

da política de gestão e formação no contexto escolar. Indagando acerca de como é elaborado o

PPP e quem participa do mesmo, colheram-se as seguintes respostas entre os diretores:

O projeto político da escola, ele é na Semana Pedagógica da escola, foi elaborado,

ele é construído por todos que participam da escola, a participação dos pais se dá

primeiro no Conselho, depois em assembléia. (D-A)

O PPP da escola é elaborado por todos os segmentos: de pais de alunos, de

professores, funcionários. Eles fazem questionamento, a gente manda, a gente

conversa e a gente recebe os dados, tabula os dados, inclusive a gente está

reformulando o nosso e a gente faz dessa forma, é um PPP que todos participam.

(D-B)

PPP é o que eu disse: ele tem que ser elaborado no coletivo. Então, quando a gente

vai reelaborá-lo, a gente senta com a equipe, mas essa participação, quando joga

para o pedagógico, para o PPP não é só pedagógico, mas fala PPP os funcionários

acham que é isso, do pedagógico, então a gente discute as questões, com os

professores o pedagógico, com funcionários questão que necessita discutir e com os

pais algo que vai ser definido durante o ano letivo. A gente expõe os pais os pontos

que precisam estar revendo os pais dão sua opinião.Eu considero, muito importante

a participação, mas ainda é uma questão da gente estar buscando a participação

deles aqui.Geralmente, para o processo de aprendizagem a gente chama os pais e

alunos. Eu acho que quando você faz algo que eles não ficam sabendo pode ter uma

revolta, por isso a gente em todas as reuniões tem as atas, quando um pai chega

para questionar aí eu falo:- Olha lá, aqui a ata. O senhor não veio, foi convocado,

tá aqui o bilhete e o senhor não apareceu. Então, agora foi aprovado em reunião, aí

tá aprovado. (D-C)

O PPP da escola, nós, na verdade, o PPP existe há muitos anos o que é feito a todos

os anos é a reelaboração dele.Então, nós temos a Semana Pedagógica, convidamos

os representantes de pais, e os funcionários participam também, junto com os

102

professores, e a cada final de ano começa a ser revisado de acordo com o que foi

observado durante o ano. (D-D)

O PPP foi elaborado, como você sabe, foi elaborado há muito tempo atrás, em1995.

A partir daí,através de várias formações, a escola passou a repensar a partir de

então, e hoje nós fazemos a reformulação do PPP anualmente, no início do ano nós

reunimos o grupo e avaliamos o que deu certo e o que não deu certo dos projetos

elencados no início do ano, os índices aonde nós precisaríamos atacar melhor,

quais as intervenções que precisam ser feitas, e a partir daí nós refazemos esse

PPP mediante a participação do grupo.Fazemos reunião com os pais pra discutir

com eles os objetivos, as estratégias,as dificuldades, então fazemos essas reuniões

com os pais.Depois voltamos, reunimos também com os professores, contudo nessas

reuniões com os pais nós procuramos trazer sempre os professores juntos para eles

ouvirem os pais, para eles sentirem esse termômetro de como pensa os

pais.Sentamos com os grupos dos técnico, juntamente com os servidores, isso de

forma geral e vamos discutindo. Essa reformulação não demora, a gente procura. O

mais demorado é essa acolhida que a gente faz com o grupo de você estar ouvindo

primeiro, como nós já vimos. Aí você só direciona os projetos, e ali a gente faz uma

releitura deles e fazemos as intervenções, algo que precisa intervir. Participam os

pais, alunos, nós temos adultos no período noturno e aí a gente aproveita, já que

temos pais, alunos, temos os adolescentes que a gente acaba ouvindo também,

embora eles não se aprofundam mas a gente tira o que eles entendem de escola. A

partir da visão deles a gente procura estar adequando aos nossos projetos para o

período deles. Então, pais alunos, professores e servidores. (D-E)

Pode-se afirmar que a gestão escolar dará maior consistência e qualidade ao

Projeto Político-Pedagógico se for, de fato, uma gestão democrática e autônoma. E a escola

atual precisa conquistar e ampliar cada vez mais o seu nível de autonomia. A autonomia

administrativa garante à unidade escolar a liberdade para elaborar e gerir os seus próprios

planos, programas e projetos, considerando a sua realidade, o momento histórico e,

principalmente, as suas necessidades.

Carvalho (2008, p, 433) acrescenta, acerca do PPP:

O Projeto Político Pedagógico necessita ser respaldado por educadores conscientes

que são sujeitos envolvidos no processo de buscar respostas teóricas e práticas às

necessidades cotidianas principalmente no que se refere ao ensino aprendizagem das

novas gerações.

Esse Projeto orienta o processo de mudança, direcionando o futuro pela

explicitação de princípios, diretrizes e propostas de ação para melhor organizar, sistematizar e

dar significado às atividades desenvolvidas pela escola como um todo. Além do mais, a sua

dimensão político-pedagógica pressupõe uma construção coletiva e participativa que envolve

ativamente os diversos segmentos escolares.

O projeto é pedagógico porque discute o ensinar e o aprender, num processo de

formação, de construção de cidadania, e não apenas de preparação técnica para uma ocupação

temporal. É, também político, porque trata dos fins e valores referentes ao papel da educação

103

na análise crítica e transformação da sociedade e nas relações entre conhecimento e formação.

É, ademais, coletivo, possibilitando e exigindo que seus constituintes participem do processo

de análise, discussão e tomada de decisão quanto aos rumos que, consciente e criticamente,

definem como necessários e possíveis às escolas.

Pode-se inferir, portanto, que uma instituição educacional que possui um projeto

explícito, coletivamente discutido tem um eixo que proporciona coerência de ação e

parâmetro para iluminação e redirecionamento de caminhos. É interessante observar, então,

que os depoimentos colhidos evidenciam que a gestão das escolas focalizadas nesta pesquisa

utiliza-se de estratégias para ouvir a comunidade e instiga a participação da mesma na

elaboração do PPP.

Consequentemente, a marca da instituição educacional deverá ser expressa em seu

projeto, que não se limita a um documento, mas abrange a reflexão constante de sua prática e

os ajustes em torno de princípios e anseios explicitados pelos seus integrantes. Assim, na

construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico institucional, os problemas diagnosticados

deverão ser tomados como pontos de partida para a análise da realidade e para definição de

prioridades e metas de ação.

Por outro lado, de acordo com Carvalho (2008, p, 433), “No espaço da escola o

Projeto Político- Pedagógico deve ser compreendido como o substrato necessário que ordena

a estrutura do trabalho pedagógico que produz o movimento dialético do processo de ensinar

e aprender no cotidiano da sala de aula”. Para se fazer legítimo, tal Projeto deverá ser

elaborado coletivamente: Ou esse instrumento se constitui um desafio de todos que fazem a

escola, ou ele apenas cumprirá formalidades burocráticas e, nesse caso, sem qualquer valor

educativo.

A seguir vêm transcritas as falas dos coordenadores sobre o PPP.

Todo mundo participa da elaboração, só que esse PP é de 2009 a redação final foi

discutida pelo coletivo. Toda a Comunidade escolar? Olha, a comunidade é

representada pelo Conselho. E como você faz para reunir todos? É através do

Conselho. Eles foram convidados participaram em grupo, deu muito trabalho

porque eles têm pouca formação, e aí sempre tem que ter um professor em cada

grupo coordenando. É fundamental porque eu acho assim: ou você tem a

comunidade a nosso favor ou contra nó. Quanto mais a comunidade tiver dentro da

escola, mais a escola tem respaldo fora da comunidade; quanto mais os pais

participam ativamente da vida escolar dos filhos , dos eventos escolares do filho

mais a escola tem credibilidade. Costuma fazer por segmentos, ele gosta muito de

ouvir o que os professores têm a dizer o que os funcionários e pais tem a dizer; As

vezes a gente costuma dizer que o diretor é muito duro. Mas essa questão aí, ele

gosta de participação, ele não toma nenhuma decisão sem ouvir professor e

funcionário. Porque a equipe é assim: a gente não vai cru para reunião, a gente

leva sempre proposta, expõe a nossa proposta e ouve as outras. Se a nossa proposta

104

é vencida, isso é democracia, então eu falo que a nossa escola é democrática,mas é

aquela democracia que você sabe, nós estamos ligados à SEMEC, que está ligada à

SEDUC, que está ligada ao MEC, e a gente precisa compreender e respeitar a

hierarquia. (C-A)

O PPP da escola é elaborado a cada dois anos e reforçado todos os anos. A gente

acostuma pegar na Semana Pedagógica, sentar com todos os professores, decidir o

que vai mudar o que vai acrescentar no PPP e nós sentamos também com todos os

segmentos. Por exemplo: a gente faz questionários e encaminha a todos os pais,

uma grande maioria, na verdade a todos aos pais, vigilantes, alunos e funcionários

no geral, a gente recolhe e faz a tabulação dos dados.Então, todos os anos a gente

reformula o PPP, aí acrescenta os projetos novos que vão ser desenvolvido durante

o ano, e, então, ele é feito a cada dois anos e reforçado todos os anos. (C-B)

Na elaboração do PPP a gente fez várias perguntas, faz questionário, sentamos com

a comunidade toda ao mesmo tempo, aí a gente fez toda uma redação do que foi

colhido. Com professores também discutimos até sobre os conteúdos que deve ser

trabalhado, e eles devolvem certinho ,depois a gente trabalha com a coordenação

aquilo que foi colhido junto com a comunidade e aí nós fazemos o planejamento

anual levando em consideração aquilo que eles colocam. (C-C)

Na nossa escola todos os funcionários são convidados a participar da elaboração

do PPP da escola, então nós fazemos reunião, discutimos o que é de interesse do

coletivo da escola. Mandamos bilhetes convidando os pais para vir na escola,

mandamos questionários, mas não é todos que devolvem, e escutamos as opiniões

dos segmentos que representa todos os setores da escola. (C-D)

Elaborado pelos membros da unidade escolar, então no período de revisão do PPP

reunimos pra que o projeto seja revisto para que possamos atualizar e avaliar os

projetos que estamos desenvolvendo. Fazemos atividades de reavaliação à parte

teórica desse processo, e nesse momento tanto professores como os demais

componentes da escola também se envolve , não somente direção e coordenação

realizam esse processo de revisão do PPP, mas todas as pessoas , pais,

funcionários, professores com todos fazemos reuniões, questionários para acatar

sugestões para que possamos ter uma proposta que venha ajudar. (C-E)

Analisando as respostas das coordenadoras, tem-se a clareza de que o grupo

acredita que o Projeto Político-Pedagógico tem a força de organizar o trabalho pedagógico da

instituição como um todo, levando em conta sua relação com a comunidade e a realidade

social mais ampla, interferindo diretamente na definição das políticas de educação.

Compreendem esses sujeitos que se trata de um documento que reflete a realidade

da escola: o ambiente institucional, o que entendemos por educação, a escola que queremos

construir, os alunos que queremos formar, os educadores que devemos ser e as ações

necessárias para construir esse nosso sonho.

Libâneo, Oliveira e Toschi (2007, p. 357) também consideram que

o projeto pedagógico deveria ser pensado, discutido e formulado coletivamente,

também como forma de construção da autonomia da escola, por meio do qual toda a

105

equipe é envolvida nos processos de tomada de decisões sobre aspectos da

organização escolar e pedagógica.

Como um documento para ser vivido e trabalhado no dia-a-dia da escola, é

passível de revisão, acréscimos e enriquecimentos. Assim, seus resultados dependerão muito

do empenho e do compromisso de cada um, que passa a ser co-responsável pela sua

concretização no cotidiano escolar.

Observa-se nos depoimentos dos entrevistados que o PPP da escola não é visto

como sendo responsabilidade única e exclusiva do diretor, mas de toda a comunidade escolar,

no entanto compete ao diretor conhecê-lo, cuidar dele e, utilizá-lo como norteador das ações

dentro da escola, bem como propiciar sua constante re-elaboração e participar da mesma.

Pelas falas podemos concluir, ainda, que o PPP constitui um poderoso

“instrumento” de poder para representar a equipe diretiva, os professores, a possibilidade de

se desprenderem de uma atuação mecânica e imediata e superarem uma visão burocrática e

fragmentada em busca de uma atuação mais abrangente, de se soltarem do fazer alienado e

estabelecerem a articulação entre os objetivos, as necessidades, as escolhas pedagógicas e os

valores necessários na formação dos alunos.

O PPP tem, inclusive, uma grande importância para a organização das ações do

diretor, principalmente ao assumir uma nova escola. Nesse caso, o conhecimento dos valores

e objetivos presentes no projeto pedagógico, refletidos e articulados com a prática, poderia

orientar a organização de sua tarefa e os objetivos de suas ações. Por isso, o Projeto

Pedagógico é a expressão das aspirações e dos interesses do grupo de especialistas e

professores, além dos demais integrantes da comunidade escolar.

5.5.2 Segunda categoria: formação continuada na escola

Nos dias atuais, o contexto educacional coloca em evidência a necessidade de uma

política de formação que valorize os professores e as escolas como capazes de pensar, de

articular os saberes científicos, pedagógicos e da experiência profissional na construção de

propostas de transformações necessárias às práticas escolares. Por isso, é fundamental

considerar a educação como um fenômeno complexo e histórico, produto do trabalho de seres

humanos e que, ao mesmo tempo, responde aos desafios dos diferentes contextos políticos e

sociais nos quais está inserida.

106

Ao focalizar a formação continuada, Pimenta (2002, p, 43) explicita que; o espaço

de formação contínua é indiscutivelmente uma contribuição para que os docentes possam

fazer uma reflexão da profissão, bem como da valorização da profissão, dos saberes dos

professores e também para o fortalecimento do trabalho coletivo na escola.

No entanto, a autora coloca como ponto fundamental que o professor seja o

pesquisador da sua prática, o professor pode produzir conhecimento a partir da prática, desde

que na investigação reflita intencionalmente sobre ela, problematizando os resultados obtidos

com o suporte da teoria.

A partir destas ideias e também do que já foi exposto neste trabalho sobre o tema

acredito que por meio da formação continuada o professor pode conquistar sua autonomia

profissional, refletir sobre sua prática, construir teorias acerca de seu trabalho, pois é a

reflexão na e sobre a ação que lhe permite participar ativamente dos problemas e dos sucessos

que envolvem o processo de ensino e aprendizagem. Desse modo, apresento a segunda

categoria de análise, compostas de cinco subcategorias.

Ao se entrevistar os gestores, indagou-se sobre a existência de um projeto de

formação continuada na escola; A sua importância; O papel do gestor frente a essa formação;

Quem participa; Que reflexão faz o gestor sobre a formação continuada.

Diante da primeira questão, todos os entrevistados foram unânimes ao dizerem

que a escola possui um projeto de formação continuada. Contudo, nos PPP só duas unidades

de ensino contemplam essa formação. Seguem as falas dos diretores sobre o tema.

Se não fosse um projeto ele já teria morrido, e a prova de que ele está vivo é que

nos temos seis anos trabalhando, não com parceria da Universidade,nós temos três

professores que dão aula na Universidade.Esse projeto tem caminhado,tem nos

ajudado ele tem nos fortalecido. Geralmente no final do ano você perde um ou outro

professor ou até um coordenador, mas a escola continua independente de quem está

na frente da equipe diretiva. Esse projeto de formação continuada é quase sempre

abraçado por todos os profissionais da escola. (D-A)

Existe um projeto, mas muitas vezes esse projeto sai fora, sai fora devido ao grande

número de alunos que temos, e, com as dificuldades que temos na escola, muitas

vezes a gente faz assim: vai ver essas questões, é dia letivo ou não é, o aluno que

está com dificuldade; e a gente vai ter que conversar o dia a dia pra que o ensino

melhore mais, porque nós recebemos aqui um número muito grande de crianças que

vieram de diferentes comunidades e elas estão se encontrando agora, e esse impacto

é muito forte, por isso que muitas vezes a gente fala, até mesmo a gente trabalha

sempre no intuito de auxiliar o professor de algum estudo direcionado, por exemplo

a agressão de alunos e até de como se lidar com eles e o que é dificultoso. Então,

nós não temos isso direcionado, então a gente está muito aquém. (D-B)

Existe, mas às vezes ele não funciona 100% porque, como existem aquelas

avaliações do SAEM10

que toma muito tempo do professor, eles têm quatro horas e

10

Sistema de Avaliação do Ensino Municipal.

107

às vezes naquela semana ele precisa daquele horário para estar pensando no

coletivo, elaborando as avaliações e depois vem a questão da correção. O certo

seria ocorrer realmente, todas as semanas, então para o ano que vem pensamos em

garantir um projeto que ele vai acontecer e que esse horário não seja ocupado com

nada, só a formação. (D-C)

Tem, e nós fazemos questão de que ele seja cumprido, porque é outro direito que

nós adquirimos, é um projeto elabora, nós temos a rotina semanal e mensal da

HTPC: primeira semana- teoria, segunda semana- aprofundamentos matemáticos e

terceira semana- aprofundamento da linguagem e quarta semana- avaliação dos

projetos. Então nós temos, sim, esse projeto elaborado. (D-D)

Existe o projeto de formação continuada, já existe há muito tempo, desde a

implantação da escola por ciclos de formação humana. Então existe a formação

continuada da escola e a formação continuada da rede. (D-E)

Considera-se que a preocupação com prática de formação continuada, visando à

democratização do ensino e da escola, coloca-se como fundamental ao gestor (diretor e

coordenador), que também, como já foi dito, é antes de tudo um educador: mais do que

administrar a escola essa gestão precisa articular e desenvolver ações pedagógicas que

orientem os professores a estimular a aprendizagem e a atividade significativa dos alunos.

Isso implica em realizar formação teórica que fortaleça a prática docente, pois, se quisermos

formar alunos críticos, autônomos e que ajam com capacidade de problematizar a realidade

para atuarem como cidadãos, precisamos de professores capacitados para este fim.

Conforme aponta Libâneo (2004, p. 75), existem algumas condições necessárias

para o exercício da docência, que incluem a formação. Para ele,

Essas condições são: formação inicial e formação continuada, nas quais o professor

aprende e desenvolve as competências, habilidades e atitudes profissionais;

remuneração compatível com a natureza e as exigências da profissão; condições de

trabalho (recursos físicos e materiais, ambiente e clima de trabalho, práticas de

organização e gestão).

Vale também lembrar as exigências/ características que formam o trabalho

docente, como formuladas por Libâneo: “[...] a identidade profissional é o conjunto de

conhecimentos, habilidades, atitudes, valores que definem e orientam a especificidade do

trabalho de professor” (LIBÂNEO, 2004, p.81).

Por outro lado, entendo que o mais grave no processo de avanços sociais,

políticos, econômicos, culturais e tecnológicos que ocorre na atualidade é o fato de se

profissionalizar o ensino de modo a atender predominantemente às expectativas do mercado

capitalista em detrimento da qualidade da educação.

108

Guimarães (2004) considera que as concepções ideológicas das políticas educacionais

derivadas desta conjuntura podem até promover discursos variados sobre a qualidade na

educação, mas o apoio efetivo que se tem dado ao ensino é insuficiente o para

aprofundamento de projetos que fundamentem o processo educativo na formação docente.

Ainda de acordo com Guimarães (2004), a formação de professores vem

recebendo destaque dos órgãos e instituições que administram as políticas educacionais;

também a visão, a produção científica começa a despontar e se ampliar, no contexto nacional

e internacional. Esta mudança pode ser percebida por meio das leis e diretrizes oriundas do

poder público, que vêm dando ênfase à docência em todos os níveis educacionais.

Sobre a existência de um projeto de formação continuada na escola, foram estas as

respostas dos coordenadores entrevistados:

Falar da nossa formação continuada é a coisa mais fácil que tem porque é gostoso;

a gente tem um projeto bem definido, já desde 2005, que a gente optou por

trabalhar com tema gerador, e você vê no nosso armário só Paulo Freire. Porque

Paulo Freire é nosso carro- chefe, porque pra gente buscar o tema gerador a gente

buscou muito em Paulo Freire. Ele hoje é nosso livro de cabeceira, Pedagogia do

Oprimido, que a gente vai ler, retomar porque trabalhar com tema gerador não é

fácil, e a gente vem desde 2005 lutando pra chegar o mais próximo possível do que

é o trabalho com o tema gerador.Então há dois anos a gente vem trabalhando com

o tema.A construção da Identidade, de Comunidade de Escola e de aluno. (C-A)

Sim. Todas as segundas - feiras, das 17 às 19h, funcionam com todos os

professores, a gente trabalha duas horas. (C-B)

Existe, elaborado todo certinho, e o que a gente faz aqui?Eu quando eu fiz esse

projeto, eu tentei o que?Trazer gente de fora pra cá. Por exemplo: a gente estava

tendo problemas com a violência, eu pensei:- Vou fazer um projeto de formação

continuada onde a gente vai trazer gente de fora pra falar sobre a violência, e a

gente trouxe vários, só que ainda não está terminado porque a gente não

conseguiu trazer mais. Mas a gente tá dando sequência, que é um projeto grande,

bom, de formação continuada. (C-C)

Não existe um projeto só de formação continuada, mas está detalhado no projeto da

coordenação, inclusive com cronograma e rotina de ações a serem desenvolvidas no

horário da HTPC. (C-D)

Sim nós temos o projeto de formação continuada, que a busca de maiores

conhecimentos para que nós possamos adquirir um nível de qualidade melhor do

que já temos. Embora apresentamos bons resultados, mas acreditamos que

precisamos estudar mais e por isso que nós estamos sempre dando seqüência aos

estudos e acreditamos que a partir da busca de informações as práticas serão

melhores. (C-E)

Sobre a formação contínua de professores, Guimarães (2004) argumenta que os

saberes profissionais docentes são constituídos no processo histórico do professor, por isto

são individuais e têm características próprias e conflituosas, sendo tal conhecimento

109

produzido por meio da prática, somada à reflexão, assegurando-se também as experiências de

atuações. Logo, pode-se dizer que o ensino e o conhecimento são inacabados.

Vê-se também que se faz necessário, na competência profissional do professor, o

desenvolvimento da ação do trabalho docente articulada com o processo contínuo-reflexivo da

própria prática.

Guimarães (2004, p.50) [...] assinala, ainda, que “os saberes profissionais dos

professores não são unificados em torno de uma disciplina, uma tecnologia ou uma teoria de

ensino”. Portanto, esses saberes docentes são plurais, além de serem individualizados, de

acordo com as construções que cada um desenvolveu, seja pelos saberes acadêmicos, seja

pelo senso comum.

Destaca-se, ainda, a importante observação de que

[...] os saberes de uma cultura profissional [...] constituem-se numa forma de

integrar a formação da profissionalidade e o desenvolvimento de uma identidade

profissional, principalmente “para si”, contrapondo-se às maneiras como a profissão

é predominantemente representada na sociedade, tendo-se como âncora a formação,

no caso, a inicial (GUIMARÃES, 2004, p.55).

Assim sendo, é possível afirmar que o saber profissional docente determina a

forma como o professor se envolve com o trabalho pedagógico, possibilitando-lhe

crescimento profissional por meio da formação geral, o que contribui para que ele possa

participar de importantes mudanças que venham ao encontro da sua profissão.

Dada a relevância da formação permanente, salientada neste ponto e anteriores,

neste trabalho, ao se tratar da formação dos professores e de todos os setores da comunidade

escolar, observa-se que o projeto de formação continuada deve ser elaborado e desenvolvido

pela escola junto aos vários segmentos que compõem a unidade escolar, alertando para a

compreensão da necessidade de participarem ativamente do processo de elaboração, execução

e avaliação do projeto da escola. Para tanto, essa reflexão exige um referencial teórico

metodológico que sustente as tomadas de decisões e que só pode ser assegurado através do

investimento nessa política de formação de todos os setores e segmentos que compõem a

unidade de ensino.

Foram colhidos os seguintes depoimentos dos diretores sobre a respeito da

importância da formação continuada:

Na verdade, do grau de zero, a dez eu dou importância dez à formação continuada,

porque na minha cabeça eu não consigo imaginar que exista um profissional que

não busque se capacitar e se qualificar cada dia mais na sua área. Para mim o

professor é um desses grupos que precisa estar inovando, buscando sempre,

110

conseguindo coisas novas, e desde que eu tenho tido aqui na escola, eu tenho

discutido com a equipe a necessidade do professor não só de trocar experiência,

buscar novas teorias, mas também essa troca, e ela se dá muito na formação onde

nós juntos buscamos conciliar a prática com essa teoria. Essa busca constante da

prática tem nos ajudado e tem feito com que a gente continue a sonhar com a

educação desta comunidade do bairro saia cada dia melhor. (D-A)

A formação continuada é importantíssima, é muito importante. É o momento para o

professor estudar e rever a sua prática. (D-B)

Considero muito importante pelo seguinte: a inovação da educação no dia a dia,

porque se a gente não senta, não discute, não vê as novas tendências, as teorias

novas que vão chegando. Às vezes o professor fala assim:- Só a prática tudo bem. A

prática é realmente superimportante, mas os estudos que vêm sendo feito?Você tem

que estar se inteirando, e também nos estudos, de pessoas a quem compete; só que a

gente tem que fazer leituras de textos tirando as dúvidas, das dificuldades, eu acho

superimportante, porém os professores não gostam. Eu acho assim: santo de casa

não faz milagre. Quando os nossos coordenadores trabalham, eles participam, sim,

mas têm dito assim:- É professor daqui, igual eu, entendeu?Talvez não seja uma,

mas às vezes eu fico observando que poderia ser. Quando a gente não traz um

palestrante de fora pra estar conversando, uma participação a gente vê que fica

mais rica. Não é só os coordenadores da unidade, deveria ter o intercâmbio da

unidade e da SEMEC, né, pessoas de fora, também, para estar auxiliando essa

formação, eu acho que seria importante. (D-C)

Olha, é muito importante. É o momento para o professor estudar e rever como ele

está trabalhando, será que está atendendo às expectativas?Será que ele tem alguma

coisa que você passa, você aprende no dia a dia, talvez melhore pra você no

amanhã. Então, a expectativa da formação continuada é estar auxiliando o

professor e o próprio gestor em como conduzir o seu trabalho na sala de aula, ou

na administração, ou na coordenação. (D-D)

A formação continuada é a garantia de ensino de qualidade porque o professor a

cada dia, ele está aprendendo e o aluno também. Então a formação continuada é

um instrumento que o professor tem dele estar atualizado, estar buscando sempre

inovar, buscando refletir a sua prática e consequentemente alcançar um objetivo

maior de acordo com aquilo que ele planejou no início do ano. (D-E)

Quanto à identidade profissional na formação de professores, ela está ligada aos

processos burocráticos sociais e profissionais. Desse modo, a identidade profissional do

educador tem sido abalada, no contexto atual, devido às várias pressões sociais impostas à

profissão, causando um grande mal-estar entre os professores e os cursos que se encarregam

da sua formação.

Isto pode ser explicado pelas observações de Guimarães (2004), para quem muitas

são as dificuldades científicas em definir de fato a questão em pauta, e que assevera que a

identidade profissional docente estará substancialmente associada à forma como a profissão

docente estiver sendo dominada, destacada e construída socialmente.

A seguir, aponto, com o intuito de aprofundar a compreensão sobre formação

continuada e profissão docente, mais algumas reflexões a respeito do assunto.

111

Para Guimarães (2004), a falta de reconhecimento social e de prestígio da

profissão docente faz com que o professor se sinta retraído ao se identificar com esta

profissão. Diante desse fato, entende-se que a formação inicial deve colocar em destaque a

valorização da docência, mas também mostrar a realidade e as dificuldades encontradas no

trabalho educativo. A formação inicial, bem como, a continuada precisa cumprir o papel de

mostrar ao futuro ou atual profissional da educação a realidade tal como é, sem “maquiar” os

fatos, no sentido de ampliar seu conhecimento a respeito da mesma para que ele possa lutar

por transformá-la.

Cunha (2005) entende que a profissionalização docente, nos dias atuais, tem sido

muito mais “cobrada”, pois o modelo de sociedade vigente tem como base econômica a

expansão do capitalismo, o que torna a profissionalização um desafio constante. Surge uma

grande preocupação diante desse quadro, no sentido de que muitas instituições de ensino

superior não se preocupam em como e por quais motivos seus profissionais estão fazendo a

escolha de ministrar aulas no magistério superior.

Já na visão de Pimenta (2002), é na formação continuada que a profissionalização

docente se efetiva, somada a vários outros fatores, como a bagagem científica e a prática

docente construída ao longo da profissão. Assim, o conhecimento científico constituído ao

longo da de formação inicial e continuada, bem como a prática pedagógica, constituem fatores

imprescindíveis para a construção dos processos formativos da docência.

Tecidas essas considerações, apresentam-se na sequência as falas dos

coordenadores sobre a importância da formação contínua.

Olha a nossa formação continuada é fundamental para o trabalho na nossa escola,

porque nós temos um objetivo. A gente não trabalha solto, a gente trabalha com

tema gerador, e se nós não estudássemos, não estivéssemos ali, coeso, essa nova

metodologia de trabalho não teria funcionado, porque a gente está tentando mudar

essa prática de trabalhar no individual, com as caixinhas, você chega, trabalha, vai

embora.Não agora com a metodologia nova, a gente tem a culminância, então o

professor, mais do que nunca, ele tem que estar mudado, porque a culminância é

um dentro do outro, é um trabalho que vai puxando o outro, é uma construção do

tema gerador. (C-A)

O ponto mais positivo que a gente vê é a troca de experiências. Esse é o momento de

troca de experiências, é o momento que o professor tira para falar o que deu certo

na sua sala e pode perfeitamente dar certo na sala do colega, fora na hora do

estudo que a gente traz textos que têm tudo a ver com a realidade. A formação é

muito importante, ela é fundamental para a escola. (C-B)

Eu acho que a formação continuada, quando a gente tem um grupo e quando todo

mundo tem interesse e o entrosamento do grupo, aí assim, é ótimo. Não é culpa da

gente, até que a gente quer, mas a gente também encontra a” galera” que não quer

e, quando não quer, é guerra, guerra mesmo. (C-C)

112

Ela é muito importante. Acredito muito na formação continuada, pois é um dos

momentos que nós professores podemos estar teorizando a nossa prática e na qual

realizamos trocas de experiências, discussões, e temos reflexão para podermos

resolver possíveis problemas de sala de aula. (C-D)

Eu acredito que a formação continuada, é fundamental para nossa área de atuação.

Quem esta na educação precisa estudar continuamente, e somente quando você tem

uma visão clara da sua pratica, você sabe dos seus problemas, sabe das suas

dificuldades, daquele processo que você sabe. Possui entraves, algo que não esta

caminhando como você gostaria e que você, sente necessidade de estudo, portanto,

é avaliando a sua prática que você parte para o estudo, para fazer essa reflexão e

voltar para a pratica e realizar mudanças. (C-E)

À luz das contribuições de Guimarães (2004), pode-se compreender que as

práticas formativas são desenvolvidas por meio dos conteúdos constituídos, assim como

também da autonomia intelectual do docente, além da interação que existe entre professor e

aluno.

Consequentemente, quando não há uma abertura maior para que um desses fatores

se efetive, o processo formativo fica realmente incompleto. É na ação do professor, no

exercício da docência, somado aos seus conhecimentos científicos que ele construirá sua

profissionalidade docente.

Compreende-se em Guimarães (2004), que formação inicial e contínua se

vinculam, constituindo-se num continuum formativo, o que mostra o caráter inconcluso da

formação oferecida nas licenciaturas. Destaco, também, o fato de que, como, muitas vezes, as

formações continuadas de que os professores participam são promovidas pelas Secretarias de

Educação, a formação deste profissional pode traduzir o que Guimarães (2004) chama de

ideário do custo-benefício e da viabilidade para o mercado, ou seja, a atuação dos docentes

nas escolas pode-se tornar semelhante à dos modelos empresariais, na avaliação da ideologia

predominante.

E é nesse ponto que entra outra questão: a de identidade docente. Mas, antes, é

preciso lembrar que a formação continuada também depende muito do interesse do

profissional, que deve ir à busca do aperfeiçoamento, participando de conferências, palestras,

cursos e outros eventos. Enfim, cabe a ele procurar atualizar seus saberes didático-

pedagógicos e disciplinares.

Detalha Guimarães, que a profissionalidade docente é a afirmação do que é

especifico na ação docente, isto é, o conjunto de comportamento, conhecimento, destrezas,

atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor.

Não se pode deixar de levar em consideração que a identidade docente aqui citada consiste na

113

identidade que Guimarães afirma aproximar-se do conceito de identidade “para os outros”,

que por sua vez, aproxima-se do conceito de profissionalidade docente.

Também não se deve esquecer que a identidade profissional de quem ensina não é

gerada espontaneamente nos cursos de formação, mas constitui-se no professor durante toda a

sua trajetória de vida pessoal, universitária e profissional.

Realmente os saberes necessários para a prática docente são adquiridos por fases,

sendo que a primeira se dá com a própria vivência do profissional; já a segunda acontece

durante a formação profissional, de forma sistemática; e a terceira é concretizada com a

prática, isto é, após o término da formação, quando o professor vai mostrar o que aprendeu,

juntamente com os saberes construídos ao longo de sua vida. “(...) o saber docente se compõe,

na verdade, de vários saberes provenientes de diferentes fontes. Esses saberes são os saberes

disciplinares, curriculares, profissionais e experienciais” (TARDIF, 2002, p. 33).

Tais saberes são originados desde o momento em que o indivíduo se decide por

esta profissionalidade, ou seja, quando passa a viver situações educacionais cotidianas. O

profissional da educação, mais especificamente o professor, precisa estar em comunhão com o

seu local de trabalho, assim como qualquer outro profissional, para que haja um bom

rendimento e alcance de metas e os objetivos sejam realizados.

Nesta trilha, coloca-se também a questão de se trabalhar na gestão, que se dá no

momento em que o profissional passa a realizar ações em comunhão, ao mesmo tempo que

assume compromisso com a escola.

Os depoimentos evidenciam que os gestores entrevistados possuem clareza de que

o professor precisa ter consciência da concepção pedagógica que orienta a sua prática

educativa e do seu compromisso político com os seus alunos. Expõem também que é na

formação continuada na escola que o docente faz uma analise crítica do seu cotidiano de sala

de aula.

Eis os comentários dos diretores sobre qual é o papel do gestor frente à formação

continuada oferecida na escola:

Eu acredito que não dá para o gestor propor uma formação ou de repente buscar

formação e ele não participar ativamente. Eu tenho dito a alguns companheiros que

dizem:- Lá na minha escola a formação não caminha, e eu tenho dito:-Se você não é

o primeiro a chegar e o último a sair, você vai ter dificuldades. Aqui na escola, e até

porque eu sempre fui muito autoritário comigo mesmo, então eu não quero

reclamar horário de ninguém.Se eu não chegar antes das 7h, como que eu vou

reclamar se eu estou chegando depois das 7h, então a formação é posta no sábado,e

aí não temos espaço pra ninguém: todo sábado, diretor, coordenador e professor,

todos são contados a estar 100% presentes. Então, pra mim, momento de formação

só dá certo se a equipe gestor, equipe diretiva, abraçar na íntegra. (D-A)

114

Olha, eu acho muito importante o gestor estar na frente, porque ele, na verdade,

representa muitas coisas, representa uma segurança de que forma a escola deve

andar, que muitas vezes a ausência do diretor na escola e a ausência dele nessa

formação continuada, os professores se tornam assim, como: Não tem importância,

e tem muita importância a presença, a participação do professor. (D-B)

Deve ter participação intensa também, de estar auxiliando o coordenador no que

vai ser trabalhado, o que vai ser discutido, porque quando você tem uma visão geral

da escola, aí você diz: Olha, nós estamos tendo um probleminha ali, então nós

vamos trabalhar em cima desse probleminha. Talvez não seja isso o objetivo da

formação, mas, assim, a gente busca em cima disso aí, eu considero que é de suma

importância, não é só de uma importância, não é só meu, mas ele tem que ter

participação ativa, também, porque às vezes tem diretor que não participa da

formação, deixa só para o coordenador, então a responsabilidade não é só do

coordenador.O diretor tem que estar inteirado, também participando, também só

como é um momento de conduzir o coordenador, eu dou as opiniões certinhas, na

hora lá eu deixo que elas conduzam como fala, também no momento que eu vejo,

acompanhando a formação, dificilmente falto, só quando vejo que algo chocou o

horário, aí eu não participo. (D-C)

O gestor, ele existe em função do pedagógico da escola, e essa formação, ela é

voltada à questão pedagógica, que envolve a melhoria do ensino. (D-D)

O gestor tem um papel fundamental, ele não precisa fazer, mas ele precisa

acompanhar, ele precisa ter o olhar em toda a escola, em todos os processos, nas

reuniões com os pais, na própria comunidade, com os servidores, com os técnicos e

também com a formação continuada, porque o gestor também precisa passar por

formação e aí ele precisa saber o que está acontecendo, pedagogicamente falando,

o diretor tem que estar acompanhando. Então, pra ele contribuir ele tem que

participar. Eu acho que o gestor ele tem que estar à frente, ele tem que estar

chamando para vir e estar sempre do lado do coordenador para que essa formação

de fato aconteça dentro das escolas. (D-E)

Pelo que já se expôs, deduz- se que a formação continuada se faz elo entre a

profissão e a construção da identidade do educador, a formalizar a dinâmica social do trabalho

docente, especialmente pelo seu caráter conjunto e pela interação que oferece aos

profissionais da educação visando à melhoria da qualidade do ensino, rumo ao alcance dos

seus objetivos. Estes apontam como função social para a escola a instrumentalização de um

ensino em que se busque uma educação para a vida, a saber, que aquilo que se aprende na

escola seja útil na vida fora da instituição.

Segundo a explicação que nos oferece Guimarães (2004, p. 27),

O investimento na formação é um ponto de partida que apresenta possibilidades de

melhoria da profissionalidade e de um significado diferente para a profissionalização

e o profissionalismo docentes, bem como possibilidade para a ressignificação da sua

identidade profissional nesse contexto pródigo em mudança de natureza variada.

No que toca ao nível legal, tem-se que a LDBEN 9.394/96 determina, a respeito

da formação docente:

115

Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos

dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase do

desenvolvimento do educando, terá como fundamentos:

I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço;

II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino

e outras atividades.

Para Freire (1997), a formação que se faz no âmbito da própria escola e que

consiste no acompanhamento da ação-reflexão-ação dos educadores que atuam na escola

envolve a explicação e análise da prática pedagógica, exigindo a reflexão sobre a prática e a

reflexão teórica.

Acrescento que, no âmbito de tal formação, construir uma escola com práticas

mais democráticas requer um empenho de todos os educadores que têm compromisso e

trabalham a favor da escola pública, gratuita e de qualidade, no sentido de que as relações

estabelecidas no espaço escolar se dêem num “clima” de valorização incondicional da pessoa

humana. É preciso que o professor se empenhe em estabelecer práticas humanas e

humanizantes comprometidas com o exercício da autonomia e liberdade.

Seguem as falas dos coordenadores a respeito do papel do gestor frente à

formação continuada oferecida na escola.

A equipe gestora tem bem claro o nosso papel: somos nós que puxamos, nós não

faltamos nenhum encontro, nós lemos as mesmas leituras, desenvolvemos as

mesmas atividades, todo grupo tem atividades extras, a equipe gestora também tem

atividade extra na formação.A equipe gestora é professore está ali junto com os

demais. A gente lança, tira cópias, dá todo o subsídio, as cópias pra eles, quando

não pede os livros: - Gente, vamos pedir tal livro, o que vocês acham?Quando não é

cumprido dentro do cronograma da formação, fica para a autoformação em casa.

(C-A)

É muito importante, a gente enquanto gestor que está à frente do processo, a gente

está direto pesquisando e até mesmo procurando o que os gestores de outras

escolas estão fazendo para ajudar a solucionar o problema, procurando apoio de

fora, de Conselho, da própria Secretaria de Educação com a gente. (C-B)

Na faculdade não fomos formados pra isso, depois que veio, foi entrando, mudando

tudo. Então ficou a formação para o coordenador, quem dá é o coordenador, não é

nem o gestor, o direto. Ele ajuda muito, quando ele está junto é outra realidade.

Aqui, por exemplo, eu não tenho queixa, não, eu acho esse papel muito forte, porque

eu acho que deveria vir assim da Universidade, poderíamos pegar um professor que

viesse de lá dar um estudo mais aprofundado, eu acho que o gestor tem que fazer

essa articulação com a Universidade. (C-C)

O gestor é peça fundamental, pois ele precisa garantir e oferecer subsídios que

norteiam o eixo de discussões de acordo com as necessidades do grupo docente,

tendo como objetivo oferecer condições de aprendizagem aos discentes. (C-D)

116

O gestor precisa estar presente nessa formação à medida que ele auxilia a

coordenação na seleção dos assuntos, a partir do momento que ele expressa a sua

opinião, porque ele apresenta uma visão da escola, ele sabe as dificuldades que a

escola apresenta, o grupo que ele possui. Portanto, o gestor é importante nesse

processo de formação continuada. (C-E)

O professor não pode parar no tempo, nota-se que há uma necessidade de estar na

constante busca de se aperfeiçoar através de pós-graduação, palestras, pesquisas, lendo livros.

Como profissional da educação, ele reconhece que os saberes estão em constantes mudanças e

que, por conseguinte, é preciso estar atualizado para ser um bom profissional.

De acordo com Guimarães, (2004, p.27)

Os vários setores da atividade humana passam por significativas mudanças que se

concretizam em novas configurações da ordem econômica e política relacionada ao

conhecimento, às vinculações pessoais, às comunicações, entre outras, que trazem

consequências muito diretas para a educação escolar.

Outro aspecto relevante para o fazer docente é que a atividade profissional do

educador pode ser caracterizada como uma atividade de mediação não só entre o aluno e a

cultura, mas também entre a escola, pais e alunos, Estado e comunidade, etc. Esse caráter de

mediação “[...] justifica os investimentos de organismos diversos na configuração de uma

identidade do professor na sociedade” (GUIMARÃES, 2004, p. 32).

O docente convive com diferentes realidades dentro da escola, e ignorá-las levaria

nossa educação a um processo de estagnação ainda maior do que o presenciado atualmente.

Segundo Imbernón (2009, p. 23), “A instituição educativa, como conjunto de elementos que

intervêm na prática educativa contextualizada, deve ser o motor da inovação e da

profissionalização docente”. É imprescindível que o professor conheça a realidade na qual o

estudante se encontra e traga a mesma para sua sala de aula, a fim de que o educando a

reconheça e lhe dê a importância de um mundo que precisa ser mudado e não ignorado, bem

como instigando-o a sentir prazer em aprender.

Quando se perguntou sobre quem participa da formação continuada da escola, os

diretores assim responderam:

Ela é oportunizada a todos os professores, a equipe gestora, equipe diretiva, todos

os professores e estagiários. Nós temos estagiários que trabalha com as

deficiências, aí ela também participa. (D-A)

Participam os professores de todos os ciclos, os coordenadores, as supervisoras da

região (SEMEC). Elas participam de todas as formações, os diretores também

participam. Tem uma coordenadora do polo que vem na formação e orienta. (D-B)

São os coordenadores. Os participantes são: eu diretora, todos os professores, até

mesmo os contratados. (D-C)

117

Todos os professores, os coordenadores e a direção da escola. Participo sempre.

Quem coordena a formação, de acordo com o PCCS11

do Município essa atribuição

é dos coordenadores pedagógicos da escola. Quem coordena são as duas

coordenadoras pedagógicas. (D-D)

Professores, coordenadores e estagiários. (D-E)

As unidades escolares em que o gestor adota uma concepção mais ampla da sua

ação na formação continuada na escola promovem a coletividade do trabalho e mantêm bom

relacionamento com a comunidade. Além disso, possibilitam uma visão global dos alunos,

visto que o professor passa a conhecer a realidade social em que estes vivem.

Saviani (2000, p. 207) entende que o diretor é o principal responsável, nos limites

da unidade escolar, para “garantir o cumprimento da função educativa que é a razão de ser da

escola”. A partir disso, pode-se dizer que o gestor escolar assume seu papel como legislador e

educador, uma vez que a forma como o Estado conduz a organização educacional desvirtua as

funções do diretor, levando-o muitas vezes, a privilegiar tarefas legislativas e administrativas,

em detrimento da sua função de educador e de administrador das relações.

Quanto aos docentes, não parece demais enfatizar que a profissão professor não

tem conseguido atingir a valorização e a posição intelectual que lhe são devidas. Essa

problemática é grande, pois é normal aos olhos da sociedade o profissional do ensino conviver

com baixos salários, formação precária e desprestígio social.

Os relatos colhidos demonstram a importância da formação continuada na escola

na consecução dos objetivos de melhoria da qualidade do ensino. Contudo, revelam também

certo grau de desinteresse por parte dos professores e até dos diretores.

Veja-se o que responderam os coordenadores acerca de quem participa da

formação continuada da escola.

Todos os professores. (C-A)

Diretor, todos os coordenadores e todos os professores de todas as áreas e a EJA12

.

Os demais funcionários participam mais de reuniões. (C-B)

Só os professores, coordenadores e o diretor, não em todas, mas sempre que pode

ele aparece, está presente. Agora, nos cursos, quando a gente chama alguém de

fora, daí a gente chama toda a escola para participar, toda a comunidade escolar,

pessoal da limpeza, da merenda, e eles adoram participar. A maioria estuda e eles

chegam até falar:- Olha, quando tiver alguém, por favor, convide a gente. Então, a

gente convida todos. (C-C)

Todos os professores, os coordenadores e o diretor. (C-D)

11

Plano de Cargo, Carreira e Salário. 12

Educação de Jovens e Adultos.

118

Os professores, coordenadores e o gestor também, mas avaliando o grupo num

todo. Eu valorizo a participação e considero como uma participação boa. (C-E)

Entendo que o local de trabalho do professor se constitui como o melhor lugar

para a compreensão e construção da democracia da autonomia e emancipação da prática

docente. Assim compreendida a formação oferecida pela escola, necessariamente, precisa

incitar o estudo entre pares para que coletivamente construam a prática do diálogo permeado

por discussões e reflexões acerca do trabalho pedagógico, fundamentados em teoria

consistente. O objetivo é que os diretores, coordenadores e professores não somente

transformem sua prática, mas também dêem condições para que a participação da comunidade

na escola seja efetivada e contribuam com a integração e tomada de posição de todos os atores

da comunidade escolar na organização e elaboração das propostas da unidade de ensino.

É no cotidiano da escola, especialmente nas relações que se travam na prática

educativa, que se reúnem as energias e forças sociais da comunidade escolar, constituindo o

poder local daquela escola e comunidade. É o local onde ocorrem as experiências de vida e o

ambiente da prática pedagógica, nascente por excelência do capital social, que nasce e se

alimenta da igualdade, da solidariedade e sensibilidade como ser humano.

As relações desenvolvidas nesse cotidiano geram o referido capital social quando

esta prática é fortalecida pela autoconfiança nos indivíduos desse ambiente, para que, através

da participação e do diálogo, encontrem formas para a superação de suas dificuldades. Tais

relações produzem, então, junto com a solidariedade, a concordância social, as forças

emancipatórias, a humanização, que se tornam fontes capazes de provocar mudanças e

transformações na sociedade.

Nesse contexto, a ação dos gestores na formação continuada na escola é, antes de

tudo, a de se identificar, se construir, se articular e se comprometer com a prática educativa.

Estas ações, o gestor desenvolve enquanto sujeito que tem na escola a sua profissão e

profissionalização, um sujeito que acredita no ser humano, ser de relações que, midiatizado

pelo mundo, educa e se educa com a necessária compreensão de que somos seres inconclusos.

Ao serem indagados sobre que reflexão eles fazem da formação continuada na

escola, os diretores afirmaram que

Esta é uma ação que essa escola, nem que ela quisesse, não poderia parar mais. Ela

não pode parar mais, primeiro pela questão de resultados, que começam a

aparecer. O coletivo desta escola abraçaram de tal forma esta formação que ela

não é mais uma ação do diretor ou da equipe gestora ou da equipe diretiva ou da

professora da universidade, ela é uma ação, hoje, que se tornou um momento muito

prazeroso, onde a cada vez por mês, mesmo estando todo mundo cansado, aquele

119

sábado é um momento de confraternização na comunidade, na escola. Então, pra

mim a formação tem dado resultados, tem sido abraçada por todos, e se todos

abraçarem a formação, ela passa a fazer parte implícita do fazer pedagógico de

cada funcionário que trabalha nesta escola. (D-A)

Olha, ela é variável. Digo o seguinte: ela falta algumas coisas. - Como assim?- Ela

falta de um empenho maior, de uma formação, de ter alguém da SEMEC ou uma

equipe para estar direcionando, ou vendo, ao menos. Você vê:- o professor, hoje,

ele vem pra sala de aula, faz o planejamento dele, mas muitas vezes ele não ouve,

ele não vê alguma coisa que está acontecendo, legislação, alguma forma de estar

buscando fora, e uma equipe estar direcionando ou, até mesmo, auxiliando. Por

exemplo, o formador como você, dando aperfeiçoamento, essa pessoa ate mesmo

dentro da SEMEC, com temas o que vai ser tratado. Queria uma equipe que

articulasse qual conteúdo, no mínimo de todas as unidades de textos e de caminhos

para que todos seguissem, não os mesmos caminhos, mas que tivesse um

direcionamento dessa formação. (D-B)

Às vezes a gente pensa assim: santo de casa não faz milagre. Mas às vezes eu acho

muito importante quando você leva para a discussão, as pessoas participam, e nessa

participação a gente acaba encontrando algum problema, alguma sugestão, alguma

solução para os problemas nessas formações, e também o momento da interação

entre todos, onde cada um dá sua opinião. Porque, se ela não houvesse, o que iria

acontecer? Vai ser só professor fazendo planejamento, o coordenador

acompanhando, e não haveria aquele diálogo. Então isso e muito bom, quando está

o grupo coletivo de professor junto. (D-C)

Essa formação é muito importante, aliada à que a SEMEC oferece e os demais

cursos de formação de outras entidades. Elas são momentos de reflexão da prática

pedagógica, pois na formação inicial aconteceram lacunas com muitos

funcionários, com muitos professores, então é o momento do professor estar, hoje,

entrando em contato com alguns conceitos, teorias que não teve oportunidade de

conhecer na sua formação. (D-D)

É fundamental a formação continuada. Eu verifico que muitas ações, muitas

atividades significativas são construídas pelos professores a partir dessa formação

continuada, porque eles fazem uma reflexão melhor. A própria relação com os

colegas, com o objeto de discussão, está muito melhor, então. Até, mesmo o clima

da escola favorece porque quando o grupo está estudando ali, junto, trabalhando,

um ajuda o outro, um troca experiência, mesmo sendo momento de estudo. Então a

gente aproveita até aqueles quinze minutos que você faz o intervalo, é o momento de

descontração, também. Então é assim, mudou muito e a relação, hoje o clima dentro

da escola é muito bom. (D-E)

Nessa perspectiva é que se enfatiza a importância do papel realizado pelos

gestores escolares no que tange à formação continuada que se realiza no interior das escolas,

pois se considera que é através das ações que esses profissionais realizam, priorizando a

construção de uma formação gerida e visando a democratização e emancipação do trabalho

educativo, que poderemos construir uma nova escola, e um sistema educacional autônomo

tendo em vista o pleno desenvolvimento da educação pública e um novo projeto de sociedade.

Pode-se observar que, nas últimas três décadas, um dos temas mais discutidos nas

academias e sindicatos e que se tem tornado objeto de discussão nas políticas públicas de

educação, em nosso país, é com relação à formação e profissionalização docentes. Acredita-se

120

que várias modificações foram realizadas, principalmente no que se refere a uma formação

inicial e continuada que contribua com a melhoria da qualidade do ensino para todos como

um direito garantido socialmente.

Recaem sobre os sistemas de ensino a tarefa e a responsabilidade adicionais de

promover, organizar e até mesmo, como acontece em muitos casos, realizar cursos de

capacitação para a preparação de diretores escolares. Essa responsabilidade se torna mais

marcante quando se evidencia a necessidade de formação contínua, complementarmente à

formação inicial, como condição para acentuar o processo de profissionalização de gestores,

de modo que enfrentem os novos desafios a que estão sujeitos as escolas e os sistemas de

ensino.

É evidente que nenhum sistema de ensino, nenhuma escola pode ser melhor que a

habilidade de seus dirigentes. De pouco adiantam a melhoria do currículo formal, a introdução

de métodos e técnicas inovadoras, por exemplo, caso os mesmos não sejam acompanhados de

um esforço de capacitação dos dirigentes nesses processos. Essa capacitação, aliás, constitui-

se um processo aberto, de formação continuada e permanente.

A própria educação deve ser compreendida como um processo, em que

experiências são trocadas, vivenciadas, enriquecidas, numa convivência amorosa na relação

professor-aluno, tendo claro o importante papel que a escola e, principalmente, o educador

tem a desempenhar diante de seus educandos.

A formação continuada é uma importante contribuição para que esse profissional

possa refletir sobre o fato de que a transformação da prática pedagógica passa pela (re)

construção das concepções de homem, de sociedade, de escola e de educação que sequer

desenvolver. Tal (re) construção provoca e ao mesmo tempo orienta o professor para a busca

das competências necessárias à sua prática pedagógica.

Tem grande relevância o docente se preocupar com o que ensinar e como ensinar,

mas é muito mais importante ele se preocupar com “para que” ensinar e para que o aluno

aprenda e o que aprende.

Corrobora-se, mais uma vez, a visão de escola como local privilegiado de

formação continuada e de grande importância na sistematização de uma proposta de formação

que propicie avanços significativos no processo ensino-aprendizagem para que as mudanças

necessárias aconteçam e se consolidem. A formação na escola propicia momentos em que o

coletivo dos professores, juntamente com a coordenação, pode refletir a sua prática,

confrontando-a com as novas teorias que surgem, com as pesquisas e experiências científicas.

121

Deve ser uma formação profissional apropriada, que possibilite compreender e

responder crítica e competentemente aos desafios do mundo contemporâneo- desafios

colocados pelo desenvolvimento científico e tecnológico, e também aqueles que se processam

no domínio dos valores e das implicações políticas e éticas trazidas por esse desenvolvimento.

Assim concebido, o espaço da formação permite debater sobre a prática

pedagógica, isto é, sobre os recursos didáticos comumente utilizados e sua integração a

situações que favoreçam a análise e a reflexão por parte dos professores, abrindo-se espaço

para que eles compartilhem com outros suas experiências de trabalho, dúvidas e reflexões.

Quando se perguntou que reflexão fazem acerca da formação continuada na

escola, os coordenadores responderam:

Olha, eu acho que a formação continuada na escola é o melhor espaço de

crescimento profissional. O grupo tem crescido, a partir dessa formação há um

compromisso tão grande, todo mundo abraçou de tal forma que a gente não vê a

possibilidade da formação continuada sair do nosso convívio. Ela é fundamental

para que a gente dê suporte ao trabalho com tema gerador, as novas metodologias

que a gente está querendo implantar na escola, com o ciclo de formação, então a

formação é fundamental pra nós. (C-A)

Poderia ser melhor. Aí eu já faço uma crítica.Tudo bem nós estamos na frente,

temos muita responsabilidade com isso também, mas acho que deixa um pouco a

desejar quando muitas vezes a gente corre atrás, consegue material riquíssimos,

propõe uma atividade diferenciada, um trabalho mais gostoso e aí a gente percebe

um pequeno grupo, muitas vezes, desarticula a discussão e foge do ponto principal.

Então, acho que por ser um momento raro, considero raro porque se você analisar

nós estudamos a vida inteira para de repente você ter apenas duas horas por

semana para fazer o estudo, então esse tempo tem que ser muito bem aproveitado,

deixar de lado o lado pessoal de picuinhas, o lado de destruir, desarticular o

trabalho do colega, encarar com mais seriedade, pegar esse momento que é raro,

são apenas duas horas e que passa voando. Quando você tira pra estudar, pega

uma apostila, num minuto já deu sete horas e às vezes não dá nem para terminar e o

que acontece? Nós temos materiais riquíssimos, mas pouco aproveitado em função

de partir para outro lado e deixar de aproveitar o momento que está sendo

propiciado a todos nós. (C-B)

Em minha opinião, se tivesse uma ajuda de uma pessoa de fora, assim, uma

professora da Universidade mandando uns textos ou alguma coisa que seja

interessante, vir de vez em quando pra algumas discussões, seria mais aproveitado.

Que muitas vezes a gente traz uns textos para leitura, eles os perdem, não lêem,

sabe, eles nunca têm tempo. Você tem que deixar duas reuniões para dar tempo

para eles lerem, a gente cobra e a gente às vezes fica sendo “tachadas”. Muitas

vezes a gente pega e conversa com o professor, vê qual é a dificuldade dele e eu

acredito que tem alguma reflexão, ou às vezes a gente traz alguém de fora, então

vamos ver quem a gente vai trazer e tal, eu acho que ajuda bastante. Tem mudanças

poucas, mas tem. Que muda a reflexão e ajuda na prática e muitas vezes eles

chegam a conclusões que o problema é dele, não está no aluno. Da Universidade

que tem outra visão, uma visão mais aberta. (C-C)

Como eu já disse, ela é fundamental e se faz necessária por estarmos sempre

necessitando discutirmos e teorizando as práticas pedagógicas da nossa escola. (C-

D)

122

Eu analiso como essencial a formação. E chega ao ponto que nós estamos hoje,

cada vez mais é exigido que o profissional seja qualquer função, que ele tenha no

ambiente escolar que ele tenha sempre em mente que o estudo é fundamental pra

ele. Eu faço uma reflexão também com relação a minha função no momento como

coordenadora se eu não buscar o estudo eu vou estar sem as informações eu não

terei como auxiliar o professor por isso que eu considero que essa minha continua

formação ela auxilia o trabalho com o professor, que com certeza ele vai refletir

também e vai provocar mudanças na sua prática. (C-E)

Entretanto, para que a escola redirecione sua prática de formação e redimensione

o trabalho pedagógico, é imprescindível que os dirigentes de escola e os órgãos gestores da

educação, em conjunto com a categoria docente, revejam os aspectos de atuação desse

profissional no cotidiano escolar, contribuam para modificar a representação negativa que foi

construída acerca desta profissão ao longo da história, desde a própria universidade, e passem

a compreender que este profissional não é um mero assistente ou acessório pertencente ao

quadro administrativo da escola.

O processo de formação estabelecido no Projeto Político-Pedagógico e

dinamizado na escola constitui a mola propulsora de oxigenação e articulação do

administrativo em função do pedagógico. O desenvolvimento do hábito do trabalho coletivo

sustentado pela reflexão do que se faz na escola possibilita compreender melhor as

determinações da prática, bem como descobrir alternativas teóricas e metodológicas para uma

gestão de melhor qualidade.

Nóvoa (1991, p. 30) acentua que “A formação continuada deve alicerçar-se numa

reflexão na prática e sobre a prática”, através de dinâmicas de investigação-ação e de

investigação-formação, valorizando os saberes de que os professores são portadores.”

Conforme também expressa Nóvoa (1991), a escola constitui “lócus de formação

continuada do educador”. É o lugar onde se evidenciam os saberes e a experiência dos

professores. É nesse cotidiano que o profissional da educação aprende, desaprende, estrutura

novos aprendizados, realiza descobertas e sistematiza novas posturas na sua “práxis”. Eis

uma relação dialética entre desempenho profissional e aprimoramento da própria formação.

123

CONSIDERAÇÕES

Quando se fala da gestão democrática, está-se referindo ao próprio “fazer

humano” e, consequentemente, ao próprio homem, e, dialeticamente, pensar sobre nós

mesmos é tentar encontrar algo que possa sustentar o processo de educação. Esta, portanto,

implica na busca da realização de um sujeito, que é o homem. O homem deve ser o sujeito de

sua própria educação, e não seu objeto.

Especificamente em relação aos grupos focalizados neste trabalho, entendo que

todos os segmentos da comunidade escolar devem procurar compreender melhor o

funcionamento da escola, conhecer com mais profundidade a todos que nela estudam e

trabalham e intensificar seu envolvimento com a mesma e, assim, acompanhar melhor a

educação ali oferecida. Portanto, a escola que exerce a democracia enquanto realiza tarefas

educativas visa à formar o cidadão para a cidadania e para o desenvolvimento social.

Nesta concepção de construção coletiva, sente-se a necessidade da

democratização das decisões e da própria gestão escolar. Há então, uma exigência posta para

o gestor, de que ele compreenda a dimensão política de sua ação administrativa.

A gestão democrática já é uma realidade no âmbito escolar, mas é preciso

intensificar sua presença e visibilidade no cotidiano da escola. Para que a gestão assuma de

fato a sua ação faz-se necessário que as pessoas entendam o papel da gestão e exijam que ela

seja apreendida por todos, como um direito. Aí, sim, a escola passa a assumir um caráter

diferente, a ser o resultado do exercício de todos os componentes de sua comunidade, sempre

no esforço de alcançar das metas estabelecidas e construídas coletivamente.

Esse modelo de gestão é uma nova forma de administração que objetiva abrir a

escola para a comunidade, estimular o talento de cada membro da equipe, sem perder de vista

as metas educacionais e, ainda, estar em sintonia com as mudanças sociais, criar um ambiente

de amizade e entusiasmo e, principalmente, saber partilhar o poder.

É uma exigência da gestão democrática, por outro lado, que toda a comunidade

escolar compreenda em profundidade os problemas postos pela prática pedagógica. Para que

isto se concretize, em primeiro lugar, é primordial que aconteça uma mudança de mentalidade

de todos os seus membros que lhes possibilite perceber a importância da participação coletiva

dos educadores, funcionários, alunos, pais e comunidade.

O presente estudo foi desenvolvido com enfoque na ação do diretor e do

coordenador pedagógico no âmbito da educação escolar, pois estes são considerados líderes

124

no cotidiano da escola. Ao término do trabalho desenvolvido, respondo ao problema de

investigação: Como o gestor tem desenvolvido sua ação na formação continuada na escola

para a construção de uma escola democrática? Primeiramente, compreendo que a gestão

democrática implica, sobretudo, o repensar da estrutura de poder da escola, tendo em vista a

socialização do mesmo. Esta acontece através da prática da participação coletiva, que atenua o

individualismo e supera expressão da autonomia a qual simplesmente anula a dependência,

dos órgãos intermediários responsáveis por elaborar políticas educacionais para atender às

especificidades de cada comunidade escolar. Nesse processo é fundamental que o

coordenador pedagógico desenvolva ações, juntamente com o coletivo de professores, nas

quais seja possível discutir os projetos e práticas escolares.

Entendo, também, ser importante que se dê a formação continuada no próprio

espaço escolar, pois é neste contexto que está o trabalho do professor, que se espera seja

impregnado de intencionalidade, que visa à formação humana por meio de conteúdos e

habilidades, pensamento e ação, o que implica valores e compromissos éticos. Para melhor

compreender a atividade docente, é preciso considerar, neste ponto, que ela apresenta uma

natureza pedagógica vinculada a objetivos educacionais de formação humana e a processos

metodológicos organizados para a apropriação de saberes.

Assim concebido, o espaço da formação continuada assume um papel que

transcende a prática docente, visto que o processo formativo deve possibilitar momentos de

estudos nos quais os professores e coordenadores possam participar, refletir e construir

conhecimentos através da prática da pesquisa, tendo o entendimento de que ensinar e aprender

só ocorrem significativamente quando resultam de uma postura investigativa acerca do

trabalho realizado em sala de aula. Cabe ao gestor democrático, então, organizar e gerir essas

atividades de reflexão, pesquisa, reelaboração de saberes e de práticas, num ambiente de

descentralização e compartilhamento de poder, de participação, com vistas a contribuir como

e quando necessário, nas práticas dos professores para que estas possam cumprir o papel de

formar alunos hábeis, conscientes e críticos quanto a sua realidade social.

Com relação ao objetivo geral da pesquisa, que foi investigar e analisar

criticamente a ação do gestor na formação continuada na escola para a construção de uma

escola democrática pode-se concluir, em primeiro lugar, que a participação é o principal meio

de se assegurar a gestão escolar democrática: ela possibilita o envolvimento de todas as

pessoas que integram essa comunidade no processo de tomada de decisões e no

funcionamento da organização escolar. Além disso, proporciona um melhor conhecimento

dos objetivos e metas, da estrutura organizacional e sua dinâmica e das relações da escola

125

com a comunidade, assim como, favorece uma relação de proximidade entre todos os

envolvidos no processo.

Nas escolas, a participação nas decisões visa a buscar o aumento de

produtividade e melhores resultados. Entretanto, existe aí um sentido mais forte de prática da

democracia, de experimentar formas não-autoritárias de exercício do poder, de intervir nas

decisões da organização e definir coletivamente o rumo dos trabalhos.

Foi visto que o conceito de participação se fundamenta no de autonomia, que

significa a capacidade das pessoas e dos grupos de livre determinação de si próprios, isto é, de

conduzirem sua própria vida. Como a autonomia opõe-se às formas autoritárias de tomada de

decisão, sua realização concreta nas instituições é a participação. Logo, um modelo de gestão

democrático-participativa tem na autonomia um dos seus mais importantes princípios,

implicando a livre escolha de objetivos e processos de trabalho e a construção conjunta do

ambiente de trabalho.

O preceito da autonomia no ambiente escolar engloba a exigência da participação

de professores, pais, alunos, funcionários e outros representantes da comunidade. Também

está presente a forma de viabilizar essa participação: a interação comunicativa, a busca do

consenso em pautas básicas, o diálogo intersubjetivo.

Contudo, a participação inclui, também, os processos de gestão, os modos de

fazer, a coordenação e a “cobrança” dos trabalhos e, decididamente, o cumprimento de

responsabilidades compartilhadas dentro de uma mínima divisão de tarefas e alto grau de

profissionalismo de todos. Portanto, a organização escolar democrática implica não só a

participação na gestão, mas a gestão da participação.

No âmbito destas considerações é importante frisar que a liderança não é

exclusividade dos diretores e coordenadores, nem depende do cargo ou condição da pessoa.

É uma qualidade distribuída entre muitas pessoas e que pode ser incrementada por meio de

práticas de desenvolvimento pessoal e profissional. Por outro lado, não há como negar que,

mesmo no processo democrático, inclusive quando este se realiza de forma cooperativa e

participativa, o diretor, em última instância, é o líder responsável pela escola.

É preciso esclarecer, ainda, o entendimento de que o eixo da instituição escolar

está na qualidade dos processos de ensino e aprendizagem, mediados pelos procedimentos

didático-pedagógicos. A organização e a gestão e, também as formas de participação, são

meios para assegurar essa qualidade.

O princípio da participação, como se vê, não esgota as ações necessárias para

assegurar a excelência do ensino, mas, tanto quanto o processo organizacional- e como um

126

dos elementos deste- a participação constitui apenas, mais, um modo, importante, de

alcançar melhor e mais democraticamente os objetivos da escola que incidem na qualidade

do ensino e aprendizagem. Infere-se que, em razão disso, a participação necessita do

contraponto de outro conceito importante da gestão democrática: o de direção.

Enfim, posso considerar que a ação do gestor na formação contínua que se

desenvolve no espaço escolar evoca um caráter amplo já que sua responsabilidade vai além

das questões pertinentes aos problemas do cotidiano escolar, e por esse motivo sua

participação é fundamental nas ações formativas da escola. Acredito que o gestor deve, sim,

conduzir os trabalhos na escola- dos quais faz parte a formação- numa perspectiva de

liderança democrática, participativa e autônoma em que todos os atores desse ambiente

tenham a oportunidade de ensinar e aprender. É preciso que ele tenha em mente que qualidade

social na educação somente se instituirá se houver um envolvimento de todos na construção e

implementação da proposta educativa na escola.

Compreendemos que uma escola de gestão democrática envolve o trabalho de

gestão que propicie aos atores do processo educativo troca de experiência, informação,

conhecimento e saberes que qualificam a vivência de democrática. A democracia se constitui

e se consolida ao ser praticada no exercício das relações cotidianas que ocorreram no espaço

social.

Estas observações apontam para a necessidade também de uma formação melhor

para os gestores (diretores e coordenadores) quanto às concepções de educação, gestão

democrática, e formação e ao desenvolvimento da pesquisa no espaço escolar. Nesta

perspectiva dinamizadora das atuais tendências de formação continuada de educadores, em

que a escola é compreendida como lugar de formação permanente, os orientadores

pedagógicos ou supervisores e os docentes necessitam discutir os problemas da prática

pedagógica, situada num contexto mais amplo, e buscar as necessárias soluções.

A gestão, para que exista um caráter significativo na articulação entre a

organização e o trabalho escolar, deve ser entendida como concepção e prática da ação

educativa no cotidiano. O Projeto Político-Pedagógico, por seu lado, se configura como um

eixo norteador para a ação educativa, tendo em vista que é nele que as finalidades políticas

mais amplas da escola são traçadas.

Acrescenta-se a observação de que o processo de formação, fundamento do ato

educativo, tem o homem como meio e fim do mundo cultural que por ele é construído. Nesta

perspectiva, a escola como instituição é responsável pelo reconhecimento do mundo e por sua

127

transformação em mundo simbólico, mundo da vontade e da aquisição dos conhecimentos que

constituem a herança social que cada um recebe ao ser transformado em sujeito cultural.

O ambiente escolar, porém, não deve ser visto como um lugar em que apenas se

transmita conhecimento, mas, sim, como espaço no qual se busque a autonomia do educando,

levando em conta as suas experiências de vida, permitindo a troca de conhecimentos entre os

alunos, e possibilitando-lhes a construção e produção de seu próprio conhecimento.

Entendendo os princípios metodológicos da escola como a consecução prática da filosofia, o

docente proporá atividades, no processo ensino-aprendizagem voltadas à construção do

conhecimento, considerando que é preciso acreditar nas possibilidades do estudante, no

conhecimento do mesmo e no contato pessoal professor e aluno.

Vejo também a formação e desenvolvimento dos princípios da ética como

necessários para todos os homens, estabelecer correlações, valores, experiências para avaliar,

repetir ou evitar o que se considera positivo ou negativo, enfim proporcionando-lhes

elementos que lhes permitam desenvolver as potencialidades da sensibilidade e da memória.

Finalmente, para o professor, seu desenvolvimento profissional que fornece o

processo de formação implica, também, num desenvolvimento pessoal, proporcionando-lhe

melhores condições para assumir com autonomia sua prática pedagógica e, ao mesmo tempo,

construir conhecimentos que o ajudem a se desenvolver enquanto pessoa, e que o capacitem

para a busca por melhores condições de vida, dando-lhe mais argumentos por melhores

salários e condições de trabalho, bem como para a luta por mudanças sociais, objetivando

uma sociedade mais justa e igualitária.

128

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134

ANEXOS

Cuiabá- MT

2011

135

APÊNDICE I

Categoria – gestão democrática

Questões da entrevista realizada com os gestores e coordenadores

1) Como você concebe democracia?

2) O que é gestão democrática?

3) Como você vê a construção da democracia na escola?

4) Quais os desafios e perspectivas da gestão democrática na escola hoje?

5) Como você conduz a participação de todos os setores da comunidade escolar?

6) O que é ter autonomia na escola?

7) Como você vê a importância do Conselho Escolar?

8) Como é elaborado o PPP da escola? Quem participa?

Categoria – formação continuada

Questões da entrevista realizada com os gestores e coordenadores

1) A escola possui um projeto de formação continuada?

2) Você considera importante a formação continuada na escola?

3) Qual a ação do gestor frente a formação continuada oferecida na escola?

4) Quem participa da formação continuada na escola?

5) Que reflexão você faz da formação continuada na escola?