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A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA DO MUNICÍPIO DE ITIRUÇU/BA Judite Ângela Vieira Borges 1 Carlos Eduardo Ribeiro Santos 2 RESUMO As políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, após 1990, trouxeram para o Brasil e para suas regiões, uma alternativa mais eficiente de fixar o pequeno produtor no campo, pois as modalidades de crédito que auxiliam a pequena produção agrícola estimulam a permanência destes agricultores na zona rural. O presente trabalho tem como principal objetivo, analisar a influência que a agricultura familiar tem para o município de Itiruçu, cidade do interior baiano, tendo em vista que a mesma apresenta dependência da geração de ocupações pela prefeitura e, aqueles que não estão no serviço público se atrelam de alguma forma, à produção agrícola. Além disso, a cidade apresenta uma característica produtiva atrelada à agricultura, principalmente a monocultura do café. Nesse sentido, a apresentação desse trabalho contou, num primeiro momento com uma discussão sobre a evolução agrícola brasileira e suas influências para as pequenas propriedades. Em seguida, abordou-se uma analise sobre a agricultura familiar como forma de geração de emprego e renda. E por fim, demonstrou-se como essa prática de produção agrícola se apresenta como grande proponente para a economia e o ciclo econômico do município de Itiruçu. Buscando-se concluir que a agricultura familiar é de grande relevância para o município, ao ser caracterizado como geradora de ocupação e renda, além de influenciar na movimentação econômica do município. Palavras-chave: Economia Regional; Agricultura Familiar; Itiruçu/BA. 1 Graduada em Ciências Econômicas pela Faculdade Integrada Euclides Fernandes (FIEF) e pós- graduanda em Gestão e Educação Ambiental pela mesma instituição. E-mail: [email protected] 2 Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB-Campus V). Professor Assistente do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: [email protected]

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A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA DO

MUNICÍPIO DE ITIRUÇU/BA

Judite Ângela Vieira Borges1

Carlos Eduardo Ribeiro Santos2

RESUMO

As políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, após 1990, trouxeram para o Brasil

e para suas regiões, uma alternativa mais eficiente de fixar o pequeno produtor no campo, pois

as modalidades de crédito que auxiliam a pequena produção agrícola estimulam a

permanência destes agricultores na zona rural. O presente trabalho tem como principal

objetivo, analisar a influência que a agricultura familiar tem para o município de Itiruçu,

cidade do interior baiano, tendo em vista que a mesma apresenta dependência da geração de

ocupações pela prefeitura e, aqueles que não estão no serviço público se atrelam de alguma

forma, à produção agrícola. Além disso, a cidade apresenta uma característica produtiva

atrelada à agricultura, principalmente a monocultura do café. Nesse sentido, a apresentação

desse trabalho contou, num primeiro momento com uma discussão sobre a evolução agrícola

brasileira e suas influências para as pequenas propriedades. Em seguida, abordou-se uma

analise sobre a agricultura familiar como forma de geração de emprego e renda. E por fim,

demonstrou-se como essa prática de produção agrícola se apresenta como grande proponente

para a economia e o ciclo econômico do município de Itiruçu. Buscando-se concluir que a

agricultura familiar é de grande relevância para o município, ao ser caracterizado como

geradora de ocupação e renda, além de influenciar na movimentação econômica do

município.

Palavras-chave: Economia Regional; Agricultura Familiar; Itiruçu/BA.

1 Graduada em Ciências Econômicas pela Faculdade Integrada Euclides Fernandes (FIEF) e pós-

graduanda em Gestão e Educação Ambiental pela mesma instituição. E-mail: [email protected] 2 Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Mestre

em Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB-Campus V).

Professor Assistente do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Santa Cruz

(UESC). E-mail: [email protected]

Page 2: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da agricultura no Brasil que a pequena propriedade é de suma

importância para a garantia do fornecimento de alimentos quem suprem as necessidades

naturais básicas e fundamentam a sobrevivência das famílias seja pelo contexto do alimentar,

bem como na geração de renda. Já nesse contexto, a agricultura de pequena produção tem

uma importância fundamental para a economia dos países e, essencialmente, na

contemporaneidade, para os municípios de pequeno e médio porte, tanto como fornecimento

de alimentos como geração de ocupação e renda.

Nesse sentido e, no contexto da pesquisa, busca-se demonstrar a importância da

agricultura como fonte de ocupações e geração de renda na economia, principalmente nas

pequenas propriedades, pois são elas as maiores demandantes de mão de obra no campo,

devido a sua característica produtiva intensiva em mão de obra e não intensiva em capital.

Apesar de a agricultura familiar ser praticada em todo o país, e principalmente no

interior dos estados, a mesma ainda está em processo de desenvolvimento devido ao pouco

tempo em que as instituições públicas vêm dando assistência ao setor, devido à recente

compreensão do Estado de que a agricultura familiar possui potencialidade para o

desenvolvimento econômico e social, principalmente dos pequenos municípios. Tendo em

vista, inclusive que para muitas famílias, essa é a única fonte de renda.

A agricultura familiar no Brasil vem se desenvolvendo devido à falta de

empregabilidade dos outros setores e pela nova perspectiva dos indivíduos, cuja crença na

melhoria de vida com a migração para os grandes centros urbanos, já não faz parte do

imaginário coletivo da sociedade. Com isso, a utilização desta forma de produção agrícola,

que também é sustentável para a economia e as famílias, vem se expandindo cada vez mais.

Assim, com o intuito de promover um crescente desenvolvimento dessas pequenas

propriedades, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) se

tornou a principal política pública implementada para subsidiar os pequenos produtores rurais:

com baixo nível de juros e com a possibilidade de gerar o incremento produtivo e a

competitividade dessa produção (através da inserção da tecnologia no processo produtivo,

Page 3: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

através do Programa Mais Alimentos), o mesmo é um grande financiador e potencializador da

capacidade de produção dos agricultores familiares.

Assim, no contexto da importância da agricultura familiar para a geração de ocupação

e renda no Brasil, e com o de intuito analisar a relevância que a agricultura familiar tem para o

município de Itiruçu, enquanto metodologia de pesquisa, a mesma contou com uma pesquisa

bibliográfica no que trata da composição do arcabouço teórico sobre a agricultura e a

agricultura familiar no Brasil. Enquanto instrumento de pesquisa, o mesmo contou com a

utilização da pesquisa de campo com os pequenos produtores agrícolas do município de

Itiruçu/BA, para que pudesse ser apresentada e analisada a importância do setor tanto para o

aspecto familiar, quanto socioeconômico no município.

Assim, a estrutura de apresentação desse trabalho está distribuída em três partes. Na

primeira se apresenta a produção agrícola pós-1990 com base no novo paradigma agrícola

brasileiro, que é a introdução da agricultura familiar, de fato, na agenda pública do

planejamento de políticas públicas. Na segunda parte, apresenta-se a agricultura familiar na

região Nordeste e na Bahia e sua relação com o Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar (PRONAF). Por fim, na última parte, se analisa qual a importância da

agricultura familiar para o município de Itiruçu/BA.

1. A PRODUÇÃO AGRÍCOLA PÓS-1990 E UM “NOVO PARADIGMA”: A

AGRICULTURA FAMILIAR

A pequena produção agrícola ou a agricultura familiar, como foi caracterizada após

1990, tem uma grande importância para a economia nacional, independente de ser no Brasil

ou no mundo, pois, além de ser uma grande acumuladora de mão de obra, é também uma

grande incentivadora para o crescimento econômico, além da utilização de recursos naturais

para adubação do solo, incentivando a não degradação da natureza.

[...] a agricultura familiar, como forma de diversificação da produção, vem se

desenvolvendo em todos os pontos do mundo e tem como característica a

predominância da mão de obra e gerenciamento por membros da família. Ao

contrário da agricultura convencional, a agricultura familiar busca equilibrar o uso

Page 4: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

dos recursos naturais atuando ativamente no processo de transição para uma

agricultura sustentável (TOMASITTO, LIMA, SHIKIDA, 2009, p.22).

A produção familiar não tinha importância econômica para a sociedade, pois não se

analisava a renda que a mesma gerava e a quantidade de mão de obra que era empregada

tendo em vista que a mesma era vista, apenas, como uma forma de subsistência natural para

aqueles que dela dependia. Por isso, muitos não a viam como captadora de mão de obra ou

geradora de renda, pois assim como no campesinato, ela era vista como uma forma não

capitalista de produção (ou seja, não era capaz de gerar excedente econômico). Observavam-

na, assim, somente como uma propriedade familiar que supria apenas a necessidade da sua

própria família, a subsistência familiar. Segundo Abramovay e Piketty (2005) citado por

Santos (2010),

[...] os termos empregados até uns 10 anos atrás – pequena produção, produção de

baixa renda, de subsistência, agricultura não-comercial – revelavam o tratamento

dado a esse segmento social e o seu destino presumível: era encarado como

importante socialmente, mas de expressão econômica marginal, e seu futuro já

estava selado pelo próprio rumo do desenvolvimento capitalista, que acabaria

fatalmente por suprimir tais reminiscências do passado. (ABRAMOVAY;

PIKETTY, 2005, p.57 apud SANTOS, 2010, p.125).

A partir da modernização da agricultura, muitos trabalhadores se refugiaram em

grandes centros urbanos, mas muitos continuaram na zona rural. Os trabalhadores que lá

permaneceram foram vivenciando o processo de substituição da mão de obra humana pela

máquina e observaram que não conseguiriam continuar a trabalhar em grandes propriedades

(propriedades patronais), levando-os a buscar trabalhar para si, por mais que o esforço

empregado sustentasse apenas a própria família.

[...] a população rural deixa de migrar para cidade e tenta se manter no campo.

Porém, essa população não consegue emprego na agricultura do tipo patronal, pois

essa absorve muito pouco da mão de obra existente. Nessa direção, a agricultura

familiar torna-se importante como fator de geração de renda e empregos para os

pequenos agricultores que não possuem muitas oportunidades. (TEODORO, 2005,

p.5).

Page 5: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

Assim sendo, a pequena produção agrícola tem uma variedade de definições, dentre

elas está a de Ciprandi e Neto (1996, p.136), que afirmam ser a produção familiar um

conjunto de “estabelecimentos agropecuários cujas atividades são conduzidas basicamente

pelo trabalho familiar”. Nesse mesmo sentido, Evangelista (2000, p.2), considerou que o

“estabelecimento integrante da agricultura familiar é aquele dirigido pelo próprio produtor

rural e que utiliza mais a mão de obra familiar que a contratada”.

[...] agricultor familiar é todo aquele (a) agricultor (a) que tem na agricultura sua

principal fonte de renda (pelo menos 80% dela) e que a base da força de trabalho

utilizada no estabelecimento seja desenvolvida por membros da família. É permitido

o emprego de terceiros temporariamente, quando a atividade agrícola assim

necessitar. E, em caso de contratação de força de trabalho permanente, externo à

família, a mão de obra familiar deve ser igual ou superior a 75% do total utilizado

no estabelecimento (Bittencourt e Bianchini 1996, citado por Tinoco 2006, p.2).

E assim, a agricultura familiar passa a vigorar como o mecanismo de manutenção de

um estilo de vida no campo, voltada para a subsistência do trabalhador rural.

2. AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL

No Brasil, os estabelecimentos de produção agrícolas denominados de propriedade

agrícola familiar são capazes de gerar renda monetária significativa e concentra 84,4 % de

todos os estabelecimentos agrícolas brasileiros (IBGE, 2006):

No Censo Agropecuário 2006, foram identificados 4.367.902 estabelecimentos da

agricultura familiar, o que representa 84,4% dos estabelecimentos brasileiros. Este

numeroso contingente de agricultores familiares ocupava uma área de 80,25 milhões

de hectares, ou seja, 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários

brasileiros (IBGE, 2006, p.19).

Entretanto, essa quantidade de estabelecimentos não sinaliza uma relação proporcional

com a capacidade produtiva em relação à área produzida e a competitividade da produção

Page 6: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

agrícola nacional, devido ao caráter concentrador demonstrado pela agricultura patronal. Este

quadro demonstra, segundo o IBGE (2006).

[...] uma estrutura agrária ainda concentrada no País: os estabelecimentos não

familiares, apesar de representarem 15,6% do total dos estabelecimentos, ocupavam

75,7% da área ocupada. A área média dos estabelecimentos familiares era de 18,37

hectares, e a dos não familiares, de 309,18 hectares. (IBGE, 2006, p. 19).

No Quadro 1, pode-se analisar como está a divisão de terra da agricultura familiar e da

não familiar (patronal), assim como a divisão das lavouras permanentes e temporárias. Nele

pode-se observar que as maiores propriedades pertencem aos estabelecimentos de produção

não familiar. Outro aspecto importante se refere às lavouras produzidas pela pequena

produção, quando da percepção de que há, em maior quantidade e em estabelecimentos, as

temporárias (onde, lavouras temporárias são lavouras que abrangem um circulo produtivo de

duração de curto prazo, tendo as plantas que ser arrancadas com os frutos). Tais

características são observadas tendo em vista que as lavoras permanentes demandam

investimentos de longo prazo, pois se levam alguns anos para ter retorno financeiro. Enquanto

as temporárias obtêm-se retorno em período curto (pois são cultivos que levam cerca de um

ano da produção à colheita) e possibilitam uma rotação de cultura, o que acaba por não deixar

os agricultores familiares dependentes de um único produto agrícola na hora de gerar renda

para a família.

Total

de

estabelecimentos

Área total (ha)

Utilização das terras nos estabelecimentos

Lavouras

Permanentes Temporária

Estabelecimentos Área (há) Estabelecimentos Área (há)

Total 5.175.489 329.941.392 1.480.243 11.612 227 3.127.255 44.019.726

Agricultura

Familiar 4.367.902 80.250.453 1.233.614 4.290 241 2.719.571 12.012.792

Não Familiar 807.587 249.690.940 246.629 7.321 986 407.684 32.006.933

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006.

Quadro 1 - Utilização das terras nos estabelecimentos, por tipo de utilização, Brasil, 2006.

No Quadro 2 abaixo, podem ser observada as características dos dois setores.

Podendo-se observar que a agricultura familiar tem suas vantagens, pois apesar da pequena

Page 7: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

propriedade, produz cultivos variados, o que permite que os agricultores tenham produção o

ano inteiro e de maneira diversificada, além de poder comercializá-las.

Agricultura Familiar Agricultura Patronal

Pequena propriedade Media e grande propriedade

Sistema de produção socialmente articulado, com possibilidade de

integração ao mercado.

Sistema de produção predominantemente capitalista integrado

ao mercado

Gestão familiar Gestão profissionalizada

Produção diversificada em pequena escala Produção especializada em alta escala

Intensiva em trabalho e praticas produtivas convencionais Intensiva em capital e uso de tecnologias modernas

Maior eficiência distributiva Maior eficiência moderna

Fonte: GUALDA, [20--?].

Quadro 2- Comparação entre os regimes de produção da agricultura nos moldes da agricultura familiar e

Agricultura patronal.

Como foi observado, há um grande destaque das propriedades de agricultura familiar

no Brasil, e a maior evidência é que esta agricultura tem cada vez mais consideração

econômica por parte da sociedade. Mesmo que teoricamente, o pequeno agricultor,

consumindo parte da produção e comercializando somente o excedente, a agricultura familiar

cresce cada vez mais, graças a sua capacidade de ofertar alimentos que a sociedade necessita e

que não pode ser suprida pela agricultura patronal, pois, não tende a investir em produções

que não sejam capazes de trazer um retorno econômico maximizado.

É com base nessa característica que, em meados de 1990, surge o paradigma nova

observação quanto a Agricultura Familiar, onde o intuito passa a buscar fortalecer as

pequenas produções para que os agricultores não fossem se refugiar nas grandes cidades e

pudessem suprir a demanda por alimentos em escala local, micro e mesorregional.

Diante de um cenário tão dualizado entre agricultura do setor familiar e agricultura do

setor patronal (agroexportador), os gestores públicos brasileiros decidiram criar um ministério

para que pudesse dar mais assistência ao setor familiar, em detrimento desse papel ser

executado pelo Ministério da Agricultura, ou seja, criou-se o Ministério de Desenvolvimento

Agrário (MDA).

Desde a metade dos anos 90; o governo brasileiro optou pelo desenvolvimento de

uma política dual. De um lado, o Ministério da Agricultura tem objetivo principal

manter a competitividade do setor comercial da atividade, notadamente das

empresas. O apoio ao setor empresarial, principalmente daquele voltado para as

Page 8: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

exportações [...] De outro lado, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, a partir

de 1993, tornou-se oficialmente encarregado pela promoção da reforma agraria e do

desenvolvimento da agricultura familiar (TONNEAU; TEIXEIRA, 2003, p,296).

Com a assistência do Ministério do Desenvolvimento Agrário para com as pequenas

propriedades, o campo ganhou um novo diferencial social com a implementação de políticas

públicas formuladas e implementas para essa população específica, com objetivos de

promover o desenvolvimento econômico, social e, ainda, o desenvolvimento ambiental, ao

estimular, também, um sistema de produção que não venha a degradar de maneira intensa o

solo, buscando uma produção mais ecologicamente correta.

No Quadro 3 pode-se observar as vantagens que a Agricultura Familiar tem sobre a de

moldes patronais. Onde as vantagens da produção familiar superam de maneira sustentável

(social, econômica e ambientalmente) as da produção agroexportadora. Analisa-se que, além

de os agricultores familiares serem ambientalmente corretos e não utilizam de maneira

exorbitante de insumos industriais, ainda reduzem a migração para a cidade, o que leva ao

aumento do nível de empregabilidade, pois as famílias, por muitas vezes, dependem de mão

de obra de terceiros.

Agricultura Familiar Agroexportador

Praticas agronômicas ambientalmente mais saudáveis; Uso intensivo do solo com degradação ambiental

Regularização fundiária Concentração fundiária

Maior eficiência distributiva - melhor distribuição de renda e maior

geração de emprego

Ineficiência distributiva – eliminação de empregos e aumento da pobreza

no campo

Pequena propriedade e redução da migração do campo para cidade Domínio do grande capital agroindustrial, impulsionando o êxodo rural.

Produção de alimentos para o mercado interno Produção de commodities para o mercado externo

Menor dependência de insumos industriais Uso intensivo de insumos industriais

Preservação do Patrimônio Genético Utilização de produtos geneticamente modificados

Fonte: GUALDA, [20--?].

Quadro 3- Vantagens da Agricultura Familiar sobre o Modelo Agroexportador

De acordo com os dados apresentados pode-se observar o quão importante é a

agricultura familiar para a economia brasileira. Além de gerar emprego e renda, é também

ecologicamente correto, pois nos dias atuais as práticas ambientais são essenciais para o

desenvolvimento saudável de uma sociedade.

3. O PRONAF E A AGRICULTURA FAMILIAR NO NORDESTE E NA BAHIA

Page 9: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

Criado em 1996 pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Programa Nacional

de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) é a primeira política pública formulada

e implementada para promover o desenvolvimento da pequena propriedade agrícola no Brasil.

É uma política direcionada para favorecer os pequenos agricultores e custear a sua

produção, sendo considerada para o desenvolvimento rural, pois permite ao produtor familiar

acesso ao crédito para incentivar o crescimento de suas propriedades e de seus cultivos.

Com o intuito de estabelecer um modelo de desenvolvimento sustentável e promover a

variedade da produção, juntamente com o crescimento da renda e conseqüentemente do

emprego, o governo criou o PRONAF com a pretensão de reduzir a desigualdade e exclusão

dos pequenos agricultores do campo, para subsidiar e ajudar a desenvolver as propriedades

familiares, com pretensão de diminuir o índice de êxodo rural e auxiliar na diminuição da

desigualdade socioeconômica.

Nesse contexto, o PRONAF vem sendo, cada vez mais, responsável pela possibilidade

do pequeno produtor investir em seu próprio espaço e produzir para a sua família, deixando

de ser uma simples mão de obra e passando a ser um produtor ecologicamente correto e

também um influenciador de um provável desenvolvimento local.

Considerando estas observações, pode-se concluir que o PRONAF é de importância

fundamental para o desenvolvimento das pequenas propriedades, pois o mesmo auxilia na

melhoria das produções, assim como aumenta a produtividade, gerando um aumento na renda

dos agricultores familiares, principalmente na região Nordeste do Brasil, pois esta é a região

com maior índice de propriedades agrícolas familiares, onde estão situadas 50% dos

estabelecimentos familiares de produção agrícola de todo o país. Proporcionalmente, quase

90% dos estabelecimentos agrícolas do Nordeste são de agricultura familiar, mas, assim como

em todo o país, as maiores propriedades (em tamanho) são as patronais, diferenciando-se dos

estabelecimentos familiares que detêm as menores áreas.

No quadro 4 pode-se observar a quantidade de estabelecimentos e os seus respectivos

tamanhos de acordo com cada estado da região do Nordeste. Observa-se que o estado que

concentra maior quantidade de estabelecimentos familiares é a Bahia, que possui cerca de

30,5% das propriedades familiares da região.

Page 10: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

UF Estabelecimentos Área (ha) Área Media (ha)

Maranhão 262.089 4.519.305 17,2

Piauí 220.757 3.761.306 17,0

Ceará 341.510 3.492.848 10,2

Rio Grande do Norte 71.210 1.046.131 14,7

Paraíba 148.077 1.596.273 10,8

Pernambuco 275.740 2.567.070 9,3

Alagoas 111.751 682.616 6,1

Sergipe 90.330 711.488 7,9

Bahia 665.831 9.955.563 15,0

Total 2.187.295 28.332.600 13,0

Fonte: IBGE, 2009.

Quadro 4- Número de Estabelecimentos e Área, por UF do Nordeste, 2009.

Por mais que exista uma maior quantidade de pequenas propriedades, a agricultura

familiar tem também como diferencial a probabilidade de explorar de forma intensiva os

recursos oferecidos pela terra e com isso gerar um maior nível de renda, mas normalmente

não é o que acontece. De acordo com alguns autores, considerada como agricultura de

subsistência, a agricultura familiar no Nordeste é considerada também como atrasada, e o que

as mantém ainda em sobrevivência é a saturação e o alto nível de desemprego das grandes

cidades.

Entretanto, a principal característica desse tipo de produção que está atrelada ao

melhor uso da terra (de forma racional) fica evidenciada pelas variedades de produtos por ela

produzido. Certas regiões se diferenciam devido ao seu tipo de produção, como exemplo

disso, pode-se citar o Maranhão com a produção de café em regime de agricultura familiar

(com 93% da produção agrícola familiar do estado). Alagoas se destaca pela produção de

arroz em casca (97%) e a Bahia com a produção de mandioca (91%).

Estado/

Produto

% produção da Agricultura Familiar sobre a produção

por estado do Nordeste

Arroz em casaca Feijão Mandioca Milho em grão Café

Maranhão 89 86 86 78 93

Piauí 70 88 95 82 49

Ceará 88 91 82 89 53

RG Norte 90 86 61 83 51

Paraíba 92 88 88 84 86

Pernambuco 90 91 97 89 58

Alagoas 97 92 92 88 69

Sergipe 78 95 96 79 -

Bahia 41 83 91 44 22

Fonte: IBGE, 2009

Quadro 5- Produção de Agricultura familiar por UF do Nordeste

Page 11: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

Assim como no Nordeste (96%), a Bahia é grande produtora de mandioca (91% da

produção da agricultura familiar do estado), sendo esta classificada como a cultura mais

cultivada perante os pequenos produtores familiares.

4. AGRICULTURA FAMILIAR E SEU FOMENTO NO ESTADO DA BAHIA

De acordo com o Censo Demográfico de 2010, a Bahia é o estado de maior população

da região nordestina, com 14.016.906 habitantes dividindo-se em 417 municípios, onde, de

acordo com o Censo Agropecuário de 2006, mais de 30% dos moradores rurais de todo o

Nordeste está situado no estado da Bahia. Dentre os agricultores baianos, mais de 80 % são

agricultores familiares.

No estado da Bahia, as propriedades familiares são em maior quantidade, se

comparados com outros estados do Nordeste, e menores em tamanho, como pode ser visto no

Quadro 6. No mesmo quadro, pode ser também observada a variedade de lavouras cultivadas.

No que trata do PRONAF, a sua implementação e acesso na Bahia não difere do

Nordeste. O mesmo tem como propósito influenciar o crescimento do pequeno produtor rural.

Além do PRONAF, os agricultores familiares contam, ainda, com outros programas de

incentivos à agricultura familiar, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o

Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa Mais Alimentos.

O PAA é um programa de apoio aos agricultores familiares, por meio da aquisição de

alimentos. Estes alimentos que o governo adquire dos próprios agricultores, tem objetivo de

servir de doações e funciona, no momento da aquisição, como balizador dos preços dos

Lavouras

Permanentes Temporária

Estabelecimentos Área (há) Estabelecimen

tos Área (há)

Total 761.528 29.180.559 235.464 1.686 553 450.885 2.964.453

Agricultura Familiar 665.831 9.955.563 199.871 623.324 405.980 1.152.166

Não Familiar 95.697 19.244.996 36.593 1.063 230 44.905 1.812.287

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.

Quadro 6- Utilização das terras nos estabelecimentos, por tipo de utilização, segundo a agricultura

familiar, Bahia, 2006.

Page 12: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

produtos. As principais intenções deste programa além de comprar os produtos dos

agricultores, são: incentivo ao crescimento das produções e uma inclusão social destes

agricultores, levarem alimentos às mesas dos mais necessitados, promover a distribuição de

renda e conservação ambiental.

O PNAE é um programa onde o governo adquire produtos dos agricultores para levar

as escolas com finalidade de alimentar os estudantes do ensino médio, em forma de merenda

escolar. Já o Programa Mais Alimentos é uma linha de crédito direcionada ao agricultor

familiar para melhorar e desenvolver a safra, onde o mesmo poderá investir em maquinários

específicos à produção com dilação de prazo para o pagamento do financiamento. Dentre

esses programas, o Mais Alimentos é o que menos possui efetividade prática no estado, já que

a renda auferida pelos beneficiados pelo programa não torna viável o financiamento de

equipamentos disponibilizados pelo programa.

5. A AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE ITIRUÇU-BA.

A principal atividade econômica do município de Itiruçu é a agricultura e nela tem-se

como forte produção o cultivo de café, mandioca e maracujá. Sendo a produção do café

realizada em regime de agricultura patronal, enquanto a mandioca e o maracujá em regime de

agricultura familiar.

Além da produção agrícola, a produção econômica do município conta, ainda, com

algumas indústrias, como a fábrica de torrefação de café, de torrefação de farinha de

mandioca (casa de farinha), fabricação de sabão, fábrica de tijolos, dentre a produção do setor

de serviços.

No quadro 7 estão expostas as produções decorrentes da agricultura, e seus respectivos

valores. Observa-se que além do destaque à produção de café, mandioca e maracujá, o

município é um grande produtor, também, de tomate e vem introduzindo a produção de caqui,

devido aos fatores ambientais como clima e solo, pois os mesmos são propícios para a

produção desse fruto, irrealizável em algumas outras localidades do estado. Tem-se investido

muito nessa cultura, pois além de boa obtenção de lucro, esse fruto é muito nobre perante o

mercado consumidor. E, merece destaque que a produção dessa cultura vem sendo estimulada

a ser realizada por parte da agricultura familiar.

Page 13: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

Fonte: SEI/ SIDE, 2010.

Quadro 7- Culturas agrícolas produzidas no município de Itiruçu.

Apesar da existência de fábricas, as mesmas não geram a quantidade de empregos

necessários para desenvolver a economia do município, pois não demandam mão de obra

suficiente, devido à grande utilização de tecnologias que reduzem a absorção do trabalho

humano. Assim, o município de Itiruçu tem grande deficiência de ofertas de trabalho, o que

faz com que muitos jovens decidam pelo abandono de sua terra para procurar melhores

condições de vida, já que a principal forma de obtenção de renda é a oferecida pela prefeitura,

além de alguns estabelecimentos comércios e a própria agricultura. Porém, por se tratar de um

município rural, o setor público municipal e de serviços não têm condições de abraçar toda a

mão de obra disponível no mercado, o que acaba gerando um aumento do percentual de

pobreza no município que, de acordo com o IBGE (2010), o município tem uma incidência de

pobreza de 42%, sendo esta uma estimativa do número de pessoas abaixo da linha de pobreza.

No Quadro 8 pode ser visualizada a redução da população dentro de dez anos. A falta

de oportunidade fez com que algumas pessoas abandonassem a cidade com intuito de uma

melhoria de vida. Como a agricultura ainda é a maior ofertante de empregos do município,

pode-se observar que a mesma intensifica uma parte bem representativa do PIB municipal,

apesar do baixo preço pago pela da mão de obra deste setor. No quadro 8, observa-se que o

PIB municipal tem uma representatividade do setor agrícola de 25%, enquanto o setor de

Município Cultura Ano Área

plantada (ha)

Área colhida

(ha)

Quantidade

produzida

Valor

(R$1.000,00)

Itiruçu

Abacate 2010 15 15 240 180

Amendoim (em

casca)

2010 10 10 7 6

Banana 2010 14 14 140 70

Café (em coco) 2010 1.700 1.700 1.020 3.876

Caqui 2010 7 7 119 179

Feijão (em grão) 2010 82 82 57 62

Laranja 2010 8 8 56 20

Mandioca 2010 320 320 3.840 538

Maracujá 2010 500 500 6.000 5.580

Milho (em grão) 2010 90 90 63 30

Tomate 2010 77 77 2.464 1.030

Page 14: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

serviços fundamente 63% do PIB. A indústria representa 8% e a arrecadação tributária 4%

respectivamente.

O município de Itiruçu, assim como vários outros municípios circunvizinhos,

sobrevive parcialmente de agricultura. Com uma ínfima arrecadação municipal, a cidade é o

retrato de muitos municípios brasileiros que sofrem com esse mesmo problema. Mesmo com

o aumento do poder aquisitivo de muitos brasileiros, e de uma redução na taxa de desemprego

do Brasil, muitos simplesmente não vivem essas mudanças, pois as políticas públicas em sua

grande maioria são voltadas para os trabalhadores da área urbana.

Com uma população de quase 13 mil habitantes (IBGE, 2010) e tendo uma economia

gerada parcialmente pelo setor agrícola, a cidade não oferta tanto emprego, pois os setores

que os geram além da agricultura, não demandam muita mão de obra.

A agricultura é uma produtora de renda para quase 1/3 da população, onde a grande

maioria dos moradores da zona rural adere a essa forma de produção. Boa parte da renda do

município é gerada pelo setor agrícola. Assim, para subsidiar a produção agrícola, o governo,

em parceria com alguns bancos de fomento, vem dando assistência à criação e também ao

desenvolvimento da agricultura, principalmente em regime de agricultura familiar para poder

gerar uma expansão tanto da economia quanto do social.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), o Banco do Nordeste do

Brasil (BNB), o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, dentre outras,

juntamente com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Agrícola do município de

Itiruçu, disponibiliza empréstimo para iniciativas de desenvolvimento e criação de

Descrição Valor

(por R$ 1.000)

Valor adicionado bruto da agropecuária a preços correntes 17.048

Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 5.312

Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 43.138

Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes 2.645

PIB a preços correntes 68.143

PIB per capita a preços correntes 4.049,63

Fonte: IBGE, SUFRAMA, 2009

Quadro 8 - Produto Interno Bruto dos Municípios(Itiruçu)

Page 15: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

agriculturas familiares, com intuito de promover melhores produções, aumento da renda

destes produtores e também a igualdade social.

6. A AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE ITIRUÇU: UMA

APROXIMAÇÃO DA REALIDADE GERADA PELA PESQUISA EMPÍRICA

Segundo os resultados da pesquisa de campo realizada em Itiruçu com os agricultores

familiares, foi notado que a maioria dos produtores que representam a chefia da família e da

propriedade são do sexo masculino, eles representam 88% dos produtores. Pode também ser

analisada uma existência muito inferior (comparada com a do homem) da mulher no campo,

onde é representado por 12%.

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 1: Agricultura familiar em Itiruçu segundo o sexo dos produtores, 2011.

Dentre eles, a idade média dos chefes das propriedades e das famílias têm idade entre

41 e 50 (27%) e acima dos 60 anos com também 27%. Os demais outros produtores são os

que têm entre 51 e 60, com 19%, entre 20 e 30 anos, com 15%.

No município, a existência de trabalho feminino no campo, enquanto chefe de família

é ínfima. Dentre elas, entre os 31 e 40 anos a presença se faz por 4%, valor relativo também

entre os 41 e 50, 51 e as acima de 60 anos.

Das pessoas que trabalham e ajudam os familiares no campo, pode-se classificar

como: somente o proprietário, o marido e a esposa, o marido a esposa e os filhos e por fim, a

contratação de mão de obra. No decorrer da pesquisa, entretanto, foi notado que não havia

mão de obra contratada para ajudar nas lavouras.

De acordo com o Gráfico 2, os familiares que mais ajudam na produção, são a esposa

e o marido (sendo os principais numa porcentagem, 48%). Em seguida a ajuda da família

Page 16: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

(marido, esposa e filhos, 26%), o chefe trabalhando só (15%), e os pais juntos com os filhos

(11%).

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 2: Agricultura familiar em Itiruçu segundo a divisão do trabalho na propriedade, 2011.

O nível de escolaridade que prevalece perante os produtores agrícolas, é o ensino

fundamental incompleto (46%), o que revela que a falta de oportunidade gera uma obrigação

da permanência do agricultor na zona rural. O grau de nível médio completo foi encontrado

em, apenas, 23% dos produtores. Já o nível de ensino superior tanto completo como

incompleto, não houve qualquer indício de pessoas que os possuíssem. De acordo com isso,

muito agricultores (quase 50%) revelaram que se o possuíssem, não estariam exercendo esse

trabalho.

Contudo, os baixos níveis de escolaridade, foram encontrados nos produtores que

detinham idade mais avançada, o que se pode concluir, é que no passado eles deixavam de

estudar para ajudar a família na lavoura (evasão escolar), o que nos dias atuais, segundo os

questionários aplicados, não houve qualquer indicio.

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 3: Agricultura familiar em Itiruçu segundo o nível de escolaridade do chefe da família, 2011.

Page 17: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

O motivo de ser um produtor rural foi classificado em três opções: incentivo da família

(42%), o que caracteriza em passar de pai para filho a propriedade e a cultura de trabalhar no

campo, onde muitos relataram que fazem por prazer (embora alguns demonstrarem, se

sentirem obrigados a dar continuidade apenas para não quebrar a tradição familiar. A falta de

outras oportunidade foi sinalizada por 42% dos entrevistados, como já havia citado

anteriormente, muitos agricultores com baixos níveis de escolaridade não tendem a enfrentar

o mercado de trabalho. Os produtores que tem prazer pelo que faz representam 16% dentre

eles e independente de incentivos familiares ou níveis de escolaridade continuariam

exercendo esse trabalho.

Mas, para 42% dos produtores, o grande entrave a saída do campo ou, mais

precisamente, à sua permanência no mesmo é, realmente, o baixo nível de escolaridade, pois,

por mais que desejassem outra atividade não teriam sucesso devido a grande concorrência

existente no mercado de trabalho. Essa divisão ficará mais clara no gráfico seguinte.

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 4: Agricultura familiar em Itiruçu segundo o motivo de ser um produtor rural, 2011.

Com relação à finalidade da produção, pôde-se observar que os pequenos produtores

não são como alguns pesquisadores e estudiosos relatam: uma pequena produção familiar

produzindo apenas para suprir suas necessidades, produzir somente para continuar existindo.

Segundo a pesquisa, foi notado que mais de 90% dos produtores produzem para gerar renda,

onde parte da produção é consumida e o seu excedente comercializado.

No entanto, com a renda gerada por esta comercialização, os produtores arcam com

suas necessidades, como o pagamento da conta do supermercado, da farmácia, dentre outras.

Page 18: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

Menos de 10% dos agricultores produzem para gerar lucro e promover um processo de

acumulação econômica, ou seja, vende-se toda a produção e reinveste-se para continuar a

produzir e adquirir bens de consumo duráveis. Não foi encontrado qualquer indicio de

produção para subsistência natural, como pode ser observado abaixo.

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 5: Agricultura familiar em Itiruçu segundo a finalidade da produção, 2011.

Segundo a pesquisa realizada, observou-se que de acordo ao rendimento mensal dos

agricultores decorrente da agricultura, puderam ser classificados por faixas. Assim. aqueles

que geram uma renda de até R$ 100,00 representaram 15% dos entrevistados. Entre R$

101,00 e R$ 500,00 (50%); entre R$ 501,00 e R$ 1000,00 (27%) entre R$ 1.001,00 e R$

2.000,00 (8%) e acima de R$ 2000,00 (0%).

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 6: Agricultura familiar em Itiruçu segundo o rendimento decorrente da agricultura, 2011.

De acordo com as respostas da maioria dos agricultores, a utilização de credito rural

caracteriza-se pela busca de uma numa melhoria da produção e, conseqüentemente do nível

de vida. Todos os que aderiram ao credito rural, utilizam-se do PRONAF. Segundo alguns

Page 19: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

agricultores que não aderem ao crédito, eles afirmam que não o utilizam devido ao baixo

valor do empréstimo, mas que se houvesse muita necessidade, eles adeririam.

Já os que possuem o crédito, afirmam que o mesmo ajuda na melhoria da produção e

que os juros são baixos, o que auxilia ainda mais para a aquisição do empréstimo. No Gráfico

7 pode ser representada de maneira mais exata a separação dos que utilizam e dos que não

utilizam o crédito rural.

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 7: Agricultura familiar em Itiruçu segundo a utilização do credito rural, 2011.

Na representação da assistência técnica, observou-se uma falha, pois os órgãos que

deveriam auxiliar os agricultores, não vão ao campo dar assistência. Conforme citados pela

maioria dos agricultores, não há qualquer órgão que os auxilie na melhoria da produção rural

ou em qualquer outra atividade. Assim, 83% dos agricultores afirmaram não receber

assistência, e 17% disseram que tem subsídios, mas não foi citada qual assessoria

disponibiliza esse auxílio.

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 8: Agricultura familiar em Itiruçu segundo recebimento de assistência técnica, 2011.

Como referido anteriormente, os pequenos agricultores não produzem somente para

sua subsistência, os mesmo produzem para gerar renda, e algumas vezes para gerar lucro. De

Page 20: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

acordo com a quantidade que é vendida e consumida, analisa-se uma grande porcentagem de

agricultores que vende mais de sua produção do que a consome (81%). Segundo o gráfico 9,

os produtores que mais consomem a produção representam 11% dos produtores, e os que

consomem metade e vende a outra metade, detém 8%.

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 9: Agricultura familiar em Itiruçu segundo a quantidade consumida e a quantidade vendida da produção

agrícola, 2011.

Referindo-se à localidade de comercialização dos seus produtos, o município de

Itiruçu (zona urbana), obtém uma parcela significativa da destinação dos produtos, pois

recebe 78% da produção. Já Itiruçu (zona rural) não capita qualquer parcela da produção.

Outra localidade que obtém os produtos é o município de Jaguaquara, que recebe 18%

da produção. Mas estes produtos são vendidos diretamente para o Centro Econômico de

Abastecimento Sociedade Anônima (CEASA), pois os produtores alegam que vender

diretamente para os supermercados é inviável devido ao baixo valor pago por eles.

Outras localidades são representadas, ainda, embora em menor proporção, pelas

cidades de Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista. As outras cidades da região,

Lajedo do Tabocal, Maracás, Entroncamento de Jaguaquara e Jequié, de acordo com os

agricultores entrevistados, não recebem parte alguma das suas produções, pois os mesmos,

exceto Jequié, são municípios com caracterização agrícola, assim como Itiruçu.

Page 21: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 10: Agricultura familiar em Itiruçu segundo a localidade onde comercializa os produtos agrícolas, 2011.

Segundo a pesquisa de campo, foi analisado que as maiores culturas produzidas são, o

café com 25%, a mandioca com 33%, o maracujá 25%, o feijão 6%. As hortaliças e as

verduras representam 4% da produção. A melancia 2% e outras culturas 5%. Todos os

entrevistados que produziam mandioca, disseram que as produzem e as transformam em

farinha.

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 11: Agricultura familiar em Itiruçu segundo os tipos de produção, 2011.

Com relação a o local onde os produtores consomem a renda produzida pela

propriedade agrícola familiar, 90% asseguraram que gastam os seus rendimentos no próprio

município de Itiruçu. Estes alegaram ainda que deslocar-se até outra localidade geraria um

gasto a mais, e isto não seria interessante.

Page 22: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 12: Agricultura familiar em Itiruçu segundo o local de consumo da renda, 2011.

Como apresentado no Gráfico 12 acima, os 10% que gastam a renda no município de

Jaguaquara, afirmam que só fazem por aproveitar o momento em que eles vão levar os

produtos para comercializar e aproveitam para consumir a renda no comércio do referido

município.

Por fim, observa-se que a agricultura familiar tem relevância tanto para o município

quanto para a sua população. A movimentação econômica que a agricultura gera é de suma

importância, pois sem a mesma, a decadência financeira, juntamente com o nível de

desemprego, se tornaria bem mais amplo e grave do que já se apresenta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pequena produção, caracterizada como Agricultura Familiar a partir da década de

1990, tem uma grande importância para a economia nacional. Além de captadora de mão de

obra, ela reduz o êxodo e fixa o produtor no campo. Já a propriedade patronal, é totalmente o

oposto, com a redução da mão de obra para inserir maquinários, detém uma produção

totalmente especializada, o que caracteriza numa pequena proporção de indivíduos e cada um

fazendo seu trabalho individualmente.

A agricultura familiar tem uma real importância local, regional, estadual e nacional.

Para que haja uma maior repercussão da mesma, o governo criou algumas políticas que

auxiliam os produtores e ajudam na melhoria da produção, para tal, existe uma principal

Page 23: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

política no âmbito estadual, que é o PRONAF. Ele subsidia os agricultores em suas produções

e auxilia-os no campo em forma de assistência técnica.

O município de Itiruçu, no interior da Bahia, localizado na microrregião de Jequié, é

considerado como município de características e produção rural. Não se diferenciando dos

municípios circunvizinhos, onde detém uma parcela significativa da população morando na

zona rural. Tal fato sinaliza que a zona urbana não suportaria o êxodo, pois o setor de serviços

apesar da expressiva parcela no PIB do município, não comporta mais mão de obra do que as

já existentes.

O que se observa, é que o pequeno produtor ou agricultor familiar realmente é de uma

grande influência para a economia do município. Pois apesar de um rendimento baixo que a

agricultura gera (entre R$ 101, a R$ 500,00), 50% dos agricultores tem essa renda fixa por

mês, além dos produtores com mais de 60 anos que detém uma porcentagem de 27% dos

agricultores entrevistados, recebem aposentadoria, o que caracteriza em uma renda um pouco

melhor.

Sendo assim, mais de 70% dos agricultores afirmaram que comercializam sua

produção no próprio município, o que pode observar que boa parte do PIB agrícola municipal

é gerado pelos pequenos produtores.

Outro ponto importante, é que apesar da falta de assistência técnica para a maioria dos

produtores, eles participam de maneira bem expressiva na economia municipal.

Outra questão são os tipos de produção. Segundo a SEI, as maiores produções do

município, é o café, o maracujá e a mandioca. Estas culturas foram observadas em maiores

quantidades de acordo com a pesquisa, o que revela que elas são produzidas, também, por

estes pequenos agricultores e não somente em grade escala, por produtores patronais.

Segundo alguns produtores, um dos seus maiores entraves era a falta de conhecimento,

pois afirmavam que mesmo tendo propriedade, poderiam tê-la e ainda desenvolvê-la de

maneira bem mais confiável se soubessem mais sobre agricultura.

Um fator preocupante dentre os agricultores, era o meio ambiente. Eles afirmaram que

o desmatamento era prejudicial demais para as produções, já que em épocas passadas

poderiam produzir, pois tinham ideia de quando iria chover, mas nos dias atuais as questões

climáticas são muito incertas.

Page 24: A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INFLUÊNCIA NA ECONOMIA …

Por fim, e de forma mais expressiva, nota-se que apesar de alguns pontos negativos, a

renda que os agricultores obtêm, são em 90% consumidas no município de Itiruçu. E que

quase 80% da produção são destinadas ao próprio município. De acordo com estes dados

pode-se afirmar o quão expressiva é a produção familiar para a economia do município de

Itiruçu.

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