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A Ama De Mefibosete - perse.com.br · 6 Apresentação F ui providencialmente apresentado à ama de Mefibosete quando era um líder de jovens, pelo Reverendo Jeremias Pereira da Oitava

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A Ama De Mefibosete Como ama que cuida dos próprios filhos...

2014

1.Ed

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À Igreja Batista Vale Verde lugar de cuidado e

expressão do amor de Deus.

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Índice

Apresentação 06

Prefácio 07

Introdução 08

Primeira Janela: O Erro 11

Segunda Janela: Perseverança 34

Terceira Janela: O Cuidado 60

Quarta Janela: O Anonimato 83

Quinta Janela: Missão Cumprida 106

Fim 126

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Apresentação

Fui providencialmente apresentado à ama de

Mefibosete quando era um líder de jovens, pelo

Reverendo Jeremias Pereira da Oitava Igreja

Presbiteriana de Belo Horizonte.

Em sua série: Mensagens de Esperança, ele

trata da culpa, a imobilidade funcional que ela nos

causa e sua superação, uma perspectiva que mudou

radicalmente minha visão sobre como vencer o jogo

da culpa e avançar na caminhada cristã.

Anos mais tarde, já como pastor fui

convidado a ser o mensageiro na consagração ao

ministério pastoral de minha querida amiga Marilene

Maximiano. Foi quando Deus trouxe ao meu

coração a reflexão que aqui apresento.

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Prefácio

Nessa mensagem apresento como metáfora da ação

pastoral a Espiritualidade do Cuidado refletida

através da história de Mefibosete e sua ama.

Trata-se de um exercício de inferências

criativas, limitado aos contornos históricos da

narrativa bíblica do resgate da dignidade de

Mefibosete.

Portanto, proponho como modelo de

Espiritualidade do Cuidado, o exemplo de dedicação

desta mulher.

Para tal vamos visitar esta dramática história

de superação e restituição, que aponta para a

realidade da restauração da própria humanidade em

Cristo Jesus.

Convido você a abrir cinco janelas na alma

dessa mulher para contemplarmos, em seu exemplo,

um pouco da natureza da Espiritualidade do Cuidado

e enriquecer nossa percepção sobre a soberania de

Deus e nosso lugar como pastores, discipuladores e

líderes.

Minha oração é para que Deus nos dê uma

compreensão mais ampliada da realidade quanto ao

discipulado e re-signifique a ação pastoral dos

milhares de anônimos que cuidam de pessoas.

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Introdução

A Bíblia oferece uma série de metáforas que

correspondem à missão e à natureza do trabalho

pastoral.

O Apóstolo Paulo relata uma seqüencia em II

Timóteo 2:3-6 que se inicia com a figura do soldado

como aquele que não se envolve com negócios da

vida civil.

Ele está empenhado em um combate que

demandará toda sua força e dedicação na defesa de

sua fé.

Um soldado que possui a armadura de Deus

que o capacita a enfrentar a luta contra principados e

potestades e assim combater o bom combate.

Em seguida Paulo apresenta a figura do atleta

que só alcança status de vencedor se observar as

regras do jogo.

Aquele que corre a maratona da vida que está

proposta na esperança de chegar ao céu.

E, finalmente a figura do lavrador que

trabalha arduamente e que não pode ser privado dos

primeiros frutos da colheita.

Aquele que semeia a boa semente do

Evangelho mesmo em meio ao sofrimento e que

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voltará trazendo consigo os resultados de seu

trabalho.

A primeira figura, a do soldado, está

relacionada à disciplina e à obediência.

A imagem do atleta está relacionada a

disposição, a saúde e vigor espiritual.

E esta última figura, a do agricultor, aponta

para a perseverança na sazonalidade e o êxito no

trabalho árduo.

Todas elas apresentam de maneira singela os

diferentes aspectos da diversidade na abordagem da

ação pastoral.

Há, contudo uma citação de Paulo aos

Tessalonicenses que empresta maior sensibilidade ao

tema.

A parte final de I Tessalonicenses 2:7 diz: “...

qual ama que acaricia seus próprios filhos.”

Figura que demonstra não só a pregação do

Evangelho entre os Tessalonicenses, mas isso feito

com afeição intensa do apóstolo, comparada a

afeição maternal.

No Antigo Testamento1 temos a história de

Mefibosete e sua ama, uma personagem discreta,

mas extraordinária, como tantas outras mulheres na

1 Cf. II Samuel 4:4.

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Bíblia. Que cumpriu sua missão com dignidade e

excelência.

Conseqüentemente, anos mais tarde,

podemos ver cumprir-se na vida de Mefibosete, o

resultado dos esforços daquela mulher.

O cuidado e a dedicação de sua ama com o

auxílio de Maquir o tornaram um homem de bem,

alguém que se assentaria e comeria na presença do

rei.

Ao abrir janelas na alma dessa mulher

gostaria de olhar dentro de nossa própria alma e

perceber que nossa tarefa como pastores e líderes

não é diferente.

Somos desafiados a cada dia a perseverar em

nossa missão e a apresentar ao Senhor Jesus aqueles

que nos são confiados ao cuidado.

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Primeira Janela

O Erro

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primeira janela que gostaria de abrir na

alma da ama de Mefibosete é a janela do

erro.

No ministério pastoral a possibilidade de

errar é real. Aquela mulher, ao ouvir as notícias que

chegavam preocupou-se bastante.

Eram notícias muito ruins. Saul e Jonatas

estavam mortos, além dos tios do menino Abinadabe

e Malquisua.

Em um só dia uma grande tragédia sobreveio

à casa real e uma decisão precisava ser tomada, pois

os Filisteus estavam às portas.

Mefibosete tem agora cinco anos e é uma

criança como qualquer outra de sua idade. Está

alheia aos acontecimentos ou pelo menos à real

dimensão do caos estabelecido em sua casa.

No afã de salvar o menino aquela mulher, já

ouvindo rumores de guerra às portas corre a buscar o

menino pela casa e o encontra em um dos

corredores.

Mas ao pegá-lo ela comete um erro de

cálculo e o menino lhe escapa das mãos cuidadosas.

Em uma fração de segundos a criança cai e

aqueles breves segundos pareciam uma eternidade

até que a criança conseguisse recuperar-se do susto.

A

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Puxando fundo o fôlego grita de dor em um choro

que faz estremecer a alma daquela mulher.

Em seu zelo por fazer o melhor, por proteger,

por dar um melhor destino aquele menino ela

comete um grave erro que o leva a tornar-se aleijado

de ambos os pés por toda sua vida.

___“A culpa foi minha!”

Luta ela em seus pensamentos, mas ainda precisava

prosseguir, precisava fugir daquele lugar para

preservar a vida do menino, o bem mais precioso

que lhe fora confiado.

Ela tinha agora como responsabilidade e

objetivo criá-lo para que, quem sabe, fosse ele um

homem importante algum dia.

___ ”Ele é filho do rei!”

Constata em seus mais íntimos pensamentos.

Aquela mulher errou tentando acertar.

E é bom começarmos essa reflexão pela

janela do erro porque muitos de nós erramos ou

vamos errar em nossa vida ministerial.

Porém nossos objetivos e propósitos dados

por Deus não podem ficar no chão, aleijados,

imobilizados e contorcendo-se de dor.

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Talvez aquela mulher passe o resto de sua

vida culpando-se pelo estado daquele menino.

Ele seria criado em uma sociedade

preconceituosa onde as deformidades físicas muitas

vezes eram interpretadas como sinal de maldição e

pecado.

Ele seria uma criança excluída de boa parte

da vida social. Quando as demais crianças o vissem

na rua zombariam dele,

___“lá vai o aleijado!”.

Carregaria um sinal visível da incompetência

de sua ama que, por sua vez, sofreria com o fardo da

culpa.

A culpa imobiliza e tira de nós a perspectiva

da soberania divina.

Superar o jogo da culpa talvez seja o

primeiro passo para aqueles que têm diante de si a

tarefa do cuidado pastoral.

É necessário, com a ajuda de Cristo, sair do

lugar de autocomiseração e culpa para se tornar apto

a cuidar de outros.

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A criança caiu e a causa pode ter sido a

ansiedade por salvá-lo. Às vezes no ministério

somos tomados por ansiedade e queremos dar

respostas a tudo.

Presumimos a competência de ter a palavra e

o conselho certos para todas as questões existenciais

da alma humana.

Nessa ansiedade por salvar Mefibosete dos

Filisteus ou de possíveis usurpadores do trono real,

nós o deixamos escapar das mãos e a queda pode

imobilizá-lo.

Nossa ansiedade por manter o rebanho limpo,

bem cuidado e protegido nos leva às vezes a cometer

erros tentando fazer a coisa certa.

São erros de cálculo quando tentamos

solucionar de uma só vez, em um só conselho, uma

questão existencial que levou anos para se

complicar.