A Aplicação Da Disregard Doctrine No Direito Brasileiro_ Um Enfoque Jurisprudencial - Comercial - Âmbito Jurídico

  • Upload
    seblor

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/24/2019 A Aplicao Da Disregard Doctrine No Direito Brasileiro_ Um Enfoque Jurisprudencial - Comercial - mbito Jurdico

    1/3

    12/10/2015 A aplicao da disregard doctrine no direito brasileiro: um enfoque jurisprudencial - Comercial - mbito Jurdico

    http://www.am bito- jur idico.com .br /site/index.php?n_l ink= revi sta_ar tigos_leitura&artigo_id= 1710 1/3

    Comercial

    A aplicao da disregard doctrine no direito brasileiro: um enfoque jurisprudencialMatheus Carneiro Assuno

    A personalizao das sociedades empresrias traz em seu bojo relevantes conseqncias. Da separao entre a pessoa jurdica e os membros que a integram nasce oprincpio da autonomia patrimonial, segundo o qual o patrimnio da sociedade no se confunde com o dos seus scios ou com o de outras empresas das quais estesparticipem: a entidade coletiva passa a constituir um centro autonmico de relaes jurdicas.

    Tambm como efeito da personalizao, exsurge a limitao das responsabilidades individuaispelas dvidas da sociedade. Tanto esta quanto aqueloutra conseqncia sejustificam pela prpria natureza da pessoa jurdica, realidade tcnica destinada a atender s necessidades sociais advindas do desenvolvimento das atividades comerciais.

    Todavia, ancorandose nesses princpios basilares do Direito Societrio autonomia patrimonial e limitao da responsabilidade pode a sociedade empresria servir deescudo para a perpetrao de fraudes e abusos de direito. Nesse caso, tornase indispensvel desconsiderar a personalidade jurdica, afim de que o vu dapersonalizao no se torne instrumento para o cometimento de ilcitos.

    A teoria da desconsiderao da personalidade jurdica (disregard doctrine) capitaneada pela construo jurisprudencial do direito anglosaxo e sistematizada naAlemanha pelo Prof. ROLF SERICK surge, ao contrrio do que possa parecer, no para desvalorizar a pessoa jurdica, mas antes buscando preservar o importanteinstituto, coibindo seu desvirtuamento.

    A doutrina brasileira acolheu a disregard of legal entityno final de 1960, na ocasio de conferncia proferida pelo professor RUBENS REQUIO, que passa a defender a suaaplicao pelos juzes independentemente de p reviso legal:

    Ora, diante do abuso de direito e da fraude no uso da personalidade jurdica, o juiz brasileiro tem o direito de indagar, em seu livre convencimento, se h de consagrar

    a fraude ou o abuso de direito, ou se deva desprezar a personalidade, para, penetrando em seu mago, alcanar as pessoas e bens que dentro dela se escondem para finsilcitos ou abusivos.[1](grifamos)

    Ao relativizar o conceito de pessoa jurdica e de separao patrimonial, dantes absoluto, dando permisso ao magistrado para penetrar o manto da personalidade (liftingthe corporate veil), no intuindo de combater abusos e fraudes, a teoria da desconsiderao mostrase como um importante remdio para combater o descrdito causadopelo desvio do instituto da personalizao.

    Com a evoluo das construes jurisprudenciais e doutrinrias no direito ptrio, duas teorias da desconsiderao passaram a coexistir: a maior, que autoriza o magistradoa ignorar a autonomia patrimonial nos casos de fraudes e abusos praticados atravs do escudo da personalidade jurdica; e a menor, onde o prejuzo de credores bastante para afastar a separao patrimonial.

    A teoria menor, com aplicao nas searas do Direito do Consumidor e do Direito Ambiental, tem como pressuposto da desconsiderao o mero desatendimento de crditotitularizado perante a sociedade, no se preocupando em distinguir a utilizao fraudulenta da regular do instituto, nem indagar se houve ou no abuso de forma [2].

    De outro turno, a teoria maior alerta que no se deve afastar a autonomia da pessoa jurdica tosomente com vistas satisfao dos interesses de credores. Apenas nahiptese de desvirtuamento do instituto da personalizao, seja pelafraude ou abuso de d ireito(formulao subjetiva), seja pela confuso patrimonial(formulaoobjetiva), quese justifica a imputao de ineficcia do ato constitutivo da sociedade.

    O novo Cdigo Civil, sensvel problemtica, tratou de disciplinar o assunto, trazendo em seu art. 50 a recepo da teoria maior, que dever nortear as interpretaesdo princpio da autonomia patrimonial:

    Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurdica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confuso patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte,

    ou do Ministrio Pblico, quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas obrigaes sejam estendidos aos bens particulares dosadministradores ou scios da pessoa jurdica. (grifamos)

    Desse modo, poder ser aplicada a teoria da desconsiderao tanto quando a pessoa jurdica, mediante atos abusivos, se desvirtuar de suas finalidades, como quandohouver confuso patrimonial.

    No primeiro caso, a pessoa jurdica atua em desacordo com os fins de sua constituio, estando a fraude a compreendida. J em se tratando de confuso patrimonial,esta ocorrer quando no houver uma separao ntida entre o patrimnio da sociedade e aquele dos respectivos scios ou de empresas do mesmo grupo econmico.

    Partese da idia de que a funo elementar da pessoa jurdica a criao de um centro de interesses autnomo, o qual no d margens fluidez patrimonial ou adesvios de finalidade. De conseguinte, quando este centro de interesses no estiver presente, perfeitamente cabvel a desconsiderao da personalidade jurdica. Valetrazer a lume a colocao de FBIO KONDER COMPARATO:

    Sendo a pessoa jurdica nada mais do que uma tcnica de separao patrimonial, se o controlador, que o maior interessado na manuteno deste princpio, descumpreo na prtica, no se v bem porque os juizes teriam de respeitlo, transformandoo em uma regra puramente unilateral[3].

    Referida confuso patrimonial dse em duas situaes distintas: quando houver uma confuso entre os sujeitos de responsabilidade ou entre as massas patrimoniais, emrazo da desobedincia a regras societrias, ou mesmo em virtude de qualquer outra causa que leve a essa confuso de esferas jurdicas (scios e empresas do mesmogrupo econmico).

    De acordo com JOS TADEU NEVES XAVIER[4], verificase a ocorrncia da mistura de sujeitos de responsabilidade quando houver em duas ou mais sociedades identidadedas pessoas que compem a administrao ou a gerncia, no obedincia s formalidades sociais, bem como a utilizao de uma nica sede para a atuao de vriassociedades, com firmas e ramos destinados explorao de atividades semelhantes.

    Caracterizada a confuso patrimonial, impese de imediato a aplicao da teoria da desconsiderao. o que assevera LUIZ GASTO PAES DE BARROS LEES [5]:

    Quem no observa as regras da separao patrimonial no pode se amparar na separao de patrimnios perante os credores, devendo responder pessoalmente pelasdvidas da sociedade. Quando ocorre confuso de esferas jurdicas, e a sociedade e os scios desenvolvem a mesma atividade, tendo a mesma sede, as mesmas instalaes,a mesma linha telefnica e os mesmos funcionrios, e a separao no identificvel para o pblico, no podem eles argir a separao jurdica existente perantecredores. A aparncia jurdica de identidade leva imperativamente identidade tambm da responsabilidade.

    Dentro dessa formulao objetiva, desnecessrio perquirir da existncia de malsinao de finalidade ou fraude: autorizase prontamente o levantamento da cortina dapessoa jurdica para coibir o mau uso da personalizao. Nessa senda, casa perfeio os ensinamentos da jurista ELISABETH CRISTINA CAMPOS MARTINS DE FREITAS [6]:

    H de se ter em mente que, ante as mais variadas espcies de injustias cometidas sob o manto legal, por meio da pessoa jurdica, as formas de fraudar os credores e atmesmo o fisco utilizandose da responsabilidade limitada devem ser freadas de uma vez por todas. Casos, por exemplo, no qual se transfere ao scio todo o patrimnio daempresa, ficando esta sem meios para solver suas dvidas, ou, de forma inversa, nos quais a pessoa fsica devedora fica insolvente, sendo porm, scio de empresa de

    grande patrimnio, devem ser severamente coibidos. Alm desses, existem inmeros outros casos que ensejariam a desconsiderao da personalidade jurdica, como, porexemplo, este que apesar de no ser muito citado pela doutrina, no deixa de ser relevante: tratase do caso de duas empresas com scio em comum. Uma das empresascontrai vrias dvidas, sem no entanto possuir patrimnio suficiente para solvlas, ao passo que os scios transferem no para seus patrimnios, mas para outra pessoa

    jurdica os bens existentes.

    Em virtude da confuso patrimonial referida no trecho doutrinrio acima transcrito, a aplicao da diregard doctrinecai como uma luva s mos dos magistrados,permitindo que empresas emaranhadas sejam encaradas como um nico centro de relaes jurdicas. Mais ainda: suspendendose a eficcia do princpio da autonomia

    patrimonial, possvel reputlas, ambas, solidrias na obrigao de saldar dvida contrada formalmente por uma delas. Assim caminha a jurisprudncia do SuperiorTribunal de Ju stia:

    Processo civil. Recurso ordinrio em mandado de segurana. Falncia. Grupo de sociedades. Estrutura meramente formal. Administrao sob unidade gerencial, laboral epatrimonial. Desconsiderao da personalidade jurdica da falida. Extenso do decreto falencial s demais sociedades do grupo. Possibilidade. Terceiros alcanados pelosefeitos da falncia. Legitimidade recursal.

    Pertencendo a falida a grupo de sociedades sob o mesmo controle e com estrutura meramente formal, o que ocorre quando as diversas pessoas jurdicas do grupoexercem suas atividades sob unidade gerencial, laboral e patrimonial, legtima a desconsiderao da personalidade jurdica da falida para que os efeitos do decreto

    falencial alcancem as demais sociedades do grupo.

    Voc est aqui:Pgina Inicial Revista Revista mbito Jurdico Comercial

    http://-/?-http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_caderno&revista_caderno=8http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=indexhttp://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_juridicahttp://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_caderno&revista_caderno=http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_caderno&revista_caderno=http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_juridicahttp://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=indexhttp://-/?-http://-/?-http://-/?-http://-/?-http://-/?-http://-/?-http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_caderno&revista_caderno=8http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
  • 7/24/2019 A Aplicao Da Disregard Doctrine No Direito Brasileiro_ Um Enfoque Jurisprudencial - Comercial - mbito Jurdico

    2/3

    12/10/2015 A aplicao da disregard doctrine no direito brasileiro: um enfoque jurisprudencial - Comercial - mbito Jurdico

    http://www.am bito- jur idico.com .br /site/index.php?n_l ink= revi sta_ar tigos_leitura&artigo_id= 1710 2/3

    Impedir a desconsiderao da personalidade jurdica nesta hiptese implica prestigiar a fraude lei ou contra credores.

    A aplicao da teoria da desconsiderao da personalidade jurdica dispensa a propositura de ao autnoma para tal. Verificados os pressupostos de sua incidncia,poder o Juiz, incidentemente no prprio processo de execuo (singular ou coletiva), levantar o vu da personalidade jurdi ca para que o ato de expropriao atinja osbens particulares de seus scios, de forma a impedir a concretizao de fraude lei ou contra terceiros.

    Os terceiros alcanados pela desconsiderao da personalidade jurdica da falida esto legitimados a interpor, perante o prprio Juzo Falimentar, os recursos tidos porcabveis, v isando defesa de seus direitos. (STJ, Terceira Turma, RMS 14168 / SP, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJ 05.08.2002 p. 323)

    Processual Civi l. Recurso especial. Ao de embargos do devedor execuo. Acrdo. Revelia. Efeitos. Grupo de sociedades. Estrutura meramente formal. Administraosob unidade gerencial, laboral e patrimonial. Gesto fraudulenta. Desconsiderao da personalidade jurdi ca da pessoa jurdica devedora. Extenso dos efeitos ao sciomajoritrio e s demais sociedades do grupo. Possibilidade.

    A presuno de veracidade dos fatos alegados pelo autor em face revelia do ru relativa, podendo ceder a outras circunstncias constantes dos autos, de acordo como princpio do livre convencimento do Juiz. Precedentes.

    Havendo gesto fraudulenta e pertencendo a pessoa jurd ica devedora a grupo de sociedades sob o mesmo controle e com estrutura meramente formal, o que ocorre

    quando as diversas pessoas jurdicas do grupo exercem suas atividades sob unidade gerencial, laboral e patrimonial, legitima a desconsiderao da personalidadejurdica da devedora para que os efeitos da execuo alcancem as demais sociedades do grupo e os bens do scio majoritrio.

    Impedir a desconsiderao da personalidade jurdica nesta hiptese implicaria prestigiar a fraude lei ou contra credores.

    A aplicao da teoria da desconsiderao da personalidade jurdica dispensa a propositura de ao autnoma para tal. Verificados os pressupostos de sua incidncia,poder o Juiz, incidentemente no prprio processo de execuo (singular ou coletivo), levantar o vu da personalidade jurdi ca para que o ato de expropriao atinja osbens particulares de seus scios, de forma a impedir a concretizao de fraude lei ou contra terceiros.

    (REsp 332763 / SP; RECURSO ESPECIAL 2001/00968948 Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) rgo Julgador T3 TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 30/04/2002 Datada Publicao/Fonte DJ 24.06.2002 p. 297 JBCC vol. 196 p. 103)

    Ainda sob outro enfoque, configurado eventual desvio de finalidade e abuso de forma por parte de scios que ousam deturpar a funo da personalidade jurdica parafraudar credores, revelase imprescindvel a aplicao da disregard doctrine, a fim de que sejam eles, scios, solidariamente responsabilizados pelas dvidas acumuladaspela sociedade. ver o entendimento do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul:

    DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA. INCLUSO DOS SCIOS NO PLO PASSIVO.

    A tendncia tanto doutrinria como jurisprudencial no sentido de admitir a incidncia da Teoria da Desconsiderao da Personalidade Jurdi ca na prtica de atoscontrrios lei e ao contrato, lesando direito de credor. A dissoluo irregular de sociedade por quotas de responsabilidade, estado de insolvncia, infrao da lei por

    fato ou ato ilcito, acarreta a responsabilidade de seus scios, com a penhora de bens particulares. Logo, afigurase cabvel a incluso dos scios no plo passivo dademanda executiva. Agravo improvido. (TJRS, Agravo de Instrumento n. 70001750785, Desembargador Relator Manuel Jos Martinez Lucas, julgado em 13/12/00)

    DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA. Diante da ausncia de bens pass veis de penhora da empresa devedora, possvel a desconsiderao para fin s deresponsabilizar o scio da empresa com seus bens pessoais. Agravo provido. (TJRS, Agravo de Instrumento n . 70004382164, Desembargador Relator Jos FranciscoPellegrini, julgado em 12/09/02)

    Direito Processual Civil. Execu o. Desconsiderao da personalidade jurdica dos grupos empresariais que compem o executado. Cabimento. Comprovao da fraude. Oagravante ocupou as mesmas instalaes do executado, contando com os mesmos funcionrios e atendendo aos mesmos clientes. Os scios so distintos, no entantocoincidem em ser um exfunc ionrio do executado e a sogra de um dos scios. Processual Civ il. Recurso especial. Ao de embargos do devedor execuo. Acrdo.Revelia. Efeitos. Grupo de sociedades. Estrutura meramente formal. Administrao sob unidade gerencial, laboral e patrimonial. Gesto fraudulenta. Desconsiderao da

    personalidade jurdica da pessoa jurdica devedora. Extenso dos efeitos ao scio majoritrio e s demais sociedades do grupo. Possib ilidade. (STJ, 3 Turma, REsp n332763/SP, Ministra Nancy Andrighi) Desprovimento do recurso. (TJRJ, Sexta Cmara Cvel, Agravo de Instrumento n . 2003.002.14800, Rel. Des. DES. NAGIB SLAIBI FILHO,

    Julgado em 09/03/2004)

    De igual modo jurisprudncia do STJ e dos demais tribunais estaduais, o colendo Tribunal de Justia do Estado de Pernambuco j confirmou em a aplicao da disregarddoctrineem casos de confuso patrimonial:

    AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO DE EXECUO EXECUTADA NO ENCONTRADA CITAO E PENHORA CONTRA OS SCIOS DA EXECUTADA TEORIA DADESCONSIDERAO DA PESSOA JURDICA POSSIBILIDADE. A desconsiderao da pessoa jurdica consiste na declarao da ineficcia da personalidade jurdica para certosefeitos, conservandose o ente coletivo apto para prosseguir em outras atividades. Em alguns casos, os componentes de uma pessoa jurdica se ocultam por detrs de suaautonomia formal para lesar direitos ou in fringir norma legal. Comprovada a constitu io de nova empresa, no mesmo local, com os mesmos scios e atividade social,caracteriza uma tentativa de descumprimento das obrigaes assumidas. Agravo provido, para suspender os efeitos do despacho agravado e ordenar o prosseguimento daexecuo contra os scios da executada. Deciso un nime. (TJPE, Segunda Cmara Cvel, Agravo de Instrumento n. 755962, Rel. Des. Jovaldo Nunes Gomes, DJ: 168 Data

    da Publicao: 6/9/2003)CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EMPRESAS DISTINTAS. QUADRO SOCIETRIO SEMELHANTE. SEDE COMUM. CONFUSO PATRIMONIAL. COMPROVAO DOCUMENTAL.EXCEPCIONALIDADE. TEORIA DA DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA. CONGLOMERADO EMPRESARIAL. PENHORA. Em sendo comuns o quadro societrio e a sededas empresas, bem assim haver confuso acerca dos seus patrimnios, tudo documentalmente comprovado, de ser aplicada a teoria da desconsiderao da personalidade

    jurdica ao caso como medida excepcional a autorizar a realizao de penhora sobre numerrio de empresa distinta da devedora, mas pertencente a um mesmoconglomerado empresarial. Apelao a que se nega provimento. Deciso unnime. (TJPE, Segunda Cmara Cvel, Apelao Cvel n. 1058533, Rel. Des. Jovaldo NunesGomes, DJ: 188 Data da Publicao: 9/10/2004)

    Todavia, qual o momento oportuno para a decretao da desconsiderao da personalidade jurdica? Poderia a teoria da desconsiderao da personalidade jurdica serutilizada em sede de cognio sumria, atravs de antecipao dos efeitos da tutela jurisdicional?

    Demonstrada a verossimilhana das alegaesde que duas sociedades so, em verdade, faces da mesma moeda, segundo atestam as inequvocas provasde confusopatrimonial e de desvio de finalidade arquitetados no manejo das respectivas sociedades personificadas, e sendo clarividente o receio de dano irreparvel ou de difcilreparao, pensamos ser perfeitamente possvel a aplicao da disregard doctrineem deciso antecipatria dos efeitos da tutela.

    A providncia em tela est calcada no art. 273, I, do CPC, dado que a desconsiderao da personalidade jurdica para alcanar o patrimnio de scios que desvirtuam afuno da limitao patrimonial, estando amparada em fartas provas e razes de direito, servir de antdoto ao fundado e iminente receio de dano irreparvel muitasvezes enfrentado por credores. Isso porque dbitos imputados sociedade podem avolumar geometricamente com o decorrer do tempo, em proporo inversa aopatrimnio remanescente da empresa e dos scios, tornandose impagveis.

    De resto, impese relatar que a aplicao da teoria da desconsiderao da personalidade jurdica em sede de cognio sumria, mediante provimento liminar, no

    configura deciso judicial temerria. Tanto assim que o STJ tem decidido pela possibilidade da aplicao da disregard doctrinenos prprios autos da ao de execuo,sendo desnecessria a propositura de ao autnoma[7]. Por sinal, tal vem sendo igualmente o entendimento dominante no Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul,quando deparado com fatos inescusveis:

    EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AO REVOCATRIA. Verificandose que a ouvida da parte contrria com a sua citao antes do exame da liminar poder tornarineficaz a medida, ou quando a urgncia indicar a necessidade de concesso imediata da tutela, o juiz poder fazlo inaudita altera parte, pois preenchidos os requisitosdo artigo 273 do CPC. Efeitos da desconsiderao da personalidade jurdica estendidos ao agravante. AGRAVO DESPROVIDO. (TJRS Agravo de Instrumento N 70007528458,Sexta Cmara Cvel, Tribunal de Justia do RS, Relator: Cacildo de Andrade Xavier, Julgado em 07/04/2004)

    EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUO DE TTULO EXTRAJUDICIAL. PENHORA DE BENS DO SCIO. POSSIBILIDADE. EMPRESA QUE DECLARA INATIVIDADE AO FISCO.INVERDADE. LIMINAR CONCEDIDA EM 2 GRAU. Tal situao indica abuso da personalidade jurdica, indcio de confuso patrimonial, a permitir que as obrigaes daempresa sejam estendidas aos bens dos scios. Provimento para que incida, na espcie, a desconsiderao da personalidade jurdica, efetivandose a citao dos scios da

    parte executada, nos termos da execuo sob anlise. AGRAVO PROVIDO (TJRS Agravo de Instrumento N 70008518961, Sexta Cmara Cvel, Tribunal de Justia do RS,Relator: Artur Arnildo Ludwig, Julgado em 26/05/2004)

    Portanto, impese sobrelevar que a teoria da desconsiderao da personalidade jurdica, como mencionado alhures, originouse da necessidade de se reprimir abusos nautilizao da personificao jurdica, visando salvaguardar o prprio princpio da autonomia patrimonial de ventos que lhe desvirtuem o caminho.

    Todavia, no menos importante sopesar as medidas de sua aplicao e interpretao, a fim de que no haja banalizao de do instituto, cuja nota de excepcionalidadeainda deve prevalecer. Essa excepcionalidade, porm, no impe a estreita necessidade de aplicao da disregard doctrineem ao autnoma, com cognio exaurientee ampla dilao probatria. Presentes os requisitos legais, soa perfeitamente cabvel o levantamento do vu da personalidade ( lifting the corporate veil) mesmo nombito de antecipao dos efeitos da tutela.

    BibliografiaLivros e Artigos:REQUIO, Rubens.Abuso de direito e fraude atravs da personalidade jurdi ca (disregard doctrine). In: Enciclopdia Saraiva do Direito. So Paulo: Saraiva, 1977.COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. So Paulo: Saraiva, 2003, vol. 2.COMPARATO, Fbio Konder. O Poder de Controle na Sociedade Annima, So Paulo: RT, 1976.XAVIER, Jos Tadeu Neves.A teoria da desconsiderao da pessoa jurdica no novo Cdigo Civil. Revista da Ajuris, Porto Alegre: 16984, maro/2003.LEES, Luiz Gasto Paes de Barros. Pareceres. So Paulo: Singu lar, 2004.

    http://-/?-
  • 7/24/2019 A Aplicao Da Disregard Doctrine No Direito Brasileiro_ Um Enfoque Jurisprudencial - Comercial - mbito Jurdico

    3/3

    12/10/2015 A aplicao da disregard doctrine no direito brasileiro: um enfoque jurisprudencial - Comercial - mbito Jurdico

    http://www.am bito- jur idico.com .br /site/index.php?n_l ink= revi sta_ar tigos_leitura&artigo_id= 1710 3/3

    FREITAS, Elisabeth Cristina Campos Martins de. Desconsiderao da Personalidade Jurdica.2 ed. So Paulo: Atlas, 2004.Internet:http://www.stj.gov.brhttp://www.tjpe.gov.brhttp://www.tj.rs.gov.brNotas:[1]REQUIO, Rubens.Abuso de direito e fraude atravs da personalidade jurdi ca (disregard doctrine). In: Enciclopdia Saraiva do Direito. So Paulo: Saraiva, 1977, p. 61.[2]COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. So Paulo: Saraiva, 2003, vol. 2, p. 46.[3]COMPARATO, Fbio Konder. O Poder de Controle na Sociedade Annima, So Paulo: RT, 1976, p. 362.[4]XAVIER, Jos Tadeu Neves.A teoria da desconsiderao da pessoa jurdica no novo Cdigo Civil . Revista da Ajuris, Porto Alegre : 16984, maro/2003.[5]LEES, Luiz Gasto Paes de Barros. Pareceres. So Paulo: Singu lar, 2004, p. 377.[6]FREITAS, Elisabeth Cristina Campos Martins de. Desconsiderao da Personalidade Jurdica.2 ed. So Paulo: Atlas, 2004, p.113.[7] Cf. RMS n. 16.274/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, DJ de 02.08.2004; AgRg no REsp n. 798.095/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, DJ de 01.08.2006; REsp n.767.021/RJ, Rel. Ministro JOS DELGADO, DJ de 12.09.2005.

    Matheus Carneiro AssunoAcadmciode Direito (UFPE) e Administrao (UPE), pesquisador bolsista do CNPq.

    Informaes Bibliogrficas

    ASSUNO, Matheus Carneiro. A aplicao da disregard doctrine no direito brasileiro: um enfoque jurisprudencial. In: mbito Jurdico, Rio Grande, X, n. 37, fev 2007.Disponvel em: . Acesso em out 2015.

    O mbito Jurdico no se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidria, pelas opinies, idias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

    http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1710http://-/?-http://www.tj.rs.gov.br/http://www.tjpe.gov.br/http://www.stj.gov.br/