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“A aplicação da Lei nº 11.719/08 ao Processo Penal Eleitoral”. por Maria Tereza O. S. Mussoi ORIENTADOR: FRANCIS RAJZMAN 2010 INSTITUTO A VEZ DO MESTRE RIO DE JANEIRO - BRASIL

“A aplicação da Lei nº 11.719/08 ao Processo Penal Eleitoral”. · como os crimes dolosos contra vida, de competência constitucionalmente determinada do Tribunal do Júri,

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“A aplicação da Lei nº 11.719/08 ao Processo Penal Eleitoral”.

por

Maria Tereza O. S. Mussoi

ORIENTADOR: FRANCIS RAJZMAN

2010

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

RIO DE JANEIRO - BRASIL

Page 2: “A aplicação da Lei nº 11.719/08 ao Processo Penal Eleitoral”. · como os crimes dolosos contra vida, de competência constitucionalmente determinada do Tribunal do Júri,

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A APLICAÇÃO DA LEI Nº 11.719/08 AO PROCESSO PENAL ELEITORAL

por

Maria Tereza O. S. Mussoi

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para a obtenção de Pós-Graduação em Direito Penal e Direito Processual Penal Orientador: Francis Rajzman

2010

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Dedico, esse trabalho ao Carlos, à

Ana e à Marina, como sempre .

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AGRADECIMENTOS

Inúmeros aqueles a quem devo agradecer.

Inicialmente, meus agradecimentos aos colegas de turma que, desde o

início do curso, foram em muitos momentos difíceis o meu apoio, me

incentivando a continuar quando em determinadas situações desistir teria sido

a escolha.

Aos meus colegas e amigos de trabalho, de enorme importância nesta

fase, pelo apoio, pelo suporte e pela inestimável ajuda na escolha do tema,

bem como na pesquisa e fornecimento de material para a elaboração deste

trabalho.

Meus agradecimentos aos professores e funcionários do Instituto A Vez

do Mestre, pelo ensinamento e cooperação.

Por fim, a todos os meus parentes e amigos, que me deram força para

mais esta tardia “aventura” acadêmica.

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“A maior das injustiças é parecer justo sem o ser”

(A República – Platão)

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS................................................................. 04

RESUMO.................................................................................... 08

METODOLOGIA......................................................................... 09

INTRODUÇÃO............................................................................ 10

CAPITULO I – AS ALTERAÇÕES NO RITO PROCESSUAL PENAL

INTRODUZIDAS PELA LEI Nº 11.719/08

1.1 – Os Procedimentos Processuais Penais.................. 12

1.2 – O Procedimento Comum Ordinário......................... 13

1.3 – O Procedimento Comum Sumário.......................... 24

1.4 – O Procedimento Comum Sumaríssimo................. 25

CAPÍTULO II – O PROCEDIMENTO PARA OS CRIMES

ELEITORAIS PREVISTO NA LEI Nº 4.637/65

2.1 – O Processo Penal Eleitoral...................................... 27

CAPÍTULO III – APLICABILIDADE DO RITO PREVISTO NO

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL NOS CRIMES

ELEITORAIS

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3.1 – A possibilidade de aplicação das modificações

impostas ao Código de Processo Penal na legislação

especial.................................................................... 38

3.2 – Soluções Propostas para a aplicação do novo rito

processual nos procedimentos penais eleitorais..... 46

CONCLUSÃO.............................................................................. 49

BIBLIOGRAFIA............................................................................ 51

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RESUMO

As inovações trazidas com a edição da Lei nº 11.719/08 trouxe vários

questionamentos com relação aos procedimentos penais.

Um dos mais relevantes diz respeito à possibilidade de sua aplicação

nas leis especiais, em virtude dos diversos posicionamentos adotados pelos

aplicadores do direito.

Várias teorias têm sido aduzidas, levando a uma inegável insegurança

jurídica, já que, quando de sua utilização nos casos concretos, deixa ao livre

arbítrio do juiz, no momento de sua decisão, a interpretação de seu melhor

sentido.

Ocorre que, como se verá a seguir, um importante princípio

constitucional, o da isonoma, vem sendo atingido, uma vez que ritos distintos

vêm sendo aplicados em situações fáticas similares.

De outra banda, tornou-se necessário examinar outra questão

tormentosa, qual seja, o momento do recebimento efetivo da denúncia, para

tentar definir o que seria mais benéfico ao réu.

Dessa forma, torna-se imperativa a busca de um consenso quanto ao

melhor rito a ser aplicado quando da persacução penal, qualquer que seja sua

natureza, comum ou especial.

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METODOLOGIA

Este trabalho se trata de uma pesquisa unicamente bibliográfica. Os

principais autores utilizados na sua realização deste trabalho pesquisa foram

Eugênio Pacelli de Oliveira, Joel José Cândido, Marcos Ramayana, Geraldo

Prado, Roberto Moreira de Almeida, Adriano Soares da Costa, dentre outros,

além de decisões proferidas nos Tribunais do Poder Judiciário nacional.

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo fazer um breve estudo sobre as

alterações legislativas introduzidas pela Lei nº 11.719/08 e a possibilidade de

sua aplicação no processo penal eleitoral ou, ainda, se deverá ser mantido o

rito previsto no Código Eleitoral.

O § 2º do artigo 394 do CPP, com a redação dada pela nova lei,

estabelece expressamente que as novas disposições do CPP não se aplicam

às leis especiais.

No entanto, logo abaixo, ressalva a aplicação dos arts. 395 a 398 a

todos os procedimentos penais.

Assim, ao mesmo tempo em que determina a não aplicação dos novos

artigos à legislação especial, tal regra é excepcionada com relação aos arts.

395 a 398.

Portanto, há aparente contradição entre as normas, o que impossibilita

a afirmação de qual rito deverá ser seguido nas causas eleitorais.

Desde a alteração do Código de Processo Penal, os operadores do

direito, incluindo-se os julgadores das causas criminais eleitorais, vêm se

deparando com esta tormentosa questão, uma vez que há grande divergência

em sede doutrinária e jurisprudencial.

Este tema tem significativa importância, tendo em vista que implica em

saber qual o procedimento a ser seguido nas Ações Penais Eleitorais,

evitando-se, destarte, enorme insegurança jurídica, posto que vem se

verificando a utilização dos dois ritos nos diferentes juízos eleitorais.

Ademais, se questiona se a aplicação da nova legislação seria a mais

benéfica aos réus.

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Assim, dirimir as dúvidas surgidas quanto ao rito a ser aplicado nas

questões penais eleitorais torna-se, atualmente, premente, visto a necessidade

de uniformização nas causas submetidas a julgamento.

Há recente decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Rio de

Janeiro no sentido da aplicação das novas normas do CPP.

De outra banda, o Tribunal Superior Eleitoral, em recente decisão, se

pronunciou no sentido contrário, posicionando-se pela não aplicação do rito

previsto na nova lei, entendo pela manutenção daquele previsto na legislação

eleitoral.

Outrossim, o Supremo Tribunal Federal, quando provocado sobre a

aplicação do novo rito do Código de Processo Penal nas causas em que tem

competência originária, que também estariam excepcionadas a teor do

disposto no § 2 do art. 394, do CPP, entendeu por sua não aplicação.

Dessa forma, torna-se imperativa a busca de um consenso quanto a

essa questão, para a definição de sua aplicabilidade frente ao crimes de

natureza eleitoral.

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CAPÍTULO I

AS ALTERAÇÕES NO RITO PROCESSUAL

PENAL INTRODUZIDAS PELA LEI Nº 11.719/08

1.1. Os Procedimentos Processuais Penais

Os doutrinadores afirmavam que, antes da reforma processual

introduzida pela Lei n.º 11.719/08, o procedimento comum era dividido em

ordinário e sumário, levando-se em conta, tão-somente, o tipo de pena

aplicada, reclusão ou detenção.

O procedimento comum ordinário destinava-se à apuração e

processamento daqueles crimes apenados com reclusão, enquanto o sumário

destinava-se aos crimes apenados com detenção, ou seja, para a aplicação do

rito levava-se em conta somente a natureza da sanção a ser aplicada,

desconsiderando-se, destarte, o limite máximo da pena prevista no tipo penal.

A principal alteração trazida pela referida lei quanto a esta questão veio

no bojo do art. 394 do CPP, onde percebe-se a preocupação do legislador

infraconstitucional de melhor definir o rito processual penal, evitando-se, desta

forma, diminuir a ocorrência de pedidos de nulidade no processo penal.

Assim, atualmente há previsão para dois tipos de procedimento, o

comum ou o especial e, dependendo da penalidade aplicada, o comum se

dividirá em ordinário, sumário ou sumaríssimo, senão vejamos:

“Art. 394. O procedimento será comum ou especial.

§1o O procedimento comum será ordinário, sumário ou

sumaríssimo:

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I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima

cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena

privativa de liberdade;

II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima

cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de

liberdade;

III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial

ofensivo, na forma da lei.

(...)”

Deste modo, o comum será a regra geral, a ser aplicado em qualquer

processo penal, excetuando-se quando previsto em outro sentido no próprio

CPP ou determinado em lei especial. Entretanto, por ser regra geral, será

aplicado subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo,

a teor do seu parágrafo 5º:

(...)§ 5o Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos

especial, sumário e sumaríssimo as disposições do

procedimento ordinário.”

Ressalta-se que não será somente a pena em abstrato que irá nortear

a aplicação do rito comum ordinário, uma vez que ainda deverá se considerar o

tipo de crime cometido, bem como a competência fixada para seu julgamento,

como os crimes dolosos contra vida, de competência constitucionalmente

determinada do Tribunal do Júri, e aqueles de competência originária dos

Tribunais.

1.2. O PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO

Este procedimento encontra-se normatizado nos artigos 394 a 405 do

Código de Processo Penal.

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De acordo com o art. 396, seu início se dará com o recebimento da

denúncia ou queixa, se não for rejeitada liminarmente nas hipóteses previstas

no art. 395, quais sejam: (i) inépcia da petição inicial; (ii) ausência de

pressuposto processual ou de uma das condições para o exercício da ação; e

(iii) ausência de justa causa.

Em não sendo caso de rejeição, verificando o julgador que há suporte

probatório mínimo, a peça inicial será recebida, determinando-se a citação do

acusado, com prazo de 10 (dez) dias para apresentação de defesa escrita.

O recebimento da petição inicial, que é causa de interrupção da

prescrição, iniciará uma fase preliminar de defesa, trazendo uma grande

inovação ao procedimento penal, pois há agora uma inversão do rito anterior,

conforme disciplina o art. 396-A do mesmo diploma legal, abaixo reproduzido:

“Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá argüir

preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa,

oferecer documentos e justificações, especificar as provas

pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e

requerendo sua intimação, quando necessário.

§ 1o A exceção será processada em apartado, nos

termos dos arts. 95 a 112 deste Código.

§ 2o Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o

acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará

defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por

10 (dez) dias.”

Há uma enorme diferença entre esta resposta e a defesa prévia

anteriormente prevista, uma vez que aquela tinha por objetivo unicamente a

apresentação do rol de testemunhas. Esta alteração decorre do permissivo

contido no art. 397 de o juiz realizar o julgamento antecipado da lide, a

absolvição sumária, nas hipóteses previstas em seus incisos:

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“Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e

parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver

sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada

pela Lei nº 11.719, de 2008).

I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do

fato;

II - a existência manifesta de causa excludente da

culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;

III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou

IV - extinta a punibilidade do agente”.

Ademais, verifica-se ser esta resposta obrigatória, a teor de seu

parágrafo 2º do art. 396 (“não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o

acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-

la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.”), tendo em vista ser este

o momento processual oportuno para o acusado arrolar testemunhas, arguir

preliminares e requerer produção de provas, constituindo-se na primeira

intervenção da defesa técnica, e, ainda, pelo fato de que em razão de sua

ausência ser passível o reconhecimento de nulidade absoluta.

Outrossim, para alguns doutrinadores, como Nestor Távora e Rosmar

Antonni Rodrigues Cavalcanti de Alencar1, ainda que não haja previsão

expressa, deverá ser aberta vista para a parte adversa, para manifestação no

prazo de cinco dias, aplicando-se por analogia o art. 409 do CPP (“apresentada

a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e

documentos, em 5 (cinco) dias”).

1TÁVORA E ALECAR, Nestor e Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. 1ª ed. Ed. Jus Podium, p.5.

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Este procedimento derivaria da necessidade de a parte contrária se

manifestar sobre as preliminares arguídas e documentos porventura acostados,

em observância ao princípio constitucional do contraditório, já que poderá

haver a extinção de punibilidade do acusado, evitando-se, assim, que o autor

da demanda seja surpreendido com decisão fundamentada em argumentos por

ele desconhecidos.

Caso o juiz se depare com algumas das hipóteses do art. 396-A,

deverá ser o acusado absolvido sumariamente, ressaltando-se que, neste

caso, deve haver um juízo de certeza por parte do aplicador do direito.

Ao contrário, em não sendo caso de rejeição ou de absolvição sumária,

será designada audiência audiência de instrução e julgamento, que com as

alterações perpretadas pela nova lei, será única.

Entretanto, o art. 399, CPP dispõe que “recebida a denúncia ou a

queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência”, o que gera imensa

discussão em sede doutrinária e jurisprudencial sobre o momento efetivo do

recebimento da peça inicial.

Em verdade, se discute em que momento se inicia a ação penal, tendo

em vista a nova redação do art. 363 do Código de Processo Penal, que

disciplina:

“Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando

realizada a citação do acusado.”

Assim, necessária a análise do momento de recebimento da denúncia

para que a citação seja realizada.

A primeria corrente entende que o recebimento da denúncia se verifica

na fase do art. 396 do CPP, porque fala em “citação” e no processo penal

clássico só há citação quando começa o processo.

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Para esta corrente, que tem como principais adeptos Guilherme de

Souza Nucci, Pacelli, Polastri, Aury Lopes Jr, Luis Flávio Gomes e Capez, a

resposta da defesa serve somente para a absolvição sumária, e que o disposto

no art. 399 só confirmaria o recebimento ocorrido em momento anterior.

Alegam, ainda, que se o juiz recebeu a denúncia, já teria apreciado os

requisitos do art. 395 do CPP.

De outra banda, uma segunda corrente entende que o efetivo

recebimento da denúncia ocorre em momento posterior, e que o contido no art.

396, CPP se trataria de uma aceitação provisória, pois ela poderia ser rejeitada

com base no art. 395, CPP.

Desta forma, o juiz mandaria notificar o acusado e não citá-lo. Vinda a

resposta, seria feita a análise da defesa e, não sendo caso de rejeição ou de

absolvição sumária, ocorreria então a citação.

Aduzem que em algumas leis específicas se verifica que este tem sido

o intuito do legislador.

A Lei nº 9.099/95, dos Juízados Especiais Criminais, em seu art. 81,

dispõe:

“Art. 81 - Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor

para responder à acusação, após o que o Juiz receberá,

ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão

ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa,

interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se

imediatamente aos debates orais e à prolação da

sentença.”(grifamos)

De outra banda, a Lei nº 11.343/06, que institui o Sistema Nacional de

Políticas Públicas sobre Drogas, em seu art. 55 tem como redação:

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“Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a

notificação do acusado para oferecer defesa prévia, por

escrito, no prazo de 10 (dez) dias.”(grifamos)

Em sendo assim, haveria possibilidade de um contraditório em

momento anterior à citação, evitando-se, destarte, que o acusado fosse

efetivamente parte de um processo, já que no caso de sua absolvição sumária

após a citação haveria anotação em sua Folha de Antecedentes Criminais.

Para esta corrente, se assim não fosse, seria possível o oferecimento

da denúncia “inaudita altera pars”, sem manifestação da parte e, portanto, sem

contraditório, tendo ocorrido um mero erro técnico, como outros tantos, quando

se fala em “absolvição sumária”.

Outrossim, também aduzem um problema em relação a vários

institutos, dentre eles o da prescrição, já que a regra do recebimento da

denúncia tem natureza mista, portanto teria que ser interpretada de maneira

mais benéfica ao réu.

Esta talvez seja a grande polêmica trazida pela lei alteradora do CPP,

em razão da diversidade de consequências para o réu, posto que, de acordo

com o art. 117, I, do Código Penal, o recebimento da denúncia constitui marco

interruptivo da prescrição.

Na vigência dos dispositivos anteriores, considerava-se, de maneira

pacífica, o momento do recebimento da denúncia como o do juízo de

admissibilidade da peça inicial acusatória, quando de seu oferecimento.

Na visão de Cezar Roberto Bitencourt e de Jose Fernando Gonzales2,

o legislador “pode até ter pretendido antecipar o recebimento da inicial (juízo de

admissibilidade) para oportunidade anterior à citação, mas certamente não o

fez”.

2 http//www.jusbrasilcom.br/noticias/115162/o-recebimento-da-denúncia-segundo-a-lei-11719-08. Acesso em 30.01.2010.

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Segundo os referidos autores, o projeto de lei pretendia uniformizar os

procedimentos, com um modelo de contraditório antecipado, no qual o juízo de

admissibilidade somente seria realizado após a defesa prévia.

Baseiam sua fundamentação na redação constante no PL 4.207/01,

que deu origem à lei, para o artigo 395:

“Art. 395. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a

denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente,

ordenará a citação do acusado para responder à acusação,

por escrito, no prazo de dez dias, contados da data da juntada

do mandado aos autos ou, no caso de citação por edital, do

comparecimento pessoal do acusado ou do defensor

constituído.”

Ressaltam, ainda, que mesmo que as alterações sofridas possam

indicar uma mudança de posição do legislador, diversas disposições mantidas

do projeto seriam incompatíveis com o recebimento da denúncia em um

momento inicial.

Também neste mesmo sentido se manifesta Fernando da Costa

Tourinho Filho3, no artigo intitulado “Lei nº 11.719/2008, que alterou Código de

Processo Penal, põe em risco o direito constitucional à ampla defesa”, como se

vê:

“Como a denúncia não pode ser recebida duas vezes e tendo

em vista a tendência de ser a peça acusatória recebida após a

resposta do réu, como acontece nos procedimentos da

competência dos Tribunais (Lei nº 8.038/1990), na Lei de

Tóxicos (Lei nº 11.343/2006) e no procedimento sumariíssimo

(arts. 77 a 81 da Lei nº 9.099/1995), entendemos que, se o juiz

não rejeitar a denúncia ou queixa, simplesmente determinará

seja o réu notificado para dar a sua resposta.”

3 http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/35/julgamento-antecipado-no-processo-penal-lei-no-11719-2008-131969-1.asp. Acesso em 30.01.2010.

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Para o respeitado doutrinador, a citação a que faz referência o art. 396

trataria-se de mera notificação, ocorrendo a citação na fase do art. 399, quando

então haveria a interrupção do prazo prescricional.

A denúncia só será recebida na ausência das hipóteses previstas no

art. 395 e este recebimento seria liminar, apenas para determinar a “citação”

(rectius - notificação) do acusado para responder a acusação que lhe é

imputada.

Em conformidade com o disposto no art. 396-A, a defesa preliminar

teria o condão de impedir o recebimento da denúncia, permitindo à defesa a

arguição de tudo que lhe interessar, juntando documentos e justificações, na

tentativa de obstar a formação de um processo contra o suspeito, que poderia

até ser chamado de investigado ou indiciado, pois ainda não teria havido

tecnicamente o recebimento da denúncia.

Assim, após a apresentação da defesa prévia e analisando o artigo

397 e 399 o juiz poderia absolver sumariamente.

Entretanto, se houvesse o recebimento da denúncia, seria então

designada a audiência una, nos termos do artigo 400 do CPP, iniciando-se,

assim, a “persecutio criminis in juditio”.

Do mesmo modo a visão de Paulo Rangel4, que entende haver o

recebimento da denúncia após a análise da admissibilidade da acusação, ou

seja, após a resposta escrita, por ocasião do artigo 399 do CPP e não na do

artigo 396.

Neste passo, o brilhante voto do Desembargador Geraldo Prado em

sede de HC5 cuja ementa reproduzimos:

4 RAGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 15ª ed. Ed. Lumen Juris. 2008, p.495. 5http://www.mp.rj.gov.br/portal/page/portal/Internet/Repositorio_Arquivos/3ewsletter/2009/Diario_Justica/20090810SEGDJETJRJ.pdf. Acesso em 30.01.2010.

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“Quinta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do

Rio de Janeiro HC 5975 MK HABEAS CORPUS

2009.059.05975 AUTORIDADE COATORA: VARA ÚNICA DE

ARRAIL DO CABO IMPETRANTES: (1) LUIZ RODRIGO DE

AGUIAR BARBUDA BROCCHI (2) MARCELO NAPOLITANO

DE OLIVEIRA PACIENTE: HERCULANO JOSÉ LEAL DO

CABO CORRÉU: JOSÉ TARCISIO CORREA NEVES OUTRO

NOME: JOSÉ TARSISIO CORREA NEVES CORRÉU:

LUCIANO GUIMARÃES DE CARVALHO EMENTA: HABEAS

CORPUS. PROCESSO PENAL. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA

DENÚNCIA E AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A

DEFLAGRAÇÃO DA AÇÃO PENAL. CORRETA

INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 396 DO CÓDIGO DE

PROCESSSO PENAL. LEI 11.719/08 QUE ACOLHE A

ESTRUTURA TRIFÁSICA DO PROCEDIMENTO,

ANCORADA NO JUSTO PROPÓSITO DE INTRODUZIR UMA

ETAPA DE DEBATE CONTRADITÓRIO PARA A

ADMISSIBILIDADE DA ACUSAÇÃO E COM ISSO EVITAR

SITUAÇÕES DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.

IMPRESCINDIBILIDADE DO CONTRADITÓRIO PRÉVIO E

NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO QUE

RECEBE OU NÃO A DENÚNCIA. Paciente processado no

juízo da Vara Única de Arraial do Cabo porque, em tese, como

Diretor Presidente da Companhia Nacional de Álcalis S/A teria

suprimido o pagamento de ICMS no período compreendido

entre 1º de julho de 2004 e 10 de março de 2006. Caso

concreto que demonstra o equívoco da interpretação e

aplicação literal da regra contida no preceito do artigo 396,

caput, do Código de Processo Penal. Reelaboração legislativa

do estatuto processual penal que foi concebida e orientada à

concretização da garantia do contraditório (artigo 5º, inciso LV,

da Constituição da República). Introdução de uma etapa de

avaliação sobre a viabilidade e idoneidade da acusação, bem

como a necessidade de se atribuir caráter decisório à

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manifestação do magistrado que recebe ou não a denúncia ou

queixa. Exame prévio de admissibilidade da acusação que tem

por escopo evitar a instauração de processo criminal levando-

se em conta o reforço àsgarantias constitucionais do acusado.

Projeto original, que resultou na Lei 11.719/08, modificado

com a introdução da “mesóclise da discórdia” recebê-la-á no

artigo 96 do Código de Processo Penal. Impossibilidade de se

suprimir o contraditório preliminar, etapa necessária à

formação do convencimento do magistrado no momento de

proferir a decisão (fundamentada) de recebimento da enúncia.

Juízo de admissibilidade da acusação que se desloca para

depois da resposta do acusado (conforme preconiza o artigo

399 do Diploma Processual Penal), como única solução

compatível com o Estado de Direito e, por isso, com a

Constituição da República. Interpretação conferida que

também procura prestigiar a configuração normativa que

melhor promova asgarantias constitucionais do processo

penal. Sacrifício parcial da primeira norma (artigo 396 do

Código Processo Penal), “uma vez que apenas o preceito que

determina o imediato recebimento da inicial (recebê-laá) será

eliminado, porque somente ele contrasta com o preceito que

remete esta decisão ao instante posterior ao da apresentação

da defesa preliminar (artigo 399 do Código de Processo

Penal)”. Dúvidas sobre a viabilidadeda peça acusatória que

reforça a tese da necessidade do contraditório prévio ao

recebimento da denúncia. Reconhecimento da nulidade da

decisão que recebe a denúncia e não aponta as razões de

decidir. Constrangimento ilegal configurado.

ORDEM CONCEDIDA.”

Em sentido oposto doutrinadores como Aury Lopes Jr.6, Andrey Borges

de Mendonça7 e Marcellus Polastri8, entendendo que a citação ocorrerá

6 “E por que essas condições da ação estão no art. 397 como causa de absolvição sumária?

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23

quando do chamamento do acusado para apresentação de defesa prévia,

quando não for o caso de rejeição da denúncia.

A seguir, o art. 400, CPP, disciplina a audiência, determinando que sua

realização se dará no prazo máximo de 30 (trinta) dias, para produção das

provas, quais sejam: tomada das declarações do ofendido; oitiva de

testemunhas; esclarecimentos dos peritos; acareações e interrogatório do

acusado.

Encerrada esta fase, poderão ser requeridas diligências (art. 402,CPP).

Em não havendo requerimentos, ou sendo indeferidos pelo juiz, serão abertos

os debates, com as alegações finais realizadas oralmente (art. 403, CPP).

Ressalta-se a existência de críticas quanto à apresentação oral das

alegações finais, visto que prejudicial à defesa, em virtude do pouco tempo

para a sua elaboração, após as alegações da acusação.

Em seguida, será proferida a sentença, ainda em audiência, lembrando

que, em razão da complexidade do caso, poderá ser concedido às partes o

prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais,

devendo, então, a setença ser proferida no prazo de 10 (dez) dias (art. 403, §

3º, CPP).

Porque são condições intimamente vinculadas ao mérito, ao elemento objetivo da pretensão acusatória, e dizem respeito ao interesse da defesa, que, como regra, acabam sendo alegados (e demonstrados) depois, na resposta preliminar do art. 396-A. Dificilmente o juiz tem elementos para analisar a existência de uma causa de exclusão de ilicitude ou culpabilidade, mesmo que manifesta, quando do oferecimento da denúncia ou queixa(...)” in LOPES JR., Direito Processual Penal. 3ª ed. Ed. Lumen Juris. 2008, p.391. 7 “Em nosso sentir, após o seu oferecimento, caso não seja hipótese de rejeição liminar da acusação, deverá o juiz receber a denúncia ou queixa, determinando depois a citação do acusado para apresentar resposta escrita.” (...) “Veja, portanto, que o magistrado analisa a admissibilidade da acusação, mesmo que implicitamente. Se determinou que a citação deva ocorrer, é porque não vislumbrou hipótese de indeferimento liminar.” in MEDOÇA, Andrey Borges de. 3ova Reforma do Código de Processo Penal. 2ª ed. Ed. Método. 2009, p.257. 8 “Na verdade, a denúncia, embora deva ser rejeitada liminarmente pelos motivos previstos no artigo 395 (e pensamos também por aqueles previstos no 397 do CPP), não pode ser desde logo julgada improcedente, com uma absolvição sumária, devendo antes ser recebida e respondida.” (...) “Não há “dois recebimentos”, o que há é uma má redação da lei. Na verdade, já tendo sido “recebida a denúncia” , se não for o caso de “absolvição sumária”, mantido está tacitamente o recebimento, ou, por outras palavras, recebida que foi a denúncia, ou, tendo sido recebida a denúncia sem posterior absolvição, o juiz designará a audiência. Assim deve ser interpretado o art. 399 do CPP.” .” in POLASTRI LIMA, Marcellus. Manual de Processo Penal. 4ª ed. Ed. Lumen Juris. 2009,p. 744.

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De outra banda, segundo o art. 404 do Código, entendendo o juiz pela

realização de diligência considerada imprescindível, de ofício ou a

requerimento da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais. As

partes apresentarão, no prazo legal, suas alegações finais, por memorial, e,

após, no prazo de 10 (dez) dias, será proferida a sentença (parágrafo único).

Vale lembrar que nas ações penais públicas a omissão do MP

equivaleria, indiretamente, a uma desistência da ação e nas ações privadas,

levaria à extinção da punibilidade.

1.3. O PROCEDIMENTO COMUM SUMÁRIO

O rito sumário será utilizado quando tiver por objeto crime cuja pena

máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade.

Serão aplicadas a este rito as regras insculpidas nos artigos 395 a 397

do Código de Processo Penal, utilizadas no rito ordinário, por expressa

disposição legal (Art. 394, § 4º - As disposições dos arts. 395 a 398 deste

Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda

que não regulados neste Código).

Por este motivo, as suas fases iniciais são iguais às do rito ordinário, e

as disposições específicas encontram-se disciplinadas nos artigos 531 e

seguintes do CPP, as quais passaremos a analisar.

Em primeiro lugar, a audiência será designada no prazo de 30 (trinta)

dias, ao contrário do ordinário que se dará em 60 (sessenta) dias.

Não haverá a aplicação dos artigos 402, 403 e 404 do CPP, tendo em

vista a impossibilidade de fracionamento das fases instrutórias, postulatórias e

decisória, ou seja, não haverá possibilidade de requerimento de diligências, de

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apresentação posterior de memoriais e de prolatação de sentença posterior à

audiência de instrução e julgamento.

Diferem, também, quanto ao número de testemunhas a serem

arroladas, que neste rito é de 6 (seis), enquanto naquele há previsão de 8 (oito)

testemunhas.

Assim, não se vislumbram grandes diferenças entre os dois

procedimentos.

1.4. O PROCEDIMENTO COMUM SUMARÍSSIMO

Será feita uma breve análise de seu rito, visto que, ainda que previsto

no art. 394, III, do CPP, com a redação dada pela nova lei, diz respeito às

infrações penais de menor potencial ofensivo, portanto aquelas de competência

dos Juízados Especiais Criminais, disciplinadas na Lei n.º 9.099/95.

Inicialmente, após a lavratura do termo circunstanciado, haverá uma

audiência preliminar, a qual terá como principal objetivo a composição dos

danos causados pelo cometimento do ilícito penal e o oferecimento da

transação penal.

Ocorrendo a composição dos danos, será proferida sentença

homologatória do acordo formado entre as parte, que no caso de ação penal

privada ou pública condicionada a representação implicará na renúncia ao

direito de queixa ou da representação.

Entretanto, em se tratando de ação penal pública incondicionada, a

composição com o ofendido não impede a posterior atuação estatal.

Na hipótese de ausência de composição dos danos, inicia-se a fase de

conciliação.

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26

O art. 76 da Lei n.º 9.009/95 prevê o instituto da transação penal, para

as ações penais públicas, mas há entendimento em doutrina e jurisprudência

pela possibilidade de seu oferecimento nas ações penais privadas, quando não

tiver ocorrido a composição civil dos danos.

O Ministério Público, quando convencido da materialidade do crime e

de sua autoria deverá oferecer a transação penal, nas hipóteses do art. 76,

que, ao ser aceita, será homologada pelo juiz.

No caso de não aceitação da proposta, será oferecida imediatamente,

de forma oral, a denúncia (art. 77). A peça inicial, entretanto, somente será

recebida após a resposta do réu (art. 81).

Será designada audiência de instrução e julgamento, na qual deverão

ser apresentadas pelas partes as testemunhas a serem ouvidas,

independentemente de intimação.

A peça acusatória poderá ser rejeitada, no caso do julgador entender

pela inexistência do crime, sem que tenha determinado a citação do acusado.

Na audiência, será renovada a tentativa de conciliação e a proposta de

transação penal. Em caso de negativa, a defesa oferecerá sua resposta. No

caso de recebimento da peça acusatória, serão ouvidas a vítima, as

testemunhas de acusação e as da defesa.

Após, ocorrerá o interrogatório do réu, seguido da apresentação de

razões orais, proferindo o juiz, então, sua decisão.

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CAPÍTULO II

O PROCEDIMENTO PARA OS CRIMES

ELEITORAIS PREVISTO NA LEI Nº 4.637/65

2.1 – O PROCESSO PENAL ELEITORAL

O Direito Eleitoral tem seu próprio regramento em matéria processual,

insculpido nos artigos 355 a 364 do Código Eleitoral.

Ressalta-se que, por expressa determinação legal (art. 355, CE), os

crimes eleitorais são de ação penal pública incondicionada, iniciando-se com o

oferecimento da denúncia pelo Ministério Público Eleitoral, o detentor da

legitimidade para deflagrá-la.

Esta escolha legislativa tem como razão o fato de as ações eleitorais

terem natureza pública, uma vez que o interesse é do Estado posto que o

cometimento de ilícito eleitoral atinge a ordem pública.

Ainda que se trate de crime que na legislação penal comum sejam de

ação penal privada, como é o caso dos crimes contra a honra, no direito

eleitoral serão de ação penal pública incondicionada, posto que a lesão maior

será sempre do Estado, em face do nítido interesse público envolvido. Neste

sentido9:

“A calúnia, a difamação e a injúria tipificam crimes eleitorais

quando ocorrem em propaganda eleitoral ou visando a fins de

propaganda eleitoral (Código Eleitoral, artigos 324, 325 e 326).

9http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=2188&classe=Inq&origem=

AP&recurso=0&tipoJulgamento=M. Acesso em 30.01.2010.

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Com base nesse entendimento, o Tribunal, por ilegitimidade

ativa, rejeitou queixa-crime ajuizada contra Deputado Federal,

na qual se lhe imputava a prática dos crimes de calúnia e

difamação (Lei 5.250/67, artigos 20 e 21, c/c o art. 23, II), em

concurso formal, que teriam ocorrido durante a transmissão de

programa eleitoral gratuito. Considerou-se que a hipótese

dos autos configuraria crime eleitoral, perseguível por

ação penal pública, nos termos do art. 355, do Código

Eleitoral. Salientou-se, ademais, que, nos crimes eleitorais

cometidos por meio da imprensa, do rádio ou da televisão,

aplicam-se exclusivamente as normas desse Código e as

remissões a outra lei nele contempladas.

STF - Inq 2188/BA, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 6.9.2006.

(Inq-2188)” (grifamos)

Admite-se, porém, em sede doutrinária e jurisprudencial, a ação penal

privada subsidiária da pública, quando da inércia do Ministério Público

Eleitoral10, conforme se depreende do voto de relatoria do Ministro Fernando

Neves, no Acórdão o 21.295, quando do julgamento do Recurso Especial

Eleitoral nº 21.295, de Americana – SP11, que unanimemente acompanhou o

voto do relator, o qual transcrevemos:

“Ainda que o interesse público realmente esteja evidenciado

nos feitos da Justiça Eleitoral, não me parece suficiente esse

argumento para elidir a possibilidade de se propor a ação

penal privada subsidiária no que se refere aos crimes

eleitorais.

De modo geral, nas ações penais públicas,

incondicionadas ou condicionadas à representação ou

requisição, também está presente o interesse público,

motivo por que a legitimação para agir é reservada ao

10 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Direito Eleitoral. 2º ed.. Ed. Podivm. 2009. p. 343 11http://www.tse.jus.br/servicos_online/catalogo_publicacoes/revista_eletronica/internas/rj14_4/paginas/acordaos/ac21295.htm. Acesso em 30.01.2010.

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29

Ministério Público, a quem incumbe o exercício da

atividade persecutória, nos termos do art. 129, I, da

Constituição Federal.

No entanto, o legislador previu a ação penal privada

subsidiária como instrumento destinado à eventual

desídia ou inércia do Parquet no exercício dessa função.

A Constituição da República elevou essa hipótese de

legitimação extraordinária, já prevista nos arts. 100, § 3o,

do Código Penal e 29 do Código de Processo Penal, à

condição de garantia insculpida no art. 5o, LIX, daquela

Carta, que, aliás, constitui cláusula pétrea. Trata-se da

única exceção à regra da titularidade exclusiva do

Ministério Público nos crimes de ação penal pública.

Desse modo, considerando que a própria Constituição Federal

não estabeleceu nenhuma restrição quanto à sua aplicação

aos delitos previstos na legislação especial, entendo deva ser

admitida a ação penal privada subsidiária no que se refere às

ações relativas aos crimes eleitorais, os quais se apuram

mediante ação penal pública incondicionada, conforme

inteligência do art. 355 do Código Eleitoral.” (grifamos)

De outra banda, não obstante o art. 356, CE tenha como dicção

“Quando a comunicação fôr verbal, mandará a autoridade judicial reduzi-la a

têrmo, assinado pelo apresentante e por duas testemunhas, e a remeterá ao

órgão do Ministério Público local, que procederá na forma dêste Código”,

deverá ser seguida a regra geral prevista no Código de Processo Penal (art.

46, § 3º). Assim a peça acusatória não precisa ser instruída pelo Inquérito

Policial, questão que se encontra pacificada em jurisprudência, a saber:

“Agravo regimental. Agravo de instrumento. Crime. Corrupção

eleitoral. Art. 299 do Código Eleitoral. Decurso de prazo. Art.

357 do Código Eleitoral. Ausência. Oferecimento de denúncia.

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Inexistência. Extinção da punibilidade. Instauração de inquérito

policial. Dispensável.

1. O decurso de prazo do art. 357 do Código Eleitoral sem

oferecimento de denúncia não extingue a punibilidade, na

medida em que se trata de prazo de natureza administrativa.

2. A instauração de inquérito policial não é imprescindível

para o oferecimento da denúncia.

Agravo não provido.”

(TSE, AAG n.º 4.692, Ac. n.º 4.692, de 22.6.2004, Rel. Min.

Fernando Neves)12(grifamos)

Nas palavras de Joel José Cândido13, a autoridade policial pode e

deve instaurar inquérito de ofício, equivocando-se aqueles que entendem pela

necessidade de comunicação judicial para sua instauração, posto que as ações

penais eleitorais são públicas incondicionadas, podendo o Parquet oferecê-las

sem que estejam instruídas com a peça investigativa.

Ademais, o art. 356, CE faria referência à uma forma de comunicação

de cometimento de crime eleitoral, se tratando, portanto, tão-somente de

notittia criminis que pode ser endereçada à autoridade judicial.

A competência para o julgamento das ações penais eleitorais é

exclusiva da Justiça Eleitoral, competência esta estabelecida em razão da

matéria.

Entretanto, há previsão do foro especial, por prerrogativa de função,

cabendo o julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral do Presidente e do Vice-

Presidente da República, Senadores, Suplentes e Deputados Federais. Aos

12 http://www.tre-ce.gov.br/tre/juris/public/EmentarioTematico3_2006.pdf. Acesso em 30.01.2010. 13 CÂDIDO, Joel J. Direito Eleitoral Brasileiro. 11º ed. Ed. Edipro, 2005. p. 337.

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Tribunais Regionais Eleitorais caberia o julgamento do Governador e do Vice,

bem como de Deputados Estaduais, Distritais e Prefeitos.

Quanto aos Vice-Prefeitos e Vereadores, a competência para

processamento e julgamento das ações penais seria dos Juízes Eleitorais.

Neste ponto, há divergência doutrinária e jurisprudencial. O STJ

entende pelo cabimento de foro privilegiado, conforme acórdão abaixo14:

HABEAS CORPUS HC 57341 RJ 2006/0076721-3 (STJ)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. VEREADOR.

COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. FORO

PRIVILEGIADO ESTABELECIDO PELA CONSTITUIÇÃO

ESTADUAL. POSSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA.

1. A jurisprudência desta Corte consolidou o entendimento de

que é possível instituir-se foro especial por prerrogativa de

função aos vereadores por meio da constituição estadual.

2. Havendo previsão na constituição fluminense nesse sentido

(art. 161, inciso IV, alínea d, item 3), compete ao respectivo

Tribunal de Justiça julgar originariamente as ações penais

propostas contra os vereadores daquele estado.

3. Ordem concedida

No entanto, o entendimento vigente nos Tribunais eleitorais são no

sentido da ausência de foro privilegiado nestes casos, como se vê dos arestos

abaixo colacionados:

TRE-PI - PROCESSO: PROC 77 PI

Relator(a): ORLANDO MARTINS PINHEIRO

14 http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8497/habeas-corpus-hc-57341-rj-2006-0076721-3-stj. Acesso em 30.01.2010.

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Andamento do processo

Ementa

Denúncia. Crime eleitoral. Vereador. Foro privilegiado.

Inexistência. Compete ao Juízo Eleitoral de primeiro grau

processar e julgar vereador denunciado por crime eleitoral,

uma vez que não há no Código Eleitoral e legislação

extravagante qualquer dispositivo que lhe assegure foro

privilegiado15.

6366 AG - AGRAVO DE INSTRUMENTO Tipo do

Documento3-DESPACHO Município - UF Origem SÃO

MIGUEL DA BAIXA GRANDE - PI Data20/03/2006 Relator(a)

JOSÉ GERARDO GROSSI Prolator(a) da decisão Publicação

DJ - Diário de Justiça, Data 03/05/2006, Página 11116

“(...)Dessa maneira, as prescrições estaduais atinentes a foro

privilegiado por prerrogativa de função para processamento e

julgamento de vice-prefeitos por crimes comuns não se

sobrepõem às hipóteses de julgamento por crime eleitoral, em

que se admite foro privilegiado unicamente para prefeitos, nos

termos do art. 29, inciso X, da Carta Maior.(...)”

RC - RECURSO CRIMINAL Tipo do Documento1-ACÓRDÃO

Nº Decisão37.925 Município - UF Origem CAMPOS DOS

GOYTACAZES - RJ Data24/08/2009 Relator(a) PAULO

TROCCOLI NETO Relator(a) designado(a) Publicação DOERJ

- Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Tomo 157, Data

28/08/2009, Página 1

15http://www.jusbrasil.com.br/busca?q=GASTOS%20COM%20E%20PARA%20O%20PROCESSO&s=jurisprudencia. Acesso em 30.01.2010. 16 http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/3885862/processo-proc-109-pi-tre-pi. Acesso em 30.01.2010.

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Ementa

“RECURSOS CRIMINAIS. CORRUPÇÃO ELEITORAL (ART.

299). PRELIMINAR. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE

PRIMEIRO GRAU.O foro por prerrogativa de função foi

atribuído aos vereadores unicamente pela Constituição

Estadual, não havendo disposição neste sentido na

Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal, no

julgamento da ADI 2.587, reconheceu a possibilidade de as

Constituições Estaduais estabelecerem foro por prerrogativa

de função a determinadas autoridades, desde que haja

simetria com a Constituição Federal. Não há como se admitir

que o foro por prerrogativa dos vereadores” 17

O procedimento previsto no Código Eleitoral tem aplicação em todos

os crimes eleitorais, bem como naqueles que lhes forem conexos.

Nos crimes de competência originária dos Tribunais, serão também

aplicadas as legislações disciplinadoras específicas de cada um deles e, como

em todos os crimes eleitorais, haverá a aplicação subsidiária do Código de

Processo Penal.

O art. 357, em seu § 2º, dispõe sobre o oferecimento da denúncia, com

o mesmo teor do art. 41 do Código de Processo Penal.

O art. 358 revela as hipóteses de rejeição da denúncia: quando o fato

narrado não constituir crime; já estiver extinta a punibilidade; a parte for

ilegítima ou na ausência de condições da ação.

Entretanto, seu parágrafo único traz uma ressalva, no caso de

ausência de legitimidade ou de condição para o exercício da ação poderá esta

ser renovada quando preenchidos estes requisitos.

17 http://intranet.tre-rj.gov.br/. Acesso em 29.01.2010.

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Ressalta-se que, diante do caso concreto, deve ser observado se o

crime está inserto naquelas hipóteses de crime de menor potencial ofensivo,

para que seja ofertada a transação penal.

No caso de impedimento de seu oferecimento, ou na hipótese de

rejeição da proposta ofertada, deverá ser seguido o rito previsto no Código

Eleitoral, conforme entendimento pacificado em jurisprudência, a saber:

-1956 PA PROCESSO ADMINISTRATIVO Tipo do Documento

RESOLUÇÃO Nº21294 Decisão Município - UF BRASÍLIA -

DF Origem Data07/11/2002 Relator(a) SÁLVIO DE

FIGUEIREDO TEIXEIRA Relator(a) designado(a) Publicação

DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 07/02/2003, Página 133

RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 14, Tomo

1, Página 407 Ementa INFRAÇÕES PENAIS ELEITORAIS.

PROCEDIMENTO ESPECIAL. EXCLUSÃO DA

COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS. TERMO

CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA EM SUBSTITUIÇÃO

A AUTO DE PRISÃO - POSSIBILIDADE. TRANSAÇÃO E

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO -

VIABILIDADE. PRECEDENTES.

“I – (...)

IV - É possível, para as infrações penais eleitorais cuja pena

não seja superior a dois anos, a adoção da transação e da

suspensão condicional do processo, salvo para os crimes que

contam com um sistema punitivo especial, entre eles aqueles

a cuja pena privativa de liberdade se cumula a cassação do

registro se o responsável for candidato, a exemplo do tipificado

no art. 334 do Código Eleitoral.”18

18 http://www.tse.gov.br/internet/jurisprudencia/index.htm. Acesso em 30.01.2010.

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35

Recebida a peça acusatória pelo juiz, será determinada a citação do

réu, intimando-o para interrogatório em audiência (art. 359), que seguirá o

disposto nos artigos 185 e seguintes do CPP.

Prazo de 10 (dez) dias para apresentação da defesa do réu, na qual

deve constar os pedidos de diligência, o rol de testemunhas e os documentos a

serem juntados (parágrafo único do art. 359).

Cabe ressaltar que, ainda que no texto do artigo supracitado contenha

a expressão “o réu ou seu defensor terá o prazo de 10 (dez) dias para oferecer

alegações escritas e arrolar testemunhas”, a defesa do réu deverá ser técnica,

sob pena de nulidade absoluta.

O art. 360 disciplina a audiência, na qual ocorrerá a oitiva das

testemunhas arroladas.

Encerrada a audiência, prazo de 5 (cinco) dias para as alegações

finais da defesa e da acusação, que deverão respeitar a ordem constante no

art. 500 do CPP, primeiro o Ministério Público e depois a defesa.

Em regra, não poderá nesta fase ocorrer a juntada de documentos,

tendo em vista que considera-se encerrada a fase instrutória do processo.

De outra banda, a ausência de apresentação de alegações finais pela

defesa, conforme entendimento pacificado em jurisprudência, deve ser suprida

com a nomeação de advogado dativo, ainda que o réu tenha constituído

advogado. Neste diapasão o seguinte julgado:

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SERGIPE

ACÓRDÃO N° 437/2009 Espécie: Reclamação Processo: n:

13 - Classe 28 Reclamante: Augusto Cesar Aguiar Dinízio

Reclamado: Juiz Evilásio Correia de Araújo Filho

Page 36: “A aplicação da Lei nº 11.719/08 ao Processo Penal Eleitoral”. · como os crimes dolosos contra vida, de competência constitucionalmente determinada do Tribunal do Júri,

36

RECLAMAÇÃO. MAGISTRADO. PRELIMINAR.

COMPETÊNCIA PARA APRECIAÇÃO DA MATÉRIA. CARTA

PRECATÓRIA. CRIME DE TORTURA. JUSTiÇA COMUM

ESTADUAL. MÉRITO. PRINCíPIO DA PERSUASÃO

RACIONAL. DEVER DA TESTEMUNHA DE DIZER A

VERDADE. ALEGAÇÕES FINAIS. NÃO APRESENTAÇÃO.

DEFESA TÉCNICA ESSENCIAL E INDISPONíVEL. ZELO DO

JUIZ. IMPROCEDÊNCIA. ARQUIVAMENTO. 1. (...)

4. Assim, esclareço que nas alegações finais se

concentram e resumem as conclusões que representam a

posição substantiva de cada parte perante a acusação,

sendo o último ato que lhes pesa a título de ônus e

colaboração na formação da sentença, como exigência da

estrutura contraditória do justo processo da lei. E, sendo a

defesa técnica essencial e indisponível, e tendo o

advogado constituído deixado de apresentar as alegações

finais, o PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL

ELEITORAL DE SERGIPE reclamado tomou a medida

correta ao intimar a parte para constituir novo advogado,

ou não o fazendo, nomear Defensor Federal.

(...)”19 (grifamos)

Transcorrido o prazo, 10 (dez) dias para a prolatação da senteça (art.

361), que seguirá as mesmas regras da sentença penal da justiça comum.

Caberá recurso aos Tribunais Regionais Eleitorais em face da decisão

proferida (art. 362), com prazo de 10 (dez) dias para sua interposição.

Intimação da parte contrária para contrarrazões em igual prazo embora

silente o Código Eleitoral, em respeito aos princípios do contraditório e da

ampla defesa.

19 http://www.tse.gov.br/internet/jurisprudencia/index.htm. Acesso em 30.01.2010.

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37

Recebidas as peças, ou ultrapassado o prazo para sua apresentação,

os autos deverão ser imediatamente remetidos ao TRE.

Por fim, o art. 364 determina, expressamente, que os crimes conexos

àqueles eleitorais serão processados e julgados pela Justiça Eleitoral e, ainda,

que a eles será aplicado subsidiariamente o Código de Processo Penal.

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38

CAPÍTULO III

APLICABILIDADE DO RITO PREVISTO NO

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL NOS CRIMES

ELEITORAIS

3.1 – A possibilidade de aplicação das modificações impostas

ao Código de Processo Penal na legislação especial

Diversas são as interpretações sobre a possibilidade de aplicação do

novo rito introduzido pela Lei nº 11.719/88.

A questão central que se verifica nas discussões acerca da matéria diz

respeito a saber se sua aplicação seria mais benéfica ou não ao réu.

Entretanto, a maioria dos doutrinadores não enfrenta a questão, limitando-se a

a comentar a redação dos art. 396 e 399 para lastrear sua posição.

Dentre os poucos que aprofudam o tema, sobre a possibilidade de

aplicação do Código do Processo Penal aos procedimentos penais especiais

após as alterações legislativas, encontra-se Marcellus Polastri20:

“Quanto ao disposto no § 2º, houve má redação da lei,

sendo evidente que somente será aplicável o

procedimento ordinário ao especial quando não houver

procedimentos específicos previstos, tanto no CPP como

em leis extraordinárias”

20 POLASTRI LIMA , Marcellus – Manual de Processo Penal. ED. LUMEN JURIS - 4ª Ed.2009, p. 575.

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39

Entretanto, em sentido contrário posiciona-se o Desembargador

Gerajdo Prado21, que dentre os juristas e doutrinadores é o que faz a análise

mais profunda do tema.

No seu entender, o Código de Processo Penal assumiu a tarefa de

definir como os procedimentos se desenvolvem, acabando com a multiplicidade

de procedimentos que causavam inúmeras confusões.

O Art. 394, § 4º (“As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código

aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não

regulados neste Código.”) regularia, então, os procedimentos.

Embora não seja todo o procedimento, tratam-se daqueles dispositivos

iniciais que formariam uma espécie de teoria geral do procedimento penal, ou

seja, uma estrutura geral do procedimento penal.

Neste sentido, estaria convergente com as recentes modificações nos

procedimentos penais especiais.

Na lei de entorpecentes, quando for o caso de tráfico de drogas, o

Ministério Público oferece a denúncia, o juiz a analisa e, se entender que falta

justa causa, pode rejeitá-la. Entretanto, se ele não entende pela rejeição, ele

não recebe a denúncia e sim determina a notificação do acusado para

apresentação das alegações preliminares (preliminares ao ato de recebimento

da denúncia).

Assim, tudo o que veio em matéria penal de 1994 para cá estaria no

sentido de resguardar o contraditório prévio ao recebimento da denúncia ou da

queixa. Todas as leis, como a lei de drogas, instituíram o contraditório prévio,

não fazendo sentido, assim, não oportunizar às partes aquilo que é

oportunizado nestes casos.

Se o acusado de tráfico tem a alegação preliminar, para aí sim ter o

recebimento da denúncia, para ser marcada a audiência, não há sentido de

nos demais procedimentos especiais não ser disponibilizada a mesma

oportunidade, não seria isonômico.

21 PRADO, Geraldo, in : Palestra MUDANÇAS CPP - CEPAD - Julho 2008.

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A regra deve ser igual para todos, e esta é exatamente a que se utiliza

na lei de drogas, dentre outras, de que deve haver um contraditório prévio à

denúncia ou queixa.

De outra banda, o Procurador de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

Marcos Ramayana22 faz uma análise sobre a matéria, ao detalhar o

procedimento penal eleitoral após a entrada em vigor da lei alteradora.

A seu sentir, aplica-se o procedimento previsto no Código de Processo

Penal, com exceção do art. 399 do CPP, posto que o § 4º do art. 394 limitou a

aplicação dos artigos 395 a 398.

Assim, a rejeição da denúncia ocorreria pela análise do art. 395 do

CPP, cabendo ao juiz expor as razões de fato e de direito de admissibilidade

da acusação.

Quando do recebimento da denúncia, será ordenada a citação do

acusado, até porque, para este doutrinador, o fato de a denúncia ser recebida

não inibe o contraditório logo no início da ação penal para fins da absolvição

sumária.

Assim sendo, a controvérsia referente ao momento inicial do

recebimento da denúncia instituída pela redação dos artigos 396 e 399 do

CPP, não atingiria o processo penal eleitoral.

Para ele, o momento inicial de interrupção da prescrição ocorreria com

o recebimento da denúncia na forma do art. 396 do CPP, e se coadunaria,

neste aspecto, com o art. 359 do Código Eleitoral.

Com o recebimento da denúncia, previsto no art. 359 do Código

Eleitoral, com a nova alteração, especialmente dos artigos 396 e 396-A do

CPP, os juízes eleitorais não deveriam, então, designar o interrogatório e sim

22 RAMAYANA, Marcos - O Processo Penal Eleitoral passo a passo

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determinar a citação do acusado para responder à acusação no prazo de 10

dias (defesa prévia ou alegação preliminar).

Após o oferecimento da defesa prévia, passaria então à análise da

possibilidade de absolvição sumária, prevista no art. 397 do CPP e somente

após a sua decisão é que o juiz daria impulso processual com a designação do

interrogatório, que foi postergado.

A aplicação do novo rito não causaria qualquer prejuízo ao acusado,

uma vez que ele será ouvido após a análise do novo instituto da absolvição

sumária, observando-se, assim, os pactos internacionais referentes à ampla

defesa e contraditório.

A defesa prévia, com prazo de 10 dias, seguirá o CPP, devendo ser

aguídas todas as matérias de defesa (mérito) e as preliminares (artigo 396-A

do CPP), bem como deverá constar o rol de testemunhas, com a aplicação

subsidiária do CPP (máximo de 8 (oito) em casos de procedimento ordinário e

de 5 (cinco) nas hipóteses de procedimento sumário).

Tendo em vista o instituto da absolvição sumária, o acusado tentará

encerrar a ação penal utilizando os fundamentos legais, previstos de forma

taxativa no art. 397 do CPP.

Entretanto, os fundamentos da absolvição sumária previstos nos

incisos I a IV do art. 397 do CPP, na visão do citado doutrinador, também são

aptos a viabilizar a rejeição liminar da denúncia. Uma das causas é a

prescrição (hipótese de extinção da punibilidade do agente), porque não se

pode receber denúncia por crime já prescrito, até porque tal fato configura

constrangimento ilegal e daria ensejo à impetração de habeas corpus.

Não sendo caso de absolvição sumária, o juiz eleitoral se pronunciará

sobre as provas requeridas na defesa prévia, pois as da denúncia já podem ter

sido deferidas na decisão de recebimento da denúncia.

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42

A absolvição sumária desafia recurso de apelação, pois se trata de

sentença terminativa de mérito, similar ao art. 593, inciso I do CPP. Assim

sendo, o recurso cabível desta decisão é o previsto no art. 362 do próprio

Código Eleitoral ("Art. 362. Das decisões finais de condenação ou absolvição

cabe recurso para o Tribunal Regional, a ser interposto no prazo de 10 (dez)

dias"), denominado de apelação criminal eleitoral, sendo o prazo de

interposição e de apresentação de razões de 10 dias.

Neste passo, não se aplica a regra geral dos recursos eleitorais, cuja

previsão de prazo recursal é de apenas 3 dias (art. 258 do Código Eleitoral),

até porque o art. 5º, inciso LV da CRFB/88 garante o contraditório e a ampla

defesa, não subsistindo nenhuma dúvida de que o prazo de 10 dias favorece a

defesa.

Outrossim, Marcos Ramayan entende que “a controvérsia referente ao

momento inicial do recebimento da denúncia instituída pela redação dos artigos

396 e 399 do CPP, não atinge o processo penal eleitoral.”23

Ultrapassada a análise das correntes divergentes, passa-se ao

entendimento vigente nos Tribunais.

Em julgamento de Habeas Corpus impetrado no Tribunal Regional

Eleitoral do Paraná, de relatoria do Ministro Renato Paiva, a decisão foi

proferida no sentido da aplicação do Código de Processo Penal nas questões

eleitorais, ao argumento que a denúncia fora oferecida após a entrada a

alteração perpretada pela Lei nº 11.719/08, devendo, em observância ao

disposto no art. 396, ser aplicado o novo rito previsto no CPP, ignorando-se o

art. 359, parágrafo único do Código Eleitoral, cuja ementa transcrevemos:

98 HC - HABEAS CORPUS Tipo do Documento1-ACÓRDÃO

Nº Decisão36226 Município - UF Origem PONTA GROSSA -

23 RAMAYANA, Marcos - O Processo Penal Eleitoral passo a passo

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PR Data20/01/2009 Relator(a) DR. RENATO PAIVA Relator(a)

designado(a) Publicação DJ - Diário de justiça, Data

09/02/2009 Ementa

“HABEAS CORPUS. DESIGNAÇÃO DE DATA PARA

REALIZAÇÃO DE INTERROGATÓRIO. AUSÊNCIA DE

OPORTUNIDADE PARA O DISPOSTO NO ART. 396, DO

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. RITO PROCESSUAL

PREVISTO PELO §4º, DO ART. 394, DO CÓDIGO DE

PROCESSO PENAL. INOBSERVÂNCIA DO RITO

PROCEDIMENTAL DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL,

ALTERADO PELA LEI N.º 11.719/2008. ORDEM

CONCEDIDA.”24

No mesmo sentido, a decisão proferida pelo Tribunal Regional Eleitoral

do Rio de Janeiro no HC nº 113, de relatoria da Ministra Maria Helena Cisne, a

saber25:

“113 HC - HABEAS CORPUS Tipo do Documento1-

ACÓRDÃO Nº Decisão37.565 Município - UF Origem MACAÉ

- RJ Data30/03/2009 Relator(a) MARIA HELENA CISNE

Relator(a) designado(a) Publicação DOERJ - Diário Oficial do

Estado do Rio de Janeiro, Tomo 060, Data 03/04/2009, Página

01 Ementa

HABEAS CORPUS. DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE

INTERROGATÓRIO. APLICAÇÃO APLICAÇÃO DA LEI

11.719/08. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E DO

CONTRADITÓRIO. PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM.

CONCESSÃO DA ORDEM.”

Esta decisão baseou-se no entendimento da relatora de que a Lei nº

11.719/08 incluiu o interrogatório como meio de defesa e prova na audiência,

24http://www.trepr.jus.br/internet2/sj/pauta/ver_sessao_julgamento.jsp?dtr=20/01/2009&m=01&a=2009. Acesso em 30.01.2010. 25 http://intranet.tre-rj.gov.br/. Acesso em 29.01.2010.

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44

“visando a garantir a dialeticidade do processo, bem como assegurar ao réu a

aplicação dos princípios da ampla defesa e do contraditório”.

Ademais, aduziu em seu voto que a regra é a da aplicação imediata da

lei processual, segundo o princípio tempus regit actum, refletido na regra do art.

2º do CPP, “A lei processual aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade

dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.”.

Uma vez que antes da vigência da lei nova lei o interrogatório era ato

imediatamente posterior à citação, e que no caso analisado houve adiamento

da audiência de interrogatório, entendeu que os atos subseqüentes ainda não

tinham sido praticados.

Assim, o processo deveria seguir seu curso de acordo com o novo

procedimento trazido pela lei 11.719/08, abrindo-se prazo para os réus

apresentarem resposta à acusação, respeitando-se a aplicação da regra da

aplicação imediata das leis processuais e do devido processo legal.

Entretanto, o Supremo Tribunal Federal também já enfrentou a

questão da possibilidade de aplicação do rito introduzido pela Lei nº 11.719/08,

em sede de Habeas Corpus (HC nº 652/BA) - dirigido contra ato de membro de

Tribunal Regional Eleitoral que aplicou o rito previsto na Lei nº 8.038/90 - nos

julgamentos de processos criminais de sua competência originária,

posicionando-se no sentido de sua inaplicabilidade.

No caso em tela, foi alegado pela parte que “com a adoção do

procedimento originário do art. 7° da Lei nº 8.038/90, sem que fossem

observadas as alterações promovidas pela Lei nº 11.719/2008, o ato de defesa

prévia igualmente foi limitado, uma vez que "pela novel ritualística, dispõe o réu

de 10 (dez) dias para promovê-la, após o novo juízo de admissibilidade é

realizado, na forma do art. 397 do CPP (na sua nova redação), quando

presente, obviamente, ao menos uma das hipóteses ali arroladas."

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45

Aduzia o réu, também, que as alterações trazidas pela nova lei não

seriam apenas de ordem procedimental e sim da forma de realização de atos

materiais de defesa, devendo, portanto, serem interpretadas à luz dos incisos

XL, LlV, L V, do art. 5° da Constituição Federal.

Outrossim, ainda que assim não fosse, seriam mais benéficas ao réu,

devendo ser aplicada a retroatividade benigna prevista no art. 5°, XL, da Magna

Carta.

Pugnava pela anulação do interrogatório realizado sem a observância

do novo rito definido no CPP, com a sua notificação para apresentação da

defesa prévia.

Quando de seu julgamento, o relator Ministro Arnaldo Versiani

entendeu pela inaplicabilidade das modificações trazidas pela nova lei, ao

argumento de que a ação penal em comento, por se tratar de ação de

competência originária do Tribunal Regional Eleitoral, submeteria-se à Lei nº

8.038/90, que institui normas procedimentais para os processos que especifica,

bem como porque o seu art. 9° ao estabelecer que “a instrução obedecerá, no

que couber, ao procedimento comum do Código de Processo Penal", revelaria

o caráter subsidiário de aplicação do Código de Processo Penal.

Portanto, entendeu-se que a nova lei só incidiria sobre os ritos previstos

em legislação especial na ausência de disposições específicas, tendo em vista

o seu caráter supletivo, conforme se depreende da ementa do acórdão abaixo

reproduzida:

HC-652 Inteiro Teor Inteiro Teor652 HC - Habeas Corpus Tipo

do Documento Nº Decisão Município - UF Origem Data 1-

ACÓRDÃO SALVADOR - BA 22/10/2009 Relator(a)

ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES Relator(a)

designado(a) Publicação

DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 19/11/2009, Página 13

Page 46: “A aplicação da Lei nº 11.719/08 ao Processo Penal Eleitoral”. · como os crimes dolosos contra vida, de competência constitucionalmente determinada do Tribunal do Júri,

46

Ementa

“Habeas corpus. Ação penal. Procedimento. Lei nº 8.038/90.

Invocação. Inovações. Lei nº 11.719/2008.

1. O procedimento previsto para as ações penais originárias -

disciplinado na Lei nº 8.038/90 - não sofreu alteração em face

da edição da Lei nº 11.719/2008, que alterou disposições do

Código de Processo Penal.

2. A Lei nº 8.038/90 dispõe sobre o rito a ser observado desde

o oferecimento da denúncia, seguindo de apresentação de

resposta preliminar pelo acusado, deliberação sobre o

recebimento da peça acusatória, com o consequente

interrogatório do réu e defesa prévia - caso recebida a

denúncia -, conforme previsão dos arts. 4º ao 8º da citada lei.

3. As invocadas inovações do CPP somente incidiriam em

relação ao rito estabelecido em lei especial, caso não

houvesse disposições específicas, o que não se averigua na

hipótese em questão.

Ordem denegada.”26

Ressalta-se que a Lei nº 8.038/90 institui normas procedimentais para

os processos criminais originários do Superior Tribunal de Justiça e do

Supremo Tribunal Federal, tratando-se, portanto, de legislação específica, tal

qual o Código Eleitoral.

3.2 – Soluções propostas para a aplicação do novo rito

processual nos procedimentos eleitorais

26http://www.tse.gov.br/sadJudSadpPush/ExibirDadosProcesso.do?nproc=652&sgcla=HC&nprot=198712009&comboTribunal=tse&tipoProcesso=J. Acesso em 30.01.2010.

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Em razão dos problemas demonstrados quanto à aplicabilidade do rito

previsto no Código de Processo Penal nos procedimentos eleitorais, com as

alterações introduzidas pela Lei nº 11.719/2008, algumas soluções têm sido

apresentadas pela doutrina.

Para aqueles que entendem pela impossibilidade da aplicação do rito

do CPP em razão da dicção do parágrafo 2º do art. 394, os procedimentos

eleitorais continuam a ser regidos pelo Código Eleitoral.

Entretanto, temos que assiste razão àqueles que, com base na

alteração, especialmente dos artigos 396 e 396-A, entendem que os juízes

eleitorais não devem mais designar o interrogatório, mas, sim, determinar a

citação do acusado para responder à acusação no prazo de 10 dias (defesa

prévia ou alegação preliminar).

Ainda que o § 2º do artigo 394 contenha a determinação de afastar a

possibilidade de se aplicar os procedimentos especiais, o § 4º manda aplicar a

todos os procedimentos penais o disposto nos artigos 395 a 398.

Assim, ao aderirmos à corrente que entende que a citação do acusado

somente ocorrerá após a defesa prévia, com base no disposto no art. 396, este

procedimento, por se revelar mais benéfico ao acusado, deverá ser aplicado a

todos os procedimentos penais.

Com sua aplicação nestes moldes, evita-se que o acusado seja

efetivamente parte de um processo e, no caso de absolvição sumária, não

haveria qualquer anotação em sua Folha de Antecedentes Criminais.

Ademais, ao se postergar o momento da interrupção do prazo

prescricional, também estaria se beneficiando o réu. Ressalta-se que o instituto

da prescrição tem natureza mista, ou seja, processual e penal, já que se trata

de uma das espécies de extinção de punibilidade previstas no art. 107 do

Código Penal.

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48

Outrossim, a ratio que permeia as leis nº 9.099/95 e, principalmente, a

Lei nº 11.343/06, que trata dos crimes de tráfico de drogas, é a da existência

de um contraditório prévio, determinando a notificação (e não a citação) do

acusado para apresentação de defesa preliminar e posterior recebimento da

denúncia, não se admitindo que nos crimes eleitorais, de menor gravidade do

que aqueles relacionados ao tráfico de drogas, não se possa aplicar a mesma

disposição.

De outra banda, o recebimento da denúncia em momento posterior à

defesa prévia exigiria do juiz uma fundamentação após a análise dos artigos

395, 396 e 397 do CPP, o que solveria um problema que até hoje não encontra

solução pacífica em sede de doutrina e jurisprudência, a ausência de

fundamentação quando do recebimento da denúncia.

Depois de apresentada a resposta é que o juiz poderá, ser for o caso,

nas hipóteses do artigo 397, absolver sumariamente o réu quando: verificar

causa manifesta da ilicitude do fato; a existência manifesta de causa de

exclusão da culpabilidade, salvo a inimputabilidade, porque ser for

inimputabilidade por menoridade o processo é nulo e se for o caso do artigo 26

CP o processo segue para, se for o caso, viabilizar a medida de segurança;

quando o fato narrado não constitui crime (fato atípico); ou extinta a

punibilidade do agente.

Todas as leis, como a lei de drogas, instituíram o contraditório prévio.

Há um consenso na doutrina processual penal brasileira de que a decisão de

recebimento da denúncia ou queixa tem que ser fundamentada. E não faria

sentido ser fundamentada sem oportunizar as partes aquilo que é

oportunizada, por exemplo, aos réus no processo da lei de drogas, o que

afastaria o princípio constitucional da isonomia.

Em face do todo o exposto, entendemos pela aplicação integral do rito

introduzido pela Lei nº 11.719/08 às leis especiais, dentre elas a legislação

eleitoral, considerando-se ser este um rito mais benéfico ao réu.

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49

CONCLUSÃO

A possibilidade de aplicação da nova ritualística trazida pela nº

11.719/08 às leis especiais tem gerado grandes controvérsias na doutrina e na

jurisprudência. No entanto, percebe-se que a sua aplicação trará grandes

benefícios aos acusados.

Para os defensores desta tese, a sua adoção evitaria que o acusado

fosse efetivamente parte de um processo no caso da existência de requisitos

que ensejassem a absolvição sumária.

Assim, a inexistência de qualquer anotação em sua Folha de

Antecedentes Criminais seria muito mais benéfico ao indiciado, posto que não

impediria a concessão de inúmeros benefícios previstos na legislação penal,

bem como pela ausência de consequências na própria esfera cível.

De outra banda, o fato de se postergar o momento da interrupção do

prazo prescricional também estaria beneficiando o réu, por se tratar uma das

espécies de extinção de punibilidade previstas no art. 107 do Código Penal.

Não se pode perder de vista, também, que a ratio que permeia as

novas leis penais, dentre elas a dos Juizados Especiais Criminais e a do

Tráfico de Drogas (leis nº 9.099/95 e Lei nº 11.343/06, respectivamente) é a da

existência de um contraditório prévio, determinando a notificação (e não a

citação) do acusado para apresentação de defesa preliminar e posterior

recebimento da denúncia.

Na esteira desta nova opção legislativa, não se pode admitir que nos

crimes eleitorais, de menor gravidade do que aqueles relacionados ao tráfico

de drogas, não se possa aplicar a mesma disposição.

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Ocorre que vem surgindo em sede de doutrina e jurisprudência

posicionamento no sentido contrário, entendendo pela não aplicação do novo

rito.

Entretanto, somente é utilizado como argumento o fato de o Código de

Processo Penal fazer referência expressa da exclusão de sua aplicação nas

leis especiais, a teor do § 2º do art. 396.

Em virtude dos fatos narrados, os problemas advindos da utilização ou

não da nova ritualística processual penal traz enorme insegurança jurídica, em

virtude da imprevisibilidade das decisões judiciais.

Portanto, o tema abordado revela-se de suma importância para os

profissionais do direito, bem como para toda a sociedade, na medida em que

sua discussão poderá trazer novos contornos aos procedimentos penais,

evitando-se a aplicação de ritos distintos em casos similares, podendo, desta

forma, ter uma indiscutível e real eficácia, impedindo julgamentos com

procedimentos distintos como hoje se vislumbra nas questões eleitorais, de

suma improtância visto que nelas se protege a coletividade e a própria

democracia.

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