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«Para responder aos desafios culturais:cultura do sujeito, cultura democrática, culturacrítica, científica e técnica e cultura dacomunicação a catequese deverá estarassente numa espiritualidade forte. Umaespiritualidade que lhe seja própria e aomesmo tempo adaptada à mutação que aatravessa neste momento.»
André Fossion
A espiritualidade do Catequista, não se limitaà espiritualidade comum de todo o baptizadochamado a viver: a fé, esperança e caridade,a oração e a prática das virtudes evangélicas(devem viver este programa com excelência).Não reside na competência doutrinal dosaber fazer metodológico. A espiritualidadedo catequista reside na forma evangélicacomo é conduzido o acto catequético.
Perante a crise de transmissão e deproposta da fé, que atitudes espirituaisé chamado a desenvolver, o catequista,no exercício da sua missão, para trans-formar a crise que atravessa hoje a cate-quese em tempo de promessa?
A espiritualidade do catequista é desafiadaa ter uma dinâmica “abraâmica”, uma dinâ-mica que dá o toque da partida para umaaventura espiritual: “Vai, deixa a tua terra e
dirige-te para a terra que eu te indicar”.Neste espírito de partida e de promessapropõem-se nove atitudes espirituais paraserem vividas no acto catequético: três emordem à comunicação, três em ordem àrelação pedagógica e três relativas àorganização da catequese.
Comunicação1. Aceitar o “largar as amarras”2. Situar-se exactamente na sua responsa-
bilidade3. Não preencher com a “sua própria peque-
nez os caminhos de acesso à fé”
Relação Pedagógica1. Arriscar-se ao acolhimento no “espaço”
do outro2. Abrir-se a todos e não excluir ninguém3. Personalizar as relações
Organização Catequética1. Promover um espírito de investigação,
de liberdade e de amizade2. Adoptar um espírito de rigor3. Desenvolver um espírito de participação
– corresponsabilidade
Proposta dePercurso de Trabalho
1º Reunião de análise
Ponto I - Momento de Oração - Seguir o percursoda Lectio Divina a partir do texto: Lc 4,14-22
Ponto II - Leitura de textos - ou partilhadas ideias essenciais (se os textosjá foram lidos)
Ponto III - Análise da realidade à luz dostextos
Ponto IV - Elaboração de uma lista dedesafios
2º Reunião de determinação de desafiose proposta de objectivos e linhas de acção
Ponto I - Momento de Oração - Seguir o percursoda Lectio Divina a partir do texto: Jo 14,12-14
Ponto II - Recordar os desafiosPonto III - Elaboração metas e objectivos
(pouco - pequeno - possível - avaliável)
Ponto IV - Procurar linhas de acção
3º Reunião de planificação de projectosou do ano catequético
Ponto I - Momento de Oração - Seguir o percursoda Lectio Divina a partir do texto: Jo 15,1-11
Ponto II - Recordar objectivos e linhas deacção
Ponto III - Realização dum plano de acçãotrienal - e anual
4ª reunião …
Recomendações
• Ao sugerir 3 reuniões, não se pretendeesgotar o processo. Seria importante, criaro hábito de regularmente, em reunião decatequistas, fazer uma leitura de documentossignificativos no âmbito das questõescatequéticas. A alteração da prática passapela lenta evolução da forma de pensare ver a realidade. Sem mudança de men-talidade, a renovação catequética terádificuldade em realizar o percurso quea Igreja propõem e o ser humano espera.
• Antes de cada reunião, o coordenador deveráenviar aos participantes a agenda da mesma(ordem de trabalhos), assim como os textosque serão objecto de reflexão, e eventualmentealgumas perguntas orientadoras (ver perguntasincluídas nesta MENSAGEM).
• No fim da reunião, devem ser sistema-tizadas e lidas as conclusões e decisõestomadas. Esse documento deverá ser poste-riormente enviado aos participantes paratomada de conhecimento, e para servir debase de trabalho para as reuniões posteriores.
• Durante a reunião, recomendamos umespecial cuidado na gestão do tempo e dasenergias do grupo, evitando dispersões egerindo possíveis resistências à reflexão eresponsabilização individual no processo.
• O sucesso dos projectos deve-se em parteao processo de avaliação. Avaliar, é analisaro percurso realizado para apontar os pontospositivos, os aspectos a melhorar e deter-minar novas estratégias. Sem este passo,os projectos correm o risco de não produziros frutos pretendidos.
A Arte de Comunicar
Repensar o “caminho da Iniciação cristã”obriga a repensar o papel e a espiritualidadedo catequista. Ser “portador de uma boanotícia” implica estar a caminho com osque iniciam o caminho. Eis alguns desafios!
A Espiritualidadedo Catequista Hoje
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Em Ordem àRelação Pedagógica
1. Arriscar-se ao acolhimento no“espaço” do outro
O tema do acolhimento faz parte do discursocatequético habitual. Todavia corremos orisco de posicionar o catequista como aqueleque acolhe e por esse motivo aquele quese coloca numa postura de superioridadeperante o catequizando. Nesta visão (porvezes inconsciente), o catequista é aqueleque tem o papel principal e está investidona função de acolher. Sobe este prisma, ooutro é colocado numa postura de inferiori-dade, de passividade como aquele queapenas recebe. Seguindo a lógica do Evan-gelho não será talvez necessário deixar--se acolher pelo outro, reconhecendo assuas virtudes de hospitalidade e as forçasde viver que o habitam? “Quem vos acolhe,me acolhe.” (Mt 10,40). “Quando encontrareshospitalidade numa casa, ficai aí até ao...”(Mc 6,10). Com Zaqueu, é Jesus que pede ahospitalidade, com os discípulos de Emaúsé Jesus que recebe a hospitalidade.
Esta atitude convida o catequista a sairdo seu mundo, a abrir-se ao mundo dooutro com tudo o que supõe de dife-rença, de inesperado, de desconcer-tante... deslocar-se do centro da sua vida,do seu universo de interesses permi-tindo que o outro possa exercer as suaspróprias virtudes de hospitalidade.
2. Abrir-se a todos e não excluirninguém
Abrir-se ao “espaço” do outro, deveria sera atitude do catequista que não presumeda disponibilidade do outro na escuta eacolhimento do Evangelho. Corre-se o riscode ir ao encontro das pessoas e dos meiosonde se pensa que “esses estão aptos” aoacolhimento da fé segundo critériospessoais. Quantas vezes o catequista filtrao campo dos destinatários a partir decritérios que têm a ver com afinidadespessoais, sociológicas ou culturais.Jesus contradiz profundamente esta atitudee actua contra qualquer expectativa: aCananeia, a viúva, o centurião, Zaqueu, apecadora, o ladrão... O acolhimento da féfaz-se onde menos se espera. “Os primeirosserão os últimos e os últimos os primeiros”(Mt 20,16) “As prostitutas e os pecadorespreceder-vos-ão no Reino de Deus.” (Mt 21,31)
Esta “reviravolta” evangélica não excluininguém e alerta contra a hierarquização eos preconceitos na atitude de fé. É um apeloa semear a palavra sem julgamentos.
O catequista é convidado a estar profundamente atentoàs suas ideias pré-concebidas no momento de atenderos seus destinatários: afinidade, horários, lugares, ritmos,hábitos, costumes, métodos... Estes condicionantes podemlimitar e excluir certos meios ou perfis...
Abrir-se a todos, é uma vigilância profun-damente evangélica é um desafio queconvida a partir para sendas desconhecidase a emigrar para lugares esquecidos(aqueles que habitualmente tendemos amarginalizar).
Em Ordem àComunicação da Fé
1. Aceitar o “largar as amarras” –confiança no Espírito
• Deixar a tentação da nostalgia e dasideologias da decadência;• Renunciar aos integrismos, a culpabili-zação das comunidades e do mundo;
e viver:
• na confiança e na alegria perante asituação de crise que se vive;• aceitar o desafio de “não dominar a situa-ção”, como nos convida o Evangelho:“Não vos preocupeis com o dia de amanhã.A cada dia basta a sua…” (Mt 6,34)
“Um semeia, outro colhe...” (J 4,37)
“Quando tiveres terminado o trabalho...” (Lc 17,10)
Não temos a possibilidade de “criar no outro”a disponibilidade à escuta do Evangelho,por isso somos chamados a:
• fazer confiança à humanidade (ela é capazde: interrogação ética, busca de sentido,preocupação com direitos humanos...);• ser disponíveis ao Espírito que age nomundo e na Igreja…
Estas atitudes não conduzem à passi-vidade mas tornam os catequistas maisaudaciosos e criativos, mais aptos atrabalhar intensamente hoje para oamanhã, sem ter o horizonte comoobjecto de conquista.
2. Situar-se exactamente na suaresponsabilidade
Não temos poderes sobre a comunicaçãoda fé todavia a fé não se comunica sem nós.O catequista tem a obrigação de criaras melhores condições para que a féseja possível, compreensível e desejável.Esta é a responsabilidade do catequista,tudo o resto é fruto da graça de Deus e daliberdade humana.O catequista é chamado a ter uma atitudeespiritual de reserva. Pode preparar o terreno,regar o jardim, cuidar dele mas atenção:não inundar as raízes! Quantos erros secometem pelo zelo religioso desordenadoque ultrapassa os limites do que está sobea responsabilidade do catequista!A forma evangélica de situar-se nacatequese é: nem a demissão de simesmo, nem a submissão ao outro, masa preocupação em oferecer condiçõespara que seja possível o crescimentodo outro a nível humano e na fé.
3. Não preencher com a sua “própriapequenez” o acesso à fé
O catequista não pode desejar que oscatequizandos sejam a reprodução delemesmo, a sua imagem, a imitação da suaforma de ser e viver a fé (os primeiroscristãos foram tentados em impor que todosos convertidos se sujeitassem aos costumesdo judaísmo). É importante o catequistaprocurar propor a fé sem impor a sua formade a viver (quantos obstáculos colocamosà fé a partir das nossas determinações pes-soais, culturais, e até posições teologicamenteincompletas ou psicologicamente duvidosas).O catequista deverá fazer a diferença entre:Acreditar como e acreditar com.
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2. Adoptar um espírito de rigor
O catequista não é um improvisador... a suatarefa exige rigor. O rigor implica manteruma distância crítica em relação ao que faz,ao que diz e ao que se passa à sua volta.
O rigor diz respeito aos conteúdos, aométodo, à organização e exige um trabalhode investigação, analise, avaliação, elabo-ração de hipóteses e de aprendizagens apartir da prática.
O rigor em catequese não é só umaexigência técnica, é autenticamente umaatitude espiritual no sentido em quemanifesta uma atenção à pessoa noprocesso de amadurecimento da fé.
Não tem a ver com o desejo de dominartudo, pelo contrário tem a ver com a atitudede colocar-se à escuta e na disponibilidadeperante o Espírito.
Rigor como busca suprema de fidelidade ecoerência aos planos de Deus para com oseu povo. Respeito para como os irmãos,para com a sua inteligência, procura eabertura ao Espírito.
3. Desenvolver um espírito de parti-cipação
A catequese é, por vezes, entendidacomo um poder, todavia a sua essênciaé serviço co-participado e corresponsa-bilizado. Nesta linha de pensamento, oSínodo de 1977 recomendava que se esta-belecesse estreitas ligações entre oscatequetas, os teólogos e os especialistasdas ciências humanas.A atitude espiritual do catequista implicaconsultar, escutar e colaborar com os váriosintervenientes do processo catequético,inclusive os catequizandos (Também elessão corresponsáveis e podem ser implicadosa nível de programação, iniciativas…).
Dieu toujours recommencéAndré Fossion
Lumen vitae Novalis, CERF, Belgique, 1997Traduzido e adaptado
3. Personalizar as relações
Jesus ensinava às multidões mas nãodeixava de estabelecer contactos pessoais:Nicodemos, Samaritana, jovem rico... O diá-logo pessoal é fundamental no percursocatequético. O catequista pode cair natentação de reduzir a sua missão à deum animador de grupo, sem estabeleceruma relação com cada um e desenvolvera relação entre todos.
A espiritualidade do catequista inclui aomesmo tempo o sentido da comunidade ea relação pessoal, acompanhamentoindividualizado. A confissão de fé é um actopessoal com o apoio de um “nós”. Nãopodemos esquecer que a cultura valoriza aliberdade individual. A espiritualidade docatequista é uma espiritualidade de“companheirismo”, do irmão mais velho quejá tocou a outra margem e acompanha ocaminhar do outro rumo ao futuro.
Em Ordem àOrganização daCatequese Ela Mesma
1. Promover um espírito de inves-tigação, de liberdade e de amizade
Três condições favoráveis no exercício dacatequese: procura assídua, respeito pelasliberdades e fraternidade:
Procura da VerdadeImplica humildade e questionamento. “Cate-quizar é levar alguém a procurar o mistériode Cristo em todas as suas dimensões.” Éimportante que o catequizando se sintaestimulado intelectualmente. O desafio éque ele possa experimentar por ele mesmoa fé, mesmo que ela ultrapasse a razãosabendo que ela não deixa de ter espaçosde “razão”.
LiberdadeRespeitar a inteligência dos catequizandosimplica renunciar a qualquer forma deviolência, de pressão, de manipulação. Édespertar para a liberdade respeitando-a.É situar a fé na ordem do reconhecimentoe da livre adesão... Permitir que o outroencontre o que se procura.
FraternidadeEla acontece como uma graça oferecidagratuitamente e sem condições. A catequesetorna-se assim uma experiência fraterna,eclesial.
Estes três dados favorecem o acolhimentodo Espírito e a disponibilidade à sua acção.
Q U E S T Õ E S A V I S I T A R
• Que interrogações convoca este olhar sobre a atitude espiritual do catequista?• Que desafios oferece à relação entre catequistas e catequizandos?• Que caminhos de resposta ao “humano em busca caminhos de acreditar” indicam este texto?• Que ligações podem ser feitas entre este texto e os desafios que a “iniciação à vida cristã”
oferece às nossas práticas catequéticas?• …
O catequista é ao mesmo tempo um“buscador” de Deus e um garante daliberdade, um amigo.
A espiritualidade do catequista seráentão a arte de cultivar de fazerconfluir e de organizar o espaçodo encontro entre a graça de Deuse a liberdade humana.