A Arte Do Ator - o Papel

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  • 8/6/2019 A Arte Do Ator - o Papel

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    . ,68 a ane do asor

    pessoal do ator sabre 0 seu pr6pr io rosto e as relaco es q ue ele p odeeslab elecer co m o s recu rso s tecn ico s do c in ema. Ro my Sch neider,d iz-se, preslava uma atencao vigilante As luzes sob as quais ela teriade representar. HA enfim, em decorrencia da experiEmcia precedente,uma arte clnernaiooranca da melamoriose do rosto , Arte colet iva paraa qual contribuem nao somenle 0 ator, mas 0 diretor, 0 diretor de 1010-grafia, 0 i lu min aoo r e tc. As iran stormacoes d e qu e sao cap azes , deum filme para Dutro, urn Orson Welles ou um Marton Brando, com aajuda do maquiador, nao sao, no fundo, muilo diferentes daquelas quevemo s n o tea tro. Mas 0 que dizer desta especie de "eleito Pigmaliao"que une, para sempre, urn diretor e um(a) interprete? Nao e exageradoafirmar que a "verdadelro" roslo de Marlene Dietrich, aquele que con-l rib uiu p ara taze- la a star que conhecemos, lai literalmente "inventa-do" , fabricado pelo diretor Joseph von Sternberg . Definit ivamenle, etalvez esse trace caracterlst ico que mais dis tingue 0 ator de cinema eo de teatro: uma parcial perda de si mesmo.

    o~ .

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    "4 I G i j ! {]

    ~apitulo 5

    o P A P E L

    1. Hetrospectivahist6rica

    Todas as epocas do tealro conneceram, e resolveram A suaman e ira, a q uestao d a mterpretacao d os pape is , em funy ao d e umsubstrato ideol6gico especffico, de um estado particular do saber, deconcicoes tecn ica s variaveis.

    1. A antigUidade grega e r om ana. Nada de interpretacao "indl-

    vidualizante" ou "psicologizante", ao que parece, na epoca de Esquiloe de Arist6fanes. a carater sagrado da representacao e a cistanciaentre 0 ator e 0 publico constiluiriam obstacutos dificilmente transponl-veis. A cena grega, alias , nunca uti liza mais de Ires atores, Que divi-dem entre si os papeis, Mesmo os personagens femininos sao inter-pretados por homens. Sema-se a isso a caracterizacao f(s icaque usaos recursos j~ mencionados (mascaras , coturnos, apliques etc.). To-davia, a evoluc;:aogeral desse teatrc que afirma cada vez mais nit ida-menle sua necessidade de"realismo" nao pocedeixar derepercutir nainterpretacao: ao mesmo tempo que a lunc;aodo coro se alrofia, 0 numero e a participacao dos atores aumenta.

    Em Roma, tudo concorre para uma codificaQao ca interpretacao.

    Ela permile ao espectador mais distante identificar 0 personagem des-de 0 momento de sua aparicao: a tunica designa 0 escravo, e a toga, 0homem livre; 0 branco e a cor da v elhice, 0 amarelo a da rnoca e amistura de cores designa 0 cornerciante de escravos. 0 gala deve serlouro,o escrava ruivo ... Mais tarde, a maquiagem, e depois a mascara,vieram relorcar e requintar 0 sis tema. A mascara de pai, por exemplo,traz uma sobrancelha levantada e outra em posiyao normal. Isso ra-

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    "4 I G i j ! {] :7 0 a arte d o a to r o papel 71

    f 1e le a d ua li da de d os p ap ei s p at er no s q ue o sc il am e nt re f ur or e i nd ul -g e ln c ia . C a b e a o a to r e xi bi r0 perf il apropriadoa silua~ao!

    c om p an he ir os , d as r ea co es d o p ub li co , d o c on te xt o s 6c io -p ol rt ic o n oq ua l s e in se re a r ep re se nta ca o, a in da q ue e xp on do -se , a s ve ze s, acelera cas autoridades. .

    E m c on tr ap ar ti da a e s ta l ib e rd a de ,0 a to r d isp oe d e u m o utre r e-f er en c ia l a le rn d o t ex to .E 0 p er so na ge m . 0 a to r de/I'arte, qu e no en-t an to . do m in a q ua se t od as a s t ec ni ca s d e r ep re se nt ac ao d e s eu t em po( im p ro v is a r u rn t ex to , m a s t ar no em r ec it a- lo , c a nt ar , d a nc ar , e xe c ut arn ar ne ro s d e h ab il id ad es e d e a cr ob ai :: ia e tc .) , c on sa gr a s ua v id a aal-

    g un s p er so na ge ns a p on lo d e fo rm ar co m e le s u ma u nid ad e.' E m s u-rna, a de fin ic ; :aoda in tepre tacao es tava re so lvida quase de an te rnao ,

    P os to i ss o, a p ra tic a d a r ep re se nt ac ao i mp ro vi sa da n ao e xig equ e 0 a to r, c ad a n oi te e . a c ad a i ns ta nt e, i nv en te l it er al me nl e f al an dos eu t ex to e s ua in te rp re ta ca o, A o f im d e u m c er to n um er o d e e ns ai os ed e a pr es en ta co es , u m e qu il fb ri o, u m a p er fe ic ;a o s ao p or v ez es a tin gi -d es, de m od o que 0 te xto e a rs pre se nta ca o lica m m ais o u m en os li-x ad os , S ab e- se p ar o ut ro l ad o q ue e ss es a to re s, q ue p ra ti ca va m t am -bern 0 [ ea tr o d e t ex lo t ra d ic io n al , e st av am i nc li na d os a r ed uz ir l od a s i-l ua c; :a o d r am A ti ca a o m o de lo c an On ic o q ue I he p er mit is se a po ia r- sen os Ir ag me nlo s d e te xto s fa milia re s. N ic olo B ar bie ri, n o c or ne co d ose cu lo X VII, a ss eg ur av a q ue s ua rn em oria e a d e se us c ole ga s e sta -

    va m s atu ra da s " de s en te nce s, d e concerti, d e d ec la ra cd es d e a m or ,d e a fr on la s, d e d es es pe ro s e d e d el rr io s" . N o t im d o s sc ul o s eg ui nl e,Gozzi 0 c on fi rm a ri a e m s u as M e m 6r ia s :

    " A s a tr iz es t er n u m a rs en a l d e m e te ri as -o m na s n a r ne m or ta , m a te ri as -p rim as q ue s er ve m p ar a a s o ra co es , ce ns ur as , a me ac as , d ese sp e-r ~s, s en lim en to s d e c iu me : m as n aoe m e no s s ur pr ee nd en te v er q ued ia nt s d o p ub lic o, e i mp ro vis an do c om i mp ro vi sa do re s, e la s p od em l ertu do is so p ro nto e e sc olh er, n ess a m as sa d e q ue s eu c er eb ra e sta re -p ie to , tr ac es q ue e la s s olta m n o m om en to c er to , q ue e la s e xp rim emc om e n ergi a e q ue a rr an ca m a s a p la u so s d o s e sp e cl ad or es ."

    2. 0 tea tro m ed ie val. A s con dic;:6e s da rep re se nta cao, a d im en -s ao s a gr ad a e d e li be ra da m en te e d if ic an le d e ss e l ea tr o s us ci ta ra rn u mm o do d e i nt er pr et ac ;a o e x tr ov er ti da : e le v is a a u m p at et ic o f ac il m en te" pr at ic av el " ( as a to re s n ao s ao , e m r eg ra g er al , p ro fi ss io na is ) e a ce s-slveJ (0 p ub li co a ba rc a l od as a s e sf er as d a s oc ie da de ). P ou co a p ou -c o s e d ef in e u m a t ra di c; :a o, c on sl il ui -s e u m c on ju nl o d e r eg ra s, r el an -va s a d ic ~ ao e a m rm ic a, d e u ma e xt re ma p re cis ac , E st e e sq ue m a a s-s eg ur a u m a in te gr a" c; ao r ap id a e e fi ca z d o a la ra r ep re s en ta c ao , a om e sm o l em p o e m q u e g a ra n le a l eg ib il id ad e d a i nt er pr et ac a o, p er m it in -do a o p u bl ic o i de n ti fi ca r i m ed ia ta m e nt e o s p er so na g en s . A r ep re s en ta -c ;:a om ed ie va l s e b as eia , e la t ar nb em , e m u m sis te ma d e c 6d ig os d eq ue s e e xc lu i t od o e m pe nh o d e c ar ac te ri za ca o o ri gi na l a u d e e nc ar na -c ;: ao pe ss oa l. O s s en ti me nt os e a s p ai x6 es r eq ue re m u m a e xp re ss aoconvenciona l la c ilmente dec if r ave l,

    C e rt os t ex to s, c on tu d o, r el le te m p re o cu p ac oe s r el at iv as ~ i nt er -p re ta ca o d os p ap ei s n um a p er sp ec tiv a m a is p r6 xim a d e n os sa s c on -cepcoes. Le Jeu d 'Adam ( en tr e 11 46 e 11 74 ) r ev el a, e m s ua s r ub rl ca sl at in a s, p re oc u pa c; 6e s q ue d e vi am , c om b a st an te f re q ue n ci a, i nq u ie ta ro s d ra ma tu rg os , n ota da me nle a e xig em cia d e u ma d ec la ma ca o e d eu m g es tu a l a d ap ta do s a s ig ni fi ca c; ao d o t ex to -0 q ue d ei xa s up er q uea repre sen tacao habitual lend ia a mecanizacao,

    3 _ A com med ia detl'arte, U rn d os n aco s m ais n otAve is d es set ea tr o e t al ve z 0 d e q ue 0 a tor, na t r ad ic; :aooc iden la l , jamais d ispOs deu m a t ao g ra nd e l ib er da de , q ue t d iz er , d e u m a t ao g ra nd e r es po ns ab il i-d ad e e ri ad or a. S ua r ep re se nt ac ao s e b as ei a, s ab em o s, n aimprovise-~ao, c oi sa q ue a s d ra m at ur gi as d e t ex to e xc lu em , o u a o m e no s l im it ams en si ve lm e nt e. U m it ac ;: ao e s ta q u e, h o je e m d ia , p ro v er n d e d oi s t ip o sd e p re ss ao : 1 ) 0 a to r d ev e r ep re se nt ar t od o0 texto e nada alem dot ex to : 2 ) a e nc en ae ao i nt eq ra0 t ra ba lh o p es so al d o a to r e m u rn s is te -m a q ue, ao m esm o le mp o, 0 u ltr ap ass a e s e im pa e a e le d e m an e iran or m at iv a e d ir et iv a. A o c on tr ar io , a s r ot ei ro s d acommedia de ll 'a r te fa -ze m do a to r a fo nte p rin cip al ( se na o u nic a) d e s eu te xt o e d e s ua r a-p re se n ta ca o . E le p ed e ad l ib i tumrnodi flca - los , abrev ia r urn, de senvol -v er o utro , e m fu nc; :a o de s ua in sp ir ac ;:a o, d e' s ua re la ca o c om s eu s

    D a m es ma lo rm a, o stszz!m a is p o pu la te s e ra m i rn it ad o s, t ra n s-

    portad os d e um a pe ca a outra, e a te m esm o de um a com pa nhia aOU-

    1P a re ce q ue o s a to re s de/f'ane foram m u t t omenos especia lizados do q ue p or m u it o

    t em po s e acreonou, e q ue s e a om ira va p art ic ul an ne nt e n ele s 0 d om o a metarnoec-se.

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    72 U IITlt do ator

    t ra . P a ra d ox al m en te , e st a a rt ecia improvisa~ao e , a o m es mo te mp o,u m a a rt e d a c it a~ ao l E st ee u ml at o q ue c er ta m en te f ac il it ou aperpe-t ua c; ao d a s t ra d i~ 5 es e a e st ab il iz ac ;a o d o s p e rs on a ge n s de/f'arte. Aom esm o t em po . a irnprovisaceo v er da de ir a p er mi lir a u m a i rr ig a~ ao eum a renovacao das interpretac;Oes.

    D af e sta ir np re ss ao , p er ce bid a p elo s c on te rn po ra ne os co mou ma coisa (m ica. Ie ita a o m esm o te mpo de u ma conivencia com u mu ni ve rs e f am il ia r e d e u ma a dm ir ac ao d ia nt e d a v il al id ad e e d os a cn a-c os c os improvisadores . Emcomparacao, a representacao " co m le x-to" e ! id a c om o u ma p rll ti ca a fe la da e a rt if ic ia l. 0 p re si de nt e d e B ro s-se s e screveu :

    b om t ud o 0 q ue q ue r 0 a uto r, c on la nto q ue e m s eg uid a s urja a lg ume fe it on . lm a gi na m os . n es ta s c on dl ce es , q ue h av ia m u it o p ou co l ug arp ar a u m a v er da de ir a encarna9ao d o p er so na ge m . A e fl ca cia d oe/eilop re ss up 5e u m a p e rt el ta f am i li ar id a de d o p ub li co c om a s c 6d ig o s d a r e-p re se nt ac ao , D a r a n ec es si da d e d e u m a t ip ol og ia i m ut ~v el q u e g a ra nt ae st a la m ili ar id ad e: o s g es to s e0 tom de m aje stade ou de pu dor, dep a ix ao o u d e d e se sp er o . . C o st um a -s e talar m uito , n a e po ca , d e ca -r ac te re s. M as s er ia u m e rro d ed uz ir u ma p re oc up aca o co m a in div i-

    duallzacao d os p er so na ge ns . A relerencia ao carater pe rmi te a ssegu-rar a adequacao da interpretacao a e ss a t ip o lo gi a e ao s c 6d ig os q ue ato rn am o pe ra cio na l. D e la to , n ao s e la la d o c ara te r d e A ga me mn on ,m a s s im - e i st o e s ig nif ic at iv o - d o " ca ra te r d a m a je st ad e" . ..

    A i de ol og "i a d o " na tu ra l" ( a v er da d e d a N a tu re za , a l id el id ad e q ueI he d ev em o s n odomlnio d a s a rt es ) v ai g o ve rn ar a s t ra n sl or m ac ;6 escamterpretacao trllg ica n a s eg un da m eta de d oseculo, Sob a pressaod o s t eo ri co s e f il 6s ol os ,0 a to r t ra g i cc v ai r ep en s ar0 p ro bl em a d a v e -r os si m il ha n ca i nt er pr et at iv a: u m a p ri nc es a t ro ia n a p od e e st ar v es li dac om o M m e. d e P om pa do ur ? U ma e scr av a p od e o ste nta r e nf eit es d ei m pe ra tr iz ? D o r ne sr no m o doe r ec ol oc ad a e m q ue st ao a d e cl ar na ca ocan tan te que prevaJec ia depois da Champrnes le , Adr ienne Lecouvreur,e m a is t ar de , Clairon, p ro cu ra m i ns ta ur ar u m a f 6r m ul a d edeclamacaoq ue p riv ile gia a s itu a9 ao d o p er so na ge m m ais d o q ue a fo rm a d e se udiscurso. L ek ai n r ef le ti u l on g am e nt e s ob re a e xp re s si vi da de d o g es to ,e a le m es mo M lle . D um es ni! s er a v ist a, p ara g ra nd e e sc an da lo c osp uris ta s, c or re nd o p elo p alco p ara m an ife sta r a in te ns id ad e d e s ua" pe rt ur ba ca o" ! I st o v ai c on tr a a v el ha e xi ge nc ia d e d ig nid ad e d o p er -sonagem traqico, m as o s conternporaneos 0 julgam "conformea Natu-r eza" e , ne sta pe rspect iva , pe r fe i tamente legr t imo.

    O ua se u m s ec ul o m ai s t ar de . R ac he lla sc in a, p or qu e n ao r ep re -

    s en ta s eu s papels, e la o s vive, independentemente de qua lquer traot-C a o. N e st e s e nt id o, e lae s em d uv id a a p ri m ei raamz t r flg ica modema:

    N E st a m a ne ir a d e r ep re se nt ar c om 0 i m pr ev is to . q ue torna 0 estilom u it o r al o, t or na a o m e sm o t em p o a a Ca o v iv a e v er da de ir a . .0 gestoe a in fle xa o d a v oz s em pre ca sa m c om0 p ro p o' si to d o t ea tr o; o s a to -res Va G e vern, d ia lo g am e a ge m c om o se e stiv es se m e m ca sa . E staa ~a o e m u it o rnais n at ur al , t em u m a r m a is v er da de ir o d o q ue q ua nd ov em o s n os I ra nc es es ( na C om e di e- Fr an c; ai se ) q ua tr o o u c in co a to -r es e nf il ei ra do s, c om o n umbaixo-relevo, no proscenio, declamandosu a t a ta , caoaum n a su a vez" (Lettres d'ltalie, 1739-1740).

    4. A interpretacac tr cig ic a n os seculos XVIII e XIX. Estesd ai s s ec uo s s ao p ar ti cu la rm en le s ug es tiv os , n a m ed id a e m q uee en -t ao q u e s e a li rm a a u to pi a r ea li st a e , c on se q ue m er ne nt e, u m a p ro g re s-s iva indiv idual iz ac;aops icologizan te da repre sen tacac t r ag ica .

    D ep ois d e R ac in e e a nte s d e Volta ir e, e C re billo n(1674-1762)q ue d om in a a ce na tra gic a p ar isie nse n a p rim eir a m eta de d osecuoX VI II . S eu s uc es so p ro ve rn d a r ev al or iz ac ao d oterror, q ue r d iz er , e leu t il iz a e fei tos depateuco i m ed ia to s, v io le nt os , d e q u e0 m e lo dr am a s eservra,C om e le , o s i ng re di en te s d a i nt er pr et ac ao t ra gi ca s e t or na mm a is d o q u e n u nc a e xp to so es , f ur or es . m a lo ic ee s e o ul ro s p ar ox is m osd e t oe a e sp e ci el E o qu e 0 p ub lic o p ed e e a pre cia . O ue r d ize r, a p re -senca do ator, seu flsico. sua arte de d ec ta ma ca o, d a m rm ica e d oq es iu at , s e s ob re pO em a q ua lq ue r c on sl de ra ca o p ro pr ia m en te i nt er -p re ta ti va . O s e nr ed os m a is c on fu so s n ao d es en co ra ja m 0 p ub li co . eiS10se e lan a o p or qu e ete t en ha u m a e xc ep ci on al l ac ul da de d e c om -preensao, ma s ao c on tr a r io p or qu e e le I he p re st a t ao p ou caatencaolL a H arp e o bs er va va q ue a m aio ria d os e sp ecta do re s d o s eu te mp on ao o uvia a exposi9ao, e acrescentava: MOS q ue a ouvem lom am po r

    " E la a va n c; ou ,palida, c om o s eu p r6 pr io f an la sm a,os olhos averrne-Ihad os. na sua m ascara de marmora, os braces s ol to s e monos, 0c or po i ne rt e ( . .) . P ar ec eu -n os v er n ao M ll e. R ac he l. m a s s ima p rop r iaF ed ra . ( .. .) D ur an te d ua s h or as , e la r ep re se nt ou F ed ra , s em q ue a i lu -s ao c es sa ss e u m m i nu to " ( Th e op n il e G a ut ie r,La Presse, 3 d e j an ei rode 1843).

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    74 a arte do ator

    C ad a in te rp re ta r;a o s ua ~ re ce bid a c om o u m n ov o e ng aja me ntop es so al . Tot al me nt e s in ce ro . l og o, t ota lm e nle a ut ~n tic o, " na tu ra l" e ,p or is so , fa te r d eadesao a fe tiv a. A in flu ~ nc ia d a e st ~t ic a r om A nt ic a i hesugere urn " re ali sm o " n ov o n opalco t rA gi co , n o s en ti do d e q ue p an to -r nim a e d ec la ma yA o s Ao a go ra o rg an ic am en te n ec es sa rie s a u rn a in -terpretacao r eg id a p el a s in gu la ri da de d o p er so na ge m e d a s it ua ya o:

    r ' " ". '.. -"P _ "*:.

    " M ad e m oi se ll e R a ch e lrnorre t Ao r ea lm e nt e ( emFedra), q u e acred i ta r-se-ta ve r as s om bia s d a m orte to ma nd o0 se u ro sto q ua nd o a su a u l-tim a p aJ avra ex pira n o s eu U ltim o so pro, e q ua nd o, c om u rn a arte in -c o m pa ra v el , s u acabeca, seguindo 0 m o vim e nt o d osbraces entraque-cid os, c ai se m vid a so bre 0 o m br o i na nim a do " ( Au gu st e L lr eu x,LeConstitulionnel, 17 d e le ve re ir o d e1851). ' , ' -

    C om R ac he l, a p ro ble ma tic a d a in te rp re ta ya o fic a d efin id a e mte rm os q ue q ua se n ao m ud ara o a te o s no sso s d ia s. C om o .fa ze r, p ore xe mp lo , p ar a q ue e sta encarnacao,b as ea da n ur n e ng aj am e nt o p es -so al d o ln terp re te , n ao se d eterio re s ob0 a le it e d a r ep et iy ao , n oit ea p6 s n aite ? E p ara q ue 0 a to r re sis ta a o e sg ota me nto p ro vo ca do p orur n tal in ve stim en lo a fe tiv o e fis ic o, o u a o a tra tiv o d o p ro ce dim en to

    t~ cn ico q ue p ara e le ~ n ao ap en as u ma fa cm da de , m as u ma e co no -m ia ? Q ue stO es q ue n ao p ar ara m m ais d e s ere m le va nta da s e re so lv i-d as c om r es ul ta do s d iv er so s. P et er B ro ok , e m1968, dizia:

    "0 p ap el q ue fo i fa brie ad o p are ce s er0 r ne sr no a c ad a n oit e, e xc et op elo Ia to d e q ue e le se g as ta in se nsive lrn en te . M as0 p ap el q ue fo ire alm en te c ria do , p ara c on tin ua r p are cid o c on sig o m es mo , d ev e s err ec ria do s em c es sa r, 0 qu e 0 to rn a c ad a v ez d ile re nte . E c la ro q u e,co m 0 tempo, 0 e s lo rr ;o d e c ri ar ;a o c o ti di an a f ic a i ns u st en ta v el , e0 ar -t is ta c ri ad o r, p a ra p r os s eg u ir s u a e m p re it ad a ,e le va do a d es ce r a u mn (v e l i nt er io r d e s e urrWtierq ue s e c ha ma t~ cn ic a" (0 te at ro e s eu es -

    , p a r;o ).

    P o de - se p e rg u nt ar 0 q ue e xp lic a u ma ta o c on sta nta d es va lo ri-

    z ay ao d a e la bo ra c; :a o t~ cn ic a f re nt e : . e n ca rn ac ao v iv id a. A o q ue p ar e-ce , 0 f re sc or d es ta u lt im a o st en ta u m a a ut en ti ci da de , u m ." na tu ra l" q uec on qu is ta a a de sa o d o e sp ec ta do r. 0 p ro ce ss o d a e la bo ra ya o, a oc o m ra ri o, s e rn o st ra e n qu a nt otal. E le ~ c on he cid o, c at al og ad o, id en ti-f lc a ve l, A s si m , a c o m un ic a 9" ~ t ea tr al s e l or na p r ec a ri a, i nt er m it en te .0e sp ecta do r n ao es qu ece u m s 6 s eg un do .qu eeleasslste c om o es -p e ct ad o r a u m a r ep re s en ta c ao :

    o papel 7S

    "S e n os m ete mo s a ~ ea liz ar u rn le atr a d e p artic ip ay ~o , ~ p re cis o ta -z b- Io c om p le ta m en le . A q ui, o ssignos n ao b as ta m m ais : to ma -s e n e-cessario 0 e ng aj am e nt o f fs ic o d os a to re s; o ra , a ' a r te t ra di ci on al I he se ns in ou a im ita r e ste e ng aja me nto , n ao a v iv ~lo ; e c om o e ste s s ig no sestao g a st os , c o m pr o m et id o s c o m m i l e n tr et en im e n to s p lc 1 st ic o s an te -r io re s, n 6s n ao a cr ed ita mo s n ele s ( RO la nd B ar th es ,Essais criti.ques, p, 72).

    2. A interpreta~ao contemporanea

    1_ A no~ao de tipo. P o r r nu it o t em p o ,0 r6 tulo proliss ionaldo atorlo i d ete rm in ad o p ela n oy ao d otipo. 0 tip o d efin e 0 c on ju nlo d asca -r ac te rfs uc as tls ic as e v oc ais d e u rn a to r n a m ed id a e m q ue e la s s e e n -c am in h ar n p ar a u rn c er to g en er o d e p ap ~is , e s om e nt e p ar a e s le g ~n a-ro .

    E sta n oca o, b oie , e sta c ain do e m de su so , p or v aria s ra zo es:p rim e ir o, p or qu e e la p re ss up 6e u m t ea tr o t ip ol 6g ic o - t od o p ap el s ur gi -ria d e u rn tip o q ue0 e ng lo ba ria , e 0 b om a to r s er ia a qu ele q ue , t en co

    a s c ara cte rls nc as d o tipo a c eq u ad o , s a be ri a i nd iv id u al iz a r e s se p a pe lp or s eu ta le nto d e in te rp re te . O ra , u ma ta l c on ce pc ao ~ c ad a v ez m e-n os a pro pria da a os c am in ho s d o te atr o m ad em o: 0 U bu d e J ar ry u nr a-p as sa c laramen te 0 t ra di cio na l t ip o d e M re ig or do ". E o nd e s it ua r o s a r-q ue tip os d e G en et o u o s m en dig os b ec ke ttia no s? A c ate go ria . "p ap eld e c om p os ic ao " t ra nc ar ne nt e t al ve z 0 00 p as se d e u rn q ue br a- ga lh o[

    P or o ut ro l ad o, u m a t al t ip olo gi a e st a c alc ad a n o p re ss up os lo d eum a n ature za h um an a im uta ve l e s e ch oc a 'p orta nto co m to da s a sp esq uisa s q ue , n o s l!c ulo X X, visa ma i n d iv idu a l izay ao m~imadop er so na ge m , q ue r d iz er , a s u a h is to ri ci da d e. C o n se q ae n te rn e m e, a 'n ar ;a o d e lipo d eix a d e s er o pe ra nte . 0 q ue im po rta e a pe na s a a da -q ua ca o d o a to ra s e xig en cia s d o s eu p ap el e s ua c ap ac id ad e d e t ir arp a rt id o d e le d e m a n ei ra c ri at iv a .

    A p artir d ar v ai s e a firm ar a n 09 aO , e m s um a fe cu nd a, d econlratipo: a qu el e i nt ~r pr et e c on fs rir a a s eu p er so na ge m t an to m a is r el ev o es ab or q ua nt o n ao f ix ar , d e a nte rn ao , a s c ar ac te rf st ic as d o s eutipo Ir~-d ic io na l. J ou ve t o u Vila r q ue ,a p rim e ir a v is ta , n ao c oin cid ia m c om aim ag em q ue se co stu ma fa ze r d o se du to r d eM o l i ~ r e ,lo ra in p or &n ( es em d uv id a' p or c au sa d es sa d iv erg ~n cia ) g ra nd es D on J ua ns . E , n os

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    _;. " . . . .76 a arte do ator

    ull imos anos, Richard Fontana ou Gerard Depardieu, nao obstante seu!rsico de Mgala", encarnaram admiravels Tartufos!

    2_ Trabalho interior e c.ome05.ao formal. Depois de Stanis-lavski e lacil d is tinguir " trabalho interior" do ator e "construcao exteriordo personagem". 0 prtrneiro define a parte de irnagina9a~de analise,d e in venr ;ao cr jad Q[a . .. q ue su sten ta a lnterpretacao, A seg und a ca-

    racteriza 0 conunto de p~ na composi -formal e na legibilidade desta lruerpretacao. "

    - Distin9ao urn tantom- ~ente, 0 trabalho cotidiano doa tor se b aseia em uma interacao perman ente ent re 0 jogo das motiva-' ,;oes, a analise do papel e a cornposicao formal que confere ao perso-nagem os rnenores detalhes do seu fis ico(corpo, andar, rosto etc.). 0que quer dizer que [email protected] preparat6rio engloba ao mesma tempourna pesquisa sobre as caracterist icas formais do personagem e umaatividade da irnaqinacao com tudo 0 que possa alimenta-la - observa-coes, cultura, le~branc;:as pessoais, pequenos tatos cotidianos etr : : : ;

    Por tern~mento certos a~es ten~em ~ ~~i!t;!giar? trabalhoin ter io r, o u) .r0i a co sicao y mal. Daf. a op oJ! -c; :-ao ntolocica formu -lad a poyDiderg em seu ParadOxQ; comedisme, que talvez tenhainiciado um interminavel e falso debate: d_rut .e S9 j:lreferjr 0 a la r q ue en-carna, em detrimento do alor u -e-?~ custa dei~aginac ;: ao . e sens ib il id ade , d e mimetismo , se ide~tif ica co~ seuperson agem tan to q uan to se id ent if ica co ns ig o prop rio : send o mten-sarnente um outre, ele e , paradoxalmente, intensamente ele mesmo(exem los: Rachel, Mounet-Sully, Alain Cuny, Maria Casares etc.). 0

    e unoo: labrica" seu per sonagem, e dele rnantern distancia paramelhor controla-jo: Madeleine Renaud, Jean Vil.ar e tc. ~o ca-so: a interprelac;:ao se toma uma arte que se onqma nos es . emo-cionais e os utiliza. 0 ator corre 0 risco de se deixar atropelar par etes, {IPor isso mesmo, e irnprevisfvel e irregular: mil fatore,s .imponderaveis IIpodem contribuir para exaltar ou, ao contrArio , para inibir sua interpre- I 't acao d e u ma no ne para o ut ra , e a te mesmo ao Iong o d ap rop ria rep re - I (sentacao, Diderol escreveu: "[A Dumesnill sobe no palc~ sem sabero Ique v~i dizer; a metade do tempo ela nao sabe 0 que diz: mas nasce ; "um momenta subhme" (ParadOxo do comediante). Era, per exernplo, 0caso de Rachel, que trequenternente "decolava" com muita " torca" , se

    o papel 77

    esgotava lIsica e psicologicamente rnuno rApido, e terminava a pec;:a"com~ia.

    composicao) e , ao ccntrario , maduramente preparada peloator. Ela se f irma na in tel ig emcia e n o d omin io de si mesmo. Olempolodo, esse ator em cena sabe que ele nao e aquele que finge ser, pre-ve 0 que tera de fazer no momento seguinte . .. Daf uma representacaccom meno s in tensidad e mas co m mais sut ileza , Mais q ue 0 ator que

    encarna, 0 a tor q ue co rno oe tern 0 co rn da melamorfose e 0 t ipo detrabalho so bre si mesmo ao q ual eie se entrega garante umformidade edurabilidade a sua interpretacao.

    Mas sera prec iso co lo car em op osicao d ois arquetipos que ra-ramente se enco nt ra rn n o es tad o p uro? E sera 0 caso de preferir uma o o ut ro ? Como esco lh er Helen Weig el " co ntra" An na Mag nan i? Ecerto que a his t6ria do teatro permite de fato dis linguir estes dois t iposde atores, ou antes, estas duas tendsncias da arte dramatics. Masetas sao condieionadas por opcoes ideol6gicas ou e st eu ca s c as quaissao apenas u rn a co nseq usn cia , Evid enlemenle, Craig e Brech l. q uedesconfiam da alucinacao aletiva, preconizam uma ane da compost-cao rigorosamente controlada pelo intelecto e governada pela vontace.

    Ao conlrario , (mas trata-se realmenle do eOnlrario?) um Stanislavski,um Peter Brook renegam tudo 0 que cheira a tabricacao. Eles baseiamo surgimenlo do personagem score 0 eu profund o d o a to r. Na pranca,contuco, as co isas sao in fin il amen te mais co mplex as e matizadas.

    9-t~ n ao ex clu i a rep resentacao " co m emo cao" , S im-piesmente a ernocao nao sera 0 objet ivo da interpretacao, mas aocontrario um sintoma a se decifrar. Num outro sentido, os reauzaooresmais p reocup ado s co m a auten ti cidade, mai s incon fo rmados com alabricacao e a elaboracao cerebral, sempre afirmaram que conviccaoe smceridaoe de nada servem sem um Irabalho de formalizar, ;ao, quenenhuma interpretaceo e crfvel, ou apenas legivel, sem urria autodisci-p lin a d o ator e u ma ar te d a co rn po sicao de u ma g ran de p reci sao teen -

    ca.Desde Copeau e 0 Cartel, 0 t ea tro f rances se inclinou p ara a

    ane.oa composicao, Nao loi absolutamente por acaso, neste sentico ,que Stanislavski leve, na Franca, poucos oisctpulos. H avarias expli-cacoes para 0 fato:

    - A id eolog ia d a " clareza f rancesa" , fei ta d e h armo nia e equi ll -brio formais , herdada do classicismo. Ela foi revalortzada como reacao

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    l.

    78 a arte doator

    contra as correntes pos-rornantlcas, naturalistas, expressionistas. Asmitologias d a in sp iracao, d o gemio, su sc it am cada vez mais d escon -f ia n ca e ceticismo. A interpretacao deve ser um artesanato, uma ouri-vesaria.

    - Deste mov imento p ro ced e u ma rea~ao co nt ra a atetacao dosgrandes declamadores do corneco do seculc: mesmo quando osmonstros sagrados fascinam a nova gerac;:ao ,esta (Jouvet , por exem-plo) procura compreender 0 mecani sme de su a exibicao, decifrar-Iheas segredos I~cnicos. Vale dizer que a milologia que pr oduzia 0monstro saqrado eaquanto tal - a do arusta "gr ande sacerdote" quevaticina sob 0 eleito de na o se saba qual sopro d ivin o - d eixo u d e fun-

    , ,cronar.

    - 0 sen timen to de u m ator cuja ar te co ns ist e n um traba lh o decomposic;:aomet6dico, quase artesanal, serA, para 0 diretor, um ins-trumenlo mais regular, rnais rnaleavel,mais empenhado em se integrarnuma concepc;:ao de conjunto.

    . - Talvez, entim, 0 aspecto cerebral do trabaJho de direcao sealine meJhorcom aquele do ator que com poe do que com a atetividademen os con trolada d o ator q ue rep resenta " co m 0 in st in to e com a al-

    ma". E cu rio so no tar, a est e respe ito , q ue os di retores lend em a seratores de composicao: Jouvet, Vilar, Planchon, par exemplo.

    A expticacao dominante, entretanto, poderia ser outra: a lei fun-d amen tal qu e go vero a, nesta epo ca , (digamos, d e Co peau a Vilar ), adirec;:ao, e a d e um absoluto resp eito ao texto: "0 ator digno deste no-me nao se sobrep6e ao lex 10. Ele a serve. E serVJir;;enle" (Jean Vilar,De fa tradition tMatfaJe, p. 28). E claro que esta rigorosa submissao dointerprets ao texto supostamente rico de um sentido ao mesmo tempounico e secrete, solicita, de preterencia, um trabalho de cornoosicaocapaz de garantir que 0 a to r nao p are d e se co nt ro la r, e log o de cul ti-var este respeito ao texto .

    Ainda aqui, uma tal conceituacao nao deve ser pretexto para

    excessos:Eivilegiar a composic; :ao nao significade forma algum'!.. .1!-mi ta r o u reba ix ar a ar te d o ator a um co nju nto de rece it as.de l ruq ues .D e la to, a qu e se po deri a chamaree a metod olog ia d e Vi la r rev etava asua vontade de' superar uma oposicao esquematica; ela exig@Jlmaanalise aprofund~ do lexto: "Nunca se Ie uma obra a bastante. 0a tor n un ca a Ie 0 bastante ..." (oP..cit. p. 24). Ele preconizava a multipli-cacao cos Irabalhos de ensaio de mesa. Com isso, seu objetivo nao

    C Jpapel 79

    era impor uma elaboracao minuciosamente ~canizada do persona-gem, mas, ao contrario : evitar es~eimpasse~ do~~nio, pelo, interpra-te, da o bra n a sua to tahd ad e d evia the p ermi t r mo blh zar su a mvencaocriadora e leva-to a uma representacao autentica, porque sincera. E 0comportamento inverso que favorece todas as medioeridades: a milada esponlaneidade, urn trabalho precipitado sobre 0 texto, a obriga

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    r '

    80 U arte do cuor

    su oerav eis se so brep 6em, ao qu e p arece , as ev entua is v an tagen s delal tecnica, Na maioria das vezes, ao contrarlo , os direlores relorcarn 0quanlo e mais prod ut iv a u rn a retacao d e " pa te rn ali zacao" p ara comurn interprets emperrado em dificuldades deste t ipo, 0 quanto e maisimp or tante saber eseuta- lo , a iu da-lo a se en con trar, mais d o q ue theimpor ordens de cornando,

    \ Jgg_o is so mostra que a arte do ator, independenlemente da es-

    : cola $ .. .q ue~ert en c;a, n ao p ed e se ca lcar exc lu sivamen te nu ma teo-._da rigorosa. A abOrdagem stanislavskiana, por exemplo, e , afinal de

    contas, uma especie de ernpirisrno sistematico, cujo objetivo e a efica-cia, a adequacao as finalidades a que nos pr opornos ( dar vida a umpersonagem animado pelo "eu interior" do interprets). Vilar insis tia emalirrna-lo, e no entanto ninguem era menos cst ico que ele: wNaoexistetecnica da interpretacao, mas praticas, tecoices, Tudo e experienciapessoal. Tudo e empirismo pessoal" (De /a tradition thea/rale, p. 33).

    o r isso 0 trab alho em cirna d o p ap el exig e uma relacao esp ecf 'l icaentre 0 d iretor e seu int srprete. Uma relacao q ue , em cad a caso, ca re -ce de ser reinven r!

    E certa_m~servar este quinhao do sonhoLeste tr~-Iho neces sa rio d o inco nsc iente, q ue o s di re to res mais vo tt ad os p arau rn a ar te d a como osicao evi tam o rientar a con strucao formal do per-sonagem atraves de uma concepcao excessivamente preestabeleci-d a} Po is u m mo delo in te lectu al repres so r s6 te rmina po r su lo car epa-ralisar a inventividade do atcSJouvet dizia, com r ude Iranqueza:"Ouern se prende a uma concepcao e urn imbecil , nao pode repre-senta r u m p erso nagem." 0 interprete n ao d eve p arar d e se tornar e d eser este personacern no desenr olar da acao, de cada cena, de cadamo vimento da cena. A co ncepcao nao p ed e ser senao um result ad o.Aquilo que marca a coerencia da lnterpretacao.

    Para a le rn da d iv ersidad e d as o pco es te6r icas qu e reg em toea apratica teatral d igna deste nome, hapois , reconhecidamente. no centro

    ca e labo racao d o p ap el , u m espaco d e jogo no duplo sentido do termo:uma parte 'de atividade propriamente tuaics,once fantasia e irnaqina-C;aopodem e devem ter l ivre transite; uma parte de dis tanciamenlo, dedis ton;ao imprevisjvel. Dimensao subterranea da arte do ator, cornpo-n ente o bscu re , d iHcil d e de timi tar e t raduz ir verb almenle, mas sem aqual urn personagem jarnais adquire totalmente vida sob 0 olhar d o es-pectador.

    iI

    J. . .

    o pupcl 1 : 1 1

    4. Ser e durar. 0 problema se com plica na medida em que 0 atordeve nao apenas, a partir de seu papel, cr iar um. p ersonagem, masainda o impor, inscreve-lo numa ~~mporalidade. A questao da relacaod o interprete co m a o uracao d a rep resen tac;ao e co m a d e su as p ro -prias intervsncoes e ,em todos os aspectos, cruCial ./

    Cer to s tex to s ex ig em d o alo r q ue seu p erso na g em esteja in s-tsntsneementepresente. E 0 caso do esquete, da panlomima, dessespapeis secundanos, mas fortemente caracterizados, que aparecemp elo tempo d e u ma cena e p ara o s qu ais S tan isl av sk i n ao h es it ava eminventar biografias imaqinarias muito detalhadas,2 nas quais 0 trabalhod e interpretacao p od er ia enco nt ra r ralzes . Um Oario Fo q ue . e , sozi-nno, sem figurino nem acessorio , uma rnult idao de personagens, tra-balha literalmente contra a tempo : u m g es to, de salda, deve impor u mafigura; 0 gesto seguinte deve apaqa-Ia e substllul-ta por uma outra,

    Oi to is la , a p ra tica co rn urn dO ator exige q ue e le in sc reva seutrabalho em um quadro temporal diferente. Para criar e para impor seupersonagem, ele dis poe do tempo da repre~o, duas a tres ho-ras , e nao de apenas alguns minutos. Vantagem ambrgua! Em primeirolugar, 0 p erson ag em tem a mesma n ecessidade d e se impor d esd e a

    sua entrada em cena. Ele deve rapidamente estar la. presente fis ica-mente. q ua isq uer q ue se jam as trans tormaco es q ue su a imag em so-

    trera ~steriormente no decorrer da acao,o problema se coloca igualmente em sentido inverso: nao basta

    moor d e sa lda a p resen ca d e u m p erso nagem. E precise tarnbern faze-ta durar, ou seja, fazer esse personagem exist ir do princlpio ao fimda representacao. Sem desconlinuidades ... Esia "persistencia" do per-sonagem entra em choque, geralmente, com obstacuos de diterentesn aturezas: cansaco d o alar, como se v iu com Rach el, lacu nas in tr fn -

    secas da peca, erros de direcao etc.Assim, a tempo ral id ad e merente ao jog o tea tral p arece ter u ma

    d upla n atureza. Po ls u m p erso nag em p ara se impo r n a co nt in uid ad e

    de uma ouracao deve ao mesmo tempo estar presente no instante ey , ....__

    2 Ct. por exemplo, suas anotacces de dire~ao de O l e t o. Entre 05 papersdo repsno-rio que ievamam esta tipo de problema, podemos citar, entre mil outros, a Poneirode Macbelh, M. Dimanche ern Don Juan, AntOnio em As bodas de Figaro.

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    82 a arte do a tor

    na sucessao de seus instantes cenicos. Criacao, em suma, semprereiniciada e sempre em perig2:.....--

    Como dissemos, 0 teatro ocidentaJ funciona normalmente "coma identificac;ao". Dar a necessidade de continuidade. A falta de sus-t entacao , n este Ambi to ., q ueb ra a adesao d o esp ec tador e imp ed equalquer identificac;?~

    Em se trat an do do teatro b recht ian o, a p ro olerna tica se t rans-

    lonna, mas n13.Oesaparece. Brecht, sabe-se, recusa a identilicac;ao,Consequentementa, a d escon tin uidade p rop osit al s e toma um eteitoposltivo no sentido de que 0 ator r eapareee por tr as do persona-gem (e 0 caso, por exemplo, dos famosos songs, que pontuam e co-rnentam a representacao), Se queremos defin ir a temporalidade da re-presentacao brechtiana, diremos que se trata de uma deseontinuidadeorganizada. ,Ainda que esta tragmentac;a.o nao poupe 0 ator de tazer 'exist ir seu personapern, de mastrar suas transtorrnacoes e contradi-coes atraves de uma sucessao d~ epis6dios aut6nomos.

    Um cos fatores da presence do personagem e tarnoern urn dosproblemas mais esplnhosos enlrentados pela arte da interpretacao.Trata-se da inscricao desse personagem no contexte ao mesma tem-

    po especia l e so cial . Essa p resence tern a ver, de tato, co m 0 que seuco rpo , seus gestos su gerem, po r su a sin gu la ridade : uma b io graf ia ,uma insercao social, urn habitus na linguagern da sociologia, urn ges-Ius nade Brecht, Com efeito. Ar1equim nao se move como Julio Cesar!o modo de andar, de se sentar, d e olhar para 0 seu eompanheiroetc..., e significativo de urna relacao social; tal gesto tera um poder derevetacao quanto a posicao s6cio-polltica do personagem.

    l sso no s leva a questao do contato, que assume, na interpreta-cao, uma importancia consideravel.

    Earaum ator, sab er escu tar e lao impo rtan te qu an to saber fa-

    e ouvir. A aruculacao destas dua~ mod~lidai:les da representacaorte inlegrante da arte drarnauca, independentemente da escola a

    que ela pertenca, Com efeito, se urn ator se revela incapaz de escutar,ou seja, de manter a co nt inu id ad e de presenca d e seu p erso nag em,~ inevitavel' que esta incapacidade cornprornetera ailusao dramatlca,mesmo quando ele retomar a palavra, Eis por que 0 ator deve procurar

    . pennanentemente 0 cantata com seus ccmp anh ei ros , d e mo do a rea-~caz (conforme 0 queexlqe 0 papel) e significante (deci-

    !ravel pelo espectador), a tudo 0 qu e se d iz e se taz em su a presenca.

    o papel 83

    / ' Co m isso, e le a ju da, ao mesmo temp o, a in terprelac;ao d os seu s cole-gas. Pois os fatos e gestos que animam urn espaco social determina-do criam, em resposta, fatos e gestos que sao, por sua vez, estrnolos.

    . . . f guestao do contato n ao se coloca ex atamente n os mesmo sterrnos dependendo se 0 ator e apenas um elemento do grupo cenico,ou se ele deve chamar para si a atencao do publico. Problema delica-do de dosagem, que devera ser resolvido pelo diretor; um ligurante

    nao deve estabeleeer contato "cernais" , na medida emque sua repre-s em a ca o n ao deve desviar a atsncao do essencial.

    A consciencia oa importancia desta questao no exito de urna re-presentaeao nao e uma caracterist ica exclusiva das pesquisas e caspraucas mais recentes. Certos testemunhos mostram claramente Que . ,mesma se 0 t ermo n ao era u til izado, a Iuncao do contato loi, desdemuito tempo, apreendida. "Tenho reparado t req ue r ue rn ent e" , o b se rv a 0autor de Entretiens galans, " qu e Armande Bejar t e La Grange revelam

    rnuita i nt eligenc ia n o seu mod o de fala r e q ue su a representacao aindacontinua mesma quando seu papel se eoncluiu. Eles nunca sao inuteissabre 0 palco. Repr esentam quase tao bem quando ouvem comoquando lalam. Seus olhares nao lieam perdidos. Seus olhos na o per-correm OS carnarotes." E 0 exilo des comediantes italianos na repre-sentacao alf'improvviso t in ha av er co m a preo cup acao d ecad a u md emanter 0 contsto co m seu companh eiro d e mo do a sustentar eticaz-mente suas lntervencoes.

    o problema e particularmente delicado quando se trata das dra-maturgias classicas ou rornanticas baseadasnas lalas lopgas; pense-mos, por exernplo, nas grandes cenas de debate poJfi i~o-jurrdico emCorneilie. Cabe tarnbern ao '~etor oosar essas intEirac;Oesque defi-nem 0 comsto, sustentarn a efi~cia drarnatca ?,iumentam a presen-ca de cada personagem. . \ ~ ,

    Voltemos para a cena da udec;zarac;ao" de fedra (II, 5) na ence-nac;ao de Jean-Louis BarraulL A segll(lda grande lala da he' rorna("Ah! .cruel . voce bern me entendeu . ..") su~cta, na caoeca do dir.etor,umaenxurraoa de indicacoes retanvas a , c {comportarnento, a s rsacoes doparceiro de Fedra, 0 qu al p or en quanto se rnante rn mud o. Em su ma,o cantato aqu i n ao fica ex cJu siv ~ent~ p or co nta d a in sp irac;ao do i~- :terprete., .

    Hip6lito; na trajet6ria'deste 'eu arno', vai se posicionar no proprio lugaro nce Aricia se refugiara aind a h a p ou eo : pr imeiro p lano esqu erdo ;.

    ,- r - .. " _ .- ,_ _ -~ ..- - . _....

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    So l a a rte doazor

    neste canto escu ro e q uente o nd e ele podera esconder seu desgosto.Ele lembra u m Sao Sebastiao q ue Fedra va i a travessa r com su as Ile-chas." (indicacao 38)

    " Hip 6lito, d e olho s fechados, mascara crispada de d esgo sto,p almas das rnao s p ostas at ras d e s i, con tra 0 rnuro, desviou seu res-to". (indicar;:ao 42)

    "Corn um mo vimen to d o pescoco, brutal e seco, Hip6lito vira acabeca para 0 alto, em direcao ao fundo." (indicac;:ao 43 )

    M A piedade que ela desperta e quase lntoleravet , Momento maispenoso, durante 0 qual Hip61ito, aterrorizado, se estira como se qui-sesse lugir de Fedra verticalmente." (indicar;:ao 44) (Mise e ns c ene dePneare, p. 121).

    Stan islavsk i t en tou formu la r u ma teo ria do comsto. Sua ideiarnestra e que ~ cantata s6.pode ser plenamente atingido e mantido seo ator tem em vista simultanearnente varies objet ivos: atraves do per-sonagem, ele deve procurar estabelecer um contato consigo mesmoe a rnobitizacao do "eu interior". 0 contato' lreto" c ec or

    implica uma relacao especffica com 0 esp aco e os ob jetos cenico s . .En fim, u ma te rce ira zo na de acao e defin id a pe lo s panes de fun do cir-cu nstan ciai s - p as sado d o p erson agem, arnb len tacao p ol rt ica etc. -q ue al imen tam a mem6ria afet iva comum ao p erso nagem e ao seu in-terprete.

    S_ 0 papel no cinema. A interpretacao do papel, no cinema,parte de dados substancialmsnte diferentes. Primeiro,~J;.mporalidade~scapa ao ator, ja que as condi90es mate~iais da filmag~ma fracio nam d e mane ira ar ti fici al . S6 0 di re to r, d ep ois d o t raba lh o d eedi"r;:ao , tern condicoes de resti tur-Ia, ou antes , de constitur-Ia. Nesteaspecto, 0 ator e~ado a construir e a impor sua interpretacao

    no pr6prio instante da tomada. E, ainda por cima, deve ser capaz dereconstitul-la Marisca" se, por acaso, os irnprevis tos da filmagem obri-gam a vottar a um mesmo mome to _ d a ac;:aocom alguns dias ou al-gumas semanas de in ervalo. ntre 0 momento em que urn persona-gem abr e uma porta para sair de casa e 0 momento em que 0 vemosd o lado de fora, p odem ocorrer, n o temp o rea l d a f ilmagem, at raso sdeste tipo! A contraparuda a este aurnento de dificuldade e que 0 t ra - .

    . batho do interprete se eletua em condicoes de "seguranc;:a".bern supe-r iores as do teatra: 0 diretor do filme pooe fazer e relazer a tomada d e

    o papel H5

    u ma mesma cena , e a te d e urn rnesmo fragmento d ecen a, a te o bter 0resultado desejado. No cinema, as falhas eventuais de uma interpreta-r;:ao sao, decididarnente, atribufveis muito mais as lacunas da dire9aodo que ao ator.

    Em segundo lugar, a p erda de po der, q ue jf! eniocamos, reper-cute na interpretacao: 0 em nasce de eque 0 diretor, e ate mesmo toea a equipe d e f ilmagem, tem u m p od erde decisao que concorre com 0 do ator. Isto explica a vulnerClbilidaded e certos a to res d e Cin ema, q uando ent regues a so l[d ao in eil lve l do--- . . . . . : : : . ._--ator de teatro, e as defasagen.ssurpreendentes que se pode observarentre os exitos da tela e os fracassos do palco com 0 mesmo inter-

    pr~. Enfim, arable atc deve ser definida assim: a in-

    tervencao" 0 diretor 0 co nt rola em tod os o s eslagio s d a p rccu cao d ofilme: ensaios, filmagens, ecrcao etc. Alem disso, 0 poder amplificadord a imagem Ihe prop orcio na gran des fac il id ad es n o sen tid o d e qu e asrelacoes microsc6picas que, na realidade, 0 definem devem ser ple-namente exploradas na tela: ;090 de olhares, de maos, abracos de

    corpo s, h esit aco es etc. E a so ma d os en sa io s e d as tomadas suces-s ivas permile, neste aspecto , alcancar uma precisao expressiva qua-se perfeita.

    Assim, 0 ator de cinema, ajudado pelo diretor e par toda a equipe dofilme pode, como 0 escritor, 0 pintor ouo compositor, acrescentar asua ruerpretacao u m toqu e f in al . 0 q ue e impo ss lve l para 0 a to r d eteatrol

    o t raba lh o em cima do papel se assemelha ao o a tapecar ia d ePenelope. Uma interpr etacao nao para de se desfazer, nao para deser reto rn aoa , Ela n ao esta n unca - 0 q ue sem du vida e b om - d ef ini -t ivamente " fixada" . Su a Iragilidad e correspo nde a tod os o s u po s d e

    fatores por vezes irnponderaveis: 0 t empo d os en sa io s raramente esuficiente (nao e, economicamente, un) momento rentavet; a tendencia .e, entao, restringi-lo ao rninirno possfveil, A insoiracao pessoal podesub it amente falh ar - po r cansaco f lsi co o u p sq uico , p er l al la d e con -tato co m a sala o u 0 palco etc.

    Uma tal vu lnerabi lidade torna a art e do a tor sempre mais o u me-no s aleat6r ia . Naoapen as nenhu rn a apresen tacao tem de ante rn aou~xito garanti .do' .' ,mesmo se a anterior a tev~~ como tambern, de um

  • 8/6/2019 A Arte Do Ator - o Papel

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    S6 a arte de ator

    ato para outre, de uma cena para outra, mil lalhas arneacarn 0 ator,Mas talvez seja precisamente este dado de imprevisibilidade queconlere a arte do teatro seu sabor particular. Diantedo publico, nadapod~emedi~vel. 0 ator trabalhasem rede de s e -guranc;:a. do teatro, c omo sua m ia ~ s ua' uranc;:a.Seesta noite urn interprete pa ICU armeme inspirado ultrapassa seuspr6prios lirnites, este e sempre um instante miraculoso, unico, que,

    \rovavelmente,nunca rnais vonara ...