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A ARTETERAPIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO COM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS 5 Faculdade das Américas [email protected] Mônica da Silva Pereira

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64 REVISTA INTERAÇÃO | São Paulo • v. 1 • edição 15 • ano 2015 • ISSN (1981-2183)

A ARTETERAPIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO COM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS

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Faculdade das Amé[email protected]

Mônica da Silva Pereira

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ISSN (1981-2183) • ano 2015 • edição 15 • v. 1 • São Paulo | REVISTA INTERAÇÃO 65

RESUMO

O presente artigo vem discorrer sobre a Arteterapia como processo terapêutico com crianças hospitalizadas, tendo como objetivo compreender a forma como o paciente se expressa. Ao descobrir-se doente, a criança se isola internamente, impossibilitando que haja bons resultados em seu tratamento médico. Nesse meio tempo, o arteterapeuta observará e identificará como a criança demonstrará suas angústias e emoções, buscando integrá-la ao seu novo ambiente, de forma que seja humanizado e confortável, priorizando seu bem-estar, sua relação familiar e sua relação com a equipe multidisciplinar. Alguns autores levantam a importância de se compreender a forma como as crianças manifestam um comportamento típico do seu estado, como raiva, apatia, fobias, entre outros sentimentos que possam alterar sua conduta diante das limitações impostas pelo ambiente hospitalar. Em suma, existe uma resistência por parte da criança ao tratamento, levando-a a nutrir ressentimentos pela falta da presença familiar e o convívio em seu meio social. É necessário que o arteterapeuta respeite o momento de doença da criança sem forçá-lo, e conheça sua história, sua motivação e seus sentimentos, para assim desenvolver recursos conforme sua necessidade e situação.A verificação de determinadas atividades pelo terapeuta permitirá que o mesmo entre em contato com a realidade do paciente e passe a estimulá-lo para que não se desmotive em relação ao seu tratamento, recebendo o apoio de todos ao seu redor. Por fim, o artigo ressaltará o papel da arteterapia como processo terapêutico com crianças hospitalizadas, favorecendo a expansão estrutural da sua personalidade e amadurecendo o resgate do SER criativo.

Palavras-chave: Arteterapia, ambiente hospitalar, criança hospitalizada, processo terapêutico.

A arteterapia no processo terapêutico com crianças hospitalizadasMônica da Silva Pereira

(64 - 78) páginas

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A arteterapia no processo terapêutico com crianças hospitalizadas Mônica da Silva Pereira

ABSTRACT

The above article comes to talk about art therapy as a therapeutic process with hospitalized children, aiming to understand how the patient expresses. To discover themselves ill, the child is isolated internally, making it impossible for there good results in their medical treatment. Meanwhile, the art therapist will observe and identify how the child will demonstrate their anxieties and emotions, seeking to integrate it into their new environment, so that is humane and comfortable prioritizing your well being, your family relationship and their relationship with the multidisciplinary team. Some authors raise the importance of understanding how children manifest a typical behavior of their status as anger, apathy, phobias and other feelings that can change your approach considering the limitations imposed by the hospital environment. In short, there is a resistance from the child to the treatment, leading him to nourish resentment for the lack of family presence and interaction in their social environment. It is necessary that the art therapist respects the moment of child’s illness without forcing him, but knowing their history, their motivation and their feelings and develop resources as well as your need and situation. The verification of certain activities by the therapist will allow the same contact with the reality of the patient and encourage him to pass so that it does not desmotive regarding their treatment, receiving the support of everyone around her. Finally, the article will highlight the role of art therapy as a therapeutic process with children hospitalized favoring structural expansion and maturing of his personality ransom of being creative.

Keywords: Art therapy, hospital environment, hospitalized child, therapeutic process.

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A arteterapia no processo terapêutico com crianças hospitalizadas Mônica da Silva Pereira

INTRODUÇÃO

Atualmente, busca-se a conexão com o chamado eu interior, a busca por si mesmo, um caminho natural e espontâneo, a busca pela essência.

O ser humano luta todos os dias para lidar com situações que acabam por gerar sentimentos que são nocivos ao seu bem-estar. Sentimentos fazem parte do repertório do homem, e existem meios de se expressar, um deles é através da arteterapia.

A arteterapia vem como um auxílio no alívio ou cura do indivíduo; e nos dias atuais tem ajudado pessoas a livrar-se de traumas, fobias, medos e raivas, entre outros. E como processo terapêutico, tem feito parte do ambiente hospitalar, atuando principalmente com crianças hospitalizadas, que, devido a uma doença mais grave, tomou o hospital por lar, ficando longe da família, amigos, escola e da sociedade.

A partir disso, surgem os conflitos internos da criança, alimentando sentimentos e assim impedindo uma recuperação plena.

Há, ainda, que se levar em conta que a criança e o adolescente, nessa fase, se encontram em pleno período de aprendizagem, que estão ávidos por novidades, essas operadas pela observação, experiência e comunicação – elementos constitutivos da aprendizagem em condições permanentes. E o isolamento da escola vem justamente se tornar a própria ruptura deste vital processo. (MATOS; MUGIATTI 2014, p.28)

Para a criança não é fácil passar por diversos tratamentos em idade precoce, o que a leva a não corresponder adequadamente ao tratamento, e é neste momento delicado que cabe ao arteterapeuta atuar e decifrar algumas manifestações que o paciente transmite, tendo um olhar humano, investigador, buscando oferecer assistência ao aluno e à sua família.

O arteterapeuta é um agente transformador que certamente atuará na ampla reestruturação psicoafetiva da criança para uma adaptação ao espaço hospitalar, onde irá preparar diversas atividades lúdicas e recreativas, com muitas possibilidades de diversos recursos e materiais, levando-a a criar suas

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pinturas, desenhos, dramatizar, a fim de liberar um fluxo criativo e assim iniciar seu processo terapêutico. Porém, diante disso, poderão ocorrer casos em que a criança se afaste, se exclua do ambiente em que está inserida.

De acordo com Olivier (2011, p.36),

Esse é um processo que costuma ser demorado porque requer muita prática por parte do terapeuta e muita dedicação por parte do paciente. Não basta entender regras e conceitos, é preciso ter muita sensibilidade e experiência para reconhecer um rabisco perdido em um desenho ou um traço, um borrão em uma pintura, porém mais sensibilidade e experiência ainda exigida do terapeuta que se dispõe a analisar processos psicodramáticos ou expressivo-corporais e vocais, pois os sinais são muito sutis e rápidos.

Cabe também a presença de uma equipe multidisciplinar que esteja ao lado do arteterapeuta, para abordar estratégias que mudem a rotina da criança para que, juntos, possam transformar um ambiente frio e inóspito, em um lugar que a acolha, seja cativante e aconchegante e a ajude em sua recuperação.

A criança tem sua forma simbólica de demonstrar seus sentimentos e trata de usá-la para expressar ao seu interlocutor o que realmente lhe acontece interiormente.

Segundo Piaget (1973) apud Gamez, Ramal (2013, p.12)

[...] a ação humana é desequilibrada pelas transformações que aparecem no mundo, exterior ou interior, e cada nova conduta vai funcionar não só para estabelecer o equilíbrio como também para tender a um equilíbrio mais estável que o do estágio anterior a essa perturbação.

Necessariamente, a criança neste estágio deseja se expressar de alguma forma. É essencial que o arteterapeuta fique atento a essas manifestações, realizando uma mediação que consista em desbloquear sentimentos que levem o paciente a uma apatia. É fundamental estimular na criança um processo de autonomia criativa para que haja um equilíbrio emocional, sanando eventuais desequilíbrios afetivos que o ambiente hospitalar possa causar.

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Recursos como pinturas, colagem, contação de história, escrita criativa, máscaras, mosaicos, modelagem, bordado, tecelagem e fotografias, são formas de explorar as manifestações, surgindo a necessidade de conhecer melhor a criança e sua história para poder identificar suas diferentes forma de expressão e enxergar nessas atividades uma fragilidade e dificuldade em lidar com a doença.

A arte, nessa concepção, propicia um espaço em que se pode produzir com liberdade, isto é, livre de condicionamentos e preconceitos, não limitando a criação apenas a resultados estéticos, formais e nem a padrões culturais ou morais. Mesmo o que pode ser considerado estranho, feio ou desproporcional, deve ser acolhido no processo, porque acima de tudo, deve ser aceito como um objeto estético. Consideramos que é na vivência desta experiência, nesse sentimento de pertencer e reconhecimento, que o homem satisfaz a necessidade de expressão e afirmação, que na maioria das vezes, não consegue satisfazer nas outras relações com o mundo. (NAGEM, 2011)

É preciso que haja uma compreensão no decorrer do processo terapêutico por parte do arteterapeuta, pois é necessário que a criança saia do seu estado egocêntrico e possa valer-se de sua criatividade, trazendo à tona a capacidade de criar, organizar suas ideias, nomear suas atividades, liberando suas emoções mais enraizadas em si, estando hábil para enfrentar diversas situações surgidas no seu processo cura.

No processo terapêutico de crianças hospitalizadas, a arteterapia terá o enfoque essencial no ato de desbloqueio emocional no contexto hospitalar e, através da revisão literária, o presente artigo irá abordar os recursos terapêuticos com a criança para que haja um alívio no seu atual momento de enfermidade e que será usado como indicador para expressões psicoafetivas.

Dentro da arteterapia é possível a criança promover sua criatividade e, desta forma, facilitar que alcance sua singularidade como pessoa e assim atuar no seu tratamento. Deste modo a arteterapia vem integrar arte e saúde para que se tenha uma contribuição na condução ao autoconhecimento, permitindo, assim, que a criança possa trilhar seu caminho em busca de si próprio, compreender seu estado de enfermidade e, sobretudo, recuperar sua autoestima, resgatando a própria criatividade para assim superar e reinventar sua própria vida.

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A arteterapia no processo terapêutico com crianças hospitalizadas Mônica da Silva Pereira

Desta forma, o artigo poderá contribuir para um novo olhar sobre a arteterapia, solicitando do terapeuta uma visão ampla e profissional, e que utilize suas habilidades para refletir sobre sua ação, oferecendo uma atuação que atenda às necessidades e particularidades de cada criança no contexto hospitalar.

O artigo teve origem em uma pesquisa bibliográfica de títulos sobre a área de arteterapia e alguns conceitos dentro da pedagogia. Baseando-se na diversidade encontrada na literatura, o levantamento deu-se a partir da necessidade de entender a maneira como a arteterapia atua no processo terapêutico de crianças hospitalizadas durante seu período de internação.

Foram selecionadas obras relacionadas à pesquisa, a fim de se buscar uma ampliação sobre o tema tratado, sendo a grande maioria livros de acervo pessoal e outros com empréstimos da biblioteca da Faculdade das Américas.

Dentre vários artigos, foram selecionados apenas três: A importância da psicomotricidade na arteterapia em um hospital oncológico, artigo científico publicado pela aluna de pós-graduação em Psicomotricidade da UNIFAI Eliane Latterza; Arteterapia na classe hospitalar, monografia publicada por Victor Vita de Morais da Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção de grau de Especialista em Arteterapia em Educação e Saúde; As práticas educativas vivenciadas pelo pedagogo nos hospitais: possibilidades e desafios, artigo escrito por Vera Lucia Lins Sant’Anna, Elenice Moraes de Souza e Lucimary Gonçalves da Cruz para a revista Pedagogia em Ação.

Foram eliminados os que não se relacionavam com a proposta da pesquisa, verificando atentamente as informações úteis para o trabalho, sendo necessária uma leitura mais detida dos conteúdos para analisar pontos que sejam úteis ao artigo.

Afinal, o que é Arteterapia ?

É uma expressão que permite ao indivíduo a sua reabilitação emocional, através da arte.

De acordo com Olivier (2011, p.35) a arteterapia é:

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A arteterapia no processo terapêutico com crianças hospitalizadas Mônica da Silva Pereira

Uma ciência fundamentada em medicina e artes em geral, que estuda e pratica os meios adequados para aliviar ou curar indivíduos por meio da expressão da arte, trazendo à tona uma ideia, trauma, tristeza etc; em uma catarse psicanalítica. É a arte pela arte que analisa principalmente o processo criativo e não a obra em si.

A arteterapia busca analisar o que o paciente procura demonstrar através da arte e utiliza diversos recursos como pinturas, colagens e expressões corporais como exemplos, a fim de se observar o processo criativo.

Esta ciência visa a analisar o que o paciente cria e qual será seu comportamento ao longo do processo terapêutico, investigando quais distúrbios ou traumas atrapalham sua vida, e assim a arteterapia vem auxiliar para que haja um bom tratamento e desta forma liberar sentimentos como raiva, traumas, medos entre outros.

É fundamental que o arteterapeuta tenha uma boa formação e acima de tudo paciência, pois, dependendo do paciente, pode haver uma recusa em realizar as atividades ou se tornar muito longo o processo de fluxo criativo. Diante disto, o terapeuta deve estar sempre se atualizando, buscando adquirir novos conhecimentos e conhecer áreas como psicologia e artes, que serão fundamentais para a realização de uma sessão terapêutica, porém isto não impede que o arteterapeuta tenha formação em várias áreas, e o mais importante é que o terapeuta tenha uma sensibilidade, e trate seu paciente com humanização.

No Brasil, Nise da Silveira foi uma das precursoras da arteterapia, introduzindo a Psicologia Junguiana e recusando-se a usar métodos abrasivos como forma de cura em pacientes com transtornos mentais. Em 1956 criou a Casa das Palmeiras, onde seus pacientes eram tratados com atividades de forma livre em um ambiente de respeito e, acima de tudo, acolhimento.

A Psicologia Junguiana ou a chamada Psicologia Analítica foi criada por Carl Gustav Jung, médico de formação e doutoramento, nascido na Suíça em 1875. Para Jung, os desenhos dos pacientes iam muito além do consciente e do inconsciente pessoal, as memórias de seus pacientes (figuras, símbolos e arquétipos) ficavam armazenadas na zona psíquica.

Assim, Jung comprovou a teoria do Inconsciente Coletivo, uma espécie de

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memória de conjunto que poderia ser acionada em sonhos ou desenhos, mesmo que, individualmente, o paciente não tivesse conhecimento de seu conteúdo. Pode-se resumir o inconsciente coletivo como uma zona mental interpsíquica e intrapsíquica, repleta de imagens representativas de fator comuns a toda humanidade. (OLIVIER, 2011).

Desta forma, pode-se entender que o inconsciente é criativo e guarda emoções fortes que não conseguem ter acesso à consciência e precisam ser liberados e nisso entra a arte com sua essência mais saudável.

Descobrir o inconsciente nos torna pessoas ricas, descobrir que temos um banco de dados com conteúdos belíssimos, conteúdos estes de nosso passado que, somados com ideias presentes, formarão pensamentos inteiramente novos e criativos. (BITTENCOURT, 2011)

A criança hospitalizada

A hospitalização pode ocorrer quando menos se espera, em qualquer estágio da vida (infantil, adulta e idosa) fazendo com que a rotina mude totalmente, ocasionando em uma internação de curta, média ou longa duração

A doença, como processo biológico, sempre existiu, representando a instabilidade entre as várias relações do todo do indivíduo com o ambiente externo, este em permanente mudança. (MATOS; MUGIATTI, 2014)

No caso das crianças que estão em idade escolar, a doença surge inesperadamente, impossibilitando sua convivência social e familiar e, por vezes necessitarão de períodos longos de hospitalização, o que torna esta fase dolorosa e estressante.

O afastamento da sua rotina habitual provocado pela doença traz em sua nova rotina uma mescla de sentimentos, e é neste momento que a criança se recolhe, provocando em si alterações de humor e o aparecimento de distúrbios emocionais e psíquicos.

Conforme a idade da criança, a mesma passa a se tornar individualista, fechando-se em um casulo próprio, dificultando a aproximação da equipe médica, causando um entrave em seu tratamento, fazendo com que ela entre num clima de expectativa e medo, despertando em si a sensação de desamparo,

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ansiedades, inquietudes, choro frequente, apatia e insegurança.

Outro ponto a considerar é a presença dos familiares no processo de adaptação do paciente ao ambiente hospitalar, devendo ser orientados sobre seu fundamental papel no cuidado do paciente durante seu período de internação, sendo valiosa a sua participação no decorrer do tratamento, criando pontes entre a criança e a equipe multidisciplinar, tendo assim um sucesso no tratamento.

De acordo com Matos e Mugiatti (2014, p.63)

Em se tratando da família então presente, transparece a necessidade de lhe conferir a devida importância e incentivo, pois da sua participação depende em parte considerável, o êxito do tratamento no seu todo.A experiência tem sido pródiga em mostrar quão férteis são os investimentos a ela direcionados, enquanto elemento contributivo e indispensável ao trabalho multi/inter/transdisciplinar. Considerando, portanto, esse valioso elenco participante, vê-se como da mais extrema importância à atuação convicta de todos, quanto ás suas respectivas atribuições, pela necessidade de preservação da real qualidade de suas tarefas.

É essencial que a equipe multidisciplinar crie um diálogo com a família e juntos possam unir-se no processo terapêutico da criança, podendo encontrar um caminho de descobertas e colocando-se de maneira ativa durante o tratamento hospitalar.

O processo terapêutico deve seguir a linha de humanização, fortalecendo o vínculo com outras crianças, a fim de diminuir a ansiedade e o medo, fortalecendo sua autoestima e diminuindo seu tempo de internação, transformando o espaço hospitalar em espaço lúdico.

Matos e Mugiatti (2014) deixam isso claro ao dizer que a criança “se embrutece” com grande facilidade se não receber estímulo algum, podendo apresentar um quadro de pseudodebilidade mental, que pode vir a alternar de forma mais acentuada o seu quadro biológico.

A criança necessita de atividades que a ajudem a superar esta fase frágil de sua vida e a enfrentar sua doença, para que esta não atinja seu emocional e psíquico. É necessário também a importância de se adaptar o ambiente hospitalar, permitindo que o local seja algo menos traumático e passe a realçar

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o potencial terapêutico, para libertar e cuidar da criança lesada emocionalmente que, sendo esta sensorial, capta tudo o que está ao seu redor, e o tratamento terapêutico vem entender e tratar a raiz do problema, buscando dentro de si formas de expressar suas emoções e libertar sua real essência.

De acordo com Piloto (2011, p.81)

Por essas experiências, é que a criança se conecta com o meio em que vive, pois a livre expressão da criança vai retratar aquilo que pode experimentar. Quando a criança desenha, ela exercita a construção da representação do mundo; é o momento da criação simbólica onde ela se coloca por inteiro na atividade, independentemente das características do material que usa, fazendo com que esse momento esteja funcionando com assimilação de conteúdos internos. E é bom que essa criança tenha livre expressão, que seu potencial criador esteja em pleno desenvolvimento.

Desta forma a criança estará tranquila para realizar suas próprias produções, criando sem medo e sem regras, sendo espontâneo ao ponto de ser sensível ao olhar sua obra e projetar nelas seus sentimentos e necessidades.

O processo terapêutico com a criança hospitalizada

Aqui destaca-se a presença do arteterapeuta, que é de suma importância para diminuir o impacto da hospitalização, oferecendo recursos adequados nos quais a criança possa fantasiar seus sentimentos e angústias e, desta forma, expandir as suas tendências criativas, confiando em si e acima de tudo ser poupada de emoções súbitas.

O processo terapêutico constrói um elo curativo interior, o que proporciona ao indivíduo uma transformação íntima, única e singular que iniciada através da arte permitirá a criança um resgate de suas concepções internas e assim sua criatividade fluirá ao seu exterior, possibilitando ao arteterapeuta um ajuste necessário para a compreensão simbólica das suas criações, promovendo um desligamento do seu momento de stress.

É importante que o momento criativo seja de livre expressão e permita o ajuste e o amadurecimento do próprio EU e, a partir de então, a criança passará a ter um interesse do seu universo e o mundo que a cerca.

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Antes de iniciar o processo terapêutico deve-se proceder a um momento verbal no qual o arteterapeuta realizará uma anamnese, que tem a função de questionar o histórico de vida do paciente, sendo necessária a presença do familiar, para, desta forma, abordar de forma completa o diagnóstico emocional da criança. É necessário seguir um roteiro e o terapeuta ter a sensibilidade e firmeza de interromper quando necessário, caso ocorram pontos que não sejam pertinentes ao objetivo do tratamento.

A partir da anamnese em mãos, o arteterapeuta pode preparar atividades que estejam de acordo com as necessidades da criança, que irá integrar de forma mais adequada variadas técnicas que servirão para o desbloqueio emocional, liberação de conteúdos inconscientes e fluência no processo criativo que permitiram a vazão de sentimentos, causando um bem-estar e harmonia dentro de si.

Philippini (2009) afirma que a Arteterapia tem como conceito um conjunto de estratégias expressivas que facilitam a expansão da estruturação emocional, ou seja, o processo criativo traz uma codificação da expressão emocional e conteúdos inconscientes, podendo utilizar linguagens e materiais expressivos, buscando encontrar um canal apropriado para cada indivíduo e oferecendo caminhos alternativos como colagens, pinturas, desenhos etc. ou aquela em que a criança se sinta à vontade em realizar.

Por isso, na Arteterapia, o importante é “fazer arte”, é expressar-se, é ser criativo, é deixar o sujeito expressar plasticamente seus conflitos, conhecendo-se como uma pessoa inteira, capaz de trabalhar com todas as suas sensações e percepções. Quando a criança não tem a possibilidade de agir, ela torna-se rígida nos movimentos e pensamentos. A criança, quando entra no mundo simbólico, está mostrando como pensa, sente e age, se organiza, aprende, interage com o meio, enfim mostra-nos como está construindo sua história de vida. Possibilitar a uma criança essa experiência, que é única, mágica e sem inibições é extremamente apaixonante e uma das melhores formas de conhecê-la melhor. (Piloto, 2011)

Portanto, o ato de criar é tornar visível uma energia, é poder falar de seus anseios, medos, suas descobertas, suas dificuldades, suas alegrias e tristezas e

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A arteterapia no processo terapêutico com crianças hospitalizadas Mônica da Silva Pereira

ao mesmo tempo por meio desta linguagem é que a criança contará sua história.

Quando inserida na atividade proposta pelo terapeuta, a criança envolve-se na vivência terapêutica de forma mais consciente e mostra-lhe o quanto é capaz de superar diversidades surgidas em seu caminho, é fornecer a ela uma experiência rica e de forma natural, dispondo em sua obra somente coisas que conhece e que tiveram algum significado especial em sua vida.

É conveniente deixar a imaginação, a fantasia, a liberdade para criar à solta e deixar que a criança se expresse permitindo que ela possa ordenar suas obras, liberando cargas de energias, sentimentos tristes e assim tornando-se uma criança pronta para enfrentar todos os obstáculos com mais segurança, percepção e equilibrar o seu emocional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo discute a importância da arteterapia no processo terapêutico com crianças hospitalizadas, que através de variadas técnicas, realizam um desbloqueio emocional, deixando fluir a imaginação, a fantasia e a liberdade de criar. Nesse sentindo, o indivíduo explora um novo momento (real ou imaginário), e isto é fundamental para seu processo de cura.

O arteterapeuta encontrará várias formas expressivas e simbólicas que a criança produzirá e isso é essencial para que se possa compreender seu real significado que ajudará a liberar sentimentos que sufocam seu SER, ou seja, o contexto terapêutico busca contribuir para trazer à consciência conteúdos sombrios e transformá-los em emoções leves, alegres e positivas.

A conclusão, portanto, caminha no sentido de que cada criança se manifesta no mundo de forma única, diante de diferentes emoções, e desta forma a doença não a impede de realizar atividades e sim restabelece o paciente em um caminho de aprendizado, crescimento interior, experimentações e vivências, tendo dentro do ambiente hospitalar a presença da arteterapia como promoção do equilíbrio emocional da criança.

Nesse caso, Nagem (2011) afirma que vivendo e experimentando,

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A arteterapia no processo terapêutico com crianças hospitalizadas Mônica da Silva Pereira

o indivíduo plasma o seu caminho e, ao mesmo tempo, configura o seu caminhar, ou seja, a criatividade infantil está atrelada essencialmente com seu desenvolvimento pessoal, o que ressalta a arteterapia como uma grande contribuição no tratamento com crianças hospitalizadas.

É importante ressaltar que o processo terapêutico diminui os sintomas de apatia que a criança expõe durante seu período de internação, e o trabalho desenvolvido pelo arteterapeuta estimula o seu resgate criativo, transformando sua dor em superação, recuperando sua autoestima e acima de tudo permitindo que ela reinvente sua própria vida.

REFERÊNCIA

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