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FACULDADE AÇÃO IGOR GONÇALVES DE CASTRO A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR FRENTE AOS GRUPOS VULNERÁVEIS IDOSOS, NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS RIO DO SUL/SC 2013

A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR FRENTE AOS GRUPOS ...biblioteca.pm.sc.gov.br/pergamum/vinculos/00000B/00000B46.pdf · prontamente nos momentos de minha ... prever vários direitos

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FACULDADE AÇÃO

IGOR GONÇALVES DE CASTRO

A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR FRENTE AOS GRUPOS VULNERÁVEIS –

IDOSOS, NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS

RIO DO SUL/SC

2013

1

IGOR GONÇALVES DE CASTRO

A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR FRENTE AOS GRUPOS VULNERÁVEIS –

IDOSOS, NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Segurança Pública, no Curso de Pós-Graduação “Latu Sensu” em Segurança Pública da Faculdade Ação.

Orientador: Clayton Marafioti Martins

RIO DO SUL/SC

2013

2

IGOR GONÇALVES DE CASTRO

A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR FRENTE AOS GRUPOS VULNERÁVEIS –

IDOSOS, NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista,

no Curso de Especialização em Segurança Pública, Setor de Ciências Jurídicas da

Faculdade Ação, pela Banca Examinadora, formada pelos professores:

Banca Examinadora:

________________________________ Profº Msc Clayton Marafioti Martins,

(Polícia Militar)

________________________________ Profº Msc. Eduardo Gonçalves da Silva

(Faculdades Ação)

___________________________________ Profº Msc. Clovis Lopes Colpani

(Polícia Militar)

RIO DO SUL/SC

2013

3

Aos meus pais, por atenderem sempre

prontamente nos momentos de minha falta.

À minha esposa Flávia, pelo carinho e

compreensão durante o período de estudos.

4

AGRADECIMENTOS

À DEUS, o Grande Arquiteto do Universo, criador desta maravilhosa obra – a

vida, que os profissionais de segurança dos cidadãos buscam, incansavelmente

proteger;

Ao orientador Tem. Cel. Clayton Marafioti Martins que, se mostrou disposto a

orientar-me nesta pesquisa, com presteza e sabedoria;

Aos familiares, pelo amor e acolhimento sempre de maneira incondicional;

Aos Professores Doutores que, prontamente aceitaram participar deste

processo de elaboração e construção do conhecimento;

Aos amigos que, apesar do distanciamento devido à dedicação ao curso,

sempre foram compreensivos e amáveis;

A todos aqueles que, de forma presencial ou à distância, com ações ou em

pensamento, participaram ou contribuíram para elaboração deste estudo, meus

sinceros agradecimentos.

5

Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque esta escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o

(BUDA)

6

RESUMO

CASTRO, Igor Gonçalves de. Direitos humanos: a atuação da Polícia Militar de Santa Catarina frente ao Grupo de Vulneráveis - Idosos. 2013. Monografia de Especialização em Segurança Pública, no Curso de Pós-Graduação “Latu Sensu” em Segurança Pública da Faculdade Ação. A atuação da polícia militar tem sido alvo de muitas pesquisas. O objetivo desse Estudo foi descrever a relevância da atuação da Polícia Militar na promoção de direitos humanos dos grupos vulneráveis, em especial aos idosos. Para o suporte teórico, foram estabelecidos os conceitos necessários ao entendimento dessa pesquisa no campo da história das polícias no Brasil e no mundo, bem como a sua evolução com o surgimento e organização a partir do convívio em sociedade e legislação aplicada. Como pressupostos para o valor científico do trabalho, utilizaram-se o método indutivo e uma pesquisa qualitativa dos direitos humanos no Brasil e no mundo, dos tratados aos quais o Brasil é membro. Apresenta também, a legislação referente aos grupos vulneráveis e sua conceituação, dando uma maior atenção ao estatuto de idoso e os princípios norteadores da atuação policial militar como promotora de direitos e acessibilidade. Como resultado, a pesquisa apresenta a relevância da importância da Polícia Militar, cada vez mais expandir seus métodos e maneira de atuação, acompanhando a evolução da legislação. Por fim, a pesquisa apresenta um “norte” de atuação, de maneira que a polícia sempre atue no momento do uso legal da força, não somente de maneira coercitiva, mas também na promoção de direitos de classes que cada vez necessitam de uma atenção maior do estado por sua condição, pois a polícia surgiu do povo para o povo. Palavras chave: Direitos Humanos. Grupo Vulneráveis. Idosos. Polícia Militar.

7

ABSTRACT

CASTRO, Igor Gonçalves de. Human rights: the practice of the Military Police of Santa Catarina front of the Vulnerable Group - Seniors. In 2013. Monograph of Specialization in Public Security in the Post-Graduate "Latu Sensu" Public Safety College Action. The role of the military police has been the subject of much research. The aim of this study was to describe the relevance of the performance of the military police in promoting the human rights of vulnerable groups, particularly the elderly. To support the theoretical concepts were established necessary to the understanding of this research in the field of the history of the police in Brazil and the world, as well as their evolution with the emergence and organization from life in society and laws applied. Assumptions as to the scientific value of the work, we use the inductive method and qualitative research of human rights in Brazil and in the world of treaties to which Brazil is a member, also present legislation concerning vulnerable groups and their conceptualization, giving greater attention to the status of senior and guiding principles of the military police action as a promoter of rights and accessibility. As a result, the research shows the importance of the importance of the Military Police, increasingly expand their methods and manner of operation, monitoring developments in legislation. Finally, the study has a "north" of operation, so that the police always acts upon the legal use of force, not only coercively, but also in promoting rights of classes that require increasingly greater attention the state for their condition, because the police came the people for the people. Keywords: Human Rights. Group Vulnerable. Elderly. Military Police.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10

1.1 TEMA ............................................................................................................. 11

1.1.1 Delimitação do Tema ................................................................................... 11

1.2 PROBLEMA.................................................................................................... 11

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 12

1.4 OBJETIVOS ................................................................................................... 12

1.4.1 Objetivo Geral .............................................................................................. 12

1.4.2 Objetivos Específicos ................................................................................. 13

1.5 METODOLOGIA ............................................................................................. 13

1.5.1 Tipo e Técnica de Pesquisa ........................................................................ 14

1.5.2 Coleta e Análise de Dados .......................................................................... 15

2 ASPECTOS HISTÓRICOS DAS POLÍCIAS MILITARES ................................. 17

2.1 CONCEITO DE POLÍCIA................................................................................ 21

2.2 PODER DE POLÍCIA ...................................................................................... 22

2.2.1 Discricionariedade....................................................................................... 25

2.2.2 Auto-executoriedade ................................................................................... 26

2.2.3 Coercibilidade .............................................................................................. 27

2.3 COMPETÊNCIA DA POLÍCIA MILITARE SEGUNDO A CONSTITUIÇÃO

FEDERAL DE 1988 ....................................................................................... 27

2.3.1 Polícia Ostensiva ......................................................................................... 29

2.3.2 Preservação da Ordem Pública .................................................................. 30

3 DIREITOS HUMANOS ...................................................................................... 33

3.1 CONCEITOS DE DIREITOS HUMANOS ....................................................... 33

3.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES

UNIDAS ......................................................................................................... 36

3.3 PACTO DE SAN JOSE DA COSTA RICA ...................................................... 37

3.4 GRUPOS VULNERÁVEIS .............................................................................. 37

3.4.1 Idosos ........................................................................................................... 39

3.4.2 Mulheres ....................................................................................................... 40

3.4.3 Pessoa em Situação de Rua ....................................................................... 42

3.4.4 Pessoas com Necessidades Especiais ..................................................... 43

3.4.5 Comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais .. 45

9

3.4.6 Crianças e Adolescentes ............................................................................ 46

3.5 O ESTATUTO DO IDOSO (O IDOSO COMO SUJEITO DE DIREITOS) ....... 47

3.6 USO DA FORÇA COMO PROMOTOR DE DIREITOS HUMANOS ............... 49

3.7 A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR FRENTE AOS DIREITOS DOS

IDOSOS ......................................................................................................... 50

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 54

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 56

10

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem como objetivo principal identificar de

que forma o policial poderá prover do uso da força, preservando a perspectiva dos

direitos humanos e o Direito dos Idosos.

No trabalho, buscou-se contextualizar de que forma se deu o surgimento das

polícias, trabalhando em seqüência as competências advindas da Constituição

Federal de 1988, que trouxe uma nova concepção para a segurança pública e,

elencou em seu texto, a importância da preservação dos direitos humanos. Tanto

que, na Constituição, foi carinhosamente chamada de “constituição cidadã”, por

prever vários direitos humanos; e direitos nunca destinados aos trabalhadores.

A Polícia Militar cabe como missão constitucional, elencada pela carta

magna, em seu artigo 144, § 5º, a polícia ostensiva e a preservação da ordem

pública. Assim, cabe a polícia militar assegurar o cumprimento da lei, a preservação

da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos; atuando de maneira

preventiva, como membro do Estado. A polícia trata-se aqui de um modo geral, civil

e militar, é um órgão estatal promotor de direitos, sendo norteada pela ótica de que a

comunidade é o seu cliente.

Às polícias possuem um poder administrativo denominado Poder de Polícia.

Dentro desse poder, encontra-se a coercibilidade policial, atributo pelo qual é

concedida a polícia a autorização para o emprego da força, porém um tema que

cabe uma pausa e discussão, pois quando fala-se em coercibilidade, emprego de

força, já se pensa em resposta a violência, ou seja, que a polícia age a partir da

“agressão” que sofre. O que pretende-se mostrar, é que essa coerção é nada mais

na verdade do que a atividade de promover direitos estabelecendo diretrizes

amparadas pela lei, de modo que todas as pessoas tenham acesso ao que lhe cabe.

Em busca desse alcance dos objetivos propostos, apresenta-se no primeiro

capítulo a polícia, com suas atribuições e competências legais. Em seguida, no

segundo capítulo, trata-se sobre os direitos humanos, tratados aos quais o Brasil faz

parte, em especial, fala-se da dignidade da pessoa humana, trazendo a baila o

grupo dos vulneráveis. Por fim, no terceiro capítulo será estudado em particular os

idosos, fruto desse estudo, apresentando o Estatuto do Idoso e demais direitos dos

mesmos, apresentando também, que a polícia pode ser promotora desses direitos a

partir do uso da sua força e conhecedora dos direitos de seus clientes.

11

Esta será a problemática estudada no presente trabalho, através do estudo

da legislação pátria e pnternacional, e específica sobre um grupo que merece melhor

atenção, bem como, os entendimentos doutrinários e diretrizes que versam sobre o

tema.

1.1 TEMA

A atuação da polícia militar frente ao grupo devVulneráveis – idosos na

perspectiva dos direitos humanos.

1.1.1 Delimitação do Tema

A atuação da Polícia Militar de Santa Catarina dentro da ótica dos Direitos

Humanos Frente aos Direitos e Garantias dos Idosos.

O que pretende-se mostrar é que a Polícia Militar, como organismo de

segurança do Estado, quando acionada para exercer o “uso da força”, não

necessariamente é o ato de repelir a um ataque sofrido, mas sim, para promover, e

fazer valer o direito das pessoas, e neste estudo, o direito dos idosos.

Apresentar-se-á os direitos aos quais os idosos têm acesso, aos quais

muitos não são alcançados por desconhecimento e atuação equivocada, muitas

vezes pelos órgãos do estado e em particular a Polícia Militar.

Dentro de uma ótica dos direitos humanos, legalidade e da dignidade da

pessoa humana, apresenta-se aspectos norteadores a serem seguidos na atividade

policial, não coercitiva, mas promotora de direitos e acessibilidade.

1.2 PROBLEMA

A Polícia Militar como ente responsável pela preservação e manutenção da

ordem pública, possui como missão constitucional, elencada no Artigo 144 da

Constituição Federal da República Federativa do Brasil, a polícia ostensiva e a

preservação da ordem pública. E por muitas vezes encontra-se em situações em

que se vê obrigada a utilizar o uso da força como promotora de direitos humanos e

acessibilidade.

12

Com isso, pergunta-se: Quais são os parâmetros à atuação da Polícia

Militar numa perspectiva dos direitos humanos dos idosos?

1.3 JUSTIFICATIVA

O tema deste trabalho atende a uma demanda crescente da instituição

policial, em frente do argumento da longevidade das pessoas, nas últimas décadas.

Aliado as responsabilidades do Estado na criação de condições, na promoção e

manutenção dos Direitos Humanos.

Além disso, a partir do momento em que a Polícia Militar, se preocupa em

atuar de uma maneira mais ampla, acompanhando a evolução da legislação, todos

ganham.

É preciso uma massificação, por parte da Polícia Militar, na figura de

promotora de direitos humanos como fator de proteção de todos, constituindo assim

um novo olhar sobre a segurança pública, resultando em um fortalecimento

institucional do braço do Estado atuando preventivamente, o que acaba por

estabelecer uma nova concepção de atuação policial, fortalecendo deste modo os

laços comunitários.

Neste sentido, apresentam-se princípios norteadores de uma atuação não

somente repressiva por parte da polícia, para que todos tenham seus direitos e

garantias preservadas, em especial, os Direitos dos Idosos como cidadãos, para que

a Dignidade da pessoa Humana seja respeitada.

1.4 OBJETIVOS

Apresentam-se a seguir os objetivos geral e específicos.

1.4.1 Objetivo Geral

Analisar os parâmetros norteadores da atuação da Polícia Militar frente ao

Grupo de Vulneráveis (idosos), na promoção dos Direitos Humanos.

13

1.4.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos são:

a) identificar a competência da Polícia Militar;

b) descrever quem são os Grupos Vulneráveis, em especial os idosos;

c) apresentar aspectos relevantes a atuação policial do Estatuto do Idoso;

d) analisar a atuação da Polícia Militar como promotora de direitos.

1.5 METODOLOGIA

A metodologia será conduzida seguindo-se o método indutivo, realizando-se

a abordagem através de materiais jurídicos doutrinários, pareceres, jurisprudências,

convenções universais, bem como em documentos existentes na corporação,

associado ao método de pesquisa bibliográfica exploratória.

Em assim sendo, objetivando-se a melhor compreensão da metodologia

empregada na pesquisa em questão, mencionam-se as características da

metodologia.

Para tal ensejo é de suma importância definir o que vem a ser pesquisa, que

segundo Fachin (2001, p. 123) é:

Um procedimento intelectual para adquirir conhecimentos pela investigação de uma realidade e busca de novas verdades sobre um fato (objeto, problema). Com base em métodos adequados e técnicas apropriadas o pesquisador busca conhecimentos específicos, respostas ou soluções ao problema estudado. No resultado de uma pesquisa não se deve atribuir verdade absoluta, pois as descobertas são sempre renovadas e toda análise sobre um fato (objetivo, problema) apresenta várias implicações de ordem apreciativa e analítica.

Diante disto pode-se concluir que a pesquisa “é um procedimento formal,

com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se

constitui no caminho para conhecer a realidade ou descobrir verdades parciais.”

(LAKATOS; MARCONI, 2006, p. 157).

Como apregoa Lakatos e Marconi (2006, p. 83), “não há ciência sem o

emprego de métodos científicos”. Ou seja, para um trabalho ser reconhecido no

meio científico ele necessita estar vinculado a um método.

14

O método científico pode ser definido como:

Instrumento do conhecimento que proporciona aos pesquisadores, em qualquer área de sua formação, orientação geral que facilita planejar uma pesquisa, formular hipóteses, coordenar investigações, realizar experiências e interpretar os resultados. Em sentido mais genérico, método em pesquisas, seja qual for seu tipo, é a escolha de procedimentos sistemáticos para descrição e explicação do estudo (FACHIN, 2001, p. 27).

Existe uma gama de métodos que se dispõe para realização de uma

pesquisa, no caso desta, em específico, será utilizado o método dedutivo, que de

acordo com o que preceitua Fachin (2001, p.30):

[...] é um procedimento do raciocínio que, a partir de uma análise de dados particulares, se encaminha para noções gerais. Neste caso, apresenta como forma ordenada do raciocínio dos dados singulares para uma verdade geral. O raciocínio parte da enumeração completa do grupo de um gênero para alcance do conhecimento geral desse grupo de um gênero, ou seja, a análise racional ocorre com elementos gerais; assim a marcha do conhecimento principia pelos elementos singulares e vai caminhando para os elementos gerais.

A seguir descrevem-se o tipo e técnica de pesquisa.

1.5.1 Tipo e Técnica de Pesquisa

Para alcançar os objetivos almejados no trabalho fez-se o uso de pesquisa

de cunho exploratório que segundo Gil (2002), possui como principal objetivo criar

uma maior interação com o problema, visando torná-lo mais familiar ou até mesmo

concluir hipóteses. Diante disto pode-se afirmar que seu campo de ação é bastante

flexível, possibilitando a consideração dos mais variados aspectos ao fato estudado.

O mesmo autor ainda acrescenta que apesar da pesquisa exploratória ser

bastante flexível, em boa parte dos casos ela acaba assumindo a forma bibliográfica,

fato este que se confirma no presente estudo.

Antes de dar início a técnica de pesquisa utilizada, vale ressaltar o conceito

de técnica elencado por Lakatos e Marconi (2006, p. 176) que trazem como sendo

“um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte; é a

15

habilidade para usar esses preceitos ou normas, a parte prática. Toda ciência utiliza

inúmeras técnicas na obtenção de seus propósitos”.

Como pesquisa bibliográfica traz-se a seguinte definição:

[...] abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico e etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas (LAKATOS; MARCONI, 2006, p. 185).

Trazendo o conhecimento elencado por Fachin (2001, p. 125) a pesquisa

bibliográfica “constitui o ato de ler, selecionar, fichar, organizar e arquivar tópicos de

interesse para pesquisa em pauta”.

Para escolha de tal técnica levou-se em consideração o fato de que a

investigação se dará por fontes bibliográficas que remetam ao assunto do estudo, ou

seja, todo conteúdo presente em livros, doutrinas e artigos científicos, bem como, na

legislação brasileira, de onde se buscou fonte de inspiração e orientação na busca

do esclarecimento dos objetivos apresentados. Pois para tratar de direitos humanos,

atuação policial militar, direitos dos idosos, tornou-se necessário, ler e consultar um

grande volume literário, doutrinário e técnico.

1.5.2 Coleta e Análise de Dados

A aplicação do método por meio do tipo de pesquisa se dará por meio da

coleta de doutrinas e artigos científicos que difundam sobre a questão do uso da

força pela polícia e Direitos Humanos, abrangendo todos os assuntos secundários

que permeiam o tema.

Os dados coletados durante a pesquisa bibliográfica serão organizados da

seguinte forma: em fichas de leitura de citações e de conteúdo realizadas de acordo

com as obras que possuírem relação com o tema.

16

A importância da análise dos dados “está não em si mesmos, mas em

proporcionarem respostas às investigações” (MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 169).

Sobre a interpretação dos dados coletados obtidos por meio da pesquisa

bibliográfica Lakatos e Marconi (2006, p. 170) afirmam quanto a interpretação que:

É a atividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às respostas, vinculando-as a outros conhecimentos. Em geral, a interpretação significa a exposição do verdadeiro significado do material apresentado, em relação aos objetivos propostos e ao tema. Esclarece não só o significado do material, mas também faz ilações mais amplas dos dados discutidos.

Diante de tudo que foi exposto, tendo como método o dedutivo em

concordância a técnica de pesquisa bibliográfica, busca-se encaminhar o tema do

uso da força da polícia ostensiva numa perspectiva dos Direitos Humanos.

Pasold (2005, p. 103-105) acrescenta que duas são as categorias implícitas

na metodologia, quais sejam: o método de investigação e a técnica. Quanto ao

primeiro, afirma ser “a forma lógico-comportamental-investigatória na qual se baseia

o pesquisador para buscar os resultados que pretende alcançar”, relativamente ao

segundo, assevera ser “o conjunto diferenciado de informações reunidas e

acionadas em forma instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob

o comando de uma ou mais bases lógicas investigatórias”.

Pasold (2005, p. 104) no tocante a método e técnica “o método é a base

lógica operacional da investigação, a técnica é o instrumento para tal afazer”.

Fachin (2001, p. 123) contribui, destacando que “com base em métodos

adequados e técnicas apropriadas, o pesquisador busca conhecimentos específicos,

respostas ou soluções para o problema estudado”.

Ainda quanto ao método, Lakatos e Marconi (2006, p. 83) afirmam ser:

[...] o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior

segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros - traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.

Pasold (2005) destaca como sendo cinco os métodos de pesquisa, quais

sejam: método indutivo, dedutivo, dialético, comparativo e sistêmico.

17

2 ASPECTOS HISTÓRICOS DAS POLÍCIAS MILITARES

Com o passar dos anos, a organização em sociedade e a evolução do

homem, passou-se a perceber que se juntando em grupos, o ser humano teria uma

maior capacidade de garantir a sua segurança e as atividades para sua subsistência

se tornariam mais fáceis. Apesar de serem diferenciadas, todas as sociedades

possuem suas proibições e tabus, e do respeito a essas obrigações depende o bom

funcionamento do cotidiano do grupo.

Desta forma, passou a surgir os primeiros núcleos sociais, também surgiu, a

necessidade de se regulamentar comportamentos tidos como “inadequados” para

que a sociedade passe a “viver” de maneira mais harmônica possível. Da harmonia,

há que regular as condutas que podem ferir essa busca da perfeição de convívio,

assim vê-se a necessidade de regular o convívio social. Essa necessidade de

regulamentação é trazida por Bastos (2002, p. 28):

Dá-se, portanto, o que vem a ser o contrato social (pacto de submissão), que é resultante unicamente da vontade do homem, e que consiste na transferência de direitos. Passa-se então do 'estado de natureza' para o 'estado social', onde a razão supera a paixão. No entanto para que seja possível a vida em sociedade é imprescindível que o homem estabeleça leis. Essas terão como escopo fazer com que o convívio seja sempre harmônico, que a paz seja celebrada e que a segurança prevaleça.

Para que a partir do surgimento da regulamentação e garantia dessas leis o

homem então “estabeleceu dentro do grupo social, relações de poder que garantiam

o cumprimento destas regras, sendo atribuída a alguns componentes do grupo

social a competência para fazer cumpri-las.” (MARCINEIRO; PACHECO, 2005, p.

23).

Em princípio, existiam sociedades antigas, sem estrutura policial adequada,

onde a violação de uma norma era vista como algo privado.

Buscando por maior proteção, o homem passou a reunir-se em grupos,

possuindo estes, regras a serem cumpridas, primando pela sobrevivência de seus

integrantes. Para garantir o cumprimento dessas regras deram-se início as relações

de poder, sendo atribuída a alguns membros a competência para que estas fossem

cumpridas.

18

Assim é que vemos os povos antigos, com suas normas simples e rudimentares, provendo os meios concernentes ao bem social, a defesa de sua autoridade, de seus chefes e a tudo que se referia à ordem e ao bem-estar geral daquelas sociedades (SANTIAGO, 1997, p. 23).

Ainda a respeito da formação das instituições policiais no mundo, Rico e

Salas (1992, p. 73) descrevem que:

A polícia é [...] uma instituição social cujas origens remontam às primeiras aglomerações urbanas, motivo pelo qual ela representa a dupla originalidade de ser uma das formas mais antigas de proteção social, assim como a principal forma de expressão da autoridade. Encontra-se, portanto, intimamente ligada à sociedade pela qual foi criada, e seus objetivos, a sua forma de organização e as suas funções devem adaptar-se às características sócio-políticas e culturais da comunidade em que ela deverá atuar.

O surgimento de agentes especializados, encarregados de fazer as leis

serem respeitadas, deu-se na Grécia Antiga. E como forma de obter a obediência de

seus cidadãos, os mesmos estavam autorizados a utilizar de coação física e da

ameaça de ações penais. Essas polícias, de acordo com Monet (2002, p. 32), eram

“múltiplas, pouco profissionalizadas, provavelmente pouco coordenadas entre si”.

Vale ressaltar que nesta época, o termo “polícia” ainda era confundida com o

conjunto de instituições que governavam a cidade.

Apesar de sua origem remontar a Grécia, pois de lá surgiram as “polis”,

cidades, e após começaram a se organizar, pode-se afirmar que a sociedade que

possuía a atividade policial mais semelhante à atual era a de Roma, que, de acordo

com Marcineiro e Pacheco (2005, p.24), era policiada por sete Coortes Vigilum,

compostas cada qual de mil homens, que tinham por missão manter a disciplina da

vida social, a ordem pública e a proteção dos cidadãos. As funções destas Coortes

confundia-se com funções judiciais.

Na sequência, resumindo os fatos históricos, observa-se a Europa, onde já

existia a divisão em Feudos, que nada mais eram que uma extensão de terras, na

qual um Senhor Feudal residia, e que em volta possuía áreas de plantio que eram

cultivadas pelos servos. Pelo contrato entre eles, o servo deveria trabalhar para o

Senhor Feudal, em troca de parte da colheita, e desta forma o Senhor Feudal lhe

permitia usufruir de suas terras, bem como lhe dava proteção caso ataques

ocorressem ao feudo. Apoiados pela Igreja, tinham como principal objetivo,

preservar o status quo.

19

Dentro do exposto acima, percebe-se que a Igreja, foi bastante beneficiada

diante deste cenário.

[...] tornou-se a maior instituição feudal do Ocidente europeu. Sua incalculável riqueza, a sólida organização hierárquica e a herança cultural greco-romana permitiram-lhe exercer a hegemonia ideológica e cultural da época, caracterizada pelo teocentrismo (VICENTINO, 2000, p. 111, grifo do autor).

Assim, verifica-se que a relação de controle social exercido pelo feudalismo

é que, o mesmo visava única e tão-somente a manutenção do poder, a defesa

territorial e a intimidação do povo para que não se insurgissem contra os senhores

feudais ou os monarcas, nem contra os Dogmas da Santa Igreja (MACINEIRO;

PACHECO, 2005, p. 24).

A partir do século XIV, surge o modelo francês de polícia, o qual apoiava-se

em dois pilares: as Maréchaussée nos campos e a tenência de polícia em Paris

(MONET, 2002).

Ainda de acordo com o mesmo autor, essas polícias se organizavam da

seguinte forma:

Maréchausséé – preenche as funções de guarda civil dos dias atuais. [...] Sofre uma mudança de nome sob a Revolução, que transforma a Maréchaussée em Guarda Civil, a organização e o funcionamento dessa polícia militar permanecerão quase imutáveis do século XVIII até hoje (MONET, 2002, p. 49).

Na sequência histórica, analisa-se sobre a influencia da Revolução Francesa

de 1789, pois, depara-se com o início de um novo período histórico, denominado de

Idade Contemporânea. Ocorre a mudança para o para o Estado Moderno. Através

desse movimento surge a visão do Estado agora conhecida como Estado de Direito,

“[...] calcado na juridicidade na defesa da dignidade da pessoa humana. Este Estado

de Direito teve como base filosófica a Declaração dos Direitos do Homem e do

Cidadão (1789) e a Constituição dos Estados Unidos da América (1776).”

(MARCINEIRO; PACHECO, 2005, p. 24-25).

Como características básicas do Estado de Direito, encontra-se as

seguintes, trazidas por Silva (2007, p.112-113):

20

(a) submissão ao império da lei, [...] sendo a lei considerada como ato emanado formalmente do Poder Legislativo, composto de representantes do povo [...]; (b) divisão de poderes, que separe de forma independente e harmônica os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário [...]; (c) enunciado e garantia dos direitos individuais. (grifo do autor).

Foi ainda este Estado, que, segundo Fachini apud Marcineiro e Pacheco

(2005, p. 25), redimensionou a função policial.

Atribuindo-lhe a missão de proteger a ordem judiciária e de manter a segurança. A polícia não reside na vontade do monarca, mas na vontade legislativa. Esta estabelece seu objetivo e limites. A polícia tem por função adotar medidas necessárias para a manutenção da paz, segurança e da ordem pública e proteger a sociedade.

Diante de tais mudanças, verifica-se o surgimento da Polícia, como

organização de fato, em 1829 na Inglaterra: criada pelo Primeiro Ministro da época,

Sir Robert Peel, é considerada o marco da polícia moderna no mundo. Organizada

com base na hierarquia e disciplina possuía, como norte os princípios de Peel, seus

pensamentos sobre polícia. Considerados ainda hoje, por muitos autores, como

base para criação de muitas polícias. Verifica-se naquela época que a polícia surge

do povo para o povo, importante elencar isso.

Seus nove princípios básicos foram sintetizados por Martins (2008, p. 53),

como sendo:

Os fundamentos propostos para a polícia inglesa tinham por finalidade torná-la prioritariamente preventiva, fazendo com que, com o auxílio dos cidadãos, combatesse a desordem. Neste intuito, o policial deveria ser imparcial, cortês, amistoso e independente politicamente. A força poderia ser utilizada minimamente, quando indispensável, diante da ineficácia da persuasão para restabelecer a lei, não cabendo ao policial julgar e castigar presos, pois a eficácia da polícia estaria na ausência de crime e desordem e não na brutalidade de sua ação visível.

Os princípios definidos por Peel não ficaram restritos a Inglaterra, “[...] foram

copiados pela cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, quando da criação de

seu corpo de Polícia Municipal, 1833”. (MARCINEIRO; PACHECO, 2005, p. 26).

Diante disto, Dalri (2006, p. 38) declara que a partir dessas duas primeiras

instituições policiais modernas, surgiram duas escolas fundamentais de polícia, que

influenciaram as atuais polícias do mundo, quais sejam: a escola francesa, com as

gendarmeries; e a escola anglo-saxônica, todas a partir do modelo de Sir Robert

21

Peel. Diga-se que iniciou-se lá, e fica até hoje o “modelo de polícia” utilizado na

sociedade até os dias atuais.

2.1 CONCEITO DE POLÍCIA

Inicia-se este capítulo apresentando do surgimento da palavra “polícia”, que

a origem da palavra remonta a Grécia Antiga onde Lazzarini apud Marcineiro e

Pacheco (2005, p 23), esclarecem o seguinte significado: “Polícia é vocábulo

derivado do latim, ou seja, de politia, que, por sua vez, procede do grego, isto é,

politeia, trazendo originalmente, o sentido de organização política, sistema de

governo e, mesmo, governo”.

Este conceito representa bem a realidade da organização social que a

Grécia Antiga possuía, organizada de forma que a polícia e o conjunto de

instituições que governavam confundiam-se. Apesar de ter dado origem à palavra,

aquela foi a sociedade que menos fez uso da atividade policial, devido a constantes

batalhas e fatos históricos de lutas que se conhece.

Conceituar polícia não é nada fácil, embora todos saibam o que é, poucos

conseguem efetivamente conceituá-la. Porém, conceituar tal instituição é de fato

relevante para que tal trabalho acadêmico alcance seus objetivos. Para tanto,

elencam-se alguns conceitos.

Primeiramente, verifica-se o conceito de Lazzarini (1987, p. 20) que define

“polícia” como sendo:

[...] o conjunto de instituições, fundadas pelo Estado, para que, segundo as prescrições legais e regulamentares estabelecidas, exerçam vigilância para que se mantenham a ordem pública, a moralidade, a saúde pública e se assegure o bem-estar coletivo, garantindo-se a propriedade e outros direitos individuais.

Entendimento semelhante a este, cita o Capitão Osmar Romão da Silva

apud Nazareno e Pacheco (2005, p. 38), como “a parte da administração pública

destinada a garantir os direitos individuais e a assegurar a estabilidade da ordem

pública, restabelecendo-a, quando perturbada”.

Diante do que foi conceituado, verifica-se que a polícia é um órgão estatal

existente para que o estado persista como organização social, bem como, impondo

limitações.

22

Assim, como forma de regular as limitações foi concedida à polícia a

autorização “[...] por um grupo para regular as relações interpessoais dentro deste

grupo através da aplicação da força física.” (BAYLEY, 2002, p. 20). Este poder

recebeu a denominação poder de polícia, tema que verifica-se a seguir nessa

pesquisa.

2.2 PODER DE POLÍCIA

Com a efetivação do Estado Democrático de Direito surge a necessidade de

colocar os direitos dos membros desse estado como fundamental para a sua

existência. Com a necessidade de vincular direitos aos membros da comunidade,

surge à constituição, a Carta Magna, que passou a sistematizar a concessão de

direitos e deveres, transformando os “membros da comunidade” em cidadãos. Com

isso, surge também a necessidade do surgimento da administração social, a

administração pública.

Nos dizeres de Jean Rivero apud Álvaro Lazarini (1996, p. 32), cabe a

Administração Pública.

[...] satisfazer o interesse geral e não conseguirá se se encontrar colocada em pé de igualdade com os particulares, pois as vontades destes, determinadas por motivos puramente pessoais, colocam a sua – a da Administração Pública – em xeque sempre que as colocar a presença de constrangimentos e sacrifícios que o interesse geral exige.

Seguindo este viés, Meirelles (2003, p. 112-113) traz que:

Os poderes administrativos nascem com a Administração e se apresentam diversificados segundo as exigências do serviço público, o interesse da coletividade e os objetivos a que se dirigem. Dentro dessa diversidade, são classificados, consoante a liberdade da Administração para a prática de seus atos, em poder vinculado e poder discricionário; segundo visem ao ordenamento da Administração ou à punição dos que a ela se vinculam, em poder hierárquico e poder disciplinar; diante de sua finalidade normativa, em poder regulamentar; e, tendo em vista seus objetivos de contenção dos direitos individuais, em poder de polícia.

Porém o estado se organiza e se legitima na função de organizar a

convivência social a partir da restrição de direitos e liberdades absolutas, sempre

primando pelo bem estar da coletividade, que concedeu ao Estado o direito de

23

indicar quais são as normas que delimitam o respeito à garantia dos direitos

individuais, que recaiam sobre o chamado interesse público.

Quando fala-se sobre o interesse público, trata-se a respeito dos mais

variados interesses da sociedade, tais como: segurança, moral, saúde, meio

ambiente, defesa do consumidor, patrimônio cultural, propriedade (DI PIETRO, 2003,

p. 111). Diante disto, tem-se dicotomia como garantir direitos a partir das limitações?

Vê-se que o estado surge mais como o não fazer, do que promover a acessibilidade

aos direitos.

Marcineiro e Pacheco (2005, p. 48) trazem que: “a polícia não se constitui

um poder. Ela é instrumento do poder de polícia do Estado. Baseia a legitimidade de

suas ações no poder de polícia que o Estado possui, de forma exclusiva”.

A esse respeito versa Di Pietro (2001, p. 107):

O tema relativo ao Poder de Polícia é um daqueles em que se colocam em confronto esses dois aspectos [a autoridade da Administração Pública e a liberdade individual]: de um lado, o cidadão quer exercer plenamente os seus direitos; de outro, a Administração tem por incumbência condicionar o exercício daqueles direitos ao bem-estar coletivo, e ela o faz usando de seu poder de polícia.

Segundo Cretella Junior apud Marcineiro e Pacheco (2005, p. 48):

[...] se a polícia tem a possibilidade de agir, em concreto, pondo em atividade todo o aparelhamento de que dispõe, isso se deve a ‘potestas’ que lhe confere o poder de polícia. O poder de polícia é que fundamenta o poder da polícia. Este sem aquele seria o arbitrário, verdadeira ação policial divorciada do Estado de Direito.

O poder de Polícia é um poder discricionário, mas de forma alguma

arbitrário, já que o mesmo está pautado dentro do que regulamenta a Constituição e

conseqüentemente o ordenamento jurídico da nação.

Baseado neste entendimento Moreira Neto apud Lazzarini (1987, p. 119)

versa que:

[...] é a atividade administrativa do Estado que tem por fim limitar e condicionar o exercício das liberdades e direitos individuais visando a assegurar, em nível capaz de preservar a ordem pública, o atendimento de valores mínimos da convivência social, notadamente a segurança, a salubridade, o decoro e a estética.

24

No aspecto jurídico brasileiro, encontra-se o conceito legal de poder de

polícia no Código Tributário Nacional, Lei nº 5.172, de 25.10.1966, que assim o

define em seu Art. 78:

Art. 78 - Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos (MEIRELLES, 2003, p. 128-129).

A razão de o Código Tributário Nacional dar o conceito de poder de polícia

decorre do fato de “constituir o exercício desse poder um dos fatos geradores da

taxa” (DI PIETRO, 2003, p. 111, grifo do autor).

Interessante e necessário lembrar que o poder de polícia reparte-se entre

legislativo e executivo, tendo como pressuposto:

[...] o princípio da legalidade, que impede a administração impor obrigações ou proibições senão em virtude de lei, é evidente que, quando se diz que o poder de polícia é a faculdade de limitar o exercício de direitos individuais, está-se pressuposto que essa limitação seja prevista em lei (DI PIETRO, 2003, p. 111).

Como resultado dessa bipartição do exercício do poder de polícia, Mello

(1995, p. 479-480), dá dois conceitos de poder de polícia:

Em sentido amplo, corresponde a atividade estatal de condicionar a liberdade e a propriedade ajustando-as aos interesses coletivos; abrange atos do Legislativo e do Executivo; Em sentido estrito, abrange as intervenções, quer gerais e abstratas, como os regulamentos, quer concretas e específicas (tais como as autorizações, as licenças, as injunções) do Poder Executivo, destinadas a alcançar o mesmo fim de prevenir e obstar ao desenvolvimento de atividades particulares contrastantes com os interesses sociais; compreende atos do Poder Executivo (grifo nosso).

Se considerarmos o poder de polícia em sentido amplo, abrangendo as

atividades do Legislativo e Executivo, verifica-se que o Estado se utiliza de meios

para sua regulamentação, tais como:

25

[...] atos normativos em geral, a saber: pela lei, criam-se as limitações administrativas ao exercício dos direitos e das atividades individuais, estabelecendo-se normas gerais e abstratas dirigidas indistintamente às pessoas que estejam em idêntica situação; disciplinando a aplicação da lei aos casos concretos, pode o Executivo baixar decretos, resoluções, portarias, instruções; atos administrativos e operações materiais de aplicação da lei ao caso concreto, compreendendo medidas preventivas com o objetivo de adequar o comportamento individual a lei, e medidas repressivas com a finalidade de coagir o infrator a cumprir a lei (DI PIETRO, 2003, p. 113, grifo do autor).

Diante disto, em sua obra, Marcineiro e Pacheco (2005, p. 49) elencam

requisitos que devem ser atendidos para que o poder de polícia seja validamente

exercido, dentre os quais cita-se:

Competência da autoridade que praticou o ato; Finalidade pública, isto é, que se destine à salvaguardar o interesse público; Proporcionalidade, isto é, que não se imponham aos particulares, em nome do Poder de Polícia, ônus superiores os que são indispensáveis ao atendimento do interesse geral; Legalidade de meios, no exercício do Poder de Polícia, a autoridade não pode ultrapassar os limites da competência de que dispõe em virtude de lei (grifo do autor).

Ainda segundo Marcineiro e Pacheco (2005, p. 49), é dentro deste quadro

que a polícia se organiza para atuar com o fito de preservar a ordem pública.

O poder de polícia possui características como a discricionariedade, a

autoexecutoriedade e a coercibilidade, que são atributos específicos e peculiares ao

seu exercício, os quais trata-se agora a frente para um melhor entendimento do

estudo. Observa-se aqui, que o poder de polícia não é somente coercitivo, mas

auto-executável, o que é muito importante para a compreensão desse tema, pois

trata-se em polícia como promotora de direitos humanos.

2.2.1 Discricionariedade

Traduzindo nas palavras de Guimarães (2006, p. 268), discricionário é o ato

da administração pública de escolher maneira e condições que mais convenham ao

interesse público, com liberdade de ação que a lei lhe confere.

Desta forma, pode-se afirmar que desde que o ato de polícia se contenha

nos limites legais e a autoridade se mantenha na faixa de atribuição que lhe é

atribuída, a discricionariedade é legitima (MEIRELLES, 2006, p. 136).

Nos dizeres de Maria Sylvia Zanella Di Pietro:

26

[...] a lei deixa certa margem de liberdade de apreciação quanto a determinados elementos, como o motivo ou objeto, mesmo porque ao legislador não é dado prever todas as hipóteses possíveis a exigir a atuação da polícia. Assim em grande parte dos casos concretos, a Administração terá que decidir qual o melhor momento de agir, qual o meio de ação mais adequado, qual a sanção cabível diante das previstas na norma legal. Em tais circunstâncias, o poder de polícia será discricionário (DI PIETRO, 2003, p. 114, grifo do autor).

O ato de polícia, embora muitas vezes discricionário, estará sempre

vinculado a uma norma, diz-se então que ele é vinculado.

Diante disto, pode-se afirmar que o ato de polícia é, em princípio,

discricionário, mas passará a ser vinculado se a norma legal estabelecer o modo e

forma de sua realização. Neste caso, cabe a autoridade cumprir exatamente de

acordo com a lei, respeitando as suas exigências (MEIRELLES, 2006).

2.2.2 Auto-executoriedade

É o poder que tem a administração decidir e executar diretamente sua

decisão por seus próprios meios, sem intervenção do Judiciário (MEIRELLES, 2006).

Alguns autores, em busca de um maior entendimento do conceito,

desdobram esse princípio em dois: a exigibilidade e a executoriedade. Com relação

ao primeiro, Di Pietro (2003, p. 114) afirma que:

[...] resulta da possibilidade que tem a Administração de tomar decisões executórias, ou seja, decisões que dispensam a administração de dirigir-se preliminarmente ao juiz para impor obrigação ao administrado. A decisão administrativa impõe-se ao particular ainda contra sua concordância; se este quiser se opor, terá que ir a juízo. [...] Pelo atributo da exigibilidade a Administração se vale de meios indiretos de coação.

Quanto à executoriedade, cabe afirmar que:

Consiste na faculdade que a Administração, quando já tomou a decisão executória, de realizar diretamente a execução forçada, usando, se for o caso, da força pública para obrigar o administrador a cumprir a decisão. [...] Pelo atributo da auto-executariedade, a administração compele materialmente o administrado, usando de meios diretos de coação (DI PIETRO, 2003, p. 114).

27

Como efeito causado por esse poder, a administração impõe de forma direta

as medidas ou sanções de polícia necessárias à contenção da atividade anti-social

que ela visa obstar (MEIRELLES, 2006, p.137).

Assim, verifica-se que a autoexecutoriedade é a faculdade que possui a

administração pública de impor e executar por si as sanções e medidas impostas

aos administrados, sem precisar recorrer a intervenção do Poder Judiciário, pode-se

até dizer que este é o poder de polícia administrativa.

2.2.3 Coercibilidade

Trata-se da imposição coativa das medidas adotadas pela Administração e

constitui também atributo do poder de polícia (MEIRELLES, 2006, p. 138).

A coercibilidade é uma medida indissociável da autoexecutoriedade, pois o

ato de polícia só é auto-executório porque é dotado de força coercitiva. Seguindo

esta linha de pensamento Meirelles (2006, p. 137) afirma que:

[...] todo ato de polícia é imperativo (obrigatório para seu destinatário), admitindo até o emprego da força pública para seu cumprimento, quando resistido pelo seu administrado, não há fato de polícia facultativo para o particular, pois todos eles admitem a coerção estatal para torná-los efetivos, e essa coerção também independe de autorização judicial. É a própria Administração que determina e faz executar as medidas de força que se tornarem necessárias para execução do ato ou aplicação da penalidade administrativa resultante do exercício do poder de polícia.

Como pode-se observar, todas as formas e medidas de poder de polícia

sempre se vinculam a legislação, ora com mais liberdade (discricionariedade) e ora

com uma maior obrigação do fazer ou não fazer (coercibilidade). Tais atuações

como ente do estado, estão amplamente divulgados e estabelecidos na constituição

nacional, o que verifica-se a seguir.

2.3 COMPETÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR SEGUNDO A CONSTITUIÇÃO

FEDERAL DE 1988

Antes de se tratar sobre a competência da polícia militar, é necessário

verificar suas implicações. Pois um ato de polícia pode se tornar nulo pelo erro de

forma.

28

A competência, juntamente com a finalidade, a forma, o motivo e o objeto,

são os requisitos para a validade do ato administrativo. Assim, Meirelles (2006, p.

27) define competência como um poder resultante e delimitado por lei conferido ao

agente administrativo. O autor enfatiza que só é considerado válido o ato realizado

por agente competente. Nesse sentido, leciona também Gasparini (2005, p. 61) que

“[...] o ato administrativo há de resultar do exercício das atribuições de um agente

competente, sob pena de invalidação”.

Gasparini (2005, p. 68) ainda afirma que o exercício da competência é

obrigatório, ou seja, “o agente não pode se furtar em cumpri-lo”. Também destaca

que, a competência é intransferível, não cabendo ao seu titular o direito de conferi-la

a outro. É ainda qualificada como irrenunciável, pois seu titular não pode dela

abdicar. Também é considerada imodificável, pois seu titular não pode torná-la mais

ampla ou mais restrita. Por fim, a competência é classificada como imprescritível, ou

seja, sua posse pelo titular não se esgota com o passar do tempo, mesmo que por

longo período não seja exercida.

Agora, observar-se-á a competência da polícia militar a partir da lei maior.

Onde se trata da segurança pública na Constituição Federal Brasileira, em seu Título

V, Capítulo III, artigo 144, prevendo em seu caput e incisos, o seguinte:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares (BRASIL, 2011).

O mesmo artigo apresenta ainda as competências atinentes a cada um dos

órgãos elencados em seus incisos. As atribuições das polícias militares são

apresentadas no § 5º, cabendo a elas a polícia ostensiva e a preservação da ordem

pública.

Tanto a polícia ostensiva, bem como a preservação da ordem pública, são

temas abrangentes, que passa-se a estudá-los de maneira mais detalhada,

apresentando o que é interessante para esse estudo na sequência.

29

2.3.1 Polícia Ostensiva

O termo Polícia Ostensiva surgiu na Constituição Federal de 1988 em seu

artigo 144, § 5º, substituindo o termo policiamento ostensivo que se referia apenas a

uma das fases do poder de polícia, este novo termo veio para marcar a expansão da

competência das policias militares.

Ao referir-se ao termo polícia ostensiva, o Parecer GM-25/2001, aprovado

pela Advocacia Geral da União e posteriormente homologado pelo Presidente da

República, destaca:

[...] é uma expressão nova, não só no texto constitucional como na nomenclatura da especialidade. Foi adotada por dois motivos: o primeiro, já aludido, de estabelecer a exclusividade constitucional e, o segundo, para marcar a expansão da competência policial dos policiais militares, além do ‘policiamento’ ostensivo (BRASIL, 2001, [s.p.]).

Por ser a polícia ostensiva um conceito recente, a compreensão de sua

amplitude também o é. Por muito tempo, imaginou-se que os termos polícia

ostensiva e policiamento ostensivo eram equivalentes devido à similaridade

morfológica dos termos. Nesse aspecto, o supracitado Parecer foi imprescindível

para consolidação da diferença entre os dois termos. Além do mais, o termo polícia

ostensiva, torna-se muito mais abrangente do que o policiamento ostensivo.

O poder de polícia, segundo doutrina Meirelles (2006, p. 131) é “[...] a

faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso

e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da coletividade ou do

próprio Estado.” O exercício desse poder por parte do Estado, de acordo com o que

afirma Lazzarini (1999a, p.103), dá-se em quatro fases distintas, quais sejam: a

ordem de polícia, o consentimento de polícia, a fiscalização de polícia e a sanção de

polícia. O parecer GM-25/2001 define essas fases da seguinte maneira:

A ordem de polícia se contém num preceito, que, necessariamente, nasce da lei, pois se trata de uma reserva legal (art. 5º, II), e pode ser enriquecido discricionariamente, O consentimento de polícia, quando couber, será a anuência, vinculada ou discricionária, do Estado com a atividade submetida ao preceito vedativo relativo, sempre que satisfeitos os condicionamentos exigidos (BRASIL, 2001, [s.p.], grifo do autor).

A respeito da fiscalização e da sanção de polícia, o Parecer traz que:

30

A fiscalização de polícia é uma forma ordinária e inafastável de atuação administrativa, através da qual se verifica o cumprimento da ordem de polícia ou a regularidade da atividade já consentida por uma licença ou uma autorização. A fiscalização pode ser ex officio ou provocada. No caso específico da atuação da polícia de preservação da ordem pública, é que toma o nome de policiamento. A sanção de polícia é a atuação administrativa auto-executória que se destina à repressão da infração. No caso da infração à ordem pública, a atividade administrativa, auto-executória, no exercício do poder de polícia consoante as circunstâncias, pela Administração, se esgota no constrangimento pessoal, direto e imediato, na justa medida para restabelecê-la (BRASIL, 2001, [s.p.], grifo do autor).

Quanto ao policiamento ostensivo, estabelece o Decreto Federal 88.777 de

1983, em seu artigo 2º, item 27, consiste em “ação policial exclusiva das Polícias

Militares em cujo emprego o homem ou a fração de tropa engajados sejam

identificados de relance, quer pela farda quer pelo equipamento, ou viatura,

objetivando a manutenção da ordem pública”. Segundo o que estabelece Diogo

Figueiredo Neto (1991 apud LAZZARINI, 1999, p. 103-104) o policiamento ostensivo

conceituado no Decreto Federal 88.777/1983 refere-se a apenas uma das fases do

poder de polícia, a fiscalização. Já a polícia ostensiva corresponde à ação em todas

as fases do poder de polícia, sendo um conceito de abrangência muito maior.

2.3.2 Preservação da Ordem Pública

Superado o mito de polícia ostensiva e policiamento ostensivo, agora se

verifica o que seria a preservação da ordem pública. Para tanto, mais do que

necessário é falar-se a respeito de ordem pública. Meirelles (1999) considera a

noção de ordem pública demasiadamente incerta, dado o fato de que varia de um

local para outro e de uma época a outra. Contudo, buscar-se-á primeiramente trazer

o que prevê a legislação e a doutrina a respeito do tema. Conforme definição legal,

trazida no Decreto 88.777, de 30 de setembro de 1983, em seu artigo 2º, item 21,

ordem pública é:

Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum.

31

Como conceito doutrinário do tema, encontra-se o trazido por Valla (1999, p.

6), trazendo ordem pública como:

[...] a situação e convivência pacífica e harmoniosa da população, fundada nos princípios éticos vigentes na sociedade. Não deve ser confundida com a ordem interna, porque diz respeito às relações entre cidadãos. É inspirada na proteção e incolumidade das pessoas e do patrimônio, aí incluindo o meio ambiente contra a ação de delinqüentes comuns, sem qualquer contestação ideológica ou adversa.

O conceituado doutrinador francês Louis Rolland (1947 apud LAZZARINI,

2003, p. 80) salienta que assegurar a ordem pública é garantir a todos a

tranquilidade pública, a segurança pública e a salubridade pública. Convém,

portanto, destacar o que são cada um desses elementos.

A segurança pública, no entendimento de Lazzarini (2003, p. 81) consiste

em:

Estado antidelitual que resulta da observância dos preceitos tutelados pelos códigos penais comuns e pela lei de contravenções penais, com ações de polícia repressiva ou preventiva típicas, afastando-se, assim, por meio de organizações próprias, de todo o perigo, ou de todo o mal que possa afetar a ordem pública em prejuízo da vida, da liberdade ou dos direitos de propriedade das pessoas, limitando as liberdades individuais, estabelecendo que a liberdade de cada pessoa, mesmo em fazer aquilo que a lei não lhe veda, não pode ir além da liberdade assegurada aos demais, ofendendo-a.

Lazzarini (1999, p. 22-23, grifo do autor), conceitua também de maneira

clara e didática tranqüilidade e salubridade pública:

Tranqüilidade Pública - exprime o estado de ânimo tranqüilo, sossegado, sem preocupações nem incômodos, que traz às pessoas uma serenidade, ou uma paz de espírito. A tranqüilidade pública, assim, revela a quietude, a ordem, o silêncio, a normalidade das coisas, que, como se faz lógico, não transmitem nem provocam sobressaltos, preocupações ou aborrecimentos, em razão dos quais se possa perturbar o sossego alheio. A tranqüilidade, sem dúvida alguma, constitui direito inerente a toda pessoa, em virtude da qual está autorizada a impor que lhe respeitem o bem-estar, ou a comodidade do seu viver. Salubridade Pública - referindo-se às condições sanitárias de ordem pública, ou coletiva, a expressão salubridade pública designa também o estado de sanidade e de higiene de um lugar, em razão do qual se mostram propícias as condições de vida de seus habitantes.

Mais um mito superado, agora “junta-se” o que entende-se para chegar ao

que é a preservação da ordem pública. A esse propósito, Valla (1999) destaca que o

32

termo preservação refere-se tanto a aspectos preventivos, que antecedem a quebra

da ordem, como aspectos restaurativos após a quebra.

Marcineiro e Pacheco (2005, p. 46) destacam que a preservação da ordem

pública “[...] se dá em dois momentos distintos: na manutenção do estado de

normalidade e na restauração deste estado quando da ocorrência de algum fato que

venha a quebrar a normalidade”. Quando fala-se em “normalidade” volta-se ao

capítulo anterior, onde conceituou-se polícia, o que é certo e errado, pois ao se falar

em “normalidade” deve-se configurar o que é normalidade de maneira

filosoficamente.

Por questões claras, o termo preservação da ordem pública é muito mais

abrangente do que manutenção, pode-se até dizer que um engloba o outro, do

mesmo modo que policia ostensiva é muito maior que policiamento ostensivo. Fica

evidente a intenção do legislador, de colocar a polícia militar não somente no campo

da repressão.

Além do já posto, Lazzarini (1999, p. 61) aduz:

No tocante à preservação da ordem pública, com efeito, às Polícias Militares não só cabe o exercício da polícia ostensiva, cabendo-lhe também a competência residual de exercício de toda atividade policial de segurança pública não atribuída aos demais órgãos. A competência ampla da Polícia Militar na preservação da ordem pública engloba inclusive a competência especifica dos demais órgãos policiais, no caso de falência operacional deles, à exemplo de suas greves e outras causas, que os tornem inoperantes ou ainda incapazes de dar conta de suas atribuições, pois a Polícia Militar é a verdadeira forca pública da sociedade.

Assim, observa-se quão ampla é a missão da Polícia Militar, pois além do

que já é previsto e ampliado agora, resta ainda, tudo aquilo que não foi atribuído aos

demais órgãos de segurança pública, assumindo inclusive as atribuições de tais

órgãos caso venham a falhar.

33

3 DIREITOS HUMANOS

Neste capítulo, após verificado sobre polícia e suas atribuições legais e

poderes investidos, será feita uma análise sobre os princípios fundamentais que

norteiam os Direitos Humanos, que são títulos legais que toda pessoa possui como

ser humano, são universais e independem de cor, credo, raça, classe social e de

sexo.

Os Direitos Humanos são direitos legais, ou seja, fazem parte da legislação,

sendo, inclusive, protegidos pelas constituições e legislações da maioria dos países

do mundo. Na atualidade alguns países ainda não respeitam os Direitos Humanos

básicos da pessoa humana, de modo que, a Organizações das Nações Unidades,

por vezes, interferir na soberania interna dos paises. Desse modo, verifica-se a

dimensão da importância dos Direitos Humanos.

Nesse trabalho, discorre-se sobre os princípios básicos de direitos humanos,

bem como os direitos básicos e elementares para o objeto de estudo, que são os

Idosos, pessoas vulneráveis, que atingem cada vez mais essa condição de acordo

com o aumento da longevidade humana.

3.1 CONCEITOS DE DIREITOS HUMANOS

Conceituar os direitos humanos, da mesma forma que os direitos

fundamentais não é muito fácil, visto que, como dito anteriormente, esses dois

conceitos são apresentados como sinônimos perante alguns juristas e doutrinadores.

Para tanto inicialmente é necessário apontar um conceito claro e objetivo do

que seja um direito. Nesse sentido Rover, conceitua: “Um direito é um título. É uma

reivindicação que uma pessoa pode fazer para com outra de maneira que, ao

exercitar esse direito, não impeça que outrem possa exercitar o seu”. (ROVER,

2005, p. 72).

Com relação essa a dificuldade em conceituar os direitos humanos, José

Eduardo Faria, preceitua da seguinte maneira: "[...] não constitui tarefa simples

conceituar direitos humanos. Esta expressão é demasiadamente genérica. As

tentativas resultam em definições tautológicas: direitos do homem são os que cabem

a ele enquanto homem." (FARIA, 1996, p. 59).

34

Quando se fala em direitos humanos, há de se falar na interação que deve

haver entre os homens. José de Farias Tavares conceitua direitos humanos como

sendo essencial para esta interatividade. Desta forma o autor expõe que “Os direitos

que tocam mais de perto ao homem na convivência com os outros homens, na

interação social, são os chamados direitos humanos essenciais para a

funcionalidade da sociedade organizada em Estado Democrático de Direito.”

(TAVARES, 2001, p. 272).

Silva (2001, p. 180) apresenta direitos humanos da seguinte forma:

Direitos humanos é expressão preferida nos documentos internacionais. Contra ela, assim, como contra a terminologia direitos do homem, objeta-se que não há direito que não seja humano ou do homem, afirmando-se que só o ser humano pode ser titular de direitos (grifo do autor).

Os direitos humanos consistem nas garantias peculiares à existência da

pessoa humana, sendo que estes estão positivados nos instrumentos necessários

de direito internacional público, aos quais, por vezes, não desfrutam de uma

utilidade compreensiva a todos os seres humanos. Com relação a estas garantias,

Luño (apud PEREIRA, 2006, p. 76), expõe que:

O termo direitos humanos tem um alcance mais amplo, sendo empregado, de um modo geral, para fazer referência aos direitos do homem reconhecidos na esfera internacional, sendo também entendidos como exigências éticas que demandam positivação, ou seja, como um ‘conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional.’ (grifo do autor).

Para Rover (2005, p. 74), os direitos humanos são os direitos legais, aos

quais se encontram positivados em legislações internacionais, bem como em

legislações e constituições de cada país do globo terrestre.

Os direitos humanos na história da humanidade foram apresentados por

juristas como uma comprovação político-jurídica da história. Da mesma forma que os

direitos fundamentais foram divididos, conforme o tempo, em dimensões ou

gerações, que assim como sociedade e polícia, acompanhou a evolução histórica.

Inicialmente, os direitos humanos representam os direitos individuais e de

liberdade, os quais encontram-se baseados na transparente definição entre não-

Estado e Estado, ou seja, fundamenta-se no direito individual, sendo vistos como

35

direitos naturais. Esses são expostos como sendo aqueles inerentes ao ser humano,

encontrando-se desta forma, nas Declarações da Virgínia de 1776 e da Declaração

Francesa de 1789 (LAFER, 2003, p.126).

Nesse sentido traz-se na Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia de

16 de Junho de 1776, em seu artigo primeiro, o seguinte texto:

Todos os homens nascem igualmente livres e independentes, têm direitos certos, essenciais e naturais dos quais não podem, pôr nenhum contrato, privar nem despojar sua posteridade: tais são o direito de gozar a vida e a liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades, de procurar obter a felicidade e a segurança.

Num segundo momento direitos humanos representam à coletividade na

busca de seus direitos, exigindo uma propagação dos poderes frente ao Estado.

Estes são os direitos sociais e de igualdade. Desta forma pode-se diferenciar a

primeira da segunda geração, visto que na primeira o indivíduo busca seus direitos

através do Estado por sua iniciativa, de forma que na segunda geração, o homem

fica na depende do Estado para se promover, ou seja, dependo do mesmo para

assegurar seus direitos (LAFER, 2003, p.129).

Por fim, cabe expor, que os direitos humanos apresentam uma dimensão

internacional. Essa expressão tem sido denominada pelas Organizações das

Nações Unidas, de 1948, após a segunda guerra mundial. Diferentemente de outros

momentos da história, os direitos humanos agora têm como titular de direitos grupos

de indivíduos, como por exemplo, família, nação, coletividade de um modo geral, ou

seja, é concebido um direito de titularidade coletiva. Já estes, são direitos que têm

uma dimensão planetária, o direito a uma vida saudável, com princípios ambientais e

desenvolvimento sustentável, ou seja, vem sendo reconhecido frente uma nova

ordem econômica internacional (LAFER, 2003, p.131).

Neste sentido, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10 de

Dezembro de 1948, apresenta-se como sendo o instrumento de maior importância

de direitos humanos, em seu primeiro artigo expõe o seguinte texto: “Todos os

homens nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. São dotados de razão e

de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”

(FILHO, 2002, p.181).

Nesta mesma linha de raciocínio, a Carta da ONU de 26 de Outubro de

1945, também prescreve em seu artigo 55 que:

36

Com o fim de criar condições de estabilidade e bem estar, necessárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão: a) níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e condições de progresso e desenvolvimento econômico e social; b) a solução dos problemas internacionais econômicos, sociais, sanitários e conexos; a cooperação internacional, de caráter cultural e educacional; e c) o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

3.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES

UNIDAS

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi proclamada pela

Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948,

sendo ratificada pelo Brasil em 10 de dezembro de 1948.

Esta Declaração, dentre outros princípios e garantias de proteção aos

cidadãos, visou também proteger e dar assistências especiais às crianças e

adolescentes. Sobre tal Declaração em especial, Rover (2005, p. 79) menciona que:

A Declaração Universal é hoje o instrumento de direitos humanos de maior importância. Adotada pela Assembléia Geral em 1948, não é um tratado, porém havia a intenção de criar um documento que fornecesse uma estrutura para orientação e interpretação das disposições e obrigações de direitos humanos contidas na Carta da ONU. [...] E ainda, muitas das disposições da Declaração Universal foram inseridas nas Constituições e legislações nacionais de Estados Membros da ONU.

Liberati (2003, p. 8), destaca algumas das garantias apresentadas pela

Declaração Universal dos Direitos Humanos:

[...] o nascimento de todas as pessoas como livres, iguais em dignidade e direitos; com aptidão e capacidade, para gozar os direitos e liberdades estabelecidas na Declaração, sem qualquer distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição [...]

O mesmo autor, por fim, conceitua: “A Declaração Universal dos Direitos

Humanos é, em suma, um tratado de garantia e respeito à vida e à liberdade, que,

atributos que são de todo homem, constitui, também, fundamento do direito da

criança.” (LIBERATI, 2003, p. 8).

37

3.3 PACTO DE SAN JOSE DA COSTA RICA

O Pacto de San José da Costa Rica, de 22 de novembro de 1969, é como se

denomina a Convenção Americana de Direitos Humanos, realizado pelos Estados

Americanos. Este Pacto foi ratificado pelo Brasil somente em 6 de novembro de

1992, pelo Decreto n. 678. Funda-se no respeito aos direitos essenciais do ser

humano, no sentido de liberdade pessoal e justiça social; dessa forma, reafirma

garantias já asseguradas na Declaração Universal dos Direitos Humanos (LIBERATI,

2003, p. 10).

O Pacto em questão subdivide-se em três partes, que Liberati (2003, p. 10)

apresenta da seguinte forma: “Deveres dos Estados e Direitos protegidos, Meios de

Proteção e Disposições Transitórias”. Aqui, dá-se mais ênfase aos Direitos

Protegidos, que são os elementares à dignidade da pessoa humana.

3.4 GRUPOS VULNERÁVEIS

Preliminarmente, necessita-se entender o conceito de Grupos Vulneráveis.

Grupos vulneráveis são definidos como sendo um conjunto de cidadãos

pertencentes a uma sociedade, no qual apresentam características e condições,

psicológicas, sociais e/ou sexuais, que os tornam mais propensos a sofrerem

violência de qualquer natureza.

Os grupos vulneráveis reconhecidos pela Organização das Nações Unidas

(ONU) são:

a) crianças e adolescentes;

b) mulheres;

c) idosos;

d) população de rua;

e) pessoas com deficiência física ou sofrimento mental;

f) LGBTT.

Observa-se, que muitas vezes o conceito de Grupos Vulneráveis são

confundidos com os de minorias. Conceitua-se como minoria um grupo de cidadãos

dentro de uma sociedade que, embora organizados e com propósitos comuns, são

38

possuidores de características étnicas, religiosas ou linguísticas que os diferem da

maioria da população.

Enquanto as minorias possuem como característica o fato de serem grupos

em menor número dentre uma população majoritária, os Grupos Vulneráveis são

reconhecidos como pessoas destituídas de poder. Ressalta-se que os Grupos

Vulneráveis estão relacionados às suas características de idade, gênero, orientação

sexual, deficiência física ou sofrimento mental e condição social, enquanto as

minorias estão relacionadas quanto aos seus aspectos étnicos, linguísticos e

religiosos.

A diferenciação de Grupos Vulneráveis e minoria é feita por Emerique e

Guerra (2008, p.16) da seguinte forma:

Muito embora exista esta confusão conceitual entre minorias e grupos vulneráveis, cumpre mencionar que a primeira categoria refere-se a sujeitos que ocupam uma posição de não-dominância no país ou grupo social no qual vivem, enquanto os grupos vulneráveis constituem-se num contingente expressivo numericamente, como mulheres, crianças e idosos. Os grupos vulneráveis são mais facilmente identificados como pessoas destituídas de poder, mas que dispõe de cidadania e dos demais requisitos que poderiam torná-los minorias.

Cabe mencionar, que dados do Censo de 2010, divulgado pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatísticas (2012), revelaram que numa população total de

190.755.799 brasileiros, havia 97.348.809 mulheres e 93.406.990 homens, ou seja,

mais da metade da população brasileira era composta por mulheres. O Censo de

2010 também revelou que haviam 35.623.593 crianças, 20.666.575 adolescentes e

20.590.597 idosos, considerando-se as definições legislativas previstas no Estatuto

da Criança e do Adolescente e do Estatuto do Idoso, para crianças, adolescente e

idosos, respectivamente. A grande dificuldade é “nominar” outras comunidades

vulneráveis, principalmente os moradores de rua, e a comunidade minorada pela

opção sexual.

Analisá-se a partir desse momento cada um dos Grupos Vulneráveis

isoladamente, a fim de entender quais são as características deste grupo, bem

como, verificar quais formas de violência a que estão mais suscetíveis e algumas

formas de prevenção.

39

3.4.1 Idosos

No Brasil, por força da lei nº 10.741/03, idoso é compreendido como aquela

pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Notadamente, há graus brandos e

acentuados de velhice. Contudo, a situação de vulnerabilidade da pessoa,

analisando de forma individual, não depende apenas da idade da pessoa, mas

também, de circunstâncias relacionadas à saúde física e mental, condição

econômica, condição social, entre outras, pois, assim como ressaltou Vilas Boas

(2009, pg.03), idoso não é sinônimo de decrépito nem morto-vivo, tem sua idade que

pode ser considerada como velha [...], nem toda velhice se alia à enfermidade ou

apresenta redução de aptidões em menor escala. Todavia, o legislador, utilizou

apenas o critério objetivo, da idade, para classificar o idoso.

Segundo dados do Censo de 2010, havia no Brasil um número de

20.590.597 pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Isso significa, que

aproximadamente, um a cada dez brasileiros é idoso. Grande parcela destas

pessoas, em razão de seu processo natural de envelhecimento, é mais suscetíveis a

diversas espécies de violências, que foram enumeradas no documento Cartilha

Policial na Proteção dos Direitos Humanos de Pessoas em Situação de

Vulnerabilidade (SENASP, 2010, p. 102), como sendo: física, (uso da força física

para compelir o idoso a fazer algo, para feri-lo, provocar-lhe dor, incapacidade ou

morte); psicológica (infringir pena, dor ou angustia mental com expressões verbais e

não verbais e que possam envolver medo da violência, abandono, isolamento ou

que provoquem vergonha, indignidade e impotência); negligência (recusa ou

omissão de cuidados devidos e necessários ao idoso, por parte do responsável,

familiar ou não, ou instituição); financeira e econômica (exploração imprópria ou

ilegal e/ou uso sem consentimento de recursos materiais e/ou financeiros do idoso),

e; abandono (ausência ou deserção do responsável governamental, institucional ou

familiar, ou qualquer um que tenha por obrigação a responsabilidade de prestar

socorro a uma pessoa idosa que necessite de proteção).

A fim de evitar as diversas formas de violência e violações aos direitos do

idoso, o Estatuto do Idoso estabelece os seguintes preceitos:

Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e

40

facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

E mais:

Art. 4o Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei. § 1o É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso. § 2o As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras

decorrentes dos princípios por ela adotados.

Destaca-se que o Estado não avocou exclusivamente para si o dever de

prevenção à ameaça ou violação aos direitos do idoso. Pelo contrário, o legislador

procurou delegar a todos tal obrigação de fazê-lo. Mesmo assim, o Estado não pode

se furtar à proteção dos direitos dos idosos. É importante frisar, que a esmagadora

maioria dos direitos enunciados no Estatuto do Idoso, tratam-se de direitos conferido

a todos, de forma genérica, na Constituição Federal, em tratados de direitos

humanos ou em outras normas do ordenamento pátrio. Porém, por se tratar de um

Grupo Vulnerável, o legislador envidou esforços para priorizar o atendimento e a

proteção ao idoso. Esta prioridade, fica denotada em uma série de medidas, como:

vagas especiais de estacionamento, prioridade no recebimento da restituição do

imposto de renda, garantia de atendimento médico-hospitalar (nem sempre

observado), fornecimento de medicamento, em especial, aqueles de uso continuado

e assim, dentre outras.

Na esfera policial, o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional

de Segurança Pública (SENASP), a fim de dar atendimento adequado ao idoso, tem

patrocinados diversos cursos para capacitação dos integrantes das forças policiais.

Geralmente, este tema é abordado em cursos de Direitos Humanos, onde o

profissional é habilitado a prestar o atendimento adequado e a identificar eventuais

violências e violações de direitos do idoso.

3.4.2 Mulheres

A sociedade Brasileira estabeleceu na Carta Magna, como cláusula pétrea,

em seu Art. 5º, que todos são iguais perante a lei. Essa igualdade formal e

41

positivada, no entanto, nem sempre é garantia de proteção à mulher, a qual está

mais susceptível a discriminação de gênero, violência física, psicológica ou mesmo

sexual. No Brasil, são comuns os conflitos familiares, principalmente entre marido e

mulher, que resultam em ofensas físicas e psicológicas e, em casos mais graves, a

morte de mulheres, as quais, até o advento da Lei nº 11.340 de 2006, não contavam

com uma lei especifica que lhes amparassem nesse tipo de vulnerabilidade.

Registre-se, que o Censo do IBGE 2010, apontou que existem aproximadamente

4.000.000 a mais de mulheres do que homens no Brasil, demonstrando que a lei se

legitima, a partir do momento em que gera mecanismos tanto para coibir e,

principalmente, para prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher.

Dentre as medidas preventivas estipuladas na referida legislação está à inclusão da

mulher em programas assistenciais do governo federal, garantia através de proteção

policial, abrigo em local seguro para os casos de risco a vida dentre outros direitos

preconizados.

Trata-se de grande avanço na defesa dos direitos das mulheres, buscando

equalizá-las com a realidade social, as quais buscam, inclusive no mercado de

trabalho, o reconhecimento devido, pois muitas vezes exercem as mesmas funções

do gênero masculino, no entanto recebendo menor salário.

Impende destacar, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em

seu Art. VII estabelece que todos são iguais perante a lei sem qualquer distinção,

vedado qualquer ato discriminatório, sendo que tal dispositivo foi adotado na

Constituição Federal, no caput do art. 5º.

Ressalta-se que a legislação não funciona por si só. Depende da adoção de

mecanismos Estatais para ser colocada em prática. Em se tratando de Segurança

Pública, há muito o que ser feito neste sentido. Grande parte dos municípios

brasileiros não possuem delegacias especializadas para atender casos de violência

contra mulher e, onde existe, geralmente o efetivo é insuficiente para atender a

demanda. Além disso, falta preparo aos agentes públicos. Policiais não são

devidamente treinados para atender casos que envolvam violências contra

mulheres. Não são raros os casos, onde mulheres vítimas de violência sexual

deixam de ser levadas para realização de atendimento médico-hospitalar logo após

o fato, inviabilizando prevenção de doenças e gravidez indesejada. Em outras

situações, mulheres agredidas fisicamente são tratadas por policiais como co-

autoras do fato, culpadas da violência que sofreram.

42

Desta feita, verifica-se a necessidade de investimentos em recursos

humanos e materiais e, principalmente, treinamento dos agentes públicos para que o

Estado passe a prestar um atendimento digno e igualitário às mulheres.

3.4.3 Pessoa em Situação de Rua

Segundo a Cartilha de Atuação Policial na Proteção de Direitos Humanos de

Pessoas em Situação de Vulnerabilidade da Secretaria Nacional de Segurança

Pública (SENASP, 2010, p. 109), pessoas em situação de rua são:

Os cidadãos em situação de rua formam um grupo populacional heterogêneo constituído por pessoas que possuem em comum a garantia da sobrevivência por meio de atividades produtivas desenvolvidas nas ruas, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a não referencia a moradia regular.

Ainda nesse contexto, destaca-se que esta população de rua não possui

renda fixa ou regular, e em geral trabalham em subempregos, ou seja, não possuem

um salário “certo”, muitas vezes trabalham de forma “escravizada” sem contar com

nenhuma das garantias constitucionais do Art. 7º da Constituição Federal, previstas

para os trabalhadores, sejam urbanos ou rurais. Logo não contam com salário

mínimo, seguro desemprego, décimo terceiro salário, aposentadoria e nem qualquer

outra garantia esculpida.

Tratam-se de pessoas fragilizadas, pois em geral possuem laço familiar

inexistente ou conflitivo, nenhuma assistência social, alimentação deficitária, local

para pernoite em locais sem as mínimas condições de infraestrutura, conforto e

segurança. A degradação do meio, a não perspectiva de melhora e a falta de

educação resultam em pessoas marginalizadas e que muitas das vezes, não vendo

outra alternativa paliativa para a diminuição do sofrimento, sucumbem ao uso dos

mais variados tipos de drogas. Tal drogadição, obviamente só agrava a situação,

pois o dinheiro conseguido passa a ser utilizado prioritariamente para o vício,

culminado em degradação da saúde e piora, ainda mais, a já baixa qualidade de

vida existente, muitas das vezes culminando é claro com contágio de doenças

transmissíveis.

Em geral, são pessoas que sofreram violência ocorrida no seio familiar

(psicológica, física) buscando abrigo em locais públicos, os quais novamente são

43

vitimizados e rotulados, resultando em violência física e mental quando da

abordagem por parte de agentes públicos desqualificados para o trato com este

grupo social, sofrendo também violência social, uma vez que a sociedade não vê

nestes desabrigados e/ou sem teto, um cidadão no gozo pleno de seus direitos.

Várias são as omissões do Estado no cumprimento das garantias e direitos

sociais firmados no Art. 6º da Constituição Federal, a falta de políticas públicas e

investimentos na área de educação, moradia, assistência aos desamparados e

segurança, resultam em verdadeiras populações de miseráveis, que pela condição

de miséria em que sobrevivem, acabam fazendo parte de um ciclo vicioso de

repressão através da criminalização e da institucionalização do Direito Penal, como

se esta fosse a panaceia para a resolução de todos os problemas, repetindo-se um

sistema que a história brasileira já demonstrou fracassado.

O Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) realizou

em 2007 uma contagem da População em Situação de Rua em setenta e uma

cidades do país. Segundo o Sumário Executivo publicado pelo MDS foram

contabilizadas 31.922 pessoas em situação de rua nas cidades pesquisadas vivendo

em calçadas, praças, rodovias, parques, viadutos, postos de gasolina, praias,

barcos, túneis, depósitos e prédios abandonados, becos, lixões, ferro-velho ou

pernoitando em instituições.

Isto posto, talvez uma atuação conjunta do Estado e de diversos segmentos

sociais poderá contornar esta situação de marginalização social e oportunizar a

estes cidadãos de direito, sua efetiva cidadania. Se o remédio atuar somente no

resultado, as consequências serão meramente paliativas e os custos serão sempre

incapazes de suprir tal demanda. Mas se ao contrário, a atuação ocorrer na gênese

do problema, com saúde, escola e educação, oferecendo o Estado à dignidade

pessoal e social que a cada um do povo merece, certamente no presente e no

futuro, os resultados promissores acabarão frutificando-se.

3.4.4 Pessoas com Necessidades Especiais

A terminologia atual que vem sendo adotada para os cidadãos que

apresentam condições físicas, mentais, auditivas, visuais, linguísticas, motoras e

múltiplas, todas condições atípicas, quando comparadas com a maioria da

44

sociedade, vem sendo desenvolvida e defendida com a colaboração de pessoas

pertencentes também a este grupo vulnerável.

Os termos adotados durantes os tempos foram os mais variados, tendo sido

utilizados as designações inválidos (sem valor), incapacitados (sem capacidade) ou

mesmo defeituosos (deformados). A partir de 1980, agregou-se o termo pessoa ao

substantivo, passando pela primeira vez a dar valor àqueles que apresentavam as

referidas condições atípicas.

O termo mais aceito e reconhecido pelos próprios integrantes desse Grupo

Vulnerável é pessoa com deficiência, pois não mascara o fato de possuírem uma

deficiência e ser amplo de forma a englobar qualquer tipo de deficiência. O referido

termo fora incluído inclusive na Convenção Internacional para Proteção e Promoção

dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência.

Já, o termo pessoa com necessidades especiais também é adotado e bem

aceito, diferindo e muito de pessoa portadora de necessidades especiais, pois

“portar” faz alusão à possibilidade de alguém ter algo em determinado momento para

logo deixar de ter e vice-versa.

Buscando defender os direitos e garantias desse Grupo Vulnerável, deve-se

atentar às causas que levaram estas pessoas a apresentarem estas limitações.

Vários são os fatores que provocam o surgimento de novas pessoas com

deficiência, mas nenhum tão determinante quanto aos socioeconômicos. As parcelas

da sociedade menos atingida pelas políticas públicas acabam por sofrerem os

efeitos das condições precárias de saúde, desinformação quanto a medidas

preventivas, condições de trabalho precárias, violência urbana e rural mais presente,

dentre outros.

O Estado estando presente para atender as necessidades sociais dos

cidadãos reduzirá o surgimento de novas pessoas com limitações das mais diversas

aqui apresentadas, podendo ser considerado como a mais importante medida de

prevenção da violência contra esses grupos, ou seja, oportunizar a todas as pessoas

meios para que possam impedir a produção das deficiências físicas, mentais,

neurológicas, psicológicas, linguísticas, sensoriais e múltiplas.

Políticas de reabilitação é ponto importante na valorização desse grupo

vulnerável. Investimentos nestas medidas possibilitam a reinserção dos cidadãos no

mercado de trabalho e na sociedade como um todo.

45

Durante a Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos

e Dignidade das Pessoas com Deficiência, em 26 de Agosto de 2006, na Sede da

Organização das Nações Unidas, foram elencados princípios básicos que nos

permitem entender os verdadeiros anseios das pessoas com deficiência:

Não esconder ou camuflar a deficiência; Não aceitar o consolo da falsa ideia de que todo mundo tem deficiência; Mostrar com dignidade a realidade da deficiência; Valorizar as diferenças e necessidades decorrentes da deficiência; Combater neologismos que tentam diluir as diferenças, tais como

“pessoas com capacidades especiais”, “pessoas com eficiências diferentes”, “pessoas com habilidades diferenciadas”, “pessoas deficientes”, “pessoas especiais”, “é desnecessário discutir a questão das deficiências porque todos nós somos imperfeitos”, “não se preocupem, agiremos como avestruzes com a cabeça dentro da areia” (“aceitaremos vocês sem olhar para as suas deficiências”);

Defender a igualdade entre as pessoas com deficiência e as demais pessoas em termos de direitos e dignidade, o que exige a equiparação de oportunidades para pessoas com deficiência e atendendo às diferenças individuais e necessidades especiais, que não devem ser ignoradas;

Identificar nas diferenças todos os direitos que lhes são pertinentes e a partir daí encontrar medidas específicas para o Estado e a sociedade diminuírem ou eliminarem as “restrições de participação” (dificuldades ou incapacidades causadas pelos ambientes humano e físico contra as pessoas com deficiência).

Através desses princípios levantados na convenção, percebe-se que o

respeito à dignidade da pessoa humana é o principal objetivo das pessoas com

deficiência. O tratamento igualitário e despido de preconceitos interfere na moral

dessa pessoa. Não basta investimentos para melhorias de acessos, ambientes e

meios de locomoção quando a sociedade majoritária não pretende aceitar e

respeitar as pessoas com necessidades especiais como parte integrante da

sociedade. A inclusão social desses grupos deve alcançar o ideal através da

conscientização coletiva sem ter que ser sustentada pelo aparato legislativo.

3.4.5 Comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

Abrangem as pessoas que possuem manifestação de orientação sexual

minoritária (lésbicas, gays, bissexuais), bem como, pessoas com manifestação de

identidade de gêneros divergentes do sexo designado no nascimento (travestis,

transexuais). Uma pessoa pode identificar-se com um gênero diverso de seu sexo

biológico (SENASP, 2010, p. 80). Tal comunidade vem paulatinamente buscando

46

seu espaço, aceitação e harmonia junto ao convívio social, tanto o é, que já não são

poucas as manifestações de adeptos e simpatizantes em todos os rincões do Brasil,

especialmente nos eventos denominados Parada do Orgulho LGBTT.

Tal inclusão está estampada no Artigo II, da Declaração Universal dos

Direitos Humanos, do qual o Brasil é país signatário, sendo que este, assim

prescreve, in verbis:

Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem

nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Ainda a Carta Magna de 1988, em seu Art. 3º, reitera que são objetivos

fundamentais a promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo,

cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Portanto, partindo-se da análise da Declaração Universal dos Direitos

Humanos bem como com base no estampado na Carta Magna de 1988, qualquer

ação homofóbica, a qual se caracteriza pela aversão, ódio, desprezo e preconceito

emanados de parcela da sociedade (violência social), que ainda não compreende, e

que muitas vezes não respeita a orientação sexual como uma forma de liberdade

inerente a individualidade do ser humano, deve ser encarada como um desrespeito

aos princípios de uma sociedade livre e pluralista, cabendo, portanto ao governo e a

sociedade promover parcerias que desmistifiquem o tema e esclareçam a população

sobre seus direitos e deveres como cidadão e seu papel na construção da

cidadania.

3.4.6 Crianças e Adolescentes

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei Nº 8.069, de 13 de Julho

de 1990 – define criança, como sendo a pessoa com idade inferior a doze anos e

adolescente a pessoa com idade de igual ou superior a doze e menor que dezoito

anos. Já, a Declaração dos Direitos da Criança, define criança como sendo aquela

que não possui maturidade física ou mental e que necessita de cuidados especiais.

As garantias e a proteção conferida pela Constituição Federal foram

regulamentadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Assim como

47

exposto na legislação nacional, as referências constantes na Declaração Universal

dos Direitos Humanos (DUDH) e Convenção sobre os Direitos das Crianças (CDC)

retratam as condições de fragilidade perante a sociedade que é percebida nas

crianças e nos adolescentes.

Assim como em outros grupos vulneráveis, as crianças e adolescentes

acabam vitimadas pela ausência dos investimentos públicos na sociedade. A

economia familiar atingida lança esses cidadãos em formação num mercado de

trabalho informal e, muitas vezes, ilegal, privando-os, também, do lazer, educação e

saúde. Além dos fatores econômicos encontra-se as questões ditas como culturais

como causa da violência e para justificar estas, quando na verdade nada mais é do

que a mesma ausência de políticas públicas que afetaram a formação dos pais,

tornando-os despreparados para tutela que deveriam exercer.

Observa-se que, quando a família permite a violação dos direitos da criança

ou do adolescente; ou ainda, quando se trata de violência doméstica ou sexual

praticada pelos pais ou tutores, o Estado passa a ser o principal responsável para se

atingir as garantias do direito à dignidade da pessoa humana deste grupo vulnerável,

seja pelo Município, Estado ou União, considerando a falha da família e sociedade.

Para a Doutrina da Proteção Integral ser alcançada, faz-se necessário que

todos os segmentos do Estado atinjam o preceituado no Estatuto da Criança e do

Adolescente, entretanto, a educação, em especial, apresenta-se como ferramenta

decisiva na prevenção da violência e da violação dos direitos das crianças e dos

adolescentes, uma vez que é capaz de quebrar o ciclo vicioso da pobreza e da

vulnerabilidade econômica não apenas do indivíduo, mas também de suas futuras

gerações. Através da educação se formariam cidadãos adultos capazes de assumir

funções familiares zelosas que não lhes foram conferidas. Por fim, vale mencionar

que a manutenção da família como única referência para a criança e o adolescente

é prejudicial quando aquela não possui os elementos necessários para fornecer

cultura, alimentação, lazer, entre outros.

3.5 O ESTATUTO DO IDOSO (O IDOSO COMO SUJEITO DE DIREITOS)

Os famosos jargões como, “Idoso” e “velho” costumam ser usados como

sinônimos. Contudo, “velho” mais facilmente designa uma limitação como aspecto

absoluto da existência de alguém, como se fosse possível definir uma pessoa pelas

48

suas perdas de vigor e do funcionamento dos sentidos. Como critério que não seja

meramente depreciativo, o Estatuto usou a denominação “Idoso”. Pois, a idade

avançada será o parâmetro genérico para o tratamento diferenciado de quem há

mais tempo está vivo. Não será, portanto, pela limitação, mas pela longevidade, que

será sujeito de direitos segundo o Estatuto do Idoso.

Tanto o atual Código Civil, em seu art. 1.641, quanto o Estatuto do Idoso, em

seu art. 2º, definem como idosos aqueles que tiverem idade igual ou superior a

sessenta anos. Os diferentes graus da velhice não serão levados em consideração,

pois não é possível considerá-los no cotidiano com facilidade.

O Estatuto do Idoso, LEI Nº 10.741, de 1º de Outubro de 2003, foi fruto de

trabalho conjunto de parlamentares, especialistas, profissionais das áreas de saúde,

Direito, Assistência Social e das entidades e organizações não governamentais

voltadas para a defesa dos direitos e proteção aos idosos.

Tudo está contemplado no Estatuto: o direito; a saúde, a educação, a

habitação, a ação do Ministério Publico para acelerar processos em defesa do idoso.

Observa-se que o Estatuto do Idoso representa um exercício de cidadania

no resgate da dignidade da pessoa humana (contemplado na Bioética). De fato, o

Estatuto do Idoso apregoa:

estabelece como dever da família, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, o efetivo direito à vida, à saúde, à alimentação, ao transporte, à moradia, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária;

transforma em crime, com penas que vão até 12 anos de prisão, maus tratos a pessoas idosas;

proíbe a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados por idade;

assegura o fornecimento de medicamentos, especialmente os de uso continuado, como para tratar hipertensão e diabetes;

assegura aos idosos com mais de 65 anos que vivem em famílias carentes o benefício de um salário mínimo;

garante prioridade ao idoso na compra de unidades em programas habitacionais públicos.

Esses são alguns direitos registrados no Estatuto do Idoso.

Não é à toa que, em seu art. 2º, o Estatuto não apenas informa que o idoso

tem “todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana”, mas tem direito a

todas as oportunidades para preservar sua condição física e mental atual e continuar

se aperfeiçoando em todos os sentidos. Todos os direitos sociais previstos no art. 6º

49

da Constituição Federal, bem como a saúde como prevista no seu art. 196, serão

garantidos ao idoso.

A Constituição Federal de 1988 assegura também, em seu art. 230, que a

família, a sociedade e o Estado devem ser solidariamente responsáveis por

assegurar ao idoso a sua participação na comunidade. Infelizmente, a Constituição

restringia a defesa dos direitos do idoso a terceiros, não o considerando como

sujeito ativo de seus direitos, quando afirma que a família, a sociedade e o Estado

defenderão sua dignidade e seu bem-estar.

O Estatuto do Idoso foi inovador nesse sentido. Em seu art. 8º, o

envelhecimento é considerado um direito personalíssimo. Pois, é inato da pessoa,

impossível de transferir a qualquer outro ou, como prefere Boas, uma característica

do “próprio segredo de sua individualidade” (BOAS, 2005, p. 15). Sendo assim, cabe

ao Estado promover o acesso aos direitos aos idosos, porém a quem recorrer

quando não atendido o que a lei ampara. Na sequência, tratar-se-á do uso da força

policial como promotora de direitos, não como resposta a agressão, mas apresenta-

se o uso da força como garantia de exercício de direitos pelos vulneráveis, em

especial, os idosos.

3.6 USO DA FORÇA COMO PROMOTOR DE DIREITOS HUMANOS

Quando fala-se em uso da força, verifica-se que o Estado, exercendo a

manutenção da ordem e da Lei através de seus órgãos, quer seja pela imposição da

norma, ou pelo poder de coerção dos órgãos estatais.

Dentro de um Estado Democrático de Direito, a autoridade e o poder

outorgado pelo cidadão às Organizações Policiais, dão a estas o caráter legal para o

uso da força, concebendo até mesmo a possibilidade do uso da força letal em

determinado casos. Assim, a responsabilidade dos policiais militares é enorme e

pode gerar conseqüências irreparáveis frente ao mau uso, podendo ainda, macular a

dignidade das pessoas envolvidas e gerar insatisfação à sociedade, em razão da

flagrante oposição aos direitos humanos, considerando que a polícia existe para

evitar a ação violenta e não para praticá-la desnecessariamente, e, nesse sentido,

Cerqueira (1998, p.68) disse:

50

A tarefa da polícia na sociedade é difícil e delicada, e é reconhecido como inteiramente legitimo o uso da força pela polícia sob circunstâncias claramente definidas e controladas. Entretanto, o abuso do poder de usar a força choca-se com o próprio princípio em que se baseiam os direitos

humanos – o do respeito pela dignidade inerente à pessoa humana.

Até porque o uso de violência desnecessária gera mais violência e nesse

sentido, Balestreri (2003, p. 29), diz que “é por isso que a truculência oficial é

causadora, sempre, de mais truculência, perturbação social e desordem”. A polícia

que usa da violência para garantir um direito ou aplicar a lei, não está resolvendo o

conflito, mas está se somando a ele e nesse sentido, entende-se que cabe aos

agentes de segurança, em especial a Polícia Militar de Santa Catarina, o pleno

conhecimento dos direitos dos vulneráveis, para que dentro do que rege a lei,

assessore da melhor maneira possível os idosos, quando solicitarem, para que seus

direitos sejam atingidos.

Muitas vezes os agentes de segurança pública, se limitam a promoção

apenas do uso da força, porém, muitas vezes, quando acionados para promoverem

o acesso a direitos ficam sem saber ao certo o que fazer, quando na verdade

deveriam saber quais os direitos inerentes a pessoa, e qual o “caminho” para o seu

fiel cumprimento. Muitas vezes o não conhecimento pela autoridade policial, gera

uma nova violação a dignidade da pessoa humana.

O Estatuto da Policia Militar de Santa Catarina, Lei Nº 6.218, de 10 de

fevereiro de 1983, em seu artigo 29, traz que os Policiais Militares são responsáveis

pelo cumprimento da lei, e ainda, assessorarem para que a comunidade alcance

seus direitos. Assim, pode-se até dizer que a Polícia Militar é responsável para que

os vulneráveis, em especial os idosos, tenham acesso ao seu direito.

3.7 A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR FRENTE AOS DIREITOS DOS IDOSOS

A atual Polícia, a Polícia cidadã que fora plantada com a Constituição

Federal em vigor, nasceu, cresceu, floresceu e já dá bons frutos para toda a

sociedade brasileira cumprindo sua função de bem proteger a população contra as

ações criminosas diversas e lutar pela cidadania geral.

Dentre todas as classes sociais, dentre todos os grupos de pessoas,

encontram-se os grupos dos vulneráveis que carecem de uma maior atenção e

51

proteção por parte da Polícia e das demais organizações constituídas para bem

zelar pelo Estado Democrático de Direito estabelecido no País.

Os considerados vulneráveis são aquelas pessoas que por condições

diversas têm as diferenças estabelecidas entre eles e a sociedade que os envolve e

que em conseqüência os transformam em desiguais. A desigualdade, entre outras

determinantes, torna a pessoa em incapaz ou pelo menos, dificulta enormemente a

sua faculdade de livremente expressar a sua vontade própria.

Dentre os vulneráveis que necessitam de proteção especial por parte da

Polícia, trata-se nesse estudo do idoso, visto que necessitam de tratamento

adequado.

Nesse estudo, verifica-se que a Organização Mundial da Saúde classificou

cronologicamente como idosa no Brasil e em outros, em desenvolvimento, a pessoa

com mais de 60 anos de idade. E assim, as Leis seguiram tal classificação e

orientação para estabelecerem os seus direitos inerentes, cuja obrigação de

cumprimento é da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público em

todas as suas esferas, órgãos e instituições.

O grande cuidado que a polícia deve ter é inicialmente o lado psicológico,

pois as pessoas idosas têm habilidade regenerativas limitadas, mudanças físicas e

emocionais que expõe a perigo a qualidade de vida deles. Podendo levar à

Síndrome da Fragilidade, conjunto de manifestações físicas e psicológicas de um

idoso onde poderá desenvolver doenças. Assim, cabe ao estado o

acompanhamento e a fiscalização para que seus direitos sejam respeitados.

Ressalta-se, que apesar dos avanços sociais, apesar de seis anos de

vigência do Estatuto, uma grande parte da sociedade ainda trata o idoso como se

fosse ele um traste qualquer, sem mais utilidade alguma, um simples objeto

descartável, um fardo pesado. Para muitos envelhecer é passar do ativo ao passivo,

ou seja, deixar de fazer para que façam por ele, é deixar de ter valor, deixar de ter

habilidade, deixar de ter opinião própria, deixar de ser cidadão e, passar a ser

limitado em tudo. Isso em todos os setores da vida é assim, inclusive nos locais de

trabalho. Envelheceu, se aposentou, logo a sua larga folha de serviço prestados ao

povo é colocada num canto. Esquecendo-se de valorizar em vida a sua sabedoria

adquirida na pratica da sua trajetória. Esquecendo-se de enaltecer a riqueza da

experiência acumulada ao longo dos anos da sua existência. Esquecendo-se que o

idoso pode trazer de volta, pode resgatar muitos valores perdidos pela violência da

52

sociedade que em desabalada correria deixou-se cair pelo caminho, tais quais: A

honra, a dignidade e a honestidade, trina valoração maior dos tempos idos, dos

velhos tempos”

A questão da humilhação, dos maus tratos e crimes diversos praticados

contra os idosos continua sendo sério problema no seio da sociedade apesar de

todos os órgãos de denúncia, ajuda e proteção, criados a partir da Lei especifica em

vigor. O idoso continua sendo vítima dos mais diversos tipos de violência, tanto no

âmbito social e familiar quanto na área das entidades públicas e privadas diversas

que agem como se estivessem acima das Leis, quando na verdade, por conta disso,

encontram-se à margem dessas.

As Delegacias Especializadas em Proteção ao Idoso são os elos de ligação

da atividade policial militar, onde ela existir, será lá que o caso deverá ser tratado,

em não existindo uma delegacia especializada em criança ou menor deverá ser

acionada, em último a delegacia convencional de polícia.

O idoso é também vítima fácil para todas as espécies de marginais.

Constantemente sofre lesões corporais, injúrias, homicídios, latrocínios, roubos,

furtos e golpes de estelionatos ou fraudes diversas.

Um fato que pode ser citado são os golpes que as quadrilhas de

estelionatários ou falsários freqüentemente aplicam nos idosos, visando as suas

ínfimas aposentadorias. Pessoas sem o mínimo escrúpulo, aproveitando-se da boa

vontade, da inocência ou da falta de discernimento ou raciocínio lógico de muitos

idosos, os enganam facilmente, até mesmo por telefone, com falsas promessas ou

vantagens miraculosas, fazendo empréstimos e compras em seus nomes ou por

vezes, tomando-lhes os seus proventos.

No âmbito familiar não é diferente. Por vezes, os próprios filhos ou parentes

próximos, usando de artifício, ardil, fraude ou de posse de procurações, passam a

administrar os seus proventos ou realizam empréstimos na mais alta condição

possível dos idosos para usar o dinheiro em benefício próprio, deixando os mesmos,

a passar necessidades e privações, diminuindo ainda mais a suas mínimas pensões

por longos e intermináveis anos.

É aí que o Policial protetor da sociedade, protetor do idoso, também ser

humano, também sensível, filho, pai, futuro idoso, surge. Surge para que a agressão

cesse, e que a dignidade seja reparada.

53

A força de frente do Poder Público trabalha para fazer valer os direitos do

cidadão idoso. A Polícia, o Ministério Público e o Judiciário agem em defesa do

idoso e da própria ordem constitucional para fazer cumprir as Leis e punir os seus

infratores.

A Polícia na qualidade de guardiã das Leis e protetora da sociedade age

preventivamente e repressivamente, evitando ou investigando os crimes para

entregar os infratores à Justiça. Quando fala-se em guardiã da lei, entende-se aqui,

a atuação onde o policial utilize-se da força necessária para garantia dos direitos dos

idosos, promovendo a garantia de seus direitos, bem como a dignidade da pessoa

humana.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desígnio do presente Trabalho de Conclusão de Curso, conforme exposto

inicialmente, foi realizar um estudo sobre de que forma a Polícia Militar deve atuar

em ocorrências que envolvam os grupos vulneráveis, em especial os idosos. Para

tanto, a atuação deve respeitar os princípios balizadores dos direitos humanos

expressos na Constituição Federal, legislação internacional, diretrizes de

procedimentos operacionais e a legislação específica do grupo vulnerável do

presente estudo.

Em um outro momento, analisou-se de que forma se deu a criação das

polícias no âmbito nacional e mundial, e de que forma recebeu esta conceituação.

Além disso, verificaram-se os aspectos doutrinários acerca da missão das Polícias

Militares no que concerne à preservação da Ordem Pública e a polícia ostensiva,

advindas da Constituição Federal de 1988.

Neste sentido, destaca-se que à Polícia Militar cabe a polícia ostensiva e a

preservação da ordem pública. Missões prevista na Constituição Brasileira de 88.

Sua atuação visa garantir os direitos individuais dos seres humanos, dentre os quais,

estão inseridos de forma específica, os dos idosos.

Para esta função, definiu-se a Polícia Militar como órgão de Segurança

Pública, apontando além dos conceitos doutrinários, o seu poder. Poder este,

chamado de poder de polícia, abrangente e vinculado.

Quando fala-se em poder vinculado, quer seja amplo ou restrito, entende-se

que é aquele que se vincula a lei, dito isso, verifica-se a importância do preparo

policial militar, bem como, o conhecimento das suas funções para tratar de um grupo

que merece uma maior atenção.

Durante o desenvolvimento do estudo, verificou-se a questão dos direitos

humanos, tratados aos quais o Brasil faz parte, grupos vulneráveis e o Estatuto do

Idoso.

Neste mesmo trilhar, o trabalho também aponta a questão da especialidade.

Quando o policial militar atuar em ocorrências envolvendo idosos, deve procurar

delegacias e justiça especializadas em idosos.

Também apresentou-se o policial como agente de segurança pública e

promotor de direitos humanos, elencando sua atuação de acordo com o que foi

apresentado como competência da Polícia Militar.

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O objetivo final do trabalho foi apresentar a evolução legislativa, e mostrar

que o policial, pode e deve atuar na promoção de direitos humanos e acessibilidade.

Procura-se apresentar que o “uso legítimo da força” não é unicamente uma resposta

por parte da polícia a uma agressão sofrida, mas também um ato preventivo previsto

em lei.

Por fim, pode-se afirmar que os métodos utilizados foram essenciais para

que se pudesse concluir o trabalho de forma satisfatória, buscando apresentar a

forma de atuação do policial militar na perspectiva dos direitos humanos, frente à

legislação pertinente ao grupo vulnerável - idosos.

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