52
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ UTP Silvana Medina Neves Raichl A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE CURITIBA 2011

A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANAacute ndash UTP

Silvana Medina Neves Raichl

A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO

CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE

CURITIBA

2011

Silvana Medina Neves Raichl

A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO

CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE

Trabalho de conclusatildeo apresentado ao Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Ciecircncias Juriacutedicas da Universidade Tuiuti do Paranaacute como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Direito Orientador Prof Daacutelio Zippin Filho

CURITIBA

2011

TERMO DE APROVACcedilAtildeO

Silvana Medina Neves Raichl

A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO

CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em

Direito do Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Ciecircncias Juriacutedicas da

Universidade Tuiuti do Paranaacute

Curitiba __ de __________ de 2011

____________________________________________

Curso de Graduaccedilatildeo em Direito

Universidade Tuiuti do Paranaacute

Orientador ______________________________

Prof Dr Daacutelio Zippin Filho

Universidade Tuiuti do Paranaacute

______________________________

______________________________

Dedico esta pesquisa a meu pai que pelo

seu esforccedilo e trabalho pode proporcionar o

momento mais especial de minha vida a

conclusatildeo de meus estudos

6

AGRADECIMENTO

Agradeccedilo a meu orientador

pela compreensatildeo e agrave minha

famiacutelia pelo incentivo sempre

presentes em minha vida

8

RESUMO

Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema

PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade

SUMAacuteRIO

CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO

08

CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

09

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

09

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988

10

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14

2311 Garantias Prerrogativas 15

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16

CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23

321 Natureza Juriacutedica 25

322 Competecircncia 25

CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

28

41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial

28

32

34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS

39 40 42 43 45 47 49

INTRODUCcedilAtildeO

Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu

monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como

prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo

de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a

respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu

direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal

Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos

para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na

qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito

Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998

p25)

ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo

O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o

grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas

meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal

Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a

problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em

concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais

Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste

estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes

Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 2: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

Silvana Medina Neves Raichl

A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO

CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE

Trabalho de conclusatildeo apresentado ao Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Ciecircncias Juriacutedicas da Universidade Tuiuti do Paranaacute como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Direito Orientador Prof Daacutelio Zippin Filho

CURITIBA

2011

TERMO DE APROVACcedilAtildeO

Silvana Medina Neves Raichl

A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO

CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em

Direito do Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Ciecircncias Juriacutedicas da

Universidade Tuiuti do Paranaacute

Curitiba __ de __________ de 2011

____________________________________________

Curso de Graduaccedilatildeo em Direito

Universidade Tuiuti do Paranaacute

Orientador ______________________________

Prof Dr Daacutelio Zippin Filho

Universidade Tuiuti do Paranaacute

______________________________

______________________________

Dedico esta pesquisa a meu pai que pelo

seu esforccedilo e trabalho pode proporcionar o

momento mais especial de minha vida a

conclusatildeo de meus estudos

6

AGRADECIMENTO

Agradeccedilo a meu orientador

pela compreensatildeo e agrave minha

famiacutelia pelo incentivo sempre

presentes em minha vida

8

RESUMO

Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema

PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade

SUMAacuteRIO

CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO

08

CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

09

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

09

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988

10

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14

2311 Garantias Prerrogativas 15

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16

CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23

321 Natureza Juriacutedica 25

322 Competecircncia 25

CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

28

41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial

28

32

34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS

39 40 42 43 45 47 49

INTRODUCcedilAtildeO

Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu

monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como

prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo

de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a

respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu

direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal

Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos

para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na

qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito

Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998

p25)

ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo

O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o

grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas

meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal

Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a

problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em

concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais

Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste

estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes

Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 3: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

TERMO DE APROVACcedilAtildeO

Silvana Medina Neves Raichl

A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO

CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em

Direito do Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Ciecircncias Juriacutedicas da

Universidade Tuiuti do Paranaacute

Curitiba __ de __________ de 2011

____________________________________________

Curso de Graduaccedilatildeo em Direito

Universidade Tuiuti do Paranaacute

Orientador ______________________________

Prof Dr Daacutelio Zippin Filho

Universidade Tuiuti do Paranaacute

______________________________

______________________________

Dedico esta pesquisa a meu pai que pelo

seu esforccedilo e trabalho pode proporcionar o

momento mais especial de minha vida a

conclusatildeo de meus estudos

6

AGRADECIMENTO

Agradeccedilo a meu orientador

pela compreensatildeo e agrave minha

famiacutelia pelo incentivo sempre

presentes em minha vida

8

RESUMO

Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema

PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade

SUMAacuteRIO

CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO

08

CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

09

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

09

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988

10

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14

2311 Garantias Prerrogativas 15

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16

CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23

321 Natureza Juriacutedica 25

322 Competecircncia 25

CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

28

41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial

28

32

34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS

39 40 42 43 45 47 49

INTRODUCcedilAtildeO

Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu

monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como

prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo

de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a

respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu

direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal

Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos

para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na

qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito

Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998

p25)

ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo

O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o

grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas

meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal

Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a

problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em

concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais

Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste

estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes

Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 4: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

Dedico esta pesquisa a meu pai que pelo

seu esforccedilo e trabalho pode proporcionar o

momento mais especial de minha vida a

conclusatildeo de meus estudos

6

AGRADECIMENTO

Agradeccedilo a meu orientador

pela compreensatildeo e agrave minha

famiacutelia pelo incentivo sempre

presentes em minha vida

8

RESUMO

Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema

PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade

SUMAacuteRIO

CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO

08

CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

09

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

09

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988

10

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14

2311 Garantias Prerrogativas 15

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16

CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23

321 Natureza Juriacutedica 25

322 Competecircncia 25

CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

28

41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial

28

32

34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS

39 40 42 43 45 47 49

INTRODUCcedilAtildeO

Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu

monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como

prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo

de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a

respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu

direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal

Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos

para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na

qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito

Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998

p25)

ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo

O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o

grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas

meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal

Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a

problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em

concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais

Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste

estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes

Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 5: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

6

AGRADECIMENTO

Agradeccedilo a meu orientador

pela compreensatildeo e agrave minha

famiacutelia pelo incentivo sempre

presentes em minha vida

8

RESUMO

Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema

PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade

SUMAacuteRIO

CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO

08

CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

09

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

09

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988

10

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14

2311 Garantias Prerrogativas 15

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16

CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23

321 Natureza Juriacutedica 25

322 Competecircncia 25

CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

28

41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial

28

32

34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS

39 40 42 43 45 47 49

INTRODUCcedilAtildeO

Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu

monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como

prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo

de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a

respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu

direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal

Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos

para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na

qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito

Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998

p25)

ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo

O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o

grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas

meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal

Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a

problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em

concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais

Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste

estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes

Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 6: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

AGRADECIMENTO

Agradeccedilo a meu orientador

pela compreensatildeo e agrave minha

famiacutelia pelo incentivo sempre

presentes em minha vida

8

RESUMO

Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema

PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade

SUMAacuteRIO

CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO

08

CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

09

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

09

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988

10

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14

2311 Garantias Prerrogativas 15

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16

CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23

321 Natureza Juriacutedica 25

322 Competecircncia 25

CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

28

41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial

28

32

34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS

39 40 42 43 45 47 49

INTRODUCcedilAtildeO

Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu

monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como

prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo

de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a

respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu

direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal

Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos

para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na

qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito

Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998

p25)

ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo

O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o

grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas

meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal

Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a

problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em

concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais

Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste

estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes

Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 7: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

8

RESUMO

Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema

PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade

SUMAacuteRIO

CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO

08

CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

09

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

09

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988

10

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14

2311 Garantias Prerrogativas 15

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16

CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23

321 Natureza Juriacutedica 25

322 Competecircncia 25

CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

28

41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial

28

32

34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS

39 40 42 43 45 47 49

INTRODUCcedilAtildeO

Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu

monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como

prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo

de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a

respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu

direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal

Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos

para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na

qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito

Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998

p25)

ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo

O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o

grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas

meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal

Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a

problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em

concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais

Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste

estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes

Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 8: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

RESUMO

Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema

PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade

SUMAacuteRIO

CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO

08

CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

09

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

09

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988

10

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14

2311 Garantias Prerrogativas 15

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16

CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23

321 Natureza Juriacutedica 25

322 Competecircncia 25

CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

28

41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial

28

32

34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS

39 40 42 43 45 47 49

INTRODUCcedilAtildeO

Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu

monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como

prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo

de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a

respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu

direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal

Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos

para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na

qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito

Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998

p25)

ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo

O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o

grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas

meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal

Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a

problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em

concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais

Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste

estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes

Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 9: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

SUMAacuteRIO

CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO

08

CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

09

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

09

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988

10

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14

2311 Garantias Prerrogativas 15

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16

CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23

321 Natureza Juriacutedica 25

322 Competecircncia 25

CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

28

41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial

28

32

34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS

39 40 42 43 45 47 49

INTRODUCcedilAtildeO

Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu

monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como

prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo

de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a

respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu

direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal

Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos

para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na

qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito

Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998

p25)

ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo

O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o

grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas

meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal

Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a

problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em

concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais

Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste

estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes

Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 10: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

INTRODUCcedilAtildeO

Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu

monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como

prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo

de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a

respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu

direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal

Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos

para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na

qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito

Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998

p25)

ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo

O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o

grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas

meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal

Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a

problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em

concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais

Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste

estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes

Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 11: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

9

2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS

21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL

As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem

entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no

antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos

magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura

do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e

Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do

advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos

bens do Imperador

Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios

imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos

ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do

priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio

Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem

tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem

do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs

conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila

figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio

Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se

conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como

designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 12: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

10

denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos

Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de

piso taqueado

22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL

DE 1988

O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder

Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma

Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias

Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822

persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com

atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma

fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil

A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de

1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado

ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio

Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores

Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com

esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a

previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 13: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

11

1281

Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade

principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de

ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas

instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico

volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139

Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm

Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do

Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a

instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal

A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no

que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico

Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal

1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral

e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 14: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

12

e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica

Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao

Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal

Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial

No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela

Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que

seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos

auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo

dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)

atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto

Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de

1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o

risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos

Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da

Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam

ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981

pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 15: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

13

ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias

processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico

de Direito

23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito

fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees

marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes

de exceccedilatildeo

Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio

Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero

mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e

garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado

O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs

Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute

instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a

defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e

individuais indisponiacuteveis

Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo

ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos

do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e

sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees

eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 16: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

14

jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave

existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico

de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua

atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela

soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e

garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses

sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas

determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles

direitos que o particular natildeo poder dispor livremente

231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico

A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do

Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional

princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e

independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute

oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer

um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o

Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da

Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio

Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal

e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas

particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo

Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 17: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

15

unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de

seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e

indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas

atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial

seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees

A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma

posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e

para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental

Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois

princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o

promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da

irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo

civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado

sempre seraacute responsaacutevel por danos causados

2311 Garantias Prerrogativas

Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e

prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem

expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo

de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que

exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico

natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo

dos interesses e direitos da sociedade

Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 18: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

16

funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de

exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em

processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo

pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca

proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo

discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a

irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees

determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia

participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se

que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da

advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava

Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130

A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar

pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber

reclamaccedilotildees contra seus membros

2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico

Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes

eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia

harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser

aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do

Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos

Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente

e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 19: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

17

deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no

artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a

organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave

apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este

dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo

criminal

Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o

qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e

funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi

editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas

gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as

disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela

Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de

administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares

Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a

Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12

informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho

Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o

Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a

elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares

nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e

Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do

Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim

compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as

Procuradorias e Promotorias de Justiccedila

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 20: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

18

O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo

repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal

de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e

instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com

atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico

Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em

primeira instacircncia

O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio

Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e

Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio

As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees

encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto

pela Constituiccedilatildeo

No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar

nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente

deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais

atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais

abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do

Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos

Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute

aplicada subsidiariamente

Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se

destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade

policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 21: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

19

Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio

Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito

acompanha-os e apresenta novas provas

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 22: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

20

3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento

do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal

Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura

do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que

ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a

participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de

contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)

Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)

Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro

aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem

infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo

Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela

CF88 no artigo 5ordm inciso LIV

Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo

Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob

este prisma

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 23: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

21

o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)

Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de

defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso

XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a

direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de

direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros

Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual

Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo

das garantias constitucionais

31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL

A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos

puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e

fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o

exerciacutecio da accedilatildeo penal

Sobre o tema leciona Lima

O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 24: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

22

processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)

A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio

utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos

os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio

Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais

Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute

a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)

Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo

pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de

dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de

procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da

legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo

da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo

se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o

fato em contato com o juiz

Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por

ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando

aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de

Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 25: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

23

judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem

poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas

Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo

58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no

Coacutedigo Penal Militar

32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL

Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos

do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do

seu desenvolvimento do seu desenrolar

O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da

Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel

Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave

acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao

Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar

a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a

promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo

Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis

para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria

miacutenima

A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento

vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee

[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 26: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

24

destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)

E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina

O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)

Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg

4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu

artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias

necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e

de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo

Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia

judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura

acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a

Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)

Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as

investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo

realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais

extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno

para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 27: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

25

321 Natureza Juriacutedica

Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito

Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal

A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo

caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio

tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista

apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a

intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas

Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza

juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de

preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal

Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter

administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal

322 Competecircncia

A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma

autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia

competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando

couber

Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua

Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 28: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

26

o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)

A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos

paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal

compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil

a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de

infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos

destinados agrave informatio delicti

Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse

dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer

apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no

exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo

Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)

Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)

Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo

Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas

entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva

agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem

mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias

policiais pelo mesmo

Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a

respeito podemos observar dois sensos a saber

a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 29: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

27

constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo

criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria

estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e

b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos

tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado

realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 30: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

28

4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e

verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou

a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades

tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo

havia trazido anteriormente

Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus

poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de

competecircncias concorrentes

42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA

Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute

dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da

discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por

posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a

utilidade das instituiccedilotildees existentes

Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)

entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura

constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias

investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda

segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo

exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 31: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

29

Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda

Constitucional admitindo assim outro entendimento

Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim

exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria

sentido o controle da atividade policial pelo Parquet

O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144

parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando

O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)

Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que

segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos

Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo

Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial

somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)

Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros

oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)

por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as

atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo

Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a

aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos

1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal

atribuiccedilatildeo funcional

2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a

tarefa investigativa para praacutetica de delitos

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 32: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

30

Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que

algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com

posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade

tomar uma face estritamente acusatoacuteria

Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a

acusaccedilatildeo (2003 p25)

Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na

investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)

asseverando o primeiro que

os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)

Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe

um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para

desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez

quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio

Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que

natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um

contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 33: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

31

opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado

soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees

penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo

Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma

tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio

Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no

mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave

orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos

renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da

investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a

legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo

legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a

uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)

Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que

1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o

poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas

nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de

20051993

2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria

compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria

3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria

monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com

fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo

entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 34: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

32

Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias

verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e

antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de

restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais

e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem

ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais

flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados

43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS

Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre

vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na

Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o

respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal

Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc

Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma

atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele

tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele

objetivo

Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina

[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 35: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

33

De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo

pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para

tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em

ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem

como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim

E como esclarece Canotilho (2003)

Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)

A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia

expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele

natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se

aprofunda

431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL

O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees

realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas

seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O

primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 36: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

34

Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a

mesma legitimidade

No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o

Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da

T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da

poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do

art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto

RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)

EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO

ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS

PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA

AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE

USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO

PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J

10082010 TJ 13092010)

Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu

funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu

que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia

(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a

colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da

autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo

RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)

RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ

RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS

ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)

RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 37: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

35

EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE

Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES

DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO

DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR

NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA

ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA

DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE

PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA

RECURSO DESPROVIDO

Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o

entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso

decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de

requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente

assim se posicionou pela primeira vez

CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)

Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF

O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 38: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

36

Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)

Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na

Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal

firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente

Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a

Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo

o entendimento que deve ser seguido pelo STF

HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)

HABEAS CORPUS

Relator(a) Min GILMAR MENDES

Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma

Publicaccedilatildeo

DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011

EMENT VOL-02456-01 PP-00018

Parte(s)

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3

Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa

supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada

ACOacuteRDAtildeO

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 39: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

37

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo

Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar

Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por

unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator

Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS

INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA

JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO

MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE

IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF

HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)

Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo

Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade

ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico

STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o

acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22

Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio

Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no

sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a

natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob

pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do

voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer

investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e

tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson

Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo

tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 40: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

38

que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos

[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a

fazer

Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo

no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos

Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e

Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos

em 11062007

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 41: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

39

CONCLUSAtildeO

Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de

posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder

o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a

investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva

da Poliacutecia Judiciaacuteria

Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem

posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que

firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos

investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias

constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na

doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal

que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 42: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

40

REFEREcircNCIAS

CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543

COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994

DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 43: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

41

normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 44: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

42

ANEXOS

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 45: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

43

ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)

1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave

coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os

indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo

ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do

Supremo Tribunal Federal

2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao

Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm

incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993

3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades

administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo

Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave

instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico

que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar

esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a

oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles

sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam

indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto

assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da

autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO

DJe de 26112009)

4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2

(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute

para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio

Puacuteblico

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 46: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

44

5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse

inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos

suficientes para embasar a accedilatildeo penal

6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido

referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute

cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do

contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do

convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os

testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com

a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova

produzida

7 Recurso provido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da

QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das

notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar

provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros

Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra

Ministra Relatora

Referecircncia Legislativa

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 47: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

45

(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP

ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)

1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da

accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar

a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais

como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a

deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes

agrave licitaccedilatildeo

2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial

propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a

existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo

excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as

atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas

constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo

apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas

tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min

ELLEN GRACIE DJ de 19022010)

3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o

Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para

determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e

do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes

4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio

Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural

5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em

vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e

reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de

fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os

requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 48: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

46

deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa

6 Recurso desprovido

Decisatildeo

Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA

do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas

a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs

Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra

Relatora

Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL

ART00004 PARUacuteNICO ART00041

LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

LEGFED CFB ANO1988

CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993

EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO

ART00008 INC00001 INC00005 INC00007

LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)

STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM

CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO

PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)

STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)

HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)

STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -

ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 49: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

47

STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA

Sucessivos

REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe

DATA09032011

ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930

RELATOR MIN GllMAR ENDES

PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO

IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA

COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA

RELATOacuteRIO

SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus

impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO

GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse

julgado

1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na

medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade

constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer

inclusive o controle externo da atividade policial

2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela

do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme

preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua

competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei

seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 50: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

48

3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna

vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente

apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido

torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da

presente accedilatildeo penal

4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de

supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da

accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia

5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria

criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da

denuacutencia (Suacutemula n234STJ)

6- Ordem denegada - (fl 20)

Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta

praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e

art 316 caput na forma do art 69 do CP

Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais

aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal

(fl7)

Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas

pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao

acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)

Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a

accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da

Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)

A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-

32)

A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-

59)

Eacute o relatoacuterio

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009

Page 51: A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E ...tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2012/05/A-ATUACAO-DO... · CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE ... do encarregado de

49

ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO

5937275 MINAS GERAIS

1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do

Estado de Minas Gerais e assim ementado

Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts

5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal

Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo

Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente

previstas

O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo

geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC

2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento

iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO

AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo

da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o

que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende

os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel

repercussatildeo de ordem geral

Brasiacutelia 28 de julho de 2009