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A ATUAÇÃO DO PODER LEGISLATIVO NO MUNICÍPIO DE ITAPETINGA, BAHIA (1950- 2009): UM OLHAR SOB O PONTO DE VISTA AMBIENTAL Naiara Limeira dos Santos 1 , Sandra Lúcia da Cunha e Silva 2 , Reginaldo Santos Pereira 2 1 Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Praça Primavera, 40, Bairro Primavera, Itapetinga, Bahia. [email protected] 2 Docentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil. Data de recebimento: 02/05/2011 - Data de aprovação: 31/05/2011 RESUMO No Brasil, a temática ambiental está incorporada em diversos setores da sociedade e, sem dúvida alguma, a legislação ambiental brasileira contribuiu para isso, com aplicação de multas, fiscalização e campanhas educativas. Vale destacar que a compreensão dos projetos e leis voltados para o meio ambiente, torna-se essencial para que cada cidadão possa refletir, repensar e reorganizar a sua atuação frente à coletividade. Nesse contexto, esse estudo teve por objetivo avaliar o grau de contribuição do poder legislativo com a história do movimento ambientalista do município de Itapetinga-BA. Como procedimento metodológico adotou-se a pesquisa de caráter qualitativo, através da análise documental, por meio da legislação voltada para o meio ambiente e entrevistas. Os dados revelaram que a legislação voltada para as questões ambientais no município iniciou-se no ano de 1950 e no decorrer dos anos avançou de forma lenta, somente a partir de meados de 90 é que se observa a realização de ações mais efetivas voltadas para o meio ambiente. No entanto, a partir do ano de 2002, percebe-se um amadurecimento, com a aprovação de leis em consonância com as discussões em nível nacional e mundial. PALAVRAS-CHAVE: Educação ambiental, legislação, meio ambiente. THE ACTION OF THE LEGISLATIVE IN THE CITY OF ITAPETINGA, BAHIA (1950-2009): A LOOK FROM THE ENVIRONMENTAL POINT OF VIEW. ABSTRACT In Brazil, the environmental thematic is incorporated in various sectors of society, without doubt, the Brazilian environmental legislation has contributed to it, with fines, supervision and educative campaigns. It is worth noting that the understanding of projects and laws aimed at the environment is essential, so that, every citizen can reflect, rethink and reorganize their activity in the community. In this context, the study aimed to evaluate the degree of contribution of the public managers to the history of the environmentalist movement in the city of Itapetinga-BA. As methodological procedure we adopted a qualitative study, through documentary analysis, by means of legislation concerning the environment and interviews. The results showed that the legislation concerning environmental issues in the city began ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011

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A ATUAÇÃO DO PODER LEGISLATIVO NO MUNICÍPIO DE ITAPETINGA, BAHIA (1950- 2009): UM OLHAR SOB O PONTO DE VISTA AMBIENTAL

Naiara Limeira dos Santos1, Sandra Lúcia da Cunha e Silva2, Reginaldo Santos Pereira2

1Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Praça Primavera, 40, Bairro Primavera, Itapetinga, Bahia. [email protected]

2Docentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil. Data de recebimento: 02/05/2011 - Data de aprovação: 31/05/2011

RESUMO

No Brasil, a temática ambiental está incorporada em diversos setores da sociedade e, sem dúvida alguma, a legislação ambiental brasileira contribuiu para isso, com aplicação de multas, fiscalização e campanhas educativas. Vale destacar que a compreensão dos projetos e leis voltados para o meio ambiente, torna-se essencial para que cada cidadão possa refletir, repensar e reorganizar a sua atuação frente à coletividade. Nesse contexto, esse estudo teve por objetivo avaliar o grau de contribuição do poder legislativo com a história do movimento ambientalista do município de Itapetinga-BA. Como procedimento metodológico adotou-se a pesquisa de caráter qualitativo, através da análise documental, por meio da legislação voltada para o meio ambiente e entrevistas. Os dados revelaram que a legislação voltada para as questões ambientais no município iniciou-se no ano de 1950 e no decorrer dos anos avançou de forma lenta, somente a partir de meados de 90 é que se observa a realização de ações mais efetivas voltadas para o meio ambiente. No entanto, a partir do ano de 2002, percebe-se um amadurecimento, com a aprovação de leis em consonância com as discussões em nível nacional e mundial.

PALAVRAS-CHAVE: Educação ambiental, legislação, meio ambiente.

THE ACTION OF THE LEGISLATIVE IN THE CITY OF ITAPETINGA, BAHIA (1950-2009): A LOOK FROM THE ENVIRONMENTAL POINT OF VIEW.

ABSTRACT

In Brazil, the environmental thematic is incorporated in various sectors of society, without doubt, the Brazilian environmental legislation has contributed to it, with fines, supervision and educative campaigns. It is worth noting that the understanding of projects and laws aimed at the environment is essential, so that, every citizen can reflect, rethink and reorganize their activity in the community. In this context, the study aimed to evaluate the degree of contribution of the public managers to the history of the environmentalist movement in the city of Itapetinga-BA. As methodological procedure we adopted a qualitative study, through documentary analysis, by means of legislation concerning the environment and interviews. The results showed that the legislation concerning environmental issues in the city began

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in 1950 and over the years progressed slowly, only after the mid-90s that we see the creation of more effective action aimed at environment. However, from the year 2002, we see a maturing, with the approval of laws in line with the discussions at the national and global levels.

KEYWORDS: Environmental education, legislation, environment.

INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais cada vez mais tem sido tema de discussões em todas as instâncias da sociedade. Desde empresas de grande porte até mesmo instituições de ensino estão discutindo caminhos e tomando atitudes de conscientização para soluções imediatas dos problemas ambientais. Novas leis foram sancionadas, acordos internacionais estão em vigor. No entanto, essas leis não foram suficientes, pois ainda são grandes os problemas socioambientais que a humanidade vivencia e suas soluções ainda estão longe de serem resolvidas.

Foi a partir da década de 60 que os movimentos ambientalistas começaram a ganhar forma. Em virtude de denúncias, com consequente percepção da sociedade de que precisava se organizar para assim estar protegida. Iniciou-se uma ampla reflexão a cerca da problemática e um interesse público da questão. Nesse período surgem as primeiras organizações ambientalistas não governamentais, a exemplo da Worlwide Fund for Nature (WWF), criada na Suíça no ano de 1961 e atualmente atuando em nível global.

No Brasil, o tema meio ambiente está incorporado em diversos setores da sociedade, alguns por obrigatoriedade, muitos por conveniência financeira e outros por consciência socioambiental. Sem dúvida alguma a legislação ambiental brasileira tem a sua parcela de contribuição, em decorrência da aplicação de multas, fiscalização e campanhas educativas.

No entanto, muitas vezes, a aplicabilidade dessa legislação mostra-se ineficaz, já que o contingente de profissionais é insuficiente, contando, ainda, com a corrupção e a “conveniência” de muitos gestores na não divulgação dos direitos do cidadão, expressos através da legislação, emperrando ainda mais esse processo e, principalmente, dificultando o avanço na gestão participativa. LARANJEIRA (1996) destaca que é necessária a criação de mecanismos que possibilitem a ampliação da mobilização da sociedade civil, visando aumentar a participação dos cidadãos nos movimentos sociais.

Vale ressaltar que a compreensão dos projetos e leis voltados para o meio ambiente torna-se essencial, para que cada cidadão possa refletir, repensar e reorganizar a sua atuação frente à coletividade, de forma a propiciar atitudes e ações mais corretas na luta pela construção de uma sociedade mais igualitária do ponto de vista socioambiental e, como conseqüência, trazer benefícios incontáveis a toda humanidade. Nesse aspecto, sem sombra de dúvidas o papel da educação é essencial. Uma educação que, de forma contextualizada, leva cada cidadão a se perceber como parte integrante de um todo, com direitos e deveres. Um Ser coletivo, que escreve cotidianamente a sua história e atua, também, como co-autor no

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processo de construção da história da humanidade. Um cidadão, que mesmo quando não está atuando ainda assim estará construindo a história.

O referido estudo foi realizado no município de Itapetinga, localizado na região Sudoeste da Bahia, que possui uma área geográfica de 1.615,4 km2 e é o terceiro município mais populoso do Sudoeste da Bahia com população de 57.931 habitantes representa 5,10% desta região e 0,44% do total do Estado, taxa de urbanização de 95,25% encontra-se muito acima da apresentada para o Sudoeste da Bahia que é de 65,29% e para o conjunto do Estado, que é de 67,65%, revelando uma grande concentração da população na área urbana (OLIVEIRA, 2003).

METODOLOGIA

Esse estudo teve por objetivo avaliar o grau de contribuição do poder legislativo na história do movimento ambientalista do município de Itapetinga-BA, no período compreendido entre 1950 a 2009, com vistas a propiciar uma maior compreensão da comunidade em relação ao ambientalismo no município.

Como procedimento metodológico foi utilizada uma pesquisa de caráter qualitativo, visto que, segundo DIAS (1998) a pesquisa qualitativa se caracteriza, principalmente, pela ausência de medidas numéricas e análises estatísticas, examinando aspectos mais profundos e subjetivos do tema em estudo, e isso foi feito através da análise documental, de entrevista e análise da legislação voltada para o meio ambiente. Esse estudo foi desenvolvido no período de agosto de 2008 a julho de 2009.

Inicialmente foi realizada uma revisão de literatura sobre os movimentos ambientalistas em nível mundial e no Brasil, que culminaram com a elaboração de protocolos e legislações. Paralelamente, foi feito um levantamento de toda a legislação ambiental existente na Câmara de Vereadores do município de Itapetinga, no período de 1950 a 2009.

De acordo com a necessidade de ampliar a compreensão do contexto histórico em que se deu a proposta e a posterior aprovação das Leis, buscou-se analisar documentos, obtidos na Prefeitura Municipal de Itapetinga e na Câmara de Vereadores. Foram realizadas, também, entrevistas não estruturadas, na modalidade de entrevista focalizada. Segundo MARCONI & LAKATOS (2005), esse é um importante instrumento metodológico, utilizado nos vários campos das ciências sociais ou de outros setores de atividades. As entrevistas foram realizadas com a bióloga da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, um professor do município que estava ligado ao oferecimento da disciplina relacionada à educação ambiental e o assessor de comunicação do Sistema Autônomo de Água e Esgoto, com o objetivo de esclarecer pontos relativos aos documentos analisados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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1 O surgimento da cidade de Itapetinga

O município de Itapetinga, atualmente com cinqüenta e seis anos de emancipação, começou a ser desbravado em 1912 pelo cidadão Bernardinho Francisco de Souza que residia na fazenda Piabanha, perto da cidade de Cachimbo. Impulsionado pela vontade de achar a estrada pedestre que levava até a cidade de Itabuna, Bernardinho se juntou ao irmão e ao sogro e mais alguns trabalhadores contratados, os quais deixaram suas casas e foram se aventurar por terras ignoradas (MOURA, 1998).

Homem forte, determinado e convicto de suas pretensões, Bernardinho não se intimidou com as dificuldades que surgiram à sua frente e juntamente com os demais componentes do grupo, saiu desbravando as matas até então desconhecidas. Assim, munidos de todo equipamento rústico necessário para a viagem, desceram margeando o velho Rio Pardo na esperança de serem bem sucedidos (SILVA, 2002). Segundo Campos (2006).

Ao subir as primeiras ladeiras daquela região Bernardinho e seu grupo se deparou na descida com um caudaloso rio, o “rio Catulé”. Maravilhados com tamanha paisagem e beleza cênica e como já estava entardecendo, lá eles beberam, abasteceram seus cantis e tomaram banho. Voltaram para uma serra mais alta onde ali pernoitaram e por está deslumbrado com aquela terra tão fértil Bernardinho desistiu do seu primeiro objetivo, que era encontrar a estrada que ligava Conquista a Itabuna, e decidiu ali ficar por algum tempo. E assim fez, derrubaram a mata, roçaram um pedaço de terra, construíram uma casa de taipa e estabeleceram uma plantação de arroz, mandioca e milho.

Assim iniciou-se o processo de ocupação das terras e para tal foi necessário intervir na mata. Como conta Moura (1998).

Em 1914, ao ir ao encontro de seus familiares, Bernardinho resolveu visitar um velho amigo, o compadre Augusto Andrade de Carvalho. Ao contar-lhe sobre as novas terras férteis que havia encontrado, encantou o compadre. Este, após três meses, seguiu para as novas terras e ali tomou posse de um território. No ano de 1916, após quatro anos que havia se instalado, Bernardinho resolveu deixar as terras e vendeu a roça que havia construído para seu compadre e amigo Augusto Andrade de Carvalho.

Em setembro de 1924 Augusto de Carvalho se mudou com a família para a sede da Fazenda Astrolina adquirida de seu compadre. A partir de então Augusto de Carvalho viu a necessidade de formar ali um povoado, tendo em vista as dificuldades que teriam aqueles que por ali tinham posses, de se deslocarem para outros centros em busca de gêneros de primeiras necessidades, não produzidos no local (SILVA, 2002).

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Nasce, então, o povoado de Itatinga, como foi denominado. Em 22 de junho de 1933 Itatinga passou a ser distrito do município de Vitória da Conquista e no dia 30 de março de 1938 pelo Decreto Lei Estadual nº 10.724 foi elevada a categoria de vila, sendo ainda integrada ao município de Vitória da Conquista. Nesse mesmo ano Itatinga passa a ser distrito da cidade de Itambé, tendo Juvino Oliveira como cidadão convidado para ser o seu administrador.

Pelo fato do então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, não admitir que localidades urbanas, no país, tivessem nomes idênticos, ele faz valer um decreto no qual o distrito de Itatinga passa a ser chamado de Itapetinga, acrescentando somente a sílaba PE, e os naturais da vila passaram a se denominar itapetiguenses. Contudo, esta foi a única mudança e os seus pioneiros continuavam a lutar para que ela fosse elevada à categoria de cidade (CAMPOS, 2006).

O primeiro projeto de Lei com o objetivo de criar o município de Itapetinga, foi apresentado a Constituição Estadual da Bahia pelo deputado estadual Ramiro Berbert de Castro. Essa Lei de número 45/47 dispunha sobre a criação do município de Itapetinga, e foi publicado no DOE de 24 de agosto de 1947, tendo como justificativa, segundo CAMPOS (2006, p. 169), que:

O novo município de Itapetinga, desmembrado de Itambé, é bastante populoso, possuindo importante comércio, indústria de laticínios e sendo apreciável a riqueza de seus rebanhos e da sua variada cultura de cereais. Esse município, dadas as condições vai contribuir para o progresso do Estado.

Demonstrando, a partir dessa justificativa, antes mesmo da criação do município de Itapetinga, um forte envolvimento da comunidade com a produção animal. Vale ressaltar que no período de 1953 a 1959, com a produção animal em franca expansão, a fronteira pecuária avançou sobre a mata, provocando diversos impactos ambientais, levando, nos dias atuais, a um declínio na produção. Visto que o sistema de produção animal adotado foi o modelo de exploração extensiva, baseado na extração dos recursos naturais e na resistência dos agentes às mudanças de ordem tecnológica e das relações de produção, conforme destacado por OLIVEIRA (2003).

No ano de 1951, o projeto de lei para emancipação de Itapetinga volta a ser discutido oficialmente e finalmente, em 12 de dezembro de 1952, o Governador Régis Pacheco sancionou o projeto de lei de criação do município de Itapetinga (BAHIA, 1952).

Em 1954, segundo CAMPOS (2006), foi eleito o primeiro prefeito e os primeiros vereadores de um lugar que há 42 anos atrás havia encantado os seus desbravadores. Seguindo a construir a sua história, Itapetinga continua a crescer e a criar todas as instâncias necessárias para a organização de uma cidade - os poderes legislativo, executivo e judiciário.

2 Legislação ambiental no município de Itapetinga-Bahia (1950-2009)

No que diz respeito à questão ambiental, objeto desse estudo, a Lei mais antiga que trata dessas questões, no município de Itapetinga, é o código de postura do município de número 009, de 16 de maio de 1955, proposta pelo poder executivo, tendo como prefeito o senhor Juvino Oliveira (ITAPETINGA, 1955).

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O seu capítulo VI, página 7, dispõe sobre a arborização e ajardinamento, observa-se que os artigos 52, 53, 54 e 55 são referentes às áreas de convívio público, como praças, determinando o seu tratamento, bem como a aplicação de multas para suas infrações. Sendo possível através da aplicação desses artigos a existência de ambientes que favoreceria e contribuiria para a diminuição de um futuro aquecimento global desde que se fizesse a escolha de espécies adequada e assim proporcionando o arejamento da cidade. Vale ressaltar que não foi encontrado nenhum registro de multas aplicadas nessa época, em virtude das infrações.

Já o capítulo VII, dessa mesma lei, que dispõe sobre a higiene das vias públicas, determina atividades e/ou atitudes pertinentes aos cidadãos bem como multas referentes às infrações. Utilizando-se de artigos, incisos e parágrafos este capítulo traz direcionamentos no que se refere ao livre escoamento das águas pelos canos e valas, bem como a limpeza dos passeios de cada residência. Nesse capítulo destaca-se, também, as proibições para a queima de “lixo”, mesmo que fosse realizada no próprio quintal, assim como a ocupação das vias públicas com lixo ou entulhos e a limpeza de roupas, veículos ou outras coisas que viessem a trazer impurezas as águas de consumo no local das margens do Rio Catolé destinado ao abastecimento da cidade.

Essas orientações surgiram para auxiliar no bom convívio entre a população da cidade, no aspecto físico em relação à poluição visual, bem como na preservação da saúde pública, já que não permite o uso irregular das águas de consumo público tão pouco a deposição de lixo em vias públicas, impedindo assim a exposição da comunidade a águas contaminadas e também a vetores de doenças provenientes do mau acondicionamento dos resíduos sólidos.

No capítulo VIII, seção I, do Código de Postura que trata da higiene das habitações, discorre sobre a responsabilidade da coleta do lixo domiciliar, bem como a correta forma de acondicionamento para a realização da mesma, inferindo também sobre os tipos de resíduos em que a coleta é ou não de responsabilidade da prefeitura. Esta seção também proíbe a conservação de água estagnada em determinados locais e o pagamento de penalidades e multas para as infrações para quem praticar tal ação.

Em seu capítulo XXI sobre explosivos e inflamáveis, destaca-se o artigo 229 determinando que:

Nos postos de abastecimento onde se fizeram também limpeza, lavagem e lubrificação de veículos, esses serviços serão feitos no recinto dos postos, que serão dotados de instalações destinadas a evitar a acumulação de água e resíduos de lubrificantes no solo ou seu escoamento para logradouros públicos.

Atualmente, no município de Itapetinga, dos sete postos de abastecimento pesquisados, somente um contém um sistema de gestão adequado para evitar a acumulação de água e resíduos de lubrificantes. Dos outros seis postos, somente um não contém a valeta ao seu redor para escoamento das águas, no entanto, os seis que dispõe da valeta não utiliza a caixa água/óleo para receber as águas que correm por elas. No que se refere à lavagem de veículos, todos os postos que dispõe desse serviço, o faz de maneira totalmente incorreta, pois um dos postos permite que as águas das lavagens escorram pelo esgoto normal da cidade e o outro além de utilizar a água diretamente do rio Catolé, já que o posto foi instalado

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nas margens do rio, ainda permite que a água suja volte para o mesmo, de forma a poluí-lo com variados produtos químicos, desde produtos limpeza até lubrificantes.

Diversos autores têm expressado preocupação com a relação à gestão dos postos de gasolina, principalmente no que diz respeito ao aspecto ambiental, em virtude dos vazamentos. MANZOCHI apud TIBURTIUS et al. (2004) ressalta que o material derramado, carregado pela chuva, pode contaminar o solo e a água, podendo atingir rios, lençóis freáticos e galerias pluviais. Tal contaminação pode trazer conseqüências drásticas para a saúde pública, haja vista que tais contaminantes, segundo CORSEUIL e MARINS (1997), são considerados perigosos por serem depressores do sistema nervoso central e por causarem leucemia em exposições crônicas.

Ainda dentro do Código de Posturas de 1955 encontramos o capítulo XXII que vem tratar sobre as queimadas e todos os seus artigos são de grande relevância para o meio ambiente, pois traz orientações e proibições nos aspectos das queimadas e incêndios. Não proíbe a realização das queimadas, contudo ressalta que não se deve atear fogo sem que haja acordo entre os interessados, deixando claro também que aos infratores caberá a penalidade civil ou criminal, bem como as multas previstas em lei.

Vale ressaltar que na busca do retorno rápido do capital, vem-se utilizando técnicas depredatórias do meio ambiente contribuindo para uma situação de risco, não só de âmbito local, mas também global. Com o intuito de impulsionar a produção, os pecuaristas não consideram a questão ambiental como relevante, sendo importante produzir, não importando o preço a ser pago pela humanidade, por conta da gestão inadequada dos recursos naturais (COSTA et al., 2008).

Nesse contexto, situa-se a prática das queimadas na produção animal, com o argumento de que esse processo promove a renovação da pastagem, possibilitando uma dieta de maior valor nutritivo para os animais. No entanto, BRÂNCIO et al. apud JACQUES (2003) em seus estudos verificaram não haver diferença entre as dietas de animais criados em áreas de pastagens queimadas e não queimadas, portanto a utilização dessa técnica não compensa os prejuízos causados por ela. MELADO (2007) ressalta a contribuição da pecuária na intensificação do efeito estufa, em virtude do desmatamento e queimada das florestas para o estabelecimento de pastagens.

Discorrendo ainda sobre o mesmo código, temos a seção I, do capítulo XXXI, que trata das fontes de servidão pública e dos encanamentos das águas, destaca-se o art. 318 que determina que ninguém poderá inutilizar, derivar, desproteger e infestar de corpos estranhos as águas das fontes de servidão pública nos rios, riachos, lagoas, tanques reservatórios ou minadouros existentes no município.

Vale destacar o aspecto relativo à poluição do rio Catolé, que mesmo diante de um direcionamento proposto por essa lei, no que diz respeito à emissão de impurezas no rio, presencia-se o avanço da ocupação urbana de suas margens, com a implantação de residências e de todo um comércio voltado para o setor automotivo, a partir de um processo de ocupação que deu origem a Avenida Ponto Certo, com consequente emissão de resíduos poluentes provenientes dessas atividades no rio Catolé, em virtude de um gerenciamento não sustentável desses resíduos. Realidade essa presente, ainda, nos dias atuais.

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Já o art. 319 torna proibida a derrubada de árvores nas margens dos rios, nascentes, entre outras. Contudo, a realidade é outra. As margens do rio Catolé, e, consequentemente, o próprio rio, desde a chegada dos desbravadores até os dias atuais, vem sofrendo com um modelo de desenvolvimento que, como demonstrado a partir da não implementação dessa Lei, privilegia o crescimento econômico de uma forma totalmente distanciada de um desenvolvimento equitativo, que alia crescimento econômico com equilíbrio ambiental e é claro justiça social.

O rio Catolé está “desnudo”, sem a proteção da sua mata ciliar, além de sofrer com a emissão dos efluentes domésticos e, em alguns momentos industriais, mesmo diante de uma legislação existente. No ano de 2007, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto, do município de Itapetinga, na gestão do Prefeito Michael Hagge, iniciou um projeto de tratamento dos efluentes domésticos, lançados atualmente no rio Catolé.

Já a respeito da pesca, caça e do comércio de peixes, a seção I do capítulo XXXII, que dispõe sobre matadores e açougues deixa claro que a pesca em rios, lagoas ou tanques só seria permitida com a autorização do proprietário e do prefeito, que fará por escrito, nas épocas próprias. E também às pessoas que porventura contaminassem as águas e tais locais, de modo a prejudicar a saúde pública arcaria com as conseqüências, como multas ou até mesmo responder pela penalidade criminal.

No capítulo XXXIV, destaca-se o artigo 349 esclarecendo que cortar, arrancar ou danificar árvores e plantas nas vias públicas é passível de multas de acordo com o presente código. E o artigo 359 deixa claro que:

Ninguém poderá desviar, represar ou interromper o curso dos rios e córregos, senão para fins hidráulicos ou para serviços de regra, neste caso, em terrenos de propriedade de particular, sem prejuízos de terceiros, mesmo assim com autorização justa do prefeito.

Em 1967 um novo Código de Postura passa a vigorar no município, código este de número 187 de 07 de Junho de 1967, o qual contém medidas de política administrativa a cargo do Município em matéria de higiene, ordem pública e funcionamento dos estabelecimentos comerciais e industriais (ITAPETINGA, 1967). O referido Código foi proposto pela mesa diretora da Câmara de vereadores, representado pelo presidente da Câmara Senhor Américo Nogueira de Souza.

No titulo II, desta lei, que trata da higiene pública, determina, em seu capitulo I e no artigo 22, os locais onde a fiscalização sanitária estará observando e fiscalizando a higiene e a limpeza em especial das vias públicas, das habitações particulares e coletivas, da alimentação, incluindo todos os estabelecimentos onde se fabriquem ou venda bebidas e produtos alimentícios. Já no capitulo II, que trata da higiene das vias públicas, deixa claro o papel de cada morador com sua residência e também com a cidade, dessa forma trazendo algumas determinações para que a higiene pública seja mantida.

No ano de 1981 foi aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito José Vaz Espinheira o anteprojeto de Lei nº 02, de 16 de fevereiro de 1981, que dispõe sobre o ordenamento do uso e ocupação do solo da área de atuação do Plano Diretor Urbano da cidade (ITAPETINGA, 1981a), sendo a mesma de grande relevância para as questões ambientais já que delimita áreas permitindo apenas atividades específicas de baixo impacto ambiental. Os artigos 09 e 10, desta mesma

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Lei, garante também que todas as zonas de preservação e reconstituição ecológica e as de proteção natural constantes desta lei serão considerados parques da cidade e que para a manutenção desses parques será criada a fundação de museus e parques da cidade de Itapetinga.

No mesmo ano, com menos de um mês que foi aprovado esse ante-projeto, foi aprovado e sancionado pelo mesmo prefeito a lei nº 360/81 de 05 de março de 1981, que aprova o Plano Diretor Urbano da cidade de Itapetinga (ITAPETINGA, 1981b). Em seu capítulo VII que trata do sistema de áreas verdes e de recreação destaca-se o artigo 28 relatando que deverão ser preservadas de ocupação as áreas consideradas pelo Plano Diretor Urbano como necessárias à preservação das condições ambientais ou que constituem barreira a urbanização inadequada, a exemplo das áreas de preservação e restituição ecológica, de proteção natural e fundos de vales.

E também o artigo 30 que autoriza o Poder Executivo a criar novas áreas verdes, visando preservar a vegetação, espécies vegetais raras ou proteção paisagística, especialmente nas áreas de expansão urbana. Já o artigo 34 em seus incisos I e II mostra que todas as praças, jardins públicos e todas as áreas livres de loteamento já existentes ou cujos projetos venham a ser aprovados, serão consideradas áreas verdes e de recreação e como tal incorporadas ao respectivo sistema do município.

No seu capitulo VIII que, em uma seção única, trata da proteção ambiental, em seu artigo 36, determina que à prefeitura deverá impedir a deteriorização da qualidade do micro ambiente urbano, especialmente no que se refere ao controle da poluição da água, do ar, do solo e sonora. E no artigo 39 afirma que a atuação do município no controle da poluição ambiental será desenvolvida sempre em consonância com os órgãos competentes de âmbitos, estadual e federal.

Em outubro de 1987 a Câmara de Vereadores aprova a Lei de número 433, de 19 de outubro de 1987, de autoria do poder executivo, que institui o novo código de posturas do município de Itapetinga e dá outras providências (ITAPETINGA, 1987). No primeiro capítulo do segundo título, que dispõe da proteção à saúde, no seu artigo 22, determina que a saúde constitui um direito fundamental sendo dever do poder público, bem como da coletividade e do individuo adotar as medidas pertinentes à sua preservação e do meio ambiente e, no inciso III do primeiro parágrafo destaca que aos indivíduos cabe cooperar com os órgãos e entidades competentes, adotar um estilo de vida higiênica, utilizar os serviços de imunização, observar os ensinamentos sobre educação e saúde, prestar as informações que lhes forem solicitadas pelos órgãos sanitários competentes e respeitar as recomendações sobre a conservação do meio ambiente.

De modo que havendo tal compromisso do governo e de cada indivíduo, contribuiria de forma significativa para a promoção da saúde na sociedade, principalmente do ponto onde se destaca o estilo de vida higiênica, a conservação do meio ambiente e o trabalho educacional relacionado à saúde, a exemplo da qualidade da água que se consome e do ar que se respira.

Vale ressaltar, que os aspectos que envolvem a saúde e o meio ambiente, sem sombra de dúvidas são indissociáveis, e, nesse sentido, a escola tem um papel primordial nesse processo, conforme destacado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Para AERTS et al. (2004, p.1024):

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A escola saudável é aquela que possui um ambiente solidário e propício ao aprendizado, por isso ela deve estar engajada no desenvolvimento de políticas públicas saudáveis e na estimulação da criação de entornos favorecedores à saúde, na aprendizagem de comportamentos que permitam a proteção do meio ambiente, na conservação de recursos naturais e na implicação cada vez maior da população em projetos de promoção da saúde.

No que diz respeito ao saneamento básico do município, no capítulo IV, e artigo 47, é determinado às posturas necessárias para a instalação de uma indústria no território do município e esclarece que para tal ação é necessário a aprovação do plano completo do lançamento de resíduos líquidos, sólidos e gasosos, visando evitar os inconvenientes da poluição e da contaminação de águas territoriais e da atmosfera. Já o capitulo V que trata dos esgotos sanitários e do destino final dos dejetos determina, em seu artigo 49, que deve-se dar um destino adequado aos dejetos humanos a fim de se evitar a contaminação das águas de abastecimento, dos alimentos e dos valores, proporcionando, ao mesmo tempo hábitos de higiene.

Com relação ao transporte e destinação final dos resíduos domésticos, os artigos 52 e 53, determina que o gerenciamento deve ser realizado de forma a não trazer malefícios ou inconvenientes à saúde, ao bem estar do público e a estética urbana, cabendo, ainda, a autoridade sanitária estabelecer normas e fiscalizar seu cumprimento, quanto à coleta, ao transporte e à destinação final do lixo.

Já o capitulo VI, que dispõe sobre a poluição do meio ambiente, no artigo 56 define que a Prefeitura Municipal de Itapetinga juntamente com os órgãos competentes adotará os meios ao seu alcance para reduzir ou impedir os casos de agravos à saúde humana provocados pela poluição do ambiente, em virtude de fenômenos naturais, de agentes químicos ou da ação deletéria do homem, nos limites de suas áreas geográficas, observadas a legislação estadual e federal pertinentes a matéria. E no artigo 57, inciso I, esclarece que prevenir e controlar a poluição do ar, solo, água e alimentos constituem uma das finalidades da proteção ao ecossistema. Cabendo aos infratores dos artigos deste capitulo a punição com as devidas penalidades encontradas na Lei.

Da mesma forma, conforme encontrado com o Código de Postura anterior, nesse novo Código de Posturas também são ressaltadas orientações sobre as queimadas e no que diz respeito ao manejo, demonstra uma preocupação com o avanço de uma pecuária não sustentável. No capítulo IV, do IV Título, traz orientações a respeito das queimadas e das pastagens, ficando claro, no seu artigo 241, que a prefeitura municipal deverá colaborar com os órgãos responsáveis para se evitar a devastação das florestas e estimulará a plantação de árvores. Traz em seu artigo 242 e 243 as medidas preventivas necessárias para evitar a propagação de um incêndio e as providencias que devem ser tomadas para que seja permitido atear fogo em roçados, palhadas ou matos que limitem com terras vizinhas. Outro artigo a ser ressaltado é o de número 245 dizendo que a derrubada de árvore só será permitida com licença da prefeitura, cabendo multa aos infratores.

Vale ressaltar que o Código Florestal, que trata da obrigatoriedade da reserva legal, foi instituído através da Lei Federal nº 4.771, 15 de Setembro de 1965 (BRASIL, 1965), alterada pela Lei Federal nº 7.803, de 18 de julho de 1989 (BRASIL, 1989), e pela Medida Provisória 2166, de 24 de agosto de 2001 (BRASIL, 2001), promulgada a 44 anos atrás, o que faltou e continua sendo negligenciada é a

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fiscalização. A Reserva Legal, conforme destacado por METZGER (2002, p.48), é “a percentagem da área útil da propriedade que deve permanecer com a vegetação nativa”. De acordo com o Conselho Nacional de Meio Ambiente, apud METZGER (2002, p.48), a reserva “é necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e flora nativas”.

Com relação à mata ciliar, o Código Florestal, em seu artigo 2º, determina que as florestas e demais formas de vegetação natural, situadas ao longo dos rios, ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais, nas nascentes e nos chamados "olhos d'água", também são áreas de preservação permanente (BRASIL, 1965).

Para a bióloga da Secretaria de Meio Ambiente, do município de Itapetinga, Rita Pinto, tal fato é preocupante. Essa fiscalização, até o momento, cabe a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), conforme ressaltado por ela, já que até o ano de 2008, o município não dispunha de uma Secretaria de Meio Ambiente. Para que a Secretaria possa atuar, segundo a bióloga, é necessário instituir o código do meio ambiente do município, para, assim, dar embasamento às ações fiscalizadoras da Secretaria, o que está em andamento.

Nesse contexto, não diminuindo a importância das leis que regem uma sociedade, sem dúvida alguma, elas por si só não garantirão a construção de novos valores, na busca de uma ética planetária, onde a humanidade assume, de forma coletiva, a responsabilidade pela construção de um tempo. Um tempo pautado no respeito a todas as “manifestações da vida”.

Para JACOBI (2005), atualmente, vivenciamos mais que uma crise ecológica é uma crise do estilo de pensamento, dos imaginários sociais, dos pressupostos epistemológicos e do conhecimento que sustentaram a modernidade. Uma crise do Ser no mundo, que se manifesta em toda sua plenitude; nos espaços internos do sujeito, nas condutas sociais auto-destrutivas; e nos espaços externos, através da degradação da natureza e da qualidade de vida das pessoas. Uma degradação, na verdade, da própria natureza humana.

A partir dessa reflexão e da percepção de que a humanidade poderia entrar em colapso caso não mudasse a sua forma de agir em relação ao outro e aos recursos naturais, é que se iniciou a busca por um modelo de desenvolvimento menos impactante. Um modelo que aliasse crescimento econômico, com equilíbrio ambiental e justiça social. Na busca desse novo modelo de desenvolvimento, no ano de 1987, foi publicado o relatório intitulado “O nosso futuro comum”, disseminando, a partir de então, o conceito de desenvolvimento sustentável, como um modelo que atenda às gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender as suas necessidades, cujos princípios podem ser encontrados na Carta da Terra (CARTA DA TERRA, 2009).

Similar às declarações dos direitos humanos, a Carta da Terra, aprovada pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), no ano de 2002, foca a necessidade da humanidade se unir para construir uma sociedade sustentável. Sociedade essa pautada no respeito à natureza, aos direitos humanos universais, à justiça econômica e a uma cultura da paz (CARTA DA TERRA, 2009). Para tal, é necessário fazer escolhas, e nem sempre tais escolhas acontecem no campo da tranqüilidade, contudo:

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[...] necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade tem um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva (CARTA DA TERRA, 2009).

Dessa forma o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de garantir mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as comunidades (JACOBI, 2003). Assim, educar para a sustentabilidade, conforme ressaltado nos diversos documentos oriundos de encontros e Conferências se faz através das práticas educativas que devem apontar para propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento e atitudes.

Nesse sentido, vê-se o fundamental papel da educação na construção de novos valores na sociedade. Uma educação transformadora, que vá além de uma visão pura e simplesmente conteudista. Uma educação que forme para a vida.

Nessa perspectiva, encontra-se a educação ambiental, que vai oportunizar ao cidadão o entendimento da relação estabelecida entre o homem e o ambiente, preparando-o para um novo modo de ver e pensar o mundo, capaz de observar, refletir e agir no meio que o envolve, sentindo-se como parte deste (FERREIRA,1999).

Segundo CASTRO e CANHEDO JR. (2005) cabe a educação ambiental, como processo político e pedagógico, formar para o exercício da cidadania, desenvolvendo conhecimento interdisciplinar baseado em uma visão integrada de mundo. Tal formação permite que cada indivíduo investigue, reflita e aja sobre efeitos e causas dos problemas ambientais que afetam a qualidade de vida e a saúde da população. A interdisciplinaridade visa a superação da fragmentação dos diferentes campos de conhecimento, buscando pontos de convergência e proporcionando a relação entre os vários saberes.

Assim, a educação ambiental marca uma nova função social da educação, não constitui apenas uma dimensão, nem um eixo transversal, mas é responsável pela transformação da educação como um todo, em busca de uma sociedade sustentável (LUZZI, 2005).

A Lei Federal 9.795/99, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, regulamentada pelo Decreto nº 4.281, de 25 de junho de 2002 (BRASIL, 2002a), em seu artigo primeiro entende a educação ambiental como:

processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Nesse contexto, a educação ambiental não deve ser dissociada dos movimentos políticos e sociais. A educação ambiental conduzida de forma sistêmica,

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contextualizada e contínua, deve buscar a promoção de uma melhor qualidade de vida para todos sem distinção, através da construção de um diálogo permanente em busca de melhorias. Contudo há que se ressaltar, novamente, a importância de que, no ensino formal, a educação ambiental seja parte integrante do currículo e não uma nova vertente ou conteúdo a ser dado, ou um novo ramo da educação. Conforme destacado no artigo 100 da lei 9795/99, que determina que a “a educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal”, e não deve ser implantada como uma disciplina no currículo (BRASIL, 1999).

No que diz respeito a educação ambiental no município de Itapetinga, no ano de 1989, 10 anos anterior à promulgação da lei Federal que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, foi proposta a Lei de número 473, de 28 de setembro de 1989, de autoria do vereador Gilson de Jesus, que dispõe sobre a introdução da matéria meio ambiente, na rede municipal de ensino (ITAPETINGA, 1989).

Ficando a cargo de uma comissão, formada por técnicos do Departamento de Educação e Cultura, professores de nível universitário e técnico e estudantes de nível médio, a elaboração dessa matéria, conforme destacado no artigo 2º, da Lei 473. Essa lei demonstra uma preocupação tanto do poder legislativo quanto do executivo. Contudo, há que se ressaltar que 12 anos antes, na Conferência de Tbilisi, primeira conferência intergovernamental sobre educação ambiental, foram formulados os princípios da educação ambiental, os quais deveriam se pautar na interdisciplinaridade e cotidianidade; ter uma abordagem pluridimensional, associando os aspectos econômico, político, cultural, social e ecológico à discussão; valorizar a participação social para a solução dos problemas e ter como objetivo a mudança de valores e de comportamentos frente a construção de um modelo de desenvolvimento menos predatório (PEDRINI, 1998, LIMA, 1999 e BRASIL, 2002b)

No ano de 1990, de autoria do poder legislativo, foi promulgada a Lei Orgânica do Município. Lei esta de grande importância para a gestão do município, já que oferece os instrumentos legais para o enfrentamento das transformações pela qual passa uma cidade, proporcionando uma nova ordem ao desenvolvimento de todo o município (ITAPETINGA, 1990). Nela está contida a base que norteia a vida da sociedade local, na soma comum de esforços visando o bem estar social, o progresso e o desenvolvimento de um povo.

No que diz respeito à questão ambiental, visa garantir a população Itapetinguense, em seu capítulo X, os meios necessários para a satisfação do direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, nos termos da constituição Federal e Estadual. Para tal a Lei Orgânica, de 1990, determina as providencias necessárias para a manutenção de um meio ambiente saudável e preservado e cria o Conselho Municipal de Meio Ambiente.

Contudo, até o momento, o Conselho Municipal do Meio Ambiente, de acordo com a bióloga da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Rita Pinto, embora tenha sido constituído oficialmente, ainda não teve uma participação efetiva, pois nunca ocorreu uma reunião. Vale ressaltar que não foi encontrada nenhuma ata de formação ou de reunião, até a presente data. Portanto, o Conselho Municipal ainda atua no campo da ficção. Contudo, segundo informação da bióloga, atualmente, busca-se instituir oficialmente o Conselho, para que o mesmo possa iniciar a sua atuação, imprescindível para uma gestão participativa. SOUZA (2004, p.38) ressalta

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a importância da constituição desses conselhos, bem como a exigência legal para a sua formação, cabendo aos conselheiros o papel de:

[...] tomar parte na gestão do programa, ou seja, fiscalizar a implementação de políticas decididas em outras esferas, alocar parcela dos recursos e acompanhar sua aplicação e os rumos da política pública. Para cada política social, é requerida a constituição de um conselho, em que os representantes da comunidade/usuários têm assento. Esses conselhos podem ser constituídos em torno de políticas específicas (saúde, educação, assistência social, emprego e renda, meio ambiente, desenvolvimento urbano, combate às drogas e à pobreza, etc.), ou em torno da defesa de direitos individuais ou coletivos (crianças, adolescentes, idosos, negros, deficientes, etc.).

Destaca-se, também, na Lei Orgânica de 1990 o artigo 125, que determina que as práticas educacionais, culturais, desportivas e recreativas terão, como um de seus aspectos fundamentais, a preservação do meio ambiente e da qualidade de vida da população local, bem como o artigo 126, que determina que as escolas municipais devam implantar uma disciplina de educação ambiental e de conscientização pública para a preservação do meio ambiente.

Seguindo essas orientações, de acordo com entrevista realizada com a docente responsável por ministrar a disciplina, em 1993, no mês de março, a escola municipal Centro Educacional e Cultural Noralice Gusmão começou a trabalhar com a disciplina Ecologia, no intuito de propiciar aos discentes um maior entendimento sobre a vida e as relações dos seres vivos com o meio ambiente.

Contudo, no mês de abril, do mesmo ano, visando atender a Lei Orgânica e seguindo as orientações do artigo 126, já explanado acima, a escola passa a adotar a disciplina Educação Ambiental, excluindo assim a matéria Ecologia. Vale ressaltar que essa disciplina durou apenas dois anos, pois os professores das áreas de Geografia e Ciências alegaram que estava ocorrendo sombreamento de conteúdos, ou seja, a disciplina Educação ambiental, segundo esses professores, estava abordando os mesmos conteúdos sobre a responsabilidade dessas duas áreas.

Tal fato reforça mais ainda a importância de não se criar uma disciplina de educação ambiental. O que se pode constatar, a partir desse relato, é que a Lei Orgânica, promulgada no ano de 1990, foi infeliz em seu artigo 126, pois contraria as decisões tomadas em fóruns como a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, conhecida como Conferência de Tbilisi, promovida pela UNESCO-PNUMA no ano de 1977, que ressalta que a Educação Ambiental deva ser conduzida de forma contínua, sistêmica e interdisciplinar.

Contudo, percebe-se, a partir de 2005/2006, um amadurecimento dos gestores em relação à implementação da educação ambiental no município da Itapetinga. Entre os anos de 2005 e 2006, a Secretaria Municipal de Educação, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), qualificou os professores que atuavam nas escolas do meio rural. E através de uma parceria com a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, ampliou o seu leque de atuação e iniciou, no ano de 2006, um amplo processo de qualificação dos professores municipais, na área de meio ambiente, através do Programa Educa Cidadão.

Tais ações foram realizadas em consonância com as Conferências internacionais voltadas para a educação ambiental, bem como com a Lei Federal

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9.795/99, que determina em seu Art. 11 que “a dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas”. No seu parágrafo único ressalta que “os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental” (BRASIL, 1999).

Com relação à instalação de indústrias, em seu artigo 131, a lei orgânica, proíbe a existência de indústrias poluidoras em áreas residenciais, devendo estas serem instaladas em área própria e usar filtros, bem como os instrumentos técnicos necessários para evitar ou minimizar a poluição e degradação do meio ambiente. No entanto ainda se verifica a existência de indústrias, no município, sem um sistema de gestão ambiental que possibilite evitar ou minimizar os impactos oriundos do seu sistema produtivo.

No que diz respeito ao gerenciamento dos resíduos, no ano de 1992, foi aprovada a Lei nº 581, de 01 de dezembro de 1992, que determina a criação da obrigatoriedade das repartições da administração pública do município, direta, indireta e fundacional, procederem a coleta seletiva de lixo, no município (ITAPETINGA, 1992). Seu objetivo é possibilitar que o reaproveitamento dos materiais seja uma prática permanente entre os administradores públicos e os servidores municipais, desenvolver campanhas e disseminar informações sobre a educação ambiental, nos locais de trabalho, por iniciativa do poder público, com a participação das entidades representativas dos funcionários públicos, tornando possível a difusão de uma consciência ecológica entre os mesmos, auferir os benefícios sociais da prática da reciclagem, tanto no sentido de economizar energias e insumos, quanto de preservação do ecossistema.

No entanto, existe um total desconhecimento da referida Lei, pois sequer a Câmara de Vereadores, até o momento, possui uma coleta seletiva, quiçá as outras instituições públicas, a exemplo da Prefeitura Municipal de Itapetinga, das escolas municipais e da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), esta última tendo iniciado uma coleta seletiva no ano de 2006, Convênio número 025/2006, contudo, atualmente, encontra-se desativada.

No ano de 1993 foi aprovada a Lei de número 605, de 30 de abril de1993, de autoria do poder executivo, que estabelece na seção X as disposições sobre a Secretaria de Urbanismo que abarca questões relacionadas ao meio ambiente (ITAPETINGA, 1993).

Em seu artigo 21 que fala sobre a finalidade da secretaria de urbanismo, ressalta que ela deve orientar, coordenar e executar as políticas públicas relativas ao desenvolvimento urbano, saneamento básico, obras municipais e à proteção ao meio ambiente através de uma determinada estrutura básica que abrange o Conselho Municipal de Meio Ambiente e a Gerência de Parques e Jardins. No §2º, desse mesmo artigo, afirma que a ela cabe formular a política da ação municipal no setor, com composição, competência, organização e funcionamento definidos em lei e no § 5º, também do mesmo artigo, determina que à Gerência de Parques e Jardins cabe projetar, executar, conservar e fiscalizar os jardins públicos da cidade, além da administração do Parque de Preservação da Matinha.

No ano de ano de 1998, foi promulgada a lei de número 773, de 29 de dezembro de 1998, de autoria do poder executivo, que trata das questões voltadas a limpeza urbana, desde os pontos relevantes ao lixo nas vias públicas, nos córregos,

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nos lagos, nos rios, nos supermercados, matadouros, açougues, peixarias e estabelecimentos similares, inclusive nas feiras livres, até resíduos de agrotóxicos e produtos fitosantitários (ITAPETINGA, 1998).

Nessa lei destaca-se o artigo 299 que determina que o governo do município, juntamente com a comunidade organizada, desenvolverá uma política de ações diversas que visem a conscientização da população sobre a importância da adoção de hábitos corretos em relação a limpeza urbana, sendo de relevante importância também seus incisos I, II, III, IV e V que deixa claro o dever do Poder Executivo para o cumprimento deste artigo, dever este que se faz na promoção e realização de programas voltados para a comunidade através da educação formal e informal.

No ano de 2002 cria-se, através da Lei N0 886, de 30 de julho de 2002 (ITAPETINGA, 2002), a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, , passando o Art. 22, da Lei 605/93, a regular as atribuições da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente e anexando o Conselho Municipal de Meio ambiente a esta Secretaria, através de seu §3º que determina que:

O Conselho Municipal de Meio Ambiente é um órgão deliberativo e normativo da política ambiental do Município, recomendando ao Prefeito Municipal as medidas de preservação e conservação do Meio Ambiente, com competência de fiscalizar as ações programáticas da área, congregando entidades e órgãos em defesa do equilíbrio ambiental (ITAPETINGA, 2002).

No seu parágrafo quarto dispõe sobre a Gerência de Planejamento Agropecuário e Ambiental e esclarece que a ela compete, além dos projetos voltados a agropecuária e a agricultura e equilíbrio ambiental, fiscalizar a aplicação das medidas de competência da Secretaria como programas de arborização e reflorestamento. Já o seu sexto parágrafo determina que a Coordenadoria Ambiental deverá coordenar, planejar e executar as ações de controle, fiscalização e licenciamento ambiental.

No seu sétimo e último parágrafo trata das atribuições da Coordenadoria de Parques e Jardins, a qual está voltada para a preservação e conservação de logradouros públicos onde haja praças e jardins, mesmo em alamedas, ruas e canteiros. Contudo, de fato, muitas dessas praças e jardins, principalmente na periferia do município, encontram-se descuidadas e, em alguns casos mais graves, deixando até de existir como um jardim ou uma praça e passando a ser apenas um local vazio, transformado pela população num depósito de resíduos domiciliares e de entulhos, um verdadeiro “lixão a céu aberto”.

Em 2003 foi aprovada a lei de nº 907, de 29 de janeiro de 2003, de autoria do poder executivo, que dispõe sobre a criação do Fundo Municipal do Meio Ambiente (ITAPETINGA, 2003a), o qual foi criado, segundo o seu artigo primeiro, com o objetivo de facilitar a captação, o repasse e aplicações de recursos destinados à proteção, conservação e recuperação ambiental no município. Após trazer as fontes de recursos para o Fundo Municipal do Meio Ambiente o parágrafo primeiro do segundo artigo deixa claro que os recursos destinar-se-ão exclusivamente a programas, projetos ou ações de proteção, conservação, recuperação ambiental e manutenção da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente. Essa Fundação seria administrada pelo Secretário de Agricultura e Meio Ambiente, pelo secretário da

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Fazenda e pelo contador da Prefeitura Municipal, de acordo com o Plano de Aplicação aprovado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente.

Ainda no ano de 2003 foi aprovada pela câmara dos vereadores a Lei de nº 908, de 29 de janeiro de 2003, de autoria do poder executivo, que regulamenta o art. 128 da Lei Orgânica do Município de Itapetinga, que dispõe sobre a composição e competência do Conselho Municipal de Meio Ambiente – CMMA (ITAPETINGA, 2003b). O artigo primeiro da referida Lei, ressalta a competência do CMMA como órgão da política ambiental do município, dentro da ação administrativa municipal, agindo em conjunto para fiscalizar as ações programáticas da área, congregando entidades e órgãos em defesa do equilíbrio ambiental. Em seu parágrafo único, esclarece que cabe a Secretaria Municipal de Agricultura de Meio Ambiente dar o apoio necessário às atividades do Conselho Municipal de Meio Ambiente.

No segundo artigo destaca que compete ao Conselho Municipal de Meio Ambiente definir a política ambiental do Município, recomendando as diretrizes, normas (CMMA) e medidas necessárias à proteção ambiental, bem como apresentar estratégias, instrumentos e recomendações voltados para o desenvolvimento sustentável do Município, em especial para o turismo não predatório. No terceiro artigo, ressalta a plena liberdade do CMMA em fixar sansões administrativas para as infrações ambientais. No seu parágrafo primeiro destaca as situações que considera infração ambiental, como toda a ação ou omissão que viole normas ambientais de uso, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente, compreendendo este os recursos naturais, arqueológicos, espeleológicos e paisagens naturais de grande relevância e beleza.

No que se refere à composição do Conselho Municipal de Meio Ambiente o quinto artigo cita que este será composto de representantes dos órgãos e entidades públicas e de indivíduos e organizações não governamentais representativas da sociedade civil, ligada à área ambiental, tendo como membros o Secretário Municipal de Agricultura de Meio Ambiente, que será o presidente do Conselho, representante da Secretaria de Urbanismo, da Secretaria de Saúde, da Secretaria de Educação, da Secretaria de Ação Social, da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário – EBDA, de Associações não governamentais de meio ambiente e recursos hídricos, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Itapetinga, de Associações de bairros, da Câmara de Vereadores e do Banco do Nordeste do Brasil – BNB.

Sendo os problemas ambientais um fato que atinge a todos, observa-se neste momento a importância da participação popular na conservação e preservação do meio ambiente em que vive. O ser humano deteriora o meio ambiente através dos resíduos que produz, dos agrotóxicos que utiliza e a dispersão de outros elementos químicos no ar, no solo e nas águas. Se ele tiver consciência de seus atos danosos ao meio ambiente isso lhe proporcionará a oportunidade de ser solidário e cuidadoso, zelando por si e pela conservação da qualidade de vida de sua comunidade e das populações futuras (FERREIRA, 1999).

Visto que essa consciência incube o ato de cidadania, percebe-se aí a importância de uma educação voltada para essa formação. Uma educação que não ensine somente o que “parece ser tão inútil para a vida no dia a dia”, mas sim que traga a reflexão do viver em coletividade, ensinando o respeito mútuo, o respeito consigo mesmo, e que consiga proporcionar uma consciência crítica e atuante. Desse modo, estará cumprido o seu papel de cidadão, não só fazendo uso de seus

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deveres, mas também de seus direitos. Podendo, assim, está fiscalizando e cobrando dos poderes constituintes da sociedade ações que propiciem melhor qualidade no meio ambiente em que vive e, consequentemente, trazendo benefícios para a sociedade.

Finalmente, no ano de 2009, foi implantada a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a qual, segundo a bióloga da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Rita Pinto, está elaborando o código do meio ambiente do município. Como uma das ações foi encaminhada a Câmara de Vereadores o projeto de lei, que dispõe sobre alterações na Lei 908/2003, de 29 de janeiro de 2003, do Município de Itapetinga-Bahia.

Desse modo no artigo primeiro fica alterado o artigo quinto da lei 908/93 que trata da composição do Conselho Municipal de Meio Ambiente, ampliando, dessa forma, a participação popular no conselho, o qual a partir de então será composto por 26 (vinte e seis) membros, sendo 13 (treze) representantes de órgãos e entidades públicas e 13 (treze) representantes de organizações não governamentais e instituições de classe, representativas da sociedade civil, ligados à área ambiental.

Como representantes do Poder Público se tem um componente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente; da Secretaria Municipal de Infra Estrutura; da Secretaria Municipal de Planejamento; da Secretaria Municipal de Educação e Cultura; da Secretaria Municipal de Saúde; da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Agricultura; da Secretaria Municipal de Ação Social; do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Itapetinga – SAAE; da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Itapetinga-BA; do Banco BNB; da Câmara Municipal de Vereadores; do Ministério Público Estadual; da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário – EBDA.

E como representantes da Sociedade Civil Organizada se tem um componente da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, subseção de Itapetinga-BA; do Clube de Diretores Lojistas – CDL; de Entidade Sindical Profissional; da Igreja Católica de Itapetinga; da Ordem dos Ministros Evangélicos de Itapetinga; da Fundação Associação Cultural Itapetinguense – FACI; das Associações de bairros; de uma Organização Não Governamental (ONG) relacionada a meio ambiente e recursos hídricos, sediada em Itapetinga-BA; do Rotary Clube de Itapetinga; da Loja Maçônica Amor e União Itapetinguense; do Centro Espírita Kardecista, sediada em Itapetinga-BA; do Sindicato de Produtores Rurais, do Setor Industrial. A proposta se segue em seus próximos artigos fazendo alterações nos artigos 7º e 9º da lei 908/93, bem como revogando o artigo 3º da mesma lei.

Um ponto positivo nessa alteração foi a ampliação da participação dos representantes sociais, que na Lei anterior eram 11 e no novo Projeto de Lei serão 26, sendo 13 representantes de órgãos e entidades públicas e 13 representantes de organizações não governamentais e instituições de classe.

Atualmente, já se pode notar a Secretaria de Meio Ambiente trabalhando, pois em alguns pontos da cidade é possível encontrar placas que alertam sobre as áreas de proteção ambiental, bem como, sobre o risco de se obter uma multa caso se jogue entulho em lugares verdes e que são terras do município, ou seja, uma mudança está começando, pois tem tentado se fazer cumprir a lei que foi discutida anteriormente e o que se percebeu foi uma total desatenção com mesma.

Entretanto, sabemos que, para trabalhar conscientização ambiental, preservação e conservação da natureza requer a atuação, também, do ensino

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formal, conforme destacado na Lei 9795/99 (BRASIL, 1999). É através da educação que adquirimos conhecimentos, como também, formamos valores que levaremos para a vivência do dia a dia, e nesse contexto encontram-se as questões ambientais. Portanto, é neste sentido que se percebe a importância da participação da Secretaria de Educação no Conselho Municipal de Meio Ambiente o que torna esse fato bastante enriquecedor já que possibilita a Secretaria de Educação a inclusão curricular da temática ambiental e a Secretaria de Meio Ambiente a realização de atividades de Educação Ambiental em conjunto.

CONCLUSÕES

A partir desse estudo pode-se perceber que a legislação voltada para as questões ambientais no município iniciou-se no ano de 1950 e no decorrer dos anos avançou de forma lenta, somente a partir de meados de 90 é que se observa a realização de ações mais efetivas voltadas para o meio ambiente. No entanto a partir do ano de 2002, percebe-se um amadurecimento, com a aprovação de leis em consonância com as discussões em nível nacional e mundial.

No que diz respeito à legislação voltada para a educação ambiental no município, observou-se que teve início, no ano 1989, de forma dissociada das Conferências intergovernamentais, com a proposta de criação de uma disciplina de meio ambiente. Contudo, no ano de 2005 a Secretaria Municipal de Educação dá início à qualificação docente na área ambiental, no sentido de promover de forma efetiva a inserção curricular da temática ambiental.

Outro ponto a ser destacado diz respeito a dissociação tanto do Conselho de Meio Ambiente quanto da administração do Parque Municipal da Matinha da Secretaria de Urbanismo, vinculando-os a Secretaria de Agricultura e Meio ambiente e, finalmente a partir da criação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente no ano de 2009, vinculando o Conselho e o Parque a essa Secretaria, possibilitando uma melhor gestão do Parque e do meio ambiente no município de Itapetinga.

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