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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ LICENCIATURA EM GEOGRAFIA BRUNA PAULA SOUSA AMORIM A AULA E A SALA DE AULA DE GEOGRAFIA NA EDUCA- ÇÃO BÁSICA EM PIRANHAS-GO IPORÁ 2013

A Aula e a Sala de Aula de Geografia Na Educação Básica Em Piranhas-go

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A Aula e a Sala de Aula de Geografia Na Educação Básica Em Piranhas-go

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

    BRUNA PAULA SOUSA AMORIM

    A AULA E A SALA DE AULA DE GEOGRAFIA NA EDUCA-O BSICA EM PIRANHAS-GO

    IPOR 2013

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

    BRUNA PAULA SOUSA AMORIM

    A AULA E A SALA DE AULA DE GEOGRAFIA NA EDUCA-O BSICA EM PIRANHAS-GO

    Trabalho de Concluso apresentado Universidade Estadual de Gois, Unida-de Universitria de Ipor, como exign-cia parcial para a concluso do curso de graduao em Geografia, modalidade Licenciatura.

    Orientador: Prof. Adjair Maranho de Sousa

    IPOR 2013

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) _______________________________________________________________________________

    A524a Amorim, Bruna Paula Sousa

    A aula e a sala de aula de geografia na educao bsica em Piranhas GO / Bruna Paula Sousa Amorim. - 2013. 39 f.: il.

    Monografia (Licenciatura em Geografia) Universidade Estadual de Gois, Unidade Universitria de Ipor. Ipor, 2013.

    Orientador: Prof. Adjair Maranho de Sousa.

    1. Geografia. 2. Geografia Estudo e ensino. 3. Prtica pedaggica

    I. Ttulo.

    CDU: 911 _______________________________________________________________________________

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    BRUNA PAULA SOUSA AMORIM

    A AULA E A SALA DE AULA DE GEOGRAFIA NA EDUCAO B-SICA EM PIRANHAS-GO

    ____________________________________________________________________

    Prof. Adjair Maranho de Sousa

    ____________________________________________________________________

    Prof. Divino Jos Lemes de Oliveira

    ____________________________________________________________________

    Prof. Josilene Goulart Pereira

    Data: _____/_____/_________

    Resultado: ________________

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a Deus, pois s por meio dele tudo se torna possvel, sempre ilu-minando meu caminho.

    Ao meu professor orientador Adjair Maranho, que com toda pacincia sempre me explicou as coisas da forma mais simples possvel, me tranquilizando em todos os mo-mentos.

    Aos meus pais Joo Batista de Sousa e Lucimar Francisca Amorim Sousa pelo apoio em todas as minhas decises.

    Ao meu noivo Rhomaryo Lopes, por toda a compreenso em todos os momentos e por toda fora dedicada a mim.

    As minhas amigas Elizangela e Danilla, que tanto me ajudaram e me suportaram durante esses anos de faculdade.

    A todos os meus professores, todo o meu reconhecimento por tudo que fizeram por mim.

    Obrigada!

  • RESUMO

    A geografia percorreu longos caminhos desde o seu surgimento como cincia, seu estabeleci-mento como disciplina, e sua chegada efetiva a sala de aula. Um dos objetivos deste trabalho compreender toda a trajetria da geografia enquanto cincia e tambm sua histria enquanto disciplina, para desta forma chegarmos ao ensino de geografia atualmente. Percebe-se clara-mente as mudanas e evolues ocorridas tanto no meio econmico, social, poltico e educa-cional. No que se referem educao essas mudanas so refletidas na sala de aula, na forma como o professor ministra suas aulas, na relao professor aluno e tambm no modo como os alunos absorvem esse ensino. Devido percepo atravs da fala dos alunos em no gostar da disciplina de geografia, de acharem a mesma sem importncia para a sua vida cotidiana, sur-giu necessidade de se verificar como est prtica pedaggica do professor de geografia no ensino mdio do Colgio Estadual Maria Eullia de Jesus Portilho em Piranhas-GO, visto que analisar a prtica pedaggica se torna de fundamental importncia, pois o sucesso da aprendi-zagem dos alunos est muito atrelado forma e recursos utilizados pelo professor em sala de aula, e tambm verificar como os alunos compreendem a geografia, para a realizao deste trabalho foi entrevistados cento e oitenta alunos e tambm trs professores de geografia, para que dessa forma possamos perceber se o ensino est atendendo as exigncias atuais, que a de tornar o jovem aluno em um cidado crtico reflexivo. Palavras-chave: ensino, aula, prtica pedaggica.

  • SUMRIO

    INTRODUO.........................................................................................................................8

    1. A TRAJETRIA DA GEOGRAFIA AT A SALA DE AULA....................................10

    2.O ENSINO DA GEOGRAFIA NO BRASIL....................................................................17

    3.A AULA DE GEOGRAFIA DO ENSINO MDIO EM PIRANHAS (GO)..................24

    3.1ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES...............................................................................25

    3.2ENTREVISTAS COM OS ALUNOS........................................................................................29

    CONSIDERAES FINAIS................................................................................................36

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................................38

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    INTRODUO

    A geografia surgiu com as primeiras civilizaes, a partir do momento em que as mesmas comearam a se locomover de um lugar para outro sobre a superfcie terrestre. Longa foi trajetria da geografia, passando por vrias fases, sendo debatida por estudiosos de di-versas reas. Foi demorado para que a geografia reunisse todos os conhecimentos para ter sua prpria rea de estudo. Porm a geografia foi se modernizando, se constituiu como cincia e se tornou disciplina estudada nas escolas e universidades. A geografia ensinada na escola at ento era de cunho descritivo, e visava me-morizao por parte dos alunos, e o enaltecimento da ptria, pois o intuito era despertar o sen-timento patritico. Muito tempo se passou e ainda permanece arraigado em muitos professo-res, no uma geografia patritica, mas uma geografia descritiva, de memorizao. Esta pesquisa fruto, portanto da percepo obtida atravs da fala dos alunos em no gostar das aulas de geografia, de acharem uma disciplina totalmente sem importncia para sua vida cotidiana. Analisar a prtica pedaggica do professor se torna fundamental, pois o sucesso de aprendizagem do aluno depende tambm da metodologia que o mesmo utiliza em sala de aula. Dessa forma acreditamos que esse trabalho ir ajudar tanto profissionais, quanto estudantes, em busca de melhorias para o ambiente da sala de aula. Este trabalho tem, portanto como objetivo, conhecer a trajetria da geografia, en-quanto cincia, e tambm da geografia enquanto disciplina, para desta forma chegarmos ao ensino da geografia atualmente e verificar como est a prtica pedaggica do professor de geografia, se ela atende as exigncias atuais, visto que a geografia tem como funo tornar os alunos formadores de opinio, e, como o aluno da atualidade v essa disciplina. Em busca de atender os objetivos deste trabalho optamos por pesquisas bibliogr-ficas em livros, artigos, de forma a compreender toda a trajetria da geografia at chegar

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    sala de aula. Pautando tambm por pesquisa qualitativa para melhor obteno de informaes, com observao direta das aulas, entrevistas na forma de questionrios, visando assim adqui-rir subsdios suficientes para os objetivos ora relatados. O presente trabalho ser dividido em trs captulos. No primeiro captulo abor-dada a trajetria da geografia, seu surgimento, sua sistematizao, as fases pelas quais passou, sua instituio como cincia e tambm um breve relato de como se tornou disciplina escolar, visto que adentraremos nesta questo no captulo seguinte. O segundo captulo ir discutir sobre a histria da disciplina de geografia no Bra-sil, todos os entraves, todas as reformas e mudanas, sua unio histria e tambm sua sepa-rao, para que desta forma se entenda, como a geografia era ensinada, e assim compreender o porqu de ainda ser enraizada a mtodos to tradicionais de ensino. O terceiro captulo abordar o ensino de geografia atualmente, e para isso a pes-quisa se dar no Colgio Estadual Maria Eullia de Jesus Portilho, com os alunos e professo-res do ensino mdio, em todas as sries, e em todos os perodos de aula, qual seja matutino, vespertino e noturno e para atender aos objetivos verificaremos qual a formao do profissio-nal que est frente das salas de aula? Como o mesmo busca uma formao continuada? Ou se busca essa formao? Quais metodologias so utilizadas para tornar as aulas mais atrati-vas? J que o aluno diariamente tem acesso a informaes por todos os lados, quais as maio-res dificuldades enfrentadas pelos professores frente sala de aula? Como os alunos conce-bem a geografia? O que pensam sobre a mesma enfim abordar como hoje a aula e a sala de aula, de geografia.

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    1. A TRAJTORIA DA GEOGRAFIA AT A SALA DE AULA

    O processo histrico da geografia se inicia quando o homem comea a se deslocar de um lugar para outro sobre a superfcie terrestre. Segundo Sodr (1989) independente dos motivos dos deslocamentos, se era por necessidade ou aventura, fizeram com que esses co-nhecimentos adquiridos fossem ampliados e transmitidos. Eram de carter descritivo, atravs de coletas de dados, neste perodo no se tinha conhecimento que esses dados eram geogra-fia porm foram de grande valia para a formao da mesma enquanto Cincia.

    Esses conhecimentos sobre a superfcie terrestre foram registrados pelos gregos, que inclusive deram o nome de geografia a essa Cincia, descreviam o espao e procuravam a melhor forma de explor-lo. Acreditava-se nesta poca que a geografia servia somente para coletar dados, totalmente emprica por isso ento que era tida como descritiva. Conforme Sodr (1989), antigamente no se compreendia que dados coletados so conhecimento de forma bruta havendo ento a necessidade de ser lapidado, portando no sendo cincia, s ele-mentos que a compem.

    A contribuio dos gregos, na antiguidade clssica, considerada a mais relevante e significativa. Os principais destaques foram: a medio do espao e a discusso da forma da Terra, o estudo da fsica da superfcie terrestre e a descrio dos aspectos fsico-espaciais. (COSTA & ROCHA, 2010, p. 27).

    Os gregos utilizavam os conhecimentos geogrficos de forma estratgica, pois comercializavam com outros pases, e por estarem localizados entre o Mar Negro e o Mar Mediterrneo tinham assim variados contatos. Com sua localizao privilegiada procuravam dominar economicamente novos espaos e assim expandir seu territrio. O comrcio contri-bua para que eles obtivessem muitos contatos, e por meio deles que conhecem muitas cultu-ras diferentes. Devido comercializao viajavam bastante, e atravs delas, faziam muitas observaes, passando ento para a coleta de dados e a teorizao, porm esses estudos reali-

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    zados por eles eram descritivos e informativos no muito sistematizados, o que diz Sodr (1989).

    Segundo Cavalcanti & Viadana (2010), Herdoto, Hipocrates, Eraststenes, Hi-parco, Estrabo e Ptolomeu foram alguns gregos que contriburam para o surgimento da geo-grafia com estudos como a Antropologia, doenas ligadas ao clima, estudos astronmicos, diviso do mundo em zonas climticas e projeo cartogrfica. Herdoto por exemplo foi considerado o pai da geografia, fazia descries repletas de dados geogrficos. Hipcrates naquela poca j levantava a ideia do determinismo geogrfico, onde se pensava que o meio determina o comportamento do homem. Eraststenes foi diretor da biblioteca de Alexandria e apresentou a terra de forma geomtrica. Hiparco com seus estudos sobre projees renovou a cartografia. J Estrabo e Ptolomeu foram considerados naquela poca aqueles que contribu-ram para a sistematizao da geografia. Estrabo fazia descries dos povos e Ptolomeu reali-zava estudos voltados para a matemtica.

    A geografia neste perodo ainda no tinha seu campo de atuao definido, e era retratada por outras reas de conhecimento. Relata SODR (1989), No havia geografia. E gegrafos consequentemente. Havia filsofos, historiadores, cientistas, que se referiam, se-cundariamente, a aspectos geogrficos.

    A geografia caminhava devagar e no era considerada importante. No sculo XVII, as navegaes continuavam, porm mais aceleradas, pois inovaes tcnicas deram mais agilidade. As viagens aumentam, mas as informaes coletadas ainda eram descritivas e muitas vezes misturadas a lendas.

    No final do sculo XVIII, a geografia encontra condies fsicas e filosficas para seu desenvolvimento, e comea a ser vista separadamente de outras reas do conhecimento visto que por meio de tantas viagens a mesma j possua conhecimentos suficientes para ter sua prpria rea de estudo a partir de ento tida como disciplina autnoma. As viagens a partir deste sculo passam a procurar por materiais caractersticos.

    Mesmo sendo considerada disciplina autnoma, a geografia ainda enfrentou pro-blemas no perodo inicial a sua formao, um deles seria a sua ligao com a histria, onde se dizia que a mesma teria surgido para servi-la. Outro problema seria o da relao entre a natu-reza e o homem, onde de um lado a geografia uma cincia da natureza e de outro uma cin-cia da sociedade, no havendo a relao homem-natureza.

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    Com o passar do tempo geografia foi se modernizando. Para PIEPER & VENZKE (2009), o termo modernidade surge como os primeiros gegrafos modernos im-portantes como Humboldt e Ritter. Ambos foram influenciados pelo positivismo buscando explicaes gerais para o mundo em que viviam. Humboldt por meio de inmeras viagens procurava descobrir as diferenas e semelhanas da superfcie terrestre usando para seus estu-dos o mtodo de comparao. Foi a partir dos estudos de Humboldt que se comea a estudar mais concretamente sobre a superfcie terrestre. Ritter com suas contribuies apresentava a relao entre a superfcie terrestre e as atividades que o homem desenvolvia sobre ela. Estu-dava a relao homem natureza, a geografia para ele no era apenas descritiva devia inserir o homem como um ser ativo e transformador da natureza.

    Mesmo tendo sua origem na antiguidade, como j salientamos, a Geografia preci-sou de muito tempo para ser debatida e conceituada como cincia. Segundo Costa & Rocha (2010), a cincia geogrfica passou por vrias fases entre os sculos XIX e XX, sendo elas:

    Determinismo geogrfico, no sculo XIX cujo maior representante foi o alemo, Friedrich Ratzel, nesta fase dizia-se que as condies naturais, entre elas o clima determinava o comportamento do homem, ou seja, as condies climticas influenciavam na capacidade do desenvolvimento do homem. Para ele os alemes eram uma raa superior a qualquer outra. Ratzel, tambm elaborou conceitos como o de espao vital, que seria o espao de expanso territorial de um povo, onde para o desenvolvimento de uma sociedade era preciso conquistar territrio.

    Em seguida surgiu na Frana no final do sculo XIX o Possibilismo, defendido por Vidal de La Blache, que dizia que o meio no determinante no comportamento do ho-mem, e sim exerce alguma influncia sobre ele, mas ao mesmo tempo em que o homem influenciado pelo meio, ele tambm o influencia se tiver recursos para isso, natureza aqui oferece possibilidades ao homem que neste caso o transformador da paisagem. Neste pero-do surge o possibilismo divulgado por Lucien Febvre, com estudos voltados para pequenas reas, onde se buscava entender como o homem transformava o meio para sua sobrevivncia.

    Logo aps surge a Geografia regional que tinha como defensor Richard Hars-tshorne, que pregava a diferenciao de reas, onde o espao seria dividido por reas homo-gneas. Comparavam-se as regies de acordo com suas semelhanas e diferenas. Os fen-menos eram estudados separadamente para depois fazer uma integrao entre eles, onde cada

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    fenmeno deveria ser estudado por uma cincia, e depois cabia geografia fazer a sntese desses conhecimentos organizando as informaes para dar uma viso do todo.

    Em 1950 eis que surge um movimento de renovao da geografia para romper com os pensamentos tradicionais, a Nova geografia ou Geografia quantitativa embasada no positivismo usava a matemtica para tornar a geografia mais cientfica. Nesse perodo as rela-es sociais e espaciais foram deixadas de lado. Estudava-se o todo e esquecia-se das particu-laridades. Procurava-se neste perodo dar um ar mais cientfico a geografia de at ento, usan-do para isso dados estatsticos, se dizia neste perodo que todas as cincias deveriam usar a estatstica e a matemtica, onde os mesmos seriam indispensveis para qualquer cincia. O maior expoente desta geografia era Schaefer.

    Na dcada de 1970 surge a Geografia crtica ou radical baseada no materialismo histrico dialtico, em que o mundo deve ser compreendido como em movimento, contradit-rio, histrico, transformando a realidade. Seus defensores eram K. Marx e F. Engels, que bus-cavam entender o sistema capitalista e a diviso da sociedade em classes sociais. Foi um per-odo importante, pois nasciam as discusses sobre os problemas sociais. neste perodo que o homem deixa de ser visto como animal e passa a ser visto como ser social. Este movimento prope criticidade realidade levando a transformao da realidade.

    J a Geografia humanstica visa compreender o comportamento das pessoas em relao aos lugares, as formas de sentir, a afetividade, os significados, o sentimento de perten-cimento das pessoas em relao aos lugares que lhes so de algum modo importante. Seu ex-poente Yi-Fu Tuan. A Geografia cultural voltada para o estudo da relao entre cultura e vida social o defensor dessa geografia Paul Claval, que estuda a transmisso de conhecimen-tos, de valores as tradies, os costumes.

    Relata Pereira (1989), que na filosofia, a geografia encontrou outro pensamento que impulsionou seu aparecimento enquanto cincia moderna, como o iluminismo que defen-dia que no h liberdade acima da razo e que o pensamento racional deveria substituir a f. Em suas obras com abordagens geogrficas, os iluministas discutiam sobre a relao socieda-de e o meio. Ren Descartes, John Locke, Voltaire, Immanuel Kant, Montesquieu e Rousseau foram filsofos iluministas que sempre so citados como contribuintes da geografia.

    Ren Descartes, era defensor do racionalismo, para ele para se chegar ao conhe-cimento era preciso duvidar de tudo. John Locke acreditava que o homem obtinha conheci-

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    mento atravs de suas experincias, quanto mais velho mais conhecimento tinha. Voltaire criticava a igreja e defendia a liberdade de pensamento. Kant combatia a menoridade, pois para ele o homem era capaz de pensar por si mesmo sem a necessidade da f.

    Montesquieu defendia a ideia de que o poder deveria ser dividido em: executivo, legislativo e judicirio. Para Rousseau a sociedade deveria ser igualitria. Diz Rousseau que o homem nasce bom, porm a sociedade o corrompe, por culpa da sociedade que o homem se torna mal.

    Para PEREIRA (1989, p. 20), o ideal iluminista, assentado na crena do poder da razo humana, que passa a defender a ampliao da formao cultural para todos como for-ma capaz de transformar o homem e, por meio dele, a sociedade.

    No Brasil, Milton Santos e Aziz Absaber foram os maiores representantes da ge-ografia. Milton Santos, em suas obras retrata a questo do espao, onde se tem o conceito de paisagem. Formou-se em Direito, mas se interessava bastante pela geografia. Foi um dos grandes nomes da renovao da geografia no Brasil.

    Aziz Ab Saber, d nfase a questo do meio ambiente, aos impactos ambientais. Contribuiu no s com a geografia, mas tambm em outras reas do conhecimento como, por exemplo, a biologia, geologia e arqueologia. Foi um dos maiores nomes da geografia e meio ambiente.

    Segundo Pereira (1989), at o sculo XIX a educao era elitizada, o conhecimen-to era restrito a classe dominante, no sendo, portanto, acessvel a todos, e acontecia nas insti-tuies religiosas.

    Foi a partir do iluminismo que se propaga a ideia de um ensino pblico, pois ba-seados na razo os iluministas passam a ver todos como seres racionais. O iluminismo prega-va que a sociedade deveria ser igualitria, onde a classe dominante deveria ser substituda por uma sociedade de iguais direitos.

    neste contexto que a burguesia defende uma educao para todos, pois assim acabaria com a produo feudal, ajudando a si prpria em sua emergncia na sociedade e im-plantao do capitalismo.

    No sculo XIX, tanto a escola, quanto o capitalismo se solidificam, a burguesia j no poder percebe que pode permanecer nele e passam a implantar escolas no interior da Euro-

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    pa com isso tornando as instituies escolares nacionalizadas. Com um ensino voltado para o patriotismo a geografia colocada nos currculos escolares, porque mostra o homem no espa-o, no para que o homem pensasse o mesmo apenas para que demarcasse o espao nacional.

    A educao chega ao Brasil em 1549, com a vinda dos primeiros jesutas, que permaneceram no comando da educao brasileira at metade do sculo XVIII, com uma educao voltada para a formao cultural e descrio dos fatos. A geografia era tida neste perodo como requisito para os cursos superiores de Direito.

    No sculo XIX a geografia passa a se firmar como disciplina com a criao do Colgio Pedro II localizado no Rio de Janeiro em 1837, se tornando, portanto uma disciplina estudada na escola. Este ensino tinha como objetivo despertar o nacionalismo e um sentimen-to patritico.

    Segundo Cassab (2009), a partir de 1930 a geografia comea a mudar sua histria. Em 1934 surgem os primeiros cursos superiores de geografia na Universidade de So Paulo - USP. Em 1935, fundada a Associao dos Gegrafos Brasileiros AGB. Em 1939 criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE. A partir da a geografia foi ganhando foras tanto como cincia quanto como disciplina escolar.

    A partir de 1936 so formados os primeiros professores licenciados de geografia com o objetivo de ensinar uma geografia que sempre descrevesse as riquezas nacionais, era papel do aluno, portanto descrever os fatos e engrandecer a ptria.

    Em 1964 com o golpe militar o objetivo do governo era um ensino voltado para a formao de profissionais tcnicos, ou seja, mo - de - obra para as indstrias, pois era preciso trabalhar para o desenvolvimento do pas. Em 1970 a geografia passou a ser considerada en-to um problema para o governo militar, pois poderia tornar os alunos pensadores e contesta-dores. Em 1971 a geografia foi excluda dos currculos escolares e substituda pela disciplina de Estudos Sociais, que abrangia as disciplinas de geografia e histria. Aps muitos debates, lutas e entraves, por meio de manifestos das comunidades acadmicas, tanto a geografia quan-to a histria voltaram a ser tidas como disciplinas autnomas.

    No sculo XX, aps muitas mudanas nos meios econmicos, sociais e educacio-nais como, os avanos tecnolgicos, e a globalizao. Em mbito educacional essas mudanas refletiram tambm dentro da sala de aula, ou seja, na forma de ensinar, na relao professor aluno, nos contedos ensinados visto que os mesmos deveriam estar prximos da realidade do

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    aluno. Tudo isso fez com que houvesse a necessidade por parte da escola de buscar novas formas para transformar o sistema de ensino. A escola j no poderia ser somente um local onde se reproduz o conhecimento, mas passaria a ser um local de construo do conhecimen-to.

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    2. O ENSINO DA GEOGRAFIA NO BRASIL

    Os Jesutas chegaram ao Brasil meio sculo depois do descobrimento, no ano de 1549 e tinham como objetivo educar os colonos e tambm os ndios, sob a superviso do Pa-dre Manoel da Nbrega. Alm da doutrina catlica, o portugus era a disciplina ensinada.

    Segundo Pessoa (2007) em 1599 os jesutas criaram a Ratio Studiorum que funci-onava como uma lei, onde todos os colgios existentes no Brasil tinha como dever obedecer a regras de funcionamento.

    A geografia no era considerada neste perodo uma disciplina independente, era estudada nas leituras de escritores clssicos. Portanto, na atualidade, quando se volta Geo-grafia para a literatura, isso j acontecera bem antes da Geografia existir como disciplina re-gular.

    Em 1832 a geografia passa a fazer parte do currculo das escolas jesutas. O ensi-no era inspirado em padres europeus, oferecendo, portanto uma cultura geral, estudando por meio da descrio e enumerao de fatos ocorridos, um conhecimento totalmente distante da realidade vivida. A geografia era to sem importncia que nem era divulgada em sala de aula.

    Segundo Rocha (1998) os professores que ensinavam nas escolas jesutas no possuam uma formao em geografia, eram provenientes de outras reas do conhecimento como, por exemplo, a Filosofia e a literatura. Sendo assim quando o professor ensinava de-terminado contedo, por exemplo, de uma obra literria, ele recorria geografia a fim de que os alunos melhor compreendessem, fazendo, portanto a descrio fornecendo informaes do local de tal acontecimento e de sua paisagem.

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    No sculo XIX o ensino de geografia adquiriu maior importncia com a criao do Imperial Colgio de Pedro II, em 1837, no Rio de Janeiro. A geografia neste perodo passa a ser tida como disciplina autnoma, com um modelo curricular vindo da Frana.

    Relata Pessoa (2007) que neste colgio, ainda era estudado as obras literrias, po-rm, foram introduzidas outras disciplinas como a histria e a geografia. Essa escola tinha como objetivo ser uma escola padro, pois a geografia era requisito para a admisso nos cur-sos de direito.

    O mtodo de ensino utilizado por esse colgio era o de memorizao, pois sendo a geografia, naquela poca, totalmente descritiva, a melhor forma de aprender era gravar tudo na memria.

    Existiram algumas manifestaes contra essa forma de ensinar geografia durante o imprio, Rui Barbosa foi um exemplo disso, segundo ele a geografia deveria possuir um ensi-no mais modernizado, onde o ensino fosse mais prximo da realidade do aluno, utilizando a observao. Porm durante todo o imprio permaneceu uma geografia descritiva distante da realidade vivida pelo aluno. No final do sculo XIX a geografia comea mudar sua histria. Iniciam-se manifestaes em muitos pases afetando o Brasil, e a geografia comea a passar por mudanas, ou melhor, reformas.

    A primeira delas no perodo republicano em 1890 foi reforma Benjamin Cons-tant, onde ficou estabelecido que a geografia fosse ensinada a todas as sete series do ensino secundrio. A segunda reforma educacional foi em 1901, Reforma Epitcio Pessoa que redu-ziu as aulas de geografia somente para os trs primeiros anos do secundrio. A terceira refor-ma ocorreu em 1911, sob o nome de Rivadvia da Cunha Corra nessa reforma reduziu-se o secundrio de sete para seis anos no mudando em nada o estabelecido na ltima reforma. Em 1915 era implantada a quarta reforma, chamada de reforma Carlos Maximiliano, nesta houve a reduo do curso secundrio de seis para cinco anos e desta forma as aulas de geografia pas-saram a ser ministradas somente nos dois primeiros anos do secundrio.

    Passados mais de trs quartos de sculo desde a instituio da geografia como disciplina, e mesmo tendo passado por tantas reformas, a mesma no evolua, no se moderni-zava, pelo contrrio cada vez mais se distanciava de metodologias mais modernas.

    A segunda dcada do sculo XX de suma importncia para o ensino de geogra-fia, visto que neste perodo surgiram vrios embates onde de um lado havia uma maioria de

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    defensores da forma tradicional de ensino e de outro lado uma minoria que almejava reformas no sistema de ensino vigente.

    Surgiu ento em 1925 a ltima reforma chamada de reforma Lus Alves-Rocha Vaz, nesta reforma ficou estabelecido o aumento do tempo de durao do secundrio de cinco para seis anos. A educao neste perodo estava voltada para a consolidao do nacionalismo patritico onde o ensino seria direcionado para os interesses do estado. Afirma PESSOA (2007) que:

    O que se observa com clareza a recomendao atribuda aos professores na hora de selecionar os textos que sero trabalhados por essas disciplinas, que os mesmos te-nham o devido cuidado em examinar se neles esto incorporados a ideologia do na-cionalismo-patritico, caso no, a recomendao era que fossem diligentemente ex-cludos por no despertarem os sentimentos ideolgicos de patriotismo, que naquele momento se fazia cada vez mais penetrado em nossas escolas (PESSOA, 2007, p. 44

    O professor, portanto tinha como dever criar no aluno esse sentimento patritico, despertando um amor ptria, tornando-o defensor do territrio nacional. A geografia escolar se insere no contexto de formao dos estados nacionais, com o intuito de despertar o lado patritico que neste perodo passa a ser a finalidade da geografia e isso fica bem explicito na obra de Yves Lacoste, A geografia, isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra, onde o autor mostra que existem dois tipos de geografia, uma chamada de geografia dos estados mai-ores e outra denominada geografia dos professores, uma complementando a outra, com o ob-jetivo de controlar o espao geogrfico. A geografia dos estados maiores tem um papel de controlar todo o territrio e dominar politicamente, e, a escola, ajuda neste sentido aplicando um ensino ideolgico.

    A outra geografia, a dos professores, que apareceu h menos de um sculo, se tornou um discurso ideolgico no qual uma das funes inconscientes, a de mascarar a importncia estratgica dos raciocnios centrados no espao. No somente essa geo-grafia dos professores extirpada de prticas polticas e militares como de decises econmicas (pois os professores nisso no tem participao), mas ela dissimula, aos olhos da maioria, a eficcia dos instrumentos de poder que so as anlises espaciais. Por causa disso a minoria no poder tem conscincia de sua importncia, a nica a utiliz-las em funo dos seus prprios interesses e este monoplio do saber bem mais eficaz porque a maioria no d nenhuma ateno a uma disciplina que lhe pa-rece to perfeitamente intil (LACOSTE, 1993 P.31).

    Ao mesmo tempo em que se pregava o nacionalismo patritico, nascia uma geo-

    grafia de carter mais moderno. Um importante divulgador dessa geografia moderna foi o professor Carlos Miguel Delgado de Carvalho, cursou Letras, porm, dedicou parte de sua

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    vida a estudos sobre a disciplina de geografia, e que passou a ministrar aulas no Colgio Pe-dro II, em 1920. Delgado sabia da fragilidade do curso de geografia no Brasil e buscava um estudo mais cientfico e sugeriu novas metodologias de ensino, onde os estudos deveriam co-mear a partir do local, estudando primeiro a realidade para s ento partir para o estudo ge-ral.

    Delgado vivencia um perodo de transformao da geografia, causando presses, contradies, que foram necessrias, nesse processo de modernizao pelo qual passou o en-sino de geografia.

    De acordo com Pessoa (2007), as dcadas de 30 e 40 foram marcos importante para a transformao no sistema educacional brasileiro, junto com a chegada de Getlio Var-gas ao poder e a Revoluo de 1930. Em 1931 surge a Reforma Francisco Campos, estabele-cida pelo ministro da educao pblica Francisco Campos, considerada uma das mais impor-tantes do sistema educacional brasileiro. Nesta reforma a educao brasileira passaria a vigo-rar em todo o territrio nacional. Para ele o ensino no deveria ser de memorizao e sim uma busca de conhecimento, onde seriam valorizadas as observaes colhidas pelos alunos. Du-rante essa reforma o ensino de geografia voltou a fazer parte das cinco sries do fundamental. Esta reforma serviu para apontar um caminho para que a geografia se renovasse, porm, per-

    maneceu nas salas de aula uma geografia tradicional de memorizao.

    Relata Pessoa (2007), que em 1934 comearam a serem implantados os primeiros cursos de professores de geografia no Brasil. Pela primeira vez surgiam cursos superiores voltados para o magistrio, j que todos os professores at ento eram oriundos de outras reas do conhecimento. Em 1936 so formados os primeiros licenciados em geografia, e este um dos fatos mais importantes pelo qual passou a geografia, pois ocorria neste perodo uma profissionalizao da docncia, mudando completamente a forma de ver e de ensinar geogra-fia, colocando pela primeira vez, profissionais qualificados em sala de aula, mostrando como a geografia de fato estava se modernizando.

    Outro importante fato para a modernizao desta cincia foi o surgimento da As-sociao dos Gegrafos Brasileiros AGB, em 1934, no qual eram divulgadas pesquisas ci-entficas e que tambm colaboraram com o ensino da disciplina de geografia.

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    No ano de 1942 instaurado pelo ento ministro da educao, Gustavo Capane-ma, outra reforma na educao, chamada de Reforma Capanema que ocorreu durante o pero-do do estado novo, com a ideologia nacionalista de Vargas.

    Conforme Souza & Pezzato (2009) a geografia era obrigatria em todas as sries sendo elas divididas em dois ciclos: o ginasial com quatro anos e o colegial com trs, sendo o colegial divido em duas modalidades uma cientfica que era mais tcnica e outra clssica mais voltada para as humanidades. O ensino neste perodo j contava com atlas e livros didticos.

    A reforma Capanema terminou em 1962 e o ensino de geografia que deveria ter se renovado, no conseguiu, pois muitos professores permaneciam sem formao acadmica e com isso no conseguiram seguir a nova forma de ensino, ento recorriam ao mtodo antigo e tradicional de ensino, fazendo com que a geografia fosse desvalorizada.

    A partir da segunda metade do sculo XX comeam a surgir crticas, quanto ao tipo de geografia que at ento era ministrada nas escolas.

    Em 1968, foram criadas as licenciaturas curtas, era uma formao voltada somen-te para o campo educacional. O professor que fizesse a licenciatura curta estava apto a minis-trar aulas nos cursos de geografia e histria, enquanto quem era formado na licenciatura plena s poderia atuar na sua rea de formao especfica. Segundo Gomes (2010), o que se pensava que os professores formados nas licenciaturas curtas ministrassem aulas nas sries ginasiais, enquanto os formados nas licenciaturas plenas ministrassem aulas no colegial, porm, nem todos os alunos conseguiam chegar nesse nvel de estudo e sem contar que a geografia nem era obrigatria neste nvel de ensino devido a Lei de Diretrizes e Bases da Educao - LDB de 1961, lei essa em que foram instauradas algumas modificaes no ensino de geografia. Houve reduo das aulas de geografia no ginasial, onde foi retirada essa disciplina do quarto ano, houve tambm a reduo de trs para duas aulas em todos os ciclos do nvel mdio e tambm nos cursos clssicos e normais, as aulas seriam apenas para os primeiros anos. Outra mudana se deu em quem organizava o currculo que antes era de responsabilidade do Ministrio da Educao e Cultura e que depois da LDB passou a ser de responsabilidade do Conselho Fede-ral de Educao.

    A cada mudana percebia-se um desprestgio da disciplina de geografia, onde cada vez mais, ela era retirada dos currculos, colocando inclusive os professores em situao ruim, pois muitos j eram concursados nas suas reas de formao especfica, e desse modo

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    teriam muitas dificuldades de ministrar aulas em uma disciplina na qual no estavam prepara-dos, alm de ficarem praticamente sem aulas para ministrar, pois cada vez mais a carga hor-ria da disciplina diminua.

    O ano de 1970 foi o pice da ditadura militar que se iniciou em 1964, o governo implantava uma nova forma de ensinar a geografia, colocando o aluno como mero expectador de todo o processo poltico pelo qual passava o pas e usava essa disciplina como forma de manipulao limitando totalmente o conhecimento. De acordo com ROCHA (1998) No per-odo ditatorial a geografia deixa de ser trabalhada como formadora de cidados crticos e ga-nha carter enciclopdico, propondo a formao de cidados obedientes ao sistema. Neste perodo h uma busca por mo- de -obra especializada para atender as indstrias que estavam sendo instaladas, o ensino ento passou a ser mais tecnicista e menos cientfico, era preciso manter a ordem acima de tudo. Com esse modelo educacional o estado tornava a sociedade menos pensante, incapaz de analisar os fatos criticamente e questionar a ordem vigente. De acordo com Gomes (2010), a situao ficou ainda pior para os professores de geografia e histria, quando em 1971 foi aprovada a Lei 5692/71. Essa lei criou a disciplina de Estudos Sociais unificando assim a disciplina de geografia e histria no primeiro grau. A partir dessa lei o ensino de primeiro grau seria de oito anos e o segundo grau de trs anos, onde o segundo grau seria de cursos profissionalizantes. A insero da disciplina Estudos So-ciais busca atender a necessidades do modelo de educao que estava sendo implantado. A geografia passa a ser to desprestigiada que praticamente extinta dos currculos.

    Os professores se revoltaram contra essa forma de ensino, alguns professores do departamento de geografia da USP, enviaram uma carta ao Conselho federal de Educao dizendo a importncia do ensino de geografia para o primeiro e segundo grau. As manifesta-es comeam a ganhar fora atravs da AGB, que divulgava a situao da geografia por meio de artigos, pediam pela volta da geografia no ensino escolar e inclusive falavam da pou-ca procura pela licenciatura em geografia devido criao das licenciaturas curtas, a ponto do curso de geografia quase ser extinto das universidades.

    Outro ponto importante levantado pelos artigos divulgados na AGB era em rela-o definio dos contedos ensinados pela disciplina Estudos Sociais, onde em muitos li-vros estavam presentes contedo da geografia, com o ttulo de Estudos Sociais.

    Segundo Gomes (2010), em 1973 surge os Guias Curriculares que estabeleciam regras para os contedos a ser ensinados pela disciplina estudos sociais, abordando com um

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    novo mtodo contedos antigos. Porm esses guias no funcionavam muito bem, pois havia livros mais prximos s regras dos guias curriculares que tratavam da disciplina estudos soci-ais, outros j estavam mais voltados para a disciplina geografia ou histria, isso dependia mui-to se o autor do livro era mais ligado geografia ou a histria, ou as reas de humanidades, que era o objetivo da disciplina de estudos sociais, estudar as prticas do homem na relao espao-tempo. Percebe-se, portanto que neste perodo havia uma indefinio acerca dos con-tedos pertencentes disciplina estudos sociais.

    No final da dcada de1970, comearam, a haver crticas em relao aos contedos de geografia. Neste perodo a USP foi convidada pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas CENP de So Paulo, para que encaminhassem um novo currculo dessa disci-plina, para que assim tanto a geografia quanto a histria, pudessem restabelecer-se como dis-ciplinas autnomas. Ao mesmo tempo em que isso ocorria, surgia na geografia das universi-dades uma reestruturao dos saberes cientficos, chamada de geografia crtica ou radical.

    Ainda segundo Gomes (2010), a geografia cientfica comea cada vez mais a in-terferir nos currculos da geografia escolar. A partir da dcada de1980 comeou um debate entre os professores de geografia, em busca de tornar o ensino mais democrtico e comprome-tido com a justia social. Durante toda a dcada de 1980 aconteceram vrios encontros sobre a questo do ensino de geografia, buscava-se por meio destes encontros definirem o que seria ensinado nas disciplinas de geografia e histria. Os gegrafos da poca faziam de tudo para que a geografia voltasse a ser uma disciplina autnoma. Por meio de tantos debates esses pro-fessores foi ganhando espao na elaborao do guia curricular, e aps vrias verses da pro-posta curricular a geografia volta para o ensino de 1 grau.

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    3. A AULA DE GEOGRAFIA DO ENSINO MDIO EM PIRANHAS (GO) Como relatado nos captulos anteriores, disciplina de geografia passou por v-rias mudanas, e apesar de todas essas mudanas e reformas ocorridas no sistema educacional brasileiro, no s na educao, como tambm na sociedade, ao longo dos anos, fez com que, se consagrasse um modelo de ensino da geografia, que vem sendo reproduzido desde suas origens at os dias atuais. O sculo XXI marcado, portanto por uma srie de mudanas den-tre elas a globalizao. Todas essas mudanas impem que tanto a escola quanto o professor se renove, se modifique, para atender as exigncias do mundo globalizado. A escola e o pro-fessor esto necessitando cada vez mais melhorar a qualidade do ensino para atender as exi-gncias da atualidade, que a de tornar os alunos crticos-reflexivos da realidade que o cerca.

    Porm, na escola brasileira, a percepo, , que, essas necessidades que tomam conta das profisses e profissionais, na educao, no vem acontecendo como deveria e se espera. Enquanto aluna na educao bsica, nos anos de 2004 a 2006, em que cursei o ensino mdio, no Colgio Estadual Maria Eullia de Jesus Portilho em Piranhas-GO, em que se deu essa pesquisa, sempre ouvia dos alunos que as aulas de geografia eram muito cansativas, que era sempre a mesma coisa em todas as aulas, que a professora falava demais, e que a mesma explicava um livro em uma aula.

    Depois de quatro anos voltei escola na funo de estagiria para fazer o meu estgio supervisionado, neste caso em forma de observaes, visto que o meu estgio na for-ma de regncia foi realizado na cidade de Ipor-Go. Quando voltei escola obtive as mesmas percepes, onde os alunos diziam que as aulas de geografia, entre outros adjetivos, so muito chatas, e que a professora no faz nada de diferente... Pensando nisso, surgiu necessidade dessa pesquisa, para que assim pudesse ser verificado como est situao do ensino de geo-grafia em Piranhas-GO e porque os alunos dizem no gostar de geografia. Para isso optamos neste trabalho pelas sries do ensino mdio, por ser nesta fase da educao bsica, que deve

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    ocorrer ampliao do conhecimento, mediado e estruturado pela escola, para que o aluno consiga sua autonomia como cidado atuante na sociedade. Segundo Pessoa:

    A importncia da geografia no ensino mdio est relacionada com as mltiplas pos-sibilidades de orientao na formao de alunos cidados, capazes de emitir opinies sensatas a fim de direcionar decises polticas que vise um benefcio comum, de ter conhecimento e acesso aos seus direitos e deveres, de respeitar outros posicionamen-tos e da mesma forma admitir mltiplas leituras da realidade, reconhecendo as con-tradies e os conflitos existentes no mundo. (PESSOA, 2007, p. 81).

    O que se buscou com essa pesquisa foi responder, se este ensino est atendendo as exigncias atuais? Como est a prtica pedaggica do professor de geografia? Quais metodo-logias os mesmos usam para que o aluno compreenda de forma clara o que est sendo repas-sado? Bem como o que o aluno acha da disciplina e das aulas de geografia? Para responder esses questionamentos, foram realizadas entrevistas por meio de questionrios com alunos de todas as sries do ensino mdio e tambm com os professores, alm da observao direta das aulas de geografia, para que desta forma consegussemos reunir maior quantidade de informaes possveis.

    Esta pesquisa foi realizada no Colgio Estadual Maria Eullia de Jesus Portilho, que est localizado na Av. Brasil Central n 1440- Centro- Piranhas - GO e a escolha se deu devido ser esse, o nico que oferece o ensino mdio na cidade. O mesmo contm cerca de 700 alunos distribudos nos trs turnos, matutino, vespertino e noturno. A maior parte dos alunos est concentrada no perodo matutino onde o mesmo conta com quatro salas de 1 ano, trs salas do 2 ano e duas salas do 3ano. No perodo vespertino contem trs salas do 1 ano, du-as salas do 2 e duas salas do 3ano. J o perodo noturno possui a menor quantidade de alu-nos contendo somente uma sala do 1 ano, uma do 2 ano e uma do 3 ano.

    Foram entrevistados Cento e Oitenta alunos, distribudos em todas as sries do ensino mdio e em todos os perodos de aula e tambm todos os professores de geografia da unidade escolar.

    As aulas de geografia no colgio esto distribudas entre trs professores, e por uma questo tica, os professores no sero identificados pelos nomes, trataremos, portanto os mesmos como P1, P2 e P3.

    3.1 Entrevistas com os professores

    Nas entrevistas foi perguntado aos professores questes sobre sua formao? Tempo de trabalho como professor de geografia? Quantidade de turmas que os mesmos pos-

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    suem? As metodologias mais utilizadas por eles? Como o ambiente da sala de aula? Como e onde planejam suas aulas? Buscam-se uma formao continuada? Como avaliam os alunos? Como se d a relao professor aluno? Se os mesmos esto preocupados em verificar se os alunos esto compreendendo os contedos? E tambm como descrevem o ensino de geografia hoje?

    Os professores entrevistados, disseram que se formaram na Universidade Estadual de Gois UEG, Unidade de Ipor e possuem mais de 35 anos de idade. No que se refere formao inicial os professores P1 e P2 so formados em geografia possuindo, portanto uma formao especfica para atuar nessa rea do conhecimento, e ministram aulas de geografia h cerca de 14 anos. J a professora P3 formada em Histria e ministra aulas de geografia h 04 anos. Questionada sobre o porqu a mesma ministra aulas de outra disciplina que no seja a sua formao especfica, a mesma justificou que a escola fez essa distribuio para que a mesma completasse sua carga horria.

    Ambos os professores disseram que a formao inicial contribui pouco para a sua prtica em sala de aula, pois no estgio no foram muito cobrados, alm de o estgio aconte-cer rapidamente e o contato com os alunos ser muito pouco. Para eles a formao inicial ser-viu apenas como uma iniciao na vida escolar, e que, o que conta mesmo a vivncia, o dia-a-dia.

    Segundo os professores envolvidos na pesquisa somente a formao inicial no suficiente para uma boa prtica pedaggica, embora seja de grande importncia, devido ser o alicerce na construo da prtica docente, a formao inicial serve como, elemento norteador, pois a boa prtica mesmo, se consolida no cotidiano do trabalho docente. Segundo Cavalcanti (2008), a formao profissional serve para dotar o profissional de bases tericas para que ele consiga atuar na prtica, esse momento de formao acaba sendo, portanto o acesso teoria, j o momento da prtica a aplicao desses conhecimentos.

    Neste contexto entendemos que, somente a formao inicial no suficiente para a boa prtica em sala de aula, necessrio que o professor busque sempre uma formao con-tinuada. Descreve Pires (2011), a formao do professor de geografia deve ser um processo inesgotvel, que se constri e reconstri a cada dia, e isso se d por meio da busca por conhe-cimento atravs da formao continuada.

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    Para o professor P2 foi muito difcil colocar o que aprendeu na teoria, na faculda-de, em prtica dentro da sala de aula, pois segundo ele sua formao foi um pouco deficiente o que prejudicou sua ao docente, onde o mesmo relata que h uma dicotomia entre geogra-fia acadmica e geografia escolar, pois durante a formao, se estuda a prtica docente de forma utpica, no vivenciando a realidade das aes cotidianas da sala de aula.

    Para CAVALCANTI (2008), a teoria e a prtica precisam ser elementos presen-tes e imbricados na formao inicial, com vistas a preparar os professores de geografia para atuarem em conformidade com as necessidades socioeducacionais.

    Podemos perceber a importncia de se integrar teoria e prtica tambm na fala de Castellar. O processo de formao inicial de professores deveria integrar as bases tericas com a prtica cotidiana e, dessa maneira, os estudantes futuros professores, teriam uma di-menso maior do significado dos saberes especfico e das prticas sociais (CASTELLAR, 2010, p.42).

    Dos professores entrevistados o P1 e P3, fizeram especializao em Formao Socioeconmica do Brasil em 2003 pela Universidade Salgado de Oliveira-UNIVERSO e o P2 em Literatura Brasileira em 2005, porm mesmo sabendo da importncia de uma formao continuada, nenhum deles atualmente est fazendo algum curso de aperfeioamento. Os pro-fessores entrevistados disseram que atualmente no esto buscando especializaes, pois pos-suem uma carga horria muito extensa e que uma especializao alm de dinheiro exige tem-po.

    O professor P1 possui quatorze turmas no Colgio Estadual Maria Eullia de Je-sus Portilho, nos perodos matutino e vespertino, e alm de ser concursada no Estado de Goi-s, tambm e concursada no Estado de Mato Grosso, dessa forma ela ministra aulas trs dias na semana em Piranhas e os outros dois dias ela viaja para Barra do Garas- MT, onde minis-tra aulas tambm. Relata P1 que no pode abrir mo de nenhum dos concursos, pois devido os salrios serem baixos s com os dois concursos ela consegue sobreviver, acaba assim ficando com a carga horria muito puxada no sobrando tempo para se qualificar.

    O professor P2 tambm possui quatorze turmas, trabalha em 03 escolas estaduais da cidade, sendo em duas delas no ensino fundamental, trabalha nos trs perodos, matutino vespertino e noturno, alm de ministrar aulas de outras disciplinas, como, Ensino Religioso e Atividade Esportiva.

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    A professora P3 trabalha em duas escolas estaduais da cidade, sendo uma delas no ensino fundamental, porm s possui uma turma de geografia, j que formado em Histria. Ministram tambm outras disciplinas como, Histria, Filosofia e Sociologia.

    Para Sampaio & Vlach (2008), o professor precisa sempre aperfeioar a sua prti-ca, necessita sempre ser um pesquisador, pois se ele no pesquisar deixar de ser professor e passar a ser apenas um repetidor de contedo. Nesse sentido, durante o ano, as instituies de ensino superior, tem por prtica, planejar oficinas, encontros temticos, palestras... de curta durao e com preos acessveis para que seus acadmicos e egressos, numa formao conti-nuada, possa voltar e participar dessas atividades, como forma de aperfeioamento profissio-nal.

    Nas entrevistas realizadas com os professores, ambos deixaram claro que utilizam variados recursos metodolgicos, tais como: data show, DVD, computador e internet, TV, mapas, tambm jornais e revistas. Porm durante as observaes das aulas foi possvel notar que as aulas expositivas so sem dvida a forma mais comum de dar aulas dos professores entrevistados, e que o livro didtico mesmo aps tantas mudanas na educao e no mundo, continua sendo a ferramenta mais utilizada,

    Por meio das observaes das aulas, pode ser percebido que ainda permanece nos dias atuais um ensino tradicional com aulas expositivas baseadas no livro didtico, onde os professores poucas vezes tentaram romper com a passividade dos alunos. Os professores s vezes at tem o instrumento para inovar na sua aula, mas esto to presos a mtodos tradicio-nais de ensino que acaba no conseguindo desenvolver no aluno suas habilidades intelectuais.

    Uma prtica pedaggica mais inovadora permite ao aluno observar, descrever, com-parar e analisar os fenmenos observados na realidade, desenvolvendo habilidades intelectuais mais complexas, como fazer correlaes dos conceitos geogrficos que esto implcitos na realidade. (CASTELLAR, 2010.p.47).

    O que se observa que as aulas expositivas fazem com que os alunos no apren-dam a aprender e sim que eles apenas decorem, memorizem e respondam as atividades de forma mecnica, sem utilizar os conhecimentos geogrficos para a sua vivncia. Segundo PIRES (2012), um dos principais objetivos reservados ao ensino de Geografia consiste, antes de tudo, em dotar o aluno da capacidade de dominar o seu prprio desenvolvimento, possibili-tando-lhe o desenvolvimento de competncias, habilidades e atitudes, que propiciem uma aprendizagem para a vida.

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    Com relao ao ambiente da sala de aula todos os professores entrevistados re-clamaram da questo da falta de infraestrutura, onde as salas possuem pouca ventilao, atra-palhando a aprendizagem dos alunos. E tambm relataram que falta na escola recursos didti-cos e matrias pedaggicos. De acordo com os professores o planejamento feito quinzenal-mente e que os mesmos o fazem em casa, na escola dependendo da disponibilidade de tempo.

    As avaliaes segundo eles so contnuas, porm todos utilizam as provas para verificar a aprendizagem dos alunos. Relataram tambm que esto sempre verificando o que os alunos compreenderam do contedo e procuram sempre repassar os contedos de maneira contextualizada. Todos disseram que a relao professor aluno ocorre de forma interativa.

    Perguntados sobre como descrevem o ensino de geografia ambos afirmaram que a geografia de suma importncia para a formao crtica do aluno e para que o aluno se reco-nhea como pertencente ao espao. Ideia defendida por Callai (2010) que diz: que a geografia deve criar condies para que o aluno se reconhea como sujeito que participa do espao em que vive e estuda, e que ele compreenda que os fenmenos que acontecem so resultado do que produzido pela humanidade de tempos em tempos. Segundo os professores esse tipo de ensino ainda no uma realidade. Relata a professora P1 que a geografia vem se transfor-mando bastante, porm segundo ela ainda falta muito para que um ensino de geografia eficaz seja uma realizao.

    3.2 Entrevistas com os alunos

    Como dito anteriormente as entrevistas aconteceram no s com os professores, mas tambm com os alunos do ensino mdio, para que os mesmos fossem ouvidos a respeito das aulas de geografia. As entrevistas aconteceram por meio de questionrios, onde foi comu-nicado aos alunos que no havia a necessidade de identificao para que desta forma os mes-mo no se sentissem constrangidos e pudessem responder com maior sinceridade.

    A opo pelo ensino mdio como dito anteriormente se deve ao fato de ser nesta fase do ensino que ocorre a ampliao do conhecimento e tambm por constituir a ltima eta-pa da educao bsica, e, por conseguinte, ser aperfeioados os conhecimentos adquiridos no ensino fundamental. Neste sentido a geografia no ensino mdio deve organizar contedos que permita ao aluno realizar aprendizagens significativas, para que dessa forma o aluno desen-volva sua viso crtica, o que faz desta fase uma etapa especial, pois o aluno est entre duas fases de sua vida entre a adolescncia e a vida adulta, vivenciando experincias importantes.

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    Cabe escola, no ensino mdio no s formar cidados, mas tambm informar, do-tar os jovens de mltiplos recursos e de senso de responsabilidade social para ampli-ar suas possibilidades de transformao do espao social, com esprito de autocrti-ca. (VAZ, 2008, p.165).

    Cabe a esta etapa do ensino, portanto desenvolver no aluno sua autonomia intelec-tual e pensamento crtico, onde o jovem cidado possa se desenvolver intelectualmente, tor-nando-se um cidado consciente capaz de refletir suas aes, criando assim sua identidade social.

    Aos alunos entrevistados foi perguntado o que geografia? se gostam da discipli-na? E o porqu? Se possvel utilizar os conhecimentos da disciplina de geografia no seu dia-a-dia? Quais recursos metodolgicos os professores utilizam para as aulas? Bem como a fre-quncia com que esses recursos so utilizados? E tambm como so as aulas de geografia?

    Dos Cento e Oitenta alunos entrevistados 45% possui 15 anos de idade, 40% esto entre 16 e 17 anos, e apenas 15% possuem de 18 a 24 anos sendo que esse ltimo ocorre com maior frequncia nos alunos que estudam no perodo noturno. A seguir o grfico 1 com a fai-xa etria dos alunos entrevistados.

    Grfico 1: que demonstra a faixa etria do alunos.

    Fonte: AMORIM, B.P.S., 2013.

    Nota-se que a faixa etria dos alunos est condizente com as sries que frequen-tam.

    No questionrio foi perguntado para os alunos o que geografia? Muitos alunos deram as seguintes respostas:

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    Geografia a matria que estuda mapas; Geografia fundamental para o dia-a-dia; Matria que descreve a terra;

    Matria que ajuda a localizar os lugares; Matria que estuda a natureza.

    O que percebemos pelas respostas dos alunos que para eles a geografia se apre-senta de forma fragmentada, como se a mesma fosse dividida em compartimentos, os alunos no concebem a geografia como sendo um conjunto, de fenmenos naturais e humanos, um estudo da espacialidade. Isso acontece segundo Pires (2012), porque ainda permanece na geo-grafia um ensino enciclopdico onde ao aluno no constri conhecimento, pois o ensino fica preso ao livro didtico, criando deste modo um conhecimento desarticulado, fragmentado e dissociado da realidade do aluno.

    No questionrio entregue aos alunos foi perguntado tambm se os mesmos gostam da disciplina de geografia? E o porqu? Segue o grfico2, que demonstra a opinio dos alu-nos.

    Grafico 2: Porcentagem de alunos em relao ao gostar da disciplina.

    Fonte: AMORIM, B.P.S., 2013.

    Conforme mostrado no grfico 2, dos alunos entrevistados somente 35% dizem gostar da disciplina de geografia, porm deram respostas muito vagas a cerca do porque gostam, algumas das respostas foram:

    porque estuda tudo aquilo que eu gosto;

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    porque aprendemos varias coisas que acontecem no cotidiano;

    porque aprendemos muitas coisas;

    porque falamos de clima e como utilizar os mapas; porque aprendo sobre o mundo;

    porque interessante.

    Por meio das respostas dos alunos que gostam da disciplina, percebemos que os mesmos no conseguiram nem dizer o porque gostam da disciplina, o que demostra que talvez eles no estejam gostando tanto assim, ou que h um certo desinteresse por parte dos alunos ou que essa disciplina no esteja sendo desenvolvida de forma a fazer os alunos compreenderam de fato a geografia, no queremos aqui criticar o que est sendo ensinado mas, analisar como est sendo ensinado. A partir da fala dos alunos possvel observar que os conhecimentos adquiridos por eles, at ento no foram de fato sistematizados. Conforme Pires (2012), os mtodos tradicionais de ensino ainda permanecem arraigados em muitos professores, e essa forma de ensinar conteudista, descritiva e de memorizao causa desinteresse nos alunos e fazem com que os mesmos entendam a geografia em partes, no se inserindo como pertencentes ao espao estudado pela geografia.

    De acordo com o grfico 2, dos Cento e Oitenta alunos entrevistados, 55% disseram no gostar da disciplina de geografia, o que acaba sendo estranho visto que a geografia uma disciplina muito atual, e o porqu de no gostarem, os mesmos disseram que:

    porque estuda mapas, no gosto de mapas;

    porque acho complicado de entender;

    porque as respostas das atividades so muito grandes;

    porque as aulas so chatas;

    porque no tem nada de interessante;

    porque a professora s mostra mapas; porque tenho que decorar as respostas e elas so grande;

    porque as aulas so chatas, o professor fala muito e eu no entendo nada.

    possvel constatar a partir da fala dos alunos, que os mesmos ainda tm uma vi-so de que a geografia uma disciplina decorativa, conteudista. Pode-se perceber que os alu-nos ainda no tem a conscincia de que eles fazem parte da realidade do mundo, os mesmos no esto construindo conhecimento, apenas repetindo o que j est pronto nos livros ou na

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    fala dos professores, deste modo, os alunos esto somente reproduzindo definies que esto prontas e acabadas nos livros didticos, deixando de lado a construo do conhecimento. Percebe-se pela fala dos alunos que para eles a disciplina de geografia uma dis-ciplina de memorizao, onde os mesmos esto sempre na inrcia, ouvindo o professor em suas aulas expositivas. Ainda de acordo com Pires (2012), ainda permanece na geografia aulas expositivas, pois para que o professor introduza novos recursos metodolgicos em suas aulas, e necessrio tempo e dedicao, e isso representa mais trabalho para os professores. A forma como os contedos esto sendo trabalhados provoca o desinteresse dos alunos. Ainda de acordo com o grfico2, dos alunos entrevistados 10% so apticos a disciplina de geografia, ou seja, no gostam e nem odeiam. A seguir algumas respostas.

    Para mim uma disciplina normal;

    De todo jeito tenho que estudar, ento tanto faz; a mesma coisa das outras disciplinas.

    O que se nota aqui que como esses alunos, no gostam e nem odeiam, h uma possibilidade de gostarem da disciplina, de se desenvolverem na construo dos conhecimen-tos geogrficos, pois basta aqui que os professores trabalhem melhor suas prticas para que os alunos se interessem pela disciplina. Foi perguntado aos alunos se possvel utilizar os conhecimentos da disciplina de geografia no dia-a-dia? Segue o grafico3 com a porcentagem dos alunos que disseram ser possvel, bem como os que relataram no ser.

    Grfico 3: porcentagem de alunos em relao a utilizao da geografia.

    Fonte: AMORIM, B.P.S., 2013.

    !

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    De acordo com o grfico 3, dos alunos entrevistados 73% disseram ser possvel utilizar os conhecimentos adquiridos pela disciplina de geografia, e somente 27% expuseram no ser possvel. Segue abaixo algumas das respostas da maioria dos alunos.

    Sim, porque podemos utilizar os mapas;

    Sim, para no desmatar;

    No, pois no tem nada a ver com minha vida, s com o planeta;

    Sim, mas ainda no sei como, talvez um dia;

    Sim para localizar as regies;

    No, pois no tenho nada a ver com outros pases;

    A partir da fala dos alunos possvel perceber que a maioria dos alunos dizem ser possvel utilizar os conhecimento da disciplina em seu dia-a-dia, porm suas justificativas no foram satisfatrias, pois os mesmos tem uma viso muito fragmentada da disciplina, onde os alunos no conseguem estabelecer uma conexo da disciplina de geografia com sua vida coti-diana, ou seja os mesmos no concebem a geografia como sendo til para sua vida. Segundo Pessoa (2007) o professor no pode deixar de trabalhar a realidade do aluno, pois se assim o fizer tornar a disciplina de geografia meramente livresca, terica, e sem articulao com o mundo vivido. O que torna a disciplina desinteressante. J os alunos que descreveram no ser possvel utilizar esses conhecimentos, disserem que a geografia no tem utilidade alguma para sua vida prtica. Aos alunos envolvidos na pesquisa tambm foi perguntado quais recursos meto-dolgicos os professores utilizam nas aulas de geografia? Com que frequncia so utilizados? E tambm como so as aulas de geografia? Os recursos metodolgicos relatados foram: Data show, retroprojetor, DVD, computador e internet, TV, mapas, livros didticos, jornais e revis-tas.

    De acordo com as respostas dos alunos, do Colgio Estadual Maria Eullia de Jesus Portilho, as aulas de geografia so planejadas tomando como principal recurso o livro didtico, e tambm a utilizao de mapas, vez ou outra os professores utilizam outros recursos metodolgicos, e com isso se nota que as aulas ministradas ainda no perderam a caractersti-ca tradicional de ensino onde as aulas so realizadas por meio dos livros didticos, com aulas expositivas, cuja mediao s ocorre pela fala do professor, poucas vezes, h uma inovao na metodologia utilizada. E isso torna as aulas de geografia montonas, causando o desinteresse dos alunos pela disciplina.

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    Relata Pires (2012), o professor utiliza o livro didtico devido falta de tempo para preparar atividades alternativas, pois essas atividades mesmo que apresentem resultados satisfatrios de aprendizagem representam mais trabalho para os professores que as atividades rotineiras.

    Neste sentido o professor deve sempre procurar inovar na sua prtica, para que desta forma instigue sempre a vontade de aprender do aluno, despertando sua curiosidade, seu desejo de aprender, pois caso contrrio, o aluno se sente desmotivado, no presta ateno nas aulas e no se interessa em aprender.

    Descreve Pires (2011), a maioria dos professores ainda utiliza-se de prticas repe-tida em anos de profisso, vigorando estratgias de ensino centradas na voz do professor e na passividade do aluno, eliminando, com isso, a chance de faz-lo elemento ativo do processo de ensino-aprendizagem. Em relao s aulas foi perguntado no questionrio como so as aulas de geogra-fia? Os aluno dos professores P1 e P3 disseram haver uma boa interao com os professores, j os alunos do professor P2 disseram que a relao boa, porm o professor mais severo, onde os alunos disseram que as aulas so cansativas, bastante tericas, e o professor fala bas-tante e passa muitas atividades. Os alunos do professor P1 so os que de acordo com o questi-onrio, aqueles que mais gostam da disciplina de geografia, pois possuem um dilogo maior com a professora. De todos os professores entrevistados a professora P1 a que mais tenta diversificar sua prtica, embora os alunos reclamassem que a mesma utiliza sempre em suas aulas mapas, e eles disseram estarem um pouco fartos de mapas em todas as aulas, e isso mos-tra que o professor diversificou sua metodologia introduzindo mapas, porm, faz utilizao deste recurso sempre, fazendo com que se torne uma atividade rotineira entediando os alunos da mesma forma.

    Percebemos que o modo como a geografia tem sido ensinado tem contribudo pouco para o desenvolvimento das competncias e habilidades, necessrias para a formao de um cidado crtico. De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais PCN, essen-cial que a geografia se liberte da concepo de disciplina de carter informativo, para se trans-formar numa forma de construo reflexiva e dinmica, para que desta forma d condies para que o educando tenha o entendimento da evoluo da sociedade.

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    CONSIDERAES FINAIS

    Durante a realizao deste trabalho procurou-se compreender toda a trajetria da geografia como cincia desde seu surgimento, bem como os caminhos que a mesma percorreu at o momento em que chegou sala de aula.

    Percebe-se que claramente so indiscutveis as mudanas da evoluo do tempo. O mundo muda, vai se transformando, evoluindo, a sociedade, as ideias, e com a geografia no diferente, foi vivenciada e debatida de acordo com a viso de cada pensador em cada contexto histrico pela qual passou. Os defensores da geografia, inclusive os filsofos que tambm contriburam para a evoluo desta cincia, mesmo que s vezes com vises equivo-cadas, foram de suma importncia para a evoluo da geografia. Todas as correntes de pen-samento, mtodos de analisar o espao geogrfico, teorias, definies, foram necessrios, pois atravs desses debates e dos pensamentos errneos que se buscaram conhecimentos para a evoluo do pensamento geogrfico.

    Por meio de todos os acontecimentos transcorridos nos captulos anteriores, che-gamos geografia atual, que desenvolvida nas escolas. No foi objetivo de esta pesquisa apontar responsveis pelos problemas no ensino, pois h vrios fatores que envolvem o ensino de geografia, como formao dos professores, falta de materiais didticos, condies de traba-lho, o que deve ser levado em considerao na anlise da prtica pedaggica do professor. O que se quer refletir sobre como est prtica pedaggica do professor de geografia na escola participante dessa pesquisa.

    Constatamos a partir do que foi respondido pelos alunos e professores nos questi-onrios que h uma contradio na fala de ambos, pois os professores disseram utilizar meto-dologias variadas, j os alunos disseram que os professores utilizam o livro didtico sempre, e poucas vezes h a utilizao de recursos metodolgicos. Entendemos que necessrio ouvir o que os alunos tm a dizer visto que eles so a representao verdica do que produzido pelo

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    professor na sala de aula. Partindo desse princpio, portanto percebemos que h no ensino de geografia um ensino que est apenas reproduzindo o que est pronto nos livros didticos, onde os alunos esto concebendo a geografia de forma fragmentada, descritiva e de memorizao. Isso ocorre devido ao fato dos professores ainda utilizar mtodos tradicionais de ensino.

    O que se percebe uma geografia conteudista, que acaba no permitindo um en-sino que vise a formao para a cidadania, para colocar o aluno como pertencente a sociedade. Para que o ensino deixe de ser fragmentado, dissociado da realidade do aluno, preciso re-pensar a forma que os professores esto ministrando suas aulas, preciso desenvolver um ensino que sempre estimule o raciocnio do aluno, para que o mesmo seja capaz de fazer an-lises e reflexes sobre seu cotidiano, no entanto o que se percebe um ensino tradicional, que causa desmotivao, nos alunos.

    Percebemos com essa pesquisa que a forma como as aulas esto sendo ministra-das no Colgio Estadual Maria Eullia de Jesus Portilho, no esto atendendo as exigncias atuais, pois no est conseguindo inserir um ensino que esteja voltado para a realidade do aluno, e com isso os alunos no se sentem interessados pelos conhecimentos geogrficos, e isso fica claro na fala dos alunos que dizem estudar geografia memorizando, ou seja os alunos no esto construindo seus prprios conhecimentos apenas repetindo o que est no livros di-dticos. Portanto necessrio urgentemente um ensino de geografia inovador e crtico, que leve em considerao a realidade do aluno, que no deixe o aluno como mero expectador mais que o torne atuante na sociedade, propondo um ensino que propicie ao educando uma apren-dizagem mais significativa.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS CALLAI, H. C.; A geografia ensinada: os desafios de uma educao geogrfica. In: MO-RAIS, E. M. B. de, MORAES, L. B. de. Formao de Professores: contedo e metodologi-as no ensino de geografia, Goinia, Ed. Vieira, 2010.

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