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O Modelo Barcelona de Espaço Público e Desenho Urbano A Avenida como espaço público de usos e actividades sociais Os casos da Avenida da Liberdade e do Passeig de Sant Joan Débora Alexandra de Freitas Martins Tutor: Antoni de Padua Remesar Betlloch

A Avenida como espaço público de usos e actividades sociaisdiposit.ub.edu/dspace/bitstream/2445/29044/1/martins_debora... · O espaço público tem na cidade uma função polarizadora

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  • O Modelo Barcelona de Espao Pblico e Desenho Urbano

    A Avenida como espao pblico de usos e actividades sociais

    Os casos da Avenida da Liberdade e do Passeig de Sant Joan

    Dbora Alexandra de Freitas Martins

    Tutor: Antoni de Padua Remesar Betlloch

  • Facultat de Belles Arts

    Mster en Disseny Urb: Art, Ciutat, Societat

    O MODELO BARCELONA DE ESPAO PBLICO E DESENHO URBANO

    A Avenida como espao pblico de usos e actividades Os casos da Avenida da Liberdade e do Passeig de Sant Joan

    Autora: Dbora Alexandra de Freitas Martins

    Trabalho final para a obteno do grau de Mestrado em Diseo Urbano: Arte, Ciudad,

    Sociedad

    Tutor: Doutor Antoni de Padua Remesar Betlloch

    Tribunal de Avaliao:

    Presidente: Dr. Pedro Brando. IST. Lisboa

    Vocal Dra. Joana Cunha Leal. IHA-UNL. Lisboa

    Secretrio: Dr. Joo Pedro Costa. UTL. Lisboa

    JUNHO 2012

  • PROJECT TITLE: Urban Atmospheres, The avenue and its role in the city

    INNVESTIGATOR: Dbora Alexandra de Freitas Martins

    SUMMARY OF THE PROPOSAL

    ABSTRACT

    This work proposes to carry out a comparative study of two examples of the same type

    of public space, with the goal of understanding if those examples are successful or

    unsuccessful functioning spaces, in social terms

    The urban public space has a fundamental role in the structure of the city and the

    development of urban social life. The street, as a structural element in the metropolis, is

    not only a channel for transit and accesses, but it should also function as a promenade

    that encourages the development of social activities that involve living and enjoying

    the space. This type of space should play a multifunctional role, promoting a wider

    variety of uses and an active social collective life, where different types of outdoor

    activities are in balance.

    The aim of this thesis is to analyze the uses given to different instances of the same

    type of urban space, being the Avenue the developed typology, studying its

    configuration, its variations throughout the day, its furniture and the activities that it

    receives. It is intended to study the influence of these different elements in the social

    urban experiences as well as their role when it comes to defining the function and use

    of that spot.

    Key words: Public Space, Barcelona Model, Avenue, Public Way, Social Activities,

    Urban Sociology

  • TTULO DO PROJECTO: Ambientes urbanos, A avenida e o seu papel na cidade

    RESUMO

    Prope-se com o presente trabalho realizar um estudo comparativo entre dois

    exemplos da mesma tipologia de espao pblico, tendo em vista uma melhor

    compreenso sobre o funcionamento, mais ou menos eficaz, em termos sociais, desse

    tipo de espaos.

    O espao pblico urbano tem um papel fundamental na estrutura da cidade e no

    desenvolvimento da vida social urbana, e a rua, um elemento estruturante que, para

    alm de desenvolver a funo de distribuio de trnsitos e de acessos, representa

    tambm um espao de passeio e de desenvolvimento de actividades sociais de

    permanncia. Este tipo de espao deve desempenhar um papel multifuncional,

    promovendo, atravs de uma mais vasta multiplicidade de usos, uma vida social

    colectiva activa, onde os diferentes tipos de actividades exteriores esto em equilbrio.

    Pretende-se analisar os usos conferidos a diferentes exemplos da mesma tipologia de

    espao urbano, sendo a avenida a contemplada, atravs do estudo da sua configurao,

    das suas variaes ao longo do dia, do seu mobilirio urbano e das actividades que

    acolhe. A anlise pretende clarificar a influncia de todos estes elementos nas vivncias

    urbanas assim como o seu papel na definio da funo e do uso do local.

    Palavras-chave: Espao pblico, Modelo Barcelona, Avenida, Via Pblica,

    Actividades sociais, Sociologia Urbana

  • INDCE

    1. INTRODUO ..................................................................................................................... 1

    1.1 Introduo ............................................................................................................................. 1

    1.2. Objectivos ............................................................................................................................. 3

    1.3. Metodologia e estrutura do trabalho ................................................................................ 4

    2. ENQUADRAMENTO NO MODELO BARCELONA .................................................... 9

    2.1 O modelo Barcelona e as suas caractersticas gerais ....................................................... 9

    2.2 Fases de desenvolvimento do modelo - linha de tempo .............................................. 11

    2.3 Modelo Barcelona no desenho do espao pblico: as vias como elementos

    estruturantes da vida social urbana ....................................................................................... 12

    3. PROBLEMTICA A Tipologia de espao Avenida................................................... 19

    3.1 O uso e funo do espao urbano e os seus utilizadores .............................................. 19

    3.2. O retorno via pedonal na conquista de novos utilizadores...................................... 23

    3.3. As diferentes configuraes da avenida ........................................................................ 26

    3.3.1. Avenida .................................................................................................................... 26

    3.3.2. Boulevard ................................................................................................................ 27

    3.3.3. Rambla ..................................................................................................................... 27

    3.4. Actividades sociais nas avenidas e os espaos que requerem .................................... 29

    3.4.1. Necessrias .............................................................................................................. 29

    3.4.2. Opcionais ................................................................................................................. 30

    4. CASOS DE ESTUDO .......................................................................................................... 35

    4.1. Avenida da Liberdade ...................................................................................................... 36

    4.1.1 Enquadramento histrico ....................................................................................... 36

    4.1.2. Configurao do espao fsico .............................................................................. 40

    4.1.3. Utilizao do espao .............................................................................................. 42

    I. Circulao viria ....................................................................................................... 42

  • II. Circulao de bicicleta ............................................................................................ 43

    III. Circulao pedonal................................................................................................. 43

    IV. Estar de p ............................................................................................................... 44

    V. Sentar ......................................................................................................................... 44

    VI. Jogar ......................................................................................................................... 45

    VII. Actividades efmeras ........................................................................................... 46

    4.2. Passeig de Sant Joan .......................................................................................................... 47

    4.2.1. Enquadramento histrico ...................................................................................... 47

    4.2.2. Configurao do espao fsico .............................................................................. 49

    4.2.3. Utilizao do espao ........................................................................................ 57

    I. Circulao viria ....................................................................................................... 57

    II. Circulao de bicicletas ........................................................................................... 57

    III. A circulao pedonal ............................................................................................. 59

    IV. Estar de p ............................................................................................................... 60

    V. Sentar ......................................................................................................................... 61

    VI. Jogar ......................................................................................................................... 64

    5. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 69

    6. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 73

    7. NDICE DE FOTOGRAFIAS E ILUSTRAES .......................................................... 77

    8. INDICE ANALTICO ......................................................................................................... 81

  • .

  • 1

    1. INTRODUO

    1.1 Introduo

    O espao pblico tem na cidade uma funo polarizadora da vida quotidiana e

    das actividades recreativas, proporcionando assim o contacto e o convvio entre

    os seus habitantes. Sendo esse um espao de socializao, possvel verificar,

    atravs do processo de interaco com os indivduos, um reflexo da sociedade

    que o habita. Para que se proporcione a oportunidade de encontro entre as

    pessoas, este tipo de espao deve ser acessvel a todos, independentemente das

    condies de cada um.

    Tomando um papel fundamental na estrutura da Cidade e no desenvolvimento

    da vida social urbana, o espao pblico como elemento estruturante, desenvolve

    no s uma funo de distribuio de trnsitos e de acessos, como tambm

    assume um papel de espao de passeio e de desenvolvimento de actividades

    sociais de permanncia. Consequentemente, estas zonas da cidade devem ser

    multifuncionais promovendo, atravs de uma mais vasta multiplicidade de usos,

    uma vida social colectiva activa, onde os diferentes tipos de actividades

    exteriores decorrem em equilbrio.

    Tendo em vista uma compreenso da influncia que todos os elementos que

    compem o espao exercem nas vivncias urbanas e na definio de funo e uso

    do local, analisar-se-o os usos e actividades conferidos a diferentes exemplos da

    mesma tipologia de espao urbano, sendo a tipologia desenvolvida a avenida.

    Atravs de um estudo da configurao, do mobilirio urbano, das variaes

    dirias e das actividades conferidas aos diferentes casos de estudo poder-se-

    tambm compreender a razo pela qual o espao pode no ter, actualmente, os

    usos pretendidos aquando da sua idealizao projectual, e o porqu de

    determinados elementos que compem o espao terem outro uso para alm

    daquele para o qual foram concebidos. Assim, a questo de investigao deste

    trabalho : O que determina o sucesso de um determinado tipo de espao

    pblico e de que maneira a forma como ele desenhado implicar na maneira

    como vivido?

    Sabendo que a configurao fsica do espao e os elementos que o compem so

    factores determinantes na definio de usos e funo do local, pretende-se

    compreender at que ponto podem ambos influenciar o comportamento dos

    cidados e concluir que factores tornam um tipo de configurao mais vantajosa

    para a tipologia em questo. Para tal recorrer-se- observao em campo e a

    uma anlise de vrios exemplos assim como uma comparao entre eles.

  • 2

    A Avenida da Liberdade, em Lisboa, e o Passeig de Sant Joan, em Barcelona,

    sero os objectos de estudo do trabalho proposto. A escolha destes dois exemplos

    tem tambm como objectivo uma exposio comparativa do desenvolvimento

    que os espaos pblicos tm vindo a sofrer nas respectivas cidades, assim como

    as suas origens.

    Se o movimento moderno pretendia classificar os espaos segundo a sua funo,

    a mentalidade contempornea defendia que o espao pblico fosse

    multifuncional, e que tivesse um forte peso como gerador da organizao na

    cidade. Assumindo o mesmo tipo de pensamento, desde o plano de Cerd, para a

    expanso de Barcelona foram constitudos vrios departamentos especializados

    nos diferentes tipos de espao, e investiu-se, ao longo do tempo, no espao

    pblico, e no aumento da qualidade dos elementos a implicados. A cidade de

    Barcelona tornou-se numa referncia mundial no s pela sua estrutura urbana,

    mas tambm pelos momentos histricos que conduziram a sua evoluo at aos

    dias de hoje. Os processos, as estratgias e a participao das partes envolvidas

    que conduziram o crescimento da cidade tiveram grande importncia no decurso

    histrico e na construo da imagem de cidade que hoje conhecemos. Torna-se

    ento importante compreender como e quando tiveram incio essas estratgias, e

    como se processaram ao longo do tempo. O estudo dessa evoluo e das

    diferentes fases que a compem fazem parte do presente trabalho, facilitando

    uma melhor compreenso da importncia das avenidas e do desenho urbano em

    especfico para a tipologia de espao pblico escolhida para anlise.

    Se em Barcelona se procurava privilegiar o pedestre sem deixar de atribuir o

    devido espao ao trnsito virio, em Lisboa, o crescimento urbano tem vindo ao

    longo do tempo a privilegiar, na cidade, o desenvolvimento dos eixos de

    circulao virios, mesmo que para tal fosse necessria uma diminuio do

    espao dedicado circulao pedonal. Este tipo de evoluo, favorecendo a

    circulao automvel em detrimento da pedonal, e consequentemente dos

    espaos pblicos, levou ao decrscimo dos cuidados com o espao pblico tem

    como consequncia a diminuio das condies para a apropriao dos espaos e

    naturalmente uma diminuio do interesse pelo desenvolvimento de uma vida

    social colectiva no exterior.

    Com o avanar do tempo os espaos ganharam novas utilizaes e outras

    deixaram de se desempenhar, no entanto existem actividades que ainda hoje se

    mantm. Cada vez mais os espaos pblicos no se restringem s actividades

    para as quais foram projectados. Verifica-se actualmente uma diminuio do

    trfego virio nos centros das cidades, como consequncia do aumento do leque

    de opes disponveis para o atravessamento das cidades. Este fenmeno permite

  • 3

    voltar a contemplar a ideia de devolver espao aos pees, retirando o que j no

    necessrio aos automveis. Embora seja cada vez mais aparente a necessidade de

    mudana para determinados espaos que, embora em teoria, renam as

    condies para o bom funcionamento, paream no funcionar, possvel tambm

    encontrar na Cidade, espaos que mantiveram ao longo do tempo o

    funcionamento activo como espao pblico em todas as suas vertentes e uma

    actividade social concreta.

    1.2. Objectivos

    A escolha do tema prende-se com o interesse por uma melhor compreenso dos

    factores que determinam o sucesso de um espao pblico.

    Ser analisada uma tipologia de espao urbano, e tendo em vista uma exposio

    entre as diferentes vivncias possveis para a mesma tipologia sero estudados

    dois exemplos, um em Lisboa e outro em Barcelona, a Avenida da Liberdade, e o

    Passeig de Sant Joan, respectivamente. Pretende-se contrapor as suas

    configuraes e caractersticas especficas de cada um, procurando esclarecer o

    que define e confere o melhor desempenho, do ponto de vista social, para esta

    tipologia especfica de espao pblico. Para esse efeito o trabalho desenvolver-se-

    em diferentes fases que permitiro compreender a evoluo histrica, cultural e

    social deste tipo de espao, e analis-lo de forma mais profunda ao nvel da sua

    composio e desenho.

    A identificao das funes desempenhadas e usos atribudos ao espao

    permitiro identificar potenciais elementos marcantes e definidores de usos

    anteriormente identificados e, em ltima estncia, compreender at que ponto os

    elementos encontrados so transportveis para outros espaos da mesma

    tipologia.

    O objectivo geral do trabalho consiste na identificao dos factores que

    determinam o sucesso de um espao pblico, aplicando este estudo tipologia

    Avenida. J os objectivos especficos passam pela compreenso da influncia

    exercida pelo perfil e pelos diversos elementos constituintes do espao em causa,

    no comportamento social que a se verifica. Para isso a investigao passar pela

    observao e registo do comportamento social dos espaos, e tambm pelo tipo

    de uso adquirido ps ocupao. Ser igualmente relevante estudar os

    antecedentes histricos, sociais, culturais e econmicos da tipologia observada e,

    mais especificamente, dos dois casos de estudo, procurando tambm uma melhor

    compreenso da influncia do Modelo Barcelona no desenho da tipologia avenida.

  • 4

    1.3. Metodologia e estrutura do trabalho

    A dissertao tem uma natureza emprica, recorrendo a recolha de informao

    bibliogrfica e a trabalho de campo.

    A pesquisa de informao bibliogrfica tem como objectivo a contextualizao

    histrica, a descrio do processo de construo e evoluo de cada caso e a

    compreenso das alteraes no comportamento do pblico utilizador do espao

    desde a sua data de construo at aos dias de hoje.

    O trabalho de campo tem como finalidade, uma melhor compreenso dos casos

    atravs da vivncia do espao, nas diferentes condies em que se pretende que

    seja analisado.

    O trabalho repartir-se- em trs fases:

    Em primeiro lugar realizar-se- o trabalho de pesquisa bibliogrfica, reunindo

    informao relativa ao contexto histrico dos espaos escolhidos e a dados mais

    actuais referentes aos mesmos. Toda a informao ser necessria para a

    elaborao de um enquadramento histrico dos locais em estudo e para a

    compreenso do estado de arte do tema em anlise. Ainda nessa primeira fase os

    dados sero organizados e tratados permitindo um melhor posicionamento para

    a fase que se segue.

    A segunda fase ser direccionada para o trabalho em campo, com o objectivo de

    estudar e caracterizar os casos de estudo, assim como reunir dados relativos

    observao dos comportamentos dos utilizadores. Esse trabalho proceder-se-

    com o apoio de plantas e perfis que permitiro uma mais fcil localizao dos

    elementos relevantes para o estudo, recorrendo tambm a fotografia para registo.

    Por ltimo sero reunidos, tratados e cruzados todos os dados das fases

    anteriores, o que possibilitar a reflexo sobre cada espao individualmente e a

    concluso final, resultando num ltimo posicionamento em relao ao tema

    escolhido.

  • 5

    Fase 1. Pesquisa bibliogrfica

    -contexto histrico

    -contexto actual

    -intervenientes

    -tratamento e organizao dos dados

    Fase 2. Trabalho de campo

    -produo dos desenhos tcnicos dos casos de estudo

    -avaliao das caractersticas fsicas dos espaos

    -registos fotogrficos e observao em campo

    -avaliao das caractersticas sociais dos espaos e registo de actividades

    -actividades, e sua localizao no espao

    -Fluxos

    -usos

    Fase 3. Cruzamento de dados e produo do documento escrito

    -analises, reflexes e concluses gerais

    -confronto entre os pressupostos iniciais e as concluses finais

  • 6

  • 7

  • 8

  • 9

    2. ENQUADRAMENTO NO MODELO BARCELONA

    2.1 O modelo Barcelona e as suas caractersticas gerais

    Barcelona tornou-se numa referncia mundial no s pela sua estrutura urbana,

    mas tambm pelos momentos histricos que guiaram a sua evoluo at

    actualidade. Os processos, as estratgias e a participao das partes envolvidas

    entre departamentos responsveis, especialistas e a populao atravs de

    movimentos participativos, que conduziram o crescimento da cidade tiveram

    grande importncia no decurso histrico e na construo da imagem de cidade

    que hoje conhecemos.

    Na primeira metade do sculo XIX, os limites espaciais da cidade de Barcelona

    estavam ainda muito delimitados pelas muralhas que anteriormente protegiam a

    cidade, adensando o seu crescimento demogrfico.

    Com a necessidade de expandir a cidade, procedeu-se ao derrube da muralha em

    1854, levando elaborao da proposta de extenso e reforma da cidade para

    alm das antigas muralhas, por Cerd o Ensanche. O projecto propunha um

    sistema de crescimento homogneo organizado hierarquicamente com uma

    malha de ruas e quarteires, gerando uma estrutura contrastante com a da Ciutat

    Vella, agregando assim o centro de Barcelona s cidades vizinhas. O plano

    delineado que viria a ser aprovado em Maio de 1860 contemplava a reabilitao

    da zona antiga da cidade e a insero de espaos para parques, industria,

    comrcio e habitao na nova extenso da cidade, distribuindo-os em equilbrio.

    Desta forma, foi gerado um sistema organizado, que permitia um crescimento

    indefinido da cidade segundo o mesmo modelo, para alm do previsto no plano,

    e ambiciosos planos urbansticos e industriais foram postos em marcha para

    transformar Barcelona numa cidade moderna.

    A construo do plano de Cerd constitui a maior interveno sofrida pela

    cidade em toda a sua histria. Conferiu cidade a estrutura pela qual ainda hoje

    conhecida e que constitui a sua maior imagem de marca. nesta fase de

    evoluo crucial para Barcelona que se torna mais evidente o incio do cuidado

    com a circulao quer viria quer pedonal, no s dentro da cidade, como

    tambm com o exterior.

    Cerd assumia para o seu plano um grande cuidado com o desenho de todos os

    eixos que o compunham, procurando repartir o espao de forma equivalente

    entre o peo e ao automvel.

  • 10

    E a cidade foi evoluindo, urbanizando-se e crescendo nos sculos seguintes. no

    final do sculo XX que tem incio outra das mais importantes revolues em

    diversos campos da cidade mas com particular incidncia no urbanstico o

    designado Modelo Barcelona. Este designa o conjunto de intervenes de

    reestruturao urbana, que se realizaram desde os anos 80, aps a colocao da

    cidade como anfitri dos Jogos Olmpicos de 1992. No entanto, o modelo no

    constitudo apenas pelas intervenes realizadas para os J.O.. Estas faziam parte

    de um extenso plano que tinha como objectivo no s modernizar, actualizar e

    refazer a cidade1, como tambm aproveitar a sua forte potencialidade para o

    desenvolvimento da cidade, pela monumentalidade do seu centro histrico. Os

    Jogos Olmpicos trouxeram uma nova motivao, assim como mais meios para

    dar incio a um processo urbanstico que viria a permitir redigir e programar

    intervenes e projectos, de mbitos espaciais e temporais adequados, tendo em

    vista uma forte transformao da cidade e da sua imagem.

    Oriol Bohigas, delegado da rea de urbanismo do Ayuntamiento de Barcelona entre

    1980 e 1984, defendia uma regulao e estandardizao dos elementos dos

    espaos pblicos da cidade, procurando uma uniformizao dos mesmos e um

    reforo da imagem da cidade. O investimento numa nova esttica urbana e em

    novos edifcios, de arquitectos de renome, viria apoiar a modernizao da cidade

    e a criao de mais elementos de atraco para a cidade.

    1 MONTANER, Josep Maria, El modelo Barcelona, Madrid: Ediciones El Pas, 2007, pg. 21

    Figura 1. Plan Cerd

    1859

  • 11

    2.2 Fases de desenvolvimento do modelo - linha de tempo

    1854 Derrube da muralha da cidade

    1860 Revoluo Industrial

    Aprovao do Plano Cerd

    1888 Exposio Universal

    1907 Plano Jaussely

    1929 Exposio Internacional

    1932 Plano Maci, projectado pelos GATCPAC, com colaborao de Le Corbusier

    1936-39 Incio da Guerra Civil espanhola

    1939 Queda do regime

    1952 Congresso Eucarstico

    1953 Plano Comarcal

    1975 Comea o perodo democrtico

    1976 Aprova-se o PGM e tem incio uma nova era, ponto de incio da transformao

    1979 Primeiras Eleies democrticas

    1979-83 Primeiros anos de governo local eleito

    1979-82 Actuaes de carcter pblico com financiamento municipal

    1980 Incio de operaes mais profundas na cidade

    1981 Comea-se a preparar a candidatura para os JJ.OO.

    1982 Eleio de um governo socialista

    1983-86 Preparao para o grande projecto de transformao

    1986 Barcelona eleita como sede dos Jogos Olmpicos 1992

    1987

    Dissoluo da Corporacin Metropolitana, e criao de novas entidades

    supramunicipais

    1991 Aprovao do primeiro plano

    1995 Aprovao do segundo plano

  • 12

    2.3 Modelo Barcelona no desenho do espao pblico: as vias como

    elementos estruturantes da vida social urbana

    A eficincia de espaos pblicos tem sido matria de estudo de muitos autores,

    tais como Jan Gehl2, que afirma que as actividades exteriores so muito

    influenciadas pela configurao fsica dos espaos da cidade.

    Tendo o espao pblico sido uma pea muito importante para a recuperao de

    Barcelona, e um papel fundamental na vida pblica dos cidados, para alm de

    elemento estruturante na cidade, a sua recuperao e a aposta na sua melhoria e

    requalificao determinou tambm a existncia de uma vida pblica e social

    saudvel, que conferiram cidade uma nova imagem.

    A valorizao dos eixos como elementos estruturantes e catalisadores do

    crescimento das cidades torna-se num dos pontos fulcrais no crescimento de

    Barcelona com o plano de Cerd. A circulao dentro da cidade e a sua

    comunicao com o exterior foi um tema de grande importncia para o plano que

    considerou as necessidades de circulao dos habitantes, uma das suas principais

    prioridades. Tornava-se para tal, necessrio estabelecer uma rede hierarquizada

    de ruas, que diferenciasse os espaos dedicados aos veculos a motor e aos pees,

    atribuindo-lhes pesos iguais, quer a rua tivesse uma largura de 20 metros ou de

    50 metros3. A rede de vias gerada permite, at aos dias de hoje, uma circulao

    dentro da cidade.

    A cultura da vida social exterior desde sempre, um dos atributos mais

    caractersticos de Barcelona. A socializao no exterior uma caracterstica

    prpria da cidade que v a sua essncia reflectida na tpica Rambla, que se

    tornou num dos espaos mais especiais da cidade por ter sido durante mais de

    cinco sculos o lugar central onde a representao do cenrio urbano, a

    actividade comercial e institucional se produziram de forma integrada4.

    No crescimento de Barcelona as avenidas so implementadas no s como

    elementos de conexo entre diferentes pontos, mas surgem tambm como

    motores de urbanizao em locais no construdos, j que oferecem a garantia de

    uma nova estrutura para um local que at ento, no era acessvel. Acontece que

    2 GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona:

    Revert, 2006 3 BUSQUETS, Joan, Barcelona, la construccion de una ciudad compacta, Barcelona: Ediciones del

    Serbal, 2004. Pg.131 4Idem. Pg. 71

  • 13

    com o crescimento que se lhes segue, acabam por se transformar em peas

    centrais da mobilidade urbana5 .

    Na construo do ensanche de Cerd, o Passeig de Grcia transforma-se no eixo

    de maior importncia fora da Ciutat Vella, uma vez que o elemento que

    estabelece a conexo entre o bairro da Grcia e o ncleo histrico da cidade,

    chegando at ao Portal de lngel. Actualmente o Passeig de Grcia ainda

    constitui um dos mais importantes eixos na cidade, como eixo de circulao e

    chegada ao centro e como local de referncia de Barcelona.

    No princpio do sculo XIX foram executadas transformaes urbanas mais

    localizadas, tais como renovaes de edifcios emblemticos e das zonas que lhes

    so imediatamente prximas. A estas pequenas intervenes seguem-se a

    abertura de novos eixos na Ciutat Vella Carrer de Ferran e Carrer de la

    Princesa, e em simultneo, novos espaos de lazer e jardins por toda a cidade6.

    No crescimento da cidade as avenidas desempenharam no s o papel de

    elementos estruturantes do tecido urbano e do territrio, mas tambm de

    conectores dos diferentes ncleos, centrais ou no, da cidade. A implementao

    de novos eixos em territrios no urbanizados serviu de incentivo urbanizao

    da rea circundante7. A implementao de um novo eixo de grandes dimenses

    requeria edifcios de limite, e consequentemente novos equipamentos e infra-

    estruturas de servio aos habitantes dos novos edifcios. Gerava-se assim um

    sistema catalisador para o crescimento da cidade.

    As avenidas caracterizam-se frequentemente pela importncia atribuda ao

    espao dos pees, articulando ao longo do seu comprimento diferentes espaos

    abertos. A Gran Via e a Diagonal so exemplos de eixos que funcionaram como

    catalisadores de urbanizao de Barcelona e, desempenhando um importante

    papel na circulao viria da cidade, no deixaram de desenvolver tambm o seu

    papel como local de circulao, passeio e paragem de pedestres.

    No entanto, com o passar do tempo, Barcelona vinha cada vez mais a necessitar

    de uma nova paisagem urbana uniforme e de uma melhoria da qualidade dos

    seus espaos pblicos. Era necessrio gerar uma nova imagem da cidade.

    Com a colocao da cidade como anfitri dos Jogos Olmpicos de 1992 surge um

    novo incentivo para o investimento e transformao da cidade, funcionando

    como catalisador de processos de maior escala e de intervenes necessrias para

    5BUSQUETS, Joan, Barcelona, la construccion de una ciudad compacta, Barcelona: Ediciones del Serbal,

    2004, Pg. 148 6 Idem 7 Idem. Pg. 148

  • 14

    uma recolocao da cidade como uma das mais importantes referncias a nvel

    mundial. Atravs de todas as essas intervenes foi possvel conferir cidade no

    s as condies necessrias para os jogos, mas tambm uma melhoria

    significativa da qualidade dos seus espaos, e da resposta s demandas cvicas na

    cidade, tendo tudo isto como consequncia, uma melhoria da qualidade de vida

    dos seus habitantes.

    Aps o tempo de transformao intensa da cidade gerada pelos JJ.OO., e com o

    abrandamento das actividades, foi tomado tempo para pensar qual seria o futuro

    da cidade, realizando um balano de tudo o que se havia executado. Este

    processo permitiu projectar de forma mais eficiente e controlada o melhor modo

    de manter a cidade em transformao de forma a lev-la aos objectivos

    pretendidos, mantendo processos contnuos e adequados.

    A mudana na qualidade do espao pblico, sentida pelas intervenes

    dedicadas aos J.O. demonstrou a passagem do respeito do lugar colectivo8 para

    primeiro plano no que toca s prioridades de planeamento da cidade.

    As avenidas e os boulevards, pertencendo rede viria secundria, tm como

    funo a distribuio do trfego at s vias locais, elementos importantes para os

    transportes pblicos e comercio, funcionam frequentemente como espao

    equipado e com actividades prprias9.

    As mudanas que as actividades e usos sofreram entre a data de construo das

    avenidas e os dias de hoje, fazem com que hoje em dia existam contedos

    diferentes dos que existiam data da construo. Aps um tempo de

    investimento na circulao automvel em detrimento da circulao pedonal os

    usos comerciais voltam a ganhar mais valor, e torna-se pertinente uma reduo

    do trfego virio. O investimento em vias alternativas para o trfego em torno da

    cidade levou ao aumento da capacidade da rede viria da cidade, e em muitos

    casos, diminuio dos fluxos observados nos eixos secundrios do centro das

    cidades, ou seja, observa-se actualmente um sobredimensionamento das vias

    para os fluxos efectivos de trfego. Torna-se assim possvel uma reduo da

    capacidade viria, recuperando o espao para o peo, a bicicleta e a vegetao10 .

    As rondas, construdas ao abrigo do Programa 92, so exemplo de grandes

    distribuidoras urbanas de trfego virio. No entanto, data do seu planeamento,

    o seu desenho e a insero destas na cidade no foram descuidadas, gerando em

    8 BUSQUETS, Joan, Barcelona, la construccion de una ciudad compacta, Barcelona: Ediciones del

    Serbal, 2004. Pg. 417 9 Idem. Pg. 377 10 Idem. Pg. 417

  • 15

    muitos pontos a oportunidade de criao novos espaos de grande utilidade para

    a populao e novas actividades atravs de um desenho eficaz do espao.

    Numa outra tentativa de diminuio dos fluxos virios no centro das cidades,

    verifica-se o reforo e o investimento no espao do peo e no transporte pblico,

    visando a diminuio do uso do transporte privado. A diminuio do trfego,

    apoiada pelas duas solues anteriormente referidas tornam possvel a

    requalificao do espao que havia sido projectado quase em exclusivo para a

    circulao automvel, diminuindo o espao atribudo a este para o devolver ao

    pedestre. Tal como Joan Busquets afirma, foram conseguidos bons resultados

    ambientais nas ruas cuja seco se divide de forma equivalente para o peo e o

    trfego rodado11.

    O peo foi valorizado atravs da criao de condies necessrias e favorveis

    sua circulao e permanncia no exterior, no s pela grande variedade de

    espaos pblicos gerados, mas tambm pela ateno dada sua qualidade e aos

    diferentes elementos que completam o espao este existe e chamativo para a

    populao. A transformao incluiu todos os distritos de Barcelona e tornou-os

    independentes, gerando, no entanto, uma imagem da cidade nica e

    reconhecvel.

    Os espaos pblicos dispersos pela cidade organizam, estruturam e articulam-na,

    e os eixos urbanos, nas suas diferentes escalas permitem conectar a cidade, e as

    suas diferentes funes, respondendo s necessidades de mobilidade e transporte

    dos seus habitantes.

    Barcelona conseguiu com a organizao dos Jogos Olmpicos, e todas as

    transformaes que se lhe seguiram, projectar-se internacionalmente e

    actualmente uma cidade europeia, aberta ao mar, com servios e infra-estruturas

    adequadas ao seu uso.

    11 BUSQUETS, Joan, Barcelona, la construccion de una ciudad compacta, Barcelona: Ediciones del

    Serbal, 2004. Pg. 375

  • 16

  • 17

  • 18

  • 19

    3. PROBLEMTICA A Tipologia de espao Avenida

    3.1 O uso e funo do espao urbano e os seus utilizadores

    Se at ao sculo XX todas as actividades e usos das cidades se desenvolviam em

    espaos comuns multifuncionais, da em diante, a introduo do carro teve um

    forte efeito na evoluo das metrpoles12. As actividades que sofreram alteraes

    mais aparentes foram as relacionadas com o comrcio, uma vez que se este se

    desenvolvia sobretudo no exterior, de forma quase livre, com o passar do tempo,

    essas actividades passaram a recolher-se para as lojas, e para locais cada vez mais

    longe dos centros das cidades, culminando nos actuais centros comerciais, onde

    este tipo de actividade se concentra, geralmente em zonas perifricas, acessveis

    quase exclusivamente de carro ou transporte pblico.

    O aparecimento de eixos direccionados para uma circulao viria eficiente em

    tiveram consequncias a nvel do uso social do espao urbano e, naturalmente,

    tambm a nvel econmico, o que torna esta uma problemtica crescente. A

    dependncia do automvel como meio de transporte entre os locais faz com que

    se dispersem as pessoas, e consequentemente, as actividades.

    Muito embora continuem a existir importantes locais de encontro e comrcio, o

    papel de local de encontro que deve ser desempenhado pelo centro da cidade

    comea a desvanecer com o aumento do uso de transporte prprio e o

    desenvolvimento dos novos meios de comunicao.

    Os espaos pblicos urbanos para alm da funo de organizadores do tecido

    urbano e de garantia de condies para a circulao automvel e pedonal13,

    12 GEHL, Jan; GEMZE, Larz, Nuevos espacios urbanos. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002 13 GONALVES, Jorge; Os espaos pblicos na reconfigurao fsica e social da cidade; Lisboa:

    Universidade Lusada Editora, 2006. Pg. 64

    Figura 2. Avenida Fontes

    Pereira de Melo

  • 20

    representam a estrutura que permite o desenvolvimento das actividades sociais

    colectivas necessrias comunidade urbana. Praas, ruas, largos e parques

    convidam as pessoas a permanecer no espao, a observar e a participar nas

    actividades que a se desenvolvem.

    Como resposta a esta crescente preocupao com as necessidades de circulao

    viria das cidades, na actualidade as atenes parecem voltar-se de novo para o

    espao pblico urbano. O desenvolvimento destas estruturas em detrimento dos

    espaos de estadia e circulao pedonal, e o abandono de outros da mesma

    categoria levou decadncia dos espaos pblicos na cidade. Enquanto

    determinados espaos se parecem actualizar por si s e se mantm activos,

    outros, por vezes com localizaes centrais nas cidades, mostram sinais evidentes

    de desumanizao. Torna-se necessrio um acompanhamento das mudanas de

    contexto, comportamento, hbitos naturais do avanar do tempo.

    Actualmente, comea a ser mais frequente a preocupao com a qualificao do

    espao pblico, tendo em vista uma melhoria das vivncias por ele

    proporcionadas, e a sua valorizao como elemento fulcral da cidade reala a

    necessidade de um maior cuidado aquando do seu planeamento. Procuram-se

    espaos que permitam ao utilizador estabelecer ligaes e identific-los como

    lugares, e como lugares seus, sendo isto incentivo ao encontro, ao crescimento e

    apropriao, permitindo ao utilizador construir a sua prpria identidade

    enquanto ser urbano14.

    possvel observar em alguns espaos pblicos mais recentes, um grande

    cuidado com a vertente esttica e simblica do projecto, no obstante, e apesar

    desde factor ser relevante, so outros que elevam a qualidade de um espao

    pblico em vrios parmetros. Enquanto uma primeira empatia com o espao se

    prende em grande parte com a sua imagem se , ou no, visualmente atractivo

    so os outros elementos que mantm as pessoas no espao levando sua

    permanncia. Um espao pode no ser obrigatoriamente bonito, mas oferecer

    qualidades que incentivam determinadas actividades e usos15. O gosto por um

    ambiente urbano implica mais do que ach-lo bonito, advm em grande parte da

    sua funcionalidade em relao aos usos e actividades que acolhe, dos sentidos e

    das experiencias vividas em determinadas situaes e aspectos da sua

    conservao, durabilidade e da identificao que promove diversidade.

    14 COELHO, Antnio Baptista; MANTEIGAS, Anabela; Humanizao e vitalizao do espao pblico, Lisboa; LNEC 2005. Pg. 174 15

    GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona: Revert, 2006

  • 21

    Pode-se dizer que, frequentemente, os espaos dos quais as pessoas mais gostam

    so constitudos por elementos naturais, tendo estes predominncia sobre os

    construdos, esto mantidos em boas condies, sendo possvel reconhecer a

    existncia de manuteno e cuidado, e se caracterizam pela existncia de boas

    vistas e eixos visuais agradveis16.

    Jan Gehl17 defende que a configurao fsica dos espaos condiciona fortemente

    as actividades que a se desenvolvem, e consequentemente a animao das ruas.

    Um desenho urbano pensado deve influenciar quantas pessoas e acontecimentos

    a se vo desenvolver, que duraes vo ter e que tipo de actividades sero.

    Dividindo as actividades exteriores em trs categorias necessrias, opcionais e

    sociais, Gehl18 defende que so as opcionais e as sociais que demonstram se um

    espao realmente tem qualidade e se atrai utilizadores. Actividades opcionais so

    aquelas em que o utilizador participa caso pretenda e se o ambiente o permite,

    enquanto as sociais dependem da presena de outras pessoas. Partindo a escolha

    de permanecer, de participar e passar tempo no local do utilizador, essa opo

    revela o gosto pelo espao e a sensao de conforto que este transmite, ao

    contrrio dos espaos que apenas recebem actividades obrigatrias, sendo elas as

    que geralmente envolvem a aco de caminhar e que se realizam todo o ano,

    independentemente do ambiente fsico do espao.

    Os requisitos bsicos para que um espao pblico tenha qualidade passam pela

    reunio das condies que permitam o desenvolvimento das actividades

    necessrias, opcionais, recreativas e sociais, ou seja, torna-se possvel para o

    utilizador circular pelo espao com confiana, ir e vir de outros locais, deambular

    e participar nas actividades, ao mesmo tempo que a hiptese de a permanecer

    ou encontrar-se com outras pessoas tambm vivel e atractiva. O desenho do

    espao tem a capacidade de favorecer ou dificultar a interaco e o

    relacionamento entre as pessoas.

    Os elementos que atraem o pblico a um espao, no so no entanto apenas

    fsicos. A presena de outras pessoas e actividades frequentes tm um efeito

    atractivo para o espao. A permanncia num espao populado e movimentado

    aumenta a probabilidade de se ter algo para fazer, de se descobrir algo novo ou

    de conhecer algum, ao mesmo tempo que confere um maior sentido de

    segurana. Exemplo disto so os conjuntos de pessoas que normalmente se

    16 Cit. In. CARMONA, Matthew, Public places, urban spaces : the dimensions of urban design, Boston: Architectural Press, 2010 17

    GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona: Revert, 2006 18

    Idem

  • 22

    juntam em volta de grupos que desenvolvam actuaes ou qualquer tipo de

    actividade no exterior, tais como uma grupo de msicos ou de jovens, acabando

    esta actividade por atrair mais ateno do que as lojas e respectivas montras

    presentes nesse espao. Estando j um grupo de pessoas paradas, em actividades

    ou no, a tendncia de outros que passam tambm de parar, tentando perceber

    o que se passa. Gera-se assim uma nova actividade que vem apoiar a primeira.

    As actividades acabam por surgir, vo-se apoiando mutuamente, e acabam por

    ter uma durao superior das actividades necessrias. natural ento, que com

    o aumento das condies dos espaos exteriores se aumente a animao, e

    consequentemente o tempo passado na rua. No entanto no se deve estimular

    apenas as actividades mais animadas. Devem existir condies para desenvolver

    actividades mais tranquilas, permitindo assim que ambas se complementem.

    Zonas multifuncionais suportam mais facilmente diversos grupos de pessoas,

    ocupaes, grupos sociais e diferentes faixas etrias.

    Em espaos mais utilizados ao nvel do bairro, geralmente observa-se uma

    relao mais prxima entre as pessoas que a permanecem. Isto sucede no s por

    ser um ambiente de vizinhana mas tambm porque a existncia de interesses,

    problemas em comum, e o sentido de pertena a um espao mais prximo um

    incentivo comunicao entre as pessoas. Este tipo de ambiente tem tambm

    como vantagem o sentido de responsabilidade colectiva pelo espao que as

    pessoas sentem como seu, torna-se mais fcil resolver problemas, manter o

    espao sob vigilncia, proteg-lo do vandalismo e organizar actividades

    colectivas19.

    O espao deve ser desenhado para as pessoas e de encontro s espectativas que

    para a se tem. Kevin Lynch20 afirma que para que o espao seja bem-sucedido

    deve ter vitalidade, suportando as funes, necessidades e capacidades humanas,

    ser perceptivo, atravs de uma clareza que permita a sua fcil compreenso,

    adequado, de forma e capacidade adequadas ao seu uso, acessvel, permitindo a

    chegada de todas as pessoas, actividades, servios, informao, e controlado.

    Uma vez que tudo o que compe o ambiente influencia as pessoas e tem a

    capacidade de ser influenciado, deve ser dada a devida ateno a tudo o que

    envolve os sentidos.

    19

    GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona: Revert, 2006 20 LYNCH, Kevin; A imagem da cidade; Lisboa: Edies 70, 1960

  • 23

    3.2. O retorno via pedonal na conquista de novos utilizadores

    Atravs de intervenes urbanas mais recentes foi possvel observar que se

    verificam melhorias nas actividades quotidianas quando de alteram vias normais

    para vias pedonais. Essa mudana por si s confere ao espao um aumento das

    actividades a desenvolvidas e da sua durao. A atribuio da totalidade do

    espao disponvel ao peo permite um maior vontade deste, o que,

    consequentemente, leva a um aumento das actividades sociais. Pode-se concluir

    ento que uma melhoria significativa no dependente de uma interveno

    profunda. Existem outros tipos de alteraes mais simples que demonstram ser

    bastante eficazes, tais como planos de reduo do trfego e implementao de

    praas e parques21.

    Nas cidades, em contraste com o que se observa nos bairros, normalmente

    perifricos, de moradias, a busca, por um incentivo vida social urbana, e ao

    usufruto dos diversos tipos de espaos exteriores que a cidade tem para oferecer.

    Ultimamente, com o aumento da rea de bairros desse tipo, a tendncia que se

    observa de fuga para os centros comerciais, uma vez que se facilitou o acesso a

    estes, e que a se tem acesso a espaos de estadia e zonas de comrcio. Este

    fenmeno mais perceptvel nas zonas perifricas - o desaparecimento da vida

    social entre os edifcios22.

    Essa mudana acentua-se pela presena de novos meios de comunicao e pela

    vulgarizao do meio de transporte prprio. Os novos meios de comunicao

    facilmente substituem uma deslocao ao centro da cidade para um encontro

    entre as pessoas, e os passeios a p so cada vez menos frequente, sendo mais

    fcil utilizar o veculo prprio para a deslocao at ao destino desejado.

    Aps uma poca de investimento na circulao viria dentro das cidades, a

    populao sente falta do espao pblico que possa realmente utilizar, e volta a

    manifestar-se, exigindo melhorias dos espaos existentes ou a implantao de

    novos. O resultado desta recente ateno a este componente da cidade resulta na

    implantao de vias pedonais em cidades at ento dominadas pela circulao

    viria. Esta mudana no tem efeitos apenas na vida social dos habitantes, mas

    acaba por ser o estmulo suficiente para um impulso no comrcio e para o

    aparecimento de novas funes nesses espaos, o que permite que se venham a

    descobrir novas potencialidades em espaos que aparentavam no ter hiptese

    de sucesso.

    21 GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona:

    Revert, 2006

    22 Idem

  • 24

    Elementos tais como esplanadas, montras, expositores de lojas no exterior,

    podem ser um o suficiente para convidar e incentivar as pessoas a irem rua, a

    entrar nas lojas ou a ficar nas esplanadas, sendo o aparecimento dessas pequenas

    actividades o suficiente para depois se dar origem a novas. (pessoas janela)

    Gehl23 afirma que no entanto para dar vida ao espao no basta que este tenha as

    condies necessrias para se desenvolverem as actividades bsicas. Torna-se

    necessrio ter qualidades que faam com que as actividades tenham uma maior

    durao. Poucas actividades duradouras produzem exactamente a mesma vida

    entre os edifcios, e as mesmas oportunidades de encontro entre vizinhos, que

    muitas actividades curtas24.

    Reunindo todas as condies referidas anteriormente, uma cidade dever ter as

    qualidades que fazem com que seja possvel no s viver e trabalhar, mas

    tambm manter uma vida no exterior, garantindo uma melhor qualidade de vida

    para os cidados, uma vez que esta se relaciona com a qualidade dos espaos

    pblicos que estes habitam.

    A qualidade do espao no depende no entanto, apenas do estado da rea que

    este abrange, do pavimento, dos espaos verdes, dos elementos artsticos e do

    mobilirio urbano, mas depende tambm das frentes edificadas que o delimitam.

    Este elemento deve complementar o espao, que deve ser agradvel, acolhedor e

    bonito.

    A rua, como elemento conector de todos os espaos de encontro, ou no, da

    cidade, deve manter continuidade com os restantes espaos que o rodeiam, e

    constituir um espao de aprendizagem, tornando-se num museu vivo e palco

    continuamente animado e diverso25.

    A avenida como espao linear tem como funo ser suporte da deslocao

    pedonal e viria, permitindo o acesso a outras reas e locais, no entanto as suas

    funes no se encerram por a, sendo tambm necessrio garantir a resposta a

    outras necessidades, tais como a paragem e permanncia de pessoas e o

    estacionamento de veculos

    Dentro da proposta do Ajuntament de Barcelona para a recuperao do espao

    pblico como espao de relao e convivncia, abrangida na Agenda 21 de

    Barcelona, inclui-se uma luta pela melhoria dos espaos pblicos permitindo

    23 GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona:

    Revert, 2006 24 Idem Pg. 198 25 COELHO, Antnio Baptista; MANTEIGAS, Anabela; Humanizao e vitalizao do espao pblico,

    Lisboa; LNEC 2005. Pg. 60

  • 25

    uma potencializao da movimentao pedonal dos cidados26. Para esse fim foi

    dado lugar a vrias intervenes, nas quais se deu destaque para a pacificao do

    trnsito, implantao de zonas 30 e inverso da prioridade.

    Os novos padres de mobilidade que surgiram com o aumento do uso do

    transporte privado, gerou conflitos e obrigou a mudanas nos espaos urbanos. A

    ocupao do espao urbano pelo automvel levou mudana e concentrao do

    comrcio nas grandes superfcies, diminuindo o papel de zona comercial ao

    espao pblico.

    A distncia entre as periferias e os espaos pblicos urbanos acentua a escolha

    pelos centros comerciais. Uma vez que frequentemente necessria a utilizao

    de transporte privada para ter acesso ao comrcio, a escolha acaba por recair

    sobre os centros comerciais que concentram essa funo numa rea mais

    reduzida.

    26 AA.VV.; Barcelona 30 Anys fent ciutat, Barcelona: Ajuntament de Barcelona, 2009. Pg 25

  • 26

    3.3. As diferentes configuraes da avenida

    Genericamente, uma avenida caracteriza-se pela sua largura, geralmente superior

    aos outros tipos de espaos lineares e pela sua capacidade viria. Deve garantir a

    circulao e acesso fcil e fluido, no entanto o peso que cada funo assume

    numa avenida pode variar, resultando isto numa vasta diversidade de tipologias

    de avenidas disponveis para estudo. Do leque de possibilidades, destacam-se

    trs tipologias diferentes os mais frequentes nas cidades em estudo a avenida,

    o boulevard e a rambla.

    Este tipo de espao, descrito por Pedro Brando27 como espao traado de

    encontro e circulao, geralmente um espao multifuncional, permitindo no s

    a deslocao de veculos e pedestres, mas tambm o acesso a edifcios,

    estacionamento de viaturas e espao prprio para diferentes actividades de

    estadia e encontro. No entanto o aumento do espao da rua cedido s viaturas

    teve o seu peso no espao de carcter pedonal.

    A avenida torna-se um exemplo de como possvel um equilbrio entre a

    circulao automvel e a vida social urbana num mesmo espao. Muito embora

    seja frequentemente caracterizada pelo volume de trfego mais intenso, a sua

    maior largura caracterstica desta tipologia de espao permite uma distribuio

    dos espaos que no prejudica nem os pedestres nem a circulao viria. O

    mobilirio urbano e a vegetao aplicada permitem uma diviso das zonas, de

    modo a que no constituindo uma delimitao fsica dos espaos, seja possvel

    uma mais fcil identificao das diferentes zonas.

    3.3.1. Avenida

    Tendo em comum a largura superior observada num tipo normal e rua, os trs

    tipos de perfis diferem entre si. A avenida, no seu perfil genrico caracteriza-se

    acima de tudo pelo nmero de vias para a circulao automvel. Geralmente

    quando assume este tipo de perfil constitui um eixo de elevada importncia para

    a chegada e sada do centro da cidade, representando um elemento fulcral na

    distribuio dos acessos para as reas mais importantes da cidade.

    27 BRANDO, Pedro, A identidade dos lugares e a sua representao colectiva: Bases de orientao para a concepo, qualificao e gesto do espao pblico, Lisboa: DGOTDU, 2008

  • 27

    3.3.2. Boulevard

    O boulevard difere geralmente da avenida regular pela sua largura inferior e

    ambiente mais prximo e sossegado. Muito embora mantenha um papel de

    elevada importncia como distribuidor de trfego, a sua capacidade

    usualmente mais reduzida do que a de uma avenida. Verifica-se tambm

    frequentemente um maior cuidado e investimento na vegetao e no espao de

    circulao do peo.

    3.3.3. Rambla

    A rambla a tipologia que mais difere dos perfis anteriores. O seu passeio central

    dedicado exclusivamente circulao pedonal, distingue a rambla da habitual

    avenida e do boulevard, uma vez que neste perfil, mais do que em qualquer um

    Figura 4. Boulevard des

    filles du calvaire

    Figura 3. Champs-Elyses

    vista da Place de la

    Concorde

  • 28

    dos outros, o peo tem claramente mais importncia. Sem descartar os passeios

    laterais, estes passam a ter uma largura mais reduzida do que a observada nos

    outros perfis. No obstante, o espao cedido viatura tambm mais reduzido,

    sendo as quatro vias, duas de cada lado do passeio central, o mais

    frequentemente aplicado. Dessa forma torna-se possvel a ocupao do restante

    espao central pelo passeio permitindo uma circulao confortvel do transeunte

    e o desempenho de uma maior diversidade de actividades.

    Figura 5. Rambla de

    Canaletes

  • 29

    3.4. Actividades sociais nas avenidas e os espaos que requerem

    Consideramos usos das avenidas, as funes para as quais um espao

    efectivamente construdo. No caso das avenidas, os usos que lhes so atribudos

    so a circulao automvel e pedonal. Este tipo de espao possibilita e apoia a

    deslocao de pessoas e viaturas de um ponto para outro, entre diferentes zonas

    da cidade, e para tal, necessitam de espaos diferenciados que permitam uma

    diviso eficiente dos dois tipos de usos.

    As actividades diferem dos usos por serem facultativas para o espao. Uma

    avenida, para o ser, no tem obrigatoriamente de ter bancos ou zonas relvadas.

    As actividades surgem no s pela presena de equipamentos, elementos de

    composio ou caractersticas do espao que o permitem e incentivam, mas

    tambm pelas qualidades, valor e significado de um espao, que levam as

    pessoas a ter vontade de as realizarem.

    Os usos e actividades da tipologia de espao pblico Avenida so muito

    diversos, no entanto para um estudo comparativo entre vrios exemplos da

    mesma tipologia, interessa uma melhor compreenso dos mais frequentes e

    naturais para esse tipo de espao.

    Como havia sido referido anteriormente, Gehl28, divide os tipos de actividades

    exteriores em trs categorias as necessrias, que passam pelas actividades

    obrigatrias, que se observam independentemente do ambiente fsico e da altura

    do ano; as opcionais, nas quais s se participa caso se pretenda, se tenha tempo,

    ou se o ambiente fsico o permite e o incentiva, e as sociais, que se desenvolvem

    na mesma situao que as opcionais mas que dependem da presena de outras

    pessoas.

    3.4.1. Necessrias

    Circular

    Como actividade necessria, este tipo de aco a menos exigente em termos de

    equipamento. Verifica-se em todos os espaos, uma vez que passa pelas

    necessidades das pessoas ir trabalhar, ir s compras, ir ou vir de casa No

    dependem da envolvente e desenvolvem-se ao longo de todo o ano,

    independentemente do ambiente fsico.

    28 GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona:

    Revert, 2006

  • 30

    Podemos dividir a circulao em trs tipos diferentes: a circulao a p, a de

    carro e a de bicicleta. Cada uma requer qualidades especficas e so separadas,

    permitindo um melhor funcionamento de todas.

    3.4.2. Opcionais

    Estar de p

    Permanecer de p constitui uma actividade bastante frequente no tipo de espao

    pblico em estudo. Embora sejam na sua maioria de durao curta, acabam por

    se tornar bastante frequentes. Verifica-se geralmente quando se espera por um

    transporte pblico, num semforo ou passadeira, para falar com algum que se

    encontrou pelo caminho ou para observar algo que despertou a ateno do

    pedestre.

    Observando os locais escolhidos mais frequentemente para parar, pode-se dizer

    que a escolha geralmente recai, quando no se trata da espera numa paragem ou

    num semforo, sobre locais mais abrigados e menos expostos. Ser mais prtico

    para algum que espere outra pessoa, combinar o encontro junto de uma

    referncia tal como um caf ou uma loja, escolhendo um local de certo modo

    protegido e mais facilmente identificvel, do que no centro de uma praa,

    exposto a tudo o que a se desenvolve.

    Arcadas, varandas, toldos, entradas de edifcios, so elementos que conferem

    uma maior sensao de segurana ao individuo. O mesmo se verifica com grupos

    de pessoas: a paragem junto dos limites do espao permite uma maior sensao

    de segurana e de vigia sobre o espao e tudo o que se passa em seu redor.

    Outros elementos urbanos tais como mobilirio urbano ou rvores acabam por

    ser os escolhidos para este tipo de actividade.

    Sentar

    Este tipo de actividade constitui uma das de maior importncia para a existncia

    de vida social de longa durao num espao. Um espao ter mais hipteses de

    ser mais habitado se tiver mais equipamento que permita a permanncia de

    pessoas no espao durante um perodo de tempo mais longo do que o de

    passagem. Um espao pode ter bastante potencial, uma boa localizao e fluxos

    pedonais ao longo de todo o dia, mas se no estiver devidamente equipado no

    chega a ser realmente vivido.

    O sentar implica no s a actividade de estar sentando, mas tambm uma srie

    de outras actividades que podem ser proporcionadas a partir dessa primeira.

    Tendo disponvel equipamento favorvel, podem-se observar outras actividades

  • 31

    tais como comer, conversar, observar outras pessoas, jogar s cartas, ler, observar

    o espao e estar em grupo com outras pessoas.

    No entanto, esta actividade no depende apenas da presena de bancos no local.

    Podemos observar em diversos casos por toda a cidade, como por exemplo em

    frente ao museu MACBA em Barcelona, onde um muro junto de uma rampa

    serve de banco aos utilizadores, colmatando a falta deste tipo de equipamento na

    praa. Locais que por alguma razo atraem as pessoas mas que no estando

    equipados com bancos tm outros elementos que acabam por servir essa funo,

    tais como fontes ou escadarias.

    No que toca localizao dos bancos, as preferncias tendem a cair, tal como os

    locais para estar de p, sobre bancos que estejam mais prximos dos limites dos

    espaos, com uma vista ampla sobre o local e com encosto, permitindo um maior

    conforto durante a permanncia.

    Jogar

    Em locais onde existe permanncia de pessoas durante perodos mais longos de

    tempo, a existncia de outro tipo de equipamentos que no bancos, fomentar

    outro tipo de actividades e permitir um aumento do tempo de permanncia no

    espao. Este tipo de actividade geralmente exige a presena de equipamento

    especfico para o seu funcionamento. So equipamentos tais como parques

    infantis ou reas de jogo, que tendo compatibilidade com os outros tipos de

    actividades que se desenvolvem em simultneo, no s incentivam uma estadia

    mais longa mas tambm atraem novos visitantes ao espao.

    Mesmo sendo equipamentos para actividades que se desenvolvem em sintonia

    com as actividades e usos necessrios para o espao, este tipo de espaos

    encontram-se geralmente providos de proteces que impeam as crianas de

    sair, no caso dos parques infantis, e de bancos prximos, ou mesmo dentro do

    espao, que permitam aos adultos uma vigia mais fcil e confortvel das crianas.

    As zonas de jogos encontram-se mais frequentemente em zonas habitacionais,

    mais distantes dos centros das cidades.

    Neste tipo de actividade no exclusiva a crianas, existindo equipamento

    disponvel para outros tipos de jogos direccionados para adultos tais como jogar

    s cartas, jogar malha ou petanca.

  • 32

  • 33

  • 34

  • 35

    4. CASOS DE ESTUDO

    O presente estudo centrar-se- apenas num tipo de espao pblico - a avenida

    no sendo esta tipologia a nica nem a mais importante, tem um peso e uma

    representao bastante relevantes nos traados e na vida social urbana tanto de

    Barcelona como de Lisboa.

    A seleco dos casos de estudo permite uma exposio comparativa de dois tipos

    de avenida, que acolhendo o mesmo tipo de circulao tm configuraes

    assumidamente diferentes. Ambas localizadas em zonas centrais da cidade, onde

    se desenvolve uma vida urbana activa, representam eixos virios muito

    importantes para a circulao cidade, no deixando de acolher actividades sociais

    necessrias, opcionais e sociais.

    A categoria de rua, como Jorge Gonalves29 descreve, pode ser dividida em

    cinco subcategorias: ruas pedonais, ruas predominantemente motorizadas, ruas

    de trfego condicionado e ruas partilhadas. As avenidas, em estudo, podem

    incluir-se na terceira subcategoria ruas predominantemente motorizadas, sendo

    estas, vias que articulam partes principais da cidade, canalizando os seus

    principais fluxos automveis. No deixam de ser, no entanto, vias que assumem

    um papel de espao pblico de socializao, uma vez que acolhem infra-

    estruturas para o desenvolvimento de actividades sociais colectivas.

    Contemplam-se dois casos de estudo para a mesma tipologia, pertencendo estes

    a Lisboa e a Barcelona. Os casos de estudo sero desenvolvidos em profundidade

    com recurso consulta bibliogrfica e a observaes e estudo em campo, sero

    eventualmente referidos outros exemplos secundrios que paream relevantes

    para apoiar a anlise como pontos de apoio ou de referncia.

    J em Lisboa, o crescimento urbano tem vindo ao longo do tempo a privilegiar na

    cidade o desenvolvimento dos eixos de circulao virios. Este tipo de evoluo

    privilegiou a circulao automvel em detrimento da circulao pedonal, e

    consequentemente dos espaos pblicos. O decrscimo dos cuidados com o

    espao pblico tem como um dos seus resultados a diminuio das condies

    para a apropriao dos espaos e naturalmente para uma diminuio do interesse

    pelo desenvolvimento de uma vida social colectiva no exterior. No entanto,

    actualmente comea a ser notrio um novo interesse pelo espao pblico,

    nomeadamente com o tema das alteraes na Avenida da Liberdade que haviam

    sido esquecidas durante tantos anos.

    29 GONALVES, Jorge ; Os espaos pblicos na reconfigurao fsica e social da cidade; Lisboa: Universidade Lusada Editora, 2006

  • 36

    4.1. Avenida da Liberdade

    4.1.1 Enquadramento histrico

    Em poca de reedificao da baixa pombalina, entre 1764 e 1771, comeava a

    sentir-se em Lisboa a necessidade da construo de um parque aberto ao pblico.

    Este tipo de espao comeava nessa mesma era a ser cada vez mais integrado nas

    malhas urbanas das cidades europeias influenciadas pelo iluminismo.

    O espao arborizado deveria funcionar no s como ponto de encontro, passeio e

    elemento embelezador da cidade mas tambm como eixo de importante valor

    para o ordenamento da cidade e apoio ao seu saneamento.

    Entre cinco alinhamentos de rvores nas laterais da avenida, de forma regular e

    simtrica, desenvolvia-se o passeio no espao central, sendo cercado por muros e

    portes que se fechavam durante a noite. Se at poca os jardins existentes no

    pas eram privados e reservados apenas s classes mais altas, este permitia o

    encontro de todas as classes incentivando a mtua aceitao.

    Desenvolvendo-se entre muros, o Passeio via as suas entrada rematadas a sul

    pelo porto principal e a norte por um pavilho e uma cascata cujo topo, em

    terrao, era acessvel, possibilitando o usufruto de vistas privilegiadas sobre a

    baixa e o Tejo.

    Figura 6. e Figura 7.

    Aproximao da vista area

    da Avenida da Liberdade

    Figura 8. Entrada principal

    a sul

    Figura 9. Entrada norte do

    passeio pblico

  • 37

    Em 1859, Jlio Pimentel, ento Presidente da Cmara, comea a demonstrar a

    vontade de abrir uma avenida que desse seguimento do Rossio at ao Campo

    Pequeno. Mais tarde viria a ser proposto pelo mesmo, o projecto de uma nova

    avenida do arquitecto Domingos Parente. Esse plano viria a ser aprovado a 12 de

    Outubro de 1877, tendo a construo do primeiro troo incio a 24 de Agosto de

    1879, e concluso a 25 de Maio de 1886.

    Os muros e portes do Passeio Pblico seriam destrudos em primeiro lugar, e

    contra a vontade de muitos o jardim viria a ser destrudo com o avanar das

    obras de construo da avenida.

    Figura 10. Carta topogrfica

    de Lisboa de 1856

    Figura 11. Litografia do

    incio do sculo XX

  • 38

    O Eixo de conexo entre a Praa do Marqus de Pombal e a Praa dos

    Restauradores seria construdo seguindo o perfil de boulevard, sendo necessrias

    expropriaes para o aumento da sua largura para os actuais 90 metros. A

    Avenida desenvolvia-se ao longo de 1270 metros.

    No entanto a Avenida da Liberdade no surge isolada. A necessidade de

    expanso que se observava devido densificao populacional que se verificava

    no centro da cidade, incentivava a expanso para norte. Esse crescimento levava

    necessidade de melhores conexes entre o centro e as novas reas urbanizadas.

    As avenidas novas incluam dois eixos principais a Avenida da Liberdade, que

    passa a fazer a conexo com o Campo grande aps a destruio do Passeio

    Pblico, e a Avenida Almirante Reis, ento Avenida Rainha D. Amlia.

    Traada por Frederico Ressano Garcia em 1888, o plano de expanso da cidade

    seguia Praa do Marqus de Pombal at ao Campo Grande e projectava-se com

    uma nova urbanizao de malha ortogonal, largas ruas e imagem uniforme.

    As Avenidas Novas trazem consigo uma nova forma de pensar na cidade, tendo

    em mente a sua modernizao. Em simultneo novo mobilirio urbano

    Descentrava-se assim a cidade, e em simultneo estimulava-se uma valorizao

    dos terrenos perifricos e a sua urbanizao.

    Figura 12. Plano da avenida

    aprovado em 1879

    Figura 13. Planta de 1888

    Figura 14. Levantamento de

    1911

    http://lh3.ggpht.com/_FkKgTDI7ngU/TBAHVcEpL-I/AAAAAAAADWY/tocbCrQvU4s/s1600-h/al52[6].jpghttp://lh4.ggpht.com/_FkKgTDI7ngU/TBAHcOsbxVI/AAAAAAAADYQ/pzgpgaAmacs/s1600-h/al803[3].jpg

  • 39

    Tendo em vista uma interveno urbanstica,

    arquitectnica e uma requalificao dos espaos

    atravs da definio de novos percursos

    pedonais e potencializao das zonas verdes, o

    arquitecto Fernandes de S prope em 1991, um

    novo plano para a avenida, plano este que viria a

    ser aprovado a 1 de Maro de 2006. A

    regulamentao do trnsito, o estacionamento

    subterrneo e a localizao de novas actividades

    e equipamentos so elementos que constam no

    novo projecto. No entanto o projecto nunca

    chegou a ser implementado.

    Torna-se actualmente necessria, aps a

    verificao de uma diminuio do nmero de

    viaturas que passam diariamente na avenida e

    de habitantes na avenida assim como o aumento

    do nmero de edifcios devolutos, uma

    reestruturao do eixo. Tendo-se verificado estas

    mudanas, reaparecem os projectos para

    alteraes no espao. Pretende-se agora uma

    diminuio o nmero de faixas de rodagem

    centrais para apenas quatro, duas em cada

    sentido em oposio s actuais cinco, e uma

    pedonalizao progressiva das vias laterais da

    avenida, permitindo no entanto o acesso de

    viaturas apenas para trnsito local e

    estacionamento. As alteraes devero permitir

    que a avenida volte a ser das pessoas e no dos

    carros.

    Figura 15. As avenidas

    novas

    http://lh6.ggpht.com/_FkKgTDI7ngU/TBAUo2KKbWI/AAAAAAAADfE/MFeo9zuda3I/s1600-h/AVENIDA11[12].jpghttp://lh6.ggpht.com/_FkKgTDI7ngU/TBAUo2KKbWI/AAAAAAAADfE/MFeo9zuda3I/s1600-h/AVENIDA11[12].jpghttp://lh6.ggpht.com/_FkKgTDI7ngU/TBAUo2KKbWI/AAAAAAAADfE/MFeo9zuda3I/s1600-h/AVENIDA11[12].jpg

  • 40

    4.1.2. Configurao do espao fsico

    Estabelecendo a ligao entre a Praa do Marqus de Pombal e a Praa dos

    Restauradores, sendo ambas marcadas por elementos de destaque Monumento

    ao Marqus de Pombal e o Monumento aos Restauradores, a avenida

    desenvolve-se ao longo de cerca de 1330 metros, dispondo de dois largos

    passeios centrais.

    Vrias ruas acedem avenida, sendo a distncia entre estes cruzamentos

    irregular. Estas interrupes influenciam o espaamento entre os passeios

    centrais, e a organizao dos canteiros nesse mesmo espao.

    Junto aos edifcios estende-se um passeio que permite o acesso ao comrcio e

    habitao, sendo seguido de uma fila de estacionamentos e uma de circulao. De

    seguida estendem-se os passeios mais largos que recebem as zonas verdes,

    rvores, bancos, esplanadas, e quiosques, e de seguida cinco faixas de rodagem.

    Os passeios centrais so os verdadeiros locais de vida da avenida. Enquanto as

    actividades e funes de curta durao se desenvolvem na grande maioria nos

    passeios mais prximos dos edifcios, as actividades mais longas e de

    permanncia desenvolvem-se maioritariamente nos passeios mais largos.

    Amplos canteiros so dispostos ao longo dos passeios centrais assim como quatro

    alinhamentos de rvores em cada um. No entanto a disposio dos canteiros

    relvados altera-se conforme o comprimento do passeio que ocupam.

    Figura 16. Avenida da

    Liberdade vista Marqus

    de Pombal

  • 41

    O seu perfil no sofre grandes variaes, ao longo da sua extenso,

    concentrando-se a maior parte das diferenas na localizao pontual de esttuas,

    fontes, ou escadas e acessos subterrneos. No entanto os edifcios que delimitam

    o espao e as ruas que se cruzam com este variam bastante e so irregulares.

    Os passeios laterais sofrem alteraes na sua largura ao longo de todo o

    comprimento da avenida, dependendo do edifcio limite. Existem zonas onde o

    passeio se torna mais reduzido, enquanto noutras ganha uma maior largura.

    Possuem, no geral, uma largura abaixo dos 3,7 metros, espao suficiente para

    uma circulao confortvel e acesso fcil aos edifcios laterais e ao comrcio

    existente.

    So as variaes nos edifcios limite da avenida e as novidades que se encontram

    ao longo dos espaos ajardinados que conferem diversidade ao espao, e um

    factor surpresa que permite que o percurso se torne interessante para o pedestre,

    Zona de circulao Zona de circulao

    Eixos virios Eixos virios

    Figura 17. Perfil tipo e usos

    da Avenida da Liberdade

    Figura 18. Passeio da

    Avenida da Liberdade

  • 42

    convidando-o tambm a permanecer. No entanto

    os atravessamentos das ruas perpendiculares

    tornam-se uma grande quebra no percurso

    pedonal pelos passeios laterais, j que no existem

    passadeiras no seguimento dos mesmos. Torna-se

    necessrio atravessar a rua pelos passeios junto

    dos edifcios e voltar a atravessar para os passeios

    centrais.

    A avenida no , no entanto, um espao utilizado

    apenas pelos habitantes e eventuais transeuntes.

    Reunindo muitos dos melhores teatros, hotis,

    restaurantes e lojas de luxo da cidade, e como

    elemento marcante na estrutura e imagem de

    Lisboa, torna-se local de visita e passagem de

    pessoas vindas de outras zonas da cidade e de

    turistas.

    4.1.3. Utilizao do espao

    Mantendo o perfil constante ao longo da avenida,

    a maioria dos espaos para actividades

    secundrias localizam-se nos passeios centrais.

    No obstante, podem observar-se actividades que,

    sendo temporrias, ocupam apenas troos dos

    passeios centrais especficos, libertando outros.

    I. Circulao viria

    A circulao viria na Avenida da liberdade

    divide-se de acordo com a velocidade necessria.

    Nos eixos centrais realiza-se a circulao de

    distribuio de trfego pela cidade, enquanto os

    acessos a edifcios limite da avenida e

    estacionamento se praticam nas faixas laterais

    entre os passeios centrais e laterais. Torna-se

    possvel desso modo uma reduo dos conflitos de

    velocidade entre viaturas.

    Figura 19. Planta geral da

    Avenida da Liberdade

  • 43

    II. Circulao de bicicletas

    Na Avenida da Liberdade no existem condies especiais para a circulao de

    bicicletas. Isto deve-se em grande parte s variaes de declives na cidade que

    no facilitam a deslocao deste modo em Lisboa. A circulao de um

    velocipedista poderia, no entanto, ser facilitada nas vias laterais da avenida.

    III. Circulao pedonal

    Verifica-se que a circulao pedonal na Avenida da Liberdade se divide

    consoante a sua velocidade. Enquanto os pees que realizam percursos tendo

    como objectivo a chegada a outro ponto com hora marcada tal como a ida para

    o trabalho, realizam esse percurso pelos passeios laterais junto dos edifcios, as

    pessoas que tm tempo para passar no local, podendo fazer o percurso com mais

    calma acabam por optar pelos passeios centrais. nesse espao que no s o

    percurso se torna mais interessante devido ao factor surpresa existente pela

    variao de elementos nas zonas de vegetao, como tambm pela disposio de

    mais espao livre para circular.

    Figura 20. Trfego da Avenida

    da Liberdade

    Figura 21. Passeio lateral da

    Avenida da Liberdade

  • 44

    IV. Estar de p

    Este tipo de actividade desenvolve-se em qualquer local da avenida. No

    exigindo nenhum equipamento especfico, desenvolve-se onde h necessidade de

    tal. Os locais onde esta actividade se observa mais frequentemente so junto dos

    semforos enquanto se espera ou numa paragem de autocarro. Em casos

    distintos, de espera por algo, ou simplesmente para apreciar o espao, pode-se

    afirmar, de acordo com o que afirma Gehl30 que os espaos escolhidos so

    geralmente os mais protegidos, junto aos edifcios, e com maior amplitude visual

    sobre o espao.

    As paragens de autocarro e junto dos semforos so os pontos onde este tipo de

    actividade se observa mais vezes.

    V. Sentar

    Os espaos de estada acabam por ser os mais exigentes nos espaos pblicos. Os

    equipamentos dedicados a esta actividade encontram-se dispostos ao longo da

    avenida de duas formas distintas dois alinhamentos de bancos nos passeios

    centrais, uns voltados para os edifcios, e outros para os eixos centrais da avenida

    e em esplanada, junto dos quiosques presentes nos dois passeios centrais do

    troo mais a sul da avenida.

    30 GEHL, Jan. La Humanizacin Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona: Revert, 2006

    Figura 22. Paragem de

    autocarro na Avenida da

    Liberdade

  • 45

    VI. Jogar

    No existem ao longo da avenida espaos dedicados a este tipo de actividade.

    Em Lisboa, equipamentos tais como parques infantis, localizam-se, em nmero

    reduzido, junto de zonas onde a ocupao maioritariamente residencial. Uma

    vez que na Avenida da Liberdade os edifcios so na sua maioria ocupados por

    escritrios, poder-se-ia justificar a ausncia deste tipo de equipamentos. No

    entanto, como espao marcante e simblico da cidade, a presena de um espao

    desse tipo poderia ser fundamentado como mais um incentivo visita do local.

    Figura 21. Bancos na

    Avenida da Liberdade

    Figura 24. Esplanada na

    Avenida da Liberdade

  • 46

    VII. Actividades efmeras

    Os passeio centrais da Avenida da Liberdade recebem ao longo de todo o ano,

    mas especialmente aos fins-de-semana diversas actividades efmeras. Depois de

    29 anos a acomodar a feira do livro lisboeta entre 1960 e 1989, a avenida recebe

    pequenas feiras de antiguidades e artesanato aos fins-de-semana. As feiras

    organizam-se dispondo bancadas na lateral da zona relvada central de cada

    passeio, estendendo-se geralmente entre a Rua Alexandre Herculano e a Rua das

    Pretas.

    Figura 25. Feira de

    artesanato na Avenida da

    Liberdade

    Figura 26. Feira de

    antiguidades na Avenida da

    Liberdade

  • 47

    4.2. Passeig de Sant Joan

    4.2.1. Enquadramento histrico

    O Passeig de Sant Juan constitui uma das principais avenidas de Barcelona. A sua

    construo, ainda como Passeig Nou, remete a 1795, tendo esta sido finalizada

    em 1802. Localizando-se numa das laterais da fortaleza da Ciutadela, viria a ser

    expandida com a Exposio Universal de 1888. O plano Cerd visava a

    transformao do eixo numa nova avenida, com perfil de 50 metros de largura,

    sendo constitudo por largos passeios laterais, e vias especficas para carruagens

    ou veculos a vapor no centro. Reunindo um importante valor arquitectnico

    atravs da presena de obras modernistas dos princpios do sculo XIX, a

    avenida faz desde ento, tambm parte do sistema de saneamento subterrneo

    da cidade, sistema este que seria implementado por Cerd aps as epidemias

    verificadas na cidade que haviam gerado uma elevada taxa de mortalidade.

    A nova avenida divide-se ento em trs troos, cada um de seu perfil. Entre a

    Travessera de Grcia e a Avinguda Diagonal, desenvolve-se segundo um perfil

    tipo Rambla, de passeios laterais estreitos e um central mais largo, sendo este

    ladeado por duas vias de trnsito e uma de estacionamento ou duas vias de

    trnsito e uma exclusiva para transportes pblicos. O troo que se segue, entre a

    Avinguda Diagonal e a de Tetuan dispe de passeios laterais mais largos, e seis

    vias centrais, trs para cada sentido e uma ciclo-via no centro, dividindo os dois

    sentidos. O ltimo troo, que designa o caso de estudo, faz a conexo entre a

    Plaa de Tetuan e o Arc de Trionf, onde tem inicio o Passeig de Llus Companys.

    Esta seco, recente objecto de interveno dispe actualmente de um perfil tipo

    boulevard.

    As opinies sobre a nova configurao do ltimo troo da avenida dividiam-se

    entre o perfil tipo rambla e perfil tipo boulevard. Aps a deciso de avanar com

    um projecto de boulevard foi incentivada a comunicao entre o Ajuntament e os

    habitantes e comerciantes locais, o que permitiu traar objectivos comuns. No

    Figura 27. e Figura 28.

    Aproximao da vista area

    do Passeig de Sant Joan

  • 48

    entanto este processo s teve incio aps o primeiro projecto, o que levou a

    algumas alteraes do projecto original. A seu tempo a opinio pblica foi tida

    em conta atravs de dois tipos de abordagem: em primeiro lugar foi organizada

    uma reunio com representantes das diferentes entidades locais, tais como

    associaes de vizinhos, instituies e empresas vinculadas com os espaos em

    questo. Aps essa primeira abordagem foram distribudos por todos os

    habitantes e comerciante folhetos explicativos da proposta de projecto, que lhes

    permitiam opinar sobre este.

    Os objectivos do projecto passavam pela potenciao de espao de convivncia e

    de prioridades para o pedestre, onde havero zonas de estada com bancos e

    cadeiras, para alm de reas de jogos infantis e esplanadas, delimitadas por

    arbustos e um sistema de pavimento drenado com nova iluminao, permitindo

    assim dar predominncia ao espao pedonal, revalorizando tambm o comrcio.

    Figura 29. Vista da recente

    interveno no Passeig de

    Sant Joan

  • 49

    4.2.2. Configurao do espao fsico

    Troo Travessera de Grcia Avinguda Diagonal

    O primeiro troo da avenida desenvolve-se segundo um perfil tipo Rambla. De

    estrutura regular, delimitada pelos quarteires quadrangulares chanfrados da

    cidade, estendendo-se ao longo de seis quarteires, perfaz cerca de 800 metros.

    Tem incio partindo da Travessera de Grcia e estabelece ligao com a Avinguda

    Diagonal, sendo esse ponto marcado pelo monumento a Jacint Verdaguer.

    atravessado pela Carrer de Sant Anton Maria Claret, Carrer de la Indstria,

    Carrer de Corsega, Carrer del Rossell e Carrer de Provena. Apenas o

    cruzamento com a Carrer de Corsega marcado por uma rotunda, enquanto os

    restantes so marcados pela interrupo do passeio central.

    A sua configurao distingue-se pelo passeio central nico, e pelo nmero

    reduzido de faixas de rodagem apenas duas de cada lado do passeio e uma

    extra, ocupada ora por estacionamento ora uso exclusivo de transportes pblico.

    Figura 30. Vista no sentido

    Travessera de Grcia

    Avinguda Diagonal

    Figura 31. Perfil tipo e usos

    do troo Travessera de

    Grcia Avinguda

    Diagonal

  • 50

    Os passeios laterais, de largura reduzida, cerca de

    3,2 metros, permitem uma circulao pedonal

    confortvel e o acesso ao comrcio e s habitaes.

    J o passeio central, medindo cerca de 30 metros de

    largura possui espao para a localizao de

    equipamentos de usos colectivo. Ao longo de todo

    o troo vo-se distribuindo bancos e cadeiras,

    espaos relvados, fontes, caixas para jogar petanca,

    parques infantis, quiosques de gelados e uma ciclo-

    via. As zonas relvadas, de jogo e de parques

    infantis desenvolvem-se do lado nordeste do

    passeio e vo-se alternando no comprimento da

    avenida.

    Os elementos de vegetao concentram-se no

    passeio central. Para alm da aplicao de arbustos

    nos extremos laterais que permitem uma diviso

    mais eficiente do passeio com as vias de circulao

    viria, estemdem-se duas faixas de zonas relvadas

    a todo o comprimento do passeio. A par com as

    zonas de jogo e parques infantis vo se alternando

    espaos relvados e pontuados com arvores.

    Ao longo do passeio possivel encontrar um

    elevado numero de bancos. Uma fila de bancos

    dispostos ao comprido permite marcar a diviso

    entre a zona de peoes e a ciclo-via, e outros grupos

    quer de bancos compridos quer de bancos

    individuais vo se localizando junto ao lado oposto

    da ciclo-via, sendo complementados pela presena

    de rvores, gerando zonas de estar com sombra

    apropriadas para grupos.

    Cada troo do passeio acolhe espaos diferentes,

    mantendo uma configurao muito semelhante

    entre todos. Do lado esquerdo encontra-se a ciclo-

    via e uma fila de bancos, enquanto ma metade do

    lado direito se vo alternando os restantes espaos

    relvados, de estadia e de jogo, conferindo uma

    quebra de monotonia e uma maior diversidade ao

    espao.

    Figura 32. Planta do troo

    Travessera de Grcia

    Avinguda Diagonal

  • 51

    Embora o passeio seja interrompido pelas intersepes com as ruas que lhe so

    perpendiculares, existem passadeiras alinhadas com o passeio que permitem que

    no exista uma grande quebra no percurso.

    Dos trs troos do Passeig de Sant Joan em anlise, este ser o que tem trafego

    mais reduzido, e onde se observa uma vida exterior mais activa.

    Figura 33. Vista do passeio

    central

    Figura 34. Vista do passeio

    central

  • 52

    Troo Avinguda Diagonal Plaa Tetuan

    O segundo troo da avenida estende-se ao longo de cinco quarteires, cerca de

    570 metros, assumindo um tipo de perfil mais comum em avenidas. Com largos

    passeios junto aos edifcios, liberta-se o espao central livre para acolher seis vias

    de rodagem.

    Com incio na Avinguda Diagonal, estende-se at Plaa Tetuan, sendo

    atravessada pela Carrer de Valncia, Carrer dArag, Carrer del Consell de Cent

    e Carrer de la Diputaci.

    Os passeios organizam-se nos primeiros 15 metros mais prximos dos edifcios,

    seguindo-os uma faixa que acolhe estacionamento, caixotes do lixo, ou que se

    deixa livre para permitir a aproximao dos autocarros s paragens. Com trs

    faixas de rodagem em cada sentido.

    Figura 36. Perfil tipo e usos

    do troo Aving