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Francisco Rodrigues Júnior
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A Aventura de Aprender
Sintática
História para refletir a importância da análise sintática nos tempos hodiernos.
Recanto das Letras
2012
Francisco Rodrigues Júnior
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Às minhas filhas:
Ana Elisa de Menezes Rodrigues Cordeiro;
Maria Luísa de Menezes Rodrigues Cordeiro;
Isabella de Menezes Rodrigues Cordeiro,
Quais acreditam ser o aprender uma grande
aventura dos homens, cá na terra.
Francisco
“Há um tempo em que é preciso abandonar as
roupas usadas, que já tem a forma do nosso
corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos
levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da
travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos
ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
(Fernando Pessoa)
Francisco Rodrigues Júnior
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CAPÍTULO 1
Paulo, como todo bom estudante, tinha um problema. Ele queria conhecer as
coisas acerca do mundo em que vivia. Certo dia, na escola, ele ficou sabendo com os
professores dele que o mundo era composto por signos ou sinais. Isso lhe dava a certeza
de que tudo que se via, pensava e analisava era prestado a um juízo de valor afirmativo
ou negativo. Esses valores, nada mais seriam que o conhecimento. Portanto, pensava
ele, o conhecimento era a concatenação de ideias ou de pensamentos acerca de alguma
coisa partindo-se de imagens concretas e abstratas. As ideias concretas deveriam provir
das coisas vistas, palpáveis, quais teriam de ter existência própria, capaz de nomear
seres, ideias e coisas, porquanto, as imagens abstratas deveriam provir das coisas não
vistas, de natureza dependente, nomeando ações e estados. Paulo concluiu que para uma
coisa existir, ela dependerá também de outra. Isso acontece com as coisas abstratas,
quais partem das ações e estados do ser humano. Uma coisa era ver e tocar; outra era
imaginar, sentir. Ora, pois, vivemos no mundo cercado de sinais. Esses sinais são
conhecidos como ícones, símbolos ou signos. São através desses sinais que o homem
abstrai todas as formas comunicantes para se interagir com o universo. Quando se dá
essa abstração (ideia, relação, termo, conceito, definição, elemento de classe etc) sobre
os sinais, logo, tudo que existe no universo ganha um nome (do latim nomen), e cada
nome, portanto, corresponde a uma substância (do latim substantia). O nome é uma
palavra que usamos para designar pessoas, animais, coisas, bem como ações, estados ou
qualidades. É a partir dele que definimos ou conceituamos tudo que podemos ver,
praticar, sentir ou qualificar coisas, desde as concretas às abstratas. O nome está ligado
à substância, que, por sua vez, é a parte real ou essencial das coisas que existem no
universo. Nome e substância são dois componentes que se combinam no sentido de
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expressar qualidades reais ou fantásticas. É a partir da combinação desses dois
componentes, que tudo o quê existe no universo passa a ganhar força, valor e referência.
Quando afirmamos que uma palavra contém força, estamos levando em conta a
intensidade, o impulso, o poder e a influência que ela exerce dentro de um dado
discurso. É através da palavra falada ou escrita que o falante de uma determinada língua
procura alcançar os seus objetivos na comunicação.
Desse modo, Paulo queria saber alguns pressupostos de como funcionava a
língua, quanto aos estudos morfológicos e sintáticos. A língua dele era a portuguesa,
provinda de uma língua românica flexiva originada no galego-português falado no
Reino da Galiza e desenvolvida em Portugal desde a Idade Média. Ela tornou-se oficial
no Brasil, substituindo as mais de mil línguas faladas, anteriormente, pelos indígenas de
diversas etnias, desde o achamento e a colonização feita pelos portugueses. Embora
Paulo soubesse que a língua portuguesa fosse falada em outros países, como Portugal,
Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Timor Leste, Guiné Equatorial, Macau, Cabo
Verde e São Tomé e Príncipe, ele tinha a sábia consciência de que a língua portuguesa
falada no Brasil tinha as suas peculiaridades no vocabulário, na pronúncia, na
morfologia e na sintaxe.
Paulo era um jovem de classe média baixa e, como a maioria dos brasileiros,
da sua idade, ele não tinha condições de viajar pelo Brasil em companhia de seus pais
ou de qualquer pessoa. Ele conhecia o Brasil e alguns países do mundo através da
televisão, dos filmes, dos mapas, das revistas, dos jornais e dos livros. Todo esse acervo
de informações despertava-lhe uma grande curiosidade acerca das línguas e dos lugares.
Ele pensava em estudar, obter uma boa profissão e depois, quem sabe, obter êxitos para
angariar condições de um futuro repleto de viagens e aventuras em algumas partes do
mundo, começando pelo Brasil e depois por outros países da América do Sul, da
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América do Norte, Europa, Ásia e ademais continentes. Portanto, para realizar esse
grande sonho, reservado ao futuro, ele não abriria mão de ler e estudar conscientemente
a sua língua portuguesa, qual, encontraria nela a estrutura capaz de fazê-lo compreender
o mundo.
Um dia Paulo ouviu falar que no bairro onde morava havia um senhor de
aproximadamente 80 anos, aposentado, que, há muito foi professor de língua
portuguesa em diversas escolas estaduais do Brasil. Ele ficou curioso em conhecer o tal
senhor e, como disse o provérbio “perguntando se chega a Roma”, ele, perguntando a
alguém e outrem, chegaria ao tal senhor.
Numa tarde ensolarada de domingo, enquanto alguns meninos da idade de
Paulo brincavam de jogar bola nas quadras de futebol, dos bairros da cidade, lá estava
Paulo, na sala da casa do senhor, qual lhe apresentara pelo nome de professor Ludovico.
O professor Ludovico morava numa casa simples e vivia metido em uma
cadeira de rodas aos cuidados de alguns familiares. Ao ver Paulo entusiasmado em
querer aprender alguns subsídios da língua portuguesa, ele pediu a uma neta que
arrastasse um velho baú que estava no quarto dele, para a sala. A neta atendeu ao
pedido do avô e, assim que o baú foi alojado na sala, o professor Ludovico abriu-o com
entusiasmo, dizendo para Paulo que lhe faria um presente muito raro. Ele dizia para
Paulo que desde quando aposentou do cargo de professor, pessoa alguma, nem
estudantes e nem da família havia procurado-o no sentido de querer aprender algo sobre
o que ele gostava tanto de ensinar nas escolas: Análise sintática. Ele dizia entusiasmado
para Paulo que a análise sintática ajudava as pessoas na compreensão, na assimilação e
no desempenho da língua portuguesa ou de qualquer outra língua, quer no âmbito da
oralidade ou da escrita. Ele tirou dois livros antigos do velho baú e os entregou a Paulo,
dizendo-o que neles escondiam-se um grande tesouro e que quem provesse de um bom
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estudo a partir deles, estaria preparado para toda a vida, mediante aos discursos e a
quaisquer situações tendo como objeto principal o pensamento e a fala. Paulo observava
o entusiasmo do professor, qual abria um livro e outro, lembrando-se das lembranças
boas da profissão ao relatar sobre os alunos deles, quais se formavam, em épocas
remotas, em médicos, advogados, odontológicos, engenheiros e outras grandes
profissões. No fim de toda a conversa, o professor Ludovico entregou para Paulo os
dois livros, fazendo-os de presente. Paulo pegou os livros com certo zelo e nada sabia
como fazer para agradecer ao velho professor, que, depois de alguns meses veio a
falecer.
Paulo tinha nas mãos dois tesouros, dois livros de Análise Sintática, um datado
de 1960 e o outro de 1964, restava a ele, agora, explorar os tesouros, vivenciando a cada
dia novas experiências sobre a língua portuguesa no âmbito da teoria e da prática.
CAPÍTULO 2
O Local para estudar nunca será um problema, basta uma mesa simples, uma
cadeira confortável, saber os bons modos de sentar e dividir o tempo, para que o estudo
não se torne um estresse. Paulo, todavia, comprou um caderno para rascunhos, pegou os
dois livros e foi para a mesa da sala silenciar ao estudo. Os dois livros indicavam
estarem rigorosamente de acordo com a “nova nomenclatura gramatical, oficial da
língua portuguesa”. Eles dividiam-se em parte expositiva; funções sintáticas dos
pronomes pessoais; funções sintáticas dos pronomes relativos e parte prática, um com
análises completas de sessenta e dois períodos e o outro com mil exercícios resolvidos e
comentados.
Ao iniciar os estudos, abrindo e começando a introduzir a leitura em um dos
livros, Paulo começou a aprender que quando estamos em um mundo desconhecido e
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deparamos com coisas estranhas, nunca vistas antes, o que se passa em nossa mente é
uma imagem, uma ideia e uma palavra, pois o autor diz nele que “a imagem é apenas a
representação sensível do objeto”, a ideia “é a simples representação do intelectual do
objeto’, porquanto a palavra “é a representação da ideia”. Neste exato momento, o
interfone tocou e Paulo correu para atendê-lo. Paulo, antes de atender o interfone,
levantou algumas hipóteses:
Seria a minha irmã, vindo mais cedo da escola?
Teria a minha mãe esquecido-se de levar a chave e veio mais cedo do serviço?
Não seria o meu pai, porque ele estava viajando...
O carteiro, quem sabe não seria as minhas encomendas chegando...
Todas as hipóteses levantadas por Paulo levariam a um agente, qual cometera
a ação de acionar o interfone. Paulo atende o interfone e descobre que uma de suas
ideias estava correta: a imagem pingente no interfone era a do carteiro. Paulo saiu na
porta da casa para atendê-lo e recebeu dele algumas encomendas, inclusive uma caixa
com coisas destinada a ele. Após Paulo atender ao carteiro, ele voltou para a mesa e
escreveu no caderno a resolução de sua hipótese: carteiro.
Paulo olhou para a palavra escrita e pensou um instante: acionaram o
interfone, arrisquei que fosse alguém de casa, mas era o carteiro. Desse modo, tive a
imagem e a ideia de pessoas que possivelmente poderiam acionar o interfone naquele
momento, quais foram à representação intelectual do objeto. Paulo havia percebido que
as hipóteses levantadas por ele a respeito de quem chegava à porta da casa e acionava o
interfone era o juízo ou proposição, isto é, o ato de afirmar ou negar alguma coisa de
outra coisa, resultando-se numa concatenação de ideias de sentido completo. Paulo
registrou as seguintes proposições em seu caderno de rascunho:
O carteiro acionou o interfone da casa de Paulo.
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O carteiro entregou para Paulo as encomendas.
Ao abrir a caixa com as encomendas, Paulo deparou com os objetos e foi
tirando um a um da caixa, reparando-os com os olhos. Cada objeto tinha um nome,
conforme a particularidade de sua serventia. É desse modo que os homens nomeiam as
coisas, os seres e tudo o que existe de real e imaginário no universo, classificando-os
como substantivo (nome/substancia). Paulo recorreu novamente aos livros e deparou
com as palavras período e oração.
Embora na área de física, a palavra período seja designada ao tempo
necessário para que um movimento realizado por um corpo volte a se repetir, na
gramática, segundo um dos autores dos dois livros, o período é a mesma coisa de juízo,
isto é, a pequena síntese que vai servir-nos de objeto da análise: “o período pode
constituir-se de um só sentido, ou de um sentido principal acrescido de outros que
complementam ou modificam o principal ou de vários sentidos independentes.” Paulo
olhou para o caderno e voltou a ler as duas frases compostas por ele a respeito do
carteiro. Ele observou que as duas frases ou sentenças, são também períodos
sintetizados da linguagem, quais podem servir a ele de objeto de análise. Os dois
períodos eram simples, pois se constituíam apenas de uma ação, quais estavam contidas
nos verbos: acionar/trazer. Paulo olhou para os dois períodos, coçou a cabeça
pacientemente e voltou a escrevê-las novamente no caderno, formando-as em um
período composto.
O carteiro acionou o interfone da casa de Paulo e o carteiro entregou para
Paulo as encomendas.
Qual passou a ficar do seguinte modo:
O carteiro acionou o interfone da casa de Paulo e entregou-lhe as
encomendas.
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Paulo percebeu que com a ajuda da palavra “e” o usuário criaria uma ponte
servindo-se de passagem de um período a outro. Na construção do novo enunciado, o
carteiro cometeu duas ações a de “acionar” e “entregar” e a palavra “Paulo”, um
substantivo próprio, foi substituído pelo pronome “lhe”, evitando, pois, a sua repetição
ou a anáfora. Ele observou que a linguagem, portanto, tem o caráter de sintetizar ou
reduzir os termos dentro de um dado enunciado. Ele, todavia, concluiu fazendo a
seguinte constatação: período é a concatenação de ideias com sentido completo
formando um, dois ou mais juízos, conforme as ações contidas nos verbos. Uma ação,
um período simples, duas ou mais ações, um período composto. Paulo não parou apenas
nesta constatação, ele precisava também de sanar a seguinte dúvida:
Sentença seria a mesma coisa de frase e frase seria a mesma coisa de oração
e oração seria a mesma coisa de período?
Paulo teria de observar uma coisa interessante, qual ocorre comumente no
mundo dos homens. Essa coisa seria o discurso. Ele teria de observar que em nossas
declarações transmitimos estados mentais, compondo um discurso, qual pode ser oral
ou escrito. Portanto, para um discurso seja coeso e coerente é preciso que as palavras se
distribuam em harmonia, consoante à tradição da língua, dentro de um plano cuja
identificação seja imediata. Um discurso é composto por sentenças ou frases
estruturadas em orações e, consequentemente, em períodos. Em um sentido mais amplo,
sentença ou frase é uma unidade de discurso, partindo-se desde uma palavra-chave, até
aos elementos estruturais contendo sujeito e predicado, quais é chamado de oração. Na
palavra-chave não há sujeito ou predicado, porquanto, na oração há no mínimo um
predicado, implicando poder haver a ausência do sujeito.
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Paulo parou um instante e lembrou-se de algumas situações vistas em que as
palavras-chaves ocorreram, fossem em filmes ou numa dada circunstância do seu dia a
dia. Ele fez as seguintes anotações no caderno.
PALAVRA-CHAVE: tem sentido completo usando apenas palavras capazes de
nos fazer entender o discurso numa dada circunstância ou situação.
São elas:
- Socorro! - Fogo - Rua! - Bom dia! - Boa tarde! - Água! - Ufá! - Meu Deus! - Gol!
Figura 1. ÉPOCA. São Paulo: Editora Globo, ed. 671, março, 2011.
Ele abriu a revista Época e deparou em uma de suas páginas algumas palavras-
chaves e/ou sentenças e frases desprovidas de verbos de ação e de estado. Ele, portanto,
digitalizou a página, recortou-a e circulou os termos interessantes para servir-lhe de
exemplos, afixando-a em seguida no caderno dele: “PrimeiroPlano” “Diagrama A
NOTÍCIA EM PERSPECTIVA” e o “O pais do Orkut no mundo do Facebook”. Todas
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formadas a partir de numeral cardinal, indicando ordem; substantivos; artigos e
preposições. Ao desfolhar a revista Época, Paulo percebeu que a maioria dos títulos dos
artigos isentava-se dos verbos. Ele percebeu que isso seria era uma jogada de
markenting para chamar a atenção do leitor, fazendo-o interessar pelo artigo. Ele anotou
alguns dos títulos, da mesma revista, no caderno dele.
A Vingança do papel
Espermatozóides de laboratório
Luz amarela para Delúbio Soares
Estrela em alta no Planalto
Fim do mistério na cidade dos gêmeos
Paulo estava certo, pois cada uma das sentenças ou frases anotadas por ele, a
partir da revista fazia a sua jogada de markenting para atrair o leitor aos artigos. Se
recorrermos à revista e lermos os artigos consoantes aos títulos anotados por Paulo,
veríamos que “A vingança do papel” reporta sobre um livrinho de papel comum, menor
que o livro de bolso, como aposta do mercado editorial europeu; “Espermatozóides de
laboratório” uma experiência feita no Japão com camundongos acerca de um estudo
sobre a infertilidade do homem, trazendo-lhe esperanças sobre a progenitura; “Luz
amarela para Delúbio Soares” estabelece um sinal de atenção dado pela presidenta
Dilma Rousself a Delúbio Soares, tesoureiro do mensalão, para retornar ao PT. A
“Estrela alta no Planalto” refere-se ao Ministro das Relações Exteriores, Antônio
Patriota, qual anuncia uma importante viagem para a China e, finalmente, em “Fim do
mistério na cidade dos gêmeos” trata-se sobre o fim de um estudo liderado pela
Universidade do Rio Grande do Sul que trouxe uma explicação sobre a frequência do
nascimento de gêmeos na cidade gaúcha de Cândido Gódoi, a partir de análises de
DNA.
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Vimos através da instigação de Paulo que os agentes publicitários trabalham
muito bem com a linguagem a fim de nos estimular a ler e a nos tornar leitores críticos e
virtuais.
Paulo, porém, não parou por aí, ele consultou os dois livros sobre análise
sintática para obter mais informações sobre o que relamente seria sentença ou frase. Ele,
todavia, obteve as seguintes informações: sentença ou frase é todo enunciado linguístico
capaz de transmitir uma ideia. A sentença ou frase é uma palavra ou conjunto de
palavras que constitui um enunciado de sentido completo. A sentença ou frase não vem
necessariamente acompanhada por um sujeito, verbo ou predicado. Por exemplo:
«Socorro!» é uma sentença ou frase, pois transmite a ideia de “Estou em perigo” ou
“Preste-me ajuda”, embora não haja verbo, sujeito ou predicado. A frase se define pelo
propósito de comunicação, e não pela sua extensão. O conceito de sentença ou frase,
portanto, abrange desde estruturas linguísticas muito simples até enunciados mais
complexos. Porquanto a oração é todo conjunto linguístico que se estrutura em torno de
um verbo, apresentando, sujeito e predicado. O que caracteriza a oração é o verbo, não
importando que a oração tenha sentido ou não sem ele. E, finalmente, o período é uma
sentença ou frase que possui uma ou mais orações, podendo ser: simples, quando
constituído de uma só oração e composto, quando é constituído de duas ou mais
orações.
Então, Paulo expressou no caderno os seguintes exercícios.
1. O carteiro acionou o interfone da casa de Paulo. – Período simples. Uma
ação: verbo “acionar”.
2. O carteiro entregou-lhe as encomendas. Período simples. Uma ação: verbo
“entregar”.
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3. O carteiro acionou o interfone da casa de Paulo e entregou-lhes as
encomendas. – Período composto simples. Duas ações: verbos “acionar” e
“entregar”..
Daqui para frente Paulo saberia muito bem escutar as pessoas e prestar mais
atenção nas construções das ideias delas, quanto à elaboração do pensamento, na
transformação de sentenças ou frases, orações e períodos.
Depois de estudar e refletir acerca das sentenças, frases, orações e períodos,
Paulo percebeu que toda ideia se realiza a partir do pensamento, basta que tenhamos a
necessidade da comunicação, pois, conforme afirmou o autor norte-americano, John
Donne, “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do
continente, uma parte da terra (...)”. Portanto, para se comunicar, bastavam-se as
ideias, pois elas podem ser realizadas desde um simples sinal a uma sentença ou frase,
até uma oração ou período mais complexo, valendo-se de verbos ou não. Eis então,
aqui, algumas sentenças, frases, orações e períodos anotados no caderno de Paulo.
Socorro!
Obá!
Quero!
Venha cá!
Irei amanhã...
Eles virão aqui.
Ele viu o palhaço, gostou e bateu palmas.
O interfone tocou, pensei que fosse a minha irmã ou a minha mãe, mas era o
carteiro trazendo-me algumas encomendas.
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Onde afinal de contas, estariam as sentenças, frases, orações e períodos mais
complexos? Ora, bastaria Paulo começar a estudar a classificação das orações para
começar a se complicar um pouco.
Em termos filosóficos, a oração é um estabelecimento de comunicação entre
tudo o que existe no universo, capaz de transmitir uma ideia ou um juízo de ação, de
estado ou de fenômeno. Ao homem, a oração é algo condizente a tudo o que ele vê,
pensa, sente, deseja e traduz através da linguagem escrita ou falada.
A oração, na gramática é, portanto, considerada como todo conjunto
linguístico que se estrutura em torno de um verbo de ação, de estado ou de fenômeno.
Ela se encerra com o fechamento de ponto final, exclamação, interrogação, reticências
e, às vezes, com os dois pontos, classificando-se em simples e compostas, podendo ser
também absoluta, principal e subordinada.
Isso tudo parece um pouco confuso, não parece?
Será se um falante da língua portuguesa tem consciência disso ao proferir os
seus pensamentos, através da linguagem falada ou escrita? Pode não haver consciência,
mas a oração e toda a classificação dela estarão sempre presentes no tocante à língua do
usuário, seja qual for à nacionalidade dele.
Em um dos livros, Paulo encontrou uma afirmativa, qual dizia ser a oração
uma concatenação de ideias tendo uma forma verbal (clara ou oculta); ora completando
ou modificando o sentido de outra oração, ou de algum de seus termos. Dessa forma, as
orações classificam-se em absoluta, principal e subordinada. Paulo estranhou quando
soube disso, todavia, colocou a mente para funcionar. Pensou: absoluto deve ser tudo
aquilo que é completo ou independente. Se nós temos uma oração fechada pela
pontuação, logo ela será absoluta. Paulo estava certo, pois se recorrermos à filosofia,
nós veremos que a palavra “absoluto” expressa uma realidade suprema e fundamental,
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sendo como o Ser, por excelência, o princípio e a causa de tudo quanto existe no
universo. Paulo anotou no caderno dele as seguintes orações, consoante a cada
pontuação para observar o valor absoluto de cada uma delas.
O meu pai leu o jornal.
A minha irmã foi á escola?
Mamãe chegou radiante!
Talvez eu vá...
O meu pai lia o jornal, enquanto mamãe preparava a janta.
Cinco orações, sendo quatro simples e uma composta. Todas com sentidos
completos ou absolutos, sem complexidades algumas.
Sendo o período uma declaração de sentido completo, contida entre a
maiúscula inicial e o ponto final, de exclamação, de interrogação e reticências, nele
pode conter uma só oração, qual será um período simples e uma oração absoluta; duas
ou mais orações, período composto. Paulo observou que no período simples, o falante
declara ou conta apenas uma coisa só e no período composto ele declara ou conta várias
coisas. O período divide-se em período composto por coordenação; período composto
por subordinação e período composto por coordenação e subordinação.
Paulo ficou um pouco intrigado com as classificações dadas ao período. Por
que uma coordenada e outra subordinada e depois outra coordenada e subordinada?
Ora, no período composto por coordenação transmitimos várias ideias em um
só período, ou seja, haverá duas ou mais orações, quais conservarão os seus sentidos:
uma oração não depende de outra, quanto ao sentido e só podem ser coordenadas
porque são orações absolutas.
Paulo recorreu novamente ao período criado por ele, no caderno, contendo
várias orações.
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Ele viu o palhaço, gostou e bateu palmas.
Este período é composto por coordenação, nele há três ideias independentes ou
absolutas, quanto ao sentido, prestando coerência ao discurso. Observa-se que Paulo
redigiu um período contando três fatos marcados pelos verbos de ação:
viu/gostou/bateu. As ações foram todas praticadas por um sujeito expresso através de
um pronome de terceira pessoa “Ele” e separadas por vírgula ( , ) e pelo conectivo ( e ).
. Paulo fez o seguinte esquema no seu caderno.
Sujeito predicado verbal
VIU O PALHAÇO
ELE GOSTOU DO PALHAÇO
BATEU PALMAS PARA O PALHAÇO.
verbo de ação complemento
Ele viu o palhaço ( , ) gostou ( e ) bateu palmas.
O período composto por coordenação divide-se ainda em dois tipos de oração,
uma chamada de oração coordenada sindética e outra de oração coordenada assindética.
A oração coordenada sindética ocorre quando relacionamos ou ligamos as
orações através de uma conexão, chamada de conjunções ou conectivos. Isso fez Paulo
lembrar que ligar uma oração á outra, através de conjunções ou conectivos, seria como
se estivesse fazendo uma conexão de uma instalação hidráulica e/ou elétrica ou até
mesmo de uma planta de uma casa, ligando um ponto ao outro. Voltando ao período
construído por ele, temos o seguinte.
Ele viu o palhaço ( , ) gostou ( e ) bateu palmas.
Oração coordenada sindética aditiva
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A oração coordenada sindética aditiva implica uma soma, dando uma ideia de
que além de uma ação soma-se outra ação.
Neste caso temos as seguintes conjunções ou conectivos coordenativos.
Aditivas: servem para somar, acrescentar:
Classificam-se as conjunções coordenativas aditivas, quando servem para
ligar simplesmente dois termos ou duas orações de idêntica função com as conjunções e
e nem (= e não); adversativas para ligar dois termos ou duas orações de igual função,
acrescentando-lhes, porém, uma ideia de contraste, sendo as conjunções mais usadas:
mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto; alternativas que ligam dois
termos ou orações de sentido distinto, indicando que, ao cumprir-se um fato, o outro
não se cumpre: ou...ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja, nem...nem, já...já, etc.;
conclusivas, que servem para ligar à anterior uma oração que exprime conclusão,
consequência, usando logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim, então e as
explicativas, capazes de ligar duas orações, a segunda das quais justifica a ideia contida
na primeira: que, porque, pois, porquanto.
Quanto à parte da oração encerrada pela vírgula (ou poderia também ser ponto
e vírgula ou dois pontos) ou pontuação nenhuma, tendo sentido completo ou absoluto, é
chamada de oração coordenada assindética.Isso quer dizer que ela é desprovida de
conjunções ou conectivos.
Paulo parou um pouco, anotou as conjunções em uma folha de papel a parte e
guardou em um dos bolsos de sua roupa. Ele vez em quando pegava a lista e dava uma
olhada, procurando fixar na mente as conjunções e seus respectivos papéis nas orações
coordenadas. A partir daquele dia, em todos os lugares que ele estava, ele observava as
pessoas conversarem e depois anotava alguns períodos interessantes sobre a oração
Francisco Rodrigues Júnior
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coordenada. Ele, portanto, montou um quadro para exercitar as orações coordenadas, da
seguinte forma.
Oração coordenada assindética Conectivo Oração coordenada sindética
Vocês viajarão para Salvador ou passarão as férias aqui? Alternativa
Nós não iremos para Salvador, porque os meus pais não terão férias este ano.
Explicativa
Ele estudou tanto, logo fará uma boa prova. Conclusiva
A vida é maravilhosa, mas há coisas complicadas... Adversativa
Ele olhou para a moça e sorriu satisfeito. Aditiva
Quanto ás orações principais e subordinadas, Paulo observou com atenção que
elas são formadas por uma que rege e por outra que é regida. Neste caso, a oração que
rege é a principal e a que é regida é a subordinada.
A palavra subordinação implica o caráter de o estado de um indivíduo de não
ter a liberdade para tomar suas próprias decisões e, devido à falta de sua autonomia,
esse indivíduo precisa recorrer a outrem. É como se houvesse uma relação entre o rei e
os seus vassalos; o patrão e os seus empregados. Dessa forma, o rei e o patrão são os
principais, aqueles que regem; os vassalos e os empregados são os subordinados. Assim
como para haver o rei e o patrão são precisos de vassalos e empregados, a oração
principal não pode existir sem a oração subordinada e vice-versa. A oração principal é a
que rege o sentido de outra e a oração subordinada é a regida pela principal, isto é,
aquela cujo sentido completa ou modifica um termo da subordinante.
Paulo observou a seguinte frase, tirada de um filme recém assistido em
DVD.
“Quando ele vier, eu irei.”
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Paulo percebeu que a oração principal “Quando ele vier” não encerra sentido
completo ou faz sentido satisfatório, pois ela se prende ao segundo termo “eu irei. O
sentido foi mudado por meio de uma circunstância de tempo: “Quando”. Paulo, todavia,
brincou com a oração da seguinte forma:
- Quando eu irei?
- Quando ele vier.
- Ele vem e eu irei.
- Eu irei quando ele vier.
Ele percebeu que a oração principal “Quando ele vier” realmente dependia da
oração subordinada para haver um sentido completo. Ele recorreu a outro exemplo, a
partir de um período escrito em uma carta destinada aos pais deles, de um tio morador
de uma cidade próxima à dele.
Esperamos que vocês venham e queremos que se hospedem em nossa casa.
Ao analisar o período transcrito no caderno, Paulo fez as seguintes
observações, classificando-o:
“Esperamos”, oração principal; “que vocês venham”, oração subordinada;
“queremos”, oração principal e “que se hospedem em nossa casa.”, oração subordinada.
A oração subordinada divide-se em substantivas, adjetivas e adverbiais. Como
essa oração, mediante a sua classificação exige um conhecimento mais profundo sobre
os termos essenciais, integrantes e acessórios da oração, Paulo, portanto, deixou para
estudá-la depois. Ele agiu corretamente, pois não seria lícito colocar “o carro diante dos
bois”.
Sendo a frase constituída pelos elementos estruturais sujeito e predicado, da
qual oriunda-se a oração, Paulo optou por melhor estudar primeiro os termos da análise
sintática, quais são essenciais, integrantes e acessórios. Ele teria de estudar e anotar
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caso por caso, aprendendo tanto na teoria, quanto na prática esses termos propostos pela
sintática, particularmente, tratando-se de sua língua, a portuguesa.
O predicado e o sujeito apresentam-se na gramática como termos essenciais de
uma oração. Todavia, em metafísica, a essência de uma coisa é constituída pelas
propriedades imutáveis da mesma, adventos do conhecimento, da natureza ideal de um
ser: para o existencialismo, a existência precede à essência. Logo, o sujeito e o
predicado, como termos essenciais da oração estariam no fato da existência de um ser
que se comunica, declarando a respeito dele, de alguém ou sobre alguma coisa.
Ao estudar sobre o sujeito, Paulo denotou ser o sujeito a referência do ser ou
termo sobre o qual se diz alguma coisa. O referente ser ou termo é um nome ou
substantivo, qual é considerado um núcleo. Se uma oração tem apenas um núcleo, o
sujeito será simples; se tem dois ou vários núcleos, o sujeito será composto. Nesse caso,
Paulo refletiu nas seguintes orações, deixando as seguintes anotações no caderno.
O carteiro entregou-me as encomendas.
O meu pai, a minha mãe e a minha irmã foram ao supermercado.
Fomos à sorveteria com o papai e a mamãe.
Na primeira oração tenho o sujeito simples “O carteiro”, sendo o núcleo
“carteiro”; porquanto, na segunda tenho um sujeito composto “o meu pai, “a minha
mãe e a minha irmã”, sendo os núcleos “pai”, “mãe”, “irmã” e na terceira oração,
tenho ou não um sujeito?
Muito interessante a pergunta de Paulo, a terceira oração “Fomos à sorveteria
com o papai e a mamãe.” O verbo “ir”, irregular, na terceira pessoa do plural do
pretérito do indicativo “fomos” refere-se a um sujeito subentendido, qual não aparece
claramente expresso na oração. Nesse caso temos a ausência de um núcleo, não
podendo ser identificado, porque a sua identidade não faz falta á interpretação correta
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do discurso. Temos aí um sujeito indeterminado, bastando observar o emprego dos
verbos na terceira pessoal do plural; o verbo intransitivo e transitivo indireto, ambos na
terceira pessoa do singular, acompanhado pela partícula “se”.
Paulo voltou a observar novamente a oração, fazendo anotações.
Fomos à sorveteria com o papai e a mamãe.
Eu sei que o sujeito é “nós”, porque foi “a minha irmã e eu quem fomos à
sorveteria com o papai e a mamãe”, mas como bastou usar no meu discurso apenas o
predicado com o sentido completo, o sujeito ficou indeterminado ou oculto na
desinência número pessoal.
Paulo abriu um dos dois livros e anotou dele alguns exemplos de sujeitos
indeterminados, analisando-os em seguida.
1. Com verbo na terceira pessoa do plural
Falaram mal de vocês.
Querem aumento de salário.
Mataram o homem impiedosamente.
Os verbos “falaram”, “querem” e “mataram” não dão margens a um sujeito
explícito, tornando-se, portanto os sujeitos ocultos ou indeterminados, quais estão
nas desinências verbais.
2. Com o verbo intransitivo, na terceira pessoa, acompanhado por “se”.
Come-se bem.
Dorme-se mal nas cidades grandes.
Trabalha-se com garra e prazer.
3. Com verbo transitivo indireto na terceira pessoa do singular, acompanhado de “se”.
Precisa-se de contadores de histórias.
Necessita-se de um médico especialista.
Negociava-se com tudo.
Os verbos “precisar”, “necessitar” e “negociar” são verbos transitivos indiretos
porque eles necessitam de complementos com o auxílio de uma preposição:
Francisco Rodrigues Júnior
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“precisa de”, “necessita de” e “negocia com”. A partícula “se” subentende-se um
sujeito, qual está indeterminado.
O verbo intransitivo é aquele que não necessita de complemento para
completar-lhe o sentido, pois o verbo é de predicação completa, não tem e nem precisa
de complemento. Se no lugar da partícula "se”, qual é o índice de indeterminação do
sujeito, eu disser:
come.
O homem dorme.
trabalha.
O discurso será entendido claramente. Portanto a partícula “se” refere a um
sujeito que não sabemos “quem” ou o “que” é.
Ás vezes pode acontecer de alguém pensar que o uso da partícula “se” em
algumas orações com sujeito indeterminado possa vir a causar alguma anfibologia ou
ambiguidade. Paulo percebeu isso ao denotar as seguintes orações.
Louva-se o médico pelo sucesso cirúrgico.
Exaltam-se os atores pelos elogios merecidos.
Em “Louva-se o médico...” Louva o médico a si mesmo? Ou é o médico é
louvado pelos pacientes?
Em “Exaltam-se os atores...” Exaltam os autores a si mesmos? Ou os autores
são exaltados pelo público?
Francisco Rodrigues Júnior
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Paulo, em um dos livros achou a seguinte anotação: “Com o verbo na voz
ativa, usando no singular com o “se” por sinal de indeterminação do sujeito,
desaparece a possibilidade da anfibologia.” Portanto, “Louva-se o médico...”e
“Exaltam-se os atores...” são construções que nos diz claramente que as palavras
“médico” e “professores” estão na função de objeto indireto; o sujeito é indeterminado.
E se não se convencer de que as duas orações citadas, os verbos não regem
complementos indiretos, basta apelar fazendo o seguinte investimento nas orações:
Louva-se ao médico pelo sucesso cirúrgico. / ao médico -> objeto indireto
Exaltam-se aos atores pelos elogios merecidos. / aos autores -> objeto
indireto.
Há também a oração que não existe de forma alguma o sujeito, chamada de
oração sem sujeito ou sujeito inexistente, qual fica reservado ao emprego dos verbos
“haver”, significando “existir”; “fazer”, quando indica tempo decorrido ou fala do
tempo (fenômeno metereológico); “ser”, indicando tempo, datas e horas. Como se tudo
isso não bastasse, todos os verbos indicando fenômenos da natureza: chover, gear,
nevar, trovejar, anoitecer, alvorecer, amanhecer, trovejar, relampejar, ventar, entardecer,
etc. são sujeitos inexistentes.
Paulo recrutou alguns exemplos sobre a oração sem sujeito ou sujeito
inexistente e os organizou categoricamente.
1. Verbo “haver” significando “existir”.
Há muita gente aqui. Existia muita gente aqui.
Houve civilizações adiantadas. Existiram civilizações adiantadas.
Devia haver mais prêmios. Devia existir mais prêmios.
Haverá grandes comemorações Existirá grandes comemorações.
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Paulo notou que quando o verbo “haver” pode ser trocado pelo verbo "existir",
é porque ele é impessoal, isto é, desprovido de sujeito e só varia em tempo, jamais
podendo variar em número, ou seja, indo para o plural. O verbo “haver”, independente
do número de pessoas, tem o sentido de “existir”, portanto não pode ir para o plural.
Quando o verbo “haver” indicar tempo passado também não existirá o sujeito.
2. Verbo “fazer” quando indica tempo corrido ou quando fala de tempo
(fenômeno meteorológico).
Faz anos que a conheço.
Fazia horas quando ele chegou.
Vai fazer duas horas que ela espera o médico.
Faz calor em São Joaquim.
Fazia sol em Ouro Preto.
Esses cinco exemplos de oração sem sujeito ou sujeito inexistente
selecionados por Paulo nos mostram que os termos “faz anos”, “fazia horas” e “vai
fazer” correspondem-se ao verbo “haver” e foram usados nas orações numa forma
metafórica, implicando o sentido de indicar tempo corrido e fenômeno da natureza: as
palavras “calor” e “sol” não se “faz”, elas existem fenomenalmente e jamais haverá um
sujeito causador de tal ação: chover, gear, nevar, trovejar, anoitecer, alvorecer,
amanhecer, etc. Vendo por esse lado, Paulo sentiu a necessidade de estar preparado para
qualquer arguição, então ele aprofundou um pouquinho mais nesse assunto, buscando
completar-se com o seguinte argumento: em sentido figurado, os verbos indicadores de
tempo (chover, gear, nevar, trovejar, anoitecer, alvorecer, amanhecer, trovejar,
relampejar, ventar, entardecer, etc.) podem ou não haver sujeitos?
O seu olhar nevou o ambiente.
A dor anoitece o silêncio de tudo.
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Os grevistas faziam chover papéis picados na Avenida Paulista.
Trovejaram palavrões e bofetadas depois da reunião.
Paulo viu que os verbos indicadores de tempo, utilizados metaforicamente,
podem haver sujeito pois eles tornarão se verbos transitivos diretos.
Paulo achou interessante conhecer o sujeito e a sua classificação, pois é
através da indicação dos agentes ou dos pacientes da ação verbal, ou melhor, a pessoa
ou coisa de que o verbo enunciou ou declarou alguma coisa é que está a clareza e a
organização da frase, mesmo que o sujeito apareça antes ou depois do verbo.
Após estudar o sujeito e a sua classificação, Paulo, ainda mais entusiasmado,
se preparou logo para estudar o predicado, qual é o termo da oração que declara alguma
coisa do sujeito, afirmando ou negando, sendo na oração, o termo essencial e principal.
Ele, todavia, é a parte mais importante na estrutura da oração, pois declara a ação e o
estado do sujeito consubstanciado no verbo. Ele, assim como o sujeito, também tem o
núcleo, quando se trata de uma ação, qual é o próprio verbo. No predicado também
pode conter declarações que exigem dois ou mais verbos, tal é a locução verbal que
pode ser constituída com preposição, com mais verbos sem se dispor seguidamente e de
advérbio de negação, classificando-se em adjunto adverbial.
Parece confuso, não parece? Mas não é! Paulo anotou alguns exemplos
interessantes para que pudéssemos também entender tudo o que foi falado até aqui
sobre o predicado. Vamos observar os comentários feitos por ele.
Primeiramente, Paulo recorreu a todas as orações anotadas no caderno dele,
selecionando algumas e acrescentando outras para compor o seguinte quadro:
Sujeito Predicado
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O carteiro entregou-me as encomendas
O meu pai, a minha mãe e a minha irmã foram ao supermercado.
O seu olhar nevou o ambiente.
A dor anoitece o silêncio de tudo.
Os espectadores estavam felizes.
Eu precisei de voltar logo.
Entre as orações acrescentadas por Paulo, temos a última “Eu precisei de
voltar logo” regida de locução verbal através de um verbo transitivo indireto
“precisar”. Nela há duas informações “precisei” e “voltar”.
Quanto à classificação do predicado, temos o predicado nominal, verbal e
verbo-nominal.
O predicado nominal é constituído por verbo e nome (substantivo ou adjetivo).
Os verbos que aparecem nele são elementos de ligação entre o sujeito e a essência do
predicado, não fazendo falta ao sentido da oração. Chamam-se verbos de ligação: ser,
estar, ficar, continuar, andar, permanecer, parecer. É bom observar que estes verbos
condizem a um mesmo significado indicando estado e/ou qualidade ao sujeito, sendo,
pois, o núcleo do predicado nominal. Se eu disser “Paulo está feliz” e substituir o verbo
de ligação “está” por “permanece”, “continua”, “parece” e “anda”, o significado será o
mesmo em um determinado discurso.
É bom também saber que um predicado se faz nominal, não somente pelo
simples fato de estar presente nele o verbo de ligação, pois, o complemento desse verbo
de ligação tem que modificar a significação do sujeito. Quando dizemos a seguinte
oração: “Paulo está feliz”, o adjetivo “feliz” modifica o sujeito “Paulo”, atribuindo-lhe
um estado ou qualidade de afirmação ou negação. Se por exemplo ocorrer esse tipo de
Francisco Rodrigues Júnior
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oração: “Paulo permaneceu em casa”, o termos “em casa” não modifica o sujeito,
apenas o verbo.
Paulo permaneceu em casa.
Paulo = sujeito
permaneceu em casa = predicado
permaneceu = verbo intransitivo
em casa = adjunto adverbial de lugar.
É lícito informar aqui que alguns gramaticistas afirmam que o verbo indicador
de estado, nesse caso “permaneceu” modificado pelo adjunto adverbial de lugar “em
casa” não se classifica como de ligação, neutro ou intransitivo, ele simplesmente deixa
de existir o predicado nominal. Assim teríamos na oração sujeito/predicado/adjunto
adverbial. E o verbo modificado, não seria de ligação, nem transitivo ou intransitivo.
O predicado verbal é aquele que se constitui de verbo intransitivo e/ou
transitivo. Sendo o verbo transitivo aquele que pede um complemento com o auxílio de
uma preposição ou não e o verbo intransitivo, qual não pede complemento, pois tem
sentido completo.
Paulo observou alguns exemplos contidos nos livros e não demorou muito o
pai a chegar em casa mais cedo, chateado, porque o carro dele havia dado um defeito e
ele não pôde fazer uma viagem a negócios.
O pai de Paulo, simplesmente desabafou, contendo no discurso dele o seguinte
período: “O meu carro quebrou e eu não viajarei amanhã.” Paulo, interessantemente,
notou que a construção deste período sintaticamente, se analisaria da seguinte forma.
“O meu carro quebrou / e eu não fiz a viagem.”
O período tratava-se de uma oração coordenada, pois as duas eram totalmente
independentes, tendo sentidos próprios. A primeira oração era uma coordenada
Francisco Rodrigues Júnior
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assindética, desprovida de conectivo e a segunda era uma sindética aditiva provinda do
conectivo “e”, qual indica uma adição. Quanto ao verbo “quebrou”, na primeira oração,
indica uma ação completa, sendo, pois, um verbo intransitivo e o verbo “fiz”, na
segunda oração é um verbo transitivo, pois não tem sentido completo e precisou do
complemento direto “a viagem”. Quanto ao advérbio de negação “não”, foi o
modificador do verbo, indicando uma ação negativa “não fiz” .
O verbo transitivo, ao contrário do intransitivo, necessita-se de um
complemento, qual é chamado de objeto direto e objeto indireto. O verbo transitivo
poderá, portanto, ser um verbo transitivo direto ligando-se ao complemento sem o
auxílio da preposição e verbo transitivo indireto, quando se ligando ao complemento
com o auxílio de preposições. Quanto ao fato de o verbo ser o elemento mais
importante, devido estar nele a ação, ele será considerado núcleo do predicado verbal.
Os mecânicos arrumaram o carro do meu pai.
os mecânicos = sujeito
mecânicos = núcleo do sujeito
arrumaram o carro do meu pai = predicado verbal
arrumaram” = verbo transitivo direto / núcleo do predicado.
o carro do meu pai” = objeto direto.
O predicado verbo-nominal é constituído por dois núcleos, um verbo e um
nome. O verbo pode ser o intransitivo ou o transitivo mais predicativo do sujeito.
Portanto, para entendermos com maior clareza o predicado verbo nominal, veremos a
seguir o que é predicativo do sujeito e o que é predicativo do objeto.
O predicativo do sujeito é o termo que, no predicado verbo-nominal, ajuda o
verbo transitivo a comunicar estado ou qualidade do objeto direto e indireto, porquanto
o predicativo do objeto é o adjetivo que qualifica o objeto direto. Nas orações:
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Paulo conversava feliz.
O mecânico consertou o carro velho.
Temos a primeira “Paulo conversava feliz” o verbo “conversava” é verbo
intransitivo, tendo uma ação completa. O adjetivo “feliz” qualifica o sujeito “Paulo”. Se
fizermos a seguinte conversão, temos:
Paulo conversava feliz. -> Paulo estava feliz.
Ao investir o verbo de ligação “estava”, na oração acima, observando o estado
de espírito do sujeito enquanto “conversava”, percebemos que ele é um verbo de
ligação, qual, juntamente com o adjetivo “feliz” expressa uma qualidade ao sujeito
“Paulo”, tornando-se um predicado nominal. Logo tendo um verbo intransitivo
acompanhado por um adjetivo, capaz de mudar o sujeito, temos um predicado verbo-
nominal.
O mecânico consertou o carro velho. -> O carro era velho.
Temos nesta oração acima um predicado verbal, um verbo transitivo direto
“consertou” e um objeto direto “o carro velho”. Portanto para ver se a oração é um
predicado verbo-nominal, basta fazer também a seguinte conversão: pegue o objeto
direto e invista nele um verbo de ligação: “O carro era velho” , onde “o carro” passou a
ser sujeito, “era velho” um predicado nominal e “velho” o predicativo do sujeito. Como
o sujeito convertido provém de um objeto direto, logo ele será predicativo do objeto.
Desta forma temos um predicado verbo nominal.
Ao estudar e aprender sobre sujeito, predicado e suas devidas classificações,
Paulo ainda não se deu por satisfeito. Ele acreditava que quanto mais se aprofundasse
nos estudos sobre a sintaxe, melhoraria cada vez mais o seu raciocínio lógico. O
próximo passo, entre tantos outros, seria, portanto, os termos integrantes da oração.
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CAPÍTULO 3
Ao iniciar o estudo sobre os termos integrantes da oração, Paulo percebeu em
um dos livros ganhados pelo professor Ludovico, que seria interessante estudar e
compreender primeiro os complementos nominal, verbal e agente da passiva. Mas
antes, ele deparou com a pergunta: por que termos integrantes? Ora, integrar que dizer
vir a fazer parte de um conjunto, completar, inteirar. Portanto, tudo que venha a fazer
parte dos termos integrantes da oração serve para completar os termos essenciais sujeito
e predicado.
Ele, primeiramente, recorreu ao complemento nominal, observando que este,
conforme diz o próprio nome, completa o sentido de um nome com o auxílio de uma
preposição. Esse nome, todavia, pode ser representado por um substantivo, por um
adjetivo ou por um advérbio. Paulo escolheu as seguintes orações nos livros, para anotá-
las no caderno dele.
Mário não tem inclinação...
Antônio é habituado...
O professor agiu contrariamente...
Paulo observou que nas três orações dadas, acima, mereciam algumas
considerações em torno dos certos tipos de substantivo, de adjetivo e de advérbio.
Assim, temos nas orações o substantivo “inclinação”; o adjetivo “habituado” e o
advérbio “contrariamente”, quais precisam ser completados as suas significações.
Mário não tem inclinação. -> para quê?
Antônio é habituado. -> a quê?
O professor agiu contrariamente -> a quê?
Ora, Paulo, simplesmente completou as orações da seguinte forma:
Mário não tem inclinação para o jogo.
Francisco Rodrigues Júnior
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Antônio é habituado ao estudo.
O professor agiu contrariamente às normas.
As palavras “jogo”, “trabalho” e “costumes” foram exigidas para completar a
significação não de um verbo, mas de um nome (substantivo, adjetivo e advérbio). A
isso chamamos de complemento nominal.
Quanto ao complemento verbal, Paulo apenas atestou que existem verbos que
pedem complementos, os verbos transitivos e os que não pedem complementos, os
verbos intransitivos. Porém, o complemento verbal se faz mediante aos verbos
transitivos, quais pedem complementos diretos e indiretos e diretos-indiretos. O
complemento verbal, um dos termos integrantes da oração, é, pois, o que com o nome
de objeto completa a significação do verbo transitivo, qual predicação é incompleta.
O objeto direto completa o sentido do verbo transitivo sem o auxílio da
preposição intermediária, sendo o seu núcleo o substantivo; o objeto indireto, ao
contrário, completa o sentido do verbo transitivo com a preposição intermediária, sendo
também o seu núcleo, o substantivo. Observe, pois a análise completa extraída do
caderno de Paulo.
O pai de Paulo comprará um carro novo.
O pai de Paulo = sujeito simples
pai = núcleo do sujeito
comprará um carro novo = predicado verbo-nominal
comprará = verbo transitivo direto
um carro novo = objeto direto
carro = núcleo do objeto direto
novo = predicativo do objeto -> implica “o carro será novo”
Francisco Rodrigues Júnior
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O carro do meu pai precisa de conserto.
O carro do meu pai = sujeito
carro = núcleo do sujeito
precisa de conserto. = predicado verbal
precisa = verbo transitivo indireto
de conserto = objeto indireto
conserto = núcleo do objeto indireto.
Quando se tem uma oração:
“Os mestres elogiaram os alunos” e, em seguida, “os alunos foram elogiados
pelos mestres” a ideia nas duas orações é a mesma, embora a segunda oração seja um
agente da passiva representado pelo agente “mestres”, qual foi o agente de “elogiar”.
Agente da passiva é, desse modo, a palavra ou expressão que representa o agente da
ação indicada pelo verbo na voz passiva. A análise, portanto, será sintaticamente assim:
Os alunos foram elogiados pelos mestres.
Os alunos = sujeito
Alunos = núcleo do sujeito
foram elogiados pelos mestres = predicado verbal
foram elogiados = núcleo do predicado
pelos mestres = agente da passiva
mestres = núcleo do agente da passiva.
Paulo olhou para o caderno e soltou uma risada, pois ele acabava de descobrir
que todo substantivo dentro das orações exerciam a função de núcleo, seja do sujeito,
Francisco Rodrigues Júnior
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do objeto e da agente da passiva. Apenas no complemento nominal, o adjetivo seria o
núcleo do predicado.
Capítulo 4
Paulo, recorrendo à apologia do filósofo grego, Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.),
"Só sei que nada sei.", citado por Platão (427 a.C. - 347 a.C) respira, descansa por
alguns dias e depois, curioso em querer saber o que nada sabia, voltou a consultar os
dois livros de análise sintática. Após ver os termos essenciais da oração e os integrantes,
Paulo partiria para uma viagem mental a fim de conhecer os termos acessórios da
oração. Portanto, para introduzir ao estudo, Paulo consultou, refletiu e anotou o
significado da palavra “acessório”, qual implicava na análise sintática palavras que
aparecem ao lado dos termos principais como secundária, não tendo muito importância
na oração. Temos como termos acessórios, na análise sintática: o adjunto adnominal; o
adjunto adverbial e o aposto.
Paulo, nesta viagem mental, percebeu haver termos que podem aparecer na
oração sem ser exigidos, vindo modificar de algum modo a significação do núcleo do
sujeito e do predicado. Se isso acontecer na oração tais termos que aparecem não são
essenciais e nem integrantes, mas simplesmente acessórios: são eles, os adjuntos.
Os adjuntos são termos que se referem ao núcleo de uma função, dando-lhe
clareza de expressão, aumentando-lhe ou determinando-lhe o significado. Não se deve,
portanto, confundi-los com “complementos”. A palavra “adjunto” significa
“acompanhar”, está “ao lado de/do”. Temos, pois, os adjuntos adnominais que se
referem aos substantivos (nomes) e os adjuntos adverbiais que se referem aos verbos.
Os adjuntos adnominais acompanham o núcleo da função dentro da oração,
podendo ser expressos pelos:
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a) artigos definidos e indefinidos (o, a, um, uma).
b) adjetivos (palavras que exprimem estados e qualidades)
c) numerais (ordinal, cardinal, multiplicativo, fracionário)
d) pronomes possessivos (meu, minha, seu, sua, teu, tua, nosso, nossa, etc.)
e) pronomes demonstrativos (esse, essa, este, esta, aquele, aquela, aquilo, etc.)
f) pronomes indefinidos (algum, alguma, nada, tudo, alguém, ninguém, etc.)
g) locuções adjetivas, quais se dividem em
Qualidade: de manhã (matutino); da face (facial); de campo (campestre), de
mãe (maternal); sem piedade (desapiedade); sem educação (deseducada),
de tarde (vespertino), etc.
Posse: do empregado; da casa; do hotel; do meu tio; da vida; da morte; etc.
Especificação: de história; de quadrinhos; de água; de encadernação; de bananas,
de fósforos, de contos, de lendas, de fantasias, etc.
Paulo ficou um pouco confuso quanto às preposições que aparecem nas
orações. Ora, sabemos que a preposição é uma palavra invariável que serve para ligar as
palavras nas sentenças ou frases e orações, estabelecendo relações de sentido e de
dependência. Portanto, a preposição pode ser:
Essencial, funcionando somente como preposição: a, ante, após, até, com,
contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás.
O pai de Paulo entregou o carro para o mecânico.
A sobremesa somente foi servida após o almoço.
Acidental, que, sendo de outras classes gramaticais, em certas ocasiões poderá
funcionar como preposição: como (= na qualidade de), conforme (= de acordo com),
Francisco Rodrigues Júnior
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segundo (= conforme), consoante (= conforme), durante, salvo, fora, mediante, tirante,
exceto, senão, visto (= por), após (= atrás, depois).
Tudo será feito conforme a lei.
Ele nada falava durante a ceia.
A preposição “após”, embora seja essencial, pode tornar-se acidental,
significando atrás ou depois, conforme este exemplo:
Ele saiu no carro e logo após outros o seguiram.
Quando observamos com atenção o emprego da preposição no discurso,
percebemos que ela pode estabelecer variadas relações entre os termos ligados por ela.
Esses termos são relações de instrumento, de companhia, de causa, de posse, de autoria,
de lugar, de tempo, de modo, de causa, de assunto, de finalidade, de meio, de oposição,
de conteúdo, de preço, de origem e de destino.
Daí Paulo analisou a seguinte oração, a partir de uma reportagem de um jornal
televisivo.
Os deputados, felizmente, votaram contra o danoso projeto.
Os deputados = sujeito
Deputados = núcleo do sujeito
Os = adjunto adnominal
felizmente, votaram contra o danoso projeto.= predicado verbo-nominal
votaram = verbo transitivo indireto / núcleo do predicado
contra o danoso projeto = objeto indireto (= o projeto era danoso)
projeto= núcleo do objeto indireto
o, danoso = Adjuntos adnominais
Daí, Paulo percebeu que a palavra contra, embora tivesse o valor de oposição
na oração, ela não seria um advérbio, mas sim uma preposição ligando o verbo
Francisco Rodrigues Júnior
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transitivo a uma palavra de forma indireta. As preposições, diante das combinações com
outras classes gramaticais, ocorrem de duas formas, uma por contração, quando na
junção da preposição com outra palavra houver perda fonética e outra por combinação,
quando na junção da preposição com outra palavra não houver perda de elemento
fonético : do (de + artigo o); da (de + artigo a) ; no (em + artigo o); na (em + artigo a);
daqui (de + advérbio aqui); daquele (de + pronome demonstrativo aquele), conforme o
Sendo assim, temos de reconhecer na oração, o adjunto adnominal da seguinte
forma.
Os alunos responderam as questões ao professor.
Os alunos = sujeito
Alunos = núcleo do sujeito
Os = adjunto adnominal
responderam as questões ao professor. = predicado verbal
responderam = verbo transitivo direto e indireto / núcleo do predicado
as questões = objeto direto
questões = núcleo do objeto direto
as = adjunto adnominal
ao professor = objeto indireto
professor = núcleo do objeto indireto
(ao) o = adjunto adnominal
Contração Combinação Do (de + o) Ao (a +o) Dum (de + um) Aos (a + os) Desta (de + esta) Aonde (a + onde) No (em + o) Neste (em + este)
Francisco Rodrigues Júnior
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Observe que temos na oração analisada a preposição por combinação ao (a +
artigo definido o), o artigo, portanto, na oração é o adjunto adnominal.
Paulo riscou e rabiscou algumas folhas do caderno tentando redigir uma
oração capaz de caber todos os exemplos dados nos livros a respeito dos adjuntos
adnominais. Depois de muito tentar, ele refletiu que uma oração não precisaria, de
certo, de tantos acessórios. Então ele se conteve com a seguinte oração.
A minha irmã querida pegou o meu livro de contos.
A minha irmã querida = sujeito
irmã = núcleo do sujeito
a, minha, querida = adjuntos adnominais
pegou o meu livro de contos. = predicado verbal
pegou = núcleo do predicado
o meu livro de contos = objeto direto
livro = núcleo do objeto
o, meu, de contos = adjuntos adnominais
Ao analisar algumas orações completas, Paulo observou que os adjuntos
adnominais funcionam nas orações como qualificadores dos substantivos (nomes). Isso
o deixou mais certo ainda, quando, um dia, em um consultório médico, ele viu e ouviu
um moço reclamando à secretária acerca de um guarda-chuva. Ele, portanto, registrou a
cena no caderno dele, analisando-a.
O moço à secretária:
- Esse guarda-chuva não é meu!
A secretária ao moço:
- Como vou saber, se os três guarda-chuvas aqui são todos iguais?
Francisco Rodrigues Júnior
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Paulo observou que o moço ao reclamar o guarda-chuva, ele usava os adjuntos
adnominais “esse e meu”, ou seja, um pronome demonstrativo e outro possessivo,
tornando-os capazes de qualificar o núcleo do sujeito “guarda-chuva”, qual dizia não ser
dele. A secretária, portanto, usou entre os adjuntos adnominais o numeral cardinal,
“três”, referindo-se aos guarda-chuvas iguais ao do moço. Dessa forma, constatou
Paulo, temos os adjuntos adnominais como qualificadores do objeto, quais exercem
quase a mesma função dos adjetivos.
O meu pai trouxe os amigos dele na nossa casa.
Paulo observou, porém, que a oração “O meu pai trouxe os amigos dele na
nossa casa.”, os adjuntos adnominais do sujeito “o, meu” e os do predicado ou
propriamente do objeto direto, “os, dele, nossa” especificam os substantivos núcleos
“pai” e “amigos”. Portanto, se eliminássemos os adjuntos adnominais da oração,
teríamos “Pai trouxe amigos na casa”. Daí, restaríamos saber quem era o pai; quem
seria os amigos e em qual casa o pai trouxera os amigos, o mesmo que acontecia nos
exemplos citados por ele da revista Época, o jogo de markenting. Neste mesmo perfil,
Paulo, porém, viu estampado em um determinado jornal uma manchete isenta de
adjuntos adnominais:
Prefeito demite secretário.
As orações estampadas nas manchetes dos jornais e das revistas, geralmente
descartam-se os termos acessórios da oração visando chamar a atenção dos leitores. No
caso da oração anotada por Paulo “Prefeito demite secretário” temos o
sujeito/verbo/complemento, ou seja, os termos essenciais (sujeito e predicado) e o termo
integrante (objeto indireto). Daí vem ao leitor às curiosas perguntas: quem seria o
prefeito e de qual cidade? Quem seria o secretário demitido, de qual departamento e
qual o motivo? Ao recorrer à página do jornal, indicada pela manchete, Paulo leu e
Francisco Rodrigues Júnior
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satisfez também a sua curiosidade de leitor. Ele, porém, anotou no caderno parte do
discurso lido.
O prefeito de Belo Horizonte demitiu ontem o secretário dos transportes
devido a uma denúncia anônima (...)
Paulo percebeu através das orações anotadas acima sobre o quanto pode ser
ou não importante os termos acessórios da oração. Para o jornal, a ausência dos termos
acessórios, como recurso de markenting, serviu para chamar a atenção do leitor e
vender mais o jornal; para o leitor do jornal, os termos acessórios presentes no discurso
serviram para fazê-lo entender melhor o enunciado completo.
O adjunto adverbial, conforme o próprio nome sugere é um advérbio, qual
palavra modifica o verbo, adjetivo ou outro advérbio, servindo para exprimir
circunstância de tempo, afirmação, dúvida, intensidade, quantidade, lugar, modo,
negação, etc., conforme segue abaixo a pesquisa completa feita por Paulo.
Advérbios circunstanciais de:
1. assunto: Todos conversavam sobre política.
2. causa: Não sairá por desobediência.
3. companhia: Quem viajará conosco.
4. concessão: Não obstante atraso, ainda pegamos o trem.
5. concomitância: Todos cantarolavam durante a excursão.
06. condição: Sem pagamento, não lhe dê recibo.
07. conformidade: Segundo o regulamento, devem tomar posse amanhã.
08. distância: O trem deixou-nos a dois quilômetros da praia.
09. dúvida: Talvez não haja substituto.
10. efeito: Temos estudado, com proveito, as matérias do curso.
11. favor: Por ele daria a própria vida.
12. fim: Não se prepararam para o ensaio.
13. frequência: Ali, o noivo apareceu duas vezes.
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14. instrumento: Demoliram a estátua à picareta.
15. intensidade: Todos haviam dormido pouco.
16. limite: O ônibus vai até Friburgo.
17. lugar: Temos de voltar por esta garganta (por onde)
Ficaremos nesta garganta (onde).
Não voltaremos a esta garganta (aonde).
Mudou-se para Copacabana (para onde).
Deste sitio, não sairão (de onde).
18. matéria: Foi coberto a zinco.
19. medida: Passaram a vender os roçados a metro quadrado .
20. meio: Viemos de ônibus.
21. modo: Entraram de mansinho.
22. ordem: Primeiro chegou o velho
23. posição: ficamos atrás do obelisco.
24. prazo: Das dez às onze, passarei por aqui.
25. preço: vendia o lote a duzentos cruzeiros.
26. proveniência ou origem: Esta palavra nasceu de outra mal formada.
27. substituição: Em vez de Alice , nomearam Irene.
28. tempo: Voltaremos já.
29. troca: Deu o automóvel em troco de um terreno.
30. intenção: Agiu premeditadamente.
31. adição: Teve, além de outras, esta vantagem.
32. direção ou sentido: Pôs os braços para cima.
33. estado: Todos ficaram, tranquilamente, deitados em silêncio, na sala.
Maria estava com medo. José anda em situação difícil.
Paulo ficou espantado quando viu o quanto é enorme a lista dos advérbios
circunstanciais, qual, hoje, reduzimos apenas a estas do seguinte quadro abaixo, com as
suas devidas locuções:
Quadro dos advérbios circunstanciais
CIRCUNSTÂNCIA ADVÉRBIO
Francisco Rodrigues Júnior
41
Tempo
Ontem, hoje, amanhã, breve, logo, antes, depois, agora, já, sempre, nunca, jamais, cedo, tarde, outrora, ainda, antigamente, novamente, brevemente, raramente.
Locuções adverbiais de tempo
Às pressas, às claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em vão.
Lugar
Aqui, ali, aí, cá, lá, acolá, atrás, perto, longe, acima, abaixo, adiante, dentro, fora, além.
Locuções adverbiais de lugar
A distância, à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta, em baixo, aqui, etc.
Modo
Bem, mal, assim, depressa, calmamente, suavemente, alegremente.
Locuções adverbiais de modo
Às pressas, às claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em vão.
Afirmação
Sim, deverás, certamente, realmente, efetivamente.
Locuções adverbiais de afirmação
Sem dúvida, de fato, por certo, com certeza.
Negação
Não, tampouco.
Locuções adverbiais de negação
De forma nenhuma, de jeito nenhum, de modo algum
Dúvida
Talvez, quiçá, acaso, decerto, porventura, provavelmente, possivelmente.
Locuções adverbiais de dúvida
Por certo, quem sabe.
Intensidade
Muito, pouco, bastante, mais, menos, demais, tão, tanto, meio.
Locuções adverbiais de intensidade
Em excesso, de todo, de muito, por completo, às pressas, tão pouco quanto, à mão.
Exclusão
Apenas, exclusivamente, somente, unicamente, etc.
Interrogação
Onde (lugar), quando (tempo), como (modo), por que (causa).
Paulo escolheu aleatoriamente três orações do primeiro quadro e analisou-as
da seguinte forma.
Francisco Rodrigues Júnior
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Não se prepararam para o ensaio.
(eles) Sujeito indeterminado (ou oculto)
Não se prepararam para o ensaio. = predicado verbal
Prepararam = núcleo do predicado.
Não; para o ensaio = adjuntos adverbiais (negação; fim)
O = adjunto adnominal.
Primeiro chegou o velho.
O velho = sujeito
Velho = núcleo do sujeito
O = adjunto adnominal do sujeito
Primeiro chegou (= chegou primeiro) = predicado verbal.
Chegou = verbo intransitivo e núcleo do predicado.
Primeiro = adjunto adverbial (ordem)
Paulo, na escola, pediu alguns colegas que analisassem sintaticamente a
oração “Não se prepararam para o ensaio” para que ele fizesse uma comparação com a
análise feita por ele, qual foi analisada baseada no quadro sobre advérbios
circunstanciais. A maioria das análises, feitas pelos colegas dele, sem a consulta do
mesmo quadro dos advérbios circunstanciais, foram apresentadas da seguinte forma.
“Não se prepararam para o ensaio”
(eles) sujeito indeterminado (ou oculto)
“Não se prepararam para o ensaio” = predicado verbal
Prepararam = núcleo do predicado e verbo transitivo indireto.
para o ensaio = objeto indireto
Francisco Rodrigues Júnior
43
ensaio = núcleo do objeto indireto
para (per + a) a; o = adjuntos adnominais.
Não = advérbio de negação.
Paulo percebeu que as análises apresentadas pelos colegas dele, o adjunto
adverbial de fim (= para o ensaio) foi classificado como um termo integrante da oração,
ou seja, como objeto indireto. A questão estava no simples fato de o verbo ser transitivo
direto ou indireto e não intransitivo, qual seria capaz de reconhecer claramente o
complemento como um adjunto adverbial.
Diríamos também, para a oração seguinte “Primeiro chegou o velho.” que se Paulo não
conhecesse o advérbio circunstancial de ordem, conforme é apresentado no primeiro
quadro dos advérbios circunstanciais, a palavra “primeiro”, expresso na oração
analisada, seria, mesmo assim classificada por ele como de adjunto adverbial, só que,
em vez de ordem, seria de modo, investindo, pois, no sufixo “-mente” (primeiramente);
isso acontece comumente nas aplicações modernas de análise sintática tato em provas
escolares, quanto em provas de concursos públicos.
Finalizando, pois, o estudo sobre o adjunto adverbial, deixamos registrado
aqui que o adjunto adverbial é exercido pelo advérbio e o seu núcleo é o próprio
advérbio, qual dispensa assinalá-lo na oração.
Paulo, ao sair de casa com o seu pai, recebeu um folheto em uma loja,
contendo a propaganda de um aparelho de televisão digital, que, desde 2006 e 2007
cogitava a sua implementação no Brasil, embora ainda restassem algumas polêmicas
acerca do padrão a ser adotado e dos impasses ainda pendentes. O certo é que Paulo
sabia que o aparelho de televisão digital era o grande sonho de consumo dos brasileiros
e, portanto, as lojas colocavam à frente este aparelho como a novidade do início do
século XXI.
Francisco Rodrigues Júnior
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Paulo recortou o folheto e o colou no seu caderno para analisar sintaticamente
o discurso contido nele. O desafio de Paulo seria de aplicar ali o que possivelmente
devia ter aprendido em seus recentes estudos sobre a análise sintática.
Figura 2. Folheto da magazineluiza, 2011.
Paulo observou que no folheto, a propaganda chamava a atenção do leitor da seguinte forma:
“Chegou a hora da alta definição invadir a sua sala!”. O período é composto
de duas orações independentes, tendo dois verbos de ação “chegar”, verbo intransitivo
e “invadir” verbo transitivo direto. A primeira oração “chegou a hora da alta
definição”, chama atenção do leitor pelo fato de “hora” significar o “momento de”
(advérbio de tempo) e “alta definição”, “a televisão digital” (o sujeito da oração), pois
o termo correto seria “chegou o momento de a televisão digital invadir a sua sala” ou
“A televisão digital chegou para invadir a sua sala!”
Paulo fez diversas anotações pessoais sobre o discurso intrigante do folheto e
comentou entre os amigos o quanto a propaganda impõe ao consumidor, quando se trata
de vender alguma coisa. Ele iniciava a visão do seu senso crítico, ampliando-o perante
as novas concepções adquiridas na sintaxe para entender melhor os discursos lançados
no mundo pelo homem e para o homem. Isso seria trabalhar a lógica, qual, em termos
filosóficos, seria cuidar das regras do bem pensar, manifestando o conhecimento em
busca de uma verdade, consoante às evidências que a sustentam.
Francisco Rodrigues Júnior
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Para completar os estudos sobre os termos acessórios da oração, faltava ainda
o aposto. Esse, por sua vez, serve para esclarecer, desenvolver ou resumir outro termo
da oração. Paulo, todavia, anotou algumas particularidades muito simples a respeito do
emprego dele na oração. As anotações foram baseadas a partir de um dos livros dado a
ele, pelo professor Ludovico.
1. O aposto fica entre vírgula e é posposto ao termo a que se refere.
� Maria, brasileira, solteira, estudante universitária, solicita sua inscrição para
estágio nesta empresa.
� Vocês conhecem o Bernardo, o palhaco Fofoquinha?
2. O aposto não é virgulado e aparece imediatamente depois da palavra a que se refere.
� A rua Timbiriça homenageia os índios.
� O jornal Estado de Minas tem publicações diárias.
� Li o livro A escrava Isaura.
3. aparece depois de dois pontos.
� Ana comprou todo o material para fazer o curso: régua, lápis, papéis, tintas e
pincéis.
Concluindo este estudo, devemos observar que o aposto constitui-se sempre de
substantivo quase sempre expresso e às vezes subentendido, se opondo pelo sentido a
outro substantivo. Paulo analisou algumas orações constituídas de aposto, a nós,
caberíamos também, fazer o mesmo. Analisamos, pois, uma oração constituída de
aposto.
A festa aconteceu na praça Tiradentes
A festa = sujeito
festa = núcleo do sujeito
Francisco Rodrigues Júnior
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A = adjunto adnominal
aconteceu na praça Tiradentes = predicado verbal
aconteceu = verbo transitivo direto / núcleo do predicado
na praça Tiradentes = adjunto advérbial de lugar
na ( em + a) a = adjunto adnominal
Tiradentes = aposto
Fácil não é? Basta ter paciência para checar todo o período, analisando os seus
pormenores, ou seja, os termos essenciais, integrantes e acessórios presentes em cada
uma das orações.
Paulo, depois de estudar os termos acessórios da oração, pensou que o
vocativo também viesse a fazer parte desse grupo. Depois, ele percebeu que o vocativo,
todavia, não pertencia à estrutura da oração, tendo, porém, de ser estudado à parte.
Sendo o vocativo um elemento que desperta a atenção, chama, tendo na
maioria das vezes, presente ou subentendido, um ó, ele não pertence ao sujeito, nem ao
predicado, tratando-se, porém, de um termo isolado, podendo ser espeficado nas
seguintes situações:
Usa-se o vocativo para: Exemplo
Chamar, interpelar algo ou
alguém
Pessoal, cheguei!
Vem sempre separado por vírgula Afasta-se de mim, Antônio!
Pode vir precedido de interjeições
Ó! olá! eh! Eh! Oi!
Oi, tudo bem?
Francisco Rodrigues Júnior
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O vocativo, comumente, aparece mais nas orações santas devido a sua
interpelação, representada pelo homem em chamamento por Deus. Paulo observou isso
e consultou alguns “livrinhos de rezas e orações” católicas. Ele, portanto, pegou a
famosa oração “Salve Rainha”, leu-a com atenção e grifou até onde analisaria para
observar a sintaxe, condizente ao vocativo.
Figura 3 Reza extraída em livro de rezas católicas /1960
“Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve! A
vós bradamos, os degredados filhos de Eva”
Paulo, inicialmente estranhou o período, pois ele era absoluto, tendo uma
oração única. A prova disso é que a expressão utilizada na oração “Salve!” não seria um
verbo, mas apenas um elemento conhecido como expletivo, ou seja, capaz de expressar
alguma coisa referente ao sentimento do homem.
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós
bradamos, os degregados filhos de Eva.” = período simples / oração absoluta
(Nós) sujeito indeterminado
Francisco Rodrigues Júnior
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A vós bradamos, (nós) os degregados filhos de Eva.” = predicado verbal
Bradamos = verbo transitivo indireto / núcleo do predicado
a vós = objeto indireto
Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve! = vocativo.
Rainha = núcleo do vocativo
os degregados filhos de Eva = aposto (ao sujeito “nós”)
filhos = núcleo do aposto
Mãe de misericórdia = aposto (ao vocativo “Rainha”); “vida”, “doçura”, “esperança
nossa” = aposto (de esperança)
Mãe = núcleo do aposto
esperança = núcleo do aposto
de misericórdia (de mãe), nossa (de esperança), os, degredados de Eva (de filhos) =
adjuntos andnominais.
Salve! = elemento expletivo.
Paulo achou tudo muito interessante e a partir de agora abriria bem os olhos e
os ouvidos para interpretar o mundo quanto aos discursos orais e escritos. Ele, porém,
fez uma revisão geral em seus estudos e inventou brincar com os recursos oferecidos
pela língua portuguesa, no ato da comunicação. Valendo-se do jargão usado pelo
saudoso Abelardo Barbosa, o apresentador de televisão nas décadas de 80, o famoso
Chacrinha: “Quem não se comunica, se estrumbica!” Paulo não parecia querer se
estrumbicar!
CAPÍTULO 5
Francisco Rodrigues Júnior
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Paulo, recorrendo à apologia do filósofo grego, Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.),
"Só sei que nada sei.", citado por Platão (427 a.C. - 347 a.C) respira, descansa por
alguns dias e depois, curioso em querer saber o que nada sabia, voltou a consultar os
dois livros. Ele agora se aprofundaria um pouco mais nos períodos compostos por
subordinação. Ele, todavia, já havia introduzido em seus estudos esse período,
observando, pois, a questão de relação entre subordinante e subordinado, metaforizando
a questão do rei e de seus vassalos; do patrão e seus empregados. O temo subordinante
designa-se à oração principal e a sua condição é a de comando, sendo, pois, aquela que
tem a subordinada em sua dependência, podendo ter duas ou várias orações. Porquanto,
o termo subordinado, a oração subordinada é dependente, que, estando isolada, não tem
sentido. A oração subordinada sempre exerce uma função podendo ser esta de sujeito,
predicativo, objeto direto, objeto indireto, adjunto adverbial, etc., de outra oração.
Ao falar em função, qual exerce a oração subordinada, Paulo queria entender
alguns critérios básicos de como ela seria aplicada. Devido à preocupação em
aprofundar um pouco mais neste estudo, Paulo anotou algumas considerações a partir
de um dos livros.
As orações subordinadas podem exercer a função da seguinte forma:
Francisco Rodrigues Júnior
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Paulo percebeu que estudar o período composto por subordinação não seria
tão fácil e, para isso, ele teria de entender três fases distintas:
Primeira fase Determinar as orações principal e subordinada;
1. Por uma palavra, sendo esta única e o próprio núcleo da função.
Peguei livros - Peguei o quê? - Livros = objeto direto/ núcleo do objeto
2. Por um conjunto de palavras, sendo uma delas o núcleo da função, e as demais terão, por sua vez, determinada função.
Peguei os livros do velho armário. (eu) - Peguei o quê? - os livros do velho armário. = objeto direto - livros = núcleo do objeto direto - os, do velho armário = adjuntos adnominais Armário = núcleo (de + o) o, velho = adjunto adnominais. Nota: em torno do núcleo do objeto direto gravitam os adjuntos adnominais “os,” “do velho armário”. O segundo adjunto adnominal tem como núcleo “armário” e em torno dele giram os adjuntos adnominais “(do) o”, “velho”.
3. Por uma oração, qual não haverá mais uma palavra que seja necessariamente núcleo. A oração toda, que é nova individualidade, exercerá determinada função
Pensei que este livro fosse mais difícil. - Pensei o quê? “Que este livro fosse mais difícil” = objeto direto. Nota: não temos, agora, uma palavra ou um conjunto de palavras como objeto direto. Temos uma oração, com sujeito (Este livro) com predicado (fosse mais fácil), como predicativo (mais fácil).
Sempre que uma função for exercida por uma oração, essa oração é subordinada.
Via-a quando eu regressava para casa. Nota: a função adjunto adverbial é exercida por uma oração (quando eu regressava para casa).
Francisco Rodrigues Júnior
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Segunda fase Classificar as orações;
Terceira fase Analisar cada oração determinando as suas respectivas funções.
Após entender sobre estas três fases, Paulo analisou o seguinte período
anotado a partir de um comercial de televisão.
“Não basta ver o frasco para conhecê-lo...”
Período composto por subordinação, com 2 orações.
1ª oração principal = Não basta ver.
Sujeito indeterminado ou oculto (você)
Predicado verbal não basta ver.
Núcleo do predicado = basta ver.
Adjunto adverbial de negação = não
2ª oração “o frasco para conhecê-lo.”
Sujeito = o frasco
Núcleo do sujeito = frasco
Adjunto adnominal = o
Predicado verbal = para conhecê-lo (=frasco)
Núcleo do predicado = conhecer
Objeto direto = lo (=frasco)
Adjunto adnominal = para (per + a) a.
Então Paulo animou a se aprofundar um pouco mais na língua portuguesa. Ele
muniu-se de caneta, lápis, caderno e livros e foi para a mesa estudar o período composto
por subordinação, qual base estaria fincada nos termos essenciais, integrantes e
Francisco Rodrigues Júnior
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acessórios da análise sintática. Ele logo denotou que a oração subordinada substantiva
tinha o valor e a função de um substantivo, funcionando como sujeito, predicativo,
objeto direto, objeto indireto, complemento nominal e aposto.
Oração subordinada substantiva Função Exemplos Oração subordinada substantiva subjetiva
sujeito É sabido que o Brasil se encontra em grande progresso
Oração subordinada substantiva predicativa
predicativo Meu desejo é que vocês desapareçam.
Oração subordinada substantiva objetiva direta
objeto direto Todos os apóstolos narram que Jesus era suavidade e amor.
Oração subordinada substantiva objetiva indireta
objeto indireto
Preciso de quem me ajude.
Oração subordinada substantiva completiva nominal
complemento nominal
A madrinha que foi incumbida de servir aos noivos adoeceu.
Oração subordinada apositiva aposto Quero somente isso: que vocês sejam felizes.
Paulo queria colocar em prática as orações subordinadas substantivas, então, ele
recorreu a várias revistas e livros em busca de exemplos, mas como se isso não
bastasse, ele também recorreu ao discurso da língua falada, ao ouvir alguém proferir
este dado período: “O assunto que você está tocando não me interessa”. Ele, portanto,
determinar as orações principal e subordinada; classificou as orações e analisou cada
uma delas determinando as suas respectivas funções.
“O assunto / que você está tocando agora, / não me interessa.”
Período composto por subordinação, com 2 orações.
1ª oração: “o assunto não me interessa” = oração principal.
Sujeito simples = o assunto
Núcleo do sujeito = assunto
Adjunto adnominal do sujeito = o
Predicado verbal = não me interessa
Francisco Rodrigues Júnior
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Núcleo do predicado / verbo transitivo direto = interessa
Objeto direto = me
Adjunto adverbial de negação = não
2ª oração: que você está tocando
Sujeito simples = você
Predicado verbal = que está tocando, agora.
Núcleo do predicado= está tocando.
Adjunto adverbial de tempo = agora.
Paulo viu que as orações subordinadas substantivas não eram tão difíceis de
serem reconhecidas e trabalhadas nas orações e por isso resolver adentrar-se aos
estudos. Ele, agora, estudaria a oração subordinada adjetiva.
A oração subordinada adjetiva funciona como adjunto adnominal, o que
ocorre quando introduzida por pronome relativo. Ela pode ser:
Oração subordinada adjetiva restritiva
É quando tem as seguintes características: a) a oração subordinada é indispensável à compreensão da ideia; b) não recebe vírgula em princípio.
Os homens / que trabalham / são úteis à sociedade. Nota: “que trabalham” é adjunto adnominal de “homens” ( o “que” é pronome relativo = cujos homens. O que a oração subordinada diz é indispensável à declaração, não pode ser retirada.
Oração subordinada adjetiva explicativa É quando tem as características: a) a oração subordinada é indispensável à compreensão da ideia; b) é virgulada, em princípio.
Minha terra tem palmeiras, / onde canta o
sabiá.
Nota = “onde canta o sabiá” oração
subordinada introduzida por vírgula.
Francisco Rodrigues Júnior
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Neste caso, Paulo aproveitou-se de um caso contado por um de seus colegas e
anotou um período bem interessante para analisar. O caso contado pelo colega, dizia o
seguinte: “Viram um monstro horrível, que projetava na parede do quarto...”
“Viram um monstro horrível, / que projetava na parede do quarto...”
Período composto por subordinação, com 2 orações.
1ª oração principal = Viram um monstro horrível
Sujeito indeterminado ou oculto – (eles)
Predicado verbo-nominal = Viram um monstro horrível
Núcleo do predicado / Verbo transitivo direto = viram
Objeto direto = um monstro horrível
Núcleo do objeto direto = monstro
(O monstro era horrível) = horrível = predicativo do objeto
Adjunto adnominal = o, horrível
2ª oração subordinada adjetiva explicativa: “que projetava na parede do quarto...”
(que (= o monstro) projetava na parede do quarto)
Sujeito = o monstro ( = que / pronome relativo)
Predicado verbal = projetava na parede do quarto
Núcleo do predicado / Verbo intransitivo = projetava
Advérbios de lugar = na parede do quarto
Adjuntos adnominais = na (em + a) a; do (de + o) o
Ao analisar esta oração Paulo sentiu o quanto seria interessante observar o
emprego dos pronomes. Tendo o pronome em seu princípio como “palavra que serve
para substituir o nome”, na construção de sentenças ou frases, orações e períodos, ele
auxilia o falante de uma determinada língua a repetição dos nomes, assim como
Francisco Rodrigues Júnior
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também a restringir os termos e até servir para explicar. Se dissermos “Pedro chegou do
trabalho. Pedro arrumou para ir ao cinema. Maria encontrou com Pedro no cinema.”
Seria uma chatice, pois o nome Pedro foi repetido várias vezes, enquanto bastaria isso:
“Pedro chegou do serviço. Ele arrumou para ir ao cinema. Maria encontrou com ele no
cinema.” Ou em um período organizado da seguinte forma: Pedro chegou do serviço e
arrumou para ir ao cinema. Lá, Maria o encontrou. As formas dadas ao substantivo
próprio “Pedro” foram os pronomes “ele” e “o”. Assim acontecem com todos os
substantivos presentes nas orações, cujas repetições são evitados. Observe:
O caderno estava em cima da mesa. Ele estava em cima da mesa.
Maria pegou o caderno que estava em cima da mesa. Maria pegou-o?
João e Maria não viram o caderno lá. Eles não o viram lá.
Os pronomes e suas devidas substituições dentro das sentenças, frases ou
orações devem ser observados com atenção tanto para a análise, quanto para a
compreensão no discurso oral ou escrito.
Paulo, todavia, recorreu a um dos livros e observou as funções sintáticas dos
pronomes relativos. Como ele achou interessante a forma de como o autor apresentou
os estudos, ele fez algumas anotações no caderno dele, separando os pronomes em
diversos quadros, didaticamente:
Pronomes relativos essenciais: QUE, O QUAL, QUEM, CUJO
Os relativos que e quem são pronomes substantivos, porque realmente tomam o lugar do substantivo.
"O homem que vi, voltou." “A criança a quem emprestei o livro, devolveu-me." Nota: o relativo "que" representa o substantivo "homem", seu antecedente; e não tem subsequente.
Francisco Rodrigues Júnior
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O relativo "o qual" é pronome adjetivo, pois, além do antecedente, tem subsequente; e a este modifica em regime de concordância genérica e numérica.
"Aquela menina, filha de nossa vizinha, a qual! menina nos visitou ontem, adoeceu." Nota: o relativo "a qual" não substitui o nome "menina", que está presente na 2ª oração também; e modifica, estabelecendo relação, o seu subsequente: "a qual menina". Veja outro exemplo: "Os tais meninos, filhos de pais desconhecidos, os quais meninos fugiram ontem, voltaram hoje." Nota: acontece, contudo, o seguinte: só se usa gera1mente, o subsequente do relativo "o qual", ("os quais meninos"), quando for ele necessário à clareza ou à ênfase da frase. Fora disso, o subsequente fica subentendido; e, neste caso, o pronome relativo "o qual" passa a pronome substantivo.
O relativo "cujo" é também pronome adjetivo, porquanto modifica o seu subsequente, que não pode estar subentendido, e com este estabelece concordância em gênero e número.
"O homem cujas filhas conheci ontem, etc." "A igreja ante cujo altar me ajoelhei, etc." O emprego correto do relativo "cujo" exige: a) que o seu subsequente esteja sempre presente; b) que antecedente e subsequente sejam diferentes; c) e estabeleça relação de posse entre antecedente e consequente.
Exemplo correto:
-"Sempre que vou a Ouro Preto, cujo passado histórico tanto me impressiona, volto com melhores convicções cívicas." O "cujo" está bem empregado, porque: a) seu subsequente está expresso ("passado histórico"); b) antecedente ("Ouro Preto") e subsequente ("passado histórico") são diferentes; c) foi estabelecida a relação de posse. (O "passado histórico" pertence a "Ouro Preto".) Exemplos:
Francisco Rodrigues Júnior
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"A casa cujo dono me foi apresentado etc." - "Você, cujas qualidades conheço etc." Antecedentes: "casa" (substantivo) e "Você" (pronome). Subsequentes: "dono" e "qualidades" (substantivos). Nota: o antecedente de cujo é representado por substantivo ou por pronome; seu subsequente, porém, é sempre substantivo e nunca está ausente.
Quanto às funções sintáticas dos pronomes relativos, o pronome "QUE", “O QUAL” e “QUEM” podem exercer as devidas funções.
Pronome relativo “QUE” pode exercer a função de:
Sujeito Conheço muita gente que mente por prazer.
Predicativo do sujeito
Não sou mais o homem que fui.
Objeto direto Os colegas que encontrei ontem no jardim.
Objeto indireto A quantia de que necessitas, não a tenho agora.
Agente da passiva
O animal por que fui tirado do chão, fugiu. ( o “que” substitui “animal”
adjunto adverbial
A desfaçatez com que ele se apresentou, estarreceu-me.” (exprime a circunstância de modo, que = como).
Pronome relativo “O QUAL” pode exercer a função de:
Adjunto adnominal
O rapaz, pela vinda do qual tanto me esforcei, decepcionou-me. (do = de + o) o qual. Nota: o pronome relativo “O QUAL” também exercem as mesmas funções do pronome relativo “que” (ver sujeito, preditivo, objeto direto, objeto indireto, agente da passiva e adjunto adverbial).
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Pronome relativo “QUEM” pode exercer a função de:
Nos domínios da análise sintática, pois, teremos que considerar, em casos idênticos, não o relativo "quem", mas o relativo "que", nele implícito. Assim desdobrado, o "QUEM" traz sempre em si duas funções sintáticas. Observemos: "Não sou quem procuras."; equivale a: "Não sou a pessoa que procuras." As duas funções do "quem": objeto direto e conectivo. "Ignoro quem deva ir."; ou "Ignoro a pessoa que deva ir." Funções do "quem": sujeito e conectivo. Ocasiões há, entretanto, em que não podemos desdobrar o "quem": "A pessoa a quem chamaste não veio." O relativo em apreço exerce aqui a função de objeto direto de "chamaste", e não pode desdobrar-se. Mesmo como objeto direto, o pronome "quem", seja relativo, seja interrogativo, vem precedido da preposição "a": "A quem chamaste?" (Pronome interrogativo.) - "O aluno a quem elogiaste, não compareceu." (Pronome relativo.) Em ambos os casos o "quem" é objeto de verbo transitivo direto ("chamar, "elogiar") e vem precedido de preposição. Já neste exemplo, "Aquela senhora a quem falaste, aqui esteve.", o pronome "quem" aparece como objeto de verbo transitivo indireto - "falar a" -; classifica-se, por conseguinte, como objeto indireto. A vista do exposto, há duas maneiras de encararmos sintaticamente o "quem" relativo: a) O “quem” se desdobra em "a pessoa que". Assim sendo, o "quem" desaparece (para análise sintática) e surge o relativo "que" iniciando uma subordinada adjetiva. b) O "quem" não se desdobra. Neste caso, pode exercer as funções seguintes: 1. Objeto direto: "Os rapazes a quem convidei, não vieram." - "Conheço os alunos a quem o diretor elogiou." 2. Objeto indireto: "As testemunhas de quem duvidamos, foram corretas. - "Os chefes locais, a quem confiamos nossas reivindicações, nada conseguiram." 3. Agente da passiva: "O ilustre cidadão por quem fui caluniado, é o grande capitalista da cidade." 4. Adjunto adnominal "O notável professor, pela volta de quem tantas lanças quebramos, apresentou-se ontem."
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5. Adjunto adverbial: "O venerando magistrado contra quem investiste, foi muito aplaudido."
Paulo sempre gostou de ler as tirinhas de Calvim, Mafalda, Garfield, Tina,
Hagá, Recruta Zero e outros, ora através de jornais, revistas e sites. Ele, então
selecionou algumas tirinhas, colou-as no caderno e fez algumas observações acerca da
linguagem dos personagens. Entre todas as tirinhas comentadas por Paulo, havia esta de
Calvin enfatizando a função dos pronomes nas falas dos personagens Haroldo e Calvin.
Figura 4. Disponível em: http://apatossauros.files.wordpress.com/2007/10/calvinharotira354.gif
Paulo observou na tirinha de Calvin o emprego dos pronomes nos quatro
quadrinhos, sendo eles, o possessivo “sua”; os pessoais “você”, “ela” e o obliquo
“mim”. Os pronomes empregados nos diálogos de Haroldo e Calvin exercem as
respectivas funções:
a) no primeiro quadro, na fala de Haroldo “Você sabe o que há de
errado com sua mãe?” os pronomes exercem as funções de sujeito “Você” e
de adjunto adnominal “sua”, estando este atribuindo uma qualidade para a
“mãe” de Calvin. A resposta de Calvim parte de um advérbio de negação e
de uma adversativa “Não, no entanto, ela foi ao médico hoje.”, tendo o
pronome “ela” (= mãe) como sujeito.
b) no segundo quadrinho da tirinha, na fala de Haroldo entre uma
afirmação e uma concessiva interrompida por um advérbio de negação “Eu
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adoraria se...não.” o pronome pessoal “Eu” é o sujeito. A resposta de
Calvim, embora seja apenas uma palavra-chave interrogativa “O quê”, o
pronome “quê” é tônico e é um substantivo, sendo, portanto, um
determinante determinado pelo artigo definido “o”.
c) No terceiro quadrinho, a fala de Haroldo gera uma hipótese
dirigida a Calvim “Você não acha que ela está esperando um bebê, acha?”
Os pronomes pessoais “Você”, “ela” exercem a função de sujeito das
respectivas orações 1 e 2.
d) No quarto e último quadrinho na pergunta e na afirmação feita
por Calvim “Por que ela iria querer outra criança? Ela já tem a mim!”, o
pronome pessoal “ela” nas duas orações exercem a função de sujeito,
porquanto, na segunda oração “Ela já tem a mim!”, o pronome oblíquo
“mim” exerce a função de objeto indireto.
Paulo constatava que o estudo de análise sintática não ficaria
apenas no âmbito de sair analisando sentenças, frases, orações e períodos
por aí, mas de compreender o emprego das palavras dentro de um dado
contexto ou discurso. Isso o levaria a concordância dos termos empregados
nas sentenças, frases, orações e períodos, evitando alguns vexames na arte
de falar bem.
CAPÍTULO 6
Após alguns dias de descanso e de observações práticas tantos em textos
escritos, quanto em textos orais, Paulo voltou para a mesa animado para estudar a
oração subordinada adverbial, qual, o próprio nome diz funcionar como adjunto
adverbial. Assim como a oração subordinada substantiva e adjetiva, ela também é
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classificada de acordo com a conjunção ou conectivo subordinativo que a introduzir. Há
pois, oração subordinada adverbial causal, comparativa, consecutiva, concessiva,
condicional, conformativa, proporcional e temporal.
Observe o quadro abaixo, com os exemplos
1 - Oração subordinada adverbial causal Não bebo porque não gosto de bebida. 2 - Oração subordinada adverbial comparativa
A música é mais bela do que o canto (é belo).
3 - Oração subordinada adverbial consecutiva
Falava tão bem que encantava o auditório.
4 - Oração subordinada adverbial concessiva
Não posso ficar mais, embora a festa prometa muito divertimento.
5 - Oração subordinada adverbial condicional
Somente aceitarei o cargo se me derem plena autonomia.
6 - Oração subordinada adverbial conformativa
Fiz sua roupa conforme manda a última moda.
7 - Oração subordinada adverbial proporcional
Fui amealhando algum dinheiro à medida que recebia meu salário.
8 - Oração subordinada adverbial temporal
Já poderei atender a você assim que termine este apontamento.
9- Oração subordinada adverbial causal Não tomarei banho hoje porque o tempo está frio.
Quanto às análises completas das orações subordinadas adverbiais, Paulo as
registrou em seu caderno, analisando-as categoricamente. Escolhemos, pois, esta como
amostra: “Se a sua caixa se extraviou, foi porque o seu nome não estava completo.”
“Se a sua caixa se extraviou, foi porque o seu nome não estava completo.”
Período composto por subordinação, com 3 orações.
1ª oração: " Se a sua caixa se extraviou,”: subordinada adverbial, condicional.
Sujeito simples: " a sua caixa "; núcleo: " caixa”
Predicado verbal: "se extraviou".
Adjunto adnominal: "a”, “sua”
2ª oração: extraviou-se
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Sujeito indeterminado ou oculto = “ela” (= a sua caixa)
Predicado verbal = extraviou-se
3ª. oração: "porque o seu nome não estava completo." - subordinada adverbial, causal.
Sujeito simples: "o seu nome"; núcleo: "nome",
Adjunto adnominal: “o”, “seu”
Predicado nominal: "não estava completo."
núcleo: "completo".
Predicativo (do sujeito): "completo".
Adjunto adverbial (de negação): "não".
Paulo ficou um pouco confuso com o verbo irregular “foi”, empregado na
oração no pretérito perfeito do indicativo, mas depois ele descobriu que a forma desse
verbo, do verbo "ser", é vicária, isto é, substitui uma oração, evitando a sua repetição.
Se não houvesse no período verbo vicário “foi”, ele seria construído dessa forma: "Se a
sua caixa se extraviou, extraviou-se porque o seu nome não estava completo."
Quanto à segunda oração “extraviou-se” devemos considerar o verbo
"extraviar" na voz passiva (foi extraviada), por o sujeito ser nome de causa (a sua
caixa). Desse modo, a apassivadora "se" integra o núcleo do predicado.
Após estudar a oração subordinada adverbial, Paulo quis logo conhecer as
orações subordinadas desenvolvidas e reduzidas.
A oração subordinada desenvolvida é a oração introduzida por conjunção
subordinativa ou por pronome relativo.
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A oração subordinada substantiva objetiva direta pode ser introduzida pelas conjunções subordinativas integrantes que e se.
Tupã mandou que ele saísse.
Quero ver se você suporta o frio.
A oração subordinada adjetiva explicativa pode ser introduzida pelo pronome relativo cujo e onde.
O prisioneiro, cuja morte anseiam, está
sentado lá.
Minha a terra tem palmeiras, onde canta o Sabiá.
Aquela aluna cuja mãe havia viajado, voltou triste para a escola.
Período composto por subordinação, com 2 orações.
1ª. oração: "Aquela aluna cuja mãe havia viajado, voltou pesarosa para a
escola.” = oração principal.
Sujeito simples: " Aquela aluna"; núcleo: "aluna".
Predicado verbo-nominal: "voltou pesarosa para a escola.”
Núcleo: "voltou pesarosa".
Predicativo (do sujeito): "pesarosa".
Adjuntos adnominais: "aquela" (de "aluna"); "a" (de "escola").
Adjunto adverbial (de lugar): "para a escola";
Núcleo do advérbio: "escola".
Nota: - O verbo "voltar", que tem significação própria, é indispensável ao
sentido do período; por esse lado, o predicado é verbal. O termo “pesarosa”, entretanto,
que é um nome adjetivo, também está em relação predicativa com o sujeito "aluna", ao
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qual modifica em regime de concordância numérica e genérica; por esse outro lado, o
predicado é nominal. Apresenta-se então a nós o predicado verbo-nominal.
Sujeito simples: "Aquela aluna"
Núcleo do sujeito: "aluna”
Predicado verbo-nominal: "voltou pesarosa para a escola”
Núcleo do predicado: "voltou pesarosa"
Predicativo (do sujeito): "pesarosa".
Adjuntos adnominais: "aquela” (de "aluna"); "a" (de "escola").
Adjunto adverbial (de lugar): "para a escola"
Núcleo: “escola”
Nota: - O verbo "voltar", que tem significação própria, é indispensável ao
sentido do período; por esse lado, o predicado é verbal. O termo "pesarosa", entretanto,
que é um nome adjetivo, também está em relação predicativa com o sujeito "aluna", ao
qual modifica em regime de concordância numérica e genérica; por esse outro lado, o
predicado é nominal. Apresenta-se a nós então o predicado verbo-nominal.
2ª. oração: "cuja mãe havia viajado", subordinada adjetiva restritiva.
Sujeito simples: "cuja mãe"
Núcleo: "mãe".
Predicado verbal: "havia viajado".
Adjunto adnominal: "cuja"
Notas: - 1ª As orações ligadas por pronome relativo (que, qual, quem e cujo)
são sempre adjetivas, ora restritivas, as mais comuns, ora explicativas.
2ª Os pronomes relativos que sofrem flexões de gênero e número são
"cujo" e "o qual": "As alunas, cujas mães ficamos conhecendo, etc. "As viúvas que
estavam em companhia de seus futuros maridos.”
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3ª O relativo "cujo" concorda com o seu subsequente e esclarece-nos
que o seu antecedente, é o possuidor daquilo que o subsequente representa. Estabelece
uma relação de posse, sem a qual não podemos empregar o relativo em apreço.
Vejamos o emprego errôneo da palavrinha "cujo": "Referimo-nos àquela menina, filha
do agente, cuja esteve lá em casa ontem." 1ª razão do erro: o relativo "cuja" está sem
subsequente, e isto, no português moderno, não pode acontecer. 2ª razão: o "cuja" não
estabelece, aí, relação de posse, pois não há a coisa possuída, que seria o subsequente.
Já nesta outra construção o "cujo" está bem empregado: "Todos comentaram o
procedimento do rapaz cujo irmão aqui esteve; e, referindo-nos ao dito, cujo nome
não queremos pronunciar, afirmamos que realmente é um mau caráter."
Após observar e aprender como se fazia uma análise de um período composto
por subordinação, com 2 ou mais orações, Paulo partiu para o estudo da oração
subordinada reduzida.
Ele notou que a oração subordinada reduzida era introduzida por uma forma
nominal do verbo infinitivo, gerúndio e particípio e que ela, todavia, exigia que o
infinitivo, gerúndio e particípio não estivessem funcionando como:
Substantivo O morto estava esquisito.
O dormir é bom
Adjetivo Rã morta ainda se mexe.
Elemento de locução verbal Vou dormir cedo hoje.
Ele vive pedindo esmolas.
Tenho visto muitos milagres nesta vida.
Pois a oração subordinada reduzida de infinitivo tem verbo no infinitivo, e este
não está formando locução verbal:
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Seria bom você dar umas voltas por aí. Oração subordinada substantiva subjetiva, reduzida de infinitivo (a oração subordinada funciona como sujeito).
Seu desejo era seguir a carreira médica. Oração subordinada substantiva predicativa, reduzida do infinitivo (a oração subordinada funciona como Predicativo).
Todos acreditamos terem vocês preparo suficiente.
Oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo (a oração subordinada funciona como objeto direto).
A pequenina precisa de receber mais cuidado de todos nós.
A oração subordinada substantiva objetiva indireta, reduzida de infinitivo (a oração subordinada funciona como objeto indireto.
Está em tuas mãos a solução: aceitar o cargo de direção ou continuar subalterno. Você tem o compromisso de continuar a obra de seu pai.
A oração subordinada substantiva apositiva, reduzida de infinitivo (a oração subordinada funciona como aposto). Oração subordinada substantiva completiva nominal, reduzida de infinitivo (a oração subordinada funciona como complemento nominal).
Não lhe dei dinheiro para você gastá-lo em quinquilharias. (= gastar)
Oração subordinada adverbial, reduzida de infinitivo (a oração subordinada funciona como adjunto adverbial).
Dos exemplos dados nos quadros acima, concluímos que a classificação da reduzida de
infinitivo é feita como nos demais casos das orações subordinadas; se substantiva e qual
a função: subjetiva, objetiva, etc.; se adverbial, etc.
Quanto à oração subordinada reduzida de gerúndio tem verbo no gerúndio, e
este não está formando locução verbal.
Os soldados entraram na cidade marchando civicamente.
Oração subordinada reduzida de gerúndio.
Ele entrou na casa escura tateando as mãos nas paredes
Oração subordinada reduzida de gerúndio.
A oração subordinada reduzida de particípio tem verbo com particípio, e este
não está formando locução verbal e tem sujeito próprio. Esta última condição é
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indispensável para que a oração subordinada seja reduzida de particípio é necessário
que o seu sujeito não seja o sujeito da oração da qual é dependente.
Observamos este exemplo
Feita a refeição do quartel, os soldados colocaram-se em guarda.
Sujeito da oração subordinada adverbial, reduzida do particípio é a refeição
do quartel; o sujeito da oração principal é os soldados.
Logo:
a) a oração subordinada tem verbo no particípio (feita);
b) o sujeito da oração subordinada é um (a refeição do quartel), o sujeito da
oração principal é outro (os soldados), então a oração é reduzida de particípio.
Outros exemplos para que possamos notar que a norma é a posposição do
sujeito, na oração subordinada reduzida de particípio:
Feito os preparativos, os homens cavalgaram pela estrada.
Viajaremos, terminado o curso.
Paulo ouviu uma música de Chico Buarque de Holanda “Ela faz cinema” e
percebeu o quanto a letra da música era rica em detalhes, tendo orações coordenadas
sindéticas e assindéticas; orações subordinadas adverbiais condicionais; advérbios
circunstanciais de tempo, de dúvida, de negação, impondo condições e hipóteses a
respeito de uma mulher que faz do seu amado ou amante “um personagem efêmero”
“Da sua trama”. A forma de como Chico Buarque de Holanda trabalha com os termos
essenciais, integrantes e acessórios da oração é uma coisa impressionante. Agora Paulo
não mais ouviria músicas por ouvir, ou seja, pelo fato da melodia, mas também das
letras, cujos discursos poéticos exigiam de seus compositores conhecimentos sobre a
linguagem, principalmente da literária.
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Paulo, como usuário da língua portuguesa, viu que ele não precisava ser
perito em gramática normativa, mas pelo menos teria de aprender o básico como
requisito de linguagem para tornar-se um bom receptor e um bom destinatário. Isso lhe
dava à consciência de quê a comunicação é um ato de reciprocidade, entendida como
um intercâmbio de informação entre sujeitos ou objetos, como forma de materialização
do pensamento e do sentimento em signos conhecidos entre as partes envolvidas.
Quanto à análise sintática, Paulo desvendou ser esta uma técnica empregada no estudo
da estrutura sintática de uma língua, ocupando um lugar de destaque em muitas
gramáticas da língua portuguesa. Grande parte das normas do bem dizer e do bem
escrever recaem sobre a estrutura sintática, isto é, sobre a organização das palavras na
sentença. Nenhuma regra de conduta da língua culta tem sentido sem uma análise
sintática da sentença que se estuda.
Paulo leu um poema de Fernando Pessoa, sob a heteronímia de Alberto Caeiro
e fez a seguinte observação, sob a sua perspectiva da importância de ver o mundo e de
se comunicar:
XXIV
O que nós vemos das cousas são as cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
Nem vê quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!)
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Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
uma seqüestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras
[eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Paulo percebeu que Alberto Caeiro tem como sujeito no poema a “essência”,
cujo predicado gira em torno da busca de uma relação sensorial com o Mundo e a
Natureza. O poeta tenta negar a existência de qualquer sentido profundo nas coisas que
formam a realidade. Segundo ele já temos os nomes, a definição e o conceito das coisas
que existem no mundo (aparência e essência), portanto, conclui que precisamos da
“aprendizagem de desaprender” para conhecer as coisas da forma que elas
simplesmente são, isentas da cadeia paradigmática e sintagmática. Ele estabelece
relações entre dois mundos: o mundo do ser (aparência) e o mundo do não-ser
(essência), sendo o primeiro o da abstração e o segundo o da apropriação. Para ele, o
interessante é o mundo do não-ser, onde todas as substâncias que existem no mundo são
originais, autênticas. Para ele a palavra está voltada a ela mesma, sem qualquer relação
à outra: estrelas/estrelas; flores/flores e não convento/freira... Deixa explícita a ideia de
que só alcançaremos a sabedoria quando despirmos a nossa “alma vestida” de trajes
intelectualizantes e racionalizadores, fantasiosos e mistificadores.
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Referências bibliográficas:
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ampliada. Rio de Janeiro: Editora Lucerna.
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MATEUS, M. H., A. M. BRITO, I. DUARTE & I. H. FARIA (1989)
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