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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ ESPECIALIZAÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUDIVISUAL MÓDULO DE ÉTICA PROF. MS. ANOR SGANZERLA A BIFURCAÇÃO PÓS-ILUMINISTA (págs. 19 a 30) OBRA: FELICIDADE (DIÁLOGOS SOBRE O BEM-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO) DE EDUARDO GIANETTI CLEITON CESAR SCHAEFER

A Bifurcação Pós-Iluminista

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Pesquisa do Módulo de Ética: Análise das págs.19 a 30 da Obra: FELICIDADE (Diálogos sobre o bem-estar na civilização) de Eduardo Gianetti

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESPECIALIZAÇÃO EM COMUNICAÇÃO AUDIVISUAL

MÓDULO DE ÉTICA

PROF. MS. ANOR SGANZERLA

A BIFURCAÇÃO PÓS-ILUMINISTA (págs. 19 a 30)

OBRA: FELICIDADE (DIÁLOGOS SOBRE O BEM-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO)DE EDUARDO GIANETTI

CLEITON CESAR SCHAEFER

CURITIBA2010

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A BIFURCAÇÃO PÓS-ILUMINISTA

O livro “Felicidade: diálogos sobre o bem-estar na civilização” do sociólogo, economista, professor e escritor mineiro Eduardo Gianetti, PhD pela Universidade de Cambridge, é um livro que relata encontros criados pelo autor que abordam questões como a bifurcação pós-iluminista, os indicadores objetivos e subjetivos de bem-estar, a domesticação do animal humano e a pílula da felicidade instantânea. A respeito do livro, o professor de Economia e diretor da FAAP, Luiz Alberto Machado comenta a obra assinalando que:

“ (...) Giannetti extrapola os rígidos e por vezes estreitos limites da análise econômica tradicional, que se repete monotonamente nas páginas dos jornais e das revistas, nas entrevistas no rádio e na televisão, e até mesmo nos sites especializados na Internet, e que habitualmente usam e abusam do “economês” – um jargão fechado, desconhecido para a maioria, e de uma infinidade de dados estatísticos e gráficos que, no mais das vezes, só servem para confundir ainda mais o pobre leitor ou ouvinte. E por que Eduardo Giannetti se diferencia tanto? Em parte, por sua própria formação. Além de economista, ele se graduou também em ciências sociais, possuindo diversificada formação cultural, solidificada ao longo de uma vida caracterizada, entre outras coisas, por uma enorme paixão pelas artes de uma forma geral, e pela leitura em particular. Não é por outra razão que, em Felicidade, assim como em outros de seus livros, ele passeia por campos do conhecimento tão distintos como biologia, sociologia, filosofia, ética, religião, neurofisiologia e política – além, é claro, da própria economia.É a essa reflexão que a leitura de Felicidade nos remete. Reflexão, diga-se de passagem, feita pelo próprio autor, que escreveu o livro nos quatro meses em que pôde se beneficiar do rico ambiente do Saint Anthony’s College, em Oxford, no fim de 2001, logo após os trágicos atentados de 11 de setembro às torres do World Trade Center”.

Também fala a respeito do livro Jardel Dias Cavalcanti:

“O tema da felicidade é quase que abandonado por pensadores sérios da atualidade. Agora temos um que se aventurou no assunto. Eduardo Giannetti é um escritor corajoso. Quem ousaria, na atual conjuntura das excessivas e calhordas publicações de auto-ajuda, escrever um livro cujo tema seja a felicidade? Outra questão interessante: quem ousaria comprar um livro cujo título, grafado em preto sobre um fundo abóbora, seja Felicidade? Fico imaginando uma legião de leitores mal-avisados, em busca de uma saída fácil para suas desgraçadas vidas cotidianas, comprando este livro e se decepcionando com sua leitura difícil para um leigo. Pois bem... O livro existe e o que interessa é debater parte de seu conteúdo. Trata-se de Felicidade: diálogos sobre o bem-estar na civilização, de Eduardo Giannetti, publicado pela Companhia das Letras. O livro é escrito em forma de diálogos. O termo Diálogo apresenta-se como uma forma literária na qual o autor procura transmitir idéias através de uma discussão de viva voz. Os exemplos mais antigos dessa forma são os diálogos de Platão, seguidos pelos de Xenofonte e mais tarde pelos de Aristóteles. No período tardio da literatura grega o escritor Luciano transformou essa forma literária num veículo para suas sátiras. Na literatura romana os melhores exemplos são os tratados de Cícero e Tácito (autor de Dialogus de Oratoribus, um diálogo sobre as causas do declínio da oratória)”.

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Faz lembrar previsões sobre a conquista do bem-estar (viver mais próximo do feliz) de Condorcet: "o progresso das artes mecânicas trará um novo padrão de conforto e felicidade à massa da humanidade".

A relação entre processo civilizatório e o conceito focado neste estudo em Felicidade, de Eduardo Gianetti. Está no primeiro texto intitulado "A bifurcação pós - iluminista" apresentado pelo personagem Melo, um erudito historiador de idéias que leu em demasia e encontra dificuldade em acreditar no que quer que seja; atualmente desempregado, aos outros três amigos que participam de encontros para entender melhor e discutir a felicidade.

Enormes avanços civilizacionais aconteceram em todos os campos de atividade humana nos últimos 300 anos. Novos objetos, amplos confortos, excelentes facilidades e novos meios de manutenção da vida humana vieram para ficar, como conquistas civilizatórias irreversíveis, das quais ninguém mais quer abrir mão.

Constata-se, no entanto, que o índice histórico de satisfação e de plenitude subjetiva declarado pelas populações permanece, teimosamente, estacionado em patamar baixo: o aumento acelerado do poder aquisitivo e o acesso aos bens de consumo e de conforto habitualmente não acarretam aumento da sensação de bem-estar subjetivo. Verifica-se com espanto que o bem-estar não é função da satisfação de um número maior de desejos ou de preferências.

Há custos e desgastes embutidos no avanço do processo de enriquecimento, como o aumento da tensão no cotidiano e a vida em competição profissional constante. E sobretudo inseguranças de natureza variada, a começar pela incerteza devido à imaturidade pessoal, seguida pela ambigüidade nas relações afetivas, que se deslocam para a desproteção nas relações de trabalho. Tudo isso é traspassado pelo estresse em quase todos os momentos do dia, somando-se ao desgaste de se estar sempre alerta para fazer a escolha acertada e desempenhar a contento a tarefa. Um açulamento da inveja ao se comparar relativamente à posição dos demais é outra sub-reptícia fonte de aflição. Uma corrida desenfreada em direção à conquista de bens, recursos, posições torna-se mais dantesca quando se passa a disputar insígnias e distinções.

 A certa altura da vida, o indivíduo reflete sobre o sentido de tudo isso e avalia a relativa inutilidade de tanta insensatez. Algo muito precioso faltou para dar estofo e substância ao âmago de seu ser. Se a obtenção da autonomia pessoal é o valor principal na vida ética das pessoas, no Ocidente, por que o exercício da liberdade, sob a égide da razão e da lei, não conduziu sempre o homem à felicidade? 

 O projeto iluminista preconizava que a Razão levaria ao Progresso que, por sua vez, incentivaria a prática da Virtude, o que conduziria as pessoas ao desfrute da Felicidade. O que falhou?

 A ingenuidade de não haver percebido que nossas escolhas contêm um âmbito estreito de previsibilidade e que, além de certos escopos, nossas opções têm conseqüências imprevistas.

 Falhou porque, aos inquestionáveis avanços na vida prática em termos de saúde, renda, conforto, condições de trabalho, lazer, segurança pessoal, meios, modos e locais propícios ao desfrute do prazer, perspectiva de futuro e aumento em um terço na expectativa de vida, ainda assim, o projeto iluminista não foi capaz de atender aos caros anseios da subjetividade humana em dispor-se em situação de bem-estar sustentado. Fracassou também em propiciar o poderoso sentimento de realização existencial, imprescindível para dar estofo aos seres humanos.

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O bem-estar objetivo, no campo dos objetos de uso e de conforto materiais, avançou exponencialmente, mas a um custo dispendioso de recursos endógenos, sempre escassos.

O bem-estar subjetivo, medido pela maneira como os indivíduos estão sentindo e avaliando suas vidas, na medida em que o mundo à sua volta delas exige desempenhos cada vez de maior rendimento e lhes impõe suas transformações, tem sido sempre percebido, catatimicamente, como desgastante e desvantajoso para as pessoas.

Verifica-se que, nas populações urbanas, é rara a possibilidade de se usufruir do sossego necessário para que se possa sentir o bem-estar subjetivo, que é o fundamento da felicidade.

Viver no mundo moderno tem sido lidar com a discrepância entre as aspirações variadas da pessoa e a realidade dura, que teima em contingenciar e reduzir o índice de realização histórica dos sujeitos.

No mundo adulto do capitalismo, quase tudo faz passagem pelo dinheiro. Custa dinheiro. Então, se dinheiro não traz felicidade, por vezes, ele manda buscar. O fato é que, sem dinheiro, o indivíduo se vê privado do acesso aos sucedâneos adultos de seus objetos infantis de prazer. Vida sem prazeres é vida tosca, sujeita só a impostos, deveres, obrigações, canseiras e chatices: vida amarga, infeliz. O acesso aos prazeres legítimos é o tempero da vida e o antídoto que protege contra os venenos da existência.

Segundo Eduardo Giannetti, há uma “permuta civilizatória”, mediante a qual somos cooptados e penetramos pressurosamente pelos meandros do processo civilizatório, tendo em vista os enormes benefícios que dele desfrutamos, mas pagamos o preço de ter de controlar e superar os primitivos instintos do animal bípede – o primata – que somos. Há que nos assenhorear de nossa bruta natureza, com sua forte propensão a reagir imediata e rigorosamente a tudo aquilo que nos contraria em uma violenta reação. Passamos, gradativamente, a ter de esperar, refletir e agir de forma racional, dando resposta adequada aos estímulos e às circunstâncias, resposta esta protraída, postergada, diferida. Viver em civilização implica manter em mãos, sob rédea curta, a besta-fera que em cada um de nós habita.

Supõe-se que essa contenção seja responsável pela perda da alegre espontaneidade de viver. Por conseguinte, o índice de felicidade de um povo ou de uma nação não aumenta quando há mais riqueza desfrutável.

Tem-se como evidência que as pessoas passam a vida sem saber o que fazer com elas mesmas. De regra, agarram-se à tontería de ritos, de cultos, de deuses, que as alienam e as descentram de si mesmas. Por conseqüência, as pessoas vivem psiquicamente dependuradas nos galhos da frondosa árvore da dependência a abstrusos senhores imaginados.

Felicidade é – como tudo que vale a pena – confeiçoada. É buscada, cultivada, cuidada, feita. É atividade que se constrói, conquista-se, experimenta-se, até poder vir a ser desfrutada. Ela é feita de empenho, persistência, discernimento, diligência, carinho, edificação e amor.

Felicidade resulta de uma vida bem safada dos empecilhos e dos embondos corriqueiros, conduzida por entre os encolhos e os arrecifes das laterais dos canais da vida por todos aqueles que dispõem de visão e mãos de piloto. Resulta de uma vida bem guiada, fruto das escolhas e dos valores que definem uma trajetória existencial. Fonte de alegria e de contentamento, felicidade é júbilo compartilhado. Mais que sorte ou direito, a felicidade é construção, conquista e adequação.

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REFERÊNCIAS

Pesquisa e Cia. Acesso em 18.06.10. Disponível em:http://pesquisaecia.blogspot.com/2008_02_01_archive.html

Entretenimento uol. Acesso em 18.06.10. Disponível em:http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/2007/09/26/ult4326u389.jhtm

Interpoetica. Acesso em 20.06.10. Disponível em:http://www.interpoetica.com/a_felicidade_em_clarice.htm

Felicidade é brinquedo que não tem ...(“Boas Festas.” Assis Valente, 1933.), de Marco Aurélio Baggio. Acesso em 20.06.10. Disponível em:http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:BP0ZRAQOs70J:www.marcoaureliobaggio.com/livros/textos_escalares.doc+Felicidade+A+bifurca%C3%A7%C3%A3o+p%C3%B3s-iluminista+EDUARDO+GIANNETTI&cd=12&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br