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7/25/2019 "A cara do cinema nacional: gnero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros (2002-2012)"
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A Cara do Cinema Nacional:gnero e cor dos atores, diretorese roteiristas dos filmes brasileiros
(2002-2012)Marcia Rangel Candido
Gabriella MoratelliVernica Toste Daflon
Joo Feres Jnior
textos paradiscusso
Grupo de Estudos Multidisciplinaresda Ao Afirmativa
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Expediente
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
Instituto de Estudos Sociais e Polticos IESP
Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ao Afirmativa
gemaa.iesp.uerj.br
Coordenadores
Joo Feres Jnior
Luiz Augusto Campos
Pesquisadores Associados
odidnaClegnaRaicraM
Veronica Toste Daflon
Assistentes de pesquisa
Gabriella Moratelli
Thyago Simas
Leandro Guedes
Capa, layout e diagramao
Luiz Augusto Campos
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textos para discusso do g m / ano 2014 / n. 6 / p. 2
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textos para discusso
g m
A Cara do Cinema Nacional: gnero e cor
dos atores, diretores e roteiristas dos filmes
brasileiros (2002-2012)
Marcia Rangel Candido
Pesquisadora IESP-UERJ
Gabriella Moratelli
Pesquisadora IESP-UERJ
Vernica Toste Daflon
Pesquisadora IESP-UERJ
Joo Feres Jnior
Professor IESP-UERJ
Este texto discute a questo da diversidade na produo
cinematogrfica brasileira. Para termos uma compreenso
da distncia entre estatuto legal e realidade, primeiro
apresentamos um levantamento da legislao existente no
tocante incluso dos negros na produo audiovisual. Em
seguida, a partir de uma anlise quantitativa dos filmes
nacionais de maior bilheteria entre 2002 e 2012,
estabelecemos a distribuio das funes de direo,
roteirizao e atuao, de acordo com as variveis cor e
gnero. O objetivo principal constatar quais so os agentes
construtores da representao e como ela construda.
Os estudos sobre o cinema brasileiro que se ocupam das questes de cor e
gnero frequentemente concedem preferncia descrio de personagens e
abordagem de filmes especficos. O presente texto busca contribuir para o
debate sobre representao a partir de um recorte diferente, que d tratamento
quantitativo a um corpus composto por filmes brasileiros que conquistaram
maior bilheteria no pas ao longo da ltima dcada. Ao optar pelo presente
escopo de pesquisa, procuramos caracterizar a produo nacional que obteve
mais difuso comercial nos ltimos anos. Partimos de duas questes centrais:
h diversidade nos processos de criao dos filmes? Os diferentes grupos sociais
encontram-se representados nessas produes? Entende-se aqui que o cinema
um espao a partir do qual se difundem padres estticos e costumes que
ajudam a formar a percepo das pessoas sobre o mundo e sobre si mesmas
(Kellner, 2001). Embora no se possa negar a possibilidade de agncia dos
indivduos, necessrio atentar para as formas simblicas que participam em
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sua formao. Se h uma linha tnue entre representaes, formao de valores
e de expectativas sociais, a democratizao dos espaos e, em particular, da
mdia de suma importncia para que os sujeitos possam obter estima social,
elemento constitutivo da integridade humana. Afinal, como assinala Axel
Honneth (1992), a introjeo pelo sujeito de uma imagem negativa de si mesmo
limita sua capacidade de se constituir como igual perante seus parceiros de
interao social. Nesse sentido, a constatao de que existe um monoplio na
produo de representaes por um grupo majoritariamente branco, de elite e
do gnero masculino sugere que os meios audiovisuais operam como uma caixa
de ressonncia das ideias de um grupo dominante e, portanto, difundem
esteretipos e representaes enviesadas das vivncias de outros grupos sociais.
Em outras palavras, eles hipoteticamente funcionam como uma pedagogia da
inferioridade e da hierarquia social, emprestando-lhes um aspecto de
naturalidade e legitimidade aos olhos de quem quer que consuma seus
produtos, no caso aqui, filmes.
O debate sobre representao e diversidade na cultura tema amplamente
explorado pelas cincias humanas. Regina Dalcastagn (2007), por exemplo,
demonstrou como o campo literrio se configura como um espao de
excluso1, no qual homens brancos so maioria, seja entre personagens ou
autores. Do mesmo modo, em nosso estudo sobre o campo do cinema,
buscamos dar centralidade s categorias de raa e gnero, visando a identificar
os grupos mais expostos a excluses e sub-representao.
O cinema brasileiro se configurou historicamente como um campo pouco
diverso. No temos aqui o objetivo de expor sua histria de modo exaustivo, sejado ponto de vista das relaes raciais, seja do ponto de vista de gnero. Contudo,
vale ressaltar alguns momentos a ttulo de ilustrao. O trabalho de Noel dos
Santos Carvalho (2005) demonstra como o negro esteve historicamente exposto
a um papel de subalternidade, no obtendo protagonismo e tampouco uma
1 DALCASTAGN, Regina. A autorepresentao de grupos marginalizados: tenses e estratgias na
narrativacontempornea.
Letras
de
Hoje,
Porto
Alegre,
v.42,
n.4,
p.18
31,
dezembro
2007.
Disponvel
em:.Acessoem:28dejulhode2014.
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participao significativa na produo cinematogrfica. Na poca do cinema
mudo, final do sculo XIX e comeo do sculo XX, negros s apareciam nas
filmagens como figurantes acidentais. A partir do desenvolvimento da tcnica de
decupagem, isto , a diviso de uma cena em planos, o cinema se embranqueceu
ainda mais, pois agora era tecnicamente possvel introduzir cortes e, assim,
eliminar imagens indesejadas de negros, pobres, indgenas, entre outros, nos
processos de montagem (Carvalho, 2005).
Isso permitiu que o ideal de embranquecimento da populao fosse transposto
para as telas. Em torno da dcada de 1950, o gnero da chanchada introduziu a
representao do negro, mas na forma de uma caricatura exotizada eestereotipada (Carvalho, 2005). No mesmo perodo, com inspirao no sucesso
das chanchadas, mas buscando se dissociar daquilo que percebia como
vulgaridade, a burguesia paulistana direcionou investimentos para a construo
de uma cultura que se espelhasse na produo europeia e fosse acessvel elite.
A Companhia Vera Cruz nasceu desse desejo e deu preferncia contratao de
diretores estrangeiros ou brasileiros que haviam trabalhado no exterior (Stam,
1997). A idealizao da branquidade foi central na produo da Vera Cruz, que
era flagrantemente racista (Carvalho, 2005). Antes de fechar as portas, a
empresa ainda tentou popularizar a temtica de seus filmes, por vislumbrar
chances de maior sucesso comercial (Stam, 1997).
O marco que representou um avano na mudana na representao dos negros
foi o Cinema Novo, desenvolvido a partir de uma perspectiva de esquerda,
durante a dcada de 1960. Esse cinema configurou-se como antirracista e como
fundador de uma nova representao, contrria aos esteretipos dominantes donegro (Carvalho, 2005). A despeito disso, h quem aponte para uma falta de
enfrentamento da ideologia do branqueamento que pairava no contexto
nacional, pois foram poucos os filmes que romperam com a esttica dominante
(Arajo, 2006). Se houve avanos na incluso de atores e atrizes negros, este
avano no se estendeu s funes de direo e roteiro, que permaneceram nas
mos de realizadores brancos (Carvalho, 2005). No que toca perspectiva de
gnero, a participao feminina continuou sendo irrisria (Alves et al; 2011).
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Com o golpe de 1964, as mudanas que estavam em curso foram em parte
estancadas, ainda que na dcada de 1970 tenha havido no Brasil uma influncia
difusa dos movimentos sociais negros norte-americanos e africanos (Carvalho,
2005). Tambm nesta dcada, a representao da mulher comeou mudar, em
conjunto com outros valores sociais que marcam uma mudana cultural mais
ampla (Alves et al; 2011).
Segundo dados do IBGE (2012), 22% dos brasileiros so do sexo masculino e de
cor branca, 26% do sexo masculino e de cor parda ou preta, 24% do sexo
feminino e de cor branca e 27% do sexo feminino e de cor preta ou parda. A
despeito da diversidade da populao, os espaos de representao que possuemmais visibilidade permanecem fechados ao monoplio de grupos minoritrios.
Nas telenovelas da Rede Globo transmitidas entre os anos de 1993 e 1997,
apenas 7,9% dos 830 atores eram de cor preta ou parda. O padro de excluso
foi verificado tambm na publicidade: do total de 1.204 modelos que figuraram
em anncios publicitrios veiculados pela Revista Veja entre 1994 e 1995,
somente 6,5% eram negros. Durante esse mesmo perodo, os anncios presentes
na Revista Nova, voltada para o pblico feminino, apresentaram apenas 4% de
modelos pretos e pardos (DAdesky apud Telles, 2004).
Ao examinar a situao de desigualdade de gnero no cinema brasileiro em
perspectiva histrica, Paula Alves et al. (2011) identificam uma participao
diminuta das mulheres em cargos de direo e roteiro ao longo do tempo,
embora tenha havido uma trajetria de crescimento nos ltimos anos. Segundo
Alves et al., ao entrarem em contato com o cinema como consumidoras, as
mulheres foram expostas ao olhar masculino dominante que as colocava emuma posio objetificada e mercantilizada. No entanto, esta anlise permanece
alheia questo racial.
O presente estudo se prope a cobrir essa lacuna ao levar em conta as duas
variveis, raa e gnero, na anlise da produo cinematogrfica brasileira
comercial. Primeiro, elencaremos a legislao existente sobre a incluso dos
negros nos espaos de representao. Em seguida, apresentaremos a
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metodologia de pesquisa empregada. Por fim, discutiremos os dados gerados e
as concluses.
Legislao e igualdade racial
Leis municipais. A partir de um mapeamento, encontramos um total de nove
leis municipais que tm por objetivo ampliar a representao dos negros na
mdia audiovisual. Destas nove, apenas cinco leis estabelecem efetivamente
cotas de representao. A obrigatoriedade de observncia de tais cotas, por sua
vez, recai apenas sobre agncias e produtoras independentes contratadas por
prefeituras, o que exclui produtoras e agncias privadas. Isso significa que as
poucas leis existentes que estipulam cotas de representao no audiovisualrecaem apenas sobre a produo independente, que no est vinculada aos
grandes estdios e tampouco s grandes distribuidoras. Em outras palavras, as
leis, alm de escassas, no atingem o cinema comercial. A nica lei que
contempla ambas as formas de produo a n 3.269, de 30 de agosto de 2011,
sancionada na cmara do municpio do Rio de Janeiro, e que determina a
incluso de no mnimo 40% de artistas e modelos negros na elaborao e
produo de filmes subvencionados ou coproduzidos pela Prefeitura.
Leis estaduais. Na esfera estadual encontramos trs leis. Duas so estatutos de
promoo da igualdade racial sancionados pelos governos do Rio Grande do Sul
(2011) e da Bahia (2014). Tais normas contm artigos quase idnticos aos do
Estatuto da Igualdade Racial2 aprovado em mbito federal em 2010. Assim
como ocorre com a maior parte das leis municipais, os artigos so voltados para
a esfera pblica e, ao se referirem promoo de igualdade de oportunidades,
utilizam redao vaga e inespecfica, como fica exemplificado nos excertos:
assegurar igualdade de representao (...); adotar a prtica de conferir
oportunidades; assegurar a representao justa e proporcional dos diversos
segmentos raciais da populao. Mesmo quando se tenta estabelecer
parmetros quantitativos para esta participao, so utilizados termos genricos
que, como mostra Silva (2010) ao analisar a trajetria do Estatuto da Igualdade
2
No
se
pretende
com
essa
informao
diminuir
aimportncia
regional
do
avano
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promoo
do
debatepblicosobreotemadaigualdaderacial.Porm,constatousequehouvepoucasmudanasnostextosdestesestatutoscomparandoseaoquefoiformuladonaesferafederal.
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Racial federal, possuem carter mais autorizativo do que impositivo. Vejamos o
artigo 20 do Estatuto da Igualdade Racial do Rio Grande do Sul:
A idealizao, a realizao e a exibio das peas publicitrias veiculadas peloPoder Pblico devero observar percentual de artistas, modelos etrabalhadores afrodescendentes em nmero equivalente ao resultante docenso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE - de afro-brasileiros na composio da populao do Rio Grande do Sul (Rio Grandedo Sul, 2011).
Leis federais. Na esfera federal, o Estatuto da Igualdade Racial, sancionado em
20 de julho de 2010, representou um avano importante de atendimento s
demandas do movimento negro no Brasil. A elaborao deste estatuto teve como
ponto de partida o Projeto de Lei n 3.198/2000, proposto pelo senador PauloPaim e elaborado em colaborao com o movimento negro, seguido por dois
substitutivos (Silva, 2010)3. No que diz respeito participao de artistas negros
em filmes, programas e peas publicitrias, o estatuto determina, em seu artigo
44, que devam ser garantidas oportunidades iguais a atores, figurantes e
tcnicos negros, sendo vedada toda e qualquer discriminao de natureza
poltica, ideolgica, tnica ou artstica (Brasil, 2010). Acrescenta ainda, em seu
artigo 46, a necessidade de incluir clusulas de participao de artistas negrosnos contratos de realizao de filmes, programas ou quaisquer outras peas de
carter publicitrio (Brasil, 2010). No entanto, o estatuto no estabelece um
percentual ou uma proporo especfica. No Grfico 1 podemos ver como as
proposies de leis se distribuem pelas esferas de governo.
Grfico 1: Quantidade de leis sobre representao visual dos negros propostas
em cada esfera de governo, com destaque para cotas
3Ossubstitutivosforam:PLn213/2003eoPLn7.720/2010.
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textos para discu
Tabela 1: Sntese das leis de promoo da diversidade na mdia e na produo cinematogrfica
4 Em seu artigo 2 determina que consideramse pessoas afrodescendentes as que se enquadram como negros, pardos
classificaoadotadapeloInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatstica.
Categoria Local Data Nmero Direo
Municipal Vitria 02/05/1995 4193 Agnciasdepublicidadeeprodutores
independentescontratadaspelaPrefeitura.Assegurar
a
Municipal
RiodeJaneiro
15/05/1995 2325Agnciasdepublicidadeeprodutores
independentescontratadospelaPrefeitura.COTAS:incnegrosna
Municipal
BeloHorizonte
17/11/1995 6979Agnciasdepublicidadeeprodutores
independentescontratadospelaPrefeitura.COTAS:inc
filme
Municipal
SoPaulo 13/06/1997 12353Agnciasdepublicidadeeprodutores
independentescontratadospelaPrefeituradoMunicpio.
Incluirarti
Municipal
RiodeJaneiro
30/08/2001 3269Filmessubvencionadosoucoproduzidospela
Prefeitura.COTAS:in
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Municipal
SoMateus
16/09/2003 241Agnciasdepublicidadeeprodutores
independentescontratadospelaPrefeitura.Assegurar
Municipal Campinas 13/12/2004 12156
EmpresasqueparticiparemdelicitaeseconcorrnciaspromovidaspelaAdministrao
Municipal.
COTAS:omodel
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textos para discus
5InstituioEstatutodaIgualdadeRacialnoEstadodoRioGrandedoSul.
Municipal Joinville 09/06/2005 5229Agnciasdepublicidadeepropaganda
contratadaspeloPoderExecutivoMunicipal.COTAS:incnegrosna
Municipal Cricima 02/12/2010 5709
Agnciasdepublicidadee/ouprodutoresindependentes,contratadospelosrgos
pblicosmunicipais.
COTAS:inclmodelosn
Estadual
EspritoSanto
23/06/2005 8062Agnciasdepublicidadeeprodutores
independentes,contratadospeloGovernodoEstado.
COTAS:inclmodelosn
Estadual
Rio
GrandedoSul
2011 136945 PoderPblico(artigo20).
Observartrabalhad
equivalentBrasileirodafrobrasile
RioGrandexi
Estadual
RioGrandedoSul
2011 13694Emissorasdetelevisoesalascinematogrficas
(artigo22).
Adotarapemprego
negrosdiscrimina
tnicao
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textos para discu
6InstituioEstatutodaIgualdadeRacialedeCombateIntolernciaReligiosanoEstadodaBahia.
7InstituioEstatutodaIgualdadeRacial
Estadual
RioGrandedoSul
2011 13694rgoseentidadesdaAdministraoPblica
Estadual(artigo
23).
Tonarpparticipa
realizaooutraspe
da
Estadual
Bahia 2014 131826
PolticadecomunicaosocialdoEstadoepublicidadedosatos,programas,obras,servios
ecampanhasinstitucionaisdoEstado(artigo60).
Asseguraradosdiversopeasinstitobservando
nacom
Estadual
Bahia
2014
13182
Emissoras
pblicas
estaduais
de
teledifuso
e
radiodifuso(artigo61).
Desenvolve
divulgao,
segmentos
Federal
Brasil 20/07/2010 122887Emissorasdetelevisoesalascinematogrficas
(artigo44).
Adotarapemprego
negrosdiscrimina
Federal
Brasil
20/07/2010
12288
rgoseentidadesdaadministraopblica
federaldireta,
autrquica
ou
fundacional,
as
empresaspblicaseassociedadesdeeconomiamistafederais(artigo46).
Incluircl
negrosnoprogramas
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A partir da coleta de dados do contedo das leis municipais, estaduais e
federais, observamos que houve uma evoluo maior nos estados e municpios
do que na esfera federal. Entretanto, em nenhuma das esferas houve avanoefetivo no que diz respeito interveno na mdia de carter privado. Ao no
estipularem cotas, metas e/ou quantidades especficas, optando pelo uso de
termos genricos, as leis do liberdade para que cada empresa, agncia ou
produtora, defina por si o contingente de negros nas suas produes, o que
contribui para a baixa efetividade dessas normas.
A cara do cinema brasileiro
Metodologia
A metodologia do trabalho consistiu em uma anlise descritiva dos filmes de
maior bilheteria do cinema brasileiro entre 2002 e 2012. Para tal, foram usadas
como fonte de pesquisa as listagens anuais que a Agncia Nacional do Cinema
(Ancine) divulga em seu website (http://www.ancine.gov.br/). O recorte
estabelecido contemplou os 20 filmes que obtiveram maior bilheteria em cada
ano8, excluindo os documentrios e os filmes infantis, o que totalizou um corpus
de 218 longas-metragens.9 Tambm empregamos uma classificao mais
abrangente com outros critrios como ambientes10de locao, regies11e idade
dos atores e atrizes. Contudo, o presente texto se concentrar em algumas
variveis especficas. Analisaremos as caractersticas dos diretores, roteiristas e
atores/atrizes, que foram classificados segundo seu gnero feminino e
masculino - e cor.
Para definir a primeira varivel, optamos pelo conceito de gnero, segundo o
qual o feminino e o masculino so produtos de construes sociais e no
necessariamente do sexo biolgico. Com respeito varivel de cor, utilizamos a
heteroidentificao racial, ou seja, o grupo de cor de cada sujeito pesquisado foi
aferido pelos prprios pesquisadores. Para classificar a cor, utilizamos as
8Comexceoparaoanode2012,ondeaoretirarosfilmesinfantiseosdocumentrios,sforam
computados18filmes.9Ofilme5Xfavelafoiretiradodaamostraporserumoutlier,ouseja,porterumnmeroincomumde
diretores,roteiristas
eatores.
10
Osambientesforamdivididosentre:urbano,rural,reaindgena,serto,favelaeasfalto.11
Asregiesclassificadasforam:Norte,Nordeste,CentroOeste,SudesteeSul.
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categorias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE): branca,
preta, parda, amarela e indgena.12A cartela de cor da Pesquisa Social Brasileira
(Almeida et al, 2002) serviu como parmetro para que os codificadores da
pesquisa categorizassem a cor dos atores, roteiristas e diretores dos filmes, cujas
fotografias foram obtidas em pesquisa na internet. Ocupamo-nos no apenas
dos protagonistas, mas tambm do elenco principal dos filmes, selecionando
atores e atrizes que tivessem algum tipo de destaque nos trailers, sinopses13ou
cartazes de divulgao dos filmes. Alm disso, foi dada ateno para a questo
da heteronormatividade entre os personagens, isto , buscamos verificar se h
espao para a representao de orientaes sexuais diversas. O objetivo geral
aqui proposto mostrar quem so os agentes construtores da representao e
quem so os indivduos construdos por ela, buscando constatar se h
diversidade em ambos os quesitos.
Resultados
A presente pesquisa se prope a verificar se os padres de excluso de raa e
gnero verificados na televiso se repetem no cinema brasileiro comercial. A
srie de grficos que se segue apresenta os percentuais de participao de
homens e mulheres, negros e brancos no cinema. Examinamos as funes de
direo, roteirizao e, por fim, a de atuao, observando a distribuio dos
indivduos por gnero e cor. Uma rpida anlise da correlao entre o cargo de
diretor e os gneros cinematogrficos dos filmes permite tambm verificar se h
vis na presena de diretores e diretoras conforme o tipo de filme em questo.
1) Diretores
O diretor ocupa o cargo mais prestigioso dentro da produo de um filme e tambm considerado o principal criador da obra cinematogrfica. O Grfico 2,
que expe as frequncias relativas de diretores dos gneros masculino (86,3%) e
feminino (13,7%), demonstra que h um vis muito desfavorvel s mulheres.
Em termos gerais, isso significa que ainda que as mulheres estejam presentes
nas telas de cinema, elas esto mormente em uma posio de objetos de
12OSRIO,2003.P.7
13Ositeusadocomofonteparaassinopsesfoiohttp://www.cineclick.com.br/
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todo caso, seja qual for sua natureza moderna ou ps-moderna aidentidade na sociedade contempornea cada vez mais mediada pela mdiaque, com suas imagens, fornece moldes e ideais para a modelagem daidentidade pessoal. (Hall, 2006: 317)
A afinidade com a publicidade e o consumo, a lgica de produo industrial e a
ambio por uma ampla audincia, por sua vez, tendem a fazer do cinema um
meio predominantemente conservador, orientado por frmulas, cdigos e
normas convencionais, assim como normalmente refratrio a contedos que
contrariem um olhar presumidamente conservador do espectador. Se somarmos
a isso a predominncia de indivduos brancos, de elite, e do gnero masculino
nos mbitos da direo, roteirizao e atuao no cinema, o carter conservador
do cinema torna-se ainda mais pronunciado, uma vez que os contedos da
derivados tendem a reverberar opinies associadas classe social, raa e gnero
de seus produtores. A entrada de grupos minoritrios nesses espaos traria a
esperana de que novas perspectivas possam contribuir para uma viso de
mundo mais aberta, menos enviesada e livre de esteretipos, onde as diferenas
que compe nossa sociedade possam ser representadas, e no invisibilizadas.
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Como citar
Candido, Marcia Rangel; Moratelli, Gabriela; Daflon, Vernica Toste;Feres Jnior, Joo. A Cara Do Cinema Nacional: gnero e cor dos
atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros (2002-2012). Textospara discusso GEMAA (IESP-UERJ), n. 6, 2014, pp. 1-25.