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A cegonha espia

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....................................................................................................... 04 Depoimento de Ayman Abdallah ............................................................................. 04

Depoimento de Maakha Mahu ................................................................................. 05

Depoimento de Housni Mubarak ............................................................................. 06

................................................................................... 07

Depoimento de Azeneth ........................................…….............................…….…....... 07

Depoimento de Netihur ....................................................………............................... 08

............................................................................................ 09

Depoimento de Jolan ...........................................………………………............................ 09

Depoimento de Gyorgyike................................................………................................. 10

Depoimento de Hajnal ...........................................……….......................................... 11

..................................................................... 12

Depoimento de Thilo Rehren ..................................................................................... 12

Depoimento de Djer Abbas ....................................................................................... 13

Depoimento de Mohammed Kamal .......................................................................... 14

.............................................................................................15

Depoimento de Zahi Hawass .................................................................................... 15

Depoimento de Orítia Abdum .................................................................................. 16

Depoimento de Tom Watkis ...................................................................................... 17

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Florianópolis - novembro de 2013 Travessa em Três Tempos Ano IV N° 15

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Ave foi solta por não oferecer perigo à segurança nacional. Cegonha tinha

sido detida em Qena, a 450 km da capital Cairo.

A polícia egípcia libertou a quarta-feira (5) uma cegonha que foi presa

por suspeita de espionagem. A ave havia sido detida na semana passada

depois que um pescador de Qena, a 450 km do Cairo, avistou um dispositivo

eletrônico anexado a suas penas.

Pensando que fosse uma “espiã”, ele capturou a cegonha e a levou para

uma delegacia perto de sua casa, disse Mohammed Kamal, chefe de segurança

na região de Qena. Agentes examinaram a ave, temendo que ela levasse um

equipamento de espionagem.

Após chamarem um veterinário, a confusão acabou resolvida. A cegonha

levava apenas um localizador instalado por pesquisadores para monitorar o

movimento migratório, disse Ayman Abdallah, chefe dos serviços veterinários

em Qena.

A cegonha foi solta na quarta-feira depois que a Associação de

Ornitologia e de Proteção do Meio Ambiente da Hungria (MME) entrou em

contato e informou às autoridades egípcias que havia colocado o localizador

na ave.

Segundo a MME, “as autoridades egípcias analisaram o caso e

declararam que a ave não representava perigo à segurança nacional”.

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Causa de morte ainda não foi esclarecida. Ave tinha localizador que foi

confundido com equipamento de espionagem.

Uma cegonha que havia sido presa suspeita de espionagem foi achada

morta neste sábado (7) em uma ilha do Rio Nilo, próximo a Aswan, no Egito.

O motivo da morte ainda não está claro, e há boatos de que a ave tenha

sido comida por moradores locais.

A cegonha havia sido libertada na quarta-feira (5), uma semana depois de

ter sido “detida” depois que um pescador de Qena, a 450 km do Cairo, avistou um

dispositivo eletrônico anexado a suas penas.

Fonte: G1 São Paulo

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Qual será o grande segredo sobre a humanidade ainda escondido no território egípcio a

espera para ser revelado? Quem estuda a civilização egípcia não tem dúvidas sobre a riqueza

da sua cultura. Seja na religião, arte, língua e costumes, os egípcios sempre estimularam a

imaginação e tiveram influência na cultura de outros povos. Histórias míticas não apenas

ajudam a contar a história dos seres humanos na terra, mas também, são exaustivamente

estudadas por cientistas, historiadores e pesquisadores para buscar explicações para toda a

produção simbólica egípcia.

Em agosto deste ano ocorreu o maior roubo a um museu egípcio. Larápios levaram uma

estátua de calcário de 3.500 anos, joias antigas e mais de mil artefatos de inestimável valor

histórico. Essa não foi a primeira vez. Na década de 1980 foram roubados quatro artefatos

arqueológicos que hoje estão em exposição no Museu do Louvre. Em 2011, cinquenta e quatro

artefatos egípcios foram roubados durante uma série de manifestações de rua, protestos e

atos de desobediência civil, situação que ficou conhecida como a Revolução no Egito..

No Museu Egípcio, em Berlim, está o busto de Nefertite, mulher do faraó Akhenaton, e,

no British Museum de Londres está a Pedra de Roseta, fundamental para a descoberta dos

significados dos hieróglifos.

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Depoimento de Ayman Abdallah

Juro pelo que o senhor quiser, senhor delegado, que o dispositivo que estava preso na pata

da cegonha era apenas um localizador. Sei que aquele repórterzinho da CNN anda escrevendo

coisas sobre mim, mas o senhor tem que entender, aquele lá vive no mundo da conspiração. Ano

passado ele disseminou a notícia de que eu estava mancomunado com Zahi Hawass e agora usa

esta suposta ligação para fazer suposições infundadas. Sou apenas um médico veterinário, cuido

dos meus animais e é isso. Que tipo relação eu poderia tem com essa gente importante? Um

pescador resolve denunciar uma cegonha e Tom Watkins faz com que eu pague o pato? Isto é um

absurdo.

Depoimento transcrito por [M.B]

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Recentemente, retornaram para o Egito os tufos de cabelo da múmia do faraó Ramsés II,

de 3.200 anos de idade, que estavam na França à venda pela Internet. De acordo com o chefe

das antiguidades egípcias, Zahi Hawass, a múmia de Ramsés, descoberta em 1881, foi levada a

Paris para tratamento de uma infecção por fungos.

Todos estes acontecimentos isolados estão interligados, e essa conexão só foi possível

ser estabelecida a partir da morte da cegonha espiã. O animal foi encontrado sem vida no dia 7

de setembro de 2013, em uma ilha do Rio Nilo, próximo a Aswan, no Egito. A ave havia sido

presa em uma delegacia suspeita de espionagem. A cegonha carregava um dispositivo

eletrônico anexado as suas penas. Ayman Abdallah, chefe dos serviços veterinários em Qena,

informou que a cegonha levava apenas um localizador instalado por pesquisadores para

monitorar o movimento migratório.

Entretanto, suspeita-se que Abdallah esteja trabalhando em segredo com Zahi Hawass.

Hawass foi ministro de Antiguidades do Egito, mas deixou o cargo após acusação de ser

próximo demais do regime de Housni Mubarak. O arqueólogo teria sido informado pelo

serviço secreto, coordenado pelo militar egípcio que governou seu país, de que a ave seria

realmente uma espiã treinada e que estaria no país com a missão de organizar o roubo de

outros objetos. Contudo, não se sabe ao certo a nacionalidade da cegonha ou para quem ela

estaria trabalhando.

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Depoimento de Maakha Mahu

Eu tô falando para o senhor que aquela ave estava tendo uma atitude suspeita. Primeiro

ficou revoando perto dos pescadores, não era um voo inocente não, parecia que tava investigando

o que é que estávamos falando. Quando eu notei que o bicho não ia embora falei para o Azeneth

ficar de olho. Senhor, parecia que o bicho entendia das coisas, me deu uma encarada como se

tivesse entendido o que eu tinha falado. O Azeneth não deu bola então eu tive que agir sozinho.

Foi difícil capturar a cegonha, mas quando eu consegui, trouxe direto para o senhor. Eu não sabia

se ia ser preciso interrogar o bicho!

Depoimento transcrito por [M.B]

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Os objetos da lista dos prováveis a serem roubados são valiosos pelo que representam e

por aquilo que poderão revelar sobre a origem dos seres humanos na terra. Portanto, possuir

estes artefatos é uma oportunidade para investigar e buscar uma interpretação possível do

passado.

Uma descoberta realizada por cientistas da University College London pode ter sido o

motivo do interesse por outros artefatos egípcios. Um colar da época do Egito antigo foi

confeccionado com pedaços de meteoritos. A descoberta foi publicada na revista “Journal of

Archaeological Science”. As nove pequenas esferas de ferro têm mais de 5 mil anos e

formavam um colar junto com outros minerais exóticos como ouro e pedras preciosas. De

acordo com Thilo Rehren, do Instituto de Arqueologia da University College London, a técnica

de metalurgia do ferro meteorítico, utilizada na confecção do colar, teve origem mais de dois

milênios antes do domínio da fundição do ferro.

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Depoimento de Housni Mubarak

Gostaria que o senhor me esclarecesse mais uma vez, por que estou sendo procurado para

falar a respeito da captura de uma cegonha? Ouvi dizer que o pobre do animal já foi até morto e

transformado em sopa por uma moradora de Aswan. O país do jeito que está e os senhores

gastando meu tempo com uma ave? Também não tenho nada a declarar a respeito de minha

relação com Zahi Hawass, até onde eu sei ele foi um excelente chefe de antiguidades e é isso.

Daqui a pouco o senhor vai me procurar para saber se acredito nessas teorias de extraterrestres

construindo o Egito. Agora o senhor me dê licença que tenho o que fazer do que ficar especulando

teorias da conspiração.

Depoimento transcrito por [M.B]

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Acordei tão mais cedo aquela manhã - até me assustei quando comprovei isso, olhando

pro relógio na parede. Pela janela, eu via as ruas da cidade, alguns carros, a poeira frequente

sendo carregada por algum vento... e o sol. Vermelho feito fogo, o calor absurdo exalando do

asfalto, brilhando um tanto como sempre e refletindo nos vidros das outras janelas, nas torres

empresariais enormes, nas águas do Nilo que corria aos murmúrios, nos anzóis entortados

pendurados no varal de casa.

Decidido a um passeio antes do recomeço dos trabalhos, saí silenciosamente de casa pra

não acordar a mulher e os filhos, suados por causa do calor e ressonando enquanto

entretinham-se com seus sonhos mudos. A gente não queria mais era escutar o som das

explosões, dos tiros, dos choros e dos gritos lamentosos que chegavam até Qena pelos ventos,

e há meses sonhava esse tipo de sonho sem som algum. Nos meus sonhos chovia muito - eu

nunca vi uma tempestade de chuva de verdade, aqui quase não chove -, o rio tomava conta

das ruas inteiras, que não estavam tomadas de gente como na cidade lá de cima, e eu via meu

barco flutuando sempre cada vez mais longe de mim.

O barco encontrei bem parado junto à encosta, o azul do casco desbotando, a rede

jogada lá dentro, emaranhada e vazia. Os outros barcos também dormiam, próximos ao meu.

O resto do grupo de pescadores encontrou-me alguns minutos mais tarde, tempo suficiente

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Depoimento de Azeneth

O senhor vai me desculpar, mas acho que anda aparecendo cegonha demais nessa

história. Dia desses uma amiga ficou apaixonada por uma cegonha, tinha recém perdido o marido,

coitada deve ter sido isso. Agora o senhor vem me falar que a cegonha era suspeita de

espionagem. Eu posso ser pescador, o senhor pode achar que eu não entendo muito das coisas.

Mas o que eu sei é que cegonha nem se apaixona, nem faz espionagem pra governo nenhum. Tem

alguma coisa errada nessa história. Já não bastava o Maahka me inventar que a cegonha estava

“agindo de modo suspeito”, agora o senhor cair na conversa dele é que me admira.

Depoimento transcrito por [M.B]

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pra eu voltar até em casa, comer alguma coisa, preparar-me pra mais um dia de caçador de

superfície d'água; os homens cumprimentaram-se com um aceno sutil, organizaram o esquema

da pesca em grupo, e então organizaram seus pertences, materiais e pensamentos

individualmente, recolhidos dentro de si mesmos.

Foi assim, ensimesmado, que eu recolhi as redes pra um canto do barco, cuidando pra

que elas não se enroscassem tanto quanto possível, acenei aos colegas de trabalho que já

entravam na água, preparei-me e fui empurrando a minha segunda casa rio adentro. As águas

estavam bem calmas, o vento ainda deixava a poeira suspensa no ar ao redor dos nossos

corpos, o sol bronzeava pernas, braços e faces.

Joguei a cabeça para trás pra saudar a fonte de tanta luz e calor diários e uma revoada

de cegonhas passou acima de nossas cabeças, fazendo barulho. Olhei ao redor e o pescador a

meu leste ainda olhava pra cima, parecendo tão atordoado quanto eu: uma das cegonhas

trazia junto das penas alguma coisa muito estranha que refletiu o brilho do sol. Ele me olhou,

cúmplice, e pensei que ali estava firmada a promessa de não espalhar esse acontecimento

estranho. Descobri que foi só uma impressão mesmo, porque quando abri o jornal do dia

seguinte me deparei com a foto da cegonha, presa, acusada de espionagem - o brilho pode ser

algum tipo de equipamento pra esse tipo de coisa.

Tem gente que diz que não dá pra acreditar em história de pescador.

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Depoimento de Netihur

Tenho que concordar com o senhor que a cegonha não era uma cegonha comum. Não que

eu seja um especialista em cegonhas, o que eu não sou, mas a gente conseguia ver que aquela era

diferente. Tinha um certo ar investigador, se o senhor me entende. Mas agora dizer que era caso

de polícia, isso pra mim já é demais. Maahka sempre foi exagerado, meio dado a conspirações. Ele

tem essa mania de andar dizendo por aí que apoia o Mursi. Espere um momento!! Porque o

senhor está anotando isso aí? Isso não vai causar problemas ao Maahka vai?

Depoimento transcrito por [M.B]

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Desde que me lembro sempre fui fascinado por pássaros, sua liberdade de ir e vir, de

voar pelos céus sem se preocupar com mais nada. Quando entrei para a Associação de

Ornitologia e de Proteção do Meio Ambiente da Hungria, imaginei que finalmente estaria

em um trabalho que me traria satisfação pessoal, poderia estudar o que desde criança

sempre me fascinou. Meu trabalho se dava com a reinserção de aves apreendidas ou

encontradas machucadas para seu habitat natural.

Lembro bem de quando nos chegou uma cegonha-branca da espécie Ciconia ciconia

apreendida com contrabandistas, estava com sua pata esquerda machucada, sinal dos

maus tratos que recebeu, em sua asa direita tinha um corte, provavelmente proveniente da

armadilha que a capturou. Os primeiros cuidados foram de ordem de tratamento das

feridas, trabalho difícil de se fazer em um pássaro selvagem de quase três quilos, o fato de

ela ter ficado presa por cerca de quinze dias em nada ajudou também. Foram duas semanas

para que eu e minha equipe conseguíssemos dar conta de seus machucados, porém o

trabalho é muito maior do que os cuidados físicos. Uma ave capturada e presa perde sua

confiança no voo e fazê-la recuperar isso é algo que costuma levar muito tempo, pois não

basta apenas a ave estar bem fisicamente, é necessário também o trabalho de reinserção

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Depoimento de Jolan

Nós aqui na Hungria ficamos todos muito surpresos quando soubemos da história da tal

cegonha que foi presa no Egito. Entre nós Hajnal foi o que ficou mais impressionado, ele tinha sido

o responsável pela cegonha em questão. Acho que até tinha se apagado ao bichinho já que ele

quando chegou aqui estava bem machucado. Hajnal tem um coração sensível, se apega aos bichos

que cuida. Foi ele quem nos contou que a cegonha tinha sido presa, afinal de contas é ele quem

cuida dos rastreadores. Para mim todas elas são iguais, eu nunca saberia reconhecer se a cegonha

do Egito era a mesma que foi trata por Hajnal. Ainda bem que ele consegue e pode desfazer o mal

entendido e libertar a ave.

Depoimento transcrito por [M.B]

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junto a outras aves de sua espécie, que acaba por ser a parte mais complicada do trabalho.

Surpreendentemente a ave conseguiu se adequar rapidamente ao novo grupo de cegonhas

que estava passando por nosso observatório.

Como logo chegava o período de migração das aves, colocamos em sua pata

esquerda, a mesma que se encontrava com marca de maus tratos em sua chegada, um

localizador para que pudéssemos acompanhar a rota que faria, bem como evitar novas

capturas por contrabandistas ou caçadores. Mal sabíamos o que estava por vir...

Cheguei ao trabalho numa quarta-feira, como de costume fui observar o estado dos

localizadores que havíamos colocado em algumas aves. Estranhei o fato de o localizador da

cegonha branca que havíamos cuidado há quase dois meses atrás estar em um movimento

anormal para a espécie, em quase uma semana pouco tinha se movido. Pensei que a ave

havia sido novamente capturada, portanto abri sua localização exata para poder avisar as

autoridades do local, mas o que me abismou foi o fato de o localizador apontar para uma

delegacia no Egito. Após alguns minutos refletindo sobre o que isto significava, resolvi

entrar em contato com as autoridades egípcias, para saber o que estava ocorrendo.

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Depoimento de Gyorgyike

A Associação de Ornitologia e de Proteção do Meio Ambiente da Hungria foi comprada, a

cegonha presa no Egito nunca passou pelo centro de recuperação da dita associação. Ayman

Abdallah entrou em contato com Hajnal, o veterinário responsável pelos rastreadores dos animais,

e lhe informou a necessidade de encobrir as tentativas de espionagem que o governo do Egito

vinha sofrendo já há algum tempo. Supostamente era um assunto de segurança nacional e eu

acredito que Hajnal deve ter ganhado uma gorda quantia para colaborar com a segurança egípcia

e contar a história que fosse mais conveniente.

Depoimento transcrito por [M.B]

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Algumas ligações depois e muitos minutos de espera eis que vem a surpresa, a ave

havia sido presa por suspeita de espionagem. Não sabia se ria ou me revoltava com isto,

tentei explicar que o dispositivo visava monitorar seu movimento migratório e depois de

muita conversa as autoridades decidiram que a cegonha realmente não representava

perigo à segurança nacional. Ao relatar este caso para o resto da equipe que havia ajudado

na recuperação e reinserção da ave na natureza as reações variavam entre risos e caras de

descrédito da situação.

Em tempos de vigilância sobre todas as pessoas e denúncias de espionagem de

governos nem uma ave é passível de confiança.

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Depoimento de Hajnal

É um absurdo vocês terem prendido uma cegonha. Não importa se ela era suspeita de

espionagem ou não. O animal não tem nada a ver com as suas crises e desconfianças políticas. Eu

mesmo cuidei daquela ave e coloquei o rastreador na sua pata. Daqui para frente tudo será

passível de desconfiança dos governos? O próximo passo será exigir que animais com dispositivos

de rastreamento carreguem junto consigo um passaporte para comprovar que não são

criminosos? Além de tudo, eu ainda tenho que ficar ouvindo teorias contra mim, de que estou

encobrindo fatos a mando do governo do Egito. Era só o que me faltava.

Depoimento transcrito por [M.B]

Florianópolis - novembro de 2013 Travessa em Três Tempos Ano IV N° 15

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Casei-me com uma cegonha. Quando passava voando, sobre as árvores e debaixo do

sol, as penas de suas asas ficavam rosadas. Apaixonei-me por ele, sobretudo por causa de

suas penas com seu brilho rosa.

Ele chegou numa tarde horrível. Meu pequeno filho estava doente. Não havia comida

que lhe parasse no estômago havia dias e como geralmente não havia qualquer comida,

seus bracinhos, já bastante finos, estavam parecendo ossos. Ele estava pálido e definhava.

Resignei-me a diminuir seu sofrimento ao máximo em seus últimos dias.

Quando um foi, o outro veio. Conforme ficava cada vez mais difícil manter meu

menino perto de mim, mais baixo no céu voava a cegonha. Enquanto os delírios da criança

iam longe, para um lugar onde eu não consegui alcançar, um lugar muito alto, ele descia,

cada vez mais, esperando. Em círculos, sobrevoava nossa pequena casa, como se

aguardasse a criança morrer. Embora lindo, parecia um mau agouro. Embora mau agouro,

era lindo. E me enchia de esperança, enquanto transbordava por meus olhos, preenchia

meu coração, meu ventre, meus seios... Senti uma alegria havia muito esquecida.

Voava para longe e voltava no dia seguinte, sempre no mesmo horário. Meu filho

imama

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Depoimento de Thilo Rehren

É bem possível que o incidente envolvendo a cegonha espiã esteja envolvido com a recente

descoberta realizada pelos nossos cientistas da University College London. Conforme foi publicado

na Journal of Archaeological Science encontramos minerais exóticos em joias que remontam 5 mil

anos, entre os minerais está um tipo de ferro meteorítico – ou seja, encontrado apenas fora do

planeta Terra. Estima-se que Erich von Däniken estivesse certo ao propor sua teoria de deuses

astronautas. Já existem grupos que procuram entrar em contato com os seres que construíram as

pirâmides. Por que uma cegonha não poderia estar envolvida nisso tudo?

Depoimento transcrito por [M.B]

Florianópolis - novembro de 2013 Travessa em Três Tempos Ano IV N° 15

Page 15: A cegonha espia

gemia na cama e eu ficava ao seu lado nesses momentos de sono inquieto. Secava seu suor,

limpava seu vômito, tentava lhe dar caldos quentes quando sua barriguinha se acalmava.

Trocava sua roupa todo o tempo e, no entanto, o cheiro de doença não parecia se dissipar.

Parecia que eu própria rescendia a dor. Aquele odor se impregnou no quarto. Eu já não

chorava.

Então meu filho desapareceu. Simplesmente deixou de existir. Não morreu, não

piorou mais. Não definhou até apodrecer. Não se decompôs. Não vi o rigor mortis. Ele

apenas não estava mais lá. Deixou de existir. Não me desesperei por não poder velar o

corpo de meu filho porque sabia que tinha sido ele. Não houve explicação, nem sonhos

proféticos. Não houve comunicação com a alma de meu filho, nem choro. Eu entendia.

Apenas entendia e estava completamente encantada.

Naquele dia ele não apareceu. Nem no dia seguinte. Por duas noites, sonhei o mesmo

sonho. Sonhei que ele deitava sobre mim e abria suas belas asas. Sentia-me preenchida por

sua radiante aura rosada... Era lindo e eu senti pela primeira vez que fazia parte do mundo.

Uma luz branca me cegou e então acordei, suada. No dia seguinte, idem.

Pela manhã, segui seu rastro. Eu morava longe, muito longe, de uma das vilas mais

remotas do interior daquela terra que chamavam país. Há muito que não via ninguém além

de meu filho. Mesmo para um lugar inóspito minha casa dificilmente seria encontrada.

Então eu o encontrei. Senti a diferença no ar, e ele estava à beira do rio. Emitia luzes

coloridas e o brilho de suas asas era rosado, como eu gostava. O ar ao nosso redor brilhava

e

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Depoimento de Djer Abbas

Conheci Orítia na época em que ela estava à frente dos trabalhos do nosso grupo. O senhor

vai entender se eu não revelar o nome de nossa organização, não? Sempre a achei muito

competente e tinha certeza de que se alguém era capaz de entrar em contato com nossos deuses,

nossa Corte Celeste do Todo, esse alguém era ela. As experiências pelas quais passou Orítia é o

sinal que precisávamos para confirmar que nossas crenças estavam certas. Esse foi o primeiro

passo rumo à novas descobertas sobre a origem da humanidade. Sinto muito que a estejam

acusando de ter perdido a cabeça e estar tendo alucinações. Um dia todos poderão ver.

Depoimento transcrito por [M.B]

Florianópolis - novembro de 2013 Travessa em Três Tempos Ano IV N° 15

Page 16: A cegonha espia

e ele disse que precisava casar-se comigo. Foi como em meus sonhos. Ele se deitou sobre

mim e senti que eu não era mais humana. Nossas almas pairaram sobre o mundo e universo

afora. Então eu vi tudo, soube de tudo, e entendi que ele não era terreno, nem eu.

Estávamos numa construção gigantesca entre as nuvens. O piso parecia estrelado, com

galáxias, brilhava e parecia imerso em brumas e, no entanto, era bem sólido, como

mármore. Ali eu fui apresentada à Corte Celeste de sabedoria e pude me sentar ao lado dos

regentes do Todo.

Havia a Coruja, o Gato, a Raposa, a Lebre e, quando percebi, ele sentava em sua

cadeira belamente ornamentada, ainda que simples e me convidava a sentar naquela que

estava a seu lado. Olhei para meus braços e eles não pareciam humanos. Eram meus braços

com dedos longos nas pontas, mas parecia que tiras de tecido se desenrolavam,

intermináveis, de minha pele. “Você conceberá o primeiro anjo de seu tempo”, disse uma

voz em minha cabeça, embora muito audível. “Será a mesma criança perdida dias atrás, mas

não será igual”. Beijei-o, encostando meus dedos em sua face, de olhos fechados. “Para um

nascer, o outro deve perecer”, cantaram todos em uníssono, em minha cabeça. Fechei os

olhos novamente. Quando os abri, estava em minha casa novamente, e meu ventre estava

cheio com a criança da qual ele me alertara. Então era verdade. Dias depois, soube de sua

morte pela televisão...

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Depoimento de Mohammed Kamal

Gostaria que aquela cegonha nunca tivesse vindo parar no meu distrito policial. Desde que

o animal foi preso as coisas começaram a ficar cada vez mais entranhas. Cada dia é um novo

lunático batendo na porta de minha delegacia, primeiro é o pescador que diz que a cegonha é

inteligente e precisa ser interrogada, depois o veterinário húngaro que tem uma crise ao telefone

ao confirmar que o bicho estava sob minha custódia, ai me vem o repórter da CNN cheio de

teorias – uma menos plausível do que a outra, por fim me aparece a mulher que diz que casou

com o bicho e está esperando um filho dele. E o pior de tudo é que ela é a maior suspeita da

morte do animal. Eu ainda preciso resolver o caso para fechar o relatório. Como se isso tudo

tivesse solução!

Depoimento transcrito por [M.B]

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Page 17: A cegonha espia

Parece história de pescador, mas as coisas nesse país tem andado muito estranhas. Não

bastasse o clima de Golpe de Estado em que temos vivido, dia desses prenderam uma cegonha

por suspeita de espionagem. Sim, uma cegonha! O bicho foi encontrado por um dos

pescadores aqui de Qena, pior é que eu conheço o sujeito.

Ele era um dos que ainda apoiavam o governo de Mohamed Mursi. Sempre tem um

desses! Achou que o aparelho preso na pata do bichinho era um dispositivo de alta tecnologia

desenvolvido para eliminar todos os apoiadores de Mursi. Levou o bicho às autoridades

achando que a cegonha seria eliminada. Eu me pergunto se a cegonha era anti-Mursi por que a

polícia faria algo contra o bicho? Tanto foi que depois de uma semana detida na delegacia o

animal foi solto e declarado inocente.

Existem outras conspirações contra a cegonha, Tom Watkins – conhecido jornalista da

CNN – afirma que e cegonha fazia parte de um plano maior, estava sendo treinada para

executar o roubo de um artefato histórico de máxima importância para o conhecimento da

história da humanidade. Não se sabe exatamente o autor de tal maléfica façanha, mas o plano

diabólico teria sido encoberto por Ayman Abdallah, chefe dos serviços veterinários em Qena,

que afirmou à imprensa internacional que o dispositivo preso na ave era apenas um

localizador. Ayman Adballah estaria sob as ordens do antigo ministro de antiguidades do

Egito, Zahi Hawass, o qual tinha estreitas ligações com o ex-chefe de estado Housni Mubarak.

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Depoimento de Zahi Hawass

É verdade que o Estado egípcio vem sofrendo roubos de suas antiguidades há anos. Para

comprovar é só você fazer uma visita ao Museu do Louvre, aquilo é a maior exposição de bens

roubados da história da humanidade. Logicamente, como ex-chefe das antiguidades do Egito, você

pode concluir que eu me preocupo com essas coisas. Agora ficar dando corda para o que repórter

internacional fala, isso eu não faço não. Se eu fosse levar em consideração tudo aquilo que Tom

Watkis escreve, eu seria conspirador contra o governo, espião, agente secreto, intermediário de

grupos pró-alienígenas e mentor de cegonhas. Um pouco de exagero não?

Depoimento transcrito por [M.B]

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Page 18: A cegonha espia

A teoria de Tom Watkis diz que Hawass e Mubarak vinham há anos investigando um

grupo extremista que acreditava que os antigos deuses egípcios eram na verdade seres

intergalácticos. O grupo formado inicialmente por fãs de Erich von Däniken teria adotado a

obra prima do autor, “Eram os deuses astronautas?”, como sua bíblia pessoal e a partir daí

passaram a recolher antiguidades egípcias para provar a sua teoria. Aparentemente, passadas

algumas décadas a direção do grupo teria perdido o controle de seus seguidores, foi quando

começaram os roubos em museus espalhados por todo o Egito.

Dizem que alguns dos seguidores passaram a tentar contato com os antigos deuses

astronautas. Imaginando que eles apareceriam em forma de animais. Orítia Abdum foi uma

das líderes desse movimento entre as décadas de 80 e 90, mas no final dos anos 90 teria se

apaixonado por um pescador de Aswan e largado sua busca extraterrestre para se casar. Após

a morte do marido, Orítia perdeu a cabeça. Sem o marido e tendo de cuidar do filho do casal

ela se afastou da cidade e foi morar numa cabana isolada nos arredores de Aswan. Os poucos

amigos que lhe restaram iam visitá-la algumas vezes, mas parece que a cada visita Orítia

parecia mais desligada da realidade.

A criança ficou doente e Orítia se recusava a leva-lo de volta para a cidade para receber o

tratamento devido. Azeneth, amigo do falecido marido de Orítia, muito preocupado com a

situação e temendo a morte da criança por falta de cuidados resolveu tirar o menino de casa

escondido e leva-lo ao hospital de Aswan. Orítia andava encantada com uma cegonha que

havia aparecido na região e em meio aos delírios atribuiu ao animal o desaparecimento do

filho. Por dois dias ficou a observar a ave achando que finalmente havia encontrado os seus

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Depoimento de Orítia Abdum

Eu já falei para o senhor mais de duzentas vezes, o bebê que estou esperando é dele, é da

cegonha. Me disseram: “para um viver o outro deve morrer” e logo em seguida eu li no jornal que

ele tinha sido encontrado morto. É a prova de que o que estou falando é verdade. Não sei por que

o senhor fica me perguntando por que eu comi ele. Eu não comi. Não sei nada de planos de roubo

de artefatos históricos, não sei nada de espionagem política. E também não estava tentando

eliminar prova de crime nenhum. Eu me casei com uma cegonha, simples assim!

Depoimento transcrito por [M.B]

Florianópolis - novembro de 2013 Travessa em Três Tempos Ano IV N° 15

Page 19: A cegonha espia

filho. Por dois dias ficou a observar a ave achando que finalmente havia encontrado os seus

deuses astronautas.

Com o menino já em tratamento em Aswan, Azeneth foi buscar a mãe para levá-la ao

hospital. Encontrou-a cozinhando numa panela de ferro um ensopado que parecia ser feito

com carne de algum tipo de ave. Aparentemente, Orítia tinha transformado sua amada

cegonha em cozido para a janta. No caminho para o hospital, Orítia contava histórias de

deuses em forma de animais e seu casamento com uma cegonha. E ignorava quando Azeneth

lhe questionava: “Como se casou? Se faz pouco que meu amigo, seu marido, passou dessa para

melhor?” e continuava a recitar suas histórias, dignas de um pescador.

Logo depois descobriu que estava grávida novamente, o marido se fora, mas lhe deixara

como presente mais um filho. Orítia, no entanto, até hoje acredita que o filho que deu à luz

sete meses depois tinha vindo da cegonha.

Até hoje não sei se a tal cegonha era revolucionária, espiã, ladra de antiguidades, algum

tipo de deus, extraterrestre, ou uma simples ave que foi tomada como bode expiatório num

país que está à beira de um colapso. O mais certo disso tudo é que o fim do pobre animal foi

trágico, dentro da panela daquela que lhe jurava amor e eterno.

Se eu não tivesse visto acontecer também ia achar que era história de pescador. Mas

agora vou pegar meu peixe que a vida não tá fácil pra ninguém.

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Depoimento de Tom Watkis

Alguém precisa revelar as verdades que os outros não têm coragem de revelar. Todos

sabem que existem grupos extremistas que acreditam nas teorias de Erich von Däniken, todos

sabem das centenas de peças arqueológicas roubadas do Egito praticamente todos os anos, todos

sabem o que os Estados Unidos escondem na Área 51 mas ninguém tem coragem de falar. Pois eu

tenho! E você vem me dizer que Zahi Hawass, Ayman Abdallah e Housni Mubarak negaram

envolvimento com o caso da cegonha espiã?! É lógico que eles negaram envolvimento com o caso.

Alguma vez a NASA confirmou ter sido uma farsa a ida do homem à lua? É claro que não.

Depoimento transcrito por [M.B]

Florianópolis - novembro de 2013 Travessa em Três Tempos Ano IV N° 15

Page 20: A cegonha espia

Olá! Nós somos a Revista Travessa em Três Tempos. Ouve-se pelos corredores

que o âmago desta idealização nasceu despretensiosamente, em blog, com o

objetivo de três autores-amigos pass[e]arem pelos três tempos históricos, tendo a

travessa como cenário, sem ser revisitada. De mais, “não sei, só sei que foi assim...”

Hoje, somos um projeto de extensão do Laboratório de Imagem e Som da

UDESC. Nos definem como revista histórico-literária e dizem que nosso objetivo é o

entretenimento do público em geral ao brincar com as diferentes versões da história.

Bem, concordamos com isso! Porque, como bem sabemos, na história não existe

uma verdade, mas várias. E é por isso que a gente se propõe a colocar a imaginação –

histórica ou não - pra funcionar e criar novas versões dos fatos trazidos prontos pelos

documentos históricos. Assim, a revista se forma, com várias possibilidades para a

história principal. Dizem que dá um bom resultado. Confira!

Que a Travessa em Três Tempos é uma revista que narra a história de todas

as formas possíveis você já sabe. O que talvez você não saiba, é que pode

participar disso e contar a sua versão – como você gostaria que a História se

desenrolasse?

Você é quem tece: damos o tema, a fonte, alguns fatos. A você cabe

inspirar-se e escrever!

No endereço http://revistatravessa.wordpress.com, você pode acompanhar

os editais e mandar sua história! Conte, reconte, aumente quantos pontos

quiser – desde que sua narrativa não tenha diálogos e tenha a ver com o

documento (para mais detalhes, consulte os editais).

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Revisão:

Taiane Santi Martins

Editoração e Diagramação:

Taiane Santi Martins

Capa:

Foto: internet

Arte e design: Taiane Santi Martins

Atenção!

As historietas e depoimentos contidos nesse exemplar são todos fictícios.

Documento Base:

Reportagens retiradas do site G1 São Paulo. Notícia 01

(http://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2013/09/cegonha-presa-por-

espionagem-e-solta-no-egito.html) Notícia 02 (http://g1.globo.com/planeta-

bizarro/noticia/2013/09/cegonha-presa-por-suspeita-de-espionagem-e-achada-

morta-no-egito.html)

Autores convidados:

Cláudio Lucio Augusto

Textos de Redatores:

Ana Terra de Leon – Lucas Baccin - Taiane Santi Martins - Tainah Lunge

Equipe Travessa em Três Tempos:

Ana Terra de Leon – Lucas Baccin - Luccas Neves Stangler

Taiane Santi Martins - Tainah Lunge

Idealização: Taiane Santi Martins

Apoio: Laboratório de Estudo de Cidades – LEC

Orientação: Profa. Mariana Joffily

Endereço para contato:

[email protected]

@revistatravessa

http://revistatravessa.wordpress.com

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